processo pioneiro de educação escolar indígena no período de 1995 a 2002. Infelizmente, a
falta de continuidade das políticas públicas e o descompromisso dos dirigentes
educacionais atuais com a temática indígena ameaçam a caminhada bem sucedida feita até
aqui e deixam dúvidas sobre o futuro da educação escolar indígena no Estado.
Faremos a seguir uma retomada dos principais argumentos discutidos em cada
capítulo, acompanhados de uma síntese dos resultados obtidos. Em seguida apresentaremos
algumas proposições para a construção de uma política de educação escolar indígena
voltada para os interesses, às necessidades e o atendimento de seus projetos de sociedades.
Trazemos inicialmente à memória alguns pontos discutidos no primeiro capítulo e
reiteramos não tratar-se de um estudo etnográfico da sociedade Boe-Bororo. Nele foram
tecidas breves considerações acerca do tempo e do espaço sociocultural bem como de
alguns aspectos organizacionais com o intuito de situar historicamente o seu contato com a
sociedade majoritária. Em seguida foram apresentadas informações sobre a Terra Indígena
Tereza Cristina e mais especificamente da aldeia Córrego Grande. Foram destacadas a
forma de organização social e a sua interação com a escola, com as questões de saúde e
com o modo de vida dos Boe nos dias atuais.
O segundo capítulo trouxe algumas considerações acerca dessa realidade na medida
em que evidenciou a sua amplitude, abrangência e aspectos históricos, na perspectiva de
alguns autores. A maior ênfase foi dada à educação escolar. Percorremos o processo
histórico brasileiro e as conquistas obtidas a partir da promulgação da Constituição Federal
de 1988. Discutimos também os caminhos propostos pela educação escolar, tendo em vista
a sua condição de elemento cultural externo, progressivamente incorporada ao cotidiano
das aldeias. Destacamos o percurso específico vivido em Mato Grosso, desde a sua
consolidação e apogeu até o período recente em que se percebe uma redução do esforço do
poder público estadual para acompanhar o quotidiano das escolas indígenas.
No terceiro e último capítulo tratamos especificamente do objeto de estudo, cujo
foco foi a gestão escolar no contexto da interculturalidade, do protagonismo e do controle
social. Iniciamos com uma caracterização do sujeito de estudo, a escola indígena Cadete
Adugo Kuiare da aldeia Córrego Grande, especialmente no que diz respeito a sua forma de
gestão democrática e colegiada. Procuramos traçar o itinerário percorrido pela comunidade
escolar desde a implantação da escola aos dias atuais, apontando os principais desafios e as
soluções encontradas para consolidar a gestão intercultural. A exemplo de tantos outros
povos indígenas do Brasil, esta comunidade enfrentou seus problemas e desafios tendo-os
como “alavancas motivadoras para o prosseguimento do processo” e como forma de “se
fazerem conhecer com respeitabilidade interna e frente à sociedade envolvente”. (Silva,
1998, p. 207). Ainda neste capítulo, foram apresentados alguns indicadores que ilustram o
que os Boe-Bororo pensam sobre a escola. Em vários depoimentos, deparamos com
afirmações similares ao pensamento de Silva (1998, p. 238): “[...] a escola assume o papel
de uma nova linguagem – um novo espaço e tempo educativo – uma nova pedagogia,
necessária ao atual momento da comunidade, uma nova comunicação”.
A pesquisa propõe uma reflexão acerca do formato das escolas idealizadas para e
pelos povos indígenas, das práticas educativas e das formas de fortalecer as culturas