Download PDF
ads:
1
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Jonas Moreira Madureira
FENOMENOLOGIA DAS REPRESENTAÇÕES
Sobre a equivocação do termo “representação” na tese “todos os atos
ou são representações ou se fundam em representações” arrazoada
por Edmund Husserl na V Investigação das Investigações lógicas
MESTRADO EM FILOSOFIA
Dissertação apresentada à Banca Examinadora
como exigência parcial para a obtenção do
título de Mestre em Filosofia pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, sob a
orientação do Prof. Dr. Mario Ariel González
Porta.
SÃO PAULO
2008
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
2
Banca Examinadora
ads:
3
Dedico este trabalho à minha esposa Juliana e à minha filha Heloísa,
meus amores.
4
AGRADECIMENTOS
Ao querido Prof. Dr. Mario Ariel González Porta, pelo modo
impressionante com que tem me ensinado a ler e estudar Filosofia. Sem sua
amizade e orientação este trabalho não seria possível.
Ao amigo Prof. Dr. Jorge Pinheiro, pelo companheirismo e incentivo aos
estudos. Somos hY"x; vp,n<
Ao Pedro Monticelli, amigo que se fez irmão (Pv 17.17).
À Mariú Madureira Lopes, que leu com seu olhar agudo os pensamentos
transcritos neste trabalho.
Ao Desconhecido(a), que proveu os recursos financeiros para a conclusão
da graduação em Filosofia pela PUC-SP.
Ao CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico, pela bolsa de estudos concedida para a realização do mestrado em
Filosofia pela PUC-SP.
À minha família querida: Seu Jonas (valeu, Paizão!), Dona Neuza (Ê,
Florzinha!), irmãs Melisa (“Mel”) e Mariú (de novo!), Cris (“irmãozinho”), Seu
Paulo Sérgio (“Sogrão”), Dona Leda Maria (“Sogrinha”), cunhados: Fabio,
Ticiana, Renato e Roberta. Amo vocês!
5
RESUMO
Nesta dissertação, explica-se a fenomenologia das representações, presente na V
Investigação das Investigações lógicas de Edmund Husserl. Mais especificamente, trata-
se de uma elucidação da análise husserliana da equivocação do termo “representação”
na tese “todos os atos ou são representações ou se fundam em representações”. Para
explicar a equivocação do termo “representação” — especialmente no que diz respeito à
referida tese e não no que se refere estritamente ao uso do termo —, faz-se necessário
discriminar quais são os elementos equivocados. Na V Investigação, Husserl analisa
apenas quatro. São eles: a “mera representação” (bloβe Vorstellung); a “matéria de ato”
(Aktmaterie); o “ato nominal” (nominaler Akt); o “ato objetivante” (objektivierender
Akt). A partir dessa quádrupla equivocação, Husserl apresenta três interpretações
possíveis da tese. São elas: (1) todo ato ou é uma mera representação ou possui uma
matéria de ato como componente fundante na essencial intencional; (2) todo ato ou é
um ato nominal ou está fundado em um ou vários atos nominais; (3) todo ato ou é um
ato objetivante ou se funda em um ato objetivante. Assim, o objetivo central desta
dissertação é explicar justamente essas três interpretações. E, para tanto, faz-se
necessário clarificar, primeiramente, a estrutura de ato husserliana, uma vez que a
compreensão de tal estrutura é a conditio sine qua non para a compreensão das três
interpretações de Husserl.
Palavras-chave: Representação, Intencionalidade, Fenomenologia, Edmund Husserl.
6
ABSTRACT
In this study, it is justified the phenomenology of the representations, found in
the V Investigation of the Investigations logics of Edmund Husserl. More specifically, it
refers to about the husserlian analysis of the equivocation of the term “representation”
in the thesis “all the acts either are representations or are established in representations”.
To explain the equivocation of the term “representation” — especially in what concerns
to the cited thesis and not in what it relates to the general use of the term -, it is
necessary to discriminate the equivocation’s elements. In the V Investigation, Husserl
analyzes only four of them, which are: the “mere representation” (bloβe Vorstellung);
the “matter of act” (Aktmaterie); the “nominal act” (nominaler Akt); the “objective act”
(objektivierender Akt). From this quadruple equivocation, Husserl presents three
possible interpretations of the thesis: (1) all act either is one mere representation or
have one matter of act as a fundamental component in the intentional essence; (2) all act
either is one nominal act or it is established in one or several nominal acts; (3) all act
either is one objective act or it is established in one objective act. Thus, the main
objective of this dissertation is to explain exactly these three interpretations. For this, it
becomes necessary to clarify the husserlian structure of act, once the understanding of
such structure is conditio sine qua non for the understanding of Husserl’s the three
interpretations.
Keywords: Intentionality, Representations, Phenomenology, Edmund Husserl.
7
SUMÁRIO
Folha de aprovação..............................................................................................................02
Dedicatória ..........................................................................................................................03
Agradecimentos...................................................................................................................04
Resumo ...............................................................................................................................05
Abstract ...............................................................................................................................06
Sumário ...............................................................................................................................07
Introdução..........................................................................................................................11
Capítulo 1 — O contexto brentaniano da tese “todos os atos
ou são representações ou se fundam em representações”..............................................14
1.1. Introdução à classificação dos fenômenos
psíquicos feita por Brentano........................................................................................16
1.2. A caracterização e o critério de classificação
dos fenômenos psíquicos: a intencionalidade .............................................................18
1.2.1. A necessária existência intencional
do objeto no ato psíquico.....................................................................................20
1.3. A relação de fundação dos fenômenos psíquicos e a
hierarquia dos atos sob a base do “ato de representação” ...........................................22
Capítulo 2 — A estrutura elementar dos atos ou vivências
intencionais no contexto da V Investigação.....................................................................25
2.1. A fixação do termo “vivência” para designar os atos e não-atos ........................25
2.2. A distinção entre conteúdo real e intencional.......................................................29
2.2.1. “Conteúdo intencional” no sentido de
“objeto intencional”.............................................................................................33
2.2.1.1. A estrutura formal de todos e partes dos atos
ou vivências intencionais...........................................................................37
2.2.1.1.1. “Pedaços” ou partes independentes.............................38
2.2.1.1.2. “Momentos” ou partes não-independentes..................39
8
2.2.2. “Conteúdo intencional” no sentido de
“matéria em oposição à qualidade de ato”...........................................................40
2.2.3. “Conteúdo intencional” no sentido de
“essência intencional”..........................................................................................43
Capítulo 3 — A equivocação do termo “representação” na tese “todos os atos
ou são representações ou se fundam em representações”..............................................47
3.1. Os elementos equivocados e as três interpretações
possíveis da tese brentaniana ......................................................................................48
3.2. Primeira interpretação: toda vivência intencional ou é
uma mera representação ou possui uma matéria de ato como
componente fundante...................................................................................................49
3.2.1. O termo “representação” no sentido de
“mera representação”...........................................................................................50
3.2.2. O termo “representação” no sentido de
“matéria de ato”...................................................................................................54
3.3. Segunda interpretação: toda vivência intencional ou é
um ato nominal ou se funda em um ou vários atos nominais .....................................59
3.3.1. O termo “representação” no sentido de “ato nominal”..............................59
3.3.2. O caráter de crença (belief) dos “atos nominais”
(representações nominais) e “atos proposicionais” (juízos)................................65
3.4. Terceira interpretação: toda vivência intencional ou é
um ato objetivante ou se funda em um ato objetivante...............................................69
3.4.1. A caracterização fundamental dos atos objetivantes
e a relação de fundação ante os atos não-objetivantes.........................................70
3.4.2. O termo “representação” no sentido de “ato objetivante”
e a terceira interpretação da tese brentaniana ......................................................73
3.5. O problema da V Investigação e a questão da equivocação
do termo “representação” ............................................................................................76
Considerações finais..........................................................................................................80
Apêndice: Texto original das citações nas notas de rodapé...........................................82
Bibliografia.........................................................................................................................100
9
Wir wurden nun etwas mehr in die Tiefe
geführt, und in den Tiefen liegen die
Dunkelheiten und in den Dunkelheiten die
Probleme.
Edmund Husserl
10
Fomos conduzidos um pouco mais as
profundidades, e nas profundidades residem
as obscuridades e, nas obscuridades, os
problemas.
Edmund Husserl
1
INTRODUÇÃO
A presente dissertação pretende explicar a equivocação
1
do termo
“representação” na tese brentaniana “todos os atos ou são representações ou se fundam
em representações” arrazoada por Edmund Husserl na V Investigação das Investigações
lógicas. Para entendermos a equivocação do termo “representação” — especialmente no
que diz respeito à tese de Brentano e não no que se refere estritamente ao uso do termo
—, precisamos primeiramente discriminar quais são os elementos equivocados. Husserl
afirma que o termo “representação” possui basicamente uma quádrupla equivocação.
Isso significa que são quatro os elementos equivocados
2
. São eles: (1) a “matéria de ato”
(Aktmaterie), (2) a “mera representação” (bloβe Vorstellung), (3) o “ato nominal”
(nominaler Akt) e (4) o “ato objetivante” (objektivierender Akt). A partir dessa
quádrupla equivocação, Husserl apresenta três interpretações possíveis da tese de
Brentano. São elas: (1) todo ato ou é uma mera representação ou possui uma matéria
de ato como componente fundante na essencial intencional; (2) todo ato ou é um ato
nominal ou está fundado em um ou vários atos nominais; (3) todo ato ou é um ato
objetivante ou se funda em um ato objetivante. O objetivo central da dissertação é
explicar essas três interpretações. E, para tanto, faz-se necessário compreender a
estrutura de ato husserliana. É preciso dizer que tomamos como pressuposto elementar o
fato de que tal estrutura é completamente distinta da estrutura de ato brentaniana, a
1
Traduzimos o termo alemão Äquivokation por “equivocação”, uma vez que Husserl se refere ao ato de
equivocar e não propriamente à “equivocidade” ou a qualidade de equívoco. Para saber mais sobre o
sentido contemporâneo do termo “equivocação”, na língua portuguesa, favor consultar o verbete nos
dicionários Houaiss ou Caldas Aulete.
2
Há um quinto elemento equivocado, cujo próprio Husserl hesita em mencioná-lo, e que não será
considerado neste estudo, a saber, a Repräsentation. A razão de sua hesitação se deve ao fato de que este
elemento só será analisado, pormenorizadamente, no §27 da VI Investigação. Ora, isso não quer dizer que
o “quinto elemento” seja dispensável ou irrelevante, mas apenas significa que ele extrapola os limites
predeterminados já no título desta dissertação.
2
partir da qual a tese “todos os atos ou são representações ou se fundam em
representações” foi enunciada.
A dissertação está dividida em três capítulos. No capítulo 1, trataremos de
questões introdutórias referentes ao contexto brentaniano da referida tese. Inicialmente,
apresentaremos uma breve introdução à classificação brentaniana dos fenômenos
psíquicos. Em seguida, serão considerados, em especial, os conceitos brentanianos de
intencionalidade e de relação de fundação dos atos. É importante saber que a intenção
não é a de apresentar uma introdução das idéias de Brentano, mas apenas daquelas que
Husserl, de fato, considerou relevantes para a consecução da V Investigação. No
capítulo 2, veremos em que consiste a estrutura husserliana dos atos ou das vivências
intencionais. Além de explicarmos a distinção entre as estruturas de ato de Husserl e
Brentano, nossa tarefa primordial será a de esclarecimento das partes que integram a
estrutura husserliana das vivências intencionais. O entendimento das distinções que
serão apresentadas neste capítulo é de suma importância para a compreensão das três
interpretações que Husserl faz da tese de Brentano. Por último, no capítulo 3,
elucidaremos cada uma das três interpretações consideradas por Husserl na V
Investigação.
É preciso confessar que tanto a exposição dessas três interpretações como o
esclarecimento dos quatro elementos equivocados não representam o problema nuclear
da V Investigação. Porém, os esforços demandados para a compreensão de tal exposição
não serão em vão, uma vez que tal exposição tratará justamente dos pressupostos
necessários para entendermos a solução que Husserl deseja dar ao problema da V
Investigação
3
.
3
O problema indicado por Husserl, na introdução da V Investigação, é, em linhas gerais, o de responder a
questão da origem do conceito de significação e de suas variações essenciais. Porém, de acordo com
Husserl, a V Investigação não poderá se ocupar imediatamente dessa questão, uma vez que antes de
abordá-la é necessário esclarecer o conceito de “ato”. Daí o título da investigação ser “Sobre as vivências
3
Sobre a bibliografia, é importante salientar que são pouquíssimos os comentários
que privilegiam a V Investigação e, em especial, o problema da equivocação do termo
“representação”. Embora a maior parte dos artigos e publicações que utilizamos como
referência bibliográfica não trate exclusivamente do conteúdo filosófico desta
dissertação, os textos de Richard Cobb-Stevens, Daniel O. Dahlstrom, Theodore de
Boer, Robert Sokolowski, Denis Fisette, Jocelyn Benoist, Robert Brisart, Edo Pivčević,
Marvin Farber, entre outros, nos ajudaram a aperfeiçoar a nossa reflexão sobre o
assunto que será tratado pormenorizadamente nesta dissertação.
intencionais e seus conteúdos”. Para Husserl, a compreensão desse conceito é um pressuposto
indispensável, pois implica justamente a compreensão da delimitação de uma unidade genérica,
determinada por uma característica que é fundamental para a ordenação das vivências da significação.
Tema que, diga-se de passagem, é crucial para as Investigações lógicas. Cf. H
USSERL, Edmund.
Investigaciones lógicas, II, V, Introducción, p. 473-474.
4
Capítulo 1
O CONTEXTO BRENTANIANO DA TESE “TODOS OS ATOS OU SÃO
REPRESENTAÇÕES OU SE FUNDAM EM REPRESENTAÇÕES”
A V Investigação começa com uma breve reflexão sobre três dos diversos
sentidos que o termo “consciência” possui. São eles: (1) “consciência” como unidade
fenomenológico-real das vivências do eu empírico; (2) “consciência” como percepção
interna; e (3) “consciência” como ato psíquico ou vivência intencional. Os dois
primeiros são analisados no primeiro capítulo da V Investigação, já o último torna-se o
tema principal de todos os demais capítulos.
O sentido de consciência como ato psíquico ou vivência intencional tem sua
origem em Franz Brentano, a quem Husserl deve algumas importantes noções de base
de sua própria doutrina
4
. Um exemplo explícito dessa “dívida” pode ser encontrado na
própria V Investigação, na qual Husserl afirma que duas das seis propriedades
5
que
4
“Pero ya es tiempo de determinar la esencia de la definición de Brentano o sea, la esencia del concepto
de conciencia en el sentido de acto psíquico. Guiado por el interés clasificativo ya mencionado, desarrolla
Brentano la investigación correspondiente en la forma de un deslinde recíproco de las dos clases
principales de “fenómenos” admitidos por él, los psíquicos yo los físicos. Llega así a seis definiciones, de
las cuales solo dos pueden entrar desde luego en nuestra consideración; pues todas las demás quedan
destruidas por ciertos equívocos engañosos, que hacen insostenibles los conceptos brentanianos de
fenómeno, especialmente de fenómeno físico y de percepción interna y externa”. H
USSERL, Edmund.
Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, §10, p. 490-491.
5
As seis propriedades dos fenômenos psíquicos das quais Husserl destacou apenas duas podem ser
encontradas em Psicologia do ponto de vista empírico. Nesta obra, Brentano enumerou as seis
propriedades de acordo com a seguinte ordem: (1) Todos os fenômenos psíquicos ou são representações
ou se fundam em representações. Entenda-se “representação” não como o “objeto representado”, mas
como o “ato de representar”. Nesse caso, o ato de representar deve ser considerado como o fundamento
de todos os fenômenos psíquicos; (2) Os fenômenos psíquicos são desprovidos de extensão; (3) Somente
os fenômenos psíquicos referem-se a algo como objeto (“die intentionale [auch wohl mentale]
Inexistenz”); (4) É uma propriedade exclusiva dos fenômenos psíquicos o ser objeto da percepção
interna; (5) Além de possuírem uma existência intencional, os fenômenos psíquicos são os únicos que
possuem também uma existência real. Portanto, um conhecimento, uma alegria ou um desejo, existem
“realmente”. O mesmo não se pode dizer de uma cor, de um som ou de uma temperatura, pois estes só
possuem uma existência “fenomenal” e “intencional”. Ver a crítica de Husserl dessa tese de Brentano em:
Investigaciones lógicas, II, Apéndice, §8, p. 777; (6) A diversidade dos fenômenos psíquicos percebidos
aparece sempre como uma unidade. O mesmo não ocorre com os fenômenos físicos percebidos
5
Brentano destacou para caracterizar os fenômenos psíquicos são imprescindíveis para a
compreensão de sua análise das vivências intencionais e de seus conteúdos
6
. Uma
propriedade diz respeito à referência ou à relação intencional a um objeto. De acordo
com Brentano, é possível enunciá-la da seguinte maneira: “todos os fenômenos
psíquicos contém intencionalmente um objeto”
7
. Mais adiante veremos que Husserl irá
preferir a expressão “vivência intencional” à “fenômeno psíquico”. A outra propriedade
peculiar aos fenômenos psíquicos é a de que “todos os atos ou são representações ou se
fundam em representações”.
A problemática da equivocação do termo “representação” (Vorstellung) que
propomos arrazoar está vinculada a essa propriedade dos fenômenos psíquicos indicada
por Brentano e reinterpretada por Husserl na V Investigação. Antes de explicitarmos
com maior acuidade essa problemática, precisamos lançar algumas bases elementares
para que a exposição pretendida alcance o seu objetivo principal, a saber, esclarecer o
problema da equivocação do termo “representação” referente à tese “todos os atos ou
são representações ou se fundam em representações”. Nosso primeiro passo é clarificar
essas duas mencionadas propriedades essenciais dos atos. Em seguida, no capítulo 2,
simultaneamente mediante a percepção externa. Cf. BRENTANO, Franz. Psychologie du point de vue
empirique, p. 92-112.
6
“De las dos definiciones preferidas hay una que indica directamente la esencia de los fenómenos
psíquicos o actos. Esta esencia se ofrece en forma innegable en cualesquiera ejemplos. En la percepción
es percibido algo; en la representación imaginativa es representado imaginativamente algo; en el
enunciado es enunciado algo; en el amor es amado algo; en el amor es amado algo; en el odio es odiado
algo; en el apetito es apetecido algo, etc. Brentano tiene presente lo que cabe aprehender de común en
estos ejemplos, cuando dice: “Todo fenómeno psíquico está caracterizado por lo que los escolásticos de la
Edad Media han llamado la inexistencia intencional (o mental) de un objeto, y que nosotros llamaríamos,
si bien con expresiones no enteramente inequívocas, la referencia a un contenido, la dirección hacia un
objeto (por el cual no hay que entender aquí una realidad) o la objetividad inmanente. Todo fenómeno
psíquico contiene en sí como objeto algo, aunque no todo, del mismo modo”. Este “modo de la referencia
de la conciencia a un contenido” — como se expresa Brentano frecuentemente en otros pasajes — es en
la representación el representativo, en el juicio el judicativo, etc. El ensayo brentaniano de clasificación
de los fenómenos psíquicos en representaciones, juicios y emociones (“fenómenos de amor y odio”), se
funda, como es sabido, en estos modos de referencia, de los cuales distingue Brentano tres especies
radicalmente distintas, que se especifican eventualmente de múltiples maneras”. H
USSERL, Edmund.
Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, §10, p. 491.
7
BRENTANO, Franz. Psychologie du point de vue empirique, p. 102.
6
apresentaremos algumas importantes diferenças que a concepção husserliana da
estrutura do ato possui com relação à concepção brentaniana da estrutura dos fenômenos
psíquicos.
1.1. Introdução à classificação dos fenômenos psíquicos feita por Brentano
Na segunda metade do século XIX, Brentano apresentou um notável projeto de
fundamentação da psicologia como “ciência empírica”, ou seja, como uma disciplina
científica fundamentalmente alicerçada na observação dos fenômenos
8
. A maior prova
disso é a Psicologia do ponto de vista empírico (1874), obra em que objetivava
argumentar a necessidade de trasladar, mutatis mutandis, o método das “ciências da
natureza” (Naturwissenschaften) para a psicologia, disciplina responsável pela
investigação dos fenômenos psíquicos
9
. Contudo, não queremos dizer que Brentano
estaria forçando a aplicação da metodologia das ciências da natureza à psicologia, mas
que, de algum modo, a psicologia, para se enquadrar na estrutura de cientificidade da
época, deveria, sim, abandonar a metodologia das ciências da natureza sob a exigência
de atuar em seu campo tal como as Naturwissenschaften atuam no seu. Em outras
palavras, buscava levar em máxima consideração a índole dos assuntos que a ela
concernem, não apenas de fato, mas de direito
10
.
8
Para notarmos as implicações do projeto de Brentano, é preciso lembrar que, em meados do século XIX,
o positivismo representava uma concepção científica quase hegemônica na Alemanha. Nas diversas
disciplinas, predominava o lema do positivismo: “Fatos empíricos, nada de especulação e conceitos
vazios”. A visada positivista dos “fatos” prescindia necessariamente de toda especulação que presumisse
o conhecimento das causas dos fenômenos (procedimento “teológico” ou “metafísico”) em detrimento da
pesquisa apenas dos fenômenos e de suas relações e leis naturais. Cf. B
RENTANO, Franz. Psychologie du
point de vue empirique, p. 21-23; D
ILTHEY, Wilhelm. Historia de la filosofia, p. 190-229; HEIDEGGER,
Martin. Prolegómenos para una historia del concepto de tiempo, p. 29-44.
9
Cf. BRENTANO, Franz. Psychologie du point de vue empirique, p. 48-53.
10
Outro dado importante é que, na segunda metade do século XIX, as ciências da natureza gozavam do
status de modelo de ciência positiva. Portanto, qualquer disciplina que pretendesse ser científica tinha de
investigar o seu “objeto” segundo o método das Naturwissenschaften, ou seja, investigá-lo a partir da
esfera do empírico. Um exemplo dessa atitude é a Physiologische Psychologie de Wilhelm Wundt
(fundador do primeiro laboratório de psicologia experimental, em Leipzig, em 1879). Entretanto, cabe
7
Para justificar as bases constituintes de uma ciência empírica do psíquico,
Brentano não partiu de pressupostos metafísicos, como a distinção entre “alma” e
“corpo”, nem tampouco de teorias de conexão do psíquico com o fisiológico-biológico.
Em vez disso, procurou estabelecer o “objeto” próprio de investigação da psicologia.
Ora, se o ponto de partida para a fundamentação científica de tal disciplina é a fixação
de seu “objeto”, então, não lhe restava outra alternativa senão a de estabelecer a
caracterização do fenômeno psíquico e a sua peculiaridade em relação ao fenômeno
físico
11
.
Em Psicologia do ponto de vista empírico, Brentano afirma o seguinte: “O
mundo inteiro de nossos fenômenos se divide em duas grandes classes, a classe dos
fenômenos físicos e a dos fenômenos psíquicos
12
. Tal afirmação, além de pressupor a
idéia de que a natureza do “objeto” de investigação da psicologia é fenomênica também
pressupõe a classificação exaustiva dos fenômenos e a determinação categórica de sua
totalidade em apenas dois domínios: o físico e o psíquico
13
.
Vejamos, a seguir, a caracterização e os critérios de classificação dos fenômenos
psíquicos.
aqui reforçar que tal cientificismo não corresponde com o projeto brentaniano de fundamentação da
psicologia como ciência empírica. Cf. HEIDEGGER, Martin. Prolegómenos para una historia del concepto
de tiempo, p. 36-37.
11
“Il est vrai qu’en disant, au sens qu’on a défini plus haut, que la psychologie est la science de l’âme, on
n’entrâine pas l’assentiment unanime des psychologues. Beaucoup la définissent comme la science des
phénomènes psychiques. Et ils mettent ainsi la psychologie au même rang que sa science sœur. Ils
affirment également qu’on ne doit pas définir la science de la nature comme science du corps, mais bien
comme la science des phénomènes physiques”. Cf. B
RENTANO, Franz. Psychologie du point de vue
empirique, p. 30.
12
Idem, p. 92.
13
Nesse caso, não se admite a idéia de um terceiro domínio que possibilite uma espécie de síntese de
ambos, ou seja, algo que pudesse ser considerado como “a classe dos fenômenos psicofísicos”.
8
1.2. A caracterização e o critério de classificação dos fenômenos psíquicos: a
intencionalidade
Para fixar o critério de classificação exaustiva dos fenômenos psíquicos,
Brentano buscou esclarecer o que está verdadeiramente em jogo quando se fala de tais
fenômenos. Para tanto, partiu da caracterização dos mesmos, isto é, da ordenação de sua
multiplicidade de acordo com a sua estrutura básica. Daí o intento de classificação. Ora,
uma classificação coerente parte do conhecimento prévio dos indivíduos a serem
classificados, bem como de sua constituição elementar. Só assim é possível ordená-los
segundo a sua própria natureza. Mas qual é a natureza dos fenômenos psíquicos? O que
os faz diferentes dos fenômenos físicos? Para justificar a caracterização dos fenômenos
psíquicos em um único gênero, é necessário indicar qual é a diferença específica, ou
seja, aquela característica distintiva e, ao mesmo tempo, comum a todos eles. Isso
significa que, para os fenômenos psíquicos serem reunidos em um único gênero, é
necessário que tais fenômenos tenham sua marca distintiva e comum. Brentano via tal
especificidade no caráter de intencionalidade, na relação a algo como objeto. Por
exemplo, no ato de representar, algo é necessariamente representado; no ato de recordar,
algo é necessariamente recordado; no ato de julgar, algo é necessariamente julgado; no
ato de esperar, confiar, amar, odiar, algo é sempre intencionado. Em Psicologia do
ponto de vista empírico, ele diz:
O que caracteriza todo o fenômeno psíquico é aquilo que os
escolásticos da Idade Média chamaram de intra-existência
14
14
Há quem traduza Inexistenz por “inexistência”. Porém, em português, a palavra “inexistência” significa
“não-existência”, o que não corresponde ao sentido do termo Inexistenz, que, por sua vez, significa
literalmente “existência-em”. O mesmo problema ocorre na tradução para o francês, pois inexistence
significa, como em português, “não-existência”. A versão francesa de Psicologia do ponto de vista
empírico, de Maurice de Gandillac, resolveu o problema traduzindo Inexistenz pelo termo francês
présence (“presença”). Embora a palavra “presença” seja uma tradução possível do termo em questão, em
língua portuguesa, temos um recurso que pode nos ajudar a solucionar o problema de um modo mais
satisfatório. Qual? Para evitar o erro de se entender Inexistenz por “não-existência”, preferiu-se traduzi-lo
por “intra-existência”, uma vez que o prefixo “intra-” (“em”, “dentro de” etc.) é um recurso plenamente
viável, segundo os ditames da gramática normativa. Cf. M
ONTICELLI, Pedro. Sobre a relação essencial da
9
intencional (ou mental) de um objeto e que nós poderíamos
denominar — por meio de expressões que não deixam de ser
equívocas — relação a um conteúdo, direção para um objeto (pelo
qual não se deve entender aqui uma realidade) ou objetividade
imanente. Cada fenômeno contém algo em si, a título de objeto,
embora nem todos o façam do mesmo modo
16
.
Precisando ainda mais os termos, Brentano acrescenta: “Esta intra-existência
intencional pertence exclusivamente aos fenômenos psíquicos. Nenhum fenômeno
físico apresenta algo semelhante. Assim, podemos definir os fenômenos psíquicos
dizendo que são os fenômenos que contém intencionalmente um objeto”
17
. Note-se que
a origem do conceito de “intencionalidade” remete ao uso filosófico da palavra latina
intentio”, uma expressão cunhada na Idade Média pelos escolásticos, que significa,
grosso modo, “dirigir-se a”. De acordo com estes, as coisas (res) existem unicamente,
porém de dois modos: entitativamente (no mundo) e intencionalmente (no intelecto).
Por exemplo, ainda que uma determinada pedra exista no mundo e no intelecto, isso não
implica que ela possua duas existências, mas somente dois modos distintos de uma
única existência. Quando o intelecto, ao inteligir, apreende a pedra, isso não significa
que a tal pedra exista entitativamente no intelecto, mas apenas intencionalmente.
Tal concepção se encontra reformulada por Brentano da seguinte maneira: “todo
fenômeno psíquico contém algo em si como objeto”
18
. Não se pode passar despercebido
o fato de que, no contexto da reformulação brentaniana da doutrina escolástica, a
estrutura ontológica dos fenômenos psíquicos com a estrutura epistemológica da psicologia em Franz
Brentano na Psicologia do ponto de vista empírico, p. 43, n. 21.
16
BRENTANO, Franz. Psychologie du point de vue empirique, p. 102.
17
Idem.
18
A menção aos escolásticos medievais não deveria nos levar a crer que Brentano meramente aplicou a
doutrina escolástica à sua teoria da intencionalidade. Na verdade, a intencionalidade, segundo Brentano,
não pode ser entendida como uma relação entre duas coisas que existem realmente. É suficiente que
exista apenas uma das partes, a saber, o fenômeno psíquico. Para Stegmüller, esse é o motivo pelo qual
Brentano rejeitara a doutrina escolástica do objeto imanente à consciência. Cf. B
RENTANO, Franz.
Psychologie du point de vue empirique, p. 105-107; STEGMÜLLER, Wolfgang. A filosofia contemporânea,
p. 33.
10
intencionalidade não é propriamente um dirigir-se às coisas (res), mas aos fenômenos
físicos que, segundo o filósofo, não existem realmente, mas apenas fenomenalmente
e intencionalmente
19
.
Como vimos, a característica essencial dos fenômenos psíquicos ou dos atos é a
direção a algo como objeto. Portanto, fica determinado que a intencionalidade é a
propriedade dos atos psíquicos que constitui a diferença específica capaz de estabelecer
a distinção entre a classe dos fenômenos psíquicos e a classe dos fenômenos físicos
20
.
1.2.1. A necessária existência intencional do objeto no ato psíquico
A intencionalidade não é a única característica essencial dos fenômenos
psíquicos. Também há, como já foi dito, o fato de que tais fenômenos contêm
intencionalmente algo como objeto. Logo, há um segundo aspecto que determina o
caráter essencialmente intencional dos fenômenos psíquicos, a saber, a necessária
existência intencional do objeto no ato psíquico
21
. Ora, se é assim, então, podemos dizer
que todo fenômeno psíquico contém um fenômeno físico, como, por exemplo, uma
caixa de sapato contém um par de sapatos?
A tese de que todos os atos contêm em si algo como objeto poderia ser
erroneamente interpretada se a relação entre ato e objeto fosse entendida como uma
relação de mera continência entre duas coisas concebidas espacialmente. Ora, não se
deve concluir pelo fato de o fenômeno psíquico conter algo como objeto que todo
fenômeno psíquico se dirija a uma exterioridade para contê-la espacialmente. Uma
19
“Les phénomènes psychiques, avons-nous dit, sont seuls susceptibles d’être perçus au sens propre du
mot. Nous pouvons dire tout aussi bien que ce sont les phénomènes qui seuls possèdent une existence
effective en dehors de l’existence intentionnelle. La connaissance, la joie, le désir existent effectivement;
la couleur, le son, la chaleur n’ont qu’une existence phénomènale et intentionnelle”. B
RENTANO, Franz.
Psychologie du point de vue empirique, p. 105.
20
Idem, p. 92-112.
21
Cf. MOURA, Carlos Alberto R. de. Crítica da razão na fenomenologia, p. 77-100.
11
relação como essa só é possível entre objetos. Portanto, Brentano não argumenta uma
relação de continência espacial entre o fenômeno psíquico e o seu correlato. O que ele
afirma é o fato de que, no mesmo instante em que um fenômeno psíquico é dado como
ato, dá-se necessariamente o seu correlato, a saber, um fenômeno físico. Sendo assim,
não há a possibilidade de ocorrer um fenômeno psíquico sem um fenômeno físico
correspondente. Por exemplo: (1) um par de sapatos pode estar dentro ou fora da caixa,
mas um fenômeno psíquico jamais seria possível sem o seu correlato, o fenômeno físico
(não é possível o ato de representar uma esfera vermelha sem que se dê —
concomitantemente ao ato — a esfera vermelha representada); (2) uma caixa de sapato
nunca se dirige a um par de sapatos, isto é, jamais pode visar-lhe como objeto. Porém, o
fenômeno psíquico sempre visa ao seu correlato como objeto. Em outras palavras, um
objeto pode relacionar-se com outro objeto (e as leis da física não são mais do que
descrições desse tipo de relação), mas pelo fato de um objeto relacionar-se a outro, não
se pode daí concluir que um contenha em si o outro como objeto
22
. Para evitar o deslize,
faz-se necessário conceber, pelo menos, do ponto de vista brentaniano, o termo “objeto”
como a designação de algo que sempre é e sempre será o correlato intencional de um
ato.
Em suma, a “direção ao objeto” (intencionalidade) determina a peculiaridade dos
fenômenos psíquicos ante os físicos, ou seja, determina a referência necessária do
fenômeno psíquico (ato) ao fenômeno físico (objeto). Isso significa que é impossível
que o fenômeno psíquico seja um ato fechado em si mesmo, isto é, um ato isolado,
independente de seu correlato, o objeto. Agora, cabe perguntar se não há uma diferença
específica também entre os próprios atos. Isso é o que veremos a seguir.
22
Cf. MONTICELLI, Pedro. Sobre a relação essencial da estrutura ontológica dos fenômenos psíquicos
com a estrutura epistemológica da psicologia em Franz Brentano na Psicologia do ponto de vista
empírico, p. 29-31.
12
1.3. A relação de fundação dos fenômenos psíquicos e a hierarquia dos atos sob a
base do “ato de representação”
Depois de determinar o caráter de intencionalidade como a diferença específica
que permite distinguir entre os fenômenos psíquicos e físicos, Brentano faz mais uma
distinção, só que dessa vez não mais entre fenômenos essencialmente distintos, mas
entre os próprios atos que, embora sejam essencialmente idênticos, apresentam modos
distintos de referência intencional. Dito de outro modo, sob a classificação dos
fenômenos psíquicos, Brentano estabeleceu outra classificação. Em vez de distinguir o
ato de seu correlato, distingue espécies distintas de atos. Na verdade, trata-se não apenas
de uma diferenciação entre os próprios fenômenos psíquicos, mas também de uma
ordenação hierárquica deles, que visa a marcar a diferença não enquanto sua natureza,
que é essencialmente a mesma, mas enquanto aos distintos modos de o ato “dirigir-se a”
(Sich-richten-auf).
Da totalidade dos fenômenos psíquicos, destacam-se três classes básicas de
espécies de atos: as representações, os juízos e os sentimentos. Como vimos
anteriormente, o caráter de intencionalidade marca a diferença entre fenômenos
psíquicos e físicos. Agora, veremos que o caráter de representação marca a diferença
entre dois tipos distintos de fenômenos psíquicos: os atos que são representações e os
atos que se fundam em representações. Tal diferença se deixa formular na tese “todos
os atos ou são representações ou se fundam em representações”. Portanto, a classe dos
fenômenos psíquicos pelo menos sob a ótica dessa relação de fundação entre atos
divide-se em duas instâncias: de um lado as representações e do outro os atos fundados
em representações. Nas palavras de Brentano: “O ato de representar não somente é o
fundamento do julgar, mas também do sentimento e de qualquer outro ato psíquico.
Nada pode ser julgado, nem tampouco desejado, nada pode ser esperado ou temido, se
13
não é representado”
23
. Isso significa que, em todo ato, o objeto intencional é um objeto
representado em um ato de representar. Nesse caso, o objeto, propriamente dito, não
seria nada para a consciência se esta não o representasse, e assim o tornasse possível
também como o objeto de um julgar, de um sentir etc. Em outras palavras, todo ato
adquire sua referência a um objeto porque é um ato de representar ou porque nele há
necessariamente um ato de representar, que torna presente o objeto. Desse modo, um
juízo sobre uma esfera vermelha, por exemplo, só possui a referência à esfera vermelha,
porque ele se funda em um ato de representar, que torna presente o objeto “esfera
vermelha”.
Antes de prosseguirmos, recapitulemos, pelo menos, quatro conclusões que
podemos obter de tudo o que foi apresentado até agora.
Primeira conclusão. A tese “todos os atos ou são representações ou se fundam
em representações” não é de Husserl, mas de Brentano. Portanto, a tese brentaniana,
arrazoada por Husserl na V Investigação, é reinterpretada a partir de um contexto
diferente do contexto originário. É importante não confundir os contextos, pois Husserl,
quando aborda a tese de Brentano, não aborda a partir da Psicologia do ponto de vista
empírico, mas a partir do contexto das Investigações lógicas.
Segunda conclusão. Das seis propriedades dos atos ou fenômenos psíquicos
enumeradas por Brentano, Husserl considerou como relevante apenas duas. São elas: (a)
“todos os fenômenos psíquicos contêm intencionalmente um objeto”; (b) “todos os
fenômenos psíquicos ou são representações ou se fundam em representações”.
Terceira conclusão. A propriedade expressa pela tese (a) é uma especificidade
dos atos ou fenômenos psíquicos. Ou seja, trata-se de uma característica essencial dos
23
Cf. BRENTANO, Franz. Psychologie du point de vue empirique, p. 94-99.
14
fenômenos psíquicos que se distinguem dos fenômenos físicos. Portanto, o critério de
classificação e de distinção dos fenômenos psíquicos é a intra-existência intencional do
objeto. Isso não significa outra coisa senão que o ato contém algo como objeto.
Quarta conclusão. A propriedade (b) também é uma especificidade dos
fenômenos psíquicos. No entanto, ela é uma característica pela qual se distinguem
espécies distintas de atos. Trata-se, nesse caso, de um critério de diferenciação não
apenas dos fenômenos físicos, mas também de distinção dos próprios fenômenos
psíquicos. Esse critério é o da relação de fundação entre os atos que são representações
e os atos que se fundam em representações (juízos, sentimentos). A tese que expressa a
propriedade (b) é retomada por Husserl na V Investigação das Investigações lógicas. Na
verdade, ela é reinterpretada a partir da equivocação do termo “representação”. Tudo
isso veremos somente a partir do Capítulo 3, pois antes precisamos descrever o contexto
husserliano da estrutura elementar dos atos ou “vivências intencionais”.
Passemos, agora, ao próximo capítulo. A seguir apresentaremos algumas
importantes diferenças que a concepção husserliana da estrutura do ato possui ante a
concepção brentaniana da estrutura dos fenômenos psíquicos.
15
Capítulo 2
A ESTRUTURA ELEMENTAR DOS ATOS OU VIVÊNCIAS
INTENCIONAIS NO CONTEXTO DA V INVESTIGAÇÃO
No final do capítulo anterior, apresentamos uma breve descrição da tese “todos
os atos ou são representações ou se fundam em representações”. Agora, nosso próximo
passo é apresentar algumas importantes diferenças que existem entre a concepção
husserliana da estrutura elementar das vivências intencionais e a concepção brentaniana
da estrutura dos fenômenos psíquicos. Já mencionamos o fato de que Husserl prefere a
expressão “vivências intencionais” a “fenômenos psíquicos”. Chegou o momento de
sabermos o porquê disso.
2.1. A fixação do termo “vivência”
24
para designar os atos e não-atos
Para realizar o objetivo de fundar as bases de uma psicologia descritiva,
Brentano estabeleceu uma distinção radical entre as classes de fenômenos psíquicos e
físicos. Distinção que, segundo Husserl, deu margem a vários problemas. O primeiro
deles diz respeito à confusão gerada pela ambigüidade do termo “fenômeno”
25
. O termo
24
O termo em alemão é Erlebnis. Não foi Husserl quem primeiro fixou o uso filosófico desse termo.
Segundo Gadamer, quem primeiro atribuiu uma função conceitual à Erlebnis foi Dilthey. Portanto, ao que
tudo indica, Husserl herdou de Dilthey o uso filosófico do termo “vivência”. Cf. G
ADAMER, Hans-Georg.
Verdade e Método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Vol. 1, p. 104-117; Ver
também: M
AKKREEL, Rudolf A. Dilthey: Philosopher of the Human Studies, p. 273-304; GENS, Jean-
Claude. La pensée herméneutique de Dilthey: entre néokantisme et phénomenologie, p. 89-126.
