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A JUDIA.
clemencia. Perdoa, perdoa, e virei expirar a teus
pés, contente, risonha, grata, amando-te e dizen-
do-te: Jayme, és nobre, meu dôce amor, és bom!
D. João, em cuja physionomia se pinta o mais profundo
horror, o mais ignobil fanatismo, recua diante d’ella
murmurando, aterrado.
Uma judia! uma judia no Paço! Oh! Deus
meu a que estamos expostos!
Beatriz, sem o ouvir, só buscando convencel-o, com a face
banhada de pranto, e a voz cheia de lagrimas.
Oh! mas quem sou eu; o que vale o meu amor,
para que eu ouse invocal-o? E’ para o teu coração
que devo appellar. (Sem atinar com as palavras)
Jayme!... Meu senhor!... Peço-te... Não... Rogo a
Vossa Alteza. Senhor, é um povo desgraçado, em
toda a parte proscripto, em toda a parte inimigo.
A terra em que nascem não lhes é patria, é exilio!
Tristes, com a saudade immensa da sua dôce
Jerusalem, vagueiam no mundo as tribus
dispersas, implorando do estrangeiro apenas o
sorriso da hospitalidade, um pouco de compai-
xão, uma scentelha d’affecto, e ás suas supplicas
respondem o odio, o desprezo, o insulto. «Vai,
dizem-lhe, vai, povo condemnado e errante, não
contamines com a tua presença os nossos lares,