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De modo breve
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, destacamos que a constituição da subjetividade se sustenta
na idéia de posterioridade, pressupondo uma historicização. O que a idéia de tempo a
posteriori traz de inédito com respeito à dimensão histórica é, sem dúvida, o
rompimento que propicia a propósito da linearidade na história. Ao apresentar o
aparelho psíquico como um aparelho de retardo, operando basicamente no tempo do a
posteriori ganha relevo a idéia de que “o ‘passado’ é lido como uma escritura que só
se deixa perceber em um determinado ‘agora’” (SELIGMANN-SILVA, 2003, p.
398).
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A idéia de retardo inaugura o aparelho de memória a partir de uma forma
particular de conceber a temporalidade, isto é, articulando-a à temporalidade e à
causalidade psíquica; essa, por sua vez, atrelada ao funcionamento no tempo do a
posteriori. A noção de uma significação a posteriori vai permitir conceber o
inconsciente não regido por um tempo linear e contínuo; franqueando, também, seu
caráter imprevisível. Considerações que descartam, de saída, a idéia de uma relação
de causa e efeito com respeito aos processos inconscientes. É preciso ter presente que
o inconsciente funciona de acordo com uma lógica própria. Nesta medida, conforme
reitera Winograd, o sentido do que ocorre ao sujeito “deriva, [...] das articulações
atuais entre as representações que o sujeito faz, sempre prontas a novos rearranjos e
novas significações” (WINOGRAD, 2004, p. 211)
Estabelecendo uma relação entre memória e esquecimento, a narrativa,
perpassada pelos desejos inconscientes, descarta a idéia de uma “restituição e
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Essas idéias são encontradas no artigo de MONTES & HERZOG, 2005.
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Interessante marcar que esta citação se refere, segundo Seligmann-Silva (2003), ao caráter dado por
Walter Benjamin, à historiografia. Para este comentador Freud é “uma referência central na visão
benjaminiana da historiografia como uma grafia da memória” (SELIGMANN-SILVA, 2003, p. 399).