- 2
podemos constatar na matéria “Educação, uma nova dimensão?”
64
. A diversidade de
posturas, muitas vezes tão distintas entre si, foram marcantes no jornal até 1969.
Mas as matérias foram mudando, o jornal foi conquistando o público, foi
aumentando o número de páginas
65
e as notícias do clube foram perdendo espaço. Para
Juarez Fonseca, isso aconteceu na medida em que os jornalistas traziam outros
materiais: “a gente começou logo a contrabandear coisas... pouco a pouco o Clube foi
perdendo espaço dentro do jornal e nós fomos botando outro tipo de matéria, outro tipo
de coisa...”. Na medida que isso foi acontecendo o jornal do Clube do Professor Gaúcho
deixou de servir apenas ao propósito de divulgar a construção do Clube.
Com a chegada de novos colaboradores, o Exemplar adquiriu sua característica
definitiva de alternativo, no sentido de que passou a oferecer prioritariamente uma
resistência contracultural
66
em muitos aspectos. Miccolis (1986:04) aponta alguns
aspectos que utilizou para catalogar publicações alternativas, e a partir deles definiu
alternativo como publicações que ofereçam
“...algum tipo de resistência contracultural, no sentido amplo: publicações
universitárias, de teatro, de música, de vanguarda, de asa delta, de cinema,
místico-filosóficas, de fanzines, de grupos estigmatizados (negro, mulher,
homossexual, índio), de literatura, de alimentação natural, de quadrinhos, de
humor, de crítica aos costumes, de ecologia, de variedades...”
Partindo da definição de Miccolis, arrisco dizer que no Exemplar encontramos
essa resistência contracultural sob vários aspectos, como o debate sobre a questão
64
“...parece-nos que a educação e o professor se defrontam freqüentemente com um inimigo pernicioso e
sorrateiro: é o sentimentalismo e os conceitos de que a educação é idealismo e que o magistério é
vocação e algo assim como caridade pública” (Exemplar, número 16).
65
Posteriormente, das 24 páginas do jornal, apenas duas eram dedicadas ao Clube.
66
Movimento que se consolidou a partir dos anos 50 e acabou por influenciar os movimentos culturais,
musicais, a própria esquerda nas décadas posteriores, principalmente nos anos 60 quando “se voltou para
as experiências comunitárias, as drogas ditas psicodélicas, o misticismo oriental, a psicanálise profunda,
teorias sociais anarquistas, o movimento de liberação da mulher, o folclore ameríndio, entre outra
orientações, um amálgama que irrompeu à tona na contestação violenta de rua em maio de 68” (Coelho,
2000:100). Segundo Coelho (2000), os movimentos contraculturais não foram exclusividade do século
passado, pois remontam a segunda metade do século XVI. Analisaremos mais detidamente o movimento
contracultural e sua influência na publicação do Exemplar no decorrer deste capítulo.