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Segundo Gould (1997), Nicolau Copérnico mudaria radicalmente a maneira de o
homem ver o mundo e si próprio. Com a publicação de seu livro: Das revoluções dos
corpos celestes em 1543, Nicolau Copérnico retirava do homem sua posição de
destaque, ou pelo menos, o seu papel de figura central no cenário da criação divina. Em
outras palavras, quando a Terra deixa de ser o centro do universo e passa a ser mais um
planeta do sistema solar, o homem é obrigado a reconhecer sua pequenez no processo
de criação do universo. Mesmo assim, não faltam tentativas de recuperar este papel de
destaque. Estudos sobre evolução têm, por diversas vezes, sido utilizados para reforçar
esta idéia. É o caso, por exemplo, analisado por Gould (1990), do uso de famosas
iconografias que retratam o processo de evolução humana em propagandas e
publicidade. Nestas encontramos, postos em fila indiana como nossos ancestrais,
diversos símios que, do ponto de vista evolutivo, podem somente ser comparados a
parentes próximos, como nossos “primos”. No final da fila, postos como os mais
evoluídos, estão os seres humanos, reforçando ainda mais a idéia de nossa
superioridade. Estas imagens têm sido veiculadas como sinônimo de progresso e ainda
mais, como progresso inevitável e pré-determinado, logo, teleológico.
Neste caso analisado por Gould, os conceitos de teleologia e progresso
encontram-se intimamente associados, visto que, um processo teleológico é aquele que,
na verdade, é visto como uma alteração ordenada de acordo com um propósito para
obtenção de uma finalidade. E esta pode ser, em última instância, o próprio progresso.
Como acreditava Lamarck, que via na transformação dos seres vivos uma finalidade, a
adaptação. Em outras palavras, a melhora ou o progresso. Entretanto, para termos clara
a idéia de progresso como sinônimo de melhoria ou avanço, precisamos entender que o
conceito de progresso não é, segundo Ayala (1998), um conceito estritamente científico,
e que está entranhado em uma complexa rede de valores, demandando um
aprofundamento em outros campos conceituais além das Ciências Biológicas.
Para Barahona (1998), a idéia de progresso é aplicada tanto a história da
humanidade como a natureza, e começou a se desenvolver no Renascimento. Os gregos
viam o mundo em termos de ciclos eternos, isto se deu até o século XVI quando se
começa a pensar na possibilidade de que a história da humanidade e da natureza pudesse
ter tido um desenvolvimento “progressivo”. A autora nos conta que para Bacon, no
século XVII, a esperança em um gradual crescimento do saber, era melhorar a vida
humana; o legítimo fim da ciência era dotar a vida humana de novas invenções e
riquezas, e no caso das ciências naturais, estabelecerem o domínio humano sobre a