Download PDF
ads:
0
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Instituto de Biociências
Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular
Filogeografia Comparada e História Evolutiva da
Planície Costeira Sul e Sudeste do Brasil
Fernanda Britto da Silva
Tese submetida ao Programa de Pós-Graduação
em Genética e Biologia Molecular da UFRGS
como requisito parcial para a obtenção do grau
de Doutor em Ciências.
Orientador: Prof. Dr. Thales Renato Ochotorena de Freitas
Co-orientador: Prof. Dr. Sandro Luis Bonatto
Porto Alegre
Novembro de 2007
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Instituto de Biociências
Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular
Filogeografia Comparada e História Evolutiva da
Planície Costeira Sul e Sudeste do Brasil
Fernanda Britto da Silva
Tese submetida ao Programa de Pós-Graduação
em Genética e Biologia Molecular da UFRGS
como requisito parcial para a obtenção do grau
de Doutor em Ciências.
Orientador: Prof. Dr. Thales Renato Ochotorena de Freitas
Co-orientador: Prof. Dr. Sandro Luis Bonatto
Porto Alegre
Novembro de 2007
ads:
2
Este trabalho foi realizado nas instalações do Centro de Biologia Genômica e
Molecular da Faculdade de Biociências da Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (PUCRS) e foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Cientifico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
do Rio Grande do Sul (Fapergs).
3
Para o meu marido Marcelo.
4
AGRADECIMENTOS
À minha família.
Ao Sandro, pela orientação e pelo projeto, e por ser sempre um grande motivador.
Ao Thales pela orientação e principalmente por me aceitar em 2003 para que eu
pudesse concorrer à seleção de doutorado no Departamento de Genética.
Ao Maximiliano Cledón pelas amostras de Donax hanleyanus e Mesodesma
mactroides da Argentina.
Ao Felipe Grazziotin pela fundamental e prestativa ajuda nas análises e por discutir
comigo muitos pontos desta tese.
À Cladinara Sarturi por toda ajuda ilimitada, mas principalmente por encorajar-me
nos seqüenciamentos de placa, e pela grande amizade.
À Taiz Simão pela ajuda nas coletas e principalmente na bancada, durante o último
ano.
À Larissa de Oliveira pela grande amizade e força (desculpa te incomodar tanto).
À Jaqueline Battilana pela ajuda em alguns PCRs que não funcionavam de jeito
nenhum!
Pela amizade e tão longa convivência dos demais Genômicos, em especial à
Roberta Graboski, Josiane Bandinelli, Helena Mata, Ana Lúcia Cypriano, Anelise Torres
Hahn, Paulo Prates Júnior, Paulo Chaves e Nelson Fagundes, e às ex-genômicas Fernanda
Vianna, Ana Maria Liedke, Fabiana Yanaka, Nadiesca Miotto e Karla Yotoko.
5
Aos meus amigos malacólogos, Professor Thomé, Rina Ramiréz, Suzete Gomes,
Guacira Maria Gil e Paulo Bergonci pelas discussões e grande ajuda.
Ao Prof. Dr. Francisco Sekiguchi Buchmann e ao Prof. Dr. Jorge Alberto Villwock
pela ajuda nos assuntos geológicos e oceanográficos.
Ao Prof. Dr. Nelson Ferreira Fontoura da PUCRS pela ajuda nos assuntos
ecológicos e de coleta.
Ao Elmo Cardoso e à Ellen Mezzeck pela ajuda e compreensão em qualquer
momento, principalmente nos problemáticos, e à secretária do Thales, Lúcia Andréia de
Oliveira.
Ao Professor e amigo Jomar Pereira Laurino pelo entusiasmo científico e pelos
grandes incentivos.
Às bibliotecárias do Serviço de Comutação da Biblioteca da PUCRS, Rosana
Chagas e Ana Cristina.
Ao Professor Dr. Luiz Glock, o qual, apesar de não ter relação com esta tese, foi um
diferencial durante minha iniciação científica, tendo sido conseqüentemente fundamental
para minha Pós Graduação.
Ao Programa de Pós Graduação em Genética e Biologia Molecular da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul e ao CNPq pela bolsa e taxas de bancada, fundamental para
as coletas.
6
SUMÁRIO
Resumo ....................................................................................................................... 08
Abstract ...................................................................................................................... 11
1. INTRODUÇÃO GERAL ...................................................................................... 14
1.1 Filogeografia em Ambientes Marinhos Costeiros .................................... 14
1.2 Filogeografia Comparada ......................................................................... 20
1.3 Ambientes costeiros do sudeste e sul do Brasil, do Uruguai e da
Argentina ................................................................................................... 21
1.4 A fauna de praia do sudeste e sul do Brasil .............................................. 25
2. OBJETIVOS .......................................................................................................... 28
3. MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................... 29
3.1 Amostragem .............................................................................................. 29
3.2 Extração de DNA ...................................................................................... 34
3.3 Amplificação e Sequenciamento ............................................................... 34
3.4 Análise dos Dados ..................................................................................... 35
4. RESULTADOS ...................................................................................................... 40
4.1 Diversidade nas seqüências do gene COI ................................................. 40
4.2 Detecção de Barreiras Biogeográficas ....................................................... 46
4.3 Redes de Haplótipos do gene COI ............................................................ 48
4.4 Índices de Fixação Фst e Fst e Análise da Variação Molecular
(AMOVA) .................................................................................................. 53
4.5 Expansão e Tamanho Populacional ............................................................ 64
4.6 Tamanho Efetivo e Taxas de Crescimento Populacionais ......................... 72
4.7 Diversidade Genética vs. Geográfica ......................................................... 73
7
5. DISCUSSÃO ........................................................................................................... 76
5.1 Diversidade Genética e História Demográfica ........................................... 76
5.2 Coalescência, Expansão Populacional e as Glaciações .............................. 77
5.3 Estruturação Populacional .......................................................................... 85
5.4 Saídas de Água Doce no Mar como Barreiras Biogeográficas? ................. 88
5.5 Influência das Correntes Marinhas e Ventos Litorâneos ............................ 89
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 92
8
RESUMO
O ambiente costeiro e marinho se caracteriza pela falta de barreiras físicas
aparentes, além de ser rico em espécies que possuem fase de desenvolvimento larval livre
natante. Devido a esta fase de desenvolvimento larval, as espécies marinhas geralmente
apresentam alta capacidade dispersiva, proporcionando alto fluxo gênico e
conseqüentemente baixa estruturação populacional. Por outro lado, algumas espécies têm
apresentado padrões filogeográficos que não são compatíveis com este cenário clássico.
Assim, fatores como tempo de duração da fase larval, predação da larva e o
hidrodinamismo da dispersão podem interferir de maneira significativa na dispersão das
espécies. Além disso, fatores ambientais históricos, tais como as grandes mudanças
climáticas do Pleistoceno também influenciam os padrões de diversidade genética das
espécies. Neste sentido, estudos comparativos são importantes ferramentas para o
entendimento dos diferentes processos que deram origem a atual diversidade. Porém,
poucos estudos filogeográficos comparativos foram realizados em espécies marinhas
costeiras, em especial nenhum para a costa atlântica da América do Sul.
Neste estudo comparamos os padrões de diversidade genética de quatro espécies
abundantes de invertebrados que ocorrem ao longo da costa sul-sudeste do Brasil, Uruguai
e Argentina, com o objetivo de entender a história evolutiva destas espécies e o que elas
podem contar sobre a história desta região geográfica. Sequenciamos parte do gene
mitocondrial Citocromo Oxidase I do moçambique Donax hanleyanus (n=247), do marisco
branco Mesodesma mactroides (n=59), da tatuíra Emerita brasiliensis (n=191) e do
caranguejo maria-farinha Ocypode quadrata (n= 135). Análises filogeográficas e
9
populacionais foram utilizadas a fim de elucidar e comparar os padrões evolutivos para
estas espécies de invertebrados costeiros.
Nossos dados revelaram um padrão de variabilidade genética muito baixa para
todas as espécies, apesar de apresentarem ampla distribuição geográfica e populações
censitárias gigantescas, demonstrando a grande influência das flutuações populacionais
históricas na formação da variabilidade genética atual.
Entretanto apenas E. brasiliensis apresentou uma maior variabilidade ao norte da
sua distribuição o que é compatível com expansão populacional recente a partir de algum
refúgio de baixa latitude, neste caso, ao norte. Além disto, foi a única espécie a apresentar
indicação de isolamento por distância.
As histórias demográficas destas espécies, apesar de apresentarem algumas
diferenças, parecem estar intimamente ligadas às flutuações de temperatura durante o
último grande ciclo glacial, pois três delas apresentaram TMRCA dentro dos 100 mil
últimos anos, com exceção de O. quadrata, que apresentou TMRCA cerca de 500 mil
anos atrás. Para todas as espécies constatamos a ocorrência de um longo período de
estabilidade demográfica (população reduzida) com expansão populacional mais recente,
com exceção de M. mactroides, que apresentou TMRCA e expansão populacional
praticamente simultânea.
Emerita brasiliensis foi a espécie com a história demográfica mais recente,
apresentando expansão populacional após o último máximo glacial (21 mil anos atrás), e
coalescência há cerca de 60 mil anos. As demais espécies apresentaram expansão
populacional entre 70 e 100 mil anos, entretanto não podemos descartar a hipótese de
expansão simultânea para estas três espécies, que os intervalos de confiança destas
análises se sobrepõem, o que sugere a forte influência de um fator ambiental comum.
10
Ocypode quadrata, além de ter apresentado a história demográfica mais antiga, apresentou
a maior diversidade genética, sendo também a espécie com a maior distribuição geográfica,
tendo distribuição pancontinental, o que sugere ser a espécie mais resistente às mudanças
ambientais. As espécies D. hanleyanus e O. quadrata, apresentaram baixa estruturação
filogeográfica, o que sugere não haver barreiras biogeográficas efetivas para elas, e
corrobora a hipótese de que larvas livres natantes são fator importante para o fluxo gênico
elevado. Por outro lado sugerem uma estruturação populacional para M. mactroides (com
uma possível barreira biogeográfica no sul de SP) e E. brasiliensis (barreira em
Copacabana, RJ).
De maneira geral estes dados reforçam a idéia de que a capacidade dispersiva
larval não é suficiente para predizer fluxo gênico e estruturação populacional em
populações marinhas costeiras, mas sim uma combinação de fatores ecológicos intrínsecos
de cada espécie, assim como os fatores geológicos históricos, como os ocorridos no
Pleistoceno.
11
ABSTRACT
Coastal and marine environments are usually characterized by lack of evident
physical barriers and having many species that show a free-swimming larval stage. Due to
this larval stage, marine species commonly show high dispersion rates resulting in high
gene flow and low geographical structure. Some species however present
phylogeographical patterns that differ from this standard scenario. Factors such as duration
of the larval phase, its predation level, and the hydrodinamism of the dispersion can
significantly impact species dispersion. Moreover, historical environmental factors, such as
the great climatic changes in the Pleistocene are also important elements to shape pattern
of genetic diversity of the species. In this sense, comparative analyses are important tools
for understanding the different processes that gave rise to the current diversity.
Unfortunately, few comparative phylogeographical studies were carried out in sea coastal
species, in special none for the Atlantic coast of the South America.
In this study we compare the patterns of genetic diversity of four abundant
invertebrate species that occur along the beaches of the Brazilian south and southeastern
coast, Uruguay and Argentina, to better understand their evolutionary histories as well as
what they could tell about the history of this geographical region. For this aim we partially
sequenced the mitochondrial Cytochrome Oxidase I gene of the moçambique Donax
hanleyanus (n=247), yellow clam Mesodesma mactroides (n=59), mole crab Emerita
brasiliensis (n=191) and of the ghost crab Ocypode quadrata (n = 135) and analyzed them
using several phylogeographical and populational genetic methods.
Our results revealed a pattern of very low genetic diversity for all four species, in
spite of their large geographical distribution and the huge population size, evidencing the
great influence of the population historical fluctuations in the current genetic variability.
12
Only E. brasiliensis showed a relatively higher variability to the north of its distribution
what is compatible with a recent populational expansion from a refugium in low latitudes.
Besides it was the only species that presented evidence for isolation by distance.
The demographic histories of these species, in spite of presenting some differences,
seems to be closely connected with the climatic fluctuations during the last glacial cycle,
since three of them presented TMRCAs in the last 100 kyr ago, with the exception of O.
quadrata, which presented TMRCA about 500 kyr ago. All species presented a long period
of demographic stability with relatively reduced population followed by a more recent
population expansion. The exception to this picture is M. mactroides, which presented
TMRCA and population expansion nearly simultaneous.
Emerita brasiliensis depicted the most recent demographic history, presenting a
strong population expansion after the last glacial maximum (21 kyr ago), with TMRCA
around 60 kyr ago. The other species presented population expansions between around 70
and 100 kyr ago, however we can not to reject the hypothesis of a simultaneous expansion
for these three species, since to the confidence intervals of these analyses overlapped,
which would indicate a strong influence of a common environmental feature. Ocypode
quadrata presented the most ancient demographic history, the highest genetic diversity,
and the largest geographical distribution (it is a pancontinental species). This may indicate
that it could the most tolerant to the environmental changes.
D. hanleyanus and O. quadrata presented low phylogeographical structure, which
can mean the existence of no effective biogeographical barriers to these species,
corroborating the hypothesis that a free-swimming larval stage is an important factor for an
elevated gene flow. On the other hand, our results suggest a reasonable population
13
structure for M. mactroides (with a possible biogeographical barrier in the south of São
Paulo) and E. brasiliensis (barrier around Copacabana, Rio de Janeiro),
In conclusion, our results support the proposal that the existence of a free-
swimming larval stage is not sufficient to predict high gene flow and population structure
in sea coastal species, being this pattern likely a combination of intrinsic ecological factors
of each species, as well as biogeographical historical factors.
14
1. INTRODUÇÃO GERAL
1.1 Filogeografia em Ambientes Marinhos Costeiros
No ambiente costeiro marinho, as barreiras ao fluxo gênico são difíceis de
caracterizar e raramente são absolutas. Esta falta de barreiras físicas aparentes no mar e o
fato de que as larvas de muitos grupos marinhos têm uma fase larval livre natante prediz
altas taxas de dispersão (Imron et al., 2007). Neste caso a alta conectividade faz com que
as populações sofram processos genéticos evolutivos interdependentes, inibindo a
divergência populacional (Luttikhuizen et al., 2003). Entretanto, a dispersão larval pode
ser afetada por barreiras físicas que impeçam seu transporte e sobrevivência (Lazoski et
al., 2001). Características marinhas, assim como barreiras biogeográficas, padrões da costa
ou circulação estuarina, são alguns dos fatores que podem limitar o fluxo gênico (Wares et
al., 2001; Bilton et al., 2002), além das característica biológicas de cada espécie, como
preferência de habitat (Dawson et al., 2002).
evidências de que a circulação oceânica não explica totalmente os padrões
estruturais genéticos encontrados entre populações marinhas contemporâneas, porém o
papel de barreiras interferindo na dinâmica evolutiva dos organismos em ambientes
marinhos permanece pouco compreendido, devido às poucas análises comparativas em
ambientes costeiros (Perrin et al., 2004).
Espécies marinhas geralmente possuem grande tamanho populacional (Chambers et
al., 2006), entretanto, qualquer evento oceanográfico que interfira na sobrevivência larval
pode afetar o recrutamento da espécie (Hedgecock, 1986). Além disso, o mecanismo de
reprodução das espécies marinhas torna seu sucesso reprodutivo extremamente variável e
15
dependente dos fatores físicos e químicos oceanográficos (Planes e Lenfant, 2002). Em
geral essa alta variância no sucesso reprodutivo ocorre porque as espécies não conseguem
conciliar sua alta fecundidade com as condições oceanográficas para permitir sua
maturação, fertilização, desenvolvimento larval e recrutamento. Assim, apenas uma
pequena proporção de adultos contribui para a manutenção de uma população marinha
(Chambers et al., 2006). Sendo assim, poucos membros de cada população acabam
contribuindo para a próxima geração (Li and Hedgecock, 1998), o que leva a um maior
fluxo gênico dentro das populações e principalmente diminui o tamanho populacional
efetivo em relação ao tamanho populacional censitário (Hedgecock, 1986). Deste modo,
esta alta variância no sucesso reprodutivo acelera os processos de redução e até mesmo de
extinção populacional, acelerando processos de coalescência porque, apesar destas
espécies possuírem grandes populações, a sobrevivência das linhagens se torna restrita a
poucos indivíduos por geração (Avise, 2000)
Um dos modelos filogeográficos de Avise et al., (1987) para relações
intraespecíficas sugere que espécies com alta capacidade de dispersão em alguma fase de
sua vida geralmente não apresentam estruturação populacional profunda. Neste sentido, a
diferenciação genética em muitas espécies marinhas deve ser influenciada pela sua
capacidade dispersiva larval (Santos et al., 2006) e, com base no pressuposto citado acima,
esperaríamos baixo nível de estruturação populacional para estes organismos. A grande
maioria das espécies marinhas possui pelo menos um ciclo de vida com alto potencial
dispersivo (estágio larval), período em que estariam sujeitas ao transporte através das
correntes marinhas por períodos de tempo que podem variar de semanas a meses, podendo
ser levadas a longas distâncias. Além disso, em geral, espécies com grande capacidade
16
dispersiva possuem grande tamanho populacional e vasta distribuição geográfica além do
alto fluxo gênico (Palumbi, 1992, Imron et al., 2007).
Entretanto, alguns trabalhos têm demonstrado que a alta capacidade dispersiva
inferida para algumas espécies pode estar sendo superestimada por não levar em
consideração fatores como a predação e o comportamento larval, e a hidrodinâmica da
dispersão (Cowen et al., 2000; Lazoski et al., 2001). Além disso, a constatação da
existência de novas espécies nestes ambientes, as quais ainda não haviam sido
reconhecidas através do uso de um pequeno número de caracteres taxonômicos e pela
superestimativa de sua capacidade de dispersão larval (Lazoski et al., 2001).
Por outro lado, em espécies com características ecológicas que podem restringir sua
dispersão, tais como ciclo de vida com fase larval muito curta ou preferência de habitat,
esperar-se-ia um menor nível de fluxo gênico e conseqüentemente algum grau de
estruturação populacional (Imron et al., 2007), como acontece com o crustáceo Tigriopus
californicus (Burton e Lee, 1994) e o peixe Embiotoca jacksoni (Bernardi, 2000) na costa
da Califórnia.
