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deixa à mostra seus dentes.”
148
O riso, portanto, está relacionado à espontaneidade, à alegria, à
descontração, ao humor, à capacidade de desarmar-se e só rir. O riso, nesse sentido,
aproxima-se das reflexões que André Comte-Sponville faz sobre o humor, enquanto uma das
virtudes do ser humano. Segundo esse autor, “[...] o humor ri de si, ou do outro como de si, e
sempre se inclui, em todo caso, no disparate que instaura ou desvenda.”
149
O humor é, em
primeiro lugar, a capacidade de rir do seu próprio ser, produzindo alegria numa situação em
que, aparentemente, a dor, o sofrimento, a sisudez imperam. O autor diferencia humor de
ironia, ressaltando o primeiro como uma virtude que cura, ajuda a viver, liberta, é
misericordioso e humilde, ao contrário da segunda.
150
Diria que o humor ou o riso podem
então humanizar uma aula ou um seminário, na medida em que contribuem para a formação
de seres humanos mais humildes e solidários. É o que também Cecília Warschauer conclui ao
refletir sobre a arte e a alegria relacionadas com a solidariedade. “Arte e alegria caminham
juntas e possibilitam a abertura para o Outro. Viver e educar(-se) com alegria é, portanto,
caminho para a convivência solidária.”
151
O (bom) humor é uma atitude ecológica, no sentido amplo do termo, ou seja, no que
se refere às “relações recíprocas entre o homem e seu meio moral, social, econômico”.
152
Uma
pessoa bem humorada, além de ser humilde e solidária com as que estão à sua volta, contagia
o ambiente e as pessoas com o mesmo sentimento. Há alguns anos, o cinema nos presenteou
com a obra Patch Adams: o amor é contagioso
153
, no qual Robim Wilhams interpreta Patch
Adams, um médico que tentou humanizar a sua profissão, usando o humor e o amor como as
principais emoções para o seu trabalho nas salas e nos corredores frios, sofridos e sombrios de
ambulatórios e hospitais. Comte-Sponville também associa o humor ao amor, ressaltando que
o primeiro fortalece o segundo. Para esse autor, o humor “é uma manifestação da
generosidade: sorrir daquilo que amamos é [...] amar melhor, com mais leveza, com mais
espírito, com mais liberdade.”
154
Se o amor é contagioso, conforme o título do filme, o humor
é contagiante, e ambos sustentam um modo de viver em que tudo se torna mais leve, mais
suportável, mais atraente.
O filme citado nos mostra que, na medicina, o humor ainda é um corpo estranho,
embora muitos já reconheçam o seu poder terapêutico. Tenho a impressão de que, na
148
HOUAISS, 2004.
149
COMTE-SPONVILLE, André. Pequeno tratado das grandes virtudes. Tradução: Eduardo Brandão. São
Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 232.
150
COMTE-SPONVILLE, 2004, p. 234.
151
WARSCHAUER, 2001, p. 142.
152
HOUAISS, 2004.
153
PATCH ADAMS: O amor é contagioso. Dirigido por Tom Shadyac. EUA, 1998. 1 DVD (115 min).
154
COMTE-SPONVILLE, 2004, p. 236.