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ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA DA DERMATITE ALÉRGICA SAZONAL EM
OVINOS NO SUL DO RIO GRANDE DO SUL
TIAGO GALLINA CORRÊA
Dissertação apresentada à Universidade Federal de
Pelotas, sob a orientação da Dra.
Ana Lucia Schild,
como parte das exigências do Programa de Pós-
Graduação em Parasitologia, para a obtenção do
título de Mestre em Ciências (M.Sc.).
PELOTAS
Rio Grande do Sul - Brasil
Outubro de 2005
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA
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TIAGO GALLINA CORRÊA
ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA DA DERMATITE ALÉRGICA SAZONAL EM
OVINOS NO SUL DO RIO GRANDE DO SUL
Dissertação apresentada à Universidade Federal de
Pelotas, como parte das exigências do Programa de
Pós-Graduação em Parasitologia, para a obtenção do
título de Mestre em Ciências (M.Sc.).
Orientador: Dra. Ana Lucia Schild
Co-orientador: Dr. Jerônimo Lopes Ruas
PELOTAS
Rio Grande do Sul – Brasil
Outubro de 2005
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Dados de catalogação na fonte:
Ubirajara Buddin Cruz – CRB-10/901
Biblioteca de Ciência & Tecnologia - UFPel
C824e Corrêa, Tiago Gallina
Etiologia e epidemiologia da dermatite alérgica sazonal em
ovinos no sul do Rio Grande do Sul
/ Tiago Gallina Corrêa ;
orientador Ana Lucia Schild ; co-orientador Jerônimo Lopes
Ruas. – Pelotas, 2005. – 47f. ; il. color. – Dissertação
(Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Parasitologia.
Departamento de Microbiologia e Parasitologia. Instituto de
Biologia. Universidade Federal de Pelotas. Pelotas, 2005.
1.Dermatite alérgica sazonal. 2.Dípteros.
3.Hipersensibilidade. 4.Ovinos. 5.
Culicoides insignis
. 6.Capão
do Leão I Schild Ana Lucia II Ruas Jerônimo Lopes
TIAGO GALLINA CORRÊA
ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA DA DERMATITE ALÉRGICA SAZONAL EM
OVINOS NO SUL DO RIO GRANDE DO SUL
Dissertação apresentada à Universidade Federal de
Pelotas, sob a orientação da Dra
Ana Lucia Schild,
como parte das exigências do Programa de Pós-
Graduação em Parasitologia, para a obtenção do
título de Mestre em Ciências (M.Sc.).
APROVADA EM 21 DE OUTUBRO DE 2005
-------------------------------------------------- ---------------------------------------------------
Prof. Dr. Claudio Severo L. de Barros Prof. Dr. João Guilherme Werner Brum
-------------------------------------------- ------ ------------------------------------------------
Prof. Dr. Paulo Bretanha Ribeiro Drª. Ana Lucia Schild
(Orientadora)
"Quando achamos que temos todas as respostas....
a vida vem e muda todas as perguntas"
Dedico este trabalho a minha mãe, Ana Maria Gallina.
Pela orientação para toda a minha vida.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por mostrar-se presente em todos os momentos da minha
vida.
À minha orientadora Ana Lucia Schild, pela atenção e confiança depositadas
em mim durante este período de dificuldades e muito aprendizado.
À professora Maria Elizabeth Berne por acreditar sempre em mim, dando apoio
incondicional para a conquista desta vitória.
Ao meu amigo e co-orientador Jerônimo Ruas, pelo conhecimento
compartilhado e pelas horas de conversa amiga que me ajudaram a superar muitos
obstáculos.
À minha família, e a minha namorada e amiga, Jordana, que sempre me
apoiaram nos momentos de dificuldades e de decisões difíceis.
Ao esforço dos professores do Programa de Pós Graduação em Parasitologia e
de outras disciplinas dos demais programas de Pós Graduação da UFPEL, que se
dedicam para formação de melhores profissionais.
Aos colegas e amigos do laboratório de Parasitologia e do LRD, pelo ótimo
convívio diário e também pelo auxílio prestado sempre que precisei.
A todos os meus amigos e colegas que de alguma forma apoiaram e
acreditaram nesta conquista, em especial à Michele, Hermann, Anelise, Ricardo,
Cristiane, Denise, Elizandra, Neila, Rita, Ana Paula, Afonso, André e ao Sr. Vadico.
À Universidade Federal de Pelotas, por proporcionar um ensino público e
gratuito de qualidade.
Obrigado!
RESUMO
CORRÊA, Tiago Gallina. Etiologia e epidemiologia da dermatite alérgica sazonal
em ovinos no sul do Rio Grande do Sul. 2005. 47f. Dissertação (Mestrado em
Parasitologia) - Instituto de Biologia, Departamento de Microbiologia e Parasitologia,
Universidade Federal de Pelotas.
Dermatite alérgica estacional foi estudada em um rebanho de ovinos Hampshire
Down em um estabelecimento no município de Capão do Leão, Rio Grande do Sul.
A epidemiologia, sinais clínicos e lesões macroscópicas foram observadas no
estabelecimento verificando-se a época de ocorrência da enfermidade, a idade e
sexo dos animais afetados e localização das lesões. A patologia microscópica foi
estudada em biopsias de pele de ovinos afetados. Para a verificação da etiologia,
insetos foram capturados com aspiradores entomológicos, semanalmente, das
16h00minh às 09h00minh, entre os meses de janeiro a abril de 2005. Os dados
relativos à temperatura média, umidade relativa do ar e velocidade média dos ventos
na região de ocorrência da doença foram obtidos na Estação Agro-climatológica da
Universidade Federal de Pelotas. A prevalência da doença no período estudado foi
de 40% e animais de qualquer idade e ambos os sexos foram afetados. A
enfermidade ocorreu principalmente entre dezembro e março e alguns animais
permaneceram com lesões durante todo o ano. Os sinais clínicos eram de
inquietação e prurido e as lesões ocorriam principalmente nas orelhas, ao redor dos
olhos e na região ventral do abdômen, caracterizando-se pela presença de eritema e
pápulas, nos casos agudos, e espessamento da pele com rachaduras, exsudação,
formação de crostas, e alopecia, nos casos crônicos; esses freqüentemente
apresentavam infecções secundárias. As lesões histológicas eram principalmente de
dermatite eosinofílica perivascular, observando-se, também, hiperqueratose,
acantose e presença de pústulas sub corneais ou intra-epidérmicas nos casos
crônicos. Os insetos capturados no período de estudo da doença foram identificados
como
Anopheles
albitarsis
e
Culicoides
insignis.
Durante a captura observou-se que
os animais apresentavam prurido intenso quando picados por
Culicoides
, mas não
por
Anopheles
. As temperaturas média mínima e máxima no período, foram de 17ºC
e 28ºC, respectivamente, e a velocidade média dos ventos foi de 12,84km/h. Ambas
as espécies de insetos capturados têm hábitos noturnos aproximando-se dos
animais para hematofagia em torno de 30min após o ocaso do sol.Testes
intradérmicos realizados com antígenos obtidos a partir desses dípteros revelaram
reação de hipersensibilidade aos antígenos de
C. insignis.
Os resultados obtidos
indicam que a enfermidade estudada ocorre em conseqüência de hipersensibilidade
imediata causada pela picada desse díptero.
Palavras chaves: Dermatite alérgica sazonal,
Culicoides insignis
, dípteros,
hipersensibilidade, ovinos.
v
ABSTRACT
CORRÊA, Tiago Gallina.
Etiology and epidemiology of seasonal allergic
dermatitis in sheep in southern of Rio Grande do Sul.
2005. 47f. Dissertação
(Mestrado em Parasitologia) - Instituto de Biologia, Departamento de Microbiologia e
Parasitologia, Universidade Federal de Pelotas.
A seasonal dermatitis was studied in a Hampshire Down flock in a farm at the
minicipality of Capão do Leão, state of Rio Grande do Sul, southern Brazil.
Frequency and seasonal distribution of the disease, breed, sex and age of affected
sheep, and clinical signs, macroscopic pathology and distribution of the lesions were
obtained by visiting the farm. Histological lesions were studied in skin biopsies of
affected sheep. Biting insects were collected weekly between 4:00 p.m. to 9:00 a.m.,
from January to April of 2005 to identify the etiological agent of disease. Data about
temperature, humidity and wind speed in the region where the disease occurs were
obtained in the agro climatologic Station of Pelotas Federal University. The
prevalence of disease during the study period was 40% and the age of affected
animals was variable. The disease occurs between December and March, but some
animals stayed with lesions during the whole year. Clinical signs were characterized
by pruritus and skin lesions in the ears, around the eyes, and ventral abdomen.
Erythema and papules were observed in acute cases. In chronic cases, the skin was
thicken, exsudative, crusty and alopecic, frequently with secondary infections.
Histological lesions of affected sheep were characterized by perivascular eosinofilic
dermatitis. Hyperkeratosis, acanthosis and intraepidermal pustules were observed in
chronic lesions.
Anopheles
albitarsis
and
Culicoides
insignis
were captured during
the observation period. Sheep showed pruritus mainly during de
Culicoides
bites.
The mean minimum and maximum temperature in the period were 17ºC e 28ºC,
respectively, and the mean speed wind was 12,84km/h. Both insects were caught
when they approached the sheep bait 30minutes after sunset. Intradermal tests
performed with de antigens of the insect extracts showed hypersensitivity reaction to
C.insignis
antigens. Based on the results it was suggested that the disease occurs as
a consequence of an immediate hypersensitivity caused by
C. insignis
bite.
Keywords: Seasonal allergic dermatitis,
Culicoides insignis
, diptera, hypersensitivity,
sheep.
vi
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1. Dermatite alérgica em ovinos. Ovino no momento da captura dos
insetos. Observa-se insetos alimentando-se na face dorsal da
orelha................................................................................................
19
Figura 2. Dermatite alérgica em ovinos. Momento da captura dos insetos.
