transformações sociais, comportamentais e culturais da contracultura e a literatura não se
alertava para isso. Edvaldo Pereira Lima destaca:
A cidade de Nova York e em particular a Califórnia transformavam-se nos
laboratórios coletivos das experiências extremadas de ruptura com tudo o que
representasse o stablishment, o status quo de valores e modos de vida. Era, em
linguagem sistêmica, o melhor exemplo de uma força de interesses ocasionais
despontando no sistema social americano em confrontação direta com os valores
duradouros que tinham tornado os Estados Unidos em uma grande nação, um país
altamente industrializado, uma grande potência. Mas o confronto tinha uma
peculiaridade distinta. Não existia uma luta face a face, mas sim uma força que
simplesmente dava as costas à outra e se afastava em busca de seus próprios
caminhos. (LIMA: 2004, 193-194)
Como exemplos desse contexto Edvaldo Pereira Lima ressalta:
O psicodelismo grassava, e um desvairado professor da Califórnia desafia as
autoridades para poder experimentar, sob certo controle científico, os efeitos do
LSD. Timothy Leary. Bandos de roqueiros drogados saíam em seus easy riders –
alusão ao filme Sem Destino, com Peter Fonda, Dennis Hoper e Jack Nicholson,
lançando-o ao estrelato como o melhor personificador do anti-herói cínico, que
substituía, para essa geração revisionista, os heróis canastrões de Hollywood, tipo
Jonh Wayne -, fazendo seus happenings. E jovens, para o horror dos tios e pais e
avôs que tinham honrado a bandeira do Tio Sam na luta contra o nazismo ou no
embate do Pacífico, rasgavam seus certificados de convocação militar, desertavam
para o Canadá, recusavam-se a combater no Vietnã. (LIMA: 2004, 194)
Mesmo sob esse caldeirão efervescente os romancistas não se alteravam. Assim, vão
penetrando, aos poucos, os pioneiros do novo jornalismo, mergulhando cada vez mais fundo
nessa realidade em transformação, sentindo de perto os anseios e o pulsar da sociedade
americana em conflito consigo mesma. Esse contexto é mostrado por Edvaldo:
Começam pelos jornais – Herald Tribune, Daily News, The New York Times -,
crescem para as revistas dominicais de alguns periódicos - a New York, do mesmo
New York Herald Tribune, por exemplo -, amadurecem em revistas independentes –
notadamente The New Yorker e Esquire – e por fim alcançam o olimpo do estrelato
narrativo no livro-reportagem, tendo como marco inicial da maturidade alcançada A
sangue frio, de Truman Capote, lançado originalmente em 1966. (...) À objetividade
da captação linear, lógica, somava-se a subjetividade impregnada de impressões do
repórter, imerso dos pés à cabeça no real. (LIMA: 2004, 195)
Os jornalistas interessavam-se em aprender as técnicas do realismo, “começaram a
descobrir os recursos que deram ao romance realista seu poder único, conhecido entre outras