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ÉRICA PEREIRA DE CAMPOS
FENOLOGIA E CHUVA DE SEMENTES EM FLORESTA ESTACIONAL
SEMIDECIDUAL NO MUNICÍPIO DE VIÇOSA, MINAS GERAIS, BRASIL
Tese apresentada à Universidade
Federal de Viçosa, como parte das
exigências do Programa de Pós-
Graduação em Botânica, para
obtenção do título de Doctor
Scientiae.
VIÇOSA
MINAS GERAIS – BRASIL
2007
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Ficha catalográfica preparada pela Seção de Catalogação e
Classificação da Biblioteca Central da UFV
T
Campos, Érica Pereira de, 1974-
C198f Fenologia e chuva de sementes em Floresta
Estacional
2007 Semidecidual no município de Viçosa, Minas Gerais,
Brasil / Érica Pereira de Campos. – Viçosa, MG , 2007.
xii, 50f. : il. ; 29cm.
Orientador: Milene Faria Vieira.
Tese (doutorado) - Universidade Federal de
Viçosa.
inclui bibliografia..
1. Botânica. 2. Fenologia vegetal. 3. Sementes -
Dispersão. 4. Ecologia vegetal. 5. Comunidades vegetais -
Viçosa. (MG). I. Universidade Federal de Viçosa.
II.Título.
CDD 22.ed. 580
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ii
Este trabalho é dedicado ao professor Alexandre Francisco da Silva (in memoriam).
iii
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela vida.
Aos meus pais, pelo amor, dedicação e incentivo, sempre.
À professora Milene, pela orientação e atenção tanto como orientadora e
antes como conselheira e pelo grande apoio dado num momento difícil ocorrido
durante o curso.
Ao professor Alexandre Francisco da Silva (in memoriam), pela orientação,
aprendizado e amizade.
Aos professores Sebastião Venâncio Martins, Flávia Maria da Silva Carmo e
João Augusto Alves Meira Neto pela ajuda e sugestões.
Ao Márcio, funcionário da Silvicultura, meu “braço direito” e ao Alan,
funcionário do horto, pela ajuda nos trabalhos de campo.
Aos estagiários Vitor e Acauã, pela ajuda no campo e desenvolvimento do
trabalho.
À Universidade Federal de Viçosa, pela oportunidade de realização da tese e
à CAPES, pelo auxílio financeiro.
Ao Walnir e ao Luciano, pela disponibilidade em ajudar com os programas de
computador.
Aos funcionários do Departamento de Biologia Vegetal, pela disponibilidade.
Aos professores do curso, pelo aprendizado.
iv
Aos colegas: Amada, Ana Lúcia, Andreza, Maria Luísa, Celice, Temilze,
Magnólia, David, Luzia, Virgínia, Saporetti, Maíra, João Carlos, Maíra, Michelia,
Pricila, Márcio e muitos outros, pela feliz convivência e apoio.
v
BIOGRAFIA
Érica Pereira de Campos, filha de Maria José Pereira Campos e Sebastião
Vieira Campos, nasceu em Além Paraíba, MG.
Ingressou no curso de Ciências Biológicas na Universidade Federal de Juiz de
Fora, Minas Gerais, em 1994, graduando-se no segundo semestre de 1997.
No ano 2000, iniciou o curso de Mestrado em Botânica na Universidade
Federal de Viçosa, concluindo em março de 2002.
Em março de 2003, ingressou na primeira turma do curso de Doutorado em
Botânica pela mesma instituição, concluindo em abril de 2007.
vi
ÍNDICE
Página
RESUMO ....................................................................................................
vii
ABSTRACT ................................................................................................
x
INTRODUÇÃO GERAL.............................................................................
1
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................
3
CAPÍTULO 1 ..............................................................................................
5
FENOLOGIA DE ESPÉCIES ARBÓREAS EM FLORESTA
ESTACIONAL SEMIDECIDUAL NO MUNICÍPIO DE VIÇOSA,
MINAS GERAIS, BRASIL .........................................................................
5
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................
5
2. MATERIAL E MÉTODOS......................................................................
8
2.1. Área de estudo...................................................................................
8
2.2. Fenologia ..........................................................................................
9
3. RESULTADOS .......................................................................................
12
3.1. Caracterização geral do comportamento fenológico...........................
12
3.2. Correlações entre as variáveis fenológicas e as climáticas..................
15
3.3. Padrões fenológicos...........................................................................
16
4. DISCUSSÃO...........................................................................................
21
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................
27
vii
Página
CAPÍTULO 2 ..............................................................................................
32
CHUVA DE SEMENTES EM FLORESTA ESTACIONAL
SEMIDECIDUAL NO MUNICÍPIO DE VIÇOSA, MINAS GERAIS,
BRASIL ......................................................................................................
32
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................
32
2. MATERIAL E MÉTODOS......................................................................
34
2.1. Área de estudo...................................................................................
34
2.2. Chuva de sementes............................................................................
35
3. RESULTADOS .......................................................................................
37
4. DISCUSSÃO...........................................................................................
42
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................
46
CONCLUSÕES GERAIS ............................................................................
49
viii
RESUMO
CAMPOS, Érica Pereira de, D.Sc., Universidade Federal de Viçosa, abril de 2007.
Fenologia e chuva de sementes em Floresta Estacional Semidecidual no
município de Viçosa, Minas Gerais, Brasil. Orientadora: Milene Faria Vieira.
Co-Orientadores: Flávia Maria da Silva Carmo e Sebastião Venâncio Martins
O presente estudo foi dividido em dois capítulos. No primeiro, objetivou-se
estudar a fenologia de 20 espécies arbóreas e responder às seguintes questões: (1)
Qual o grau de sazonalidade na produção de flores, de frutos, da queda e do
brotamento foliar? (2) Existe sincronia de floração e frutificação intra e
interespecífica? (3) Qual é a influência das condições climáticas nos ciclos
fenológicos? (4) A produção de diásporos, zoocóricos e anemocóricos, estaria
relacionada à estacionalidade climática? (5) O comportamento fenológico das
espécies estudadas estaria favorecendo a sua abundância na área de estudo? Os
estudos foram realizados por dois anos consecutivos, de dezembro de 2004 a
novembro de 2006 e as espécies selecionadas representaram a comunidade arbórea
local, pois totalizaram 81,25% da densidade relativa e 75,65% do valor de
importância para o trecho do fragmento estudado, uma Floresta Estacional
Semidecidual, em Viçosa (20
0
45’ S e 42
0
55’ W), Minas Gerais, situada do campus
da Universidade Federal de Viçosa, com 81 anos de regeneração. As observações
fenológicas foram realizadas mensalmente e para cada espécie foram acompanhados
10 indivíduos adultos, totalizando 200 indivíduos. Das 20 espécies avaliadas,
ix
Piptadenia gonoacantha e Chrysophyllum gonocarpum o floresceram e nem
apresentaram queda e brotamento foliar definidos. A floração das demais espécies,
em conjunto, foi contínua. A floração da maioria das espécies foi anual; Protium
warmingianum, Siparuna guianensis, Plinia glomerata e Dalbergia nigra
floresceram na estação seca e as demais na chuvosa. Das 18 espécies que
floresceram, quatro não frutificaram: Casearia decandra, C. ulmifolia,
Anadenanthera peregrina e Myrciaria axilaris. Houve predomínio de espécies com
diásporos zoocóricos (65%) e a zoocoria foi observada em espécies com graus de
deciduidade variados, ao passo que a anemocoria predominou em espécies decíduas
ou semidecíduas. A fenologia vegetativa mostrou sazonalidade bem marcada; todas
as espécies que apresentaram comportamento decíduo ou semidecíduo, a queda foliar
se concentrou durante a estação seca. Registraram-se correlações significativas entre
as fenofases e as variáveis climáticas. Nos dois anos de estudo, registrou-se
estabilidade no comportamento fenológico de Rollinia sylvatica, Trichilia pallida,
Siparuna guianensis, Brosimum glaziovii, Sorocea bonplandii, Plinia glomerata,
Coutarea hexandra, Allophylus edulis e Luehea grandiflora, demonstrando que estão
adaptadas às condições nas quais estão submetidas e que apresentam maiores
probabilidades de permanecerem no local de estudo. Por outro lado, espécies em
estádios iniciais de sucessão, tais como Piptadenia gonoacantha e Anadenanthera
peregrina pareceram apresentar limitações reprodutivas e provavelmente tendem a
sair do sistema. No segundo capítulo, objetivou-se avaliar, por meio da análise da
chuva de sementes, a composição florística e a densidade e a freqüência de sementes,
em 25 coletores, ao longo de um hectare, no mesmo fragmento de Floresta Estacional
Semidecidual, do capítulo anterior. Além disso, classificar os xons identificados
quanto à forma de vida, às síndromes de dispersão e, nas arbóreas, quanto ao estádio
sucessional e verificar a similaridade florística entre as espécies identificadas na
chuva de sementes e as espécies arbóreas localizadas nas mesmas parcelas dos
coletores. O trabalho foi realizado no mesmo período, ou seja, de dezembro de 2004
a novembro de 2006. Mensalmente, todo o material depositado nos coletores, foi
recolhido para a identificação e separação dos diásporos e a contagem das sementes.
Foram reconhecidos 43 táxons, 30 ao nível específico, cinco ao nível genérico, três
ao nível de família e cinco permaneceram indeterminados. Foram identificadas 17
famílias; Leguminosae foi representada por 11 espécies. A forma de vida dominante
foi arbórea (63,1%), das quais 70,8% foram classificadas como secundárias iniciais,
x
20,8% como secundárias tardias e 8,4% como pioneiras. As lianas foram
representadas por 28,9% das espécies amostradas, as herbáceas por 5,3% e as
arbustivas por 2,6%. Nos dois anos de estudo, foram contabilizadas 16.986 sementes,
712 no primeiro ano e 16.274 no segundo. A densidade média de sementes no
primeiro ano foi de 113,92 sementes/m
2
e no segundo de 2.603,84 sementes/m
2
.
Essas diferenças demonstraram heterogeneidade espacial e temporal da chuva de
sementes. A similaridade florística encontrada pelo índice de Sorensen entre as
espécies da chuva de sementes e as espécies arbóreas do trecho do fragmento
estudado foi de 32%, valor considerado baixo (< 50%). Esse resultado mostrou que a
composição da vegetação arbórea adjacente pouco influenciou na chuva de sementes.
xi
ABSTRACT
CAMPOS, Érica Pereira de, D.Sc., Universidade Federal de Viçosa, April 2007.
Phenology and seed rain in Semidecidual Seasonal Forest in Viçosa, Minas
Gerais, Brazil. Adviser: Milene Faria Vieira. Co-Advisers: Flávia Maria da Silva
Carmo e Sebastião Venâncio Martins
The present study was divided in two chapters. On the first it was aimed to
study the phenology of 20 arboreal species and to answer the following questions: (1)
Which is the seasonality degree in the production of flowers, fruits, falling and leaf
shooting? (2) Are there any flowering and fructification synchrony intra and
interespecific? (3) What is the influence of weather conditions on the phenological
cycles? (4) The production of diaspores, zoocorics and anemorics would be related to
climatic seasonality? (5) The phenological behavior of the studied species would be
favoring their abundance in the area of study? The studies were carried out for 2
consecutive years, from December 2004 to November 2006 and the selected species
represented the local arboreal community, because they totalized 81.25% of the
relative density and 75.65% of the significance value to the interval of the studied
fraction, a Semidecidual Seasonal Forest in Viçosa (20º45’S and 42º55’W), Minas
Gerais, located in the campus at the Universidade Federal de Viçosa and it has been
regenerated for 81 years. The phenological observations were done monthly and 10
adult individuals were followed for each species, totalling 200 individuals.