25
“Entre las delimitaciones de clases dadas en la psicología descriptiva, no hay ninguna más notable ni
filosóficamente más importante que la que Brentano ha llevado a cabo bajo el título de fenómenos
psíquicos y utilizado en su conocida división de los fenómenos en psíquicos e físicos. Esto no significa
que yo comparta la convicción que animaba en este punto al gran investigador, y que se expresa ya en
los términos por él escogidos , la convicción de haber obtenido una clasificación exhaustiva de los
“fenómenos”, con la cual puedan distinguirse las esferas de investigación de la psicología y de la ciencia
natural y resolverse de un modo muy simple la discusión sobre la exacta definición de las mismas. Es
posible que quepa dar un buen sentido a la definición de la psicología como ciencia de los fenómenos
psíquicos y a la definición correlativa de la ciencia natural como ciencia de los fenómenos físicos; pero
cabe negar con serias razones que los conceptos de la división de Brentano sean aquéllos que figuran con
el mismo nombre en las definiciones en cuestión. Cabría mostrar que no todos los fenómenos psíquicos,
16
pode significar tanto a vivência em que se dá o aparecer do objeto como o objeto que
aparece enquanto tal
26
. Ora, por mais que haja alguma relação entre ambos, Husserl
adverte que não se pode confundir a aparição do objeto com o objeto que aparece e
vice-versa. Além do mais, tal confusão poderia favorecer o erro crasso de atribuição dos
predicados eo ipso do objeto à vivência em que se dá o aparecer do objeto
27
.
Tomemos, como exemplo, a aparição de uma esfera vermelha. Há de se
distinguir o vermelho do objeto percebido daquilo que é o momento sensorial vermelho,
e que está presente na própria percepção do objeto como conteúdo real
28
de sua
en el sentido de una posible definición de la psicología, lo so en el sentido de Brentano, esto es, que no
todos son actos psíquicos; y por otra parte, que bajo el título de “fenómenos físicos” que funciona de
un modo equívoco en Brentano se encuentra un buen número de verdaderos fenómenos psíquicos”.
H
USSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, §9, p. 489-490; Ver também: QUINTON,
Anthony. The concept of a Phenomenon. In: P
IVČEVIĆ, Edo (Org.). Phenomenology and Philosophical
Understanding, p. 01-16.
26
“Mejor será, pues no hablar ni de fenómenos psíquicos, ni en general de fenómenos, tratándose de las
vivencias de la clase a que nos referimos. Lo primero sólo tiene justificación desde el punto de vista de
Brentano, para el cual se trataba principalmente de delimitar la esfera de investigación de la psicología.
Pero desde nuestro punto de vista todas las vivencias tienen en este respecto los mismos derechos. Y por
lo que al término de fenómeno se refiere, no sólo está gravado con equívocos muy perjudiciales sino que
supone una afirmación teorética muy dudosa, que encontramos hecha expresamente por Brentano: la de
que toda vivencia intencional es un fenómeno. Como fenómeno designa en su acepción predominante
(aceptada también por Brentano) un objeto aparente como tal, esto implica que toda vivencia intencional
no sólo tiene referencia a objetos, sino que ella misma es objeto de ciertas vivencias intencionales”.
H
USSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, §11, p. 493-494.
27
“Los equívocos de la palabra fenómeno, que permiten designar como fenómenos, ya los objetos y las
propiedades aparentes, ya las vivencias constituyentes del acto de aparición (sobre todo, los contenidos
en el sentido de sensaciones), y por último, todas las vivencias en general, explican la no pequeña
tentación a mezclar dos clases de divisiones psicológicas de los “fenómenos”, esencialmente diversas. 1)
Divisiones de las vivencias; por ejemplo, la división de las mismas en actos y no-actos. Estas divisiones
caen por completo, naturalmente, en la esfera de la psicología, ya que ésta ha de tratar de todas las
vivencias – que en ellas son apercibidas, naturalmente, de un modo trascendente, como vivencias de
seres naturales animados. 2) La división de los objetos fenoménicos; por ejemplo, en aquéllos que
aparecen como pertenecientes a la consciencia de un yo, y aquéllos que no hacen esto; con otras palabras,
la división en objetos psíquicos y físicos (contenidos, propiedades, relaciones, etc.). En Brentano
cofúndense de hecho ambas divisiones. Brentano se limita a contraponer los fenómenos físicos y los
fenómenos psíquicos, y los define innegablemente como una división de las vivencias en actos y no-
actos. Pero en seguida confunde, bajo el título de fenómeno físico, los contenidos de la sensación y los
objetos externos aparentes o sus cualidades fenoménicas, de suerte que la división se presenta a la vez
como una división de los objetos fenoménicos en físicos y psíquicos (según el sentido vulgar de las
palabras o uno afín a él); y esta divisiones la que suministra incluso los nombres”. H
USSERL, Edmund.
Investigaciones lógicas, II, Apéndice, §8, p. 776-777.
28
Mais adiante consideraremos o que Husserl entende por “elemento real” ou “conteúdo real” das
vivências intencionais. Na ocasião, também explicitaremos a distinção entre “conteúdo real” e “conteúdo
intencional”.
17
constituição. Portanto, o vermelho da esfera é uma atribuição do objeto percebido e não
da vivência perceptiva. Seria um contra-senso pretender que o predicado “vermelho”,
atribuído a esfera colorida, fosse também atribuído a própria vivência perceptiva.
Afirmar isso é o mesmo que dizer o disparate de que não só é vermelha a esfera
colorida, mas também é vermelha a vivência perceptiva da esfera colorida
29
. Para evitar
a confusão, basta perceber que o momento sensorial que integra a vivência intencional é
de uma ordem completamente distinta da ordem dos elementos que constituem o objeto,
como a cor, por exemplo.
Outro problema, que é decorrente da distinção entre as classes de fenômenos
psíquicos e físicos, é o da distinção entre “atos de sentir” (Empfindungensakte) e
“conteúdos sentidos” (empfundenen lnhalte). Ao mesmo tempo em que Husserl
concorda com Brentano de que a relação intencional é a característica essencial do ato
ou vivência intencional
30
, ele discorda da idéia de que as sensações correspondem aos
29
“Así, por ejemplo, en el caso de la percepción externa, el momento de color, que constituye un
elemento real de una visión concreta (en el sentido fenomenológico del fenómeno perceptivo visual) es
un “contenido vivido” o “consciente” exactamente como el carácter del percibir y como el total
fenómeno perceptivo del objeto coloreado. En cambio, este objeto mismo, aunque es percibido, no es
vivido o conciente; ni tampoco, por ende, la coloración percibida en él. Si el objeto no existe, si la
percepción resulta a la luz de la crítica un engaño, una alucinación, una ilusión, etc., no existe tampoco el
color percibido, el color visto, el color del objeto. Esas diferencias entre la percepción normal y anormal,
la justa y la engañosa, no afectan al carácter íntimo, puramente descriptivo o fenomenológico, de la
percepción. El color visto esto es, el color que en la percepción visual aparece con y en el objeto
aparente, como una cualidad de éste, y que es puesto en unidad con éste como existiendo actualmente ,
si existe de algún modo, no existe ciertamente como una vivencia; pero le corresponde en la vivencia,
esto es, en el fenómeno perceptivo, un elemento real. Le corresponde la sensación de color, el momento
cromático fenomenológico, cualitativamente definido, que experimenta una “aprehensión” objetivadora
en la percepción o en un componente de la misma que le pertenece privativamente (“fenómeno de la
coloración objetiva”). No raras veces se confunden ambas cosas, la sensación de color y colorido
objetivo del objeto. Justamente en nuestros días hay un modo muy corriente de exponer esto, que habla
como si una y otra fuesen la misma cosa, considerada tan sólo desde diversos puntos de vista e intereses:
considerada psicológica e subjetivamente, se llama sensación; considerada física u objetivamente,
propiedad de la cosa exterior. Pero en contra de esto basta señalar la diferencia fácilmente aprehensible
entre el rojo de esta esfera, visto objetivamente como uniforme, y la gradación de las sensaciones
cromáticas subjetivas, indudable y hasta necesaria justamente en la percepción misma; diferencia que se
repite respecto de todas las clases de propiedades objetiva y las complexiones de sensaciones
correspondiente a ellas”. H
USSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 1, §2, p. 477.
30
“Nosotros consideramos que la referencia intencional, entendida de un modo puramente descriptivo,
como peculiaridad íntima de ciertas vivencias, es la nota esencial de los “fenómenos psíquicos” o
“actos”; de suerte que vemos en la definición de Brentano, según la cual los fenómenos psíquicos son
“aquellos fenómenos que contienen intencionalmente un objeto”, una definición esencial, cuja “realidad”
18
atos de sentir (fenômenos psíquicos) em oposição aos conteúdos sentidos (fenômenos
físicos)
31
. Para explicar o motivo de tal discordância, precisamos primeiramente fixar o
sentido que Husserl dá ao termo “vivência”.
O conceito husserliano de vivência é um conceito que abrange não apenas os
atos ou as vivências intencionais, mas também os não-atos ou as vivências não-
intencionais. Daí diz-se que toda vivência intencional é ato, mas nem toda vivência é
propriamente ato, pois há vivências que não são atos, ou seja, que não são intencionais.
Ora, se existem vivências não-intencionais, isto é, que não são atos, então, o que elas
são? Nada mais que momentos infra-intencionais
32
que integram o conteúdo dos atos
(en el antiguo sentido) está asegurada naturalmente pelos ejemplos”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones
lógicas, II, V, cap. 2, §10, p. 492.
31
“Brentano entiende por sensaciones actos de sensación y les opone los contenidos de la sensación. En
nuestra terminología no existe esta distinción, según hemos expuesto anteriormente. Nosotros llamamos
tener una sensación al mero hecho de que éste presente en la complexión de las vivencias un contenido
sensible y, en general, un no-acto. La expresión: tener una sensación podría servirnos, empero, en
relación o en oposición al aparecer, para indicar la función aperceptiva de aquellos contenidos (es decir,
que funcionan como depositarios de aquella aprehensión en la cual tiene lugar el correspondiente
aparecer, como un percibir o un imaginar)” H
USSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, Apéndice, §8,
p. 777, n 11.
32
O termo “infra-intencional” é de Jocelyn Benoist. Em suas palavras: “L’exposé consacré par la
Recherche V à l’intentionalité se présente d’abord comme une réflexion sur la définition brentanienne. Il
faut toutefois remarquer, des le départ, la distance qui est prise. En premier lieu, la fonction explicite du
concept d’intentionalité n’est pas la même. Si l’analyse de la Recherche V est bien dite, dans sa breve
introduction, relever de la «psychologie descriptive», il ne saurait être question, ici, de circonscrire le
champ du psychologique en tant que tel seul titre auquel apparaissait l’intentionalité dans la
Psychologie du point de vue empirique de 1874, il faut le rappeler. D’une part, il ne s’agit là ni du
probleme central des Recherches logiques, ni même peut-être d’un probleme qui s’y pose: la psychologie
descriptive (dans la premiere édition) n’y apparait que comme un moyen, et certainement en aucun cas
comme une fin, comme le projet authentique du texte. D’autre part, si (accessoirement) un probleme de
délimitation du psychologique peut se poser dans les Recherches, l’intentionalité n’est certainement pas,
contrairement à ce qui se passe chez Brentano, un moyen de le résoudre. À preuve, il faut recevoir, à en
croire Husserl, pour psychiques des campos antes extra-intentionnelles de la conscience. C’est là un
grand point de divergence avec la doctrine brentanienne. Husserl a en vue les «sensations», contenus purs
de la conscience, qui en sont bel et bien, à ses yeux, des contenus réels et peut-être même en toute
rigueur les seuls contenus réels, prélevés dans la pure immanence. Ceux-ci sont caractérisés, dans les
Recherches logiques, par leur statut radicalement infra-intentionnel. Ils constituent la «matiere» de
l’intentionalité (en un sens qu’il faudra distinguer d’un autre emploi, logique et non plus psychologique,
du mot «matiere»), qui peut l’aimanter ou la déterminer, mais ne possede pas elle-même le type de
formalité qui est telle de l’intentionalité et qui suppose précisément la transcendance d’un objet visé.
Comme tels, Ils délivrent la figure d’un psychique non intentionnel. Voilà ce qui, pour Brentano, était
impossible. Il accordait bien un statut à de tels contenus, mais, si étrange que cela puisse sembler, celui de
contenus physiques: il n’y a de psychique que pour autant qu’il y a visée et donc notamment pas en
deçà de la représentation; et la seule «réalité» effective qui puisse être donnée dans l’évidence, et qui soit
absolument (non phénoménalement), est celie des actes de visée eux-mêmes. Telie est la fonction
19
ou das vivências intencionais. Um exemplo de vivência não-intencional é a própria
sensação. Sensações não intencionam objetos. Por isso, não são propriamente atos, mas
conteúdos constituintes de atos. Portanto, nas vivências intencionais, encontram-se
entretecidas outras vivências, isto é, dados de ordem sensorial que não possuem o
caráter de intencionalidade
33
. Como se vê, Husserl não faz distinção entre os atos de
sentir, como se fossem fenômenos psíquicos, e os conteúdos sentidos, como se fossem
fenômenos físicos. As sensações e os conteúdos sentidos são a mesma coisa.
2.2. A distinção entre conteúdo real e intencional
Depois dessa breve menção do caráter conteudístico das vivências não-
intencionais, gostaríamos de destacar a distinção entre dois tipos de conteúdos de ato.
Um é chamado de conteúdo real e o outro de conteúdo intencional. Ambos integram a
estrutura elementar dos atos. Como já mencionamos, as sensações ou os momentos
sensoriais são vivências não-intencionais que se encontram presentes nos atos como
conteúdos reais. Agora, por que a sensação é um conteúdo real? O que é conteúdo real?
O que é conteúdo intencional? Quais são os elementos que constituem o conteúdo
intencional dos atos? Qual é a distinção elementar entre conteúdo real e conteúdo
intencional?
délirnitative de l’intentionalité”. BENOIST, Jocelyn. Intentionalité et langage dans les Recherche Logiques
de Husserl, p. 113-114.
33
“Todo sentimiento sensible, por ejemplo, el dolor de quemarse, está referido en cierto sentido a objetos;
por una parte al yo, o más concretamente al miembro corporal quemado; por otra al objeto ardiente. Pero
aquí se manifiesta de nuevo la uniformidad con otras sensaciones. Exactamente del mismo modo son
referidas, por ejemplo, las sensaciones de contacto al miembro corporal que toca y al cuerpo extraño
tocado. Aunque esta referencia se verifica en vivencias intencionales, nadie pensará por ello en considerar
las sensaciones mismas como vivencias de esta clase. La situación es más bien otra. Las sensaciones
funcionan aquí como contenidos representantes de actos de percepción, o como se dice de un modo no
enteramente inequívoco, las sensaciones experimentan aquí una “interpretación” o “apercepción”
objetiva. Ellas mismas no son, pues, actos; pero con ellas se constituyen actos cuando se apoderan de
ellas, prestándoles vida, por decirlo así, caracteres intencionales de la índole de la aprehensión perceptiva.
H
USSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, §15b, p. 508.
20
Do que foi dito até aqui, podemos afirmar que há pelo menos três elementos
distintos na estrutura formal das vivências intencionais. Para destacá-los, tomemos
novamente o exemplo da aparição de uma esfera vermelha. Dela podemos inferir três
coisas: (1) a representação da esfera vermelha é uma vivência intencional; (2) o
momento de sensação vermelho é uma vivência não-intencional que integra a
representação da esfera vermelha; e (3) a esfera vermelha representada é o objeto visado
pelo ato.
Já vimos que não se pode confundir a parte que é inerente ao ato com aquilo que
cabe exclusivamente ao objeto intencionado pelo ato. Agora, veremos que também não
podemos confundir o conteúdo objetivo, que é intencional, com os momentos sensoriais
que não são intencionais, mas que integram a vivência intencional. Os momentos de
sensação representam o conteúdo real de um ato, isto é, são conteúdos que jamais
podem ser dados separadamente do ato
34
. Ora, um ato não possui apenas momentos de
sensação como parte integrante e constituinte. Há outros elementos que, por serem
intencionais, constituem inclusive a peculiaridade dos atos. Tais elementos são
chamados de “conteúdos intencionais”
35
. Estes conteúdos representam uma parte que
não é imanente ao ato, como é o caso da sensação. Entretanto, o conteúdo intencional
34
“Entendemos por contenido fenomenológico real de un acto la totalidad de sus partes, sean concretas o
abstractas, o con otras palabras, la totalidad de las vivencias parciales que componen realmente”.
H
USSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, §16, p. 512; “Contenido en sentido real es la
pura y simple aplicación del concepto más general de contenido (del válido en todas las esferas) a las
vivencias intencionales”. H
USSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, §16, p. 513.
35
Husserl estabelece três sentidos de “conteúdo intencional”: conteúdo intencional no sentido de objeto
intencional, de matéria de ato em oposição à qualidade de ato e de essência intencional. Mais adiante
apresentaremos cada um desses sentidos. Por ora, é importante frisar que as vivências intencionais
possuem conteúdos que são reais (sensações) e outros que são intencionais. Depois de contrastarmos
esses dois tipos de conteúdo, descreveremos especificamente os três distintos conceitos de conteúdo
intencional, analisados por Husserl entre os parágrafos 17 e 21 da V Investigação.
21
não deve ser por isso considerado um elemento externo ao ato, como se fosse uma
realidade extra mentem
36
.
Tomemos, como exemplo, a representação do deus Júpiter. Ora, o Júpiter
representado não existe nem como parte real do ato, nem como algo transcendente ao
ato. Ele simplesmente não existe de modo algum. Contudo, no ato de representar
Júpiter, há um conteúdo intencional que é responsável pela objetualidade
37
referente ao
Júpiter representado. O mesmo se aplica a qualquer objeto visado como existente
efetivamente. Pois o dado é essencialmente o mesmo, quer o objeto representado exista,
quer seja apenas imaginado ou até mesmo um absurdo, como um “quadrado redondo”,
por exemplo
38
. Fato digno de nota é que tal conteúdo (o intencional) não é nem uma
parte real do ato nem tampouco uma realidade que existe extra mentem. Enfim, Husserl
esforça-se para mostrar que, embora o conteúdo intencional ou objetivo seja parte do
ato, ele não é uma parte que possa ser considerada como “imanente” ou “real”.
36
“‘Real’ sonaría mucho mejor junto a intencional; pero sugiere resuelta mente la idea de una cosa
transcendente, idea que debe ser eliminada juntamente por medio de la reducción a la inmanencia ‘real’
de las vivencias. Hacemos bien en atribuir conscientemente a la palabra ‘real’ en este empleo la referencia
a la cosa”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, §11, p. 513, n. 1.
37
“Objetualidade” é a tradução do termo alemão Gegentändlichkeit. Trata-se não do “objeto intencional”,
no sentido estrito da expressão, mas da determinação de direcionalidade do ato ao objeto.
38
Segundo Dario Alves Teixeira Filho, a indiferença quanto ao papel da existência dos objetos é uma das
peculiaridades da solução de Husserl para o problema da intencionalidade das representações sem objeto.
Em suas palavras: “O qualificativo ‘intencional’ em relação com o termo ‘objeto’ comporta-se como um
atributo modificador que tem por efeito fazer a expressão ‘objeto intencional’ designar não algum objeto
não-ordinário possuindo um sui generis modo de existência, mas sim uma vivência possuindo um
conteúdo semântico. Esse é mesmo um fundamental traço diferencial da teoria da intencionalidade de
Husserl em relação a teoria de Twardowski e Meinong. Esses dois filósofos preservaram de Brentano o
axioma de que todo fenômeno mental representa um objeto, mas negaram sua pretensão de que os objetos
da consciência são partes da própria consciência, isto é, são in-existentes ou imanentes, postulando, em
contrapartida, que os objetos de consciência são transcendentes e existem de algum modo. Husserl, por
sua vez, não só negou a pretensão de Brentano de que a intencionalidade seja o critério do mental (isto é,
que toda consciência represente um objeto), mas também negou que toda representação tenha um objeto
correspondente, seja ele impróprio ou imanente, seja ele próprio ou transcendente.Husserl concorda com
Bolzano que afirma que há representações sem objetos correspondentes”. T
EIXEIRA FILHO, Dario Alves.
Análise e identificação de proposições segundo o realismo lógico de E. Husserl. Tese (doutorado em
filosofia) Instituto de Filosofia e Ciências Sociais/
UFRJ, São Paulo, 2001, p. 36-37, n. 37. Ver também:
HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, Apêndice aos §11 e §20, p. 529-530; HUSSERL
& T
WARDOWSKI. Sur les objets intentionnels (1893-1901), p. 279-356. BENOIST, Jocelyn Représentations
sans objet, p. 173-216 (em especial).
22
Tampouco deve ser vista como algo transcendente ao ato, como são as coisas que
existem independentemente no mundo. Sem dúvida, o conteúdo intencional é uma parte
do ato, mas não do mesmo modo que é o conteúdo real ou sensorial. A propósito, este,
sim, pode ser chamado inequivocamente de conteúdo imanente ou real
39
. Portanto,
Husserl discorda da caracterização do conteúdo intencional como “imanente”, uma vez
que o adjetivo “imanente” cabe apenas, ao que tudo indica, aos conteúdos sensoriais. No
§11 da V Investigação, Husserl afirma o seguinte:
Se os chamados conteúdos imanentes são simplesmente intencionais
(intencionados), por outro lado os conteúdos verdadeiramente
imanentes, os que pertencem ao conteúdo real das vivências
intencionais, não são intencionais: eles constituem o ato, tornam
possível a intenção como pontos de apoio necessários, mas eles
próprios não são intencionados, não são os objetos representados no
ato. Não vejo sensações de cor, mas sim coisas coloridas; não ouço
sensações de som, mas a canção que a cantora canta etc.
40
A partir de tudo o que foi dito até aqui, podemos dizer que já chegamos a
algumas conclusões importantes: (1) a sensação não é ato, nem objeto, mas conteúdo de
ato; (2) existem — pelo menos até agora — dois tipos distintos de conteúdos de ato:
39
“Si me represento el dios Júpiter, este dios es representado, está ‘presente inmanentemente’ en mi acto,
tiene en él una ‘in-existencia mental’ o como quiera que digan la expresiones — erróneas si se las
interpreta en su sentido propio. Me represento el dios Júpiter quiere decir que tengo cierta vivencia
representativa, que en mi conciencia se verifica el representar el dios Júpiter. Descompóngase como se
quiera en un análisis descriptivo esta vivencia intencional; nada semejante al dios Júpiter se puede hallar
naturalmente en ella. El objeto inmanente, mental, no pertenece, pues al contenido descriptivo (real) de la
vivencia; no es en verdad inmanente ni mental. Pero tampoco existe extra mentem. No existe
simplemente. Mas esto impide que exista realmente aquel representarse el dios Júpiter, una vivencia de tal
índole, una modalidad de estado psíquico de tal naturaleza, que quien la experimenta puede decir con la
razón que se representa ese mítico rey de los dioses, del cual se cuentan estas y aquellas fábulas. Si existe
el objeto intencional, nada cambia desde el punto de vista fenomenológico. Lo dado es para la conciencia
exactamente igual, exista el objeto representado, o sea fingido e incluso contrasentido. No nos
representamos a Júpiter de otro como que Bismarck, ni la torre de Babel de otro modo que la catedral de
Colonia, ni un polígono regular de mil lados de otro modo que un poliedro regular de mil caras”.
HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, §11, p. 495.
40
“Si lo llamado contenidos inmanentes son más bien meramente intencionales, por otra parte, los
contenidos verdaderamente inmanentes, los pertenecientes a la consistencia real de las vivencias
intencionales, no son intencionales; integran el acto, hacen posible la intención como necesarios puntos
de apoyo, pero ellos mismos no son intencionales, no son los objetos representados en el acto. No vemos
sensaciones de color, sino cosas coloreadas; no oímos sensaciones de sonido, sino la canción de la
cantante etcétera”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, §11, p. 496.
23
real e intencional; (3) o conteúdo real é imanente ao ato, ou seja, é uma parte do ato que
não pode ser dada separadamente do ato; (4) a sensação é um conteúdo real do ato; (5)
o conteúdo intencional não é um conteúdo imanente das vivências intencionais, nem
tampouco algo transcendente ao ato.
Apesar de já termos apresentado alguns aspectos importantes acerca do
“conteúdo intencional”, ainda é preciso certos esclarecimentos imprescindíveis à
compreensão da estrutura elementar das vivências intencionais. Para começar, é preciso
levar em conta o fato de que Husserl sugeriu explicitamente três sentidos de “conteúdo
intencional”
41
: conteúdo intencional no sentido de objeto intencional, de matéria em
oposição à qualidade de ato e de essência intencional. A seguir, analisaremos cada um
deles.
2.2.1. “Conteúdo intencional” no sentido de “objeto intencional”
Até agora vimos apenas considerações “negativas” que Husserl fez sobre o
conteúdo intencional: que ele não é algo transcendente ao ato, como se fosse uma
realidade extra mentem, e que ele não é um conteúdo real do ato ou vivência
intencional, como é o caso da sensação, por exemplo. Porém, isso não é suficiente. É
preciso esclarecer o sentido de “conteúdo intencional” não a partir do que ele não é, mas
sim a partir do que ele é.
41
“Al oponer, pues, al contenido real el intencional, ya esta palabra indica que se toma en cuenta la
peculiaridad de las vivencias intencionales o de los actos como tales. Pero aquí se nos ofrecen distintos
conceptos, todos los cuales se fundan en la naturaleza específica de los actos y poden entenderse de igual
modo bajo el título fenomenológico de contenido intencional, y de hecho suelen serlo. Habremos de
distinguir, ante todo, tres conceptos de contenido intencional: el objeto intencional del acto, la materia
intencional de éste (en oposición a su cualidad intencional) y, por último, su esencia intencional.
Conoceremos estas distinciones en la conexión de la siguiente serie de análisis muy generales, pero
también indispensables para los fines más limitados de una explicación de la esencia del conocimiento”.
HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, §16, p. 513.
24
Para dizer o que o “conteúdo intencional” é, Husserl propõe, como já
mencionamos, três acepções do termo. A primeira delas refere-se ao sentido de
“conteúdo intencional” como “objeto intencional”. Este deve ser entendido como o
objeto visado a partir de um ato, ou seja, visado como “determinado de tal ou tal modo”
(als so und so bestimmter). Nesse caso, para entendermos rigorosamente o sentido de tal
acepção, faz-se necessário distinguirmos o “objeto tal como é intencionado”
(Gegestand, so wie er intendiert ist) do “objeto que é intencionado” (Gegenstand
welcher intediert ist)
42
. Ora, o que é visado no ato não é o objeto sui generis, mas o
objeto visado como determinado de alguma maneira
43
. Isso não quer dizer que existam
dois tipos de objetos com realidades e caractesticas distintas. É importante enfatizar
que o objeto tal como é intencionado e o objeto que é intencionado são o mesmo objeto.
Portanto, a diferença não implica uma dupla existência do objeto, como se o objeto tal
como é intencionado existisse exclusivamente na consciência, e que, fora dela, poderia
ou não existir o seu correlato, o objeto que é intencionado.
42
“Con respecto al contenido intencional entendido como el objeto del acto, hay que distinguir lo
siguiente: el objeto tal como es intencionado, y pura y simplemente el objeto que es intencionado. En
todo acto es ‘representado’ un objeto como determinado de esta o la otra manera; y en cuanto tal es él,
eventualmente, el objetivo de variadas intenciones, judicativa, afectiva, apetitiva, etc”. HUSSERL,
Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, §17, p. 513.
43
De acordo com Dario Texeira Filho, outra maneira de se distinguir o “objeto tal como é intencionado”
do “objeto que é intencionado” é diferençar Gegenstand (objeto) de Gegenständlichkeit (Objetualidade).
Apesar de Husserl não se prender rigorosamente a essa distinção terminológica, isso não significa que ela
não exista, e que ele não reconheça a sua importância. Saber isso é importante, pois às vezes, Husserl
menciona Gegenstand quando, na verdade, o contexto indica que se trata de Gegenständlichkeit. Nas
palavras de Dario Texeira Filho: “a intencionalidade de uma vivência consiste em sua propriedade de
referir-se a um objeto ou, melhor, a uma objetualidade (Gegenständlichkeit). Nas suas LU [Investigações
lógicas], Husserl se propõe a usar o termo ‘objetualidade’ para designar aquilo a que um ato mental
refere-se intencionalmente. Ele pretende, deste modo, dispor de um termo que, diferentemente do termo
‘objeto’ (Gegenstand) cuja aplicação restringe-se mais propriamente a objetos reais ou particulares, não
prejulgue o tipo de identidade referida que pode, assim, ser tanto real ou ideal, uma coisa ou um processo,
como também um estado de coisa ou uma propriedade etc. Como ocorre, porém, freqüentemente Husserl
também nesse caso não se prende rigorosamente à terminologia que ele mesmo propõe e, assim, ele falará
muitas vezes simplesmente de ‘objeto’ quando o contexto claramente indica que ele não quer designar um
particular, mas sim uma objetualidade de tipo qualquer como sendo intencionalmente referida em um ato
mental”. T
EIXEIRA FILHO, Dario Alves. Análise e identificação de proposições segundo o realismo lógico
de E. Husserl, p. 36.
25
Talvez uma das diferenças radicais entre Brentano e Husserl esteja no fato de
que Husserl, ao contrário de Brentano, estabelece uma distinção rigorosa entre conteúdo
(Inhalt) e objeto (Gegenstand). Pelo menos em Psicologia do ponto de vista empírico
não se encontra nenhuma explicitação rigorosa de tal distinção, nem tampouco de uma
diferenciação entre o “objeto tal como é intencionado” e o “objeto que é intencionado”.
Ao que parece, a observação de Husserl não se refere a Brentano, mas à doutrina do
conteúdo e do objeto das representações de Kazimir Twardowski. Diferentemente de
Brentano, Twardowski estabeleceu a distinção entre “conteúdo” e “objeto”, porém se
equivocou ao aferir uma dupla existência do objeto. Nas palavras de Twardowski:
Mesmo evitando-se assim a confusão do ato psíquico com seu
conteúdo, resta ainda por ser superada uma ambigüidade sobre a qual
Höfler chamou a atenção. Após ele pronunciar-se sobre a relação com
um conteúdo, própria dos fenômenos psíquicos, ele continua: “1. O que
nós chamamos ‘conteúdo da representação e do juízo’ encontra-se
inteiramente no interior do sujeito, tal como o ato de representação e de
juízo. 2. As palavras ‘Gegenstand’ e ‘Object’ são usadas em dois
sentidos: por um lado, para aquele existente em si (an sich Bestehende),
...para o qual nosso representar e julgar igualmente se dirigem, por
outro, para a ‘imagem’ (Bild) psíquica ‘emnós existente mais ou
menos aproximada daquele real (Realen), aquela quase-imagem (mais
precisamente: signo) idêntica ao que em (1.) denominou-se conteúdo.
Em contraposição ao Gegenstand ou objeto, suposto como
independente do pensamento, denomina-se o conteúdo de um
representar e julgar (igualmente, sentir e querer) também o ‘objeto
imanente ou intencional’ desses fenômenos psíquicos. 1) A partir disso
diferencia-se o objeto (Gegenstand), para o qual nosso representar
“igualmente se dirige”, do objeto imanente (immanenten Object) ou do
conteúdo (Inhalt) de representação. Esta distinção nem sempre é feita e,
entre outros, também Sigwart não a percebe. 2) A linguagem facilita,
como tão seguidamente, também aqui a confusão de coisas diferentes,
na medida em que permite que tanto o conteúdo quanto o objeto sejam
o “representado”
44
.
Ao contrário de Twardowski, Husserl afirma que as duas expressões (“objeto tal
como é intencionado” e “objeto que é intencionado”) não implicam uma dupla
44
BRAIDA, Celso R. (Org). Três Aberturas em Ontologia: Frege, Twardowski e Meinong, p. 46.
26
existência do objeto. Enquanto a expressão “objeto que é intencionado” diz respeito
meramente ao objeto (que permanece o mesmo a despeito de ser mentado por distintos
atos e de diversos modos), a expressão “objeto tal como é intencionado” se refere
estritamente às determinações oriundas da “objetualidade”, isto é, da determinação da
intencionalidade e não propriamente do objeto. Portanto, tal diferenciação não implica a
suposta existência de dois objetos: um transcendente (objeto que é intencionado) e o
outro imanente (objeto tal como é intencionado).
Tomemos, como exemplo, o ato de representar Tomás de Aquino. Este ato pode
visar ao seu objeto como “o autor de uma suma de teologia escrita no século XIII”.
Porém, este mesmo objeto (Tomás de Aquino) pode ser intencionado como o “Doutor
Angélico”, ou como “o último filho homem de Landolfo, senhor de Roccasecca”, ou
como “o Boi Mudo da Sicília” etc. Cada um desses atos representa o mesmo objeto
intencional. Não faz o menor sentido negar que Tomás de Aquino seja o Doutor
Angélico ou que Tomás de Aquino seja o último filho homem de Landolfo etc. Não se
pode aceitar o contra-senso que surgiria da suposta afirmação de que o Tomás de
Aquino, intencionado de tal ou tal modo, existe distintamente do Tomás de Aquino que
é intencionado. De fato, é preciso diferenciar o objeto tal como é intencionado do objeto
que é intencionado, porém isso não significa admitir a existência de dois objetos
ontologicamente distintos
45
.
45
“Es un grave error establecer una distinción real entre los objetos ‘meramente inmanentes’ o
‘intencionales’ y los objetos ‘transcendentes’ o ‘reales’ que les corresponderían eventualmente, ya se
interprete esta distinción como una distinción entre un signo o una imagen existente realmente en la
consciencia y la cosa designada o representada en imagen, ya se interprete el objeto inmanente de otro
modo cualquiera, como un dato real de la consciencia, por ejemplo como el contenido en el sentido del
momento que da la significación. Semejantes errores, que se han prolongado durante siglos (recuérdese el
argumento ontológico de San Anselmo), tienen su apoyo en los equívocos del término inmanencia y de
otros términos del mismo estilo, aunque también han nacido de dificultades objetivas. Basta expresar lo
siguiente, para que todos tengan que reconocerlo: el objeto intencional de la representación es el mismo
que su objeto real y — dado o caso — que su objeto exterior, y es un contrasentido distinguir entre
ambos. El objeto transcendente no sería el objeto de esta representación, si no fuese su objeto
intencional”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, Apéndice a los parágrafos 11 y
20, p. 529-530.
27
Sendo assim, o conteúdo intencional, no sentido de “objeto intencional”, deve
ser entendido não como o “objeto que é intencionado”, mas como o “objeto
intencionado de tal ou tal modo” (als so und so bestimmter). Nesse caso, trata-se de algo
que, a rigor, não faz parte da estrutura elementar dos atos ou vivências intencionais, mas
que revela a determinação da direcionalidade ao objeto (Gegenständlichkeit). Este, sim,
faz parte da estrutura elementar dos atos, pois a determinação da intencionalidade não é
dada pelo objeto, mas pelo ato. Engana-se, grosseiramente, aquele que pensa que as
vivências são intencionais porque visam aos objetos que seriam considerados como
intencionais por si só. Pelo contrário, a intencionalidade é dada por meio do ato e não
do objeto. Isto é, o objeto é intencional não porque nele haja intenção, mas porque ele é
alvo de intenção. Portanto, a determinação da intencionalidade, diferentemente do
objeto tal como é intencionado, é dada por algo que faz parte das vivências
intencionais
46
. Para compreendermos esta parte do ato, responsável pela determinação
da objetualidade, precisamos antes explicitar a estrutura formal de todos e partes que foi
apresentada por Husserl na III Investigação. A compreensão de tal estrutura nos ajudará
inclusive a entender o segundo sentido de “conteúdo intencional”.
2.2.1.1. A estrutura formal de todos e partes dos atos ou vivências intencionais
A razão de mencionar a estrutura formal de todos e partes resulta da constatação
de que a relação entre as vivências intencionais e seus conteúdos a pressupõe.
Entretanto, não ofereceremos uma análise exaustiva da mereologia husserliana. Faremos
46
“El objeto es intencional quiere decir que hay un acto con una intención caracterizada de un modo
definido, la cual constituye en ese modo definido justamente lo que llamamos la intención hacia ese
objeto. El referirse al objeto es una peculiaridad inherente al contenido esencial propio de la vivencia de
acto, y las vivencias que tienen esa peculiaridad se llaman (por definición) vivencias intencionales o
actos. Todas las diferencias en el modo de la referencia objetiva son diferentes descriptivas de las
correspondientes vivencias intencionales”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2,
§20, p. 521-522.
28
apenas uma breve menção de um de seus tópicos que é o mais relevante para a
consecução de nosso estudo, a saber, o da distinção entre “pedaços” (Stücke) ou partes
independentes e “momentos” (Momente) ou partes não-independentes. Trata-se,
portanto, de estabelecer uma diferença rigorosa entre dois tipos de partes do todo
47
.
2.2.1.1.1. “Pedaços” ou partes independentes
“Pedaços” são partes que podem subsistir separadamente de seu todo. Por isso,
recebem também o nome de “partes independentes”. Por exemplo, uma árvore é um
todo cujas partes são o tronco, as raízes, os galhos, as folhas, a casca e a madeira. Cada
uma delas pode ser percebida ou imaginada separadamente, isto é, abstraídas da árvore
como um todo. Assim, as folhas e os galhos são partes que podem ser separadas de uma
árvore e, a despeito disso, subsistirem como entes independentes. Por exemplo, o galho
de uma árvore é uma parte independente, pois pode separar-se da árvore, e ao ser
separado pode existir e ser percebido como uma coisa separada.
As partes de uma máquina, as teclas de um piano, um membro de um partido
político, os soldados de um pelotão são outros exemplos de partes independentes com
os seus respectivos todos. Tais partes podem subsistir separadamente, porém, ao serem
separadas e tomadas isoladamente, tornam-se todos e deixam de ser partes. Portanto,
“pedaços” são partes que podem se tornar todos, se tomadas isoladamente. Em suma,
algo só pode ser parte independente se estiver necessariamente em relação ao todo. Sem
essa relação necessária, partes independentes tornam-se todos.
47
Cf. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, III, cap. 2, §17, p. 415-416; DRUMMOND, John J.
Husserl’s Third Logical Investigation: Parts and Wholes, Founding connections, and the Synthetic A
Priori. In: D
AHLSTROM, Daniel O. (Org.) Husserl’s Logical Investigations, p. 57-68; SOKOLOWSKI,
Robert. Introduction to Phenomenology, p. 22-27; S
OKOLOWSKI, Robert. Husserlian Meditations: How
Words Present Things, p.08-17; WILLARD, Dallas. The Theory of Wholes and Parts and Husserl’s
Explication of the Possibility of Knowledge in the Logical Investigations. In: F
ISETTE, Denis (Org.).
Husserl’s Logical Investigations Reconsidered, p. 163-181.
29
2.2.1.1.2. “Momentos” ou partes não-independentes
“Momentos” ou “partes não-independentes” são partes que não podem subsistir
separadamente do todo ao qual pertencem. Não podem ser entes isolados. O matiz, a
saturação, o brilho da cor, o sombreamento, o timbre e a qualidade do som são
momentos que não podem ser dados separadamente de uma superfície ou extensão
espacial. Um galho pode ser cortado de uma árvore, mas uma qualidade sonora não
pode ser “cortada” do som, nem a cor vermelha de uma esfera vermelha. Uma distinção
marcante ante as partes independentes é que os “momentos” jamais podem se tornar
todos.
Levando em consideração a estrutura formal das vivências intencionais, pode-se
dizer que, por um lado, ela apresenta partes que são independentes, pois podem ser
separadamente do todo e eventualmente ser um todo. Por outro lado, a estrutura das
vivências intencionais pode apresentar partes não-independentes, que jamais podem ser
separadamente do todo e, muito menos, subsistirem como um todo. Para identificarmos
o tipo de parte que está em questão, faz-se necessário concebê-la a partir de sua
especificidade. Afinal, que parte é essa? A parte do ato que é responsável pela
determinação da intencionalidade foi nomeada por Husserl de essência intencional, que
nada mais é do que a unidade de “matéria” e “qualidade” de ato.
Uma vez compreendida a mereologia husserliana dos “pedaços” e “momentos”,
podemos explicar melhor não apenas o que é a unidade essencial dos atos, mas também
o sentido de “conteúdo intencional” como “matéria de ato”. De fato, não seria viável
explicar o que é a matéria de ato em oposição à qualidade de ato sem antes fazer o que
fizemos: elucidar a mereologia das partes independentes e não-independentes.
