Download PDF
ads:
1
Renata Emy Koyama
A Mobilidade de Pacientes Obesos no
Pós-Cirúrgico Bariátrico
Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica
Pontifícia Universidade Católica
São Paulo
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
2
2007
A Mobilidade de Pacientes Obesos no
Pós-Cirúrgico Bariátrico
Renata Emy Koyama
Banca Examinadora
_________________________
_________________________
_________________________
Dissertação defendida e aprovada em: ____ / ____ / 2007.
Pontifícia Universidade Católica
São Paulo
ads:
3
2007
Renata Emy Koyama
A Mobilidade de Pacientes Obesos no
Pós-Cirúrgico Bariátrico
Dissertação apresentada à
banca Examinadora da Pontifícia
Universidade Católica de São
Paulo, como exigência parcial
para obtenção do título de
MESTRE em Psicologia Clínica,
do Núcleo de Psicossomática e
Psicologia Hospitalar, sob a
orientação da Profª Doutora
Mathilde Neder.
4
Pontifícia Universidade Católica
São Paulo
2007
À minha família, em
especial minha mãe, Marina
Tsuyaco Ascava Koyama, que
acreditou, dedicou, confiou,
5
acolheu e deu amor em todos
os dias da minha vida.
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Profª Drª Mathilde Neder, que me acolheu,
compreendeu e ensinou, com muito amor, amizade, dedicação, eficiência e
capacidade; principalmente nos momentos difíceis.
À Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, que ajudou me com sua
infra-estrutura a adquirir um maior conhecimento
.
Ao Conjunto Hospitalar de Sorocaba, à equipe de Cirurgia Bariátrica, Drª
Débora, Drª Maria Tereza, Dr. Celso e Drª Ana Célia; em especial a secretária
Jovelina que me ajudou nas questões administrativas de agendamento dos
pacientes e local.
Aos professores da Pós-Graduação em Psicologia Clínica, do Núcleo de
Psicossomática e Psicologia Hospitalar, em especial a Profª Drª Marlise Aparecida
Bassani, pelo muito que me ensinou.
Ao Drº Mitsunori Matsuda que esteve sempre presente e disposto nos
momentos que precisei de sua ajuda.
Aos meus queridos colegas da Pós-Graduação em Psicologia Clínica, do
Núcleo de Psicossomática e Psicologia Hospitalar, Rosa, Enéas, Mariângela,
Rodrigo, André, Ana, Cristina, Sueli, em especial, a Maria Luiza e ao George
Barbosa que sempre estiveram dispostos a me ajudar em todos os momentos.
7
Resumo
A pessoa portadora de obesidade mórbida possui sérios problemas de saúde,
pois dela decorrem doenças orgânicas e psicossociais adversos que em grande
parte advém de sua mobilidade pessoal prejudicada.
O dia-a-dia da pessoa obesa mórbida é muito difícil, pois entre as dificuldades
de sua mobilidade estão o tomar banho, vestir-se, amarrar os sapatos, deslocar-se
de um lugar ao outro devido a falta de ar, entrar num veículo, subir escada
s
, sentar-
se nas cadeiras de ambientes sociais que são pequenas e frágeis, entre outros.
Dessa forma, a cirurgia bariátrica surge como um tratamento invasivo e
radical, tendo um resultado de emagrecimento em curto espaço de tempo,
modificando rapidamente a estrutura física que conseqüentemente acarreta
mudanças psicológicas e sociais na pessoa; e a mobilidade da pessoa após alguns
meses da cirurgia exige reorganização radical.
O presente trabalho sob o enfoque fenomenológico, procura identificar o
significado da mobilidade para pacientes obesos, após a cirurgia bariátrica, face a
rápida mudança corporal; sendo importante no tratamento s cirúrgico o
acompanhamento psicológico e a relação da mobilidade neste contexto, para que
venha contribuir com mais informações sobre as dificuldades por que passam esses
pacientes.
Os resultados encontrados sobre o significado da mobilidade nos três meses
pós-cirúrgico bariátrico foram: alegria, felicidade, vitória, ser outra pessoa, bem
melhor que antes, a coisa mais importante na vida e tudo.
8
Abstract
The person with morbid obesity has serious health problems , due to it may
occur organic diseases, adverses psychosocial mainly caused by the affected
personal mobility.
The day-by-day of a morbid obese person is very difficult, due to the lack of
mobility, activities like to take shower, to get dressed, to tie the shoes, to walk from a
place to another ( because it´s breathtaking ), to enter in a vehicle, to go upstairs and
to sit in unapropriated chairs, become hard.
This way, the bariatric surgery arises as an invasive and extreme treatment,
resulting in loss of weigth in a short period of time, modifying quickly the physical
structure causing psychological and social changes to the person; and the mobility of
the person after some months of the surgery can be modified.
The objective of this work in a phenomenonlogic focus is to identify the
meaning of mobility for obeses patients after the bariatric surgery, faced with the fast
corporal change; being important the psychological treatment after the surgery and
the relation of mobility in this context, to contribute with more information about the
difficulties the patients go through.
The results that were found about the meaning of mobility three months after
bariatric surgery are: joy, happiness, victory, they felt like another person and better
than before, the most important thing in life and all.
9
SUMÁRIO
I.INTRODUÇÃO __________________________________________________ p.11
II.OBJETIVO ____________________________________________________ p.17
III. PSICOSOMÁTICA NA OBESIDADE _______________________________ p.18
1) Epidemiologia e visão clínica na obesidade _____________________ p.18
2) Visão sóciocultural da obesidade - Tratamentos _________________ p.22
3) Mobilidade e obesidade _____________________________________ p.25
4) Mobilidade do paciente obeso mórbido ________________________ p.27
5) Cirurgia bariátrica e mobilidade_______________________________ p.30
6) Dimensão psicossomática ___________________________________ p.32
IV. MÉTODO ____________________________________________________ p.35
1) Sujeitos __________________________________________________ p.35
2) Local _____________________________________________________ p.37
10
3) Instrumentos ______________________________________________ p.37
4) Cuidados éticos ____________________________________________ p.39
5) Coleta de dados____________________________________________ p.40
V. RESULTADOS E ANÁLISES DOS DADOS __________________________ p.43
1) Procedimento da análise ____________________________________ p.43
2) Dados sobre os sujeitos _____________________________________ p.43
3) Entrevistas ________________________________________________ p.44
VI. DISCUSSÃO _________________________________________________ p.71
VII. CONSIDERAÇÕES FINAIS _____________________________________ p.74
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS __________________________________ p.76
ANEXO
A: Termo de Consentimento do Sujeito ________________________ p. 79
B: Termo de Consentimento do Pesquisador ____________________ p.82
C: Entrevista Estruturada ____________________________________ p.83
D: Entrevista Semi-Estruturada _______________________________ p.84
11
E: Entrevistas dos Sujeitos __________________________________ p.85
I - INTRODUÇÃO
O presente estudo decorreu da minha experiência em campo de trabalho
numa cooperativa médica, cuja diretoria solicitou a implantação de grupos
terapêuticos com pessoas obesas.
O objetivo do trabalho terapêutico era diminuir o número de consultas a
endocrinologistas no ano de 2002, por motivos econômicos, uma vez que o
tratamento da pessoa obesa é oneroso. A pessoa obesa é portadora de patologias
como: transtornos respiratórios e cardíacos, diabetes, hipertensão arterial,
osteoartrite e fatores psicossociais adversos, entre outros. Tratava-se, portanto, de
um investimento preventivo a médio e longo prazo.
12
O trabalho era conduzido por uma equipe multiprofissional, envolvendo áreas
de Enfermagem, Nutrição e Psicologia. Os pacientes recebiam atendimento
semanal.
No mês de março do ano de 2004, fui convidada a trabalhar na equipe da
cirurgia bariátrica do Conjunto Hospitalar de Sorocaba, como psicóloga voluntária do
grupo pós-cirúrgico, onde atuei até o mês de julho do ano de 2005.
No Conjunto Hospitalar de Sorocaba, a referida cirurgia (bariátrica) foi
credenciada pelo governo do Estado de São Paulo no ano de 2003. A equipe
responsável por esse procedimento cirúrgico é multidisciplinar, composta por
assistente social, nutricionista, equipe médica (endocrinologista, cirurgião e
anestesista) e psicólogos.
Através da experiência prática, de muita leitura e estudos, percebi que grande
parte da população obesa consegue perder peso no tratamento, mas, após alguns
meses ou anos, recuperam o peso perdido ou até mais. O emagrecimento, nesse
caso, é algo muito complexo e requer mudança de comportamento, de estilo de vida
e reeducação alimentar, o que, sob o aspecto psicológico, pode ser extremamente
difícil.
A vivência com pacientes obesos mórbidos submetidos à cirurgia bariátrica
despertou meu interesse sobre a mobilidade desses pacientes após a cirurgia, ou
seja, a sua relação com o movimento de se deslocar de um lugar para outro.
O dia-a-dia da pessoa obesa mórbida é muito difícil. Destacam-se, entre as
dificuldades de sua mobilidade, os efeitos sobre uma de suas atividades de vida
diária, como tomar banho. Necessitando de um espaço maior no banheiro para
movimentar-se, muitas vezes não alcançam lugares em seu corpo para se lavarem,
como suas partes íntimas, pernas e pés, necessitando da ajuda de seu (sua)
companheiro (a), ou de alguém mais próximo.
Após o banho, ao se vestirem, muitas vezes não conseguem colocar as meias
e, depois, precisam de ajuda para calçar-se, principalmente com sapatos de
cadarço. As mulheres relatam que evitam comprar sandálias, pois sempre precisam
de ajuda para colocá-las e, para não incomodar alguém, acabam optando por
13
tamancos, chinelos de dedos, quando gostariam de usar sandálias para se sentirem
mais femininas.
O auxílio de que precisam no dia-a-dia, apesar de simples, causa grande
constrangimento e sentimento de dependência, pois há ocasiões em que as pessoas
não estão dispostas ou precisam parar alguma atividade para auxiliá-las, nem
sempre havendo, portanto, boa vontade dos demais.
Outra dificuldade é sair de casa, pois o deslocamento é muito difícil. Devido à
obesidade, sua resistência respiratória é prejudicada, não conseguindo caminhar
com o desempenho de uma pessoa normal. Sentem muita falta de ar e dores nas
pernas e joelhos.
Caso a pessoa obesa mórbida opte por utilizar uma condução, por exemplo
um ônibus, como a grande maioria da população, a dificuldade tem início ao entrar
no veículo, pois as escadas o muito altas, o que exige sacrifício e causa dores ao
subir. Em seguida, encontram a catraca, onde costumam ficar "entaladas", o que
provoca olhares críticos ou zombarias dos demais passageiros.
Quando solicitam a abertura da porta traseira do ônibus, alguns motoristas
resistem, ordenando que utilizem a porta da frente como todos os passageiros, e,
quando conseguem descer pela porta traseira, os passageiros olham-nas como se
fossem "coitadinhas", ou lançam um olhar preconceituoso (“gordo preguiçoso").
Sentem-se o centro da atenção discriminatória.
Na tentativa de evitar essa humilhação, pedem carona para as pessoas que
possuem automóveis, mas muitos negam, alegando que, devido ao seu peso, ocorre
um desgaste maior do motor do carro, solicitando que encontrem outro modo de
condução.
Ao conseguir se deslocar para lugar desejado, encontram outro obstáculo.
Muitos lugares não estão preparados para receber pessoas obesas. A maioria dos
bares possui somente cadeiras de plástico, que não suportam muito peso. Na
tentativa de acreditarem que nada acontecerá, muitos obesos que nelas se sentam
vão parar no chão, que as pernas da cadeira se abrem, sendo mais um motivo
para gargalhadas e humilhações.
14
Enfim, todas as vezes que procuram sair, evitam lugares a que muitas vezes
gostariam de ir e, para não sofrerem constrangimentos acabam escolhendo sempre
o mesmo lugar que nem sempre as agrada, mas que garante a sua segurança.
Em ambientes sociais, como cinemas ou teatros, sentem-se desprezados,
pois as cadeiras são estreitas demais para o seu tamanho, impedindo o seu acesso.
Devido a essa situação, dentre outros fatores, a cirurgia bariátrica trouxe uma
nova esperança para muitas pessoas com obesidade mórbida, dando-lhes
esperança de novas perspectivas e melhor qualidade de vida, uma vez que essas
pessoas são privadas de uma vida social, afetiva e profissional.
Nos três meses após a cirurgia, período em que os pacientes passam por
uma alimentação de dieta líquida e pastosa, e estão em uma nova etapa de ingestão
de alimento sólido, ocorre uma perda considerável de peso corpóreo, mais rápido,
do que o modo convencional ou natural (através de regimes ou dietas), ou seja, 17%
a 26% de peso corpóreo medido por IMC de acordo com pesquisas recentes
(CASALNUOVO, EGUILEOR, BRITES E BRAGINSKY, 2001; GARRIDO, 2000).
Desta maneira, os pacientes geralmente percebem que o seu peso diminui
rapidamente e sua aparência física muda substancialmente. Retomam um ritmo de
vida normal, buscando adaptar-se à sua nova forma de se alimentar, pois voltam a
ingerir alimentos sólidos como antes da cirurgia sabendo, no entanto, o que podem e
o que não podem comer.
As pessoas do seu relacionamento percebem seu emagrecimento. Passam a
receber muitos elogios, começam a cuidar melhor de sua aparência física, suas
roupas ficam largas, e melhora sua resistência física que antes era um fator
agravante para a sua locomoção.
Entre as mudanças de mobilidade, a maioria dos pacientes relatam, com
muito entusiasmo, que as atividades de vida diária se modificaram substancialmente,
como tomar banho e conseguir lavar-se por inteiro, colocar as meias, amarrar os
sapatos, vestir-se sozinhas, caminhar por um percurso maior, sem sentir falta de ar e
dores intensas nas pernas como antes, e até mesmo a simples possibilidade de
cruzar as pernas.
15
Experimentam maior independência, adquirida em um curto espaço de tempo.
A cada dia descobrem que conseguem fazer cada vez mais coisas do que
conseguiam antes da cirurgia.
Não obstante, percebi que, durante os atendimentos psicoterápicos pós-
cirurgia, a mobilidade modifica-se consideravelmente para a maioria dos pacientes,
não sendo, entretanto, totalmente explorada em alguns pacientes, talvez devido às
dificuldades corporais que apresentam como seqüelas da obesidade, tais como as
dores nas costas, nos joelhos e pernas.
Ressalte-se que a mobilidade em relação aos diferentes ambientes, desde a
sua casa, clube, parques e comunidade, que antes era limitada, depois da cirurgia
pode não melhorar concomitantemente com a sua mudança corporal. Isso pode
trazer rios prejuízos, pois a pessoa, emagrecendo, embora possa se deslocar
mais facilmente, pode negar ou não se dar conta dessa mudança corporal e, assim,
não desfrutará da possibilidade de ter um melhor acesso a ambientes sociais,
espaços de lazer, antes evitados pelo constrangimento, não incorporando a sua
nova independência pessoal.
Nesse caso, essa negação, ou não percepção do aumento da mobilidade
social decorrente de sua acentuada mudança corporal, deixa de ser um reforço
positivo a aumentar a motivação dos pacientes para desgastante processo de
tratamento no pós-cirúrgico. Nessa fase, o intenso trabalho em busca da
modificação dos hábitos alimentares em particular e no estilo de vida como um todo,
impõe aos pacientes um esforço que, para ser mantido, depende fundamentalmente
dessa percepção dos ganhos obtidos.
Sem perceber os benefícios conquistados é maior a possibilidade de não
adesão ao tratamento, com a conseqüente recuperação ou aumento de peso,
propondo riscos inclusive à sua vida.
Assim, o paciente necessita perceber o quanto seu corpo se modificou e as
possibilidades de desfrutar essa mudança, que atinge concomitantemente às suas
dimensões psíquica, social e espiritual. Uma vez que o paciente deixará de ser uma
pessoa tão dependente, tornando-se mais autônoma em seus movimentos, como
uma pessoa normal, esse ganho na mobilidade, produzido pela mudança corporal,
16
constituir-se-á num fator essencial para seu desenvolvimento e bem-estar. E o
psicólogo pode assumir um papel fundamental nesse processo.
Para tanto, se faz necessário um maior conhecimento e uma maior
compreensão do significado que esse aspecto em particular – mobilidade – tem para
os pacientes obesos rbidos, submetidos à cirurgia bariátrica, após os três
primeiros meses desse evento.
Dessa forma, proponho, como estudo, identificar qual o significado que a
pessoa obesa pós-cirúrgica atribui à sua mobilidade, face à rápida mudança
corporal.
Este conhecimento será um passo importante no tratamento pós-cirúrgico
bariátrico da pessoa obesa, além de ressaltar a importância do acompanhamento
psicológico e a relação da mobilidade nesse contexto.
Na revisão bibliográfica não encontrei nenhuma pesquisa que associasse
mobilidade, obesidade e cirurgia bariátrica. Constatei um número reduzido de
pesquisas envolvendo o tema mobilidade, e, mesmo assim, relacionados à
deficiência visual e de trânsito; com o tema cirurgia bariátrica, a maioria das
pesquisas encontradas são médicas e poucos são os estudos que encontrei na área
da psicologia.
O estudo sobre a obesidade mórbida e cirurgia bariátrica, sob o ponto de vista
psicológico, tem-se a dissertação de Benedetti (2001), Obesidade e emagrecimento
Um estudo com obesos mórbidos submetidos a gastroplastia, que investigou o
sentido que o paciente obeso mórbido, submetido a gastroplastia, como forma de
conseguir o emagrecimento, atribui à sua experiência com a obesidade, a cirurgia e
o emagrecimento. Os resultados mostraram que a obesidade mórbida era uma
experiência difícil, interferindo no desempenho escolar e profissional, na auto-
imagem e no auto-conceito.
O trabalho de Santos (2003), em sua dissertação: “Identidade Pessoal de
obesos mórbidos submetidos à cirurgia bariátrica: uma metamorfose emancipatória”,
buscou compreender como as transformações radicais no corpo relacionam-se com
a corporeidade e a constituição da saúde/doença do indivíduo e interferem na
17
construção da identidade dessa pessoa, ao se transformar profundamente o corpo
da mesma, como numa cirurgia bariátrica que se faz necessária.
Assim, acreditamos que o presente estudo se justifica por contribuir com mais
informações sobre as dificuldades por que passam as pessoas obesas, mesmo
depois de submetidas à cirurgia bariátrica, podendo auxiliar na “quebra” do
preconceito social existente com relação a ela, contribuindo, enfim, para um olhar
mais respeitoso e que contemplem seus direitos e deveres.
18
II - OBJETIVO
Identificar o significado da mobilidade para pacientes obesos, após a cirurgia
bariátrica.
19
III - PSICOSSOMÁTICA E OBESIDADE
1 - Epidemiologia e visão clínica na obesidade
A obesidade consiste em sério problema de saúde pública, apresentando
proporções epidêmicas. Se constata que, segundo estatísticas da National Health
and Nutrition Examination Surveys - NHES, citado por Ades e Kerbauy (2002),
existem mais de noventa e sete milhões de americanos obesos ou acima do peso,
ou seja, aproximadamente 50% daquela população, e a tendência é aumentar esse
número. A NHES aponta que nos Estados Unidos é séria, pois a alimentação
desregrada e a vida sedentária contribuem para aproximadamente 300.000 mortes
por ano.
Conforme Thirlby e Randall (2002), a cada ano, nos EUA, 300.000 mortes
ocorrem em conseqüência do excesso de peso. É a segunda causa de morte, pois a
pessoa com excesso de peso possui um risco aumentado de morte prematura, de
50% a 100%, em relação às pessoas com Índice de Massa Corpórea (IMC) entre 20
e 25.
Salientam Donato at all (2003) que, em 1995, foi estimada, pela Organização
Mundial de Saúde (OMS), uma população mundial de 200 milhões de obesos
adultos e 18 milhões de crianças abaixo de cinco anos. No ano de 2000, essa
estimativa seria de 300 milhões de pessoas obesas.
Os índices de obesidade estão aumentando nos EUA e no Brasil a cada ano
e medidas preventivas, além das curativas, necessitam ser implantadas com
urgência.
20
Com relação à obesidade mórbida, que é definida como a daquela pessoa
que possui um índice de massa corpórea igual ou maior que 40 (IMC>40), estima-
se, de acordo com Fernandes, Pucca e Matos (2001), que 3% a 5% da população
nas nações desenvolvidas apresentam obesidade mórbida.
Nos EUA, existem cerca de 1,5 milhões de pessoas com obesidade mórbida
e 4 milhões com obesidade grave (sobrepeso Grau II b de acordo com a
classificação da OMS, já mencionada) (CSENDES et al., 2002). Por se tratar de uma
patologia de grande relevância, devido às comorbidades adquiridas pelo excesso de
peso, os problemas de sustentação de peso, dificuldades de locomoção, problemas
emocionais e sociais, repercute gravemente sobre a sociedade.
Cabe ressaltar que estudos constatam que a taxa de mortalidade das
pessoas com obesidade mórbida é 12 vezes maior para as pessoas com idade entre
25 e 40 anos do que para as pessoas com peso normal. (SANTOS, 2003;
COUTINHO e BENCHIMOL in GARRIDO, 2002)
21
câncer, bem como fatores psicossociais adversos, como sofrimento, depressão e
comportamentos de esquiva social.
Loli (2000) ressalta que a obesidade é uma patologia multideterminada, pois
uma causa não descarta outra e não se necessita de todas as causas para ocorrer o
seu desenvolvimento.
Dessa forma, pode-se dizer que a obesidade está relacionada a fatores
genéticos, metabólicos, neuroendócrinos, dietéticos, socioculturais (como renda
familiar e nível de escolaridade, e estado civil), ambientais e comportamentais (como
tabagismo, etilismo, atividade física e sedentarismo), demográficos (como idade,
sexo, raça) e psicológicos. É, dessa forma, multifatorial.
Assim, o diagnóstico da obesidade pode ser realizado quantitativa ou
qualitativamente. No que se refere ao diagnóstico quantitativo, este pode ser
realizado através da somatória das medidas de pregas cutâneas ou do índice de
massa corpórea (IMC ou BMI –body mass index) da pessoa, sendo a mais utilizada
por apresentar um custo menos elevado, através da fórmula abaixo:
Peso (Kg)
IMC =
Altura² (m²)
A limitação do IMC encontra-se no fato de que esse tipo de índice não
distingue a origem do peso, a massa magra ou gordura, nem a distribuição da
gordura, andróide ou ginóide, podendo superestimar o grau de obesidade em
indivíduos musculosos. A sua aplicabilidade clínica, porém, é alta, tanto em estudos
epidemiológicos quanto na prática diária.
Entretanto, existem outras formas de se diagnosticar a obesidade, como a
impedância bioelétrica de freqüência única, espectroscopia bioelétrica de freqüência
múltipla (Tobec), condutibilidade elétrica corpórea de raios X (DXA), absorpciometria
dual de raios X (DXA), tomografia computadorizada e ressonância nuclear
magnética, potássio corpóreo total (40K) e água duplamente marcada. Esses
métodos são de uso limitado na prática clínica devido a seu custo elevado.
22
A impedância bioelétrica de freqüência única é altamente precisa e de fácil
utilização. Ela, aos poucos, está ganhando uma boa aceitação na prática clínica por
avaliar com precisão a massa adiposa e a massa de tecidos magros, substituindo o
método somatório da medida da espessura das pregas cutâneas. (MANCINI in
Garrido, 2002)
No quadro que se segue é apresentada a classificação da OMS (WHO,1997)
23
Um diagnóstico qualitativo também pode definir o tipo de obesidade, mas é de
uso limitado na prática clínica. Alguns exemplos: medida do maior perímetro
abdominal entre a última costela e a crista ilíaca, relação cintura-quadril,
absorpciometria dual de raios X (DXA), ultra-sonografia, tomografia computadorizada
e ressonância nuclear magnética.
Donato et al. in Busse (2004) classificam uma variabilidade fenotípica entre os
indivíduos obesos, como:
“- Obesidade Universal, massa corpórea ou porcentagem de
gordura em excesso, distribuída por todo o corpo;
- Obesidade tronco-abdominal subcutânea em excesso, ou
padrão andróide ou em forma de maçã, mais comum no sexo
masculino, mas, também, presente no sexo feminino, com
deposição de gordura ao redor da cintura e do abdômen superior;
- Obesidade visceral, é a de maior risco cardiovascular e
metabólico;
- Gordura gluteofemoral em forma de pêra com excesso ou
padrão ginóide ou em forma depósito de gordura ao redor das coxas
e nádegas, cuja função seria a de reserva de energia para manter a
gravidez e a lactação”. (p340)
Apesar de haver uma variabilidade fenotípica, a obesidade é uma alteração
da saúde por implicar em alterações físicas, trazendo inúmeras doenças associadas
e complicações, como já mencionado.
Algumas doenças neuroendócrinas podem estar associadas ao
desenvolvimento da obesidade, mas tais formas de obesidade, genética ou de causa
orgânica, representam uma parcela mínima em relação ao total de obesos.
2 - Visão sociocultural da obesidade - Tratamentos
24
Atualmente, a vida sedentária diminui o gasto energético. A ingestão de
alimentos hipercalóricos, como frituras e massas gordurosas, o estilo de vida
estressante, competitivo, acrescentados aos fatores ambientais, como os aparelhos
eletrônicos, que poupam energia no trabalho e no ambiente doméstico, são também
fatores responsáveis pela tendência do aumento de peso da população.
Moraes (2004) relata que, em nossa cultura, como ser social, o homem
adquire hábitos relacionados ao meio em que vive; alimentar-se está relacionado a
uma série de fatores externos, como muitas situações agradáveis (aniversário,
casamento, festas, diversões) em que o alimento está presente, e dessa forma, o
padrão alimentar pode passar a ser controlado mais por fatores externos do que
propriamente a fome.
De acordo com Zilberstein, Galvão Neto e Ramos (2002), nos Estados
Unidos, calcula-se que “são gastos anualmente com programas de emagrecimento,
drogas para tratamento da obesidade e programas de condicionamento físico cerca
de 33 milhões de lares” (p258). Desse contexto, infere-se que o custo para o
tratamento da obesidade é caro e traz inúmeras implicações para a sociedade.
Para tanto, nas pessoas obesas mórbidas pode ocorrer um fenômeno
chamado “binge eating” ou “transtorno da compulsão alimentar periódica” (TCAP).
De acordo com Coutinho e Benchimol (2002), trata-se da ingestão de uma grande
quantidade de alimentos num curto período de tempo, aliada a uma sensação de
perda de controle. Essas pessoas passam a incorporar em suas vidas uma
necessidade de ingerir grandes quantidades de qualquer alimento, podendo ocorrer
em indivíduos com transtorno do comer compulsivo, bulímicos e anoréticos tipos
bulímicos.
Nesse contexto é importante considerar válido o uso conjunto de
medicamentos, para facilitar a dieta. Na maioria dos casos, essas pessoas
tentaram todo tipo de tratamento para emagrecer: medicamentoso, spas, tentativas
de regimes, exercícios físicos e mentais, rezas e simpatias.
Deixo claro que não irei abordar sobre as inúmeras técnicas de tratamento
para emagrecer como as citadas anteriormente; o foco ficará especialmente no o
tratamento da cirurgia bariátrica.
25
O tratamento cirúrgico para a obesidade foi realizado, pela primeira vez, na
Suécia, em 1952, com o objetivo de impedir a absorção de gordura no trato intestinal
e provocar diarréias. Mas os benefícios não superaram os efeitos colaterais de longo
prazo.
No Brasil, a cirurgia Fobi-Capella foi introduzida por Arthur B. Garrido Jr. Em
1999, o Ministério da Saúde, após acertos com a Sociedade Brasileira de Cirurgia
Bariátrica, reconhece a necessidade de tratamento cirúrgico aos obesos mórbidos e
inclui a cirurgia bariátrica entre os procedimentos cobertos pelo Sistema Único de
Saúde (SUS), conforme portaria 628/GM de 26 de abril de 2001. Com essa
abertura, houve a ocorrência de um grande número de pacientes candidatos à
cirurgia bariátrica, a ponto de provocar longas filas de espera, sendo que, desses,
2,4% falecem enquanto aguardam a cirurgia nos hospitais públicos. (SANTOS,
2003)
Os pacientes que são submetidos à cirurgia bariátrica perdem sua massa
corpórea de forma acelerada durante o primeiro ano de cirurgia, esperando-se que
eles reduzam 40% de seu peso comparado ao inicial.
Dados disponíveis da literatura mostram que, após a cirurgia, alguns
pacientes conseguem mudar o estilo de vida, com um controle dietético rigoroso e
ajustado à nova situação. Outros não têm a mesma facilidade, ou não conseguem a
perda de peso necessária ou desejada, ou voltam a ganhar o peso perdido. Em
outros casos, ainda, apesar do emagrecimento, a qualidade de vida não é boa, por
inadaptação à nova condição.
A cirurgia bariátrica tem sido atualmente um recurso eficiente para a obtenção
do emagrecimento por parte das pessoas com obesidade mórbida e para a
manutenção do peso baixo ao longo do tempo, comprovando a eficácia do
tratamento e seus benefícios clínicos e psicológicos associados à perda de peso.
(WAIDERGORN, EVANGELISTA, 1999; CASALNUOVO
EGUILEOR, BRITES E
BRAGINSKY
, 2001; GUZMÁN & BOZA,2001; FERNANDEZ, PUCCA e MATOS,
2001; CSENDES,BURDILES, MALUENDA, BURGOS, RECIO, FERNANDEZ,2002;
SABBIONI et al.,2002; TRONCOSO, NUNEZ, GUZMAN, 2002; ZILBERSTEIN,
GALVÃO NETO e RAMOS, 2002)
26
Casalnuovo et al. (2001) constatam, em sua pesquisa com cem sujeitos
submetidos à cirurgia bariátrica, uma perda de peso s-operatório medido por IMC
de 13% no primeiro mês e 26% no terceiro mês. Garrido Junior (2000) refere em seu
trabalho que, no primeiro mês pós-cirúrgico bariátrico, ocorreu uma perda de peso
medido por IMC de 9,1%, sendo que, no terceiro mês, a perda foi de 17,1% e, aos
doze meses, atingiu 42,3%.
Sabe-se, contudo, que é preciso ocorrer modificações internas, querer
modificar o estilo de vida, e assim, ocorrer mudanças externas, para que possa
haver um melhor aproveitamento do processo da cirurgia. Somente a cirurgia não
garante uma melhoria na qualidade de vida da pessoa obesa mórbida, deixando
claro que essa não é apenas uma questão médica, mas, também, psicológica.
Para emagrecer, e ficar magro, é necessário reorganizar a vida e se preparar
para a cirurgia e as dificuldades que virão, pois a nova imagem corporal adquirida
através do tratamento poderá ser duradoura se a pessoa tiver competência para
mudar seu estilo de vida e comportamento.
3 - Mobilidade e obesidade
A palavra mobilidade é conceituada por FERREIRA (2006) como: 1.
“qualidade ou propriedade do que é móvel ou obedece às leis do movimento”; 2.
“facilidade de mover-se ou de ser movido...”
O termo mobilidade é antigo e muitas vezes confundido com motricidade no
seu significado mais lato. É utilizado atualmente em muitos estudos sobre a
deficiência visual o termo mobilidade e orientação, cuja designação se refere à
deslocação, a pé, da pessoa portadora de deficiência visual.
Nas atuais sociedades, a mobilidade é um dos traços mais marcantes, pois
inclui múltiplos componentes, envolvendo pessoas, bens, serviços, capitais,
informações e imagens. Pressupondo a circulação de bens materiais e imateriais,
tecnologias, infra-estruturas, valores sociais, formas de regulação política e jurídica
que a condicionam, podem estimular a pessoa ou dificultar a sua mobilidade.
27
28
onde dois assentos devem ser contíguos, situados na primeira fila, e ter apoio de
braço rebatível ou retirável. Caso seja cumprida esta lei, contribuirá para uma melhor
vida social do obeso.
Em sua vida social, situações como ir ao teatro, cinema, bares, podem
transformar-se em um problema, até mesmo em pesadelo. Muitos desses lugares
não possuem estrutura física, as pessoas obesas não cabem nas cadeiras, ou estas
são fracas para seu peso e elas acabam indo parar no chão, sendo motivos de
risadas e piadas.
