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descartados, de seus domínios, as formações do inconsciente, o desejo do sujeito e
a dinâmica própria ao processo simbólico
38
.
Com base nestes pressupostos, devemos agora trazer para o prim
eiro plano
da discussão a constatação de que os atributos desta modalidade lingüística são os
mesmos daqueles apresentados pelo discurso científico, pelo menos se este último
for destacado em sua vertente meramente técnica
39
. Desta maneira, as
considerações
propostas até então, somadas às apreciações de alguns autores
acerca das peculiaridades do discurso técnico-científico, conduzem à
circunscrição de uma certa semelhança entre a linguagem analógica – tal como
definida por Rosolato (1988) –, o discurso científico e os fantasmas vazios. Trata-
se, nestes três domínios, de linguagens claras e que trazem consigo a pretensão de
serem imunes ao engano e à dúvida. Ademais, por tentarem responder às
exigências da clareza, elas procuram manter uma relação de exclusão com as
manifestações do inconsciente.
De acordo com Lyotard (2004), uma primeira particularidade do discurso
técnico
-científico remeteria ao primado, em sua estrutura, de enunciados
meramente denotativos, com a conseqüente redução de valor dos outros jogos de
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Devemos assinalar que a argumentação de Rosolato (1988) considera que apenas os processos
metafóricos são retirados do discurso analógico. Segundo o autor, a modalidade discursiva em
questão ainda se articula com o registro metonímico na medida em que este seria o responsável
pela coerência intrínseca à linguagem. No entanto, não convém entrarmos nesta questão, visto que
o conceito de metonímia por ele utilizado diverge daquele empregado por autores que estamos
valorizando na tese, tais como Jakobson (1963) e Lacan (1957/1998). Assim, entrar numa
discussã
o acerca da divergência entre estes autores sobre o conceito de metonímia conduziria a
uma análise eminentemente lingüística, o que não caberia nos limites desta tese. Também devemos
destacar que a concepção de Rosolato sobre o significante de demarcação é igualmente mais
complexa do que estamos mostrando, pois abrange uma investigação sobre a sua função para o
desenvolvimento da linguagem na criança. Do mesmo modo, se nos debruçarmos mais sobre este
aspecto, estaríamos nos desviando da nossa proposta.
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Cabe ressaltar que o discurso científico está sendo analisado aqui apenas em sua dimensão
eminentemente técnica. De fato, são vários os pensadores que já investigaram a temática do
discurso científico e, muitas vezes, suas análises são bastante contraditórias. Na presente tese,
estamos valorizando apenas as concepções de ciência que podem nos auxiliar na circunscrição do
estatuto metapsicológico dos fantasmas vazios.