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Quando assumimos o Sindicato em 1988, nós ocupamos o Sindicato. Tinha 90 sócios [...]
Foi uma sorte que nós demos de ver aquele artigo 8º da constituição
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e a gente não tinha
conhecimento de nada. Então, tinha um companheiro nosso que viu e disse que o Pizarro tá
irregular lá. Vamos ocupar o Sindicato [...] Aí, quando foi 30 de outubro, 30 de novembro,
nós retomamos o Sindicato, nós invadimos o Sindicato. Quem tava fora não entrava, quem
tava dentro não saía [...] Eu queria mudar o Sindicato [...] Aí, eu e um grupo de 180
companheiros reunidos ocupamos e ficamos aqui dentro e expulsamos ele (Pizarro) até
nunca mais aparecer (Entrevista ao autor. Jun. 2004).
Pizarro não reagiu à ocupação e nunca mais voltou ao Sindicato. Em relação ao ano de
1965, sua gestão aumentou em 500 o número de sócios (Freitas, 1993). Todavia, apesar das
estratégias utilizadas por ele para atrair os trabalhadores (agência de empregos, bolsas de estudos e
cursos de corte e costura e datilografia para filhos e filhas de operários, respectivamente e, por fim,
sorteio de mantimentos nas assembléias) o número de sócios permaneceu baixo.
De acordo com o próprio Pizarro, enquanto seus opositores preparavam sua deposição,
informação essa que já era de seu conhecimento, ele fazia compras para seus familiares. Enfim,
parece que já antevia que sua administração não mais continuaria.
Em 1987 [...] houve a invasão lá. Eles tomaram o Sindicato à força. [...] Muita gente acha
que foi a CUT. A CUT entrou naquilo, o pessoal da CUT entrou naquilo através da
convergência socialista, mas eles foram de carona com o MR-8.
O Pessoal do PT sempre quis me tirar de lá, sempre fizeram oposição a mim [...].
Eu saí do Sindicato para ir [...] comprar... presente para um ... Alguém da minha família.
Então, eu fui lá no BH Shopping. E estava havendo uma movimentação e eu já tinha sido
informado por alguns operários que eles iam tentar invadir o Sindicato. [...] Aí, eu... Ainda
recomendei o pessoal que trabalhava no Sindicato, eu falei para eles: [...] “Eles vão tentar
invadir o Sindicato. Agora, não deixa eles entrar. Se vier sócios do Sindicato, entra, se vier
gente do MR-8... [...] Se chegar essa gente, vocês não deixam entrar não. Pode chamar a
polícia, porque invadir eles não vão não. [...] Mas a minha própria segurança abriu o portão
para eles. [...] Não era segurança, era funcionário lá que estava traindo [...] Não sei se foi
por medo ou por traição mesmo. [Por] alguma razão, abriram o portão, deixaram eles
entrar. Eu não estava lá [...]
Quando eu passei ali na Praça Vaz de Melo, eu vi uma movimentação estranha. Aí, quando
eu cheguei lá no BH Shopping, de lá eu telefonei para o Sindicato. Falei: “Escuta, como é
que está a situação aí, que eu vi uma... movimentação estranha na praça Vaz de Melo. Se
for preciso, eu volto praí agora”. Aí o... Uma funcionária atendeu, falou: “Ah não. Está
havendo mesmo, mas acho que não tem perigo não. Você telefona mais tarde. Fiquei lá,
fazendo umas compras. Aí, quando telefonei mais tarde, ela já estava apavorada, já tinha
invadido (Francisco Pizarro. Apud. Freitas, 1993, p. 86-7).
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O artigo a que se refere o entrevistado integra a Constituição brasileira promulgada em 1988 e veda ao poder público
a interferência e a intervenção nas organizações sindicais.