em primeira utilização da água corrente em moradias.
Em construção à parte ficam as comuas, cubículos de
madeira erguidos também sobre pés de esteios, por
cima de regos, d’água ou pocilgas.
Algumas destas fazendas compreendem ainda,
em apêndices, engenhos de cana, movidos a água ou por
animais, paióis, senzalas, casas de purgar, engenhos de
óleo, etc. Preferem meia encosta, nas proximidades de
rios e córregos, voltando-se, de preferência para o norte.
Na frente fica o terreiro cercado onde se prende o gado,
circundado de construções secundárias, cavalariças, casas
de agregados, etc. Terreiro quadrangular que lembra as
praças centrais das povoações e que, muitas vezes, com
o desenvolvimento do lugar, transformam-se de fato em
núcleo central de povoados.
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Algumas dessas características se mantêm nas fazendas
do Sul de Minas; outras, porém, desaparecem. Em primeiro
lugar devo dizer que peculiaridade da arquitetura mineira em
relação à paulista e à litorânea se confirma. Enquanto que,
na descrição acima, as fazendas são assentadas sobre esteios
de madeira e possuem varanda “em quase toda a fachada”,
arrematada por pequeno cômodo que pode ser a capela ou
quarto de hóspedes, nas fazendas por nós levantadas isso não
acontece. No Sul a estrutura autônoma de madeira das fazendas
assenta-se diretamente sobre muros ou alicerces de pedra. Estes
é que fazem o ajuste aos aclives naturais do terreno. Já não há
varandas e as capelas e quartos de hóspedes estão no interior
da edificação. A forma em L é comum aos dois casos, mas aqui
não mais como “puxados” e sim como parte integrante da
construção desde o início. As cozinhas são bastante amplas,
assim como todo o restante, mas as casas não são mais tão
“esparramadas no terreno”; tornam-se, no século XIX, mais
altivas, talvez por não mais possuírem o famoso telhado de
prolongo que conferia aquele tom esparramado às casas do
XVIII. As escadas se mantêm de pedra e externas e, ao contrário
do que acontece na descrição acima, não se insinuam na própria
varanda, de madeira e protegidas. Em planta, nas fazendas
acima, “os cômodos distribuem-se em torno da sala central,
às vezes duplicada”. Em nossa pesquisa há sempre essas duas
salas, cada qual com seus cômodos orbitais. A parte baixa da
construção, ou seja, o porão é fechado, sim, por paredes, ora de
pedra como alicerces, ora de pau-a-pique como vedo. Algumas
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VASCONCELOS, Sylvio, Arquitetura Colonial Mineira,
Separata do 1º Seminário de Estudos Mineiros, Imprensa
da UFMG, Belo Horizonte, 1957.p. 13, 14
Figura 2.1 - Telhado de prolongo (direita) na F. Bananal,
provavelmente cobria a antiga varanda lateral, atualmente
na fachada frontal há um alpendre. Foto: CFC
Figura 2.2 - Telhado de prolongo na fachada dos fundos
da F. Monjolo. Note que os frechais estão num nível mais
baixo que os demais frechais. Foto: CFC
Figura 2.3 - Varanda posterior (fundos) sob telhado de
prolongo na F. Engenho de Serra. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
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