No detalhe dois aspiradores entomológicos com os exemplares
capturados........................................................................................
19
Figura 3. Dermatite alérgica em ovinos. Inoculação de antígenos
preparados a partir de insetos capturados na propriedade onde a
doença ocorre...................................................................................
20
Figura 4. Dermatite alérgica em ovinos. Rebanho Hampshire Down afetado
pela enfermidade..............................................................................
23
Figura 5. Dermatite alérgica em ovinos. Área do estabelecimento onde a
enfermidade é mais freqüente..........................................................
23
Figura 6. Dermatite alérgica em ovinos. Gráfico da relação entre o horário
do início da aproximação dos insetos com horário do ocaso do sol,
observados no período de capturas. Não foi considerado o horário
de verão............................................................................................
24
Figura 7. Dermatite alérgica em ovinos. Gráfico mostrando as temperaturas
mínimas e máximas da região no período da captura dos insetos..
24
Figura 8. Dermatite alérgica em ovinos. Gráfico apresentando a umidade
relativa do ar (UR) (%) e velocidade média diária dos ventos
(km/h) da região no período de captura dos
insetos.........................
25
Figura 9. Dermatite alérgica em ovinos. Ovino coçando-se evidenciando
prurido...............................................................................................
27
Figura 10. Dermatite alérgica em ovinos. Observa-se edema palpebral e
presença de crostas na região periocular.........................................
27
Figura 11. Dermatite alérgica em ovinos. Observa-se a presença de eritema
multifocal e formação de pápulas na região abdominal de um
ovino.................................................................................................
28
Vii
Figura12. Dermatite alérgica em ovinos. Observam-se lesões crônicas com
alopecia e formação de crostas na epiderme (A e B) com
presença de áreas avermelhadas e secreção sero sanguinolenta
na região ventral do abdômen (B), espessamento da epiderme da
região periocular e pontos hemorrágicos evidenciando a picada
dos dípteros (C) e orelha com espessamento e rachaduras na
epiderme (D). As lesões evidenciam infecções secundárias............
28
Figura 13. Dermatite alérgica em ovinos. Biópsia de pele da orelha de ovino
com lesão aguda. Observa-se infiltrado inflamatório de
principalmente de eosinófilos...........................................................
29
Figura 14. Dermatite alérgica em ovinos. Biópsia de pele da região ventral do
abdômen de ovino com lesão. Observa-se hiperqueratose e
formação de pústula intraepidérmica................................................
29
Figura 15. Dermatite alérgica em ovinos. Dermatite alérgica em ovinos.
Exemplar fêmea capturada e identificado como
Anopheles
albitarsis
...........................................................................................
34
Figura 16. Dermatite alérgica em ovinos. Insetos identificados a
Culicoides
insignis
,
presentes na lã da cabeça de um ovino
.............................
34
Figura 17. Dermatite alérgica em ovinos. Presença de eritema e edema no
local após 10min da inoculação de antígeno de
Culicoides
insignis
.............................................................................................
.
35
Figura 18 Dermatite alérgica em ovinos. Lesões histológicas após a
inoculação dos antígenos de
Anopheles albitarsis
(A e B),
Culicoides insignis
(C e D), histamina (E) e solução salina (F).
Observa-se infiltrado de eosinófilos mais acentuado 1h após a
inoculação do Ag. de
Anopheles albitarsis
(A) e 3h após a
inoculação do Ag. de
Culicoides insignis
(D). Há discreto infiltrado
eosinofílico ao redor dos vasos sangüíneos 1h após a inoculação
de histamina (E)................................................................................
36
viii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Dados relativos ao horário de captura dos insetos, temperatura
máxima e mínima, velocidade dos ventos e quantidade de insetos
observados sobre os ovinos isca......................................................
31
Tabela 2 Medidas da reação intradérmica observada nos ovinos, após
10min da inoculação com os antígenos de
Culicoides insignis
e
Anopheles
albitarsis
, histamina e solução salina, e grau de
reação...............................................................................................
32
ix
SUMÁRIO
RESUMO................................................................................................................ v
ABSTRACT............................................................................................................. vi
LISTA DE ILUSTRAÇÕES...................................................................................... vii
LISTA DE TABELAS............................................................................................... ix
1 INTRODUÇÃO
..................................................................................................... 1
2 REVISÃO DE LITERATURA
...............................................................................
3
2.1 Dermatite alérgica em eqüinos...................................................................... 4
2.1.1 Epidemiologia....................................................................................... 4
2.1.2 Sinais clínicos....................................................................................... 5
2.1.3 Patologia............................................................................................... 6
2.1.4 Etiologia................................................................................................ 6
2.2 Dermatite alérgica em ovinos........................................................................ 8
2.2.1 Epidemiologia....................................................................................... 8
2.2.2 Sinais clínicos....................................................................................... 9
2.2.3 Patologia............................................................................................... 9
2.2.4 Etiologia................................................................................................ 10
2.3 Diagnóstico diferencial.................................................................................. 10
2.4 Tratamento, controle e profilaxia...................................................................
2.5
Culicoides
......................................................................................................
11
12
2.5.1 Morfologia de
Culicoides
...................................................................... 12
2.5.2 Biologia de
Culicoides
spp.................................................................... 13
2.6
Anopheles
..............
.
..................................................................................... 14
2.6.1 Morfologia de
Anopheles
albitarsis
....................................................... 14
2.6.2 Biologia
de
Anopheles
albitarsis...
........................................................ 14
3 MATERIAL E MÉTODOS
....................................................................................
16
3.1 Epidemiologia, sinais clínicos e patologia..................................................... 16
3.2 Etiologia......................................................................................................... 16
3.3 Testes intradérmicos..................................................................................... 17
4 RESULTADOS
....................................................................................................
21
4.1 Epidemiologia, sinais clínicos e patologia..................................................... 21
x
4.2 Etiologia......................................................................................................... 30
4.3 Testes intradérmicos..................................................................................... 32
5 DISCUSSÃO
........................................................................................................
37
6 CONCLUSÕES
....................................................................................................
43
7 REFERÊNCIAS
...................................................................................................
44
xi
1 INTRODUÇÃO
Dermatite alérgica estacional é uma dermatopatia associada à picada de
insetos que afeta principalmente eqüinos e ovinos e, também, bovinos, muares,
caprinos, felinos e o homem (RIEK, 1953; MASON & EVANS, 1991; YERUHAM et.
al., 1993; BRUMMER-KORVENKONTIO et al., 1994; YERUHAM et. al., 1997).
No Rio Grande do Sul a enfermidade tem sido diagnosticada em ovinos em
diferentes municípios da área de influência do Laboratório Regional de Diagnóstico
da Faculdade de Veterinária – UFPel, como Arroio Grande, Bagé, Canguçu, Capão
do Leão e Pelotas afetando ovinos de diversas raças, incluindo Ideal, Corriedale,
Crioula, Hampshire Down, Romney Marsh e Texel, com prevalência variável,
podendo chegar a 80% (SCHILD et al., 2003). A enfermidade foi observada,
também, em ovinos nos municípios de Jaguari e São Vicente do Sul, com uma
prevalência entre 10% e 50% (SOUZA et al., 2005). Em eqüinos a doença foi
observada em animais da raça Crioula no município de Jaguarão com uma
prevalência de 7% (SCHILD et al., 2003).
Os ovinos afetados apresentam dermatite caracterizada pela presença de
eritema multifocal, pápulas, espessamento da pele com formação de crostas e
alopecia. As áreas de pele mais freqüentemente afetadas são ao redor dos olhos,
orelhas, focinho, lábios, abdômen, períneo e membros; os pêlos e a lã desprendem-
se com facilidade nas regiões do corpo afetadas. Observa-se, também, prurido
intenso, perda de peso, corrimento ocular e, em alguns casos, queratite com
opacidade da córnea, podendo ocorrer infecções e miíases secundárias às lesões
de pele. Os animais melhoram total ou parcialmente durante o inverno e os sinais
clínicos reaparecem ou agravam-se a partir da primavera. As lesões histológicas
caracterizam-se por dermatite com infiltração da derme por eosinófilos, mastócitos e
células mononucleares, edema e proliferação de tecido fibroso. Na epiderme
observa-se acantose e hiperqueratose, principalmente quando as lesões tornam-se
crônicas. A enfermidade foi diagnosticada como dermatite alérgica sazonal e as
lesões histológicas são características de um processo de hipersensibilidade tipo-I
(SCHILD et al., 1993).
A mortalidade é baixa, porém as perdas econômicas são consideráveis, uma
vez que as lesões disseminam-se pelo corpo do animal, danificando a e
determinando seu desprendimento. Observa-se acentuada perda de peso nos
ovinos doentes e alguns podem morrer em conseqüência de infecções secundárias
graves.
Os objetivos do presente estudo foram verificar a etiologia da dermatite
alérgica que ocorre em ovinos no município de Capão do Leão, através da
identificação das espécies de insetos presentes na região de ocorrência da doença,
e descrever aspectos epidemiológicos e patológicos da enfermidade.
2 REVISÃO DE LITERATURA
Dermatite alérgica estacional tem sido descrita em vários países do mundo
afetando diversas espécies animais, incluindo eqüinos, bovinos (RIEK, 1953,1954;
QUINN et al., 1983; FADOK & GREINER, 1990); ovinos, caprinos (CONNAN &
LLOYD, 1988; YERUHAM et al., 1997), felinos (MASON & EVANS, 1991) e também
o homem (PENNEYS et al
.,
1989; DAS et al
.,
1991; BRUMMER-KORVENKONTIO
et al
.,
1994). A enfermidade caracteriza-se pelo aparecimento de lesões de
dermatite com intenso prurido, erupções papulares, petéquias, erosões, escoriações
e formação de crostas, principalmente quando as lesões tornam-se crônicas,
distribuídas em várias regiões do corpo do animal (CONNAN & LLOYD, 1988).