Outros fatores são lugares estreitos de passagens, locais tumultuados,
sempre evitados, pois vivenciaram situações negativas, o conseguindo se
deslocar, ou encontrando muita dificuldade, como casas noturnas ou bares repletos
de pessoas, onde, para se locomover, acabavam empurrando muitas pessoas ou
esbarrando nos móveis, sujando e rasgando suas roupas.
Dessa forma, a área de circulação e locomoção da pessoa obesa é restrita,
desestimulando sua vida social. Essa mobilidade comprometida implica não somente
na perda de locomoção, mas em sua autoconfiança, auto-estima, valores, auto-
imagem e independência, fatores relevantes na sua integração social. Complementa
Curtin (1962) que a mobilidade é um movimento psicológico implicando nas atitudes,
idéias, aspirações e ambições. Com isso, causando tensões físicas e psicológicas
na pessoa portadora de obesidade.
4 - Mobilidade do paciente obeso mórbido
O estilo de vida da cultura ocidental no século XXI implica num leque de
facilidades que tornam a vida excessivamente cômoda e sedentária, comodidade
essa que se configura como agravante para o emagrecimento no caso dos obesos,
principalmente no obeso mórbido.
A alimentação tornou-se mais calórica, o gasto energético foi diminuído com a
praticidade de se realizar tarefas, o lazer foi modificado pela comodidade,
passividade e rapidez. Como exemplo, para se assistir a um filme não é mais
necessário ir ao cinema, aluga-se uma fita cassete ou DVD. Estando com fome,
telefona-se para um serviço “delivery”. A vida tornou-se sedentária, em
contraposição à correria do dia a dia, acarretando uma diminuição de sua qualidade
e facilitando o desenvolvimento da obesidade nas sociedades.
29
Dessa forma, a mudança do estilo de vida, com o passar do tempo, provocou,
concomitantemente, uma mudança na mobilidade pessoal, principalmente para a
pessoa é portadora de obesidade.
E como será para a pessoa com obesidade mórbida lidar com sua mobilidade
sem um espaço ambiental adequado? Será que ela possui a percepção clara de seu
estado corporal?
A obesidade mórbida implica numa série de situações e constrangimentos
diante da sua mobilidade limitada. A limitação ambiental inicia-se em seu lar, pois as
dimensões de sua cama, poltrona, portas da casa, banheiro precisam ser
adequados ao seu tamanho e resistência, além dos acessórios básicos como
roupas, sapatos e outros.
Para a pessoa com obesidade mórbida, realizar tarefas, como dançar,
caminhar, nadar (vestir um maiô), praticar um esporte, requer esforço enorme,
deixando de ser um prazer. Na maioria das vezes, sua mobilidade é comprometida
pelo excesso de massa corpórea, o que pode ir, aos poucos, anulando sua vida
social.
O contato social da pessoa obesa mórbida, a partir de freqüentar festas,
sentar-se num restaurante para jantar ou mesmo num bar para beber um chope, ir
ao cinema, teatro, passa a ser abolido. Muitas vezes nesses locais o cadeiras
ou poltronas adequadas à sua dimensão e peso corpóreo, além do constrangimento
causado pelas pessoas ao verem-na como uma pessoa diferente.
Assim, para a pessoa com obesidade mórbida, deslocar-se em qualquer
ambiente, caracteriza grande transtorno. Com o seu peso corpóreo não consegue
andar por longas distâncias. Na locomoção em ônibus, não consegue muitas vezes
entrar no ônibus, onde os degraus são altos demais, pois muitos motoristas
estacionam longe da calçada, e estes encontram muita dificuldade de subir; em
seguida vem a catraca onde o espaço é pequeno, sem levar em conta o tamanho
das poltronas. Assim, passa sempre a evitar locais estreitos de passagem,
tumultuados por pessoas, que, na sua maioria, podem freqüentar espaços sociais
prazerosos.
30
Existe uma associação, nos EUA, de direitos dos obesos, que reivindica mais
espaço nos bancos dos ônibus e aviões. Como afirmado anteriormente, aqui no
Brasil, dia 24 de janeiro de 2007 foi aprovada a lei nº5360/05, mas na prática ainda
não ocorre.
A pessoa com obesidade mórbida, além de ter que lidar com suas limitações
e dificuldades enfrenta também a discriminação social. Zilberstein, Galvão Neto e
Ramos (2002) evidenciam que existe falta de respeito generalizada pelos obesos
mórbidos, a ponto de existirem estudos em que os pacientes relatam terem sido
tratados de forma desrespeitosa por profissionais da área de saúde.
No entanto, deveriam ser esses profissionais da área de saúde as primeiras
pessoas a ajudarem o obeso mórbido a lidar com suas dificuldades diante da sua
condição.
Essas pessoas perderão cerca de 20 a 30 kg logo após serem submetidas ao
procedimento da cirurgia bariátrica. Assim, quais características do espaço físico
serão priorizadas na percepção delas? Ocorrerão modificações?
Godoy (2002) relata que,
“... uma alteração na percepção proprioceptiva do esquema
corporal. Tive uma paciente adolescente que perdeu 15Kg e não
percebia a mudança quando se olhava no espelho. Ela se via ainda
com aqueles 15Kg a mais. Dizia: ‘Eu estava horrorosa e continuo
horrorosa. Não percebo a mudança. Sei racionalmente que
emagreci, mas, emocionalmente, não acredito”. (p. 32)
Assim, se não ocorrer uma alteração na percepção do esquema corporal
modificado, não haverá a percepção de sua mobilidade no espaço ambiental,
necessitando, por isso, de um trabalho de auto-imagem aliado à auto-estima.
Godoy (2002) complementa que,
“O contato com seu si mesmo ajuda a harmonizar os
relacionamentos. Uma pessoa que engorda, emagrece, engorda,
emagrece vai perdendo seu próprio referencial e tendo dificuldade
em lidar com o si mesmo, prejudicando a sua tele (do grego,
distância, agindo à distância), definida como a ligação elementar
entre as pessoas e os objetos”. (p.34)
31
E a cirurgia bariátrica, ao provocar o emagrecimento brusco na pessoa com
obesidade rbida, que se tornou em uma pessoa mais magra, em um processo
rápido, comparado com os métodos preconizados de emagrecimento, poderá trazer
também dificuldades a essa mesma pessoa, no lidar consigo, com outras pessoas e
com o ambiente, caso ela não esteja consciente e preparada para sua nova imagem
corporal.
Gunther (2003) ressalta que, à medida que as pessoas se deslocam de um
lugar para o outro, as dimensões físicas e psicológicas de espaço (pessoal,
territorialidade, apinhamento e privacidade) se modificam. O movimento no espaço
afeta tanto a densidade do recinto que está sendo deixado quanto aquele em que
se está entrando. O movimento, que pode implicar em mais ou menos privacidade,
presença ou ausência em um território, pode também implicar mais ou menos
controle sobre si mesmo. A mobilidade como recurso de exploração é essencial para
o desenvolvimento e bem estar humanos.
Fica claro que a mobilidade é imprescindível, inclusive para o obeso mórbido,
porque ela desvela os caminhos e conhecimentos a que a pessoa pode chegar.
5 - Cirurgia Bariátrica e Mobilidade
Face a esse panorama, a cirurgia bariátrica surge como uma das alternativas
para emagrecer, minimizando ou eliminando suas conseqüências físicas, que podem
levar a pessoa à morte.
É preciso esclarecer a pessoa que irá realizar o procedimento cirúrgico sobre
a necessidade do acompanhamento psicológico, pois a cirurgia irá trazer muitos
benefícios para o paciente, mas também uma série de repercussões relativas à sua
realidade psíquica, não resolvendo problemas psicológicos pré-existentes.
Inúmeras pessoas diagnosticadas como portadoras de obesidade mórbida
são submetidas à cirurgia bariátrica diariamente; ela é vista, por muitos pacientes
como uma nova esperança de vida, após insucessos de tratamentos para
32
emagrecer. Apesar dela ser extremamente invasiva, dolorosa, precisa-se ter
consciência sobre a mudança de estilo de vida, muitas vezes radical, que a pessoa
terá que enfrentar.
Inicialmente o tratamento ocorre meses antes da operação, com uma
mudança no hábito alimentar e inserção de atividade física; após ter perdido cerca
de 10% de seu peso, e estar opta a enfrentar a cirurgia, ela é realizada.
Ao acordar, após o procedimento cirúrgico, continua com o mesmo peso, pois
o ato cirúrgico não emagrece, mas, psiquicamente, se sente aliviada por saber que
sobreviveu à cirurgia e, com isso, possui um grande estímulo para iniciar uma
mudança em sua vida.
Nas primeiras semanas ingerem somente líquidos; depois a comida pastosa
e, após dois meses, inicia a alimentação sólida. Com essa mudança radical de
alimentação, conseqüentemente a pessoa perde seu peso, o corpo começa a se
modificar rapidamente e muitos pacientes percebem uma melhora na mobilidade,
tentando e conseguindo realizar atos que antes não conseguiam, como tomar banho
por inteiro, amarrar os sapatos, e ficam maravilhados a cada dia.
Aos três meses, é possível constatar uma mudança corporal, perda de peso,
experimentar que socialmente as pessoas que convivem ao redor reforçam
positivamente tal modificação e, verificar que, finalmente, estão conseguindo o que
sempre desejaram: emagrecer, e de uma forma rápida.
Com o ato cirúrgico espera-se que o paciente perca cerca de 40% de seu
peso antes da cirurgia e, com isso, ocorrem muitas mudanças. Essas mudanças
acarretam uma modificação brusca em sua vida, desde pessoal, atingindo a sua
auto-imagem, autopercepção, auto-estima, mobilidade pessoal, independência das
33
que antes, sem sentir falta de ar. A cada dia é uma descoberta, aprende ou
reaprende a realizar movimentos até então não alcançados, mas que possuem um
grande significado em sua vida.
Contudo, toda essa mudança não é tão fácil como parece; para que isso
permaneça, é necessário inserir essa mudança de estilo de viver no decorrer de sua
vida.
Benedetti (2001) ressalta que a realização da cirurgia traz à tona três
questões.
A primeira consiste em que esse procedimento não implica emagrecimento
imediato e duradouro, sendo que o fator determinante para o sucesso do tratamento
é a forma como o paciente vai lidar com esse recurso, a cirurgia. É necessário que
haja, por parte dos pacientes operados, o compromisso de assumir um
comportamento alimentar vigilante pelo resto da vida, tanto no que se refere à
quantidade como à qualidade dos alimentos. Caso contrário, sem uma mudança
radical no comportamento alimentar, a cirurgia perde o poder emagrecedor e frustra
certo número de pacientes que não conseguem perder o peso necessário ou o
fazem com muito sofrimento.
A segunda questão revela que a perda de peso, quando grande e acelerada,
provoca uma mudança brusca na estrutura corporal, que não é assimilada com a
mesma rapidez. A adequação ao novo estilo alimentar e a adaptação funcional às
transformações corporais necessitam de tempo para a mobilização de recursos de
enfrentamento.
Por fim, se impõe uma idéia equivocada de que emagrecer implica
diretamente uma melhoria na qualidade de vida. Muitos pacientes desejam se
submeter ao tratamento, com expectativas que vão além do emagrecimento.
Mostram a associação direta entre emagrecimento e realização pessoal, como se
esta última não dependesse de seu esforço próprio.
6 - Dimensão psicossomática
34
O termo psicossomático foi utilizado, pela primeira vez, em 1818, por J. C.
Heinroth, psiquiatra alemão, ao fazer referência à insônia e à influência das paixões
na tuberculose.
A medicina psicossomática surge nesse período com uma proposta holística
na maneira de olhar a doença. Sami-Ali (1992, p. 159), conceitua a medicina
psicossomática como sendo “uma maneira de introduzir variáveis psicológicas num
domínio que se define como orgânico, adicionando variáveis psíquicas às variáveis
orgânicas”.
Na década de 30, surge o interesse pela psicossomática na América, com
Alexander e Dunbar da Escola de Chicago, Cannon e Selye. Esses autores são
5.67474(n)-gs.6602.284(E)-3.39556(s)-585(s)-0.295585(o)ore04(t.76 Td[(A))´ D80439(04(t.76 Td[(A))´)-2e.
35
Para Mello Filho (1992), a evolução da psicossomática ocorreu em três fases:
inicial ou psicanalítica, teve seu interesse voltado para os estudos da origem
inconsciente das doenças, das teorias de regressão e dos benefícios secundários do
adoecer; segunda fase, intermediária ou behaviorista, valorizou as pesquisas, tanto
em homens quanto em animais, e deu um grande estímulo aos estudos sobre
estresse; terceira fase, atual ou multidisciplinar, valorizou o social, interação e
interconexão entre profissionais de saúde.
Alexander (1989) afirma que, teoricamente,
“cada doença é psicossomática, uma vez que fatores emocionais
influenciam todos os processos do corpo, através das vias nervosas
humorais e que os fenômenos somáticos e psicológicos ocorrem no
mesmo organismo e são apenas dois aspectos do mesmo
processo”. (p. 42)
Complementa Cardoso (1995) que não faz sentido algum separar doença
orgânica e doença mental, uma vez que as somatizações, nas duas, correspondem
a uma somatização cerebral, pois se ocorrer uma doença orgânica esta te
ressonância no psíquico e vice versa.
Dessa forma, deve-se abordar a obesidade e a obesidade rbida sob o
ponto de vista psicossomático.
Mello Filho (1992) relata que as obesidades mórbidas, ou grandes obesos,
indicam a impossibilidade de remoção ou impõem limites bem estreitos de redução
ponderal, ao contrário das obesidades do tipo reacionais, ou seja, aquelas que se
instalam a partir de crises existenciais ou acidentais recentes como: gravidez, luto,
perda, separação.
Ao se falar de obesidade, é necessário ressaltar o aspecto da ingestão
alimentar que envolvem as pessoas obesas, pois há uma diferença entre o comer
por fome e o comer por desejo.
A fome física ou fome biológica é a nossa necessidade de reabastecimento.
Ela é desagradável, desprazerosa, mas sustenta a vida.
36
a fome emocional, ou apetite, procura o prazer. Ela o tem ligação com a
sustentação da vida, implica em qualidade e não obedece a reservas calóricas. A
comida é procurada como um tranqüilizante, que nos faz comer sem parar, apesar
de estarmos satisfeitos, ou até mesmo passando mal, fazendo-nos,
conseqüentemente, engordar.
Um dos papéis da gordura indica ser uma proteção, um isolamento, e a idéia
de retirá-la traz ansiedade, caos, pânico. Para muitos, a perda do peso é vivida
como ser roubado, espoliado. Assim sendo, tirar peso pode significar implicitamente
vir à luz algo mais profundo, temido e indesejado.
Mello-Filho ressalta que o excesso de peso constitui-se num aleijão, em
muleta que se tem que carregar para o resto da vida. Serve o excesso de peso no
corpo à função de localizar toda a angústia e toda sorte de dificuldades existenciais.
A localização (somatização), no entanto, para muitos, traz tranqüilidade e paz. O
indivíduo, ao viver e aceitar (internamente) a obesidade e tê-la como fonte de todas
as desgraças de sua vida, possui condições de exercer um controle. Ele não
precisa mais pensar em dificuldades emocionais e, sim, em controlar o peso,
modificando o seu foco de sofrimento. (MELLO-FILHO, 1992)
Vemos, pois, que a obesidade mórbida é uma doença que traz prejuízos
físicos, emocionais, sociais e ambientais. Sob o ponto de vista da Psicossomática,
merece uma terapêutica multidisciplinar para se ter bons resultados.
IV - MÉTODO
Este trabalho consiste em uma pesquisa de cunho qualitativo. A pesquisa
qualitativa baseia-se em uma descrição, com uma abordagem interpretativa dos
fenômenos, em termos das significações que as pessoas trazem para o
pesquisador.
Complementa Neder (1992) que, na pesquisa qualitativa, a análise se
processa pela descrição e, sempre que se tratar de fenômenos que ocorrem com
seres humanos, os cuidados na análise se multidimensionam, consideradas as
37
variações individuais no modo de ser de cada Ser Humano. Essa descrição e essa
análise descritiva deverão conduzir à compreensão do fenômeno, de modo a levar a
conhecer ou reconhecer o objeto da pesquisa, o objeto que se descreve, o
fenômeno em estudo, levando à diferenciação e à compreensão do fenômeno
diferenciado.
A análise dos dados será realizada seguindo a fenomenologia; conforme
FORGHIERI (2004), uma pesquisa qualitativa, em uma abordagem fenomenológica,
consiste em retornar ao mundo da vida, à experiência vivida, e sobre ela fazer uma
profunda reflexão, que permite chegar à essência do conhecimento.
Assim, é um estudo descritivo do fenômeno, como ele se revela à nossa
experiência, tudo que se observa, percebe, imagina, alcançando as essências das
coisas que ocorrem na consciência, conhecendo o próprio objeto.
Dessa forma, é um estudo descritivo do fenômeno (mobilidade), como ele se
revela à pessoa obesa no pós-cirúrgico bariátrico.
1 - Sujeitos
Participaram desta investigação seis pacientes que apresentavam obesidade
mórbida ao serem submetidos à cirurgia bariátrica, e que estavam no período de três
a quatro meses de tratamento pós-cirúrgico. É um número pequeno de sujeitos,
devido aos poucos pacientes que foram operados na instituição em que
pesquisamos.
Os sujeitos foram adultos, com idade variando entre 28 a 44 anos, sendo
quatro mulheres e dois homens, alfabetizados, participantes do grupo de psicologia
pós-operatório, encontrando-se no período de três meses a quatro meses após a
cirurgia, e que passaram pelo procedimento regulamentar de atendimento, que está
descrito a seguir.
A faixa etária selecionada abrangeu pessoas que possuem um menor risco
relevante para enfrentar a cirurgia e, assim, ter uma probabilidade de maior sucesso
nesse tipo de tratamento. (FERNANDES, PUCCA e MATOS, 2001)
38
1.1 Critérios de Inclusão dos Sujeitos
Foram incluídos como sujeitos da pesquisa os pacientes que participaram do
procedimento regulamentar no processo cirúrgico, que ocorre da seguinte forma:
1.1.1 - Os pacientes com obesidade mórbida chegam ao hospital diretamente
ou através dos encaminhamentos realizados pelas Unidades Básicas de Saúde
(UBS) dos bairros e de outras cidades da região.
1.1.2 - No Serviço Social, os pacientes recebem uma senha que possibilita o
agendamento da consulta inicial com a médica endocrinologista, e esta os
encaminha para a nutricionista e para as psicólogas da equipe que irão realizar o
atendimento grupal.
1.1.3 - O trabalho do serviço psicológico se desenvolve em três fases, que
vão constituir-se em grupos diferentes. Na primeira fase, os pacientes participam do
grupo de obesidade, com duração de cerca de quatro semanas, com o objetivo de
perder aproximadamente 10% de seu peso atual, necessitando apresentar
condições psíquicas favoráveis, para poderem participar do próximo grupo. Na
segunda fase, o grupo da cirurgia, os participantes permanecem por trinta dias,
recebendo orientações e, ao final, procede-se a uma avaliação psicológica para se
apurar se vão ou não para a cirurgia. Os pacientes que não forem liberados para a
cirurgia serão excluídos do processo cirúrgico e os que necessitarem de ajuda serão
orientados para recorrer a um tratamento psicoterapêutico. Na terceira fase, no
grupo pós-cirúrgico, os pacientes recebem um atendimento de doze meses, após a
cirurgia, tendo como objetivo principal auxiliá-los na adesão ao tratamento; aqui os
pacientes recebem um apoio para enfrentar as dificuldades que poderão surgir como
ansiedades elevadas, frustrações, desejos, medos, problemas conjugais, familiares
e outros. E, após os doze meses, os pacientes que apresentarem condições
psíquicas favoráveis nesse processo de adesão ao tratamento recebem altas.
39
1.2 - Critérios de exclusão dos sujeitos
Fora 0 8.33333pJ/R9 12 Tf-441.861 npTf42.36060 12 T4-2..861 TnpTf.640026(23-5-5-52.861 11E8.3333-5(e)T3)d2h3.2eususus6 suj23estérioo(x24(7(i)-2.16558(o)0)2.8436(u)0.640026(su))R9 12 Tf-441.861 2q-42q-42q-42q-4e4.38,b640026(su)0.6426(s)-4T.cccc5ccu86805555555555555555555555555555512q-42q-42q-42q-46s22h5(x24(7(i)-2.1655102h5su)0.640026s)556]TJ/R1881131s d s são us s s s s.se6(s)556]TJ/R1.33333 0 Teeeeeeeeeeeeeeeeee3333 eeeeeee4(ã)-4.33117(o)0.640026( )-2.16.1eee.2 4(ã)-4.3314(225su)0.640026é e9594(s)-e9594(s)-e9594(ss)-e9594ns ãu7026( )-26l5555559.92 Td.cc2.805( )-2.11ú9b5311u5559.92 Td-2.11ú9b5u555952.67.n
40
Observações da pesquisadora sobre os sujeitos.
3.1 - Entrevistas
3.1.1 - Entrevista Estruturada
Foi realizada uma entrevista estruturada com cada sujeito, individualmente,
para obter dados referentes às características dos sujeitos, como: nome, idade,
estado civil, número de filhos, escolaridade, religião, tipo de trabalho, renda familiar,
maior peso atingido, peso no dia da cirurgia e peso atual no dia da entrevista.
(Anexo C);
A entrevista foi realizada logo após a explicação e a autorização do sujeito
para fazer a pesquisa.
3.1.2 - Entrevista Semi-estruturada
A entrevista semi-estruturada, com questões abertas, foi realizada com cada
sujeito para levantar aspectos relevantes, com o objetivo de estabelecer e
compreender o momento existencial do sujeito, verificar a sua mobilidade após a
cirurgia e sua significação (Anexo D).
A entrevista semi-estruturada foi feita logo após a realização da entrevista
estruturada, e um gravador SONY M-527 foi utilizado para gravar cada entrevista e,
posteriormente, todas as fitas foram transcritas.
3.2 - Prontuário
Após a realização da entrevista semi-estruturada, foi feita a coleta de dados
dos prontuários do hospital onde constam dados diversificados dos diferentes
41
profissionais, dos diferentes setores como endocrinologia, cirurgia, nutrição e
psicologia.
3.3 - Reunião com os profissionais da equipe multidisciplinar
Em seguida, com os dados obtidos, foi realizado um encontro com cada
43
4.11 - A pesquisadora poderia sugerir ao sujeito que não continuasse o processo,
caso percebesse que o mesmo não se sentia à vontade ou constrangido.
4.12 - Os sujeitos foram informados de que, após a conclusão da pesquisa, seriam
contatados para devolutiva em grupo, caso desejassem.
5 – Coleta de dados
Primeiramente foram realizados convites verbais aos pacientes no grupo pós-
operatório da psicologia que se encontravam no período entre três meses a quatro
meses no pós-cirúrgico e que se enquadraram no critério de inclusão da pesquisa.
Foram realizados vários convites, sendo um a cada mês, até ocorrer a
obtenção de seis sujeitos na pesquisa, com a duração aproximada de quatro meses
para obter a coleta de dados desses seis sujeitos.
Os pacientes que aceitaram participar da pesquisa foram agendados pela
pesquisadora para um encontro individual, sendo avisados, pela mesma, uma
semana antes e no dia anterior por telefone.
Dessa forma, foram marcados dez encontros com os sujeitos, sendo que
quatro deles não compareceram no dia marcado pela pesquisadora para realizar as
entrevistas, sendo que três dos sujeitos mencionaram problemas pessoais no dia e
um sujeito alegou esquecimento.
No dia do convite para participar como sujeito da pesquisa, aos pacientes que
concordaram em participar desta, foram explicados, individualmente, o objetivo da
pesquisa, a necessidade do termo de consentimento e
44
O segundo encontro foi realizado individualmente, e nele foi explicado,
novamente, o objetivo da pesquisa e estando o sujeito ciente e concordando em
participar desta, foi convidado a assinar o termo de consentimento livre e
esclarecido.
Em seguida, foi aplicada a entrevista estruturada com duração de
aproximadamente cinco a quinze minutos com cada sujeito.
Após o término da entrevista estruturada, foi orientado ao sujeito que a
entrevista semi-estruturada seguinte, seria gravada, para que a pesquisadora
pudesse coletar os dados fidedignamente, como ele falasse. Observou-se que, no
início, alguns sujeitos ficaram constrangidos, olhavam para o gravador, mas, com o
passar dos minutos, foram ficando descontraídos.
A duração da segunda entrevista variou aproximadamente de quarenta a 100
minutos.
Após o termino de cada entrevista, a pesquisadora realizou anotações sobre
o comportamento do sujeito, observado no período de encontro.
A coleta de dados dos prontuários foi realizada em três encontros, devido à
dificuldade de se ter acesso a eles naquele momento, uma vez que se encontravam
com o profissional da instituição que teria atendimento com o paciente nesse dia ou
estava na comissão de prontuário da instituição.
A reunião com os profissionais da equipe foi realizada de forma individual com
os profissionais da instituição da pesquisa, onde se obteve o parecer dos
profissionais da endocrinologia, psicologia e nutrição.
45
V - RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS
1 - Procedimento da análise
As entrevistas foram analisadas a partir das questões levantadas da própria
entrevista. Será apresentada, a seguir, a legenda que identifica quais questões
foram trabalhadas:
Questão 1 – Fale sobre a sua vida após a cirurgia.
Questão 1.1 – Como é hoje a sua locomoção?
Questão 1.2 Sobre a sua casa, qual o lugar de que mais gosta? Por
quê?
Questão 1.3 – A que lugar gosta de ir, ao sair de casa? Por quê?
Questão 2 – Qual o significado que tem para você a sua locomoção?
Questão 2.1 - Como você percebe seu corpo após a cirurgia?
Questão 2.2 – Como você se sente hoje?
46
Os dados foram apresentados por questão, seguindo cada sujeito, sendo que
os sujeitos foram designados por pseudônimos.
2 - Dados sobre os Sujeitos
Amadeu Bia Caio Dirce Elen Fernanda
Idade
43 37 44 28 41 49
Sexo
masculino Feminino masculino feminino feminino feminino
Estado Civil
solteiro Solteiro casado solteiro casado casado
Número de
Filhos
2 0 1 0 3 8
Escolaridade
2º grau
completo
2º grau
completo
2º grau
completo
Superior
completo
1º grau
incompleto
1 ºgrau
incompleto
Religião
evangélico Católico evangélico católico evangélico evangélico
Ocupação
motorista Cozinheiro auxiliar de
enfermagem
auxiliar de
enfermagem
Doméstica Do lar
Renda
Familiar (R$)
3.500 2.000 2.500 5.000 600 560
Maior Peso
Atingido
190 152 132 138 130 152
Peso no dia
da Cirurgia
133 116 107 121 108,7 127
Peso Atual
107 98 83 102 91 105
3. Entrevistas
Questão 1 – Fale sobre a sua vida após a cirurgia.
a) Entrevista - Amadeu
“Bom, a minha vida após a cirurgia ela me trouxe assim muitas felicidades,
né... Porque a cirurgia ela foi assim, para mim é como se fosse uma luz no fim do
túnel. Uma coisa que eu desejava mas que estava muito distante...A cirurgia me deu
uma nova vida, hoje eu sou uma pessoa com a auto-estima lá em cima, sabe.”
b) Entrevista – Bia
“Eu me sinto tão feliz hoje, que acho que contaria a minha história em rede
nacional... uma sensação diferente. Porque, acho que naquele dia eu senti que a
47
minha vida tava mudando...depois da cirurgia a gente muda tudo isso. Que você
não sente mais fome, aquela necessidade de estar sempre comendo, sempre
comendo... Não sei onde vai parar tudo isso, sei que isso some. Pelo menos o
meu sumiu... Fico assim tranqüila, não sinto vontade de comer nada.”
c) Entrevista - Caio
“... após a cirurgia você passa a se vê, e até mesmo a se respeitar mais. A
dar valor a outros valores da vida, né. E, mudou, mudou muito, mudou muito. A auto-
estima principalmente foi parar em cima, a auto-estima, né. Porque a partir do
momento que você não se olha mais, e passa a se vê, você o seu eu. Você vê,
não as suas limitações, você coloca, são outros valores, é vida nova, né... Eu me
vejo no espelho e, e, me vejo né. Porque antes , você comprava uma roupa e tal,
você ia para uma festa você via aquela roupa naquela hora. E depois você achava
um abuso, um absurdo a hora que você via na cama, aquela roupa pendurada
porque era enorme. Agora hoje não, é completamente diferente... Por inteiro, por
dentro e por fora, né. Cada minuto é outra coisa, disposição, pra tudo, pra saí,
paciência. Porque, o gordinho como se diz por aí, o gordinho ele é engraçado, é
simpático, mas ele é muito estressado. Ele é estressado. Embora não pareça, é
aquela coisa assim né, você olha por fora você não sabe o que tem dentro. Agora,
não. A partir do momento que você faz essa cirurgia que é invasiva, muitos falam, ah
não, é uma coisa rápida, ela é invasiva, ela é agressiva, mas pra mim foi um mal
necessário. Porque nesse momento da minha vida eu precisava mudar algumas
coisas. Mas é uma mudança que eu impus a mim, e que eu estou me adequando.
Não que a vida, a circunstância, não. Eu que impus a mim e estou tocando pra
frente.”
d) Entrevista – Dirce
“A cirurgia, a minha cirurgia foi ótima, não tive dor, não tive enjôo, não tive nada. Até
hoje não tive nenhum dia que eu comi e passei mal. Porque eu me preparei bem
psicologicamente antes. Então, eu masco bastante, como. É sagrado pra mim a hora
da comida, né. É mudou bastante.”
48
e) Entrevista - Elen
“Nos primeiros quinze a dezesseis dias, eu entalei. Você tem que ir no
hospital fazer endoscopia. Por causa que a minha menina estava comendo assim,
goiaba, e eu peguei e pedi uma mordidinha da goiaba dela. Eu não sei se eu não
mastiguei direito e eu engoli... Tenho medo de sofrer. Que, depois dos trinta dias,
tava com uns quarenta dias, começou a me dar muita cólica, eu não tinha cólica.
... Até os trinta dias. Depois dos trinta dias, acho que depois comecei a me
alimentar, começou a me dar muita fome. Nossa, mas uma fome que eu não
agüentava. Eu terminava de tomar o café da manhã, um pouquinho de café com
leite, com adoçante, duas bolachas de água e sal, nossa, quando era nove, dez
horas, eu não estava agüentando de fome. Daí eu comia um pedacinho de uma
fruta, . Daí ficava tomando água, líquido, até chegar meio dia pra mim almoçar
novamente. Nossa, mas é uma fome nesse intervalo que eu não estava agüentando,
sabe. Daí, eu peguei e falei assim, meu deus, eu vou ter que parar com isso. Porque
se eu ficar também, eu corro atrás da fome, querer tampar a fome, né. Eu não vou
emagrecer, né. Até a nutricionista falou assim, que eu emagreci muito pouco.
Nesses dois meses, continuo, fez três meses, tem seis quilos que eu emagreci. É,
ela falou assim, que é muito pouco, que eu não perdi peso. Que era pra mim ter de
um lado, é dez por cento do peso em dois meses, e deu somente seis por cento do
peso. Ela falou assim, que o meu organismo que é mais difícil pra emagrecer... Não
é fome, é que você acostumou, ficou aquele ar que tem que ficar catando as coisas
para comer, né. Daí eu fico me segurando, daí quando é a hora do almoço, eu pego
uma colher de arroz, uma de feijão ou então caldinho de feijão, e, uma fatia de
tomate, porque mais que isso você não consegue, e um pedacinho de mistura, ou
um peito de frango ou um bifinho. E vou mastigando, mastigando, mastigando a
comidinha é trinta, quase quarenta minutos para conseguir comer aquilo. E não é
todo dia sabe, tem dia que não consegue. Tem dia que, que nem eu falei para você.
É, daí eu peguei e cortei. Agora, nossa, já acostumei. Mas nos primeiros dias foi
difícil. Domingo passado eu comecei a cortar, foi difícil. Porque é, dava intervalo de
três horas, três horas e pouco...E eu queria comer, comer, que eu tava acostumada,
né. Foi difícil. Mas agora acostumando bem. Ontem foi bem melhor, hoje
bem melhor, né.”
