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não de “um” objeto sensível determinado. Afirma Heidegger: ”O tinteiro
significa: objeto da percepção sensível”. (HEIDEGGER, 1990, p.463) Isto quer
dizer que os dados sensoriais
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, como a cor, a forma espacial, etc., apenas
quando animados por uma intenção à qual reenviam, podem ser percebidos já
como momentos da coisa.
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O que é percebido são os dados sensoriais
mesmos. Através dos dados sensoriais o objeto aparece na percepção.
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A
coisa, seja ela qual for, torna-se perceptível. O que é dado na percepção
sensível são os dados sensoriais, não o objeto. Entende Heidegger que a
objetualidade (Gegenständlichkeit) do objeto sensível não consiste num
simples dado sensorial, isto é, não surge da intuição sensível
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. Logo, a questão
que se põe ao autor é a de compreender qual o fundamento da objetualidade
do objeto sensível. Grosso modo, perguntar pela estrutura que pergunta pelo
ser. Isto se formaliza em Ser e Tempo em uma fenomenologia do ser-aí. O que
se conclui, e que deixa entrever o caminho heideggeriano, é que a
objetualidade do objeto não pode ser percebida sensivelmente, mas de alguma
forma, ela é “dada”. Pois, o percebido é sempre tomado como um objeto, uma
coisa. O que sugere que: o que fundamenta o ser-objeto é o modo de ser do
ente enquanto coisa. Para Heidegger, o fundamental da intuição categorial é
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Dados chamados: hyléticos, originado de Hylè, que significa: “o que afeta sensivelmente”, os dados
sensoriais.
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Cf. Paisana, 1992, p. 116.
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Na terceira Investigação Lógica, Husserl afirma que “o ato da percepção é sempre já uma unidade
homogênea que presentifica o objeto de um modo simples e imediato”. (HUSSERL, III Investigação, 1999)
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Podemos aludir aqui à crítica de Heidegger à tradição filosófica através da abordagem da concepção
kantiana de experiência, segundo a qual traria em sua interpretação uma noção de realidade que não foi
radicalmente questionada, pois, segundo a leitura de Heidegger, Kant eleva o nível da objetividade a um
tipo de realidade anterior, ou melhor, a uma realidade que serviria como base ou fundo do qual permitiria
explicar os objetos. Kant reduz todo o dado na experiência à experiência empírica e, conseqüentemente,
caracteriza o dado como conteúdo material determinado. Supondo, portanto, para o que não existe, que
nenhuma função sensorial poderia ser dada. Desse modo, o objeto surge num a priori que depende do
juízo e da linguagem, isto é, que se encontra referido a uma subjetividade.