A doença tem sido amplamente estudada em eqüídeos (FADOK & GREINER,
1990) e ovinos (CONNAN & LLOYD, 1988; YERUHAM et al., 2000) de vários países
do mundo, sendo também denominada de: dermatite de verão, eczema, prurido
doce e hipersensibilidade a
Culicoides
(HSC), dermatite estival recidivante crônica,
dermatite atópica e dermatite alérgica sazonal (CONNAN & LLOYD, 1988;
PORTUGAL et al., 1996; FERREIRA, 2001; MORRIS & LINDBORG, 2003).
A reação alérgica ocorre em resposta à proteínas presentes na saliva dos
insetos em indivíduos sensíveis, há produção de anticorpos IgE, que reagem
especificamente com o alérgeno. A resposta inflamatória e o prurido intenso ocorrem
como conseqüência da degranulação de mastócitos presentes na pele, os quais
liberam mediadores químicos como a histamina (HOLMES, 1991).
Antígenos identificados na saliva de mosquitos dos gêneros
Aedes, Culex
e
Anopheles
induziram, no homem, a produção de IgE e IgG, sugerindo que esses
anticorpos anti-saliva poderiam estar envolvidos na patogenia da reação de
hipersensibilidade imediata à picada de insetos (PENNEYS et al
.
, 1989; DAS et al.,
1991; BRUMMER-KORVENKONTIO et al., 1994). Resultados de testes
intradérmicos realizados em eqüinos, também têm sugerido que a patogenia da
doença apresenta um componente tardio de hipersensibilidade associado à resposta
imune imediata mediada por IgE (BAKER & QUINN, 1978; FADOK & GREINER,
1990).
2.1 Dermatite alérgica em eqüinos
A doença nos eqüinos pode apresentar-se com diferentes formas clínicas,
atribuídas às várias espécies de insetos identificadas como agentes etiológicos,
sendo reconhecidas três síndromes de acordo com a localização das lesões:
síndrome I, associada à HSC, sendo observadas lesões na face, nas orelhas, na
inserção da crina, nas cruzes, na anca e na inserção da cauda; síndrome II,
primariamente na região ventral, com lesões observadas na face, nas orelhas, no
espaço intermandibular, no peito, no ventre e na virilha; síndrome III, que se
apresenta como uma combinação dos sinais clínicos das síndromes I e II (FADOK &
GREINER, 1990).
2.1.1 Epidemiologia
A doença tem distribuição mundial, sendo observada em zonas de clima
temperado e subtropical com as maiores prevalências observadas entre a primavera
e o outono, com regressão durante o inverno (BAKER & QUINN, 1978; KLEIDER &
LEES, 1984; BRAVERMAN, 1988; FADOK & GREINER, 1990; PORTUGAL et al.,
1996; SCHILD et al., 2003).
Diversas raças têm sido afetadas pela doença: Árabe (FADOK & GREINER,
1990; PORTUGAL et al., 1996), Quarto de Milha, Morgan, Standardbreed e Pony
(FADOK & GREINER, 1990), entretanto a incidência familiar tem sido também
observada e correlacionada muito mais com as fêmeas do que com os machos
(RIEK, 1954). Marti et al. (1992), sugeriram que a hipersensibilidade devido à picada
de insetos é influenciada por fatores genéticos, no entanto, esclareceram a
necessidade da obtenção de mais dados com relação à progênie afetada e ao seus
progenitores antes de determinar precisamente o tipo de herança ligada a
enfermidade.
Na Noruega a enfermidade foi observada com uma prevalência de 17,6% de
um total de 391 eqüinos de diferentes raças (HALLDÓRDSÓTTIR & LARSEN,
1991). No Rio Grande do Sul a doença foi observada em cavalos Crioulos, no
município de Jaguarão, com uma prevalência de 7,05% (SCHILD et al., 2003).
Na maioria dos casos somente alguns animais do plantel são afetados ano
após ano, principalmente animais que permanecem no campo. Entretanto, alguns
animais estabulados podem, também, apresentar lesões (ANDERSON et al., 1991).
A idade dos animais afetados é variável (RIEK, 1953). Em um estudo em 362
eqüinos, os animais afetados com maior freqüência eram os maiores de 15 anos
(HALLDÓRDSÓTTIR & LARSEN, 1991). Por outro lado, Portugal et al. (1996)
observaram que os eqüinos mais jovens eram os mais acometidos pela
enfermidade.
Com relação às variações climáticas foi observada uma associação entre a
velocidade do vento e o número de
Culicoides
spp presentes na área de ocorrência
da doença (BRAVERMAN, 1988). O mesmo autor, estudando a etiologia da
enfermidade, observou que as temperaturas mínimas e máximas durante o período
de captura dos insetos variaram de 11ºC a 22,6ºC e 20ºC e 35,6ºC,
respectivamente; a umidade relativa do ar no mesmo período variou de 33% a 89%.
2.1.2 Sinais clínicos
Baker & Quinn (1978) mencionaram a presença de lesões na região cervical
dorsal, na cabeça na altura dos ossos frontais, na região lombo-sacral e na região
dorsal coccígea. Foi mencionada, também a presença de lesões na região média
ventral, na escápula, no peito e na região da tuberosidade coxal (KLEIDER & LEES,
1984). No Brasil a enfermidade foi descrita em cavalos da raça Árabe no estado de
São Paulo, afetando a inserção da cauda e as orelhas (PORTUGAL et al., 1996), e
em cavalos Crioulo, no Rio Grande do Sul, caracterizando-se por lesões
pruriginosas na face, no peito, no pescoço e na inserção da cauda (SCHILD et al.,
2003).
2.1.3 Patologia
As lesões observadas nos eqüinos caracterizam-se por erosões e formação
de crostas na pele com alopecia, nas diversas regiões do corpo afetadas (FADOK &
GREINER, 1990; SCHILD et al., 2003). As áreas da pele apresentam exsudação
serosa e os pêlos estão aderidos, podendo ser observadas escoriações em função
do prurido que faz com que os animais se rocem constantemente em objetos,
paredes e arames. Nos eqüinos que apresentam lesões crônicas observam-se áreas
de alopecia completa com marcada acantose e hiperqueratose, e a pele apresenta-
se com sulcos transversais (KLEIDER & LEES, 1984; BAKER & QUINN, 1987;
HALLDÓRDSÓTTIR & LARSEN, 1991).
Histologicamente, as lesões caracterizam-se por edema subepidérmico com
separação dos feixes de colágeno e depósito de material eosinofílico amorfo. A
epiderme apresenta acantose e paraqueratose nas áreas afetadas e há formação de
“rete ridges”. Os vasos sangüíneos da derme apresentam-se tortuosos e as células
endoteliais estão tumefeitas. É observado, também, grande número de eosinófilos
na derme, em associação com os vasos sangüíneos, e há presença de neutrófilos
(BAKER & QUINN, 1978). Portugal et al. (1996) descreveram infiltrado inflamatório
com predomínio de células mononucleares e raros neutrófilos e mastócitos. Outras
lesões observadas por estes autores eram de vasculite e perivasculite em todos os
vasos presentes na derme. Biópsias realizadas em 25 eqüinos afetados, revelaram
em 22 a presença de dermatite perivascular com infiltrado inflamatório de
eosinófilos, linfócitos e histiócitos (FADOK & GREINER, 1990). Em biópsias de pele,
realizadas em 15 eqüinos afetados, as lesões histológicas observadas
caracterizaram-se por hiperqueratose associada à espongiose, raramente com
paraqueratose, e infiltrado de eosinófilos, às vezes, com presença de macrófagos e,
ainda, arterite dos pequenos vasos da derme; em alguns casos foi observado
necrose da epiderme (KLEIDER & LEES, 1984).
2.1.4 Etiologia
No Brasil, a enfermidade em eqüinos tem sido atribuída a
Culicoides
spp.
(PORTUGAL et al., 1996). Em outros países algumas espécies deste gênero têm
sido responsabilizadas pelas lesões como
C. obsoletus
(KLEIDER & LEES, 1984;
ANDERSON et al., 1991),
C
.
robertsi
(RIEK, 1954), e
C. pulicaris
(BAKER & QUINN,
1978). Braverman (1988) em um estudo para identificar a etiologia da doença em
Israel encontrou várias espécies de
Culicoides
no período entre abril e setembro,
época de maior incidência da enfermidade. O autor considerou que a principal
espécie causadora de dermatite alérgica nos eqüinos era
C. imicola
, após observar
que esta era a espécie mais freqüentemente capturada nas regiões do corpo do
animal em que ocorriam as lesões, sempre nos horários em torno do pôr do sol. Em
um estudo da enfermidade no Japão foram utilizadas três espécies de insetos para
reproduzir experimentalmente as lesões, porém não foi concluído qual delas era
responsável pela doença:
Culicoides
,
Simulium
e
Stomoxys
spp
(UENO &
HISHIHARA, 1957).
Stomoxys
foi descrito como agente etiológico da doença em
eqüinos na Irlanda (BAKER & QUINN, 1978).
Riek (1954) ao estudar a etiologia da doença em eqüinos observou que cada
espécie de
Culicoides
tinha localização preferencial para a picada, por exemplo,
C.
robertsi
na linha média dorsal e
C
.
marmoratus
no pescoço e região ventral.
Em um estudo da enfermidade na Flórida, Estados Unidos, aproximadamente
90% dos insetos coletados foram identificados como
Culicoides insignis
, sendo
identificadas, também, outras espécies em menor quantidade, como
C. stellifer, C.
niger, C. alachua C. venustus, C. scanloni, C. lahillei,
C. pusillus,
e
C. edeni
. A
doença foi atribuída às diferentes espécies coletadas diretamente dos eqüinos no
local de picada correlacionas à sazonalidade e à distribuição geográfica da doença
(GREINER et al., 1988; GREINER et al., 1990).