30
2.2.2. “Conteúdo intencional” no sentido de “matéria em oposição à qualidade de
ato”
Já sabemos que o ato sempre visa ao objeto. Porém, isso não significa que seja
sempre do mesmo modo. Pelo contrário, existem diferentes modos de referência
intencional. Se quisermos distingui-los, então, precisamos conhecer primeiramente a
descrição husserliana da unidade essencial do ato, pois esta unidade é justamente a
responsável pela intencionalidade.
De acordo com Husserl, a unidade essencial das vivências intencionais é
constituída por duas “partes abstratas”
48
. Trata-se da matéria e da qualidade de ato.
Husserl as caracterizou como dois “momentos”, isto é, como duas partes não-
independentes e que integram a unidade essencial de toda vivência intencional. Isso
significa que a qualidade e a matéria são partes que, em hipótese alguma, podem ser
dadas separadas da unidade que elas compõem. Por exemplo, a qualidade jamais pode
ser uma parte do ato que subsiste independente da matéria, nem a matéria pode ser uma
parte que subsiste independente da qualidade
49
. Portanto, quando estabelecemos certas
distinções entre qualidade e matéria de ato, não podemos esquecer de que estas partes,
na realidade, são “momentos” constitutivos da unidade essencial do ato. Ou seja,
qualquer descrição de uma dessas partes — consideradas separadamente — é apenas
48
“Ante todo, fijaremos una división fundamental del concepto de parte, la división en pedazos — o
partes en sentido estricto… y momentos o partes abstractas del todo. Llamamos pedazo a toda parte que
es independiente relativamente a un todo T. Llamamos momento (parte abstracta) del mismo todo T a
toda parte que es no-independiente relativamente a dicho todo”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones
lógicas, II, III, cap. 2, §17, p. 415.
49
“La cualidad de acto es sin duda alguna un momento abstracto del acto, que sería absolutamente
inconcebible separado de toda materia. ¿Consideramos posible una vivencia que sea, por ejemplo, una
cualidad de juicio, pero non un juicio de una materia determinada? El juicio perdería el carácter de
vivencia intencional, que se le ha atribuido evidentemente como esencial. Lo mismo es aplicable a la
materia. También habrá que considerar inconcebible una materia que non sea la materia de una
representación, ni la de un juicio, etc”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, §20, p.
524.
31
uma descrição conceitual de sua função na estrutura elementar das vivências
intencionais.
Sendo assim, qual é a função da qualidade e da matéria na estrutura elementar
das vivências intencionais? Em que consiste a distinção entre qualidade e matéria de
ato?
A qualidade é o caráter de ato, isto é, o momento que qualifica o ato como sendo
uma representação, um juízo ou um sentimento, por exemplo. Já a matéria é o momento
do ato responsável não só pela determinação da referência intencional, mas também
pela determinação do modo de referência intencional
50
. Portanto, é a partir das
determinações dadas pela matéria que a qualidade especifica o ato. É justamente porque
a matéria é capaz de determinar não somente a intencionalidade, mas também o caráter
de ato (ou a qualidade), que ela é considerada o elemento fundante da essência
intencional do ato
51
.
O fato de a qualidade ser determinada pela matéria não deve implicar uma
independência das partes. Enfatizamos mais uma vez que a matéria e a qualidade são
momentos, partes não-independentes que constituem a unidade essencial das vivências
50
“La cualidad sólo decide si lo “representado” ya en un modo determinado es presente intencionalmente
como deseado, preguntado, juzgado, etcétera. La materia debe ser para nosotros, pues, aquello que hay en
el acto que le presta la referencia al objeto con tan perfecta determinación, que no sólo queda
determinado el objeto en general, que el acto mienta, sino también el modo en que lo mienta”.
HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, §20, p. 523.
51
“La materia — podemos seguir diciendo para aclarar este concepto — es aquella propiedad del acto
incluida en el contenido fenomenológico del mismo, que no sólo determina como qué lo aprehende, qué
notas, relaciones, formas categoriales le atribuye el acto en sí mismo. En la materia del acto se funda que
el objeto sea para el acto éste y no otro; ella es en cierto modo el sentido de la aprehensión objetiva (o
más brevemente el sentido de aprehensión) que funda la cuidad, pero es indiferente a sus diferencias.
Materias iguales no pueden dar nunca una referencia objetiva distinta; pero materias distintas pueden dar
nunca una referencia objetiva distinta; pero materias distintas pueden dar igual referencia objetiva. Los
ejemplos anteriores muestran esto último; en general, las diferencias entre expresiones equivalentes, pero
no tautológicas, conciernen a la materia. A estas distinciones no corresponde, naturalmente, una
fragmentación concebible de la materia, como si un trozo correspondiese al objeto igual y otro al distinto
modo de representarlo. Es notorio que la referencia objetiva sólo es posible a priori, como un modo
determinado de referencia objetiva; sólo puede tener lugar en una materia plenamente determinada”.
HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, §20, p. 523-524.
32
intencionais. Portanto, jamais podem ser dadas separadamente. Ou seja, o fato de a
matéria ser o elemento fundante da essência intencional não nos deve levar a concluir
que a matéria independe da qualidade de ato. Mais adiante, quando estivermos
abordando o sentido de “representação” como matéria de ato, nos dedicaremos
detidamente à relação de fundação na essência intencional dos atos. Por ora, nos
interessa apenas estabelecer a distinção essencial entre qualidade e matéria de ato.
Para entendermos melhor a distinção entre qualidade e matéria
52
, consideremos
os seguintes juízos: Lula é o atual presidente do Brasil e A rosa é vermelha. Embora se
refiram a coisas distintas, ambos os juízos possuem algo em comum. Ora, esse “algo em
comum” é justamente aquilo que especifica esses dois atos como “juízos”. Ou seja, é
aquilo que Husserl designa de “qualidade de ato” ou “caráter de ato”. No entanto, apesar
de possuírem a mesma qualidade, o primeiro juízo possui um “conteúdo” diferente do
“conteúdo” do segundo juízo. Isso que foi chamado de “conteúdo” é aquilo que Husserl
nomeia de matéria de ato
53
. Sendo assim, temos qualidades idênticas, mas matérias
distintas.
Agora, observe outros dois atos: A rosa é vermelha? e Que a rosa seja vermelha.
Como é possível notar, esses atos possuem qualidades distintas: o primeiro ato é uma
pergunta, o segundo um desejo. Contudo, embora possuam qualidades distintas, o
52
“Es la distinción entre el carácter general del acto, que da a éste el sello de meramente representativo o
de judicativo, afectivo, apetitivo, etc., y su ‘contenido’, que lo define como representación de este objeto
representado, como juicio sobre esta situación juzgada, etc. Así, por ejemplo, las dos afirmaciones 2
X 2
= 4 e Ibsen es considerado como el principal fundador del moderno realismo en el arte dramático son,
en cuanto afirmaciones, de una misma especie; cada una de ellas está cualificada como afirmación.
Llamamos a este elemento común la cualidad del juicio. Pero el uno es un juicio de ese otro ‘contenido’.
Para distinguir de otros este concepto de contenido, hablamos de la materia del juicio. En todos os actos
llevamos a cabo distinciones semejantes entre la cualidad y la materia”. HUSSERL, Edmund.
Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, §20, p. 520-521.
53
“El contenido en el sentido de materia es un componente de la vivencia concreta, componente que ésta
puede tener de común con actos de una cualidad muy distinta. Este componente resaltará con la mayor
claridad, si establecemos una serie de identidades en las cuales cambian las cualidades de acto, mientras
que la materia sigue siendo la misma idénticamente”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V,
cap. 2, §20, p. 521.
33
“conteúdo” ou a matéria é a mesma
54
. Prova disso é o fato de que o objeto visado é o
mesmo para ambos os atos
55
. Porém, enfatizamos que não somente o objeto é o mesmo,
mas o modo como o objeto é intencionado também é o mesmo para ambos os atos.
Assim, conclui-se que, por um lado, qualidades distintas podem ter matérias idênticas e,
por outro, qualidades idênticas podem ter matérias distintas. O primeiro indica que o
mesmo objeto pode ser visado por uma multiplicidade de atos qualitativamente
distintos. Por exemplo, podemos ter uma representação, uma percepção, uma
recordação, um juízo, um desejo de um mesmo objeto. O segundo indica que objetos
distintos podem ser intencionados por atos qualitativamente idênticos. Nesse caso, a
matéria varia enquanto a qualidade do ato permanece idêntica. Por exemplo, podemos
ter várias percepções de objetos distintos. Isso significa que a qualidade “percepção”
permanece a mesma, embora a matéria diversifique.
2.2.3. “Conteúdo intencional” no sentido de “essência intencional”
Vimos o sentido de “conteúdo intencional” como “matéria em oposição à
qualidade de ato”. Agora, concluiremos esta etapa, explicando o sentido de conteúdo
intencional” como “essência intencional”. Ora, já aprendemos que a matéria e a
qualidade são apenas momentos que constituem a “essência intencional” ou a unidade
54
“¿Qué quiere decir aquí, pues, el mismo contenido? El objeto intencional es notoriamente el mismo en
los diversos actos. Una misma situación objetiva es lo representado en la representación, lo puesto como
válido en el juicio, lo deseado en el deseo y lo preguntado en la pregunta”. HUSSERL, Edmund.
Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, §20, p. 521.
55
Mais uma vez lembremo-nos de que as considerações fenomenológicas referem-se exclusivamente às
vivências intencionais. O objeto nunca entra nessas considerações. Segundo Husserl: “El objeto mismo
non es nada para la consideración fenomenológica real; transciende del acto, hablando en geral. Es
indiferente a este respecto en qué sentido y con qué razón se hable de su ‘ser’, es indiferente que sea real
o ideal, que sea verdadero, posible o imposible; el acto va ‘dirigido a él’. Si se pregunta cómo se
entiende que lo no-existente o lo transcendente pueda ser objeto intencional en un acto en que no existe,
no hay más respuesta que esta única, que hemos dado antes y es de hecho plenamente satisfactoria: el
objeto es intencional quiere decir que hay un acto con una intención caracterizada de un modo definido, la
cual constituye en ese modo definido justamente lo que llamamos la intención hacia ese objeto”.
HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, §20, p. 521.
34
essencial do ato. Contudo, essa essência ou unidade também pode ser entendida como
conteúdo intencional do ato. Nesse caso, qual seria a diferença? Em tese, a diferença
está no fato de que o termo “conteúdo intencional”, no sentido de matéria, deve ser
entendido como um momento constitutivo da unidade essencial do ato, que inclusive é
responsável pela determinação da intencionalidade. Entretanto, se o referido termo
estiver indicando a essência intencional, então, o “conteúdo intencional” deve ser
entendido como a própria unidade essencial do ato. Ora, o ato não é a junção entre a
qualidade e a matéria. É verdade que um ato jamais pode carecer de qualidade e
matéria. Porém, isso não significa que ambos os elementos, por si só, constituam o “ato
concreto completo” (konkret vollständigen Akt)
56
.
Se o “ato concreto completo” fosse apenas a junção de qualidade e matéria,
então, toda vez que houvesse identidade entre qualidades e matérias, não haveria
distinção entre atos, o que, segundo Husserl, é falso. O fato de dois atos terem
qualidades e matérias idênticas não implica que sejam necessariamente atos idênticos. É
possível que sejam absolutamente distintos dois atos que possuam a mesma qualidade e
a mesma matéria
57
. Ou seja, dois atos podem ter a mesma qualidade, a mesma matéria,
mas possuir diferenças quanto ao conteúdo sensorial. Por exemplo, uma rosa vermelha
que estivesse sobre a mesa poderia ser percebida como sendo a mesma rosa vermelha
sobre a mesa, mas de diferentes pontos de vista. Aliás, qualquer objeto sensível é
sempre percebido por meio de uma multiplicidade de perspectivas, que nunca se
56
“Hemos distinguido en el contenido descriptivo de todo acto la cualidad y la materia, como dos
momentos que se exigen mutuamente. Si los juntamos de nuevo, parece a primera vista que no hemos
hecho más que restaurar el acto correspondiente. Miradas las cosas más exactamente, se nos impone,
empero, otra interpretación, según la cual los dos momentos unidos no constituyen el acto concreto
completo”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, §21, p. 524.
57
“Dos actos pueden ser, en efecto, iguales, tanto respecto de su cualidad como respecto de su materia, y
ser no obstante descriptivamente distintos. Dado que, como veremos, debemos considerar la cualidad y la
materia como los componentes absolutamente esenciales de que un acto no puede carecer nunca, parece
adecuado designar la unidad de ambos, que sólo constituye una parte del acto íntegro, como la esencia
intencional del acto”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, §21, p. 524.
35
encontram efetivamente presentes em sua totalidade. Portanto, um objeto pode ser
percebido como o mesmo, através de atos de idêntica qualidade e matéria, mas com
diferentes conteúdos sensoriais
58
.
Dessa forma, a objetividade não é fruto nem de uma espécie de “consciência
transcendental”, nem é resultado da igualdade de “cópias” fidedignas do objeto visado.
Na verdade, a objetividade está garantida pela intencionalidade da matéria. Isso
significa que a objetividade é constituída — a despeito da diversidade de atos — porque
a intencionalidade não é determinada pelos conteúdos reais, mas pelos conteúdos
intencionais. Portanto, não importa se a qualidade de ato é distinta e os conteúdos reais
são distintos. O que garante a mesma objetividade é a matéria de ato. Ora, se a matéria é
a mesma, o objeto visado é o mesmo, a despeito das variações de qualidade ou de
conteúdos sensoriais. Por isso, se a matéria é a mesma, um indivíduo pode visar ao
mesmo objeto, independente de os atos serem qualitativamente distintos. Do mesmo
modo, diversos indivíduos, com vivências empiricamente distintas, podem visar
igualmente ao mesmo objeto desde que a matéria seja a mesma.
Feitas essas importantes considerações sobre a estrutura elementar das vivências
intencionais, voltemos ao problema que este estudo visa a explicitar, ou seja, o
58
“Decimos en general y con recto sentido que un individuo puede en distintos tiempos, o que varios
individuos podrían al mismo tiempo o en distinto tiempo tener la misma representación, recuerdo o
expectación, hacer la misma percepción, expresar la misma afirmación, el mismo deseo, la misma
esperanza, etc. Tener la misma representación quiere decir representar también el mismo objeto, pero no
quiere decir sólo esto. La representación que yo tengo de los desiertos de hielo de Groenlandia es
seguramente distinta de la que Nansen tiene de ellos; pero el objeto es el mismo. Los objetos ideales:
recta y línea más corta son, asimismo, idénticos; pero las representaciones son distintas (dad una
definición adecuada de las rectas). Al hablar de la misma representación o el mismo juicio, etc., no
queremos tampoco significar una identidad individual de los actos, como si mi consciencia estuviese
pegada en cierto modo a la de otro. Tampoco queremos decir una relación de igualdad perfecta, o sea, una
indistinción con respecto a todos los constituyentes internos de los actos, como si el uno fuese un mero
duplicado del otro. Tenemos la misma representación de una cosa, cuando tenemos representaciones en
las cuales la cosa se nos representa, no pura y simplemente, sino como exactamente la misma, o sea,
según lo exposto con anterioridad, en el mismo ‘sentido de aprehensión’ o sobre la base de la misma
materia”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, §21, p. 525.
36
problema da equivocação do termo “representação” na tese “todos os atos ou são
representações ou se fundam em representações”.
37
Capítulo 3
A EQUIVOCAÇÃO DO TERMO “REPRESENTAÇÃO” NA TESE
“TODOS OS ATOS OU SÃO REPRESENTAÇÕES OU SE
FUNDAM EM REPRESENTAÇÕES”
No capítulo 1, vimos que Brentano distinguiu três classes de atos, mediante o
modo específico de cada ato visar ao seu respectivo objeto. A primeira classe, ele
nomeou de “representações”, a segunda, de “juízos” e a terceira, de “sentimentos”.
Além disso, Brentano estabeleceu uma relação de fundação entre os próprios fenômenos
psíquicos. Tal relação está formulada na sua famosa tese de que todos os atos ou são
representações ou se fundam em representações. Ou seja, todos os atos que não são
representações se fundam necessariamente em representações.
No capítulo 2, apresentamos algumas divergências entre as concepções de
Brentano e Husserl acerca da estrutura do ato. A partir da análise formal de todos e
partes, observamos alguns pontos em que a concepção husserliana da estrutura das
vivências intencionais diverge radicalmente da concepção brentaniana da estrutura dos
fenômenos psíquicos. Um exemplo disso é a distinção não só entre ato e conteúdo, mas
também entre os diversos tipos de conteúdo. A propósito, a compreensão de tais
distinções é a condição sine qua non não só para entender a estrutura elementar das
vivências intencionais, mas também para compreender a reflexão que ora fazemos sobre
a equivocação do termo “representação”, arrazoada por Husserl na V Investigação.
Portanto, tudo o que fizemos até aqui nada mais foi do que explicar o contexto do
arrazoado. Agora, só nos resta o óbvio: explicar o próprio arrazoado.
38
3.1. Os elementos equivocados e as três interpretações possíveis da tese
brentaniana
Para compreendermos o problema da equivocação do termo “representação” —
especialmente no que diz respeito à tese de Brentano e não no que se refere estritamente
ao uso do termo —, precisamos primeiramente discriminar quais são os elementos
equivocados. Como já foi dito, Husserl afirma que o termo “representação” possui
basicamente uma quádrupla equivocação. Isso significa que são quatro os elementos
equivocados
59
. São eles: (1) a matéria de ato (Aktmaterie), (2) a mera representação
(bloβe Vorstellung), (3) o ato nominal (nominaler Akt) e (4) o ato objetivante
(objektivierender Akt)
60
. A partir dessa quádrupla equivocação, Husserl apresenta três
interpretações possíveis da tese de Brentano, pelas quais ele centraliza seus esforços de
59
Em uma das notas da introdução desta dissertação, informamos que há um quinto elemento equivocado,
cujo próprio Husserl hesita em mencioná-lo, e que não será considerado neste estudo, a saber, a
Repräsentation. A razão de sua hesitação se deve ao fato de que este elemento só será analisado,
pormenorizadamente, no §27 da VI Investigação. Ora, isso não quer dizer que o “quinto elemento” seja
dispensável ou irrelevante, mas apenas significa que ele extrapola os limites predeterminados já no título
desta dissertação.
60
“En los últimos capítulos hemos tropezado con un cuádruplo o quíntuplo equívoco de la palabra
representación.
1. La representación como materia de acto; o como podemos decir también, completando
fácilmente: la representación como representante que sirve de base al acto, esto es, como el total
contenido del acto con exclusión de la cuidad; pues también este concepto hizo su papel en
nuestras consideraciones, aunque nuestro especial interés por la relación entre la cuidad y la
materia nos haya hecho subrayar particularmente esta última. La materia dice – pace la expresión
– qué objeto es mentado en el acto y en qué sentido es mentado además; el representante
incorpora los demás elementos que quedan fuera de la esencia intencional y que hacen que, por
ejemplo, el objeto sea mentado justamente en el modo de la intuición perceptiva o imaginativa, o
en el de una mera mención inintuitiva. Extensos análisis sobre todo esto siguen en la primera
sección de la próxima Investigación.
2. La representación como mera representación, como modificación cualitativa de una forma de
belief; por ejemplo, como mera comprensión de una proposición o dubitación, etc.
3. La representación como acto nominal, por ejemplo, como representación sujeto de un acto
enunciativo.
4. La representación como acto objetivante, esto es, en el sentido de la clase de actos que está
representada necesariamente en todo acto completo, porque toda materia (o representante) tiene
que darse primariamente como materia (o representante) de un acto de esta clase. Esta “clase
fundamental” cualitativa comprende tanto los actos de belief nominal y proposicional, como sus
“correlatos”, de suerte que pertenecen a ella todas las representaciones en los anteriores sentidos
segundo y tercero”. H
USSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 6, §44, p. 583-584.
39
explicitação das vivências intencionais e seus conteúdos. Por isso, de agora em diante,
estudaremos os quatro elementos equivocados e as três interpretações possíveis da tese
brentaniana.
3.2. Primeira interpretação: toda vivência intencional ou é uma mera representação
ou possui uma matéria de ato como componente fundante
De modo geral, o que caracteriza a equivocação do termo “representação”, na
tese brentaniana, é o fato de que o mesmo termo é usado para denominar coisas
distintas, isto é, equivocadas. De acordo com Husserl, na primeira parte da tese, o termo
“representação” significa o “mero ato de representar” ou a “mera representação”. Na
segunda parte, trata-se do termo “representação” no sentido de “matéria de ato”
61
.
Observemos, a seguir, um esquema que ilustra o que ora argumentamos e o que em
seguida explicaremos:
61
“El principio de que toda vivencia intencional o es ella misma una (mera) representación, o tiene una
representación por base, se presenta con una pseudoevidencia, según las precedentes investigaciones. El
engaño se basa en el doble sentido expuesto de la palabra representación. El principio, rectamente
entendido, habla en su primera parte de la representación en el sentido de cierta especie de actos; en la
segunda, de la representación en el sentido de la mera materia del acto, completada del modo antes
indicado. Esta segunda parte por si, o sea, el principio de que toda vivencia intencional tiene una
representación por base, seria una auténtica evidencia, con tal de que se interpretase representación
como materia completada. El principio falso y combatido por nosotros surge cuando la representación se
interpreta en esta parte como acto”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 4, §32, p
554.
Matéria
de Ato
Mera Representação
Todos os atos ou são REPRESENTA
Ç
ÕES ou se fundam em REPRESENTA
Ç
ÕES
Contexto: ato
Contexto: conteúdo de ato
(essência intencional)
40
O esquema que acabamos de ver indica o que já dissemos: que a tese
brentaniana apresenta duas coisas distintas, porém nomeadas com a mesma palavra.
Sendo assim, para não nos confundirmos, precisamos esclarecer as duas coisas
equivocadas. Comecemos pela primeira: a “mera representação”.
3.2.1. O termo “representação” no sentido de “mera representação”
Husserl não define explicitamente o que é a “mera representação”
62
. Porém,
afirma que ela é um tipo de ato que está em contraste com os atos que possuem o caráter
de crença, isto é, que põem
63
a existência de suas objetualidades. A percepção, por
exemplo, é um ato que apresenta essa característica, pois independentemente da
existência efetiva ou não de sua objetualidade, a percepção é sempre um ato que visa ao
objeto como existente. Em contrapartida, os atos que não possuem o caráter de crença
são aqueles que não estabelecem uma referência explícita ao modo de existência de suas
objetualidades. Por exemplo, a “mera representação”, a “simples compreensão”, ou, em
geral, qualquer “mera recepção do dado” são atos que não põem a existência de suas
objetualidades
64
.
62
“Añadimos a estas explicaciones una observación que debe tenerse presente en las consideraciones
siguientes. Como ejemplos justificativos de las meras representaciones (en el sentido de Brentano según
bien podemos admitir deben considerarse: todos los casos de mera representación fantástica, en que el
objeto aparente no es puesto como existente ni como inexistente y en que faltan por referencia a él todos
los demás actos; o los casos en que recogemos y entendemos una expresión, por ejemplo, una proposición
enunciativa, sin decidirnos a creerla o no creerla. El concepto de la mera representación queda aclarado
principalmente en este contraste con el carácter del belief (creencia), cuya accesión completa el juicio; es
también conocido el importante papel que este contraste desempeña justamente en la moderna teoría del
juicio”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 3, §23, p. 533.
63
Husserl afirma que existem atos que possuem a característica de “pôr” (Setzende) a existência de suas
objetualidades. Isso não quer dizer que a objetualidade exista ou o efetivamente. Não custa nada
lembrarmos, novamente, de que os objetos não entram nas considerações das vivências intencionais e
seus conteúdos. Por isso, a existência efetiva ou não do objeto não altera, em nada, a qualidade “ponente”
do ato. Outro dado importante é o de que a qualidade ponente de um ato não deve ser confundida com o
ato de afirmar. Ora, o que está em questão não é a afirmação da existência de algo, mas a qualidade que
determinados atos possuem de pôr a existência de suas objetualidades. Portanto, sempre que usarmos o
termo “pôr”, bem como os seus variantes, usaremos no sentido técnico que Husserl confere a expressão.
64
“Pero si se considera atentamente la esencia de las vivencias correspondientes, parece indispensable
concebir el mero representar realmente como un acto. El entrelazamiento de las materias con las
41
Quando um ato implica o “pôr” a existência ou não de uma objetualidade, diz-se
que, além de visar ao objeto, ele “põe” o ser ou o não-ser de sua objetualidade. Por isso,
afirma-se que o ato ou é “ponente” (Setzende) ou “não-ponente” (Nicht-setzende). Ora,
os atos de “mera representação”, justamente porque são atos não-ponentes, carecem ou
estão privados do caráter de crença
65
. Husserl apresenta alguns exemplos para ilustrar
esta peculiaridade das “meras representações”. Um deles é o da simples compreensão de
uma palavra ou proposição
66
, sem que necessariamente se julgue ou deseje algo
67
. Por
exemplo, o juízo S é P é um ato distinto do mero ato de representar S é P. Este não é um
componente daquele, mas apenas um ato dos que escutam e compreendem o referido
cualidades de acto es un entrelazamiento de elementos abstractos, como nos convencemos de ello sobre la
base de una intuición ejemplar. La materia no puede existir aislada; sólo puede alcanzar concreción,
evidentemente, completándose con momentos que están definidos por ley mediante el género supremo:
cualidad acto. El mero entender, el mero “representarse indecisamente” en general, es algo esencialmente
distinto del establecer que lleva a cabo la fe o de cualquier otra “toma de posición” (presumir, desear,
etc.). Pero entonces hemos de reconocer y de fijar fenomenológicamente diferentas en ese género mismo
que llamamos cualidad de acto”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 3, §31, p. 551.
65
Daí justifica-se o uso do termo “mero”. “Mero” indica a falta de algo. Porém, como adverte Husserl, a
falta não pode ser sempre anulada por um preenchimento. Por exemplo, o contraste entre o juízo e a
“mera representação” é resultado da primazia do juízo sobre a “mera representação”. Contudo, a primazia
não é em virtude de que haja algo a mais no juízo. Como diz Husserl: “o contraste entre a mera
representação e o juízo corresponde ao defeito da primeira em relação à primazia do segundo, ou seja, a
primazia da decisão judicativa sobre a situação meramente representada”. Cf. HUSSERL, Edmund.
Investigaciones lógicas, II, V, cap. 3, §28, p. 545.
66
“Ahora bien, encontrábamos dudoso el principio que consideramos, en cuando entendía por
representación cierto acto que se referiría a esta total unidad objetiva del acto correspondiente y fundaría
este acto: la situación objetiva, que es mentada en el juicio, deseada en el deseo presumida en la
presunción, etc., es necesariamente una situación representada; y representada en un acto peculiar de
“representación”. El título de “representación” comprendía en esta interpretación la “mera”
representación, una especie de acto, nos explicábamos tomando como ejemplos la mera comprensión de
proposiciones enunciativas oídas y frente a las cuales nos “comportásemos de un modo completamente
neutral””. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 4, §33, p. 555.
67
“El uno que juzga que S es p; otro oye las mismas palabras y, las entiende, sin juzgar el mismo. Las
mismas palabras funcionan en igual sentido, son usadas y recogidas con igual comprensión. La diferencia
es clara; en el sentido, son usadas y recogidas con igual comprensión. La diferencia es clara: en el
segundo caso tiene lugar la mera comprensión de las palabras. En el primero, algo más; la comprensión es
la misma, pero se juzga además. Ensanchemos el rculo de los ejemplos. Diversas personas pueden
desear, esperar, presumir, dudar, etc., exactamente esto mismo, que S sea p, y pueden hacerlo en los actos
expresos correspondientes. Todos ellos entienden las palabras comunes, todos ellos tienen también en
común con el que juzga lo que éste tiene en común con el que comprende meramente “S es p”.
Notoriamente, en este último se encuentra aislado lo que en el primero aparece dotado además del
carácter de la convicción, del deseo, de la esperanza, etc. La mera comprensión es en este caso la mera
representación, que suministra la base siempre igual a toda la serie de actos de la misma “materia”. Esta
misma interpretación se extiende luego, naturalmente, de los actos expreso as a los no expresos”.
HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 3, §30, 549.
42
juízo, e que não encontram razões nem para aquiescê-lo, nem para refutá-lo
68
. Um outro
exemplo é o mero imaginar (bloβe Phantasieren), que pode visar ao objeto sem
apresentar qualquer “tomada de posição” em relação a ele
69
. Por exemplo, o imaginar
algo sem pôr a sua existência ou não-existência. Um último exemplo é o da
“consciência de figura” (Abbildungsbewuβtseins)
70
, que, além de se caracterizar pela
não tomada de posição em relação à existência de sua objetualidade, apresenta uma
característica expressiva. O que devemos entender por característica expressiva? Ora,
tudo o que é representado por meio da mera compreensão de uma palavra pode ser
expresso de alguma forma. Seja pela voz, pela escrita, ou através de qualquer outro
meio de expressão. No entanto, o que é representado na “consciência de figura” é
sempre expresso por uma figura (Bild). É importante notar que isso não ocorre com o
“mero imaginar”, cujo representado pode permanecer inexpresso. Trata-se, portanto, de
68
“Respondiendo a esta analogía, debemos considerar también aquí el problema de si lo que constituye en
el acto el juicio la materia, o sea, aquello que determina el juicio, haciendo de él un juicio sobre esta
situación objetiva, reside en un acto fundamentante del representar. Por virtud de esta representación, la
situación objetiva seria ante todo representada, y a este objeto representado se referiría la posición
judicativa o el nuevo acto, o más exactamente, la nueva cualidad de acto edificada sobre aquél. Nadie
dudará de que para todo juicio hay (a priori, dicho con generalidad esencial) una representación que tiene
de común con él la materia, y que, por ende, representa
en un modo exactamente análogo
exactamente lo mismo que el juicio juzga. Así, por ejemplo, al juicio: la masa de la tierra es
aproximadamente 1/325.000 de la masa del sol, corresponde como “mera” representación el acto que
lleva a cabo todo aquel que oye y entiende esta expresión, sin encontrar motivo para decidirse a juzgar
sobre ello. Preguntamos, pues: ¿es este mismo acto parte integrante del juicio, siendo su diferencia
respecto del juicio meramente la decisión judicativa, que se agrega como un plus a una mera
representación? Por mi parte procuro vanamente encontrar confirmado nada semejante en un análisis
descriptivo. Echo absolutamente de menos la dualidad aquí exigida en el cualidad de acto. Naturalmente,
no se debe sacar un argumento del término de mera representación, so pretexto de analizar. El mero alude
aquí, como en general, a una falta no puede anularse siempre mediante un complemento. Así, oponemos a
la percepción la “mera” imaginación. La diferencia reside en una primacía por parte de la percepción, en
un con el juicio, corresponde al defecto de la primera una primacía del último, la primacía de la decisión
judicativa sobre la situación simplemente representada”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II,
V, cap. 3, §28, 544-545.
69
“Ofrecen ejemplos de este concepto todos los casos en que palabras aisladas o proposiones enteras
están fuera de su función normal, siendo meramente entendidas; como cuando entendemos proposiciones
enunciativas, interrogativas, desiderativas, sin juzgar, preguntar, desear nosotros mismos. Caso análogo es
todo “mero tener presente” ideas sin expresarles, sin “tomar posición” ente ellas; todo “mero” fantasear,
etc”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 4, §32, p. 553.
70
Reconhecemos que o termo “figura” não corresponde ao sentido exato de Bild. Na verdade, uma
tradução melhor do referido termo seria “imagem”. Porém, como se traduz costumeiramente o termo
Phantasie por “imagem”, optou-se traduzir Bild por “figura”, justamente para evitar a ambigüidade.
43
uma diferença sutil entre imaginação (Phantasie) e figuração (Bildung). Vejamos, a
seguir, uma situação descrita e analisada por Husserl, e que pode ajudar no
entendimento da mera representação como “consciência de figura”
71
.
Ao passearmos num museu de bonecos de cera encontramos uma mulher. Ao
aproximarmo-nos dela nos assustamos, pois percebemos que, na realidade, se trata
apenas de uma boneca de cera que figura uma mulher. A ilusão só durou alguns
momentos. Porém, o suficiente para sermos capazes de notar que a nossa atitude de
consciência mudou totalmente, ao descobrirmos que, por um lado, não poderíamos
saber se a mulher existia efetivamente ou não, e, por outro, que estávamos apenas diante
de uma simples figura representativa. Certamente, enquanto durava a ilusão,
produzimos um ato de percepção autêntico, com o caráter de crença que lhe é próprio,
isto é, com sua qualidade ponente. Reconhecida a ilusão, não temos diante de nós nada
mais que uma mera figura representativa de uma mulher. A descoberta da ilusão
corresponde a uma modificação qualitativa do caráter de ato, pois agora percebemos a
figura da mulher sem pôr a existência da mulher. Contudo, se quisermos ter outro ato
perceptivo, basta percebermos o objeto “boneca de cera”. Só que, nesse caso, não temos
nem uma percepção da mulher nem uma “mera representação” da mulher, mas apenas o
ato de perceber a boneca de cera.
Há uma última observação a ser feita, antes de concluirmos este tópico. Entre as
consciências de figura por representante físico existem aquelas que são ponentes, ou
seja, que possuem o caráter de crença. Por isso, não é pelo fato de ser uma “consciência
de figura”, que um ato deve ser caracterizado como uma “mera representação”.
Tomemos, como exemplo, a ilustração anterior. Se no lugar daquela boneca que
representava uma mulher estivesse um boneco que representasse Airton Senna,
71
Cf. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 3, §27, p. 542-543.
44
postularíamos a existência de uma pessoa real. Nesse caso, a “consciência de figura”
não seria mais um exemplo de “mera representação”, pois não possuiria aquela
característica essencial de toda a “mera representação”, que é o não-pôr a existência de
sua objetualidade.
Assim, concluímos que é mera representação: (1) toda mera recepção do dado ou
compreensão de uma palavra ou proposição, (2) toda “mera imaginação” e (3) toda
“consciência de figura” que não apresente o caráter de crença.
Até agora vimos o alcance do sentido de “representação” presente na primeira
ocorrência do termo na tese de Brentano. Nosso próximo passo será o de descrever a
“representação” no sentido de “matéria de ato”, presente na segunda ocorrência do
termo na referida tese.
3.2.2. O termo “representação” no sentido de “matéria de ato”
No segundo capítulo, mencionamos o fato de que a matéria de ato é um
elemento essencial da estrutura dos atos ou vivências intencionais, uma vez que é o
elemento responsável pela determinação da objetualidade
72
. Agora, abordaremos a
matéria como um componente fundante da essência intencional do ato.
72
“La cualidad sólo decide si lo “representado” ya en un modo determinado es presente intencionalmente
como deseado, preguntado, juzgado, etcétera. La materia debe ser para nosotros, pues, aquello que hay en
el acto que le presta la referencia al objeto con tan perfecta determinación, que no sólo queda
determinado el objeto en general, que el acto mienta, sino también el modo en que lo mienta. La materia
— podemos seguir diciendo para aclarar este concepto — es aquella propiedad del acto incluida en el
contenido fenomenológico del mismo, que no sólo determina como qué lo aprehende, qué notas,
relaciones, formas categoriales le atribuye el acto en sí mismo. En la materia del acto se funda que el
objeto sea para el acto éste y no otro; ella es en cierto modo el sentido de la aprehensión objetiva (o más
brevemente el sentido de aprehensión) que funda la cuidad, pero es indiferente a sus diferencias. Materias
iguales no pueden dar nunca una referencia objetiva distinta; pero materias distintas pueden dar nunca una
referencia objetiva distinta; pero materias distintas pueden dar igual referencia objetiva. Los ejemplos
anteriores muestran esto último; en general, las diferencias entre expresiones equivalentes, pero no
tautológicas, conciernen a la materia. A estas distinciones no corresponde, naturalmente, una
fragmentación concebible de la materia, como si un trozo correspondiese al objeto igual y otro al distinto
modo de representarlo. Es notorio que la referencia objetiva sólo es posible a priori, como un modo
45
Há, pelo menos, duas diferentes relações de fundação que não podemos
desconsiderar: a relação de fundação na essência intencional dos atos e a relação de
fundação entre os atos. Esta é uma relação de fundação unilateral (einseitige), pois
apenas uma das partes pressupõe a outra; aquela é uma relação de fundação recíproca
(gegenseitige), pois as partes constituintes da relação pressupõem uma a outra
73
. A
relação que nos interessa agora é a de fundação recíproca da qualidade na matéria de
ato. Portanto, trata-se da relação de fundação na essência intencional do ato
74
. O motivo
dessa especificidade se deve ao fato de que tal relação é inegavelmente presumida na
primeira interpretação husserliana da tese de Brentano.
De acordo com Husserl, a tese brentaniana, inequivocamente entendida,
pressupõe a distinção e a relação de fundação recíproca entre dois componentes
imprescindíveis ao ato, a saber, a qualidade e a matéria. Lembremo-nos de que Husserl
os distinguiu como dois momentos essenciais de toda vivência intencional, isto é, como
partes não-independentes de todo ato
75
. No entanto, além dessa distinção essencial, há
entre esses dois momentos uma relação de fundação que é recíproca.
Ora, parece
determinado de referencia objetiva; sólo puede tener lugar en una materia plenamente determinada”.
HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, §20, p. 523-524.
73
“Consideremos una pareja de partes de un todo. Tenemos las posibilidades siguientes: 1. Que entre
ambas partes exista una relación de fundamentación. 2. Que esta relación no exista. En el primer caso, la
fundamentación puede ser: a) Bilateral o mutua. b) Unilateral, según que la ley referida sea no
convertible. Así el color y la extensión se fundan bilateralmente en una intuición unitaria, puesto que no
puede pensarse color sin cierta extensión, ni extensión sin cierto color. En cambio, el carácter de un juicio
estará fundado unilateralmente en las representaciones sobre que se basa, porque éstas no tienen que
funcionar como fundamentos del juicio. La distinción hecha por Brentano entre partes “mutuamente
separables” y partes “unilateralmente separables” coincide en extensión, bien que no en definición, con la
que nosotros acabamos de hacer”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, III, cap. 2, §16, p.
414.
74
Mais adiante analisaremos a relação de fundação unilateral entre os atos nominais e proposicionais.
75
“Ante todo, fijaremos una división fundamental del concepto de parte, la división en pedazos – o partes
en sentido estricto… y momentos o partes abstractas del todo. Llamamos pedazo a toda parte que es
independiente relativamente a un todo T. Llamamos momento (parte abstracta) del mismo todo T a toda
parte que es no-independiente relativamente a dicho todo. Y es aquí indiferente que el todo mismo sea
independiente o no-independiente en absoluto o relativamente a otro todo superior. Según esto, partes
abstractas pueden tener pedazos y pedazos pueden tener partes abstractas. Hablamos de pedazos de una
extensión. Las formas de esos pedazos son partes abstractas inherentes a ellos”. HUSSERL, Edmund.
Investigaciones lógicas, II, III, cap. 2, §17, p. 415.
46
indubitável que a compreensão dessa relação é fundamental para entendermos o papel
elementar da matéria como fator determinante da objetualidade. Entretanto, o que
precisamos esclarecer é o que essa relação tem a ver com a equivocação do termo
“representação” na segunda parte da tese de Brentano.
Se não levarmos em consideração a equivocação do termo “representação”,
podemos interpretar que a tese brentaniana não afirma outra coisa senão que, em todo
ato, o objeto intencional é um objeto representado em um ato de representar. Nesse
caso, o objeto propriamente dito não seria nada para a consciência se esta não o
representasse, e assim o tornasse possível também como o objeto de um julgar, de um
sentir etc. Em outras palavras, todo ato adquire a sua referência a um objeto ou porque é
um ato de representar ou porque nele há necessariamente um ato de representar que é
independente e responsável pela referência ao objeto
76
. Segundo essa interpretação, um
juízo sobre a esfera vermelha, por exemplo, só adquire a sua referência à esfera
vermelha, porque ele se funda unilateralmente em um ato de representar, que, por sua
vez, é responsável pela referência à esfera vermelha. Note-se que o pressuposto é o de
que esse ato de representar a esfera vermelha pode subsistir separadamente do juízo
sobre a esfera vermelha. Em outras palavras, a representação subjacente ao juízo (die
zugrunde liegende Vorstellung) pode subsistir independente do próprio juízo. Portanto,
76
“La respuesta más próxima la da el conocido principio que Brentano ha utilizado con otras cosas para
definir sus “fenómenos psíquicos”: que todo fenómeno psíquico o
ateniéndonos a nuestra definición y
terminología
toda vivencia intencional o es una representación, o tiene representaciones por base.
Expuesto con más exactitud, el sentido de este notable principio es el siguiente: En todo acto, el objeto
intencional es un objeto representado en un acto de representar; y si no se trata desde luego de un “mero”
representar, hay siempre un representar entretejido con uno o varios actos más (o, mejor, caracteres de
acto) tan íntima y peculiarmente, que por este medio el objeto representado se ofrece a la vez como
juzgado, deseado, esperado, etc. Esta multiplicidad de la referencia intencional no se verifica, pues, en un
complejo de actos simultáneos o sucesivos, en que el objeto estaría presente intencionalmente de nuevo
con cada acto, o sea, varias veces, sino en un acto rigurosamente unitario, en el cual un objeto único
aparece una sola vez, pero siendo en ésta su única presentación, meta de una intención compleja.
Podemos exponer también el principio con otras palabras, diciendo: una vivencia intencional adquiere su
referencia a un objeto porque en ella está presente una vivencia del representar, que le hace presente el
objeto. El objeto no sería nada para la conciencia, si ésta no llevase a cabo un representar que es
justamente el que hace de aquél un objeto y posibilita que sea también objeto de un sentir, de un apetecer,
etc”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 3, §23, p. 532.
47
se essa interpretação é verdadeira, então, o juízo mesmo não pode subsistir
independente de seu ato fundador: a representação.
Husserl concorda com a idéia de que em todo ato ou vivencia intencional haja
um componente que determina sua objetualidade. Porém, discorda da idéia de que tal
componente seja um ato de representar, capaz de ser vivenciado isoladamente do ato
que ele próprio compõe
77
. Isso é justamente o que Husserl não concorda. Para ele, o
componente determinante da objetualidade não é outra coisa senão a matéria de ato. Isso
significa que a própria representação — em especial a “mera representação” — possui
uma matéria de ato que é responsável por sua objetualidade. Ora, se a mera
representação é um ato, e todo ato ou vivência intencional possui uma matéria
intencional, que tem por finalidade determinar a referência ao objeto, então, a mera
representação, como qualquer outra vivência intencional, também possui uma matéria
de ato que determina sua objetualidade. Ou seja, a mera representação, nomeada
simplesmente de “representação”, na primeira parte da tese, possui necessariamente
77
“Quien ahonde sin prevenciones en las circunstancias descriptivas, quien no se deje extraviar por
prejuicios ni equívocos, llegará a compartir con nosotros la convicción de que las representaciones
en
el sentido de actos que están aislados, como meras representaciones y, sobre todo, se oponen a los juicios
como actos específicamente peculiares
no desempeñan en el conocimiento un papel tan predominante
como se suele admitir; y que lo que se les atribuye
representar en todos los actos el objeto intencional
es llevado a cabo por vivencias no-independientes, que entran necesariamente en todos los actos,
porque entran como momentos abstractos en su esencia intencional. La parte adversa se deja seducir
reiteradamente por el siguiente argumento: Para que un carácter intencional pueda referirse a un objeto,
éste necesita sernos representado. ¿Cómo podemos tener por verdadera, desear, poner en duda, etc., una
situación objetiva, si no nos la representamos? Y eso que la representa es precisamente la representación
base. Nada hay que oponer objetivamente a esto. Lo dicho es completamente verdadero. Pero no es
objeción contra nuestra interpretación. Sin duda, es inherente a toda vivencia intencional un componente
o factor que cuida de representar la cosa. Pero un componente que sea un acto completo
ésta es
precisamente la cuestión
Y es la cuestión, sobre todo, con referencia al caso para nosotros
particularmente interesante del juicio y del componente inherente al juicio como representación de la
situación objetiva juzgada. A nosotros nos ha parecido imponente ineludiblemente el hecho de que este
componente haya de ser – por lo que respecta al momento esencial encargado con él de “representar” la
situación objetiva
de un género esencialmente distinto de los caracteres que designamos en otros casos
como cualidades de acto; o en otras palabras, de los conocidos caracteres a los que la cosa representada
debe el ser juzgada, deseada, etc. Entre estos caracteres contamos nosotros también el de aquel “mero”
representar de que se hablaba antes; pero no el momento del contenido o de la materia (momento que
permanece idéntico), aunque ésta
o también el componente de acto que sirve de base pueda ser
llamada también representación o representar”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap.
3, §31, p. 550-551.
48
uma matéria de ato, que é um componente fundante em sua essência intencional. Sendo
assim, para que não se confunda ato (mera representação) com conteúdo de ato
(matéria), deve-se prestar a máxima atenção a qual dos sentidos o termo
“representação” se refere
78
. Se o que está sendo analisado é a primeira parte da tese,
então, trata-se da representação no sentido de mero ato de representar. Porém, se o
objetivo é analisar aquilo que é nomeado de “representação”, na segunda parte da tese,
então, trata-se de considerar a representação no sentido de matéria de ato.
Podemos finalizar esta etapa considerando, pelo menos, três importantes
conclusões as quais chegamos: (1) todo ato — seja ele uma mera representação, um
juízo ou um sentimento — possui um conteúdo intencional (matéria de ato), que
determina sua objetualidade; (2) tal conteúdo intencional, tão importante para a
determinação da objetualidade, é nomeado equivocamente de “representação”; (3) a tese
de Brentano apresenta duas coisas equivocadas, a saber, a “mera representação” e a
“matéria de ato”. Na primeira parte da tese, a palavra “representação” indica que se trata
da “mera representação”, isto é, um ato não-ponente. Na segunda parte da tese, o
mesmo termo indica outra coisa, que não é propriamente um ato, mas matéria de ato.
Sendo assim, a primeira interpretação de Husserl da tese de Brentano deve ser entendida
da seguinte maneira: “todo ato ou é ‘representação’ no sentido de ‘mera representação’
78
“Si nos es lícito considerar como seguros los resultados del último capítulo, hay que distinguir un doble
concepto de representación. Una representación, en el primer sentido, es un acto (o una peculiar
cualidad de acto) lo mismo que un juicio, un deseo, una pregunta, etc. Ofrecen ejemplos de este concepto
todos los casos en que palabras aisladas o proposiciones enteras están fuera de su función normal, siendo
meramente entendidas; como cuando entendemos proposiciones enunciativas, interrogativas,
desiderativas, sin juzgar, preguntar, desear nosotros mismos. Caso análogo es todo “mero tener” presente
ideas sin expresarlas, sin “tomar posición” ante ellas; todo “mero” fantasear, etc. En el otro sentido, una
representación no sería un acto, sino la materia de acto, que constituye un aspecto de la esencia
intencional en todo acto completo; o, tomado más concretamente, sería esta materia en unión con los
demás elementos de que ella necesita para su plena concreción, o sea, lo que llamaremos más tarde
representación en sentido estricto. Esta segunda “representación” sirve de base a todo acto, por ende,
también al acto de representar en el primer sentido. Cuando tal hace, la materia
que puede funcionar
como idéntica en actos de distinto género
está dada en unión con una cualidad de acto peculiar, el
“representar”, en un “modo de conciencia” especial”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V,
cap. 4, §32, p. 553.
49
(um ato não-ponente) ou se funda em uma ‘representação’ no sentido de ‘matéria de
ato’ (conteúdo de ato)”. Passemos, agora, à segunda interpretação.
3.3. Segunda interpretação: toda vivência intencional ou é um ato nominal ou se
funda em um ou vários atos nominais
Depois de alertar para a equivocação do termo “representação” e explicitar os
dois sentidos que é necessário atribuir ao referido termo, Husserl pergunta se não há
ainda outras possibilidades de interpretação da tese brentaniana
79
. Em resposta a essa
indagação, ele apresenta mais dois sentidos distintos do termo, a saber, “representação”
como ato nominal e “representação” como ato objetivante. Por ora, nos ocuparemos
apenas com o sentido de ato nominal. Mais adiante abordaremos especificamente os
atos objetivantes.
3.3.1. O termo “representação” no sentido de “ato nominal”
Na primeira interpretação da tese de Brentano, vimos que o termo
“representação” possui duas designações distintas: uma é referente a certo tipo de ato
(mera representação) e a outra a certo tipo de conteúdo de ato (matéria). Em
contrapartida, na segunda interpretação, o termo “representação” não designa duas
coisas diferentes, mas dois contextos distintos da mesma coisa. Ou seja, tanto na
primeira como na segunda parte da tese, o termo “representação” deve ser entendido
como ato nominal. No entanto, a diferença está no fato de que o contexto da primeira
79
“Pero hay una duda que nos aconseja cautela en este punto. ¿No hay más que un modo de interpretar la
“representación” como acto? ¿Acaso no admite el principio en cuestión otras interpretaciones que queden
intactas ante nuestras objeciones? En este caso, nuestra exposición sería completamente exacta con
referencia al concepto de representación que ella suponía, siguiendo las habituales explicaciones del
sentido de la palabra; pero no con referencia a otros conceptos de representación y las nuevas
interpretaciones del cambiante y equívoco principio que pueden obtenerse por medio de ellos”.
HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 4, §32, p. 554.
50
parte da tese é exclusivamente dos atos nominais ou das representações nominais. Já o
contexto da segunda parte da tese inclui os atos proposicionais ou os juízos. O esquema
abaixo pode ajudar a visualizar o que acabamos de dizer:
O que imediatamente deve nos chamar a atenção é o fato de que, na segunda
parte da tese, o elemento fundante não é uma essência intencional, mas um ato. Ora,
Husserl não tinha descartado justamente essa possibilidade? Não acabamos de aprender
que a segunda parte da tese não deve ser tomada como ato, mas sim como conteúdo de
ato? Na verdade, Husserl não está se contradizendo, pois o que está em jogo não é o fato
de que a determinação da intencionalidade é garantida pela fundação em um ato de
representar. Husserl já deixou mais do que claro que esta função é exclusiva da matéria.
O que está em jogo, agora, é outra coisa. Trata-se de verificar a possibilidade da relação
de fundação unilateral entre partes independentes do ato. Por exemplo, um juízo é um
ato que se funda em pelo menos uma representação nominal. Nesse caso, esta
representação é um ato parcial que integra um juízo, que é o ato total. Ora, isso não quer
dizer que a representação nominal determina a objetualidade do juízo. Como sabemos,
apenas a matéria do juízo é responsável pela determinação da objetualidade do juízo. A
propósito, a representação nominal que integra o juízo também tem uma matéria de ato
Atos Nominais Atos Nominais
Todos os atos ou são REPRESENTA
Ç
ÕES ou se fundam em uma ou várias REPRESENTA
Ç
ÕES
Contexto: apenas das
representações nominais ou
dos atos nominais
Contexto: dos Juízos ou Atos
Proposicionais
51
que, por sua vez, não é idêntica a matéria que determina a objetualidade do juízo, que é
o ato total.
Os atos nominais são os atos fundadores dos atos proposicionais, não porque
eles determinam a objetualidade dos atos proposicionais, mas porque são eles que
realizam a função de ato-sujeito da enunciação
80
. Em nenhum momento Husserl afirma
que a determinação da objetualidade de um ato proposicional depende da fundação dos
atos nominais. O que ele afirma é que há uma relação de fundação unilateral entre atos
parciais e totais. Um ato proposicional depende de pelo menos um ato nominal para se
constituir. Porém, o ato ou os vários atos nominais que constituem o ato proposicional
não determinam a objetualidade do ato proposicional.
Para compreendermos melhor a segunda interpretação da tese de Brentano, faz-
se necessário explicitar algumas distinções importantes que Husserl faz. Dentre elas,
destacamos as distinções entre expressão nominal, ato nominal e ato-sujeito da
enunciação.
De acordo com Husserl, a referida tese adquire uma nova significação se
compreendermos pelo termo “representação” os “nomes como expressões de
representações” (Namem als Ausdrücken von Vortellungen). Nesse caso, a tese se refere
especificamente ao contexto dos juízos, conforme sugere o título do quarto capítulo da
V Investigação: “Estudo sobre as representações fundantes referentes especificamente a
80
“Tomando por base el nuevo concepto de representación, y renunciando como ya hemos indicado
antes, a la pretensión de que la representación como acto fundamentante abarque la materia toda del
fundado, el principio anteriormente rechazado de que todo acto que no sea de suyo una representación
necesita estar fundado en una representación, parece adquirir, efectivamente, un valioso contenido, para el
cual podemos muy bien pretender la evidencia. Más exactamente deberíamos formularlo ahora así: todo
acto, o es de suyo una representación, o está fundado en una o varias representaciones. Los actos,
unimembres (o unirradiales) de la percepción, del recuerdo o la expectación, de la imaginación, etc.,
suministran ejemplos de la primera mitad del principio. Estos actos serían, pues, las meras
representaciones. Los juicios o predicaciones, así como las meras representaciones (en el anterior sentido
de la palabra), que les corresponden como actos paralelos, ofrecen ejemplos de la segunda mitad. Un
juicio tiene por base una representación por lo menos; así como todo enunciado plenamente expreso
contiene por lo menos un “nombre””. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 4, §33, p.
556.
52
teoria do juízo”. A razão dessa especificidade decorre do fato de que não se deve
entender por nome um mero substantivo, pois este, por si só, não expressa nenhum tipo
de ato. Na verdade, para que o substantivo seja considerado como nome é necessário
que ele expresse pelo menos um “ato nominal” ou o “ato-sujeito” (Subjektsakt) da
enunciação. Portanto, o mero substantivo — seja ele acompanhado ou não de adjetivo
— não constitui aquilo que Husserl designa por nome
81
.
Já sabemos que a “expressão nominal” não é em si um mero substantivo, mas a
expressão de um ato nominal. Agora falta compreendermos, o que Husserl entende por
“ato nominal” e “ato-sujeito”.
Tomemos, como exemplo, a enunciação: a rosa está sobre a mesa. Se não
levarmos em conta as diferenças entre enunciação (ato proposicional), o sujeito da
enunciação (ato-sujeito) e o enunciado (objetualidade), parece ser razoável crer que a
rosa é a objetualidade visada pela enunciação. Entretanto, a rosa não é propriamente a
objetualidade em questão, mas apenas o ato-sujeito da enunciação. A enunciação tem
por objetualidade plena e total não um objeto concreto julgado, mas um “estado de
81
“Cuando se dice de los nombres que son la expresión de las representaciones, como se hace
habitualmente, se trata esencialmente del presente concepto de representación. Todas las
“representaciones” expresables nominalmente forman en todo caso una unidad, en que vamos a fijar
primeramente la vista. El vario sentido del término expresar trae consigo que se pueda entender aquí por
representación tanto las intenciones significativas nominales como los correspondientes cumplimientos
significativos. Pero unas y otros, los actos intuitivos y los intuitivos, caen igualmente en este caso bajo el
concepto de representación ya señalado. Por nombres no debemos entender meros substantivos, los cuales
no expresan por sí solos ningún acto completo. Si queremos comprender claramente lo que son y
significan aquí los nombres, lo mejor será considerar las conexiones y principalmente los enunciados en
que los nombres funcionan en su significación normal. Vemos entonces que las palabras o las
complexiones de palabras, que deben ser consideradas como nombres, sólo expresan un acto completo
cuando o representan el sujeto simple completo de un enunciado — en cuyo caso expresan un acto-sujeto
completo — o, prescindiendo de las formas sincréticas, pueden desempeñar en un enunciado la función
de sujeto simple, sin alteración de su esencia intencional. El mero sustantivo no constituye, por ende, un
nombre completo, ni tampoco unido a la proposición adjetiva que le acompaña eventualmente;
necesitamos añadir aún el artículo determinado o indeterminado, que desempeña una función significativa
muy importante. El caballo; un ramo de flores; una casa que está construida con piedra arenisca; la
apertura del Reichstag — pero también expresiones como: que el Reichstag se halle abierto, son
nombres”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 4, §34, p. 557-558.
53
coisas” (Sachverhalt) julgado
82
. Portanto, a objetualidade não é propriamente “a rosa”,
mas “a rosa sobre a mesa”. Na verdade, a rosa sobre a mesa, que é o “enunciado”
próprio da referida enunciação, pode ser idêntico ao “representado” na mera
representação de a rosa sobre a mesa, ou ao “desejado” no desejo a rosa deve estar
sobre a mesa etc. Sendo assim, tanto a enunciação como a mera representação ou o
desejo não são, a rigor, atos que se dirigem a uma rosa, mas à situação de que a rosa
esteja sobre a mesa.
Como se pode notar, Husserl determina funcionalmente o conceito de nome. Ou
seja, é pela função que uma expressão nominal pode desempenhar em uma proposição
que se pode caracterizá-la como um nome. Assim, “expressões nominais” e “atos
nominais” correspondentes são caracterizados em termos de componentes ou conteúdos
que podem constituir o ato-sujeito de uma enunciação. Nesse caso, é razoável concebê-
los como elementos “sub-proposicionais”, isto é, como partes constituintes de um ato
proposicional
83
.
Outro dado importante é o de que não se pode confundir “estado de coisas” com
“juízo”. “Estado de coisas” não são vivências intencionais
84
. Ora, não se trata de um
preciosismo irrelevante, pois os juízos, como vivências intencionais concretas, também
podem ser tomados como objetos de uma possível percepção ou imaginação. Por isso,
82
Segundo Tugendhat, Husserl segue a tradição da filosofia inglesa, na qual o termo “proposição” tem
sido adotado para referir-se ao Sachverhalt. Nesse caso, há dois modos de consciência, os proposicionais
e os não-proposicionais. Cf. T
UGENDHAT, Ernst. Lições introdutórias à Filosofia Analítica da
Linguagem, p. 113-115.
83
Cf. TEXEIRA FILHO, Dario Alves. Análise e identificação de proposições segundo o realismo lógico
de Edmund Husserl, p. 130.
84
“En todos estos casos, la situación objetiva — no el juicio — es objetiva para nosotros, en un sentido
distinto del juicio cuyo pleno correlato objetivo forma; y está representada, por ende, con significaciones
diferentes de aquéllas con que lo está en este juicio; y es objetiva notoriamente, en cambio, en un sentido
análogo a aquél en que lo es la cosa que miramos con un solo rayo visual en la percepción, o en la
fantasía, o en la contemplación de una imagen, sí bien una situación objetiva no es una cosa, ni en general
nada que pueda percibirse, fantasearse ni imaginarse en sentido propio y estricto”. HUSSERL, Edmund.
Investigaciones lógicas, II, V, cap. 4, §33, p. 555-556.
54
um juízo percebido ou imaginado não é o mesmo que um “estado de coisas” percebido
ou imaginado. Também é possível fazer juízos sobre juízos, e, se for esse o caso, isso
não significa que estaríamos fazendo juízos sobre “estado de coisas”. Por exemplo,
quando expressamos o desejo de que a rosa esteja sobre a mesa, não estamos
expressando um desejo por um juízo, mas, sim, pelo “estado de coisas” a rosa sobre a
mesa. Portanto, são coisas distintas o representar ou nomear um juízo do representar ou
nomear um estado de coisas.
Essa distinção entre nome de juízo e nome de estado de coisas, observada com
atenção, pode nos ajudar a distinguir também o estado de coisas julgado do estado de
coisas correspondente ao ato-sujeito do juízo. Por exemplo, se dissermos “a rosa, que
estava sobre a mesa, está no chão” não estaremos expressando um juízo fundado sobre
outro juízo. Trata-se, portanto, de um juízo que se refere à situação de que a rosa, que
estava sobre a mesa agora está no chão. Ora, o juízo possui como parte constituinte,
pelo menos, um ato nominal, isto é, um ato-sujeito que, nesse caso, também se refere a
um estado de coisas, a saber, a rosa, que estava sobre a mesa. Assim, os nomes que
expressam estado de coisas e que desempenham a função de sujeito lógico do juízo não
são nomes que expressam juízos parciais e constituintes de um juízo total, mas
“nomeações” do estado de coisas que correspondem ao ato-sujeito fundante de um
juízo
85
.
85
“Refiriéndome a las proposiciones que funcionan como sujetos, he dicho antes, en el paréntesis, que no
son representaciones de los juicios, sino de las situaciones objetivas correspondientes a éstos. Hay que
tener esto muy en cuenta. Los juicios, en cuento vivencias concretas, son naturalmente como las cosas,
objetos de una posible percepción, fantasía y eventualmente reproducción, aunque no física. También
pueden funcionar como objetos-sujetos en los juicios. Este es el caso de los juicios sobre juicios. En su
expresión se encontrará una proposición en el lugar del sujeto, siempre que no se designen de un modo
meramente indirecto los juicios juzgados, diciendo, por ejemplo, este juicio, tu juicio, etc. Pero no
siempre que una proposición se encuentre en dicho lugar tiene, como aquí, la función de nombrar un
juicio. Juzgar un juicio es, en efecto, otra cosa que juzgar sobre una situación objetiva; y por tanto, son
también cosas distintas representarse un juicio como sujeto (o nombrarlo) y representarse una situación
objetiva como sujeto. Cuando decidimos, por ejemplo, que es grato que S sea p, no queremos decir que
el juicio sea grato. Es también indiferente en este punto el entender por juicio el acto singular o la
55
3.3.2. O caráter de crença (belief) dos “atos nominais” (representações nominais) e
dos “atos proposicionais” (juízos)
Até aqui vimos que os nomes não são meros substantivos, uma vez que estes não
exprimem necessariamente um ato nominal ou um ato-sujeito. Portanto, o conceito
husserliano de “nome” é restrito: todo nome, não importando se é uma palavra ou um
complexo de palavras, terá que exprimir ou um ato nominal ou um ato-sujeito de uma
enunciação. Saber tudo isso não é suficiente. É preciso considerar o fato de que os atos
nominais podem visar sua objetualidade pondo ou não a sua existência. Por exemplo,
quando ouvimos alguém dizer “a rosa, que está sobre a mesa”, podemos representar tão
somente uma rosa sobre a mesa, e nada mais. É óbvio que também poderíamos
representar a referida objetualidade pondo a sua existência, mas, nesse caso, já não
teríamos mais um ato nominal não-ponente (mera-representação). Isso significa que há,
portanto, duas espécies de atos nominais: (1) aqueles que põem a existência do que é
nomeado e (2) aqueles que não põem a existência do que é nomeado
86
. Os primeiros são
chamados de atos nominais ponentes como, por exemplo, a percepção, bem como todos
os demais atos que se apropriam de sua objetualidade por um só raio de
intencionalidade ponente. Os segundos são os atos nominais não-ponentes, a saber, os
casos de percepções anormais que correspondem às percepções normais, como, por
exemplo, a ilusão
87
. Lembremo-nos do exemplo, a pouco mencionado, referente à súbita
proposición, el juicio en sentido específico. Lo grato es más bien que así suceda, la situación objetiva, el
hecho”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 4, §33, p. 556.
86
“En la esfera de las representaciones intuitivas, que no funcionan en sí nominalmente, pero que tienen
la misión lógica de cumplir intenciones significativas nominales y que forman parte de este sentido a que
ahora nos referimos, son actos ponentes: la percepción el recuerdo y la expectación sensibles, que se
apropian el objeto en un solo rayo de mención ponente. No ponente es la correspondiente percepción
anómala por estar despojada de su valor de ser; por ejemplo, la ilusión que permanece libre de toda
posición respecto a la realidad del objeto aparente, y lo mismo todo caso de mera fantasía”. HUSSERL,
Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 4, §34, p. 559.
87
“Prescindiendo provisoriamente, pues, de los casos en que al parecer figuran en el sujeto enunciados
completos, entran en nuestra consideración nombres como el príncipe Enrique, la estatua de Roldán en el
56
descoberta de que estamos perante a figura de uma mulher e não de uma mulher. Em
face dessa distinção (atos nominais ponentes e não-ponentes), Husserl concluiu que
devemos reconhecer a vigência de uma dualidade qualitativa no interior dos atos
nominais. E não somente dos atos nominais, pois essa dualidade qualitativa também se
aplica aos atos proposicionais.
Há ainda uma questão, não menos importante do que as questões que foram
tratadas até aqui, e que precisaria ser considerada. E a razão é muito simples. A
compreensão de tal questão não apenas é pressuposto para entender a terceira
interpretação, mas é, sobretudo, pressuposto para compreender o problema da V
Investigação
88
. A questão de que falamos pode ser formulada da seguinte maneira: a
distinção entre atos ponentes e não-ponentes implica uma distinção específica na
qualidade de ato? Parece ser razoável acreditar que os atos nominais e proposicionais
possuem qualidades distintas. Porém, os atos nominais ponentes e os atos nominais não-
ponentes são de distintas qualidades? Podemos dizer que os atos proposicionais
ponentes e os atos proposicionais não-ponentes são de qualidades distintas?
mercado, el cartero apresurado, etc. Quien usa estos nombres en una expresión veraz y en su sentido
normal sabe que el príncipe Enrique es una persona real y non un ser fabuloso, que en el mercado hay una
estatua de Roldán, que el cartero pasa apresurado. Más aún. Los objetos nombrados se presentan
seguramente a su ojos de otro modo que unos objetos puramente imaginados, y no sólo se le aparecen
como existentes, sino que los expresa también como tales. Sin embargo, en el acto nominativo no predica
nada de esto. Por excepción puede expresar el ser al menos atributivamente, o sea, en la forma; el S
realmente existente, así como en los casos contrarios quizá diga: el supuesto S, el imaginativo S, etc. Pero
la posición es llevada a cabo también en el nombre enriquecido gramaticalmente (quede indeciso si no ha
experimentado una esencial modificación de sentido en lugar de una mera ampliación de éste) por aquel
momento del acto que se expresa en el artículo determinado y solamente la materia ha cambiado. En todo
caso no se enuncia que existe S, sino que el S (en su eventual modificación de sentido) es representado
atributivamente como realmente existente, puesto además y nombrado, por ende, en la forma: el S
realmente existente; y nombrar no es aquí tampoco por su sentido idéntico a enunciar. Si se concede esto,
tenemos que distinguir dos clases de nombres o de actos nominales: aquellos que dan a lo nombrado el
valor de algo existente y aquellos que no lo dan. Un ejemplo de estos últimos, caso de que se necesite,
nos lo ofrece la materia nominal de toda reflexión existencial, que empieza, efectivamente, sin posición
existencial alguna”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 4, §34, p. 558-559.
88
No final deste capítulo, veremos que o problema da V Investigação não é o da equivocação do termo
“representação”. Na verdade, a reflexão de Husserl sobre tal equivocação visa apenas a contribuir para o
desenvolvimento da solução que Husserl pretende dar ao problema enunciado na introdução da V
Investigação.
57
Como já foi dito, os atos ponentes são aqueles que põem a existência de suas
objetualidades. E os atos não-ponentes são aqueles que deixam em suspenso a
existência de suas objetualidades. Ora, isso não significa que ambos os atos possuam
distintas qualidades. Segundo Husserl, tanto os atos ponentes como os não-ponentes
estão vinculados de tal modo que para cada ato ponente há um ato não-ponente
correspondente e vice-versa. Por exemplo, um ato nominal não-ponente ao tornar-se
ponente sofre uma modificação. No entanto, essa modificação é uma alteração apenas
no caráter de crença do ato. E é necessário que se enfatize que uma modificação no
caráter de crença do ato não implica necessariamente uma modificação no caráter de
ato.
Em outras palavras, na modificação de um ato nominal ponente em um ato
nominal não-ponente, ou de um ato proposicional ponente em um ato proposicional
não-ponente, exige-se uma modificação no caráter de crença do ato. Entretanto, é
importante que desde já se entenda que tal modificação não implica diferenças de
qualidade quanto à espécie de ato. Um ato que é nominal não deixa de ser nominal
porque modificou o seu caráter de crença. Na verdade, não há diferença qualitativa entre
os atos nominais ponentes e não-ponentes, ou entre os atos proposicionais ponentes e
não-ponentes. Portanto, a passagem de um ato ponente ao ato modificado
correspondente não está ligada a uma modificação qualitativa do ato, como ocorre, por
exemplo, com a modificação de um ato desiderativo em um ato judicativo, ou de um ato
nominal em um ato proposicional
89
. Em suma, a tese de Husserl é de que a modificação
no caráter de crença do ato não implica uma modificação na qualidade de ato
90
.
89
“Al pasar del acto ponente al modificado, no entramos en una clase heterogénea, como al pasar de
cualquier acto nominal a un apetito o una volición”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V,
cap. 5, §38, p. 569.
90
“Los juicios como actos proposicionales ponentes tienen, pues, sus correlatos en meras
representaciones como actos proposicionales no ponentes. En ambos os casos son los actos
58
Qual é o objetivo de Husserl com essas distinções? O que isso tem a ver com a
tese de Brentano? Além de preparar o terreno para a exposição da terceira interpretação
— que é considerada por Husserl como sendo a interpretação mais significativa —, o
objetivo de Husserl é mostrar que os atos nominais, ponentes ou não, por mais que
sejam expressões de estado de coisas, jamais poderiam funcionar como atos
proposicionais e vice-versa
91
. Todavia, isso não significa que as representações
nominais e os juízos, os atos nominais e os proposicionais, não possam pertencer a um
mesmo gênero qualitativo. Portanto, a modificação de uma nomeação (ato nominal) em
uma enunciação (ato proposicional) não denota uma diferença genérica de qualidades.
Antes indica o fato de que há apenas uma diferença entre espécies de um mesmo gênero
qualitativo. Sendo assim, o fato de os atos nominais e proposicionais serem
essencialmente distintos, não significa que haja entre eles uma diferença genérico-
qualitativa
92
. A relevância de tudo isso será notada a seguir, quando considerarmos o
quarto conceito de representação — o de ato objetivante — bem como a terceira e
última interpretação de Husserl da tese brentaniana.
correspondientes de la misma materia, pero de distinta cualidad. Y así como tratándose de los actos
nominales contábamos los ponentes y los no ponentes en un mismo género de cualidad, así también
tratándose de los actos proposicionales, los juicios y seus correlatos modificados. Las diferencias
cualitativas son en ambos os casos las mismas y no deben considerarse como diferencias de géneros
supremos de la cualidad”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 5, §38, p. 569.
91
“Antes bien, vemos con plena claridad que entre las proposiciones que funcionan como nombres de
situaciones objetivas y los correspondientes enunciados de las mismas situaciones, existe, en cuanto a la
esencia intencional, una diferencia que sólo salvan ciertas relaciones sometidas a leyes ideales. Un
enunciado no puede funcionar nunca como nombre, ni un nombre como enunciado, sin alterar su
naturaleza esencial, esto es, sin una alteración de su esencia significativa y con ella de la significación
misma”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 4, §36, p. 565.
92
“Debemos considerar que la esencia intencional se compone de los aspectos materia y cualidad y que
la diferencia entre las clases fundamentales de los actos se refiere solamente a las cualidades de acto,
como es claro de suyo. Debemos considerar, además, que de cuando hemos expuesto no se deduce ni
significa que los actos nominales y los proposicionales sean necesariamente de distinta cualidad; mucho
menos, pues, que sean necesariamente de distinto género de cualidad”. HUSSERL, Edmund.
Investigaciones lógicas, II, V, cap. 5, §37, p. 567-568.
59
3.4. Terceira interpretação: toda vivência intencional ou é um ato objetivante ou se
funda em um ato objetivante
No início do capítulo 5, Husserl pergunta se não é possível reunirmos em uma só
classe de vivências intencionais os atos nominais e os atos proposicionais
93
. É certo que
ambos os atos são espécies essencialmente distintas de vivências intencionais. Porém,
de acordo com Husserl, isso não significa que ambas as espécies não possam pertencer a
um mesmo gênero de vivências intencionais
94
. A propósito, o capítulo 5 se refere
justamente a “representação” como gênero qualitativamente unitário dos atos nominais
e proposicionais.
Há, portanto, uma identidade genérica entre os atos nominais e os atos
proposicionais. E é a partir dessa constatação que Husserl introduz um quarto sentido
para o termo “representação”, que é o de ato objetivante (objektivierend Akt). É
importante perceber, desde já, que os atos objetivantes indicam essa unidade genérica de
vivências intencionais, capaz de reunir em uma única classe tanto os atos nominais
como os proposicionais. No entanto, para justificar a caracterização desses atos em um
93
“Las consideraciones siguientes podrán en claro, por otra parte, que entre los actos nominales y los
proposicionales existe comunidad de género en cuanto a las cualidades; con lo cual llegaremos a la vez a
la definición de un concepto de representación nuevo, más amplio y todavía mas importante que el
últimamente considerado, y por medio del cual el principio de la fundamentación de todo acto en
representaciones experimentará una nueva interpretación de particular importancia”. HUSSERL,
Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 5, §37, p. 568.
94
“Nuestro resultado dice que la “representación” y el “juicio” son actos esencialmente distintos. En este
resultado se habla de la “representación” en el sentido de acto nominal y del “juicio” en el sentido de
enunciado, y más concretamente en el sentido de formulación del enunciado normal, completo por sí
la ambigüedad de los términos exige recurrir de continuo a los conceptos correspondientes. Nombrar y
enunciar no son, pues, distintos desde el punto de vista “meramente gramatical”, sino “esencialmente
distintos”; y esto quiere decir a su vez que ambas clases de actoscomprendiendo en cada una los que
dan significación y los que dan cumplimiento a las significaciones — son distintos por su esencia
intencional, y en este sentido como especies de acto. ¿Hemos demostrado con esto que la representación
y el juicio, los actos que prestan significación y sentido impletivo al nombrar y al enunciar, pertenezcan a
distintas clases fundamentales de vivencias intencionales? Manifiestamente la respuesta debe ser
negativa. No se ha dicho nada semejante. Debemos considerar que la esencia intencional se compone de
los aspectos materia y cualidad y que la diferencia entre las «clases fundamentales» de los actos se refiere
solamente a las cualidades de acto, como es claro de suyo”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas,
II, V, cap. 5, §37, p. 567.
60
único “gênero de qualidade” (Qualitätsgattung)
95
, Husserl julga ser necessário mostrar
que, além de haver uma característica comum entre eles, tal característica é fundamental
para determinar aquilo que os distingue dos atos não-objetivantes, como os sentimentos,
por exemplo.
Vejamos, a seguir, essa característica fundamental dos atos objetivantes.
3.4.1. A caracterização fundamental dos atos objetivantes e a relação de fundação
ante os atos não-objetivantes
Na exposição das duas primeiras interpretações de Husserl, consideramos apenas
dois tipos de relação de fundação: (1) a que se estabelece entre os elementos
constituintes da essência intencional (matéria e qualidade) e (2) a que se estabelece
entre os atos nominais e proposicionais. Agora, veremos que há também uma relação de
fundação entre os atos objetivantes e os atos não-objetivantes.
Uma coisa que não podemos perder de vista é que os atos objetivantes designam
um gênero e não uma espécie de vivência intencional. Ora, não existe uma espécie de
ato chamada “ato objetivante”. O que existe são atos que, por possuírem uma
característica comum, integram um “gênero fundamental” de vivências intencionais. O
mesmo vale para os atos não-objetivantes. A propósito, cabe mencionar que os
exemplos usados por Husserl para ilustrar os atos não-objetivantes pertencem ao gênero
95
“Debemos considerar, además, que de cuanto hemos expuesto no se deduce ni siquiera que los actos
nominales y los proposicionales sean necesariamente de distinta cualidad; mucho menos, pues, que sean
necesariamente de distinto género de cualidad”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap.
5, §37, p. 567-568; “Esto delimita un extenso género de vivencias intencionales, que comprende todos los
actos considerados, ateniéndose al punto de vista de su esencia cualitativa, y que determina el concepto
más amplio que el término de representación puede significar dentro de la clase de las vivencias
intencionales. Por nuestra parte, designaremos este género cualitativamente unitario, tomado en su
amplitud natural, como el de los actos objetivantes”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V,
cap. 5, §38, p. 570.
61
dos sentimentos
96
: a afecção, a volição, a alegria, a tristeza, o amor, o ódio são todos
eles exemplos de atos que integram esse tipo de gênero. O curioso é que os sentimentos
são vivências intencionais, embora não sejam objetivantes. E o que isso significa?
Significa que tais atos jamais podem ser vivenciados independentemente de um ato
objetivante. Isso é assim por um motivo razoavelmente simples: não é possível haver
uma matéria que não seja matéria de um ato objetivante. Logo, os atos não-objetivantes
só são intencionais porque se fundam em atos objetivantes. Nas palavras de Husserl:
A referência a uma objetualidade se constitui sempre pela matéria.
Ora, toda matéria é — conforme nossa lei — matéria de um ato
objetivante
97
. (...) em todo ato propriamente dito há de existir
necessariamente uma qualidade do gênero objetivante, pois não é
possível uma matéria que não seja matéria de um ato objetivante. Por
conseguinte, as qualidades de outro gênero sempre estão fundadas
em qualidades objetivantes. Elas jamais podem ser vinculadas
imediatamente e por si só a uma matéria
98
.
Enquanto os atos objetivantes são os atos que possuem imediatamente e
propriamente a matéria de ato, os atos não-objetivantes são intencionais porque
possuem mediatamente e impropriamente a matéria de ato. “Mediatamente” porque a
matéria dos atos não-objetivantes é mediada por, pelo menos, um ato objetivante.
“Impropriamente” porque tais atos não possuem por si só matéria própria. A matéria é
sempre fornecida por pelo menos um ato objetivante. E é justamente por isso que os
atos não-objetivantes podem ser intencionais, apesar de não serem objetivantes.
Como podemos notar, o que caracteriza determinados atos como “objetivantes”
ou “não-objetivantes” é o status da matéria. Por exemplo, os atos nominais e
96
Vale a pena destacar que, no §15 da V Investigação, Husserl apresenta os sentimentos como uma
unidade genérica de vivências intencionais. Cf. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap.
2, §15, p. 505-511.
97
HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 5, §42, p. 579.
98
Idem, p. 580.
62
proposicionais são objetivantes porque possuem matéria própria. Já os sentimentos são
atos não-objetivantes porque não possuem por si só matéria própria. Na verdade, é por
esse motivo que eles precisam se fundar em atos objetivantes, uma vez que estes são os
responsáveis pelo fornecimento do conteúdo de ato que determina a intencionalidade
daqueles.
Além disso, o status da matéria também indica se a relação de fundação entre os
atos é meramente constituinte do ato total ou se, além de constituinte, tal relação é
necessária para realizar a determinação da objetualidade. Por exemplo, a relação de
fundação entre os atos nominais e proposicionais é unilateral, pois os atos
proposicionais dependem dos atos nominais para se constituírem. É importante lembrar
que a relação de fundação entre atos nominais e proposicionais é apenas constituinte do
ato proposicional. Portanto, isso não quer dizer que o ato nominal, que é o ato fundante,
seja responsável pela determinação da intencionalidade do ato proposicional, que é o ato
fundado. Ora, um ato proposicional possui matéria própria. E é a matéria, apenas a
matéria, que determina a sua objetualidade. Agora, a relação de fundação entre os atos
objetivantes e os sentimentos também é unilateral. Porém, os sentimentos não somente
dependem dos atos objetivantes para se constituírem, como também dependem deles
para determinar sua objetualidade. Tal dependência decorre do fato de que os atos
objetivantes fornecem a matéria de ato dos sentimentos. Ou seja, os sentimentos são
intencionais porque se fundam em atos objetivantes, que garantem o conteúdo de ato
responsável pela determinação da intencionalidade.
Por que os sentimentos dependem dos atos objetivantes? Primeiro, porque são
carentes de matéria. Segundo, porque toda matéria de ato sempre é dada em um ato
objetivante. Ao que parece, Husserl não explica detalhadamente o motivo pelo qual os
sentimentos não possuem matéria própria. Pelo menos não se encontra nenhuma
63
explicação pormenorizada na V Investigação. Ele apenas diz que esse gênero de ato
reúne vivências intencionais que são eo ipso complexas
99
. Ora, o que certamente
Husserl afirma é que todo sentimento é um ato complexo, pois pressupõe um ato
objetivante, que é encarregado de fornecer a matéria de ato
100
. Sendo assim, não é
possível que um sentimento seja um ato simples, isolado, isto é, abstraído de seu ato
fundador e objetivante. Entretanto, a sutileza está em saber que, a despeito de sua
dependência dos atos objetivantes, os sentimentos são vivências intencionais. Portanto,
não vem ao caso o modo como o sentimento possui a matéria, pois o que garante o seu
status de vivência intencional é meramente o fato de possuí-la, não importa como
101
.
3.4.2 O termo “representação” no sentido de “ato objetivante” e a terceira
interpretação da tese brentaniana
Depois dessas observações, torna-se mais fácil elucidar a terceira interpretação
husserliana da tese de Brentano. Na primeira interpretação, vimos que o termo
“representação” possui duas designações distintas: uma é referente a certo tipo de ato
99
“(…) la alegría por un suceso feliz es seguramente un acto. Pero este acto, que no es un mero carácter
intencional, sino una vivencia concreta y eo ipso compleja, no sólo comprende en su unidad la
representación del suceso alegre y el carácter de acto del agrado referido a éste, sino que la representación
se enlaza con una sensación de placer, que es apercibida y localizada como excitación afectiva del sujeto
psicofísico sensible y como propiedad objetiva; el suceso aparece como recubierto por un velo rosado”.
HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, §15, p. 509-510.
100
Isso explica, inclusive, o uso do termo “objetivante” (objektivierender), pois apenas os atos assim
designados têm a função específica de fornecer a matéria de ato, que é responsável pela determinação da
objetualidade. Nas palavras de Husserl: “La referencia a una objetividad [Gegenständlichkeit] se
constituye siempre en materia. Pero toda materia es dice nuestra ley materia de un acto objetivante,
y sólo por medio de uno de estos actos puede convertirse en materia de una nueva cualidad de acto
fundada en dicho acto”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 5, §41, p. 579.
101
“La representación reproductiva es también posible fuera de esta función reproductiva. Pero un agrado
sin algo agradable es inconcebible. Y no sólo porque nos encontremos aquí con expresiones correlativas,
como, por ejemplo, cuando decimos que no es concebible una causa sin efecto o un padre sin hijo; sino
porque la esencia específica del agrado exige la referencia a algo agradable. Exactamente lo mismo es
inconcebible a priori el momento de la convicción de algo. E igualmente un apetecer (con arreglo a su
carácter específico) sin algo apetecido, un asentir o aprobar sin algo que se presta el asentimiento o
aprobación, etc. Todas éstas son intenciones, auténticos actos en nuestro sentido. Todas ellas «deben» su
referencia intencional a ciertas representaciones que les sirven de base. Pero el sentido del término
«deber» indica muy exactamente que ellas mismas tienen también lo que deben a las otras”. HUSSERL,
Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 2, §15, p. 507.
64
(mera representação) e a outra a certo tipo de conteúdo de ato (matéria). Em
contrapartida, na segunda interpretação, o termo “representação” não designa duas
coisas diferentes, mas dois contextos distintos da mesma coisa. Ou seja, tanto na
primeira como na segunda parte da tese, o termo “representação” deve ser entendido
como sinônimo de ato nominal. No entanto, a diferença está no fato de que o contexto
da primeira parte da tese é exclusivamente dos atos nominais. Já o contexto da segunda
parte é o da relação de fundação entre os atos nominais e proposicionais. Na terceira e
última interpretação, ocorre algo muito semelhante à segunda interpretação, pois, em
ambas as interpretações, o termo “representação” não designa duas coisas diferentes,
mas dois contextos distintos da mesma coisa. Porém, se, na segunda interpretação, o
termo “representação” se refere a uma espécie de ato, na terceira interpretação, o
referido termo indica um gênero de ato, no qual a espécie “ato nominal” faz parte.
Como é possível notar, na segunda interpretação, o que está em foco é a relação de
fundação entre atos que pertencem a um mesmo gênero qualitativo. Na terceira
interpretação, o foco está na relação de fundação entre atos que não pertencem a um
mesmo gênero qualitativo.
Quanto à terceira interpretação: se o que está sendo analisado é a primeira parte
da tese, então, o contexto é apenas o dos “atos objetivantes”. Porém, se o que está sendo
analisado é a segunda parte da tese, então, o contexto muda, pois, nesse caso, trata-se da
fundação dos atos não-objetivantes sobre os atos objetivantes. O esquema a seguir pode
ajudar a visualizar o que acabamos de dizer:
65
Husserl também chama os atos objetivantes de atos primários, e entre eles
encontram-se os atos nominais que, como vimos, são atos simples
102
. Os atos primários
opõem-se aos atos secundários ou complexos, que, nesse caso, são sempre os atos
fundados
103
. A fundação dos atos secundários ou complexos sobre os atos primários ou
objetivantes deve ser entendida no sentido de que a matéria do ato complexo é fornecida
pelo ato objetivante, que lhe serve de fundamento
104
. Portanto, é exclusivamente por
meio dos atos objetivantes que os atos não-objetivantes podem encontrar uma matéria.
Em outras palavras, pode-se dizer que os atos complexos como o desejar, o amar ou o
odiar são intencionais porque se deseja, ama ou odeia sempre alguma coisa. Não se ama
102
“Si todo acto que no es de suyo objetivante (o no es puramente objetivante) está fundado en actos
objetivantes, ha de estar fundado últimamente, como es notorio, en actos nominales. Pues todo acto
objetivante es, como hemos dicho, o simples, o sea, nominales”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones
lógicas, II, V, cap. 5, §43, p. 581.
103
“Todo acto compuesto es además un acto fundado; su cualidad total no es una mera suma de las
cualidades de los actos parciales, sino justamente una cualidad, cuya unidad se halla fundada en estas
cualidades componentes, así como la unidad de la materia total no es una mera suma de las materias de
los actos parciales, sino que está fundada en las materias parciales, en cuanto que tiene lugar una
distribución de la materia entre los actos parciales”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V,
cap. 5, § 42, p. 579.
104
“Debemos distinguir en cierto modo intenciones primarias y secundarias, las últimas de las cuales
deben su intencionalidad sólo a estar fundadas en las primeras. Por lo demás, es indiferente a esta
función que los actos objetivantes primarios tengan el carácter de ponentes (aseverativos, creyentes) o de
no ponentes («meramente representativos», neutrales). Muchos actos secundarios piden inexcusablemente
aseveraciones, como, por ejemplo, la alegría y la tristeza; para otros bastan meras modificaciones, como
por ejemplo para el deseo, para el sentimiento estético. Con mucha frecuencia el acto objetivante
fundamenta una complexión que abraza actos de las dos clases”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones
lógicas, II, V, cap. 5, § 41, p. 579.
Atos Objetivantes
Atos Objetivantes
Todos os atos ou são REPRESENTA
Ç
ÕES ou se fundam em REPRESENTA
Ç
ÕES
Contexto: somente dos atos
objetivantes (atos nominais
e proposicionais)
Contexto: dos atos não-objetivantes
(os sentimentos, por exemplo)
66
meramente. Quem ama, ama alguma coisa. Por isso, diz-se que os sentimentos são
intencionais, pois se referem necessariamente a uma objetualidade. Agora, o dado
essencial é o de que a referência de um sentimento a uma objetualidade é sempre
fornecida pelo ato objetivante no qual se funda o sentimento.
3.5. O problema da V Investigação e a questão da equivocação do termo
“representação”
Vejamos, de modo geral, como ficou esquematizada a classificação das
vivências intencionais após esse trajeto mediado pela reflexão da equivocação do termo
“representação”:
A elucidação da equivocação do termo “representação” feita por Husserl nos
permitiu ver a classificação das vivências intencionais em dois gêneros de ato: os
objetivantes e os não-objetivantes. Porém, é digno de nota o fato de que Husserl
concentrou-se mais nos atos objetivantes e, em especial, nos atos nominais e
proposicionais do que nos demais atos. Essa preferência parece ter sido determinada por
um problema que foi enunciado logo na introdução da V Investigação.
VIVÊNCIAS
Vivências
Intencionais
Atos Objetivantes Atos Não-objetivantes
Sentimentos
Atos Pro
p
osicionaisAtos
N
ominais
Ponentes
N
ão-
p
onentes Ponentes
N
ão-
p
onentes
Vivências
Não-intencionais
67
É importante que se diga, desde já, que a exposição das três interpretações de
Husserl da tese brentaniana e o esclarecimento dos quatro elementos equivocados não
representam o problema nuclear da referida investigação. Porém, os esforços para a
realização de tal exposição não foram em vão, uma vez que nos forneceram os
pressupostos necessários para a solução que Husserl deseja dar ao problema enunciado
na introdução da V Investigação.
O problema indicado por Husserl é, em linhas gerais, o de responder a questão
da origem do conceito de significação e de suas variações essenciais
105
. Porém, de
acordo com Husserl, a V Investigação não poderá se ocupar imediatamente dessa
questão, uma vez que antes de abordá-la é necessário esclarecer o conceito de “ato”.
Para Husserl, a compreensão desse conceito é um pressuposto indispensável, pois
implica justamente a compreensão da delimitação de uma unidade genérica,
determinada por uma característica que é fundamental para a ordenação das vivências
da significação. Tema que, diga-se de passagem, é crucial para as Investigações lógicas.
Já sabemos que essa característica essencial à ordenação das vivências da
significação diz respeito à matéria e seu status na estrutura elementar das vivências
intencionais. Portanto, o objetivo de Husserl, na V Investigação, foi explicar essa
característica, capaz de delimitar a unidade genérica das vivências intencionais, e que,
inclusive, é responsável pela ordenação das vivências da significação.
Nós já sabemos que essa importante unidade genérica corresponde aos “atos
objetivantes”. No entanto, para explicar o conceito de ato objetivante, Husserl
estabeleceu a fenomenologia das representações como leitmotiv de sua investigação. Em
105
“Trátase, pues, de responder a la cuestión del origen del concepto de significación y de sus variedades
esenciales, o de responder a esta cuestión de un modo más profundo y más amplio que en nuestras
investigaciones anteriores”. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, Introducción, p. 473.
68
especial, o problema da equivocação do termo “representação” na tese “todos os atos ou
são representações ou se fundam em representações”. Em suas palavras:
A essência dos atos enquanto tais não pode ser discutida de
um modo suficiente sem entrar, consideravelmente, na
fenomenologia das “representações”. Essa íntima conexão nos faz
lembrar a conhecida tese de que qualquer ato ou é uma representação
ou tem representações subjacentes. Entretanto, a questão aqui é qual
dos diferentes conceitos de representação é o que devemos
empregar. E, assim, converte-se em parte essencial do problema a
própria separação dos fenômenos amalgamados, e que dão motivo
aos equívocos.
106
Portanto, a exposição de Husserl sobre a equivocação da tese brentaniana parece
ser apenas um pretexto para o filósofo distinguir os diversos elementos que constituem a
estrutura elementar das vivências intencionais. Não somente isso, pois também visa a
diferenciar os vários e importantes conceitos de representação, que, segundo ele, são
constantemente confundidos.
Além de estabelecer inúmeras distinções, Husserl também expôs os fundamentos
de sua teoria do juízo. Entretanto, os conceitos especificamente lógicos de representação
e juízo ainda não foram totalmente definidos. A promessa é de que eles só serão
definidos na VI Investigação
107
. A propósito, quando se lê a V Investigação, a
impressão que se tem é a de que toda a reflexão contida nela é apenas preparatória, e
que tudo será aparentemente resolvido apenas na VI Investigação. Um exemplo disso é
106
HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, Introducción, p. 474.
107
“Las investigaciones desarrolladas en los últimos capítulos, inspiradas en la distinción entre la
cualidad de acto y la materia de acto, dentro de la esencia intencional unitaria, nos condujeron a
profundizar un grado más en la esfera del interés lógico. La imperiosa cuestión de la relación entre esta
materia intencional y la base de representación, que es esencial a todo o acto, nos obligó a separar varios
importantes conceptos de representación, siempre confundidos; con lo cual construimos de paso un
fragmento fundamental de la «teoría del juicio». Es cierto que quedaron sin esclarecimiento definitivo los
conceptos definitivamente lógicos de representación y el concepto del juicio. En este punto, y en todos en
general, hay todavía un gran trecho de camino por andar. Estamos aún en los comienzos. Ni siquiera
hemos logrado alcanzar todavía el fin más cercano, que es el de poner en claro el origen de la idea de
significación. La significación de las expresiones reside innegablemente — y es ésta una muy valiosa
intelección — en la esencia intencional de los actos correspondientes. Pero todavía no ha sido
considerada la cuestión de qué especies de actos son en general aptos para desempeñar la función
significativa, o de si en este respecto no se hallan más bien al mismo nivel los actos de toda especie”.
HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, VI, Introducción, p. 598.
69
a própria hesitação de Husserl que titubeia em afirmar que, na V Investigação, o sentido
de representação como Repräsentation foi, de fato, explicitado (ver o capítulo 3, tópico
3.1)
108
.
108
Cf. HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas, II, V, cap. 6, §44, p. 583.
70
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao fim deste estudo. E o que fica é a expressão de nossos esforços
dedicados inteiramente ao árduo trabalho de exposição de um dos muitos assuntos
espinhosos que constituem a V Investigação das Investigações lógicas. Em poucas
palavras, podemos dizer que este estudo começou com uma breve apresentação da tese
“todos os atos ou são representações ou se fundam em representações” defendida por
Brentano em Psicologia do ponto de vista empírico. Na verdade, a intenção foi a de
apresentar, em linhas gerais, o contexto originário da tese arrazoada por Husserl. Em
seguida, o destaque foi dado à estrutura elementar das vivências intencionais, concebida
por Husserl na V Investigação. O objetivo foi elucidar os argumentos, as definições e
distinções necessárias para auxiliar a compreensão das interpretações de Husserl acerca
da tese brentaniana. A partir da análise formal de todos e partes, observamos alguns
pontos em que a concepção husserliana da estrutura das vivências intencionais divergia
radicalmente da concepção brentaniana da estrutura dos fenômenos psíquicos. Um
exemplo disso é a distinção não só entre ato e conteúdo, mas também entre os diversos
tipos de conteúdo. Posteriormente, o enfoque foi dado às três interpretações de Husserl.
No decorrer da exposição, foram apresentados os argumentos de cada um das
interpretações, bem como as distinções e definições dos elementos equivocados.
Fato digno de nota é o de que este estudo foi quase que exclusivamente pautado
no texto da V Investigação. É óbvio que isso impediu o alcance de uma visão mais
ampla do papel dessa investigação na estrutura da obra Investigações lógicas. Em todo
caso, isso não deve ser visto negativamente. Pelo contrário, isso indica que este estudo,
como qualquer outro, precisa ser continuado, melhorado, aperfeiçoado. E, na verdade, o
71
valor do labor filosófico é justamente medido por essa insistência, por essa capacidade
de aprofundar as questões e de esclarecer os problemas.
72
APÊNDICE: TEXTO ORIGINAL DAS CITAÇÕES NAS NOTAS DE RODAPÉ
Nota 4:
Von dem oben erwähnten klassifikatorischen Interesse geleitet, führt BRENTANO selbst
die bezügliche Untersuchung in der Form einer wechselseitigen Abscheidung der zwei
von ihm angenommenen Hauptklassen von „Phänomenen“, der psychischen und
physischen. Er gewinnt sechs Bestimmungen, von welchen für uns von vornherein nur
zwei in Betracht kommen können, da bei allen übrigen gewisse täuschende
Äquivokationen, welche die BRENTANOSCHEN Begriffe von Phänomen, speziell von
physischem Phänomen, dann von innerer und äußerer Wahrnehmung zu unhaltbaren
machen, in destruktiver Weise mitspielen. (II/1, V, cap. 2, §10, p. 366).
Nota 6:
Von den beiden bovorzugten Bestimmungen zeigt die eine direkt das Wesen der
psychischen Phänomene oder Akte auf. Es drängt sich an beliebigen Beispielen
unverkennbar entgegen. In der Wahrnehmung wird etwas wahrgenommen, in der
Bildvorstellung etwas bildlich vorgestellt, in der Aussage etwas ausgesagt, in der Liebe
etwas geliebt, im Hasse etwas gehaßt, im Begehren etwas begehrt usw. Das
Gemeinsame, das an solchen Beispielen zu erfassen ist, hat BRENTANO im Auge, wenn
er sagt: „Jedes psychische Phänomen ist durch das charakterisiert, was die Scholastiker
des Mittelalters die intentionale (auch wohl mentale) Inexistenz eines Gegenstandes
genannt haben, und was wir, obwohl mit nicht ganz unzweideutigen Ausdrücken, die
Beziehung auf einen Inhalt, die Richtung auf ein Objekt (worunter hier nicht eine
Realität zu verstehen ist) oder die immanente Gegenständlichkeit nennen würden. Jedes
enthält etwas als Objekt in sich, obwohl nicht jedes in gleicher Weise“. Diese „Weise
der Beziehung des Bewußtseins auf einen Inhalt“ (wie BRENTANO sich an anderen
Stellen öfters ausdrückt) ist in der Vorstellung eben die vorstellende, im Urteil die
urteilende usw. Bekanntlich gründet sich BRENTANOS Klassifikationsversuch der
psychischen Phänomene in Vorstellungen, Urteile und Gemütsbewegungen
(„Phänomene der Liebe und des Hasses“) auf diese Beziehungsweise, von welcher
B
RENTANO eben drei grundverschiedene (sich eventuell mannigfach spezifizierende)
Arten unterscheidet. (II/1, V, cap. 2, §10, p. 366-367).
Nota 25:
Unter den Klassenbegrenzungen der deskriptiven Psychologie ist keine merkwürdiger
und in philosophischer Beziehung bedeutsamer als diejenige, welche B
RENTANO unter
dem Titel der „psychischen Phänomene“ vollzogen und zu seiner bekannten Einteilung
der Phänomene in psychische und physische benützt hat. Nicht als ob ich die
Überzeugung billigen könnte, die den groβen Forscher hierbei leitete, und die sich
schon in den gewählten Termini ausprägte: nämlich eine erschöpfende Klassifikation
der "Phänomene" gewonnen zu haben, durch welche die Forschungsgebiete der
Psychologie und Naturwissenschaft gesondert und die Streitfrage nach der richtigen
Bestimmung der Forschungsgebiete dieser Disziplinen in gar einfacher Weise erledigt
werden könnte. Es mag ja sein, daβ sich der Definition der Psychologie als
Wissenschaft von den psychischen, und der koordinierten Definition der
Naturwissensehaft als Wissenschaft von den physischen Phänomenen, ein guter Sinn
unterlegen läβt; aber mit ernsten Gründen laβt sich bestreiten, daβ die Begriffe der
73
BRENTANOSCHEN Scheidung diejenigen sind, die gleichnamig in den fraglichen
Definitionen auftreten. Es lieβe sich zeigen, daβ keineswegs alle psychischen
Phänomene im Sinne einer möglichen Definition der Psychologie ebensolche im Sinne
BRENTANOS, also psychische Akte sind, und daβ auf der anderen Seite unter dem bei
BRENTANO äquivok fungierenden Titel „physische Phänomene“ sich ein guter Teil von
wahrhaft psychischen Phänomenen findet (II/1, V, cap. 2, §9, p. 364).
Nota 26:
Wir werden gut daran tun, weder von psychischen Phänomenen, noch überhaupt von
Phänomenen zu sprechen, wo es sich um die Erlebnisse der in Rede stehenden Klasse
handelt. Das erstere hat nur Berechtigung auf dem Standpunkt BRENTANOS, wonach mit
dieser Klasse (der Hauptsache nach) das Forschungsgebiet der Psychologie umgrenzt
sein soll, während auf dem unseren alle Erlebnisse überhaupt in dieser Hinsicht
gleichberechtigt sind. Was aber den Terminus Phänomen anbelangt, so ist er nicht nur
mit sehr nachteiligen Vieldeutigkeiten behaftet, sondern imputiert auch eine sehr
zweifelhafte theoretische Überzeugung, die wir bei BRENTANO ausdrücklich hingestellt
finden, nämlich daβ jedes intentionale Erlebnis eben Phänomen ist. Da Phänomen in der
vorwiegenden und auch von BRENTANO angenommenen Rede einen erscheinenden
Gegenstand als solchen bezeichnet, so liegt darin, daβ jedes intentionale Erlebnis nicht
nur auf Gegenstände Beziehung hat, sondem selbst ein Gegenstand gewisser
intentionaler Erlebnisse ist (II/1, V, cap. 2, §11, p. 370-371).
Nota 27:
Die Äquivocationen des Wörter Phänomen, die es gesttaten, bald die erscheinenden
Gegenstände und Eingenschaften, bald die den Erscheinungsakt konstituierenden
Erlebnisse (zumal die Inhalte im Sinne von Empfindungen) und schließlich alle
Erlebnisse überhaupt als Phänomene zu bezeichnen, erklären die nicht geringe
Versuchung, zwei wesentliche verschiedene psychologische Einteilungsarten der
„Phänomene“ durcheinander zu mengen: 1. Einteilungen der Erlebinisse; z. B. Die
Einteilung derselben in Akte un Nichtakte. Solche Einteilung fallen natürlich ganz in
die Sphäre der Psychologie, als welche es ja mit allen Erlebinissen — die in ihr
natürlich transszendent als Erlebnisse animalischer Naturwesen apperzipiert sind — zu
tun hat. 2. Einteilung der phänomenalen Gegenstände; z. B. in solche, die als zu einem
Ichbewußsein gehörig erscheinen, und in solche, die es nicht tun, m. a. W. die
Einteilung in psychische und physische Gegenstände (Inhalte, Eigenschaften,
Relationen u. dgl.). Bei BRENTANO laufen die beiden Einteilungen in der Tut
durcheinander. Er stellt einfach gegenüber: physische und psychische Phänomene, und
definiert sie unverkennbar als eine Einteilung der Erlebnisse in Akte und Nichtakte.
Aber alsbald verwechselt er unter dem Titel physisches Phänomen die empfundenen
Inhalte und die erscheinenden äußeren Gegenstände, bzw. ihre phänomenalen
Beschaffenheiten, so daß die Einteilung nun zugleich als eine Einteilung der
phänomenalen Objekte in physische und psychische (nach dem gemeinen, oder einem
ihm verwandten Wortsinn) dasteht; wobei die letztere dann sogar die Namen hergibt.
(II/2, Beilage, §8, p. 242-243).
Nota 29:
Beispielsweise ist also im Falle der äuβeren Wahrnehmung das Empfindungsmoment
Farbe, das ein reelles Bestandstück eines konkreten Sehens (in dem
phänomenologischen Sinn der visuellen Wahrnehmungserscheinung) ausmacht,
ebensogut ein „erlebter“ oder „bewuβter Inhalt“, wie der Charakter des Wahrnehmens
74
und wie die volle Wahrnehmungserscheinung des farbigen Gegenstands. Dagegen ist
dieser Gegenstand selbst, obgleich er wahrgenommen ist, nicht erlebt oder bewuβt; und
desgleichen auch nicht die an ihm wahrgenommene Färbung. Wenn der Gegenstand
nicht existiert, wenn also die Wahrnehmung kritisch als Trug, als Halluzination, Illusion
u. dgl. zu bewerten ist, so existiert auch die wahrgenommene, gesehene Farbe, die des
Gegenstandes, nicht. Diese Unterschiede zwischen normaler und anomaler, richtiger
und trügerischer Wahrnehmung gehen den inneren, rein deskriptiven, bzw.
phänomenologischen Charakter der Wahrnehmung nicht an. Während die gesehene
Farbe — d. i. die in der visuellen Wahrnehmung an dem erscheinenden Gegenstande als
seine Beschaffenheit miterscheinende und in eins mit ihm als gegenwärtig seiend
gesetzte Farbe - wenn überhaupt, so gewiβ nicht als Erlebnis existiert, so entspricht ihr
in diesem Erlebnis, d. i. in der Wahrnehmungserscheinung, ein reelles Bestandstück. Es
entspricht ihr die Farbenempfindung, das qualitativ bestimmte phänomenologische
Farbenmoment, welches in der Wahrnehmung, bzw. in einer ihm eigens zugehörigen
Komponente der Wahrnehmung („Erscheinung der gegenständlichen Färbung“)
objektivierende „Auffassung“ erfährt. Nicht selten mengt man beides,
Farbenempfindung und objektive Farbigkeit des Gegenstandes, zusammen. Gerade in
unseren Tagen ist eine Darstellung sehr beliebt, die so spricht, als wäre das eine und
andere dasselbe, nur unter verschiedenen „Gesichtspunkten und Interessen“ betrachtet;
psychologisch oder subjektiv betrachtet, heiβe es Empfindung; physisch oder objektiv
betrachtet, Beschaffenheit des äuβeren Dinges. Es genügt hier aber der Hinweis auf den
leicht faβlichen Unterschied zwischen dem objektiv als gleichmäβig gesehenen Rot
dieser Kugel und der gerade dann in der Wahrnehmung selbst unzweifelhaften und
sogar notwendigen Abschattung der subjektiven Farbenempfindungen — ein
Unterschied, der sich in Beziehung auf alle Arten von gegenständlichen
Beschaffenheiten und die ihnen korrespondierenden Empfindungskomplexionen
wiederholt (II/1, V, cap. 1, §2, p. 348-349).
Nota 30:
Die intentionale Beziehung, rein deskriptiv verstanden als innere Eigentümlichkeit
gewisset Erlebnisse, fassen wir als Wesensbestimmtheit der „psychischen Phänomene“
oder „Akte“, so daβ wir in B
RENTANOS Definition, sie seien „solche Phänomene,
welche intentional einen Gegenstand in sich enthalten“, eine essentielle Definition
sehen, deren „Realität“ (im alten Sinne) natürlich durch die Beispiele gesichert ist (II/1,
V, cap. 2, §10, p. 368-369).
Nota 31:
B
RENTANO versteht Unter Empfindungen Akte das Empfindens und stellt ihnen die
empfundenen Inhalte gegenüber. In unserer Redeweise besteht ein solcher Unterschied
nach früher Ausgeführtem nicht. Wir nennen Empfinden die bloβe Tatsache, daβ ein
Sinnesinhalt und weiterhin ain Nichtakt überhaupt in der Erlebniskomplexion präsent
ist. In Relation oder in Entgegensetzung zum Erscheinen könnte uns die Rede vom
Empfinden allenfalls dienen, um die apperzeptive Funktion solcher Inhalte anzuzeigen
(nämlich, daβ sie als Träger derjenigen Auffassung fungieren, in welcher sich das
betreffende Erscheinen als Wahrnehmen oder Imaginieren vollzieht) (II/1, Beilage, §8,
p. 243, n 1).
Nota 33:
In gewisser Weise wird nun freilich jedes sinnliche Gefühl, z. B. der Schmerz des sich
Brennens und Gebranntwerdens, auf Gegenständliches bezogen; einerseits auf das Ich,
75
näher auf das gebrannte Leibesglied, andererseits auf das brennende Objekt. Aber darin
zeigt sich nun wieder die Gleichformigkeit mit anderen Empfindungen. Genau so
werden ja beispielsweise die Berührungsempfindungen auf das berührende Leibesglied
und den berührten Fremdkörper bezogen. Obwohl sich diese Beziehung in intentionalen
Erlebnissen vollzieht, so wird darum doch niemand daran denken, die Empfindungen
selbst als solche Erlebnisse zu bezeichnen. Die Sachlage ist vielmehr die, daβ die
Empfindungen hier als darstellende Inhalte von Wahrnehmungsakten fungieren, oder
(wia es nicht ganz unmiβverständlich heiβt) daβ die Empfindungen hier eine
gegenständliche „Deutung“ oder „Auffassung“ erfahren. Sie selbst sind also nicht Akte,
aber mit ihnen konstituieren sich Akte, nämlich wo sich intentionale Charaktere von der
Art der wahrnehmenden Auffassung ihrer bemächtigen, ihnen glaichsam Beseelung
verleibend. In eban dieser Weise scheint der brennende, stechende, bohrende Schmerz,
sowie er von vornherein mit gawissen Berührungsempfindungen verschmolzen auftritt,
selbst als Empfindung gelten zu müssen; und jedenfalls Scheint er in der Weise
sonstiger Empfindungen zu fungieren, nämlich als Anhalt für eine empirische,
gegenständliche Auffassung. Dagegen wird sicherlich nichts einzuwenden sein, und
somit möchte man die gestellte Frage für erledigt erachten. Es scheint erwiesen, daβ ein
Teil der Gefühle den intentionalen, der andere den nicht-intentionalen Erlebnissen
zuzurechnen sei (II/1, V, cap. 2, §15b, p. 392-393).
Nota 34:
Unter dem reellen phänomenologischen Inhalt eines Aktes verstehen wir deu
Gesamtinbegriff seiner, gleichgültig ob konkreten oder abstrakten Teile, mit anderen
Worten, den Gesamtinbegriff der ihn reell aufballenden Teilerlebnisse (II/1, cap. 2, §16,
p. 397); Inhalt im reell en Sinn ist die schlichte Anwendung des allgemeinsten, in allen
Gebieten gültigen Inhaltsbegriffes auf die intentionalen Erlebnisse (II/1, V, cap. 2, §16,
p. 399).
Nota 36:
„Real“ würde neben „intentional“ sehr viel besser klingen, aber es führt den Gedanken
einer dinghaften Transzendenz, der gerade durch die Reduktion auf dia reeIle
ErIebnisimmanenz ausgeschaltet werden sollte, sehr entschieden mit sich. Wir tun gut,
dem Worte „real“ die Beziehung auf das Dinghafte vollbewuβt beizumessen ( II/1, V,
cap. 2, §16, p. 399, n. 1.
Nota 39:
Stelle ich den Gott Jupiter vor, so ist dieser Gott Vorgestellter Gegenstand, er ist in
meinem Akte „immanent gegenwärtig“, hat in ihm „mentale Inexistenz“, und wie die in
eigentlicher Interpretation verkehrten Redeweisen sonst lauten mögen. Ich stelle den
Gott Jupiter vor, das heiβt, ich habe ein gewisses Vorstellungserlebnis, in meinem
Bewuβtsein voIlzieht sich das den-Gott-Jupiter-Vorstellen. Man mag dieses intentionale
Erlebnis in deskriptiver Analyse zergliedern, wie man will, so etwas wie der Gott
Jupiter kann man darin natürlich nicht finden; der „immanente“, „mentale“ Gegenstand
gehört also nicht zum deskriptiven (reellen) Bestande des Erlebnisses, er ist also in
Wahrheit gar nicht immanent oder mental. Er ist freilich auch nicht extra mentem, er ist
überhaupt nicht. Aber das hindert nicht, daβ jenes den-Gott-Jupiter-Vorstellen wirklich
ist, ein so geartetes Erlebnis, eino so bestimmte Weise des Zumuteseins, daβ, wer es in
sich erfährt, mit Recht sagen kann, er stelle sich jenen mythischen Götterkönig Vor, von
dem dies und jenes gefabelt werde. Existiert andererseits der intendierte Gegenstand, so
braucht in phänomenologischer Hinsicht nichts geändert zu sein. Für das Bewuβtsein ist
76
das Gegebene ein wesentlich Gleiches, ob der vorgestellte Gegenstand existiert, oder ob
er fingiert und vielleicht gar widersinnig ist. Jupiter stelle ich nicht anders vor als
Bismarck, den Babylonischen Turm nicht anders als den Kölner Dom, ein regelmäβigen
Tausendeck nicht anders als einen regelmäβigen Tausendflächner (II/1, V, cap. 2, §11,
p. 373).
Nota 40:
Sind die sogenannten immanenten Inhalte vielmehr bloβ intentionale (intendierte), so
sind andererseits die wahrhaft immanenten Inhalte, die zum reellen Bestande der
intentionalen Erlebnisse gehörigen, nicht intentional: sie bauen den Akt auf,
ermöglichen als die notwendigen Anhaltspunkte die Intention, aber sie sind nicht selbst
intendiert, sie sind nicht die Gegenstände, die im Akt vorgestellt sind. Ich sehe nicht
Farbenempfindungen, sondern gefärbte Dinge, ich höre nicht Tonempfindungen,
sondern das Lied der Sängerin usw (II/1, V, cap. 2, §11, p. 374).
Nota 41:
Wenn wir dem reellen Inhalt nun gegenübersetzen den intentionalen, so deutet das Wort
schon an, daβ nun die Eigenheit der intentionalen Erlebnisse (oder Akte) als solcher in
Frage kommon soll. Aber hier bieten sich verschiedene Begriffe dar, welche sämtlich ln
der spezifischen Natur der Akte gründen und in gleicher Weise unter dem
phänomenologischen Titel intentionaler Inhalt gemeint sein können, und des öftern
auch gemeint sind. Wir werden vorerst drei Begriffe von intentionalem Inhalt
unterscheiden müssen: den intentionalen Gegenstand des Aktes, seine intentionale
Materie (im Gegensatz zu seiner intentionalen Qualität), endlich sein intentionales
Wesen. Wir werden diese Unterscheidungen im Zusammenhang der nachfolgenden
Reihe sehr allgemeiner (auch für dir eingeschänkteren Zwecke einer Wesensklärung der
Erkenntnis unerläßlicher) Analysen kennen lern. (II/1, V, cap. 2, §16, p. 399).
Nota 42:
In Beziehung auf den als Gegenstand des Aktes verstandenen intentionalen Inhalt ist
folgendes zu unterscheiden: der Gegenstand, so wie er intendiert ist, und schlechthin der
Gegenstand, welcher intendiert ist. In jedem Akte ist ein Gegenstand als so und so
bestimmter „vorgestellt“, und als ebensolcher ist er eventuell Zielpunkt wechselnder
Intentionen, urteilender, fühlender, begehrender usw. (II/1, V, cap. 2, §17, p. 400).
Nota 45:
Es ist ein schwerer Irrtum, wenn man überhaupt einen reellen Unterschied zwischen den
„bloß immanenten“ oder „intentionalen“ Gegenständen auf der einen und ihnen ev.
entsprechenden „wirklichen“ und „transzendenten“ Gegenständen auf der anderen Seite
macht: mag man diesen Unterschied dann interpretieren als einen solchen zwischen
einem im Bewußtsein reell vorhandenen Zeichen oder Bild und der bezeichneten oder
abgebildeten Sache; oder mag man dem „immanenten“ Gegenstand in beliebig anderer
Weise irgendein reelles Bewußtseinsdatum, etwa gar den Inhalt im Sinne des
bedeutunggebenden Moments, unterschieben. Solche durch die Jahrhunderte sich
fortschleppenden Irrtümer (man denke an das ontologische Argument des ANSELMUS)
haben, obschon auch aus sachlichen Schwierigkeiten erwachsen, an der Äquivokation
der Rede von der Immanenz und von Reden ähnlichen Schlages ihren Halt. Man braucht
es nur auszusprechen, und jedermann muß es anerkennen: daß der intentionale
Gegenstand der Vorstellung derselbe ist wie ihr wirklicher und gegebenenfalls ihr
äußerer Gegenstand, und daß es widersinnig ist, zwischen beiden zu unterscheiden. Der
77
transzendente Gegenstand wäre gar nicht Gegenstand dieser Vorstellung, wenn er nicht
ihr intentionaler Gegenstand wäre. (II/1, V, cap. 2, Beilage zu den Paragraphen 11 und
20, p. 424-425).
Nota 46:
Der Gegenstand ist ein intentionaler, das heißt, es ist ein Akt mit einer bestimmt
charakterisierten Intention, die in dieser Bestimmtheit eben das ausmacht, was wir die
Intention auf diesen Gegenstand nennen. Das sich auf den Gegenstand Beziehen ist eine
zum eigenen Wesensbestande des Akterlebnisses gehörige Eigentümlichkeit, und die
Erlebnisse, die sie zeigen, heißen (nach Definition) intentionale Erlebnisse oder Akte.
Alle Unterschiede in der Weise der gegenständlichen Beziehung sind deskriptive
Unterschiede der bezüglichen intentionalen Erlebnisse. (II/1, V, cap. 2, §20, p. 412-
413).
Nota 48:
Wir fixieren zunächst eine fundamentale Einteilung des Begriffes Teil, nämlich die
Einteilung in Stücke oder Teile im engsten Sinne, und in Momente oder abstrakte Teile
des Ganzes. Jeden relativ zu einen Ganzen G selbständigen Teil nennen wir ein Stück,
jeden relativ zu ihm unselbständigen Teil ein Moment (einen abstrakten Teil) dieses
selben Ganzen G. (II/1, III, cap. 2, §17, p. 266).
Nota 49:
Die Aktqualität ist zweifellos ein abstraktes Moment des Aktes, das von jedweder
Materie abgelöst, schlechterdings undenkbar wäre. Oder sollten wir etwa ein Erlebnis
für moglich halten, das Urteilsqualität wäre, aber nicht Urteil einer bestimmten
Materie? Damit verlöre ja das Urteil den Charakter eines intentionalen Erlebnisses, der
ihm als wesentlicher evident zugeeignet ist. Ähnliches wird für die Materie gelten.
Auch eine Materie, die weder Materie eines Vorstellens, noch die eines Urteilens u. dgl.
wäre, wird man für undenkbar erachten. (II/1, V, cap. 2, §20, p. 416).
Nota 50:
Die Qualität bestimmt nur, ob das in bestimmter Weise bereits „vorstellig Gemachte“
als Erwünschtes, Erfragtes, urteilsmäßig Gesetztes u. dgl. intentional gegenwärtig sei.
Darnach muß uns die Materie als dasjenige im Akte gelten, was ihrn allerst die
Beziehung auf ein Gegenständliches verleiht, und zwar diese Beziehung in so
vollkommener Bestimmtheit, daß durch die Materie nicht nur das Gegenständliche
überhaupt, welches der Akt meint, sondern auch die Weise, in welcher er es meint, fest
bestimmt ist. (II/1, V, cap. 2, §20, p. 415).
Nota 51:
Die Materie — so können wir noch weiter verdeutlichend sagen — ist die im
phänomenologischen Inhalt des Aktes liegend Eigenheit desselben, die es nicht nur
bestimmt, daß der Akt die jeweilige Gegenständlichkeit auffaßt, sondern auch als was er
sie auffaßt, welche Merkmale, Beziehungen, kategorialen Formen er in sich selbst ihr
zumißt. An der Materie des Aktes liegt es, daß der Gegenstand dem Akte als dieser und
kein anderer gilt, sie ist gewissermaßen der die Qualität fundierende (aber gegen deren
Unterschiede gleichgültige) Sinn der gegenständlichen Auffassung (oder kurzweg der
Auffassungssinn). Gleiche Materien können niemals eine verschiedene gegenständliche
Beziehung geben; wohl aber können verschiedene Materien gleiche gegenständliche
78
Beziehung geben. Letzteres zeigen die obigen Beispiele; wie denn überhaupt die
Unterschiede äquivalenter, aber nicht tautologischer Ausdrücke die Materie betreffen.
Solchen Unterschieden entspricht natürlich keine denkbare Zerstückung der Materie, als
ob ein Stück dem gleichen Gegenstande, ein anderes der verschiedenen Weise seiner
Vorstellung entspräche. Offenbar ist die gegenständliche Beziehung a priori nur
moglich als bestimmte Weise der gegenständlichen Beziebung; sie kann nur zustande
kommen in einer vollbestimmten Materie. (II/1, V, cap. 2, §20, p. 415-416).
Nota 52:
In ganz anderer Richtung als der zuletzt behandelte Unterschied zwischen Akten, in
denen wir leben, und Akten, die nebenherlaufen, liegt ein höchst wichtiger und zunächst
ganz selbstverständlicher Unterschied, nämlich der Unterschied zwischen dem
allgemeinen Charakter des Aktes, der ihn je nachdem als bloß vorstellenden, oder als
urteilenden, fühlenden, begehrenden usw. kennzeichnet, und seinem „Inhalt“, der ihn
als Vorstellung dieses Vorgestellten, als Urteil dieses Geurteilten usw. kennzeichnet. So
sind z. B. die beiden Behauptungen 2 x 2 = 4 und Ibsen gilt als Hauptbegründer des
modernen Realismus in der dramatischen Kunst, als Behauptungen von Einer Art, jedes
ist als Behauptung qualifiziert. Dieses Gemeinsame nennen wir die Urteilsqualität. Das
eine ist aber Urleil dieses, das andere ein Urteil eines anderen „Inhalts“, wir sprechen,
zur Unterscheidung von anderen Inhaltsbegriffen, hier von der Urteilsmaterie. Ähnliche
Unterscheidungen zwischen Qualität und Materie vollziehen wir bei allen Akten. (II/1,
V, cap. 2, §20, p. 411).
Nota 53:
Inhalt im Sinne von Materie ist eine Komponente des konkreten Akterlebnisses, welche
dieses mit Akten ganz anderer Qualität gemeinsam haben kann. Sie tritt also am
klarsten hervor, wenn wir eine Reihe von Identitäten herstellen, in welchen die
Aktqualitäten wechseln, während die Materie identisch dieselbe bleibt (II/1, V, cap. 2,
§20, p. 411-412).
Nota 54:
Was heißt hier also derselbe Inhalt? Offenbar ist die intentionale Gegenständlichkeit in
den verschiedenen Akten dieselbe. Ein und derselbe Sachverhalt ist in der VorstelIung
vorgestellt, im Urteil als geltender gesetzt, im Wunsche erwünscht, in der Frage erfragt.
(II/1, V, cap. 2, §20, p. 412).
Nota 56:
Für die reeIl phänomenologische Betrachtung ist die Gegenständlichkeit selbst nichts;
sie ist ja, allgemein zu reden, dem Akte transzendent. Gleichgültig in welchem Sinne
und mit welchem Rechte von ihrem „Sein“ die Rede ist, gleichgültig, ob sie real oder
ideal, ob sie wahrhaft, möglich oder unmöglich ist, der Akt ist „auf sie gerich tet“. Fragt
man nun, wie es zu verstehen sei, daß das Nichtseiende oder Transzendente in einem
Akte, in welchem es gar nicht ist, als intentionaler Gegenstand gelten könne, so gibt es
darauf keine andere Antwort als diese eine und in der Tat voll ausreichende, die wir
oben gegeben haben: Der Gegenstand ist ein intentionaler, das heißt, es ist ein Akt mit
einer bestimmt charakterisierten Intention, die in dieser Bestimmtheit eben das
ausmacht, was wir die Intention auf diesen Gegenstand nennen. (II/1, V, cap. 2, §20, p.
412-413).
79
Nota 56:
Im deskriptiven Inhalt jedes Aktes haben wir Qualität und Materie als zwei einander
wechselseitig fordernde Momente unterschieden. Nehmen wir nun beide wieder
zusammen, so scheint es zunächst, daß wir damit nur den betreffenden Akt restituiert
haben. Genauer zugesehen, drängt sich uns jedoch eine andere Auffassung entgegen,
wonach die beiden Momente, zur Einheit gebracht, den konkret vollständigen Akt nicht
ausmachen. (II/1, V, cap. 2, §21, p. 417).
Nota 57:
In der Tat können zwei Akte sowohl in Hinsicht auf ihre Qualität, als in Hinsicht auf
ihre Materie einander gleich und trotzdem noch deskriptiv verschieden sein. Sofern uns
nun (wie wir hören werden) Qualität und Materie als die durchaus wesentlichen und
daher nie zu entbehrenden Bestandstücke eines Aktes gelten müssen, würde es passend
sein, die Einheit beider, die nur einen Teil des vollen Aktes ausmacht, als das
intentionale Wesen des Aktes zu bezeichnen. (II/1, V, cap. 2, §21, p. 417).
Nota 58:
Wir sagen allgemein und im guten Sinne, es könne ein Individuum zu verschiedenen
Zeiten, oder es könnten mehrere Individuen, sei es zur selben oder zu verschiedenen
Zeiten, dieselbe Vorstellung, Erinnerung, Erwartung haben, dieselbe Wahrnehmung
machen, dieselbe Behauptung aussprechen, denselben Wunsch, dieselbe Hoffnung
hegen usw.
Dieselbe Vorstellung haben, besagt zwar auch, aber besagt nicht gleichviel
wie denselben Gegenstand vorstellen. Die Vorstellung, die ich von Grönlands
Eiswüsten habe, ist sicherlich eine andere als diejenige, die NANSEN von ihnen hat; aber
der Gegenstand ist derselbe. Ebenso sind die idealen Gegenstände Gerade und kürzeste
Linie identisch, die Vorstellungen aber (bei passender Definition der Geraden)
versehieden. Die Rede von derselben Vorstellung, bzw. demselben Urteil u. dgl., meint
ferner nicht individuelle Identität der Akte, als wäre mein Bewußtsein gewissermaßen
zusammengewachsen mit dem eines anderen. Sie meint ebensowenig das Verhältnis
vollkommener Gleichheit, also Ununterscheidbarkeit hinsichtlich aller inneren
Konstituentien der Akte, als ob der eine ein bloßes Duplikat des anderen wäre. Wir
haben dieselbe Vorstellung von einer Sache, wenn wir Vorstellungen haben, in denen
sich uns die Sache nicht bloß überhaupt, sondern als genau dieselbe vorstellt; d. h. nach
den obigen Ausführungen: in demselben „Auffassungssinne“ oder auf Grund derselben
Materie. (II/1, V, cap. 2, §21, p. 417-418).
Nota 60:
Wir sind in den letzten Kapiteln auf eine vier-, bzw. fünffache Äquivokation des Wortes
Vorstellung gestoβen.
1. Vorstellung als Aktmaterie; oder wie wir in naheliegender Vervollständigung
auch sagen können: Vorstellung als die dem Akte zugrunde liegende Repräsentation, d.
h. als der volle Gehalt des Aktes mit Ausschluβ der Qualität; denn auch dieser Begriff
spielte in unseren Ausführungen mit, obschon es bei unserem speziellen Interesse für
das Verhältnis zwischen Qualität und Materie darauf ankam, letztere besonders zu
betonen. Die Materie sagt gleichsam, welcher Gegenstand im Akte gemeint ist und mit
welchem Sinne er hierbei gemeint ist; die Repräsentation aber zieht überdies die
Momente heran, die auβerbalb des intentionalen Wesens liegen und es machen, daβ z.
B. der Gegenstand gerade in der Weise der perzeptiven oder imaginativen Anschauung
oder eines bloβen unanschaulichen Meinens gemeint ist. Darüber folgen umfassende
Analysen im ersten Abschnitt der nächsten Untersuchung.
80
2. Vorstellung als „bloβe Vorstellung“, als qualitative Modifikation irgendeiner
Form des „belief, z. B. als bloβes Satzverständnis, ohne innere Entscheidung in
Zustimmung oder Verwerfung, ohne Vermutung oder Bezweiflung usw.
3. Vorstellung als nominaler Akt, z. B. als Subjektvorstellung eines Aussageaktes.
4. Vorstellung als objektivierender Akt, d. i. im Sinne der Aktklasse, die notwendig
in einem jeden vollständigen Akte vertreten ist, weil jede Materie (bzw. Repräsentation)
primar als Materie (bzw. Repräsentation) eines solchen Aktes gegeben sein muβ. Diese
qualitative „Grundklasse“ befaβt sowohl die Akte des „belief, des nominalen und
propositionalen, als auch deren „Gegenstücke“, so daβ alle Vorstellungen im obigen
zweiten und dritten Sinne mit hierhergehören. ( II/1, V, cap. 6, §44, p. 499-500).
Nota 61:
Der Satz, es sei jedes intentionale Erlebnis entweder selbst eine (bloβe) Vorstellung,
oder habe eine Vorstellung zur Grundlage, stellt sich nach den vorstehenden
Untersuchungen als eine vermeintliche Evidenz heraus. Die Täuschung gründet in dem
erörterten Doppelsinn von Vorstellung. In seinem ersten Teil spricht der Satz, richtig
verstanden, von Vorstellung im Sinne einer gewissen Aktart, im zweiten von
Vorstellung im Sinne der bloβen (in der oben angegebenen Weise komplettierten)
Aktmaterie. Dieser zweite Teil für sich, also der Satz, jedes intentionale Erlebnis habe
eine Vorstellung zur Grundlage, wäre, wofern Vorstellung als komplettierte Materie
gedeutet würde, eine echte Evidenz. Der falsche und von uns bekämpfte Satz erwächst,
wenn Vorstellung auch hier als Akt gedeutet wird. (II/1, V, cap. 4, §32, p. 458).
Nota 62:
Wir fügen diesen Erläuterungen noch eine Bemerkung bei, die für die folgenden
Betrachtungen im Auge zu behalten ist, nämlich daβ (wie wir wohl annehmen dürfen,
im Sinne BRENTANOS) als belegende Beispiele für die bloβen Vorstellungen zu gelten
haben: alle Fälle bloβer Einbildungsvorstellung, in welchen der erscheinende
Gegenstand weder als seiender, noch als nichtseiender gesetzt ist, und bezüglich dessen
alle sonstigen Akte unterbleiben; oder auch die Fälle, in welchen wir einen Ausdruck,
etwa einen Aussagesatz, verstehend aufnehmen, ohne uns in Glauben oder Unglauben
zu entscheiden. Zumal in diesem Gegensatz zu dem Charakter des belief, dessen
Hinzutreten das Urteil erst vollenden soll, wird der Begriff der bloβen Vorstellung
klargelegt, und es ist bekannt, welch wichtige Rolle gerade dieser Gegensatz in der
neueren Urteilstheorie spielt. (II/1, V, cap. 3, §23, p. 429).
Nota 64:
Indessen scheint es bei aufmerksamer Wesensbetrachtung der hierhergehörigen
Erlebnisse unerläβlich, das bloβe Vorstellen wirklich als einen Akt zu fassen. Die
Verwebung von Materien mit Aktqualitäten ist, wie wir uns auf Grund exemplarischer
Intuition überzeugen, eine Verwebung abstrakter Momente. Also isoliert kann die
Materie nicht vorkommen, Konkretion kann sie aber evidentermaβen nur gewinnen in
Ergänzung durch beliebige Momente, die gesetzlich umgrenzt sind durch die oberste
Gattung Aktqualität. Allerdings ist das bloβe Verstehen, überhaupt das bloβe
„Dahinstehendhaben“ etwas ganz wesentlich anderes als das „Setzen“ des Glaubens,
oder sonstige „Stellungnahmen“ des Vermutens, des Wünschens usw. Aber dann haben
wir in der Gesamtgattung Aktqualität eben Unterschiede anzuerkennen und
phänomenologisch zu fixieren. (II/1, V, cap. 3, §31, p. 455-456).
81
Nota 66:
Der Einheit des Aktes entspricht jeweils die zu ihm gehörige objektive Einheit, die
Einheit der (im weitesten Sinne zu verstehenden) Gegenständlichkeit, auf die er sich
„intentional“ bezieht. Den in Erwägung stehenden Satz fanden wir nun bedenklich,
wofern er unter Vorstellung einen gewissen Akt verstand, der sich auf diese gesamte
gegenständliche Einheit des jeweiligen Aktes beziehen und ihm zugrunde liegen sollte:
der Sachverhalt, der im Urteil vermeint, im Wunsche erwünscht, in der Vermutung
vermutet ist, usw., sei notwendig vorgestellter, und zwar in einem eigenartigen Akt
„Vorstellen“ vorgestellter Sachverhalt. Dabei befaβte der Titel Vorstellen das „bloβe“
Vorstellen, eine Aktart, die wir uns durch das bloβe Verständnis herausgerissener Worte
u. dgl. exemplarisch verdeutlichten, oder auch durch das bloβe Verständnis von
gehörten Aussagesätzen, zu denen wir uns „völlig neutral verhalten“. (II/1, V, cap. 4,
§33, p. 459).
Nota 67:
Der eine sagt urteilend S ist p; ein anderer hört dieselben Worte und versteht sie, ohne
selbst zu urteilen. Dieselben Worte fungieren in gleichem Sinn, sie werden mit
gleichem Verständnis gebraucht und aufgenommen. Das Unterscheidende ist klar: im
zweiten Falle vollzieht sich das bloβe Verständnis der Worte, im ersten noch ein Mehr.
Das Verständnis ist das gleiche, aber wir urteilen überdies. Erweitern wir den Kreis der
Beispiele. Verschiedene Personen mögen eben dieses selbe, daβ S p sei, wünschen,
hoffen, vermuten, bezweifeln usw. und zwar in den zugehörigen ausdrücklichen Akten.
Sie alle verstehen die gemeinsamen Worte, sie alle haben auch mit dem Urteilenden das
gemein, was dieser mit dem das „S ist p bloβ Verstehenden gemein hat. Offenbar liegt
bei dem letzteren isoliert vor, was bei dem ersteren noch mit dem Charakter der
Überzeugung, des Wunsches, der Hoffnung usw. behaftet erscheint. Das bloβe
Verstehen ist hier das bloβe Vorstellen, welches die überall gleiche Grundlage abgibt
für die Serie von Akten derselben „Materie“. Natürlich überträgt sich dann dieselbe
Auffassung von den ausdrücklichen Akten auf die nichtausdrücklichen. (II/1, V, cap. 3,
§30, 452-453).
Nota 68:
Dieser Analogie entsprechend ist nun auch hier die Streitfrage zu erwägen, ob das, was
im Akte des Urteils die Materie ausmacht, also dasjenige, was das Urteil zum Urteil
dieses Sachverhalts determiniert, in einem fundierenden Akte des Vorstellens liege.
Vermöge dieser Vorstellung wäre der Sachverhalt zunächst vorgestellt, und auf dieses
Vorgestellte bezöge sich die urteilende Setzung als der neue Akt, oder genauer, als neu
darauf gebaute Aktqualität. Daβ es nun zu jedem Urteil (a priori, in
Wesensallgemeinheit gesprochen) eine Vorstellung gibt, die rnit ihm die Materie
gemeinsam hat, und die also genau dasselbe in genau entsprechender Weise vorstellt,
wie das Urteil es urteilt, wird niemand bezweifeln. So entspricht beispielsweise dem
Urteil die Erdmasse ist ungefähr 1/325.000 der Sonnenmasse als die ihm zugehörige
„bloβe“ Vorstellung der Akt, den jemand vollzieht, der diesen Ausspruch hört, versteht,
aber kein Motiv findet, sich urteilend zu entscheiden. Wir fragen nun: Ist dieser selbe
Akt Bestandstück auch des Urteils und differiert dieses bloβ durch das urteilende
Entscheiden, das zu einem bloβen Vorstellen als ein Plus hinzutritt? Ich für meinen Teil
bemühe mich vergeblich, dergleichen in deskriptiver Analyse bestätigt zu finden. Die
hier geforderte Doppelheit in der Aktqualität vermisse ich ganz und gar. Natürlich darf
man, in der Meinung zu analysieren, nicht vielmehr aus der Rede von der bloβon
Vorstellung Argumente ziehen. Das bloβ (die Blöβe) weist hier, wie überhaupt, auf
82
einen Mangel hin; aber nicht immer ist ein Mangel durch eine Ergänzung zu beheben.
So setzen wir ja der Wahrnehmung die „bloβe“ Einbildung gegenüber. Das
Unterscheidende liegt in einem Vorzug auf seifen der Wahrnehmung, aber nicht in
einem Plus. Ebenso entspricht bei der Rede vom bloβen Vorstellen im Gegensatz zum
Urteilen dem Mangel des ersteren ein Vorzug des letzteren, nämlich der Vorzug
urteilsmäβiger Entschiedenheit in betreff der eben nur vorgestelIten Sachlage. (II/1, V,
cap. 3, §28, 445-446).
Nota 69:
Beispiele für diesen Begriff bieten all die Fälle, wo vereinzelte Worte oder ganze Sätze
auβerhalb ihrer normalen Funktion bloβ verstanden werden: wir verstehen Aussage-,
Frage-, Wunschsätze, ohne selbst zu urteilen, zu fragen, zu wünschen. Desgleichen
jedes nichtausdrückliche „bloβe Vorschwebenhaben“ von Gedanken, ohne jedwede
„Stellungnahme“, ebenso jedes „bloβe“ Phantasieren usw. (II/1, V, cap. 4, §32, 456-
457).
Nota 72:
Die Qualität bestimmt nur, ob das in bestimmter Weise bereits „vorstellig Gemachte“
als Erwünschtes, Erfragtes, urteilsmäβig Gesetztes u. dgl. intentional gegenwärtig sei.
Darnach muβ uns die Materie als dasjenige im Akte gelten, was ihm allerst die
Beziehung auf ein Gegenständliches verleiht, und zwar diese Beziehung in so
vollkommener Bestimmtheit, daβ durch die Materie nicht nur das Gegenstandliche
überhaupt, welches der Akt meint, sondern auch die Weise, in welcher er es meint, fest
bestimmt ist. Die Materie — so können wir noch weiter verdeutlichend sagen — ist die
im phänomenologischen Inhalt des Aktes liegende Eigenheit desselben, die es nicht nur
bestimmt, daβ der Akt die jeweilige Gegenständlichkeit auffaβt, sondern auch als was er
sie auffaβt, welche Merkmale, Beziehungen, kategorialen Formen er in sich selbst ihr
zumiβt. An der Materie des Aktes liegt es, daβ der Gegenstand dem Akte als dieser und
kein anderer gilt, sie ist gewissermaβen der die Qualität fundierende (aber gegen deren
Unterschiede gleichgültige) Sinn der gegenständlichen Auffassung (oder kurzweg dor
Auffassungssinn). Gleiche Materien können niemals eine verschiedene gegenständliche
Beziehung geben; wohl aber können verschiedene Materien gleiche gegenständliche
Beziehung geben. Letzteres zeigen die obigen Beispiele; wie denn überhaupt die
Unterschiede äquivalenter, aber nicht tautologischer Ausdrücke die Materie betreffen.
Solchen Unterschieden entspricht natürlich keine denkbare Zerstückung der Materie, als
ob ein Stück dem gleichen Gegenstande, ein anderes der verschiedenen Weise seiner
Vorstellung entspräche. Offenbar ist die gegenständliche Beziehung a priori nur
möglich als bestimmte Weise der gegenständlichen Beziehung; sie kann nur zustande
kommen in einer vollbestimmten Materie. (II/1, V, cap. 2, §20, p. 415-416).
Nota 73:
Fassen wir irgendein Paar von Teilen eines Ganzen ins Auge, so bestehen folgende
Möglichkeiten: 1. Zwischen beiden Teilen besteht ein Verhältnis der Fundierung, 2. es
Besteht dieses Verhältnis nicht. Im ersteren Falle kann die Fundierung a) eine
gegenseitige, b) eine einseitige sein, je nachdem die bezügliche Gesetzmäβigkeit eine
umkehrbare ist oder nicht. So fundieren sich Farbe und Ausdehnung in einer
einheitlichen Anschauung gegenseitig, da keine Farbe ohne eine gewisse Ausdehnung,
keine Ausdehnung ohne gewisse Farbe denkbar ist. Dagegen ist ein Urteilscharakter
einseitig fundiert in den zugrunde liegenden Vorstellungen, da diese nicht als
Urteilsfundamente fungieren müssen. BRENTANOS Unterscheidung von Teilen mit
83
„gegenseitiger“ und solchen mit „einseitiger Ablösbarkeit“ stimmt dem Umfang, nicht
der Definition nach, mit der vorliegenden überein. Dem Ausfall jeder Fundierung
entspricht BRENTANOS ergänzende Rede von „gegenseitiger Ablösbarkeit“. (II/1, III,
cap. 2, §16, p. 264-265).
Nota 75:
Wir fixieren zunächst eine fundamentale Einteilung des Begriffes Teil, nämlich die
Einteilung in Stücke oder Teile im engsten Sinne, und in Momente oder abstrakte Teile
des Ganzes. Jeden relativ zu einen Ganzen G selbständigen Teil nennen wir ein Stück,
jeden relativ zu ihm unselbständigen Teil ein Moment (einen abstrakten Teil) dieses
selben Ganzen G. (II/1, III, cap. 2, §17, p. 266).
Nota 76:
Die nächstliegende Antwort gibt der bekannte Satz, den BRENTANO zur Bestimmung
seiner „psychischen Phänomene“ mitbenutzt hat, nämlich daβ jedes solche Phänomen,
oder in unserer Begrenzung und Benennung, daβ jedes intentionale Erlebnis entweder
eine Vorstellung ist, oder auf Vorstellungen als seiner Grundlage beruht. Genauer
ausgeführt, ist der Sinn dieses merkwürdigen Satzes der, daβ in jedem Akte der
intentionale Gegenstand ein in einem Akte des Vorstellens vorgestellter Gegenstand ist,
und daβ, wo es sich nicht von vornherein um ein „bloβes“ Vorstellen handelt, allzeit ein
Vorstellen mit einem oder mehreren weiteren Akten, oder vielmehr Aktcharakteren, so
eigentümlich und innig verwoben ist, daβ hierdurch der vorgestellte Gegenstand
zugleich als beurteilter, erwünschter, erhoffter u. dgl. dasteht. Diese Mehrfältigkeit der
intentionalen Beziehung vollzieht sich also nicht in einem verknüpften Neben- und
Nacheinander von Akten, wobei der Gegenstand mit jedem Akte von neuem, also
wiederholt, intentional gegenwärtig wäre, sondern in Einem streng einheitlichen Akte,
als welchem Ein Gegenstand ein einziges Mal erscheint, aber in diesem einzigen
Gegenwärtigsein Zielpunkt einer komplexen Intention ist. Mit anderen Worten können
wir den Satz auch so auseinanderlegen: Ein intentionales Erlebnis gewinnt überbaupt
seine Beziehung auf ein Gegenständliches nur dadurch, daβ in ihm ein Akterlebnis des
Vorstellens präsent ist, welches ihm den Gegenstand vorstellig macht. Für das
Bewuβtsein wäre der Gegenstand nichts, wenn es kein Vorstellen vollzöge, das ihn eben
zum Gegenstande machte und es so ermöglichte, daβ er nun auch zum Gegenstand eines
Fühlens, Begehrens u. dgl. werden kann. (II/1, V, cap. 3, §23, p. 427-428).
Nota 77:
Wer sich hier unbefangen in die deskriptiven Verhältnisse vertieft, wer sich weder
durch Vorurteile, noch durch Äquivokationen beirren läβt, wird mit uns wohl zur
Überzeugung kommen, daβ die Vorstellungen, im Sinne der Akte, die als „bloβe“
Vorstellungen isoliert und zumal den Urteilen als spezifisch eigenartige Akte
gegenübergesetzt sind, in der Erkenntnis keine so beherrschende Rolle spielen, wie man
anzunehmen pflegt, und daβ, was man ihnen aufbürdet — nämlich in allen Akten die
intentionale Gegenständlichkeit vorstellig zu machen — durch unselbständige
Erlebnisse besorgt wird, die zu allen Akten notwendig gehören, weil sie als abstrakte
Momente zu ihrem intentionalen Wesen gehören. Die Gegenseite läβt sich im stillen
immer wieder durch folgendes Argument bestechen: Damit ein intentionaler Charakter
sich auf ein Gegenständliches beziehen könne, muβ dieses uns vorstellig werden. Wie
kann ich einen Sachverhalt für wahr halten, wünschen, bezweifeln u. dgl., wenn ich ihn
gar nicht vorstelle? Das Vorstelligmachende ist eben die zugrunde liegende Vorstellung.
Daran ist sachlich nichts auszusetzen; was hier gesagt wird, ist vollkommen wahr; nur
84
ist es kein Einwand gegen unsere Auffassung. Gewiβ wohnt jedem intentionalen
Erlebnis eine Komponente oder Seite ein, die das Vorstelligwerden der Sache besorgt.
Aber eine Komponente, die selbst ein ganzer Akt ist — das ist eben die Frage. Und vor
allem ist es die Frage mit Beziehung auf den uns besonders interessierenden Fall des
Urteils und der ihm als VorsteIlung des geurteilten Sachverhalts innewohnenden
Komponente. Uns Schien es sich als unabweisbar aufzudrängen, daβ diese Komponente
hinsichtlich des Wesensmomentes, das in ihr das „Vorstellen“ von dem Sachverhalte
besorgt, von einer wesentlich anderen Gattung sein müsse als die Charaktere, die wir
sonst als Aktqualitäten bezeichnen, mit anderen Worten, als die bekannten Charaktere,
denen es die vorgestellte Sache verdankt, daβ sie beurteilte, gewünschte sei usw. Zu
diesen Charakteren rechnen wir auch den jenes „bloβen“ Vorstellens, von dem oben die
Rede war, nicht aber das identisch verbleibende Moment des „Inhalte“ oder der Materie,
mag sie, bzw. die ganze zugrunde liegende Aktkomponente auch Vorstellung oder
Vorstellen genannt werden. (II/1, V, cap. 3, §31, p. 454-455).
Nota 78:
Dürfen wir die Ergebnisse des letzten Kapitels für gesichert erachten, so wäre ein
doppelter Begriff von Vorstellung zu unterscheiden. Vorstellung in dem ersten Sinne ist
ein Akt (bzw. eine eigenartige Aktqualität) so gut wie Urteil, Wunsch, Frage usw.
Beispiele für diesen Begriff bieten all die Fälle, wo vereinzelte Worte oder ganze Sätze
auβerhalb ihrer normalen Funktion bloβ verstanden werden: wir verstehen Aussage-,
Frage-, Wunschsätze, ohne selbst zu urteilen, zu fragen, zu wünschen. Desgleichen
jedes nichtausdrückliche „bloβe Vorschwebenhaben“ von Gedanken, ohne jedwede
„Stellungnahme“, ebenso jedes „bloβe“ Phantasieren usw. In dem anderen Sinn wäre
Vorstellung kein Akt, sondern die Aktmaterie, welche die eine Seite des intentionalen
Wesens in jedem vollständigen Akte ausmacht, oder, konkreter gefaβt, diese Materie im
Verein mit den übrigen Momenten, deren sie zu ihrer vollen Konkretion bedarf — das,
was wir später Repräsentation nennen werden. Diese „Vorstellung“ liegt, wie jedem
Akte, so auch dem Akte des Vorstellens (nach dem ersten Sinn) zugrunde. Tut sie das,
so ist die Materie, die als identische in verschiedenartigen Akten fungieren kann, mit
einer eigenartigen Aktqualität „Vorstellen“ gegeben, in einer eigentümlichen „Weise
des Bewuβtseins“. (II/1, V, cap. 4, §32, p. 456-457).
Nota 79:
Doch hier mahnt uns ein Bedenken zur Vorsicht. Gibt es nur eine Weise, „Vorstellung“
als Akt zu deuten? Läβt der fragliche Satz nicht vielleicht andere Interpretationen zu,
die von unseren Einwänden unberührt bleiben? In diesem Falle wäre unsere Darstellung
zwar ganz zutreffend mit Beziehung auf jenen Begriff des Vorstellens, den sie, den
gewöhnlichen Erläuterungen des Wortes folgend, voraussetzte; nicht aber mit
Beziehung auf andere Vorstellungsbegriffe und die dadurch zu erzielenden neuen
Interpretationen des mehrsinnig schillernden Satzes. (II/1, V, cap. 4, §32, p. 458).
Nota 80:
Legt man den geändorton Vorstellungsbegriff zugrunde und läβt dann, wie wir oben
schon erwähnt haben, auch den Anspruch fallen, daβ die Vorstellung als fundierender
Akt die ganze Materie des fundierten umspanne, so scheint der vorhin abgelehnte Satz,
daβ jeder Akt, der nicht selbst eine Vorstellung sei, in einer Vorstellung fundiert sein
müsse, wirklich einen wertvollen Inhalt zu gewinnen — den wir sehr wohl als Evidenz
in Anspruch nehmen dürfen. Genauer müβten wir ihn jetzt freilich so formulieren: Jeder
Akt ist entweder selbst eine Vorstellung, oder er ist in einer oder mehreren
85
Vorstellungen fundiert. Beispiele, für welche die erste Hälfte des Satzes zutrifft, liefern
eingliedrige (einstrahlige) Akte der Wahrnehmung, der Erinnerung oder Erwartung, der
Einbildung u. dgl. Das wären nun die „bloβen“ Vorstellungen. Beispiele zur zweiten
Hälfte des Satzes bieten die Urteile (Prädikationen), sowie die ihnen als Gegenbilder
entsprechenden bloβen Vorstellungen nach dem früheren Wortsinne. Ein Urteil hat
mindestens eine Vorstellung zur Grundlage, sowie jede voll ausgesprochene Aussage
mindestens einen „Namen“ enthält. (II/1, V, cap. 4, §33, p. 461).
Nota 81:
Wenn man, wie es gewöhnlich geschieht, Namen als Ausdrücke von Vorstellungen
bezeichnet, so ist hierbei der jetzige Begriff der Vorstellung wesentlich in Frage.
Jedenfalls bilden alle nominal ausdrückbaren „Vorstellungen“ eine Einheit, die wir
zunächst in Augenschein nehmen wollen. Der verschiedene Sinn der Rede von
Ausdrücken bringt es allerdings mit sich, daβ hierbei unter Vorstellung ebensowohl die
nominalen Bedeutungsintantionen, als auch die entsprechenden Bedeutungserfüllungen
gemeint seiu können. Aber die einen und anderen, die unanschaulichen und
anschaulichen Akte fallen hier gleichmäβig unter den abgesteckten Vorstellungsbegriff.
Unter Namen dürfen wir nicht bloβe Hauptwörter verstehen, die ja für sich allein keinen
vollen Akt ausprügen. Wollen wir klar erfassen, was hier Namen sind und bedeuten, so
tun wir am besten, auf Zusammenhänge hinzublicken, zumal auf Aussagen, in welchen
Namen in normaler Bedeutung fungieren. Hier sehen wir nun, daβ Wörter oder
Wortkomplexionen, die als Namen gelten sollen, nur dann einen abgeschlossenen Akt
ausdrücken, wenn sie entweder ein komplettes einfältiges Aussagesubjekt darstellen
(wobei sie einen kompletten Subjektsakt ausdrücken) oder, von syntaktischen
Formungen abgesehen, ohne Änderung ihres intentionalen Wesens die einfältige
Subjektfunktion in einer Aussage ausfüllen können. Demgemaβ macht nicht das bloβe
Hauptwort, auch nicht zusammen mit dem eventuell begleitenden Adjektiv — oder
Relativsatz, einen vollen Namen; vielmehr müssen wir den bestimmten oder
unbestimmten Artikel, der eina sehr wichtige Bedeutungsfunktion trägt, noch
hinzunehmen. Das Pferd; ein Blütenstrauβ; ein Haus, welches aus Sandstein gebaut ist;
die Eröffnung des Reichstages — aber auch Ausdrücke, wie daβ der Reichstag eröffnet
ist, sind Namen. (II/1, V, cap. 4, §34, p. 462-463).
Notas 84:
In all diesen Fällen ist uns der Sachverhalt — nicht etwa das Urteil — in einem anderen
Sinne gegenständlich, und demgemäβ auch geänderten Bedeutungen vorstellig, als in
dem Urteil, dessen volles objektives Korrelat er bildet; und er ist dann offenbar
gegenständlich in einem ähnlichen Sinne, wie das Ding, auf das wir in der
Wahrnehmung oder Phantasie oder Bildbeschauung in Einem Blickstrahl hinblicken —
obschon ein Sachverhalt kein Ding ist und überhaupt nichts ist, das sich im eigentlichen
und engeren Sinne wahrnehmen, einbilden und abbilden lieβe. (II/1, V, cap. 4, §33, p.
460).
Nota 85:
Mit Beziehung auf die als Subjekte fungierenden Sätze sagte ich oben in Paranthese,
daβ sie nicht etwa Vorstellungen von Urteilen, sondern von den entsprechenden
Sachverhalten seien. Dies ist wohl zu boachten. Urteile, als konkrete Erlebnisse, sind
natürlich so gut wie Dinge Gegenstände möglicher Wahrnehmung, Einbildung und
eventuell einer, wenn auch nicht physischen Abbildung. Sie können dann auch als
Subjektgegenstände in Urteilen fungieren. Dies ist der Fall der Urteile über Urteile. In
86
ihrem Ausdruck wird, wenn die beurteilten Urteile nicht bloβ indirekt bezeichnet sind
(wie z. B. als dies, dein Urteil), ein Satz an dor Subjektstelle stehen. Aber nicht immer,
wo ein Satz an solcher Stelle steht, hat er, wie hier, auch die Funktion, ein Urteil zu
nennen. Über ein Urteil urteilen, ist ja ein anderes, als über einen Sachverhalt urteilen;
und demgemäβ ist es auch ein anderes, ein Urteil, und wieder ein anderes, einen
Sachverhalt subjektivisch vorzustellen, bzw. zu nennen. Wenn ich z. B. sage, daβ S p
ist, ist erfreulich, so meine ich doch nicht, es sei das Urteil erfreulich. Es ist dabei auch
gleichgültig, ob man unter Urteil den singulären Akt oder den Satz, das Urteil im
spezifischen Sinne, meint. Erfreulich ist vielmehr dies, daβ es sich so verhält, der
objektive SachverhaIt, die Tatsache. (II/1, V, cap. 4, §33, p. 460-461).
Nota 86:
In der Sphäre der hierher gehörigen anschaulichen Vorstellungen, die nicht selbst
nominal fungieren, aber den logischen Beruf haben, nominale Bedeutungsintentionen zu
erfüllen, sind setzende Akte: die sinnliche, sich das Gegenständliche in Einem Strahl
setzender Meinung zueignende Wahrnehmung, Erinnerung und Erwartung.
Nichtsetzend ist die antsprechende anomale, weil ihrer Seinswertung beraubte
Wahrnehmung, z. B. die vou aller Stellungnahme zur Wirklichkeit des Erscheinenden
freigehaltene Illusion, und ebenso jeder FalI einer bloβen Phantasie. (II/1, V, cap. 4,
§34, p. 465).
Nota 87:
Sehen wir vorläufig also von den Fällen ab, wo seheinbar volle Aussagen im Subjekte
stehen, so kommen für uns Namen in Betracht, wie der Prinx Heinrich, die
Rolandstatue auf dem Markte, der vorübereilende Postbote usw. Wer diese Namen in
wahrhaftiger Rede und in normalem Sinne gebraucht, „weiβ“, daβ Prinz Heinrich eine
wirkliche Person und kein Fabelwesen ist, daβ auf dem Markte eine Rolandstatue steht,
daβ der Postbote vorübereilt. Ja noch mehr. Sicherlich stehen ihm die genannten
Gegenstände anders vor Augen als eingebildete, und sie erscheinen ihm nicht nur als
seiende, er drückt sie auch als solche aus. Gleichwohl prädiziert er im nennenden Akte
nichts von alledem; ausnahmsweise mag er das Sein mindestens attributiv ausdrüken,
nämlich in der Form das wirklich existierende S (wie er in gegensätzlichen Fällen
vielleicht sagt: das vermeintliche S, das eingebildete S u. dgl.). Aber die Setzung ist
auch in dem grammatisch bereicherten Namen (ob er nicht eine wesentliche
Sinnesmodifikation statt einer bloβen Sinneserweiterung erfahren hat, bleibe
dahingestellt) durch dasjenige Moment des Aktes vollzogen, das im bestimmten Artikel
ausgedrückt ist, und nur die Materie ist geändert. Jedenfalls ist auch dann nicht
ausgesagt, daβ S existiert, sondern das S (in seiner eventuellen Sinnesmodifikation) ist
attributiv als wirklich existierendes vorgestellt, zudem gesetzt und daher in der Form
das wirkclich existierende S genannt; und Nennen ist dem Sinne nach auch hier nicht
identisch mit Aussagen. Gibt man dies zu, so haben wir zweierlei Namen, bzw.
nominale Akte zu unterscheiden, soIche, die dem Genannten den Wert eines Seienden
zuerteilen, und solche, die es nicht tun. Ein Beispiel für die letzteren, falls es überhaupt
eines solchen bedarf, bietet uns die nominale Materie einer jeden Existenzialerwägung,
die wirklich ohne jede Seins-Stellungnahme anhebt. (II/1, V, cap. 4, §34, p. 464).
Nota 89:
Wir treten beim Übergang vom setzenden zum modifizierten Akt nicht in eine
heterogene Klasse ein, so wie etwa beim Übergang von irgendeinem nominalen Akte zu
einem Begehren oder Wollen. (II/1, V, cap. 5, §38, p. 480).
87
Nota 90:
Die Urteile als setzende propositionale Akte haben also ihre Korrelate in bloßen
Vorstellungen als nichtsetzenden propositionalen Akten. Beiderseits sind die
korrespondierenden Akte von derselben Materie, aber von verschiedener Qualität. So
wie wir nun bei den nominalen Akten die setzenden und nichtsetzenden zu einer
Qualitätsgattung rechnen, so auch bei den propositionalen Akten die Urteile und ihre
modifizierten Gegenstücke. Die qualitativen Unterschiede sind beiderseits dieselben
und sind nicht in Anspruch zu nehmen als Unterschiede oberer Qualitätsgattungen. (II,
V, cap. 5, §38, p.480).
Nota 91:
Vielmehr sehen wir mit voller Klarheit, daβ zwischen Sätzen, die als Namen von
Sachverhalten fungieren, und zwischen den entsprechenden Aussagen von gleichem
Sachverhalte hinsichtlich des intentionalen Wesens ein Unterschied besteht, der nur
durch idealgesetzliche Beziehungen vermittelt ist. Niemals kann eine Aussage als
Name, oder kann ein Name als Aussage fungieren, ohne seine wesentliche Natur zu
ändern, d. h. ohne Änderung seines bedeutungsmäβigen Wesens und mit ihm der
Bedeutung selbst. (II/1, V, cap. 4, §36, p. 474-475).
Nota 92:
Wir müssen bedenken, daβ das intentionale Wesen sich aus den beiden Seiten Materie
und Qualität aufbaut, und daβ die Unterscheidung von „Grundklassenn“ der Akte sich,
wie ohne weiteres klar ist, nur auf die Aktqualitäten bezieht. Wir müssen weiter
bedenken, daβ aus unseren Darlegungen nicht einmal soviel hervorgeht, daβ nominale
und propositionale Akte überhaupt von verschiedener Qualität, geschweige denn von
verschiedener Qualitätsgattung sein müβten. (II/1, V, cap. 5, §37, p. 477).
Nota 93:
Andererseits werden es die folgenden Betrachtungen klar machen, daß in Ansehung der
Qualitäten zwischen nominalen und propositionalen Akten Gattungsgemeinschaft
besteht, und damit zugleich werden wir zur Abgrenzung eines abermals neuen,
gegenüber dem zuletzt betrachteten weiteren und noch bedeutsameren
Vorstellungsbegriffes gelangen, durch welchen auch der Satz von der Gründung jedes
Aktes in Vorstellungen eine neue und besonders wichtige Interpretation erfahren wird.
(II/1, V, cap. 5, §37, p. 479).
Nota 94:
Unser Ergebnis lautet, daβ „Vorstellung“ und „Urteil“ wesensverschiedene Akte sind.
Darin ist — die Vieldeutigkeit der Worte verlangt immer wieder den Rekurs auf die
gerade maβgebenden Begriffe — von „Vorstellung“ die Rede im Sinne des nominalen
Aktes, und von „Urteil“ im Sinne der Aussage, und zwar des Vollzugs der normalen, in
sich geschlossenen Aussage. Nennen und Aussagen sind also nicht „bloβ grammatisch“
verschieden, sondem „wesensverschieden“, und dies wiederum heiβt, daβ die
beiderseitigen, sei es bedeutungverleihenden, sei es bedeutungerfüllenden Akte nach
ihrem intentionalen Wesen und in diesem Sinn als Aktarten verschieden sind. (II/1, V,
cap. 5, §37, p. 477).
88
Nota 95:
Wir müssen weiter bedenken, daβ aus unseren Darlegungen nicht einmal soviel
hervorgeht, daβ nominale und propositionale Akte überhaupt von verschiedener
Qualität, geschweige denn von verschiedener Qualitätsgattung sein müβten. (II/1, V,
cap. 5, §37, p. 477); Darnach grenzt sich eine umfassende Gattung intentionaler
Erlebnisse ab, welche all die betrachteten Akte nach ihrem qualitativen Wesen
zusammenbefaßt und den weitesten Begriff bestimmt, den der Terminus Vorstellung
innerhalb der Gesamtklasse der intentionalen Erlebnisse bedeuten kann. Wir selbst
Wollen diese qualitativ einheitliche und in ihrer natürlichen Weite genommene Gattung
als die der objektivierenden Akte bezeischnen. (II/1, V, cap. 5, §38, p. 481).
Nota 99:
(...) die Freude über ein glückliches Ereignis sicherlich ein Akt. Aber dieser Akt, der ja
nicht ein bloßer intentionaler Charakter, sondern ein konkretes und eo ipso komplexes
Erlebnis ist, befaßt in seiner Einheit nicht nur die Vorstellung des freudigen Ereignisses
und den darauf bezogenen Aktcharakter des Gefallens; sondern an die Vorstellung
knüpft sich eine Lustempfindung, die einerseits als Gefühlserregung des fühlenden
psychophysischen Subjekts und andererseits als objektive Eigenschaft aufgefaßt und
lokalisiert wird: das Ereignis erscheint als wie von einem rosigen Schimmer umflossen.
(II/1, V, cap. 2, §15b, p. 394).
Nota 101:
Die reproduzierende Vortellung ist auch außer dieser reproduktiven Funktion möglich.
Aber ein Gefallen ist ohne Gefälliges nicht denkbar. Und nicht etwa bloß darum ist
Gefallen ohne Gefälliges nicht denkbar, weil wir es hier mit korrelativen Ausdrücken zu
tun haben; also derart, wie wir z. B. sagen, eine Ursache obne Wirkung, ein Vater ohne
Kind sei nicht denkbar: sondern weil das spezifische Wesen dos Gefallens die
Beziehung auf ein Gefallendes fordert. Genau so ist das Moment der Überzeugung a
priori undenkbar, es sei denn als Überzeugung von etwas. Wieder ebenso kein
Begehren (dem spezifischen Charakter nach) ohne Begehrtes, kein Zustimmen oder
Billigen ohne etwas, dem die Zustimmung, Billigung gilt usw. All das sind Intentionen,
echte Akte in unserem Sinn. Sie alle „verdanken“ ihre intentionale Beziehung gewissen
ihnen unterliegenden Vorstellungen. Aber im Sinn der Rede vom Verdanken liegt ja
ganz richtig, daß sie selbst nun auch das haben, was sie den anderen: verdanken. (II/1,
V, cap. 2, §15a, p. 390).
Nota 102:
Ist jeder nicht selbst schon (bzw. nicht rein) objektivierende Akt in objektivierenden
Akten fundiert, so muß er selbstverständlich zuletzt auch in nominalen Akten fundiert
sein. (II/1, V, cap. 5, §43, p. 498).
Nota 103:
Jeder zusammengesetzte Akt ist ferner ein fundierter Akt; seine Gesamtqualität ist nicht
eine bloße Summe der Qualitäten der Teilakte, sondern eben eine Qualität, deren
Einheit in diesen aufbauenden Qualitäten fundiert ist, ebenso wie die Einheit der
Gesamtmaterie nicht eine bloße Summe der Materien der Teilakte ist, sondern, wofern
eine Verteilung der Materie nach den Teilakten überhaupt statthat, in den Teilmaterien
fundiert ist. (II/1, V, cap. 5, §42, p. 495).
89
Nota 104:
Wir haben gewissermaßen primäre und sekundäre Intentionen zu unterscheiden, von
welchen die letzteren ihre Intentionalität nur der Fundierung durch die ersteren
verdanken. Ob im übrigen die primären, objektivierenden Akte den Charakter der
setzenden (fürwahrhaltenden, glaubenden) oder nichtsetzenden („bloß vorstellenden“,
neutralen) haben, ist für diese Funktion gleichgültig. Manche sekundäre Akte verlangen
durchaus Fürwahrhaltungen, wie z. B. Freude und Trauer; für andere genügen bloße
Modifikationen, wie z. B. für den Wunsch, für das ästhetische Gefühl. Sehr oft ist der
unterliegende objektivierende Akt eine Komplexion, welche Akte von beiderlei Art in
sich faßt. (II/1, V, cap. 5, §41, p. 494).
Nota 105:
Es handelt sich also um die Beantwortung der Frage nach dem Ursprung des Begriffes
Bedeutung und seiner wesentlichen Abartungen, bzw. um eine tiefer und weiter
dringende Beantwortung dieser Frage, als sie unsere bisherigen Untersuchungen
dargeboten haben. (II/1, V, p. 343).
Nota 107:
Die in den letzten Kapiteln durchgeführten Untersuchungen, sich anschließend an die
Unterscheidung von Aktqualität und Aktmaterie innerhalb des einheitlichen
intentionalen Wesens, führten abermals tief in die logische Interessensphäre hinein. Die
sich aufdrängende Frage nach dem Verhältnis dieser intentionalen Materie zu der jedem
Akte wesentlichen Vorstellungsgrundlage zwang uns, mehrere wichtige und allzeit
vermengte Begriffe von Vorstellung zu sondern, womit zugleich ein Fundamentalstück
der „Urteilstheorie“ herausgearbeitet wurde, Allerdings blieben dabei die spezifisch
logischen Begriffe von Vorstellung und der Begriff das Urteils ohne abschließende
Klärung. Hier und überhaupt ist noch ein großes Stück Weges vor uns. Wir stehen
immer noch in den Anfängen. Selbst das näherliegende Ziel, den Ursprung der ldee
Bedeutung klarzulegen, haben wir noch nicht zu erreichen vermocht. Unverkennbar
liegt, und das ist eine wertvolle Einsicht, die Bedeutung der Ausdrücke im intentionalen
Wesen der betreffenden Akte; aber die Frage, was für Arten von Akten zur
Bedeutungsfunktion überbaupt befähigt, oder ob nicht vielmehr Akte jederlei Art in
dieser Hinsicht gleichgestellt sind, ist noch garnicht erwogen. (II/2, VI, p. 2-3).
90
BIBLIOGRAFIA
1. Epígrafe
HUSSERL, Edmund. Die Idee der Phänomenolgie (Band II Husserliana). Hague:
Martinus Nijhoff, 1950 (p. 10).
_____. A idéia da fenomenologia. Lisboa: Edições 70, 1989 (p. 30).
2. Textos de Edmund Husserl
HUSSERL, Edmund. Logische Untersuchungen. 3 vols. Halle: Max Niemeyer, 1913.
_____. Investigaciones lógicas. 2 vols. Madrid: Alianza Editorial, 2002.
_____. Investigações lógicas: Sexta Investigação. Pensadores. Abril Cultural, 1975.
_____. Invitación a la fenomenología. Barcelona: Ediciones Paidós, 1998.
TWARDOWSKI & HUSSERL. Sur les objets intentionnels 1893-1901. Paris: Librairie
Philosophique, 1993.
3. Bibliografia geral
B
RISART, Robert (Ed). Husserl et Frege: Les ambiguïtés de l’antipsychologisme. Paris:
Librairie Philosophique, 2002.
B
ELL, David. Husserl. London : Routledge, 1991.
BENOIST, Jocelyn. Intentionalité et langage dans les Recherche Logiques de Husserl.
Paris : PUF, 2001.
_____. Représentations sans objet: Aux origines de la phénoménologie et de la
philosophie analytique. Paris: PUF, 2001.
91
BRAIDA, Celso R. (Org). Três Aberturas em Ontologia: Frege, Twardowski e Meinong,
Florianópolis: Rocca Brayde, 2005.
BRENTANO, Franz. Psychologie du point de vue empirique. Paris: Aubier, 1943.
_____. Sensory and Noetic Consciousness. Editado por Oskar Krauss. New York:
Humanities Press, 1981.
COBB-STEVENS, Richard. Husserl’s Fifth Logical Investigation. In: DAHLSTROM, Daniel
O. (Org.) Husserl’s Logical Investigations. Boston: Kluwer Academic Publishers, 2003.
DAHLSTROM, Daniel O. (Org.) Husserl’s Logical Investigations. Boston: Kluwer
Academic Publishers, 2003.
DE BOER, Theodore. The development of Husserl’s thought. The Hague: M. Nijhoff,
1978.
FARBER, Marvin. The Foundations of Phenomenology. Cambridge: Cambridge
University Press, 1943.
FISETTE, Denis (Org.). Husserl’s Logical Investigations Reconsidered. Dordrecht:
Kluwer Academic Publishers, 2003.
FREGE, Gottlob Lógica e filosofia da linguagem. São Paulo: Cultrix, 1978.
_____. Ensayos de semántica y filosofía de la lógica. Madrid: Tecnos, 1998.
_____. Funktion, Begriff, Bedeutung. Göttingen: Vandenhoeck und Ruprecht, 1986.
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método. 2 vols. Petrópolis: Vozes, 1997.
G
ENS, Jean-Claude. La pensée herméneutique de Dilthey: entre néokantisme et
phénomenologie. Villeneuve-d’Ascq (Nord): Presses Universitaires du Septentrion,
2002.
H
EIDEGGER, Martin. Prolegómenos para una historia del concepto de tiempo. Madrid:
Alianza Editorial, 2006.
JACQUETTE, Dale. The Cambridge Companion to Brentano. Cambridge: Cambridge
University Press, 2004.
MAKKREEL, Rudolf A. Dilthey: Philosopher of the Human Studies. Princeton:
Princenton University Press, 1992.
92
MOHANTY, J. N. Edmund Husserl’s Theory of Meaning. Hague: M. Nijhoff, 1969.
_____. Husserl and Frege. Indiana: Indiana University Press, 1982.
MONTICELLI, Pedro. Sobre a relação essencial da estrutura ontológica dos fenômenos
psíquicos com a estrutura epistemológica da psicologia em Franz Brentano na
Psicologia do ponto de vista empírico. Mestrado em Filosofia. Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, SP, 2005.
MOURA, Carlos Alberto R. de. Crítica da Razão na Fenomenologia. São Paulo: EDUSP,
1989.
PIVČEVIĆ, Edo (Org.). Phenomenology and Philosophical Understanding. Cambridge:
Cambridge University Press, 1980.
PORTA, Mario A. G. A filosofia a partir de seus problemas. São Paulo: Loyola, 2002.
_____. Franz Brentano: equivocidad del ser y objeto intencional. Belo Horizonte:
Kriterion, n. 105, Jun/2002, p. 97-118.
_____. Los orígenes de la virada antipsicologista en Husserl. Thémata, n. 21, 1999, p.
85-116.
SAJAMA, Seppo. A Historical Introduction to Phenomenology. London: Croom Helm,
1987.
SOKOLOWSKI, Robert (Ed). Edmund Husserl and the Phenomenological Tradition.
Washington: The Catholic University of America Press, 1988.
_____. Husserlian Meditations: How Words Present Things. Evanston: Northwestern
University Press, 1974.
_____. Introduction to Phenomenology. Cambridge: Cambridge University Press, 2000.
_____. Introdução à fenomenologia. São Paulo: Loyola, 2004.
S
MITH, Barry (Ed). The Cambridge Companion to Husserl. Cambridge: Cambridge
University Press, 1999.
SMITH, David W. Husserl and Intentionality. Dordrecth: D. Reidel, 1982.
STEGMÜLLER, Wolfgang. A filosofia contemporânea. Vol. 1. São Paulo: EPU, 1977.
93
TEIXEIRA FILHO, Dario Alves. Análise e identificação de proposições segundo o
realismo lógico de E. Husserl. Tese (doutorado em filosofia) Instituto de Filosofia e
Ciências Sociais/UFRJ, São Paulo, 2001.
TUGENDHAT, Ernst. Lições introdutórias à Filosofia Analítica da Linguagem. Ijuí: Ed.
Unijuí, 2006.
ZAHAVI, Dan. Husserl’s Phenomenology. California: Stanford, 2003.
1
APÊNDICE: TEXTO ORIGINAL DAS CITAÇÕES NAS NOTAS DE RODAPÉ
Nota 4:
Von dem oben erwähnten klassifikatorischen Interesse geleitet, führt BRENTANO selbst
die bezügliche Untersuchung in der Form einer wechselseitigen Abscheidung der zwei
von ihm angenommenen Hauptklassen von „Phänomenen“, der psychischen und
physischen. Er gewinnt sechs Bestimmungen, von welchen für uns von vornherein nur
zwei in Betracht kommen können, da bei allen übrigen gewisse täuschende
Äquivokationen, welche die BRENTANOSCHEN Begriffe von Phänomen, speziell von
physischem Phänomen, dann von innerer und äußerer Wahrnehmung zu unhaltbaren
machen, in destruktiver Weise mitspielen. (II/1, V, cap. 2, §10, p. 366).
Nota 6:
Von den beiden bovorzugten Bestimmungen zeigt die eine direkt das Wesen der
psychischen Phänomene oder Akte auf. Es drängt sich an beliebigen Beispielen
unverkennbar entgegen. In der Wahrnehmung wird etwas wahrgenommen, in der
Bildvorstellung etwas bildlich vorgestellt, in der Aussage etwas ausgesagt, in der Liebe
etwas geliebt, im Hasse etwas gehaßt, im Begehren etwas begehrt usw. Das
Gemeinsame, das an solchen Beispielen zu erfassen ist, hat BRENTANO im Auge, wenn
er sagt: „Jedes psychische Phänomen ist durch das charakterisiert, was die Scholastiker
des Mittelalters die intentionale (auch wohl mentale) Inexistenz eines Gegenstandes
genannt haben, und was wir, obwohl mit nicht ganz unzweideutigen Ausdrücken, die
Beziehung auf einen Inhalt, die Richtung auf ein Objekt (worunter hier nicht eine
Realität zu verstehen ist) oder die immanente Gegenständlichkeit nennen würden. Jedes
enthält etwas als Objekt in sich, obwohl nicht jedes in gleicher Weise“. Diese „Weise
der Beziehung des Bewußtseins auf einen Inhalt“ (wie BRENTANO sich an anderen
Stellen öfters ausdrückt) ist in der Vorstellung eben die vorstellende, im Urteil die
urteilende usw. Bekanntlich gründet sich BRENTANOS Klassifikationsversuch der
psychischen Phänomene in Vorstellungen, Urteile und Gemütsbewegungen
(„Phänomene der Liebe und des Hasses“) auf diese Beziehungsweise, von welcher
B
RENTANO eben drei grundverschiedene (sich eventuell mannigfach spezifizierende)
Arten unterscheidet. (II/1, V, cap. 2, §10, p. 366-367).
Nota 25:
Unter den Klassenbegrenzungen der deskriptiven Psychologie ist keine merkwürdiger
und in philosophischer Beziehung bedeutsamer als diejenige, welche B
RENTANO unter
dem Titel der „psychischen Phänomene“ vollzogen und zu seiner bekannten Einteilung
der Phänomene in psychische und physische benützt hat. Nicht als ob ich die
Überzeugung billigen könnte, die den groβen Forscher hierbei leitete, und die sich
schon in den gewählten Termini ausprägte: nämlich eine erschöpfende Klassifikation
der "Phänomene" gewonnen zu haben, durch welche die Forschungsgebiete der
Psychologie und Naturwissenschaft gesondert und die Streitfrage nach der richtigen
Bestimmung der Forschungsgebiete dieser Disziplinen in gar einfacher Weise erledigt
werden könnte. Es mag ja sein, daβ sich der Definition der Psychologie als
Wissenschaft von den psychischen, und der koordinierten Definition der
Naturwissensehaft als Wissenschaft von den physischen Phänomenen, ein guter Sinn
unterlegen läβt; aber mit ernsten Gründen laβt sich bestreiten, daβ die Begriffe der
2
BRENTANOSCHEN Scheidung diejenigen sind, die gleichnamig in den fraglichen
Definitionen auftreten. Es lieβe sich zeigen, daβ keineswegs alle psychischen
Phänomene im Sinne einer möglichen Definition der Psychologie ebensolche im Sinne
BRENTANOS, also psychische Akte sind, und daβ auf der anderen Seite unter dem bei
BRENTANO äquivok fungierenden Titel „physische Phänomene“ sich ein guter Teil von
wahrhaft psychischen Phänomenen findet (II/1, V, cap. 2, §9, p. 364).
Nota 26:
Wir werden gut daran tun, weder von psychischen Phänomenen, noch überhaupt von
Phänomenen zu sprechen, wo es sich um die Erlebnisse der in Rede stehenden Klasse
handelt. Das erstere hat nur Berechtigung auf dem Standpunkt BRENTANOS, wonach mit
dieser Klasse (der Hauptsache nach) das Forschungsgebiet der Psychologie umgrenzt
sein soll, während auf dem unseren alle Erlebnisse überhaupt in dieser Hinsicht
gleichberechtigt sind. Was aber den Terminus Phänomen anbelangt, so ist er nicht nur
mit sehr nachteiligen Vieldeutigkeiten behaftet, sondern imputiert auch eine sehr
zweifelhafte theoretische Überzeugung, die wir bei BRENTANO ausdrücklich hingestellt
finden, nämlich daβ jedes intentionale Erlebnis eben Phänomen ist. Da Phänomen in der
vorwiegenden und auch von BRENTANO angenommenen Rede einen erscheinenden
Gegenstand als solchen bezeichnet, so liegt darin, daβ jedes intentionale Erlebnis nicht
nur auf Gegenstände Beziehung hat, sondem selbst ein Gegenstand gewisser
intentionaler Erlebnisse ist (II/1, V, cap. 2, §11, p. 370-371).
Nota 27:
Die Äquivocationen des Wörter Phänomen, die es gesttaten, bald die erscheinenden
Gegenstände und Eingenschaften, bald die den Erscheinungsakt konstituierenden
Erlebnisse (zumal die Inhalte im Sinne von Empfindungen) und schließlich alle
Erlebnisse überhaupt als Phänomene zu bezeichnen, erklären die nicht geringe
Versuchung, zwei wesentliche verschiedene psychologische Einteilungsarten der
„Phänomene“ durcheinander zu mengen: 1. Einteilungen der Erlebinisse; z. B. Die
Einteilung derselben in Akte un Nichtakte. Solche Einteilung fallen natürlich ganz in
die Sphäre der Psychologie, als welche es ja mit allen Erlebinissen — die in ihr
natürlich transszendent als Erlebnisse animalischer Naturwesen apperzipiert sind — zu
tun hat. 2. Einteilung der phänomenalen Gegenstände; z. B. in solche, die als zu einem
Ichbewußsein gehörig erscheinen, und in solche, die es nicht tun, m. a. W. die
Einteilung in psychische und physische Gegenstände (Inhalte, Eigenschaften,
Relationen u. dgl.). Bei BRENTANO laufen die beiden Einteilungen in der Tut
durcheinander. Er stellt einfach gegenüber: physische und psychische Phänomene, und
definiert sie unverkennbar als eine Einteilung der Erlebnisse in Akte und Nichtakte.
Aber alsbald verwechselt er unter dem Titel physisches Phänomen die empfundenen
Inhalte und die erscheinenden äußeren Gegenstände, bzw. ihre phänomenalen
Beschaffenheiten, so daß die Einteilung nun zugleich als eine Einteilung der
phänomenalen Objekte in physische und psychische (nach dem gemeinen, oder einem
ihm verwandten Wortsinn) dasteht; wobei die letztere dann sogar die Namen hergibt.
(II/2, Beilage, §8, p. 242-243).
Nota 29:
Beispielsweise ist also im Falle der äuβeren Wahrnehmung das Empfindungsmoment
Farbe, das ein reelles Bestandstück eines konkreten Sehens (in dem
phänomenologischen Sinn der visuellen Wahrnehmungserscheinung) ausmacht,
ebensogut ein „erlebter“ oder „bewuβter Inhalt“, wie der Charakter des Wahrnehmens
3
und wie die volle Wahrnehmungserscheinung des farbigen Gegenstands. Dagegen ist
dieser Gegenstand selbst, obgleich er wahrgenommen ist, nicht erlebt oder bewuβt; und
desgleichen auch nicht die an ihm wahrgenommene Färbung. Wenn der Gegenstand
nicht existiert, wenn also die Wahrnehmung kritisch als Trug, als Halluzination, Illusion
u. dgl. zu bewerten ist, so existiert auch die wahrgenommene, gesehene Farbe, die des
Gegenstandes, nicht. Diese Unterschiede zwischen normaler und anomaler, richtiger
und trügerischer Wahrnehmung gehen den inneren, rein deskriptiven, bzw.
phänomenologischen Charakter der Wahrnehmung nicht an. Während die gesehene
Farbe — d. i. die in der visuellen Wahrnehmung an dem erscheinenden Gegenstande als
seine Beschaffenheit miterscheinende und in eins mit ihm als gegenwärtig seiend
gesetzte Farbe - wenn überhaupt, so gewiβ nicht als Erlebnis existiert, so entspricht ihr
in diesem Erlebnis, d. i. in der Wahrnehmungserscheinung, ein reelles Bestandstück. Es
entspricht ihr die Farbenempfindung, das qualitativ bestimmte phänomenologische
Farbenmoment, welches in der Wahrnehmung, bzw. in einer ihm eigens zugehörigen
Komponente der Wahrnehmung („Erscheinung der gegenständlichen Färbung“)
objektivierende „Auffassung“ erfährt. Nicht selten mengt man beides,
Farbenempfindung und objektive Farbigkeit des Gegenstandes, zusammen. Gerade in
unseren Tagen ist eine Darstellung sehr beliebt, die so spricht, als wäre das eine und
andere dasselbe, nur unter verschiedenen „Gesichtspunkten und Interessen“ betrachtet;
psychologisch oder subjektiv betrachtet, heiβe es Empfindung; physisch oder objektiv
betrachtet, Beschaffenheit des äuβeren Dinges. Es genügt hier aber der Hinweis auf den
leicht faβlichen Unterschied zwischen dem objektiv als gleichmäβig gesehenen Rot
dieser Kugel und der gerade dann in der Wahrnehmung selbst unzweifelhaften und
sogar notwendigen Abschattung der subjektiven Farbenempfindungen — ein
Unterschied, der sich in Beziehung auf alle Arten von gegenständlichen
Beschaffenheiten und die ihnen korrespondierenden Empfindungskomplexionen
wiederholt (II/1, V, cap. 1, §2, p. 348-349).
Nota 30:
Die intentionale Beziehung, rein deskriptiv verstanden als innere Eigentümlichkeit
gewisset Erlebnisse, fassen wir als Wesensbestimmtheit der „psychischen Phänomene“
oder „Akte“, so daβ wir in B
RENTANOS Definition, sie seien „solche Phänomene,
welche intentional einen Gegenstand in sich enthalten“, eine essentielle Definition
sehen, deren „Realität“ (im alten Sinne) natürlich durch die Beispiele gesichert ist (II/1,
V, cap. 2, §10, p. 368-369).
Nota 31:
B
RENTANO versteht Unter Empfindungen Akte das Empfindens und stellt ihnen die
empfundenen Inhalte gegenüber. In unserer Redeweise besteht ein solcher Unterschied
nach früher Ausgeführtem nicht. Wir nennen Empfinden die bloβe Tatsache, daβ ein
Sinnesinhalt und weiterhin ain Nichtakt überhaupt in der Erlebniskomplexion präsent
ist. In Relation oder in Entgegensetzung zum Erscheinen könnte uns die Rede vom
Empfinden allenfalls dienen, um die apperzeptive Funktion solcher Inhalte anzuzeigen
(nämlich, daβ sie als Träger derjenigen Auffassung fungieren, in welcher sich das
betreffende Erscheinen als Wahrnehmen oder Imaginieren vollzieht) (II/1, Beilage, §8,
p. 243, n 1).
Nota 33:
In gewisser Weise wird nun freilich jedes sinnliche Gefühl, z. B. der Schmerz des sich
Brennens und Gebranntwerdens, auf Gegenständliches bezogen; einerseits auf das Ich,
4
näher auf das gebrannte Leibesglied, andererseits auf das brennende Objekt. Aber darin
zeigt sich nun wieder die Gleichformigkeit mit anderen Empfindungen. Genau so
werden ja beispielsweise die Berührungsempfindungen auf das berührende Leibesglied
und den berührten Fremdkörper bezogen. Obwohl sich diese Beziehung in intentionalen
Erlebnissen vollzieht, so wird darum doch niemand daran denken, die Empfindungen
selbst als solche Erlebnisse zu bezeichnen. Die Sachlage ist vielmehr die, daβ die
Empfindungen hier als darstellende Inhalte von Wahrnehmungsakten fungieren, oder
(wia es nicht ganz unmiβverständlich heiβt) daβ die Empfindungen hier eine
gegenständliche „Deutung“ oder „Auffassung“ erfahren. Sie selbst sind also nicht Akte,
aber mit ihnen konstituieren sich Akte, nämlich wo sich intentionale Charaktere von der
Art der wahrnehmenden Auffassung ihrer bemächtigen, ihnen glaichsam Beseelung
verleibend. In eban dieser Weise scheint der brennende, stechende, bohrende Schmerz,
sowie er von vornherein mit gawissen Berührungsempfindungen verschmolzen auftritt,
selbst als Empfindung gelten zu müssen; und jedenfalls Scheint er in der Weise
sonstiger Empfindungen zu fungieren, nämlich als Anhalt für eine empirische,
gegenständliche Auffassung. Dagegen wird sicherlich nichts einzuwenden sein, und
somit möchte man die gestellte Frage für erledigt erachten. Es scheint erwiesen, daβ ein
Teil der Gefühle den intentionalen, der andere den nicht-intentionalen Erlebnissen
zuzurechnen sei (II/1, V, cap. 2, §15b, p. 392-393).
Nota 34:
Unter dem reellen phänomenologischen Inhalt eines Aktes verstehen wir deu
Gesamtinbegriff seiner, gleichgültig ob konkreten oder abstrakten Teile, mit anderen
Worten, den Gesamtinbegriff der ihn reell aufballenden Teilerlebnisse (II/1, cap. 2, §16,
p. 397); Inhalt im reell en Sinn ist die schlichte Anwendung des allgemeinsten, in allen
Gebieten gültigen Inhaltsbegriffes auf die intentionalen Erlebnisse (II/1, V, cap. 2, §16,
p. 399).
Nota 36:
„Real“ würde neben „intentional“ sehr viel besser klingen, aber es führt den Gedanken
einer dinghaften Transzendenz, der gerade durch die Reduktion auf dia reeIle
ErIebnisimmanenz ausgeschaltet werden sollte, sehr entschieden mit sich. Wir tun gut,
dem Worte „real“ die Beziehung auf das Dinghafte vollbewuβt beizumessen ( II/1, V,
cap. 2, §16, p. 399, n. 1.
Nota 39:
Stelle ich den Gott Jupiter vor, so ist dieser Gott Vorgestellter Gegenstand, er ist in
meinem Akte „immanent gegenwärtig“, hat in ihm „mentale Inexistenz“, und wie die in
eigentlicher Interpretation verkehrten Redeweisen sonst lauten mögen. Ich stelle den
Gott Jupiter vor, das heiβt, ich habe ein gewisses Vorstellungserlebnis, in meinem
Bewuβtsein voIlzieht sich das den-Gott-Jupiter-Vorstellen. Man mag dieses intentionale
Erlebnis in deskriptiver Analyse zergliedern, wie man will, so etwas wie der Gott
Jupiter kann man darin natürlich nicht finden; der „immanente“, „mentale“ Gegenstand
gehört also nicht zum deskriptiven (reellen) Bestande des Erlebnisses, er ist also in
Wahrheit gar nicht immanent oder mental. Er ist freilich auch nicht extra mentem, er ist
überhaupt nicht. Aber das hindert nicht, daβ jenes den-Gott-Jupiter-Vorstellen wirklich
ist, ein so geartetes Erlebnis, eino so bestimmte Weise des Zumuteseins, daβ, wer es in
sich erfährt, mit Recht sagen kann, er stelle sich jenen mythischen Götterkönig Vor, von
dem dies und jenes gefabelt werde. Existiert andererseits der intendierte Gegenstand, so
braucht in phänomenologischer Hinsicht nichts geändert zu sein. Für das Bewuβtsein ist
5
das Gegebene ein wesentlich Gleiches, ob der vorgestellte Gegenstand existiert, oder ob
er fingiert und vielleicht gar widersinnig ist. Jupiter stelle ich nicht anders vor als
Bismarck, den Babylonischen Turm nicht anders als den Kölner Dom, ein regelmäβigen
Tausendeck nicht anders als einen regelmäβigen Tausendflächner (II/1, V, cap. 2, §11,
p. 373).
Nota 40:
Sind die sogenannten immanenten Inhalte vielmehr bloβ intentionale (intendierte), so
sind andererseits die wahrhaft immanenten Inhalte, die zum reellen Bestande der
intentionalen Erlebnisse gehörigen, nicht intentional: sie bauen den Akt auf,
ermöglichen als die notwendigen Anhaltspunkte die Intention, aber sie sind nicht selbst
intendiert, sie sind nicht die Gegenstände, die im Akt vorgestellt sind. Ich sehe nicht
Farbenempfindungen, sondern gefärbte Dinge, ich höre nicht Tonempfindungen,
sondern das Lied der Sängerin usw (II/1, V, cap. 2, §11, p. 374).
Nota 41:
Wenn wir dem reellen Inhalt nun gegenübersetzen den intentionalen, so deutet das Wort
schon an, daβ nun die Eigenheit der intentionalen Erlebnisse (oder Akte) als solcher in
Frage kommon soll. Aber hier bieten sich verschiedene Begriffe dar, welche sämtlich ln
der spezifischen Natur der Akte gründen und in gleicher Weise unter dem
phänomenologischen Titel intentionaler Inhalt gemeint sein können, und des öftern
auch gemeint sind. Wir werden vorerst drei Begriffe von intentionalem Inhalt
unterscheiden müssen: den intentionalen Gegenstand des Aktes, seine intentionale
Materie (im Gegensatz zu seiner intentionalen Qualität), endlich sein intentionales
Wesen. Wir werden diese Unterscheidungen im Zusammenhang der nachfolgenden
Reihe sehr allgemeiner (auch für dir eingeschänkteren Zwecke einer Wesensklärung der
Erkenntnis unerläßlicher) Analysen kennen lern. (II/1, V, cap. 2, §16, p. 399).
Nota 42:
In Beziehung auf den als Gegenstand des Aktes verstandenen intentionalen Inhalt ist
folgendes zu unterscheiden: der Gegenstand, so wie er intendiert ist, und schlechthin der
Gegenstand, welcher intendiert ist. In jedem Akte ist ein Gegenstand als so und so
bestimmter „vorgestellt“, und als ebensolcher ist er eventuell Zielpunkt wechselnder
Intentionen, urteilender, fühlender, begehrender usw. (II/1, V, cap. 2, §17, p. 400).
Nota 45:
Es ist ein schwerer Irrtum, wenn man überhaupt einen reellen Unterschied zwischen den
„bloß immanenten“ oder „intentionalen“ Gegenständen auf der einen und ihnen ev.
entsprechenden „wirklichen“ und „transzendenten“ Gegenständen auf der anderen Seite
macht: mag man diesen Unterschied dann interpretieren als einen solchen zwischen
einem im Bewußtsein reell vorhandenen Zeichen oder Bild und der bezeichneten oder
abgebildeten Sache; oder mag man dem „immanenten“ Gegenstand in beliebig anderer
Weise irgendein reelles Bewußtseinsdatum, etwa gar den Inhalt im Sinne des
bedeutunggebenden Moments, unterschieben. Solche durch die Jahrhunderte sich
fortschleppenden Irrtümer (man denke an das ontologische Argument des ANSELMUS)
haben, obschon auch aus sachlichen Schwierigkeiten erwachsen, an der Äquivokation
der Rede von der Immanenz und von Reden ähnlichen Schlages ihren Halt. Man braucht
es nur auszusprechen, und jedermann muß es anerkennen: daß der intentionale
Gegenstand der Vorstellung derselbe ist wie ihr wirklicher und gegebenenfalls ihr
äußerer Gegenstand, und daß es widersinnig ist, zwischen beiden zu unterscheiden. Der
6
transzendente Gegenstand wäre gar nicht Gegenstand dieser Vorstellung, wenn er nicht
ihr intentionaler Gegenstand wäre. (II/1, V, cap. 2, Beilage zu den Paragraphen 11 und
20, p. 424-425).
Nota 46:
Der Gegenstand ist ein intentionaler, das heißt, es ist ein Akt mit einer bestimmt
charakterisierten Intention, die in dieser Bestimmtheit eben das ausmacht, was wir die
Intention auf diesen Gegenstand nennen. Das sich auf den Gegenstand Beziehen ist eine
zum eigenen Wesensbestande des Akterlebnisses gehörige Eigentümlichkeit, und die
Erlebnisse, die sie zeigen, heißen (nach Definition) intentionale Erlebnisse oder Akte.
Alle Unterschiede in der Weise der gegenständlichen Beziehung sind deskriptive
Unterschiede der bezüglichen intentionalen Erlebnisse. (II/1, V, cap. 2, §20, p. 412-
413).
Nota 48:
Wir fixieren zunächst eine fundamentale Einteilung des Begriffes Teil, nämlich die
Einteilung in Stücke oder Teile im engsten Sinne, und in Momente oder abstrakte Teile
des Ganzes. Jeden relativ zu einen Ganzen G selbständigen Teil nennen wir ein Stück,
jeden relativ zu ihm unselbständigen Teil ein Moment (einen abstrakten Teil) dieses
selben Ganzen G. (II/1, III, cap. 2, §17, p. 266).
Nota 49:
Die Aktqualität ist zweifellos ein abstraktes Moment des Aktes, das von jedweder
Materie abgelöst, schlechterdings undenkbar wäre. Oder sollten wir etwa ein Erlebnis
für moglich halten, das Urteilsqualität wäre, aber nicht Urteil einer bestimmten
Materie? Damit verlöre ja das Urteil den Charakter eines intentionalen Erlebnisses, der
ihm als wesentlicher evident zugeeignet ist. Ähnliches wird für die Materie gelten.
Auch eine Materie, die weder Materie eines Vorstellens, noch die eines Urteilens u. dgl.
wäre, wird man für undenkbar erachten. (II/1, V, cap. 2, §20, p. 416).
Nota 50:
Die Qualität bestimmt nur, ob das in bestimmter Weise bereits „vorstellig Gemachte“
als Erwünschtes, Erfragtes, urteilsmäßig Gesetztes u. dgl. intentional gegenwärtig sei.
Darnach muß uns die Materie als dasjenige im Akte gelten, was ihrn allerst die
Beziehung auf ein Gegenständliches verleiht, und zwar diese Beziehung in so
vollkommener Bestimmtheit, daß durch die Materie nicht nur das Gegenständliche
überhaupt, welches der Akt meint, sondern auch die Weise, in welcher er es meint, fest
bestimmt ist. (II/1, V, cap. 2, §20, p. 415).
Nota 51:
Die Materie — so können wir noch weiter verdeutlichend sagen — ist die im
phänomenologischen Inhalt des Aktes liegend Eigenheit desselben, die es nicht nur
bestimmt, daß der Akt die jeweilige Gegenständlichkeit auffaßt, sondern auch als was er
sie auffaßt, welche Merkmale, Beziehungen, kategorialen Formen er in sich selbst ihr
zumißt. An der Materie des Aktes liegt es, daß der Gegenstand dem Akte als dieser und
kein anderer gilt, sie ist gewissermaßen der die Qualität fundierende (aber gegen deren
Unterschiede gleichgültige) Sinn der gegenständlichen Auffassung (oder kurzweg der
Auffassungssinn). Gleiche Materien können niemals eine verschiedene gegenständliche
Beziehung geben; wohl aber können verschiedene Materien gleiche gegenständliche
7
Beziehung geben. Letzteres zeigen die obigen Beispiele; wie denn überhaupt die
Unterschiede äquivalenter, aber nicht tautologischer Ausdrücke die Materie betreffen.
Solchen Unterschieden entspricht natürlich keine denkbare Zerstückung der Materie, als
ob ein Stück dem gleichen Gegenstande, ein anderes der verschiedenen Weise seiner
Vorstellung entspräche. Offenbar ist die gegenständliche Beziehung a priori nur
moglich als bestimmte Weise der gegenständlichen Beziebung; sie kann nur zustande
kommen in einer vollbestimmten Materie. (II/1, V, cap. 2, §20, p. 415-416).
Nota 52:
In ganz anderer Richtung als der zuletzt behandelte Unterschied zwischen Akten, in
denen wir leben, und Akten, die nebenherlaufen, liegt ein höchst wichtiger und zunächst
ganz selbstverständlicher Unterschied, nämlich der Unterschied zwischen dem
allgemeinen Charakter des Aktes, der ihn je nachdem als bloß vorstellenden, oder als
urteilenden, fühlenden, begehrenden usw. kennzeichnet, und seinem „Inhalt“, der ihn
als Vorstellung dieses Vorgestellten, als Urteil dieses Geurteilten usw. kennzeichnet. So
sind z. B. die beiden Behauptungen 2 x 2 = 4 und Ibsen gilt als Hauptbegründer des
modernen Realismus in der dramatischen Kunst, als Behauptungen von Einer Art, jedes
ist als Behauptung qualifiziert. Dieses Gemeinsame nennen wir die Urteilsqualität. Das
eine ist aber Urleil dieses, das andere ein Urteil eines anderen „Inhalts“, wir sprechen,
zur Unterscheidung von anderen Inhaltsbegriffen, hier von der Urteilsmaterie. Ähnliche
Unterscheidungen zwischen Qualität und Materie vollziehen wir bei allen Akten. (II/1,
V, cap. 2, §20, p. 411).
Nota 53:
Inhalt im Sinne von Materie ist eine Komponente des konkreten Akterlebnisses, welche
dieses mit Akten ganz anderer Qualität gemeinsam haben kann. Sie tritt also am
klarsten hervor, wenn wir eine Reihe von Identitäten herstellen, in welchen die
Aktqualitäten wechseln, während die Materie identisch dieselbe bleibt (II/1, V, cap. 2,
§20, p. 411-412).
Nota 54:
Was heißt hier also derselbe Inhalt? Offenbar ist die intentionale Gegenständlichkeit in
den verschiedenen Akten dieselbe. Ein und derselbe Sachverhalt ist in der VorstelIung
vorgestellt, im Urteil als geltender gesetzt, im Wunsche erwünscht, in der Frage erfragt.
(II/1, V, cap. 2, §20, p. 412).
Nota 56:
Für die reeIl phänomenologische Betrachtung ist die Gegenständlichkeit selbst nichts;
sie ist ja, allgemein zu reden, dem Akte transzendent. Gleichgültig in welchem Sinne
und mit welchem Rechte von ihrem „Sein“ die Rede ist, gleichgültig, ob sie real oder
ideal, ob sie wahrhaft, möglich oder unmöglich ist, der Akt ist „auf sie gerich tet“. Fragt
man nun, wie es zu verstehen sei, daß das Nichtseiende oder Transzendente in einem
Akte, in welchem es gar nicht ist, als intentionaler Gegenstand gelten könne, so gibt es
darauf keine andere Antwort als diese eine und in der Tat voll ausreichende, die wir
oben gegeben haben: Der Gegenstand ist ein intentionaler, das heißt, es ist ein Akt mit
einer bestimmt charakterisierten Intention, die in dieser Bestimmtheit eben das
ausmacht, was wir die Intention auf diesen Gegenstand nennen. (II/1, V, cap. 2, §20, p.
412-413).
8
Nota 56:
Im deskriptiven Inhalt jedes Aktes haben wir Qualität und Materie als zwei einander
wechselseitig fordernde Momente unterschieden. Nehmen wir nun beide wieder
zusammen, so scheint es zunächst, daß wir damit nur den betreffenden Akt restituiert
haben. Genauer zugesehen, drängt sich uns jedoch eine andere Auffassung entgegen,
wonach die beiden Momente, zur Einheit gebracht, den konkret vollständigen Akt nicht
ausmachen. (II/1, V, cap. 2, §21, p. 417).
Nota 57:
In der Tat können zwei Akte sowohl in Hinsicht auf ihre Qualität, als in Hinsicht auf
ihre Materie einander gleich und trotzdem noch deskriptiv verschieden sein. Sofern uns
nun (wie wir hören werden) Qualität und Materie als die durchaus wesentlichen und
daher nie zu entbehrenden Bestandstücke eines Aktes gelten müssen, würde es passend
sein, die Einheit beider, die nur einen Teil des vollen Aktes ausmacht, als das
intentionale Wesen des Aktes zu bezeichnen. (II/1, V, cap. 2, §21, p. 417).
Nota 58:
Wir sagen allgemein und im guten Sinne, es könne ein Individuum zu verschiedenen
Zeiten, oder es könnten mehrere Individuen, sei es zur selben oder zu verschiedenen
Zeiten, dieselbe Vorstellung, Erinnerung, Erwartung haben, dieselbe Wahrnehmung
machen, dieselbe Behauptung aussprechen, denselben Wunsch, dieselbe Hoffnung
hegen usw.
Dieselbe Vorstellung haben, besagt zwar auch, aber besagt nicht gleichviel
wie denselben Gegenstand vorstellen. Die Vorstellung, die ich von Grönlands
Eiswüsten habe, ist sicherlich eine andere als diejenige, die NANSEN von ihnen hat; aber
der Gegenstand ist derselbe. Ebenso sind die idealen Gegenstände Gerade und kürzeste
Linie identisch, die Vorstellungen aber (bei passender Definition der Geraden)
versehieden. Die Rede von derselben Vorstellung, bzw. demselben Urteil u. dgl., meint
ferner nicht individuelle Identität der Akte, als wäre mein Bewußtsein gewissermaßen
zusammengewachsen mit dem eines anderen. Sie meint ebensowenig das Verhältnis
vollkommener Gleichheit, also Ununterscheidbarkeit hinsichtlich aller inneren
Konstituentien der Akte, als ob der eine ein bloßes Duplikat des anderen wäre. Wir
haben dieselbe Vorstellung von einer Sache, wenn wir Vorstellungen haben, in denen
sich uns die Sache nicht bloß überhaupt, sondern als genau dieselbe vorstellt; d. h. nach
den obigen Ausführungen: in demselben „Auffassungssinne“ oder auf Grund derselben
Materie. (II/1, V, cap. 2, §21, p. 417-418).
Nota 60:
Wir sind in den letzten Kapiteln auf eine vier-, bzw. fünffache Äquivokation des Wortes
Vorstellung gestoβen.
1. Vorstellung als Aktmaterie; oder wie wir in naheliegender Vervollständigung
auch sagen können: Vorstellung als die dem Akte zugrunde liegende Repräsentation, d.
h. als der volle Gehalt des Aktes mit Ausschluβ der Qualität; denn auch dieser Begriff
spielte in unseren Ausführungen mit, obschon es bei unserem speziellen Interesse für
das Verhältnis zwischen Qualität und Materie darauf ankam, letztere besonders zu
betonen. Die Materie sagt gleichsam, welcher Gegenstand im Akte gemeint ist und mit
welchem Sinne er hierbei gemeint ist; die Repräsentation aber zieht überdies die
Momente heran, die auβerbalb des intentionalen Wesens liegen und es machen, daβ z.
B. der Gegenstand gerade in der Weise der perzeptiven oder imaginativen Anschauung
oder eines bloβen unanschaulichen Meinens gemeint ist. Darüber folgen umfassende
Analysen im ersten Abschnitt der nächsten Untersuchung.
9
2. Vorstellung als „bloβe Vorstellung“, als qualitative Modifikation irgendeiner
Form des „belief, z. B. als bloβes Satzverständnis, ohne innere Entscheidung in
Zustimmung oder Verwerfung, ohne Vermutung oder Bezweiflung usw.
3. Vorstellung als nominaler Akt, z. B. als Subjektvorstellung eines Aussageaktes.
4. Vorstellung als objektivierender Akt, d. i. im Sinne der Aktklasse, die notwendig
in einem jeden vollständigen Akte vertreten ist, weil jede Materie (bzw. Repräsentation)
primar als Materie (bzw. Repräsentation) eines solchen Aktes gegeben sein muβ. Diese
qualitative „Grundklasse“ befaβt sowohl die Akte des „belief, des nominalen und
propositionalen, als auch deren „Gegenstücke“, so daβ alle Vorstellungen im obigen
zweiten und dritten Sinne mit hierhergehören. ( II/1, V, cap. 6, §44, p. 499-500).
Nota 61:
Der Satz, es sei jedes intentionale Erlebnis entweder selbst eine (bloβe) Vorstellung,
oder habe eine Vorstellung zur Grundlage, stellt sich nach den vorstehenden
Untersuchungen als eine vermeintliche Evidenz heraus. Die Täuschung gründet in dem
erörterten Doppelsinn von Vorstellung. In seinem ersten Teil spricht der Satz, richtig
verstanden, von Vorstellung im Sinne einer gewissen Aktart, im zweiten von
Vorstellung im Sinne der bloβen (in der oben angegebenen Weise komplettierten)
Aktmaterie. Dieser zweite Teil für sich, also der Satz, jedes intentionale Erlebnis habe
eine Vorstellung zur Grundlage, wäre, wofern Vorstellung als komplettierte Materie
gedeutet würde, eine echte Evidenz. Der falsche und von uns bekämpfte Satz erwächst,
wenn Vorstellung auch hier als Akt gedeutet wird. (II/1, V, cap. 4, §32, p. 458).
Nota 62:
Wir fügen diesen Erläuterungen noch eine Bemerkung bei, die für die folgenden
Betrachtungen im Auge zu behalten ist, nämlich daβ (wie wir wohl annehmen dürfen,
im Sinne BRENTANOS) als belegende Beispiele für die bloβen Vorstellungen zu gelten
haben: alle Fälle bloβer Einbildungsvorstellung, in welchen der erscheinende
Gegenstand weder als seiender, noch als nichtseiender gesetzt ist, und bezüglich dessen
alle sonstigen Akte unterbleiben; oder auch die Fälle, in welchen wir einen Ausdruck,
etwa einen Aussagesatz, verstehend aufnehmen, ohne uns in Glauben oder Unglauben
zu entscheiden. Zumal in diesem Gegensatz zu dem Charakter des belief, dessen
Hinzutreten das Urteil erst vollenden soll, wird der Begriff der bloβen Vorstellung
klargelegt, und es ist bekannt, welch wichtige Rolle gerade dieser Gegensatz in der
neueren Urteilstheorie spielt. (II/1, V, cap. 3, §23, p. 429).
Nota 64:
Indessen scheint es bei aufmerksamer Wesensbetrachtung der hierhergehörigen
Erlebnisse unerläβlich, das bloβe Vorstellen wirklich als einen Akt zu fassen. Die
Verwebung von Materien mit Aktqualitäten ist, wie wir uns auf Grund exemplarischer
Intuition überzeugen, eine Verwebung abstrakter Momente. Also isoliert kann die
Materie nicht vorkommen, Konkretion kann sie aber evidentermaβen nur gewinnen in
Ergänzung durch beliebige Momente, die gesetzlich umgrenzt sind durch die oberste
Gattung Aktqualität. Allerdings ist das bloβe Verstehen, überhaupt das bloβe
„Dahinstehendhaben“ etwas ganz wesentlich anderes als das „Setzen“ des Glaubens,
oder sonstige „Stellungnahmen“ des Vermutens, des Wünschens usw. Aber dann haben
wir in der Gesamtgattung Aktqualität eben Unterschiede anzuerkennen und
phänomenologisch zu fixieren. (II/1, V, cap. 3, §31, p. 455-456).
10
Nota 66:
Der Einheit des Aktes entspricht jeweils die zu ihm gehörige objektive Einheit, die
Einheit der (im weitesten Sinne zu verstehenden) Gegenständlichkeit, auf die er sich
„intentional“ bezieht. Den in Erwägung stehenden Satz fanden wir nun bedenklich,
wofern er unter Vorstellung einen gewissen Akt verstand, der sich auf diese gesamte
gegenständliche Einheit des jeweiligen Aktes beziehen und ihm zugrunde liegen sollte:
der Sachverhalt, der im Urteil vermeint, im Wunsche erwünscht, in der Vermutung
vermutet ist, usw., sei notwendig vorgestellter, und zwar in einem eigenartigen Akt
„Vorstellen“ vorgestellter Sachverhalt. Dabei befaβte der Titel Vorstellen das „bloβe“
Vorstellen, eine Aktart, die wir uns durch das bloβe Verständnis herausgerissener Worte
u. dgl. exemplarisch verdeutlichten, oder auch durch das bloβe Verständnis von
gehörten Aussagesätzen, zu denen wir uns „völlig neutral verhalten“. (II/1, V, cap. 4,
§33, p. 459).
Nota 67:
Der eine sagt urteilend S ist p; ein anderer hört dieselben Worte und versteht sie, ohne
selbst zu urteilen. Dieselben Worte fungieren in gleichem Sinn, sie werden mit
gleichem Verständnis gebraucht und aufgenommen. Das Unterscheidende ist klar: im
zweiten Falle vollzieht sich das bloβe Verständnis der Worte, im ersten noch ein Mehr.
Das Verständnis ist das gleiche, aber wir urteilen überdies. Erweitern wir den Kreis der
Beispiele. Verschiedene Personen mögen eben dieses selbe, daβ S p sei, wünschen,
hoffen, vermuten, bezweifeln usw. und zwar in den zugehörigen ausdrücklichen Akten.
Sie alle verstehen die gemeinsamen Worte, sie alle haben auch mit dem Urteilenden das
gemein, was dieser mit dem das „S ist p bloβ Verstehenden gemein hat. Offenbar liegt
bei dem letzteren isoliert vor, was bei dem ersteren noch mit dem Charakter der
Überzeugung, des Wunsches, der Hoffnung usw. behaftet erscheint. Das bloβe
Verstehen ist hier das bloβe Vorstellen, welches die überall gleiche Grundlage abgibt
für die Serie von Akten derselben „Materie“. Natürlich überträgt sich dann dieselbe
Auffassung von den ausdrücklichen Akten auf die nichtausdrücklichen. (II/1, V, cap. 3,
§30, 452-453).
Nota 68:
Dieser Analogie entsprechend ist nun auch hier die Streitfrage zu erwägen, ob das, was
im Akte des Urteils die Materie ausmacht, also dasjenige, was das Urteil zum Urteil
dieses Sachverhalts determiniert, in einem fundierenden Akte des Vorstellens liege.
Vermöge dieser Vorstellung wäre der Sachverhalt zunächst vorgestellt, und auf dieses
Vorgestellte bezöge sich die urteilende Setzung als der neue Akt, oder genauer, als neu
darauf gebaute Aktqualität. Daβ es nun zu jedem Urteil (a priori, in
Wesensallgemeinheit gesprochen) eine Vorstellung gibt, die rnit ihm die Materie
gemeinsam hat, und die also genau dasselbe in genau entsprechender Weise vorstellt,
wie das Urteil es urteilt, wird niemand bezweifeln. So entspricht beispielsweise dem
Urteil die Erdmasse ist ungefähr 1/325.000 der Sonnenmasse als die ihm zugehörige
„bloβe“ Vorstellung der Akt, den jemand vollzieht, der diesen Ausspruch hört, versteht,
aber kein Motiv findet, sich urteilend zu entscheiden. Wir fragen nun: Ist dieser selbe
Akt Bestandstück auch des Urteils und differiert dieses bloβ durch das urteilende
Entscheiden, das zu einem bloβen Vorstellen als ein Plus hinzutritt? Ich für meinen Teil
bemühe mich vergeblich, dergleichen in deskriptiver Analyse bestätigt zu finden. Die
hier geforderte Doppelheit in der Aktqualität vermisse ich ganz und gar. Natürlich darf
man, in der Meinung zu analysieren, nicht vielmehr aus der Rede von der bloβon
Vorstellung Argumente ziehen. Das bloβ (die Blöβe) weist hier, wie überhaupt, auf
11
einen Mangel hin; aber nicht immer ist ein Mangel durch eine Ergänzung zu beheben.
So setzen wir ja der Wahrnehmung die „bloβe“ Einbildung gegenüber. Das
Unterscheidende liegt in einem Vorzug auf seifen der Wahrnehmung, aber nicht in
einem Plus. Ebenso entspricht bei der Rede vom bloβen Vorstellen im Gegensatz zum
Urteilen dem Mangel des ersteren ein Vorzug des letzteren, nämlich der Vorzug
urteilsmäβiger Entschiedenheit in betreff der eben nur vorgestelIten Sachlage. (II/1, V,
cap. 3, §28, 445-446).
Nota 69:
Beispiele für diesen Begriff bieten all die Fälle, wo vereinzelte Worte oder ganze Sätze
auβerhalb ihrer normalen Funktion bloβ verstanden werden: wir verstehen Aussage-,
Frage-, Wunschsätze, ohne selbst zu urteilen, zu fragen, zu wünschen. Desgleichen
jedes nichtausdrückliche „bloβe Vorschwebenhaben“ von Gedanken, ohne jedwede
„Stellungnahme“, ebenso jedes „bloβe“ Phantasieren usw. (II/1, V, cap. 4, §32, 456-
457).
Nota 72:
Die Qualität bestimmt nur, ob das in bestimmter Weise bereits „vorstellig Gemachte“
als Erwünschtes, Erfragtes, urteilsmäβig Gesetztes u. dgl. intentional gegenwärtig sei.
Darnach muβ uns die Materie als dasjenige im Akte gelten, was ihm allerst die
Beziehung auf ein Gegenständliches verleiht, und zwar diese Beziehung in so
vollkommener Bestimmtheit, daβ durch die Materie nicht nur das Gegenstandliche
überhaupt, welches der Akt meint, sondern auch die Weise, in welcher er es meint, fest
bestimmt ist. Die Materie — so können wir noch weiter verdeutlichend sagen — ist die
im phänomenologischen Inhalt des Aktes liegende Eigenheit desselben, die es nicht nur
bestimmt, daβ der Akt die jeweilige Gegenständlichkeit auffaβt, sondern auch als was er
sie auffaβt, welche Merkmale, Beziehungen, kategorialen Formen er in sich selbst ihr
zumiβt. An der Materie des Aktes liegt es, daβ der Gegenstand dem Akte als dieser und
kein anderer gilt, sie ist gewissermaβen der die Qualität fundierende (aber gegen deren
Unterschiede gleichgültige) Sinn der gegenständlichen Auffassung (oder kurzweg dor
Auffassungssinn). Gleiche Materien können niemals eine verschiedene gegenständliche
Beziehung geben; wohl aber können verschiedene Materien gleiche gegenständliche
Beziehung geben. Letzteres zeigen die obigen Beispiele; wie denn überhaupt die
Unterschiede äquivalenter, aber nicht tautologischer Ausdrücke die Materie betreffen.
Solchen Unterschieden entspricht natürlich keine denkbare Zerstückung der Materie, als
ob ein Stück dem gleichen Gegenstande, ein anderes der verschiedenen Weise seiner
Vorstellung entspräche. Offenbar ist die gegenständliche Beziehung a priori nur
möglich als bestimmte Weise der gegenständlichen Beziehung; sie kann nur zustande
kommen in einer vollbestimmten Materie. (II/1, V, cap. 2, §20, p. 415-416).
Nota 73:
Fassen wir irgendein Paar von Teilen eines Ganzen ins Auge, so bestehen folgende
Möglichkeiten: 1. Zwischen beiden Teilen besteht ein Verhältnis der Fundierung, 2. es
Besteht dieses Verhältnis nicht. Im ersteren Falle kann die Fundierung a) eine
gegenseitige, b) eine einseitige sein, je nachdem die bezügliche Gesetzmäβigkeit eine
umkehrbare ist oder nicht. So fundieren sich Farbe und Ausdehnung in einer
einheitlichen Anschauung gegenseitig, da keine Farbe ohne eine gewisse Ausdehnung,
keine Ausdehnung ohne gewisse Farbe denkbar ist. Dagegen ist ein Urteilscharakter
einseitig fundiert in den zugrunde liegenden Vorstellungen, da diese nicht als
Urteilsfundamente fungieren müssen. BRENTANOS Unterscheidung von Teilen mit
12
„gegenseitiger“ und solchen mit „einseitiger Ablösbarkeit“ stimmt dem Umfang, nicht
der Definition nach, mit der vorliegenden überein. Dem Ausfall jeder Fundierung
entspricht BRENTANOS ergänzende Rede von „gegenseitiger Ablösbarkeit“. (II/1, III,
cap. 2, §16, p. 264-265).
Nota 75:
Wir fixieren zunächst eine fundamentale Einteilung des Begriffes Teil, nämlich die
Einteilung in Stücke oder Teile im engsten Sinne, und in Momente oder abstrakte Teile
des Ganzes. Jeden relativ zu einen Ganzen G selbständigen Teil nennen wir ein Stück,
jeden relativ zu ihm unselbständigen Teil ein Moment (einen abstrakten Teil) dieses
selben Ganzen G. (II/1, III, cap. 2, §17, p. 266).
Nota 76:
Die nächstliegende Antwort gibt der bekannte Satz, den BRENTANO zur Bestimmung
seiner „psychischen Phänomene“ mitbenutzt hat, nämlich daβ jedes solche Phänomen,
oder in unserer Begrenzung und Benennung, daβ jedes intentionale Erlebnis entweder
eine Vorstellung ist, oder auf Vorstellungen als seiner Grundlage beruht. Genauer
ausgeführt, ist der Sinn dieses merkwürdigen Satzes der, daβ in jedem Akte der
intentionale Gegenstand ein in einem Akte des Vorstellens vorgestellter Gegenstand ist,
und daβ, wo es sich nicht von vornherein um ein „bloβes“ Vorstellen handelt, allzeit ein
Vorstellen mit einem oder mehreren weiteren Akten, oder vielmehr Aktcharakteren, so
eigentümlich und innig verwoben ist, daβ hierdurch der vorgestellte Gegenstand
zugleich als beurteilter, erwünschter, erhoffter u. dgl. dasteht. Diese Mehrfältigkeit der
intentionalen Beziehung vollzieht sich also nicht in einem verknüpften Neben- und
Nacheinander von Akten, wobei der Gegenstand mit jedem Akte von neuem, also
wiederholt, intentional gegenwärtig wäre, sondern in Einem streng einheitlichen Akte,
als welchem Ein Gegenstand ein einziges Mal erscheint, aber in diesem einzigen
Gegenwärtigsein Zielpunkt einer komplexen Intention ist. Mit anderen Worten können
wir den Satz auch so auseinanderlegen: Ein intentionales Erlebnis gewinnt überbaupt
seine Beziehung auf ein Gegenständliches nur dadurch, daβ in ihm ein Akterlebnis des
Vorstellens präsent ist, welches ihm den Gegenstand vorstellig macht. Für das
Bewuβtsein wäre der Gegenstand nichts, wenn es kein Vorstellen vollzöge, das ihn eben
zum Gegenstande machte und es so ermöglichte, daβ er nun auch zum Gegenstand eines
Fühlens, Begehrens u. dgl. werden kann. (II/1, V, cap. 3, §23, p. 427-428).
Nota 77:
Wer sich hier unbefangen in die deskriptiven Verhältnisse vertieft, wer sich weder
durch Vorurteile, noch durch Äquivokationen beirren läβt, wird mit uns wohl zur
Überzeugung kommen, daβ die Vorstellungen, im Sinne der Akte, die als „bloβe“
Vorstellungen isoliert und zumal den Urteilen als spezifisch eigenartige Akte
gegenübergesetzt sind, in der Erkenntnis keine so beherrschende Rolle spielen, wie man
anzunehmen pflegt, und daβ, was man ihnen aufbürdet — nämlich in allen Akten die
intentionale Gegenständlichkeit vorstellig zu machen — durch unselbständige
Erlebnisse besorgt wird, die zu allen Akten notwendig gehören, weil sie als abstrakte
Momente zu ihrem intentionalen Wesen gehören. Die Gegenseite läβt sich im stillen
immer wieder durch folgendes Argument bestechen: Damit ein intentionaler Charakter
sich auf ein Gegenständliches beziehen könne, muβ dieses uns vorstellig werden. Wie
kann ich einen Sachverhalt für wahr halten, wünschen, bezweifeln u. dgl., wenn ich ihn
gar nicht vorstelle? Das Vorstelligmachende ist eben die zugrunde liegende Vorstellung.
Daran ist sachlich nichts auszusetzen; was hier gesagt wird, ist vollkommen wahr; nur
13
ist es kein Einwand gegen unsere Auffassung. Gewiβ wohnt jedem intentionalen
Erlebnis eine Komponente oder Seite ein, die das Vorstelligwerden der Sache besorgt.
Aber eine Komponente, die selbst ein ganzer Akt ist — das ist eben die Frage. Und vor
allem ist es die Frage mit Beziehung auf den uns besonders interessierenden Fall des
Urteils und der ihm als VorsteIlung des geurteilten Sachverhalts innewohnenden
Komponente. Uns Schien es sich als unabweisbar aufzudrängen, daβ diese Komponente
hinsichtlich des Wesensmomentes, das in ihr das „Vorstellen“ von dem Sachverhalte
besorgt, von einer wesentlich anderen Gattung sein müsse als die Charaktere, die wir
sonst als Aktqualitäten bezeichnen, mit anderen Worten, als die bekannten Charaktere,
denen es die vorgestellte Sache verdankt, daβ sie beurteilte, gewünschte sei usw. Zu
diesen Charakteren rechnen wir auch den jenes „bloβen“ Vorstellens, von dem oben die
Rede war, nicht aber das identisch verbleibende Moment des „Inhalte“ oder der Materie,
mag sie, bzw. die ganze zugrunde liegende Aktkomponente auch Vorstellung oder
Vorstellen genannt werden. (II/1, V, cap. 3, §31, p. 454-455).
Nota 78:
Dürfen wir die Ergebnisse des letzten Kapitels für gesichert erachten, so wäre ein
doppelter Begriff von Vorstellung zu unterscheiden. Vorstellung in dem ersten Sinne ist
ein Akt (bzw. eine eigenartige Aktqualität) so gut wie Urteil, Wunsch, Frage usw.
Beispiele für diesen Begriff bieten all die Fälle, wo vereinzelte Worte oder ganze Sätze
auβerhalb ihrer normalen Funktion bloβ verstanden werden: wir verstehen Aussage-,
Frage-, Wunschsätze, ohne selbst zu urteilen, zu fragen, zu wünschen. Desgleichen
jedes nichtausdrückliche „bloβe Vorschwebenhaben“ von Gedanken, ohne jedwede
„Stellungnahme“, ebenso jedes „bloβe“ Phantasieren usw. In dem anderen Sinn wäre
Vorstellung kein Akt, sondern die Aktmaterie, welche die eine Seite des intentionalen
Wesens in jedem vollständigen Akte ausmacht, oder, konkreter gefaβt, diese Materie im
Verein mit den übrigen Momenten, deren sie zu ihrer vollen Konkretion bedarf — das,
was wir später Repräsentation nennen werden. Diese „Vorstellung“ liegt, wie jedem
Akte, so auch dem Akte des Vorstellens (nach dem ersten Sinn) zugrunde. Tut sie das,
so ist die Materie, die als identische in verschiedenartigen Akten fungieren kann, mit
einer eigenartigen Aktqualität „Vorstellen“ gegeben, in einer eigentümlichen „Weise
des Bewuβtseins“. (II/1, V, cap. 4, §32, p. 456-457).
Nota 79:
Doch hier mahnt uns ein Bedenken zur Vorsicht. Gibt es nur eine Weise, „Vorstellung“
als Akt zu deuten? Läβt der fragliche Satz nicht vielleicht andere Interpretationen zu,
die von unseren Einwänden unberührt bleiben? In diesem Falle wäre unsere Darstellung
zwar ganz zutreffend mit Beziehung auf jenen Begriff des Vorstellens, den sie, den
gewöhnlichen Erläuterungen des Wortes folgend, voraussetzte; nicht aber mit
Beziehung auf andere Vorstellungsbegriffe und die dadurch zu erzielenden neuen
Interpretationen des mehrsinnig schillernden Satzes. (II/1, V, cap. 4, §32, p. 458).
Nota 80:
Legt man den geändorton Vorstellungsbegriff zugrunde und läβt dann, wie wir oben
schon erwähnt haben, auch den Anspruch fallen, daβ die Vorstellung als fundierender
Akt die ganze Materie des fundierten umspanne, so scheint der vorhin abgelehnte Satz,
daβ jeder Akt, der nicht selbst eine Vorstellung sei, in einer Vorstellung fundiert sein
müsse, wirklich einen wertvollen Inhalt zu gewinnen — den wir sehr wohl als Evidenz
in Anspruch nehmen dürfen. Genauer müβten wir ihn jetzt freilich so formulieren: Jeder
Akt ist entweder selbst eine Vorstellung, oder er ist in einer oder mehreren
14
Vorstellungen fundiert. Beispiele, für welche die erste Hälfte des Satzes zutrifft, liefern
eingliedrige (einstrahlige) Akte der Wahrnehmung, der Erinnerung oder Erwartung, der
Einbildung u. dgl. Das wären nun die „bloβen“ Vorstellungen. Beispiele zur zweiten
Hälfte des Satzes bieten die Urteile (Prädikationen), sowie die ihnen als Gegenbilder
entsprechenden bloβen Vorstellungen nach dem früheren Wortsinne. Ein Urteil hat
mindestens eine Vorstellung zur Grundlage, sowie jede voll ausgesprochene Aussage
mindestens einen „Namen“ enthält. (II/1, V, cap. 4, §33, p. 461).
Nota 81:
Wenn man, wie es gewöhnlich geschieht, Namen als Ausdrücke von Vorstellungen
bezeichnet, so ist hierbei der jetzige Begriff der Vorstellung wesentlich in Frage.
Jedenfalls bilden alle nominal ausdrückbaren „Vorstellungen“ eine Einheit, die wir
zunächst in Augenschein nehmen wollen. Der verschiedene Sinn der Rede von
Ausdrücken bringt es allerdings mit sich, daβ hierbei unter Vorstellung ebensowohl die
nominalen Bedeutungsintantionen, als auch die entsprechenden Bedeutungserfüllungen
gemeint seiu können. Aber die einen und anderen, die unanschaulichen und
anschaulichen Akte fallen hier gleichmäβig unter den abgesteckten Vorstellungsbegriff.
Unter Namen dürfen wir nicht bloβe Hauptwörter verstehen, die ja für sich allein keinen
vollen Akt ausprügen. Wollen wir klar erfassen, was hier Namen sind und bedeuten, so
tun wir am besten, auf Zusammenhänge hinzublicken, zumal auf Aussagen, in welchen
Namen in normaler Bedeutung fungieren. Hier sehen wir nun, daβ Wörter oder
Wortkomplexionen, die als Namen gelten sollen, nur dann einen abgeschlossenen Akt
ausdrücken, wenn sie entweder ein komplettes einfältiges Aussagesubjekt darstellen
(wobei sie einen kompletten Subjektsakt ausdrücken) oder, von syntaktischen
Formungen abgesehen, ohne Änderung ihres intentionalen Wesens die einfältige
Subjektfunktion in einer Aussage ausfüllen können. Demgemaβ macht nicht das bloβe
Hauptwort, auch nicht zusammen mit dem eventuell begleitenden Adjektiv — oder
Relativsatz, einen vollen Namen; vielmehr müssen wir den bestimmten oder
unbestimmten Artikel, der eina sehr wichtige Bedeutungsfunktion trägt, noch
hinzunehmen. Das Pferd; ein Blütenstrauβ; ein Haus, welches aus Sandstein gebaut ist;
die Eröffnung des Reichstages — aber auch Ausdrücke, wie daβ der Reichstag eröffnet
ist, sind Namen. (II/1, V, cap. 4, §34, p. 462-463).
Notas 84:
In all diesen Fällen ist uns der Sachverhalt — nicht etwa das Urteil — in einem anderen
Sinne gegenständlich, und demgemäβ auch geänderten Bedeutungen vorstellig, als in
dem Urteil, dessen volles objektives Korrelat er bildet; und er ist dann offenbar
gegenständlich in einem ähnlichen Sinne, wie das Ding, auf das wir in der
Wahrnehmung oder Phantasie oder Bildbeschauung in Einem Blickstrahl hinblicken —
obschon ein Sachverhalt kein Ding ist und überhaupt nichts ist, das sich im eigentlichen
und engeren Sinne wahrnehmen, einbilden und abbilden lieβe. (II/1, V, cap. 4, §33, p.
460).
Nota 85:
Mit Beziehung auf die als Subjekte fungierenden Sätze sagte ich oben in Paranthese,
daβ sie nicht etwa Vorstellungen von Urteilen, sondern von den entsprechenden
Sachverhalten seien. Dies ist wohl zu boachten. Urteile, als konkrete Erlebnisse, sind
natürlich so gut wie Dinge Gegenstände möglicher Wahrnehmung, Einbildung und
eventuell einer, wenn auch nicht physischen Abbildung. Sie können dann auch als
Subjektgegenstände in Urteilen fungieren. Dies ist der Fall der Urteile über Urteile. In
15
ihrem Ausdruck wird, wenn die beurteilten Urteile nicht bloβ indirekt bezeichnet sind
(wie z. B. als dies, dein Urteil), ein Satz an dor Subjektstelle stehen. Aber nicht immer,
wo ein Satz an solcher Stelle steht, hat er, wie hier, auch die Funktion, ein Urteil zu
nennen. Über ein Urteil urteilen, ist ja ein anderes, als über einen Sachverhalt urteilen;
und demgemäβ ist es auch ein anderes, ein Urteil, und wieder ein anderes, einen
Sachverhalt subjektivisch vorzustellen, bzw. zu nennen. Wenn ich z. B. sage, daβ S p
ist, ist erfreulich, so meine ich doch nicht, es sei das Urteil erfreulich. Es ist dabei auch
gleichgültig, ob man unter Urteil den singulären Akt oder den Satz, das Urteil im
spezifischen Sinne, meint. Erfreulich ist vielmehr dies, daβ es sich so verhält, der
objektive SachverhaIt, die Tatsache. (II/1, V, cap. 4, §33, p. 460-461).
Nota 86:
In der Sphäre der hierher gehörigen anschaulichen Vorstellungen, die nicht selbst
nominal fungieren, aber den logischen Beruf haben, nominale Bedeutungsintentionen zu
erfüllen, sind setzende Akte: die sinnliche, sich das Gegenständliche in Einem Strahl
setzender Meinung zueignende Wahrnehmung, Erinnerung und Erwartung.
Nichtsetzend ist die antsprechende anomale, weil ihrer Seinswertung beraubte
Wahrnehmung, z. B. die vou aller Stellungnahme zur Wirklichkeit des Erscheinenden
freigehaltene Illusion, und ebenso jeder FalI einer bloβen Phantasie. (II/1, V, cap. 4,
§34, p. 465).
Nota 87:
Sehen wir vorläufig also von den Fällen ab, wo seheinbar volle Aussagen im Subjekte
stehen, so kommen für uns Namen in Betracht, wie der Prinx Heinrich, die
Rolandstatue auf dem Markte, der vorübereilende Postbote usw. Wer diese Namen in
wahrhaftiger Rede und in normalem Sinne gebraucht, „weiβ“, daβ Prinz Heinrich eine
wirkliche Person und kein Fabelwesen ist, daβ auf dem Markte eine Rolandstatue steht,
daβ der Postbote vorübereilt. Ja noch mehr. Sicherlich stehen ihm die genannten
Gegenstände anders vor Augen als eingebildete, und sie erscheinen ihm nicht nur als
seiende, er drückt sie auch als solche aus. Gleichwohl prädiziert er im nennenden Akte
nichts von alledem; ausnahmsweise mag er das Sein mindestens attributiv ausdrüken,
nämlich in der Form das wirklich existierende S (wie er in gegensätzlichen Fällen
vielleicht sagt: das vermeintliche S, das eingebildete S u. dgl.). Aber die Setzung ist
auch in dem grammatisch bereicherten Namen (ob er nicht eine wesentliche
Sinnesmodifikation statt einer bloβen Sinneserweiterung erfahren hat, bleibe
dahingestellt) durch dasjenige Moment des Aktes vollzogen, das im bestimmten Artikel
ausgedrückt ist, und nur die Materie ist geändert. Jedenfalls ist auch dann nicht
ausgesagt, daβ S existiert, sondern das S (in seiner eventuellen Sinnesmodifikation) ist
attributiv als wirklich existierendes vorgestellt, zudem gesetzt und daher in der Form
das wirkclich existierende S genannt; und Nennen ist dem Sinne nach auch hier nicht
identisch mit Aussagen. Gibt man dies zu, so haben wir zweierlei Namen, bzw.
nominale Akte zu unterscheiden, soIche, die dem Genannten den Wert eines Seienden
zuerteilen, und solche, die es nicht tun. Ein Beispiel für die letzteren, falls es überhaupt
eines solchen bedarf, bietet uns die nominale Materie einer jeden Existenzialerwägung,
die wirklich ohne jede Seins-Stellungnahme anhebt. (II/1, V, cap. 4, §34, p. 464).
Nota 89:
Wir treten beim Übergang vom setzenden zum modifizierten Akt nicht in eine
heterogene Klasse ein, so wie etwa beim Übergang von irgendeinem nominalen Akte zu
einem Begehren oder Wollen. (II/1, V, cap. 5, §38, p. 480).
16
Nota 90:
Die Urteile als setzende propositionale Akte haben also ihre Korrelate in bloßen
Vorstellungen als nichtsetzenden propositionalen Akten. Beiderseits sind die
korrespondierenden Akte von derselben Materie, aber von verschiedener Qualität. So
wie wir nun bei den nominalen Akten die setzenden und nichtsetzenden zu einer
Qualitätsgattung rechnen, so auch bei den propositionalen Akten die Urteile und ihre
modifizierten Gegenstücke. Die qualitativen Unterschiede sind beiderseits dieselben
und sind nicht in Anspruch zu nehmen als Unterschiede oberer Qualitätsgattungen. (II,
V, cap. 5, §38, p.480).
Nota 91:
Vielmehr sehen wir mit voller Klarheit, daβ zwischen Sätzen, die als Namen von
Sachverhalten fungieren, und zwischen den entsprechenden Aussagen von gleichem
Sachverhalte hinsichtlich des intentionalen Wesens ein Unterschied besteht, der nur
durch idealgesetzliche Beziehungen vermittelt ist. Niemals kann eine Aussage als
Name, oder kann ein Name als Aussage fungieren, ohne seine wesentliche Natur zu
ändern, d. h. ohne Änderung seines bedeutungsmäβigen Wesens und mit ihm der
Bedeutung selbst. (II/1, V, cap. 4, §36, p. 474-475).
Nota 92:
Wir müssen bedenken, daβ das intentionale Wesen sich aus den beiden Seiten Materie
und Qualität aufbaut, und daβ die Unterscheidung von „Grundklassenn“ der Akte sich,
wie ohne weiteres klar ist, nur auf die Aktqualitäten bezieht. Wir müssen weiter
bedenken, daβ aus unseren Darlegungen nicht einmal soviel hervorgeht, daβ nominale
und propositionale Akte überhaupt von verschiedener Qualität, geschweige denn von
verschiedener Qualitätsgattung sein müβten. (II/1, V, cap. 5, §37, p. 477).
Nota 93:
Andererseits werden es die folgenden Betrachtungen klar machen, daß in Ansehung der
Qualitäten zwischen nominalen und propositionalen Akten Gattungsgemeinschaft
besteht, und damit zugleich werden wir zur Abgrenzung eines abermals neuen,
gegenüber dem zuletzt betrachteten weiteren und noch bedeutsameren
Vorstellungsbegriffes gelangen, durch welchen auch der Satz von der Gründung jedes
Aktes in Vorstellungen eine neue und besonders wichtige Interpretation erfahren wird.
(II/1, V, cap. 5, §37, p. 479).
Nota 94:
Unser Ergebnis lautet, daβ „Vorstellung“ und „Urteil“ wesensverschiedene Akte sind.
Darin ist — die Vieldeutigkeit der Worte verlangt immer wieder den Rekurs auf die
gerade maβgebenden Begriffe — von „Vorstellung“ die Rede im Sinne des nominalen
Aktes, und von „Urteil“ im Sinne der Aussage, und zwar des Vollzugs der normalen, in
sich geschlossenen Aussage. Nennen und Aussagen sind also nicht „bloβ grammatisch“
verschieden, sondem „wesensverschieden“, und dies wiederum heiβt, daβ die
beiderseitigen, sei es bedeutungverleihenden, sei es bedeutungerfüllenden Akte nach
ihrem intentionalen Wesen und in diesem Sinn als Aktarten verschieden sind. (II/1, V,
cap. 5, §37, p. 477).
17
Nota 95:
Wir müssen weiter bedenken, daβ aus unseren Darlegungen nicht einmal soviel
hervorgeht, daβ nominale und propositionale Akte überhaupt von verschiedener
Qualität, geschweige denn von verschiedener Qualitätsgattung sein müβten. (II/1, V,
cap. 5, §37, p. 477); Darnach grenzt sich eine umfassende Gattung intentionaler
Erlebnisse ab, welche all die betrachteten Akte nach ihrem qualitativen Wesen
zusammenbefaßt und den weitesten Begriff bestimmt, den der Terminus Vorstellung
innerhalb der Gesamtklasse der intentionalen Erlebnisse bedeuten kann. Wir selbst
Wollen diese qualitativ einheitliche und in ihrer natürlichen Weite genommene Gattung
als die der objektivierenden Akte bezeischnen. (II/1, V, cap. 5, §38, p. 481).
Nota 99:
(...) die Freude über ein glückliches Ereignis sicherlich ein Akt. Aber dieser Akt, der ja
nicht ein bloßer intentionaler Charakter, sondern ein konkretes und eo ipso komplexes
Erlebnis ist, befaßt in seiner Einheit nicht nur die Vorstellung des freudigen Ereignisses
und den darauf bezogenen Aktcharakter des Gefallens; sondern an die Vorstellung
knüpft sich eine Lustempfindung, die einerseits als Gefühlserregung des fühlenden
psychophysischen Subjekts und andererseits als objektive Eigenschaft aufgefaßt und
lokalisiert wird: das Ereignis erscheint als wie von einem rosigen Schimmer umflossen.
(II/1, V, cap. 2, §15b, p. 394).
Nota 101:
Die reproduzierende Vortellung ist auch außer dieser reproduktiven Funktion möglich.
Aber ein Gefallen ist ohne Gefälliges nicht denkbar. Und nicht etwa bloß darum ist
Gefallen ohne Gefälliges nicht denkbar, weil wir es hier mit korrelativen Ausdrücken zu
tun haben; also derart, wie wir z. B. sagen, eine Ursache obne Wirkung, ein Vater ohne
Kind sei nicht denkbar: sondern weil das spezifische Wesen dos Gefallens die
Beziehung auf ein Gefallendes fordert. Genau so ist das Moment der Überzeugung a
priori undenkbar, es sei denn als Überzeugung von etwas. Wieder ebenso kein
Begehren (dem spezifischen Charakter nach) ohne Begehrtes, kein Zustimmen oder
Billigen ohne etwas, dem die Zustimmung, Billigung gilt usw. All das sind Intentionen,
echte Akte in unserem Sinn. Sie alle „verdanken“ ihre intentionale Beziehung gewissen
ihnen unterliegenden Vorstellungen. Aber im Sinn der Rede vom Verdanken liegt ja
ganz richtig, daß sie selbst nun auch das haben, was sie den anderen: verdanken. (II/1,
V, cap. 2, §15a, p. 390).
Nota 102:
Ist jeder nicht selbst schon (bzw. nicht rein) objektivierende Akt in objektivierenden
Akten fundiert, so muß er selbstverständlich zuletzt auch in nominalen Akten fundiert
sein. (II/1, V, cap. 5, §43, p. 498).
Nota 103:
Jeder zusammengesetzte Akt ist ferner ein fundierter Akt; seine Gesamtqualität ist nicht
eine bloße Summe der Qualitäten der Teilakte, sondern eben eine Qualität, deren
Einheit in diesen aufbauenden Qualitäten fundiert ist, ebenso wie die Einheit der
Gesamtmaterie nicht eine bloße Summe der Materien der Teilakte ist, sondern, wofern
eine Verteilung der Materie nach den Teilakten überhaupt statthat, in den Teilmaterien
fundiert ist. (II/1, V, cap. 5, §42, p. 495).
18
Nota 104:
Wir haben gewissermaßen primäre und sekundäre Intentionen zu unterscheiden, von
welchen die letzteren ihre Intentionalität nur der Fundierung durch die ersteren
verdanken. Ob im übrigen die primären, objektivierenden Akte den Charakter der
setzenden (fürwahrhaltenden, glaubenden) oder nichtsetzenden („bloß vorstellenden“,
neutralen) haben, ist für diese Funktion gleichgültig. Manche sekundäre Akte verlangen
durchaus Fürwahrhaltungen, wie z. B. Freude und Trauer; für andere genügen bloße
Modifikationen, wie z. B. für den Wunsch, für das ästhetische Gefühl. Sehr oft ist der
unterliegende objektivierende Akt eine Komplexion, welche Akte von beiderlei Art in
sich faßt. (II/1, V, cap. 5, §41, p. 494).
Nota 105:
Es handelt sich also um die Beantwortung der Frage nach dem Ursprung des Begriffes
Bedeutung und seiner wesentlichen Abartungen, bzw. um eine tiefer und weiter
dringende Beantwortung dieser Frage, als sie unsere bisherigen Untersuchungen
dargeboten haben. (II/1, V, p. 343).
Nota 107:
Die in den letzten Kapiteln durchgeführten Untersuchungen, sich anschließend an die
Unterscheidung von Aktqualität und Aktmaterie innerhalb des einheitlichen
intentionalen Wesens, führten abermals tief in die logische Interessensphäre hinein. Die
sich aufdrängende Frage nach dem Verhältnis dieser intentionalen Materie zu der jedem
Akte wesentlichen Vorstellungsgrundlage zwang uns, mehrere wichtige und allzeit
vermengte Begriffe von Vorstellung zu sondern, womit zugleich ein Fundamentalstück
der „Urteilstheorie“ herausgearbeitet wurde, Allerdings blieben dabei die spezifisch
logischen Begriffe von Vorstellung und der Begriff das Urteils ohne abschließende
Klärung. Hier und überhaupt ist noch ein großes Stück Weges vor uns. Wir stehen
immer noch in den Anfängen. Selbst das näherliegende Ziel, den Ursprung der ldee
Bedeutung klarzulegen, haben wir noch nicht zu erreichen vermocht. Unverkennbar
liegt, und das ist eine wertvolle Einsicht, die Bedeutung der Ausdrücke im intentionalen
Wesen der betreffenden Akte; aber die Frage, was für Arten von Akten zur
Bedeutungsfunktion überbaupt befähigt, oder ob nicht vielmehr Akte jederlei Art in
dieser Hinsicht gleichgestellt sind, ist noch garnicht erwogen. (II/2, VI, p. 2-3).
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo