Download PDF
ads:
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Quando vi pela primeira vez o material
sobre Warming que o professor Aldo
Klein trouxe da Dinamarca, fiquei
encantada com a riqueza das
fotografias e dos desenhos feitos
a lápis retratando espécies da flora
do cerrado e aspectos da vida rural
brasileira. Como o professor Aldo,
senti a necessidade de compartilhar
essa experiência e dar forma
à exposição idealizada numa
homenagem a Warming e ao cerrado.
A idéia de montar a exposição
de forma itinerante, sempre ligada
a uma palestra sobre algum aspecto
do cerrado, permitiu que um grande
número de pessoas, alunos de cursos
de graduação, professores,
pesquisadores e leigos conhecesse
a beleza do cerrado e a importância
de Warming. A concretização dessas
átividades tornou-se possível graças
ao empenho do professor Aldo
e ao apoio conjunto do Instituto
de Botânica e da Sociedade Botânica
deo Paulo.
O projeto, iniciado timidamente e de
forma modesta, resultou na presente
publicação, por meio da qual também
ads:
Eugen Warming
e o cerrado brasileiro:
um século depois
FUNDAÇÃO EDITORA DA UNESP
Presidente do Conselho Curador
José Carlos Souza Trindade
Diretor-Presidente
José Castilho Marques Neto
Editor Executivo
Jézio Hernani Bomfim Gutierre
Conselho Editorial Acadêmico
Alberto Ikeda
Antonio Carlos Carrera de Souza
Antonio de Pádua Pithon Cyrino
Benedito Antunes
Isabel Maria F. R. Loureiro
Lígia M. Vettorato Trevisan
Lourdes A. M. dos Santos Pinto
Raul Borges Guimarães
Ruben Aldrovandi
Tânia Regina de Luca
IMPRENSA OFICIAL DO ESTADO
Diretor-Presiden te
Sérgio Kobayashi
Diretor Vice-Presidente
Luiz Carlos Frigerio
Diretor Industrial
Carlos Nicolaewsky
Diretor Financeiro e Administrativo
Richard Vainberg
Aldo Luiz Klein
(organizador)
© 2000 Editora da UNESP
Direitos de publicação reservados à:
Fundação Editora da UNESP (FEU)
Praça da, 108
01001-900-o Paulo-SP
Tel.: (0xx11)3242-7171
Fax: (0xx11) 3242-7172
Home page: www.editora.unesp.br
Imprensa Oficial do Estado S. A.
Rua da Mooca, 1921
03103-902 -o Paulo-SP
Tel.: (0xx11) 6099-9800
Fax: (0xx11)6692-3503
SAC0800 123401
Home page: www.imprensaoficial.com.br
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Eugen Warming e o cerrado brasileiro: um século depois / Aldo Luiz Klein
(organizador). -o Paulo: Editora UNESP; Imprensa Oficial do Estado,
2002.
Vários autores.
Bibliografia.
ISBN 85-7139-354-0 (UNESP)
1. Cerrado - Brasil 2. Warming, Eugenius, 1841-1924 I. Klein, Aldo Luiz.
01-1767 CDD-581.981
Índice para catálogo sistemático:
1. Brasil: Cerrado Plantas 581.981
AGRADECIMENTOS
A Iara Francisca Fernandes e Christine Imbert da Rocha,
sem as quais a viagem, a exposição e este livro
o teriam sido possíveis.
A Adriana lozzi.
Aldo Luiz Klein
Sumário
Introdução 9
Aldo Luiz Klein
PARTE I
EXPOSIÇÃO COMEMORATIVA DO CENTENÁRIO
DA PUBLICAÇÃO DE LAGOA SANTA, DE EUGEN WARMING
Centenário da publicação de Lagoa Santa, de Eugen Warming 17
Exsicatas coletadas por Warming em Lagoa Santa 21
Desenhos de orquídeas brasileiras de uma caderneta de campo
de Eugen Warming 33
Fotografias tiradas por Warming no Brasil 45
Desenhos a lápis feitos por Warming no Brasil 53
Páginas de diários de Warming 63
PARTE II
PALESTRAS SOBRE O CERRADO
O bioma do cerrado 77
Leopoldo Magno Coutinho
O cerrado do Estado deo Paulo 93
Osmar Cavassan
Desenvolvimento de plantas do cerrado: uma experiência pessoal 107
G/7 Martins Felippe
Potencial agrícola do cerrado 121
Ângelo Paes de Camargo
Fixação de nitrogênio em leguminosas ocorrentes no cerrado 131
Lázara Cordeiro
PARTE III
FLORA DO CERRADO 147
Introdução
O ano de 1892 representou, para o estudo do cerrado brasileiro, um marco O Centenário da publicação
definitivo: foi o ano da publicação do primeiro trabalho científico realizado sobre
esse ecossistema brasileiro de característicaso peculiares. Trata-se de Lagoa
Santa Et Bidrag til den biologiske Plantegeografi, de Eugen Warming, profes- de
Lagoa Santa,
de
sor de Botânica na Universidade de Copenhague. Publicada em dinamarquês, Eugen Warming
a obra teve repercussão nos meios científicos europeus e chamou a atenção
mundial para os cerrados brasileiros. Sua importância está muito bem posta
nas palavras do botânico Alberto Lõfgren que, em 1908, a traduziu para o
português:
O presente livro do Dr. Eugen Warming representa a primeira tentativa de organizar
uma flora local de uma região determinada do grande território brasileiro. O mérito
desta obra, porém,o consiste somente num colecionamento sistemático, com
enumeração de espécies conhecidas ou novas, eo se limita a simples descrições
fitográficas ou distribuição geográfica; é infinitamente maior, pois é, antes de tudo,
o primeiro ensaio de estudos biológicos e fisiológicos jamais feitos no Brasil sobre
as relações do manto vegetal com o clima, com o solo e com o próprio homem, em
sua ação transformadora sobre a natureza viva.'
Embora defenda algumas teses que, com o avanço do conhecimento científi-
co, se mostraram falsas, a obra de Warming é encantadora, de leitura fácil e
agradável; estaria mesmo a merecer uma reedição, na qual apenas a lingua-
gem fosse cuidadosamente atualizada para que as novas gerações de botâni-
cos e estudiosos pudessem também usufruir do prazer de sua narrativa.
Mas quem foi Warming, afinal, e como pôde ele, em datao remota, publi-
car na Dinamarca um importante livro sobre o cerrado brasileiro?
Johannes Eugenius Bülow Warming nasceu na Dinamarca no dia 3 de novem-
bro de 1841, em Mand0, onde seu pai era pastor religioso. Iniciou seus estu-
dos de graduação na Universidade de Copenhague em 1859, mesmo ano da
publicação do livro de Darwin sobre a origem das espécies. Seu interesse pela
Botânica, que já havia sido despertado por um antigo professor de História
Natural, pôde agora se desenvolver mais intensamente.
No ano de 1862, ao término de seus estudos universitários, foi convidado por
1
LÕFGREN, A. Prefácio do tradutor. In
J. T. Reinhardt, eminente professor de Zoologia da Universidade de Copenha-
WARMING, E., FERRI, M. G. Lagoa Santa
gue e inspetor do Museu Zoológico, a vir ao Brasil, onde trabalharia como e A vegetação de cerrados brasileiros. Belo
secretário de Peter Wilhelm Lund, famoso zoólogo dinamarquês que aqui se Horizonte: Itatiaia;o Paulo: Edusp, 1973.
estabelecera na localidade de Lagoa Santa, MG. 0 próprio Warming, na intro-
dução de Lagoa Santa, dá uma medida da importância de Lund:
A Lagoa Santa prendeu Lund pelo resto de sua vida e nunca mais deixou ele o inte-
rior do Brasil e nem tornou a ver a sua pátria, desde 1835 até 25 de maio de 1880,
quando faleceu. Este homem de educação fina, relacionado com os mais notáveis
cientistas europeus e que, tanto na Europa quanto no Rio de Janeiro, freqüentava
as mais altas rodas científicas e diplomáticas,o abandonava esse lugarejo insigni-
ficante, verdadeiro deserto intelectual, para, durante os primeiros dez anos, no tempo
da seca, visitar os terrenos calcários no vale do Rio das Velhas, em companhia de
seus camaradas e animais, morando nas cavernas e explorando o seu conteúdo.
2
E mais adiante, ainda:
E muitos outros foram atraídos, de diversos modos, para a pequena Lagoa Santa:
cientistas estrangeiros, como Burmeister, Richard Burton, uma pequena parte da
expedição científica de Agassiz, em 1865, composta de Orestes St. John, John A.
Allen e George Sceva e muitos outros: até o próprio imperador Dom Pedro II e seu
genro foram lá para conversar com Lund.
3
Warming partiu de Copenhague no dia 17 de fevereiro de 1863 e só retornaria
à Dinamarca três anos e meio depois, em outubro de 1866. Após sete sema-
nas de navio, chegou ao Rio de Janeiro que se lhe apresentou como uma cida-
de provida de todos os confortos e facilidades e rodeada por uma natureza
tropical muito rica. Durante as cinco semanas que aí passou, Warming come-
çou a coletar material para o seu trabalho e também para se familiarizar com
a natureza luxuriante que o cercava. Em sua bagagem, havia trazido uma
máquina fotográfica que lhe seria muito útil, durante toda sua estada no Bra-
sil, para documentar lugares e vegetações.
Após uma árdua jornada, no dia 8 de julho de 1863 Warming chegou a Lagoa
Santa, onde foi recebido por Lund. O momento da chegada é narrado pelo
próprio Warming, em uma página de seu diário inédito:
Após ter passado a noite na fazenda de Manoel, partimos de manhã, ele e eu, a
cavalo, pelo caminho que levava a Lagoa Santa. A manhã estava agradável. Flores
azuis, em forma de sino, e muitas outras ornamentavam as colinas dos campos e o
orvalho era como pérolas no meio das ervas.
Por volta das dez horas, chegamos a Lagoa Santa e deixei meu olhar passear sobre
a grande praça no meio da cidade e lá Manoel me mostrou a casa de Lund. (A via-
gem, desde o Rio de Janeiro, havia durado 42 dias. Chegava, finalmente, ao fim
desta longa viagem.) Lund se encontrava em seu jardim. Eu me sentei, muito exci-
tado e cheio de expectativas. (Primeiro entrou Brent e, depois de se refrescar de
seu passeio matinal, entrou Lund)... um senhor magro e grisalho, que, para minha
grande surpresa, deu-me as boas-vindas em alemão. Ele devia normalmente usar
2
WARMING, E., FERRI, M. G. Lagoa Santa
e A vegetação de cerrados brasileiros. Belo
Horizonte: Itatiaia:o Paulo: Edusp, 1973.
3
Ibidem, p.10.
essa língua com Herr Brent, que me substituía temporariamente. Eu creio que respon-
di em alemão mas, então, ele se deu conta de que deveria falar em dinamarquês.
Após alguns minutos de conversa, ele se lembrou de que havia chegado corres-
pondência para mim. Ele a trouxe. Mas a primeira carta que abri, com um estra-
nho pressentimento de angústia, trouxe-me uma notícia paralisante: minhae
havia morrido.
Warming permaneceria três anos em Lagoa Santa. A par de suas obrigações
como secretário de Lund, começou a desenvolver o trabalho com a vegetação
local,o diferente daquela de sua terra natal, e que resultaria na publicação
do livro sobre a vegetação de Lagoa Santa. Nesta obra, Warming persegue
uma botânica interpretativa, levando em consideração aspectos edáficos e
climáticos, buscando explicações para a forma apresentada pelos vegetais e
relacionando-a à freqüência das queimadas, realçando, já àquela época, a
importância do fogo para a arquitetura das plantas e para a diminuição da
densidade da vegetação. É claro que Warming, durante sua estada em Lagoa
Santa, seria bastante influenciado pela personalidade de P. W. Lund, mesmo
porque Warming tinha, à época, 22 anos, e Lund já tinha mais de 60.
Dezenove anos após sua viagem ao Brasil, Warming se tornaria mundialmen-
te reconhecido como um dos fundadores da Ecologia Vegetal, com a publica-
ção, em 1895, de seu livro Populações vegetais: fundamentos da geografia
ecológica das plantas, jamais traduzido para o português.
Warming nunca mais esqueceria o Brasil. A flora brasileira tornou-se um impor-
tante elemento de referência em sua produção científica. Em novembro de 1923,
seis meses antes de sua morte, ele falou do tempo que passara no Brasil em
duas palestras que proferiu na Sociedade Dinamarquesa de Botânica.
Em 1992, ano do centenário da publicação dinamarquesa de Lagoa Santa,
tendo a oportunidade de realizar uma exposição de fotografias no Jardim
Botânico da Universidade de Copenhague, decidi mostrar apenas o material
fotográfico obtido durante as minhas viagens de estudo aos cerrados do Esta-
do deo Paulo. A exposição chamou-se Flora do Cerrado e foi concebida
como uma homenagem a Eugen Warming e ao pioneirismo de sua obra no
Brasil. Na simpática solenidade de abertura da exposição, à qual estiveram
presentes, além de diversos professores e autoridades do Jardim Botânico, o
embaixador brasileiro na Dinamarca, Sr. Luiz Antonio Jardim Gagliardi, e se-
nhora, ocupou lugar de destaque um exemplar de Peperomia, último sobrevi-
vente das plantas vivas levadas do Brasil pelo próprio Warming.
Durante os poucos dias que passei em Copenhague, procedi a um levanta-
mento do material de documentação do Brasil (fotografias, desenhos, escri-
tos etc.) realizado por Warming. Graças ao auxílio do Dr. Ole Hamann, diretor
do Jardim Botânico, tive acesso aos arquivos de Warming, guardados na biblio-
teca deste local. Nesses arquivos, encontram-se todos os seus manuscritos,
inclusive diários de viagens e anotações de campo, além de desenhos e foto-
grafias. Com a ajuda de Christine Imbert da Rocha, dinamarquesa com óti-
mos conhecimentos de português, pude selecionar o material que me pare-
ceu mais importante à primeira vista: algumas páginas de seu diário de viagem,
fotografias que julguei mais interessantes, desenhos de plantas e orquídeas
brasileiras etc. Por se tratar de material insubstituível e, portanto, impossível
de ser retirado, fotografei e fotocopiei os documentos selecionados. O Dr. Ib
Friis, responsável pelo Museu Botânico, ajudou-me a escolher dez exsicatas
levadas do Brasil pelo próprio Warming e me presenteou com excelentes-
pias fotográficas dessas pranchas de herbário, muitas delas com anotações
feitas ào pelo próprio Warming.
De volta ao Brasil, apresentei o material à Sociedade Botânica deo Paulo e
propus a realização de um evento comemorativo do centenário da publicação
de Lagoa Santa que, ao mesmo tempo, fosse uma homenagem a Eugen War-
ming e uma oportunidade de reflexão sobre o conhecimento até agora obti-
do sobre os cerrados, em seus diversos aspectos. A princípio, pensou-se em
uma semana de palestras, mas acabou-se por preferir um evento itinerante
que percorresse os centros de estudo e pesquisa interessados; em cada lugar
onde a exposição fosse levada, seria proferida, por um especialista, uma pa-
lestra sobre algum aspecto do cerrado.
A exposição, patrocinada pelo Instituto de Botânica, da Secretaria de Estado
do Meio Ambiente, e pela Sociedade Botânica deo Paulo, foi inaugurada
no Jardim Botânico deo Paulo, quando foi proferida a palestra "0 bioma
do cerrado", pelo Prof. Dr. Leopoldo Magno Coutinho. A seguir, a exposição
visitou Assis, durante a Segunda Semana de Biologia, e a palestra "0 cerrado
do Estado deo Paulo" esteve a cargo do Dr. Osmar Cavassan. Em Santos, a
exposição fez parte das atividades do X Congresso da Sociedade Botânica de
o Paulo, quando o Dr. Gil Martins Felippe falou sobre "Desenvolvimento de
plantas do cerrado: uma experiência pessoal". Na seqüência, a exposição foi
levada ao Instituto Agronômico de Campinas, onde a palestra "Potencial agrí-
cola do cerrado" foi proferida pelo Dr. Ângelo Paes de Camargo. Finalmente,
em Rio Claro, a palestra ficou a cargo da Dra. Lázara Cordeiro, que abordou o
tema da "Fixação de nitrogênio em leguminosas ocorrentes no cerrado".
A relevância dos temas tratados nas palestras e o brilhantismo com que foram
abordados, somados à oportunidade de resgatar, para as novas gerações, a
memória de Eugen Warming e seu trabalho pioneiro sobre o cerrado, levaram
à edição deste livro que, voltado tanto aos pesquisadores e estudantes desse
ecossistema como também ao público em geral, certamente ajudará a preen-
cher a lacuna de textos atuais sobre esse ecossistema brasileiro.
Aldo Luiz Klein
Parte I
Exposição comemorativa do
centenário da publicação de
Lagoa Santa, de Eugen Warming
Centenário da
publicação de Lagoa Santa,
de Eugen Warming
Patrocínio:
Secretaria de Estado do Meio Ambiente
Coordenadoria de Informações Técnicas, Documentação
e Pesquisa Ambiental
Instituto de Botânica
Sociedade Botânica deo Paulo
Organizador: Dr. Aldo Luiz Klein
O acesso e a reprodução do material exibidoo seriam possíveis sem
a colaboração da Universidade de Copenhague, Dinamarca, através de:
Dr. Ole Hamann (Diretor do Jardim Botânico),
Jette Dahl Moller (Curadora do arboreto),
Dr. Phil Ib Friis (Diretor do Museu Botânico)
e Annelise Hartman (Bibliotecária).
A tradução dos textos em dinamarquês deve-se à colaboração de:
Christine Imbert da Rocha (Copenhague)
Ricardo Schaeppí (Rio de Janeiro)
A viagem do organizador a Copenhague foi patrocinada pelo:
Instituto Gallup,o Paulo.
Aos 22 anos de idade, Johannes Eugenius Bülow Warming (1841-1924) de- Cem anos de Lagoa Santa
sembarcou no Rio de Janeiro, a caminho de Lagoa Santa, MG. Lá permane-
ceu durante três anos estudando, principalmente, a vegetação dos cerrados
da região. Suas anotações foram publicadas em 1892, em Copenhague.
Johannes Eugenius
Bülow Warming
(1841-1924)
Traduzidas em 1908 como "Lagoa Santa. Contribuição para a geografia
fitobiológica", constituem até hoje uma das obras mais abrangentes e impor-
tantes escritas sobre o cerrado brasileiro.
O intuito desta exposição é homenagear e resgatar a memória deste botânico
dinamarquêso importante para a Botânica mundial e, particularmente, para
o estudo dos cerrados brasileiros.
Nasceu em Mande, Vadehavet, Dinamarca, no dia 3 de novembro de 1841. Fez
os estudos secundários em Ribe, como aluno da Katedralskolen. Entrou para
a universidade em 1859, mesmo ano da publicação do livro de Darwin sobre
a origem das espécies. Seu interesse pela Botânica já havia sido despertado
por seu professor de História Natural, em Ribe.
Desde sua época de universitário, ficou profun-
damente impressionado com a natureza dos tró-
picos, com a qual conviveu intimamente duran-
te sua estada no Brasil, de 1863 a 1866. Veio
para cá como secretário do famoso cientista di-
namarquês Peter Wilhem Lund, considerado o
pai da paleontologia brasileira. Lund morava em
Lagoa Santa havia mais de 30 anos e nunca re-
gressou à Dinamarca. O convívio com Lund,
então com 60 anos, deve ter causado profun-
das influências no jovem Warming.
Apesar de suas obrigações como secretário,
Warming encontrou tempo para desenvolver
estudos sobre a vegetação local e para algu-
mas excursões à Serra da Piedade, nas vizinhan-
ças de Lagoa Santa, onde coletou centenas de
plantas. Seus estudos visavam, principalmen-
te, às formas de crescimento e à propagação
da vegetação do cerrado, além dos efeitos das
queimadas.
Em sua bagagem, Warming trouxe para o Bra-
sil uma máquina fotográfica e com ela documen-
tou aspectos da vegetação e da vila de Lagoa
Santa.
Dois anos depois de ter voltado a Copenhague, conseguiu sua licenciatura em
História Natural, graças aos estudos realizados no Brasil. Apesar de altamente
qualificado, somente aos 32 anos foi nomeado Professor Assistente Temporá-
rio na Universidade de Copenhague. Alguns anos mais tarde, porém, foi con-
vidado a ser professor permanente.
Seus livros sobre taxonomia vegetal, "Manual de botânica sistemática" e "Plan-
tas com sementes" foram, durante muitos anos, utilizados pelos estudantes
de Botânica da Universidade de Copenhague, sendo o último adotado até
1970.
As observações feitas no Brasil, aliadas a outras sobre a vegetação dinamar-
quesa e ártica, resultaram em um livro fundamental, publicado em 1895: "Po-
pulações vegetais: fundamentos de geografia ecológica vegetal". Com este
Retrato de Warming aos 21 anos,
pouco antes de partir para o Brasil.
livro, Warming ganhou renome internacional, sendo considerado o fundador
da Ecologia Vegetal.
Em seus últimos anos, Warming cultivou um interesse maior pela flora dinamar-
quesa, o que resultou na publicação de importantes monografias, como a "Ve-
getação litorânea" (1906), "Vegetação das dunas" (1909) e "Bosques" (1919).
Warming tinha relações muito estreitas com a Sociedade Dinamarquesa de
Botânica, da qual foi presidente de 1869 a 1882 e de 1907 a 1909. Foi reda-
tor de várias revistas científicas especializadas em Botânica. Ao longo de sua
vida, escreveu cerca de 280 artigos e livros científicos.
Roteiros das viagens de Lund e Riedel (1833-35) e de Warming
(1863 e 1866).
Exsicatas coletadas
por Warming em
Lagoa Santa
Os originais encontram-se no Museu Botânico da Universidade de Copenhague, cujo Herbário
leva o nome de EUGEN WARMING.
Desenhos de orquídeas brasileiras
de uma caderneta de campo
de Eugen Warming
Os originais encontram-se na Biblioteca do Jardim Botânico da Universidade de Copenhague.
Fotografias tiradas por
Warming no Brasil
A igreja e a casa
do francês Fourcamp,
em Lagoa Santa
(anotado no verso).
Os originais, em tamanho 9 x 12 cm, encontram-se na Biblioteca do Jardim
Botânico da Universidade de Copenhague.
Uma venda em Lagoa
Santa - E. Warming, 1864
(anotado no verso).
A morada de P. W. Lund,
em Lagoa Santa
- E. Warming, 1865
(anotado embaixo).
A casa de Lund, à luz
da manhã. A esquerda,
Araucaria brasiliensis.
(anotado no verso).
Quintal de Lund, visto
da rua. À esquerda, Cocos
capitata; no meio,
Acrocomia sclerocarpa;
à direita, Rollinia laurifolia
(anotado no verso).
Vista a partir das rochas
calcárias, perto da Lapa
Vermelha - E. Warming,
1864 (anotado embaixo).
Vista de um campo
cerrado denso, em Lagoa
Santa - Warming, 1864
(anotado embaixo).
Detalhe da mesma
fotografia.
O lago perto de Lagoa
Santa, em sua maior
extensão (anotado no
verso).
Vista do balcão da casa
do lago, colinas de
cerrado ao fundo
(anotado no verso).
Desenhos a lápis feitos por
Warming no Brasil
Os originais encontram-se na Biblioteca do Jardim Botânico da Universidade de Copenhague.
Páginas de diários
de Warming
Os originais encontram-se na Biblioteca do Jardim Botânico da Universidade
de Copenhague.
Ribe
1
Certa tarde, meus camaradas e eu fazíamos um passeio na praia. Estávamos
, perto da água, enquanto o grande disco luminoso descia dou sem nu-
vens para o mar - e então, milhares de vozes de aves marinhas formaram um
coro estranhamente místico. O crepúsculo caía sobre as águas e amplificava
um sentimento de mistério e segredo. Numa atmosfera muito especial, que
jamais esquecerei, retornamos a Ribe passando pelos prados do Polder, o que
tornava o passeio difícil, uma vez que devíamos atravessar grandes fossos.
1 Ribe foi onde Warming realizou seus estudos
secundários Em outros trechos de seus
diários, ele volta a se referir às impressões
deste episódio. (N. O,)
Após duas a três semanas, o caminho tornou-se mais abrupto, subindo cada
vez mais. Estávamos, então, na parte da Serra do Espinhaço, conhecida como
Serra da Mantiqueira. Assim que chegamos ao ponto mais alto, voltei-me e
olhei para trás. Sob meus olhos, estendia-se uma imensa paisagem onde se
sucediam cumes recobertos por florestas de um verde um pouco pálido.
Ao alcançarmos as terras altas, a natureza se transformava totalmente, de um
modo estranho. De fato, a região continuava cheia de vales e bastante irregu-
lar, mas se tornava cada vez mais deserta. Só havia florestas nos vales, às
margens dos rios, enquanto as partes mais altas apresentavam-se cobertas de
gramíneas e de plantas herbáceas, entre as quais se espalhavam pequenas
árvores.
Os brasileiros chamam esta paisagem de Campo, isto é, campo de gramíneas;
os espanhóis a chamam Savana.
A partir de então, caminhamos, dia após dia, através dessa região. De vez em
quando, nas florestas dos vales, aparecia uma fazenda ou um rancho onde
pernoitávamos, e passamos por duas cidades de uma certa importância,
Barbacena e Bom Fim, além de Juiz de Fora.
A três ou quatro dias de viagem de Lagoa Santa, a vegetação tornou-se mais
abundante e, em volta de Lagoa Santa, havia muitos campos cerrados, isto é,
sobretudo campos fechados. As árvoreso mais retas, mais altas e mais pró-
ximas umas das outras, mas a argila vermelha e espessa que constitui o solo
continua a ser recoberta por gramíneas altas e por muitas plantas herbáceas.
Após ter passado a noite na fazenda de Manoel, partimos de manhã, ele e eu,
a cavalo, pelo caminho de várias léguas que levava a Lagoa Santa. A manhã
estava agradável. Flores azuis, em forma de sino, e muitas outras* ornamenta-
vam as colinas dos Campos e o orvalho era como pérolas no meio das ervas.
Por volta das dez horas, chegamos a Lagoa Santa e deixei meu olhar passear
sobre a grande praça no centro da cidade e lá Manoel me mostrou a casa de
Lund.** Lund se encontrava em seu jardim. Eu me sentei, muito excitado e
cheio de expectativas.*** Pouco depois, ele chegou também, um senhor ma-
gro e grisalho, e, para minha grande surpresa, deu-me as boas-vindas em ale-
mão.**** Ele devia normalmente usar essa língua com Herr Brent, que me
substituía temporariamente. Eu creio que respondi em alemão mas, então, ele
se deu conta de que deveria falar em dinamarquês.
Após alguns minutos de conversa, ele se lembrou de que havia chegado cor-
respondência para mim. Ele a trouxe. Mas a primeira carta que abri, com um
estranho pressentimento de angústia, trouxe-me uma notícia paralisante: mi-
nhae havia morrido.***"* Era uma notícia inesperada e surpreendente. É
verdade que havia recebido, no Rio, uma carta do irmão de minhae infor-
* As pequenas melastomatáceas róseo-
avermelhadas.
** A viagem, desde o Rio de Janeiro, havia
durado 42 dias. Chegava, finalmente, ao fim
desta longa viagem.
*** Primeiro entrou Brent e, depois de se
refrescar de seu passeio matinal, entrou Lund
* * * * "Ah, es ist Herr Warming, setzen Sie sich
gefãlligst Nieder".
***** Ontem, dia 12 de maio, suae foi
enterrada.
mando que ela estava doente mas, como ele mesmo havia dito queo tinha
nenhum perigo, como eu a havia deixado em muito boa saúde e como, em
muitos anos, ela nunca havia ficado doente, euo dei muito importância ao
fato.
Em uma carta a meu tio, algumas semanas mais tarde, escrevi. "A morte de
minha inesquecível queridae me ocupa demais para que eu possa escrever
longamente e de modo detalhado. É evidentemente muito gentil o que os pa-
dres disseram em seu funeral, maso há ninguém que, como eu, tenha co-
nhecido seu coração devoto e caloroso."
Nos dias que se seguiram, estive ocupado, escrevendo diferentes documentos
jurídicos relacionados à morte de minhae que, depois de assinados em
presença de autoridades locais, foram enviados a instâncias superiores em
Sabará e, finalmente, ao Cônsul Geral no Rio. Tratava-se de várias procurações,
elaboradas segundo um modelo enviado por Han 0llgaard para os "procurado-
res" na Dinamarca, que deviam se encarregar de meus negócios.
Parte II
Palestras sobre o cerrado
O bioma do cerrado
Leopoldo Magno Coutinho
Instituto de Biociências, USP
O domínio
e o bioma
Com uma extensão de mais de 8,5 milhões de km
2
, distribuídos por latitudes
queo desde aproximadamente 5
o
N até quase 34° S, o espaço geográfico
brasileiro apresenta uma grande diversidade de clima, de fisiografia, de solo,
de vegetação e de fauna. Do ponto de vista florístico, já no século passado, C.
F. P. Martius reconhecera em nosso país nada menos do que cinco províncias
fitogeográficas - grandes espaços contendo endemismos no que se refere a
gêneros e espécies -, por ele denominadas Nayades (província das florestas
amazônicas), Dryades (província das florestas costeiras ou atlânticas),
Hamadryades (província das caatingas do Nordeste), Oreades (província dos
cerrados) e Napaeae (província das florestas de araucária e dos campos do
Sul). Tais endemismos refletem, sem dúvida, a existência daquela grande di-
versidade de condições ambientais que criaram isolamentos geográficos e/ou
ecológicos e possibilitaram, assim, o surgimento de faxa distintos, ao longo
da evolução (Figura 1).
Com pequenas modificações, esses grandes espaços geográficos brasileiros
o hoje também conhecidos como domínios morfoclimáticos e fitogeográficos,
sendo eles: o domínio amazônico, o domínio da Mata Atlântica, o domínio
das caatingas, o domínio dos cerrados, o domínio da araucária e o domínio
das pradarias do Sul, segundo a acepção de Aziz N. Ab'Saber. Como tais espa-
çosom limites lineares na natureza, existem entre eles faixas de transi-
ção mais ou menos amplas (Figura 2).
A palavra domínio deve ser entendida com uma área do espaço geográfico
onde predominam certas características morfoclimáticas e fitogeográficas,
distintas daquelas predominantes nas demais áreas. Isso significa dizer que
outras feições morfológicas ou condições ecológicas podem ocorrer em um
FIGURA 1
Províncias fitogeográficas
brasileiras, segundo
C. F. P. Martius.
mesmo domínio, além daquelas predominantes. Assim, no espaço do domí-
nio do cerrado, nem tudo que ali se encontra é bioma de cerrado. Veredas,
matas galeria, matas mesófilas de interflúvio,o alguns exemplos de repre-
sentantes de outros tipos de bioma, distintos daquele de cerrado, que ocor-
rem em meio àquele mesmo espaço.o se deve, pois, confundir domínio
com bioma. No domínio do cerrado predomina o bioma do cerrado. Todavia,
outros tipos de biomas também estão ali representados, seja como tipos "do-
minados" ou "não predominantes" (caso das matas mesófilas de interflúvio),
seja como encraves (ilhas ou manchas de caatinga, por exemplo) ou como pe-
netrações de florestas galeria, de tipo amazônico ou atlântico, ao longo dos
vales úmidos dos rios. Para dirimir dúvidas, é sempre bom deixar claro se
estamos nos referindo ao domínio do cerrado ou, mais especificamente, ao
bioma do cerrado. O domínio é extremamente abrangente, englobando ecos-
sistemas os mais variados, sejam eles terrestres, paludosos, lacustres, fluviais,
de pequenas ou de grandes altitudes etc. O bioma do cerrado é terrestre. Assim,
FIGURA 2
Domínios morfoclimáticos
e fitogeográficos brasileiros,
segundo A. N. AbSaber.
podemos falar em peixes do domínio do cerrado, maso em peixes do bioma
do cerrado. A ambigüidade no uso desses dois conceitos - domínio e bioma -
deve sempre ser evitada. Por essa razão, usaremos domínio do cerrado, quan-
do for o caso, e bioma do cerrado, ou simplesmente cerrado, quando quiser-
mos nos referir especificamente a este tipo de ecossistema terrestre, de gran-
de dimensão, com características ecológicas bem mais uniformes e marcantes.
Estima-se que a área "core" ou nuclear do domínio do cerrado tenha aproxi-
madamente 1,5 milhão de km
2
. Se adicionarmos as áreas periféricas, que se
acham encravadas em outros domínios vizinhos e nas faixas de transição, aquele
valor poderá chegar a 1,8 ou 2,0 milhões de km
2
. Com uma dimensãoo
grande como esta,o é de admirar que aquele domínio esteja representado
em grande parte dos estados do Brasil, concentrando-se naqueles da região
do Planalto Central, sua área nuclear.
O clima predominante no domínio do cerrado é o tropical sazonal, de inverno
seco. A temperatura média anual fica em torno de 22-23°C, e as médias men-
A área
O clima
sais apresentam pequena estacionalidade. As máximas absolutas mensaiso
variam muito ao longo dos meses do ano, podendo chegar a mais de 40°C. Já
as mínimas absolutas mensais variam bastante, atingindo valores próximos ou
até abaixo de zero, nos meses de maio, junho e julho. A ocorrência de geadas
no domínio do cerradoo é fato incomum, ao menos em sua porção austral.
Em geral, a precipitação média anual fica entre 1.200 e 1.800 mm. Ao contrá-
rio da temperatura, a precipitação média mensal apresenta uma grande esta-
cionalidade, concentrando-se nos meses de primavera e verão (outubro a
março), que é a estação chuvosa. Curtos períodos de seca, chamados de
veranicos, podem ocorrer em meio a esta estação, criando sérios problemas
para a agricultura. No período de maio a setembro, os índices pluviométricos
mensais reduzem-se bastante, podendo chegar a zero. Disso resulta uma esta-
ção seca de três a cinco meses de duração. No início deste período, a ocorrên-
cia de nevoeiros é comum nas primeiras horas das manhãs, formando-se gran-
de quantidade de orvalho sobre as plantas e umedecendo o solo. Já no período
da tarde, os índices de umidade relativa do ar caem bastante, podendo baixar
a valores próximos de 15%, sobretudo nos meses de julho e agosto (Figura 3).
Ventos fortes e constantesoo uma característica geral do domínio do
cerrado. A atmosfera é geralmente calma e o ar fica, muitas vezes, quase
parado. Em agosto, costumam ocorrer algumas ventanias, levantando poeira
e cinzas de queimadas a grandes alturas, em redemoinhos que se podem ver
de longe. Às vezes, elas podem sero fortes que até mesmo grossos galhos
o arrancados das árvores e atirados a distância.
FIGURA 3
Diagramas climáticos de três localidades situadas
no domínio do cerrado, segundo H. Walter & H. Lieth.
A radiação solar no domínio do cerrado é geralmente bastante intensa, po-
dendo reduzir-se em virtude da alta nebulosidade nos meses excessivamente
chuvosos do verão. Por essa possível razão, em certos anos, os de outubro
costuma ser mais quente do que dezembro ou janeiro. Como o inverno é seco,
quase sem nuvens, e as latitudeso relativamente pequenas, a radiação so-
lar nesta época também é intensa, aquecendo bem as horas do meio do dia.
Em agosto-setembro, esta intensidade pode reduzir-se um pouco em virtude
da abundância de névoa seca produzida por incêndios e queimadas da vege-
tação,o freqüentes neste período do ano.
Por essas características climáticas, o domínio do cerrado faz parte do
Zonobioma II, na classificação de Heinrich Walter.
O relevo do domínio do cerrado é, em geral, bastante plano ou suavemente
ondulado, estendendo-se por imensos planaltos ou chapadões. Cerca de 50%
de sua área situa-se em altitudes que ficam entre 300 e 600 m acima do nível do
mar; apenas 5,5% vai além de 900 m. As maiores elevaçõeso o Pico do
Itacolomi (1.797 m), na Serra do Espinhaço, o Pico do Sol (2.070 m), na Serra do
Caraça, e a Chapada dos Veadeiros, que pode atingir 1.676 m. O bioma do cer-
radoo ultrapassa, em geral, os 1.100 m. Acima disso, particularmente em
terrenos quartzíticos, costumamos encontrar os campos rupestres, já caracte-
rísticos de um Orobioma. Ao contrário das matas galeria, veredas e varjões,
que ocupam os fundos úmidos dos vales, o cerrado situa-se nos interflúvios.
Originando-se de espessas camadas de sedimentos que datam do Terciário,
os solos do bioma do cerradoo profundos, porosos, permeáveis, bem dre-
nados e, por isso, profundamente lixiviados. Em sua textura predomina, em
geral, a fração areia, vindo em seguida a argila e, por último, o silte. Eles são,
portanto, predominantemente arenosos, areno-argilosos ou, eventualmente,
argilo-arenosos. Sua capacidade de retenção de água é relativamente baixa.
O teor de matéria orgânica de tais solos é pequeno, ficando geralmente entre
3 e 5%. Como o clima é sazonal, com um longo período de seca, a decompo-
sição do húmus é lenta. Sua microflora, micro e mesofaunao ainda muito
pouco conhecidas. Acreditamos, contudo, que elas devam ser bem caracterís-
ticas ou típicas, o que, talvez, nos permitisse falar em "solo de cerrado" eo
apenas em "solo sob cerrado", como preferem alguns. Afinal, a flora e a fauna
de um soloo partes integrantes dele e deveriam permitir distingui-lo de outros
tantos solos, física ou quimicamente similares.
Quanto às características químicas, eleso bastante ácidos, com pH que pode
variar de menos de 4 a pouco mais de 5. Esta forte acidez deve-se, em boa
parte, aos altos níveis de Al
3+
, o que os torna aluminotóxicos. Níveis elevados de
O relevo
O solo
íons Fe e de Mn também contribuem para sua toxidez. Baixa capacidade de tro-
ca catiônica, baixa soma de bases e alta saturação por Al
3+
caracterizam esses
solos profundamente distróficos e, por isso, impróprios para a agricultura. Cor-
reção do pH e adubação, tanto com macro quanto com micronutrientes, po-
dem torná-los férteis e produtivos, para a cultura ou de grãos ou de frutíferas.
Isso é o que se faz em nossa grande região produtora de soja, situada, como
se sabe, em solos de cerrado de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul etc.
Em parte dos cerrados, o solo pode apresentar concreções ferruginosas - canga
- formando couraças, carapaças ou bancadas lateríticas, que dificultam a pene-
tração da água de chuva ou das raízes, podendo, às vezes, impedir ou dificultar
o desenvolvimento de uma vegetação mais exuberante e a própria agricultu-
ra. Quando tais counaçaso espessas e contínuas, vamos encontrar sobre essas
superfícies formas mais pobres e mais abertas de cerrado. Que porcentagem
dos solos apresenta este tipo de impedimento físicoo sabemos, embora ela
deva ser significativa.
Essas características do solo do bioma do cerrado permitem-nos considerá-lo
como um Pedo-Peinobioma, do Zonobioma II de Heinrich Walter.
A vegetação do bioma do cerrado, considerado aqui em seu sensu lato,o
possui uma fisionomia única em toda a sua extensão. Muito ao contrário, ela
é bastante diversificada, apresentando desde formas campestres bem aber-
tas, como os campos limpos de cerrado, até formas relativamente densas, flo-
restais, como os cerradões. Entre esses dois extremos fisionômicos, vamos en-
contrar toda uma gama de formas intermediárias, com fisionomia de savana,
às vezes de carrasco, como os campos sujos, os campos cerrados, os cerrados
sensu stricto (s.s.). Assim, na natureza, o bioma do cerrado apresenta-se como
um mosaico de formas fisionômicas, ora manifestando-se como campo sujo,
ora como cerradão, ora como campo cerrado, ora como cerrado s.s. ou campo
limpo. Quando percorremos áreas de cerrado, em poucos quilômetros pode-
mos encontrar todas essas diferentes fisionomias. Este mosaico é determinado
pelo mosaico de manchas de solo pouco mais pobres ou pouco menos po-
bres, bem como pela irregularidade dos regimes e características das queima-
das de cada local (freqüência, época, intensidade). Assim, embora o bioma do
cerrado distribua-se predominantemente em áreas de clima tropical sazonal,
os fatores que aí limitam a vegetaçãoo outros: a fertilidade do solo e o fogo.
O clímax climático do domínio do cerradoo é o cerrado, por estranho que
possa parecer, mas sim a mata mesófila de interflúvio, sempre verde, que hoje
só existe em pequenos relictos, sobre solos férteis, tipo terra roxa legítima. As
diferentes formas de cerrado são, portanto, pedoclímaces ou píroclímaces, de-
A vegetação
e a flora
pendendo de ser o solo ou o fogo o seu fator limitante. Claro que certas for-
mas abertas de cerrado devem esta sua fisionomia às derrubadas feitas pelo
homem para a obtenção de lenha ou carvão (Figura 4).
De um modo geral, podemos distinguir dois estratos na vegetação dos cerra-
dos: o estrato lenhoso, constituído de árvores e arbustos, e o estrato herbá-
ceo, formado por ervas e subarbustos. Amboso curiosamente heliófilos. Ao
contrário do caso de uma floresta, o estrato herbáceo, aqui,o é formado
por espécies de sombra, umbrófilas, dependentes do estrato lenhoso. O som-
breamento lhe faz mal, prejudica seu crescimento e desenvolvimento. O
adensamento da vegetação lenhosa acaba por eliminar, em grande parte, o
estrato herbáceo.
Por assim dizer, esses dois estratos se antagonizam. Por essa razão, entende-
mos que as formas intermediárias de cerrado - campo sujo, campo cerrado e
cerrado s.s. - representem verdadeiros ecótonos, nos quais a vegetação her-
FIGURA 4
O ecoclínio floresta-campo do Brasil Central, segundo L. M. Coutinho.
bácea-subarbustiva e a vegetação arbórea-arbustiva estão em intensa compe-
tição, procurando, cada qual, ocupar aquele espaço de forma independente,
individual. Os dois estratoso comporiam comunidades harmoniosas e inte-
gradas, como nas florestas, mas representariam duas comunidades antagôni-
cas, concorrentes. Tudo aquilo que beneficiar uma delas prejudicará indireta-
mente a outra, e vice-versa. Elas diferem entre sio só pelo seu espectro
biológico, mas também pelas suas floras, pela profundidade de suas raízes e
forma de exploração do solo, pelo seu comportamento em relação à seca, ao
fogo etc, enfim, por toda a sua ecologia. Toda a gama de formas fisionômicas
intermediárias parece-nos expressar exatamente o balanço atual da concor-
rência entre os dois estratos.
Troncos e ramos tortuosos, súber espesso, macrofilia e esclerofiliao carac-
terísticas da vegetação arbórea e arbustiva que, de pronto, impressionam o
observador. O sistema subterrâneo, dotado de longas raízes pivotantes, per-
mite a estas plantas atingir 10, 15 ou mais metros de profundidade, abaste-
cendo-se de água em camadas permanentemente úmidas do solo, até mes-
mo na época seca.
Já a vegetação herbácea e subarbustiva, formada também por espécies pre-
dominantemente perenes, possui órgãos subterrâneos de resistência, como
bulbos, xilopódios, sóboles etc, que lhe garantem sobreviver à seca e ao fogo.
Suas raízeso geralmente superficiais, indo até pouco mais de 30 cm. Os
ramos aéreoso anuais, secando e morrendo durante a estação seca. For-
mam-se, então, 4, 5, 6 ou mais toneladas de palha por hectare, um combus-
tível que facilmente se inflama, favorecendo, assim, a ocorrência e a propaga-
ção das queimadas nos cerrados. Neste estrato, as folhaso geralmente
micrófilas e seu escleromorfismo é menos acentuado.
Se bem que ainda incompletamente conhecida, a flora do cerrado é riquíssima.
Segundo alguns autores, estima-se que a flora de plantas vasculares seja re-
presentada por cerca de 3 mil espécies, das quais 80% pertenceriam à flora
herbáceo-arbustiva. Como famílias de maior expressão, destacamos as
Leguminosas, entre as lenhosas, e as Gramíneas, entre as herbáceas. Relativa-
mente à riqueza de espécies, esta flora deve ser superada apenas pelas flores-
tas amazônicas e pelas florestas atlânticas. Outra característica sua é a
heterogeneidade de distribuição, havendo espécies mais típicas dos cerrados
da região Norte, outras do Centro-Oeste, outras do Sudeste etc. Por essa ra-
zão, unidades de conservação, com áreas significativas, deveriam ser criadas e
mantidas nas mais diversas regiões do domínio do cerrado, a fim de garantir
a preservação do maior número de espécies da flora deste bioma, bem como
da fauna a ela associada.
A fauna do bioma do cerrado é pouco conhecida, particularmente a dos A fauna
invertebrados. Ela é seguramente muito rica, destacando-se, naturalmente, o
grupo dos insetos. Quanto aos vertebrados, o que se conhece são, em geral,
listas das espécies mais freqüentemente encontradas em áreas de cerrado,
pouco se sabendo da história natural desses animais, do tamanho de suas
populações, de sua dinâmica etc. Só muito recentemente estão surgindo al-
guns trabalhos de dissertação ou teses sobre tais assuntos.
Entre os vertebrados de maior porte encontrados em áreas do cerrado, cita-
mos a jibóia, a cascavel, várias espécies de jararaca, o lagarto teiú, a ema, a
seriema, a curicaca, o urubu comum, o urubu caçador, o urubu-rei, araras, tu-
canos, papagaios, gaviões, o tatu-peba, o tatu-galinha, o tatu-canastra, o
tamanduá-bandeira, o tamanduá-mirim, o veado-campeiro, o cateto, a anta,
o cachorro-do-mato, o cachorro-do-mato vinagre, o lobo-guará, a jaratataca,
o gato mourisco e, muito raramente, a onça-parda e a onça-pintada.
Excetuando-se a maioria das aves, a fauna do cerrado caracteriza-se, em ge-
ral, por seus hábitos noturnos e fossoriais ou subterrâneos, tidos como for-
mas de escapar aos rigores do tempo reinantes durante as horas do dia. Em-
bora consideradas ausentes, espécies umbrófilas talvez sejam comuns no
interior de cerradões mais densos, onde predomina a sombra. Segundo diver-
sos zoólogos, pareceo haver uma fauna de vertebrados endêmica, restrita
ao bioma do cerrado. De um modo geral, essas espécies ocorrem também em
outros tipos de bioma. Todavia, entre pequenos roedores e aves endemísmos
existem em nível de espécies, pelo menos.
Intencionalmente, deixamos para discutir por último este fator, de extraordi- O fogo
nária importância para o bioma do cerrado, seja pelos múltiplos e diversificados
efeitos ecológicos que exerce, seja por ser ele uma excelente ferramenta para
o manejo de áreas de cerrado, com objetivos conservacionistas. "Mas...", diria o
leitor intrigado, "como conservar, ateando-se fogo ao cerrado?". A resposta é
simples: proteção total e absoluta contra o fogo no cerrado é uma utopia, é
extremamente difícil. O acúmulo anual de biomassa seca, de palha, acaba crian-
do condiçõeso favoráveis à queima que qualquer descuido com o uso do fogo
ou a queda de raios no início ou final da estação chuvosa acabam por produzir
incêndios tremendamente desastrosos para o ecossistema como um todo, im-
possíveis de serem controlados pelo homem. Neste caso, é preferível preveni-
los, realizando-se queimadas programadas, em áreas limitadas e sucessivas,
cujos efeitos poderão ser até mesmo benéficos. Tudo depende de sabermos
manejar o fogo adequadamente, levando em conta uma série de fatores, como
os objetivos do manejo, a direção do vento, as condições de umidade e tempe-
ratura do ar, a umidade da palha combustível e do solo, a época do ano, a
freqüência das queimadas etc. É assim que se faz em outros biomas savânicos,
semelhantes aos nossos cerrados, de países como África do Sul, Austrália, onde
a cultura ecológica é mais científica e menos emocional do que a nossa.
"Mas...", diria ainda o leitor, "e quando o homemo estava presente em tais
regiões, no passado remoto, incêndios desastrosos tambémo ocorriam em
conseqüência dos raios?o seria melhor deixar queimar, então, naturalmen-
te?". Grandes incêndios certamente ocorriam, só queo eram desastrosos.
o existiam cercas de arame farpado prendendo os animais, que podiam fugir
livremente do fogo para as regiões vizinhas. Além disso, áreas eventualmente
dizimadas pelo fogo podiam ser repovoadas pelas populações adjacentes. Hoje
é diferente. Além das cercas, a vizinhança de um parque nacional ou de qual-
quer outra unidade de conservação é formada por fazendas, onde a vegetação
e a fauna natural jáo mais existem. O Parque Nacional das Emas, no sudoes-
te de Goiás, por exemplo, é uma verdadeira ilha de cerrado, em meio a um mar
de soja. Se a fauna for dizimada por grandes incêndios, eleo terá como ser
naturalmente repovoado, uma vez que essa fauna jáo mais existe nas vi-
zinhanças. Manejar o fogo em unidades de conservação como esta é uma neces-
sidade urgente, sob pena de vermos perdida grande parte de sua biodiversidade.
Um dos efeitos mais imediatos de uma queimada é a elevação da temperatu-
ra local, seja do ar, seja do solo. Os poucos dados de que dispomos mostram
que a temperatura do ar na chama pode atingir 800°C ou mais. Todavia, esta
elevação é de curta duração: o fogo passa rapidamente. No solo, a elevação é
também momentânea, porém bem menos intensa. Dentro do solo, a 1, 2 e 5
cm de profundidade, a temperatura pode elevar-se apenas em alguns poucos
graus. Uma pequena camada de terra é suficiente para isolar termicamente
todos os sistemas subterrâneos que se encontram sob ela, fazendo que mal
percebam o fogaréu que lhes passa por cima. Graças a isso, essas estruturas
conseguem sobreviver e rebrotar poucos dias depois, como se nada houvesse
acontecido. Esses órgãos subterrâneos perenes funcionam, assim, como ór-
gãos de resistência ao fogo (Figura 5).
Outro efeito do fogo, de grande importância ecológica para os cerrados, é a
aceleração da remineralização da biomassa e a transferência dos nutrientes
minerais nela existentes para a superfície do solo, sob a forma de cinzas. Des-
sa forma, nutrientes que estavam imobilizados na palha seca e morta, inúteis,
portanto,o devolvidos rapidamente ao solo e colocados à disposição das
raízes. Existem hoje indicações de que tais nutrientes, uma vez na superfície
do solo,oo profundamente lixiviados pela água das chuvas; ao contrá-
rio, seriam rápida e avidamente reabsorvidos pelos sistemas radiculares mais
FIGURA 5
Temperaturas do solo
a profundidades de 0,
1, 2 e 5 cm, durante
uma queimada
de campo cerrado em
Emas, Pirassununga,
SP, segundo
L. M. Coutinho.
superficiais, sobretudo do estrato herbáceo. De certa forma, o fogo transferi-
ria nutrientes do estrato lenhoso para o herbáceo, beneficiando este último.
Durante uma queimada, porém, nem todos os nutrienteso obrigatoriamen-
te para a superfície do solo sob a forma de cinzas. Grande parte deles é per-
dida para a atmosfera como fumaça. Cerca de 95% do nitrogênio presente na
fitomassa combustível volatiliza-se, retornando à atmosfera como gás. A me-
tade dos outros nutrientes - como fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxo-
fre - entra em suspensão no ar sob a forma de micropartículas de cinza, cons-
tituindo a parte visível da fumaça. Assim, a grande perda de nutrientes
provocada pelo fogo reside nesta forma de transferência para a atmosfera e
o na lixiviação dentro do solo, como se imaginava.
A névoa seca que escurece os céus do Brasil Central na época das queimadas
(julho, agosto) é uma demonstração visível dessa enorme perda de nutrientes.
Numa estimativa grosseira, poderíamos dizer que o Parque Nacional das Emas,
com seus 131.832 ha de cerrado queimados integralmente no ano de 1994,
perdeu para a atmosfera algo em torno de 3.000 t de nitrogênio, 220 t de fós-
foro, 1.000 t de potássio, 1.800 t de cálcio, 400 t de magnésio, 450 t de enxo-
fre, totalizando cerca de 6.800 t de nutrientes minerais sob forma elementar.
Felizmente, esses nutrientes em suspensão na atmosfera acabam por retornar
ao solo, seja por gravidade, seja por arraste pelas gotas de chuva. Um balanço
feito em cerrados de Pirassununga, entre o que saía e o que retornava anual-
mente, permitiu-nos avaliar que, se as queimadas fossem feitas em intervalos
de três anos, o pool de nutrientes no ecossistema local praticamenteo so-
freria prejuízos.
Dentre os efeitos bióticos do fogo no cerrado, um dos mais notáveis é sua
ação transformadora da fisionomia e da estrutura da vegetação. Lund, o mesmo
que descobriu o homem das cavernas de Lagoa Santa, amigo de Warming, já
dizia: "Foram as queimas que transformaram as catanduvas" (termo tupi para
cerradão) "em cerrados e campos limpos...". Como a vegetação lenhosa, embo-
ra tolerante, é bem mais sensível à ação do fogo, queimadas freqüentes aca-
bam por reduzir substancialmente a manutenção e a renovação das árvores e
arbustos, diminuindo progressivamente sua densidade. Em conseqüência, cer-
radões acabam por abrir sua fisionomia, transformando-se em campos cerra-
dos, campos sujos ou até campos limpos. Assim, como o fogo freqüentemente
abre a vegetação lenhosa, a proteção contra ele permite o inverso, isto é, cam-
pos sujos, por exemplo, podem transformar-se em cerradões, depois de algu-
mas décadas. Se quisermos manter a biodiversidade em um parque nacional,
no que se refere à fisionomia e riqueza em espécies, diferentes regimes de quei-
madas deveriam ser utilizados como forma de manejo, em distintas parcelas.
Característica sempre ressaltada para as árvores do cerrado é a acentuada
tortuosidade de seus troncos e ramos. Em muitos casos, esse fato pode ser
considerado como um efeito do fogo no crescimento dos caules, impedindo-
os de se tornarem retilíneos, monopodiais. Pelas mortes de sucessivas gemas
terminais e brotamento de gemas laterais, o caule acaba tomando uma apa-
rência tortuosa, simpodial.
A espessa camada de súber que envolve troncos e galhos no cerrado é outra
característica do estrato arbóreo-arbustivo interpretada como uma adaptação
ao fogo. Agindo como isolante térmico, o súber impediria que as altas tempe-
raturas das labaredas atingissem os tecidos vivos mais internos dos caules. Tal
proteção, todavia, nem sempre deve ser muito eficaz, uma vez que este estra-
to da vegetação é mais susceptível à ação destruidora do fogo no cerrado.
É impressionante a rapidez e o vigor com que as plantas do cerrado emitem
novos brotos logo após a queimada. Bastam poucas semanas para que o ver-
de reapareça e substitua o tom cinza deixado pelo fogo. Entre as árvores, o
barbatimão é um bom exemplo dessa incrível capacidade regenerativa. No es-
trato herbáceo-subarbustivo, bastam alguns dias para que seus órgãos subter-
râneos recomecem a brotar. Curiosamente, muitas de suas espécies iniciam
o rebrotamento com a produção de flores. Pouco tempo após a passagem do
fogo, o cerrado transforma-se num verdadeiro jardim, onde as diferentes es-
pécieso florescendo em seqüência.
Esse estímulo ou indução floralo é necessariamente provocado pela eleva-
ção da temperatura, como se poderia esperar. Em muitos casos, é a elimina-
ção total das partes aéreas das plantas que as faz florescer. Além de estimular
ou induzir a floração, o fogo sincroniza este processo em todos os indivíduos
da população, facilitando, assim, a polinização cruzada. Seo houver quei-
ma, ou as plantaso florescem ou o fazem com muito menor intensidade e
de formao sincronizada. Há espécies, contudo, que se comportam de
maneira bastante diversa. É o caso do capim-flecha (Trístachya leiostachya),
que domina de forma absoluta o estrato herbáceo-subarbustivo dos cerrados
do Parque Nacional das Emas. Essa espécie floresce e frutifica durante o pe-
ríodo primavera-verão. Entretanto, se o cerrado é queimado, ela quaseo
produz inflorescências na primavera-verão subseqüente. Somente no segun-
do período de floração, isto é, um ano depois, é que ela irá florescer de forma
intensa. Esse comportamento faz a fitomassa seca crescer enormemente, 2 a
3 anos após a passagem do fogo, aumentando muito o risco de um novo in-
cêndio. Isso talvez explique a periodicidade com que se observam os grandes
incêndios daquele parque (1985, 1988, 1991, 1994).
A anemocoria é uma característica de grande parte das espécies do cerrado.
Ao eliminar a palha seca que se acumula sobre o solo, o fogo ajuda a propa-
gação dessas espécies, pois remove a macega que impede ou embaraça o deslo-
camento das sementes. Isso é particularmente evidente para aquelas espécies
do estrato herbáceo-subarbustivo, cujos frutos desenvolvem-se bem próximo
à superfície do solo.
A própria germinação pode ser facilitada pelo fogo. Há espécies em que a testa
das sementes é impermeável à água. A brusca e rápida elevação da tempera-
tura em uma queimada pode provocar o aparecimento de fissuras na casca da
semente e assim torná-la permeável, favorecendo sua germinação.
A vegetação dos cerrados é constituída, pois, por espécies pirofíticas, isto é,
adaptadas a uma condição ambiental que inclui a presença do fogo. Elas con-
viveram com ele durante sua evolução, sendo selecionadas por este fator. Muitas
delas chegam a exigir a ocorrência de queimadas periódicas para sua sobrevi-
vência e reprodução. O fogo as revigora e aumenta seu poder competitivo. É
claro que as várias formas de cerradoom as mesmas exigências. O
cerradão, floresta de tipo tropical estacionai, é menos tolerante às queima-
das. Assim, se quisermos preservá-lo,o devemos usar o fogo. Já um campo
limpo ou um campo sujo podem necessitar das queimadas para sua estabiliza-
ção e conservação.
As pesquisas do efeito do fogo sobre a fauna dos cerradoso insuficientes. O
número de vertebrados de maior porte encontrados mortos logo após as quei-
madas acidentais parece variar muito. Após o desastroso incêndio do Parque
Nacional das Emas, em 1998, noticiou-se apenas a morte de uma fêmea de
tamanduá-bandeira, junto com seu filhote. Já em outros incêndios a que se
submeteu aquele mesmo parque, o número de animais mortos parece ter sido
bem maior. O que nos parece certo é que os incêndios, nos quais o fogo avan-
ça fora de qualquer controle,o muito mais danosos para a fauna do que as
queimadas prescritas, feitas em pequenas áreas e sob um rigoroso controle.
O fogoo deve, porém, ser considerado sempre um desastre para a fauna.
Ele também pode proporcionar-lhe certos benefícios. Após uma queimada, os
insetos polinívoros e nectarívoros beneficiam-se da resposta floral das plantas,
nas quais encontram grande disponibilidade de pólen e néctar. Algum tempo
depois, essas flores produzirão frutos e sementes que alimentarão outros ani-
mais. O próprio rebrotamento vegetativo é de grande importância para aque-
les que se alimentam de folhas e brotos tenros, como o veado-campeiro, a
ema etc. Por isso, a densidade desses animais torna-se maior nas áreas quei-
madas, que funcionam para eles como um oásis em plena estação seca.
Por esse motivo, o manejo adequado do fogo em nossas reservas de cerrado
pode constituir-se um eficiente meio para a preservação dessa fauna. Quei-
madas em rodízio, em parcelas pequenas e com regimes próprios, reduziriam
os riscos de grandes incêndios acidentais, permitiriam às plantas completar
seus ciclos biológicos, acelerariam a ciclagem dos nutrientes minerais e aumen-
tariam a produtividade dos ecossistemas, além de suprir os animais com ali-
mentos durante os difíceis meses de seca.
Poucaso nossas unidades de conservação, com áreas bem significativas, onde
o cerrado é o bioma dominante. Entre elas podemos mencionar o Parque
Nacional das Emas (131.832 ha), o Parque Nacional Grande Sertão Veredas
(84.000 ha), o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães (33.000 ha), o
Parque Nacional da Serra da Canastra (71.525 ha), o Parque Nacional da
A conservação
Chapada dos Veadeiros (60.000 ha), o Parque Nacional de Brasília (28.000
ha). Embora essas áreas possam, à primeira vista, parecer enormes, para a
conservação de carnívoros de maior porte, como a onça-pintada e a onça-parda,
o ideal seria que elas fossem ainda maiores.
Se considerarmos que cerca de 35% das áreas do domínio do cerrado já fo-
ram convertidas em pastagens cultivadas e lavouras diversas, é extremamente
urgente que novas unidades de conservação representativas dos cerrados se-
jam criadas ao longo de toda a extensão desse domínio,o só em sua área
nuclear, mas também em seus extremos norte, sul, leste e oeste. Só assim se
conseguirá conservar, a tempo, o maior número de espécies de sua rica e
variadíssima flora e fauna.
A grande maioria das atuais unidades de conservação, sejam elas federais,
estaduais ou municipais, acha-se hoje em uma situação de completo abando-
no, com sérios problemas fundiários, de demarcação de terras e construção
de cercas, de acesso por estrada de rodagem, de comunicação, de gerencia-
mento, de realização de benfeitorias necessárias, de pessoal em número e
qualificação suficientes etc. Quanto ao manejo de sua fauna e flora, então,
nem se fale. Pouco ou nada se faz para conhecer as populações animais, seu
estado sanitário, sua dinâmica etc. Admite-se a priori que elas estão bem, pelo
simples fato de estarem "protegidas" por uma cerca, quando esta existe. Na
realidade, isso poderá significar o seu fim. Problemas de consangüinidade, vi-
roses, verminoses e epidemias poderão estar ocorrendo entre os animais, di-
zimando-os dramaticamente, e nem se sabe disso. Paralelamente, espécies exó-
ticas de gramíneas - sobretudo as de origem africana, como o capim-gordura,
o capim-jaraguá, a braquiária - estão invadindo essas unidades de conserva-
ção e substituindo rapidamente as espécies nativas do seu riquíssimo estrato
herbáceo-subarbustivo. Dentro de alguns anos, ou décadas que sejam, tais
unidades se transformarão em verdadeiros pastos de gordura, jaraguá ou
braquiária e terão perdido, assim, toda sua enorme riqueza de espécies de
outrora.
É urgente inverter essa situação.
O cerrado do Estado
de São Paulo
Osmar Cavassan
Faculdade de Ciências, UNESP - Bauru.
O cerrado paulista ocupava, no início do século XIX, cerca de 18,2% da super-
fície do Estado (Victor, 1975). Atualmente, está representado por fragmentos
da cobertura original no Interior, constituindo áreas disjuntas, sem indicado-
res de que, pelo menos num passado recente, esteve ligado à porção nuclear
que abrange o Brasil Central. Menos de 10% desses fragmentos encontram-
se protegidos na forma de unidades de conservação estaduais.
De acordo com o Inventário Florestal do Estado deo Paulo, apresentado
por Kronka et al. (1993), dos 3.330.744 ha de cobertura vegetal natural,
283.622 ha correspondem a áreas de cerrado senso amplo. Esse valor corres-
ponde a 8,51% da vegetação nativa remanescente no Estado deo Paulo,
cobrindo 1,13% de sua superfície. Concentram-se sobretudo nas regiões de
Ribeirão Preto, Bauru,o José do Rio Preto e Presidente Prudente, sendo a
linha que separa a Depressão Periférica Paulista do Planalto Cristalino Atlânti-
co o limite sudeste de distribuição da maioria dos fragmentos de cerrado.
A caracterização aqui apresentada baseia-se nos trabalhos realizados por Oli-
veira e Souza (1977), em Itirapina, Toledo Filho (1984), em Luis Antonio,
Silberbauer-Gottsberger & Eiten (1987), em Botucatu, Castro (1987), em San-
ta Rita do Passa Quatro, Durigan et al. (1987), em Assis, Pagano et al. (1989),
em Corumbataí, e Cavassan (1990), em Bauru. Refere-se, portanto, ao cerra-
do que ocorre na faixa compreendida entre 21° 40' até 22° 45', de latitude
sul, e 47° 7' a 50° 25', de longitude oeste, em altitude variando de 550 a 856
metros.
Em todas essas áreas, verifica-se um clima Cwag' de Köppen, temperado,
macrotérmico, moderadamente chuvoso, de inverno secoo rigoroso. Para esta
região, têm-se, portanto, duas estações distintas: o final da primavera, o verão
e o início do inverno constituem a estação chuvosa, quente e úmida; o final de
outono, o inverno e o inicio da primavera compõem a estação seca e fria.
A ocorrência de cerrado no Estado deo Pauloo está ligada à deficiência
de umidade, e o climao desempenha papel expressivo em seu estabeleci-
mento (Monteiro & Aulino, 1981). Aoki & Santos (1980) concluem que o regi-
me térmico da área de cerrado é caracterizado pela variação da temperatura
com a altitude. Afirmam, também, que tal ocorrência está condicionada ao
total pluviométrico e à sua distribuição. Na região estudada, encontram-se
também fragmentos de mata tropical semidecídua de planalto, matas ciliares
e matas de brejo submetidas às mesmas condições climáticas, corroborando
com a idéia do papel pouco expressivo que o clima desempenha no estabele-
cimento do cerrado.
A baixa temperatura média no Sul do país, contudo, parece limitar sua ocor-
rência. A ação da geada, como fator limitante de algumas espécies de cerra-
do nas áreas próximas ao limite sul de sua distribuição no Brasil, é aceita por
Mantovani & Martins (1993). Silberbauer-Gottsberger et al. (1977) relaciona-
ram a distribuição de algumas espécies à ação da geada, após observarem os
danos causados a um fragmento de cerrado, em Botucatu. Essa observação
foi realizada após a geada ocorrida em julho de 1975, quando foi registrada
na região temperatura mínima de -6°C. Naquele estudo, verificaram que Miconia
albicans e Xylopia aromatica foram as espécies mais danificadas. Essas mes-
mas espécies foram também as mais afetadas em Agudos, após a geada que
ocorreu em junho de 1994(Bertoncini, 1996). Tais espécies, no entanto, apre-
sentaram brotamento próximo à base do caule, nos meses seguintes àqueles
da ocorrência das geadas. Concluíram que, em muitos casos, uma clara rela-
ção entre o grau de dano causado à espécie e sua distribuição geográfica pode
ser mostrada.
Quanto às características do solo, tem-se um resultado também muito próxi-
mo. Em todas as regiões, verifica-se a existência de latossolo vermelho escuro
ou vermelho amarelo, fase arenosa, profundo, de textura leve, bem drenado,
ácido, álico e de baixa fertilidade. Em Corumbataí, Pagano et al. (1989) acusa-
ram uma considerável porcentagem de argila (6 a 18%), considerada pelos
autores como pouco comum em solos que suportam a vegetação de cerrado.
Vários autoresm demonstrado a estreita relação entre vegetação e solo de
cerrado, desde Arens (1958) e Goodland (1979). Arens foi o primeiro a pro-
por que a característica aparentemente escleromorfa das plantas de cerrado
deve-se à relativa escassez de nitrogênio assimilável, dando origem ao
escleromorfismo oligotrófico. Concluiu que a vegetação peculiar de cerrado é
selecionada pela deficiência de minerais, tendo-se a ela adaptado.
Fisionomicamente, tem-se, no Estado deo Paulo, cerrado com aparência
florestal (Figura 1), como em Bauru (Cavassan, 1990), até formações campes-
tres (Figura 2), como em Itirapina (Mantovani, 1990). Coutinho (1978) apre-
sentou o "conceito floresta-ecótono-campo", considerando o cerrado como
um complexo de formações oreádicas queo desde o campo limpo (forma-
ção campestre) até o cerradão (formação florestal). As formações savânicas
intermediáriaso representadas por campo sujo, campo cerrado e cerrado
senso restrito, constituindo-se ecótonos de vegetação entre aquelas duas for-
mações extremas. Para Mantovani (1990), essas variaçõeso devidas a diver-
sos fatores, entre os quais os edáficos, relacionados com a fertilidade do solo,
acidez, profundidade do lençol freático, além da ação do fogo e do homem.
Ele comparou três fisionomias de cerrado, em Itirapina, quanto ao número de
indivíduos, número de espécies de fanerófitas, porcentagem do dossel e altu-
ra das plantas. Verificou que há um aumento nesses valores de campo cerra-
do para cerradão.
Muitos levantamentos florísticos foram realizados em cerrados no Estado de
o Paulo nos últimos vinte anos. Para esses levantamentos, tem-se utilizado
de amostragem, sobretudo pelo método de parcelas (Gibbs et al., 1983;
FIGURA 1
Aspecto de um
cerradão no município
de Agudos, SP.
FIGURA 2
Aspecto de um campo
sujo no município
de Itirapina, SP.
Silberbauer-Gottsberger & Eiten, 1983; Toledo Filho et al., 1984; Gianotti, 1986;
Castro, 1987; César et al., 1988; Cavassan, 1990), além de quadrantes (Pagano
et al., 1989) e pontos (Mantovani, 1987). Com exceção desse último, os le-
vantamentos referem-se à comunidade de plantas lenhosas, utilizando-se, na
maioria dos casos, de no mínimo três centímetros de diâmetro medidos na
base como critério para inclusão da planta na amostragem.
Na maioria dos casos, fez-se também a caracterização fitossociológica nessas
áreas. Estima-se que existam aproximadamente oitocentas espécies citadas
como ocorrentes em cerrados no Estado deo Paulo (Leitão Filho, 1992),
embora se admitam muitos casos de sinonimias e identificações sujeitas a
confirmação.
A Tabela 1 apresenta, em ordem decrescente de riqueza em espécies, as nove
principais famílias em seis áreas de cerrado estudadas no Estado deo Pau-
lo. Deste modo, Leguminosae é a mais importante, seguida de perto por
Myrtaceae e Rubiaceae. Esse resultado é próximo àquele apresentado por Lei-
o Filho (1992), que considera Leguminosae, Melastomataceae e Rubiaceae
as famílias mais ricas em número de espécies.
A liderança das leguminosas ocorre também na maioria dos levantamentos
florísticos feitos em mata tropical semidecídua de planalto, que ocorre na
mesma região em referência (Martins, 1979; Cavassan et al., 1984; Pinto,
1989). Deve-se destacar a sexta posição da família Vochysiaceae que, embora
ocorra discretamente naquela vegetação e nas áreas de cerrado estudadas,
ocupa uma posição de destaque. Alguns autores (Goodland, 1979; Cavassan,
1990) consideram a família Vochysiaceae característica de cerrado. De fato,
nas listas florísticas publicadas, essa família freqüentemente está mais bem
representada em cerrado do que em mata.
Tabela 1
Principais famílias
ocorrentes em
levantamentos florísticos
efetuados em seis
fragmentos com vegetação
de cerrado no Estado de
o Paulo, conforme o
número de espécies de
cada família e, entre
parênteses, a classificação
quanto a esse parâmetro
Numa abordagem florística abrangendo todo o domínio de cerrado, Myrtaceae
aparece como a família mais representativa do estrato arbustivo-arbóreo, com
198 espécies (Castro, 1994). No entanto, tal família é bem representada em
outras formações vegetais no interior do Estado deo Paulo e também na
flora mundial. Exceção a isso se verifica em relação às famílias Malpighiaceae
e Annonaceae, sem expressão significativa em escala mundial, mas bem re-
presentadas no domínio de cerrado, figurando também, portanto, entre as
famílias características desse tipo de vegetação.
Se for considerado, no entanto, o estrato herbáceo-subarbustivo, o resultado
modifica-se. Mantovani & Martins (1993) mostraram que, em Mogi-Guaçu, no
que se refere a esse estrato, obteve-se, em ordem decrescente, Compositae,
Leguminosae e Gramineae. Afirmaram, ainda, que esse estrato constitui
76,76% do total da flora lá existente. Evidentemente, em formações fisiono-
micamente identificadas como cerradão, as espécies herbáceo-subarbustivas
tendem a ser menos presentes.
1-Itirapina (Oliveira e Souza, 1977)
2
- Mogi-Guaçu (Gibbs et al., 1983;
Mantovani, 1990)
3- Luis Antonio (Toledo Filho,
1984)
4-Bauru (Cavassan, 1990)
5-Santa Rita do Passa Quatro
(Castro, 1987)
Corumbataí (Pagano et al., 1989)
Na região de Bauru, em dois estudos, os resultados demonstram que a com-
posição florística do estrato herbáceo-subarbustivo varia em razão da estrutu-
ra arquitetural da vegetação. Na mesma área de cerradão, onde Cavassan
(1990) realizou a caracterização florística e fitossociológica da vegetação
lenhosa com pelo menos 3 cm de diâmetro na base, Christianini & Cavassan
(1998) verificaram que o estrato herbáceo-subarbustivo apresenta, em ordem
decrescente de riqueza em espécies, a seguinte classificação: Rubiaceae,
Myrtaceae, Melastomataceae, Lauraceae, Fabaceae e Bignoniaceae. Naquela
formação onde o dossel é contínuo, a vegetação herbácea foi representada
por Cyperaceae, Orchidaceae e Polypodiaceae. Deste modo, verifica-se que no
cerradão predominam, no estrato herbáceo-subarbustivo, plântulas de espé-
cies presentes nos estratos superiores.
Bertoncini (1996), em um cerrado senso restrito em Agudos, SP, verificou que
o estrato herbáceo-subarbustivo apresenta, em ordem decrescente de rique-
za em espécies, Asteraceae, Myrtaceae, Malpighiaceae, Rubiaceae e Poaceae.
Neste caso, onde o dosselo é contínuo, as espécies herbáceas estão mais
bem representadas. A presença de espécies das famílias Rubiaceae e Myrtaceae
mostrou-se elevada nos dois tipos de vegetação.
A família Bromeliaceae é representada, no cerrado senso restrito em Agudos,
sobretudo por plantas terrestres, tais como Ananas ananassoides, Dyckia
leptostachya e Bromelia leptostachya, além de espécies epífitas do gênero
Tillandsia. No cerradão existente em Bauru, Machado (informação pessoal)
identificou cinco espécies terrestres e cinco espécies epífitas pertencentes a
essa família. Desse modo, a ocorrência de maior número de espécies de plan-
tas da família Bromeliaceae, sobretudo epífitas, parece ser resultado da umi-
dade mais elevada e constante, em cerradão, do que em vegetação mais aberta,
como o cerrado senso restrito.
A família Orchidaceae está sendo estudada no cerradão de Bauru por Martins
& Cavassan (informação pessoal). Amostraram seis espécies em uma área no
Parque Ecológico Municipal Tenri de Bauru (Catasetum fimbriatum, Epistephium
sderophylum, Eulophia alta, Galeandra montana, Oeceodades maculata e Vanilla
sp), todas terrestres. Bertoncini (1996) amostrou uma espécie epífita do gênero
Catasetum e duas espécies terrestres, Cyrtopodium pallidum e Galleandra aff.
montana.
Mais estudos da flora desses estratoso desejáveis, apesar da dificuldade que
apresentam por causa das variações rápidas decorrentes da sazonalidade anual,
alte.ações climáticas, queimadas e presença de animais de criação. Do mes-
mo modo,o desejáveis mais estudos sobre lianas, pteridófitas, briófitas,-
quens e fungos de cerrado.
A Tabela 2 apresenta quinze espécies lenhosas comuns a seis áreas de cerrado
no Estado deo Paulo. Daquelas espécies, Qualea grandiflora foi a que ocor-
reu em maior número de localidades (23), no estudo realizado por Ratter &
Dargie (1992) sobre a composição florística de 26 áreas de cerrado no Brasil.
Pode-se, portanto, deduzir que constituem as mais típicas espécies arbustivo-
arbóreas do cerrado daquela região.
Algumas espécies, tais como Copaifera langsdorffi, Tapiríra guianensis Aublet
e Protium heptaphyllum (Aublet) Marchand., características de cerradão, ocor-
rem também, com freqüência, em matas semidecíduas paulistas. No entanto,
a similaridade entre cerrado e matas semidecíduas paulistas é baixa no que se
refere à espécie, e elevada quanto à família. Provavelmente, as famílias comuns
nos dois tipos de vegetação desenvolveram especiação com diferentes espé-
cies no cerrado e na floresta, talvez especializadas na exploração desses am-
bientes. As poucas espécies comuns podem ser generalistas, havendo regis-
tro de Tapiríra guianenis e Protium heptaphyllum até em matas de brejo no
interior do Estado deo Paulo (Torres et al., 1994) e em cordões arenosos de
restinga no litoral (Silva & Oliveira, 1989).
Tabela 2
Espécies lenhosas comuns em seis
áreas de cerrado no Estado
deo Paulo.
Fitossociologicamente, as famílias com maior IVI são, em ordem decrescente:
Leguminosae, Myrtaceae, Vochysiaceae, Lauraceae, Annonaceae, Rubiaceae,
Thymeliaceae, Monimiaceae, Erythroxylaceae, Myrsinaceae, Caryocaraceae e
Melastomataceae. Vochysiaceae, que apresenta indivíduos relativamente gran-
des quando adultos, tende a ter maior IVI, por causa da maior área basal.
Os trabalhos de caracterização florística e fitossociológica desenvolvidos em
vegetação com fisionomia florestal, no Interior paulista,m esbarrado, com
1 - Santa Rita do Passa Quatro
(Castro, 1987)
2 - Mogi-Guaçu (Gibbs et al., 1983;
Mantovani, 1990)
3 - Luís Antonio (Toledo Filho, 1984)
4 - Corumbataí (Pagano et al., 1989)
5 - Bauru (Cavassan, 1990)
6 - Itirapina (Oliveira e Souza, 1977)
grande freqüência, na dificuldade em se identificar, com segurança, se o frag-
mento estudado é mata semidecídua ou cerradão. Áreas consideradas de ten-
o ecológica, onde espécies de mata e cerrado coexistem,m provocado a
elaboração de diferentes hipóteses.o áreas de transição entre duas situa-
ções diferentes de fertilidade de solo e profundidade de lençol freático ou
correspondem a estágios sucessionais intermediários entre cerrado e mata? A
presença de espécies de cerrado em bordas de fragmentos de mata e sua
ausência no interiorm reforçar esta segunda hipótese, embora a primeira
possibilidade pareça se confirmar em muitas situações com alta correlação com
evidentes gradientes ambientais. Estudos que definam critérios seguros para
a classificação dessas áreaso desejáveis, assim como valeria a pena conhecer
mais a respeito da dinâmica de fragmentos de vegetação naquela situação.
Atualmente,o conhecidas poucas avaliações da situação do cerrado no Es-
tado deo Paulo. Kronka et al. (1993) apresentaram a evolução da cobertu-
ra vegetal de cerrado nos períodos 1971-1973 e 1990-1992. Nesse trabalho,
verificou-se que a região de Campinas, seguida de Sorocaba e Ribeirão Preto,
apresentou as maiores porcentagens de redução. Na região de Ribeirão Pre-
to, observou-se a maior redução em área (371.792 ha).o conhecidos inú-
meros casos de perturbação de áreas remanescentes da cobertura original de
cerrado, ocorrendo, em alguns casos, total destruição. Por outro lado, comu-
nicações de tentativas de revegetação tornam-se mais freqüentes, embora ra-
ramente com espécies de cerrado. A dificuldade em se produzir mudas de es-
sências nativas e o menor interesse econômico em se recuperar um cerrado
contribuem fortemente para esta situação.
Uma experiência de recuperação está sendo realizada no município de Agu-
dos, SP. Em uma área anteriormente recoberta com vegetação de cerrado foi
retirada terra para a duplicação da Rodovia Marechal Rondon. Essa atividade
resultou em uma caixa de empréstimo de aproximadamente 5 hectares. Com
base no interesse dos proprietários em recuperar a vegetação nativa, propôs-
se uma série de testes visando à melhor maneira de executá-la.
Considerando-se que a profundidade da caixa de empréstimoo permitiu a
permanência de nenhuma estrutura subterrânea gemífera, propôs-se iniciar o
plantio por mudas já existentes em viveiros. As experiências conhecidas re-
feriam-se especialmente à revegetação de matas. Neste caso, necessitava-se
também de uma revegetação em curto prazo,o havendo tempo para a pro-
dução de mudas de espécies de cerrados. Assim, optou-se por utilizar quatro
espécies pioneiras - Croton floribundus Spreng., Cecropia pachistachia Trec,
Trema micrantha (L.) Blum e Guazuma ulmifolia Lam. - utilizadas em
revegetação de matas. Essas plantas foram distribuídas uniformemente, com
três metros entre elas, alternando com as espécies de cerrado - Tabebuia
ochracea (Cham.) Standl., Copaifera langsdorffi Desf. - e outras espécies pre-
sentes em matas que ocorrem em áreas mais baixas, contínuas àquela do
presente estudo, tais como Luhea divaricata Mart., Schinus terebentifolius
Raddi, Parapiptadenia rigida (Benth.) Brenan, Lithraea molleoides (Vell.) Engl.,
Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassm. etc.
Os resultados preliminares mostraram um rápido desenvolvimento das es-
pécies pioneiras, com alguns indivíduos atingindo três metros de altura após
oito meses do plantio da muda (Figura 3). Das espécies nativas daquele cerra-
do, Tabebuia ochracea apresentou, até o momento, a maior velocidade de
crescimento e sobrevivência. Desse modo, os resultados preliminares, embora
ainda bastante incipientes, permitem deduzir que é difícil a revegetação, em
curto prazo, de áreas degradadas de cerrado, onde as estruturas subterrâ-
neas foram removidas e onde se pretende restabeler a forma e a função, em
razão, sobretudo, da indisponibilidade de mudas de essências nativas de cer-
rado que permitam uma nova composição que se aproxime da estrutura
florística e fitossociológica original. No entanto, a recuperação, que consiste
em se restabelecer a função, parece ser possível.
A observação da evolução daquela comunidade instalada artificialmente po-
derá levar, entretanto, a novos resultados, ainda mais se for observada a ocor-
rência espontânea de essências nativas do cerrado da região.
FIGURA 3
Vista parcial de área
onde se realizou
experiência
de revegetação,
no município
de Agudos, SP.
A necessidade de preservação e recuperação do cerrado apóia-se também na
manutenção de espécies de importância econômica potencial. Vários autores
(Siqueira, 1981; Sato et al., 1987) mostraram que espécies nativas de cerrado
podem, após estudos mais completos, ser utilizadas como fonte de princípios
ativos na indústria farmacêutica. Salles & Lima (1990) mostraram que muitas
espécies produzem flores bastante conspícuas e podem, assim, ser incluídas
em projetos paisagísticos.
No Estado deo Paulo, ocorrem espécies que se destacam na vegetação,
tais como Vochysia tucanorum Mart. e Tabebuia ochracea (Cham.) Standl.,
com suas inflorescências amarelas (Figura 4); Kielmeyera rubriflora Cambess.
e Arrabidaea brachypoda Bur., com inflorescências róseas; Bowdichia virgilioides
Kunth, e Qualea parviflora Mart., com inflorescências lilases. Pirani & Cortopassi-
Laurino (1993) observaram abelhas visitando flores de Eugenia pitanga (Berg.)
Kiaresk, Byrsonima intermedia Juss. e Styrax camporum Pohl., espécies com-
ponentes da vegetação de cerrado no Estado deo Paulo, o que demonstra
também a importância dessa vegetação na produção de mel.
FIGURA 4
Espécie nativa
do cerrado (Tabebuia
ochracea), fotografada
no município
de Bauru, SP.
O cerrado do Estado deo Paulo abriga 34% do total de espécies conheci-
das como típicas deste tipo de vegetação (Leitão Filho, 1992). Localiza-se tam-
m próximo ao limite sul de distribuição, sujeito a fatores climáticoso exis-
tentes em sua maior área de ocorrência. É desejável, portanto, que os. resultados
até agora obtidos permitam o desenvolvimento de um plano de manejo do
cerrado que restou no Estado deo Paulo, mesmo sendo fragmentos de
pequena extensão. O cerrado apresenta características florísticas, de reprodu-
ção, de limitação ambiental, que garantem sustentabilidade mesmo nessas
dimensões, o queo ocorre com as matas paulistas. Assim, uma vez protegi-
das as áreas que suportem um grande número de pesquisas sobre este tipo
de vegetação, tem-se garantida a preservação de importante potencial gené-
tico, o que contribuiria para reduzir os impactos causados pela quebra do equi-
líbrio entre a vegetação, a fauna, o solo e o clima.
AOKI, H., SANTOS, J. R. Fatores ambientais dos cerrados e imagens orbitais.
Boletim Técnico do Instituto Florestal, v.31, p.1-57, 1979.
ARENS, K. O cerrado como vegetação oligotrófica. Boletim da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, n.224; Botânica,
n.15, p.57-77, 1958.
BERTONCINI, A. P. Composição floristica e estrutura fitossociológica de uma
área de cerrado no município de Agudos, SP. Botucatu, 1996, 154 p. Dis-
sertação (Mestrado em Ciências Biológicas). Instituto de Biociências da Uni-
versidade Estadual Paulista.
CASTRO, A. A. J. F. Floristica e fitossociologia de um cerrado marginal brasilei-
ro, parque estadual de Vaçununga, Santa Rita do Passa Quatro-SP. Campi-
nas, 1987. 243p. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Instituto de Biolo-
gia, Universidade Estadual de Campinas.
. Comparação florístico-geográfica (Brasil) e fitossociológica (Piauí -
São Paulo) de amostras de cerrado. Campinas, 1994. 520p. Tese (Doutora-
do em Ciências) - Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campi-
nas.
CAVASSAN, O. Floristica e fitossociologia da vegetação lenhosa em um hec-
tare de cerrado no parque ecológico municipal de Bauru (SP). Campinas,
1990. 206p. Tese (Doutorado em Ciências) - Instituto de Biologia, Universi-
dade Estadual de Campinas.
CAVASSAN, O., CÉSAR, O., MARTINS, F. R. Fitossociologia da vegetação arbórea
da reserva estadual de Bauru, Estado deo Paulo. Revta. bras. Bot., v.7,
p.91-106, 1984.
CÉSAR, O. et al. Estrutura fitossociológica do estrato arbóreo de uma área de
vegetação de cerrado no município de Corumbataí (Estado deo Paulo).
Naturalia, v.13, p.91-101, 1988.
Referências
bibliográficas
COUTINHO, L.M.0 conceito de cerrado. Revta. bras. Bot., v. 1, p. 17-23, 1978.
CHRISTIANINI, S. R., CAVASSAN, O. O estrato herbáceo-subarbustivo de um
fragmento de cerradão, em Bauru-SP. Salusvita, v.17, p.9-16, 1998.
DURIGAN, G. et al. Fitossociologia e evolução da densidade da vegetação do
cerrado de Assis, SP. Boletim Técnico do Instituto Florestal,o Paulo, v.41,
p.59-78, 1987.
GIANNOTTI, E. Composição floristica e estrutura fitossociológica da vegeta-
ção de cerrado e de transição entre cerrado e mata ciliar da estação expe-
rimental de Itirapina (SP). Campinas, 1986. 189p. Dissertação (Mestrado
em Biologia) - Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas.
GIBBS, P. E., LEITÃO FILHO, H. de F., SHEPHERD, G. J. Flonstic composition
and community structure in an area of cerrado in SE Brazil. Flora, n.173,
p.433-49, 1983.
GOODLAND, R. Análise ecológica da vegetação do cerrado. In: GOODLAND,
R., FERRI, M. G. Ecologia de cerrado.o Paulo: Edusp; Belo Horizonte:
Itatiaia, 1979. p.61-186.
KRONKA, F. J. N. et al. Inventário Florestal do Estado de São Paulo.o Paulo:
Instituto Florestal, 1993, 199p.
LEITÃO FILHO, H. de F. A flora arbórea dos cerrados do Estado deo Paulo.
Hoehnea, v.19, p.1 51-63, 1992.
MANTOVANI, W. Análise floristica e fitossociológica do estrato herbáceo-
subarbustivo do cerrado na Reserva Biológica de Mogi-Guaçu e em Itirapina.
Campinas, 1987. 302p. Tese (Doutorado em Ciências) - Instituto de Biolo-
gia, Universidade Estadual de Campinas.
. Variação da flora arbustivo-arbórea de diversas fisionomias do cer-
rado, em Itirapina, Estado deo Paulo. In: CONGRESSO NACIONAL DE BO-
TÂNICA, 36, 1985, Curitiba. Anais... Brasília: Ibama, 1990. v.1, p.125-35.
MANTOVANI, W., MARTINS, F. R. Floristica do cerrado na reserva biológica de
Mogi-Guaçu, SP. Acta Botanica Brasilica (Brasília), v.7, p.33-60, 1993.
MARTINS, C. A., CAVASSAN, O. As orquidáceas do Parque Ecológico Munici-
pal Tenri de Bauru (em andamento).
MARTINS, F. R. O método de quadrantes e a fitossociologia de uma floresta
residual do interior do Estado de São Paulo: parque estadual de Vaçununga.
o Paulo, 1979. 239p. Tese (Doutorado em Ciências) - Instituto de
Biociências, Universidade deo Paulo.
MONTEIRO, R., AULINO, O. Clima e balanço hídrico de uma reserva de cerra-
do no município de Corumbataí. In: SEMINÁRIO REGIONAL DE ECOLOGIA,
2, 1981,o Carlos. Anais...o Carlos, UFSCAR, 1981, p.111-31.
OLIVEIRA e SOUZA, M. H. A. Alguns aspectos ecológicos da vegetação na
região perimetralda represa do Lobo (Brotas-Itirapina, SP).o Paulo, 1977.
369p. Tese (Doutorado em Ciências) - Instituto de Biociências, Universida-
de deo Paulo.
PAGANO, S. N., CÉSAR, O., LEITÃO FILHO, H. de F. Composição florística do
estrato arbustivo-arbóreo da vegetação de cerrado da área de proteção
ambiental (APA) de Corumbataí - Estado deo Paulo. Rev. Bras. Biol., v.49,
p.37-48, 1989.
PINTO, M. M. Levantamento fitossociológico de mata residual situada no
campus de Jaboticabal da UNESP. Jaboticabal, 1989, 114p. Dissertação
(Mestrado em Agronomia) - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias,
Universidade Estadual Paulista.
PIRANI, J. R., CORTOPASSI-LAURINO, M. (Coord.) Flores e abelhas em São
Paulo.o Paulo: Edusp/Fapesp, 1993. 194p.
RATTER, J. A., DARGIE, T. C. D. An analysis of the floristic composition of 26
cerrado areas in Brazil. Edinb. J. Bot., v.49, p.235-50, 1992.
SALLES, A. E. H., LIMA, C. G. de. Flores dos cerrados. Brasília: Linha Gráfica,
1990. 72p.
SATO, S. et al. O uso de plantas nativas de cerrados da região de Bauru, na
medicina popular. O Pequi. (Caryocar brasiliense Camb.). Salusvita. v.6, p.32-
40, 1987.
SILBERBAUER-GOTTSBERGER, I., EITEN, G. Fitossociologia de um hectare de
cerrado. Brasil Florestal, v.54, p. 55-70, 1983.
. A hectare of cerrado; I. general aspects of the trees and thick-
stemmed shrubs. Phyton, v.27, p.55-91, 1987.
SILBERBAUER-GOTTSBERGER, L, MORAWETZ, W., GOTTSBERGER, G. Frost
damage of cerrado plants in Botucatu, Brazil, as related to the geographical
distribution of the species. Biotropica, v.9, p.253-61, 1977.
SILVA, J. G. da, OLIVEIRA, A. S. de. A vegetação de restinga no município de
Maricá - RJ. Acta Bot. Bras. v.3, p.253-72, 1989.
SIQUEIRA, J. C. de. Utilização popular das plantas do cerrado.o Paulo: Edusp/
Fapesp, 1981. 194p.
TOLEDO FILHO, D. V. de. Composição florística e estrutura fitossociológica da
vegetação de cerrado no município de Luís Antonio (SP). Campinas, 1984,
173p. Dissertação (Mestrado em Biologia Vegetal) Instituto de Biologia, Uni-
versidade Estadual de Campinas.
TOLEDO FILHO, D. V. de, LEITÃO FILHO, H. de F., RODRIGUES, T. S. Composi-
ção florística de área de cerrado em Mogi-Mirim (SP). Boletim Técnico do
Instituto Florestal, v.38, p.165-75, 1984.
TORRES, R. B., MATTHES, L. A. F., RODRIGUES, R. R. Florística e estrutura do
componente arbóreo de mata de brejo em Campinas, SP. Revta. bras. Bot.,
v.17, p.189-94, 1994.
VICTOR, M. A. M. A devastação florestal.o Paulo: Sociedade Brasileira de
Silvicultura, 1975. 47p.
Desenvolvimento
de plantas do cerrado:
uma experiência pessoal
Gil M. Felippe
Seção de Fisiologia e Bioquímica,
Instituto de Botânica,o Paulo
Introdução
Sou natural deo Carlos e ainda criança já conhecia os cerrados ali de perto.
Que moleque da regiãoo ia ao mato catar gabiroba {Campomanesia ssp.)?
Mais tarde, já no Instituto de Botânica, em início de carreira, trabalhando sob
a orientação do Dr L. F. G. Labouriau, fiz várias excursões com o Laboratório
Móvel da então Seção de Geobotânica - hoje Seção de Fisiologia e Bioquími-
ca -, a fim de coletar exemplares da família Compositae para os trabalhos de
Nervação Foliar e de Pólen.
FELIPPE, G. M. e SALGADO-LABOURIAU, M. L. Pollen grains of plants of the
cerrado. VI- Compositae -Tribus Heliantheae. An. Acad. Brasil, Ci. v.36, p.85-
101, 1964.
FELIPPE, G. M. e ALENCASTRO, F. M. M. R de, Contribuição ao estudo da nervação
foliar das compositae dos cerrados: 1-Tribus Heleniae, Heliantheae, Inuleae,
Mutisieae e Senecionae./\n. Acad. Brasil. Ci. 38 (suplemento), p.125-57,1966.
Assim, visitei repetidas vezes os cerrados da região de Itirapina eo Carlos;
em uma memorável excursão com a Sra. Tatiana Sendulsky e Francisca Mathilde
Rios de Magalhães (depois Regis de Alencastro), a sempre lembrada Kiki, che-
guei até Ituiutaba no Triângulo Mineiro, onde conheci o Amaro Macedo, que
possuía um excelente herbário particular. Consegui que ele o doasse ao Insti-
tuto de Botânica deo Paulo (IBt), o qual veio para o IBt pelo Laboratório
Móvel. Sobre esta excursão escrevi um conto, "A viagem", que nunca publi-
quei (não confundir com a novela, de mesmo nome, de Ivany Ribeiro. O conto
foi escrito bem antes).
Fui para a Escócia e fiz meu doutorado em Fisiologia, trabalhando com o áci-
do giberélico e o CCC, sob a orientação do Professor John E. Dale, a quem
devo minha formação e carreira desde então. Voltei para o Instituto de Botâ-
nica e, com alguns de meus primeiros orientandos, trabalhei com uma planta
do cerrado de Itirapina, Porophyllum lanceolatum. Na verdade, em razão de
meu interesse, lancei a pesquisa com as giberelinas no Brasil. Um dos mate-
riais de pesquisa para interessar novos pesquisadores (isto é, os mais novos do
que eu) foi essa planta do cerrado, além da produtora de adoçante, Stevia
rebaudiana, queo é de cerrado. Com esses trabalhos, inaugurei a revista
Hoehnea, do Instituto de Botânica (ver Hoehnea, vol. 1). Trabalhando com
essa espécie, Ana Maria Giulietti, que hoje está muito famosa como
taxonomista, aprendeu a gostar de Fisiologia Vegetal. Neide Lucas começou
também com esta espécie, sendo hoje uma renomada fisiologista que traba-
lha em Vitória, no Espírito Santo.
FELIPPE, G. M., GIULIETTI, A. M., LUCAS, N. M. C. Estudo da germinação em
Porophyllum lanceolatum DC. I- Efeito de luz, temperatura e fotoperíodo.
Hoehnea, v.1, p.1-9, 1971.
FELIPPE, G. M., LUCAS, N. M. C. Estudo de germinação em Porophyllum
lanceolatum DC. II- Efeito de luz vermelha, GA
3
e CCC. Hoehnea v.1, p.11-9,
1971.
FELIPPE, G. M., LUCAS, N. M. C, GIULIETTI, A. M. Estudos de floração em
Porophyllum lanceolatum DC. I- Efeito do fotoperíodo na floração. Hoehnea,
v.1, p.21-7, 1971.
FELIPPE, G. M., GIULIETTI, A. M., LUCAS, N. M. C. Estudos de floração em
Porophyllum lanceolatum DC. II- Efeito de GA
3
e CCC na floração. Hoehnea,
v.1, p.29-40, 1971.
FELIPPE, G. M., GIULIETTI, A. M. Efeito do fotoperíodo, ácido giberélico e
cloreto de 2-cloroetiltrimetilamônio no crescimento de Porophyllum
lanceolatum DC. Hoehnea v.1, p.41-60, 1971.
FELIPPE, G. M., GIULIETTI, A. M. Efeito do fotoperíodo, ácido giberélico e
cloreto de 2-cloroetiltrimetilamônio no desenvolvimento foliar de Porophyllum
lanceolatum DC. Hoehnea, v.1, p.61-79, 1971.
Voltei para a Escócia e me esqueci do cerrado. Esqueci em termos, pois acaba-
mos detectando acetilcolina em Porophyllum lanceolatum. Por que isto acon-
teceu? O Dr. Aylthon Brandão Joly dissera-me que havia uma história que dizia
que o povo tomava chá de folhas de Porophyllum lanceolatum para diminuir
taquicardia. Contei o caso para Olga Baeta Henriques, moradora de Edimbur-
go, que trabalhava com a bradicinina. Ela achou o caso interessante e contou
para o Dr. Horton, que se interessou em trabalhar com essa planta. Em conse-
qüência, descobrimos a existência de acetilcolina nas folhas, mas nunca des-
cobrimos a droga, que ingerida pelo estômago diminuía a velocidade de
batimentos cardíacos.
HORTON, E. W., FELIPPE, G. M. An acetylcholine-like substance in Porophyllum
lanceolatum. Biologia plantarum. v.1, p.150-1, 1973.
Em 1974, retornei ao Brasil e fui trabalhar na Universidade Estadual de Cam-
pinas, a convite do Dr. Aylthon Brandão Joly e com o apoio irrestrito do Dr.
Ivany Ferraz Marques Válio. Em 1977, Carlos Joly, filho do Dr. Aylthon, decidiu
fazer mestrado sob minha orientação. Queria trabalhar com plantas de cerra-
do. Assim, voltei a fazer excursões ao cerrado, nas regiões de Moji-Guaçu,
Itirapina,o Carlos, Araraquara, à procura de árvores de Magonia pubescens.
Além das existentes no cerrado da fazenda Campininha, em Moji-Guaçu, só
descobrimos uma única árvore no município deo Carlos, em cerrado próxi-
mo do distrito de Santa Eudóxia; numa excursão posterior, a árvore havia sido
derrubada e o cerrado era um canavial em crescimento. Do material dessas
excursões, resultou o mestrado de Carlos Joly e vários trabalhos publicados.
JOLY, C. A., FELIPE, G. M. Germinação e fenologia de Zeyhera digitalis. Hoehnea
v.8, p.35-40, 1979.
JOLY, C. A., FELIPE, G. M. Dormência das sementes de Rapanea guianensis.
fiei/. Brasil. Bot., v.2, p.1-6, 1979.
JOLY, C. A., FELIPE, G. M. Fenologia de Magonia pubescens St. Hil. Ciência e
Cultura, v.32, p.936-41, 1980.
JOLY, C. A., FELIPE, G. M., MELHEM, T. S. Taxonomic studies in Magonia St.Hil.
(Sapindaceae). Brittonia, v.32, p.380-6, 1980.
JOLY, C. A. et al. Physiology of germination and seed gel analysis in two
populations of Magonia pubescens St.Hil. Rev. Brasil. Bot., v.3, p. 1-9, 1980.
A grande virada aconteceu na década de 1980. As novidades que havia trazi-
do para o Brasil, como as pesquisas com ácido giberélico, jáo eram mais
novidades. Na linha de Fisiologia da Floração, Lilian Beatriz Penteado Zaidan,
que também se iniciara em Fisiologia como minha estagiária, estava com um
laboratório muito melhor no Instituto de Botânica do que aquele de que eu
dispunha na Unicamp, e com uma formação mais moderna em floração. Eu
tinha de tomar decisões: ou retomava no exterior as novas metodologias para
a pesquisa de hormônios ou partia para outras linhas. Decidi que pesquisado-
res mais jovens poderiam continuar com as pesquisas com hormônios, mas
o eu. Decidi trabalhar com plantas do cerrado. Passei, assim, a me dedicar
integralmente às pesquisas de desenvolvimento dessas plantas na Unicamp,
até 1991, e, depois, no Instituto de Botânica.
Passamos a atacar em quatro frentes:
germinação de esporos de pteridófitas
germinação de sementes
crescimento inicial
floração e fotoperiodismo
Das pteridófitas dos cerrados, nem levantamento havia. Era um campo virgem
o da germinação dos esporos e já era hora de ser iniciada, no Brasil, uma linha
de pesquisa neste grupo, mas eu nada sabia de germinação de esporos e foi
muito duro para meus primeiros orientandos (Washington Marcondes-Ferreira,
Áurea Maria Randi e Luciano Maurício Esteves), porque eles estudavam tudo
comigo, erravam comigo, até chegarmos a uma metodologia correta. Muitas
das dificuldades foram discutidas com o Dr. Adrian Dyer, de Edimburgo, que
muito me orientou nesse campo.
Luciano Esteves, que foi meu orientando de mestrado e doutorado, e eu via-
jamos por vários cerrados do Estado deo Paulo, e conseguimos fazer uma
lista de nove espécies que ocorriam nessas regiões: Adiantum serratodentatum,
Anemia flexuosa, Anemia raddiana, Doryopteris concolor, Polypodium
hirsutissimum, Polypodium latipes, Polypodium pleopeltifolium, Polypodium
polypodioides, Polypodium squamulosum.
Sob a orientação da Dra. Therezinha S. Melhem, Luciano fez um estudo por-
menorizado da morfologia dos esporos dessas nove espécies. Na parte de fi-
siologia, foi verificado que todas elas apresentam esporos com fotoblastismo
positivo para a germinação a 25°C. Esta é uma contribuição muito importan-
te, já que pouco se conhecia nesse aspecto das pteridófitas tropicais.
Em duas espécies de Polypodium (P. pleopeltifolium e P polypodioides), um
pequeno número de esporos germinava no escuro; em uma delas {Polypodium
pleopeltifolium), em um trabalho realizado com a Dra. Regina Sassaki e Dra.
Sílvia Maria de Godoy Aveiro, que foram minhas orientandas de mestrado e
doutorado, nem choques de temperatura alta ou baixa, nem ácido giberélico,
nem ácido indolil-3-acético aumentavam a germinação no escuro, que só era
aumentada por choques curtos de luz vermelha.
Uma espécie muito comum nos cerrados é Polypodium latipes, cuja germina-
ção sob luz só ocorre entre as temperaturas de 10 a 30°C; em nenhuma tem-
O desenvolvimento
de plantas de cerrado
e o meu grupo de
pesquisa
Pteridófitas
peratura constante ou alternada ocorre germinação no escuro. O período de
pré-indução é de dezoito horas. Os lipídios perfazem 52% da massa do esporo
e a quantidade de lipídios decresce com a germinação de P latipes; as proteínas
o cerca de 6% e os açúcares solúveis também representam 6% da massa do
esporo.o sabemos ainda, entretanto, que material de reserva é utilizado
durante a germinação. Foi também demonstrado que 61,4 ug.mg"
1
da massa
de matéria seca dos folíolos desta espécieo compostos fenólicos e, destes,
15,4 ug.mg-
1
o cumarinas. O extrato dos folíolos inibe a germinação dos
esporos de P latipes.
Tais dados, além de mostrar resultados muito interessantes, mostram que os
problemas de metodologia estavam resolvidos.
Partimos, então, para estudos das pteridófitas da mata ciliar dentro do cerra-
do da fazenda Campininha em Moji-Guaçu. Este trabalho foi feito pela Dra.
Eliana Simabukuro, sob minha orientação e a de Luciano Esteves, que depois
comandou os primeiros estudos, no Brasil, referentes a banco de esporos de
pteridófitas.
Como formação de recursos humanos para a linha de pteridófitas, dei origem
a três grupos: um no Instituto de Botânica deo Paulo, sob a liderança do
Dr. Luciano M. Esteves; outro no Departamento de Botânica na Universidade
Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, comandado pela Dra. Áurea M.
Randi, que foi minha orientanda de mestrado e doutorado; e o terceiro no
Departamento de Botânica da Universidade Federal de Pernambuco, em Reci-
fe, sob a liderança da Dra. Eliana Simabukuro, que também foi minha orientanda
de mestrado e doutorado. Infelizmente, o Dr. Washington Marcondes-Ferreira,
que foi meu orientando de mestrado, abandonou o grupo, indo para a taxo-
nomia de uma família de plantas consideradas superiores. Alguns desses tra-
balhos foram financiados pelo CNPq, que também permitiu a vinda do Dr.
Adrian F. Dyer ao Paulo.
ESTEVES, L M., FELIPPE, G. M., MELHEM, T. S. Germination and morphology of
spores of Trichipteris corcovadensis. Amer. Fern. Journal, v.75, p.92-102,1985.
ESTEVES, L M., FELIPPE, G. M. Fotossensibilidade de esporos de pteridófitas
dos cerrados. Revta brasil. Bot., v.8, p.219-22, 1985.
. Efeitos de luz e temperatura na germinação de Polypodium latipes.
Anais V Congresso SBSP, p.29-34, 1988.
FELIPPE, G. M ESTEVES, L. M, RANDI, A. M. Lipids, proteins and sugars in
spores of Cyathea delgadii, Polypodium latipes and Trichipteris corcovadensis.
Insula, v.19, p.3-12, 1989.
ESTEVES, L M., FELIPPE, G. M. Cumarina em folíolos de Polypodium latipes
dos cerrados do Estado deo Paulo. Hoehnea, v. 17, p.13-17, 1990.
. Efeito de luz na germinação de esporos de Polypodium latipes.
Hoehnea, v.18, p.53-9, 1991.
FELIPPE, G. M., SASSAKI, R. M., AVEIRO, S. M. A. de G. Germinação de esporos
de Polypodium pleopeltifolium: resultados preliminares. Acta Botânica
Brasilica, v.6, p.49-54, 1992.
SIMABUKURO, E. A., ESTEVES, L. M. FELIPPE, G. M. Fotoblastismo de
pteridófitas de mata ciliar. Insula, v.22, p.177-86, 1993.
. Lista das pteridófitas da mata ciliar da Reserva Biológica de Moji-
Guaçu, SP. Insula, v.23, p.91-98, 1994.
. Ferns of a preserved cerrado region in southeast Brazil (Reserva Bio-
lógica de Moji-Guaçu,o Paulo): the study of spore morphology and its
application in spore rain and spore bank analyses. Pteridology in perspective
(ed. J. M. Camus, M. Gibby e R. J. Johns). Kew: Royal BotanicGardens, 1996,
p.671.
SIMABUKURO, E. A., DYER, A. F., FELIPPE, G. M. The effect of sterilization
and storage ,conditions on the viability of the spores of Cyathea delgadii
Sternb. Amer. Fern J., v.88, p.72-80, 1998.
SIMABUKURO, E. A., ESTEVES, L. M., FELIPPE, G. M. Fern spore morphology
and spore rain of a preserved cerrado region in southeast Brazil (Reserva
Biológica de Moji-Guaçu,o Paulo). Amer. Fern J. v.88, p.114-37, 1998.
PIRES, I. S. de O. et al. Method for the extraction of live fern spores from soil.
Hoehnea, v.25, p.187-94, 1998.
SIMABUKURO, E. A., CARVALHO, M. A. M. de, FELIPPE, G. M. Reserve
substances and storage of Cyathea delgadii Sternb. spores. Rev. Brasil. Bot.,
v.21, p.149-52, 1998.
SIMABUKURO, E. A., ESTEVES, L. M. FELIPPE, G. M. Analysis of a fern spore
bank in southeast Brazil. Hoehnea, v.25, p.45-57, 1998.
SIMABUKURO, E. A , ESTEVES, L. M., FELIPPE, G. M. Fern spore rain at Itirapina
(SP, Brazil): preliminary results. Insula, v.27, p.39-62, 1998.
SIMABUKURO, E. A. et al. Fern spore bank at Pedregulho (Itirapina,o Pau-
lo, Brazil). Rev. Bras. Biol., v.59, p.131-9, 1999.
GUIMARÃES, T. de B., FELIPPE, G. M. The survival and establishment potential
of spores of Cyathea delgadii Sternb. in soils from Itirapina and Moji-Guaçu
(SP), Brazil. Rev. Brasil. Bot., v.22, p.385-90, 1999.
SIMABUKURO, E. A , ESTEVES, L. M., FELIPPE, G. M. Fern spore rain of the
Reserva Biológica e Estação Experimental de Moji-Guaçu (Brazil) collected
at two different heights. Fern Gazette, v.16, p.147-66, 2000.
Nos trabalhos de germinação de Angiospermae do cerrado, tomaram parte o
Dr. Felício R. Arasaki, Dr. Marcelo Polo - ambos foram meus orientandos de
mestrado e doutorado -, Dr. José Carlos Sousa Silva, que foi meu orientando
de mestrado, Dra. Regina ,M. Sassaki, Dra. Sílvia Maria de Godoy Aveiro,
Josimara N. Rondon e David Santos Jr. (estes dois últimos fizeram estágio co-
migo; a Josimara, no aperfeiçoamento, e o David, no doutorado).
Várias espécies herbáceas dos cerrados foram estudadas, entre elas Bidens
gardneri, Stylosanthes macrocephala, Zornia reticulada, Actinocladum
verticillatum e as arbóreas Copaifera langsdorffii, Dalbergia miscolobium,
Qualea cordata e Qualea grandiflora. Alguns desses trabalhos foram financia-
dos pelo CNPq.
Pelos nossos estudos, ficou demonstrado que a germinação de sementes viá-
veis de plantas do cerrado é, em geral, bastante alta, de 80% a 90%. No caso
de Actinocladum verticillatum, a germinação máxima foi ao redor de 40%, e
40% de sementeso viáveis pelo teste do tetrazólio. Assim, nem todas as
sementes produzidasm viabilidade. Qualea cordata e Qualea grandiflora
apresentam sementes claras e escuras; em cada fruto, cerca de 20%o se-
mentes claras e 80%o sementes escuras. As sementes claras apresentam-
se dispostas na região do fruto junto ao pedúnculo. As sementes escuraso
apresentam embrião. Estas duas espécies apresentam, portanto, uma produ-
ção de 80% de sementes inviáveis. A germinação das sementes viáveis (as cla-
ras) chega próximo de 100%.
Apenas as sementes de Zornia reticulada e Bidens gardnerio sensíveis à luz:
a germinação de Zornia é retardada pela luz e a de Bidens é inibida pelo escu-
ro. Entretanto, com armazenamento, a semente de Bidens deixa de ser sensí-
vel à luz.
A faixa de temperaturas em que ocorre a germinação fica entre 10 e 40°C.
Copaiferao germina acima de 30°C.
A perda de viabilidade (com armazenamento a 4°C, sob escuro) foi mais rápi-
da nas duas espécies de Qualea: já com um ano de armazenamento, há uma
queda no número de sementes que germinam. Em contrapartida, Dalbergia
miscolobium mantém viabilidade por até cinco anos; Bidens, Copaifera e
Stylosanthes apresentam germinação alta após estocagem por pelo menos
dois anos.
Sementes
Das espécies estudadas, algumas sementes precisam de escarificação para
germinar (Zornia), para acelerar a germinação (Qualea cordata e Qualea
grandiflora), outraso necessitam dela. No caso de Bidens, as sementes me-
noreso dormentes: com a retirada da casca, a dormência é perdida.
As sementes de Qualeao acumuladoras de fósforo; assim, a grande massa
de sementes estéreis pode ser um fator de reposição de fósforo para o solo
do cerrado.
Dos nossos estudos, podemos generalizar, portanto, para as espécies estudadas:
as sementes viáveis atingem altas taxas de germinação;
é comum a produção de grande número de sementes inviáveis;
o período de tempo para a perda de viabilidade é variável;
a faixa de temperatura para a germinação varia de 10 a 40°C;
sensibilidade à luz depende da espécie;
casca impermeável à água depende da espécie.
Fizemos também um levantamento do número de sementes no solo e das
sementes viáveis em solos do cerrado de Itirapina. Alguns desses trabalhos
foram financiados pelo CNPq, que também permitiu a vinda do Professor Eric
Roberts ao Paulo.
FELIPPE, G. M., SILVA, J. C. S. Estudos de germinação em espécies do cerra-
do. Rev. Brasil. Bot., v.7, p.1 57-63, 1984.
FELIPPE, G. M. Germinação de Zornia reticulata, uma espécie dos cerrados.
Anais IV Congresso SBSP. p.7-13, 1984.
SILVA, J. C. S., FELIPPE, G. M. Germination of Stylosanthes macrocephala. Rev.
Brasil. Bot., v.9, p.263-8, 1986.
FELIPPE, G. M., FILGUEIRAS, T. S. Germination of Actinodadum verticillatum,
a bamboo from the Brazilian cerrado vegetation: short communication.
Hoehnea, v.13, p.95-100, 1986.
SILVA, J. C. S., FELIPPE, G. M. Germination of Stylosanthes macrocephala. Rev.
Brasil. Bot., v.9, p.263-8, 1986.
ARASAKI, F. R., FELIPPE, G. M. Germinação de Dalbergia violacea, uma espé-
cie dos cerrados. Rev. Brasil. Biol., v.47, p.457-63, 1987.
FELIPPE, G. M. Qualea grandiflora: the seed and its germination. Rev. Brasil.
Bot., v.p.337, 1990.
FELIPPE, G. M. Germinação em espécies dos cerrados: o que já foi feito. Anais
36
a
Congresso de Botânica, SBB. p.59-63, 1990.
FELIPPE, G. M. Germinação em espécies dos cerrados: o que precisa ser feito.
Anais 36
Q
Congresso de Botânica, SBB. p.93-4, 1990.
FELIPPE, G. M. Germinação de Bidens gardneri, uma planta anual dos cerra-
dos. Hoehnea, v. 17, p.7-11, 1990.
SASSAKI, R. M., FELIPPE, G. M. Viabilidade de sementes de Dalbergia
miscolobium. Rev. Brasil. Bot., v.15, p.1-3, 1992.
GODOY, S. M. A. de, FELIPPE, G. M. Qualea cordata: a semente e sua germi-
nação. Rev. Brasil. Bot., v.15, p.17-21, 1992.
POLO, M. Germinação, crescimento inicial e cumarinas em Copaifera
langsdorffii Desv. Tese de Doutorado, Unicamp, 1993.
SASSAKI, R. M. et al. Longevity of seeds from legume tree species artificially
stored in cerrado and forest soils. Hoehnea, v.26, p.29-45, 1999.
SASSAKI, R. M., ZAIDAN, L. B. P, FELIPPE, G. M. Effect of storage of achenes
of Bidens gardneri Baker on light sensitivity during germination. Rev. Brasil.
Bot., v.22, p.75-81, 1999.
SASSAKI, R. M., RONDON, J. N., ZAIDAN, L. B. P, FELIPPE, G. M. Germination
of seeds from herbaceous plants artificially stored in cerrado soil. Rev. Bra-
sil. de Biologia, v.59, p.271-9, 1999.
SASSAKI, R. M., RONDON, J. N. ZAIDAN, L. B. P, FELIPPE, G. M. Number of
buried seeds and seedlings emergence in cerradão, cerrado and gallery forest
soils at Pedregulho, Itirapina (SP), Brazil. Rev. Brasil. Bot., v.22, p.147-52,1999.
RONDON, J. N. et al. Effects of moisture content and temperature during
storage on germination of achenes of Bidens gardneri Baker. Rev. Brasil. Bot.,
v. 23, p.35-41, 2001.
Foram estudadas as espécies arbóreas Dalbergia miscolobium, Kielmeyera
coriacea, Qualea cordata e Qualea grandiflora, e nesses estudos tive a colabo-
ração da Dra. Maria Terezinha S. Paulilo, que foi minha orientanda de douto-
rado, Felício R. Arasaki, Dra. Regina M. Sassaki e Sílvia Maria Godoy Aveiro.
Colaboraram, também, a Dra. Marília de M. Castro, da Unicamp, e o Profes-
sor John E. Dale, da Universidade de Edimburgo.
Este trabalho com plantas de cerrado fez parte de dois projetos, que incluíam,
ainda, o estudo dos esporos de pteridófitas. Os projetos foram apoiados inicial-
mente pelo programa "Abraços", do British Council/CNPq, e, depois, por um
auxílio financeiro do Mercado Comum Europeu. Tais auxílios permitiram via-
gens de pesquisadores e de estudantes de pós-graduação entre o Brasil e a
Crescimento inicial
Europa - Grã-Bretanha, Espanha e Portugal. Pelo projeto "Abraços", viajaram
a Dra. Ana Maria Monteiro, Dra. Neide Maria C. Lucas, Dra. Lilian B. P Zaidan,
Dra. Sonia M. C. Dietrich, Dr. Ivany F. M. Válio, Professor John E. Dale, Dr. Peter
Gibbs, Dr. J. Hillman e Dr. A. Crozier, entre outros. Pelo auxílio do Mercado
Comum Europeu, viajaram o Dr. Luciano M. Esteves, Dr. Felício R. Arasaki, Dra.
Eliana A. Simabukuro, Dra. Regina M. Sassaki, Dra. Sílvia Maria Godoy Aveiro,
Professor John E. Dale, Dr. Stefan Houghton, Dr. Guy Self, Dr. Peter Gibbs, Dr.
Salvador Talavera, Dra. Maria Cândida Novais, Dra. Isabel Serôdio, Dr. João
Daniel Arrabaça e Dra. Maria Celeste Arrabaça. Como conseqüência prática,
na Universidade de Edimburgo, foram realizadas as teses do Ph.D. de Guy Self
e de Stefan Houghton a respeito do crescimento inicial de Kielmeyera coriacea,
ambas orientadas pelo Professor John E. Dale. Várias teses de mestrado e de
doutorado de orientandos meus também foram auxiliadas por esse projeto,
como as de Felício Arasaki, de Maria Terezinha Paulilo, de Sílvia Maria Godoy
Aveiro, de Regina Sassaki e de Eliana Simabukuro.
Pelos nossos estudos, foi determinado o crescimento de folhas de árvores
adultas de Kielmeyera coriacea e Qualea grandiflora crescendo no cerrado de
Itirapina, SP. Em Qualea, as folhas novas aparecem em outubro e a abscisão
ocorre em agosto-setembro; em Kielmeyera, aparecem em agosto com
abscisão total em abril. O filocrono é de sete dias para Qualea e de dois dias
para Kielmeyera. O número máximo de folhas por ramo, por ano, é de oito para
Qualea e de até dezesseis para Kielmeyera. A área máxima de cada folha é de
50 cm
2
para Qualea e de 120 cm
2
para Kielmeyera. A árvore de Qualea é maior
e bem mais frondosa, com mais folhas, do que a de Kielmeyera, mas o apare-
cimento de folhas é mais rápido nessa última espécie. As medidas diárias ou
semanais das folhas dessas duas espécies podem ser vistas nas teses de dou-
torado de Maria Terezinha Paulilo e de Felício Arasaki, na Biblioteca da
Unicamp. Em Qualea, os teores de nitrogênio e de proteína solúvelo bem
maiores no primeiros do crescimento da folha, caindo bastante com sua
idade; o de amido aumenta do primeiro para o segundo mês, permanecendo
constante a seguir. O nível de ácido abscísicoo sofre variação com a idade
da folha.
O aparecimento e a formação de folhas foram estudados com mais detalhe
durante o crescimento inicial de plântulas de Kielmeyera coriacea. As folhas
só começam a se expandir a partir do 30
e
dia do início da embebição. Pelo
estudo morfológico, foi mostrado que o plastocrono entre o primeiro e o se-
gundo primórdio foliar é de 21 dias; com o crescimento, parece haver uma
aceleração na formação dos primórdios. Pode-se dizer que o plastocrono médio
foi de 5,55 dias entre a germinação e o 60° dia de crescimento (nove primórdios
formados em sessenta dias). A formação de primórdios é, portanto, muito mais
lenta em Kielmeyera, quando comparada com espécies como cevada, Hedera
e Picea, maso é lenta quando comparada com Hymenaea courbaril.
Em plântulas crescendo em solo de cerrado no cerrado de Itirapina, foi verifi-
cado que em Kielmeyera coriacea, tanto no que se refere ao comprimento
como à massa de matéria seca, a raiz é maior que a parte aérea; já em Dalbergia
miscolobium, a raiz é menor que a parte aérea quando esses dois parâmetros
o medidos; em Qualea cordata, a raiz é maior em comprimento, mas me-
nor em massa de matéria seca do que a parte aérea; em Qualea grandiflora,
a raiz é maior que a parte aérea relativamente à massa de matéria seca. Para
Dalbergia miscolobium e Qualea cordata, o mesmo acontece se as plântulas
o crescidas em casa de vegetação, mas em Qualea grandiflora, crescendo
em casa de vegetação ou em câmaras de crescimento controlado, no que se
refere à massa de matéria seca, a raiz é maior apenas nas primeiras cinco se-
manas de crescimento. Com esses resultados, podemos dizer queo é váli-
da a generalização de que, em plantas de cerrado, a raiz cresce mais depressa
do que a parte aérea, parecendo depender da espécie estudada.
O conteúdo de carboidratos solúveis e de amido aumenta no eixo com a ida-
de da plântula em Dalbergia miscolobium, Kielmeyera coriacea, Qualea cordata
e Qualea grandiflora. Há translocação dos carboidratos dos cotilédones para
o eixo. Os cotilédoneso exportam proteína solúvel para tal eixo; na verda-
de, durante o crescimento da plântula, há um aumento da relação carboidrato:
proteína. O acúmulo de carboidratos inibe a atividade fotossintética durante
os estádios de crescimento inicial dessas espécies.
A taxa de crescimento relativo (mg.dia
1
) de Kielmeyera coriacea, Qualea
cordata e Qualea grandiflora está dentro da faixa encontrada para outras es-
pécies arbóreas de outros ambientes, mas muito menores que para espécies
herbáceas; o mesmo é válido para a taxa fotossintética (mgC0
2
.dm
2
.h
1
). Isso
o permite dizer que essas espécies de cerradom crescimento maior ou
menor que determinadas lenhosas de outras regiões, mas pode indicar -
mesmo que se considere que as taxaso baixas - que issoo é uma carac-
terística de espécies lenhosas do cerrado.
FELIPPE, G. M., DALE, J. E. The effects of phosphate supply on growth of plants
from the Brazilian cerrado: experiments with seedlings of the annual weed,
Bidens gardneri Baker (Compositae) and the tree, Qualea grandiflora Mart.
(Vochysiaceae). Oecologia, v.82, p.81-6, 1990.
ARASAKI, F. R., FELIPPE, G. M. Crescimento inicial de Kielmeyera coriacea.
Ciência e Cultura, v.42, p.715-20, 1990.
ARASAKI, F. R., FELIPPE, G. M. Crescimento inicial e conteúdo de açúcares
solúveis em Kielmeyera coriacea. Hoehnea, v.18, p.171-7, 1991.
SASSAKI, R. M., FELIPPE, G. M. Remoção de cotilédones e desenvolvimento
inicial de Dalbergia miscolobium. Rev. Brasil. Bot., v.15, p.5-16, 1992.
GODOY, S. M. A. de, FELIPPE, G. M. Crescimento inicial de Qualea cordata,
uma árvore dos cerrados. Rev. Brasil. Bot., v.15, p.23-30, 1992.
ARASAKI, F. R., FELIPPE, G. M. Crescimento foliar em árvores adultas de
Kielmeyera coriacea. Anais 8
e
Congresso SBSP, p.61-9, 1992.
PAULILO, M. T. S., FELIPPE, G. M. Crescimento de folhas de árvores de Qualea
grandiflora. Rev. Brasil Bot. p.85-93, 1992.
AVEIRO, S. M. A. de G., FELIPPE, G. M. Efeito da remoção de cotilédones no
desenvolvimento inicial de Qualea cordata. Hoehnea, v.19, p.19-30, 1992.
SASSAKI, R. M., FELIPPE, G. M. Desenvolvimento inicial de Dalbergia miscolo-
bium em casa de vegetação e em cerrado. Hoehnea, v. 19, p.75-83, 1992.
PAULILO, M. T. S FELIPPE, G. M., DALE, J. E. Crescimento inicial de Qualea
grandiflora. Rev. Brasil. Bot., v.16, p.37-46, 1993.
PAULILO, M. T. S., FELIPE, G. M. Contribuição dos cotilédones e partição de
matéria durante o crescimento inicial de Qualea grandiflora Mart.
(Vochysiaceae). Rev. Brasil. Bot., p.87-92, 1994.
. Resposta de plântulas de Qualea grandiflora, uma espécie arbórea
de cerrado, com. adição de nutrientes minerais. Rev. Brasil. Bot., v.18, p.109-
12, 1995.
SASSAKI, R. M, et al. Effect of water deficiency on photosynthesis of Dalbergia
miscolobium Benth., a cerrado tree species. Rev. Brasil. Fisiol. Veg., v.9, p.83-
7, 1997.
SASSAKI, R. M., FELIPPE, G. M. Soil type and early growth pattern in Dalbergia
miscolobium Benth., a cerrado tree species. Rev. Brasil. Biol., v.57, p.603-
10, 1997.
. Response of Dalbergia miscolobium seedlings, a cerrado tree species,
to mineral nutrient supply. Rev. Brasil. Bot., v.21, p.65-72, 1998.
. Crescimento inicial em Dalbergia miscolobium Benth. em função
da disponibilidade hídrica e do tipo de solo. Insula, v.27, p.1-12, 1998.
AVEIRO, S. M. de G., FELIPPE, G. M. Efeito do solo e de solução nutritiva no
crescimento inicial de Qualea cordata, uma espécie arbórea do cerrado.
Insula, v. 27, p.l3-26, 1998.
PAULIL0, M. T. S., FELIPPE, G. M., DALE, J. E. Root/top partitioning and water
relations in Qualea grandiflora seedlings under water stress. Rev. Biol. Trop.,
v.46, p.41-4, 1998.
PAULILO, M. T. S FELIPPE, G. M. Growth of the shrub-tree flora of the Brazilian
cerrados: a review. Tropical Ecology, v.39, p.165-74, 1998.
SASSAKI, R. M., FELIPPE, G. M. Single-seeded fruits and seedlings establishment
in Dalbergia miscolobium Benth. (Papilionaceae). Biotropica, v.31, p.591-7,
1999.
SASSAKI, R. M., FELIPPE, G. M. Estabelecimento de plântulas de Dalbergia
miscolobium Benth., uma espécie arbórea dos cerrados brasileiros. Tropical
Ecology, v.40, p.33-40, 1999.
Nesta linha de pesquisa, o interesse do grupo está no estudo de interação en-
tre o fotoperíodo e o tipo de solo, cultivando plantas do cerrado em solos de
cerrado e de mata, bem como em solo de cerrado enriquecido com solução
nutritiva. Os estudos sobre o efeito do fotoperiodismo em crescimento e
floração foram realizados na casa de vegetação de fotoperiodismo do Institu-
to de Botânica. Ali, os trabalhos foram realizados ou supervisionados pela Dra.
Lilian B. P. Zaidan, com quem passei a trabalhar desde 1991. Nesta linha, além
da colaboração da Lilian Zaidan, tive a do Dr. Aldo L. Klein e a da Dra. Regina
Sassaki, que foram meus orientandos no mestrado e doutorado.
Em Bidens gardneri, o crescimento depende da interação entre fotoperíodo e
substrato, ou seja, em terra de cerrado ou de floresta: o crescimento é maior
em terra de mata conforme o fotoperíodo se torna mais longo, emborao
ultrapasse a altura apresentada pelas plantas cultivadas em terra de cerrado,
em fotoperíodo de quatorze horas, que, coincidentemente, é também o
fotoperíodo mais eficiente na indução da floração. Dalbergia miscolobium
responde diferentemente ao fotoperíodo, dependendo do tipo de solo. Em
solo de mata, os fotoperíodos longos promovem e o de oito horas inibe, mas,
em solo de cerrado, o fotoperíodo de dezesseis horas promove o crescimento
em relação aos outros fotoperíodos.
Em relação à floração, o grupo só estudou em detalhes Bidens gardneri. Ante-
riormente, Lilian e eu fizemos alguns experimentos com Gomphrena macro-
cephala, uma planta de dias longos, e mesmo com Bidens gardneri. Esta é
uma planta estenofotoperiódica para a floração, isto é, só floresce entre os foto-
períodos de doze e dezesseis horas de luz por dia. Experimentos feitos no cerra-
do de Itirapina e de Moji-Guaçu mostraram que a espécie só floresce entre
dezembro e março (fotoperíodos entre doze e treze horas e meia de luz), inde-
Floração
e fotoperiodismo
pendentemente da época da semeadura. A espécie apresenta heterofilia: folhas
bem ramificadas indicam que a floração do ápice principal vai logo ocorrer.
Como realizaram-se poucos estudos sobre floração de plantas do cerrado, esta
é uma linha muito promissora para pesquisa no Instituto de Botânica, que possui
o melhor laboratório de fotoperiodismo e uma equipe muito bem treinada em
fisiologia e bioquímica de plantas.
Todos esses comentárioso uma idéia da contribuição do meu grupo de tra-
balho para as pesquisas da fisiologia das plantas do cerrado.
KLEIN, A. L, ZAIDAN, L. B. P., FELIPPE, G. M. Flowering and heterophylly in
Bidens gardnerí. Rev. Brás. Bot., v.15, p.139-44, 1992.
ZAIDAN, L. B. P., FELIPPE, G. M. Flowering of cerrado plants: experiments in
semi-controlled environmental conditions. Flowering Newsletter, v.18, p.4-
11, 1994.
KLEIN, A. L, ZAIDAN, L. B. P., FELIPPE, G. M. Interaction between soil and
photoperiod on development of Bidens gardnerí Baker (Asteraceae), a
herbaceous species from the Brazilian cerrado. Rev. Brasil. Bot., v.19, p.1-5,
1996.
SASSAKI, R. M. et al. Efeito do fotoperíodo, tipo de solo e época do ano no
crescimento inicial da espécie arbórea do cerrado, Dalbergia miscolobium.
Rev. Brasil. Bot., v.19, p.193-201, 1996.
Potencial agrícola
do cerrado
Ângelo Paes de Camargo
Instituto Agronômico de Campinas.
A floresta é a cobertura natural de um solo quando todas as condições neces-
sárias ao pleno desenvolvimento da vegetaçãoo oferecidas, como luz solar,
calor, água,s carbônico, macro e micronutrientes, além de um solo franco,
profundo e suficientemente aerado para permitir a respiração das raízes. Quan-
do todos esses insumos estão disponíveis, a formação florestal se estabelece
e o fator limitante ao desenvolvimento vegetal passa a ser a luz solar, necessá-
ria à fotossíntese. Por isso, as árvores e lianas da floresta precisam crescer o
máximo possível para disputar a luz do sol no topo da floresta.'
Já o cerrado é um tipo de vegetação que se desenvolve em áreas onde algu-
mas das condições básicas necessárias ao pleno desenvolvimento vegetal es-
o ausentes. Sua estrutura característica é a existência de um estrato lenhoso,
de um estrato arbustivo e de um estrato herbáceo, dominado por gramíneas.
No cerrado típico, aberto, há abundância de luz solar para todos os estratos.
O fator limitante, nesse caso,o os nutrientes do solo eo a falta de água,
como se costumava admitir. O armazenamento de água nos solos profundos
do cerrado é geralmente suficiente para sustentar as necessidades da transpi-
ração de arbustos e árvores na estação seca. Determinações da equipe de Ferri
(1961) mostraram existir, no Cerrado de Emas, em Pirassununga, SP, uma re-
serva de água no solo correspondente às precipitações de três anos consecu-
tivos, bastante para garantir umidade para a vegetação mais luxuriante.
Quando o estrato lenhoso for suficientemente desenvolvido, dominando plan-
tas de porte arbóreo, a vegetação será chamada cerradão. Se ele for mais re-
duzido, apresentando apenas pequenos arbustos esparsos, aparece o campo
sujo; quando for praticamente ausente, há o campo limpo (Rizzini, 1964). Essas
diferentes fisionomias de cerrado relacionam-se à maior ou menor pobreza
nutricional dos solos. Onde o solo é menos pobre, as plantas podem crescer
mais e atingir o porte arbóreo: tem-se, então, o chamado cerradão. Em
contrapartida, onde o solo mostra-se paupérrimo, podem desaparecer os ele-
mentos lenhosos e ficar apenas o estrato herbáceo, como ocorre no campo
limpo. Como exemplo, há os campos de Itirapina, SP, e do Espigão Mestre, no
oeste da Bahia. O campo limpo pode aparecer também onde o solo é dema-
siado raso ou apresenta uma camada dura, compactada, impedindo a pene-
tração das raízes e da água no solo.
Segundo o geógrafo Denevan (1963), nos solos em que há impedimento à
penetração das raízes e da água por camadas duras e impermeáveis - forma-
das, geralmente, por argilas dispersas arrastadas da superfície ou de cangas
laterítícas pelas águas pluviais -, a qualidade do cerrado degenera para cam-
po limpo. Essa situação ocorrerá também em depressões do terreno e em áreas
mal drenadas, sujeitas a prolongados encharcamentos. Nesse caso, a falta de
oxigênio no solo para a respiração das raízes impede o desenvolvimento de
espécies lenhosas.
O extinto Instituto Brasileiro do Café (IBC), em seu Plano de Recuperação e
Revigoramento dos .Cafezais (PRRC),o aprovava projetos de financiamento
para plantio de cafezais em áreas de campo limpo. Seus agrônomos conside-
ravam que a ausência de arbustos lenhosos, típicos de cerrado, era sinal de
solo raso, impróprio para o cultivo de um arbusto, como o cafeeira. Muitas
vezes, bastaria melhorar a drenagem, mediante a subsolagem, e corrigir a
acidez e as deficiências nutricionais do solo, com calagens e adubações ade-
quadas, para ter sucesso na cafeicultura, desde que instalada em área clima-
ticamente apta.
O clima da região de cerrado é o mesmo da mata, normalmente úmido. Pode
apresentar uma estação seca, com maior ou menor duração e intensidade,
como na maior parte deo Paulo, Minas Gerais e no Brasil Central. Onde
o ocorre normalmente a estação seca, como na região de Campo Mourão,
no norte do Paraná, tanto o andar arbustivo como o herbáceo permanecem
verdes o ano todo.
A vegetação da caatinga, também enfezada, ocorre em regiões de clima seco,
como o Nordeste brasileiro. Nesse caso, é a falta do insumo água a principal
causa de seu aparecimento (Ferri, 1955). A precipitação anual na região da
caatinga é, em geral, muito inferior à evapotranspiração potencial, ou seja, à
chuva teoricamente necessária. Na caatinga, a agricultura é feita com espécies
adaptadas às condições de seca ou com uma adequada irrigação suplementar.
No cerrado, durante a estação seca, o estrato arbustivo, esparso, age como
quebra-vento para as plantas secas do estrato herbáceo, condicionando forte
efeito de estufa. A temperatura no microclima desse estrato sobe, então, enor-
memente, aumentando o perigo de fogo na palha seca. Para reduzir os danos
causados por incêndios, os arbustos do cerrado desenvolveram os mais diversos
meios de defesa, como a casca grossa, corticóide, silicosa etc.
O andar herbáceo do cerradoo tem, geralmente, problemas com a falta de
água na estação seca. Nessa época, entra em repouso. Fica completamente
seco e volta a vegetar na estação das águas.
Um problema grave para as plantas do cerradoo os animais herbívoros. Como
o solo é muito pobre, as plantas vegetam lentamente e repõem com dificulda-
de as partes perdidas. Por seleção natural, muitas desenvolveram material pouco
palatável. Assim, além de os galhos e troncos possuírem a casca grossa, dura,
de baixa combustibilidade, as folhasm paladar desagradável. Apresentam-
se coriáceas, rijas, muitas vezes de consistência metálica, demasiado silicosas
ou ricas em tanino e outras substâncias repelentes. Esses meios de defesa são,
em geral, de natureza física e química, maso mecânica, espinhosa, como
os das espécies da caatinga.
No cerrado, os herbívoros só encontram material comestível nos frutos e nas
brotações novas. Como os primeiros brotos, apicais, são, em geral, prontamente
devorados, a tendência é o desenvolvimento dos brotos laterais que formarão
a futura ramagem, também lateral. Isso poderia explicar a forma truncada de
suas plantas.
Por ocorrer em várias regiões, o cerrado pode receber diferentes nomes. No
Nordeste, é conhecido como tabuleiro (Reis, 1971), aparecendo com freqüên-
cia na faixa do Agreste. Nas encostas marítimas da região de Vitória da Con-
quista e na Chapada Diamantina, Bahia, recebe o nome de mata de larga. Na
África, recebe o nome generalizado de savana, juntamente com a vegetação
do tipo de nossa caatinga. Na Venezuela, em sua grande bacia do Orenoco, e
na Bolívia, na bacia do Beni, as savanaso denominadas Llanos.
Os cerrados brasileiros aparecem mais comumente nos planaltos aluviais anti-
gos, com muitos milhões de anos de idade, período em que a lixiviação pro-
longada teve tempo de lavar quase completamente os nutrientes do solo. Quan-
do esse solo velho, lavado, sofre longa erosão geológica, ficam expostas
camadas mais jovens, menos lixiviadas e menos pobres. Nessas condições, pode
aparecer a floresta. É o que acontece nas encostas e talvegues dos planaltos
antigos, como na Chapada dos Guimarães, ao norte de Cuiabá, MT.
Denevan (1963) descreve mais detalhadamente as condições fisiográficas dos
cerrados do Brasil.
O Planalto Central do Brasil é um platô imenso onde se registram elevações de 500
a 1.000 metros, consistindo de um núcleo de rochas cristalinas pré-cambrianas, da
era Arqueozóica, as quais se encontram parcialmente recobertas por sedimentos
paleozóicos e mesozóicos mais recentes. A maior parte dessa área foi sobrelevada
várias vezes e, posteriormente, dissecada e nivelada pela ação de sucessivos ciclos
de erosão. Os remanescentes das superfícieso dissecadas formam os atuais
altiplanos e superfícies onduladas que se estendem por todo o Brasil central. Po-
dem-se mencionar duas espécies de superfície: a primeira, chapada, que é a mais
elevada, mais antiga, e a segunda, superfície de erosão, que é mais baixa e mais
recente. A chapada é quase plana, com encostas escarpadas, ao passo que a super-
fície mais baixa é ondulada, apresentando elevações remanescentes da superfície
superior e vales fluviais. Ambas as superfícies estão sendo desgastadas pela erosão;
a inferior, pela dissecação dos rios e a superior, chapadas, pela erosão remontante
e pela recessão das escarpas. As chapadas, particularmente,m solos muito pro-
fundos, altamente intemperizados e lixiviados, quase sempre recobertos por vege-
tação tipo campo cerrado. Nas escarpas erosivas e nas áreas abaixo, os soloso
mais jovens, rasos e ricos em minerais, e suportam florestas.
Do ponto de vista agrícola, as terras de cerrado apresentam um fantástico
potencial econômico. Ocorrem geralmente em áreas planas, com ótimas pro-
priedades físicas, em regiões de clima úmido tropical ou subtropical, às vezes
com inverno relativamente seco, mas com excelentes condições climáticas para
a maioria das culturas econômicas, perenes e anuais. Com calagens e aduba-
ções adequadas, a fim de corrigir suas deficiências químicas,m funcionan-
do como as melhores terras de cultura.
Até meados do século XX, as terras de cerrado eram consideradas inúteis. Nos
relatórios dos corretores para a venda de fazendas, as áreas de cerrado entra-
vam geralmente com valor nulo. Mesmo nos círculos técnico-científicos, admi-
tia-se que essas terras eram secas e imprestáveis.
Com a descoberta de que o problema do cerrado é apenas a extrema pobreza
em nutrientes, que pode ser corrigida fácil e economicamente, essas áreas
adquiriram condição de terra de cultura, como qualquer terra de floresta. Hoje,
podem até valer mais, pela excelente topografia para mecanização e pela pro-
ximidade dos centros consumidores.
Muitos pesquisadores contribuíram para a descoberta do potencial agrícola
do cerrado. Os estudos sobre essa vegetação começaram com o eminente
cientista Eugênio Warming, no cerrado de Lagoa Santa, em Minas Gerais, ain-
da no século passado. Suas pesquisas foram publicadas em 1892, em dina-
marquês, sendo a tradução para o português feita por Alberto Löfgren e
publicada em 1908 (Alvin, 1954; Ferri, 1963). Warming defendia a teoria cli-
mática da formação do cerrado: considerava que a estação seca prolongada
era sua causa principal.
Löfgren (1912)o atribuía a ocorrência do cerrado à relativa escassez de água
no solo,o considerando sua origem como um efeito climático, uma vez que
o cerrado se acha, em geral, dentro das mesmas isoietas que as matas.
Bem mais tarde, com a fundação da Universidade deo Paulo, em 1938, o
professor Felix Rawitscher, então diretor do Departamento de Botânica, deu
novamente inicio ao estudo do cerrado (Rawitscher et al., 1943). Na ocasião,
Rawitscher despertou o interesse de seus colaboradores, sobretudo de Mário
Guimarães Ferri e de Mercedes Rachid, para as pesquisas botânicas sobre es-
sas regiões. A equipe trabalhou especialmente no cerrado da Estação Experi-
mental de Biologia do Ministério da Agricultura, em Emas, próximo a Pirassu-
nunga, SP. Com base em pesquisas fisiológicas, consideraram que o cerrado
o era causado por falta de água no solo. Verificaram que o sistema radicular
das árvores e arbustos se aprofundava a dezenas de metros no chão, onde
encontrava abundância de umidade. Por outro lado, a folhagem das plantas
o apresentava qualquer dispositivo funcionando para economia de água,
mesmo durante a estação mais seca. Os estornas das folhas nunca se fecha-
vam para restringir a transpiração. Embora a vegetação apresentasse aspecto
xerofítico, as plantaso eram xerófilas.
Waibel (1948), em trabalho sobre a vegetação e uso da terra no Planalto Cen-
tral brasileiro, admitia que a baixa fertilidade natural do solo era a principal
causa da origem dos cerrados. Considerava, também, que as folhas grandes
dos arbustos do cerrado provam que a vegetação é um clímax natural eo
uma floresta degradada pela interferência humana.
Pavageaou (1952), estudando solos do Planalto Central brasileiro, verificou que,
numa mesma condição climática, podiam ser encontrados solos férteis, de
mata, e paupérrimos, de cerrado.
Alvin & Araújo (1952), trabalhando na região Centro-Oeste do Brasil, verifica-
ram que a distribuição do cerrado é regulada pelo solo e que a calagem é
necessária para melhorar pastagens e culturas.
Alvin (1954) considera o cerrado uma vegetação resultante de severa pobreza
na constituição química do solo eo de queimadas, como geralmente se
acreditava.
Budowski (1965) usa o termo savana para o cerrado brasileiro. Considera que,
com o fogo repetido, há uma degradação progressiva da mata, originando os
solos de cerrado, notadamente pela presença de cangas lateríticas. Acha que,
sob condições favoráveis e na ausência de queimadas e outras atividades do
homem, a floresta pode recuperar seu lugar. Desmantelando as capas ferru-
ginosas de laterita e demais condições desfavoráveis, a mata pode restabe-
lecer-se.
Há estudos que mostram que o fogo freqüente no cerrado pode ir queiman-
do os galhos dos arbustos até praticamente eliminar o andar lenhoso, ficando
apenas o herbáceo, ou seja, o campo limpo. Pode-se inferir que o fogoo é
a causa da formação do cerrado, mas pode causar sua transformação em
campo limpo. O homemo pode ser considerado o causador do cerrado mas,
como o fogo, pode transformá-lo em campo limpo ao retirar os elementos
lenhosos para usá-los como combustível ou para outras finalidades, deixando
o campo limpo para pastagem.
McCIung et al. (1958), estudando a fertilidade do solo em cerrados deo
Paulo e Goiás, verificaram efeitos muito promissores da adubação na agricul-
tura e que as deficiências de fósforo e enxofre eram muito acentuadas naque-
les solos. Nos cerrados de Goiás, eram extremas as deficiências em enxofre,
cobre, ferro e molibdênio.
A Comissão de Solos (1958 e 1960), do Ministério da Agricultura, em traba-
lhos de fôlego sobre o levantamento e reconhecimento dos solos dos Estados
do Rio de Janeiro eo Paulo, analisou detidamente aqueles dos cerrados
paulistas e dos tabuleiros flumineneses. Verificou que os solos dessas forma-
ções naturais enfezadaso caracterizados pela grande acidez e extrema po-
breza das terras.
Boock & Freire (1961), estudando a adubação da batata em cerrados das es-
tações experimentais do Instituto Agronômico de Campinas, SP, verificaram
ótimos resultados com a aplicação de NPKS, desde que houvesse uma calagem
dolomítica prévia.
Camargo et al. (1962) relatam resultados de experimentos, conduzidos du-
rante cinco anos, sobre a adubação de batata-doce e cará em cerrado da Es-
tação Experimental do Instituto Agronômico em Santa Rita, SP, que mostra-
ram bons resultados com a aplicação de NPKS, feita após várias doses de
calcário dolomítico. A aplicação de calcário, na base de 3 t.ha
1
.ano
1
, mos-
trou-se excessiva.
Camargo (1963), examinando a distribuição das principais formações vege-
tais naturais do território brasileiro, em comparação com as condições climáti-
cas relacionadas ao fator hídrico, observou que a mata e o cerrado aparecem
nas mesmas faixas climáticas úmidas e subúmidas. Já a caatinga, a vegetação
fraca do Nordeste, aparece sempre nas faixas correspondentes ao clima seco
ou árido. Considerou que a caatinga é um clímax climático e o cerrado é um
clímax edáfico.
Arens (1963) considera a pobreza em nutrientes uma característica comum
aos solos de cerrado. Admite que as queimadas podem alterar muito sua
fisionomia, maso se pode afirmar que seja sua causa.
Miyasaka et al. (1964) estudaram o efeito de doses crescentes de nitrogênio,
fósforo e potássio - com e sem calcário dolomítico - em culturas de soja e
feijão, na área de cerrado. O nitrogênio trouxe efeito significativo. O fósforo
apresentou efeito linear, com maior intensidade onde ocorreu calagem. Trata-
mentos com 120 t.ha¹ de P
2
0
5
, com calagem prévia, deram produções com-
paráveis às dos solos férteis de mata.
Mikkelsen et al. (1964) verificaram que, com calagem e adubação mineral, foi
possível tornar os solos dos cerrados de Pirassununga, Matão e Orlândia, no
Estado deo Paulo,o produtivos para as culturas do algodão, milho e soja
quanto as mais férteis terras de mata.
O experimento já clássico de adubação de cafezal em solo cerrado, realizado
a partir de 1958 em Batatais, SP, por Franco et al. (1975), consagrou o poten-
cial dessas terraso só para a cafeicultura como para toda a agricultura bra-
sileira. O ensaio mostrou que o tratamento A com adubação mineral comple-
ta (NPKS), mais os micronutrientes zinco e boro, com calagem dolomítica prévia,
resultou no pleno desenvolvimento dos cafeeiros e em produções excelentes,
mais elevadas que no tratamento com esterco de curral e NPK. Os dados apre-
sentados na Tabela 1 resumem as produções obtidas em 1965, após uma co-
lheita nula no ano anterior, em conseqüência da severíssima seca de 1963.
Pode-se observar que a maior produção foi obtida no tratamento A, com adu-
bação mineral completa e calagem, embora sem esterco. Este, quando aplica-
do sozinho, aumentou muito pouco a produção. Sem a calagem, as produ-
ções foram muito baixas, ao ser no tratamento C, com esterco mais NPK.
As mudas de café do tratamento H (Testemunha), sem qualquer fertilizante,
nem chegaram a crescer. A calagem dolomítica prévia mostrou-se essencial.
Os resultados desse experimento foram fundamentais para que o IBC lançasse
seu audacioso e vitorioso "Plano de Recuperação e Revigoramento da Cafeicul-
tura" (PRRC), que introduziu a cafeicultura nos cerrados do sul de Minas Gerais e
a implantou nos extensos cerrados do Triângulo Mineiro. Hoje, Minas Gerais
transformou-se no maior Estado produtor de café, e o Triângulo, na região de
cafeicultura mais desenvolvida e produtora do café de bebida mais fina do país.
Admite-se que a área de cerrado no Brasil está em torno de 1.800.000 km
2
,
cerca de 23% do território nacional. Localiza-se sobretudo em Goiás, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí, Maranhão etc. O Estado de
o Paulo também apresenta grande área de cerrado. Segundo dados da Seção
de Fotointerpretação do Instituto Agronômico de Campinas (Borgonovi &
Chiarini, 1962), o cerrado, o cerradão e o campo limpo cobrem cerca de 3.800
km
2
ou 15,4% do território do Estado.
Mesmo que se preserve intocada a metade dos 1.800.000 km
2
do cerrado
brasileiro, poderiam ser aproveitados para a agricultura cerca de 900.000 km
2
,
ou seja, 3,6 vezes o total do território paulista. Isso representa uma riqueza
incomensurável, uma verdadeira dádiva, que poderá ser aproveitada de for-
ma sustentável e racional para a felicidade do Brasil.
ALVIN, P. T. Teoria sobre a formação dos cerrados. Rev. Bras. Geogr., v. 16, p.496-
8, 1954.
ALVIN, P. T., ARAÚJO, W. El suelo como factor ecológico en el desarrollo de Ia
vegetación de el centro-oeste del Brasil. Turrialba, v.2, p.153-60, 1952.
ARENS, K. As plantas lenhosas dos campos cerrados como flora adaptada às
deficiências minerais do solo. In: FERRI, M. G. (Coord.) Simpósio sobre o
cerrado.o Paulo: Edusp, 1963. p.287-303.
BOOCK, O. )., FREIRE, E. S. Adubação da batatinha: Experiências em solos de
baixa fertilidade. Bragantia, v.20, p.759-76, 1961.
BORGONOVI, M., CHIARINI, J. V. Cobertura vegetal do Estado deo Paulo.
I - Levantamento por fotointerpretação das áreas cobertas com cerrado,
cerradão e campo, em 1952. Bragantia, v.24, 1965.
Referências
bibliográficas
BUDOWSKI, G. Tropical savannas: consequence of forest falling and repeated
burning. Turrialba, v.6, p.23-33, 1965.
CAMARGO, A. P. Clima do cerrado. In: FERRI, M. G. (Coord.) Simpósio sobre
o cerrado.o Paulo: Edusp, 1963. p.93-115.
CAMARGO, A. P, FREIRE, E. S VENTURA, W. R. Efeito da calagem e de diver-
sas adubações na batata-doce e no cará, em solos de baixa fertilidade (cer-
rado) derivados do arenito de Botucatu. Bragantia, v.21, p.143-62, 1962.
COMISSÃO DE SOLOS. Levantamento de reconhecimento dos solos do Esta-
do do Rio de Janeiro e Distrito Federal. Contribuição à carta de solos do
Brasil. Sistema Nacional de Pesquisa Agronômica, Boletim n.11, 350 p. + 1
carta, 1958.
. Levantamento de reconhecimento dos solos do Estado de São Paulo.
Contribuição à carta de solos do Brasil. Sistema Nacional de Pesquisa Agro-
nômica, Boletim n.12, 634 p. + 1 carta, 1960.
DENEVAN, W. M. Geografia Física do Planalto Central. In: Reconhecimento
do potencial agrícola do Planalto Central do Brasil. American International
Association for Economic and Social Development. Aliança para o Progres-
so. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, p.37-78 (1-38), 1963.
FERRI, M. G. Contribuição ao conhecimento da ecologia do cerrado e da caa-
tinga: Estudo do balanço d'água e de sua vegetação. Boletim USP - Botâni-
ca n.12, p. 1-170. 1955.
. Caracterização das principais formações vegetais brasileiras e con-
siderações sobre alguns problemas importantes de sua ecologia. Palestras
realizadas durante o V Curso Internacional de Pastagens. Apêndice. In: INS-
TITUTO INTERAMERICANO DE CIÊNCIAS AGRÍCOLAS. Fundamentos de Ma-
nejo de Pastagens.o Paulo: Instituto Interamericano de Ciências Agríco-
las. Departamento de Prod. Animal. 1961. p.177-99.
. Histórico dos trabalhos botânicos sobre o cerrado. In: FERRI, M. G.
(Coord.) Simpósio sobre o cerrado.o Paulo: Edusp, 1963. p.15-50.
FRANCO, C. M. et al. Cultivo de café em latossolo vermelho-amarelo (cerrado)
da região de Batatais (SP). Bragantia, v.34, p.229-39, 1975.
LÖEFGREN, A. Ensaio preliminar para uma phytogeographia brasileira. Campi-
nas. Rev. Centro Sci. Letras Artes, v.11, p.27-47, 1912. (Extraído de Cerra-
do: bibliografia analitica. Brasília: Embrapa, 1976).
McCLUNG, A. C. et al. Alguns estudos preliminares sobre possíveis problemas
de fertilidade em solos de diferentes campos cerrados deo Paulo e Goiás.
Bragantia, v.17, p.29-44, 1958.
MIKKELSEN, D. S., FREITAS, L. M. M., McCLUNG, A. C. Efeitos da calagem e
adubação na produção de algodão, milho e soja em três solos de campo
cerrado.o Paulo: Instituto de Pesquisas. IRI. Boletim n.29, 48p., 1964.
MIYASAKA, S., FREIRE, E. S., MASCARENHAS, H. Adubação da soja. III - Efei-
to do NPK, do enxofre e de micronutrientes em solo de arenito de Botucatu,
com vegetação de cerrado. Bragantia, v.23, p.65-71, 1964.
PAVAGEAOU, M. Estudo comparativo de alguns solos típicos do planalto cen-
tral brasileiro. Rev. Bras. Geo., v.14, p.127-80, 1952.
RAWISTCHER, F., FERRI, M. G., RACHID, M. Profundidade dos solos e vegeta-
ção em campos cerrados do Brasil meridional. An. Acad. Bras. Ciên., v.15,
p.267-94, 1943.
REIS, A. C. S. Climatologia dos cerrados. In: FERRI, M. G. (Coord.) /// Simpósio
sobre o cerrado.o Paulo: Edusp, 1971. p.15-25.
RIZZINI, C. T. Contribuição ao conhecimento dos cerrados de Minas Gerais. In:
Recuperação do cerrado. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura. Serviço
de Informação Agrícola. Estudos Brasileiros n.21, p.45-60, 1964.
WAIBEL, L. A vegetação e o uso da terra no Planalto Central. Rev. Bras. Geogr.,
v.10, p.335-90, 1948.
Fixação de nitrogênio
em leguminosas ocorrentes
no cerrado
Lázara Cordeiro
Instituto de Biociências, UNESP
- Rio Claro
Introdução
A vegetação de cerrado no Brasil cobre, aproximadamente, 2.000.000 de km
2
,
apresentando um índice pluviométrico compreendido entre 1.000 e 2.000 mm/
ano (Fernandes & Bezerra, 1990). No entanto, a distribuição das chuvas é
sazonal, existindo uma estação chuvosa (de 6 a 8 meses, compreendendo o
período de outubro a abril) e uma estação seca (de 4 a 6 meses). A tempera-
tura média anual oscila entre 22 e 25°C, com a máxima ao redor de 40°C, no
verão, e a mínima de 10°C, no inverno (Fernandes & Bezerra, 1990). De ma-
neira geral, temos áreas de cerrado mais úmidas, localizadas no limite sul do
país, e áreas mais secas, com localização ao norte.
Há vários trabalhos enfocando clima e balanço hídrico em áreas de cerrado.
Na obra de Monteiro & Aulino (1981), encontramos detalhes desse tipo de
enfoque referentes a uma reserva de cerrado localizada no município de
Corumbataí (22°15'S e 47°WG), abrangendo o período de 1961 a 1979.
O cerrado apresenta características próprias, como solos muito profundos, bem
drenados, bem estruturados, com alta taxa de lixiviação e baixa fertilidade
(Kirkbride Júnior, 1984).
O trabalho sobre o cerrado brasileiro de Lopes & Cox (1977), cujos resultados
foram adaptados por Kirkbride Júnior (1984), mostra alta correlação entre o
tipo de vegetação e a fertilidade do solo: cerrado com vegetação alta predo-
mina em solos com maior fertilidade, quando comparados com solos de cer-
rado com vegetação de porte arbustivo.
Os diferentes tipos de vegetação - quanto à estratificação, número de plantas
por área, além de outros fatores - possibilitam classificar o cerrado brasileiro de
diferentes formas, amplamente discutidas nos trabalhos de Goodland (1971),
Coutinho (1978) e Eiten (1979), dentre outros. Independentemente dessas
formas, utilizaremos aqui a denominação cerrado no seu sentido amplo.
Dentre as várias famílias que compõem a flora do cerrado, destacamos a
Leguminosae, por sua representatividade dentro da área e sua importância
dentro da fixação simbiótica de nitrogênio. Essa família é composta por cerca
de 20 mil espécies, subdivididas em três grandes subfamílias, e 650 gêneros
(Leitão, 1997). Dentre as subfamílias, Papilionoideae e Mimosoideae apresen-
tam maior incidência de espécies com capacidade para associação simbiótica
facultativa com bactérias do gênero Rhizobium, Bradyrhizobium, Sinorhizobium
e Azorhizobium, aqui denominadas, genericamente, rizóbio. Tais gêneros
constituem nova classificação para o rizóbio (ainda em alteração), que utiliza
a taxonomia numérica (Elkan, 1992) baseada em características morfológicas,
fisiológicas, bioquímicas e genéticas (Hungria et al., 1997).
Independentemente do tipo de vegetação em que se inclui o cerrado, há al-
guns fatores que afetam a nodulação e/ou a fixação propriamente dita eo
comuns a todos os tipos. A forma e a intensidade com que esses fatores se
manifestam é que podem determinar sua maior ou menor importância no
processo da nodulação.
Fatores edáficos, como pH, deficiência de Ca, toxidez de Al e Mn, e fatores
climáticos, como altas temperaturas, afetam sensivelmente a associação nos
estágios iniciais da infecção, isto é, no encurvamento dos pêlos radiculares -
quando o processo de infecção é por esta via - e no afrouxamento da parede
celular (Franco, 1982). A deficiência hídrica afetao só a infecção - uma vez
que altera a população rizobiana no solo -, mas também a própria sobrevi-
vência dos nódulos.
O tamanho da população rizobiana no solo, em especial na rizosfera de
leguminosas, pode ser um dos fatores que determinam o sucesso da infec-
ção. A multiplicação das células rizobianas é afetada pela competição com
outros microrganismos, incluindo o rizóbioo específico e/ou ineficiente
(Sanches, 1992). Essa ação, segundo Franco (1982), se faz por meio da com-
petição por nutrientes e pelos efeitos de produtos do metabolismo dos mi-
crorganismos, como antibióticos. O conjunto dessas atividades se reflete na
competição e na sobrevivência do rizóbio, trazendo conseqüências sobre as
etapas de infecção e o desenvolvimento dos nódulos e, mais especificamente,
sobre a colonização do solo, concentração do rizóbio na rizosfera, nos pontos
de infecção na raiz, e na infecção propriamente dita. Essas etapas, que culmi-
nam com a formação e o funcionamento do nódulo,o claramente detalha-
das por Sprent (1979).
Nodulação em
espécies do cerrado
Entre os microrganismos presentes nos solos de cerrado, os actinomicetos
merecem destaque especial por serem, alguns deles, produtores de antibióti-
cos que podem ter influência reguladora na população rizobiana. Estirpes de
rizóbio indígenas, isoladas de Stylosanthes, em áreas de cerrado, apresenta-
ram alta resistência a estreptomicina e tetraciclina (Sá et al. apud Franco, 1982).
As Tabelas 1 e 2 mostram os resultados obtidos por Soave & Cordeiro (1992)
em relação ao antagonismo entre os actinomicetos, presentes em solo de cer-
rado e de mata, e os isolados de rizóbio de leguminosas arbóreas. Os dados
da Tabela 1 explicam a origem dos isolados de rizóbio utilizadas no experi-
mento, cujos resultados encontram-se expressos na Tabela 2. Observa-se, de ma-
neira geral, ainda que seja um número pequeno de isolados e espécies estuda-
das, que os actinomicetos presentes em solos de cerrado inibiram mais os
isolados de espécies de leguminosas de mata do que aqueles isolados de es-
pécies de leguminosa do próprio cerrado, o que é um indicativo de adaptação
dos rizóbios a esse componente da microbiota do cerrado.
Os dados sobre as leguminosas do Brasil, abordando aspectos ecofisiológicos
da associação, disponíveis na literatura,o baseados especialmente em
leguminosas herbáceas ou arbustivas de interesse agronômico ou, nos casos
de espécies arbóreas, em experimentos desenvolvidos em casas de vegetação,
sementeiras ou observações em mudas (Faria et al., 1984a; Polezi & Cordeiro,
1986; Cordeiro & Beltrati, 1989). Exceçõeso encontradas em Faria et al.
(1984b) e Cordeiro (1986). No primeiro caso dessas exceções, trata-se de um
trabalho envolvendo observações de campo e mudas em viveiros, emborao
seja específico sobre leguminosas de cerrado; no segundo, os dados foram
coletados em uma reserva deste tipo de vegetação.
* Número do isolado em Banco de Rizóbio do Instituto de Biociências, UNESP - Rio Claro (IBRC).
Tabela 2 - Desenvolvimento de unidades formadoras de colônia (UFC) de rizóbio em solos de
cerrado e de mata, testado em meio ágar-amido. Zona de inibição em placas, quatro dias após
inoculação, dada em milímetros. Média de quatro repetições com o respectivo desvio-padrão
(cortesia de Soave & Cordeiro, 1992)
A Tabela 3 contém informações sobre leguminosas de cerrado, com comentá-
rios sobre aspectos da nodulação, tais como forma de infecção (via pêlo
radicular, emergência das raízes laterais ou por ferimentos), presença de cor-
rente de infecção permanente e outros. Embora a tabela seja de um trabalho
publicado há alguns anos (Sprent & Cordeiro, 1992), há poucas informações
recentes quanto aos aspectos abordados que sejam de meu conhecimento e
que possam ser acrescentadas. Observa-se claramente que pouco se sabe, até
o momento, das formas de infecção para essas espécies, qualquer que seja
seu porte.
As razões para a falta de informações precisas sobre a nodulação em
leguminosas arbóreas tropicais, independentemente da formação vegetacional
ondeo encontradas, incluem desde as dificuldades de localização de nódu-
los em espécimes adultos até a aparente falta de nódulos em florestas em
equilíbrio, onde o nitrogênioo é, segundo Bonner & Brakel apud Faria et al.
(1984a), um fator limitante. No entanto, a maioria das leguminosas tropicais
o requer rizóbio específico para sua nodulação e esta bactéria é geralmente
encontrada nesses solos. A nodulação espontânea, em condições ambientais
naturais, cria a impressão de queo é necessária a nodulação com estirpes
específicas. As leguminosas tropicais pertenceriam, segundo Halliday (1984),
a um "grupo promíscuo" que nodula com uma ampla gama de rizóbios tropi-
cais.
* Gêneros listados por Kirkbride (1984), suplementado por Faria et al. (1989). Recentes modificações em espécies brasileiras,
especialmente em Mimosoideae, ver Lewis (1987).
** C = Caesalpinoideae, M= Mimosoideae, P - Papilionoideae. Taxonomia de gêneros utilizada por Faria et al. (1989).
*** O número total de espécies deve ser considerado como aproximado.
**** Vários registros negativosm sido feitos; as espécies consideradas nodulantes, na Argentina,o foram encontradas
no Brasil com nódulos (Faria et al. 1989).
Na verdade, este "grupo promíscuo" de leguminosas pode ser dividido em vários
subgrupos. As leguminosas pertencentes ao grupo promíscuo seriam noduladas
por estirpes pertencentes ao grupo cowpea, as quaiso caracterizadas, se-
gundo Valarini & Bufaral (1984), por apresentarem crescimento lento e pro-
duzirem álcali em cultura. No entanto, muitas estirpes isoladas de leguminosas
arbóreas, que nodulam várias espécies pertencentes a tribos diferentes, apre-
sentam variações no padrão de crescimento, diferindo da caracterização aci-
ma mencionada para o grupo cowpea. Entretanto, devemos lembrar que esse
agrupamentoo tem caráter taxonômico.
O potencial de nodulação de leguminosas, com estirpes específicas ou não,
caracteriza o grau de especificidade entre a bactéria e o hospedeiro. Segundo
Dobereiner (1971), há determinados isolados de rizóbio que produzem nódulos
em grande número de leguminosas tropicais. No entanto, algumas delas só
nodulam com rizóbio isolado da própria espécie hospedeira, ao passo que a
bactéria isolada de seu nódulo pode ser capaz de nodular a maioria das espé-
cies do grupo cowpea {Centrosema pubescens é um dos exemplos típicos).
Nos trabalhos de Cordeiro & Sprent (1996), Cordeiro et al. (1996), com as
espécies Dalbergia nigra e Lonchocarpus muelhbergianus, temos exemplos
dessa situação. No primeiro caso, só houve a produção de nódulos de conteú-
do interno avermelhado quando o rizóbio foi isolado da própria espécie, ao
passo que, para o segundo caso, houve nodulação com produção de nódulos
eficientes quando o rizóbio havia sido isolado de membros da mesma tribo da
espécie de leguminosa testada.
Os resultados indicaram, ainda, que a maior especificidade - muito embora o
número de espécies estudadas de ambas as triboso permita uma conclu-
o definitiva - ocorreu com a tribo Dalbergieae. Aspecto interessante a ressal-
tar é que as espécies de Dalbergieae, das quais os rizóbios foram isolados, pro-
duziram nódulos determinados, e as espécies citadas da tribo Millettieae
produziram nódulos indeterminados. Cabe salientar que os dados menciona-
dosoo relativos a espécies de cerrado, porém alguns dos isolados estu-
dados foram obtidos de leguminosas desse tipo de vegetação. Esses resulta-
dos, bem como os obtidos por outros pesquisadores, indicam que espécies
arbóreas podem nodular com Bradyrhizobium e, eventualmente, com
Rhizobium, e que o conceito de "grupo cowpea"o é adequado.
Os problemas ligados à nodulação com produção de nódulos eficientes estão,
como já mencionado, relacionados a vários fatores. Um deles é a população
indígena de rizóbio, especialmente quando há introdução de leguminosas em
uma determinada área. A falta de resposta à inoculação pode ser devida à
baixa penetração de estirpes extremamente efetivas na população indígena,
a qual difere de região para região (Gibson, 1980). Este problema conduz a
como determinar, para as espécies de cerrado ou de outra região, se os hos-
pedeiros estão adequadamente nodulados para o máximo rendimento.
Se analisarmos os dados disponíveis na literatura sobre número e tamanho
dos nódulos de leguminosas de cerrado, observaremos que padrões de "bem
nodulado", "nodulação razoável",o podem, a meu ver, ser aplicados nesta
análise, por vários motivos. Dentre eles destacamos novamente: a) a maior
parte das informações para esses critérios é relativa a espécies anuais, o que
possibilita a observação de todo o ciclo de vida da planta; b) as informações
sobre as espécies arbóreas, incluindo as de cerrado, são, na sua maioria, regis-
tros de presença de nódulos (Allen & Allen, 1981; Halliday, 1984; Faria et al,
1984a; Silva et al., 1984; Cordeiro, 1986; Polezi & Cordeiro, 1986), com abor-
dagens sobre a atividade de nitrogenase ou transporte de compostos
nitrogenados (Faria et al., 1984b; Goi et al, 1984). Saliente-se, ainda, que al-
gumas espécies estudadaso comuns a vários tipos de vegetação.
Um aspecto importante a ser considerado quando se analisa a questão da
nodulação é o teor de nitrogênio disponível para a planta no solo. As legumi-
nosas "preferem", segundo Dobereiner (1984), assimilar o nitrogênio mineral
existente no solo em detrimento da incorporação do nitrogênio via fixação.
Desse modo, em ecossistemas em equilíbrio, onde há uma constante reciclagem
dos nutrientes - incluindo o nitrogênio -, muitas leguminosas consideradas
como fixadoras podemo apresentar nodulação. Como exemplo, temos
Dimorphandra mollis, espécie nodulante típica de cerrado (Halliday, 1984; Faria
et al. 1984a,b). No entanto,o foram encontrados exemplares jovens - altu-
ra máxima de 30 cm e provenientes de sementes, sendo excluídos os oriundos
de brotamento - com nódulos na reserva de cerrado de Corumbataí, SP
(22°15'S e 47°wG), no período de agosto de 1982 a dezembro de 1983 (Cor-
deiro, 1986).
Em coletas realizadas em anos posteriores, no mesmo período, foram obser-
vados exemplares nodulados. Dessa forma, a presença de nódulos na espécie
poderia ser sazonal (Tabela 4), estando associada a períodos de seca severa e
à estrutura do nódulo (presença de suber espesso ou não, células esclerenqui-
ficadas no córtex e outras características que poderiam funcionar como um
sistema que protege o tecido bacteriano das adversidades ambientais).
Segundo Dobereiner (1984) e Dobereiner & Campeio (1977), a deficiência de
nitrogênio no solo dificilmente afetaria o ecossistema, uma vez que as legumi-
nosas formariam nódulos ou então se multiplicariam, em detrimento de ou-
tras espécies incapazes de fixar esse elemento. Corroborando as informações
desses autores, Sylvester-Bradley et al. (1980) informam que leguminosas
arbóreas em solos arenosos de áreas periféricas ou de regeneração de flores-
tas apresentam nodulação mais freqüente e abundante que os espécimes lo-
calizados no interior da formação vegetal. Apresentam, dessa forma, segun-
do Silva & Dobereiner (1982), uma situação de equilíbrio no processo de
ciclagem do nitrogênio.
Algumas de nossas observações de campo, em área de cerrado (Tabela 4),
mostram que todos os exemplares coletados que apresentavam nódulos fo-
ram localizados na periferia da reserva de cerrado de Corumbataí, especial-
mente na área ocupada pelo cerrado propriamente dito, onde o número de
espécies invasoraso típicas de cerrado tem aumentado nos últimos anos.
Essa área apresenta maior freqüência de nodulação em Chamaecrista flexuosa,
Dimorphandra mollis, Stryphynodendron pollyphyllum, Anadenanthera falcata,
Mimosa obtusifolia, Mimosa tremula e Stylosanthes guianensis, se compara-
da com exemplares encontrados mais no interior da reserva.
A observação sobre número e tamanho dos nódulos também deve ser consi-
derada com reservas, uma vez que podem estar associados a características
da espécie, relacionadas ouo a fatores ambientais. O número de nódulos
está na dependência do número de loci meristemáticos dentro da raiz que
possui potencial para nodulação (Nutman, 1971). Exemplos típicoso
Stylosanthes guianensis - que possui numerosos nódulos, podendo ser en-
contrados mais de 250 nódulos/indivíduo (dadoso mostrados) e pequenos,
da ordem de ±1 mm de diâmetro - e Anadenanthera falcata (Tabela 4), que
apresenta nodulação abundante na fase jovem (Cordeiro & Beltrati, 1989), bem
como na fase adulta. Infelizmente, muito embora as estirpes presentes no banco
de Rhizobium do Instituto de Biociências - UNESP, Rio Claro, tenham sido iso-
ladas de exemplares adultos,o houve, até o presente, possibilidades de
quantificar, com segurança, a nodulação nesta espécie, após oito meses de
idade.
O teor de água no solo pode afetar o crescimento e a sobrevivência da bacté-
ria, bem como do hospedeiro, podendo alterar a nodulação e a fixação do
nitrogênio nas diferentes etapas do processo. Para a bactéria, o grau de tole-
rância ao estresse hídrico varia com a estirpe. Segundo Roughley (1980),o
há correlação entre a habilidade para crescer em solos secos e a resistência à
dessecação, embora a sobrevivência das estirpes de crescimento lento seja
melhor que as demais. A infecção dos pêlos radiculares, uma das etapas ini-
ciais no processo de formação de nódulos para leguminosas que apresentam
esta forma de infecção, podeo ocorrer em solos secos, mesmo se o núme-
ro de bactérias presente na rizosferao for afetado.
A ação do estresse no nódulo dependeo só de sua severidade e duração,
mas também de sua morfologia. O nódulo pode ter basicamente dois tipos de
crescimento: determinado, formando estruturas arredondadas, portando ou
o lenticelas, e indeterminado, formando nódulos alongados, contendo um
ou mais meristemas apicais que darão origem às ramificações. Esses últimos
podem reduzir seu crescimento no período seco e produzir posteriormente,
por ação das células meristemáticas, novas células capazes de se infectar, dando
origem a áreas ativas dentro do nódulo. Esses dois tipos de crescimento origi-
nam diversas formas de nódulos, que podem ser utilizadas na caracterização
de tribos. Maiores detalhes sobre formas de nódulos podem ser encontrados
em Corby (1971, 1981).
As leguminosas de cerrado que produzem nódulos esféricos com crescimento
determinado, portanto, sem meristema apical - como Dalbergia miscolobium,
Zornia diphylla, Stylosanthes guianensis, S. viscosa, Dalbergia dolichopetala,
Stryphynodendron pollyphyllum -, apresentam nódulos completamente se-
cos (mantendo somente a "casca"), com desintegração do tecido infectado
durante o período de seca, formando nova população de nódulos em perío-
dos favoráveis. Em contrapartida, espécies portadoras de nódulos com cresci-
mento indeterminado, como Anadenanthera falcata (Cordeiro & Beltrati, 1989),
aparentemente reduzem a taxa de crescimento - podendo entrar em
senescência quando em situações excessivamente desfavoráveis -, retornando
à atividade na parte apical por meio de seu(s) meristema(s). Dentre essas situa-
ções desfavoráveis, pode estar enquadrado o estresse hídrico. Em situação
oposta, o nódulo pode responder com a formação de maior número de
lenticelas, alterando também o tamanho dessas estruturas, ou com alterações
também nos espaços intercelulares no córtex (Pankhurst & Sprent, 1975),
formando uma comunicação aérea mais livre entre o exterior e o tecido
bacteriano propriamente dito.
O efeito da acidez do solo sobre o rizóbio é variável, e o crescimento da planta
e a fixação do nitrogênio podem ocorrer em níveis de pH mais baixos que os
tolerados para a persistência da bactéria e a ocorrência da nodulação. A aci-
dez pode afetar desde a sobrevivência do rizóbio no solo até a nodulação e
funcionamento do nódulo (Graham, 1992). No entanto, embora a bactéria
seja mais susceptível ao pH, sua sensibilidade acompanha a da própria planta
à qual é adaptada (Freire & Vidor, 1971). Em extremos de acidez, os autores
consideram que a bactéria pode perder a virulência e a eficiência.
A maioria dos rizóbios pertencentes ao grupo cowpea é mais bem adaptada
a solos ácidos, incluindo casos extremos, como isolados de Stylosanthes
capitata, que apresentam sua melhor taxa de crescimento em pH 4,5 (Roughley,
1980). Valores de pH abaixo de 4,5 trazem problemas para a bactéria, segun-
do Norris (1965), se os solos contiverem níveis tóxicos de Mn, uma vez que os
rizóbios de produção alcalinao capazes de alterar o pH ao seu redor. Dessa
forma, se considerarmos somente os aspectos nodulação e recuperação natu-
ral de áreas degradadas,o se justificaria propor correções de pH para as
leguminosas tropicais, incluindo as de cerrado, uma vez que elaso capazes
de prosperar e nodular em tais solos.
Experimentos realizados em nosso laboratório com isolados de Dalbergia
miscolobium, Machaerium aculeatum, Chamaecrista flexuosa e Anade-
nanthera falcata indicaram sobrevivência desses isolados na faixa de pH de
5,0 a 6,8, sendo ótimo, para alguns ao redor de 5,5 a 6,0. O fato de encon-
trarmos plantas noduladas em áreas de cerrado (nossa experiência é
notadamente com áreas perturbadas, em diversos graus) indica que a bacté-
ria está adaptada ao ambiente. Evidentemente, os fatores climáticos afetam a
associação em maior ou menor intensidade, podendo determinar a
sazonalidade dos nódulos em algumas espécies, a velocidade de crescimento
e alterações morfológicas nessas estruturas.
Outro fator ambiental que afeta a associação, controlando a sobrevivência e o
estabelecimento do rizóbio no solo, é a temperatura. Seus efeitos podem ocor-
rer na formação dos pêlos radiculares, na ligação do 3rizóbio a esses pêlos, na
formação de leghemoglobina, na estrutura e desenvolvimento dos nódulos,
bem como na fisiologia da fixação do nitrogênio e na produção da matéria
seca. No entanto, a temperatura do solo em regiões tropicais pode ser maior
que 40°C em dias de verão, e o fato de a nodulação ocorrer em plantas que
efetivamenteo foram inoculadas permite sugerir que a população indígena
de rizóbio está adaptada a tais condições ambientais.
Se, do ponto de vista ecológico, a fixação simbiótica do nitrogênio pode ser
considerada como um processo de adaptação a situações de desequilíbrio, as
espécies de leguminosas típicas do cerrado podem vir a desempenhar papel
preponderante no restabelecimento dessa formação vegetacional, especialmen-
te no Estado deo Paulo, onde poucas áreas com esse tipo de vegetação
ainda estão preservadas.
Referências
bibliográficas
ALLEN, O. N., ALLEN, E. K. The leguminosae: a source book of characteristics,
use and nodulation. London: MacMillan Publ.; Madison: University of
Wisconsin Press, 1981.
CORBY, H. D. L. The shape of leguminous nodulesand thecolour of leguminous
roots. Plant and soil, Special volume, p.305-14, 1971.
. The systematic value of leguminous root nodules. In: POLHILL, R. M.,
RAVEN, P. H. Advances in legume systematics: Part 2. Royal Botanic Gardens,
Kew, England, 1981. P.657-70.
CORDEIRO, L Caracterização de nódulos em leguminosas de cerrado. In: REU-
NIÃO LATINO-AMERICANA SOBRE RHIZOBIUM, XII, 1986, Campinas.
Anais... Instituto Agronômico, Campinas, 1986, p.191-7.
CORDEIRO, L, BELTRATI, C. M. Estrutura e desenvolvimento de nódulos
radiculares de Anadenanthera falcata Speg. (Leg. Mimosoideae). Rev. Bra-
sil. Bot., n.12, p.61-70, 1989.
CORDEIRO, L, SPRENT, J. I. Some aspects of nodulation and nodule anatomy
of Dalbergia nigra Aliem inoculated with Rhizobia isolated from members
of the tribes Dalbergieae and Millettieae (Tephrosieae). Naturalia, n.21, p.23-
30, 1996.
CORDEIRO, L, SPRENT, J. I., McINROY, S. G. Some developmental and structural
aspects of nodules of Lonchocarpus muelhbergianus Hassl. Naturalia, n.21,
p.9-22, 1996.
COUTINHO, L M. O conceito de cerrado. Rev. Brasil. Bot., n.1, p.17-23, 1978.
DOBEREINER, J. Inoculação cruzada e eficiência da simbiose de leguminosas
tropicais. In: SEMINÁRIO SOBRE METODOLOGIA E PLANEJAMENTO DE PES-
QUISAS COM LEGUMINOSAS TROPICAIS. 1971, Rio de Janeiro. Anais... Rio
de Janeiro: IPEACS, 1971. p.181-92.
DOBEREINER, J. Nodulation and nitrogen fixation in legume trees. Pesq. Agrop.
Bras., n.19, p.83-90, 1984.
DOBEREINER, J., CAMPELO, A. B. Importance of legumes and their contribution
to tropical agriculture. In: HARDY, R. M. F., GIBSON, A. H. (Eds.) A treatise
on dinitrogen fixation, section IV, agronomy and ecology. New York: John
Wiley & Sons, 1977. p.191-220.
EITEN, G. Formas fisionômicas do cerrado. Rev. Brasil. Bot. n.2, p.l 32-48,1979.
ELKAN, G.H.Taxonomyoftherizobia. Can.J. Micróbio/., n.38, p.446-9, 1992.
FARIA, S. M. et al. New nodulation legume trees from south-east Brazil. New
Phytol., n.98, p.317-27, 1984a.
FARIA, S. M. et al. Levantamento da nodulação de leguminosas florestais na-
tivas na região sudeste do Brasil. Pesq. Agropec. Bras., n.19, p.143-54,1984b.
FARIA, S. M. et al. Occurrence of nodulation in the Legumínosae. NewPhytol.,
n.111, n.607-19, 1989.
FERNANDES, A., BEZERRA, P. Estudo fitogeográfico do Brasil. Fortaleza: Stylus
Comunicações, 1990.
FRANCO, A. A. Simbiose leguminosas-Rhizobium e o ciclo de nitrogênio. In:
SEMINÁRIO SOBRE ATUALIDADES E PERSPECTIVAS FLORESTAIS: associações
biológicas entre espécies florestais e microorganismos para aumento da pro-
dutividade econômica do reflorestamento, VII, 1982, Curitiba. Anais...
CARPANEZI, A. A. (Ed.), Curitiba, 1982, p.19-32.
FREIRE, J. R. S., VIDOR, C. Fatores limitantes dos solos ácidos na simbiose de
Rhizobium e as leguminosas. In: SEMINÁRIO SOBRE METODOLOGIA E PLA-
NEJAMENTO DE PESQUISAS COM LEGUMINOSAS TROPICAIS, 1971, Rio de
Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: IPEACS, 1971. p.211-47.
GIBSON, A. H. Host determinants in nodulation and nitrogen fixation. In:
SUMMERFIELD, R. J BUNTING, A. H. (Eds.) Advances in legume science.
Kew: Royal Botanic Gardens, 1980. p.69-76.
GOI, S. R., FARIA, S. M., NEVES, M. C. P. Fixação de nitrogênio, tipo de nódulo
e ocorrência de ureídeos em leguminosas florestais. Pesq. Agropec. Bras.,
n.19, p.185-91, 1984.
GOODLAND, R. A physionomic analysis of the cerrado vegetation of central
Brazil. J. Ecol., n.59, p.411-9, 1971.
GRAHAM, P. H. Stress tolerance in Rhizobium and Bradyrhizobium, and
nodulation under adverse soil conditions. Can. J. Microbiol., n.38, p.475-
83, 1992.
HALLIDAY, J. Integrated approach to nitrogen fixing tree germplasm
development. Pesq. Agropec. Bras., n.19, p.91-117, 1984.
HUNGRIA, M., VARGAS, M. A. T., ARAÚJO, R. S. Fixação biológica do nitrogê-
nio em feijoeiro. In: VARGAS, M. T. A., HUNGRIA, M. (Eds.) Biologia dos
solos de cerrado. Planaltina: Embrapa/CPAC, 1997. p.189-294.
KIRKBRIDE JÚNIOR, J. H. Leguminosas do cerrado. Pesq. Agropec. Bras., n.19,
p.23-46, 1984.
LEITÃO, M. R. S. M. Fixação biológica do nitrogênio por espécies arbóreas. In:
VARGAS, M. T. A., HUNGRIA, M. (Eds.) Biologia dos solos de cerrado.
Planaltina: Embrapa/CPAC, 1997. p.l55-85.
LEWIS, G. P. Legumes of Bahia. Kew: Royal Botanic Garden, 1987.
LOPES, A. S., COX, F. R. Cerrado vegetation in Brazil: an edaphic gradient.
Agron. )., n.69, p.828-31, 1977.
MONTEIRO, R., AULINO, O. Clima e balanço hídrico em uma reserva de cerra-
do no município de Corumbataí. In: SEMINÁRIO REGIONAL DE ECOLOGIA,
II, 1981,o Carlos. Anais... UFSCar,o Carlos, 1981, p.111-131.
NORRIS, D. O. Acid production by Rhizobium: A unifying concept. Plant & Soil,
n.22, p.143-66, 1965.
NUTMAN, P. S. Physiology of nodule formation. In: SEMINÁRIO SOBRE METO-
DOLOGIA E PLANEJAMENTO DE PESQUISAS COM LEGUMINOSAS TROPI-
CAIS. 1971, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: IPEACS, 1971. p.75-81.
PANKHRUST, C. E., SPRENT, J. I. Effects of water stress on the respiratory and
nitrogen-fixing activity of soybean root nodules. J. Exp. Bot., n.26, p.287-
304, 1975.
POLEZI, K. R., CORDEIRO, L Potencial de nodulação de estirpes de Rhizobium
spp. In: REUNIÃO LATINO-AMERICANA SOBRE RHIZOBIUM, XII, 1986, Cam-
pinas. Anais... Instituto Agronômico, Campinas, 1986, p.198-207.
ROCHA, G. L. et ai. Coleta, identificação e distribuição de leguminosas tropi-
cais brasileiras. Brasil Central: Fase I. Bol. Indust. Anim., n.36, p.255-324,
1979.
ROUGHLEY, RJ. Environmental and cultural aspects of the management of
legumes and Rhizobium. In: SUMMERFIELD, R. J., BUNTING, A. H. (Eds.)
Advances in Legume Science, Kew: Royal Botanic Gardens, 1980. p.97-104.
SILVA, E. M. R., DOBEREINER, J. O papel das leguminosas no reflorestamento.
In: SEMINÁRIO SOBRE ATUALIDADES E PERSPECTIVAS FLORESTAIS: associa-
ções biológicas entre espécies florestais e microorganismos para aumento
da produtividade econômica dos reflorestamento, VII, 1982, Curitiba. Anais...
CARPANEZI, A. A. (Ed.), Curitiba, 1982, p.33-37.
SILVA, E. R. et al. Produção de mudas noduladas de leguminosas florestais em
substrato contendo até 90% do volume com fosfato de rocha: resultados
preliminares. Pesq. Agrop. Bras., n.19, p.283-91, 1984.
SOAVE, R. C. F., CORDEIRO, L. Resistência natural à estreptomicina e antago-
nismo de actinomicetos de solos em estirpes de Rhizobium nativas de cerra-
do e de mata. Naturalia, n.17, p.167-74, 1992.
SPRENT, J. I. The biology of nitrogen fixing organisms. London: McGraw-Hill,
1979.
SPRENT, J. I., CORDEIRO, L Nodulated legume trees in the cerrado: taxonomic
distribution, infection process and nodule morphology. Ciência e Cultura,
p.44, p.336-8, 1992.
SYLVESTER-BRADDLEY, R. et al. Nodulation of legumes, nitrogenase activity
of roots and occurence of nitrogen-fixing Azospirillum spp in representative
soils of Central Amazonia. Agro-Ecossistems, n.6, p.249-66, 1980.
VALARINI, M. J., BUFARAH, G. Resposta de Leucaena à inoculação compara-
da a diferentes tratamentos fertilizantes. Pesq. Agrop. Brasil., v.19, p.275-
80, 1984.
Parte III
Flora do cerrado
Gomphrena officinalis Mart. (fechada ao alto, aberta abaixo)
Seleção de fotos de espécies de cerrado, exibidas em homenagem a Eugen Warming, no
Jardim Botânico da Universidade de Copenhague. Período de exposição: 15 de julho a 15
de agosto de 1992. Fotógrafo: Aldo Luiz Klein
Senna rugosa (G. Don) H. S. Irwin & Barneby
Cochlospermum regium (Schrank) Pilg.
Palicourea rígida Kunth
Pavonia speciosa Kunth
Centrosema bracteosum Benth.
Mandevila velutina K. Schum.
Hyptis crinita Benth.
Bauhinia rufa (Bong.) Steud.
Brotação.
Caryocar brasiliense Cambess.
Trimezia juncifolia Klatt
SOBRE O LIVRO
Formato: 20 x 25 cm
Mancha: 36,7 x 49 paicas
Tipologia: Frugal Sans 9/13,5
Papel: Film Coating 90 g/m
2
(miolo)
Cartão Supremo 250 g/m
2
(capa)
1ª edição: 2002
EQUIPE DE REALIZAÇÃO
Coordenação Geral
Sidnei Simonelli
Produção Gráfica
Anderson Nobara
Edição de Texto
Nelson Luís Barbosa (Assistente Editorial)
Tereza Maria Lourenço Pereira (Preparação de Original)
Ana Luiza Couto e Luiz Carlos Chamadoira (Revisão)
Editoração Eletrônica
Lourdes Guacira da Silva Simonelli (Supervisão)
José Vicente Pimenta (Diagramação)
estão sendo divulgados os textos
preparados por renomados
pesquisadores e professores
do Estado deo Paulo, que,
relatando suas experiências
em diferentes linhas de pesquisa,
oferecem uma contribuição efetiva
para todos que, como eu,m
interesse em compreender o cerrado
em seus múltiplos aspectos.
Este livro, pela originalidade de suas
ilustrações e por seu conteúdo,
deverá figurar nas prateleiras de
professores e alunos como uma obra
de referência para o conhecimento
do bioma do cerrado.
Lilian B. P. Zaidan
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo