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Featherstone reconhece ainda o espaço de uma cultura global da
seguinte forma:
É possível, no entanto, falar de uma cultura global em outro
sentido: o processo de compressão global pelo qual o mundo
torna-se unido à medida que é visto como um único lugar
[conforme também aponta Robertson] [...] Assim, o processo de
globalização conduz à aceitação da visão de que o mundo é um
espaço singular, que representa uma forma capaz de criar e
sustentar várias imagens do que o mundo é, ou deveria ser.
Dessa perspectiva, uma cultura global não aponta para uma
homogeneidade ou uma cultura comum; mas é possível
argumentar que o fortalecimento da noção de que todos
compartilhamos o mesmo pequeno planeta e estamos envolvidos
diariamente numa série de contatos culturais com outros amplia o
leque de definições conflitantes do mundo com as quais somos
postos em contato. Essa aproximação de culturas nacionais
concorrentes, envolvidas em disputas pelo prestígio cultural
global, é uma possibilidade de cultura global. (p. 202)
Finalmente, quanto à questão de uma mídia globalmente padronizada e
unificada, Featherstone pondera:
Muitas vezes se supõe que a cultura de consumo em escala
global é paralela à expansão do poder dos Estados Unidos sobre
a ordem econômica mundial [...]. A cultura de consumo, nesse
caso, é tomada como algo destinado a se tornar uma cultura
universal, que destrói a cultura nacional própria de cada país.
Ora, os estudos sobre o efeito da recepção enfatizam a
importância das diferenças nacionais para a interpretação e
decodificação das mensagens. Com efeito, as mensagens
embutidas nos programas de televisão somente têm sentido para
aqueles que foram socializados nos códigos, de modo que as
pessoas de nacionalidades e classes sociais diferentes assistirão
aos programas de televisão de popularidade internacional por
meio de códigos inadequados. É possível argumentar ainda que a
tendência a que nos referimos, no âmbito da cultura de consumo,
para produzir uma sobrecarga de informações e signos, também
atua contra qualquer crença de caráter global, universal, coerente
e integrada no plano do conteúdo. Porém, o predomínio das
imagens “do outro”, de nações diferentes, previamente
desconhecidas ou designadas apenas por meio de estereótipos
estreitos, pode realmente contribuir para incluir na agenda o outro
e a noção de uma condição global. (p. 175)