tien"; e por fim, o eremita. São personagens desatinados, desloca-
dos, alterados, protestando, em um misto de medo e de afronta em
relação a algo que não lhes agrada, a uma situação adversa. Enfim,
são personagens que buscam um lugar, que à primeira vista perde-
ram e pretendem retomar. No caso do eremita, mais do que gritar,
ele amaldiçoa os "martírios e aflições" que o angustiam. Alguns
versos adiante, seus gritos s'enrouent, aplacados com "un morceau
de gruyère" (v.8), e a marca do queijo talvez pudesse ser indicativo
da região na qual se passa o poema, a Suíça.
Na estrofe seguinte, iniciada pelo vocativo "Ô Seigneur",
Apollinaire causa uma aproximação no mínimo inusitada - "Ô Seig-
neur flagellez les nuées du coucher/ Qui vous tendent au ciel de si jolis
culs roses" (v.9 e 10), mudando bruscamente o tom solene que até
então permeava o poema. O emprego de termos vulgares, mais do
que o prazer da provocação, expressaria uma carga de emoção e
uma força de expressão irredutíveis e irrepreensíveis. Em seguida,
há uma indicação temporal, é mais uma vez a primavera que marca
presença, como em "Merlin et la vieille femme". Partes do corpo
humano ou fluidos a ele relacionados aparecem: crâne (v.l), nari-
nes (v.7), culs (v.10), nombrils (v.14), doigts (v.15, 17, 70), ongles
(v.18), mains (v.20, 48, 76), sexe (v.23), sang (v.30, 35, 38, 89),
genoux (na expressão à genoux, v.34), coeur (v.34, 87), artères
(v.34), aorte (v.36), sueur (v.37), nez (v.39), vulves (v.45), tétons
(v.46), peaux (v.48), yeux (v.54, 94), squelette(s) (v.57, 70), tétins
(v.64), e finalmente, poitrine (v.91). Não há nenhuma outra ocor-
rência das três palavras que indicam apenas partes do corpo femi-
nino em toda a obra de Apollinaire - tétins, tétons e vulve -, o que
reforça ainda mais a sensualidade do poema. Faz-se importante
notar que não há nenhuma referência corporal masculina, do que
se pode deduzir que esse corpo, construído pouco a pouco, desor-
denada e fragmentariamente, à maneira cubista, é o de uma mu-
lher, o da mulher tentadora que povoa os pensamentos "impuros"
e "pecaminosos" do eremita pur e contrit que justamente as mu-
lheres pecadoras amam. A ocorrência maior é a de sang, seguido
de mains e doigts, palavras realmente freqüentes na poesia apolli-
nairiana, mas que em "L'ermite" têm uma forte presença, bem mais
marcante do que em "Merlin et la vieille femme", por exemplo. Po-