Testes intradérmicos têm sido largamente utilizados para identificar os insetos
causadores da enfermidade em diversas partes do mundo (BAKER & QUINN, 1978;
FADOK & GREINER, 1990). No entanto, estes testes devem ser interpretados com
cuidado, principalmente quando os extratos são feitos a partir o corpo inteiro do
inseto, uma vez que existem muitas substâncias potencialmente envolvidas no
desenvolvimento da reação alérgica cutânea. Em um experimento para identificar
espécies de insetos envolvidas na etiologia da enfermidade, Fadok & Greiner (1990)
observaram reação alérgica aos diversos inóculos utilizados com diferentes doses,
entretanto, todas as reações haviam desaparecido após 24h da inoculação com
exceção dos inóculos de
Culicoides
que permaneceram após 24h. Reação tardia foi
observada, também, somente com extratos de
Culicoides
spp em trabalho realizado
utilizando inóculos desse gênero e de
Stomoxys
spp e Tabanidae (BAKER &
QUINN,1978).
2.2 Dermatite alérgica em ovinos
Em ovinos a doença foi descrita pela primeira vez na Austrália em 1888 por
Irving et al.,
apud
Riek (1953). Posteriormente, dermatite alérgica em ovinos foi
descrita na Inglaterra, (CONNAN & LLOYD, 1988), em Israel (YERUHAM et al.,
2000; YERUHAM et al., 2004), e na Espanha (ORDEIX et al., 2000). No Brasil a
enfermidade foi descrita no Rio Grande do Sul em ovinos de diversas raças
(SCHILD et al., 1993; FERREIRA, 2001; SOUZA et al., 2005); a enfermidade foi
descrita também em caprinos em Israel (YERUHAM et al. 1997).
2.2.1 Epidemiologia
A enfermidade em ovinos ocorre principalmente no final da primavera e verão,
diminuindo no outono e não sendo observada nos meses de inverno e todas as
categorias podem ser afetadas (RIEK, 1953; CONNAN & LLOYD 1988; SCHILD
et al., 1993; ORDEIX et al., 2000; YERUHAM et al., 2000; YERUHAM et al., 2004;
SOUZA et al., 2005).
A prevalência é variável, sendo encontrados índices de 4% a 6% (ORDEIX et
al., 2000), 10% a 50% (SOUZA et al., 2005) e 10% (CONNAM & LLOYD, 1988). A
doença tem sido observada em diversas raças como Merino, Assaf, Romanov
(YERUHAM et al., 2000) Ideal, Texel, Hampshire, Romney Marsh, Corriedale e
Crioula (SCHILD et al., 1993), e também cruzas (ORDEIX et al., 2000; SOUZA et al.,
2005). Aparentemente algumas raças podem ser mais sensíveis que outras, como é
o caso da Merino (YERUHAM et al., 2000).
No Rio Grande do Sul
a doença foi observada em vários municípios como
Arroio Grande, Bagé, Canguçu, Capão do Leão, Itaqui, Pelotas e São Lourenço do
Sul (SCHILD et al., 2003), Jaguari e São Vicente do Sul (SOUZA et al., 2005). Em
um estabelecimento, a doença apresentou prevalência de 60% a 80% entre os
meses de janeiro e março, os animais eram da raça Ideal, sendo mantidos em áreas
de campos baixos, planos, onde havia sido plantado arroz ou soja em anos
anteriores, ou em áreas de pastagem altas, próximas a açudes ou matos
(FERREIRA, 2001); em outro surto a prevalência foi de 40% afetando animais da
raça Hampshire Down (SCHILD et al., 2003). Na raça Crioula, em um estudo de
avaliação de lã realizado em diversos rebanhos gaúchos, estimou-se que
aproximadamente 2% do rebanho apresenta lesões de dermatite alérgica,
observando-se, em alguns casos, lesões no dorso do animal (CLARA S. L. VAZ, -
Embrapa - CPPSul 1996, comunicação pessoal).
2.2.2 Sinais clínicos
Nos ovinos os principais sinais clínicos caracterizam-se por prurido e perda de
peso, podendo ser observadas áreas de alopecia cobertas por crostas, rachaduras
na epiderme e sangramento nas orelhas, no focinho, ao redor dos olhos, na região
abdominal e, eventualmente, no dorso. Há perda da lã nas áreas afetadas e
escoriações superficiais em conseqüência do prurido e inquietação (CONNAN &
LLOYD, 1988; SCHILD et al., 1993; ORDEIX et al., 2000; YERUHAM et al., 2004;
SOUZA et al., 2005).
2.2.3 Patologia
Podem ser observados dois padrões de lesão: um agudo caracterizado por
acentuado eritema associado à presença de pápulas, pústulas, colaretes
epidérmicos e crostas; e um crônico caracterizado por áreas de liquenificação,
ulcerações, áreas de esxudação, crostas, alopecia e, às vezes, sangramento
(YERUHAM et al., 2000; FERREIRA et al. 2001; SOUZA et al., 2005). Eosinofilia foi
constatada nos hemogramas dos ovinos estudados em Israel, que eram acometidos
por dermatite alérgica (YERUHAM et al., 2004).
Histologicamente as lesões nos ovinos caracterizam-se por dermatite
perivascular com presença de infiltrado de eosinófilos, linfócitos e macrófagos,
principalmente ao redor dos vasos hiperqueratose e acantose são, também,
freqüentemente observadas (SCHILD et al., 1993; YERUHAM et al., 2000;
FERREIRA et al., 2001; YERUHAM et al., 2004; SOUZA et al., 2005). Nos casos em
que há infecção secundária observa-se acentuado número de neutrófilos na derme
(YERUHAM et al., 2000).
2.2.4 Etiologia
A dermatite alérgica em ovinos está associada à picada de artrópodes como
Culicoides
spp. (CONNAN & LLOYD, 1988; ORDEIX et al., 2000; YERUHAM et al.,
2000; YERUHAM et al., 2004)
, Phlebotomus perniciosus
(ORDEIX et al., 2000), e
Ctenocephalides felis
(YERUHAM et al., 2004). Dermatite alérgica é causada por
reações de hipersensibilidade mediadas por IgE, desencadeadas pela inoculação de
saliva de mosquitos (ALTHAUS et al., 2004).
Na Inglaterra existem evidências circunstanciais de que a doença ocorre em
conseqüência da picada de
C. obsoletus
, em razão da grande quantidade do inseto
ter sido encontrada nas áreas de maior prevalência da doença (CONNAN & LLOYD,
1988). Yeruham et al. (2000) em um trabalho realizado entre 1983 e 1997
identificaram três espécies de
Culicoides
(
C. obsoletus, C.imicola
e
C.
puncticollis
)
como possíveis causadpres de dermatite alérgica em ovinos, considerando que
apesar de terem encontrado outras espécies de insetos, estas estavam em pequena
quantidade.
No Rio Grande do Sul, em um estudo para determinar a etiologia da
enfermidade foram realizados testes intradérmicos utilizando antígenos de quatro
espécies de mosquitos capturados em uma área onde a doença ocorria:
Aedes
scapularis
,
A. serratus
,
Culex
spp. e
Psorophora ferox
. Antígenos preparados com a
mistura das quatro gêneros causaram reação alérgica em ovinos inoculados,
entretanto não foi possível confirmar a etiologia da enfermidade pelo fato de que as
espécies foram testadas em conjunto (FERREIRA, 2001).
2.3 Diagnóstico diferencial
Dermatite alérgica deve ser diferenciada de outras enfermidades que causam
lesões de pele em ovinos e eqüinos. Em ovinos a fotossensibilização causada pelas
intoxicações por
Brachiaria
spp. e
Mioporum laetum
que ocorrem no Rio Grande do
Sul (MÉNDEZ & RIET-CORREA, 2001), devem ser consideradas no diagnóstico
diferencial. Nestes casos as lesões são observadas principalmente nas áreas de
pele desprovidas de lã e expostas ao sol. Os sinais clínicos caracterizados por
prurido intenso são semelhantes aos observados na sarna sarcóptica (SOUZA et al.,
2005), na sarna psoróptica (BERNE & FARIAS, 2001), e, também, no scrapie
(DRIEMEIER). Em animais jovens ectima contagioso causa lesões crostosas ao
redor do focinho e lábios, que podem, também, ser confundidas com dermatite
alérgica. Nos eqüinos a dermatite alérgica deve ser diferenciada, também, de
fotossensibilização, de infecção por
Oxyuris equi
(KLEIDER & LEES, 1984) e de
oncocercose (RIEK, 1954).
2.4 Tratamento, controle e profilaxia
Tanto em eqüinos como em ovinos pouco tem sido sugerido em relação à
prevenção da enfermidade. Nos Estados Unidos o tratamento com ivermectina não
resolveu lesões na região ventral de eqüinos afetados pela enfermidade (FADOK &
GREINER, 1990). Os mesmos autores observaram resposta variável utilizando
repelentes e corticóides. A estabulação de animais durante o dia não interferiu na
melhora dos sinais clínicos, entretanto a estabulação dos animais no período do
crepúsculo até a noite fechada reduziu consideravelmente o prurido e as lesões
desapareceram gradualmente (RIEK, 1954; FADOK & GREINER, 1990; PORTUGAL
et al.,1996). O uso de anti histamínicos tem sido, também, recomendado com
resposta satisfatória (RIEK, 1953; PORTUGAL et al.,1996). Imunoterapia com
antígenos preparados a partir de
Culicoides
spp foi utilizada em eqüinos afetados
pela enfermidade, entretanto os resultados obtidos não confirmaram a eficiência do
tratamento (BARBET et al., 1990). Imunoterapia foi utilizada, também, em eqüinos
afetados pela doença no Canadá com redução significativa das lesões (ANDERSON
et al., 1996).
2.5
Culicoides
Filo: Arthropoda
Classe: Insecta
Ordem: Diptera
Subordem: Nematocera
Família: Ceratopogonidae
Gênero:
Culicoides
Culicoides
pertence à grande Família Ceratopogonidae, cujos membros são
conhecidos como mosquitos pólvora ou maruins, contendo 96 gêneros e
aproximadamente 1000 espécies (MARCONDES, 2001), e o gênero
Culicoides
apresenta grande importância médico-veterinária. As espécies de
Culicoides
estão
distribuídas desde os trópicos até as regiões subárticas e quase todas são
importantes pragas que se alimentam do sangue de mamíferos e aves, causando
picada dolorosa e veiculando importantes patógenos como o helminto
Mansonella
ozzardi,
os vírus da língua azul, de Akabane, e de “oropouche” (GUIMARÃES et al.,
2001; MARCONDES, 2001) e vários protozoários, como
Haemoproteus
,
Leucocytozoon
e
Hepatocystis
(MARCONDES, 2005).
2.5.1 Morfologia de Culicoides
Culicoides
são dípteros pequenos, medindo de um a quatro milímetros de
comprimento e as pernas são relativamente curtas e robustas, particularmente o par
anterior. Antenas são finas e filiformes, com 14 a 15 segmentos nas fêmeas;
plumosas nos machos e não plumosas nas fêmeas. Os adultos podem ter coloração
cinza a castanho-escuro, com reflexos iridescentes. O tórax apresenta corcova
dorsalmente coberta com marcas pretas em muitas espécies. A cabeça é pequena e
os olhos são proeminentes, as asas são curtas e relativamente largas, cobertas de
cerdas microscópicas. Em repouso as asas dobram-se uma sobre a outra no
abdômen e apresentam veia medial bifurcada (M
1
e M
2
), mostrando padrões
distintos nas células radiais da veia
r-m
(GUIMARÃES et al., 2001).
2.5.2 Biologia de
Culicoides
spp.
Os ovos são pequenos, escuros e cilíndricos, depositados em massas de 30
a 450 ovos, dependendo do clima e do tipo de sangue do hospedeiro; cada ovo
mede 350 a 500µm de comprimento. Geralmente são depositados em locais úmidos,
como pântanos, manguezais (
C. insignis, C. furens e C. maruin
) e em vegetação em
decomposição (MARCONDES, 2001). Eclodem, na maioria das espécies, dentro de
dois a nove dias em condições favoráveis de temperatura, passando por quatro
estágios larvais. As larvas são aquáticas, ocorrendo numa variedade de habitat
semi-sólidos, incluindo margens de lagos e riachos, água acumulada em buracos de
árvores, mangues e pântanos, alimentando-se de uma grande variedade de
microorganismos e material orgânico em decomposição. Em geral
Culicoides
parece
explorar uma grande variedade de habitat úmidos, porém tende a utilizar áreas
específicas nos locais de criação (GUIMARÃES et al., 2001).
O desenvolvimento larval pode levar mais de sete meses, porém, em regiões
temperadas há uma geração por ano. Em climas tropicais e subtropicais, ocorrem
três ou quatro gerações por ano e o ciclo ovo-adulto leva cerca de dois meses,
dependendo da temperatura e umidade (MARCONDES, 2001).
Somente as fêmeas são hematófagas e infligem uma picada dolorosa.
Autogenia pode ser comum, porém todas as espécies anautógenas geralmente
necessitam de uma alimentação sangüínea para a maturação da segunda postura e
posturas subseqüentes. Os adultos de
Culicoides
não conseguem voar grandes
distâncias, sendo encontrados geralmente próximos ao substrato larval, entretanto,
foi registrado um alcance de vôo de 4km para
C. variipenis
(LILLIE et al., 1981).
Os adultos de
Culicoides
alimentam-se especialmente em dias nublados,
úmidos, com pouco vento e tendem a ser crepusculares ou noturnos (BISHOP et al.,
2004), porém algumas espécies, entretanto, alimentam-se diurnamente (FADOK &
GREINER). As fêmeas são atraídas pelo odor e calor dos hospedeiros e algumas
espécies são específicas, atacando exclusivamente bovinos ou eqüinos
(GUIMARÃES et al., 2001).
2.6
Anopheles
Filo: Arthropoda
Classe: Insecta
Ordem: Diptera
Subordem: Nematocera
Família: Culicidae
Gênero:
Anopheles
Anopheles
sp. é encontrado nos países da Arica Central e da América
do Sul, principalmente na Argentina, Bolívia, Brasil, Uruguai e Venezuela
(MARCONDES, 2001). É considerado o anofelino mais comum e amplamente
distribuído no Brasil (CONSOLI & OLIVEIRA, 1998).
2.6.1 Morfologia de
Anopheles
albitarsis
Atualmente esta espécie faz parte de um complexo de espécies crípticas por
apresentar uma gama de variações bioquímicas e epidemiológicas. A espécie tem
por características específicas: um esternito abdominal com duas fileiras de
escamas brancas; tergitos abdominais com abundantes escamas amarelas e
brancas, misturadas no abdômen; tufos póstero laterais possuem escamas discretas
e, geralmente presentes somente do terceiro segmento em diante (MARCONDES,
2001).
2.6.2 Biologia de
Anopheles
albitarsis
Este díptero é comum nas áreas de planície e baixada, sendo abundante,
também, em planaltos. Prolifera nos mais variados tipos de criadouros, de caráter
permanente ou temporário, naturais ou artificiais, expostos à luz ou sombreados, de
águas límpidas ou turvas, com pouca ou muita matéria orgânica. As larvas de
A.
albitarsis
são mais abundantes em áreas alagadas com água doce e limpa e capim.
Fêmeas são exófilas e zoofílicas, mas a espécie é antropofílica em algumas regiões,
Tendo atividade crepuscular, compreendendo a primeira metade da noite; está
presente durante todo o ano com maior abundância após estações chuvosas
(MARCONDES, 2001).
Após o repasto sangüíneo, a fêmea põe até 300 ovos na superfície da água, e
os ovos, de coloração escura, são alongados e têm o formato de bote, não sendo
resistentes à dessecação. A eclosão depende da temperatura e ocorre após vários
dias ou semanas, e todos os ínstares larvais são aquáticos. O estágio pupal é
geralmente curto, durando apenas alguns dias nos trópicos, e várias semanas nas
regiões temperadas. Os adultos voam apenas algumas centenas de metros dos
criadouros, podendo ser levados a grandes distâncias pelas correntes de vento
(URQUHART et al., 1996).
3 MATERIAL E MÉTODOS
3.1 Epidemiologia, sinais clínicos e patologia
O estudo da epidemiologia da enfermidade foi realizado em uma propriedade
localizada no município de Capão do Leão (latitude 31º53’39’’ S e longitude
52º35’48’’ W a 42m de altitude), na qual a doença ocorre anualmente, tomando-se
os dados relativos a freqüência da doença, raça, idade e sexo dos animais afetados
e não afetados. Os dados relativos à temperatura, umidade relativa do ar,
velocidade dos ventos e precipitação pluviométrica que ocorreram na região,
durante o período de estudo, foram obtidos na Estação Agro-climatológica da
UFPEL, localizada a 20km da fazenda onde estavam ocorrendo os casos. Os
animais afetados foram examinados mapeando-se as áreas do corpo onde eram
observadas as lesões e foram realizadas biópsias de pele em três animais para
observação das lesões histológicas características.
3.2 Etiologia
Para o estudo da etiologia da enfermidade foi selecionado, no
estabelecimento, o potreiro onde a doença ocorria com maior freqüência. Para a
captura dos insetos e verificação de seus hábitos, noturnos ou diurnos, e áreas
preferenciais do corpo para picadas das diferentes espécies, foram utilizados oito
ovinos, alternadamente, como isca viva, sobre os quais os insetos eram capturados
durante o seu repasto através de aspiradores entomológicos (Figuras 1 e 2). A
observação e captura dos insetos era realizada entre 16h e 9h do dia seguinte, a
partir do mês de janeiro de 2005 até abril deste mesmo ano, totalizando 12
observações.
Os insetos capturados eram mantidos em recipientes de vidro e estocados
em congelador a –18ºC; os gêneros de insetos capturados foram identificados no
Instituto de Biologia da UFPEL
1
. Posteriormente, amostras dos insetos foram
acondicionadas em tubos de vidro contendo formol em pastilha e naftalina, e
enviadas ao laboratório de Diptera do Instituto Oswaldo Cruz - Rio de Janeiro
2
, para
identificação das espécies.
3.3 Testes intradérmicos
Os testes intradérmicos foram realizados em oito ovinos, pertencentes ao
Laboratório Regional de Diagnóstico - Faculdade de Veterinária – UFPEL, nos quais
não haviam sido observadas lesões de dermatite alérgica, divididos em dois grupos
de quatro animais. Para obtenção dos antígenos dos insetos capturados, foram
dissecados e macerados os pró-tórax, onde encontram-se as glândulas salivares
dos mosquitos. Para a obtenção dos antígenos dos dípteros de menor tamanho era
realizada a maceração de todo o corpo. Cinco miligramas do macerado de cada uma
das duas espécies foram diluídas em 1 ml de solução de PBS (pH 7,34) e os
extratos obtidos eram filtrados em membrana milipore 22µm. Todo o procedimento
para obtenção dos antígenos foi realizado em capela de fluxo laminar.
Em cada um dos dois grupos de ovinos experimentais foi injetado 0,1ml do
filtrado de cada um dos antígenos obtidos na face interna do membro posterior
direito (Figura 3). No membro contralateral de cada ovino foi inoculada histamina
(1:1000) como controle positivo, para efeito de comparação da reação alérgica
produzida; no membro anterior direito foi inoculada solução salina como controle
negativo.
Observaram-se os sinais da reação local após 10min e 180min da inoculação,
medindo-se e avaliando para a presença de edema, eritema e formação de pápulas
no local de aplicação.
1
Identificação dos gêneros realizada pelos Professores Paulo Bretanha e João Guilherme Brum .
2
Identificação das espécies realizada pelos Drs. Anthony Guimarães e Maria Luiza Felipe Bauer.
