RESUMO
INTRODUÇÃO. Crianças com câncer e neutropenia febril constituem um grupo
heterogêneo quanto ao risco de infecção bacteriana invasiva (IBI). A identificação de
critérios de risco para IBI possibilitaria selecionar crianças com baixo risco para uso de
antibióticos orais e ou menor duração da antibioticoterapia, alta precoce e
acompanhamento ambulatorial.
OBJETIVOS: Determinar fatores associados à infecção bacteriana invasiva em
crianças e adolescentes com leucemia linfóide aguda (LLA) e neutropenia febril,
internados no Serviço de Oncologia Pediátrica do Instituto Materno Infantil Professor
Fernando Figueira (IMIP), no período de janeiro de 2002 a julho/2006.
MÉTODOS: Realizou-se estudo tipo coorte retrospectivo de todas as crianças e
adolescentes (n = 85), com diagnóstico de leucemia linfóide aguda e neutropenia febril,
internados no IMIP (Recife-Brasil), no período de janeiro/2002 a julho/2006. Foram
estudados 391 episódios de neutropenia febril apresentados ao longo do tratamento
quimioterápico e determinados fatores associados à IBI.
RESULTADOS: A mediana da idade das crianças foi de 4,6 anos, 61,2% (52/85) eram
do sexo masculino, 61,2% (52/85) eram procedentes do interior ou de outros estados,
12,9% (11/85) tinham desnutrição moderada a grave e 51,8% (44/85) apresentavam alto
risco para fracasso no tratamento da LLA. A maioria das mães (62,4%, 53/85) tinha
mais de quatro anos de estudos completos e 67,2% (41/61) das famílias com renda
conhecida tinham renda familiar per capita inferior a meio salário mínimo. Onze
(12,9%) das crianças faleceram durante o tratamento, todas com diagnóstico de IBI. Na
análise bivariada verificou-se associação com IBI nas crianças que no início do episódio
de neutropenia febril apresentavam-se com temperatura maior ou igual a 39
o
C,
hipotensão, hemoglobina menor que 7g/dl, leucócitos menor que 1.000/mm
3
, plaquetas
menor que 50.000/mm
3
, monócitos menor que 100/mm
3
, infiltração da medula óssea
pela LLA, fase de indução do protocolo quimioterápico e portadoras de cateter venoso
central. Após análise multivariada, permaneceram como fatores de risco para IBI: idade
menor que 5 anos (OR ajustado 2,7; IC 95% 1,5 a 5,0), infiltração medular (OR
ajustado 2,7; IC 95% 1,2 a 5,9), uso de cateter venoso central (OR ajustado 4,6; IC 95%
2,3 a 9,4), leucócitos menor que 1.000/mm3 (OR ajustado 6,3; IC 95% 3,2 a 12,4),
plaquetas menor que 50.000/mm3 (OR ajustado 3,3; IC 95% 1,8 a 6,1) e hipotensão
(OR ajustado 33,1; IC 95% 8,1 a 135,0). Foram isoladas 73 cepas bacterianas, com
predominância dos Gram positivos, sobretudo Staphylococcus coagulase negativa
oxacilina resistentes e o S. aureus. Entre as bactérias Gram negativas, destacou-se a
Klebsiella sp com boa sensibilidade aos aminoglicosídeos, ciprofloxacina e a
meropenema e a Pseudomonas sp com boa sensibilidade à amicacina, ceftazidima,
cefepime, piperacilina-tazobactama e ao meropenema.
CONCLUSÕES: As crianças desta região com diagnóstico de LLA e neutropenia
febril, formam um grupo heterogêneo quanto aos riscos de IBI. As características
apresentadas no início do episódio de neutropenia febril como: idade menor que 5 anos ,
infiltração medular pela LLA, uso de cateter venoso central, leucócitos menor que
1.000/mm
3
, plaquetas menor que 50.000/mm
3
se mantiveram associadas à IBI após a
regressão logística.
Palavras-chave: câncer/epidemiologia, leucemia/criança, leucemia/adolescente,
infecção, neutropenia febril, fatores de risco.