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Uma alternativa válida, por exemplo, são as escolas para pajens, criadas
em todas as cortes italianas e européias. Outra é constituída por conventos-
seminários. Escola, colégio ou convento não são, todavia, equivalentes; a
escolha de uma ou de outra antecipa com bastante nitidez a carreira para a
qual se encaminha o adolescente. Ser um pajem significa direcionar-se para
as glórias militares em algum exército ou numa das ordens cavalheirescas,
como a de Malta. Ao contrário, a passagem pelo colégio conduz, como
vimos, a uma condição genérica de fidalgo ou então ao doutoramento em
direito e às carreiras de advogado, magistrado ou prelado de Cúria,para as
quais se exigem os mesmos requisitos. O convento-seminário implica,
enfim, a aceitação dos votos e o ingresso na ordem religiosa à qual
pertence (AGO, 1996, p. 341).
Conceder um pouco de estudo a cada jovem mostrava-se na preocupação,
pode-se assim dizer, das famílias mais ricas. Fornecer um mínimo de instrução aos
rapazes, mesmo àqueles encaminhados a uma profissão, também era bastante
valorado, uma vez que, há de se considerar a faceta de aprendizagens imposta a
idade juvenil. Ser jovem remetia sempre a uma situação de não se saber bem o que
queria devido a pouca idade. E, por conta disso, concessões e resignações diante
de um futuro planejado de maneira disciplinar pela família, configurava-se de
maneira comum aos jovens. Ago (1996), ainda irá dizer que quanto a isso não
haveria nenhum problema, pois:
Na maioria dos casos os pais podiam contar com a interiorização dos
interesses familiares por parte dos jovens e com uma espontânea adesão
deles ao destino que lhes era reservado. Não se pode portanto falar da
tirania paterna, de verdadeira coerção da vontade. Todavia, falar de respeito
seria igualmente excessivo. Se assim fosse, os genitores deveriam também
aceitar as decisões contrárias aos seus desejos e projetos, quando na
realidade eles as desencorajavam ativamente. Nos casos considerados, só
não há conflito porque a escolha do jovem coincide com as exigências da
família, contentando a todos, ou então porque sua decisão não é muito
relevante para os destinos familiares (AGO, 1996, p. 350).
A junção entre formação educacional e disciplina também pode ser
verificada sob a vertente das implicações impostas a cada um. Estar condicionado a
determinada postura de obrigações e deveres, ainda que seja pela família, impõe
coerções e situações de imposição nem sempre nítida como um controle disciplinar.
Para melhor perceber a relação entre jovem, leitura e disciplina, consideremos
Foucault (1987) e seu estudo científico que põe o corpo como um centro que “se
manipula, se modela, se treina, que obedece, responde, se torna hábil ou cujas
forças se multiplicam.” (FOUCAULT, 1987, p.117). Nesse sentido, a abordagem ao