As lesões foram classificadas em graus de acordo com o tamanho de cada
reação: grau 0 (ausência de reação); grau 1 (reação de 0,1 a 1cm
2
), grau 2 (reação
entre 1,1 e 2,9cm
2
e grau 3 (reações 3cm
2
). Foram avaliados os aspectos
macroscópicos de cada reação, observando-se a presença de eritema e edema. As
alterações observadas na pele foram medidas no sentido horizontal e vertical
obtendo-se o tamanho de cada reação em cm
2
.
Para o estudo histológico foram realizadas biópsias nas áreas onde foram
inoculados os antígenos das duas espécies de insetos capturados,
1h e 3h após a
inoculação. Foi realizada, também, biópsia no local de inoculação de histamina, 1h
após a inoculação. As biópsias foram fixadas em formol a 10%, incluídas em
parafina, cortadas em secções de 5µm e coradas pelas técnicas de hematoxilina-
eosina e azul de toluidina.
Figura 1. Dermatite alérgica em ovinos. Ovino no momento
da captura dos insetos. Observa-se insetos alimentando-se
na face dorsal da orelha.
Figura 2. Dermatite alérgica em ovinos. Momento da
captura dos insetos. No detalhe dois aspiradores
entomológicos com os exemplares capturados.
Figura 3. Dermatite alérgica em ovinos. Inoculação de
antígenos preparados a partir de insetos capturados na
propriedade onde a doença ocorre.
4 RESULTADOS
4.1 Epidemiologia, sinais clínicos e patologia
Através do estudo epidemiológico realizado na propriedade onde a
enfermidade foi estudada, observou-se que no ano 2002 de um total de 280 ovinos
da raça Hampshire (Figura 4), 112 animais de diferentes idades estavam afetados
(40%) Clinicamente, de acordo com o relato do proprietário, os animais
apresentavam prurido intenso, evidenciado principalmente ao anoitecer, inquietação
e perda de peso, corrimento ocular e lesões de pele caracterizadas por alopecia e
formação de crostas. A doença é observada todos os anos com prevalência
aproximada entre 20% e 50%, tendo ocorrido, também, em eqüinos em anos
anteriores, os quais foram descartados do plantel. A enfermidade ocorreu
principalmente entre dezembro e março e alguns animais permanecem com lesões
durante todo o ano.
A área onde a doença é mais freqüente, na propriedade, caracteriza-se por ser
plana e sujeita a alagamentos, ficando próxima a pequenos capões de mata nativa e
bosques de eucalipto e lavoura de arroz (Figura 5).
No período de realização do experimento foram observados e capturados dois
diferentes gêneros de dípteros, identificados como
Anopheles
e
Culicoides.
Estes
dípteros apresentavam um ritmo circadiano na busca pelo hospedeiro, uma vez que
se aproximavam do mesmo em torno de 30 minutos após o ocaso do sol (Figura 6).
Anopheles
permanecia com alta densidade até aproximadamente às 24h, enquanto
que
Culicoides
permanecia até cerca de 3h após o início do repasto. Ambos podiam
estar presentes, ainda, ao alvorecer, em pequena quantidade. As temperaturas
média mínima e máxima no período de captura, variaram entre 17ºC e 28ºC,
respectivamente; a umidade relativa do ar esteve entre 64,3% e 91%, com uma
média de 78,73%; e a precipitação pluviométrica acumulada foi de 70,4mm em
janeiro, 166,8mm em fevereiro, 77,8mm em março e 159mm em abril. A velocidade
média dos ventos foi de 12,84km/h. Os dados relativos à temperatura, umidade
relativa, velocidade dos ventos que ocorreram na região estão apresentados nas
Figuras 7 e 8.
Figura 4. Dermatite alérgica em ovinos. Rebanho Hampshire
Down afetado pela enfermidade.
Figura 5. Dermatite alérgica em ovinos. Área do estabelecimento
onde a enfermidade é mais freqüente.
00:00
01:12
02:24
03:36
04:48
06:00
07:12
08:24
09:36
06/01/05
13/01/05
20/01/05
03/02/05
17/02/05
20/02/05
03/03/05
10/03/05
17/03/05
16/04/05
Datas das coletas
Horas
Início da
aproximão dos
insetos
Ocaso do sol
Figura 6. Dermatite alérgica em ovinos. Gráfico da relação entre o
horário do início da aproximação dos insetos com horário do ocaso
do sol, observados no período de capturas. Não foi considerado o
horário de verão.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
06/01/05
13/01/05
20/01/05
27/01/05
03/02/05
10/02/05
17/02/05
24/02/05
03/03/05
10/03/05
17/03/05
24/03/05
31/03/05
07/04/05
14/04/05
Datas de captura dos insetos
Temperatura máxima e
mínima (ºC)
Tª Máxima ºC
Tªnima ºC
Figura 7. Dermatite alérgica em ovinos. Gráfico mostrando as
temperaturas mínimas e máximas da região no período da captura
dos insetos
0
20
40
60
80
100
06/01/05
13/01/05
20/01/05
27/01/05
03/02/05
10/02/05
17/02/05
24/02/05
03/03/05
10/03/05
17/03/05
24/03/05
31/03/05
07/04/05
14/04/05
Datas de capturas dos insetos
% de umidade relativa do ar
e velocidade do vento
(km/h)
UR %
Vento
km/h
Figura 8. Dermatite alérgica em ovinos. Gráfico apresentando a
umidade relativa do ar (UR) (%) e velocidade média diária dos
ventos (km/h) da região no período de captura dos insetos.
Durante o período de captura dos insetos observou-se que
Culicoides insignis
tinha preferência pelas regiões da face, orelhas e região ventral do abdômen e que
os ovinos manifestavam inquietação acentuada, quando estavam sendo picados por
esse díptero nessas regiões do corpo (Figura 9).
Anopheles
albitarsis não
demonstrou preferência por região corporal para a hematofagia, observando-se que
este inseto fazia seu repasto em diversas regiões do corpo desprovidas de lã,
incluindo a cabeça, os membros, a região ventral do abdômen e a vulva.
Manifestações de inquietação e desconforto foram observadas, principalmente,
quando este inseto atacava a porção distal dos membros.
As lesões macroscópicas caracterizaram-se, geralmente, por alopecia e
escoriações da pele por auto traumatismo, em alguns casos perda de parte das
orelhas e edema das pálpebras (Figura 10). As lesões macroscópicas agudas
caracterizaram-se por eritemas multifocais e formação de pequenas pápulas (Figura
11). Em alguns casos a pele apresentava-se rugosa, engrossada e edemaciada, com
formação de crostas e rachaduras da epiderme com secreção sero sanguinolenta
caracterizando lesões crônicas, frequentemente apresentando infecções secundárias
ou miíases (Figura 12A, B, C e D). Essas lesões foram observadas na região ventral
do abdômen, ao redor dos olhos, orelhas e face. Eventualmente, eram observadas
lesões de eritema e sangramento na coroa do casco; os pêlos e a lã desprendiam-se
com facilidade nas regiões do corpo afetadas.
Nas biópsias de pele, as lesões histológicas caracterizaram-se por infiltrado
inflamatório principalmente de eosinófilos (Figura 13), neutrófilos e mastócitos, na
derme próximo a região sub epidérmica e ao redor de pequenos vasos sangüíneos.
Em alguns casos as lesões eram caracterizadas por hiperqueratose, espongiose,
acantose e presença de infiltrado inflamatório de eosinófilos, neutrófilos formando
pústulas sub corneais ou intra epidérmicas (Figura 14). Na derme observou-se
severa dermatite perivascular com infiltrado inflamatório de eosinófilos, mastócitos e
neutrófilos. Células mononucleares como linfócitos e macrófagos foram observadas
nas lesões crônicas; havia, ainda, presença de edema.
Todos os animais do rebanho, com exceção dos ovinos iscas, foram tratados
semanalmente de dezembro a abril de 2005 com inseticida a base de piretróide
observando-se uma diminuição gradual no número de casos novos.
Figura 9. Dermatite alérgica em ovinos. Ovino coçando-se
evidenciando prurido.
Figura 10. Dermatite alérgica em ovinos. Observa-se edema
palpebral e presença de crostas na região periocular.
Figura 11. Dermatite alérgica em ovinos. Observa-se a
presença de eritema multifocal e formação de pápulas
na região abdominal de um ovino.
Figura 12. Dermatite alérgica em ovinos. Observam-se lesões crônicas com
alopecia e formação de crostas na epiderme (A e B) com presença de
áreas avermelhadas e secreção sero sanguinolenta na região ventral do
abdômen (B), espessamento da epiderme da região periocular e pontos
hemorrágicos evidenciando a picada dos dípteros (C) e orelha com
espessamento e rachaduras na epiderme (D). As lesões evidenciam
infecções secundárias.
A
B
C D
Figura 13. Dermatite alérgica em ovinos. Biópsia de pele da
orelha de ovino com lesão aguda. Observa-se infiltrado
inflamatório de principalmente de eosinófilos.
Figura 14. Dermatite alérgica em ovinos. Biópsia de pele da
região ventral do abdômen de ovino com lesão. Observa-se
hiperqueratose e formação de pústula intraepidérmica.
4.2. Etiologia
As espécies dos insetos capturados, dos gêneros
Anopheles
e
Culicoides,
foram identificadas como
Anopheles albitarsis s.l.
(Lynch-Arribalzaga, 1878)
(Diptera, Culicidae) e
Culicoides insignis
(Lutz, 1913) (Diptera, Ceratopogonidae)
,
respectivamente (Figuras 15 e 16).
Os dados relativos ao horário de captura dos insetos, temperatura máxima e
mínima, velocidade dos ventos e quantidade de insetos observados sobre os ovinos
isca são apresentados na Tabela 1.
TABELA 1. Dados relativos ao horário de captura dos insetos, temperatura máxima e mínima, velocidade dos ventos e
quantidade de insetos observados sobre os ovinos isca.
1
Não foi considerado o horário de verão para efeito de observação e captura dos insetos.
2
A
- Anopheles albitarsis,
C
- Culicoides insignis;
+(<10 de insetos), ++ (entre 10 e 20 insetos); +++ (entre 20 e 50 insetos); ++++ (> de 50 insetos)
3
O vento parou a 1h
4
Choveu e não houve captura
5
Foi esgotada a água da lavoura
Horário de observação
Data da
captura
Início
captura
1
Vento
Km/h
Temperatura
mín/máx ºC
Sinais clínicos
16:00-24:00 00:00-03:00 03:00-09:00
06/1/05 20:00h 5,76 23-33,6 prurido A
2
(++++); C (+)
A (++++) A (+); C (+)
13/1/05 20:00h 9,0 19,8-30,4 prurido A (+) A (++) C (++)
20/1/05 20:10h 24,48 17-25,6 desconforto nos membros A (+) - A (+)
27/1/05
3
1:00h 26,28 11,4-27,6 prurido intenso - A (++); C (++++) A (+); C (++)
03/02/05 20:00h 12,96 18,4-25,6 prurido de manhã A (+) A (+) A (+); C (+)
11/02/05
4
- 19,8 19,2-26 - - - -
17/02/05 19:50h 7,92 15,6-27,8 desconforto nos membros A (++++); C (+) A (+++) A (+++)
24/02/05 19:25h 10,8 21,2-29,2 desconforto nos membros A (+++) A (++++) A (++++)
03/03/05 19:30h 11,88 11,8-27 prurido A (++++) A (++); C (+) A (++); C (+)
10/03/05
5
19:30h 10,08 15,4-34,4 - A (+) A (+) -
17/03/05 19:00h 4,68 20-30 prurido intenso A (+++); C (+++) A (+); C (+) A (+)
16/04/05 18:30h 10,44 13,3-23,2 prurido intenso A (++++); C (++++) A (+); C (+) A (+); C (+)
4.3 Testes intradérmicos
Os resultados dos testes intradérmicos estão apresentados na Tabela 2.
Todos os ovinos apresentaram eritema e edema no local da inoculação, com
exceção do ovino nº 6, no local da inoculação com o antígeno de A. albitarsis; do
ovino nº 1, no local da inoculação com histamina; e do ovino nº 2, no local da
inoculação com histamina, que apresentou, apenas, eritema. No local da inoculação
com solução salina não foram observadas alterações em nenhum dos animais
testados. Aos 180min as reações alérgicas haviam desaparecido, com exceção dos
animais inoculados com o antígeno de C. insignis. As lesões macroscópicas
observadas caracterizaram-se pela presença de eritema e edema com formação de
nódulos que sobressaiam na epiderme (Figura 17).
TABELA 2.
Medidas da reação intradérmica observada nos ovinos, após 10min da
inoculação com os antígenos de C. insignis e A. albitarsis, histamina e
solução salina, e grau de reação.
Ovino Nº./
Inóculo
1
cm
2
/
grau
a
2
cm
2
/
grau
3
cm
2
/
grau
4
cm
2
/
grau
5
cm
2
/
grau
6
cm
2
/
grau
7
cm
2
/
grau
8
cm
2
/
grau
Média
(cm
2
)
Culicoides 4,8/3 3,24/2 2,24/2 4,86/3 Ni
b
Ni Ni Ni 3,38
Anopheles Ni Ni Ni Ni 4,8/3 0/0 4/3 2,5/2 2,82
Histamina 0/0 0/0
c
6,3/3 6/3 4/3 10,8/3 3/3 5/3 5,85
Salina 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0
a
Medidas: 0 = ausência de reação; grau 1= reação de 0,1 a 1cm
2
; grau 2 = reão
entre 1,1 e 2,9 cm
2
; grau 3 = reação 3cm
2
).
b
Ni – não inoculado
c
Este animal apresentou, apenas, eritema no local da inoculação.
Histologicamente as lesões mononucleares (Figura 18D). Na biópsia
realizada 3h após a inoculação com o antígeno de A. albitarsis a lesão era mais
discreta (Figura 18B). No ovino inoculado com histamina observou-se que a lesão
após 1h da inoculação era, também, discreta (Figura 18E). Na biópsia feita no local
da inoculação com solução salina não houve reação (Figura 18F).observadas nas
biópsias feitas 1h após a inoculação com os antígenos de A. albitarsis e de
C. insignis, e histamina caracterizaram-se por infiltrado inflamatório de eosinófilos
com poucos mastócitos e neutrófilos presentes ao redor e no interior de pequenos
vasos e na região sub epidérmica (Figura 18A,B,C,D e E). Na biópsia realizada 3h
após a inoculação com o antígeno de C. insignis o infiltrado era mais acentuado e
havia presença de células
Figura 15. Dermatite alérgica em ovinos. Exemplar fêmea capturada
e identificado como Anopheles albitarsis.
Figura 16. Dermatite alérgica em ovinos. Insetos identificados como
Culicoides insignis, presentes na lã da cabeça de um ovino.
Figura 17. Dermatite alérgica em ovinos. Presença de eritema e
edema no local após 10min da inoculação de antígeno de
Culicoides insignis.
Figura 18. Dermatite alérgica em ovinos. Lesões histológicas após a inoculação dos antígenos
de Anopheles albitarsis (A e B), Culicoides insignis (C e D), histamina (E) e solução salina (F).
Observa-se infiltrado de eosinófilos mais acentuado 1h após a inoculação do Ag. de
Anopheles albitarsis (A) e 3h após a inoculação do Ag. de Culicoides insignis (D). Há discreto
infiltrado eosinofílico ao redor dos vasos sangüíneos 1h após a inoculação de histamina (E).
E F
C
D
B A
5 DISCUSSÃO
As lesões macroscópicas e histológicas evidenciadas nos animais deste
estudo demonstraram que a doença observada no estabelecimento do município de
Capão do Leão é uma dermatite alérgica sazonal causada pela picada de insetos,
similar à enfermidade descrita em ovinos em outros municípios do Rio Grande do
Sul (SCHILD et al., 1993; FERREIRA, 2001; SOUZA et al., 2005).
As lesões são características de uma hipersensibilidade imediata de
ocorrência estacional, do mesmo modo que tem sido relatado tanto em ovinos como
em eqüinos, em conseqüência da picada por insetos. (RIEK, 1953; CONNAN &
LLOYD, 1988; YERUHAM et al., 20004). No presente estudo dois dípteros foram
identificados na região onde a doença ocorre, Anopheles albitarsis e Culicoides
insignis. O gênero Culicoides tem sido responsabilizado pela doença em ovinos e
eqüinos em diversos países (RIEK, 1954; FADOK & GREINER, 1990; PORTUGAL
et al., 1996; ORDEIX et al., 2000; YERUHAM et al., 2000; YERUHAM et al., 2004).
A área da propriedade onde a enfermidade era mais prevalente,
caracterizava-se por ser alagadiça e ter reservatórios permanentes de água; tais
características são favoráveis ao desenvolvimento de espécies de gênero Culicoides
e Anopheles (GUIMARÃES et al., 2001). Outros autores descreveram dermatite
alérgica em ovinos e eqüinos ocorrendo em regiões semelhantes às observadas
neste trabalho (RIEK, 1953; YERUHAM et al., 2000; SOUZA et al., 2005).
As condições climáticas registradas na região e durante o período em que a
enfermidade ocorreu demonstraram ser, também, ideais para a manutenção dos
criadouros dos insetos capturados. Diversas espécies de Culicoides foram
capturadas na época de ocorrência da enfermidade em eqüinos em Israel com
temperaturas mínimas variando entre 11ºC e 22,6ºC e máximas entre 20ºC e 35,6ºC
(BRAVERMAN, 1988), similares às observadas neste estudo que foram de 11,8ºC e
23ºC e 23,2ºC e 34,4ºC, respectivamente. Braverman (1988) mencionou que,
aparentemente, o fator climático mais significativo na presença ou não de Culicoides
é a velocidade do vento, e embora tenha classificado a velocidade em três estágios
de acordo com o número de insetos capturados, não especificou a velocidade do
vento em cada um dos estágios. Neste trabalho foi observado que espécimes de
Culicoides estavam presente sobre os ovinos isca em quantidade superior a 20
exemplares, quando a velocidade média diária de ventos esteve entre 4,68km/h e
10,44km/h. Em uma oportunidade em que este díptero foi capturado e que a
velocidade média dos ventos no dia era de 26,28km/h, o inseto foi observado
somente quando o vento diminuiu sensivelmente sua velocidade, após à 1h.
Na observação dos sinais clínicos, durante a captura dos insetos, evidenciou-
se que inquietação, demonstrando prurido, era muito mais acentuada quando os
ovinos eram picados por C. insignis do que quando eram picados por A. albitarsis.
Além disso, observou-se que C. insignis tinha preferência pelas áreas do corpo do
animal, para realizar a hematofagia, nas quais as lesões de dermatite alérgica são
observadas com maior freqüência, como a face, as orelhas e a região ventral do
abdômen. Essas localizações são idênticas às áreas do corpo afetadas descritas por
outros autores (CONNAN & LLOYD, 1988; YERUHAM et al., 2000, YERUHAM et al.,
2004; SOUZA et al., 2005).
Inquietação e desconforto foram evidenciados nos ovinos que serviram de
isca viva quando A. albitarsis realizava a hematofagia, somente na porção distal dos
membros dos animais. Souza et al. (2005) mencionaram lesões de dermatite
alérgica na porção distal dos membros de ovinos afetados, porem o inseto causador
da enfermidade não foi identificado. A. albitarsis atacava a região vulvar dos ovinos
em grande número, mas não foram observadas lesões de dermatite nesta região;
aparentemente, o antígeno deste díptero é menos alergênico para os ovinos. Parece
lógico pensar que, pela grande quantidade deste inseto observada sobre os ovinos
isca, se ele fosse responsável pela doença as lesões seriam encontradas, também,
na vulva e em outras regiões do corpo do animal atacadas.
