3 Entende-se por política de clientela a relação que se estabelece entre o represen-
tante do Estado (patrono) e o cidadão (cliente), na qual o serviço ou produto
que está no centro dessa relação é tomado como algo privado do primeiro, que
só o fornece ao segundo quando este se compromete a aderir a determinado
comportamento, normalmente reforçador da relação de clientela (cf. Mastro-
paolo, "Clientelismo", in Bobbio etal., 1986, p. 177-9). Outro termo, não equi-
valente mas que talvez traduza melhor essa relação, é patrimonialismo.
4 È interessante como aqui parece permanecer a "política dos coronéis" própria do
país rural que já não é o caso do Brasil. Analisando essa face da organização da
burocracia ministerial, lembramo-nos da pesquisa de Victor Nunes Leal, que,
embora tratasse dos compromissos eleitorais no Brasil, não se restringe a ela, pois
a prática de troca de favores parece ter extrapolado os limites da representação.
Ele informava, escrevendo na década de 1940: "A influência do chefe local nas
nomeações atinge os próprios cargos federais, como coletor, agente do correio,
inspetor de ensino secundário e comercial etc, e os cargos das autarquias (cujos
quadros de pessoal têm sido muito ampliados), porque também é praxe do gover-
no da União, em sua política de compromisso com a situação estadual, aceitar indi-
cações e pedidos dos chefes políticos locais...". E ainda: "A lista de favores não se
esgota com os de ordem pessoal. È sabido que os serviços públicos do interior são
deficientíssimos ... Sem o auxílio do Estado, dificilmente poderiam empreender
obras mais necessárias como estradas, pontes, escolas..." (Leal, 1986, p.44-5).
ção Física, ou a implementação do Mobral), capazes, entretanto, de
influenciar na construção do consenso necessário à institucionaliza-
ção do regime. Aqui, a militarização se processou a partir de idéias-
força unificadas em torno da construção do "Brasil Potência". Dis-
cursos como os das cartilhas do Projeto Minerva exemplificam isso.
Viu-se, contudo, pela análise das políticas específicas, que os mi-
litares não abandonaram, tanto na Educação quanto nas Comunica-
ções, os critérios econômicos e de apoio político como norteadores
do processo de tomada de decisões. Nesse caso, os militares que as-
sumiram o poder e/ou postos de decisão no período analisado refor-
çaram velhas práticas sob novos disfarces.
As velhas práticas talvez sobressaiam porque ambos os setores se
prestavam à política de clientela,
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isto é, os principais recursos que
detêm o MEC e o Minicom não são, na verdade, os financeiros, mas
os humanos e ideológicos, e até certo ponto econômicos. No caso
dos recursos humanos, não há lugarejo no país que não deva contar
com uma escola ou um posto telefônico.
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Em relação às Comunica-