115
atenção para um determinado ponto. O último foi o ex-ministro José Dirceu. Pode-se notar que quando chegou o final do
problema do José Dirceu, começou-se a levantar problemas contra o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Parecia que,
se continuasse alguma coisa mais aguda, o foco ficaria totalmente direcionado para o ministro Palocci. Parece que se
procura evitar de qualquer maneira, custe o que custar, a qualquer preço, que a crise focalize o presidente da República.
P - O senhor disse que a OAB entrou com o pedido de impeachment do ex-presidente Collor. Dá para fazer uma
comparação entre aquela situação e a de hoje?
R - Para mim, a situação de hoje é muito mais grave que a de Collor. Da parte jurídica, a crise que nós atravessamos é a
pior crise moral e ética que o país já passou até hoje. Aquela do Collor é coisa de escoteiro perto do que fizeram agora.
Porém, o figurino dos dois presidentes é muito diferente. Enquanto Collor já assumiu o governo sob uma grande
contestação em relação à sua figura, o presidente Lula tinha todo um passado ético, uma bandeira de moralidade
defendida pelo seu próprio partido. São 25 anos de vida pública, várias campanhas para presidente. Representava um
renascer do país, uma clara disposição de que o eleitor brasileiro afastava a elite política e colocava um operário na
Presidência da República. Portanto, a “gordura” dele como líder carismático era muito grande, muito maior do que o
Collor. Isto acabou por segurar um tanto quanto a sua figura, preservando-a. Mas hoje nós vemos um presidente
totalmente enfraquecido moralmente, eticamente e como administrador. Ele está totalmente aniquilado. O que falta talvez
seja exatamente um ponto mais agudo, direto sobre o presidente da República, para justificar um pedido de impeachment.
P - Este ponto chegaria se aumentasse o envolvimento do ministro Antonio Palocci?
R - Não. Acho que foram levantados todos esses problemas com o ministro, que não são de hoje - a grande maioria é de
quando ele estava na Prefeitura de Ribeirão Preto. São assuntos recorrentes. Por exemplo, aquele problema de licitação,
o famoso caso da ervilha com tomate. Isto já vinha havia muito tempo. Por que se levanta tudo isso agora? Talvez até
mesmo por parte dos grupos de sustentação do presidente, para criar um novo foco.
P - O senhor avalia que a CPI dos Correios está num bom ritmo de trabalho ou está lenta?
R - Evidentemente que as CPIs estão num ritmo lento. Mas eu justifico principalmente a dos Correios, pela amplitude da
corrupção que ela encontrou. Se ficasse apenas em um ponto isolado, tenho certeza que já teria chegado ao final. Mas a
CPI dos Correios abarcou uma série de pontos de corrupção e não ficou apenas nos Correios. Nós fomos para o Banco
do Brasil, estamos agora discutindo os fundos de pensão. A denúncia que originou a CPI dos Correios apontou, por
exemplo, além desta instituição, a Petrobrás, que até agora não foi investigada em nada. Tem a parte do Instituto de
Resseguros do Brasil (IRB), do Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit) e tantos outros órgãos
que foram denunciados pelo deputado cassado Roberto Jefferson (PTB). A gama de corrupção pela qual esse país acabou
passando por ocasião do governo Lula é que transformou esta CPI numa coisa muito complexa e num ritmo menos
acelerado do que seria desejável.
P - O senhor espera que outras investigações por parte do Ministério Público e da Polícia Federal também possam punir
os responsáveis?
R - Não tenha dúvida. Pelo que já está apurado - isso a Ordem já detectou -, delitos existem às escâncaras. Delituosos
existem às centenas. Evidentemente que o Ministério Público e a Justiça terão um longo trabalho, pois, além do crime
político, há que se afastar o delito penal e tributário e apenar essa verdadeira quadrilha que causou um grande rombo,
tanto financeiro quanto moral na imagem do Brasil, principalmente junto ao mercado internacional.
P - O senhor quer dizer “cadeia neles”?
R - A coisa vai terminar por aí. Vai terminar em processos criminais e eu tenho absoluta certeza que algumas pessoas
deverão ser recolhidas, a bem do patrimônio público e a bem da moralidade pública.
P - O senhor acredita que vão ocorrer mais cassações?
R - Acredito que sim. Mas essas cassações terão atingido um mínimo. O Congresso vai se retraindo, talvez entendendo
que entregando a cabeça dos dois maiores personagens desta cena terrível demonstrada pelos políticos estaria resolvido
o problema: Roberto Jefferson e José Dirceu. Mas é evidente que vai cassar mais alguns. E isso será o mínimo da faxina