Neste trabalho foi observado que C. insignis era encontrado com maior
freqüência na região da cabeça do ovino isca e, às vezes, na região ventral do
abdômen. Essas áreas correspondem às de lesões de dermatite observadas nos
casos da doença que ocorre no Rio Grande do Sul (SCHILD et al., 1993;
FERREIRA, 2001; SOUZA et al., 2005). RIEK (1954) ao identificar as espécies de
Culicoides que causam a doença em eqüinos observou que as diferentes espécies
tinham também, locais do corpo preferenciais para a picada que coincidiam com as
regiões afetadas pelas lesões.
As lesões macroscópicas caracterizadas por eritema, formação de pápulas,
espessamento da pele, com formação de crostas, e rachaduras da epiderme com
secreção sero sanguinolenta observadas nos ovinos neste trabalho são similares às
reportadas na dermatite estacional em ovinos e eqüinos (CONNAN & LLOYD, 1988;
SCHILD et al., 1993, YERUHAM et al., 2000; FERREIRA, 2001; YERUHAM et al.,
2004; SOUZA et al., 2005).
As lesões histológicas observadas nos casos agudos, caracterizadas por
dermatite com infiltrado de eosinófilos e mastócitos são típicas de hipersensibilidade
imediata e, também, similares às observadas por outros autores que descreveram a
enfermidade (CONNAN & LLOYD, 1988; SCHILD et al., 1993; FERREIRA, 2001;
SOUZA et al., 2005). Dermatite com infiltrado inflamatório de células mononucleares
tem sido observada nos casos crônicos da doença. Outras lesões histológicas
observadas nos casos crônicos descritos neste trabalho, como formação de pústulas
intra-epidérmicas, hiperqueratose e acantose devem-se provavelmente ao auto
traumatismo induzido pelo prurido e às infecções secundárias que freqüentemente
ocorrem nos animais afetados.
No presente estudo os resultados dos testes intradérmicos não evidenciaram
marcada diferença em relação ao tamanho da reação intradérmica aos antígenos de
C. insignis e A. albitarsis, entretanto, a lesão provocada pelo inóculo de C. insignis
permaneceu por um tempo superior à 3h o que não ocorreu com o outro antígeno e
com o inóculo de histamina. Isto poderia ser explicado pelas características dos
diferentes antígenos ou por particularidades no padrão de resposta dos animais,
mas também, pelo maior poder alergênico de C. insignis. Isto parece reforçar a
hipótese de que o antígeno de C. insignis é a causa das lesões observadas nos
ovinos. Reações intradérmicas permaneceram mais tempo com extratos obtidos de
Culicoides spp. do que com extratos de outros insetos em trabalhos realizados para
elucidar a etiologia da enfermidade em eqüinos (FADOK & GREINER 1990).
Resultados similares foram obtidos com extratos de Culicoides em trabalho realizado
utilizando inóculos desse gênero e de Stomoxys spp e Tabanidae spp (BAKER &
QUINN,1978; QUINN et al., 1983), o que sugere a ocorrência de hipersensibilidade
tipo IV envolvida, também, na patogenia dessa enfermidade. Nos casos de dermatite
alérgica observados neste trabalho foram observadas lesões crônicas, com
presença de células mononucleares, que sugerem, também, uma reação de
hipersensibilidade tipo IV.
Em testes intradérmicos em eqüinos utilizando antígenos preparados a partir
de Culicoides sp., Simulium sp., Tabanus sp. e Aedes taeniorhynchus foi observado
que a medida das reações de hipersensibilidade eram maiores nas áreas da pele
inoculadas com Culicoides do que as inoculadas com os outros insetos (FADOK &
GREINER, 1990). Em ovinos, resultados semelhantes também foram obtidos com a
utilização de antígenos de Culicoides sp. comparados ao de Phlebotomus sp.
(ORDEIX et al., 2000).
FERREIRA (2001), utilizou em um mesmo inóculo, quatro diferentes espécies
de insetos (Aedes scapularis, A. serratus, Culex sp. e Psorophora ferox) capturados
em uma área onde a doença ocorre, observando reação de hipersensibilidade a
esses insetos nos ovinos inoculados. Entretanto, este teste não demonstra qual, ou
quais, espécies de dípteros seriam responsáveis pela doença. Mosquitos dos
gêneros Aedes e Culex têm sido responsabilizados como causa de dermatite
alérgica em felinos (MASON & EVANS, 1991).
Os resultados obtidos neste trabalho indicam que Culicoides insignis é
responsável pela dermatite alérgica que ocorre em ovinos no município de Capão do
Leão. Parece evidente que este gênero é o principal agente etiológico da
enfermidade, uma vez que tem sido encontrado constantemente em diversas
regiões do mundo onde é diagnosticada. Na Inglaterra evidências circunstanciais
sugerem que o inseto causador da enfermidade em ovinos é Culicoides obsoletus
(CONNAN & LLOYD, 1988; ANDERSON et al., 1991). Em Israel três espécies do
gênero Culicoides (C. obsoletus, C. imicola e C puncticollis) foram capturadas e
identificadas como agente etiológico da doença (YERUHAM et al., 2000, YERUHAM
et al., 2004). Culicoides insignis e C. stellifer são implicados na patogenia da
enfermidade que ocorre em eqüinos na Flórida (GREINER et al., 1988).
Apesar de que Anopheles albitarsis era freqüentemente encontrado sobre o
ovino isca no período deste trabalho e em quantidades superiores a 50 exemplares,
a possibilidade de ser o agente etiológico da enfermidade é pequena por diversas
razões: a não ocorrência de lesões em locais de picada como a vulva, onde era
encontrado em grande número; a não estimulação de intenso prurido, que é uma
característica da enfermidade; e, também, pelo fato de que este gênero não é
descrito como causa da enfermidade em ovinos e eqüinos apesar de ter distribuição
mundial.
É importante destacar que na propriedade onde a doença foi estudada,
alguns eqüinos foram, também, afetados e que após a retirada dos mesmos do
plantel não foram observados novos casos, sugerindo que fatores individuais estão
relacionados com o aparecimento da enfermidade. São mencionadas algumas
evidências de fatores genéticos envolvidos na etiologia da enfermidade nos eqüinos
(MARTI et al., 1992). Dermatite alérgica em eqüinos a raça Crioula foi observada no
município de Jaguarão, entretanto, a etiologia da enfermidade não foi esclarecida
(SCHILD et al., 2003).
As lesões observadas nas biópsias de pele dos ovinos inoculados com os
antígenos dos dípteros capturados caracterizaram uma reação de hipersensibilidade
imediata idênticas às observadas nos casos espontâneos da doença. Estas lesões
foram também, descritas na dermatite alérgica dos eqüinos (RIEK, 1953; QUINN et
al., 1983; KLEIDER & LEES, 1984; PORTUGAL et al., 1996) e ovinos (YERUHAM et
al., 2000, YERUHAM et al., 2004; SOUZA et al., 2005).
Antígenos identificados na saliva de mosquitos do gênero Aedes, Culex e
Anopheles induziram no homem a produção de IgE e IgG, sugerindo que estes
anticorpos anti-saliva podem estar envolvidos na patogenia das reações imediatas a
picada de insetos (PENNEYES et al., 1989; DAS et al., 1991). É provável que
antígenos similares sejam responsáveis pela dermatite em ovinos observada neste
estudo.
Com relação ao diagnóstico diferencial de dermatite alérgica é importante
mencionar que enfermidades como scrapie e sarna psoróptica causam em ovinos
prurido intenso (DRIEMEIR, 2001, Berne & Farias, 2001) e perda de lã pelo fato de
coçarem-se constantemente, entretanto scrapie ocorre principalmente em animais
maiores de 42 meses e manifesta-se em poucos animais em um rebanho com sinais
clínicos neurológicos acompanhando o prurido. Em ovinos com sarna é possível
encontrar-se o ácaro em raspados de pele e pêlos e as lesões são observadas em
áreas cobertas por lã. Fotossensibilização em conseqüência de intoxicações por
plantas causa também dermatite, porém as lesões são localizadas invariavelmente
em áreas de pele despigmentadas e desprovidas de lã expostas ao sol.
Ficou evidente neste trabalho que C. insignis apresenta hábitos noturnos e
crepusculares, aparecendo logo após o ocaso do sol, sendo observado em pequeno
número, também, nas primeiras horas da manhã. Este fato deve ser levado em
consideração no que se refere à prevenção da enfermidade. A estabulação de um
grande número de animais é inviável, entretanto, animais de alto valor zootécnico,
bem como machos utilizados para a reprodução poderiam ser estabulados, pelo
menos, até 3h após o ocaso do sol. Isto foi sugerido, também, por Braverman
(1988), após observar que a espécie de Culicoides responsável pela doença era
capturada sobre o corpo do animal neste período. Outra medida seria a de afastar o
rebanho das áreas próximas aos criadouros destes insetos no período mencionado
de ataque; outras medidas de controle não tem tido eficiência comprovada. Na
propriedade onde a doença foi estudada o tratamento com inseticida a base de
piretróide reduziu significativamente a prevalência da doença e aparentemente, esse
químico poderia ser utilizado na prevenção e controle da enfermidade. Alerta-se,
entretanto, para a possibilidade do surgimento de resistência do inseto a esse
químico nos próximos anos.
6 CONCLUSÕES
1. Dermatite alérgica que ocorre em ovinos no município de Capão do Leão é
uma enfermidade sazonal que ocorre em conseqüência da picada de insetos.
2. Dois diferentes insetos realizaram hematofagia nos ovinos entre os meses de
janeiro e abril na região estudada: Culicoides insignis e Anopheles albitarsis.
3. As lesões histológicas agudas são devidas à uma reação de hipersensibilidade
imediata.
4. Os resultados obtidos demonstram que Culicoides insignis é o agente
etiológico da enfermidade.
5. O repasto sangüíneo realizado por Culicoides insignis ocorre em média 30min
após o ocaso do sol e eventualmente no alvorecer.
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