Download PDF
ads:
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Dissertação de Mestrado
Cícero Ferraz Cruz
Fazendas do Sul de Minas Gerais
Arquitetura Rural nos néculos XVIII e XIX
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo
da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, como parte dos
requisitos para obtenção do Titulo de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.
Área de concentração: Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo.
Orientadora: Prof. ª Dr.ª Maia Ângela P.C.S. Bortolucci
São Carlos
2008
ads:
Projeto Gráfico: Juliana Azem Ribeiro de Almeida
Revisão Ortogfica: Vera Paiva
Autorizo a reprodão e divulgação total ou parcial deste trabalho,
por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e
pesquisa, desde que citada a fonte.
Cruz, Cícero Ferraz
C957f Fazendas do Sul de Minas, arquitetura rural nos
culos XVIII e XIX / Cícero Ferraz Cruz ; orientador
Maria Angela P. de C. e S. Bortolucci – São Carlos, 2008.
Dissertação (Mestrado-Programa de s-Graduação em
Arquitetura e Urbanismo e Área de Concentração Teoria
e História da Arquitetura e do Urbanismo) -- Escola de
Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo,
2008
1. Fazendas mineiras. 2. Arquitetura Rural. 3. Estrutura
autônoma. 4. História da arquitetura – Brasil. I. Título
Agradecimentos
Por se tratar de um trabalho de longa duração, se levarmos em
conta seu início desde os tempos da graduação, certamente
iremos esquecer pessoas que, de alguma maneira, contribuíram
para a pesquisa. O envolvimento com a pesquisa, muitas vezes,
transcende o campo profissional envolvendo nossos amigos e
a todos estes devo agradecer. Desde amigos que nos deram
informações sobre a existência de fazendas até parentes mais
velhos, que souberam nos contar seus modos de vida dos
tempos de infância.
De início agradeço às instituições que deram suporte
ao trabalho: ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura
e Urbanismo da EESC, onde foi desenvolvido o mestrado, ao
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo
da FAUUSP, onde foram cursadas diversas disciplinas deste
mestrado, e ao Departamento de Hisria da Arquitetura e
Estética do Projeto da FAUUSP, onde teve início este trabalho
no âmbito da iniciação científica e à FAPESP que nos concedeu
apoio financeiro durante a inicião cientifica através do
processo 96/9906-5.
Agradeço em primeiro lugar à Maria Ângela Bortolucci, que
me concedeu a honra de ser seu orientando, recebendo-me
de braços abertos em seu grupo de pesquisa em São Carlos.
Minha gratidão também ao professor Carlos Lemos que,
informalmente, orientou-me no peodo entre a iniciação e
o mestrado e, finamente, à memória do professor Antônio
Luiz Dias de Andrade, o Janjão, que me orientou na iniciação
científica e me iniciou no campo da pesquisa.
Agradeço ainda aos professores das cadeiras de
História, com os quais tive a oportunidade de estudar ao longo
desses anos e que foram importantes para minha compreensão
da história da arquitetura: professores Murilo Marx, Nestor
Goulart, Luiz Munari, Benedito L. de Toledo, Beatriz hl,
Mª. Lucia B. Pinheiro, Ana Lanna, Paulo sar G. Marins e
Mário Henrique DAgostinho e, é claro, ao Lemos e ao Janjão,
da FAUUSP; professores Alexandre Alves Costa e Fernando
Távora, da FAUP; professor Ivo Porto de Menezes e Celina
Borges Lemos, da UFMG e aos professores Renato Anelli e Mª
Ângela Bortolucci, da EESC. Aos funcionários Sara (FAUP), Silvia
e Eneida (FAUSP), Marcelo e Elena (EESC) por todo suporte
logístico. Ainda no campo dos professores, devo lembrar a
memória da professora Helena Ferraz, do Instituto de Química
da USP, minha tia, que embora não fosse da área, colaborou
com sua longa experiência acadêmica acompanhando de perto
a iniciação científica, suprindo a falta do Janjão. Agradeço aos
pesquisadores do grupo da professora Ângela em São Carlos,
especialmente a Vladimir Benincasa e a nossos colegas, Camila,
Valéria, Matheus, Natália, Joana, Ana, Luciana e Marcus e aos
companheiros do grupo de estudos rurais, os professores André
Argollo e Rafael Marquese.
A pesquisa de campo não seria possível sem a
colaboração de todos os proprietários das fazendas, que
gentilmente abriram as portas de suas casas, deram informações
e ainda indicaram muitas outras propriedades para serem
visitadas. Agradeço em especial as indicações dos fazendeiros
Geraldo Sandi Reis e Márcio Paiva em Varginha, José Ferraz em
Cristina, Walter Ribeiro Junqueira e Biju Carneiro em Carmo
de Minas, Sr. Américo em Carrancas, além da colaboração do
amigo Mateus Frota na zona de Ts Pontas. Indicões preciosas
também obtive com meu pai, Fernando Cruz Neto, agrônomo e
cafeicultor, profundo conhecedor da região. Ainda em falia,
contei com a ajuda de minha mãe, Eneida Carvalho Ferraz
Cruz, que, com seus conhecimentos de arquiteta, foi minha
interlocutora na alise dos levantamentos e suas posveis
interpretações. Também contei com os conhecimentos de meu
irmão Pedro sobre dobraduras, vertentes, talvegues, mares de
morros: geografia. Devo lembrar ainda a memória de meu avô
Pedro C. Junqueira Ferraz que, atras de suas hisrias, deu-me
muitas informações sobre a vida de nossos antepassados nas
fazendas. Alguma noção do ritmo de deslocamento nos séculos
XVIII e XIX adquiri nas viagens a pé e de bicicleta pelos antigos
caminhos com o amigo Rafael Hess.
No dia a dia do trabalho, desde a graduação, durante
os estudos em Portugal e depois no escritório, contei com
a paciência do sócio e amigo Fábio Mosaner, que foi meu
interlocutor em infinitas discussões e reflexões sobre a pesquisa,
além da compreensão por causa da necessária dedicação ao
mestrado. Compreensão também tiveram os arquitetos Chico
Fanucci e Marcelo Ferraz, da Brasil Arquitetura, que, durante
esses três anos do mestrado, souberam apoiar e incentivar os
estudos, as aulas na FAU Maranhão e as viagens a São Carlos.
Para a finalização da dissertão, contei com a ajuda de Vera
Paiva na revisão do texto e da Biju na diagramação, além da
preciosa ajuda dos colegas Pedro Del Guerra, Fabiana Paiva,
Victor Gurgel, Luciana Dornellas, Felipe Zene, Rebeca Grinspum
e Bernardo.para o escaneamento e tratamento de imagens.
Finalmente, agradeço a delicadeza de quem há doze
anos me acompanha nessa empreita, desde as primeiras viagens
aos sertões, ajudando-me com os levantamentos, até hoje em
dia. Dedico esse trabalho a Suzana e às nossas filhas, Rosa e Lia.
Sum ário
Resumo e A bstract
Introdução
Capítulo 1 - Sertão e Território - pg. 13
Capítulo 2 - Da Arquitetura - pg. 41
Capítulo 3 - Implantação e Conjunto Arquitetônico - pg. 53
Capítulo 4 - Técnica Construtiva - pg. 67
Capítulo 5 - Programa de Necessidades e Esquemas de Plantas - pg. 93
Capítulo 6 - Intenção Plástica e Preceitos Estéticos - pg. 107
Capítulo 7 - Levantamentos - pg. 117
Grupo de Cruzília - pg. 124
Grupo de Carrancas - pg. 169
Grupo de Varginha - pg. 185
Grupo de Carmo de Minas - pg. 237
Grupo de Itajubá - pg. 260
Grupo de São Gonçalo do Sapucaí - pg. 300
Grupo de Machado - pg. 307
Grupo de Guaxupé - pg.313
Considerações Finais - pg. 316
Anexo - Fazendas de outras regiões de Minas - pg. 319
Bibliografia - pg. 351
Resumo
Estuda a arquitetura das fazendas do sul do estado de Minas Gerais nos séculos
XVIII e XIX, período marcado pela ruralização e desenvolvimento da agropecria,
pelo deslocamento do eixo ecomico da província para a região sul e pela estreita
ligação esta região com a Corte do Rio de Janeiro. A rego delimitada é a poão sul
da bacia do Rio Grande, antiga Comarca do Rio das Mortes. São fazendas formadas
no período que vai de meados do século XVIII a o fim do século XIX, voltadas à
prodão de gêneros diversos baseada no trabalho escravo. A metodologia baseia-se
no levantamento como fonte priria, na comparação e cruzamento dos dados entre
as fazendas, sempre apoiado na bibliografia existente. Conclui que sua arquitetura
se caracteriza basicamente pelo uso da mesma técnica construtiva (estrutura
independente de madeira e fechamento de pau-a-pique), pelo uso dos mesmos
programas de necessidades e pela mesma inteão plástica de tradição clássica,
gerando uma família tipológica própria dentro do panorama da arquitetura nacional.
1.Fazendas mineiras. 2.Arquitetura Rural. 3.Estrutura aunoma. 4.História da
arquitetura – Brasil. I.Título
Farm Architecture of Southern
Minas Gerais.
This study is about rural farm architecture constructed in the eighteenth and
nineteenth centuries in the southern region of the state of Minas Gerais (General
Mines). This time period is characterized by ruralizaton, economic and social isolation,
and a continued link to Colonial Rio de Janeiro. Geographically, this particular region
of Brazil is part of the Rio Grande River basin, formerly the Rio das Mortes. The farms
studied are farms that were developed beginning in the mid nineteenth century until
the end of the 19th century, following the abolition of slavery. The methodology is
grounded in the survey as a primary aspect and in the comparison and intersection of
the researched facts between farm structures, always supported by existing studies.
I concluded that the architecture of this period of time is characterized by the use of
common construction methods (a freestanding wood structure sheathed in wattle and
daub), by similar programs of necessities and by the same material intention of the
classic tradition, generating a specific typology within the larger panorama of Brazilian
national architecture.
Key words: Farms of Minas Gerais 2.Rural Architecture 3.Freestanding structure
4.History of Architecture 5.Brazil
Introdução
Nossa pesquisa baseia-se principalmente nos levantamentos de campo como fonte
primária e inédita, para isso foram visitadas mais de 100 fazendas na região. Parte do
levantamento foi feita ainda durante a iniciação científica e teve apoio financeiro da
FAPESP.
A proposta inicial deste trabalho era levantar todas as fazendas do referido
período na região, fato que se mostrou cada vez mais difícil à medida que foram sendo
descobertas mais e mais fazendas ao longo da pesquisa. Portanto, nos restringimos ao
número que foi posvel levantar dentro de nossas limitações físicas e temporais. Além
dos levantamentos de campo, nos apoiamos também em trabalhos semelhantes de
pesquisadores como Sylvio de Vasconcelos, Ivo Porto Menezes, Helena Teixeira Martins,
Carlos Lemos, Daici Ceribeli Antunes Freitas, Antônio Luiz Dias de Andrade, Vladimir
Benincasa, entre outros.
Estruturamos nossa dissertão com o foco no material levantado, procuramos
esmiuçá-lo em todos os seus aspectos para que isto se torne uma fonte segura para
futuros pesquisadores. A arquitetura é o foco central de nossa dissertação que es
estruturada da seguinte maneira.
Em primeiro lugar, trataremos da conquista do território desde os primórdios com
as entradas e bandeiras até a ocupão efetiva do território com a fixação do homem na
terra através da abertura das fazendas. Depois vamos introduzir a questão da arquitetura
propriamente dita, dando um panorama da arquitetura naquela época na região
estudada e nas regiões vizinhas. Neste capítulo o tratadas de forma geral as principais
características que identificam o conjunto das fazendas. No terceiro capítulo inicia-se o
aprofundamento na descrição da arquitetura comando de fora para dentro, ou seja,
analisando primeiramente o conjunto arquitetônico da fazenda que inclui diversos edifícios
periféricos à casa principal e analisando a implantação deste conjunto na topografia
do território. No quarto capítulo vamos descrever e explicar minuciosamente a técnica
construtiva que se desenvolveu neste período na região buscando mostrar suas origens,
diferenças e semelhanças com as regiões vizinhas. No quinto capítulo vamos discutir o
processo evolutivo das tipologias regionais, principalmente a evolução dos esquemas de
plantas, desde as primitivas fazendas que serviam de apoio para os primeiros núcleos
exploratórios de ouro até as fazendas da virada do XIX para o XX. No sexto capítulo
trataremos dos conceitos estéticos inerentes às construções em questão relacionando-
as às regras clássicas aplicadas a arquitetura. Em seguida apresentamos as fazendas
levantadas agrupando-as por afinidades territoriais e, ao final, um anexo com fazendas de
outras regiões de Minas.
Fazendas do Sul de Minas Gerais
12
1-Sertão e Terririo
Trata da conquista do território, desde os primórdios, com as
entradas e bandeiras até a ocupação efetiva do terririo com a
fixação do homem na terra através da abertura de fazendas.
O sertão está em toda parte.
Guimarães Rosa.
Para se compreender a conquista e consolidação do território
brasileiro não podemos perder de vista o contexto colonial em
que se insere Império Português. As forças que atuavam em uma
ponta do Império, fossem na Ásia, na África ou na Metrópole
influenciavam decisões na outra ponta, no Brasil, e interferiam
nos rumos da ocupação territorial. Portanto a conquista de
novas fronteiras sempre foi uma constante na história do Brasil e
a transformação de sertão em território, no período colonial, era
a maneira pela qual se davam essas conquistas.
Nos dois primeiros séculos da ocupação do terririo
brasileiro, segundo Sérgio Buarque de Holanda (1983), a
exploração restringiu-se à ocupação da faixa litorânea. Não havia
qualquer preocupação em fincar raízes nos seres povoados
por ingenas, pois, para o colonizador português, povoamento
significava apenas criar feitorias na costa brasileira permitindo
um pido escoamento de mercadorias de cil e pida
extrão. Esses colonizadores, entretanto, sempre alimentaram
a esperança de encontrar ouro e metais preciosos nos seres
e, enfim, fazer cumprir o destino de colônia como já acontecera
na América Espanhola. A idéia de que metais preciosos seriam
encontrados sempre foi alimentada no imaginário do povo
ibérico por mitos como o da Lagoa Dourada. Em diversos mapas
dos primeiros séculos, embora bastante vagas, referências de
uma lagoa no centro do Brasil. Essa lagoa aparece ora localizada
nas cabeceiras do Rio São Francisco, ora nas cabeceiras do
complexo do Rio da Prata, no Rio Paraguai e no Rio Para. Às
vezes também aparece na Bacia do Amazonas.
Embora seja verdade que a população tenha se fixado
à faixa litorânea, seus colonizadores varreram os sertões ainda
nos primeiros séculos, criando rotas, vias de penetração. O mapa
brasileiro começa a ser desenhado por esses aventureiros que
penetravam sertão adentro e, já nos séculos XVI e XVII, muito
antes da descoberta do ouro, a configuração dos limites de
Figura 1.1 - Mapa geral, 1706 / Brasil, 1706. Note a
representão de uma lagoa nas cabeceiras do Rio São
Francisco. Fonte: Biblioteca Nacional.
Capítulo 1 - Sertão e Território
13
nosso terririo já estava bastante parecida com o que é hoje.
Esses caminhos, contudo, eram desconexos entre si, ligavam
pontos longínquos do sertão ao litoral e a única maneira de
conectá-los era por via marítima.
O desenvolvimento do sistema de vias de comunicação
acompanhou o povoamento que, em sua incipiente
interiorizão, gerou um padrão basicamente
homogêneo caracterizado pela ausência de conexões
intermediárias expressivas e constitdo por vetores
autônomos na forma de vias terrestres ou fluviais, com
duas extremidades básicas o sertão e o litoral e
tendo a via marítima como único eixo capaz de conferir-
lhes unidade.
1
Muito do desenho desses caminhos tem a ver com as
condições físicas da geografia brasileira, especialmente por seu
relevo e hidrografia. Além da costa, que foi detalhadamente
mapeada, houve muitas penetrações no interior da Arica
portuguesa, feitas em rias partes do território, principalmente
através dos grandes rios, nomeadamente o Amazonas, o São
Francisco e o Complexo da Prata. Essas penetrações por via
fluvial podem ser notadas nos mapas coevos devido à maior
quantidade de informações e dados ao longo dos cursos dos
rios, ficando as áreas intermediárias sem muitas informações.
Além das condições físicas, outro fator que também
contribuiu para a penetração no interior do continente foi a
existência de rotas milenares estabelecidas por povos indígenas.
Neste contexto, os paulistas, por causa de sua posição de
isolamento em relação ao litoral e, conseqüentemente, à
Metrópole, desenvolveram no Planalto um modo de vida
próprio, diverso das demais regiões da Colônia, bastante
mesclado com a cultura ingena. Com os índios aprenderam
a andar em fila, descalços, e assim assimilaram seu milenar
conhecimento da terra. Muito mais do que a força de trabalho,
os índios foram transmissores de conhecimento, essenciais à
empresa paulista. Algumas dessa trilhas percorridas por paulistas
foram a trilha dos Tupiniquins, de São Paulo até o sertão dos
Patos; a trilha Guarani, de Cananéia a Iguaçu e o Caminho do
Peabiru, do litoral ao Rio Paraná e, de lá, ao Peru.
2
A exisncia
de trilhas pré-cabralinas explicam a rapidez da penetração
conseguida na América portuguesa. Além dos conhecimentos
indígenas assimilados pelos paulistas, outro fator também
facilitou as entradas no sertão: na Capitania de São Vicente, ao
1
MORAES, Fernanda Borges de, A Rede Urbana da Minas
Coloniais: na Urdidura do Tempo e do Espaço, Tese de
Doutorado, São Paulo, 2005, p. 124
2
Idem, P 113.
Figura 1.2 - Mapa geral, 1706 / Brasil, 1706 / Uruguai,
1706 / Argentina, 1706 / Paraguai, 1706 / Brasil (Sul),
1706. Note a representação de uma lagoa na nascente do
Rio Paraguai. Fonte: Biblioteca Nacional.
Figura 1.3 - Mapa geral, 1706 / Brasil (Norte), 1706 /
Guiana, 1706. Note a notação Parime Lacus ao sul das
Guianas. Fonte: Biblioteca Nacional
Figura 1.4 - Mapa geral, 1726 / Brasil, 1726. Ver a notação
Great Lake na nascente do Rio São Francisco. Fonte:
Biblioteca Nacional
Fazendas do Sul de Minas Gerais
14
contrário das demais, os rios correm no sentido interior e não
no sentido do litoral. Após vencerem as escarpas da Serra do
Mar, a poucos quilômetros do litoral, os paulistas penetraram no
interior descendo os rios Tietê e Paraíba do Sul. A “paulistânea”
como batizou o professor Antônio ndido (1979) abrangia
grande parte do Sul, Sudeste e Centro Oeste brasileiro.
As áreas que mais tarde viriam a ser chamadas de
Minas Gerais foram percorridas desde o primeiro século após
o descobrimento do Brasil, como mostram alguns registros de
incursões territoriais no território mineiro.
A tradão também nos informa que por aquela
rego teria passado, em 1596, o bandeirante João
Pereira de Souza Botafogo, sem, no entanto, ficar bem
estabelecida a sua rota. Outros que se aventuraram,
ainda no culo XVII, foram Jerônimo da Veiga, em
1643; Sebastião Machado Fernandes Camacho, entre
1645 e 1648, em busca das minas de prata e o próprio
Fernão Dias Paes, em 1674.
3
Os primeiros ranchos e roças eram estabelecidos
em posões intermedrias de penetração e permitiam aos
bandeirantes o descanso e a obtenção de alimentos, dando
apoio aos grupos que avançavam mais sertão adentro. Essas
empreitadas, porém não contribuíram para o povoamento da
rego, nem por paulistas e muito menos pelos ingenas que
migraram para áreas mais distantes.
Figura 1.5 - Mapa geral, 1735 / Brasil, 1735. Note a
representão de uma lagoa na nascente do Rio Paraguai.
Fonte: Biblioteca Nacional.
Figura 1.6 - Mapa geral, 1704 / Brasil, 1704. Note a
representão de lagoa na nascente do Rio São Francisco e
alagado no Pantanal. Fonte: Biblioteca Nacional.
3
BRUNO, Ernani da Silva. História do Brasil (geral e
reginal). 2 Ed. São Paulo: Culturix, 1967, p.51
Capítulo 1 - Sertão e Território
15
rias entradas foram feitas naquelas paragens: pelo
Norte, vindos da Bahia; pelo Leste, do Espírito Santo; e pelo
Sul, oriundas do Rio de Janeiro e principalmente de São Paulo.
Nenhuma dessas incures que andavam em busca de riquezas
minerais ou caçando indígenas promoveu o povoamento do
terririo. Pelo contrário, esta última atividade concorreu para
o seu despovoamento com o deslocamento dos silvícolas
aprisionados como escravos para as fazendas de São Paulo ou
para a criação de gado e/ou engenhos do Nordeste açucareiro.
4
Esta primeira fase da conquista territorial praticamente
não deixou vestígios de arquitetura; sabe-se, entretanto, que
esses pequenos abrigos chamados ranchos” eram muito
precários como descreve Sylvio de Vasconcelos:
O rancho era uma peça única e servia de abrigo
coletivo. Nele moravam o chefe e seus servidores.
Havia ranchos com cobertura de uma água ou de duas
águas. Os de uma água, geralmente, tinham um de
seus lados apoiados sobre barrancos altos e, o outro,
sobre esteios rústicos, de forma cilíndrica. Os ranchos
maiores eram de duas águas. Todo o madeiramento era
roliço e tosco. A cobertura feita de fibras vegetais como
o sapé, folhas de palmeiras ou outros tipos de fibra. O
piso era de terra batida; no centro, havia uma trempe
sobre braseiro; nos cantos, eram colocados os jiraus
para dormir. Quando havia muito ocupantes, esses se
espalhavam pelo chão sobre esteiras e couros, pois em
Minas não foi muito difundido o uso da rede
5
Somente no final do século XVII, com a descoberta
de ouro, é que teve início o primeiro movimento expressivo
e definitivo de interiorização da população na Arica
portuguesa. As vilas paulistas sofreram adensamento
populacional e em Minas foram criadas diversas outras vilas.
Não foi por acaso que duas das três cidades erigidas na
colônia no século XVIII foram São Paulo (1711) e Mariana (1745),
sendo criadas ainda treze vilas em território mineiro, e mais duas
até o fim do período colonial.
Responsáveis pela descoberta do ouro, após imeras
incursões aos seres mineiros, desde meados do século XVII,
os paulistas foram os primeiros a se deslocarem para a rego
4
RODRIGUES, André Figueiredo, Os Sertões Proibidos da
Mantiqueira; In Revista Brasileira de História V. 23 nº46 São
Paulo, 2003, p.
5
VASCONCELOS, Sylvio de. Vila Rica: formão e
desenvolvimento; residências. São Paulo, Perspectivas,
1977. p.121
Fazendas do Sul de Minas Gerais
16
dos achados. Ainda que prerios, não passando de picadas, os
acessos utilizados foram aqueles já abertos pelos bandeirantes
em suas incursões ao território mineiro. Muitos desses caminhos
são de difícil reconstituição, com seus percursos sofrendo
alterações e ampliando-se em inúmeras variantes.
6
Com a descoberta do ouro no fim do século XVII, uma
revolução sem precedentes foi desencadeada surtindo efeitos
de ordem política, econômica e sociocultural. Do ponto de vista
potico-administrativo, o eixo administrativo deslocou-se para
o sudeste; em 1763 a capital do vice-reino foi transferida para
o Rio de Janeiro. Um verdadeiro rush migratório trouxe gentes
de várias partes de Portugal e de outras províncias brasileiras.
Surgiu uma complexa rede urbana que atou o Brasil disperso
dos dois primeiros séculos, ligando o sul, através do comércio de
tropas, e o nordeste ao centro-sul das minas de ouro atras do
rio São Francisco. Ao mesmo tempo, serviu de ponto de partida
para a ocupação dos seres de Goiás e Mato Grosso e conectou
a própria rego ao centro-sul criando uma complexa malha
vria. Do dia para a noite surgiram cidades, vilas, arraiais. A
população brasileira saltou de 300 mil habitantes em 1690 para
3.250.000 em 1798. Economicamente fez surgir um mercado
interno, estimulou a produção agrícola e de manufaturas para
atender à nova demanda populacional. Estimulou também a
criação de gado para corte e carga em vastas áreas no sul do
País, ocupando com isso a rego para além do Tratado de
Tordesilhas. O porto do Rio de Janeiro transformou-se no maior
porto de escravos e de exportação de ouro do País. Nunca se
importou tanto escravo como entre 1730 e 1750 (Boxer, 1969),
fazendo com que a população escrava atingisse 48,8% da
população do País. E, finalmente, a quantidade de ouro existente
no planeta dobrou naquele século. Social e culturalmente,
pela primeira vez no Brasil, a população ganhou uma maior
diversidade de estratos, surgiu uma classe média formada
por artesãos, mestres, funcionários do governo, militares,
profissionais das minas e artistas.
Logo os paulistas se tornaram minoria em Minas
Gerais, suplantados por uma população predominantemente
portuguesa, proveniente do continente e das ilhas; em segundo
lugar vinham gentes do Rio de Janeiro e depois da Bahia (Lemos,
1999). Vieram negros de diversas regiões da África e também
de outras partes do Brasil, mão-de-obra excedente, oriunda da
oscilação cíclica da produção canavieira da Bahia e Pernambuco.
6
MORAES, Fernanda Borges de, A Rede Urbana da Minas
Coloniais: na Urdidura do Tempo e do Espaço, Tese de
Doutorado, São Paulo, 2005 , p. 134
Capítulo 1 - Sertão e Território
17
As aglomerões humanas floresceram rapidamente; surgiram,
da noite para o dia, povoados, arraiais e vilas junto às datas de
mineração e ao longo dos caminhos. A sociedade ali formada
era portuguesa em sua essência, diferentemente da paulista
miscigenada em sua origem.
O ouro, que promoveu toda esta revolução, durou
pouco e logo na primeira metade do século XVIII estava em
plena decadência. Contudo deixou sua heraa duradoura: uma
vasta rede de caminhos, o comércio, as trocas, a agricultura, a
pecuária, e, sobretudo os assentamentos humanos.“Minas o
nasceu do ouro, a despeito de seu nome, nasceu dos caminhos,
dos lugares, das trocas. (Moraes, 2005.p. xx)
Em 1709 foi criada a Capitania de São Paulo e Minas do
Ouro, desmembrada do Rio de Janeiro. Em 1714, foram criadas
as comarcas do Rio das Mortes, Vila Rica e Rio das Velhas.
Em 1720, como conseqüência da Revolta de Vila Rica, D. João
V desmembrou a Capitania em duas, a Capitania das Minas
Figuras 1.7 - Mapa da Comarca do Saba / levantado por
Bernardo Jo da Gama, 1782-1854. Mostra a comarca
de Saba e as outras quatro comarcas que a circundam.
Fonte: Biblioteca Nacional.
Figura 1.8 - Mapa de 1780 da Comarca do Rio das
Mortes, onde estão representados os caminhos Velho e
de Fero Dias com sua variante a oeste. Fonte: Arquivo
Museu Regional de São Jo del Rei.
Fazendas do Sul de Minas Gerais
18
Gerais e a Capitania de São Paulo, criando na primeira mais
uma comarca, a de Serro Frio. As comarcas em Minas marcaram
a regionalização de seu terririo, dividindo a Capitania em
regiões com características próprias. A comarca do Rio das
Mortes, objeto de nosso estudo, equivale hoje ao sul do Estado
de Minas Gerais.
O sul da Capitania foi rota de penetração entre São
Paulo e as minas do ouro por sua posição entre a região
aurífera e o ponto de partida que era a cidade de São Paulo. Os
caminhos mais usados pelos paulistas foram ts: o primeiro,
que teria sido usado por Fernão Dias, ao qual foi dado nome
de Caminho de Fernão Dias; o segundo era chamado Caminho
de São Paulo ou Caminho Velho, e o terceiro era denominado
Caminho do Guaianazes (Moraes, 2005). Reconstitmos
esses caminhos baseados em descrições e em antigos mapas,
sobrepondo-os aos novos mapas e cotejando informações e
toponímia.
O caminho de Fero Dias partia de São Paulo, passava
por Atibaia, Bragaa Paulista, passava pelo registroJaguari na
altura de rio homônimo, transpunha a Serra da Mantiqueira na
altura de Camanducaia, seguia ao norte passando pela Serra de
Araquamaba (atual Canguava), passava pelo Rio do Peixe, pelo
topônimo Ts Iros, pelo povoado de Mandu (atual Pouso
Alegre) e rio homônimo, seguia a o povoado de Santana
do Sapucaí (atual Silvianópolis). Dali, em direção nordeste,
transpunha-se o Rio Sapucaí em local chamado Passagem do
Sapoc, chegando a São Gonçalo e depois à Campanha do Rio
Verde. De Campanha seguia-se novamente em direção nordeste
passando pelos rios São Bento, Verde (em local denominado
Ponte do Rio Verde), do Peixe, Ang e Capivari, chegando-se ao
local denominado Curralinho (o encontrada correspondência
nos mapas atuais) e dali encontrava-se com o Caminho Velho na
passagem do Rio Grande.
O Caminho Velho foi pormenorizado nos relatos de
Antonil de 1711.
No primeiro dia, saindo da vila de São Paulo, vão
ordinariamente a pousar em Nossa Senhora da Penha,
por ser (como eles dizem) o primeiro arranco de casa,
e não são mais que duas léguas. Daí, vão à aldeia de
Itaquequecetuba, caminho de um dia. Gastam, da
dita aldeia, até a vila de Moji, dous dias. De Moji vão
às Laranjeiras, caminhando quatro ou cinco dias até
Figuras 1.9 e 1.10 - Mapa da Comarca de Minas 1821
/ Mapa da Comarca do Rio das Mortes. Fonte: Arquivos
Históricos e Documentais da UFSJ.
Figura 1.11 - Mapa de Regionalização de Minas Gerais
no século XVIII que, grosso modo, corresponde às antigas
comarcas. Fonte: Cunha (2008)
Capítulo 1 - Sertão e Território
19
o jantar. Das Laranjeiras até a vila de Jacareí, um dia,
até as três horas. De Jacareí até a vila de Taubaté,
dous dias até o jantar. De Taubaté a Pindamonhagaba,
freguesia de Nossa Senhora da Conceição, dia e meio.
De Pindamonhagaba até a vila de Guaratinguetá,
cinco ou seis dias até o jantar. De Guaratinguetá até o
porto de Guaipacaré, aonde ficam as roças de Bento
Rodrigues, dous dias até o jantar. Destas roças até o pé
da serra afamada de Amantiqueira, pelas cinco serras
muito altas, que parecem os primeiros muros que o ouro
tem no caminho para que o cheguem os mineiros,
gastam-se três dias até o jantar. Daqui começam a
passar o ribeiro que chamam Passavinte, porque vinte
vezes se passa e se sobe às serras sobreditas, para
passar as quais se descarregam as cavalgaduras, pelos
grandes riscos dos despenhadeiros que se encontram,
e assim gastam dous dias em passar com grande
dificuldade estas serras, e daí se descobrem muitas e
aprazíveis árvores de pinhões, que a seu tempo dão
abunncia deles para o sustento dos mineiros, como
também porcos monteses, araras e papagaios. Logo,
passando outro ribeiro, que chamam Passatrinta, porque
trinta e mais vezes se passa, se vai aos Pinheirinhos,
lugar assim chamado por ser o princípio deles; e aqui
roças de milho, abóboras e feio, que são as
lavouras feitas pelos descobridores das minas e por
outros, que por querem voltar. E só disto constam
aquelas e outras roças nos caminhos e paragens das
minas, e, quando muito, têm de mais algumas batatas.
Pom. Em algumas delas, hoje acha-se crião de
porcos domésticos, galinhas e frangões, que vendem
por alto preço aos passageiros, levantando-o tanto
mais quanto é maior a necessidade dos que passam. E
daí vem o dizerem que todo o que passou a serra da
Amantiqueira deixou dependurada ou sepultada a
consciência. Dos Pinheirinhos se vai à estalagem do Rio
Verde, em oito dias, pouco mais ou menos, até o jantar,
e esta estalagem tem muitas roças e vendas de cousas
comesveis, sem lhes faltar o regalo de doces. Daí,
caminhando três ou quatro dias, pouco mais ou menos,
até o jantar, se vai na afamada Boa Vista, a quem
bem se deu este nome, pelo que se descobre daquele
monte, que parece um mundo novo, muito alegre: tudo
Fazendas do Sul de Minas Gerais
20
campo bem estendido e todo regado de ribeirões, uns
maiores que outros, e todos com seu mato, que vai
fazendo sombra, com muito palmito que se come e
mel de pau, medicinal e gostoso. Tem este campo seus
altos e baixos, porém moderados, e por ele se caminha
com alegria, porque têm os olhos que ver e contemplar
na prospectiva do monte Caxambu, que se levanta às
nuvens com admirável altura.
Da Boa Vista se vai à estalagem chamada Ubaí, aonde
também roças, e seo oito dias de caminho
moderado até o jantar. De Ubaí, em ts ou quatro dias,
vão ao Ingaí. Do Ing, em quatro ou cinco dias, se vai
ao Rio Grande, o qual, quando está cheio, causa medo
pela violência com que corre, mas tem muito peixe e
porto com canoas e quem quer passar paga três vinténs
e tem também perto suas roças. Do Rio Grande se vai
em cinco ou seis dias ao rio das Mortes, assim chamado
pelas que nele se fizeram, e esta é a principal estalagem
aonde os passageiros se refazem, por chegarem já
muito faltos de mantimentos. E, neste rio, e nos ribeiros
e córregos que nele dão, muito ouro e muito se tem
tirado e tira, e o lugar é muito alegre e capaz de se
fazer nele morada estável, se o fosse tão longe do
mar. Desta estalagem vão em seis ou oito dias às plantas
de Garcia Rodrigues. E daqui, em dous dias, chegam à
serra de Itatiaia. Desta serra seguem-se dous caminhos:
um, que vai dar nas minas gerais do ribeirão de Nossa
Senhora do Carmo e do Ouro Preto, e outro, que vai dar
nas minas do rio das Velhas, cada um deles de seis dias
de viagem. E desta serra também começam as roçarias
de milho e feio, a perder de vista, donde se provêem
os que assistem e lavram nas minas.
7
Este caminho, juntamente com o caminho de Fernão Dias
foi cotejado por nós entre as diversas fontes para reconstituir,
em um novo mapa sobre as bases atuais, as velhas rotas.
7
. ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. 3.
ed. Belo Horizonte : Itatiaia/Edusp, 1982, p.78 (primeira
edição em Lisboa, 1711)
Capítulo 1 - Sertão e Território
21
Concluímos que o Caminho Velho passa, grosso modo, por rotas
conhecidas. Saindo de São Paulo, segue o Rio Parba a a altura
de Guaratinguetá, dali subindo a Serra da Mantiqueira para
atravessá-la na Garganta do Embaú. Dali passa por Pinheirinhos
(não encontrada referência em mapas atuais) e depois pela
Estalagem do Rio Verde, às margens do rio homônimo
(provavelmente atual Pouso Alto), seguindo até Boa Vista
(atual Caxambu). Da Boa Vista vai-se a Ubaí (o é encontrada
referência em mapas atuais), dali até o Ingaí, atualmente
Rio Angaí e fazenda homônima. Dali segue-se sem maiores
descrições a o Rio Grande. Neste trecho, embora Antonil o
tenha dado maiores refencias, encontramos em mapas coevos a
passagem pelo Favacho, depois por Carrancas, indo se encontrar
com o Caminho de Fernão Dias na passagem do Rio Grande.
Após a passagem do Rio Grande, os caminhos não são mais tão
claros e definidos; surge um emaranhado de caminhos junto à
zona mineratória de São João del-Rei e São José que se liga à
outras zonas mineratórias e à região da Zona da Mata.
Segundo Moraes, o terceiro caminho saindo de São
Paulo com destino a Minas Gerais era o Caminho dos Guianases
passava pelo Vale de Mogi-Guaçu, vindo a desenvolver variantes
que passavam por Jacuí e por Cabo Verde tendo sido usado
pelos sertanistas Mathias Cardozo, Domingos Jorge Velho,
Manuel Álvares Navarro e Francisco Dias Siqueira em suas
incursões ao nordeste (Moraes, 2005).
Mas talvez o caminho mais antigo fosse o Caminho
Geral do Sero que, segundo Moraes,articulavao Paulo
aos Seres Nordestinos, saindo de Pinheiros rumo ao norte,
Figura 1.12 - Mapa de 1804 da Comarca do Rio das
Mortes com destaque para os rios Grande e Pardo. Note
ainda o Verde e o Sapucaí e seus afluentes. Aparece o
caminho de Fernão Dias. Fonte: Costa (2004)
Figura 1.13 - Mapa da Comarca do Rio das Mortes de
1778, onde, além do Caminho de Fero Dias, aparece um
caminho paralelo passando por Ouro Fino e derivando a
oeste em Lucas Borges. Fonte: Costa (2004)
Fazendas do Sul de Minas Gerais
22
passando ao leste de Jundiaí, atravessando o Rio Grande até o
São Francisco, daí se desenvolvendo ao longo de suas margens
(Moraes, 2005. p135). Este caminho, ao contrário dos anteriores,
não tinha como destino as minas, mas sim o nordeste. Note
que a descrição é bastante vaga, principalmente ao descrever a
travessia do Rio Grande, podendo coincidir em suas variantes com
o Caminho dos Guaianases em sua passagem por Jacuí e Cabo
Verde, especialmente Jacuí, porque logo após se dava a passagem
pelo Rio Grande na altura de Piuí, chegando às cabeceiras do Rio
o Francisco. Neste mesmo sentido seguia também a Estrada de
Goiás, onde o Rio Grande “podia ser atravessado entre Igarapava
e Miguelópolis, a jusante da ilha de Roberto ou do Pepino, as as
corredeiras da Escaramuça e da Espinha.
8
8
. BACELLAR, Carlos de Almeida Prado &
BRIOSCHI, Lucila Reis. Na Estrada do Anhanguera, EDUSP,
o Paulo. 1999. P. 47
Figura 1.14 - Mapa da Capitania de Minas Gerais com
suas comarcas, 1778. Onde estão marcados os principais
caminhos. Na comarca do Rio das Mortes aparecem: em
vermelho, o caminho velho, em salmão o caminho de
Fero Dias, e em amarelo claro os caminho secundários a
oeste. Fonte: Rwocha (1995).
Figura 1.15 - Mapa da Comarca do Rio das Mortes de
1800. Fonte: Costa (2004)
Capítulo 1 - Sertão e Território
23
Nos fins século XVII foi iniciada por Garcia Rodrigues
Pais a abertura do Caminho Novo, que ligava o Rio de Janeiro
diretamente à região de Ouro Preto. Esse caminho reduzia em
aproximadamente 15 dias o tempo de viagem do Caminho
Velho da Cidade do Rio de Janeiro, que seguia pelo mar até
Parati e, dali, a o Vale do Paraíba onde se encontrava com o
Caminho Velho de São Paulo. , contudo, certa confusão nas
nomenclaturas porque, em meados do século XVIII, foi aberto o
Caminho Novo de Piedade ligando as cidades do Vale do Paraíba
à cidade do Rio de Janeiro por terra, sem necessidade de descer
até Paraty e concluir o caminho por via marítima. Esse o
deve ser confundido com o Caminho Novo de Garcia Pais. Com
base nessas informações, desenhamos um panorama geral dos
principais caminhos que cruzavam a Comarca do Rio das Mortes.
Durante o período colonial a postura da potica
administrativa do Estado visava ao controle das minas e, por
isso, coibia a abertura de novos caminhos, o que facilitava o
controle e a cobrança de impostos e evitava a fuga de riquezas.
Assim foram estabelecidos, ao redor das minas, postos de
controle do fisco, os chamados registros. Nas divisas do terririo
da Comarca do Rio das Mortes com a Capitania de São Paulo
foram estabelecidos os registros da Mantiqueira, de Jaguari,
de Toledo e de Caldas. Essa postura de controle e coibição vai
se reverter após 1808, com a vinda de D. João VI quando, ao
ins de coibir, o Estado passa a incentivar a abertura de novos
caminhos a fim de facilitar o escoamento da produção para
Figura 1.15 - Mapa da Comarca do Rio das Mortes. Nesta
mapa estão representados com precisão os caminhos, rios,
passagens, registros e vilas da comarca. Fonte: Arquivo
Museu Regional de o João del Rei - cedido pela Fundação
João Pinheiro.
Figura 1.16 - Mapa da Comarca do Rio das Mortes de
1809 com a divisão das freguesias e termos.
Fonte: Costa (2004)
Fazendas do Sul de Minas Gerais
24
abastecimento da Corte. São dessa época a Estrada do Comércio
e a Estrada da Polícia, passando pelo Vale do Parba fluminense
e mineiro e acabando por ligar a região de São João-del-Rei
ao Caminho Novo, o que fez encurtar em muitos dias o tempo
de viagem ao Rio de Janeiro. De meados do XIX é a Estrada
do Picu, esta propriamente em terririo sul-mineiro, ligando a
rego de Baependi / Aiuruoca ao Vale do Paraíba num ponto
abaixo de Areias, mais próximo ao Rio de Janeiro, servindo como
alternativa mais curta ao Caminho Velho. Essa estrada foi aberta
por proprietários de Baependi, Campanha e Pouso Alegre em
1822, encurtando em cinco dias o caminho para a Corte.
Mas mesmo durante o século XVIII a política de controle
o evitou, de todo, a abertura de novos caminhos e a dispersão
da população ocupando novas áreas. Foi o caso da ocupação
dos “seres da Mantiqueira”.
Com a intenção de coibir o contrabando do ouro
pó, caminhos ”não oficiais“ e a existência de lavras
imemoriais, o governo metropolitano mandou que se
fechassem quaisquer trilhas e logradouros existentes nas
imediações das áreas mineratórias, tornando algumas
reges “áreas proibidasà ocupação. Foi o caso, por
exemplo, dos seres da Mantiqueira / seres do Leste,
na fronteira sul da capitania de Minas Gerais.
9
A denominação “áreas proibidas” foi criada em
1736 pelo Bando de Aditamento ao Regimento de Minerar,
que proibia que se lançassem posses de terras situadas nas
extremidades não povoadas de capitania. Ao impossibilitar a
abertura de novos caminhos e picadas nos matos, em áreas
Figura 1.17 - Mapa de 1801 da divisa da capitania de
Minas Gerais com São Paulo na Serra da Mantiqueira.
Note que a região estava cortada por diversos caminhos
e picadas (salmão) além do Caminho Velho (vermelho)e
ocupada com a presença da fazendas. Fonte: Costa (2004)
9
RODRIGUES, André Figueiredo, Os Sertões Proibidos da
Mantiqueira; In Revista Brasileira de História V. 23 nº46
o Paulo, 2003. p.
Capítulo 1 - Sertão e Território
25
onde inexistiam registros e vigilância das patrulhas,tentava-
se evitar extravios do ouro. Contudo as áreas proibidas
continuaram a ser ocupadas, tanto por atividades agrícolas
quanto mineradoras, a tal ponto que o governador dom Rodrigo
José de Meneses enviou àquela rego o intendente da Comarca
do Rio das Mortes, Félix Vital Nogueira, a fim de verificar se
“interesses particulares sobrepunham-se aos dos povos do
império português.
Em 1780 o governador encaminhou uma expedição
comandada pelo tenente coronel Francisco Annio Rebelo para
os mesmos fins; finalmente, em 1781, o próprio governador
percorreu as supostas “áreas vedadas dos seres” constatando
a efetiva ocupação realizadafurtivamente” através de anos,
sem que os governadores anteriores desconfiassem dela. Diante
disso promoveu oficialmente a ocupação daquela rego através
da busca de novos veios auríferos e da doação de sesmarias.
Instalou secretaria provisória naquele sertão, onde recebeu
mais de oitocentos requerimentos solicitando a repartição de
terras agrícolas e minerais da Mantiqueira”. O ordenamento da
rego enquadra-se num contexto maior de política colonial
portuguesa, que o era somente povoar as terras devolutas,
mas transformar seus habitantes em bons vassalos, pagadores
de tributos e laboriosos, conforme os interesses do Estado”
(Rodrigues, 2003).
Não foi a primeira e nem teria sido a última vez que
o Império laaria mão desse procedimento ao longo da
colonização. O reduzido poderio econômico e o pequeno
contingente populacional português, diante da extensão do
império e, principalmente, frente aos demais impérios europeus,
fizeram com que o Estado agisse com ascia ao delegar a
particulares o que deveria ser de sua alçada, concedendo-
lhes doões de terras, títulos nobiliárquicos, e facilidades em
contrapartida. O sertão era algo que se movia continuamente;
era empurrado cada vez mais para longe cedendo lugar ao
território devidamente tributado. Assim, transformava-se sertão
em território.
Numa colônia cujas fronteiras ainda eram móveis e
provisórias, cujos limites só seriam traçados em 1777
mas que, até o século XX, seriam redefinidos -, a
expansão e as frentes de povoamento eram extramente
importantes.
10
10
SOUZA, Laura de Mello. Desclassificados do Ouro: a
pobreza mineira no século XVIII. Rio de Janeiro: Edições
Graal. 4ªedição 2004
Fazendas do Sul de Minas Gerais
26
O sistema de concessão de sesmarias data dos
primórdios da fundação do Estado Português; foi criado em
1375 e perdurou até 1827, sendo extinto no reinado de D. Pedro
I. Essa era a maneira pela qual se obtinham oficialmente as terras
no Brasil durante esse período; as sesmarias eram concessões
que o Estado fazia aos sesmeiros, que não eram proprietários
da terra e sim concessiorios. A partir do ano de 1850, quando
da lei nº. 601 do Império, a chamada Lei de Terras, o sistema
passou a ser o de propriedade privada da terra. As sesmarias
tinham área definida, mas um mesmo fazendeiro poderia obter a
concessão de rias sesmarias contíguas, caracterizando grandes
latifúndios. Em sua segunda viagem ao Rio de Janeiro, Minas
Gerais e São Paulo, Saint-Hilaire (1974) tece considerações a esse
respeito:
“Retalhou-se o solo pelo sistema de sesmarias,
concessões que se podiam obter depois de muitas
formalidades e a propósito das quais era necessário
pagar o título expedido. O rico, conhecedor do
andamento dos negócios, tinha protetores e podia fazer
bons favores; pedia-as para cada membro de sua família
e assim alcançava imensa extensão de terras.
11
Dessa maneira, após 1808, o Estado incentivou a criação
de caminhos e a ocupação de terras ao longo desses caminhos
e rotas, fazendo concessões de sesmarias, principalmente entre
a capital e a rego das minas, incentivando a produção e
facilitando o abastecimento.
Sabemos que, no primeiro momento após a descoberta
do ouro, houve grande demanda por alimentos, gerada
pelo abrupto aumento da população. As áreas paulistas, já
estabelecidas, tornaram-se abastecedoras de gêneros alimentícios
para a população das minas. Aos poucos foram sendo criadas
fazendas nas regiões das minas e ao longo dos caminhos. Essas
propriedades tornaram-se novas abastecedoras da populão
mineira. Muitas vezes os proprietários preferiam dedicar-se à
atividade agrícola, que era certa e também lucrativa, a arriscar-
se nas minas, atividade incerta e em decadência. As terras da
Comarca do Rio das Mortes, famosas por sua qualidade, foram
preferidas por esses proprietários e, no Mapa da Regionalização
(figura 1.11), foram chamadas de “Campos do Sul.
11
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Segunda viagem a Minas
Gerais e São Paulo . Belo Horizonte: Itatiaia 1974, p. 23
Capítulo 1 - Sertão e Território
27
O gado dos arredores do Rio Grande tem justificada
fama, graças ao tamanho e força. Alimentadas em
ótimos pastos, as vacas o leite quase tão rico em
nata quanto o das nossas montanhas. Com ele se faz
grande quantidade de queijos exportados para o Rio de
Janeiro.
12
Inicia-se, assim, a efetiva ocupação do sul de Minas,
agora não mais com ranchos emeros, mas através de fazendas
que se dedicam ao abastecimento, algumas delas existentes até
hoje. Note-se que a atividade agropecuária não era antagônica
à atividade mineraria; ao contrio, eram complementares e
coexistiram num mesmo período.
Geralmente a ocupação rural em Minas está ligada a
uma visão de decadência, de ruralização.
Antigos mineradores e negociantes se transformam
em fazendeiros; artesãos e empregados se fazem
posseiros de terras devolutas. Citadinos ruralizados
espalham-se pelos matos, selecionando a terra
o pela riqueza aufera, mas por suas qualidades
para moradia e cultivo.(...) muitas parentelas antes
ricas, mas de bens minguantes, emigraram com sua
escravaria para sesmarias conseguidas em terririos
ermos. Aí reconstituem núcleos de vida autárquica,
novamente orgulhosos de só dependerem do comércio
para o provimento do sal, mal escondendo, atrás dessa
vaidade, a sua penúria
13
.
Ora, somente se ruraliza aquele que é da cidade,
passando a idéia de que a nova populão rural é a população
urbana em decadência. Ao contrário, sabemos hoje que a
atividade rural se expande à medida que a demanda por
alimentos aumenta e foi exatamente o que promoveu uma
maior ocupação das terras do sul de Minas. Sua população não
era formada apenas por citadinos ruralizados, mas também por
portugueses que chegavam em ondas de migração constantes
que eram absorvidas pela população local, em muitos casos pela
classe proprietária. Primeiro porque abasteciam a população
urbana da própria Capitania, principalmente de outras Comarcas
onde a atividade mineraria era mais intensa e o solo o
apresentava maiores qualidades para o cultivo. Em um segundo
momento, porque, após 1808, a demanda é puxada pelo
13
RIBEIRO, D. O povo brasileiro: evolução e o sentido do
Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1995.
12
Idem, ibidem, p.48
Fazendas do Sul de Minas Gerais
28
desequilíbrio populacional provocado pela transfencia da
Corte para o Rio de Janeiro e pelo conseqüente aquecimento da
economia brasileira. Em seguida, com o advento da cafeicultura,
o sul de Minas refoa novamente sua vocação, abastecendo não
só a Corte, mas também as regiões produtoras de ca no Vale
do Paraíba.
Não podemos excluir de todo a questão da decadência,
tratada por Souza (2004) em O Falso Fausto. Houve, sim, casos
como a citação de Ribeiro, mas esta não é a única face da
moeda. Essa visão da hisria mineira passa a ser revisada a
partir da década de 1980 com Alcir Lenharo em As Tropas da
Moderação, onde se explica como o sul de Minas passou a ser
o principal pólo abastecedor da Corte e suas relações com o
Império. A partir d, muitos trabalhos contemponeos como o
de F. B. Moraes vêm corroborar a idéia do deslocamento do eixo
econômico da Capitania de Minas Gerais para a poão sul no
fim do século XVIII, consolidando-se durante todo o século XIX.
Em fins do XVIII, é visível o deslocamento do eixo
econômico da capitania das áreas mineradoras centrais
para a rego da Comarca do Rio das Mortes que,
em razão da fertilidade de suas terras e figurando
como centro de comércio em expansão, acabava por
incorporar a mão-de-obra escrava excedente oriunda
das áreas auríferas em processo de exauso. (...) Das
sete vilas erigidas do último quartel do século XVIII até
o fim do período colonial, seis pertenciam à Comarca
do Rio das Mortes São Bento do Tamanduá (1789),
Queluz (1790), Barbacena (1791), Campanha da Princesa
da Beira (1798), Baependi e São Carlos do Jacuí (1814).
14
Note que a população da Comarca se concentrava na
parte leste da região; das seis vilas, apenas uma, São Carlos
do Jac, fica a oeste do Rio Sapucaí. Apesar do aumento da
atividade econômica no sul da Capitania e da fundação de vilas,
esses arraiais e vilas tinham vida intermitente, recebiam grande
população apenas por ocasião das festas e acontecimentos
religiosos. Como notou Saint-Hilaire ao passar pelas vilas de
Juruoca e de Taubaté.
Não é habitada durante a semana senão por
mercadores, operários e prostitutas. Mas aos domingos
e dias de festa, torna-se um lugar de reunião para todos
14
MORAES, Fernanda Borges de, A Rede Urbana da Minas
Coloniais: na Urdidura do Tempo e do Espaço, Tese de
Doutorado, São Paulo, 2005, p.378
Capítulo 1 - Sertão e Território
29
os agricultores da comarca.
(...)
Como em todas as cidades do interior do Brasil, a
maioria das casas fica fechada durante a semana só
sendo habitada nos domingos e dias de festas.
15
À medida que a demanda por novas terras aumenta, a
expansão se dá no sentido leste-oeste, seguindo o sentido dos
rios Grande, Verde e Sapucaí, em território mineiro, e os rios
Mogi e Pardo, que nascem em território mineiro e seguem para
São Paulo. Esses vetores de ocupação seguem até encontrar
velhas rotas como a Estrada de Goiás e o Caminho Geral do
Sertão. Ao mesmo tempo, aprofunda-se também a ocupação
de antigas áreas com o desdobramento de antigas fazendas
dando origem a fazendas mais novas. A chegada da populão
mineira à Estrada de Goiás, região nordeste de São Paulo vai
marcá-la profundamente como bem descreve Freitas (1986)
em Arquitetura Rural do Nordeste Paulista. Outra zona, fora
da Capitania de Minas Gerais, que também sofreu inflncia
mineira foi o Vale do Paraíba no período de desenvolvimento
de sua lavoura cafeeira, como veremos a seguir. Portanto a
ocupação do Sul de Minas deu-se preferencialmente de leste
para oeste. Via de regra as fazendas situadas mais a leste da
rego demarcada são mais antigas que a oeste. Mas como a
abertura de fazendas também se dá por “saltamentos” o inverso
também acontece. Por exemplo, Jacuí, situada no extremo
oeste da rego, foi fundada antes de muitas cidades situadas
ao centro ou a leste da região. Portanto pode haver em Jac
fazendas mais antigas do que em Três Pontas. Não devemos
nos esquecer também de fatores pontuais que influenciaram a
abertura de fazendas como a existência de minas de ouro como
as minas de Itajubá, São Gonçalo e Ouro Fino, a fundação de
vilas e a ocupação ao longo de antigas rotas. De fato, quando
analisamos as datas estimadas da fundão das fazendas,
verificamos que ao leste existe maior concentração de fazendas
mais antigas, o que o exclui, de todo, a existência de fazendas
do XVIII na poão oeste do sul de Minas.
Os seres a oeste do Rio Sapuc eram desabitados até
meados do século XVIII e somente a partir da década de 1740
começam a ser povoados como mostram os documentos do
Abecedário de Moradores da Província de Minas Gerais Secção
de Manuscritos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
15
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Segunda viagem a Minas
Gerais e São Paulo . Belo Horizonte: Itatiaia 1974, p.77
Fazendas do Sul de Minas Gerais
30
Década de 1740: José Pires Monteiro, natural de Jacareí,
descobre ouro na margem esquerda do Rio Sapucay
dando início ao povoamento a oeste do rio.
2 de março de 1746 o português Francisco Martins
Lustoza, vindo da freguesia da Campanha do Rio Verde,
é nomeado Guarda Mor Regente do novo descoberto e
da região do Sapucaí.
Agosto de 1748: o Rei de Portugal ordena ao
Governador mineiro, Gomes Freire de Andrade, que
fizesse nova definição das linhas divisórias das capitanias
“como melhor lhe aprouvesse.
19 de setembro de 1749, o Ouvidor Geral do Rio das
Mortes, Dr. Tomaz Rubim de Barros Barreto do Rego,
atravessando o Rio, foi ter ao Arraial de Santana do
Sapucay, onde fez a divisão e posse ordenadas por
Gomes de Freire Andrade.
1755: Pedro Franco Quaresma, vindo do Arraial de
Ressacatú, descobre ouro na rego de São Carlos do
Jacuy, cuja posse é tomada pela Câmara de Jundiaí.
Fundamenta-se neste fato a questão da posse mineira
ou paulista na região.
4 de março de 1755, o padre Icio Paes de Oliveira
é provido, como capeo curado, pelo Bispado de São
Paulo.
5 de setembro de 1764: o Governador da Capitania de
Minas Gerais, Luiz Diogo Lobo da Silva, resolve fazer
uma viagem de inspeção pelas reges limítrofes com a
Capitania de São Paulo. Partindo de Vila Rica, dirigiu-se
a comitiva a São João del Rey, tomando rumo noroeste
pela margem do Rio Grande, passando por Oliveira,
Tamanduá, Piunhi, e atravessando o Rio Grande, junto
à barra do Sapucay, penetrou na região sul-mineira.
Chegando ao arraial de São Pedro de Alcântara e Almas
do Jacuí, o General Luiz Diogo, destituiu as autoridades
paulistas e publicou um Bando, em 24 de setembro
de 1764, pelo qual regulou a posse mineira naquela
localidade. 1775: as paróquias mineiras eram restitdas
ao Bispado de São Paulo.
16
Os fatos arrolados acima mostram como a região foi
sendo regulamentada ao longo da segunda metade do XVIII.
No fim do XVIII os limites administrativos já estavam definidos.
A rego do oeste do Sapucaí era governada por Minas Gerais,
16
Abecedário de Moradores da Capitania de Minas
Gerais Secção de Manuscritos da Biblioteca Nacional
do Rio de Janeiro Ano 1792. Livro nº5 Comarca do
Rio das Mortes
Capítulo 1 - Sertão e Território
31
mas no que diz respeito ao poder eclesstico, ainda em 1799,
a rego pertencia à diocese de São Paulo como mostra o mapa
acima. (figura 1.18)
No fim do século XVIII a região hoje conhecida como
Sul de Minas, recorte espacial de nossa pesquisa, já estava
perfeitamente desenhada como mostra o mapa acima. Esta
parte da Comarca do Rio das Mortes, que exclui a região ao
norte do Rio Grande, possui caractesticas culturais pprias que
buscamos identificar neste trabalho através de sua arquitetura. A
delimitação atual do território em estudo será feita no capítulo
sete.
Se observarmos os mapas do fim do XVIII e início do XIX
notaremos um emaranhado de caminhos logo ao norte do Rio
Grande, região das fazendas analisadas pela pesquisadora Helena
Martins, hoje denominada Campo das Vertentes. A região pors
analisada, ao sul do Rio Grande, não possui a mesma profusão
de caminhos. Ao se referir aos caminhos que ligavam a região
de São João del Rei ao Caminho Geral do Sertão, a pesquisadora
descreve:
Todos esses caminhos eram desertos, áridos, perigosos
e variantes, sujeitos a assaltos e piratarias. Os meios
de transporte eram tropas de burro, carros de bois,
comboios e liteiras conduzidas por escravos ou por
animais, sendo comuns os percursos a pé. Foram
Figura 1.18 - Mapa de toda a extensão da Campanha da
Princesa e limites entre São Paulo e a capitania das Minas
do Ouro, 1799. Note que o Bispado de São Paulo vai até
o limite do Rio Sapucaí enquanto que a capitania termina
na linha representada ligando os diversos registros. Fonte:
Souza (2004).
Fazendas do Sul de Minas Gerais
32
17
MARTINS, Helena Teixeira: Sedes de Fazendas Mineiras -
Campos das Vertentes - Séculos XVIII e XIX.Belo Horizonte,
BDMG Cultural, 1998, p.34
instalados ranchos de tropeiros ou pousadas, que am
de dar abrigo a viajantes, tornaram-se também postos
de abastecimento, de negócios e de produção de algum
alimento, podendo ser considerados como precursores
das fazendas.
17
Como relata a citação acima e outras imeras citações
de viajantes, os percursos e o transporte de mercadorias eram
feitos em tropas de burros, carros de bois, comboios, liteiras, a
cavalo ou a pé e suas medidas eram dadas em léguas. Segundo
o diário de viagens de Saint-Hilaire, as distâncias percorridas em
um dia o passavam de seis léguas, sendo comuns percursos
menores em regiões montanhosas. Isso pode nos dar a idéia da
densidade da ocupação no ano de 1822. A rego percorrida
pelo viajante já estava regularmente ocupada nesta data, pois
o se passavam mais de uma a seis léguas sem se deparar com
habitantes e pouso seja em fazendas, vendas, registros ou vilas.
Pelo menos a cada quarto de légua se encontrava uma
venda, um rancho, assinalam os viajantes. (...) Observa-
se, o raro, um caráter de complementaridade entre
fazenda, rancho, venda, pastagens, postos em serviço
de modo integrado.
18
Em relação à população que ocupou a região, conta-
nos a historiografia tradicional, especialmente a paulista, que
houve um refluxo dos paulistas que teriam voltado das minas
em direção a São Paulo. Foi o que Luis Saia (1999) chamou de
paulistas de torna viagem”. Mas esse tipo de migração foi
demasiadamente restrito e pontual em relação ao montante
de colonizadores daqueles sertões, pois a grande maioria
Figura 1.19 - Mapa Original dos Itinerios de Saint-Hilare.
Fonte: Acervo do Instituto Histórico e Geogfico do Rio
Grande do Sul.
18
LENHARO, Alcir. As Tropas da Moderação. O
abastecimento da Corte na formação política do Brasil:
1808-1842. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura
/ Prefeitura, 1993, p.62, 63
Figura 1.20 - Croqui do itinerio feito por Saint-Hilaire
em sua segunda viagem a Minas, São Paulo e Rio. Fonte:
Saint-Hilaire (1938).
Capítulo 1 - Sertão e Território
33
de paulistas já havia sido expulsa das minas na Guerra dos
Emboabas ou teria sido absorvida pela esmagadora maioria da
população branca, portuguesa em sua essência. O caso mais
conhecido de “paulista de torna viagem” é o da fazenda do
Rosário em Itu, descrito por Carlos Lemos em Casa Paulista:
Isso realmente aconteceu com os sucessos de guerra
dos Emboabas e com o regresso de gente de São Paulo
vinda para aplicar em lavouras o ouro economizado
nos anos passados em Minas, como Roque Soares de
Almeida, como aquele Pacheco fundador do engenho
do Rosário, em Itu, e poucos outros. Esses paulistas de
volta ao seu berço, fixados na bacia do Tietê, nada têm
a ver com esses mineiros em busca de novas pastagens
para o seu gado no nordeste de São Paulo.
19
Outra versão muito comum que constatamos na
historiografia tradicional é que antigos mineradores tornaram-se
agricultores como já foi anteriormente citado por Darcy Ribeiro
(1995). Ao longo de nossa pesquisa mostramos não ser essa a
única versão. Analisando a história de cada fazenda, seja através
de inventários, seja atras de livros de genealogia, constatamos
que a maioria das falias teve como primeiro patriarca-embro
um português vindo diretamente de Portugal ou das Ilhas para
a rego sul, sem que tivessem necessariamente passado pela
região ou atividade mineradora. Geralmente esses imigrantes
portugueses, recém-chegados a partir de meados do século
XVIII, casavam-se com uma mulher branca da terra, também de
origem portuguesa, mas muito em Minas. Como observa
Lemos, mesmo os proprietários mineiros, ditos da terra”, eram,
em última instância, portugueses.
Aliás, quando falamos de mineiros, é certo que nos
referimos também a portugueses, porque na verdade
todo mineiro era necessariamente um reinol de
formação, pois por essa época haveria no máximo uma
terceira geração descendente de imigrados Portugal.
20
Essa constante corrente migraria talvez tenha
contribuído para a diferenciação dessas fazendas do Sul de
Minas das demais fazendas de outras regiões da Capitania,
especialmente devido aos mestres-construtores que eram, em
sua maioria, portugueses.
19
LEMOS, Carlos A. C. Casa Paulista. São Paulo: EDUSP,
1999, p. 76.
20
Idem, Ibidem p.136
Fazendas do Sul de Minas Gerais
34
Além do casamento consangüíneo, que garantia a
permanência da propriedade na mesma família, esses mineiros
também apreciavam casar suas filhas com portugueses,
contribuindo para sua assimilação paulatina na sociedade local.
Nesse tempo os senhores de Sesmaria e Fazendas
destes sertões, quase sempre homens brancos, de
boa educação e de famílias honradas e tendo alguma
fortuna, lutavam com dificuldade para arranjarem
casamentos condignos para as suas filhas, pois havia
falta de rapazes nessas condições. O ‘portuguêsou
‘novato’ como eram conhecidos, salvavam todas as
situações difíceis, contanto que o dote aparecesse com
a noiva. O preconceito contra o caboclo e o homem
de cor auxiliava muito o colono português, porque
esses homens rudes e cheios de si, dispensavam muito
o caboclo e o mulato e tinham como honra casar uma
filha com europeu.
21
Durante muito tempo a historiografia tradicional
relacionou, ou melhor, vinculou certos postulados a
propriedades rurais. A produção voltada à exportação e que
usava mão-de-obra escrava estava vinculada à monocultura
e a grandes propriedades. A policultura estava vinculada a
pequenas propriedades e à mão de obra familiar e sua produção
destinada à subsistência. Estes conceitos tão arraigados geram
certa dificuldade em se compreender a atividade econômica
das propriedades do Sul de Minas no período analisado. Estas
fazendas eram grandes propriedades, possuíam mão-de-
obra escrava, porém produziam uma vasta gama de gêneros
destinados ao consumo e também à exportação
22
. As fazendas
do Sul de Minas foram uma exceção no cerio nacional como
observou Caio Prado Jr.
E é aqui que encontramos as principais daquelas poucas
exceções acima lembradas de grandes propriedades,
fazendas, ocupadas unicamente com a produção de
gêneros de consumo interno.
23
Ou ainda em Lenharo:
Nem toda economia mineira refluiu para a subsistência.
(...) E nem a economia de subsisncia - no caso, a
21
BARCELLOS, Luiz – Sero da Pedra Branca, disponível
em <http://www.cristina.mg.gov.br> acessado dia 12 de
maio de 2008
22
*O termo exportação na linguagem da época significa
exportar para outras províncias e o para fora do país
com hoje.
23
PRADO JR,Caio. Evolução política do Brasil e outros
estudos. 8. ed São Paulo, Brasiliense, 1972. p. 162
Capítulo 1 - Sertão e Território
35
do Sul de Minas estava fechada sobre si mesma,
operando com baixo teor de produtividade, uma vez que
era de natureza mercantil e voltada para mercados.
24
Não se pode dizer que eram fazendas ligadas a algum
determinado ciclo econômico” como o ciclo do ouro, do café
ou da cana. Esta seria uma visão muito reducionista da hisria.
São fazendas que produziam toda sorte de gêneros alimentícios
e de abastecimento, gêneros que atendiam ao mercado regional
e também eram exportados para outras praças, principalmente
para o Rio de Janeiro. Esses fazendeiros constitam uma classe
que o pode ser classificada como uma classe de agricultores,
cafeicultores, senhores de engenho, usineiros, nem mesmo
de fazendeiros, porque muitas vezes tinham também outras
atividades. Quem melhor definiu esta classe foi Alcir Lenharo
ao chamá-los, apenas, de proprietários ou classe proprietária. O
termo proprietários envolve também proprietários de escravos,
de terras, de gado, de negócios.
Essas fazendas tinham também uma outra face que
o se revela nos recenseamentos da produção econômica da
província; são fazendas que, antes de tudo, serviam a si pprias,
sustentando sua ppria autarquia ibérica, individualista e
personalista. Seus proprietários bravateavam orgulhosos de
somente dependerem do comércio para o provimento de sal e
querosene. As fazendas assim formadas constituíam mais uma
forma de ocupação do terririo do que meio de prodão de
algum produto específico. Os produtos eram rios e varveis
conforme a necessidade de cada período e de cada região.
Conforme as falias iam crescendo, aumentava a necessidade
de se procurarem mais e mais terras. Um a de transformar
sertão em território e arrebanhar mais terras é o que moveu essa
gente cada vez mais a oeste, conquistando novas áreas.
Num primeiro momento, a pecuária foi a principal
atividade. Sendo um bem semovente, a criação de gado foi a
maneira mais pida de penetração e ocupação do território,
selecionando preferencialmente as áreas de topografia suave
dos campos de altitude. Nos recenseamentos feitos no Segundo
Império, registro da crião de gado vacum, cavalar, sno
e ovino efetivada em larga escala. Do gado se exportavam
principalmente a carne, o toucinho, o queijo e a sola. A carne
era exportada na forma do gado em pé” uma complexa cadeia
até chegar ao Rio de Janeiro onde as reses eram abatidas. Ao
fixarem-se na terra produziam, sim, toda sorte de alimentos,
24
LENHARO, Alcir. As Tropas da Moderação. O
abastecimento da Corte na formação política do Brasil:
1808-1842. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura
/ Prefeitura, 1992, p.61
Fazendas do Sul de Minas Gerais
36
tanto para as necessidades domésticas quanto para exportação.
Os principais gêneros agcolas foram a cana-de-açúcar,
destinada à prodão de rapadura, pinga e açúcar para doces;
milho para fazer farinha e fu nos moinhos e monjolos e para
alimentar animais; ca para o consumo e exportação; arroz
e feijão para o consumo e fumo para exportação, além de
hortaliças e frutas para o consumo exclusivo na fazenda; esse
tipo de gênero não se comercializava. O fumo teve grande
peso na pauta das exportões do sul de Minas, sendo famoso
por sua quantidade e qualidade, imortalizado por Oswald de
Andrade no poema Pau Brasil. O leite e os queijos também
tinham grande qualidade como observou Saint-Hilaire que, como
bom francês, não deixou de compará-lo aos de sua terra.
A fazenda que pernoitei foi edificada por um mineiro;
a casa do dono é ampla e constrda de pedra, e tem
um madeiramento bem bonito (...). Este homem o
se ocupa em minerar ouro como o sogro; aproveita
os pastos que rodeiam a habitação para criar animais;
possui cerca de mil cabeças de gado e faz muito
queijo.
25
Rancho de Traituba, 2 de mao 4 léguas. Como
ats disse, fecham-se todas as noites os bezerros num
curral e as vacas aproximam-se sozinhas da fazenda,
Desde a madrugada fazem-nas entrar no terreiro
onde são ordenhadas por negros e negras. Despejam
então o leite em pequenos barris cintados de aros de
ferro e transvasam-no por meio de cuias, cortadas
longitudinalmente, pela metade.
26
O café foi cultivado na região desde primórdios da
cafeicultura no Brasil, no icio do século XIX. Essa fase,
contemponea à produção cafeeira no Vale do Parba, teve
caráter local, o exatamente de subsisncia; era voltada ao
consumo, ao comércio intraprovincial. Apenas os munipios da
zona da mata, como Leopoldina, tinham produção em grande
escala como nas propriedades da região de Vassouras. A partir
da segunda metade do XIX inicia-se uma segunda fase da
cafeicultura no sul de Minas. Com a chegada do trem de ferro,
muda-se o caráter da prodão que passa a ser em larga escala
e voltada à exportação; muitas das fazendas analisadas tiveram
suas estruturas adaptadas para a produção de café nesta fase.
25
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Segunda viagem a Minas
Gerais e São Paulo . Belo Horizonte: Itatiaia 1974, p. 41
26
Idem, ibidem, p.48
Capítulo 1 - Sertão e Território
37
Am da adaptação das antigas instalões, houve tamm
o surgimento de novas fazendas, ou novas casas em antigas
fazendas, abandonando a velha técnica construtiva e utilizando a
alvenaria portante de tijolos a partir da virada do XIX para o XX.
Na década de 1970 tem icio a terceira fase, marcada
pelas novas tecnologias de pesquisa, plantio e produção, pelas
novas formas de transporte (rodovrio) e comercialização
(porto seco). Nesta fase, o Sul de Minas se consagra como a
principal região cafeeira do Brasil. A cultura do ca é muito
ligada, no imaginário brasileiro, ao fausto e à nobreza devido à
sua trajeria no Brasil, principalmente no Vale do Parba. Isso
torna muito tentadora a associação desse produto à imagem de
qualquer rego, mesmo que não tenha tido o café um papel tão
relevante nos primórdios da ocupação. Portanto a associação do
café com as fazendas do sul de Minas, embora muito tentadora,
deve ser feita com muito cuidado, distinguindo-se suas fases. Na
sua origem, essas fazendas o eram, em absoluto, “fazendas
de café”. São raríssimas as propriedades em que se pode
perceber que os terreiros e demais equipamentos do conjunto
cafeeiro tenham sido feitos à mesma época da constrão das
casas; na maioria dos casos as instalações para a produção e
o beneficiamento do ca foram feitas depois, adaptando-se à
situação existente.
Conforme já dissemos, a passagem do século XVIII para
o XIX, o Sul de Minas desponta como centro econômico da
província, deslocando o eixo econômico da região mineradora
para a Comarca do Rio das Mortes. A mudança da condição de
Colônia para sede do Império, a partir de 1808, veio consolidar
Figura 1.21 - Mapa da San Paulo Brazilian Railway
mostrando a malha ferroviária de São Paulo e Minas
Gerais. Note que a malha ferroviária perfaz antigas rotas
como o Caminho Velho e caminhos a oeste, mas abandona
completamente o Caminho de Fernão Dias. Fonte:
Rodigues (2006)
Fazendas do Sul de Minas Gerais
38
essa tendência e, durante o século XIX, os proprietários do
Sul de Minas foram responsáveis pelo abastecimento da
Capital, estabelecendo inclusive ligações poticas com a Corte.
Embora o tenha tido influência direta no Sul de Minas, o
desenvolvimento da cafeicultura, ocorrido no Vale do Parba,
teve grande importância para a manutenção econômica do Sul
de Minas uma vez que o café foi a base da economia do período
Imperial. Podemos dizer que, durante o Império, o Sul de Minas
fazia parte da interndia carioca; a população da Comarca do
Rio das Mortes estava muito mais ligada ao Rio de Janeiro do
que à Ouro Preto.
Foi justamente durante no século XIX que surgiu o
maior número de fazendas; podemos a supor que uma
quantidade muito maior do que as remanescentes encontradas
nesta pesquisa, talvez dez vezes mais. Este peodo produziu
uma arquitetura própria, diversa das de outras regiões, que
passaremos a estudar a seguir.
Capítulo 1 - Sertão e Território
39
Fazendas do Sul de Minas Gerais
40
2-Da Arquitetura
Introduz a questão da arquitetura propriamente dita, dando
um panorama do que ocorreu naquela época na região. Neste
catulo são tratadas as principais características que identificam
o conjunto das fazendas estudadas.
Está para ser escrita a hisria desses mineiros sem alternativa
a não ser a procura de terras a oeste, rios abaixo.
Carlos Lemos.
A partir do levantamento dessas fazendas, vamos agora fazer
uma análise das soluções arquitetônicas adotadas, comuns a
todas elas, apontando e identificando uma família tipológica
diversa das demais fazendas de regiões circunvizinhas, tais como
as fazendas da rego Metropolitana, também chamada central
ou mineradora, da Zona da Mata, do Campo das Vertentes, do
Oeste, do Vale do Paraíba e do Nordeste Paulista. (ver anexo)
As fazendas do século XVIII da região mineradora foram
objeto de análise dos professores Sylvio de Vasconcelos e Ivo
Porto Menezes e são a principal fonte bibliográfica dos estudos
da arquitetura rural em Minas Gerais que passaremos a comentar
mais adiante. As fazendas do Campo das Vertentes foram
analisadas pela pesquisadora Helena Teixeira Martins e também
constituem uma família diversa da sul mineira, mais antiga, com
aspecto mais irregular e características próximas às descritas por
Vasconcelos. Na Zona da Mata encontramos fazendas mais ligadas
à expansão cafeeira em torno do Caminho Novo, com tipologias
variadas, algumas mais ligadas à arquitetura do Vale do Paraíba
Fluminense, outras à da região mineradora, ambas diversas das do
Sul de Minas. No Oeste de Minas não temos muitas referências
bibliográficas, mas a julgar por algumas fazendas do Triângulo,
podemos supor que as fazendas daquela área se assemelham mais
à tipologia do Campo das Vertentes, de onde ambas são oriundas.
No Vale do Paraíba encontramos uma imensa diversidadecnica
e tipogica, algumas casas bastante semelhantes às de nossa
pesquisa, outras bastante diferentes estética e tecnicamente. Desta
região podemos citar as abrangentes pesquisas do professor Carlos
Lemos, Janjão e de Vladimir Benincasa. No Nordeste Paulista
encontramos também uma arquitetura bastante influenciada
pela mineira, sem, contudo, possuir uma unidade tipológica; essa
região foi estudada por diversos pesquisadores, entre eles Daici
Freitas, Brioschi & Bacellar, Lemos e Benincasa entre outros.
Capítulo 2 - Da Arquitetura
41
Como vimos, as regiões do Vale do Paraíba e nordeste
paulista sofreram influência da arquitetura mineira e seus
pesquisadores recorreram, principalmente, aos clássicos
escritos de Sylvio de Vasconcelos, o primeiro e mais importante
pesquisador da arquitetura rural mineira. A pesquisa de
Vasconcelos, como todo clássico, tem a capacidade de
estabelecer critérios abrangentes de modo conciso e sintético
e, como todo clássico, tem a necessidade de ser revista. Em
Vasconcelos o viés modernista está presente no modo de
interpretação de nossa arquitetura tradicional, assim como
estava presente na obra de Lucio Costa e seus colegas da
primeira gerão do Movimento Moderno, que buscavam na
arquitetura do período colonial as raízes da arquitetura moderna.
Além disso, a pesquisa de Sylvio se concentrava principalmente
na região central de Minas , no século XVIII. Muitas vezes,
por falta de outros trabalhos mais específicos, a arquitetura
descrita por Vasconcelos foi generalizada para todo o estado
de Minas Gerais. Como vimos no catulo anterior, Minas são
muitas e no século XVIII apresentava uma regionalização
que dividia a capitania em zonas: ao centro, as minas, ao longo
do São Francisco, a zona curraleira; ao sul os campos, e, nas
extremidades noroeste e nordeste, os sertões. As comarcas
também foram, por essa época, muito mais que subdivisões
jurídicas. Desta maneira, cada região desenvolveu características
culturais próprias a partir de suas atividades econômicas, de suas
ligações poticas, seus povos formadores, sua estrutura social,
etc. A partir do fim do século XVIII e icio do XIX, como vimos
no capítulo anterior, o eixo econômico da província desloca-
se da região central para o Sul de Minas e a arquitetura ali
desenvolvida apresenta algumas características diferentes, e o
menos importantes, daquelas da rego central no século XVIII.
Tendo sido a rego sul, nomeadamente a Comarca do Rio das
Mortes, o centro econômico da província por mais de um século
e pólo irradiador de emigrantes para diversas regiões vizinhas,
suas peculiaridades culturais, incluindo as arquitetônicas, foram
difundidas e contribuíram imensamente para a formação da
identidade cultural mineira. Há diversos registros de proprietários
procedentes dessa comarca (vilas de São João-del-Rei, Aiuruoca
e Baependi) no Vale do Paraíba Fluminense e Paulista, no
Nordeste Paulista e também no atual Sul de Minas.
A partir do texto de Vasconcelos que passamos a
descrever abaixo vamos, uma a uma, cotejando as características
de cada grupo mostrando suas diferenças e semelhanças.
Fazendas do Sul de Minas Gerais
42
Restará abordar a arquitetura rural. Esta, mais do
que a urbana, confirma com maior ênfase a tese da
peculiaridade das soluções mineiras, quando estas
postas em confronto com realizações paulistas ou
litoneas. O tipo comum destas últimas parece ser, no
norte, a casa de dois pavimentos, com sua varanda de
canto, assinalada por quantos desenhos nos ficaram da
época: em São Paulo a casa baixa, de taipa de pio,
construída em terraplenos, com sua varanda toda
aberta, entalada entre dois cômodos externos. Em
Minas a solução é bem diversa. Ergue-se a construção
sobre esteios de madeira, pelo menos na sua parte
de frente, ficando a posterior ao nível do terreno,
solução permitida pelos aclives naturais que não se
corrigem. A varanda interessa a quase toda a fachada
cuja composição se define no ritmo de seus apoios
verticais repetidos. De um lado, rematando-a, fica um
pequeno modo, a capela ou quarto de hóspedes,
partido que, em planta, pode ajustar-se ao paulista ou
evoluindo destes mas que igualmente participam da
tradição portuguesa. Para os fundos aparece o puxado,
em L, e aí se instalam os serviços, nomeadamente a
cozinha, ampla bastante para servir às refeições de
escravaria e mesmo, dos senhores rurais. Aliás, as
casas de fazendas mineiras são amplas em todos os
sentidos, esparramadas nos terrenos, com grandes peças
largamente ventiladas e iluminadas, sejam quartos, salas
ou varandas, a escada de acesso a estas, vestíbulo da
construção, nave da capela, modo de receber e de
estar, se coloca, a princípio externamente, descoberta,
em pedra. Depois insinua-se, na própria varanda, cujo
piso rasga e penetra, já então de madeira e protegida.
Os cômodos distribuem-se em torno da sala central, às
vezes duplicada uma de frente, outra de trás com
corredores de permeio facilitando o transito autônomo
entre determinadas peças.
A parte baixa da construção não se fecha
por paredes. Quando muito com balstres de seção
quadrada postos losangularmente, em gradeado,
compondo depósitos de gêneros, pocilgas, currais de
bezerros, etc. Em frente à porta de saída da cozinha a
bica d’água, trazida de longe em regos, constituindo-se
Capítulo 2 - Da Arquitetura
43
em primeira utilização da água corrente em moradias.
Em construção à parte ficam as comuas, cubículos de
madeira erguidos também sobre pés de esteios, por
cima de regos, d’água ou pocilgas.
Algumas destas fazendas compreendem ainda,
em apêndices, engenhos de cana, movidos a água ou por
animais, paióis, senzalas, casas de purgar, engenhos de
óleo, etc. Preferem meia encosta, nas proximidades de
rios e córregos, voltando-se, de preferência para o norte.
Na frente ca o terreiro cercado onde se prende o gado,
circundado de constrões secunrias, cavalariças, casas
de agregados, etc. Terreiro quadrangular que lembra as
praças centrais das povoações e que, muitas vezes, com
o desenvolvimento do lugar, transformam-se de fato em
núcleo central de povoados.
1
Algumas dessas características se mantêm nas fazendas
do Sul de Minas; outras, pom, desaparecem. Em primeiro
lugar devo dizer que peculiaridade da arquitetura mineira em
relação à paulista e à litorânea se confirma. Enquanto que,
na descrição acima, as fazendas são assentadas sobre esteios
de madeira e possuem varanda em quase toda a fachada”,
arrematada por pequeno modo que pode ser a capela ou
quarto de hóspedes, nas fazendas por nós levantadas isso não
acontece. No Sul a estrutura aunoma de madeira das fazendas
assenta-se diretamente sobre muros ou alicerces de pedra. Estes
é que fazem o ajuste aos aclives naturais do terreno. Já o
varandas e as capelas e quartos de hóspedes estão no interior
da edificação. A forma em L é comum aos dois casos, mas aqui
o mais como “puxados” e sim como parte integrante da
construção desde o icio. As cozinhas são bastante amplas,
assim como todo o restante, mas as casas não são mais tão
esparramadas no terreno”; tornam-se, no século XIX, mais
altivas, talvez por o mais possuírem o famoso telhado de
prolongo que conferia aquele tom esparramado às casas do
XVIII. As escadas se manm de pedra e externas e, ao contrio
do que acontece na descrão acima, não se insinuam na ppria
varanda, de madeira e protegidas. Em planta, nas fazendas
acima, os modos distribuem-se em torno da sala central,
às vezes duplicada”. Em nossa pesquisa sempre essas duas
salas, cada qual com seus cômodos orbitais. A parte baixa da
construção, ou seja, o poo é fechado, sim, por paredes, ora de
pedra como alicerces, ora de pau-a-pique como vedo. Algumas
1
VASCONCELOS, Sylvio, Arquitetura Colonial Mineira,
Separata do 1º Seminário de Estudos Mineiros, Imprensa
da UFMG, Belo Horizonte, 1957.p. 13, 14
Figura 2.1 - Telhado de prolongo (direita) na F. Bananal,
provavelmente cobria a antiga varanda lateral, atualmente
na fachada frontal há um alpendre. Foto: CFC
Figura 2.2 - Telhado de prolongo na fachada dos fundos
da F. Monjolo. Note que os frechais estão num nível mais
baixo que os demais frechais. Foto: CFC
Figura 2.3 - Varanda posterior (fundos) sob telhado de
prolongo na F. Engenho de Serra. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
44
Figura 2.4 - Varanda entalada na F. Quebra Canoas em
Ponte Nova, Zona da Mata. Fonte: Acervo CEMIG
Figura 2.5 - Varanda corrida com acesso por escada
paralela na F. São Sebasto em Sete Lagoas, região
Metropolitana. Fonte: Acervo CEMIG
Figura 2.6 - Varanda frontal corrida com acesso por
escada paralela na F. Cachoeira em Santa Maria de Itabira,
região Metropolitana. Fonte: Acervo CEMIG
Figura 2.7 - Varanda frontal corrida com acesso por
escada paralela na F. Leitão em Belo Horizonte, região
Metropolitana. Fonte: Acervo CEMIG
Figura 2.8 - Varanda frontal com escada de pedras
perpendicular à fachada. F. Martins em Brumadinho,
região Metropolitana. Fonte: Acervo CEMIG
Figura 2.9 - Detalhe da escada da F. Martins, mesmo
detalhe de voluta de pedra do Solar do Pomarco em
Portugal. Fonte: Acervo CEMIG
Figura 2.10 - Solar do Pomarco em Portugal. Fonte:
Amaral (1961).
Capítulo 2 - Da Arquitetura
45
aberturas se fazem nessas paredes e, neste caso, são gradeadas
como descrito acima por Sylvio Vascolcelos.
Quanto ao conjunto, não há grandes mudanças: a
água continua sendo uma constante e outras construções
complementares continuam formando terreiros, pátios e
currais. Quanto à implantação, sempre são preferidas as meias
encostas nas proximidades de rios e córregos, “voltando-se
preferencialmente para o norte. Quanto à orientação, que
acabamos de reiterar, devemos fazer um alerta: a descrição feita
por Vasconcelos quer dizer que os sítios destinados à implantão
eso preferencialmente nas faces norte dos terrenos, ou seja,
nas faces soalheiras e não nas faces noruegas. Isso não quer
dizer em absoluto que alguma fachada da casa, principal ou não,
seja preferencialmente voltada para o norte. Como veremos no
capítulo seguinte, a orientação de fachadas tem mais a ver com o
agenciamento do conjunto do que com a orientação solar.
Algumas características descritas por Sylvio, nomeadamente
as varandas com capelas, são reiteradas por Menezes:
A varanda é quase indispensável nas construções
rurais do século XVIII e início do XIX, localiza-se
fronteira à constrão, fazendo parte do corpo da
casa, coberta pelo mesmo telhado do conjunto ou
como prolongamento deste telhado. Como no exemplo
paulista, poderá a varanda ficar embutida entre o quarto
de hóspedes e a capela, ou abranger toda a fachada,
ocupando parte desta, ou ser ladeada pela capela ou
outro cômodo. Estende-se algumas vezes à fachada
lateral, onde, ocasionalmente, termina com a capela.
Pode-se, ainda, reduzir-se ao patamar superior da
escada, deixando mesmo de existir esta varanda
2
As varandas posteriores aparecem, em algumas delas,
igualmente embutidas, parciais ou em toda a fachada
3
2
MENEZES, Ivo Porto de. Arquitetura Rural em Minas
Gerais-Século XVIII e Inícios do XIX. Revista Barroco, nº12,
1982/3. p. 218
3
Idem, ibidem, p. 218
Fazendas do Sul de Minas Gerais
46
Os pesquisadores citados apontam ts tipos de
varanda nas fazendas mineiras: a entalada, a fronteira em toda
a fachada e a posterior. Tanto a varanda entalada quanto a
fronteira corrida, servida por escada lateral, estão presentes nas
Minas setecentistas e em Portugal, tanto em sua arquitetura
popular quanto na erudita. Em nosso levantamento, porém,
o varandas fronteiras sob telhados de prolongo em toda
extensão da fachada e nem varandas entaladas; o que aparece
normalmente é um pequeno telhado cobrindo a escada de
acesso tanto a fronteira quanto a traseira. -se, entretanto,
que esse telhado é claramente feito a posteriori porque se
inicia sempre abaixo do beiral da cobertura principal e, muitas
vezes, transpassa pela frente de frechais, cimalhas, vergas e
ombreiras das janelas. A varanda posterior aparece, em alguns
casos, cobertas por telhados de prolongo. Estes, apesar de raros,
aparecem ora cobrindo varandas posteriores, ora cobrindo o
próprio volume da casa.
O caso da varanda entalada, com capela de um lado
e quarto do outro, assunto exaustivamente discutido entre
historiadores da arquitetura, também não é uma constante
em nosso levantamento. Os dois cômodos, capela e quarto de
hóspedes são, sim, constantes em nosso levantamento, porém não
mais ficam externos, na varanda. Ao contrário, passam a integrar
o interior da casa, fazendo parte do setor social” como veremos
no capítulo cinco. A única fazenda de nosso levantamento que
apresenta esta ocorrência é a Angahy, onde, apesar das alterações
sofridas por reformas sucessivas, é posvel identifi-la.
A varanda entalada é uma das principais características
do modelo paulista. Isso levou a interpretações em que o modelo
mineiro teria tido esta característica herdada do modelo paulista.
O próprio Sylvio de Vasconcelos chega a aventar essa hipótese,
partido que em planta, pode ajustar-se ao aos paulistas ou
evoluindo destes”, mas logo completa, “mas que igualmente
Página ao lado:
Figura 2.11 - Varanda corrida com acesso por escada
paralela à fachada, Quinta do Sabao em Ponte de Lima,
Portugal. Fonte: Amaral (1961).
Figura 2.12 - Varanda corrida com acesso por escada
paralela à fachada, arquitetura popular em Freineda,
Portugal. Fonte: Amaral (1961).
Figura 2.13 - Varanda fronteira em S. Paio de Figueiredo,
Guimarães, Portugal. Fonte: Amaral (1961).
Acima:
Figura 2.14 - Varanda entalada, Casa da Lavoura (arq.
popular), Guimarães, Portugal. Fonte: Amaral (1961).
Figura 2.15 - Varanda entalada, Solar de Bertiandos (arq.
erudita), Ponte de Lima, Portugal. Fonte: Amaral (1961).
Figura 2.16 - Varanda entalada, casa num largo (arq.
popular), Soajo, Portugal. Fonte: Amaral (1961)
Capítulo 2 - Da Arquitetura
47
participam da tradição portuguesa”. Esta hipótese, porém, não
se confirma, pois em mais nada o modelo mineiro se assemelha
ao modelo paulista. Sabemos que a esmagadora maioria da
população em Minas era portuguesa contra uma minoria paulista;
isso fez com que a tradição portuguesa falasse mais alto que a
tradição paulista e, em território mineiro, restam apenas poucos
exemplos paulistas como a Fazenda do Manso. Embora tenha
havido uma grande penetração do modelo mineiro em território
paulista posteriormente, o que existe entre ambos, parodiando
Orlando Ribeiro, é quase uma divisão de mundos, de um lado
a “civilização da pedra” e, de outro, a “civilização da taipa.
Sabemos, também, que na arquitetura tradicional portuguesa,
tanto na arquitetura vernácula quanto na erudita, há ocorrência
deste tipo agenciamento de varandas como podemos ver no livro
Inquérito da Arquitetura Portuguesa, fato que já foi observado por
Vasconcelos. A mesma “varanda entalada” que aparece em Minas
e em São Paulo também aparece em Pernambuco, como observa
o professor Geraldo Gomes. Neste caso, o professor deixa claro
que é só nisso que a casa pernambucana se assemelha à paulista;
mais uma vez aponta a reincidência deste tipo de agenciamento
notadamente português.
Uma ou duas casas das retratadas por Frans Post têm
alpendres entalados no meio da fachada principal e
é só nisso que lembram as casas paulistas que são
rreas e construídas em taipa de pilão enquanto que as
pernambucanas m dois pavimentos e são construídas
em taipa de pau-a-pique.
4
A casa pernambucana pintada por Frans Post mais
se assemelha à casa mineira primitiva do que ao modelo
4
GOMES, Geraldo. Engenho e Arquitetura. 2ª edição
revisada – Recife: Fundação Gilberto Freyre, 1998, p.85
Acima:
Figura 2.17 - Varanda entalada com capela e quarto
de hóspedes, F. Boa Esperança em Belo Vale, região
Metropolitana. Fonte: Acervo CEMIG
Figura 2.18 - Clássica varanda entalada da casa
bandeirista, tio do Pe. Icio, Cotia, SP. Fonte: Lemos
(1999).
Figura 2.19 - Varanda entalada com capela e quarto de
hóspedes, F. Angahy. Fonte: Acervo CEMIG
Fazendas do Sul de Minas Gerais
48
paulista. Podemos afirmar que, nos três casos, as varandas
pernambucana, paulista e mineira participam da mesma
tradição ibérica, e que dificilmente sofreram contaminação
tua em solo americano. No caso da paulista, amplamente
discutido pela historiografia, Lemos acredita que tenha havido
uma feliz adaptação de diferentes programas a agenciamentos
arquitetônicos semelhantes.
Para nós, é bastante viável a hipótese de terem existido
em São Paulo personagens cuja memória os levou a
repetir aqui a forma de lá, que era apta a convir às
necessidades locais. E assim aportou-se aqui, tomando
feições próprias, um modelo popular ibérico qualquer.
5
Em Minas este agenciamento teria tido vida mais curta,
caindo em desuso no século XIX.
Além dos textos de pesquisadores mineiros acima
citados, tivemos também acesso a imagens de fazendas do
século XVIII em outras regiões de Minas (ver anexo) e podemos
apontar algumas outras diferenças construtivas não descritas
nestes textos. Todas as fazendas mineiras utilizam-se da mesma
técnica construtiva, a estrutura autônoma de madeira, mas
com o passar dos anos parece ter havido um apuro cnico e as
casas do século XIX possuem a estrutura um pouco diferente
de suas antepassadas do século XVIII. Nas fazendas do século
XVIII, o esteio vai até o co onde é enterrado; no século
XIX,esta peça pára no baldrame, mantendo-se afastada da
umidade do solo. Não é comum encontrar esteios que vão
até o chão nas fazendas levantadas.Apenas na Fazenda
Bananal (p. 173) é que se verificou esta ocorrência. A parte
do esteio que é enterrada no chão é chamada de nabo
(Lemos e Corona, Dicionário da Arquitetura Brasileira,1998).
Ao ser enterrada no chão, esta peça enrijece a estrutura
como um todo, criando uma conexão rígida, hiperestática.
Figura 2.20 - Frans Post, Engenho com capela, 1667, óleo
sobre madeira. Fonte:
Figura 2.21 - Frans Post, Engenho, casa e capela. Note a
casa de estrutura de madeira. Fonte:
Figura 2.22 - Frans Post, Engenho em Pernambuco. Note
na casa com varanda entalada que os barrotes se apoiam
sobre o baldrame. Fonte:
5
LEMOS, Carlos A. C. Casa Paulista. São Paulo: EDUSP,
1999, p. 64.
Capítulo 2 - Da Arquitetura
49
A gaiola de madeira do XIX, em que o esteio vai somente
até o baldrame, é uma estrutura que trabalha apenas com
vínculos articulados e não com conexões rígidas, portanto
é uma estrutura isostática. Isso pode parecer irrelevante,
mas aponta um sentido evolutivo decorrente do terremoto
de Lisboa, onde a resposta dada foi desenvolver estruturas
isostáticas que não ruíssem com futuros terremotos. Segundo
Menezes (entrevista 1999) essa peça de madeira, que tem a
função de suportar as cargas verticais, é chamada de pé-
direito quando vai do baldrame ao frechal, e é chamada de
esteio quando vai até o chão. É interessante notar que o uso
de pés-direitos se dá preferencialmente no Sul de Minas, não
ocorrendo com tanta facilidade nas regiões circunvizinhas.
Seria esta característica própria das fazendas do Sul de
Minas?
Outra característica que aponta um apuro técnico é a
posição dos barrotes em relação aos baldrames. Nas fazendas
do XVIII, os barrotes apóiam-se sobre os baldrames, ficando
as peças em planos diferentes e deixando o topo do barrote
aparecer na fachada. Já no XIX, os barrotes encaixam-se aos
baldrames ficando com as superfícies de ambas as peças no
mesmo plano e escondendo o topo do barrote que passa a
ficar mais protegido. Acreditamos que este sistema, usado no
século XVIII em Minas, seja mais primitivo, pois é encontrado
na arquitetura popular na Península Ibérica e nos engenhos
de Frans Post do século XVII.
Além dessas características tipológicas e técnicas
cotejadas acima, há também os esquemas de planta que
sofreram uma “evolução” do século XVIII para o XIX. As
fazendas mais antigas de nossa pesquisa, assim como aquelas
apresentadas por Menezes na região central de Minas e
por Martins no Campo das Vertentes, apresentam plantas
mais orgânicas, menos claras e menos regulares do que as
fazendas do século XIX da nossa pesquisa. Sobre as plantas
falaremos melhor no capítulo cinco.
Outra característica bastante marcante nas fazendas
do século XVIII são as vergas em canga de boi. Até a primeira
metade do século XVIII, as vergas eram retas; a verga
alteada que ficou conhecida como “canga de boi foi usada
no Brasil pela primeira vez no Palácio dos Governadores
de Ouro Preto, projetado pelo engenheiro militar José
Fernandes Pinto Alpoim e construído entre 1735 e 1738. Os
engenheiros militares portugueses vinham de uma escola
Figura 2.23 - Casa de estrutura de madeira sobre base de
pedras no norte de Península Ibérica. Note que os barrotes
apoiam-se sobre o baldrame, deixando o topo aparente na
fachada. Fonte: Flores (1973).
Figura 2.24 - Palácio dos Governadores de Ouro Preto,
projetado pelo eng. militar José Fernandes Pinto Alpoim.
Foto: Cristiano Mascaro
Fazendas do Sul de Minas Gerais
50
Maneirista que, como se sabe, teve longa sobrevivência em
Portugal postergando a chegada do Barroco, assunto de
que vamos tratar no capítulo sexto. A verga arqueada de
Alpoim conferiu um movimento à fachada, um sopro barroco
na arquitetura oficial. Esta verga tornou-se um modismo
e foi reproduzida na arquitetura civil. Segundo Sylvio de
Vasconcelos:
Por volta de 1730 a 1740, por influência do Palácio dos
Governadores, as vergas se alteiam em arco de círculo
(...)
6
Segundo o mesmo autor, no século XIX, o uso da verga
reta volta a ser mais comum, abandonando o modismo anterior.
Não encontramos em nossa pesquisa propriedades anteriores
a 1740, portanto, tudo leva a crer que as fazendas de nosso
levantamento que possuem vergas retas são posteriores às que
usam vergas de “canga de boi.
As fazendas do Sul de Minas constituem, portanto, uma
falia tipogica cujas principais características são o apuro
cnico de sua estrutura, plantas mais regulares, telhados que
não possuem prolongos a cobrir varandas. Plasticamente são
altivas em suas proporções e regulares em suas fachadas com
aberturas bem ritmadas. Sua estrutura aunoma de madeira é
mais apurada tecnicamente que a do período anterior, apóia-se
sobre alicerces de pedra e seus os são fechados por paredes
leves de pau-a-pique. Os esteios não descem até o chão, os
barrotes são arrematados junto aos baldrames e o conjunto,
como um todo, é uma estrutura isostática. Sua planta regular
ajusta-se ao programa de necessidades, separa as zonas de
convivência no interior da casa, gerando a cssica forma de L.
Sua implantão é feita em meia encosta e o conjunto de seu
cleo é agenciado em torno da casa principal ao redor de
pátios, terreiro e currais. Cada um desses temas passará a ser
tratado nos capítulos seguintes.
6
VASCONCELOS, Sylvio de. Vila Rica: formão e
desenvolvimento; residências. São Paulo, Perspectivas,
1977. p.121
Capítulo 2 - Da Arquitetura
51
Fazendas do Sul de Minas Gerais
52
3-Sítio, Implantação e Conjunto
Arquitetônico
Neste capítulo inicia-se o aprofundamento na descrão da
arquitetura, começando do geral para o particular, ou seja,
analisando primeiramente o conjunto arquitetônico da fazenda,
que inclui diversos edifícios periricos à casa principal, e
analisando a implantação deste conjunto na topografia e no
território.
A água sempre foi necessária tanto para a
bateia como para o aproveitamento de alimentos.
Daici Ceribeli de Freitas
O principal critério para a escolha do tio não é mais a riqueza
aurífera, mas sim suas qualidades para moradia e cultivo.
Ao qualificar um tio para abertura e implantão de uma
fazenda, as determinantes são muitas e vão desde a existência
de água, qualidade da terra, topografia, insolação e existência
de caminhos até condicionantes como a oferta de terras, a
possibilidade de concessão de sesmarias, existência de conflitos,
facilidade de acesso e de escoamento da prodão.
A existência de água é determinante para implantação
da fazenda. o há fazenda que o seja servida por água
corrente, tirada de um córrego ou de rio por um canal, muitas
vezes cavado na ppria terra. Abastece a casa, em alguns casos
é levada até dentro da cozinha como na Fazenda Água Limpa
(p.268), irriga pomares, garante a sobrevivência de pessoas e
animais. A água, força motriz de engenhos, monjolos, moinhos
e serrarias, mais tarde foi usada também para tocar máquinas de
beneficiar café.
Os mineiros foram os primeiros a utilizar a água
corrente nas moradias. Na frente da porta da casinha
havia sempre uma bica d’água, trazida de longe em
rego e que servia para uso doméstico; abaixo da bica
continuava a correr o rego e, na parte mais baixa do
terreno, sobre ele, construíam-se as comuas.
1
A terra de boa qualidade passa a ser uma condição
para a nova fazenda que se propõe a produzir alimentos e não
mais servir apenas para a extração do ouro. Por isso a grande
expansão em direção aos campos de sul” e o mais na região
1
VASCONCELOS, Sylvio de. Arquitetura colonial mineira. In:
Revista Barroco, V. 10 UFMG, Belo Horizonte, 1979, p.133
Capítulo 3 - Sítio, Implantação e Conjunto Arquitetônico
53
mineradora, onde as terras são, em geral, de pior qualidade.
Em um primeiro momento, a topografia suave e a vegetação
natural dos campos foi preferida em detrimento de regiões mais
montanhosas, especialmente para a atividade pecria. Essa
expansão da pecria percorreu grandes extensões de terra,
desde os arredores de São João-del-Rei, Aiuruoca e Baependi,
indo em direção oeste a o triângulo mineiro e o nordeste
paulista, ocupando as margens do Rio Grande ao longo de todo
o percurso. Este caminho, como vimos no primeiro capítulo, foi
um importante eixo de ligação entre o Rio, Minas e o Sertão
de Goiás. Para a agricultura as terras mais férteis eram as
preferidas, mesmo que para isso fosse necessária a derrubada de
matas. Dessa maneira, os lugares montanhosos também foram
sendo ocupados, primeiro ao longo dos diversos caminhos e
descaminhos das serras do complexo da Mantiqueira e, depois,
avançando pelas diversas rotas, cruzando outras cadeias
montanhosas como as serras do complexo Varginha, desde
Carrancas a Poços de Caldas.
A Serra da Mantiqueira nasce no extremo sul de Minas
Gerais, na divisa com o estado de São Paulo, segue no sentido
les-nordeste servindo como divisa natural entre os dois estados
até a tríplice fronteira entre Rio, São Paulo e Minas. A serra é o
divisor de águas entre a bacia do Rio Paraíba do Sul e as bacias
dos rios Sapucaí, Verde e Grande. A partir da divisa dos três
estados, a Serra da Mantiqueira segue no sentido nordeste para
dentro de Minas, diluindo-se lentamente até encontrar outro
complexo montanhoso, a Serra do Espinhaço. Desde os mapas
mais antigos, a divisa entre São Paulo e Minas Gerais sempre
esteve bem definida neste trecho devido à presença da Serra
da Mantiqueira, ao contrário de outras áreas que só tiveram
suas divisas definidas mais tarde, adentrando a o século XX.
Do lado paulista, a Serra da Mantiqueira cai abruptamente a
o Vale do Parba, desde a cumeada com altitudes superiores a
mil, dois mil metros até cotas em torno de 500 metros. Do lado
mineiro, a Serra penetra mais no interior do território e o relevo
se desfaz mais lentamente em cadeias montanhosas menores,
paralelas ao espigão principal. Na divisa dos estados, as cotas
das cumeadas da Mantiqueira são mais baixas nas áreas mais
próximas às rzeas dos rios e, mais altas nos seus interflúvios.
Foi justamente nesses pontos mais baixos que se estabeleceram
os principais caminhos. Junto ao Rio Jaguari, foi estabelecido o
Registro de Jaguari no antigo Caminho de Fernão Dias. Junto às
nascentes do Rio Sapucaí, foram descobertas as minas de Itajubá
Fazendas do Sul de Minas Gerais
54
e por ali passavam rotas alternativas. Junto às cabeceiras do
Rio Verde, na Garganta do Emb, foi estabelecido o Registro
Mantiqueira, por onde passava o Caminho Velho. Esta última
foi a mais importante entrada para as minas até a abertura do
Caminho Novo; contudo o perdeu de todo sua importância
depois disso, tornando-se a principal ligação do Sul de Minas
com o Vale do Parba e Rio de Janeiro no século XIX. Outras
vias foram abertas ao longo do século XIX como a Estrada do
Picu, mas, no fim desse século, a situação topogfica favovel
fez com que se estabelecesse por ali a estrada de ferro que
ligava o Sul de Minas ao Vale do Paraíba com um nel passando
pela Garganta do Embaú. As terras do leste, junto ao Caminho
Velho foram intensamente ocupadas; já o extremo sul do estado,
junto ao Caminho de Fernão Dias, o teve a mesma ocupação,
por isso é que o foram encontradas fazendas antigas
nesta área. Ao longo dos rios também foram estabelecidos
povoados, vilas, e fazendas, mas em todas essas situações o
estabelecimento da população nunca se dava nas cotas mais
altas e nem nas vargens, preferindo os plas intermedrios.
Tanto é que a maioria das sedes dos municípios do Sul de Minas
está em cotas entre 800 a 1000 metros de altitude. As fazendas
também seguiam o mesmo critério.
A implantação da casa e do núcleo da fazenda preferia
as cotas mais baixas, sempre mais próximas aos caminhos,
facilitando o acesso e o escoamento. Assim, as casas eram
implantadas em meia encosta, nunca na vargem inunvel e
nem no topo desprotegido dos morros. O modo de implantação
é cuidadoso, desde a escolha do tio a as diversas soluções
de escadas, muros e patamares, fazendo com que tenhamos a
impressão de que a casa faz parte da paisagem - seja por sua
naturalidade, seja por sua imponência e de que nunca poderia
estar em outro sítio.
Outro aspecto que deveria ser observado em uma
rego de relevo acidentado era a insolão. As faces noruegas
eram desprezadas em detrimento das faces soalheiras. Se
observarmos as imagens de salite, veremos que, ainda hoje,
as faces voltadas para o sul (noruegas) são mais preservadas,
enquanto que as faces soalheiras, voltadas para o norte, são
mais devassadas. As casas implantadas em meia encosta não
fazem grandes cortes nem aterros no terreno, pode-se dizer que
a casa pousa sobre o chão. Quando há arrimos, estes servem
para fazer pequenos ajustes no terreno ou para dar maior pé
direito ao poo e não para criar um platô em cima do qual se
Capítulo 3 - Sítio, Implantação e Conjunto Arquitetônico
55
assentará a casa, como acontece na arquitetura paulista. Os
alicerces de pedra fazem o ajuste entre o terreno natural e o
plano de implantação da estrutura de madeira da casa.
A casa da fazenda não é uma construção isolada, faz parte
de um conjunto de edifícios dispostos equilibradamente entre si,
segundo critérios funcionais e simbólicos. A cena era composta da
seguinte maneira: nas cotas mais elevadas desse conjunto, estava
sempre a moradia principal, evidente, soberana; no plano médio,
ficavam as instalações produtivas e as senzalas e, ao fundo, a
vargem. Era imprescindível que a casa fosse o centro e que dela
se tivesse o controle de tudo, não do ponto de vista do domínio
do território, mas do ponto de vista do domínio do núcleo.
Mesmo fazendo parte de um conjunto maior de construções, a
casa é sempre uma construção independente, não é como alguns
engenhos de açúcar do nordeste e do litoral paulista, onde o
edifício da moradia é o mesmo da fábrica ou do engenho.
As benfeitorias desta fazenda obedecem ao mesmo
sistema de todas as outras desta comarca (rio das
Mortes). Um muro de pedra seca, mais ou menos
da altura de um homem, rodeia em parte um pátio
muito vasto, no fundo do qual ficam enfileiradas,
umas ao lado das outras, as casas dos negros, as
pequenas construções, que servem de depósitos e
locais de beneficiamento dos produtos agrícolas, e a
casa do dono. Esta, feita de terra e madeira, é coberta
por telhas de barro e compõe-se unicamente de um
pavimento. A sala é a primeira peça quando se entra.
Tem como único mobiliário a mesa, um par de bancos e
uma ou duas damas de pau.
Acontece raramente que, em volta da sala, não
estejam pregados, à parede, vários cabides destinados
a dependurar neles selas, deas, chapéus, etc. Não
devo, também esquecer de dizer que se entra no pátio
por uma das portas a que se chama porteira, também
empregada para fechamento dos pastos. Constam tais
porteiras de dois esteios e algumas tábuas transversais,
afastadas umas das outras. Tem-se o cuidado de dar
um pouco de inclinação ao mourão sobre o qual giram;
caem pelo próprio peso e fecham-se por si.
2
Ao redor da casa outras construções compõem o
cleo da fazenda. São currais, senzala, paióis, tulhas, casa
2
. SAINT-HILAIRE, Auguste de. Segunda Viagem do Rio de
Janeiro a Minas Gerais e São Paulo. p 46
Fazendas do Sul de Minas Gerais
56
do tacho, casa de máquinas (serraria), monjolo, moinho de
milho e engenho de cana, estes quatro últimos sempre servidos
por água corrente. Esse núcleo cria uma área protegida
dentro de um território ermo, cuja conformação pode variar
muito conforme a topografia, a insolação, os acessos, etc.,
normalmente gerando pátios ou terreiros à semelhança das eiras
portuguesas. Essas eiras serviam como área de trabalho como,
por exemplo, para secar e bater alimentos, para dar segurança e
também para prender o gado ou criação, am de funcionarem
como circulação. Para cercar esses pátios, além das próprias
construções que a compõem, usavam-se muros de pedra ou
de adobe. Estes últimos m sempre sua base feita de pedras
e são cobertos por telhas de barro, pois o adobe, o sendo
cozido, o oferece resistência à água. Muros de pedra são uma
constante nas fazendas mineiras, usados tanto no alicerce das
casas quanto para cercar pátios, terreiros, fazer arrimos ou até
mesmo dividir pastos. Isso tem claramente origem no norte de
Portugal, como bem observou o historiador portugs Orlando
Ribeiro em A Civilização da Pedra”. Nas fazendas mais novas,
o terreiro fechado por muros vai desaparecendo. Em outras, o
pomar aparece cercado por muro de adobe como na Fazenda
Santa Clara (p.301).
Além dos edifícios, as vegetações e os espaços vazios
também configuram o conjunto do núcleo da fazenda. Os
pomares e hortas são locados nas partes traseiras da casa e
estão geralmente em posição mais baixa em relação a esta,
servindo-se de algum curso d’água. Os jardins estão na parte
fronteira da casa. Os vazios, peças-chave de articulação entre os
edifícios, normalmente são terreiros e currais. Estes são em geral
pegados à casa, tendo um de seus lados definidos pela própria
fachada. Esses currais, muitas vezes, m o piso de pedras soltas,
ou pedrado, como dizem. Os terreiros são os locais de trabalho
e, como servem para secagem, buscam sempre a melhor
insolação. Os grandes terreiros de café, planejados juntamente
com a fazenda, como acontece nas grandes fazendas de café do
Vale do Paraíba, não são uma constante nas fazendas do Sul de
Minas. Os terreiros aqui são menores e sempre pegados à casa.
Quando da adaptação dessas fazendas para produção de ca
em larga escala, começam a surgir os grandes terreiros, porém,
como necessitam de boa insolação, nem sempre é possível
fazê-los pegados às casas, contrariando a lógica inicial do
pleno donio do conjunto. Há um grande mero de fazendas
cujos terreiros estão em posão superior à casa e muitas vezes
Capítulo 3 - Sítio, Implantação e Conjunto Arquitetônico
57
afastados, o que mostra que foram constrdos posteriormente.
Alguns dos edicios que fazem parte do conjunto da
fazenda merecem atenção, pois possuem uma arquitetura
específica. O moinho de milho, indispensável, é sempre uma
pequena construção que abriga em seu interior a engenhoca
que movimenta a pedra mó. Está sempre solta do chão, apoiada
em colunas de pedra, sua estrutura é de madeira como a da
casa sede e seu fechamento é de pau-a-pique; não tem janelas
e possui um pequeno telhado de duas águas. Moinho vem do
latim molinum, pedra grande, mó que, ao longo dos séculos,
passou a moinho, pronunciado ainda hoje munho pelos caipiras.
Por baixo desta casinha, passa um pequeno rego que movimenta
a roda d’água horizontal; esta transmite, por uma haste central,
o movimento à pedra mó que gira contra outra pedra fixa,
moendo o milho entre elas. A vibração da pedra a girar é
transmitida por um pequeno pedo de madeira à calha da caixa
em que está depositado o milho, fazendo com que esta também
vibre e derrame os gos no oricio da perda mó. Através da
regulagem do espo entre as pedras, é possível obter diferentes
granulometrias da farinha.
Formalmente, esses moinhos lembram muito os
sequeiros ou espigueiros do norte Portugal e da Espanha. Mas
nestes casos os sequeiros m apenas a função de guarda e
o de fabrico; no Brasil, o edifício que apresenta a função de
guarda é o paiol.
Figura 3.1 Esquema de funcionamento do moinho de
milho. Desenho: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
58
Figura 3.2 - Interior de paiol de madeira na F. Amarela em
Cristina. Foto: CFC.
Figura 3.3 - Moinho de milho na F. Pedra Negra em
Varginha. Foto: CFC.
Figura 3.4 - Moinho de milho na F. Barra do Palmela em
Varginha. Estrutura de madeira, fechamento de pau-a-
pique sobre colunas de pedras. Foto: CFC.
Figura 3.5 - Moinho de milho na F. Santo Antônio em
Pedralva. Foto: CFC.
Figura 3.6 - Sequeiro de madeira na Galícia. Os baldrames
se cruzam em meia madeira e são arrematados em peito
de pomba. Fonte: Flores (1973).
Figura 3.7 – Sequeiro de pedra em Portugal com pedras
chatas nas cabas dos pilares. Fonte: Amaral (1961).
Capítulo 3 - Sítio, Implantação e Conjunto Arquitetônico
59
O paiol brasileiro tem algumas diferenças do sequeiro
ibérico. Este geralmente tem sua estrutura feita de pedras, é
solto do co por colunas também de pedras encimadas por
uma espécie de capitel. São pedras chatas que funcionam como
um sistema anti-ratos; com isso, esses roedores o conseguem
subir, pois o andam na inclinação negativa. Aqui no Brasil, o
paiol também é solto do chão, mas não possui este sistema anti-
ratos. Sua estrutura é de madeira como nas casas, pom o é
tão elaborada. A juão dos baldrames junto ao cunhal o tem
a mesma sambladura que na casa, é feita apenas em meia
madeira. O fechamento é feito com tábuas largas, postas na
vertical e sem mata-juntas para que o paiol fique ventilado. Seu
piso também é de tábuas e sua cobertura é de quatro águas, às
vezes com telhado de prolongo formando uma pequena varanda
para abrigar os carros de boi para abastecimento. É um edifício
fechado, pois tem a função de guarda. Os outros edifícios de
guarda, que aparecem mais tarde, são os armans e as tulhas.
O edicio do engenho tem sua forma derivada de sua
função. Como tem que ter desveis internos devido ao processo
de fabrico, possui piso escalonado e, conseqüentemente, é
implantado em declive e coberto por um grande telhado que
acompanha a inclinação do terreno. Esse telhado é geralmente
de quatro águas e uma das águas mestras se prolonga morro
abaixo, como na Fazenda S
ta
. Maria (p.226) e Fazenda Serra das
Bicas (p.178) O engenho é necessariamente servido por água
para fazer tocar sua roda e moer a cana. Não necessariamente
é fechado, apenas tem que ser coberto. Não foram localizados
muitos engenhos antigos em funcionamento, encontramos
apenas seus edifícios, muitas vezes ocupados por outras funções.
Outras construções cujos equipamentos usam a força
motriz da água são o monjolo, a serraria e a casa de quinas
de café, além de pequenas usinas de energia que passam a ser
implantadas em algumas fazendas no fim do XIX. O monjolo, na
verdade, o é uma construção, é um equipamento, uma espécie
de pilão movido a água. Seu funcionamento implica em fazer
subir uma pesada peça de madeira até o limite da capacidade do
seu reservatório, despejando a água para fora e caindo sobre o
produto que se pretende processar, normalmente o milho. Esse
equipamento não é necessariamente fechado, apenas coberto;
por extensão, seu edicio também é chamado monjolo.
Am dos edicios que abrigam equipamentos de
fabrico, existem também aqueles que abrigam animais: são
currais, retiros, bezerreiros, chiqueiros, galinheiros, etc. Para a
Página ao lado:
Figura 3.8 - F. Retiro em Paraíba do Sul no Vale do Paraíba
fluminense. Exemplo de senzala em quadra em torno do
terreiro de café. Ref.:Óleo sobre tela, Georg Grimm, 1881,
coleção particular.
Figura 3.9 Fazenda Pau d`álho em São José do Barreiro
no Vale do Paraíba paulista. Foto: Nelson Kon
Fazendas do Sul de Minas Gerais
60
complementação dos serviços da cozinha, existem pequenas
construções que abrigam tachos, fornos ou fogões toscos para
fazer o serviço pesado. Há, em muitos casos, o que chamamos
de cozinha de fora; esta pode estar incorporada ao volume da
casa ou ser uma construção separada.
Isso era compreensível, pois toda a população da
fazenda havia de comer, e o grosso dos alimentos era
beneficiado em construções polivalentes, servindo
a todos. A gordura, por exemplo, era obtida do
derretimento do toicinho dos capados, da banha das
leitoas sacrificadas em dias de festa, em fogo baixo,
lentamente, em grandes panees. Na Fazenda Boa
Vista, em Bananal, havia mesmo uma “cozinha de
Capados”. O sabão de cinzas era feito em outros
fogões separados. O angu de fubá, a paçoca de carne
de sol e de farinha de mandioca, o feijão cozido
com tranqueiras ou o charque vindo do Rio Grande
praticamente constitam a comida de todos, e não só
dos escravos do eito
3
Ao longo do levantamento vamos notar essas cozinhas
de fora”, incorporadas ou não ao volume da casa.
Poucas fazendas conservam ainda hoje o edicio da
senzala. São construções estreitas e compridas, de um único
pavimento, assentadas ao s-do-chão geralmente com piso
de terra batida - e que possuem aberturas apenas para um
lado. Não sabemos ao certo o motivo da forma das senzalas: se
era para melhor controlar os escravos, ou se sofreu influência
da forma tradicional da habitação dos negros na África, como
analisou Carneiro da Cunha (1985) em Da Senzala ao Sobrado.
Nas fazendas que ainda conservam o edifício das
senzalas, podemos notar que estas apresentam duas formas
preferenciais de implantação: podem estar localizadas na lateral
de um pátio, como é o caso das fazendas Monjolo (p.179) ,
Pitangueiras (p.148) e Conceição (p.310) ou alinhadas com a
casa, em continuão ao corpo de serviços, como nas fazendas
Bela Cruz (p.134) e Amarela (p.265), ou ainda perpendiculares
à casa como na São José de Vargem (p.166). As senzalas em
quadra, cercando por inteiro um pátio ou terreiro, como nas
grandes fazendas de café do Vale do Paraíba, o são comuns
neste levantamento. A Fazenda Traituba (p.128) é cercada por
muros de adobe, configurando pátios que serviam de local de
3
LEMOS, Carlos A. C. Casa Paulista. São Paulo: EDUSP,
1999, p. 188
Capítulo 3 - Sítio, Implantação e Conjunto Arquitetônico
61
pouso para tropeiros. Estes pátios, em sua parte inferior, são
rodeados por pavilhões térreos que provavelmente poderiam ter
sido as senzalas. Nesse caso, esta poderia ser a única ocorrência
de senzalas em quadra nessas fazendas.
Na coluna da esquerda:
Figura 3.10 - Pátio cercado por muros de adobe na F.
Traituba. Foto: CFC
Figura 3.11 - Senzala da F. Bela Cruz. Foto: CFC
Figura 3.12 - Senzala da F. Conceição. Foto: CFC
Na coluna da direita:
Figura 3.13 - Senzala da F. Pitangueiras. Foto: CFC
Figura 3.14 - Senzala da F. São José da Vargem. Foto: CFC
Figura 3.15 - Senzala da F. Monjolo. Foto: CFC
Figura 3.16 - Base de pedras da antiga senzala da F.
Amarela. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
62
Nas demais fazendas o foram encontrados vesgios
de senzala; todas, porém, possuíram escravos. Onde eles
eram abrigados, afinal? A maioria dos relatos orais de atuais
proprietários revela que o alojamento dos escravos era no poo
das casas. “Aqui servia para guardar os escravos, conta o
morador. Esta versão, apesar de repetida em inúmeros relatos,
somente nos parece razoável para as fazendas que possam um
mero pequeno (de 1 a 3) ou médio (de 4 a 10) de escravos.
Segundo dados da estrutura de posse de escravos na Comarca
do Rio das Mortes, a maioria dos proprietários dessas fazendas
possuía um número grande (de 11 a 49) ou muito grande
(mais de 50) de escravos, especialmente aqueles ligados ao
setor agropecuário.
4
Desta maneira, devemos crer que, nessas
fazendas, havia um bom mero de escravos. Nossa experiência
nos mostra, entretanto, que existia grande heterogeneidade
entre as fazendas e não podemos descartar a hipótese de
que, em grande parte delas, poderia, realmente, ser o porão o
local destinado ao alojamento de escravos. Talvez, mesmo nas
fazendas em que tenha havido muitos escravos, aqueles mais
ligados à casa pudessem ficar no poo e os outros, mais ligados
ao trabalho no eito, ficassem em outros tipos de alojamento
como senzalas ou choças. Geraldo Gomes (1998), em seu livro
Engenho e Arquitetura, reproduz uma citação de um viajante:
porão era usado como depósito e alojamento dos escravos.
Na Fazenda do Favacho (p.131), segundo Lefort (1950),
no ano de 1825 foi efetuado o primeiro recenseamento,
no qual se levantou uma população total de 1200 pessoas,
sendo 196 brancos, 193 pardos livres, 214 pardos escravos,
89 pretos livres e 508 pretos escravos. Nessa fazenda, não
encontramos vestígios físicos de senzala, mas certamente
toda esta população não poderia ficar apenas no porão. Em
fotografias mais antigas, percebemos que, em torno da casa,
havia outros edifícios que não existem atualmente. Talvez,
algum deles pudesse ter sido a senzala. A Fazenda Campo
Alegre (p.134) contava com 103 escravos em 1839.
5
Na
Fazenda Bela Cruz (p.134), onde ocorreu em 1833 a Revolta
de Carrancas, também haveria de ter muitos escravos. Tanto
a Campo Alegre quanto a velha Bela Cruz não existem mais,
dificultando ainda mais a interpretação de como eram os
alojamentos dos escravos. Na Fazenda Água Limpa (p.278),
segundo documento de posse, havia, em 1886, vinte escravos.
Na Barra do Palmela (p.186), segundo os atuais proprietários
(informação verbal)
6
, seus avós não possuíam grande número
4
CUNHA, Alexandre Mendes, A diferenciação dos espaços
econômicos e a conformação de especificidades regionais
na elite política mineira entre os séculos XVIII e XIX
5
Arquivo Público Mineiro (APM). Listas Nomimativas de
1838/39.
6
Informação fornecida em entrevista concedida por D.
Alaíde Procópio Bueno em Varginha no ano de 1999.
Capítulo 3 - Sítio, Implantação e Conjunto Arquitetônico
63
de escravos. Nessas duas acima, não foram encontrados
vestígios de senzala. Na Fazenda Três Barras (p.252) há relatos
de que onde havia senzala foram erguidos posteriormente
garagens, tulhas e um novo paiol.”:
A senzala era dividida em imeros pequenos
“apartamentospara os escravos casados, constando
estes basicamente de sala, cozinha e um quarto. Os
jovens solteiros moravam separadamente, em uma
espécie de dormitório coletivo, enquanto que as moças
habitavam outras dependências.
7
Nesta fazenda, quando da promulgação da Lei Áurea, havia
quarenta famílias de escravos e, após a liberdade, apenas uma
abandonou a Três Barras.
Na Fazenda Narciso o proprietário mostrou-nos algumas
ruínas de pedras espalhadas pelo mato, junto ao curral; estas
seriam as ruínas de pequenas choças onde ficavam os escravos.
Esta versão nos parece bastante razoável, uma vez que poucas
fazendas apresentam vestígios do edicio da senzala. De
qualquer maneira, torna-se cada vez mais dicil identificar como
eram essas senzalas, pois a grande maioria delas foi destrda,
substituída por outras construções, ou apenas ruiu com o
tempo. As construções para abrigar os escravos, quer fossem
choças ou senzalas, quer pegadas à casa, ao terreiro ou soltas,
eram construções muito precárias.
A relação entre os proprietários e seus escravos, na
Comarca do Rio das Mortes, e o tipo de serviço executado
levavam a uma proximidade entre ambos que prescindia de uma
arquitetura espefica para controlá-los.
Nesta última (Comarca do Rio das Mortes), os habitantes
dos campos aplicam-se mais à agricultura. Trabalham
com seus negros e passam a vida nas plantações,
no meio dos animais, e seus costumes tomam,
necessariamente, algo da rusticidade das ocupações.
8
Mesmo em fazendas com grande número de escravos,
maioria conforme dados estatísticos, podemos supor que o tipo
de serviço pecuária e gêneros agcolas diversificados levava
a essa maior proximidade. Na Fazenda Campo Alegre, a Revolta
de Carrancas iniciou-se com a morte de Gabriel Francisco
de Andrade Junqueira no momento em que inspecionava os
7
JUNQUEIRA, Walter Ribeiro, Fazendas e famílias sul
mineiras, São Lourenço: Novo Mundo, 2004
8
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Segunda viagem a Minas
Gerais e São Paulo. Belo Horizonte: Itatiaia 1974, p.37
Figura 3.17 - Antigo rancho de tropeiros na F. Barra do
Palmela. Foto: CFC
Figura 3.18 - Conjunto da F. Água Limpa, onde havia 20
escravos em 1886 e não apresenta senzala Foto: CFC
Figura 3.19 - Antiga foto da F. Favacho onde aparecem
diversas constrões que não existem mais.
Fonte: Bastos (1980).
Fazendas do Sul de Minas Gerais
64
trabalhos de seus escravos, nas roças de milho e feijão. Os
escravos também viajavam com os tropeiros nas rotas entre
Minas e Rio, convivendo lado a lado com seus proprietários.
A estrutura unifamiliar entre os escravos também estava
presente no final do século XIX, como vimos no relato das
Ts Barras. E como vimos nesse mesmo relato, muitas falias
permaneceram na fazenda após a abolição da escravatura,
provavelmente morando em unidades, que de apartamentos”
passariam a casas isoladas. A transição do trabalho escravo
para o assalariado não necessariamente substituiu o negro pelo
imigrante europeu, como é normalmente relatado. As casas
isoladas tornaram-se constantes até se transformarem nas
colônias de empregados, geralmente alocadas seqüencialmente
ao longo dos caminhos de entrada, afastadas do cleo original
da fazenda. Poderiam ser compostas de apenas poucas casas ou
de um grande conjunto delas como nas fazendas Pedra Negra,
Santa Maria, Chapada, Mascatinho, etc. Essas colônias são
caractesticas do século XX, muitas delas possuem pequenas
escolas e igrejinhas; suas casas foram construídas de alvenaria
de tijolos e várias estão ativas até hoje. Este assunto poderá ser
objeto de futuras pesquisas.
Figura 3.20 - Documento de posse de escravos da F. Água
Limpa. Fonte: Acervo da Fazenda.
Capítulo 3 - Sítio, Implantação e Conjunto Arquitetônico
65
Fazendas do Sul de Minas Gerais
66
4-Técnica Construtiva
Trata de descrever e explicar minuciosamente a técnica
construtiva que se desenvolveu neste período, na região,
buscando mostrar suas origens, difereas e semelhanças nas
regiões vizinhas o que, aliás, auxiliou a definir a área pesquisada.
O capítulo é subdividido em partes: estrutura de madeira e
sambladuras; vedos, o pau-a-pique; vãos: portas e janelas;
cobertura: telhados e beirais e madeiras.
Mas afinal que fim levaram aqueles indivíduos que
trabalhavam tão bem o jacarandá, e faziam aquelas camas,
aquelas arcas, e cinzelavam aquelas solas?
E aqueles mestres anônimos que proporcionavam tão bem
as janelas e portas e davam
aos telhados, às beiradas, aquela linha tão simpática?
Lúcio Costa
Os materiais que compõem a casa - a pedra, a madeira e o
barro - são retirados do pprio local. A pedra solta, sem a
necessidade de uma pedreira, é muito farta nessas regiões e
deve ser retirada dos campos e matos para limpar o terreno. A
madeira é recolhida das matas que, em geral, são desbastadas
para a formação da fazenda. O barro é usado para o fabrico de
telhas, adobes e para fazer o vedo de pau-a-pique.
A técnica construtiva empregada é a mesma em todas
elas, à exceção de pequenas variações de acordo com local e
a época, como vimos no capítulo dois, Da Arquitetura. Esta
cnica é genericamente conhecida como estrutura aunoma
de madeira” ou “gaiola de madeira”. Este sistema estrutural,
pom, o é composto apenas pela gaiola; são três partes
independentes - base de pedras, gaiola e cobertura - apoiadas
uma sobre a outra.
A base de sustentação da casa são os grandes muros
de pedra, que fazem todo o contato com o terreno, deixando
a madeira livre de umidade. A esta base corresponde o
poo. Em uma topografia montanhosa, esses muros servem
também para criar um plano, em cima do qual se apoiará a
gaiola. Essas pedras são assentadas sem uso de argamassa,
apenas encaixadas umas às outras à maneira de enxilharia ou
encilharia - usando a face mais plana da pedra para os lados
externos da parede; o miolo da parede é que fica com as faces
Capítulo 4 - Técnica Construtiva
67
irregulares das pedras, como pudemos comprovar nas rnas da
Fazenda Três Barras (p.252). Em raros casos, como na Fazenda
da Anta (p.193), encontramos os umbrais do alicerce de pedras
da casa feitos com pedras de cantaria, perfeitamente cortadas
e encaixadas, inclusive formando um ângulo que se abre para a
parte interna do porão; as demais partes da parede foram feitas
com pedras e encilharia. Nos cunhais das casas, as pedras são
sempre aparelhadas de maneira a se entrecruzarem as de maior
porte, solidarizando as faces perpendiculares dos alicerces.
Em diversas regiões de Portugal, nas casas de alvenaria
de pedras da arquitetura popular
1
, é comum haver esta
distião entre o tratamento dado às pedras dos cunhais e das
molduras das janelas, e o tratamento dado às demais partes
da alvenaria de pedra. Nos cunhais e molduras usam-se pedras
aparelhadas segundo as melhores técnicas da estereotomia;
nas demais partes, usam-se pedras de mão que são, em alguns
casos, revestidas. Em outros casos, usa-se pintar as pedras das
molduras, marcando ainda mais essa distinção. A marcação
dos elementos estruturais vai se tornar uma característica da
arquitetura portuguesa exportada para as colônias, pom o
aspecto estético é assunto que será tratado no capítulo seis.
As aberturas nas paredes de pedra do alicerce são
sempre vãos que se prolongam a os baldrames, fazendo com
que estes funcionem como vergas dessas aberturas uma vez
que seria muito mais difícil executar essas vergas em pedra.
Geralmente essas paredes de pedra perfazem todo o pemetro
da casa, por vezes com pequena altura, meio metro na parte
baixa do porão; outras vezes, podem chegar a quatro metros
ou mais nas partes mais altas, conforme o necessário ajuste
ao terreno. Em alguns casos, em porões de grande altura, o
fechamento também pode ser feito com vedos de pau-a-pique
e, neste caso, o baldrame é sustentado por pilares de madeira
aparentes em meio à parede. É o caso das fachadas altas das
fazendas Chapada (p.292), Conceição (p.310), da Serra (p.197)
e do Mato (p.221). Em outras fazendas, mesmo havendo poes
altíssimos, como na Fazenda Água Limpa (p.278), a parede do
poo é de pedras até em cima, na altura dos baldrames.
As pedras são colocadas diretamente sobre uma
cava rasa no terreno, sem o uso de fundações profundas.
A técnica de se construir com pedras é milenar em todo o
norte de Portugal e nas ilhas atlânticas. Essa tradição foi
trazida para diversas regiões do Brasil. Em Minas, há casos
de edifícios do período colonial construídos inteiramente de
Figura 4.1 – Colunas do porão de pedras de cantaria, F. da
Anta. Foto: CFC
Figura 4.2 – Cunhal, F. Água Limpa. Foto: CFC
1
AMARAL, Francisco Keil et al. (1961). Arquitectura
popular em Portugal. Lisboa: Sindicato Nacional dos
Arquitectos.
Fazendas do Sul de Minas Gerais
68
pedras, especialmente na arquitetura oficial. Na arquitetura
civil corrente as pedras acabaram por ficar restritas ao
embasamento do edifício. Sobre essa base de pedras, assenta-
se a estrutura independente de madeira gaiola e, sobre
esta, apóia-se a estrutura do telhado.
Todas as peças da gaiola seguem o mesmo pado e a
mesma hierarquia de medidas de fazenda para fazenda, variando
apenas suas dimensões de acordo com o tamanho de cada casa.
Em fazendas de grandes dimensões, por exemplo, as peças são
mais grossas, os esteios podem medir 22 por 25 centímetros nas
casas maiores, e até 16 por 20 cenmetros nas menores. Assim
como os esteios ou pés-direitos, todas as outras peças também
obedecem a um padrão; as de maior porte são os baldrames
e as vigas-madres, depois vêm os barrotes, depois os cunhais,
esteios e assim por diante.
A gaiola de madeira é uma estrutura que trabalha
apenas com vínculos articulados e não com conees rígidas,
engastadas. É uma estrutura isostática e não hiperestática,
por isso, todas essas peças que se encaixam por meio de
sambladuras devem estar contraventadas ou trianguladas em seu
conjunto. Esta sofisticada estrutura de madeira não depende do
fechamento dos vedos para se solidarizar.
Sabemos que a estrutura de madeira com base de
pedras já era usada na arquitetura popular da Península Ibérica,
desde tempos imemoriais. Essa estrutura de madeira nada tem a
ver com o enxaimel da Europa Central, que ocorreu mais tarde,
a partir do século XIX, em algumas reges do Brasil onde houve
imigrações alemãs. A estrutura de que estamos tratando é a
precursora da gaiola estrutural de madeira e é encontrada em
todo o norte da Península, desde a Galiza até o País Basco.
Figura 4.3 e 4.4 Casario de Idanha a Velha, Portugal:
pedras destacadas por caiação. Foto Alves Costa.
Capítulo 4 - Técnica Construtiva
69
No entanto, a estrutura apresentada nas fazendas
do Sul de Minas não é similar à arquitetura popular no norte
da Pensula Ibérica, tampouco é como a gaiola pombalina
desenvolvida a partir da reconstrução de Lisboa, após o
terremoto de 1755. A gaiola estrutural de madeira das fazendas
do Sul de Minas é uma evolução da estrutura de madeira já
usada em Minas, desde o início do século XVIII, embora tenha
sofrido inflncia das técnicas desenvolvidas por ocasião
daquele terremoto. Em nossa opinião, a maior contribuição
da gaiola pombalina para a estrutura dessas fazendas está
na incorporação de conceitos e detalhes construtivos, como
vínculos articulados e sambladuras, desenvolvidos em Lisboa
para criar uma estrutura anti-sísmica como resumiu Lemos:
Figura 4.5 – Dimenes das pas de madeira.
Desenho: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
70
Em tese, esse novo sistema construtivo se louvava
numa estrutura de madeira apta a sustentar os
assoalhos dos sobrados e os frechais dos telhados
independentemente das alvenarias envolrias. No fundo
tudo o passava de um muro contínuo envolvendo
uma estrutura aunoma apoiada ao solo em meia dúzia
de pontos. Caso houvesse um terremoto, o ocorreria
mais o desabamento de telhados e pisos, esmagando
pessoas devido à desagregação das paredes portantes.
Agora mesmo que elas se desmoronassem, a “gaiola”,
de um jeito ou de outro, haveria de minorar, ou evitar,
as compressões repentinas de alto risco.
2
A gaiola pombalina era bastante distinta das estruturas
de madeira existentes anteriormente em Portugal como relata
França, seu maior estudioso:
Propunha-se eno pela primeira vez (...) encontrar
resposta a uma questão de tal maneira urgente que
punha em causa a própria sobrevivência de sua obra
(...). Eles encontraram porém, sem demora, um solução
bastante engenhosa: a da “gaiola” (...). Trata-se de uma
investigação empírica que, com certeza, só chegou
a um estado de aperfeoamento depois de rias
tentativas, hesitações e experiências (...). Não se deve,
bem entendido, confundir agaiola” com o vigamento
tradicional, que tinha um emprego completamente
Figura 4.6 e 4.7 – Casas de estrutura de madeira sobre
base de pedras no norte da Península Irica. Fonte: Flores
(1973).
Figura 4.8 – Ilustração: Lisboa antes e depois do terremoto
de 1755.
2
LEMOS, Carlos A.C. (1999). Casa paulista. São Paulo:
EDUSP, p.126-127.
Capítulo 4 - Técnica Construtiva
71
diferente, e que ficava agarrado às paredes, estando
vinculado às suas qualidades de resistências
3
.
No Brasil, a primitiva estrutura de madeira, praticada no norte
da pensula, encontrou no Brasil espaço para se desenvolver
devido à fartura e à boa qualidade das madeiras e à tradição
da carpintaria luso-brasileira. Após o terremoto, aos ecos da
reconstrução de Lisboa, novas técnicas foram incorporadas à
primitiva estrutura, gerando a gaiola que conhecemos, mais
regular e planejada.
A gaiola começa a ser erguida a partir da construção de
um grande piso de madeira, em cima de toda a base de pedras
da casa. Em primeiro lugar, são assentados baldrames sobre
os muros de pedra, que contornam todo o pemetro da casa,
e vigasmestras (ou madres) na parte interna deste perímetro,
sobre alicerces de pedra ou colunas de madeira. Quando as
vigasmestras são apoiadas em colunas de madeira, estas se
apóiam em pequenas bases de pedras para que a madeira não
tenha contato com o solo.
Os baldrames, muitas vezes, não têm comprimento
suficiente para atravessar toda a fachada da casa e, por isso,
duas peças são unidas por seus topos através da sambladura,
chamada na região de “raio de Júpiter”. Essa sambladura
impede que as peças se distanciem longitudinalmente umas da
outras.
No cunhal de casa, onde os baldrames se encontram
perpendicularmente, há uma sambladura complexa que une
Figura 4.9 Esquema da
gaiola pombalina. Fonte
França (1977).
Figura 4.10 – Planta de baldrames e vigas-mestras.
Desenho: CFC
Figura 4.11 – Planta do assoalho. Desenho: CFC
3
FRAA, José Augusto.
(1977). Lisboa pombalina
e o iluminismo. Lisboa:
Bertrand. p 323/4
Fazendas do Sul de Minas Gerais
72
essas peças. Essa sambladura tende a unir tanto mais as
peças quanto maior for a carga vertical que incide sobre elas
e somente foi encontrada por nós na rego da pesquisa. Em
regiões vizinhas o encontramos esse tipo de sambladura. As
vigasmestras e os baldrames têm a mesma dimensão, em média
sua seção é de 40 centímetros de largura por 35 cenmetros
de altura, e existe a mesma função na hierarquia das peças. A
diferea é que baldrames são peças que ficam no contorno
ou perímetro da casa, embaixo de paredes externas. As vigas-
mestras ficam no interior do perímetro, dando suporte aos
barrotes. Na maioria das fazendas do Sul de Minas, com exceção
da Fazenda do Bananal (p.173), os barrotes estão no mesmo
plano dos baldrames, unindo-se a estes através da sambladura
rabo de andorinha”, de modo que o topo do barrote fique
protegido e não mais exposto na fachada, como antes. As vigas-
mestras, por sua vez, estão ligeiramente rebaixadas em relão
ao nível dos barrotes, e estes simplesmente se apóiam sobre elas
Figura 4.12 – Sambladura “raio de Júpiter”. Desenho:CFC
Figura 4.13 - Mesma sambladura na F. Chapada. Foto: CFC
Figura 4.14 Encontro dos baldrames no cunhal da F.
Monte Alegre. Foto: CFC
Figura 4.15 – Perspectiva explodida da mesma
sambladura. Desenho: CFC
Figura 4.16 – Corte F. do Mato. Desenho: CFC
Capítulo 4 - Técnica Construtiva
73
Nas fazendas mais antigas os barrotes simplesmente
se apoiavam por cima dos baldrames, deixando seu topo
desprotegido na fachada da casa. Essa mudança também traz
mais uma informação, o travamento estrutural. Neste caso, o
encaixe em rabo de andorinha impede que o baldrame possa
sofrer deslocamento para os lados, reforçando a tese da
mudança de uma estrutura hiperestática para uma estrutura
isostática.
Os barrotes são peças que m seção média de 30
centímetros de largura por 25 centímetros de altura e vencem
o vão entre vigas-mestras e baldrames. Este o varia entre
três a quatro metros e é, historicamente, a largura mais comum
dos lotes das cidades medievais do norte de Portugal, já que
suas construções também utilizavam barrotes de madeira para
vencer o vão entre as paredes portantes de pedra. A cada vão
vencido por barrotes, temos um lanço. A distância entre barrotes
é de 30 centímetros entre as peças e de 70 centímetros entre
eixos. Este pequeno o é facilmente vencido pelas tábuas do
assoalho, que m três centímetros de espessura e recobrem
todo o barroteamento da casa. Em cima deste grande assoalho
são levantadas as paredes internas, independentemente de
onde estejam os barrotes ou as vigas-mestras. Muitas vezes,
as paredes são apoiadas apenas em cima das tábuas, sem
necessariamente coincidirem com a posição do barrote sob
elas. Podemos dizer que é uma casa com a planta livre. Na
Fazenda Balaio foi encontrada, no piso de tábuas, a marca de
uma antiga espiga do esteio (ou pé-direito) que ali se encaixava,
demonstrando que o havia necessidade de o esteio ir buscar
apoio nos barrotes ou vigas.
Repare que a maior dimensão dessas peças, tanto das
vigas quanto dos barrotes, é a largura e não a altura, como seria
mais lógico. Isso porque estamos num período em que o havia
ainda uma preocupação em racionalizar o uso da madeira, o que
só viria a ocorrer na virada do século XX. A idéia era criar uma
espécie de “lajão” em cima do qual seria construída a casa.
Em cima deste “lajão” são apoiados os pés direitos
a uma pequena distância de uma peça a outra, conforme a
disposição das portas e janelas. Essa cnica permitia que
houvesse janelas e portas - justapostas umas às outras, caso
fosse a inteão. Esta peça da estrutura, chamada de pé-direito,
tem seu nome derivado do trecho de tronco de uma árvore
mais ou menos reto, a que chamavam de direito”. Este trecho,
também chamado fuste, vai do co a os primeiros galhos
Figura 4.17 – Marcas dos pés direitos no piso da F. Balaio.
Foto: CFC
Figura 4.18 e 4.19 – Perspectivas da sambladura rabo
de andorinha no encontro dos barrotes com o baldrame.
Desnho: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
74
da árvore. Devido a esta técnica construtiva em que se usava
o pé-direito das árvores como colunas, e o comprimento da
peça era exatamente a distância do piso ao teto, esta altura
passou a ser chamada no Brasil de pé-direito. Os pés-direitos
o do baldrame ao frechal e, em ambas as extremidades, são
samblados às peças através de espigas. Os pés-direitos são,
ao mesmo tempo, apoios verticais da estrutura e ombreiras de
portas e janelas. Isso acontece devido aos entalhes que são
feitos ao longo de sua seção, variando sua espessura conforme
se queira.
Os pés-direitos ou esteios que ficam nos cunhais das
casas, por extensão, também são denominados cunhais e m
seção ligeiramente maior que a dos esteios, em média 25 por 25
centímetros. Essas peças m um pequeno corte ao longo de sua
seção para que fiquem da espessura das paredes. Encaixam-se,
por meio de espigas, aos baldrames na parte inferior e, na parte
superior, aos frechais.
Figura 4.20 F. Sta. Clara: sambladura rabo de andorinha.
Foto: CFC
Figura 4.21 F. da Anta: barrotes simplesmente apoiados
na viga madre. Foto: CFC
Figura 4.22 – F. da Anta em ruínas. Foto: CFC
Figura 4.23 O cunhal se encaixa ao baldrame através de
uma espiga. Desenho: CFC
Capítulo 4 - Técnica Construtiva
75
Em cima dos pés-direitos estão os frechais, na posição
horizontal, arrematando as paredes em sua parte superior. São
peças de dimensão aproximada à seção dos esteios e correm
sobre todas as paredes, formando no plano de teto uma
malha que amarra toda a gaiola”. Os frechais se entrecruzam
perpendicularmente e o cruzamento dessas peças se
através de sambladura em meia madeira, impedindo, assim,
que a gaiola” se abra e as paredes caiam. Isso é necessário
porque a estrutura do telhado o possui sistema de tesouras,
o que anularia os esforços horizontais. Os caibros, portanto,
descarregam suas cargas diretamente sobre os frechais
decompondo os esforços em verticais, que são absorvidos pelos
Pé Direito
Peitoril
Verga
Figura 4.24 F. da Anta: detalhe do encontro do peitoril
com o pé direito. Observe a cunha para sustentação do
peitoril. Foto: CFC
Figura 4.25 Detalhe das peças que formam a janela.
Desenho: CFC
Figura 4.26 - Detalhe da verga canga de boi. Desenho : CFC
Figura 4.27 - F. da Anta: peça do pé-direito caída no
chão: observe os entalhes ao longo da peça. Foto: CFC
Figura 4.28 Detalhe do encontro do pé-direito com o
baldrame. Desenho : CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
76
pés direitos, e em esfoos horizontais, absorvidos pela malha
de frechais. Nesta malha, os frechais perpendiculares às paredes
externas trabalham a tração, tensionados. Estes mesmos frechais
transpassam os que estão sobre a parede externa, fazendo um
balanço que sustenta o beiral, desempenhando as funções do
cachorro.
As demais peças horizontais da “gaiola” são os peitoris
e as vergas das portas e janelas. Elas não cumprem função
estrutural no conjunto, apenas são sambladas aos esteios, como
já vimos na figura 4.24.
No último nembro pano de parede entre aberturas -
de cada fachada, entre o cunhal e o pé direito da última janela,
uma peça diagonal embutida na espessura da parede que
triangulão à estrutura. Assim se completa a gaiola”, a
estrutura autônoma de madeira.
Figuras 4.29 e 4.30 Frechais se cruzam a meia madeira,
neste caso, em cima do cunhal. Desenho: CFC
Figura 4.31 – F. Monte Alegre: frechais se entrecruzam
acima do cunhal. Foto: FCF
Figura 4.32 F. das Posses (casa velha): peça diagonal
para contraventamento da estrutura. Foto: CFC
Figura 4.33 – Maquete da estrutura F. Tucum. Maquete e
foto: CFC
Capítulo 4 - Técnica Construtiva
77
Sobre a gaiola, um grande telhado de telhas de barro
cobre a casa. Sua estrutura de madeira é independente da
estrutura da casa; o telhado simplesmente apóia-se na gaiola
de madeira. A estrutura do telhado é composta por duas peças
verticais de madeira apoiadas sobre a malha de frechais. Estas
colunas, sambladas a “boca de lobo”, sustentam a cimeira
peça horizontal que faz a cumeeira sempre posta na diagonal,
a 45º. Da cimeira partem as tacaniças que se lançam sobre
cruzamento dos frechais, acima dos cunhais. Os caibros, por
sua vez, têm uma extremidade apoiada sobre a cimeira ou
sobre as tacanas e a outra, apoiada nos frechais das paredes
externas, samblados a estes a “boca de lobo”. Sobre os caibros,
apóiam-se as ripas e, sobre elas, as telhas. Essas telhas de barro,
em geral fabricadas na própria fazenda, eram feitas usando-se
formas de madeira para sua moldagem, jamais foram moldadas
em coxas humanas. No Museu de Artes e Ofícios de Belo
Horizonte existem algumas dessas formas.
Figura 4.34 – Formas de telhas. Fonte: acervo Museu de
Artes e Ofícios MAO de Belo Horizonte
Figuras 4.35 e 4. 36 Encontro da tacaniça com os
frechais, repare sambladura tipo “boca de lobo” em três
dimensões. No detalhe: “Cruz de Santo André” apoiando
a tacaniça. Desenhos: CFC
Figura 4.37 F. da Anta: Pau da tacaniça samblado a
boca-de-lobo. Foto: CFC
Figura 4.38 F. Estância do Mota: estrutura telhado.
Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
78
Como as casas são na maioria das vezes em forma de
“L, formado a partir do encontro de dois retângulos, cada
retângulo é coberto por um telhado de telhas capa-e-canal,
sempre de quatro águas. A junção entre os telhados é feita por
um rincão ou água furtada, que junta as águas provenientes
de dois panos de telhado. O rincão era feito com grandes
calhas de barro, colocadas por baixo das telhas. Estas calhas
são como os canais do telhado de capa-e-canal, só que com
maiores dimensões. Hoje em dia, o rincão foi substituído por
chapas metálicas, porém na Fazenda Pitangueiras (p.148)
foram encontradas peças com aproximadamente um metro
de comprimento em cima do forro. Isso demonstra que havia
tecnologia para solucionar o problema da captação e condão
das águas pluviais naquele rincão e que a “perna do L,
portanto, era concebida junto com toda a construção e não
posteriormente.
Os beirais são sustentados por cachorros, colocados
na posição horizontal, samblados a meia madeira aos frechais
e contraventados por um pau roliço chamado retranca. Há, na
parte inferior do telhado, uma inflexão que amacia o ângulo
formado pelos caibros no momento que interceptam o plano
formado pelos cachorros; é o galbo do contrafeito. Feita para
projetar as águas provenientes do telhado mais longe das
paredes, prolongando os beirais sem prejudicar a iluminação,
esta inflexão acaba também suavizando o volume da casa.
A dupla inclinão do telhado acabou se tornando uma
caractestica marcante da arquitetura do peodo colonial. Essa
cnica, trazida ao Brasil pelos portugueses, tem clara influência
oriental e foi introduzida em Portugal através do Algarve.
Ocorreu preferencialmente nas cidades portuárias, como notou
Orlando Ribeiro:
A capital, necessariamente mais ligada à vida
européia do seu tempo, aceitaria com dificuldades
um elemento desta origem. Ainda assim, os beirais
arrebitados e os ornatos dos ângulos dos telhados,
o freentes em casas velhas lisboetas, parecem
filiar-se a influências orientais. A partir da cidade se
teriam difundido no seu termo, tanto em quintas como
em humildes casais saloios, que imitavam aquelas
construções prestigiosas
4
.
Figura 4.39 Perspectiva: encontro do caibro, cachorro
e frechal: repare que os caibros ficam desencontrados dos
cachorros. Desenho: CFC
Figura 4.40 Corte no beiral: caibro, cachorro, frechal
e galbo do contrafeito. Abaixo: cachorro frente e lado
mostrando entalhe em “peito de pombo”. Desenho: CFC
Figura 4.41 – Encontro do pau de cumeeira e esteios da
cobertura. Desenho: CFC
4
RIBEIRO, Orlando. (1992). Geografia e civilização – temas
portugueses. Lisboa: Livros Horizonte., p. 109.
Capítulo 4 - Técnica Construtiva
79
O beiral e os cachorros são totalmente horizontais e,
para unir o ângulo horizontal do beiral ao ângulo de inclinação
do telhado, usa-se o contrafeito. Portanto, na verdade, há três
inclinações diferentes no telhado. A primeira é dada pelo ponto
da telha, que é o ângulo máximo a que se pode chegar sem
que as telhas escorreguem, uma vez que estas aderem às ripas
simplesmente por atrito; nãoencaixes ou amarrações. Por
isso é que podemos notar que a disncia entre ripas é menor
que o comprimento das telhas. A segunda inclinação é o ângulo
do contrafeito, também chamada de galbo; é determinado pela
interseção do ângulo do telhado, o “ponto, com o ângulo
(horizontal) do beiral. A última fiada de telhas é quase plana,
inclinada apenas o mínimo necessário para que a água não fique
parada ali. Como vimos, os caibros terminam sobre frechais
das paredes externas, samblados a “boca de lobo”, e por isso a
estrutura do beiral, que não é feita da continuidade dos caibros,
tem que, necessariamente, ser feita por outras peças. Daí
surgirem os cachorros que são o suporte do beiral. Os cachorros
o samblados a meia madeira aos frechais e transpassam
ligeiramente para dentro, onde o contraventados por peças
que não permitem que eles girem; essas peças são chamadas de
retrancas. Essa sofisticada inflexão de ângulos acaba amolecendo,
suavizando, o volume do telhado. Os cachorros e frechais são
geralmente arrematados por um delicado entalhe na madeira
chamado de “peito de pombo. Este arremate confere leveza,
torna a coberturaarrebitada” como na arquitetura do oriente.
Os beirais são guarnecidos por guarda-pós ou por
cimalhas. Os guarda-pós são tábuas colocadas entre os cachorros
e as ripas a fim de evitar que as telhas se levantem com o vento,
que são simplesmente apoiadas. As cimalhas mais comuns
são aquelas feitas com tábuas inclinadas, colocadas sob o beiral,
escondendo os cachorros; m a mesma função do guarda-pó
e arrematam o encontro do telhado com a fachada, conferindo
um ar cssico. Muitas vezes as cimalhas aparecem apenas nas
fachadas mais nobres da casa. Na Fazenda do Mato (p.221) -se
claramente isso; nas fachadas do corpo principal há cimalhas, no
corpo de serviços há somente guarda-pós, deixando os cachorros
aparentes. Há também cimalhas mais trabalhadas, compostas de
várias peças, que mais parecem sofisticadas cantarias, como nas
fazendas da Barra (p.272), Bela Vista (p.145) , Narciso (p.136) e
Cachoeira (p.255). O o entre a cimalha e as telhas é preenchido
com argamassa, evitando a entrada de bichos. Nas casas de
fazenda, sempre que há cimalhas, os cachorros não aparecem.
Figura 4.42 – Fragmento de cimalha encontrada no porão
F. Cachoeira. Foto: CFC
Figura 4.43 Cunhal e beiral da F.Narciso antes da
reforma. Fonte: Andrade (2004).
Figura 4.44 - F. da Barra: arremate de argamassa ente a
cimalha e as telhas. Foto: CFC
Figura 4.45 – F. do Mato: cimalha no corpo principal e
apenas guarda-pó no corpo de serviços. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
80
Apenas no casario urbano de Diamantina vimos cimalhas que
cobrem parcialmente os cachorros, deixando à mostra suas
pontas.
Sob o telhado, o forro plano encerra o volume interior.
O forro tem a função primordial de resguardar a privacidade
de cada modo uma vez que as paredes internas vão somente
até a altura dos frechais. Também tem a função de guarda-pó
porque que as telhas vãs sempre permitem a entrada de folhas
e de poeira. Esta fuão - guardar o pó - por extensão acabou
emprestando seu nome às tábuas acima dos cachorros.
Os forros podem ser de madeira ou de esteira de
taquara. Os forros de madeira podem usar o sistema de saia
e camisa ou de mata-junta. Nos dois sistemas, as tábuas são
afixadas em barrotes superiores que se apóiam nos frechais,
samblados a meia madeira. Esses barrotes são samblados aos
frechais, mas não em rabo de andorinha”; como os barrotes
do piso são samblados aos baldrames. Isto porque os frechais já
se contraventam, como foi dito anteriormente e, assim sendo,
o é preciso que os barrotes do forro travem os frechais. Para
arrematar o encontro do forro com as paredes, aparecem os
roda-tetos. Ao redor de todo o forro ficam as indefectíveis
tabeiras, arrematando as tábuas corridas. Entre as tabeiras e as
tábuas corridas, pode haver uma infinidade de arremates como
cordas, rendilhados, dentículos, etc.
Há algumas exceções ao tradicional forro de saia e
camisa. Na cozinha, usa-se uma treliça larga ou simplesmente
o forro, deixando a fumaça sair pela telha . Em
ambientes nobres, os forros são mais ornamentados, fazendo
desenhos conntricos como ocorre na sala das fazendas
Cachoeira (p.255), Cafarnaum (p.284) e das Posses (p.209).
Na Fazenda Sesmaria (p.158), por exemplo, um quarto da
Figura 4.46 Detelhe do apoio do barrote do forro no
frechal. Desenho: CFC
Figura 4.47 Barroteamento do forro, F Estância do Mota.
Foto: CFC
Figura 4.48 – Forro de gamela, F. Cafarnaum. Foto: CFC
Figura 4.49 Forro saia e camisa, tabeira e roda-teto. F.
do Mato. Foto: CFC
Capítulo 4 - Técnica Construtiva
81
ala social que possui forro de gamela. Os forros das capelas
também são mais trabalhados e ornamentados. Na Fazenda
Figueira (p.206), por exemplo, a capela possui forro abobadado.
Em algumas fazendas foram encontrados forros de esteira de
taquara, como na Barra do Palmela (p.186) , Grão Mogol (p.170)
e Serra das Bicas (p.176), provavelmente em substituição aos
forros originais de madeira. Algumas fazendas tiveram seus
forros substituídos, mais recentemente, por forros do tipo
paulistinha”.
Todo o fechamento da estrutura é feito por paredes de
pau-a-pique, também chamado de taipa de mão, de sebe ou
de sopapo. Em Minas, o nome usado é pau-a-pique. Apesar de
ser apenas o preenchimento dos vãos estruturais, esta técnica é
tão difundida e tão popularmente conhecida que, muitas vezes,
essas casas são conhecidas apenas como casas de pau-a-pique.
... nas constrões de arcabouço de madeira e da
mesma época, as paredes têm, invariavelmente,
a mesma espessura dos pés-direitos, e nada mais,
exatamente como m agora a espessura dos montantes
de concreto
5
.
O pau-a-pique é usado para fechar os panos internos de
parede, os nembros da fachada, os panos de peito e os panos
de parede acima das vergas. Para isso, usa-se uma grelha de
madeira entre as peças da estrutura, preenchida com barro.
O barro é atirado de encontro à grelha de ambos os lados da
parede. Depois de preenchida a grelha, vem uma camada de
massa grossa de regularização e depois pode haver sucessivas
camadas de revestimento, de granulometria cada vez mais fina,
que são somadas à parede para dar acabamento, terminando
com uma ou mais camadas de cal. Cada uma dessas argamassas
possui uma composição diferente, específica para sua fuão.
A parede acabada atinge, geralmente, a espessura média de
dezessete centímetros, pouco menos que a espessura dos pés-
direitos. A grelha é formada por paus verticais e horizontais. Os
verticais são roliços e se encaixam em oricios redondos, feitos
com pua na estrutura, nomeadamente nos baldrames e frechais,
sendo que, nos frechais, estes furos são mais profundos de tal
maneira que paus são colocados primeiro nestes e depois soltos,
encaixando-se nos oricios inferiores. Os paus horizontais são
mais finos e ficam amarrados aos verticais de ambos os lados
por fibras naturais como cipó ou embira.
O leitor mais atento irá notar que, em algumas fotos,
Figura 4.50 – F. Sto Antônio: forro rendilhado na sala
nobre. Foto: CFC
Figura 4.51 – Forro de gamela em quarto de hospedes na
F. Sesmaria. Foto: CFC
Figura 4.52 Forro conntrico na sala nobre da F.
Cachoeira. Foto: CFC
5
COSTA, Lucio. (2007). Sobre arquitetura. Organizado por
Alberto Xavier. Porto Alegre: UniRitter. 7 p. 91
Fazendas do Sul de Minas Gerais
82
tijolos preenchendo os vãos, mas isso é apenas uma substituição
posterior do vedo; não significa que houvesse casos de
preenchimento de tijolos nessas fazendas, semelhante ao que
vemos na região de São João del Rei ou na Fazenda Traituba,
onde as paredes são feitas de adobe.
Em Minas Gerais a taipa de pilão, ou simplesmente
taipa, como é mais conhecida, o foi adotada. Não se sabe se
por razões cnicas, como a irregularidade do terreno e a falta
de terra argilosa, ou se por razões culturais.
A taipa caiu em desuso no Brasil, suplantada pela casa
de pau-a-pique, formada por uma grelha de madeira
revestida de barro atirado de encontro à armação.
Foram os escravos que introduziram e divulgaram esta
técnica, de largo emprego na África negra.
6
A origem da taipa de mão é um pouco controversa,
pom indubitavelmente longínqua, ocorrendo no Brasil desde
os primeiros séculos, como podemos observar nas pinturas de
Frans Post em Pernambuco construídas em taipa de pau a
pique”
7
.
Há quem diga que a taipa de o também era usada
em Portugal, mas, em pesquisa de campo em Portugal e
também junto ao óro de preservação do patrimônio de
Guimaes, o GTL, não encontramos este tipo de vedo. O vedo
encontrado para as estruturas de madeira foi uma grelha de
fasquias de madeira, preenchida com cacos de tijolos e entulho,
posteriormente revestido.
Saindo da estrutura principal da casa, a gaiola de
madeira, vamos tratar agora de outros pormenores que fazem
parte deste conjunto de técnicas construtivas. Em relação às
peças dos os das portas e janelas como ombreiras, peitoris e
vergas, estas são as próprias peças da estrutura; o outras
peças, como montantes, aduelas, guarnições. As ombreiras ou
umbrais nada mais são do que as pprias peças de madeira dos
pés direitos. Essas peças são entalhadas de maneira que fiquem
embutidas nas paredes nos trechos abaixo dos peitoris e acima
das vergas; quando na altura das janelas, possuem a espessura
total da parede e formam as ombreiras. Nos trechos em que
fazem a função de ombreiras, essas peças recebem um recorte
vertical, uma espécie de rebaixo pelo lado interno onde se
encaixam folhas das portas e janelas.
O fechamento dos vãos das portas e janelas é feito por
6
RIBEIRO, Orlando. (1992). Geografia e civilização temas
portugueses. Lisboa: Livros Horizonte., p. 65
7
GOMES, Geraldo. (1998). Engenho e arquitetura. 2.ed.
Recife: Fundação Gilberto Freyre., p. 85
Figura 4.53 Sede do GTL e croquis dos sistemas
construtivos mais usados em Guimarães. Desenho: CFC
Capítulo 4 - Técnica Construtiva
83
folhas de madeira, constituídas por tábuas sambladas umas
às outras atras de sambladura macho-e-fêmea e unidas por
travessas. Esse fechamento pode ser chamado de folhas de
calha” ou de couçoeiras. Nestas folhas, quando vistas de tardoz,
é possível observar as travessas que unem as tábuas. Essas
travessas são peças trapezoidais entaladas nas couçoeiras em
sentido oposto umas às outras, alternadamente; isso faz com
que o conjunto fique travado. A seção transversal das travessas
também é trapezoidal e encaixa em um entalhe de mesma
forma, feito na couçoeira, o que impede o arranque superior.
Além da pressão que une as travessas às couçoeiras, usam-
se também cavilhas, impedindo o escorregamento lateral. As
dobradiças ou gonzos são sempre afixados nas travessas e o
nas folhas de madeira.
Quase todas as fazendas apresentam folhas de calha;
apenas na Fazenda Favacho (p.131) e na Fazenda Santo Annio
(p.281) foram encontradas portas e janelas com folhas de
almofadas. Nas demais, as folhas almofadadas eram usadas
apenas nos ambientes nobres como nas portas das capelas.
Os caixilhos apareceram posteriormente e, por isso,
foram colocados do lado de fora com relação às folhas das
janelas. São compostos por duas folhas do tipo “guilhotina”,
fixadas às ombreiras por sarrafos pregados a elas. A folha
superior é fixa e fica sempre mais para fora que a folha
inferior, impedindo que a água da chuva entre. Cada folha é
Figura 4.54 – Folha da calha vista de frente e tardoz:
travessas trapezoidais alternadas. Desenho: CFC
Figura 4.55 Detalhe de sambladura entre travessa e
couçoeira. Desenho: CFC
Figura 4.56 – Encaixe entre as couçoeiras mostrando
sambladura macho e fêmea. Desenho: CFC
Figura 4.57 – Detalhe de travessa e couçoeira, F Monte
Alegre. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
84
Figura 4.58 Elevação de caixilho, F. do Mato Janela.
Foto: CFC
Figura 4.59 - Janela da F. Pitangueiras. Foto: CFC
Figura 4.60 – Detalhe típico de janela (corte), F. do Mato.
Desenho: CFC
Figura 4.61 – Detalhe típico de janela (planta), F. do Mato.
Desenho: CFC
composta por requadro de madeira e por pinásios, formando
um quadriculado mdo que suporta os vidros. Estes são fixados
externamente aos pinásios com pequenos pregos, recobertos
posteriormente por massa.
É importante notar que os pinásios verticais são
peças inteiriças que vão de um lado a outro do requadro; os
pinásios horizontais, por sua vez, são interrompidos a cada
cruzamento. Ambos têm seção em “T” e assim permanecem
durante o cruzamento das peças, tornando-os finíssimos, quase
desaparecendo na contraluz. Hoje em dia, quando se copiam
caixilhos desse tipo, os pinásios têm seção retangular e o
cruzamento entre eles é feito em meia madeira. Posteriormente,
os pinásios são chanfrados com tupia, deixando apenas os nós de
cruzamento sem chanfro; por isso esses nós têm um aspecto muito
grosso, ao contrário do caixilho original, e se torna fácil distingui-los.
Parede
Baldrame
Assoalho
Rodapé
Peitoril
Capítulo 4 - Técnica Construtiva
85
Nos caixilhos que guarnecem janelas com vergas curvas,
notamos que o arremate entre o caixilho e a verga é feito no
próprio requadro do caixilho, que se curva para ajustar-se à
verga. Os vidros permanecem retangulares. Vemos isso nas
fazendas Pitangueiras (p.148) , Sesmaria (p.158) e Água Limpa
(Cristina) (p.263). Na Fazenda Serra das Bicas (p.176) isso não
ocorre; neste caso, o vidro vai até em cima e acompanha a curva.
Essas folhas eram divididas em um quadriculado miúdo,
onde se encaixavam os vidros. Quanto mais sofisticada era a
fazenda, mais peças de vidro eram usadas em cada caixilho,
chegando, em algumas propriedades, a haver até vinte peças
em cada folha. Em algumas fazendas mais sofisticadas, as
fachadas nobres possuíam os pisios e vidros trabalhados em
desenhos diagonais, curvos, etc. O vidro era um material raro - e
caro - naquela época, no interior de Minas, por isso os caixilhos
somente foram introduzidos posteriormente. Anteriormente aos
vidros, e em sua substituição, vez por outra, usaram-se lâminas
finíssimas de pedras translúcidas como a malacacheta ou mica.
Esse tipo de fechamento dos caixilhos com minas de pedras
o é comum nas fazendas pesquisadas, apenas foi encontrado
na Fazenda Primavera (p.276). Tanto os vidros quanto as
pedras não podiam ter grandes dimensões, por isso as janelas
apresentam um quadriculado miúdo.
A Vila de Campanha, ou propriamente, Vila da Princesa
da Beira, que alçamos cedo, no mesmo dia, pois dista
apenas quatro léguas a nordeste de São Gonçalo, es
situada sobre alto outeiro, e é, depois da Vila de São
João Del-Rei, a mais importante e populosa da Comarca
do Rio das Motes. As minas de ouro, que em parte só
há poucos anos, foram abertas na vizinhança, incluem-
se entre as mais ricas das atualmente exploradas, e
deram grande opulência aos habitantes, entre os quais
travamos relações com o capitão-mor, um compatrício
nosso, irmão do Sr. Stockler, Governador das Ilhas dos
ores. Aqui, vimos diversas e bonitas casas de dois
pavimentos, providas de janelas envidraçadas, um dos
mais custosos artigos do interior do Brasil.
8
Os caixilhos de guilhotina passaram a ser uma constante
na Europa, a partir da revolução industrial, e, a partir de meados
do século XVIII, em Portugal, onde até hoje quem os chame
de janelas “à inglesa”. Esse tipo de janela foi amplamente usado
8
VOM SPIX, Johan Baptist. (1981). Spix e Martius, viagem
pelo Brasil 1817-1820. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo:
EDUSP, p.185
Fazendas do Sul de Minas Gerais
86
nas reformas urbanas Pombalinas em Lisboa, na Baixa e no
Porto, especialmente na Rua do Almada. No Brasil, seu uso foi
recomendado por ordenações governamentais em substituição
às tradicionais tulas de madeira. Quem quiser se aprofundar
neste assunto recomendamos a leitura de livro Através da
Rótula, de Paulo César G. Marins (2003).
Como vimos, a madeira é usada nessas casas de fazenda
tanto na estrutura da gaiola e do telhado quanto nos pisos,
forros e fechamentos. Cada peça possui uma função espefica
e um padrão de dimensões e sambladuras adequadas a cada
função. São elas: baldrames, vigas-madres, barrotes, tábuas do
piso, rodapés, roda-cadeiras e roda-tetos, esteios, pés-direitos,
cunhais, frechais, vergas, peitoris, travamentos diagonais,
tacaniças, caibros, cimeiras, cachorros, tábuas do forro,
cimalhas, guarda-pós, calhas de portas e janelas e pisios.
Para cortar, desdobrar, serrar, cavar, entalhar e furar usavam-
se ferramentas específicas como serras, enxó, puas, machados,
etc. As madeiras mais usadas na região eram o pau-óleo ou
cabreúva, o cedro, a peroba, e o jacarandá, este último preferido
para os móveis. Nas regiões mais altas, como na Mantiqueira,
é comum o uso da araucária para as tábuas de piso e forro.
Todas sempre pintadas como forma de proteção à madeira, com
exceção do piso e das peças do porão. A pintura das madeiras
é sempre feita a óleo e, a das paredes, a cal. Internamente as
casas podem receber diversos tipos de pintura ornamental,
desde um simples barrado dividindo a parede na altura do
roda-cadeira até pinturas de cenas religiosas, naturezas mortas,
Figura 4.62 Instrumentos de carpintaria. Fonte: acervo
Museu de Artes e Ofícios, MAO de Belo Horizonte
Capítulo 4 - Técnica Construtiva
87
paisagens da fazenda, caçadas ou até mesmo pintura ilusionista,
passando por diversos tipos de texturas como as de mármore e
de madeiras, além das gregas e padrões florais.
Técnica e Estética
A resultante formal que caracteriza uma determinada
arquitetura, uma determinada família tipológica, é a combinação
entre certa intenção plástica, sua corrente estilística e as cnicas
construtivas adotadas. Algumas correntes estilísticas estão
intimamente ligadas à técnica construtiva adotada; é imposvel,
por exemplo, imaginar uma catedral românica sem as robustas
paredes portantes de pedra ou um templo japonês sem suas
estruturas de madeira. Outros estilos arquitetônicos, porém,
não estão estritamente ligados a uma técnica construtiva,
mas sim associados a valores formais ou a um saber fazer de
uma certa época ou rego e utilizam seu reperrio formal
de maneira mais independente da técnica construtiva. A
arquitetura do período colonial no Brasil, no contexto do mundo
colonial português, criou, a partir de um processo de extração
e depuração de seus elementos mais característicos, uma
arquitetura simples e austera, desprendida de valores formais
ligados a determinada ordem.
No Brasil é possível ler, identificar a arquitetura civil do
tempo de conia como um todo uno e coerente que usa uma
mesma linguagem, fala uma mesma língua, seja no casario
açoriano de Santa Catarina, seja nas construções de pedra e cal
no litoral de São Paulo, nos sobrados e trapiches da Bahia, no
casario urbano de Minas e do Rio de Janeiro ou nas construções
de taipa espalhadas pelos seres paulistas, e a mesmo nas
casas de estrutura aunoma de madeira das fazendas de Minas
Gerais. Alguma coisa nelas nos faz identificar uma linguagem
comum, uma família, seja na modenatura das fachadas, na
marcão rítmica dos cunhais e envasaduras, na volumetria pura
ou nos grandes telhados de barro com seus beirais.
As casas de pedra do litoral têm seus elementos
mais importantes feitos desse material, trabalhado segundo
as técnicas de estereotomia; são cunhais, barrados, vergas,
umbrais, peitoris e panos de peito. As demais partes da
alvenaria não recebem tal cuidado, são feitas de pedra de
mão argamassadas, revestidas e, posteriormente, caiadas ou
Figura 4.63 Beirais desenhados por Wasth Rodrigues:
cimalha, beira seveira e e cachorrada. Fonte: Rodrigues
(1980)
Fazendas do Sul de Minas Gerais
88
revestidas com azulejos, como ocorre nas grandes cidades
litorâneas, de Belém do Pa a Porto Alegre. Há também aquelas
casas onde as envasaduras são guarnecidas por peças de
madeira, seja sua estrutura de alvenaria de pedras, adobe, pedra
ou entulho entaipados. Neste caso, a marcação de madeira é
reforçada por tintas usadas para fazer sua proteção. Aparecem
, em substituição às cimalhas de pedras das construções
mais nobres, os beirais de beira seveira, feitos a partir da
sobreposição de sucessivos balanços de telha sobre a parede
de alvenaria portante. A beira seveira é uma característica das
construções de alvenaria portante, sendo impossível de ser feita
em casas de estrutura aunoma de madeira. Mais tarde, com
a introdução do tijolo de barro cozido, este tipo de cnica, de
balanços sucessivos, passa a ser usada também com os tijolos e
ganha inúmeras variações.
Nas casas de taipa, normalmente, os vãos são menos
numerosos, igualmente marcados pela distribuão criteriosa
nas fachadas; já não cimalhas e a estrutura da cobertura
se apresenta nos beirais em balanço, sustentados por peças
que os estruturam, chamadas cachorros. Na casa de estrutura
aunoma de madeira, os mesmos cachorros reaparecem, ora
aparentes, sustentando as tábuas do guarda-pó, ora escondidos
pelas cimalhas de madeira.
Em todos esses casos, a mesma intenção pstica está
presente na marcação dos elementos mais característicos,
independentemente da cnica utilizada. A volumetria pura e as
soluções de cobertura demonstram perfeita combinação entre
as possibilidades técnicas, as tradões culturais e as condições
climáticas; são sempre grandes telhados com beirais em
balanço, lançando suas águas para fora do corpo da construção,
marcados pela indefectível mudança de ângulo de inclinação
que confere à cobertura aquela curva tão característica de nossa
arquitetura colonial.
Cada sistema construtivo tem seus elementos próprios e,
conseentemente, sua nomenclatura própria; colunas e traves
são próprias do sistema autônomo grego, arcos e abóbadas são
próprios do sistema de alvenarias portantes romano. Há também
aqueles elementos transplantados de um sistema ao outro; as
pilastras lembram colunas da estrutura aunoma, no entanto
são adornos de uma estrutura portante. As vigas são elementos
da estrutura autônoma, mas tornam-se vergas para vencer os
de aberturas nas paredes portantes. Os arcos são perfeitamente
compatíveis com a estrutura portante, trabalhando à
Capítulo 4 - Técnica Construtiva
89
compressão; cada aduela descarrega sua carga na seguinte e
assim por diante. A forma curva do arco decorre da necessidade
de transferência de cargas verticais para horizontais. As vergas
curvas na estrutura autônoma, como a verga canga de boi nas
fazendas, tomam emprestada a curva de linguagem formal,
própria do arco. A verga canga de boi é uma variante estilística
da verga reta da estrutura autônoma de madeira que, além de
emprestar sua linguagem de outra cnica, também absorve
uma linguagem oriental, pois parte de um segmento de reta
horizontal para fazer o arco, ao contrio do que acontece em
arcos plenos, abatidos, apontados ou ogivais, feitos de pedras
ou tijolos e que m que se estruturar por sua forma e o por
um elemento que, na verdade, é uma viga.
Assim, quando falamos de baldrames, pés-direitos,
esteios, frechais, estamos falando de uma nomenclatura
específica da técnica construtiva da estrutura autônoma de
madeira. Quando falamos em cunhais, vergas e peitoris,
podemos nos referir a ambas, autônoma e portante. O cunhal
na estrutura portante de pedras é um marco estrutural onde as
pedras são aparelhadas de forma a se entrelaçarem, estruturando
o arranque das paredes. Isso também ocorre na taipa de pilão,
onde os blocos de terra socada m que ser entrecruzados nos
encontros das paredes para dar firmeza à estrutura. Esse enlace
de elementos horizontais sucessivos desenha o cunhal e, por isso,
ele é tão importante como linguagem.
Na estrutura autônoma de madeira o cunhal não é
mais do que uma coluna com função estrutural igual a todas
as outras, porém pela permanência de uma linguagem erudita,
advinda da cnica anterior, o cunhal de madeira aparece bem
marcado na fachada. Esse ir e vir de linguagens entre técnicas
construtivas diversas deve ser observado para se distinguir
o que é próprio daquele sistema construtivo e o que é pura
permanência de linguagem. É geralmente naquela arquitetura
menos pretensiosa que se observa maior compatibilidade entre a
cnica e a intenção plástica.
Se lhes falta a ênfase que civilizações mais apuradas
conferiram às suas moradias, será exatamente nessa
despretensiosa beleza, nesta fisionomia não maquilada,
que devemos buscar seu valor e importância.
9
Nas casas dessas fazendas encontraremos alguns
elementos desse desencaixe acima citado, apesar de serem
9
VASCONCELOS, Sylvio. (1957). Arquitetura colonial
mineira. In: SEMINÁRIO DE ESTUDOS MINEIROS,1957, Belo
Horizonte: UFMG.p.13
Fazendas do Sul de Minas Gerais
90
bastante despretensiosas quanto ao estilo e apresentarem uma
perfeita “saúde plástica”. Pom, é justamente naqueles edifícios
secundários, nas senzalas e edifícios de serviços que vamos
encontrar a linguagem mais direta, totalmente despretensiosa.
Por isso, quando ainda existem, esses edicios são testemunhos
ainda mais certeiros desse saber fazer tradicional.
Que nos perdoem os colegas Raul Lino e Ricardo Severo,
mas a síntese da arquitetura luso-brasileira já havia sido feita
séculos atrás e o que seria uma reão xenofóbica ao historicismo
arquitetônico da época, acabou sendo mais um apanhado
de formas e elementos eleitos de nosso passado colonial,
adicionados a uma carca formal já estabelecida e consolidada.
Capítulo 4 - Técnica Construtiva
91
Fazendas do Sul de Minas Gerais
92
5-Programa de Necessidades e Esquemas
de Plantas
Neste capítulo é discutido o processo evolutivo das tipologias
regionais, principalmente a evolução dos esquemas de plantas,
desde as primitivas fazendas, que serviam de apoio para primeiros
núcleos exploratórios de ouro, até as fazendas da virada do XIX
para o XX, com plantas mais regulares.
O rorio obrigatório
O jantar, lá na cozinha
Todo dia à mesma hora
As histórias de Dorinha
Memórias de Marta Saré – Edu Lobo.
Através dotodo descrito no capítulo sete e considerando o
universo amostral levantado, confrontamos as plantas lado a lado,
suas datas e localizão, e traçamos um quadro evolutivo dos
esquemas de plantas adotados ao longo de quase dois séculos de
permanência desse modelo.
O programa de necessidades foi-se moldando ao longo
do tempo conforme as mudanças na atividade produtiva, social,
religiosa, etc. As plantas, por sua vez, foram se adaptando ao
programa de necessidades. Não há uma rigidez formal entre todas
as plantas; os fluxogramas, porém, são rigidamente os mesmos,
dividindo a casa em três zonas distintas. As fazendas mais antigas,
ainda do século XVIII, apresentam uma planta mais orgânica,
esboçando um esquema que virá a se consolidar com o passar dos
anos, e um apuro programático, gerando plantas mais regulares
no culo XIX. Essa maior organicidade das plantas do XVIII talvez
se deva ao desenvolvimento assembled que essas casas tiveram.
Ao contrário, no XIX, as construções já partiam de um projeto
mais planejado e, principalmente, mais adaptado ao programa de
necessidades que, a essa altura, já havia se definido.
O programa de necessidades é resolvido sempre em um
único pavimento, normalmente chamado de pavimento nobre
pelos historiadores da arquitetura. O porão, quando utilizado, não
se destinava à habitação; servia de depósito, guarda de animais
ou para os escravos ligados à casa. Na verdade, o porão serve para
fazer o ajuste da topografia e para soltar a casa do chão. Em Minas
não se habitava ao rés-do-chão.
Capítulo 5 - Programa de Necessidades e Esquemas de Plantas
93
Estar em casa era estar sobre um só assoalho. Não há
hipótese de encontrarmos nessas fazendas, por esse
tempo, um programa habitacional que imagine num
mesmo pavimento as atividades de receber e em outro
as atuações da vida íntima, o que viria a acontecer mais
tarde, com a arquitetura eclética.
1
O programa é claramente dividido em três setores: o
de serviços, o íntimo, relativo à família, e o social, relativo ao
convívio com estranhos. O setor de serviços é composto por uma
ou mais cozinhas e por cômodos complementares, que podem
ter a função de despensas, desitos, quarto de queijos ou até
mesmo quarto de dormir ligado ao serviço. O setor íntimo é onde
habita a família do proprietário. Este se organiza em torno de uma
grande sala, a sala da família. Ela é que faz a articulação com os
demais setores. Para esse setor voltam-se os quartos e alcovas da
família. Finalmente, o setor relativo ao convívio com estranhos é
também organizado ao redor de uma grande sala, em torno da
qual se voltam os quartos e alcovas destinados aos hóspedes. Há
uma distinção bem clara entre a parte social e a parte íntima da
casa, devido à necessidade de se receber hóspedes e viajantes
constantemente.
Em todo o Brasil Rural de antigamente, é bom
lembrarmos, esse zoneamento das casas fatalmente
haveria de ocorrer; longas distâncias, a necessidade de
pernoites ao longo dos caminhos vastos e desertos, às
vezes viajantes conhecidos, amigos ou até parentes, às
vezes caminhantes suspeitos,“cometas”, ou mascates, que
deviam ser tratados sem muitas intimidades (...).
2
Quanto à forma da casa, do ponto de vista da planta,
vamos encontrar algumas variações. Em primeiro lugar, temos
plantas formadas por um único retângulo, mais comprido, com
proporções maiores que 2:1, ou mais curto, com proporções
menores que 2:1, porém raramente se aproximando de um
quadrado. Sua cobertura é de quatro águas. Depois aparecem
os volumes anexos ao corpo principal; neste caso, podemos
ter plantas compostas por dois retângulos articulados
perpendicularmente (em forma de L) ou paralelamente. Os
telhados de cada retângulo o sempre de quatro águas e, no
encontro destes, forma-se o rincão ou água furtada. Podemos
encontrar ainda as plantas em forma de U. Estas, porém, são
1
LEMOS, Carlos A.C. (1979). Arquitetura brasileira. São
Paulo: Melhoramentos; EDUSP, p.188
2
LEMOS, Carlos A.C (1999). Casa paulista. São Paulo:
EDUSP. p. 97
Figura 5.1 - Plantas de cobertura. Desenho: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
94
mais raras e representam uma derivação das plantas em L,
apresentando uma perna” a mais. Dentre as plantas em forma
de L, aparecem em primeiro lugar as plantas cuja largura dos
dois rengulos é a mesma; posteriormente, o corpo principal
torna-se mais largo, de proporções próximas a 3:4 e o corpo de
serviços permanece estreito. Esta planta se torna a mais difundida
e adotada na maioria das fazendas do XIX; podemos dizer que é
a planta clássica desse culo. Há quem chame a perna do L de
puxado” de serviços, porém não achamos adequado este nome
já que este bloco menor é concebido junto com toda a construção
e não posteriormente.
As plantas são quase sempre formadas por cômodos
retangulares ou quadrados, raramente apresentam cômodos em
forma de L. Cada pa da casa é ligada à outra por portas, sempre
de mesma altura e sempre com suas vergas alinhadas com as
janelas. Quando se trata da ligação entre dois setores, esta é feita
por “corredores” oucômodos de passagem” que, muitas vezes,
fazem um “sifão visual”. Chamamos de sifão visual o artifício
usado para que, do setor social, não se veja a parte íntima da
casa; isso é feito através do não alinhamento de suas aberturas.
Ao longo do levantamento, pudemos observar várias fazendas que
apresentam essa solução, entre elas as fazendas do Mato, Água
Limpa, Balaio, Fazenda Pouso Alegre de Varginha, etc. plantas
que são mais orgânicas e outras, mais regulares. Somente nas
fazendas com plantas mais orgânicas encontramos pas que não
sejam retangulares e paredes que não estejam alinhadas.
Há, portanto, três setores bem distintos. No setor social e
no íntimo, a organização espacial faz-se em torno de um grande
cômodo para onde se abrem aposentos menores, aos quais
chamaremos de “cômodos orbitais” que podem ser quartos,
alcovas, etc.
No setor social, este grande cômodo é a sala da frente ou
sala de visitas, como foi chamada mais tarde. Ela organiza a vida
social da casa; para ela se abrem a capela ou ermida, os quartos e
alcovas destinados aos spedes. Esta sala é usada principalmente
para receber pessoas de fora do núcleo familiar. diversas
descrições de viajantes que são recebidos nessas fazendas e a eles
é destinado um cômodo nesse setor.
Ainda no setor social, muitas vezes há uma segunda sala,
a de entrada, uma espécie de hall de distribuição ou vestíbulo.
Esta peça é o primeiro cômodo da casa e está sempre ligado
diretamente à porta de entrada. A este cômodo, podem estar
ligados os quartos ou alcovas dos viajantes e a ermida. O vesbulo
Capítulo 5 - Programa de Necessidades e Esquemas de Plantas
95
faz também a ligação com a sala nobre e a articulação com o setor
íntimo, ligando-se à sala da família através de um corredor ou
cômodo de passagem.
Esse vestíbulo funciona muitas vezes como a antiga
varanda entalada, fazendo a distribuição para vários cômodos.
Para designar esse cômodo de ligação e distribuição muitas vezes
era tamm usado o termo corredor. É provável que as varandas
entaladas das antigas casas de fazenda mineiras tenham se
tornado cômodos internos e se transformado nos vestíbulos acima
descritos. Em algumas fazendas, o setor social possui essas duas
salas, vesbulo e sala nobre; em outras, há apenas a sala nobre.
Em ambos os casos, esta(s) sala(s) têm, de um lado, a capela ou
ermida e, do outro, um quarto de hóspedes, exatamente o mesmo
que ocorria na antiga varanda. As varandas que hoje existem
em muitas fazendas são peças destacadas do volume da casa,
alpendres, geralmente postos junto à porta de entrada e, muitas
vezes, nota-se que são construções posteriores ao volume original.
Em muitas fazendas há um aposento exclusivo para a
função religiosa que abriga um altar, retábulo ou oratório: é a
ermida. A origem etimológica da palavra ermida é a mesma da
palavra eremita, ermitão, que denota isolamento, distante, em
local ermo, portanto esse vobuloo deveria ser usado para
uma capela dentro de casa. Porém, por metonímia, devido ao tipo
de oratório usado em seu interior, do tipo ermida, o termo é usado
na região para designar esse cômodo no interior de casa.
Usuais nas Casas Grandes do Nordeste e nas fazendas
mineiras, as Ermidas - pequenas capelas domésticas que
podiam ou não estar dentro da residência - precisavam
da autorização lenta e burocrática das autoridades
eclesiásticas para serem consagradas. Como alternativa,
surgiram os grandes oratórios, que cumpriam a função
doméstica e pública da Capela, especialmente nas
propriedades rurais que, por estarem longe das vilas,
necessitavam de um local próprio para o cumprimento dos
ofícios católicos. Algumas famílias abastadas reservavam
um cômodo especial, chamado “quarto de santos”, para
as práticas religiosas. O grande oratório passou, então,
a cumprir o papel de retábulo,o apenas abrigando
os santos de devão, mas tamm sendo utilizado
para a realização de batizados, casamentos, missas
em intenção de almas, novenas e rezas coletivas. Essas
3
<http://www.oratorio.com.br/> acessado em 25 de abril
de 2008
Fazendas do Sul de Minas Gerais
96
celebrações eram realizadas com a presença de párocos
de vilas próximas, que aproveitavam as visitas rurais para
cumprirem outras obrigações evangélicas.
3
Esta peça deve ser sempre colocada próxima à entrada,
para que pessoas estranhas possam assistir à missa sem que
entrem na intimidade da casa. Alguns membros da família
poderiam assistir à missa separadamente das demais pessoas
da fazenda e, por isso, há em muitas casas uma janela ligando
a ermida à parte íntima, como podemos perceber nas fazendas
Santa Clara (p.301), da Anta (p.193), do Mato (p.221), Angahy
(p.125), etc. Naquele tempo os padres vinham até as fazendas
para rezar a missa e desempenhar as demais funções religiosas,
pois as cidades eram distantes. É comum encontrar nessas casas
pias batismais, como a pia de pedra sabão da Fazenda do Mato,
ou instrumentos para celebração de missa, como na Fazenda
Santa Maria (p.226) e Angahy. Em algumas fazendas, porém, não
há um cômodo exclusivamente dedicado à função religiosa, mas
nestes casos existem sempre oratórios – que podem ser móveis ou
embutidos em nichos e armários -, retábulos, altares, imagens nas
paredes, santos, etc.
Saindo do setor social, atravessamos um corredor ou
cômodo de passagem e encontramos a segunda grande pa da
casa, invariavelmente maior que a primeira; é a sala de dentro ou
sala da família, para a qual se volta toda a vida íntima da casa. A
ela se ligam os quartos e alcovas da família. É esta sala que faz
sempre a ligação com o setor de serviços, nos casos da forma de L,
na junção dos retângulos; nos casos de retângulos únicos, através
de corredor. Esta sala é a vida da casa, por ela tudo passa, é dela
que a matriarca pode controlar todo o movimento da família,
agregados e empregados. Hoje em dia essa sala é usada como
sala de jantar e, sendo assim, leva também este nome. Esse nome,
porém mascara a diversidade de funções e a importância que este
cômodo teve no passado. Podemos considerá-lo o mais importante
da constituição da casa e, por isso, não devemos chamá-lo de sala
de jantar e sim, de sala da família.
As alcovas localizam-se, geralmente, no centro do
retângulo principal, entre a sala nobre e a sala da família. o
pequenos quartos sem janelas que podem se abrir para a sala da
frente ou para a sala da família. Entretanto, há casas em que a
alcova encontra-se pegada a uma parede externa, ou seja, poderia
tecnicamente possuir janela, mas não possui, como na Fazenda
Santa Clara. Isso mostra que a alcova não é apenas a resultante
Capítulo 5 - Programa de Necessidades e Esquemas de Plantas
97
de impossibilidade técnica, onde os cômodos centrais não tinham
como ser iluminados; é sim, uma tradição cultural milenar.
Na periferia do volume principal localizam-se os demais
quartos da casa. Muitas vezes esses quartos possuem portas que
os ligam entre si, de maneira que seja possível circular por toda a
casa sem ter que, necessariamente, passar por uma das salas. Há
quartos que possuem mais de uma porta, por isso podem, ora
estar ligados ao setor íntimo, ora, ao setor social.
Saindo do setor íntimo, sempre pela sala da família,
encontra-se a parte de serviços da casa. Despensas, quartinhos,
armários e a(s) cozinha(s) comem o setor de serviços.
Geralmente a cozinha fica na extremidade do corpo de serviços.
Não há uma regra para a orientação da cozinha em relação à
declividade do terreno; em alguns casos ela está na parte alta da
casa, em outros, na parte baixa. Desta maneira também não
regras para o tipo de piso e sua estrutura na cozinha. Em alguns
casos o piso da cozinha é sobre aterro, ou seja, o que seria o porão
abaixo dela é preenchido com terra. Na Fazenda Água Limpa
(p.278), por exemplo, o piso é de terra batida. Por outro lado,
podemos citar a Fazenda do Mato (p.221) onde toda a parte de
serviços es sobre assoalho de madeira assim como o restante da
casa. Sobre esse assoalho foi assentado, posteriormente, um piso
de ladrilhos hidráulicos. Na Fazenda Estância do Mota (p.229),
há uma solução dupla: parte da cozinha está sobre piso de terra
batida e parte, sobre assoalho. De qualquer forma é importante
dizer que não há, nessas fazendas, a solução que se tornou muito
comum posteriormente, o piso frio sobre abobadilha de tijolos
estruturada em trilhos de ferro.
Há sempre uma segunda porta para fora de casa, que
tanto pode estar neste retângulo menor (de serviços) como na
sala da família, sempre no encontro dos rengulos. Este encontro
entre os dois retângulos gera um espaço externo semi-abrigado,
formando um pátio mais íntimo. Da cozinha para fora pode haver
pequenas construções, como casa do forno, casa de tacho, tudo
para complementar os serviços da casa. Podem ser construções
independentes, casinhas, ou ainda pequenos telheiros pegados à
casa principal, ao que Lúcio Costa chamou de “asas de galinha.
Vimos, portanto, que os três setores são claramente
separados, independentemente da forma da planta. Nas fazendas
do XVIII encontramos uma grande variedade de formas e durante
o século XIX se consolida a forma clássica do L.
No final do XIX, com a presença de um maior número de
cidades e com a diminuição da necessidade de receber viajantes,
Fazendas do Sul de Minas Gerais
98
as plantas tendem a uma simplificão programática e as alcovas
centrais desaparecem. As salas de dentro e de fora passam a ser
separadas apenas por uma parede.
Já no início do XX, surgem novas técnicas construtivas e
novos programas de necessidade que subvertem agica anterior
e começam a surgir fazendas construídas com alvenaria portante
de tijolos. Neste modelo, ainda parecido esteticamente com o
anterior, surge o corredor central de distribuição para quartos de
ambos os lados e a alcova desaparece definitivamente. As novas
soluções técnicas, porém, remetem ao modelo antigo como
os rodapés e requadros de portas e janelas feitos agora com
argamassa, imitando a antiga forma das molduras de madeira. É
interessante notar que, apesar da mudança de técnica construtiva,
algumas soluções ainda perduram na falta da invenção de novas
soluções estéticas mais condizentes com a nova técnica. Somente
com o passar dos anos é que a técnica construtiva do tijolo passou
a ter sua estética própria, muito mais adequada às necessidades do
classicismo vigente ou do ecletismo vindouro.
Na arquitetura tradicional, um modelo é apurado, feito
e refeito por gerações e lentamente cristalizado até chegar-se a
uma estabilidade e, assim, permanecer. Isso aconteceu com essas
fazendas assim como ocorreu com a casa bandeirista, que, durante
quase trêsculos, sofreu poucas variações. As casas analisadas
neste trabalho sofreram esse processo de apuro e cristalização
e, durante quase dois culos, não sofreram grandes variações.
Enquanto na Corte novas influências - como o neoclássico trazido
pela missão francesa - eram sentidas desde meados doculo XIX,
em Minas essa arquitetura perdurou até o fim do século. Algumas
Figura 5.2 - Fluxograma de ligação dos ambientes da casa
e graus de acessibilidade. Fonte: CFC
alcovas
alcovas
vestíbulosala nobre
quartoquarto
quarto
quarto
quarto
quartos
ermida
sala da
família
serviços
Externos
Família
Serviços
Capítulo 5 - Programa de Necessidades e Esquemas de Plantas
99
dessas fazendas sofreram intervenções de gosto neoclássico, como
a substituição da verga reta da porta principal por verga de arco
pleno ou o acréscimo de cunhais de argamassa sobre cunhais
originais de madeira. Porém o partido arquitetônico e a técnica
construtiva permaneceram os mesmos até fins do século.
Há alguns caminhos interpretativos para se explicar a
evolução dessas plantas e como se chegou a uma tipologia tão
específica no Sul de Minas. Através de um esquema evolutivo,
elaboramos uma hipótese para chegar ao esquema de plantas
adotado.
Considerando uma hipótese que seria o percurso
começado nas cidades medievais do norte de Portugal - de
onde veio a grande maioria dos imigrantes -, passando pelas
cidades mineiras do ciclo do ouro para onde se transcreveu, com
adaptações, aquela tipologia urbana para finalmente se chegar às
fazendas, traçaremos um esquema evolutivo.
A transposição, porém, não foi direta da casa medieval
portuguesa para as fazendas. Durante o processo deflagrado pela
descoberta do ouro houve em Minas uma diversidade de gentes
vindas de outras regiões do Brasil, da África e de Portugal. A maior
parte dos portugueses veio do norte. Segundo Orlando Ribeiro,
no culo XVIII, em Ouro Preto, 85% dos imigrantes portugueses
eram oriundos da região norte de Portugal.
Esse peso maior da população proveniente da área mais
densa e de mais forte e constante corrente imigratória
explica a filiação das velhas cidades do Brasil no estilo
urbano do norte do país.
4
No entanto, não há em Portugal nenhum modelo que
se possa associar diretamente às casas analisadas. Essas casas de
fazenda constituem uma tipologia criada em território brasileiro,
apesar das semelhanças com a arquitetura portuguesa descritas
anteriormente.
Aproveitando antigas tradições urbanísticas de
Portugal, nossas vilas e cidades apresentavam ruas de
aspecto uniforme, com resincias construídas sobre o
alinhamento das vias públicas e paredes laterais sobre os
limites dos terrenos.
5
Essa cidade portuguesa, transferida para o Brasil,
adaptou-se às novas condições locais como o clima, a topografia
4
RIBEIRO, Orlando. (1992). Geografia e civilização temas
portugueses. Lisboa: Livros Horizonte. p.61
5
REIS FILHO, Nestor Goulart. (1969). Quadro da
arquitetura no Brasil. São Paulo: Perspectiva. p.22
Figura 5.3 - Casario urbano medieval do Porto.
Desenho: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
100
e a abundância de espaço e madeira. A cidade portuguesa, que
era adensada e intra-muros, no Brasil tornou-se mais plana e
espalhada, surgindo ao longos dos caminhos. A largura dos lotes
é ligeiramente maior que em Portugal e o gabarito fixa-se em
apenas dois pavimentos.
Tais características, transferidas - na pessoa de antigos
mestres e pedreiros “incultos” – para a nossa terra, longe
de significarem um mau começo, conferiram desde logo,
pelo contrário, à Arquitetura Portuguesa na colônia, esse ar
desprentencioso e puro que ela soube manter, apesar das
vicissitudes por que passou, até meados do século XIX.
Sem dúvida, neste particular também se observa o
amolecimentonotado por Gilberto Freyre, perdendo-
se, nos compromissos de adaptação ao meio, um pouco
daquela “carrure” tipicamente portuguesa; mas, em
compensação, devido aos costumes mais simples e à
largueza maior da vida colonial, e por influência tamm,
talvez, da própria grandiosidade do cenário americano, -
certos maneirismos preciosos e um tanto arrebitados que
lá se encontram, jamais se viram aqui.
6
Apontamos então um caminho, um percurso da casa
medieval até as fazendas, passando pelas cidades do ciclo do ouro.
Analisando as plantas dessas três etapas, propomos um esquema
evolutivo. Na casa medieval há basicamente dois espaços maiores
– frente e fundosligados por um corredor ao longo do qual
estão dispostas as escadas e os cômodos menores, sem aberturas.
Esse modelo atingia dois, três ou até mais pavimentos e a cozinha
situava-se no último, saindo assim a fumaça pela telha-vã. Esse
esquema repete-se no Brasil com algumas adaptações: o lote fica
mais largo, a altura fixa-se em dois pavimentos e a cozinha ganha
um corpo separado, prolongando-se para o quintal.
Consolidando-se as povoações, começaram os trabalhos
de melhoria, as casas mais antigas, de um só pavimento
foram ampliadas crescendo em altura com o uso de
técnicas mais leves.
7
As salas da frente (primeiro pavimento) e as lojas
(rés-do-chão) aproveitam as aberturas sobre a rua, ficando
as aberturas dos fundos para a iluminão dos cômodos de
permanência das mulheres e locais de trabalho. Entre essas
6
COSTA, Lucio. (2007). Sobre arquitetura. Organizado por
Alberto Xavier. Porto Alegre: UniRitter. p.86-87
7
REIS Filho, Nestor Goulart. (1995). Nota sobre o
urbanismo no Brasil primeira parte: período
colonial. Cadernos de Pesquisa do LAP, São Paulo, n.3.
Capítulo 5 - Programa de Necessidades e Esquemas de Plantas
101
partes situavam-se as alcovas destinadas à permanência
noturna. A circulação realizava-se, sobretudo em um
corredor longitudinal que, em geral, conduzia da porta
da rua aos fundos. Esse corredor apoiava-se em uma das
paredes laterais ou fixavam-se no centro da planta nos
exemplos maiores.(...) Os planos maiores correspondiam,
quase sempre, apenas a um rebatimento simples de planta.
8
Nota-se que estes esquemas são baseados num
mesmo sistema estrutural de madeira, que consistia em apoiar
troncos mais ou menos aparelhados sobre muros de pedra,
nos limites laterais do terreno. Esses troncos venciam vãos
de aproximadamente quatro metros, em cima dos quais se
desenvolviam os pisos superiores. Quando aparecem os modelos
maiores, estes são simplesmente um rebatimento espelhado da
planta do modelo simples.
Quando esse modelo rebatido é transposto para a zona
rural, acaba sendo adaptado para essa nova espacialidade. A casa,
na nova situação rural, sofre algumas mudanças.
Em primeiro lugar, acentua-se a forma de “Lesboçada
com o aparecimento do corpo da cozinha. Essa forma adapta-se
melhor a um contexto rural, gerando basicamente dois espaços,
frente (convexo) e fundos (côncavo), insinuando pátios internos.
Aparecem mais duas fachadas que, antes, eram os limites laterais
do terreno. Com isso a casa ganha quartos laterais e as alcovas
permanecem no centro. Estruturalmente, a armação de madeira,
vinda da tradição medieval, tem que se sustentar sem apoiar-se em
Figura 5.4 - Esquema evolutivo de planta da casa urbana
portuguesa, à casa da fazenda. Desenho: CFC
8
REIS FILHO, Nestor Goulart. (1969). Quadro da
arquitetura no Brasil. São Paulo: Perspectiva.p.24 e 28
Fazendas do Sul de Minas Gerais
102
9
VASCONCELOS, Sylvio. (1957). Arquitetura colonial
mineira. In: SEMINÁRIO DE ESTUDOS MINEIROS,1957, Belo
Horizonte. Belo Horizonte: UFMG, p.9
outras casas. Desenvolve-se aí um sistema estrutural baseado na
estrutura autônoma de madeira, em princípio fincada no chão com
os esteios e, posteriormente, resolvida com a “gaiola” de madeira.
Neste modelo, permanecem as duas grandes salas,
as alcovas ao centro e surgem quartos na periferia. Odulo
estrutural baseado na pa de madeira permite colocar lado a
lado quantos lanços se queira, obtendo a largura desejada e não
dependendo mais do lote urbano.
Este caminho apontado é uma hipótese em que a principal
premissa é o percurso desde a origem portuguesa até o destino
final. Mas, como vimos anteriormente, nem sempre o percurso
foi esse; há muitos casos de imigrantes e mestres portugueses
que foram diretamente para as áreas rurais levando influências
próprias, diretas. também imigrantes das ilhas dos Açores,
como é o caso das Irmãs Ilhoas, que deram origem a tradicionais
famílias do Sul de Minas.
Outro caminho evolutivo foi apontado por Sylvio de
Vasconcelos. Neste modelo, o professor proe um esquema
evolutivo que parte do rancho primitivo com planta em quadra,
composta por um único cômodo, posteriormente se dividindo em
cruz. Depois comam a aparecer as ampliações que acarretam os
puxados como “asas de galinha” como observou Lúcio Costa.
A seguir, consolidadas as povoações, constituem-se as
famílias e tende a casa a crescer em multiplicadas peças.
A princípio timidamente, em puxados para trás, para os
lados, para a frente, aproveitando a mesma cobertura, em
prolongamentos.
9
Daí a explicação para os inúmeros telhados “de prolongo
usados na arquitetura mineira do século XVIII. Dos partidos
em quadra, passa-se à casa urbana, alongada transversamente
junto às ruas, surgindo plantas retangulares de proporções
alongadas. Essas plantas de proporções alongadas foram
tamm encontradas nas fazendas de nossa pesquisa. A partir
do maior desenvolvimento urbano, os lotes com grandes testadas
escasseiam, o partido anterior, com longas fachadas, dá lugar
à casa dispostade comprido”, longitudinalmente ao longo do
lote profundo e de fachadas estreitas. Esta é a casa típica das
vilas brasileiras do período colonial, descrita pors no esquema
evolutivo anterior, com um longo corredor lateral dando acesso
aos cômodos do interior da casa. Esse modelo perdura até o
surgimento dossobradões nobres” ou solares, modelo que
Capítulo 5 - Programa de Necessidades e Esquemas de Plantas
103
retorna aos partidos em quadra ou cúbicos, agora com proporções
mais avantajadas.
Esse modelo proposto por Vasconcelos acaba, por fim,
chegando ao mesmo resultado anteriormente apontado: o
sobradão” com planta duplicada. Este sobradão pode ter sido
transferido para as áreas rurais, adaptados à nova espacialidade,
como dissemos anteriormente, mas também nada impede de ter
havido uma derivação do partido longitudinal urbano para a zona
rural e daí ter se desenvolvido até se chegar ao L clássico.
Acreditamos que essa transferência do espaço urbano
para o espaço rural não tenha ocorrido num passe de mágica
como uma transposição simples, mas que o rural e o urbano
tenham evoluído concomitantemente. Os primeiros assentamentos
humanos, anteriores à descoberta do ouro, eram eminentemente
rurais, mas as a descoberta evoluíram para formas urbanas,
seguindo a tradição de nosso urbanismo colonial. Outras formas
de assentamento humano permaneceram rurais, mas tinham o
mesmo caráter de transformação do sertão em território. Se, por
um lado, a história contemporânea nos mostra que a economia
em Minas era diversificada e não somente baseada no ouro, por
outro, a evolução da arquitetura nos leva a crer que a ocupação do
território se deu pela presença humana,o importando se fosse
através de vilas, arraiais, pousos, registros, passagens, capelas ou
fazendas. Cabe dizer que a arquitetura rural e a urbana fazem
parte de um mesmo processo e a única distinção entre elas é
o contexto físico em que se inserem eo o contexto cultural,
econômico ou social. Portanto, é perfeitamente plausível que
os modelos rurais e urbanos tenham evoluído simultaneamente,
sofrendo influência mútua.
Estética e simbolicamente, os núcleos das fazendas
Figura 5.5 - Esquema evolutivo da arquitetura colonial
mineira. Fonte: Vasconcelos (1957)
Fazendas do Sul de Minas Gerais
104
remetem a ambientes urbanos com as seqüências de janelas
ordenadas em suas fachadas, com seus muros e pátios
cercados. Retomando a dicotomia sertão/território, as fazendas
reproduziam um ambiente urbano, ou seja, reproduziam uma
área territorializada, conquistada, controlada, com a presença do
Estado através da concessão das sesmarias e com a benção da
Igreja, presente nas capelas, pelourinhos, cruzes e símbolos.
A esses modelos evolutivos, desenvolvidos em solo
americano, somente poderia ser somada uma influência
estrangeira se esta fosse exercida por mestres portugueses,
introduzida por algum modelo erudito ou copiado diretamente
de tratados e manuais de arquitetura. Não havia, àquela altura,
a hipótese de influência externa que não fosse lusitana ou feita
através de Portugal como ocorria com modelos clássicos italianos.
A análise de plantas é o instrumento pelo qual melhor
se apreende o programa de necessidades, e este, por sua
vez, retrata uma sociedade, seus usos e costumes, sua época.
Simetricamente, o conhecimento dos usos e costumes de uma
sociedade nos ajuda a entender melhor as plantas de uma
determinada família arquitetônica. Se, por um lado, o trabalho de
historiadores, sociólogos, antrologos nos ajudou a compreender
a arquitetura, por outro lado, esperamos que este levantamento
ajude futuros pesquisadores a entenderem aquela sociedade.
Outras interpretações poderão ser feitas a partir do levantamento
apresentado como declarou Lúcio Costa ao lembrar a necessidade
de estudar nossa “antiga arquitetura:
O estudo deveria demorar-se examinando ainda: os
vários sistemas e processos de construção, as diferentes
soluções de planta e como variam de uma região a outra,
procurando-se, em cada caso, determinar os motivos –
de programa, de ordem técnica e outros – porque se fez
desta ou daquela maneira (...)
10
Por mais primitivos que fossem nossos primeiros
ranchos, descritos por Vasconcelos, eles sempre apresentavam
a cobertura separada das paredes, apontando uma clara filiação
clássica; nunca tiveram a forma de construções ingenas
nas quais um corpo único é composto pela continuidade de
paredes e cobertura. Isso mostra como a filiação da arquitetura
mineira está ligada, desde cedo, a um modelo europeu do
eixo mediterrâneo” como definiu Lucio Costa, assunto que
passaremos a tratar no próximo capítulo.
10
COSTA, Lucio. (2007). Sobre arquitetura. Organizado por
Alberto Xavier. Porto Alegre: UniRitter, p.90
Capítulo 5 - Programa de Necessidades e Esquemas de Plantas
105
Fazendas do Sul de Minas Gerais
106
6-Intenção Plástica e Preceitos Estéticos
Este capítulo trata dos conceitos esticos inerentes às
construções em questão, relacionando-as às regras clássicas
aplicadas à arquitetura, suas origens e filiações.
Se lhes falta a ênfase que civilizações mais apuradas conferiram
às suas moradias, será exatamente nesta despretensiosa beleza,
nesta fisionomia o maquilada, que devemos buscar seu valor
e importância
Sylvio de Vasconcelos
Logo no início do XVIII, poucos anos após a descoberta do ouro,
foram criadas as principais vilas das Minas coloniais, porém,
algumas décadas mais tarde, em meados dos setecentos, o ouro
estava em decadência. A historiografia tradicional sempre
apontou o empobrecimento e a decadência da minerão
como a causa da ruralizão da capitania. Entretanto, sabemos
atualmente, atras de recentes trabalhos da área de hisria,
que a economia mineira nunca foi somente aufera; o comércio,
os ocios e a agropecuária foram, desde o início, as bases de
uma complexa economia urbana e rural. A Arica portuguesa
experimentava uma economia que não se baseava em apenas
um único produto, voltado para o mercado externo, mas sim,
passava a ter uma economia diversificada em uma complexa
rede urbana. Em Minas nunca houve uma cidade principal
como nas outras capitanias; a rede urbana era pulverizada em
diversos cleos regionais, vilas, arraiais e, mesmo ao longo
dos caminhos, sempre houve a marca da ocupação: registros,
passagens, pousos, estalagens, capelas e fazendas.
A atividade agropecria foi, mesmo antes da
decadência do ouro, mais atrativa que a ppria mineração e,
muitas vezes, preferida em detrimento desta. De modo que
a ocupação rural e a urbana coexistiram a um só tempo; na
verdade, não existe uma dicotomia, mas uma simultaneidade e
complementaridade. O rush da minerão, que atraiu milhares
de pessoas, o cessou com sua decadência, ao contrio, criou
um fluxo permanente que perdurou durante todo o século XVIII
e XIX. Os imigrantes, fundamentalmente portugueses, vinham
de reges de longa tradição urbana, e podiam tanto ir para
as cidades, onde se dedicavam ao comércio, à mineração ou
ao setor terciário, quanto podiam se dedicar à agropecuária,
fixando-se na zona rural. Essas pessoas reproduziam aqui,
Catulo 6 - Inteão Plástica e Preceitos Estéticos
107
com alguma adaptação, o mesmo que sempre souberam
fazer durante de séculos de tradição. A marca da ocupação
passa a ser notada em qualquer parte da capitania que, desta
maneira, deixa de ser sertão e passa a ser terririo, controlado
e conquistado, não importando se em área urbana ou rural.
Por isso não diferenciação estética ou estistica entre a
arquitetura rural e a urbana; os cleos das fazendas remetem a
ambientes urbanos com suas seqüências de janelas ordenadas e
alinhadas, assim com deveriam ser os núcleos urbanos segundo
as cartas régias.
As diferenças aparecem na configuração do espaço
sico. O casario urbano colonial, pela própria característica
de nossas cidades, onde a construção tinha que ser
necessariamente alinhada na rua e nas laterais do lote, não
poderia ter grandes variões volumétricas. As poucas exceções
apareciam em algum sobrado, situado em esquinas, ou em lotes
maiores com os “sobradões” ou “solares” nos largos e praças,
o que também acontece com as casas de câmara e cadeia e
edifícios oficiais.
A casa rural, por necessidade, antecipou a condição da
casa urbana, “solta” no lote. Com isso apareceriam algumas
difereas entre a casa urbana e rural. A casa rural teve que
desenvolver uma nova geometria, enquanto que a casa urbana
estava pré-determinada pelo lote e tinha apenas uma fachada.
Como foi dito, algumas casas de esquina e alguns palacetes
apresentaram soluções volumétricas para além do lote
urbano comum. Nesta configuração, a casa rural empresta dos
palacetes urbanos e dos solares portugueses (origem da maioria
dos imigrantes) sua volumetria e certo gosto erudito, em que
preceitos cssicos passam a ser observados como a simetria,
harmonia, proporções, ritmo das aberturas nas fachadas. Am
desses preceitos esticos, a arquitetura tradicional importa da
arquitetura clássica elementos isolados do seu reperrio como
cornijas, capitéis, pestanas e cimalhas.
Acreditamos que essa filiação de nossa arquitetura ao
clássico esteja mais ligada à tradição portuguesa, dos solares
rurais aos palacetes urbanos, oficiais ou particulares, do que
ao neoclassicismo, desenvolvido no Brasil a partir da chegada
da Falia Real. Não devemos confiar toda a responsabilidade
do gosto pelo cssico no Brasil à Missão Francesa. Isso poderia
ser um reducionismo que mascara uma longa tradição da
arquitetura portuguesa, na qual a dialética tradição / ruptura
esteve presente na absoão dos modelos eruditos internacionais
Fazendas do Sul de Minas Gerais
108
e em sua incorporão à arquitetura local. É claro que algumas
fazendas, ao longo do XIX, o ser influenciadas pela Corte,
mesmo porque a ligação entre o Sul de Minas e o Rio de Janeiro
era muito estreita nessa época. Porém, muitas fazendas mineiras
do século XVIII já apresentam tais características clássicas,
portanto, ainda antes de a corte chegar ao Brasil. Ao longo
de séculos sofremos a influência da arquitetura oficial erudita
praticada na América portuguesa por engenheiros militares
que, como sabemos, vinha de longa tradição maneirista.
Esses engenheiros poderiam ser formados em Portugal ou nas
Aulas de Arquitetura Militar” e, a partir de 1696, instalaram-
se inicialmente na Bahia e em Pernambuco e, depois, também
no Rio de Janeiro e no Pa.Muitas de nossas vilas e cidades
foram traçadas por engenheiros militares e tinham formas
geométricas regulares”. (Reis Filho 2000, p.9).
Essa nova ntese conseguida pelos arquitetos formados
na Aula do Paço vai constituir um estilo profundamente
austero e vernacular que prolongará o “estilo chão”
nacional oferecendo uma eficaz resisncia à assimilação
dos valores próprios da espacialidade barroca (...)
1
Enquanto não estavam erigindo fortificações na costa
e planificando cidades, esses engenheiros militares também
atuavam na arquitetura civil e religiosa.
Acreditamos que haja muito mais similaridades entre a estica
das fazendas e a estética da arquitetura civil portuguesa de
tradição c ou mesmo Pombalina (que não deixa de ser
chã), ou ainda dos edifícios oficiais no Brasil projetados pelos
engenheiros militares, do que com o neocssico trazido pela
corte. Os beirais e a volumetria do telhado são os elementos
mais emblemáticos desta filiação; enquanto que no neoclássico
a platibanda passa a esconder as telhas de barro, nos edicios
coloniais e nos solares portugueses o beiral tem grande peso
na composão das fachadas e da volumetria. Ao ganhar
cimalhas de pedra, beiras e capitéis sobre as pilastras e
cunhais, o volume do telhado é valorizado, não escondido. Nas
fazendas os elementos de valorização do telhado, feitos de
pedra nos sobrados portugueses, passam a ser executados em
madeira, em diversas versões de cimalhas, forros, guarda-pós,
cachorros, frechais, pestanas e vergas. A influência neoclássica
passa, sim, a ser sentida a partir de meados do XIX, mas
especialmente na incorporão de alguns elementos e não no
1
COSTA, Alexandre Vieira Pinto Alves. (1995). Seis lições:
introdução ao estudo da história da arquitectura portuguesa.
Porto: FAUP, p.43
Catulo 6 - Inteão Plástica e Preceitos Estéticos
109
partido arquitenico adotado. Da mesma maneira, isso sempre
aconteceu em Portugal com a arquitetura popular e erudita,
onde a influência da segunda sobre a primeira se dava pela
incorporão de alguns seus elementos. Nas fazendas, são
incorporadas as vergas em arco pleno nas portas de entrada
e pilastras - de madeira ou argamassa - sobre os cunhais.
Acreditamos que o que tenha ocorrido nas fazendas não foi
uma simplificão do neoclássico por queses de recursos e
distância, mas sim a filiação a outra matriz erudita que, por ser
igualmente clássica, acaba se confundindo com o neoclássico
trazido por D. João VI. Os volumes simples, o recortados, a
regularidade das fachadas, as planas regulares são valores que
vinham de séculos anteriores, e os elementos do reperrio
clássico, acima citados, foram incorporados no século XIX.
Torna-se difícil classificar ou discernir o que seja popular e o que
seja erudito na arquitetura dessas fazendas. Se a arquitetura
erudita é aquela construída por arquitetos ou engenheiros
militares formados nas escolas européias, ou nas Aulas de
Arquitetura, iremos restringir a arquitetura erudita na América
portuguesa a um número ínfimo de exemplares. Todavia,
sabemos que a tradição construtiva portuguesa descende de
uma longa tradição dos mestres-construtores, da tradição
dos grandes canteiros-escola como ocorreu nos canteiros de
importantes obras da arquitetura portuguesa como o Mosteiro
de Santa Maria da Vitória, o Convento de Cristo e o Mosteiro
dos Jerônimos, por onde passaram muitos dos grandes mestres
da arquitetura portuguesa. Deixemos de lado, portanto essa
dicotomia entre o popular e o erudito e chamemos a arquitetura
de nossas fazendas apenas de arquitetura tradicional.
A Arquitetura erudita e a Arquitetura popular
influenciaram-se mutuamente na Beira, como aconteceu,
aliás, em todas as regiões do Mundo onde foram postas
em presença e em confronto, sem perderem, contudo, o
essencial das respectivas feições.
2
Sabemos também que a especificidade da arquitetura
portuguesa está na forma como interpretou os modelos
exteriores e os adaptou a sua realidade, gerando séries
tipológicas de grande perenidade. Neste sentido, o que menos
importa é o modelo erudito, mas sim seus desdobramentos.
2
AMARAL, Francisco Keil et al. (1961). Arquitectura popular
em Portugal. Lisboa: Sindicato Nacional dos Arquitectos,
p. 162
Figura 6.1: Convento de Cristo em Tomar, Portugal.
Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
110
3
COSTA, Alexandre Vieira Pinto Alves. (1995). Seis lições:
introdução ao estudo da história da arquitectura portuguesa.
Porto: FAUP, p. 28
Dessa história sem estilos, aprendida no acto de
construir, souberam os nossos mestres pedreiros,
de pais para filhos, analisando, copiando,inovando
respeitosamente.
3
Quem erigia essas casas eram mestres-construtores
que vinham com suas equipes de fazenda em fazenda, onde
passavam algum período até conseguirem construir suas
casas. Acreditamos na possibilidade de que talvez contassem
com a ajuda dos escravos da fazenda para algumas tarefas.
Nas cidades do ouro é notório o fato de que muitos negros
tornaram-se escultores, entalhadores, pintores sendo aprendizes
desses mestres. Em algumas fazendas de nosso levantamento,
obtivemos o nome do mestre que as construiu; em outras,
apenas temos uma vaga notícia da origem desses mestres. Na
Fazenda Água Limpa, por exemplo, há a assinatura do construtor
e a data de constrão da fazenda (Manoel Lino Ribeiro,
1793) em uma peça do frechal. Esse mesmo construtor teria
sido responsável pelas obras de outra fazenda, em Cachoeira
de Minas, e outra, no Triângulo Mineiro, o que demonstra o
caráter itinerante dessa atividade. Há também os casos do
mestre açoriano” que construiu as casas das fazendas Palmital
e Boa Vista em Carmo de Minas. Na rego de Varginha, outro
mestre português, o Branquinho, construiu as fazendas Pouso
Alegre, da Serra e Saquarema. Outro mestre conhecido foi o
Carioca (porque veio do Rio de Janeiro) que teria construído
casas de fazendas na região de Poços de Caldas e São João da
Boa Vista. Esses mestres portugueses fizeram seus aprendizes
como no caso da Fazenda Três Barras, constrda por um escravo
emprestado” da Fazenda Campo Alegre.
O hábito itinerante desses oficiais e artistas era
comum também àqueles que faziam o mobiliário e as
pinturas decorativas das casas. Algumas fazendas possuíam
maquinário mais apropriado para o corte e preparo das peças
de madeira com seus “engenhos de serra”, caso da fazenda
homônima. Tais propriedades tornavam-se pivôs de uma
região, fornecendo suporte para outras fazendas. Ora, esses
mestres não só deveriam dominar a técnica construtiva como
também deveriam saber como agenciar os cômodos conforme
o programa de necessidades, mas, principalmente, carregavam
consigo todo o arcabouço estético de sua época. As regras
clássicas eram sempre observadas como a simetria (harmonia)
e a proporção, notadamente na distribuição de cheios e vazios
Figura 6.2: Mosteiro de Santa Maria da Viria em
Batalha, Portugal. Foto: CFC
Figura 6.3: Claustro do Mosteiro dos Jenimos em
Lisboa, Portugal. Foto: CFC
Figura 6.4: Mosteiro dos Jerônimos em Lisboa, Portugal.
Desenho: CFC
Catulo 6 - Inteão Plástica e Preceitos Estéticos
111
nas fachadas, na relação entre embasamento, corpo principal e
cobertura, etc. Esses conhecimentos não eram aprendidos nas
aulas, eram passados de mestre para aprendiz, de geração
em geração, mas observavam sempre as mesmas regras de
composição dentro de um classicismo singelo, profundamente
marcado pela tradição chã.
É neste sentido que venho questionando a utilização
da “cidade ideal como modelo das nossas cidades,
devendo antes dizer-se que aquele modelo confluiu
com a nossa tradição, esvaziando do seu mais profundo
significado e sem acarretar alterações metodológicas
profundas na forma de projetar: tal como a tratadística
ordenou a composição, regrou as proporções, acarretou
as ordens numa arquitetura c, profundamente
anticlássica nos seus fundamentos éticos e ideológicos.
4
As Cartas Régias, normativas tradicionais da velha
escola de urbanismo ultramarino, preconizavam valores racionais
para ordenação das cidades brasileiras, digo cidades porque
o havia naquela época essa distião entre arquitetura e
urbanismo; ao se fazerem os edifícios, definiam-se as ruas.
Esta escola portuguesa, entretanto, teve na reconstrução de
Lisboa após o terremoto de 1755, área mais tarde chamada
de Baixa Pombalina, sua grande oportunidade de aplicação
desses preceitos. O então engenheiro-mor do Reino, Manuel da
Maia, presidiu a reconstrução de Lisboa com a naturalidade de
quem cumpre simplesmente uma tarefa inerente ao seu cargo.
(Costa,1995)
Importante e significativa é a preocupação de Manuel
da Maia pela uniformizão da nova cidade ao sugerir
que seja o mesmo arquitecto, Eugénio dos Santos, a
fornecer o desenho dos edifícios “para que cada rua
conserve a mesma simetria de portas, janelas e alturas,
preocupação e linguagem que recordam as antigas
Cartas Régias
5
Fazemos aqui, então, um paralelo entre a estética dessas
fazendas e o estilo co portugs, no qual as fachadas eram
compostas de modo simples e austero, usando apenas a ppria
marcão rítmica da estrutura. Há uma valorização do elemento
construtivo, um despojamento decorativo. Tudo que aparece na
4
Idem, idibem, p. 46
5
Idem, idibem, p. 47
Figura 6.5: Projeto para Barcellos, AM. Desenho:Filipe
Strum. Fonte: Biblioteca Nacional
Fazendas do Sul de Minas Gerais
112
fachada é essencial à estrutura. Essa vertente abstratizante da
arquitetura portuguesa encontra nas fazendas uma expressão
plástica radical.
O Renascimento o gerou em Portugal séries
tipológicas de grande perenidade. A influência clássica passou a
ser sentida atras de uma estandartização de seus elementos,
usados de maneira quase neutra. Tal influência também se nota
no raciocínio de composição regular e ritmada das fachadas, na
distribuição matetica dos cheios e vazios, no alinhamento e
marcão clara das aberturas. Essas características tão comuns
na arquitetura feita em Portugal e fora dele como veremos
são permanências desse saber fazer clássico.
As preceptivas clássicas, aliadas ao espírito pragmático,
geraram um tipo de arquitetura facilmente exeqüível e
identificável, conveniente para a circunstância. Essa arquitetura
de fácil apreensão passou a ser reproduzida em toda a América
portuguesa, conferindo-lhe uma unidade arquitenica
usada como uma bandeira posta em um território, dando-
lhe uma marca de ocupação. Esse caminho levou à criação
de uma imagem, expressa especialmente nas fachadas da
arquitetura colonial civil corrente. O modo de fazer português
trabalha continuamente sobre certos elementos, apurando-os
repetidamente, a cada vez que são trabalhados. Nas fachadas da
arquitetura civil, esses elementos são, nomeadamente: as portas
e janelas, suas molduras e os panos de parede delineados por
cunhais, frechais e baldrames. Esses poucos elementos foram,
ao longo do tempo, apurados a tal grau que conferiram a essas
fazendas imensa foa e simplicidade.
Isso podemos notar na maneira cuidadosa de definir as
propoões da fachada, sua altura em relação ao comprimento,
no modo como se distribuem as aberturas tanto em altura,
proporcionando o pano de peito, o o e o pano sobreverga,
quanto na distribuição das aberturas ao longo da fachada,
alternando nembros e vãos em proporções bem postas. Em
diversas fachadas podemos notar a distribuição segundo um eixo
central de simetria. Em outras, o que se é uma distribuição
ritmada em dimensões constantes, não importando a divisão
interna dos modos da casa. O mesmo cuidado se nota na
relação entre as partes que comem o volume total: a base
de pedras, o corpo da casa e o telhado. Este é sempre bastante
marcado, com sua curva adoçada pela dupla inflexão terminando
em uma cachorrada como os dentículos dos templos gregos.
Catulo 6 - Inteão Plástica e Preceitos Estéticos
113
Em todo o mundo ocidental, os cssicos
desempenharam papel fundamental na formação de idéias
e conceitos; autores como Vitrúvio, Alberti, Serlio, Palladio,
Durer, Vignola, entre outros, tiveram papel incontestável e são
referidos por todos como pilares doutrinais da arquitetura civil
e da engelharia militar. Entre eles, Vignola, através de Regola
delli Cinque Ordinid’Architettura, foi seguramente um dos
manuais de arquitetura mais lidos. Foi traduzido para diversas
nguas, com mais de 250 edões. Teve grande penetração
em toda a Europa, desde a Rússia até a Pensula Ibérica.
Com um texto claro e sucinto e principalmente com forte
predominância de ilustrações, Vignola consegue o que nenhum
outro tratado anterior havia conseguido. Em Regola delli
cinque ordinidarchitettura, estabelece um sistema de medidas
universal, baseando-se no módulo e fugindo às medidas locais.
Com isso, a partir do século XVI, quando o eixo político /
econômico europeu se desloca para a Pensula Ibérica, seu
manual tem grande penetração em Portugal.
Mas o que mais nos interessa de tudo isso foi o que
marcou nossa arquitetura corrente: uma simplicidade que
podemos chamar de um clacissismo singelo, já obervado por
diversos estudiosos da área. Vasconcelos lembra Lucio Costa ao
falar de nossa “saúde plástica.
Eis nossa arquitetura tradicional doméstica.
Funcionalmente caracterizando-se pela boa distribuição
das plantas: parte nobre, íntima e de serviço,
autonomamente entrosadas; plasticamente desataviadas
e singelas, mas agenciadas em boas proporções,
harmonicamente dispostas. Composões claras, limpas,
definidas, bem moduladas, e rítmicas, ostentando uma
sde plástica perfeita no dizer de Lucio Costa. Se lhes
falta a ênfase que civilizações mais apuradas conferiram
às suas moradias, será exatamente nesta despretensiosa
beleza, nesta fisionomia o maquilada, que devemos
buscar seu valor e importância.
6
Alves Costa refere-se aos volumes simples da arquitetura
chã, “uma leitura volumétrica de geometria simples a contrariar
um certo dinamismo mais teatral do espaço interior
7
, Dias de
Andrade cita Rainville em seu manual:
6
VASCONCELOS, Sylvio. (1957). Arquitetura colonial mineira.
In: SEMINÁRIO DE ESTUDOS MINEIROS,1957, Belo Horizonte.
Belo Horizonte: UFMG..p. 13
7
COSTA, Alexandre Vieira Pinto Alves. (1995). Seis lições:
introdução ao estudo da história da arquitectura portuguesa.
Porto: FAUP, p.45.
Fazendas do Sul de Minas Gerais
114
8
RAIVILLE, César. (1880). O Vinhola Brasileiro – Novo manual
pratico de Engenheiro, Arquiteto, Pedreiro, Carpinteiro,
Marcineiro e Serralheiro, Rio de Janeiro, Laermemt, p. 501
Devemos aconselhar sobretudo uma grande simplicidade
na ornamentação, o bom gosto na architectura nasce
do caráter individual, da harmonia das partes entre si, e
da graça do todo; isto póde obter-se tão bem em uma
simples casinha, como em um monumento grandioso.
8
Nossos mestres aplicavam, em nossa arquitetura
corrente, essas velhas práticas com a naturalidade de quem faz
apenas o que sempre fizeram seus antepassados.
Mas não só da harmonia e da proporção se valeram
nossos colegas do século XVIII e XIX, valeram-se também da
grandiosidade, da magnitude, da magnificência. Por vezes,
parece-nos que as proporções exageradas nas relações de
escala com o homem, notadas na altura do pé-direito, nos
portais e nas janelas, são uma questão simbólica, uma vez que
a técnica construtiva era a mesma para todas as classes sociais.
Os proprietários mais abastados utilizavam-se da fartura de
materiais e das propoões exageradas, além de maior riqueza
de detalhes, para expressar sua posição social.
Contudo, a chamada “matiz mineira” precisa ser mais
bem identificada. Trata-se de uma arquitetura forjada em
território mineiro, com raízes tanto na arquitetura popular
quanto na arquitetura erudita portuguesa, usando técnicas
construtivas tradicionais no norte da Pensula como a estrutura
independente de madeira sobre bases de pedra. Em terririo
mineiro, esse sistema tradicional sofre um processo evolutivo
com o apuro cnico desenvolvido a partir da reconstrução
da Baixa Pombalina, resultando na gaiola” de madeira com
estrutura isostática. Sofre também um processo evolutivo no
sentido estético à medida que, aos poucos, vai deixando de
lado a simplicidade desordenada das primeiras construções
para incorporar preceitos cssicos como propoão, simetria,
harmonia e alguns elementos do reperrio cssico. Desta
maneira, forjou-se em terririo mineiro uma arquitetura
com caractesticas ímpares no Brasil como a leveza e a
altivez, decorrentes da cnica construtiva utilizada com suas
paredes finas e seus caixilhos alinhados na fachada, seus
beirais, cachorros e frechais arrebitados. Soma-se a isso uma
regularidade adquirida durante o século XIX, na região sul do
estado, a partir de onde derrama sua influência sobre áreas
adjacentes através da migração de seus agentes.
Catulo 6 - Inteão Plástica e Preceitos Estéticos
115
Fazendas do Sul de Minas Gerais
116
7-Levantamentos
Como foi dito anteriormente, quando falamos de Minas Gerais,
o estamos falando de uma, mas de rias Minas, cada
uma delas com características diferentes, portanto é preciso
identificá-las e caracterizá-las. Neste levantamento, procuramos
identificar a arquitetura rural sul-mineira do período imperial e
do fim do período colonial.
A arquitetura rural sul-mineira desse peodo, apesar
desse exaustivo levantamento, está longe de ser totalmente
inventariada. Como disemos, a proposta inicial deste trabalho
era realizar um levantamento de todas as fazendas do referido
período na região, fato que se tornou cada vez mais difícil à
medida que são descobertas mais e mais fazendas. Acreditamos,
pom, que o universo amostral levantado corresponde a uma
porcentagem alta do total de fazendas ainda sobreviventes.
Foram visitadas cerca de 100 fazendas. As informações
sobre a provável existência de fazendas antigas” foram obtidas
através de relatos orais. As primeiras fazendas levantadas já
eram de nosso conhecimento muito antes de a pesquisa ser
iniciada devido a contatos com amigos e familiares. A partir das
primeiras fazendas, fomos colhendo informações sobre outras e
assim por diante.
Ao que tudo indica, havia um número muito maior de
fazendas desse período, nessa região. Torna-se quase impossível
sabermos se o universo amostral sobrevivente corresponde à
realidade dos séculos XVIII e XIX, uma vez que o nenhum
registro gráfico de fazendas que já ruíram. Através de alguns
livros, documentos e até de fotos de família, pode-se constatar
a existência de diversas fazendas que já ruíram, muitas vezes
fazendas importantes, as quais chamamos de “fazendas-
es” ou “fazendas-tronco”, entretanto o se tem o registro
arquitetônico delas. Fazendas-tronco são aquelas que deram
origem a outras através de desmembramentos ou aquelas
cujos descendentes migraram para outras terras onde vieram a
construir novas fazendas.
Muitas fazendas foram apontadas durante a coleta de
informações, antes de se ir a campo porém, quando chegávamos
ao local, já nada encontrávamos. Outras foram achadas em
mapas antigos, mas também não mais existem, nem nos
mapas atuais e nem na realidade. Podemos supor que havia
uma miríade de fazendas como essas, salpicadas pelo terririo
sul-mineiro, baseando-nos em relatos de viajantes, em mapas,
documentos e informações orais. Outras vezes, as fazendas
Capítulo 7 - Levantamentos
117
Fazendas do Sul de Minas Gerais
118
visitadas eramdescartadas” e o se fazia o levantamento,
ora por não se enquadrarem ao objeto de pesquisa devido à
técnica construtiva ou à data de construção, ora por fatores
como a descaracterizão da arquitetura original, ruína ou
impossibilidade de entrar na casa. Foram levados em conta,
ainda, fatores como a relencia, vulto e dimensão da fazenda
dentro do cenário regional.
O tipo de levantamento realizado foi um levantamento
de varredura no qual procuramos inventariar o maior número
posvel de fazendas para obter uma visão do conjunto. Para
cada propriedade, foram colhidos os seguintes dados: nome
da fazenda, munipio, nome do proprietário, data estimada da
fazenda, altura de pé direito, altura do peitoril, dimensões de
portas e janelas, dimensões de peças de madeira. Realizamos
desenhos de implantação em escala 1:400, planta em escala
1:200, e pelo menos duas elevações em escala 1:200, além
de detalhes construtivos sem escala. Também eram anotadas
algumas informações dadas pelos proprietários durante as
conversas, caso fossem relevantes, tais como: data estimada da
casa, quantas gerações a fazenda estava na falia, se houve
reformas significativas, o que a fazenda produzia no passado
e curiosidades em geral. Os desenhos foram feitos em campo,
a mão livre sobre papel quadriculado; as dimensões de pé-
direito, envasaduras, peças, cômodos, espessura de paredes e
peitoril foram medidas com trena; a implantação e constrões
complementares foram medidas no passo. Posteriormente, esses
desenhos foram passados a limpo em nanquim sobre vegetal.
Atras de fotografias, buscou-se registrar todas as informações
que poderiam servir para complementar os desenhos. Houve
sempre o cuidado de registrar as quatro fachadas, detalhes e,
sempre que posvel, o interior das casas. A fotografia, assim
como o desenho, não é um mero registro; é um instrumento de
pesquisa.
Depois de feito o levantamento, procuramos
localizar cada fazenda em um desenho eletrônico cruzando
mapas diversos e imagens de satélites. Elegemos a escala 1:
250.000 para ser a escala de nosso mapa por ser a escala
dos mapas do IBGE de 1974. Do IBGE foram adquiridas as
folhas: Guaratinguetá, Barbacena e Varginha que abrangem
grande parte da região. Desenhamos os contornos atuais
do sul de Minas baseados em imagens de satélite e relevo,
fornecidas no site da Embrapa em escala 1: 50.000. Sobre
essa base, foram inseridos mapas antigos de diversas épocas,
Figura 7.1 - Imagem de satélite mostrando o relevo da
região e delimatção do Sul de Minas e migroregião de
Lavras.Fonte: EMBRAPA
Figura 7.2 - Mapa da rego localizando hidrografia,
antigos caminhos, vilas, registros e as distâncias em léguas
entre os pontos. Desenho: CFC Fonte: Cruzamento de
dados de diversos mapas (ver citações no texto).
Capítulo 7 - Levantamentos
119
devidamente ajustados em escala para se adequarem à precisa
informação contemponea. Assim obtivemos um panorama
vasto de informações: imagem de satélite e relevo da Embrapa;
informações cadastrais (localidades, povoações, hidrografia,
relevo, cotas, curvas de nível, toponímia, fazendas e culturas
agrícolas) dos mapas do IBGE; antigas rotas, povoações, vilas,
passagens, registros e fazendas dos diversos mapas coevos.
Contudo, ainda assim, não havia sido possível localizar com
precisão as fazendas. Pouqssimas daquelas por nós visitadas
constam no mapa do IBGE. Somente nos últimos tempos,
com a disponibilização de imagens pelo Google Earth, é
que conseguimos localizá-las com precisão e a aferir os
levantamentos. Foi um trabalho árduo localizar, de memória,
cada uma delas, sobrevoando virtualmente a região. Todas as
fazendas localizadas nas áreas que possuem boa resolução
estão marcadas. Há ainda muitas que não foram detectadas
porque estão em áreas do mapa cuja imagem de satélite está
em baixa resolução. Esperamos que, com o tempo, mais áreas
passem a ter boa resolução para completarmos essa tarefa.
Cruzamos todas essas informações gficas com as informações
documentais. Através desse procedimento foi possível relacionar
as rotas antigas com o relevo e a hidrografia, relacionar as vilas,
passagens e registros com as rotas e, por fim, relacionar as
fazendas com tudo isso.
O estado de conservação e preservão das fazendas
encontradas é bastante variável; aquelas que estão muito
bem conservadas, mas perderam suas principais características,
ou seja, estão em ótimo estado de conservação e em péssimo
estado de preservação. Outras estão intactas, sofreram
apenas manutenção, estão em bom estado de preservão e
conservação ; há também os casos em que as fazendas estão
mal conservadas e mal preservadas, algumas rram. O uso,
entretanto, é o que mais impressiona, visto que a grande maioria
funciona ainda como fazenda: produz gêneros agrícolas e a
casa funciona como moradia principal. Isso não é comum em
fazendas “históricas” de outras regiões, geralmente pximas
a centros mais desenvolvidos, que são usadas como segunda
residência, o mais produzem, ou, quando produzem,
o se sustentam sozinhas. Esse tipo de uso descaracteriza
principalmente o interior da casa; os móveis são trazidos de fora
ou comprados em antiquários, muitas vezes criando um falso
hisrico. Em nossa pesquisa, as fazendas manm o mobiliário
original, mesclado com novos móveis, pois a vida continua. Em
Fazendas do Sul de Minas Gerais
120
nossas fotos nada que não estivesse ali na hora, nada foi
mexido, nenhuma cadeira foi mudada de lugar, pois a disposição
dos móveis também diz muito da apropriação do espaço.
Outro dado importante é que a maioria das fazendas está nas
os das mesmas famílias desde a fundação, o que ajuda na
continuidade e, conseentemente, na preservação.
Divisão Territorial
A rego a que nos referimos genericamente como sul de Minas
é, na verdade, uma classificação criada pelo IBGE que subdivide
os estados brasileiros em mesorregiões que congregam
diversos municípios de uma área geográfica com similaridades
econômicas e sociais. Encontramos na literatura referências
sobre oSul de Minas” que o necessariamente correspondem
à divisão do IBGE; muitas vezes, cidades como Barbacena ou
São João del-Rei são citadas como sendo do “Sul de Minas”. As
mesorreges, por sua vez, são subdivididas em microrregiões
e, tanto as micro quanto as mesorregiões foram criadas para
fins estatísticos, portanto o constituem entidades políticas,
administrativas, judiciais ou eclesiásticas. O nome dado a essa
poão do estado é Mesorregião Sul / Sudoeste de Minas Gerais
e congrega 146 munipios em suas dez microrregiões.
A área de nossa de pesquisa, no entanto, o obedece
exatamente à divisão atual e abrange municípios de outras
Figura 7.3 - Mapa da Comarca do Rio das Mortes, 1809.
Fonte: COSTA (2004).
Capítulo 7 - Levantamentos
121
mesorregiões. Isso porque as características socioculturais
que a definem descendem de uma antiga divisão político-
administrativa, a Comarca do Rio das Mortes. A antiga Comarca
do Rio das Mortes corresponderia, na classificação atual, às
mesorreges do Sul / Sudoeste, Oeste e Campo das Vertentes.
Para termos uma idéia de escala, essas três mesorregiões
somadas correspondem, em área, ao território atual de Portugal
com aproximadamente noventa mil quilômetros quadrados.
Minas Gerais tinha, em 1821, mais quatro comarcas e duas delas
(Paracatu e Serro Frio) eram bem maiores do que a Comarca
do Rio das Mortes. A partir daí, pode-se ter uma idéia das
dificuldades encontradas pelo Estado português para administrar
esse imenso terririo, desenvolvendo um burocrático e
intrincado aparato administrativo no tempo colonial que se
desdobrou em novas relações no tempo do império.
Buscamos cotejar as informações dos mapas antigos
com os mapas atuais, fazendo a correspondência, tanto quanto
possível, entre as Comarcas com as Mesorregiões e entre as
Freguesias com as Microrregiões. Segundo mapa da Comarca do
Rio das Mortes (figura 7.3), a comarca era dividida em termos e
freguesias. Apresentamos a seguir as correspondências entre as
antigas e atuais divisões.
Mesorregião Oeste de Minas, correspondente ao antigo
Termo de São Bento do Tamanduá (Itapecerica).
Mesorregião Campo das Vertentes, correspondente
ao antigo Termo da Vila de São José (Tiradentes), ao Termo de
Barbacena, à parte da Freguesia de São João del-Rei, e à parte
da Freguesia de Lavras.
Mesorregião do Sul/Sudoeste de Minas, correspondente
às antigas Freguesias de Juruoca (Aiuruoca), Baependi, Pouso
Alto, Campanha, Itaju, Camanducaia, Santana do Sapucaí
(Silvapolis), Ouro Fino, Cabo Verde, Jac e parte da Freguesia
de Lavras.
Essa última mesorrego, onde se concentra a maior parte de
nosso trabalho, é subdividida nas seguintes microrregiões:
Microrregião de Andrelândia, correspondente à antiga
Freguesia de Juruoca e parte da antiga Freguesia de Baependi.
Microrregião de São Lourenço, correspondente à
antiga Freguesia de Pouso Alto e parte da antiga Freguesia de
Baependi.
Figuras 7.4 - Mesoregião Oeste de Minas. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/mesoregioesdeminas>. Acesso
em 20 março 2008.
Figura 7.5 - Mesoregião Campo das Vertentes. Disponível
em: <http://pt.wikipedia.org/mesoregioesdeminas>.
Acesso em 20 março 2008.
Figura 7.6 - Mesoregião Sul/Sudoeste de
Minas. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/
mesoregioesdeminas>. Acesso em 20 março 2008.
Fazendas do Sul de Minas Gerais
122
Microrregião de Itajubá, correspondente à antiga
Freguesia de Itajubá.
Microrregião de Santa Rita do Sapucaí, correspondente à
antiga Freguesia de Santana do Sapucaí.
Microrregião de Pouso Alegre, correspondente à antiga
Freguesia de Camanducaia.
Microrregião de Varginha, correspondente à antiga
Freguesia de Campanha e parte da antiga Freguesia de Lavras.
Atualmente a Microrregião de Lavras situa-se dentro da
Mesorregião do Campo das Vertentes.
Microrregião de Alfenas, correspondente à parte da
antiga Freguesia de Cabo Verde e parte da antiga Freguesia de
Jacuí.
Microrregião de Poços de Caldas, correspondente à
antiga Freguesia de Ouro Fino.
Microrregião de São Sebastião do Paraíso,
correspondente à parte da antiga Freguesia de Cabo Verde e
parte da antiga Freguesia de Jacuí.
Microrregião de Passos, correspondente à parte da
antiga Freguesia de Jacuí.
Sabemos que cada comarca de Minas consolidou
caractesticas próprias e, nesse sentido, a Comarca do Rio das
Mortes produziu uma arquitetura diversa daquela produzida
nas outras comarcas e, mesmo dentro da ppria Comarca do
Rio das Mortes, pequenas diferenças entre a arquitetura
das fazendas estudadas neste trabalho. Os nomes atuais das
microrregiões devem-se aos nomes das cidades mais relevantes
nelas situadas, o que quase sempre não corresponde à antiga
vila ou povoado que dava nome à Freguesia. A única exceção é
Itajubá, cujo nome da Freguesia corresponde ao da Microrrego.
Assim sendo, apresentaremos o levantamento reunindo as
fazendas em grupos mais ou menos correspondentes à antiga
subdivisão, pois achamos que esta seja a forma mais adequada
de localização no tempo e no espaço.
A seguir apresentamos os levantamentos realizados,
separando as fazendas em alguns grupos com características
geogficas similares e que, de certa maneira, remontam às
velhas freguesias.
Capítulo 7 - Levantamentos
123
Essa parte da comarca é a de mais antiga ocupação devido à
sua localização privilegiada junto aos mais antigos caminhos e
às mais antigas vilas. Baependi foi elevada a vila em 1814, mas
a antiga ocupação da rego deve-se principalmente por estar
localizada entre a Garganta do Embaú e as vilas de São João
del-Rei e São José. Não por acaso, nessa rego foi encontrada
a maior parte das fazendas mais antigas. A bem da verdade, a
Garganta do Embaú fica localizada na antiga Freguesia de Pouso
Alto; as freguesias em questão ficavam ao norte desta última,
descendo os rios. Mas é justamente nessas áreas mais baixas
que vamos encontrar um outro tipo de relevo, muito mais suave,
e um outro tipo vegetação, que mais se parece com o cerrado
do que com a floresta tropical de altitude. Essas condições eram
muito mais propícias à implantação das fazendas que, num
primeiro momento, dedicavam-se principalmente à pecuária.
Os campos naturais facilitaram a penetração nos seres com
a criação de gado e de eqüinos. Ainda hoje, há na região uma
forte tradição na criação de cavalos, com o cultivo, inclusive,
do antigo costume das caçadas. Dessa forma, as fazendas
da região guardam certo cater pprio que as diferem das
demais: são mais espalhadas, menos altivas, em geral não
possuem terreiros, são implantadas em terrenos mais suaves,
em terririos ermos e dominam grandes paisagens. Além disso,
algumas delas apresentam certas peculiaridades construtivas,
relativas a uma fase incipiente da consolidação da “gaiola” e
apresentam também certas peculiaridades no agenciamento de
suas plantas, também de uma fase incipiente de consolidação do
programa de necessidades. Essa região foi privilegiada também,
durante o século XIX, pela proximidade com o Rio de Janeiro
uma vez que, nesse período, o Sul de Minas era responsável
pelo abastecimento da corte.Am das fazendas apresentadas a
seguir, foram visitadas as fazendas Cafundó, Bongue e do Lobo,
todas em Cruzília, porém não entraram no levantamento por um
dos motivos apresentados na introdução deste capítulo.
Grupo de Cruzília, correspondente às antigas freguesias
de Juruoca e Baependi
Figura 7.7 - Microregião de AndreLândia. Dispovel em:
<http://pt.wikipedia.org/mesoregioesdeminas>. Acesso
em 20 março 2008.
Fazendas do Sul de Minas Gerais
124
Fazenda Angahy – Município de
Cruzília
O nome Angahy, por si só, é carregado de história. A travessia
do rio Ingaí (antigo Angahy), afluente do Capiravi, que por sua
vez é afluente do Grande, aparecia em mapas antigos e foi
pormenorizada nos relatos de Antonil em 1711 como ponto
de refencia no Caminho Velho. A data precisa da fazenda,
entretanto, não conseguimos apurar. Segundo relatos orais
dos proprietários e um pequeno livro sobre o Monsenhor João
Cancio dos Reis Meirelles, escrito por José de Souza Meirelles,
estimamos que a fazenda date da década de 1730. Em um
artigo sobre a história do cavalo Mangalarga, consta que a
fazenda foi fundada por volta de 1782 por José Carlos Garcia
Duarte.
1
Hoje percebemos a casa em meio a muitas reformas e
ampliações. Conforme relatos da falia, a ampliação à esquerda
da sala de entrada foi feita na segunda metade do século XIX
para abrigar o Monsenhor que deveria ter uma área isolada para
estudos. Observando a planta de cobertura, podemos notar
que a casa é composta basicamente de ts corpos distintos: o
corpo principal, a ala constrda para o Monsenhor, com volume
mais alto, e o corpo de servos. O corpo principal possui a tão
discutida varanda entalada: de um lado a capela e do outro, um
quarto de dormir. Hoje a varanda está fechada por vitrôs, possui
verga de concreto e por isso é mal percebida, mas está ela. Na
planta do corpo principal já aparece a distinção entre os espaços
de receber e da família; a sala de fora, destinada ao convívio
com estranhos, com os cômodos de sua órbita, e também
a sala da falia com os modos que orbitam ao seu redor.
Hoje as janelas são de vergas retas, ligeiramente “metidas”
nas paredes, característica das casas com paredes grossas, de
1
. In:Hisria do Mangalarga Machador” Disponível em:
<http://www.desempenho.esp.br/couderalia>. Acesso em
10 fev. 2008.
Figura 7.8 - Reprodução de foto antiga, acervo Fazenda
Angahy. Foto: CFC.
Figura 7.9 - Foto atual do mesmo ângulo da foto antiga.
Foto: CFC.
Capítulo 7 - Levantamentos
125
CORTE
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Senzala (?)
4. Construções
Complementares
Figura 7.10 - Fachada
frontal, antiga varanda
entalada. Foto: CFC
Figura 7.11 - Paiol da
madeira. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
126
1
4
4
4
3
2
alvenaria portante e o de pau-a-pique; são claramente janelas
o originais. Observa-se numa fotografia antiga que as janelas
eram alinhadas com a parede e possuíam vergas arqueadas
em canga de boi. Pela fotografia também é posvel notar os
cachorros perfeitamente horizontais, hoje inexistentes, além
da volumetria bastante alterada, praticamente impedindo a
identificação da casa original. Além da varanda, duas outras
caractesticas importantes denotam a idade da casa: o telhado
de prolongo e as vergas arqueadas nos vãos internos da casa,
que ainda se manm. Na sala há duas vergas arqueadas
contíguas, curiosidade que acontece também nas fazendas
dos Tachos, e Pitangueiras 2. Normalmente, sob o telhado de
prolongo o forro é inclinado, acompanhando-o; nessa casa,
pom, há forro inclinado na varanda e nos quartos à direita da
sala e não mais o telhado de prolongo. Isso demonstra que
o telhado atual não é original e que realmente havia telhado
de prolongo como mostra a foto antiga. É importante notar
a presença de janela entre a capela e a sala de entrada. No
conjunto das edificões do núcleo, destaca-se grande paiol de
madeira.Figura 7.12 - Ermida com janela para a sala. Foto: CFC
Figura 7.13 - Sala nobre, portada dupla com vergas canga
de boi. Foto: CFC
Figura 7.14 - Imagens no altar da ermida. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
127
Fazenda Traituba Município de
Cruzília
A Traituba é um exemplar anômalo dentro do universo amostral
levantado. Em torno dessa fazenda existem muitas lendas e
alguns trabalhos publicados (citar mestrado e anais do museu
paulista). A casa foi constrda nas décadas de 1827 e 1831
por João Pedro Diniz Junqueira, filho de Maria Francisca da
Encarnação Junqueira (filha do português João Francisco
Junqueira) e Gabriel Diniz, conhecidos como o casal da
Traituba” , para receber D. Pedro I, o que não aconteceu. Esse
local, nas descrições antigas de Saint-Hilaire, chamava-se Rancho
de Traibuba. Sua antiga casa foi demolida e, provavelmente, esta
sim, possa as características comuns às fazendas da região com
estrutura de madeira, etc. Assim descreve:
Rancho de Traituba, 2 de mao (1822), 4 léguas.
Como atrás disse, fecham-se todas as noites os
bezerros num curral e as vacas aproximam-se sozinhas
da fazenda. Desde a madrugada fazem-nas entrar no
terreiro onde são ordenhadas por negros e negras.
Despejam então o leite em pequenos barris cintados
de aros de ferro e transvasam-no por meio de cuia,
cortadas longitudinalmente, pela metade. O gado dos
arredores do Rio Grande tem justificada fama, graças
ao tamanho e força. Alimentadas em ótimos pastos,
as vacas dão leite quase o rico em nata quanto o das
nossas montanhas. Com ele se faz grande quantidade
de queijos exportados para o Rio de Janeiro
2
.
2
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Segunda viagem a Minas
Gerias e São Paulo. Belo Horizonte: Itatiaia, 1974, p. 48
Figura 7.15 - Desenho de como seria a casa com dois
pavimentos.Fonte: Nicolielo (1985)
Figura 7.16 - Vista frontal. Foto: CFC
Figura 7.17 - Corredor da ala dos quartos.Foto: CFC
Figura 7.18 - Portal de entrada com casa ao fundo.Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
128
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Pátio fronteiro
3. Pátio traseiro
4. Currais
ELEVAÇÃO FUNDOS
esc. 1:500
Capítulo 7 - Levantamentos
129
1
4
4
3
2
4
A técnica construtiva utilizada para a nova sede foi
a alvenaria portante de tijolos de adobe. A casa atual possui
um corpo principal central e duas alas laterais mais baixas; em
estudo realizado por Nicoliello e Carvalho (1985) comprova-
se a tese de que o corpo central possa dois pavimentos. A
planta do corpo central é formada por duas salas principais,
uma à frente e outra, aos fundos, ligadas por um longo corredor
de distribuição. Da sala dos fundos (sala da família, íntima ou
jantar) saem as ligações para as alas laterais, à direita para a
dos quartos e, à esquerda, para a dos serviços. É importante
ressaltar o cercamento ao redor de toda a casa, feito com os
muros de adobe, e aberturas com portais ornamentados com
pináculos e esferas armilares de pedra. Para se compreender
melhor esses cercamentos, devemos imaginar um mundo vasto,
literalmente sem porteiras, sem cercas, com divisas sim, mas
feitas por acidentes naturais ou por valos, muros de pedra,
adensamentos de vegetação ou paus cravados diretamente
no chão. Os cercamentos criavam uma área mais protegida.
Ainda há, nos beirais das alas laterais, o detalhe da cimalha de
beira seveira, claramente condizente com a técnica construtiva
utilizada. No corpo principal, as janelas são de vergas arqueadas
encimadas por pestanas, distantes aproximadamente um metro
dessas vergas. O telhado é de duas águas formando oitões
nas fachadas, coisa estranha à normalidade, provavelmente
decorrência da demolão do segundo pavimento. Os beirais
do corpo principal possuem lambrequins, denotando o uso
de uma técnica e estica popularizada no fim do século XIX,
fortalecendo a tese de que um segundo pavimento foi retirado.
Nas alas laterais, o telhado é de três águas e o beiral de beira
seveira, perfeitamente alinhado na mesma altura. As janelas
são de verga reta e folhas de calha. Assim como ocorre nas
casas de estrutura independente de madeira, embora possua
grossas paredes de adobe, as janelas e portas são perfeitamente
alinhadas com o plano das fachadas. Isso não vai ocorrer nas
casas de estrutura portante de tijolos, onde as janelas ficam
ligeiramente recuadas em relação à fachada.
A planta da casa, embora estranha aos nossos olhos,
também apresenta um agenciamento entre os distintos setores,
comum a todas as fazendas. Note-se que, no corpo principal, há duas
salas, uma de fora e outra da família; a da família faz a ligação com
o corpo dos serviços e com a ala dos quartos. A sala de fora também
tem seus cômodos orbitais. Mais divergente, portanto, são os
modos servidos pelo longo corredor, caractestica que iria se tornar
comum no final do XIX ,nas fazendas de alvenaria portante de tijolos.
Figura 7.19 - Detalhe de oratório. Foto: CFC
Figura 7.20 - Sala ao fundo da ala dos quartos.Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
130
Fazenda Favacho Município de
Cruzília
Pé direito: 3,80 m
Janelas (vão luz): 1,0 m X 1,8 m
Peitoril 1,08 m
Portas: 3,0 por 1,0 m
Peças dos umbrais: 17cm
O Favacho, assim como a Traituba, é uma fazenda cercada
de lendas e histórias. Considerada uma das fazendas mais
importantes na rego, aparece em vários mapas antigos como
local de referência próximo ao ponto de convergência de antigos
caminhos: do caminho velho”, vindo de Baependi, e de um
braço do “caminho de Fernão Dias, saindo de Campanha,
passando por Lambari.
Segundo o Monsenhor Jo do Patrocínio Lefort, essa fazenda
existia no ano de 1730, recebendo aquela denominação
no dia 17 de abril daquele ano. Seus primeiros moradores
foram Diogo Dias e sua mulher, Luiza Moreira. No primeiro de
janeiro de 1761, foi benta a Capela dessa fazenda, juntamente
com seu cemitério. No ano de 1825, foi efetuado o primeiro
recenseamento do Favacho, cuja população era de 1200
pessoas, maior até que a da sede do município.
3
Pela importância que teve essa fazenda, até mesmo o
conjunto de fazendas dessa microregião, na virada do XVIII para
o XIX, ca claro perceber o deslocamento do eixo ecomico
para oeste. A fazenda pertencia a José Vieira de Almeida, um
português que requereu sesmaria na região na segunda metade
do século XVIII, e foi adquirida por João Francisco Junqueira.
Ninguém sabe ao certo a data de construção da casa nem
3
Junqueira, Walter Ribeiro, Fazendas e Famílias Sul
Mineiras, p137
Figura 7.21 - Foto antiga do conjunto. Fonte: Junqueira (1999)
Figura 7.22 - Fachadas norte e oeste. Foto: CFC
Figura 7.23 - Fachadas sul (entrada) e norte. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
131
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Pátio fronteiro
3. Senzala (?)
4. Construções
Complementares
Figura 7.24 - Fachada norte. Foto: CFC
Figura 7.25 - Capela. Fonte: Junqueira (1999)
Figura 7.26 - Pátio dos fundos.Foto: CFC
Figura 7.27 - Porta da sala nobre com capela ao fundo.
Foto: CFC
Figura 7.28 - Sala nobre. Foto: CFC
Figura 7.28 - Menina da fazenda. Foto: CFC
ELEVAÇÃO LATERAL esc. 1:500
Fazendas do Sul de Minas Gerais
132
1
4
3
2
quem a construiu. A cnica construtiva adotada foi a estrutura
portante de adobe, assim como na Traituba, e é diferente de
todas as outras. Essa técnica construtiva foi muito usada nas
fazendas de ca do Vale do Paraíba carioca e também no casario
urbano de São João del Rei e São Jo del Rei (Tiradentes). A
casa possui um corpo principal retangular, com telhados de
prolongo para frente e para os fundos, e um segundo corpo,
um retângulo comprido que se estende para os fundos. Os
beirais são em toda sua volta feitos de beira sobre beira (beira
seveira), inclusive junto ao prolongo do telhado. Uma extensa
varanda acompanha o retângulo menor ao longo de toda sua
extensão; essa varanda também possui beira seveira. A fachada
da frente mais parece a de um sobrado urbano com quatro
janelas rasgadas por inteiro, guarnecidas por guarda-corpos
de madeira torneadas. O agenciamento dos cômodos pode ser
interpretado de maneira bastante errônea, pois a casa sofreu
muitas modificações, tendo inclusive uma garagem no corpo de
servos. De qualquer maneira, notam-se as salas de fora e de
dentro, alcova e modos orbitais. O corpo de serviços tamm é
colocado em sua posição tradicional, na perna do L.
Capítulo 7 - Levantamentos
133
Fazenda Campo Alegre - Município de
Cruzília
A Fazenda do Campo Alegre foi a fazenda tronco mais
importante da rego. Suas instalões ruiram, restam apenas
algumas pedras de sua base ou de algum muro no meio do
pasto. Dela foram desmembradas as fazendas Bela Cruz, Narciso
e Boa Vista.
Palco da maior revolta de escravos do sudeste escravista,
ocorrida em 1833, conhecida como A Revolta de Carrancas
(Andrade, 2004) a antiga casa da Bela Cruz foi destrda. A casa
atual teria sido construída algumas décadas depois da revolta,
ou seja, na segunda metade do XIX.
Infelizmente ainda o tivemos acesso ao interior da
casa, mas, mesmo assim, foi feito o levantamento do conjunto e
algumas fotos externas. A casa parece apresentar a forma do L
clássico do XIX”, composto por um retângulo maior e mais largo
e a “perna do Lmenor abrigando o corpo de serviços. Possui
janelas de vergas retas com pestanas e subdivisão das folhas
da guilhotina com vinte vidros. Um telhado aposto na junção
dos dois corpos forma um grande alpendre lateral: na entrada
principal, um simples telhado, também aposto, guarnece a porta
Fazenda Bela Cruz – Município de Cruzília
Figura 7.29 - Fachada
frontal. Foto: CFC
Figura 7.30 - Antiga
senzala e casa principal.
Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
134
de entrada. A estrutura de madeira mostra-se na fachada atras
dos cunhais e frechais, os baldrames foram revestidos. Os beirais
são guarnecidos por forro plano, enfeitados por dentículos,
antecipando uma espécie de lambrequim. Os edifícios do
conjunto da fazenda são, em geral, desprovidos de qualquer
pretensão estistica; no entanto, por esse mesmo motivo, são
os que melhor representam intenção plástica inerente ao saber
fazer da época. No conjunto da Bela Cruz, destaca-se o edifício
da senzala. Conforme se viu, são raras as fazendas que ainda
o apresentam. Há ainda diversos muros de pedra dividindo
pastos e alguns edicios de serviços, cobertos por telhas de
barro.
Na descrição das fazendas que pertenceram à família
Junqueira, o historiador Andrade diz que quase todas conservam
uma estrutura bastante semelhante: “são construções de um
pavimento, pé-direito muito alto, grandes portais e muitas
janelas. A base de sustentação é quase sempre de pedra, e o
assoalho de madeira, sustentado por grandes vigas de mesmo
material(...)
4
Ora, essas o características de quase todas as fazendas
do Sul de Minas e não apenas as da família Junqueira como
podemos demonstrar no presente trabalho. Aliás, das seis fazendas
desta família na região, duas apresentam padrão diferente. Devo
dizer que o mito em torno dessa família muitas vezes mascara a
realidade; por outro lado, a farta documentação acumulada por
ela tem ajudado o trabalho de muitos historiadores.
4
ANDRADE, Marcos Ferreira, Casas de Vivenda e de
morada: estilo de constrão e interior da residências da
elite escravista sul-mineira - Século XIX, Anais do Museu
Paulista vol 12 , São Paulo, 2004, p94
Figura 7.31 - Fachada frontal. Foto: CFC
Figura 7.32 - Alpendre dos fundos.Foto: CFC
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Senzala
4. Currais
5. Muros de Pedra
Capítulo 7 - Levantamentos
135
1
4
5
3
2
4
Fazenda Narciso Município de
Cruzília
Data provel: meados do XVIII
Pé direito: 4,40 m
Janelas (vão luz):: 1,16 por 2,20 m (Pau Óleo)
Portas: 1,46 por 3,15 m h=0,95 m
Peças dos umbrais: 19 cm X 22 cm
Cunhais: 32 cm X 32 cm Madre: 38 X 38 cm
Piso: araucária de 35 a 50 cm larg.
A fazenda Narciso é mais uma das fazendas que foram
desmembradas da antiga Campo Alegre. Sua planta também se
insere num rol de plantas formadas por um único retângulo de
proporções longitudinais, superiores a 2:1. Nesse caso, o retângulo
possui 12 metros de largura por 29 metros de comprimento.
Também nesse caso, assim como na fazenda Boa Vista, havia outro
retângulo, de serviços, que foi demolido. O programa, porém,
é resolvido atualmente em um único retângulo. Os vestígios do
corpo de serviços se vêem nos arrimos de pedra junto à saída da
sala de jantar; esse corpo não estava alinhado com o fim da casa
como na fazenda Boa Vista, ao contrário, estava deslocado ao
Fazendas do Sul de Minas Gerais
136
Figura 7.33 - Fachada frontal antes da reforma,note
cunhal e beirais elaborados. Fonte: Andrade (1999)
Figura 7.34 - Vista frontal.Foto: CFC
Figura 7.35 - Vista dos fundos.Foto: CFC
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Currais
4. Contruções complementares
5.Parte demolida da casa
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
Capítulo 7 - Levantamentos
137
4
4
1
2
3
3
5
centro da construção principal como na fazenda Bela Vista e
não há sinais evidentes da continuidade de seu telhado com
o telhado do corpo principal. Provavelmente esse corpo foi
construído posteriormente e possuía telhado mais baixo como na
Bela Vista. O agenciamento do programa na planta, dividindo os
setores de convívio, o se em extremidades opostas como
na Boa Vista, ou como na Santa Clara (outro caso de retângulo
único), mas aqui os setores são divididos longitudinalmente.
As dimensões dessa casa são bastante exageradas,
superiores à média. Sua volumetria é bem posta nas propoões
entre base, corpo do pavimento e telhado, conferindo-lhe
um cater bastante austero. A fachada principal possui uma
distribuição de aberturas e uma relação de cheios e vazios
bastante simétrica, com a porta ao centro e quatro janelas
para cada lado. Todas as janelas possuem pestanas, inclusive as
da fachada posterior onde são em número menor e possuem
intervalos (nembros) maiores entre elas. As subdivisões de cada
folha das guilhotinas das janelas são feitas com três pisios
verticais e dois horizontais, resultando em doze peças de vidro,
comum em casos de janela de maiores dimensões. O acesso
principal é feito por escada perpendicular à fachada e o
possui cobertura; a soleira da porta principal é de pedra, não
de madeira em continuidade ao baldrame, como é mais comum,
e possui entalhe para recolher a água da chuva. Os beirais são
forrados, escondendo os cachorros, não com cimalhas , mas
sim com um simples forro plano, certamente objeto de reforma,
pois em foto de 2003 (Andrade 2004) a fazenda possa uma
sofisticada cimalha de madeira, similar à da Fazenda Cachoeira
em Carmo de Minas, e capitéis de madeira encimando os
cunhais. No conjunto das edificações da fazenda, foram
encontrados vestígios de construções esparsas pelo terreno
que, segundo o proprietário, seriam as choças que abrigavam
os escravos. Essa versão de senzala é muito bem aceita e já foi
comentada anteriormente.
No inventário do Barão de Alfenas realizado em 1868:
Consta de engenho e cilindros com todos seus
acessórios, engenho de serra com seus pertences
movidos por seu competente rego-d’água, moinho
movido por outro rego, paiol, casa para queijos, um
rancho, olaria, fornalha respectiva, tudo coberto de
telhas, avaliados em cinco contos, oitocentos e setenta e
cinco mil reis
5
5
Inventário de Gabriel Francisco Junqueira, cartório de
Baependi
Figura 7.36 - Sala nobre. Foto: CFC
Figura 7.37 - Detalhe do forro.Foto: CFC
Figura 7.38 - Vestíbulo e sala nobre ao fundo.Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
138
Fazenda Boa Vista – Município de
Cruzília
A Boa Vista de Crulia é uma das fazendas que foram
desmembradas da antiga Campo Alegre do Bao de Alfenas.
Sua planta é hoje formada por um único retângulo, porém,
pela forma do telhado, é posvel notar que a casa foi mutilada;
havia um segundo corpo perpendicular ao retângulo principal.
Pela fachada dos fundos, vê-se que o telhado principal foi
interrompido deixando um oitão à mostra, arrematado por um
alpendre mais baixo sobre a varanda da cozinha. A volumetria
da casa é muito bem posta, assemelhando-se à volumetria da
fazenda Narciso; o terreno sobre o qual se assenta é bastante
plano, com um pequeno caimento para os fundos, e a casa
está ligeiramente (meio pavimento) elevada do solo. O acesso
principal se dá por uma escada coberta por um pequeno
telhado, claramente posterior, pois passa pela frente da porta
principal. A planta dessa casa pode ser classificada num rol
de plantas formadas por um único retângulo de propoões
longitudinais, superiores a 2:1. O retângulo possui 10m de
largura por 25m de comprimento. Seus modos destinados ao
convívio com estranhos ficam em uma extremidade e a zona da
falia, na outra, devidamente separados. Neste caso mais
de uma sala para receber; uma, imediatamente junto à porta de
Figura 7.39 - Vista frontal. Foto: CFC
Figura 7.40 - Vista dos fundos. .Foto: CFC
Figura 7.41 - Vista lateral. .Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
139
Figura 7.42 - Sala nobre.
Foto: CFC
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Currais
4. Construções
Complementares
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
Fazendas do Sul de Minas Gerais
140
1
2
3
4
4
4
entrada para onde se voltam um quarto e uma capela, e outra
para onde se voltam um quarto e uma antiga alcova. Note-se
que uma linha tracejada no modo que era a alcova - é
a posição de uma parede que foi retirada. Essa alcova ficava
pegada a uma parede externa e, mesmo assim, não possa
janela, assim como ocorre na Fazenda Santa Clara. Isso mais uma
vez vem confirmar a permanência das alcovas por uma tradição
cultural e não apenas por uma justificativa cnica, utilizada para
aproveitar os modos do centro da casa rural ou do meio do
lote urbano, onde não era possível fazer aberturas.
Entre a capela e a sala lateral há uma pequena janela,
mais baixa que as demais. Janelas entre capelas e o setor
íntimo da casa são comuns, geralmente guarnecidas por treliças
fechando parcialmente o vão. Nesse caso, a janela é pequena
e a treliça fecha totalmente o vão. Sabemos que essas treliças
m a fuão de confessionário. Devemos, portanto, retomar
um questionamento sobre a verdadeira função dessas janelas:
se serviam apenas como confessionário ou se serviam para se
assistir à missa de forma mais reservada, separada das demais
pessoas da fazenda, ou ambas as coisas.
Fazenda Campo Lindo Município de
Cruzília
Pé direito: 4,70m
Janelas (vão luz): 2,4 por 1,5m
Portas: 3,2 por 1,5m
Peças dos umbrais: 11 X 13 cm
Como acontece em grande parte das propriedades, a casa
atual nem sempre é a primeira casa da fazenda. A casa atual
da Campo Lindo é de 1871, pom o corpo de serviços é mais
antigo; segundo os donos “tem duzentos anos. Realmente,
um desalinhamento entre esses corpos ; a altura das vergas
entre um volume e outro é também bastante diferente, o que
demonstra que foram erguidos separadamente.
A planta do corpo principal é um retângulo, cuja entrada
se situa em uma das faces menores, gerando um longo corredor
entre a sala de entrada e a sala da família. A solução adotada,
pelo menos segundo o uso atual, foi usar o cômodo à esquerda
Figura 7.43 - Ermida, detalhe confessionário. Foto: CFC
Figura 7.44 - Detalhe parede. Foto: CFC
Figura 7.45 - Fachada frontal, porta almofadada com
verga em arco pleno. .Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
141
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Currais
3. Casa de enpregados
4. Construções
Complementares
5.Estábulo
6. Piscina
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO FUNDOS
esc. 1:500
Fazendas do Sul de Minas Gerais
142
1
2
6
3
4
5
Figura 7.46 - Vista lateral. Foto: CFC
Figura 7.47 - Vista principal. Foto: CFC
Figura 7.48 - Vista lateral, curral com piso de pedras. Foto: CFC
Figura 7.49 - Vista dos fundos. Foto: CFC
Figura 7.50 - Quarto de hóspedes. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
143
da sala de entrada como a sala de receber . A sala de entrada é
usada como distribuão, estar e também como capela, que há
um grande oratório na parede frontal. Ademais, o agenciamento
reproduz o esquema normal, a não ser pelo “miolo” da
edificação onde antigas alcovas foram alteradas, dificultando a
apreensão da planta original. As vergas das portas e janelas são
retas, porém é muito importante chamar a atenção para a verga
em arco pleno da porta principal, certo neoclassicismo pontual.
As cimalhas de madeira, que perfazem todo o perímetro do
corpo principal e escondem a cachorrada, também conferem
certo requinte cssico à volumetria. Sobre os beirais, o telhado
ainda mantém a dupla inclinação e as telhas de capa e canal.
O conjunto dos edifícios do núcleo da fazenda merece atenção
especial por sua originalidade, são agenciados em torno de
tios como era comum no século XVIII, característica que se
dissipa ao longo do XIX. Esses pátios são tão presentes que,
mesmo quando os edifícios que os cercam não dão conta de
fec-los, seus fechamentos são feitos por muros. No caso da
Campo Lindo, cercando o tio posterior, um grande muro de
adobe,com paus a 45º como fechamento , coberto por telhas.
Figura 7.51 - Sala de visitas. Foto: CFC
Figura 7.52 - Sala de entrada. Foto: CFC
Figura 7.53 - Detalhe sala de visitas. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
144
Fazenda Bela Vista Município de São
Vicente de Minas
Data provel: década de 1870
Pé direito: 4,18 m
Janelas (vão luz): 1,07 por 2,15 m
Peitoril: 0,90 m
Portas: 1,07 por 3,18 m
A implantação dessa fazenda acontece em uma topografia
bastante suave como, aliás, é comum nas fazendas dessa
rego de campo-cerrado, onde a topografia é mais suave que
no restante do Sul de Minas. Ainda assim, essas casas não
dispensam o porão. Além da casa principal, o conjunto das
edificações do núcleo dessa fazenda merece atenção por contar
com edifícios bastante antigos. Segundo o proprietário que
nos atendeu, a antiga casa ficava no edifício lateral, onde hoje
funciona um depósito junto ao curral.
Sua planta também se insere num rol de plantas formadas por
um único retângulo de propoões longitudinais, superiores
a 2:1. A integridade e originalidade da casa estão bastante
preservadas, pois ainda possui baldrames e cunhais de madeira
Figura 7.54 - Fachada da frente. Foto: CFC
Figura 7.55 - Fachada dos fundos. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
145
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Antiga casa
3. Currais
4. Construções
Complementares
5. Jardim Frontal
6. Pomar
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO FUNDOS
esc. 1:500
Fazendas do Sul de Minas Gerais
146
1
5
6
2
3
4
3
4
à mostra, cimalha original de madeira, telhado de telha de capa
e canal com dupla inclinação e janelas com pestanas, o que leva
a crer que sua estrutura permanece original. Os baldrames de
pedra, no entanto, estão revestidos com argamassa. O alpendre
que protege a entrada principal possui cobertura de telhas
francesas, forro e lambrequim, elementos típicos do fim do
XIX que, claramente, não são contemponeos da constrão
da casa, mas não deixam de ter sua importância histórica.
Um novo corpo, ligado ao setor da família ou de servos, foi
construído sob os beirais do corpo principal; esse corpo possui
cunhais em argamassa , janela com vergas em arco pleno e foi
provavelmente constrdo com alvenaria de tijolos portantes. No
acesso ao novo corpo, há uma escada em círculos conntricos,
também comum ao fim do XIX.
Figura 7.56 - Cama rústica. Foto: CFC
Figura 7.57 - Sala nobre. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
147
Fazenda Pitangueiras 1 Município de
São Vicente de Minas
Data provel: 3º quartel do XVIII
Pé direito: 4,50m
Janelas 1,50 por 2,00 m
Peitoril: 1,00 m
Portas: 1,50 por 3,00m
A Pitangueiras é uma fazenda extremamente sofisti cada,
diferente das austeras fazendas do grupo de Cruzília. Possui
volumetria solarenga, conferida pelo telhado bastante presente
por causa de sua altura em conseqüência da largura do
rengulo principal. Cabe comentar aqui o deslocamento do
eixo econômi co dentro da própria região do Sul de Mi nas.
Hoje em dia, essa fazenda, embora em um excelente estado
de preservão e em estado médio de conservão, encontra-
se economi camente bastante prejudi cada, fato comum às
fazendas desta mi crorregi ão. Ao mesmo tempo, algumas
fazendas, cujas casas origi nais eram bastante modestas em
relação à sofisti cação de uma Pitangueiras”, possuem hoje
i ntensa atividade econômi ca, o que pode ser comprovado pelo
equipamento agroi ndustrial a sua volta. É o caso da fazenda
Figura 7.58 - Paiol. Foto: CFC
Figura 7.59 - Vista fundos. Foto: CFC
Figura 7.60 - Vista lateral da casa e antiga senzala.
Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
148
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Senzala
4. Construções
Complementares
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
Capítulo 7 - Levantamentos
149
3
4
4
4
2
1
4
dos Tachos ou Mascati nho, por exemplo. Isso ocorre com o
deslocamento do eixo econômi co a oeste em busca de novas
terras e defi nitivamente se consolida com a implantação do café
no fim do XIX. As fazendas da região de campo cerrado, onde
o solo é exageradamente ri co em calcári o, fi cam de fora desse
processo.
Destacamos, além do grande telhado original e
íntegro, as vergas em canga de boi, a grande escada de pedra
perpendicular à fachada e a planta em “L” do século XVIII. A
planta possui clara predominância em área do setor social sobre
o íntimo, coisa que não ocorre no XIX. São três salas apenas
nesse setor: sala de entrada, sala nobre, à esquerda, dando
acesso para seis quartos e uma terceira sala, à direita, usada
para guarda. Um estranho corredor, demasiado estreito,
acesso à sala da família, seus orbitais e ao setor de serviços. Essa
sala íntima, assim como na Fazenda Serra das Bicas, o se abre
para o semipátio formado na conjuão dos dois volumes; ao
contrário, abre-se para o pátio da senzala. Saindo pelo setor de
serviços, um embasamento de pedras de onde parte a grande
escada desse mesmo material. A casa mineira do XVIII precisa
ser estudada com mais profundidade, pois, segundo Lemos,
o setor de serviços não possuía saída direta para o exterior, o
que o acontece nesse e em quase todos os outros casos de
Figura 7.61 - Vista lateral. Foto: CFC
Figura 7.62 - Senzala. Foto: CFC
Figura 7.63 - Vista lateral. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
150
nosso levantamento. Somente nas fazendas Bananal e Monjolo,
ambas do XVIII, isso ocorre. Para essa verificação caso a caso,
seria preciso fazer prospeões para se descobrir o histórico
de intervenções ocorridas (onde foram abertos novos os) e
cotejá-las com informações documentais de data. Acreditamos,
no entanto, que essa característica seja mais arcaica do que os
exemplares aqui levantados. O conjunto da fazenda conta ainda
com um grande paiol , chiqueiro, abrigos para gado e o antigo
edifício da senzala.
Em passagem pela Fazenda Carrancas em primeiro de
março (1822), Saint-Hilaire cita o Rio Pitangueiras:
Cortando sempre pastos, encontramos, a pouca
distância do Rio Juruoca, o de Pitangueiras, que,
segundo me disseram, vai concluir com o Rio Grande.
A ponte que atravessa o Rio Pitangueiras é o má
que os burros por ela não podem passar sem perigo.
Tínhamos, sempre à frente, a Serra das Carrancas e
afinal ali chegamos. Em ponto algum é muito elevado e
o caminho a corta no lugar onde tem menos altura.(...)
Paramos, a pouca distância da raiz da Serra, numa
fazenda que pertence à mesma falia dos donos da
Cachoeirinha e o parece menos importante do que
ela. Fui muito bem recebido e os donos da casa não nos
permitiram cozinhar
6
.
Fazenda Pitangueiras 2 Município de
Figura 7.64 - Detalhe chapeleira. Foto: CFC
Figura 7.65 - Detalhe janela. Foto: CFC
Figura 7.66 - Detalhe cozinha e despensa. Foto: CFC
Figura 7.67 - Sala nobre. Foto: CFC
6
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Segunda viagem a Minas
Gerias e São Paulo. Belo Horizonte: Itatiaia, 1974, p. 47-48
Capítulo 7 - Levantamentos
151
São Vicente de Minas
Data provel: século XVIII
Pé direito: 3,50m
Janelas 1,05 por 1,70 m
Peitoril: 1,00 m
Portas: 1,50 por 2,55 m
Peças dos umbrais: 17 x 20cm
Chamamos de Pitangueiras 2, pois essa fazenda possui o mesmo
nome da anterior e está no mesmo município; é apenas uma
maneira de diferenciá-las. Contraditoriamente, essa fazenda
apresenta as fachadas bastante íntegras, assim como o telhado
com suas telhas e estrutura originais, enquanto o interior foi
demasiadamente alterado, especialmente no setor de serviços,
dificultando sua compreensão. A planta é composta por dois
corpos perpendiculares de mesma largura, formando um “L.
Como os dois retângulos são de mesma largura, as cumeeiras
do telhado têm a mesma altura, caso raríssimo em plantas em
“L, onde geralmente o corpo principal é mais largo que o de
serviços, gerando cumeeiras em alturas diferentes. O acesso
é feito por uma varanda lateral em um canto da casa; essa
varanda é claramente uma alterão posterior tanto por sua
Figura 7.68 - Vista geral. Foto: CFC
Figura 7.69 - Varanda posterior. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
152
Figura 7.70 - Fachada frontal. Foto: CFC
Figura 7.71 - Fachada lateral da cozinha. Foto: CFC
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Senzala
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO FUNDOS
esc. 1:500
Capítulo 7 - Levantamentos
153
1
2
3
3
forma, localização em planta como pelos materiais (as vergas
são de concreto). Ela dá acesso à capela, à sala e a alguns
quartos que se interligam ao redor do cômodo da capela. Um
corredor liga o setor social ao setor íntimo, chegando até a sala
da família e permitindo o acesso a alguns quartos. O setor de
serviços está com a planta totalmente livre, formada por um
único modo, onde funciona uma espécie de cozinha de fora”.
A planta atípica dessa casa é realmente um grande misrio. No
setor social, as portas internas parecem estar em suas posições
originais, suas vergas são em canga de boi e, na sala, quatro
dessas portas estão dispostas de par em par, como era comum
em fazendas do XVIII, o que confere à planta desse setor alguma
veracidade. Além disso, o forro da capela é todo decorado com
pinturas o que mostra que ela sempre esteve ali. Já na parte
íntima da casa, algumas portas possuem vergas retas; uma
das paredes do corredor chega ao umbral da porta em verga
curva da sala, “engolindo” a madeira sob a argamassa, o que
demonstra que houve alterações. Essas evidências, somadas à
estranheza do agenciamento de seus cômodos, levam-nos a crer
que a planta desse setor não é original, não podendo, portanto,
ser usada como demonstração ou exemplo de modo de vida à
época. Na sala da família, no entanto, um par de portas de
vergas arqueadas conferindo àquela parede posição original.
Vimos, portanto, que, quando a casa possui planta atípica e
evidências de alterações, sua planta deve ser interpretada com
cuidado.
Sua implantação se em terreno de pouca declividade
e os equipamentos que compõem o núcleo da fazenda
demonstram o tipo de atividades ali desenvolvidas. O moinho
de milho, as ruínas de um antigo engenho, currais e telheiros
diversos atestam que a fazenda desenvolvia atividades
econômicas diversas como a produção de derivados da cana
(açúcar, rapadura e pinga), de milho (farinha de milho e fu),
Figura 7.72 - Fachada dos fundos. Foto: CFC
Figura 7.73 - Cozinha. Foto: CFC
Figura 7.74 - Sala de entrada com janela para ermida.
Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
154
além da criação de gado vacum e suíno. Nessa fazenda o
foram encontrados vestígios da produção cafeeira, evidenciados
principalmente pela presea de terreiros, facilmente
identificados pela sua necessária acomodão ao terreno,
gerando muitas vezes cortes, aterros e muros de arrimo.
Fazenda Engenho de Serra Município
de São Vicente de Minas
Data provel: meados do século XVIII
Pé direito: 3,40m
Janelas 1,30 por 1,50m
Peitoril: 1,00m
Portas: 1,30 por 2,50m
A Engenho de Serra é uma das que melhor exemplificam a fazenda
do XVIII e a diferenciam das do XIX. Começando pelo exterior,
as janelas do corpo principal são de verga canga de boi e sua
distribuição nas fachadas é mais esparsa, deixando uma proporção
de cheios e vazios com predominância dos cheios nos panos de
parede. A proporção de altura/largura das aberturas também é
diferente, as portas e janelas são mais largas do que na maioria das
fazendas levantadas. No corpo de serviços, as janelas possuem verga
reta, mas, diferentemente das encontradas nas fazendas do século
Figura 7.75 - Fachada
lateral. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
155
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Currais
4. Construções
Complementares
5. Moinho
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO FUNDOS
esc. 1:500
Fazendas do Sul de Minas Gerais
156
4
4
3
1
2
5
3
XIX (com proporções próximas a 2:1); são largas como as do corpo
principal, o que nos leva a supor que são contemporâneas as estas.
As janelas das áreas de serviço costumavam ser diferentes pois as
de verga arqueadas são mais nobres e sofisticadas , reservadas
apenas ao corpo principal . Restavam ao corpo de serviços as de
vergas retas. O telhado de prolongo é uma característica essencial
apontada por pesquisadores da arquitetura rural mineira e, nesse
caso, essa característica se confirma, levando a crer que o universo
amostral pesquisado por outros estudiosos concentrava-se no
século XVIII. Vale lembrar um detalhe que sempre há nos telhados
de prolongo: como sempre são em meia água, seu arremate é feito
com telhas de bica perpendiculares às telhas do plano do telhado.
A irregularidade da planta dessa casa também nos intriga
bastante, assim como na Pitangueira (dois). A diferença é que
aqui o há evidências tão claras de reformas e alterações, o que
nos leva a crer que a planta já era, de saída, bastante irregular e
que o próprio programa ainda não estava tão claro quanto viria
a se tornar no XIX. De qualquer maneira, a presença do corredor
de ligação entre os setores tem se mostrado uma constante nas
fazendas dessa época, nessa rego, o que virá a ser suplantado
pelo cômodo de ligação ou por corredores mais curtos. Neste
breve comentário sobre cada fazenda só falaremos da técnica
construtiva quando houver algo fora do padrão da gaiola, já
descrita no catulo quatro. Pois bem, essa fazenda possui
paredes de adobe, mas não como estrutura portante conforme
ocorre na Traituba e no Favacho; o adobe aqui é apenas o vedo
da tradicional estrutura aunoma de madeira. Não se sabe
Figura 7.76 - Fachada lateral. Foto: CFC
Figura 7.77 - Fachada dos fundos. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
157
se o fechamento de adobe foi adotado logo na concepção da
obra ou se foi, mais tarde, substituto do pau-a-pique. Para essa
confencia, uma simples prospeão junto aos baldrames e aos
frechais, verificando se perfurões para encaixe dos prumos,
resolveria nossa dúvida. Os beirais também são diferentes
dos demais, apoiados em cachorros normalmente, mas não
horizontais como nas outras fazendas; são inclinados. Os edicios
adjacentes são o paiol, moinho, curral de ordenha, serraria (daí
o nome Engenho de Serra) e depósito de mantimentos (arroz
e feijão), além da presença de muros de adobe ou de pedra e
terreiros. A presença de terreiro geralmente quer dizer que há
produção de café, porém nessa fazenda eles provavelmente
serviam para secagem de outros produtos como o feio. Ainda
hoje, nessa região, é possível ver o trabalho de malhar o feijão
nos terreiros. Outro costume arcaico na produção , ainda
mantido, é o uso do carro de boi para o trabalho.
Fazenda Sesmaria Município de São
Vicente de Minas
Data provel: final do século XVIII
Pé direito: 3,70m
Janelas 1,00 por 1,80m
Peitoril: 0,97m
Portas: 1,30 por 2,75m
Peças dos umbrais: 17 por 20cm
A Sesmaria tem uma feição um pouco citadina pelo fato de
ser assobradada na face posterior. Isso ocorre porque, devido
ao declive do terreno, o porão torna-se alto. Seu fechamento
foi feito com o uso de técnicas leves e não de pedra como
normalmente é constrdo o fechamento dos porões. Assim
sendo, o poo ganhou uma seqüência de janelas alinhadas com
as do pavimento nobre, dando à casa essa feição de sobrado
urbano. O porão fechado por paredes de barro acontece em
um ou outro caso, mas essa seência de janelas repetindo o
pavimento superior é raríssima.
Sua planta também se insere no rol de plantas formadas
por um único retângulo de proporções longitudinais, superiores
Figura 7.78 - Corredor interno. Foto: CFC
Figura 7.79 - Fachada frontal. Foto: CFC
Figura 7.80 - Escada de pedras. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
158
Figura 7.81 - Fachada dos
fundos. Foto: CFC
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Currais
4. Construções
Complementares
5. Pomar
6. Piscina
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO FUNDOS
esc. 1:500
2
6
1
Capítulo 7 - Levantamentos
159
4
4
4
4
4
5
1
3
a 2:1. Neste caso, o retângulo possui 11 metros de largura por
27 metros de comprimento. O agenciamento do programa é
bem claro: de um lado, junto ao acesso, o setor de convívio
com estranhos; de outro, o da família, unido ao de serviços. O
corredor de ligão já esboça o sio” visual e há nele uma
escada interna que acesso ao poo. Não sabemos afirmar
se é original. No quarto, junto à sala de visitas, um forro de
gamela, um luxo bastante raro nas casas deste levantamento.
A implantação da casa é feita em declive com a fachada da
frente levantada apenas um metro do chão e a fachada posterior
construída em dois pavimentos. Isso é feito graças a um arrimo
que se prolonga para além da casa, onde há uma escada feita
com as pedras que saem do próprio muro. Esse detalhe foi
encontrado também nos arrimos do terreiro da Fazenda da
Pedra e em algumas construções no norte do Portugal e é usado
por arquitetos contemponeos portugueses em referência à
arquitetura tradicional de seu país.
Figura 7.82 - Sala nobre. Foto: CFC
Figura 7.83 - Forro de gamela, quarto de hópedes.
Foto: CFC
Figura 7.84 - Sala da família. Foto: CFC
Figura 7.85 - Quarto. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
160
Fazenda Nova Município de São
Vicente de Minas
Data provel: final do século XIX
Pé direito: 3,57m
Janelas 1,00 por 1,60m
Peitoril: 0,97m
Portas externas: 1,10 por 2,65m
Portas internas: 0,90 por 2,65m
Peças dos umbrais: 15 por 19cm
Construída por volta de 1900, é um caso raro nessa rego
onde as fazendas são geralmente as mais antigas de todo o
levantamento. É a única, dentre as visitadas, cujo dono é uma
pessoa da cidade grande e usa a casa apenas como segunda
residência. Como as fazendas do fim do período pesquisado, essa
casa é ligeiramente menor que a média e não possui alcovas. Sua
planta é em “L ,com telhados de cumeeiras perpendiculares e na
mesma altura. A planta pode ter sido alterada para adaptão ao
uso. Apresenta uma sala de distribuição, uma sala social dando
para dois quartos, um corredor de ligação com outra sala que,
por sua vez, dá acesso a outros quartos . ainda outro corredor
ligando à sala de jantar que, neste caso, o tem as grandes
dimensões da “sala da família”. Dessa sala, tem-se acesso aos
cômodos de serviços e à cozinha. Um banheiro foi construído na
sala de jantar, mas não como nas adaptações que normalmente
se fazem, nas quais um antigo cômodo é transformado em
banheiro; neste caso o banheiro ocupa parte da sala. O mais
interessante de sua implantação é o longo corpo com telhado de
duas águas, que se estende para além da cozinha e que abriga
algumas atividades de serviço.
Figura 7.86 - Fachada lateral. Foto: CFC
Figura 7.87 - Fachada dos fundos. Foto: CFC
Figura 7.88 - Sala nobre. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
161
Fazenda Pinheiros Município de São
Vicente de Minas
Não conseguimos entrar na casa, pois não foi possível contatar
os proprietários ou responsáveis. A fazenda estava deserta
e fizemos apenas fotos e levantamento da parte externa.
Analisando apenas pelo lado de fora, é possível notar que a
fazenda seria muito importante para esta pesquisa. A forma da
casa é de um L clássico, ou seja, as cumeeiras dos telhados
o perpendiculares. Possui cimalhas apenas sob os beirais
de todo o corpo principal, pois no corpo menor elas caíram,
deixando à mostra os cachorros e o detalhe necessário para
a fixação das mesmas. Sua estrutura é claríssima: estrutura
autônoma de madeira com fechamento de pau-a-pique. As
peças da estrutura estão íntegras com baldrames e cunhais à
mostra. As janelas são de vergas retas a as folhas superiores das
Figura 7.89 - Frontal e lateral. Foto: CFC
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Pomar
4. Construções
Complementares
5. Serviços de Cozinha
Fazendas do Sul de Minas Gerais
162
4
4
1
5
3
2
guilhotinas possuem delicado detalhe no enlace dos pinásios,
formando arcos apontados e losangos. O telhado está íntegro
e ainda conserva suas telhas de bica e a dupla inclinação. No
fim do corpo de serviços, há uma reentrância interessantíssima
em seu volume, deixando a peça do cunhal solta no espaço.
O acesso principal é feito por um alpendre “moderno”, com
telhado de duas águas, lambrequim como na fazenda Bela
Vista. A porta posterior fica no corpo de serviços, bem junto ao
encontro dos dois volumes e há ainda uma porta no fundo do
volume menor. Essa configuração e distribuição de portas de
acesso é bem comum, atestando que a planta da casa deve ser
parecida com otipo clássico do XIX. Essa fazenda foi visitada
em 18/07/97 e o estado de conservação pode ter se alterado.
Fazenda Porto do Antimônio
Município de São Vicente de Minas
Data provel: século XVIII
direito: variável
Janelas 0,76 por 1,40m
Portas: 1,04 por 2,35m
Peças dos umbrais: 12 por 16cm
Localizada junto ao rio Aiuruoca, a fazenda do Porto é,
juntamente com a Angahy, provavelmente, uma das mais
antigas da região. Sua tipologia é totalmente diferente de todas
as outras, não possui aquela leveza caractestica das casas
mineiras. É atarracada, construída ao rés do chão, o pé
Figura 7.90 - Fachada dos fundos. Foto: CFC
Figura 7.91 - Fachada lateral. Foto: CFC
Figura 7.92 - Fachada lateral oposta.Foto: CFC
Figura 7.93 - Vista geral da casa. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
163
direito é mais baixo, suas janelas são menores, os cunhais são
feitos de toscas e grossas peças de madeira e há o uso dos
telhados de prolongo. No entanto, por sua localização, junto
a um dos rios mais importantes para penetração no território,
pelas caractesticas da casa e das construções do conjunto, que
ainda conserva o edicio da senzala, é posvel acreditar que
essa fazenda possa pertencer a um peodo anterior à fase da
atividade agropecuária em Minas. Seu próprio nome nos dá a
pista de que ali teria sido um porto e, por isso, sua localização
Figura 7.94 - Vista do conjunto. Foto: CFC
Figura 7.95 - Quarto, reparar forro sob telhado de
prolongo. Foto: CFC
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
I MP LANTAÇ Ã O
ESC. 1:1000
1. Casa Pri ncipal
2. Pai ol
3. Senzala
4. Construções
Complementares
5. Ri o Aiuruoca
1
2
3
5
4
4
4
Fazendas do Sul de Minas Gerais
164
ao lado de um grande rio, fato que não é comum à maioria das
fazendas. Seu núcleo possui, além da senzala, currais, moinho,
paiol e cozinha de fora, em edifício separado da casa. Em sua
passagem pela Fazenda Carrancas em primeiro de março (1822),
Saint-Hilaire descreve o Rio Aiuruoca:
Depois de atravessar um riacho que forma uma pequena
queda de água, da qual a fazenda tomou o nome de
Cachoeirinha, atravessamos pastos e logo chegamos ao
Juruoca. Esse rio mais volumoso do que o Rio Grande...
E continua discorrendo sobre o rio em seis de março:
Achava-se outrora muito ouro nas margens do Rio Grande
e nas do Rio Juruoca, e é a um arraial de mineradores que
a cidade deste nome deve a origem. Hoje, não há mais
lavres entre S. João e Juruoca e apenas se contam duas
ou três de pouca importância nestes arredores. Segundo
o que me disse o cura, as conjeturas que formava ontem
sobre a população desta cidade estão perfeitamente
fundadas. Não é habitada durante a semana senão por
mercadores, operários e prostitutas. Mas aos domingos e
dias de festa, torna-se um lugar de reunião para todos os
agricultores da comarca.
7
Figura 7.96 - Antiga senzala. Foto: CFC
Figura 7.97 - Árvore ao lado da senzala. Foto: CFC
7
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Segunda viagem a Minas
Gerias e São Paulo. Belo Horizonte: Itatiaia, 1974, p. 47 e 53
Capítulo 7 - Levantamentos
165
Fazenda São José da Vargem
Município de Baependi
Data provel: desconhecida
Pé direito: 4,00m
Janelas 1,10 por 1,90m
Portas: 1,10 por 3,10m
Peças dos umbrais: 20 por 25cm
A cidade de Baependi (1814) é juntamente com Campanha
(1798) uma das mais antigas do sul de Minas. Aparece em
diversos mapas e documento antigos e ficou famosa no século
XIX pela qualidade e quantidade exportada de seu fumo,
imortalizada na poesia Relicário de Oswald de Andrade.
No baile da corte
Foi o conde d’Eu quem disse
Pra Dona Benvinda
Que farinha de Suruí
Pinga de Parati
Fumo de Baependi
É comê bebê pitá e caí
8
Figura 7.98 - Fachada lateral. Foto: CFC
Figura 7.99 - Vista geral do conjunto. Foto: CFC
8
ANDRADE, Oswald. Poesias reunidas, 5
a
edição. Rio de
Janeiro: Civilização brasileira, 1978
Fazendas do Sul de Minas Gerais
166
Figura 7.100 - Escada de acesso. Foto: CFC
Figura 7.101 - Anttiga senzala.Foto: CFC
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Senzala
4. Estábulos
5. Construções
Complementares
6. Pomar
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
1
2
3
4
5
6
Capítulo 7 - Levantamentos
167
Contudo sabemos que, quando se tratava de Baependi,
o era apenas o munipio atual, mas toda sua antiga
interndia.
Nesta atividade especifica destacavam os munipios de
Cristina, Aiuruoca e Pouso Alegre.
9
Nesse município, tão importante historicamente,
encontramos apenas um exemplar desse tempo, a Fazenda São
José da Vargem, que apresenta o caso mais emblemático de
agenciamento em L com cumeeiras paralelas. Seu retângulo
principal de proporções 2:1, medindo onze metros por vinte e
dois, fica paralelo ao retângulo menor, de serviços, medindo
sete por quatorze. Embora a forma do retângulo maior não
seja a do L clássico, o agenciamento de seus cômodos segue
exatamente a ordem que se consolidou no modelo clássico.
Entra-se por um vesbulo, de onde se tem acesso à sala
nobre, a um quarto, a uma alcova e ao corredor de ligação
com a sala da falia. No pprio vestíbulo, tem-se o cômodo
do oratório. A sala da família já se encontra em sua posição
tradicional, exatamente na junção dos retângulos, fazendo a
conexão desses setores. Dela se tem acesso aos demais quartos
que, por sua vez, se interligam saindo de volta na ala social. O
setor de serviços é bem claro; primeiro, um corredor com dois
quartos e, na ponta, a cozinha. No fim do retângulo de serviços
um prolongamento da tacaniça, a cobrir um modo. Um
prolongamento semelhante do telhado ocorre na sala da falia.
O partido longitudinal da casa não impediu que se fizesse um
agenciamento tradicional dos modos, mas implantou muito
bem a casa em terreno em declive, gerando um grande arrimo
que divide o poo em duas partes no sentido longitudinal: uma
delas alta, aproveitável,e outra parte mais baixa, sem acesso.
Compondo com a casa um semipátio, aparece uma interessante
senzala num corpo longitudinal em declive com suas portas
e janelas, uma a uma, abrindo-se apenas para um lado. De
resto, na fazenda há ainda arrimos de pedra e algumas outras
construções para gado bovino e eino.
Figura 7.102 - Muro de pedras do porão cortando
longitudinalmente a casa. Foto: CFC
Figura 7.103 - Ermida. Foto: CFC
9
Martins, Maria do Carmo Salazar e Silva, Helenice
Carvalho Cruz Produção Econômica em Mimas Gerais
em Meados do Século XIX, Seminário sobre a Economia
Mineira, Cedeplar, 2002.p 21
Fazendas do Sul de Minas Gerais
168
Grupo de Carrancas, correspondente à
parte da antiga freguesia de Lavras:
A Freguesia de Lavras era separada das freguesias de Baependi
e Juruoca; ao sul pela Serra de Carrancas, ao leste é separada
do Termo da Vila de São João del-Rei pelo Rio Grande, ao norte
é separada do Termo da Vila de São João del-Rei pelo mesmo
rio e ao sudoeste separa-se das freguesias de Campanha, Cabo
Verde e Jacuí pela seqüência dos rios do Peixe, Verde e Sapucaí.
Essa antiga freguesia era muito grande; parte dela pertence hoje
à Microrregião de Varginha, no Sul / Sudoeste de Minas e parte,
à Microrregião de Lavras no Campo das Vertentes. A região do
Campo das Vertentes tem sua ocupação mais antiga ligada ao
caminho para Goiás, que seguia pelas margens do Rio Grande
até o Caminho do Anhanguera, em São Paulo. Essa região foi
estudada por Helena Teixeira Martins em seu trabalho Sede de
Fazendas Mineiras Campos das Vertentes, séculos XVIII e XIX.
A Freguesia de Lavras, entretanto, fica na margem sul
do Rio Grande e guarda algumas caractesticas mais parecidas
com as freguesias anteriores. Hoje em dia podemos dividi-la em
dois grupos: um, mais ligado ao oeste, aos campos e cerrados
ao qual chamamos de Grupo de Carrancas e outro, mais ligado
a leste, nas margens direitas dos rios Verde e Sapucaí ao qual
chamamos de Grupo de Varginha.
O Grupo de Carrancas, mais ligado ao leste, guarda
maiores semelhanças com o Grupo de Cruzília. São fazendas
mais espalhadas, implantadas em terririos ermos e dominam
grandes paisagens. Diferem das anteriores por estarem em
rego mais montanhosa como a Serra de Carrancas ou a Serra
de São Tomé, fim do Complexo Varginha, cadeia de montanhas
que se estende até o sul da região vulcânica de Poços de Caldas.
Além das fazendas apresentadas a seguir, foram visitadas as
fazendas Ouro Verde e Vargem Grande e Retiro em Lumirias,
Bela Vista de Lavras porém não entraram no levantamento por
um dos motivos apresentados na introdução deste capítulo.
Figura 7.104 - Microregião de Lavras. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org /mocrorregioesdeminas>.
Acesso em 20 março 2008.
Capítulo 7 - Levantamentos
169
Fazenda Gão Mogol – Município de
Carrancas
Data provel: século XVIII
No Mapa da Comarca do Rio das Mortes do fim do século XVIII,
Carrancas já aparecia na região de confluência dos caminhos
Velho e de Fernão Dias, logo ao norte do Rio Capivari, pximo a
local de topônimo Curralinho, não encontrado nos mapas atuais.
Termo da Vila de São João del Rei e pertencente à Freguesia
de Lavras do Funil, neste mapa Carrancas está situada entre o
rio Capivari e a Serra de mesmo nome e, certamente por sua
posição histórico-geogfica, guarda exemplares antigos de
nossa arquitetura. Em passagem pelo Rancho de Traituba em
1822, Saint-Hilaire faz breves comentários sobre Carrancas:
Cerca de quarto de légua da fazenda encontramos a Vila
de Carrancas, sede da paquia. Quando muito, merece o nome
de aldeia. Fica numa encosta de colina e compõe-se de umas
vinte casas situadas em volta de uma praça coberta de grama.
A igreja ocupa o lado mais alto da praça.
É pequena, mas construída de pedra e muito bonita
Figura 7.105 - Vista geral. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
170
Figura 7.106 - Vista geral do conjunto. Foto: CFC
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Currais
4. Retiro
5. Construções
Complementares
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
1
2
3
4
5
5
Capítulo 7 - Levantamentos
171
por dentro. Não é à mineração que Carrancas deve sua origem.
No lugar em que está situada existiu outrora uma fazenda
com capelinha. Atraídos pelo desejo de ouvir missa, alguns
cultivadores vieram estabelecer-se na vizinhaa. Foi a fazenda
destruída, mas a capela continuou a subsistir. Substituíram-na
por uma igreja mais considerável e a pouco e pouco formou-se
a aldeia.
Infelizmente, no atual município, não sobraram, em
estado aproveitável para estudo, muitos exemplares de nossa
antiga arquitetura como a fazenda o Mogol. Bastante
singela, essa propriedade não possui aquele ar solarengo das
casas nobres de outras fazendas aqui descritas; exibe, sim, uma
arquitetura simples, bem proporcionada, de composições claras,
limpas e definidas. Seu telhado de quatro águas o apresenta
a “perna do L, a cozinha fica sob outro telhado, pegado à casa.
Suas dimensões são ligeiramente menores e a planta apresenta
aquele agenciamento normal entre setores, aparecendo aqui o
corredor “sifonado” que impede a visão de um setor ao outro.
Suas janelas são de vergas arqueadas e não possuem caixilhos,
apenas as folhas de calha interiores; seu forro é de esteira de
taquara e bastante novo, parecendo ter substituído antigos
forros de madeira. Os muros de pedra e as vergas atestam sua
idade, o pequeno núcleo da sede demonstra sua simplicidade e
a longa paisagem ao redor, seu isolamento. Foi nessa fazenda
que observamos o trabalho de “malhar” o feijão no terreiro.
Figura 7.107 - Vista interna a partir da sala íntima.
Foto: CFC
Figura 7.108 - Alpendre de entrada com banco. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
172
Fazenda Bananal Município de
Carrancas
Data provel: meados do século XVIII
Pé direito: 3,80m
Janelas 1,05 x 1,80 h=0,95m
Portas: 1,13 x 2,80m
Peças dos umbrais: 18 x 22cm
Essa fazenda pode ser considerada exemplar único dentro da
pesquisa, pois guarda muitas similaridades com as pesquisadas
pelos professores Sylvio de Vasconcelos e Ivo Porto Menezes
abordando a arquitetura rural em Minas. As semelhanças se
notam desde o telhado de prolongo, cobrindo a varanda, até a
antiga entrada por escada de pedras paralela à fachada, comum
às casas mineiras mais antigas e também às portuguesas. Mas a
principal diferença entre a Bananal e as demais fazendas está na
maneira como é utilizada a estrutura de madeira: os barrotes são
apoiados sobre baldrames, deixando seus topos aparentes na
fachada e o esteio desce até o co, diferentemente das outras
casas, onde o apuro da cnica levou à adoção de uma estrutura
Figura 7.109 - Vista geral. Foto: CFC
Figura 7.110 - Fachada frontal. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
173
Figura 7.111 - Vista do
conjunto. Foto: CFC
Figura 7.112 - Fachada
lateral. Foto: CFC
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Pomar
4. Construções
Complementares
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
1
2
3
4
Fazendas do Sul de Minas Gerais
174
isostática em que o pé direito (antigo esteio) vai apenas do
frechal ao baldrame, e os barrotes são samblados aos baldrames
protegendo seus topos. Sua planta também se enquadra na
descrição dos professores: os modos distribuem-se em torno
da sala central, às vezes duplicada uma de frente, outra de ts
com corredores de permeio facilitando o trânsito aunomo
entre determinadas peças” (Vasconcelos 1957). Descrição esta,
aliás, que, genericamente, abarca todas as fazendas que têm
corredor. A leitura que fazemos dessa casa é que, em função
da grande escada de pedras e do telhado de prolongo, a
parte coberta por esse telhado deveria ser a antiga varanda.
A evidência no plano da teoria é a semelhança com o tipo
descrito pelos professores. Outras evidências, agora no plano do
levantamento, são as janelas dessa fachada, que possuem verga
reta, enquanto que as demais janelas são de vergas arqueadas e
o atual alpendre de entrada o é de pedras, como de costume
no século XVIII. O corpo de serviços possui telhado mais baixo
que chega ao corpo principal de maneira pouco ortodoxa,
levando-nos a interpretar que seja um puxado” posterior. Do
ponto de vista da implantação, destacam-se os vários muros de
pedra de mão ao redor da casa e sua situação no ponto baixo
da paisagem, junto ao curso d’água. O moinho fica pegado ao
corpo de serviços da casa, que conserva um grande forno no seu
interior.
Figura 7.113 - Caritó. Foto: CFC
Figura 7.114 - Fachada lateral, reparar que os esteios vão
até o chão. Foto: CFC
Figura 7.115 - Sala de entrada.Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
175
Fazenda Serra das Bicas – Município de
Carrancas
Data provel: por volta de 1790
Pé direito: 4,65m
Janelas: 1,30 x 2,35 h=1,00m
Portas: 1,30 x 3,35m externas e 1,20 x 2,35m internas
Bastante isolada também, a Serra das Bicas tem mais ligação
com Lavras do que com Carrancas, provavelmente por estar do
outro lado da serra. Há trechos de solo totalmente arenosos para
se chegar a ela. Na chegada, ao longe se a grande casa
entre duas grandes árvores e muros de pedra dividindo pastos.
Ao lado da sede, um grande telhado esconde o engenho de
cana, tipo de constrão que aqui começa a surgir, ao contrário
do que acontece na região anterior. A casa apresenta a planta
em L, coberta por telhado original de telha de bica. As duas
fachadas frontais, de pau a pique, foram substituídas por tijolos,
o que fez com que suas janelas ficassem ligeiramente “metidas”
na alvenaria. Essas janelas são de verga reta, claramente em
substituão às antigas janelas de verga canga de boi que podem
ser observadas nas demais fachadas da casa, ainda de pau a
Figura 7.116 - Entrada da fazenda. Foto: CFC
Figura 7.117 - Fachada lateral onde a parede é ainda de
pau-a-pique. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
176
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Engenho
4. Construções
Complementares
5. Pomar
6. Curso D’água
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
1
2
3
4
6
4
4
4
4
5
Capítulo 7 - Levantamentos
177
pique. Esse procedimento de substituão apenas de uma ou
duas fachadas antigas por paredes de alvenaria o é incomum;
isso aconteceu também na Fazenda dos Tachos. A nova parede,
em geral, vem acompanhada de novos ornamentos: pestanas
sobre as janelas, cimalhas e pilastras nos cunhais, todos feitos de
argamassa. Em planta, essa fazenda guarda certas semelhanças
com a Fazenda Pitangueiras, principalmente pela proporção
entre seus dois corpos principais e pela posão da sala íntima
no agenciamento de sua planta. A posição dessa sala é diferente
nas plantas que se seguio no século XIX , quando aparecem
em oposição à sala nobre, no menor sentido do retângulo.
Nesse caso, as salas se opõem no maior sentido do retângulo e a
sala íntima se abre para fora e não para o semi-pátio formado na
junção dos retângulos. A entrada se dá pelo topo do retângulo,
gerando a necessidade de uma circulação longa entre as salas,
como ocorre na Fazenda Campo Lindo. Acreditamos, pom,
que nessa casa a planta foi menos alterada, o que nos dá
maior segurança para fazer interpretações. A vastidão de sua
implantação e a grandeza dos edicios nos dão a dimensão da
escala da fazenda. Além do grande engenho, seu núcleo conta
com o paiol de madeira e outros edicios auxiliares.
Figura 7.118 - Engenho e casa ao fundo. Foto: CFC
Figura 7.119 - Sala nobre a sala de entrada. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
178
Fazenda Monjolo Município de
Lumirias
Data provel: início do século XIX
Pé direito: 3,85m
Janelas: pequenas 1,10 x 1,23 grandes: 1,10 x 200 h=0,90m
Portas: de 1,15 a 1,40 x 2,83m
Peças dos umbrais: 15 x 15cm
Mais uma vez, a exceção sobrepõe à regra. Essa fazenda possui
telhado de prolongo e uma volumetria esparsa, derramada
por efeito desse telhado. Não lembra a altivez das casas mais
clássicas que vamos encontrar ao longo século XIX. O corpo de
serviços possui os frechais e o pé direito mais baixo do que o
corpo principal devido ao prolongamento do telhado principal.
Neste corpo, as vergas arqueadas das janelas quase tocam os
frechais. O setor de serviços desta casa, diferentemente de todas
as outras, não possui saída para o exterior, característica notada
por Lemos (1999) na casa mineira, devido ao fato de que, no
princípio, em Minas, os escravos estavam todos ocupados em
minerar e os serviços domésticos eram feitos por membros
da família, apenas eventualmente por algum negro. A planta,
entretanto, já esboça soluções que vio a se consolidar como
as salas se opondo em lados maiores do retângulo e a sala
íntima articulando os setores, voltada para o semi-pátio interno
e não para fora, como na Serra das Bicas ou Pitangueiras.
Podemos notar uma escada interna na sala íntima, o que o
existe em casas mineiras. Essa escada interna aparece em alguns
casos no Vale do Paraíba onde a casa, com implantação semi-
assobradada, cria a necessidade de acesso interno.O mesmo
ocorreu na Fazenda Pinhal em São Carlos-SP.
Figura 7.120 - Vista do conjunto. Foto: CFC
Figura 7.121 - Fachada da frente. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
179
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Chiqueiro
3. Senzala
4. Construções
Complementares
5. Piscina
6. Terreiro
7. Pátio Fronteiro
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO FUNDOS
esc. 1:500
1
2
3
4
4
4
6
6
6
6
4
5
Fazendas do Sul de Minas Gerais
180
Na casa mineira o ligação entre poo e pavimento
nobre; nesse caso, porém, a escada esta ali, por ter sido
transferida para o interior da residência, medida de seguraa
após uma revolta de escravos, segundo informou o proprietário
da fazenda. O porão desta casa apresenta-se bastante alteado,
com vedos e janelas à maneira do andar nobre, guardando,
todavia, seu uso original. Na implantação, destacam-se, ao lado
da casa principal em um corpo único e comprido, os edifícios da
senzala e um outro,junto à entrada, construído em alvenaria de
pedras, com piso inclinado para a criação de porcos.
Figura 7.122 - Cozinha. Foto: CFC
Figura 7.123 - Casa e senzala. Foto: CFC
Figura 7.124 - Interna sala da família. Foto: CFC
Figura 7.125 - Vista pátio posterior. Foto: CFC
Figura 7.126 - Escada interna. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
181
Fazenda Leme – Município de
Carrancas
Data provel: fim do século XVIII
Pé direito: 3,60m
Janelas: 1,45 x 0,90 h=0,90m
Portas: 0,90 x 2,30m
Peças dos umbrais: 14 x 17cm
Assim como ocorre nas fazendas Serra das Bicas, Angahy,
Pitangueiras, Santa Clara e tantas outras, a Fazenda Leme
apresenta um rio homônimo. Sua casa e suas instalões
são bastante simples, com janelas de verga reta e menores
que a maioria. Suas janelas aparecem em menor quantidade
nas fachadas, sendo que, na fachada principal, a relação de
cheios sobre os vazios é um pouco mais que 1:1, nas demais,
essa relão aumenta; os cheios dominam sobre os vazios.
A volumetria é composta pelos dois retângulos tradicionais,
o principal e o de serviços, porém sua disposão não é tão
tradicional: são retângulos postos longitudinalmente um ao
outro e alinhados por uma das faces. Embora não muito comum,
isso ocorre também em outras fazendas como na São José da
Vargem, na Anta e na Bananal, sendo que, nesta última, os
corpos não são alinhados. Em planta, a disposição dos cômodos
Figura 7.127 - Menina da fazenda. Foto: CFC
Figura 7.128 - Vista dos fundos. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
182
Figura 7.129 - Fachada principal. Foto: CFC
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Curral
4. Curso d’água
1
2
3
4
Capítulo 7 - Levantamentos
183
segue a do retângulo alongado, de proporção maior que 2:1,
pom com continuidade dos serviços em outro corpo. Em uma
das pontas, ficam os cômodos de receber; em outra, os da
falia e a sala íntima fazendo a ligação com os serviços, sala
esta que se abre para o que seria o semitio . Anexo ao corpo
de serviços um segundo telhado, mais baixo, sob o beiral do
telhado principal. Ali se localiza a cozinha de fora com fogão
stico e forno de barro; seu volume é fechado por madeiras
qual um paiol.
Fazenda Engenho Município de
Carrancas
Com mais de 230 anos, nessa propriedade funciona hoje um
hotel. São dois corpos perpendiculares cobertos por telhado de
telhas capa e canal, de cumeeiras quase de mesma altura, dupla
inclinação e beirais com cachorrada e guarda- pó. Foi visitada
na época do levantamento, pom as alterações que sofreu
internamente impediram que fosse feito um levantamento mais
proveitoso de sua planta.
Figura 7.130 - Sala da família. Foto: CFC
Figura 7.131 - Vista geral. Foto: CFC
Figura 7.132 - Oratório. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
184
Grupo de Varginha, correspondente à
antiga Freguesia de Campanha e parte
da antiga Freguesia de Lavras
À margem direita dos rios Verde e Sapuc, essa área pertencia
à Freguesia de Lavras, à margem esquerda dos rios do Peixe e
Verde, e à Freguesia de Campanha, estendendo-se ao sul até a
Freguesia de Itajubá, cujos limites o ficam bem claros no mapa
IV.17. Cotejando as informações do mapa antigo com o do IBGE
de 1974, acreditamos que o limite sul da freguesia se dava logo
após a junção dos rios Sapuc e Sapucaí Mirim; não sabemos ao
certo se nas serras de Santa Rita, da Manuela e da Pedra Branca
ou na Serra de Santa Catarina ou ainda na Serra das Águas,
pertencente ao Complexo Varginha. De qualquer maneira, a
atual cidade de Santa Rita do Sapuc ficaria na Freguesia de
Itajubá. O limite oeste desta região, por sua vez, é bastante claro
e definido, é o Rio Sapucaí, que corta o Sul de Minas de sul a
norte e separa regiões bastante distintas, tanto que, em mapa
de 1799, a margem esquerda do Sapucaí pertencia ao Bispado
de São Paulo. Dentre as fazendas deste grupo, vamos encontrar
a maior parte delas entre os municípios de Varginha, Carmo
da Cachoeira e Ts Pontas. Mesmo no município de Varginha,
a maioria se situa à margem direita do rio Verde, ou seja, na
antiga Freguesia de Lavras. É de se estranhar que Campanha,
a cidade considerada “berço do Sul de Minas”, elevada a
vila em 1798, o possua em sua antiga freguesia muitas
fazendas antigas. As fazendas à margem esquerda do Rio Verde
pertenciam a Campanha, tanto é que os registros de nascimento
eram feitos nessa localidade. Das fazendas à margem direita
podemos destacar o subgrupo situado no trngulo formado por
Varginha, Três Corações e Carmo da Cachoeira que possuem
fazendas com características muito semelhantes e estão bastante
ativas a hoje. Há também as esparsas por Ts Pontas e Três
Corões.
Além das fazendas apresentadas a seguir, foram
visitadas as fazendas: do Lobo, em Labari; Capetinga, Pinheiros,
da Estação e Fazendo, em Carmo da Cachoeira; da Bomba em
Varginha; Bela Vista, Cuíca e Sete Cachoeiras em Três Pontas;
da Várzea e Porto dos Buenos em Eloi Mendes; do Rapa e de Ivã
Correia em Três Corações, pom o entraram no levantamento
por um dos motivos apresentados na introdução deste capítulo.
Figura 7.133 - Microregião de Varginha. Disponível
em: <http://pt.wikipedia.org/microrregioesdeminas>.
Acesso em 20 março 2008.
Capítulo 7 - Levantamentos
185
Fazenda Barra do Palmela Município
de Varginha
Data provel: 1ª metade do século XIX
Pé direito: 3,30m
Janelas: 1,60 x 0,95 h=0,90m
Portas: 0,95 x 2,30m
Espessura das paredes:17cm
Saindo da região de Carrancas em direção ao oeste, vamos
encontrar outra paisagem, topografia e vegetação. Na margem
esquerda do Rio Verde, junto à foz do Rio Palmela, fica a
Fazenda Barra do Palmela.
A família que fundou essa fazenda o foi formada
por gente de Portugal como a maioria das outras da região.
Simão Bueno da Silva, filho de Bartolomeu Bueno da Silva,
provavelmente “o novo”, pois o velho Bartolomeu Bueno da
Silva, o Anhanguera, não teria idade para ser seu pai, nasceu
em Campanha, em sete de agosto de 1769. Quando se diz
Campanha, não tratamos necessariamente da vila, mas sim de
qualquer parte de seu termo. Simão estabeleceu-se com sua
falia nas imediações da hoje chamada Ponte dos Buenos, no
Rio Verde, entre Varginha e Eloi Mendes. Seu primeiro filho,
Manuel (Rodrigues) Procópio Bueno, nasceu em 1826 e “herdou
parte de sesmaria no Porto dos Buenos”. Não se sabe com
certeza se o nascimento de Manuel teria ocorrido na Fazenda
Barra do Palmela. Seu filho, Joaquim Procópio Bueno, nasceu em
1853 nesse local; temos a certeza, portanto, de que a casa seja
pelo menos de 1853.
10
Sabemos que a tulha que ainda existe na fazenda
é mais antiga do que a casa e que servia para guardar as
tralhas dos tropeiros. As dimensões da casa são diminutas
em relação à média e sua arquitetura aparentemente não
corresponde ao tipo comum dessa época, quando maiores
dimensões eram observadas. A planta é bastante simples;
suas dimensões, diminutas, sabemos, entretanto, que sofreu
muitas modificações. Segundo os proprietários, a casa teria
passado por mais de dez reformas. Hoje é um “Lformado por
retângulos perpendiculares, mas sabemos que, no icio do
século XX, em 1906, devido a uma enchente do Rio Verde, a
casa perdeu a segunda perna que a tornaria em forma de “U.
Sabemos também que seu corpo principal era mais longo e a
Figura 7.134 - Terreiro com casa ao fundo. Foto: CFC
Figura 7.135 - Moinho de milho. Foto: CFC
Figura 7.136 - Imagem de satélite. Fonte: Google Earth
10
Informações obtidas entrevista com D. Alaíde,
proprietária da fazenda que coletou esses dados em
pesquisa feita no Museu Paulista, 1999
Fazendas do Sul de Minas Gerais
186
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Rancho
4. Terreiro
5. Piscina
6. Moinho
7. Ruínas do Engenho
8. Jabuticabal
9. Rio Verde
10. Curso d’água
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
CORTE LONGITUDINAL NO TERRENO
esc. 1:1000
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
10
Capítulo 7 - Levantamentos
187
“sala de jantarficava em sua poão leste, mais perto do rio.
Se compararmos essa planta com oL clássico dessa região,
sentiremos a falta das alcovas centrais, o que nos levaria à
comparação, por similaridade, deste exemplar com as fazendas
Coqueiro e Serrote, modelos típicos do fim do XIX, quando o
programa sofre simplificões e as alcovas centrais desaparecem.
Se mantivermos a convião de que esta casa seria mesmo do
início do XIX, podemos sugerir o enquadramento desse exemplar
ao tipo dos simples retângulos de propoões alongadas, no
qual a sucessão de cômodos longitudinalmente ia alternando
em lados opostos salas e quartos, sem alcovas centrais. Este
racionio é bastante razvel, pois nem todas as fazendas do
XIX são um L cssico; essa casa poderia muito bem ter sigo
erguida no icio do XIX. Segundo a proprietária, uma senhora
de 88 anos de idade, nos tempos de seu avô (Joaquim Propio
Bueno), a fazenda só dependia do corcio para o provimento
de sal e querosene. Sua implantação se dá em torno de um
terreiro bastante quadrado, em cujo redor estão dispostos
tulha, paiol, curral e, descendo em direção ao rio, um grande
jabuticabal. Esse terreiro o era de café, mas sim um quadrado
em torno do qual se distribuíam as edificações. O moinho de
milho, constrdo na época do bisa da proprietária (Manuel
Rodrigues Bueno), ainda funciona e, ao lado, estão as ruínas
de um antigo engenho d’água. Do lado direito do terreiro fica
a antiga edificação a que chamam hoje de “tulha”, mas em sua
função original era um rancho, usado para guardar as tralhas
dos tropeiros e, eventualmente, abri-los. A fazenda não
possuía senzala. A implantação nas proximidades de grandes
rios o é tão comum, sendo preferida junto a pequenos cursos
d’água, todavia foram encontradas mais três fazendas nesta
situação: a Monte Alegre de Cordislândia, junto ao Rio Sapucaí,
a Porto do Antimônio, junto ao Rio Aiuruoca, e a Fazenda da
Barra, junto ao Rio Lourenço Velho. As fazendas localizadas
junto a rios maiores, geralmente estavam mais ligadas ao
comércio e, muitas vezes, possuíam pequenos portos. Ainda
hoje existem mais duas propriedades da mesma família Bueno
na margem do Rio Verde, as fazendas da rzea e dos Buenos.
O nome rzea não é a variante usual em Minas, onde se diz
vargem. A forma, várzea é paulista, o que pode nos remeter à
origem paulista desta falia. Segundo Saint Hilaire, a forma
paulista de falar era mais próxima do português de Portugal.
Figura 7.137 - Vista dos fundos. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
188
Fazenda Santana – Município de Eloi
Mendes
Data provel: meados do século XIX
Pé direito: 4,00m
Janelas: 1,00 x 2,00 h=1,00m
Portas: 1,00 x 3,00m
Sua localização hoje em dia é um pouco perturbada pela
presença da represa de Furnas, mas quando foi constrda
ficava às margens do Rio Verde. Não conseguimos apurar a data
exata da construção dessa casa por meio de entrevista com os
proprietários, mas sabemos que foi reformada em três datas:
1899, 1919 e 1945. As principais alterações foram a fachada ,
a criação de uma varanda na frente e a diminuição do corpo de
serviços. A fachada da frente teve suas paredes substituídas por
alvenaria aparente e ganhou enfeites na argamassa, contudo
as janelas originais permaneceram. Uma varanda entalada foi
criada no meio do volume, guarnecida por dois arcos laterais e
um pequeno arco central. As vedações externas da casa foram,
de maneira geral, substituídas por tijolos, pom mantendo-se Figura 7.138 - Vista frontal com jardim. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
189
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Terreiro
4. Curral
5. Construções Complementares
6. Pomar
7. Represa de Furnas
12
3
4
5
5
5
5
6
7
Fazendas do Sul de Minas Gerais
190
Figura 7.139 - Imagem de satélite. Fonte: Google Earth
Figura 7.140 - Curral e casa ao fundo. Foto: CFC
Figura 7.141 - Terreiro e fachada lateral. Foto: CFC
Figura 7.142 - Vista da represa de furnas a partir do
alpendre de entrada. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
191
a estrutura de madeira, seus frechais e cachorros. As janelas
mostram certa sofisticação ao apresentarem, em todas as
fachadas, caixilhos com divisões em losangos e pestanas de
madeira. Em planta, temos um L de cumeeiras perpendiculares;
a entrada se faz por uma sala nobre na esquina da casa, para
onde se abrem um quarto e uma alcova. Por um corredor
chega-se à sala da família ,em forma de L, meio que uma junção
entre a posição clássica da sala íntima com o corredor largo do
corpo de serviços. Isso ocorre também nas fazendas da Barra e
Balaio. A varanda entalada provavelmente substituiu a antiga
sala de entrada, por isso hoje em dia se entra diretamente na
sala nobre. As alcovas centrais ainda se manm e os quartos,
na periferia do retângulo, dão a volta em torno das alcovas
e, de porta em porta, vão ligando novamente os diferentes
setores. A antiga cozinha foi demolida e restam hoje as bases de
pedra. Quanto à implantação, em frente à casa fica um jardim
geométrico, afrancesado; de um lado, os terreiros e do outro,
um grande pedrado onde se vê o curral pegado à fachada. Ao
fundo há um pomar que emenda numa pequena mata até a
represa.
Figura 7.143 - Sala de entrada. Foto: CFC
Figura 7.144 - Sala da família. Foto: CFC
Figura 7.145 - Detalhe de pia no quarto. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
192
Fazenda da Anta Município de
Varginha
Data provel: século XVIII
Pé direito: 4,00m
Janelas: 1,03 x 2,18 h=0,85m
Portas: 1,03 x 3,03m
Peças dos umbrais: 17x22cm
Acreditamos que a fazenda da Anta seja das mais antigas
do município. Em 1997, fizemos o levantamento; em 1999,
retornamos e seu estado havia piorado, logo após a casa ruiu.
Sua construção ficava praticamente isolada na fazenda, não
havia nenhum tipo de estrutura em volta. A vegetação, mais
densa ao lado da cozinha, anunciava a presença de um pomar e
um pequeno rego d’água passava em frente à casa. Sua planta
formava um L de cumeeiras paralelas. Havia duas entradas pelo
mesmo lado e mais uma, na junção do L, feita por uma escada
de pedras bem talhadas. Uma das entradas dava diretamente
na sala de receber; a ela ligavam-se dois quartos e uma
capela. Supomos que este cômodo fosse uma capela porque
apresentava janela interna. A outra porta levava a um pequeno
modo e daí para a sala íntima, que, por sua vez, ligava-se a
uma outra sala com acesso para o setor de serviços na perna do
L. Já naquele momento, estava totalmente em ruínas e não foi
possível desenhá-la.
Destacam-se nessa fazenda as bases de pedra da casa
que são muito bem trabalhadas. O poo alto era usado como
abrigo do gado. O estado de rna dessa casa permitiu-nos
observar as sambladuras da estrutura de madeira.
Figura 7.146 - Vista geral.Foto: CFC
Figura 7.147 - Fachada lateral. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
193
Figura 7.148 - Cunha de pedras. Foto: CFC
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Lavador
3. Curso D’água
4. Pomar
2
1
3
3
4
Fazendas do Sul de Minas Gerais
194
Figura 7.149 - Fachada frontal. Foto: CFC
Figura 7.150 - Fachada lateral / frontal. Foto: CFC
Figura 7.151 - Mesma vista anos mais tarde. Foto: CFC
Figura 7.152 - Porão. Foto: CFC
Figura 7.153 - Antiga enrmida. Foto: CFC
Figura 7.154 - Sala de entrada. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
195
Fazenda Mascatinho – Município de
Varginha
Data provel: meados do século XIX
Infelizmente, a casa sede desta fazenda foi extremamente
descaracterizada devido a reformas e ampliões. Neste
levantamento mostramos seu estado atual e uma segunda planta,
que reconstitui a original, segundo relatos e levantamentos.
Em primeiro lugar, a volumetria foi signifi cativamente alterada
quando o telhado original foi substituído por telhado de duas
águas sobre os corpos principais e a casa ganhou uma imensa
varanda. Como foi constatado neste trabalho, não há telhado
com duas águas nessas fazendas; isso acarreta o aparecimento
de oitões nas fachadas, o que não é uma característica dessa
arquitetura. Além disso, a varanda corrida, tomando toda a
extensão de duas fachadas também não ocorre, é uma invenção
posterior. Internamente, a planta original parecia ser bastante
simples, de pequenas dimensões, sem a ocorrência de alcovas
centrais. A casa foi signi cativamente ampliada para o lado leste.
A original, pelo que podemos constatar e comparar com outras
fazendas levantadas, era bastante simples, modesta, o que o
condiz com a situação atual da fazenda que impressiona pela
grandiosidade de sua estrutura, com muitos terreiros de café,
maquinários, colônia, currais, estábulo e diversas construções
complementares. Provavelmente, quando foi construída, a casa
condizia com as dimensões da fazenda. Ocorre aqui o inverso
do que ocorreu na rego das antigas freguesias de Lavras,
Baependi, Juruoca e São João del-Rei , onde antigas casas
Figura 7.155 - Imagem de satélite. Fonte: Google Earth
Figura 7.156 - Vista dos fundos. Foto: CFC
Figura 7.157 - Vista da frente. Foto: CFC
Página ao lado - Figura 7.158 - Antigo secador de ca.
Foto: CFC
PLANTA DA CASA ATUAL
ESC. 1:500
RECONSTITUIÇÃO DA PLANTA DA CASA ANTIGA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
Fazendas do Sul de Minas Gerais
196
grandiosas estão em fazendas atualmente com pouca estrutura.
Essa inversão corrobora a tese do deslocamento do eixo
ecomico de leste para oeste.
No conjunto da fazenda cabe destacar o antigo secador
de ca, feito de madeira, totalmente ventilado. Sabemos por
outros levantamentos e relatos que esse tipo de secador foi
muito utilizado no fim do XIX e icio do XX, porém foi o único
exemplar que encontramos em nossa pesquisa.
Fazenda da Serra Município de Carmo
da Cachoeira
Data provel: década de 1850 / 1860
Pé direito: 4,40m
Janelas: 1,20 x 2,22m
Portas: 1,15 x 3,22m (internas) e 1,35 x 3,22m (externas)
Peças dos umbrais: 17 x 22cm
A Fazenda da Serra foi construída em meados do século XIX
por um mestre português chamado Branquinho, segundo nos
informou Marcio Paiva Reis Teixeira, um profundo conhecedor
das fazendas da região de Varginha. Branquinho teria constrdo
também as fazendas Pouso Alegre e Saquarema. Essas fazendas
guardam certas similaridades entre elas, especialmente no que
diz respeito à implantação, mas é com a Fazenda do Mato, em
Ts Pontas, cujo construtor desconhecemos, que a Fazenda da
Serra mais se parece. Suas plantas são quase idênticas, é um
caso de fazendas gêmeas. Elas teriam pertencido a dois irmãos,
Figura 7.159- Fachada frontal. Foto: CFC
Figura 7.160 - Detalhe da fachada. Foto: CFC
Figura 7.161 - Fachada lateral e paiol. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
197
Figura 7.162- Imagem de satélite. Fonte: Google Earth
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Terreiros
4. Construções
Complementares
5. Curso d’água
1
3
4
4
5
2
Fazendas do Sul de Minas Gerais
198
por isso tamanha semelhança. A fazenda é hoje uma grande
produtora de café, mas é possível notar pela disposão dos
terreiros que estes não são contemporâneos à casa, pois estão
afastados dela, em posição pouco estragica. Como vimos no
catulo ts, todo o funcionamento da fazenda deveria ficar ao
alcance da vista, o que não acontece com esses terreiros. Um
terreiro de café tem que necessariamente ser ensolarado, em um
pátio de agenciamento dos edicios onde geralmente se prendia
o gado, pico da antiga fazenda mineira, heraa da eira
portuguesa, a necessidade de boa insolão não é primordial.
Portanto, quando essas fazendas passaram a ser adaptadas para
a produção de café, os terreiros poderiam ou não calhar com a
posição da antiga eira.
A planta dessa casa é o que chamamos de o “L cssico
do XIX”, cumeeiras perpendiculares, corpo principal retangular
de propoões próximas a 3 x 4, entrada pelo lado maior do
retângulo, sala de entrada fazendo a ligação com sala nobre,
com a capela e com o setor íntimo. A sala da família é a
maior peça da casa, localizada no encontro dos dois corpos,
juntamente com a saída para o exterior e para os cômodos
orbitais ao seu redor, pela periferia do retângulo. A saída para
o setor de serviços também era feita por esta sala. A circulação
interna periférica ocorre por dentro dos quartos. O setor de
serviços apresenta vários modos e cozinha na ponta. Acontece
que esta casa teve sua planta ligeiramente modificada, mas se a
compararmos com a planta da Fazenda do Mato, veremos que
aquela, por ter se mantido original, revela-nos as modificações
feitas nesta.
Sua implantão foi feita em declive, deixando o porão
alto em toda sua extensão, suas paredes externas são arrimos
feitos de pedra e as internas são de pau-a-pique; há alguns
pilares” de madeira para fazer um grande sao e grande
parte do poo possui piso de tábuas corridas. O corpo da
cozinha sofreu um corte abrupto, notado pelo arremate do
telhado em duas águas. Suas fachadas se mostram bastante
sofisticadas, com cimalhas sob os beirais do corpo principal
e caixilhos com pinásios enviesados na fachada principal,
apenas descaracterizada pelo terraço suspenso, constrdo
posteriormente. No conjunto da fazenda cabe destacar uma casa
de colono com uma típica varanda entalada.
Figura 7.163 - Fachada lateral. Foto: CFC
Figura 7.164 - Ermida. Foto: CFC
Figura 7.165- Casa de colono, varanda entalada.
Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
199
Fazenda Saquarema – Município de
Carmo da Cachoeira
Data provel: meados do século XIX
Pé direito: 4,00m
Janelas: 1,00 x 2,00 h=1,00m
Portas: 1,05 x 3,00m
Peças dos umbrais: 17x22cm
Todas essas fazendas que acabamos de descrever situam-se
em uma mesma região, um triângulo formado entre Varginha,
Carmo da Cachoeira e Três Corações. A primeira casa da fazenda
Saquarema foi constrda em 1827. Não sabemos a data exata
da casa atual, mas não dista muito de 1850. Foi constrda pelo
mestre português Branquinho. Sua planta é o L cssico, possui
seis alcovas centrais, sala de entrada e sala nobre, um quarto
ligado à sala de entrada e dois ligados à sala nobre, ligação com
a sala da falia por um corredor (o por sio visual), sala da
falia sendo a maior peça da casa e quartos a sua órbita. Possui
setor de serviços bastante enxuto, unido à sala da família e sem
ligação com o exterior. Um pequeno telhado cobre a entrada
da frente e outro, a dos fundos. Sua implantão também é
bastante clássica, jardim à frente, pomar ao lado dos quartos
e cozinha e terreiros à volta. Possui tulha velha de pau-a-pique
e tulha nova para café do icio do século XX. Sua fachada da
frente foi substitda por tijolos a ganhou pestanas, cunhais e
barrado de argamassa.
Figura 7.166- Vista do conjunto. Foto: CFC
Figura 7.167- Vista dos fundos. Foto: CFC
Figura 7.168- Imagem de satélite. Fonte: Google Earth
Figura 7.169 - Fachada lateral, parede já substituída por
tijolos. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
200
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Antiga Tulha
3. Garagem
4. Jardim Fronteiro
5. Pomar
6. Retiro
7. Construções Complementares
1
2
3
4
5
6
7
Capítulo 7 - Levantamentos
201
Figura 7.170 - Sala de
entrada. Foto: CFC
Figura 7.171 - Antiga tulha
e secador.Foto: CFC
Figura 7.172 - Vista frontal
da casa. Foto: CFC
Figura 7.173 - Sala da
família. Foto: CFC
Figura 7.174 - Antiga tulha
vista dos fundos. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
202
Fazenda Pouso Alegre Município de
Varginha
Data provel: década de 1850
Pé direito: 4, 20m
Janelas: 1,03 x 2,00 h=1,00m
Portas: 1,10 x 3,00m
Peças dos umbrais: 17x22cm
Baldrames e madres: 45 x 40cm
Esta casa pode ser enquadrada no tipo de casa em L com
cumeeiras paralelas, embora isso possa ser difícil de notar,
devido a reformas. Na junção dos corpos, as paredes o até o
telhado inclinado como se a casa tivesse sido cortada. Quando
fizemos o levantamento nos anos 90, o telhado ainda era assim,
estranho, como se pode observar na planta de cobertura, mas a
imagem de salite revela que a casa passou por outra reforma
que a deixou com telhados corretos. O corpo principal, retângulo
maior, possui entrada pelo topo, ou seja, pelo lado menor do
retângulo, o que dificulta a ligação com o setor de serviços; o
mesmo ocorre na Fazenda Serra das Bicas. Desse modo, o setor
social tem a entrada por uma sala relativamente grande. Não é
apenas um hall de distribuição; desta sala tem-se acesso a um
pequeno quarto na esquina da casa, à capela e à sala nobre
que, por sua vez, tem mais dois quartos. A ligação com o setor
íntimo se dá por dentro de alcovas ou cômodos de ligação. A
Figura 7.175 - Fachada frontal e lateral. Foto: CFC
Figura 7.176 - Vista do conjutno a partir do terreiro.
Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
203
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Jardim Lateral
3. Pomar
4. Curso d’água
5. Terreiros
6. Pelourinho
7. Construções Complementares
1
2
3
4
5
6
7
7
7
Fazendas do Sul de Minas Gerais
204
grande sala da família, além de dar acesso aos quartos, à sua
órbita, e ao setor de serviços, também tem franco acesso ao
exterior. As janelas desse aposento que dão para a fachada
lateral tiveram suas vergas retas substituídas por vergas de arco
pleno e a parede de pau-a-pique foi substituída por tijolos.
Essa lateral abre-se para um jardim geométrico afrancesado,
provavelmente feito na mesma época das outras alterações. O
setor de serviços é bastante reduzido, o que refoa a idéia de
que parte da casa tenha sido desmanchada. O poo é usado
como depósito e quartinho de arreios. A implantação se dá em
declive, muito parecida com as fazendas da Serra e do Mato,
inclusive pela orientação e disposição dos elementos a sua volta.
O conjunto possui terreiros, baia, paiol, currais, colônia, inclusive
outros núcleos separados para beneficiamento de ca e que
o aparecem no desenho de implantação. Quando visitamos
a fazenda, havia ats da casa um pau cravado no chão que,
segundo contam, foi o tronco de escravos. Pela imagem de
salite, nesse local hoje existe uma piscina.
Figura 7.177 - Imagem de satélite. Fonte: Google Earth
Figura 7.178 - Sala nobre a sala de entrada ao fundo.
Mais ao fundo: porta da ermida. Foto: CFC
Figura 7.179 - Sala nobre. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
205
Fazenda Figueira Município de
Varginha
Data provel: início do século XIX
Pé direito: 3,65m
Janelas: 1,00 x 1,75 h=0,95m
Portas: 1,00x 2,75m (internas) e 1,37 x 2,75m (externas)
Espessura das paredes: 19cm
Sua planta seria um L clássico não fosse a posição do corpo
de serviços, colocado paralelamente ao corpo principal. O
agenciamento dos modos, contudo, segue a mesma ordem
clássica. A ligação entre a sala da família com o corpo de
serviços, no entanto, torna-se um pouco mais difícil justamente
por causa dessa posição. Hoje em dia a casa é um retângulo
puro; o corpo de servos foi retirado como é posvel notar
tanto pelo telhado que recebeu um corte, ficando arrematado
em duas águas, quanto pela base de pedras da casa, que nos
mostra até aonde ia este setor de serviços. Uma pintura antiga
na parede, de 1918, mostra que havia esse corpo de servos
com mais três janelas para além das que hoje existem. Com
sua retirada, fica difícil dizer qual foi a solução de ligação dada
originalmente. Atualmente esse cômodo de ligação é a cozinha.
A planta do corpo principal é bastante clássica: adentra-se pelo
lado maior do retângulo, pela sala de entrada; à esquerda tem-
se a sala nobre e a capela, esta ainda conta com porta direta
para o exterior e janela interna para outro modo. À direita
m-se dois quartos interligados e à frente duas alcovas, sendo
Figura 7.180 - Fachada frontal. Foto: CFC
Figura 7.181 - Fachada dos fundos. Foto: CFC
Figura 7.182 - Antiga pintura a partir dos fundos
mostrando antiga máquina de café. Fonte: acervo da
fazenda.
Figura 7.183 - Fachada lateral. Foto: CFC
Figura 7.184 - Imagem de satélite. Fonte: Google Earth
Fazendas do Sul de Minas Gerais
206
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Antigo Paiol
4. Ruínas da antiga casa de máquinas
5. Ruínas da antia senzala
6. Construções Complementares
7. Piscina
8. Terreiros
1
7
8
3
4
5
6
6
6
2
Capítulo 7 - Levantamentos
207
que uma é a passagem para a sala íntima. Desta, tem-se acesso
à cozinha e aos demais modos que se interligam, chegando
novamente ao setor social. Desta sala tem-se também acesso a
uma imponente escada externa, originalmente perpendicular à
fachada (pelo desenho de 1918) e atualmente paralela, dividida
em dois lados, conferindo à fachada posterior da casa uma
importância de fachada principal. Nela, as janelas possuem
pestanas de madeira e caixilhos com pisios trabalhados, a
porta de entrada é de folhas de calha e a porta da capela possui
folhas almofadadas. Nas demais fachadas, os caixilhos das
janelas são mais simples; o pestanas de madeira, elas são
feitas na parede, provavelmente de alvenaria, assim como os
sóculos dos cunhais. Quanto ao conjunto, hoje temos o terreiro
e demais equipamentos para ca acima da sede, mas há ruínas
de pedra da antiga casa de máquinas, movida a água. Isso
também se comprova pelo desenho de 1918 e pela foto aérea na
parede da casa. As senzalas, segundo relatos orais, ficariam ao
lado dessa casa de quinas e, pelo desenho de 1918, é possível
ver um grande telhado nesse local, pom sua arquitetura mais
se assemelha à arquitetura de um engenho. No poo foram
encontrados instrumentos para aprisionamento de escravos. Tais
objetos foram doados pelos proprietários ao Museu Municipal
de Lavras. Ao lado direito da casa, estão o curral e demais
equipamentos para o gado e, do lado esquerdo, mais próximo
à cozinha, está o pomar onde ficava o antigo paiol de madeira.
Desse lado, hoje piscina e área de lazer.
Figura 7.185 - Sala da família. Foto: CFC
Figura 7.186 - Ermida. Foto: CFC
Figura 7.187 - Porta de entrada. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
208
Fazenda das Posses Município de
Varginha
Casa Nova
Data provel: fim do século XIX
Pé direito: 3,95m
Janelas: 1,00 x 2,00 h=1,00m
Portas: 1,10 x 3,00m
Espessura das paredes: 15cm internas e 40cm externas
Essa fazenda é sempre citada por s como exemplo da
nova arquitetura rural que se implantou a partir do fim do
século XIX e suplantou a anterior. Sua principal caractestica
é a estrutura portante de tijolos, mas há uma série de traços
que acompanham essa mudaa. A implantão se mantém
seguindo os mesmos cririos, mas a planta sofre claras
modificações. Duas salas nos setor social e a sala íntima
são mantidas, mas perdem a característica fundamental de
distribuição para os quartos; o corredor passa a ser o grande
responsável por essa distribuição. A cozinha diminui e começam
Figura 7.188 - Fachada frontal. Foto: CFC
Figura 7.189 - Fachada lateral. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
209
Figura 7.190 - Imagem de satélite. Fonte: Google Earth
Figura 7.191- Casa velha a partir do terreiro. Foto: CFC
Figura 7.192 - Fachada lateral. Foto: CFC
Figura 7.193 - Sala nobre com ermida ao fundo. Foto: CFC
Figura 7.194 - Altar da ermida. Foto: CFC
Figura 7.195 - Crianças da fazenda. Foto: CFC
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Casa Velha
3.Terreiros
4.Tulha/Casa de Máquinas
5. Curso d’água
6. Pomar
7. Construções Complementares
1
2
3 3
3
5
4
6
7
7
3
3
Fazendas do Sul de Minas Gerais
210
Capítulo 7 - Levantamentos
211
a surgir os sanitários junto a ela. Quanto aos materiais também
mudaas; as tábuas do assoalho são mais finas e os barrotes
que as sustentam também. São peças que sugerem o uso mais
racional da madeira porque a maior dimensão do barrote é,
agora, a altura e não mais a largura. Os forros também passam
a usar tábuas mais finas com juntas em macho e fêmea ou meia
madeira e não mais de saia e blusa ou mata-junta. As portas
e janelas são recuadas em relação ao plano das fachadas, isso
devido à espessura da parede, e a marcação é feita por ressalto
na argamassa, diferenciado pela pintura e não mais pelos
esteios. Os caixilhos se manm por fora e os escuros por dentro,
mas, muitas vezes, ganham venezianas para ventilação. As
portas internas têm bandeiras e a madeira já pode ficar aparente
e não mais necessariamente pintada. Nas varandas, surgem as
delgadas colunas de ferro e os lambrequins. Os rodapés mantêm
a forma do período anterior, quando havia sentido construtivo,
mas agora são feitos no ressalto da argamassa como uma
permanência estética.
Quanto ao conjunto arquitetônico, cabe destacar o
edifício de beneficiamento de ca e tulha. Essa construção é
feita de estrutura autônoma de madeira, assim com a casa velha,
mas é aí que se nota muito bem a diferença entre o edifício de
morada (nobre) e o de serviço (utilitário). Todo aquele cuidado
para entalhar a peça do pé-direito para que ela fosse vista
apenas quando umbral da janela, aqui o ; o pé-direito
é totalmente aparente na fachada. Isso é um dado de total
importância para demonstrar o esmero na tradição construtiva
de madeira, pois revela que, quando não há necessidade,
esse trabalho é dispensado. Não é muito comum esse tipo de
construção, ligada ao café, ser feito de estrutura aunoma de
madeira; nessa época é mais comum o tijolo portante. Este
edifício ainda abriga uma antiga máquina de beneficiamento de
café tocada por roda d’água. Os terreiros se situam ao lado das
casas, tanto da velha quanto da nova, e são de tijolos.
Casa Velha
Data provel: década de 1840 ou 1850
Pé direito: 3,50m
Janelas: 1,03 x 1,82 h=0,96m
Portas: 1,03 x 2,80m
Peças dos umbrais: 17x 21cm
Figura 7.196 - Antiga casa de máquinas. Foto: CFC
Figura 7.197 - Marca da máquina de beneficiar café.
Foto: CFC
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
Fazendas do Sul de Minas Gerais
212
Dando continuidade à Fazenda das Posses, a casa velha de
pau-a-pique ainda permanece e, atualmente, é habitada por
empregados da fazenda. Sua estrutura é convencional de
madeira, não possui caixilhos nas janelas e partes de seus vãos
estão preenchidos por tijolos. Sua planta mais lembra as plantas
de retângulos longitudinais de proporções superiores a 2:1,
sem alcovas centrais, porém com o corpo menor reservado para
morada e o para serviços. Existe um pouco de dificuldade para
interpretação dessa planta, pois houve significativas reformas. O
setor social possui hoje duas entradas, uma, diretamente na sala
nobre e outra, por uma sala de distribuição ligada diretamente
a uma outra sala que poderia pertencer a ambos os setores. Da
sala nobre tem-se acesso diretamente a um quarto e, por um
corredor, chega-se a uma saleta de distribuão para mais dois
quartos. Nesse setor, ainda, junto à sala de entrada, uma
ermida que possui ligação direta com o exterior. O setor íntimo
possui duas salas e o de serviços restringe-se apenas a uma
pequena copa e cozinha.
Figura 7.198 - Antiga máquina de beneficiar café. Foto:
CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
213
Fazenda dos Tachos – Município de
Varginha
Casa Nova
Data provel: meados do século XIX, década de 1850
Pé direito: 3,70m
Janelas: 0,94 x 1,80 h=1,00m
Portas: 1,00 x 2,60m
Os Tachos, como é mais conhecida, é uma fazenda importante
na região. Seu conjunto possui muitos edifícios, alguns deles
bastante antigos como a tulha e a casa de colonos, formando
quase um pequeno cleo urbano. A planta da casa é em forma
de U, foge ao padrão comum do L e, ao que tudo indica, o é
um U derivado do L , como uma simples ampliação, à maneira
do que ocorre na Fazenda Cachoeira em Carmo de Minas. A
planta parece ter adotado de saída essa forma. A partir da
sala de entrada tem-se acesso à sala nobre, que possui pintura
ilusionista na parede, à ermida, a duas alcovas e à sala íntima. O
setor íntimo é dividido em duas partes: uma, ligada à sala nobre
por uma saleta e outra, ligada à sala íntima como de costume.
Desta sala, também como de costume, tem-se acesso ao setor
de serviços. A fachada principal teve sua parede de pau-a-pique
substituída por tijolos e com isso ganhou pestanas, cunhais e
molduras das janelas de argamassa. Uma pequena cobertura
protege a porta de entrada. Logo na sala de entrada as vergas
em canga de boi, diferentes de todas as outras da casa,
causam-nos certa estranheza. Seriam todas as vergas da casa
originalmente em canga de boi ou apenas essas, na parte nobre,
Figura 7.199 - Vista do conjunto. Foto: CFC
Figura 7.200 - Fachada frontal e lateral. Foto: CFC
Figura 7.201 - Imagem de satélite. Fonte: Google Earth
Fazendas do Sul de Minas Gerais
214
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Antiga Tulha
4. Construções Complementares
5. Casa Empregados
6. Terreiros
7. Capela
8. Pomar
1
2 3
4
4
8
5
666
7
Capítulo 7 - Levantamentos
215
teriam tido esse cuidado? Na saída da cozinha, uma escada
em semicírculo faz o acesso ao quintal; esse tipo de escada é
próprio da técnica do tijolo, não é tão comum ao tempo das
escadas de pedra. Nos fundos, o quintal e o pomar são definidos
por muros bem delineados. A fazenda, no passado, era local de
passagem e, por isso, tem caractesticas um tanto urbanas. Ao
lado da casa principal há uma capela isolada, mais nova do que
a interna. Os terreiros ficam logo acima da casa e, segundo os
proprietários, a fazenda chegou a produzir oito mil sacas de ca
ao ano, ainda no século XIX.
Casa Velha
Data provel: início do século XIX
Infelizmente, o conseguimos ter acesso à casa velha. Sabemos
que é feita de pau-a-pique e que uma parte dela caiu. No
livro da falia Reis vem descrito: Maria Benedita de Rezende,
filha de Domingos, nascido em 1766, casada com Antonio José
Teixeira, fundadora da Fazenda dos Tachos (página 206). Por isso
acreditamos que a fazenda seja do início do século XIX.
Figura 7.202 - Sala nobre, reparar pintura ilusionista na
parede. Foto: CFC
Figura 7.203 - Sala da família. Foto: CFC
Figura 7.204 - Sala de entrada, reparar relógio entre os
umbrais das portas e as vergas canga-de-boi. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
216
Fazenda Pedra Negra Município de
Varginha / Carmo da Cachoeira
Data provel: 2ª metade do século XIX
Pé direito: 4, 55m
Janelas: 1,20 x 2,44 h=1,10m
Portas: 1,10 x 3,30m internas 1,25 x 3,30m externas
Peças dos umbrais: 17x22cm
A Pedra Negra é um pouco mais nova que a Fazenda Pouso
Alegre, provavelmente da década de 1860 ou 1870. Seu
conjunto arquitenico mais parece uma pequena cidade como
se pode notar pela imagem de satélite e pela foto aérea, pois o
desenho de implantação tem escala limitada e mostra apenas
as construções nas proximidades imediatas da casa. Esta é
construída sobre poo alto em toda sua extensão. Sua planta
seria um L clássico, não fosse a reforma que suprimiu as alcovas
centrais, deixando apenas dois esteios soltos na sala; afora isto,
o agenciamento é do L cssico descrito. A escada principal é
perpendicular à fachada dando acesso a um alpendre corrido,
claramente posterior. Apenas as janelas da fachada principal
possuem caixilhos com pinásios diagonais formando losangos;
Figura 7.205 - Foto aérea. Fonte: acervo da fazenda.
Figura 7.206 - Vista geral do conjunto. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
217
Figura 7.207 - Imagem de satélite. Fonte:
Google Earth
Figura 7.208 - Vista porterior. Foto: CFC
Figura 7.219 - Moínho de milho. Foto: CFC
Figura 7.210 - Fachada lateral. Foto: CFC
Figura 7. 211 - Fachada lateral. Foto: CFC
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Terreiros
4. Construções Complementares
5. Antiga Tulha
6. Piscina
1
2
3
4
4
5
6
Fazendas do Sul de Minas Gerais
218
o mesmo ocorre nas fazendas da Serra e Figueira. O corpo de
serviços é bastante pronunciado gerando um largo corredor de
distribuição aos modos laterais e à cozinha ao fundo. Esse
corredor é usado como copa. No encontro do corpo de servos
com o principal duas portas juntas; uma, dando para a sala
íntima e outra, para a copa. Essa junção de portas ou janelas
em esquina é bastante interessante, pois ambas compartilham o
mesmo umbral que fica “solto” quando as portas estão abertas.
O porão foi reformado e adaptado para área de lazer, com bar
e mesa de sinuca. A implantação sugere que os terreiros de
café sejam originais, pois são contíguos à casa e feitos de tijolos
quadrados , mais ladrilhos do que tijolos propriamente ditos.
No imenso conjunto de construções, cabe destacar o moinho
de milho, feito de estrutura de madeira sobre bases de pedras e
fechado com vedos de pau-a-pique.
Fazenda Cobiça Município de Carmo
da Cachoeira
Data provel: década de 1880
Embora constrda em uma data um tanto tardia, sua
arquitetura o se diferencia em nada do tipo comum do século
XIX. Sua planta é um L clássico com duas peculiaridades: o
corpo de serviços tem largura bastante reduzida e o corpo
principal sofreu uma ampliação no sentido longitudinal ainda
no século XIX, usando as mesmas cnicas. O corpo de serviços,
Figura 7.212 - Fachada frontal a partir do terreiro.
Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
219
Figura 7.213 - Imagem de satélite. Fonte: Google Earth
Figura 7.214 - Fachada frontal. Foto: CFC
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Antiga Tulha de ca
4. Retiro
5. Terreiros
6. Pomar
7. Bica d’água
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
1
2
3
4
5
6 7
Fazendas do Sul de Minas Gerais
220
além de ser bastante estreito, foi parcialmente desmanchado no
sentido longitudinal, notadamente pela porta e janela novas em
sua fachada posterior. Internamente, a planta também sofreu
alterações. Transpondo a escada frontal, na sala de entrada
tem-se em frente a capela e, ao lado, a sala nobre. Por um
modo de ligação chega-se à grande sala da falia e dela, aos
demais cômodos da casa. A parte ampliada na antiga reforma
tem ligão exclusiva com o setor íntimo. Essa amplião pode
ser notada desde a fachada principal, onde o antigo cunhal fica
aparente, diferentemente das outras peças verticais. O quintal
é servido por uma bica d’água junto à porta da cozinha. Logo
acima da casa ficam os terreiros de café e, mais à frente, a
antiga tulha de alvenaria de tijolos, construída em 1928. Nos
fundos da casa existe uma pequena mata e pomar.
Fazenda do Mato – Município de Três
Pontas
Data provel: meados do século XIX
Pé direito: 4,65m
Janelas: 1,30 x 2,40 h=0,97m
Portas: 1,30x 3,35m (internas) e 1,50 x 3,35m (externas)
Peças dos umbrais: 16 x 22cm
Esta é uma fazenda em perfeito estado de preservação, de
onde foi possível extrair grande quantidade de informações.
É a gêmea” da Fazenda da Serra; sua planta é o L cssico
Figura 7.215 - Antiga tulha de 1298. Foto: CFC
Figura 7.216 - Vista geral do conjunto. Foto: CFC
Figura 7.217 - Bica d’água ao lado da cozinha. Foto: CFC
Figura 7.218 - Fachada frontal. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
221
Figura 7.219 - Imagem de satélite. Fonte: Google Earth
Figura 7.220 - Fachada lateral. Foto: CFC
Figura 7.221 - Quarto principal. Foto: CFC
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Chiqueiro
4. Antiga Tulha
5. Garagem
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
1
5
6
7
8
8
9
10
10
9
9
2
3
6. Pomar
7. Moinho
8. Curso d’água
9. Terreiros
10. Const. complementares
Fazendas do Sul de Minas Gerais
222
conforme descrito anteriormente. Sofreu apenas duas pequenas
modificações: foram retiradas duas paredes; uma, entre a sala
de entrada e a sala nobre e outra, interna de um quarto (ver
tracejado em planta). Essas alterações podem ser percebidas
observando-se a diferença no forro e nos frechais, pois o piso
é um só, independentemente de onde caiam as paredes. Nessa
planta o sio visual se mostra bem claramente. A capela possui
porta de folha dupla, almofadada, e uma janela dando para o
interior de um grande quarto. O quarto principal, situado na
esquina sobre o terreiro, possui outro quarto para dentro dele.
Isso também pode ser observado em outras fazendas, como na
Água Limpa. Dizem que era para abrigar as crianças pequenas
junto ao quarto dos pais. Assim como a da Serra, possui porão
alto com piso de tábuas e pilares de madeira, além de algumas
paredes divisórias de pau-a-pique. Tudo nela impressiona pelo
estado das coisas, pela originalidade: as tábuas do assoalho
são enceradas até hoje, nunca viraram sinteco, as paredes são
caiadas com pigmento azul ultramar, há armários embutidos
originais nas paredes sendo usados como antigamente,
guardando o licor de jabuticaba produzido ali. Na cozinha de
fora são feitos os serviços mais pesados: abrir o porco sobre
mesa própria, propositalmente inclinada para escorrer o sangue,
Capítulo 7 - Levantamentos
223
Fazendas do Sul de Minas Gerais
224
fazer doces nos grandes tachos e fogões que permitem a
fuma escapar sem chaminé, deixando-a sair pela telha vã.
As janelas dessa cozinha não possuem caixilhos nem vidros,
apenas paus de fechamento a 45º. O telhado de telhas capa e
canal ainda é mantido assim como as cimalhas de madeira, os
forros de saia e blusa, as portas e janelas de calha. No setor de
serviços, sobre o piso de tábuas corridas, foi assentado um piso
de azulejo hidulico, pom por baixo; no poo é possível ver
o piso original. O porão dessa casa é alto, aproveitável em toda
sua extensão e possui piso de tábuas em grande parte. Seu
fechamento, pelo menos na face posterior, é feito com paredes
de pau-a-pique. As vigas madres são de grandes dimensões,
aproximadamente 45 x 45 cm e comprimento de 18 metros.
Estas vigas são apoiadas em esteios de madeira onde foram
encontrados orifícios que, segundo disseram os proprietários,
serviam para “amarrar os escravos.
Ao contrio da Fazenda da Serra, os terreiros se
localizam na parte inferior em relação à casa, ficando totalmente
visíveis e controláveis a partir dela, o que abre a possibilidade
de já existirem desde a fundação da fazenda. Acreditamos, no
entanto, que seja mera coincidência. A tulha de ca também
é um edifício bastante antigo, provavelmente da virada do XIX
para o XX, servido por água para tocar o maquirio. Esse
maquinário de beneficiamento de ca, feito de madeira, é
coisa rara de se achar hoje em dia e foi encontrado também na
Fazenda das Posses. Isso porque essas fazendas, atualmente,
produzem ca muito mais do que naquela época ; os
equipamentos se tornaram obsoletos e foram substitdos por
quinas mais modernas.
Figura 7.222 - Sala de entrada com ermida ao fundo.
Foto: CFC
Figura 7.223 - Sala da família. Foto: CFC
Figura 7.224 - Cozinha de fora. Foto: CFC
Figura 7.225 - Detalhe de trens de cozinha. Foto: CFC
Figura 7.226 - Poo com madre de 18m apoiada sobre
colunas de madeira. Foto: CFC
Figura 7.227 - Porão sob o corpo de serviços. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
225
Fazenda Santa Maria – Município de
Três Pontas
Data provel: 1ª metade do século XIX
Pé direito: 4,00m
Janelas: 1,10 x 1,87 h=1,00m
Portas: 1,10 x 2,87m
Peças dos umbrais : 17 x 20cm
Essa fazenda possui, segundo os proprietários, de 160
a 200 anos e foi amplamente reformada em 1885. Sua planta
é em L com cumeeiras perpendiculares; seu corpo principal foi
ampliado longitudinalmente durante a reforma, passando a ter
propoões bastante alongadas. Sua planta segue a cartilha
clássica: sala de entrada dando acesso à grande sala nobre com
seus quartos e alcovas; desse aposento de entrada também se
tem acesso direto a mais dois quartos e uma alcova. Na sala
de entrada realizavam-se as missas e ali fica localizado em um
canto, qual caritó, um altar de rara beleza. Fechado, ele é apenas
um arrio, mas, quando aberto, revela as pinturas sacras na
face interna das portas. Foi, segundo os proprietários, pintado
Figura 7.228 - Vista frontal. Foto: CFC
Figura 7.229 - Vista porterior. Foto: CFC
Figura 7.230 - Vista do conjunto. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
226
Figura 7.231 - Foto aérea do conjunto.
Fonte: acervo da fazenda.
Figura 7.232 - Fachada lateral. Foto: CFC
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Engenho
3. Retiro, etc.
4. Construções Complementares
5. Tulha/Casa de Máquinas
6. Pomar
7. Terreiros
8. “Casinha” ou Comua
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
1
2
3
4
4
5
6
8
7
7
7
7
Capítulo 7 - Levantamentos
227
por um mestre português vindo das minas após a decadência
da mineração. A porta de ligação entre a sala nobre e a de
entrada é mais larga que as demais, possui verga trabalhada em
arco e bandeira. Seguindo pelo corredor de ligação, chega-se à
grande sala da família com seus quartos e alcovas. Por dentro
de uma dessas alcovas, tem-se acesso novamente à sala nobre,
retomando a idéia de circulação por dentro dos quartos tão
comum nessas fazendas. Não sabemos ao certo qual poão da
casa é original e qual faz parte da ampliação de 1885; supomos
que seja a última fieira de quartos. Da sala da falia, temos
acesso ao corpo de servos com corredor, que hoje apresenta
copa, dois quartos, um deles transformado em banheiro e, ao
fundo, a cozinha. Em seu conjunto arquitenico destacamos o
velho engenho com seu telhado de prolongo. No pomar existe
um canal que levava água até o antigo lavador de ca. Logo
abaixo desse canal, os vestígios de uma antiga “casinha”, o
que significa banheiro ou comua. Todos sabemos que o havia
banheiros dentro de casa, mas a exisncia dessa peça nos ajuda
a comprovar isso. Seu poo possui uma parte alta, aproveitável,
e outra baixa, apenas para soltar a casa do co. Os terreiros de
café, acima da casa, são de tijolos e ainda existe a colônia, uma
longa fila de casinhas que leva até a entrada da fazenda. Devido
aos altos custos de manutenção, os proprietários abandonaram
a casa antiga e construíram uma nova casa de morada junto ao
terreiro.
Figura 7.233 - Sala de entrada com altar e sala nobre ao
fundo. Foto: CFC
Figura 7.234 - Porta do oratório. Foto: CFC
Figura 7.235 - Sala nobre, reparar na disposição do
mobiliário. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
228
Fazenda Estância do Mota Município
de Três Pontas
Data provel: 2ª metade do século XVIII
Pé direito: 3,84m
Janelas: 1,03 x 2,00 h=0,94m
Portas: 1,03 x 2,94m
Peças dos umbrais : 18 x 22cm
Madres: 35 x 45cm
Segundo dados obtidos em um antigo folheto da Prefeitura
Municipal de Ts Pontas, fornecido pelo Sr. Geraldo Reis, nosso
principal informante na rego, a fazenda teria sido construída
na segunda metade do século XVIII por Bento Ferreira de Brito
na confluência dos rregos Pinheiros e Araras. Foi reformada
em 1947 e posteriormente abandonada. Atualmente continua
nessa condição e, talvez por estar abandonada tanto tempo,
o tenhamos encontrado construções complementares.
Entretanto, sabemos pelas fotos do folheto que havia um antigo
moinho de milho e que, na parede da antiga sala da família,
chamada de vestíbulo pela legenda, havia mais uma janela.
Destacamos o nome dado na legenda do folheto por ser um
dado interessante para a interpretação de sua planta, que não
é nada convencional, nada parecida com as plantas das outras
fazendas da região. A cnica construtiva também apresenta
peculiaridades de fazendas mais antigas como a Bananal e,
por isso, acreditamos que ela seja mesmo do século XVIII.
Suas vergas são em canga de boi, seus barrotes são apoiados
sobre os baldrames duplos deixando os topos aparecendo na
Figura 7.236 - Vista interna a partir da cozinha, reparar no
piso de madeira e de terra batida. Foto: CFC
Figura 7.237 - Imagem antiga. Fonte: folheto da Prefeitura
Municipal de Três Pontas.
Figura 7.238 - Fachada principal e lateral. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
229
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Curso dágua
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
1
2
Fazendas do Sul de Minas Gerais
230
fachada. Essas são características de fazendas mais antigas
como a Bananal. Sua planta é em forma de L com cumeeiras
perpendiculares, porém o retângulo principal possui um
estranho agenciamento de cômodos. Entra-se por uma pequena
sala que dá acesso a dois quartos e a uma alcova central;
passando por um corredor “sifonado”, chega-se a uma espécie
de sala de distribuição. Dela se acessa outra sala íntima e seus
quartos e chega-se ao que seria a sala da família. Há, porém,
duas janelas que se abrem para essa “sala da família”; uma, na
alcova e outra, na sala de distribuão. Am disso, essa sala é
estreita e comprida, chegando a a outra extremidade da casa,
o que nos leva a pensar que ali seria uma espécie de varanda.
Na arquitetura mineira mais antiga as varandas posteriores são
comuns como constatou Menezes:
As varandas posteriores aparecem, em algumas delas,
igualmente embutidas, parciais ou em toda a fachada
11
Outro dado que nos intriga e nos leva a crer que seria
uma varanda é o fato de haver cabides de madeira na parede;
isso normalmente ocorre em modos pximos à entrada e
o nos fundos da casa. Sendo ali uma varada, faz mais sentido
haver uma ligação mais franca com o exterior. Desta sala ou
varanda têm-se acesso ao setor de serviços formado por um
pequeno corredor, um quartinho e uma cozinha. O piso da
cozinha tem uma parte de tábuas corridas, apoiadas sobre
barrotes, e outra parte diretamente na terra, em aterro contido
pelos muros de pedra da base.
Figura 7.239 - Imagem de satélite. Fonte: Google Earth
Figura 7.240 - Vista dos fundos
Figura 7.241 - Imagem antiga: vista dos fundos.
Fonte: folheto da Prefeitura Municipal de Três Pontas.
Figura 7.242 - Imagem antiga: sala da família. Fonte:
folheto da Prefeitura Municipal de Três Pontas.
Figura 7.243 - Imagem antiga: sala da família. Foto: CFC
Figura 7.244 - Fachada frontal. Foto: CFC
11
Menezes, Ivo Porto, Arquitetura Rural em Minas Gerais
Século XVIII e Inícios do XIX, Revista Barroco, nº12 Belo
Horizonte 1982 e 1983, p.218
Capítulo 7 - Levantamentos
231
Fazenda Pedra Negra Município de
Três Pontas
Essa fazenda é mais um exemplo da nova arquitetura rural
que se implantou a partir do fim do século XIX e suplantou
a anterior. Suas principais características foram descritas por
s anteriormente na Fazenda das Posses. Na fazenda havia
uma casa anterior, demolida, provavelmente de estrutura
aunoma de madeira, construída no início do século XX .
No entanto existem, no conjunto arquitetônico da fazenda,
alguns edifícios que utilizam a técnica construtiva anterior e são
testemunho desse passado.
A grande tulha e o conjunto da senzala foram
construídos de pau-a-pique, sendo que a tulha, assim como
na Fazenda das Posses, apresenta a estrutura de madeira
aparente ; a antiga senzala foi transformada em casa de
spedes e está descaracterizada. A planta da casa segue a
tendência aprestada na Fazenda das Posses, mantendo ainda
os setores divididos, pom aparece o grande corredor de
distribuição para os quartos. Na fachada aparecem, além dos
tradicionais relevos feitos na massa, os apliques de elementos
pré-fabricados acima e abaixo das janelas. No conjunto da
fazenda, o grande destaque fica por conta dos imensos terreiros
Figura 7.245 - Fachada frontal Foto: CFC
Figura 7.246 - Vista do conjunto. Foto: CFC
Figura 7.247 - Imagem de satélite. Fonte: Google Earth
Fazendas do Sul de Minas Gerais
232
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Senzala
4. Tulha/Casa de Máquinas
5. Construções Complementares
6. Terreiros
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
1
23
4
5
6
6 6
6
Capítulo 7 - Levantamentos
233
de ca, feitos de tijolo, e seus muros de contenção caiados.
Na arquitetura dos terreiros de ca necessariamente aparecem
os muros de arrimo, isso porque esses locais m que ter uma
inclinação determinada, o suficiente para escorrer a água e
o escorrerem os frutos do café. A acomodação desse grande
plano inclinado no terreno acaba gerando esses muros de arrimo
tão característicos. Esses terreiros são da época da casa ou um
pouco anteriores, tempo em que muitas fazendas da região
também ganharam terreiros de tijolos, mas não há na região
um conjunto tão imponente quanto este. As modernas fazendas
de ca também usam terreiros, mas a necessidade de área, ou
melhor, a relação produção / área é bem menor por causa da
ajuda dos secadores e não nos modernos, de concreto ou
asfalto, o mesmo cuidado construtivo e estico que havia. As
fazendas de hoje são estritamente voltadas para a produção;
muitas vezes nem m casa de morada.
Figura 7.248 - Muro de arrimo do terreiro. Foto: CFC
Figura 7.249 - Antiga tulha. Foto: CFC
Figura 7.250 - Conjunto. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
234
Fazenda Serrote Município de Carmo
da Cachoeira
Data provel: década de 1880
Pé direito: 3,20
Janelas: 0,85 x 1,50 h=0,80
Portas: 0,87 x 2,60
Peças dos umbrais : 20x20
Esta fazenda pertence ao nosso informante maior da região,
Márcio Paiva.
Suas dimensões são diminutas, tanto em planta quanto
em relação ao pé-direito, portas e janelas. Sua forma é em
L com cumeeiras perpendiculares, porém não possui alcovas
centrais. Essas características também se observam na fazenda
Coqueiro, em Carmo de Minas, e na planta reconstituída da
fazenda Mascatinho, ambas do fim do século. Acreditamos que,
com a chegada do fim do século, o programa de necessidades
vai diminuindo devido à maior urbanização que começa a
ocorrer. Ao mesmo tempo, começam a ser constrdas fazendas
mais sofisticadas, de tijolo, com dimensões maiores. No entanto,
essas fazendas possuem outro programa de necessidades e
a alcova definitivamente desaparece. Não sabemos se essa
simplicidade maior das casas de pau-a-pique do fim do século
é o prenúncio de uma mudança de bitos ou se, simplesmente
esses poucos casos que observamos, são fazendas que o
possuíam tantos recursos. De qualquer maneira, temos os ts
setores bem marcados: entra-se por um pequeno cômodo por
onde se acessa a sala de visitas com seus dois quartos e de onde
podemos acessar também a sala da família. Esta faz a ligação
com seus quartos orbitais e com o corpo de servos na junção
dos retângulos. Uma escada de pedras externa, nessa junção,
faz a ligação com os fundos do terreno. A casa sofreu algumas
modificações: a varanda de acesso não é original e um modo
à sua esquerda foi transformado em garagem. No conjunto,
cabe destacar o edifício do moinho pegado à cozinha.
Figura 7.251 - Fachada frontal. Foto: CFC
Figura 7.252 - Quarto com os fundos do arrio da sala
da família. Foto: CFC
Figura 7.253 - Vista dos fundos. Foto: CFC
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
Capítulo 7 - Levantamentos
235
Fazenda Grotão Município de Três
Corações
Data provável: metade do século XIX, provavelmente
década de 30
Pé direito: 4,00
Janelas: 1,00 x 2,00
Portas: 1,00 x 3,00
Situada às margens da rodovia Fero Dias, no munipio de
Ts Corões, a Fazenda Grotão estava abandonada quando
fizemos a pesquisa de campo. Apesar de seu estado de quase
ruína, foi possível fazer um levantamento sumário. Sua planta
constitui-se de um único retângulo, sendo a cozinha um puxado
com telhado mais baixo. Apesar de suas dimensões em planta
serem diminutas, o tamanho de portas e janelas, peças e pé-
direito são normais. Nesse pequeno retângulo entra-se por uma
sala que dá acesso a um quarto à direita e à sala da família em
frente; o sifão visual. A sala da família é a maior peça da
casa e possui um arrio embutido entre duas portas, formando
um belo conjunto de madeiras pintadas de verde. Desta sala,
faz-se o acesso aos quartos e à cozinha. Como a casa não
contava mais com seu forro, foi posvel observar a estrutura do
telhado bem como os dentes nos frechais para encaixe da antiga
estrutura do forro.
Figura 7.254 - Antigo relógio embutido. Foto: CFC
Figura 7.255 - Armário embutido. Foto: CFC
Figura 7.256 - Estrutura do telhado. Foto: CFC
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
Fazendas do Sul de Minas Gerais
236
Grupo de Carmo de Minas,
correspondente a parte da antiga
Freguesia de Itajubá à antiga Freguesia
de Pouso Alto.
Se as fazendas do grupo de Cruzília e Carrancas foram
privilegiadas por estarem entre a Garganta do Emb e as vilas
de São João e São José no século XVIII, as fazendas do grupo
de Carmo de Minas serão privilegiadas pela proximidade com
a Garganta, durante o século XIX. Essa área fica a leste do
Caminho Velho, em um caminho de ligação entre este e a vila
de Itajubá, ao pé da Serra da Mantiqueira, em cotas pximas
a mil metros. Suas fazendas não estão tão encravadas na
Serra como algumas fazendas do grupo de Itajubá, por isso
desenvolveram melhor a agropecria no XIX. No fim do século
a rego ganhou um ramal da estrada de ferro, o que promoveu
seu desenvolvimento. O atual município de Carmo de Minas,
que concentra a maior parte das fazendas desse grupo, teve sua
freguesia desmembrada da Freguesia de Pouso Alto em 1831.
Em 1841 foi elevada a distrito e passou a se chamar Carmo do
Rio Verde. Foi emancipada em 1901, quando passou a se chamar
Silvestre Ferraz e, em 1953, tornou-se Carmo de Minas.
Além das fazendas apresentadas a seguir, foi visitada
a fazenda Bom Sucesso, em Itanhandu, porém não entrou
no levantamento por não pertencer à cnica e ao período
pesquisados.
Figura 7.257 - Microregião de São Lourenço.
Dispovel em: <http://pt.wikipedia.org/
microrregioesdeminas>. Acesso em 20 março 2008.
Capítulo 7 - Levantamentos
237
Fazenda Boa Vista – Município Carmo
de Minas
Data provel: 1ª metade do século XIX
Pé direito: 4,00
Janelas: 1,10 x 2,00
Portas: 1,10 x 3,00
Essa fazenda teria sido construída pelo mesmo mestre açoriano
que construiu a fazenda Palmital e também a casa da mesma
família na cidade, chamada “casa da Boa Vista. Era comum
chamar as casas da cidade pelo nome da fazenda da família.
Fica situada ao pé dos contrafortes da Serra de Cristina; sua
implantação é em terreno suave e por isso possui poes
baixos, ao contrário do que acontece na maioria das fazendas.
O terreno onde se implantou a casa foi levemente ajustado
por pequenos muros de arrimo. Sua planta é um L clássico,
formado por um corpo principal de proporções 3:4 e um corpo
de serviços estreito, perpendicular ao principal. Um pequeno
alpendre, provavelmente do fim do século XIX, por suas finas
colunas de ferro e seu lambrequim, faz a entrada da casa.
Entra-se diretamente na sala nobre, sem passar por cômodo
Figura 7.258 - Vista parcial. Foto: CFC
Figura 7.259 - Fachada lateral e terreiro. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
238
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Antigo Paiol
3. Terreiros
4. Construções Complementares
5. Jaboticabal
CORTE LONGITUDINAL NO TERRENO
esc. 1:1000
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
2
1
3
3 3
4
4
4
5
Capítulo 7 - Levantamentos
239
de distribuição; dela acessam-se as duas alcovas centrais e dois
quartos, sendo que um deles possui outro quarto para dentro e
o outro possui uma ligação interna com o setor íntimo. Por um
corredor sifonado, chega-se à grande sala que acessa os outros
quartos e o setor de serviços. Entre esta sala e o quarto aos
fundos, a divisão é feita por um grande arrio que substitui a
parede. O corpo de serviços possui duas pequenas copas, ts
modos menores e a cozinha ao final. três pias para lavar
as mãos espalhadas pela casa: uma no alpendre, outra na sala
íntima e outra junto à porta, na junção dos dois corpos. Outro
edifício de destaque na fazenda é a grande tulha de madeira,
contemporânea à casa, que fica ao lado do jabuticabal, por
onde passa um riacho. Um antigo monjolo de jacarandá foi
desmanchado ainda na metade do século XIX e, dele, foram
feitas 11 cadeirinhas de bordar. Essas cadeiras foram distribuídas
entre as mulheres da família e, por tradição, passavam de avó
para neta, sempre pulando uma geração.
Figura 7.260 - Vista do conjunto. Foto: CFC
Figura 7.261 - Vista do conjunto a partir do terreiro.
Paiol à direita. Foto: CFC
Figura 7.262 - Data gravada no paiol, 1857. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
240
Casa da Boa Vista – Município Carmo
de Minas
Data provel: década de 1820
Pé direito: 4,35
Janelas: 1,10 x 2,00
Portas: 1,10 x 3,00
A casa da Boa Vista da cidade, como é chamada, é a única
casa urbana deste levantamento. Essa escolha se justifica pela
comparação com a casa da fazenda homônima, construída
pelo mesmo mestre e pertencente à mesma família. A casa da
cidade difere da rural apenas pela sua implantação, pela escada
interna e por uma pequena variação no fluxograma. Sua forma
de L se ajusta ao desenho das ruas, seu corpo principal tem a
frente para a igreja e seu corpo de serviços segue alinhado com
a rua lateral. Ao contrário das casas rurais, onde as escadas
de acesso ao pavimento nobre são sempre externas, aqui esse
desvel é vencido por uma escada interna logo na porta de
entrada. O fluxograma também é um pouco diferente; da sala
de entrada podem-se acessar ambas as salas, a sala nobre e a
da família. Ligado a essa sala de entrada existe um quarto que
era destinado aos hóspedes e, por isso, tem acabamentos mais
elaborados. As demais peças da planta são iguais às de uma
fazenda.
Figura 7.263 - Porta e escada de entrada. Foto: CFC
Figura 7.264 - Vista a partir do largo da igreja. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
241
Figura 7.265 - Sala nobre. Foto: CFC
Figura 7.266 - Quarto de hóspedes. Foto: CFC
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Quintal
3. Rua de Acesso
4. Largo da Igreja
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
1
2
3
4
Fazendas do Sul de Minas Gerais
242
Fazenda Pouso Alegre – Município
Carmo de Minas
Data: 1847
Pé direito: 4,00
Janelas: 1,00 x 1,80
Portas: 1,00 x 2,80
Como é comum em muitas propriedades, a casa atual, embora
muito antiga, não é a primeira casa da fazenda. No caso da
Pouso Alegre sabemos que havia uma outra, mais antiga, onde
hoje um pomar, à esquerda da casa atual, acima do muro de
pedras.
Quem construiu (digo o dono e o o mestre) a casa
atual do Pouso Alegre foi Joaquim José Ribeiro de Carvalho em
1847. Seu pai era o capitão Manuel José Ribeiro de Carvalho,
que nasceu em 1790 e morreu precocemente em 1834, filho
de Cusdio Ribeiro Pereira Guimaes ou Custódio Ribeiro de
Carvalho, o Velho da Chapada”. Manuel José herdou a Fazenda
Palmital e parte da Fazenda Ts Barras, área correspondente ao
Pouso Alegre.
Talvez pela proximidade da estrada que ligava Carmo
de Minas à Cristina, ergueu à sua margem novas
instalações, às quais deu o nome de Pouso Alegre.
Tendo ficado órfão de pai ainda criança, Joaquim José
Ribeiro de Carvalho, por ocaso de seu casamento,
resolveu construir ao lado da casa paterna, onde ainda
habitava sua mãe Maria Tridentina, uma pequena casa
na qual constituiria família. (...) A antiga casa, cujos
alicerces de pedra formam hoje um muro que separa
o curral do pomar de jabuticabeiras, tinha, de frente,
sessenta e nove metros, e de lado, dezoito metros. Era,
na verdade, uma imponente constrão de pau-a-pique,
porém de solidez e acabamento invejáveis.
12
Essa pequena casa, ao lado da casa dos pais, é a casa
da Fazenda Pouso Alegre. Sua planta é um L clássico e seu
fluxograma obedece rigidamente ao pado de seu tempo.
Vimos nesse levantamento que o “padrão” ou o clássico”
ocorrem em menos do que metade dos casos, mas ainda assim
é o que mais aparece, por isso o chamamos de clássico. Não há
alpendres ou varandas; entra-se por uma sala de distribuição
Figura 7.267 - Fachada frontal a partir de curral. Foto: CFC
Figura 7.268 - Fachada frontal a partir do portão de
entrada. Foto: CFC
12
Junqueira, Walter Ribeiro, Fazendas e Famílias Sul
Mineiras p.18 e 31
Capítulo 7 - Levantamentos
243
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Antigo Paiol
3. Antigo Retiro
4. Construções Complementares
5. Antigo Terreiro
6. Pomar
7. Água
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
2
3
4
4
5
6
7
7
5
5
5
4
1
Fazendas do Sul de Minas Gerais
244
que dá acesso a um pequeno quarto, à sala nobre e suas alcovas
e a um quarto. Um corredor reto faz a passagem para a sala da
falia e seus quartos. uma peculiaridade nesta planta: um
segundo corredor ligando diretamente a sala da falia à sala
nobre. Esta segunda ligação é muito comum, mas geralmente é
feita por dentro dos quartos através de sucessivas passagens. O
corpo de serviços está com suas repartições bastante alteradas,
feitas com paredes de tijolos, e sua cobertura é mais baixa do
que a do corpo principal. Ao que parece, esse corpo foi refeito
na mesma posição do original. Os dois telhados de quatro águas
sobre o corpo principal podem até parecer, ao olhar de um
pesquisador mais atento, como os “telhados ltiplos de Tavira”
estudado por Orlando Ribeiro no sul de Portugal. Mas esses
telhados são simples substituão ao original de quatro águas,
que cobria o corpo principal, como podemos ver na foto antiga.
Em seu conjunto destacam-se os antigos terreiros de tijolos,
cercados por muros de pedra e adobe, a tulha de madeira, o
curral de pau-a-pique com dois volumes nas pontas e varanda
central, os dois pomares e construções diversas ao lado do corpo
de serviços. Há ainda hoje, dentro da fazenda, uma pequena
estação de trem, hoje desativada, e uma capela. Em um livro-
caixa encontrado na fazenda, há registros de que, em 1864, já
Figura 7.269 - Foto aérea. Fonte: acervo da fazenda.
Figura 7.270 - Sala nobre. Foto: CFC
Figura 7.271 - Alcova. Foto: CFC
Figura 7.272 - Quarto. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
245
havia produção e comercialização de café. Portanto, isso abre
precedente para a afirmação de que também houvesse produção
desse grão, na época, em outras fazendas onde também
encontramos terreiros. Em estudo sobre a prodão econômica
em Minas Gerais, em meados do século XIX, suas autoras
comentam que a prodão de ca voltada à exportação estava
concentrada em alguns municípios no sul da Zona da Mata.
13
Fazenda Palmital Município Carmo de
Minas
Data provel: início do século XIX
Pé direito: 4,35
Janelas: 1,08 x 2,15, h=1,05
Portas: 1,08 x 3,15
Acreditamos que a casa do Palmital, constrda pelo mesmo
mestre açoriano das casas da Boa Vista, tenha sido erguida antes
que estas. Isso porque, em entrevista com os proprietários da
vizinha Fazenda Coqueiro, constrda em 1890, a informação
era de que a casa do Palmital é cem anos mais velha”. Segundo
Walter Junqueira:
Sesmaria do Palmital: do Alferes Antônio José Rodrigues,
que a vendeu para Antônio José Pereira que, não muito
tempo depois, a revendeu para Custódio Ribeiro Pereira
Guimarães, o Velho da Chapada”. Até hoje sua maior
parte se encontra nas mãos de seus descendentes.
14
13
Martins, Maria do Carmo Salazar e Silva, Helenice
Carvalho Cruz Produção Econômica em Mimas Gerais
em Meados do Século XIX, Seminário sobre a Economia
Mineira, Cedeplar, 2002.
Figura 7.273 - Vista geral da casa. Foto: CFC
Figura 7.274 - Vista geral do conjunto com bezerreiro em
primeiro plano. Foto: CFC
14
Junqueira, Walter Ribeiro, Fazendas e Famílias Sul
Mineiras p.34.
Fazendas do Sul de Minas Gerais
246
Figura 7.275 -Fachada dos fundos. Foto: CFC
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Terreiro
4. Construções Complementares
5. Currais
6. Pomar
ELEVAÇÃO FUNDOS
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
1
2
4
5
6
3
Capítulo 7 - Levantamentos
247
De qualquer maneira, sua arquitetura é bastante
parecida com a das outras duas casas. Seu corpo principal,
de propoões 3 x 4, é perpendicular ao corpo de servos. O
fluxograma também é bastante parecido: entra-se por uma
sala menor, de distribuição; dela tem-se acesso a um quarto, à
sala nobre e, por um corredor direto, à sala da falia. Na sala
íntima há um grande arrio embutido, repartido em quatro
partes com portas almofadadas; uma delas é um pequeno altar.
Nele havia um antigo oratório do tipo lapinha que convivia
harmoniosamente com um liquidificador de plástico. Desta sala
tem-se acesso aos quartos que, do lado norte, reconduzem ao
setor social por meio de portas internas. O setor de serviços
parece ter sido refeito em cima do existente anteriormente,
pois suas paredes são de tijolos e seu telhado é mais baixo. Em
sua implantão há uma peculiaridade: devido ao caimento
acentuado do terreno, o acesso ao interior da casa é feito pela
lateral do retângulo principal e o por sua frente, o que o é
bom para o agenciamento da planta. Essa diferença, todavia, é
corrigida pela sala de distribuição que reconduz o fluxo entre os
setores pelo menor caminho, mantendo as duas peças principais
nas faces maiores do retângulo. Quando as peças principais
ficam em lados opostos no sentido maior do retângulo, a ligação
entre elas fica mais complicada, gerando salas intermediarias
ou alcovas de passagem, como é o caso das fazendas Serra das
Bicas, Campo Lindo, Pouso Alegre (Varginha), entre outras.
Contam os moradores que, no poo desta casa, foi encontrada
a presa de uma cascavel e, dessas presas, os escravos retiravam
o veneno para ser usado em um possível atentado conta os
patrões.
No conjunto da fazenda não há muitas construções
importantes, apenas um paiol de madeira, curral e bezerreiro.
Este último tem o assoalho de tábuas com espamento
suficiente para não haver acúmulo de excrementos e assim
mantê-lo limpo e seco para os bezerros pequenos. A casa já
estava em avançado estado de deterioração quando a visitamos
em 1997, acabou ruindo há pouco tempo e, por isso, podemos
ver uma peça de junção entre os baldrames que o havíamos
visto em nenhuma outra fazenda. Sua sala nobre possuía
sofisticadas pinturas murais.
Figura 7.276 - Armário embutido com oratório. Foto: CFC
Figura 7.277 - Detalhe janela. Foto: CFC
Figura 7.278 - PInturas murais no alpendre. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
248
Fazenda Coqueiro Município Carmo
de Minas
Data provel: 1890
Pé direito: 3,40
Janelas: 1,00 × 2,00
Portas: 1,00 × 2,80
Essa fazenda é citada por nós como exemplo do ocaso da
estrutura autônoma de madeira. A casa de pau-a-pique, com
estrutura simples de madeira feita por esteios fincados diretamente
no chão, entretanto, vai permanecer por mais um século.
Por essa época, já comam a aparecer as primeiras casas de
fazenda construídas com alvenaria portante de tijolos, contudo o
construtor da Coqueiro optou por usar a técnica tradicional. Assim
como na Fazenda Serrote, há algumas diferenças fundamentais
em relação às demais. Sua planta é em forma de L com cumeeiras
perpendiculares: suas dimensões são menores, tanto em relação à
planta quanto em relação às pas de madeira e as alcovas centrais
desaparecem. A ligação entre o setor social e íntimo passa a ser
feita simplesmente por uma porta. O setor social restringe-se a
apenas uma sala, já não há mais quartos despedes, sala de
entrada, sala nobre e capela. A distribuição da sala íntima para os
quartos e setor de serviços ainda é muito parecida; há um quarto
para dentro do outro. No setor de serviços a distribuição é idêntica
às mais antigas: dois cômodos auxiliares e cozinha ao fundo e,
neste caso, há um alpendre em toda essa extensão. As telhas
originais de calha foram substituídas por telhas francesas em 1964.
Em seu conjunto, encontramos diversos edifícios: casa de colonos,
tulha, retiro, desito, quarto de arreios, serraria, curral e moinho
de milho ainda em funcionamento. Havia um imenso jabuticabal
Figura 7.279 - Fachada frontal. Foto: Carla Pacheco
Figura 7.280 - Fachada lateral. Foto: Carla Pacheco
Capítulo 7 - Levantamentos
249
Figura 7.281 - Alpendre dos fundos. Foto: CFC
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Serraria
4. Construções Complementares
5. Moinho
6. Retiro
7. Jaboticabal
8. Chiqueiro
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
CORTE LONGITUDINAL DO TERRENO
esc. 1:1000
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
1
3
4
4
4
5
6
6
7
8
Fazendas do Sul de Minas Gerais
250
ao lado da casa, transformado em terreiro de café.
Fazenda do Engenho Município
Carmo de Minas
A Fazenda do Engenho foi constrda em 1893 e corresponde
a uma nova geração de construções que usam essa técnica
construtiva da estrutura portante de tijolos. Seu piso é de tábuas
finas, seu forro de estuque e seu telhado de telhas francesas. Foi
reformada em 1944 e em 2000. Sua planta não foi levantada,
pois foge demais ao foco de nossa pesquisa. Em sua varanda
floreiras de cimento que imitam as formas de troncos de
árvores, iguais às que foram feitas na praça da cidade de Carmo
de Minas e em outras casas da mesma cidade pelo mestre
português Francisco da Silva Reis, o Chico Cascateiro. Esse tipo
de técnica mimética, também chamada estilo romântico” ou
pitoresco”, foi muito usada pelo paisagista frans Glaziou no
Rio do Janeiro, na segunda metade do século XIX, e foi também
Figura 7.282 - Vista frontal. Foto: Carla Pacheco
Figura 7.283 - Vista geral a partir do terreiro. Foto: CFC
Figura 7.284 - Muro de adobe sobre base de pedras.
Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
251
usada no Jardim da Luz em São Paulo.
Fazenda do Sertão Município Carmo
de Minas
A casa da Fazenda do Sertão, embora não fosse de grandes
dimensões, possuía estrutura autônoma de madeira. Foi
totalmente descaracterizada por reforma, mantendo apenas
sua “casca” com as janelas originais. O corpo da cozinha foi
desmanchado.
Fazenda Três Barras Município Carmo
de Minas
A fazenda teve origem na Sesmaria Três Barras, de Manoel
Ramos da Silva e foi comprada por Cusdio Ribeiro Pereira
Guimaes ou Cusdio Ribeiro de Carvalho, o Velho da
Chapada” em 1811. A casa atual da Fazenda Três Barras é
modernista, mas apresentamos neste levantamento a casa
construída em 1864 e demolida em 1968, cujo levantamento
foi baseado em fotos e plantas antigas, fornecida pelo dono
da fazenda, Walter Ribeiro Junqueira, e por levantamento de
suas ruínas por nós realizado. Apesar de a casa não existir
mais, esta foi uma fazenda-tronco, e por isso a inserimos neste
levantamento. Essa casa que apresentamos não foi a primeira da
fazenda, antes dela houve duas outras.
Figura 7.285 - Vista fundos. Foto: CFC
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Maquinário de Café
3. Terreiro
4. Antiga Cozinha
1
4
2
3
2
Fazendas do Sul de Minas Gerais
252
Figura 7.286 - Fachada dos fundos e terreiro. Fonte:
Acervo pessoal de Walter Ribeiro Junqueira.
Figura 7.287 - Fachada lateral. Fonte: Acervo pessoal de
Walter Ribeiro Junqueira.
Figura 7.288 - Vista do conjunto com casa nova ao fundo.
Fonte: Acervo pessoal de Walter Ribeiro Junqueira.
Figura 7.289 - Ruínas da antiga escada de acesso à
cozinha. Foto: CFC
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Retiro
4. Construções Complementares
5. Antiga Tulha
6. Terreiro
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
ELEVAÇÃO FUNDOS
esc. 1:500
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
12
3
4
4
5
6
Capítulo 7 - Levantamentos
253
Em 1864 Gabriel Ribeiro Junqueira tomou emprestado
de seu avô, o Velho do Campo Alegre”, Gabriel
Francisco Junqueira (primeiro Barão de Alfenas), um
escravo mestre em carpintaria. A obra durou treze
meses. Querendo devolver o escravo o mais rápido
possível, ergueu um casao que classificou de simples e
sem luxo.
15
A quem se interessar pela descrição completa da
casa, recomendamos a leitura do livro Fazendas e Famílias
do Sul de Minas. O que mais nos interessa nessa citação é
que a casa foi feita por um mestre escravo vindo do Campo
Alegre. Isso mostra que, assim como acontecia nas artes, na
construção civil os mestres portugueses acabaram passando seus
conhecimentos para ajudantes escravos, que depois se tornaram
também mestres. Mostra também que a Campo Alegre foi uma
importante fazenda-tronco que, além dos desmembramentos
de suas pprias terras, exportou não só sua influência, mas
também o de obra qualificada para erguer fazendas em outra
rego. A planta das Ts Barras era um L clássico, diferente da
maioria das fazendas do grupo de Crulia. Seu corpo principal
possuía as mesmas proporções cssicas, 3 x 4 mas as dimensões
eram maiores; conforme foi comprovado pelas ruínas de pedra,
media 14 x 20 metros. O mais comum, nessa região e também
em Santa Rita do Sapuc, era o corpo principal medir 13 x 17
metros. Entrava-se na casa por uma sala de distribuição.
Figura 7.289 - Fachada frontal e lateral. Fonte: Acervo
pessoal de Walter Ribeiro Junqueira.
Figura 7.290 - Antiga tulha. Foto: CFC
Figura 7.291 - Tulha da F. Boa União no RIo de Janeiro,
notar semelhança entre os edifícios. Foto: Smith in
Goodwin (1943).
15
Ibidem
Fazendas do Sul de Minas Gerais
254
Fazenda Cachoeira - Município Carmo
de Minas
Data provel: década de 1870
Pé direito: 4,20
Janelas: 1,00 x 1,96, h=1,00
Portas: 1,00 x 2,96
Peças dos umbrais: 17 × 20, madre 40 × 40,baldrame 30 x 32
Sobre sua história encontramos uma pequena referência no livro de
Walter Ribeiro Junqueira que nos permite estimar a data desta casa:
Tenho em meus documentos antigos uma anotação
de Antônio José, pai de Francisco Ribeiro Junqueira,
onde diz que, após 1872, Francisco, seu Filho, tomou
emprestados 11:57$500 para pagar as terras que
comprou nos Criminosos. Estas terras se transformaram
na Fazenda da Cachoeira, com aproximadamente quatro
mil hectares.
16
Figura 7.292 - Fachada frontal. Foto: CFC
Figura 7.293 - Fachada lateral e conjunto.Foto: CFC
16
JUNQUEIRA, Walter Ribeiro. Fazendas e Famílias Sul
Mineiras. São Lourenço: Novo Mundo, 2004, p.41.
Capítulo 7 - Levantamentos
255
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Retiro
4. Maquinário de Café
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
2
4
3
1
Fazendas do Sul de Minas Gerais
256
Hoje a fazenda não pertence à mesma família e passa
por reformas que a descaracterizam.
Observando sua planta, nota-se que é parecida com
as da fazenda Pouso Alegre e Palmital , pertencentes à mesma
falia. Pelo que constatamos, a entrada era feita por uma
porta ao lado de onde hoje é a porta principal. Isso faz sentido
por duas evidências: o convite de pedras talhadas estende-se
até onde seria a porta original e também pela planta da casa.
O cômodo da esquerda da fachada frontal provavelmente era
a sala de entrada; a partir dela seria acessada a sala nobre
com suas alcovas e um corredor ligando a a sala da família,
exatamente como no Palmital que, aliás, possui implantação
semelhante. Hoje a entrada é feita diretamente pela sala
nobre e a ligação com a sala íntima, por uma antiga alcova.
Provavelmente, da sala da família tinha-se acesso a todos os
quartos; hoje a parte esquerda do corpo principal está alterada,
transformada em suíte, mas nesta parte havia três quartos
conforme tracejado em planta. Um novo quarto foi constrdo
tornando a casa em forma de U, claramente posterior, pela
junção na fachada que deixa o antigo cunhal à mostra. Dois
banheiros foram criados onde antes havia um quarto. O
corpo de serviços possui dois modos e cozinha ao fundo.
No conjunto arquitenico da fazenda mais nada dessa época
restou. A fazenda tem hoje muitas instalações modernas. A
casa tinha um trabalho de madeira sofisticado para a época,
pois em sua sala nobre há um forro tipo mata-junta, de tábuas
conntricas, com um entalhe floral em cada canto e outro, ao
centro. Os beirais eram guarnecidos por sofisticadas cimalhas de
madeira com o mesmo desenho da antiga cimalha da Fazenda
Narciso. Uma parte dessas cimalhas foi encontrada no porão.
Figura 7.294 - Peça de antiga cimalha. Foto: CFC
Figura 7.295 - Degraus do convite de pedras. Foto: CFC
Figura 7.296 - Vista dos fundos. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
257
Fazenda Santa Cruz Município de
Carmo de Minas
A velha casa da Santa Cruz foi derrubada e, em cima de suas
bases de pedra, foi erguida uma nova casa de tijolos, menor que
a original. Seu dono atual nos cedeu uma foto da antiga casa.
Era uma construção de cumeeiras paralelas, portas e janelas
de vergas retas com pestanas. Sua base de pedras o era
revestida.
Fazenda Chapada Município de
Itanhandu
A antiga fazenda Chapada o existe mais, porém a citamos
aqui por ter sido uma das fazendas-tronco da rego. Com
explicamos anteriormente, fazenda-tronco é aquela que
origem a outras, seja por desdobramento, seja por fundação de
novas fazendas em outras terras por descendentes da família
fundadora. Geralmente essas fazendas são originadas de uma
Figura 7.297 - Fachada frontal da casa atual. Foto: CFC
Figura 7.298 - Antiga casa de pau-a-pique. Fonte: acervo
Antônio Santoliquido.
Fazendas do Sul de Minas Gerais
258
doação de sesmaria. Em meados do século XVIII, um jovem
português, por queses políticas, fugindo do Marquês de
Pombal, migra para o Brasil dando origem a uma tradicional
falia da rego. Passa primeiro por Ouro Preto, em casa de
parentes já estabelecidos, depois por São Paulo e, seguindo
conselho de seu tio, fixa-se na Serra da Mantiqueira:
Depois de ter recebido a letra de um conto de reis e
de ter ganhado deste tio grande quantia em dinheiro,
partiu Custódio para a Vila de Cruzeiro, fixando-se na
Serra da Mantiqueira onde, às margens da trilha que
conduzia a ( no original crase?tem) Minas ( no
interior dessa Província), ergueu uma pousada. Marcou,
então, suas terras, requerendo Sesmaria. Deu ao lugar
o nome de Fazenda do Pico. Posteriormente a fazenda
passou a se chamar, Fazenda da Chapada.(...) Da
Chapada, não restam mais vestígios, apenas seu glorioso
nome...
17
Dos desdobramentos da Chapada foram feitas as
fazendas Jardim, em Itanhandu, e Paracatu, em Virgínia.
Buscamos encontrá-las, mas foi em o; suas antigas casas
o existem mais. Contudo, duas fazendas compradas pelo
Velho da Chapada”, em Carmo de Minas, foram levantadas: as
fazendas Palmital e Três Barras, que, hoje em dia, também o
existem mais.
17
JUNQUEIRA, Walter Ribeiro. Fazendas e Famílias Sul
Mineiras. São Lourenço: Novo Mundo, 2004, p.11 e 12.
Capítulo 7 - Levantamentos
259
Grupo de Itajubá, correspondente à antiga
Freguesia de Itajubá
Ao grupo de Itajubá pertencem as fazendas do município de Cristina
que têm características e até laços de parentesco com as de Carmo
de Minas. A mesma explicação sobre a Serra da Mantiqueira, dada
na introdução ao grupo anterior, também vale aqui, diferenciando-
se este grupo por estar mais ligado à antiga Freguesia de Itajubá,
criada em 1762. As minas de Itajubá eram conhecidas dos paulistas
desde o início do século XVIII:
Vem de longe o conhecimento das minas de Itajubá (anos
1703 ou 1705), no dizer de Geraldo Campista. Descoberta
pelos faiscadores que subiram a Serra do Embaú, ou
mesmo por Pindamonhangaba e Lorena, tiveram pequena
duração, porque eram pobres em seus veios auríferos.
Muito natural que os mineradores se espraiassem pela
região e acertassem, com isso, nas nascentes do Sapucaí.
Também não é fora de propósito deduzirmos que eles
tivessem seguido o percurso do rio até bem longe.
18
A cidade de Itajubá fica às margens do Rio Sapucaí e sua
ligação com o Vale do Paraíba, por onde hoje passa a BR 159, já
era conhecida desde tempos remotos: “faiscadores que subiam a
Serra do Embaú ou mesmo Pindamonhangaba e Lorena. Consta
em mapa de 1790 (figura 1.17), que esta região já era ocupada
principalmente por fazendas. Bem, de um lado, atravessando o
Embaú, faz-se o acesso ao sul de Minas pela bacia do Rio Verde
e, por outro lado, por esse “descaminho” apontado acima, faz-se
o acesso pela bacia do Rio Sapucaí. E ainda teremos os acessos
pelo vale do Rio Sapucaí Mirim, na altura de São Bento do Sapucaí
e pelo vale do rio Itaim, vindo do vale do Jaguari, antigo registro
homônimo e rota do velho Caminho de Fernão Dias. Como já foi
dito, a Mantiqueira apresenta zonas mais baixas junto a esses rios
e zonas mais altas nos interflúvios. Nessa microrregião ou antiga
Freguesia, vamos encontrar as fazendas mais encravadas na Serra,
situadas, geralmente, em várzeas junto aos rios e córregos.
18
Lefort, Monsenhor. Cidade de Campanha, Monografia
Histórica, Belo Horizonte, 1972, p.23 e 24.
Figura 7.297 - Microregião de Itaju. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org /microrregioesdeminas>.
Acesso em 20 março 2008.
Fazendas do Sul de Minas Gerais
260
Fazenda 7 de Abril Município de
Cristina
Segundo o historiador Luiz Barcellos em suas anotações
intituladas Sertão da Pedra Branca, compiladas pela prefeitura
do município, esta fazenda descende de antiga Sesmaria do
Despropósito.
Nesta sesmaria o Sargento-mor Manoel Dias Ferraz,
natural do Desterro, município de Barbacena, formou
em 1830 uma fazenda que denominou 7 de Abril, em
regozijo pela abdicação de D. Pedro I, porque era um
liberal extremado.
16
Sua sede atual não é mais a antiga casa de pau-a-
pique, por isso o foi efetuado o levantamento, mas a hisria
de seu nome mostra a condição do sul de Minas como rego
abastecedora do centro-sul do país no século XIX. Contava meu
avô, Pedro Carlos Junqueira Ferraz, outra versão para o nome
da fazenda. Seu nome o foi dado por Manoel Dias Ferraz,
mas sim por sua mulher que era quem mandava na fazenda.
Era ela uma mulher muito brava, de cabelo nas ventas”. Certa
ocasião, mandou entregar um carregamento na capital e confiou
essa tarefa a seu escravo de confiança. Por acaso a tropa, já
próxima ao seu destino, cruzou com a comitiva de D. Pedro I,
que ordenou a parada da caravana para sua comitiva passar.
O escravo, porém, desconhecendo autoridade, disse que só
obedecia à ordens de sua dona e seguiu, desrespeitando uma
ordem do Imperador. Tempos depois, D. Pedro mandou buscar
o escravo na fazenda e sua dona protegeu-o, dizendo que
havia fugido; escondia-o, pom, em lugar não muito distante.
Quando D. Pedro abdica ao trono, no dia 7de abril 1831, a
fazenda passa a ter esse nome em comemoração a essa data e o
tal escravo, enfim, volta à fazenda.
16
Barcellos, Luiz – Sertão da Pedra Branca in <http://www.
cristina.mg.gov.br> acessado dia 12 de maio de 2008
Capítulo 7 - Levantamentos
261
Fazenda Boa Vista – Município de
Cristina
Situada nas cabeceiras do rio Lambari, ao pé da Serra da Boa
Vista em sua face noruega, pertencia ao Coronel Silvestre Dias
Ferraz, casado com Ana Leonízia de Castro (mesmo nome de
sua mãe), filha de Manoel Dias Ferraz, da Fazenda Sete de
Abril. Ana e Silvestre tiveram onze filhos, todos homens, por
isso essa propriedade é considerada o berço da família Ferraz.
Nos manuscritos de Luiz Barcellos há uma referência à Fazenda
Boa Vista:
Estava edificada ao sul da Fazenda 7 de Abril...Teve
muita riqueza e animação enquanto nela residia o Dr.
Silvestre, homem muito honrado, virtuoso e trabalhador.
Mas depois que ele se mudou para sua nova Fazenda
da Boa Vista dos Pereiras, a da Sesmaria principiou a
decair. Tinha boa casa de morada e outros edifícios
pprios das fazendas, tais como paiol para guardar
milho, moinho para fubá, casas para factura de fumo e
armazéns de cereais, senzalas para os escravos.
17
Nota-se também uma importante informação: essa
rego foi, segundo Maria do Carmo Salazar Martins e Helenice
Carvalho Cruz da Silva (2002), uma importante produtora de
fumo.
Sua sede atual é de tijolos, provavelmente construída
em cima da antiga casa; foi tão alterada a ponto de não valer
a pena fazer seu levantamento. Em seu conjunto, no entanto,
encontramos marcas da antiga ocupação: muros e pisos de
pedra , uma antiga tulha e casa de máquinas, construção de
paredes e piso de madeira sobre barrotes e base de pedra.
Figura 7.298 - Implantação. Desenho: Eneida C. F. Cruz
Figura 7.299 - Vista geral. Foto: Carla Pacheco
17
Barcellos, Luiz – Sertão da Pedra Branca <http://www.
cristina.mg.gov.br>acessado dia 12 de maio de 2008
Fazendas do Sul de Minas Gerais
262
Fazenda Água Limpa Município de
Cristina
Data provel: fim do século XVIII
Pé direito: 4,00
Janelas:
Portas: 3,00
Peças dos umbrais:
Na Fazenda Água Limpa nasceu Joaquim Carneiro Santiago
em 1810. Foi casado com Anna ndida Ribeiro de Carvalho,
filha do Capitão Manoel José Ribeiro de Carvalho, fundador
da Fazenda Pouso Alegre. Joaquim Carneiro e Anna Cândida
Ribeiro, ou ainda Anna do Pitangal”, eram também donos da
Fazenda do Pitangal, em Cristina, cuja casa atual é nova. Esses
dados nos foram fornecidos por Walter Ribeiro Junqueira. O
documento elaborado pela prefeitura de Cristina, mencionado
em seu site, diz que “o documento mais antigo constado
em carrio registra o falecimento do Comendador Francisco
Carneiro Santiago em 30 de maio de 1876, na Fazenda Água
Limpa, da qual era proprietário.
19
Ora, se Joaquim nasceu na fazenda em 1810, essa casa
é, pelo menos dessa data, mas, analisando sua arquitetura,
acreditamos que seja realmente anterior a 1810, talvez do fim
do século XVIII. Denunciam a idade da fazenda sua volumetria
espraiada, a propoão de seu retângulo principal em 1:2, os
cunhais que não terminam nos baldrames e as vergas canga de
boi. Essa propriedade parece filiar-se mais ao grupo de Crulia
do que aos grupos de Itajubá ou Carmo de Minas. Como não
foi posvel entrar na fazenda, reproduzimos a seguir a descrão
feita em levantamento realizado pelo IPHAN.
Está implantada logo após uma vargem e no icio e
ao sul de um pequeno morro. Guarda boa distância
da estrada, o que lhe proporciona ampla visibilidade.
Depois de passar pela capelinha da própria fazenda,
chega-se à sede, atravessando o riacho por uma ponte
de pranchas de madeira. Após a ponte a estrada é
protegida por cerca de réguas a encontrar o grande
muro de pedras que cerca a propriedade, às vezes
servindo de arrimo, quando o terreno fica mais íngreme.
Passando a porteira do muro, em grande área
Figura 7.300 - Implantão. Desenho: Eneida C. F. Cruz
Figura 7.301 - Vista geral. Foto: Carla Pacheco
Figura 7.302 - Capela. Foto: Carla Pacheco
19
http://www.cristina.mg.gov.br/monta_paginas.
php?secao=32
Capítulo 7 - Levantamentos
263
gramada, situa-se à direita o curral com toda a sua estrutura de apoio: estábulo, retiro, silo, paiol,
além do bezerreiro que se localiza fora da área do muro, aproveitando o declive do terreno para o
escoamento do esterco produzido. Assim como as outras dessa infra-estrutura, o bezerreiro é uma
construção de madeira coberta por telhas francesas. O importante para este tipo de função é ter o
assoalho de buas com espamento suficiente para não haver amulo de excrementos e assim
mantê-lo seco para os bezerros pequenos.
À esquerda do pátio gramado fica a casa-sede, com presença marcante na paisagem. Hoje
a planta ocupa um retângulo, mas pode ter perdido a parte dos serviços em alguma reforma. Esse
retângulo é comprido, na proporção de dois para um, como podem comprovar as 10 aberturas de
uma fachada contra cinco da fachada perpendicular a esta, com o mesmo ritmo de cheios e vazios.
É uma casa semi-assobradada com porões que chegam a dois metros de altura. As aberturas
do porão não acompanham as superiores. Em baixo, no porão, elas são feitas na pedra do alicerce,
terminando superiormente nos baldrames, em linha reta. São bem menores que as janelas superiores,
vedadas somente por folhas de madeira e com grande distância entre si.
A estrutura é aunoma de madeira, sobre alicerce de pedras, mas há uma diferença
entre esta e outras fazendas da região: o pé direito não repousa no encontro dos baldrames, mas
prossegue até descarregar em uma de suas pedras do cunhal.
Tanto as vedações externas como os paramentos internos são de pau-a-pique.
Os elementos verticais entre os baldrames e os frechais são bastante pximos entre si o que
faz com que os vãos também assim sejam, produzindo nembros estreitos. Os frechais e os cachorros
m terminação em peito de pomba. O distanciamento entre os frechais é modulado de duas em duas
janelas.
O telhado mantém tanto a estrutura original de madeira como a cobertura de telhas capa e
canal, com a caractestica inclinação dupla propiciada pelo galbo do contrafeito. Sobre a cachorrada,
o guarda-pó de tábuas protege o telhado. As janelas de vergas em forma de cangalha m folhas de
calha por dentro e vidraças de guilhotina, de 12 vidros em cada parte, na face externa.
Na porta da entrada principal, uma aldrava, elemento não muito comum na região.
Como acesso a esta porta há uma escadaria de pedra, com guarda-corpo também de pedras
rebocadas, que encosta na estrutura de madeira e vedos de pau-a-pique da casa. A escada despeja
na larga calçada também de pedras que ocupa a fachada nobre da casa. Uma balaustrada de cimento
protege essa entrada mais um jardim de época mais recente que a casa, com um repuxo no centro
Sobre a porta uma inscrição: “1910 1990”. Só uma pesquisa poderá responder a que se referem
essas datas.
Formando o L há ainda uma varanda de cobertura abaixo do frechal do corpo principal,
fechada por guarda-corpo de tijolo furado, assentado no tipo galinheiro. Tudo sobre o baldrame
original da casa. A hipótese é que tenha caído essa parte da casa e a estrutura foi aproveitada para
colocão da varanda.
Poucas foram as modificões e substituições. Na fachada voltada para o morro, poucas
aberturas, incluindo uma fechada por esquadria de ferro, basculante e de vidro fantasia, ao lado da
velha janela vertical de verga curva que nesta face fica bem próxima ao chão.
Por tudo isso a fazenda parece bastante preservada em suas características originais.
20
20
Cruz, Eneida Carvalho Ferraz- Inventario do Patrimônio Material Rural, Superintendência Regional de São João del-Rei, IPHAN, 2007
Fazendas do Sul de Minas Gerais
264
Fazenda Amarela Município de
Cristina
Data provel: 2ª metade do século XVIII
Pé direito: 4,00
Janelas: 1,00 x 200
Portas: 3,00
No final do século XIX, a fazenda era conhecida como Fazenda
do Caxambu, hoje é conhecida por Conia Joaquim Delfino ou
Amarela, por causa de sua cor predominante.
Os cálculos da data de constrão desta casa foram feitos
pelo proprietário que nos informou que ela seria da década
de 60. Encontramos na prefeitura do município as seguintes
informações:
Foi de propriedade do Conselheiro do Império, Joaquim
Delfino Ribeiro da Luz, que vindo a falecer em 02 de
fevereiro de 1903, deixou como heraa parte da
fazenda para sua esposa Maria Umbelina Santiago Cruz,
parte para seu filho Joaquim Bento Ribeiro da Luz e sua
Figura 7.303 - Fachada frontal.Foto: CFC
Figura 7.304 - Vista geral do conjunto. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
265
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Quicheiro
4. Construções Complementares
5. Ruínas da Antiga Senzala
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
1
2
3
4
4
5
Fazendas do Sul de Minas Gerais
266
esposa Mariana Ferraz Ribeiro e também partes para
outros filhos. Joaquim Bento Ribeiro da Luz comprou
as partes da fazenda de sua mãe e de seus iros e
cunhados em 12 de junho de 1904. Em 17 de maio de
1913, os proprietários venderam um pedaço da fazenda
para o Estado de Minas Gerais, que foi dividido em lotes
de 10 alqueires para alemães e portugueses.
21
As informações da prefeitura esclarecem que
proprietário da fazenda foi conselheiro do Império, portanto a
data casa é pelo menos anterior à Proclamação de República,
em 1889. Sabemos também que havia senzala na fazenda, tanto
pelos vesgios de suas bases de pedras no prolongamento do
corpo da cozinha, quanto pelos relatos dos mais antigos. Sua
arquitetura e suas dimensões condizem com o tipo da segunda
metade do século XIX; é uma casa mais alteada, de planta
regular e vergas retas. Suas fachadas são bastante simétricas
e apresentam vãos regulares com a predomincia dos vazios
sobre os cheios. As portas do porão também são compostas
em harmonia com as janelas, ficam exatamente no espaço
correspondente ao intervalo entre elas. Sua planta é um L
clássico, bastante regular; seu corpo principal tem medidas bem
comuns à época, treze por dezoito metros. Entra-se na casa
por uma sala de distribuição num canto do retângulo, como
na Palmital e na Cachoeira. Dela se tem acesso à sala nobre,
a uma alcova, que talvez fosse uma capela por apresentar
janela interna, a um quarto e à passagem sifonada para a sala
da família. Da sala íntima tem-se acesso a três quartos, a uma
alcova e ao setor de serviços. Por dentro dos quartos chega-
se novamente à sala nobre. O setor de serviços está reduzido
apenas à cozinha. Certamente esse corpo se prolongava bem
Figura 7.305 - Fachada frontal. Foto: CFC
Figura 7.306 - Vista do conjunto. Foto: CFC
Figura 7.307 - Vista externa do paiol. Foto: CFC
Figura 7.308 - Vista interna do paiol. Foto: CFC
21
http://www.cristina.mg.gov.br/monta_paginas.
php?secao=32
Capítulo 7 - Levantamentos
267
mais, chegando a às bases de pedra em seu alinhamento
onde ficava a senzala. Sabemos que uma das formas comuns
de senzala era uma construção anexa, seguindo o alinhamento
do corpo da cozinha, por isso essa versão é bastante verossímil.
Além da senzala, foram desmanchados o moinho de milho e
o depósito de sal. No conjunto da fazenda merece destaque
o grande paiol: suas bases são de pedras e sua estrutura e
fechamento, de madeira. O telhado, ainda de telhas capa e
canal, possui estrutura original que não faz uso de tesouras;
suas peças descarregam em colunas no meio do paiol. O telhado
original da casa perdeu a dupla inclinação e teve suas telhas
de capa e canal substituídas por telhas francesas na década de
setenta. As varandas, tanto a dos fundos quanto a da frente,
o são originais.
Fazenda da Pedra Município de
Cristina
Data provel: 2º quartel do século XIX
Pé direito: 4,00
Janelas: 1,00 x 200
Portas: 3,00
A fazenda tem este nome derivado da antiga sesmaria que
deu nome também ao lugar, Sertão da Pedra Branca, devido
à enorme pedra na serra. Situada na face soalheira do vale
do Ribeirão da Pedra Branca ou da Vargem Alegre, a fazenda
Figura 7.309 - Fachada lateral. O corpo de serviços
prolongava-se mais adiante abrigando também a senzala.
Foto: CFC
Figura 7.310 - Portas de ligação entre vários quartos e sala
nobre. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
268
tem vista privilegiada para a pedra. Sua implantação é em
terreno pouco acidentado, gerando uma casa de porões baixos.
Sua planta é um retângulo de proporções 2:1, com salas em
extremidades opostas, o como as de retângulo comprido
do grupo de Cruzília, mas como as fazendas do fim do século
XIX, onde um longo corredor faz a ligação entre as salas. Na
sala de entrada/nobre, pois é uma só, temos acesso a apenas
dois quartos. Ao longo do corredor, há o acesso a mais dois
e, na sala da família, a mais quatro, sendo que um deles teve
sua porta fechada e se transformou em banheiro voltando-se
ao setor de serviços. A sala da família guarda uma distribuição
entre cômodos e o setor de serviços é bastante tradicional;
o corredor nos parece muito estranho à data de provável
construção da casa. Suas fachadas são bastante regulares com
os distribuídos igualmente, à exceção do intervalo maior
que entre a 6ª e a 7ª janelas da esquerda para a direita.
Pelos fundos, nessa mesma posição, um esteio aparente.
Isso significa que, muito provavelmente, esta parte da casa foi
ampliada, e isso explicaria também o longo corredor. A porta
da sala nobre possui verga em arco pleno como nas fazendas
Campo Lindo e Santa Clara, próprio da influência neoclássica
sentida no fim do XIX, o que nos leva a crer que essa posvel
ampliação tenha sido feita nessa época. Segundo cálculos do
proprietário, quando fizemos o levantamento, a casa seria
de 1850, mas, segundo documento no site da prefeitura, a
construção seria de 1837.
Figura 7. 311 - Fachada frontal a partir do terreiro.
Foto: CFC
Figura 7.312 - Vista do conjunto. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
269
Figura 7.313 - Sala do setor social. Foto: CFC
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Terreiro
4. Construções Complementares
5. Pomar
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
1
2
2
3
3
4
5
Fazendas do Sul de Minas Gerais
270
Conforme anotações de Luiz Barcellos de Toledo em “O
Sertão da Pedra Branca”, a Sesmaria que deu nome ao livro
de anotações e à fazenda atual pertencia ao Capitão-Mor
Joaquim Lucidoro de Mendonça, nascido em 1786, que já
residia na Pedra Branca desde os primeiros dias de 1800.
Em 1837 Lucidoro vendeu a Pedra à família Carneiro, indo
ali residir D. Joaquina Carneiro - filha do comprador - e seu
esposo Ignásio Joaquim Ribeiro...
Ainda segundo Luís Barcelos de Toledo, “A primitiva
fazenda era edificada um pouco abaixo da atual, onde ainda
existem fracos vestígios do lugar em que foi edificado...
“Ignácio Joaquim Ribeiro foi muito abastado
e construiu uma nova grande fazenda, com todos os
melhoramentos necessários...Após sua morte seus filhos
a venderam ao Cap. Custódio Ribeiro Junqueira e por
morte deste comercializaram ao Cap. Francisco Ferraz,
permanecendo, desde então, em mãos desta família.
22
Nesta fazenda nasceu o Presidente Delfim Moreira da
Costa Ribeiro, que governou o Brasil de 1918 a 1922. Em frente
à casa, terreiros de tijolos que aparentam ser da mesma
época por seus longos muros de arrimo feitos de pedra e o de
tijolos. Mesmo que o houvesse tijolos na época, os terreiros
poderiam ter sido de terra batida e posteriormente ganhado
tijolos. Se fossem construídos na época dos tijolos, seus muros
provavelmente seriam do mesmo material. Em um desses muros
uma escada de pedras sacadas do pprio muro, como já
foi descrito anteriormente na Fazenda Sesmaria, onde há uma
escada nos mesmos moldes. Am dos muros de pedra dos
terreiros, outros um pouco mais abaixo da casa atual que
podem ter sido as bases da antiga casa. A fazenda guarda ainda
dois antigos paióis de madeira e, nos fundos da casa, há um
muro de adobe e um rego que corre em um canal de pedras.
Figura 7.314 - Paiol. Foto: CFC
Figura 7.315 - Escada de pedras. Foto: CFC
Figura 7.316 - Sala da família. Foto: CFC
22
http://www.cristina.mg.gov.br/monta_paginas.
php?secao=32
Capítulo 7 - Levantamentos
271
Fazenda da Barra Município de
Delfim Moreira
Data provel: fim do século XVIII
Pé direito: 4,70
Janelas: 1,20 x 200
Portas: 3,00
Umbrais: 12 x 20
Essa fazenda fica encravada na Serra da Mantiqueira, junto ao
Rio Lourenço Velho, em uma área montanhosa entre os vales
do Rio Sapucaí e Verde. O Lourenço Velho é um importante
formador do Rio Sapuce essa área está localizada em um vale
profundo, antigo caminho de ligação entre essas bacias. Muito
provavelmente esta fazenda é uma das remanescentes do mapa
de 1790 (gura 1.17) onde se diz que aqueles sertões já eram
ocupados no fim do XVIII, principalmente por fazendas”(Moraes,
2005). um documento na própria casa que comprova que a
fazenda é do fim do culo XVIII. Por suas características físicas,
por seu nome e sua localização, essa fazenda era ligada ao
comércio. Está localizada às margens de um rio navegável e de
um caminho e, em sua arquitetura, notamos um porão bastante
alto, com muitas portas, dando para uma pequena plataforma
de pedras com escadas, possivelmente uma plataforma para
embarque e desembarque de mercadorias. Este porão era
possivelmente um armazém de um entreposto comercial. Segundo
Alcir Lenharo, muitas fazendas do sul de Minas passaram a
exercer atividade comercial.As dimensões dessa fazenda são bem
superiores à maioria, principalmente em relão às fazendas do
Figura 7.317 - Plataforma e escada de pedras. Foto: CFC
Figura 7.318 - Fachada principal. Foto: CFC
Figura 7.319 - Fachada da frente. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
272
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Moinho
3. Pomar
4. Construções
Complementares
5. Jardim Frontal
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
2
1
3
44
5
Capítulo 7 - Levantamentos
273
culo XIX. Seu retângulo principal é, na verdade, um quadrado de
18 por 18, e mal podemos chamá-lo de principal, pois a tradicional
perna” do L, geralmente onde fica o corpo de serviços, é aqui
parte integrante do setor íntimo. Seus quartos dão para a fachada
lateral que tem 33 metros de comprimento. Em planta a fazenda
esboça um agenciamento tradicional, com sala de entrada, sala
nobre, quartos e alcovas do setor social à frente da casa e sala
íntima e quartos nos fundos do retângulo principal. Aqui, porém,
a sala da família é em L e a maioria de sua área está no retângulo
menor. Isso acontece em menor escala nas fazendas Santana e
Balaio. Há também uma possibilidade de a sala da família ter sido
emendada, retirando-se uma parede e tornando-a em forma de
L. No forro dessa sala há uma divisão onde o sentido das tábuas
se inverte, o que nos abre essa possibilidade de interpretação.
Nesse caso, a planta original seria parecida com a Pedra Negra,
onde temos a sala da família e uma copa formada pela grande
largura do corredor de distribuição aos cômodos de serviços. Sua
implantação é muito imponente, pois sua maior face é voltada
para o desnível do terreno caracterizando uma imensa fachada
em dois pavimentos. O fechamento do porão utiliza técnicas leves
e revestimento de argamassa. Nesta fachada há óculos ovalados
fechados por muxarabis de madeira em cima das portas e janelas
do porão, que são locadas simetricamente nos intervalos das
janelas superiores. Há predominância dos cheios sobre os vazios, ao
contrário do que acontece no XIX. O restante do porão é formado
por um grande muro de arrimo que se prolonga para além da casa
nos dois sentidos, sendo que o fechamento da face posterior do
porão é de adobe. Poucas, ou nenhuma construção original compõe
seu núcleo, que está inserido em uma pequena vila, o bairro da
Barra, sendo seus muros de pedra o elemento mais importante do
conjunto. Possui sofisticado acabamento traduzido em seus cunhais
argamassados, suas pestanas e cimalhas. Sobre a cumeeira do
telhado e sobre um dos cunhais da casa há pináculos de pedra.
Figura 7.320 - Sala de entrada. Foto: CFC
Figura 7.321 - Sala da família. Foto: CFC
Figura 7.322 - Pintura no forro. Foto: Carla Pacheco
Fazendas do Sul de Minas Gerais
274
Fazenda Monte Alegre (dos Coli) -
Município de Delfim Moreira
Ao contrário das outras fazendas, onde fomos muito bem
recebidos, esta foi a única casa de todo o trabalho em que o
conseguimos entrar devido à proibição dos donos, apesar de
muita insistência, contatos e los de família na região.
Fazenda Santa Margarida Município
Don Voso
Essa fazenda era a mais antiga do município por sua volumetria,
enormes muros de pedra e vergas em canga de boi. Mas como não
tivemos pressa de fazer o levantamento, por achar que a qualquer
hora poderíamos fazê-lo, acabamos perdendo a oportunidade e a
casa foi totalmente refeita em cima das velhas bases de pedra.
Figura 7.323 - Vista geral. Foto: Carla Pacheco
Figura 7.324 - Vista geral. Fonte: arquivo Letícia Ribeiro.
Capítulo 7 - Levantamentos
275
Fazenda Primavera – Município de
Delfim Moreira / Itaju
Situada às margens do mesmo caminho onde fica a fazenda
da Barra, esta propriedade também se dava ao comércio mais
do que à agricultura. Seu antigo dono arrendava as terras a
terceiros e revendia seus produtos na fazenda. Sua casa é menor
e mais modesta do que a Barra; em sua planta havia uma parede
de madeira dividindo a sala da parte comercial da casa, onde
funcionava uma espécie de venda. Não fosse esse pormenor, sua
planta em L seria bem convencional: sala de entrada, sala nobre,
alcovas centrais, sala da falia ao fundo ligando com o setor de
serviços e quartos à volta. Apesar de pequena, é um exemplar
perfeito da cnica de estrutura aunoma de madeira, com suas
janelas de vergas retas com pestanas, cunhais trabalhados como
pilastras e frechais e cachorros em peito de pombo. Em suas
janelas, as folhas de guilhotina são divididas em apenas quatro
partes e, em uma das aberturas, o fechamento ainda é feito por
finas lâminas de malacacheta. Saamos que havia esse tipo de
fechamento atras de livros, mas é a primeira que vimos, de
fato, um exemplar que ainda conserva essa preciosidade. Suas
telhas originais foram substituídas por novas, mas o telhado
manteve a dupla inclinação.
Figura 7.325 - Fachada frontal. Foto: CFC
Figura 7.326 - Fachada frontal, notar trabalho na base do
cunhal de madeira. Foto: CFC
Figura 7.327 - Implantação e planta.
Desenho: Eneida C. F. Cruz
Fazendas do Sul de Minas Gerais
276
Fazenda Barreiro – Município de Delfim
Moreira
Situada na mesma rego das anteriores, mais próxima a
Wenceslau Brás, fica bem pxima à nascente do Sapucaí. Essa
fazenda o possui grandes dimensões, assim como a anterior,
mas conserva perfeita saúde plástica com suas janelas de
vergas retas sem guilhotinas e com suas bases de pedra ainda
aparentes, revelando limpidamente toda a estrutura de madeira.
Até mesmo os os do porão são dispostos simetricamente
na fachada. Seu telhado foi substitdo por telhas francesas
perdendo a dupla inclinação. Sua planta simples é em forma de
L, bastante regular, apresentando apenas uma sala de entrada
e a sala da família aos fundos, ligadas por um largo corredor.
As duas alcovas ao centro ficam de costas uma para a outra, já
que o retângulo é mais comprido, e os quartos estão em toda a
volta. Um deles refaz o acesso ao setor social por meio de uma
porta. Na parte interna, a porta do corredor possui verga de
arco pleno. No conjunto da fazenda um belo pedrado no piso
do curral pegado à casa e pequenas constrões auxiliares, cujos
usos mais se parecem com os das casas da roça da região.
Figura 7.328 - Vista geral. Foto: CFC
Figura 7.329 - Sala da família, notar verga de arco pleno.
Foto: Carla Pacheco
Figura 7.330 - Implantação e planta.
Desenho: Eneida C. F. Cruz
Capítulo 7 - Levantamentos
277
Fazenda Água Limpa Município de
Pedralva
Data provel: 1793
Pé direito: 4,00
Janelas: 1,13 x 1,95
Portas: 1,17 x 2,95
Umbrais: 17 x 22, cunhais 24 x 24, baldrames 35 x 28
Nessa fazenda foi encontrada, em um frechal interno da casa,
na sala da família, a assinatura de seu construtor e a data de
construção da casa: Manuel Lino Ribeiro, 1793. Essa assinatura
foi encontrada em 1985 durante uma reforma. A propriedade
está situada aos pés da Serra do Barreiro, no Alecrim,
próximo à Pedralva. No mesmo vale estão as fazendas Santo
Antônio, Cafarnaum e Catelhanos, sendo esta a mais antiga
delas, pareando em idade apenas à Fazenda da Barra. Esta é
possivelmente uma das remanescentes das fazendas do mapa de
1790 (figura 1.17).
Em planta, o retângulo principal é quase um quadrado,
como na Barra e o setor íntimo invade o retângulo dos serviços,
Figura 7.331 - Vista frontal. Foto: CFC
Figura 7.332 - Conjunto da fazenda. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
278
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Construções
para gado leiteiro
3. Cilo
4. Pomar
5. Curso d’água
6. Curral
7. Garagem
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
1
7
2
2
3
3
4
5
6
2
Capítulo 7 - Levantamentos
279
também como na Barra. Pom, nesse caso, a sala da falia é
um retângulo perfeito e o um L como normalmente acontece
quando o setor íntimo invade o retângulo menor (ver Barra,
Balaio, Santana e Pedra Negra). A casa está implantada em
terreno extremamente acidentado, seu poo é bastante alto
e nem por isso suas paredes deixam de ser de pedras, motivo
apontado para explicar fechamentos de pau-a-pique em
poes de outras casas em igual situação (ver Mato, Chapada,
Conceição). Essas paredes de pedra estão sem revestimento
na face posterior da casa, permitindo observar o trabalho de
travamento das pedras nos cunhais. Entra-se na casa por uma
sala lateral, acessada por escada de pedras com guarda corpo
de ferro. Dela acessa-se um pequeno quarto, a sala nobre com
sua alcova e dois quartos, e uma passagem sifonada que liga à
sala íntima. Esta última é um extenso retângulo que dá acesso
a quatro quartos à esquerda e a mais dois à direita, sendo que
um deles faz a ligação com a sala nobre e tem mais um quarto
para dentro dele. No setor de serviços há dois cômodos; um
deles foi transformado em banheiro e o outro é um depósito
com chão de terra batida, assim como o co da cozinha.
Nesta última, uma bica de água corrente que derrama suas
águas num tanque escavado na madeira. Neste modo não
forro e por isso podemos observar a estrutura do telhado
com seus cachorros traspassando o frechal. As telhas foram
substituídas em uma reforma, mas a estrutura original se
manteve. Na sala nobre , na parede, um documento com a
relação dos escravos pertencentes a Joaquim Carneiro Santiago,
datado de 18 de novembro de 1886 em que são tabulados os
seguintes dados: nome, cor, idade, estado civil, naturalidade,
filiação, profissão e valor. Constavam nessa tabela 20 escravos.
Figura 7.333 - Fachada frontal. Foto: CFC
Figura 7.334 - Sala da família. Foto: CFC
Figura 7.335 - Fachada lateral. Foto: CFC
Figura 7.336 - Porão. Foto: CFC
Figura 7.337 - Bica d’água na cozinha. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
280
Em sua estrutura é possível observar claramente o detalhe do
baldrame perfeitamente alinhado com as tábuas do assoalho,
demonstrando a teoria da evolução técnica. As tábuas do
assoalho são de pinho, como é comum nas fazendas na Serra de
Mantiqueira. No conjunto da fazenda há uma série de edicios
ligados à criação e ao manejo do gado leiteiro, incluindo um
curral pedrado. Há também um paiol antigo de madeira e
pequeno terreiro de cimento.
Fazenda Santo Annio Município de
Pedralva
Data provel: década de 1840
Pé direito: 4,10
Janelas: 1,00 x 2,03
Portas: 1,00 x 3,08
Umbrais: 17 x 21
Figura 7.338 - Fachada lateral. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
281
Figura 7.339 - Sala nobre. Foto: CFC
Figura 7.340 - Vista dos fundos. Foto: CFC
Figura 7.341 - Fachada lateral. Foto: CFC
Figura 7.342- Moínho de milho. Foto: CFC
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Moinho
4. Construções Complementares/Café
5. Construção Nova
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
1
2
3
4
4
5
Fazendas do Sul de Minas Gerais
282
Vizinha à Água Limpa com a qual possui laços familiares, a
fazenda Santo Annio é um pouco mais nova, de meados do
século XIX. Está implantada aos pés da Serra do Barreiro. Sua
casa é menor, um L clássico, com o corpo principal medindo
quinze por treze metros e corpo de serviços perpendicular.
A planta é bastante regular, enxuta, com todas as paredes
alinhadas e muitas de suas portas e janelas possuem folhas
almofadadas, coisa raríssima, comum apenas às portas das
capelas nas outras fazendas. Entra-se na casa por uma sala
depois de passar por uma varanda nova; desta sala, tem-se
acesso à sala nobre e a mais dois quartos. Por um corredor
reto faz-se a ligação com a sala da família e desta, com o
corpo de serviços. Por dentro de seus quartos possibilidade
de passagem para o setor social. Todas as portas internas
possuem bandeiras e o forro da sala nobre possui tabeiras e
roda-tetos muito trabalhados, além de rosácea central. A casa
está implantada em meia encosta; de um lado é baixa, com
o baldrame quase no chão e de outro, é alta, com alicerce de
pedras que se prolonga para além do corpo da casa, fazendo
um jardim frontal elevado. A casa está muito bem conservada, o
piso de tábuas largas foi substitdo há muito tempo por tábuas
Capítulo 7 - Levantamentos
283
mais finas de perobinha do campo; as telhas também são novas,
mas o telhado conserva sua dupla inclinação. No conjunto da
fazenda ainda existe o antigo moinho de milho, um antigo paiol
de madeira e novas instalações para produção de leite e café,
além de novas constrões auxiliares para abrigar as funções
de hotel-fazenda. No corpo da cozinha um anexo novo que
abriga sanitários e sauna; para os fundos vários puxados de
serviços.
Fazenda Cafarnaum Município de
Pedralva
Data provel: Desconhecida
Pé direito: 4,00
Janelas: 1,10 x 1,89
Portas: internas 1,17 x 2,94 porta de entrada 136 x 2,94
Umbrais: 13,5 x 21
Vizinha à Água Limpa e à Santo Annio, a Fazenda Cafarnaum
fica em local isolado e a data de sua construção o foi
posvel identificar. Sua planta é um L cssico com o corpo
principal medindo doze por dezessete metros; o antigo corpo
de serviços, que seria perpendicular ao principal pelos alicerces
ainda existentes, foi desmanchado. Em seu lugar, novas
dependências de serviços: cozinha e banheiros. Entra-se na casa
por uma escada de pedras com guarda- corpo de ferro, que dá
acesso a uma pequena sala de distribuição. À direita temos a
sala nobre com dois quartos; à esquerda, mais um quarto e, em
Figura 7.343 - Escada de acesso. Foto: CFC
Figura 7.344 - Fachada frontal. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
284
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Ruínas de um Paiol
3. Retiro
4. Construções Complementares
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
2
1
3
4
Capítulo 7 - Levantamentos
285
frente, o corredor reto de ligação com a sala da família. Desta,
temos acesso à alcova e a mais três quartos, sendo que em deles
tem mais um quarto para dentro. Na sala nobre há um forro
de gamela, mas não é como o que encontramos nos solares
nobres; sua inclinação é mais baixa e as tábuas são finas. A casa
está mal conservada com partes de sua estrutura de madeira,
como frechais e cachorros em peito de pombo, comprometidas.
Os proprietários da fazenda encontraram no porão alguns
instrumentos para aprisionamento de escravos e os doaram a
um museu paulista cujo nome não souberam precisar. Em seu
conjunto há poucas instalações: um curral novo e as ruínas de
pedra de uma antiga construção, provavelmente um paiol.
Fazenda Castelhanos – Município de
Pedralva
Vizinha às anteriores, essa fazenda está bastante arruinada e não
foi possível levantar sua planta. Ao seu redor não há construções
complementares. É uma casa de estrutura autônoma de madeira
sobre bases de pedra e suas dimensões são menores que a média.
Suas telhas foram substituídas por telhas francesas, mas o telhado
conserva a dupla inclinação. uma grande escada de acesso
construída de tijolos perpendicular à fachada. Algumas partes de
seus alicerces e de suas paredes foram substituídas por tijolos.
Figura 7.345 - Fachada lateral. Foto: CFC
Figura 7.346 - Sala da família, armário embutido.
Foto: CFC
Figura 7.347 - Sala da família. Foto: CFC
Figura 7.348 - Fachada frontal. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
286
Fazenda Balaio Município de Santa
Rita do Sapucaí
Data provel: meados do XIX
Pé direito: 4,00
Janelas: 1,00 x 1,90
Portas: internas 1,00 x 3,00
Umbrais: 16 x 20,5
Saindo da região de Pedralva em direção oeste, vamos encontrar
as fazendas do Balaio junto à serra homônima, entre a Serras da
Manuela e a Serra da Pedra Branca. A primeira fica em terreno
bastante plano, em altitude de 847 metros, na várzea de um
pequeno afluente do Sapucaí. Os descendentes dessa fazenda
mantêm laços familiares com os descendentes da Pouso Alegre,
Boa Vista, Ts Barras, Condado e Palmital, am da “Chapada”,
Paracatu e Jardim. O terceiro filho de Cusdio Ribeiro de
Carvalho, o Velho da Chapada”, Joaquim Ribeiro de Carvalho,
nascido em 1789, após ter vendido a seus iros as Três Barras,
Joaquim Ribeiro de Carvalho partiu para Santa Rita do Sapucaí,
onde comprou a grande fazenda do Sobradinho.(...)Dentro
Figura 7.349 - Fachada frontal. Foto: CFC
Figura 7.350 - Fachada frontal e parte da lateral.
Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
287
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Retiro
3. Terreiro
4. Construções Complementares
5. Água
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
1
2
2
3
4
4
4
5
Fazendas do Sul de Minas Gerais
288
de suas antigas fronteiras eso hoje as atuais Sobradinho (de
José Procópio Carneiro Junqueira), Balaio, Balainho, Capituva e
quantas outras mais .
23
O quarto filho do Velho da Chapada”,o Capitão
Manoel José Ribeiro de Carvalho, nascido em 1790, ergueu a
primeira casa da Fazenda do Pouso Alegre. Sua quinta filha foi
Mariana Tridentina:
Mariana Tridentina Ribeiro de Carvalho foi casada com
o Capio Ribeiro de Carvalho Guimarães, da Fazenda
do Balaio em Santa Rita do Sapuc. Eram primos. Ele
era filho de João Ribeiro de Carvalho, o Velho do
Paracatu”.
24
Enfim, se começarmos a explicar os laços de parentesco,
este texto vai ficar mais complicado que “Cem Anos de Solidão”
de Gabriel Garcia Marques.
A casa da fazenda Balaio é um exemplar bastante enxuto
da estrutura autônoma de madeira, um L cssico com corpo
principal medindo quatorze por quinze metros. Por estar em
terreno relativamente plano, seu poo é baixo, não aproveitável,
sendo mais alto apenas na cozinha. A divisão interna permanece
bastante original. As alcovas de ligação usam do recurso de
armários embutidos para criar o sio visual, assim como na
Água Limpa de Pedralva. Na parte da frente, a casa possui uma
sala de entrada dando para uma alcova e uma sala nobre. Por
uma alcova de ligação, chega-se à sala da família e aos demais
quartos. Esta sala estende-se a o corpo de serviços formando
um L. Na juão dos dois corpos, há uma janela e uma porta
separadas apenas por um umbral comum a ambas. O corpo da
cozinha sofreu algumas alterações e ganhou uma varanda junto
à porta. O telhado original foi substitdo por telhas francesas,
mantendo a cachorrada e os frechais. Do lado esquerdo da casa
ficam os terreiros; à frente, os currais e aos fundos, as demais
dependências, pomar e rrego. Foi encontrada nas tábuas do
piso da segunda alcova de ligação uma marca de onde havia
um antigo esteio. Este se apoiava diretamente na tábua e o
nos barrotes que a sustentam, o que mais uma vez demonstra a
cnica construtiva que descrevemos anteriormente.
Figura 7.351 - Imagem de satélite. Fonte: Google Earth
Figura 7.352 - Fachada lateral. Foto: CFC
Figura 7.353 - Sala da família ou “sala de dentro”.
Foto: CFC
Figura 7.354 - Banco de madeira na sala de entrada.
Foto: CFC
23
JUNQUEIRA, Walter Ribeiro. Fazendas e Famílias Sul
Mineiras. São Lourenço: Novo Mundo, 2004, p.17.
24
Idem ibidem - p 33.
Capítulo 7 - Levantamentos
289
Fazenda Balainho Município de Santa
Rita do Sapucaí
Data provável: meados do século XIX
direito: 4,20
Janelas: 1,08 x 1,90
Portas: internas 1,08 x 3,00
Umbrais: 16,5 x 20
A vizinha Balainho descende da mesma fazenda, o Sobradinho,
como vimos anteriormente. Suas plantas são bastante parecidas,
sendo esta um pouco menor. Nesse caso, não sabemos se havia
sala nobre, pois, no uso de hoje, apenas o cômodo de entrada
é usado como sala, ao seu lado há um quarto. O corredor de
ligação é reto e, ao que tudo indica, essa fazenda é mais nova
que a Balaio. Seu corpo de serviços foi bastante reduzido,
perdeu a cozinha que hoje se encontra em um novo volume,
com telhado mais baixo, pegado à casa. Em seu conjunto temos
ainda o antigo paiol de madeira, ao lado da casa; aos fundos
ficam os terreiros e, continuando o corpo da cozinha, uma série
de construções auxiliares.
Figura 7.355 - Fachada lateral. Foto: CFC
Figura 7.356 - Vista dos fundos com terreiro. Foto: CFC
Figura 7.357 - Imagem de satélite. Fonte: Google Earth
Figura 7.358 - Fachada da frente e lateral. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
290
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Retiro
4. Construções Complementares
5. Terreiro
6. Água
7. Moinho
8. Pomar
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
1
2
4
4
3
4
5
5
6
7
8
Capítulo 7 - Levantamentos
291
Em sua frente um terraço aterrado, estranhamente
construído com pedras, da mesma maneira que as bases da
casa. Digo estranho porque não era comum esse tipo de
solução, mas a técnica empregada foi a mesma da casa. Talvez
tenha sido feito posteriormente, mas tomando-se um grande
cuidado. Deste patamar há uma escada que se esparrama para
frente e, para os lados, uma alameda de palmeiras imperiais.
Ambas demonstram uma clara intenção de grandiloqüência, o
que se torna riculo, visto que a grande virtude dessa casa é
justamente a sua simplicidade e harmonia de proporções. Os
terreiros, ao contrio, são singelos e bem postos. ainda na
fazenda uma boa estrutura para o gado leiteiro.
Fazenda Chapada Município de
Conceição dos Ouros
Data provel: meados do século XIX
Pé direito: 4,00
Janelas: 1,10 x 1,90, h=1,00
Portas: internas 1,10x 2,90
Umbrais: 17 x 20
Figura 7.359 - Sala “de dentro. Foto: CFC
Figura 7.360 - Fachada frontal. Foto: CFC
Figura 7.361 - Imagem de satélite. Fonte: Google Earth
Fazendas do Sul de Minas Gerais
292
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Pátio Cercado
4. Construções Complementares
5. Piscina
6 .Ruínas de Pedra
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
2
1
3
4
5
Capítulo 7 - Levantamentos
293
A Fazenda Chapada juntamente com a Cachoeira são as
fazendas com as características mencionadas que se localizam
mais ao sul da comarca, com exceção da Fazenda Barreiro, na
Serra da Mantiqueira. Ambas pertenceram, em alguma altura de
suas hisrias, ao Bao de Mota Paes. A Chapada é hoje uma
imensa fazenda, provavelmente a única desse levantamento
que é uma empresa, uma pessoa judica”. Está localizada em
uma vasta área plana, junto ao Ribeio Chapada, um afluente
do Rio Sapucaí Mirim. Possui duas casas, uma mais nova,
do começo do século XX, onde fica a parte administrativa e
modernas instalações ligadas à produção de café, e outra, mais
antiga, em área isolada que funciona como morada espodica.
Nosso objeto de estudo concentra-se nessa casa mais antiga,
provavelmente de meados do século XIX. À primeira vista, é uma
imensa construção, com infindável seqüência de janelas, pom
analisando sua planta, vemos que a parte residencial da casa
original restringia-se a apenas uma parte dela, em um L cssico.
Este é facilmente identificado quando se tem um panorama
vasto da arquitetura em questão. Seu uso atual envolve todo
o conjunto em uma única residência, transformando, inclusive,
o que seria a antiga cozinha no quarto principal e dificultando
a leitura em um olhar menos atento. Não havia residências tão
grandes nesse local e nessa época. A casa original, um L cssico
Figura 7. 360 - Fachada lateral, porão alto com fechamento
de pau-apique. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
294
se juntou com um outro corpo de construções da fazenda,
provavelmente um setor de servos, ou pelo menos parte dele.
Nota-se claramente a distinção entre o que era a casa original
e o corpo de serviços. Vimos atras dos outros levantamentos
que as janelas do corpo de serviços eram guarnecidas apenas
por paus de fechamento a 45º e, quando muito, por folhas de
calha na parte interna. Sabemos também, pelos levantamentos,
que os edicios industriais não apresentavam o mesmo requinte
que os de morada e, apesar de usarem a mesma cnica,
deixavam seus esteios à mostra nas fachadas. Pois bem, estas
duas características são notadas no L alongado que se conecta
ao volume original. A bem da verdade, as ts primeiras janelas
após o corpo principal também são de folhas de guilhotina
com vidros. Isso pode o ser apenas uma reforma atual e sim
uma antiga ampliação ou extensão da parte residencial, como
ocorreu na vizinha Cachoeira. O corpo principal é formado por
um retângulo de dimensões bastante comuns, treze e meio
por dezoito metros, sendo o corpo de serviços perpendicular a
ele. Entra-se na casa por uma varanda paralela à fachada, com
escada também paralela vazando o seu piso, como nas antigas
fazendas mineiras da rego mineradora no século XVIII. Antes
que se pense que essa é uma característica repetida também
no sul de Minas, devo esclarecer que o telhado de prolongo
denuncia o falso histórico que essa varanda possa eventualmente
causar. Nas fazendas do XVIII, onde isso é comum como notou o
professor Menezes:
A varanda é quase indispensável nas construções rurais
do século XVII e início do XIX, localiza-se fronteira
à construção, fazendo parte do corpo da casa,
coberta pelo mesmo telhado do conjunto ou como
Figura 7.363 - Aspecto geral do conjnto com antigo corpo
de serviços em primeiro plano. Foto: CFC
Figura 7.364 - Vista traseira do conjunto. Foto: CFC
Figura 7.365 - Vista frontal. Foto: CFC
Figura 7.366 - Fachada dos fundos. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
295
prolongamento deste telhado. Como no exemplo
paulista, poderá a varanda ficar embutida entre o quarto
de hóspedes e a capela, ou abranger toda a fachada,
ocupando parte desta ou ser ladeada pela capela ou
outro cômodo. Estende-se muitas vezes à fachada
lateral, onde, ocasionalmente, termina com a capela. (...)
Elemento necessário para o acesso ao andar nobre da
sede, a escada apresenta-se, ora seencial à varanda
fronteira, ora nela embutida, ora interna à construção,
ora ainda externa, lateral à varanda, quer em degraus
tornejados, quer perpendiculares a ela.
25
As varandas descritas acima nada têm a ver com esta que
existe na Fazenda Chapada; o telhado de prolongo deve avançar
sobre o corpo da casa ou sobre toda a extensão da fachada. Neste
caso, a varanda é possivelmente uma aquisição posterior que
se baseia em varandas “coloniais” mais antigas. Ao passar por
essa varanda chegaremos à sala de distribuição que dá acesso à
sala nobre e a um corredor reto de ligação com a sala da família.
Suspeitamos, por causa desse corredor reto, que a casa não seja
anterior à metade do XIX. Da sala nobre temos outra ligação com
a sala da família, como na Pouso Alegre. Há três alcovas centrais e
quartos distribuídos pelas laterais. Da sala da família temos a ligação
como o corpo de serviços, hoje suíte máster. Toda a base da casa
é de pedras onde se assentam os baldrames, com exceção do lado
oeste, onde o porão é mais alto e suas paredes são de pau-a-pique.
O mesmo acontece em outras fazendas como Conceição e do Mato.
Ao redor da casa, envolvendo-a em pátios cercados, há muros de
pedra. Nos fundos ainda há um paiol de madeira e, na ponta do
pátio, as ruínas de uma antiga construção.
25
Menezes, Ivo Porto Arquitetura Rural em Minas Gerais
Século XVIII e inícios do XIX, Revista Barroco, nº12 , anos
1982/3 p. 218 e 219
Figura 7.367 - Sequência de portas a partir do setor de
serviços para o setor social. Foto: CFC
Figura 7.368 - Casa nova. Foto: Eneida F. C. Cruz
Fazendas do Sul de Minas Gerais
296
Fazenda Cachoeira – Município de
Conceição dos Ouros
Data provel: meados do século XIX
Pé direito: 4,00
Janelas: 1,22 x 2,00
Portas: internas 1,10x 2,90
Umbrais: 17 x 21, cunhal 21 x 21
Com o hisrico parecido com a fazenda anterior, a Cachoeira
possui também uma planta bastante parecida em dimensões e
agenciamento com a planta da Fazenda Chapada. Localiza-se às
margens do Rio Sapucaí Mirim. Sua planta seria um L clássico,
não fosse o anexo em direção oposta ao corpo da cozinha,
construído ainda no tempo do pau-a-pique. Sua planta está
muito mudada, mas sobrepondo-a à planta da Chapada, que
está bem conservada, podemos supor que as divisões internas
era muito parecidas. Os dois quartos à esquerda da sala de
entrada deveriam ser a sala nobre; a sala da família talvez não
fosse até a fachada sul e a ligação entre ela e a sala nobre se
repetisse por outro corredor, ao redor das alcovas. As dimensões
dessa casa são ligeiramente superiores às da Chapada, tanto no
comprimento do corpo principal quanto em relação ao corpo
de serviços. As janelas também possuem larguras superiores
à média, encontradas somente nas grandes casas. Foram
acrescentadas modernas varandas; uma, ao longo da fachada
da frente, e outra, aos fundos. Em seu complexo conjunto há
Figura 7.369 - Fachada frontal. Foto: CFC
Figura 7.370 - Vista lateralFoto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
297
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Terreiro
3. Antiga Tulha
4. Construções Complementares
5. Caseiro
6. Maquinário de Café
7. Pomar
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
1
2
3
4
7
44
4
5
6
Fazendas do Sul de Minas Gerais
298
muitas construções modernas e antigas. O mais importante é o
conjunto cafeeiro do fim do século XIX; são terreiros, muros de
arrimo de pedras e uma tulha/casa de máquinas, constrda de
alvenaria portante de tijolos, perfeitamente de acordo com as
melhores cnicas da época, com cimalhas de argamassa frisada,
arcos plenos nas portas e janelas e telhado de duas águas.
Fazenda Monjolinho Município de
Conceição dos Ouros
Pertencente à Fazenda Cachoeira, encontramos a Monjolinho.
Sua casa não pertence ao grupo estudado, é constrda de
alvenaria portante de tijolos e está abandonada, mas ainda
assim foi possível fazer um levantamento surio. Sua planta
retangular compõe-se de um longo corredor de distribuição com
duas peças maiores nas pontas, a sala de entrada e a cozinha.
Ao longo do corredor, os quartos e, entre eles, alternadas ora à
direita, ora à esquerda, duas salas.
Figura 7.371 - Vista dos fundos. Foto: CFC
Figura 7.372 - Grande terreiro com casa aos fundos.
Foto: CFC
Figura 7.373 - Tulha de tijlos. Foto: CFC
Figura 7.374 - Implantação e planta.
Desenho: Eneida C. F. Cruz
Figura 7.375 - Fachada principal. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
299
Grupo de São Gonçalo do Sapucaí
Este pequeno grupo fica exatamente na região central do Sul
de Minas, bem pximo à Campanha, cidade que é considerada
o “beo do Sul de Minas” e, apesar dessa maior tradição em
relação a outras regiões, o foram encontradas nessa região
um grande número de fazendas. Além da Fazenda Santa Clara e
da Fazenda Monte Alegre, foram visitadas as fazendasXicão”,
Nossa Senhora das Valias, Cachoeira e Cafelândia em São
Goalo do Sapuc, e a Fazenda Cafendia em Cordislândia.
pom o entraram no levantamento pelos motivos
apresentados na introdução deste capítulo. Figura 7.376 - Microregião de Santa Rita do
Sapucaí. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/
microrregioesdeminas>. Acesso em 20 março 2008.
Fazendas do Sul de Minas Gerais
300
Fazenda Santa Clara – Município de
Careaçu
Data provel: 1ª metade do século XIX
direito: 4,00
Janelas: 1,20 x 2,00
Portas: 1,20 x 3,00
Esta foi a remanescente mais antiga encontrada em local
próximo à antiga vila de Campanha da Princesa da Beira.
Campanha, por toda sua importância histórica, certamente
deveria guardar vários exemplares da arquitetura rural sul-
mineira do século XIX. Por ser a primeira vila da região (1789),
seu termo era enorme e fica difícil saber quais das diversas
fazendas, registradas em documentos antigos como pertencendo
à Campanha, ficam realmente no atual município de Campanha
e seus vizinhos imediatos. A fazenda Santa Clara, apesar de ficar
na região central do sul de Minas, possui características que a
ligam mais ao grupo do leste sul-mineiro. É implantada em vasto
território, local ermo, dominando grande paisagem. Sua planta
é um longo retângulo e ao fundo há um pomar totalmente
Figura 7.377 - Vista geral em 1984. Foto: Arquivo pessoal
de Helena Ferraz
Figura 7.378 - Fachada principal. Foto: CFC
Capítulo 7 - Levantamentos
301
murado. Essas características são semelhantes às da Bela Vista,
Boa Vista e Narciso, todas em Cruzília. Sua longa planta, um
retângulo de aproximadamente doze por quarenta e ts metros,
apresenta um agenciamento curioso, similar à Bela Vista, com
setor social em uma ponta e serviços na outra, ficando o meio
com a área da família. Chega-se por um alpendre lateral, talvez
posterior, por sua porta de arco pleno, na mesma posão do
alpendre da Bela Vista. Dali se acessa o vestíbulo de entrada
e dele, a sala nobre com sua curiosa alcova e mais um quarto.
Esta alcova, ao contrário do comum, não fica em posição central
e sim pegada a uma fachada; nem por isso é um cômodo com
janelas. Isso mostra que o fenômeno de permancia da alcova é
de base cultural e não uma limitação cnica como dizem muitos
historiadores, ao se referirem às alcovas urbanas. Conforme já
comentamos no capítulo cinco, o vestíbulo, por sua vez, liga-se
a um quarto e a mais um modo que deduzidos ser uma antiga
Figura 7.379 - Vista geral (mesmo ângulo da antiga).
Foto: CFC
Figura 7.380 - Fachada frontal com entrada por alpendre
lateral com porta de verga com arco pleno. Foto: CFC
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Senzala
4. Construções
Complementares
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
2
1
3
4
4
Fazendas do Sul de Minas Gerais
302
capela, por possuir uma janela interna, abrindo-se para a sala
próxima. Essa casa possui duas salas e fica dicil dizer até que
ponto vai o setor íntimo e o social. Provavelmente sua planta
tenha sofrido ampliações muito antigas no sentido longitudinal,
empurrando o corpo de serviços e deslocando o uso do setor da
falia mais para dentro”. Hoje temos uma sala grande ao lado
do vestíbulo, que provavelmente foi uma sala do setor íntimo
em razão da janela da capela. Temos ainda outra sala grande,
no centro do retângulo, com porta para fora, certamente uma
sala íntima, com ligação direta com o pomar e ligada a vários
quartos. Dali para diante, temos o corpo de serviços bastante
completo com diversos quartos e duas cozinhas. Esse setor
possui ainda duas portas para fora, mas nenhuma dela ligadas
ao pomar cercado. Este leva a crer que a fazenda possuía grande
população residente, pom o encontramos vestígios de
senzala. O pomar é um elemento imprescindível nessas fazendas.
Em estudos históricos / econômicos sobre itens comercializados,
encontramos sempre a menção a toucinho, queijos, gado,
porcos, mula, galinha, algodão, fumo, sola, etc. Nunca, pelo
contrário, encontramos menção a frutas, legumes, etc. Em
Lenharo a falta desses produtos é sentida nos caminhos entre a
prodão e a praça do Rio de Janeiro.
Leite, frutas, verduras eram raros; contavam
pouco na dieta dos proprietários e vendeiros da beira das
estradas e, por isso mesmo, eram postos em oferta.
26
Por isso os pomares eram tão valorizados nas fazendas;
só comia frutas quem as plantasse.
No mais, quanto ao conjunto da fazenda pouco
podemos dizer, pois não há vestígios de construções
antigas. Acreditamos que a propriedade tenha sido ligada
primordialmente à pecuária e à abertura de novas frentes de
ocupação. Temos, neste levantamento, fotos da casa na década
de 1980 tiradas a partir da estrada, fotos do levantamento
realizado em duas etapas, 1997 e 2000, e, já nessas fases, as
peças da casa estavam sendo retiradas para venda. Depois disso,
a casa foi, aos poucos, sumindo da paisagem.
Figura 7.381 - Vista interna do alpendre. Foto: CFC
Figura 7.382 - Sala de entrada. Foto: CFC
26
LENHARO, Alcir. As Tropas da Moderação. O
abastecimento da Corte na formação polística do Brasil:
1808-1842. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de
Cultura/Prefeitura, 1993. p.62.
Capítulo 7 - Levantamentos
303
Fazenda Monte Alegre – Município
Cordislândia
Data provel: meados do século XIX
Pé direito: 4,00 e 3,90
Janelas: 1,15 x 1,85 h=0,95
Portas: internas 1,15 x 2,90
Umbrais: 17(profundidade, espessura da parede)x 20
(largura, frente)
Situada à margem direita do Rio Sapucaí, já em um trecho
bastante caudaloso, a fazenda Monte Alegre é uma das poucas
ao lado de grandes rios. A margem esquerda do Sapucaí
permaneceu por muito tempo desocupada. Atualmente, a casa
tem a forma de um U, mas nem sempre foi assim. Teria sido
originalmente um L clássico, sofrendo posterior ampliação de
seu retângulo principal no sentido longitudinal e, mais tarde,
ganhou mais uma perna”, transformando-se em um U. Não
sabemos ao certo quais alterações levaram à configuração atual
de sua planta. O acesso é feito por um pequeno alpendre na
fachada frontal; dali se passa à sala de entrada que distribui
para a sala nobre à esquerda, um quarto ao lado direito e
Figura 7.383 - Vista fontal do conjunto. Foto: CFC
Figura 7.384 - Vista frontal e lateral da casa. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
304
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Paiol
3. Retiro
4. Construções Complementares
5. Pátio de Pedra
6. Rio Sapuc
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
1
2
3
4
4
5
6
Capítulo 7 - Levantamentos
305
corredor reto à frente, ligando com a sala da família. Ainda é
posvel notar pelo forro connuo entre o salão nobre e seus
dois quartos orbitais que o salão era maior antes da ampliação
da casa, indo até a marca no forro dentro dos quartos (ver
tracejado). Do salão também é possível fazer o acesso à sala
da família diretamente, sem o intermédio de um corredor. A
sala da família é uma peça estreita e comprida; dela se acessam
diretamente mais dois quartos e uma alcova. E dela se passa
também a uma espécie de copa que faz a distribuição para
outros quartos e uma sala lateral. Esta última ocorre também na
Fazenda da Barra; é uma espécie de sala interna ao setor íntimo.
Aos fundos, temos os modos da cozinha, despensa e sanitário
novo. As paredes desse lado da casa são bastante desalinhadas
o que nos mostra que deve ter havido reformas também na
parte interna da casa. A volumetria da casa é bem composta,
apresentando perfeita técnica construtiva da estrutura aunoma
de madeira onde baldrames, frechais e cunhais se mostram
claramente nas fachadas. Seu beiral deixa aparente a cachorrada
e os frechais arrematados em peito de pombo sustentam as
tábuas do guarda- pó. As janelas são de verga reta e as folhas
de guilhotina dividem-se em vinte partes de vidro. Na fachada
lateral, encontramos folhas com divisão em doze e em seis
partes, atestando que houve reformas. O conjunto da fazenda é
implantado em torno de um pátio / curral cercado por muros de
adobe e por construções diversas. Na entrada, um longo muro
de pedra atesta a idade da fazenda.
Figura 7.385 - Fachada lateral. Foto: CFC
Figura 7.386 - Perna do U. Foto: CFC
Figura 7.387 - Sala íntima. Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
306
Grupo de Machado, antigas freguesias
de Cabo Verde e Jacuí, microrregião de
Alfenas
Este grupo fica à esquerda do Rio Sapuc, já no caminho para
o oeste, antiga ligação com Goiás. Infelizmente este grupo está
mal representado pelo pequeno mero de fazendas levantadas,
acreditamos que haja mais fazendas antigas nesta região.
Atualmente esta rego possui uma forte economia agrícola
devido ao ca, muitas das prováveis antigas fazendas foram
reformadas e descaracterizadas. Além da Fazenda Tucum e da
Fazenda Conceição por nós levantadas, visitamos também a
Fazenda Esrito Santo e apresentamos ainda a Fazenda Monte
Alegre, que não foi visitada por nós, mas sim encontrada no
arquivo da CEMIG. Nesta rego havia uma importante fazenda
citada no trabalho de Alcir Lenharo, a “Fazenda do Centro”, esta
fazenda de criação de gado fazia uma antiga conexão comercial
entre o Sul de Minas, Goiás e o Rio de Janeiro.
Operava nestes moldes a fazenda do “Centro”,
propriedade administrativa pelo pe. José Custodio Dias e
seu iro, também político mineiro, Custódio Jo Dias.
Am da produção interna, esta propriedade, situada
onde hoje fica o município de Alfenas, era conhecida
como grande centro de invernadas, permitindo e seus
proprietários manipular expressivo comércio regional.
D provém, inclusive, a origem de nome desta
grande propriedade, hoje denominada Machado. Seus
ponteiros tinham larga faixa de atuação, alcaando
principalmente a produção do gado goiano.
Figura 7.388 - Microregião de Alfenas. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org /microrregioesdeminas>.
Acesso em 20 março 2008.
Capítulo 7 - Levantamentos
307
Fazenda Tucum – Município Machado
Data provel: meados do século XIX
direito: 4,00
Janelas: 1,20 x 2,00 h=1,00
Portas: internas 1,20 x 3,00
Umbrais: 16x 20
A casa da fazenda Tucum é um tanto pequena em relação à
média das fazendas, porém é um exemplo perfeito da boa
utilização da técnica da estrutura autônoma de madeira. Sua
planta é um L clássico com o corpo principal medindo quinze
por doze metros; enxuta e bem proporcionada, possui todos
os elementos estruturais à mostra, são barrotes, frechais e
cunhais. Em seu programa possui todas as peças tradicionais
com exceção da capela ou ermida, como é chamada na região.
O agenciamento dessas peças também é bastante exemplar:
entra-se por uma sala que dá acesso à sala nobre e, por um
corredor reto, à sala da família. Ligada à sala nobre temos duas
alcovas centrais e um quarto. Uma das alcovas faz novamente
a ligação interna com a sala da família. Esta, a maior peça da
casa, liga-se aos demais quartos e ao corpo de serviços. Um
dos quartos tem um outro quarto para dentro dele. O setor
de serviços não possui saída, a cozinha é uma peça quadrada
e fica na ponta desse volume que tem mais dois cômodos,
usados como despensa. Uma escada, saindo da sala da família,
faz a ligação com o exterior. Por todos esses motivos, ao fazer
a maquete da estrutura autônoma de madeira, escolhemos a
Fazenda Tucum. Em seu conjunto temos ainda senzala, paiol,
moinho e monjolo.
Figura 7.389 - Oratório. Foto: CFC
Figura 7.390 - Fachada frontal e escada de acesso.
Foto: CFC
Figura 7.391 - Fachada lateral e dos fundos. Foto: CFC
Figura 7.392 - Vista dos fundos a partir do terreiro.
Foto: CFC
Fazendas do Sul de Minas Gerais
308
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Monjolo/Casa de Máquinas
3. Senzala?
4. Construções Complementares
5. Terreiro
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
FUNDOS
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
1
2
3
4
4
4
5
Capítulo 7 - Levantamentos
309
Fazenda Conceão - Município
Machado
Data provel: meados do século XIX
direito: 4,00
Janelas: 1,20 x 2,00 h=1,00
Portas: internas 1,20 x 3,00
Umbrais: 16x 20
Sua volumetria é de um L clássico, com o retângulo principal
possuindo medidas bastante comuns, treze por dezessete
metros. Isso mostra mais uma vez que a tipologia consolidada
no sul de Minas também ocorre a oeste do Rio Sapuc.
Sabemos que São Carlos do Jacuí (1814) foi, das sete vilas
erigidas no fim do peodo colonial, a única a oeste do Sapucaí
e isso certamente ajudou a promover a ocupação da região
ocidental do sul de Minas que já vinha ocorrendo de maneira
incipiente. Em planta, essa casa apresenta uma configuração um
pouco confusa, talvez devido a reformas ou talvez tenha sido
assim desde o início. Temos aí um esboço do agenciamento do
L clássico, mas com algumas diferenças. Há alcovas centrais, a
sala da família está na posição tradicional, há sala de entrada
Figura 7.393 - Fachada frontal e alendre de acesso.
Foto: CFC
Figura 7.394 - Fachada dos fundos a partir do terreiro.
Foto: CFC
Figura 7.395 - Imagem de satélite. Fonte: Google Earth
Fazendas do Sul de Minas Gerais
310
IMPLANTAÇÃO
ESC. 1:1000
1. Casa Principal
2. Terreiro
3. Tulha
4. Construções Complementares
ELEVAÇÃO FRONTAL
esc. 1:500
ELEVAÇÃO LATERAL
esc. 1:500
PLANTA
ESC. 1:500
Externos
Família
Serviços
2 2
1
3
4
4
Capítulo 7 - Levantamentos
311
e quartos na periferia do retângulo. Porém não há sala nobre,
apenas a sala de entrada, e a sala da falia não faz ligação
direta com o corpo de serviços. Além disso, há dois quartos na
casa que possuem dimensões superiores às da sala da família.
O que normalmente ocorre é que esta última é a maior peça da
casa. Junto à sala de entrada, os dois quartos que se ligam a ela,
formam um volume que fica para fora do retângulo principal.
Acreditamos que tenha sido uma ampliação antiga, ainda do
século XIX, pois a técnica construtiva utilizada é a mesma. O
antigo cunhal, entretanto, fica aparente na fachada, mostrando
que foi uma alteração posterior à data da construção.
Sua implantão é em declive e sua face noroeste fica bastante
alta. Nessa poão da casa o fechamento do poo é de
pau-a-pique e a estrutura é marcada por esteios aparentes
sustentando o baldrame. Em seu conjunto existia ainda, quando
foi feito o levantamento, um antigo edicio estreito e comprido
que abrigava a antiga tulha / casa de máquinas e, muito
provavelmente, abrigava também as senzalas. Este edifício ruiu,
como podemos ver pela imagem do satélite.
Fazenda Espírito Santo – Município
Machado
Chegamos a visitar essa fazenda e verificamos que realmente
pertence ao período estudado, tendo sido, inclusive, sede
de sesmaria. Pom achamos que as alterações internas a
descaracterizaram. Posteriormente verificamos que foi publicada
em livro comemorativo da CEMIG, onde constam as seguintes
informações:
Tem sua origem em uma sesmaria de 50.000 hectares
doada por D. Pedro I ao Capio Mor Marco Aurélio.
Dedica-se atualmente à prodão de café e leite. A
sede possui cerca de 180 anos e foi toda restaurada
recentemente, preservando as características originais
arquitenicas e o mobilrio.
Talvez o autor tenha se enganado quanto ao conceito
de preservação e conservação; a casa está bem conservada
externamente, apesar da imensa varanda nova do mesmo “estilo” da
casa, mas para efeito de estudo de plantas não é possível aproveitá-la.
Figura 7.396 - Vista geral do conjunto. Foto: CFC
Figura 7.397 - Antiga senzala. Foto: CFC
Figura 7.398 - Fachada frontal. Fonte: Acervo CEMIG
Fazendas do Sul de Minas Gerais
312
Fazenda Monte Alegre – Areado
Grupo de Guaxupé, antiga freguesia de
Jacuí, microregião de Guaxupé:
Este grupo carece da mesma falta de levantamento de campo do
grupo de Machado e de Poços de Caldas. Duas fazendas desta
rego, selecionadas por nós, foram retiradas do levantamento
do arquiteto Moacir Cyrino.
Fazenda Correnteza Município de
Guaxupé
Figura 7.399 - Fachada frontal. Fonte: Acervo CEMIG
Figura 7.400 - Microrego de São Sebasto do
Paraíso. Dispovel em: <http://pt.wikipedia.org/
microrregioesdeminas>. Acesso em 20 março 2008.
Figura 7.401 - Fachada lateral. Foto: Moacir Cyrino
Capítulo 7 - Levantamentos
313
Fazenda Dr. Izaac – Município de
Guaxupé
Micro região de Poços de Caldas:
Este grupo carece da mesma falta de levantamento de campo
dos grupos anteriores. Sabe-se, entretanto da existência de
antigas fazendas, cujas fotos foram gentilmente cedidas pelo
arquiteto Lorette.
Fazenda Barreiro
Fazenda Chapadão
Figura 7.402 - Fachada frontal. Foto: Moacir Cyrino
Figura 7.403 - Microrego de São Sebasto do
Paraíso. Dispovel em: <http://pt.wikipedia.org/
microrregioesdeminas>. Acesso em 20 março 2008.
Figura 7.404 - Fazenda Chapadão. Fonte: Acervo Lorette
Fazendas do Sul de Minas Gerais
314
Capítulo 7 - Levantamentos
315
Considerações Finais
Ao definir nosso objeto de pesquisa, priorizamos o
entendimento da arquitetura corrente, praticada e disseminada
em uma determinada região e em um determinado período
hisrico. Assim acreditamos que teremos uma visão muito mais
perspicaz e afinada com o cotidiano daquelas pessoas, daquela
sociedade.
Aqui o erudito é somente importante como modelo
teórico, ideal. Procuramos identificar o tipo, a regra e não o
edifício excepcional, o monumento. Por mais que dentro da
regra haja exceções, como fica claro ao ver o levantamento,
buscamos o fio que perpassa por todos os exemplares, seja
ele formal, estistico, programático ou cnico. Pode ser pela
maneira como é solucionado determinado problema técnico
ao não expor a madeira à umidade, por exemplo; pode ser
na maneira de agenciar os cômodos, pode estar na forma
simples dos volumes puros, sem recortes, ou através de um
pequeno caritó, um oratório, um armário dividindo espaços.
A identificão pode estar nas soluções de implantação, na
compreensão do lugar, no senso de praticidade e economia. A
despeito das queses de desenho ou estilo, o saber fazer é o
que prevalece. Neste contexto, foi produzida no Sul de Minas,
uma arquitetura una, simples e austera. Delicada por sua leveza
e implantação criteriosa, pelo refinamento técnico e apuro
construtivo. Sólida pelo exercício da repetição que conseguiu,
por quase dois séculos, perpetuar-se sem grandes alterações.
No campo da história, acabamos nos distanciando da
idéia das minas do ouro”, das minas urbanas e vimos que
outras atividades tiveram grande peso na formação econômica
de Minas Gerais e que o predomínio do urbano sobre o rural
e o mito da ruralização, em decorrência do decnio do ouro,
o se comprova. Neste sentido, ouro foi apenas o catalisador
que permitiu que se criasse no novo mundo uma sociedade
complexa econômica e socialmente, onde a transposição de uma
grande massa da população portuguesa e africana se reorganiza
sob novas bases. Não foi somente a existência do ouro nas
quantidades e condições descobertas que permitiram esse
processo, foi antes o mito p-existente e a expectativa de toda
uma populão ávida pela materialização desse mito.
Essa lacuna histórica s-ouro” vem sendo preenchida nos
últimos anos por recentes trabalhos de historiadores, contudo
no campo da história da arquitetura só se houve falar em
Fazendas do Sul de Minas Gerais
316
Aleijadinho. No século XIX a sociedade e economia de Minas
estiveram mais ativas do que nunca, entretanto a arquitetura
produzida neste período passa ao largo de nossa bibliografia.
Desta maneira, desconfiando dos paradigmas
consagrados da arquitetura mineira, seguimos, sem preconceitos,
a revelar sua outra face e a descobrir uma arquitetura corrente,
onde, a cada incursão, dezenas e dezenas de exemplares foram
encontrados e muitos outros ainda poderão ser. Descobrimos
nesta rego de Minas um rico patrimônio histórico que passou
despercebido por nossos melhores historiadores da arquitetura;
essas fazendas são a marca da primeira ocupação definitiva
desse território, incentivada a partir de 1808 com a chegada da
Corte. Desde o princípio da pesquisa, desconfiávamos de uma
posvel interpretação simplista para a origem dessas fazendas.
Ao longo da pesquisa, com a descoberta de um número cada
vez maior de exemplares, essa desconfiança só aumentou e veio
a ser confirmada quando da leitura de autores como Lenharo
(1993) e Andrade (2008): eram fazendas produtoras de gêneros
diversos destinados ao abastecimento do mercado interno,
baseadas no trabalho escravo e na grande propriedade e
alavancadas pela necessidade de ocupação territorial. Esperamos
que nosso trabalho, como uma via de mão dupla, ajude também
historiadores, sociólogos e economistas a confirmarem suas
hipóteses. Esperamos também contribuir para o preenchimento
dessa lacuna na história da arquitetura brasileira, contribuindo
para o conhecimento e divulgação desse patrimônio. Essas
fazendas formam, em seu conjunto, uma falia tipológica com
caractesticas próprias dentro do cenário nacional. Sabemos que
o é um trabalho completo; do ponto de vista do levantamento
de campo acreditamos que ainda é posvel encontrar novos
exemplares, principalmente em áreas pouco exploradas, a oeste
da região; do ponto de vista da documentação específica,
esta sim, deverá ser pesquisada com mais profundidade, em
fontes primárias, devido à escassez de trabalhos publicados
sobre o assunto. Futuras pesquisas, principalmente na área
de hisria, podeo contribuir para a complementão dos
dados documentais, tarefa que nós, como arquitetos, não
tivemos a competência para fazer. Construímos, sim, uma
nova base documental com o levantamento criterioso (gfico
e fotográfico) dos exemplares que pode servir de fonte para
futuras investigações.
Considerações Finais
317
Fazendas do Sul de Minas Gerais
318
Campo das Vertentes
Anexo - Fazendas de Outras Regiões
de Minas
Fazenda Bom Jardim - Município de
Bom Sucesso
Fazenda Bom Retiro - Município de
Oliveira
Anexo - Fazendas de outras Reges de Minas
319
Figura A.1 - Planta F. B. Jardim. Fonte: Martins (1998)
Figura A.2 - Foto F. B. Jardim. Fonte: Martins (1998)
Figura A.4 - Planta F. B. Retiro. Fonte: Martins (1998)
Figura A.5 - Foto F. B. Retiro. Fonte: Martins (1998)
Fazenda Cachoeira - Município de Bom
Sucesso
Fazenda Cachoeira - Município de
Ritápolis
Fazendas do Sul de Minas Gerais
320
Figura A.6 - Planta F. Cachoeira. Fonte: Martins (1998)
Figura A.7 - Foto F. Cachoeira. Fonte: Martins (1998)
Figura A.8 - Foto F. Cachoeira. Fonte: Martins (1998)
Figura A.9 - Planta F. Cachoeira. Fonte: Martins (1998)
Figura A.10 - Foto F. Cachoeira. Fonte: Martins (1998)
Fazenda Cachoeira - Município de Santo
Annio do Amparo
Fazenda Capão Seco - Município de
Lagoa Dourada
Anexo - Fazendas de outras Reges de Minas
321
Figura A.11 - Planta F. Cachoeira. Fonte: Martins (1998)
Figura A.12 - Foto F. Cachoeira. Fonte: Martins (1998)
Figura A.13 - Planta F. Capão Seco. Fonte: Martins (1998)
Figura A.14 - Foto F. Capão Seco. Fonte: Martins (1998)
Fazenda Capão Seco - Município de
Lagoa Dourada
Fazenda Contramestre - Município de
Barbacena
Fazendas do Sul de Minas Gerais
322
Figura A.15 - Foto F. Capão Seco. Fonte: Martins (1998)
Figura A.16 - Foto F. Contramestre.
Fonte: Menezes (1983)
Fazenda Córrego da Prata - Município
de São Tiago
Anexo - Fazendas de outras Reges de Minas
323
Figura A.17 - Planta F. Córrego da Prata.
Fonte: Martins (1998)
Figura A.18 - Foto F. Córrego da Prata.
Fonte: Martins (1998)
Figura A.19 - Foto F. rrego da Prata.
Fonte: Martins (1998)
Fazenda da Lagoa - Município de
Oliveira
Fazenda da Laje - Município de
Resende Costa
Fazendas do Sul de Minas Gerais
324
Figura A.20 - Planta F. da Lagoa. Fonte: Martins (1998)
Figura A.21 - Foto F. da Lagoa. Fonte: Martins (1998)
Figura A.22 - Foto F. da Lagoa. Fonte: Martins (1998) :
Figura A.23 - Planta. Fonte: Martins (1998)
Fazenda das Éguas - Município de
Resende Costa
Fazenda das Pedras - Município de
Carmópolis
Anexo - Fazendas de outras Reges de Minas
325
Figura A.24 - Planta F. das Éguas. Fonte: Martins (1998)
Figura A.25 - Foto F. das Éguas. Fonte: Martins (1998)
Figura A.26 - Planta F. das Pedras. Fonte: Martins (1998)
Figura A.27 - Foto F. das Pedras. Fonte: Martins (1998)
Fazenda do Andrade - Município de
Resende da Costa
Fazenda do Pinhal - Município de
Resende da Costa
Fazendas do Sul de Minas Gerais
326
Figura A.28 - Planta F. do Andrade. Fonte: Martins (1998)
Figura A.29 - Foto F. do Andrade. Fonte: Martins (1998)
Figura A.30 - Planta F. do Pinhal. Fonte: Martins (1998)
Figura A.31 - Foto F. do Pinhal. Fonte: Martins (1998)
Fazenda do Vau - Município de
Oliveira
Anexo - Fazendas de outras Reges de Minas
327
Figura A.32 - Planta F. do Vau. Fonte: Martins (1998)
Figura A.33 - Foto F. do Vau . Fonte: Martins (1998)
Fazenda Engenho Grande dos Cataguás-
Município de Lagoa Dourada
Fazendas do Sul de Minas Gerais
328
Figura A.34 - Planta F. Eng. Fonte: Martins (1998)
Figura A.35 - Foto F. Eng. Fonte: Martins (1998)
Figura A.36 - Foto F. Eng. Fonte: Martins (1998)
Fazenda Lambari- Município de São
Francisco de Paula
Anexo - Fazendas de outras Reges de Minas
329
Figura A.37 - Planta F. Lambari. Fonte: Martins (1998)
Figura A.38 - Foto F. Lambari. Fonte: Martins (1998)
Figura A.39 - Foto F. Lambari. Fonte: Martins (1998)
Fazenda Mato Dentro - Município de
Ritápolis
Fazenda Rio do Peixe - Município de
São Tiago
Fazendas do Sul de Minas Gerais
330
Figura A.40 - Planta F. Mato Dentro.
Fonte: Martins (1998)
Figura A.41 - Foto F. Mato Dentro. Fonte: Martins (1998)
Figura A.42 - Foto F. Mato Dentro. Fonte: Martins (1998)
Figura A.43 - Planta. Fonte: Martins (1998)
Fazenda São Miguel - Município de
Ritápolis
Fazenda Sobrado - Município de
Carmópolis
Anexo - Fazendas de outras Reges de Minas
331
Figura A.46 - Planta F. Sobrado. Fonte: Martins (1998)
Figura A.47 - Foto F. Sobrado. Fonte: Martins (1998):
Figura A.44 - Planta F. São Miguel. Fonte: Martins (1998)
Figura A.45 - Foto F. São Miguel. Fonte: Martins (1998)
Fazenda Tabatinha - Município de Bom
Sucesso
Fazendas do Sul de Minas Gerais
332
Figura A.48 - Planta F. Tabatinga. Fonte: Martins (1998)
Figura A.49 - Foto F. Tabatinga. Fonte: Martins (1998)
Fazenda Tartária - Município de Santo
Annio do Amparo
Fazenda Xavier - Município de São João
del-Rey
Anexo - Fazendas de outras Reges de Minas
333
Figura A.50 - Planta F. Tartária. Fonte: Martins (1998)
Figura A.51 - Foto F. Tartária. Fonte: Martins (1998)
Figura A.52 - Planta F.Xavier. Fonte: Martins (1998)
Figura A.53 - Foto F.Xavier. Fonte: Martins (1998)
Região Metropolitana
Fazenda Boa Esperança - Município de
Belo Vale
Fazenda Caieiras - Município de Ouro
Branco
Fazendas do Sul de Minas Gerais
334
Figura A.54 - Foto F. Boa Esperança. Fonte:
Figura A.55 - Foto F. Boa Esperança. Fonte:
Figura A.56 - Foto F. Boa Esperança. Fonte: Menezes (1984)
Figura A.57 - Foto F. Boa Esperança. Fonte: Menezes (1984)
Figura A.58 - Foto F. Boa Esperança. Fonte: Menezes (1984)
Fazenda Boa Vista/Martins - Município
de Brumadinho
Anexo - Fazendas de outras Reges de Minas
335
Figura A.59 - Foto F. Boa Vista/Martins.
Fonte: Menezes (1984)
Figura A.60 -Foto F. Boa Vista/Martins.
Fonte: Menezes (1984)
Figura A.61 - Foto F. Boa Vista/Martins.
Fonte: Menezes (1984)
Figura A.62 - Foto F. Boa Vista/Martins. Fonte: CEMIG
Figura A.63 - Foto F. Boa Vista/Martins. Fonte: CEMIG
Fazenda Gualacho - Município de
Mariana
Fazenda Leitão - Município de Belo
Horizonte
Fazenda Fonte Limpa - Município de
Santana dos Montes
Fazendas do Sul de Minas Gerais
336
Figura A.64 - Foto F. Fonte Limpa. Fonte: Menezes (1984)
Figura A.65 - Foto F. Fonte Limpa. Fonte: Menezes (1984)
Figura A.66 - Foto F. Leitão. Fonte:
Fazenda Minhocas - Município de
Lagoa Santa
Fazenda Rio de São João - Município de
Bom Jesus do Amparo
Anexo - Fazendas de outras Reges de Minas
337
Figura A.67 - Foto F. Lagoa Santa. Fonte: CEMIG
Figura A.68 -Foto F. Lagoa Santa. Fonte: CEMIG
Figura A.69 - Foto F.Rio de São Jo. Fonte: CEMIG
Figura A.70 - Foto F.Rio de São João. Fonte: CEMIG
Figura A.71 - Pintura F.Rio de São João. Fonte:
Fazenda de Morro - Município de
Ouro Branco
Fazendas do Sul de Minas Gerais
338
Figura A.72 - Foto F.Pé do Morro. Fonte:Menezes (1984)
Figura A.73 - Foto F.Pé do Morro. Fonte:Menezes (1984)
Figura A.74 - Foto F.Pé do Morro. Fonte:Menezes (1984)
Figura A.75 - Elevações F. do Morro. Fonte: ;Eolo Maia.
Figura A.76 - Planta F.Pé do Morro. Fonte: ;Eolo Maia.
Fazenda São Nicolau - Município de
Nova Era
Fazenda São Sebastião - Município de
Sete Lagoas
Anexo - Fazendas de outras Reges de Minas
339
Figura A.77 -Foto F. São Nicolau. Fonte: Menezes (1984)
Figura A.78 - Foto F. São Sebastião. Fonte: CEMIG
Zona da Mata
Fazenda Ana Florência - Município de
Ponte Nova
Fazenda Bananeiras - Município de
Presidente Bernardes
Fazendas do Sul de Minas Gerais
340
Figura A.79 -Foto F. Ana Florencia. Fonte: CEMIG
Figura A.80 - Foto F. Bananeiras. Fonte: Menezes (1984)
Fazenda Boa Vista - Município de Juiz
de Fora
Fazenda Bom Jardim - Município de
Juiz de Fora
Anexo - Fazendas de outras Reges de Minas
341
Figura A.81 - Foto F. Boa Vista. Fonte: CEMIG
Figura A.82 - Foto F. Bom Jardim. Fonte: CEMIG
Fazenda Floresta - Município de Juiz de
Fora
Fazenda Santana - Município de Juiz de
Fora
Fazenda São Mateus - Município de Juiz
de Fora
Fazendas do Sul de Minas Gerais
342
Figura A.83 - Foto F. Floresta. Fonte: CEMIG
Figura A.84 - Foto F. Santana. Fonte: CEMIG
Figura A.85 -Foto F. São Mateus. Fonte: CEMIG
Fazenda Conceão das Corvinhas -
Município de Barra Longa
Fazenda Quebra Canoa - Município de
Ponte Nova
Anexo - Fazendas de outras Reges de Minas
343
Figura A.86 - Foto F. Conceição das Corvinhas. Fonte: CEMIG
Figura A.87 - Foto F. Quebra Canoa. Fonte: CEMIG
Figura A.88 - Foto F. Quebra Canoa. Fonte: CEMIG
Fazenda Santa Clara - Município de
Santa Rita do Jacutinga
Fazenda Arapoca - Município de Além
Paraíba
Fazendas do Sul de Minas Gerais
344
Figura A.89 - Foto F. Santa Clara. Fonte: CEMIG
Figura A.90 - Foto F. Arapoca. Foto: CFC
Fazenda Barra do Peixe - Município de
Além Paraíba
Fazenda Castelo - Município de Além
Paraíba
Anexo - Fazendas de outras Reges de Minas
345
Figura A.91 - Foto F. Barra do Peixe. Fonte: CEMIG
Figura A.92 - Foto F. Castelo. Fonte: CEMIG
Fazenda Conceão - Município de Além
Paraíba
Fazenda Piedade - Município de Volta
Grande
Fazenda Fortaleza - Município de Am
Paraíba
Fazendas do Sul de Minas Gerais
346
Figura A.93 - Foto F. Conceição. Fonte: CEMIG
Figura A.94 - Foto F. Piedade. Fonte: CEMIG
Figura A.95 - Foto F. Fortaleza. Fonte: CEMIG
Fazenda Monte Alegre - Município de
Além Paraíba
Fazenda Ouro Fino - Município de Am
Paraíba
Fazenda Abaíba- Município de
Leopoldina
Anexo - Fazendas de outras Reges de Minas
347
Figura A.96 - Foto F. Monte Alegre. Fonte: CEMIG
Figura A.97 - Foto F. Ouro Fino. Fonte: CEMIG
Figura A.98 - Foto F. Abaíba. Fonte: CEMIG
Fazenda Melancias - Município de
Uberaba
Triângulo Mineiro
Fazenda São Mateus - Município de
Ibiá
Fazendas do Sul de Minas Gerais
348
Figura A.99 - Aérea F. Melancias. Fonte: Bastos (1980)
Figura A.100 - F. Melancias. Fonte: Bastos (1980)
Figura A.101 - F. Melancias. Fonte: Bastos (1980)
Figura A.102 - F. São Mateus. Fonte: CEMIG
Fazenda Bom Retiro - Município de
Oliveira
Fazenda da Pedra - Município de
Curvelo
Oeste de Minas
Região Central
Anexo - Fazendas de outras Reges de Minas
349
Figura A.103 - F. Leitão. Fonte:
Figura A.104 - F. da Pedra. Fonte: Menezes (1984)
Fazendas do Sul de Minas Gerais
350
Bibliografia
ALVES, José Xaides de Sampaio. (1992). O Sertão da
Mantiqueira/Liberdade. 193p. Dissertação (Mestrado)
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 1992.
AMARAL, Francisco Keil et al. (1961). Arquitectura popular em
Portugal. Lisboa: Sindicato Nacional dos Arquitectos.
ANDRADE, Antônio Luiz Dias. (1984). Vale do Paraíba: sistemas
construtivos. 82p. Dissertação (Mestrado) Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo,
1984.
ANDRADE, Marcos Ferreira. (2004). Casas de vivenda e de
morada: estilo de construção e interior da residências da elite
escravista sul-mineira - século XIX. Anais do Museu Paulista, São
Paulo, v.12.
______. (2008). Elites regionais e a formação do estado imperial
brasileiro Minas Gerais Campanha da Princesa (1799-1850).
Rio de Janeiro: Arquivo Nacional.
ANDRADE, Oswald de. (1978). Poesias Reunidas, 5
a
edição, Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira.
ANTONIL, André João. (1982). Cultura e opulência do Brasil.
3.ed. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP. (primeira edição
Lisboa 1771)
BACELLAR, Carlos de Almeida Prado &
BRIOSCHI, Lucila Reis (1999.). Na Estrada do Anhanguera, São
Paulo, EDUSP,
BARBOSA, Waldemar de Almeida. (1971). Dicionário histórico-
geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte: Saterb.
BENINCASA, Vladimir. (2003). Velhas Fazendas. Arquitetura e
Cotidiano nos Campos de Araraquara, 1830 – 1930. São Carlos /
São Paulo: EdUSCAR, IMESP
BOXER, Charles R. (1969). A Idade do ouro do Brasil. 2.ed. São
Bibliografia
351
Paulo: Nacional. (Biblioteca Pedagógica Brasileira Série 5:
Brasiliana, 341).
BASTOS, Adélia Junqueira. (1980). Lendas e Tradões da Família
Junqueira (1816-1966). São Paulo: HUCITEC.
BRIOSCHI, Lucila Reis. (1999). Na Estrada do Anhanguera.
Uma visão regional da hisria paulista. São Paulo: Hunitas
Publicações FFLCH / USP.
BRUNO, Ernani Silva. (1967). História do Brasil (geral e regional).
2.ed. São Paulo: Cultrix.
CÂNDIDO, Antonio. (1979). Os Parceiros do Rio Bonito. São
Paulo: Duas Cidades.
CARRILHO, Marcos J. (1994). As Fazendas de café do Caminho
Novo da Piedade. 166p. Dissertão (Mestrado) Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo,
1994.
CARVALHO, Sérgio Luís. Cidades medievais portuguesas uma
Introdução ao seu Estudo. Lisboa: Livros Horizonte.
CORONA, Eduardo; LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. (1998).
Dicionário da arquitetura brasileira. São Paulo: Companhia das
Artes.
COSTA, Alexandre Vieira Pinto Alves. (1995). Seis lições:
introdução ao estudo da hisria da arquitectura portuguesa.
Porto: FAUP.
COSTA, José Pedro Oliveira. (1994). Aiuruoca: Matutu e Pedra
do Papagaio - um estudo de conservação do ambiente natural e
cultural. São Paulo: EDUSP.
COSTA, Lucio. (2007). Sobre arquitetura. Organizado por
Alberto Xavier. Porto Alegre: UniRitter.
COSTA, Antônio Gilberto (Org.). ( 2004). Cartografia da
conquista do território das Minas. Belo Horizonte: Editora UFMG:
Lisboa; Kapa Editorial.
Fazendas do Sul de Minas Gerais
352
CUNHA, Mariano Carneiro. (1985). Da Senzala ao sobrado. São
Paulo: Nobel; EDUSP.
CUNHA, Alexandre, Espo, paisagem e população: dinâmicas
espaciais e movimentos da população na leitura das vilas do
ouro em Minas Gerais ao começo do século XIX. in Revista
Brasileira História, volume 27 nº53. disponível em <http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01882007000
100006&lng=e&nrm=iso&tlng=e>
FERNANDES, Francisco Barata. (1996). Transformação e
permanência na habitação portuense. Porto: [s.n.].
FERNANDES, José Manuel. (1991). A Arquitetura nteses da
cultura portuguesa. Portugal: Europália; Imprensa Nacional.
FLORES, Carlos. (1973). Arquitectura popular española. Madrid:
Aguilar Sa.
FRANÇA, José Augusto. (1977). Lisboa pombalina e o
iluminismo. Lisboa: Bertrand.
FREITAS, Daici Ceribeli Antunes. (1986). Arquitetura rural
do nordeste paulista influências mineiras 1800-1874. Tese
(Mestrado) - Escola s-Graduada de Ciências Sociais, Fundação
Escola de Sociologia e Política de São Paulo, São Paulo, 1986.
FREYRE, Gilberto. (1990). Casa grande e senzala: formação da
falia brasileira sob o regime de economia patriarcal. Rio de
Janeiro: Record.
GOMES, Geraldo. (1998). Engenho e arquitetura. 2.ed. Recife:
Fundação Gilberto Freyre.
GOODWIN, Philip L.. (1943). Brazil Builds. The Museum of
Modern Art, New York.
HOLANDA, Sérgio Buarque. (1983). Raízes do Brasil. Rio de
Janeiro: José Olímpio.
JUNQUEIRA, Walter Ribeiro (2004). Fazendas e famílias sul
mineiras, São Lourenço: Novo Mundo.
Bibliografia
353
KATINSKY, Júlio Roberto. (1980). Um Guia para a hisria da
técnica no Brasil Colônia. 2.ed. São Paulo: FAU/USP.
LEFORT, José do Patrocínio. (1950). Varginha: monografia
hisrico-geogfica e estatístico-religiosa pelo centerio da
paróquia a 1º de junho de 1950. São Paulo: São José.
LEMOS, Carlos A.C. (1979). Arquitetura brasileira. São Paulo:
Melhoramentos; EDUSP.
______. (1999). Casa paulista. São Paulo: EDUSP.
LENHARO, Alcir. (1993). As Tropas da Moderação: o
abastecimento da corte na formação política do Brasil: 1808-
1842. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura; Prefeitura.
MARINS, Paulo César Garcez. (2003). Através da rótula,
sociedade e arquitetura urbana no Brasil sécs. XVII-XX. São
Paulo: Humânitas.
MARTINS, Francisco Ernesto de Oliveira. (1991). Arquitetura
popular do Ramo Grande. [S.l.]: Câmara Municipal da Praia da
Vitória.
______. (1991). Arquitetura popular açoriana / brasileira.
Câmara Municipal da Praia da Vitória.
MARTINS, Helena Teixeira. (1998). Sedes de fazendas mineiras,
Campos das Vertentes séc. XVIII e XIX. Belo Horizonte: BDMG
Cultural.
MARX, Murilo. (1980). Cidade brasileira. São Paulo:
Melhoramentos, EDUSP.
MENEZES, Ivo Porto. (1969). Documentário arquitetônico:
fazendas mineiras. Belo Horizonte: Escola de Arquitetura.
______. (1983). Arquitetura rural em Minas Gerais - século XVIII
e inícios do XIX. Revista Barroco, Belo Horizonte, n.12.
MORAES, Antonio Carlos Robert. (2000). Bases da foramação
territorial do Brasil – o território colonial brasileiro no longo
século XVI. São Paulo: Hucitec.
Fazendas do Sul de Minas Gerais
354
MORAES, Fernanda Borges. (2005). A Rede urbana da
minas coloniais: na urdidura do tempo e do espaço. 3v.
Tese (Doutorado) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.
PARANHOS, Paulo. (2005). Primeiros núcleos habitacionais no
sul das Minas Gerais. Revista Eletrônica do Arquivo do Estado,
São Paulo, ano 1, n.7. Disponível em:<http://www.historica.
arquivoestado.sp.gov.br/materiais/anteriores/edicao07/materia
03>. Acesso em: 29 fev. de 2008
PRADO JUNIOR, Caio. (1972). Evolução política do Brasil e
outros estudos. 8.ed. São Paulo: Brasiliense.
RAIVILLE, César. (1880). O Vinhola Brasileiro Novo manual
pratico de Engenheiro, Arquiteto, Pedreiro, Carpinteiro,
Marcineiro e Serralheiro, Rio de Janeiro, Laermemt,
REIS FILHO, Nestor Goulart. (1969). Quadro da arquitetura no
Brasil. São Paulo: Perspectiva.
______. (1995). Nota sobre o urbanismo no Brasil primeira
parte: período
colonial. Cadernos de Pesquisa do LAP, São Paulo, n.3.
RIBEIRO, Darcy. (1995). O Povo brasileiro; evolução e o sentido
do Brasil. São Paulo: Companhia das letras.
REIS, José Ovídio. Família Reis. Domingos dos Reis Silva o
patriarca e seus descendentes. Varginha: Gráfica Bom Pastor.
RIBEIRO, Orlando. (1992). Geografia e civilização – temas
portugueses. Lisboa: Livros Horizonte.
RODRIGUES, André Figueiredo. (2003). Os Sertões proibidos da
Mantiqueira. Revista Brasileira de Hisria, São Paulo, v.23, n.46,
p.253-270.
RODRIGUES, Cecília. (2006).
ROCHA, José Joaquim da, (1995). Geografia Hisrica da
Capitania de Minas Gerais: descrão geográfica, topográfica,
Bibliografia
355
histórica e política da Capitania de Minas Gerais. Memória
Histórica de Minas Gerais. Belo Horizonte: Fundação João
Pinheiro, Centro de Estudos Hisricos e Culturais.
SAINT-HILAIRE, Auguste. (1938). Segunda viagem a Minas
Gerais e São Paulo. São Paulo: Nacional.
______. (1974). Viagem a Minas Gerais e São Paulo. Belo
Horizonte: Itatiaia.
SOUZA, Laura de Melo. (2004). Desclassificados do ouro, a
pobreza mineira no século XVIII. Rio de Janeiro: Graal.
VOM SPIX, Johan Baptist. (1981). Spix e Martius, viagem pelo
Brasil 1817-1820. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP.
VASCONCELOS, Sylvio. (1957). Arquitetura colonial mineira. In:
SEMINÁRIO DE ESTUDOS MINEIROS,1957, Belo Horizonte. Belo
Horizonte: UFMG.
______. (1959). Arquitetura no Brasil, sistemas construtivos.
Belo Horizonte: Escola de Arquitetura da UFMG.
______. (1977). Vila Rica: formação e desenvolvimento;
residências. São Paulo: Perspectivas.
ZANINI, Walter. (1983). História geral da arte no Brasil. São
Paulo: Instituto Moreira Sales; Fundação Djalma Guimarães.
Entrevistas:
D. Alaide Procopio Bueno, proprietária da Fazenda Barra do
Palmela. Varginha, MG
Moacir Cyrino, arquiteto pesquisador de Guarupé, MG.
Antônio Carlos Lorette, professor da PUC - Possos de Caldas, MG.
Sr. José Ferraz, proprietário no município de Cristina, MG.
Fazendas do Sul de Minas Gerais
356
Notas:
Siglas
CFC: Cícero Ferraz Cruz
CEMIG: Centrais Elétricas de Minas Gerais
GTL: Gabinete Técnico Local
Bibliografia
357
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo