132
registros e suas cores específicas, criando desta forma oposições de timbre, combinações e
transformações de grande poder” (COGAN, 1998, p.13)
122
.
O uso dos registros é um dos elementos relacionados à ‘cor’ do som, ou seja, ao
timbre: “Mudanças de registro não são meramente uma força espacial, mas também (em um
grau poderoso) um determinante de cor” (COGAN; POZZI, 1976, p.47)
123
. As sete oitavas de
extensão do piano oferecem, portanto, possibilidades de variação do espectro sonoro a partir
do uso de diferentes registros. As descobertas de Harvey Fletcher quanto às características dos
sons emitidos pelo piano são reproduzidas por Cogan em seus livros. No trecho em que trata
especificamente do registro, Fletcher escreve: “Em registros distintos, os espectros dos tons
do piano são diferentes. No registro grave a fundamental é fraca e o número e energia das
parciais mais agudas são altos. No registro mais agudo a fundamental é forte, e o número de
parciais é pequeno” (apud COGAN; POZZI, 1976, p.330)
124
.
As diferentes propriedades acústicas dos sons emitidos em registros distintos no piano
são evidenciadas, por exemplo, pela fotografia da execução de Opus 109 de Beethoven. Em
um dos clímaces do primeiro movimento, a foto do espectro sonoro mostra a ativação de
vários registros do instrumento, (registros 2 a 7 na interpretação de Arthur Schnabel): “Neste
ponto de clímax, as mãos do pianista estão nas extremidades do teclado, ativando todo o
espaço espectral da peça. Os registros mais agudos e mais graves, e todos os registros entre
eles, soam simultaneamente”(COGAN, 1998, p.54)
125
.
O primeiro movimento da Sonata para Piano de Scliar também apresenta trechos que
exploram, simultaneamente, as extremidades dos registros agudo e grave. O gráfico 1
apresenta o mapeamento dos registros utilizados por cada uma das vozes
126
, compasso a
compasso. No eixo x (vertical) estão as variáveis de 1 a 7, representando as sete oitavas do
instrumento, de dó a dó, da mais grave C1 a C2 (1) até a mais aguda, de C7 a C8
127
. O
122
Each spectrum photo reveals how the spectral elements of a piece activate diverse registers and their specific
color values, thereby creating tone color opositions, combinations, & transformations of great power (COGAN,
1998, p.13).
123
Registral motion is not merely a spatial force but also (to a very powerful degree) a color determinant.
124
In different registers the spectra of piano tones are different. In the lower register the fundamental is weak,
and the number and energy of the upper partials are great. In the highest registers the fundamental is strong, and
the number of partials is small (COGAN, 1976, p.330).
125
At this climactic apex, the pianist´s hands are at the extremities of the keyboard, activating the entire space of
the piece. The highest and lowest spectral regions, and all the registers in between, sound simultaneously
(COGAN, 1998, p.54).
126
O contraponto entre duas vozes predomina. Quando a textura inclui acordes, consideramos a realização
pianística, (mão direita ou mão esquerda) como critério para classifica-los pertencendo à linha da voz superior ou
inferior.
127
A inclusão de oitavas x,5, viabiliza um gráfico mais preciso. x,5 indica também o intervalo de uma oitava mas
das notas fá #x a fá#(x+1). Nos compassos em que o movimento melódico compreende mais de uma oitava,
optou-se por considerar a predominante.