determinada, após sua comparação com outros ativos reais ou financeiros, pelas suas rendas produtivas e sua valorização, que são
expressos pela facilidade de sua revenda, isto é, de sua liquidez.
Ainda nesse período de grande instabilidade econômica, onde vários planos macroeconômicos foram aplicados para procurar
equaciona-la, o preço da terra começa a se movimentar, principalmente, ao ritmo da inflação e das expectativas que formam os
agentes em relação aos resultados das medidas de política econômica. Os movimentos mais importantes do preço da terra rural do
período são listados a seguir.
Na crise do final dos anos 80, que afetou drasticamente o conjunto do país, os preços da terra agrícola caíram significativamente.
A partir de 1984 as exportações brasileiras, em grande parte agrícolas, viabilizaram a saída da recessão profunda na qual a
economia brasileira se encontrava. O incremento de tais exportações, que se dirigiam principalmente para os Estados Unidos da
América, mudaram as expectativas dos agricultores, os que por sua vez, começaram a produzir criando, com isso, um aumento da
escassez no mercado de terras da terra que manifestou-se em maiores preços. Essa maior demanda de terras aumentou a sua
liquidez em relação a outros ativos reais e financeiros. Os baixos retornos dos principais ativos líquidos e à crescente
desconfiança dos agentes econômicos em relação à capacidade do governo de honrar a dívida pública, existentes naquela época,
acarretaram o aumento da demanda de terras como ativo de reserva, tornando desta forma mais intensa a elevação de seus preços.
O grande boom do preço da terra no Brasil deu-se no ano de 1986, com o Plano Cruzado. É neste ano os que os preços reais
atingem seu valor máximo. Este "pico" foi causado, principalmente, pelas seguintes conseqüências da política econômica:
congelamento dos preços e salários reais, queda acentuada da rentabilidade de todas as aplicações financeiras e elevação dos
níveis de investimento. Além disso, havia disponibilidade de recursos financeiros relativamente baratos, de grande importância
para o setor agrícola. Em conseqüência destes fatos, os preços da terra se elevaram tanto pelo crescimento de sua demanda como
ativo de capital, na medida que havia um crescimento da demanda por bens agrícolas/salariais, quanto ativo de reserva e de
investimento, na ausência de alternativas adequadas de aplicação, exceto em outros bens reais. O fim do Plano Cruzado, no final
de 1986, com reversão de todas as expectativas, ocasionou queda acentuada nos preços da terra, colocando-os em seu nível
anterior.
A queda dos preços da terra após o Plano Cruzado foi gerada pela queda na demanda agregada (nos investimentos reais e nos
salários reais) e pelo retorno à atividade dos mercados financeiros de curto prazo. As necessidades de financiamento do Estado
garantiram um mercado para aplicação em ativos líquidos preferíveis à terra. Com a perspectiva de hiperinflação seria de se
esperar que, em tese, crescesse a demanda por terras como ativo líquido. Para o caso brasileiro, entretanto, tal perspectiva
provocou crescimento da demanda por terras apenas quando a insegurança nas aplicações nos demais mercados de ativos líquidos
aumentou, o que ocorreu apenas no primeiro semestre de 1989, tendo havido queda no segundo semestre.
No primeiro semestre de 1990, antes do novo Plano, quando o risco de hiperinflação se elevou ainda mais, alguns agentes
demandaram terras, elevando um pouco seus preços. Mas os ativos mais demandados foram os mais líquidos do que a terra. O
Plano Collor, através do congelamento da riqueza líquida da economia, acarretou queda acentuada na liquidez da terra. Esta, por
sua vez, fez com que os negócios com terras ficassem relativamente parados ao longo do segundo semestre de 1990, mantendo
seu preço relativamente estável.
Ao longo do primeiro semestre de 1991, o preço da terra voltou a se elevar. A elevação da liquidez da economia, aliada à elevada
incerteza e ao descrédito em relação à segurança de manter riqueza em qualquer tipo de aplicação financeira, têm canalizado mais
recursos para o mercado de terras. A partir desta elevação, o preço da terra no Brasil apresentou uma queda contínua até chegar
em dezembro de 1992 ao seu patamar mais baixo apenas comparável ao período pré modernização da agricultura em 1973.
As indicações são de que o processo de estabilização entendido como a criação da URV conjuntamente com o Plano Real afetou
o mercado de terras de forma profunda mas distinta. Enquanto a estabilização significou apenas o fim da inflação e do
crescimento econômico, o que ocorre até meados de 1994, o preço dos diferentes tipos de terras cresceu atingindo um patamar
bastante elevado (acima do patamar dos anos 70). Com a recessão provocada por políticas restritivas de consumo, crédito,
particularmente para a agricultura entre outras, em meados de 1994, o preço da terra começou a apresentar uma queda bastante
sustentada de seus preços. Entre junho de 1994 e junho de 1995 o preço da terra caiu aproximadamente 42%, fazendo com que
este se encontre novamente no patamar mais baixo pós modernização dos anos 70. De junho de 1995 a junho de 1996 os preços
das diferentes terras rurais continuaram caindo, em média decresceram 20%.
Não há dúvida que o Plano Real teve conseqüências muito importantes sobre o preço da terra rural. Por um lado, a política de
altas taxas de juros mudaram negativamente as expectativas de ganhos produtivos com a terra; isto é, as quase-rendas esperadas
da utilização produtiva da terra, devido às maiores taxas de juros, diminuíram e afetaram negativamente o preço da terra, por
outro lado, a redução drástica da inflação, fez com que a terra rural, como reserva de valor e como ativo especulativo perdesse seu
atrativo perante outros ativos reais e financeiros com maior grau de liquidez, afetando negativamente as quase-rendas esperadas
da utilização especulativa da terra rural, reduzindo seu preço.
Em sínteses, na vigência do Plano Real, tanto as expectativas de ganhos produtivos quanto as de ganhos especulativos com a terra