Encontram-se na literatura espécies marinhas que mostram uma alta estruturação
populacional, como o molusco gastrópodo Scutus antipodes na Austrália, cuja estruturação
foi atribuída, ou à presença de uma barreira paleogeográfica formada durante eventos de
transgressão marinha, ou à diferença atual de temperatura (Waters et al., 2007). Outros
exemplos são o molusco bivalvo Deminucula atacellana, uma espécie pan-Atlântica
(Zardus et al., 2006), os crustáceos Mysis relicta e Limnocalanus macrurus na América do
Norte (Dooh et al., 2006), entre outros (Dawson, 2001; Barber et al., 2002; Satoh et al.,
2004; Bilodeau et al., 2005; Cardoso e Vogler, 2005; Etter et al., 2005; Lourie et al., 2005;
Audzijonyte e Väinölä, 2006).
17
Mas também encontramos espécies com baixa ou nenhuma estruturação
populacional (Palumbi, 1992; Ignacio et al., 2000; Rocha et al., 2002; Maggioni et al.,
2003; Uthicke e Benzie, 2003; Richards et al., 2007; Imron et al., 2007), mesmo as
espécies tendo semelhanças em termos de dispersão, que são todas espécies marinhas
apresentando dispersão larval durante seu desenvolvimento. Estas espécies que não
possuem estrutura filogeográfica corroboram a hipótese de que organismos com grande
capacidade de dispersão, com freqüência, resultam em grande fluxo gênico e pouca
estruturação populacional.
Vale ressaltar ainda que a simples distância entre diferentes regiões não é
pressuposto para potencial dispersivo, pois se sabe, por exemplo, que em cerca de 2000 km
do mar da Tasmânia, entre a Nova Zelândia e a Austrália, os gastrópodos Austrolittorina
antipodum e Scutus breviculus com conhecida alta capacidade larval dispersiva,
atualmente apresentam alta divergência genética. Por outro lado, outras espécies, um
crustáceo, Chamaesipho sp e um gastrópodo, Dicathais sp, apresentaram sinal de dispersão
recente entre as duas regiões (Waters et al., 2007). Na costa brasileira, cerca de 2700 km
foram suficientes para diferenciar esponjas do gênero Chondrilla apresentando alta
estruturação populacional (Klautau et al., 1999). Por outro lado, em uma distância de
aproximadamente 8600 km entre Bermudas e Brasil, esta mesma esponja apresentou-se
extremamente similar na análise eletroforética de alozimas (Lazoski et al., 2001).
Estudos filogeográficos com uma espécie ou comparativos são muito abundantes no
hemisfério norte, tornando estas regiões muito bem documentadas e conhecidas. A costa da
Califórnia, por exemplo, possui grandes barreiras físicas que inibem o fluxo gênico entre
certas espécies e que poderiam causar estruturação populacional. Entretanto Dawson et al.,
(2002) encontraram diferentes padrões filogeográficos para espécies de peixes
18
(Clevelandia ios e Eucyclogobius newberryi) ocorrentes em simpatria nesta região. Por um
lado, encontraram inexistência de estruturação genética para C. ios, refletindo um alto
fluxo gênico histórico e provavelmente atual entre as populações. Em contraste, um nível
consideravelmente alto de variação genética populacional e regional foi detectado em E.
newberryi, refletindo um fluxo gênico histórico baixo. Presume-se que esses resultados
reflitam a maior capacidade de dispersão encontrada para C. ios em relação à E. newberryi,
que praticamente não sofre dispersão devido a características ecológicas, como preferência
de habitat.
Os recentes períodos glaciais (Pleistoceno) tiveram interferência na arquitetura
genética e nos padrões filogeográficos de diversas espécies em várias partes do mundo,
principalmente onde os efeitos foram mais severos, como por exemplo, na América do
Norte (Guralnick, 2006) e Europa (Pfenninger et al., 2003; Trewick et al., 2003), tendo
sido atribuído à falta de diversidade genética em duas espécies de crustáceos do Atlântico
Norte, as variações de temperatura e perda de habitat durante o último máximo glacial
(Bucklin e Wiebe, 1998).
Entretanto, no Hemisfério Sul, em países onde o clima se assemelha ao do Brasil, e
onde os efeitos das glaciações foram menos intensos, também existe sugestões da
interferência destes períodos glaciais na história evolutiva dos organismos de diferentes
habitats. Por exemplo, o molusco Potamopyrgus antipodarum na Nova Zelândia, apresenta
um padrão filogeográfico de diferenciação populacional norte vs. sul, tendo provavelmente
se isolado em refúgios pleistocênicos ao norte e ao sul, durante eventos glaciais (Neiman e
Lively, 2004). na Austrália a estrela-do-mar Coscinasterias muricata apresenta-se
geograficamente estruturada em um clado norte e um sul, e mais ainda, no grupo do norte
uma subdivisão geográfica leste e oeste. Todas essas diferenças foram atribuídas a
19
eventos de isolamento populacional causadas no Plioceno e no Pleistoceno (Waters e Roy,
2003).
Atribuiu-se a essas mudanças climáticas, também, os padrões filogeográficos
encontrados para o molusco bivalvo Macoma balthica, o qual se apresenta com grande
diferenciação genética nas populações européias e uma distribuição espacial disjunta com
alta divergência mitocondrial, e em Mytilus edulis ocorrente no mar Báltico e costa oeste
do Pacífico e do Canadá, o qual apresenta o mesmo padrão de divergência (Luttikhuizen et
al., 2003). Padrões populacionais semelhantes também foram encontrados no sudeste da
Ásia inferindo-se que a capacidade dispersiva de quatro espécies de cavalos marinhos
pertencentes ao gênero Hippocampus, tenha sido limitada por eventos de glaciações do
Pleistoceno, apresentando-se hoje altamente estruturadas geneticamente (Lourie et al.,
2005).
Além dos eventos geológicos e climáticos qualquer fenômeno que afete
drasticamente o ambiente marinho, assim como canais de descarga de água doce e a foz de
rios, mudam a salinidade, temperatura e gradiente de nutrientes, sendo barreiras
hidrodinâmicas e impedindo a formação do sedimento e modificando sua textura,
dificultando, ou até mesmo impedindo, a fixação de larvas ao substrato (Defeo e de Alava,
1995; Defeo, 1996).
As correntes marinhas e os ventos costeiros também são fatores que podem
interferir diretamente na distribuição das espécies por promoverem a dispersão larval. Na
costa brasileira, a ocorrência de correntes frias e quentes parece ser um fator importante na
estruturação genética do peixe Macrodon ancylodon o qual possui fase de
desenvolvimento larval. Através da análise de genes mitocondriais (Santos et al., 2003;
Santos et al., 2006), a espécie apresentou-se dividida em um grupo tropical, contendo
20
espécimes viventes em regiões influenciadas por águas quentes, e um grupo subtropical,
com indivíduos de ambiente atingido por águas frias, provenientes das correntes do Brasil
e das Malvinas.
1.2 Filogeografia Comparada
Os estudos genealógicos têm utilizado as explicações geográficas históricas para
interpretar as relações evolutivas entre os táxons e também para examinar a colonização e
dispersão entre as populações dentro de um contexto filogeográfico (Stevens e Hogg,
2003).
A filogeografia comparada tem o potencial de incorporar a informação dos
componentes históricos e geográficos entre e dentro das espécies, assim tornando mais
detalhado o entendimento dos padrões de variação em grupos codistribuídos (Hoffman e
Baker, 2003). Comparar esses padrões filogeográficos intraespecíficos (Avise et al., 1987)
a partir de espécies codistribuídas promove a identificação de áreas geográficas onde uma
comunidade inteira possa ter sofrido processos evolutivos dependentes ou não, de acordo
com os processos históricos que tenham ocorrido. Nesta abordagem comparativa, quando
os padrões evolutivos encontrados são concordantes entre as diferentes espécies, revelam a
história biogeográfica da região, sendo possível encontrar padrões de diversidade genética
para esta área geográfica, além de registrar os eventos evolutivos, como processos de
vicariância, dispersão e a presença de barreiras biogeográficas (Avise et al., 1987; Moritz e
Faith, 1998).
Infelizmente, devido à natureza multidisciplinar e seu grande porte, poucos estudos
deste tipo foram realizados. Os mais conhecidos são os realizados no sudeste da
21
América do Norte (Avise, 2000) e aqueles realizados em uma floresta tropical na Austrália
(Hugall et al., 2002). Além disso, diversos estudos, embora realizados geralmente de modo
independente, com diversos organismos na Europa e na América do Norte, têm permitido
uma compreensão sem precedentes sobre a influência das glaciações mais recentes na
distribuição e diversidade da biota destas regiões (Hewitt, 2001; Lourie et al., 2005;
Guralnick, 2006; Pfenninger et al., 2003; Trewick et al., 2003).
Por exemplo, padrões filogeográficos comparativos apresentados para populações
codistribuídas de diferentes grupos de peixes em rios na costa sudeste dos Estados Unidos,
mostram uma clara divisão de unidades filogeográficas nas populações do leste (costa do
Atlântico) e do oeste (costa do Golfo). Essas subdivisões filogeográficas são consistentes
com o cenário biogeográfico histórico que causou uma grande separação por rios de
drenagem, no Pleistoceno ou antes, causando uma separação entre os peixes das duas
regiões (Walker e Avise, 1998).
Na América do Sul e no Brasil nenhum estudo comparativo em áreas costeiras foi
realizado até o momento. Os trabalhos de filogeografia comparada costeira já realizados no
Brasil se restringem basicamente ao estudo de peixes do gênero Acanthurus (Rocha et al.,
2002), entretanto sem amostrar toda a costa brasileira.
1.3 Ambientes costeiros do sudeste e sul do Brasil, do Uruguai e da Argentina
Praias são ambientes costeiros contíguos aos mares, oceanos, estuários, entre outros
e se estendem, perpendicularmente à linha da costa, desde o nível de baixa-mar média, até
a zona de vegetação terrestre permanente, como dunas e falésias. São compostas
basicamente de material mineral inconsolidado, mais comumente areias, podendo ser
22
compostas também por lodo, cascalhos, pedras roladas, seixos, calhaus, conchas de
moluscos, restos de corais e algas calcárias (Lamparelli e Moura, 1999).
A dinâmica costeira condiciona diretamente a construção geomorfológica da linha
da costa. No Brasil as costas sudeste e sul são batidas pelas ondas provenientes de sudeste,
geradas pelos ventos da zona tempestuosa subpolar do Atlântico Sul. No que se refere às
marés, as costas sudeste e sul mostram um regime de micromarés (amplitude < 2 m)
(Villwock, 1994).
A zona costeira do Brasil tropical atlântico estende-se por 1.500 km, do Cabo Frio
até o Cabo de Santa Marta, sendo o macrossetor litorâneo mais diversificado, recortado e
acidentado de todo o País. Esta zona é marcada pela Serra do Mar, um conjunto de terras
altas constituídas pelo embasamento cristalino granito-gnáissico, cujas escarpas chegam
até o mar constituindo promontórios rochosos, ornamentados por costões, que se alternam
com reentrâncias, quase sempre tectonicamente controladas. Nelas, associadas ou não à
desembocadura dos principais sistemas fluviais que chegam ao oceano, ocorrem pequenas
planícies costeiras compostas por laguna/barreira, simples ou múltiplos, ou por sistemas de
cordões litorâneos regressivos, pleistocênicos e holocênicos, ou somente holocênicos,
parcialmente retrabalhados pelo vento. Algumas barreiras arenosas isolam áreas lagunares
de pequeno porte onde, quase sempre, se desenvolvem manguezais (Villwock, 1994;
Ab’Sáber, 2001). Nestas praias, os grupos faunísticos dominantes são os anelídeos
poliquetas, moluscos e crustáceos, sendo que a composição de espécies e abundância de
indivíduos variam de acordo com as características ambientais das praias, especialmente
granulometria, hidrodinamismo, salinidade e quantidade de matéria orgânica (Lamparelli e
Moura, 1999).
23
A partir da ponta sul da ilha de Itanhaém (SP), surgem as primeiras baías de
ingressão marinha quaternária típicas do litoral paranaense e norte catarinense. A mais
extraordinária reentrância de água costeira de toda a região é a Baía de Paranaguá-
Antonina, que se inicia na Serra do Mar paranaense, com dois braços principais irregulares
e diversas reentrâncias secundárias em uma região de tectônica complexa.
A costa sul, do Cabo de Santa Marta (SC) até o Arroio Chuí (RS), caracteriza-se
por uma ampla planície costeira com cerca de 700 km de comprimento com configuração
praticamente retilínea, sem reentrâncias e irregularidades maiores, o que lhe confere um
caráter aberto. Constitui o mais marcante habitat litorâneo arenoso do sul do Brasil, onde
um sistema múltiplo e complexo de barreiras arenosas aprisiona um gigantesco sistema
lagunar (Laguna dos Patos e Mirim) e uma série de outros corpos de água isolados e
interligados com o mar por intermédio de canais estreitos e rasos (Villwock, 1994).
Toda esta área de estudo é influenciada pelas correntes marinhas que são chamadas
Corrente das Malvinas, vindas do sul e transportando água subantártica gelada, e Corrente
do Brasil, vinda do norte e transportando água tropical quente. A convergência e a mistura
dessas águas forma a corrente chamada Água Subtropical, também chamada Água Central
do Atlântico Sul, e este fenômeno é denominado Convergência Subtropical, o qual causa
eventos de ressurgência de nutrientes em uma variação sazonal entre as latitudes 18 e 35º
sul (Seeliger et al., 1998). Já foi demonstrado que este fenômeno tem influência sobre a
distribuição de espécies ocorrentes nestas regiões (Guimaraens e Coutinho, 1995;
Maggioni et al., 2003).
No Uruguai a planície costeira é formada por praias arenosas expostas, alternadas
por promontórios rochosos. Estas praias são afetadas principalmente por canais artificiais
de descarga de água doce (Lercari et al., 2002), tais como o Arroio Chuy no norte, e o
24
Canal Andreoni no sul. Estes canais afetam a abundância e distribuição dos organismos,
pois afetam a salinidade, que é um dos principais fatores que controlam a distribuição e
abundância das espécies, e influenciam nos processos fisiológicos dos organismos de praia.
Os moluscos Donax hanleyanus e Mesodesma mactroides, e o crustáceo Emerita
brasiliensis tiveram sua densidade populacional reduzida em um trecho de 22 km entre os
dois pontos de descarga de água doce, provavelmente pela mortalidade das larvas, além de
vários fatores ecológicos afetados (Lercari e Defeo 1999; Lercari et al., 2002).
A costa argentina é uma plataforma larga e rasa coberta por águas subantárticas,
sendo diretamente influenciada pela corrente das Malvinas (Seeliger et al., 1998),
entretanto são modificadas pelos ciclos de temperatura e prevalência de ventos locais
(Lucas et al., 2005). Foi fortemente afetada pelos eventos de transgressão marinha,
especialmente após o Último Máximo Glacial (há cerca de 21 mil anos) (Cavallotto et al.,
2004).
Uma das principais descargas de água doce no mar em nossa área de estudo, é o
Rio da Prata e está localizado ao norte da Argentina no limite com o Uruguai. Com uma
vazão de cerca de 221 km, é uma importante região de estudo das flutuações do nível do
mar durante o Holoceno, devido ao baixo relevo da costa que permitiu que o mar cobrisse
zonas extensivas tendo depositado um grande número de sedimentos em vários ambientes
(Cavallotto et al., 2004). É também uma região ecológica muito dinâmica devido às
mudanças de salinidade locais que interferem na vida das espécies que ali ocorrem (Lucas
et al., 2005).
25
1.4 A fauna de praia do sudeste e sul do Brasil
A fauna da zona de praia do sudeste e sul é caracterizada por organismos habitantes
da areia que, em sua grande maioria, possuem desenvolvimento indireto, ou seja,
apresentam uma fase de desenvolvimento larval, vivendo na coluna d’água (Lamparelli e
Moura, 1999). Os moluscos e os crustáceos marinhos possuem larvas planctônicas, o que
lhes facilita a dispersão (Wells, 1995).
Simplificadamente, para os objetivos deste trabalho, podemos classificar os habitats
litorâneos nas zonas de supralitoral, intermareal e zona de arrebentação, sendo que vários
fatores que agem sobre o ambiente de praia têm sido considerados como afetando
diretamente a distribuição e abundância da fauna em cada uma destas zonas. Dentre estes
fatores incluem-se a ação das ondas, a declividade da praia, umidade da areia e nutrientes
na zona de arrebentação (McLachlan, 1990). Além disto, o número de espécies declina
com o aumento da latitude, refletindo a importância da temperatura no limite de
distribuição dos invertebrados marinhos que vivem nas zonas intermareal e submareal rasa
(Ansell, 1983).
Na zona supralitoral, os organismos mais conspícuos são o caranguejo Ocypode
quadrata Fabricius, 1787 e o anfípode Orchestoidea brasiliensis Dana, 1853. Esta região
da praia é caracterizada pela inundação com água do mar apenas em eventos extremos,
como as marés de tempestades (Seeliger et al., 1998).
Ocypode quadrata (Caranguejo-fantasma ou Maria-farinha) é um crustáceo de
ampla distribuição, ocorrendo desde Rhode Island na América do Norte até o Rio Grande
do Sul, no sul do Brasil (Alberto, 1995). Apesar de principalmente encontrados próximo às
dunas, os jovens podem ocorrer próximos à linha da água (Alberto, 1995; Vinagre et al.,
26
2007). Sua abundância populacional pode variar sazonalmente e de acordo com a praia, e é
estimada através da contagem de tocas - geralmente encontra-se um indivíduo por toca
(Alberto, 1995) - sendo que o número delas pode variar de 0,4 a 5 tocas/m
2
(Neves e
Bemvenuti, 2006). Entretanto, em uma praia no México, por exemplo, a abundância foi
menor, tendo sido encontradas de 0,49 a 1,79 tocas/m
2
(Valero-Pacheco et al., 2007). Nota-
se ainda, uma acentuada diminuição populacional em praias com densa ocupação humana
(Blankensteyn, 2006; Schlacher et al., 2007).
Na zona intermareal, observa-se a maior biomassa e produção de invertebrados
bênticos (Gianuca, 1983, 1985), tendo seus limites de distribuição restritos ao nível da
água do mar e às alterações no perfil da praia (Gianuca 1987, Seeliger et al., 1998). O
crustáceo Emerita brasiliensis Schmitt, 1935 e os bivalvos Mesodesma mactroides
Deshayes, 1854 e Donax hanleyanus Philippi, 1847, são responsáveis por
aproximadamente 95% da biomassa total dos invertebrados desta zona na região estudada
(Castello et al., 1998).
O bivalvo M. mactroides (marisco branco) possui distribuição geográfica desde Ilha
Grande no Rio de Janeiro até Bahia Blanca na Argentina (Rios, 1994). É um bivalvo de
larva plantônica, que habita a zona intermareal de praias arenosas de regimes subtropicais e
temperados, onde vivem agregados (Bergonci, 2005). A abundância populacional desta
espécie já teve registros de variação de 920 até 8450 indivíduos/m
2
apenas no ano de 1980
(Gianuca, 1985). Entretanto, em épocas mais recentes, registra-se um acentuado declínio
populacional da espécie (Bergonci, 2005).
Donax hanleyanus (moçambique), também com fase larval plantônica, é uma das
quatro espécies do gênero Donax que ocorrem no Brasil, estando distribuída desde o
Espírito Santo, até Necochea na Argentina (Castellanos e Fernandez, 1965; Rios, 1994)
27
cerca de 120 km de Mar Del Plata em direção ao sul, e vive preferencialmente, na região
da praia varrida pelas ondas, onde o sedimento permanece saturado (Narchi, 1974; 1978).
Apesar de escassos, os registros de abundância populacional, por exemplo, no Uruguai e
extremo sul do Brasil, variaram de um valor médio anual de 19 indivíduos/m
2
a 178
indivíduos/m
2
, variando também conforme a estação do ano, tendo chegado até 322
indivíduos/m
2
durante o verão de 1990 (Defeo e de Alava, 1995). Entretanto, destaca-se
que em épocas de recrutamento foi registrada a ocorrência de até 10.000 jovens
indivíduos/m
2
(Penchaszadeh e Olivier, 1975). Tanto M. mactroides quanto D. hanleyanus
têm alta importância comercial, sendo alvo de intensivas coletas para fins alimentícios
(Bergonci, 2005; Gil, 2005).
Os crustáceos do gênero Emerita habitam as águas das regiões tropicais e
temperadas de todos os oceanos, sendo exclusivamente marinhos. Estão adaptados a uma
vida escavadora no interior de sedimentos não consolidados, sob as influências das
correntes e das rebentações das ondas, apresentando marcada distribuição vertical por
tamanho (Gil e Thomé, 2001). As larvas possuem uma fase planctônica e outra bentônica.
Apresentam hábito alimentar diferenciado, sendo na fase larval carnívoros e na fase adulta
filtradores ou detritívoros. Nutrem-se principalmente de restos orgânicos de pequenos
anfípodos, isópodos e larvas em suspensão, recolhidos pelas antênulas ou ainda de restos
de outros crustáceos pequenos, poliquetas e grãos de areia (Bond-Buckup e Buckup, 1999).
Emerita brasiliensis (tatuíra) distribui-se do Espírito Santo até o Uruguai (Veloso e
Valentin, 1993), com relatos não confirmados de ocorrência na Venezuela e norte do
Brasil, em simpatria com E. portoricensis (Defeo e Cardoso, 2004). É a de maior
abundância populacional entre as espécies estudadas aqui, podendo ser encontrados até
cerca de 3000 indivíduos por m
2
(Defeo e Cardoso, 2004).
28
2. OBJETIVOS
1. Estudar a diversidade genética mitocondrial no espaço e no tempo das espécies
Mesodesma mactroides, Donax hanleyanus, Emerita brasiliensis e Ocypode
quadrata ocorrentes no litoral sudeste e sul-brasileiro;
2. Comparar os padrões filogeográficos inferidos para estas espécies para melhor
compreender a influência dos processos históricos climáticos e geológicos na
história evolutiva destas espécies.
29
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1 Amostragem
Aproximadamente a cada 100km foram coletadas amostras de duas espécies do filo
Mollusca, os bivalvos Mesodesma mactroides (Fig. 1) (n= 59 em 9 pontos de coleta) e
Donax hanleyanus (Fig. 2) (n= 247 em 25 pontos de coleta), e duas espécies do filo
Crustacea, Emerita brasiliensis (Fig. 3) (n= 191 em 22 pontos de coleta) e Ocypode
quadrata (Fig. 4) (n= 135 em 16 pontos de coleta) em uma abrangência de cerca de 3000
km de costa brasileira, uruguaia e argentina (Fig. 5-6 e Tabela 1). As amostras foram
manualmente coletadas, sendo que quando necessário foi utilizada uma pequena pá, e os
pontos de coleta foram georreferenciados com o auxílio de um aparelho Global Positioning
System (GPS). É importante notar que D. hanleyanus e E. brasiliensis tiveram toda a sua
distribuição conhecida amostrada.
Figura 1: Exemplar de M. mactroides.
30
Figura 2: Exemplar de D. hanleyanus. (Foto de Guacira Gil).
Figura 3: Exemplar de E. brasiliensis.
Figura 4: Exemplar de O. quadrata.
31
Fig. 5- Distribuição geográfica das quatro espécies utilizadas neste estudo. Cinza= O.
quadrata (não teve toda a sua distribuição representada, a qual estende-se até a América do
Norte); Vermelho= M. mactroides; Amarelo= E. brasiliensis; Azul= D. hanleyanus. Mais
detalhes na Introdução. Elipse: locais amostrados.
32
Mar del Plata / Punta Mogotes
Villa Gesell
San Clemente
Piriapolis
Chui
Cabo Polonio
La Paloma / La Pedrera
José Ignacio
Ponto Médio
Cassino
Mostardas
Tramandaí
Torres
SANTA
CATARINA
Iriri
Copacabana
Itaúnas
Itapoã
Picinguaba
Arroio do Silva
Farol de Santa Marta
Pinheira / Praia do Sonho
Palmas
Piçarras
Itapoá
Barra do Sul
Pontal do Sul / Ilha do Mel
Ilha Comprida
Peruíbe
Enseada / Indaiá
Cocanha / Itaguaré
Rio de Janeiro
Espírito
Santo
Ilha dos Lençóis
Mar del Plata / Punta Mogotes
Villa Gesell
San Clemente
Piriapolis
Chui
Cabo Polonio
La Paloma / La Pedrera
José Ignacio
Ponto Médio
Cassino
Mostardas
Tramandaí
Torres
SANTA
CATARINA
Iriri
Copacabana
Itaúnas
Itapoã
Picinguaba
Arroio do Silva
Farol de Santa Marta
Pinheira / Praia do Sonho
Palmas
Piçarras
Itapoá
Barra do Sul
Pontal do Sul / Ilha do Mel
Ilha Comprida
Peruíbe
Enseada / Indaiá
Cocanha / Itaguaré
Rio de Janeiro
Espírito
Santo
Ilha dos Lençóis
Figura 6: Área amostrada, identificando os pontos de coleta.
33
Tabela 1- Pontos de coleta e número de indivíduos estudados em cada ponto por espécie.
Pontos de Coleta \ Espécies M. mactroides D. hanleyanus E. brasiliensis O. quadrata
1.Ilha dos Lençóis, Maranhão (MA) 8
2.Itaúnas, Espírito Santo (ES) 10 8 14
3.Vila Velha – Itapoã, ES 4 14 5
4.Copacabana, Rio de Janeiro (RJ) 2 8
5.Iriri, RJ 10
6.Picinguaba, São Paulo (SP) * 10
7.Cocanha, SP * 10
8.Itaguaré, SP * 10
9.Enseada/Indaiá, SP * 10 10
10.Peruíbe, SP 4 10 7
11.Ilha Comprida, SP 9 10 10 9
12.Pontal do Sul / Ilha do Mel, Paraná (PR) * 10 10 7
13.Itapoá, Santa Catarina (SC) * 8
14.Barra do Sul, SC * 6 9 5
15.Piçarras, SC * 7 9
16.Palmas, SC * 8 8
17.Pinheira/Praia do Sonho, SC * 7 10 7
18.Farol de Santa Marta, SC 7 5 10 10
19.Arroio do Silva, SC 8
20.Torres, Rio Grande do Sul (RS) 10 6 13 5
21.Tramandaí, RS 8 7 11
22.Mostardas, RS 5 7 5 11
23.Cassino, RS 7 9 5 7
24.Ponto Médio, RS 6 11 6 11
25.Chui, RS 3 10 10 8
26.Cabo Polônio, Uruguai 7
27.La Paloma/La Pedrera, Uruguai * 19 10
28.José Ignacio, Uruguai * 11
29.Piriápolis, Uruguai * 1
30.San Clemente, Argentina 12
31.Villa Gesell, Argentina 17
32.Mar del Plata/Punta Mogotes, Argentina 31
Total de indivíduos (n) 59 247 191 135
Hachurado: não coletado
* Não encontrado, apesar de indicar na literatura.
34
3.2 Extração de DNA
O DNA genômico total foi extraído dos moluscos a partir de um pequeno
fragmento de tecido muscular do através da cnica de precipitação por Cetyl Trimethyl
Ammonium Bromide (CTAB) (Doyle e Doyle, 1987) a fim de dissolver o muco de
polissacarídeo existente nestas espécies, o qual tem a característica de inibir reações de
PCR. para os crustáceos utilizamos a técnica de precipitação por fenol-clorofórmio
(Sambrook e Russel, 2001) a partir de um pequeno fragmento de tecido muscular da perna.
Para algumas amostras mais difíceis de extrair o DNA a partir dos protocolos citados
acima, utilizamos o kit de extração Wizard DNA Purification Genome (Promega).
3.3 Amplificação e Sequenciamento
Os primers LCO1490 e HCO2198 (Folmer et al., 1994) foram utilizados para
amplificar aproximadamente 700 pb do gene mitocondrial Citocromo Oxidase subunidade
1 (COI). Entretanto foi necessária a construção de três outros conjuntos de primers para
amplificar amostras de Donax hanleyanus, Emerita brasiliensis e Ocypode quadrata
(Tabela 2) as quais não amplificaram eficientemente com os primers de Folmer et al.
(1994).
Tabela 2- Lista de primers desenhados neste estudo.
Forward (5´- 3´)
Reverse (5´- 3´)
D .hanleyanus
CTGTTGGTTTAGTTTACAGTGTTATAAT AAAGAACTGGATCCCCACCCCCTACAGG
E. brasiliensis
GGAATAGTAGGAACTTCTCTAAGATTGAT AAATGTTGATAGAGAACAGGATCTCC
O. quadrata
GGAGCTTGAGCAGGTATGGTAGG AGTGTTGGTATAGAACCGGGTCTCCACC
35
Todas as reações de PCR foram feitas com volume final de 20 µl contendo 1,6 mM
de MgCl
2
, 200µM de dNTPs, 0,2 µM de cada primer, 1 U de TaqDNA polimerase, 10X
PCR buffer (Invitrogen) e 1µl de DNA (variando de 10 a 40 ng de DNA). As condições
para amplificação a partir dos primers LCO1490 e HCO2198 seguiram o seguinte
protocolo: 96˚ por 1 minuto, seguido de 40 ciclos de 94˚C por 30 segundos, touch down de
50˚C a 40˚C por 1 minuto e 72˚C por 1 minuto. Os demais primers foram utilizados com as
mesmas condições descritas acima, porém utilizando-se para anelamento, touchdown de
62˚C a 52˚C por 1 minuto.
Os produtos amplificados foram purificados com as enzimas Exonuclease I e
Shrimp Alkaline Phosphatase (Amershan Biosciences). Após a purificação, os fragmentos
foram seqüenciados utilizando-se o kit DYEnamic ET Dye Terminator (MegaBACE ™)
(GE Healthcare) e as reações foram lidas no seqüenciador automático de DNA
MegaBACE 1000.
3.4 Análise dos Dados
Foram geradas sempre, para cada indivíduo, leituras com o primer forward e com o
primer reverse, sendo que a partir das duas leituras foram geradas seqüências consenso
com auxílio dos programas Phred, Phrap, Consed na plataforma Linux. Além disto, o
programa Chromas 2.0 também foi utilizado para manualmente revisar os cromatogramas
resultantes. As seqüências foram alinhadas através do programa ClustalX 1.81 (Thompson
et al., 1997) e foram manualmente ajustadas utilizando-se o programa Mega3 (Kumar et
al., 2004), onde também foi verificada a ocorrência de códons de terminação e as
substituições de aminoácido.
36
Estatísticas básicas como diversidade nucleotídica (π) e haplotípica (Hd), e os testes
de neutralidade D de Tajima (Tajima, 1983), D de Fu e Li (Fu e Li, 1993), Fs de Fu (Fu,
1997) e F de Fu e Li (Fu e Li, 1993), foram estimados através do programa DnaSP 4.0
(Rozas et al., 2003).
A fim de se comparar a diversidade genética ao longo da área de estudo, valores de
π e Hd também foram calculados para cada ponto de coleta, sendo que, quando necessário
para se obter no mínimo dez indivíduos por análise, alguns pontos contíguos foram
agrupados (com exceção de O. quadrata do Maranhão, em que devido a grande distância
com os demais pontos de amostragem, manteve-se o número de 8 indivíduos nesta
análise). Estes dados, juntamente com a distância em kilômetros entre pontos, a partir de
um ponto de referência, foram utilizados em uma análise de regressão linear simples, com
intervalo de confiança de 95%, utilizando-se o programa MS Excel 2003, para verificar se
nestas espécies a diversidade genética varia conforme a sua distribuição geográfica. O
ponto mais ao sul da amostragem de cada espécie foi designado como ponto zero,
aumentando em direção ao norte conforme as distâncias verificadas entre cada ponto a
partir do GPS. A distância geográfica constituiu a variável independente nesta análise.
Para se identificar a ocorrência de possíveis barreiras biogeográficas ao longo da
área de amostragem, utilizamos o algoritmo de Monmonier (Monmonier, 1973),
implementado no programa AIS (Alleles In Space) (Miller, 2005) através da distância
genética bruta, onde a maior distância genética entre quaisquer duas localidades forma o
segmento inicial da possível barreira. Além disto, a correlação entre as distâncias
geográfica e genética, entre todos os pares de indivíduos, foi testada através do teste de
Mantel (Mantel, 1967) com 1000 replicações, utilizando-se o programa Arlequim 3.11
(Schneider et al., 2000). Foram também realizadas análises de autocorrelação espacial no
37
programa AIS, tendo os dados sido divididos em classes iguais de distância e diferentes
números de observações (número de indivíduos amostrados por classe) para todas as
espécies. O número de classes utilizado para cada espécie variou conforme o tamanho de
sua área de amostragem, sendo que para O. quadrata optamos por excluir as amostras do
Maranhão, a fim de não termos a existência de classes sem amostragem. Foram utilizadas
13 classes para M. mactroides, 30 classes para D. hanleyanus, 25 classes para E.
brasiliensis e 14 classes para O. quadrata. Para todas estas análises a significância
estatística foi testada através de 1000 permutações.
Com os resultados obtidos através do uso do algoritmo de Monmonier, foi possível
dividir os pontos de coleta em dois grupos para realizar a análise da variação molecular
(AMOVA) (Excoffier e Smouse, 1994) a partir das diferenças nucleotídicas (Φst) e
também apenas usando a freqüência dos haplótipos (Fst clássico) (Wright, 1978),
utilizando-se 1000 permutações. O Φst e o Fst também foram calculados par a par entre os
pontos de coleta. Entretanto, como para D. hanleyanus não foi possível rodar a análise de
Monmonier com o programa AIS, optamos por dividir os grupos para a análise AMOVA
com base nas divisões encontradas para M. mactroides e também para E. brasiliensis.
Análises de AMOVA também foram feitas em nível de população (pontos de
amostragem).
Redes de haplótipos foram estimadas através do método median-joining (Bandelt et
al., 1999), com auxílio do programa Network 4.1.0.8 (www.fluxus-engineering.com).
Para evidenciar a existência de sinal de expansão populacional realizamos análises
de mismatch distribution (Rogers e Harpending, 1992) com intervalo de confiança de 95%
e 1000 replicações de bootstrap para cada espécie, com o programa Arlequin 3.11
(Schneider et al., 2000).
38
O programa Lamarc 2.1 foi utilizado para as estimativas do parâmetro teta (θ) e da
taxa de crescimento populacional, os quais foram utilizados para estimar o tamanho efetivo
populacional atual (Ne
0
) e ancestral no tempo t (Ne
t
) utilizando:
Ne
0
= θ/(2.µ.g)
e
Ne
t
= θt/2(µ.g.Ne
0
)
onde µ é a taxa evolutiva por geração em unidades de mutação e g é o tempo de geração
(Kuhner, 2006). As análises no Lamarc consistiram de três replicatas de 20 cadeias iniciais
e duas cadeias longas finais. As cadeias iniciais foram processadas com 500 amostragens
com intervalos de 20 e burn-in igual a 1000. As duas cadeias finais foram processadas com
mesmo burn-in e intervalo de amostragem igual a 50, porém com 10000 amostragens
registradas. Os intervalos de confiança para o cálculo de teta e taxa de crescimento foram
calculados pela abordagem de percentil.
Baseado nas estimativas utilizadas na maior parte dos trabalhos evolutivos de
invertebrados marinhos (Knowlton et al., 1993; Hellberg e Vacquier, 1999; Rocha-
Olivares et al., 2001; Mathews et al., 2002; Jolly et al., 2006; Waters et al., 2007), a taxa
de substituição para o gene COI utilizada neste estudo foi de 2% por milhão de anos.
O tempo de geração para cada espécie foi estimado levando-se em conta
características biológicas assim como longevidade e idade reprodutiva, tendo sido
calculado com base em Graziottin et al. (2006), de acordo com a seguinte fórmula:
Tempo de geração = ((A + B)/2)(– 10% de A)
onde “A” é a idade nima de maturidade sexual e “B” é o tempo mínimo de vida, ambos
expressos em ano. Para todas as espécies “A” foi igual a um ano, enquanto que “B” foi
39
igual a sete anos para M. mactroydes (Bergonci, 2005), três anos para D. hanleyanus (Gil,
2005) e dois anos para E. brasiliensis (Silveira, 1998) e O. quadrata (Alberto, 1995).
Para estimar a flutuação do tamanho populacional de cada espécie utilizamos o
método Bayesian Skyline Plot (BSP) implementado no programa BEAST 1.4 (Drummond
e Rambaut, 2003) o qual foi utilizado também para inferir a data do ancestral comum mais
recente (TMRCA) para os haplótipos de cada espécie. Na análise de BSP utilizou-se um
modelo de relógio molecular (com a taxa de substituição de 2% por milhão de anos)
relaxado, e os modelos de substituição sugeridos pelo Modeltest v. 3.06 (Posada e
Crandall, 1998) para cada espécie, e 10 000 000 cadeias para M. mactroides, 200 000 000
para D. hanleyanus, 300 000 000 para E. brasiliensis e 200 000 000 para O. quadrata.
Além disto, a data de expansão populacional foi calculada utilizando o valor do
parâmetro “tau” (época da expansão) gerado na análise de mismatch distribution no
Arlequim, e a taxa de substituição descrita acima.
40
4. RESULTADOS
4.1 Diversidade nas seqüências do gene COI
Algumas seqüências obtidas apresentaram substituições não-sinônimas, mas estas
foram entre aminoácidos de mesma cadeia lateral, que não interferem na atividade protéica
final. Além disso, não foram encontrados códons de terminação, sugerindo que nestas
seqüências não estão representadas inserções nucleares.
Com exceção de E. brasiliensis, as demais espécies apresentaram alguns sítios
homoplásicos (mais de um passo de substituição), detectados na análise de rede de
haplótipos no programa Network 4.1.0.8. O. quadrata apresentou 16 sítios com alguma
homoplasia, seguida de D. hanleyanus, com nove sítios e M. mactroides com quatro.
Todos estes tios foram minuciosamente reanalisados nos cromatogramas, sendo as suas
seqüências confirmadas em todos os casos (Fig. 7).
41
Fig. 7- Exemplos de alinhamentos (A) e cromatogramas (B) com a presença de sítios
homoplásicos mostrados nas elipses.
A
B
42
Os dados de diversidade genética, bem como os resultados dos testes de
neutralidade e os índices de fixação Φst e Fst (indivíduos agrupados de acordo com a
divisão geográfica proposta pelo algoritmo de Monmonier) estão expressos na tabela 3.
Tabela 3- Estatísticas básicas e índices de diversidade genética para cada espécie.
Índices M. mactroides D. hanleyanus E. brasiliensis O. quadrata
N 59 247 191 135
Pares de base 578 548 515 518
Número de sítios
variáveis 22 44 10 46
H/Hd 22 / 0,87 ± 0,030 48 / 0,662 ± 0,0013 11 / 0,347 ± 0,0016 51 /0 ,947 ± 0,0001
π (%)
0,31 ± 0,038 0,21 ± 0,018 0,077 ± 0,010 0,71 ± 0,051
D de Tajima -1,796* -2,448* -1,805* -1,715
D de Fu e Li 1,796 -5,661* -4,076* -3,531*
F de Fu e Li -2,749* -5,114* -3,889* -3,328*
Fs de Fu -16,853* -74,825* -10,518* -47,197*
Φst
0,431* 0,04*/0,06* 0,37* 0,004
Fst 0,43* 0,042*/0,06* 0,53* 0,0003
N= Tamanho amostral; H= Número de haplótipos; Hd= Diversidade haplotípica;
π= Diversidade Nucleotídica (%); ± desvio padrão; sublinhado= valor calculado com base
na divisão geográfica sugerida pelo algoritmo de Monmonier para M. mactroides e em
negrito na divisão sugerida para E. brasiliensis; * = Significante (P<0,05).
De maneira geral, as espécies apresentaram baixos valores de diversidade
nucleotídica e valores mais altos de diversidade haplotípica, entretanto E. brasiliensis
apresentou diversidade nucleotídica tão baixa quanto a sua diversidade haplotípica. Além
disto, todos os testes de neutralidade mostraram valores negativos e significantes (com
43
exceção do D de Tajima de O. quadrata e do D de Fu e Li para M. mactroides), claramente
sugerindo cenários de gargalos de garrafa populacional seguidos de expansão forte.
Os valores de Φst e Fst apresentaram-se semelhantes entre si para todas as espécies,
sugerindo estruturação populacional alta para M. mactroides e E. brasiliensis, e baixa para
D. hanleyanus e O. quadrata.
Os valores de diversidade genética nas áreas de coleta, apresentados nas tabelas 4-
7, de uma maneira geral mostram para cada espécie valores bastante semelhantes ao longo
da distribuição geográfica, apesar de alguns pontos apresentarem valores mais
discrepantes.
Tabela 4- Diversidade genética por pontos de coleta para Mesodesma mactroides.
Locais de Coleta/Índices de diversidade genética N H
Hd
SD (HD)
π (%) SD (π)
Enseada/Ilha Comprida (SP) 13
5 0,769
0,099 0,333 0,00075
FSM/Torres (SC/RS) 17
8 0,772
0,097 0,313 0,00079
Tramandaí/Mostardas (RS) 13
8 0,859
0,089 0,244 0,00044
Cassino/Ponto Médio/Chui (RS) 16
7 0,842
0,059 0,226 0,00034
N= tamanho amostral; H= Número de haplótipos; Hd= Diversidade haplotípica;
π= Diversidade nucleotídica; FSM= Farol de Santa Marta; SD= Desvio padrão.
44
Tabela 5- Diversidade genética por pontos de coleta para Donax hanleyanus.
Locais de Coleta/Índices N H Hd
SD (HD)
π (%) SD (π)
Itaunas/Itapoã/Copacabana (ES/RJ) 16
5 0,6 0,127 0,128 0,00034
Cocanha (SP) 10
3 0,511
0,164 0,101 0,00037
Enseada (SP) 10
5 0,667
0,163 0,292 0,00110
Peruíbe (SP) 10
6 0,867
0,085 0,349 0,00055
Ilha Comprida (SP) 10
8 0,956
0,059 0,418 0,00052
Pontal do Sul (PR) 10
5 0,667
0,163 0,219 0,00086
Itapoá/Barra do Sul (SC) 14
8 0,769
0,120 0,253 0,00067
Piçarras/Palmas (SC) 15
6 0,714
0,116 0,292 0,00078
Praia do Sonho/FSM (SC) 12
4 0,455
0,170 0,091 0,00038
Torres/Tramandaí (RS) 13
7 0,731
0,133 0,295 0,00094
Mostardas/Cassino (RS) 16
8 0,758
0,110 0,236 0,00059
Ponto Médio (RS) 11
3 0,564
0,134 0,192 0,00051
Chui (RS) 10
5 0,756
0,130 0,223 0,00053
La Paloma/La Pedrera (Uruguai) 19
8 0,647
0,120 0,197 0,00052
Jose Ignacio (Uruguai) 12
3 0,439
0,158 0,086 0,00034
San Clemente (Argentina) 13
2 0,154
0,126 0,028 0,00023
Villa Gesell (Argentina) 12
8 0,894
0,078 0,238 0,00041
Mar del Plata (Argentina) 23
9 0,585
0,122 0,173 0,00049
N= tamanho amostral; H= Número de haplótipos; Hd= Diversidade haplotípica;
π= Diversidade nucleotídica; FSM= Farol de Santa Marta; SD= Desvio padrão.
45
Tabela 6- Diversidade genética por pontos de coleta para Emerita brasiliensis.
Locais de Coleta/Índices N H Hd
SD (HD)
π (%) SD (π)
Itaúnas/Itapoã (ES) 22
4 0,515 0,111 0,132 0,00034
Copacabana/Picinguaba (RJ/SP) 18
3 0,569 0,071 0,123 0,00022
Enseada/Peruíbe (SP) 17
2 0,309 0,122 0,06 0,00024
Ilha Comprida (SP) 10
1 0 0,000 0 0,00000
Ilha do Mel (PR) 10
2 0,02376 0,154 0,078 0,00060
Barra do Sul/Piçarras/Palmas (SC) 26
3 0,151 0,093 0,03 0,00019
Praia do Sonho (SC) 10
1 0 0,000 0 0,00000
Farol de Santa Marta (SC) 10
3 0,378 0,181 0,078 0,00040
Torres (RS) 13
1 0 0,000 0 0,00000
Tramandaí/Mostardas (RS) 16
2 0,125 0,106 0,024 0,00021
Ponto Médio/Chui (RS) 16
3 0,242 0,135 0,07 0,00041
Cabo Polônio/La Paloma/Piriápolis (Uruguai) 18
2 0,111 0,096 0,022 0,00019
N= tamanho amostral; H= Número de haplótipos; Hd= Diversidade haplotípica;
π= Diversidade nucleotídica; SD= Desvio padrão.
Tabela 7- Diversidade genética por pontos de coleta para Ocypode quadrata.
Locais de Coleta/Índices N H Hd
SD (HD)
π (%) SD (π)
Ilha dos Lençóis (MA) 8 7 0,964
0,077 0,490 0,00084
Itapoã/Itaúnas (ES) 19
13
0,953
0,031 0, 831 0,00156
Iriri (RJ) 10
8 0,956
0,059 0,596 0,00143
Itaguaré (SP) 10
7 0,911
0,077 0, 764 0,00150
IC/Pontal do Sul/Barra do Sul (SP/PR/SC) 21
12
0,924
0,038 0,517 0,00083
Pinheira/Farol de Santa Marta (SC) 17
12
0,934
0,046 0,886 0,00139
Arroio do Silva/Torres (SC/RS) 13
10
0,949
0,051 0,698 0,00163
Mostardas/Cassino (RS) 18
12
0,954
0,030 0,699 0,00105
Ponto Médio/Chui (RS) 19
11
0,889
0,058 0,768 0,00155
N= tamanho amostral; H= Número de haplótipos; Hd= Diversidade haplotípica;
π= Diversidade nucleotídica; IC= Ilha Comprida; SD= Desvio padrão.
46
4.2 Detecção de Barreiras Biogeográficas
A análise utilizando o algoritmo de Monmonier para detecção de possíveis
barreiras entre as populações apresentou resultados diferentes para cada espécie (Figura 8).
Para M. mactroides a barreira principal divide as amostras entre os pontos Ilha Comprida,
SP e Farol de Santa Marta, SC, enquanto que para E. brasiliensis a divisão de grupos foi
entre Copacabana, RJ e Picinguaba, SP, e Ocypode quadrata foi dividida entre Mostardas,
RS e Cassino, RS. Devido a um problema no software AIS não foi possível realizar a
análise pelo algoritmo de Monmonier para D. hanleyanus.
47
Figura 8- Barreiras encontradas pelo teste utilizando-se o algoritmo de Monmonier para as
espécies 1: E. brasiliensis, 2: M. mactroides, e 3: O. quadrata.
Mostardas
Ilha Comprida
Copacabana
3
1
2
Farol de Santa Marta
Picinguaba
Cassino
Mostardas
Ilha Comprida
Copacabana
3
1
2
Farol de Santa Marta
Picinguaba
Cassino
48
4.3 Redes de Haplótipos do gene COI
A análise da rede de haplótipos mostra para M. mactroides (Figura 9) a presença de
dois haplótipos mais freqüentes de onde irradiam os demais, separados praticamente por
apenas uma mutação. Além disto, há dois clados com boa estruturação geográfica, um com
quase 90% dos haplótipos incluídos na região ao sul da barreira gerada pelo algoritmo de
Monmonier (entre Ilha Comprida, SP e Farol de Santa Marta), e outro ao norte. No grupo
sul há um alto compartilhamento de haplótipos entre as populações amostradas (não
identificadas na figura). Não é possível estabelecer nenhuma tendência geográfica na
relação entre os haplótipos de cada um dos dois clados geográficos, que esta relação
ocorre no mesmo grau entre as populações mais distantes ou mais próximas
geograficamente (não representados na figura).
49
Figura 9- Rede de haplótipos de M. mactroides. Rosa= Grupo ao sul da barreira gerada
pelo algoritmo de Monmonier (incluindo do Chui, RS até Farol de Santa Marta, SC),
Verde= Grupo ao norte da barreira (Ilha Comprida, SP e Enseada, SP).
50
Na rede de haplótipos de D. hanleyanus (Figura 10) temos a presença de um
haplótipo central de onde partem a maioria dos outros haplótipos, separados por apenas
uma mutação, além de um segundo haplótipo mais freqüente que apresenta um padrão
semelhante, mas em menor escala. Este é um padrão claramente identificado com um
bottleneck populacional seguido de expansão populacional rápida. Como neste caso não foi
possível obter resultados pelo algoritmo de Monmonier, os haplótipos estão divididos
politicamente pelos estados brasileiros, Uruguai e Argentina.
Figura 10- Rede de haplótipos de D. hanleyanus. Roxo= RS, Vermelho= SC, Amarelo=
PR, Verde= SP, Preto= RJ, Marrom= ES, Cinza= Uruguai, Azul= Argentina; Branco=
haplótipo não amostrado, gerado pelo programa.
51
Na rede de haplótipos de E. brasiliensis (Figura 11) todos os haplótipos estão
separados por apenas uma mutação, com dois haplótipos mais centrais de onde irradiam os
outros, que também são indicativos de expansão populacional. O padrão geral desta
espécie é semelhante ao de M. mactroides, porém com menor número de haplótipos. Não
encontramos um padrão de estruturação muito forte nesta análise, apesar de indicado pelos
valores altos de Φst e Fst. A maior parte dos haplótipos do sul estão no clado à esquerda
da figura, enquanto que a maioria dos haplótipos do norte encontra-se no outro clado,
entretanto existe um compartilhamento de haplótipos entre norte e sul (divididos pelo
algoritmo de Monmonier).
Figura 11- Rede de haplótipos de E. brasiliensis. Rosa= Grupo ao sul da barreira gerada
pelo algoritmo de Monmonier (Picinguaba, SP - Piriápolis, Uruguai), Verde= Grupo ao
norte da barreira (Copacabana, RJ – Itaúnas, ES).
52
A rede de haplótipos de O. quadrata (Figura 12) é a que apresenta maior
complexidade, tendo dois haplótipos centrais mais comuns com um padrão de irradiação,
ocorrendo, entretanto com uma grande quantidade de outros haplótipos mais divergentes,
com freqüência intermediária. Pode também ser observado um alto compartilhamento de
haplótipos entre as populações. Neste caso optou-se também pela divisão política a fim de
melhor identificar a distribuição espacial dos haplótipos.
Figura 12- Rede de haplótipos de O. quadrata. Roxo= RS, Vermelho= SC, Amarelo= PR,
Verde= SP, Preto= RJ, Marrom= ES, Azul= Maranhão.
53
4.4 Índices de Fixação Фst e Fst e Análise da Variação Molecular (AMOVA)
A análise de Φst e Fst par a par entre os pontos de coleta apresentaram valores
significativos separando praticamente as mesmas amostras separadas pelo algoritmo de
Monmonier para as espécies M. mactroides (Tabela 8) e E. brasiliensis (Tabela 9),
curiosamente diferindo nesta espécie que apresentou a barreira do Monmonier entre
Copacabana, RJ e Picinguaba, SP, e diferenciação do Φst e Fst nas amostras de Picinguaba
e ES com exclusão de Copacabana, RJ. O. quadrata (Tabela 10) apenas pelo Fst
apresentou uma diferenciação entre o Ponto Médio (RS) e alguns outros pontos, e D.
hanleyanus (Tabela 11) apresentou valores divergentes também apenas pelo Fst entre Ilha
Comprida (SP) e os demais.
Tabela 8- Resultado dos testes de Φst e Fst par a par entre os pontos de amostragem para
M. mactroides.
1
2 3
4
5
6
7
8
9
1 Chui (RS)
- - - - - - + -
2 Ponto Médio (RS)
- - - + - + +
3 Cassino (RS)
- - - - - - + +
4 Mostardas (RS)
- - - - - - + -
5 Tramandaí (RS)
- + - - - - + +
6 Torres (RS)
- - - - - - + +
7 Farol de Santa Marta (SC)
- - - - - - + +
8 Ilha Comprida (SP)
+ + + + + + + -
9 Indaiá (SP)
+ + + - + + - -
Sinal postitivo= Φst > 0,05 e significante (p<0,05); sinal negativo= Φst < 0,05.
Triângulo superior= Fst; Triângulo inferior= Φst;
Hachurado em azul= destaque aos valores de Φst e Fst significativamente divergentes.
54
Tabela 9- Resultado dos testes de Φst e Fst par a par entre os pontos de amostragem para E.
brasiliensis.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
1 Piriápolis (Uruguai) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
2 La Paloma (Uruguai) - - - - - - - - - - - - - - - - - + - + +
3 Cabo Polônio (Uruguai) - - - - - - - - - - - - - - - - - + - + +
4 Chui (RS) - - - - - - - - - - - - - - - - - + - + +
5 Ponto Médio (RS) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - + -
6 Cassino (RS) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - + +
7 Mostardas (RS) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - + +
8 Tramandaí (RS) - - - - - - - - - - - - - - - - + - + +
9 Torres (RS) - - - - - - - - - - - - - - - - + - + +
10 Farol de Santa Marta (SC) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - + +
11 Praia do Sonho (SC) - - - - - - - - - - - - - - - - - + - + +
12 Palmas (SC) - - - - - - - - - - - - - - - - - + - + +
13 Piçarras (SC) - - - - - - - - - - - - - - - - - + - + +
14 Barra do Sul (SC) - - - - - - - - - - - - - - - - - + - + +
15 Ilha do Mel (PR) - - - - - - - - - - - - - - - - - + - + +
16 Ilha Comprida (SP) - - - - - - - - - - - - - - - - - + - + +
17 Peruíbe (SP) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - + -
18 Indaiá (SP) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - + -
19 Picinguaba (SP) - + + - - + - + + - + + + + - + - - - - -
20 Copacabana (RJ) - - - - - - - - + - - - - - - - - - - + -
21 Itapoã (ES) + + + + + + + + + - + + + + + + + + - - -
22 Itaúnas (ES) + + + + - - + + + - + + + + + + - - - - -
Sinal postitivo = Φst > 0,05 e significante (p<0,05); sinal negativo = Φst < 0,05.
Triângulo superior= Fst; Triângulo inferior= Φst
Hachurado em azul= destaque aos valores de Φst e Fst significativamente divergentes.
55
Tabela 10- Resultado dos testes de Φst e Fst par a par entre os pontos de amostragem
para O. quadrata.
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
1 Chui (RS)
+
- - - - - - - - - - - - - -
2 Ponto Médio (RS)
- - - - +
+
- - + + + + - + -
3 Cassino (RS)
- - - - - - - - - - - - - - -
4 Mostardas (RS)
- - - - - - - - - - - - - - -
5 Torres (RS)
- - - - - - - - - - - - - - -
6 Farol de Santa Marta (SC) - - - - - +
- +
- + - - - - -
7 Arroio do Silva (SC)
- - - - - - - - - - - - - + -
8 Pinheira (SC)
- - - - - - - - - - - - - - -
9 Barra do Sul (SC)
- - - - - - - - - - - - - + -
10 Pontal do Sul (PR)
- - - - - - - - - - - - - - -
11 Ilha Comprida (SP)
- - - - - - +
- - - - - - - -
12 Itaguaré (SP)
- - - - - - - - - - - - - - -
13 Iriri (RJ)
- - - - - - - - - - - - - - -
14 Itapoã (ES)
- - - - - - - - - - - - - - -
15 Itaúnas (ES)
- - - - - - - - - - - - - - -
16 Ilha dos Lençóis (MA)
+
- - - - - - - - - - - - - -
Sinal postitivo = Φst > 0,05 e significante (p<0,05); sinal negativo = Φst < 0,05.
Triângulo superior= Fst; Triângulo inferior= Φst.
56
Tabela 11- Resultado dos testes de Φst e Fst par a par entre os pontos de amostragem para D. hanleyanus.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
1 Mar del Plata (Argentina) - - - - - - - - - - - - - - - - - + - - - - - -
2 Villa Gessel (Argentina) - + - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
3 San Clemente (Argentina) + - - - + - + - - - - - - + - - - + + - - - - -
4 José Ignacio (Uruguai) - - - - - - - - - - - - - - - - - + + - - - - -
5 La Pedrera (Uruguai) + - - - - - - - - - - - - - - - - + - - - - - -
6 Chui (RS) + - + + - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
7 Ponto Médio (RS) + - - - - - - - - - - - - - - - - + - - - - - -
8 Cassino (RS) + - + - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
9 Mostardas (RS) - + + + - - - + - - - - - - - - - - - - - - - -
10 Tramandaí (RS) - - + + - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
11 Torres (RS) - - - - - - - - - - - - - - - - - + - - - - - -
12 Farol de Santa Marta (SC) - - - - - - - - - - - - - - - - - + - - - - - -
13 Praia do Sonho (SC) - - - - - - - - - - - - - - - - - + - - - - - -
14 Palmas (SC) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
15 Piçarras (SC) - + - + + - + - - - - - - - - - - - - - - - -
16 Barra do Sul (SC) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
17 Itapoá (SC) - - - + - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
18 Pontal do Sul (PR) - - - - - - - - - - - - - - - - - + - - - - - -
19 Ilha Comprida (SP) - + - + - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
20 Peruíbe (SP) + + - + + - + - - - - - - - - - - - - - - - -
21 Indaiá (SP) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
22 Cocanha (SP) - - - - - - - + - - - - - - - - - + + - - - -
23 Copacabana (RJ) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
24 Itapoã (ES) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
25 Itaúnas (ES) - - - - - - - - - - - - - - + - - - + + + - - -
Sinal postitivo = Φst > 0,05 e significante (p<0,05); sinal negativo = Φst < 0,05.
Triângulo superior= Fst; Triângulo inferior= Φst.
57
O teste de Mantel apresentou correlação positiva e significativa entre as distâncias
genética e geográfica apenas para E. brasiliensis (r=0,14 p 0,0009), sendo também
positiva, mas não significativa para M. mactroides (r=0,1 p0,07) e próxima a zero para D.
hanleyanus (r=-0,014, p 0,68), e para O. quadrata (r=-0,00078, p 0,49). Estes resultados
podem ser melhor visualizados através do teste de Autocorrelação Espacial, onde para E.
brasiliensis nota-se um aumento contínuo da distância genética com o aumento da
distância geográfica entre as populações, padrão compatível com a ocorrência de
isolamento por distância (Fig. 13). Já para as outras espécies apenas algumas poucas
classes de distância geográfica mostram valores de distância genética significativas
(Figuras 14-16).
58
Geographical Distance
2.2002.0001.8001.6001.4001.2001.0008006004002000
Ay
0,0018
0,0016
0,0014
0,0012
0,001
0,0008
0,0006
0,0004
0,0002
0
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
Geographical Distance
2.2002.0001.8001.6001.4001.2001.0008006004002000
Ay
0,0018
0,0016
0,0014
0,0012
0,001
0,0008
0,0006
0,0004
0,0002
0
Geographical Distance
2.2002.0001.8001.6001.4001.2001.0008006004002000
Ay
0,0018
0,0016
0,0014
0,0012
0,001
0,0008
0,0006
0,0004
0,0002
0
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
Figura 13- Análise de Autocorrelação Espacial para E. brasiliensis. Ay= média da
distância genética entre pares de indivíduos. Linha paralela ao eixo “x indica o valor
médio de Ay para o grupo de dados. *= estatisticamente significante (p<0,05).
Distância Geográfica
59
Geographical Distance
1.3001.2001.1001.0009008007006005004003002001000
Ay
0,08
0,075
0,07
0,065
0,06
0,055
0,05
0,045
0,04
0,035
0,03
0,025
0,02
0,015
0,01
0,005
0
* *
*
Geographical Distance
1.3001.2001.1001.0009008007006005004003002001000
Ay
0,08
0,075
0,07
0,065
0,06
0,055
0,05
0,045
0,04
0,035
0,03
0,025
0,02
0,015
0,01
0,005
0
* *
*
Figura 14- Análise de Autocorrelação Espacial para M. mactroides. Ay= média da
distância genética entre pares de indivíduos. Linha paralela ao eixo “x indica o valor
médio de Ay para o grupo de dados. *= estatisticamente significante (p<0,05).
Distância Geográfica
60
2.6002.4002.2002.0001.8001.6001.4001.2001.0008006004002000
Ay
0,003
0,0027
0,0024
0,0021
0,0018
0,0015
0,0012
0,0009
0,0003
0
*
*
*
*
*
2.6002.4002.2002.0001.8001.6001.4001.2001.0008006004002000
Ay
0,003
0,0027
0,0024
0,0021
0,0018
0,0015
0,0012
0,0009
0,0003
0
*
*
*
*
*
Figura 15- Análise de Autocorrelação Espacial para D. hanleyanus. Ay= média da
distância genética entre pares de indivíduos. Linha paralela ao eixo “x indica o valor
médio de Ay para o grupo de dados. *= estatisticamente significante (p<0,05).
Distância Geográfica
61
1.400
1.200
1.000
800
600
400
200
0
Ay
0,68
0,66
0,64
0,62
0,6
0,58
0,56
0,54
0,52
0,5
0,48
0,46
0,44
0,42
0,4
0,38
0,36
0,34
0,32
0,3
0,28
0,26
0,24
0,22
0,2
0,18
0,16
0,14
0,12
0,1
0,08
0,06
0,04
0,02
*
*
*
1.400
1.200
1.000
800
600
400
200
0
Ay
0,68
0,66
0,64
0,62
0,6
0,58
0,56
0,54
0,52
0,5
0,48
0,46
0,44
0,42
0,4
0,38
0,36
0,34
0,32
0,3
0,28
0,26
0,24
0,22
0,2
0,18
0,16
0,14
0,12
0,1
0,08
0,06
0,04
0,02
*
*
*
Distância Geográfica
Figura 16- Análise de Autocorrelação Espacial para O. quadrata. Ay= média da distância
genética entre pares de indivíduos. Linha paralela ao eixo “x” indica o valor médio de Ay
para o grupo de dados. *= estatisticamente significante (p<0,05).
62
A análise da variação molecular (AMOVA) (Tabela 12) mostra dois padrões para
os valores de variância intra e inter grupos (considerando que cada espécie está dividida
em dois grupos de populações como sugeridos pela análise de algoritmo de Monmonier).
Para D. hanleyanus e principalmente O. quadrata praticamente toda a diversidade
encontra-se dentro das populações, enquanto que para M. mactroides e E. brasiliensis
aproximadamente metade da variabilidade encontra-se dentro das populações e a outra
metade entre os dois grupos de populações. A variância encontrada para o teste AMOVA
considerando-se apenas em nível de população (cada ponto amostral, conforme a tabela 1)
apresentou valores entre 18 e 30% da diversidade entre as populações para M. mactroides e
E. brasiliensis, e entre 0,06 e 3 % para O. quadrata e D. hanleyanus.
63
Tabela 12- Resultados do teste de AMOVA.
Variância Φst/Fst (%)
\ Espécies
M. mactroides D. hanleyanus E. brasiliensis O. quadrata
Grupos de populações
Entre os grupos
42,46
15,28
0,26* / 3,04**
0,97* / 0,8**
47,46
50,29
-0,04
0,66
Entre as populações
dentro dos grupos
0,7
0,15
3,83* / 3,42**
1,32* / 1,58**
6,04
6,19
0,08
2,7
Dentro das populações
56,84
84,57
95,91* / 93,53**
97,71* / 97,62**
46,5
43,52
99,97
96,65
P
0.0000
0.0000
0,00782* / 0,00196**
0.00978* / 0.00098**
0.0000
0.0000
0,43109
0.47605
Nível de população
Entre populações
18,15
23,37
3,93
35,58
29,30
29,29
0,06
8
Dentro das populações
81,85
76,63
96,07
64,42
70,70
70,71
99,94
92
P
0.0000
0.0000
0,00782
0.0000
0.0000
0.0000
0,42913
0.0000
P= significância estatística.
*= agrupado conforme a divisão estabelecida através da barreira detectada pelo algoritmo de
Monmonier para M. mactroides.
**= agrupado conforme a divisão estabelecida através da barreira detectada pelo algoritmo de
Monmonier para E. brasiliensis.
64
4.5 Expansão e Tamanho Populacional
Para as análises de flutuação histórica do tamanho populacional (Bayesian Skyline
Plot) e tempo da coalescência (TMRCA), utilizamos os tempos de geração estimados em
3,9 anos para M. mactroides, 1,9 anos para D. hanleyanus, e 1,4 anos para E. brasiliensis e
O. quadrata, e os modelos evolutivos sugeridos pelo Modeltest, que foram HKY para os
dois moluscos e para E. brasiliensis, e GTR para O. quadrata.
O TMRCA para os haplótipos deste gene para cada espécie obtido no BEAST
apresentaram resultados bem distintos, tendo E. brasiliensis uma coalescência mais recente
entre todas estas espécies, 57 mil anos atrás, com um intervalo de confiança (IC) entre 7 a
146 mil anos, enquanto que O. quadrata parece ter uma história bem mais antiga, com
ancestral comum mais recente de 508 mil anos atrás (IC= 209 a 885 mil anos atrás). Os
tempos de coalescência para M. mactroides e D. hanleyanus foram de 79 mil (IC= 23 a
162 mil) e 107 mil (IC=33 a 213 mil) anos atrás, respectivamente.
Os gráficos de BSP, que estimam a flutuação populacional através do tempo,
sugerem uma expansão populacional forte (a semelhança dos testes de neutralidade) e
relativamente recente para todas as espécies. Para E. brasiliensis (Figura 17) a expansão
populacional parece ter sido muito rápida e com maior intensidade do que ocorreu com as
demais espécies, bem como mais recente, tendo ocorrido entre 10 e 20 mil anos atrás. Nas
demais espécies (Figuras 18-20) a expansão foi mais antiga, aproximadamente entre 70 e
100 mil anos atrás. Uma comparação entre todas as espécies pode ser visualizada na figura
21, sugerindo que a expansão para as três últimas espécies possa ter sido simultânea.
65
Figura 17- Análise Bayesian Skyline plot para a espécie E. brasiliensis. Superior e Inferior
são os limites do intervalo de confiança.
Emerita brasiliensis
1
10
100
1.000
10.000
100.000
1.000.000
10.000.000
0
10
20
30
40
50
60
Tempo
Tamanho Efetivo Populacional
Mediana
Superior
Inferior
66
Figura 18- Análise Bayesian Skyline plot para a espécie M. mactroides. Superior e Inferior
são os limites do intervalo de confiança.
Mesodesma mactroides
1
10
100
1.000
10.000
100.000
1.000.000
10.000.000
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Tempo
Tamanho Efetivo Populacional
Mediana
Superior
Inferior
67
Figura 19- Análise Bayesian Skyline plot para a espécie D. hanleyanus. Superior e Inferior
são os limites do intervalo de confiança.
Donax hanleyanus
1
10
100
1.000
10.000
100.000
1.000.000
10.000.000
100.000.000
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
Tempo
Tamanho Efetivo Populacional
Mediana
Superior
Inferior
68
Ocypode quadrata
1
10
100
1.000
10.000
100.000
1.000.000
10.000.000
100.000.000
0
100
200
300
400
500
600
700
Tempo
Tamanho Efetivo Populacional
Mediana
Superior
Inferior
Figura 20- Análise Bayesian Skyline plot para a espécie O. quadrata. Superior e Inferior
são os limites do intervalo de confiança.
69
Figura 21- Análise Bayesian Skyline Plot para todas as espécies. Apenas a linha mediana é
mostrada para facilitar a visualização.
A existência de expansão populacional foi corroborada pela análise de mismatch
distribution, a qual mostra um sinal de expansão populacional súbita para as quatro
espécies (Figuras 22-25). Porém, as datações de expansão populacional calculadas através
do parâmetro “tau”, gerado na análise de mismatch distribution e corroborado através do
programa DnaSP de modo geral apresentaram datas mais antigas do que as encontradas na
análise Bayesian Skyline Plot (Tabela 13). O valor de “tau” para E. brasilienis foi
calculado pelo programa DnaSP, que ocorreu um erro na análise para esta espécie no
programa Arlequim.
Todas as espécies (medianas)
1.000
10.000
100.000
1.000.000
10.000.000
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
120
130
140
150
160
170
180
190
200
Milhares de anos
O. quadrata
M. mactroides
E. brasiliensis
D. hanleyanus
70
Mismatch distribution - Mesodesma mactroides
0
100
200
300
400
500
600
700
0 1 2 3 4 5 0 7 8
Diferenças
Frequência
Observado
Inferior
Superior
Figura 22- Análise de mismatch distribution para M. mactroides. Intervalo de confiança
Superior e Inferior (alpha= 0,05 com 1000 replicações).
Mismatch distribution - Donax hanleyanus
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
0 1 2 3 4 5 6 7
Diferenças
Frequência
Observado
Inferior
Superior
Figura 23- Análise de mismatch distribution para E. brasiliensis. Intervalo de confiança
Superior e Inferior (alpha= 0,05 com 1000 replicações)
71
.
Mismatch distribution - Emerita brasiliensis
0
5000
10000
15000
20000
0 1 2 3
Diferenças
Frequência
Observado
Inferior
Superior
Figura 24- Análise de mismatch distribution para D. hanleyanus. Intervalo de confiança
Superior e Inferior (alpha= 0,05 com 1000 replicações).
Mismatch distribution - Ocypode quadrata
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Diferenças
Frequência
Observado
Inferior
Superior
Figura 25- Análise de mismatch distribution para O. quadrata. Intervalo de confiança
Superior e Inferior (alpha= 0,05 com 1000 replicações).
72
Tabela 13- Valores de “tau” e os intervalos de confiança superior e inferior.
Parâmetros
M. mactroides D. hanleyanus E. brasiliensis* O. quadrata
Tau 2,016 0,967 0,395 1,4
Limite Superior 2,656 1,428 - 0,297
Limite Inferior 1,453 0,717 - 6,76
Data de expansão (milhares de
anos antes do presente) 174 88,22 38 135
* estimado pelo DnaSP, que não calcula os limites de confiança.
4.6 Tamanho Efetivo e Taxas de Crescimento Populacionais
Os valores de teta (θ) e crescimento populacional calculados pelo programa Lamarc
2.1, assim como o cálculo de tamanho efetivo populacional atual (Ne
0
) e ancestral (Ne
t
)
para as quatro espécies estão representados na tabela 14. Todas as espécies apresentaram
forte sinal de crescimento populacional, representados nas grandes taxas de crescimento
(todas superior a mil), e nos valores de tamanho efetivo populacional atual, quando
comparado aos valores de Ne históricos. E. brasiliensis foi a espécie que apresentou o
maior teta e a maior taxa de crescimento, apresentando um Ne atual bastante alto, acima de
15 milhões, sendo que todas as espécies apresentaram Ne maior do que 2 milhões.
Tabela 14- Parâmetros demográficos obtidos com o programa Lamarc.
M. mactroides D. hanleyanus E. brasiliensis O. quadrata
θ 0,136019 0,223063 0,3958 0,157279
Ne
0
2 060 893,93 7 435 433,33 15 223 076,92 6 049 192,30
Ne
t
40 586,33 20,31507 1950,729 6121,387
G 3 106,297 6 563,46 15 000 1 345,543
θ= teta; G= Taxa de crescimento populacional; Ne
0
= Tamanho Efetivo Populacional atual;
Ne
t
= Tamanho Efetivo Populacional ancestral.
73
4.7 Diversidade Genética vs. Geográfica
As análises de regressão linear entre diversidade genética intrapopulacional e
latitude (representadas pela distância do ponto mais ao sul) estão expressas nas figuras 26-
29, parecendo haver uma tendência de aumento de diversidade em direção ao norte da
mostragem, em especial em E. brasiliensis, porém nenhum destes resultados apresentou
correlação significativa. Esta análise tinha como objetivo tentar identificar se, durante o
bottleneck populacional sugerido pelos resultados acima, as espécies poderiam ter
permanecido em refúgios (ao norte ou ao sul da distribuição), identificados como regiões
com maior diversidade genética, dos quais teriam se expandido para as demais localidades
onde se encontram hoje.
0,7
0,72
0,74
0,76
0,78
0,8
0,82
0,84
0,86
0,88
0
0,0005
0,001
0,0015
0,002
0,0025
0,003
0,0035
0,004
0 180 260 840
Diversidade Haplotípica (Hd)
Diversidade Nucleotídica (Pi)
Distância Geográfica (Km)
Análise de Regressão para Mesodesma mactroides
Pi
Hd
Linear (Pi)
Linear (Hd)
Figura 26- Análise de Regressão para M. mactroides. P>0,05.
74
Alise de Regressão para
Donax hanleyanus
0
0,0005
0,001
0,0015
0,002
0,0025
0,003
0,0035
0,004
0,0045
0
203
523
7
56
1175
1596
1
7
40
1
93
4
2
15
4
Disncia Geográfica (Km)
Diversidade
Nucleotídica (Pi)
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
Diversidade
Haplopica (Hd)
Pi
Hd
Linear (Hd)
Linear (Pi)
Figura 27- Análise de Regressão para D. hanleyanus. P>0,05.
Análise de Regressão para
Emerita brasiliensis
0
0,0002
0,0004
0,0006
0,0008
0,001
0,0012
0,0014
0
5
70
84
5
1057
1338
1535
2538
Disncia Geográfica (Km)
Diversidade
Nucleotídica (Pi)
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
Diversidade
Haplotípica (Hd)
Pi
Hd
Linear (Hd)
Linear (Pi)
Figura 28- Análise de Regressão para E. brasiliensis. P>0,05.
75
0,84
0,86
0,88
0,9
0,92
0,94
0,96
0,98
0
0,001
0,002
0,003
0,004
0,005
0,006
0,007
0,008
0,009
0,01
0
200
596
737
1020
1474
1605
2241
5328
Diversidade Haplotípica (Hd)
Diversidade Nucleotídica (Pi)
Distância Geográfica (Km)
Análise de Regressão para Ocypode quadrata
Pi
Hd
Linear (Pi)
Linear (Hd)
Figura 29- Análise de Regressão para O. quadrata. P>0,05.
76
5. DISCUSSÃO
Para se entender os processos que determinam a diversidade de organismos
costeiros e marinhos, é fundamental que se conheça a história evolutiva e os fatores que
determinaram a distribuição espacial das espécies que vivem nestes ambientes. Neste
sentido, ressaltamos que este estudo é o primeiro trabalho de filogeografia comparativa na
área geográfica em que foi desenvolvido (região costeira da América do Sul) e o primeiro
para estas espécies. Além de ser um dos poucos a incluir uma área tão abrangente.
Apesar de a biologia destas espécies de moluscos e crustáceos apresentarem
semelhanças em termos ecológicos, tais como a fase larval livre natante, o tempo de
geração e a longevidade, os padrões foram parcialmente concordantes, revelando a
complexidade da história filogeográfica de uma região e de suas espécies.
5.1 Diversidade Genética e História Demográfica
As quatro espécies apresentaram diversidade genética relativamente baixa quando
comparado a outros invertebrados marinhos (p.ex. Bucklin e Wiebe (1998), Hamm e
Burton (2000), Marko, (2004)), com diversidade nucleotídica entre ~0,3% a ~0,7%, sendo
que E. brasiliensis apresentou uma diversidade ainda menor, de 0,07%. Interessantemente,
não relação entre a diversidade genética e a abundância atual das espécies, pois E.
brasiliensis é a mais abundante atualmente, e a espécie menos abundante, M. mactroides,
apresentou a segunda maior diversidade nucleotídica e haplotípica. Um fator que pode
auxiliar no entendimento desta falta de correlação entre abundância populacional censitária
e diversidade genética é uma alta variância no sucesso reprodutivo, um fenômeno muito
77
conhecido em invertebrados marinhos (Boudry et al., 2002; Planes e Lenfant, 2002;
Chambers et al., 2006). Quanto maior a variância no sucesso reprodutivo individual menor
o tamanho efetivo de uma população, chegando a casos em que o Ne é várias ordens de
magnitude menor do que a tamanho populacional censitário (p.ex. Hedgecock, 1986;
Hedrick, 2005; Chambers et al., 2006; Araki et al., 2007; revisão em Avise 2000).
5.2 Coalescência, Expansão Populacional e as Glaciações
As estimativas de ponto de tempo de coalescência dos haplótipos (TMRCA) foram
diferentes para as quatro espécies, três dentro do último ciclo glacial (com início cerca
de 100 mil anos) e O. quadrata bem anterior, o que sugere que as quatro espécies tiveram
histórias demográficas com pelo menos alguns detalhes diferentes, que pode ser diferentes
tamanhos para as populações ancestrais, ou que as mesmas tivessem diferentes graus de
estruturação populacional. Por outro lado, os intervalos de confiança das estimativas de
TMRCA das espécies (com exceção de O. quadrata) se sobrepõe, o que significa que não
podemos refutar a hipótese de que os TMRCAs destas três espécies sejam simultâneos.
Porém o tempo de coalescência para os haplótipos de O. quadrata apenas marginalmente
se sobrepõe ao de D. hanleyanus, sugerindo fortemente que podemos considerá-lo como
sendo mais antigo do que as outras três espécies.
Os resultados adicionais tais como os testes de neutralidade e as estimativas do
mismatch distribution, parecem sugerir que estas épocas de TMRCA ocorreram
simultaneamente a um forte efeito “gargalo de garrafa” populacional (bottleneck) antigo,
seguido de expansão rápida, para as quatro espécies. Porém, os resultados mais detalhados
do BSP sugerem que, com exceção de M. mactroides, as expansões são mais recentes do
78
que as datas de coalescência (Fig. 21) e que as espécies passaram por períodos de
relativa “estabilidade demográfica” com diferentes durações, anteriores à expansão
populacional. Entretanto, esta “estabilidade demográfica” não deve ser considerada de
modo literal, pois, sabe-se que populações estruturadas podem inflar estes valores, mas
apesar disto, estes resultados sugerem para as três espécies um longo período com
populações no mínimo uma ordem de magnitude mais reduzidas do que a atual. Isto sugere
que estas populações menores devem ter tido distribuição bem mais limitada durante este
período, cujas áreas de ocorrência poderiam ser caracterizadas como refúgios, dos quais as
espécies teriam se expandido espacial e numericamente (ver abaixo). No caso de M.
mactroides, cuja coalescência ocorreu imediatamente antes da expansão, o resultado pode
ser explicado simplesmente considerando um tamanho populacional ancestral bastante
pequeno em termos absolutos, forçando uma coalescência muito rápida.
Os períodos glaciais, em especial o mais recente e no hemisfério norte, reduziram
drasticamente a distribuição das espécies a poucos refúgios em latitudes menores, onde as
espécies ficaram abrigadas e dali se expandiram, como está bem documentado para muitas
espécies, por exemplo, na América do Norte (Marko, 2004), na Europa (Verovnik et al.,
2005; Gittenberger et al., 2004) e no Ártico (Audzijonyte e Väinölä, 2006). Estes
prováveis refúgios glaciais são também os locais de maior diversidade genética em relação
às regiões mais recentemente colonizadas (Stevens e Hogg, 2003). Contudo, as
conseqüências dos períodos glaciais no hemisfério sul, em especial em regiões de latitudes
intermediárias (com é o caso aqui) são ainda pouco conhecidas e muito debatidas (Lessa et
al., 2003). Além disso, a influência destes ciclos glaciais nas espécies marinhas de praia é
ainda menos conhecida e geralmente menos drástica, neste caso devido à ausência de
geleiras em boa parte da costa apesar delas ocorrerem no continente na mesma latitude
79
(Murray-Jones e Ayre, 1997; Collin, 2001; Andrade et al., 2003; Lessa et al., 2003;
Hickerson et al., 2005; Kelly et al., 2006; Wilson, 2006).
Não observamos nenhuma tendência clara de correlação estatística entre valores de
diversidade dentro das populações e a latitude, em especial para D. hanleyanus, M.
mactroides e O. quadrata. Esta análise tinha como objetivo tentar identificar se, durante a
estabilidade populacional sugerida pelos resultados, as espécies poderiam ter permanecido
em refúgios (ao norte ou ao sul da distribuição), identificados como regiões com maior
diversidade genética atual, dos quais teriam se expandido para as demais localidades onde
se encontram hoje. Entretanto, não evidência com nossos dados de que estas três
espécies tenham passado por um processo em que tenham se abrigado em refúgios,
semelhante ao encontrado nas zonas continentais do hemisfério norte. Estes resultados
estão em concordância com aqueles obtidos nos poucos estudos de diversidade genética ao
longo do litoral brasileiro (Ignacio et al., 2000; Rocha et al., 2002). Além disso, mesmo no
hemisfério norte, muitas espécies também apresentam este mesmo cenário evolutivo, não
tendo se abrigado em refúgios e mostram hoje, padrões de estruturação populacional e de
diversidade genética semelhantes aos de D. hanleyanus e O. quadrata (Bucklin e Wiebe,
1998; Wares, 2002).
Apenas os dados de diversidade de E. brasiliensis (Tabela 6) sugerem maior
diversidade nas duas regiões mais ao norte da distribuição, compatível com um cenário de
expansão populacional recente a partir de refúgio ao norte da distribuição.
Interessantemente, os resultados da história demográfica estimada pelo BSP mostram que
E. brasiliensis é a única espécie que apresenta um padrão de expansão populacional
diferente das demais, muito mais recente, mais especificamente imediatamente após o
LGM, seguindo a melhora da temperatura e o aumento do nível do mar. Este resultado é
80
compatível com um cenário em que E. brasiliensis teria estado reduzido a um refúgio
em baixas latitudes durante a último ciclo glacial, em especial durante o LGM e que teria
se expandido em direção ao sul deste refúgio após o LGM (ver abaixo).
No caso de M. mactroides, a coalescência se deu exatamente no momento da
expansão, o que sugere um “bottleneck” populacional intenso daquele momento para o
passado, sugerindo possivelmente ser esta a espécie mais suscetível às mudanças
ambientais relacionadas ao ciclo glacial. Apesar de especulativo, esta maior sensibilidade
pode ser um dos fatores explicativos (junto com a exploração humana) da aparente
diminuição populacional recente observada nesta espécie.
Um tempo de coalescência muito mais antigo e a maior diversidade de O. quadrata
poderia ser explicada porque é única das quatro espécies que apresenta uma distribuição
muito maior do que a região de estudo (até a América do Norte), o que sugere uma
tolerância ecológica bastante extensa, além de dificultar a interpretação da questão dos
refúgios, pois por exemplo ela pode ter se abrigado em refúgios fora de nossa área
amostral.
Diferentemente de E. brasiliensis, as outras três espécies (M. mactroides, D.
hanleyanus e O. quadrata) apresentam um cenário de expansão populacional entre o final
do último interglacial e a metade da última idade glacial (entre 100 e 60 mil anos atrás,
Fig. 30).
81
Figura 30- Flutuação populacional para as quatro espécies estudadas e representação das
oscilações do nível do mar durante os últimos 150 mil anos (Jouzel et al., 2007). Barras
cinza= expansão populacional.
1.000
10.000
100.000
1.000.000
10.000.000
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
120
130
140
150
Milhares de anos
O. quadrata
M. mactroides
E. brasiliensis
D. hanleyanus
Tamanho Efetivo Populacional
82
Considerando o largo intervalo de confiança e a natureza qualitativa desta
avaliação, os resultados são compatíveis com a hipótese de que estas expansões tenham
ocorrido simultaneamente, durante o período glacial (mas antes do LGM), sugerindo que
elas podem ter se beneficiado de algum modo das condições ambientais durante o período
glacial, ao contrário de E. brasiliensis.
Uma expansão populacional bastante rápida e forte ocorreu há aproximadamente 15
mil anos atrás (entre 20 e 10 mil anos atrás) em E. brasiliensis. A partir de 21 mil anos
atrás (LGM) teve início a melhora acentuada da temperatura global em direção ao atual
clima interglacial (Smith et al., 2005) acompanhada da subida do nível do mar atingindo
gradualmente o nível atual (Fig. 30). A coincidência temporal entre a curva do aumento de
temperatura e a curva da expansão populacional sugere fortemente uma relação causal da
primeira em relação à segunda. Portanto, no caso de E. brasiliensis, o final do clima glacial
parece ter sido o fator que mais influenciou a dinâmica demográfica da espécie.
Todas as espécies aqui estudadas possuem características biológicas dependentes
de calor, assim como reprodução, crescimento e até mesmo disponibilidade de alimento
(Silveira, 1998; Bergonci, 2005), sendo que E. brasiliensis é capaz de interromper a
reprodução em condições de temperatura desfavoráveis (Silveira, 1998). O pico
reprodutivo de E. brasiliensis ocorre no verão, com o aparecimento de larvas maiores,
ocorrendo quase a ausência de larvas no inverno e seu reaparecimento na primavera. Neste
período ocorre uma grande queda de temperatura e salinidade, entretanto, em águas mais
frias os ovos são maiores e possuem mais reserva nutritiva, podendo sobreviver por mais
tempo no plâncton (Silveira, 1998).
A drástica diminuição populacional desta espécie durante o LMG pode ser
explicada pelo provável deslocamento para o norte devido à queda na temperatura do mar,
83
aliado a diminuição do nível do mar em mais de 100 metros, o que deve ter reduzido
drasticamente o habitat adequado à espécie, visto que a plataforma continental é mais
vertical em direção ao norte do litoral brasileiro, e nesta profundidade, o nível do mar
alcançou o talude, o qual, na região ao norte da distribuição de E. brasiliensis, apresenta-
se na forma de grandes cânions (Figueiredo Jr e Madureira, 2004). Além disso, as
características biológicas desta espécie, como sendo a única que tem um sistema de
alimentação por filtração passiva, necessitando de um fluxo laminar de água para obter
alimento, também pode ajudar a explicar este padrão demográfico diferente, que o mar
estando há mais de 100 metros impossibilitava a ocorrência de locais onde a espécie
pudesse sobreviver (sedimento) e se alimentar (não havendo fluxo de água). Entretanto,
apesar de especulativo, uma análise detalhada de mapas batimétricos (Dias, 1999) da
região de ocorrência da espécie, mostra pequenos locais onde a declividade é
significantemente menor, podendo ter sido locais de refúgio para a espécie,
a expansão populacional intensa após o LGM pode estar relacionada à expansão
para o sul e o aumento expressivo do habitat favorável com a recolonização da planície
costeira, onde a plataforma continental é bem menos inclinada.
Os jovens e recrutas de M. mactroides são migradores mareais, enquanto que os
adultos tendem a permanecer na mesma posição, independente da maré, movendo-se
somente durante ocasiões incomuns, como uma forte e brusca mudança no nível das marés
(Bergonci, 2005). O inverno, devido às baixas temperaturas, é o período em que a espécie
menos cresce, e apresenta uma mudança em relação ao seu comportamento, migrando para
a região inferior da zona de varrido. Este comportamento pode ser devido à escassez de
alimento, quando os animais reduzem a atividade metabólica, ou uma tentativa de evitar o
estresse provocado por temperaturas extremamente frias (Bergonci, 2005).
84
É sabido que O. quadrata é muito sensível ao frio, sendo que o acasalamento
ocorre no verão, pois ela necessita de calor para a reprodução, além disso, depende da
umidade nos seus canais branquiais para respiração (Alberto, 1995). Em meses de inverno,
com temperaturas abaixo de 16°C, a espécie hiberna, e devido à necessidade de umidade,
as tocas onde vivem não podem ser construídas muito longe da linha do mar (Alberto,
1995). Além disto, o clima glacial era frio e seco (Porter, 2000) e tendo afetado as
populações da maioria das espécies (Souza et al., 2005), pode ter interferido na
disponibilidade de alimento para O. quadrata, a qual alimenta-se de restos orgânicos que
se acumulam na praia (peixes, ovos de pássaros e vegetais).
Ao mesmo tempo, as diferenças encontradas entre as espécies em termos de
diversidade genética, nível de estruturação e taxa de crescimento populacional, podem ter
sido influenciadas pelas diferenças ecológicas intrínsecas entre as espécies, que
determinam respostas idiossincráticas aos eventos de mudança ambiental, influenciando a
sua história demográfica e o nível de fluxo gênico, como ocorreu com E. brasiliensis.
Além destes fatores, não podemos desconsiderar que processos estocásticos
também são importantes na determinação da variação genética das populações,
possibilitando que as espécies respondam de maneira diferente aos mesmos eventos
ambientais. Por exemplo, no hemisfério norte, duas espécies de gastrópodo marinho com
mesmo tipo de desenvolvimento larval, apresentam hoje diferentes padrões de estruturação
populacional, inferindo-se que as diferenças ecológicas entre os grupos foi fator
determinante na sua história evolutiva, mais até mesmo do que a sua capacidade dispersiva
larval (Marko, 2004).
85
5.3 Estruturação Populacional
Embora contestado por alguns trabalhos (Dooh et al., 2006; Zardus et al., 2006;
Waters et al., 2007), um dos pressupostos a respeito da estruturação populacional em
espécies marinhas supõe que em espécies com ciclo de vida larval relativamente longo, a
alta conectividade marinha resultaria em alto fluxo gênico e conseqüente baixa
estruturação populacional. Porém, existem trabalhos que mostram evidências de que
organismos com dispersão larval nem sempre realizam todo seu potencial dispersivo
(Becker et al., 2007), pois muitas vezes as larvas são predadas antes mesmo de
dispersarem a longas distâncias, além do fato de que estas constatações de dinâmica larval,
geralmente feitas em laboratório, não levam em consideração, por exemplo, o
comportamento larval e a hidrodinâmica da dispersão (Cowen et al., 2000; Lazoski et al,
2001).
Neste caso, não é surpreendente encontrarmos organismos marinhos com fase
larval livre natante com alto nível de estruturação populacional, como encontrado neste
trabalho para o molusco M. mactroides e o crustáceo E. brasiliensis, os quais apresentaram
alto índice de estruturação em praticamente todas as análises, apresentando barreira ao
fluxo gênico em locais muito próximos aos locais com valores de Φst e Fst
estatisticamente divergentes.
Resultados similares de estruturação populacional para organismos com aspectos
ecológicos semelhantes aos das espécies aqui estudadas, como a presença de fase larval,
foram encontrados para uma espécie de camarão na região do Indo-Oeste Pacífico.
Haptosquilla pulchella apresentou alto padrão de estruturação populacional diferenciando
populações habitantes de diferentes bacias oceânicas separadas durante os eventos glaciais
86
pleistocênicos quando o vel do mar baixou a ponto de separar essas populações, e
mostrou que mesmo as larvas desta espécie tendo a capacidade de se dispersarem pelas
correntes marinhas, elas não se distanciaram mais de 300 km de seu local de origem
(Barber et al., 2002). Entretanto para esta mesma região o gastrópodo Haliotis asinina com
a mesma capacidade dispersiva, não apresentou nenhum padrão de estruturação
populacional (Imron et al., 2007).
Este trabalho sugere que M. mactroides está dividida em duas subpopulações: uma
incluindo as amostras aqui denominadas do Sudeste (representadas por Ilha Comprida e
Peruíbe ambas pertencentes ao estado de São Paulo) e outra incluindo as amostras
denominadas do Sul (do Farol de Santa Marta, SC até o Chui, RS). Através da análise da
rede de haplótipos, 81,8% dos pertencentes ao Sudeste apresentaram-se em um clado
separado do grupo Sul, entretanto estão separados por uma única mutação, o que indica um
nível de estruturação populacional recente (Avise, 2000). É claro que esta subdivisão pode
também ser explicada pelo hiato amostral entre estes dois grupos, principalmente se houver
um isolamento por distância nestas populações. Porém, a análise de autocorrelação
espacial (Fig. 14) não apresenta evidências deste fenômeno para esta espécie.
Por outro lado, M. mactroides não apresenta diferenciação populacional para as
amostras da região costeira do extremo Sul, onde o sucesso amostral foi significativamente
maior, o que poderia ocorrer se as saídas de água doce desta região fossem barreiras
significativas à dispersão larval desta espécie. Este resultado corrobora o único estudo para
esta espécie nesta região, realizado mais especificamente no sul do Rio Grande do Sul, em
que Marins e Levy (2000) inferiram homogeneidade genética e alto fluxo gênico em uma
região de 100 km ao redor da desembocadura da Lagoa dos Patos.
87
E. brasiliensis também apresentou padrão de estruturação populacional pelos
índices de fixação Φ
ST
e F
ST
, dividindo-se em uma população incluindo desde Picinguaba
(norte de São Paulo) até Itaúnas (norte do Espírito Santo), e outra população abrangendo as
demais amostragens em direção ao sul, embora curiosamente Copacabana (RJ) não tenha
apresentado esta diferenciação. Entretanto, a barreira gerada pelo algoritmo de Monmonier
foi encontrada entre Copacabana (RJ) e Picinguaba (SP). Apesar disto, a análise da rede de
haplótipos não deixa clara esta divisão, apresentando um alto compartilhamento de
haplótipos nos dois clados resultantes.
Cabo Frio cerca de 120 km ao norte de Copacabana tem sido reconhecido como
uma barreira biogeográfica entre as regiões Tropical e Temperada-Quente (Maggioni et al.,
2003). Esta região foi considerada barreira biogeográfica para o camarão Litopenaeus
schmitti (Maggioni et al., 2003) e para algumas espécies de algas bentônicas que só
ocorrem deste ponto para o norte, além de se encontrar uma maior diversidade de
organismos ao norte de Cabo Frio, provavelmente devido à abundância de nutrientes
proporcionado pelo fenômeno da ressurgência (descrito na Introdução) (Guimaraens e
Coutinho, 1995). Entretanto, apesar de estar próxima à área onde encontramos a barreira
para E. brasiliensis, com os dados que temos, é difícil avaliar se esta região e estes
fenômenos realmente serviram como uma barreira para esta espécie.
Por outro lado as espécies D. hanleyanus e O. quadrata não apresentaram
estruturação populacional significativa, estando quase ao nível de população panmítica,
revelado pelos valores de Φst e Fst muito próximos a zero (Wright, 1978). Além disto, as
análises de AMOVA em nível de população e utilizando-se a divisão sugerida pelo
algoritmo de Monmonier corroboram esta falta de estruturação, apresentando valores
muito baixos de variância entre as populações (pontos de coleta). Estes resultados estariam
88
de acordo com outros estudos costeiros investigando espécies com ou sem ciclo de vida
larval, para espécies de invertebrados ocorrentes no Brasil (Ignacio et al., 2000; Maggioni
et al., 2003) e em outras partes do mundo (Barber et al., 2002; Uthicke e Benzie, 2003;
Richards et al., 2007).
Sendo assim, a ocorrência de estruturação populacional para duas espécies
estudadas neste trabalho, assim como a sua ausência para outras duas, apesar de todas
possuírem modos de vida semelhantes, sugere que a dinâmica larval é muito específica e
depende de vários fatores ambientais e casuais, o que foi mostrado até mesmo para as
espécies do mesmo gênero, Mytilus californianus e M. galloprovincialis que apresentaram
diferentes padrões de dispersão larval na costa da Califórnia (Becker et al., 2007).
5.4 Saídas de Água Doce no Mar como Barreiras Biogeográficas?
Nenhuma foz representada por rios que desembocam ao longo da região costeira
estudada foi significativa para diferenciação das populações para as quatro espécies. Por
maior que seja o volume de água destes rios, a maioria deles é constituída de uma pequena
extensão em sua foz, de 100 a 200 m de vazão em média. Entretanto, a maior vazão de
água doce encontrada em nossa área amostral, é a foz do Rio da Prata, entre a Argentina e
o Uruguai, com cerca de 230 km de extensão (Urien, 1972), lançando um volume
considerável de água doce na costa. Porém, para D. hanleyanus, a qual pudemos amostrar
ambos os lados deste rio (Argentina e Uruguai) esta foz não se apresentou como uma
barreira efetiva para a dispersão desta espécie, sendo que nenhuma das análises mostrou
possibilidade de barreira geográfica nesta região.
89
Entretanto, durante as transgressões marinhas pleistocênicas, a salinidade na foz
do Rio da Prata era muito maior do que a que encontramos a partir do último máximo
regressivo há cerca de 21 mil anos, o que tornava a zona da foz deste rio com característica
euhalina, ou seja, com salinidade maior do que 30% (Fucks et al., 2005). Esta maior
salinidade pode ter proporcionado o fluxo gênico em ambos os sentidos norte e sul do Rio
da Prata, podendo ter sido um dos fatores responsáveis por uma homogeneização genética
para esta espécie.
Para o litoral brasileiro o único rio que se mostrou como uma barreira
biogeográfica (para os peixes Acanthurus bahianus e A. coeruleus) foi o Rio Amazonas, o
qual possui uma vazão que pode chegar até 230 km em época de cheia (Siqueira et al.,
2006) e tem se mostrado como uma das principais barreiras biogeográfica entre o Brasil e
o Caribe (Rocha et al., 2002). Entretanto para outra espécie deste mesmo gênero, A.
chirurgus, esta barreira não teve nenhum efeito (Rocha et al., 2002). Esta diferença foi
atribuída a diferenças de preferência de habitat do animal adulto, que A. chirurgus,
possui menor restrição de habitat, podendo se dispersar muito mais do que as outras duas
espécies (Rocha et al., 2002).
5.5 Influência das Correntes Marinhas e Ventos Litorâneos
As correntes marinhas e os ventos litorâneos podem influenciar na dispersão das
espécies, pois ambos têm influência direta ou indireta sobre a margem e a plataforma
continental (Seeliger et al., 1998). Na costa sudeste e sul brasileira, temos o registro da
ação de algumas destas correntes. O anticiclone do Atlântico Sul, criado pela zona de
convergência entre a corrente das Malvinas, vinda do Sul e trazendo águas frias, com a
90
corrente do Brasil, vinda do norte e trazendo águas quentes, tem uma posição que varia
na faixa de 18º a 35º de latitude Sul, que corresponde desde o Uruguai até o Espírito Santo
(Vieira e Rangel, 1988). A ão destas correntes certamente tem influencia (direta ou
indiretamente) na dispersão das larvas das espécies aqui estudadas e pode ser um fator de
homogeneização para D. hanleyanus e O. quadrata.
Os ventos de Nordeste que atingem a costa sul ao longo do ano e os de Sudoeste
que atingem a costa durante a passagem de frentes frias são fenômenos resultantes
diretamente do efeito do anticiclone do Atlântico Sul (Seeliger et al., 1998). A direção dos
ventos, sendo diretamente influenciada pela ão das correntes, interfere nos padrões de
circulação locais e na margem continental, e influencia até mesmo na descarga de água
doce a partir de canais de acesso ao mar, além do fato de essas correntes poderem chegar
até a margem continental. Sendo assim, além do transporte de água sobre a plataforma
continental ser influenciado pelos ventos, ele também é uma conseqüência do impacto de
correntes do oceano aberto nas feições topográficas da plataforma (Seeliger et al., 1998),
onde as larvas dos invertebrados aqui estudados podem ser encontradas (Alberto, 1995;
Silveira, 1998; Bergonci, 2005; Gil, 2005). Sendo assim, a dispersão larval destas espécies
pode ser proporcionada por efeito tanto das correntes marinhas quanto dos ventos
litorâneos.
Não existem estudos sobre a dinâmica da dispersão larval na natureza para estas
quatro espécies. Em condições de laboratório as larvas de D. hanleyanus podem viver até
30 dias antes de se fixar no substrato para se desenvolver (Gil, 2005), e para as demais
espécies registros de apresentam um período larval entre 60 e 90 dias (Alberto, 1995;
Silveira, 1998; Bergonci, 2005), porém as larvas devem se comportar de maneira muito
mais dinâmica em campo, como já citado (Cowen et al., 2000; Lazoski et al., 2001). Neste
91
sentido, se torna extremamente difícil estabelecer qualquer relação entre a dispersão
larval proporcionada pelos ventos e pelas correntes marinhas, e a estruturação populacional
encontrada para duas das quatro espécies aqui estudadas, que o período de dispersão
para cada uma delas pode variar significativamente.
Santos et al. (2006) atribuíram a alta estruturação populacional encontrada para o
peixe Macrodon ancylodon na costa brasileira à presença de correntes marinhas frias e
quentes, interferindo na dispersão da espécie, dividindo-a em um clado compreendendo a
região Espírito Santo - Argentina, denominado subtropical, e outro clado denominado
tropical, compreendendo Venezuela - Bahia. Porém para o camarão Litopenaeus schmitti
coletado em quase toda costa brasileira, cinco de um total de seis loci de microsatélites
sugeriram que as correntes marinhas tenham agido como fator homogeneizador nesta
espécie (Maggioni et al., 2003).
Para a área de divisão populacional encontrada para as espécies aqui estudadas, não
ocorrência de encontro entre correntes, além da Convergência do Atlântico Sul.
Entretanto esta convergência não sendo fixa, podendo flutuar sazonalmente, impossibilita a
sua relação com a separação de M. mactroides e E. brasiliensis ao norte de SP e sul do RJ.
92
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Ab’Sáber AN (2001) Litoral do Brasil. Metalivros, São Paulo, 252 pp.
Alberto RMF (1995) Distribuição e estrutura etária de Ocypode quadrata (Fabricius, 1787)
em praia arenosa do litoral sul do Brasil (Crustácea, Decapoda, Ocypodae). Dissertação
de Mestrado, Faculdade de Biociências, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul.
Andrade SCS, Magalhães CA e Solferini VN (2003) Patterns of genetic variability in
Brazilian Littorinids (Mollusca): a macrogeographic approach. J Zool Syst Evol
Research 41: 249-255.
Ansell AD (1983) The biology of genus Donax. In: Sandy beach as ecosystems (A.
McLachlan & T. Erasmus, eds), 607-635. W. Junk, The Hague.
Araki H, Waples RS, Ardren WR, Cooper B e Blouin MS (2007) Effective population size
of steelhead trout: influence of variance in reproductive success, hatchery programs, and
genetic compensation between life-history forms. Mol Ecol 16: 953-966.
Audzijonyte A e Väinölä R (2006) Phylogeographic analyses of a circumarctic coastal and
a boreal lacustrine mysid crustacean, and evidence of fast postglacial mtDNA rates. Mol
Ecol 15: 3287-3301.
Avise JC, Arnold J, Ball RM, Bermingham E, Lamb T, Neigel JE, Reeb CA e Saunders
NC (1987) Intraspecific phylogeography: the mitochondrial DNA bridge between
population genetics and systematics. Annual Review of Ecology and Systematics 18:
489-522.
Avise JC (2000) Phylogeography: the history and formation of species. Harvard University
press, Cambridge. 447pp.
Bandelt HJ, Forster P e Rohl A (1999) Median-joining networks for inferring intraspecific
phylogenies. Mol Biol Evol 16: 37-48.
Barber PH, Palumbi SR, Erdmann V e Moosa MK (2002) Sharp genetic breaks among
populations of Haptosquilla pulchella (Stomatopoda) indicate limits to larval transport:
patterns, causes, and consequences. Mol Ecol 11: 659-674.
Becker BJ, Levin LA, Fodrie FJ e McMillan PA (2007) Complex larval connectivity
patterns among marine invertebrate populations. Proc Nat Acad Sci USA 27: 3267-
3272.
Bergonci PEA (2005) Aspectos da dinâmica populacional do marisco branco Mesodesma
mactroides Deshayes, 1854 (Mollusca, Bivalvia) em praia arenosa exposta do Rio
Grande do Sul. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Biociências, Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
93
Bernardi G (2000) Barriers to gene flow in Embiotoca jacksoni, a marine fish lacking a
pelagic larval stage. Evolution 54: 226–237.
Bilodeau AL, Felder DL e Neigel JE (2005) Population structure at two geographic scales
in the burrowing crustacean Callichirus islagrande (Decapoda, Thalassinidea):
historical and contemporary barriers to planktonic dispersal. Evolution 59: 2125-2138.
Bilton DT, Paula J e Bishop JDD (2002) Dispersal, genetic differentiation and speciation
in estuarine organisms. Estuarine Coastal and Shelf Science 55: 937-952.
Blankensteyn, A (2006) The use of the ghost crab Ocypode quadrata (Fabricius)
(Crustacea, Ocypodidae) as an indicator of anthropogenic impacts in the sandy beaches
of Santa Catarina island, southern Brazil. Rev Bras Zool 23: 870-876.
Bond-Buckup G e Buckup L (1999) Os Crustáceos do Rio Grande do Sul. Editora da
Universidade, Porto Alegre. 412pp.
Boudry P, Collet B, Cornette F, Hervouet V e Bonhomme F (2002) High variance in
reproductive success of the Pacific oyster (Crassostrea gigas, Thunberg) revealed by
microsatellite-based parentage analysis of multifactorial crosses. Aquaculture 204: 283-
296.
Bucklin A e Wiebe PH (1998) Low mitochondrial diversity and small effective population
sizes of the copepods Calanus finmarchicus and Nannocalanus minor: possible impact
of climatic variation during recent glaciation. The Journal of Heredity 89: 383-392.
Burton RS e Lee BN (1994) Nuclear and mitochondrial gene genealogies and allozyme
polymorphism across a major phylogeographic break in the copepod Tigriopus
californicus. Proc Nat Acad Sci USA, 91: 5197–5201.
Castellanos ZA e Fernandez D (1965) Sobre la presencia de Donax hanleyanus em la costa
Argentina. Neotropica 11: 58-60.
Castello JP, Odebrecht C and Seeliger EU (1998) Os Ecossistemas Costeiro e Marinho do
Extremo Sul do Brasil. Editora Ecoscientia, Rio Grande, 326pp.
Cardoso A e Vogler AP (2005) DNA taxonomy, phylogeny and Pleistocene diversification
of the Cicindela hybrida species group (Coleoptera: Cicindelidae) Mol Ecol 14: 3531-
3546.
Cavallotto JL, Violante RA e Parker G (2004) Sea-level fluctuations during the last 8600
years in the de la Plata river (Argentina). Quaternary International 114: 155–165.
Chambers MD, VanBlaricom GR, Hauser L, Utter F e Friedman CS (2006) Genetic
structure of black abalone (Haliotis cracherodii) populations in the California islands
and central California coast: Impacts of larval dispersal and decimation from withering
syndrome. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology 331: 173–185.
94
Collin R (2001) The effects of mode of development on phylogeography and population
structure of North Atlantic Crepidula (Gastropoda: Calyptraeidae). Mol Ecol 10: 2249-
2262.
Cowen RK, Lwiza MM, Sponaugle S, Paris CB e Olson DB (2000). Connectivity of
Marine Populations: Open or Closed?
Dawson MN (2001) Phylogeography in coastal marine animals: a solution from
California? Journal of Biogeography 28: 723-736.
Dawson MN, Louie KD, Barlow M. et al. (2002) Comparative phylogeography of
sympatric sister species, Clevelandia ios and Eucyclogobius newberryi (Teleostei,
Gobiidae), across the California Transition Zone. Mol Ecol 11:1065-1075.
Defeo O e Alava A (1995) Effects of human activities on long term trends in sandy beach
populations: the wedge clam Donax hanleyanus in Uruguay. Marine Ecology Progress
Series 123: 73-82.
Defeo O (1996) Recruitment variability in sandy beach macrofauna: much to learn yet.
Revista Chilena de Historia Natural 69: 615–630.
Defeo O e Cardoso RS (2004) Latitudinal patterns in abundance and life-history traits of
the mole crab Emerita brasiliensis on South American sandy beaches. Diversity Distrib
10: 89–98.
Dias GTM (1999) Levantamento dos dados pretéritos de oceanografia geológica do
programa REVIZEE. Mimeo. 156pp.
Dooh RT, Adamowicz J e Hegert DN (2006) Comparative phylogeography of two North
American ´glacial relict´ crustaceans. Mol Ecol 15: 4459-4475.
Doyle and Doyle (1987) A rapid DNA isolation procedure for small amounts of fresh leaf
tissue. Phytochemical Bulletin 19: 11-15.
Drummond AJ e Rambaut A (2003) BEAST version 1.0, Available from
http://evolve.zoo.ox.ac.uk/beast/.
Etter RJ, Rex MA, Chase MR, e Quattro JM (2005) Population differentiation decreases
with depth in deep-sea bivalves. Evolution 59: 1479–1491.
Excoffier L, Smouse PE (1994) Using allele frequencies and geographic subdivision to
reconstruct gene tree within a species: molecular variance parsimony. Genetics 136:
343-359.
Figueiredo Jr AG e Madureira LSP (2004) Topografia, composição, refletividade do
substrato marinho e identificação de províncias sedimentares na região Sudeste-Sul do
Brasil. São Paulo, Instituto Oceanográfico. USP. 64pp.
95
Folmer O, Black M, Hoeh W, Lutz R e Vrijenhoek R (1994) DNA primers for
amplification of mitochondrial cytochrome c oxidase subunit I from diverse metazoan
invertebrates. Mol. Mar. Biol. Biotechnol. 3: 294–299.
Fu YX e Li WH (1993) Statistical tests of neutrality mutations. Genetics 133: 693–709.
Fu YX (1997) Statistical tests of neutrality of mutations against population growth,
hitchhiking and background selection. Genetics 147: 915–925.
Fucks E, Aguirre M, Deschamps C. M. (2005) Late Quaternary continental and marine
sediments of northeastern Buenos Aires province (Argentina): Fossil content and
paleoenvironmental interpretation. Journal of South American Earth Sciences 20: 45–56
Gianuca NM (1983) A preliminary account of the ecology of the sandy beaches in southern
Brazil. In: McLachlan A e Erasmus T (ed). Sandy beaches as ecosystems. Junk
Publishers, The Hague, pp 413-419.
Gianuca NM (1985) The ecology of a sandy beaches in southern Brazil. Tese de
Doutorado, Southampton University, pp 330.
Gianuca NM (1987) Zonação e produção nas praias arenosas do litoral sul e sudeste do
Brasil: síntese dos conhecimentos. Simpósio sobre ecossistemas da costa sul e sudeste
brasileira. Academia de Ciências de São Paulo 1: 313-332.
Gil GM (2005) Zonação por tamanho, estabilização da forma da concha e atividade
reprodutiva em espécies do gênero Donax (Mollusca, Bivalvia, Donacidae). Tese de
doutorado, Faculdade de Biociências, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul.
Gil GM e Thomé W (2001) Distribuição vertical de Donax hanleyanus Philippi, 1847
(Mollusca, Bivalvia, Donacidae) em uma praia arenosa do Rio Grande do Sul.
Biociências 9: 33-44.
Grazziotin FG, Monzel M, Echeverrigaray S e Bonatto SL (2006) Phylogeography of the
Bothrops jararaca complex (Serpentes: Viperidae): past fragmentation and island
colonization in the Brazilian Atlantic Forest. Mol Ecol 15: 3969-3982.
Guimaraens MA e Coutinho R (1995) Spatial and temporal variation of benthic marine
algae at the Cabo Frio upwelling region, Rio de Janeiro, Brazil. Aquatic Botany 52:
283-299.
Gittenberger E, Piel WH e Groenenberg DSJ (2004) The Pleistocene glaciations and the
evolutionary history of the polytypic snail species Arianta arbustorum (Gastropoda,
Pulmonata, Helicidae). Mol Phylogenet Evol 30: 01-10.
96
Guralnick R (2006) The legacy of past climate and landscape change on species current
experienced climate and elevation ranges across latitude: a multispecies study utilizing
mammals in western North America. Global Ecol. Biogeogr. 15: 505-518.
Hamm DE, Burton RS (2000) Population genetics of black abalone, Haliotis cracherodii,
along the central California coast. 254: 235–247.
Hedgecock D (1986) Is gene flow from pelagic larval dispersal important in the adaptation
and evolution of marine invertebrates? Bull Mar Sci 39: 550–564.
Hedrick P (2005) Large variance in reproductive success and the Ne/N ratio. Evolution In J
Org Evolution 59: 1596-1599.
Hellberg ME e Vacquier VD (1999) Rapid evolution of fertilization selectivity and lysine
cDNA sequences in teguline gastropods. Mol Biol Evol 16: 839-848.
Hewitt GM (2001) Speciation, hybrid zones and phylogeography-or seeing genes in space
and time. Mol Ecol 10: 537-549.
Hickerson MJ e Cunningham CW (2005) Contrasting quaternary histories in an
ecologically divergent sister pair of low-dispersing intertidal fish (Xiphister) revealed by
multilocus DNA analysis. Evolution 59: 344-360.
Hoffman FG e Baker RJ (2003) Comparative phylogeography of short-tailed bats
(Carollia: Phyllostomidae). Mol Ecol 12: 3403- 3414.
Hugall A, Moritz C, Moussalli A e Stanisic J (2002) Reconciling paleodistribution models
and comparative phylogeography in the Wet Tropics rainforest land snail Gnarosophia
bellendenkerensis (Brazier 1875). Proc Nat Acad Sci USA 99: 6112-6117.
Ignacio BL, Absher TM, Lazoski C e Sole-Cava AM (2000) Genetic evidence of the
presence of two species of Crassostrea (Bivalvia: Ostreidae) on the coast of Brazil.
Marine Biology 136: 987-991.
Imron, Jeffrey B, Hale P, Degnan BM e Degnan SM (2007) Pleistocene isolation and
recent gene flow in Haliotis asinine, an Indo-Pacific vetigastropod withlimited dispersal
capacity. Mol Ecol 16: 289-304.
Jolly MT, Viard F, Gentil F, Thiébaut E e Jollivet D (2006) Comparative phylogeography
of two coastal polychaete tubeworms in the Northeast Atlantic supports shared history
and vicariant events. Mol Ecol 15: 1841-1855.
Jouzel J, Masson-Delmotte, Cattani O et al., (2007) Orbital and Millennial Antarctic
Climate Variability over the Past 800,000 Years. Science 317: 793-796.
Kelly DW, MacIsaac HJ e Heath DD (2006) Vicariance and dispersal effects on
phylogeographic structure and speciation in a widespread estuarine invertebrate.
Evolution 60: 257-267.
97
Klautau M, Russo CAM, Lazoski C, Boury-Esnault N, Thorpe JP e Sole-Cava AM
(1999) Does Cosmopolitanism result from overconservative systematics? A case study
using the marine sponge Chondrilla nucula. Evolution 53: 1414-1422.
Knowlton N, Weigt LA, Solorzano LA, Mills DK e Birmingham E (1993) Divergence in
proteins, mitochondrial DNA, and reproductive compatibility across the Isthmus of
Panama Science 260: 1629-1632.
Kuhner MK (2006) Lamarc 2.0: maximum likelihood and Bayesian estimation of
population parameters. Bioinformatics 22: 768–770.
Kumar S., Tamura K e Nei M (2004) MEGA3: Integrated software for Molecular
Evolutionary Genetics Analysis and sequence alignment. Briefings in Bioinformatics 5:
2.
Lamparelli CC and Moura DO (1999) Mapeamento dos Ecossistemas Costeiros do Estado
de São Paulo. CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. 64p.
Lazoski C, Sole-Cava AM, Boury-Esnault N, Klautau M e Russo CAM (2001) Cryptic
speciation in a high gene flow scenario in the oviparous marine sponge Chondrosia
reniformis. Marine Biology 139: 421-429.
Lercari D and Defeo O (1999) Effects of freshwater discharge in sandy beach populations:
the mole crab Emerita brasiliensis in Uruguay. Estuarine, Coastal and Shelf Science
49: 457-468.
Lercari D, Defeo O e Celentano E (2002) Consequences of a freshwater canal discharge on
the benthic community and its habitat on an exposed sandy beach. Marine Pollution
Bulletin. 44: 1397-1404.
Lessa EP, Cook JA e Patton JL (2003) Genetic footprints of demographic expansion in
North America, but not Amazonia, during the Late Quaternary. PNAS 100: 10331-
10334.
Li G e Hedgecock D (1998) Genetic heterogeneity, detected by PCR-SSCP, among
samples of larval pacific oysters (Crassostrea gigas) supports the hypothesis of large
variance in reproductive success. Canadian Journal of Fisheries and Aquatic Sciences,
55: 1025–1033.
Lourie SA, Green DM e Vincent CJ (2005) Dispersal, habitat differences, and comparative
phylogeography of Southeast Asian seahorses (Syngnathidae: Hippocampus) Mol Ecol
14: 1073-1094.
Lucas AJ, Guerrero RA, Mianzán HW, Acha EM e Lasta CA (2005) Coastal
oceanographic regimes of the Northern Argentine Continental Shelf (34-43º S).
Estuarine, Coastal and Shelf Science 65. 405-420.
98
Luttikhuizen PC, Drent J e Baker AJ (2003) Disjunct distribution of highly diverged
mitochondrial lineage clade and population subdivision in a marine bivalve with pelagic
larval dispersal. Mol Ecol 12: 2215-2229.
Maggioni R, Rogers AD e Maclean N (2003) Population structure of Litopenaeus schmitti
(Decapoda: Penaeidae) from the Brazilian coast identified using six polymorphic
microsatellite loci. Mol Ecol 12: 3213-3217.
Mantel N (1967) The detection of disease clustering and a generalized regression approach.
Cancer Research 27: 209–220.
Marins LF, Levy JA (2000) Análise do fluxo gênico de Mesodesma mactroides Deshayes,
1854 (BIVALVIA, MESODESMATIDAE) na zona costeira adjacente à saída do
estuário da Lagoa dos Patos (Rio Grande – RS). Atlântica 22: 13-26.
Marko PB (2004) ´What´s larvae got to do with it?´ Disparate patterns of post-glacial
population structure in two benthic marine gastropods with identical dispersal potential.
Mol Ecol 13: 597-611.
Mathews LM, Schubart CD, Neigel JE e Felder DL (2002) Genetic, ecological, and
behavioural divergence between two sibling snapping shrimp species (Crustacea:
Decapoda: Alpheus). Mol Ecol 11: 1427-1437.
McLachlan A (1990) Dissipative beaches and macrofauna communities on exposed
intertidal sands. Journal of Coastal Research 6: 57-72.
Miller MP (2005) Alleles In Space: Computer software for the joint analysis of
interindividual spatial and genetic information. Journal of Heredity 96: 722-724.
Monmonier MS (1973) Maximum-difference barriers: an alternative numerical
regionalization method. Geographical Analysis 5: 245-261.
Moritz C e Faith DP (1998) Comparative phylogeography and the identification of
genetically divergent areas for conservation. Mol Ecol 7: 419-429.
Murray-Jones SE e Ayre DJ (1997) High levels of gene flow in the surf bivalve Donax
deltoids (Bivalvia: Donacidae) on the east coast of Australia. Marine Biology 128: 83-
89.
Narchi W (1974) Aspectos ecológicos e adaptativos de alguns bivalves do litoral paulista.
Papéis Avulsos de Zoologia 27: 235-262.
Narchi W (1978) Functional anatomy of Donax hanleyanus Philippi, 1847 (Donacidae -
Bivalvia). Boletim de Zoologia da Universidade de São Paulo 3: 121-142.
Neiman M e Lively CM (2004) Pleistocene glaciation is implicated in the
phylogeographical structure of Potamopyrgus antipodarum, a New Zealand snail. Mol
Ecol 13: 3085-3089.
99
Neves FM e Bemvenuti CE (2006) The ghost crab Ocypode quadrata (Fabricius, 1787) as
a potential indicator of anthropic impact along the Rio Grande do Sul coast, Brazil.
Biological Conservation 133: 431-435.
Palumbi SR (1992) Marine Speciation on a small planet. Tree 7: 114-118.
Penchaszadeh PE e Olivier SR (1975) Ecología de uma población de “berberecho” (Donax
hanleyanus) en Villa Gesell, Argentina. Malacologia, Ann Arbor 15: 133-146.
Perrin C, Wing SR e Roy MS (2004) Effects of hydrographic barriers on population
genetic structure of the sea star Coscinasterias muricata (Echinodermata, Asteroidea) in
the New Zealand fiords. Mol Ecol 13: 2183-2195.
Pfenninger M, Posada D e Magnin F (2003) Evidence for survival of Pleistocene climatic
changes in Northern refugia by the land snail Trochoidea geyeri (Soós 1926)
(Helicellinae, Stylommatophora). BMC Evolutionary Biology 3:1-14.
Planes S e Lenfant P (2002) Temporal change in the genetic structure between and within
cohorts of a marine fish, Diplodus sargus, induced by a large variance in individual
reproductive success. Mol Ecol 11: 1515–1524.
Porter SC (2000) Snowline depression in the tropics during the Last Glaciation. Quaternary
Science Reviews. 19: 1067-1091.
Posada D and Crandall KA (1998) MODELTEST: Testing the model of DNA substitution.
Bioinformatics 14: 817-818.
Richards VP, Thomas JD, Stanhope MJ e Shivji MS (2007) Genetic connectivity in the
Florida reef system: comparative phylogeography of commensal invertebrates with
contrasting reproductive strategies. Mol Ecol 16: 139-157.
Rios EC (1994) Seashells of Brazil. Fundação Universidade de Rio Grande, Rio Grande.
368 pp.
Rocha-Olivares A, Fleeger JW e Foltz DW (2001) Decoupling of Molecular and
Morphological Evolution in Deep Lineages of a Meiobenthic Harpacticoid Copepod.
Mol Biol Evol 18: 1088-1102.
Rocha LA, Bass AL, Robertson R e Bowen BW (2002) Adult habitat preferences, larval
dispersal, and the comparative phylogeography of three Atlantic surgeonfishes
(Teleostei: Acanthuridae). Mol Ecol 11: 243–252.
Rogers A R e Harpending H (1992) Population growth makes waves in the distribution of
pairwise genetic differences. Mol Biol Evol 9: 552–569.
Rozas J, Sanchez-Delbarrio JC, Messeguer X and Rozas R (2003) DnaSP, DNA
polymorphism analyses by the coalescent and other methods. Bioinformatics 19: 2496-
2497.
100
Sambrook J and Russell DW (2001) Molecular Cloning-Alaboratory Manual. Cold Spring
Harbor, New York.
Santos S, Schneider H e Sampaio I (2003) Genetic differentiation of Macrodon ancylodon
(Sciaenidae, Perciformes) populations in Atlantic coastal waters of south America as
revealed by mtDNA analysis. Genetics and Molecular Biology 26: 151-161.
Santos S, Hrbek T, Farias IP, Schneider H e Sampaio I (2006). Population genetic
structuring of the king weakfish, Macrodon ancylodon (Sciaenidae), in Atlantic coastal
waters of South America: deep genetic divergence without morphological change. Mol
Ecol 15: 4361-4373.
Satoh A, Sota T, Uéda T, Enokido Y, Paik JC e Hori M (2004) Evolutionary history of
coastal tiger beetles in Japan based on a comparative phylogeography of four species.
Mol Ecol 13: 3057-3069.
Schlacher TA, Thompson L e Price S (2007) Vehicles versus conservation of invertebrates
on sandy beaches: mortalities inflicted by off-road vehicles on ghost crabs. Marine
Ecology- an Evolutionary Perspective 28:354-367.
Schneider S, Roessli D and Excoffier L (2000) Arlequin ver. 2000. A Software for
population genetics data analysis. Genetics and Biometry Laboratory. Dept. of
Anthropology and Ecology, University of Geneve, Geneve, Switzerland.
Seeliger U, Odebrecht C e Castello JP (1998) Os ecossistemas costeiro e marinho do
extreme sul do Brasil. Editora Ecoscientia. Rio Grande 341pp.
Silveira EF (1998) Dinâmica populacional de Emerita brasiliensis Schmitt, 1935 em praia
arenosa do litoral sul do Brasil (Crustacea, Decapoda, Hippidae). Dissertação de
Mestrado, Faculdade de Biociências, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul.
Siqueira GW, Pereira SFP e Aprile FM (2006) Determinação dos elementos-traço (Zn, Co
e Ni) em sedimentos da Plataforma Continental Amazônica sob influência da descarga do
rio Amazonas. Acta Amazonica 36: 321-326.
Smith JA, Seltzer GO, Farber DL, Rodbell DT e Finkel RC (2005) Early Local Last
Glacial Maximum in the Tropical Andes. Science 308: 678-681.
Souza CRG, Suguio K, Oliveira AMS e Oliveira PE (2005) Quaternário do Brasil.
Ribeirão Preto. Holos Editora. 382 pp.
Stevens MI and Hogg ID (2003) Long-term isolation and recent range expansion from
glacial refugia revealed for the endemic springtail Gomphiocephalus hodgsoni from
Victoria Land, Antarctica. Mol Ecol 12: 2357-2369.
101
Tajima, F. 1983. Evolutionary relationship of DNA sequences in finite populations.
Genetics 105: 437-460.
Thompson JD, Higgins DG and Gibson TJ (1997) CLUSTAL W: Improving the sensitivity
of progressive multiple sequence alignment through sequence weighting, positions-
specific gap penalties and weight matriz choice. Nucl Acids Res. 22: 4673-4680.
Trewick SA, Morgan-Richards M, Russell SJ et al., (2003) Polyploidy, phylogeography
and Pleistocene refugia of the rockfern Asplenium ceterach: evidence from chloroplast
DNA. Mol Ecol 11: 2003-2012.
Urien CM (1972) Rio de La Plata Estuary Environments. The Geological Society of
America 133: 213-234.
Uthicke S e Benzie AH (2003) Gene flow and population history in high dispersal marine
invertebrates: mitochondrial DNA analysis of Holothuria nobilis (Echinodermata:
Holothuroidea) populations from the Indo-Pacific. Mol Ecol 12: 2635-2648.
Valero-Oacheco E, Alvarez F, Abarca-Arenas LG e Escobar M (2007) Population density
and activity pattern of the ghost crab, Ocypode quadrata, in Veracruz, Mexico.
Crustaceana 80: 313-325.
Veloso VG e Valentin JL (1993) Larval distribution and seasonal abundance of Emerita
brasiliensis Schmitt, 1935 (Decapoda, Hippidae) in southern Brazil. Rev. Bras. Biol.
53:131-141.
Verovnik R, Sket B e Trontelj (2005) The colonization of Europe by the freshwater
crustacean Asellus aquaticus (Crustacea: Isopoda) proceed from ancient refugia and was
directed by habitat connectivity. Mol Ecol 14: 4355-4369.
Vieira EF, Rangel SRS (1988) Planície Costeira do Rio Grande do Sul: Geografia física,
vegetação e dinâmica sócio-demográfica. Porto Alegre. Sagra. 256 pp.
Villwock, J.A. (1994) A costa brasileira: Geologia e evolução. Notas Tecnicas
CECO/UFRGS 7:38-49.
Vinagre AS, Amaral APN, Ribarcki FP, Silveira EF e Périco E (2007) Seasonal variation
of energy metabolism in ghost crab Ocypode quadrata at Siriú Beach (Brazil).
Comparative Biochemistry and Physiology, Part A 146: 514–519.
Walker D e Avise J (1998) Principles of phylogeography as illustrated by freshwater and
terrestrial turtles in the southeastern United States. Annu Rev Ecol Syst 29: 23-58.
Wares JP, Gaines SD e Cunningham CW (2001) A comparative study of asymmetric
migration events across a marine biogeographic boundary. Evolution. 55: 295-306.
Wares J P (2002) Community genetics in the northwest Atlantic intertidal. Mol Ecol 11:
1131–1144.
102
Waters JM e Roy MS (2003) Marine biogeography of southern Australia:
phylogeographical structure in a temperate sea-star. Journal of Biogeography 30: 1787–
1796.
Waters JM, McCulloch GA e Eason JA (2007) Marine biogeographical structure in two
highly dispersive gastropods: implications for trans-Tasman dispersal. J. Biogeogr. 34:
678-687.
Wells SM (1995) Molluscs and the conservation of biodiversity Pp. 21-35 In: A.C.van
Bruggen, S. M. Wells e T. C. M. Kemperman, eds. Biodiversity and conservation and
conservation of the Mollusca. Netherlands.
Wilson AB (2006) Genetic signature of recent glaciation on populations of a near-shore
marine fish species (Syngnathus leptorhynchus). Mol Ecol 15: 1857-1871.
Wright S (1978) Evolution and the genetics of populations. The University of Chicago
Press, London.
Zardus JD, Etter RJ, Chase MR, Rex MA e Boyle EE (2006) Bathymetric and geographic
population structure in the pan-Atlantic deep-sea bivalve Deminucula atacellana
(Schenck, 1939). Mol Ecol 15: 639-651.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo