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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
HOSPITAL DE REABILITAÇÃO DE ANOMALIAS CRANIOFACIAIS
FARINGOPLASTIAS: INFLUÊNCIAS DAS MEDICAÇÕES UTILIZADAS EM
ANESTESIA E COMPLICAÇÕES NO PERÍODO PÓS-OPERATÓRIO PRECOCE.
CRISTIANE MILANEZI MARQUES DE
ALMEIDA SCHWERDTFEGER
Dissertação apresentada ao Hospital de
Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da
Universidade de São Paulo, para obtenção do
título de mestre em Ciências.
Área de Concentração: Distúrbios da
Comunicação Humana.
BAURU
2006
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
HOSPITAL DE REABILITAÇÃO DE ANOMALIAS CRANIOFACIAIS
FARINGOPLASTIAS: INFLUÊNCIAS DAS MEDICAÇÕES UTILIZADAS EM
ANESTESIA E COMPLICAÇÕES NO PERÍODO PÓS-OPERATÓRIO PRECOCE.
CRISTIANE MILANEZI MARQUES DE
ALMEIDA SCHWERDTFEGER
Orientador:
Prof. Dr. Alceu Sérgio Trindade Júnior
Dissertação apresentada ao Hospital de
Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da
Universidade de São Paulo, para obtenção do
título de mestre em Ciências.
Área de Concentração: Distúrbios da
Comunicação Humana.
BAURU
2006
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
HOSPITAL DE REABILITAÇÃO DE ANOMALIAS CRANIOFACIAIS
Rua Silvo Marchione, 3-20
Caixa postal: 1501
17012-900Bauru – SP – Brasil
Telefone: (14) 3235-8000
Prof. Dra Sueli Vilela – Reitora da USP
Prof. Dr. José Alberto de Souza Freitas – Superintendente do HRAC-USP
Autorizo, exclusivamente, para fins acadêmicos e científicos, a
reprodução total ou parcial desta dissertação.
Cristiane Milanezi Marques de Almeida Schwerdtfeger
Bauru, 4 de fevereiro de 2006.
Schwerdtfeger, Cristiane Milanezi Marques de Almeida
S91f Faringoplastias: influências das medicações utilizadas em
anestesia e complicações no período pós-operatório precoce.
Cristiane Milanezi Marques de Almeida Schwerdtfeger.
Bauru, 2006.
105f. : il. ; 30 cm
Dissertação (Mestrado em Ciências; área de concentração:
Distúrbios da Comunicação Humana) – HRAC-USP
Orientador: Prof. Dr. Alceu Sérgio Trindade Júnior.
Cópia revisada em 04/02/2006
Descritores: faringoplastias; anestesia; complicações
p
ós- o
p
eratórias
CRISTIANE MILANEZI MARQUES DE ALMEIDA SCHWERDTFEGER
2 de junho de 1971: Nascimento em Botucatu/SP
1990 a 1995: Graduação em Medicina, Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho,UNESP/ Botucatu
1996 a 1998: Residência médica em Anestesiologia pelo Centro de Ensino e
Treinamento de Botucatu, UNESP/ Botucatu
1998: Título de Especialista em Anestesiologia, pela Sociedade Brasileira de
Anestesiologia
1998 a 1999: Terceiro ano de residência médica em Anestesia para Cirurgia de Grande
Porte, Sala de Recuperação Pós-Anestésica e UTI
1999: Médica Anestesiologista em Bauru/SP
2000: Médica Anestesiologista da Fundação para Estudo e Tratamento das
Deformidades Craniofaciais – FUNCRAF, Bauru/SP
2002: Título Superior em Anestesiologia, pela Sociedade Brasileira de Anestesiologia
2003 a 2006: Curso de Pós-Graduação em Ciências, área de concentração: Distúrbios
da Comunicação Humana, no HRAC-USP.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
HOSPITAL DE REABILITAÇÃO DE ANOMALIAS CRANIOFACIAIS
FOLHA DE APROVAÇÃO
Dissertação apresentada e defendida por
Cristiane Milanezi Marques de Almeida Schwerdtfeger
E aprovada pela Comissão Julgadora em ___/___/_____
Prof.(a) Dr.(a)
Instituição:
Prof.(a) Dr.(a)
Instituição:
Prof. Dr. Alceu Sérgio Trindade Júnior
Universidade de São Paulo – USP (Orientador)
Profa Dra Inge Elly Kiemle Trindade
Presidente da Comissão de Pós-Graduação do HRAC-USP
Data de depósito da dissertação junto à SPG: 4 / 2 / 2006
Dedico este trabalho à minha filha amada,
maior presente impossível...
Força motriz de minha vida!
Agradeço a DEUS os privilégios de minha vida:
O privilégio de ser filha de Ayrton e Nanci...
O privilégio de ser esposa de Wagner...
O privilégio de ser mãe de Isadora, tesouro...
O privilégio de poder trabalhar...
O privilégio de poder estudar...
O privilégio de encontrar pessoas que fazem a
diferença e nos tornam diferentes:
Dr. Alceu Sérgio Trindade Júnior e dra. Inge
Elly Kiemle Trindade
O corpo é um delicado instrumento musical.
É preciso cuidar dele para que produza
música...
Rubem Alves
SUMÁRIO
RESUMO........................................................................................................................... vii
SUMMARY....................................................................................................................... viii
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 1
2. OBJETIVOS................................................................................................................... 5
3. REVISÃO DE LITERATURA...................................................................................... 6
3.1. O mecanismo velofaríngeo: aspectos anatômicos e fisiológicos............................ 6
3.2. Distúrbios do mecanismo velofaríngeo e seus efeitos na fala................................. 7
3.3. Tratamento cirúrgico da disfunção velofaríngea..................................................... 9
3.4. Resultados cirúrgicos e complicações pós-operatórias........................................... 12
3.5. Anestesia: aspectos relevantes................................................................................ 18
4. METODOLOGIA.......................................................................................................... 29
4.1. Instrumento de coleta de dados............................................................................... 29
4.2. Aspectos relevantes para aplicação do método....................................................... 30
4.3. Análise dos dados coletados.................................................................................... 34
5. RESULTADOS.............................................................................................................. 36
6. DISCUSSÃO.................................................................................................................. 68
6.1. Aspectos gerais........................................................................................................ 69
6.2 Complicações no período pós-operatório precoce de cirurgias diversas e do retalho
faríngeo ................................................................................................................... 71
6.2.1. Complicações respiratórias.................................................................................. 73
6.2.2. Complicações hemodinâmicas............................................................................. 75
6.2.3. Complicações digestivas...................................................................................... 77
6.2.4. Complicações transitórias do SNC....................................................................... 79
6.2.5. Complicações da regulação térmica..................................................................... 80
6.2.6. Medicamentos e complicações............................................................................. 81
6.2.6.1. Agentes inalatórios e complicações.......................................................... 81
6.2.6.2. Agentes hipnóticos e complicações.......................................................... 83
6.2.6.3. Opióides e complicações........................................................................... 84
6.2.6.4. Eficácia dos analgésicos utilizados........................................................... 85
6.2.6.5. Eficácia dos antieméticos utilizados......................................................... 86
7. CONCLUSÕES.............................................................................................................. 88
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 90
ANEXOS
vii
RESUMO
Schwerdtfeger CMMA. Faringoplastias: influências das medicações utilizadas em
anestesia e complicações no período pós-operatório precoce [Dissertação] Bauru: Hospital
de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais, Universidade de São Paulo; 2005.
Objetivos: considerando a importância e a eficácia das faringoplastias como cirurgias
reabilitadoras da fala e a importância dos aspectos anestésicos para um resultado cirúrgico
adequado, este estudo objetiva documentar as intercorrências relativas às cirurgias de
retalho faríngeo e seu possível envolvimento com os fatores anestésicos.
Método: estudo retrospectivo e descritivo. Foram analisados 2679 prontuários de pacientes
submetidos a faringoplastias, no Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais-
Universidade se São Paulo (HRAC-USP), entre 1980 e 2003. Foram selecionados os 2299
casos em que a técnica utilizada foi a do retalho faríngeo posterior e foram coletados
parâmetros clínicos e sintomas sugestivos de complicações: permeabilidade de via aérea,
sangramento, dor, náusea e vômito, agitação psicomotora, temperatura, pressão arterial e
saturação de oxigênio.
Resultados: dos 2299 procedimentos, 1042 apresentaram complicações. Vômito (16,31%) e
dor (14,31%) foram as mais freqüentes. Complicações consideradas mais críticas, como
obstrução de via aérea e hemorragia foram menos freqüentes, ocorrendo em 4,78% e 3,87%
dos 2299 pacientes operados. As complicações mais críticas foram as determinantes da
necessidade de reoperação no período pós-operatório precoce, ocorrendo em 39 pacientes.
As menores chances de ocorrência de complicações foram verificadas com o anestésico
inalatório sevoflurano, com o agente indutor propofol, com opióides na indução anestésica,
com os analgésicos tramadol e nalbufina e com o antiemético ondansetron.
Conclusão: houve associação entre medicações administradas na anestesia e ocorrência ou
ausência de complicações no período pós-operatório precoce. O esquema medicamentoso,
utilizado desde 1995, incluindo sevoflurano, propofol, opióides na indução, tramadol,
nalbufina e ondansetron, é o que melhor atende às necessidades dos pacientes e
anestesiologistas para cirurgia do retalho faríngeo, no HRAC-USP.
Descritores: faringoplastia, retalho faríngeo, anestesia, medicamentos, complicações pós-
operatórias.
viii
SUMMARY
Schwerdtfeger CMMA. Pharyngoplasties: influence of drugs administered during
anesthesia and early postoperative complications [Dissertation] Bauru: Hospital de
Reabilitação de Anomalias Craniofaciais, Universidade de São Paulo; 2005.
Objectives: considering the valuable and effectiveness of pharyngoplasty like surgical
procedure designed to correct velopharyngeal dysfunction and the importance of anesthetic
aspects in any surgery outcome, this study aimed to assess complications rates and a
possible association with drugs used by anesthetist.
Study design: we conducted a 23-year retrospective study at a tertiary craniofacial center:
Hospital de Reabilitação de Anomalias Cranifaciais – Universidade de São Paulo (HRAC-
USP). Two thousand six hundred seventy nine patients charts between 1980 and 2003 were
reviewed. Charts were selected when the posterior pharyngeal flap surgery was performed
(2299 charts). Clinical parameters and symptoms linked to perioperative complications
were collected: airway permeability, bleeding, pain, vomiting, agitation, temperature,
arterial pressure and oxygen saturation.
Results: from 2299 pharyngeal flaps, 1042 showed early postoperative complications. The
most common complications were vomiting (16,31%) and pain (14,31%). Most critical
complications were less frequent: airway obstruction occurred in 4,78% of all patients and
bleeding occurred at a rate of 3,87%. Just 39 patients needed reoperation to control these
critical complications. The best results with a low complications rate were achieved when
anesthetist used sevoflurane, propofol, opioids in anesthesia induction, tramadol, nalbufine
and ondansetron
Conclusions: there was association between anesthetic drugs and early post operative
complications. The drugs scheme (sevoflurane, propofol, opioids, tramadol, nalbufine,
ondansetron) used by HRAC-USP anesthetists team since 1995 has been proved effective
and appropriate.
Keywords: pharyngoplasty, pharyngeal flap, anesthesia, drugs, early postoperative
complications.
1
1. INTRODUÇÃO
Fala é um ato motor complexo que depende da interação harmônica de vários
sistemas fisiológicos.
A velofaringe, formada por palato mole e paredes laterais e posterior da faringe,
desempenha papel fundamental na produção da fala, pois com sua função esfinctérica
distribui de forma adequada o fluxo aéreo expiratório entre as cavidades nasal e oral,
mantendo pressão intra-oral adequada para a produção de consoantes.
O funcionamento inadequado deste esfíncter, denominado disfunção velofaríngea,
produz um padrão anormal e peculiar de fala, com sintomas característicos:
hipernasalidade, emissão de ar nasal (audível ou não) e distúrbios articulatórios
compensatórios (Kummer et al 1992, Golding-Kushner 1995, Trindade e Trindade Junior
1996, Zuiani et al 1998 e Kummer 2001).
A abordagem e tratamento dos pacientes portadores de disfunção velofaríngea no
Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais – USP (HRAC-USP) são realizados
por equipe interdisciplinar, preocupada em se adaptar às necessidades de seus pacientes,
indicando e realizando os procedimentos mais adequados, cirúrgicos ou não.
A cirurgia primária do palato tem como objetivo principal estabelecer condições
anatômicas para o adequado fechamento velofaríngeo (Brown et al 1983 e Dumbach 1987).
Porém, em muitos casos, a cirurgia primária do palato é incapaz de eliminar os sintomas da
disfunção velofaríngea, tornando necessária a correção cirúrgica secundária.
A faringoplastia, utilizando retalho faríngeo posterior com pedículo superior, é uma
das técnicas para correção cirúrgica secundária do palato e, também, a mais freqüente. A
literatura mostra elevado índice de sucesso, considerando redução ou eliminação dos
2
sintomas em fala (Schmelzeisen et al 1992, Eufinger et al 1995, Morris et al 1995, Sloan
2000).
Para possibilitar a realização dos vários tipos de procedimentos cirúrgicos, incluindo
a cirurgia do retalho faríngeo posterior, a técnica de anestesia geral é a preconizada.
Anestesia geral, “estado” caracterizado por inconsciência, imobilidade, relaxamento
muscular, é produzida por fármacos que agem principalmente no sistema nervoso central,
de forma reversível. Além da preocupação com a manutenção da estabilidade dos
parâmetros fisiológicos, existem outros aspectos relevantes que devem ser abordados para
garantia de controle dos efeitos colaterais medicamentosos ou cirúrgicos, que possam
prejudicar os resultados cirúrgicos esperados (Stoelting e Miller 2000).
É importante ressaltar a importância do anestesiologista na prevenção de vários
tipos de complicações pós-operatórias como dor, náuseas e vômitos, que podem
desencadear respostas fisiológicas deletérias. É durante o ato anestésico que devem ser
estabelecidas terapia antálgica e antiemética adequadas, para que o controle destes tipos de
complicação seja eficiente, evitando aumento da morbidade pós-operatória.
Especificamente nas anestesias para cirurgias do retalho faríngeo posterior, existem
considerações especiais, que podem representar verdadeiros desafios: no período intra-
operatório, a via aérea do paciente é compartilhada entre anestesiologista e cirurgião; no
período pós-operatório precoce, o edema tecidual produzido pela manipulação cirúrgica e o
efeito residual das drogas anestésicas podem comprometer (e muito) a permeabilidade da
via aérea.
Como demonstrado por Fukushiro e Trindade (2005), a maioria dos indivíduos com
fissura reparada apresenta deformidades nasais que determinam redução das dimensões em
3
vias aéreas superiores, tornando a presença do retalho em velofaringe, fator obstrutivo de
via aérea adicional.
Vários estudos relatam ocorrência de sinais e sintomas relacionados à
permeabilidade de via aérea como hiponasalidade, obstrução nasal, ronco, apnéia do sono,
com conseqüências clínicas variáveis para os pacientes, quando a técnica do retalho
faríngeo é utilizada (Orr et al 1987, Velasco et al 1988, Pensler e Reich 1991, Caouette-
Laberge et al 1992, Ysunza et al 1993, Sirois et al 1994, Valnicek et al 1994, Lesavoy et al
1996, Zuiani et al 1998, Wells et al 1999, DeSerres et al 1999, Peña 2000, Liao et al 2002,
Jorge 2002 e Yamashita 2003).
Portanto, fica claro, neste contexto, que a combinação farmacológica realizada pelo
anestesiologista é fundamental não só para homeostase intra-operatória, como também para
garantia das condições pós-operatórias compatíveis com sucesso e segurança. Deixar de
abordar e prevenir farmacologicamente possíveis complicações pós-operatórias, ignorar a
importância de aspectos farmacocinéticos dos medicamentos podem ser considerados
coadjuvantes de um resultado cirúrgico desfavorável.
Em qualquer situação, o trabalho do anestesiologista, procura evitar quaisquer
prejuízos aos pacientes, já tão sensibilizados por todo o processo anestésico-cirúrgico.
A literatura exibe poucas referências relacionando complicações pós-operatórias às
condutas adotadas em anestesia; a procura, na literatura, de trabalhos que investiguem esta
mesma relação em cirurgias reabilitadoras da fala é ainda mais árida.
Este trabalho traduz a necessidade de estudos consistentes em relação ao tema e o
desejo de compartilhar os 23 anos de experiência em anestesia no processo de reabilitação
4
dos pacientes portadores de disfunção velofaríngea, visando o aperfeiçoamento dos
serviços prestados pela equipe de anestesiologia do HRAC-USP.
5
2. OBJETIVOS
O presente estudo objetiva:
Documentar esquemas medicamentosos em anestesia e os tipos de complicações
pós-operatórias das cirurgias do retalho faríngeo, ocorridas em Sala de Recuperação
Pós-Anestésica, enfermaria ou em ambos os locais, até o momento da alta
hospitalar, de 1980 a 2003, no Hospital de Reabilitação de Anomalias
Craniofaciais–USP, Bauru.
Avaliar o possível envolvimento destes esquemas medicamentosos adotados pelos
anestesiologistas na gênese das complicações pós-operatórias que podem
comprometer o sucesso cirúrgico.
6
3. REVISÃO DE LITERATURA
3.1. O mecanismo velofaríngeo: aspectos anatômicos e fisiológicos
Fala envolve coordenação de vários sistemas fisiológicos: respiração, fonação,
ressonância e articulação, gerando os componentes necessários à produção dos sons: força
motriz, representada pela corrente aérea gerada nos pulmões, vibração das pregas vocais,
produzindo a fonação e o tratamento final através das câmaras de ressonância e estruturas
articuladoras.
O esfíncter velofaríngeo desempenha papel fundamental no correto direcionamento
do som produzido na laringe, para produção dos sons orais e nasais. O fechamento
velofaríngeo ocorre pela ação coordenada do véu (palato mole), paredes laterais da faringe
e parede posterior da faringe (Moon e Kuehn 1996). Estas estruturas funcionam como
válvula, separando as cavidades nasal e oral durante a a fala
Anatomicamente, o esfíncter velofaríngeo é constituído pelo palato mole, paredes
laterais e parede posterior da faringe, separando ou comunicando as cavidades nasal e oral,
durante a fala.
Para seu funcionamento requer a ação coordenada de vários músculos pareados que
se encontram na linha média do palato e possuem inserções laterais nas placas pterigóideas
mediais e laterais e hâmulus do processo pterigóide do osso esfenóide (Moon e Kuehn
1996). São eles: levantador do véu palatino, constritor superior da faringe, músculo da
úvula, tensor do véu palatino, palatofaríngeo, palatoglosso e o salpingofaríngeo.
O movimento das paredes laterais e posterior da faringe, assim como a prega de
Passavant, são determinantes do fechamento velofaríngeo. Existem diferentes padrões de
7
fechamento que são importantes para o planejamento cirúrgico (Schprintzen e Sidoti 1995 e
Kummer 2001).
O padrão de fechamento coronal é o mais comum, ocorrendo em 68% dos
indivíduos, onde o palato mole ou véu se desloca posteriormente até tocar a parede
posterior da faringe. Outro padrão de fechamento velofaríngeo comum é o circular, onde
existe movimentação das paredes laterais e posterior da faringe, ocorrendo em 23% dos
indivíduos. O padrão menos comum é o sagital, onde existe movimentação somente das
paredes laterais da faringe, ocorrendo em 4% dos indivíduos (Witzel e Posnick 1989).
3.2. Distúrbios do mecanismo velofaríngeo e seus efeitos na fala
Para que ocorra o contato velofaríngeo, é necessário que o véu possua comprimento
suficiente e que, com contração muscular, atinja a profundidade necessária, realizando
selamento entre as cavidades nasal e oral. A insuficiência velofaríngea (IVF) ocorre nos
defeitos estruturais que tornam o véu muito curto em relação a parede posterior da faringe
(Kummer 2001).
Maior freqüência de IVF é observada em indivíduos com história de fissura palatina
(Hirschberg 1986). Mesmo após correção cirúrgica, 20% dos pacientes podem demonstrar
insuficiência velofaríngea, por dois motivos: comprimento velar ainda inadequado ou
incompetência velofaríngea por funcionamento muscular insuficiente (Kummer 2001).
A fissura de palato promove alterações anatômicas além das óbvias e esperadas.
Quando a fissura se estende através do véu palatino, toda orientação das fibras musculares
encontra-se necessariamente alterada e a aponeurose hipoplásica (Kummer 2001). Segundo
Gomes e Melega (1997), a inserção dos músculos palatinos encontra-se direcionada para a
8
frente, em particular a do músculo levantador do véu. As fibras musculares não formam
cintas musculares necessárias, alterando as forças vetoriais resultantes e, portanto,
comprometendo o funcionamento adequado do esfíncter velofaríngeo.
As estruturas do mecanismo velofaríngeo desempenham papel fundamental na fala.
Sua natureza esfinctérica permite completa separação entre as cavidades nasal e oral
durante a emissão dos sons orais e outras atividades fisiológicas e seu mau funcionamento,
portanto, pode comprometer a fala de formas diversas (Trindade e Trindade Junior 1996).
Os sintomas mais comuns da disfunção velofaríngea são hipernasalidade, emissão
de ar nasal (audivel ou não) e os distúrbios articulatórios compensatórios (Kummer et al
1992, Trindade e Trindade Júnior 1996 e Zuiani et al 1998).
A hipernasalidade, uma das manifestações clínicas mais marcantes, é a alteração da
qualidade vocal, produzida por acoplamento anormal entre as cavidades nasal e oral
durante a fala. Existe excesso de ressonância nasal acompanhando sons normalmente não
nasalizados. Fisiologicamente, a hipernasalidade é resultado da incapacidade do esfíncter
velofaríngeo manter-se fechado o suficiente para evitar ressonância nasal de sons orais
(Kummer et al 1992 e D’Antonio e Scherer 1995).
A emissão de ar nasal, também característica da disfunção velofaríngea, é a
liberação inapropriada do fluxo aéreo pelo nariz, durante a produção de consoantes de
pressão (Kummer et al 1992 e D’Antonio e Scherer 1995). A emissão de ar nasal pode
variar de emissões não audíveis até formas mais graves de emissão audível, também
chamadas de turbulência nasal (Bzoch 2004).
A disfunção velofaríngea obriga o indivíduo a produzir articulações compensatórias,
em resposta a pressão intra-oral anormal. Os distúrbios articulatórios compensatórios
9
podem ser considerados estratégias para compensar a incapacidade de impor pressão em
cavidade oral. Segundo Trindade e Trindade Júnior (1996), a disfunção velofaríngea
impossibilita níveis de pressão intra-oral adequados para a produção de consoantes
plosivas, fricativas e africadas, associada à emissão de ar nasal. Assim, sons articulados
oralmente, passam a ser articulados posteriormente em faringe ou laringe, em uma tentativa
de aproximar o resultado acústico ao normal. Os distúrbios articulatórios mais comuns são:
golpe de glote, fricativa faríngea, plosiva faríngea, fricativa velar, plosiva dorso-médio-
palatal e fricativa nasal posterior (Golding-Kushner 1995).
3.3. Tratamento cirúrgico da disfunção velofaríngea
A correção cirúrgica primária da fissura palatina objetiva estabelecer condições
anatômicas para o adequado fechamento velofaríngeo (Brown et al 1983 e Dumbach 1987).
Para o bom funcionamento do palato e adequado funcionamento velofaríngeo, a
musculatura, principalmente do véu palatino deve ser deslocada posteriormente (Gosain et
al 1996 e Rocha 1997). Entretanto, se a cirurgia primária não alcança seu objetivo, a
adequada função velofaríngea, correção cirúrgica secundária torna-se necessária para
correção da fala (Billmire 2001).
A literatura descreve inúmeras técnicas para correção da insuficiência velofaríngea.
Rocha (1997) classificou as técnicas cirúrgicas corretivas em quatro grupos: 1) aumento da
parede posterior da faringe, criando uma elevação na parede posterior de faringe,
projetando-a anteriormente; 2) mobilização dos músculos levantadores do palato, chamada
de faringoplastia intra-velar, corrigindo a posição anômala da musculatura palatina,
10
colocando-a em posição posterior; 3) retroposição do palato, produzindo alongamento do
palato e 4) retalhos faríngeos, que unem palato e parede posterior de faringe.
A disfunção velofaríngea residual após correção cirúrgica primária pode ser
decorrente de inúmeros fatores. Tecido cicatricial pode retrair o palato, tornando seu
alcance a parede posterior da faringe impossível. A mobilidade do palato também pode
estar comprometida, por inserção muscular inadequada ou disfunção neuromuscular,
impossibilitando o contato. Nos casos de incompetência ou insuficiência, a idéia para a
correção é sempre a mesma: diminuir o gap velofaríngeo (Kummer 2001).
Segundo Billmire (2001), a intervenção cirúrgica secundária deve ocorrer em um
intervalo pequeno após o diagnóstico, pois o prognóstico tem sido pior nos casos que
permaneceram com a disfunção velofaríngea durante períodos maiores.
A cirurgia utilizando retalho faríngeo superior tem sido o procedimento mais
utilizado nas últimas décadas (Shprintzen e Sidoti 1995). Em 1865, Passavant realizou
procedimento cirúrgico considerado o precursor da técnica de retalho faríngeo, suturando a
borda posterior do palato mole à parede posterior da faringe (Sloan 2000). Em 1876,
Schoenborn descreveu a técnica de retalho faríngeo com pedículo inferior. Em 1892,
Bardenheur descreveu a técnica utilizando retalho de pedículo superior que foi utilizada
posteriormente por Sanvenero-Rosselli em 1935 (Hirshberg 1986, Schprintzen e Sidoti
1995 e Rocha 1997). Cirurgias utilizando retalho faríngeo posterior com pedículo superior
tornaram-se mais freqüentes pelas limitações da técnica utilizando retalhos com pedículo
inferior (Rocha 1997).
A técnica utilizando retalho faríngeo posterior com pedículo superior cria uma ponte
de tecido permanente entre a parede posterior da faringe e o palato mole (Hogan e Schwartz
11
1977). A base do retalho deve ficar ao nível do corpo da primeira vértebra cervical,
correspondendo à área de transição entre mucosa faríngea e tecido adenoideano. Avaliação
instrumental pré-operatória, nasoendoscópica e videofluoroscópica, da movimentação de
paredes laterais e posterior é de grande importância, pois permite a construção de retalhos
específicos para cada caso (Argamaso et al 1980).
Rocha (1997), descreveu a técnica da seguinte forma: o palato mole é dividido em
sua linha média, separando a úvula em duas metades e expondo a faringe e suas paredes
laterais. O retalho é desenhado, na parede posterior da faringe, com forma de U. Realiza-se
incisão na mucosa e na musculatura, expondo a fáscia pré-vertebral, onde o retalho é
levantado e dissecado. Partindo do vértice da ferida, incisiona-se a mucosa nasal em
direção à parede lateral da faringe, 3 a 5 mm antes desta se encontrar com a parede
posterior da faringe. Deve existir faixa de mucosa entre esta incisão e a incisão do retalho
que será o revestimento do orifício lateral, evitando-se sinéquia cicatricial. A referência
para o tamanho dos orifícios laterais deve ser uma sonda de aspiração. A mucosa nasal da
parede lateral da faringe é suturada à borda do retalho. O restante da ferida cirúrgica do
palato é suturada; a área cruenta doadora do retalho cicatrizará por segunda intenção.
O tamanho e a posição dos orifícios laterais são de importância fundamental para o
sucesso da técnica. Os orifícios laterais devem ficar nos locais com melhor movimentação
das paredes laterais da faringe e devem permanecer abertos durante a respiração e a
produção de consoantes nasais e fechado na produção de consoantes orais. Se o retalho é
largo, ocorrerão sintomas como respiração oral, hiponasalidade e distúrbios do sono que
podem variar de roncos à apnéia obstrutiva do sono. Quando o retalho é estreito, persiste a
12
hipernasalidade, resultando da inabilidade das paredes laterais fecharem os orifícios quando
necessário (Warren et al 1974 e Witt e D’Antonio 1993).
Apesar das limitações, a técnica do retalho faríngeo, é comumente utilizada, pois é
capaz de criar obstrução mecânica, separando cavidades nasal e oral, melhorando aspectos
acústicos e aerodinâmicos da fala (Riski et al 1992).
3.4. Resultados cirúrgicos e complicações pós-operatórias
A literatura comprova o sucesso da técnica cirúrgica do retalho faríngeo em reduzir
ou eliminar os sintomas característicos da disfunção velofaríngea (Schmelzein et al 1992,
Eufinger et al 1995, Morris et al 1995).
Thurston et al (1980), avaliaram 85 pacientes submetidos a faringoplastia com
retalho durante período de 5 anos, através de entrevistas e exames. As entrevistas
questionaram hábitos alimentares, tolerância a exercícios, padrão de sono e respiratório.
Todos foram submetidos a nasoendoscopia e teste de permeabilidade nasal. Concluíram
que 10% dos pacientes apresentavam obstrução nasal, apesar de não relatarem este sintoma
nas entrevistas.
Zuiani et al (1998), em estudo realizado no laboratório de fisiologia do Hospital de
Reabilitação de Anomalias Craniofaciais de Bauru (HRAC-USP), constataram eliminação
ou redução dos sintomas de disfunção velofaríngea, após cirurgia do retalho faríngeo.
Porém, por meio da nasometria, demonstraram que parte deles passou a apresentar
hiponasalidade – sintoma de fala que pode refletir obstrução nasal produzida pela presença
do retalho.
13
Ainda em relação ao potencial obstrutivo do retalho faríngeo, a indicação desta
técnica cirúrgica deve ser bastante criteriosa nos pacientes portadores de disfunção
velofaríngea com síndromes associadas (Graham et al 1973, Jackson et al 1976, Abramson
et al 1997 e Wells et al 1999). Em 1980, Kravath e coolaboradores relataram 3 casos de
apnéia obstrutiva do sono, sendo que 1 dos pacientes evoluiu para óbito, 4 semanas após
cirurgia do retalho. Dois dos pacientes eram portadores de síndrome velocardiofacial e um
era portador de seqüência de Robin.
Muitas das síndromes associadas às fissuras, cursam com estreitamento de via aérea
superior e hipotonia de faringe, como o que se observa em Seqüência de Robin ou
síndrome velocardiofacial, acarretando complicações no período pós-operatório (Shprintzen
1988).
Shprintzen (1988) estudou 300 pacientes com fissura de palato e insuficiência
velofaríngea, sendo 204 pacientes com fissura isolada e 96 pacientes com síndromes
associadas. Dos 96 pacientes, 28 eram portadores de síndrome velocardiofacial. Todos os
pacientes foram submetidos à nasoendoscopia, videofluoroscopia, polissonografia e
avaliação da fala antes e após a cirurgia. O autor concluiu que houve melhora da fala em
97% dos pacientes, com 4 casos de hiponasalidade, após cirurgia. Porém, 30 pacientes
(10%) apresentaram apnéia obstrutiva do sono, durante a internação pós-cirúrgica, sendo
que 27 apresentaram melhora e resolução do quadro e 3, permaneceram com sintomas de
apnéia. Dos 30 pacientes que apresentaram apnéia em pós-operatório, 18 possuiam
síndromes associadas, sendo que 3 deles foram os que permaneceram com os sintomas de
apnéia em pós-operatório tardio.
14
A incidência de apnéia obstrutiva do sono também foi o motivo do estudo realizado
por Orr et al (1987). Neste estudo, 10 pacientes foram avaliados com polissonografia antes
da colocação do retalho faríngeo e 3 dias e 3 meses após. Os autores constataram apnéia
obstrutiva do sono em 9 pacientes, no período pós-operatório precoce e em 2 pacientes,
após 3 meses. Concluíram que a apnéia obstrutiva é um fenômeno transitório, com
tendência à remissão e que, portanto, deveria ser considerada um efeito transitório e
esperado. Enfatizaram a importância da orientação prévia aos familiares sobre a natureza
transitória deste efeito pós-operatório.
Em 1988, Velasco et al estudaram as repercussões da apnéia obstrutiva do sono em
seus pacientes. Avaliaram 106 pacientes submetidos à cirurgia, através de entrevista com
abordagem de aspectos clínicos. Foram selecionados os 16 casos com história sugestiva de
apnéia e encaminhados à polissonografia. Após o exame, 9 casos foram confirmados e
todos necessitaram de intervenções cirúrgicas para controle de sintomatologia
(amigdalectomia e úvulo-palato-faringoplastia).
Pensler e Reich (1991) avaliaram o efeito de duas técnicas cirúrgicas – retalho
faríngeo e esfíncter-faringoplastia – sobre a competência velofaríngea. Neste estudo,
analisaram os resultados e seqüelas na fala de 75 pacientes submetidos a retalho faríngeo e
de 10 pacientes submetidos à esfíncter-faringoplastia. Houve melhora na fala com as duas
técnicas cirúrgicas (75% de melhora com retalho faríngeo e 70% de melhora com esfíncter-
faringoplastia). Do grupo retalho faríngeo, 3 pacientes apresentaram apnéia obstrutiva do
sono; nenhum caso ocorreu no grupo esfíncter. Porém tal diferença foi atribuída à diferença
de tamanho das amostras.
15
Em 1992, Caouette-Laberge et al reavaliaram todos os pacientes submetidos à
revisão cirúrgica em um período de 17 anos. Encontraram 9 pacientes que necessitaram
ressecção parcial do retalho (2 pacientes) ou total do retalho (7 pacientes), por
sintomatologia de obstrução nasal (hiponasalidade, ronco e respiração oral).
Ysunza et al (1993) também estudaram casos com necessidade de revisão cirúrgica
para secção do pedículo. Reavaliaram 585 pacientes, sendo que 571 pacientes haviam sido
submetidos a retalho faríngeo e 14, à esfíncter-faringoplastia tipo Jackson. Dezoito
pacientes apresentaram sintomatologia de apnéia obstrutiva e em 15 pacientes (4%) houve a
confirmação da apnéia por exames complementares como nasoendoscopia e
polissonografia (14 pacientes do grupo retalho e 1 paciente do grupo esfíncter).
Consideraram a prevalência de 4%, encontrada no estudo, alta e concluíram alertando para
investigação clínica cuidadosa dos pacientes submetidos a retalho faríngeo. Consideraram a
nasoendoscopia um importante método para diagnóstico de quaisquer fatores que estejam
contribuindo para obstrução.
Valnicek et al (1994), em uma análise retrospectiva de 219 pacientes submetidos à
cirurgia do retalho faríngeo posterior, verificaram incidência de complicações em pós-
operatório precoce de 16,4% (36 pacientes). Destes 36 pacientes que apresentaram
complicações, 18 apresentaram hemorragia e 20 apresentaram obstrução de via aérea, com
necessidade de reintubação em 3 casos, liberação do retalho faríngeo em 4 casos e revisão
cirúrgica do retalho em 7 casos. Dos 219 pacientes, 1 foi à óbito, por obstrução de via
aérea.
Sirois et al (1994), avaliaram 40 pacientes por meio de polissonografia (1 a 2 dias
antes da cirurgia e 5 dias após cirurgia), buscando determinar incidência de apnéia
16
obstrutiva do sono após cirurgia. Concluíram que 35% dos pacientes (14 de 40 pacientes)
apresentaram padrão de sono anormal pós-operatório. Meses após cirurgia, realizaram nova
polissonografia e verificaram que dois pacientes ainda mantinham padrão anormal de sono;
os outros 12 pacientes apresentaram remissão de seus sintomas.
Alta prevalência de obstrução de vias aéreas também foi verificada por Lesavoy et
al (1996). Os autores estudaram 29 pacientes submetidos a retalho faríngeo posterior e
através da avaliação da sintomatologia referida pelos pacientes encontraram incidência de
apnéia obstrutiva do sono em 38% dos pacientes no período pós-operatório precoce. Dois
anos após a cirurgia, todos os pacientes apresentaram remissão de seus sintomas.
Wells et al (1999), investigando a incidência de apnéia do sono e necessidade de
reoperações em pacientes submetidos a retalho faríngeo posterior, realizaram estudo
retrospectivo, onde foram analisados registros médicos de 111 pacientes. Encontraram
incidência de complicações em 10% dos pacientes, no período pós-operatório imediato. Em
relação aos tipos de complicação, 7% dos pacientes apresentaram obstrução de vias aéreas
superiores, 1,8%, deiscência do retalho e 0,9%, hemorragia. Em relação ao pós-operatório,
21,6% dos pacientes apresentaram resultados insatisfatórios.
De Serres et al (1999) compararam duas técnicas cirúrgicas – retalho faríngeo e
esfíncter-faringoplastia – em relação aos resultados em fala e complicações respiratórias.
Os autores verificaram uma tendência de melhores resultados em fala com a esfíncter-
faringoplastia. Dificuldades respiratórias e hiponasalidade foram encontradas na mesma
proporção no pós-operatório de ambas as técnicas.
Peña et al (2000), com o objetivo de determinar incidência de complicações
respiratórias em pós-operatório de cirurgias do retalho faríngeo, realizaram estudo
17
retrospectivo com 87 pacientes, encontrando incidência de complicações respiratórias em
16% dos pacientes, com ocorrência de 1 óbito por obstrução de via aérea.
Jorge (2002), em um estudo realizado no Hospital de Reabilitação de Anomalias
Craniofaciais, avaliou o efeito do retalho faríngeo sobre a saturação de oxigênio no pós-
operatório precoce, verificando que 78% dos pacientes apresentaram dessaturação de
oxigênio no período pós-operatório imediato e que 58% dos pacientes apresentaram
dessaturação no período pós-operatório tardio. O autor concluiu que atenção especial deve
ser dispensada aos pacientes que relatam sintomas respiratórios, incluindo avaliações
polissonográficas periódicas.
Hofer et al (2002), realizaram estudo retrospectivo das cirurgias de retalho faríngeo
posterior (pedículo superior e pedículo inferior) de 275 pacientes, em 10 anos. Foram
encontradas complicações em 6% dos casos; 2,4% das complicações ocorreram em menos
de 6 semanas após cirurgia e 3,8% ocorreram após 6 semanas. As complicações
encontradas foram: hemorragia (2 pacientes), obstrução de via aérea (1 paciente),
deiscência do retalho (9 pacientes). Concluíram que a técnica do retalho faríngeo posterior
pode ser eficaz e segura, utilizando anestesia e cuidados pós-operatórios adequados.
Canady et al (2003), com intuito de verificar as complicações pós-operatórias da
cirurgia de retalho faríngeo, realizaram estudo retrospectivo nos prontuários de 87 pacientes
operados de 1990 a 2000. Os autores encontraram sintomas de obstrução de via aérea em 2
pacientes e dor ocular em 1 paciente. Nenhuma outra complicação foi relatada. Concluíram
que a técnica do retalho faríngeo, nas mãos de cirurgião experiente, tem grande valor no
tratamento cirúrgico da disfunção velofaríngea.
18
3.5. Anestesia: aspectos relevantes
Etimologicamente, anestesia, palavra com origem grega, significa: “ausência de
sensação”. No entanto, a definição de anestesia é mais complexa e evasiva que geralmente
se pensa. Podemos simplificar sua definição, considerando seus objetivos básicos que são:
criar uma condição reversível de conforto, imobilidade e estabilidade fisiológica no
paciente antes, durante e após a realização de um procedimento que seria, de outra forma,
doloroso, amedrontador ou danoso. Tal informação incorpora conceitos que surgiram com
os progressos modernos dentro da especialidade da anestesiologia que não foram
necessariamente previstos por pesquisadores anteriores (Stoelting e Miller 2000).
Historicamente, a descoberta da anestesia reflete a incessante busca do homem pelo
controle da pior das sensações – a dor.
Antes de 1846, tentativas de oferecer conforto durante procedimentos cirúrgicos
foram pouco eficientes e o desenvolvimento da cirurgia foi necessariamente limitado. A
demonstração pública de William T G Morton do éter, naquele ano, revolucionou os
cuidados médicos em todo o mundo. A evolução da anestesiologia como especialidade
médica facilitou o sucesso dos procedimentos cirúrgicos modernos (Beattie 2003). Além do
entorpecimento da consciência e da criação de um campo cirúrgico imóvel, a anestesiologia
aplica princípios de fisiologia, fisiopatologia e farmacologia para avaliar e reduzir o
estresse cirúrgico e proporcionar analgesia.
O papel do anestesiologista, atualmente, ultrapassa os limites da sala cirúrgica e
inclui: avaliação clínica pré-operatória, terapia respiratória, tratamento da dor aguda,
abordagem da dor crônica e cuidados aos pacientes críticos.
19
A descoberta das propriedades anestésicas do éter, clorofórmio e óxido nitroso
supriu as necessidades imediatas para produção de conforto para cirurgia. De fato, nenhum
novo anestésico foi introduzido durante os 80 anos seguintes ao grande feito de 1846. A
pesquisa de novos agentes anestésicos começou em 1920, com a necessidade de drogas
anestésicas mais flexíveis e com menos efeitos colaterais, para permitir o avanço cirúrgico.
Até 1950, todos os anestésicos disponíveis apresentavam grandes desvantagens:
eram explosivos (éter, ciclopropano) e ou tóxicos (clorofórmio, tricloroetileno).
A evolução da técnica de fluorização, criada inicialmente para separar isótopos de
urânio para a bomba atômica, criou uma nova geração de anestésicos inalatórios (Stoelting
e Miller 2000).
Atualmente um gás, o óxido nitroso e os vapores de três líquidos anestésicos
(isoflurano, desflurano e sevoflurano) representam os anestésicos inalatórios mais
freqüentemente utilizados no mundo. Metoxiflurano, halotano e enflurano continuam
disponíveis comercialmente, mas são utilizados raramente nos países mais desenvolvidos
(Stoelting e Miller 2000). No Brasil, existem diferenças: o desflurano não é comercializado
e muitos serviços ainda insistem na utilização do halotano e enflurano, por questões
econômicas.
Os anestésicos inalatórios diferem entre si, quanto aos aspectos físico-químicos,
farmacológicos e ao custo. Entretanto, o alto custo dos agentes inalatórios mais modernos,
como o sevoflurano, pode ser compensado utilizando-se técnica anestésica com baixo fluxo
de gases diluentes.
O halotano, introduzido em 1956, possui estrutura química halogenada que garantiu
ausência de inflamabilidade e estabilidade molecular. Droga potente, capaz de produzir
20
indução anestésica rápida e agradável, broncodilatação, maior relaxamento muscular, com
menos efeitos colaterais que seu precursor, o fluoxene. Com todos estes atributos, o
halotano permaneceu extremamente popular vários anos. Porém com o uso continuado e
crescente, suas fascetas menos favoráveis foram descobertas: facilitação do efeito arrítmico
da adrenalina, hepatotoxicidade e fenômenos imunomediados podendo ocasionar
insuficência hepática fulminante (Stoelting e Miller 2000, Evers e Crowder 2003).
O enflurano (1972), com menor influência sobre o ritmo cardíaco, menor taxa de
metabolismo e menor liberação de íons fluoreto que o metoxiflurano, droga antecessora, foi
um agente inalatório promissor até a constatação de atividade convulsiva na presença de
hipocapnia ou hiperventilação (Stoelting e Miller 2000, Evers e Crowder 2003).
O isoflurano (1980) transformou-se, rapidamente, no anestésico inalatório mais
utilizado durante a década de 80 e primeira metade da década de 90. Possui taxa de
metabolismo menor que a do enflurano e não evoca atividade epiléptica; possui baixa
solubilidade nos tecidos corporais, produzindo despertar mais precoce. Apresenta como
desvantagens, sua pungência e a capacidade de irritar vias aéreas superiores, limitando seu
uso durante a indução da anestesia (Stoelting e Miller 2000, Evers e Crowder 2003).
O Sevoflurano foi descoberto inicialmente em 1970, mas somente após a década de
80, começou a ser melhor estudado, com descoberta de seu valor potencial. Possui odor
tolerável, é pouco solúvel nos tecidos corporais, sendo capaz de produzir indução
anestésica tranqüila, rápida e previsível, com tempo de recuperação de seus efeitos menor.
Produz quantidade de íons fluoreto semelhante à quantidade produzida pelo enflurano.
Como particularidade, dependendo do tempo cirúrgico, da qualidade do absorvedor de gás
21
carbônico do equipamento anestésico pode produzir o composto A, substância nefrotóxica
em grandes quantidades nos animais (Stoelting e Miller 2000, Evers e Crowder 2003).
Todos os anestésicos inalatórios podem evocar efeitos farmacológicos sobre a
ventilação e a circulação, de forma dose-dependente (Stoelting e Miller 2000).
A baixa solubilidade em tecidos corporais e sangue é uma qualidade que garante
tempos de indução e recuperação mais rápidos. Cada agente inalatório possui um
coeficiente de solubilidade diferente, a partir do qual podemos prever em parte seu
comportamento. O Sevoflurano é o que apresenta menor solubilidade; o halotano é o
anestésico inalatório com maior solubilidade.
Os anestésicos parenterais são compostos com estrutura molecular pequena e
hidrofóbica característica responsável pelo seu comportamento farmacocinético.
Determinam efeitos sobre sistema nervoso central, sistema cardiovascular e sistema
respiratório de forma dose-dependente. Tiopental e propofol são os agentes anestésicos
parenterais mais utilizados. O propofol, com taxa de recuperação mais rápida, explicada
pela alta depuração plasmática, é capaz de produzir a melhor qualidade de emergência. O
etomidato, ao contrário do tionembutal, não estimula significativamente a liberação de
histamina e garante boa estabilidade hemodinâmica; apresenta duas grandes desvantagens:
encontra-se associado a um aumento significativo de náuseas e vômitos e pode suprimir a
resposta adrenocortical ao trauma. Diferentes dos anestésicos inalatórios, os anestésicos
parenterais parecem não desencadear uma temível complicação: a hipertermia maligna
(Evers e Crowder 2003).
Para realização de qualquer procedimento cirúrgico, o passo inicial e fundamental
para todo o processo é a avaliação pré-anestésica. Com esta avaliação clínica, o
22
anestesiologista determina o risco anestésico-cirúrgico, antecipa as dificuldades possíveis,
seleciona a técnica anestésica mais adequada ao procedimento proposto e promove um
plano de ação, durante o procedimento anestésico-cirúrgico, para garantia da estabilidade e
segurança (Stoelting e Miller 2000).
Procedimentos cirúrgicos que envolvem topograficamente cabeça e pescoço, como
cirurgias otorrinolaringológicas, queiloplastias, palatoplastias, faringoplastias podem ser
feitas com segurança e conforto, utilizando a técnica de anestesia geral.
A anestesia geral é classicamente descrita por 4 qualidades: hipnose (em geral
significando sono ou perda da consciência), amnésia, analgesia e relaxamento muscular,
aos quais se devem adicionar os conceitos mais amplos de manutenção da estabilidade
fisiológica, atenuação da resposta ao estresse cirúrgico e um grande número de técnicas
para diminuir as categorias de risco inerentes aos procedimentos cirúrgicos (Beattie 2003).
O período perioperatório para anestesia geral é normalmente dividido em 3 fases:
indução, manutenção e emergência – cada uma com suas considerações especiais.
A indução da anestesia geral ocorre quando um ser consciente ou de outra forma
responsivo é levado à inconsciência pelos efeitos no sistema nervoso central de agentes
administrados de forma endovenosa ou inalatória.
A fase de manutenção da anestesia geral está associada a mudanças na intensidade
da estimulação nóxica, desvios dos líquidos corporais, perda de sangue, alterações do
equilíbrio ácido-básico, hipotermia e mecanismos da coagulação sangüínea. A
administração do anestésico exerce influência recíproca, constantemente, com a fisiologia
do paciente. Historicamente, e ainda nos dias atuais, a manutenção da anestesia geral, na
23
grande maioria dos casos, é obtida com a administração de um dos agentes inalatórios
(Beattie 2003).
Assim que a estimulação cirúrgica começa a diminuir durante o fechamento da
ferida, as doses distribuídas de anestésicos serão reduzidas de forma a refletir sua
farmacocinética específica. Tanto os fármacos endovenosos como os inalatórios podem
exibir dissipação tardia causada por distribuição lenta ou pelo caráter de sua distribuição e
metabolismo.
As alterações fisiológicas que acompanham a emergência da anestesia geral podem
ser profundas e representar uma experiência turbulenta para os pacientes e para a equipe de
saúde. Vários fatores podem influenciar a morbidade e a recuperação após anestesia e
cirurgia (figura 1). Hipertensão e taquicardia são comuns, já que o sistema nervoso
autônomo retoma seu tônus que pode ser aumentado pela dor. A excitação da emergência
ocorre em 5% a 30% dos pacientes e se caracteriza por taquicardia, inquietação, choro,
gemido e agitação. A incidência de todos estes fenômenos pode ser reduzida pela
administração de opióides no período transoperatório (Beattie 2003).
Uma variedade de distúrbios fisiológicos em múltiplos sistemas orgânicos deve ser
diagnosticada e tratada na sala de recuperação pós-anestésica, durante a emergência dos
efeitos anestésico-cirúrgicos (Hines 1992 e Rose et al 1994); (figura 2).
24
Figura 1 – Fatores que podem influenciar a morbidade e a recuperação após anestesia e
cirurgia
Figura 2 – Possíveis distúrbios fisiológicos no período pós-operatório
Distúrbios fisiológicos que podem se
manifestar no período pós-operatório
Obstrução de via aérea
Dessaturação de oxigênio
Hipotensão
Hipertensão
Arritmias
Hipotermia
Agitação
Sonolência
Vômitos
Dor
Cirurgia
Dor
Náusea e vômito
Resposta ao estresse
Hipoxemia
Fadiga
Imobilização prolongada
Drenos, sondas, contenções
Recuperação retardada
25
Kehlet (1999) listou 8 tópicos importantes de uma conduta multimodal destinada a
acelerar a recuperação pós-operatória, abordando os aspectos fisiopatológicos mais
importantes relacionados ao pós-operatório precoce:
1. Tratamento analgésico efetivo
2. Redução da resposta fisiológica ao estresse
3. Redução da incidência de náuseas e vômitos
4. Redução da hipoxemia e mobilização precoce para otimizar a mecânica respiratória
5. Otimização do sono
6. Melhora da fadiga
7. Prevenção das seqüelas da imobilização, principalmente através do alívio da dor
8. Remoção precoce de drenos e sondas
Até a década de 60, no século passado, dor era considerada uma resposta sensorial
inevitável à lesão tecidual. Nos últimos anos, grandes avanços foram feitos na compreensão
dos mecanismos subjacentes à dor e na importância do tratamento precoce desta
complicação (Gozzani 2003).
Dor é um importante sinal de alerta, mas deve ser adequadamente tratada, tendo
como objetivos principais: redução da morbi-mortalidade e recuperação acelerada do
paciente.
A dor aguda, especialmente a peri-operatória, causa profundas alterações danosas ao
organismo. A resposta endócrino-metabólica ao estresse leva a um intenso catabolismo e
sua eliminação depende de analgesia efetiva. Também produz alterações respiratórias,
26
cardiovasculares, gastrointestinais, urinárias, psicológicas e disfunção cerebral (Azevedo et
al 2003).
A abordagem da dor é um tema desafiador para o médico, dada a dimensão do
problema. A freqüência com que ocorre persiste elevada e implica a necessidade do correto
direcionamento da equipe para detectar as falhas no tratamento e sugerir novas estratégias.
O tratamento deve ser um dogma do exercício médico, pois não existe qualquer sintoma
que leve uma pessoa a mais profunda depressão e não existe maior grandiosidade para o
exercício da medicina do que aliviar o sofrimento de um semelhante. O tratamento da dor é
um ato humanitário (Azevedo et al 2003).
A preocupação com o tema é recente. Somente em 1990, o Colégio Real de
Cirurgiões e Anestesiologistas, afirmaram que “o tratamento da dor após a cirurgia em
hospitais britânicos tem sido inadequado e não tem avançado significativamente por
muitos anos”. Somente em 1998, o primeiro serviço de tratamento de dor foi descrito e
criado por Ready. Em 2000, a JCAHO (Joint Comission on Accreditation on Healthcare
Organizations) publicou a norma para atendimento dos pacientes com dor e instituiu o
conceito de avaliação regular da dor – o 5º sinal vital.
Outro problema desafiador, a presença de náuseas e vômitos em pós-operatório é
também freqüentemente subestimado pela equipe médica. Na ótica de alguns
anestesiologistas e cirurgiões, a presença de náusea e vômito no pós-operatório representa
apenas um pequeno problema, quando projetado dentro da variada gama de complicações
que podem ocorrer de um ato anestésico-cirúrgico. Por outro lado, observamos que cerca de
75% dos pacientes submetidos a esses procedimentos relataram a náusea e o vômito como
sendo uma de suas principais preocupações. Se os próprios pacientes apresentam esse tipo
27
de relação com a emese, este sintoma não deve deixar de ser considerado um grande
problema a ser abordado (Schmidt e Bagatini 1997).
Além do aspecto subjetivo do desconforto ocasionado pelos vômitos no pós-
operatório, a perpetuação deste tipo de sintoma retarda os tempos de recuperação e alta.
Como conseqüência ocorre demora do retorno às funções normais e elevação dos custos
hospitalares. Aliados a estes fatores, existem as potenciais conseqüências orgânicas, como
taquicardia, hipertensão, interrupção da alimentação oral, desidratação, aumento da pressão
intracraniana e ocular, sangramento da ferida operatória por aumento da pressão venosa e
possível deiscência das linhas de sutura. Também ocorre aumento nas chances de aspiração
pulmonar, principalmente em pacientes cujos reflexos de via aérea ainda estão parcialmente
deprimidos por anestésicos residuais (Schmidt e Bagatini 1997).
Bennun et al (2002), avaliaram o efeito de duas técnicas anestésicas sobre o período
pós-operatório de cirurgias do retalho faríngeo posterior. Os autores realizaram estudo
prospectivo em 100 pacientes, que foram divididos em 2 grupos de 50. A manutenção
anestésica em um grupo foi obtida com inalação contínua de Isoflurano (geral inalatória); e
no outro grupo foi obtida com injeção endovenosa contínua de propofol (geral
endovenosa). O tempo de recuperação foi menor no grupo propofol, mas os tipos e
freqüência das complicações foram similares em ambos os grupos.
Como já exposto, na literatura mundial, são escassas as tentativas em se demonstrar
a possível influência de medicações administradas em anestesia sobre a recuperação e
complicações após cirurgias reabilitadoras da fala. O presente trabalho nasceu da
necessidade de estudos consistentes da relação entre aspectos extremamente importantes -
medicações em anestesia e complicações pós-operatórias - avaliando os 23 anos de
28
experiência em anestesia para cirurgias do retalho faríngeo posterior, no Hospital de
Reabilitação de Anomalias Craniofaciais-USP.
29
4. METODOLOGIA
Estudo retrospectivo, com corte transversal e descritivo. Foi realizado junto ao
Laboratório de Fisiologia do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da
Universidade de São Paulo (HRAC-USP).
Após análise e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do HRAC-USP, foi
liberado o acesso aos prontuários de todos os pacientes submetidos a faringoplastias até
outubro de 2003. O Centro de Processamento de Dados (CPD) do HRAC-USP forneceu
número dos prontuários, nome dos pacientes e data de todas as faringoplastias,
independentemente da técnica cirúrgica utilizada, do intervalo de anos solicitado. Os 2679
prontuários foram solicitados ao setor de arquivo médico para estudo e coleta de dados.
4.1. Instrumento de coleta de dados
Os prontuários dos pacientes atendidos no Hospital de Reabilitação de Anomalias
Craniofaciais – HRAC-USP- possuem várias divisões e tipos de impressos, demonstrando a
necessidade de atendimento multidisciplinar ao paciente portador de anomalias
craniofaciais.
Neste estudo, analisamos as seguintes fichas de especialidades:
Descrição da técnica cirúrgica – informação com caráter eliminatório, pois houve a
necessidade de separação dos prontuários em que a técnica do retalho faríngeo
posterior estivesse descrita e exclusão dos prontuários com outras técnicas
cirúrgicas descritas.
Ficha de cadastro.
Ficha de anestesia
30
Anotações da equipe de enfermagem do intra-operatório.
Ficha de recuperação pós-anestésica.
Fichas de evolução médica e de enfermagem até alta hospitalar.
Para coleta de dados de forma padronizada e objetiva, a despeito do grande número
de informações necessárias, foi elaborado formulário de coleta de dados (anexos).
Através do formulário, as seguintes informações foram obtidas:
Identificação dos pacientes (número de registro), sexo, idade em que a cirurgia do
retalho faríngeo foi realizada.
Data da cirurgia.
Medicações utilizadas durante o ato anestésico-cirúrgico: anestésicos inalatórios,
anestésicos endovenosos, analgésicos e antieméticos.
Sinais vitais ou julgamentos que fossem representativos de complicações contidos
em fichas de anestesia, de recuperação pós-anestésica e de evolução em enfermaria.
4.2. Aspectos relevantes para aplicação do método
Os parâmetros clínicos e sintomas sugestivos de complicações ou intercorrências
são: temperatura, pressão arterial, saturação de oxigênio, permeabilidade de vias aéreas,
sangramento, dor, náusea e vômito, agitação psicomotora (Stoelting e Miller 2000).
A maior parte dos parâmetros clínicos encontrava-se registrada sob a forma de
julgamento dos profissionais e não como valor numérico, como bradipnéia, náuseas e
vômitos, dor, dessaturação de oxigênio, agitação, nível de consciência. Para padronização
31
dos dados coletados e inclusão das diversas formas de registro de uma complicação em um
tipo único de complicação, foram estabelecidos critérios (figura3).
Parâmetros clínicos numéricos foram transformados em julgamento e as diferentes
formas de anotação para uma mesma complicação foram analisadas e convertidas em um
tipo único de complicação (figura 3).
Os diversos tipos de complicação encontrados foram categorizados, segundo
sistema fisiológico envolvido (figura 4)
Período pós-operatório precoce, neste estudo, compreendeu os seguintes momentos:
passagem pela sala de recuperação pós-anestésica e permanência em enfermaria até alta
hospitalar.
Para os vários medicamentos administrados, foram utilizados os nomes de seus
princípios ativos.
32
Complicação
Critérios de identificação
(tipos de anotação)
Obstrução de via aérea
Obstrução de via aérea
Respiração ruidosa
Roncos
Sono agitado com dificuldade para respirar
Respiração difícil com ruído
Dificuldade para respirar
Queda de língua
Obstrução nasal
Dificuladade para respirar pelo nariz
Laringoespasmo
Bradipnéia
Bradipnéia
Freqüência respiratória menor que 12 mov/min
Tosse
Tosse
Dessaturação
Dessaturação
Saturação de oxigênio abaixo de 90%
Cianose
Cianose
Hemorragia
Hemorragia
Sangramento aumentado
Sangramento além do normal
Dor
Dor
Dificuldade para deglutir
Paciente choroso
Dor em pescoço
Agitação
Agitação
Paciente intranqüilo
Paciente ansioso, descontrolado
Sonolência
Sonolência
Sem resposta a estímulos em sala de recuperação
pós-anestésica, após 15 min de sua chegada.
Tempo de permanência em sala de recuperação pós-
anestésica superior a 60 min.
Hipotermia
T<36°
Hipotermia
Hipertensão
Pressão arterial sistólica>20% pré-operatório
Hipertensão
Hipotensão
Pressão arterial sistólica<20%pré-operatório
Náusea e vômito
Náusea e vômito
Figura 3 - Critérios de identificação das complicações
33
.
Figura 4 - Categorização dos tipos de complicação
Complicações respiratórias
Obstrução de via aérea
Bradipnéia
Cianose
Tosse
Complicações hemodinâmicas
Hemorragia
Hipertensão
Hipotensão
Complicações neurológicas transitórias
Dor
Agitão psicomotora
Sonolência prolongada
Complicações digestivas
Náusea e vômito
Complicações da regulação térmica
Hipotermia
Taquicardia
34
4.3. Análise dos dados coletados
A população estudada foi constituída por todos os pacientes submetidos à cirurgia
do retalho faríngeo posterior, desde o início da utilização da técnica referida, em 1980, até
outubro de 2003.
Análise dos dados foi descritiva e envolveu os seguintes aspectos:
Distribuição dos pacientes por sexo e faixa etária.
Distribuição dos pacientes por etiologia da disfunção velofaríngea.
Distribuição do número de procedimentos por sexo e data da realização.
Esquemas medicamentosos adotados e data.
Distribuição dos pacientes por sexo, faixa etária, presença/ausência de complicações
e necessidade de reoperação.
Distribuição das complicações por tipo e categoria de inclusão.
Distribuição das complicações por formas de ocorrência: sintomas isolados ou
associados.
Distribuição do número de reoperações por data.
Distribuição de procedimentos complicados/sem complicações e agentes
inalatórios, hipnóticos e opióides utilizados.
Distribuição das categorias de complicações em relação aos agentes inalatórios e
hipnóticos utilizados.
Proporções das categorias de complicações (e intervalos de confiança das
proporções) em relação aos agentes inalatórios e hipnóticos utilizados.
Distribuição da complicação dor e analgésico utilizado.
Distribuição da complicação vômito e antiemético utilizado.
35
Para a variável quantitativa idade foram calculados média, mediana, desvio padrão,
freqüências absoluta e relativa.
Associações entre as variáveis binomiais, abordadas por este estudo, foram
examinadas através do teste quiquadrado.
Para quantificar os níveis de associação encontrados (associações entre medicações
e presença/ausência de complicações) foram realizados os cálculos das razões de
chances (OR=odds ratio) para os agentes inalatórios, hipnóticos, opióides,
analgésicos e antieméticos.
Para os cálculos estatísticos foram utilizados os programas InStat e Pacotico.
As estatísticas calculadas foram consideradas significativas quando p < 0,05.
36
5. RESULTADOS
Após estudo dos prontuários, foram analisados dados das 2299 faringoplastias,
utilizando a técnica do retalho faríngeo posterior, entre os anos de 1980 a 2003, no HRAC-
USP. Destas 2299 cirurgias, 1156 (50.3%) foram realizadas em pacientes do sexo feminino
e 1143 (49.7%) em pacientes do sexo masculino.
A idade, em pacientes do sexo feminino, variou de 4 a 57 anos e a idade, em
pacientes do sexo masculino, variou de 4 a 50 anos. Ainda em relação à idade,
considerando ambos os sexos: o valor da mediana foi 17 e a moda foi 8.
O maior número de procedimentos cirúrgicos ocorreu na faixa etária entre 10 e 20
anos: 446 procedimentos em pacientes do sexo feminino e 480 procedimentos em pacientes
do sexo masculino. O menor número de procedimentos, ocorreu na faixa etária
compreendida entre 50 e 60 anos: 9 procedimentos em pacientes do sexo feminino e 1
procedimento em paciente do sexo masculino (tabela 1).
Tabela 1 - Distribuição dos pacientes por faixa etária e sexo
Sexo feminino Sexo masculino
4 10 anos
241 226
10 20 anos
446 480
20 30 anos
326 350
30 40 anos
102 84
40 50 anos
32 2
50 60 anos
9 1
Total
1156 1143
37
A figura 5 mostra a distribuição dos pacientes segundo a etiologia da disfunção
velofaríngea. A maioria dos pacientes avaliados neste estudo é portadora de fissura
operada (insuficiência velofaríngea). Quanto ao tipo de fissura que apresentavam, dividem-
se da seguinte forma: 218 pacientes com fissura pós-forame incisivo completa tratada, 606
pacientes com fissura pós-forame incompleta tratada, 259 pacientes com fissura
transforame à direita tratada, 616 pacientes com fissura transforame à esquerda tratada, 386
pacientes com fissura transforame bilateral tratada e 142 pacientes com outros tipos de
fissura, incluindo casos de fissura submucosa ou associações entre fissuras pré-forame e
pós-forame. Incompetência velofaríngea (IncVF) ocorreu em 53 pacientes.
218
606
259
616
386
53
142
0
100
200
300
400
500
600
700
PC PI TD TE TB IncVF OUTROS
número de
pacientes
Nota: PC fissura pós-forame incisivo completa; PI fissura pós-forame incompleta; TD fissura transforame
direita; TE fissura trans-forame esquerda; TB fissura transbilateral; IncVF incompetência velofaríngea
Figura 5 – Distribuição dos pacientes por etiologia da disfunção velofaríngea
38
A primeira cirurgia, utilizando retalho faríngeo posterior ocorreu em 1980, em
paciente do sexo masculino, com 25 anos. O número de procedimentos por ano,
utilizando esta técnica cirúrgica aumentou até 1989, ano em que foram realizados 136
procedimentos. Em 1990, ocorreu redução abrupta do número de procedimentos, apenas 21
cirurgias. A partir de 1991, houve retomada do movimento cirúrgico crescente, atingindo
212 procedimentos, em 1996 e 265 procedimentos, em 1997. Nova queda do movimento
cirúrgico ocorreu em 1993, com apenas 58 procedimentos. Após ano 2000, verifica-se
comportamento descendente em número de procedimentos utilizando técnica do retalho
faríngeo.
O maior número de cirurgias aconteceu em 1996, totalizando 212 procedimentos e
em 1997, totalizando 265 procedimentos, com distribuição equitativa do número de casos
entre sexos feminino e masculino. O menor movimento cirúrgico ocorreu nos primeiros
anos -1980, 1981, 1982- e nos anos considerados exceção ao ritmo crescente de
procedimentos: 1990 e 1993 (tabela 2).
39
Tabela 2- Distribuição dos pacientes submetidos à cirurgia do retalho faríngeo por ano de
realização do procedimento e sexo
Ano Sexo feminino Sexo masculino Total
1980
1 1
1981
3 1 4
1982
6 5 11
1983
19 32 51
1984
32 38 70
1985
28 33 61
1986
26 41 67
1987
61 52 113
1988
54 87 141
1989
79 57 136
1990
14 7 21
1991
87 66 153
1992
72 68 140
1993
25 33 58
1994
51 58 109
1995
67 68 135
1996
103 109 212
1997
126 139 265
1998
111 98 209
1999
82 61 143
2000
39 41 80
2001
15 7 22
2002
28 25 53
2003
28 16 44
Total
1156 1143 2299
40
Interessante observar os diferentes esquemas medicamentosos adotados para
anestesia, analgesia e terapia antiemética no transcorrer dos anos estudados. As diferenças
que surgem denotam a própria história da anestesiologia. A técnica anestésica mais
utilizada foi a geral inalatória com respiração controlada ou assistida-controlada (2280
procedimentos). Entre 1980 e 1988, o anestésico inalatório mais empregado foi o halotano.
Nestes anos, a indução da anestesia era obtida por injeção intravenosa de barbitúricos; para
a analgesia, utilizava-se a associação medicamentosa
dipirona+adifenina+papaverina+homatropina (DAPAH); para prevenir ocorrência de
náuseas e vômitos, o antiemético de escolha era metoclopramida. A partir de 1987, com a
introdução do isoflurano no mercado brasileiro, o HRAC-USP disponibilizou, rapidamente,
sua utilização, tornando-o o anestésico inalatório mais empregado até metade da década de
1990. A partir de 1995, o isoflurano foi gradativamente, e de forma quase completa,
substituído por agente volátil mais avançado, mais insolúvel em tecidos corporais: o
sevoflurano, utilizado com segurança até atualidade. A mesma evolução ocorreu em relação
ao agente indutor endovenoso, aos opióides, aos analgésicos e antieméticos. Inicialmente,
entre 1980 e 1990, DAPAH era o analgésico mais utilizado, tendo sido substituído nos anos
seguintes pela associação dipirona+adifenina+prometazina (DAP) e pelos analgésicos
opióides nalbufina e tramadol. Este último analgésico continua bastante empregado até
atualidade (figuras 6 e 7).
41
0
100
200
300
400
500
600
700
800
1980 a 1990 1990 a 2000 2000 a 2003
halotano
isoflurano
sevoflurano
halotano
isoflurano
sevoflurano
Figura 6 - Anestésico inalatório utilizado em cirurgias do retalho faríngeo posterior, no
HRAC-USP e data
0
100
200
300
400
500
600
1980 a 1990 1990 a 2000 2000 a 2003
DAPAH
DAP
tramadol
nalbufina
DAPAH
DAP
tramadol
nalbufina
Nota: DAPAH – dipirona+adifenina+papaverina+homatropina; DAP – dipirona+adifenina+prometazina
Figura 7 - Analgésico utilizado no período transoperatório de cirurgia do retalho faríngeo,
no HRAC-USP e data
42
Dos 2299 pacientes submetidos à cirurgia do retalho faríngeo, 1042 apresentaram
complicações no período pós-operatório precoce, destes, 561 pacientes (54%) foram
mulheres e 481 pacientes (46%), homens.
Considerando faixa etária, sexo dos pacientes, a tabela 3 mostra o número de
cirurgias com complicações, sem complicações e reoperações para cada grupo. Em
ambos os sexos, o maior número de cirurgias com e sem complicações ocorreu na faixa
etária compreendida entre os 10 a 20 anos; o menor número de cirurgias com e sem
complicações ocorreu na faixa etária compreendida entre os 50 a 60 anos. Já em relação ao
número de reoperações, a maior parte delas foi necessária nos pacientes do sexo masculino,
na faixa etária compreendida entre 20 a 30 anos.
Tabela 3- Distribuição dos pacientes em relação à faixa etária, sexo, presença/ausência de
complicações pós-operatórias e necessidade de reoperação
Masculino Feminino
Total
Sexo
Idade
C SC R C SC R C SC
R
4 10 anos
105 121 2 120 121 0 225 242
2
10 20 anos
189 291 8 218 228 2 407 519
10
20 30 anos
145 204 16 157 169 4 302 374
20
30 40 anos
39 46 5 48 54 1 87 100
6
40 50 anos
2 0 1 13 19 0 15 19
1
50 60 anos
1 0 0 5 4 0 7 4
0
Total
481 662 32 561 595 7 1042 1257 39
Nota: C=cirurgias complicadas; SC=cirurgias sem complicações; R=reoperações
43
Entre 1981 e 1995, a porcentagem de pacientes com complicações em pós-
operatório precoce variou de 39,22% (em 1983) a 65,52% (em 1993). A partir de 1996,
houve diminuição do número de complicações. A menor freqüência de complicações,
25,00%, ocorreu em 2000. Em 2003, último ano do levantamento em questão, a freqüência
de complicações atingiu 27,27% (Tabela 4).
44
Tabela 4 - Número de cirurgias realizadas, número de cirurgias com complicações e
porcentagens, segundo ano de realização da cirurgia
Ano
Número de
cirurgias
Freqüência de
cirurgias
complicadas
Freqüência
relativa
1980
1 1 100,00%
1981
4 2 50,00%
1982
11 6 54,54%
1983
51 20 39,22%
1984
70 33 47,14%
1985
61 32 52,46%
1986
67 36 53,73%
1987
113 72 63,72%
1988
141 92 65,25%
1989
136 81 59,56%
1990
21 13 61,90%
1991
153 90 58,82%
1992
140 82 58,57%
1993
58 38 65,52%
1994
109 63 57,80%
1995
135 67 49,63%
1996
212 71 33,49%
1997
265 81 30,57%
1998
209 69 33,01%
1999
143 40 27,97%
2000
80 20 25,00%
2001
22 6 27,27%
2002
53 15 28,85%
2003
44 12 27,27%
Total
2299 1042 45,32%
Porcentagens sobre total da linha
45
Foram registradas, nos prontuários médicos, 1412 ocorrências de complicações no
período pós-operatório de 1042 procedimentos cirúrgicos utilizando a técnica do retalho
faríngeo posterior, no período de 1980 a 2003, no HRAC-USP.
Os tipos de complicações identificados foram incluídos em categorias. Em ordem
decrescente de número de ocorrências, a maior freqüência de complicações ocorreu na
categoria complicações transitórias do sistema nervoso central, com 629 ocorrências,
incluindo agitação psicomotora, sonolência prolongada e dor; em segundo lugar, a
categoria complicações digestivas, com 375 ocorrências de vômitos; em terceiro lugar a
categoria complicações respiratórias, com 229 ocorrências, incluindo obstrução de via
aérea, dessaturação de oxigênio, cianose, tosse, bradipnéia e laringoespasmo; em quarto
lugar, a categoria complicações hemodinâmicas, com 143 ocorrências incluindo
hemorragia, hipertensão, hipotensão e taquicardia; e em último, a categoria complicações
da regulação térmica, com 36 ocorrências de hipotermia (tabela 5).
46
Tabela 5 – Distribuição das complicações por tipo e categoria de inclusão
Cálculo das freqüências relativas: denominador 2299
Para cálculo das freqüências, foram consideradas todas formas de acontecimento do sintoma:
isolada ou em associação a outros tipos de sintomas
Categoria
complicação
Tipo da
complicação
Freqüência da
complicação
Freqüência relativa
Complicações
respiratórias
Obstrução aérea
Dessaturação
laringoespasmo
Tosse
Cianose
Bradipnéia
110
45
27
25
15
7
4,78%
1,96%
1,17%
1,09%
0,65%
0,30%
Complicações
hemodinâmicas
Hemorragia
Hipertensão
Hipotensão
Taquicardia
89
7
13
34
3,87%
0,30%
0,56%
1,48%
Complicações
digestivas
Vômitos 375
16,31%
Complicações
transitórias SNC
Agitação
Sonolência
Dor
184
116
329
8,00%
5,05%
14,31%
Regulação térmica
Hipotermia 36 1,57%
47
As complicações registradas no período pós-operatório precoce de 1042
procedimentos cirúrgicos do retalho faríngeo posterior, surgiram como sintomas
isolados (apenas um tipo de complicação por procedimento) ou como associações entre 2
ou mais categorias de complicação.
A tabela 6 mostra os tipos de complicação encontrados e como surgiram – se
isolados ou associados entre si – freqüências e porcentagens em relação ao total de casos
complicados e em relação ao total de casos operados pela técnica do retalho faríngeo.
Vômito, como sintoma isolado, ocorreu em 21,69% dos 1042 pacientes com
complicações pós-operatórias. Dor, como sintoma isolado, foi a segunda complicação mais
freqüente, ocorrendo em 16,89% dos 1042 casos complicados. Obstrução de via aérea, uma
das complicações pós-operatórias mais estudadas do período pós-operatório de cirurgias do
retalho faríngeo, ocorreu em 6,43% dos 1042 casos; hemorragia ocorreu em 5,57% dos
1042 casos.
As associações entre sintomas foram freqüentes e variadas. A tabela 6 especifica
as associações com freqüências superiores a 3. Associações entre sintomas, com
freqüências entre 1 e 3, foram descritas na tabela como outras associações: 43 tipos de
associações diferentes foram responsáveis por 89 ocorrências.
Associação entre as complicações dor e vômito foi a mais comum, 5,37% dos
1042 casos complicados.
48
Tabela 6 - Tipos de complicações identificadas e formas de ocorrência (isolada ou
associada) no período pós-operatório precoce de cirugias do retalho posterior
Tipo de complicação Freqüência da
complicação (F)
Porcentagens
(F/1042)
Porcentagens
(F/2299)
Vômitos
226 21,69% 9,83%
Dor
176 16,89% 7,65%
Sonolência
79 7,58% 3,44%
Obstrução de via aérea
67 6,43% 2,91%
Hemorragia
58 5,57% 2,52%
Agitação
55 5,28% 2,39%
Hipotermia
29 2,78% 1,26%
Dessaturação oxigênio
18 1,73% 0,78%
Hipotensão
11 1,05% 0,48%
Laringoespasmo
10 0,96% 0,43%
Tosse
10 0,96% 0,43%
Bradipnéia
4 0,38% 0,17%
Hipertensão
2 0,19% 0,08%
Dor e vômito
56 5,37% 2,44%
Vômito e agitação
31 2,98% 1,35%
Dor e agitação
20 1,92% 0,87%
Dor, agitação e taquicardia
16 1,54% 0,70%
Vômito e sonolência
13 1,25% 0,57%
Agitação e obstrução via aérea
12 1,15% 0,52%
Vômito e hemorragia
8 0,77% 0,35%
Agitação e hemorragia
8 0,77% 0,35%
Dor e sonolência
7 0,67% 0,30%
Dor, vômito e agitação
7 0,67% 0,30%
Tosse e agitação
6 0,58% 0,26%
Dor e obstrução via aérea
5 0,48% 0,22%
Vômito e obstrução via aérea
5 0,48% 0,22%
Agitação e sonolência
5 0,48% 0,22%
Hemorragia e obstrução via aérea
5 0,48% 0,22%
Dor e taquicardia
4 0,38% 0,17
Outras associações
89 8,54% 3,87%
Total
1042 100,00% 45,32%
49
Considerando a necessidade de nova intervenção cirúrgica, ainda no período
pós-operatório precoce, para controle e tratamento de complicações, foram necessárias
39 reoperações em casos de obstrução de via aérea, hemorragia críticas ou ambos (tabela
7).
A porcentagem de reoperações em relação a todos os pacientes submetidos à
cirurgia do retalho faríngeo (N=2299) foi 1,70%; a porcentagem de reoperações entre
pacientes que apresentaram complicações no período pós-operatório precoce (N=1042) foi
3,70%.
A maior freqüência de reoperações, após complicações do período pós-
operatório precoce, 33,33%, ocorreu em 1982. Neste ano, foram realizados 11
procedimentos, dos quais 6 apresentaram complicações no período pós-operatório precoce,
sendo necessárias 2 reoperações. Em 1983, a freqüência de reoperações diminuiu para
10,00%, atingindo 3,03%, em 1984. Em 1986, a freqüência foi 8,33%; em 1987 foi 2,78%;
em 1988 foi 10,87%. Nos anos 1989, 1991, 1992, 1994, 1995, 1996, 1997, 1998 e 2000, a
freqüência de reoperações variou de 1,11% (1991) a 5,63% (1996). Em 1980,1981, 1985,
1990, 1993, 1999 e de 2001 a 2003, não foram registradas reoperações (tabela 7).
50
Tabela 7 – Distribuição de complicações e do número de reoperados por ano de realização
da cirurgia
Ano Cirurgias
realizadas
Cirurgias com
complicações
Obstrução via
aérea
Hemorragia
Freqüência
reoperações
Porcentagem
reoperações
1980
1 1 0 0 0 0
1981
4 2 0 1 0 0
1982
11 6 3 3 2 33,33%
1983
51 20 3 1 2 10,00%
1984
70 33 2 4 1 3,03%
1985
61 32 1 2 0 0
1986
67 36 2 3 3 8,33%
1987
113 72 6 11 2 2,78%
1988
141 92 10 12 10 10,87%
1989
136 81 3 2 2 2.47%
1990
21 13 2 2 0 0
1991
153 90 4 6 1 1,11%
1992
140 82 1 8 1 1.22%
1993
58 38 2 0 0 0
1994
109 63 8 3 1 1.59%
1995
135 67 4 6 3 4.48%
1996
212 71 8 7 4 5.63%
1997
265 81 6 5 3 3.70%
1998
209 69 5 8 3 4.35%
1999
143 40 5 2 0 0
2000
80 20 1 1 1 5,00%
2001
22 6 1 0 0 0
2002
53 15 1 2 0 0
2003
44 12 1 0 0 0
2299 1042 79 89 39 1,70%
Nota: cálculo da porcentagem de reoperações, em relação ao total de 2299 procedimentos
51
Das 2299 cirurgias do retalho faríngeo posterior realizadas, 2280 utilizaram técnica
anestésica geral inalatória, com indução inalatória ou balanceada endovenosa e 19
utilizaram técnica anestésica geral endovenosa total.
Nos 19 procedimentos, em que anestesia geral endovenosa total foi utilizada, não
foram constatados quaisquer tipos de complicação no período pós-operatório precoce.
Nos 2280 procedimentos, em que anestesia geral inalatória foi utilizada, 1042
procedimentos apresentaram complicações no período pós-operatório precoce, destes, em
39 pacientes foi necessária nova intervenção cirúrgica, (ainda no pós-operatório precoce)
para controle de hemorragia, obstrução de via aérea ou ambos.
Nos 2280 procedimentos realizados sob anestesia geral inalatória, 565 utilizaram
o anestésico halotano, 966 utilizaram o anestésico isoflurano, 731 utilizaram o anestésico
sevoflurano e 18 utilizaram o anestésico enflurano.
Ocorreram procedimentos complicados em 63,72% dos procedimentos realizados
com halotano, em 48,14% dos procedimentos realizados com isoflurano, em 33,33% dos
procedimentos realizados com enflurano e em 28,86% dos procedimentos realizados com
sevoflurano (tabela 8).
Houve associação estatísticamente significativa entre anestésico inalatório utilizado
e presença ou ausência de complicações, conforme teste estatístico em tabela 8.
52
Tabela 8 - Distribuição das cirurgias complicadas/sem complicações, em relação ao
anestésico inalatório utilizado
Complicadas Sem complicações
TOTAL
N % N % N
%
Halotano
360 63,72% 205 36,28% 565
100,00%
Isoflurano
465 48,14% 501 51,86% 966
100,00%
Enflurano
6 33,33% 12 66,67% 18
100,00%
Sevoflurano
211 28,86% 520 71,14% 731
100,00%
Total
1042 45,70% 1232 54,30% 2280 100,00%
Porcentagens(%) sobre o total da linha
Quiquadrado=160,82; graus de liberdade 3; P<0,0001
53
De todas as complicações verificadas, 42,67% pertenciam à categoria complicações
transitórias do SNC; 15,80%, à categoria complicações respiratórias; 10,46%, à categoria
complicações hemodinâmicas; 28,32%, à categoria complicações digestivas e 2,75%, à
categoria complicações da regulação térmica (tabela 9).
A tabela 9 também mostra as distribuições percentuais das categorias de
complicações para cada anestésico inalatório utilizado, descritas a seguir:
Complicações transitórias do SNC representaram 49,39% das complicações
encontradas com halotano; 40,63% das complicações encontradas com o isoflurano e
33,88% das complicações encontradas com sevoflurano.
Complicações respiratórias representaram 17,36% das complicações encontradas
com isoflurano, 15,29% das complicações encontradas com sevoflurano e 14,23% das
complicações encontradas com halotano.
Complicações hemodinâmicas representaram 7,52% de todas complicações
encontradas com halotano, 11,28% das complicações encontradas com isoflurano e 14,46%
das complicações encontradas com sevoflurano.
Complicações digestivas representaram 28,05% das complicações encontradas com
halotano, 28,99 das complicações encontradas com isoflurano e 27,27% das complicações
encontradas com sevoflurano.
Complicações da regulação térmica representaram 0,81% das complicações
ocorridas com halotano, 1,74% das complicações ocorridas com isoflurano e 9,09% das
complicações encontradas com sevoflurano.
54
Tabela 9 – Distribuição das categorias de complicações e anestésico inalatório utilizado
Porcentagens sobre total da coluna
Quiquadrado=64,4723; graus de liberdade 8; P<0,0001
Agente inalatório enflurano não considerado, pois valores em 2 caselas=0 e utilizado em número restrito de
casos
Halotano Isoflurano Sevoflurano
TOTAL
Anestésico inalatório
Categorias
complicação
N % N % N % N
%
Respiratórias
70 14,23 100 17,36 37 15,29 207
15,80
Hemodinâmicas
37 7,52 65 11,28 35 14,46 137
10,46
Digestivas
138 28,05 167 28,99 66 27,27 371
28,32
Transitórias SNC
243 49,39 234 40,63 82 33,88 559
42,67
Regulação térmica
4 0,81 10 1,74 22 9.09 36
2,75
TOTAL
492 100 576 100 242 100 1310 100
55
Foram verificadas maiores proporções de complicações respiratórias e
hemodinâmicas com o isoflurano (48,07% para complicações respiratórias e 47,10% para
complicações hemodinâmicas – estatísticamente significativo). Com o sevoflurano foram
verificadas as menores proporções (estatísticamente significativo) de complicações
respiratórias, hemodinâmicas, digestivas e transitórias do SNC. Ainda, em relação ao
sevoflurano, foi verificada maior proporção de ocorrência de complicações da regulação
térmica (tabela 10).
Tabela 10 – Proporções das categorias de complicações ocorridas no pós-operatório
precoce e anestésico inalatório utilizado
P=proporção; IC=intervalo de confiança a 95%
* significa diferença estatísticamente significativa
Agente inalatório enflurano não considerado, pois valores em 2 caselas=0 e utilizado em número restrito de
casos
halotano isoflurano
sevoflurano
Anestésico
inalatório
Categorias
complicação
P IC P IC P
IC
Respiratórias
33,65 27,27-40,51 48,07* 41,11-55,09* 17,78*
12,84-23,67*
Hemodinâmicas
26,81 19,63-35,01 47,10* 38,55-55,77* 25,36
18,34-33,47
Digestivas
35,80 31,93-41,90 44,53
39,43-49,72
17,60*
13,88-21,84*
Transitórias SNC
43,31 39,19-47,54 41,17
37,61-45,92
14,62*
11,85-17,87*
Regulação térmica
11,11 3,11-26,06 27,77
14,20-45,19
61,11 43,46-76,86
56
O anestésico inalatório halotano apresentou chance 2,62 vezes maior, que os outros
agentes inalatórios, de produzir complicações no período pós-operatório precoce (tabela 11
estatísticamente significativo). O sevoflurano apresentou a menor chance de ocorrência de
complicações (OR=odds ratio=razão de chances=0,35). Os valores de OR calculados para
isoflurano e enflurano não foram estatísticamente significativos, pois os intervalos de
confiança contém 1 (tabela 11).
Tabela 11 – Razões de chances de ocorrência de complicações(OR=odds ratio) calculadas
para halotano, isoflurano, enflurano e sevoflurano
Intervalo de confiança (Woolf) 95%
* = estatísticamente significativos
Razões de chances
(OR)
Intervalos de
confiança
Quiquadrado
P
Halotano
2,62* 2,15 – 3,19 94,35
<0,0001
Isoflurano
1,16 0,99 – 1,37 3,03
0,41
Enflurano
0,59 0,22 – 1,58 0,67
0,08
Sevoflurano
0,35* 0,29 – 0,42 125,67 <0,0001
57
Considerando o agente indutor hipnótico selecionado, quando o tionembutal
foi utilizado, a proporção de complicações foi 55,60%. Com o agente indutor propofol, a
proporção de complicações foi 29,60% e com o etomidato, a proporção foi 67,31%. Houve
associação, estatísticamente significativa, entre agente indutor utilizado e ausência ou
presença de complicações pós-operatórias (tabela 12).
Tabela 12 – Distribuição de complicações pós-operatórias e agente hipnótico utilizado
Complicadas Sem complicações
Total
N % N % N
%
Tionembutal
710 55,60% 567 44,40% 1277
100,00%
Propofol
262 29,60% 623 70,40% 885
100,00%
Etomidato
35 67,31% 17 32,69% 52
100,00%
Total
1007 45,48% 1207 54,52% 2214 100,00%
Porcentagens sobre o total da linha
Quiquadrado=152,6785; graus de liberdade 2; P<0,0001
58
Considerando as categorias de complicação para cada agente indutor utilizado,
houve a seguinte distribuição:
As complicações respiratórias representaram 14,91% das complicações
encontradas com o tionembutal e 18,90% das complicações encontradas com propofol.
As complicações hemodinâmicas representaram 10,97% das complicações
registradas com tionembutal e 10,31% das complicações encontradas com propofol.
As complicações digestivas representaram 26,84% das complicações
encontradas com tionembutal e 29,21% das complicações encontradas com sevoflurano.
As complicações transitórias do SNC representaram 45,69% das complicações
encontradas com tionembutal e 34,36% das complicações encontradas com propofol.
Houve associação estatísticamente significativa entre os dados da tabela 13.
Tabela 13 – Distribuição das categorias de complicações e agente hipnótico utilizado
Quiquadrado=33,36; graus de liberdade 12; P<0,0001
Etomidato não calculado, pois existem: casela=0 e casela com valor < 5
Porcentagens sobre total da coluna
Tionembutal Propofol
TOTAL
Agente hipnótico
Categoria
complicação
N % N % N
%
Respiratórias
140 14,91 55 18,90 195
15,85
Hemodinâmicas
103 10,97 30 10,31 133
10,81
Digestivas
252 26,84 85 29,21 337
27,40
Transitórias SNC
429 45,69 100 34,36 529
43,01
Regulação térmica
15 1,60 21 7,22 36
2,93
TOTAL
939 100 291 100 1230 100
59
Menores proporções de complicações respiratórias, hemodinâmicas, digestivas e
transitórias do SNC foram verificadas com o agente hipnótico propofol (estatíticamente
significativo). Não houve diferença, estatíticamente significativa, entre tionembutal e
propofol em relação às proporções de complicações da regulação térmica (tabela 14).
Tabela 14 – Proporções das categorias de complicação ocorridas em pós-operatório precoce
e agente hipnótico utilizado
P=proporção em %
*estatísticamente significativos
Intervalo de confiança a 95% (Woolf)
Tionembutal
Propofol
Agente hipnótico
Categoria
complicação
P IC P
IC
Respiratórias
67,31* 60,48 – 73,63 26,44*
20,58 – 32,98
Hemodinâmicas
74,64* 66,53 – 81,65 21,74*
15,17 – 29,56
Digestivas
67,20* 62,19 – 71,93 22,66*
18,52 – 27,24
Transitórias SNC
76,47* 72,69 – 79,87 17,82*
14,79 -21,30
Regulação térmica
41,66 25,51 – 59,24 58,33 40,76 – 74,49
60
O agente hipnótico propofol apresentou a menor chance de ocorrência de
complicações (OR=0,33). Tionembutal e etomidato apresentaram chances aumentadas de
ocorrência de complicações no período pós-operatório precoce (OR=2,72 para tionembutal
e OR=2,61 para etomidato; tabela 15).
Tabela 15 – Razões de chances (odds ratio), intervalos de confiança e valores de P
calculados para tionembutal, etomidato e propofol
*estatísticamente significativos
Intervalos de confiança a 95% (Woolf)
Razões de chances
(OR)
Intervalos de
confiança
Quiquadrado
P
Tionembutal
2,72* 2,28 – 3,24 124,94
<0,0001
Etomidato
2,61* 1,43 – 4,75 9,59
0,0019
Propofol
0,33* 0,27 – 0,39 151,00 <0,0001
61
Com o uso de opióides na indução anestésica, 39,58% dos procedimentos
apresentaram complicações; sem uso de opióides na indução, 54,13% dos procedimentos
apresentaram complicações
Cirurgias com opióides na indução anestésica apresentaram menores chances de
ocorrência de complicações em pós-operatório precoce (tabela 16; estatísticamente
significativo).
Tabela 16 – Uso de opióides e distribuição de cirurgias complicadas/sem complicações
Porcentagens sobre total da linha
Quiquadrado=46,3368; prob<0,0001
Odds Ratio=0,56; intervalo de confiança a 95%(Woolf): 0,47 a 0,66
Complicadas Sem complicações
Total
N % N % N
%
Com opióides
551 39,58% 841 60,42% 1392
100,00%
Sem opióides
491 54,13% 416 45,87% 907
100,00%
Total
1042 45,32% 1257 54,68% 2299 100,00%
62
Quanto ao esquema analgésico adotado, para avaliação da eficácia, foi
verificado o número de ocorrências da complicação dor, para cada esquema utilizado
(tabela 17).
Dos pacientes em que o tramadol foi adotado, 6,40% apresentaram registro de
dor no pós-operatório precoce. Com a nalbufina, 8,12% apresentaram registro de dor no
pós-operatório. A maior proporção percentual de dor ocorreu com AINES: 30,77% dos
pacientes. Dos 2299 pacientes submetidos às cirurgias de retalho, 40 pacientes não
receberam analgésicos durante permanência em centro cirúrgico; 30,00% destes pacientes
apresentaram registro de dor no período pós-operatório precoce. Cabe salientar que nestes
40 casos, em que analgésicos não foram administrados no período intra-operatório, foram
administrados opióides durante indução da anestesia.
Testes estatíticos demonstram associação significativa entre os dados da tabela
17.
O cálculo das razões de chances (odds ratio) para os diferentes analgésicos,
mostra as menores chances de ocorrência do sintoma dor quando nalbufina e tramadol
foram utilizados (0,37 para tramadol e 0,48 para nalbufina); entre estas duas drogas não
existiu diferença estatíticamente significativa. As maiores razões de chances ocorreram
com dipirona e AINES (2,16 para dipirona e 2,75 para AINES); entre estas duas drogas
também não existiu diferença estatíticamente significativa. Pelos cálculos dos intervalos de
confiança, não podemos afirmar que as razões de chance encontradas para DAPAH e DAP
são estatíticamente significativas (tabela 18).
63
Tabela 17 – Esquema analgésico utilizado e distribuição da complicação dor
DAPAH - dipirona+adifenina+papaverina+homatropina
DAP – dipirona+adifenina+prometazina
AINES – antiinflamatórios não esteróides
Associações – nalbufina+AINES
Quiquadrado=74,0150; graus de liberdade 7
Tabela 18 – Razões de chances de ocorrência de complicações e respectivos intervalos de
confiança calculados para cada analgésico utilizado
Nota: * estatísticamente significativos
Intervalo de confiança a 95% (Woolf)
DAPAH - dipirona+adifenina+papaverina+homatropina
DAP – dipirona+adifenina+prometazina
AINES – antiinflamatórios não esteróides
Dor Sem dor
Total
Analgésico
Utilizado
N % N % N
%
Dipirona
51 24,88% 154 75,12% 205
100,00%
DAPAH
105 15,72% 563 84,28% 668
100,00%
DAP
72 17,39% 342 82,61% 414
100,00%
Tramadol
19 6,40% 278 93,60% 297
100,00%
Nalbufina
29 8,12% 328 91,88% 357
100,00%
AINES
16 30,77% 36 69,23% 52
100,00%
Associações
25 9,40% 241 90,60% 266
100,00%
Sem analgésico
12 30,00% 28 70,00% 40
100,00%
Total
329 14,31% 1970 85,69% 2299 100,00%
Analgésico
Utilizado
Razões de chances
Intervalo de
confiança
Quiquadrado
P
Dipirona
2,16* 1,54 3,04 19,56
<0,0001
DAPAH
1,17 0,91 1,51 1,36
0,24
DAP
1,33 1 – 1,78 3,6
0,057
Tramadol
0,37* 0,23 0,60 16,68
<0,0001
Nalbufina
0,48* 0,32 0,72 12,60
0,0003
AINES
2,75* 1,51 5,01 10,41 0,0012
64
A tabela 19 mostra os esquemas antieméticos adotados pelos anestesiologistas
no intra-operatório das cirurgias de retalho faríngeo: metoclopramida, ondansetron,
dimenidrato e associação metoclopramida+ondansetron.
Metoclopramida foi administrada a 1210 pacientes, sendo que a complicação
vômito ocorreu em 21,75% dos pacientes deste grupo. Ondansetron foi administrado a 912
pacientes e a ocorrência da complicação vômito atingiu 4,39% dos pacientes deste grupo.
Dimenidrato foi administrado a 4 pacientes, sem registro de vômito em pós-operatório.
Dos 2299 pacientes submetidos à cirurgia do retalho faríngeo, 158 não
receberam antieméticos durante permanência em centro cirúrgico; a proporção percentual
da complicação vômito neste grupo foi 54,43%.
Tabela 19 – Antiemético utilizado e distribuição da complicação vômito
Sem vômito Com vômito Total
N % N % N %
Metoclopramida
946 78,25 263 21,75 1210 100
Ondansetron
872 95,61 40 4,39 912 100
Metoclopramida+Ondansetron
15 100 0 0 15 100
Dimenidrato
4 100 0 0 4 100
Nenhum
86 54,43 72 45,57 158 100
Total
1933 83,68 375 16,32 2299 100
65
A tabela 20 compara 2 medicações antieméticas, mostrando diferença
estatísticamente significativa em relação a ocorrência de vômito. A chance da ocorrência de
vômitos com metoclopramida é 6,06 vezes maior do que com ondansetron, como mostra o
cálculo da razão de chances (odds ratio).
Tabela 20 – Distribuição da complicação vômito e antiemético utilizado
Sem vômito Com vômito
Total
N % N % N
%
Metoclopramida
946 78,25 263 21,75 1209
100
Ondansetron
872 95,61 40 4,39 912
100
Total
1818 85,71 303 14,29 2121 100
Quiquadrado=126,6423; p<0,0001
Odds Ratio=6,06; intervalo de confiança a 95%(Woolf): 4,29 a 8,56
66
Dos 1238 pacientes sem complicações em pós-operatório e que foram submetidos
à anestesia geral inalatória, 205 pacientes foram anestesiados com halotano. Destes, 196
foram submetidos à anestesia balanceada, utilizando tionembutal como agente indutor
anestésico. Em 9 pacientes a anestesia geral foi induzida sob máscara com halotano (todos
os 9 pacientes apresentavam idades abaixo de 7 anos). Em 180 procedimentos, opióides
foram utilizados na indução anestésica. Em relação aos analgésicos e antieméticos: 101
pacientes receberam DAPAH, 30 pacientes receberam dipirona, 1 paciente recebeu
tramadol; 204 pacientes receberam metoclopramida. Cirurgias utilizando este esquema
anestésico ocorreram de 1982 a 1994.
Em 501 pacientes, sem complicações no pós-operatório precoce, o agente
inalatório utilizado foi o isoflurano. Tionembutal foi utilizado em 303 pacientes como
agente indutor, propofol foi utilizado em 178 pacientes e etomidato, em 14 pacientes. Os
opióides foram utilizados em 315 induções. Como analgésicos: DAPAH foi utilizado em
112 casos; DAP foi utilizado em 158 casos; tramadol em 65 casos; nalbufina em 82 casos;
antiinflamatórios em 50 casos. Antieméticos foram utilizados da seguinte forma:
metoclopramida em 276 procedimentos e ondansetron em 206 procedimentos.
Em 460 pacientes, sem complicações no pós-operatório precoce, o agente
inalatório utilizado foi o sevoflurano. Como indutor endovenoso, tionembutal foi utilizado
em 46 casos e propofol foi utilizado em 388 casos. Opióides foram administrados na
indução anestésica de 285 casos. Os analgésicos mais utilizados foram tramadol (158
casos), nalbufina (148 casos) e antiinflamatórios (74 casos). Em relação ao antiemético
escolhido, ondansetron foi utilizado em todos os pacientes, sendo que, em 6 casos, ocorreu
associação com metoclopramida. Este último esquema anestésico descrito, administrado
67
em 460 pacientes, foi o esquema de drogas mais freqüentemente utilizado pelos
anestesiologistas do HRAC-USP, no período de 1995 a 2003.
68
6. DISCUSSÃO
Considerando a eficácia da técnica cirúrgica do retalho faríngeo posterior no
processo de reabilitação da fala e a relevância dos aspectos anestésicos para possibilitação e
bom curso de quaisquer procedimentos cirúrgicos, o presente estudo procura cumprir seus
objetivos expondo os 23 anos de experiência na utilização desta técnica cirúrgica,
considerando algo fundamental, mas pouco explorado: a ANESTESIA.
À medida que cresce o conhecimento técnico-científico, aumenta a compreensão da
relevância da anestesia em todo o processo cirúrgico – pré, intra e pós-operatório precoce.
Infelizmente, a idéia que fomenta muitas mentes é a de que a anestesia, mero coadjuvante
cirúrgico, é incapaz de alterar seus resultados. É de desconhecimento quase completo, o
emaranhado fisiológico que precisa estar sob controle fino: vias sensoriais estimuladas,
resposta endócrino-metabólica ao trauma, farmacocinética e farmacodinâmica de
medicamentos injetados. Sem controle, tudo culminaria em um caos fisiológico com
aparecimento de efeitos colaterais com intensidade e gravidade variáveis (Stoelting e Miller
2000).
Até mesmo, complicações do período pós-operatório precoce consideradas por
muitos como leves, pouco prejudiciais podem se revelar altamente deletérias, caso do
sintoma dor. Muitos acreditam, tratar-se de um sintoma inevitável e com pouco
potencial de interferência. À medida que compreendemos melhor a fisiopatologia do
fenômeno dor, percebemos o engano. A despeito, de quase todo sintoma álgico agudo ser
considerado um sinal de alerta e despertar respostas motoras preservadoras, a dor ativa e
perpetua sinais que promovem alterações fisiológicas sabidamente importantes, como,
69
aumento da freqüência cardíaca, aumento da pressão arterial, aumento da freqüência
respiratória, liberação de peptídeos endógenos vasoconstritores, hormônios, que culminam
com alterações de perfusão em ferida cirúrgica (Azevedo et al 2003). Apesar de deflagrar
esquemas fisiológicos tão importantes, o sintoma DOR não tem merecido a adequada
atenção em estudos de resultados realizados mundo afora.
No mesmo rol, dos esperados, pouco importantes e pouco influentes também
figuram outros sintomas: náuseas, vômitos, agitação psicomotora e hipotermia. Todos
produzem alterações fisiológicas de leves a intensas e, portanto, podem prejudicar a ferida
cirúrgica - tecido incisado, manipulado, suturado, delicado e frágil, dependente de perfusão
adequada, ação dos fatores de coagulação, sem movimentos e forças contrárias à sutura,
sobrecarga ou bactérias para produzir um maior dano (Carvalho et al 1999).
Com o intuito de tornar a leitura deste capítulo mais aprazível, os resultados serão
discutidos em tópicos.
6.1. Aspectos gerais
Neste estudo retrospectivo das complicações no período pós-operatório de cirurgias
do retalho faríngeo, verificamos freqüência de 50,3% deste tipo de cirurgia em pacientes do
sexo feminino (1156 pacientes). Outros trabalhos relatam predomínio do sexo masculino
entre os pacientes com fissura operada (Capelozza Filho et al 1987, Kirschner e LaRossa
2000, Silva et al 2003, Biazon 2003).
A idade ideal para cirurgia do retalho faríngeo tem sido motivo de debate na
literatura; muitos autores observaram resultados melhores em pacientes mais jovens.
70
Cirurgias realizadas em pacientes com até 6 anos de idade, apresentaram os resultados mais
adequados (Billmire 2001).
No HRAC, de 1980 a 2003, 1602 pacientes com idades variando de 10 a 30 anos
foram operados, correspondendo a 70% do total de pacientes. A explicação para tal
ocorrência deve-se à rotina de atendimento adotada neste serviço: aguardar a maturidade e
a capacidade plena de coolaboração em relação aos exames subsidiários pré-operatórios,
cirurgia e recuperação pós-operatória. Deve-se considerar também que grande parte dos
pacientes atendidos pelo HRAC-USP, apresentam além da hipernasalidade, distúrbios
articulatórios compensatórios que devem ser corrigidos, ainda no período pré-operatório,
com fonoterapia.
Considerando a etiologia da disfunção velofaríngea, apenas 2,30% dos pacientes
apresentavam disfunção velofaríngea, sem fissura operada. Em 54,85% dos casos, a
etiologia da insuficiência velofaríngea esteve relacionada à fissura do tipo transforame
incisivo. As fissuras transforame são as de ocorrência mais freqüente e o sexo masculino é
o mais acometido (Capelozza Filho et al 1987).
Em relação à técnica anestésica empregada, anestesia geral inalatória foi utilizada
em 2280 procedimentos (99,17%); apenas 19 procedimentos foram realizados com
anestesia geral endovenosa total. Resultado semelhante foi observado no estudo realizado
por Biazon (2003), em que técnica geral inalatória foi utilizada em 99,18% dos pacientes
anestesiados para queiloplastias e palatoplastias, no HRAC-USP.
De 1980 a 2003, foram realizados 2299 procedimentos utilizando a técnica do
retalho faríngeo. Nos anos de 1996, 1997 e 1998, ocorreram os maiores números de
cirugias, 212 procedimentos, 265 procedimentos e 209 procedimentos, respectivamente.
71
Em relação aos estudos encontrados na literatura e suas casuísticas, estudo realizado
na Universidade de Iowa, por Canady et al (2003), avaliou 87 pacientes submetidos à
cirurgia do retalho faríngeo, de 1990 a 2000. Seagle et al, em 2002, publicaram estudo
retrospectivo, considerando os procedimentos cirúrgicos, utilizando três técnicas para
tratamento da insuficiência velofaríngea, realizados de 1988 a 2000, na univesidade da
Flórida. Foram estudados 89 pacientes, dos quais apenas 11 pacientes haviam sido
submetidos a técnica do retalho faríngeo. No presente estudo, apesar do número de
procedimentos (N=2299) utilizando a técnica do retalho faríngeo posterior ter sido alto,
devemos lembrar que o estudo mostra 23 anos de experiência e que o HRAC é um centro
de referência no tratamento das anomalias craniofaciais não só para o Brasil mas também
para outros países. Seria interessante conhecer o número total de palatoplastias realizadas
nesta instituição, para verificar a real existência de um possível excesso na indicação destes
tipos de procedimentos, já que não existe meio de comparar nossos dados aos de outras
instituições devido a magnitude desta casuística (N=2299 pacientes). Outra observação
importante deve ser feita em relação à diminuição das cirurgias utilizando retalho faríngeo
nos últimos anos do estudo, possivelmente revelando a preocupação dos profissionais
envolvidos, para indicação correta e precisa do procedimento cirúrgico nos portadores de
disfunção velofaríngea.
6.2. Complicações no período pós-operatório precoce de cirurgias diversas e do
retalho faríngeo
Complicações com as cirurgias do retalho faríngeo não são incomuns. No presente
estudo foram constatadas complicações no período pós-operatório precoce de 45,32% das
2299 cirurgias realizadas.
72
O período de recuperação caracteriza-se por alterações fisiológicas decorrentes do
trauma anestésico cirúrgico e a incidência de complicações graves está associada não só a
complexidade da patologia e da técnica anestésica empregada, mas também a variabilidade
da resposta individual. Mesmo com os avanços farmacológicos existentes atualmente, as
complicações relacionadas à anestesia continuam existindo.
No período de 1978 a 1982, Tiret et al (1986) realizaram estudo prospectivo na
França, com 198.103 anestesias realizadas em 460 instituições públicas e privadas,
encontrando 268 complicações que ocorreram durante anestesia ou 24 horas após.
Consideraram fatores de risco para complicações: idade do paciente, doenças associadas,
condições pré-operatórias, emergências cirúrgicas e duração do procedimento cirúrgico.
Em 1987, Zelcer e Wells, acompanharam 443 pacientes, tendo constatado que 30%
destes haviam apresentado pelo menos uma complicação. Em 1991, Khan et al estudando
6978 pacientes admitidos na sala de recuperação pós-anessica, encontraram 695 pacientes
apresentando pelo menos uma complicação no período pós-operatório. Hines et al (1992),
encontraram 23,7% de complicações em 18473 pacientes. Manninen et al (1999),
realizaram estudo com 431 pacientes neurocirúrgicos, constatando que 54,5% dos pacientes
apresentaram pelo menos uma complicação na Sala de Recuperação Pós-Anestésica.
Canady et al (1994), encontraram índices de complicações no pós-operatório de 14,2% a
17,4%.
Sendo assim, o que se constata, é presença constante de complicações, no período
pós-operatório, com variação de ocorrência determinada não só pela especificidade de cada
procedimento, mas também relacionada a fatores de risco individuais e de cada
procedimento.
73
Hofer et al (2002), em estudo retrospectivo das faringoplastias realizadas de 1988 a
1998, analisaram 275 prontuários, encontrando complicações pós-operatórias em 6% dos
casos, com taxa de reoperação de 0,7%.
Biazon (2003), em estudo retrospectivo de 484 queiloplastias e palatoplastias
realizadas no HRAC-USP, encontrou complicações pós-operatórias em 281 pacientes
(58,05%) e salientou que, apesar da seriedade e legalidade dos registros utilizados como
dados obtidos de prontuários médicos, não se pode deixar de salientar a possibilidade de
diferentes julgamentos feitos a partir de um fato observado.
O presente estudo, por se tratar de estudo retrospectivo, merece esta mesma
consideração.
6.2.1 Complicações respiratórias
As complicações respiratórias, apesar dos avanços em anestesia e cirurgia, ainda
constituem elemento importante na morbi-mortalidade pós-operatória. Foram encontradas
complicações respiratórias em 9,96% dos 2299 procedimentos realizados. No presente
estudo, em relação aos tipos de complicação respiratória, foram encontradas as seguintes
proporções: 4,78% de obstrução de via aérea, 1,96% de dessaturação, 1,17% de
laringoespasmo, 1,09% de tosse, 0,65% de cianose e 0,3% de bradipnéia.
Na literatura encontramos incidências variáveis de complicações respiratórias no
período pós-operatório. Parr et al (1991), estudaram 16.065 pacientes submetidos à
anestesia geral, encontrando incidência de 2,95% de complicações respiratórias no período
pós-operatório. Rose et al (1994) identificaram em 24.157 pacientes submetidos à
anestesia, 1,3% de complicações respiratórias no período pós-operatório, sendo hipoxemia
74
a mais crítica, seguida por hipoventilação e obstrução respiratória. Pedersen et al (1990),
publicou estudo com avaliação de 7300 intervenções, encontrando incidência de 4,1% de
complicações respiratórias em pós-operatório precoce. A taxa de mortalidade entre os
pacientes que apresentaram complicações respiratórias chegou a 15,9%.
As mudanças fisiológicas que ocorrem durante anestesia e cirurgia não são
imediatamente revertidas ao final do procedimento. Assim várias complicações podem
ocorrer nas primeiras horas do período pós-operatório.
Biazon (2003), em estudo das complicações pós-operatórias de queiloplastias e
palatoplastias realizadas no HRAC-USP, encontrou freqüência de complicações
respiratórias de 27,68%, sendo 17,36% dos casos, dessaturação, 6,20% dos casos,
hipoventilação, 2,89% dos casos, obstrução respiratória alta e 1,23% dos casos, edema de
língua.
Em relação à cirurgia de retalho faríngeo já está bem estabelecido seu potencial
obstrutivo. Algumas vezes a obstrução em via aérea pode ser tão severa, que conduz a nova
intervenção cirúrgica ainda no início do período pós-operatório (Caouette-Laberge 1992).
O aspecto obstrutivo do retalho faríngeo e o potencial de sangramento da ferida cirúrgica
(por se tratar de local bem vascularizado) têm sido os principais objetivos dos estudos
realizados até o momento.
Valnicek et al (1994), em análise retrospectiva de 219 pacientes submetidos a
cirurgia do retalho faríngeo posterior, verificaram complicações em 16,4% dos pacientes
(36 pacientes). Dos 36 pacientes, 20 pacientes apresentaram obstrução de via aérea e houve
necessidade de intubação em 3 casos.
75
Wells et al (1999), analisando registros de 111 pacientes submetidos a retalho
faríngeo posterior, encontraram obstrução de via aérea em 7% dos pacientes.
Jorge (2002), em estudo prospectivo das faringoplastias realizadas no HRAC-USP,
encontrou dessaturação de oxigênio em 78% dos pacientes no período pós-operatório
imediato.
Comparado à literatura, o presente estudo verificou ocorrência de complicações
respiratórias em 9,96% dos pacientes, um nível aceitável, porém maior do que a ocorrência
de complicações respiratórias verificadas em estudos de complicações pós anestésicas de
cirurgias diversas e maior que o estudo de Wells et al (1999), específico para o pós-
operatório de cirurgias do retalho faríngeo. Este fato pode ser explicado pelo aspecto mais
abordado e discutido por diversos autores em relação às cirurgias do retalho faríngeo: o
potencial obstrutivo sobre vias aéreas superiores.
6.2.2. Complicações hemodinâmicas
Após anestesia geral, alguns pacientes podem exibir alterações patológicas no
eletrocardiograma como alterações do eixo cardíaco, da condução cardíaca, da morfologia
em ondas P e T e do segmento ST, sem ocorrência simultânea de sintomatologia. Fatores
que aumetam a atividade do sistema nervoso parassimpático ou diminuem a atividade do
sistema nervoso simpático, como alguns tipos de medicações - opióides, sedativos e
anestésicos inalatórios - podem ser os promotores da bradicardia sinusal; hipoxemia severa
e acidose severa também podem ser causas da bradicardia. Se a freqüência cardíaca cai para
40 a 45 batimentos/min pode ocorrer hipotensão associada (Mecca 1996).
76
A taquicardia sinusal, em praticamente todas as situações, apresenta-se associada ao
aumento da atividade do sistema nervoso simpático, desencadeada por estímulos
fisiológicos. Por isso, a taquicardia é efetivamente tratada quando se trata a causa de base:
dor, hipovolemia, ansiedade, falência miocárdica (Meca 1996).
Elevação moderada da pressão arterial sistêmica é evento comum no período pós-
operatório precoce (Hines 1992). Mas, hipertensão significativa pode aumentar a
morbidade pós-operatória, aumentando o sangramento da ferida cirúrgica e as perdas para o
terceiro espaço. O aumento da atividade do sistema nervoso simpático é a causa mais
freqüente de hipertensão. Fatores relacionados ao aumento da atividade simpática são:
estímulo nóxico por dor, ansiedade, intubação; condições fisiológicas adversas como
hipercarbia, acidose, hipoxemia, hipotensão, hipoglicemia; medicações, como as drogas
anestésicas isoflurano e quetamina, simpatomiméticos, broncodilatadores. Aumento de
20% a 30% na pressão arterial sistólica ou diastólica acima dos níveis de repouso, sinais e
sintomas de complicações como cefaléia e sangramento são indicações de necessidade da
instituição de tratamento (Mecca 1996).
A freqüência global de complicações hemodinâmicas encontradas no presente estudo
foi 6,21%, sendo hemorragia responsável por 3,87% das complicações hemodinâmicas,
hipertensão responsável por 0,30%, hipotensão responsável por 0,56% e taquicardia
responsável por 1,48%. A ocorrência de complicações cardiovasculares tem sido relatada
por vários autores, com freqüência variando de 2,5% a 54,5% (Zelcer e Wells 1987, Rose et
al 1996, Manninen et al 1999).
Rose et al (1996), estudando as freqüências dos eventos hemodinâmicos em sala de
recuperação pós-anestésica, encontrou este tipo de complicação ocorrendo em 7,2% dos
77
18.380 pacientes estudados, sendo que hipertensão ocorreu em 2%, hipotensão ocorreu em
2,2%, taquicardia ocorreu em 0,9% e bradicardia ocorreu em 2,5%. Em estudo realizado
por Leykin et al (2001), complicações hemodinâmicas ocorreram em 13,15% dos pacientes,
tornando este o grupo mais comum de complicações. Peskett (1999), encontrou
complicações hemodinâmicas em 2,50% dos pacientes estudados. Biazon (2003),
encontrou proporção de 17,57% de complicações hemodinâmicas no período pós-
operatório dos pacientes estudados.
Mais especificamente em relação aos estudos de complicações hemodinâmicas das
cirurgias do retalho faríngeo, a complicação hemorragia tem sido verificada em proporções
que variam de 0,73% a 8,22% dos casos operados (Valnicek et al 1994, Wells et al 1999,
Hofer et al 2002).
Os resultados obtidos, em relação às complicações hemodinâmicas no pós-operatório,
enquadram-se na variação encontrada na literatura, devendo-se ressaltar que foram
considerados vários tipos de ocorrência (hemorragia, taquicardia, hipotensão e hipertensão)
e que o tempo de observação considerado abrangeu toda estadia hospitalar. Deve-se
salientar que nos demais estudos das complicações após cirurgia do retalho faríngeo, nem
sempre foram consideradas todas as formas de ocorrência de complicações hemodinâmicas
e o tempo de observação foi mais limitado.
6.2.3. Complicações digestivas
Náuseas e vômitos são preocupações freqüentemente listadas pelos pacientes em seu
período pré-operatório e continuam considerados problemas significativos após uma
anestesia geral. A incidência de náuseas e vômitos depende de fatores múltiplos e pode
78
ocorrer em 20% a 30% dos pacientes submetidos a quaisquer procedimentos cirúrgicos
(Stoelting e Miller 2000). A abordagem destes sintomas, no período pós-operatório precoce
inclui uso de drogas com diferentes mecanismos de ação ou combinações entre drogas,
seleção de drogas anestésicas com menor potencial emetogênico, hidratação endovenosa
adequada e controle eficiente da dor (Kovac 2000). Sossail et al (1993), encontraram
incidência de 19,5% de vômito pós-anestesia. Soyannwo et al (1998), em estudo
retrospectivo, encontraram incidência de 0,79% de vômito. Os mesmos autores, realizando
estudo prospectivo com 200 pacientes, encontraram incidência de 19,6% de vômito. Leykin
et al (2001) encontraram incidência de vômito de 3,62%, no período pós-operatório
imediato. Biazon (2003) encontrou incidência de vômito de 1,03% no pós-operatório
imediato de queiloplastias e palatoplastias.
No presente estudo, vômitos foram as complicações mais comumente encontradas:
foram registrados em 16,31% dos 2299 paciente submetidos a cirurgia do retalho faríngeo.
Esta freqüência, mais alta que em alguns estudos supracitados, ainda se encontra em uma
proporção razoável, principalmente quando verificamos que a população estudada
apresentava fatores de risco como local cirúrgico sensível e emetogênico e chances
aumentadas de distensão gástrica, ocasionada pela deglutição do sangue proveniente da
ferida cirúrgica. Vale lembrar, que foram considerados quaisquer registros durante todo o
período de internação e não somente durante o período de permanência em Sala de
Recuperação Pós-Anestésica. No presente estudo, não ocorreram casos em que náusea
tenha surgido como sintoma isolado.
79
6.2.4. Complicações transitórias do sistema nervoso central
Agitação e disforia possuem causas múltiplas, como hipóxia, hiponatremia, respostas
às medicações, apreensão e dor (Stoelting e Miller 2000). Dos 2299 pacientes estudados,
8% apresentaram agitação. Este achado foi maior do que o encontrado por Leykin (2001),
que verificou 0,48% de agitação nos pacientes admitidos na Sala de Recuperação Pós-
Anestésica. Resultados semelhantes aos observados no presente estudo foram verificados
por Amanor-Boadu e Soyannwo (1997) que reportaram ocorrência de agitação em 13,5%
de um total de 62 crianças submetidas a cirurgias diversas e por Biazon (2003) que
registrou 8,47% de agitação nos pacientes submetidos a queiloplastias e palatoplastias.
Outro sintoma, a sonolência prolongada no período pós-operatório, encontra-se
geralmente relacionada aos efeitos residuais de medicações utilizadas em anestesia. Outros
fatores, como medicação pré-anestésica, hipotermia, lesão neurológica, respostas
individuais aos efeitos das drogas, doenças associadas podem estar envolvidos.
Sonolência prolongada foi registrada em 5,05% dos 2299 pacientes submetidos à
cirurgia do retalho faríngeo; esta freqüência foi maior que a observada por Biazon (2003),
que em estudo das complicações após queiloplastias e palatoplastias no HRAC-USP,
relatou a mesma complicação em 1,65% dos pacientes admitidos na Sala de Recuperação
Pós-Anestésica.
A cirurgia, o trauma e diversas entidades patológicas também podem provocar dor de
intensidade variável, porém com respostas sistêmicas universais, as quais tendem a
aumentar a morbidade decorrente da causa. A dor piora o estado clínico do paciente, além
de produzir efeito psicológico extremamente danoso (Stoelting e Miller 2000).
80
No presente estudo, o sintoma dor ocorreu em 14,31% dos 2299 pacientes. Esta
freqüência está abaixo do limite preconizado pelo Colégio Real Britânico de Cirurgiões
(20%) e encontra-se abaixo das freqüências encontradas em outros estudos. Zimmermann e
Stewart (1993) relataram incidência de dor variando de 20 a 75% no pós-operatório
precoce. Dolin et al (2002) publicaram metanálise, relatando incidência de dor moderada a
severa, em repouso, de 29,7%. A complicação mais freqüente encontrada no estudo de
Biazon (2003) foi dor (22,31%). A grande maioria dos estudos específicos das
complicações pós-operatórias das cirurgias do retalho faríngeo não levaram em
consideração este tipo de complicação.
6.2.5. Complicações da regulação térmica
Mesmo pequenas quedas da temperatura corporal podem levar a um aumento na
morbidade perioperatória, incluindo complicações cardíacas, infecção da ferida cirúrgica e
sangramento (Kurz et al 1996, Frank et al 1997).
Os pacientes podem desenvolver hipotermia (temperatura inferior a 36º C) por muitas
razões incuindo temperatura ambiente baixa, líquidos intravenosos frios, controle
termorregulador alterado e taxa metabólica reduzida. A anestesia geral abaixa o ponto de
estabelecimento da temperatura essencial no qual a vasoconstrição termorreguladora é
ativada na defesa contra perdas de calor. Além disso, anestesia geral ou regional produz
vasodilatação, bloqueando a vasoconstrição, redistribuindo o calor na massa corporal,
produzindo um rápido declínio na temperatura central (Sessler 2000). O consumo total de
oxigênio diminui cerca de 30%, diminuindo também a produção de calor.
81
Em estudo realizado por Vaughan et al (1981), 60 a 80% dos pacientes apresentaram
hipotermia leve em Sala de Recuperação Pós-Anestésica (SRPA). Khan et al (1991)
encontraram somente um caso de hipotermia em 6978 pacientes admitidos na SRPA.
Biazon (2003), encontrou hipotermia em 10,95% dos pacientes estudados, sendo que a
maior parte dos casos ocorreu em pacientes com menos de 6 meses.
Neste estudo, a hipotermia atingiu apenas 1,57% dos 2299 pacientes submetidos à
cirurgia do retalho faríngeo. Incidência baixa era esperada, já que a faixa etária dos
pacientes submetidos a este tipo de cirurgia secundária é maior, o HRAC-USP localiza-se
em cidade com clima quente e existe prevenção de perdas térmicas no transoperatório.
Neste estudo não foram registrados casos de hipertermia, no período pós-operatório
precoce.
6.2.6. Medicamentos e complicações
6.2.6.1. Agentes inalatórios e complicações
Com a técnica de anestesia geral endovenosa total, foi possível melhorar as condições
anestésicas e a estabilidade hemodinâmica, reduzindo efeitos colaterais e tempo de
recuperação pós-anestésica (White 1989).
No presente estudo apenas 19 procedimentos foram realizados sob anestesia geral
endovenosa total. Em nenhum dos 19 casos, houve relato de quaisquer tipos de
complicações. Apesar dos bons resultados observados com esta técnica anestésica, o
número de casos foi muito pequeno, tornando incorreta qualquer inferência para a
população total.
82
Os outros 2280 procedimentos foram realizados sob anestesia geral inalatória. Destes
2280 procedimentos, complicações foram registradas em 1042 procedimentos. Quando o
anestésico inalatório halotano foi utilizado, ocorreram complicações em 63,72% dos
procedimentos. Quando o sevoflurano, anestésico inalatório com a menor solubilidade, foi
utilizado, ocorreram complicações em 28,86% dos procedimentos (diferença
estatísticamente significativa pelo teste quiquadrado).
A solubilidade dos anestésicos inalatórios nos tecidos corporais e sangue é uma
característica fundamental. Anestésicos inalatórios com baixa solubilidade permitem um
controle anestésico mais preciso e recuperação rápida a partir do momento em que são
descontinuados (Stoelting e Miller 2000).
O halotano, anestésico inalatório com maior solubilidade, é capaz de produzir
alterações em SNC de forma mais persistente que outros anestésicos inalatórios. Esta
característica parece estar relacionada a biodegradação do radical bromo de sua estrutura
química que é considerado depressor do SNC (Evers e Crowder 2003).
Em relação aos aspectos hemodinâmicos, todos os anestésicos inalatórios produzem
vasodilatação e depressão miocárdica, diminuindo a pressão arterial de forma dose
dependente. Seus comportamentos diferem quanto à freqüência cardíaca: as menores
alterações são produzidas com o halotano e as maiores com o sevoflurano (Stoelting e
Miller 2000).
Relacionando categorias de complicação com o anestésico inalatório empregado, no
presente estudo, verificou-se que ocorreram maiores proporções de complicações
respiratórias, hemodinâmicas, digestivas e transitórias do SNC com os agentes inalatórios
halotano e isoflurano. Com isoflurano ocorreram as maiores proporções de complicações
83
nas categorias respiratória e hemodinâmica (48,07% para complicações respiratórias e
47,10% para complicações hemodinâmicas; estatísticamente significativo). Com
sevoflurano ocorreram as menores proporções de complicações respiratórias,
hemodinâmicas, digestivas e transitórias do SNC. A proporção de hipotermia verificada
com sevoflurano chegou a 61,11%, mas não ocorreu diferença estatística entre os valores
encontrados com sevoflurano e isoflurano. Este achado pode estar relacionado com uma
menor preocupação em relação a hipotermia e suas possíveis conseqüências, durante os
anos em que halotano era o agente inalatório mais utilizado. As razões de chances
calculadas para os anestésicos inalatórios mostram chances maiores de ocorrência de
complicações para halotano e isoflurano (sem diferenças estatísticas entre ambos).
6.2.6.2. Agentes hipnóticos e complicações
A utilização de agentes anestésicos endovenosos ganhou popularidade a partir do
desenvolvimento de agentes hipnóticos, analgésicos e relaxantes neuromusculares com
início de efeito rápido e tempo de duração da ação curto.
O tionembutal pode produzir depressão cardiovascular e respiratória importantes e alta
incidência de complicações transitórias do SNC, especialmente sonolência e sedação no
período pós-operatório precoce (Hemelrijck e White 1996).
O etomidato causa depressão respiratória e cardiovascular mínimas mesmo em
presença de cardiopatias e pneumopatias associadas. Sua utilização acompanha alta
incidência de náusea e vômito (Hemelrijck e White 1996).
O propofol, desde sua introdução na prática clínica em 1989, conquistou posição de
destaque no arsenal farmacológico do anestesiologista. Os efeitos hipnóticos e sedativos do
84
propofol apresentam curta duração, determinando assim menores sedação residual e
diminuição da capacidade cognitiva no período pós-operatório precoce (Smith et al 1994).
O presente estudo corrobora as informações obtidas na literatura. Com a utilização do
hipnótico tionembutal, 55,60% dos procedimentos apresentaram complicações. Com a
utilização do etomidato, 67,31% dos procedimentos apresentaram complicações e com a
utilização do propofol, 29,60% dos procedimentos apresentaram complicações. Em relação
à distribuição das categorias das complicações e o tipo de hipnótico utilizado, a maior
proporção de complicações respiratórias, hemodinâmicas, digestivas e transitórias do SNC
ocorreu com o tionembutal e a menor proporção de complicações ocorreu com o propofol.
Não houve diferença estatística significativa entre tionembutal e propofol, em relação as
complicações da regulação térmica.
6.2.6.3. Opióides e complicações
Os opióides têm sido fundamentais para o tratamento da dor, há milhares de anos.
Esses fármacos exercem seus efeitos terapêuticos simulando a ação dos peptídeos opióides
endógenos nos receptores opióides (Gutstein e Akil 2003).
Para indução de anestesia, os opióides são utilizados para prevenir respostas
hemodinâmicas reflexas, relacionadas à intubação traqueal. Opióides potentes com rápido
início de ação, como o fentanil e o alfentanil, são os apropriados para esta finalidade.
Também podem ser utilizados como medicação pré-anestésica, associados com outros
agentes, como ansiolíticos e anticolinérgicos (Coda 1996).
Vários tipos de efeitos colaterais, dose dependentes, podem ocorrer com estas
substâncias, mas os mais aventados são a possível depressão respiratória, náuseas e vômitos
85
(Coda 1996). A intensidade da dor parece atuar como um antagonista natural dos efeitos
colaterais dos opióides, pois os mesmos não são observados quando se administram doses
terapêuticas adequadas à intensidade da dor (Gutstein e Akil 2003).
No presente estudo esta afirmação da literatura é reiterada. Dos 1392 pacientes que
receberam opióides potentes na indução da anestesia, 39,58% apresentaram complicações
no pós-operatório precoce (razão de chances=0,56, com IC 95% de 0,47 a 0,66). Os
opióides fortes parecem ter sido utilizados de forma correta pelos anestesiologistas nas
cirurgias do retalho faríngeo no HRAC-USP.
6.2.6.4. Eficácia dos analgésicos utilizados
Pode-se afirmar que tentativas em se estabelecer analgesia preemptiva ocorreram nos
2299 procedimentos. Foram utilizados esquemas analgésicos variados, porém, apenas dois
destes esquemas mostraram-se eficientes: a utilização do analgésico opióide fraco tramadol
e a utilização do analgésico agonista-antagonista opióide nalbufina. Dos pacientes aos quais
tramadol foi administrado, 6,40% apresentaram dor em pós-operatório; dos pacientes aos
quais nalbufina foi administrada, 8,12% apresentaram dor. Com utilização de outros
esquemas analgésicos, a ocorrência do sintoma dor variou de 15,72% dos pacientes (com
DAPAH) a 30,77% dos pacientes (com AINES). Vale salientar que os resultados
verificados com o uso de AINES, foi praticamente igual ao dos pacientes que não
receberam analgésicos no intra-operatório. Pelo cálculo das razões de chances (OR) para
cada analgésico, as menores razões de chances ocorreram com tramadol e nalbufina; as
maiores razões de chances (OR) ocorreram com AINES e dipirona.
86
Na literatura, resultados semelhantes foram observados. Kelly et al (2001), em
metanálise realizada, incluindo estudos avaliando analgesia preemptiva obtida com
anestesia regional, analgesia com opióides e AINES, evidenciaram efeitos positivos com
opióides, a despeito de sua gama de possíveis efeitos colaterais, e grandes limitações com
uso de AINES. Moinich et al (2002), em outra metanálise realizada, avaliando 3761
pacientes em 80 estudos, desestimulam o uso preemptivo rotineiro de AINES, alegando
falta de efeitos benéficos.
6.2.6.5. Eficácia dos antieméticos utilizados
Vômitos foram as complicações mais freqüentes no período pós-operatório precoce,
atingindo 16,31% dos 2299 pacientes submetidos à cirurgia do retalho faríngeo. No grupo
dos pacientes tratados com metoclopramida (N=1209), 21,75% dos pacientes apresentaram
vômito; no grupo dos pacientes tratados com ondansetron (N=912), 4,39% dos pacientes
apresentaram vômito. A razão de chances de ocorrência de vômitos com metoclopramida
foi 6,06 vezes maior que a do ondansetron (estatísticamente significativo).
Comparando estes dados com a literatura, a freqüência de vômitos no pós-operatório
precoce das cirurgias de retalho faríngeo foi menor. Carvalho et al (1999), analisando
resultatos de trabalhos publicados, encontraram incidência de vômito variando de 25% a
30%, chegando a 38% na população pediátrica.
Em relação aos esquemas antieméticos, também existiu semelhança com dados da
literatura. A eficácia da metoclopramida é controvertida, sendo que trabalhos reportam
efeito semelhante ao placebo (Schmidt e Bagatini 1997). No entanto, o ondansetron tem
demonstrado superioridade no tratamento e profilaxia dos vômitos do período pós-
87
operatório, quando comparado à metoclopramida e ao droperidol (Scuderi et al 1993, Gan
et al 1994).
88
7. CONCLUSÕES
Em pacientes submetidos à cirurgia do retalho faríngeo, no HRAC-USP, de 1980 a
2003:
A técnica anestésica mais comumente empregada foi a geral inalatória (99,17%
dos 2299 pacientes = 2280 pacientes); a técnica de anestesia geral endovenosa total
foi utilizada em apenas 19 casos.
Foram verificadas as seguintes freqüências de complicações, no período pós-
operatório: vômitos em 16,31% dos 2299 pacientes; dor em 14,31% dos pacientes;
agitação em 8,00% dos pacientes; sonolência em 5,05% dos pacientes; obstrução de
via aérea em 4,78% dos pacientes; hemorragia em 3,87% dos pacientes;
dessaturação de oxigênio em 1,96% dos pacientes; hipotermia em 1,57% dos
pacientes; taquicardia em 1,48% dos pacientes; laringoespasmo em 1,17% dos
pacientes; tosse em 1,09% dos pacientes; hipotensão em 0,56% dos pacientes e
hipertensão em 0,30% dos pacientes. Reoperações foram necessárias em 39
pacientes e foram realizadas em casos com hemorragia, obstrução de via aérea de
difícil controle ou ambos.
Houve associação entre anestésico inalatório utilizado e a presença ou ausência
de complicações pós-operatórias. Sevoflurano foi o agente inalatório que apresentou
menor chance de produzir complicações.
Houve associação entre agente anestésico indutor e presença ou ausência de
complicações. Propofol foi o agente anestésico endovenoso que apresentou menor
chance de produzir complicações.
89
Pacientes que receberam opióides no momento da indução anestésica
apresentaram menores chances de ocorrência de complicações.
Tramadol e nalbufina foram os analgésicos utilizados mais eficazes.
Ondansetron foi o antiemético utilizado mais eficaz.
O esquema empregado, desde 1995, utilizando o anestésico inalatório
sevoflurano, o agente hipnótico propofol, opióides na indução anestésica, o
analgésico tramadol e o antiemético ondansetron foi o que melhor atendeu às
necessidades dos pacientes e anestesiologistas para a cirurgia do retalho faríngeo, no
HRAC-USP.
90
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