Piptadenia gonoacantha and Chrysophyllum gonocarpum neither flowered nor
xi
i
showed defined falling and leaf shooting. The flowering of the other species, as a
whole, was continuous. The flowering of most species was annual: Protium
warmingianum, Siparuna guianensis, Plinia glomerata and Dalberia nigra flowered
in the dry season and the others in the rainy season. Four out of the 18 species that
flowered, weren’t fruitful: Casearia decandra, C. ulmifolia, Anadenanthera
peregrina and Myrciaria axilaris. There was a predominance of the species with
zoocorics diaspores (65%) and zoochory was noted in species with varied deciduality
degree, while anemochory prevailed in decidual and semidecidual species. The
vegetative phenology showed a marked seasonality; all the species that showed
decidual or semidecidual behavior, the leaf falling was concentrated in the dry
season. Significant correlations among the phenophases and the climatic variables
were recorded. Within the two years of study, it was recorded the stability on the
phenologic behavior of Rollinia sylvatica, Trichilia pallida, Siparuna guianensis,
Brosimum glaziovii, Sorocea bonplandi, Plinia glomerata, Coutarea hexandra,
Allophylus edulis and Luehea grandiflora, showing that they are adapted to the
conditions in which they are submitted and that they showed higher probabilities to
remain in the local of the study. On the other hand, species in early succession phase
such as Piptadenia gonoacantha and Anadenanthera peregrina seemed to show
reproductive restraints and likely to leave the system. In the second chapter it was
aimed to evaluate, by analyzing the seed rain, the floristic composition and density
and frequency of seeds, in 25 traps along one hectare in the same fraction in the
Semidecidual Seasonal Forest of the previous chapter. Besides that, to classify the
identified taxons regarding to life form, syndromes of dispersion, and on the arboreal
regarding to the phase of succession and to verify floristic similarities among the
species identified in the seed rain and the arboreal seeds located in the same plots.
The work was carried out in the same year, that is, from December 2004 to
November 2006. Monthly, all the material placed in the traps, was harvested for
identification and separation of the diaspores and counting of the seeds. Forty three
taxons were recognized at the specific level, 5 at the generic level, 3 at the family
level and 5 were unsettled. Seventeen families were identified, Leguminosae was
represented by 11 species. The dominant life form was arboreal (63.1%) in which
70.8% were classified as early secondaries; 20.8% as late secondaries and 84% as
pioneers. Lianas were represented by 28.9% of the sampled species, herbaceous by
5.3% and shrubs by 2.6%. In the two years of study 16,986 seeds were counted, 712
xiii
in the first year and 16,274 in the second. The seed mean density in the first year
was 113.92 seeds / m
2
and 2.603,84 seeds / m
2
in the second year. Those differences
showed spatial and seasonal heterogeneity of a seed rain. The floristic similarity was
found by Sorensen index among the species in the seed rain and the arboreal species
from the studied interval was 32%, a value considered to be low (≤ 50%). This result
showed that the adjacent arboreal vegetation composition had a low influence on the
seed rain.
1
INTRODUÇÃO GERAL
A fenologia estuda a ocorrência de eventos biológicos repetitivos e sua
relação com os fatores bióticos (herbívoros, polinizadores e dispersores) e abióticos
(variações climáticas), buscando esclarecer a sazonalidade desses eventos (Morellato
et al. 1990). Newstrom et al. (1994) afirmaram que as fenofases brotação, floração e
frutificação, em plantas tropicais, são complexas, apresentando padrões irregulares e
de difícil reconhecimento, principalmente em estudos de curto prazo e sugerem
trabalhos complementares para melhor compreensão desses ciclos fenológicos.
Williams et al. (1999) estudaram a fenologia reprodutiva de espécies arbóreas
australianas e verificaram que a época, a duração e o grau de sincronismo entre as
fenofases têm importantes implicações na estrutura, função e regeneração da
comunidade e na quantidade e qualidade de recursos viáveis para os organismos
consumidores. De modo semelhante, estudos fenológicos em espécies arbóreas
florestais no Brasil m contribuído para o entendimento da reprodução das plantas,
da organização temporal dos recursos dentro das comunidades e das interações
planta-animal (Talora & Morellato 2000). No Brasil, entretanto, os estudos
fenológicos, em nível de comunidade, são escassos, destacando-se os realizados por
Morellato et al. (1989; 1990), Morellato & Leitão-Filho (1996), em florestas
semidecíduas no interior do estado de São Paulo e Machado et al. (1997) em área de
caatinga no estado de Pernambuco .
A chuva de sementes é definida como o padrão de queda de sementes no solo
resultante dos métodos ou síndromes de dispersão (Araújo 2002). É um elemento
2
chave na dinâmica florestal, pois tem o papel de formar o banco de sementes e de
plântulas, representando a fase inicial da organização e estrutura da comunidade
(Clark & Poulsen 2001).
Aspectos da chuva de sementes permitem avaliar as populações arbóreas que
podem se estabelecer após perturbações (Putz & Appanah 1987), fornecendo
importantes informações para a elaboração de estratégias de reflorestamento e
recuperação de áreas degradadas em florestas tropicais. O período de dispersão dos
diásporos depende diretamente da fenologia das espécies e, quase sempre, está
relacionado com as melhores condições para a liberação de sementes e para o
estabelecimento de plântulas (Rathcke & Lacey 1985).
No Brasil, dentre os trabalhos mais recentes sobre a chuva de sementes
destacam-se os seguintes: Penhalber & Mantovani (1997) em mata secundária no
estado de São Paulo, onde analisaram a floração e a chuva de sementes depositadas
em peneiras coletoras; Grombone-Guaratini & Rodrigues (2002) os quais estudaram
o banco de sementes e a chuva de sementes em Floresta Estacional Semidecidual em
São Paulo; Araújo et al. (2004), além do banco e da chuva de sementes, também
estudaram o banco de plântulas numa Floresta Estacional Decidual Ripária, no Rio
Grande do Sul e Melo et al. (2006) em Floresta Úmida Baixo Montana no estado de
Alagoas onde analisaram a chuva de sementes na borda e no interior da floresta;
complementando que todos os trabalhos foram realizados no domínio da Floresta
Atlântica.
O presente estudo teve como objetivos caracterizar os padrões fenológicos
reprodutivos e vegetativos de espécies arbóreas em um trecho de Floresta Estacional
Semidecidual na Zona da Mata de Minas Gerais; relacionar os padrões observados
com fatores climáticos, verificando se influência da sazonalidade; avaliar a
composição, a densidade, as síndromes de dispersão e a variação temporal e espacial
da chuva de sementes.
3
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Araújo, R. S. 2002. Chuva de sementes e deposição de serrapilheira em três
sistemas de revegetação de áreas degradadas na Reserva Biológica de Poço da
Antas, Silva Jardim, RJ. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro, Seropédica, RJ.
Araújo, M. M., Longhi, S. J., Barros, P. L. C. & Brena, D. A. 2004. Caracterização
da chuva de sementes, banco de sementesdo solo e banco de plântulas em Floreta
Estacional Decidual ripária Cachoeira do Sul, RS, Brasil. Scientia Forestalis 66:
128-141.
Clark, C. J. & Poulsen, J. R. 2001. The role of arboreal seed dispersal groups on the
seed rain of a Lowland Tropical Forest. Biotropica 33: 606-620.
Grombone-Guaratini, M. T. & Rodrigues, R. R. 2002. Seed bank and seed rain in a
seasonal semi-deciduous forest in south-easten Brazil. Journal of Tropical Ecology
18: 759-774.
Machado, I. C. S., Barros, L. M. & Sampaio, E. V. S. B. 1997. Phenology of
Caatinga Species at Serra Talhada, PE, Northeastern Brazil. Biotropica 29: 57-68.
Melo, F. P. L., Dirzo, R. & Tabarelli, M. 2006. Biased seed rain in forest edges:
Evidence from the Brazilian Atlantic Forest. Biological Conservation 132: 50-60.
Morellato, L. P. C.; Rodrigues, R. R.; Leitão Filho, H. F. & Joly, C. A. 1989. Estudo
fenológico comparativo de espécies arbóreas de floresta de altitude e floresta
mesófila semidecídua na Serra do Japi, Jundiaí, SP. Revista Brasileira de Botânica
12: 85-98.
Morellato, L. P. C.; Rodrigues, R. R.; Leitão Filho, H. F. & Joly, C. A. 1990.
Estratégias fenológicas de espécies arbóreas em floresta de altitude na Serra do Japi,
Jundiaí, São Paulo. Revista Brasileira de Biologia 50: 149-162.
4
Morellato, L. P. C.; Leitão-Filho, H. F. 1996. Reproductive phenology of climbers in
a Southeasthern Brazilian forest. Biotropica 28: 180-191.
Newstrom, L. E., Frankie, G. W. & Baker, H, G. 1994. A new classification for plant
phenology based on flowering patterns in lowland tropical rain forest trees in La
Selva, Costa Rica. Biotropica 26: 141-159.
Penhalber, E. F.; Mantovani, W. 1997. Floração e chuva de sementes em mata
secundária em São Paulo, SP. Revista Brasileira de Botânica 20: 205-220.
Putz, F. E. & Appanah, S. 1987. Buried seeds, newly dispersal seeds and the
dynamics of a Lowland Forest in Malaysia. Biotropica 19: 326-333.
Rathcke, B. & Lacey, E. P. 1985. Phenological patterns of terrestrial plants. Annual
Review of Ecology and Systematics 16: 179-214.
Talora, D. C. & Morellato, P. C. 2000. Fenologia de espécies arbóreas em floresta de
planície litorânea do sudeste do Brasil. Revista Brasileira de Botânica 23:13-26.
Williams, R. J.; Myers, B. A.; Eamus, D. & Duff, G. A. 1999. Reproductive
Phenology of Woody Species in a North Australian Tropical Savanna. Biotropica
31: 626-636.
5
CAPÍTULO 1
FENOLOGIA DE ESPÉCIES ARBÓREAS EM FLORESTA ESTACIONAL
SEMIDECIDUAL NO MUNICÍPIO DE VIÇOSA, MINAS GERAIS, BRASIL
1. INTRODUÇÃO
A fenologia estuda a ocorrência de eventos biológicos repetitivos e sua
relação com fatores bióticos (herbívoros, polinizadores e dispersores) e abióticos
(variações climáticas), buscando esclarecer a sazonalidade desses eventos (Morellato
et al. 1990).
O conhecimento sobre a sazonalidade das fenofases (foliação, floração e
frutificação) contribui para o entendimento da reprodução das plantas, da
organização temporal dos recursos dentro das comunidades e das interações planta-
animal (Talora & Morellato 2000). As florestas tropicais exibem uma ampla
variedade de padrões fenológicos (Morellato et al. 2000). Newstrom et al. (1994)
afirmaram que os ciclos fenológicos em plantas tropicais são complexos, apresentam
padrões irregulares, de difícil reconhecimento, principalmente em estudos de curto
prazo e sugerem trabalhos complementares para melhor compreensão desses ciclos.
A busca de padrões gerais apresenta obstáculos pela grande variedade de espécies
com comportamentos biológicos e histórias evolutivas diferentes (Williams-Linera &
Meave 2002).
6
Os ciclos fenológicos de uma espécie podem variar, se avaliados em
diferentes ecossistemas (Newstrom et al. 1994), e a floração e frutificação podem
variar entre populações, entre indivíduos e entre anos (Bencke & Morellato 2002).
Vários fatores m influenciado estas variações fenológicas (Bawa & Webb 1984,
Marquis 1988, Wright 1991), incluindo as condições climáticas, que regulam a
época, intensidade, duração e periodicidade das fenofases (Ferraz et al. 1999).
Williams et al. (1999) consideraram que a época, a duração e o grau de
sincronismo entre as várias fenofases têm importantes implicações na estrutura,
função e regeneração da comunidade e na quantidade e qualidade de recursos
disponíveis para os organismos consumidores. Por exemplo, a queda de folhas
resulta na modificação do microclima da floresta, assim como as épocas de brotação
de folhas e de produção de flores e de frutos podem controlar a atividade de muitos
herbívoros, polinizadores e frugívoros (Justiniano & Fredericksen 2000).
