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exercidos em capelas e oratórios no interior da casa”. O espaço das ruas era
exclusivo do homem, e o único tipo de mulher que podia circular sem restrições era
a prostituta.
Desde cedo, as mulheres de família (assim consideradas), deveriam ter “os
seus sentimentos devidamente domesticados e abafados”, ou seja, caso a menina
de 12 ou 13 anos, apresentasse um comportamento inquieto, a Igreja permitia o
casamento precoce, pois, no confessionário, o padre, vigiava de perto os seus
gestos, atos, sentimentos e até sonhos, conforme as instruções dos manuais
confessionais da época (ARAÚJO, 2001, p.51). Tanto as solteiras como as casadas,
as mulheres só eram vistas em público aos domingos, na missa, comportamento que
fazia parte de suas obrigações, mesmo depois de casadas, sua presença em público
só era permitida se acompanhadas dos pais ou do esposo.
O casamento era uma forma de domesticar o desejo e as sensações,
podendo portanto, o homem ter uma idade de 30, 60 ou 70 anos de idade, e a
esposa tendo agora o marido como seu senhor e devendo a ele respeito e
obediência e mesmo casada a Igreja continuava exercendo seu poder sobre o
relacionamento. Nada de excessos era permitido, muito menos de erotismo, a
relação sexual servia somente para a procriação. As relações sexuais do casal eram
codificadas conforme os padrões machistas e os imperativos religiosos. O convite
sexual deveria partir sempre do marido, e a mulher não podia recusar, a não ser que
estivesse doente ou com uma indisposição, que muitas vezes não era respeitada.
Deveria existir controle sobre as necessidades da carne, pois o ato sexual
não se destinava ao prazer, isso no caso da mulher, porque o homem poderia
buscar o prazer nos braços da prostituta ou de sua amante.
Em suma, com ou sem prazer, com paixão ou sem ela, nessas condições, a
menina tornava-se mãe e uma mãe honrada, pois havia saído da casa dos pais,
direto para a casa do marido. “Na visão da sociedade misógina, a maternidade teria
de ser o ápice da vida da mulher. Doravante, ela se afastava de Eva e aproximava-
se de Maria, a mulher que pariu virgem o salvador do mundo” (ARAÚJO, 2001,
p.52). Mas mesmo neste momento, o brilho da mulher era ofuscado pela presença
dos médicos homens que diziam “que ela continuaria dependente do saber, e do
poder masculino” (ARAÚJO, 2001, p.52). Tentavam mapear o corpo feminino e, um