• A construção da personalidade moral parte de um duplo processo de
adaptação, à sociedade e a si mesmo. Portanto, vemos, em um primeiro
momento, a educação moral como socialização ou aquisição das pautas
sociais básicas de convivência. E a vemos também como um processo de
adaptação a si mesmo, ou reconhecimento dos pontos de vista, desejos,
posições e critérios que pessoalmente são valorizados [...]
• O segundo momento da construção da personalidade moral se
caracteriza pela transmissão daqueles elementos culturais e de valor que,
apesar de não estarem completamente enraizados na trama social,
consideramos que são horizontes normativos desejáveis. Neste sentido,
ninguém, ou quase ninguém, quer prescindir de guias de valores como a
justiça, a liberdade, a igualdade ou a solidariedade. Elementos culturais
desta natureza são a base de crenças e hábitos morais desejáveis que
recolhemos no segundo momento da educação moral.
• No entanto, a construção da personalidade moral não pode ficar sem um
conjunto de aquisições procedimentais. [...] Trata-se, pois, de formar a
consciência moral autônoma de cada sujeito e fazê-lo como espaço de
sensibilidade moral, de racionalidade e de diálogo, para que seja
realmente o último critério da vida moral.
• Por fim, a construção da personalidade moral conclui com a construção
da própria biografia como cristalização dinâmica de valores, como
espaço de diferenciação e de criatividade moral. Trata-se, em definitivo,
de edificar uma vida que valha a pena ser vivida e que produza
felicidade a quem a vive. Estamos, portanto, no nível mais concreto e
individual da construção da personalidade moral.
Do ponto de vista pedagógico, a educação moral se valida no processo de
construção individual destinado a dar forma moral à própria personalidade. Nesse sentido, não
haverá efeito a imposição de modelos externos nem o desenvolvimento somente de algumas
capacidades morais; surtirá efeito o trabalho de reflexão e de ação a partir das vivências
diárias de cada indivíduo. A educação moral deve ser ativa e dinâmica.
É pressuposto que, na ação do indivíduo, é que haverá o desenvolvimento da
personalidade moral e não apenas internalizando conteúdos transmitidos por educadores ou na
exposição de idéias do que eles acreditam ser certo ou errado. Devem ser oportunizados experimentos
em que se exijam ações que permitam ao indivíduo construir estruturas morais autônomas, ao invés
de propiciar as tradicionais lições de moral. Menin (1996, p. 61, grifos do autor) escreveu que:
[...] Piaget e vários outros autores têm mostrado que tradicionalmente, a fim
de “disciplinar” seus alunos, as escolas têm em muito contribuído para a
perpetuação da heteronomia – a moral da obediência ao outro, do dever
imposto de fora. As escolas fortalecem heteronomia na medida em que: *
mantêm uma relação de coação entre professor e alunos; *ensinam a moral
tal como se esta fosse uma “matéria a parte”; *proíbem trocas entre os
alunos, privilegiando atividades individuais; * impõem regras com “excesso
de significado”. [...] Estes não participam na elaboração das regras e muitas
vezes nem sabem sua real função; aprendem somente que devem obedecer
para não serem punidos ou serem premiados. Claro que aprendem também a
calcular os riscos de sua desobediência, a disfarçar suas transgressões, a
simular etc. [...] Enfim, mantêm-se heterônomos nesta relação; uma
autoridade externa a eles é que lhes indica o que fazer.