O conhecimento sobre a fenologia da frutificação é a base para estudos sobre
dispersão, pois refere-se à retirada ou liberação dos diásporos da planta mãe e o seu
deslocamento para outros sítios (Howe & Smallwood 1982). Esse deslocamento
aumenta as chances de recrutamento em locais propícios para o estabelecimento de
novos indivíduos e define padrões de distribuição espacial de plantas adultas
(Penhalber & Mantovani 1997).
No Brasil, os estudos fenológicos em comunidades florestais ainda são
escassos e alguns tipos de vegetação nunca foram estudados sob este aspecto. Na
Floresta Amazônica, existem os trabalhos de Araújo (1970), Alencar et al. (1979) e
Pires-O’Brien (1993). Em Pernambuco, a vegetação de caatinga foi estudada por
Machado et al. (1997). No Espírito Santo, Jackson (1978) estudou em floresta úmida
não costeira. Em São Paulo, os estudos de fenologia foram realizados por Morellato
et al. (1989; 1990), Morellato & Leitão-Filho (1990; 1992; 1996) e Morellato (1995),
todos em florestas semidecíduas no interior do estado, e por Spina et al. (2001), em
Floresta de Brejo. Todos estes estudos têm mostrado padrões fenológicos sazonais,
acompanhando a estacionalidade climática.
Estudos fenológicos em fragmentos florestais do município de Viçosa, local
do presente estudo e situado na Zona da Mata de Minas Gerais, são escassos,
restringindo-se aos trabalhos de Marangon (1988) e de Lopes (2005). O primeiro
autor analisou a fenologia de algumas espécies arbóreas nativas e o segundo analisou
a fenologia de espécies de Bignoniaceae, incluindo as arbóreas ocorrentes no maior
7
fragmento do município. A vegetação de Viçosa está inserida na formação
vegetacional da Floresta Estacional Semidecidual (Veloso et al. 1991), caracterizada
por florestas fisionomicamente variáveis e em diferentes estádios sucessionais,
constituídas por elementos arbóreos perenifólios ou decíduos (Gasparini Júnior
2004). As famílias mais comumente encontradas nessas florestas são Leguminosae,
Myrtaceae, Lauraceae, Flacourtiacae, Rubiaceae e Annonaceae (Almeida & Souza
1997, Meira Neto & Martins 2000, Silva et al. 2000, Gasparini Júnior 2004, Campos
2006).
No trecho do fragmento estudado destacam-se 20 espécies arbóreas
(Tabela1), dentre as principais identificadas em um levantamento fitossociológico
realizado por Gasparini Júnior (2004). Essas espécies representam a comunidade
arbórea local, pois totalizam 81,25% da densidade relativa e 75,65% do valor de
importância (Gasparini Júnior 2004).
Os objetivos deste estudo foram estudar a fenologia de 20 espécies arbóreas e
responder às seguintes perguntas: (1) Qual o grau de sazonalidade na produção de
flores, frutos, da queda e do brotamento de folhas? (2) Existe sincronia de floração e
frutificação intra e interespecífica? (3) Qual é a influência das condições climáticas
nos ciclos fenológicos? (4) A produção de diásporos zoocóricos e anemocóricos está
relacionada à estacionalidade climática? (5) O comportamento fenológico das
espécies estudadas estaria favorecendo a sua atual representatividade na área de
estudo?
8
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Área de estudo
O estudo foi realizado em um hectare previamente marcado, constituído por
um bloco único, subdividido em 100 parcelas de 10 x 10m, onde foram
desenvolvidos estudos fitossociológicos por Silva et al. (2000), Paula et al. (2002) e
Gasparini Júnior (2004). Este se situa no campus da Universidade Federal de Viçosa
(UFV), no município de Viçosa, Zona da Mata Mineira, em um fragmento florestal
conhecido como “Reserva da Biologia”, que é permanentemente protegido,
possuindo área aproximada de 75 ha. Viçosa situa-se nas coordenadas 20
0
45’S e
42
0
55’W, no sudeste do Estado de Minas Gerais, em região caracteristicamente
montanhosa, de topografia acidentada, com vales estreitos e úmidos.
No ano de 1922, a floresta do local de estudo, foi totalmente erradicada para a
implantação de um cafezal. Com a fundação da Escola Superior de Agricultura e
Veterinária (ESAV), em 1926, a cultura foi abandonada e a área passou a fazer parte
do campus, permanecendo sob processo de regeneração natural até os dias atuais. O
trecho de floresta onde foi estabelecida a amostragem localiza-se na encosta de uma
elevação que varia de 725 a 745 m de altitude, com declividade de até 45
0
e sua face
de exposição solar é oeste-sudoeste. De acordo com Veloso et al. (1991), a vegetação
é classificada como Floresta Estacional Semidecidual Montana, caracterizada pela
mistura de espécies caducifólias e perenifólias, estabelecidas acima de 500 m de
altitude.
9
O clima é do tipo Cw
a
, mesotérmico úmido com verões chuvosos e invernos
secos, segundo a classificação de Köppen. As médias anuais de precipitação,
umidade relativa e temperatura do ar são, respectivamente de 1221,4mm, 81% e
19,4
o
C, sendo a média das máximas de 26,4
o
C e a média das mínimas de 14,8
o
C
(Departamento Nacional de Meteorologia 1992). O balanço hídrico, segundo Golfari
(1975), indica a existência de um período com excedente hídrico a partir de
novembro, perdurando até abril. De abril a setembro a precipitação cai abaixo da
evaporação potencial, causando deficiência hídrica e retirada de água do solo. De
setembro a novembro reposição de água no solo, com o aumento da precipitação.
Assim, fica caracterizada uma estação chuvosa de setembro a abril e uma estação
seca de abril a setembro.
Os solos, no município, apresentam predominância de duas classes: nos topos
dos morros e encostas predomina o Latossolo Vermelho-Amarelo Álico, enquanto
que nos terraços a predominância é de Podzólico Vermelho-Amarelo mbico fase
terraço (EMBRAPA 1999).
2.2. Fenologia
As espécies estudadas, assim como suas densidades e valores de importância,
encontram-se na Tabela 1. Para cada espécie, foram acompanhados 10 indivíduos
adultos selecionados por ordem decrescente de circunferência a altura do peito
(CAP) a 1,30 m do solo, totalizando 200 indivíduos.
As observações fenológicas foram realizadas mensalmente com o auxílio de
binóculo, no período compreendido entre dezembro de 2004 a novembro de 2006.
Foi registrada a presença ou ausência das fenofases: floração (botões florais e/ou
flores em antese), frutificação (frutos imaturos e/ou maduros), queda foliar
(indivíduos que se apresentaram com copa reduzida ou totalmente desfolhada) e
brotamento (indivíduos que se apresentaram parcial ou totalmente com folhas novas,
menores, tenras e com coloração mais clara ou avermelhada). Como a transição entre
floração e frutificação é gradual, a frutificação somente foi considerada quando os
frutos tornaram-se visíveis. A descrição das fenofases de brotamento e queda foliar
foi estabelecida de acordo com o que sugeriram Dias & Oliveira Filho (1996).
Informações adicionais sobre a fenologia reprodutiva das espécies estudadas foram
obtidas em exsicatas depositadas no acervo do Herbário VIC, do Departamento de
Biologia Vegetal da Universidade Federal de Viçosa.
10
Tabela 1 – Amplitude de circunferência à altura do peito (CAP), Densidade relativa e
valor de importância, segundo Gasparini Júnior (2004), das espécies
selecionadas para o presente estudo, em fragmento de Floresta Estacional
Semidecidual, em Viçosa, Minas Gerais
Família Espécie
Amplitude de
CAP (cm)
Densidade
Relativa
(%)
Valor de
Importância
(%)
Annonaceae Rollinia sylvatica (A. St.-Hil.) Martius 51,3 – 75,3 2,23 2,69
Burseraceae Protium warmingianum March. L. 47,9 – 134,5 5,16 3,99
Fabaceae Anadenanthera peregrina (L.) Speg. 184 – 342,8 2,79 12,24
Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F. Macbr. 68,8 – 90,6 3,35 3,83
Dalbergia nigra (Vell.) Allemao ex Benth. 33,4 – 129 0,65 1,07
Piptadenia gonoacantha (Mart.) J.F. Macbr. 46,6 – 74,2 2,37 2,28
Machaerium nyctitans (Vell.) Benth. 58,4 – 85 2,70 2,83
Malvaceae Luehea grandiflora Mart. 50 – 100,9 0,88 1,31
Meliaceae Trichilia pallida Sw. 32,4 – 43 7,81 5,10
Moraceae Brosimum glaziovii Taub. 31 – 63,6 1,02 1,11
Sorocea bonplandii (Baill.) W.C. Burger,
Lanj. & Wess. Boer
55,8 – 94 31,01 18,49
Myrtaceae Myrcia sphaerocarpa DC. 17,8 – 41,7 0,79 0,82
Myrciaria axillaris O. Berg 18,4 – 32,3 0,74 0,88
Plinia glomerata (O. Berg) Amshoff 20,2 – 26,6 1,95 1,75
Rubiaceae Coutarea hexandra (Jacq.) K. Schum. 37 – 70,6 3,16 2,37
Salicaceae Casearia decandra Jacq. 34,4 – 85,8 0,74 1,09
Casearia ulmifolia Vahl ex Vent. 83,2 – 113,6 6,74 7,60
Sapindaceae Allophylus edulis (A. St.-Hil., Cambess. &
A. Juss.) Radlk.
59,2 – 141,6 1,16 1,68
Sapotaceae Chrysophyllum gonocarpum (Mart. &
Eichler ex Miq.) Engl.
22,8 – 45 0,79 0,89
Siparunaceae Siparuna guianensis Aubl. 27,2 – 36,6 5,21 3,63
Os padrões de floração foram classificados de acordo com Newstrom et al.
(1994), quanto à freqüência, em anual, subanual, supra-anual e contínuo. Foram
determinados ao nível de população, exceto quando havia apenas um indivíduo em
determinada fenofase. Os diásporos foram classificados segundo van der Pijl (1982).
Avaliou-se a sincronia inter e intraespecífica de floração e frutificação através do
número de espécies e de indivíduos, nestas fenofases (Camacho & Orozco 1998).
Para verificar a influência dos fatores climáticos na fenologia foi calculada a
correlação de Spearman (r
s
) (SIEGEL, 1975) entre o número total de espécies em
cada fenofase por mês e as variáveis climáticas no mesmo período e da normal
11
climatológica (média de 30 anos). As variáveis climáticas analisadas foram:
temperatura média, pluviosidade e horas de insolação. As correlações foram
calculadas para cada ano separadamente.
Os dados climáticos foram obtidos no Departamento de Engenharia Agrícola
da Universidade Federal de Viçosa.
12
3. RESULTADOS
3.1. Caracterização geral do comportamento fenológico
A Tabela 2 apresenta as síndromes de dispersão e o grau de deciduidade das
20 espécies estudadas. Houve predomínio de espécies com diásporos zoocóricos
(65%) e a zoocoria foi observada em espécies com todos os graus de deciduidade, ao
passo que a anemocoria predominou em espécies decíduas ou semidecíduas (Tabela
2).
A Figura 1 mostra o comportamento fenológico das espécies estudadas. A
floração foi contínua, com um pico em setembro, do primeiro ano, e um em outubro,
do segundo ano. A frutificação total foi maior na estação chuvosa; no segundo ano, a
frutificação foi nula ou quase nula na estação seca (Figuras 1B, D). As espécies
anemocóricas produziram seus diásporos na estação seca, no primeiro ano, e
predominantemente durante a estação chuvosa, no segundo ano; as zoocóricas
frutificaram na estação chuvosa (Figuras 1B, D). Os resultados mostraram maior
atividade fenológica reprodutiva (floração e frutificação) durante o período úmido
(Figuras 1A, B, D). A sincronia de floração e frutificação interespecífica foi baixa,
das 18 espécies que floresceram, observaram-se até sete espécies com flores, em
outubro do segundo ano (Figura 1A). Das 14 que frutificaram observaram-se até seis
espécies com frutos, em outubro do primeiro ano (Figura 1B).
13
Tabela 2 – Síndrome de dispersão e grau de deciduidade de 20 espécies arbóreas de
um trecho de Floresta Estacional Semidecidual, na Reserva da Biologia,
Viçosa, Minas Gerais. Onde:
1
Dados de literatura (Gasparini Júnior
2004),
2
herbário VIC e
3
presente estudo
Famílias / Espécies Modo de Dispersão Grau de Deciduidade
ANNONACEAE
Rollinia silvatica Zoocoria
3
Semidecídua
BURSERACEAE
Protuim warminginum Zoocoria
3
Perenifólia
FABACEAE
Anadenanthera peregrina Anemocoria
1,2
Decídua
Apuleia leiocarpa Anemocoria
3
Decídua
Dalbergia nigra Anemocoria
3
Decídua
Macherium nictitans Anemocoria
3
Semidecídua
Piptadenia gonoacantha Anemocoria
1,2
Perenifólia
MALVACEAE
Luehea grandiflora Anemocoria
3
Perenifólia
MELIACEAE
Trichilia pallida Zoocoria
3
Semidecídua
MORACEAE
Brosimum glaziovii Zoocoria
3
Semidecídua
Sorocea bomplandii Zoocoria
3
Perenifólia
MYRTACEAE
Myrcia sphaerocarpa Zoocoria
3
Perenifólia
Myrciaria axilaris Zoocoria
1,2
Perenifólia
Plinia glomerata Zoocoria
3
Perenifólia
RUBIACEAE
Coutarea hexandra Anemocoria
3
Semidecídua
SALICACEAE
Casearia decandra Zoocoria
1,2
Decídua
Casearia ulmifolia Zoocoria
1,2
Decídua
SAPINDACEAE
Allophyllus edulis Zoocoria
3
Semidecídua
SAPOTACEAE
Chrysophyllum gonocarpum Zoocoria
2
Perenifólia
SIPARUNACEAE
Siparuna guianensis Zoocoria
3
Perenifólia
14
0
2
4
6
8
anemoricas
zooricas
total
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
com folhas
brotamento
queda foliar
0
50
100
150
200
250
300
350
D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N
Figura 1 – Número de espécies observadas ao longo de dois anos em um fragmento
de Floresta Estacional Semidecidual em Viçosa, MG , onde A Floração,
B- Frutificação, de acordo com as síndromes de dispersão e o total sendo
a soma das anemocóricas e zoocóricas, C- Foliação, incluindo queda foliar
e brotamento e D- Precipitação mensal total.
N Ú M E R O D E E S P É C I E S
PRECIPITAÇÃO (mm)
2005
2006
A
B
C
D
0
2
4
6
8
15
A fenologia vegetativa mostrou sazonalidade bem marcada; em todas as
espécies que apresentaram comportamento decíduo ou semidecíduo, a queda foliar se
concentrou durante a estação seca, entre julho e outubro, nos dois anos (Figuras 1C,
D). No segundo ano, houve um pequeno aumento de espécies com queda foliar, em
relação ao primeiro ano, o que pode estar relacionado com os valores mais baixos de
precipitação encontrados naquele ano (Figuras 1C, D).
3.2. Correlações entre as variáveis fenológicas e as climáticas
Quando se associou o número total de espécies em cada fenofase com as
variáveis climáticas do período estudado, as seguintes correlações foram
significativas (Tabela 3): no primeiro ano, houve apenas correlação negativa entre
queda foliar e precipitação; no segundo ano, houve correlação positiva entre floração
e insolação e negativa entre frutificação com temperatura média, houve também
correlação negativa entre queda foliar e temperatura média, o brotamento mostrou
alta correlação positiva com a precipitação, o brotamento ainda correlacionou-se
negativamente com a insolação.
Tabela 3 – Coeficientes de correlação de Sperman (r
s
) entre as variáveis fenológicas
e climáticas. Onde: P = precipitação; Tm = temperatura média, I =
insolação,
1
Dados climáticos referentes ao período de estudo (dezembro
de 2004 a novembro de 2006),
2
Dados climáticos referentes à normal
climatológica (série histórica de 30 anos). Correlações significativas a
p<0,05
Variável Climática
Período de Estudo
1
Normal Climatológica
2
1
0
2
0
1
0
2
0
Variável
Fenológica
P Tm I P Tm I P Tm I P Tm I
Floração - - - - - 0,63 - - - - - -
Frutificação - - - - -0,65 - - - - 0,72 -0,66 -
Queda Foliar -0,70 - - - -0,67 - - - - - - -
Brotamento - - - 0,81 - -0,78 - - -0,73 - - -0,81
16
As associações entre o número de espécies em cada fenofase e as variáveis
climáticas das normais climatológicas (média 30 anos) mostraram as seguintes
correlações significativas: no primeiro ano houve apenas correlação negativa entre
brotamento e insolação, no segundo ano houve correlação positiva entre frutificação
e precipitação e negativa entre frutificação e temperatura média, houve alta
correlação negativa entre brotamento e horas de insolação. As correlações entre
frutificação e temperatura média, brotamento e horas de insolação permaneceram
tanto quando avaliadas com as variáveis climáticas do segundo ano de estudo, como
com as normais climatológicas.
3.3. Padrões fenológicos
A Figura 2 mostra o comportamento fenológico de 18 espécies, em relação à
precipitação, durante os 24 meses de observação. Duas espécies, Piptadenia
gonoacantha e Chrysophyllum gonocarpum, não foram incluídas por não terem
florescido, frutificado e apresentado queda e brotamento foliar bem definidos. Em
etiquetas de exsicatas de P. gonoacantha, coletadas em Viçosa e depositadas no VIC,
registrou-se a floração entre o final de agosto e outubro. Não registro no herbário
de coletas na região de Viçosa de Chrysophyllum gonocarpum.
No primeiro ano de observação, 16 espécies floresceram e 11 frutificaram; no
segundo ano, 17 floresceram e 12 frutificaram (Figura 2). Em espécies perenifólias,
por exemplo Siparuna guianensis, não foi indicada a fenofase vegetativa (Figura 2).
Fenologia Vegetativa Nove espécies, incluindo Piptadenia gonoacantha e
Chrysophyllum gonocarpum, apresentaram comportamento perenifólio, no qual a
queda e o brotamento foram constantes ao longo do ano. Nas espécies semidecíduas
e decíduas, a queda foliar e o brotamento foram seqüenciais e com sobreposição. As
espécies perderam folhas na estação seca; no primeiro ano, a queda ocorreu entre
julho e setembro e, no segundo ano, algumas espécies, tais como Rollinia sylvatica,
Casearia decandra e Allophylus edulis, começaram a perder folhas mais cedo, em
maio. Nesse último caso, provavelmente devido aos níveis mais baixos de
precipitação. Nos dois anos, em setembro, início da estação chuvosa, ocorreu
sobreposição dos eventos queda e brotação foliar, prolongando-se, em alguns casos,
até novembro (em Macherium nyctitans).
17
-100
-50
0
50
100
-100
-50
0
50
100
-100
-50
0
50
100
-100
-50
0
50
100
-100
-50
0
50
100
-100
-50
0
50
100
0
50
100
150
200
250
300
350
D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N
Figura 2 – Comportamento fenológico das espécies avaliadas entre dezembro de
2004 a novembro de 2006 e sua relação com a precipitação, quando
alguma das fenofases estava ausente, esta não foi representada. Na parte
superior do gráfico, a área preta refere-se à queda foliar e a branca ao
brotamento; na parte inferior do gráfico a área com traços diagonais
refere-se à floração e a sem preenchimento à frutificação.
Rollinia sylvatica
Protium warmingianum
Casearia decandra
Casearia ulmifolia
Trichilia pallida
Siparuna
guianensis
PORCENTAGEM DE INDIVÍDUOS
(%)
PRECIPITAÇÃO (mm)
2005 2006
Queda
Brotamento
Floração
Frutificação
18
-100
-50
0
50
100
-100
-50
0
50
100
-100
-50
0
50
100
-100
-50
0
50
100
-100
-50
0
50
100
-100
-50
0
50
100
0
50
100
150
200
250
300
350
D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N
Figura 2 – Continuação.
Anadenanthera peregrina
Apuleia leiocarpa
Dalbergia nigra
Macherium nyctitans
Brosimun glaziovii
Sorocea bonplandii
PORCENTAGEM DE INDIVÍDUOS
(%)
PRECIPITAÇÃO (mm)
2005 2006
Queda
Brotamento
Floração
Frutificação
19
-100
-50
0
50
100
-100
-50
0
50
100
-100
-50
0
50
100
-100
-50
0
50
100
-100
-50
0
50
100
-100
-50
0
50
100
0
50
100
150
200
250
300
350
D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N
Figura 2 – Continuação.
Myrcia sphaerocarpa
Allophylus edulis
Coutarea hexandra
Plinia glomerata
Lu
ehea grandiflora
Myrciaria axilaris
PORCENTAGEM DE INDIVÍDUOS
(%)
PRECIPITAÇÃO (mm)
2005 2006
Queda
Brotamento
Floração
Frutificação
20
Em geral, o número de indivíduos apresentando a queda foliar e o brotamento
foi semelhante nos dois anos. As espécies que apresentaram porcentagens diferentes
de indivíduos entre os anos foram: Rollinia sylvatica, no primeiro ano apenas 20%
dos indivíduos se manifestaram, chegando a 100% no segundo ano; Coutarea
hexandra, com 40% dos indivíduos no primeiro ano e 90%, no segundo; e, por
último, Allophylus edulis, com 40% no primeiro ano e 100%, no segundo. Os
indivíduos destas espécies, provavelmente, foram mais sensíveis ao período seco
mais acentuado ocorrido no segundo ano.
Fenologia Reprodutiva - O padrão de floração de cada espécie foi anual,
exceto em Coutarea hexandra, Dalbergia nigra e Macherium nyctitans que foi
supra-anual. Em geral, a floração ocorreu no início da estação chuvosa, nos dois
anos, seguindo-se a frutificação ao final da mesma estação. Nove espécies
apresentaram comportamentos sincrônicos ou altamente sincrônicos (Camacho &
Orozco 1998) de floração intraespecífica, ou seja, com no mínimo 50% dos
indivíduos em floração, em pelo menos um dos anos estudados, são elas: Rollinia
sylvatica, Protium warmingianum, Siparuna guianensis, Anadenanthera peregrina,
Apuleia leiocarpa, Sorocea bonplandii, Plinia glomerata, Coutarea hexandra e
Allophylus edulis. Para a frutificação intraespecífica, apenas quatro espécies, Rollinia
sylvatica, Siparuna guianensis, Brosimum glaziovii e Plinia glomerata, apresentaram
valores sincrônicos ou altamente sincrônicos, em pelo menos um dos anos.
Em Protium warmingianum, Siparuna guianensis, Plinia glomerata e
Dalbergia nigra a floração ocorreu na estação seca. Em Protium warmingianum a
porcentagem de indivíduos em floração, no segundo ano, foi maior, embora a
porcentagem de indivíduos em frutificação tenha sido tão baixo quanto no primeiro
ano. Em Allophylus edulis ocorreu situação semelhante, ou seja, nos dois anos, a
porcentagem de indivíduos em frutificação foi menor em relação aos que produziram
flores.
As espécies que apresentaram maiores porcentagens de indivíduos em
frutificação foram Siparuna guianensis e Plinia glomerata (90% e 100%,
respectivamente); os indivíduos em frutificação destas espécies foram em maior
número que os em floração. Por outro lado, Dalbergia nigra e Machaerium nyctitans
apresentaram apenas 10% dos indivíduos frutificando e Casearia decandra,
Casearia ulmifolia, Anadenanthera peregrina e Myrciaria axilaris não frutificaram.
As espécies que apresentaram apenas um episódio de frutificação foram Trichilia
pallida, Dalbergia nigra, Macherium nyctitans, Myrcia sphaerocarpa, Coutarea
hexandra e Luehea grandiflora.
21
4. DISCUSSÃO
Os eventos de floração e frutificação, no presente estudo, foram mais diversos
e complexos, se comparados com os de foliação (queda e brotamento foliar),
provavelmente devido às diversas pressões seletivas que atuam sobre os eventos
reprodutivos, incluindo as variáveis climáticas. Resultados semelhantes foram
registrados por Machado et al. (1997), em espécies de caatinga.
A maior atividade fenológica reprodutiva, das espécies estudadas, durante a
estação chuvosa, também foi registrada por Morellato (1995), em Floresta Estacional
Semidecidual, e por Machado et al. (1997). Morellato (1995), no entanto, verificou
que a sazonalidade da frutificação foi menos acentuada. Essas diferenças podem
estar relacionadas ao número de espécies arbóreas analisadas e ao seu tipo de
diásporo.
O predomínio de espécies zoocóricas, tal como registrado, corrobora os
estudos de Howe & Smallwood (1982), os quais afirmaram que, em florestas
tropicais, 50 a 90% das árvores e arbustos o dispersas por animais. A
predominância dessa síndrome de dispersão no estrato arbóreo também foi
mencionada por Gasparini Júnior (2004). No presente estudo, verificou-se menor
sazonalidade na produção de diásporos anemocóricos e sazonalidade na estação
chuvosa de diásporos zoocóricos. Frankie et al. (1974) registraram maior
disponibilidade de diásporos zoocóricos na estação seca, diferindo dos resultados
observados. Por outro lado, vários outros autores também registraram a zoocoria,
principalmente, na estação chuvosa (Hilty 1980, Ghilardi Júnior & Alho 1990,
22
Machado et al. 1997, Penhalber & Mantovani 1997). Esses autores e os dados do
presente estudo indicam que, na região neotropical, a zoocoria tende a ser uma
síndrome sazonal. A anemocoria é uma síndrome que tem sido associada à estação
seca, devido à caducifolia e a maior intensidade dos ventos. As espécies
anemocóricas do presente estudo, no primeiro ano, seguiram essa tendência. No
segundo ano, espécies anemocóricas diferentes das do primeiro ano, produziram seus
frutos na estação chuvosa, esta diferença pode indicar que seja uma característica
própria das espécies, já que elas se diferenciaram entre os anos.
Um número maior de indivíduos em frutificação em relação àqueles em
floração, como observado em Siparuna guianensis e Plinia glomerata, pode ser
devido ao intervalo mensal das observações. Esse intervalo pode ter sido longo o
suficiente para o o registro da floração de algumas espécies. Proença & Gibbs
(1994) demonstraram que algumas espécies de Myrtaceae apresentaram floração
maciça sincronizada, em curto período (sete dias). É uma estratégia de floração que,
para ser acompanhada, requer observações em intervalos compatíveis ao período de
floração. S. guianensis pode estar apresentando essa mesma estratégia, embora
estudos complementares sobre a sua fenologia devam ser conduzidos, pois trata-se de
espécie com flores unissexuais, característica que torna seus ciclos biológicos mais
complexos (cf. Newstrom et al. 1994). Nas espécies nas quais poucos indivíduos
frutificaram ou houve apenas um episódio de frutificação, a floração também ficou
restrita a poucos indivíduos.
Coutarea hexandra, Casearia decandra, C. ulmifolia, Anadenanthera
peregrina e Myrciaria axillaris também podem estar apresentando limitações
reprodutivas, pois floresceram e a frutificação foi nula. No trabalho de Gasparini
Júnior (2004), o qual reamostrou um levantamento realizado em 1984 (Silva et al.
2000) no mesmo local do presente estudo, verificou a diminuição das populações de
C. decandra, C. ulmifolia e Anadenanthera peregrina, todas secundárias iniciais. É
provável que estas espécies estejam saindo da área amostrada à medida que o estádio
sucessional da floresta esteja avançando. A ausência de frutos em Casearia
decandra e C. ulmifolia foi confirmada em estudos de chuva de sementes (capítulo
2), no mesmo local do presente estudo. Um fato interessante, é que, nesse local, duas
outras espécies de Casearia, C. arborea e C. obliqua, produziram frutos em
quantidades expressivas; por outro lado, nesse mesmo estudo, sementes de
Anadenanthera peregrina foram registradas nos coletores, sugerindo que tenham
23
sido provenientes de indivíduos de fora da área de estudo, e nenhuma semente de
espécies de Myrtaceae foi observada (capítulo 2).
A diminuição das populações de Dalbergia nigra e Macherium nyctitans,
ambas secundárias iniciais (Gandolfi et al. 1995, Paula et al. 2002), conforme
verificado por Gasparirni Júnior (2004), corrobora o baixo número de indivíduos
dessas espécies florescendo e frutificando no presente estudo, em torno de 10%.
As ausências de flores e de frutos em Piptadenia gonoacantha podem estar
relacionadas ao local de estudo, uma floresta com 81 anos de regeneração natural, em
estádio intermediário de sucessão (Gasparirni Júnior 2004). Essa espécie é
secundária inicial e heliófita (Gandolfi et al. 1995, Lorenzi 2002) e os indivíduos
amostrados encontravam-se no interior da floresta, o que pode ter inibido os eventos
reprodutivos. Esses indivíduos apresentavam a circunferência ao nível do peito em
torno de 57 cm, sugerindo tratar-se de plantas adultas. Por isso, considera-se que a
população de Piptadenia gonoacantha esteja saindo da área amostrada, fato
apresentado por Gasparini Júnior (2004), estudando no mesmo local, onde verificou
uma redução de 40,7% da população de P. gonoacantha em relação ao levantamento
realizado nas mesmas parcelas 20 anos antes (Silva et al. 2000). Lorenzi (2002)
considerou esta espécie como semidecídua, no entanto, os indivíduos avaliados não
mostraram queda foliar evidente, sendo a população aqui considerada perenifólia.
Isto pode ter ocorrido pela localização dos indivíduos no interior da mata, local mais
sombreado, facilitando a permanência das folhas.
As ausências de flores e de frutos em Chrysophyllum gonocarpum, espécie
secundária tardia (Paula et al. 2002), podem estar relacionadas à imaturidade
reprodutiva dos indivíduos amostrados ou a um comportamento reprodutivo supra-
anual, justificado pela inexistência de exsicatas dessa espécie no acervo do Herbário
VIC, coletadas na região de Viçosa. Talora & Morellato (2000) comentaram que,
além de fatores climáticos e das pressões seletivas bióticas, processos endógenos da
planta devem influenciar a periodicidade das fenofases das espécies de Mata
Atlântica.
Algumas espécies estudadas apresentaram períodos fenológicos distintos dos
registrados em literatura. Como exemplos citam-se a floração e a frutificação de
Trichilia pallida (Mikich & Silva 2001, Spina et al. 2001), de Sorocea bonplandii e
de Allophylus edulis (Mikich & Silva 2001) e a floração de Siparuna guianensis
(Funch et al. 2002). Essas diferenças devem-se aos distintos ecossistemas analisados
24
(cf. Newstrom et al. 1994, Bencke & Morellato 2002), nos quais as condições
climáticas o diversas e influenciam as variações fenológicas (Bawa & Webb 1984,
Marquis 1988, Wright 1991), regulando a época, intensidade, duração e
periodicidade das fenofases (Ferraz et al. 1999). Além disso, Mantovani et al. (2003)
consideraram a alta complexidade em se analisar os padrões de floração em
comunidades vegetacionais, em áreas tropicais, devido às interferências humanas
como, por exemplo, as práticas agrícolas, que modificam altamente o ambiente
físico, de maneira que serão diferentemente percebidas pelas diversas espécies de
árvores.
Constatou-se que o acompanhamento de, no nimo, 10 indivíduos por
espécie foi suficiente para a caracterização fenológica das populações de algumas
espécies e insuficiente para outras. Como exemplo para essa última situação, cita-se
a floração de Myrcia sphaerocarpa, registrada em apenas 10% dos indivíduos. O
número mínimo de indivíduos que devem ser analisados é controverso. Newstrom et
al. (1994) sugeriram cinco indivíduos por espécie, embora tenham também
trabalhado com apenas um indivíduo, de algumas espécies; nesse caso, tratavam-se
de espécies com baixa densidade, comumente registradas em florestas tropicais. Os
resultados, do presente estudo, demonstraram que o número de indivíduos, de
algumas espécies abundantes, numa dada formação vegetacional, a serem analisados
em relação, principalmente, à fenologia reprodutiva, deve ser superior a 10.
Entretanto, vale ressaltar que, apesar da escolha de indivíduos com as maiores
circunferências a altura de 1,30 m solo, não significa que estejam em fase
reprodutiva.
A queda foliar na estação seca e o brotamento no início da chuvosa
assemelham-se aos resultados de Morellato et al. (1989), em Floresta de Altitude e
Floresta Mesófila Semidecídua, e de Morellato (1995), em Floresta Estacional
Semidecidual, ambos no estado de São Paulo, e de Machado et al. (1997), em
Caatinga no estado de Pernambuco. Borchet (1980) afirmou que o padrão de queda
foliar tem sido freqüentemente associado à sazonalidade climática, tal como
observado no presente estudo. Ambientes que apresentam sazonalidade climática
marcada, com uma estação seca bem definida, tendem a apresentar desfolha
concentrada nesta época do ano (Araújo 1970, Daubenmire 1972, Frankie et al.
1974) e os resultados aqui obtidos confirmam essa tendência.
25
Nos dois anos de observações, a semelhança no mero de espécies em cada
fenofase, por ano, indica estabilidade no comportamento fenológico das espécies
estudadas. As correlações significativas encontradas entre as fenofases e as variáveis
climáticas reforçaram a importância que esses fatores ambientais exercem sobre os
ciclos biológicos dessas espécies. Morellato et al. (1989, 1990) e van Schaik et al.
(1993) mencionaram que vegetações submetidas à condições climáticas mais
sazonais apresentam maior periodicidade na produção de folhas, flores e frutos; a
alternância das estações seca e chuvosa é apontada como o principal fator envolvido
no desencadeamento das fenofases. De acordo com Opler et al. (1976), a
precipitação, após um período de estresse hídrico, em florestas semidecíduas,
funciona como sinalizador, em diversas espécies perenes, que aciona o
desenvolvimento das gemas florais a a antese. De fato, dentre as espécies
estudadas, a floração de 77,8% delas ocorreu na estação chuvosa. As quatro espécies
que floresceram na estação seca parecem apresentar outras pressões seletivas,
incluindo a de seus polinizadores e dos seus processos de dispersão.
O critério de seleção das vinte espécies para o estudo fenológico foi de
acordo com seus valores de importância (VI), no qual estão somados os valores de
densidade, freqüência e dominância relativas para cada espécie. O acompanhamento
fenológico das espécies, durante dois anos, demonstrou que algumas delas
apresentaram atividades reprodutivas (floração e frutificação) anuais e estão
adaptadas às condições nas quais estão submetidas, indicando maiores
probabilidades de permanecerem no sistema, são elas: Rollinia sylvatica, Trichilia
pallida, Siparuna guianensis, Brosimum glaziovii, Sorocea bonplandii, Plinia
glomerata, Allophylus edulis e Luehea grandiflora. Por outro lado, o histórico de
desmatamento da área estudada, que resultou em perdas de agentes polinizadores e,
ou dispersores, e o seu estádio sucessional atual podem ter influenciado na ausência
ou na baixa atividade reprodutiva das demais espécies. O comportamento fenológico
dessas espécies indicou que, na área estudada, algumas delas, embora atualmente
abundantes, apresentaram limitações reprodutivas e, provavelmente, tenderão a
desaparecer da área estudada. Estudos fenológicos complementares poderiam
fornecer maiores subsídios para a avaliação do comportamento destas espécies,
incluindo os processos de regeneração em áreas naturais.
Em conclusão, correlações significativas entre as fenofases e as variáveis
climáticas. A floração e a frutificação, esta última representada principalmente por
26
diásporos zoocóricos, ocorrem predominantemente na estação chuvosa e a
caducifolia na estação seca. Dentre as espécies que floresceram e frutificaram,
baixa sincronia interespecífica de floração e frutificação, ao passo que o número de
espécies com sincronia de floração intraespecífica é maior do que na frutificação,
indicando maior complexidade desta fenofase. Cerca de 50% das espécies
demonstram atividades reprodutivas anuais e parecem adaptadas às condições nas
quais estão submetidas; nesse caso, o seu comportamento fenológico é um dos
fatores que deve estar favorecendo a sua abundância na área de estudo.
27
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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32
CAPÍTULO 2
CHUVA DE SEMENTES EM FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL
NO MUNICÍPIO DE VIÇOSA, MINAS GERAIS, BRASIL
1. INTRODUÇÃO
Os padrões de queda de sementes no solo resultantes das síndromes de
dispersão, denominam-se chuva de sementes (Araújo 2002). Esta é elemento chave
na dinâmica das populações florestais, pois tem o papel de formar bancos de
sementes e de plântulas, que representam a fase inicial da organização espacial de
novas plantas, influenciando na estrutura das comunidades vegetais, inclusive em
áreas degradadas e promovendo a entrada de novos indivíduos na comunidade
(Harper 1977, Putz & Appanah 1987, Loiselle et al. 1995, Clark & Poulsen 2001). A
regeneração de florestas tropicais, portanto, depende da potencialidade de reposição
de indivíduos e da recomposição de espécies que, por sua vez, depende da
disponibilidade de sementes (Penhalber & Mantovani 1997).
As variações anuais na produção de frutos e sementes pelos indivíduos
adultos influenciam na entrada de novos indivíduos na população e representam um
importante componente do potencial de regeneração de florestas (Penhalber &
Mantovani 1997). Além dessas variações, a distância alcançada pelos diásporos é
outro fator de influência (Araújo 2002), pois, quanto mais distante da fonte maior
será a probabilidade de seu estabelecimento (Augspurger & Kelly 1984), uma vez
33
que a maior distância da matriz tende a diminuir a atuação de herbívoros e patógenos
e a competição intra-específica, além de aumentar a área de distribuição das
sementes (Janzen 1980; Krebs 1994, Araújo 2002), ampliando a probabilidade de
estabelecimento do diásporo em local propício para seu desenvolvimento. Além
disso, sementes provenientes de outras áreas, resultantes da dispersão de longa
distância, podem aumentar a diversidade de espécies e a variabilidade genética, da
população (Araújo 2002). Pelo exposto, populações de espécies arbóreas podem ser
limitadas pelo baixo ou variável suprimento de sementes, ocasionado pela escassez
de indivíduos produtores de diásporos e pela dispersão restrita.
As análises das variações de disponibilidade de sementes de espécies
arbóreas, pelo registro dos padrões da chuva de sementes ao longo de um
determinado período, contribuem para esclarecer questões sobre a diversidade de
componentes em comunidades vegetais e os processos envolvidos nos estádios
iniciais de sucessão (Giraldelli et al. 2003). No Brasil, os estudos realizados com
chuva de sementes têm seguido objetivos variados. Jackson (1981) relacionou o
tamanho da semente com os padrões de queda, em Floresta Ombrófila, no Espírito
Santo; Penhalber & Mantovani (1997) caracterizaram a composição e o padrão
temporal da chuva de sementes em vegetação secundária numa região de transição
dos domínios das florestas pluviais na encosta Atlântica e da mata estacional no
interior de São Paulo; Grombone-Guaratini & Rodrigues (2002) avaliaram a
influência da sazonalidade climática sobre a comunidade vegetal, através da chuva e
do banco de sementes em Floresta Estacional Semidecidual no estado de São Paulo;
Araújo et al. (2004) avaliaram os mecanismos de regeneração (chuva e o banco de
sementes e de plântulas) em diferentes regimes de inundação em Floresta Estacional
Decidual Ripária no Rio Grande do Sul; e Melo et al. (2006) compararam a chuva de
sementes entre a borda e o interior da floresta em Floresta Úmida Baixo Montana no
estado de Alagoas. Todos esses estudos foram realizados em formações
vegetacionais pertencentes ao domínio da Floresta Atlântica.
O presente trabalho teve como objetivos avaliar, a composição florística, a
densidade e a freqüência de sementes de cada táxon, as síndromes de dispersão e a
variação temporal da chuva de sementes, por dois anos consecutivos, em um
fragmento de Floresta Estacional Semidecidual.
34
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Área de estudo
Viçosa situa-se nas coordenadas 20
0
45’S e 42
0
55’W, no sudeste do Estado de
Minas Gerais, em região caracteristicamente montanhosa, de topografia acidentada,
com vales estreitos e úmidos. Os solos apresentam predominância de duas classes:
nos topos dos morros e encostas predomina o Latossolo Vermelho-Amarelo Álico,
enquanto que nos terraços a predominância é de Podzólico Vermelho-Amarelo
Câmbico fase terraço (EMBRAPA 1999). De acordo com Veloso et al. (1991), sua
vegetação é classificada como Floresta Estacional Semidecidual Montana,
caracterizada pela mistura de espécies caducifólias e perenifólias, estabelecidas
acima de 500m de altitude.
O clima é do tipo Cw
a
, mesotérmico úmido com verões chuvosos e invernos
secos, segundo a classificação de Köppen. As médias anuais de precipitação,
umidade relativa e temperatura do ar são, respectivamente, de 1221,4mm, 81% e
19,4
o
C, sendo a média das máximas de 26,4
o
C e a média das mínimas de 14,8
o
C
(Departamento Nacional de Meteorologia 1992).
O balanço drico, segundo Golfari (1975), indica a existência de um período
com excedente drico a partir de novembro, perdurando a abril. De abril a
setembro a precipitação cai abaixo da evaporação potencial, causando deficiência
hídrica e retirada de água do solo. De setembro a novembro reposição de água no
solo, com o aumento da precipitação. Assim, fica caracterizada uma estação chuvosa
de setembro a abril e uma estação seca de abril a setembro.
35
O estudo foi realizado em um hectare previamente marcado, subdividido em
100 parcelas de 10 x 10m, onde foram desenvolvidos estudos fitossociológicos por
Silva et al. (2000), Paula et al. (2002) e Gasparini Júnior (2004). Este se situa no
campus da Universidade Federal de Viçosa (UFV), no município de Viçosa, MG, em
um fragmento florestal conhecido como Reserva da Biologia”, que é
permanentemente protegido, possuindo área aproximada de 75 ha.
No ano de 1922, a floresta nativa foi totalmente erradicada para a implantação
da cultura do café. Com a fundação da Escola Superior de Agricultura e Veterinária
(ESAV), em 1926, a cultura foi abandonada e a área passou a fazer parte do campus,
permanecendo sob processo de regeneração natural até os dias atuais. O trecho de
floresta onde foi estabelecida a amostragem localiza-se na encosta de uma elevação
que varia de 725 m de altitude até 745 m, no topo, com declividade de a45
0
e sua
face de exposição solar é oeste-sudoeste.
2.2. Chuva de sementes
Das 100 parcelas de 10x10m previamente marcadas nos estudos
fitossociológicos desenvolvidos por Silva et al. (2000), Paula et al. (2002) e
Gasparini Júnior (2004), foram selecionadas 25 parcelas distribuídas conforme a
Figura 1. No centro de cada parcela foi instalado um coletor de sementes de área
circular de abertura igual a 0,25m
2
, totalizando 25 coletores. Estes coletores foram
confeccionados com uma estrutura circular de arame, na qual foi costurada uma tela
de náilon com malha de 1 x 1 mm, na profundidade de 50 cm. Os coletores foram
amarrados a troncos de árvores adjacentes e mantidos suspensos aproximadamente a
1,30 m do solo, a fim de restringir a entrada de sementes de espécies herbáceas e
arbustivas baixas.
De dezembro de 2004 a novembro de 2006, o material depositado nos
coletores foi recolhido mensalmente, acondicionado em sacos plásticos etiquetados e
levado para a triagem. Na triagem foram separados os frutos e as sementes das
impurezas (folhas, galhos etc). Os diásporos passaram por secagem em estufa
(diásporos com pericarpo seco) ou foram estocados em álcool 70% (diásporos com
pericarpo carnoso). Posteriormente, as sementes de todos os diásporos, foram
contadas, separadas em morfo-espécies e identificadas em espécie, gênero, família ou
táxon indeterminado; as famílias foram reconhecidas pelo sistema do Angiosperm
Phylogeny Group II (Souza & Lorenzi 2005).
36
5 4 3 2 1
6 7 8 9 10
15 14 13 12 11
16 17 18 19 20
25 24 23 22 21
Figura 1 – Representação da distribuição das 25 parcelas com os coletores de
sementes.
A densidade (D) e freqüência absoluta (F) (Mueller-Dombois & Ellenberg,
1974) da chuva de sementes foram calculadas para cada táxon, inclusive os
indeterminados, através do software Mata Nativa 2 (Cientec, 2006), sendo D = n/A e
F = 100 x (p/P), onde n = mero de sementes de cada espécie, A= área amostrada
(m
2
), p = número de amostras com cada espécie e P = número total de amostras.
Os táxons foram separados quanto à forma de vida em arbóreos, arbustivos,
herbáceos e lianas e quanto à síndrome de dispersão (van der Pijl 1982). As espécies
arbóreas foram classificadas quanto à categoria sucessional em pioneiras,
secundárias iniciais e secundárias tardias (Gandolfi et al. 1995).
A similaridade florística entre as espécies identificadas na chuva de sementes
e as espécies arbóreas localizadas nas mesmas parcelas dos coletores, segundo os
estudos de Silva et al. (2000), Paula et al. (2002) e Gasparini Júnior (2004), foi
calculada pelo índice de similaridade de Sorensen (Mueller-Dombois & Ellenberg
1974).
37
3. RESULTADOS
Foram identificados 43 táxons dentre os diásporos coletados (Tabela 1), 30 ao
nível específico, cinco ao nível genérico, três ao nível de família e cinco
permaneceram indeterminados; no total, foram identificadas 17 famílias. Na Tabela 1
são apresentadas a composição florística e as formas de vida dos táxons
identificados, as síndromes de dispersão de todos as morfo-espécies, o estádio
sucessional das espécies arbóreas e o período de coleta de cada táxon.
As famílias com maior número de espécies foram Leguminosae (11), todas
arbóreas e Bignoniaceae (quatro), todas lianas. Dentre os xons identificados, a
forma de vida dominante foi arbórea (63,1%), das quais 70,8% foram classificadas
como secundárias iniciais, 20,8% secundárias tardias e 8,4% pioneiras. As lianas
foram representadas por 28,9% das espécies amostradas, as herbáceas e arbustivas
por 5,3% e 2,6%, respectivamente. A anemocoria (55,8%) predominou sobre a
zoocoria (44,2%). Dentre as anemocóricas, 50% foram arbóreas e 41,67% lianas.
Nos dois anos de estudo foram contabilizadas 16.986 sementes, 712 no
primeiro ano e 16.274 no segundo. A densidade média de sementes no primeiro ano
foi de 113,92 sementes/m
2
e no segundo de 2.603,84 sementes/m
2
.
A Figura 2 mostra a distribuição das porcentagens de sementes coletadas ao
longo do estudo. No primeiro ano, que compreende o período entre dezembro de
2004 a novembro de 2005, foram registradas porcentagens iguais ou inferiores a 10%
em todos os meses, exceto em janeiro, fevereiro e março, estação chuvosa. Nesses
meses, as porcentagens não ultrapassaram os 20% (Figura 2). No segundo ano, que
38
Tabela 1 – Composição florística, formas de vida (FV), síndromes de dispersão (SD),
categoria sucessional (CS) e períodos de coleta dos táxons encontrados na
chuva de sementes em um fragmento de Floresta Estacional Semidecidual
em Viçosa, Minas Gerais. Onde: Arb = arbustiva, Arv = arbórea, Her =
herbácea, Lia = liana; Ane = anemocórica, Zoo = zoocórica, P = pioneira,
SI = secundária inicial, ST = secundária tardia, ? = desconhecido. Os
traços entre os meses indicam períodos de tempo contínuos
Período da coleta
Composição Florística FV SD CS
1
0
ano 2
0
ano
ACHARIACEAE
Carpotroche brasiliensis (Raddi) Endl. Arv Zoo ST - Fev
APOCYNACEAE
Peltastes peltatus (Vell.) Woodson Lia Ane - Out -
Tabela 1, continuação
ASTERACEAE
Morfo-espécie 1 Lia Ane - - Jan, Out – Nov
BIGNONIACEAE
Arrabidea sp. Lia Ane - Jul, Nov Fev, Ago, Out – Nov
Cuspidaria sp. Lia Ane - Ago – Set -
Fridericia speciosa Mart. Lia Ane - - Dez
Tynanthus fasciculatus (Vell. Conc.) Miers Lia Ane - Set Ago – Set
BORAGINACAE
Cordia sellowiana Cham. Arv Zoo SI - Abr, Jun – Jul, Set, Nov
ERYTHROXYLACEAE
Erythroxylum pelleterianum A. St.-Hil. Arv Zoo SI Jan – Fev, Mai -
FABACEAE
CAESALPINIOIDEAE
Apuleia leiocarpa (Vogel) J. F. Macbr. Arv Ane SI Nov Fev – Mar, Jul
Copaifera langsdorffii Desf. Arv Zoo SI Out Mai
Melanoxylum brauna Schott Arv Ane ST Mar, Out - Nov Dez, Mar
Peltophorum dubium (Spreng.) Taub. Arv Ane SI Out -
MIMOSOIDEAE
Acacia polyphylla DC. Arv Ane SI Jul – Ago, Out -
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan Arv Ane SI Set -
Anadenanthera peregrina (L.) Speg. Arv Ane SI Dez, Nov -
Piptadenia gonoacantha (Mart.) J.F. Macbr. Arv Ane SI Nov -
FABOIDEAE
Dalbergia nigra (Vell.) Allemao ex Benth. Arv Ane SI Out - Nov Dez – Jan
Machaerium nyctitans (Vell.) Benth. Arv Ane P Out Mar, Jul – Out
Platymiscium pubescens Micheli Arv Ane ST Nov Dez, Mar
MALPHIGIACEAE
Mascagania sp. Lia Ane - Jul – Set, Nov -
Heteropteris sp. Lia Ane - Set - Nov Jun, Set – Nov
MALVACEAE
Luehea grandiflora Mart. Arv Ane P - Nov
MELIACEAE
Trichilia elegans A. Juss. Arv Zoo ST Jan – Fev, Abr - Mai -
Trichilia pallida Sw. Arv Zoo SI Jan, Mai Abr – Mai, Out
MENISPERMACEAE
Abuta selloana Eichler Lia Zoo - Out
MORACEAE
Acanthinophyllum ilicifolia (Spreng.) W.C.
Burger
Arv Zoo SI Fev -
Sorocea bonplandii (Baill.) W.C. Burger,
Lanj. & Wess. Bôer
Arv Zoo SI Jan – Mar, Mai, Nov Dez – Mar
POACEAE
Morfo-espécie 1 Her Ane - Mai -
Morfo-espécie 2 Her Ane - Mar -
RUBIACEAE
Coffea arábica L. Arb Zoo - Mar, Mai - Ago -
Coutarea hexandra (Jacq.) K. Schum. Arv Ane SI - Jun, Set
Continua...
39
Tabela 1 – Cont.
Período da coleta
Composição Florística FV SD CS
1
0
ano 2
0
ano
SALICACEAE
Casearia arborea (Rich.) Urb. Arv Zoo SI Mai – Jul Fev – Jul
Casearia obliqua Spreng. Arv Zoo SI - Fev – Mai
SAPINDACEAE
Allophylus edulis (A. St.-Hil., Cambess. &
A. Juss.) Radlk.
Arv Zoo SI Dez – Fev, Nov Nov
Serjania sp. Lia Ane - Out - Nov Jul, Set
Urvillea ulmacea Kunth Lia Ane - Jun, Ago - Nov Abr, Jun, Ago – Set
SIPARUNACEAE
Siparuna guianensis Aubl. Arv Zoo ST Jan – Jun Dez – Abr, Jun
INDETERMINADA
Morfo-espécie 1 ? Zoo ? Jan Jan
Morfo-espécie 2 ? Zoo ? - Mar – Mai, Jul
Morfo-espécie 3 ? Zoo ? - Fev
Morfo-espécie 4 ? Zoo ? - Jul, Out
Morfo-espécie 5 ? Zoo ? - Out
0
10
20
30
40
50
60
D J F M A M J J A S O N
Mês
Porcentagem de sementes (%)
Ano 1
Ano 2
Figura 2 – Porcentagens de sementes coletadas em 25 coletores, ao longo de 24
meses de estudo, de dezembro de 2004 a novembro de 2006, em
fragmento de Floresta Estacional Semidecidual em Viçosa, Minas Gerais.
40
compreende o período entre outubro de 2005 a novembro de 2006, houve uma
concentração de sementes em fevereiro e março, no final da estação chuvosa, ocasião
em que foram registradas as maiores porcentagens de sementes (Figura 2). Essas
altas porcentagens deveram-se aos diásporos zoocóricos de Casearia arborea, que
contribuíram, respectivamente, com aproximadamente 95% e 97% das sementes
coletadas em fevereiro e março do segundo ano.
Os diásporos das lianas foram coletados entre julho e novembro de ambos os
anos; a maioria deles (63,3% e 54,5%, respectivamente) concentrados em outubro e
novembro, no início da estação chuvosa. As sementes das espécies anemocóricas e
zoocóricas também predominaram na estação chuvosa, sendo que a primeira foi
registrada principalmente no início e a segunda no meio e no final da estação
chuvosa (Tabela 1).
A densidade e a freqüência absolutas dos táxons constituintes da chuva de
sementes são apresentadas na tabela 2; quanto ao número de sementes houve
predominância da forma de vida arbórea nos dois anos. O primeiro ano foi
representado por 76,7% dos 43 táxons coletados e 51,5% deles apresentaram
freqüência absoluta baixa (< 10%) de acordo com Grombone-Guaratini & Rodrigues
2002. O segundo ano foi representado por 65,1% dos táxons, a maioria (57,1%) com
freqüência absoluta maiores que 10%. Os cinco táxons que contribuíram com as
maiores densidades absolutas de sementes, no primeiro ano, em ordem decrescente,
foram Siparuna guianensis, Sorocea bonplandii, Melanoxylum brauna, Casearia
arborea e Acacia polyphylla e, no segundo ano, Casearia arborea, Casearia obliqua,
Siparuna guianensis, Sorocea bonplandii e Asteraceae morfo-espécie 1 (Tabela 2).
No segundo ano, foi verificado grande número de sementes de C. arborea, cuja
densidade (1.756 sementes/m
2
) foi, aproximadamente, três vezes maior que a de C.
obliqua (570,24 sementes/m
2
) (Tabela 2). No primeiro ano, não foram registradas
sementes de C. obliqua. Essas espécies também apresentaram freqüências altas, ou
seja, foram encontradas na maioria dos coletores distribuídos ao longo da área
amostrada, exceto Casearia obliqua, com freqüência absoluta de 16% no segundo
ano.
A similaridade florística encontrada pelo índice de Sorensen entre as espécies
da chuva de sementes e as espécies arbóreas encontradas nas mesmas parcelas onde
foram instalados os coletores foi de 32%.
41
Tabela 2 – Composição florística, densidades (DA) e freqüências (FA) absolutas da
chuva de sementes, entre dezembro de 2004 e novembro de 2006, em um
fragmento de Floresta Estacional Semidecidual em Viçosa, Minas Gerais.
Os táxons foram ordenados por ordem decrescente de densidade absoluta,
* = espécies com maiores densidades no primeiro ano, ** = espécies com
maiores densidades no segundo ano
1
0
ANO
2
0
ANO
COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA
DA (m
2
) FA (%) DA (m
2
) FA (%)
** Siparuna guianensis
Aubl. 22,72 72 152,00 28
** Sorocea bonplandii
(Baill.) W.C. Burger, Lanj. & Wess. Boer 17,60 52 41,44 52
* Melanoxylum
brauna Schott 8,48 36 4,32 8
**
Casearia arborea
(Rich.) Urb
.
6,40 20 1756,00 68
* Acacia polyphylla
DC. 6,40 12 0,00 00
Allophylus edulis
(A. St.-Hil., Cambess. & A. Juss.) Radlk. 5,76 28 0,64 12
Trichilia elegans
A. Juss. 4,96 4 0,00 0
Cuspidaria
sp. 4,64 4 0,00 0
Poaceae morfo-espécie 2 4,48 4 0,00 0
Urvillea ulmacea
Kunth 4,32 24 3,04 20
Mascagania
sp. 3,68 12 2,08 12
Fridericia speciosa
Mart. 3,68 4 0,00 0
Tynanthus fasciculatus
(Vell. Conc.) Miers 3,36 4 1,12 12
Abuta selloana
Eichler 2,72 28 0,00 0
Coffea arabica
L. 2,56 24 0,00 0
Anadenanthera peregrina
(L.) Speg. 1,92 12 0,00 0
Erythroxylum pelleterianum
A. St.-Hil. 1,76 36 0,00 0
Heteropteris
sp. 1,12 20 2,40 36
Indeterminada morfo-espécie 1 1,12 4 1,28 4
Serjania
sp. 0,80 8 3,20 12
Piptadenia gonoacantha
(Mart.) J.F. Macbr. 0,80 4 0,00 0
Platymiscium pubescens
Micheli 0,64 12 0,48 8
Poaceae morfo-espécie 1 0,64 4 0,00 0
Machaerium nyctitans
(Vell.) Benth. 0,48 8 8,00 20
Arrabidea
sp. 0,48 12 2,72 24
Trichilia pallida
Sw. 0,48 8 0,80 12
Dalbergia nigra
(Vell.) Allemao ex Benth. 0,48 12 0,64 12
Anadenanthera colubrina
(Vell.) Brenan 0,48 4 0,00 0
Peltophorum dubium
(Spreng.) Taub. 0,32 4 0,00 0
Apuleia leiocarpa
(Vogel) J.F. Macbr. 0,16 4 0,80 8
Copaifera langsdorffii
Desf. 0,16 4 0,16 4
Acanthinophyllum ilicifolia
(Spreng.) W.C. Burger 0,16 4 0,00 0
Peltastes peltatus
(Vell.) Woodson 0,16 4 0,00 0
** Casearia obliqua
Spreng. 0,00 0 570,24 16
*
*
Asteraceae morfo-espécie 1 0,00 0 30,40 76
Indeterminada morfo-espécie 3 0,00 0 10,24 4
Indeterminada morfo-espécie 2 0,00 0 5,28 32
Cordia sellowiana
Cham. 0,00 0 3,68 4
Coutarea hexandra
(Jacq.) K. Schum. 0,00 0 1,60 4
Luehea grandiflora
Mart. 0,00 0 0,48 4
Indeterminada morfo-espécie 4 0,00 0 0,32 4
Indeterminada morfo-espécie 5 0,00 0 0,32 8
Carpotroche brasiliensis
(Raddi) Endl. 0,00 0 0,16 4
42
4. DISCUSSÃO
Os resultados obtidos com um de total de 43 morfo-espécies e de 16.986
sementes e as densidades de 113,92 sementes/m
2
,
no primeiro ano, e de 2.603,84
sementes/m
2
,
no segundo ano, diferiram de outros trabalhos sobre chuva de sementes
realizados no Brasil. Em Floresta Estacional Ripária no Rio Grande do sul, Araújo et
al. (2004) registraram 50 espécies de sementes e densidade de 155 sementes/m
2
,
no
primeiro ano, e 71 sementes/m
2
, no segundo. Nos demais trabalhos, realizados ao
longo de um ano, registraram-se 54 espécies de propágulos (frutos e sementes) e
densidade de 1.804,2 propágulos/m
2
em vegetação secundária, numa região de
transição dos domínios das florestas pluviais na encosta Atlântica e da floresta
estacional no interior de São Paulo (Penhalber & Mantovani 1997); 59 morfotipos de
18 espécies, 89.473 sementes e alta densidade (7.456,1 sementes/m
2
),
em Floresta
Ombróflia Densa no Rio de Janeiro (Araújo 2002); e 3.865 propágulos de 54
espécies e densidade igual a 442 propágulos/m
2
em Floresta Estacional Semidecidual
no estado de São Paulo (Grombone-Guaratini & Rodrigues 2002). Essas diferenças
podem ser reflexos das diferentes formações vegetacionais e estádios sucessionais
das florestas analisadas.
No presente estudo destacou-se a família Leguminosae, com 11 espécies,
seguida por Bignoniaceae, com quatro espécies e Sapindaceae, com três; Araújo
(2002) encontrou nove espécies de Asteraceae, seguida por quatro famílias
(Apocynaceae, Cecropiaceae, Malpighiaceae, Leguminosae e Piperaceae), com
apenas duas espécies cada uma, e Araújo et al. (2004) registraram as famílias
43
Myrtaceae (sete espécies) e Sapindaceae (seis espécies) como as mais ricas, sendo
que Leguminosae foi representada por quatro espécies. A riqueza da família
Leguminosae, no presente estudo, destaca a importância desta família na dinâmica
populacional da floresta.
O predomínio de espécies arbóreas quanto ao número de sementes, tal com
registrado no presente estudo, foi semelhante aos resultados de Araújo (2002),
Araújo et al. (2004) e Penhalber & Mantovani (1997). Por outro lado, Grombone-
Guaratini & Rodrigues (2002) verificaram que a maior parte dos diásporos pertencia
às lianas (48,2%). Os autores consideraram que esta forma de vida é abundante no
tipo de vegetação estudada. Assim como nos demais estudos citados acima, houve
menor ocorrência dos táxons herbáceos e arbustivos, independentemente da altura de
instalação dos coletores, no entanto, cabe ressaltar o fato de que a metodologia
adotada no presente estudo; na qual os coletores foram posicionados a 1,30 m do
solo, reduziu as chances dos diásporos dessas plantas serem amostrados.
A anemocoria prevalecendo sobre a zoocoria também foi registrada por
Penhalber & Mantovani (1997) e Grombone-Guaratini & Rodrigues (2002). Alta
porcentagem de anemocoria em comunidades tropicais tem sido associada ao grau de
perturbação da área estudada, pois a ausência de dossel contínuo pode facilitar a
dispersão de diásporos anemocóricos (Penhalber & Mantovani 1997). No presente
estudo, entretanto, a anemocoria foi favorecida pelo grande número de espécies
arbóreas e de lianas com esta síndrome de dispersão corroborando Pijl (1982) e
Howe & Smallwood (1982), os quais afirmaram que a dispersão anemocórica é
característica de espécies de estádios iniciais da sucessão de árvores do estrato
superior e de muitas lianas. A estratégia de dispersão dessas espécies pode estar
vinculada à Floresta Estacional Semidecidual, onde a deciduidade total ou parcial de
algumas espécies é comum na estação seca (capítulo 1), período de baixas
pluviosidades e ventos mais abundantes (Morellato 1995), favorecendo os diásporos
anemocóricos (capítulo 1, presente estudo).
A dispersão das sementes anemocóricas ocorrendo principalmente em
novembro assemelha-se ao relatado por Jackson (1981), em Floresta Ombrófila do
Espírito Santo. Esses diásporos são, geralmente, pequenos, leves, com pouco
endosperma e ao chegarem ao solo, em plena estação chuvosa estão aptos para
germinar.
44
A ocorrência de sementes de espécies secundárias iniciais foi semelhante ao
registrado por Penhalber & Mantovani (1997), os quais relataram que esta situação
pode ser explicada pelo fato das plantas de estádios iniciais da sucessão possuírem
períodos mais longos de frutificação, além de frutificarem anualmente.
As maiores porcentagens de sementes coletadas na estação chuvosa,
confirmaram a tendência de sazonalidade da chuva de sementes em florestas
tropicais (Jackson 1981, Penhalber & Mantovani 1997, Araújo 2002, Grombone-
Guaratini & Rodrigues 2002, Hardesty & Parker 2002). Entretanto, numa mesma
formação vegetacional, os períodos de maiores porcentagens de sementes coletadas
podem variar. Por exemplo, Grombone-Guaratini & Rodrigues (2002) afirmaram que
houve forte sazonalidade na queda dos propágulos, em Floresta Estacional
Semidecidual, no final da estação seca e início da chuvosa.
A densidade de sementes registrada no primeiro ano, apesar de cerca de 23
vezes menor que a registrada no segundo ano, é resultado da contribuição de várias
espécies, ao passo que a alta densidade de sementes no segundo ano, deveu-se,
principalmente, às duas espécies de Casearia, C. arborea e C. obliqua. Penhalber &
Mantovani (1997) afirmaram serem comuns variações na produção de sementes de
uma dada espécie, em anos distintos, isto é, alta produção de sementes entremeada
com baixa ou nenhuma produção. Em estudos fenológicos, realizados com 20
espécies arbóreas, dentre elas Casearia decandra e C. ulmifolia, na mesma área do
presente estudo e no mesmo período (capítulo 1), foi verificado que, ao contrário de
C. arborea e C. obliqua, aquelas espécies não frutificaram por dois anos
consecutivos. Espécies congenéricas e co-ocorrentes podem apresentar estratégias
reprodutivas diferentes, especialmente se apresentarem hábitats, morfologia floral e
polinizadores semelhantes; desse modo, a competição por polinizadores é
minimizada.
O valor encontrado para a similaridade florística (32%), no presente estudo,
pelo índice de Sorensen pode ser resultante de diferenças sazonais na floração e
frutificação das espécies durante o período estudado. Segundo Schupp (1900) e
Walker & Neris (1993), a chuva de sementes nem sempre reflete a vegetação de um
local, principalmente quando estudada por um período curto, já que o padrão de
floração supra-anual pode ser detectado com estudos de longo prazo. Além disso,
um dos fatores que pode ter contribuído para essa dissimilaridade florística entre as
espécies arbóreas presentes nas parcelas e as espécies de sementes coletadas, seria
45
que na composição da chuva de sementes estavam presentes, além das espécies
arbóreas, as espécies arbustivas, herbáceas e principalmente lianas.
Outro fator que poderia explicar este fato é que as sementes caídas nos
coletores, o necessariamente são provenientes das árvores daquelas parcelas, pois
trata-se de uma área com declividade, onde as copas das árvores se inclinam para
frente. Hardesty et al. (2002), trabalhando em Floresta Primária Semidecidual de
Terras Baixas, em Camarões, África, verificou que a composição das espécies e a
dominância da chuva de sementes diferiram substancialmente das espécies arbóreas
adultas. Para esses autores, a origem desta dissimilaridade se deu por ausência na
produção de frutos, ao longo do período de acompanhamento, assim como ausência
de mecanismos eficientes de dispersão a longas distâncias.
A grande variação espacial freqüentemente observada na chuva de sementes
(Martinez-Ramos & Soto-Castro 1993, Guariguata & Pinard 1998, Grombone-
Guaratini & Rodrigues 2002) pode produzir padrões muito distintos de regeneração
e, possivelmente, em função desta grande variação espacial, a maioria dos estudos
tem mostrado uma fraca relação entre as espécies que chegam através da chuva de
sementes e a diversidade de plantas estabelecidas em áreas de floresta não
perturbadas (Martinez-Ramos & Soto-Castro 1993, Penhalber & Mantovani 1997,
Harms et al. 2000).
Pelo exposto, concluí-se que, para a chuva de sementes em florestas tropicais,
os estudos de longo prazo são fundamentais devido a uma gama de fatores de
influência, pois a partir deles podem-se registrar os padrões supra-anuais de
frutificação, as variações climáticas entre os anos, principalmente intensidade de
chuvas e ventos, os quais podem danificar as flores e conseqüentemente a não
produção de diásporos, alterações nos mecanismos de polinização e dispersão, entre
outros.
46
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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49
CONCLUSÕES GERAIS
Os estudos fenológicos, realizados por 24 meses (dez/2004 a nov/2006), mostram
que dentre as espécies arbóreas estudadas, as 20 mais abundantes numa área de
1ha em Floresta Estacional Semidecidual, 13 são zoocóricas e sete anemocóricas,
nove são perenifólias, seis semidecíduas e cinco decíduas; no período de estudo,
exceto Piptadenia gonoacantha e Chrysophyllum gonocarpum, as demais
espécies florescem e frutificam.
Nas espécies semidecíduas e decíduas, o pico da queda foliar ocorre no final da
estação seca (agosto-setembro), seguida pelo brotamento, em setembro, período
de transição da estação seca para a chuvosa.
A produção de diásporos zoocóricos ocorre principalmente na estação chuvosa,
em outubro, e a de anemocóricos na estação chuvosa ou seca.
O padrão de floração das espécies é anual, exceto em Coutarea hexandra,
Dalbergia nigra e Macherium nyctitans que é supra-anual.
estabilidade no comportamento fenológico reprodutivo em Rollinia sylvatica,
Trichilia pallida, Siparuna guianensis, Brosimum glaziovii, Sorocea bonplandii,
Plinia glomerata, Coutarea hexandra, Allophylus edulis e Luehea grandiflora,
demonstrando que estão adaptadas às condições nas quais estão submetidas e que
apresentam maiores probabilidades de permanecerem na área estudada.
50
Espécies em estádios iniciais de sucessão, tais como Piptadenia gonoacantha e
Anadenanthera peregrina, apresentam limitações reprodutivas e, provavelmente,
tenderão a sair do trecho de floresta estudado.
Verifica-se que o número de indivíduos que devem ser analisados por espécie é
controverso, pois o acompanhamento de, no mínimo, 10 indivíduos com os
maiores CAP, tal como realizado, é suficiente para a caracterização fenológica de
algumas espécies e insuficiente para outras; nesse último caso, pode ser devido
ao desconhecimento da maturidade reprodutiva dos indivíduos selecionados.
A chuva de sementes, analisada na mesma área e período dos estudos
fenológicos, apresenta grande variação espacial e temporal e deve produzir
padrões distintos de regeneração, pois das 20 espécies avaliadas quanto à
fenologia, apenas 11 delas são registradas em coletores de sementes.
Na chuva registram-se 43 táxons, 38 deles identificados (espécie, gênero ou
família) e distribuídos em 17 famílias; Leguminosae é representada por 11
espécies.
A forma de vida dominante é a arbórea (63,1% das espécies), seguida pelas lianas
(28,9%), herbáceas (5,3%) e arbustivas (2,6%); a anemocoria (55,8%) predomina
sobre a zoocoria (44,2%).
A similaridade florística encontrada pelo índice de Sorensen entre as espécies da
chuva de sementes e as espécies arbóreas do trecho do fragmento estudado é
baixa (32%). Esse resultado mostra que a composição da vegetação arbórea
adjacente pouco influencia na chuva de sementes.
A densidade média de sementes entre os anos estudos é distinta, respectivamente,
113,92 e 2.603,84 sementes/m
2
.
Devido a essas diferenças, verifica-se que estudos de longo prazo o
fundamentais para melhor avaliar e caracterizar a chuva de sementes em florestas
tropicais.
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