49
f) Entrevista – Fernanda
“É bem melhor que antes, né. Tinha muita canseira toda, pra andar, tudo que
eu fazia era difícil, né. Pra caminhar, agora é melhor. Pra dormir também, deus me
livre, tinha falta de ar.”
Síntese da Questão 1
A vida, após a cirurgia bariátrica, trouxe felicidade para Amadeu e Bia. Para
Amadeu, a cirurgia representou uma luz no final do túnel, como se conseguir
emagrecer estivesse muito distante; hoje é uma pessoa com uma elevada auto-
estima. Para Bia, o sentimento é de que sua vida mudou, está mais tranqüila, por
não ter mais vontade de comer. Caio relata que aprendeu a se respeitar mais, dar
valor a outros valores da vida, não ver as suas limitações, “se ver por inteiro, por
dentro e por fora”, sendo uma vida nova, com uma elevada auto-estima. Dirce refere
que a vida mudou bastante e o momento da refeição se tornou sagrado. Já, Elen,
enfrentou um momento traumático após a cirurgia, pois teve que ser submetida a um
procedimento de endoscopia; sentia fome aos dois meses e hoje relata estar se
acostumando a comer menos. Fernanda diz que sua vida está bem melhor que
antes, porque tudo que realizava antes da cirurgia era mais difícil, agora é melhor,
como andar e dormir.
Questão 1.1 – Como é hoje a sua locomoção?
a) Entrevista – Amadeu
“A minha locomoção está ótima. Hoje, inclusive, aconteceu uma coisa com a
minha perna da semana passada, né, que eu não subia escada, tipo assim, uma
escada subir no telhado, né. Eu não subia. Eu hoje, da semana passada, eu subi
numa escada entendeu. O sapato, antes para amarrar o sapato eu tinha que colocar
o em cima de uma cadeira, pra poder curvar um pouco o corpo e com alguma
dificuldade amarrar o sapato. Hoje eu abaixo, amarro o sapato, entendeu. Se
precisar pintar o roda pé de uma parede eu passo o tempo todo abaixado pintando o
50
roda da parede e não me sinto mal, me sinto bem, entendeu. Até, inclusive eu
conversei com a doutora, a psicóloga na entrevista retrasada, né. Que eu estava me
sentindo com muita energia, eu estava me sentindo muito ativo, e as atividades que
eu estava fazendo estava sendo poucas, pelo tanto de energia que eu tinha, sabe. O
meu trabalho, a minha caminhada, tudo que eu estava fazendo, estava sendo muito
pouca. Inclusive, eu era uma pessoa muito sedentária devido a minha obesidade, eu
ficava a maior parte do tempo deitado, assistindo televisão, né. E então a vida era
muito parada. Antes a gente dormia durante o dia, hoje não. Hoje eu não sei nem o
que é saber dormir de dia mais. De dia para mim é, quem dorme é criança, eu
não durmo mais. E também não fico deitado. Ás vezes eu chegava do trabalho, e
já chegava cansado, Por quê? Devido a obesidade. A obesidade já cansava mais do
que o próprio trabalho. Mas hoje o, hoje eu chego do trabalho troco de roupa,
vou fazer caminhada, vou pedalar na bicicleta ergométrica, você entendeu, estou
sempre me mexendo. Quando não, vou dar uma limpada no quarto, varrer o chão e
passar um pano, sabe, então, eu não paro. Você entendeu. Eu tomava um banho,
chegava do serviço quatro horas, quatro e meia eu tomava banho, né. Cinco horas
eu deitava na cama e saía da cama outro dia, de manhã para trabalhar. Hoje eu
durmo antes da meia noite entendeu. Sempre fazendo uma coisa e outra, aumentei
não a minha atividade física como também a minha atividade cultural, né. Que eu
gosto de ler um livro, ficar escutando uma música também. Então, a minha vida ela
mudou bastante.”
b) Entrevista – Bia
“... não tem nem comparação a antes. Porque, eu sempre fui molona, sabe,
eu fui obesa desde criança, já nasci e cresci obesa, né. Então eu ficava muito dentro
de casa, não saía muito, porque ah, era muita dificuldade, né. Pra saí era mais de
carro. Então, hoje não, hoje eu ando, faço caminhada, se é pra saí eu sou a
primeira, vamos caminhando, então não tem nem comparação, hoje é muito melhor
que antes...Até às vezes eu me estranho, porque eu não paro mais dentro de casa.
Então, até falam assim, nossa, você precisa ficar em casa, porque eu não estou
ficando em casa, mas eu ando muito. Acordo cedo, levanto, vou fazer a minha
caminhada, nossa, e é muito bom... Então, primeiro faço a minha caminhada né,
então, porque como o sol ta muito quente eu vou bem cedinho. Mas depois que
51
volto, aí eu vou cuidar do serviço da casa, porque eu estou desempregada né. Então
cuido do serviço da casa, faço comida, lavo roupa, tudo o que eu não fazia antes eu
agora faço na maior felicidade.”
c) Entrevista – Caio
“Ah, uma maravilha. Uma maravilha assim, em todos os sentidos, . Porque
a pessoa obesa ela, ela não se vê, ela se olha... Ah, voltei a estudar, o trabalho você
tem mais disposição. Você o brilho das flores mais bonito. Oh, até engraçado, o
brilho das flores, você fala o brilho do sono, mas as flores também brilham, depende
da forma que você observa. Então quer dizer que você passa a prestar atenção, a
dar evasão a muita coisa que passava desapercebido a você. “
d) Entrevista – Dirce
“...esses dias eu até dei risada, porque uma coisa que pra mim todo mundo é
normal, eu consegui levantar e fazer a minha unha do pé. E quanto tempo sem
cortar a unha do pé, né... É, pra andar não tenho mais canseira, consigo andar a pé.
Tanto é que vinha só de carro trabalhar, agora estou vindo de ônibus. Eu consigo vir
tranqüilo, pegar um ônibus. Pra você, você quer colocar uma roupa não tem aquele
estresses, toda roupa que você põe não serve, você fica chorando toda hora, agora
qualquer roupa serve. Muito pelo contrário, não serve porque cai, né. E tudo, assim,
comer. Antes comia um bocado, e ficava ai que vontade de comer mais um pedaço.
Agora não, experimento. Como de tudo que eu tenho vontade, não deixo de comer o
que tenho vontade, mas como um bocadinho e estou satisfeita. Não deixo de
fazer, porque eu não posso comer. Se eu quero fazer, penso em alguma coisa se
tenho espaço pra eles para que eu posso comer, mas um bocadinho e estou
satisfeita. Tudo, e é diferente, você muda, você se gosta mais, você tem mais
vontade de se arrumar, se olha no espelho, tudo é diferente... Ah, pra mim ir na casa
da vizinha ali embaixo era muito, não ia a pé. Se a minha mãe precisava buscar uma
farinha, alguma coisa pra ela, eu catava o carro e ia. Não ia a pé, não conseguia.
Hoje em dia se ela precisa buscar alguma coisa procuro ir a ... Porque assim sei
que eu preciso quanto mais caminhar vai ser melhor pra mim, eu consigo ir, eu tenho
disposição pra ir. Porque eu chegava cansando tinha que sentar na casa dela.
52
Então, agora não, eu vou e volto tranquilo. Não tem problema... Ah, antes assim, a
gente tinha hora assim que, assim tinha vez que você sentia que estava
incomodando, que você ia passar por um lugar, tava apertada. Que nem circular a
sala, ia circular a sala, quase morria para não esbarrar nos cirurgiões. Hoje em dia
não, eu consigo passar por ali, boa, você tinha aquele medo de esbarrar, de você
passar por ali e incomodar, você sabe que está estorvando alguém, porque você é
enorme. Incomoda bastante.”
e) Entrevista – Elen
“Ah, muito bem. Nossa, tô muito feliz, eu não conseguia agachar para catar
uma caneta no chão, eu não conseguia agachar quando caía o sabonete, eu não
conseguia agachar para catar. Tinha que pegar outro no alto, um que tivesse ali
perto. Porque aquele que caiu no chão não conseguia catar. Nossa, era bem difícil.
Pra catar lixo no chão tinha que ter uma pazinha, aquelas de cabo grande, porque
aquelas baixinhas não conseguia abaixar, ficava muito difícil. Hoje em dia, nossa, eu
to me sinto outra pessoa, uma impressão que eu renasci novamente. É, eu
agacho, limpo o canto, eu ando, faço caminhada todos os dias, uma hora e quinze
minutos... Eu saio da minha casa e vou trabalhar, eu trabalho três vezes na semana,
segunda, quarta e sexta. Eu saiu da minha casa, sete horas, dez pra sete. E ando
quarenta e quarenta e cinco minutos pra depois pegar o ônibus. Não porque não tem
ônibus, tem ônibus na porta, mas é que eu, pra fazer a caminhada, os quarenta
minutos, quarenta e quarenta e cinco. Tento fazer sempre. E o dia que estou em
casa, terça e quinta, eu ando uma hora e quinze minutos. Saiu pra andar, ando,
quando , é, chego em casa por volta de casa uma hora e quinze minutos, uma
hora e dez minutos. Todos os dias. Pra dormir, dormindo muito bem. Eu roncava
muito meu marido falava, ele dizia que eu com sono assim, tão gostoso. Que eu
fico assim parecendo um neném quando tà dormindo. Sabe, aquele sono bem
suave, sabe. E antes eu roncava muito, ele falava. A gente não vê, a pessoa que
está do lado que assim. Nossa, essa cirurgia, vale a pena, sabe.Nossa, mudou
completamente. muito feliz...Eu trabalhava, mesma coisa, que era assim, eu
trabalhava, me esforçava sem poder mesmo, com aquela gordura, eu trabalhava, eu
chegava em casa, nossa, eu chegava exausta, não tinha coragem nem de fazer
janta. Mesmo assim tinha que fazer, né, na marra, né. Porque não tinha quem
53
fizesse, né. Mas era difícil, era muito sofrido. Eu sofria demais... Nossa, hoje eu não
54
roupas; se deslocar para a casa do vizinho; ir buscar algo para sua mãe, sem
precisar ir de carro; caminhar, sem sentir falta de ar; sente-se mais disposta. Nos
lugares estreitos em que circulava, tinha medo de estorvar, como na sala cirúrgica;
hoje consegue passar por estes lugares sem medo. Elen relata que, hoje, consegue
se agachar para pegar as coisas no chão, limpa o canto, caminha, sente-se com
ânimo para realizar as atividades de casa e do serviço, não fica mais tão exausta,
como ficava, ao sair do emprego; chega em casa e está disposta a arrumá-la, caso
seja necessário. Fernanda diz que sua locomoção está bem melhor. Hoje consegue
subir escada, caminhar na subida, a dor no joelho diminuiu, tinha muita tontura e
somente saía de casa acompanhada. Agora acha que não precisa mais de seus
filhos para ajudá-la, tem vontade de sair sozinha.
1.2 - Sobre a sua casa, qual o lugar de que mais gosta? Por quê?
a) Entrevista - Amadeu
“Olha, eu gosto mais é do meu quarto, . Porque é o lugar que é o seguinte.
Eu fiz um cantinho né, que eu me identificasse com ele. Que eu me sentisse bem,
que eu pudesse fazer as minhas auto críticas diárias que a gente passa o dia,
sempre deitado com a cabeça no travesseiro, e o que a gente produziu de
melhor. E ver se a gente fez algumas falhas para a gente corrigir e não repetir no dia
seguinte, né. E também para a gente sabe, poder relaxar, entendeu. Fazer planos
para o futuro, sabe. Eu tenho três quadros no meu quarto que eu fico olhando pra
ele e fico imaginando, imaginando.”
b) Entrevista - Bia
“...eu não paro mais dentro de casa. Então, até falam assim, nossa, você
precisa ficar em casa, porque eu não estou ficando em casa, mas eu ando muito.”
c) Entrevista - Caio
55
“Na minha casa, eu gosto da minha casa... Da minha casa, é, a minha casa,
eu costumo falar que a casa do homem é um castelo. Então a minha casa é um
castelo. Não tem essa, eu não quero isso, não, é a minha casa. Eu gosto das
minhas plantas, eu gosto do meu cachorro, eu gosto, porque eu moro numa
chácara, né. Eu gosto dos meus passarinhos. O sol se pondo, o sol nascendo. O
barulho da chuva molhando a terra, gosto do meu quarto, gosto de ouvir meus
discos, ler meus livros, enfim, eu gosto da minha casa. Não tem isso, ai, aquele
fetiche, eu gosto do meu quarto porque ali estou com minha esposa eu curto meus
momentos de amor, não, momentos de amor é a vida toda. Quando a gente
encontra a pessoa que te completa é a vida toda.”
d) Entrevista - Dirce
“Ah, eu gosto muito da sala... Ah, porque na sala, todo mundo, é o lugar que a
gente reúne a família, conversa bastante, faz bagunça. É o lugar que eu gosto... É
grande.”
e) Entrevista - Elen
“Ah, eu, eu gosto assim, mais de ficar na sala, , porque têm o sofá, chego
eu deito, na hora que não tem nada pra fazer, assim, né... Ah, porque não sei, é
mais gostoso, é mais fresquinho,né, mais ventilação melhor.”
f) Entrevista - Fernanda
“Eu gosto mais da cozinha...Não sei. Acho que é o lugar onde a gente fica
mexendo, nas coisas da cozinha, então, da cozinha eu gosto mais.”
Síntese da questão 1.2
Sobre o lugar de que mais gosta da casa, Amadeu referiu ser o quarto, pois é
um cantinho que se identifica com ele, se sente bem, onde reflete sobre o dia e
relaxa. Bia não está ficando mais em sua casa, passa o dia passeando. Caio gosta
da casa como um todo, para ele é seu castelo. Ele mora em uma chácara, gosta das
56
plantas, do cachorro, dos passarinhos, de ver o sol se pondo, sol nascendo, do
barulho da chuva molhando a terra, de ouvir seus discos, de ler livros. Dirce gosta
mais da sala porque é o lugar onde a família se reúne, conversa, faz bagunça e é
grande. Elen também gosta da sala, porque tem um sofá onde deita, é gostoso,
fresquinho, tem uma ventilação melhor. Fernanda gosta mais da cozinha, porque é o
lugar onde fica mexendo para fazer a comida.
1.3 - A que lugar gosta de ir, ao sair de casa? Por quê?
a) Entrevista - Amadeu
“No meu dia a dia, olha eu gosto do, aqui tem um projeto semear, que é um
lugar de viveiro de plantas, que cultiva plantas, como se fosse uma maternidade de
plantas né. Então, eu gosto de ir ali. Por quê? Porque é um lugar que é, uma paz
muito grande, e eu gosto de plantas e tal , e ali é muito gostoso, um lugar muito bom,
né. E, gosto também de ir na escola de música, a música ela é muito bom para a
alma da gente né. E, vou a igreja também.”
b) Entrevista - Bia
“... eu pela minha religião, o que eu mais gosto é participar dos grupos de
jovens assim, é onde eu vou. Meus passeios são mais mesmo na igreja, meus
movimentos, então, é uma coisa que eu gosto de fazer, que eu me identifico, que eu
já fazia antes e continuo fazendo agora... agora bem mais, bem mais.”
c) Entrevista - Caio
“Gosto muito de andar, eu gosto muito de conversar, eu gosto de ir a lugares
onde eu vejo as pessoas. Independente de eu ir a praia, de eu ir a um restaurante,
de eu ir a um cinema, ir a um teatro. Eu gosto de estar em lugares onde eu possa
conversar. Porque eu sou bastante comunicativo, tal. Então eu tenho que falar. Não
que eu tenho que expor minhas idéias, meu deus não, não. Gosto de conversar.
Gosto de ir a igreja, gosto de estar sempre orientando as pessoas naquilo que eu
57
posso. Então, não tem assim, ah eu gosto de ir a praia porque eu observo o mar,
acho bonito a imensidão do mar, eu vejo o tamanho do meu deus que é maior que o
mar. Não, nada disso, eu gosto de ir a lugares onde estejam as pessoas... A única
coisa que eu posso dizer pra você que mudou um pouco foi meu senso crítico né,
que falei a pouco, né. Comecei a dar mais valor, mudou meu senso crítico, que eu
era muito minucioso, na minhas análises, né. Então era muito detalhista. Então, por
eu dar mais valor a detalhes, não aproveito o bom e não serviu, acabou e tal. A
minha esposa diz, diz ela que eu estou mais maleável. (risos) Estou mais maleável.
Parece que você não é mais você. Você não que, que esteja mais, mas tem tanta
coisa mais importante que você, que as situações pra você mesmo, e você pode
deixar passar, que não vai mudar nada. Brigar pelo pingo da torneira, da torneira.
Nosso planeta é cheio de água, uma gotinha da torneira não vai fazer diferença.”
d) Entrevista - Dirce
“Assim, os lugares, eu sou uma pessoa que eu gosto, eu sou, eu gosto muito,
eu sou caseira. Eu gosto, eu vou bastante pra Igreja, nos encontros da Igreja, nos
grupos de jovens, eu trabalho com a Pastoral da Saúde, então estes é meus
ambientes que eu gosto. Assim, nunca fui de gostar de balada, sair essas coisas.
Então, mas eu tenho mais disposição pra trabalhar nas coisas que eu gosto.”
e) Entrevista - Elen
“Ah, eu gosto de ir sempre assim, sabe, é, antes eu não tinha coragem de sair
nem a assim na padaria, na esquina, não tinha coragem, porque, acho que a
gordura me impedia, né. Aquele desânimo, aquele mal estar. Hoje não, eu tenho
vontade de ir no supermercado fazer compra, é, passear, ir na casa dos amigos, das
colega, conhecer gente nova, às vezes eu encontro gente assim, no ônibus, né. Ah,
é você que é a Elen? Foi você que fez a cirurgia? Eu falo assim, ah, eu sou. Ah, vai
em casa pra gente conversar, eu pego o endereço. eu vou conhecer a casa da
pessoa, sabe. Nossa, eu to muito feliz, gosto muito de passear, no final do ano vou
pro Paraná, a gente fica dez, onze dias lá., tudo. Agora, imagina agora que eu estou
mais magra imagina a delícia que vai se, né.
58
gostava, né... Muito mais, porque eu não tinha coragem. Tinha dia, eu
acho, não sei, eu não sei o que é, o que vem a ser depressão... Mas eu acho que
tava entrando em depressão. Porque tinha dia que eu não tinha nem coragem de
sair nem até o portão da minha casa. Era dentro de casa. Era assim, terminava
de almoçar, já, lavar a louça e ia se deitar. Era desse jeito. Agora hoje em dia,
não tenho nem vontade de ficar deitar não. Tenho vontade de ficar assim,
trabalhando, limpando as minhas coisas, os dias que fico em casa, lavando a roupa,
arrumando tudo, os quartos, as coisas de lugar, limpando a casa, deixando tudo em
ordem, sabe. Nossa, eu mudei completamente, eu virei outra pessoa.”
f) Entrevista - Fernanda
“Eu gosto de ir na Igreja, que mais... Agora faz dias que não vou, . Mas tem
que começar ir agora, posso caminhar. Ir andando, também, um quilômetro, acho
que um quilômetro e meio... Tinha que ir de ônibus... Mas eu gosto mais é de ir de a
pé... com a minha mãe, dos meus filhos né, que moram na vila perto lá, é os
lugares que eu vou.”
Síntese da questão 1.3
Os lugares a que gosta de ir ao sair de casa, para Amadeu, é o projeto
semear, um viveiro de plantas, por ser um lugar gostoso e que lhe dá paz. Também
gosta de ir à escola de música e à igreja. Bia, por ser religiosa, participa dos grupos
de jovens da igreja. Amadeu e Bia relataram que aumentou a periodicidade desses
lugares, hoje freqüentam mais, por ter mais disposição. Caio diz que freqüenta
lugares onde pessoas, pois é comunicativo, gosta muito de andar e conversar,
seja num restaurante, cinema, teatro, igreja. Mudou muito seu senso crítico, ser
minucioso, detalhista, acredita que está mais maleável. Dirce diz ser uma pessoa
caseira. Ela vai para a Igreja, ao grupo de jovens, trabalha na Pastoral da saúde,
relata que tem mais disposição para trabalhar. Elen hoje tem vontade de ir ao
supermercado, conhecer gente nova, como no ônibus, viajar para o Paraná, onde
está sua família. Fernanda freqüenta a Igreja, casa dos filhos e de sua mãe; agora,
que está conseguindo andar, está caminhando um quilômetro.
59
2. Qual o significado que tem hoje para você a sua locomoção?
a) Entrevista - Amadeu
“... significado é só de alegria. É, significa o que? Que eu estou fazendo
coisas que eu sempre quis fazer. Sabe, ser uma pessoa normal, ter disposição, uma
coisa que eu não tinha antes, disposição, sabe. Um amigo me chama, ah, vamos
para tal lugar. Ah não, não estou com vontade. Ah, vamos. Ah, não estou com
vontade. Hoje não, qualquer lugar que me chama para ir, tô dentro, vamos... É
disposição. Ás vezes a vontade tem , você entendeu. Mas você imagina assim que
tem que andar daqui lá e tal, então eu pagava para não andar, sabe. Apesar que eu
tinha que andar. Porque, eu absorvia muita energia e não gastava.”
b) Entrevista - Bia
“... acho que é felicidade, viu. Porque hoje eu me sinto o feliz de me ver o
quanto eu posso fazer assim, sem me cansar, sem me depender de ninguém.
Porque eu não dirigia, não dirijo, então se eu fosse sair quisesse ir de carro tinha
que ta pedindo pra alguém me levar. Agora não, eu vou, se precisar pegar o ônibus,
eu pego o ônibus, e vou. Então eu me sinto muito feliz. Não alcancei o peso que eu
quero, mas me sinto realizada... Acho que tem um significado de vitória mesmo,
que eu corri atrás dos meus sonhos e consegui chegar lá. Que como eu te falei, vim
do Paraná para chegar até aqui. Deixei a minha família, deixei tudo que eu fazia e
acho que valeu a pena foi assim uma vitória mesmo.”
c) Entrevista - Caio
“Ah, tudo. Tudo, tudo. Não que eu esteja mudando o caráter, a personalidade,
porque isso já vem. Mas é vida, significa mais vida. Como eu disse a pouco é melhor
condição de vida. Melhor condição de vida é em todo sentido, não para mim
priorizar, são todos os sentidos. Se têm quatro lados a minha vida eu quero os
quatro. Então vou buscar cada coisinha né, que a minha vida me proporciona. Não
que eu mudar a dos outros, não mudança na minha vida. Tanto é que esse
60
espaço agora que eu ocupo Renata, sou eu. Tanto é que quem está respondendo
agora sou eu, não é a menina da esquina, ou a menina do lado, sou eu. Então esse
espaço é muito importante para mim, e hoje esse espaço é menor, é só duas
cadeiras.”
d) Entrevista - Dirce
“Ah, é bem melhor que antes. Eu vivendo, eu vou e volto, mais agora do
que antes... De que vou correr, eu pensava, ah, vou correr e não vou agüentar,
não gosto de correr, não gosto de andar, então você já, ficava pensando, vou
começar a correr com alguém e já, vou chegar até ali e pra ficar tirando o sarro.
Então, hoje não, será que você consegue. Eu tô tentando, tô melhorando a cada dia,
então.”
e) Entrevista - Elen
“Significa que, , como eu falando, né, me sinto outra pessoa. muito
bom pra mim, nossa, muito feliz. Se eu imaginasse que fazer essa cirurgia fosse
desse jeito, eu tivesse conseguido mais antes, eu teria feito mais antes. Porque vale
a pena, e é muito bom...Era assim, amarga, né. Um passado amargo, muito amargo.
Hoje em dia é doce, suave, gostoso.“
f) Entrevista - Fernanda
“Não sei dizer. É a coisa mais importante da minha vida. Falam que tem tanto
problema no mundo e, que nem lavar roupa mesmo, quando eu fazia serviço, eu
colocar a roupa no varal, nossa, tinha tontura. Era um sacrifício, caía. Quantos
tombos não cai no quintal da casa...Ficava virando né. Agora pra mim é bem mais
fácil. Não tenho mais problema... É mais fácil. Pra mim andar também, tinha tontura,
se eu fosse andar rápido não conseguia, né, andava de um lado para outro, parecia
bêbada. É bem melhor agora... Me sinto mais leve, né. Fazer tudo que, pra
caminhar, pra fazer o serviço... Parece um milagre, né. (risos) Um milagre que
aconteceu na minha vida.”
Síntese da questão 2
61
Amadeu relata que o significado que tem para ele a sua locomoção
(mobilidade) é de alegria. Hoje, ele está conseguindo fazer coisas que sempre quis
fazer, ser uma pessoa normal, ter disposição. Para Bia, é felicidade e vitória.
Felicidade, por ver o quanto pode fazer as coisas sem se cansar, depender de
ninguém, se precisar ir a um lugar, pode pegar um ônibus e ir. Vitória, porque correu
atrás de seu sonho e conseguiu. Ela deixou sua família no Paraná, largou tudo que
fazia para ser submetida à cirurgia bariátrica. Caio diz que significa tudo, mais vida,
é a melhor condição de vida em todos os sentidos. Para Dirce, significa ser bem
melhor que antes, que está vivendo, vai e volta, está tentando fazer coisas de que
antes desistia, como ir até a algum lugar; achava que não conseguia e nem tentava;
hoje tenta e está melhor a cada dia. Elen refere significar ser outra pessoa, está
mais feliz, pois seus dias antes eram amargos, hoje, viver é doce, suave, gostoso.
Fernanda diz significar ser a coisa mais importante em sua vida. Sente-se mais leve,
consegue colocar a roupa no varal, andar, parece um milagre que aconteceu em sua
vida.
2.1 - Como você percebe seu corpo após a cirurgia?
a) Entrevista - Amadeu
“... a gente começa a perceber pela roupa que a gente vestia, né... Ela
começa a cair, ela começa a ficar larga, você entendeu. Algumas que para
você ajustar você ajusta. Senão você faz, tem que comprar a roupa que você chega,
você usa um número 66 igual no caso que eu usava e hoje cai para 58, você
entendeu, 56. E a roupa do gordo você coloca, você jamais vai viver assim de
elegância, tem assim uns gordinhos que são elegantes mas tem uns gordinhos
exagerados que não tem elegância nenhuma. Você já, você assim, um
tamanho de roupa melhor, né. Inclusive hoje, que a minha roupa eu mesmo que
lavo, né. Pôxa, você vai lavar uma calça uma camisa do gordo é enorme...Parece
um lençol, se vai passar se passa o ferro pra e pra e não acaba. Hoje não, a
roupa até pra lava é mais leve...Diminuiu, sabe. Então as coisas, você vai ver, e
outra coisa também, às vezes o gordo ele foge do espelho né. Ele se olha no
espelho assim do pescoço pra cima né, hoje não, hoje você tem assim uma
62
necessidade, uma curiosidade, de se olhando. Começa falar, ah, você ta bonito, e
63
“Eu percebo que mais esperta, mais saudável, prá tudo, prá se virar, prá
agachar, tá. Nossa. o que eu notando é que descendo uns poucos a mais,
sabe, assim, ficando flácida a pele, né. Mas isso aí não importa, não esquento a
cabeça com isso não. A minha vontade é de emagrecer. muito feliz, a minha
vontade é emagrecer. Sobre as peles que vai sobrando, isso fica escondidinho
debaixo da roupa, né. Isso aí pra mim tá ótimo.”
e) Entrevista - Fernanda
“Ah, bem melhor, ... O problema é que fica a sobra, sobraiada pra todo
lado, né. Tem que caminhar bastante, né. Pra, não ficar, as pelancas cair.”
Síntese da questão 2.1
A percepção de seu corpo, após a cirurgia, para Amadeu, é constatada pela
roupa que antes vestia e hoje está larga ou começa a cair; antes da cirurgia usava
número 66 e hoje está usando 56. Diz que fugia do espelho, olhava do pescoço
pra cima, e hoje tem uma necessidade, curiosidade em olhar. Para Bia, percebe que
seu corpo se modificou bastante, pois “umas peles que não tinha antes”, relata
evitar o olhar para a pele e perceber o quanto seu corpo diminuiu e está melhor.
Caio relata que percebe seu corpo, após a cirurgia, como maravilhoso, porque é
uma descoberta maravilhosa a todo instante; hoje ele se abaixa com freqüência, faz
flexão abdominal, sobe, anda, corre, é como uma criança ou adolescente que está
descobrindo seu corpo. Sente seu corpo funcionando. Dirce percebe seu corpo cada
dia menor e melhor. Olha no espelho sem trauma e sabe que está diminuindo, faz
exercício e o que importa é eliminar as calorias. Para Elen, a percepção é de que
está mais esperta, saudável, se agacha, consegue se virar. Percebe que está
ficando flácida a pele, mas não se importa: as peles ficam escondidinhas debaixo da
roupa, a vontade é de emagrecer. Fernanda percebe seu corpo bem melhor, o
problema, para ela, são as peles que sobram e diz que precisa caminhar.
2.2 - Como você se sente hoje?
64
a) Entrevista – Amadeu
“Olha, felicidade, sabe. É, as pessoas parecem que elas se achegaram mais,
né. Tem a curiosidade de saber o processo da cirurgia, até pessoas que não vão
fazer, tem uns que são obesos e pensam em fazer esses daí estão sempre
chegando, às vezes, eles se tornam até repetitivo com as perguntas, pra, sabe, acho
que talvez pra adquirir uma confiança para fazer a cirurgia. Mas a gente também foi
paciente um dia e continua sendo e fizemos várias perguntas. Você entendeu. Às
vezes, até, pelo que passou e tem pacientes que vão passar, às vezes a gente
também acaba fazendo até um trabalho psicológico, né, com aquele paciente.
Orientando olha, assim, sabe. Então eu estou muito feliz, e as pessoas também
chegam em mim e falam assim, eu admiro você, eu me orgulho de você, às vezes
tem pessoas que falam, eu queria ser igual a você. Assim, pela perseverança, pela
vitória que eu tive. É, eu sou vitorioso. Hoje eu tenho, é, 83 kilos a menos o que eu
tinha, sabe. 83 kilos a menos, uma vez eu fiz um eletrocardiograma. E eu peguei e
falei assim, doutor, como é que está meu coração. Ele falou assim, imagine um
motor de um fusquinha puxando uma carreta carregada, sabe. eu falei assim,
então esse motor não vai durar muito tempo. Uma hora ele vai fundir o motor,
porque é muito peso para pouco motor. Então hoje eu to com mais motor e com
menos peso. Voestá com motor de caminhão com um fusquinha... É felicidade. É
poder estar vivendo a cada dia, um diferente do outro. Porque a cada grama que eu
emagreço é uma atividade amanhã, ou hoje mesmo a mais que eu posso fazer.”
b) Entrevista – Bia
“...eu me sinto meio boba ainda. Acho que ainda não caiu muito bem a minha
ficha. Eu estou sonhando. Sabe por que, sei lá, é uma coisa que esperei muito
tempo para acontecer e então, nesse pouco tempo que aconteceu, eu estou em
estado de graça assim. Eu estou viajando. Mas é muito bom... Primeiro porque me
sinto bem, me sinto melhor. Depois porque saio na rua e os amigos te olham e
falam, nossa como você está diferente, está mais bonita. Então é uma sensação boa
que te trás felicidade, né. E isso é gostoso... me sinto mais leve, me sinto feliz. Então
é uma sensação boa, mas primeiro para mim. Porque é comigo que está
acontecendo...”
65
c) Entrevista - Caio
“Olha se eu for avaliar o que eu como eu me sinto hoje, se eu falar bem, eu
vou estar é, sendo negligente comigo mesmo. Hoje eu me sinto muito bem. Muito
bem, e vai melhorar, porque eu estou naquele processo comigo mesmo. Hoje eu
tenho a relação da alimentação o que eu posso e não posso, quanto ta, as medidas
conheço. Tem aquele fantasma do dumping que sei muito bem trabalhar ele. Hoje
eu vou as reuniões, festinhas numa boa. não é mais aquele puxa anti-social,
chegou aquele comilão. (risos) Não que ele é anti-social. Eu sei. Mesmo com a
cirurgia tem pessoas que se tornam anti-sociais, posso isso, não posso isso. Não se
não posso eu não posso, não precisa falar. o precisa ser desagradável. Eu não,
sou bom divã, sociável, extrovertido, brinco. Eu sou é bonagente.”
d) Entrevista – Dirce
“Me sinto melhor. Melhor, mais feliz. É gostoso, né. Você vê, aonde você vai,
nossa, como você está magra, ai, como você está mais bonita. É, tudo isso é
gostoso. Porque antes, às vezes você chegava em alguém, nossa, como você está
gorda. É só isso que vem falar pra você. Você não é conhecida pelo seu nome, ah, é
a gordinha do C.O., a gordinha ali. Ah, Dirce, que Dirce, a gorda, então muda.”
e) Entrevista - Elen
“Nossa, eu fico muito feliz. Eu olho no espelho e fico, olha como eu estou
emagrecendo, roupa que não estava servindo mais, agora já serve. Nossa, a cintura
afinando mais, nossa, eu muito feliz... Eu olhava mais eu tinha até medo.
Chorava, falava meu deus, que corpo horrível. Eu cheguei até a mandar uma carta lá
pro Ratinho, pra ver se eu conseguia uma cirurgia, um regime, alguma coisa. Porque
eu não suportava mais aquela gordura. Cento e trinta quilos... Eu me olho. Eu me
olho e eu muito feliz, é muito diferente. Nossa, diferente, muito...Eu outra Elen
hoje. Muitos disseram pra mim que aquela Elen anterior não existe. Eu tô
começando a viver depois da cirurgia outra fase. Eu me sinto assim, sabe.Que eu
estou começando a dar mais felicidade na minha vida. Eu tentava ser feliz mas não
66
era feliz. Sabe quando você tenta uma coisa e você não consegue? Eu fazia isto,
todo mundo via eu com sorriso. Pra alegrar mais as pessoas, que por dentro eu
não era feliz. Eu me fazia de feliz, mas eu o era feliz...agora ela é feliz mesmo de
verdade...Eu sou assim agora direto, direto. Se a caso eu fico nervosa por alguma
coisa assim, de repente passa, eu falo, ah, deixa isso pra lá, porque fazer isso,
isso faz mal pra gente. Deixa eu ficar com a minha felicidade, com minha alegria.
Nossa, eu me sinto muito feliz... Questão das pessoas me olharem, né. Ás vezes até
as criancinhas, né. Você vai passando na rua, na frente da criança, porque a criança
não tem maldade né... Às vezes nem tá. Mas você se sente assim, entendeu. Agora
hoje em dia, nossa, aquilo, eu saio na rua assim, as pessoas falam assim. Nossa,
Elen, como que você está emagrecendo, como que você está mais magra, você está
ficando bonita. Nossa, aquilo me enche de alegria. Nossa, eu fico muito feliz... Sinto
que as pessoas estão me olhando, imaginando. Quem fala de mim, eu sinto que as
pessoas estão imaginando que a Elen está emagrecendo. Acho que ela deve estar
fazendo alguma coisa para emagrecer, imaginando isso, sabe...Hoje eu me sinto
como uma pessoa normal. Antes eu sentia como uma pessoa doente. Deus me
perdoe de eu falar, porque é muito triste essa palavra, porque a gente tem muito
de as pessoas que o assim, mas eu me sentia uma pessoa deficiente. Eu me
sentia assim, não era, tinha perna, braço, eu andava. Mas por causa da obesidade
era muito grande, né. Os cento e trinta quilos, cento e vinte e cinco quilos, eu me
sentia uma pessoa desse jeito. Uma pessoa deficiente que não tinha coragem pra
nada. Não tinha felicidade pra nada. Se fazia que estava feliz, mas não estava feliz.
Agora hoje em dia me sinto uma pessoa normal. Uma pessoa igual todo mundo,
normal. Uma pessoa feliz, pode trabalhar tranqüila, andar, passear, se divertir, né. E
antes eu não tinha essa felicidade.
f) Entrevista – Fernanda
“Eu me sinto bem feliz, né. Mais do que antes. Porque era uma dificuldade
muito grande para emagrecer, só com cirurgia mesmo, né.”
Síntese da questão 2.2
67
Amadeu sente se hoje feliz e vitorioso, parece que as pessoas se
aproximaram mais dele. Bia sente-se meio boba, parece estar sonhando, viajando,
se sente melhor, uma sensação boa. Caio se sente muito bem e vai melhorar,
porque está num processo de mudança. Dirce sente-se melhor, mais feliz, as
pessoas falam que está mais magra e mais bonita. Elen se sente muito feliz, olha no
espelho e percebe o quanto está emagrecendo, a cintura está afinando, está
começando a dar mais felicidade em sua vida porque pode andar, trabalhar,
passear, se divertir. Fernanda se sente bem feliz, porque está conseguindo
emagrecer.
Em resumo, encontramos:
Na questão 1, (englobando 1.1, 1.2 e 1.3)
A vida, após a cirurgia, para Amadeu trouxe felicidade, apresentando uma
elevada auto-estima. A sua mobilidade melhorou visivelmente, pois consegue
amarrar os sapatos, subir no telhado, ficar trabalhado abaixado, apresentando muita
energia para realizar as atividades físicas e culturais, como ler um livro e escutar
música. O lugar de que mais gosta da casa é o quarto, porque se identifica com ele,
se sente bem, é onde reflete sobre o dia e relaxa. Ele gosta de ir ao projeto semear,
um viveiro de plantas, à escola de sica e à Igreja; refere que os lugares de
passeio não mudaram, mas a freqüência a esses lugares aumentou.
Bia relata que a vida, após a cirurgia, mudou, é felicidade. Ela está mais
tranqüila por não ter mais vontade de comer, diz que antes não saía de casa, hoje
acorda cedo, caminha e os serviços de casa, que antes não conseguia realizar, hoje
consegue, como fazer a comida, lavar roupa, encontrando-se mais disposta. Não
possui um lugar de que mais gosta de casa, pois nem fica mais em sua casa. Por
ser religiosa, participa dos grupos de jovens da igreja.
Caio, após a cirurgia, aprendeu a se respeitar mais, a dar valor a outros
valores da vida, sendo uma vida nova; tornou-se mais maleável e com uma elevada
auto-estima. Ele refere que sua locomoção está uma maravilha em todos os
sentidos: voltou a estudar e a trabalhar com mais disposição. Sua casa, gosta dela
como um todo, é o seu castelo. Seus lugares sociais são aqueles onde pessoas
para conversar, como um restaurante, cinema, teatro, igreja.
68
Dirce relata que sua vida, após a cirurgia, mudou bastante. O momento da
refeição se tornou sagrado, sua mobilidade se modificou, conseguindo cortar e fazer
as unhas dos pés, andar de ônibus, colocar as roupas, se deslocar para a casa do
vizinho, caminhar sem sentir falta de ar, circular em lugares estreitos sem medo e
percebe uma maior disposição. Sobre a sua casa, gosta mais da sala, porque é
onde a família se reúne, conversa e é grande. Sua vida social, por ser caseira,
freqüenta o grupo de jovens e trabalha na pastoral da Saúde.
Elen, após a cirurgia, enfrentou um momento traumático, pois teve que ser
submetida a uma endoscopia por ter se entalado com um pedaço de goiaba. O seu
apetite, até os dois meses, não havia se modificado, sentia muita fome, mas,
atualmente, está se acostumando a comer menos. Sobre sua mobilidade, agora
consegue se abaixar para pegar as coisas no chão, limpar o canto, faz caminhada,
sente ter mais ânimo para realizar as atividades de casa e do serviço. Sobre sua
casa gosta mais da sala, porque tem um sofá onde deita e é fresquinho. Hoje, gosta
de ir ao supermercado, conhecer pessoas novas, viajar de ônibus para rever sua
família.
Fernanda diz que sua vida está bem melhor, porque hoje as coisas estão
mais fáceis para fazer, como andar e dormir. Ela consegue subir escada, caminhar
na subida, a dor no joelho diminuiu, tinha muita tontura e precisava sempre de
companhia para sair de casa, hoje não tem mais tontura e o precisa mais de
seus filhos para ajudá-la, tem vontade de sair sozinha. Sobre sua casa, gosta mais
da cozinha, pois é onde fica mexendo para fazer a comida. Sobre sua vida social,
freqüenta a igreja, a casa de sua mãe e dos filhos, pois agora está conseguindo
caminhar até um quilômetro.
Na questão 2 (englobando 2.1e 2.2)
O significado da mobilidade para Amadeu é alegria, está conseguindo fazer
coisas que sempre quis fazer, ser uma pessoa normal. Percebe que seu corpo se
modificou, o que constata na roupa que está larga ou começa a cair, e tem uma
necessidade e curiosidade de olhar-se no espelho. Sente-se hoje feliz e vitorioso e
as pessoas estão se aproximando mais dele.
69
Bia diz que significa felicidade e vitória. Felicidade por ver o quanto pode fazer
as coisas sem se cansar, não depender de alguém, poder pegar um ônibus para ir a
um lugar. Vitória porque conseguiu realizar seu sonho. Ela percebe que seu corpo
se modificou porque umas peles que não tinha antes, mas seu corpo diminuiu e
está melhor. Sente-se hoje meio boba, como se estivesse sonhando, sente-se
melhor, uma sensação boa.
Caio relata que significa tudo, mais vida, é a melhor condição de vida em
todos os sentidos. Percebe seu corpo maravilhoso, uma descoberta a todo instante,
sente ele funcionando, consegue se agachar, faz flexão abdominal, sobe, corre.
Hoje se sente muito bem e que vai melhorar, pois está num processo de mudança.
Dirce refere que sua mobilidade, hoje, significa ser bem melhor que antes,
que está vivendo, vai e volta. Percebe seu corpo cada dia melhor e menor, olha no
espelho e sabe que está diminuindo. Hoje se sente melhor, mais feliz.
Elen diz que significa ser outra pessoa, está mais feliz, seus dias são doces,
suaves e gostosos. Percebe que está mais esperta, saudável consegue se virar.
Sabe que está flácida a pele, mas a vontade é de emagrecer, olha no espelho e
percebe o quanto está emagrecendo, a cintura está afinando e está dando mais
felicidade a sua vida. Sente-se muito feliz.
Fernanda relata significar ser a coisa mais importante em sua vida. Percebe
seu corpo bem melhor, leve; o problema é as peles que sobram. Sente-se bem feliz
porque está conseguindo emagrecer.
Em resumo, temos que os pacientes expressaram que a vida, após a cirurgia,
é felicidade, mudança, modificação de valores, maior respeito por si mesmo,
sensação de estar melhor e um momento traumático.
A mudança da mobilidade em todos os sujeitos foi constatada como
caminhar, sem sentir falta de ar; vestir-se sozinhos; amarrar os sapatos; cortar as
unhas do pé; se abaixar; subir escada; executar serviços diários da casa e do
serviço, com maior disposição; ir a lugares caminhando, sem precisar de ajuda ou de
veículo para percorrer pequenas distâncias, como ir á padaria, supermercado, à
casa de amigos, pais, filhos e ao trabalho.
70
Sobre a sua casa, os lugares citados foram o quarto, a sala, a cozinha, a casa
como um todo, e que não um lugar de preferência por não ficar mais em casa.
Foram escolhidos esses lugares por se sentirem bem, reunião familiar, arejado, onde
fica o tempo mexendo (cozinhando), simboliza o seu castelo.
Sobre sua vida social, foram escolhidos; o projeto semear, escola de sica,
igreja, restaurante, cinema, teatro, casa da mãe, dos filhos. Os lugares não se
modificaram, mas a freqüência a esses lugares aumentou consideravelmente.
Sobre a sua locomoção, os significados foram de alegria, felicidade, vitória,
ser bem melhor que antes, ser outra pessoa, coisa mais importante na vida, tudo.
A modificação da percepção do corpo, após a cirurgia, foi constatada em
todos os sujeitos, pela roupa que está larga, no espelho, as peles que sobram, sente
que está diminuindo, a cintura afinando, está emagrecendo, percebe que o corpo
está funcionando.
Os sujeitos sentem-se hoje: feliz, vitorioso, que está sonhando, está melhor e
que irá melhorar.
4 - Dados Observados e/ou vivenciados pela pesquisadora
Amadeu foi o único sujeito onde a coleta de dados da pesquisa ocorreu em
outro local, devido a questões jurídicas, por ser um local familiar do sujeito, este
estava mais à vontade e disposto, pois não precisou se locomover até o hospital. Ele
demonstrou ser uma pessoa comunicativa, percebi que havia se preparado para a
entrevista, tinha uma organização das idéias passo a passo. A entrevista dele foi a
de maior duração e rica em detalhes. Ele passou-me a sensação de estar seguindo
as orientações à risca, a medicação, a alimentação, a mudança do estilo de vida, à
vontade de mudar, um entusiasmo pelo momento vivenciado.
Bia encontrava-se disposta e calma durante a entrevista. Relata que era uma
pessoa caseira, introvertida, mas, depois que começou a emagrecer, socializa-se
facilmente, conhece as pessoas na rua, pega o endereço e vai até sua casa, assim
não fica mais o dia em casa. Observa-se que, com a cirurgia, a mudança de seu
71
corpo e a facilidade que sua mobilidade, ocorreu um desenvolvimento social e
modificou seu humor, tornando-se extrovertida.
72
Fernanda possui sérios problemas nos joelhos, possuindo dores fortes e
dificultando seu deslocamento. Após a cirurgia, com seu emagrecimento percebeu
que a dor, ao caminhar, tenha diminuído; hoje sobe escada, uma rua na subida,
coisas que antes não conseguia, além da diminuição dos desmaios freqüentes.
Parece querer sua independência de ir e vir, não precisar mais de alguém ao seu
lado para ajudá-la, caso necessite. Estava cansada e introvertida no dia da
entrevista, mas disposta a colaborar.
5. Dados dos Profissionais da Equipe e Prontuário
Amadeu ficou internado durante nove dias no hospital; a cirurgia foi tranqüila,
apresentou deiscência de um dos pontos cirúrgicos, com saída de grande
quantidade de secreção, mas teve uma boa recuperação. Após três meses da
cirurgia, obteve uma boa evolução, com uma redução de 20% do peso.
Bia ficou internada seis dias no hospital, sua cirurgia foi tranqüila. Após três
meses da cirurgia, obteve uma redução de 15% do peso. Não é compulsiva, sente
muita sede devido à medicação e faz caminhada.
Caio ficou internado seis dias no hospital e foi um sucesso a cirurgia. Após
três meses de cirurgia, teve uma redução de 23% do peso, faz caminhada.
Dirce ficou internada seis dias no hospital, sua cirurgia foi tranqüila. Após três
meses de cirurgia, perdeu 15% do peso.
Elen ficou seis dias internada no hospital, sua cirurgia foi tranqüila. Em uma
das consultas com a endocrinologista teve uma crise dissociativa antes e durante a
consulta, na sala de espera; foi ao psiquiatra. Após três meses de cirurgia, perdeu
15% do peso. Está apresentando dificuldade a aderir ao tratamento dietético,
sentindo fome.
Fernanda ficou sete dias internada no hospital. Paciente faz um ano e
meio acompanhamento com a endocrinologista do CHS; quando descobriu ter
hipotireoidismo foi medicada com PUSAN; nesse período perdeu 25 quilos, faz
acompanhamento com a psicóloga e nutricionista.
Foi internada em janeiro de 2006 para ser submetida à cirurgia bariátrica, mas
devido às s condições do centro cirúrgico, pela falta de leito na UTI, a cirurgia foi
cancelada e remarcada. Perdeu, após três meses de cirurgia, 17% do peso, não faz
atividade física devido ao problema no joelho.
73
VI. DISCUSSÃO
Com o objetivo de fazer uma leitura fenomenológica da pessoa obesa nos
três meses pós-cirúrgico bariátrico, irei identificar o significado que os sujeitos
entrevistados dão a sua mobilidade no atual momento.
Desta forma, SER-NO-MUNDO é o essencial para o ser humano existir.
Complementa Forghieri (1984), “Existir é estar em constante processo, indo sempre
adiante, caminhando para um futuro que se abre diante de nós, com possibilidades
imprevisíveis e incontroláveis.”(p.19)
Assim, no desenvolvimento da personalidade da pessoa o corpo ocupa um
lugar de extrema importância, e quando este sofre desadaptações, o corpo,
74
enquanto organismo reage nos aspectos emocionais, originando fenômenos
psicossomáticos.
Na primeira questão, sobre a vida após os três meses de cirurgia que os
sujeitos encontravam-se, observamos que houve uma mudança corporal
significativa, concomitantemente um aumento de sua mobilidade social refletindo em
seu estado emocional, onde os sujeitos relatavam sentir felicidade.
Ao ser submetido a uma cirurgia bariátrica o corpo modifica-se rapidamente,
sendo importante considerar que a consciência do espaço está relacionada à
consciência corporal, pois todo corpo ocupa um espaço e não espaço sem corpo,
e este possui uma mobilidade, e através da mobilidade e da comunicação à pessoa
se coloca no mundo, para sua sobrevivência e com-vivência. O deslocamento do
corpo no espaço desenvolve a noção de imagem corporal segura, e através dessa
segurança sobre si que facilita as suas relações corporais. Complementa May;
Angel; Ellemberg (1977), “meu corpo deve significar sempre e ao mesmo tempo meu
eu” (p.280).
A mudança corporal resultante da cirurgia bariátrica, faz com que a auto-
imagem da pessoa obesa modifique, mas nem sempre pode corresponder à
verdadeira imagem que a pessoa manifesta em suas relações sociais. Porque pode
ocorrer um distanciamento entre o EU e a pessoa como um todo, originando a
existência de um conflito, minimizando este conflito em uma escolha dentro das
inúmeras escolhas que possui.
A representação que se faz do corpo, uma parte tem-se em comum com a
descrição feita pela anatomia, mas o resultado se faz através da experiência vivida,
da comunicação do meio que o circunda.
Como exemplo, os sujeitos referem que as pessoas dizem que estão mais
magras, mais bonitas, que parecem serem outras pessoas.
Merleau-Ponty (1971) refere que a imagem corporal é construída a partir da
familiaridade pré-reflexiva com o próprio corpo e das possibilidades de ação do
próprio corpo; ou seja, é a partir da percepção da experiência vivida que possibilita
sua identificação, através de sua mobilidade exploratória.
Assim, o esquema corporal ocorre com o conhecimento do próprio corpo
através da experiência subjetiva, e a percepção corporal através das relações com o
mundo exterior, sua mobilidade.
75
Todo contato social é favorável ao desenvolvimento humano, dependendo do
tipo de relação, as inúmeras pessoas terão funções de diferentes significações, e
que cada uma dará ao seu mundo de experiência pessoal.
Na segunda questão, é trabalhada o significado que os sujeitos dão a sua
mobilidade: alegria, felicidade, vitória, ser bem melhor que antes, ser outra pessoa,
coisa mais importante na vida, tudo.
Na pessoa que era um obeso mórbido e atualmente vivencia uma mobilidade
menos comprometida, esse movimento, deslocamento apresentado a cada dia lhe
um sentido e o torna significativo em sua vida, modificando até mesmo seu
estado de humor.
Os sujeitos que antes possuíam uma passividade e limitação dos movimentos
corporais, ao vivenciar e desfrutar de sua mobilidade a cada dia modifica seus
horizontes, estimulando sua criatividade e aumentando a significação das vivencias.
O movimento corporal que se modifica a cada dia com a perda de peso, faz
com que cada olhar, cada passo que se dê, significa a eleição de um ponto do
espaço, acolhedor ou não, mas com uma mudança de significação diariamente. Por
exemplo, os sujeitos referem que após a cirurgia o caminhar ganhou um outro
significado em sua vida, andam melhor, mais leve, com maior disposição; Caio
consegue correr atualmente, que para ele representa um significado talvez melhor
que caminhar.
Através das significações que o paciente pós-cirúrgico refere a cada
mobilidade conquistada, constata-se a evolução de sua capacidade exploratória
vivencial, percebendo a modificação que está ocorrendo em sua vida, não somente
corporal, mas de mobilidade social, relações inter e intrapessoais, valores e sentido
que a sua vida atualmente, podendo minimizar ou prevenir o surgimento de
patologias.
76
VII. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo sobre o significado da mobilidade dos pacientes obesos nos três
meses pós-cirúrgico é um conhecimento para a compreensão sobre sua mobilidade
ressaltando a importância do acompanhamento psicológico.
A cirurgia bariátrica é um tratamento invasivo que possui um resultado
emagrecedor imediato ocorrendo mudanças corporais diariamente, e a
autopercepção da pessoa muitas vezes não acompanha essa transformação
corporal.
A não percepção de sua mudança corporal pode trazer sérios prejuízos na
adesão ao tratamento uma vez que o processo pós-cirúrgico é sofrido, apresentando
dor corporal, alimentação modificada, medicação durante toda a sua vida, podendo
77
o paciente frustrar-se de sua decisão tomada, uma vez que precisa ocorrer uma
modificação no estilo de vida como um todo.
Ressalta-se que a mobilidade em relação a si e aos locais vivenciados
melhoram significativamente, quando ocorre a mudança de percepção corporal
apresentando uma maior disposição para realizar atividades que eram executadas
de maneira sofrida passam a serem realizadas com menor esforço, tornando-se até
mesmo prazerosa.
Caso esta mudança de mobilidade não seja desfrutada, o paciente não
perceberá os benefícios conquistados, dificilmente modifica seu estilo de vida,
podendo não aderir ao tratamento e propondo riscos a sua vida.
A pessoa portadora de obesidade mórbida muitas vezes torna-se uma pessoa
passiva, antissocial devido todo contexto vivido. Quando é submetida à cirurgia
bariátrica, ocorre à perda de peso, sua saúde melhora como um todo, mas a não
consciência de sua percepção e não aceitação dessa mudança, onde alguns
pacientes acreditam que não modificaram e não podem desfrutar de sua mobilidade,
percebendo uma obteção de um ganho secundário como a ajuda financeira do
governo que agora é perdida, o olhar do outro que não a mais como uma pessoa
limitada, ela em conflitos existenciais.
Sugere-se ao psicólogo fazer um trabalho de acompanhamento pré e pós-
cirúrgico bariátrico, para que os pacientes estejam conscientes de sua real
modificação, não somente corporal, mas de sua mobilidade, alimentação e estilo de
vida. Para isso, necessitamos de mais estudos a respeito sobre a mobilidade social
e as conseqüências emocionais envolvidas no paciente pós-cirúrgico bariátrico.
A sociedade brasileira, como todas as outras, necessita reinserir a pessoa
obesa e obesa mórbida no contexto social, pois, hoje, não se pode mais ver a
pessoa “gorda” como a diferente e, sim, como cidadã, que nunca deixou de ser. A
mobilidade tem, como um dos objetivos, a busca da cidadania, o direito de ir e vir,
participando do gozo dos direitos civis, sociais e políticos.
78
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADES, L.; KERBAUY, R. R. Obesidade: realidades e indagações. Psicol. São Paulo:
USP, .13(1), 2002.
ALBINO, E; CERCHIARI, N. Psicossomática: um estudo histórico e epistemológico.
Rev.Psicologia Ciência e Profissão,20 (4),2000: 64-79.
ALEXANDER, F. Medicina Psicossomática. Artes Médicas. Porto Alegre, 1989.
BENEDETTI, C. Obesidade e Emagrecimento: um estudo com obesos rbidos
submetidos a gastroplastia. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- SP.2001,
147p (Dissertação de Mestrado).
BINSWANGER, L. El caso de Ilse. In:MAY, R.; ANGEL, E.; ELLEMBERG, H.
Existencia. Madrid. CapVIII, 1977.
79
BUSSE, S.de R. (org.). Anorexia, bulimia e obesidade. Barueri, SP: Manole, 2004.
CARDOSO, N. M. P. Doença Oncológica e Alexitimia. Contributo Pessoal.
Dissertação de Mestrado Universidade de Coimbra, 1995.
CASALNUOVO, C. A; EGUILEOR, E. O. de; BRITES, G.; BRAGUINSKY, J. Cirurgía
Bariátrica con Banda Gástrica Ajustable. Rev. Argent. Cirug; 80 (3-4),2001: 86-99.
COUTINHO, W.F.; BENCHIMOL, A .K. Obesidade Mórbida e Afecções Associadas.
In: GARRIDO JUNIOR, A . (org). Cirurgia da Obesidade. São Paulo: Atheneu,
2002:.13-17.
CURTIN, G.T. Mobility-social and psychological implications. The New Outlook,
56(2), 1962: 5-9.
CSENDES, A . J.; BURDILES, P.; DÍAZ, J. C.; MALUENDA, F.; BURGOS, A .M.;
RECIO, M.; HERNANDEZ, J. A. Resultados del tratamiento quirúrgico de la obesidad
mórbida.Análisis de 180 pacientes. Rev. Chilena de Cirurgia, 54 (1), febrero, 2002: 3-
9.
DIAS C.A .(1981) Psicossomática e Reumatologia. Separata do “Jornal do dico”.
Fev, 1981:215-221.
DONATO, A; OSORIO, M.G.F; PASCHOAL, P.V.;MARUM,R.H. Obesidade.In
BUSSE, Salvador de Rosis (org.). Anorexia, bulimia e obesidade. Barueri, SP:
Manole, 2004.
FERNANDES, L. C; PUCCA, L; MATOS, D. Tratamento cirúrgico da obesidade. J.
Bras. Méd 80(3), mar, 2001: 44-9.
FERREIRA, Aurélio B. de H. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira , 2006.
FORGHIERI, Y.C. Psicologia Fenomenológica: fundamentos, método e pesquisas.
São Paulo: Pioneira, 2004.
GARRIDO JUNIOR, H. Cirurgia em Obesos Mórbidos: Experiência Pessoal.
Arq.Bras.Endoc.Metab., 44(1), fev. 2000.
____________________ . Cirurgia da Obesidade. São Paulo: Atheneu, 2002.
GODOY, Antonio Carlos Marsiglio de. Emagreça pela cabeça.3ªed.-São Paulo; MG
Editores, 2002.
GUNTHER, H. Mobilidade e affordance como cerne dos estudos pessoa-ambiente.
Estudos de Psicologia. 8(2), 2003: 273-280.
GUZMÁN, S.B.; BOZA, C.W. Reflexiones sobre la cirugía de la obesidad mórbida.
Rev. Chil. De Cirugía,.53(2), abril, 2001:129-134.
80
LOLI, Maria Salete Arenales. Obesidade como sintoma: uma leitura psicanalítica.
São Paulo: Vetor, 2000.
MANCINI, A. In: GARRIDO JUNIOR, H. Cirurgia da Obesidade. São Paulo: Atheneu,
2002.
MELLO FILHO, Júlio de. Psicossomática Hoje. Artes Médicas. Porto Alegre, 1992.
MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da Percepção. São Paulo: Fretas Bastos,
1971.
NEDER, M. O psicólogo e a pesquisa na instituição hospitalar. Rev. de Psicologia
Hospitalar, FMUSP. São Paulo: 3(2): 2-4, jul/dez, 1993.
MORAES, J.C.C.de. A mulher obesa enfrentando a própria obesidade: um estudo
clínico psicológico. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-SP. 2004, 337f.
(Tese de Doutorado)
SABBIONI, M.E.E; DICKSON, M. H.; EYCHMÜLLER, S.; FRANKE, D.; GOETZ, S.;
HÜRNY, C.; NAEF, M.; BALSIGER, B.; MARCO, D.; BÜRGI, U; BÜCHLER, M. W.
Intermediate results of health related quality of life after vertical banded gastroplasty.
Int. J. Obes. Relat. Metab. Disord: 26(2), 2002: 277-80.
SAMI-ALI. Pensar o Somático. Imaginário e Patologia. Guide-Artes Gráficas Ltda,
1992.
SANTOS, Francisco Carlos Gomes dos. Identidade pessoal de obesos mórbidos
submetidos á cirurgia bariátrica: uma metamorfose emancipatória?.Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo- SP.2003, (Dissertação de Mestrado).
THIRLBY, R. C., RANDALL, J. A Genetic; “Obesity Risk Index” for Patients with
Morbid Obesity. Obes. Surg.12, 2002: 25-29.
TRONCOSO, P. G.; NÚÑEZ, I. V.; GUZMÁN, S. B. Protocolo de atención kinésica en
pacientes portadores de obesidad mórbid sometidos a bypass gástrico. Rev. Chilena
de Cirugía. 54(4), ago 2002: 437-443.
ZILBERSTEIN,B; GALVÃO NETO, M.; RAMOS, A. C..O papel da cirurgia no
tratamento da obesidade. RBM-Rev.Bras.Med., 59 (4),abril , 2002.
WAIDERGORN, L.; LOPES, C.; EVANGELISTA, R. The psychologycal attendance to
the morbid obese. Psyke – R. Cur. Psic. Cent. Univ. FMU: 1999. .4(2), jul-dez,
1999:73-82
WHO. Obesity: obesity epidemic puts millions at risk from relates diseases. Report of
a WHO Consultation on Obesity. World health Organization, Geneva, 1997.
81
ANEXOS
ANEXO A
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica
Núcleo de Psicossomática e Psicologia Hospitalar
COMITÊ ÉTICA EM PESQUISA – CEP
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
82
I- DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO PARTICIPANTE DA PESQUISA
Nome do(a) participante: ________________________________________
Documento de identidade n°:____________________
Data de Nascimento:___/___/______
Endereço:________________________________________________n.____
Complemento: ________________ Bairro: __________________________
Cidade: ________________________________ CEP: __________________
Telefone: ( ) _________________________________________________
II – DADOS SOBRE A PESQUISA CIENTÍFICA
Título do protocolo de pesquisa: A mobilidade de pacientes obesos no pós-
cirúrgico bariátrico.
Pesquisador: Renata Emy Koyama
Profissão: Psicóloga
Inscrição do Conselho Regional n°: CRP 06/62443-0
Avaliação de Risco da Pesquisa: Risco Baixo
III – REGISTRO DAS EXPLICAÇÕES DA PESQUISADORA AO
PARTICIPANTE DA PESQUISA
Você está sendo convidado a participar de uma pesquisa que tem como titulo:
A mobilidade de pacientes obesos no pós-cirúrgico bariátrico. Esta pesquisa tem
com objetivo principal descobrir o significado da mobilidade social para os pacientes
obesos após três meses de tratamento através da cirurgia bariátrica. Para a coleta
de dados serão utilizados 5 instrumentos, a saber:
1.Questionário Sócio-demográfico, para levantamento das características dos
sujeitos.
2.Entrevista Semi-estruturada, para descobrir o significado da mobilidade
social do s sujeitos atualmente.
3.Dados do prontuário diversificado dos diferentes profissionais,
endocrinologia, cirurgia, nutrição e psicologia.
83
4.Dados da reunião de equipe multidisciplinar.
5.Dados da pesquisadora, coletados após a entrevista.
Os resultados da pesquisa serão utilizados na elaboração de um relatório
como parte das necessidades para que o pesquisador obtenha o Titulo de Mestre
em Psicologia Clinica e, para futura publicação cientifica conforme sigilo
estabelecido pelo comitê de ética em pesquisa. Seu nome e de qualquer outro
participante jamais será divulgado.
IV ESCLARECIMENTOS DADOS PELO PESQUISADOR SOBRE
GARANTIAS DO PARTICIPANTE DA PESQUISA:
1. Acesso a qualquer tempo, às informações sobre procedimentos, riscos e
benefícios relacionados a pesquisa, inclusive para diminuir eventuais duvidas.
2. Liberdade de retirar seu consentimento a qualquer momento e de deixar de
participar do estudo.
3. Salvaguarda confidencial de idade, sigilo e privacidade.
V- INFORMAÇÕES PARA CONTATO DO RESPONSAVEL PELA
PESQUISA
Pesquisadora: Renata Emy Koyama
Endereço: Rua Dez de maio, 111 ap301, Zona7, Maringá, PR
Telefones: (14) 32032939/ (14) 91110320/ (44) 99630008
VI – INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
Os resultados da pesquisa estarão disponíveis aos participantes a qualquer
momento, bastando para tanto, contatar a pesquisadora e agendar data e horário.
84
VII - CONSENTIMENTO
Recebi, li e entendi a Folha de Informação do Paciente para a pesquisa
acima, também recebi uma explicação adequada sobre este estudo, seus
propósitos, riscos e sobre meus direitos como paciente. Eu tive a oportunidade de
fazer perguntas antes de tomar qualquer decisão. Sei que a decisão de tomar parte
desta pesquisa é minha e tenho direito de mudar de idéia durante qualquer
momento do estudo. Estou certo de que o serei identificado e que tudo será
realizado com o máximo de confidencialidade. Com base nisso, autorizo a
participação nesta pesquisa.
Declaro que, após convenientemente esclarecido pela pesquisadora e ter
entendido o que me foi explicado, consinto em participar da presente pesquisa.
Sorocaba, _____ de _____________________ de 20______
___________________________________________
Assinatura do Participante da Pesquisa
___________________________________________
Assinatura da Pesquisadora
ANEXO B
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
COMITÊ DE ÉTICA DE PESQUISA
TERMO DE COMPROMISSO DO PESQUISADOR RESPONSÁVEL
Eu, Renata Emy Koyama, RG 21287373, pesquisadora responsável pelo
projeto de pesquisa intitulada: "A mobilidade de pacientes obesos mórbidos no pós-
cirúgico bariátrico"
85
Protocolo:
Declaro conhecer a Resolução MS/CNS - 196/96 e complementares do
Conselho Nacional de Saúde sobre Pesquisa Envolvendo Seres Humanos e
comprometo-me a seguir as normas e orientações, assim como a dar conhecimento
delas e exigir a co-responsabilidade de todos os outros participantes do estudo, no
seu cumprimento.
São Paulo, 30 de novembro de 2005.
Assinatura
ANEXO C
Entrevista Estruturada
Nome:
Data de nascimento:
Estado civil:
Número de filhos:
Escolaridade:
86
Religião:
Ocupação (trabalho):
Renda familiar:
Data da cirurgia:
Maior peso atingido:
Peso atual:
Data da entrevista:
Anexo D
Entrevista Semi-Estruturada Individual
87
1. Fale sobre a sua vida após a cirurgia.
1.1 Como é hoje a sua locomoção?
1.2 Sobre a sua casa, qual o lugar de que mais gosta? Por quê?
1.3 A que lugares gosta de ir, ao sair de casa? Por quê?
2. Qual o significado que tem hoje para você a sua locomoção?
2.1 Como você percebe seu corpo após a cirurgia?
2.2 Como você se sente hoje?
88
ANEXO E – ENTREVISTAS
P: pesquisadora
S: sujeito
SUJEITO- AMADEU
P:Amadeu fale um pouquinho para mim sobre a sua vida após a cirurgia.
S: Bom, a minha vida após a cirurgia ela me trouxe assim muitas felicidades, né.
P: Uhum.
S: Porque a cirurgia ela foi assim, para mim é como se fosse uma luz no fim do
túnel. Uma coisa que eu desejava mas que estava muito distante. Quando eu soube
que ia começar a fazer aqui no hospital regional a cirurgia, para mim foi uma alegria
muito grande, né. Porque devido às condições que eu me encontro, para mim as
coisas seriam muito mais difícil. Mas graça a Deus, as pessoas que estão aqui ao
meu redor, me ajudaram muito, né. E, eu consegui é, assistir as palestras, eu
consegui é, fui chamado para passar pela primeira consulta e tal. E é uma coisa que
eu sempre quis. Porque, uma pessoa obesa é uma pessoa limitada , né. A gente,
muita coisa que a gente tem vontade de fazer, e não pode fazer devido à limitação
de peso. Sem contar, que eu passei um momento muito difícil de enfermidade, né.
Eu num período de dois anos seguido eu tive duas internações devido a minha
obesidade, a minha circulação é ruim, né, e eu tive uma trombose na perna
esquerda né, fiquei doze dias internado né. E por pouco não perdi a perna, e no ano
seguinte né, eu já tive uma outra trombose na perna direita e fiquei mais nove dias
internados. Sem contar né, a dificuldade para tudo, ás vezes muita coisa que a
gente precisa pegar um objeto no alto fica dependendo de um amigo para estar
pegando, uma pessoa para tá, tá pegando. A cirurgia me deu uma nova vida, hoje
eu sou uma pessoa com a auto-estima lá em cima, sabe. Nem até, até tem muitos
pacientes que ele, querem fazer a cirurgia e se preocupam a com a pele que vai
sobrar, eu prefiro ter várias peles sobrando mas ser magro. Por que? Porque isso eu
estou conhecendo coisas, fazendo coisas que até então eu nunca fiz depois de
adulto. Porque quando a gente é criança a gente, eu sempre fui uma pessoa obesa,
né.
P: Uhum.
89
S:Desde quando eu nasci a minha mãe dizia que eu mamava nela e mamava duas
mamadeiras e meia, então eu sempre fui uma pessoa de muito apetite só que, até,
até mesmo eu penso, que eu não quero jogar a culpa do meu resultado nos meus
pais, mas eu acho que tem pais que às vezes eles agem errado. Porque veja bem.
Eu sou, eu sou uma criança no caso quando eu era criança, cada vez que a balança
aumentava um quilo né, a pessoa falava trinta quilo, olha, como ele está gordinho,
tal, a bochechinha dele, então, eu gostava de ser paparicado. Então acho que é por
isso, que eu sempre tive engordando cada vez mais. Mas se eu tivesse informação
que isso no futuro ia me prejudicar, jamais eu ia estar sabe, é, comendo e outra
coisa, eu não sabia me alimentar. Eu fui saber me alimentar depois de quarenta
anos, que foi quando eu comecei o processo para fazer a cirurgia,foi quando eu fui
frequentar a faculdade, é, frequentei as palestras né, na faculdade, foi quando eu
tive orientação, prá tá sabendo como se alimentar, né, prá estar assimilando também
o exercício físico, né. E hoje, nossa, eu não tenho nem palavras para dizer a alegria
que eu sinto né, depois de ter feito essa cirurgia.
P: No dia da cirurgia, você tinha alguma dúvida em fazer ela, passou por algum
momento
S: Olha eu, no dia da minha cirurgia a minha internação foi marcada para internar no
domingo às sete horas da manhã, né. Aí eu saí daqui tal, cheguei no hospital
internado, passei domingo o dia todo bem tranqüilo, aí na segunda feira também,
tranqüilo tal. Quando chegou à noitinha aí a enfermeira chegou no quarto né, e falou
assim, olha, amanhã seis e meia você vai para o centro cirúrgico.
P: Uhm.
S: Aí deu um frio na barriga, né, pois eu nunca tinha feito cirurgia nenhuma, mas eu
falei não, é o que eu sempre quis, e se tiver alguma dificuldade eu estou disposto a
passar né. Sem problema. E naquela noite procurei dormir bem tranqüilo,
sossegado, tal, dormi. De manhã a enfermeira já veio, me acordou, eu fui pro outro
quarto, depois coloquei a roupa para ir no centro cirúrgico, e do quarto a maca já
encosta assim na porta do quarto e vai deitado, né.
P: Uhum.
S: E engraçado que aí deitado assim, conforme a enfermeira vai empurrando a maca
aí vai passando assim as carga de luz no teto
P: Uhum.
90
S: E aquilo alí, sabe, não sei, e aquilo ali me deixou um pouco tenso, sabe. Aí subiu
o elevador tal, até o quinto andar. Quando eu cheguei lá na, na, eu não fui direto
para a sala de cirurgia, eu fui para uma salinha antes né, onde é medido a pressão
tal, se tá tudo bem, bati um papo, pergunta como está dá uma olhada nos exames, e
quando eu cheguei lá já tinha uma senhora que ia operar de apêndice, né.
P: Uhum.
S: E a gente ficou ali uns quinze minutos conversando, e aquele papo que a gente
91
S: E, eu sempre tive dificuldade de respirar. Eu acordei, estava com os olhos
fechados e escutava a voz da enfermeira, respira, respira, eu sou meio preguiçoso,
respirava um pouquinho, parava sabe. Aí, depois umas três vezes aí eu firmei a
respiração. Aí, a dificuldade que eu tive onde que foi, eu tive muito vômito, após a
volta da cirurgia. Só que eu não sentia que eu tinha sido operado porque quando eu
acordei eu não sentia nada, né. Aí eu falei assim, pôxa mas será que eu já operei?
Aí eu falei assim, ah acho que já, porque tem soro, tem tudo aqui, eu fui para a sala
de cirurgia, eles não iam tirar eu de lá sem operar, aí eu peguei a mão aqui, pus a
mão e falei, ah, eu estava com a cinta né, ah, eu fui operado. Graça a deus, aí foi só
alegria, confirmou. Mas foi vômito o resto do dia, né, eu desci do centro cirúrgico, era
quatro horas da tarde, e quando, toda a noite inteira, o outro dia também. Aí quando
o médico passou,eu falei assim doutor, eu graça a deus eu estou muito bem, estou
sentindo um pouco fraco, né, um pouco debilitado, mas eu estou vomitando muito. Aí
ele falou assim, é o medicamento que tem, o dramal, dramal é para dor e ele
provoca vômito. Só que vamos fazer o seguinte, eu vou trocar ele por dipirona né, e
se o dipirona tirar a dor aí você fica com ela. Eu falei, excelente. Aí ele passou, eu
acabei passando dipirona, só que após a cirurgia os médicos eles orientam muito a
gente a andar. Por quê? Por causa da circulação, né. A circulação da gente e não
dar uma trombose. Como eu era reincidente de duas tromboses uma em cada perna
eu tinha que andar de todo jeito. Só que pôxa, eu tinha uma sonda aqui na uretra né,
tinha duas sondas aqui, e não foi fácil, porque eu fiquei praticamente umas quase
trinta horas de jejum, né, então pra mim estava muito fraco. E ainda estava na minha
ficha lá, todo plantão que trocava no hospital era pra mim andar. Só que depois que
acordei e vomitei, fui andar três dias depois, né. Mas dor não senti nada. Não senti
nada. Só o que me incomodou foi o vômito mesmo, né. E se precisasse fazer de
novo eu faria. Sabe, faria porque a alegria de ser a pessoa que sou hoje não tem
preço, não tem dor que pague.
P: E como é que foram os dias depois da cirurgia.
S: Olha, o dia depois foi o seguinte, a gente começa com uma dieta né, dieta líquida
e tal, que é o chá, né. E água não pode, água só pode depois de quatro a cinco dias,
né. E é só o chazinho e o caldinho, né. Só que o caldo, ele ainda desse bem, agora
o chá, não tem açúcar, não tem nada, é meio aguado ele é horrível. Mas a gente
discute, né. E então eu fui fazendo a dieta líquida, fui fazendo tudo, porque desde o
início, as coisas correram bem para mim, porque eu sempre pedi orientação médica,
92
segui orientação das psicólogas, endocrinologistas, todas, terapeutas, tudo correram
muito bem, graça a deus.Após cinco dias.
P: Uhum.
S: Eu já ia, eu vim para minha casa, né. E já ia ficar por minha conta,né. A dieta, a
água de coco, né.
P: Uhum.
S: Gatorade, caldinho, né. Então, eu praticamente fiz tudo. Eu tive um pós-operatório
muito bom, muito bom, eu já saí do hospital andando, né. Quando eu cheguei em
casa, eu mesmo já, eu mesmo que fazia a minha sopinha, né. Tomava banho
sozinho, tudo tranqüilo. Sabe, não tive dificuldade nenhuma. Acho que a vantagem
de estar em pena, de estar passando aquele momento, e o momento mais crítico é o
pós-operatório, né. Por quê? Porque, porque precisa ter muito cuidado para não
formar fístula, não é. Pra cuidar dos pontos que também estão muito molhados, a
gente tem que tá, sabe, não pode pegar peso, não pode subir escada, tem que
andar mas um pouquinho, sabe, somente o necessário para evitar uma doença é,
mais grave no caso da trombose, pra circulação.
P: E aí veio a primeira refeição. Depois de trinta dias.
S: É, eu, não. Eu com trinta dias, eu passei, não com vinte e cinco dias eu passei
pela nutricionista, né. Então, como ela viu que eu estava muito bem, ela falou assim,
olha, hoje fazem vinte e cinco dias, daqui mais quatro dias você completa os trinta
dias de cirurgia, então aí eu já vou estar liberando para você o arroz, mas o arroz
não assim, ele é uma papinha, sabe. Um arroz bem molhadinho, né. Você pode
estar se alimentando dele, né. E a carne bem desfiadinha, bem pequenininha, né.
Você pode também estar se alimentando porque a carne é o essencial, né, então eu
fiquei nessa dieta, também a maça cozida, a pêra cozida comendo raspando na
colherinha, e também hidratando bastante com gatrorade, com água de coco, né.
Com suco ela também liberou, suco Del Vale, né, então estar tomando suco, nada
de açúcar, né, doce só com quatro meses, refrigerante também.
P: E como que você lidou com a questão da quantidade, que foi bem menos do que
você comia.
S: Isso. Olha para mim não foi difícil. Sabe por quê? Veja bem, a partir do momento
que passei pela endocrinologista, pela nutricionista, ela passou uma dieta para mim,
então essa dieta, ela já foi trabalhando com o meu organismo, o meu hábito
93
alimentar, né, já diminuindo a proporção de comida, por quê? Porque se eu já
estivesse comendo vamos supor é 500g a cada refeição, né.
P:Uhum.
S:Quando eu operasse eu ia ter uma mudança de um dia para outro muito radical,
porque eu ia deixar de comer 500g a cada refeição e ia ter que comer, tomar 20ml
de líquido, né. Um copinho de café, né, mais é líquido não tem nada sólido, né, é só
líquido. Então, ia ter uma diferença muito grande e o meu organismo poderia sentir,
então ela já passou uma dieta, né. Não era uma dieta líquida, era uma dieta sólida
mas uma dieta bem balanceada. Não muito difícil. Pra quê? Para eu ir me
habituando para quando eu fizesse a cirurgia o meu organismo não tivesse um
impacto muito grande. E outra coisa, a própria cirurgia a gente não sente fome.
Quando tem fome, né. Muitas vezes, tem paciente que varia de paciente, tem alguns
que tem enjôo outros não, né. No meu caso não tive enjôo até hoje eu com 4 meses
de cirurgia só vomitei devido a medicação. Mas com a alimentação eu não vomitei,
só que, bom, aí é já é um processo lá na frente e tal, eu só queria falar que tem
alimentos que eu comia antes que hoje eu não consigo comer. Acho que dentro
desse paladar já não me dá prazer em comer, sabe. Mas isso já é um processo lá na
frente, né. Ainda estamos nos meus trinta dias de cirurgia. E, é.
P: Então com trinta dias você começou esse alimento sólido.
S: Mais trinta dias.
P: E você não sente fome.
S: Não sentia fome.
P: Desejo de comer alguma coisa que não pode.
S:Também não, não tinha. Depois pós trinta dias não. Mas depois dos sessenta dias
eu já tinha vontade de comer o que não como. Não tinha fome, mas tinha vontade
de comer, porque é um processo muito longo, né. Sem estar se alimentando, sem ta,
assim, comendo uma coisa que você está vendo ali, e você sabe o sabor daquilo ali,
sabe, você está impedido de comer, então você sente vontade de estar sentindo
aquele paladar daquele alimento, né. Mas não por fome, mas sim por sabe, quando
você está comendo chocolate, ele é, além de ele ser energia alimentar ele também é
prazeiroso, ele é gostoso, ele é saboroso, você entendeu. Mas não assim, uma coisa
assim, é também por comer e estravazar. Porque é vontade de, porque devido à
gente não poder comer nada doce, estar se alimentando mais por coisa salgado,
parece que o organismo ele sente falta, de açúcar, algo doce, inclusive eu antes da
94
cirurgia, eu nunca fui de falar de doce, nunca fui falar de chocolate, era muito
comilão mesmo, sabe. Agora hoje não, hoje eu sinto uma necessidade de comer
algo doce. Mas também nada que seja abusivo, sabe. Tudo tem limite.
P: Tem aquele desejo mas antes disso tem limite, você toma cuidado.
S: Isso, isso. É inclusive agora no final do ano né, nós fizemos festas do ano novo e
tal, então a gente tem vários pratos variados de alimento, disso, daquilo, só que a
gente que tem estômago reduzido à gente fala assim, bom,
tem churrasco, tem maionese, tem lasanha, tem frango, tem peru, tem pernil, só que
eu não posso comer tudo aquilo, eu vou escolher o que eu quero comer.
P: Hum.
S: Comi aquilo ali acabou, sabe, antes poderia comer um prato e variar, pra mim
não, isso aí hoje pra mim é uma coisa impossível querer comer tudo isso de uma vez
só. Eu escolho uma coisa e como, né.
P: Uhum.
S: Daqui umas duas, três horas eu vou e como outro alimento, né. Mas eu não
importo porque sabe, porque eu jamais vou me arrepender por ter feito a cirurgia.
Entendeu, pra mim é a coisa mais importante que aconteceu na minha vida. Porque,
eu vivi, sabe. Eu estou me conhecendo, eu tô buscando eu, porque antes não era
eu, sabe. Porque eu não era feliz, como é que poderia ser eu, sabe, não era normal,
sabe. Eu tinha uma coisa que impedia eu de poder lidar com a minha vida, até nisso.
Quando eu estava na palestra, né, com a psicóloga e tal, eu não tive oportunidade
de falar isso mas na próxima palestra eu vou falar, né. Sabe doutora, a cirurgia me
fez um bem muito grande, só que no meu trabalho eu tinha uma limitação para
trabalhar, por quê, porque eu era obeso, então a minha produtividade era menor.
Hoje com o peso que eu me encontro eu aumentei a minha capacidade de produzir,
eu estou trabalhando dobrado, né, por quê, porque eu estou mais ágil, mais rápido,
tem serviço que eu não poderia fazer, sabe. E hoje eu faço, então o que aconteceu,
aumentou o serviço, dobrou o serviço mas não dobrou o salário. Tem um detalhe,
recompensando o tempo que era obeso, pois quando eu era obeso ninguém
também questionava, quem fazia o meu pagamento, porque eu produzia menos,
então hoje eu também não posso questionar o meu trabalho porque eu estou
produzindo mais.
P: É.
S: Foi a vez do patrão e agora é a minha vez, né.
95
P:É uma troca.
S:É uma troca.
P: E hoje assim, passado esses três meses você sente assim essa diferença porque
mudou, mas hoje está normal e pode comer de tudo.
S: Eu posso comer de tudo, né. Ainda tem outras coisas que estão restrita, né.
Porque ainda tem agora mais uma passagem pela nutricionista e tem algumas
coisas que não está liberado, entendeu. Refrigerante mesmo, é liberado com 4
meses, até agora nas festas ela falou, você vai estar completando quatro meses
agora depois da festa, eu vou liberar um pouquinho de refrigerante para você, mas
você não vai colocar o refrigerante e beber, você coloca o refrigerante no copo,
espera ele evaporar um pouco de gás e aí você bebe. Então tem certas coisas que
ela não liberou, agora a alimentação eu posso comer de tudo, até que o meu
organismo não rejeite. Igual hoje eu vou comer salsicha, não desce, é, carne seca
que é jabá também não desce, lingüiça também não desce. Na verdade, muita coisa
que principal que é necessário comer o meu organismo se dá muito bem, que é
carne, então o que como mais é bife e filé de frango, carne de frango. São as duas
carnes que como, mas é o que eu preciso devido às proteínas, as vitaminas
também, né. Mas eu estou muito feliz, eu estou, às vezes eu via as pessoas se
alimentar, a pessoa pegava o prato, né, aí ia fazer seu prato assim, aí colocava uma
colherzinha de arroz, uma colherzinha de feijão, uma salada e comia, e muitas vezes
nem comia tudo, e se satisfazia. E eu fazia o prato que sabe, parecia um pão de
açúcar, e depois fazia um mini pão de açúcar sabe. E às vezes eu não me sentia
bem fazendo aquilo, sabia que aquilo me fazia mal, mas o que é, o que aquela
necessidade de estar comendo, porque se eu pudesse comer só um pouquinho e
não morrer de fome eu comeria. Então hoje, eu ponho bem pouquinho no prato e é o
que sempre quis, comer pouco, sabe. É igual aquele velho ditado, né, a gente come
para viver e não vive para comer. Antes eu vivia para comer, hoje eu como para
viver, né. Eu gasto uma porcentagem de energia, e reponho uma porcentagem de
energia de acordo com o que eu necessito, né.
P: Conta um pouquinho pra mim como está hoje a sua locomoção.
S: A minha locomoção está ótima. Hoje, inclusive aconteceu uma coisa com a minha
perna da semana passada, né, que eu não subia escada, tipo assim, uma escada
subir no telhado, né. Eu não subia. Eu hoje, da semana passada, eu subi numa
escada entendeu. O sapato, antes para amarrar o sapato eu tinha que colocar o pé
96
em cima de uma cadeira, pra poder curvar um pouco o corpo e com alguma
dificuldade amarrar o sapato. Hoje eu abaixo, amarro o sapato, entendeu. Se
precisar pintar o roda pé de uma parede eu passo o tempo todo abaixado pintando o
roda pé da parede e não me sinto mal, me sinto bem, entendeu. Até, inclusive eu
conversei com a doutora, a psicóloga na entrevista retrasada, né.
P: Hum.
S: Que eu estava me sentindo com muita energia, eu estava me sentindo muito
ativo, e as atividades que eu estava fazendo estava sendo poucas, pelo tanto de
energia que eu tinha, sabe. O meu trabalho, a minha caminhada, tudo que eu estava
fazendo, estava sendo muito pouca. Inclusive, eu era uma pessoa muito sedentária
devido a minha obesidade, eu ficava a maior parte do tempo deitado, assistindo
televisão, né. E então a vida era muito parada. Antes a gente dormia durante o dia,
hoje não. Hoje eu não sei nem o que é saber dormir de dia mais. De dia para mim é,
quem dorme é só criança, eu não durmo mais. E também não fico deitado. Ás vezes
eu chegava do trabalho, né e já chegava cansado, Por quê? Devido a obesidade. A
obesidade já cansava mais do que o próprio trabalho. Mas hoje não, hoje eu chego
do trabalho já troco de roupa, vou fazer caminhada, vou pedalar na bicicleta
ergométrica, você entendeu, estou sempre me mexendo. Quando não, vou dar uma
limpada no quarto, varrer o chão e passar um pano, sabe, então, eu não paro. Você
entendeu. Eu tomava um banho, chegava do serviço quatro horas, quatro e meia eu
tomava banho, né. Cinco horas eu deitava na cama e só saía da cama outro dia, de
manhã para trabalhar. Hoje eu durmo antes da meia noite entendeu. Sempre
fazendo uma coisa e outra, aumentei não só a minha atividade física como também
a minha atividade cultural, né. Que eu gosto de ler um livro, ficar escutando uma
música também. Então, a minha vida ela mudou bastante. E eu agradeço isso
primeiramente a deus, né. E toda equipe médica que está fazendo um trabalho
maravilhoso, muito bonito, trazendo a felicidade e a vida para as pessoas obesas.
P: Ótimo. E assim, sobre a sua casa, o lugar que você fica. Que lugar que você mais
gosta? E por que você gosta desse lugar.
S: Olha, eu gosto mais é do meu quarto, né. Porque é o lugar que é o seguinte. Eu
fiz um cantinho né, que eu me identificasse com ele.
P: Uhum.
S: Que eu me sentisse bem, que eu pudesse fazer as minhas auto críticas diárias
que a gente passa o dia, sempre deitado com a cabeça no travesseiro, e vê o que a
97
gente produziu de melhor. E ver se a gente fez algumas falhas para a gente corrigir
e não repetir no dia seguinte, né. E também para a gente sabe, poder relaxar,
entendeu. Fazer planos para o futuro, sabe. Eu tenho três quadros no meu quarto
que eu fico olhando pra ele e fico imaginando, imaginando.
LADO B
P: Que tamanho que é mesmo esse seu quarto?
S: É três por dois.
P: Ah, é pequeno.
S: É pequeno, é pequeno. Não é muito grande não.
P: E é só seu?
S: Esse aí é só meu.
P: A tá.
S: É só meu. Ah, é um cantinho que eu me sinto bem ali.
P: É seu cantinho particular.
S: Meu cantinho particular.
P: Que lugar você mais gosta de ir. Quando você, no seu dia a dia assim.
S: No meu dia a dia, olha eu gosto do, aqui tem um projeto semear, que é um lugar
de viveiro de plantas, que cultiva plantas, como se fosse uma maternidade de
plantas né. Então, eu gosto de ir ali. Por quê? Porque é um lugar que é, dá uma paz
muito grande, e eu gosto de plantas e tal , e ali é muito gostoso, um lugar muito bom,
né. E, gosto também de ir na escola de música, a música ela é muito bom para a
alma da gente né. E, vou a igreja também.
P: A tá.
S: Na verdade, eu gosto de ir , a gente também, às vezes está com algum problema
a gente entra e quando sai, já sai.
P: Mais leve.
S: Mais leve, tal, deixa toda aquela carga, né.
P: E assim, depois da cirurgia, teve alguma modificação de lugares, assim, que você
freqüentava antes, e hoje você freqüenta, ou você deixou de ir.
98
S: Não, eu é, a parte de lugares continua do mesmo jeito. Não mudou nada, né. Eu
só assim, eu só, eu fiquei mais elétrico, né. Eu, sabe, estou sempre andando não
consigo é ficar parado.
P: Está mais disposto.
S: É, mais disposto. Parece que eu criei rodinhas no pé e, estou sempre andando. A
única mudança que teve, é que assim, vamos supor se eu fosse lá no semear, e
ficasse uma hora lá. Hoje não consigo ficar uma hora lá. Eu fico quinze minutos, só
que tem um detalhe, eu ás vezes vou lá duas a três vezes ao dia, sendo que antes
eu ia uma vez só. Então, eu diminuí o meu tempo de permanência lá, mas também
aumentei o meu tempo de freqüência. Por quê eu ia uma vez lá e não voltava mais?
Pela dificuldade de estar me locomovendo, de estar andando. E hoje, com a minha
necessidade que tenho de, estar gastando energia, de estar sempre andando, às
vezes eu vou lá umas duas, três vezes, você entendeu. Então
P:Lá é o quê?
S: Lá é um, é um, o projeto semear, é um lugar que a gente cultiva plantas, sabe.
P: A tá.
S: É um viveiro, sabe. Eles tem vários tipos de plantas e eles, eles como é que diz,
eles vendem, e tal, sabe.
P: Comercializam.
S: É, comercializam, isso.
P: Ah, tá. E assim, qual o significado que tem para você hoje essa sua locomoção,
seu ir e vir.
S: Ah, pra mim esse significado é só de alegria. É, significa o que? Que eu estou
fazendo coisas que eu sempre quis fazer. Sabe, ser uma pessoa normal, ter
disposição, uma coisa que eu não tinha antes, disposição, sabe. Um amigo me
chama, ah, vamos para tal lugar. Ah não, não estou com vontade. Ah, vamos. Ah,
não estou com vontade. Hoje não, qualquer lugar que me chama para ir, tô dentro,
vamos.
P:Eu não estou com vontade é porque você não queria ir, ou você não estava
disposto, o que era isso.
S:É disposição. Ás vezes a vontade tem , você entendeu. Mas você imagina assim
que tem que andar daqui lá e tal, então eu pagava para não andar, sabe. Apesar
que eu tinha que andar. Porque, eu absorvia muita energia e não gastava. Então eu
tinha que andar, só que o peso, eu tinha muitas dores na perna, além da minha
99
trombose, ela não veio de um dia para outro, eu tive febrite, sabe, eu tive úlcera
varicosa, eu tive muitos problemas na perna. Passei maus momentos de
enfermidade nas minhas pernas, às minhas pernas doía muito. Doía muito. E hoje,
após a cirurgia, o tratamento que eu fiz antes de operar, porque eu comecei o
tratamento pra emagrecer, isso foi dando resultado nas minhas pernas, após a
cirurgia emagreci ainda mais. Para você ter uma idéia, antes da cirurgia eu tomava
dois é, comprimidos diários para a circulação, pra dor você entendeu. Depois da
cirurgia, nunca mais eu tomei esses remédios, já tem quatro meses que eu não tomo
mais remédios pra perna. A minha perna não dói, não sinto nada, sou uma pessoa
normal, entendeu. Porque o meu objetivo maior, pra fazer a cirurgia não é, por
estética, estética. Questão de enfermidade, sabe. Questão de saúde. A médica
mesmo falou pra mim, se eu continuasse com o peso que eu estava, as tromboses
elas iam estar freqüentando a minha vida e provavelmente no futuro próximo eu
poderia perder uma das minhas pernas, sem contar que, a minha probabilidade de
vida seria menos de dois anos. Devido à obesidade, ter ataque cardíaco, qualquer
coisa ou outra. E com a cirurgia, eu posso até, hoje eu tenho uma realidade de vida
de sobrevida de mais de quarenta anos. Pra você vê, antes da cirurgia menos de
dez, depois da cirurgia quarenta anos, pode ver, que aumentou aí mais de trinta e
dois anos para gente poder desfrutar a vida, você entendeu. Então, por isso que no
início eu falei para você, eu que posso tá assim, um monte de pele caindo que eu
não estou preocupado, eu não quero é estar obeso, você entendeu. Porque se eu
um dia, eu tiver, eu ter alguém na minha vida para dividir a minha vida comigo, ela
vai ter que aceitar do jeito que sou, você entendeu. Não, não adianta nada eu ser
gordo, e ter a pele toda esticadinha, e, mas não ter saúde, não viver, sabe. Porque
o gordo é assim, ele começa, sabe, passando mais tempo em casa, sabe, ainda
quando tá trabalhando vai trabalhar, depois com o tempo devido à obesidade já não
trabalha mais, começa a depender dos outros até para tomar banho, vai chegar o
momento que da cama já não sai mais. Você entendeu. E essa vida eu não quero
para mim. Eu quero viver, eu quero respirar, sabe, eu quero participar, você
entendeu. Eu estou com, hoje eu vou fazer, completar 42 anos mas eu estou me
sentindo com energia de 25 anos, sou um garoto, sabe. Hoje em dia se, se alguém
falar assim, ah, eu apesar de eu estar um pouco pesadinho.
P: (Sorriu)
100
S: Porque eu estou com 107 Kilos, mas se alguém falar assim, ah, vamos fazer uma
caminhada, vamos subir aquela montanha lá, a pé eu vou, só não vou subir com
uma corda porque não dá para escalar, né.
P:Hoje você topa tudo.
S: Ah, hoje eu topo tudo, você entendeu. Então, pra mim é , é vida né. A vida é
maravilhosa. É qualidade de vida a pessoa ter um peso ideal para sua estatura, né.
É bom para o coração, é bom pra tudo, entendeu. E outra coisa também, o motivo
de, para eu fazer a cirurgia não foi só questão de saúde, foi questão que eu tenho
dois filhos, você entendeu.
P: Hum.
S: E eu quero participar da vida dos meus filhos. Eu não coloquei eles no mundo só
para eles ter o nome do pai, eu quero estar participando, sabe. Eu sempre gostei
também, e ainda, nunca abandonei a questão de estar desfrutando das brincadeiras
de quando eu era criança, o meu primo, ele adora soltar o pipa, e eu quero ir soltar
pipa com o meu filho, que problema tem, você entendeu. A minha filha, ela gosta de
brincar de bola, vamos brincar de bola com ela também. Sabe, eu vou ter a minha
responsabilidade de pai, a minha responsabilidade de adulto, mas também quero
participar da vida dos meus filhos. Ser uma pessoa doente e obesa como é que eu
vou participar. Só vou estender as mãos pra eles para eles tomar benção de mim e
pronto. Não, quero viver com eles, sabe, quero pegar e falar filho como é que está
na escola, ah pai ta meio assim, pega o caderno aí, e vamos ver onde tá a sua
dificuldade, eu quero ajudar você entendeu. Eu quero acompanhar eles até a porta
da escola, eu quero conhecer a professora deles, quero que ela me conheça, quero
é diminuir a distancia entre pai, filho e a professora, por quê? Se ela tiver uma
dificuldade com a criança, ela já tem uma liberdade de estar chegando ao pai e olha
o seu filho está com uma dificuldade assim, vamos ajudar ele, tal. Você entendeu.
Na minha cabeça é participar, participar de tudo, você entendeu.
P: Que ótimo. Assim, mudando um pouco de assunto, como você percebe seu
corpo.
S: Como eu percebo
P: É, após a cirurgia.
S: Ah eu, a gente já começa a perceber pela roupa que a gente vestia, né.
P: Hum.
101
S: Ela começa a cair, ela já começa a ficar larga, você entendeu. Algumas que dá
para você ajustar você ajusta. Senão você faz, tem que comprar a roupa que você
chega, você usa um número 66 igual no caso que eu usava e aí hoje já cai para 58,
você entendeu, 56. E a roupa do gordo você coloca, você jamais vai viver assim de
elegância, tem assim uns gordinhos que são elegantes mas tem uns gordinhos
exagerados que não tem elegância nenhuma. Você já, você já vê assim, um
tamanho de roupa melhor, né. Inclusive hoje, que a minha roupa eu mesmo que
lavo, né. Pôxa, você vai lavar uma calça uma camisa do gordo é enorme
P: Sorrisos.
S: Parece um lençol, se vai passar se passa o ferro pra lá e pra cá e não acaba.
Hoje não, a roupa até pra lava é mais leve,
P: Sorrisos.
S: Diminuiu, sabe. Então as coisas, você vai ver, e outra coisa também, às vezes o
gordo ele foge do espelho né.
P:Aham
S:Ele só se olha no espelho assim do pescoço pra cima né, hoje não, hoje você tem
assim uma necessidade, uma curiosidade, de tá se olhando. No geral.
P:Aham.
S:Você entendeu. Eu mesmo, eu comprei umas roupa menor agora né, de acordo
com o peso que eu tô hoje, e aí as pessoas até que tá ao seu redor acostumada a
ver você com roupa grandona, daqui a pouco se tá com um manequim menor
P:Uhum
S: Começa falar, ah, você ta bonito, e tal. Então você sabe, aí você começa a se
olhar porque veja bem, eu ganhei dois presentes, eu ganhei a cirurgia né..
P:Uhum
S:Devido a minha saúde que era ruim, e hoje graças a Deus tá, a 100%, porque não
to sentido nada tá 100%. E também, tô ganhando na parte de estética. Porque não é
todo lugar que eu tô flácido, em alguns lugares, Você entendeu.
P:Uhum.
S: E, como eu não me importo com isso, então, 73(l)11.8771(e)-4.33117(g)5.67474(7474(u)-4.33117(g)5.s)-0.295585( )-2.16432(s)-0.2955(ê)-4.33117(7.84154( )3873( )7.84154(n)-4.328271.12 0 Td[(c)-0.2955)-2.6558()5.67474(o)-4.%7( )-2.1653(g)5.71093(i)1.C17( )7.84154(e)-4.22(u)-4.3339556(,)-2.14.33117(s)9.71032(a)-41775(n)-4.33117(é)-4.558(i)1.8tq.473(e)-4.117(.)278]T1.71032(a)-41775(n)-4.33117(é)-4.5(o)-4.33056(d)-4.330(558873(d)5,)-2.16436117(o)5.67474sos1o l e
102
tinha passado por cirurgia nenhuma, e a orientação que os médicos, não escondem
nada da gente né.
P:Uhum.
S:Dos riscos das cirurgias, do pós cirúrgico de tudo, é, o tamanho da cirurgia, o anel
que vai ser colocado, e tal, os grampos. Então pôxa, você nunca passou por cirurgia
nenhuma né, de repente você vai passar por uma cirurgia dessas, se tem que ta
preparado, primeiramente se tem que querer e tem que gostar muito de você, certo,
se tem que querer. Aí você querendo, você tem que ter conhecimento do que você
vai passar, e aí você tem que se perguntar, é isso que eu quero? É isso que eu
quero. E aí você da seqüência, vai a frente , se entendeu, não pode ir com dúvida
nenhuma. Pra você ter uma idéia, os médicos a, a preocupação deles comigo é que
não tinha uma pessoa assim pra tá cuidando de mim após a cirurgia né.
P:Uhum
S: E então eles tinha essa preocupação, porque tem pessoas que após a cirurgia iria
tá tendo pessoas pra tá cuidando deles
P:Sei
S: E mesmo assim eles estavam tendo dificuldades, ligava pro medico e tal, e eu
não, eu antes da cirurgia eu já conscientizei que eu não ia ter ninguém, prá ta
cuidando de mim, então eu já vinha me preparando minha cabeça e ir buscando
força que eu ia ter que fazer tudo só. Foi aonde que eu, cheguei do hospital, e já fui
pro fogão fazer a minha, a minha dieta, você entendeu.
P: E tua mãe não ficou com você no hospital?
S: No hospital ela foi me visitar.
P: Ah é.
S: Ela ficou comigo, foi, eu tive, eu bati o recorde de visita no hospital,
P: Ah é.
S: Você entendeu. Só que no caso aqui, aonde eu tô aqui,
P:Uhum.
S: Pra mim já não tinha como né, eu tenho uns amigos e tal que deu uma força, mas
veja bem, a dieta da gente ela não pode ser colocada gordura, ela não pode, tem
alguma, alguns, aqueles gordos que aqueles não podem
P: Existem muitas restrições.
S: A carne tem que ser uma carne, é, própria, não pode ser carne com gordura,
devido os pontos. Então, não que eu não confiasse ,sabe, não que eu não confiasse.
103
Mas, como aqui eu tenho uma dificuldade para eu estar me locomovendo, vamos
supor que me dá um problema aqui, depois da cirurgia, até que eu pegue um carro e
tal e me leve para o hospital, pôxa, eu já iria estar numa situação pior. Então, o que
eu fiz? Eu busquei força da onde eu tinha e da onde eu não tinha pra quê? Pra
cuidar de mim. Já, pra não ter essa dificuldade de ter algum problema aqui e ter que
sair daqui às pressas, sabe. Então meu pós-operatório foi maravilhoso, foi um
sucesso.
P: Sucesso, o maior responsável dessa recuperação foi você, graças a você.
S: Graça a Deus. Inclusive a nutricionista, eu passei com ela, né. Eu estava com 3
meses de cirurgia. Ela falou assim, olha Antonio, esse índice que você está com ele
hoje, que a gente após a cirurgia a gente tem um índice de 40%, de eliminar 40% do
peso do dia da cirurgia. E nesses três meses, eu já tinha eliminado uma
porcentagem que era para eu eliminar em 6 meses.
P: Hum.
S: Que era para eliminar em 6 meses eu eliminei em 3 meses. Então ela falou assim,
olha, foi agora, se no dia 3 de março você estiver emagrecendo assim acelerado, a
gente vai ter que fazer um trabalho de alimentação prá tá dando uma freiada no seu
emagrecimento. Porque após a cirurgia, a gente tem, a gente emagrece durante
um ano seguido, após um ano já, já fica parado.
P: Hum.
S: A gente emagrece um ano seguido. E eu estou emagrecendo bem rápido, né. Eu
acho que é devido o organismo da gente, né. Nem tudo você guarda. Tem gente, a
gente pergunta lá pro paciente que foi operado, tem gente que com dois meses
emagreceu 30 kilos, outro emagreceu 10, outro 8, outro 20, 25, nem todos são
iguais. Inclusive eu estava conversando com as amigas lá, olha, se você eliminou
pouco peso não se preocupe, não se preocupe que o seu colega emagreceu mais.
Porque às vezes tem semana que a gente não emagrece nada, tem semana que a
gente emagrece 2 kilos, então isso aí é relativo. Não se preocupe. Porque muitas
vezes, a pessoa se ela ficar preocupada porque não está emagrecendo, ela pode
entrar numa depressão. Porque ela acabou de sair de uma cirurgia, sabe. E ela tá
ainda meia, não está no seu normal, sabe, porque a cirurgia ela mexe com o seu
corpo. Não só do organismo como com o dia a dia da gente. Você vê, eu sou uma
pessoa mais ativa, sabe. E ela mexe também com o humor, sabe, têm pessoas que
ficam mais humoradas mais alegres, mais, tem pessoas que já ficam mais troncosa,
104
irritadas com poucas coisas, e tem pessoas que ficam mais ofensiva também, às
vezes uma pessoa fala uma palavra assim um pouco mais áspera para a outra, e a
pessoa fica com grilo, tristonha, meio sabe, meio sentimental, então é uma coisa
que, né, então a pessoa tem que se preocupar de tudo, igual a educação alimentar.
P: Uhum.
S: A gente não tem que dar pelo menos de 35 a 40 mastigada
P: Isso.
S: Por garfada. Então, a gente tem que desligar de tudo, do trabalho, da televisão,
do rádio, do filho de tudo. Tem que se preocupar só de estar mastigando, sabe, se
alimentando bem devagarzinho. Então, após a cirurgia a gente tem que se
despreocupar de tudo, tem que levar tudo numa boa. Pra que? Pra gente não
encher a cabeça da gente com coisas que, sabe, vai deixar, mexer com o humor da
gente, vai mexer com o astral da gente. Porque depois da cirurgia a gente fica meio
assim, sabe, é, tudo é novo, tudo é novidade. Você quer saber o que vai acontecer
com você amanhã, sabe. Você quer saber se amanhã você tá com centímetros a
menos de gordura, sabe. Então você não precisa antecipar problema, sabe. Se tiver
que ter algum problema ele vai estar no seu caminho. Prá que vamos antecipar ele.
Se nosso momento hoje é de alegria, vamos viver o momento de alegria. Se chegar
um momento de tristeza, opa, vamos arrumar uma solução prá acabar com essa
tristeza não é verdade?
P: É dia após dia.
S: É dia após dia, por isso que não pode querer, é igual uma escada, a gente tem
que subir de degrau a degrau, se você for subir 3 a 4 degraus e pular os dois
primeiros você acaba se machucando, não é verdade.
P: Aí você Amadeu, você como se sente hoje?
S: Hoje, ótimo!
P: O que significa ótimo.
S: O que significa ótimo. Olha, felicidade, sabe. É, as pessoas parecem que elas se
achegaram mais, né. Tem a curiosidade de saber o processo da cirurgia, até
pessoas que não vão fazer, tem uns que são obesos e pensam em fazer esses daí
estão sempre chegando, às vezes, eles se tornam até repetitivo com as perguntas,
pra, sabe, acho que talvez pra adquirir uma confiança para fazer a cirurgia. Mas a
gente também foi paciente um dia e continua sendo e fizemos várias perguntas.
Você entendeu. Às vezes, até, pelo que passou e tem pacientes que vão passar, às
105
vezes a gente também acaba fazendo até um trabalho psicológico, né, com aquele
paciente. Orientando olha, assim, sabe. Então eu estou muito feliz, e as pessoas
também chegam em mim e falam assim, eu admiro você, eu me orgulho de você, as
vezes tem pessoas que falam, eu queria ser igual a você. Assim, pela perseverança,
pela vitória que eu tive. É, eu sou vitorioso. Hoje eu tenho, é, 83 kilos a menos o que
eu tinha, sabe. 83 kilos a menos, uma vez eu fiz um eletrocardiograma
P: Uhum.
S: E eu peguei e falei assim, aí doutor, como é que está meu coração. Ele falou
assim, imagine um motor de um fusquinha puxando uma carreta carregada. Sabe.
P: Uhum.
S: Aí eu falei assim, então esse motor não vai durar muito tempo. Uma hora ele vai
fundir o motor, porque é muito peso para pouco motor. Então hoje eu to com mais
motor e com menos peso.
P: Você está com motor de caminhão com um fusquinha.
S: É verdade. Com a carroceria de um fusquinha, né.
P: É.
S: Né. Olha o rosto da gente afina. Tudo pra mim é
P: Isso é felicidade.
S: É felicidade.
P: E como é que você pode descrever essa felicidade, porque a felicidade é um
resultado, uma conseqüência.
S: Como é que eu posso. Olha, é poder estar vivendo a cada dia, um diferente do
outro. Porque a cada grama que eu emagreço é uma atividade amanhã, ou hoje
mesmo a mais que eu posso fazer. É, vamos supor, eu ainda não joguei bola hoje.
P: Uhum.
S: Até hoje eu não joguei bola, vamos supor que amanhã eu esteja 100gramas mais
magro, e me sinta já preparado pra pelo menos dar um chute numa bola, é uma
coisa que não faço a 20 anos. E hoje eu posso fazer.Você entendeu? Eu falei pra
você que, se hoje me convidasse para subir uma montanha a pé eu subiria.
P: Uhm.
S: É que, daqui um mês eu tô mais 5 kilos mais magro né. Eu falei pra você que se
fosse para subir numa corda eu não subiria. Daqui 5, daqui um mês eu tô 5 kilos
mais magro eu conseguiria subir a montanha pela. Então tem muita coisa pra tá
descobrindo, tem muita coisa pra tá fazendo. Às vezes a alegria não é só de ter feito
106
a cirurgia, e já tá fazendo coisas que não fazia, mas de poder fazer coisas no futuro.
Você entendeu, e também, eu não me canso de dizer que eu sou feliz por já ter feito
a cirurgia, sabe. Porque antes da gente fazer a cirurgia a gente tem que passar por
um processo de exames clínicos, a gente tem que fazer a parte da gente, que é
emagrecer, sabe, tem também a parte psicológica, se a pessoa não estiver 100% ela
não vai para a cirurgia. Você entendeu? Então eu me sinto feliz de já ter passado
por esse estágio, entendeu. E hoje ser uma pessoa realizada, sabe. A pessoa, uma
moça que quer casar, primeiramente ela tem que arrumar um noivo.
P: Hum.
S: Aí ela já sente uma felicidade de ter arrumado um namorado, depois a felicidade
de noivar, chega o dia D, o casamento, a cirurgia pra mim foi como um casamento,
sabe. Acho que o dia mais feliz, pro homem é, mas pra mulher ela fica muito mais
feliz, porque a produção da mulher, da noiva é muito maior, você vê até o vestimento
dela é uma coisa que, né.
P: A expectativa.
S: A expectativa é maior. Você entendeu? A cirurgia pra mim é um casamento
eterno, sabe. A felicidade que eu sempre busquei, chegou no dia 6 de setembro,
sabe, eu casei, eu casei comigo, com uma nova vida. E sei que tem muita coisa boa
para mim. Eu, eu moro num, aonde eu moro, tem praia. Eu adoro, eu não sou peixe
mais eu adoro água, sabe. Gosto de mergulhar, gosto de nadar, gosto disso tudo
aqui. Eu sempre tive vontade de pegar uma prancha de surf e dar uma surfada.
Você entendeu. É uma coisa que não é difícil, é uma questão de equilíbrio, mas
como é que eu vou subir numa prancha de surfe com 190 kilos, não tinha como. Só
se eu arranjasse uma prancha de navio para poder surfar. E eu ainda, é uma coisa
que eu tenho vontade de fazer, você entendeu.
P: Algum dia.
S: É.
P: Vai concretizar,nada que impeça.
S: É verdade, você entendeu.
P: E falta quanto tempo para você sair daqui?
S: Olha, esse ano, eu quero estar indo embora. Eu to com benefício aí, se deus
quiser esse ano alguma coisa vai pra mim tá indo embora, se deus quiser.
P: Vida nova, muitas mudanças.
107
S: Muitas mudanças, muitas mudanças. Inclusive eu tive conversando com o diretor
e ele falou assim, olha, vê se você consegue né, que a cirurgia plástica do abdômen
eu já ganhei. Ganhei do médico aqui da unidade tal porque lá ainda não tá está
fazendo, né. Do abdômen eu já ganhei. Ele falou assim, vê se você consegue fazer
a cirurgia plástica antes de você sair daqui. Porque depois que você sair daqui você
ta numa outra vida, você vai ta trabalhando, e tal né. E com emprego novo não tem
como você estar deslocando para você estar fazendo exame, cirurgia aqui. Então
procura fazer tudo aqui pra quando você sair daqui você sai novo, né, e sem precisar
fazer mais nada.
P: É outro Amadeu.
S: É outro Amadeu. Você já sai e já vai trabalhar, e já casa, já faz tudo que você tem
que fazer. Então pra mim tá ótimo. Tem pessoas, que, tem médico que me atende
aqui, né. outro dia ele passou por mim e não me reconheceu. Oh doutor, sou eu. Ele
falou assim, pó rapaz, quando você era obeso, gordo, era difícil de não notar, de
longe a gente já notava. Hoje a gente passa, pensa que é uma pessoa normal,
entendeu. Por isso que às vezes que não conhece, por isso que eu não te conheci.
Porque ele tava de férias, ele tava de licença né, então ele passou 4 meses
afastados e à 4 meses eu estava com 40 kilos a mais, 30 kilos a mais, e hoje né, eu
não via ele bem antes.
Fita 2
Lado A
S: Até o apelido mudou, me chamavam de tonelada. Hoje me chamam de meio
quilo.
P: Riu.
S: Cem gramas, sabe.
P: Ah, que ótimo. Tem alguma coisa que você gostaria de complementar?
S: De complementar.
P: Alguma coisa que não perguntei e que você acha importante.
S: Hum. Deixa eu ver, tem bastante coisa.
P: Não, pode falar.
108
S: É que tem bastante coisa, é que assim, mas na hora, assim que a senhora
perguntou sabe. Olha eu, vou falar uma coisa pra senhora. Eu, olha eu sou uma
pessoa que, eu sou abençoado. Porque tem pessoas que fora daqui, que está em
condições melhores do que eu, e tem dificuldade de estar fazendo a cirurgia, né.
P: Uhum.
S: É, eu, sabe, daqui de dentro acho que era pra mim fazer mesmo. Porque eu corri
atrás, sabe, perturbei a diretora aí do ambulatório, da enfermaria. O diretor do
estabelecimento, sabe. Conversei, pedi, eles me atenderam e graça a deus eu
consegui. Então, eu sou uma pessoa abençoada por isso. E acho que, não sei, não
sei o dia de amanhã, mas no momento as coisas mais importantes que aconteceram
na minha vida até hoje, foi o nascimento dos meus filhos e essa cirurgia. São as
coisas mais importantes que aconteceu na minha vida, sabe. E eu, jamais vou
esquecer das pessoas que participaram como paciente e das pessoas que
participaram como profissionais né, que atenderam, porque, é bom frisar também,
que os profissionais, psicólogos, os médicos, é, nutricionistas, endocrinologista,
terapeutas, todos, todos, eles tratam a gente sabe, num nível mais alto que um
paciente, sabe. Eles buscam assim, uma amizade com a gente, porque a cirurgia ela
é uma coisa muito grande sabe, e o paciente precisa ser conhecido pelos médicos.
E ele não vai ser conhecido pelos médicos se tiver uma barreira entre eles. E a
quebra dessa barreira é a amizade que vem do mesmo lugar, sabe. E o tratamento
é, eu digo pra eles. Que eu fiz a cirurgia pelo SUS, mas foi melhor do que se fosse
particular, sabe. Porque, o carinho que eles tem com a gente, a atenção, a
preocupação, sabe. A gente é muito bem tratado. Entendeu, eu só tenho a
agradecer, desde a pessoa que faz também o agendamento da consulta até a
pessoa que vai lá e varre o chão do quarto. Porque, não é só porque os médicos
tem um grau acima, e eu não vou deixar de agradecer as pessoas que quando eu
estou internado, que vai ali, limpam o quarto. Até conversam com a gente, sabe,
como é que foi, como é que você está. Você entendeu. Então, eles também são
pessoas que tratam a gente muito bem, sabe. Eu só tenho a agradecer e pedir a
deus que ilumine o caminho dessas pessoas pra toda a vida e que eles continuem
trazendo felicidade.
P: Com certeza, e pra você também, que seja muito feliz.
S: Muito obrigado.
P: Com certeza.Obrigada pela entrevista.
109
Sujeito Bia
S: Eu me sinto tão feliz hoje, que acho que contaria a minha história em rede
nacional.
P: Ah, que bom. Então Bia, conta um pouquinho pra mim sobre a sua vida após a
cirurgia.
S: Bem, eu assim, a partir do momento que eu participei da primeira palestra, que eu
decidi que eu queria fazer a cirurgia, em nenhum momento eu tive medo, em
nenhum momento eu pensei em desistir, a pessoa, a doutora Maria Tereza falou que
estava chegando próxima, que eu tava conseguindo alcançar a perda dos 10%, eu
fiquei assim, muito feliz mesmo, aí quando a doutora Débora marcou o dia da
cirurgia, nossa eu não cabia de tanta alegria, né.
P: Uhum.
S: E assim, a minha cirurgia foi normal, no dia 4 de outubro, né. Mas foi normal,
ocorreu tudo bem, eu fiquei no hospital só o tempo previsto mesmo. Eu fui pra casa,
e foi tudo muito bem mesmo. Não senti assim, não senti dor, não senti nada, nada.
Foi tudo tranqüilo.
P: Você internou no dia três.
S: Internei no dia três. Aí fui pra casa no dia acho, oito, nove.
P: Quem ficou com você?
S: A minha mãe, daí ela veio pra ficar comigo.
P: Como é que foi na hora de ir para a cirurgia.
S: Olha, eu até eu me estranhei, porque eu tinha muito medo de ficar em hospital né.
Aí quando eu fiquei sabendo que a gente podia ter um acompanhante eu fiquei mais
aliviada, falei então eu não ia ficar sozinha, né. Mas no dia principal que foi no dia
três e o dia quatro, eu tive que ficar sozinha. E eu achei que eu fosse assim, que eu
tenho pressão alta, minha pressão ia subir porque eu ia ficar nervosa. Mas não, foi
assim, um dia tranqüilo, durmi bem, assim, sem precisar tomar remédio. Aí acordei
de manhãzinha, aí a hora que a enfermeira veio me buscar falou vamos? Eu falei,
vamos, pode ir que eu estou pronta, né. Ainda fiquei um tempão lá no pré-cirúrgico
esperando chegar o anestesista. Mas assim, numa tranqüilidade, numa paz, que
olha, nem parecia eu. Porque eu tava antes apavorada, e depois no dia fiquei muito
calma, muito tranqüila mesmo.
P: Ah tá. Você queria mesmo.
110
S: Queria. Acho que era o sonho da minha vida que tava se realizando não deu
espaço pra mais nada, só pensava naquilo, e foi tudo muito tranqüilo.
P: Não deu nenhum medo, assim, na hora.
S: Não. Nenhum medo, nada, nada. Nenhum pensamento negativo. Assim, foi uma
coisa de deus mesmo, foi assim tão bom, tão em paz assim, que eu fui tranqüila.
P: Que ótimo. E depois da cirurgia que você acordou. Como foi?
S: Ah,sei lá. Era uma sensação diferente. Porque, acho que naquele dia eu senti que
a minha vida tava mudando, né. Mas eu acordei bem sem dor, sem nada, assim, a
minha mãe do meu lado, aí logo o médico chegou, e falou que tinha corrido tudo
bem, aí eu fiquei mais tranqüila ainda né. Mas foi tranqüilo.
P: Ah tá. Assim..., e depois da cirurgia tinha que caminhar, que vem as outras coisas
para estar fazendo você ficou com medo.
S: Eu passei o primeiro dia na cama, né. Porque eu estava com dor nas costas, mas,
acho que era devido ao colchão, e tal, aí eu fiquei com medo de caminhar. Aí o
doutor Celso chegou no meu quarto, me deu uma maior bronca porque eu não tinha
levantado ainda né, e falou que não podia e tal, tal, tal. Aí na hora que ele saiu eu já
levantei e comecei a caminhar, e daí vi que realmente não tinha nada demais, que
eu podia caminhar, que era coisa da minha cabeça. Daí depois disso foi tranqüilo,
daí não deitei mais.
P: Aí veio a alimentação, do primeiro mês, que é líquida.
S: Isso, só líquida, e também foi normal, não engasguei, não rejeitei nada, foi tudo
perfeito, tudo tranqüilo.
P: Enjoou da gelatina.
S: Ah, da gelatina até que não, mas gatorade, água de côco não posso nem ver.
Nossa! É horrível, horrível, não dá para tomar.
P: Certo.Depois veio a pastosa.
S: Aham. Também foi normal, nunca tive problema com a alimentação. Vômito,
essas coisas, nunca tive nada nesses três meses, foi tudo tranqüilo.
P: E fome.
S: Não tenho fome. Assim, às vezes quando eu fico muito tempo sem me alimentar,
eu sinto que eu tenho um vazio assim, que eu estou precisando comer alguma coisa.
Mas dizer que eu tenho fome, aquela fome assim, não.
P: Não. Você tem que comer aquele tanto, aí você come, mas depois não dá mais
fome.
111
S: Não. Como aquela quantia, e já fico satisfeita, aí tranqüilo.
P: E desejo de comer outras coisas, não dá?
S: Não, aquela coisa assim incontrolável, ah, eu preciso de comer. Porque também
agora eu já posso comer de tudo. Porque quando eu tenho vontade de comer
alguma coisa eu como, porque é uma quantidade pequena, mas eu como, mas não
tenho desejo, aquela coisa que a gente tem antes né, eu não tenho mais.
P: E aonde foi parar esse desejo?
S: Eu não sei. Não sei. Sumiu. Porque antes eu achava assim, que ia diminuir o
estômago, mas a fome ia continuar, aquela vontade de comer ia continuar.
P: Uhum.
S: E então eu pensava muito nisso, como é que vai ser. Mas depois da cirurgia a
gente vê muda tudo isso. Que você não sente mais fome, aquela necessidade de
estar sempre comendo, sempre comendo.
P: Uhum.
S: Não sei onde vai parar tudo isso, só sei que isso some. Pelo menos o meu sumiu.
P: Nossa, que bom.
S: Fico assim tranqüila, não sinto vontade de comer nada.
P: E assim, no que se refere a sua locomoção hoje.
S: Acho assim, não tem nem comparação a antes. Porque, eu sempre fui molona,
sabe, eu fui obesa desde criança, já nasci e cresci obesa, né. Então eu ficava muito
dentro de casa, não saía muito, porque ah, era muita dificuldade, né. Pra saí era
mais de carro. Então, hoje não, hoje eu ando, faço caminhada, se é pra saí eu sou a
primeira, vamos caminhando, então não tem nem comparação, hoje é muito melhor
que antes.
P: Você está mais disposta.
S: Com certeza. Até às vezes eu me estranho, porque eu não paro mais dentro de
casa. Então, até falam assim, nossa, você precisa ficar em casa, porque eu não
estou ficando em casa, mas eu ando muito.
P: Está andando bastante, hein.
S: Acordo cedo, já levanto, vou fazer a minha caminhada, nossa, e é muito bom.
P: E na sua casa, você acorda, você faz alguma coisa, você ajuda em casa.
S: Ajudo. Então, primeiro faço a minha caminhada né, então, porque como o sol ta
muito quente eu vou bem cedinho. Mas depois que volto, aí eu vou cuidar do serviço
112
da casa, porque eu estou desempregada né. Então cuido do serviço da casa, faço
comida, lavo roupa, tudo o que eu não fazia antes eu agora faço na maior felicidade.
P: E antes o serviço de casa você fazia também?
S: Fazia. Mas era aquela coisa bem lenta, né. Você vai varrer a casa demora um
tempão, você vai parando, dá uma descansadinha. Lava roupa eu não lavava
porque não gostava. Então, agora eu faço tudo isso só que é rapidinho.
P: Agora está produzindo mais.
S: Tô, com certeza.
P: Ah, tá. Que significado tem para você hoje a sua locomoção?
S: Ah olha, acho que é felicidade, viu. Porque hoje eu me sinto tão feliz de me ver o
quanto eu posso fazer assim, sem me cansar, sem me depender de ninguém.
Porque eu não dirigia, não dirijo, então se eu fosse sair quisesse ir de carro tinha
que ta pedindo pra alguém me levar. Agora não, eu vou, se precisar pegar o ônibus,
eu pego o ônibus, e vou. Então eu me sinto muito feliz. Não alcancei o peso que eu
quero, mas já me sinto realizada.
P: Felicidade é um resultado que a gente tem.
S: Isso.
P: Mas para chegar nessa felicidade qual o significado tem isso, essas coisas que
você está conseguindo fazer.
S: Acho que tem um significado de vitória mesmo, que eu corri atrás dos meus
sonhos e consegui chegar lá. Que como eu te falei, vim lá do Paraná para chegar
até aqui. Deixei a minha família, deixei tudo que eu fazia e acho que valeu a pena foi
assim uma vitória mesmo.
P: E assim, você gosta de sair.
S: Gosto.
P: Que lugar você freqüenta hoje.
S: Olha, eu pela minha religião, o que eu mais gosto é participar dos grupos de
jovens assim, é onde eu vou. Meus passeios são mais mesmo na igreja, meus
movimentos, então, é uma coisa que eu gosto de fazer, que eu me identifico, que eu
já fazia antes e continuo fazendo agora.
P: E é na mesma quantidade, assim.
S: Ah não, agora bem mais, bem mais.
P: Agora você está mais presente.
S: Isso.
113
P: E você percebe... como você percebe seu corpo hoje?
S: Ah, assim, dá pra ver que eu já mudei bastante, né. Apesar que agora a gente
olha e vê assim umas peles que não tinha antes, né. Mas acho que tudo isso é
conseqüência né. Então, eu procuro não olhar para isso, eu olho e só vejo o quanto
que ele diminuiu, o resto eu não vejo. Mas assim, dá pra ver o quanto mudou o meu
corpo, para melhor.
P: Você percebe que seu corpo mudou.
S: Mudou bastante, dá para perceber.
P: Quando você percebeu que ele está mudando mesmo, depois de quanto tempo
após a cirurgia.
S: Depois de uns dois meses e meio, quase agora que eu completei três meses. Foi
quando eu tive que dar uma mudada no meu guarda roupa, né. Porque as roupas
começaram a cair, tudo. Aí eu falei nossa, meu corpo diminuiu bastante, né. E foi
assim, muito bom.
P: Então faz pouco tempo.
S: Faz pouco tempo.
P: E como você se sente hoje?
S: Ah, eu me sinto meio boba ainda. Acho que ainda não caiu muito bem a minha
ficha. Eu estou sonhando. Sabe por que, sei lá, é uma coisa que esperei muito
tempo para acontecer e então, nesse pouco tempo que aconteceu, eu estou em
estado de graça assim. Eu estou viajando. Mas é muito bom.
P: E esse muito bom é como, detalha um pouco mais para mim.
S: Ah, não sei. Primeiro porque me sinto bem, me sinto melhor. Depois porque saio
na rua e os amigos te olham e falam, nossa como você está diferente, está mais
bonita. Então é uma sensação boa que te trás felicidade, né. E isso é gostoso.
P: Mas essa felicidade vem porque os outros estão vendo isso, ou não.
S: Não, Primeiramente porque eu me sinto assim, me sinto mais leve, me sinto feliz.
Então é uma sensação boa, mas primeiro para mim. Porque é comigo que está
acontecendo, né. Então primeiro eu.
P: E você resolveu fazer a cirurgia por quê?
S: Pela minha saúde. Porque eu fiquei, quando eu atingi o peso máximo né, de 152
quilos, aí eu comecei a ter problemas de pressão alta, de diabetes, e o meu
cardiologista que sugeriu que eu deveria fazer essa cirurgia, porque a minha
pressão não estava controlando, né. Então, eu comecei a ir atrás, que eu fui, que ele
114
deu uma carta de recomendação, e eu fui atrás. Aí que eu comecei a fazer,
primeiramente pela saúde.
P: Ah tá. O motivo principal foi por causa da sua saúde.
S: Da saúde.
P: E isto está refletindo na sua estética.
S: Isso, e está sendo muito bom. Porque, eu não pensava, porque assim, apesar da
minha vida pacata, tudo, mas eu era bem conformada, porque era uma coisa que
vinha na minha vida desde pequena. Então assim, não me atrapalhava em nada, eu
ia vivendo do meu jeito, né. Então a estética, eu não pensava muito na estética, né.
Às vezes quando a gente quer comprar uma roupa e não acha, a gente fica
chateada, mas depois passa. Mas quando a minha saúde ficou crítica, aí que eu
comecei a ver que eu tinha que fazer alguma coisa para mudar isso. Foi bom porque
mudou tudo, né. A saúde melhorou e a estética também. (risos e sorrisos)
P: Isto está atingindo as suas expectativas.
S: Com certeza.
P: Que ótimo. E sobre a sua casa, no lugar que você vive hoje, que lugar você mais
gosta.
S: Olha o lugar que eu mais fico mesmo é na cozinha. Porque na minha casa a
televisão fica ali na cozinha, né. Então é aonde fica todo mundo reunido, então a
gente acaba ficando mais na cozinha, mas é onde fica todo mundo reunido, a gente
conversa bastante, a gente brinca bastante. Então eu fico mais na cozinha.
P: Assim, sobre seguir o tratamento certinho, a dieta, tal. Você é desobediente, ou
você faz rigorosamente.
S: Não, eu faço tudo certinho, tudo certinho.
P: Está bem rigoroso.
S: Bem rigoroso.
P: Desde que você começou o tratamento.
S: Isso. Até mesmo antes na perda dos dez porcento. Quando a doutora passou
para mim, eu fiquei acho, uns dois meses na casa da minha mãe e aí eu não fiz, eu
não fiz a dieta. Aí quando eu voltei quando foi a segunda consulta aí ela teve uma
conversa bem séria comigo, me deu uma bronca mesmo. Ela falou pra mim, você
pensa se você quer ou se você não quer. Porque se você realmente quer tem que
levar a sério. Aí a partir daí eu falei que eu quero e aí eu comecei a levar a sério e
até hoje.
115
P: E agora com as festas do Natal, do Ano Novo.
S: Foi tudo assim tranqüilo, né. Porque, a gente mesmo que você quer extrapolar
não dá, você passa mal, né. Então não teve problema. Foi aquele pouquinho, aquela
quantidade, não teve nenhum abuso, porque assim, está recente, a gente tem medo
que pode acontecer alguma coisa, se abusar né, então foi tranqüilo.
P: O que segura mais, é aquele medo de aconteça alguma coisa.
S: Acho que é o medo de acontecer alguma coisa. Porque eu também tava lá no
Paraná né, e os meus médicos são todos daqui. Então a gente fica pensando, se
acontecer alguma coisa aqui ninguém vai me atender aqui, porque né, eu fiz tudo
mundo em São Paulo. Aí fica com aquele medinho né. Aí você faz tudo mais
certinho para não acontecer nada. (risos)
P: Ah, tá. Bom, é isso. Tem alguma coisa que você quer colocar, de importante, que
você percebe.
S: Não, acho que eu falei tudo.
P: Ótimo então. Obrigada Bia.
Sujeito Caio
P: Conta um pouquinho para mim Caio, sobre a sua vida após a cirurgia.
S: O primeiro mês após a cirurgia é difícil, é complicado. Mas quando se quer muito
uma coisa, você luta, né. E a gente tem restrição a muitos alimentos, inclusive nos
primeiros quinze dias. Nos primeiros quinze dias é, líquido.
P: Certo.
S: São sopas líquidas, são sucos. É, gelatina, sempre gelatina. É, e os isotônicos né,
que é o gatorade, que é os suquinhos que a gente toma. Depois de quinze, vinte
dias a gente começa a ingerir alguma coisa mais sólida, né.
P: Certo.
S: E já fazendo o acompanhamento dos médicos, né. O primeiro acompanhamento
veio a, a cirurgiã, né. Foi avaliar a condição da incisão, a retirada dos drenos, né. E,
até mesmo a liberação da dieta, daí depois a gente passa para a endocrinologista
para ver se está tudo bem, e por último, neste período de um mês a nutricionista que
vai nos dar a dieta pra esse mês, pra verificar se a dieta está sendo correta, e já
passar para a dieta do segundo mês. Todo mês a gente tem uma dieta.
P: Certo. E assim, você sentia fome no começo.
116
S: Não, não. Fome não. A princípio é, muito horário, né. Eu que tenho por exemplo,
uma vida sedentária, que eu não tenho horário nenhum, tive que me colocar dentro
dos horários. Porque a cirurgia ela é uma, eu costumo a falar para as pessoas que é
uma vida nova, então vida nova são atos novos. E devagarzinho vou lapiando. De
um lado vai tentando, do outro vou aprendendo.
P: Ah, certo. E assim, como que é hoje a sua locomoção.
S: Ah, uma maravilha. Uma maravilha assim, em todos os sentidos, né. Porque a
pessoa obesa ela, ela não se vê, ela se olha.
P: Certo.
S: Ela não se vê. E após a cirurgia você passa a se vê, e até mesmo a se respeitar
mais. A dar valor a outros valores da vida, né. E, mudou, mudou muito, mudou
muito. A auto-estima principalmente foi parar lá em cima, a auto-estima, né. Porque
a partir do momento que você não se olha mais, e passa a se vê, você vê o seu eu.
Você vê, não as suas limitações, você coloca, são outros valores, é vida nova, né.
P: Valores, como assim. Que tipo de valores?
S: Ah, todos. Todos que segundo, o ser humano. Todos, todos, todos. A plenitude.
Porque o obeso se limita. Uns porque têm trauma da obesidade, outros porque não
tem condições devido a obesidade, e outros pelo comodismo por causa da
obesidade também. Então, a partir do momento que, após os trinta dias da dieta,
você passa por essa intervenção cirúrgica, na qual você obtém o resultado que é
esperado. Você começa, você deixa de ser um obeso mórbido e passa a ser um
obeso. Você vê que a diferença de seu peso caiu, então você começa a se
enxergar, você vai perdendo roupa, você vai perdendo os traumas do gordo. Porque
o gordo por ele, ele não se olha, ele se vê.
P: Ah tá. E esse se vê.
S: Esse se vê, espelho. O gordo não gosta de espelho.
P: E hoje você se olha no espelho?
S: Ah, hoje eu me olho no espelho. (risos)
P: Certo.
S: Eu me vejo no espelho e, e, me vejo né. Porque antes né, você comprava uma
roupa e tal, você ia para uma festa você via aquela roupa naquela hora. E depois
você achava um abuso, um absurdo a hora que você via na cama, aquela roupa
pendurada porque era enorme. Agora hoje não, é completamente diferente.
P: E você hoje se vê por inteiro.
117
S: Por inteiro, por dentro e por fora, né. Cada minuto é outra coisa, disposição, pra
tudo, pra saí, paciência. Porque, o gordinho como se diz por aí, o gordinho ele é
engraçado, é simpático, mas ele é muito estressado. Ele é estressado. Embora não
pareça, é aquela coisa assim né, você olha por fora você não sabe o que tem
dentro. Agora, não. A partir do momento que você faz essa cirurgia que é invasiva,
muitos falam, ah não, é uma coisa rápida, ela é invasiva, ela é agressiva, mas pra
mim foi um mal necessário. Porque nesse momento da minha vida eu precisava
mudar algumas coisas. Mas é uma mudança que eu impus a mim, e que eu estou
me adequando. Não que a vida, a circunstância, não. Eu que impus a mim e estou
tocando pra frente.
P: Que tipo de mudança você teve.
S: Ah, voltei a estudar, o trabalho você tem mais disposição. Você vê o brilho das
flores mais bonito. Oh, até engraçado, o brilho das flores, você fala o brilho do sono,
mas as flores também brilham, depende da forma que você observa. Então quer
dizer que você passa a prestar atenção, a dar evasão a muita coisa que passava
desapercebido a você. Porque essa cirurgia ela é assim, você é desligado,
desconectado, e quando você volta, você fala assim, pôxa vida to vivo. E nesse
estar vivo porque não viver, vou viver. E nesse viver vamos viver mais magrinho,
com condições de vida melhor, né. É saúde melhor. Eu era hipertenso, tinha a
apnéia de sono, cheguei a ter (expitaxe) noturna, que foi tomando. Bem antes da
cirurgia eu fiz tratamento, é lógico que a pessoa que vai para a cirurgia, ela vai com
condições para se fazer à cirurgia. A pessoa para entrar numa mesa, no centro
cirúrgico, numa mesa cirúrgica ela precisa tem que estar com condições, no pré-
operatório para que o pós não venha dar problema nenhum.
P: E assim, sobre a sua casa que lugar que você mais gosta.
S: Na minha casa, eu gosto da minha casa.
P: Da tua casa como assim.
S: Da minha casa, é, a minha casa, eu costumo falar que a casa do homem é um
castelo. Então a minha casa é um castelo. Não tem essa, eu não quero isso, não, é
a minha casa. Eu gosto das minhas plantas, eu gosto do meu cachorro, eu gosto,
porque eu moro numa chácara, né. Eu gosto dos meus passarinhos. O sol se pondo,
o sol nascendo. O barulho da chuva molhando a terra, gosto do meu quarto, gosto
de ouvir meus discos, ler meus livros, enfim, eu gosto da minha casa. Não tem isso,
ai, aquele fetiche, eu gosto do meu quarto porque ali estou com minha esposa eu
118
curto meus momentos de amor, não, momentos de amor é a vida toda. Quando a
gente encontra a pessoa que te completa é a vida toda.
P: Certo. Que lugares que você gosta de ir? Quando sai de casa.
S: Gosto muito de andar, eu gosto muito de conversar, eu gosto de ir a lugares onde
eu vejo as pessoas. Independente de eu ir a praia, de eu ir a um restaurante, de eu
ir a um cinema, ir a um teatro. Eu gosto de estar em lugares onde eu possa
conversar. Porque eu sou bastante comunicativo, tal. Então eu tenho que falar. Não
que eu tenho que expor minhas idéias, meu deus não, não. Gosto de conversar.
Gosto de ir a igreja, gosto de estar sempre orientando as pessoas naquilo que eu
posso. Então, não tem assim, ah eu gosto de ir a praia porque eu observo o mar,
acho bonito a imensidão do mar, eu vejo o tamanho do meu deus que é maior que o
mar. Não, nada disso, eu gosto de ir a lugares onde estejam as pessoas.
P: Certo. E assim, mudou alguma coisa depois da cirurgia os lugares que você
freqüentava antes.
S: A única coisa que eu posso dizer pra você que mudou um pouco foi meu senso
crítico né, que falei a pouco,né. Comecei a dar mais valor, mudou meu senso crítico,
que eu era muito minucioso, na minhas análises, né. Então era muito detalhista.
Então, por eu dar mais valor a detalhes, não aproveito o bom e não serviu, acabou e
tal. A minha esposa diz, diz ela que eu estou mais maleável. (risos) Estou mais
maleável. Parece que você não é mais você. Você não que, que esteja mais, mas
tem tanta coisa mais importante que você, que as situações pra você mesmo, e você
pode deixar passar, que não vai mudar nada. Brigar pelo pingo da torneira, da
torneira. Nosso planeta é cheio de água, uma gotinha da torneira não vai fazer
diferença.
P: E antes você ficava irritado com isso.
S: Não irritado. Eu é, assim, se você não ia fazer eu ia na tua frente. Não, tem eu e
tem você, senão seria só eu. Não que eu me via eu como todo. Mas é,me
incomodava, então normalmente eu fazia. Quer dizer, eu não tinha paciência né.
P: Ah tá.
S: Eu preferia fazer do que falar. Então eu pegava e fazia e pronto acabou, enfim.
Agora não, agora eu posso até ouvir, daí eu penso que tá, ah tá até gostoso acho
que dá para tirar um cochilo, vou viajar com esses pingos, com essa roupa
ressecando varal, essas coisas, essa porta tá pensa, então não esquento a cabeça.
(risos)
119
P: Ah.
S: Ah, vai, vai, vai cair a parede, ah tá. Pêra um pouquinho, deixa eu puxar aqui um
pouco pro lado de cá, porque ela pode cair do lado, pra não voar bagulho nenhum
da poeira, do tijolo. Entra aí.
P: E que significado tem hoje para você a sua locomoção.
S: Olha, antes eu vivia, bastante, agora eu quero mais, né. Se a gente pode ter mais
porque a gente vai é, se acondicionar só aquilo. Não só posso isso, não você pode
mais. Por exemplo, eu sou feliz, mas eu posso ser mais feliz. Ah mais, como uma
senhora disse uma vez, mas meu filho ele pode ser feliz, a criança tinha nascido
com uma má formação e a criança veio a falecer né, depois. Ele nasceu com os
membros inferiores todo juntinho grudado no corpo, e a pediatra foi avisar a mãe
que a criança tinha nascido com esse problema. Ela falou assim, seu filho nasceu
com um problema. Mas ele vai falar doutora? Não, seu filho não vai falar. Ele vai
andar? Não, seu filho também não vai andar. Mas se ele quiser ele pode ser feliz. E
eu gravei esta frase ser feliz. E hoje eu incluí o mais feliz. Porque tem tantas
pessoas que são mais infelizes devido à situação financeira, problema social, é
sentimental, sei lá, é, a saúde. Então, é sempre mais pro lado da desvantagem do
que pro lado bom. E essa mudança, que nem essa mudança após, essa mudança,
para obeso essa mudança é mais pro lado da cirurgia. Eu não pensei em valores, eu
fui buscar coisa nova, fui ver coisa nova, fui avaliar coisa nova. Porque, por
enquanto, a gente tá aqui caminhando nessa terra, é todo dia a gente descobre uma
coisa diferente. Que nem hoje estou conversando com você, você está me
entrevistando. Outro dia eu subi no auditório no quarto andar da PUC, eu fiquei ah é,
apresentação da cirurgia, vamos aguardar. No momento, é aquela coisa, no
momento certo, na hora exata as coisas acontecem. Quer dizer que, não que você
não tenha que calgar sua próprias coisas, a pessoa fala assim vale mais uma pomba
na mão do que duas voando, não, não. Vale uma na mão e vou sair dando uma
cacetada pra pegar aquela segunda, porque eu tenho o direito aquela segunda. Não
estou pegando de ninguém ela é minha, eu vou atrás.
P: E o que significa para você hoje a sua mobilidade? É importante?
S: Ah, tudo. Tudo, tudo. Não que eu esteja mudando o caráter, a personalidade,
porque isso já vem. Mas é vida, significa mais vida. Como eu disse a pouco é melhor
condição de vida. Melhor condição de vida é em todo sentido, não dá para mim
priorizar, são todos os sentidos. Se têm quatro lados a minha vida eu quero os
120
quatro. Então vou buscar cada coisinha né, que a minha vida me proporciona. Não
que eu vá mudar a dos outros, não mudança na minha vida. Tanto é que esse
espaço agora que eu ocupo Renata, sou eu. Tanto é que quem está respondendo
agora sou eu, não é a menina da esquina, ou a menina do lado, sou eu. Então esse
espaço é muito importante para mim, e hoje esse espaço é menor, é só duas
cadeiras. (risos)
P: E como você percebe seu corpo após a cirurgia?
S: Ah, maravilhoso. Maravilhoso! É, eu ainda não me desfiz de roupa. É, como é que
eu digo. Olhando para aquelas coisas, aquilo é antigo, aquilo é do morto, aquilo já
foi. Então tá lá separado, tem algumas coisas que não servem ainda, tem coisas eu
comprei à anos que não me serviu, então é uma surpresa, cada dia você descobre,
é assim, como uma criança ou um adolescente que está descobrindo seu corpo. Ah
eu não fazia isso, tipo, eu não agachava com essa freqüência, eu não dobrava o
joelho e dobrei o joelho, ah eu não conseguia é fazer flexão, tanta flexão abdominal
hoje eu consigo. Então é uma descoberta a todo instante. Ah, eu consigo subir,
andar e não sinto falta de ar. Hoje eu corro. Então é uma descoberta maravilhosa.
Como eu sinto meu corpo, funcionando! Eu sinto meu corpo funcionando!
P: Certo. Como você se sente hoje?
S: Olha se eu for avaliar o que eu como eu me sinto hoje, se eu falar bem, eu vou
estar é, sendo negligente comigo mesmo. Hoje eu me sinto muito bem. Muito bem, e
vai melhorar, porque eu estou naquele processo comigo mesmo. Hoje eu já tenho a
relação da alimentação o que eu posso e não posso, quanto ta, as medidas já
conheço. Tem aquele fantasma do dumping que sei muito bem trabalhar ele. Hoje
eu já vou as reuniões, festinhas numa boa. Já não é mais aquele puxa anti-social,
chegou aquele comilão. (risos) Não que ele é anti-social. Eu sei. Mesmo com a
cirurgia tem pessoas que se tornam anti-sociais, posso isso, não posso isso. Não se
não posso eu não posso, não precisa falar. Não precisa ser desagradável. Eu não,
sou bom divã, sociável, extrovertido, brinco. Eu sou é bonagente.
P: Ah, sei. E antes da cirurgia, como você era antes.
S: Também, também. Era assim, também. Eu creio que melhorou para mim. Hoje eu
sou para mim e eu era para os outros, entendeu. Era para os outros, era uma coisa
assim. É aquela coisa, você está rindo por fora e chorando por dentro. Se você
ocupa um espaço que talvez não seja meu. E, ou comi demais, será que você não
foi intransigente. Será que, era um será gozado de mencionar. Será que não estou
121
sendo inconveniente. Não, não tô não. Se estou aqui eu tenho mais que participar
mesmo, tal, e assim vai.
P: E hoje você não pensa assim.
S: De jeito nenhum.
P: Se estou ocupando sendo inconveniente.
S: Não, de jeito maneira.
P: Será que estou ocupando o lugar do outro.
S: Não, não. De jeito nenhum. Eu sempre gostei de f
122
Bem seco. Eu falei pra ela: olha, eu parei de beber porque eu cansei de ser um
encosto, e me amar. Verdade. Se você prestar atenção no que você está fazendo, é
aquilo que é bom pra você, não é bom para o outro. Mas como? Mas é bom pra
você. Então, é bom pra ele, que nesse espaço aqui, quem ocupa aqui sou eu. Não
que seja só eu, eu, eu. Não.Mas quando se vem tocante a mim, primeiro eu, depois
eu, depois eu, depois você.
P: Isso. E assim, você parou de beber a quanto tempo depois da cirurgia?
S: Ah bastante.
P: Bem antes.
S: A uns oito anos atrás, parei de beber, parei de fumar. Uns oito anos atrás.
P: A balada também, foi tudo junto?
S: Cansou. Cansou, porque eu comecei muito cedo. E daí perde a graça, né. Fica
aquela coisa meio repetitiva, meio, todo dia mesma coisa. Todo dia a mesma
figurinha, acontece as mesmas estórias, né. E isso aí cansa, cansa. Aí você começa
a ver outras coisas, você começa a ver outros tipos de reuniões. Você vai na casa
do amigo, o amigo vai a tua casa. Daí você deixa um pouquinho. Você dorme,
porque eu não dormia. Porque as pessoas que gostam de uma balada, hoje numa
sexta feira, essa hora tava saindo e só voltava na segunda. Se voltasse na segunda
pra minha casa, senão voltava na outra semana na minha casa, ficava internado na
casa de alguém ia para o trabalho direto.
P: Ah, tá. E você era obeso desde criança, não?
S: Não, não. Eu me tornei obeso depois dos trinta anos. Trinta, depois dos trinta
anos mesmo. Não, não era obeso, nem grande, nem forte. Tinha estatura mediana,
que era para a minha altura, que é 1,96m menos 30cm, que dava 1,66m, eu pesava
em torno de 72, 68 que é o que eu vou chegar. Hoje eu estou com 83 falei para
você, né. Então estou quase chegando onde tem que ser a meta. Que não é uma
meta, né. Eles priorizaram mais ou menos, né, o cálculo, por aí,até 74 kilos, pode ser
menos, pode ser um pouco mais. Mas eu creio que vai dar 70, 68. Pelo menos pelo
meu biótipo, vai dar uns 70, 73.
P: Certo. Tem alguma coisa que você gostaria de acrescentar.
S: Não. Agradecer a você pela oportunidade de estar aqui conversando, eu gosto de
conversar. Então se você me pegar e disser que eu vou ter que falar para 300
pessoas, 500 mil. Eu vou lá, dou uma olhada no biótipo e depois eu volto. Porque é
gostoso conversar com as pessoas, né.
123
Sujeito Dirce
P: Dirce, conta para mim um pouco sobre a sua vida após a cirurgia.
S: A cirurgia, a minha cirurgia foi ótima, não tive dor, não tive enjôo, não tive nada.
Até hoje não tive nenhum dia que eu comi e passei mal. Porque eu me preparei bem
psicologicamente antes. Então, eu masco bastante, como. É sagrado pra mim a hora
da comida, né. E mudou bastante. Porque, que nem agora, pra antes, esses dias eu
até dei risada, porque uma coisa que pra mim todo mundo é normal, eu consegui
levantar e fazer a minha unha do pé. E quanto tempo sem cortar a unha do pé, né.
P: Uhum.
S: É, pra andar não tenho mais canseira, consigo andar a pé. Tanto é que vinha só
de carro trabalhar, agora estou vindo de ônibus. Eu consigo vir tranqüilo, pegar um
ônibus. Pra você, você quer colocar uma roupa não tem aquele estresses, toda
roupa que você põe não serve, você fica chorando toda hora, agora qualquer roupa
serve. Muito pelo contrário, não serve porque cai, né. E tudo, assim, comer. Antes
comia um bocado, e ficava ai que vontade de comer mais um pedaço. Agora não,
experimento. Como de tudo que eu tenho vontade, não deixo de comer o que tenho
vontade, mas como um bocadinho e já estou satisfeita. Não deixo de fazer, porque
eu não posso comer. Se eu quero fazer, aí penso em alguma coisa se tenho espaço
pra eles para que eu posso comer, mas um bocadinho e estou satisfeita. Tudo, e é
diferente, você muda, você se gosta mais, você tem mais vontade de se arrumar, se
olha no espelho, tudo é diferente.
P: Tem algum lugar que você hoje vai mais, que você não freqüentava e hoje você
freqüenta.
S: Assim, os lugares, eu sou uma pessoa que eu gosto, eu sou, eu gosto muito, eu
sou caseira. Eu gosto, eu vou bastante pra Igreja, nos encontros da Igreja, nos
grupos de jovens, eu trabalho com a Pastoral da Saúde, então estes é meus
ambientes que eu gosto. Assim, nunca fui de gostar de balada, sair essas coisas.
Então, mas eu tenho mais disposição pra trabalhar nas coisas que eu gosto.
P: Ah, certo. Assim, antes você tinha atividade física?
S: Não.
P: Nenhuma.
124
S: Nenhuma.
P: E começou a fazer quando?
S: Depois da cirurgia. Depois que ele liberou pra fazer, que eu tô fazendo a
caminhada. Também, pelo tempo, né. Porque eu terminei a faculdade este ano,
então eu trabalhava doze horas no hospital todo dia. Daí saía, ia direto pra
faculdade, então não tinha tempo mesmo. Agora tô só aqui, terminei a faculdade,
então quando chego em casa a noite dá pra fazer também, né. Mas mesmo assim, é
bem melhor, mais gostoso, dá mais prazer, né.
P: Que tipo de atividade você faz?
S: Eu tenho feito caminhada, por enquanto. Por enquanto, caminhada bastante,
porque eu moro em sítio, então tem bastante lugar para caminhar, junto com a
natureza.
P: Quanto tempo de caminhada?
S: Ah, uma hora, uma hora e pouco. Eu pego e subo no meio do mato lá e vou
embora.
P: E antes você não tentava caminhar?
S: Não. A minha vontade era de dormir, era sagrado.
P: Não tentava de vez em quando, nem esporadicamente.
S: Ah, quando eu tentava já cansava, ai que sofrimento.
P: Ah tá. E durava quanto tempo?
S: Ah, pra mim ir na casa da vizinha ali embaixo era muito, não ia a pé. Se a minha
mãe precisava buscar uma farinha, alguma coisa pra ela, eu catava o carro e ia. Não
ia a pé, não conseguia.
P: E hoje?
S: Hoje em dia se ela precisa buscar alguma coisa procuro ir a pé.
P: Mas daí, você vai a pé por que você está disposta ou por que você sente que
você precisa?
S: Os dois. Porque assim sei que eu preciso quanto mais caminhar vai ser melhor
pra mim, eu consigo ir, eu tenho disposição pra ir. Porque lá eu chegava cansando
tinha que sentar na casa dela. Então, agora não, eu vou e volto tranquilo. Não tem
problema.
P: Ah tá. Na sua casa, que lugar que você mais gosta?
S: Ah, eu gosto muito da sala.
P: Por quê?
125
S: Ah, porque na sala, todo mundo, é o lugar que a gente reúne a família, conversa
bastante, faz bagunça.
P: Ah tá.
S: É o lugar que eu gosto.
P: E a sala é grande?
S: É grande.
P: Que tamanho?
S: A sala de casa, maior que este espaço.
P: Que significado tem pra você, hoje a sua locomoção?
S: Ah, é bem melhor que antes. Eu tô vivendo, eu vou e volto, mais agora do que
antes.
P: Ah tá, mas se pudesse dar uma palavra.
S: Então, não estou sabendo distinguir uma palavra.
P e S: Risos
S: Esse que é o problema.
P: Um significado pra você a sua locomoção de hoje, o que ela significa na sua vida.
S: De que vou correr, eu já pensava, ah, vou correr e não vou agüentar, não gosto
de correr, não gosto de andar, então você já, ficava pensando, vou começar a correr
com alguém e já, vou chegar até ali e só pra ficar tirando o sarro. Então, hoje não,
será que você consegue. Eu tô tentando, tô melhorando a cada dia, então.
P: E no seu trabalho, já sentiu alguma diferença?
S: Sinto.
P: Como que era?
S: Ah, antes assim, a gente tinha hora assim que, assim tinha vez que você sentia
que estava incomodando, que você ia passar por um lugar, tava apertada. Que nem
circular a sala, ia circular a sala, quase morria para não esbarrar nos cirurgiões. Hoje
em dia não, eu consigo passar por ali, boa, você tinha aquele medo de esbarrar, de
você passar por ali e incomodar, você sabe que está estorvando alguém porque
você é enorme. Incomoda bastante.
P: Assim, você percebe que seu corpo, ou melhor, como você percebe seu corpo
após a cirurgia?
S: Cada dia menor.
P: Cada dia menor?
126
127
Não sofre. Porque eu não acho que sofri, acho que foi uma coisa muito boa pra mim,
sabe. Porque eu estava precisando mesmo, meu peso era de 180 kilos, daí com o
acompanhamento e fazendo regime, em dois anos perdi 25 kilos, e agora após a
cirurgia né, que tá 3 meses e uma semana já perdi 16 kilos e estou me sentindo
super ótima.
P: No primeiro mês como é que foi assim a sua alimentação.
S: Foi só líquido, gatorade,água de côco e água. Só isso.Trinta dias. Quinze dias.
Daí, com mais quinze dias comecei a comer a sopinha liquidificada. Batida no
liquidificar. É, cozinhava tudo junto, chuchu, abobrinha, é, batatinha, caldinho de
feijão e pedacinho de carne. E daí liquidificava no liquidificador e eu daí comia
aquela sopinha. Colocava um pouquinho no pratinho pequenininho, comia um
pouquinho aquela sopinha, que tinha feito, preparado, e era assim,durante uns
quinze. Primeiro uns quinze dias líquido e depois quinze dias a, a sopinha, né.
P: Uhum.
S: E daí depois, quando inteirou os trinta dias, a nutricionista falô que eu podia
começar a comer, assim, mais coisas. Sopinha mesmo era assim, eu tinha que
procurar mastigar, daí não era mais batido no liquidificador. Era pra começar a
comer assim e mastigar, entendeu. Chuchu, abobrinha, tem que colocar caldinho de
feijão e ir mastigando.
P: Uhum.
S: Dar uma amassadinha. E um dia, daí quando deu quarenta dias, eu comecei a
experimentar normal.
P: Uhum.
S: Hoje eu como de tudo. Eu como uma colher de arroz, uma colher de feijão, um
bifinho. É meio difícil, sabe, eu gasto uns trinta a quarenta minutos para comer isso.
P: Uhum.
S: Mas, se sentir que estou meio entalada, aí tem que parar, você não consegue
fazer nada, daí tem que estar tomando água, e você dá aquelas gorfadas, e quando
sai aquilo com tanto esforço, você não consegue comer mais, só que depois você
acaba perdendo o gosto. Porque depois você estava almoçando e aconteceu isto,
então você não quer mais comer, né. Daí começa a tomar água, tomar um suco, até
a hora que tem que tomar o remédio. Mas estou me sentindo muito bem. Graças a
deus.
P: E dá medo, assim porque engasgou.
128
S: Não.
P: Não.
S: É, nos primeiros quinze a dezesseis dias, eu entalei. Você tem que ir no hospital
fazer endoscopia. Por causa que a minha menina estava comendo assim, goiaba, e
eu peguei e pedi uma mordidinha da goiaba dela. Eu não sei se eu não mastiguei
direito e eu engoli. Só que isto foi no domingo.
P: Uhum.
S: E eu só comecei a sentir mal na terça feira à noite. Daí fiquei terça, quarta, quinta,
tudo que eu tomava, a água, suco, voltava, nada descia. Já estava tremendo já.
Porque é, fraqueza, né. Não descia, aquela sede, assim, pra baixo do estômago,
sentia que, tinha muita sede, meus órgãos estava precisando de água, só que não
descia. Voltava tudo. Ficava dando aquelas gorfadas, daí na sexta feira vim aqui,
falei com a doutora Débora, daí ela pegou e mandou fazer a endoscopia. Daí na
endoscopia deu, que era um pedacinho de fruta. E eu tinha comido no domingo, né,
o pedacinho de fruta. Graça a deus, foi feita a endoscopia, foi tirado né, daí quando
fez quinze dias de novo que eu tinha feito a endoscopia, tornei a começar a passar
mal, tudo que eu comia voltava. Água, líquido, sopinha, comida, tudo voltava. Daí,
vim aqui de novo, torna a fazer outra endoscopia de novo. Até a médica deu uma
dura em mim, você aqui de novo?, falei: de novo. Daí ela falou assim: Ai meu deus,
o que eu faço com você? Eu espanco você, o quê que eu faço? Falei: Ai não sei
doutora, faz o que você resolver, porque eu não sei. Só que não tava entalado. A
endoscopia foi feita, não deu nada. Não sei o que aconteceu, que nem ela falou, não
sabe se já tinha descido, ou às vezes, o estômago estava inchado, ou o que né.
P: Uhum.
S: Porque não tinha nem dois meses, né. Trinta dias e pouquinho. Mas depois de
trinta dias para cá, nossa. Graça a deus. Não, agora tô aprendendo a comer, coloco
uma colher de arroz, uma colher de feijão, e um bifinho, só que eu to pondo assim,
comida mais coisinha mais molinhas, sabe.
P: Uhum.
S: Porque pra comer um bifinho, umas cem gramas, assim, dá trabalho. Tem que
mastigar. Cortar bem pequenininho, pra mastigar. Carne cozida, assim, na panela de
pressão aos pedaços, assim, com molho, você consegue comer só o molho, carne
você não consegue. Fica mastigando, mastigando, em pedaço, ele vira uma bucha
na boca, você fica com medo de engolir e entalar novamente, né. Então, eu prefiro
129
comer mais o bife assim, eu frito ele assim, não com muito óleo, né,passo assim
na frigideira, bem pouquinho em óleo, vou apertando bem ele para que fique bem
sequinho, e daí vou tirando os pedacinhos e vou comendo bem devagarzinho.
Agora a carne cozida não consigo comer, o que deveria ser melhor que bife, agora
não consigo. Porque eu mastigo ela, fica como uma bucha na boca, daí eu só
engulo o caldo e jogo ela fora, porque eu não consigo. Tenho medo de engolir e
entalar novamente.
P: Tem outros alimentos.
S: Todos eu estou comendo.
P: Que bom.
S: Agora, a única coisa que eu não estou comendo ainda é folha, sabe. Alface,
almeirão, couve. Eu tentei comer estes dias couve, assim, picado bem fininho, na
salada, não consegui também. Eu fui mastigando, mastigando, primeira colherada
que eu coloquei na boca, daí, juntou tudo aquela coisa assim, e parece que deu
aquele bolo assim, fiquei com medo de engolir. Joguei fora e não comi mais.
P: Ah, tá. Mas foi uma tentativa de comer mas aí o medo veio.
S: É.
P: Você desistiu e soltou.
S: Soltei, mais é por causa da, a psicóloga também, já falou pra mim que muitas
coisas, às vezes está acontecendo isso comigo, por causa de já ter acontecido, de
ter entalado, né. Aí eu fico com aquele medo, aquele medo, aquele trauma.
P: Você tem medo de sofrer de novo.
S: Tenho medo de sofrer. Que, depois dos trinta dias, tava com uns quarenta dias,
começou a me dar muita cólica, eu não tinha cólica.
P: Uhum.
S: Até os trinta dias. Depois dos trinta dias, acho que depois comecei a me
alimentar, começou a me dar muita fome. Nossa, mas uma fome que eu não
agüentava. Eu terminava de tomar o café da manhã, um pouquinho de café com
leite, com adoçante, duas bolachas de água e sal, nossa, quando era nove, dez
horas, eu não estava agüentando de fome. Daí eu comia um pedacinho de uma
fruta, né.
P: Uhum.
S: Daí ficava tomando água, líquido, até chegar meio dia pra mim almoçar
novamente. Nossa, mas é uma fome nesse intervalo que eu não estava agüentando,
130
sabe. Daí, eu peguei e falei assim, meu deus, eu vou ter que parar com isso. Porque
se eu ficar também, eu corro atrás da fome, querer tampar a fome, né. Eu não vou
emagrecer, né. Até a nutricionista falou assim, que eu emagreci muito pouco.
Nesses dois meses, continuo, fez três meses, tem seis quilos que eu emagreci. É,
ela falou assim, que é muito pouco, que eu não perdi peso. Que era pra mim ter de
um lado, é dez porcento do peso em dois meses, e deu somente seis porcento do
peso. Ela falou assim, que o meu organismo que é mais difícil pra emagrecer.
P: Uhum.
S: Mas não pode acontecer isso, porque se fosse para acontecer isso, é, não
compensaria nem ter feito a cirurgia. Porque é sofrida né, dolorosa.
P: Uhum.
S: E depois ficar assim. Ela falou assim, que esses seis porcento que eu emagreci a
gente emagreceria com regime. Daí, desse dia pra cá, eu peguei e cortei um monte
de coisa. Porque é aquela história, os trinta dias que foi só líquido.
P: Uhum.
S: E acostumou toda hora ficar de vinte a trinta minutos, tomar água de côco, tomar
gatorade.
P: Ingerindo alguma coisa.
S: É, muita coisa. Então comecei a atacar a geladeira, sabe.
P: Uhum.
S: É toda hora. Assim, sabe. Eu ficava ansiosa.
P: Uhum.
S: Eu fiquei naquele desespero. Eu, eu tomava água, dali a pouco, eu tomava café
com leite. E não demorava acho nem vinte minutos eu comia uma bolacha de água e
sal, dali a pouco eu chupava uma laranja. Acho que é isso que, eu não emagreci o
peso normal, sabe.
P: Porque já tinha criado o hábito de comer de trinta em trinta.
S: Porque ficava toda hora, acho assim que, a minha mente acostumou aquele, ao
hábito de toda hora, toda hora, sabe. Toda hora ficava comendo, toda hora. Daí, por
mim mesmo, eu não passei mais na psicóloga, eu tenho psicóloga agora só em
agosto.
P: Uhum.
S: Daí, por mim mesmo eu comecei a tirar. Quer ver, foi, sexta feira passada.
P: Uhum.
131
S: Eu estava com noventa e três quilos, quase noventa e quatro, noventa e três e
quatrocentos quase noventa e quatro. Daí eu comecei a fazer isso, diminuí. Eu tô
comendo de três em três horas. Mesmo que eu fico com vontade de ir lá e atacar as
coisas, eu não como. Eu vou na água, ou então no suco com adoçante.
P: Uhum.
S: Não como nem bolacha, nem chupo laranja. Nem como fruta igual estava
fazendo. Você vê que cortei, eu mesmo cortei. Olha, quanto, de sexta feira pra cá,
eu to com noventa e um.
P: Em menos de uma semana.
S: Menos de uma semana. Você vê, porque eu diminuí, não de comer, eu tô
comendo normal, almoço, janto, tomo lanche da tarde. Mas assim, no intervalo de
três em três horas. Porque tava, muito acostumado assim, aquele hábito né, de, toda
hora, de vinte e trinta minutos estar tomando um suco, tomando um gatorade, então,
ou comendo uma coisinha, então, eu acho que eu fui acostumando aquilo. Aí, meu
deus. Se eu continuar desse jeito eu não vou emagrecer. Ainda a psicóloga falou
aquilo pra mim né, que eu emagreci muito pouco, eu coloquei aquilo na cabeça.
Falei não, não pode acontecer isso comigo. Porque se eu tive vontade de fazer
cirurgia, pra mim emagrecer, agora porque eu vou ficar, sendo que eu sou operada,
consegui graça a deus, né. Ser operada.
P: Uhum.
S: Porque eu vou ficar me dando comer, comer, comer, aí, que nem uma doidinha aí
e depois só engordando. Não, eu vou parar por aqui. Chegou domingo eu cortei
tudo. De sexta feira passada, domingo eu já cortei tudinho. Eu já comecei no café da
manhã, eu tomei um copinho de café com leite e duas bolachas água e sal, mas do
que duas eu não como. Dá vontade.
P: Uhum.
S: Mas eu não como. E daí, lá pra umas dez, onze horas, dez e meia, onze horas,
eu como uma metade de uma fruta, eu não como a fruta inteira como eu tava
comendo antes, só a metade.
P: Uhum.
S: Ou uma pêra molinha, ou então, um pedacinho de banana. E daí, naquele
intervalo das dez e pouco até chegar o almoço, lá pelas meio dia e meia, uma hora,
eu passo só com água. Dá vontade de comer as coisas. Não é porque você fome,
132
você entendeu, o que é né.
P: Uhum.
S: Não é fome, é que você acostumou, ficou aquele ar que tem que ficar catando as
coisas para comer, né. Daí eu fico me segurando, daí quando é a hora do almoço,
eu pego uma colher de arroz, uma de feijão ou então caldinho de feijão, e, uma fatia
de tomate, porque mais que isso você não consegue, e um pedacinho de mistura, ou
um peito de frango ou um bifinho. E aí vou mastigando, mastigando, mastigando a
comidinha é trinta, quase quarenta minutos para conseguir comer aquilo. E não é
133
S: Né. Quer dizer, se eu continuasse, não ia dar certo a minha cirurgia. Ia continuar
engordando. E daí eu mesmo parei para pensar e cortei, já logo no começo, né.
P: Que bom.
S: Porque, uma semana eu pesei e tava com noventa e um. Daí, dali duas semanas
eu fui pesar e tava com quase noventa e quatro. Falei, não é pra acontecer isso.
P: Fez a cirurgia.
S: É, daí eu peguei e cortei. Agora nossa, já acostumei. Mas nos primeiros dias foi
difícil. Domingo passado eu comecei a cortar, foi difícil. Porque é, dava intervalo de
três horas, três horas e pouco,
P: Uhum.
S: E eu queria comer, comer, que eu tava acostumada, né. Foi diee, ee, t25585( )-2.16558(r)2.805(ê)7535(m)-7.49588(.)278], t25585( )-2.17(r)2.805[(,)7.84154( )-2ia05( )-2.13117(e)-4.n9 -20.64()2.80439(g) Uhqvansé. n vqui dez .(de)-4.33056(z)9.71093-4.33117(v)9.0.64()2.8049(n)-8T0561(i)1.8795585(o)-4.33117(8.)278]TJ20.64 TLT*[(S154(a)-444.87122( ).33117(a)-4.33117(r)1331(,)-2.1651.87122-2.16558(a)-4.33117i)1.877(a)-474(u)-4.32eé3117(i)1iiFoiiãQuiiizvansecna.33117(a)]TJ291.172 16431( )-2.16558(q)5.67irosil.u.u67irosiu65-25(a)-4.331-331u vquins.16558(c)979558eie e20.68 795.B(36(c)-0.293a)-4.331-331u iius,ãQt,r :oeza05(-80439f7e67474(133117( )-2.16436(c)9.71032(1.33117(v)9.71032(e)-4.33117(n)-4.3)p.AT*[(S155133056(z)9.71i)1.87(a05(-80439f7e67474(1337474( .32eé3117((u)-4.32eé)2.80439(g))-22.167q4(c)-0.2)-2.4599(d)-4.33117()1.33117(n)-4.3)p.AT*.16436(,)-2.16558( t25585( )-2.17(q)5.674)-2.16436c2t)-2.16436( )-2.16558(q)5.67i)1-a)-4.334(n)95.67iu c (z)9.7(v)97291.1m rêêêe fQu1.331171460(d)-4.32873.Vo15goa
134
sentindo, ficasse só comendo toda hora, toda hora, eu não ia emagrecer. Só que eu
já peguei e cortei.
P: Na verdade não era uma fome.
S: Era um hábito.
P: Era um hábito por causa da ansiedade.
S: É.
P: Ela fazia você colocar a comida na sua boca toda hora.
S: Toda hora precisava comer. Nossa, toda hora atacando a geladeira.
P: Agora você está trabalhando com a sua ansiedade. Você está controlando.
S: Tô controlando. Agora tô começando a comer direitinho, tô aprendendo melhor a
comer, né. Depois dos três meses tá melhor. Me sentindo muito bem. Tô comendo e
me sentindo melhor, né. Não é assim, tudo medidinho. Vou na panela de arroz, pode
tá o arroz mais gostoso que tiver, é duas colher só. A vontade dá de você lotar o
prato, mas mesmo que você lote o prato você não vai conseguir comer. Porque o
estômago tá pequenininho.
P: Você já tentou comer.
S: Não.
P: A mais, alguma coisa.
S: Não. Eu imagino, mas fica na imaginação. Que se for tentar comer, devagarzinho,
devagarzinho, acho que come, viu.
P: Você acha que come?
S: Eu acho que come. Por causa que, você fica meio imaginando assim, sabe.
Porque eu acho que daí é, pode acontecer isso. Você vai comer, e fica na
imaginação de querer comer, comer, comer. De pouquinho, em pouquinho, você vai
comendo, comendo, comendo. O que aconteceu comigo aquela hora, daí acho que
o estômago vai laciando de novo.
P: Isso.
S: Porque o estômago é igual uma bexiga, né. Vai esticando de novo.
P: Isso.
S: Daí eu peguei e parei antes que acontecesse isso comigo, né. Porque senão
como eu ia perder peso depois da cirurgia?
P: Isso. E assim, como está hoje a sua locomoção.
S: Ah, tá muito bem. Nossa, tô muito feliz, eu não conseguia agachar para catar uma
caneta no chão, eu não conseguia agachar quando caía o sabonete, eu não
135
conseguia agachar para catar. Tinha que pegar outro no alto, um que tivesse ali
perto. Porque aquele que caiu no chão não conseguia catar. Nossa, era bem difícil.
Pra catar lixo no chão tinha que ter uma pazinha, aquelas de cabo grande, porque
aquelas baixinhas não conseguia abaixar, ficava muito difícil. Hoje em dia, nossa, eu
to me sinto outra pessoa, dá uma impressão que eu renasci novamente. É, eu
agacho, limpo o canto, eu ando, faço caminhada todos os dias, uma hora e quinze
minutos.
P: Uhum.
S: Eu saiu da minha casa e vou trabalhar, eu trabalho três vezes na semana,
segunda, quarta e sexta. Eu saiu da minha casa, sete horas, dez pra sete.
P: Uhum.
S: E ando quarenta e quarenta e cinco minutos pra depois pegar o ônibus. Não
porque não tem ônibus, tem ônibus na porta, mas é que eu, pra fazer a caminhada,
os quarenta minutos, quarenta e quarenta e cinco. Tento fazer sempre. E o dia que
estou em casa, terça e quinta, eu ando uma hora e quinze minutos. Saiu pra andar,
ando, quando dá, é, chego em casa por volta de casa dá uma hora e quinze
minutos, uma hora e dez minutos. Todos os dias. Pra dormir, tô dormindo muito
bem. Eu roncava muito meu marido falava, ele dizia que eu tô com sono assim, tão
gostoso. Que eu fico assim parecendo um neném quando tà dormindo.
P: Sorrisos.
S: Sabe, aquele sono bem suave, sabe. E antes eu roncava muito, ele falava. A
gente não vê, a pessoa que está do lado que vê assim. Nossa, essa cirurgia, vale a
pena, sabe.
P: A sua locomoção hoje.
S: Nossa, mudou completamente. Tô muito feliz. Eu peço que alguém que tá assim,
com acompanhamento médico da endocrinologia, que queira fazer essa cirurgia,
pode fazer sem medo, porque vale a pena, é muito excelente. Só que a gente
também tem que ajudar. Que acontece tudo isso com a gente, né, que eu falei né.
P: E antes da cirurgia você caminhava assim, esse tanto.
S: Olha, eu tentava caminhar, só que sofria muito. Eu andava uma hora, não todo
dia porque eu não agüentava. Eu peguei uma dor no pé, no calcanhar que eu não
agüentava de dor. Ainda tenho a dor, continua a dor, acho que é esporão que deu
este negócio.
P: Uhum.
136
S: Você, eu tentava andar, assim, porque eu tava fazendo regime, fazia
acompanhamento, pra fazer a cirurgia, tinha que emagrecer dez porcento do peso
né, então eu tinha que me esforçar, sem guentar mesmo não dá. Mas hoje em dia,
nossa, eu quero andar assim, quero andar, passear. Nossa, eu gosto muito de
andar.
P: Isto te dá prazer.
S: Dá. Me dá prazer.
P: Quais são os lugares que você mais gosta de ir, hoje?
S: Ah, eu gosto de ir sempre assim, sabe, é, antes eu não tinha coragem de sair
nem até assim na padaria, na esquina, não tinha coragem, porque, acho que a
gordura me impedia, né. Aquele desânimo, aquele mal estar. Hoje não, eu tenho
vontade de ir no supermercado fazer compra, é, passear, ir na casa dos amigos, das
colega, conhecer gente nova, às vezes eu encontro gente assim, no ônibus, né. Ah,
é você que é Elen? Foi você que fez a cirurgia? Eu falo assim, ah, eu sou. Ah, vai
em casa pra gente conversar, eu pego o endereço. Aí eu vou conhecer a casa da
pessoa, sabe. Nossa, eu to muito feliz, gosto muito de passear, no final do ano vou
pro Paraná, a gente fica dez, onze dias lá., tudo. Agora, imagina agora que eu estou
mais magra imagina a delícia que vai se, né.
P: Risos. Já gostava de passear.
S: Já gostava, né.
P: Agora você está saindo muito mais do que você antes.
S: Muito mais, porque eu não tinha coragem. Tinha dia, eu acho, não sei, eu não sei
o que é, o que vem a ser depressão.
P: Certo.
S: Mas eu acho que tava entrando em depressão. Porque tinha dia que eu não tinha
nem coragem de sair nem até o portão da minha casa. Era só dentro de casa. Era
assim, terminava de almoçar, já, só lavar a louça e ia se deitar. Era desse jeito.
Agora hoje em dia, não tenho nem vontade de ficar deitar não. Tenho vontade de
ficar assim, trabalhando, limpando as minhas coisas, os dias que fico em casa,
lavando a roupa, arrumando tudo, os quartos, as coisas de lugar, limpando a casa,
deixando tudo em ordem, sabe. Nossa, eu mudei completamente, eu virei outra
pessoa.
P: E antes você trabalhava, limpava a casa de alguém também, Trabalhava como
doméstica?
137
S: Eu trabalhava, mesma coisa, só que era assim, eu trabalhava, me esforçava sem
poder mesmo, com aquela gordura, eu trabalhava, eu chegava em casa, nossa, eu
chegava exausta, não tinha coragem nem de fazer janta. Mesmo assim tinha que
fazer, né, na marra, né. Porque não tinha quem fizesse, né. Mas era difícil, era muito
sofrido. Eu sofria demais.
P: E hoje está mais fácil você fazer.
S: Nossa, hoje eu não sinto nada. Trabalho dia inteiro, às vezes saio do serviço,
passo na cidade, pago conta, é, compro mistura, coisas que tá precisando pra casa,
vou embora, chego em casa, já tá sujando, tá lavando louça da janta. É aquele
ânimo, nossa, mudou completamente. Antes eu tinha que fazer isso, entendeu, mas
assim, parece que era forçado, porque eu não agüentava, sentia muita canseira.
Hoje em dia, nossa, esses quilos que perdi.
P: Uhum.
S: É, uns vinte e cinco quilos no regime, esses dezesseis depois da cirurgia, eu tô
me sentindo muito ótima.
P: Uhum. Tá. E que significado tem para você, essa sua locomoção hoje?
S: Significa que, né, como eu tô falando, né, me sinto outra pessoa. Tá muito bom
pra mim, nossa, tô muito feliz. Se eu imaginasse que fazer essa cirurgia fosse desse
jeito, eu tivesse conseguido mais antes, eu teria feito mais antes. Porque vale a
pena, e é muito bom.
P: O que significa a locomoção de hoje para Elen. Porque antes da cirurgia tinha um
significado, não tinha?
S: É assim, vamos supor, é, vamos supor, é, antes a minha vida nessa situação toda
que eu tô contando.
P: Uhum.
S: Era assim, amarga, né. Um passado amargo, muito amargo. Hoje em dia é doce,
suave, gostoso.
P: E assim, sobre a tua casa, mudando de assunto, que lugar você mais gosta?
S: Ah, eu, eu gosto assim, mais de ficar na sala, né, porque têm o sofá, chego lá eu
deito, na hora que não tem nada pra fazer, assim, né.
P: Por que você gosta mais de lá?
S: Ah, porque não sei, é mais gostoso, é mais fresquinho,né, mais ventilação
melhor.
138
P: E a sala é grande?
S: Não, é pequena. É do tamanho desse quarto aqui.
P: Ah, tá. Mas ela é maior que o quarto, que a cozinha?
S: Não, ela é menor que a cozinha. A cozinha é bem maior.
P: Ah, tá.
S: É. Outra coisa também, eu gosto de fazer muitas coisas, sabe. Assim, acho que é
isso que eu engordei muito, as minhas filhas também são gordas. A mais velha têm
vinte anos e pesa 78 quilos, a do meio tem 80, a pequena de treze ta com 45.
Porque nossa, eu adoro cozinhar sabe, fazer massa, coxinha, quibe, todos eles
gostam, sabe.
P: Ah que tentação.
S: É, eu gosto de fazer.
P: Também tem uma ajuda para ganhar uns pezinhos, quilinhos.
S: É.
P: Então, agora está diminuindo.
S: Tá diminuindo porque eu não posso estar comendo, né. E se por acaso eu não
comer, só dar uma beliscadinha, só, né. Porque não pode né, senão. Daqui a pouco.
P: E depois da cirurgia que você não podia comer, que era líquido, mesmo assim
você cozinhava, trabalhava, fazia as massas.
S: Cozinhava, fazia a comida, né. Só que até diminuí as massas, né, daí eu não fiz
massas, porque daí era uma tentação.
P: Risos. Ficaram obrigados a não comer massas. Também foi diminuindo o peso,
porque diminuiu a fartura.
S: É.
139
debaixo da roupa, né. Isso aí pra mim tá ótimo.
P: É sinal que está emagrecendo. Está sobrando pele.
S: Nossa, eu fico muito feliz. Eu olho no espelho e fico, olha como eu estou
emagrecendo, roupa que não estava servindo mais, agora já serve. Nossa, a cintura
tá afinando mais, nossa, eu tô muito feliz.
P: Antes você se olhava no espelho?
S: Eu olhava mais eu tinha até medo. Chorava, falava meu deus, que corpo horrível.
Eu cheguei até a mandar uma carta lá pro Ratinho, pra ver se eu conseguia uma
cirurgia, um regime, alguma coisa. Porque eu não suportava mais aquela gordura.
Cento e trinta quilos.
P: Hoje você se olha por inteiro no espelho?
S: Eu me olho. Eu me olho e eu tô muito feliz, é muito diferente. Nossa, diferente,
muito.
P: Como você vê a Clarice hoje. Como que ela está?
S: Eu tô outra Elen hoje. Muitos disseram pra mim que aquela Elen anterior não
existe. Eu tô começando a viver depois da cirurgia outra fase. Eu me sinto assim,
sabe.Que eu estou começando a dar mais felicidade na minha vida. Eu tentava ser
feliz mas não era feliz. Sabe quando você tenta uma coisa e você não consegue? Eu
fazia isto, todo mundo via eu com sorriso. Pra alegrar mais as pessoas, só que por
dentro eu não era feliz. Eu me fazia de feliz, mas eu não era feliz.
P: Hoje a Elen não se faz de feliz.
S: Não, agora ela é feliz mesmo de verdade.
P: Pra você estar feliz você demonstra mesmo que está feliz.
S: É. Eu sou assim agora direto, direto. Se a caso eu fico nervosa por alguma coisa
assim, de repente já passa, eu falo, ah, deixa isso pra lá, porque fazer isso, isso faz
mal pra gente. Deixa eu ficar com a minha felicidade, com minha alegria. Nossa, eu
me sinto muito feliz.
P: Tá, e essa felicidade vem da onde? Por causa dessa perda de peso que vem
essa felicidade.
S: Essa felicidade, porque antes não tinha nem como, né.
P: É por causa da estética, ou porque tem outras coisas também influenciando,
como as pessoas te olharem. Ou é tudo isso.
S: É. Questão das pessoas me olharem, né. Ás vezes até as criancinhas, né. Você
vai passando na rua, na frente da criança, porque a criança não tem maldade né.
140
P: Uhum.
S: A criança vê a fala, nossa, ai que gorda. Aquilo você fica, você vai andando assim
na rua, entrando num ônibus, dá a impressão que está todo mundo te olhando, te
apontando o dedo.
P: Uhum.
S: Às vezes nem tá. Mas você se sente assim, entendeu. Agora hoje em dia, nossa,
aquilo, eu saio na rua assim, as pessoas falam assim. Nossa, Elen, como que você
está emagrecendo, como que você está mais magra, você está ficando bonita.
Nossa, aquilo me enche de alegria. Nossa, eu fico muito feliz.
P: Então agora você sai na rua e não senti que as pessoas estão te olhando.
S: Não, não sinto. Sinto que as pessoas estão me olhando, imaginando. Quem fala
de mim, eu sinto que as pessoas estão imaginando que a Elen está emagrecendo.
Acho que ela deve estar fazendo alguma coisa para emagrecer, imaginando isso,
sabe.
P: Ah, tá. E como você se sente hoje? Elen hoje se sente como?
S: Hoje eu me sinto como uma pessoa normal. Antes eu sentia como uma pessoa
doente. Deus me perdoe de eu falar, porque é muito triste essa palavra, porque a
gente tem muito dó de as pessoas que são assim, mas eu me sentia uma pessoa
deficiente. Eu me sentia assim, não era, tinha perna, braço, eu andava. Mas por
causa da obesidade era muito grande, né. Os cento e trinta quilos, cento e vinte e
cinco quilos, eu me sentia uma pessoa desse jeito. Uma pessoa deficiente que não
tinha coragem pra nada. Não tinha felicidade pra nada. Se fazia que estava feliz,
mas não estava feliz. Agora hoje em dia me sinto uma pessoa normal. Uma pessoa
igual todo mundo, normal. Uma pessoa feliz, pode trabalhar tranqüila, andar,
passear, se divertir, né. E antes eu não tinha essa felicidade.
P: Você tem alguma coisa que quer complementar, gostaria de falar.
S: Acho que no momento, agora não estou lembrando nada.
P: Obrigada Elen.
S: De nada.
Sujeito Fernanda
P: Dona Fernanda, fala um pouquinho pra mim sobre a sua vida após a cirurgia.
141
S: É bem melhor que antes, né. Tinha muita canseira toda, pra andar, tudo que eu
fazia era difícil, né. Pra caminhar, agora é melhor. Pra dormir também, deus me livre,
tinha falta de ar.
P: E hoje você não têm?
S: Hoje não. Tô me sentindo bem melhor.
P: Você fez a cirurgia que dia?
S: Foi dia dezessete de janeiro.
P: Ah, tá. E como é que foi aqui, essa cirurgia?
S: Ah, graça a deus foi tudo bem, né. Eu tava com medo de precisar ir prá UTI, nem
precisou, foi tudo bem. Outro dia, cedo já, foi numa quarta feira, quinta feira de
manhã já levantei, as enfermeiras ajudaram né, a levar, ir no banheiro, depois eu
tomei banho já sozinha, já comecei a caminhar devagarinho, né. Dor, não tinha
muita dor, só quando sentava, levantava tinha dor um pouquinho. Aí tinha que
respirar bem fundo e depois começava a caminhar, porque tinha que caminhar.
P: Uhum.
S: Bem devagarinho. Então, não teve nem ânsia, só teve uma vez, no dia da
cirurgia, só tinha, umas seis horas da tarde que deu ânsia só, depois não tive mais.
P: Aí para ingerir nesses primeiros dias.
S: Daí, a gente fica três dias né, sem tomar nada, fica tomando soro, nem água não
pode tomar. Daí, depois do terceiro dia, no quarto dia em diante aí eu começo a
tomar líquido. Chá de camomila, de erva doce, gatorade, essas coisas, água de
côco.
P: Você teve uma boa aceitação?
S: Só o chá de erva doce que, (risos), as outras coisas tudo bem.
P: Depois você foi para a tua casa, e.
S: E daí continuei com o líquido, o chá, gatorade, danone, na hora da refeição era
caldo de legumes.
P: E você seguiu certinho, nos primeiros dias, de cinco em cinco tem que tomar os
líquidos.
S: É de dez, em cinco em cinco é, cinco minutos.
P: Você foi mais rigorosa assim ou você foi mais tranqüila, dava um tempinho você
tomava.
142
S: Não. Eu tomava de cinco em cinco, é que nem danone, água de côco, essas
coisas, de cinco em cinco minutos. E a refeição assim que era caldo de legumes, era
na hora do almoço.
P: Depois entrou a gelatina.
S: Não, a gelatina já tava, nos primeiros dias já.
P: Uhum.
S: Era de cinco e cinco minutos também. Eu fiz tudo certinho.
P: Depois entrou a comida mais pastosa.
S: É, depois de quinze dias já podia já comer purê. É, passado na peneira né, a
batatinha, legumes também, batia tudo no liquidificador e passava na peneira.
P: Não teve nenhum problema?
S: Não.
P: Depois da cirurgia não teve problema nenhum?
S: Não tive problema nenhum. Nem tive nenhuma fome também. Não tenho fome. A
gente come porque tem, né, que comer.
P: Mas não tinha fome.
S: Não teve. Quando tem fome assim, dá a impressão que vai comer bastante.
P: Uhum.
S: Quando coloca a comida, a quantia certa, já acostumou. É duas colheres de
arroz, uma de feijão, uma de caldo, uma verdura, por aí. A gente tem que mastigar
muito bem, senão a gente se afoga.(risos)
P: E você já se afogou, alguma vez?
S: É, já aconteceu de parar assim.
P: Uhum.
S: Dá uma sensação muito ruim. Parece que vai morrer afogado. Mas aí a gente
volta, o que não consegue descer volta. Não tenho paciência pra nada não.
P: Já aconteceu isso várias vezes?
S: Não muitas vezes, umas três vezes, só.
P: Ah, tá. Hoje demora quanto tempo para você se alimentar?
S: Para me alimentar demora mais, não cheguei a marcar, mas uma meia hora mais
ou menos. Tem que mastigar bem.
P: Nesse período, não teve nenhum problema de rejeitação de nenhuma
alimentação.
S: Não, foi tudo bem.
143
P: Ah, tá. E quando que você começou, ficou, o médico liberou você a fazer
atividade física?
S: É, caminhar assim quando tava antes dos três mês, só lugar de acento, o lugar
onde moro tem muita subida, agora eu já posso caminhar, né, fazer ginástica. Agora
que passei nela, quer ver, dia cinco que eu passei nela, ela liberou para fazer
ginástica, caminhar mais do que estava caminhando. Já posso, só não posso lugar
de subida, mais devagar.
P: Uhum.
S: Ela falou que já posso caminhar uns quarenta minutos, uma hora, mas
devagarinho. No começo não pode. Só tem que ser em acento, caminhar vinte,
trinta, vinte e cinco minutos, e não forçar muito, porque é perigoso, né.
P: E hoje você está caminhando?
S: Eu não caminho muito porque eu faço o serviço da casa, né, não dá tempo.
P: Ah, é você que limpa a casa toda?
S: Eu ajudo a cuidar da casa. Tenho uma menina que ta na escola, ela chega meio
dia, aí eu faço almoço, lavo roupa também.
P: E você trabalha fora?
S: Não.
P: Na casa já te muito serviço.
S: E eu tenho uma neta, e também ajudo a cuidar dela.
P: E como está hoje a sua locomoção?
S: Bem melhor. De primeiro pra subir a escada era um sacrifício, pra andar subir a
subidinha até lá na rua de casa, sofria. Pra ir no posto, né, tem que, acho que dá
mais, mais ou menos um quilômetro, né, de casa. Nossa como eu sofria.(risos)
P: Ia a pé.
S: Eu vou a pé e volto, né. E às vezes tinha que ir de ônibus, tinha muita dor no
joelho, e agora já não tenho dor mais. A dor já melhorou.
P: Melhorou a dor no joelho. Pra você ir no posto você sente hoje?
S: Ah, eu ando e não sinto mais. Pra mim é um prazer de andar. Porque não sinto
dor mais nas pernas, no joelho, nada.
P: E antes você caminhava mas com dificuldade.
S: Dificuldade, tinha que apoiar né, na minha menina. Na filha que ia junto comigo.
Porque com ela, conforme ia andando parecia que a minha perna adormecia. Aí era
144
perigoso cair.
P: Ah. Hoje você pode caminhar então.
S: Não saía sozinha de jeito nenhum.
P: E hoje você sai sozinha?
S: Hoje já dá para sair sozinha, só que eles nem deixam, né, já tem aquele cuidado,
já, costumado comigo, né. Mas eu já tava pensando, que já tenho vontade de sair
sozinha já, nem tontura nem tenho. Antes tinha muita tontura.
P: É por causa da pressão.
S: Da pressão. Tá normal.
P: Sobre a sua casa, que lugar você mais gosta?
S: Eu gosto mais da cozinha. (risos)
P: Por quê da cozinha?
S: Não sei. Acho que é o lugar onde a gente fica mexendo, nas coisas da cozinha,
então, da cozinha eu gosto mais.
P: E as pessoas da casa se reúnem onde? Na cozinha?
S: É, na cozinha.
P: Em que lugares você gosta de ir quando sai de casa?
S: Eu gosto de ir na Igreja, que mais.
P: Você vai toda semana?
S: Agora faz dias que não vou, né. Mas tem que começar ir agora, já posso
caminhar. Ir andando, também, um quilômetro, acho que um quilômetro e meio.
P: E antes você ia como na igreja?
S: Tinha que ir de ônibus.
P: Ah, você ia de ônibus.
S: Mas eu gosto mais é de ir de a pé.
P: Hoje você gosta mais de caminhar.
S: Gosto mais.
P: Mais algum outro lugar que você vai. Com seus familiares.
S: Só com a minha mãe, dos meus filhos né, que moram lá na vila perto lá, é os
lugares que eu vou.
P: A freqüência é a mesma?
S: É.
P: Que significado tem para você hoje a sua locomoção?
S: Não sei dizer. É a coisa mais importante da minha vida. Falam que tem tanto
145
problema no mundo e, que nem lavar roupa mesmo, quando eu fazia serviço, eu
colocar a roupa no varal, nossa, tinha tontura. Era um sacrifício, caía. Quantos
tombos não cai no quintal da casa.
P: É.
S: Ficava virando né. Agora pra mim é bem mais fácil. Não tenho mais problema.
P: É mais fácil fazer o serviço de casa?
S: É mais fácil. Pra mim andar também, tinha tontura, se eu fosse andar rápido não
conseguia, né, andava de um lado para outro, parecia bêbada. É bem melhor agora.
P: Fazer o serviço de casa também?
S: É.
P: Você sente a diferença?
S: Sinto. Me sinto mais leve, né. Fazer tudo que, pra caminhar, pra fazer o serviço.
P: Se for pra colocar em palavra que significado, o que representa o quê pra você a
sua locomoção? Seu ir e vir, poder colocar a roupa no varal, você ir até lá no posto,
né, agora caminhando, porque antes era de ônibus. Coloque em palavras.
S: Parece um milagre, né. (risos) Um milagre que aconteceu na minha vida.
P: E como você percebe seu corpo após a cirurgia?
S: Ah, bem melhor, né. (risos)
P: Bem melhor.
S: O problema é que fica a sobra, sobraiada pra todo lado, né.
P: O problema é que sobra.
S: Tem que caminhar bastante, né. Pra, não ficar, as pelancas cair.
P: Ah tá. É por isso que você quer caminhar?
S: É. (risos)
P: Ok.
S: Pra fazer a cirurgia é difícil, né. Para tirar as sobras.
P: Ok. E como você se sente hoje?
S: Eu me sinto bem feliz, né. Mais do que antes. Porque era uma dificuldade muito
grande para emagrecer, só com cirurgia mesmo, né.
P: Muito Obrigada pela entrevista.
S: Nada.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo