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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
UNESP - “Júlio Mesquita Filho”
Faculdade de Filosofia e Ciências
ADRIANA PASTORELLO BUIM ARENA
A LEITURA DE JORNAIS IMPRESSOS E DIGITAIS EM
CONTEXTOS EDUCACIONAIS: BRASIL E PORTUGAL
Marília SP
2008
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ADRIANA PASTORELLO BUIM ARENA
A LEITURA DE JORNAIS IMPRESSOS E DIGITAIS EM
CONTEXTOS EDUCACIONAIS: BRASIL E PORTUGAL
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências da
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho”, Campus de Marília, na Área de
concentração: Ensino na Educação Brasileira –
Abordagem Pedagógica do Ensino de Linguagens,
para obtenção do grau de doutor em Educação.
Orientador: Dr. Juvenal Zanchetta nior
Marília SP
2008
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Arena, Adriana Pastorello Buim.
A681l A leitura de jornais impressos e digitais em contextos
educacionais : Brasil e Portugal / Adriana Pastorello Buim
Arena. – Marília, 2008.
254 f. ; 30 cm.
Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Estadual
Paulista, Faculdade de Filosofia e Ciências, 2008.
Bibliografia: f. 221-227
Orientador: Profº. Drº. Juvenal Zanquetta Júnior.
1
2 1. Contextos educacionais – Brasil e Portugal. 2. Leitura
3 de jornais impressos e digitais. 3. Processos de leitura.
4 I. Autor. II. Título.
5
CDD 372.41
ADRIANA PASTORELLO BUIM ARENA
A LEITURA DE JORNAIS IMPRESSOS E DIGITAIS EM
CONTEXTOS EDUCACIONAIS: BRASIL E PORTUGAL
COMISSÃO JULGADORA
TESE PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM EDUCAÇÃO
Banca examinadora
Presidente e orientador: Dr. Juvenal Zanchetta Júnior
Membro titular: Norma Sandra de Almeida Ferreira Membro titular:
Membro titular: Raquel Lazzari Leite Barbosa
Membro titular: Sônia Aparecida Lopes Benites
Membro titular: Valdir Heitor Barzotto
Suplentes:
Cyntia Graziella Guizelim Simões Girotto
Lázara Nanci de Barros Amâncio
Ana Maria da Costa Menin
Marília, 30 de outubro de 2008.
Para Dagoberto, com todo meu amor.
AGRADECIMENTOS
Esta tese é fruto da opção que fiz pelo estudo científico e pelo magistério
e representa não somente um trabalho de investigação acadêmica, mas a contribuição de
outras pessoas que nele se projetam e se fazem ouvir. Registro meu agradecimento, em
especial,
ao meu orientador, Dr. Juvenal Zanchetta Júnior, pela ajuda e trabalho
profissional seguro, pela confiança e condições que proporcionou sem as quais este
trabalho não teria acontecido;
ao Dr. Justino Pereira de Magalhães, professor da Universidade de
Lisboa, pela aceitação em supervisionar a pesquisa em Portugal, pela mediação feita
junto às escolas de Lisboa para que a coleta de dados fosse realizada e pelas
contribuições teóricas;
à Dra. Ângela Maria Franco Martins Coelho de Paiva Balça, professora
da Universidade de Évora, pela acolhida e mediação feita junto às escolas de Évora
enriquecendo a coleta de dados desta pesquisa;
à Dra. Sônia Aparecida Lopes Benites pela generosidade em elaborar o
parecer do projeto de pesquisa para ser realizado em Portugal, em tão curto espaço de
tempo;
à agência de fomento CAPES, pelos recursos financeiros
disponibilizados para que esta pesquisa pudesse ser realizada com total eficiência;
aos diretores e coordenadores de escolas que possibilitaram o contato
com os sujeitos da pesquisa, dando-me livre acesso à escola, e às professoras, por terem
aberto as portas de suas salas de aula, contextos em que dados importantes para a
investigação foram coletados;
a todos os amigos que se dispuseram a me ajudar na resolução de tarefas
e que souberam lidar pacientemente com minhas angústias, sempre me apoiando e
incentivando;
a todos os meus familiares que foram pacientes e compreensivos quanto
ao pouco tempo que lhes pude dedicar;
ao meu marido, Dr. Dagoberto Buim Arena, pelo exemplo, pela
disponibilidade, pelos conselhos, pelas horas de debate científico, cabe-me agradecer
profundamente, com todo amor.
“Tudo flui, [...] nada persiste, nem permanece o mesmo”
(HERÁCLITO, 1991, p. 64).
ARENA, Adriana Pastorello Buim. A leitura de jornais impressos e digitais em
contextos educacionais: Brasil e Portugal. Marília, 2008. 254 p. Tese (Doutorado em
Educação Linha de Pesquisa: Ensino na Educação Brasileira – Abordagem
Pedagógica do Ensino de Linguagens) Faculdade de Filosofia e Ciência, Campus de
Marília, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”.
RESUMO
Essa pesquisa parte da existência de um novo fenômeno, a cibercultura, que implementa
um novo espaço de leitura, com ferramentas que possibilitam a construção de novas
práticas, interferindo na formação do leitor em processo e modificando-a. A leitura do
jornal impresso e do jornal on-line é o objeto de análise desta tese. Com o objetivo de
compreender e discutir os indícios que se destacam nessas práticas de leitura em
contextos educacionais diferentes foram selecionadas seis professoras e trinta alunos,
entre 9 e 10 anos, de quatro escolas públicas, sendo uma do Brasil e três de Portugal. Ao
estudar duas realidades histórico-culturais diferentes, mas com o uso da mesma língua,
a tese tem o objetivo de contribuir para o avanço nas pesquisas em educação e de
levantar questões e reflexões sobre novas tecnologias que surgem no contexto social e,
particularmente, no escolar. Trata-se de uma investigação de cunho essencialmente
qualitativo e interpretativo. Metodologicamente, o trabalho de pesquisa foi dividido em
duas partes: a primeira, foi realizada uma experiência de ensino com 6 alunos brasileiros
de uma escola pública de Marília, cujo suporte metodológico foi a pesquisa-ação. A
metodologia escolhida para o desenvolvimento da primeira parte deste estudo visava a
encontrar indícios de práticas de leitura do jornal impresso transportadas para situações
de leitura do jornal on-line. As aulas de leitura do suporte eletrônico e do impresso
foram gravadas em vídeo e os relatos verbais dos alunos gravados em fitas cassetes. Na
segunda parte da pesquisa, um estudo etnográfico, tem como instrumento principal de
coleta a observação e a entrevista semi-estruturada, realizada tanto com professores,
como com alunos do Brasil e de Portugal, com o propósito de investigar o uso do jornal
impresso e on-line em salas de aula, bem como a relação de alunos e professores com
esse material. Fundamentam o quadro teórico desta pesquisa as idéias de Bakhtin e de
Vigotsky, porque aproximações teóricas entre os dois pressupostos, que ambos
sustentam seus enunciados no âmbito da filosofia marxista. Neste estudo, destacam-se
as contribuições de Bakhtin acerca da natureza social da linguagem e de sua
constituição dialógica e as de Vigotsky sobre o desenvolvimento humano, o
aprendizado e a importância das interações na construção do conhecimento. Também de
grande importância teórica, destacam-se autores como Roger Chartier, Jean Foucambert
e Frank Smith no que diz respeito às questões da história, práticas e concepção de
leitura. Quanto à dimensão filosófica das tecnologias da inteligência fazem-se presentes
as reflexões de Lévy. A análise dos dados revela que não é suficiente a tecnologia estar
presente na sala de aula. É preciso que se faça uso dela. Não basta proporcionar o
contato físico, mas é preciso de uma forma especial ensinar o aluno a usar a tecnologia
da escrita, independentemente do suporte em que se encontra. A tese comprova que a
capacidade para usar o computador como instrumento de leitura está além de aprender
comandos da máquina, mas em criar condições para o aluno se apropriar dessa
capacidade a que chamamos leitura. Durante esse trajeto, foi possível observar que, no
âmbito escolar, o encontro do leitor com o jornal ainda é insuficiente e seu uso não faz
parte da programação das escolas. Os alunos-sujeitos portugueses têm indícios de
facilitação maior de apropriação desse suporte, particularmente na grande Lisboa, onde
jornais são gratuitamente distribuídos.
PALAVRAS-CHAVE: leitura, jornal impresso, jornal on-line
ARENA, Adriana Pastorello Buim. The reading of impressed and digital newspapers in
educational contexts: Brazil and Portugal. Marília, 2008. 254 p. Thesis (Ph. D in
Education Research Line: The Teaching on Brazilian Education Pedagogical Approach
on the Language Teaching) - Philosophy and Science College , Marília Campus,
‘University of São Paulo State’ “Júlio de Mesquita Filho”.
ABSTRACT
This research starts from the existence of a new phenomenon, the cyber culture, which
implements a new space for reading, with tools that will allow the building of new
practices, interfering and modifying the formation of the reader in process. The reading of
the print and the on-line newspaper is the object of the analysis of this thesis. With the main
goal of understanding and discussing the evidences that stand out in these reading practices,
six teachers and thirty students were selected, between 9 and 10 years old, of four public
schools, being one from Brazil and three from Portugal, for the development of the
research. By studying two different historic-cultural realities, but with the use of the same
language, the goal of the thesis is contributing with the advance in educational researches,
and raise questions and reflections about new technologies that are brought out on the social
and particularly scholar context. It’s about an investigation, essentially, qualitative and
interpretative. Methodologically, the research job was divided in two parts: in the first part
of the research, a study experience was made with 6 Brazilian students of a public school
from Marília, whose methodological gadget was the research-action. The chosen method for
the development of the second part of this study aimed to find evidences of reading
practices of the print newspaper transported to reading situations of the on-line newspaper.
The reading classes of the electronic and print supports were recorded in video and the
students`s verbal reports, taped in video cassette tapes.The second part one is about an
ethnographical study, having as main instrument the observation and the semi-structured
interview made with teachers as well as students, from Brazil and Portugal, with the
purpose of investigating the use of print and on-line newspaper inside the classroom, as well
as the interaction of the students and teachers with this material. The theoretical board of
this research is based on the ideas of Bakhtin and Vigotsky, because there are theoretical
approximations between the two pretexts, for both of them sustain their thoughts on the
Marxist philosophy. In this study, Bakhtin stands out with the social nature of language and
its dialogic constitution, and Vigotsky over the human development, the learning and the
importance of interaction on building knowledge. Authors like Roger Chartier, Jean
Foucambert and Frank Smith are also of great theoretical importance on matters of history,
practices and conception of reading. On the meaning of the philosophical dimension of
intelligence technologies, Lévy`s reflections make presence. The data analysis revealed that
it is not sufficient the presence of technology in the classroom. It is necessary to make use
of it. It’s not enough to provide physical contact, it requires a special way of teaching the
student how to use the written technology, apart from the gadget in which encounters itself.
The thesis proves the capacity to use the computer as a reading instrument are not in
learning the machine commands, but to create conditions for the student to domain this
capacity we call reading. Throughout this path it was possible to observe that, on the school
grounds, the encounter of the reader with the newspaper has been insufficient yet and its use
is not part of the schools programs. The Portuguese subject-students have evidences of
mastering this gadget, particularly in Great Lisbon, where newspapers are distributed for
free.
KEY-WORDS: reading, print newspaper, on-line newspaper
LISTA DE FIGURAS
PARTE I
Figura 1 - Texto do Jornal de Folha de S. Paulo - Ilustrada p. E4
19/04/2006......................................................................... 59
Figura 2 - Texto do Jornal Folha de S. Paulo Cotidiano p. C3
19/04/2006......................................................................... 61
Figura 3 - Texto do Jornal Folha de S. Paulo Esporte p. D2
18/04/2006......................................................................... 63
Figura 4 - Texto do Jornal Folha de S. Paulo Folha Ciência p.
A21 22/04/2006................................................................. 65
Figura 5 - Primeira Página do Jornal Folha de S. Paulo p. A1
22/04/2006......................................................................... 68
Figura 6 - Texto do Jornal Folha de S. Paulo –Ilustrada –p. E1
21/04/2006......................................................................... 70
Figura 7 - Texto do Jornal Folha de S. Paulo –Esporte - p. D2
20/04/2006......................................................................... 73
Figura 8 - Texto do Jornal Folha de S. Paulo Ilustrada p. E2
26/05/2006......................................................................... 76
Figura 9 - Representação do movimento da cabeça e dos olhos
Agonia Mutante................................................................. 77
Figura 10 - Texto do Jornal Folha de S. Paulo Esporte p. D1
24/05/2006......................................................................... 79
Figura 11 - Representação do movimento da cabeça e dos olhos
Brasil estrangeiro almeja o bi............................................ 80
Figura 12 - Texto do Jornal Folha de S. Paulo Brasil - p. A15
21/05/20065....................................................................... 81
Figura 13 - Representação do movimento da cabeça e dos olhos
Folha fica mais fácil de ler com reforma........................... 84
Figura 14 - Figura retirada do livro Jornal, história e técnica: as
técnicas do jornalismo (BAHIA, 1990, p. 119)................. 85
Figura 15 - Texto do Jornal Folha de S. Paulo Folhinha p. +4 e
+5 27/05/2006................................................................... 86
Figura 16 - Representação do movimento da cabeça e dos olhos O
jogo do xeque-mate........................................................... 88
11
Figura 17 - Texto do Jornal Folha de S. Paulo Mundo p. A29
28/05/2006......................................................................... 89
Figura 18 - Representação do movimento da cabeça e dos olhos
Tremor na Indonésia deixa 3500 mortos........................... 90
Figura 19 - Texto do Jornal FOLHA ONLINE Ciências
22.05.2006.........................................................................
104
Figura 20 - Texto do Jornal FOLHA ONLINE Ilustrada
05/06/2006.........................................................................
107
Figura 21 - Texto do Jornal FOLHA ONLINE – Ciência 05/06/2006 110
Figura 22 - Texto do Jornal FOLHA ONLINE – Ciência 11/06/2006 122
Figura 23 - Texto do Jornal FOLHA ONLINE Ilustrada
12/06/2006.........................................................................
123
PARTE II
Figura 1 - Versão do português do Brasil para o português de
Portugal............................................................................. 166
Figura 2 - Fragmento retirado do Anexo D....................................... 178
Figura 3 - Fragmento retirado do Anexo E....................................... 178
Figura 4 - Figura retirada do boletim Público na escola nº. 172....... 184
LISTA DE GRÁFICOS
PARTE II
Gráfico 1 - Características do jornal on-line que atrapalham a
leitura, na opinião dos alunos........................................... 138
Gráfico 2 - Características negativas das propagandas....................... 139
LISTA DE QUADROS
PARTE I
Quadro 1 - Opiniões das professoras, sobre os alunos, em relação a
locução, compreensão, interesse por temas e discussão
sobre leituras feitas........................................................... 45
Quadro 2 - Relato das professoras sobre o uso do computador e
atividades realizadas nas aulas de informática pelos
alunos................................................................................ 46
Quadro 3 - Preferência por materiais de leitura.................................. 47
Quadro 4 - Assuntos lidos nos jornais on-line e impresso pelos
sujeitos da pesquisa antes do processo de pesquisa-ação. 49
Quadro 5 - Conteúdos trabalhados com os sujeitos da pesquisa
durante a pesquisa-ação para tomar conhecimento da
estrutura do jornal, nas versões impressa e on-line.......... 50
Quadro 6 - Apresentação dos tipos de registros usados para cada
categoria de análise elencada na pesquisa........................ 52
Quadro 7 - Leituras selecionadas pelos alunos e sugeridas pela
pesquisadora – jornal impresso......................................... 93
Quadro 8 - Leituras selecionadas pelos alunos e sugeridas pela
pesquisadora – jornal on-line............................................ 125
Quadro 9 - Mudanças no comportamento dos alunos pelos olhares
das professoras.................................................................. 129
Quadro 10 - Motivos da preferência de material e conforto para a
leitura................................................................................ 135
Quadro 11 - Preferência dos alunos por assuntos nas versões
impressa e on-line. Explicações sobre qual material
melhor facilita a compreensão.......................................... 137
PARTE II
Quadro 1 - Evolução da entrada dos recursos didáticos/TIC na
escola construído com base em dados recolhidos no
arquivo de ESSM (SILVA, 2001, p.113-114).................. 149
Quadro 2 - Sites mais visitados pelos alunos...................................... 211
Quadro 3 - Opinião dos alunos sobre o uso do jornal em aula........... 212
Quadro 4 - Motivos que influenciam a opção pelo jornal................... 213
LISTA DE TABELAS
PARTE I
Tabela 1 - Tempo de uso do computador e preferência entre uma
tarde com amigos ou com o computador.......................... 48
Tabela 2 - Tempo (min. e seg.) gasto nas coletas do jornal impresso 95
Tabela 3 - Tempo (min. e seg.) gasto nas coletas do jornal on-line... 126
Tabela 4 - Buscas malsucedidas durante a leitura livre..................... 127
Tabela 5 - Desejo em ler o jornal e contribuição do material para a
vida escolar....................................................................... 136
PARTE II
Tabela 1 - Preferência de materiais de leitura.................................... 204
Tabela 2 - Motivo de leitura e materiais disponíveis em casa........... 206
Tabela 3 - Tempo de uso do computador........................................... 207
Tabela 4 - Motivos da preferência entre uma tarde com amigos e o
uso do computador............................................................ 208
Tabela 5 - Uso do computador dentro e fora da escola...................... 210
SUMÁRIO
RESUMO.............................................................................................................. 08
ABSTRACT.......................................................................................................... 09
LISTA DE FIGURAS........................................................................................... 10
LISTA DE GRÁFICOS......................................................................................... 12
LISTA DE QUADROS......................................................................................... 13
LISTA DE TABELAS.......................................................................................... 14
INTRODUÇÃO..................................................................................................... 17
PARTE I
A LEITURA DO JORNAL ON-LINE NO ENSINO FUNDAMENTAL
CAPÍTULO 1 – DADOS INICIAIS DA PESQUISA-AÇÃO.......................... 31
1.1 Instrumentos de coleta de dados na pesquisa qualitativa............................... 35
1.1.1 Entrevista semi-estruturada: atenção especial ao sujeito...................... 36
1.1.2 Jornal web: rastreamento de sites visitados em ambiente controlado... 38
1.1.3 Mapeamento: leitura de jornal impresso .............................................. 40
1.2 Sujeitos da pesquisa........................................................................................ 42
1.3 O olhar das professoras.................................................................................. 43
1.4 O sujeito informante....................................................................................... 47
1.5 Atividades desenvolvidas pela pesquisa-ação................................................ 50
CAPÍTULO 2 – A LEITURA DA VERSÃO DO JORNAL IMPRESSO ..... 53
2.1 O gênero como instrumento........................................................................... 54
2.2 Primeira etapa: leitura livre............................................................................ 58
2.3 Segunda etapa: leitura indicada...................................................................... 75
2.4 Tempo de busca e caminho percorrido .......................................................... 93
CAPÍTULO 3 - A LEITURA DA VERSÃO DO JORNAL ON-LINE........... 98
3.1 Da galáxia de Gutenberg à galáxia da internet............................................... 99
3.2 Primeira etapa: leitura livre............................................................................ 101
3.3 Segunda etapa: leitura indicada...................................................................... 121
3.4 Tempo de busca e caminho percorrido .......................................................... 125
3.5 A influência da leitura de jornal nos sujeitos da pesquisa: o olhar das
professoras ..................................................................................................... 128
3.6 Avaliação dos alunos sobre o uso das duas versões do jornal, a on-line e a
impressa ......................................................................................................... 135
3.7 O último dia: relatos significativos................................................................ 140
16
PARTE II
JORNAIS EM SALAS DE AULAS DE ESCOLAS PORTUGUESAS
CAPÍTULO 1 – PORTUGAL EM CONTEXTO............................................. 145
1.1 Dados iniciais da pesquisa ............................................................................. 151
1.2 Escolas públicas de Lisboa ............................................................................ 153
1.2.1 Escola Santo Antônio ........................................................................... 154
1.2.1.1 Observação das aulas ............................................................... 157
1.3 Escola Fernando Pessoa ................................................................................ 169
1.3.1 Observação das aulas ........................................................................... 169
1.4 Jornais escolares: uma contribuição do jornal Público ................................... 179
CAPÍTULO 2 – ESCOLA PÚBLICA DE ÉVORA ......................................... 186
2.1 Escola de Canaviais ....................................................................................... 187
2.2 Projeto MuTIC .............................................................................................. 200
2.3 Loja dos Sonhos ............................................................................................ 201
2.4 Categorização das entrevistas ........................................................................ 204
CONCLUSÃO....................................................................................................... 215
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 221
APÊNDICES......................................................................................................... 228
ANEXOS............................................................................................................... 242
INTRODUÇÃO
Heráclito, filósofo que viveu em 500 a.C., concebia o próprio absoluto
como processo, como a própria dialética. Ao dizer que “nos mesmos rios entramos e
não entramos, somos e não somos” (HERÁCLITO, 1991, p. 56), apresenta o devir
como a condição humana. O rio corre e empurra a água para longe trazendo uma outra,
e o homem que nele está se transforma com tanta rapidez e intensidade quanto a
correnteza do rio. Assim, a essência do homem e da natureza é a mudança, o constante
processo em que tudo está. Com essa afirmação Heráclito retirava “do universo a
tranqüilidade e a estabilidade, [...] e atribuía movimento a todos os seres”
(HERÁCLITO, 1991, p. 49).
É possível perceber um movimento constante em diversos aspectos do
meio em que vivemos. Um exemplo disso são as novas tecnologias que desorganizam e
reorganizam a vida de todos. Pela simples observação do senso comum, podemos
perceber como o conhecimento humano influenciou o desenvolvimento da máquina e
como a máquina contribuiu para a criação de uma nova organização social. Segundo
Lévy (1993), a tecnologia influencia a forma de pensar. Para clarear e compreender esse
fenômeno de relação entre pensamento a influenciar a tecnologia e a tecnologia a
influenciar o pensamento é preciso centrar o foco de investigação nas relações entre
sujeitos e entre sujeitos e máquina. Os processos são complexos.
Segundo Eisenstein (1998, p.19), temos acesso a pesquisas que
descrevem o processo que o material escrito sofreu na história da humanidade, mas
poucos registros de como as diferentes produções dos materiais escritos afetaram “as
maneiras de aprender, de pensar e perceber das elites letradas”. Para a autora, não basta
examinar a nova tecnologia, mas é preciso estudar as condições que existiam antes do
emprego da tecnologia em questão. Há muita descrição de como a imprensa surgiu e
como foi se desenvolvendo ao longo dos tempos, mas não material suficiente que
trate das mudanças ocorridas na forma de pensar daquele povo que recebia o impacto da
imprensa. A mesma relação pode ser feita sobre a era do manuscrito, a do impresso e a
da internet. Hoje ainda há materiais que descrevem bem a máquina que possibilita o uso
da internet, mas pouco se sabe como essa nova maneira de ler afeta a vida das pessoas.
Quando o leitor está familiarizado com um determinado tipo de texto, como o jornal,
por exemplo, e conhece sua formatação, sua estrutura - manchetes, título, olho, legenda,
notícia, paginação, entre outros - poderá manipular qualquer jornal, seja ele de grande
18
ou pequena circulação, até mesmo em língua desconhecida. Assim também ocorre com
os meios eletrônicos. Se um indivíduo sabe manipular teclas de aparelhos de som,
caixas eletrônicos e todos os recursos de vídeo ou DVD, também saberá manipular
qualquer aparelho similar, assim como o computador, para fazer leituras. Ler textos em
diferentes suportes não pode ser considerado prejudicial ao leitor em processo. Segundo
Lévy (1993, p. 15),
o cúmulo da cegueira é atingido quando as antigas técnicas são declaradas
culturais e impregnadas de valores, enquanto que as novas são denunciadas
como bárbaras e contrárias à vida. Alguém que condena a informática não
pensaria nunca em criticar a impressão e a escrita (que são técnicas!) o
constituem em demasia para que ele pense em apontá-las como estrangeiras.
Não percebe que sua maneira de pensar, de comunicar-se com seus
semelhantes, e mesmo de acreditar em Deus são condicionadas por processos
materiais.
Eisenstein (1998) recupera as condições por que passa a mudança da
cultura escrita pelas mãos, quando aparece o tipo gráfico. Quanto ao processo de
reprodução, não é possível usar termos de comparação, porque a impressão mudou
radicalmente a possibilidade de tiragem do material, assim como a internet facilitou a
disseminação da informação no espaço e no tempo. Mas é possível elencar uma série de
mudanças no comportamento, não do indivíduo em particular, mas da ação coletiva.
Ainda com Eisenstein (1998, p.25), é possível compreender que, antes da imprensa, os
livros eram copiados por monges e, mesmo depois dela, continuaram a ser copiados por
um longo tempo. Os monges não pararam imediatamente de copiar devido à invenção
da imprensa. E ainda, “[...] a decisão sobre os tipos de letras a usar, a seleção das
iniciais e a decoração das rubricas, a determinação do comprimento e largura de cada
coluna, o planejamento das margens [...] tudo estava predeterminado pela cópia
manuscrita precedente” (EISENSTEIN, 1998, p. 36). A chegada da nova tecnologia não
mudou repentinamente o modo de operar e de pensar dos editores e leitores da época.
Continuavam empregando o padrão conhecido da tecnologia do manuscrito. A velha
tecnologia ainda influenciava a nova, mas, também, por outro lado, a nova técnica
envolvia novas formas de trabalho e de relações entre sujeito, máquina e produto,
modificando, ao longo do tempo, não somente a forma de apresentar um texto escrito,
mas toda uma organização social. Segundo Goody (1988, p. 47),
no fim de contas, a cultura não é senão uma série de actos de comunicação; e
as diferenças no modo de comunicação são freqüentemente tão importantes
19
como as diferenças no modo de produção, pois envolvem progressos na
possibilidade de armazenagem, na análise e na criação de conhecimento,
assim como as relações entre os indivíduos envolvidos.
Para esses estudiosos (GOODY, 1988; EISENSTEIN, 1998), a
tecnologia criada pelo próprio homem, quando se refere aos meios de comunicação,
exerce influência especificamente nos modos de pensamento da sociedade em questão.
Assim como “antes do aparecimento da escrita, a maior parte dos pensamentos que nos
habituamos a ter nos dias de hoje não poderiam simplesmente ser pensados” (GOODY,
1988, p.128), podemos dizer que, junto com a nova configuração técnica, a internet,
“um novo estilo de humanidade é inventado” (LÉVY, 1993, p. 17).
Que “novo estilo de humanidade” é esse no qual professores,
pesquisadores e alunos estão mergulhados, todos, ao mesmo tempo, sofrendo as
transformações no modo de pensar? Da mesma forma que um dia o impresso foi
utilizado com as mesmas configurações usadas para o manuscrito, hoje se empregam as
mesmas configurações do material impresso na tela. Pelo fato de não deter o
conhecimento do processo em sua complexidade e a falta de habilidade em usar a nova
tecnologia, por vezes o leitor rejeita a leitura, na tela, de diversos materiais. Mas esse
comportamento também fora relatado no século XV, quando o impresso surgiu.
Segundo Chartier (1999, p. 9),
de modo geral, persistia uma forte suspeita diante do impresso, que
supostamente romperia a familiaridade entre o autor e seus leitores e
corromperia a correção dos textos, colocando-os em mãos “mecânicas” e nas
práticas do comércio. Manteve-se também a figura daquele que na Inglaterra
do século XVIII se chamava de gentleman-writer, aquele que escrevia sem
entrar nas leis do mercado, à distância dos maus modos dos livreiros-editores,
e que preservava assim uma cumplicidade muito forte com os leitores.
Ler em vários suportes, seja ele impresso ou eletrônico, é a realidade do
século XXI. No decorrer da tese, emprego o termo “nova tecnologia” para referir-me à
internet tendo como parâmetro de comparação o tempo de invenção da tecnologia da
escrita impressa em relação à invenção da tecnologia digital. Também ao usar a palavra
“nova tecnologia”, refiro-me ao processo gradual de apropriação de outra tecnologia,
seja pelo sujeito ou pela própria escola. O fato de a internet existir um tempo
considerável não significa que a escola tenha se apropriado desta ferramenta. O uso da
internet na escola ainda é experimental. Neste contexto, possivelmente, os leitores estão
transferindo estratégias de ler o impresso para ler o hipertexto eletrônico. Segundo Lévy
20
(1993), a idéia de hipertexto surgiu antes mesmo da invenção do computador por
Vannevar Bush, em 1945. Somente nos anos 60 do século XX é que Theodore Nelson
inventou o termo hipertexto “para exprimir a idéia de escrita/leitura não linear em um
sistema de informática” (LÉVY, 1993, p. 28). No VI Festival Internacional de
Linguagem Eletrônica, em 31 de outubro de 2005, Nelson, em visita ao Brasil, disse,
durante uma entrevista para o jornal Folha de S. Paulo, que “os tecnólogos
seqüestraram o conceito de hipertexto e criaram algo que não tem nada a ver com ele”
(FOLHA, 2005, p. E1). Compartilha com Chartier, quando faz a crítica de que os novos
tecnólogos repetem o design do papel na tela e essa não era sua proposta quando pensou
no hipertexto como uma maneira não linear de leitura. Nelson, ao apresentar sua
proposta de “transliteratura”, afirma:
Há milhares de maneiras de colocar as coisas na tela, mas todos – Macintosh,
Microsoft, Linux copiam o formato retangular e a hierarquia do papel. [...]
A transliteratura é um sistema de fonte aberta, onde é possível remixar e
recombinar qualquer coisa, sem problemas com copyright (FOLHA,
2005, p. E1).
O processo de mudança está ocorrendo. O homem sócio-histórico-
cultural faz parte desse processo e por isso não é possível recortar o objeto de estudo
apontado nesta pesquisa como pede um modelo positivista de Ciência. O pesquisador
lida com o objeto sabendo de sua natureza mutável. E o objeto de estudo dessa pesquisa
é a nova tecnologia que traz uma forma diferente de ler o impresso. Seria o hipertexto
um novo gênero textual, ou um novo suporte que comporta uma diversidade de
gêneros?
Para Lévy (1993), o hipertexto é a “metáfora do conhecimento”, porque
permite conexões com outros textos que, por sua vez, conectam-se com outros textos, e
assim sucessivamente, formando uma rede de textos. Nas próprias palavras de Lévy
(1993, p. 24),
o objetivo de todo texto é o de provocar em seu leitor um certo estado de
excitação da grande rede heterogênea de sua memória, ou então orientar a sua
atenção para uma certa zona de seu mundo interior, ou ainda disparar a
projeção de um espetáculo multimídia na tela de sua imaginação.
Não somente cada palavra transforma, pela ativação que propaga ao longo de
certas vias, o estado de excitação da rede semântica, mas também contribui
para construir ou remodelar a própria topologia da rede ou a composição de
seus nós. [...] A imensa rede associativa que constitui nosso universo mental
encontra-se em metamorfose permanente. As reorganizações podem ser
temporárias e superficiais quando, por exemplo, desviamos
21
momentaneamente o núcleo de nossa atenção para a audição de um discurso,
ou profundas e permanentes como nos casos em que dizemos que “a vida” ou
“uma longa experiência” nos ensinaram alguma coisa.
Entendendo que essa rede de conexões se modifica a todo o momento,
pois estimula outros elementos, sejam externos, na tela, ou internos, no próprio
pensamento humano, seria possível dizer que uma nota de rodapé, ou até mesmo uma
enunciação num diálogo entre duas ou mais pessoas são formas de hipertexto. Neste
caso,
o hipertexto talvez não deva ser visto como um gênero só, mas como um
“formato” que vai acolher diferentes gêneros, [...] se considerarmos a
existência de gêneros textuais, ou seja, a existência de textos com
características diferentes uns dos outros, se considerarmos, também, que
essas características costumam sofrer variações em função da situação de
interlocução (COSCARELLI, 2003, p. 80).
O homem, um ser que habita um universo em “metamorfose
permanente”, produz saberes que se cristalizam em objetos significativos para sua
própria cultura, a qual, por sua vez, afeta o próprio criador quando usa sua criação.
Diversas formas de ler e escrever foram geradas pelo homem no decorrer
da história e continuam em constante processo de transformação, porque os homens
criam instrumentos e realizam representações mediadoras de significados em cada
época e cultura. Na atualidade, o homem criou um novo suporte de texto, a internet, que
provocou mudanças no meio social. Nesse novo contexto, a pesquisa teve como
objetivo levantar questões e reflexões acerca da leitura de jornal on-line e de jornal
impresso no âmbito escolar. Este estudo teve origem em algumas observações feitas
sobre a diferença que apresentaram alguns alunos quando interagiam com o jornal on-
line. Como professora do ensino fundamental, venho trabalhando com jornal impresso
algum tempo em sala de aula. Em determinada ocasião, levei os alunos para o
laboratório de informática, deixei que lessem o jornal on-line, e observei
comportamentos diferentes. Alunos bons leitores do jornal impresso não conseguiram
sucesso na leitura do mesmo jornal em suporte diferente. Notei que ficavam dispersivos
diante da tela e queriam mudar de atividade. Pedi que um aluno procurasse e lesse uma
notícia no jornal impresso e a comentasse. Em seguida, pedi que o mesmo aluno
procurasse e lesse uma notícia no jornal on-line e a comentasse. O resultado indicou
melhor compreensão e velocidade de busca da informação quando utilizou o jornal
impresso.
22
Dúvidas surgiram e impulsionaram-me a procurar respostas a algumas
questões. Estando diante de uma nova tecnologia, seria realmente fácil acessar fontes de
informações? Poderíamos pensar que o fato de uma geração nascer na era da
informação e ter habituais relações com novas tecnologias, como a internet, garantiria
seu uso como uma referência de múltiplas fontes oferecidas pelo meio? A forma como
os hipertextos são elaborados e colocados na World Wide Web dificulta a leitura de um
conteúdo? Ou ainda: o ato de ler jornal na tela incorpora a lógica de ler o jornal no
papel, apesar de ambas apresentarem configurações diferentes? Tecnologias diferentes
supõem lógicas diferentes como isso acontece na tela e no papel? Quais percursos
fazem os alunos leitores pelo jornal no papel e na tela? Haveria implicações culturais e
educacionais na leitura do jornal impresso e do jornal on-line?
Com o surgimento da internet houve uma verdadeira revolução quanto ao
acesso às informações, porque muitas páginas são acrescentadas à Web todos os dias
sobre os mais diversos assuntos. Por causa dessa nova tecnologia, têm aparecido
diferentes comportamentos de leitores gerados pelos diferentes dispositivos. Entretanto,
para a confirmação desse dado, uma investigação se fez necessária para verificar se a
nova geração, que faz uso da internet para ler, tem as mesmas atitudes ou apresenta os
mesmos comportamentos quando lêem o papel impresso. A hipótese levantada no início
da pesquisa é a de que os alunos transferem e adaptam as estratégias utilizadas na leitura
do jornal impresso para a leitura do jornal on-line. Os próximos capítulos trarão
discussões em relação a esta hipótese de pesquisa. Mesmo percebendo a diferença em
ler no papel e na tela, a geração, que nasceu depois da invenção da internet, parece não
conseguir se apropriar desta tecnologia em todas suas possibilidades. Segundo Lévy
(1993, p. 8-9), embora haja esforço dos professores,
o resultado global é deveras decepcionante. Por quê? É certo que a escola é
uma instituição que cinco mil anos se baseia no falar/ditar do mestre, na
escrita manuscrita do aluno e, quatro séculos, em um uso moderado da
impressão. Uma verdadeira integração da informática (como do audiovisual)
supõe portanto o abandono de um hábito antropológico mais que milenar, o
que não pode ser feito em alguns anos.
Pode-se dizer que, em alguns casos, apesar de serem usuários muito
freqüentes da web, encontram dificuldades no uso da tecnologia para a leitura. É
possível ter dificuldades em ler o jornal on-line, mesmo conhecendo a diagramação do
jornal impresso e os recursos que o computador oferece.
23
Ao fazer um levantamento bibliográfico sobre o tema, percebe-se a
relevância que este estudo tem para o momento histórico em que vivemos: o
estabelecimento cada vez mais sólido de uma tecnologia, a internet, para pesquisa e
leitura. Ainda não se pesquisou o suficiente para se responder a todas as dúvidas que
teóricos e professores têm a esse respeito. Para não pesquisar temas bastante
abordados nos programas de pós-graduação em nível de doutorado, verifiquei o tema
desta pesquisa junto ao Banco de Teses da CAPES – Coordenadoria e Aperfeiçoamento
do Pessoal do Ensino Superior órgão que avalia os programas de pós-graduação no
Brasil. Sem a pretensão de realizar um estudo estatístico, mas um quadro panorâmico
sobre o jornal como fonte de estudo, a investigação foi realizada delimitando o período
de seis anos, de 2000 a 2006, utilizando as informações disponibilizadas pela CAPES na
página WWW.capes.org.gov. Esclareço quanto ao procedimento da coleta de dados que
utilizei palavras-chave para a realização das buscas e leitura de resumos apresentados
pelo banco de dados. Reconheço que autores que fazem uso de títulos metafóricos,
que poderiam tratar do tema, entretanto, a pesquisa por palavras-chave não alcança este
tipo de trabalho. Nestas condições, foram encontrados 588 registros que continham a
palavra jornal em seu título. Filtrando um pouco mais a busca, e associando a palavra
jornal à palavra escola, 46 teses. Pode-se notar a redução significativa quando o
tema jornal é tratado em relação à escola. Isso acontece porque áreas como Lingüística
Aplicada, Comunicação e Jornalismo também estudam o jornal, embora com outras
perspectivas não diretamente ligadas à Educação. Os temas de pesquisa apresentaram
recortes específicos como estudo dos gêneros do discurso nos jornais; verificação de
como textos jornalísticos são utilizados para estudos teóricos e a prática do ensino da
língua; investigações acerca da questão da autoria no gênero do discurso; apresentação
gráfico-visual; estruturação da notícia e da linguagem na notícia; reflexões acerca da
diversidade das formas de expressão e comunicação; verificação de como um
determinado jornal veicula determinado assunto e formação de jornalistas na era digital.
Estas categorias exemplificam a diversidade de temas que são pesquisados tendo o
jornal como referência.
Ainda com a intenção de encontrar trabalhos realizados no contexto aqui
apontado, busquei teses que apresentassem no título as palavras leitura+jornal+escola.
Em resposta a esta busca, 12 teses foram encontradas. Os temas abordados podem ser
agrupados em três categorias: 1. estudos de casos que enfocam o uso de mídia (não
apenas especificamente o jornal) por crianças em um espaço de educação formal e não-
24
formal; 2. estudos sobre as práticas de leitura do jornal em escolas que participam de
programas de leitura mantidos por empresas jornalísticas e sua contribuição para o
processo de ensino; 3. formação de professores para o trabalho com o jornal em sala de
aula.
Há também estudos específicos em Tecnologia Educacional e Ciência da
Informação relacionados com a Educação, como o estudo do hipertexto na educação; a
cibercultura como um espaço pedagógico; inclusão digital; o ensino a distância; o uso
das TICs na Educação. E, por fim, ao usar palavras leitura+jornal+digital+escola nada
foi encontrado.
Como foi mencionado acima, o foco desta pesquisa não está em
examinar a nova tecnologia como suporte de leitura, por isso não será apresentado aqui
um estudo sobre as origens da estrutura gráfica do jornal impresso para compará-la com
a do jornal digital, embora, em determinados momentos, questões desta ordem surjam a
partir dos dados coletados. O interesse central está na relação dos sujeitos com os
materiais de leitura, quer seja o jornal impresso, quer seja o jornal on-line, com a
intenção de verificar o modo de usar a tecnologia da escrita impressa e da tecnologia
digital. Ao final da leitura desta tese, o leitor não terá uma descrição sobre a
constituição da internet e suas potencialidades, mas terá a interpretação de dados que
apontam como essa nova maneira de ler afeta a vida dos alunos-sujeitos desta pesquisa.
São estas as questões que orientaram as investigações a respeito de
comportamentos, atitudes e estratégias de alunos brasileiros e portugueses, entre 9 e 11
anos (4ª série), matriculados na educação básica da rede pública na cidade de Marília,
Estado de São Paulo Brasil e nas cidades de Lisboa e de Évora - Portugal, em
diferentes situações de leitura de um mesmo material, o jornal, com o intuito de 1.
analisar o uso do computador como ferramenta de leitura no âmbito das aulas do
currículo básico; 2. analisar a organização e os modos de funcionamento das aulas de
informática das escolas referidas; 3. analisar o impacto dessa organização e
funcionamento na formação da criança como leitora de jornal on-line; 4. verificar
aspectos convergentes e divergentes entre os dois sistemas, no que se refere ao uso do
computador para leitura de jornal; 5. analisar as relações entre aspectos culturais e
educacionais durante a leitura do jornal impresso e do jornal on-line.
Devido aos objetivos desta pesquisa compartilhada, tornou-se importante
o intercâmbio com o professor Dr. Justino Pereira de Magalhães para a coleta de dados
com crianças e professores portugueses para a análise, pelo viés cultural e educacional,
25
de dados gerados e coletados em Lisboa, Évora e Marília para analisar as relações entre
docentes, mídias impressa e on-line e alunos em países de culturas aparentemente
próximas organizadas pela mesma língua escrita. Esta tese é, então, fruto de um projeto
de pesquisa compartilhada entre a Universidade Estadual Paulista UNESP Campus
de Marília – Brasil e a Universidade de Lisboa, em Portugal, intitulado “Jornal impresso
e on-line no Brasil e em Portugal: implicações educacionais e culturais para sua leitura”.
A pesquisa recebeu apoio financeiro da agência CAPES e a geração e coleta de dados
feita em Portugal transcorreu no período de setembro a dezembro de 2007.
Para a realização desta pesquisa fiz opção pela pesquisa qualitativa, por
considerar a tentativa de um estudo explicativo da realidade, cujo foco estará sempre
dirigido aos sujeitos escolhidos e à compreensão e interpretação que dão aos fenômenos
estudados. Dentre as possibilidades oferecidas pelo campo de pesquisa qualitativa, a
pesquisa-ação e a investigação etnográfica foram as escolhidas. A primeira, a pesquisa-
ação, foi escolhida para provocar os dados com os sujeitos em ambiente próprio, no
Brasil, com poucos recursos para aprender a ler as versões do jornal impresso e do on-
line. Neste momento, a relação entre pesquisadora, sujeitos e objeto pesquisado estava
envolvida por subjetividades, porque a modificação do desempenho dos sujeitos em
relação à leitura de jornal impresso e on-line era o objetivo. Já a segunda, a investigação
etnográfica, foi escolhida porque seria necessário documentar o modo como os alunos e
os professores, em Portugal, se relacionam mutuamente, com os significados de suas
práticas.
A análise dos dados coletados durante toda a pesquisa procura ter um
viés dialético tendo em vista a necessidade de uma análise interpretativa da realidade,
considerando variantes como a perspectiva histórica e crítica, como o movimento
constante da realidade e as contradições existentes no fenômeno. Os fatos coletados são
expressões das relações que os sujeitos estabeleceram entre eles e o material de leitura.
Nesta análise interpretativa dos fatos, a pesquisadora expressa claramente sua visão de
mundo, de sociedade e de realidade; estuda o particular com a intenção de relacioná-lo
com a totalidade. A visão de mundo, entendida aqui, não é concebida apenas como um
dado empírico imediato, como o fato de crianças não usarem a barra de rolamento para
efetuar a leitura de uma página inteira na tela de um computador, mas “um instrumental
conceitual de trabalho indispensável para compreender as expressões imediatas do
pensamento dos indivíduos” (GOLDMANN, 1979, p.17). O plano empírico ganha
26
significação a partir do principal aspecto concreto do fenômeno, a reflexão. O
pensamento dialético parte do pressuposto de que
nunca pontos de partida absolutamente certos, nem problemas
definitivamente resolvidos; afirma que o pensamento nunca avança em linha
reta, pois toda verdade parcial assume sua verdadeira significação por seu
lugar no conjunto, da mesma forma que o conjunto pode ser conhecido
pelo progresso no conhecimento das verdades parciais (GOLDMANN, 1979,
p.6-7).
Diante desse pressuposto, o estudo do problema apresentado nesta tese
não está acabado, nem em seu conjunto, nem em suas características, porque ele próprio
se constrói e se modifica no percurso da história. Segundo Santos (1995), a pesquisa
qualitativa preconiza um caminho diferente. Inverte a maneira positivista de colocar o
problema das relações entre o indivíduo e a sociedade, exatamente porque considera as
relações entre eles; concebe o homem como sujeito e ator da História. A relação entre
pesquisador e objeto pesquisado é interligada, porque o pesquisador não pode se colocar
fora da história e da vida social. Seria, neste paradigma de pesquisa, impossível o
pesquisador e as condições do processo de pesquisa não influenciarem aquilo que está
sendo investigado. A relação entre fatos e valores está necessariamente dentro do
contexto de interpretação do referencial assumido na pesquisa. No paradigma da
pesquisa qualitativa, o foco é dirigido para a experiência individual de situações do
senso comum, na tentativa de trazer elementos para a compreensão de como o processo
se constrói nas relações histórico-culturais. O papel do pesquisador é mergulhar no
fenômeno de interesse. Apoiada neste paradigma de pesquisa, caracterizado como
pesquisa qualitativa, escolhi a investigação etnográfica e a pesquisa-ação como
metodologias para a produção e coleta de dados e, para sua interpretação, optei por um
olhar dialético. Neste campo de pesquisa, a sociedade e seus fenômenos não podem ser
estudados de maneira recortada como fazem os métodos que estudam a natureza, porque
os fatos sociais são expressões das relações que os homens estabelecem entre eles.
A viabilização da pesquisa foi possibilitada pela escolha de instrumentos
de coleta de dados como a entrevista semi-estruturada; gravação e filmagem de relatos
verbais e comportamentos físicos dos sujeitos, além do rastreamento da leitura dos
sujeitos em sites visitados em ambiente controlado por um software, produzido
especialmente para a pesquisa-ação, a que denominarei JornalWeb (BEJO, 2005), e
mapeamentos da leitura do jornal impresso. Todos esses conceitos e instrumentos serão
27
explicados detalhadamente no decorrer desta tese. No entanto, não será empregado
nesta pesquisa o instrumental estatístico como base para análise do problema, porque
não pretendo numerar, medir ou quantificar os dados em categorias homogêneas,
porque poderia empobrecer os resultados. Os dados que serão tratados ora em tabelas,
ora em gráficos ou quadros, servirão de parâmetro para demonstração das categorias
levantadas a partir dos dados gerados pela pesquisa-ação e investigação etnográfica para
a exposição de atitudes, comportamentos, relatos ou opiniões, que serão interpretados
pelo instrumental conceitual deste estudo, não isoladamente, como, por exemplo,
número de vezes que o comportamento apareceu, mas percebidos no seu contexto
global. Nesta exposição, os dados quantitativos apresentados em tabelas, gráficos e
quadros não explicitam o nível de profundidade dos fenômenos. Por isso, é preciso fazer
o exercício do pensar dialético.
Segundo André (2005), o pesquisador faz uma leitura interpretativa dos
dados coletados sempre de acordo com seus pontos de vista filosóficos, políticos e
ideológicos. Considero que não tenha sido diferente comigo, ao delimitar o problema
aqui apresentado e transformado em um problema de investigação científica. Na
perspectiva da pesquisa qualitativa, o pesquisador não consegue deixar de lado os seus
valores e crenças quando desenvolve uma investigação. Por isso, “deve estar ciente
deles e deve ser sensível a como eles afetam ou podem afetar os dados. Ele precisa, em
primeiro lugar, saber identificá-los para revelá-los ao leitor” (ANDRÉ, 2005, p. 41).
As opções metodológicas desta pesquisa justificaram uma investigação
científica com o intuito de oferecer o acesso e acompanhar alunos leitores de jornal on-
line para verificar se, para ter sucesso em suas leituras, precisam ter, além do
conhecimento da técnica, também o de métodos de busca específicos exigidos pela nova
tecnologia. Respeitando o quadro teórico e os pensadores escolhidos para fundamentar
as análises que serão feitas no decorrer da tese, e por ter uma visão de ciências humanas
diferente da visão positivista da ciência, somente poderia escolher uma metodologia de
pesquisa de origem dialética que considerasse o meio e o sujeito, ambos, como um
devir, possibilitando o reconhecimento da realidade como contraditória e em
permanente transformação. Assim, dentro desta visão de homem e de mundo
apresentadas neste estudo, julgo coerente a escolha da metodologia.
O desenvolvimento do trabalho de pesquisa ocorreu em duas etapas, a
primeira no Brasil, e a segunda em Portugal. A exposição dos dados que compõem a
tese será também dividida em duas partes respeitando o tempo cronológico em que
28
foram realizadas. A primeira parte apresenta a pesquisa-ação realizada exclusivamente
com 6 alunos brasileiros de uma escola pública municipal da cidade de Marília com o
intuito de discutir as implicações da leitura do jornal impresso e da leitura do jornal on-
line. Durante a pesquisa-ação foram analisados os comportamentos dos alunos em duas
diferentes situações de leitura de um mesmo veículo de comunicação: o jornal. Utilizei
um jornal de grande circulação, no Brasil Folha de S. Paulo em suas duas versões: a
impressa e a on-line.
a segunda parte da tese refere-se, portanto, aos dados coletados
envolvendo observações e entrevistas semi-estruturadas com 24 alunos e três
professoras de três diferentes escolas públicas de Portugal, duas na cidade de Lisboa, e
outra na cidade de Évora. Também serão apresentados projetos portugueses que se
referem à leitura de jornal e à leitura digital de modo geral, que apresentam interface
com a educação e com o tema aqui abordado. Na exposição da pesquisa, o termo
suporte deve ser entendido como o local, papel ou tela, por onde veiculam os textos
jornalísticos. A palavra versão carrega o significado do todo que compõe o jornal, seu
suporte, sua diagramação e sua estruturação. Os sujeitos da pesquisa serão referidos pela
inicial do nome, garantindo o seu anonimato. A análise dos dados foi amparada pelos
pressupostos teóricos dos autores citados nas referências desta tese.
29
PARTE I
A LEITURA DO JORNAL ON-LINE NO ENSINO FUNDAMENTAL
CAPÍTULO 1
31
DADOS INICIAIS DA PESQUISA-AÇÃO
No espírito de uma pesquisa qualitativa, estive em contato direto com os
sujeitos para intervir na aprendizagem da leitura do jornal impresso e do on-line, sem
nenhuma hipótese rígida de investigação, mas, ao contrário, aberta a novas hipóteses
como também em relação a mudanças no curso das atividades planejadas para a
pesquisa-ação. Segundo Elliot (1990), como a pesquisa-ação contempla os problemas
do ponto de vista de quem está implicado neles, só pode ser válida pelo diálogo livre de
bloqueios ou tolhimentos. A pesquisa-ação envolve necessariamente os participantes
pela auto-reflexão sobre sua situação, como companheiros ativos na investigação. Os
relatos dos diálogos com os participantes a respeito das interpretações e explicações que
emergem da investigação devem tomar parte de qualquer relatório ou comunicação de
pesquisa-ação.
Para o autor, a pesquisa-ação inclui o diálogo livre de bloqueios entre o
pesquisador e os participantes, devendo haver um fluxo livre de informações entre eles.
Os participantes devem ter acesso livre aos dados do investigador, suas interpretações e
relatos etc. O pesquisador deve ter livre acesso ao que acontece e às interpretações e
relatos que são feitos sobre ele. Por esse motivo, a pesquisa-ação somente terá êxito
adequado se houver confiança entre as partes, fundamentada na fidelidade ética,
mutuamente aceita.
A pesquisa–ação tem regras diferentes da metodologia tradicional
positivista. Ela prevê interação, comunicação, interpretação e planejamento de ações.
Uma pesquisa-ação, com definições claras de objetivos em termos de pesquisa e de
ação, das formas de participação dos sujeitos pesquisados, das interferências do
pesquisador e do compromisso com a mudança, poderá gerar respostas científicas
consistentes. Segundo Thiollent (1986, p.14), a pesquisa-ação
é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada
em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema
coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da
situação ou problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.
Para a pesquisa-ação, tanto a objetividade quanto a subjetividade são
32
pontos de extrema importância, porque a objetividade está representada nos fatos que se
manifestam na realidade e que, por sua vez, são apreendidos pela visão subjetiva dos
sujeitos envolvidos: o pesquisador e os sujeitos da pesquisa.
Nesse tipo de pesquisa, a implicação do pesquisador é uma característica
do processo de investigação, porque a gênese social precede a gênese teórica e
metodológica” (BARBIER, 1985, p. 38). A própria escolha do objeto de investigação
está contaminada pelos julgamentos de valor do pesquisador. Segundo Barbier (1985),
três níveis de abordagem do conceito de implicação: o nível psicoafetivo, o nível
histórico-existencial e o nível estrutural-profissional.
No que se refere ao primeiro nível, o objeto de pesquisa-ação sempre
questiona os fundamentos da personalidade do pesquisador quando este está engajado
na ação. Este dado não pode ser desprezado, mas é difícil reconhecer a influência do
inconsciente individual na escolha e na elaboração das categorias para análise de dados.
Também o nível de implicação histórico-existencial está articulado com o
primeiro nível. Como sujeito social, o pesquisador está envolvido por hábitos
adquiridos, esquemas de pensamento e de percepção que representam o momento
histórico social em que vive e que carrega para sua prática científica. Reconhecer a
implicação histórico-existencial é levar em conta a classe social de origem do
pesquisador. “É pouco provável que o pesquisador oriundo de uma classe popular
considere os fatos sociais de maneira semelhante à de um da classe abastada”
(BARBIER, 1985, p. 112). O homem, por estar engajado num processo de
transformação do mundo, do qual é um dos elementos, também é considerado ativo no
processo, não sendo diferente na pesquisa. Assim, a implicação histórico-existencial,
no fundo, significa que, enquanto ser social, o sujeito questionador estará
sempre numa relação dialética com o objeto questionado através do canal
essencial da práxis. A existência, a práxis e o objeto do pesquisador partem
da história, passam pela história e voltam à história em seu vasto movimento
de totalização dialética (BARBIER, 1985, p. 116).
Desse modo, não possibilidade de uma compreensão neutra. Não se
compreende uma expressão sem a pré-compreensão intuitiva de seu contexto, porque
não se deve ignorar o suporte da cultura sempre presente e esse dado não deve também
ser negado.
Também a implicação estrutural-profissional,
33
que consiste na procura dos elementos que têm sentido com referência ao
trabalho social do pesquisador e ao seu enraizamento sócio-econômico na
sociedade contemporânea. Toda profissão apresenta um não-dito institucional
que é a sua posição no campo das relações de produção e do sistema de
valores que lhe coerência interna. A atitude individual do profissional
depende do papel social de sua profissão dentro de um mercado de trabalho
estruturado pelas relações de classe (BARBIER, 1985, p. 117),
é fator relevante no processo de pesquisa-ação.
Alguns autores como Carr e Kemmis (1988) e Barbier (2004),
apresentam a pesquisa-ação com abordagem sócio-histórica, de foco interpretativo,
como a mais adequada para as investigações desenvolvidas na área das Ciências
Humanas, tendo em vista sua natureza argumentativa. Na pesquisa-ação, as
interpretações da realidade observada e as ações transformadoras são elementos para a
tomada de decisão. Como o pesquisador também é um ser social, de ações sociais que
olha para o objeto de estudo com toda sua subjetividade, tem muita probabilidade de
entrar num estado de fusão com o seu campo de pesquisa-ação, porque é necessária uma
intervenção dialética entre o pesquisador e seu campo de intervenção.
O diálogo está sempre presente na pesquisa-ação e é difícil estabelecer
uma situação ideal de comunicação entre pesquisador e pesquisado, de maneira que o
objeto de estudo seja cercado por todos os lados para que não haja interferência de
dados ou da subjetividade do pesquisador ao analisar ao material coletado. Segundo
Bourdieu (2003, p. 693), “não maneira mais real e realista de explorar a relação de
comunicação na sua generalidade que a de se ater aos problemas inseparavelmente
práticos e teóricos, o que decorre do caso particular de interação entre o pesquisador e
aquele, ou aquela, que ele interroga.”
Compartilhando o pensamento de Bourdieu (2003), entendo não haver
sentido em apenas determinar os parâmetros da metodologia sobre a técnica de pesquisa
que este estudo utilizou, sem que se expliquem detalhadamente as intenções e os
procedimentos que foram utilizados. Somente dessa forma, o pesquisador permitirá ao
leitor reconstruir o caminho percorrido durante a pesquisa e também compreender a
lógica da análise feita a partir dos dados gerados, coletados e organizados. Todo estudo
se realiza numa relação social e por isso pode exercer um efeito sobre os dados
coletados ou sobre a vida dos pesquisados. Ignorar a subjetividade das relações não
evita as distorções de interpretação sobre a realidade. Tomar como verdade a
34
possibilidade de não existir a contaminação dos dados apenas dificulta ainda mais a
interpretação dos fenônemos. Segundo Bourdieu (2003, p. 694),
o sonho positivista de uma perfeita inocência epistemológica oculta na
verdade que a diferença não é entre a ciência que realiza uma construção e
aquela que não o faz, mas entre aquela que o faz sem o saber e aquela que,
sabendo, se esforça para conhecer e dominar o mais completamente possível
seus atos, inevitáveis, de construção e os efeitos que eles produzem também
inevitavelmente.
Segundo o autor, sempre haverá um “olho” sociológico que construirá
a apresentação dos dados, mas, segundo ele, o esforço em evitar que “qualquer forma de
violência simbólica” afete a pesquisa, apenas poderia nascer da “reflexividade”, ou
melhor, fazer um uso reflexivo dos conhecimentos adquiridos da ciência social para
controlar os efeitos da própria pesquisa e começar a interrogação dominando os
efeitos inevitáveis das perguntas” (BOURDIEU, 2003, p. 694).
A pesquisa-ação, como processo de indagação e conhecimento, é um
processo prático de ação e de mudança e com isso carrega em seu conceito a
necessidade de um compromisso ético de serviço à comunidade social e educativa.
Tendo como objeto de pesquisa a leitura de jornais de grande circulação em duas
diferentes versões, impresso e on-line, que ocupam suportes diferentes, papel e tela,
com alunos em processo de formação, necessariamente a linguagem terá papel de
destaque porque fornecerá indícios de compreensão e, portanto, será na linguagem que
encontraremos pistas para investigar o processo de leitura. Segundo Bakhtin (1988), a
forma mais eficiente de esclarecer um objeto de pesquisa é observá-lo no momento de
sua formação e de seu desenvolvimento.
críticas à pesquisa-ação devido ao seu caráter dialógico, mas tal
proposta deve ser pensada como uma metodologia de pesquisa específica de um
determinado paradigma de ciência. Segundo Foucambert (1998, p. 91), “a pesquisa-
ação é o único dispositivo em que todas as variáveis estão necessariamente em interação
no decorrer do processo”.
É essa concepção de pesquisa em desenvolvimento e de pesquisador e
sujeitos pesquisados como seres em processo de contínua transformação que terei ao
analisar as enunciações dos sujeitos, pois elas carregam os significados sociais, refletem
a realidade do grupo e o momento histórico. Para Bakhtin (1988), são os discursos que
refletem e refratam a realidade da qual fazemos parte.
35
1.1 Instrumentos de coleta de dados na pesquisa qualitativa
A pesquisa qualitativa não admite um recorte da realidade para ser
analisada apenas em suas características particulares. Assim como a pesquisa
quantitativa usa instrumentos de coleta, a pesquisa qualitativa também e, ambas, podem
fazer uso dos mesmos instrumentos. Segundo Triviños (1987, p.137), “os questionários,
entrevistas etc. são meios ‘neutros’ que adquirem vida definida quando o pesquisador os
ilumina com determinada teoria”.
Neste item, serão caracterizados os instrumentos escolhidos e criados
para esta pesquisa, não para apenas descrevê-los, mas para ressaltar seu uso dentro do
processo. Ao mesmo tempo em que os dados da pesquisa foram sendo construídos com
o decorrer da pesquisa-ação, também se tornaram elementos que impulsionavam novas
buscas. Ao ouvir o relato de um aluno, muitas vezes surgiam dúvidas sobre questões
que não haviam sido pensadas antes da entrevista, mas que foram possibilitadas pela
forma como o instrumento foi usado. Ao mesmo tempo em que a coleta produzia um
dado, também instigava o pesquisador a aprofundar-se em outro dado que achasse
relevante, no âmbito de sua opção teórica. Considerar a perspectiva filosófica que
fundamenta a metodologia utilizada é fundamental, porque é sob sua luz que os dados
serão analisados posteriormente. Nesta pesquisa, serão apresentados dados quantitativos
porque, quando analisados, estarão numa dimensão qualitativa. Segundo Gatti (2001,
p.74),
é preciso considerar que os conceitos de quantidade e qualidade não são
totalmente dissociados, na medida em que de um lado a quantidade é uma
interpretação, uma tradução, um significado que é atribuído à grandeza com
que um fenômeno se manifesta (portanto é uma qualificação dessa grandeza)
e, de outro lado, ela precisa ser interpretada qualitativamente, pois sem
relação a algum referencial não tem significação em si.
Além de fundamentar-se teoricamente, a pesquisa requer o uso de
instrumentos de coleta de dados que, neste caso, poderão ser de cunho qualitativo ou
quantitativo. Esta pesquisa utilizará instrumentos de coleta que resultarão tanto dados
quantitativos quando qualitativos, pois, como relatado acima, a análise de dados
quantitativos terá uma dimensão qualitativa porque, como pressupõem as metodologias
escolhidas, as perguntas que eu faço no meu instrumento estão marcadas por minha
postura teórica, meus valores, minha visão de mundo” (ANDRÉ, 2001, p. 24). Essa
forma de fazer pesquisa é simultaneamente um desafio de realizar a investigação-ação e,
36
submeter-se a uma reflexão crítica e dialética em seu decorrer.
Desta pesquisa não se podem esperar resultados universais aplicáveis a
qualquer turma de 4ª série de alunos do Ensino Fundamental, mas apenas a validação de
uma experiência metodológica fundada sobre o diagnóstico, que nunca será concluído
porque poderá ser refeito por outro pesquisador, com outro olhar. Segundo Bakhtin
(1988), cada pessoa tem um contexto histórico que orienta a sua compreensão e
estabelece uma forma própria de relacionamento com o outro. O sujeito da pesquisa, ao
responder as questões da entrevista, deixará, em sua enunciação, marcas da realidade do
seu grupo e de seu momento histórico e social.
As sessões de trabalho foram gravadas em áudio e vídeo durante todo o
tempo de interação. Isso ocorreu, não porque fiz opção pela técnica de observação, mas
porque estava envolvida na pesquisa-ação como pesquisadora e participante do
processo. Por isso, mesmo com o auxílio das gravações em áudio, a gravação em vídeo
também se fez necessária por registrar aquilo que o gravador não registraria, como
vivências do momento, dispersões, distrações, trocas entre alunos, movimentos
corporais, cochichos não previstos, entre outros aspectos, que poderiam surgir e que,
por meu envolvimento, não perceberia no momento. O registro em fita cassete e VSH
facilitaria a posterior transcrição. Também foram realizadas duas entrevistas semi-
estruturadas, uma no início e outra no final da pesquisa, para confrontar dados. Todos os
procedimentos passaram por testes pilotos para garantir a validade dos instrumentos de
coleta.
1.1.1 Entrevista semi-estruturada: atenção especial ao sujeito
Antes de entrevistar e desenvolver as atividades com os sujeitos é preciso
esclarecer as razões que os levam a aceitar participar da experiência. Por um lado existe
o pesquisador com seus claros objetivos ao desenvolver a pesquisa e usar diversos
instrumentos de coleta de dados, por outro, os motivos que levam o pesquisado a
participar da situação. Estes motivos poderão interferir nos resultados ou mascará-los. O
pesquisador, ao iniciar a pesquisa, entra com todo o seu “capital lingüístico e simbólico”
(BOURDIEU, 2003) que, em geral, não é o mesmo que o dos sujeitos. A pesquisa
acadêmica exige um esforço por parte do pesquisador em dominar esses efeitos, porque
sabe que existem, mas não com a intenção de anulá-los, porque, se assim fosse,
37
estaria novamente negando a existência da subjetividade, marcada pelos valores da
sociedade em que vive. Não ignorar nem anular seriam medidas maduras para um
pesquisador da área de humanas, mas “reduzir ao máximo a violência simbólica”
(BOURDIEU, 2003) que se pode exercer ao entrevistar um sujeito, conhecer a história
particular de cada indivíduo para poder conhecer melhor seus pontos de vistas e adotar
uma linguagem próxima à do entrevistado é um procedimento necessário. Também o
local em que se realizará a pesquisa está marcado pela estrutura social em que vivem os
pesquisadores e sujeitos. Segundo Bourdieu (2003, p. 697),
a proximidade social e familiaridade asseguram efetivamente duas das
condições principais de uma comunicação “não violenta”. De um lado,
quando o interrogador está socialmente muito próximo daquele que ele
interroga, ele lhe dá, por sua permutabilidade com ele, garantias contra a
ameaça de ver suas razões subjetivas reduzidas a causas objetivas; suas
escolhas vividas como livres, reduzidas aos determinismos objetivos
revelados pela análise. Por outro lado, encontra-se também assegurado, neste
caso, um acordo imediato e continuamente confirmado sobre os pressupostos
concernentes aos conteúdos e às formas da comunicação: esse acordo se
afirma na emissão apropriada, sempre difícil de ser produzida de maneira
consciente e intencional, de todos os sinais não verbais, coordenados com os
sinais verbais, que indicam quer como tal o qual enunciado deve ser
interpretado, quer como ele foi interpretado pelo interlocutor.
Sinais como acenos de cabeça, olhares, movimentos corporais ou verbais
são indícios que precisam de destaque, pois, em geral, evidenciam participação.
Toda interrogação se encontra então situada entre dois limites sem dúvida
nunca atingidos: a total coincidência entre o pesquisador e pesquisado, onde
nada pode ser dito porque, nada sendo questionado, tudo seria natural; a
divergência total onde a compreensão e a confiança se tornariam impossíveis
(BOURDIEU, 2003, p. 698).
O ponto de partida para averiguar a situação inicial em que se
encontravam os sujeitos da pesquisa foram as entrevistas. A entrevista semi-estruturada
foi usada como instrumento de coleta desses primeiros dados, com alunos e professoras.
Por não saber como seriam interpretadas as questões pelos sujeitos entrevistados,
apliquei um estudo-piloto,que consiste num estudo preliminar sobre um número
reduzido de sujeitos, que nos permite testar nosso procedimento de pesquisa antes de
empreender o trabalho definitivo” (DELVAL, 2002, p. 99).
Foram testados quatro roteiros-piloto para ajudar a elaborar as entrevistas
semi-estruturadas que seriam usadas na pesquisa. Dois dos roteiros se referiam às duas
entrevistas que seriam realizadas com as professoras dos alunos, uma no início do
38
processo e outra, no final. Os roteiros foram testados com uma professora que não faz
parte do corpo docente da escola. Os outros dois roteiros, previstos para alunos, foram
aplicados em 12 crianças da mesma idade e série em que estão os sujeitos da pesquisa,
também com a intenção de estruturar o roteiro definitivo das entrevistas. Houve
necessidade de alguns ajustes em todos os roteiros criados, tanto para as professoras
(Apêndice B), como para os alunos (Apêndice C). Somente após a aplicação dos testes,
e feitas as modificações necessárias, as entrevistas foram realizadas com os sujeitos
envolvidos na pesquisa.
As primeiras entrevistas aconteceram no dia 20 de março de 2006. Foram
realizadas com as professoras dos sujeitos da pesquisa, com o intuito de mapear o
comportamento leitor de cada aluno, como também sua performance na leitura, suas
preferências no contexto de sala de aula, para posteriormente confrontar esses dados
com os que foram coletados nas entrevistas com os alunos, também com o interesse em
conhecer melhor o comportamento leitor de cada um deles. Tanto alunos como
professoras receberam a instrução de que poderiam responder as questões da maneira
como achassem conveniente. As orientações da Resolução nº. 196/96 Decreto nº.
93.933-1987 do Conselho Nacional de Saúde de 1996 foram seguidas. O projeto e seu
desdobramento foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa, da Unesp, em
agosto de 2006.
A última entrevista com as professoras e alunos aconteceu no final da
pesquisa-ação. Foi realizada em julho de 2006 (Apêndices D e E). O objetivo era
verificar avanços no processo da formação do aluno-leitor de jornal on-line e de jornal
impresso e suas conseqüências quanto ao desempenho na leitura e no uso das
tecnologias.
1.1.2 Jornal web: rastreamento de sites visitados em ambiente controlado
Em minha experiência como docente, no ensino fundamental, percebi
que, ao ler o jornal pela internet, os alunos perdiam-se no percurso da Web. Isso os
levava a relacionarem assuntos lidos na grande teia de alcance mundial de informações,
39
como se tivessem origem no jornal on-line indicado para a leitura. A Web é um serviço
que oferece acesso a inúmeras informações atreladas umas às outras. O jornal on-line
não é diferente. É um da rede, porque é um dispositivo ligado à grande rede World
Wide Web, conhecida como teia de alcance mundial. O jornal não é uma unidade
separada de um todo da informação veiculada pela rede. Sendo assim, quando a criança
diz que qualquer informação obtida pela leitura on-line estaria ligada ao jornal, que
este fora a primeira página acessada, poderia estar ou não equivocada. Considerada a
totalidade, na essência do objeto, a criança não estaria equivocada, mas, diante do
problema de pesquisa a ser investigado, tornou-se necessário delimitar qual espaço do
território do ciberespaço seria considerado para efetivo registro das categorias
escolhidas, como o tempo de busca, percurso realizado e temas selecionados.
Para que essa coleta realmente fosse garantida em relação ao jornal on-
line foi preciso elaborar um software capaz de controlar o ambiente visitado e rastrear
os sites. O software, nomeado de Jornal Web,
é um sistema em Windows Form, que serve como um browser, para navegar
na web em determinados portais, por enquanto apenas nos jornais on-line da
Folha de São Paulo (Folha) e Estados de São Paulo (Estadão), podendo
futuramente acessar qualquer tipo de site pré-cadastrado. O sistema foi
desenvolvido na plataforma Microsoft Dot Net (.Net), usando a linguagem de
programação C Sharp (C#), juntamente com um plugin do navegador Internet
Explorer. A ferramenta utilizada para o desenvolvimento foi o Microsoft
Visual Studio .Net 2003. O armazenamento dos dados não é feito em banco
de dados e sim através de um arquivo com a extenção xml. Os relatórios
gerados pelo sistema podem ser nos formatos pdf (Adobe Reader), doc
(Documento do Word), rtf (Rich Text Format) e xls (Planilha do Excel); estes
relatórios foram desenvolvidos usando a ferramenta Crystal Reports, que está
acoplada à ferramenta de desenvolvimento (BEJO, 2005).
Esse programa, encomendado por mim e produzido por Bejo (2005),
possibilitou o registro do percurso do aluno via internet a um dos nós da grande rede de
informações. Esclareço aqui que essa escolha se deveu ao fato de possibilitar e
viabilizar a coleta de dados desta pesquisa, mas, assumindo o quadro teórico, esse
procedimento não deve ser empregado por professores na prática de ensinar crianças a
ler pela tela. Criar software para controle da leitura on-line impede o usuário de
conhecer de fato a mídia que tem em mãos.
Com a ajuda do monitor encarregado do laboratório de informática da
40
escola foi instalado em cada microcomputador o software acima descrito para que
pudesse ser feito um registro individual do uso de cada aluno (Apêndice E). Este
instrumento de coleta criado especialmente para esta pesquisa foi utilizado no momento
em que a pesquisa-ação trabalhou com o jornal on-line.
1.1.3 Mapeamento: leitura de jornal impresso
Este outro instrumento de coleta foi gerado com a mesma intenção do
anterior: coletar tempo de busca, percurso realizado e temas selecionados. No entanto, o
suporte utilizado para a leitura foi o jornal impresso. Testes pilotos foram realizados e
deram origem a um quadro de símbolos que correspondiam aos movimentos mais
comuns realizados por quem fazia a leitura de jornal impresso (Apêndice F). Com a
ajuda destes símbolos era possível registrar em tempo hábil um mapeamento do
percurso, como também os movimentos dos olhos durante a leitura do jornal. Foi
utilizado um cronômetro para marcar o tempo gasto em cada página visitada. Após as
atividades realizadas com os jornais, os alunos eram convidados a comentar o assunto
lido. Todo esse relato verbal era gravado em fita cassete. Este procedimento foi
utilizado tanto na coleta do jornal on-line como na do impresso.
O volume de informações, ao terminar a coleta, foi grande. No entanto,
foi realizado o recorte de dados para análise a partir dos objetivos da pesquisa
explicitados neste capítulo. Os objetivos foram os guias para elencar categorias de
análise. No montante de informações, busquei por dados verbais e não verbais que
correspondiam aos objetivos elencados. Através destes, tracei análises que se justificam
pelo quadro teórico abordado nesta tese. Como nos aponta Bourdieu (2003), a busca de
significação nos dados obtidos também está atrelada à formação do pesquisador e ao seu
capital lingüístico e simbólico.
Faço agora a apresentação dos sujeitos participantes da pesquisa-ação e a
contextualização da realidade escolar vivida por estes sujeitos. Isso contribuirá para uma
análise interpretativa dos dados coletados.
A escola municipal de ensino fundamental “Nivando Mariano dos
Santos” pertence à Secretaria da Educação de Marília. É uma escola nova, sua criação
41
se deu pela Lei Municipal nº. 5621 de 26 fevereiro de 2004 e a inauguração aconteceu
em 23/04/2004. Possui três turnos de funcionamento: manhã, tarde e noturno. É
relativamente pequena. Possui apenas nove salas de aula e uma sala reservada para
biblioteca e videoteca.
Segundo a análise da própria escola, relatada no Projeto Educativo
(2004) sobre a situação real de aprendizagem dos alunos, o ponto crítico desta unidade
escolar refere-se à leitura e interpretação crítica de textos diversos. Com relação a esta
análise, a proposta pedagógica de trabalho está voltada para a tentativa de resolução do
problema apresentado, pautando-se fortemente nos Parâmetros Curriculares Nacionais.
Podemos perceber esta harmonia nos trechos a seguir:
Em Língua Portuguesa, nossa concepção de ensino adequada aos objetivos a
que nos propomos é aquela que se aplica à análise das características
lingüísticas de diferentes textos. Portanto, as atividades com diversas
modalidades de textos serão voltadas intencionalmente para desvendar
características estruturais e funcionais de cada um deles. Sendo assim, a
análise lingüística estará desta forma a serviço da produção e análise de
textos. [...] o trabalho com leitura terá como finalidade a formação de leitores
competentes e, conseqüentemente, a formação de escritores, a possibilidade
de produzir textos eficazes tem sua origem na prática de leitura. Um leitor
competente é alguém que por iniciativa própria, é capaz de selecionar, dentre
os trechos que circulam socialmente, aqueles que podem atender a uma
necessidade sua; que compreende o que lê; que estabelece relações entre os
textos que e outros lidos; que saiba que vários sentidos podem ser
atribuídos a um texto; que possa aprender a ler também o que não está
escrito, identificando elementos implícitos. Um leitor competente pode
constituir-se mediante uma prática constante de leitura de textos de fato, a
partir de um trabalho que deve se organizar em torno da diversidade de textos
que circulam socialmente (PROJETO EDUCATIVO, 2004, p.7 - 8).
A escola atende a alunos da a séries do Ensino Fundamental e
Educação de Jovens e Adultos que residem nos bairros Planalto, Jardim Amália,
Antônio Silva Penteado, Jardim Nacional, Santa Clara, Parque da Azalélias, Monte
Castelo, Nova Marília I e II, Tófolli e Mário Bataiola. Todos os bairros se localizam na
zona sul de Marília.
No bairro Santa Clara, onde está localizada a escola, existe uma estrutura
sócio-econômica adequada às necessidades da comunidade local. Entre os serviços
oferecidos podemos citar supermercados, lotéricas, lojas, posto de gasolina, igrejas,
padarias, sorveteria, açougue e centros poliesportivos.
42
Neste espírito de incentivo à leitura, o corpo docente coloca no plano de
desenvolvimento da escola o objetivo de promover o desenvolvimento qualitativo da
leitura como compreensão de textos, com conseqüente impacto nas produções
realizadas pelos alunos. Como plano de ação para a concretização deste objetivo, a
escola propõe, para os professores, reflexões em HEC (Horário de Estudo Coletivo),
com a intenção de rever metodologias e estratégias de leitura por meio de troca de
experiências; utilização da biblioteca; utilização, em sala de aula, de jornais e revistas;
exposição e concursos culturais que envolvam leitura e escrita e a tentativa de
conscientizar os pais quanto à importância da leitura. A escola também desenvolve
projetos de parcerias para aulas de xadrez e tênis de mesa.
No decorrer da tese será apontado que os professores realmente cumprem
o plano de ação estabelecido pelo Projeto Educativo, mas a forma como o fazem não
levou os sujeitos da pesquisa a serem leitores efetivos de jornal.
1.2 Sujeitos da pesquisa
A pesquisa se desenvolveu com um grupo composto por 6 alunos da
escola citada. Deve-se lembrar que, no contexto de uma pesquisa qualitativa, cuja
preocupação maior não é com a generalização dos resultados obtidos em uma amostra,
mas com a descrição de fatos para sua interpretação e compreensão, o procedimento de
amostragem não-probabilística foi adotado para seleção da amostra. Ficou sob
responsabilidade do diretor da escola escolher três alunos de cadasérie do período da
manhã e convidá-los a participar do projeto de leitura de jornal, todas as segundas-
feiras, no período da tarde, com duração de duas horas, durante o primeiro semestre de
2006. Nenhum aluno sorteado recusou-se a participar das atividades.
Os alunos eram alfabetizados, capazes de ler materiais impressos, mas
não eram leitores eficientes do material escolhido: o jornal. Também conheciam o
básico para manusear o computador, visto que tinham aulas no laboratório de
informática uma vez por semana e o utilizavam. A escolha de dois alunos por sala
deveu-se pelo fato de facilitar a integração do grupo. O contato somente com
43
desconhecidos pode gerar medo ou insegurança, que seria diminuído com a presença de
outras crianças que convivem no dia a dia.
No contato inicial com os alunos apresentei todo o percurso das
atividades que seriam desenvolvidas. Contei um pouco sobre minha história pessoal e
profissional e ouvi a história particular de todos. Também solicitei a permissão dos pais
para a gravação das entrevistas e atividades garantindo o anonimato nas gravações e nas
análises. Submeti todo o processo da pesquisa ao Comitê de Ética da Universidade para
apreciação e autorização.
Quanto à caracterização de cada sujeito desta pesquisa-ação, serão
apresentados dados que os caracterizam tomando como informantes eles próprios e suas
respectivas professoras, com a intenção de conhecer melhor o próprio sujeito.
1.3 O olhar das professoras
As impressões que as professoras dos sujeitos tinham em relação aos seus
alunos foram coletadas, tendo como fio condutor quatro itens julgados importantes para
esta pesquisa, entre eles, o tipo de material de leitura usado em sala de aula, a eficiência
na locução e compreensão do material lido, comentários feito em sala de aula sobre
leituras feitas em casa e o assunto de interesse apresentado por cada aluno.
A visão tradicional da escola, ao longo do tempo, tem valorizado a
fonologia e a visualização das letras com a certeza de que a percepção disso garantiria a
aprendizagem da leitura. No entanto, segundo Smith (1999), a excessiva atenção
voltada a estes aspectos formaria apenas alunos decodificadores, mas não leitores. A
concentração oferecida à sonoridade dos símbolos impediria uma visão mais profunda,
a do contexto. Para ele, muitas das práticas utilizadas pelos professores em sala de aula
são limitadoras e produtoras de uma visão túnel que, segundo Smith (1999),
corresponde a uma visão restrita a uma pequena área do texto, desvinculada do sentido.
Normalmente, os professores esperam um domínio precoce da relação
grafia-som por parte do aluno para que o considerem leitor. Reforçam a leitura perfeita
de cada palavra, garantindo que a fonologia seja aprendida. Quando o aluno apresenta
erros de pronúncia durante a leitura, são corrigidos imediatamente. Segundo Smith
44
(1999), ao promoverem a leitura, os professores, ao contrário das atitudes citadas,
deveriam estimular a adivinhação, as previsões; deveriam fomentar conhecimentos
sobre a linguagem escrita, levantar hipóteses que gerem constantes reflexões, fazer
comparações a partir do conhecimento prévio dos alunos, dando-lhes, assim, a chance
de aprenderem, visto que, para Smith (1999), a ênfase deve ser dada ao significado da
linguagem escrita, que não se encontra em símbolos impressos, mas no conjunto de
informações prévias que cada leitor possui. A informação visual não garante a leitura,
apenas acessa conexões cerebrais que levam a compreensão.
Tendo esta discussão como parâmetro, ressalto essa diferenciação entre
leitura e locução, baseados em dois autores, Arena (2005) e Bajard (2002). Esse último
usou a expressão transmissão vocal para designar o ato de comunicação verbal de um
texto escrito diferenciando ações como pronúncia e compreensão de um texto.
Segundo Arena (2005, p. 28), “saber ler não é saber ler oralmente ou
silenciosamente, mas abordar pelos olhos, com o conhecimento previamente organizado
e mobilizado, a informação semântica organizada com o auxílio das marcas gráficas do
sistema lingüístico”. Falar em leitura silenciosa e oral é distinguir falsamente o sentido
de uma única ação, a leitura. Segundo o autor, uma criança poderá produzir leitura
silenciosa e leitura oral, sem que necessariamente produza leitura, ou seja, a
compreensão no sentido citado.
Por este motivo, durante as entrevistas com as professoras utilizei os
termos locução, significando apenas oralidade, e leitura, significando compreensão.
Assim, evitaria o emprego de um mesmo termo para duas situações diferentes.
Proponho, agora, a apresentação de um quadro organizado por categorias, grupo dos
sujeitos e comentários das professoras em relação a cada sujeito sobre o assunto tratado
na entrevista. Assim, será possível fazer um mapeamento de como o sujeito se relaciona
com a leitura no universo escolar. Vale lembrar que as crianças são de duas classes
diferentes A, B, e, portanto, têm professoras diferentes. Os alunos F, O, I são de uma
mesma professora e os alunos M, P, E são de outra.
Este dado pode ser um diferencial em relação às propostas didáticas que
cada professora proporciona aos seus alunos e as escolhas apresentadas por eles no
próximo item.
45
CATEGORIAS ALUNOS COMENTÁRIOS DAS PROFESSORAS
Material de leitura em
sala de aula
O
Textos de Português, Estudos Sociais e Ciências, literatura, jornal, outros
materiais.
F
Textos de Português, Estudos Sociais e Ciências, literatura, jornal, outros
materiais.
M Textos de Estudos Sociais e Ciências, literatura.
I
Textos de Português, Estudos Sociais e Ciências, literatura, jornal, outros
materiais.
E Textos de Português, Estudos Sociais e Ciências, literatura.
P Textos de Estudos Sociais e Ciências, literatura.
Locução
O
bem, é um aluno sensível, emotivo e amigo. É tranqüilo, pensativo e não
impõe sua opinião, mas sempre se coloca quando precisa socializar uma
tarefa ou diante de algum acontecimento.
F
bem, se expressa bem oralmente ao realizar atividades de leitura. É um
garoto um pouco tímido, respeita diferentes opiniões do grupo e se faz
respeitar, apesar da timidez.
M
bem, tem uma ótima oralidade, não se intimida com nada, sempre
respeitando os sinais de pontuação.
I
bem, é uma garota muito expansiva, expressa sentimentos, opiniões,
emoções com facilidade e adora socializar as atividades literárias e as
experiências vivenciadas perante o grupo.
E
Lê bem, tem boa oralidade, mas a aluna tem um pouco de receio em ler ou se
expor para todos.
P
bem, tem uma ótima oralidade, não se intimida com nada, sempre
respeitando os sinais de pontuação.
Leitura
O
Sabe expor sobre o assunto lido com clareza e seqüência. Participa e mostra
interesse pelas atividades literárias. Relata, com coerência e reflexão os
assuntos lidos, embora ainda apresente erros ortográficos nos registros.
F
Sabe expor o assunto lido com clareza e seqüência. Demonstra interesse e
participa das atividades propostas.
M
Sabe expor sobre o assunto lido com clareza e seqüência. Tem uma facilidade
incrível de expor o que entendeu do assunto lido, tem boa oralidade.
I
Sabe expor o assunto lido com clareza e seqüência. Gosta das atividades
literárias, reproduz oralmente os textos lidos com coerência e riqueza de
detalhes, tem facilidade para dramatizações.
E
Comenta fragmentos do texto, pois se sente envergonhada em se expor, mas
sempre sabe interpretar o assunto proposto em sala.
P
Sabe expor o assunto lido com clareza e seqüência. Tem facilidade em se
expor oralmente perante todos os alunos presentes.
Comentários sobre
leituras feitas em casa
O Não faz comentários
F Não faz comentários
M Comenta todos os dias
I Não faz comentários
E Ás vezes
P Ás vezes
Assunto de interesse
O Gosta muito de animais e fala em ser veterinário no futuro.
F -----
M Matemática
I -----
E -----
P Notícias do dia-a-dia, livros didáticos e novidades do momento.
Quadro 1 – Opiniões das professoras, sobre os alunos, em relação a locução, compreensão, interesse de temas, discussão
sobre leituras feitas.
Como apresenta o quadro, os materiais lidos pelos alunos são aqueles
normalmente encontrados nas escolas e que os professores disponibilizam para os
alunos. Mas o jornal não circula na sala diariamente. Ele é levado pelas professoras, que
elegem um assunto importante do momento e o levam para classe para fazer sua leitura.
Nenhuma professora apresentou o jornal completo aos alunos, nem conversou sobre sua
46
função social, periodicidade ou qualquer outra especificação do jornal impresso. É
passada às mãos dos alunos apenas a folha do jornal que apresenta a notícia lida pela
professora, de carteira em carteira. Quanto ao desempenho da locução de cada criança
diante de um texto lido, é possível perceber, além do fato de que todas vocalizam bem
as marcas gráficas de um texto, também as observações que as professoras fazem
quanto à timidez dos alunos. Elas relacionam oralidade com característica de
personalidade, porque ler em voz alta significa se expor em público, seja ele qual for,
alunos de uma sala de aula ou fiéis em uma igreja.
Ao abordar a categoria leitura, as palavras que aparecem são clareza,
coerência, seqüência, reflexão. Segundo as professoras, os alunos oralizam bem e
compreendem bem os textos que circulam na sala de aula. Entretanto, as duas últimas
categorias apresentadas no final do quadro trazem dúvidas quanto a considerar o aluno
ser ou não leitor. Apenas um aluno faz comentários sobre leituras feitas em casa e as
professoras não conhecem bem os interesses de leitura de seus alunos.
As professoras relataram, também, as atividades que oferecem nas aulas
semanais de informática e o desempenho dos alunos nestas atividades. Estas
informações confirmam o contato que os alunos sujeitos desta pesquisa têm com o
suporte que traz a versão on-line do jornal, o computador. No entanto, o fato de usarem
o computador e conhecerem alguns dos recursos da máquina, não os faz leitores
eficientes do jornal digital pela internet. Esta afirmação pode ser confirmada no capítulo
que se refere à leitura de jornal on-line.
ALUNOS USO DO COMPUTADOR
ATIVIDADES REALIZADAS DURANTE AS AULAS DE
INFORMÁTICA
O
Pede ajuda poucas vezes durante a
aula
F
Pede ajuda poucas vezes durante
a aula
M Sem dificuldades
I
Pede ajuda poucas vezes durante
a aula
E
Pede ajuda poucas vezes durante
a aula
P
Pede ajuda poucas vezes durante
a aula
Jogos didáticos
Atividades de softwares pedagógicos
Pesquisa em sites indicados pela professora
Quadro 2 – Relato das professoras sobre o uso do computador e atividades realizadas nas aulas de informática pelos alunos
As professoras não utilizam a internet para a leitura livre; usam-na
apenas quando existe um tema, gerado por um projeto, que esteja sendo desenvolvido
em sala de aula. A rede municipal de ensino exige aula de informática para cada série
47
do ensino fundamental, pelo menos uma vez por semana. Para cumprir essa exigência,
os professores, juntamente com os monitores, montam atividades de Português,
História, Geografia, Matemática e Ciências para serem trabalhadas no computador.
Também fazem uso de softwares didáticos oferecidos pela Secretaria de Educação do
município. A professora L relata: quando utilizamos o laboratório de informática, os
alunos vão para aula com uma programação pré-estabelecida, muitas vezes seqüência
da aula em sala. Ainda não tivemos oportunidade, ou proposta de pesquisa com tema
livre”.
No próximo item, será apresentado o relato dos próprios sujeitos em
relação aos materiais de leitura a que têm acesso e suas preferências.
1.4 O sujeito informante
Assim como os professores, os alunos também responderam a uma
entrevista. Com este instrumento foi possível comparar dados que as professoras
haviam relatado, com os novos dados oferecidos pelos alunos. Um dado confirmado foi
a existência da aula semanal de informática. E outro indício, que merece destaque, é o
relato de que todos os alunos liam em casa e justificaram esse comportamento
apontando o interesse sobre alguns assuntos como motivo gerador da leitura. O aluno,
quando tem claro o propósito da leitura e se interessa por ele, age testando estratégias e
alcançando cada vez mais sua autonomia de leitor.
ALUNOS
MATERIAIS DE
LEITURA QUE TEM
EM CASA
MATERIAL QUE
GOSTA DE LER MOTIVO
O Revistas (sobre bichos)
Livros de Ciências e
jornais
Ciências fala sobre animais e jornais têm mais
informações
F Livros Gibis
Acha muito interessante os personagens e os
balões da turma da Mônica
M
Livros, gibis, internet,
revistas
Livros infantis e livros
de Ciências
Livros infantis porque podem ensinar muitas
coisas legais; livros de Ciências; porque gosta
muito de tudo relacionado a Ciências
I Livros e gibis Gibis e livros infantis Têm histórias divertidas educativas
E
Livros, gibis, jornais,
internet (na casa do
primo)
Gibis, internet, jornais
Acha legal ler gibi e rir um pouco. Internet é
legal porque aprende a mexer no computador e
jornal porque tem informações variadas
P
Livros, gibis, jornais,
internet
Gibis, livros infantis,
internet, livros de
Ciências
Acha muito interessante e legal e alguns usa
para atividades e trabalhos.
Quadro 3 – Preferência por materiais de leitura
48
O gibi e a internet aparecem como material de leitura desejado pelos
alunos, mas não foram citados por nenhuma professora como material de leitura
oferecido em sala de aula. Quanto à internet, as professoras m acesso ao computador,
mas não usam essa fonte para leitura. O aluno O confirma ser seu interesse principal os
temas que abordam animais.
ALUNOS
O QUE ACESSA, QUANDO EXISTE A POSSIBILIDADE DE
USO DO COMPUTADOR
PREFERÊNCIA ENTRE
UMA TARDE COM
AMIGOS OU
COMPUTADOR
TEMPO
ATIVIDADES JÁ
REALIZADAS
SITES QUE MAIS
VISITA
ESCOLHA MOTIVO
O 2 h
Jogos
figuras de desenhos
Sites de Pit Bull
Brincar com
amigos
Brincar de
rela-rela e
esconde-
esconde.
F
2 h e mais
algum
tempo
Jogos, digitar textos e
pesquisar tarefas escolares
site do Big Brother Brasil
Site do Rebelde
Uma tarde
com o
computador
Evitar amigos
chatos
M 1 h 30 min
Jogos, digitar textos e
pesquisar tarefas
escolares; conversar no
MSN; gravar CDs e
baixar músicas
www.MSN.com.br
www.bacaninha.com.br
www.harrypotter.com.br
Uma tarde
com o
computador
Pode estudar,
jogar,
pesquisar e
ouvir música.
I 1 h
Jogos, digitar textos
escolares. Bastante sites
Uma tarde
com o
computador
É educativo
aprende-se
muito
E 1 h
Jogos, digitar textos e
pesquisar tarefas
escolares;
ler jornal
Jornal
Brincar com
amigos
Não viciar
P 5 h
Jogos, digitar textos e
pesquisar tarefas escolares
ler jornal, conversar pelo
MSN; atividades pela TV
Tem
Bate-papo e Rebelde
Uma tarde
com o
computador
Ficar mais
informada
Tabela 1 – Tempo de uso do computador e preferência entre uma tarde com amigos ou com o computador
Os alunos usam o computador, mas mostram baixa interatividade com a
internet. Apenas um aluno tem clareza do que seja site e traz na memória aqueles que
mais visita. Os outros alunos dizem usar sites, mas não recordam o endereço eletrônico.
Isso também acontece com os usuários da internet, nem sempre m na memória o
endereço acessado. Outra característica apresentada pelo quadro é o tempo gasto no
computador. Exceto um aluno que diz usar 5 horas seguidas, os demais o usam no
tempo limite que seria saudável a qualquer usuário parar para a movimentação do corpo
e descanso dos olhos. Por outro lado, gostam do uso do computador, porque o vêem
mais como possibilidade de brincar com jogos virtuais do que propriamente por
reconhecer nele uma fonte de pesquisa, leitura e interação imediata com outros
49
internautas. Não exploram toda sua possibilidade de uso. O interesse do aluno O por
animais aparece também ao relatar a pesquisa feita sobre a raça de cachorros pit-bull.
Quando questionados sobre o uso da internet para temas livres, dois
alunos responderam que, em fevereiro, foi pedida uma pesquisa sobre o tema água para
completar informações ao projeto que estava sendo desenvolvido. A professora indicou
o site e a pesquisa foi realizada durante a aula de informática. Outro aluno respondeu
que a professora também pediu uma pesquisa sobre a Proclamação da República e sobre
os planetas, mas completou que o estudo deveria ser feito em casa. O aluno que relatou
este fato tem computador em casa e usa a internet, por isso, fez a pesquisa.
Aqui podemos encontrar um dado semelhante entre os sujeitos do Brasil
e os de Portugal. Embora na escola pesquisada existam aulas de informática semanais
na grade curricular, os alunos não têm acesso livre à internet e, com isso, a professora
não consegue ensiná-los a usar estratégias próprias para este suporte e efetivar a leitura.
O mesmo ocorre com os sujeitos pesquisados em Portugal, conforme demonstra a
segunda parte desta tese.
ALUNOS
ASSUNTOS LIDOS NOS JORNAIS
JORNAL IMPRESSO JORNAL ON-LINE
ASSUNTO DE
QUE GOSTOU
ONDE
ENCONTROU O
JORNAL
ASSUNTO DE
QUE GOSTOU
ONDE
ACESSOU
PESSOAS COM
QUEM
CONVERSA
SOBRE AS
NOTÍCIAS
LIDAS
O Gripe aviária. A professora trouxe.
Não leu jornal on-
line.
----- Não conversa.
F
Marcos, goleiro,
fica irritado e vai
expulso do treino.
Na aula de leitura
de jornal.*
Não leu jornal on-
line
----- Pai mãe e avó
M Novo Vectra
Na aula de leitura
de jornal.*
Play-station 2,
mas não sabe se
era jornal.
Em casa Pai e mãe
I
Reportagem da Tati
quebra barraco.
Na escola, a
professora trouxe.
Reportagem da
novela Rebelde.
Na casa do
tio
Não conversa
E
Foto do carnaval
com sua irmã
Solange.
A mãe comprou na
banca.
Sucuri que comeu
a mão do
delegado.
Na casa do
primo
Mãe e irmãos
P
Modos de mudar a
vida, balada, navio
2005.
Na aula de leitura
de jornal*
Reportagem sobre
cobras.
Em casa
Pai, mãe, avó e
irmãos
Quadro 4 - Assuntos lidos nos jornais on-line e impresso pelos sujeitos da pesquisa antes do processo de pesquisa-ação.
No primeiro dia de contato, estava com exemplares de jornal e tivemos
que esperar por alguns alunos que estavam atrasados. Durante o tempo de espera, os
alunos usaram o jornal para leitura. Por isso, na primeira entrevista aqui relatada, os
50
alunos anunciam participar da aula de leitura de jornal, referência feita ao processo de
pesquisa-ação e não às aulas de que o aluno participa no período de estudo.
A família da aluna P assina O Estado de S. Paulo, um jornal de grande
circulação e Diário de Marília, um jornal de pequena circulação. O aluno M é o único
que possui internet em casa.
1.5 Atividades desenvolvidas na pesquisa-ação
A pesquisa-ação foi dividida em duas etapas. No primeiro momento do
trabalho, foram desenvolvidas atividades com jornal impresso em sala de aula. No
segundo momento, foi utilizado o computador, com acesso à internet, para o
desenvolvimento das atividades on-line. Apresento aqui um quadro dos conteúdos que
foram trabalhados com os sujeitos da pesquisa durante a pesquisa-ação.
JORNAL IMPRESSO JORNAL ON-LINE
Reconhecimento dos cadernos da edição Como funciona a internet
Exame da Primeira Página e páginas interiores Acessibilidade e fisiologia do computador
Periodicidade Uso do mouse e barra de rolamento
Levantamento e características das manchetes, títulos,
intertítulos, subtítulo, antetítulo, olho, lupa.
Banco de dados e relação com a world wide web
Localização de notícias e informações pela chamada
Links de navegação interno, externo e associativo
ao jornal
Abertura de uma notícia: lide Estrutura das páginas
Artigos, reportagens, editoriais, entrevistas Diferenciação entre página web e tela web
Diagramação e equilíbrio estético A diferença entre a notícia digital e a impressa
Suplementos: os assuntos especiais em dias específicos Tipologia digital e espaçamento
Fotos e legendas
Localização dos componentes da estrutura do jornal
impresso na versão on-line
Quadrinhos, classificados e propagandas Funcionamento do software JornalWeb
Mapas e gráficos Relatório de visita a sites em ambiente controlado
Quadro 5 Conteúdos trabalhados com os sujeitos da pesquisa durante a pesquisa-ação para tomar conhecimento da
estrutura do jornal, nas versões impressa e on-line.
Não relatarei a seqüência didática de cada uma das atividades, pois esta
informação encontra-se em Pastorello (2005), onde faço o relato de uma experiência de
pesquisa-ação, também com alunos de série do ensino fundamental, apresentando os
passos didáticos e implicações pedagógicas do trabalho realizado na pesquisa de
mestrado. No entanto, naquela dissertação não foi tratado o jornal na versão on-line, e,
aqui, por ser o foco desta tese a verificação e análise dos comportamentos e atitudes que
as crianças tomam frente a duas versões do jornal, impressa e on-line, e por não ter a
intenção de oferecer aos professores uma proposta didática de trabalho com o jornal on-
line, não descreverei os procedimentos usados na seqüência didática trabalhada. Apenas
51
apresentarei os conteúdos desenvolvidos para que o leitor acompanhe as análises com
maior compreensão do processo.
No primeiro momento, 20 de março a 15 de maio de 2006, as atividades
correspondiam ao trabalho dirigido de leitura do jornal impresso. E, no segundo
momento, 22 de maio a 12 de junho de 2006, as atividades correspondiam ao trabalho
com a versão do jornal on-line. A pesquisa-ação aconteceu em um total de onze
encontros com duração de duas horas cada um. Todo o trabalho com jornal impresso,
como na citada pesquisa de mestrado, apoiou-se nas atividades propostas pelos teóricos
Faria (1997; 2001), Faria e Zanchetta (1997) e Zanchetta (2004) citados na referência
desta tese. Cada aluno tinha um exemplar do jornal Folha de S. Paulo. Não era o jornal
do dia, mas da semana anterior à atividade.
O segundo momento do trabalho foi desenvolvido no laboratório de
informática. O trabalho utilizou os jornais, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo,
mas desta vez na versão on-line. Foram desenvolvidas atividades de reconhecimento da
máquina, antes de apresentar propriamente a estrutura do jornal digital, isso porque é a
máquina o suporte desta versão. Trabalhei com a intenção de que os alunos
aprendessem a estrutura complexa do jornal, em suas duas versões, e com isso
transitassem por ele com possibilidade de encontrar assuntos que lhes interessassem,
sem grandes dificuldades. Os temas geradores de discussão foram fornecidos pelas
crianças ou pelo próprio material.
A compreensão do suporte e dos indícios visuais existentes na versão
impressa, mas ausentes na on-line, é o aspecto diferenciador para a leitura efetiva do
jornal na tela. Detalhes sobre os termos específicos apresentados no quadro acima serão
aprofundados durante a exposição dos relatos feitos pelos sujeitos em resposta às
leituras acontecidas durante o processo. A intenção da pesquisa-ação era promover um
ambiente de intensa provocação de dados espontâneos durante um processo de
aprendizagem da leitura do jornal. Assim, para cada objetivo relatado na introdução
desta tese, havia uma forma planejada de registrar os dados em relação às categorias de
análise que serão apresentadas. Para facilitar a exposição, apresento o quadro a seguir.
OBJETIVOS REGISTRO DOS DADOS CATEGORIAS DE ANÁLISE
Investigar como alunos de
4ª série lêem o jornal impresso
e na tela
Entrevista semi-estruturada;
Falas e comportamentos durante 2 meses a
partir de atividades com o jornal impresso e 2
meses com o jornal na tela.
Número de leitores de jornal
impresso e na tela, no início e no
final da pesquisa;
Capacidade de argumentação
sobre uma informação lida na tela
52
e no jornal impresso;
Postura física para ler o jornal
impresso e na tela;
Índice de desistência pela busca;
Índice de persistência na busca.
Verificar qual dos jornais os
alunos preferem
Falas e comportamentos durante a busca de
informações sobre um determinado tema,
sugerido ou não pela pesquisadora
Índice de maior procura por
material.
Verificar a contaminação da
tecnologia do virtual pela do
impresso
Falas e comportamentos sobre a busca de
elementos semelhantes à composição do
material impresso na tela.
Atitudes de leitor do material
impresso usadas para a leitura on-
line.
Comparar o tempo de busca de
uma notícia na versão impressa
e na versão on-line.
Leitura no computador com o programa
computacional de registro do caminho
percorrido durante a leitura e a marcação de
tempo;
Leitura do jornal impresso com registro
escrito do caminho percorrido e o cronômetro
para a marcação do tempo.
Tempo de busca de uma notícia.
Quadro 6 – Apresentação dos tipos de registros usados para cada categoria de análise elencada na pesquisa.
No próximo capítulo, tratarei da análise e interpretação dos dados
coletados na primeira fase da pesquisa-ação. Será apresentado o texto que cada sujeito
escolheu para leitura, o tempo e o percurso que cada um apresentou durante a leitura da
versão impressa além dos detalhes de comportamentos e atitudes tomadas para a
concretização da leitura.
CAPÍTULO 2
54
A LEITURA DA VERSÃO DO JORNAL IMPRESSO
Neste capítulo, será apresentada a seqüência de dados coletados com os
sujeitos no uso do jornal impresso. A ordem de exposição da pesquisa seguirá uma
seqüência. O primeiro item apresenta a justificativa da escolha do jornal como material
para a leitura. O segundo e o terceiro itens relatam a primeira e a segunda etapas de
leitura, respectivamente, feitas pelos alunos com o jornal impresso. Na primeira, os
alunos leram o jornal recebido sem nenhuma indicação de leitura. na segunda, eles
receberam a tarefa de procurar uma notícia previamente selecionada. Os dois relatos são
seguidos de reflexões e análises que surgiram a partir dos dados e foram pautadas na
bibliografia deste estudo. O último item fará uma exposição do tempo gasto pelo aluno
para folhear o jornal, para possíveis comparações e o mapeamento do percurso de
leitura.
2.1 O gênero como instrumento
O material de leitura escolhido para a realização desta pesquisa foi o
jornal em suas duas versões a impressa e a on-line. Segundo Schneuwly (2004), o
gênero textual é um instrumento, no sentido marxista do termo, por ser um fator de
desenvolvimento das capacidades individuais. Para Marx e Engels (2005, p.109), “a
apropriação não é senão o desenvolvimento das capacidades individuais
correspondentes aos instrumentos materiais de produção. A apropriação de uma
totalidade de instrumentos de produção é o desenvolvimento de uma totalidade de
capacidades nos próprios indivíduos”.
Nesta perspectiva, pode-se dizer que a atividade de leitura é mediada por
três variáveis, o sujeito, o texto em seu suporte socialmente elaborado, que contém a
terceira variável, ou seja, as experiências e conhecimentos acumulados historicamente
para a constituição dos objetos. Todo instrumento, entendendo a palavra instrumento
como objeto socialmente elaborado, como a escrita, o jornal impresso e on-line, ao ser
usado, define o comportamento do leitor. Mas, como novas necessidades também geram
novas transformações no instrumento, essas, por sua vez, também provocam alterações
no comportamento do sujeito. O jornal impresso exige determinados comportamentos
de leitura, e o jornal on-line exige outros. Eles não são um único instrumento, mas dois
55
instrumentos diferentes que provocam atividades e comportamentos de leitura
diferentes. “Um instrumento medeia uma atividade, dá-lhe uma certa forma, mas esse
mesmo instrumento representa também essa atividade, materializa-a” (SCHNEUWLY,
2004, p.24).
Para Bakhtin (2003), os gêneros, embora sejam “mutáveis e flexíveis”,
têm certa estabilidade porque definem aquilo que será dito, assim como o que será dito
exige a escolha de um gênero. A apropriação do instrumento pela criança provoca
novos conhecimentos e saberes, as novas possibilidades norteiam e orientam suas ações.
O jornal é produto do meio social e, portanto, deve haver uma correspondência entre os
signos lingüísticos sociais exteriorizados pela palavra escrita com signos internos da
criança, também gerados pela ideologia social do contexto em que está inserida. No
entanto, os fatos escolhidos para ser notícia estão vinculados ao dia-a-dia de uma classe
social que compra o jornal, mas que não é a da maioria dos alunos. Considerando que
muitos alunos não têm o jornal como um veículo de comunicação, e que o jornal
impresso ou falado não aborda questões sociais prioritárias para as classes de nível
econômico baixo, nem sempre as notícias trazidas pelos jornais correspondem a um
imediato diálogo entre alunos e sociedade. Isso ocorre porque a imprensa, para veicular
suas notícias, pensa no público potencial de leitores antes de distribuir os exemplares
para as bancas. É possível que o aluno venha compreender, pela leitura do jornal, que o
jornal é um objeto social fruto das tensões dos diversos grupos sociais, um pouco da
História do país sempre calcada nos interesses de classes dominantes. Embora o jornal
traga excesso de informações, as prioridades daqueles que são vítimas do regime
econômico-social não ocupam nele lugar de destaque.
Essa característica aparentemente negativa, entretanto, pode proporcionar
um vasto campo ao professor para ensinar seus alunos a selecionar e organizar os fatos,
comparando-os e criticando-os, a fim de desenvolverem estratégias e processos mentais
que contribuam para a realização de uma leitura significativa, ambos, alunos e leitura,
inseridos no fluxo lingüístico que é social e dinâmico. É possível pensar dessa forma ao
se considerar o ser que observa e que se relaciona com o fenômeno, ou com o fato real,
como um indivíduo histórico que examina a realidade a partir de sua atividade com o
meio e com os outros homens, tendo determinados interesses e objetivos no conjunto de
relações sociais em que vive.
O exercício de ler compreendendo o fenômeno é a busca da essência, da
realidade, porque o que está ao alcance do homem é apenas o fenômeno, ou seja, o jeito
56
como o fato aparece. A essência do fenômeno é composta por inúmeras variantes
sociais, históricas e individuais que compõem aquilo que aparece. A essência é
contraditória, é fluida é dialética. Na leitura, o homem desenvolve o pensamento
abstrato em busca da essência, da realidade, que não pode ser pensada como única.
Antes de iniciar qualquer leitura, o homem deve pressupor que “existe uma oculta
verdade da coisa, distinta dos fenômenos que se manifestam imediatamente” (KOSIK,
1976, p.13).
Diante da concepção ampla de que aprender a ler significa também
aprender a ler o mundo, dar sentido a ele e a nós próprios buscando a essência dos
fenômenos, o trabalho com a leitura, especificamente de jornais, foi escolhido por
favorecer condições para que o aluno realize sua própria leitura, inserido no contexto
social, dialogando com signos ideológicos e contraditórios próprios de sua cultura, que
muitas vezes divergem dos interesses de sua classe social. O aluno necessita
constantemente da prática da leitura, do confronto com as idéias de classes sociais
diferentes para avançar seu crescimento pessoal, aprendendo que “o conhecimento se
realiza como separação de fenômeno e essência, do que é secundário e do que é
essencial” (KOSIK, 1976, p. 14). O jornal possibilita o contato com questões
prioritárias de determinadas camadas sociais e esse fato o levará a estabelecer relações
com as informações de seu dia–a–dia e os diversos problemas de sua classe social.
Assim o aluno poderá, em meio às contradições, situá-los e integrá-los às características
do momento histórico em que vive.
A linguagem jornalística traz as contradições presentes no contexto
histórico-social em que o aluno vive e, por meio destas contradições, os signos verbais
tomam forma e conteúdo, possibilitando o diálogo entre as classes sociais. O uso do
jornal, abordado em sua complexidade com os alunos, conduzirá os sujeitos da pesquisa
a desenvolver, com maior entusiasmo, rapidez e autonomia, estratégias de leitura de
verdadeiros leitores de jornal. Devido ao caráter diversificado em relação aos gêneros
de escrita e múltiplos referenciais de realidade social que este material apresenta, os
alunos poderão estabelecer relações entre a escola e a sociedade, discutindo informações
do mundo que as cercam diariamente, e se apropriar de uma das grandes ferramentas
que favorecerá cada vez mais o desenvolvimento do pensamento. Ao usar um material
que enriquece o conjunto de informações e que permite troca de idéias em diálogos com
textos diversos e relatos de experiências, os alunos aguçam algumas importantes
capacidades para o bom desempenho de leitor, gerando dados significativos para a
57
coleta.
É preciso que o aluno conheça a estrutura do jornal e as características
próprias deste tipo de suporte para que, esclarecido sobre a tipologia textual e
formatação do dispositivo, possa transitar facilmente neste meio de comunicação em
busca de informações.
O jornal é um suporte que traz em si diferentes gêneros textuais, e
partilhar essa informação com o aluno facilita a escolha da estratégia utilizada pelo
leitor quando procura um texto. Diante do que tem a escrever, o jornalista escolhe o
gênero que comporta aquele assunto. A estrutura do texto de um artigo de opinião é
diferente de uma notícia. Segundo Bakhtin (2003, p.262),
o conteúdo temático, o estilo, a construção composicional estão
indissoluvelmente ligados no todo do enunciado e são igualmente
determinados pela especificidade de um determinado campo da comunicação
[...] a riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas.
No jornal é encontrada essa diversidade de que Bakhtin fala: notícia,
artigo de opinião, editorial, reportagem, crônica e alguns tipos de entrevistas. Como
vimos no capítulo 1 da primeira parte desta tese, o aluno recebeu, durante a pesquisa-
ação, informações específicas de como esses gêneros se constituem e de seus elementos
básicos para que, no momento da leitura, essas informações ajudem a sua compreensão.
Segundo Solé (1998, p. 86), é importante que professores e alunos saibam diferenciar
gêneros textuais, pois
a estrutura do texto oferece indicadores essenciais que permitem antecipar a
informação que contém e que facilitam enormemente sua interpretação [...]
Não se trata tanto de ensinar que isto é uma narração e aquilo um texto
comparativo, mas de ensinar o que caracteriza cada um destes textos, mostrar
as pistas que nos conduzem à sua melhor compreensão e fazer com que o
leitor adquira consciência de que pode utilizar as mesmas chaves que o autor
usou para formar um significado, porém desta vez para interpretá-lo.
Neste contexto, o jornal foi usado como instrumento pelos sujeitos. A
coleta de dados buscava indícios de como o aluno se apropriava do gênero jornalístico,
as mudanças de comportamento no uso do jornal on-line e do jornal impresso, como
também as tentativas de uso de comportamentos próprios de leitores do jornal impresso
no on-line.
58
2.2 Primeira etapa: leitura livre
Cada aluno recebeu um exemplar de um jornal da Folha de S. Paulo e as
seguintes instruções: Imaginem que vocês têm 20 minutos para ler o jornal. Leiam o
que quiserem e como quiserem. Depois conversaremos sobre o que leram.
Essa foi a fala dita às crianças antes que se iniciasse a gravação. Todos os
alunos ficaram envolvidos em atividades de leitura previamente preparadas por mim e
um aluno por vez era separado do grupo para realização da coleta. A câmera ficava
posicionada ao lado da criança gravando, ao mesmo tempo, o jornal e o leitor. Também,
simultaneamente ao registro da câmera, eu controlava o tempo de leitura com um
cronômetro e anotava o movimento da cabeça e dos olhos com sinais elaborados no
modelo de mapeamento da leitura do jornal impresso, que pode ser visto no Apêndice
(F). Para que o leitor compreenda as relações e análises que serão feitas a partir das
falas das crianças, será apresentada a notícia escolhida por cada aluno seguida do relato
verbal, resultado do diálogo entre pesquisadora e sujeito. Foi necessário motivar o relato
verbal dos alunos, sobre as leituras feitas durante a coleta, por perguntas que elaborava a
partir do comportamento que cada aluno apresentava durante a coleta e a respeito de
enunciados que relatava no decorrer do diálogo. Isso foi necessário porque todos os
sujeitos falavam pouco. Na seqüência do relato, demonstrarei que os alunos entendiam e
obtinham informações sempre mais do que falavam.
A seqüência de apresentação dos sujeitos será sempre a mesma no
decorrer da tese. Essa forma de organização facilita a leitura e a associação do sujeito,
por parte do leitor, nos quadros e tabelas que surgirão ao longo do texto. Passarei, agora,
a relatar e analisar os dados da primeira etapa da coleta com o jornal impresso. Optei
por apresentar o diálogo acontecido durante a entrevista na íntegra como forma de situar
o leitor no contexto em que a fala analisada ocorreu. O texto lido pelos alunos também
será apresentado no corpo do texto para que o leitor não tenha que interromper o
percurso de sua leitura dando um salto para o anexo desta tese, pois julgo esta estratégia
bastante improdutiva.
O aluno O escolheu uma notícia da Folha Ilustrada sobre o herói El Cid.
A notícia é uma chamada para assistir a um episódio de “Os conquistadores”, sobre
grandes líderes militares, que passaria no canal fechado de televisão The History
Channel.
59
Figura 1 – Texto do jornal Folha de S. Paulo sobre El Cid - Ilustrada – p. E4 19/04/2006
Pesquisadora – Fale sobre o que você leu.
Aluno O Eu li sobre El Cid, o herói, e li que ele também nunca deixou
de conquistar uma batalha nas cidades que passou. Também li que uma pessoa
desenhou ele.
No texto nãoreferência sobre um desenho de El Cid feito por alguém.
No entanto, uma foto seguida de uma legenda Charlton Heston esq.), que viveu
El Cid no cinema em 1961”. Levanto a hipótese de que o aluno poderia ter entendido
que Charlton Heston teria desenhado El Cid. É comum em apresentações de heróis de
histórias em quadrinhos aparecerem figuras que os representam.
60
Pesquisadora – Você já conhecia o El Cid, já tinha ouvido falar nele?
Aluno O – Não, mas é que eu li a palavra herói e eu também gosto de ler
sobre herói, então eu li.
Este indício pode nos fazer pensar que as escolhas passam pelo
conhecimento de mundo de cada aluno. O aluno O busca assuntos abordados de
alguma maneira em seu cotidiano. Essa fala parece confirmar a hipótese levantada no
primeiro momento a respeito do desenho de El Cid, porque se tornou evidente, com o
depoimento, que o aluno pensou em El Cid como um herói ficcional.
Pesquisadora Eu gosto desse herói. Tem até filme dele. Se você quiser
ver essas batalhas é só pegar o filme em uma locadora com esse nome El Cid.
Aluno O Ah, que legal. Quando for na locadora com meu pai vou
procurar.
Pesquisadora – Que mais fala sobre ele?
Aluno O – Ah, eu só lembro isso aí.
O texto é bastante difícil para a idade do aluno. Aborda a Reconquista,
um período de retomada pelos cristãos da península Ibérica dominada pelos
mulçumanos ou mouros. Tudo aquilo que leu e que não correspondeu, de alguma
maneira, ao seu contexto pessoal e conhecimentos acumulados, ficou no esquecimento.
O aluno leu, mas não encontrou sentido na História e por isso não pôde comentar aquilo
que não conhecia. O que fazia sentido no momento da leitura era a palavra herói
comum em seu mundo de criança que assiste a filmes e desenhos animados sobre
heróis. Ele buscava em El Cid as características dos heróis que conhecia. Encontrou
uma delas, um guerreiro que vencia muitas batalhas. Arrisco dizer que continuou lendo
a notícia até o seu final somente porque encontrou algo que foi ao encontro de suas
expectativas.
Pesquisadora – E você leu mais alguma coisa?
Aluno O – Li sobre a APAE de São Paulo que ia começar a beneficiar os
deficientes. A partir dos 18 anos vão começar a beneficiar eles. E também que a justiça
paulista também com a APAE de São Paulo que também vai beneficiar.
Pesquisadora – Beneficiar de que jeito? Vão dar dinheiro?
Aluno O É. Acho que é isso aí, porque vão dar três mil ou ajudar três
mil, não sei.
Em uma leitura despreocupada sem nenhuma intenção prévia, o leitor
encontra informações durante o percurso que acionam seu interesse. Faz
61
correspondência com alguma outra informação que já tenha adquirido em outro
contexto. Quanto mais ampla for a teia de informações que o leitor tenha, mais
possibilidades existem de novas conexões serem estabelecidas na leitura. A leitura
amplia a teia e a teia oferece possibilidades de leituras diferentes.
Pesquisadora – E tem alguma imagem, legenda de que você se lembre?
Aluno O Ah, tem uma num cavalo, que ele é tipo um cimento. É uma
foto assim (ergue os braços indicando que o cavalo estava dando pinote) e tem uma
legenda, mas eu nem li.
Pesquisadora Ah, você não leu. Mas, se é de cimento deve ser para
enfeite em alguma cidade.
Aluno O – É ele fica num negócio que sai um monte de água.
Pesquisadora – Ah, um chafariz.
Aluno O – É.
Pesquisadora – Você consegue achar a foto?
Aluno O – Aqui olhe.
62
Figura 2 – Texto do jornal Folha de S. Paulo – Cotidiano p. C3 19/04/2006
Pesquisadora Ah, vamos ver? “Cavalo Rampante, obra do escultor
italiano Pericle Fazzini, e a fachada do Itália, que passaram por reforma durante 18
meses”.
Li a legenda inteira para o aluno que interrompeu e disse:
Aluno O Li só até aqui (apontou a palavra cimento). eu vi que era
de cimento e estátua, então, não continuei. Eu gosto muito de animais, mas gosto de
vivo, não estátua.
A palavra cimento está localizada no início do terceiro parágrafo,
conforme pode ser observado na figura 2. O aluno leu dois grandes parágrafos em busca
de informações sobre o cavalo, mas somente confirmou que não se tratava de um animal
vivo quando encontrou a palavra cimento. Para um leitor experiente bastaria a leitura do
título que logo saberia que não se tratava de um animal vivo, ou da expressão O Cavalo
Rampante, obra do escultor italiano. A palavra escultura seria determinante para a
compreensão. Possivelmente o estudante não sabia seu significado por isso precisou ler
parte da notícia para tomar a decisão de ler ou não o texto completo. A atitude de leitor
desse aluno, neste caso particular, foi de abandonar a leitura quando percebeu que o
assunto não correspondia ao seu interesse. Atitude comum a qualquer leitor experiente.
Nas entrevistas realizadas o aluno relata que o assunto de seu interesse é animais e sua
professora confirma seu interesse durante sua entrevista. O conjunto de informações que
o aluno tem interfere nas escolhas que faz, na profundidade da compreensão e nas
atitudes como leitor.
Relatarei, agora, o resultado da primeira coleta feita com o aluno F.
Este escolheu um assunto do caderno de Esporte para falar sobre sua
leitura. No capítulo 1, foi descrito o perfil de cada sujeito participante do projeto e o
aluno F relatava gostar muito de esportes em geral. Relatou uma pequena notícia sobre
partidas finais de um campeonato da Superliga de vôlei entre o Minas e o Florianópolis.
Iniciou a conversa com dúvidas.
63
Figura 3 – Texto do jornal Folha de S. Paulo – Esporte p.D2 18/04/2006
64
Aluno F - Que o ... não lembro o nome!
Pesquisadora - Lembrar o nome de quê?
Aluno F - Do time. Florianópolis e Minas vão jogar de novo.
Pesquisadora - Quando?
Aluno F - Hoje.
Pesquisadora - Hoje?
Aluno F - Hoje não, ontem.
Pesquisadora - Esse jornal é de quando?
Aluno F – Segunda.
Pesquisadora – Ah, segunda feira da semana passada.
Aluno F É. (Indicando no sorriso que se esqueceu de olhar a data do
jornal, algo que havia sido comentado em outras aulas devido usarmos jornais da
semana para a leitura. A atitude de não verificar a data poderia causar dúvidas na
interpretação da notícia).
Pesquisadora - Por que você se interessou por essa notícia?
Aluno F - Porque eu jogo vôlei.
Pesquisadora - Quando você foi folheando o jornal, você achou alguma
outra coisa?
Aluno F – Não.
Pesquisadora - Nem uma foto, legenda ou título?
Aluno F – Não.
Pesquisadora - Mas você olhou tanto para as páginas folheando uma por
uma! Você encontrou uma chamada na capa sobre esta notícia que você escolheu?
Aluno F – Não, fui olhando e cheguei nessa.
Provavelmente tenha feito algumas outras leituras, porque fez uma
escolha, mas este aluno era tímido. Durante todos os encontros sempre foi lacônico e
seus relatos verbais sempre muito sucintos. Sua escolha demonstra seu envolvimento
com os esportes e seu gosto; isso o levou à busca dessa notícia.
Pesquisadora - E a notícia que você leu só tá dizendo que eles vão jogar?
Aluno F - Não . Também tá dizendo que é pela terceira vez.
Pesquisadora - É campeonato?
Aluno F – É só do Brasil.
O aluno soube relatar todas as informações principais da notícia. Não
conhecia o tipo de campeonato, mas sabia que era de âmbito nacional.
Como será visto em todo o relato, os sujeitos escolheram sempre temas
que haviam destacado nas entrevistas como temas de interesse pessoal. Com o aluno
65
M não foi diferente. Relatou a festa realizada em Bauru com a chegada do astronauta
Marcos Pontes, assunto encontrado na Folha Ciência, tema de seu interesse.
Figura 4 – Texto do jornal Folha de S. Paulo – Folha Ciência – p. A21 22/04/2006
66
Pesquisadora O que você achou interessante no jornal que você leu
hoje?
Aluno M Primeiro, como eu não tava a fim de folhear, eu peguei e li
as histórias em quadrinhos. (Em seu relato é possível perceber que o aluno já tinha uma
intenção particular em procurar algo específico. Folhear seria uma estratégia usada
quando não se sabe o que quer ler, ou melhor, quando não se tem perguntas). Mas,
depois eu vi que era muito pouco. eu procurei outra coisa (Apenas a leitura dos
quadrinhos não foi suficiente. Havia mais perguntas, ou outros interesses). eu vi
sobre o Marcos Pontes que chegou em Bauru. E ele foi recebido não sei se por cinco
mil ou cinco milhões de pessoas.
Pesquisadora E você acompanhou esse assunto pela televisão ou sua
professora comentou na escola?
Aluno M - Acompanhei pela televisão e agora li só um pedacinho.
Pesquisadora Quando você pegou o jornal a primeira coisa que você
fez foi olhar no índice lá embaixo. Você já sabia onde estavam os quadrinhos?
Aluno M - É. Vem sempre no mesmo caderno. Na Folha Ilustrada. É
sempre na Folha Ilustrada, na última página o quadrinho, as palavras cruzadas e
horóscopo.
Pesquisadora Certo. E por que procurar pelo índice? Isso facilita
encontrar a Ilustrada?
Aluno M - aqui ó. Ilustrada da página E1 a página E8 e você vai
direto lá. E aqui falando que na Ilustrada tem também: astrologia, cruzadas e uma
coisa sobre José Simão e Mônica Bergamo, aqui! (aponta com o dedo e com
entusiasmo) os quadrinhos na página E7 e televisão. fala tudo aqui. (O aluno usou
informações aprendidas sobre a estrutura do jornal para procurar o assunto do seu
interesse).
Pesquisadora M, foi no momento que você estava procurando a
Ilustrada que você viu a notícia sobre o Marcos Pontes?
Aluno M Não, foi depois. Primeiro eu vi a Ilustrada, depois eu folheei
(Este aluno folheou o canto superior direito apenas para visualizar os números e as
letras, sem desmontar o jornal indicando que tinha uma intenção).
Pesquisadora Folheou com alguma intenção ou folheou procurando
qualquer coisa?
Aluno M - Não, folheei procurando a parte de Ciências.
67
Pesquisadora – Por quê?
Aluno M - Eu fui na parte de Ciências, mas eu não sabia o que tinha.
Mas, como eu gosto de Ciências, então, eu fui procurar para ver se tinha alguma coisa
interessante.
Pesquisadora E o que tinha a mais na notícia além de que ele chegou
em Bauru e foi recebido por tantas pessoas? Tinha mais algum dado especial que você
se lembre?
Aluno M - Eu acho que eu não entendi muito bem todas as partes. Ele
realizou um sonho e quando ele voltou a primeira coisa que ele fez foi dar um abraço
no pai dele.
Pesquisadora Ao mexer no jornal até encontrar o que você queria,
encontrou alguma outra informação na primeira página ou páginas internas?
Aluno M - Não, nenhuma. essa foto (apontou a foto da primeira
página), mas eu nem li a legenda.
O aluno expressa claramente que não estava com vontade de ler algo
específico no jornal que não fossem os quadrinhos. Encontrou o caminho com muita
rapidez usando estratégias que somente quem conhece a estrutura do jornal faria.
Procurou pelo índice, não abriu o jornal inteiro para encontrar o que buscava, apenas
folheou números e letras. No entanto, seu interesse pessoal por Ciências o impulsionou
a verificar a Folha Ciência, apostando na possibilidade de descobrir alguma nova
informação interessante sobre o assunto.
Até esse relato, os grandes temas de interesse pessoal geraram buscas
específicas. A leitura a seguir, embora não tenha um tema que norteie sua busca,
confirma também o fato de que o aluno é impulsionado a ler apenas com o
conhecimento que possui.
A aluna I durante toda a pesquisa realizava as atividades propostas com
muita rapidez. Seu tempo de concentração era menor em relação ao dos outros sujeitos.
Dificilmente folheava o jornal como os outros alunos. Ficava muito tempo na primeira
página sempre dando preferência às notícias do mundo econômico e político. Não
manuseava o jornal por inteiro quando lia, não apresentava um interesse especial por
algum caderno. Durante a leitura livre, muitas vezes apenas observava a Primeira
Página (PP). Quando fazíamos uma atividade específica, sempre precisava de minha
ajuda. Apresentava muito receio de não entender o que lia, pois dizia que não queria
conversar sobre o assunto. Todos os dias, ao final da pesquisa, os alunos levavam seu
exemplar para casa e nas duas primeiras seções ela não quis levá-lo, mostrando
desinteresse. Seu relato verbal refere-se a uma chamada da PP enfatizando uma crítica
feita ao presidente Lula por José Simão, colunista da Folha.
68
Figura 5 – Primeira Página do jornal Folha de S. Paulo p. A1 22/04/2006
69
Pesquisadora - I, que notícia você procurou?
Aluna I - Eu li sobre o sonho do Lula de ir para o espaço. Que isso vai
ser realizado em outubro. Que a declaração do Lula deixou as pessoas fora de órbita.
Pesquisadora - Qual declaração? (A aluna permaneceu em silêncio). O
desejo de ir para o espaço?
Aluna I - É.
Pesquisadora - Mas, é o Lula que vai para o espaço?
Aluna I - É ele falou assim que ele sonha em ir pro espaço. E que talvez
isso vai ser realizado em outubro.
Pesquisadora - O que vai se realizar em outubro? A ida dele ao espaço?
Aluna I - É
Pesquisadora - O que mais você leu?
Aluna I - Li também que uma leitora disse que o sonho de Lula de ir
para o espaço que será realizado em outubro, e que uma leitora falou que ele já está no
espaço e nem isso ele sabe se é verdade.
Pesquisadora - Eu percebi que o tempo que você ficou com o jornal você
preferiu ler apenas a primeira página. Por quê?
Aluna I - Ah, não sei, professora.
Pesquisadora - Por que você sempre prefere essas notícias da primeira
página do que uma lá de dentro?
Aluna I - Não sei. Para mim não faz diferença. É que eu vou lendo os
títulos e aí eu me interesso só em ler os títulos.
Ao ler a chamada escolhida pela aluna, percebe-se que ela não sabe o
significado real que José Simão para a expressão espaço sideral. Ela emprega o
sentido de firmamento. Não percebe a brincadeira que o colunista faz, considerando que
Lula perderá as eleições. Ao escutar o amigo falando sobre a volta do Marcos Pontes do
espaço, escolhe o assunto por aproximação, mas sua hipótese não se confirma e por isso
tem dificuldade em falar sobre o assunto. Porque a aluna não tem informações prévias,
conhecimento de linguagem figurada e certa malícia, características necessárias para
entender José Simão, sua leitura não progride, pois não consegue formular perguntas
que promovam a compreensão. Ela sabe ler e interpretar muito bem um livro de
histórias infantis, segundo a professora da sala. Por que não haveria de compreender
qualquer outro texto que lesse? Ler não é apenas saber decodificar bem o código
lingüístico, mas é, antes disso, ter um conhecimento inicial sobre o tema a ser lido,
70
compreender a contextualidade, fazer relações a partir de uma informação. Sem isso,
repetimos aquilo que está escrito, mas não compreendemos o sentido da informação. A
aluna leu a declaração de Lula “meu sonho é viajar para o espaço”, mas não
compreendeu que alguém repetia as palavras de Lula para criticá-lo. Se considero que
leitura é compreensão, então, posso inferir que a aluna decifrou o código e o repetiu
com todas as palavras, mas não leu realmente.
A aluna E escolheu uma notícia sobre cinema encontrada na Folha
Ilustrada. Ela aborda a estréia do filme Três Enterros com direção e participação de
Tommy Lee Jones.
Figura 6 – Texto do jornal Folha de S. Paulo – Ilustrada – p. E1 21/04/2006
Pesquisadora – Vamos conversar sobre o que você leu?
Aluna E Vamos. Bom, li sobre o Tommy que ele vai fazer três filmes.
Vai fazer o papel de cawboy que é morto por tiros, e esse filme estréia no cinema. E
71
também o filme é elogiado porque foi premiado com Cannes. (Pronuncia a palavra
silabando, demonstrando não ter familiaridade com o termo).
Pesquisadora – Você sabe o que é Cannes?
Aluna E – Não.
Pesquisadora É um local onde existe um festival de cinema para
escolher os melhores filmes.
Aluna E – Eu sei. Também tá falando sobre os fugitivos que quem acha é
o Tommy. E só.
Pesquisadora – E por que você escolheu essa notícia?
Aluna E Porque eu gosto muito de ir no cinema. E a primeira vez que
eu fui folhear e vi cinema eu parei para ler.
Pesquisadora – E como você sabia que era sobre cinema?
Aluna E – Olhando aqui (apontou a legenda da foto).
Pesquisadora – Então, você leu primeiro a legenda.
Aluna E – É. Na legenda tem a palavra cinema.
Assim como o aluno O, a aluna E utiliza a mesma estratégia de leitura.
Encontram palavras-chave e a partir delas avaliam se continuam ou interrompem a
leitura. A palavra cimento para o aluno O fez com que desistisse da leitura, pois ela
indicava que o ser do qual a notícia falava era inanimado e seu interesse era pelo oposto.
Já, a aluna E, motivada pela palavra cinema continua a leitura em busca de informações
que possivelmente pudessem interferir em seu mundo cotidiano de telespectadora de
cinema. O encontro da palavra chave não foi causal, mas promovido por um cérebro
programado para encontrá-la. Quero dizer com isso que a organização de informações
que vamos gerando ao longo de nossas vidas constrói uma rede própria, e essa rede
busca leituras específicas. Não é possível para o outro, seja ele pesquisador ou
professor, determinar qual palavra, indício ou texto despertará no outro a necessidade
pela leitura, mas, é possível, como os dados mostraram até o momento, gerar leituras
bem sucedidas a partir dos interesses dos leitores.
Pesquisadora – Esse tipo de filme dá para você assistir?
Aluna E Eu tenho medo porque tem luta, mas eu assisto, minha mãe
deixa.
72
Pesquisadora – Por que você tem medo de luta?
Aluna E Eu, assim, não tenho muito medo de luta. Eu gosto assim de
suspense porque eu acho assim bem legal, né. Aí eu gostei.
Pesquisadora E na primeira página do jornal, lembro que você olhou
muito para ela. Tem algo por que você se interessou ou de que se lembre?
Aluna E Foi sobre o .... Ah, eu não lembro direto, mas eu acho que foi
sobre bandidos.
A aluna expressa seu interesse pessoal por cinema e com isso justifica
sua escolha, mas não procurou a Folha Ilustrada especificamente para encontrar
informações sobre novos filmes. Não tinha intenção prévia. Folheando o jornal, a aluna
diz ter lido a palavra cinema e esta palavra acionou seu tema de interesse pessoal. A
página onde se encontra a notícia apresenta uma grande foto. Atraída pela foto seu olhar
encontra um indício e a partir dele o processo de leitura acontece, porque o interesse
surge. A aluna relata as informações com precisão, mas deixa de contar o roteiro do
filme. Três enterros é o título de um filme político que tem como pano de fundo a
fronteira entre os EUA e o México. E não relatou nenhuma informação a esse respeito,
apenas as que satisfazem suas necessidades, como o gênero do filme e sua estréia. Leu a
notícia inteira, mas não comentou tudo, porque foi possível se lembrar das
informações que correspondem às suas expectativas e do conhecimento que possui a
respeito de cinema. Essa é uma atitude própria do leitor que está em constante processo
de apropriação de novas informações.
A aluna P escolheu a leitura do Painel FC do caderno de esporte. Este
painel apresenta pequenos textos com informações curtas e pouco detalhadas que
relatam continuidade de outras notícias que circularam pelo jornal. Para sua
compreensão são necessárias outras informações do percurso do assunto durante a
semana. A aluna P não compreendeu bem as informações.
73
Figura 7 – Texto do jornal Folha de S. Paulo - Esporte p. D2 20/04/2006
74
Pesquisadora Antes de falar sobre o que leu, você folheou o jornal de
um jeito diferente do que você sempre faz. Por quê? (A aluna sempre retirava o caderno
de interesse para ler o jornal durante as atividades de familiarização com o material.
Neste dia abriu todas as folhas sem se preocupar com o espaço e organização).
Aluna P Primeiro, porque a mesa é minha e eu não vou atrapalhar
ninguém. (Nesta fala, a aluna indica que usa um comportamento diferente para
diferentes momentos. Na mesa maior onde cada aluno ficava ao lado do outro, ela se
limitava a abrir o caderno que leria e deixava os outros dobrados, não espalhados, mas
sentindo maior liberdade e espaço, decidiu deixar as folhas abertas e espalhadas) e
porque eu não tava achando nenhuma notícia que me interessasse tanto como essa que
eu li. Então, eu fui revirando, revirando, revirando e achei a Folha Esporte. Então,
aqui eu achei tantas partinhas interessantes... e aí eu li mais ou menos umas quatro.
Pesquisadora Ah, entendi! Mas, por que umas quatro partinhas? Era
painel do leitor, quatro notícias? O que eram?
Aluna P Não. Não é o painel do leitor, mas é um painelzinho também.
(Nesse momento, ela entendeu sobre o que falava o que era um painel do leitor, onde
ele se localizava. Como podemos ver na figura acima, a diagramação é parecida com a
do painel do leitor). Tinham vários títulos, mas eu li só aquilo que me interessei mais.
Pesquisadora – E falava sobre o quê?
Aluna P Sobre galanteador que é sobre o namorado da Adriane
Galisteu, que é o Fábio Koff, um atleta, sobre o terceirizado, e também da baixaria.
O namorado da Adriane Galisteu é o jogador corintiano Roger e não
Fábio Koff. Este último, presidente do C13, sugeriu a Roger um terceiro troféu, o de
melhor bom gosto, se referindo à beleza de sua namorada. Roger estava recebendo os
prêmios de melhor armador e de jogador mais bonito do Brasileiro – 05.
Pesquisadora – O que é esse terceirizado?
Aluna P O terceirizado fala do Tominho Cerezo que teve um amigo
dele que é o técnico do time Guarani e ele tava pagando um clube especial pra ele.
como ele fez uma baixaria eles ... e como ele quase foi preso fizeram pra ele uma
obrigação, ele recebeu um telefonema para ele limpar o clube inteiro, limpar tudo né?
ele não quis e agora ele deixou o clube. Ele pensava que era o futebol que
sustentava ele, mas não era, era o clube.
Toninho Cerezo recebeu um telefonema de um amigo dos dirigentes do
Guarani. Ficou sabendo que havia terminado a parceria do clube com a empresa que o
75
contratara. Cerezo, que não recebeu salários em Campinas, entregou o caso para seu
advogado. Não pediria demissão se pudesse “limpar” o clube. Não dinheiro para
bancá-lo. Essas são as informações que a notícia traz. A aluna P relatou os fatos com
muita dificuldade e com algumas distorções.
Pesquisadora – E você sabe que baixaria é essa?
Aluna P Não. É uma baixaria. Não sei bem o que ele aprontou. E eu
acho que ele vai parar de ser técnico porque não dá para ele se bancar sozinho.
A notícia se refere ao fato de Marcelo Portugal Gouvêa, que elegeu
Juvenal Juvêncio seu assessor na presidência, acusar a oposição de ameaçar um
conselheiro de morte. A aluna entende que a baixaria foi causada por Toninho Cerezo.
Notícias que precisam de histórico trazem dificuldades para seu
entendimento. O jornal é um veículo de comunicação diário que traz informações sobre
assuntos que se desenrolam no tempo histórico. Alguns deles são apresentados
diariamente com os acréscimos dos fatos. Nem sempre encontramos um breve resumo
sobre o acontecimento, resumo necessário ao leitor esporádico de jornal. A
compreensão dos fatos apresentados depende também da freqüência de leitura realizada
pelo usuário.
2.3 Segunda etapa: leitura indicada
Nesse momento da coleta, cada criança recebia um exemplar de jornal e
um título para busca. O enunciado da atividade era “Encontre a notícia do título
apresentado”. Para cada criança foi selecionado um tema correspondente aos seus
interesses pessoais.
O aluno O recebeu o título Agonia mutante, encontrado na Folha
Ilustrada. O tema fora escolhido devido seu relato anterior, feito na primeira coleta,
quando revelou se interessar por heróis. Ao receber o papel com o título da notícia que
deveria procurar perguntou sobre o que ela falava. Respondi que era sobre cinema. Essa
pergunta tinha a função de coletar algum dado para que pudesse iniciar sua busca.
Apenas o título metafórico não correspondia a nenhuma referência com sentido em seus
conhecimentos prévios. Era necessário estreitar ainda mais o campo de busca.
76
Figura 8 – Texto do jornal Folha de S. Paulo – Ilustrada p. E2 26/05/2006
Pesquisadora – O que entendeu sobre o assunto lido?
77
Aluno (O) O anjo é que é o herdeiro, a pessoa que era pai dele era
mais rápida, conseguia voar mais rápido que ele. falando sobre os personagens e
que tem um vilão fanático. E que o filme vai ter muitas mortes para as pessoas ficarem
tensas. E agora, não é igual ao primeiro nem ao segundo filmes. E os personagens
mudaram Wolverine, Noturno, Colossus, Tempestade e ainda vão aparecer outros
novos.
Pesquisadora – Você assistiu aos dois primeiros filmes?
Aluno (O) Não, mas eu vi uma cena da tempestade e sei que ela
morreu. Tentaram salvar ela, mas ela morreu. Agora no terceiro filme ela vai aparecer
de novo.
Pesquisadora – Você sabia que já tinha o terceiro filme?
Aluno (O) – Não, só agora que fiquei sabendo.
No quadro abaixo temos um desenho de como esse aluno movimentou
sua cabeça e olhos para encontrar o título pedido.
Figura 9 – Representação do movimento da cabeça e dos olhos – Agonia Mutante
O ponto escuro na figura indica o primeiro olhar. O que chamou a
atenção do aluno foi o título Os X-MEN NAS HQS. tinha a informação prévia que X-
Men é um personagem de filme também. Desprezou essa informação, porque percebeu
78
que se tratava de uma recuperação história das publicações da revista em quadrinhos de
onde surgiu o personagem em questão. A seqüência de subtítulos 1963, Anos 70, Anos
80, Anos 90/2000 referindo-se a informações históricas foi descartada, porque esse tipo
de informação não é comum para uma notícia. Em seguida, seu olhar foi ao centro
confirmando o título procurado. Voltou-se para o lado esquerdo, encontrando a Galeria
Mutante. Reconheceu que o espaço apenas apresentava as personagens do filme, então,
voltou-se para o centro e iniciou a leitura. Este mapeamento mostra que o olhar do
aluno O foi guiado por palavras que faziam sentido para a busca. Ele não lia todas as
páginas que folheava, mas fazia uma busca intencional. Em seu percurso de busca
iniciou pela Primeira Página, pois havia a possibilidade de encontrar uma chamada
sobre o assunto. Em seguida, escolhe a Folha Ilustrada demonstrando saber que neste
caderno podem ser encontradas informações sobre cinema. Não encontrando, percorre
outras possibilidades, Cotidiano; Dinheiro; Folha Turismo. Nada encontrando, retorna
à primeira opção, Folha Ilustrada. A busca foi rápida, com duração de 2 min e 38 seg.
Para a leitura, o aluno gastou 5 min e 51 seg. Em um total de 7 min e 89 seg o aluno
conseguiu encontrar a matéria pedida e soube falar sobre suas principais informações.
Desprezou Galeria Mutante, porque percebeu que apenas apresentava os personagens.
Soube que se optasse por essa leitura, não seria possível encontrar a informação
essencial da notícia. Por isso, desviou o olhar e dirigiu-se novamente parta o centro da
folha onde supostamente estaria a informação sobre o novo filme. O conhecimento do
gênero notícia, mais o da diagramação do jornal e a busca por palavra-chave guiaram o
olhar do aluno O.
O aluno F recebeu o seguinte título: Brasil estrangeiro almeja o ‘bi’.
Para este aluno o tema estava esclarecido. Foi diretamente ao caderno Esporte.
79
Figura 10 – Texto do jornal Folha de S. Paulo Esporte p. D1 24/05/2006
Pesquisadora (Um 1 min e 31 seg depois de entregar o jornal para o
aluno) Já achou?
Aluno (F) – (Rindo) Já tinha idéia de onde estava.
Pesquisadora – E qual era sua idéia?
Aluno (F) – Porque é sobre esportes.
80
O aluno realizou a leitura.
Pesquisadora - Fale sobre o que leu.
Aluno (F) Que o Parreira falou assim que tem um time bom que 4
dos jogadores dele não estão no G14 e que ele vai se esforçar muito para que o Brasil
ganhe a Copa para ser hexa.
Pesquisadora E por que na manchete fala que Brasil estrangeiro
almeja “bi”?
Aluno (F) Não sei, não fala nada disso na notícia. Ah, fala que o
adversário mais difícil do Brasil vai ser o Japão na 1ª fase.
A notícia não traz a informação de que o Japão será o adversário mais
difícil para o Brasil. O título da notícia se refere a jogadores que já viveram a vitória em
uma copa. Estes jogadores esperam novamente ser campeões.
Pesquisadora – Não tem mais nenhuma informação?
Aluno (F) – É que eu resumi.
Figura 11 – Representação do movimento da cabeça e dos olhos - Brasil estrangeiro almeja o 'bi'
O aluno acompanha a leitura da manchete e em seguida faz a leitura do
subtítulo. Acompanha os títulos e inicia a leitura da notícia, que está disposta em duas
colunas. tudo, mas relata pouco. Mantém a mesma performance rápida de todas as
vezes que leu o caderno Esporte. O tempo que gastou para efetuar a leitura foi de 6
minutos e 9 segundos, tempo suficiente para ler a notícia toda. No entanto, não a
compreendeu. Pode-se dizer que o aluno tinha importantes variáveis para que a ação de
ler pudesse ser bem sucedida. O assunto era de seu interesse, não tem dificuldade
alguma com a decifração de sinais, mas desconhecia a história das copas anteriores. A
81
falta dessa informação levou o aluno a repetir apenas a opinião do técnico Parreira sobre
a seleção e sua expectativa de vencer e ser hexa campeão. No entanto, o aluno lia para
responder suas questões imediatas sobre a Copa, como data e seqüência dos jogos. Não
estava interessado em tudo o que a notícia abordava e isso é uma escolha do leitor
seletivo.
O aluno M recebeu o título: Folha fica mais fácil de ler com reforma.
Este assunto foi escolhido porque este aluno conhecia muito bem a estruturação do
jornal e fazia uso desse conhecimento para buscar suas informações. No relato acima,
sobre a primeira coleta, o aluno buscou os quadrinhos sem desfazer a organização do
jornal. Procurou pelo índice e pelos números e letras dos cadernos. O aluno inicia sua
busca pela PP e segue folheando o caderno até encontrar a notícia na seção Folha
Brasil. Gastou 4 min e 99 seg. Demorou a encontrar o título e brincou “Folha não fica
mais fácil de ler com reforma”.
Figura 12 – Texto do jornal Folha de S. Paulo – Brasil - p. A15 21/05/2006
82
Pesquisadora M, fale sobre o que você leu, se concorda ou não, diga
algumas coisas que você percebeu, diferenças...
Aluno (M) Aqui falando que agora a Folha ficou mais fácil de ler,
que tem umas coisas a mais na PP, que na primeira página tem as notícias mais
importantes, mas que eu não reparei muito, tem um elemento chamado lupa. Mas eu
não sei o que é porque eu não li.
Pesquisadora Certo. Lupa é assim (mostra uma como exemplo) tem a
manchete, o título, o subtítulo, embaixo do subtítulo ainda há um pequeno texto falando
sobre a notícia que virá logo abaixo. E não está na primeira página, olhe! (aponta
para uma lupa no interior de um caderno).
Aluno (M) Ah, isso eu vi. Na notícia da Folha mesmo tem. (O aluno se
refere à notícia escolhida para que ele fizesse a busca. Procura e mostra para a
pesquisadora) Aqui ó!
Pesquisadora Você percebeu mais alguma coisa diferente quando
pegou este jornal na mão?
Aluno (M) – Eu percebi que não tem índice.
Pesquisadora – Onde está o índice?
Aluno (M) Olha, ele ficava aqui (aponta o lugar onde ficava o índice).
Mas, não tá em nenhum lugar (olha para primeira página inteira).
Pesquisadora E agora, M, como você vai ler o jornal? Você sempre
iniciava pelo índice.
Aluno (M) – Vai ficar ruim.
Pesquisadora – Por quê?
Aluno (M) – Agora vou ter que tentar achar o índice.
Pesquisadora – Mas, tem índice?
Aluno (M) – Eu acho que tem.
Pesquisadora Eu não encontrei. Nós podemos continuar observando
nos próximos exemplares, porque este é primeiro exemplar com a mudança.
Aluno (M) – É vai ver erraram, não colocaram o índice.
O aluno insiste que encontrará o índice, não pensa na possibilidade de
esse item não mais aparecer, porque isso implicaria criar outro comportamento para
encontrar a matéria que deseja no jornal. A forma foi alterada pela empresa jornalística
e o novo instrumento alterará o comportamento do aluno M, porque terá necessidade de
criar outra estratégia de busca.
83
Pesquisadora Você acha que sem índice vai ficar mais fácil ou mais
difícil encontrar o que você quer?
Aluno (M) Mais difícil, porque com o índice você olha e sabe a
página que tá. Eu queria o Cotidiano. Ai eu fui e cadê o índice? Não sabia se
cotidiano era C, D, F!
Pesquisadora E você reparou em mais alguma modificação? No
tamanho da coluna, nas cores do jornal...
Aluno (M) É, eles modificaram, as notícias mais importantes eles
detalharam mais, deixaram bem melhor a notícia mais importante.
Pesquisadora - Como?
Aluno (M) Porque a pessoa, por exemplo, notícia importante
(apontando com o dedo o título da notícia) Folha fica mais fácil de ler com reforma’,
aí você leu aqui você sabe do que tá falando. Ai você lê o subtítulo e aí tem mais a lupa.
Quer dizer que se você os três e se não tiver tempo de ficar lendo para
entender.
Pesquisadora – E você fez isso?
Aluno (M) – Até aqui (apontou um parágrafo depois da lupa).
Pesquisadora – E o resto era sobre o quê?
Aluno (M) Eu não vi. Mas, das coisas que está falando que mudaram
aqui também tá falando (lê o título) A folha on-line também ganhou novo projeto visual
que estreou ontem. O jornal eletrônico da Folha agora tem mais seções, mais notícias e
telas mais largas também passa a publicar cartas enviadas ao jornal criando uma
extensão ao painel do leitor, editado na folha.
Pesquisadora Então, se olharmos o jornal on-line hoje ele estará
diferente do que vimos a semana passada?
Aluno (M) - Vai.
Pesquisadora – Tem mais alguma coisa de que você se lembre?
Aluno (M) – Tem, eu não falei ainda que este jornal diz que só ia estrear
essa nova forma amanhã segunda feira, porque esse é de domingo.
Pesquisadora – Você reparou no cabeçalho?
Aluno (M) – Ele também mudou, tinha aquele reloginho aqui (apontando
o local).
Pesquisadora – Mudou alguma coisa para leitura?
Aluno (M) – É, mais ou menos.
84
Pesquisadora – E o tamanho da coluna? O tipo de letra?
Aluno (M) É a coluna mudou aqui (aponta) e o resto igual, a
letra não mudou nada.
Figura 13 – Representação do movimento da cabeça e dos olhos - Folha fica mais fácil de ler com reforma
o título e subtítulo, volta-se para a primeira linha da figura e inicia a
leitura de duas colunas. O aluno, ao ser indagado sobre a leitura do texto, disse ter lido
apenas até o primeiro parágrafo depois da lupa, mas em relato posterior, como pode ser
observado na descrição acima, indicou ter feito a leitura do penúltimo parágrafo da
notícia, embora seu tempo de leitura tenha sido de 2 min e 32 seg. Disse ter lido, leu
apenas um parágrafo depois da lupa, mas seus olhos e cabeça indicaram ter passado pela
segunda coluna. Talvez tenha feito uma leitura de varredura e decidiu falar o que estava
no primeiro parágrafo. Atribuo esse comportamento ao fato de ter elencado como
informação principal da notícia apenas seu início.
Existem estudos realizados sobre a direção dos olhos quando entram em
contato com uma página impressa. Bahia (1990) relata um deles que afirma que o olhar
do leitor se posiciona no canto superior à esquerda e vai em direção ao canto inferior à
direita no início do ato de ler e somente depois deste caminho realizado percorre o
restante da página. Com base nesses dados, os jornalistas criam a diagramação do
jornal, que pode ser equilibrada, diagonal ou movimentada. Segundo Bahia (1990,
p.118), a
[...] diagramação é ainda equilibrada ou sinótica, quando resulta da
disposição metódica das matérias reportagens, entrevistas, ilustrações,
títulos, aberturas com simetria no desenho da página e harmonia dos
caracteres. É diagonal, quando tem predominante direção oblíqua, com a
matéria mais importante do lado direito superior. É movimentada, quando
prefere disposição gráfica por importância de matéria e não por critério
85
estético [...].
Para ele, estudos feitos, considerando a movimentação dos olhos nas
regiões de interesse de uma página escrita, confirmam o princípio da zona visual
primária, ou seja, a área superior esquerda. É a que retém, em primeiro lugar, a atenção
do leitor. Os responsáveis pelo fechamento gráfico da primeira página supõem que o
leitor se fixa, inevitavelmente, para começar, no ângulo superior direito, seguindo
depois em um movimento circular pelo resto da página. Por isso, é comum que muitos
profissionais reservem a matéria principal para colocá-la nessa zona privilegiada,
supondo a atenção do leitor, que continuaria depois pela esquerda, onde o espera um
outro estímulo, como uma foto.
Segundo Bahia (1990), a proposta visual da primeira página pode
motivar a leitura. Veja o esquema abaixo:
Figura 14 - Figura retirada do livro Jornal, História e Técnica: as técnicas do jornalismo (BAHIA,
1990, p. 119).
1) Zona ótica primária e 2) Zona terminal, é a direção para onde se move
a vista, numa diagonal de leitura. 3 e 4) Zonas mortas ou cantos sem atração, que
sugerem sinais fortes para despertar o interesse do leitor.
O autor aponta, também, o surgimento de novas formas de projeto
gráfico que consideram a dobra da página, criando uma zona ótica primária na parte de
cima da dobra e outra na parte de baixo da dobra, obtendo maior número de zonas óticas
primárias.
86
Apesar de estudos apontarem a direção do olhar como pré-determinada,
comum a todos os leitores, esta pesquisa, realizada com alunos do ensino fundamental,
apresenta espaços em branco nas figuras que demonstram os movimentos de olhos e
cabeça dos alunos, sugerindo que o caminho percorrido pelo olhar do aluno quebra o
consenso do estudo apresentado, porque aponta que o olho vai para uma zona de
interesse onde existe uma palavra-chave.
A aluna I recebeu a notícia O Jogo do xeque-mate”. Esse tema foi
escolhido, porque, como vimos no capítulo 2, pelo projeto pedagógico da escola, são
oferecidas aulas de xadrez para os alunos durante o período de aula. A aluna gosta de
participar das atividades extras que a escola oferece.
Figura 15 – Texto do jornal Folha de S. Paulo - Folhinha p. +4 e +5 27/05/2006
Aluna (I) – O Jornal fala que tem muita gente que joga xadrez bem e que
tem outras pessoas que acham chato ficar prestando atenção no jogo, não tem
paciência. E que o xadrez não é tão atraente como o futebol, a boneca e o vídeo-game e
que algumas crianças com força de vontade perceberam que dá para jogar assim.
Pesquisadora – Isso que você falou acontece dentro da sala de aula?
87
Aluna (I) Tem durante a aula e também fora do horário de aula, como
nós fazemos em atividade aqui na escola. E aqui fala que não é obrigatório fazer, faz
quem tem vontade.
Pesquisadora Você viu que interessante é essa figura? Explique para
eles como é (Figura do canto superior direito).
Aluna (I) Também para você jogar xadrez como se você fosse uma
peça do xadrez. Faz um grande tabuleiro de xadrez no chão e você é a peça. Como no
Harry Potter.
Aluno (M) Não é você! Você pega uma peça grande do xadrez e leva
até o local.
No momento em que conversávamos sobre a notícia lida, os alunos se
aproximaram interessados pelo jogo. Ao pedir que explicasse a eles o que a figura
indicada representava I fez uma explicação equivocada que fora corrigida por outro
aluno que tinha maior conhecimento prévio do assunto. Associou a figura a uma cena
apresentada pelo filme Harry Potter em que os personagens jogavam xadrez em um
grande tabuleiro cujas peças eram grandes e deveriam ser transportadas de um lugar
para o outro sendo carregadas pelos jogadores. Aqui temos um exemplo de que as
informações prévias ampliadas de M favoreceram a compreensão correta de uma figura
que completava o sentido do texto sem que o tivesse lido realmente.
Aluna (I) Aqui também fala que a aluna Juliana aprendeu esse jogo
com a professora de matemática.
Pesquisadora – Por que você tirou a Folhinha do jornal e deixou de lado
achando que a reportagem não estaria nela? (A aluna retirou o suplemento Folhinha e
começou a procurar a notícia no resto do jornal. Esse foi o motivo da demora no tempo
de busca: 5 min e 48 seg).
Aluna (I) - Não sei, professora (rindo). Primeiro eu tirei. Depois que não
achei a notícia pensei: “pode ser uma brincadeira, porque é uma diversão!”. Então, fui
olhar na folhinha.
Observa-se neste relato que após determinar o tema provável da notícia é
que a aluna conseguiu encontrar o caminho para busca. Não basta conhecer o que cada
caderno aborda; é necessário também reconhecer o tema do assunto a ser procurado e
esse reconhecimento só é possível se anteriormente ele for conhecido.
88
Antes que chegasse a encontrar a notícia indicada, a aluna percorreu um
longo caminho improvável para encontrar a notícia destacada, PP, Caderno,
Dinheiro, Cotidiano, Esporte, Ilustrada e só, então, a Folhinha, já que fora descartada
no início da busca, retirando-a do conjunto de cadernos do jornal. Essa aluna folheava
pouco o jornal ao usá-lo para leitura livre. Lia informações da PP e se satisfazia.
Apresentava comportamento diferente quando a pesquisadora estimulava uma leitura
específica. A falta de habilidade com os cadernos e a falta de conhecimento sobre os
temas abordados nos cadernos trouxeram dificuldades para a realização de uma busca
eficiente.
Figura 16 – Representação do movimento da cabeça e dos olhos - O jogo do xeque- mate
Percebemos pelo mapeamento do movimento da cabeça e dos olhos, que
a primeira palavra lida fora xadrez. O título não estava disponível em linha reta na parte
superior da folha, como aparece na maioria das vezes. Ele estava em forma de L e
cercava a notícia. No topo do canto superior esquerdo, não havia o título da notícia que
recebeu para buscar, mas encontrou uma palavra-chave. O título dizia “O jogo do
xeque-mate”, mas a aluna encontrou primeiramente a palavra xadrez. Ela convive com
esse termo ao jogar xadrez na escola, por isso sabia que tinha possibilidade de encontrar
a notícia indicada naquela página. Ao percorrer o título confirmou sua hipótese e iniciou
a leitura da notícia respeitando a direção das colunas.
89
A aluna E recebeu a notícia “Tremor na Indonésia deixa 3500 mortos”.
Ela sempre demonstrou muito interesse pela Folha Mundo.
Figura 17 – Texto do jornal Folha de S. Paulo – Mundo p. A29 28/05/2006
90
A aluna iniciou assim seu relato.
Aluna (E) Um terremoto de 6,2 na escala de Richter na Indonésia.
Morreram 3505 e 2900 feridos e 200 mil pessoas desabrigadas. O tremor teve início às
5 horas e 54 minutos e foram destruídos casas, hotéis e as cidades próximas. Foram
atingidas estradas e pontes foram destruídas. Então, foram destruídas bastante coisas.
Tem até aqui uma foto das pessoas tentando limpar a sujeira para construir mais casa
pra morar. Aqui tá falando daquele negócio que você tá falando com a Isabela
Pesquisadora – Sobre o tsunani?
Aluna (E) É que teve em 2004 um tsunani que atingiu um arquipélago
e agora esse tremor foi pior que aquele tsunani.
Pesquisadora – E você leu alguma informação na legenda da foto?
Aluna (E) Não. (começou a ler). Ah, falando que moradores de uma
cidade da Indonésia tentam remover destroços de cima de um carro após o tremor.
Pesquisadora E, por que você achou que esse assunto estaria na Folha
Mundo?
Aluna (E) Porque Indonésia é tipo de um país e em todos os países as
notícias ficam na Folha Mundo. É, mais eu procurei em outras folhas, porque vai
que eu estava errada.
Mais um relato confirma a hipótese de que conhecer o tema do caderno e
identificar o título da notícia são elementos importantes para uma busca rápida e bem
sucedida. A aluna desde o início sabia que o assunto estava na Folha Mundo, mas
resolveu percorrer o olhar pela PP, e todas as folhas do Caderno até encontrar Folha
Mundo. Justifica seu tempo de busca, 8 min e 7 seg, dizendo que poderia estar errada
em relação a sua inferência.
Figura 18 – Representação do movimento da cabeça e dos olhos - Tremor na Indonésia deixa 3.500 mortos
91
Percebe-se no movimento dos olhos e da cabeça que a aluna reconhece a
palavra mundo e logo abaixo dela tremor. Seu olhar é desviado para a foto dos
destroços provocados pelo terremoto, depois se volta para o título e a notícia. No
entanto, apenas a primeira coluna e, satisfeita, volta a examinar a foto, mas não a
legenda. Ao ser perguntada se sabe o conteúdo, interrompe o diálogo e em voz alta.
Um dado importante é que a aluna não sabia pronunciar a palavra Yogyakarta e disse
sem titubear uma cidade da Indonésia para substituir a palavra desconhecida. Essa
impossibilidade de pronunciar não interferiu na compreensão. O conjunto das
informações superou uma dificuldade encontrada pela leitora. Embora exista na
configuração da página um quadro com o título Onde Fica e nele encontramos a
informação de que Yogyakarta é uma cidade, de acordo com o desenho do mapeamento
dos olhos e da cabeça, a aluna não leu. Mas existe a possibilidade de ter feito uma
rápida varredura nessa parte da página. Uso o termo varredura como a ação de procurar
rapidamente uma palavra-chave em uma determinada página impressa com um interesse
específico que gera a busca.
A aluna P recebeu a notícia “Medo faz 40% dos colégios fecharem”. No
entanto, não foi possível escanear o jornal para desenhar o mapeamento da cabeça e dos
olhos, porque a aluna levou o jornal para casa e na semana seguinte quando pedi que o
trouxesse, ela disse que a mãe o tinha jogado no lixo depois de lido. As crianças sempre
levavam para casa os jornais que tinham usado no projeto. Nos dias de coleta, apenas
recolhia a página da notícia escolhida. Mas, nesse dia, a aluna levou todo o jornal antes
que eu pudesse separá-lo. Mesmo impossibilitada de demonstrar a notícia, descrevo o
relato da aluna sobre a notícia lida por julgá-lo significativo.
Pesquisadora: Conte o que você leu.
Aluna (P) Tá. Eu li que o Rio Branco... ai como foi mesmo? (risos). O
Colégio Rio Branco estava com medo por causa dessas rebeliões e os problemas com a
polícia. E como é um colégio de elite, os pais não deixaram os alunos irem e no colégio
de elite não teve aula, porque estavam tentando contratar mais seguranças, e os pais
estão mais calmos agora.
Pesquisadora – Você leu até onde?
Aluna (P) Até aqui (apontando com o dedo até o final da reportagem,
que era longa).
92
Pesquisadora Mas, você leu tudo isso aqui (apontando para o
desenvolvimento da reportagem) e decidiu parar aqui por quê?
Aluna (P) Eu pensei assim: vou parar um pouco porque tenho
algumas informações, mas também daria para continuar. Como eu achei as coisas que
li mais interessantes eu li e essas outras soam mais coisas de governo (apontando para
outras informações da página), aquelas asneiras que eles falam.
Pesquisadora E como você sabe que tem asneiras de governo
embaixo? Você bateu o olho e viu? Uma palavra por exemplo?
Aluna (P) Ah, promessas, governador promete não cumpre. Igual
ao Mario Bulgareli que fala que vai asfaltar minha rua e não asfalta.
Pesquisadora Mas tinha a palavra governo neste trecho abaixo que
você decidiu não ler?
Aluna (P) escrito que os governadores estavam prometendo
contratar mais de 1100 seguranças. O governador falou que em uma semana ia ter
mais, passaram uma semana, duas semanas, três semanas e eles não cumpriram.
A aluna decide parar porque se sente satisfeita com as informações que
possui. Uma palavra lida rapidamente, promessas, é o motivo para saber que o restante
da notícia não interessa mais. Associa promessas de governo com promessas feitas pelo
prefeito de sua cidade sobre o asfaltamento da rua onde se localiza a sua casa. Esse
assunto foi escolhido, porque toda população mariliense estava preocupada com ataques
do PCC, facção criminosa, que provocou em maio de 2006 alguns ataques terroristas,
incendiando ônibus, travando tiroteios com a polícia e ameaçando jogar bombas em
escolas. Embora eu tivesse escolhido o assunto por estar em discussão na comunidade,
não sabia quais conhecimentos acionariam a aluna para a leitura. Creio que a
informação mais importante que relatou foi a decisão de parar de ler quando leu a
palavra promessa e a associou aos políticos. Percebeu que o restante da notícia não lhe
interessava mais.
93
2.4 Caminho percorrido e tempo de busca da notícia
Nos quadros a seguir, encontram-se informações sobre o percurso
realizado pelos alunos para chegar até a notícia e o tempo de busca que cada aluno
gastou nas atividades de leitura, tanto na leitura livre como na indicada. Cada aluno está
caracterizado por uma cor para facilitar a leitura nas diversas etapas descritas sobre ele.
Essa mesma cor, correspondente ao mesmo aluno, aparecerá em novas exposições nos
capítulos seguintes.
ALUNOS
JORNAL IMPRESSO
LEITURA LIVRE: ALUNO SELECIONA
ASSUNTO APÓS LEITURA
TENTATIVA DE BUSCA: PESQUISADORA
SUGERE MATÉRIA
PERCURSO
MATÉRIA
SELECIONADA
MATÉRIA
SUGERIDA
PERCURSO
O
PP; 1º Caderno;
Ilustrada; Esporte;
Dinheiro; Cotidiano;
Ilustrada.
Ilustrada
Título: Especial faz
retrato Correto do herói
El Cid
Ilustrada
Título: Agonia
Mutante.
PP; Ilustrada;
Cotidiano; Dinheiro;
Folha Turismo;
Ilustrada.
F
PP; Dinheiro;
Cotidiano; Esporte.
Esporte
Título: Florianópolis e
Minas Fazem 3º jogo
das finais.
Esporte
Título: Brasil
estrangeiro almeja o
‘bi’.
Esporte
M
PP; 1º Caderno;
Ilustrada; Esporte;
Ilustrada.
1º Caderno (Folha
Ciência)
Título: Bauru faz festa
para Marcos César
Pontes.
1º Caderno (Folha
Brasil)
Título: Folha fica mais
fácil de ler com
reforma.
PP; 1º Caderno (Folha
Brasil)
I
PP; 1º Caderno;
Dinheiro; PP.
PP
Título: Sonho do Lula
de ir pro espaço pode
se realizar em outubro.
Folhinha
Título: O jogo do
xeque- mate.
PP; 1º Caderno;
Dinheiro; Cotidiano:
Esporte; Ilustrada;
Folhinha.
E
PP; 1º Caderno;
Dinheiro; Cotidiano:
Ilustrada.
Ilustrada
Título: Tommy Lee
Jones faz boa estréia na
direção.
1º Caderno (Folha
mundo)
Título: Tremor na
Indonésia deixa 3.500
mortos.
PP; 1º Caderno (Folha
mundo)
P
PP; 1º Caderno;
Dinheiro; Cotidiano:
Esporte.
Esporte
Título: Painel FC
Cotidiano
Título:
Medo faz 40% dos
Colégios fecharem.
Cotidiano
Quadro 7 - Leituras selecionadas pelos alunos e sugeridas pela pesquisadora – jornal impresso
Ao se analisar o quadro, percebe-se que todos os alunos, sem exceção,
iniciam pela PP a leitura livre. Percorrem caminhos diversos e variados. Não buscam
somente os cadernos que apresentam seu tema de maior interesse. Esse último aparece
apenas quando ao sujeito é pedido que relate sobre algo que leu no jornal. Muitos outros
fragmentos de notícias, manchetes, legendas, fotos ou gráficos foram vistos e lidos, mas
94
a retenção da informação privilegiou os temas de interesse. Fogem dessa regra as alunas
I e P porque não apresentam um tema gerador para buscas. Lêem aleatoriamente.
outro dado explicitado pelo quadro bastante importante. O aluno M,
durante a leitura livre, traçou um caminho, como todos os outros, de acordo com seus
interesses pessoais, Primeira Página, 1º Caderno, Ilustrada, Esporte, Ilustrada. Decidiu
parar de ler no momento em que estava lendo a Ilustrada, mas, ao ser indagado sobre
qual assunto lido gostaria de falar, escolheu uma notícia que não se encontrava na
Ilustrada, caderno que aparece por duas vezes em seu percurso e que contém assuntos
de seu interesse. Esse dado foge ao padrão apresentado pelos outros alunos, cuja escolha
do assunto sempre coincidia com o caderno de interesse. Apresentavam notícias que se
encontravam no último caderno lido. Com o aluno M isso não aconteceu. Ele percorreu
um caminho material, folheou páginas do jornal, mas sua escolha não coincidiu com a
ordem material de seu percurso. Ao relatar a notícia sobre Marcos César Pontes,
retornou ao caminho percorrido mentalmente e fez uma escolha: a de relatar uma notícia
do Caderno (Folha Ciência), assunto também de seu interesse. Creio que este fato
tenha ocorrido devido ao núcleo de interesses, bastante amplo, que este aluno em
particular apresentava. A leitura dos quadrinhos que fez na Ilustrada não foi escolhida
como essencial para a discussão. No assunto apresentado havia importância histórica e
social para aquele momento. De tudo o que leu, selecionou a informação pela qual um
maior número de pessoas poderia estar interessado.
Ao iniciarem a busca da matéria sugerida, todos, exceto a aluna I,
decidem pelo caderno certo para concretizar a busca. Levando em consideração o
conhecimento dos alunos sobre a estrutura do jornal e acrescentando uma necessidade
de busca, os alunos focalizam com mais facilidade a matéria. O percurso se torna mais
veloz em relação à leitura livre. O quadro a seguir mostra o tempo gasto em cada coleta.
O tempo foi marcado em minutos e segundos.
95
ALUNOS
JORNAL IMPRESSO
1ª COLETA
(LEITURA LIVRE)
2ª COLETA
(LEITURA
SUGERIDA)
TEMPO TOTAL
GASTO NA 1ª E 2ª
COLETAS
O 18: 78
Busca - 2: 38
Leitura - 5: 51
Total – 7: 89
26: 67
F 6: 9
Busca - 1: 31
Leitura - 6: 09
Total – 7: 4
14: 3
M 25: 25
Busca - 4: 99
Leitura - 2: 32
Total – 7: 31
32: 56
I 2: 94
Busca - 5: 48
Leitura - 2: 02
Total – 7: 5
10: 44
E 4: 81
Busca - 8: 7
Leitura - 4: 02
Total – 12: 72
17: 53
P 7: 31
Busca - 2: 55
Leitura - 2: 20
Total – 4: 75
12: 06
Tabela 2 - Tempo (min e seg.) gasto nas coletas do jornal impresso
A tabela mostra que, ao ler livremente, os alunos tendem a gastar mais
tempo de leitura do que quando devem cumprir uma tarefa, dado esperado. Quando
temos uma meta a cumprir concentramos os esforços para a realização da tarefa, mas
quando temos o tempo de leitura livre, as paradas para leitura aumentam
significativamente. Com exceção da aluna E, que demorou muito para encontrar a
notícia, todos desempenharam a atividade com rapidez e autonomia. O tempo de leitura
somado nos dois momentos de coleta não ultrapassou 32 minutos e 56 segundos. Esses
sujeitos com pouco tempo de leitura de jornal já satisfaziam suas necessidades.
Após a apresentação desses dados, voltemos à discussão apresentada no
item O gênero como instrumento, no início deste capítulo. Bakhtin (1988), a partir de
uma crítica radical às grandes correntes da Lingüística de sua época, por considerar que
essas teorias não entendem a língua como um fenômeno social e reduzem a linguagem a
um sistema abstrato de formas ou à enunciação monológica isolada, constituindo um
obstáculo à apreensão da natureza real da linguagem como código ideológico, destaca
que
na prática viva da língua, a consciência lingüística do locutor e do receptor
nada tem a ver com o sistema abstrato de formas normativas, mas apenas
com a linguagem no sentido de conjunto dos contextos possíveis de uso de
cada forma particular. [...] Na realidade, não são palavras o que
pronunciamos ou escutamos, mas verdades ou mentiras, coisas boas ou más,
importantes ou triviais, agradáveis ou desagradáveis etc. A palavra está
96
carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial
(BAKHTIN, 1988, p. 95).
Segundo o autor, não se pode separar a linguagem de seu conteúdo
ideológico ou vivencial, já que ela se constitui pelo fenômeno social da interação verbal,
realizada pela enunciação, resultante do diálogo, seja este de caráter oral ou escrito.
Em todos os relatos dos sujeitos, acima citados e discutidos, o caráter
ideológico e o vivencial da linguagem estão presentes. O sentido do enunciado se
pela compreensão ativa entre os sujeitos, ou seja, é o efeito da interação dos
interlocutores, sejam eles presenciais ou não. Para Bakhtin (1988), todo enunciado tem
um destinatário, entendido como a segunda pessoa do diálogo. A atividade mental do
sujeito e sua expressão exterior se constituem tendo o social como referência, portanto,
toda enunciação é socialmente dirigida.
Como foi possível observar, nem todos os cadernos que compõem a
estrutura do jornal estão destinados a todos os sujeitos. Seus interesses culturais e
sociais, suas experiências pessoais comandam a interação entre interlocutores. É no
fluxo da interação verbal que a palavra se transforma e ganha diferentes significados, de
acordo com o contexto em que surge. O conceito-chave da concepção de linguagem em
Bakhtin é a interação verbal, cuja realidade fundamental é o seu caráter dialógico. Para
o autor (1988, p.108), a linguagem não pode ser vista como um sistema fechado,
construído, acabado, porque se assim fosse não haveria espaço para as pessoas
desenvolverem a si próprias e ao mundo, porque
os indivíduos não recebem a língua pronta para ser usada; eles penetram na
corrente da comunicação verbal; ou melhor, somente quando mergulham
nessa corrente é que sua consciência desperta e começa operar [...] Os
sujeitos não “adquirem” a língua materna; é nela e por meio dela que ocorre o
primeiro despertar da consciência.
Por isso, a reflexão lingüística bakhtiniana é uma abordagem histórica e
viva da língua, incompatível com a reflexão feita pela gramática tradicional que
desconsidera a enunciação e o contexto em que a linguagem ocorre para apoiar-se
somente na enunciação isolada, fechada e monológica. Assim, a presença das palavras-
chave nos contextos de buscas apresentados e a do movimento do olhar sendo guiado
pelo interesse e não por uma atividade mecânica dos olhos demonstram de maneira real
97
o acerto da discussão apresentada por Bakhtin.
Neste capítulo, foram apresentados os dados coletados durante a
pesquisa, especificamente na leitura do jornal impresso. No próximo capítulo, serão
analisados os dados obtidos na leitura do jornal on-line.
98
CAPÍTULO 3
99
A LEITURA DA VERSÃO DO JORNAL ON-LINE
Neste capítulo, o leitor encontrará a descrição e a interpretação dos dados
produzidos pelo trabalho realizado com os sujeitos da pesquisa sobre a versão do jornal
on-line. Para situar o leitor no desenvolvimento da pesquisa, será feito um breve
esclarecimento sobre o surgimento da era da informação e seu impacto para as
atividades humanas.
3.1 Da galáxia de Gutenberg à galáxia da internet
O homem tornou-se homem através da utilização de ferramentas”, é o
que afirma Fischer (1987). À medida que o homem se apodera da natureza ao
transformá-la, descobre que seus desejos podem ser realizados e essa descoberta gera
novas necessidades. Ao homem foi possível fazer alguma coisa diferente dos outros
animais mamíferos - o trabalho - como forma de atividade própria da espécie humana.
A descoberta de que alguns instrumentos serviam para determinada atividade e não
outra, que os instrumentos podiam ser substituídos, ou tornados mais eficientes, ou
ainda produzidos e não retirados imediatamente da natureza, teve um efeito essencial
para que o pré-homem se tornasse homem. Segundo Fischer (1987, p.22), “não
ferramenta sem homem, nem homem sem ferramenta: os dois passaram a existir
simultaneamente e sempre se acharam indissoluvelmente ligados um ao outro”. Partindo
deste princípio histórico, o homem tomava o seu lugar na natureza, não esperava mais
para ver o que ela oferecia, mas modificava-a cada vez mais para dar a ele aquilo de que
precisava. Houve, então, a crescente humanização dos homens pelos objetos
humanizados. E com ela, a dinâmica das novas necessidades.
A linguagem, um instrumento importantíssimo, surgiu também por uma
necessidade que outros instrumentos provocaram. No trabalho e pelo trabalho é que os
homens passaram a ter muito que dizer uns para os outros. Com o acúmulo de
experiências e conhecimento de muitas coisas diferentes com aspectos diferentes, a
linguagem devia tornar-se cada vez mais complexa para expressar um conhecimento
mais complexo. E assim, dialeticamente, foi “o homem tornando-se homem juntamente
com o trabalho e a linguagem, de modo que nem o homem, por seu lado, nem o trabalho
ou linguagem, por sua vez, vieram primeiro” (FISCHER, 1987, p.34).
100
Assim, sem o trabalho, sem a experimentação dos instrumentos, jamais o
homem poderia ter se desenvolvido plenamente como homem, e a este conceito de
homem, estão adicionados, como características humanas, a abstração e a linguagem. A
necessidade de comunicação é vital ao homem por sua própria natureza, que es em
constante desenvolvimento. O homem continua criando instrumentos para satisfazer
suas necessidades que, ao mesmo tempo, impulsionam o desenvolvimento da linguagem
e seus suportes de comunicação que se refratam no próprio pensamento humano.
Esta tese apresenta a discussão sobre um dos suportes criados pelo
homem para sua comunicação: o jornal. Pensar nas origens do jornal obriga a voltar ao
tempo romano de Júlio César. Segundo Rizzini (1977), a Acta diurna populi urbana
constitui o mais antigo escrito aparentado como jornal. Os acontecimentos mais
importantes eram publicados em uma tábua branca que ficava pendurada o ano todo no
muro da residência do grande líder. Somente depois que Júlio César assumiu o
consulado, em 69 antes de Cristo, é que ordenou que fossem diariamente redigidos e
publicados os atos do povo e os do Senado. O material passou a conter, então, as
características do jornal: periodicidade e atualidade. Mais tarde, as Atas abriram espaço
para o noticiário comum, as particularidades do dia-a-dia, e com isso ganhou a terceira
característica, a variedade.
Na antiguidade, a gravação e a reprodução direta feitas por um objeto em
outro foram se desenvolvendo à medida que eram necessárias e faziam parte de um
contexto cultural e social. Era natural que os homens tentassem agilizar essa técnica, e
nesse contexto a tipografia foi um aperfeiçoamento da arte de imprimir (RIZZINI,
1977). Ao surgirem, com Gutenberg, as letras soltas fundidas em metal, menos
perecíveis e economicamente mais viáveis, deram maior espaço público à atividade de
impressão e mudaram significativamente a história do mundo. Segundo as palavras de
Mcluhan (1972, p.70-71),
Em termos mais simples, pode-se dizer que o surto de uma nova tecnologia,
que estende ou prolonga um ou mais de nossos sentidos em sua ação exterior
no mundo social, provoca, pelo seu próprio efeito, um novo relacionamento
entre todos os nossos sentidos na cultura particular assim afetada. O novo é
comparável ao que sucede ao acrescentar-se uma nova nota a uma melodia. E
quando o equilíbrio de relações entre os sentidos se altera em qualquer
cultura, então o que antes parecia claro pode subitamente tornar-se confuso, e
o que era vago ou opaco, transluzente.
101
Assim como a sociedade passou por alterações sociais, históricas e
culturais até a aprender a utilizar a tecnologia do impresso em toda sua potencialidade,
com avanços e retrocessos, a sociedade contemporânea tem disponível uma outra
tecnologia, o impresso no mundo virtual e, da mesma forma, a sociedade ainda está
aprendendo a utilizar essa tecnologia em toda sua potencialidade. Para o instrumento
desconhecido muitas vezes se empregam as mesmas performances que se utilizam com
a tecnologia do impresso, pois ambas convivem no mesmo espaço temporal.
A leitura do jornal pela tela não é desconhecida, mas sua essência ainda
guarda informações inacessíveis para muitos usuários que, apenas com o contato com a
máquina que a produz, o computador, não conseguem se apropriar de sua essência. O
processo é lento, gradual e dialético, pois ao mesmo tempo em que se estuda o objeto,
neste caso a internet, local virtual onde o jornal on-line pode ser lido, a internet se
desenvolve e muda, às vezes muito mais rápido que o próprio pesquisador, porque ela
está ligada à sociedade e à sua economia. Segundo Castells (2003, p.10), as pessoas, as
instituições, as companhias e a sociedade em geral transformam a tecnologia, qualquer
tecnologia, à medida que fazem uso dela, apropriando-a, modificando-a,
experimentando-a. A comprovação desse argumento é a própria história social da
tecnologia, seja ela impressa ou virtual.
No item a seguir, será apresentado o relato das coletas feitas a partir do
uso da versão do jornal on-line, com a intenção de demonstrar esse processo de
apropriação da tecnologia do virtual pelos sujeitos da pesquisa.
3.2 Primeira etapa: leitura livre
Assim como foi pedido aos alunos na primeira etapa de leitura do jornal
na versão impressa para que lessem o jornal do dia em 20 minutos, neste momento da
pesquisa com a versão do jornal on-line essa atividade se repetiu.
Uma outra explicação necessária, antes que o leitor inicie a leitura dos
relatos, é o significado que será dado à palavra internet, tendo em vista que a atividade
de leitura de jornal on-line somente é possível graças a ela. Segundo Pinho (2003),
O termo Internet foi cunhado com base na expressão inglesa “INTERaction
or INTERconnection between computer Networks”. Assim, a Internet é a
rede das redes, o conjunto das centenas de redes de computadores conectados
em diversos países dos seis continentes para compartilhar a informação e, em
situações especiais, também recursos computacionais. As conexões entre elas
102
empregam diversas tecnologias, como linhas telefônicas comuns, linhas de
transmissão de dados dedicadas, satélites, linhas de microondas e cabos de
fibra ótica.
Segundo o autor, materialmente, a internet equivale a uma superestrada
da informação, um caminho que conduz informações de dados produzidos por milhões
de computadores interligados. Essas informações viajam por meio dessas redes que
compõem a internet.
Os sujeitos da pesquisa utilizaram a superestrada da informação para
realizarem as atividades de leitura. Na primeira etapa, será apresentado o resultado de
uma leitura livre, e, na segunda etapa, o resultado da atividade de leitura indicada pela
pesquisadora. A apresentação dos relatos segue a mesma ordem do capítulo dois,
alunos O, F, M, I, E. Não será apresentado o relato da aluna P, porque faltou nos dois
dias em que as coletas foram feitas.
Para a primeira etapa, leitura livre, não havia nenhuma indicação de
assunto por parte da pesquisadora, apenas o aluno tinha um prazo de 20 minutos para ler
o jornal do dia. na segunda etapa, foram indicadas duas notícias e os alunos tiveram
que encontrá-la. Assim como ocorreu com a coleta do jornal impresso.
O aluno O escolheu a notícia “Sapos recém-encontrados na mata
atlântica cabem na unha”.
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22/05/2006 - 10h08
Sapos recém-encontrados na mata
atlântica cabem na unha
MARI TORTATO
a Agência Folha, em Curitiba
O que mais impressiona nos sapos
descobertos pelo pesquisador Luiz Fernando
Ribeiro é que cabem na unha, de tão
pequenos. O periódico americano
"Herpetologic" publica no próximo mês um
artigo sobre duas novas espécies de
minianfíbios localizadas por Ribeiro na serra
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Folhapress
Ombudsman
Publicidade
Publifolha
Treinamento
PARCEIROS
Aprendiz
Dimenstein
do Mar, no Paraná.
No ano passado, o pesquisador tinha
descoberto seus primeiros animais. Os
achados entraram para as referências
científicas da família dos Brachycephalidae. Os
dois novos membros da família são o
Brachycephalus ferruginus e o B. pombali.
"Um sapo verde de jardim mede de 10 a 15
centímetros. Esses têm 10 milímetros",
compara o pesquisador, da Universidade
Tuiuti, de Curitiba. Seus "sapinhos da
montanha" foram parte da tese de doutorado
que ele defendeu ano passado.
Já são catalogadas dez dessas espécies na
mata atlântica que, acredita-se, sejam os
menores vertebrados que a ciência já
descobriu. Eles são abundantes na faixa que
vai do Paraná ao Espírito Santo.
Segundo o pesquisador, as quatro espécies
que ele descobriu não existem fora do
ambiente onde foram localizadas, em altitudes
que variam de 1.000 m a 1.800 m.
Esses sapinhos são predominantemente
andarilhos --quase não saltam. Não vivem
junto a olhos d'água. O habitat úmido e de
temperaturas amenas, em meio ao resto da
vegetação que se acumula no chão, é onde
também se reproduzem.
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Esses sapos são
predominantemente andarilhos
--quase não saltam
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Figura 19 – Texto do jornal FOLHAONLINE - Ciência - 22/05/2006
Pesquisadora – O que você leu?
Aluno (O)Eu li sobre um sapinho que foi encontrado agora. Tinha um
sapo que era de 10 a 15 centímetros; eles achavam que era o menor sapo que existia no
mundo. que agora os cientistas encontraram um novo sapinho. Ele tem dez
milímetros, do tamanho de uma unha. Agora, ele é o menor e ele quase nem pula. Ele é
vermelhinho e agora os cientistas querem saber por que ele é tão pequenininho. Eles
não gostam de nadar e se reproduzem na terra. Mas, encontra esse sapinho na
Mata Atlântica.
Pesquisadora Quando você iniciou a leitura, foi diretamente para
algum caderno específico?
Aluno (O) – Em Ciência, Meio Ambiente, porque gosto de animais.
Pesquisadora Enquanto você procurava sobre animais, encontrou
alguma outra matéria que te interessou?
Aluno (O) Quando eu entrei em Ambiente eu queria ver o que estava
acontecendo, mas eu não sabia que tinha coisas de bicho também. Então, eu vi sobre o
sapinho, aí fiquei lendo.
Pesquisadora - Você acha mais fácil ler na tela ou no papel?
Aluno (O) – No papel é bem melhor.
Nesse momento, coloco em questão a veracidade da informação dada
pelo aluno. O fenômeno é o que aparece o papel é melhor”, mas seria de fato o que o
105
aluno realmente acredita? Deve-se considerar que a escola prioriza o material impresso
e que os alunos consideravam-me como professora do reforço escolar. Isso acontecia
porque havia professora disponível para aulas de reforço em período oposto ao que o
aluno estudava. Julgo que o aluno poderia dizer a mim o que ele achava que eu gostaria
de ouvir. As professoras da escola priorizavam a leitura do impresso. O computador era
para uso lúdico. Ficava explícito que o computador era inferior ao papel. Mesmo não
compartilhando dessa idéia os alunos poderiam pensar que assim como suas professoras
eu também pudesse ter preferência pelo jornal impresso.
Pesquisadora – Por quê?
Aluno (O) Porque aqui você acaba e vem outra coisa, não. A
gente pensa que o jornal impresso é grande porque ele tem letra bem pequenininha, e
aqui não. Então eu acho que é quase o mesmo tanto.
Segundo Lévy (2000), no jornal virtual, localizado no espaço cibernético,
as mensagens não são fixas. Existe um potencial de mensagens e quem vai utilizá-la,
toma uma direção ou outra, dependendo do interesse. No início da fala do aluno O
“porque aqui você acaba e vem outra coisa, não” explicita esse potencial de
mensagens que o instrumento internet carrega. Para os leitores desinformados sobre a
estrutura do jornal impresso, ele é grande, tem muitas informações que precisariam ser
lidas, na totalidade, como um livro de literatura. Transferem uma atitude empregada em
determinado contexto, com um determinado suporte e gênero, sem que se examinem as
características do outro suporte e do outro gênero. Ao contrário disso, o jornal impresso
é dinâmico e possibilita tomar direções de leituras diferentes dependendo de quem está
lendo. o jornal on-line é substancialmente diferente do impresso, em sua própria
natureza.
Pesquisadora Quando você você tira a mão do mouse. Por que você
cansa?
Aluno (O) – Não, é que não precisava mais subir nem baixar o texto.
Pesquisadora Quando você o jornal impresso, você acompanha com
os dedos e aqui você colocou uma vez o dedo na tela para acompanhar o texto. Por
quê?
Aluno (O) Porque aqui é computador e fica a marca do dedo e não
pode.
Pesquisadora – E você sentiu falta de acompanhar a leitura com o dedo?
106
Aluno (O) eu colocava o dedo, porque era bastante linha. Aqui eu
não podia colocar o dedo, mas era bastante linha também, mas eu consegui ler
igual. Sabe, às vezes eu me perdia lendo lá, mas aqui eu não me perdi, porque aqui é
um pouquinho maior.
Em situações de leitura é comum o professor permitir ao aluno que use a
régua ou acompanhe com os dedos as palavras que estão pronunciando. Esse
comportamento não é um bom comportamento de leitor, nem deveria ser incentivado
pelo professor. Segundo Smith (1999), o aluno estaria apenas centrando sua atenção no
impresso e desfocando à atenção do sentido. O mesmo comportamento, o de colocar os
dedos nas linhas impressas enquanto lê, também é praticado pelo aluno no instrumento
de leitura, a tela. Em outras situações de contato com o material, percebeu que usar o
dedo na tela prejudica a imagem, uma vez que embaça a tela do monitor, situação
possivelmente aprendida nas aulas de informática por proibição dos professores. Na
verdade, essa não seria uma boa estratégia, nem para uso do jornal impresso, nem para
uso de outro material de leitura, pois o dedo ou a régua impedem os olhos de saltarem
para alcançar palavras-chave e avançar nas hipóteses para a compreensão. Como
esclarecido acima, o processo de apropriação da nova tecnologia, assim como outras
apropriadas é fluido, pois, ao usar o instrumento, o homem modifica comportamentos,
pensamentos e o próprio instrumento, objeto de seu uso de sua ação e de sua
apropriação.
Pesquisadora – Você achou diferente ler na tela do computador?
Aluno (O) Achei. No jornal impresso não tem tanto caderno como tem
aqui.
Pesquisadora Esses cadernos não estavam espalhados pelo jornal
impresso?
Aluno (O) É diferente. No jornal impresso tem menos e aqui tem mais
têm alguns que trazem coisas bem antigas. Tem bastante coisas que passaram, mas
eles deixam.
Pesquisadora – Você tentou entrar pelo Harry Potter através da Folha?
Aluno (O) – Ah , não sei se dá.
O aluno F escolheu ler o comentário sobre a novela Rebelde.
107
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05/06/2006 - 00h30
Saiba o que vai acontecer nas novelas desta segunda
da Folha Online
Rebelde (SBT, 20h)
Hilda encontra Romina e Miguel se beijando. Eles tentam se explicar e dizem que estão
estudando anatomia. Hilda leva os dois para a diretoria. Mia fica sabendo o que aconteceu com
Miguel e Romina e pede a Celina que diga a Gastão que não poe sair com ele como havia
combinado. Odiretor fica horrorizado ao ver a escultura que Roberta fez. Mabel critica Leon por
ter obrigado Diego a dizer que ela está louca e deixa claro que não permitirá que o transforme
em um monstro como ele. Leon diz que não o obrigou a nada e que seu filho está apenas se
transformando em um verdadeiro Bustamante. Ele também diz que não permitirá que se
aproxime de Mia. Mia convence Alma a desistir do contrato para desfilar com a coleção de seu
pai. Alma comunica a Franco que desistirá da campanha e, como seu sutien é da marca Colucci
também terá que devolvê-lo. Ela tira a peça e a entrega a Franco.
Figura 20 – Texto do jornal FOLHA ONLINE – Ilustrada – 5/06/2006
Pesquisadora F, você acessou o jornal de maneira diferente do que
estava acostumado a acessar?
Aluno (F) – Não, nenhuma.
Pesquisadora E aquelas janelas que abriam e fechavam? Da outra vez
acontecia isso? Nem isso você achou diferente?
O aluno não respondeu nada, não entendia bem o que eu perguntava.
Pesquisadora - O que você leu? O que você achou de mais importante?
Aluno (F) Eu li o que vai acontecer hoje na novela do Rebelde. A Mia
falou para Alma não desfilar na coleção nova de roupas do pai dela, porque senão ela
vai cair numa enrascada.
Pesquisadora – O que mais você leu além da novela?
Aluno (F) – Só.
Pesquisadora Mas, eu vi que você olhou outras coisas. O que você
estava olhando?
Aluno (F) Aquele homem que canta hip-hop sofrendo um problema
no coração.
Pesquisadora Você pensou em procurar esse assunto? Ou foi sem
querer que você achou?
108
Aluno (F) – Sem querer.
Pesquisadora (Mostrando a lista dos cadernos) Em quais desses
cadernos você entrou?
Aluno (F) – Na Ilustrada e no Esporte.
Pesquisadora – E o que você viu no esporte?
Aluno (F) – Eu vi os anos que o São Paulo ganhou, 1996...
Pesquisadora – Você leu isso por quê?
Aluno (F) – Por causa da Copa.
Pesquisadora Qual a diferença que você percebeu em ler o jornal pela
tela e pelo papel?
Aluno (F) Esse (fazendo referência ao jornal on-line) é mais rápido. O
computador é mais fácil, é você clicar e a página muda. Não tem que ficar
virando, virando...
Pesquisadora Você conseguiu o mesmo número de informações aqui e
no outro?
Aluno (F) – Não sei. Tanto faz ler aqui ou lá.
Pesquisadora – E por que você acha que aqui você lê mais rápido?
Aluno (F) Porque tem que ficar virando a página e aqui não, é só
clicar e aparece.
Pesquisadora Em algum momento que clicou demorou mais que virar
uma página?
Aluno (F) – Não.
Usando as próprias palavras de Lévy (2000), “o novo equipamento
coletivo de sensibilidade, de inteligência, de relação social está, de fato, nascendo em
silêncio. Grifo a expressão nascendo em silêncio porque não consciência, para
muitos usuários, de quais características a internet proporciona, de modo potencial. F
não percebeu as janelas que se abriam e se fechavam antes de chegar à internet. Não
percebeu que o caminho feito facilitava muito seu acesso. Apenas pôde comparar com
as páginas do jornal impresso, difíceis de serem manuseadas por uma criança pouco
experiente em leitura de jornal, com as páginas virtuais que não incomodam o leitor.
Para o sujeito, a grande vantagem está em não virar páginas impressas, mas clicar uma
tecla para ter a nova página.
Os tipos móveis de Gutenberg foram construídos para representar uma
escrita alfabética em suporte fixo. No suporte virtual não é assim. Ele permite uma
109
variedade de movimentos que, segundo Lévy (2000, p.17), ainda não são utilizados em
sua potencialidade. Para ele, “o que se costuma fazer é produzir imagens na multimídia
que têm a ver com o suporte estático anterior.”
Arrisco-me a dizer que, se internautas experientes com essa tecnologia
ainda estão presos ao modelo anterior, assim também os professores que possibilitam ao
aluno o acesso ao computador em aulas semanais de informática, ainda o fazem presos à
tecnologia da máquina de escrever, porque o uso da internet é limitado para os sujeitos
nessas aulas. Usam o computador para jogos interativos construídos para o ensino das
diversas áreas do saber, mas não o usam para acessar a internet e desfrutar on-line de
sua originalidade e potencialidade. A forma de ver o mundo, a visão científica ou do
censo comum comandam a apropriação de um determinado objeto. Pensar na internet
como um objeto possível de ser analisado fora de seu movimento natural é
impossibilitar o conhecimento de sua natureza e fazer o aluno acreditar que compreende
o objeto. Todavia, o uso que o aluno faz dele cotidianamente para trabalhos escolares,
leituras, pesquisas, transações bancárias é, na verdade, um modo de acessar possível,
mas não único.
Assim como no capítulo anterior as escolhas realizadas pelos sujeitos
estavam todas direcionadas pelo interesse pessoal de cada um a respeito de um tema
específico, aqui, nesta versão, também se mantém o mesmo padrão.
O aluno M escolheu a notícia “Muralha da China ‘esconde’ tabuleiro de
xadrez de 700 anos”.
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05/06/2006 - 10h24
Muralha da China "esconde" tabuleiro de xadrez
de 700 anos
da Efe, em Pequim
Um tabuleiro de xadrez de 700 anos, gravado em uma
pedra, foi encontrado em um trecho da Muralha da
China, informa nesta segunda-feira o site da agência
oficial Xinhua.
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Segundo arqueólogos, o tabuleiro foi usado por vigias
da muralha, provavelmente durante a dinastia Song
(960 a 1279), e foi talhado junto a uma das torres de
vigilância do monumento, com mais de 6.000 km de
comprimento.
Além disso, no mesmo local há outro tabuleiro de um
popular jogo da época, chamado "o tigre come a
ovelha". As gravuras foram encontradas no nordeste
da China, no extremo oriental da muralha, perto do
litoral do Mar de Bohai.
Embora a existência destes tabuleiros de xadrez não
seja citada em nenhum documento histórico, os
pesquisadores consideram que estes jogos eram muito
usados pelos soldados da Muralha, durante séculos,
para suportar as longas horas de vigilância.
A Grande Muralha foi construída há mais de 2.000
anos para tentar frear as invasões de povos nômades
do norte da Ásia, como os mongóis, embora nem
sempre tenha conseguido exercer este objetivo.
Os trechos mais bem conservados da muralha,
declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco,
estão nas proximidades de Pequim e pertencem às
partes do muro que foram restauradas e reforçadas
durante a dinastia Ming (1368 a 1644).
O xadrez chinês é uma variação do xadrez
"internacional", no qual o objetivo é o mesmo (matar o
rei), mas existem algumas diferenças --não há, por
exemplo, bispos nem rainha. No lugar deles há
canhões e ministros.
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Figura 21 – Texto do jornal FOLHAONLINE Ciência – 05/06/2006
Pesquisadora Você começou com uma intenção de busca ou sem
pensar em nada?
Aluno (M) – Comecei pensando em entrar na Folhinha.
Pesquisadora M, por que de vez em quando você se afasta da cadeira,
e chega mais perto da tela?
Aluno (M) Ah, por que meu olho embaça então eu limpo e tento
chegar mais perto porque a letra é pequena.
Pesquisadora Mas, no jornal impresso você não faz isso e a letra é tão
pequenininha quanto essa, por quê?
Aluno (M) – Não, essa é menor.
Pesquisadora – Dói seu olho ler pela tela?
Aluno (M) Não é que dói o olho, fica um negócio no olho, se fico
muito tempo assim olhando concentrado assim, eu canso e não vejo mais nada.
Pesquisadora – Você gosta de ler mais o on-line ou o impresso?
Aluno (M) O Impresso. Porque tem os quadrinhos e no on-line você
não acha as mesmas coisas que tem no impresso.
Pesquisadora – Qual você acha que tem mais coisas, o impresso ou o on-
line?
Aluno (M) O impresso tem mais coisas, mas você tem que assinar e
cada dia você vai recebendo um. O on-line tem umas coisas, por exemplo, tudo que
você quer ver a não ser que está na página você tem que clicar e voltar para outra
página ou ler um pedaço da notícia e no jornal impresso todos os pedaços de notícias
estão lá.
Pesquisadora – Então, qual você acha mais rápido?
Aluno (M) No papel, porque às vezes no computador você não acha
aquilo que você quer.
Pesquisadora – Por que não acha?
Aluno (M) – Porque eles não colocaram tudo.
Pesquisadora – Quais foram as notícias que você escolheu para ler hoje?
Aluno (M) Uma sobre os dinossauros e outra sobre a muralha da
China.
112
Pesquisadora - Conte sobre a Muralha da China.
Aluno (M) Como eles ficavam de vigia eles desenharam 2 jogos, um o
tigre pega ovelha e o outro é esse ai o do xadrez que eles faziam as peças e iam
jogando enquanto eles ficavam de vigia.
Pesquisadora Você disse que no jornal impresso tem mais coisas. Mas,
tem, por exemplo, aquela pesquisa sobre a Copa?
Aluno (M) Às vezes tem é procurar certinho. De domingo tem
aquele negócio lá de futebologia, que também é uma pesquisa sobre a Copa.
Pesquisadora O que você achou de primeiro jogar para depois ler o
jornal?
Aluno (M) – É bom, porque tenho tempo para as duas coisas.
Para não influenciar no tempo de leitura que esses sujeitos despendiam
com o jornal, os jogos virtuais, bastante cobiçados por eles, eram permitidos antes da
leitura. Durante uma hora, utilizavam a internet para jogos e depois a leitura era
iniciada. Isso impedia a criança de realizar uma leitura rápida para chegar a outro
objetivo, o jogo.
Diante do relato produzido pelo aluno M e pesquisadora, destacam-se
cinco pontos de discussão: a queixa sobre o (des)conforto dos olhos, a preferência pelo
impresso, o uso do mouse para voltar a um determinado assunto, a dificuldade de
encontrar assuntos no on-line e, por último, o impresso visto como fonte de pesquisa
com o mesmo potencial que a versão do on-line. Para analisar estas questões, algumas
explicações acerca das diferenças entre o digital e o impresso são necessárias.
Um se diferencia do outro pela forma de tratamento dos dados e pelas
relações que podem ser articuladas com o leitor. Segundo Pinho (2003), alguns
aspectos que diferenciam a internet da mídia tradicional. Destaco três deles: a não-
linearidade, a fisiologia e a instantaneidade. Essas características serão discutidas com a
intenção de analisar os apontamentos feitos por M.
No papel, o jornalista escreve a partir do canto superior esquerdo palavra
por palavra, respeitando uma linearidade em que, como vimos no capítulo anterior,
alguns estudiosos crêem ser possível enquadrar o processo de leitura dentro da mesma
linearidade que a escrita apresenta. Mesmo sendo possível ler apenas os artigos de
interesse, no papel existe um limite para a apresentação das notícias. a informação
alojada pela internet não é linear, porque não existe um limite definido para conter a
informação. É possível, por esse motivo, que os caminhos de leitura sejam muito
113
diferentes dos quais faz um leitor de jornal impresso. A não-linearidade não está
vinculada apenas à diagramação, mas também à extensão do suporte onde será
apresentada a informação. O jornal impresso limita-se ao suporte de papel, e o on-line
se estende pela web em uma velocidade que, com a ajuda de fax ou telefone transmite as
mensagens e os arquivos quase instantaneamente. Pode-se dizer que é um noticiário em
tempo real e importante fonte de pesquisa porque arquiva notícias, fora do espaço
material e constrói ferramentas de busca valiosas para pesquisa.
O aluno M diz ser o impresso e o on-line as “mesmas" fontes de busca
em uma pesquisa. Faz-se necessário lembrar ao leitor, neste momento, que lhe tinha
sido mostrada a natureza diferente das duas mídias no momento da pesquisa-ação.
Mesmo tendo usado o on-line e reconhecido sua capacidade de armazenar dados e
gerenciar buscas de notícias já envelhecidas em um tempo mínimo, atividade
impossível de realizar com o impresso, porque demanda tempo pesquisar manualmente
em um arquivo da empresa jornalística, M acredita que as duas versões tenham o
mesmo potencial de busca. Apesar de viver em um meio que usa o novo instrumento
para possibilitar a leitura, a internet, ele ainda não se apropriou dos novos
procedimentos. Para Pinho (2003, p.52),
a notícia da tevê, do rádio ou do impresso são voláteis, se esvaem no ar. Você
viu e ouviu mas passou, ou então virou embrulho de pão. Na internet ela
permanece, e se expande, novos aspectos são agregados e criam-se células de
informação, como minúsculas agências de notícias específicas sobre um
determinado assunto. Eternas se necessário. É ferramenta para pesquisa.
M ainda não se apropriou da leitura de jornal on-line em toda sua
extensão, não entendeu a potencialidade para pesquisa que o material traz. As
características de interatividade proporcionadas pela internet, como grupos de
discussão, correio eletrônico, embora tenham sido a ele apresentadas, ainda não fazem
parte de sua prática. Pode-se dizer que M está em processo de apropriação da
tecnologia, e precisa de orientação e experiência para evoluir. As atividades
desenvolvidas com o grupo de alunos não foram suficientes.
M diz que prefere o impresso porque nele tem tudo o que procura. A
Folhinha, por exemplo, foi difícil de ser encontrada pelo aluno porque a queria no
padrão que se encontra no impresso. Ele encontra o link que o leva até este caderno,
pois o percurso gravado pelo software espião (JornalWeb, 2005) mostra que o aluno
passou por ela, mas não a detecta.
114
Outra queixa do aluno é a de que precisa clicar para voltar à página
inicial ou a uma notícia que gostaria de ver novamente. O fato de clicar e a espera de
segundos são significativos para seus olhos acostumados a olhar a página do impresso,
em espaço maior. De fato, um maior número de notícias está diagramado em uma
página do impresso, comparado ao de uma página do on-line. Caso o aluno leia o jornal
aberto, duas páginas podem ser vistas ao mesmo tempo. A tela do monitor é pequena,
15 ou 17 polegadas, contém a lista de cadernos, a notícia escolhida, propagandas e
sugestões de leitura de outras notícias, destacando seus títulos, o que parece ser
insuficiente para um leitor como M, preso à configuração do material impresso no
papel.
Aquilo que para F se tornou uma vantagem, para M se tornou uma
desvantagem pela insuficiência de respostas a suas perguntas. O uso do mouse, segundo
F, facilita a busca de uma notícia, pois não precisa lidar com folha grande que era difícil
de ser manipulada. M usava bem o impresso, pois estava acostumado a utilizá-lo em
casa sem problemas quanto ao tamanho da folha. Escolheu a segurança daquilo que
conhecia bem.
Quanto à sua queixa em relação ao desconforto dos olhos durante a
leitura on-line, pode-se dizer que a fisiologia do computador é diferente da do papel e
afeta a visão humana de maneira completamente diferente (PINHO, 2003). Em ambos
os materiais necessidade da luz para a realização da leitura. Ao ler tendo o papel
como suporte, a luz externa invade sua superfície, fazendo brilhar os pontos que
formam as letras, possibilitando que os olhos possam captar sinais e o cérebro traduzi-
los em porções de sentido para aquele leitor. Ao ler, tendo o monitor como suporte, a
luz cria os sinais necessários para que o cérebro possa realizar a leitura. Não é a luz que
favorece a leitura dos sinais impressos por tinta no papel, mas é a própria luz que gera
os sinais.
Embora certa quantidade de luz seja significativa para o conforto do
leitor, segundo pesquisas,
Uma das reações mais óbvias ao se ler à luz do monitor é que os nossos olhos
piscam menos do que as 16 vezes por minuto com a vista relaxada, o que
pode levar a uma maior incidência de fadiga visual (ardência, visão
embaçada ou embaralhada) e dores de cabeça. Também ao ler um papel, o
leitor naturalmente afasta ou aproxima o documento dos seus olhos para
permitir uma distancia correta de leitura. Não é o caso da tela do monitor que
está fixado a uma mesa e força os olhos se ajustarem ao tamanho do tipo de
letra do texto que está sendo visualizado. Por isso, quando as pessoas lêem
115
on-line, elas lêem mais vagarosamente. O mesmo estudo da Sun
Microsystems apontou que o internauta mais devagar na tela do monitor e,
assim, a recomendação é que o texto preparado para a internet seja cerca de
50% mais curto do que o escrito para papel (PINHO, 2003, p.51).
Até aqui é possível identificar um processo de construção dialética tanto
do instrumento, como do homem que usa esse instrumento. Nem um, nem outro estão
estáticos. É no uso social que a ferramenta se desenvolve, ao mesmo tempo que toda
relação humana implica aprendizado. Segundo Lévy (2003, p. 13), a forma e o conteúdo
do ciberespaço ainda estão especialmente indeterminados.
Continuando a apresentação dos relatos, a aluna I escolheu ler o mesmo
episódio da novela Rebelde, que o aluno F havia escolhido. Por esta razão, não
reproduzirei novamente a notícia como tenho feito, mas apenas o diálogo acontecido
após sua leitura.
Pesquisadora – Conte sobre o que leu.
Aluna (I) Eu li sobre a novela Rebelde, eu não lembro o nome da
mulher que pegou a Bia e outro cara se beijando. Não, foi com Miguel e outra menina
e levou para diretoria. a Mia mandou a Celina falar para o Gastão que... A Mia
pega o Miguel beijando e fala para Celina falar para o Gastão que não vai dar para
eles saírem juntos.
Pesquisadora Por que quando você usa o jornal impresso, você não
procura por novela e quando usa o on-line é a primeira coisa que faz?
Aluna (I) – Porque sempre que eu venho aqui (laboratório de
informática), eu me lembro da novela e, quando estou com o jornal impresso eu não
lembro.
Pesquisadora Quando você mexe no jornal impresso você sempre
comenta uma outra informação que você nem havia pensado em procurar, mas que leu
durante a busca no jornal. E aqui aconteceu isso?
Aluna (I) – Não, aqui vou direto no que quero.
Pesquisadora E quando abriu a PP do jornal on-line, você se lembra
de alguma notícia que te interessou?
Aluna (I) - Não.
Pesquisadora Você achou muito diferente ler on-line e ler jornal
impresso?
116
Aluna (I) Um pouquinho. No jornal a gente fica folheando mais. Aqui
a gente clica e pronto.
Pesquisadora – Você encontrou novela no outro jornal?
Aluna (I) - Não.
Pesquisadora – Você sabia que tinha novela no outro jornal?
Aluna (I) Eu sabia porque tinha escutado falar que jornal traz
novela, mas eu nunca encontrei sozinha.
Pesquisadora Como você descobriu que aqui tinha informações sobre
novela?
Aluna (I) Bem, a primeira vez que vim aqui (laboratório de informática
durante o projeto) eu bati o olho e vi a palavra novela. Aí fui direto nela.
Uma fala da aluna I que gostaria de destacar é a última dita ao responder
sobre como descobriu que havia informações sobre novela no jornal on-line. Bem, a
primeira vez que vim aqui eu bati o olho e vi a palavra novela. fui direto nela.”
Destaco a expressão a primeira vez que vim aqui”, pois se referia ao laboratório de
informática e, portanto, não foi durante o projeto que conheceu e usou o laboratório de
informática, porque é regra da escola que o professor leve seus alunos uma vez por
semana ao laboratório e faça uso das máquinas. Entretanto, foi a primeira vez que usou
o laboratório para ler pela internet. Como foi explicitado pelas entrevistas com as
professoras e alunos, nas poucas vezes que fizeram pesquisas on-line, o site já estava
estabelecido pela professora. Embora isso tenha criado condições para os alunos usarem
as ferramentas do Word, programa que possibilitou a existência de uma máquina
potencialmente diferente da máquina de escrever, a experiência não lhes possibilitou
compreender que esta mesma máquina era um portal para a sociedade da informação
virtual, de extensões inimagináveis. Muitas vezes é o autodidatismo e a relação com
outras pessoas fora da escola que faz o aluno crescer e desenvolver seus conhecimentos
preenchendo as lacunas deixadas pelos currículos escolares.
Hoje, a internet é a maior revolução na comunicação desde a invenção de
Gutenberg e a escola não pode ficar fora dela. Segundo Kucinski (2005, p.72), “dizer
que a internet e o computador criaram uma nova forma de exclusão digital, é como
dizer que, ao inventar a impressão com tipos móveis, Gutenberg criou o analfabeto.”
Ninguém concordaria que Gutenberg tivesse criado o analfabeto ao inventar os tipos
móveis, mas dizer que Gutenberg decretou a morte ao copista sim, pelo menos a
respeito dos monges que viviam em reclusão nos conventos, cuja função era copiar
117
textos para elite. O meio digital não exclui o meio impresso. Ambas as tecnologias
convivem, mas a escola parece não se apropriar e facilitar o uso de ambas. Isso sim é
uma forma de exclusão.
A imprensa de Gutenberg se tornou capitalista. O lucro é gerado na
produção do jornal impresso com a compra dos exemplares pelos leitores e a venda de
anúncios. Segundo Kucinski (2005), a internet acaba com isso, ou com quase tudo,
porque abre uma nova era. A terceirização no jornalismo acontece de forma acelerada.
Os jornalistas passam a trabalhar em suas casas, e qualquer um pode produzir seu
jornal, seu boletim, sua revista. Pode tirar um número pequeno de cópias impressas
deles ou disseminá-los pela Web. Isso, segundo Kucinski, é uma comunicação libertária,
que foge da rigidez da comunicação feita pelo jornal impresso. Nesse sentido, o autor
acredita ser uma nova era do capitalismo, que se caracteriza pela autonomia do
indivíduo. Com suas próprias palavras, “ao contrário das teses que denunciam a internet
como um novo mecanismo de exclusão, considero-a um mecanismo de libertação, uma
reviravolta nos caminhos até então seguidos pelo capitalismo e uma nova demonstração
de que no capitalismo tudo o que é sólido se desmancha no ar” (KUCINSKI , 2005,
p.80-81).
Também Castells (2003) compartilha essa mesma forma de pensar, pois
acredita que, mesmo sendo a rede de provedores construída em torno de interesses
econômicos dominantes, a internet tende, por sua natureza, a enfraquecer o controle dos
aparatos do Estado.
Se pensarmos nos dados apresentados por Lima (2005, p.13), da PNAD
(Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) em 2003,
apenas 15,3% dos domicílios têm microcomputador e 11,4% têm acesso à
internet. Além disso, pesquisa da Unesco (Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura) divulgada em maio de 2004 revela a
situação dos professores do ensino fundamental e médio no Brasil: mais da
metade de cerca de 5 mil professores entrevistados em 26 estados e no
Distrito Federal não tem computador em casa (53,9%), não navega na
internet (58,4%) e sequer usa o correio eletrônico(59,6%),
concluiremos concordando com Kucinski, que o Brasil ainda tem um
caminho longo a percorrer. A aluna I deveria, em suas aulas de informática, usar a
tecnologia que está mudando a forma de pensar do grupo social onde ela vive.
Precisaria participar desse processo de construção coletiva da informação. O
computador em si não é o elemento que modificará a dinâmica do sistema de ensino.
118
Dependendo de seu uso, não será um instrumento para leitura e pesquisa que amplia os
horizontes de quem a ele tem acesso e se apropria de suas funções, mas apenas um
recurso pedagógico a serviço de um processo de ensino que ignora os processos de
evolução do homem, dos instrumentos que usa e da sociedade.
O último relato da primeira etapa de coleta do jornal on-line apresenta a
escolha de E que decidiu realizar a leitura das informações sobre a novela Malhação.
Pesquisadora – Sobre o que você leu?
Aluna (E) Eu li sobre as novelas. Sobre Malhação. O pai do Cauã, ele
tenta falar com a vizinhança para tirar a Cigarrona, que é a madrasta da Manuela
para tirar ela como síndica e colocar ele no lugar. E também eu li sobre o Bodão e os
outros rapazes que eu não lembro nome, eles vão ver a moça com Kico e vão zoar
com a cara dele. Porque ele é mais novo que a moça que é secretária do diretor. E só.
Pesquisadora Quando você usava o jornal impresso, você conseguia
encontrar novela lá?
Aluna (E) Não. eu procurava mesmo sobre as notícias do
mundo. Entendeu? Como por exemplo: Mundo não sei o que, essas coisas. Eu gosto
de procurar mais coisas sobre o mundo no jornal de papel.
Pesquisadora – E aqui na tela você não consegue achar sobre o mundo?
Aluna (E) Conseguir eu consigo, que aqui eu prefiro procurar
novelas e jogar do que ler o que saiu no jornal.
Pesquisadora Quando você o impresso, você gasta mais tempo do
que on-line. Por quê?
Aluna (E) – Não sei.
Pesquisadora No jornal impresso tem mais informações que o jornal
on-line?
Aluna (E) Não para comparar. Mas parece que é on-line. Parece
que tem muito mais nomes de cadernos.
Pesquisadora – Você achou difícil ler jornal on-line?
Aluna (E) Sim, porque no jornal impresso você alguma foto para
escolher o assunto que você quer ler e aí, embaixo, tem a página tipo A4. você vai e
procura e acha. Agora no computador você vai colocar e aparece “tente
novamente”. você tem que ficar tentando e fica passando o tempo. cansa. Sabe o
que eu acho, é que no computador também enquanto você está procurando a notícia
você pesquisa outras porque vêm todas as manchetes uma embaixo da outra,você
119
tudo o que tem e o que quer. Mas, no jornal também tem, que é espalhado. Eu
gostei muito do jornal on-line, mas eu fico com o jornal impresso porque ele é mais
rápido de ler e fácil de procurar as coisas e, no computador, às vezes não tem. E às
vezes as coisas que a gente quer só tem no jornal impresso.
Pesquisadora Mas, por que a gente não acha as coisas que queremos
no jornal on-line, se tem tudo o que tem no impresso?
Aluna (E) Porque eu acho que às vezes esqueceram de colocar, ou
porque eu acho que eles não conseguem colocar a notícia inteira, porque acaba a
página do computador.
Pesquisadora Por que a página da internet é menor que a página do
impresso?
Aluna (E) É assim, o jornal tem folha grande, e até para ver o que
tem atrás é só virar a página, mas no computador não dá para fazer isso. E se a notícia
não cabe naquele lugar então eles colocam até uma outra menor no lugar. E lá a gente
tem que ficar clicando, mexendo com o mouse e, no impresso, não.
Assim, como o aluno M reclamou que não conseguia achar tudo o que
procurava, também a aluna E se queixa do mesmo problema. No entanto, a aluna E
mostra ter noção da capacidade ampliada de busca de informações que o jornal on-line
apresenta em relação ao jornal impresso, porque E explicita, em seu relato, a atitude de
ler mais de um tipo de material ao usar a internet. Enquanto jornal on-line tem a
possibilidade de ler outra coisa, como cita o exemplo de jogos. Por outro lado, também
ainda está presa à configuração do impresso ao dizer que a “folha do jornal é grande e
para ver o que tem atrás é só virar a folha”. Reclama que no on-line não há espaço para
todas as notícias e por esse motivo os diagramadores as colocam em outro lugar
dificultando ao leitor encontrar o assunto.
O que é mais importante para o aluno compreender, ao usar a internet, é
que ela traz as informações em rede. O conhecimento, antes dela, existia em
enciclopédias e dicionários e continuarão existindo. Segundo Lévy (2000, p.14-15), a
verdadeira mutação se passa noutros aspectos.
Em primeiro lugar, não é mais o leitor que vai se deslocar diante do texto,
mas é o texto que, como um caleidoscópio, vai se dobrar e desdobrar
diferentemente diante de cada leitor. O segundo ponto é que tanto a escrita
como a leitura vão mudar o seu papel. O próprio leitor vai participar da
mensagem na medida em que ele não vai estar apenas ligado a um aspecto. O
leitor passa a participar da própria redação do texto à medida que ele não está
120
mais na posição passiva diante de um texto estático, uma vez que ele tem
diante de si não uma mensagem estática, mas um potencial de mensagem.
Dessa forma, o espaço cibernético introduz a idéia de que toda leitura é uma
escrita em potencial. O terceiro ponto que, sem dúvida é o fato de estarmos
assistindo a uma desterritorialização dos textos, das mensagens, enfim, de
tudo o que é documento: tanto o texto como a mensagem se tornam uma
matéria. Assim como se diz “tem areia” “tem água” se diz “tem textos”, “tem
mensagens”, pois eles se tornam matérias como se fossem fluxos justamente
porque o suporte deles não é fixo, porque no seio do espaço cibernético
qualquer elemento tem a possibilidade de interação com qualquer outro
elemento presente.
Conforme o ponto de vista de Lévy (2000), é como se todos os textos
fizessem parte de um único texto, um hipertexto, que também faz o papel de um autor
coletivo e que está em constante transformação. E sente dificuldade de encontrar um
número maior de assuntos em uma única tela, porque compara com a folha de papel
usada no jornal impresso, mas, na verdade, a idéia de página desaparece no contexto do
ciberespaço, porque a noção de página contém a idéia de um campo físico material
delimitado.
O temo desterritorialização usado por Lévy (2000) é carregado por um
conteúdo histórico em relação à leitura e à escrita. Vários foram os tipos de relação
com o saber que a humanidade desenvolveu. Antes da escrita, o homem encarnava o
próprio saber, como o pajé de uma tribo. Com o surgimento da escrita alfabética, quem
continha o saber era o livro e, com o advento da imprensa, quem armazenava o
conhecimento não era mais o livro, mas a biblioteca. Lévy (2000, p.18) sugere que, com
o evento da informação em rede, estamos vivendo a desterritorialização da biblioteca.
É como se estivéssemos voltando às origens, em que o portador do saber era
a comunidade viva, claro que de uma forma muito mais ampliada e
diferenciada. Atualmente, o hipertexto não consegue conter a velocidade com
que circula a informação. Como a informação é fluxo, é como se o coletivo
novamente fosse portador do conhecimento.
Em todos os relatos até esse momento apresentados, os alunos
demonstraram que não compreendem bem a natureza da tecnologia utilizada para
realizar a leitura do jornal on-line. De uma forma ou de outra, todos comparam o mundo
da leitura virtual com as referências que têm do mundo gráfico impresso.
121
3.3 Segunda etapa: leitura indicada
Nesta etapa, os alunos receberam duas sugestões de busca, o título da
notícia “China tem novo plano para salvar Panda ameaçado” e as informações sobre a
novela Rebelde. Deveriam encontrá-las e lê-las para que posteriormente comentassem
sobre o material lido. Todos os alunos fizeram a busca ao mesmo tempo, porque o
software de controle registrava o percurso de cada um deles.
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11/06/2006 - 17h35
China lança novo plano para salvar panda
ameaçado de extinção
da Efe, em Pequim
Os pandas gigantes mais ameaçados da China, os
300 que habitam as montanhas Qinling, na província
de Shaanxi, no norte do país, contam com um novo
projeto para aumentar sua população e expandir seu
habitat, segundo a imprensa local.
O plano pretende fazer com que o número de
exemplares na região chegue a 400 até 2020 e seu
território se expanda a 500 mil hectares, dos 340 mil
atuais. Para isso, as pessoas que vivem em seu
habitat serão evacuadas e serão construídos
corredores de bambu para que os diferentes grupos,
isolados por estradas e túneis, se comuniquem entre
si.
Além disso, serão criados um centro de pesquisa e
uma base de criação em cativeiro, na qual os filhotes
serão adestrados para depois poder viver em
liberdade, segundo a agência estatal Xinhua.
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China quer elevar de 400 a 2020 o número de pandas
que vivem nas montanhas Qinling
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Os cientistas chineses defendem que o de Qinling é
uma "subespécie" do panda gigante, com
características genéticas e físicas diferentes dos que
habitam as montanhas da província de Sichuan, no
sudoeste do país. Sichuan abriga a maioria dos 1.600
exemplares em liberdade na natureza do país.
"Por sua cara, o urso panda de Qinling se parece
mais com um gato, enquanto o de Sichuan se parece
mais com um urso. Geneticamente falando, são
diferentes devido à disparidade de condições
climáticas e geográficas", explica o professor Fang
Shengguo.
Além disso, Fang acrescenta que possuem um
esqueleto menor e manchas marrons no peito (as do
panda de Sichuan são negras), enquanto o pêlo da
barriga, em vez de ser branco, também é marrom.
Os primeiros pandas gigantes de Qinling foram
descobertos em 1964, um século depois dos de
Sichuan.
As principais ameaças a esses pandas são a
derrubada das árvores para cultivos, as operações
mineradoras em uma região rica em ouro e níquel e a
caça ilegal, segundo o Fundo Mundial para a Natureza
(WWF), que desenvolve vários projetos com os
pandas gigantes na China.
Entre outros, a organização ecologista está
desenvolvendo alternativas, como o ecoturismo, para
que os habitantes da região não sejam obrigados a
buscar sua subsistência nas florestas habitadas pela
espécie ameaçada.
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Copyright Folha Online. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta páginaem qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso,
sem autorização escrita da Folha Online.
Figura 22 - Texto do jornal FOLHAONLINE – Ciência 11/06/2006
123
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12/06/2006 - 00h30
Saiba o que vai acontecer nas novelas desta segunda
da Folha Online
Rebelde (SBT, 20h)
Téo diz a Josy que não gosta de sua maneira de agressiva de arrumar as coisas e que se continuar assim terão
que terminar o relacionamento. Ela promete tentar se controlar. Raquel diz a Pilar e Sol que graças a ela Josy
não foi ao almoço pois a teria envergonhado diante de seus amigos. Leon adverte Diego e diz que deve se
empenhar para ganhar as eleições no colégio ou, caso contrário, terá que se esquecer do carro e da viagem.
Leon dá dinheiro a Giovanni para que coloque nas urnas mais votos á favor de Diego. Gastão diz a Mia que está
tudo acabado entre eles pois não vai admitir que brinque com ele. O professor pergunta a Roberta por que
continua no colégio se não se sente bem . Ela se diz ameaçada pelo pai e explica que ele promete tirar a guarda
da mãe se ela deixar o colégio. O professor questiona Roberta dizendo que, se realmente se importa tanto com
sua mãe então por que nunca está a seu lado quando recisa.
Figura 23 – Texto do jornal FOLHAONLINE Ilustrada - 12/06/2006
Após a busca os alunos conversaram coletivamente sobre os temas lidos.
Pesquisadora – F, o que você entendeu sobre a leitura?
Aluno (F) – Ah, eu não! Começa com outro, eu não decorei.
Pesquisadora – F, contar o que leu é dizer com suas palavras o que você
entendeu do assunto e não decorar o texto.
Aluno (O) Quando a gente uma coisa que gosta, a gente não
esquece, mas quando lê coisas que não gosta, aí esquece fácil. Eu gosto de bichos.
Pesquisadora – Você gosta da novela Rebelde?
Aluno (O) – Mais ou menos
Pesquisadora – Então, conte o que leu.
Aluno (O) – Lembro que um homem vai tirar uma menina da mãe... só.
Aluna (I) Eu lembro bem. O diretor da escola vai tirar a guarda da
Roberta da Alma, porque a Roberta é muito arteira na escola, ela xinga os professores.
Mais uma vez, fica claro que os alunos apresentam melhor o tema de
suas leituras se gostam do assunto e se se interessam por eles.
Pesquisadora Quem teve dificuldade de achar o link da novela
Rebelde?
Responderam afirmativamente os dois alunos que não estão acostumados
a ler sobre novelas.
Pesquisadora Teve alguém que durante a busca das notícias encontrou
algo que se interessou e parou para ler?
124
Aluno (O) Eu passei pelo Ambiente. Queria saber se tinha alguma
coisa sobre aquele sapinho (Referindo-se à leitura da coleta anterior).
Pesquisadora Eu percebi que, quando você estava procurando as
notícias, você parou em outros lugares. Quais?
Aluno (M) Parei porque eu vi embaixo ‘outras coisas sobre o
panda’
Pesquisadora – Quem lembra alguma coisa sobre o Panda?
Aluno (O) Eu lembro que tem uma espécie de panda, ah, um nome
científico que eu não lembro, que é bem grande e parece mesmo um urso e tem mancha
preta, mas tem um outro parece um gato tem mancha marrom e o peito dele tem um
ossinho menor.
Aluna (F) – E o peito também é marrom e não preto.
Pesquisadora – E como você disse que não lembrava nada?
Aluna (F) – Não, professora, só lembrei porque ele falou.
Pesquisadora – Então. Quando a gente conversa sobre alguma coisa que
lemos uma pessoa falando alguma coisa vai puxando a memória da gente e a gente vai
lembrando.
Pesquisadora - Quem lembra mais alguma coisa?
Aluno (M) O nome que o O falou não é o nome do panda, mas a
montanha onde essa espécie vive. Porque ele nasce naquela região ele tem aquele
nome. E também tem que o número de pandas era de 400. Eles iam tentar mudar de
400 para 2020.
Aluno (O) Mas, para isso eles têm que pedir para as pessoas que
moram sair. É, vão tirar pessoa de lá, fazer mais vegetação e ainda colocar um
negócio lá que, através dele, dá para saber sobre o panda. Tipo localizar ele.
Aluna (M) O panda estava em extinção porque estavam destruindo
onde eles viviam. Então eles morriam porque destruíam as árvores.
Durante a leitura sobre o panda, o aluno M perguntou o que era
subespécie. Eu respondi, mas ao escutar o aluno O disse “Aqui tá falando que o panda é
uma subespécie de um Panda gigante”. Durante a busca da novela, a aluna E percebeu,
de seu lugar, numa visão lateral, que outro aluno estava em dificuldades. Sem que o
outro menino chamasse, decidiu ajudá-lo a encontrar a notícia. Os alunos demonstram
compreensão sobre a informação lida. O acesso é facilitado quanto a busca se refere a
um assunto de interesse, mesmo que seja desconhecido em alguns aspectos. No caso de
125
Panda, o interesse era por animais de floresta, de um modo geral, e não por Panda que
possivelmente nem conhecessem. Nenhum aluno sentiu dificuldade em encontrar o
título sugerido. Eles “surfam” pelas teias da grande rede, embora não entendam muito
sua profundidade.
3.4 Caminho percorrido e tempo de busca da notícia
Abaixo se pode observar o caminho trilhado pelos alunos ao lerem
livremente e ao buscarem a informação sugerida.
ALUNOS
JORNAL ON-LINE
LEITURA LIVRE: ALUNO SELECIONA
ASSUNTO APÓS LEITURA
TENTATIVA DE BUSCA: PESQUISADORA
SUGERE MATÉRIA
PERCURSO
MATÉRIA
SELECIONADA
MATÉRIA SUGERIDA
PANDA
AMEAÇADO DE
EXTINÇÃO
NOVELA -
REBELDE
PERCURSO PERCURSO
O PP; Ciência; Ambiente.
Ciência
Título: Sapos recém-
encontrados na Mata
Atlântica cabem na
unha.
PP; Ciência; Ambiente;
Ciência; Manchetes;
Novelas; Ilustrada;
Ambiente; Ciência.
PP; Novelas; Ilustrada.
F
PP; Ilustrada; Galeria;
PP; Novelas; Ilustrada;
Esporte; Informática;
Ilustrada; Galeria;
Ilustrada.
Novela
Título: Rebelde
PP; Mundo; Turismo;
Ciência
PP; Especiais;
Manchetes; Novelas;
Ilustrada
M
PP; Busca (Folhinha);
Especiais; Ciências;
Especiais; Busca
(Quadrinhos); Busca
(Chiclete com banana).
Ciência
Título: Muralha da
China “esconde”
tabuleiro de xadrez de
700 anos.
PP; Mundo; Cotidiano;
Mundo; Turismo;
Brasil; Dinheiro;
Cotidiano; Ciências.
PP; Novelas; Ilustrada.
I PP; Novelas; Ilustrada.
Novela
Título: Rebelde
PP; Ciências PP; Novelas; Ilustrada.
E
PP; Erramos; PP;
Novelas; Ilustrada;
Bate-papo; galeria;
Bate-papo; Almanaque;
Bate-papo.
Novela
Título: Malhação
PP; Mundo; Esporte;
Mundo; Brasil;
Ciência.
PP; Novelas; Ilustrada.
Quadro 8 - Leituras selecionadas pelos alunos e sugeridas pela pesquisadora – jornal on-line
No primeiro caso, leitura livre, aos alunos tendem a buscar temas de
interesse e todos eles, com exceção de O, buscam informações além daquelas de
interesse pessoal. O aluno O é o único que entra nos links de que gosta e dá-se por
satisfeito, não buscando nenhuma outra notícia fora deles.
Já no segundo momento, quando a notícia foi sugerida, eles se mostraram
aptos a encontrá-las. Muito eficientemente, encontraram a novela sem que tivessem que
realizar nenhuma busca prolongada. Era visivelmente simples, não precisavam pensar
126
sobre de que assunto o título da sugestão trataria, porque o tema e o assunto
significavam a mesma coisa.
O mesmo não acontece com a busca da matéria sobre o urso panda.
Exceto o aluno O, que, após abrir a primeira página do jornal, busca a informação
diretamente na fonte, caderno Ciência. uma grande possibilidade de seu
conhecimento do assunto e o uso deste caderno no jornal on-line terem proporcionado
essa sutileza e rapidez de busca. Quanto aos outros alunos, todos entraram pelo caderno
Mundo. Julgaram que se trataria deste caderno por saberem que ursos pandas não são
encontrados no Brasil. Fizeram uma escolha correta, embora não tivessem sucesso.
Quanto ao tempo de busca, pode-se observar que na leitura livre todos os
alunos gastam menos tempo em relação à segunda tarefa de leitura indicada. No
primeiro e no segundo momentos sabiam que conversariam também sobre o assunto
lido. Mesmo assim, o tempo de leitura gasto para a notícia sugerida foi superior.
ALUNOS
JORNAL ON-LINE
1ª COLETA 2ª COLETA
TEMPO TOTAL
GASTO NA 1ª E 2ª
COLETA
O 15: 79
Urso Panda
(1ª busca)
Busca – 14:16
Leitura – 4: 21
Total – 18: 37
Novela
(2ª busca)
Busca - 1: 01
Leitura - 3: 15
Total – 4: 16
22: 53
F 8: 62
Urso Panda
(1ª busca)
Busca - 3: 09
Leitura - 9: 04
Total – 12: 13
Novela
(2ª busca)
Busca - 0: 87
Leitura - 8: 39
Total – 9: 26
21: 39
M 15: 32
Urso Panda
(1ª busca)
Busca - 4: 31
Leitura - 4: 26
Total – 8: 57
Novela
(2ª busca)
Busca - 1: 47
Leitura - 3: 24
Total – 4: 71
13: 38
I 3: 61
Urso Panda
(1ª busca)
Busca - 1: 01
Leitura - 8: 56
Total – 9: 57
Novela
(2ª busca)
Busca - 1: 04
Leitura - 7: 39
Total – 8: 43
18
E 7: 39
Urso Panda
(1ª busca)
Busca - 4: 11
Leitura - 6: 32
Total – 10: 43
Novela
(2ª busca)
Busca - 0: 17
Leitura - 6: 22
Total – 6: 39
16: 82
Tabela 3 - Tempo (min e seg) gasto nas etapas da coleta on-line
Durante a leitura livre, dois alunos buscaram assuntos que não foram
encontrados. Quando o acesso era negado por falta de pagamento, eles sabiam que
127
poderiam usar a senha para habilitar a notícia, mas nenhum aluno fez uso dela. A busca
por palavras-chave, feita pelo aluno M e somente por ele, também não foi bem
sucedida.
JORNAL ON-LINE
ALUNOS
ACESSO UOL BUSCA POR PALAVRAS-CHAVE
1ª COLETA TEMPO 1ª COLETA TEMPO
O
Acesso uol – Ciências 1:58
Acesso negado 1:04
Acesso uol – Ciências 0:49
Acesso negado 0:11
----------- ----------
F --------- ----------
M
Acesso uol – quadrinhos 0:19
Busca – quadrinhos/on-
line
0:37
Acesso uol – quadrinhos 0:51 Busca: quadrinhos/jornal 0:46
Acesso uol negado 1:34
Busca:chiclete com
banana/jornal
0:20
Busca: chiclete com
banana/jornal
0:27
I ---------- ---------- ---------- ----------
E ---------- ---------- ---------- ----------
Tabela 4 - Buscas malsucedidas durante a leitura livre
O não-uso da senha ressalta o uso restrito que os alunos fazem dessa
tecnologia que apresenta potencial superior. Todos os alunos passaram por atividades de
aprendizagem das ferramentas que a internet oferece, mas não as utilizaram. Durante as
atividades de pesquisa-ação com o jornal on-line, os alunos sabiam utilizar os recursos
quando monitorados por mim, mas ao se colocarem frente à internet para lerem
sozinhos, limitaram-se as atitudes que normalmente empregam no material impresso.
Seria o labirinto do ciberespaço que os assustaria, ou a falta de compreensão dele?
Segundo Lévy (2003, p.13),o desenvolvimento dos novos instrumentos
de comunicação inscreve-se em uma mutação de grande alcance, à qual ele impulsiona e
que o ultrapassa. Numa palavra, voltamos a ser nômades”. Mexer no espaço virtual, não
é ir de um lado para outro usando os pés. Não é utilizar-se dos instrumentos sem sofrer
alterações no comportamento e no pensamento.
O nomadismo desta época refere-se principalmente à transformação contínua
e rápida das paisagens científica, técnica, econômica, profissional, mental...
Mesmo que não nos movêssemos, o mundo mudaria à nossa volta. Ora, nós
nos movemos. E o conjunto caótico de nossas respostas produz a
transformação geral (LÉVY, 2003, p.14).
Tomando as palavras de Lévy (2203) como referência para a
interpretação dos dados, constata-se os alunos envolvidos no projeto precisam de mais
128
tempo de experiência para a compreensão da tecnologia que usam. Não pretensão de
querer se apropriar do instrumento, porque ao mesmo tempo ninguém sabe ao certo a
que exatamente se adaptar, que o objeto do qual é preciso se apropriar está em
movimento contínuo e em fluxo num território ilimitado em que não se pode ter acesso
ao todo. Quando nos damos conta de que existe uma nova realidade exterior, também
precisamos pensar que esta realidade é resultado transitório do que os homens fazem
juntos, acelerando o processo de surgimento do gênero humano, que não terminou, mas
se acelera de maneira brutal. Para Lévy (2003, p.16),
Superamos um novo limite, uma nova etapa de hominização, inventando
algum atributo do humano tão essencial quanto a linguagem, mas em escala
superior, ou continuamos a nos “comunicar” por meio da mídia e a pensar em
instituições separadas umas das outras, que organizam, além disso, o
sufocamento e a divisão das inteligências. [...] Aprenderíamos aos poucos a
nos orientar num novo cosmo em mutação, à deriva; a nos tornar, na medida
do possível, seus autores; a nos inventar coletivamente como espécie.
Para o autor, a espécie ainda não teria atingido a inteligência coletiva da
cultura por falta de uma linguagem articulada. A era da informação talvez possa fazer
da utopia realidade.
No próximo item serão analisados os dados coletados nas últimas
entrevistas realizadas com as professoras e com os alunos. Apenas a aluna P não
participou da última entrevista, porque mudou de escola. A análise dos dados não se
ocupará em mostrar avanços da revolução digital, porque este não é o assunto elencado
como mais importante nesta tese, mas sim as repercussões que a tecnologia do virtual
provocam na linguagem e pensamento do leitor co-construtor desse instrumento de
leitura que é a internet.
3.5 A influência da leitura de jornal nos sujeitos da pesquisa: o olhar das
professoras
Como foi anunciado em capítulo anterior, as professoras dos sujeitos
não usavam o jornal como um recurso didático, mas apenas comentavam com os alunos
alguns fatos ocorridos que eram publicados no impresso e também eram veiculados pelo
falado na televisão. Não se preocupavam em ensinar a estrutura do impresso para dar
condições a que o próprio aluno tivesse acesso a esse material de leitura. Foi, então,
129
durante a pesquisa-ação, que os sujeitos aprenderam a buscar informações no jornal.
Com a intenção de compreender a extensão desta aprendizagem e a forma como foi
percebida pelas professoras, realizei uma segunda entrevista com elas.
O quadro abaixo revela as falas das professoras quanto ao interesse dos
alunos em comentar leituras feitas pelo jornal, em suas duas versões, durante o projeto.
ALUNOS INTERESSE EM LEITURA
PARTICIPAÇÃO EM AULA COM
INFORMAÇÕES LIDAS NO JORNAL
O
Percebi maior interesse. É um aluno que gosta
particularmente de ler e desde o começo do ano
letivo sempre deixou claro grande familiaridade
com o universo literário, também fora da
escola. Durante as aulas sempre fazia
comentários sobre acontecimentos que via,
ouvia ou lia no noticiário e que chamavam sua
atenção, principalmente em relação ao meio
ambiente.
Quando tinha algum material relacionado a
algum tema que estávamos estudando
sempre os trazia para aula. Inúmeras vezes
trouxe textos extraclasse, de propostas que
elaborava por conta própria para eu ver. O
último material que trouxe foram livros
sobre lendas folclóricas.
F
Percebi maior interesse e curiosidade. Durante
as aulas de informática estava sempre
interessado em navegar pela internet, buscar
novos assuntos e operava o equipamento com
facilidade.
Não trouxe nenhum material para a aula,
mas foi claro seu progresso em relação à
leitura e à escrita. Suas produções de texto
ficaram mais criativas, com mais
elementos e melhor estruturadas. O projeto
foi um estímulo importante pois está mais
estudioso e comprometido com os
trabalhos escolares.
M
Todos os dias após o projeto de leitura ele
chegava e queria contar tudo o que ele fazia
durante o projeto, que aprendeu a ter uma
leitura de busca, que está conseguindo
interpretar melhor os textos que lê.
Quando nós estávamos estudando sobre as
regiões do Brasil, ele pesquisou e montou
um esquema para estudarmos as regiões.
I
Percebi maior interesse e curiosidade durante as
aulas de informática.
Não trouxe nenhum tipo de material.
E
Às vezes ela chegava contando sobre o projeto,
que aprendeu uma forma de leitura e pesquisa.
Queria que fosse feito na sala o que tinha sido
realizado no projeto; tais como: leitura de
busca. Obteve um bom rendimento na
interpretação de texto.
Em uma das aulas de gramática a aluna
trouxe algumas anotações que havia
pesquisado.
Quadro 9 - Mudanças no comportamento do aluno pelos olhares das professoras
Para as professoras, os sujeitos ficaram mais motivados durante o período
em que participaram do projeto. Duas situações interessantes aparecem nas falas das
professoras. Uma delas é o fato de o aluno querer fazer leitura de busca durante a aula
regular como fazia no projeto. A outra, maior interesse em participar das aulas de
informática.
Quanto à primeira situação, o termo leitura de busca surgiu na pesquisa
para que o aluno fizesse uma leitura rápida, sem se preocupar com palavras
desconhecidas que aparecessem no texto. Alguns alunos tinham dificuldade em
130
entender o significado de determinadas palavras e assim paravam para perguntar seu
sentido, atitude esta que truncava o rendimento e a compreensão da leitura e, portanto,
minha indicação era que lessem sem se preocupar com essas palavras, buscando o
significado no contexto. Referia-me a esta atitude como leitura de busca.
Para justificar essa estratégia ensinada aos alunos, faz-se necessária uma
pequena explicação teórica. Segundo Foucambert (1998, p. 46-47),
ao contrário do oral, a escrita não é permutada no instante efêmero, mas na
permanência do espaço. Dá-se tudo de uma vez, portanto tudo deve ser
concebido para ser apresentado de uma vez. Ou, melhor dizendo, se o que
se escreve no instante coloca em questão aquilo que o procede, então aquilo
que o procede deve ser transformado para estabelecer uma coerência. A
escrita não é o terreno do pensamento que se cria, mas do pensamento que
experimenta a si mesmo em sua unidade. E essa diferença nasce das
restrições inerentes ao instrumento no que ele tem de mais material: o oral
dá-se no tempo; a escrita, no espaço.
A escrita não é correspondência da fala, ela possui outra dimensão.
Portanto, a concepção de leitura que valoriza a oralidade não está apontando a melhor
trilha para chegar à compreensão. Existem algumas medidas pedagógicas que
favorecem essa interação do aluno com o mundo gráfico. Podemos proporcionar-lhe o
contato com os diversos gêneros textuais, tomando o cuidado de garantir que ele tenha
conhecimento prévio daquilo que está sendo oferecido para leitura, pois a pouca
familiaridade com o assunto pode acarretar a incompreensão.
Para que a leitura efetivamente aconteça, é necessário que seja ativado
em nossa mente todo o conhecimento relevante para o entendimento do texto a ser lido.
Muitas vezes, não temos as informações prévias e, ainda, outras podem estar perdidas
no fundo de nossa memória. O problema se agrava quando os professores não as
fornecem, nem ajudam a recuperá-las.
Portanto, ensinar leitura neste contexto é criar oportunidades variadas
que permitam o desenvolvimento cognitivo dos alunos, ampliação de sua visão de
mundo, abertura de novos horizontes, ou seja, que permitam sua inserção no mundo da
leitura. Tais condutas proporcionarão realmente que o aluno cresça como um verdadeiro
leitor, porque “as crianças se tornam leitores quando são engajadas em situações nas
quais a linguagem escrita é usada de maneira significativa, assim como elas aprendem a
linguagem falada quando estão em contato com pessoas que usam a fala de maneira
131
significativa” (SMITH, 1999, p. 6).
É necessário que todo leitor tenha alguns recursos para garantir sua tarefa
de leitura e inserir-se num mundo gráfico. São aqui apontados três deles: o
conhecimento do funcionamento do sistema lingüístico; apropriação do formato ou
dispositivo em que se encontram os diversos textos escritos, ou melhor, saber como um
determinado gênero é formatado no espaço da tela ou do papel, ou onde quer que este
ganhe vida. O aspecto mais abrangente seria o conhecimento de mundo que, na verdade,
abrange os outros dois citados. Simultaneamente ao momento da leitura,
elementos da vivência de mundo que são particulares de cada leitor. Entendendo que o
indivíduo é único e está em constante movimento de evolução, como seria garantido um
entendimento único e definitivo para determinado texto, se, assim como afirma Bakhtin
(1988), os signos se caracterizam pela sua mobilidade?
Toda essa mutabilidade histórica, social e biológica do ser reflete-se
também em suas ações. A leitura, nesta concepção, pode ser considerada como o
resultado do consenso da significação dos signos verbais usados em um determinado
tema.
Nada pode permanecer estável nesse processo. É por isso que a significação,
elemento abstrato igual a si mesmo, é absorvida pelo tema, e dilacerada por
suas contradições vivas, para retornar enfim sob a forma de uma nova
significação com uma nova estabilidade e uma identidade igualmente
provisórias (BAKHTIN, 1988, p. 136).
Por isso, devemos entender que “toda leitura é um questionamento de
texto, isto é, uma elaboração ativa de significado feita pelo leitor a partir de indícios
diversos, de acordo com o que se está procurando num texto” (JOLIBERT, 1994, p.
149). Assim, a autora citada apóia-se na hipótese de que as próprias crianças constroem
o seu saber ler e defende que a aprendizagem deva ser realizada em situações reais; que
a leitura tenha uma função social concreta. O professor pode fazer o aluno experimentar
e explicitar os indícios e as estratégias utilizadas, “de maneira que cada criança se torne
capaz de gerir sozinha sua tarefa de leitura” (JOLIBERT, 1994, p.150).
Em vista disso, nas salas de aula deve-se veicular todo o tipo de material
de leitura, principalmente porque na vida cotidiana a criança se depara com várias
oportunidades de leituras que, quando utilizadas pelos professores, permitem a
compreensão de sua função social. Segundo Jolibert (1994), as situações de leitura que
132
os professores proporcionam a seus alunos devem ter objetivos concretos, como
descobrir informações das quais a turma necessita naquele momento; comunicar-se com
o exterior, construir algo. Enfim, toda leitura deve estar atrelada a situações reais, nas
quais a criança possa encontrar sentido para realizar seus projetos de vida cotidiana. Por
esse motivo, a escola não pode se limitar a um ou dois gêneros,
existem muitos tipos diferentes de texto e finalidades muito diferentes na
leitura. Um dos aspectos da leitura que todos têm em comum é que perguntas
são feitas sobre o texto. A compreensão ocorre quando são encontradas as
respostas para essas perguntas. A habilidade de fazer perguntas relevantes e
de saber onde encontrar as respostas no texto depende do conhecimento, do
tipo de material envolvido, e da finalidade específica de cada leitura. Nada
disso pode ser ensinado explicitamente, mas é desenvolvido com a prática da
leitura (SMITH, 1999, p. 112).
É aceitável dizer que alguns textos são mais adequados que outros para
determinados propósitos de leitura. Ter acesso a uma diversidade de textos é importante
porque as estratégias utilizadas para ler se diversificam e se adaptam em função do texto
e do contexto que se quer compreender. Na prática, percebemos que a maioria dos
alunos começa a ler sem ter noção de onde quer chegar e do que fazer com a informação
que obtiver pela leitura. A capacidade de engajamento e ativação de conhecimento
prévio sobre o assunto de um texto tende a melhorar quando um objetivo para a
tarefa de ler.
Nem sempre foi possível recuperar, durante a pesquisa, os conhecimentos
prévios que envolviam a leitura que o aluno fazia, que tinha liberdade de busca. Os
temas fugiam do controle da pesquisadora. Sem dúvida não poderia deixar de explicitar
essa estratégia de ensino para o ato de ler. No entanto, de todos os recursos utilizados
e explicitados, os alunos utilizaram mais o da busca por temas conhecidos, porque
assim garantiriam, eles próprios, o conhecimento prévio acionado dos assuntos
procurados, como também o da leitura de busca. Pulando palavras desconhecidas iam à
busca do contexto, do assunto como um todo e não das suas mínimas partes. Essa
atitude foi significativa, pois nos relato das professoras os alunos quiseram aplicar essa
atitude em outros materiais de leitura, o que a meu ver é muito oportuno. Outra situação
interessante apontada pelas professoras é o maior interesse dos alunos pelas aulas de
informática.
A Secretaria da Educação do município exige que todos os professores
levem seus alunos uma vez na semana para o laboratório de informática e os ensinem a
133
fazer uso do computador. Os professores têm liberdade para criar suas próprias aulas ou,
então, fazer uso do software educacional oferecido pela Secretaria. Embora o professor
tenha autonomia para preparar suas aulas, o uso da internet é gerenciado, o que acarreta
desistência do aluno em utilizar esse recurso. O professor pode pedir a liberação do uso
da internet, mas é responsável pelo uso que o aluno faz. Os dados da pesquisa provam
que o uso desta ferramenta é limitado, que apareceu uma única vez, quando uma
professora indicou aos alunos um site com informações sobre a água para que os alunos
se envolvessem num projeto didático que estava sendo conduzido em aula.
O papel didático do professor é importantíssimo para que o aluno tenha
condições de se apropriar do instrumento social de leitura que é a internet. Não basta
que o professor tenha conhecimento de como utilizar as ferramentas do Word, mas
também tenha conhecimento da constituição deste novo material de leitura para poder
auxiliar o aluno a construir estratégias de leitura próprias desse material. Histórica e
culturalmente, o professor, ao mesmo tempo em que se apropria da nova tecnologia,
também auxilia seu aluno nesta empreitada. Comungo com a opinião de Amaral (2003,
p.59) de que
estamos passando agora por uma fase intermediária na formação do
professor, pois acredito que, para futuros professores, a tecnologia deverá
estar presente em seu programa de formação junto com as demais disciplinas
teórico-metodológicas. Não pode ser tratada isoladamente, como simples
instrumental tecnológico, em que a sua absorção se faz pelo domínio da
técnica software/hardware ou relegando ao professor a posição passiva de
apertador de botões. Não devemos pensar que a inclusão do computador na
sala de aula, por si só, representa a melhora da qualidade do ensino-
aprendizado.
O município de Marília conta com salas de informática em todas as
escolas, com número considerável de computadores. Em algumas delas não é possível
usar a internet por problemas de sinal ou cabo. Possuem um técnico em informática que
acompanha o professor durante suas aulas. O professor muitas vezes não precisa
gerenciar algumas atividades, pois o técnico está de prontidão para auxiliar os alunos.
Julgo ser necessário um técnico para manutenção do equipamento, mas
não para ministrar a aula, pois esta é responsabilidade do professor. A realidade é que
muitos professores não têm acesso diariamente ao computador on-line para uso de
necessidades geradas pela vida prática ou pela profissão. O recurso financeiro não
possibilita esta escolha. Voltemos, então, à discussão apresentada sobre a exclusão
digital.
134
Devido à forma como a sociedade é constituída, ricos e pobres, milhões
de pessoas não têm acesso a internet, entre eles alunos e professores. Não
contestação desse argumento. Por outro lado, pensemos que uma criança pobre
moradora da favela também não tem possibilidade de comprar livros e com isso está
excluída da tecnologia da escrita; muitas vezes, terá acesso a essa tecnologia da
escrita na escola. Quantos são os alunos que pegam um livro nas mãos quando
passam a freqüentar a escola? Assim penso que a mesma situação pode acontecer com o
computador e com a internet. A escola deve ser a ponte que leva o aluno para outro lado
menos cruel e exclusivo. Kucinski (2005, p.82) aponta que é uma falácia o argumento
de que a exclusão digital, aumenta o fosso entre ricos porque os pobres não podem ter
acesso à internet. Compara a TV com a internet,
como argumentar que a TV cria exclusão porque custa dinheiro e os pobres
não podem pagar, os ricos. No Brasil, 90% das residências têm televisão,
mesmo nas favelas, e ela se tornou o mais importante mecanismo de inclusão
social e cultural do país – obviamente também o principal meio de construção
de uma hegemonia político-ideológica. O custo da internet não precisa ser
muito diferente do de um aparelho de televisão.
A essência da exclusão não está na internet, mas no próprio plano de
produção capitalista de que a internet também faz parte. Operar alguns programas
elementares de computador tornou-se necessidade para conseguir empregos e isso é um
exemplo de exclusão. Quero salientar aqui que não é a tecnologia em si que traz a
exclusão, mas a forma como a sociedade está organizada. Nesta pesquisa, o avanço
tecnológico não é condenado, pelo contrário, é considerado sob um aspecto bastante
otimista. Em curto prazo, menor ainda do que o do acesso à televisão, as escolas, com
equipamentos que possibilitem o uso da internet, podem gerar planos de inclusão
digital. Para que a exclusão seja eliminada é preciso que professores e alunos, cada vez
mais, no fluxo do desenvolvimento dessa nova tecnologia, se apropriem desse meio de
comunicação. E isso é possível estabelecer na relação com o material em seu
potencial total e nas relações com outros sujeitos que avançaram no processo de
apropriação.
Nesta pesquisa, os alunos sentiram maior interesse ao usar o laboratório,
porque percebiam em seu uso um potencial maior do que a professora oferecia e
permitia que usassem. Entendiam o computador não como uma máquina de escrever
sofisticada, mas como um canal de comunicação com o mundo em rede.
135
3.6 Avaliação dos alunos sobre o uso das duas versões do jornal, a on-line e a
impressa.
Um objetivo desta pesquisa era investigar a preferência dos alunos pelas
versões impressa e on-line. Para que o aluno pudesse relatar sua opinião ao final da
pesquisa, anteriormente foi necessário o uso das duas versões para que pudesse opinar
com base em seu uso. O quadro a seguir demonstra o resultado da entrevista quanto à
preferência e ao conforto para ler o jornal. Os alunos foram indagados a respeito do
motivo de suas escolhas.
ALUNOS
PREFERÊNCIA CONFORTO PARA LER
JORNAL MOTIVO JORNAL MOTIVO
O On-line Tem mais folhas Impresso
Para acompanhar a leitura
com o dedo
F On-line É muito mais rápido On-line Tem imagens legais
M Impresso
Tem quadrinhos e não é demorado
para encontrar a notícia desejada
On-line
Não precisa segurar e não
faz bagunça
I On-line Acha divertido e vai direto a notícia On-line
É só clicar e já encontra a
informação desejada
E On-line O volume de notícias é maior Impresso A luz não atrapalha a visão
Quadro 10 - Motivos da preferência de material e conforto para leitura
Ao ler o quadro pode-se dizer que os sujeitos O, F, I, E preferem o jornal
on-line por dois motivos: o volume maior das informações e a rapidez com que se pode
acessar a notícia. o aluno M diz preferir o jornal impresso porque não é demorado
para encontrar notícias e pelo fato de apresentar quadrinhos. É preciso lembrar que este
aluno teve muita dificuldade em encontrar os quadrinhos no impresso e esse tema é um,
entre outros, de sua preferência. Mas, ao referirem-se ao conforto para leitura as
opiniões de O e E não são compatíveis com a escolha anterior quanto à preferência.
Ambos preferem ler o on-line; dizem ser mais confortável ler o impresso, por motivos
diferentes. O primeiro, porque o material possibilita acompanhar a leitura com o dedo, e
o segundo, porque a luz não atrapalha a visão. F e I são coerentes com a escolha:
preferem ler o on-line e sentem maior conforto ao utilizá-lo. I justifica sua escolha pela
rapidez com que se pode clicar sobre um ícone e chegar à notícia desejada, mas F se
refere ao conforto pelas imagens em grande quantidade que o on-line traz. Isso não
estaria relacionado ao conforto em relação ao comportamento físico que o leitor assume,
136
mas ao conforto intelectual ao olhar para imagens e receber toda a carga de informações
que elas podem trazer.
Já o aluno M, que citou preferir o impresso, diz ser mais confortável ler a
versão on-line porque não precisa segurar a folha e as folhas de um caderno não se
misturam com as de outro durante a leitura. Este quadro revela que nem sempre os
alunos escolhem o material pelo conforto que este proporciona, mas por razões de
interesse pessoal.
Quando aos alunos foi perguntado se gostariam de usar o jornal em aula
regular, todos responderam afirmativamente. O quadro a seguir nos mostra a freqüência
com que os alunos gostariam de que o jornal fosse usado durante as aulas e as
explicações a respeito da contribuição que essa atividade pode trazer para a vida escolar.
ALUNOS
FREQÜÊNCIA SEMANAL QUE GOSTARIAM
DE LER JORNAIS EM AULA
IMPRESSO ON-LINE
CONTRIBUIÇÃO
DA LEITURA DO
JORNAL PARA A
VIDA ESCOLAR
O 2 3 Ajudou na leitura
F 2 3
Melhorou a
oralização da leitura
M 5 3
Auxiliou pesquisas
sobre alguns
assuntos
I 5 5
Ajudou a
compreender
assuntos que
desconhecia
E 3 5
Melhorou a
ortografia
Tabela 5 - Desejo em ler jornal e contribuição do material para a vida escolar
Os dados foram coerentes com os anteriores. Os alunos demonstram em
suas respostas que gostariam de utilizar as duas versões do jornal. Isso foi bastante
coerente com o quadro anterior pois, ao interpretá-lo, pode-se concluir que uma
preferência específica para cada situação de leitura: ora o jornal preferido era a versão
impressa, ora a versão on-line. Para os sujeitos da pesquisa, o uso das duas versões
trouxe avanços para situações escolares. Relatam que o desempenho da oralização
melhorou, ampliou o universo de informações, auxiliou pesquisas e desenvolveu a
ortografia. Quando indagada a respeito da ortografia, a aluna E relata que melhorou na
ortografia porque passou a fazer redações mais longas. Levanto a hipótese de que a
aluna quer dizer, com ortografia, um avanço na estrutura das produções de texto que sua
professora pede em aula. Ortografia para ela é uma palavra que significa escrita, isto é,
137
agrupamento de palavras que geram sentido. Ressalto aqui que os depoimentos dos
alunos estão marcados pelas falas das professoras que usaram esses argumentos quando
me encontravam nos corredores da escola para elogiar o projeto. Penso que ao ouvir o
discurso das professoras o reproduziram também. Isso não significa que não houve
progresso na leitura de jornais por parte dos alunos, mas que é preciso estar atento para
além do que aparenta ser.
Para verificar melhor o assunto investigado, novamente foi perguntado
aos alunos sua preferência por temas no uso das duas versões. A intenção era conferir se
para cada versão o aluno tem um sentido diferente de uso específico para determinados
assuntos e por qual deles seria mais fácil compreender a notícia.
ALUNOS
PREFERÊNCIA POR ASSUNTO
COMPREENDE MELHOR
QUANDO LÊ
JORNAL IMPRESSO JORNAL ON-LINE
TEMA MOTIVO TEMA MOTIVO
JORNAL MOTIVO
O
Folha
Ciências
Fala sobre
animais
Ambiente
Fala sobre
ambiente
Impresso/on-
line
Tem os mesmos
textos nos dois
jornais
F Esporte
Fala sobre os
jogadores da
Seleção
Novela
Fala o que vai
acontecer na
novela Rebelde
On-line
Ás vezes tem
erros no jornal
impresso
palavras erradas
M
Esporte; Folha
Ciência e
quadrinhos
Esporte: tema
de pesquisa
escolar;
Preferência pelo
assunto
Ciência e
novelas
Ciência:
assunto
preferido;
Novela: fica
ansioso com o
que vai
acontecer
Impresso/on-
line
Tem os mesmos
textos nos dois
jornais
I Folhinha ----- Jogos -----
Impresso/on-
line
Tem os mesmos
textos nos dois
jornais
E Folha Mundo
Tem notícias do
mundo
Novelas
Interesse
pessoal
Impresso
É mais fácil de
ler
Quadro 11 - Preferência dos alunos por assuntos na versão impressa e na versão on-line. Explicações sobre qual material
facilita a compreensão
O aluno O demonstra sua preferência pelo mesmo tema em ambas as
versões. Apenas na versão on-line uma seção específica sobre Ambiente que o aluno
percebeu como similar ao conteúdo que a Folha Ciência traz, mas nenhum outro sujeito
mantém esse padrão. Os alunos F, M, E escolhem cadernos como Esporte, Folha
Ciência e Folha Mundo quando usam a versão impressa, mas para a versão on-line
reduzem a escolha para novelas. Os alunos, exceto M que diz também ler a seção
Ciência, preferem ler novelas pela versão on-line, mas pela versão impressa escolhem
temas mais sérios.
Os alunos relatam que a compreensão de um determinado assunto lido
em qualquer uma das versões é a mesma, dizem haver os mesmos assuntos nas duas
versões. F e E se posicionam diferentemente. O primeiro diz que no jornal impresso
138
palavras erradas e isso dificulta a leitura e, o segundo, justifica dizendo que ler o
impresso é mais fácil.
Embora os sujeitos nos apontem de maneira equivocada que ler on-line é
o mesmo que ler a versão impressa, relatam que a versão on-line possui algumas
características que dificultam a leitura, contradizendo a afirmação.
Características que dificultam a leitura do jornal
on-line
0
1
2
3
4
5
6
1 2 3 4 5 6 7
Características negativas
Alunos
Muita propaganda
Lentidão
Muito espaço em branco
Dificuldade em acessar
algumas nocias
Espaço insuficiente
Formatação das nocias
Dificuldade na escolha
dos links
Gráfico 1 - Características do jornal on-line que atrapalham a leitura na opinião dos alunos
Todos eles reclamavam do número excessivo de propagandas. Usavam
Speed em velocidade alta e reclamavam, mesmo assim, da lentidão. Creio que, por ser
um suporte de leitura que tem por princípio trazer a informação em tempo real, o pouco
tempo de espera tornava-se longo demais. Acostumados com a diagramação dos
materiais impressos em geral, livros, jornais revistas que utilizam o espaço da folha
como um todo, distribuindo harmonicamente as informações, esperavam o mesmo
padrão para a tela. Esta, por sua vez, tem diagramação própria bem diferente da do
impresso: texto não justificado, notícias em movimento e muito espaço em branco se
comparado com o impresso. Creio que o item espaço insuficiente também seja uma
comparação com o tamanho da folha do impresso e com a possibilidade de ler duas
folhas ao mesmo tempo, processo este que não aconteceria na versão on-line. Quanto à
dificuldade na escolha dos links, o aluno se refere ao fato de não haver, na primeira
página, palavras-chave da busca em que se encontrava em cada momento. Os links são
fixos e o aluno deve entender, por seus conhecimentos expandidos, que o assunto que
139
busca tem possibilidade de estar em um link ou outro e essa ainda é uma dificuldade dos
sujeitos dessa pesquisa. Eles entendem o conceito de palavras-chave e sua importância
na busca de um assunto, mas não possuem experiência suficiente para saber onde a
palavra pode ser encontrada no universo do ciberespaço.
Quanto às propagandas, os alunos relataram características negativas em
relação a sua presença na versão on-line. Na versão impressa, essa queixa não aparece
porque é estática, não tem movimento próprio, mas na versão on-line o leitor não pode
controlá-la.
Características negativas das
propagandas
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
1 2 3 4
Características
Alunos
Tamanho
exagerado
Não eram
importantes
Distraíam a
atenção
Grande quantidade
Gráfico 2 – Características negativas das propagandas
Os alunos apontam as propagandas como textos não importantes, de
tamanho exagerado, produzidas em grande quantidade e por isso distraem a atenção do
leitor.
3.7 O último dia: relatos significativos
No último dia do projeto, as crianças deram os depoimentos
espontaneamente sem que fossem entrevistadas. A participação dos alunos foi intensa e
desejavam sua continuidade.
140
Aluna (E) - Eu queria voltar porque eu não faço nada à tarde e gostei
desse projeto.
Aluna (I) Com a aula de jornal aprendemos bastante coisa e agora
que acabou seria legal continuar porque eu não tenho nada para fazer de segunda. E
eu gosto de vir à escola à tarde e aprender mais com essa aula.
Aluno (O) Eu lia bem, mas agora com isso aqui eu acho que leio
melhor ainda. Eu não tenho nada pra fazer porque eu não gosto muito de praticar
esportes, então vir aqui na escola foi legal.
Pesquisadora O, quando você fala que melhorou na leitura, é você
mesmo que acha ou alguém falou para você que você melhorou?
Aluno (O) Eu mesmo que acho. É que antes eu enroscava em algumas
palavras, agora eu estou melhor.
Pesquisadora E você acha que ler jornal ajudou a tirar o medo de ler
textos que tem palavras que a gente não conhece?
Aluno (M) Toda segunda eu ficava em casa sem fazer nada
assistindo televisão, mas não ia me dar nenhuma educação. com a leitura do jornal
eu posso aprender. pra fazer as atividades até às 3 horas e depois sobra um tempo
para brincar. Antes, quando meu pai assinava o jornal, eu não sabia de nada do jornal,
só o que era manchete, mas não sabia de mais nada. Eu catava assim e virava o jornal
e só pegava a Folhinha.
Aluno (F) Eu também gostei, porque eu ficava em casa jogando
vídeo-game.
Pesquisadora – E agora que não vai ter mais o projeto?
Todos ficaram quietos. Para romper o silêncio O começou a falar da
época em que começou a aprender a ler.
Aluno (O) Quando eu não sabia ler ficava olhando os desenhos e
depois largava, aí aprendi a ler. Nossa! Eu ia de ônibus para escola e tudo o que eu via
eu lia. Placas, e eu pensava; não vou ler mais, mas eu lia de novo, era bater o
olho.
Pesquisadora – E por que você falava não vou ler mais?
Aluno (O) – É porque eu tava até cansado. Eu lia até no pensamento. Eu
tava na primeira série e todo o dia o ônibus passava no mesmo lugar e eu lia as
mesmas coisas. Aí eu pensava, mas eu já li e isso aí, mas aí não dava, eu acabava lendo
na cabeça.
141
Interessante neste último relato é apontar que O queria controlar o ato de
ler, mas não davaacabava lendo na cabeça”. Isso indica que O tinha se apropriado da
leitura, mergulhado no mundo gráfico, não entendia como separar a palavra oral da
escrita.
O relato de O nos coloca diante de atitudes de verdadeiros leitores.
Segundo Foucambert (1994, p.30),
ser leitor é querer saber o que se passa na cabeça de outro, para compreender
melhor o que se passa na nossa. Essa atitude, no entanto, implica a
possibilidade de distanciar-se do fato, para ter dele uma visão de cima,
evidenciado de um aumento do poder sobre o mundo e sobre si por meio
desse esforço teórico. Ao mesmo tempo, implica o sentimento de pertencer a
uma comunidade de preocupações que, mais que um destinatário, nos faz
interlocutor daquilo que o autor produziu.
Os alunos, ao final do projeto, estavam mudados em relação a atitudes
anteriores de leitura de jornal. Não mais estavam obrigados a ler procurando o sentido
das palavras no dicionário, ou presos na oralidade, mas estavam dominando a
comunicação escrita, que é uma tecnologia específica; dominando a forma como o
jornal se organiza, prevendo um modelo de funcionamento do leitor. Devo ressaltar que
o jornal, assim como outros materiais produzidos socialmente, não é feito para a escola
ensinar. Talvez seja este o motivo pelo qual é excelente para a aprendizagem da leitura,
porque é um texto sem preocupações em colocar palavras da mesma família silábica,
com as características reais de uma produção social. O fato de alunos de série do
ensino fundamental não conseguirem entender reportagens ou crônicas, que exigem
maior desenvolvimento da capacidade leitora para a compreensão, não é impedimento,
mas o motivo para alavancar o processo de ensino da leitura. Uma bula de remédio, um
rótulo de refrigerante, um panfleto de supermercado não são materiais feitos para a
escola ensinar, mas muitas crianças se alfabetizaram passando pelo menos por um deles.
Para Bakhtin (2003), não como conceber a linguagem como um
sistema abstrato possível de se congelar num manual didático. A linguagem também é
uma criação coletiva, integrante de um diálogo cumulativo entre o eu e o outro, entre
muitos eus e muitos outros. Segundo o autor, “nosso próprio pensamento [...] nasce e
forma-se em interação e em luta com o pensamento alheio” (BAKHTIN, 2003, p. 317).
O ciberespaço é algo ainda obscuro. Não sabemos o que de fato será
criado com o que já temos esboçado a cada dia em que a sociedade usa este meio. É
142
possível dizer que o novo instrumento modifica a linguagem que, ao mesmo tempo, é
modificada por ele. O ciberespaço revolucionou as formas de registro. Segundo Chartier
(2002, p.23), houve uma ruptura na ordem do discurso.
Um único aparelho, o computador, faz surgir diante do leitor os diversos
tipos de textos tradicionalmente distribuídos entre os objetos diferentes.
Todos os textos, sejam eles de qualquer gênero, são lidos em um mesmo
suporte (a tela do computador) e nas mesmas formas (geralmente as que são
decididas pelo leitor). Cria-se assim uma continuidade que não mais
diferencia os diversos discursos a partir de sua própria materialidade
Sendo assim, é difícil o leitor do ciberespaço entender “a obra” como um
todo. O leitor deve enfrentar um novo instrumento de leitura que não obedece aos
mesmos critérios que usava em outros meios de leitura. A leitura na tela é descontínua e
a busca por um assunto se por palavras-chave. Não é possível, a partir de buscas
temáticas, conhecer a totalidade textual na qual es contido o item de busca. Segundo
Lévy (2005, p.111), “é um universo indeterminado e que tende a manter sua
indeterminação, pois cada nó, da rede de redes em expansão constante, pode tornar-se
produtor ou emissor de novas informações, imprevisíveis, e reorganizar uma parte da
conectividade global por sua conta própria.”
Para Chartier (2002, p.23-24),
A nova técnica de difusão da escrita, incita uma nova relação com os textos,
impõe-lhes uma nova forma de inscrição. A originalidade e a importância da
revolução digital apóiam-se no fato de obrigar ao leitor contemporâneo a
abandonar todas as heranças que o plasmaram, já que o mundo eletrônico não
mais utiliza a imprensa, ignora o “livro unitário” e está alheio à materialidade
do códex. É ao mesmo tempo uma revolução da modalidade técnica de
produção do escrito, uma revolução da percepção das entidades textuais e
uma das estruturas e formas mais fundamentais dos suportes da cultura
escrita.
Assim como adultos, as crianças também estão presas a tecnologia do
impresso, e não é porque nasceram em um mundo onde existe o conceito de
ciberespaço, que conseguem usá-lo melhor que os adultos. Os homens da sociedade que
usam a tecnologia digital, assim como as crianças, ainda estão presos à tecnologia do
impresso. Todos, ao mesmo tempo, alunos e professores, poderiam refletir sobre as
práticas de leitura neste mundo móvel da textualidade digital.
Infelizmente, em aula, os alunos da pesquisa não continuaram as
atividades de leitura de jornal. Entretanto, as atitudes e comportamentos, próprios de
leitor de jornal, construídos durante a investigação são positivas, pois esse
143
conhecimento apropriado possibilita ao sujeito mais uma forma de interação nas
relações sociais.
Pode-se concluir, pelos dados apresentados nesta primeira parte, que os
alunos aprenderam estratégias de leitura e conheceram a estrutura e diagramação do
jornal. Este aprendizado os levará para futuras leituras, que com o passar do tempo com
os conhecimentos prévios mais alargados poderão compreender com maior
profundidade suas escolhas de leitura. Os alunos transferiam comportamentos que
tinham ao usar o jornal impresso para o jornal on-line como acompanhar com o dedo,
esquecer-se de rolar a página da Web. Entretanto, mantiveram a busca do assunto
escolhido feita por palavras-chave, desprezavam palavras desconhecidas e paravam no
momento que tinham suas dúvidas respondidas. Neste aspecto, construíam modos de ler
na ação de ler, seja na tela ou no papel.
144
PARTE II
JORNAIS EM SALAS DE AULA DE ESCOLAS
PORTUGUESAS
CAPÍTULO 1
146
PORTUGAL EM CONTEXTO
Os contextos culturais e sociais mudam constantemente na dinâmica
interna de cada país. Sendo assim, ao investigar um objeto de estudo inserido em uma
realidade social e cultural diferente da vivida pelo pesquisador, faz-se necessário tomar
alguns cuidados. É preciso delimitar o contorno histórico em que o objeto de pesquisa
está envolvido. Faço opção pelo conceito de contexto apresentado por Graue e Walsh
(2003, p.25)
um contexto é um espaço e um tempo cultural e historicamente situado, um
aqui e agora específico. É o elo de união entre as categorias analíticas dos
conhecimentos macro-sociais e micro-sociais. O contexto é o mundo
apreendido através da interacção e o quadro de referência mais imediato para
actores mutuamente envolvidos. O contexto pode ser visto como uma arena,
delimitada por uma situação e um tempo, onde se desenrola a actividade
humana. É uma unidade de cultura.
No momento da pesquisa etnográfica, as escolas de Portugal estavam em
plena abertura do ano letivo, que se inicia em setembro e termina em julho do ano
seguinte, tendo durante este período três intervalos, as férias para comemoração das
festas natalinas e da Páscoa, e as férias de verão, as mais longas.
Os jornais traziam notícias e reportagens sobre o investimento que o
governo planejava e realizava naquele momento, setembro de 2007. Havia muita
propaganda sobre compra de computadores para as escolas, mas poucas referências
sobre a opinião dos professores em relação a esse fato. Para exemplificar o comentário
acima, cito um jornal de circulação gratuita, que atinge um grande número de pessoas,
Meia Hora (12 de setembro de 2007), que trazia como manchete: Operadoras de
telecomunicações investem milhões no “e.escola”. A notícia se referia a um
investimento de 216 milhões de euros para disponibilizar computadores portáteis e
placa Internet de banda larga móvel para o novo programa e.escola inserido no Plano
Tecnológico proposto pelo Ministério da Educação. Na mesma página, uma notícia
tinha como título: Professores criticam “show midiático” do governo. Não era comum
aparecer na mesma página do jornal as políticas governamentais de investimento
tecnológico nas escolas e as críticas feitas por professores a este plano. A Federação
147
Nacional dos Professores (FENPROF) criticava o discurso otimista do primeiro
ministro José Sócrates relativo à educação, pois julgava que o show midiático escondia
situações pelas quais a educação passava naquele momento como as condições ruins de
trabalho nas escolas, a descaracterização da carreira do professor, a privatização da
escola pública, a elitização do ensino, que deveriam ser, segundo a FENPROF,
discutidas e reavaliadas. Segundo a notícia, o programa e.escola previa entregar pelo
menos 300 mil computadores a professores do ensino básico e secundário, a alunos do
10º ano e a trabalhadores que freqüentavamm o programa “Novas oportunidades”.
A mídia demonstrava intensamente as ações do governo na tentativa de
cumprir o proposto pelo Plano Tecnológico da Educação, que tinha como objetivo
colocar Portugal entre os cinco países europeus mais avançados na modernização
tecnológica do ensino. Os principais documentos de base para a concepção da estratégia
que orientaria as medidas de modernização tecnológica nas escolas portuguesas foram
coletados em um estudo de diagnóstico elaborado pelo Ministério da Educação no
primeiro semestre de 2007, tendo os modelos internacionais como referência no âmbito
da Educação.
Segundo dados do Ministério da Educação, em 2007 existia um
computador com ligação à Internet para cada treze alunos. Em 2010 existiriam um
computador com ligação à Internet para cada dois alunos. (MINISTÉRIO DA
EDUCAÇÃO, 2008). Dentre as ações realizadas pelo governo português destaco o
Projeto Minerva e o Projeto Nónio Século XXI, que, no momento da pesquisa ainda se
faziam presentes.
O Projeto Minerva surgiu na década de 80 com o apoio e financiamento
do Ministério da Educação promovendo cursos básicos para o uso do computador, tanto
a professores como a alunos, com a intenção de construir ambientes estimulantes à
aprendizagem, mas foi em novembro de 1985 que o projeto ampliou suas dimensões.
Segundo Duarte (2004, p.1),
novembro de 1985 marca o arranque da grande aventura colectiva que foi o
Projecto MINERVA, um programa de disseminação das Novas Tecnologias
de Informação nas escolas do Ensino Básico e Secundário e de formação e
apoio aos professores para o seu uso educativo com alunos. Equipas
interdisciplinares de todos os níveis de ensino ensinaram e aprenderam a
148
cruzar a pedagogia com a tecnologia. Nunca em período algum as escolas
viveram momentos de tão intensas experiências, onde a inovação e a idéia de
projecto percorreram o quotidiano profissional de muitos membros da
comunidade escolar. A ESE de Setúbal, com o apoio do Núcleo do
Departamento de Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de
Lisboa, constituiu um Pólo que envolveu 36 escolas do distrito de Setúbal, de
todos os níveis de ensino, incluindo a educação pré-escolar, 'montou' três
Centros de Apoio Local (C.A.L.) em Setúbal, Barreiro e Santo André - Sines
para acompanhar e apoiar mais de perto a formação dos professores e chegou
a ter 9 professores em funções de formação e apoio às escolas, em regime de
destacamento.
Na seqüência do Projeto Minerva, em que se realizaram experiências
relevantes de utilização educacional das Tecnologias de Informação e Comunicação
(TIC), foi criado, por despacho do Ministro da Educação de 4 de Outubro de 1996, o
Programa Nónio - Século XXI - Programa de Tecnologias da Informação e da
Comunicação na Educação. Atualmente esse programa conta com um conjunto de
Centros de Competência auxiliados por algumas Universidades e Centros de Formação
de Professores com o propósito de re-equipar as escolas, desenvolver formação e apoio
aos professores, integrando a dimensão da Internet (GIASE, 2008).
O contexto educacional português contava, em 2007, com 23 anos de
Projeto Minerva e 12 anos de criação do Programa Nónio – século XXI. Este último tem
realizado trabalhos de criação de páginas dos Centros de Competência e das escolas, de
criação de materiais educativos publicados em formato digital e disponibilizados on-
line, redes de comunicação e, mais recentemente, de plataformas para o ensino a
distância.
Para efeitos de comparação ao plano de investimento feito pelo governo
atual, reproduzo abaixo um quadro sobre a evolução da entrada dos recursos
didáticos/TIC em uma escola específica de Portugal, a Escola Secundária de
Miranda, antigo Liceu Nacional de Braga, que ofereceu documentos de seu arquivo para
que o pesquisador Bento Duarte da Silva (2001) pudesse concretizar sua pesquisa. Este
estudo nos serve como amostra de como e quando o computador chegou às escolas
portuguesas, tendo essa escola como referência.
149
1836 Criação do Liceu Nacional de Braga
1840 Início da atividade liceal (instalações do Seminário de S. Pedro)
1845 Instalação do liceu no Convento da Congregação do Oratório
1858
Livros
Mapas
Modelos
1859
Lousa e tábua de madeira pintada de preto
Microscópio
Câmara escura
1882 Lanterna Mágica com 24 estampas de vidro
1886 Telégrafo Morse (Gabinete de Físico-Química)
1921 Instalação do liceu no edifício do Colégio da Congregação do Espírito Santo
1928
Máquina cinematográfica (filmes mudos)
Linguaphone com discos para o Inglês e Francês
Quadros envidraçados com fotografias
Quadro negro de ardósia (22)
Máquina de impressão “Rotari”
1934
Fonógrafo
Microfone
Telefone
Grafonola (para línguas vivas)
Discoa (2 coleções 30 discos)
Máquina fotográfica
Lanterna de projeção
Diapositivos
Ecrã para projeção
Quadros de parede
Mapas
1936 Aparelhagem sonora com altifalantes para máquina cinematográfica
1938 Aparelhagem cinematográfica, tipo médio, sonora, com ecrã e altifalantes
1940 Máquina de duplicação (stencil)
1947 Máquina de escrever (Remington)
1953 Epidiascópio
1955 Projetor de filmes de 16mm
1957 Projetor de diapositivos
1958
Diapositivos a cores
Máquina fotográfica (com célula fotoelétrica e objetivas)
1959
Gravador de bobine
Filmes fixos
1971 Copiógrafo
1972 Projetor de filmes fixo e diapositivos
1976 Episcópio
1981
Duplicador off-set
Máquina fotocopiadora
Gravador portátil de cassetes
Retroprojetor
1983 Televisor
1984 Computador (ZX Spectrum)
1987
Projeto Minerva
Computador (Amstrad); impressora
1988 Leitor vídeo
1989 Computador (Unisys) – Projeto IVA (sala de informática)
1990 Mediateca – PRODEP
1991 Gravador vídeo
1993
Câmara vídeo
Sala de informática, com 8 computadores (centro de formação de professores)
Data show
1996 Data show a cores
1997
PC – Internet; - Programa Internet na escola
Homepage (HTTP://www.esec-sa-miranda.rcts.pt)
1998 Projeto Nónio Século XXI
1999
Reestruturação dos laboratórios de informática (5 laboratórios, 45 computadores)
Sala Nónio (5 computadores Multimédia, com Internet)
Sala de informática com acesso livre (13 computadores ligados a Internet)
Reforço da informatização dos serviços administrativos
Computador portátil
Impressora laser; projetor multimédia; scaner; câmara fotográfica digital
2000
Reformulação da rede interna (intranet) e externa (internet)
Processo de automatização funcional da escola
Quadro 1 Quadro sinóptico da evolução da entrada dos recursos didáticos/TIC na escola construído
com base em dados recolhidos no arquivo de ESSM (SILVA, 2001, p.113-114)
150
Silva (2001, p. 115) destaca cinco momentos principais no quadro. O
primeiro, que abrange toda a segunda metade do século XIX e início do século XX, é
marcado pela escassez de meios e por isso corresponde à adoção do método tradicional
de ensino. O segundo, iniciado com o Estado Novo por Antônio Salazar, é marcado
pelas idéias da Escola Nova e a descoberta do cinema educativo. O terceiro, na década
de 60, mas com ênfase maior na década de 80, é marcado pela introdução dos meios
audiovisuais no ensino. O quarto, iniciado no final da década de 80 é marcado pela
entrada da informática com o Projeto Minerva e pela última reforma do século XX. Por
último, ainda em curso, está a proposta de utilização das TIC (nomeadamente do
multimídia e da telemática) na nova reorganização curricular. Com este panorama que o
quadro apresentado por Silva (2001) nos oferece, é possível dizer que a entrada dos
computadores nas escolas é relativamente recente e a apropriação deste instrumento
para o desenvolvimento do trabalho didático é ainda mais.
Um estudo diagnóstico, encomendado pelo Ministério da Educação
realizado em 2006, relata fatos comprovados no decorrer das visitas às escolas. A
professora A em entrevista queixou-se de que usava internet no ano anterior e que isso
“deixava a aula mais animada para os alunos”, mas até aquele momento (início do ano
letivo de 2007) ainda não havia possibilidade de usá-la porque os computadores não
estavam conectados à internet. Quando indagada sobre o motivo pelo qual não havia
ligação com a WWW, não soube responder. O relatório apresenta limitações quanto ao
uso dos equipamentos e sua funcionalidade, o que corrobora as queixas da professora
entrevistada:
No que diz respeito à conectividade, grande parte das escolas registra
velocidades de acesso limitadas e um número elevado de computadores (mais
de 20 000) não está ainda ligado à internet. [...] Apesar de mais de 90% das
escolas possuírem redes de área local, observam-se insuficiências em 30%
dos estabelecimentos de ensino, onde estas redes cresceram de forma
ineficiente e não estruturada e se encontram confinadas a áreas predefinidas e
limitadas, restringindo a utilização. A sua requalificação é essencial para
alargar a utilização da internet a todos os espaços da escola e para suportar a
oferta de novos serviços e aplicações (DIÁRIO da República, 2007).
Relembro ao leitor que o foco deste trabalho é a leitura de jornais nas
versões impressa e on-line por alunos de série do ensino fundamental. Conhecer o
percurso da entrada dos computadores nas escolas e a forma como isso ocorreu
possibilita uma análise mais significativa dos dados que foram coletados nas escolas no
151
ano de 2007 para o objetivo deste estudo. Constata-se que, ainda em 2007 o uso da
internet nas salas do ensino fundamental em Portugal era restrito. Em decorrência disso,
a pesquisa em relação ao on-line foi prejudicada; como explico a seguir.
1.1 Dados iniciais da pesquisa
O objetivo inicial da pesquisa era desenvolver também uma pesquisa-
ação com alunos portugueses, utilizando os mesmos recursos que haviam sido
utilizados no Brasil no processo inicial de pesquisa. Entretanto, ao chegar a Portugal e
conhecer o funcionamento das escolas, da realidade educacional portuguesa, a forma
como os computadores eram utilizados nas escolas e, as diferenças lingüísticas tanto da
fala, quanto ao uso de palavras diferentes em ambos os países, julguei que a pesquisa-
ação não fosse o caminho metodológico mais adequado para a realização da
investigação. Na pesquisa-ação é preciso que o pesquisador esteja envolvido no
problema a ser estudado, mas não simplesmente como investigador que anseia por
respostas, mas como um indivíduo que propõe modificações para a realidade que o
cerca com o desejo de alterá-la. Assim, o planejamento do percurso metodológico em
Portugal precisou ser alterado e a outra forma encontrada para que a pesquisa fosse
realizada foi a opção pela pesquisa etnográfica, porque possibilitava a investigação
desejada.
Escolhi três escolas portuguesas para investigar o jornal impresso e on-
line no contexto educacional português. Como apresentado na introdução desta tese,
a pesquisa compartilhada entre Brasil e Portugal estava diretamente ligada à
Universidade de Lisboa e, com isso, a escolha de escolas ocorreu no município de
Lisboa. Entretanto, contatos promovidos possibilitaram que a coleta também se
estendesse ao município de Évora, uma cidade a 140 km de Lisboa, com realidade
bastante diferente da capital de Portugal, fato este que contribuiu para o enriquecimento
dos dados. Entretanto, não pude iniciar de imediato a pesquisa. Não apenas porque o
ano letivo estava se iniciando em setembro de 2007, mas também por todos os
processos burocráticos que se fazem necessários para obter a devida permissão para a
sua realização nas escolas.
Primeiramente, fiz um contato pessoal com duas coordenadoras de duas
escolas diferentes da cidade Lisboa, situadas em um bairro de classe média chamado
Campo Grande, para saber se o desenvolvimento da pesquisa seria possível. Com a
152
resposta positiva, fiz o pedido oficial para a Presidente do Conselho Executivo do
Agrupamento ao qual pertencem as escolas.
Em Portugal existe a constituição de Agrupamento de Escolas. Um
conjunto de escolas de uma região formam um agrupamento, cuja sede se encontra
geralmente em uma Escola Básica II que oferece ensino para alunos a partir de 11 anos
até 18. Nessa sede, apenas uma sala destinada à Presidente do Conselho Executivo
que corresponde no Brasil a um supervisor de ensino. A ela se reportam os
coordenadores das escolas de Ensino Básico I (EB1). Essas coordenadoras exercem
simultaneamente a função docente, sem ampliação do tempo de trabalho e remuneração.
O Agrupamento, segundo registros do Ministério da Educação, tem o objetivo de
minimizar possíveis situações de isolamentos em estabelecimento de ensino. Com isso,
as escolas pertencem sempre a uma escola maior que articula e integra os recursos
físicos, aplica um regime de autonomia relativamente à administração e gestão das
escolas que compõem o agrupamento. Portanto, em cada estabelecimento de ensino
uma professora que acumula a função de coordenadora para fazer as mediações entre o
Agrupamento Escolar e o seu estabelecimento.
Com a autorização da pessoa responsável, voltei às escolas para, então,
marcar junto às professoras os dias em que faria as observações, como também
providenciar a autorização dos pais para que os alunos pudessem ser considerados
sujeitos da pesquisa. Desta mesma forma ocorreu no município de Évora, com a
mediação da professora Dra Ângela Balça, da Universidade de Évora, responsável pelos
primeiros contatos.
As observações tiveram diferentes focos para as diferentes professoras.
Foram promovidas três situações para a coleta. Na primeira escola, a professora não
teve conhecimento sobre o tema central da pesquisa. A ela foi dito que gostaria de
assistir a algumas aulas de Português para ampliar o repertório metodológico do ensino
da língua no Brasil. Para a segunda professora, foi pedido que trabalhasse
especificamente com textos jornalísticos e a ela foi explicado exatamente o contexto
desta pesquisa. E, por fim, para a última professora, foi pedido que me autorizasse a
assistir a aulas de Português, cujo conteúdo a ser ensinado fosse a leitura de textos em
geral.
A coleta organizada desta forma tinha a intenção de assegurar que, dentro
de um limite possível do contexto de investigação, as professoras agissem de uma
maneira mais próxima da rotina de seu trabalho escolar diário. A uma professora foi
153
pedido que trabalhasse especificamente com textos jornalísticos, pois este tipo de
gênero poderia não aparecer no decorrer das observações e, então, não teríamos dados
sobre como uma professora portuguesa poderia trabalhar com jornais em sala de aula. A
coleta também tinha a intenção de recolher informações sobre a forma como as
professoras conduziam o ensino da leitura.
Considero que os dados apresentados a seguir não revelam apenas
comportamentos e posições teóricas das professoras, mas também parte da cultura e da
história de seu meio social.
Passo agora à demonstração e análise dos dados pesquisados em cada
escola. Serão apresentados, em dois capítulos distintos, os relatos das observações
realizadas nas escolas de Portugal. Ainda este tratará especificamente das escolas de
Lisboa e, o segundo apresentará a pesquisa realizada em Évora. Para finalizar, no
segundo capítulo serão apresentados os dados obtidos a partir das entrevistas com os
alunos das três escolas portuguesas.
1.2 Escolas públicas de Lisboa
A cidade de Lisboa, capital de Portugal, fica na margem norte do estuário
do Tejo. A população é de cerca de 550 mil pessoas, mas a grande Lisboa, que
englobou muitas cidades vizinhas, tem quase 2 milhões de habitantes.
No município de Lisboa existem 27 Agrupamentos de Escolas.
Compõem estes Agrupamentos, uma Escola Básica de 2º e ciclo (EB2/3), várias
Escolas de Ciclo do Ensino Básico (EB1) e vários Jardins de Infância (JI), sendo que
esses estabelecimentos de ensino situam-se preferencialmente na mesma área
geográfica, segundo a página da Câmara Municipal de Lisboa (www.cm-lisboa.pt).
Como dito anteriormente, foram observadas duas escolas pertencentes
à cidade de Lisboa. A primeira a ser observada foi a escola Santo Antônio e, a segunda,
a Fernando Pessoa, ambas pertencentes ao Agrupamento de Escolas Eugênio dos
Santos, situado na Freguesia do Campo Grande. No bairro há vários serviços oferecidos
à comunidade em área de educação, desporto, apoio de segurança ao cidadão, centros de
saúde, áreas de lazer e cultura, transportes. As escolas são bastante requisitadas pelos
pais devido ao fácil acesso a elas pelo transporte que no bairro. Devido à sua
154
localização, esta área tem uma variável rede de transportes públicos que dão acesso não
só a zonas urbanas, como suburbanas por meio de ônibus, metrô e trem, pela Estação de
Entrecampos.
1.2.1 Escola Santo Antônio
A Escola EB1 (Educação Básica 1) de Santo Antônio dispõe de dois
acessos de entrada, respectivamente pelas ruas Violante do Céu e Eugênio de Castro. A
escola atende a alunos do 1º. Ciclo (1ª a série), com quatro anos de escolaridade e
inclui dois espaços de recreio cobertos, dois campos de jogos. No momento da pesquisa,
no bloco B encontrava-se o Jardim de Infância e duas turmas do ciclo. No bloco A,
funcionava apenas o ciclo. Havia sete salas de aulas em funcionamento. A escola
estava passando por reforma do prédio e, por esse motivo, a sala de informática fora
desfeita para funcionar como refeitório. Os computadores existentes nessa sala,
chamada de Apoio Educativo, tinham sido distribuídos para as salas de aula. O
computador ficava na mesa da professora.
No Plano Curricular da escola, que corresponde ao que chamamos no
Brasil de Projeto Político Pedagógico, podemos encontrar metas estabelecidas para as
Áreas Curriculares Disciplinares e Áreas Curriculares Não Disciplinares. Nesta última
secção encontramos o tópico Tecnologias de Informação e Comunicação. Cito o trecho,
do Plano Curricular, que ainda se encontra em construção e por isso não está em
arquivo impresso, apenas em arquivos do computador da escola dificultando a citação
formal exigida pela ABNT,
TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
Os alunos deverão familiarizar-se progressivamente com a utilização destas
tecnologias. A sua utilização não constitui em si um objectivo, mas deverá
estar sempre ligada com a concretização de um projecto, uma necessidade de
consulta, etc.
Assim, ao utilizar o computador como ferramenta de trabalho, o aluno
deverá progressivamente ser capaz de:
Ligar e desligar o computador, usar o teclado e o rato;
Utilizar o processador de texto word: usar a barra de ferramentas,
processar um texto, inserir imagens, tabelas;
Utilizar o Internet Explorer. Ligar à internet, utilizar um motor de
busca, procurar informação num endereço dado;
Usar o correio electrónico para comunicar com outros colegas.
155
Nesta citação, destaco o fragmento “ligar a internet, utilizar um motor
de busca, procurar informação num endereço dado”, porque faz referência
especificamente à leitura. Os demais são condições necessárias, mas não suficientes
para a sua efetivação. Entretanto, embora esteja previsto no plano curricular da escola
desenvolver a competência leitora, esse ato da leitura seletiva que a internet nos impõe
teria sido feita pelo professor que indicaria onde procurar informação num endereço
dado.
Discuti aqui o ato de ler como um ato que se diversifica em suas
estratégias e potencialidades de acordo com o tipo de suporte ou tipo de texto a que se
refere. Indicar um site para busca de informações é impedir que o aluno aprenda como
fazer a seleção do que será lido na WWW, enfrentando todas as dificuldades ou
diversidades que a rede oferece. O ato de selecionar o que ler é uma das capacidades
leitoras e precisa ser ensinado. Isso não significa que o professor não possa indicar sites
para leitura assim como faz com livros. É função de o professor indicar leituras, ampliar
o universo de conhecimento do aluno, mas é também sua função ensiná-lo como
encontrar informações, como selecionar materiais de leitura, como gerir de forma
autônoma sua experiência de leitura.
Segundo Parente (1999) a transformação da forma de ler começou a se
desenvolver mais significativamente a partir da Alta Idade Média. Até então, para a
grande maioria, mesmo para o leitor culto, a leitura significava a oralização do texto. A
passagem para a leitura silenciosa, que começou nos mosteiros, foi uma grande
revolução. O novo hábito se enraíza, sobretudo a partir do século XII, com a escolástica,
e as universidades.
Para o autor, antes dessa grande revolução, o leitor, de certa forma, era
um analfabeto. Dois motivos justificam essa forma de pensar. O primeiro deles, porque
a leitura poderia ser feita por um escravo para que o senhor não se cansasse
demasiadamente e, assim, era um ouvinte e não um leitor.o segundo, porque para ler
e entender o texto, o leitor tinha de lê-lo em voz alta, circunstância criada culturalmente
devido à tradição de ler em voz alta.
Hoje a leitura não é feita por um escravo, mas pela professora. Embora o
aluno não realize a leitura em voz alta, a escolha e a seleção são feitas pela professora. E
neste caso podemos dizer que não um senhor que obriga os alunos a ler em voz alta,
mas um professor que decide o que os alunos lêem. Especificamente em relação à
156
leitura na internet, podemos dizer que o aluno, quando acessa um dado endereço
oferecido pela professora, cumpre uma tarefa muitas vezes importante de verificação de
um conteúdo abordado pelo professor em aula, mas em nenhum momento se prepara
para gerir sozinho a busca de informação na rede. Segundo Parente (1999, p.87), ler
consiste em selecionar, resumir, hierarquizar, esquematizar, tendo em vista a
construção de uma rede de relações internas e externas ao texto inter-
textualidade. Todo texto se reporta a outros textos, mas também a uma
imensa reserva flutuante de signos, imagens e desejos que nos constituem e
que contribuem para a construção de seu sentido.
A busca realizada pela professora terá sempre as marcas subjetivas de
uma rede de relações internas e externas em relação ao texto permeadas por sua
formação histórica e cultural.
As práticas de leitura mudaram ao longo da história. O livro é uma
tecnologia que demorou muito para ser aquilo que é hoje. Da tábua ao rolo, do rolo ao
códice, e agora às telas. Da leitura da tábua à leitura do rolo, da leitura do rolo à leitura
do códice muitas práticas foram se modificando à medida que mudava a forma de
armazenar a tecnologia da escrita. A tela é uma nova forma de armazenar a tecnologia
da escrita. As redes eletrônicas distribuem os textos de uma forma até então nunca
apresentada. Assim como o códice tornou o rolo uma tecnologia mais acessível, pois
virar páginas é mais fácil do que abrir um rolo, a tela possibilita ainda mais agilidade na
busca de informação que o códice ou o livro na forma como o conhecemos hoje. No
processo de apropriação dessa nova forma de armazenar informação, possivelmente
ocorrerão diversas práticas de leitura. As velhas práticas aparecerão no manuseio do
novo suporte. O processo dialético de mudança contínua entre o leitor e suporte trará
mudanças tanto para o leitor como para a tecnologia da escrita. Ao escolher o site para o
aluno, o professor desconsidera a forma não-linear de leitura, característica marcante
dessa nova tecnologia. Deve haver um equilíbrio entre aquilo que a professora oferece e
a aquilo que o aluno busca.
Teremos a seguir a apresentação e discussão dos dados coletados durante
os cinco dias em que a escola esteve sob observação.
157
1.2.1.1 Observação das aulas
As observações ocorreram nos dias 26, 27, 28 de setembro, e 2 e 3 de
outubro de 2007. Os relatos se referem a uma classe de 4ª. série com 18 alunos. Eles
estavam dispostos em cinco grupos compartilhando grandes mesas. Na sala havia um
quadro com o planejamento de estudos para ser cumprido no decorrer da semana. À
professora não foi dada nenhuma informação sobre o objetivo central desta pesquisa,
isto é, o jornal como material pedagógico para se ensinar a ler. Foi dito a ela que a
intenção era fazer uma comparação com o ensino de leitura no Brasil. Os conteúdos das
aulas observadas podem ser identificados no esquema a seguir.
É possível perceber que a professora diversificou suas atividades
envolvendo diferentes tipos de textos e, portanto, diferentes tipos de leitura. Não farei
aqui uma descrição detalhada dos procedimentos utilizados pela professora, no decorrer
da aula, mas destacarei situações que trarão à tona discussões a respeito do conceito de
leitura.
Na primeira atividade, produção de um poema sobre o outono, estação do
ano iniciada juntamente com o retorno às aulas, a professora promoveu uma
sensibilização para o tema utilizando o compositor de música clássica Antonio Vivaldi.
Ao ouvirem a música As quatro estações: Outono (1º movimento), os alunos deveriam
pensar em palavras. E assim iniciaram um jogo de rimas entre eles. Uma criança dizia
Atividades
propostas
Produção de
texto poético - “O
outono”
Leitura de texto
Científico – “O
corpo humano”
Leitura de
Literatura –
“Sonho na palma
da mão”
Leitura de uma
Lengalenga -
Livro Didático
Correção do
texto produzido
no dia anterior
158
uma palavra e a outra dizia uma que rimasse com a palavra dita. Em seguida A
distribuiu e pediu que os alunos escrevessem até três palavras que lhes viessem à cabeça
ao ouvirem a música. Cada aluno lia as palavras que escrevera e a professora,
juntamente com os outros alunos, as classificava em grupos semânticos. Propôs aos
alunos que escrevessem um poema sobre o outono usando as palavras de qualquer um
dos grupos semânticos formados no quadro. Ao final da atividade, cada aluno leu seu
poema e entregou a produção escrita para a professora. Neste dia, nada mais aconteceu
na aula de Português. Entretanto, faz-se necessária a contextualização deste dia, pois no
dia seguinte a atividade da aula de Português seria a correção coletiva desta produção.
Outro aspecto a ser considerado é o fato de que a professora tanto na primeira aula
observada, como na segunda, não trata o tema leitura como foi combinado previamente,
mas o tema escrita, apresentando certa fusão entre os conceitos de escrita e de leitura,
dando assim um destaque maior para a atividade de escrita em relação à atividade de
leitura.
No segundo dia de observação, a professora escolheu uma produção do
dia anterior. Avisou que escreveria na lousa tal como estava na folha e que o objetivo
seria investigar os erros de ortografia e depois também os de estrutura. Disse aos alunos
“Olhem com olhos que olhem”. Virou-se para a lousa para reproduzir o texto. Os alunos
não prestavam atenção, mas a professora, de costas, não observava. Apenas um aluno
cumpriu o pedido da professora. Ao terminar A autorizou o autor do texto a procurar o
que não estava correto, mas o aluno não encontrava erros.
Voltemos ao pedido da professora “Olhem com olhos que olhem”. Ao
dizer isso a professora se referia à atenção que o aluno deveria ter para encontrar os
possíveis erros e corrigi-los. Aponto aqui dois aspectos para reflexão. Seria a visão
responsável por encontrar os erros ortográficos? Teria o autor de um texto o
conhecimento dos erros cometidos? Os olhos constroem sentido, mas tendo como
referência o cabedal de conhecimento que o indivíduo acumulou em sua experiência.
Segundo Smith (1989), as informações colhidas pelos olhos são
imensamente aumentadas pelo conhecimento que o cérebro possui. O acesso à
informação visual é uma parte importante e necessária à leitura, podendo ser realizada
por vias colaterais quando o leitor apresenta deficiência visual, como, por exemplo, ser
realizada pelas mãos no sistema Braille. Entretanto, as marcas gráficas podem trazer à
tona um texto em outra língua, ou termos específicos de uma determinada área do
conhecimento a que o leitor ainda não tenha acesso ou mesmo desconheça. Neste caso,
159
não basta apenas a informação visual, porque sem a informação não-visual ou
“conhecimento prévio” não se estabelece a interação entre o leitor e o texto. Ao pedir ao
aluno que olhe para o texto com olhos que olhem, a professora exige que o aluno acesse
conhecimentos sobre a estrutura gramatical da língua que ele ainda não tem. Um indício
que confirma esta afirmação é o silêncio do aluno produtor do texto, que possivelmente
o julgou estar na norma padrão exigida e ensinada pela escola.
Assim podemos pensar que uma visão teórica que sustenta essa frase
dita pela professora no que diz respeito à natureza da leitura, mesmo que não seja
explicitada por ela. A compreensão é extraída do texto e não atribuída a ele com as
condições e experiências histórico-culturais acumuladas que possibilitam a apropriação
de conhecimentos prévios capazes de auxiliá-lo em futuras leituras. Entretanto, o mais
curioso é um acontecimento que se apresentou durante essa correção.
A professora também tinha dúvidas e recorreu a mim para trocarmos
informações e chegarmos à correção final. Faz me sentir feliz” ou “Faz sentir-me
feliz” Qual usar? Como vocês usariam no Brasil? Para justificar disse “as correções
são por vezes intuitivas”. Temos um novo dado para a mesma reflexão. Os olhares da
professora seriam olhares que olham? Não teria o adulto/professor a concentração
suficiente para, visualizando o texto, encontrar nele problemas sintáticos e estruturais?
É em seu uso social e nas relações com os outros falantes da mesma
língua que a linguagem é produzida e compreendida. No momento de interação verbal
as regras são implícitas e, portanto, não ensinadas explicitamente. A professora, durante
a aula, também é um falante da língua em relação de interação verbal com outros
falantes. A dinâmica que o cérebro usa para expressar-se não é a mesma gramática
formal que a professora tenta ensinar em aula. Para responder a pergunta da professora,
seria preciso estudar a origem da língua e as convenções estabelecidas para o seu uso.
Segundo Smith (1989, p. 53 e 54),
a fala e o texto impresso não são diferentes linguagens – compartilham de um
vocabulário comum e das mesmas formas gramaticais mas possuem
diferentes convenções para a utilização do vocabulário e da gramática [...] a
linguagem escrita é diferente da linguagem falada pela boa razão de que esta
última adaptou-se a ser ouvida, enquanto a linguagem escrita é mais
apropriadamente lida. A linguagem escrita não se torna mais compreensível
por sua tradução em “fala”, mesmo na suposta fala do leitor.
160
A professora expressa uma concepção de leitura quando propõe ao aluno
a releitura de sua produção. Destaco duas premissas, que creio, sustentam as bases
metodológicas do ensino da leitura, por esta professora e ao mesmo tempo se
contrapõem ao conceito de Smith (1989). A primeira delas diz respeito ao grau de
atenção que o leitor deve ter durante o ato de ler para retirar o significado daquilo que
está impresso. A segunda, a idéia de que a linguagem escrita reproduz a linguagem
falada.
Como leitora, a professora também adota a concepção de que leitura é
retirar significado daquilo que está escrito, e assim, enfrenta os mesmos problemas com
a tecnologia da escrita que seu aluno enfrenta. O aluno não tinha olhos que olhassem
seus erros gramaticais e a professora se depara exatamente com o mesmo problema,
quando seu olhar não era suficiente para responder a uma questão que precisava de
maior conhecimento prévio para sua solução. A capacidade leitora e o grau de
profundidade de compreensão de um indivíduo vão crescendo juntamente com seu
percurso de leitor, pela experiência de ler múltiplos gêneros em sua língua ou em língua
estrangeira. Segundo Arena (2006, p.415):
A compreensão é base, é processo, é intenção, que são procedimentos
constituintes da ação de ler, e criadores e produtores de um objeto imaterial,
existente nessa relação efêmera entre o leitor e o texto a que se dá o nome de
leitura. A leitura, assim compreendida, não estaria fora do sujeito,
materializada nos livros ou em qualquer outro material impresso: está na
relação do homem e com o mundo impresso. Virtual e imaterial, é criada pela
intenção que tem o leitor de compreender e se transformar ao transformar o
próprio modo de pensar e de organizar o conhecimento desse leitor. O
processo de ler não atingiria o seu ponto bom quando o leitor atribui, no
limite de seu conhecimento e de suas capacidades, sentido ao texto, mas
quando transforma o pensamento e o modo de pensar do leitor, porque, se
assim não fosse, de pouco serviria aprender e saber ler.
Quando a professora pediu que o aluno lesse sua própria produção, a
intenção era bastante explícita. Sua intenção era a que se fizesse na verdade uma
reescrita do texto e não propriamente uma leitura, usando o recurso de decifrar os sinais
para assim recompô-los na forma padrão da língua, ensinada possivelmente em outras
aulas de gramática. A leitura estava a serviço da boa redação do texto e não em ocupar
de fato o estatuto de atividade que modifica o modo de pensar daquele que a utiliza.
Levanto ainda outra questão. Todos leram e compreenderam o texto que
o aluno produziu, mas nem todos, nem mesmo a professora, manteve-se segura ao
161
corrigir o texto escrito. Ler e escrever são ações intrinsecamente ligadas, mas de
naturezas diferentes. Não é porque se bem, que se escreve bem, ou porque se escreve
bem, que se bem. É preciso saber respeitar a complexidade da escrita e da leitura e
sermos, tanto na investigação científica, como na didática do ensino, cautelosos, para
não colocarmos conteúdos como escrita e leitura, como se fossem fundidos. Também
que se considerar que a leitura é guiada pelas necessidades do leitor. Ler para fazer a
revisão de um texto ou ler para procurar uma informação são duas atividades de leitura
que utilizam estratégias diferentes para objetivos diferentes. Ler jornal é bastante
diferente de ler texto de ficção, mas ler jornal on-line é também bastante diferente de ler
jornal impresso. Com isso quero dizer que não que se considerar apenas o gênero
textual, mas o suporte físico em que se encontra este texto. Se considerarmos as
diferenças, aproximamo-nos da possibilidade de dialogar com o outro, o aluno, a
respeito da natureza da escrita e da leitura, dois conceitos fluidos, porque se moldam no
processo de construção.
Depois de dez minutos de espera e tentativas, A perguntou ao aluno se
precisava de ajuda. E, então, diante da resposta, pediu que a classe o ajudasse a
visualizar seus erros. Em entrevista, a professora disse que habitualmente faz as
correções dos textos pelo computador com o objetivo de lhes ensinar as primeiras
lições do Word”. Ela não apresenta o texto de próprio punho do aluno, usando o recurso
do scaner, mas o digita mantendo os erros que apresenta. Para fazer as correções, o
aluno usa o teclado, fato que, segundo ela, torna a aula mais interessante e, portanto,
prende a atenção do aluno. Com essa fala percebemos que a professora cumpre um dos
objetivos citados no Plano Curricular da escola, o de utilizar o processador de texto
Word. Entretanto, destaca novamente a leitura para ensinar a escrita, usa o computador
para aprender a digitar, mas não o utiliza como suporte de textos, potencialmente
gerador de leitura.
Havia um computador na sala de aula porque a sala de apoio, como
chamam a sala de informática, estava cedida para a reforma do refeitório, pois a escola
estava em obras. No momento, não havia internet, mas havia a intenção de conectá-la. A
professora relatou que antes usava a sala para ensinar as primeiras lições de word. Ao
ser indagada sobre como trabalhar com a classe toda utilizando um único computador,
explicou-me que quando havia necessidade de pesquisar algo, cada dia da semana era
destinado a um grupo.
162
De acordo com o esquema apresentado anteriormente, no terceiro dia
observado, os alunos realizaram a leitura de uma lengalenga trazida pelo livro didático.
Antes da leitura, a professora pediu que ouvissem as instruções: 1. Leitura silenciosa; 2.
Sair para o pátio em grupos e combinar uma forma de ler para classe.
Essas foram as duas instruções dadas para os alunos, que realizaram a
leitura silenciosa em classe e depois permaneceram vinte minutos no pátio para
escolherem e ensaiarem uma forma de ler. Todos os grupos apresentaram
dramatizações, imitando vozes de personagens usando a técnica de jogral. Ao término
da atividade, A abriu espaço para que todos falassem sobre as dramatizações
apresentadas. Uma aluna disse ter gostado da leitura de uma amiga porque tinha
mudado a voz e que esse fato deixou a leitura interessante e engraçada. A professora
concordou e aproveitou a ocasião para falar sobre o fato. Então, ela interiorizou a
personagem, colocou a velha dentro dela. Isso é interpretar”.
Podemos ressaltar aqui que a professora usa o termo interpretar não
apenas como sinônimo de leitura, mas como representação teatral ou modo como um
ator incorpora um personagem. Para realizar essa leitura dramática”, a professora
deveria não apenas ensinar a ler quando ofereceu condições da leitura silenciosa, mas
ensinar a dramatizar, a dizer o texto.
Para Vygotski, existe uma distinção, uma dissociação entre a palavra e o
sentido que esta exprime. “O sentido da palavra é inesgotável. A palavra adquire
sentido na frase, e a própria frase adquire sentido no contexto do parágrafo, o
parágrafo no livro, o livro no contexto de toda a obra de um autor” (VIGOTSKY, 2000,
p.466). Segundo Yarochevsky (1989, p. 6), “Vygotsky levanta a hipótese de que, ao
lado do contexto, a palavra tem também um subtexto. [...] A noção de subtexto era
chave para o cineasta K. S. Stanislavsky”. Todo texto possui um subtexto, ou seja, uma
expressão manifesta, intimamente sentida por uma pessoa que está lendo um texto, e
que flui ininterruptamente durante a leitura, dando-lhe vida e uma base para que exista
de fato. O subtexto é uma teia de incontáveis movimentos interiores, toda sorte de
imaginações produzidas especificamente por um indivíduo único com experiências
existenciais únicas, que o faz ler as palavras de um determinado texto. Somente quando
a carga cultural que nos envolve mergulha na corrente subtextual é que a fala interior
começa a produzir um diálogo com o texto. A palavra apresentada isoladamente ou
acompanhada por várias outras e destituídas de conteúdo interior, que somente pode ser
atribuído por um leitor, nada mais é do que nome exterior, uma série de sons vazios.
163
A professora A toca em um assunto importante ao discutir com as
crianças a necessidade da interiorização da fala da personagem para que se possa fazer
uma locução mais próxima possível do sentido que o autor colocou em sua produção.
Podemos produzir locuções com diferentes interpretações de um mesmo texto, tudo vai
depender da teia de incontáveis movimentos interiores que cada ser único pode gerar.
Depois de comentada a dramatização, a professora propôs aos alunos que
construíssem uma lengalenga em duplas. Os alunos demonstraram não gostar da
atividade com balbucios. Isso parece indicar que, com freqüência, a professora usava a
leitura como pretexto para uma atividade de escrita. Em entrevista confirmou a
hipótese, dizendo que as atividades de leitura e de escrita caminham juntas. Ao ensinar
as crianças a ler jornal em sala de aula e reconhecer sua estrutura para saber como
transitar neste tipo de texto, é preciso ficar atento para não fazer desta leitura um
pretexto para produzir um texto jornalístico, porque ele somente ganharia este status no
suporte adequado, ou seja, no jornal.
No quarto dia de observação, a professora entregou aos alunos um texto
científico, retirado da internet, que trazia informações sobre o corpo humano. Os alunos
haviam estudado esse assunto na disciplina Estudo do Meio no dia anterior. A
professora explicou aos alunos que planejava trazer um texto científico para a aula de
Português que fizesse uma interlocução com as aulas de Estudo do Meio e para isso
recorreu à internet.
Relatou o caminho feito para encontrar o texto: “vocês podem pesquisar
pela internet através do Google, digitar uma palavra e, então, vêm vários documentos
que vocês podem ler.” Nesse momento a professora perguntou quem tinha internet em
casa. Seis, dos dezoito alunos, confirmaram ter conexão com a internet. A professora
incentivou que fizessem buscas.
É importante mostrar aos alunos o caminho a ser percorrido para
encontrar o texto desejado, porque assim eles passam a ter recursos para sua própria
investigação. Nesse momento, a professora ensinou estratégias de busca para que os
alunos tivessem maior sucesso ao utilizarem a internet.
Estratégias de leitura não se referem a procedimentos estabelecidos com
regras específicas a conteúdos concretos. Segundo Solé (1998), a estratégia, assim como
o procedimento, que também é considerada como regra, destreza, técnica, método ou
habilidade, ajuda a “regular a atividade das pessoas, à medida que sua aplicação permite
selecionar, avaliar, persistir ou abandonar determinadas ações para conseguir a meta a
164
que nos propomos” (VALLS apud SOLÉ, 1998, p.69), quando envolvidos com a leitura.
O que diferencia as estratégias dos procedimentos
é o fato de que não detalham ou prescrevem totalmente o curso de uma ação;
o mesmo autor indica acertadamente que as estratégias são suspeitas
inteligentes, embora arriscadas, sobre o caminho mais adequado que
devemos seguir. Sua potencialidade reside justamente nisso, no fato de serem
independentes de um âmbito particular e poderem se generalizar [...] Um
componente essencial das estratégias é o fato de que envolvem autodireção
a existência de um objetivo e a consciência de que este objetivo existe e
autocontrole, isto é, a supervisão e avaliação do próprio comportamento em
função dos objetivos que o guiam e da responsabilidade de modificá-lo em
caso de necessidade [...] As estratégias de compreensão leitora são
procedimentos de caráter elevado, que envolvem a presença de objetivos a
serem realizados, o planejamento das ações que desencadeiam para atingi-
los, assim como sua avaliação e possível mudança (SOLÉ, 1998, p.69-70).
As estratégias são utilizadas pelo leitor mesmo que estas não sejam
explicitadas. Ao entrarmos em contato com informações visuais e estas conectarem
informações não visuais, de que nos apropriamos ao longo do tempo, então
compreendemos aquilo que lemos à medida que necessitamos aprender ou resolver
dúvidas. Segundo Arena (2003), não lemos por hábito, gosto ou prazer, mas por
necessidades que são geradas a partir das relações sociais entre os indivíduos. Para que
a compreensão aconteça, o leitor deve se fazer perguntas e obter respostas destas como
condições necessárias para o entendimento. Teberosky (2003, p.28-29) aponta a
necessidade de o leitor adotar um pensamento estratégico para a elaboração do
significado durante o processo de leitura. Compreender o propósito de leitura; colocar
na leitura seus interesses e suas motivações, assim como seus conhecimentos prévios;
focalizar aquilo que é importante; avaliar a consistência interna do texto, sua adequação
ao conhecimento prévio e o grau em que responde às expectativas geradas; comprovar
em que medida vai compreendendo o texto mediante a recapitulação, a revisão e a
indagação; elaborar e tentar inferências de diferentes tipos, como interpretações,
hipóteses, antecipações e conclusões são atitudes possíveis de serem aprendidas. O
aluno, na relação com o professor, age testando estas estratégias e alcançando cada vez
mais sua autonomia de leitor. Na leitura,
não existe uma correlação clara e definida para o ensino tão identificável
como acontecia com os modelos anteriores. As propostas desse modelo que
podem ser consideradas tributárias partem de uma visão de aproximação da
leitura mediante a combinação de análise e síntese, que inclui o ensino
explícito da decifração em contextos significativos, e admitem que é preciso
continuar ensinando estratégias de leitura mesmo depois que o estudante
165
aprendeu a ler (TEBEROSKY, 2003, p.24-25).
Nesta perspectiva, não formamos o leitor pronto no final da escolaridade
exigida, mas sim um leitor com uma atividade cognitiva complexa capaz de se
posicionar de forma ativa diante de um novo texto. Durante a leitura se estabelece uma
relação dialógica com o outro, o autor e com tantos outros que compõem nosso eu.
Depois deste breve intervalo em torno do conceito de estratégias de
leitura e seu papel no ensino, volto ao relato da observação e à escolha da professora. É
curioso o fato de ter escolhido um texto no Google, escrito no português do Brasil e ter
feito a versão para o português de Portugal. Em entrevista, a professora disse que
sempre que busca um texto em português a grande maioria está em português do
Brasil e, portanto, necessidade de fazer uma tradução (ao dizer isso a professora
sorriu), pois as construções são diferentes e algumas palavras não se escrevem da
mesma forma”.
Fico neste momento a pensar sobre o sorriso da professora. Ao que
parece é mesmo possível dizer que a globalização esteja acontecendo rapidamente.
Segundo os relatos dela, há uma quantidade enorme de traduções feitas para o português
utilizado no Brasil e, alunos portugueses, ao usarem a internet, têm acesso direto a estes
textos. Não basta considerar apenas a grande produção brasileira. Deve-se levar em
conta sua extensão territorial. Ao compartilhar o uso da mesma língua é natural que
textos traduzidos no Brasil ou em Portugal circulem nos dois países sem grandes
problemas, considerando o processo de globalização. Entretanto, parece que os hábitos
das pessoas relacionados ao uso da internet e à forma como usam esse meio de
informação para organizarem suas vidas não mudaram radicalmente. Segundo Traquina
(2007, p.141), “as redes de comunicação do mundo via transmissão direta são ainda
mais um mito da globalização. O acesso direto à produção cultural dos outros países
permanece um grande recurso da globalização, mas as barreiras lingüísticas são quase
intransponíveis”.
Nós, portugueses e brasileiros, não deveríamos encontrar nenhuma
barreira lingüística, que utilizamos a mesma língua. Ora, seria possível verter um
texto para a mesma língua? Considerando este aspecto volto ao sorriso da professora,
pois ela sabia que estava falando sobre um ato impossível de realizar. O que é possível,
e o que parece ter feito a professora, é adaptar palavras de acordo com os regionalismos.
Uso o termo regionalismo entre Brasil e Portugal, porque, por ora, estamos refletindo
sobre os efeitos da aldeia global, e, neste caso, a língua portuguesa apresenta
regionalismos. Entretanto, convencida de que o melhor seria evitar a perspectiva do
166
conflito entre os alunos a respeito da grafia das palavras, a professora resolveu
reescrever o texto.
A seguir podemos visualizar a “tradução” do texto. Palavras com grafias
diferentes foram reescritas, mas segundo a professora ela não teve tempo de alterar a
estrutura textual. Encontraremos no texto as palavras “traduzidas” destacadas em
vermelho. A professora manteve o grifo do texto original, cuja função era indicar a
existência de um link.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
O esqueleto humano
O esqueleto humano de um indivíduo adulto é formado por 206 ossos, / de um recém-nascido são
300 ossos, o esqueleto tem como função principal sustentar e dar forma ao corpo, mas também
proteger determinados órgãos vitais, como, por exemplo, o cérebro, que é protegido pelo crânio, e
também os pulmões e o coração, que são protegidos pelas costelas.
Os ossos do corpo humano variam de formato e tamanho, sendo o maior deles o fémur, que fica na
coxa, e o menor o estribo que fica dentro do ouvido médio.
É nos ossos que se prendem os músculos, por intermédio dos tendões.
O esqueleto feminino difere um pouco do masculino, como, por exemplo, na pélvis, cujo formato
favorece a saída de um bebé do ventre da mãe.
Fazem parte também do esqueleto humano, além dos ossos, os tendões, ligamentos e as cartilagens.
Funções em geral dos ossos: (Funções dos ossos em geral)
Sustenção do corpo
Locomoção
Protecção dos órgãos vitais como o coração, pulmão e encéfalo
Produção de células sanguineas
Reserva de cálcio
O esqueleto é o conjunto de ossos que forma, apoio e protecção ao corpo. É uma estrutura rígida que
possui 206 ossos que atuam como alavancas para os músculos se movimentarem.
As funções básicas do esqueleto são a protecção do corpo e ponto de apoio para os músculos. Quando
nascemos o esqueleto é formado principalmente de cartilagem, que é um tecido elástico, fibroso e macio
que trabalha junto com o osso para a formação do sistema ósseo.
Como se Desenvolvem os Ossos?
O osso é um tecido duro, vivo, e activo que cresce, se desenvolve e renova. Ele contem minerais,
principalmente cálcio e fósforo, que aumentam sua força e rigidez.
Na infância, o osso se desenvolve dentro da cartilagem em etapas de desenvolvimento especificas, até
amadurecer em seu estado adulto, o que ocorre durante a adolescência.
Durante a infância o esqueleto sofre um processo de constante remodelação e fortalecimento. Velhas
células ósseas estão sendo constantemente reabsorvidas enquanto novas são formadas.
O Que é Bom Para os Ossos?
Tanto os exercícios físicos como a composição de uma dieta correcta, composta de vitaminas
(em especial a D), minerais (em especial o cálcio) e proteínas favorecem o crescimento de
167
ossos saudáveis
Figura 1 Versão do Português do Brasil para o Português de Portugal
O conceito de que a língua é estável parece estar presente nos indícios
destacados. O texto escolhido poderia ser melhorado. Era mal estruturado e repetitivo,
mas as dificuldades relativas ao português do Brasil eram insignificantes. A professora,
na verdade, não reescreveu o texto, apenas trocou a grafia de algumas palavras. Pode-se
perceber no quadro, apresentado anteriormente, que a palavra fêmur escrita em
português do Brasil não foi alterada quando aparece ao lado do desenho do corpo
humano. Esta palavra foi mudada apenas no texto pela grafia fémur. No decorrer da
leitura, os alunos não perceberam a diferença ou não comentaram sobre ela. Como já
apontado, o exercício da leitura, entendida como compreensão, foca a atenção do leitor
no sentido e não apenas nas marcas gráficas, fato este que nos leva a atribuir o mesmo
significado para a palavra fêmur ou fémur. A professora estava preocupada com o fato
de as crianças, ao lerem, gravarem a ortografia correta das palavras e não com a busca
de significado, ou com as diferentes linguagens que vão encontrar ao utilizarem a
internet. O foco de atenção deveria ser mais amplo e não se restringir à ortografia. É
possível que, em longo prazo, tanto o português escrito no Brasil quanto o português
escrito em Portugal sofram alterações na língua escrita devido à nova tecnologia que se
impõe a cada dia. Brasileiros não deixam de ler Eça de Queirós nem mesmo de
compreendê-lo, apenas porque algumas das palavras em suas obras têm grafias
diferentes daquelas normalmente usadas no Brasil, nem tampouco portugueses deixam
de ler Machado de Assis pelo mesmo motivo. Ambos os povos se compreendem
mutuamente. Parece-me que a escola não espreparando o aluno para o enfrentamento
real com a língua escrita que circula na grande aldeia global que se está por fazer neste
momento histórico. A escola se isola do mundo, recorta uma língua “pura” e pretende
ensiná-la como correta, como se fosse possível conceber a língua como algo puro,
acabado e imutável.
O regionalismo existente no Brasil é amplo. A professora que escolher
um conto nordestino para ser trabalhado no sul do país terá que dialogar com os alunos
a respeito de termos nunca usados na região. Assim, também acontece em Portugal,
conforme os relatos das professoras.
168
Seriam os conflitos lingüísticos internos do país também “traduzidos”? A
resposta é não, pois a escola amplia o universo do estudante em termos lingüísticos e
culturais. Creio que também seria estratégico, e diria até mesmo didático, deixar que o
conflito provocado pelas diferenças ortográficas aparecesse para, então, dialogar sobre
ele, no âmbito das informações que circulam pela aldeia global. A professora, por um
lado usou a internet como recurso de pesquisa e leitura, mas por outro lado o fez com
relações locais ao invés das globais. O instrumento é potencialmente global, mas a
prática do uso ainda não tem o caráter global. Segundo Hafez, apud Traquina (2007,
p.143), “não é a disponibilidade global das páginas da internet, mas o seu uso
transfronteiriço efetivo, ou seja, o número de utilizadores e não o seu alcance
tecnológico, que gera a globalidade”. A tecnologia é ainda relativamente recente em
termos históricos. Os usuários convivem com ela, utilizam-se dela, mas não em sua
ampla potencialidade. Arrisco-me a dizer que a usam com os pressupostos de outra
tecnologia.
Se aos alunos fosse permitido o acesso à escrita brasileira em relação à
portuguesa, teriam criado recursos, ferramentas que poderiam usar no futuro, no
enfrentamento da leitura de um texto escrito no português do Brasil, um texto de sua
própria língua, mas com a presença de regionalismos provocados pelas condições
culturais, tão diferentes nos dois países usuários da mesma língua.
Durante a aula observada, a leitura do texto prosseguia e neste percurso
encontramos outro dado. Cada parágrafo era lido por um aluno. Uma aluna sentiu
dificuldade em oralizar a parte do texto que dizia Funções em geral dos ossos. A
professora imediatamente olhou para o texto e oralizou para a aluna. Olhou para mim
sorrindo e disse “esse português do Brasil nos confunde”. Ao terminar a aula perguntei
à professora como normalmente essa frase seria escrita no português usado em Portugal
e prontamente ela disse: Funções dos ossos em geral. Percebemos pela resposta dada
pela professora que a mudança ocorre na posição que o adjunto adverbial ocupa na
frase.
Teria mesmo a aluna sentido dificuldades em entender a estrutura da
frase ou seria a dificuldade em oralizar o texto a pedido da professora? Sabemos que a
estrutura textual também organiza o sentido do texto. Entretanto, devemos considerar
que a aluna lia pela primeira vez o texto em público, sem que antes tivesse lido em
silêncio. O problema da dificuldade em oralizar as palavras pode estar no fato de a
169
atenção estar focada na grafia para que ocorra uma perfeita oralização e não no sentido,
o que realmente exigiria a produção de leitura.
No último dia de observação, a professora fez a leitura de um livro de
literatura chamado Sonho na palma da mão. Preparou os alunos para a leitura fazendo
exercícios de relaxamento corporal. Interrompia a leitura para fazer perguntas ou para
chamar a atenção dos alunos para alguns detalhes, muitas vezes para as descrições
bastantes poéticas feitas pelo autor.
1.3 Escola Fernando Pessoa
A Escola EB1 Fernando Pessoa está situada na rua Fernando Caldeira, na
freguesia do Campo Grande, município de Lisboa. Relativamente próxima da escola
Santo Antonio, tem ao seu redor o mesmo bairro e serviços relatados no item
correspondente à escola Santa Antonio. Não foi possível coletar dados concretos sobre o
número de alunos e salas, pois a coordenadora, que também possui a função de
professora, não conseguiu tempo disponível para atender à pesquisadora.
O período de observação nesta escola ocorreu de 15 a 17 de outubro. No
primeiro contato com a professora, disse-lhe que gostaria de observar aulas em que
trabalhasse diretamente com textos de jornais. A professora aceitou sem nenhuma
contrariedade. A classe era composta por 20 alunos. Todos tinham sido alunos da
professora no ano anterior e percebia-se um relacionamento afetuoso. A seguir,
encontramos o organograma das atividades realizadas pela professora.
Escola
Fernando Pessoa
Banda desenhada Estrutura do Jornal
Produção de
texto - Notícia
Atividades
170
1.3.1 Observação das aulas
No primeiro dia de observação, a professora propôs uma atividade
usando banda desenhada que corresponde ao gibi no Brasil. O uso de quadrinhos é um
recurso que freqüentemente aparece nos jornais em forma de tiras. A professora tinha
desenhos ampliados (Anexo G), na seqüência lógica de uma história chamada O caldo
de pedra, conto bastante popular da cultura portuguesa. D colocava quadro por quadro
na lousa e, a cada um que acrescentava, pedia aos alunos que comentassem aspectos
observados e elementos visuais que os ajudassem a descobrir a trama da história.
Embora alguns alunos conhecessem o conto, nenhum deles descobriu de qual se
tratava. Depois da seqüência completa na lousa, a professora entregou o texto narrativo
(Anexo E) para cada aluno. Uma criança, imediatamente ao receber a folha, disse “Ah, é
uma pedra”. O aluno fazia referência ao quadro que mostrava o frade com algo na mão
e que algumas crianças levantaram hipóteses sobre o que poderia ser, mas não
suspeitaram que poderia ser uma pedra. Aqui temos mais um dado interessante sobre a
reflexão que tem sido desenvolvida neste estudo sobre o conceito de leitura. No
desenho, em preto e branco, não era possível reconhecer a forma do objeto como uma
pedra. Julgo que nem mesmo para quem conhecesse o conto, mas não estivesse com o
foco de atenção voltado para ele, poderia tê-la reconhecido. Ao receber a folha, o aluno
encontrou a palavra pedra no título e pôde responder a uma de suas perguntas. Digo
isso porque, ao apresentar os quadros, a professora instalou nos alunos o motor da
leitura, as perguntas.
A professora leu oralmente todo o texto sem nenhuma interrupção. No
texto havia duas lacunas que deveriam ser preenchidas com frases que completassem o
sentido. D pulou o espaço dizendo aos alunos que prestassem atenção à leitura porque
depois completariam a história quando ela terminasse de ler. Seria uma estratégia
facilitadora para a compreensão, pois o conjunto contribuiria para formar o sentido. Ao
terminar a leitura, uma aluna perguntou se o conto era uma referência à sopa de pedra
servida em diversos restaurantes, cafés e centros de compras de Portugal. A professora
confirmou e, então, a classe discutiu as maneiras conhecidas de fazer e servir a sopa.
Esse conto tradicional fez sentido para esta turma de alunos portugueses, pois tratou de
um fato conhecido e vivido pela cultura portuguesa. O mesmo não aconteceria com
crianças brasileiras, que não estão habituadas a ler nos letreiros, ou menus dos
171
restaurantes, um prato conhecido pelo nome sopa de pedra, a forma como atualmente
esse prato é chamado em Portugal. Temos a versão deste conto no Brasil, cujo
personagem principal é Pedro Malazartes que, com toda sua malandragem, consegue
tirar de uma velha avarenta bons ingredientes para fazer uma sopa, a qual nomeia sopa
de pedra por ser uma pedra seu ingrediente principal.
Qualquer criança brasileira e portuguesa pode ler com bastante facilidade
este mesmo texto. Se conhece o código lingüístico e a estrutura de um texto narrativo, a
compreensão do texto humorístico se efetivará. Entretanto, compreender o entorno
cultural que está virtualmente impresso nas letras deste conto é uma atividade bem
diferente para alunos brasileiros e portugueses. O conjunto de vivências culturais que
emergem, quando a leitura é feita, varia muito. Os alunos portugueses lembravam-se do
sabor da sopa degustada muitas vezes por eles. Havia crianças que tinham morado
no interior de Portugal e que tinham guardado como recordação a pedrinha servida
juntamente com a sopa nos restaurantes. Os alunos da capital, Lisboa, disseram que a
pedra fica na panela onde a sopa é feita para conservar seu calor. A discussão feita pelos
alunos portugueses e provocada pela leitura do texto O caldo de pedra jamais existiria
em salas de aulas brasileiras. O caldo de pedra faz parte da gastronomia e do folclore
portugueses. A esperteza de Malazartes é conhecida por quase todos os alunos
brasileiros. Ambos, alunos portugueses e brasileiros, chegariam a uma mesma moral,
mas por vieses culturais bastante diferentes. Trata-se dessa rede de conexões pessoais
acionada pelos elementos gráficos, gerada por condições culturais diversas, que cada
indivíduo constrói ao longo de sua existência. Como pesquisadora brasileira, que
experimentei o caldo de pedras em Portugal durante o período do estágio de doutorado,
tenho hoje uma rede de conexões mais ampla do que tinha anteriormente. A leitura é
produzida, mas é preciso determinar o processo e condições de sua produção. Segundo
Nogueira (1993, p. 31), “a atividade de leitura não é apenas decodificação nem
apreensão de um único sentido pré-estabelecido. A leitura envolve também a atividade
do leitor que atribui sentidos ao texto a partir das relações que estabelece segundo suas
experiências”.
Depois de ter garantido que todos os alunos tivessem compreendido a
narrativa lida, a professora entregou-lhes os mesmos desenhos colocados na lousa
(Anexo G) para que recortassem os quadros e os colassem na ordem correta da história
para, então, produzirem o texto escrito que chamou de legenda.
172
Aqui temos duas situações que gostaria de explicitar. A primeira, o fato
de a professora selecionar tiras como sendo um tipo de texto que aparece nos jornais; a
segunda por referir-se aos balões de fala como sinônimo de legendas, outro tipo de texto
comum nos jornais. Entretanto, em nenhum momento a professora fez referência ao
jornal como produto cultural que veicula as tiras para seus alunos.
Como as tiras e as legendas são tipos de textos encontrados nos jornais, é
possível compreender a escolha da professora. Entretanto, estes textos, fora do suporte
jornal tornam-se diferentes. Vale ressaltar que legendas e tiras são textos jornalísticos
estruturalmente diferentes, que foram utilizados pela professora como se fossem
complementares. Segundo Faria (2001, p.159), pode-se entender por legenda “um
pequeno texto com informações e/ou comentários sobre a foto ou matéria da foto”. A
legenda não deve descrever a foto, mas ajudar ao leitor a compreendê-la. Ainda segundo
Faria (2001), ela pode ser informativa, explicativa, interpretativa, irônica, investigadora,
mas uma legenda simples normalmente contém os elementos principais da Pirâmide
Invertida (quem, que, quando, onde como, e por que). Já, a legenda utilizada nos
quadrinhos é colocada na parte superior e representa a “voz” do narrador da história,
deve ser lida em primeiro lugar, pois “situa o leitor no espaço e no tempo, indicando
mudança de localização dos fatos, avanços ou retorno no fluxo temporal, expressões de
sentimentos ou percepções dos personagens” (VERGUEIRO, 2006, p.62).
O pedido que a professora faz aos seus alunos não corresponde
exatamente às características de uma legenda, mas às de um texto narrativo de ficção,
normalmente usado abaixo de uma figura que representa parte de uma história em um
livro ilustrado.
Depois de ter corrigido a atividade de uma aluna, pediu que esta me
mostrasse o trabalho terminado. A criança havia feito a colagem na seqüência correta e
escrevera abaixo de cada quadro um pequeno texto narrativo que, lido também na
seqüência, compunha a reescrita da história. No último quadro desenhara balões de fala
entre as personagens. Ao escrever as falas, a aluna corretamente não colocou o sinal de
travessão, mas a professora pediu que o colocasse antes de cada fala, mesmo dentro do
balão, alegando que poderia esquecer-se de colocá-lo quando fizesse uma narrativa.
Como se pode observar, a professora deu importância acentuada ao texto narrativo ao
determinar o uso inadequado do travessão. Para cada tipo de texto uma estruturação
própria que precisa ser respeitada, mas D estava mais preocupada em ensinar o uso do
travessão do que a estrutura da tira e o uso de balões e legendas.
173
Podemos considerar que não uma única montagem para as histórias
em quadrinhos. Tudo vai depender do tipo de suporte em que ela será publicada.
Segundo Vergueiro (2006, p. 45), “as tiras de jornal, por sua própria característica,
precisam trabalhar temas específicos em dois ou três quadrinhos, algumas vezes de
forma isolada, em outras, interligadas com tiras anteriores e posteriores”. As tiras de
humor possuem a característica marcante de uma piada por dia, em que toda a narrativa
se inicia e termina em uma única tira. Entretanto, as histórias de aventura, partem de um
gancho ou momento anteriormente dado. A tira publicada no dia anterior deve garantir a
compreensão do leitor. Os modelos são diferentes. Enquanto o primeiro garante o
entendimento do leitor, o segundo nada esclarece de sua leitura, quando o leitor não
acompanha a periodicidade do jornal. Pode-se, então, dizer que produzir legendas
abaixo de um desenho não garante a apropriação da estrutura das tiras de jornais. Até
mesmo um bom leitor de gibis precisaria de algumas informações específicas para a
leitura das tiras publicadas em jornais.
A mídia em geral chega pouco às salas de aulas. O jornal impresso
também. O discurso de que a escola deve desenvolver atividades de ensino em
contextos sociais está desgastado, mas sua prática, na verdade, ainda não chegou de
fato a existir com consistência nas salas de aula, exceto em situações particulares. Já em
1982 foi aprovada uma Declaração, por unanimidade, por 19 representantes das nações
participantes do Simpósio Internacional sobre Educação para os Media, promovido
pela UNESCO em Grünwald na Alemanha, cujo teor explicitava a importância dos
Media na Educação. O primeiro parágrafo desta declaração afirma que
Nós vivemos em um mundo onde a media está onipresente: um número
crescente de pessoas gasta grande parte do tempo assistindo a televisão, lendo
jornais e revistas, ouvindo discos e rádios. Em alguns países, por exemplo,
crianças gastam mais tempo assistindo à televisão do que freqüentando a
escola (Tradução minha- UNESCO, 1982).
Se não soubéssemos que se trata de um fragmento de um documento
redigido em 1982, diríamos que se trata da realidade atual. Em 2008, os alunos não
sabem mais o significado da palavra “disco”, pois em relação à época do simpósio, o
mundo dos Media mudou muito e hoje ouvem CD. Neste mesmo documento, havia
um forte apelo às autoridades competentes para que apoiassem
programas integrados de educação para os media que se estendam desde a
174
educação pré-escolar até à universidade e à educação de adultos, com o
propósito de desenvolver o conhecimento, as competências e as atitudes que
encorajem o crescimento da consciência crítica e, conseqüentemente, uma
maior competência entre os utilizadores dos meios eletrônicos e impressos.
Tais programas deveriam incluir a análise dos produtos midiáticos, o uso dos
media como meio de expressão criativa e o efetivo uso dos meios de
comunicação social.
Desenvolvam cursos de formação para professores e outros agentes, com a
finalidade de promover o conhecimento e a compreensão dos media e para os
formar nos métodos de ensino apropriados, tendo em consideração a notável
mas fragmentária familiaridade com os media que muitos alunos possuem.
(tradução minha – UNESCO 1982).
O aluno, de modo geral, não precisou da ajuda da escola para se apropriar
do novo modo de ouvir música. A escola parece estagnada, aprisionada por suas
paredes, enquanto o mundo se desenvolve velozmente. O aluno ainda não é preparado
pela escola para expandir os conhecimentos que possui dos media, porque as escolas
não se prepararam para este tipo de conteúdo e, poderíamos dizer, nem mesmo o
próprio professor. Pude entrevistar, durante o período de estágio de doutorado em
Portugal, a coordenadora do ISEC Instituto Superior de Educação e Ciências que
acompanha o período de estágio das futuras professoras. Perguntei a ela sobre a
apresentação dos media durante o processo de formação das alunas como um conteúdo
relevante para o ensino. Relatou-me a falta de novas perspectivas didáticas e
metodológicas para o ensino e o conservadorismo persistente na formação de
professores.
Em visita a Bulhosa, grande livraria situada no bairro Alvalade, próximo
da Universidade de Lisboa, encontrei o livro Como usar o jornal na sala de aula de
Maria Alice Faria. Tive a curiosidade de perguntar à professora se conhecia o material.
Ela respondeu que não, que preparava as aulas em conjunto com a parceira de série e
que utilizavam livros didáticos que a escola possui. Não demonstrou interesse em
conhecer o livro. A professora, durante a entrevista, confirma o depoimento da
coordenadora do ISEC. Não houve, pelo menos na formação desta professora em
especial, a preocupação em cumprir um dos apelos da Declaração Sobre a Educação
para os Media, divulgada pela UNESCO.
No segundo dia de observação, tanto eu como os alunos, tivemos uma
surpresa. Dado o horário marcado para o início das aulas, a professora conduziu todos
os alunos para sala e se encontravam sobre as mesas dois exemplares de jornais
distribuídos gratuitamente: o Global e o Metro. As crianças se sentavam em duplas. Em
175
uma única mesa cabiam dois alunos. Como alguns alunos chegavam atrasados, a
professora pediu que os alunos lessem jornal até que todos chegassem. Os alunos
fizeram a leitura com naturalidade.
Vale dizer que durante os dias em que observei a sala, a professora
precisava conversar com a classe para que fizessem silêncio, mas diferentemente deste
comportamento, não fizeram barulho e se concentraram na atividade de leitura do
jornal. Também não correram afoitos para o material, como se fosse uma novidade.
Uma aluna levantou-se e reclamou com a professora que o jornal tinha
sujado sua mão. A professora falou que era natural, próprio da tinta e do papel
utilizados para a confecção do jornal. A aluna voltou e continuou a ler com muita
atenção. Devido ao grau de concentração na atividade, a professora deixou que lessem
por quinze minutos. Então, pediu que fechassem o jornal para começar a explicação do
conteúdo a ser trabalhado naquele dia. Imediatamente os alunos obedeceram, mas logo
após começar a explicar, cinco alunos voltaram a folhear o jornal. A professora via, mas
não reclamava.
O bairro onde se encontra a escola possui estação de metrô a quatro
quadras da escola. Por essa razão, a professora pôde coletar os exemplares do dia, de
dois jornais diferentes, para todos os alunos. Em Lisboa distribuição gratuita de
alguns jornais. São distribuídos em estações de metrô, cafés, supermercados, pontos de
ônibus, enfim, é muito fácil conseguir um exemplar de um jornal gratuito na cidade,
fato esse que não acontece em outras cidades do interior, como Évora, o que será
possível verificar no próximo capítulo. D disse que vinha todos os dias para o trabalho
por metrô, por isso era fácil conseguir os exemplares de jornal, mas era a primeira vez
que usava um exemplar para cada criança. Suponho que fora por minha solicitação
anterior. Uma atitude que merece ser destacada foi a naturalidade com que os alunos
lidaram com os jornais. Considero que o fator colaborador para essa prática tenha sido o
fato de sempre estar em contato com jornais, dado que poderemos confirmar ao analisar
as tabelas de entrevistas feitas com alunos portugueses. Os alunos sabiam manusear as
folhas sem queixas, o que diverge dos dados coletados no Brasil durante a realização da
pesquisa-ação, que foi apresentado na primeira parte deste trabalho.
Antes de avançar para o relato da aula, um aspecto sobre os jornais
que poderia esclarecer melhor o fato de as crianças não sentirem dificuldade com o
tamanho da folha de jornal. A formatação do jornal vendido em bancas é bastante
diferente da do jornal distribuído gratuitamente, em Portugal. No primeiro caso,
176
edições que chegam a ultrapassar 140 páginas em um único exemplar. A formatação do
jornal não possibilita a separação por cadernos, o que impede a possibilidade de duas
pessoas lerem o jornal ao mesmo tempo, como normalmente ocorre com os leitores do
Brasil, onde os cadernos são bem definidos e separados uns dos outros.
Não foi este tipo de jornal que a professora D trouxe para a aula, mas o
jornal de distribuição gratuita, bastante diferente em sua formatação. Leve, com poucas
páginas, variando de 20 a 26 páginas por exemplar, apresenta tamanho menor em
relação ao do jornal vendido. Podemos comparar seu tamanho com o tamanho da folha
usada na produção de suplementos da Folha de S. Paulo. Raramente apresenta
reportagens. Sua maior produção é a notícia. É feito com a intenção de atingir o leitor
apressado, que vai ao trabalho de metrô ou de ônibus. Tem semelhança a um jornal
digital: notícias curtas, rápidas e objetivas e muita informação visual.
Como as crianças são conduzidas a escolas pelos pais e a maioria delas
pelo metrô, pais e filhos têm acesso diário a esses jornais gratuitos.
Na seqüência da aula, a professora promoveu um diálogo com os alunos
a respeito da importância do jornal e seu conteúdo. Pediu que cada aluno contasse o que
lera e, então classificava a notícia relatada por assunto, respeitando a formatação do
jornal por assuntos.
Embora parecesse bastante intuitiva, D contribuía para que o aluno
percebesse que as notícias em um jornal não estavam dispostas aleatoriamente, mas em
grupos semânticos, e os alunos demonstravam entender sobre o que explicava. Depois
dessa etapa, a professora perguntou aos alunos o que eram notícias. Um aluno
respondeu Luis Felipe Scolari bate no jogador” fazendo referência a um fato que
recentemente havia acontecido no futebol português, manchete de um jornal. A
professora não aceitou a fala como resposta, dizendo “Isso é apenas uma informação”.
A professora não a aceitou como resposta correta, pois para se constituir
notícia é preciso que o texto apresente o relato de uma série de fatos a partir de um que
seja mais importante. Embora o aluno não tenha dado uma resposta adequada, a
professora também não foi precisa em sua resposta. Neste momento, a informação
citada pelo aluno ocupava um lugar na estrutura do jornal, que se refere a um tipo de
texto jornalístico específico, chamado manchete. Ela não definiu o que era notícia, e não
explicou sua formatação. Poderia ter sido um momento para falar sobre as
características da notícia e da manchete, textos específicos de jornal, mas continuou a
ouvir aos alunos sobre os assuntos lidos. Assim, todos os alunos seguiram o exemplo do
177
primeiro e liam títulos de notícias que lhes chamaram a atenção. Depois de ouvir todos
os alunos, pediu que guardassem os jornais para ler, mais tarde, em casa.
Um aluno perguntou a ela porque trouxera os jornais para aula. Sua
resposta foi “estava a pensar que era hora de ensinar vocês a ler o jornal”. E
imediatamente o aluno responde “nós já sabemos ler, professora”.
É interessante observar que na fala do aluno também está implícito o
conceito de que ler é saber decifrar o código lingüístico. Ao fazer esse comentário, o
aluno demonstrou que não estava habituado a fazer estudos sobre a formatação dos
textos, que o ajudariam tanto na compreensão da leitura como também na produção dos
diversos tipos de textos. Não bastava ler uma diversidade de textos, sem reconhecer
neles sua estrutura. Outra interpretação possível, quanto à leitura deste relato, é sobre o
uso diário do jornal pelo aluno. O aluno que toma o metrô todas as manhãs para ir à
escola entra em contato com o jornal e possivelmente já sabe de que necessita e qual uso
faz deste material. A escola não precisa ensinar-lhe o que é jornal, nem para que existe,
porque se apropriou deste meio de comunicação em suas relações sociais. Em
comparação aos alunos brasileiros do interior de São Paulo, não se pode considerar o
mesmo ponto de observação. Os brasileiros do interior não têm acesso à distribuição
gratuita de jornais, exceto em bibliotecas ou setores públicos que disponibilizam o
jornal para leitura diária.
A professora respondeu ao que ele havia perguntado da seguinte maneira
Sim, é verdade. Mas nunca estudamos como são as notícias, pois lemos fábulas,
textos narrativos, banda desenhada.... mas, se calhar, notícias não”. Na resposta dada
pela professora percebemos sua preocupação com a formatação da notícia, embora não
tenha explicitado sua estrutura. É possível levantar a hipótese de que está marcada no
processo de formação da professora a idéia de que, ao lermos determinado tipo de texto,
apreendemos a sua estrutura e assim podermos facilmente produzi-lo.
A professora começou efetivamente a ensinar como se deve ler um
jornal, ao dar as seguintes orientações: Bem, a primeira coisa que fazemos é ler os
títulos. Depois vamos procurar as áreas que mais nos interessam”. Durante esse
momento da aula, sete alunos liam o jornal enquanto a professora explicava, mas um
deles pediu a um amigo que trocasse de exemplar com ele, que ambos estavam com
jornais diferentes. Somente neste momento, devido ao barulho, é que a professora pediu
que fechassem os jornais. Então, D interrompeu a explicação e entregou uma folha de
exercícios (Anexos B e C) para os alunos. Disse que havia escolhido uma notícia que
178
saíra no jornal no início das aulas e que resolvera trazer para eles porque a considerara
engraçada. Entretanto, a notícia cujo título era “Regresso às aulas”, assinada por José
Jorge Letria, fora retirada de um livro didático produzido por este autor. A produção da
notícia era fictícia e não um recorte de um jornal produzido socialmente. A atividade de
interpretação parecia ter interesse em explicar o lide, mas não usou a palavra e nem o
fez. Foi apenas um exercício de localização de informações. As questões também eram
cópia de livro didático. Abaixo da notícia havia perguntas de interpretação do texto
como assunto da notícia; onde aconteceu; quem esteve presente; o que levaram os
alunos. A própria formatação da notícia no material didático apresentava desvios.
Abaixo dos quatro parágrafos que compõem a notícia, foram colocadas a data e a
assinatura do suposto jornalista que a escrevera.
Figura 2 - Fragmento retirado do Anexo B
Assim, mais uma vez, entre tantas que conhecemos em nossa história
brasileira, são produzidos textos artificiais que tentam imitar a realidade para serem
colocados em cartilhas para o ensino da leitura e da escrita. Os alunos da sala da
professora D, que passaram por esta lição escolar, certamente, em todos os dias, antes
de a aula começar, teriam entrado em contato com o jornal produzido socialmente
com função real.
Quando D explicava, um aluno comunicou, em voz alta, uma notícia que
tinha encontrado, para outro aluno do lado oposto da sala, atrapalhando a explicação da
professora. D reagiu ao dizer que tiraria o jornal do aluno, que o tempo para ler tinha
acabado e que, naquele momento, era hora de fazer a atividade.
Os alunos fizeram a leitura da notícia reproduzida na ficha de atividades
em voz alta, mas para que todos lessem. Foi necessário repetir quatro vezes a leitura do
texto. Em seguida, os alunos deveriam responder as questões em silêncio. A única
179
atividade que levava ao aluno a pensar sobre a estrutura do jornal era a representada a
seguir.
Figura 3 - Fragmento retirado do Anexo C
Um aluno estava lendo o jornal para fazer o exercício proposto pela
professora. Ela passou e o fechou, pois o aluno havia excedido o tempo previsto para a
realização da atividade. O aluno ficou irritado. Quando a professora virou as costas,
mostrou com um olhar que não havia aprovado sua atitude, porque estava fazendo uma
varredura para achar o item música e estava quase no final da busca.
A motivação dos alunos, nesse dia, em relação ao primeiro dia de
observação, foi superior. Na verdade, a aula ofereceu pouca informação sobre a
estrutura do jornal. No entanto, os alunos tinham informações trazidas de seu contexto
cultural, não ensinadas pela professora, mas possivelmente pelos pais leitores e também
pelo acesso à distribuição de jornais gratuitos, fato que poderá ser confirmado com as
entrevistas. Os alunos que terminavam a atividade escrita voltavam para a leitura do
jornal, demonstrando claramente que ler jornal lhes era mais interessante que preencher
a ficha. Terminada a leitura para a escola, voltavam-se para a leitura da vida. No mesmo
dia a professora fez a correção coletiva da ficha de exercícios. Um aluno que não tinha
terminado sua atividade justificou-se que gastara seu tempo lendo o jornal, o que
demonstra o interesse do aluno pelos dados reais apresentados.
O terceiro dia de observação foi a continuidade da proposta trabalhada no
segundo dia. A professora pediu que os alunos criassem uma notícia, como se eles
fossem jornalistas. Também neste dia, não fez nenhuma explicação prévia sobre a
formatação do texto. Poderia ser uma notícia inventada ou lida, ou conseguida pelos
jornais e telejornais. Solicitou a tarefa sem dar subsídios aos alunos. Os alunos leram
suas produções ao final da aula. Quatro alunos fizeram um texto narrativo utilizando a
forma era uma vez.
As aulas sobre jornal trouxeram muito pouca informação sobre o que de
fato é esse suporte e como é feito. No entanto, os alunos demonstraram saber muitas
180
informações sobre a complexidade do jornal, sem que a escola lhes oferecesse. A escola
parece caminhar paralelamente ao que acontece no cotidiano da vida social, onde os
alunos estão inseridos sem intenção explícita.
1.4 Jornais escolares: uma contribuição do Jornal Público
Descrevi no item anterior situações que aconteceram durante as
observações de aulas em duas escolas de Lisboa com a proposta de discutir um pouco o
conceito de leitura que estava presente na maneira de conduzir as aulas. Isso foi apenas
uma maneira de situar o leitor brasileiro no contexto escolar português. Para possíveis
leitores portugueses, na primeira parte desta tese, foi feita uma contextualização da
forma como a escola brasileira, escolhida para a pesquisa-ação, está organizada. Desta
maneira, não a intenção de abordar generalizadamente o ensino em Portugal, mas
demonstrar, por amostragem, o que se passa em relação à leitura e à leitura de jornais,
em ambas as culturas.
As novas formas de interdependência que as tecnologias envolvem
vieram transformar o modo como nos comunicamos e parecem recriar o mundo,
tornando-o a imagem de uma "aldeia global" composta por redes altamente complexas
de meios de comunicação inovadores. Hoje em nossas casas podemos ter um único
pacote de compra para acesso a estas tecnologias: telefone, Internet e televisão. Temos
facilidades com o pagamento do serviço prestado, mas isso também causa um fluxo de
mudanças em nossos comportamentos não previstos em nossa vida cotidiana. A
presença da tecnologia digital no mundo, assim como pressiona as famílias a consumi-
la, também provoca mudanças nas escolas; leva-as a aderir às novas tecnologias
desenvolvidas, neste caso, não por modismo, mas porque com elas circula o
conhecimento, as relações econômicas e políticas da sociedade. A escola não pode estar
ao largo disso.
Vimos no início do capítulo o empenho do governo português com as
políticas de distribuição de computadores nas escolas com acesso a Internet como meio
de garantir o contato dos alunos com a tecnologia. Uso a palavra contato, porque apenas
isso o melhor dos governos poderia fazer, porque a apropriação da tecnologia, tarefa
muito mais difícil, está nas mãos das escolas, e, mais particularmente, nas mãos do
professor em sua relação singular com os alunos. Portanto, não basta o contato, é
preciso que o professor ensine ao aluno como usar a tecnologia em toda sua
181
potencialidade. O jornal é um suporte que facilmente pode ser incorporado pela nova
tecnologia devido a sua constituição estar próxima à de um hipertexto. A diferença entre
jornal impresso e jornal digital estaria na migração de jornais, existentes no suporte
papel, para o suporte tela.
Consideramos nesta tese que a sociedade vive em constante processo de
transição e nela a presença de uma nova tecnologia para a cultura escrita. Podemos
dizer que este recurso também está em processo devido à forma como os sujeitos sociais
se apropriam dele. O uso da internet para a escrita, para a correspondência ou mesmo
para pesquisa, amplia e se modifica, na medida em que um número maior de usuários
passa a se apropriar dessa ferramenta. Considerando essa característica do constante
movimento, poderíamos levantar a hipótese de que ainda não temos formada uma
tecnologia global, que se processa potencialmente em rede mundial. Para que isso
aconteça é necessário que a humanidade a ela esse uso. Sendo assim, é possível
observar dados do jornal impresso transportados para jornais on-line com hierarquias
semelhantes entre um suporte e outro. Se descrevêssemos um jornal como um composto
de primeira página, secção de cadernos e um rol de notícias e reportagens, não
saberíamos sobre qual suporte estaríamos falando. Devemos considerar as diversidades
de cada um. O jornal impresso não traz uma propaganda e uma notícia importante na
primeira página da mesma forma que um jornal digital. Um jornal digital não se
preocupa com a hierarquia do olhar, tese tão respeitada entre os diagramadores de
jornais impressos.
Ao apresentar uma notícia de extrema importância para a sociedade,
como, por exemplo, o resultado de eleições, no jornal on-line, uma propaganda das
Casas Bahia, em movimento, é colocada ao lado dele. Ora, sabemos que o movimento
chama mais a atenção do que um texto estático, mas essas questões não se apresentam
na formatação da estrutura do jornal digital como também na formatação da notícia. O
que fazemos no momento é tatear as possibilidades de um recurso amplo que ainda não
conhecemos bem. Ter acesso a um jornal digital é ter acesso também a um arquivo,
talvez o único elemento que o difere radicalmente do jornal impresso.
Tomando como aceitável a premissa de que a sociedade está em processo
de apropriação, mas não de incorporação efetiva da tecnologia do virtual, podemos dizer
paralelamente que a escola não incorporou efetivamente o jornal impresso como ponte
entre os conteúdos escolares e os fatos sociais. Seria necessário apropriar-se do jornal
182
impresso para então apropriar-se do jornal on-line? A sociedade portuguesa parece
mostrar que a resposta a esta pergunta é negativa.
Tratarei especificamente de um dado importante para o tema central
desta pesquisa: a existência, em nível nacional, de um concurso de jornais escolares em
Portugal. No endereço eletrônico http://www.min-edu.pt/np3/1144.html encontramos a
divulgação de um Concurso Nacional de Jornais Escolares 2007/2008 intitulado “Que
fazer com as novas tecnologias?”. Este é o tema do concurso promovido pelo projeto
Público na escola com o apoio do Ministério da Educação; Ciência Viva - Agência
Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica; Porto Editora e Centro Português de
Design. Muitos, além da escola, também estão envolvidos neste projeto. O criador do
concurso foi o Jornal Público situado na Rua de João de Barros, 265, na cidade do
Porto.
O Jornal Público adotou o projeto Público na Escola que recorre a uma
série de instrumentos para tentar despertar o senso crítico dos alunos em relação aos
media. Trata-se de um conjunto articulado de ações que buscam, num primeiro
momento, envolver os alunos. Para isso, o projeto entra no universo escolar, chamando
à participação os professores e as escolas. Tentei por várias vezes entrevistar o diretor
do Público na Escola, Eduardo Jorge Madureira, como também encontrar a pessoa
ligada ao Ministério da Educação, responsável pela parceria do projeto. No primeiro
caso, diziam não ser possível o agendamento e no segundo, ainda pior, os atendentes
não conseguiam a informação precisa de quem realmente era o responsável pela
parceria. Todos os fatos relatados neste item estão baseados apenas em documentos
expedidos pelo Público ou pelo Ministério da Educação.
As ações realizadas pelo projeto que mais se destacam, por sua
relevância e abrangência são o Concurso Nacional de Jornais Escolares e o Boletim
Público na escola. Dentre as leituras que fiz, posso considerar que o Concurso é a
espinha dorsal do projeto e é ao redor dele que outras atividades se desenvolvem.
No Brasil, temos alguns jornais também com olhares voltados à
educação. Programas dirigidos aos alunos das redes pública e privada de ensino, se
baseiam na distribuição dos jornais às escolas inscritas nos programas. As escolas
recebem os jornais e seus professores são recrutados para um treinamento sobre o uso
do jornal no trabalho escolar. Ensinar crianças a ler jornal e criar neles e, por extensão
nas famílias, a necessidade de ler jornal é garantir sua venda. Mesmo tendo um objetivo
183
econômico por trás das ações dos jornais, também as escolas podem aproveitar a
ocasião para formar alunos críticos e participativos.
Para além das discussões de levar o jornal para a sala de aula este
concurso Que fazer com as novas tecnologias? promovido em Portugal, baseia-se na
necessidade de refletir sobre o uso da tecnologia digital nas escolas, fazendo uso delas
como meio de ensino e de aprendizagem, com a preocupação de promover a
comunicação, a informação e principalmente a apropriação dessa nova tecnologia. No
Anexo I desta tese, é possível ler na íntegra o regulamento desse concurso.
Ressalto que são convidados a participar do concurso todos os
agrupamentos de escolas e todos os estabelecimentos de ensino dos 1.º, 2.º e 3.º ciclos
do ensino básico e do ensino secundário de Portugal, bem como comunidades
portuguesas no estrangeiro. São os objetivos do concurso:
Estimular a prática de um jornalismo escolar crítico e imaginativo,
alargando-o a um número maior de escolas e com redobradas preocupações
de qualidade; aumentar a importância da utilização dos jornais escolares no
processo de ensino/aprendizagem e na construção da identidade das escolas;
fazer dos jornais escolares um instrumento cívico para a discussão de temas
relevantes para a comunidade escolar e para a promoção de relações entre a
escola e o meio envolvente (designadamente as famílias, as colectividades, as
instituições e as autarquias); aprofundar o conhecimento das virtualidades e
limitações da actividade jornalística; contribuir para o desenvolvimento da
Educação para os Media; promover a utilização das Tecnologias da
Informação e da Comunicação na produção de jornais escolares; utilizar o
jornal escolar como um instrumento de divulgação científica (PÚBLICO,
2007).
O concurso estimula as escolas a aderir às propostas de desenvolvimento
do jornal escolar. Como suporte para que este trabalho seja bem sucedido, o jornal
Público edita mensalmente um Boletim chamado Público na Escola que ajuda os
professores e os alunos na criação do jornal escolar, quer seja ele impresso, quer seja
eletrônico. Pode ser adquirido com adesão anual, porque é publicado entre setembro e
Junho, com periodicidade mensal. O Boletim Público na Escola seleciona um tema de
capa, apresenta propostas de trabalho, refere-se a livros e a sites úteis para quem
trabalha na área da educação para os média. Oferece informações necessárias que
contribuem para que a confecção de um jornal escolar seja executada, ou simplesmente
informa ao professor como utilizar o jornal na sala de aula.
184
O jornal Público oferece o Boletim nas bancas e a qualquer pessoa.
Professores, pais e alunos podem adquiri-lo. Além deste material, também é editado
outro cujo nome é Cadernos Público na escola de tiragem semestral, e ainda outro, os
Dossiers Temáticos, compostos por um conjunto de folhas soltas contendo reportagens
publicadas em um determinado período, mas que conservam vivas suas informações. É
uma espécie de hemeroteca, arquivo de periódicos diários ou de revistas. Ambos trazem
uma série de temas e sugestões para o trabalho do professor.
Na leitura do regulamento, observamos oportunidades ampliadas para o
público escolar das diversas faixas etárias. A participação pode ser feita tanto com o
jornal impresso, como com jornais eletrônicos, podendo ser elaborados em diferentes
contextos como escolas, grupos de escolas, turma, clube ou outros. Essa abertura facilita
a participação porque o professor não depende de um acordo com outros professores ou
com a própria escola.
Abaixo se a figura de uma primeira página de um jornal escolar O
Celeirinho. Realizado pela iniciativa do Agrupamento de escolas de Celeirós é
financiado pela sua venda e pelo apoio de empresas da região. A escola tem o Clube de
Comunicação e Expressões e o Projeto ComuniK’ar que enquadram nas suas atividades
tarefas jornalísticas. Desde 1997, primeiro ano de publicação, a escola juntamente com
os alunos mantém a tradição de editar este jornal escolar trimestralmente.
Figura 4 - Figura retirada do Boletim Público na Escola nº. 172
Poderíamos encontrar outras propostas como estas que se efetivaram e se
mantiveram sólidas no cotidiano do trabalho escolar. No entanto, este não é o foco desta
pesquisa. Ao relatar a observação realizada nas duas escolas de Lisboa e conversar com
as professoras a respeito da existência do Concurso de jornais escolares, as professoras
185
relataram que a produção ou leitura do jornal não é uma prioridade inscrita no projeto
pedagógico das escolas de forma consistente e com isso a produção e leitura do jornal é
relegada a um plano secundário. Outro dado levantado por elas se refere às condições
estruturais e financeiras de cada escola para dar suporte a este projeto. O custeio das
despesas decorrentes da produção de um jornal e a disponibilização de professores para
as horas de trabalho extracurriculares com os alunos não são levadas em consideração.
Os professores aderem ao projeto porque dele gostam.
Penso que este dado nos remete a uma esfera governamental que
negligencia a importância da educação e, dentro deste contexto, também a importância
dos media na escola. Ao que pude perceber não correspondência entre o trabalho
com os jornais escolares e os conteúdos programáticos. Os professores não têm a
“função” de desenvolver tal atividade e não podem reclamar a participação dos alunos.
Na observação realizada na escola Fernando Pessoa, percebemos o pouco destaque que
a professora para a discussão do jornal na sala de aula. Considerando ter sido um
pedido meu para que a professora trabalhasse com textos jornalísticos e não uma
escolha pessoal, a leitura de jornal aconteceu de maneira significativa. Ter a
possibilidade de levar para sala dois exemplares diferentes de jornais gratuitos e poder
oferecer um exemplar do dia para cada criança é uma condição perfeita para iniciar um
trabalho com leitura de jornais. Entretanto, o trabalho foi bastante superficial e, de certa
maneira, isolado, pois não havia uma proposta mais sistemática organizada de leitura de
jornal diariamente. As professoras verbalizaram não ter a preparação adequada para
trabalhar com o jornal na sala de aula. Isso confirma o fato de que os currículos
escolares não incluíram os média como conteúdo escolar. Ao lançar o projeto, o jornal
Público vai ao encontro das escolas, contribuindo para o estreitamento dessa relação
entre campos da educação e da comunicação social. Prova disso é a parceria
estabelecida com o Ministério da Educação, seja por meio do apoio à produção do
Boletim Público na Escola, seja mediante a parceria na realização do Concurso
Nacional de Jornais Escolares.
186
CAPÍTULO 2
187
ESCOLA PÚBLICA DE ÉVORA
A cidade de Évora situa-se em uma região ao Sul de Portugal o
Alentejo. Tem cerca de 50.000 habitantes e um centro histórico importante cercado por
muralhas medievais. Segundo dados da câmara municipal de Évora, esta cidade tem
tido nos últimos anos um crescimento populacional similar ao de outros centros urbanos
portugueses em expansão.
A pesquisa a ser relatada ocorreu no bairro Canaviais, região até pouco
tempo atrás considerada rural. O acesso a esse bairro por meio do serviço de transporte
coletivo oferecido pela Câmara Municipal demonstra ainda essa realidade. Durante todo
o trajeto, observam-se chácaras cultivadas e também habitadas. Somente no núcleo do
bairro encontram-se serviços como mercearias, farmácia, bares entre outros que
normalmente aparecem em áreas urbanizadas.
2.1 Escola de Canaviais
A Escola Básica do 1º. Ciclo de Canaviais (EB1 Canaviais) pertence ao
Agrupamento de Estabelecimentos de Educação e Ensino nº. 4 de Évora e situa-se na
rua das 5 Cepas, número 7000 212. Segundo relatos da professora coordenadora, a
escola possui cerca de 120 alunos. Para abrigá-los é preciso fazer dois turnos, manhã e
tarde. Essa não é a realidade das demais escolas que trabalham com o período integral,
como vimos nos exemplos das escolas de Lisboa, onde também ocorreu a pesquisa. Os
professores e alunos esperam pela construção de uma nova escola, pois esta conta com
três salas de aula e para que abrigue todos os anos do primeiro ciclo, faz-se necessário
oferecer períodos da manhã e da tarde. Ainda assim, uma única sala no período da
tarde que abriga dois anos, o primeiro e o segundo. Não espaço para biblioteca,
como também não há para sala de informática, por ser o prédio muito pequeno.
A sala indicada para a pesquisa era composta por 20 alunos e seu período
de funcionamento era das 8 h às 12 h 45 min. A professora conhecia muito bem os
alunos, pois os acompanhava desde o ano letivo anterior, quando se encontravam na 3ª.
série.
As matérias do currículo básico estão divididas entre três disciplinas
Português, Matemática e Estudo do Meio, que envolve os conteúdos de Geografia,
189
História e Ciências. A professora adota livros para essas disciplinas, todos de uma
mesma Coleção. Aqui destaco apenas o de Português por ser o manual do ensino da
leitura, interesse desta pesquisa: Língua Portuguesa 4º. Ano – Ensino Básico – António
Monteiro – Livraria Arnado – Ed. 2006 – Coimbra – Portugal.
Analisei este manual de ensino com o objetivo de procurar atividades
sobre gêneros textuais e gêneros textuais encontrados especificamente nos jornais.
Encontrei textos narrativos, poéticos, instrucionais, tiras de gibi e apenas um recorte da
seção de Classificados de um jornal português. Os textos narrativos apresentavam-se
em maior número.
Pedi à professora S para observar três aulas do ensino de Português que
aparecessem como tema a leitura. Não foi dito a ela que o interesse central das
observações era sobre a forma como a leitura de jornal e a leitura no computador
aconteciam em aula. O procedimento foi assim realizado para que a professora não
pensasse em atividades específicas que julgasse serem aceitas pela pesquisadora, mas
para que ela apresentasse atividades espontaneamente. Assim, sua escolha apontaria
indícios teóricos e metodológicos que envolveriam sua prática diária. No esforço de
buscar os dados, considerando seu entorno e tendo como pressuposto a teoria histórico-
cultural, defendo que o professor partilha crenças do grupo social com que convive,
contaminando-se com a cultura, com os costumes e com as abordagens de ensino que
envolvem o país em que leciona, como já discutido.
Como resposta ao pedido feito, a professora imediatamente respondeu
que ministrar somente aulas de leitura não seria possível, porque a leitura, segundo a
sua justificativa, estaria diretamente relacionada com a escrita e, por esta razão seria
preciso que as duas ocorressem. Ficou explícito, na argumentação, que a professora
possui a idéia de que ler e escrever são trabalhos cognitivos que dependem um do outro
e ações de ensinar estariam vinculadas umas as outras.
Convém lembrar ao leitor o conceito de linguagem e de leitura que a
perspectiva deste estudo assume. Leitura e escrita possuem naturezas diferentes,
podendo, ou não, auxiliar o desenvolvimento de uma ou de outra. Entretanto, embora o
relato da professora S pareça privilegiar a escrita em relação à leitura, também apresenta
preocupação com a promoção da leitura. A Câmara Municipal de Évora disponibiliza às
escolas um projeto de leitura chamado Fada palavrinha e o gigante das bibliotecas.
Para receber os serviços prestados pela Câmara neste projeto é preciso aderir a um
acordo previsto pelo programa entre professores, pais e alunos. Aos professores é
190
pedido que participem de reuniões de formação oferecidas pela Universidade de Évora,
aos pais que leiam com seus filhos e aos alunos que peçam a ajuda dos pais. A
professora que adere ao programa recebe, semanalmente em sua sala de aula, sacos
contendo sete livros de literatura em cada um, que são preparados pela biblioteca
municipal da cidade e levados até a sala de aula por transporte cedido pela prefeitura.
Os alunos levam esses sacos para casa e, na semana seguinte, trazem-nos de volta para,
então, trocá-los por outro. A participação no projeto é totalmente livre,
independentemente da aceitação de outras professoras da escola ou mesmo da
autorização da coordenação. Creio ser esta atitude bastante responsável
profissionalmente tendo em vista a falta da biblioteca escolar.
Neste contexto, realizei quatro dias de observação nos dias 1º, 20, 21, e
22 de outubro. Sempre que os alunos estavam trabalhando em atividades individuais, a
professora se dirigia ao fundo da sala, onde eu ficava, para justificar alguns fatos
ocorridos, que ela entendia como falhas, ora da autoridade da professora, ora sobre as
dificuldades metodológicas de ensinar. Entre eles destaco um que demonstra o rigor
com o cumprimento das regras estabelecidas quer seja pela escola, quer seja pela
professora. Durante o tempo dado aos alunos para produzir o texto, um relato sobre as
atividades do final de semana, a professora aproximou-se e explicou-me por que uma
das crianças estava lendo um livro de histórias ao invés de escrever o texto como todos.
Disse-me que o avô da referida aluna havia morrido no final de semana e seria difícil
para a criança relatar essa experiência tão dolorosa. “Criança não é número, deixei, não
vejo problema”. Essa foi a fala da professora que organizava o trabalho prevendo que
todos os alunos participassem sem distinção. Penso que talvez pudesse discordar de sua
ação por tratar um aluno diferentemente dos outros permitindo que não fizesse o dever
proposto. Alguns dados demonstraram certa inflexibilidade em relação à formatação das
aulas e ao comportamento de professores e alunos. Assim, como observado nas escolas
de Lisboa, em Évora também há, nas aulas, um padrão de comportamento por parte dos
alunos e da professora, o que me faz pensar ser de raízes culturais a forma como essa
relação professor-aluno acontece. Destaco aqui duas situações que poderiam me ajudar
a refletir sobre a questão cultural que envolve a rotina das aulas.
1. sempre silêncio por parte dos alunos, que manifestam pouca curiosidade
em relação ao que o professor lhes oferece nas aulas. O professor determina
um conteúdo e fala sobre ele. Os alunos não demonstram, em seu
comportamento físico e verbal, o interesse em fazer questões durante uma
191
explicação do professor. Comportamentos como tentar falar algo ao
professor enquanto este explica a matéria, cochichar com o amigo do lado,
levantar a mão para falar, enfim, comportamentos previsíveis para a
realidade em aula, não foram observados em nenhum dos dias da realização
da pesquisa. Curiosamente, os alunos universitários com os quais convivi
durante os quatro meses de estágio em Lisboa, também revelam o mesmo
comportamento. Perguntam, ou fazem uma interferência pequena somente
quando o professor autoriza, em geral, no final de sua explanação. Destaco
esse fato, pois acredito que a formação acadêmica de um aluno deve carregar
toda a carga cultural escolar pela qual passou no decorrer dos anos de
estudo. O comportamento dos alunos universitários pode ter sofrido a
influência dos anos anteriores de escolaridade e a forma como foi conduzido.
Quero deixar claro aqui, que não estou falando de alunos quietos e
obedientes. Muitas vezes durante as observações as professoras precisavam
parar a aula para resolver problemas de comportamento entre os alunos.
Os alunos não emitem opiniões sobre as atividades desenvolvidas em
aula. É claro que os alunos as têm, entretanto quando perguntava sobre o interesse deles
a respeito de uma atividade realizada ou a possibilidade de realizar uma diferente das
rotineiras, não diziam suas opiniões. Apenas repetiam “A professora é quem sabe”.
Mesmo insistindo, dizem considerar que acham que o que o professor escolhe é o
melhor, mesmo que não gostem da proposta. Aceitam, sem questionamentos. Creio ser
esta atitude também uma questão cultural. Aqui, reflito especificamente sobre a
passividade dos alunos em relação ao que a escola lhes oferece e, assim, entramos em
mais um aspecto que parece estar intimamente ligado ao primeiro.
2. Os alunos freqüentam um espaço escolar bastante diferente do espaço
temporal a que estão habituados. Na escola não se pode reproduzir todos os
tipos de relações sociais que os alunos vivem fora dela. Entretanto, é
necessário fazer da escola uma instituição educacional que de fato pertença a
uma sociedade com características culturais e históricas particulares e, para
tanto, ela também deve deixar pulsar fenômenos sociais vivos, fato que nem
sempre acontece.
Enquanto na rotina diária de um aluno, que mora em Lisboa ou em
Évora, a vida social o coloca em contato com uma diversidade de informações, nos mais
variados gêneros textuais, necessária para sua total integração social, a escola o coloca
192
em contato predominantemente com textos narrativos ficcionais muitas vezes de
contextos históricos seculares, bastante distantes dos que presencia na atualidade. O
fato criticado não é quanto ao uso de textos narrativos ficcionais utilizados pela escola.
São textos, em sua maioria que poderiam ser classificados como literatura, na área da
Arte, o mais elevado grau conquistado pela humanidade por meio do uso tecnologia da
escrita e que gostaríamos de que chegassem a todos os alunos. O problema é que a
escola prioriza textos já consagrados e se esquece de que seus alunos estão mergulhados
em um meio que exige competência para gerenciar muitos outros tipos de textos.
Para ilustrar essa afirmação, apresento um dado coletado na pesquisa
realizada nas escolas de Lisboa. Segundo relatos das professoras, a maioria dos alunos
toma o metrô todas as manhãs com seus pais, que, antes de irem ao trabalho, deixam
seus filhos na escola. Considerando o fluxo de informações no qual o aluno do século
XXI está mergulhado, somente nesse percurso de casa à escola, o aluno se depara com
inúmeras situações de leitura e de informações que compõem seu entorno cultural. É
necessário saber ler o mapa afixado na estação de metrô para conseguir chegar ao
destino desejado. Não basta saber decodificar o nome da parada, é preciso saber em que
direção se deve tomar o metrô para chegar ao destino desejado. Isso não parece nada
difícil quando o pai conduz o filho, mas para aqueles que deverão sozinhos utilizar o
serviço de metrô é um conhecimento essencial. Para compreender essa informação dada
pelo mapa é preciso ter outras informações, como a própria organização geográfica da
cidade. Outro grande fluxo de informações que este pequeno percurso do dia para pais e
filhos oferece é o jornal de distribuição gratuita que está disponibilizado nas estações de
metrô, assim como em outros locais da cidade. Além dos jornais, banners
distribuídos pelas estações informando sobre eventos culturais, como também sobre
lançamento de novos produtos no mercado ou até boletins sobre linhas de metrô que se
encontram em manutenção e, portanto, temporariamente fechadas. Paralelamente a todo
esse fluxo de informação, algumas estações de metrô disponibilizam uma grande tela
onde se projetam informações usando legenda e não o áudio, pois seria difícil ouvir
noticiários onde o barulho é freqüente. Tendo feito este percurso, possivelmente muito
mais rico em informações que deixei de mencionar, o aluno chega à escola que lhe
oferece uma rotina matinal de informações pouco expressivas em relação ao percurso
feito.
Em todas as observações, sejam elas nas escolas de Lisboa ou de Évora,
as professoras seguiram a mesma rotina escolar antes de iniciar as atividades do dia.
193
Escreviam um cabeçalho extenso contendo data, dia, mês e ano, referência ao dia da
semana e para finalizar um registro sobre a meteorologia. Abaixo do cabeçalho
encontrava-se a lista de atividades que seriam feitas naquele dia. Em média gastavam de
10 a 15 minutos com essa atividade. Isso não parece ser problema, pois muito tempo
ainda para desenvolver projetos e atividades que estejam diretamente ligados à vida
cotidiana do aluno.
Entretanto, os docentes privilegiam um tipo de texto e apresentam aos
alunos o mais alto grau de produção escrita que socialmente foi construída, a literatura.
A escola oferece o melhor e, a meu ver, deve continuar oferecendo sempre, desde os
primeiros anos escolares, mas juntamente deve considerar o espaço sócio-cultural-
temporal em que o aluno se encontra e se desenvolve. A Arte é construída por alguém
marcado no tempo e no espaço, em situações sociais bastante definidas, que
posteriormente ganha o status de atemporal, devido à sua eternização.
A escola é também um espaço social, temporal, que hoje está situada na
linha da história em um período considerado pós-moderno. Como assinala Praia (1998,
p.157) a sociedade está a mudar mais depressa que a escola, importa fazer um esforço
para encurtar a distância que as separa, para que o fosso que existe possa diminuir, o
que significa a possibilidade de poderem vir a dar as mãos.”
Mesmo professores e alunos, elos dessa teia pós-moderna e, portanto,
protagonistas da História atual, deixam seu mundo real, despem-se das informações e
conhecimentos adquiridos nos contextos em que vivem para reviverem práticas
seculares que, no mínimo, causam um confronto entre espaços temporais. As práticas
seculares ou milenares, como a escrita, ajudam a entender o contexto atual, mas, sem
vínculos com o real, trarão no máximo a informação. Não conseguirão desenvolver no
aluno o pensamento em rede capaz de fazer conexões com as informações recebidas e,
assim, usá-las, transformadas e superadas, em suas práticas temporais reais.
Tendo mapeado essas duas características, importantes para compor o
perfil dos alunos e das aulas nas escolas portuguesas, continuarei o relato das
observações realizadas na escola de Évora.
A professora preparou três aulas de Português que julgou tratar do
conteúdo leitura e escrita. No primeiro dia de observação, o único em que não havia
preparado a aula para que eu observasse, S havia pedido que os alunos escrevessem
Memória do vivido – Composição que consistia em fazer um texto contando como havia
sido o final de semana do aluno. Depois de terminado o prazo dado pela professora,
194
todos os alunos leram suas composições. Durante o tempo em que os alunos escreviam,
a professora disse que propunha aos alunos este exercício toda segunda-feira, porque era
a forma de treiná-los a escrever de maneira que todos compreendessem aquilo que
desejariam contar, mas não oralmente, utilizando-se da escrita.
Faço aqui um apontamento em relação à palavra composição. Esse termo
é bastante vago para indicar ao aluno dados sobre qual formatação de texto deveria usar
para escrever seu texto. Durante a leitura dos textos, os alunos apresentavam textos
narrativos, mas escritos de forma precária, sem respeitar a estrutura específica da
narrativa. Segundo Camps (2006, p.29),
Escrever é necessário para aprender a escrever, mas não é suficiente. As
atividades de ler e escrever consistem em participar na comunicação verbal
humana. Para aprender a escrever, os alunos têm que participar de atividades
diversas de leitura e de escrita, com finalidades, interlocutores e modos de
interação diversos. Mas, para aprender a complexidade dos usos escritos, é
preciso haver atividades de ensino e de aprendizagem que prevejam a
existência de conhecimentos específicos relacionados com as particularidades
dos gêneros escritos a ensinar. Visto de outra perspectiva, as atividades de
ensino por si mesmas, sem oferecer aos alunos oportunidades para escrever
em situações diferentes, não seriam suficientes para aprender a escrever
textos que devem responder à complexidade dos contextos interativos.
Coloca-se, pois, a necessidade de relacionar a prática com a reflexão.
A professora pediu à classe que tivesse muita atenção ao ouvir os textos
dos colegas para que encontrassem erros de concordância e de repetições. A leitura dos
textos foi feita um a um, posicionados na frente da sala e voltados para classe. Embora a
professora tenha alertado os alunos para a correção, os comentários de S sempre se
referiam ao fato contado e não propriamente à estrutura do texto Verdade que foste
para Mérida? Encontraste mesmo, ó Pombinha? É verdade?”. A professora se envolvia
com o discurso dos alunos, que conhecia muito bem, inclusive dava indicações em sua
fala que conhecia alguns pais. Quando interferia no texto do aluno, corrigia nomes e
localidades. Essa atitude pode ser considerada melhor que a mera correção, pois a
produção do aluno era compartilhada com os amigos pela leitura do texto. Entretanto,
este tipo de produção é feita como pretexto para aprender a escrever e assim não tem a
condição essencial de uma produção real e social. A professora não corrigiu nenhum
erro de pontuação, estrutura ou ortografia, pois ouvia os textos sentada, de sua mesa.
Comentários sobre a estrutura textual não foram feitos. Para os alunos que falavam
baixo, ela recomendava: Leia alto, tire a mão da boca ou abaixe a folha. Julgo que esta
195
atividade não permitiu aos alunos construir o conhecimento lingüístico comunicativo,
guiado por objetivos e conteúdos específicos para a atividade de escrita, visto que o
contexto e os objetivos dão ao texto seu sentido.
Neste dia entreguei à professora as perguntas que gostaria que
respondesse. Após ler as perguntas de sua entrevista, logo ligou o computador que
ficava ao fundo na sala de aula. Penso que as questões sobre o uso do computador a
fizeram reagir desta forma. Destaco esse fato, pois esse indício alimenta a análise dos
dados. Ao ligar o computador, eu esperava uma reação positiva, curiosa dos alunos.
Entretanto, sequer olharam para a máquina e ficou ligada até que eu saísse da sala
sem que ninguém a utilizasse: nem professora, nem alunos. E assim permaneceu
durante os três dias de observação seguintes. Assim como nas escolas de Lisboa, nos
Canaviais não espaço para sala de informática na escola, por isso cada sala tem um
computador, com acesso à internet. Fiquei intrigada com o fato e, ao perguntar à
professora sobre a falta de interesse dos alunos, disse que não o usava porque a maioria
dos alunos tinha computadores em suas casas. Quando a professora julgava necessário
fazer uma pesquisa pela internet pedia que se fizesse em casa, mas nada exigia daqueles
que não tinham a conexão. Durante a leitura dos textos pelos alunos, cinco deles citaram
brincar com jogos no computador no final de semana. O fato, e posteriormente a
resposta da professora, deixaram-me ainda mais curiosa. Se a maioria tem computador
em casa, e se supostamente o usam, deveriam ter uma reação mais entusiasmada quando
a professora ligara o computador em aula, mas isso não ocorreu.
Comparando os dados com as entrevistas dos alunos, confirmei que de
fato têm computadores em casa, mas os pais limitam seu uso. Para isso recorrem a mitos
como dor de cabeça e, o mais presente nas entrevistas, o do vício. Os alunos não o
utilizam muito, gostariam de utilizá-lo mais, mas recebem limites dos pais e da escola
que não ensinam de fato como utilizá-lo. Embora a professora recomende que seus
alunos façam pesquisa, não discute seu retorno em aula.
Esta aula não estava preparada para um visitante observador, mas mesmo
assim, em relação às aulas preparadas, como poderemos observar a seguir, não existe
mudança significativa em relação ao cuidado com a metodologia aplicada. Todas as
aulas tiveram sempre a mesma configuração.
196
Como vemos no organograma, as atividades preparadas e propostas pela
professora, exceto a terceira, envolvem a atividade cognitiva de ler e de escrever.
Entretanto, a leitura é utilizada para a realização de uma tarefa, que é a escrita, e na
última atividade ela não aparece, porque é a escrita valorizada de maneira absoluta. O
ler para fazer algo, não é, como propõe Josette Jolibert (1994) em um contexto de
projetos de trabalho, para aprender a escrever. Passo agora a apontar alguns fatos
ocorridos em cada uma delas, que trazem contribuições para reflexões neste estudo.
No segundo dia, ao iniciar a aula, S pediu que as crianças fizessem uma
leitura silenciosa antes de iniciar a leitura em voz alta. Os alunos iniciaram a leitura e
treze, dos vinte alunos, faziam sussurros. Ficou um burburinho na sala e a professora
não se incomodou. Chegou perto de um aluno que estava com os lábios parados e disse:
“Força!”. Essa atitude autorizava os outros alunos a ler balbuciando. Fica explícito o
controle que é possível ser feito quando a criança sussurra a leitura. O pedido foi
bastante claro “ler em silêncio”, mas para aqueles que não mexiam os lábios a
professora não poderia ter garantia que estivessem lendo realmente e por isso
aconselhou ao aluno que fizesse como os outros. Considerando as duas práticas de
leitura do texto: a silenciosa e em “voz alta”, pode-se inferir que o aluno que a fazia em
silêncio estava agindo corretamente, que o objetivo era a compreensão e não a
oralização ou locução para uma boa performance para os outros alunos ouvintes.
Entretanto, quando a professora sugere a outra prática, expressa seu conceito de leitura
como produção de som para dele extrair o significado. Segundo Bajard (2002, p.89),
Aulas preparadas
Dias 20, 21 e 22
de outubro
Leitura de um texto
didático “O Lápis
Branco”
Leitura de uma fábula
“A Raposa e a Cegonha”
Reescrita da seqüência
da história a partir de
desenhos
Interpretação proposta
pelo livro didático
Caixa surpresa
Produção do texto “O
que há na caixa?”
197
“esquece-se que a leitura é uma atividade solitária, silenciosa, de recepção de texto,
enquanto a outra é uma comunicação realizada concomitantemente através de uma
emissão vocal e de uma recepção auditiva [...] a “voz alta” requer o conhecimento
prévio do sentido”.
Também encontramos questões semelhantes apontadas por Vigotsky
(1995), quando este faz referência a dois tipos de leitura: a silenciosa e a em voz alta.
Para ele, o estudo sobre como ocorre o processo de leitura é importante porque, ao se
apropriarem da linguagem escrita, as crianças elevam o desenvolvimento cultural. Por
isso, a forma de ler um material escrito pode fazer diferença no desenvolvimento do
raciocínio das crianças. Segundo Vigotsky (1995, p. 198),
O estudo da leitura demonstra que a diferença do ensino antigo que cultivava
a leitura em voz alta, a silenciosa é socialmente a forma mais importante da
linguagem escrita e possui, além disso, duas vantagens importantes. ao
final do primeiro ano de aprendizagem, a leitura silenciosa supera a que se
faz em voz alta no número de fixações dinâmicas dos olhos nas linhas. Por
conseguinte, o próprio processo de movimento dos olhos e a percepção das
letras se aligeira durante a leitura silenciosa, o caráter do movimento se faz
mais ritmado e são menos freqüentes os movimentos de retorno dos olhos. A
vocalização dos símbolos visuais dificulta a leitura, as reações verbais
atrasam a percepção, a travam, fracionam a atenção. Por estranho que possa
parecer, não somente o próprio processo da leitura, mas também a
compreensão é superior quando se lê silenciosamente. [...] Durante a leitura
em voz alta tem lugar um intervalo visual, no qual os olhos se antecipam à
voz e se sincronizam com ela. Se durante a leitura fixamos o lugar onde se
pousam os olhos e o som que se emite em um momento dado, obteremos esse
intervalo sonoro visual. As investigações demonstram que o intervalo se
incrementa gradualmente, que um bom leitor tem um intervalo sonoro-visual
maior, que a velocidade da leitura e o intervalo crescem juntos. Vemos,
portanto, que o símbolo visual se vai liberando cada vez mais do símbolo
verbal.
Os alunos oralizaram muito bem. Apenas duas alunas não o fizeram. E
para os ouvidos de uma pesquisadora brasileira, que não está mergulhada na cultura
portuguesa, foi possível verificar sons diferentes atribuídos às letras do alfabeto.
Ao ler em voz alta qualquer material impresso, oralizam a língua de
acordo com a sonoridade que lhe é familiar. As letras do alfabeto representam diferentes
fonemas para diferentes culturas, mesmo para aquelas que compartilham a mesma
língua. Destaco aqui um fragmento do texto lido; em verde aponto a pronúncia do
aluno, acréscimo de um e ao r final do infinitivo.
198
- De que adianta tere uma vida longa, mas sem utilidade?
Ah, acho que já descobri qual a tua função! Falou o lápis vermelho.
- Tu podes clareare as outras cores...
Livro: O lápis Branco. Clóvis Pacheco. Ed. Nova Fronteira
As escritas são fenômenos sociais que evoluem com freqüência.
Segundo Benveniste (2003, p.14-15),
Em geral, as escritas não conservam as diferenças fônicas existentes por
baixo do umbral dos fonemas. Por causa do próprio conhecimento que têm da
escrita, os adultos alfabetizados estão treinados para não percebê-las,
enquanto que as crianças ainda as percebem, antes de passar pelo filtro da
escrita. Nesse nível, o problema deve ser apresentado para se poder
determinar se a consciência dos fonemas é anterior ou posterior à aquisição
da escrita.
Em outro nível, situam-se as diferenças de pronúncia, segundo as regiões, o
meio social, as gerações ou os usos da língua. A tendência em geral das
escritas, pelo menos dentro dos países-nações tal como os conhecemos hoje,
é não levar em conta as diferenças regionais e adotar uma espécie de ponto de
vista “panregional”. O resultado é que a escrita não reflete nunca a pronúncia
de todos e não corresponde exatamente a pronúncia de ninguém. Em todas as
regiões, existem dificuldades ortográficas, que não se pode escrever
“confiando no ouvido”, porque este encontra-se adaptado a certos costumes
regionais.
Nesta perspectiva, dizer para uma criança “leia como está escrito!” pode
ocorrer em conceitos equivocados do que seja a escrita e a leitura. Perguntei à
professora se a forma como a criança pronunciava afetava a forma como a criança
escrevia as palavras. E, assim como no Brasil, a resposta foi afirmativa. Isso vai
acabando com a leitura. Ao ler vamos corrigindo, falamos de um jeito e escrevemos de
outro. erros mais graves. No Alentejo, e, se diz aqui, “Fui à de minha avó” isso
quer dizer fui à casa de minha avó, porque está subentendido casa. Então, digo, à
horta? Então, eles percebem que é preciso dizer casa. Em todo lugar do país
regionalismo”.
Mais uma vez, temos um dado que comprova as diferenças entre o falar e
o escrever. Podem-se construir diferentes formas de pronunciar e até mesmo estruturas
diferentes para um mesmo texto, mas para a inserção no mundo da razão gráfica é
preciso muito mais que associar a fala à escrita. É preciso desenvolver um raciocínio
abstrato de alto grau intelectual para participar da comunidade leitora e escritora. Para
Vigotsky (2000), é desenvolvendo as capacidades superiores que nos humanizamos
cada vez mais. Vigotsky (2000), em Pensamento e Palavra, contrapõe-se a algumas
199
correntes da psicologia que afirmavam ser pensamento e palavra dois elementos
autônomos; o pensamento independeria da palavra, porque nessa visão a palavra seria
expressão do pensamento. Ou seja, a palavra seria a tradução do pensamento para o
mundo exterior. Ao discordar deste ponto de vista, Vigotsky argumenta que pensamento
e palavra são elementos diferentes, com propriedades diferentes, mas que se relacionam
dialeticamente entre si, interferindo no processo de elaboração de um e de outro.
Defendeu a tese de que a relação entre pensamento e palavra não é uma coisa “mas um
processo, é um movimento do pensamento à palavra e da palavra ao pensamento” e que
o “pensamento não se exprime na palavra, mas nela se realiza” (VIGOTSKY, 2000, p.
409). Afirmou que a linguagem não espelha a estrutura do pensamento nem serve como
expressão de um pensamento acabado, porque “ao transformar-se em linguagem, o
pensamento se reestrutura e se modifica. O pensamento não se expressa, mas se realiza
na palavra” (VIGOTSKY, 2000, p. 412).
Retomemos a discussão anteriormente apresentada. A inserção no mundo
da razão gráfica exige muito mais do que associar a fala à escrita. A professora acredita
que, aos poucos, em contato com a língua escrita, os alunos transportariam a língua
escrita para a falada. Segundo Vigotsky (2000), podemos dizer que é preciso
desenvolver nas crianças um raciocínio abstrato de alto grau intelectual para ser leitor.
Isso não conseguiremos fazendo aproximações equivocadas entre a palavra oral e a
palavra escrita.
Sabe-se que não existe uma condição mental única de ‘prontidão para a
leitura’. As crianças estão prontas para aprender sempre que têm um objetivo e
oportunidade inteligível para a leitura” (SMITH, 1989, p.251). É preciso que esses
alunos tenham espaços durante a aula para estabelecerem a relação dialógica do
conhecimento, e que o professor, por sua vez, conduza a troca de experiências entre
eles.
No terceiro dia de observação, a professora contou a fábula A raposa e a
cegonha, sugestão de uma revista para professores “Professores do 1º. E 2º. Ciclos do
Ensino Básico” Editorial Edibá Europa/ Eon WWW.ediba.com. Ela relatou que em
Portugal existem três ou quatro revistas que auxiliam professores, mas disse ser uma
cópia das revistas espanholas. Leu a história para seus alunos, interrompendo por alguns
momentos para provocar a compreensão oral. Ao final, perguntou aos alunos se
gostariam de que lesse novamente. Por concordarem, desta vez leu sem interrupções.
200
Poderíamos pensar que aqui temos duas versões da fábula, uma tecida
pelos comentários e interrupções feitos pela professora e outra, o texto tal como estava
impresso na revista. Isso me pareceu claro quando a totalidade da classe resolveu ouvir
mais uma vez a fábula e a professora fez a leitura sem nenhuma interrupção. Ao final os
alunos reescreveram a história usando os quadrinhos (Anexo A) reproduzidos pela
professora como sugestão da revista. A leitura esteve a serviço da produção escrita mais
uma vez.
Em relação ao último dia de observação, temos textos produzidos a
partir de uma situação estimulada pela professora, como um jogo de descoberta, o jogo
da caixa surpresa. A professora propôs:
-“Imagina o objeto que tem na caixa. É tão leve que é possível pegar
com um dedo. Imagina que entrou na caixa e descobriu o que está lá. Vamos abrir a
caixa depois de ler as composições. Deitem a cabeça sobre a carteira”.
A professora entregou um papel em branco enquanto todos os alunos
estavam debruçados sobre a carteira. Quando ela terminou de entregar o papel disse:
- “Escrevam tudo o que quiserem nesta folhinha que está na carteira”.
É possível entender claramente a proposta de trabalho como uma
atividade de escrita, produção de texto narrativo-descritivo. Nesta atividade a leitura não
se faz presente. Entretanto, para a professora, apenas inverteu-se a ordem a que vinha
obedecendo nos dias anteriores. A leitura não era necessária para a realização da tarefa,
mas seria o produto final do trabalho, o que mantém a mesma correspondência de ler
para produzir ou produzir para ler. Os alunos fizeram a leitura em voz alta posicionados
em frente a todos os demais. Ao terminar a leitura, a professora perguntava o que havia
dentro da caixa para confirmar e, sem que as crianças percebessem, ia escrevendo o
nome do objeto escolhido por cada aluno em um papel pequeno. Depois de terminada a
leitura, S disse que a caixa se abriria se todos estivessem em silêncio absoluto e com a
cabeça baixa. Todos a abaixaram e a professora colocou as palavras dentro da caixa. Em
seguida, todos se posicionaram para ver o que havia na misteriosa caixa. À medida que
a professora retirava os papéis contendo os nomes dos objetos descritos pela redação de
cada um, alguns ficavam surpresos e outros diziam à professora que os nomes não
estavam na caixa, mas que ela os havia colocado lá.
Os recursos potenciais de leitura que a professora tinha em sala, os sacos
de leitura e o computador, não foram utilizados durante a experiência de observação.
Era preciso buscar ainda mais dados e com isso foram entrevistados seis alunos que
201
passaram por essas atividades de leitura aqui descritas. Para que o leitor tenha um
panorama geral, as respostas foram tabuladas para gerar os dados que se apresentam à
frente.
Passo a relatar dois projetos de incentivo à leitura Projeto MuTIC e Loja
dos Sonhos, ambos oferecidos pela Câmara Municipal de Évora, tendo em vista que
estes projetos dão suporte ao projeto Fada palavrinha e o gigante das bibliotecas que a
professora S usava como recurso para compensar a falta de biblioteca na escola e
também porque é o meio pelo qual as professoras podem oferecer aos alunos o contato
direto com o computador, que a escola não possui sala de informática. Destaco estes
dois projetos, pois tem grande influência para os alunos da cidade, além de contribuir
para a formação do leitor, seja leitor de literatura, ou leitor do texto digital.
2.2 Projeto MuTIC
Este projeto decorre de uma iniciativa da Câmara Municipal de Évora
desde 1999, quando foi criado um projeto de Extranet intitulado ERA Rede de
Autarquias de Évora com a intenção de equipar 19 Juntas de Freguesia com interligação
em rede. O projeto MuTIC tem a finalidade de dar suporte tecnológico e informático às
escolas do município. Resolve problemas informáticos e tecnológicos quando
solicitados pelas Escolas Básicas do 1º. Ciclo, jardins de infância e Juntas de Freguesia.
Presta um serviço essencialmente técnico, mas oferece acompanhamento e resolução
para problemas existentes, para os quais os professores não estão capacitados.
Esta iniciativa do município não é isolada, tem o apoio do Ministério da
Educação. Com a introdução do uso dos computadores nas escolas, incentivada pelas
políticas públicas, a Câmara de Évora, assim como outras, iniciaram propostas de
trabalho que levassem a informatização às escolas do 1º. Ciclo e do ensino pré-escolar.
Segundo depoimento da professora responsável pelos trabalhos junto ao projeto Loja
dos Sonhos, não bastava introduzir o computador nas escolas, era preciso dar
manutenção e assistência técnica aos professores e aos alunos. Segundo dados
apresentados pela página da Câmara de Évora (2007 WWW.cm-evora.pt), entre os
objetivos do projeto MuTIC, desenvolver sistemas de informação e fazer a gestão e
manutenção para a utilização de tecnologias, destacam-se “promover literacia digital”
e “combater a info-exclusão”.
202
Como vimos nas observações descritas até agora, o computador não é
utilizado pelos professores em salas de aula. Situações pontuais ocorrem quando o
professor produz atividades extraescolares, como os jornais na escola. Talvez a resposta
a esta questão esteja na formação dos professores. Muitos deles não se beneficiaram de
uma iniciação à informática dentro do currículo de sua formação inicial, muitos deles
não tiveram oportunidade de se familiarizar com as novas tecnologias em contexto
privado. Diante dos computadores nas salas de aula, debatem-se com problemas
técnicos que não podem resolver sem o auxílio de um colega mais experiente ou de um
técnico. O projeto MuTIC abre possibilidades de integração destas tecnologias nas
práticas pedagógicas.
Dentre as grandes utilidades do projeto, o serviço que se destaca para a
educação é uma Unidade móvel, uma viatura de apoio, totalmente equipada para a
intervenção rápida, seja no domínio do apoio técnico ou na vertente do apoio ao
conhecimento.
A unidade móvel do MuTIC está equipada e preparada para desenvolver
várias ações, como assistência técnica a equipamentos informáticos, implementação e
montagem de infra-estruturas de rede, apoio a atividades pedagógicas e para isso o
MuTIC coloca à disposição dos docentes e escolas uma equipe e um conjunto de
recursos para apoio em sala. Encontra-se ainda sob a responsabilidade do MuTIC, no
que se refere a apoio e dinamização tecnológica, projetos municipais, como “Loja dos
Sonhos”, já referido no início do capítulo.
2.3 Loja dos Sonhos
O Projeto “Loja dos Sonhos” tem a coordenação e o financiamento da
Câmara Municipal de Évora, em parceria da Direção Regional de Educação do Alentejo
e ainda a colaboração da Fundação Calouste Gulbenkian, oferecendo uma contribuição
inestimável para aquisição do acervo de livros, DVDs, CD-ROMs e CDs. É um recurso
educativo itinerante, com potencialidades de interação pedagógica para enriquecer o
desenvolvimento de projetos educativos das escolas.
Esse projeto municipal foi orçado em cerca de 150 mil euros. Foi
utilizado um ônibus que pertencia ao parque automóvel da Autarquia e que, após um
trabalho de requalificação feito na Espanha, se transformou num centro sócio-
203
pedagógico interativo itinerante. Foi inaugurado no dia 25 de março de 2004. Desde o
início das atividades, já foram realizadas mais de 500 sessões, com alunos de escolas do
município, atingindo um universo de quase 6000 visitantes. Com esse recurso pretende-
se complementar as competências adquiridas nas escolas e estimular os alunos para uma
aprendizagem extracurricular. Com as atividades desenvolvidas “pretende-se motivar os
alunos para as temáticas trabalhadas, promovendo um requisito fundamental da
Pedagogia Moderna, que é a descoberta individual do conhecimento” (www.cm-evora-
loja dossonhos.pt 2007).
O espaço não pretende substituir as escolas, mas estimular a
aprendizagem. São utilizados recursos áudio-visuais e multimídia, porque os
idealizadores esperam contribuir para o desafio da globalização e preparar os alunos
para as novas tecnologias da informação. uma equipe que coordena e se
responsabiliza pela sua manutenção, desde o nível elétrico, mecânico, eletrônico e
informático à estrutura da programação e desenvolvimento das atividades.
O ônibus é projetado para ser como um centro sócio-pedagógico
interativo. Comporta 25 pessoas ao mesmo tempo e dispõe de uma área para leitura e
apresentações lúdicas utilizando multimídia com tela de projeção; e outra área
polivalente que contém bancada multifuncional, acervo diversificado de livros
destinados ao público infantil, bancada com lavatório, equipamento audiovisual com
sistema integrado de imagem e som de alta fidelidade, reprodutor de vídeo Hi-Fi, leitor
de CD e DVD, tela central de grande dimensão com sistema de projeção de imagem,
dez computadores Pentium IV 2.8Ghz/512Mb Ram/DVD-ROM/Placa de som/Monitor
plano de 15” TFT/Auriculares, softwares multimídia interativos de Educação
Ambiental, rede local interligando todos os equipamentos informáticos, impressora de
rede multifunções com digitalização e fax integrados, ligação à Internet; equipamento
ativo instalado no porão com possibilidades de ligação ADSL, RDIS, Analógica,
Wireless, PT Wi-Fi e 3G e, ainda, material informativo em suporte de videocassete e
CD-ROM ou DVD com tratamento e adequação dos conteúdos e imagens à realidade
local e nacional (WWW.cm-evora.pt/lojadossonhos 2007).
A “Loja dos Sonhos” aborda uma temática diferente a cada ano letivo.
Caso os professores entendam que o projeto seja útil aos seus alunos para a formação
complementar do programa curricular, devem agendar uma visita do ônibus à sua
turma. As características dos projetos são voltadas para os alunos do primeiro ciclo. Na
204
página da cidade alertam que a prioridade será dada sempre aos estabelecimentos do
primeiro ciclo e Educação pré-escolar, mas não se fecham as portas aos outros níveis de
ensino. Durante o período letivo, o ônibus está a serviço dos estabelecimentos de
ensino, principalmente como uma forma de sanar as necessidades das comunidades
rurais, tentando combater a info-exclusão. Também aos finais de semana as ações são
dirigidas ao público infanto-juvenil para promover o contato com as novas tecnologias,
especificamente o acesso a internet, isso também em áreas rurais. Com a mesma
perspectiva, sessões de sensibilização e esclarecimento dirigidas à terceira idade.
Desde sua fundação, desenvolveram-se três projetos pedagógicos
temáticos, um ainda em curso. No ano letivo de 2003/2004 o tema desenvolvido foi A
Água; em 2004/2005, A Biodiversidade, pois a cidade passava pelo processo de
implementação do recolhimento do lixo de forma seletiva e a intenção era disseminar a
idéia para os familiares por meio das crianças. Este projeto também estava integrado ao
primeiro. Nos anos letivos de 2005/2008, o projeto, um pouco mais longo que os dois
primeiros, têm como destaque a leitura, dando ênfase ao projeto existente A Fada
Palavrinha e o Gigante das Bibliotecas.
Acompanhei a visita feita por uma turma de série do ensino básico à
“Loja dos sonhos”. O trabalho foi realizado como descrito acima, dividindo a turma em
dois grupos. Quanto ao incentivo à leitura havia recursos para contação de histórias que
encantavam todas as crianças e a mim, ao mesmo tempo. Entretanto, quanto ao item
relativo à inclusão digital, os mediadores não utilizavam tudo o que possuíam. As
crianças brincaram naquele dia com um software educativo sobre o corpo humano que
exigia a digitação dos nomes correspondentes às peças do corpo humano, pintura e caça
palavras, entre outras atividades que as crianças poderiam fazer sem a utilização da
máquina. A internet não foi utilizada, apenas as crianças aprenderam apenas a usar o
teclado e o mouse. Todas indicavam saber perfeitamente como usar os recursos, pois a
instrutora não precisava ensinar a eles. As crianças que estavam no grupo da informática
queriam mudar de grupo, pois estavam interessadas em ouvir histórias.
Embora a escola dos Canaviais receba recursos da Câmara Municipal,
não tem o mesmo acesso a jornais gratuitos como os alunos de Lisboa. A diferença de
oportunidades para quem mora na capital e no interior é acentuada. Em Évora os alunos
apenas conseguem o jornal de distribuição gratuita se freqüentarem grandes
205
supermercados localizados no centro da cidade. A discussão sobre o Concurso de
Jornais Escolares não está presente na escola EB1 dos Canaviais.
Passo agora à demonstração e análise dos dados das entrevistas para,
então, estabelecer comparações entre as três escolas observadas.
2.4 Categorização das entrevistas
Este item apresenta o resultado das entrevistas realizadas com os alunos
portugueses das três escolas pesquisadas. A entrevista semi-estruturada foi realizada
individualmente com 24 alunos, sendo 18 alunos da capital, 12 deles matriculados na
escola EB1 Fernando Pessoa e seis alunos na EB1 Santo Antônio. Os outros seis alunos
pertenciam à escola EB1 dos Canaviais da cidade de Évora. O número de alunos a ser
entrevistado inicialmente seria o mesmo em cada escola. Entretanto, alguns alunos da
escola Fernando Pessoa, quando souberam sobre a entrevista, manifestaram o desejo de
participação. Julguei ser importante acolher todos os dados, incluindo todos os alunos.
Foram feitas as mesmas perguntas a todos com a intenção de perceber
semelhanças ou diferenças entre o comportamento dos alunos da capital e do interior de
Portugal, em relação ao objeto pesquisado – a leitura de jornais impressos e on-line.
O primeiro quadro apresenta a preferência de materiais de leitura citados
pelos alunos.
MATERIAL
PREFERENCIAL
DE LEITURA
ESCOLAS
SANTO
ANTÔNIO
(6 alunos)
FERNANDO
PESSOA
(12 alunos)
CANAVIAIS
(6 alunos)
PRINCIPAIS
MOTIVOS
CITADOS
Internet 4 7 2
Jogos; pesquisa Google; e-
mails; digitar textos
escolares; muitas
informações, imagens e
vídeo.
Gibi 4 5 3
Uso de balões; arte gráfica;
texto humorístico; ação das
personagens; fácil
compreensão; próprios para a
idade
Livros de Estudo
do Meio
2 3 2
Assunto (animais e corpo
humano); experiências
Livros de
literatura Infantil
2 1 3
Narrativas sobre aventuras;
divertidos; pertenceram aos
pais; fácil compreensão
Revistas 1 1 2
Informações novas; diversão;
há em casa
Jornais 2 ____ 1
É bom ler; são interessantes;
sugestão dos pais
Tabela 1 – Preferência de materiais de leitura
206
Diante do quadro podemos dizer que os alunos apresentam maior
interesse pala leitura de gibi e pela leitura realizada pela internet. O índice de alunos
leitores de jornais é baixo. Destaco o fato de que nenhum aluno entrevistado da escola
Fernando Pessoa ter afirmado ler jornais. Como foi visto no primeiro capítulo, essa
escola ficava em uma localização privilegiada em relação aos pontos de distribuição de
jornais gratuitos, incluindo a estação de metrô, por onde 9 dos 12 alunos entrevistados
passavam quando estavam a caminho da escola.
Segundo Santos (2006, p. 65), em um estudo recente, Projecto Português
2000, sob responsabilidade da Associação de Professores de Português (APP),
confirma-se que
o tempo dispendido pelos professores do Ciclo ao ensino da língua
materna é significativo: 54% dos docentes diz atribuir mais de 8 horas
semanais e 40% aponta entre 5 a 8 horas semanais. A questão que sobressai
parece ser, então, não o tempo que se ocupa no ensino da língua materna,
mas sua qualidade.
Foi descrita no capítulo 1 a aula ministrada pela professora da escola
Fernando Pessoa, quando trabalhou com o jornal do dia, porque o ponto de distribuição
gratuita ficava muito próximo da escola. Os alunos desta mesma professora disseram
não ler jornais. Durante a entrevista verificou-se que pela primeira vez a professora
levara jornais para sala de aula. Destaco o pequeno trecho da pesquisa realizada pela
APP, acima citado, pois confirma este dado. O tempo dedicado ao ensino da leitura e da
escrita entre 5 a 8 horas semanais parece ser suficiente, mas nem sempre aproveitado
com qualidade. Arrisco-me a dizer que a professora parece não perceber que poderia
trabalhar o ensino da língua materna, com os materiais de leitura produzidos
socialmente, modificando sua prática. Isso talvez ocorra, porque a formação dos
professores não parece ter ampliado o campo de visão metodológica para o ensino da
leitura e da escrita para além do livro didático ou dos materiais tradicionalmente
utilizados como fichas ou cópias de textos reproduzidos na lousa pela professora.
Embora a escola não utilize diversos materiais de leitura, focando sua
atenção aos manuais escolares, os dados demonstram a riqueza de materiais de leitura
207
encontrados em casas portuguesas como internet, gibi, livros de literatura infantil,
revistas e jornais.
MOTIVO DE
LEITURA EM
CASA
ESCOLAS
SANTO
ANTÔNIO
FERNANDO
PESSOA
CANAVIAIS
MATERIAIS DE
LEITURA
DISPONÍVEIS
EM CASA
ESCOLAS
SANTO
ANTONIO
FERNANDO
PESSOA
CANAVIAIS
Fazer tarefa 4 12 5 Livros 6 12 5
Pedido da
professora
2 5 2 Gibis 6 11 5
Interesse
em alguns
assuntos
3 4 3 Jornais 2 7 5
Necessidade
de ficar
informado
3 3 4 Internet 4 11 5
Revistas 2 7 6
Tabela 2 – Motivo de leitura e materiais disponíveis em casa
Relembro um dado registrado no primeiro quadro deste capítulo.
Nenhum dos 12 alunos entrevistados na escola Fernando Pessoa admitiu ler jornais.
Entretanto, no segundo quadro, um dado contraditório aparece. Sete dos alunos
entrevistados pertencem a famílias que assinam diariamente jornal, fato que ocorre
também com os alunos da escola dos Canaviais. Nessa escola cinco pais assinantes
de jornais, mas apenas um admitiu ler. Neste caso, não se trata jornais de distribuição
gratuita, pois no momento da pesquisa foi esclarecido que a pergunta não se referia aos
jornais de distribuição gratuita, mas de jornais comercializados em bancas ou por
assinatura mensal.
Trago aqui outra reflexão que julgo importante para a discussão didático-
metodológica do ensino da leitura e da escrita. Não basta apresentar qualquer que seja o
material de leitura nas mãos das crianças. Antes é preciso que se apropriem de sua
forma, de sua função social e que façam isso por uma necessidade criada por uma
situação social, que poderia ser a de resolução de problemas gerados em discussões de
classe. O único aluno dos Canaviais que afirmou ler jornais disse que seu pai, após a
leitura diária, sempre destacava uma notícia interessante para que fosse lida por ele. Por
sua vez, o aluno sempre perguntava ao pai sobre o conteúdo da notícia, mas ele não
fazia comentários, motivo que forçava o aluno a ler para saber por que o pai dela
gostara. Segundo o relato do aluno, quase sempre era um comentário maldoso ou
irônico a respeito de Cavaco Silva, o presidente de Portugal, naquele momento.
208
É possível verificar que a leitura praticada pelos alunos ainda é mais
motivada pela cobrança das tarefas e pedidos da professora, do que por motivos
intrínsecos a uma necessidade específica, exceto o caso do aluno que afirmou ler
jornais. A escola parece não criar situações de necessidade de leitura para que o aluno a
veja como instrumento para resoluções de problemas e possibilidades de ampliação de
seu conhecimento. O pai do aluno F dos Canaviais parece desempenhar um papel de
formador do leitor de jornal, quando motiva seu filho a ler sobre assuntos que surgem
no cotidiano do lar. A aprendizagem para a leitura de materiais que não circulavam
pelas escolas acontecia por outras vias, como por meio da família, irmãos mais velhos
ou amigos. A sociedade produz muitos materiais de leitura com grande velocidade, mas
as propostas didáticas do ensino da Língua Portuguesa parecem desprezar essa
produção.
Era grande a variedade de materiais de leitura oferecida aos alunos em
suas respectivas casas e um grande número de alunos possuía internet. Abaixo são
apresentados os dados referentes ao uso e ao tempo utilizados com computadores.
TEMPO DE USO DO COMPUTADOR
QUANTIDADE
DE VEZES
POR SEMANA
ESCOLAS
SANTO
ANTÔNIO
FERNANDO
PESSOA
CANAVIAIS
TEMPO
DE USO
POR
DIA
ESCOLAS
SANTO
ANTÔNIO
FERNANDO
PESSOA
CANAVIAIS
1 vez 1 3 - 10 min 1 1 4
2 vezes 3 5 2 30 min 2 7 1
3 vezes - 3 2 1 h 1 3 1
4 vezes - - - 2 h 2 1 -
5 vezes 1 1 2 3 h - - -
6 vezes - - - 4 h - - -
7 vezes 1 - - 5 h - - -
Tabela 3 – Tempo de uso do computador
Houve unanimidade nas respostas quanto ao uso do computador por
todos os entrevistados. O fato divergente entre as respostas é o tempo de uso que cada
aluno faz do computador. Entretanto, nenhum deles ultrapassa 2 horas de uso diário.
Perguntei se gostariam de usá-lo por mais tempo. Responderam que os pais
determinavam o horário de uso do computador, mas quatro dos alunos explicaram o
motivo da restrição. Eles julgam que “faz mal à cabeça” e pode provocar dores de
cabeça. É claro que o uso excessivo, como qualquer outro tipo de tecnologia, poderá
desencadear alguns problemas físicos, mas esse dado mais parece um mito, assim como
do vício, em relação ao uso do computador. Se houver uma atitude equilibrada, com
alternância entre atividades de caráter tecnológico e outras atividades que necessitam de
209
movimentação física, esses efeitos indesejáveis não surgirão. Os pais podem transmitir
essa crença aos filhos por desconhecerem a natureza da nova tecnologia. Neste quadro
não temos divergências entre escolas da capital e do interior do Alentejo. Todos os
alunos têm acesso ao computador.
Outro dado parece aproximar os alunos da capital com os do Alentejo em
relação ao interesse pelo computador. Ao serem questionados sobre a preferência entre
uma tarde no computador e uma tarde com amigos, a escolha foi para a segunda opção
para a maioria dos alunos.
ESCOLAS
PREFERÊNCIA ENTRE UMA TARDE COM AMIGOS E O COMPUTADOR
ESCOLHA MOTIVOS
SANTO
ANTÔNIO
AMIGOS
4 Jogar futebol; brincar é divertido; ficar entretido com as brincadeiras
COMPUTADOR
2 É mais importante; necessidade de aprender o que a professora ensina
FERNANDO
PESSOA
AMIGOS
11
Não gostar de ficar só; estar com amigos é divertido; correr e brincar é
melhor que só mexer a mão; é mais saudável; medo do vício; não gosta
de olhar para a luz; passa mal se ficar mais tempo no computador
COMPUTADOR
1 Gosta de brincar no computador porque é eletrônico
CANAVIAIS
AMIGOS
6 Estar ao ar livre para brincar; conversar com outras crianças;
COMPUTADOR
__
Computador só tem jogos; cansa mais; os pais usam para trabalhar; os
irmãos usam para pesquisas escolares; ficar horas seguidas cansa muito
Tabela 4 – Motivos da preferência entre uma tarde com amigos e o uso do computador
Cem por cento dos alunos dos Canaviais responderam que preferiam
brincar com amigos a usar o computador. Embora três dos alunos das escolas da capital
dissessem preferir brincar utilizando o computador, a grande maioria optou por uma
tarde de brincadeiras com os amigos. Quanto ao motivo da escolha, não discutirei a
opção vencedora, “uma tarde com amigos”, pois sabe-se que toda criança gosta muito
de brincar e as respostas dadas durante a entrevista são suficientes para convencer o
leitor. Volto atenção aos motivos dados pelos alunos por não optar por uma tarde junto
ao computador.
Uma das interpretações possíveis diante das respostas do quadro é que os
alunos repetem o discurso dos pais e, portanto, suas falas podem não expressar de fato a
experiência vivida com o computador. Entretanto, uma outra interpretação pode ser
feita.
O fato de destacarem o desconforto causado pelo uso do computador
quando permanecem em atividade por um longo período é a demonstração que
sentiram esse desconforto. É relevante destacar que o fato de o texto na tela ser
constituído por pontos de luz e não tinta, como no texto impresso, modifica as
sensações físicas que temos ao ler em cada tipo de material. As diferenças entre a leitura
210
do jornal impresso e a leitura do jornal on-line aparecem na primeira parte desta tese,
destinada à interpretação dos dados coletados durante a pesquisa realizada no Brasil.
Citei, por hora, o desconforto que o uso excessivo do computador pode
provocar, aspecto levantado coerentemente pelos alunos, que dessa forma demonstram
ser usuários do computador. Entretanto, outros aspectos que os alunos apresentaram
e que indicam que ainda não se apropriaram do computador como instrumento para o
uso da internet. Em conseqüência, aparecem também alguns mitos em relação ao seu
uso: “é mais importante que brincadeiras; “medo do vício”, e, “o computador tem
jogos”.
Mais uma vez, como dito no início deste capítulo, os dados provam que
não basta colocar a criança em contato com o computador e ensinar-lhe o manuseio do
teclado ou do mouse. É preciso também ensinar a criança a conhecer cada vez mais seu
potencial. A criança precisa entender como o computador é usado socialmente, como se
apropriar desses recursos e como os objetivar em suas práticas sociais. Nas aulas
observadas, não houve uso do computador, mas os dados dos relatos verbais de
professores e alunos confirmam, essencialmente, seu uso para digitação e jogos e,
esporadicamente, para uso de investigação. O tempo excessivo para uma determinada
prática em detrimento de outra traz ao aluno dificuldades para o uso social da máquina.
Muitas vezes o professor indica uma pesquisa e o aluno não sabe como fazê-la, mesmo
tendo acesso à internet. Os recursos, estratégias e procedimentos para o uso do
instrumento deveriam ser oferecidos pela escola durante o processo de ensino da leitura
e da escrita em seus diversos suportes para que o aluno pudesse interagir com o objeto,
pois essa interação permite, além de experiência física, a compreensão da natureza
histórico-cultural do instrumento.
No quadro a seguir, está demonstrada uma comparação do modo como os
estudantes usam o computador fora e dentro da escola, levando em consideração a
importância deste instrumento que possibilita uma nova forma de ler e pesquisar que se
constrói a cada dia e pela qual seus usuários acrescentam e modificam informações na
rede.
211
USO DO COMPUTADOR
ATIVIDADES
DESENVOLVIDAS
FORA DA ESCOLA
ESCOLAS
SANTO
ANTÔNIO
FERNANDO
PESSOA
CANAVIAIS
ATIVIDADES
REALIZADAS A
PEDIDO DA
PROFESSORA
ESCOLAS
SANTO
ANTÔNIO
FERNANDO
PESSOA
CANAVIAIS
Brincar com jogos 5 12 6 Nenhuma 1 10 1
Conversar pelo
MSN
4 6 4
Receitas de
culinária
___ 1 ___
Pesquisar tarefas
escolares
6 10 3
Feriado de 5 de
outubro
3 ___ ___
Ler jornal ___ 3 ___
Frutos do
outono
___ ___ 5
Ver a previsão do
tempo
3 5 2 Corpo humano 2 ___ ___
Digitar textos
escolares
5 10 3 Animais ___ 1 ___
Tabela 5 – Uso do computador fora e dentro da escola
É possível considerar, à primeira vista, que os alunos usam a internet
com maior percepção de seu potencial do que a escola, porque esta sugere seu uso
apenas para complementação dos conteúdos ensinados em aulas. O índice de pedidos
para o uso da internet é baixo, embora as classes tenham um computador com acesso a
internet, exceto a EB1 Santo Antonio, que passava por problemas de reforma e,
portanto, estava sem conexão. O quadro demonstra que os alunos são leitores das telas
independentemente do que ensina a escola, aprendem a utilizar a internet por vias
sociais, com grande ajuda de irmãos mais velhos. Não cabe à escola o mérito do bom
desempenho de seus alunos em relação ao uso do computador.
Durante a entrevista, os alunos disseram utilizar o computador para
buscar programas, usar o Power Point, corresponder-se por e-mail ou conversar pelo
MSN. “Às vezes converso com as amigas, porque tenho uma câmera que mostra as
pessoas. Marcamos um horário, na escola, e depois vamos ao computador e falamos”.
Os temas pedidos pela professora para pesquisa são voltados para o
próprio currículo escolar, que ainda está pautado sobre datas comemorativas como: 1.
“Dia das Mães”; quando as buscas são direcionadas para receitas culinárias com o
objetivo de compor um caderno de receitas como presente; 2. “5 de Outubro” feriado
em comemoração à implantação da República em Portugal; 3. “Conserva de frutos do
outono”, porque estavam vivendo esta estação do ano no momento da pesquisa. Tudo
isso poderia ser um motivo para que a professora mostrasse aos alunos como fazer uma
busca pela WWW. Entretanto, todas as pesquisas eram tarefas de casa. A aluna IN
relatou que fez a pesquisa com a ajuda da irmã justificando que “ela percebe mais o
computador. Li, depois passei para o meu caderno. Escolhi alguma coisa, porque o
texto era muito grande. Minha irmã ajudou, acho que foi ao Google e escreveu
“conserva de frutos”.
212
A escola solicitava a pesquisa, mas quem ensinou a aluna a pesquisar foi
a irmã. A professora não se preocupava com o processo utilizado pela aluna para chegar
a esta informação, apenas lhe interessava o produto final, mas a atenção da aluna estava
também centrada no processo, porque prestava atenção no caminho percorrido pela irmã
para realizar a busca. Em um próximo trabalho poderia aplicar o mesmo procedimento e
com certeza teria grande êxito. Como foi visto no capítulo anterior, essa é uma
estratégia de leitura e, portanto, precisa ser ensinada.
muito que ensinar em relação à apropriação desta ferramenta de
leitura que é o computador. O quadro a seguir é um exemplo que comprova esta
afirmação. Quando perguntados a respeito dos sites que visitam, os alunos
demonstraram, pelas respostas, não conhecer muito bem o conceito de site. Apenas
quatro alunos conseguiram dizer o endereço do site por eles mais visitados. Os alunos
classificam games, programas de busca e CD-ROM como sites.
SITES QUE MAIS VISITAM
ESCOLAS
SANTO ANTONIO FERNANDO PESSOA CANAVIAIS
Jogo das cartas
Google Earth
Google
Word
Power point
Jogos
Internet
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Quadro 2 – Sites mais visitados pelos alunos
Como foi analisado no primeiro capítulo, a introdução da internet nas
escolas portuguesas é uma realidade, mas as práticas da escola frente às novas formas
de comunicação não revolucionaram o sistema de ensino. Os dados coletados
demonstram que a experiência em casa com a família parece ser decisiva para
apropriação e utilização do computador para as pesquisas escolares, fato que pode
acarretar uma desvantagem para aqueles que não possuem computadores em casa, e
dependem, por esta razão, da relação com o professor.
O jornal impresso tem uma grande circulação em Portugal,
principalmente os jornais gratuitos e, portanto, a interação dos alunos com este material
social é altamente possível. Por esta razão, perguntei aos alunos a opinião deles sobre a
utilização do jornal em sala de aula. No quadro abaixo não faço distinção entre as
213
escolas. Optei por destacar nas cores vermelho e verde alguns depoimentos dos alunos
que confirmam afirmações feitas ao longo destas páginas. Em vermelho, destaco falas
que confirmam o interesse dos alunos pelo jornal impresso. As falas em vermelho se
referem à aula que a professora trabalhou com o jornal a pedido da pesquisadora.
OPINIÃO SOBRE O USO DO JORNAL EM AULA
NIVEL DE INTERESSE
GOSTARIA COM ALGUMAS RESTRIÇÕES
Acho que sim, porque já interessava e para aprender essas
coisas, e a professora pensou que estava na hora de aprender a
ler o jornal. Não sabia fazer as procuras que a professora
ensinou, procurar música...
Gostaria de fazer colagens com o jornal.
Sim, para expressão plástica e leitura.
Gostaria, mas não sei por quê.
Gostaria muito e se fosse sobre política traria os materiais
marcados pelo meu pai. Muito giro.
Gostaria, porque ficaria a saber mais.
Sim, gostaria de ler, ver as páginas.
Sim, porque gosto de ler, porque gosto dos jogos sudoku, sopa
de letras, labirinto, diferenças.
Gostaria, porque assim posso saber o que aconteceu.
Sim, porque gosto de saber como vão as coisas, Portugal,
futebol e os casos.
Sim, porque é bom ler as notícias para saber o que está a
acontecer em todo mundo.
Sim, porque gosto de saber as coisas, aprender mais. Gostei
mais da aula de hoje do que da de ontem porque aprendi coisas
que eu não tinha aprendido, sobre grupo de futebol, China
Mesmo que não interessasse acho que iria gostar, porque é uma
atividade da escola e na escola temos que fazer o que pedem.
Mais ou menos, porque só tem notícias para
adultos. Se tivesse sobre jogos gostava, mas
também gosto, porque tem passatempos.
Não o jornal não tem contas para fazer,
compreensão de texto.
Não sei, se calhar gostaria. Podíamos fazer
atividades de colagem, recortar letras e colar.
Poderia ser giro, mas agora, não sei, nunca
experimentei.
Mais ou menos, porque deveríamos estudar ao
invés de ler jornais.
A professora é quem sabe
Só se as notícias fossem engraçadas
Se a professora usasse tinha que ser, mas eu não
gosto muito
Mais ou menos, porque a professora poderia pedir
para ler jornais com muitas páginas.
Não sei.
Não sei, no 3º. ano cada aluno trazia uma revista e
um jornal para fazer trabalhos sobre meios de
comunicação
Quadro 3 – Opinião dos alunos sobre o uso do jornal em aula
O primeiro relato verbal destacado em vermelho demonstra que, embora
os alunos conheçam o jornal, não conseguem, sozinhos, encontrar informações
específicas, mas destacam o interesse pela aula anterior em relação à aula do dia. O
jornal trazia manifestações sociais para dentro da sala de aula. Julgo que o aluno
encontra maior sentido quando a professora trabalha questões que o aluno sabe que
ocorrem fora da escola. O segundo relato em vermelho, “aprendi coisas que eu não
tinha aprendido” também destaca o interesse do aluno quando a escola aborda temas
novos que vão ao encontro de seus interesses e necessidades.
Outro aspecto que os dados nos mostram é o fato de o aluno obedecer e
acatar como verdade o que a escola impõe, a ponto de dizer “deveríamos estudar ao
invés de ler jornais”. uma certa resistência às novidades. Em todos os relatos
destacados em verde os alunos entendem que as tarefas da escola devem ser cumpridas
214
pelo estudante, logo, se a escola não enfatiza a importância do jornal, sua leitura passa a
ser considerada pelo aluno como atividade marginal às atividades escolares.
A aceitação em trabalhar com jornal por parte dos alunos é positiva.
Pode-se comprovar isso, observando-se as demais falas dos alunos na cor preta. Não
sabem bem para que e como utilizar o jornal, mas desejariam maior aproximação. É
função de a escola levar aos alunos o conhecimento dos materiais produzidos pelos
meios de comunicação social para que se apropriem deles.
No próximo quadro, serão apresentados os motivos pelos quais os alunos
rejeitam o jornal, principalmente pela falta de conhecimento sobre ele. O preconceito
elaborado pelos alunos ou as falsas crenças que estabeleceram são os motivos geradores
do seu distanciamento.
MOTIVOS QUE INFLUENCIAM A OPÇÃO PELO JORNAL
MOTIVOS POSITIVOS MOTIVOS NEGATIVOS
Eu gosto, quando meu pai gosta da notícia ele
mostra.
É bom saber o que está a acontecer.
Gostei sobre o assunto desporto e o jornal da minha
casa também gosto.
Um bocadinho por causa dos jogos, futebol e às
vezes banda desenhada.
Tem notícias.
Gosto de mexer nele.
Gosto do jornal só da parte de futebol.
Só de alguns, porque são mais fáceis de ler. O do
metrô, tem menos páginas e não confunde. Os
outros têm mais páginas.
Há notícias sobre tudo e se eu ler o jornal vou ter
mais cuidado, sobre coisas perigosas que
acontecem.
Gosto de saber o que aconteceu e o que vai
acontecer, sobre raptos e abusos.
Não sei por que não gosto.
Traz assuntos de que não gosto muito.
Não é divertido.
Não gosto do jornal porque tem notícias de morte e de guerras.
Eu não gosto de jornais, porque fala de outras pessoas e eu não
gosto disso.
A folha é grande e o tamanho da letra é pequeno.
Eu não sinto dificuldade, só não leio.
Eu nunca li o jornal, porque não sei onde minha mãe e minha
avó têm o jornal. Elas compram na banca, mas escondem para
o cachorrinho não pegar.
Ao invés de dar notícias, dão publicidade.
Quadro 4 – Motivos que influenciam a opção pelo jornal
Os motivos que desencadeiam o interesse pelo jornal, são, na maioria dos
relatos, adequados à forma, e aos objetivos pelos quais é concebido. No início deste
capítulo, descrevi que os jornais de circulação gratuita m um formato muito distinto
dos adquiridos por assinatura. Uma dificuldade apontada por mim é a quantidade de
páginas que o jornal por assinatura possui e sua formatação. Os cadernos não são
independentes como nos jornais do Brasil. Estas características dificultam sua leitura até
mesmo para um adulto, se não houver uma mesa como apoio, pois se torna cansativo
segurar por muito tempo o peso de suas páginas. Creio ser por esta razão a declaração
do aluno de que gosta “só de alguns, porque são mais fáceis de ler. O do metrô tem
menos páginas, não confunde. Os outros têm mais páginas”. Os jornais de distribuição
215
gratuita têm formato diferenciado, porque seu objetivo é o de atingir o maior número de
usuários das linhas de metrôs, que tem pouco tempo para realizar a leitura diária. Por
isso, as notícias são rápidas, o jornal é leve, e sua diagramação e configuração textual
são semelhantes às de um jornal on-line.
Destaco dois pontos divergentes nesta coleta que poderiam levantar uma
reflexão interessante no âmbito escolar. Um deles é a escolha de notícias pontuais
filtradas pelo pai que demonstram ter forte influência na escolha da leitura de jornal
pelo filho. Outra é a dificuldade de acesso ao jornal quando não se sabe onde foi
guardado pela mãe ou pela avó, que justifica a não leitura do material. São práticas
divergentes que determinaram positiva ou negativamente o acesso ao jornal. A
professora poderia ser o pai que promove o encontro do aluno com o jornal, quando lhe
apresenta o material, comenta sua leitura particular e estimula a curiosidade. Ou ser a
mãe ou avó que escondem o jornal em local de difícil acesso impossibilitando sua
leitura, quando não traz o jornal para sala e o disponibiliza para a classe. O professor
tem papel importante e decisivo na formação do aluno.
Os alunos demonstram que gostam de estar informados sobre
atualidades, esportes, quadrinhos. Sabem que notícias publicadas nos jornais podem
prevenir situações perigosas. Demonstram também que o jornal pode trazer um
conteúdo sem graça, triste, desinteressante. Cabe à professora informar ao aluno a forma
como o jornal é lido, como os leitores de jornal transitam pelo material. Nem todos os
leitores adultos se interessam pelo caderno Economia, muitos deles apenas lêem o
caderno Esporte. O aluno precisa saber que não é preciso ler o jornal inteiro.
possibilidade de escolhas para sua leitura. Fica explícito no quadro que a formatação do
jornal assusta as crianças pelo tamanho e quantidade de suas páginas. Tudo isso poderia
ser amenizado se o jornal fizesse parte da seleção de materiais de leitura com que a
escola trabalha.
Diante dos dados é possível concluir que a escola ainda se encontra longe
de construir uma prática voltada às novas formas de materiais de leitura que o mundo
em transformação apresenta. Penso contribuir para a reflexão didático-metodológica dos
professores portugueses e brasileiros que buscam ampliar e ajustar suas práticas com as
manifestações histórico-culturais de ambos os países.
216
CONCLUSÃO
A pesquisa apresentada nesta tese teve como ponto de partida a
existência de um novo fenômeno, a cibercultura. Com ele cria-se um novo espaço de
leitura, com ferramentas que possibilitam a construção de diferentes práticas,
interferindo e modificando a formação do leitor em processo. Dentro deste contexto, o
jornal foi escolhido como material de leitura, porque é construído socialmente sobre
dois suportes diferentes, a tela e o papel e nele encontramos uma diversidade de gêneros
textuais e assuntos que motivam grupos variados de leitores.
A leitura do jornal impresso e do jornal on-line foi o objeto de análise
desta tese, visando à compreensão e a discussão de indícios que se destacam nessas
práticas. Foram selecionadas seis professoras e trinta alunos, entre 9 e 10 anos, de
quatro escolas públicas, uma do Brasil e três de Portugal, para o desenvolvimento da
pesquisa. Ao estudar duas realidades histórico-culturais diferentes, mas com o uso da
mesma língua, a pesquisa pretendeu contribuir para o avanço nas pesquisas em
educação, levantando questões e reflexões sobre novas tecnologias que surgem no
contexto social e, particularmente, no escolar. Ao tentar verificar o uso das versões do
jornal impresso e on-line das escolas públicas em Lisboa e Évora, Portugal, e da rede de
ensino municipal de Marília, Estado de São Paulo, Brasil, foi possível demonstrar
realidades educacionais e culturais significativas das duas nações, com o intuito de
promover a discussão sobre o conceito de leitura que permeiam as práticas escolares e a
entrada do jornal como um veículo para a aprendizagem da leitura.
A exposição dos dados coletados e analisados a partir deste contexto foi
divida em duas partes que correspondem à cronologia da pesquisa. O desenvolvimento
do trabalho ocorreu em duas etapas, a primeira no Brasil e a segunda em Portugal.
A primeira parte da tese, refere-se à experiência de ensino com seis
alunos brasileiros de uma escola pública de Marília, orientada pelos princípios da
pesquisa-ação. A metodologia escolhida para seu desenvolvimento visava a encontrar
indícios de práticas de leitura do jornal impresso transportadas para situações de leitura
do jornal on-line. As aulas de leitura do suporte eletrônico e do impresso foram
gravadas em vídeo e os relatos verbais dos alunos gravados em fitas cassetes, o que
permitiu a análise do processo. Diferentemente de Portugal, no Brasil a pesquisa pôde
ser realizada com tempo e acolhimento por parte dos alunos e das professoras.
217
Para exposição dos dados, esta primeira parte foi dividida em três
capítulos. O primeiro ocupou-se em descrever os dados iniciais da pesquisa-ação. o
segundo e o terceiro capítulos trataram da interpretação dos dados coletados durante a
leitura da versão do jornal impresso e do on-line respectivamente.
Conclui-se que o fator decisivo que impulsiona a leitura do jornal
impresso ou on-line é a experiência que o leitor possui. Por isso, a necessidade de
mediação pedagógica se faz presente. Os alunos buscavam temas de leitura com que, de
alguma forma, tivessem tido alguma aproximação. No entanto, ao acessar o caderno
de seu interesse no impresso, os alunos ampliavam a leitura sem nenhuma intenção de
busca, fazendo varredura no material. Neste percurso encontravam informações,
palavras-chave que acionavam seu interesse e por isso continuavam a leitura. Essa
prática, então, apareceu em maior porcentagem na leitura do impresso. Entretanto,
durante as entrevistas, mostravam-se fascinados pela leitura na tela. O interesse pelo
novo suporte era grande, mas não na mesma proporção que o desempenho. Embora os
sujeitos observados sentissem mais entusiasmo com a leitura digital do que com a do
impresso, demonstraram ter mais habilidade na leitura e dedicam maior tempo de leitura
ao segundo. Isso se justifica por estarem presos à leitura no impresso,
predominantemente visto na escola. Os dados da pesquisa demonstraram que quanto
maior for o leque de assuntos de que o aluno tenha se apropriado no decorrer de sua
experiência, o interesse específico de leitura e a necessidade de informações maior será
o tempo gasto na leitura e no interesse pela busca.
Durante a busca da matéria sugerida pela pesquisadora, os alunos não
mantiveram o padrão rígido apresentado pelas pesquisas realizadas a respeito da direção
dos olhos quando entravam em contato com a página impressa. Seus olhos eram
guiados por palavras que faziam sentido para busca. A profundidade da compreensão do
assunto lido era, portanto, determinada pelo conhecimento prévio de cada leitor diante
do assunto lido, pelas práticas anteriores e pela familiaridade com a formatação do
material usado na leitura.
Podem-se perceber alguns comportamentos utilizados para a leitura do
material impresso durante o uso on-line. O padrão ensinado pela escola, de seguir a
leitura com o dedo, surgiu durante a leitura feita na tela. Outro destaque importante foi o
esquecimento de rolar a página para continuar a leitura. Esse procedimento foi
substituído por mudar de página, atitude que levava o aluno a acreditar que a notícia não
tinha seqüência. Embora toda a estratégia básica de leitura na tela tenha sido ensinada
218
durante a pesquisa-ação, os alunos, durante o uso, mecanicamente empregavam um
comportamento próprio do material impresso no virtual. Assim que percebiam o
equívoco, buscavam a atitude mais eficaz para o tipo de material que estavam lendo.
Quanto às estratégias de leitura, os alunos empregavam as mesmas em ambos os
materiais. Elegiam palavras-chave para iniciar a busca do assunto escolhido, pulavam
palavras desconhecidas e interrompiam a leitura quando satisfaziam a curiosidade
inicial.
A segunda parte foi constituída de dois capítulos. No primeiro, foram
contextualizadas as condições em que se realizou a coleta em Portugal. Também foram
apresentadas as análises produzidas a partir dos dados coletados em duas escolas de
Lisboa. Já o segundo capítulo relata especificamente os dados coletados em Évora,
cidade da região do Alentejo, em Portugal. O último item apresenta a categorização das
entrevistas realizadas tanto com alunos de Lisboa como com os de Évora.
Estava previsto, no início da pesquisa, que se realizariam as mesmas
atividades com alunos portugueses e brasileiros. Entretanto, isso não foi possível devido
às condições burocráticas para se conseguir a autorização para um professor estrangeiro
trabalhar junto a alunos do ensino fundamental português. Outro fator que
impossibilitou a concretização do primeiro planejamento da pesquisa foi o pouco tempo
autorizado para estar junto aos alunos e os obstáculos para acessar a internet. Por esses
motivos, foi realizado um estudo etnográfico, tendo, como instrumentos principais de
coleta, a observação e a entrevista semi-estruturada realizada tanto com professores,
como com alunos, a fim de se investigar o uso do jornal impresso e on-line em salas de
aula, bem como o tipo de relação de alunos e professores com esse material.
O contexto em que vivem os professores e alunos em Portugal em
relação à oferta de jornais de distribuição gratuita não existe no Brasil. Além da
possibilidade de se conseguir um exemplar do dia para o trabalho com os alunos,
existem programas de apoio ao professor, como o MuTIC e a Loja dos Sonhos, que
oferecem possibilidades diferenciadas de trabalho com computadores. Apesar disso, a
situação da escola pesquisada no Brasil apresenta vantagens significativas. Os alunos de
Marília, Brasil, têm aulas de informática uma vez por semana em um laboratório
específico e bem atualizado. Nele o professor conta com uma sala de informática
equipada com computadores ligados à internet e é auxiliado por um monitor de
informática que está presente durante toda a aula com a função específica de orientar o
219
professor e os alunos quando necessário. Toda semana, obrigatoriamente, esse professor
brasileiro trabalha no laboratório de informática da escola.
os alunos portugueses possuem um micro computador obsoleto em
cada sala de aula, o qual as professoras alegam não ser possível usar constantemente. Os
alunos, em geral, usam-no em grupo ou após a conclusão do dever. No caso, o aluno faz
uso do computador para digitar textos, mas não para acessar a internet. Os projetos de
apoio ao professor português precisavam ser agendados e não havia salas de informática
nas três escolas pesquisadas.
Percebe-se, por outro lado, que os portugueses contam com uma
abundância variada de jornais impressos, enquanto os brasileiros não. em relação ao
uso do computador, fica claro que Portugal apresenta carência de infraestrutura para o
uso freqüente de computadores.
Portugal também conta com a parceria do jornal diário Público, que lança
anualmente o Concurso de jornais escolares, iniciativa que incentiva professores e
alunos a ler e produzir seu próprio jornal, digital ou impresso. Embora os recursos
estejam presentes e tragam forte potencial didático aos professores, na prática estão
longe de substituir o velho uso dos manuais escolares. Mesmo mergulhados em uma
sociedade que os oferecem em diversidade e quantidade, os jornais gratuitos não
aparecem nas salas de aula. Como se pode perceber pelas entrevistas realizadas, os
alunos que lêem jornais o fazem em decorrência das relações familiares, não das
escolares.
A aprendizagem da leitura na WWW é ensinada fora da escola. Os
professores a têm como um recurso que pode ser utilizado pelo aluno para pesquisas dos
temas trabalhados em aula, mas dão como certo que sabe fazer a busca sem que antes
tenha sido preparado para isso. Não foi possível saber como o aluno faz a leitura dos
jornais digitais, pois o software criado para rastrear as visitas de leitura feitas por eles
não foi aplicado devido ao tempo dedicado ao cumprimento dos programas pré-
estabelecidos pelas professoras. Entretanto, durante as entrevistas foi possível avaliar
que os alunos portugueses entrevistados não se apropriaram devidamente da informática
em relação a todo seu potencial de pesquisa e de leitura. Isso também foi possível
observar com os alunos brasileiros, embora na escola do município de Marília, eles
tenham aulas específicas sobre o uso do computador. Comprovou-se que as professoras
brasileiras controlam o uso da internet, indicam o site em que o aluno vai trabalhar e
não têm proporcionado discussões sobre as estratégias de busca.
220
Assim como as professoras brasileiras, as portuguesas apresentam o
conceito de leitura como locução. A prioridade no ato de ensinar a ler está na oralização
do texto de forma bem articulada, cuja entonação expressa o conhecimento que os
alunos tenham adquirido em relação aos sinais de pontuação. A crença de que uma
compreensão do texto é resultado de boa locução parece estar arraigada. Quanto ao
jornal impresso, a maioria dos alunos portugueses têm experiência familiar positiva com
leitura de jornais e gostariam de que a escola os utilizasse em aula.
A análise dos dados, tanto da pesquisa realizada em Portugal quanto da
realizada no Brasil, revelou que não é suficiente a tecnologia estar presente na sala de
aula; é preciso que se faça uso dela. Não basta proporcionar o contato físico, mas é
preciso, de uma forma especial, ensinar o aluno a usar a tecnologia da escrita,
independentemente do suporte em que se encontra. A tese comprova que as capacidades
para usar o computador como instrumento de leitura não está em aprender comandos da
máquina, mas em criar condições para o aluno se apropriar dessa capacidade a que
chamamos de leitura. A máquina é um meio, um instrumento que deve ser utilizado
como recurso. A capacidade de identificar, nas mais diversas situações, a melhor
solução, assim como a motivação por aprender ao longo da vida e a autoconfiança nas
próprias habilidades não virão das ferramentas e sim da capacidade dos mediadores do
conhecimento para realizarem com sucesso suas tarefas.
Durante este estudo, observa-se que, no âmbito escolar, o encontro do
leitor com o jornal ainda é insuficiente e seu uso sistemático não faz parte do conteúdo
das escolas. Os alunos-sujeitos portugueses têm indícios de apropriação desse suporte,
particularmente na grande Lisboa, porque jornais são gratuitamente distribuídos. A
apropriação acontece pela mediação feita pelos pais ou adultos com quem as crianças
convivem, mas não por intermédio da escola.
Levar o aluno à apropriação das diversas formas de leitura é determinante
para a formação de indivíduos autônomos intelectualmente, pois, a partir daí, saber
manejar um computador e dispor dos conteúdos que a Internet oferece é, realmente,
usufruir das novas tecnologias e participar da sociedade da informação. Isso significa
conceituar as TICs não como meros instrumentos, no sentido técnico tradicional, mas
como algo tecnologicamente novo e diferente, capaz de ampliar o poder cognitivo do
ser humano e possibilitar mixagens complexas e colaborativas de conhecimento.
221
O encontro do leitor com o texto jornalístico vem produzindo
significados que contribuem para a superação do senso comum, propiciando ao aluno e
ao professor maior compreensão da realidade.
222
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ZANCHETTA, J. Imprensa escrita e telejornal. São Paulo: Unesp, 2004.
229
APÊNDICES
PESQUISA REALIZADA NO BRASIL
230
APÊNDICE A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Estou realizando uma pesquisa na EMEF Nivando Mariano dos Santos”, intitulada
Novos comportamentos para novas formas de comunicação: a leitura no ensino fundamental e
gostaria que participasse da mesma. O objetivo desta é investigar como a tecnologia pode
transformar o modo de operar e de pensar do leitor do século XXI Participar desta pesquisa é uma
opção e no caso de não aceitar participar ou desistir em qualquer fase da pesquisa fica assegurado
que não haverá perda de qualquer benefício nesta universidade.
Caso aceite participar deste projeto de pesquisa gostaria que soubesse que:
A) DESCREVEREI ETAPAS DA COLETA DE DADOS, DESTACANDO A
DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS PARA FINS CIENTÍFICOS, COMO REVISTA,
CONGRESSOS E USO DE IMAGEM E RELATO VERBAL COM A NÃO
IDENTIFICAÇÃO DO SUJEITO (IDENTIDADE PRESERVADA).
Certos de poder contar com sua autorização, colocamo-nos à disposição para
esclarecimentos, através do telefone (14) 3454 9303 falar com Adriana Pastorello.
________________________________
Orientanda responsável pela pesquisa
Doutorado em Educação.
Eu, _______________________________ portador do
RG_________________________ responsável pelo (a) participante
________________________________ autorizo a participar da pesquisa intitulada Novos
comportamentos para novas formas de comunicação: a leitura no ensino fundamental a ser
realizada na EMEF “Nivando Mariano dos Santos”. Declaro ter recebido as devidas explicações
sobre a referida pesquisa e concordo que minha desistência poderá ocorrer em qualquer momento
sem que ocorram quaisquer prejuízos físicos, mentais ou no acompanhamento deste serviço. Declaro
ainda estar ciente de que a participação é voluntária e que fui devidamente esclarecido (a) quanto aos
objetivos e procedimentos desta pesquisa.
Autorizo,
Data: ____/____/___
________________________ ____________________________
(Responsável) (Criança)
231
APÊNDICE B
1º Formulário de Identificação dos Alunos pela Professora
Aluno: __________________________________________
1. Quando você propõe ao aluno atividades de leitura oral ele
( ) lê
( ) diz que não quer ler
( ) às vezes lê
2. Que material de leitura o aluno mais lê oralmente em sala de aula?
( ) textos de Português
( ) textos de Estudos Sociais e Ciências
( ) livros de literatura
( ) jornal
( ) outros
3. Como esse aluno lê oralmente?
( ) bem
( ) razoavelmente
( ) mal
Comente seu desempenho
4. Quanto à leitura silenciosa, qual seu desempenho?
( ) sabe expor sobre o assunto lido com clareza e seqüência
( ) comenta fragmentos do texto
( ) não faz comentários
( ) seu relato verbal não corresponde em nada com o texto lido
Comente seu desempenho
____________________________________________________________________________
Durante suas explicações o aluno comenta sobre leituras feitas em casa?
( ) sim ( ) não
5. Se a resposta for positiva, com que freqüência?
( ) quase nunca
( ) às vezes
( ) 3 vezes na semana
( ) todos os dias de aula
6. Sobre que tipo de assunto o aluno mais comenta?
7. Você acompanha os alunos durante a aula de informática?
( ) sim ( ) não
8. Se a resposta for positiva, como o aluno utiliza o computador?
( ) sem dificuldades
( ) com muita dificuldade
( ) pede ajuda muitas vezes durante a aula
( ) pede ajuda poucas vezes durante a aula
9. Você consegue se lembrar de qual é o assunto preferido desse aluno quando utiliza o computador?
( ) sim ( ) não
Qual?
10. Qual é o tipo de atividade mais realizada durante as aulas de informática?
( ) leitura on-line livre
( ) pesquisa em sites indicados pela professora
( ) jogos didáticos
( ) atividades de softwares pedagógicos
232
APÊNDICE C
1º Formulário de Identificação do Aluno – Início da Pesquisa
Aluno:___________________________________________________Série:_______
Escola:____________________________________________________
Idade:_____________________________________________________
Data:_______________________________________________
1) Que tipo de material mais gosta de ler?
( ) gibis
( ) revistas
( ) livros infantis
( ) internet
( ) livros de História e Geografia
( ) livros de Ciências
( ) jornais
Por quê?
2) Por que você lê em casa?
( ) porque tenho que fazer a tarefa da escola
( ) porque gosto de ficar informado
( ) porque tenho interesse em alguns assuntos
( ) porque a professora pede
3) Quais materiais de leitura você tem em casa?
( )livros ( ) gibis ( ) jornais ( ) internet ( ) revistas
Se tiver outros coloque o nome deles aqui
______________________________________________________
4) Você usa computador na escola?
( ) sim ( ) não
Se usa, quantas vezes por semana?
( ) 1 vez
( ) 2 vezes
( ) 3 vezes
( ) 4 vezes
( ) 5 vezes
5) Quando tem oportunidade de usar o computador, quanto tempo usa?
( ) 10 minutos
( ) 30 minutos
( ) 1 hora
( ) 2 horas
6) Entre uma brincadeira com os amigos e uma tarde inteirinha com o computador, o que prefere?
Por quê?
233
7) Marque com x as atividades que já desenvolveu usando o computador:
( ) brincar com jogos
( ) conversar pelo MSN
( ) pesquisar tarefas escolares
( ) ler jornal
( ) ver a previsão do tempo
( ) digitar textos escolares
Se você faz outra atividade, coloque aqui
________________________________________________________
8) Sobre que assunto sua professora pediu que pesquisasse pela internet neste último mês de
fevereiro?
8. Quando usa o computador, quais os sites que mais visita?
9) Sua família assina jornal impresso?
( ) sim ( ) não
Caso tenha marcado sim, escreva o nome do jornal assinado?
______________________________________________________
10) Assina alguma revista?
( ) sim ( ) não
Caso tenha marcado sim, escreva o nome da revista____________________________
11) Conversa com alguém de sua família sobre as notícias do jornal?
( ) sim ( ) não
Com quem?
( ) pai
( ) mãe
( ) avó
( ) irmãos
12) Você se lembra de algum assunto que leu no jornal impresso e que gostou?
Onde estava o jornal quando o encontrou?
_________________________________________
13) Você se lembra de algum assunto que leu no jornal on-line e que gostou?
Onde estava o computador conectado que usou para ler o jornal?
__________________________________________
234
APÊNDICE D
2º Formulário da Professora – Final da Pesquisa
Aluno: __________________________________________________
Data:__________
1. Durante os últimos 4 meses você percebeu maior interesse do aluno em contar sobre o que lia?
Quais foram as indicações, comentários sobre esse interesse?
2. O aluno participou durante as aulas trazendo informações novas? Soube usá-las em contextos
apropriados? Cite uma situação.
3. Espaço livre para observações gerais
235
APÊNDICE E
2º Formulário do Aluno – Final da Pesquisa
Aluno:___________________________________________________Série:_______
Escola:____________________________________________________
Idade:_____________________________________________________
Data:________________________
1. Você prefere ler o jornal impresso ou pela internet? Por quê?
2. O que acha mais confortável para ler: a folha impressa ou a tela do computador? Por quê?
3. Participar das atividades de leitura de jornal ajudou você na escola? Como?
4. Com que freqüência semanal você gostaria que a professora realizasse leituras na sala de aula?
a) Usando jornal impresso
( ) 1 vez ( ) 2 vezes ( ) 3 vezes ( ) 4 vezes ( ) 5 vezes
b) Usando jornal on-line
( ) 1 vez ( ) 2 vezes ( ) 3 vezes ( ) 4 vezes ( ) 5 vezes
5. Você compreende melhor as notícias quando o jornal impresso ou quando o jornal on-line? Explique
por que.
6. Qual o assunto que você mais gostou de ler durante as atividades com jornal? Explique por que.
A - jornal impresso:
B – jornal on-line:
7. Marque com um X do que você não gostou no jornal on-line.
( ) A propaganda dificultava a leitura das notícias, distraindo a atenção
( ) Era muito lento; demorava para carregar as notícias
( ) No jornal impresso encontrava coisas que não encontro no on-line
Como _______________________________________
( ) Eu só gosto do jornal impresso
( ) Eu não conseguia acessar todas as notícias que queria
( ) Eu tinha dificuldade para conectar; o início da primeira página era muito demorado
( ) Eu não gostei do visual; é muito apertado; o espaço da tela é pequeno
( ) Não conseguia realizar minhas leituras; era muito complicado
( ) Recebi mensagens que pareciam não ser do jornal
( ) Não sei
( ) Muita propaganda
( ) Não gostei do jeito que as notícias eram mostradas
( ) As notícias eram curtas;
( ) A letra era muito pequena, difícil de ler
( ) Mostrava mensagens sem que eu tenha clicado para abrir
( ) Não gostei das cores
( ) Não há espaço suficiente para conter várias notícias
( ) Havia outros anúncios que distraíam a atenção
( ) Muito espaço em branco
8. O que distraía a sua atenção ao ler o jornal on-line?
( ) Os anúncios não eram importantes
( ) Os anúncios eram muito grandes
( ) Os anúncios distraíam a atenção
( ) Os anúncios eram muito movimentados
( ) Havia muitos links para escolher
236
APÊNDICE F
Mapeamento – Leitura de Jornal Impresso
Nome:_______________________________________________ Data:________
O Estado de S.Paulo ( )
Folha de S. Paulo ( )
Postura corporal:___________________
Local:____________________________
Manuseio da página
Vira a folha pelo canto superior direito ( ) nº. de vezes ..................................
Vira a folha pelo meio ( ) nº. de vezes ..................................
Vira a folha pelo canto inferior direito ( ) nº. de vezes ..................................
Velocidade Movimento dos olhos
Nº. da página ....... Tempo ......
Nº. da página ....... Tempo ......
Nº. da página ....... Tempo ......
Nº. da página ....... Tempo ......
Nº. da página ....... Tempo ......
Nº. da página ....... Tempo ......
Nº. da página ....... Tempo ......
Nº. da página ....... Tempo ......
Nº. da página ....... Tempo ......
Nº. da página ....... Tempo ......
Nº. da página ....... Tempo ......
Nº. da página ....... Tempo ......
Nº. da página ....... Tempo ......
Nº. da página ....... Tempo ......
Nº. da página ....... Tempo ......
Nº. da página ....... Tempo ......
Nº. da página ....... Tempo ......
Nº. da página ....... Tempo ......
Nº. da página ....... Tempo ......
Legenda:
Acima/direita
Acima/esquerda
Abaixo/direta
Abaixo/esquerda
Ficou grande parte do tempo
Centro da folha/ direita
Centro da folha/esquerda
Centro da folha/ abaixo
Centro da folha/acima
Desviou o olhar do jornal
Virar rapidamente mais de 2 folhas
Escanear 2 páginas
APÊNDICES
PESQUISA REALIZADA EM PORTUGAL
238
APÊNDICE A
AUTORIZAÇÃO
AUTORIZO o meu educando______________________________________________, aluno
no._____________, da turma _________ do _____ ano, a colaborar no projecto de investigação
levado a cabo pela Doutoranda Adriana Pastorello.
O Encarrregado de Educação,
___________________________
APÊNDICE B
Entrevista com aluno
239
Aluno:___________________________________________________ano escolar:_________________
Cidade:___________________________________________________________________________
Escola:_____________________________________________________________________________
Agrupamento:_________________________________________________________________________
Idade:_____________________________________________________________________________
Data:_____________________________________________________________________________
14) Que tipo de material mais gostas de ler?
( ) banda desenhada
( ) revistas
( ) livros infantis
( ) internet
( ) livros de estudo do meio
( ) jornais
Por quê?
__________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________________
________________________________________
15) Por que tu lês em casa?
( ) porque tenho que fazer o trabalho de casa
( ) porque gosto de ficar informado
( ) porque tenho interesse em alguns assuntos
( ) porque a professora pede
( ) não leio
16) Quais materiais de leitura tu tens em casa?
( ) livros ( ) banda desenhada ( ) jornais ( ) internet ( ) revistas
Se tiver outros materiais, coloque o nome deles aqui
____________________________________________________________________________________________________
17) Tu usas computador?
( ) sim ( ) não
Se usas, quantas vezes por semana?
( ) 1 vez
( ) 2 vezes
( ) 3 vezes
( ) 4 vezes
( ) 5 vezes
18) Quando tens oportunidade de usar o computador, por quanto tempo usas?
( ) 10 minutos
( ) 30 minutos
( ) 1 hora
( ) 2 horas
19) Entre uma brincadeira com os amigos e uma tarde inteirinha com o computador, o que preferes? Por quê?
_________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
20) Marque com x as atividades que já desenvolveste usando o computador:
( ) brincar com jogos
( ) conversar pelo MSN
( ) pesquisar tarefas escolares
( ) ler jornal
( ) ver a previsão do tempo
( ) escrever textos escolares
Se tu fazes outra atividade, coloque aqui
_____________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
21) Sobre que assunto tua professora pediu que pesquisastes pela internet neste último mês de setembro?
240
_________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
9) Quando usas o computador, quais os sítios que mais visitas?
_____________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
10) Tua família assina jornal impresso?
( ) sim ( ) não
Caso tenha marcado sim, escreva o nome do jornal assinado?
_____________________________________________________
11) Tu lês o jornal que é distribuído gratuitamente pela cidade?
( ) sim ( ) não
12) Assinas alguma revista?
( ) sim ( ) não
Caso tenhas marcado sim, escreva o nome da revista____________________________
13) Tu conversas com alguém de tua família sobre as notícias do jornal?
( ) sim ( ) não
Com quem?
( ) pai
( ) mãe
( ) avó
( ) irmãos
14) Tu te lembras de algum assunto que leste no jornal impresso e que gostaste? Qual?
_________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
Onde estava o jornal quando o encontraste?
_________________________________________
15) Tu te lembras de algum assunto que leste no jornal via internet e de que gostaste? Qual?
_________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
Onde estava o computador que usaste para ler o jornal?
__________________________________________
16) Se sua professora, começasse a usar o jornal durante as aulas tu gostarias?
_________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
17) Tu gostas de jornal? Por quê?
_________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
241
APÊNDICE C
Exmo. Senhor
Presidente do Conselho Executivo do Agrupamento de Escolas Eugénio dos Santos, de Lisboa
Lisboa, 24 de setembro de 2007
Assunto: Pedido de colaboração para a realização de Trabalho de Investigação no âmbito de um
projeto de Doutoramento em Educação, na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação na
Universidade de Lisboa, com vínculos com a Universidade Estadual Paulista UNESP, do
Estado de São Paulo, no Brasil.
1. Mestre Adriana Pastorello, doutoranda na Universidade Estadual Paulista, campus da
cidade de Marília, Estado de São Paulo, Brasil;
2. Freqüenta os estudos de Doutoramento na Faculdade de Psicologia e Ciências da
Educação da Universidade de Lisboa no período entre setembro e dezembro de 2007;
3. Encontra-se em elaboração de pesquisa cujo objetivo é comparar o uso das versões do
jornal impresso e, ou on-line das escolas públicas em Lisboa, Portugal, com os da rede
de ensino municipal de Marília, Estado de São Paulo, Brasil, com o intuito de analisar o
uso do computador como ferramenta de leitura no âmbito das aulas do currículo básico
para estabelecer estudos comparativos com o ensino em escolas brasileiras;
4. Solicita autorização ao órgão que V.Exa. representa para efectuar, na Escola EB1
Fernando Pessoa e na Escola EB1 Santo Antonio, o “trabalho de campo” com vista à
obtenção de dados, mediante a realização de observação de aulas e de entrevistas aos
professores que leccionam para alunos na faixa de 10 anos e a alunos das turmas.
Informa que pretende realizar as observações e entrevistas nos meses de setembro e
outubro do corrente ano;
5. Sobre todas as informações recolhidas durante a investigação será mantida a
confidencialidade.
6. Endereço da solicitante: Rua Fernando Caldeira, no. 5, 1º. Direito, 1700.190 – Alvalade,
Lisboa. Telefone: 21 793 5348
Agradece-se desde já a atenção e colaboração prestadas.
Com os melhores cumprimentos,
Adriana Pastorello
Doutoranda do Programa Intercalar entre Universidade Estadual Paulista, São Paulo, Brasil e
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, sob a orientação
do Doutor Justino Magalhães.
242
APÊNDICE D
Exmo Sr. Encarregado de Educação do Agrupamento de Escolas Eugénio dos Santos
1. Doutoranda Adriana Pastorello aluna da Universidade Estadual Paulista, no Estado de
São Paulo, Brasil, a freqüentar os estudos de Doutoramento na Faculdade de Psicologia
e Ciências da Educação na Universidade de Lisboa, em Portugal encontra-se em
realização de trabalho de investigação cujo objetivo é comparar o uso das versões do
jornal impresso e, ou on-line das escolas públicas em Lisboa, Portugal, com os da rede
de ensino municipal de Marília, Estado de São Paulo, Brasil, com o intuito de analisar o
uso do computador como ferramenta de leitura no âmbito das aulas do currículo básico
para estabelecer estudos comparativos com o ensino em escolas brasileiras;
2. O contributo de seu educando é muito importante para a concretização de tal tarefa;
assim, solicita-se a V.Exa. autorização no sentido de permitir que o seu educando seja
entrevistado pelo professor referido no primeiro parágrafo;
3. A entrevista será realizada individualmente, em horário a combinar e desde se
garante a confidencialidade de todas as informações recolhidas durante a investigação.
Quaisquer conhecimentos adicionais poderão ser solicitados pelo telefone: 21 793 53 48
Agradecendo antecipadamente a atenção e colaboração prestadas, envia os melhores
cumprimentos.
Lisboa, 24 de setembro de 2007
Adriana Pastorello
ANEXO
PESQUISA REALIZADA NO BRASIL
244
ANEXO A
PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA
245
246
ANEXOS
PESQUISA REALIZADA EM PORTUGAL
247
ANEXO A
248
ANEXO B
249
ANEXO C
250
ANEXO E
251
ANEXO F
252
ANEXO G
253
ANEXO H
254
ANEXO I
REGULAMENTO DO CONCURSO NACIONAL DE JORNAIS ESCOLARES 2006/2007
1. ORGANIZAÇÃO: PÚBLICO, através do Projecto PÚBLICO na Escola.
2. APOIOS: Ministério da Educação; Ciência Viva - Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica; Porto
Editora e Centro Portuguê de Design.
3. DESTINATÁRIOS: Todos os agrupamentos de escolas e todos os estabelecimentos de ensino dos 1.º, 2.º e 3.º
ciclos do ensino básico e do ensino secundário do continente, regiões autónomas e comunidades portuguesas no
estrangeiro.
4. OBJECTIVOS: Estimular a prática de um jornalismo escolar crítico e imaginativo, alargando-o a um número
maior de escolas e com redobradas preocupações de qualidade; aumentar a importância da utilização dos jornais
escolares no processo de ensino/aprendizagem e na construção da identidade das escolas; fazer dos jornais escolares
um instrumento cívico para a discussão de temas relevantes para a comunidade escolar e para a promoção de relações
entre a escola e o meio envolvente (designadamente as famílias, as colectividades, as instituições e as autarquias);
aprofundar o conhecimento das virtualidades e limitações da actividade jornalística; contribuir para o
desenvolvimento da Educação para os Media; promover a utilização das Tecnologias da Informação e da
Comunicação na produção de jornais escolares; utilizar o jornal escolar como um instrumento de divulgação
científica.
5. TIPOLOGIA:Podem ser apresentadas a concurso publicações cujo suporte seja o papel, designadamente jornais ou
revistas, que durante o presente ano lectivo tenham tido, pelo menos, três edições, sendo aceites diferentes
tratamentos gráficos (impressão manual, fotocópia, tipografia, offset, etc.). Podem também concorrer jornais
electrónicos disponíveis na Internet que, durante o período do concurso, tenham tido pelo menos três actualizações de
fundo. Os jornais electrónicos devem incluir rubricas de Tecnologia e Ciência. O jornal a candidatar pode ser
elaborado em diferentes contextos: escola ou grupo de escolas, turma, clube ou outros.
6. CONDIÇÕES DE CANDIDATURA:
As candidaturas são apresentadas pela escola ou agrupamento de escolas e devem indicar o nome dos responsáveis
(docente, equipa de docentes ou grupo de alunos). Os interessados devem, no prazo indicado, remeter uma ficha de
inscrição, onde será indicado, designadamente, o escalão em que o jornal concorre e o suporte em que será
apresentado (papel ou electrónico).
7. ENVIO DOS MATERIAIS: DURANTE O MÊS DE JUNHO DE 2007, DEVEM SER REMETIDOS:
Cinco exemplares de cada um dos três (ou mais) números diferentes dos jornais em suporte de papel produzidos
durante o ano lectivo ou indicação do endereço do site onde o jornal está disponível;
A acompanhar os jornais, deverá ser enviado um relatório. O documento, que não deve exceder as três páginas, deve:
1. indicar quem (professores e alunos) e com que funções, colaborou mais activamente na edição do jornal; 2.
descrever as principais etapas desde a concepção até à distribuição, podendo ser apontadas as principais dificuldades
sentidas em cada uma delas; 3. explicar os principais critérios que presidiram à selecção e à exclusão de textos; 4.
enumerar as principais iniciativas promovidas na escola a propósito do tema do concurso.
Cada edição do jornal deverá, obrigatoriamente, incluir uma ficha técnica que refira o nome da escola e respectivos
contactos (telefone e e-mail), os responsáveis pela publicação, o número da edição e a data de publicação. Os jornais
distinguidos monetariamente na anterior edição do concurso devem referir o modo como o prémio foi aplicado no
desenvolvimento de um projecto de comunicação.
8. CRITÉRIOS DE VALORIZAÇÃO: na apreciação do júri, a verificação do cumprimento dos objectivos que o
concurso persegue, acima enunciados, será objecto de valorização. Assim, o júri valorizará:
A prática de um jornalismo escolar crítico e imaginativo; A importância dos jornais escolares no processo de
ensino/aprendizagem e na construção da identidade das escolas ou dos agrupamentos de escolas;
A utilização dos jornais escolares como instrumentos cívicos para a discussão de temas relevantes para a comunidade
escolar e para a promoção de relações entre a escola e o meio envolvente (em particular as colectividades, empresas,
instituições, autarquias);
A preocupação com a divulgação científica e a abordagem científica da temática do concurso. O envolvimento do
jornal em iniciativas, campanhas ou programas tendentes a solucionar ou atenuar problemas detectados na escola; a
promoção de debates sobre temas educativos e a abordagem do tema do concurso serão aspectos igualmente tidos em
conta.
Na valorização do jornal, considerar-se-ão o espírito crítico e a imaginação que o jornal traduza; o trabalho de equipa
e o envolvimento de alunos de distintos anos de escolaridade e de professores de diferentes áreas disciplinares (que o
resultado final deve evidenciar), com responsabilização de alunos nas diferentes fases de produção; a diversidade de
géneros jornalísticos (notícias, reportagens, inquéritos, entrevistas, etc.); o rigor e a originalidade dos textos; a
qualidade da informação científica e tecnológica; a correcção gramatical; a qualidade e a originalidade do grafismo e
a integração do jornal num projecto mais vasto de educação para os media. No caso de jornais de agrupamentos, será,
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particularmente, apreciada a boa articulação do trabalho das escolas. A inclusão de textos de alunos dos vários níveis
de ensino será também valorizada pelo júri.
Os jornais em suporte electrónico serão valorizados em função da: facilidade de navegação no site do jornal entre as
secções e artigos de uma mesma edição do jornal e entre as várias edições de um mesmo jornal, decorrente da
organização da informação; legibilidade dos artigos decorrente da adequação ao suporte electrónico; sugestão de sites
com informação complementar relativa às temáticas abordadas nos artigos; promoção da participação dos leitores do
jornal (na escola e fora da escola), através de fóruns de discussão on-line, da troca de mensagens de correio
electrónico (com opinião sobre os assuntos dos artigos); articulação com o site da escola (no caso de o mesmo
existir). A inclusão de uma rubrica consagrada à Ciência será também objecto de particular valorização.
9. PRAZOS DE INSCRIÇÃO: Até ao dia 30 de Março de 2007.
10. DATA DE ENVIO DOS MATERIAIS: Até ao dia 6 de Julho de 2007.
11. DIVULGAÇÃO DOS JORNAIS PREMIADOS: Até ao final de Outubro de 2007.
12. JÚRI: o júri será constituído por representantes das entidades promotoras e patrocinadoras e por professores de
reconhecido mérito, sendo as suas decisões soberanas e definitivas. Delas não haverá, portanto, qualquer recurso.
13. Os jornais e toda a documentação entregue ficam pertença da entidade organizadora, que lhes pode dar o
destino que entender, obrigandose apenas a mencionar a origem da documentação utilizada.
14. PRÉMIOS: São concedidos prémios em quatro escalões e dois prémios especiais.
Os prémios destinam-se a ser utilizados no desenvolvimento de um projecto de comunicação.
Cada candidatura deve indicar a que escalão, dos três existentes, concorre:
1.º Escalão: devem apresentar-se neste escalão os jornais de agrupamentos de escolas. Os estabelecimentos dos 1.º,
2.º e 3.º ciclos do ensino básico e os jardins-de-infância devem apresentar as suas publicações neste escalão.
2.º Escalão: devem apresentar-se neste escalão os jornais de escolas secundárias e profissionais.
3.º Escalão: devem apresentar-se neste escalão os jornais electrónicos.
Em cada um dos dois primeiros escalões, podem ser atribuídos um primeiro prémio, no valor de 3700 euros, um
segundo prémio, no valor de 2500 euros, e um terceiro prémio, no valor de 1250 euros. No escalão dos jornais
electrónicos, será atribuído um único prémio, no valor de 2500 euros; o júri poderá decidir pela não-atribuição de
qualquer dos prémios referidos. Em caso de ex aequo, o valor do prémio é dividido pelo número de premiados.
Será atribuído um prémio para distinguir o melhor grafismo. Deste modo, sublinha-se, uma vez mais, a importância
que a qualidade e a originalidade do grafismo têm para a valorização do jornal escolar. O vencedor receberá um
prémio no valor de 600 euros.
Os jornais escolares premiados na edição do ano lectivo passado do concurso (excluindo os jornais distinguidos com
menções honrosas) apenas poderão candidatar-se, neste ano lectivo, a um prémio especial no montante de 2500 euros.
Este prémio será atribuído ao melhor dos jornais escolares premiados na edição de 2005/06 do Concurso de Jornais
Escolares.
15. ENDEREÇOS: As inscrições e os materiais deverão ser enviados para a entidade organizadora: PÚBLICO na
Escola, Concurso Nacional de Jornais Escolares, Rua de João de Barros, 265 - 4150-414 Porto.
NOTA FINAL: Ao longo do ano lectivo, o Boletim PÚBLICO na Escola prestará todas as informações relevantes
sobre o concurso, pelo que a sua assinatura é obrigatória. Para o fazer, basta enviar um cheque ao PÚBLICO
Comunicação Social, SA, no valor de 12,50 euros, para o endereço PÚBLICO na Escola, Remessa Livre n.º 11153 -
EC Picoas, 1059-960 Lisboa.
Qualquer esclarecimento suplementar sobre o concurso pode ser obtido através do e-mail:
[email protected] e sobre a assinatura do boletim, através do telefone 808 200 095 (linha azul).
http://www.spra.pt/?aba=27&cat=31&doc=366&mid=115
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