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ser certificado antes. O que regula, inclusive, uma
série de questões de salário.
Meu filho mora nos Estados Unidos e é ci-
neasta. Para obter a certificação de cineasta e
entrar no Sindicato de Cineastas da Califórnia, com
especialização em montagem e direção, que lhe
daria o direito de ganhar oito vezes mais, por se-
mana, teve de submeter-se ao exame de
certificação ocupacional apesar da posse de um
diploma universitário. A certificação é um sistema
de testes criado pelo setor produtivo, empresas e
o próprio sindicato, e não pelos educadores.
Certificação profissional é, pois, um conjun-
to independente de escolaridade. A pessoa diz ser
um bombeiro. Se for analfabeta, pode ir fazer todo
o sistema de certificação e tornar-se bombeiro,
sem ser obrigado a possuir, necessariamente, um
diploma de escolaridade formal. A questão da exi-
gência de escolaridade se apresenta de outra for-
ma – mediante a competência que o indivíduo tem
de adaptar-se continuamente a novas tecnologias,
saber aprender a aprender.
Aproveito para fazer um rápido comentário.
Hoje estou convencido de que a expressão “ensi-
no terminal” está superada. Nada hoje, do ponto
de vista da organização da sociedade, é terminal.
Alguém que faz um curso de quatro anos na uni-
versidade e acha que está formado, não está. Aque-
le que faz um curso de 200 horas para ser bombei-
ro, não é. Pois no setor produtivo, a única coisa
que é permanente é a mudança. E o sistema de
certificação ocupacional é quase que um sistema
de atualização. A pessoa tem que, periodicamente,
voltar. É igual a carro nos Estados Unidos e na
Europa. Todo ano tem que ser levado para ser fis-
calizado, dizer se está com a revisão em dia, se a
chapa ou o freio estão corretos e se está adaptado
às novas condições de meio ambiente, etc. É a
mesma coisa com a certificação ocupacional, que
é um conjunto de testes, de baterias, de entrevis-
tas, de várias formas de avaliação, cuja responsa-
bilidade é fundamentalmente do setor produtivo.
Evidentemente, possibilitado e fundamentado pelo
Estado, que incentiva, participa e garante a sua
existência, mas cuja iniciativa é do setor produtivo.
Essa é a diferença entre certificação profissional e
certificação de competência.
Pós-secundário
Quando digo que a educação profissional
tem que, cada vez mais, pós-secundária, estou
também afirmando que não substitui a educação
básica, acadêmica, de boa qualidade, na constru-
ção da cidadania. Quando falo em pós-secundá-
rio, não se trata de curso superior apenas ou de
formação de tecnólogos. A idéia de ensino termi-
nal estava, como sabemos, associada à idéia de
controle social, de evitar, por meio do 2º grau
profissionalizante, a pressão sobre a universida-
de. Foi essa, nos anos 70, uma das causas, ou
seja, a explicação ideológica da Lei nº 5.692.
A educação, hoje, tem que apresentar uma
base acadêmica, de 1º e 2º graus, e um outro
sistema após essa base, que inclui tanto o ensi-
no superior, público e privado, como a educação
profissional, da qual se encarregam o Estado, a
sociedade, o setor produtivo, as ONGs, as uni-
versidades – que hoje têm experiência disso, por
meio das pró-reitorias de extensão.
A primeira coisa importante no pós-secun-
dário é que vocês não confundam o que estou
chamando de paradigma velho, pois estou cha-
mando de pós-médio só o nível superior de curta
duração, de dois anos, como a formação de
tecnólogo, etc.
Quando falo em pós-médio, sem me limi-
tar ao pós-médio superior, estou dizendo que se
tem de construir uma rede de educação profissi-
onal no Brasil, diversificada, flexível e com com-
petência para atender às necessidades da po-
pulação economicamente ativa, nas suas mais
diferente demandas.
A questão das escolas técnicas
Estamos discutindo que, com a garantia da
presença do Estado como formulador, mas tam-
bém com a participação dos empresários, dos
trabalhadores, das ONGs, das universidades, dos
SS (Senai, Senac, etc.) – enfim, dos empresári-
os – as escolas técnicas possam, gradativamen-
te, mudar o seu perfil, tornando-se pólos de ex-
celência nessa rede de educação profissional,
produzindo metodologia, conhecimento, forman-
do formadores. Esse é o novo perfil que se espe-
ra construir. Temos que discutir o papel, o perfil
da escola técnica num novo modelo de rede de
educação profissional, porque a escola técnica
vai continuar pública, financiada com dinheiro da
sociedade, portanto tem que responder a um
perfil de educação profissional que a sociedade
e o setor produtivo – trabalhadores e empresári-
os – estão exigindo.