Enquanto eu conseguia fazer na televisão, os filmes que eu considerava trabalho de
cineasta, tudo bem, mas depois, quando chega o final, na abertura política, as coisas
começam a movimentar a televisão. Começa a abrir muito: as matérias começam a ir
pro ar na própria Globo. Eu achei que tinha passado o meu tempo na televisão e a
televisão começou a cultivar um certo ranço que é preciso um dia analisar bem. Um
deles era contra nós, os cineastas, no sentido de que os cineastas eram muito
independentes, que a gente queria fazer o que desse na cabeça. E há uma tendência
de substituir os cineastas por repórteres (Andrade, 2004).
Batista conta que se baseou no sucesso de Caso Norte para produzir Wilsinho
Galiléia. A idéia era fazer outro documentário com atores. A temática também seria
semelhante, ou seja, analisar os reflexos sociais que culminam em ocorrências policiais.
O Wilsinho era um filme sobre um garoto que foi fuzilado com 18 anos pela polícia,
e a minha pergunta, feita logo depois: por que um menino de 9 anos, que era o caso
dele, vai se transformando num fascínora e depois é fuzilado pela polícia? O que
está por trás disso? Eu fiz o filme com essa liberdade e essa procura, por isso o filme
é atual, aí eu vou atrás da família, na origem, na periferia e aos amigos enfim, vou
vasculhar o mundo que gera o bandido e que a polícia acha que resolve matando-o.
Matam-no e surgem mais... Na verdade, a morte dele só serve pra polícia e não pra
sociedade. Então, era um diálogo fantástico com a sociedade sobre a origem da
violência urbana (Andrade, 2004).
Concluído o filme, João Batista foi convidado para participar de vários festivais
na Europa. Ele parte para lá com o filme Dora Mundo. Na ocasião, ele aproveitou para
acompanhar o processo de reabertura política na Espanha. Quando voltou ao Brasil, ligou para
o Fernando Jordão, editor do Globo Repórter em São Paulo, para saber sobre a repercussão de
Wilsinho Galiléia. E para seu espanto, “ele respondeu: foi proibido!” (Andrade, 2004).
Eu não acreditei naquilo! Eu não estava no Brasil em 78. Foi o maior choque, e aí eu
fui saber da história toda. Eu reagi muito mal: dei depoimentos terríveis pra
imprensa, que era um perigo na época. Eu fui muito louco denunciando o governo, a
ditadura, e felizmente não aconteceu nada. [...] Eu soube depois como é que foi:
(Wilsinho Galiléia) estava anunciado, e a Globo tinha que mostrar o filme para o
censor interno. A censura tinha um cara lá que via os filmes todo dia, então ele viu o
Wilsinho e o proibiu. Aí, a Globo foi muito interessante: ela pegou o filme e
mandou pro departamento de censura do Rio, e o cara do departamento de censura
do Rio (também) o proibiu. A Globo peitou e mandou uma cópia pra censura
Federal em Brasília, e lá eles proibiram o filme. E vai chegando o tempo, vai
chegando o dia da exibição e o anúncio no ar... Mandaram-no pro Palácio do
Planalto. Ele foi visto e, na hora, o filme já estava atrasado pra entrar. Já tinha