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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO – PPG
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC / CAMPUS I
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCÃO E CONTEMPORANEIDADE
ESTUDOS SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL PÚBLICA NO
MUNICIPIO DE TEIXEIRA DE FREITAS – BAHIA
KARINA DE OLIVEIRA SANTOS CORDEIRO
Salvador – Bahia
2007
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1
KARINA DE OLIVEIRA SANTOS CORDEIRO
ESTUDOS SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL PÚBLICA NO
MUNICIPIO DE TEIXEIRA DE FREITAS – BAHIA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação e Contemporaneidade
PPGEduC do Departamento de Educação
Campus I, da Universidade do Estado da Bahia,
como requisito para obtenção do título de Mestre
em Educação.
Orientadora: Profa. Dra. Liana Gonçalves Pontes
Sodré.
Salvador – Bahia
2007
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2
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP).
Ficha Catalográfica elaborada por Terezinha Lima Santos CRB-5/1393
Cordeiro, Karina de Oliveira Santos.
C819 Estudos sobre a educação infantil blica no município de Teixeira de
Freitas - Bahia [manuscrito] / por Karina de Oliveira Santos Cordeiro. –
2007.
184 f.; 29 cm.
Printout (fotocópia).
Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado da Bahia, Programa
de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade, 2007.
“Orientação: Profa. Dra. Liana Gonçalves Pontes Sodré.”
1. Políticas públicas. 2. Formação de professores. 3. Educação infantil. I.
Universidade do Estado da Bahia, Programa de s-Graduação em Educação
e Contemporaneidade. II. Sodré, Liana Gonçalves Pontes. III. Título.
CDD 372.10421
3
KARINA DE OLIVEIRA SANTOS CORDEIRO
ESTUDOS SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL PÚBLICA NO
MUNICIPIO DE TEIXEIRA DE FREITAS – BAHIA
Esta Dissertação foi julgada apta para a obtenção do título de Mestre em Educação
e Contemporaneidade da Universidade do Estado da Bahia UNEB. Apresentada
perante a Banca Examinadora composta dos seguintes Professores:
Profa. Dra. Liana Gonçalves Pontes Sod
Orientadora – Presidente da Banca
Universidade do Estado da Bahia
Profa. Dra. Ronalda Barreto Silva
Membro – Titular da Banca
Universidade do Estado da Bahia
Profa. Dra. Vera Maria Ramos de Vasconcellos
Membro – Titular da Banca
Universidade Estadual do Rio de Janeiro
Profa. Dra. Maria Olívia de Matos Oliveira
Membro – Suplente da Banca
Universidade do Estado da Bahia
Salvador, 27 de novembro de 2007.
4
RESUMO
O presente estudo discute a concepção de infância no Brasil, em diversos
momentos históricos, destacando que, durante muito tempo, a sociedade impôs às
crianças um lugar de inferioridade em relação ao adulto. Reflexo desta compreensão
é a ausência, até o final do século XX, de políticas públicas que assegurassem,
dentre outras possibilidades, o acesso e a permanência dos infantes em espaços
educacionais. O quadro da invisibilidade da população de 0 a 6 anos começa a ser
redefinido somente com a pressão social construída, em grande medida, pela ação
dos movimentos populares e dos pesquisadores em educação, que contribuem com
estudos e pesquisas na elaboração do ordenamento legal em favor do público
infantil. Nesse sentido, faz-se necessário dar visibilidade às políticas públicas e
debater a Educação Infantil enquanto função do Estado, conforme determina a
Constituição Federal, de 1988; o Estatuto da Criança e Adolescente, de 1990; e a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996. Outro aspecto analisado é a
exigência da formação para os profissionais que atuam com as crianças, a fim de
que possam ser observadas todas as especificidades necessárias para o trabalho
pedagógico. Tais questões, no entanto, apesar de sua abrangência, serão
analisadas nesta pesquisa dentro de um contexto educacional específico, mais
precisamente no município de Teixeira de Freitas localizado no Extremo Sul da
Bahia –, onde se observa o processo de organização da Educação Infantil. Desta
forma são consideradas as ões da Secretaria Municipal de Educação, que intenta
cumprir os dispositivos legais no que diz respeito ao acesso e permanência da
população infantil em instituições públicas de educação. Também será discutido
como estas ões são vivenciadas pelos profissionais que atuam diretamente nas
pré-escolas do município. Para tanto, foram utilizadas as informações
disponibilizadas pela Secretaria Municipal de Educação, através de documentos e
informações coligidas por um questionário enviado ao órgão municipal. A este
material, soma-se outro questionário, respondido por 16 professoras, que objetivou
traçar o perfil das profissionais da Educação Infantil do município e registrar as
compreensões que as mesmas têm a respeito do universo infantil. Os resultados da
pesquisa permitem afirmar que a SMEC procurou implantar a Educação Infantil no
município, porém há ainda a necessidade de que outras ações sejam concretizadas,
tais como: um plano de carreira, concursos públicos para os profissionais desta
etapa de ensino, bem como a criação de uma formação em serviço que discuta os
problemas atinentes ao desenvolvimento infantil. Outro aspecto a ser considerado é
a construção das Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil a partir do contexto
local, pois a infra-estrutura destinada para as instituições não está compatível com
as especificidades da Educação Infantil.
Palavras-chave: políticas públicas, formação de professores, educação infantil.
5
ABSTRACT
This study addresses the notion of infancy in Brazil at various historical moments. It
highlights that for a long time society made children seem inferior to adults. A
reflection of this view is the absence up to the end of the twentieth century of public
policies to guarantee, among other possibilities, access and non-evasion of children
in educational spaces. The 0-6 year old population’s invisibility begins to dissipate
due to social pressure, built up to a great extent, through popular movements and
education researchers that contribute to studies and research aimed at setting up a
legal framework for infants. Thus, it is essential to divulge public policies as well as
debate Infant Education vis à vis the State’s role, as established in the 1988 Federal
Constitution; the 1990 Child and Adolescent Statute; and the 1996 Educational
Directives and Laws. Another aspect considered is the need to train infant education
professionals so that all pedagogical requirements are met. Given the scope of these
issues, this research will focus upon a specific educational context, the Teixeira de
Freitas municipality, to the extreme south of Bahia, where organization of Infant
Education will be observed. Further, actions lived out by professionals in pre-school
environments in the municipality were studied. Thus, data available in documents
from the Municipal Secretariat of Education and information gathered from a
questionnaire sent to the secretariat were analyzed. In addition to this material,
another questionnaire filled out by 16 teachers was analyzed so as to trace Infant
Education professionals’ profiles and record this group’s perspectives on the infant
universe. Based upon the results, it is possible to affirm that the Municipal Secretariat
of Education has sought to implement Infant Education in the municipality.
Nevertheless, there is still the need for other actions, such as, a career plan, public
service exams and the establishment of an in-service training program so as to
discuss problems affecting infant development. Another aspect to be taken into
account is the elaboration of Infant Education Curricular Directives based upon the
local context since infra-structure used in institutions are not compatible with the
specific requirements for infant education.
Key words: public policies, teacher training, infant education.
6
Dedico esta produção à todos pesquisadores e
todas pesquisadoras que m numa luta
incessante a fim de que se reconheça a infância
em si mesmo, e, à todos e todas profissionais da
Educação Infantil que procuram dar um novo
significado ao seu labor, acreditando sempre que é
possível articular o cuidar e o educar nas creches
e nas pré-escolas brasileiras.
7
AGRADECIMENTOS
Na trajetória desta pesquisa, inúmeras foram as contribuições que recebi para que
pudesse realizar esses agradecimentos, sendo assim, gostaria de tecer o primeiro
agradecimento a Deus, que ao me dar a chance de viver, deu-me também a certeza
de ser feliz, a força para superar os obstáculos, a serenidade para acreditar que é
possível buscar o conhecimento por mais longe, que ele nos pareça.
Aos professores e funcionários do PPGEduC, campus I / UNEB, que foram
responsáveis diretos pela minha formação: Kátia Mota, Jorge Tarqui, Eduardo
Nunes, Cristina D’Ávila, Elizeu Souza Clementino, Jacques Soneville, Yara Dulce
Atayde, Antonio Dias, Delcele Mascarenhas, Narcimária Luz, Daniela e Juliana.
Aos amigos que tive a oportunidade de conhecer desde o processo de seleção do
mestrado e que aos poucos passaram a ocupar um lugar importante em minha vida,
em especial a Leomárcia, Priscila, Lílian, Dídima, Márcia, Karine, Leonan e Giovana,
com certeza guardarei para sempre a lembrança e o carinho de vocês. Obrigada por
cada sugestão, dica e incentivo.
A Dona Unaide que com suas velas e orações iluminaram os meus caminhos para
que eu pudesse concluir mais essa etapa em minha vida. Meu eterno
agradecimento.
Ao Sr. Antonio (in memorian), meu pai de coração e de alma, não sei o que teria
sido da minha vida sem a sua “corujice”, sem seu amor e sem seu carinho
incondicional, muito obrigada por fazer parte de minha história de vida, te amarei
eternamente.
A meu filho João Vitor, que mesmo tão pequeno, se mostra como um guerreiro
por superar as ausências constantes de sua mãe, e mesmo assim continua me
amando incondicionalmente.
8
A Tânia, que me acolheu em sua casa nos momentos em que eu estava em
Salvador, na sua biblioteca incomensurável pude dialogar com diversos autores,
principalmente pude dialogar e aprender muito contigo. Muito Obrigada, sei que a
dívida é eterna.
A Liliane que mesmo de longe, com toda sua delicadeza me incentivava e torcia
para que eu conseguisse chegar onde cheguei, valeu as emoções dividas no olhar e
no carinho de um abraço.
A irmã Bel, que assumiu o papel de tia-mãe-avô de João Vitor, e pode garantir ao
nosso João um carinho e cuidado especial nos momentos em que não pude me
fazer presente.
Ao irmão também Bel pelo carinho, obrigada por ter colaborado com minha
formação.
Aos sobrinhos: Rodrigo, Raphael, Daniel, Vinícius, Guilherme, Ricardo e Maurice.
A Cláudia Celeste, que soube me ensinar com ternura e sensibilidade os saberes da
docência superior e por ter acreditado em mim. Mesmo distante, você continua
perto, muito perto do meu coração.
A Zenaide, porque você Naná é uma pessoa que se tornou especial e essencial em
minha vida, sua amizade irrestrita me fez chegar até aqui e me fez valorizar ainda
mais a importância de pessoas como você em nossa vida, o meu maior e profundo
agradecimento.
A minha sogra e amiga D. Te, valeu pelo carinho dispensado a mim, muito obrigada
por ter me aceitado como uma filha.
A Liana Gonçalves Pontes Sodré, pela leitura atenta e cuidadosa deste trabalho, foi
muito bom dividir contigo as angústias e as alegrias, que permearam a realização
9
desta pesquisa, ter sido sua orientanda foi um privilégio. Muito obrigada por tudo,
principalmente por ter me respeitado enquanto pesquisadora iniciante.
As Professoras Vera Maria Ramos de Vasconcellos e Ronalda Silva Barreto, que
colaboraram com críticas e sugestões, para as reformulações necessárias nesta
pesquisa.
A Soraia, uma amiga especial, obrigada pelo carinho.
A Ana Lúcia, companheira de profissão e amiga do coração. Seu exemplo de vida
me ajudou a superar uma dor, que antes pareciam ser insuperável e inexplicável.
Ao Colégio Integração, por ter acreditado em meu trabalho enquanto profissional da
Educação Infantil e por ter acolhido João Vitor quando precisei viajar para fazer o
mestrado, obrigada a todos os profissionais deste colégio, que não mediram
esforços para proporcionar bons momentos para João Vitor.
Ao companheiro Tarcisio, que sempre me incentivou a alçar vôos cada vez mais
altos. Obrigada por fazer parte da minha vida e por dividir comigo a responsabilidade
de cuidar e de educar o nosso pequeno João Vitor.
10
Pra soletrar a liberdade
Tem que estar fora de moda
Criança fora da escola, pois a tempo
Não vigora o direito de aprender
Criança e adolescente numa educação decente
Pra um novo jeito de ser
(Zé Pinto)
11
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Anped – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
Ceprog – Centro Educacional Professor Rômulo Galvão
Ceteba – Centro de Educação Técnica da Bahia
CF – Constituição Federal
Coepre – Coordenação Pré-Escolar
Cestef – Centro de Ensino Superior de Teixeira de Freitas
Consed – Conselhos dos Secretários de Estado da Educação
EAD – Educação à distância
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
Emarc – Escola Média Agropecuária Regional da Ceplac
Factef – Faculdade de Teixeira de Freitas
Fatecad – Faculdade Teológica e Cultural das Assembléias
FASB – Faculdades do Sul da Bahia
FBEI – Fórum Baiano de Educação Infantil
Febem – Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor
FFPA – Faculdade de Formação de Professores de Alagoinhas
FNAS – Fundo Nacional de Assistência Social
FTC – Faculdades de tecnologia e Ciências FTC
Fundeb – Fundo Nacional da Educação Básica
Fundef – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e
Valorização do Magistério
GAE – Grupo Ambiente-Educação
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
ISE – Instituto Superior de Educação
LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação
MDS – Ministério do Desenvolvimento Social
MECMinistério da Educação e Cultura
MieibMovimento Interfóruns de Educação Infantil no Brasil
MLT – Movimento de Luta pela Terra
MPOG – Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
12
MS – Ministério da Saúde
MT – Ministério do Trabalho
Napei – Núcleo de Apoio Pedagógico à Educação Infantil
NOB/SUAS – Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social
PIB – Produto Interno Bruto
PCN – Parâmetro Curricular Nacional
PNE – Plano Nacional de Educação
PPP – Projeto Político Pedagógico
Pronera – Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária
Rcnei – Referencial Curricular Nacional Para a Educação Infantil
SEC – Secretaria da Educação
Seseb – Superintendência de Ensino Superior do Estado da Bahia
SBES – Secretárias de Bem Estar Social
SMEC – Secretaria Municipal de Educação e Cultura
UNEB – Universidade do Estado da Bahia
Undime – União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação
Unopar – Universidade do Norte do Paraná
13
LISTA DE FIGURAS
1 Gráfico. Pré-escola (matrículas iniciais) Teixeira de Freitas – BA
106
2 Gráfico. População de 4 – 6 anos do município de Teixeira de Freitas
– BA, 2001
118
3 Gráfico. Temas abordados durante a formação em serviço (%) 136
14
LISTA DE TABELAS
1 Distribuição das matrículas iniciais, na pré-escola, efetuadas no
período 1999 / 2006 na rede de ensino do município de Teixeira de
Freitas – BA
104
2 Distribuição da freqüência simples dos participantes no projeto de
formação continuada elaborado pela SMEC de Teixeira de Freitas
BA
110
3 Perfil dos profissionais que trabalham nas pré-escolas municipais,
em Teixeira de Freitas – BA, 2005 – Tempo de atuação
128
4 Fatores que contribuíram para o ingresso, na Educação Infantil, das
profissionais que trabalham nas pré-escolas municipais, em Teixeira
de Freitas – BA, 2005
130
5 Perfil dos profissionais que trabalham nas pré-escolas municipais,
em Teixeira de Freitas – BA, 2005 – Nível de escolaridade
131
6 Perfil dos profissionais que trabalham nas pré-escolas municipais,
em Teixeira de Freitas BA, 2005 Aspectos que podem contribuir
para uma melhor atuação pedagógica
133
7 Dificuldades do cotidiano das profissionais que trabalham nas pré-
escolas municipais, em Teixeira de Freitas – BA, 2005
138
8 Objetivos Educacionais – Definições de Autonomia
141
9 Objetivos Educacionais – Definições de Obediência
143
10 Objetivos Educacionais – Definições de Independência
144
11 Objetivos Educacionais – Definições de Disciplina 145
15
LISTA DE QUADROS
1 Distribuição do número de vagas oferecido para as crianças na rede
pública de ensino do munipio de Teixeira de Freitas – BA, 2005
120
2 Relação entre mero de crianças por agrupamento ou turma e o
número de profissionais de acordo com o MEC
121
3 Distribuição do piso salarial dos profissionais que trabalham nas
creches e pré-escolas municipais, em Teixeira de Freitas – BA, 2005
125
16
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................... 18
1º Capítulo – EDUCAÇÃO INFANTIL: concepções e políticas ......................... 32
1.1 A história da infância....................................................................................... 33
1.2 A infância no Brasil: breve histórico................................................................. 40
1.3 As políticas públicas contemporâneas voltadas para Educação Infantil .......... 43
Capítulo O PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO INFANTIL:
identidades, relevância, implicações e possibilidades .................................... 66
2.1 A formação dos profissionais da Educação Infantil: dilemas e perspectivas ... 67
2.2 A construção de identidades de profissionais da Educação Infantil ................ 75
2.3 Local de formação: Universidade ou Institutos Superiores de Educação......... 80
2.4 Formação em serviço: um espaço de construção coletiva............................... 85
3º Capítulo – PERCURSO METODOLÓGICO..................................................... 88
3.1 Da definição do problema aos procedimentos metodológicos......................... 89
3.2 O desenvolvimento do estudo......................................................................... 91
3.3 Instrumentos da pesquisa ............................................................................... 93
Capítulo A IMPLANTAÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO
MUNICÍPIO DE TEIXEIRA DE FREITAS – BAHIA............................................... 98
4.1 O que dizem os documentos da SMEC .......................................................... 99
4.2 O que diz o questionário aplicado junto à SMEC............................................. 116
4.3 O que dizem as profissionais da Educação Infantil.......................................... 127
4.4 Objetivos educacionais.................................................................................... 139
5º Capítulo – CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................ 147
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 153
17
ANEXOS
Autorização de Sônia Kramer para utilização do questionário............................... 1
Questionário: “Formação de profissionais da Educação Infantil no Estado
do Rio de Janeiro: concepções, políticas e modos de implementação”................. 2
Autorização de Vera Vasconcellos para utilização do questionário ....................... 3
Questionário: ”Contextos infantis de construção do conhecimento e
formação da subjetividade da criança e do educador”........................................... 4
Organograma do sistema municipal de ensino...................................................... 5
APÊNDICE
Questionário aos profissionais municipais da Educação Infantil de Teixeira
de Freitas – Bahia. Tema: perfil docente............................................................... 1
18
INTRODUÇÃO
__________________________________________________________
Eu sei muito pouco.
Mas tenho a meu favor tudo o que não sei e
– por ser um campo virgem – está livre de preconceitos.
Tudo o que não sei é a minha parte maior e melhor: é a minha largueza.
É com ela que eu compreenderia tudo.
Tudo o que não sei é que constitui a minha verdade.
Clarice Lispector
19
As inquietações para a elaboração desta pesquisa ainda acompanham a angústia
vivenciada nos primeiros meses do meu ingresso, em 1997, no curso de Pedagogia,
do Departamento de Educação na Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
Campus X, em Teixeira de Freitas (BA), a habilitação do curso que ora iniciava era
“Habilitação das Matérias Pedagógicas do grau”. Logo, o curso me certificaria
para trabalhar nas disciplinas que compunham o quadro curricular do curso de
magistério, na modalidade normal do Ensino Médio. Porém, as disposições da Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) Lei 9.394/96 naquele
momento não mais aceitariam a formação em magistério para atuar na Educação
Infantil e nas primeiras séries do Ensino Fundamental, sendo necessário, portanto, a
formação em nível superior em Pedagogia ou Normal Superior até o final da Década
da Educação, em 2010, para esta atuação.
Em meio aos avanços apresentados na LDB, nós, alunos do curso de Pedagogia,
ficamos desnorteados em relação ao nosso campo de trabalho, já que não tínhamos
a real dimensão do que seria um curso de Pedagogia e as possibilidades de
atuação. Sentíamo-nos perdidos, pois considerávamos que, como a exigência
mínima da formação para atuar na Educação Infantil e nas primeiras séries do
Ensino Fundamental deveria acontecer em nível superior, conforme previsto na lei
em vigor, no nosso entendimento o curso de magistério ou normal do Ensino dio
deixaria de existir, e os interessados iriam fazer o curso de Pedagogia e Normal
Superior como determinava a Lei naquele momento.
Durante a formação acadêmica no curso de Pedagogia os conhecimentos foram
gradativamente apreendidos de maneira que aos poucos uma melhor compreensão
da finalidade e da objetividade do curso era sistematizada. Comecei a perceber que
o campo de atuação do pedagogo não se limitava apenas a ministrar aulas no curso
de magistério, que por sinal não deixou de existir até hoje, que a alteração da
legislação permite a formação nos cursos de magistério para atuar tanto na
Educação Infantil como também nas primeiras séries do Ensino Fundamental.
Contudo, muitos questionamentos de diversos autores como Campos (2005),
Kramer (2006, 2005, 2001, 1998), Kishimoto (2000, 1998), Machado (2005),
Nascimento (2003), Vasconcellos (2001b) dentre outros, sobre essa formação
20
mínima para atuar com crianças em creches ou em pré-escolas, devido às
singularidades necessárias ao desenvolvimento infantil.
A cada semestre cursado, na graduação, novas disciplinas contribuíam para a
construção de saberes a respeito da complexidade do desenvolvimento humano.
Esses saberes se constituíam em experiências trico-práticas realizadas durante a
formação. Assim, os conflitos quanto ao campo de atuação e, principalmente, quanto
à real necessidade de uma formação especializada para trabalhar na primeira etapa
da Educação Básica foram superados.
O espaço acadêmico me proporcionou situações de aprendizagem que
necessitavam ser divididas com outros espaços. Era chegado o momento de aplicar
em espaços formais e informais de educação as concepções teóricas e práticas
formuladas e apreendidas durante a formação. Seria isto possível? Ou melhor,
conseguiria pautar meu trabalho pedagógico de maneira coerente com os prinpios
epistemológicos adquiridos? Percebi com o passar do tempo que a resposta a este
questionamento constituía-se em um processo ininterrupto de reflexão nas ações
pedagógicas.
Logo no segundo ano do curso de graduação tive a oportunidade de estagiar no
Colégio Estadual Professor mulo Galvão (Ceprog), em Teixeira de Freitas (BA).
Sem dúvida, nesse período pude vivenciar experiências significativas para a minha
vida profissional. Trabalhar numa escola que tem a sua história construída junto com
a do município, e com professores que outrora haviam sido os meus no Ensino
Médio, favoreceu para que o trabalho fluísse. Bem verdade que, às vezes, havia
momentos de insegurança, nada que não fosse superado com reflexões junto aos
colegas tanto da escola quanto do curso de graduação.
No terceiro ano da faculdade surgiu a oportunidade para desenvolver um trabalho de
coordenação pedagógica no Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária
(Pronera), em parceria com a UNEB. Para assumir esse trabalho era necessário
abrir mão de alguns confortos, a saber: trabalhar na mesma cidade onde estudava;
continuar com as comodidades oferecidas na casa dos meus pais; manter
sistematicamente contatos com pessoas importantes da minha relação pessoal.
21
Todas estas condições foram subtraídas, uma vez que este trabalho seria realizado
em áreas de acampamento/assentamento do Movimento de Luta pela Terra (MLT),
situado nas regiões circunvizinhas do município de Eunápolis, que se encontram a
160 quilômetros distantes de Teixeira de Freitas. A riqueza do desafio pedagógico
imposto por este trabalho foi fundamental para que eu não hesitasse no
comprometimento com o projeto.
A experiência junto ao Pronera permitiu que vivenciasse um dos papéis da
universidade, sobretudo da universidade pública no que se refere à aproximação dos
seus educandos com a comunidade ou com os movimentos sociais. Esta atuação foi
singular, tanto em minha vida pessoal quanto profissional. Muito do que aprendi com
aqueles jovens e adultos foi utilizado, posteriormente, quando exerci a docência em
uma escola municipal com turmas de aceleração.
Ao concluir o curso de Pedagogia desenvolvi durante um ano a ação docente junto a
crianças das séries iniciais em uma escola particular de Educação Infantil e Ensino
Fundamental. Minhas concepções teóricas firmadas ao longo da formação
acadêmica não tinham ressonâncias com as concepções defendidas pela escola. No
final desse ano letivo, diante da impossibilidade em desenvolver um trabalho com as
proposições nas quais eu acreditava e ainda acredito, me desliguei desta instituição
para, posteriormente, ingressar na coordenação pedagógica do Ensino Médio em
uma instituição da rede estadual de ensino.
Mais uma vez a nova experiência permitiu a ampliação e a aquisição de
conhecimentos, pois atuar na coordenação de uma escola de grande porte fez com
que eu tivesse contato com diversas situações de aprendizagem muitas vezes
conflituosas nas diferentes áreas do saber. O amadurecimento adquirido no
espaço da sala de aula anteriormente foi fundamental para administrar tais situações
frente à coordenação pedagógica.
Em 2003 fui convidada por uma escola particular de Educação Infantil e Ensino
Fundamental para fazer parte de seu corpo docente e durante os dois anos em que
estive nessa instituição de ensino pude desenvolver um trabalho diferente na
Educação Infantil, do realizado anteriormente, pois a proposta pedagógica desta
22
instituição baseia-se em pressupostos epistemológicos que permitem aos seus
alunos tornarem-se partícipes na construção de seu próprio conhecimento.
O trabalho que realizei nesta escola foi com a turma de crianças de quatro anos de
idade. É importante esclarecer que os profissionais que atuavam na escola
possuíam formão em Pedagogia e procurávamos desenvolver atividades que
proporcionassem às crianças um desenvolvimento integral, de maneira a considerar
os aspectos preconizados na LDB. Realizávamos projetos interdisciplinares e
contávamos com uma coordenação pedagógica, que nos dava suporte técnico e
pedagógico nas unidades de ensino. As famílias se faziam presentes na escola por
meio de momentos de coordenações pedagógicas para terem conhecimento do
desenvolvimento de seus filhos, a área para realizar as atividades era ampla e
favorecia o desenvolvimento de inúmeras ações pedagógicas. A escola possuía
também uma biblioteca com diversos livros infantis. As crianças tinham acesso à
biblioteca para realizar leitura e empréstimo de livros, os banheiros eram adaptados
para as crianças e os móveis atendiam às necessidades das mesmas.
A escola realizava durante todo o ano letivo o projeto “Família e escola vínculo
essencial”, que proporcionava uma articulação entre a administração escolar, os
professores e os alunos e suas respectivas famílias, por meio de palestras e
seminários que tratavam sobre o desenvolvimento infantil, como também sobre o
relacionamento afetivo entre pais e filhos.
Em relação à formação continuada dos profissionais da educação infantil desta
instituição eram realizados estudos sistemáticos para: troca de experiências;
construção de novas possibilidades de atuação; desenvolver atividades
socializadoras e a construção do conhecimento das crianças. As atividades de
planejamento aconteciam de forma coletiva, para que todos pudessem colaborar na
organização das situações de desenvolvimento das crianças. Durante os trabalhos
desenvolvidos nessa escola, participávamos de encontros, fóruns de educação
realizados no município e às vezes em outras cidades, ou seja, apesar de os
profissionais terem a formação inicial em Pedagogia, buscávamos dar
continuidade à nossa formação em serviço.
23
Apesar de ser uma escola recém fundada, apenas cinco anos de atuação, ela tinha
um quadro docente com profissionais experientes nas diversas modalidades de
ensino, e os princípios que deram suporte para a criação da mesma foi a
necessidade de materializar um sonho de ter uma escola que pudesse ter como
perspectiva a compreensão de que as crianças são seres indivisíveis, como já havia
sido preconizado na LDB – Lei 9.394/96. Para tanto, um grupo de pais e professores
se mobilizaram para fundar a escola, com a intenção de que a mesma fosse
diferente. Esse grupo fundador acreditou na possibilidade de estabelecer uma
parceria entre a família e a escola que fosse capaz de proporcionar essa diferea,
mas o que significava essa diferença? Em outras palavras, significava ser uma
escola que primasse pela qualidade da educação e oferecesse um ambiente
propício para o desenvolvimento integral das crianças.
Os questionamentos que contribuíram para essa pesquisa surgem em meio a esse
clima de “certezas” vivenciadas na instituição, com profissionais bem qualificados,
estrutura física favorável para o desenvolvimento integral das crianças, família
envolvida e participante no processo de socialização dos conhecimentos
apreendidos no espaço escolar e a formão em serviço acontecia
sistematicamente.
No segundo semestre de 2004 decidi investir na minha carreira profissional com
perspectiva de trabalhar com o ensino superior. De maneira que atualmente sou
Professora Auxiliar da UNEB, no Departamento de Educação Campus XV, em
Valença (BA). Neste departamento desenvolvo atividades de ensino e de extensão
na área de Educação Infantil, atividades essas que colaboraram também para a
realização desta pesquisa.
Mas qual a finalidade em relatar uma experiência bem-sucedida em espaços
particulares para dar início à justificativa de uma pesquisa desenvolvida em espaços
públicos de Educação Infantil? Isso se deve ao fato de acreditar que não nada
mais oportuno para uma sociedade que se quer democrática, plural e justa, na oferta
de condições de oportunidades aos seus cidadãos, do que o debate sobre a
Educação Infantil pública enquanto ação do Estado.
24
Em particular, gostaria de esclarecer que apesar de ter construído parte da minha
carreira profissional em instituições privadas, jamais esqueci a importância da
educação enquanto bem universal, portanto de caráter público e de obrigação do
Estado. No que diz respeito ao acesso para educação das crianças de zero a seis
anos, acredito que é na escola pública que os problemas se afloram de maneira
mais evidente.
Olhar para trás hoje me faz reconhecer a importância que o curso de Pedagogia
exerceu em minha vida, pois foi com as inquietações que passaram a existir a partir
da graduação que continuei buscando alternativas para meu trabalho na formação
de profissionais da Educação Infantil.
Decidiu-se como objeto de estudo a realidade da Educação Infantil pública de
Teixeira de Freitas (BA), em primeiro lugar, por ter sido neste município, que a minha
formação acadêmica teve início, com a graduão em Pedagogia, e em segundo
lugar, pelo compromisso político que devemos ter com a educação. O
desenvolvimento desta pesquisa que ora se apresenta, se configura na contribuição
para novas propostas de políticas públicas para garantir uma Educação Infantil de
qualidade, para que se possa assegurar, o acesso e a permanência das crianças em
ambientes que visem o desenvolvimento integral das mesmas.
Posso afirmar que a minha formação profissional contribuiu de forma significativa
para compreender a necessidade de espaços de formação inicial ou continuada que
proporcione o debate acerca da importância da Educação Infantil. Por esse motivo
defendo a oferta, conforme está previsto na LDB 9.394/96, de espaços para estudos
e planejamento para que os profissionais possam discutir aspectos que dizem
respeito aos trabalhos realizados, e assim, possam construir coletivamente o projeto
político pedagógico das creches e das pré-escolas.
Os fatores que contribuíram para a escolha do objeto da pesquisa foram a
importância de se discutir uma Educação Infantil pública de qualidade, bem como a
necessidade em dar visibilidade às políticas blicas locais para a primeira etapa da
Educação Básica. Tais argumentos se justificam porque é recente o investimento do
município voltado para a Educação Infantil, portanto, uma análise sobre as ações
25
desenvolvidas até o momento, certamente poderá colaborar para direcionar futuros
investimentos nesta modalidade de ensino.
Outrossim, fez-se necessário compreender a realidade das escolas municipais de
Educação Infantil do município de Teixeira de Freitas (BA) para observar como se
materializavam as políticas públicas voltadas para a Educação Infantil, desde as
ações da formação dos profissionais que atuam com as crianças nas creches e pré-
escolas municipais, até os espaços físicos destinados para essa modalidade de
ensino. Vale lembrar que esses questionamentos não têm como intenção comparar
o que vivenciado nas escolas particulares com o que experienciado nas instituições
públicas de ensino, mas sim observar como a Secretaria Municipal de Educação
(SMEC) de Teixeira de Freitas (BA) implementou as mudanças em decorrência da
Lei 9.394/96. Pois é preciso discutir a formação, seja ela inicial ou continuada, dos
profissionais da Educação Infantil, como um aspecto importante para a realização
das atividades que articulem o cuidar e o educar em instituições públicas para as
crianças de 0 a 6 anos de idade.
A experiência que desenvolvi como profissional na Educação Infantil foi
determinante na escolha do objeto desta pesquisa; o trabalho como professora da
UNEB nas disciplinas para a área da Educação Infantil contribuiu com a emergência
de questionamentos acerca dessa modalidade de ensino na rede pública. A partir
das inquietações daí decorrentes surgiu o desejo de desenvolver esta pesquisa a fim
de que pudesse conhecer melhor a Educação Infantil pública no município
supracitado.
O espaço acadêmico, agora como campo de atuação profissional, se configurou
num ambiente propício para discutir os questionamentos que outrora tinha como
docente da Educação Infantil. Como alguns alunos da graduação já são profissionais
que atuam nessa área, uma troca significativa de saberes entre esse grupo e,
sobretudo, entre aqueles que ainda não atuam na docência.
Acontece, a cada novo semestre, no decorrer da disciplina Fundamentos da
Educação Infantil, que ministro no curso de Pedagogia, atividades práticas sobre a
atenção dispensada à população infantil de zero a seis anos, e realiza-se, desta
26
forma, um contato direto com as creches e pré-escolas públicas. A partir das visitas
dos alunos da graduação a esses espaços, podem-se aprofundar os debates sobre
a Educação Infantil pública como um direito que se pretende assegurar a todas as
crianças brasileiras.
A socialização das inquietações e questionamentos que emergiram destas
atividades foram fundamentais para a criação de outro espaço de discussão sobre a
temática, qual seja, a criação de um projeto de extensão
1
em que fosse possível
aproximar os profissionais da Educação Infantil com a Universidade, a fim de que se
ampliassem as discussões sobre os objetivos desta modalidade de ensino, a
concepção de infância que permeia o cotidiano destes profissionais, quais políticas
públicas implementadas para a primeira etapa da Educação Básica, enfim, uma
série de temas capaz de permitir a construção coletiva de saberes capazes de
colaborar com o desenvolvimento integral das crianças que freqüentam as creches e
pré-escolas públicas municipais.
Como o município de Teixeira de Freitas teve um desenvolvimento acelerado nos
últimos anos, tal fator nos permite mostrar com mais clareza o processo de
implantação da Educação Infantil e os fatores que contribuíram para que isso
ocorresse.
Breve histórico do município em estudo
A cidade de Teixeira de Freitas está localizada no Extremo Sul da Bahia, distante
884 km da capital Salvador. O município fica próximo dos estados de Minas Gerais e
Espírito Santo. Por este aspecto, nota-se uma forte presença de mineiros e
capixabas, que consigo trazem bitos, costumes e tradões que são somadas às
práticas culturais do território baiano.
A emancipação política de Teixeira de Freitas (BA) ocorreu em 1985, porém a sua
ocupação populacional se dá, de maneira mais intensa, no início da década de
1970, com a atividade da extração madeireira e a construção da BR 101. No aspecto
1
O título do projeto de extensão éFormação do profissional da Educação Infantil: dilemas e
questões atuais”.
27
econômico é importante esclarecer que o município, apesar de sua curta trajetória
histórica, tem se consolidado como um pólo de referência regional no qual ocupa,
em 2004, a 23ª posição do Produto Interno Bruto (PIB) conforme dados
disponibilizados pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais (SEI),
(BAHIA, 2007).
A história da cidade de Teixeira de Freitas está diretamente relacionada com o
processo de ampliação das fronteiras agrícolas e fundiárias do Extremo Sul baiano.
Em meados da década de 1950, a ocupão na região do Extremo Sul Baiano,
aconteceu em grande escala em cidades litorâneas a exemplo dos municípios de
Prado, Alcobaça e Caravelas. Posteriormente com a construção da BR-101, se a
espacialização populacional em direção ao interior.
O processo de criação do município de Teixeira de Freitas nos apresenta um dado
que é peculiar na formação de cidades com limites geográficos próximos. O
município foi criado a partir do desmembramento das terras pertencentes a Alcobaça
e Caravelas, em 9 de maio de 1985. Alguns de seus bairros: Jerusalém, Vila Vargas,
São Lourenço e o bairro rural Duque de Caxias, pertenciam ao município de
Caravelas e, os bairros de Monte Castelo, Lagoa (Centro) e Burraquinho (Wilson
Brito) pertenciam ao município de Alcobaça. Na época, o então distrito de Teixeira
de Freitas contava com aproximadamente 60.000 habitantes. A este respeito, cabe
destacar que naquele momento, o número de habitantes do distrito era superior à
população dos municípios sedes. Fato que despertou o interesse e atuação de
lideranças políticas da região em prol da emancipação.
Apesar da ausência de infra-estrutura verificada na época da emancipação,
destacadamente: a irregularidade no fornecimento de energia elétrica e precárias
vias de acesso. Verificava-se um grande movimento migratório: comerciantes,
pecuaristas, agricultores e um enorme contingente de trabalhadores que vêem de
outras reges da Bahia, bem como dos estados vizinhos. Este universo, de novos
sujeitos, produz uma ocupação desordenada do espaço urbano, que está associada
ao forte incremento populacional do município (ver comparativo da população em
1985 e hoje). Atualmente, este movimento pode ser verificado em menor escala.
28
As atividades econômicas, a partir da metade do século passado, estavam
baseadas na extração de madeira da Mata Atntica – existiam diversas serrarias na
região –, as áreas devastadas passaram a ser ocupadas por atividades ligadas à
pecuária e a agricultura. O município, na década de 1980, ganha destaque nacional
pela importante produção de mamão, abóbora e melancia.
Por se localizar em posição geográfica privilegiada, uma vez que seus limites
territoriais se encontram próximos ao de outros estados brasileiros – Espírito Santo e
Minas Gerais –, as terras do município acabam por representar a possibilidade, para
a população destes estados, de residirem nesta região de fronteira. Outro aspecto é
o fato do município baiano estar localizado em uma região de forte atrativo turístico,
graças aos balneários localizados na costa do descobrimento. Por estar localizada
às margens da BR 101, a cidade de Teixeira de Freitas passa a servir de referência
para as cidades litorâneas, inicialmente como entreposto comercial. De forma
progressiva, cidades com essas características, outro exemplo na região é o
município de Eunápolis, m o seu desenvolvimento acelerado, pois naturalmente
ampliam a oferta dos serviços prestados. Desse modo, a infra-estrutura de bancos,
comércios, serviços nas áreas de saúde e educação, tornam-se compatíveis com as
necessidades da região que atendem.
Em relação às primeiras escolas de Teixeira de Freitas, os estudos de Silva (2002)
afirmam que estas surgem na década de 1970 a partir da necessidade da
comunidade local em ter espaços de escolarização, uma vez que, apenas os filhos
dos que possuíam recursos financeiros iniciavam seus estudos, nos estados
vizinhos. Segundo a autora, as primeiras escolas funcionavam em locais cedidos
pela própria comunidade sem infra-estrutura adequada, e a educação era realizada
pelas professoras leigas.
Os dados da Secretaria Municipal de Educação (2005) revelam que a rede municipal
de ensino é formada por 62 escolas, que estão localizadas na sede como também
na zona rural, e atendem a um público de pouco mais de 26.000 alunos distribuídos
na Educação Infantil e no Ensino Fundamental. Por sua vez, a rede estadual de
ensino com 10 escolas, presta serviços educacionais a mais de 15.000 alunos que
se encontram matriculados no Ensino Fundamental e Médio. Além dos serviços
29
educacionais oferecidos pela iniciativa privada para a Educação Básica, tem-se uma
Escola dia Agropecuária Regional da Ceplac (Emarc), de nível médio com
aproximadamente 350 alunos.
No estudo de Silva (2002) é apresentado que desde 1980 o município oferece
formação superior para a população, inicialmente com um convênio entre a
Secretaria de Educação e Cultura (SEC) e a Superintendência de Ensino Superior
do Estado da Bahia (Seseb), extensão do Centro de Educação Técnica da Bahia
(Ceteba). Posteriormente com a Faculdade de Formação de Professores de
Alagoinhas (FFPA) e a UNEB que implanta no município o Centro de Ensino
Superior de Teixeira de Freitas (Cestef) que oferecia, inicialmente, os cursos de
Licenciatura Curta em Letras e Estudos Sociais, mais tarde, implanta-se o curso de
Licenciatura Plena em Letras, assim como Pedagogia, Matemática, Biologia e
História.
Além da UNEB, que é a única instituição superior pública, o município possui três
faculdades particulares
2
que oferecem, desde 2001, diversos cursos de
Licenciaturas e de Bacharelados. Nos últimos anos tem-se observado também o
crescimento, no município, da oferta em curso de nível superior através da
modalidade de Educação à Distância (EAD)
3
. Todos estes dados corroboram para a
consolidação do município como pólo regional para a formação em nível superior,
que atrai pessoas de todo o Extremo Sul Baiano, bem como do norte do Espírito
Santo e nordeste de Minas Gerais.
É importante esclarecer que uma pesquisa, no município de Teixeira de Freitas,
apresenta uma contribuição para pensarmos a Educação Infantil em um centro que
se apresenta com capacidade de influenciar, através da atuação no contexto
regional, outros municípios, assim como pelo trabalho de pesquisa que tem sido
consolidado pelo Departamento de Educação Campus X da UNEB, e ainda pelo
fortalecimento da política de interiorizão do conhecimento aplicada pelo caráter
multicampi da Universidade do Estado da Bahia.
2
Faculdades do Sul da Bahia (FASB), Faculdade de Teixeira de Freitas (Factef) e a Faculdade
Teológica e Cultural das Assembléias (Fatecad).
3
Universidade do Norte do Paraná (Unopar) e Faculdades de tecnologia e Ciências (FTC).
30
Toda esta trajetória despertou o interesse por um estudo que permitisse
acompanhar o impacto das novas políticas voltadas para a Educação Infantil frente
aos atores que compõem a comunidade educacional responsável por essa etapa da
educação, quais sejam: os técnicos responsáveis pela implementação das políticas
públicas e os professores que efetivamente desenvolvem o projeto pedagógico
delineado pelo município.
A organização da presente dissertação encontra-se disposta em cinco capítulos. O
primeiro capítulo, intitulado “Educação Infantil: concepções e políticas”, apresenta
um levantamento de como a infância é vista em diversos momentos históricos. Nele
discute-se sobre a atenção dispensada às crianças de zero a seis anos no Brasil, a
partir do século XIX ainício do século XXI; e ainda há uma reflexão a respeito do
ordenamento legal para a educação das crianças na Constituição Federal de 1988,
no Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 e na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Lei 9.394/96. Em relação à LDB, vários debates foram realizados a
saber: os aspectos referentes à inclusão da Educação Infantil na Educação Básica;
a formação mínima espefica para trabalhar com crianças em creches e pré-escola;
a integralização das creches ao sistema municipal de ensino; a valorização dos
profissionais da educação e a participação destes profissionais na elaboração da
proposta pedagógica das escolas.
O segundo capítulo, “O Profissional da Educação Infantil: identidades, relevância,
implicações e possibilidades”, analisa os aspectos relacionados com a formação
inicial ou continuada dos profissionais de Educação Infantil, destaca-se a
necessidade do respeito às especificidades e necessidades das crianças. O capítulo
discorre sobre a construção da identidade destes profissionais, em que se discute a
identidade como fruto do processo histórico, resultado de uma construção social
sobre a maneira de ser e estar na profissão. Pondera também sobre qual deve ser o
local de formação destes profissionais, se nas universidades ou nos Institutos
Superiores de Educação; e por fim discute a importância da formação em serviço
para a construção coletiva das ações que subsidiarão a prática pedagógica no
interior das creches e pré-escolas.
31
O terceiro capítulo apresenta o percurso metodológico, oportunidade em que são
tratados os critérios utilizados para a seleção das escolas, bem como dos
profissionais que contribuíram para a realização da pesquisa, através do
preenchimento dos questionários. Também são descritas as questões norteadoras
da pesquisa, e por fim são apresentados os instrumentos de coleta de dados, assim
como, os procedimentos utilizados durante a pesquisa de campo.
O quarto capítulo, intitulado “A implantação da Educação Infantil no município de
Teixeira de Freitas (BA)”, analisa os dados coligidos a partir do questionário
destinado à SMEC, bem como o material produzido pela Coordenação de Educação
Infantil do município, denominado “Educação Infantil: percursos e percalços”. Neste
capítulo procura-se descrever as ações desenvolvidas pela SMEC e as políticas
públicas voltadas para a Educação Infantil. Para além das descrições, discutem-se
os dados produzidos com a legislação e os documentos que embasam as políticas
públicas para a Educação Infantil. Posteriormente, contrapõe-se os achados da
pesquisa na perspectivas dos profissionais da Educação Infantil do município com
os estudos de teóricos da área que enfatizam a importância de uma atuação
pedagógica que respeite as necessidades e especificidades das crianças.
Por fim, o último capítulo tece considerações finais, em que são consideradas as
informações obtidas tanto na perspectiva das políticas públicas implementadas pela
SMEC, quanto das professoras que participam da pesquisa. Em seguida, registra-se
a crítica acerca do contexto em que se apresenta a Educação Infantil pública no
município em estudo.
Serão esses achados que contribuirão para compreender em que aspectos as
políticas públicas operacionalizadas pelo município m sido de fato materializadas
na aplicação de ações pedagógicas que possam colaborar para o desenvolvimento
das crianças nas pré-escolas públicas municipais de Teixeira de Freitas (BA).
32
CAPÍTULO 1
EDUCAÇÃO INFANTIL: concepções e políticas
__________________________________________________________
se as coisas são inatingíveis... ora!
não é motivo para não querê-las...
que tristes os caminhos, se não fora
a mágica presença das estrelas!
Mário Quintana
33
1.1 A história da infância
Falar a respeito da infância é perceber as crianças como cidadãos de direitos, com
histórias de vidas construídas nas relações sociais entre a família, o grupo de
amigos, a igreja, os movimentos sociais, a comunidade e a escola.
Segundo Castro (1996), para compreender a noção de infância é necessário buscar
os significados que permeiam os diversos momentos históricos e como se
configuraram as representações sociais da infância no imaginário das pessoas.
Neste sentido, é oportuna a análise da autora quando apresenta que “a noção de
infância na modernidade se articula dentro de uma política de verdades, amparadas
pela autoridade do saber dos seus porta-vozes” (CASTRO, 1996, p. 309).
Evidencia-se nessa afirmação que cada sociedade tem uma interpretação própria do
que vem a ser a infância. Sendo assim, é possível que ocorra uma variação dos
sentidos e significados desta fase, porém, para Vilarinho (2004) é essencial que haja
a compreensão de que a infância não é transitória, o que é transitório são seus
sujeitos.
Oliveira, S. (2005) assevera que a constituição da idéia da infância na Europa inicia-
se na Idade Moderna, e é o crescente processo de modernização e de urbanização
que proporciona a transformação patriarcal. A partir desse momento, a criança
passa a ocupar a centralidade nos interesses educativos dos adultos, sendo
compreendida como sujeito de necessidades e objeto de expectativas e cuidados.
Mas na perspectiva da época ainda se encontrava no período preparatório para o
ingresso na vida adulta, com a contribuição da escola que passou a ser um
instrumento fundamental, pelo menos para os que podiam freqüentá-la.
Como por muito tempo a sociedade impôs às crianças um lugar de inferioridade em
relação ao adulto, é importante ressaltar que as crianças não são apenas o que a
sociedade determina, uma vez que elas são capazes de utilizar de aspectos de sua
própria condição de infante para dar um novo significado a sua própria vida.
34
Cabia às crianças, na Idade Média, permanecerem próxima ao universo feminino até
que pudessem iniciar a adultez precoce – termo definido por Sarmento (2004). Desta
forma, após esse ritual de passagem já estariam prontas para desempenhar as
funções no mundo do trabalho, como tamm para participar das guerras. Com isso,
pode-se perceber que as atividades desenvolvidas pelas crianças não privilegiavam
as necessidades que lhes eram específicas. A criança era vista como um ser
incompleto que precisava ter as condições necessárias a fim de contribuir para o
mundo dos adultos, então passariam a ser reconhecidas, não mais como
crianças, mas como adultos em miniatura. Podemos afirmar que as crianças nesse
período o viviam sua infância em sua plenitude, uma vez que nem mesmo os
adultos reconheciam nas crianças a essencialidade desta etapa do processo de
desenvolvimento humano.
O estudo de Sarmento (2004) apontam que a institucionalizão da infância no início
da modernidade é caracterizada por diversos fatores e apresenta a universalização
da escola pública como um fator determinante para essa institucionalização. A partir
do momento em que a escola torna-se um espaço que podeser freqüentado por
todos, o que vai proporcionar à população infantil a perspectiva de poder inserir-se
nesse universo até então não freqüentado. De certa forma, a família nesse período
dispensava os cuidados para o desenvolvimento das crianças, que as relações
afetivas começavam a ter uma importância no seio das classes dias. A ampliação
dos investimentos estatais na educação permitiu a participação das classes
populares no processo educacional.
Isso não significa dizer que ao apresentar a institucionalização da infância à
modernidade, as crianças obtiveram conquistas imediatas, pois ao mesmo tempo
em que se universalizava o ensino, apresentavam-se um conjunto de preceitos,
imposições e normas, que colaboraram para condicionar e constranger as crianças
na sociedade, o que determinou, por diferentes perspectivas, as atitudes que as
crianças podiam e deviam ter na participação da vida social.
O sentimento destinado à infância ganha espaço para o debate quando Áries
procura demonstrar as transformões ocorridas nesse jeito de olhar para as
crianças a partir da análise de pinturas, testamentos, igrejas, túmulos, diários. Áries
35
(1981), em seu trabalho sobre o modo como a modernidade ocidental via as suas
crianças, revoluciona os estudos sobre a infância. O autor inicia a sua análise
tomando como marco o final da Idade Média até o século XIX, oportunidade em que
discorre sobre como as crianças eram percebidas na Idade Média: um ser
incompleto, ou seja, ainda não era um adulto. À medida que o tempo passava e a
criança conseguia sobreviver, passava a ser reconhecida, observada, paparicada e
até amada. As modificações estruturais ocorridas nesse período não deixaram de
ser analisadas sobre o prisma das mudanças sociais e pelos decréscimos nas taxas
de mortalidade infantil. Áries introduz, assim, a subjetividade moderna em relação à
infância como uma categoria que se constrói sistematicamente ao longo do tempo.
Um dos problemas enfrentados pelas crianças no decorrer da história é que as
mesmas quase sempre eram vistas como possuidoras de uma natureza infantil, e
não de uma condição infantil (CERISARA, 2004). Desta forma, o que podia ser visto
era o que lhes faltava em relação ao adulto, até então um modelo a ser seguido.
Com isso as crianças deixavam de ser quem verdadeiramente eram para serem
compreendidas como um ser incompleto. Negar essa essencialidade infantil
significou uma perda expressiva para o desenvolvimento das mesmas. Faz-se
necessário buscar alternativas para reparar essa distorção imposta às crianças, de
maneira a permitir que elas possam mostrar-se como de fato são, com todos os seus
conflitos, desejos e emoções.
Apesar das contradições que são próprias da infância, esta fase, quase sempre é
vista como um momento em potencial para desenvolver aquilo que se pode vir a ser.
Talvez seja por isso que ocorra a interpretação equivocada de que a criança na fase
da infância é um ser incompleto, portanto, precisa ser moralizada e educada. Por
outro lado, a preocupação deve consistir em propiciar momentos em que as crianças
vivenciem a infância com tudo que lhes é de direito, sejam momentos de alegrias,
dores, conflitos, emoções, descobertas, enfim, tudo aquilo que faz parte do seu
universo infantil.
De acordo com Souza Filho (2004), a escola foi o local escolhido pela modernidade
para tentar transformar esse ser considerado incompleto em cidadãos. Devemos
compreender que ao escolher a escola como locus dessa transformação esqueceu-
36
se de observar que as crianças têm potencialidades a serem exploradas e
compartilhadas com outros ambientes do convívio social e que apenas o convívio
escolar não é capaz de dar conta da complexidade que é o processo educativo.
A criação das instituições educacionais para as crianças no continente europeu tem
o seu início no final do século XVIII e a atenção destinava-se às crianças pobres que
tinham mães trabalhadoras. As atividades desempenhadas nesses espaços
ancoravam-se na compreensão de que as crianças deveriam adquirir bons hábitos,
ou seja, serem crianças obedientes, sinceras, bondosas e que se adequassem às
ordens estabelecidas, como também aprender a identificar as letras, soletrar
palavras e ainda pronunciá-las bem e as sílabas difíceis (KUHLMANN Jr., 2001).
A função da Educação Infantil no seu surgimento tinha o caráter escolarizante, e,
segundo Kuhlmann Jr. (1998, p. 15), “o fato social da escolarização se explicaria em
relação aos outros fatos sociais, envolvendo a demografia infantil, o trabalho
feminino, as transformações familiares, novas representações sociais da infância”.
De acordo ainda com Kuhlmann Jr. (1998), o sentimento da infância surge primeiro
nas classes nobres da sociedade para as camadas mais pobres e a infância
corresponde ao conjunto de experiências vivenciadas pelas crianças em diferentes
lugares históricos, geográficos e sociais, e não apenas ao que os adultos
compreendem sobre esta fase.
As instituições infantis foram amplamente difundidas internacionalmente, a partir da
metade do século XIX. Como principal bandeira, tais instituições, preconizavam o
caráter assistencialista às mães trabalhadoras para que as crianças o fossem
abandonadas por essas mulheres que se inseriam no mercado do trabalho
(KUHLMANN JR., 1998).
É preciso acreditar que as relações sociais não acontecem somente no interior das
escolas, as construções coletivas podem e são vivenciadas com outros atores, em
outros espaços que o os da escola. Contudo, é fundamental reconhecer que a
história da infância foi marcada pela história da marginalidade social, cultural,
econômica e educativa. Apesar desta história marginal dispensada à infância, há
37
uma mudança no que se refere ao tratamento destinado a essa fase, pois os
estudos apontam que aspectos relativos ao desenvolvimento infantil passam a ser
considerados como um dos indicadores do desenvolvimento cultural de um povo
(SOUZA FILHO, 2004).
Para Soares e Tomás (2004), a infância pode ser considerada como um fenômeno
social que vem ganhado uma visibilidade emergente e significativa nos discursos
sociológicos nas últimas décadas. Os autores apresentam que o espaço social da
infância pode ser considerado como um espaço construído, e as crianças podem
se assumir e serem representadas por meio de uma identidade própria. Isso significa
dizer, entre outras coisas, que se abriu espaço para a discussão a respeito do que é
próprio da infância, não mais considerando o que lhes falta, mas, sobretudo, o que
lhes é especifico.
No trabalho de Soares e Tomás (2004), discute-se que a infância não é vivenciada
da mesma maneira por todas as crianças, que é uma etapa sujeita a variões entre
sociedades, às vezes pode diferenciar na própria comunidade, e até mesmo no
interior de uma mesma família. Daí, segundo os autores, pode-se afirmar a
existência de infâncias e não apenas de uma única e exclusiva infância.
Compreender as crianças como sujeitos de direitos é fundamental para modificar a
idéia que perdurou durante muito tempo em nossa sociedade, e este discurso sobre
a infância que precisa ser protegida se amplia ao longo do século XX e ganha
visibilidade à medida que se discute o processo em que as crianças podem exercer
um papel principal na articulação entre o seu próprio desenvolvimento com o
desenvolvimento de outras pessoas, a fim de que se materialize a realização plena
de seus direitos. Desta forma, consolida-se o protagonismo infantil discutido por
Soares e Tomás (2004), uma vez que a participação das crianças na elaboração do
seu próprio conhecimento é primordial para o desenvolvimento das mesmas, e esse
protagonismo infantil contrapõe o que outrora era dito em relação às crianças.
Faz-se necessário observar que, ao garantir o direito à infância na escola, é preciso
que se respeite também o que cada criança traz consigo, pois a escola deve
colaborar para a construção de uma pedagogia que seja capaz de assegurar que os
38
direitos inerentes a estes sujeitos, logo, não se pode acreditar que seja adequado
aplicar o modelo de uma escola homogenizadora ao público infantil. Portanto é
indispensável a revisão dos mecanismos que amparam a estrutura, o funcionamento
e a organização escolar (QUINTERO, 2004).
Para que a escola desempenhe um papel em que a idéia da infância se encontre
vinculada à idéia de uma sociedade justa e democrática, é preciso que a escola se
ancore em uma política em que se façam presentes: a ética de proporcionar a
valorização dos professores, por meio de salários justos e dignos; oferecer-lhes
também a oportunidade de participar de uma formação específica para a sua
atuação profissional; e que seja oferecida uma Educação Infantil às crianças com a
intenção de proporcionar um espaço agradável, onde as crianças desejem ir e
permanecer. Garantir apenas o acesso sem se preocupar com a qualidade desta
natureza significa ir contra o prinpio democrático de que a educação é um direito
social conquistado historicamente.
A crítica que se pode fazer à escola em relação à idéia de infância baseia-se nas
condições que são oferecidas tanto para os profissionais, quanto para as crianças. O
espaço escolar deve permitir que as crianças sejam vistas e atendidas como sujeitos
das relações sociais concretas, sem que haja preconceitos e nem manifestações
verbais que possam vir a subtrair a dignidade pessoal de cada indivíduo
(QUINTERO, 2004).
Com efeito, discutir a essencialidade infantil significa, de acordo com Kramer
(2005a), reconhecer que, embora as crianças sejam sujeitos de pouca idade, isso
não as impede que utilizem de estratégias ou recursos para demonstrar que a
condição silenciadora imposta pela visão adultocêntrica não se aplica ao seu
universo infantil. Ao recorrerem aos seus desenhos, brincadeiras de faz-de-conta,
sorrisos, choros, apegos e desapegos, estão, através de cada gesto, lutando para
reformular a idéia de que elas o podem contribuir para o seu processo de
formação. Ao contrário, elas se mostram cada vez mais protagonistas na construção
de seu próprio conhecimento.
39
Frente a essa perspectiva, é importante esclarecer que a realidade brasileira, como
outras, possibilita uma multiplicidade de fatores e elementos culturais e sociais que
podem interferir na condição que cada criança vivenciará a infância, pois, como foi
dito anteriormente, não se pode dizer que só existe uma infância única e exclusiva, o
que existem são formas diferenciadas de compreensão da infância.
De acordo com Kramer (2003), o desvendamento da infância acontece a partir da
diminuição da taxa de mortalidade infantil. Tendo em vista que algumas descobertas
científicas contribuíram para que as crianças tivessem suas vidas prolongadas, a
sociedade do século XVI passa a ter um sentimento diferenciado para com as
crianças e conseqüentemente a idéia de família também é modificada, que o
aumento significativo de crianças que sobreviviam proporcionava a configuração de
uma nova concepção de família no seio da burguesia.
As crianças que conseguiam sobreviver se tornavam paparicadas no interior das
famílias, que continuavam a dispensar um tratamento pedagógico-moral, como um
ser que necessitava de moralização e educação por um adulto, já que eram
consideradas imperfeitas, mas nem por isso deixavam de produzir um sentimento de
inocência e graciosidade.
Para Kramer (2003), a dependência da criança em relação ao adulto não é uma
determinação natural e sim um fato social. A autora aponta que a sociologia tem
ajudado a compreender essa relação, pois vem configurar o significado ideológico
da criança e o valor social da infância para a sociedade contemporânea. Assim
como a sociologia apresenta tais significados, a antropologia, ao pesquisar a
diversidade, colabora com a perspectiva da diversidade das populações infantis,
através de suas brincadeiras, músicas, histórias e as demais práticas culturais. E
reconhece também que as crianças são sujeitos sociais e históricos que se
constituem nas contradições das sociedades em que vivem. Desta forma,
desenvolver políticas públicas voltadas para a infância contribui para minimizar as
desigualdades sociais e ao mesmo tempo democratiza o acesso ao conhecimento.
40
1.2 A infância no Brasil: breve histórico
As políticas públicas para a infância refletem os conceitos ou as idéias produzidas
em cada época. No Brasil Colônia, assim como na Europa no início do século XVI, a
idéia que se tinha a respeito da participação infantil nas relações sociais se limitava
a reconhecer que as crianças se constituíam em um ser incompleto do sujeito
adulto, que necessitava ser moralizado e disciplinado.
Sobre esta discussão, pode-se encontrar no trabalho de Lopes (2005) um estudo
que descreve como as crianças foram inseridas no convívio social nos movimentos
migratórios no período de colonização do Brasil. Nesses movimentos, as crianças
eram submetidas à sua própria sorte durante as travessias e, ao chegar aqui,
ficavam à disposição da mão-de-obra para povoamento.
As crianças que aqui chegavam vinham como pajens da nobreza, passageiros
acompanhantes dos adultos, órfãos do Rei e grumetes.
4
Havia uma hierarquização
de acordo com o autor, quanto ao desenvolvimento do trabalho dessas crianças: os
pajens serviam as mesas dos oficiais nas famílias médias urbanas, os órfãos do Rei
vinham com a intenção de firmar matrimônio e aos grumetes eram destinadas às
piores condições de trabalhos, pois desenvolviam as tarefas de alto risco e eram
submetidos ao assédio sexual e a surras (LOPES, 2005).
O estudo de Farias (2005) é outra importante contribuição para a discussão sobre a
história da atenção às crianças no Brasil Colônia e explica que é o contexto jesuítico
que vem dar início à história da educação no Brasil; desta forma, os pequenos
indígenas estavam sujeitos à catequização religiosa, com objetivos políticos bem
definidos. A infância nesse período era vista como a riqueza da nação, portanto se
fazia necessário educar as crianças para a católica e para a submissão (FARIAS,
2005). Sendo a criança um ser mítico que necessitava preservar sua pureza e a
moral, os jesuítas as viam como um papel em branco que precisava imprimir boas
condutas a fim de se tornarem bons adultos. Contudo, Del Priore apud Farias (2005)
4
Ver definição de Lopes (2005).
41
afirma que “o papel em branco não existia, nele havia a escrita cultural de um
povo que os padres da Companhia de Jesus não souberam ler”.
na estrutura do Brasil escravocrata a estrutura familiar era composta de um
sistema piramidal bem definido, encontrava-se no topo a figura masculina do pai que
detinha autoridade inflexível e inquestionável. As crianças nessa estrutura eram
subdividas em dois grupos: as crianças da casa grande e a criança escrava
(FARIAS, 2005).
As crianças brancas, de acordo com a autora, eram concebidas como anjos até os
cinco anos de idade, pois não faziam travessuras e eram obedientes. Dos cinco aos
dez anos, as mesmas crianças já eram vistas como meninos diabos, uma vez que
nessa fase realizavam traquinagens, e após a idade de dez anos passavam a ser
vistas como um adulto em miniatura. Em relação à educação dessas crianças,
Pardal (2005) assevera que os meninos brancos davam início à instrução aos seis
anos de idade, momento em que eram iniciados no latim, na gramática e em
condutas de boas maneiras, a fim de que esses “anjinhos” pudessem incorporar
noções dos adultos, já que, em breve, tornar-se-iam adultos em miniaturas.
as crianças negras, conforme aponta Farias (2005), perdiam seus direitos à
infância desde o seu nascimento, uma vez que suas mães tornavam-se amas-de-
leite das crianças brancas e os cuidados maternos também lhes eram subtraídos.
Dos três aos sete anos de idade dava-se início aos comportamentos sociais de
submissão, e após os sete anos sua força de trabalho começava a ser explorada.
Mas antes disso, segundo Pardal (2005), as crianças negras participavam da
rotina de trabalho de suas mães, em geral, carregadas às costas das mães para as
diversas atividades. Frente às condições sócio-históricas, as mães não tinham
condições de zelar pelo bem-estar dos filhos e os índices de mortalidade infantil das
crianças negras eram altos.
A distância entre as realidades das diferentes infâncias no Brasil persiste por
séculos. Nunes (2005) ressalta que dois pressupostos sobre o reconhecimento
social das diferentes infâncias no Brasil: o primeiro versa sobre a intervenção social
por meio das políticas e das práticas sociais para a garantia dos meios de produção;
42
e o segundo diz respeito à compreensão de que a Educação Infantil não seria um
elemento para a infância, mas para definir os lugares dos sujeitos de direitos das
políticas e práticas sociais.
A despeito do tratamento desigual, as crianças nesse período não eram vistas como
sujeito de direitos, pois a concepção de infância que predominava na sociedade
contemporânea era a de um sujeito que necessitava ser moralizado e educado, e
que por conta de seu estado pueril não seria capaz de contribuir para a sua
formação. Mesmo com os estudos sobre este período, o conceito de infância tem
sido visto no seu aspecto temporal. Como exemplo disso, o dicionário Houassis
assim define a infância:
(s.f.) na vida do ser humano, é o período que vai do seu nascimento ao início da
adolescência; 2. jur. Período da vida que é legalmente definido como aquele que
vai desde o nascimento até os 12 anos, quando se inicia a adolescência .
Primeira infância, psic no desenvolvimento das crianças período que vai de
zero a três anos.
Segunda infância, psic no desenvolvimento das crianças período que vai de
três a sete anos.
Terceira infância, psic no desenvolvimento das crianças período que vai de
sete até o inicio da adolescência.
Esta definição diz muito pouco sobre o papel deste período da história de vida de
cada pessoa. As mudanças constituídas historicamente modificaram a organização
da sociedade e conseqüentemente a noção de infância. Autores têm enfatizado a
este respeito, a exemplo de Sodré (2002), quando discorre sobre a determinação
histórica da exclusão da cidadania da infância. A autora afirma que por diversas
vezes são as classes dominantes que impõem e determinam quais são as
características e o tempo de duração desta fase, como se fosse possível aplicar um
modelo hegemônico para elucidar a infância.
Apesar dos esforços, o Brasil ainda não conseguiu garantir o direito de as crianças
viverem como crianças à medida que não realiza uma política de Educação Infantil
em espaços de socialização com infra-estrutura e com profissionais dispostos a
compreender o sentido da infância.
43
Estudos contemporâneos contribuem para que possa ser observado o que é
específico da infância seu poder de imaginação, fantasia e criação. Destacam-se
os trabalhos desenvolvidos por Kramer (2003), nos quais a autora reconhece as
crianças como cidadãos capazes de lançar um olhar crítico que poderá virar pelo
avesso a ordem das coisas e contribuir de forma significativa para a sua autonomia.
A autora procura ver as crianças não com o propósito de compreendê-las, mas na
perspectiva de perceber como podemos aprender com as mesmas.
A idéia de infância defendida por Kramer (2003) não é a de considerar a infância
uma esperança para um futuro melhor, mas a de pensar nas crianças com
proposições imediatas que garantam um presente com qualidade e respeito às suas
especificidades.
Desta forma, faz-se necessário que a atuação dos profissionais esteja pautada na
implementação e operacionalização de princípios fundamentais no seu labor
pedagógico, uma vez que estes são essenciais para o desenvolvimento integral das
crianças.
1.3 As políticas públicas contemporâneas voltadas para a Educação Infantil
Muitas lutas foram travadas para que o debate sobre a Educação Infantil viesse a
ocupar, gradativamente, seu espaço e as crianças pudessem de fato ser vistas
como cidadãs de direitos. Como exemplo desses espaços reivindicatórios, pode-se
citar o Movimento Interfóruns de Educação Infantil no Brasil (Mieib), que desde 1999
defende objetivos específicos para a mobilização de ões que contribuam na
ampliação e consolidação da Educação Infantil em nosso país, eis alguns dos
objetivos do Mieib:
Desenvolver ações que visem uma mobilização e articulação nacional
comprometida com a Educação Infantil, tanto no que se refere a assegurar a
oferta de um atendimento de qualidade, quanto a fortalecer essa área como
campo de conhecimentos, de atuação profissional e de política pública.
44
Divulgar para a sociedade brasileira uma concepção de educação infantil
comprometida com os direitos fundamentais das crianças e com a consciência
coletiva sobre a importância dos primeiros anos de vida no desenvolvimento do
ser humano.
Atuar junto ao Conselho Nacional de Educação, Ministério da Educação e do
Desporto, Congresso Nacional, União Nacional dos Dirigentes Municipais de
Educação / UNDIME, União nacional dos Conselhos Municipais de Educação,
Conselhos dos Secretários de Estado da Educação / CONSED, além de outros
órgão e entidades de caráter nacional na articulação e encaminhamento de
ações referentes à Educação infantil.
(MIEIB, 2007)
O Mieib é uma articulação entre os Fóruns de Educação Infantil constituídos em
vários estados brasileiros e os princípios básicos defendidos pelo Mieib são:
Garantir acesso às crianças de 0 a 6 anos aos sistemas públicos de
educação;
Reconhecer o direito constitucional das crianças de 0 a 6 anos
(independentemente de raça, idade, gênero, etnia, credo, origem
sócioeconômica-cultural, etc.) ao atendimento em instituições públicas,
gratuitas e de qualidade;
Distinguir os recursos públicos específicos e adequados, imprescindíveis ao
bom funcionamento dos sistemas de Educação Infantil;
Indissocializar o cuidar/educar visando o bem estar, o crescimento e o pleno
desenvolvimento da criança de 0 a 6 anos; Implementar políticas públicas
que visem a expansão e a melhoria da qualidade do atendimento educacional
abrangendo toda a faixa etária 0 a 6 anos;
Identificar a Educação Infantil enquanto campo intersetorial,
interdisciplinar,multidimensional e em permanente evolução;
(MIEIB, 2007)
Na Bahia foi fundado em 2002 o Fórum Baiano de Educação Infantil (FBEI) que tem
caráter propositivo, de socialização, divulgação de informações e mobilização de
esforços para que a Educação Infantil seja oferecida com qualidade às crianças de 0
a 6 anos de idade.
Contextualizar a Educação Infantil, sua origem e seu desenvolvimento ao longo dos
tempos é primordial para perceber como a ausência de políticas públicas, voltadas a
essa etapa de ensino, perpassou no nosso sistema de ensino. Faz-se necessário,
inicialmente, para uma melhor compreensão da realidade atual acerca da educação
45
de crianças de zero a seis anos, traçar o enfoque histórico a fim de explicitar a sua
trajetória.
De acordo com estudos realizados por Kramer (2003), a atenção às crianças na
Educação Infantil, no Brasil até meados do século XIX, era praticamente inexistente,
os cuidados dos filhos pequenos cabiam exclusivamente à família. Na segunda
metade do século XIX surgem iniciativas isoladas de proteção à infância, devido à
alta taxa de mortalidade infantil, e a educação das crianças pequenas passa a ser
reservada a algumas entidades privadas e outras públicas, porém como projetos
educacionais com concepções compensatórias e assistencialistas.
A autora acrescenta que no início do século XX, com o processo crescente de
urbanização e com a modificação da estrutura familiar, ocorrem reivindicações por
parte dos movimentos operários para a criação de creches e escolas maternais que
pudessem assistir os filhos das(os) trabalhadoras(es). Durante a década de 1930,
com o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, ocorre a defesa da educação
como função pública, gratuita e obrigatória e discute-se também nesse período a
educação pré-escolar como base do sistema escolar. Na cada seguinte, começa a
prosperar iniciativas governamentais voltadas para a proteção infantil. A partir de
1950 passam a ser procurados, por diversos segmentos de trabalhadores(as),
espaços que pudessem atender os seus filhos em período integral.
Segundo Kramer (2003), as políticas voltadas para a Educação Infantil, no período
militar, continuaram a divulgar que a creche e a pré-escola m como
fundamentação a assistência à criança carente. Na segunda metade da década de
1970, inicia-se o debate sobre a real função da pré-escola e, no final do período
militar, foram incluídas novas políticas para a Educação Infantil no Plano Nacional de
Desenvolvimento, que reativaram as discussões acerca das funções da pré-escola
se assistencialista e/ou compensatória em detrimento da função emancipatória
que englobasse o desenvolvimento educacional das crianças.
Cabe destacar que, segundo Kramer (2006), a pré-escola no Brasil só teve atenção
do governo federal em 1975, quando o Ministério da Educação e Cultura (MEC)
instituiu a Coordenação Pré-Escolar (Coepre), a fim de que pudesse realizar o
46
primeiro diagnóstico nacional da educação pré-escolar. É preciso dizer que, de
acordo com os estudos de Kramer, ocorreram equívocos nas propostas que foram
implementadas após esse diagnóstico, pois tinham caráter compensatório. Contudo,
a autora afirma que apesar desses equívocos, tais iniciativas foram importantes, pois
deram visibilidade à população infantil, ampliaram as discussões sobre a função da
pré-escola e impulsionaram os debates seguintes, que culminariam no ordenamento
legal, a saber, a Constituição Federal em 1988, o Estatuto da Criança e do
Adolescente em 1990 e a Lei de Diretrizes e Bases em 1996, que amparam a
população infantil em diversos aspectos.
Segundo Kramer (2005a), temos tido historicamente, no campo das políticas
públicas direcionadas à infância, alguns avanços, retrocessos e impasses, que são
representados muitas vezes no discurso; porém, perdem-se em ões concretas. A
autora aponta como ganhos o aumento significativo em relação à atenção na década
de 1970, que representava 3,5% das crianças brasileiras e hoje atende quase que
30% das crianças. Contudo, alerta que um país que tem como propósito, após a
redemocratização, a garantia de direitos aos seus cidadãos, não pode deixar de
considerar que 70% da população infantil se encontram à margem das políticas
públicas de educação.
Outro problema grave considerado por Kramer era a ausência de financiamento
público, para implementar políticas que assegurassem a Educação Infantil às
crianças em creches e pré-escolas, uma vez que quando se implantou o Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério
(Fundef), este não destinava recursos para essa modalidade de ensino.
Segundo Didonet (2005), a Educação Infantil sofreu um contratempo com a
implantação do Fundef, algumas creches e pré-escolas foram fechadas, pois os
municípios que investiam nessas instituições ficaram sem dinheiro para manter as
crianças na Educação Infantil. Guimarães (2005) tece também críticas ao Fundef,
uma vez que os recursos provenientes deste fundo foram utilizados pelos Municípios
e Estados para financiar o Ensino Fundamental, o que deixa a Educação Infantil sem
os recursos necessários para investir nas ações voltadas para essa modalidade de
47
ensino, conseqüentemente, registra-se uma desaceleração no oferecimento da
Educação Infantil.
Ao realizarmos um breve histórico a respeito do financiamento da educação no
Brasil, encontramos nos estudos de Lima (2005) as contribuições que o Manifesto
dos Pioneiros da Educação na década de 1930 apresentou para a construção de
uma proposta de reconstrução da educação nacional e elaboração de um fundo para
subsidiar a educação. Ainda segundo a autora, o Manifesto contribuiu para a
elaboração das Leis educacionais no Brasil, a exemplo pode-se citar os capítulos
que tratam da educação nas Constituições de 1934, 1946, e de 1988, além das Leis
de Diretrizes e Bases de 1961 e 1996.
Ao defender a gratuidade do ensino com finalidade de proporcionar igualdade entre
todos, o Manifesto colabora para o debate da função do Estado em relação a
garantia dos direitos educacionais a todos. O Manifesto um fundo para a Educação
que deveria ser constituído de patrimônios, impostos e rendas próprias para dar
contingências orçamentárias (LIMA, 2005).
Em julho de 2007, foi aprovado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica e Valorização do Magistério (Fundeb) em substituição do Fundef.
O Fundeb tem como propósito corrigir a distorção das políticas de financiamento da
educação brasileira, além de cobrir a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e
Médio, procura zelar pela articulação entre as três etapas que compõe a Educação
Básica.
Com a promulgação do Fundeb, espera-se que os municípios voltem a investir na
Educação Infantil, de maneira a assegurar os recursos necessários para garantir a
qualidade nessa modalidade de ensino. O objetivo é que se possam oferecer, as
crianças, condições dignas e necessárias para dar continuidade ao desenvolvimento
que já iniciaram em outros espaços de formação. Esse fundo procura resgatar
também o princípio da Constituição no que se refere à educação, que visa o pleno
desenvolvimento da pessoa, com o preparo para exercer a cidadania.
48
Para Delors (2001), não é suficiente garantir às crianças o direito ao acesso, é
preciso despertar e manter nelas o desejo em estabelecer relações de interação e
troca de conhecimentos, visto que algumas possíveis dificuldades em séries
subseqüentes poderiam ser superadas se a criança iniciasse a sua atividade escolar
mais cedo, uma vez que as interações sociais iriam contribuir para a oportunidade
de igualdade e respeito ao tempo de cada um.
Historicamente no Brasil a atenção oferecida à população infantil esteve vinculada
ao Ministério do Trabalho (MT), ao Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e ao
Ministério da Sde (MS). As creches que se encontravam sob responsabilidade
desses ministérios prestavam cuidados prioritariamente com a área de assistência
social e saúde, e não necessariamente com a educação. Neste sentido uma
diferenciação em relação às pré-escolas, uma vez que, em sua grande maioria,
iniciavam seus trabalhos vinculadas aos sistemas de ensino, o que de certa forma
não garantia o desenvolvimento pleno das crianças, pois, se por um lado as crianças
que freqüentavam as creches deveriam ter maior atenção aos cuidados com o corpo
e com a alimentação, por outro, as crianças que freqüentavam as pré-escolas
deveriam ser preparadas para as etapas subseqüentes de escolarização (KRAMER,
2003).
A partir dessa reflexão, pode-se afirmar que a compreensão que muitos pais e até
mesmo alguns professores têm sobre a finalidade da Educação Infantil ancora-se na
concepção, por vezes equivocada, de que as crianças vão à escola apenas para
garantir o cuidado com a alimentação e com o corpo, ou ainda para estarem aptas
para as etapas subseqüentes, desta forma, não são considerados aspectos
fundamentais para o desenvolvimento das crianças.
Na Constituição de 1988, coube ao Estado oferecer a atenção às creches e às pré-
escolas no âmbito educacional. O texto na Carta Magna que trata dessa
responsabilidade assim assegura no artigo 208, Inciso IV: “o dever do Estado com a
educação será efetivado (...) mediante garantia de creches e pré-escolas às crianças
de zero a seis anos”
5
(BRASIL, 1988). Ainda no art. 227, da Constituição Federal,
5
Foi publicado no Diário Oficial da União, no dia 7 de fevereiro de 2006, a lei 11.274, de 6 de
fevereiro de 2006, que altera a redação dos arts. 29, 30, 32 e 87, da Lei 9.394/96 (LDB), dispondo
49
prevê-se que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança a
garantia de seus direitos.
Em relação a essa conquista histórica de inserir no texto constitucional a atenção
educacional destinado às crianças brasileiras Vasconcellos, Aquino e Lanter (2003)
afirmam que não se define apenas uma posição educacional, mas, sim, um novo
conceito sobre a finalidade dessa etapa de ensino, qual seja, o desenvolvimento
integral da criança.
A redemocratização do país no final da década de 1980 ampliou a discussão para
proporcionar e garantir às crianças e aos adolescentes do nosso país a
oportunidade de serem reconhecidas como cidaos e cidadãs portadores de
direitos.
No início da década de 1990, os direitos das crianças promulgados pela Constituição
Federal se concretizam com a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) que garante, dentre outras coisas, em seu art. 54, IV, “em creche e pré-
escola às crianças de zero a seis anos de idade” (BRASIL, 1990, p. 20). De acordo
com Vasconcellos, Aquino e Lanter (2003), o ECA reitera o discurso da cidadania da
criança no país, pois caracteriza seus direitos na sociedade de forma a avivar a
memória dos governantes quanto aos diretos adquiridos pela Educação Infantil.
Desta forma, segundo as autoras, é com a promulgação do ECA que surgem os
Conselhos Municipais, Estaduais e Nacionais dos Direitos da Criança e do
Adolescente e, ainda, o Conselho Tutelar, que lutam para que o direito social de
proteção à infância seja de fato assegurado e dentre esses direitos se encontra o
direito à educação.
O Estatuto da Criança e do Adolescente em um de seus eixos vem garantir que
crianças e adolescentes tenham seus direitos atendidos com medidas protetivas, ou
seja, dar assistência à infância e aos adolescentes a fim de que seus direitos o
sobre a duração de 9 (nove) anos para o Ensino Fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos
6 (seis) anos de idade e estabelece um prazo até 2010 para que municípios, estados e Distrito
Federal realizem a implementação da obrigatoriedade.
50
sejam violados, e também oportunizar que os direitos básicos sejam de fato
cumpridos.
O pensamento que permeia toda a composição do ECA é que as crianças e os
adolescentes devem ser assistidos, estando ou não em situação de risco, e
independente de sua classe social, sendo ou não vítima de ações ou omissões. O
que vem diferenciar a doutrina de assistência em situações irregulares, dos Códigos
dos Menores, para a doutrina de proteção integral da infância.
O capítulo IV do ECA do direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer diz
que:
art. 53 A criança e o adolescente m direito à educação, visando ao pleno
desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e
qualificação para o trabalho, assegurando-lhes:
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II – direito de ser respeitado por seus educadores.
(BRASIL, 1990, p.19)
Com isso as crianças, além de garantirem o acesso à educação infantil, asseguram
também que os seus valores culturais sejam respeitados como está previsto no art.
58 do ECA:
art. 58 No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos
e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-
se a estes a liberdade de crião e às fontes de cultura.
(BRASIL, 1990, p. 21)
Bazílio & Kramer (2003) apresentam que o inovador na elaboração do ECA é que,
desta vez, ao contrário da elaboração dos Códigos dos Menores promulgados em
1927 e 1979, a sociedade civil participou da sua elaboração, de maneira que as
ações reivindicatórias dos movimentos sociais foram consideradas, mesmo que
parcialmente, na construção de um documento que pela primeira vez na história
brasileira reconhece como direito a cidadania das crianças e dos adolescentes.
Outro aspecto que os autores abordam é que anteriormente os Códigos dos
Menores adotavam um caráter de legislar sobre as crianças e os adolescentes que
51
se encontravam em situações de riscos ou em conflitos com a Lei, e a partir da
promulgação do ECA as crianças e os adolescentes passam a ter assegurados a
proteção como sujeitos de direitos.
A elaboração do ECA refletiu as diversas vozes dos movimentos sociais, como:
associações de bairros, pastorais, movimentos de intelectuais e pesquisadores da
infância, todos preocupados com o desenvolvimento das crianças a fim de que elas,
pudessem gozar de seus direitos de cidadãs. Cabe ressaltar, a importância dos
movimentos sociais que lutaram em prol da homologação do ECA. Contudo, é
preciso que os mesmos continuem atentos para o cumprimento dessa legislação.
Bazílio & Kramer afirmam que apesar de alguns avanços positivos no que se refere
ao ECA, não se pode deixar de avaliar a crise ainda presente nas medidas adotadas
pelo Estado a exemplo da superlotação das Fundações Estaduais do Bem-Estar do
Menor (Febens), das rebeliões nesses espaços, da falta de financiamento, da baixa
qualidade no oferecimento dos programas de liberdade assistida. Neste sentido, de
acordo com Nunes (2005, p. 90), é preciso que se reconheça “a necessidade de
formação continuada e de capacitação de agentes institucionais, educadores,
conselheiros e o reordenamento nas políticas de administração, que tem uma gestão
ainda marcada pela discriminação e repressão”. É preciso que a mesma sociedade
civil que lutou para que essas conquistas acontecessem, não fique apenas como
expectadora, mas seja agente partícipe na fiscalização e operacionalizão do ECA.
Essas mudanças legais a respeito da educação de crianças iniciaram no final da
década de 1980 e culminaram com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação LDB 9.394/96. A referida Lei vem materializar algumas conquistas da
sociedade brasileira que mais de três décadas procura se organizar para que as
crianças passem a ser reconhecidas como cidadãs e sujeitos de direitos
educacionais.
Vale lembrar que constava nas LDBs anteriores (nº 4.024/61 e nº 5.692/71) a
educação pré-escolar, porém não se pautavam como direito das crianças e nem
como dever do Estado ofertá-la (KRAMER, 2003).
52
Os arts. 23 e 24 da LDB 4.024/61 asseguram que:
art. 23 A educação pré-primaria destina-se aos menores de até 7 (sete) anos,
e será ministrada em escolas maternais ou jardim de infância.
art. 24 As empresas que tenham a seu serviços mães de menores de 7 (sete)
anos serão estimuladas a organizar e manter, por iniciativa própria ou em
cooperação com poderes públicos, instituições de educação pré-primária.
(BRASIL, 1961)
Apesar de dedicar esses dois artigos à educação pré-primária, não se estabelece de
forma clara e precisa a finalidade desse tipo de educação. Os estudos de Kulhmann
Jr. (2001) apontam que essa educação caracterizava-se nos modelos da educação
primária, portanto escolarizante.
De acordo com Oliveira, Z. (2005, p. 117), no que diz respeito à Educação Infantil, a
LDB 9.394/96 pode ser considerada como uma “conquista histórica que tira as
crianças pequenas pobres de seu confinamento em instituições vinculadas a órgãos
de assistência social”. As discussões atuais sobre a Educação Infantil estão
pautadas na construção de uma escola onde as crianças sejam, sobretudo,
protagonistas de sua aprendizagem. Alia-se a essa concepção uma visão
interdisciplinar de organização do ensino, em que se busca o estabelecimento de
múltiplas relações entre as áreas temáticas e aprendizagens significativas com a
construção de sentido sobre os temas de estudo.
Os aspectos a serem considerados na LDB para análise desse capítulo
correspondem ao processo histórico que culminou com a inclusão da Educação
Infantil como parte da Educação Básica; a exigência de formação específica para os
profissionais que atuam em creches e pré-escolas; a integralização das creches ao
sistema municipal de ensino; a valorização dos profissionais da educação por meio
dos planos de carreira do magistério público e a proposição de que os docentes
devem participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de
ensino.
No que se refere à inclusão da Educação Infantil como parte da primeira etapa da
Educação Básica, conforme o art. 21 da LDB 9.394/96, a relevância dessa iniciativa
consiste em que é a primeira vez na história das Leis de Diretrizes e Bases
53
brasileiras que a referência às crianças (menores de seis anos) como sujeitos de
direitos educacionais. Embora esses direitos tenham sido resguardos na
Constituição de 1988, e fica definido, de acordo com Craidy (2005), que a creche e a
pré-escola são direitos não da criança como dos seus pais trabalhadores, é com
a promulgação da LDB em 1996 que de fato isso se materializa no campo educativo.
As crianças passam a ter prioridades na garantia de seus direitos de proteção
integral, e estes devem ser assegurados tanto pela família, pela sociedade, quanto
pelo poder público, conforme prevê a Constituição Federal de 1988.
No estudo sobre a Educação Infantil realizado por Faria (2003, p. 21), percebe-se
que “a grande preocupação dos pesquisadores desta área é com a própria criança
de 0 a 6 anos que apenas em 1988 com a Nova Constituição adquiriu pela primeira
vez na história do Brasil o direito à educação em creche e pré-escola”. São estudos
que mostram que nos primeiros anos das crianças as mudanças são visíveis. As
modificações que vão transformar um recém-nascido numa criança de cinco anos
que fala, anda, brinca, interage com diferentes gerações impõem uma atenção que
vai além do cuidar.
O artigo na LDB que versa a respeito dos princípios que norteiam a educação
infantil são os mesmos que orientam a educação em geral, a saber:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento,
a arte e o saber;
III - pluralismo de iias e de concepções pedagógicas;
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;
V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
VII - valorização do profissional da educação escolar;
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da Legislão
dos sistemas de ensino;
IX - garantia do padrão de qualidade;
X - valorização da experiência extra-escolar;
XI - vinculação entre a educação escolar e as práticas sociais.
(BRASIL, 1996)
Portanto, de considerar que as crianças pequenas passam a ter direito a uma
educação pública, gratuita, de qualidade e que observe especificamente os
princípios aqui descritos.
54
O art. 22 da LDB dispõe sobre a finalidade da educação que é “assegurar a
formação comum e indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes
meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”. Desta forma, cabe ao
poder público cumprir a legislação e oferecer gratuitamente e com qualidade a todas
as crianças a atenção que articule o cuidar e o educar, uma vez que se faz
necessário garantir a formação de maneira integral e não mais assistencialista e
compensatória.
Machado (1991) apresenta as diversas funções da Educação Infantil, e suas
reflexões se aplicam em reconhecer o papel social da pré-escola. Isto quer dizer,
dentre outras coisas, que os profissionais devem reconhecer os conhecimentos
universais que as crianças tiveram acesso antes de seu ingresso na instituição
escolar e possibilitar a universalização dos mesmos.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional/ 1996 no Capítulo II Seção II
Da Educação Infantil preceitua que:
art. 29 A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como
finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seu
aspecto físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da
família e da comunidade.
(BRASIL, 1996)
O propósito dessa nova legislação estabelece que nas creches e nas pré-escolas
deverá haver uma complementação ao desenvolvimento das crianças, que acontece
tanto no interior de suas respectivas famílias quanto das comunidades nas quais as
mesmas estão inseridas. Isso significa, dentre tantas outras coisas, conforme
Vasconcellos, Aquino e Lanter (2003), que a educação deve acontecer
simultaneamente nesses espaços. As autoras alertam que se deve ter a
preocupação para que ocorra no planejamento, nas atividades da política
educacional e na relação das escolas com as famílias, um processo de reflexão a
respeito do significado dessa complementaridade, a fim de que se valorize os
aspectos culturais de cada família, de maneira a garantir a construção identitária das
crianças.
55
Com a promulgação da LDB, as discussões a respeito da Educação Infantil
ultrapassaram os espaços dos fóruns de debates entre os pesquisadores da área,
que algum tempo lutam para que esses aspectos fossem inseridos no contexto
educacional às crianças, e proporcionaram condões para a participação de pais,
professores e gestores que estão em contato direto com os pequenos. Com isto,
todos podem discutir e operacionalizar uma educação que priorize a criança em
todos os seus aspectos e que dê conta de todas as suas especificidades.
Desta forma, os documentos legais que subsidiam o trabalho a ser realizado na
Educação Infantil são importantes para a reflexão acerca do desenvolvimento
infantil, bem como para a necessidade de formação para os profissionais que irão
trabalhar com essas crianças, tanto na creche, quanto na pré-escola. Nesse sentido,
as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil, orientam as instituições,
para a elaboração e organização das propostas pedagógicas.
Dentre esses documentos elaborados pelo MEC, apresenta-se no texto introdutório
dos Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil - Rcnei (BRASIL,
1998, p. 23) que:
(...) a instituição de educação infantil deve tornar acessível a todas as crianças
que a freentam, indiscriminadamente, elementos da cultura que enriquecem o
seu desenvolvimento e inserção social. Cumprindo um papel socializador,
propiciando o desenvolvimento da identidade das crianças, por meio de
aprendizagens diversificadas realizadas em situações de interação.
Apresento aqui quatro princípios norteadores para a garantia do exercício da
cidadania às crianças da Educação Infantil, princípios estes, estabelecidos pelo
Referencial Nacional Curricular para a Educação Infantil (BRASIL,1998), pois uma
sociedade que estiver preocupada e consciente da importância das experiências
adquiridas na primeira infância das crianças, deve estar atenta para que estes
princípios venham a ser garantidos e efetivados.
O primeiro princípio versa o respeito à dignidade e aos direitos das crianças, que
sejam consideradas nas suas diferenças individuais, sociais, econômicas, culturais,
étnicas, religiosas; o segundo princípio, diz respeito ao processo de construção do
56
conhecimento, pois as crianças utilizam as mais diferentes linguagens e exercem a
capacidade que possuem de terem idéias e hipóteses originais sobre aquilo que
buscam desvendar; o terceiro princípio trata que a escola deva cumprir um papel
socializador, em que seja possível desenvolver a identidade das crianças, por meio
de aprendizagens diversificadas, realizadas em situações de interação, e, o quarto
princípio considera que as crianças são diferentes entre si, portanto deve-se
propiciar uma educação baseada em condição de aprendizagem que respeitem suas
necessidades e ritmos individuais, o que visa ampliar e enriquecer as capacidades
de cada criança. Faz-se necessário, que a atuação dos educadores estejam
pautadas para a implementação e operacionalização destes princípios no seu labor
pedagógico, uma vez que estes são fundamentais para o desenvolvimento integral
das crianças.
Discutir a atenção educacional integral de criaas num país como o Brasil, que até
algum tempo, e ainda hoje, dispensa os serviços em caráter assistencialista e
compensatório, é sem dúvida um desafio, pois a compreensão de que as crianças
vão para a escola apenas para passar o tempo ainda é muito forte.
Segundo Oliveira, S. (2005, p. 37),
A criança passa a ter direito a uma educação que vá “além” da educação
recebida na família e na comunidade, tanto no que diz respeito à profundidade
dos conteúdos, quanto à abrangência. Por outro lado, a educação, em
complemento à ação da família, cria a necessidade de que haja uma articulação
entre a família, a escola e a própria comunidade na construção do projeto
pedagógico da creche ou pré-escola.
Pode-se dizer que a discussão sobre os aspectos físicos, psicológicos, intelectuais e
sociais agora faz parte de um debate mais amplo, pois convoca todos os envolvidos
no processo educacional das crianças para observar se os direitos assegurados
estão sendo de fato cumpridos.
Os estudos de Guimarães (2005) apontam que parte dessa interpretação
equivocada deve-se ao fato da forma dicotomizada que os serviços foram prestados.
À faixa etária do zero aos três anos cabiam os serviços oferecidos pela assistência
57
social através de creches municipais e/ou filantrópicas e comunitárias, e à faixa
etária dos quatro aos seis anos a responsabilidade da área educacional.
A nova legislação não garante por si só uma Educação Infantil com a observação de
todos os aspectos necessários ao desenvolvimento das crianças. É preciso que
ocorra uma mudança na forma de ver e compreender a maneira como a criança se
desenvolve e interage no processo educacional, de maneira a perceber que a
articulação de diferentes aspectos (físico, psicológico, intelectual e social) é
necessária e indispensável para a formação dessas crianças como cidadãs.
Segundo Oliveira, S. (2005, p. 37):
Essa visão de criança-cidadã gera uma contribuição, específica da LDB, que
também é decisiva para a educação infantil: a consideração de que ela faz parte
da educação básica. Essa inserção na educação básica lhe dá uma dimensão
maior, em que ela passa a ter um papel específico no sistema educacional: o de
formação necessária a que toda pessoa tem direito para o exercício da
cidadania, recebendo os conhecimentos básicos que são necessários para a
continuidade dos estudos posteriores.
É preciso que as políticas públicas para as crianças de zero a seis anos de idade
voltem-se para a necessidade de articular o educar e o cuidar no processo
educacional, pois cabe às crianças dessa faixa etária, muito mais do que o caráter
assistencial e de guarda. Guimarães (2005) afirma que é preciso que os espaços,
agora escolares, estejam preocupados não com os cuidados físicos, de saúde e
de alimentação, mas, sobretudo, com o desenvolvimento integral das crianças, com
vistas a contribuir para o exercício da cidadania.
No artigo 30 da LDB observa-se que a Educação Infantil será oferecida em creches,
ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade, e em pré-
escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade. Em relação ao local de
realização das atenções voltadas para as crianças de zero a seis anos a Lei deixa
claro que os serviços educacionais devem se dar em creches e pré-escolas, porém
não um esclarecimento quanto ao horário de funcionamento. É comum a
associação, segundo Campos (2005), de que a creche deva funcionar em período
integral, enquanto a pré-escola em meio período, o que, segundo a autora,
caracteriza-se como uma interpretação equivocada, uma vez que não em
58
nenhum lugar da referida legislação algo que trata especificamente desse serviço.
De acordo com Campos (2005, p. 29):
Tradicionalmente, as creches identificaram seu público na populão mais
pauperizada, muitas vezes associando esse critério à exigência de que as mães
estejam trabalhando. Ao contrário, os sistemas educacionais sempre
funcionaram mais baseados na lógica do a todas as crianças, pelo menos
enquanto princípio.
Quando a LDB foi elaborada, verificou-se cuidados em estabelecer as finalidades da
Educação Infantil, para que os espaços de creches e pré-escolas não se configurem
como um lugar em que as crianças são confinadas exclusivamente para atender a
exigência legal. A Lei esclarece que é preciso estar atento para o desenvolvimento
integral das crianças até seis anos de idade, e isso corresponde a observar todo o
desenvolvimento das crianças, seja intelectual, físico, psicológico e social. E esta
atenção deve ser de responsabilidade dos gestores e dos profissionais que
organizam e atendem a esta faixa etária nos diferentes municípios que compõem um
país de dimensões continentais como o Brasil.
Até algumas décadas atrás os serviços às crianças de zero a seis anos eram de
responsabilidade dos Ministérios da Saúde, da Previdência, da Assistência Social e
da Educação. A partir da divisão de responsabilidade dos serviços às crianças,
pode-se perceber que as crianças não eram vistas como um ser indivisível, que
precisava ser protegida e cuidada integralmente.
O art. 89 da LDB 9.394/96 preceitua que “as creches e pré-escolas existentes ou
que venham a ser criadas deverão contar da publicação desta Lei, integra-se ao
respectivo sistema de ensino” (BRASIL, 1996). A integralização das creches visa,
dentre outras coisas, que as mesmas sejam credenciadas e regulamentadas pelo
sistema que estão subordinadas, a fim de que possam receber coordenação,
supervisão e avaliação agora do sistema de ensino e não mais das Secretarias de
Bem-Estar Social (SBES).
Pode-se considerar um avanço a integralização das creches, que estavam ligadas a
outras secretarias, ao sistema municipal de ensino no prazo de três anos, conforme
estabeleceu o PNE (BRASIL, 2001). Compete aos municípios baixarem normas
59
complementares para autorização, credenciamento e supervisão das instituições de
Educação Infantil de seu sistema de ensino, sem deixar de considerar as normas
estabelecidas pela LDB.
Desta forma, as prefeituras se viram na obrigação de implementar essa modalidade
de ensino em seu sistema educacional, autorizando e credenciando espaços para a
Educação Infantil. Um problema apontado na integralização é que alguns sistemas
municipais de ensino não se encontravam preparados, com suporte técnico,
pedagógico e com recursos financeiros suficientes para a instalação de creches e
pré-escolas, inclusive com estrutura física adequada e com profissionais
especializados. Com referência a este aspecto, um estudo de Sodré (2004) sobre a
qualidade das edificações para a Educação Infantil no município de Teixeira de
Freitas (BA) indicava uma série de críticas aos elementos construtivos (espaços,
ventilação, iluminação e áreas externas) para as creches e pré-escolas, já que as
mesmas não possuíam infra-estrutura adequada para a realização de atividades que
proporcionem o desenvolvimento integral das crianças.
Algumas ações do governo federal no que se refere à assistência social voltadas
para as crianças foram mantidas. Com a percepção de que era preciso ocorrer uma
transição da gestão de apoio do governo federal aos serviços às crianças de zero a
seis anos em instituições de creches e pré-escolas, criou-se em setembro de 2005
um grupo de trabalho formado por membros do MDS, do MEC e do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), com a finalidade de que esse grupo
apresentasse uma proposta de transferência do apoio financeiro do MDS para o
MEC.
O relatório elaborado por esse grupo apresenta as seguintes justificativas para a
transferência do apoio financeiro do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS)
para o MEC:
O cumprimento da legislação vigente – Constituição Federal, Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA), Lei de Diretrizes e Bases da Educação nacional (LDB),
Plano Nacional de Educação (PNE); Política Nacional de Assistência Social e
Norma Operacionalsica do Sistema Único de Assistência Social (NOB/SUAS);
60
O fortalecimento da Política Nacional de Educação Infantil, especialmente no que
diz respeito à formação integral das crianças de 0 a 6 anos, à qualidade e
à equidade na Educação Básica;
A consolidação da concepção de Educação Básica;
O rompimento do ciclo de reprodução intergeracional da pobreza na medida em
que a educação infantil contribui para a formação adequada das novas gerações
de brasileiros, em especial os que pertencem aos grupos menos favorecidos da
sociedade;
A consolidação das funções específicas da assistência social no campo da
proteção social básica, em consonância com a Política Nacional de Assistência
Social, assim como apontar ações articuladas entre a assistência social e a
educação.
(BRASIL, 2006a, p. 6)
Uma interpretação equivocada do capítulo que prevê a municipalização da
Educação Infantil na LDB pode vir a considerar obrigação apenas do próprio
município a operacionalização da mesma, porém a responsabilidade envolve a
colaboração mútua entre União, Estados e municípios.
Como afirma Guimarães (2005), não pode ser considerada desinformação os
dirigentes transferirem com exclusividade aos municípios a aplicabilidade e a
realização da Educação Infantil. A colaboração e a cooperação entre as esferas
municipais, estaduais e federais devem ser realizadas de maneira que atendam com
qualidade os serviços prestados às crianças.
Para Souza Jr. (2004), a municipalização terá êxito se as condições de dotação
orçamentária estiverem compatíveis com as necessidades estruturais de que a
Educação Infantil carece tais como recursos, a fim de garantir o aumento de
matrículas, estruturas sicas adequadas, além da valorizão do magistério, dentre
outras questões.
A LDB mostra o seu caráter contraditório com a Educação Infantil quando em seu
art. 11, V, diz que os municípios devem se organizar a fim de oferecer a Educação
Infantil em creches e pré-escolas, mas que a prioridade deve ser com o Ensino
Fundamental. Tal afirmação abre brechas para que a Educação Infantil, como
direito, fique apenas no papel, pois nenhum município estaria em desacordo com a
Lei, ao investir maiores recursos no Ensino Fundamental.
61
Segundo Vasconcellos, Aquino e Lanter (2003), tem sido tarefa bastante difícil,
principalmente no que se refere aos recursos financeiros para a Educação Infantil,
apesar de a Constituição Federal em seu art. 211, inciso 2º, e a Emenda
Constitucional dizerem que os municípios devem atuar “prioritariamente no Ensino
Fundamental e na Educação Infantil”.
Direcionar os investimentos para a Educação Infantil se faz necessário, pois essa
mudança certamente contribuirá para garantir a qualidade nas creches e pré-
escolas. De acordo com Cerisara (2002), como o plano de atenção à infância no
Brasil esteve por muito tempo ligado às Secretárias de Assistência e Bem-Estar
Social, não havia a preocupação em estabelecer critérios de formação para os
profissionais que prestavam essa assistência às crianças; era necessário ter um
carinho maternal e boa vontade para desempenhar as funções no interior das
creches. Por estarem ligadas a órgãos de assistência e promoção social, com
características de assistência e guarda às crianças, atentavam-se apenas para os
cuidados físicos, de saúde e de alimentação.
A disposição do art. 62 da LDB, no que se refere à formação dos profissionais para
atuar na Educação Básica, sobretudo na Educação Infantil, prescreve que:
art. 62 - A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em
nível superior, em curso de licenciatura de graduação plena, em universidades e
institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o
exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do
ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal.
(BRASIL, 1996, p. 48)
De acordo com Vasconcellos (2003) este artigo da LDB foi revogado pelo então
Ministro da Educação Cristovam Buarque em de agosto de 2003, portanto não
seria mais exigido o diploma superior para exercer o magistério até a série do
Ensino Fundamental. Segundo a autora, essa revogação, procura levar em conta as
diferentes realidades vivenciadas pelos professores e pelas famílias num país como
o nosso.
62
Enfim, o trabalho a ser desenvolvido nos espos de creches e pré-escolas requer
perante a Lei que os profissionais tenham formação mínima em nível médio na
modalidade normal e essa exigência (que ainda não é adequada) pode ser
considerada um avanço, que é a primeira vez que a Educação Infantil é discutida
como parte complementar do desenvolvimento integral das crianças, tal como estão
preconizadas no art. 29 da LDB 9.394/96. Se por um lado o artigo 29 ressalta o
desenvolvimento integral da criança, por outro, o artigo 62 deixa implícito que essa
formação pode ser adquirida em nível médio.
Além dessa exigência (formação mínima em nível médio), a LDB, no art. 67, afirma
que os sistemas de ensino deverão promover a valorização do magistério, e
assegurar aos profissionais o aperfeiçoamento continuado, em que são reservados
períodos de estudo, planejamento e avaliação, incluídos na jornada de trabalho, a
fim de assegurar a qualidade nos serviços educacionais às crianças no interior das
creches e pré-escolas. E quando se propõe que os profissionais da educação devam
ter um tempo destinado à sua formação continuada é que se reconhece que a
formação inicial não basta para o desenvolvimento de suas funções. Mas qualquer
profissional precisa necessariamente investir na sua carreira profissional. O que
de especifico com o magistério é que a formão mínima não é suficiente
justamente porque ele lida com a formação de outra pessoa, o que exige dele
constante atualização.
Ainda no art. 67 é estabelecido que o ingresso na carreira será exclusivamente por
concurso público, que necessidade em se constituir o piso salarial profissional e
que a progressão funcional poderá ocorrer mediante a titulação ou habilitação, como
também por meio da avaliação do desempenho, tais ações incentivam os
profissionais a desenvolverem um trabalho na Educação Infantil com vistas a seguir
um projeto de carreira nessa modalidade de ensino. É comum o profissional
qualificado migrar para as outras modalidades de ensino, segundo Campos (2005, p.
30): “condições de trabalho e salário, somadas à extrema desigualdade social da
população brasileira, configuram um tipo de ocupação que dificilmente atrairá as
jovens que conseguem uma escolaridade maior”.
63
O último aspecto que procuro abordar em relação à Lei 9.394/96 e a Educação
Infantil tem a ver com a elaboração da proposta pedagógica dos estabelecimentos
de ensino que oferecem Educação Infantil às crianças. Quando a LDB propõe que
os docentes elaborem a proposta de ensino, permite que as singularidades regionais
e culturais das crianças sejam respeitadas, pois serão pensadas coletivamente, com
o intuito de proporcionar o desenvolvimento integral das crianças. Faz-se necessário
que a atuação dos profissionais esteja pautada para a implementação e
operacionalização destes princípios no seu labor pedagógico, uma vez que estes
são fundamentais para o desenvolvimento integral das crianças.
O Projeto Político Pedagógico (PPP), como elemento articulador no processo de
construção da autonomia no cotidiano escolar, deve ser definido e elaborado com os
princípios que definirão a identidade da escola para a qual foi construído, uma vez
que abrangerá o conjunto de teorias, diretrizes e estratégias que darão sentido às
ações dos gestores, dos docentes e dos discentes.
Visto que o PPP é uma ação intencional, como afirma Veiga (2001) em seus
estudos, ele deverá estar intimamente ligado e articulado com a formação do
cidadão e para que tipo de sociedade este cidadão estará inserido. Pode-se dizer
que o PPP reorganizará o espaço escolar na medida em que visa ao processo de
ensino-aprendizagem, e é de extrema importância que as escolas tenham um PPP,
que desenvolva caminhos de superação e de busca de qualidade social.
O PPP, de acordo com Veiga (2001), deverá ser um sonho comum de todas as
escolas que visam à melhor qualidade de ensino. Portanto, deve ser pensado e
elaborado coletivamente, de maneira a explicitar as intenções, compromissos
sóciopolíticos voltados aos interesses da coletividade. Para que isso aconteça de
fato, os professores e os gestores escolares devem compreender o sentido político
pedagógico de seu trabalho e de sua co-responsabilidade para definir, planejar e
executar o PPP.
Vale lembrar que o PPP não é para ficar no papel e nem para ser apenas um
instrumento burocrático; ele é um instrumento de ensino-aprendizagem tanto para os
alunos quantos para os professores, daí a necessidade de ser construído
64
coletivamente com propostas de transformar a realidade, pois será esse trabalho
coletivo que dará vida à ação do espaço pedagógico.
Sabe-se que o PPP constrói-se de forma interdisciplinar, e a noção de projeto
implica, sobretudo, a noção de tempo: o tempo político, que é a oportunidade
política; o tempo institucional, já que cada escola encontra-se num determinado
tempo de sua história; o tempo escolar, que constitui o próprio calendário escolar; e
o tempo para amadurecer as idéias, pois um projeto necessita ser discutido e isso
requer tempo.
Faz-se necessário apontar alguns elementos que irão facilitar o êxito do PPP, a
saber: a comunicação eficiente, pois um enunciado pode vir a ser facilmente
compreendido; a adesão voluntária e consciente ao projeto; o suporte institucional e
financeiro; o acompanhamento e a avaliação do projeto; a credibilidade e, por fim, o
referencial teórico que dará suporte, com os princípios e conceitos, à estrutura do
projeto.
O PPP deverá constituir-se como um elemento articulador no verdadeiro processo
de construção da autonomia escolar e ser um processo de conscientização da
importância e da necessidade do planejamento na educação. A comunidade deverá
compreender que o PPP tem como finalidade a clarificação da ação educativa da
instituição em sua totalidade, daí a importância do envolvimento e da participação da
mesma para que haja um constante diálogo e reflexão entre todos. Para a realização
da avaliação do PPP, as concepções de avaliação que norteao todo o projeto
devem ficar claras e definidas a partir do contexto socioeconômico e das opções
políticas da sociedade local.
É necessário que haja sempre uma renovação do projeto político-pedagógico, já que
renovar é um fenômeno intrínseco da própria aprendizagem e, segundo Demo
(2001), mantém o mesmo projeto político-pedagógico o professor que passou o
ano sem aprender nada, não leu, não pesquisou, não elaborou. Contudo, pode-se, é
claro, continuar com o mesmo projeto ou com poucas mudanças, desde que se
chegue a isto por um processo acurado de avaliação.
65
É importante esclarecer que a função do projeto é favorecer a criação de estratégias
de organização dos conhecimentos escolares, em relação ao tratamento da
informação e aos diferentes conteúdos em torno de problemas ou hipóteses, e
facilitar às crianças a construção de seus conhecimentos, bem como a
transformação da informação procedente dos diferentes saberes disciplinares em
conhecimento próprio.
Nessa direção, o projeto educativo se faz essencial, uma vez que o mesmo se
identifica com a amplitude de expectativas em torno do trabalho educativo de cada
escola, e é através do projeto que se pode buscar a discussão e o apoio de todos da
escola para se traçar objetivos coletivos e metas, num processo de prática educativa
coletiva responsável pelo projeto escolar como trabalho conjunto de todos da escola.
O projeto pedagógico não pode se encerrar no discurso teórico como se fosse carta
de intenção. Ao contrário, deve revelar capacidade de costurar teoria e prática,
mesmo que em um ambiente simprio. O trabalho com projetos, se levado a rio,
obriga as pessoas a trabalharem em conjunto, numa busca incessante de
atualização e de desenvolvimento da pesquisa, como respaldo determinante para a
qualidade do trabalho do professor.
É importante esclarecer que o compromisso do projeto político-pedagógico deve ser
com o desenvolvimento dos alunos, portanto, como afirma Demo (2001), para que o
aluno aprenda bem, faz-se necessário que o professor seja capaz de pesquisar, de
reconstruir o conhecimento, teorizando a sua ação prática, o que possibilitará sua
capacitação permanentemente, daí, é possível que sua atuação ocorra de forma
interdisciplinar e sua avaliação seja utilizada em favor da aprendizagem dos seus
alunos.
No próximo capítulo, discutiremos a importância de uma formação compatível com
as necessidades inerentes à atuação dos profissionais que trabalham com as
crianças em creches e em pré-escolas. A Educação Infantil tem especificidades, e
que por ter herdado uma história de assistencialismo, demanda uma formação dos
seus profissionais voltada não só para o processo de desenvolvimento das crianças,
como também para o desenvolvimento de cada profissional que nela atua.
66
CAPÍTULO 2
O PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO INFANTIL:
formação, identidades, relevância, implicações e possibilidades
Não há ensino de qualidade,
nem reforma educativa,
nem renovação pedagógica
sem uma adequada formação de professores.
Antônio Nóvoa
67
2.1 A formação dos profissionais da Educação Infantil: dilemas e perspectivas
Novos dilemas se configuraram as a promulgação da LDB 9.394/96 no que tange
a formação necessária para atuar na Educação Infantil, o debate sobre a
importância da formão dos profissionais da Educação Infantil se faz presente nos
palcos das discussões educacionais. Os fóruns, os seminários, as conferências que
discutem essa temática procuram dar um significado para a formação, seja ela inicial
ou continuada, oportunidade em que são apontadas as possibilidades de inovações
da prática educativa para que a mesma se torne contextualizada, dinâmica e flexível,
de maneira que venha contribuir no processo ensino-aprendizagem das crianças.
A formação dos profissionais da infância abrange situações que interpõem a teoria
apreendida nos espaços acadêmicos com a prática experienciada nos espaços de
sua atuação pedagógica. O processo de formação deve proporcionar aos
professores reflexões sobre esses saberes que são constituídos na prática cotidiana
da ação educativa, de maneira que os conhecimentos e atitudes destes profissionais
se voltem para o desenvolvimento individual e coletivo das crianças.
Além disso, esta formação deve valorizar todas as experiências culturais vivenciadas
pelas crianças nos diversos ambientes, o que caracterizaria, segundo Kramer
(2005a), a garantia do direito que as crianças m de manifestar-se culturalmente e
trazer para a escola o seu modo de ser, agir e interagir na sua comunidade. Ao
realizar atividades contextualizadas com a realidade deste convívio, as crianças
aprendem, socializam e desenvolvem o seu conhecimento por meio destas
interações sociais. Assim sendo, a creche e a pré-escola não podem ser
consideradas pelos profissionais da Educação Infantil como o único espaço de
desenvolvimento, daí a necessidade da utilização destas experiências no processo
de construção coletiva do conhecimento dessas crianças.
A formação destes profissionais deve estar alicerçada em um conjunto de ações
voltadas para a compreensão de que as crianças aprendem com a sua própria
história e com a história de outras pessoas de sua relação pessoal. Ademais, é
preciso que estes profissionais percebam as crianças como sujeitos partícipes, logo,
68
elas devem ser consideradas como sujeitos históricos, sociais e culturais (KRAMER,
2005a).
Percebe-se que em algumas creches e pré-escolas existem ainda profissionais que
desconsideram essa compreensão, apesar dos esforços para discutir nos cursos de
formação de professores aspectos que deixem explícitos o posicionamento de que
as crianças são sujeitos que podem construir seu conhecimento nas interações
escolares e não escolares. Não é tarefa fácil desconstruir essa relação, porém não é
impossível, e as crianças m o direito de receber uma atenção que priorize o seu
desenvolvimento integral.
Com vistas a uma política de atenção à infância mais ampla, o MEC, no período de
1995 a 1998, elaborou o Parâmetros Curricular Nacional (PCN) a fim de subsidiar as
diversas modalidades de ensino, no que se refere ao desenvolvimento de propostas
de ensino, com a perspectiva de implementar um programa que, ao mesmo tempo,
atendesse as diversidades culturais e respeitasse as singularidades de cada região.
Para a realizão desta proposta, o MEC precisou contar com a parceria dos
Estados e dos municípios nas seguintes ações: distribuição e implementação dos
referenciais para a formação de professores, apoio às secretarias que
desenvolvessem o programa, apoio aos Estados e aos municípios que
operacionalizassem a reformulação dos planos de carreira (BRASIL, 1999a).
As finalidades desse programa objetivavam reflexões e discussões acerca do papel
da escola e dos professores e da criação de espaços alternativos para uma
aprendizagem coletiva. O público alvo desse programa foram os professores do
Ensino Fundamental, da Educação Indígena, da Educação Infantil e da Educação de
Jovens e Adultos, como também os especialistas da educação, coordenadores
pedagógicos, dentre outros.
Para participar dos Parâmetros em Ação, as secretarias estaduais e municipais
deveriam ser responsáveis pela: indicação dos coordenadores-gerais e de grupo,
organização dos grupos de estudos, preparação de locais e de recursos materiais,
formulação de cronograma local, reprodução do material, organização, avaliação; e,
posteriormente, pelo acompanhamento da ação.
69
Conforme é mencionado nos Referenciais para Formação de Professores (BRASIL,
1999a, p. 86), a formação deve assegurar, dentre outras coisas: “a aquisição de
conhecimentos sobre o desenvolvimento humano e a forma como cada cultura
caracteriza as diferentes faixas etárias”, portanto, os cursos de formação devem
estabelecer no seu quadro curricular além de disciplinas que tratem especificamente
do desenvolvimento humano, outras que proporcionem a análise de organização
estrutural da sociedade e sobre as composições culturais, a fim de que os
profissionais possam discutir com seus pares questões que dizem respeito à
organização social e cultural, que explicam a estrutura da sociedade
contemporânea.
Compreender que o processo de formação destes profissionais ocorre na articulação
entre os campos político, histórico e também filosófico é primordial para um debate
coerente acerca das complexidades desta formação. Segundo Souza (2006), a
formação tem caráter político porque se encontra vinculada ao sistema de controle e
de regulação social de acordo com as relões de poder e saber preestabelecidas;
tem caráter histórico por refletir os interesses e perspectivas das atuais políticas de
universitarização caracterizadas pela qualidade de formação; e filosófico por articular
o conceito de homem e de suas relações com a compreensão de mundo e com o
projeto social (SOUZA, 2006).
Na perspectiva de uma formação comprometida com todos os profissionais de
educação, faz-se premente o abandono do conceito banal de que os professores
são meros organizadores de situações de aprendizagem, para designar a estes a
função de criador e mediador de situações de aprendizagem para o
desenvolvimento humano.
É indispensável, segundo Kramer (2001), que os professores compreendam que sua
formação inicial não lhes basta para o resto da vida. E é preciso compreender
também que a formação docente não se constitui por acumulação de cursos,
conhecimentos ou técnicas, mas se funda, sobretudo, por meio de um trabalho de
reflexão crítica sobre sua prática e a reconstrução permanente de uma identidade
pessoal.
70
Se por um lado a formação não se constitui apenas nesse acúmulo de cursos,
conhecimento ou técnicas, por outro, é preciso que os profissionais, ao realizá-los,
identifiquem quais foram as contribuições relevantes para a sua atuação e faça-os
com compromisso. Vale lembrar que é imprescindível que haja sempre uma
avaliação a respeito dos aportes teórico-práticos dos mesmos para a reflexão da
práxis profissional. De nada adianta um currículo com diversos cursos
complementares à formão inicial sem uma prática profissional contínua. As
crianças não serão sempre as mesmas, logo, as atividades e ões pedagógicas
exigirão outras aplicabilidades. E será capaz de refletir e perceber a necessidade
de utilizar outras alternativas, o profissional que se dispuser a fazer uma análise
crítica sobre a sua ação cotidiana com as contribuições destes cursos.
As conquistas em relação ao desenvolvimento de uma formação docente
especializada para a Educação Infantil são recentes. Com a promulgação da LDB
9.394/96 e a integralização das creches ao sistema educacional, novas exigências
passam a ser requisitadas para que se desenvolva um trabalho no interior das
creches e pré-escolas que respeite as especificidades das crianças de zero a cinco
anos.
Kishimoto (2005) alerta que a formação dos profissionais de Educação Infantil deve
ser oferecida a partir da compreensão de um mundo integrado, uma vez que os
mesmos irão atuar com crianças que aprendem tamm de modo integrado.
Portanto a formação deve estar articulada com processos que favoreçam a
construção do conhecimento. Parte do problema da formação dos profissionais da
Educação Infantil ocorre quando há compreensões distintas, a respeito do perfil
destes profissionais para atuarem em creches e em pré-escolas (KRAMER, 2005a).
Esta também é a preocupação de Kramer (2005a, p.128) ao afirmar que: “No meu
modo de entender, a formação é necessária não apenas para aprimorar a ação
profissional ou melhorar a prática pedagógica. Tenho defendido a formação como
conquista e direito da população, por uma escola pública de qualidade”. Desta
forma, a autora afirma que é preciso oferecer condições para que esse profissional
ao se aprimorar não deixe a Educação Infantil, uma vez que é direito das crianças
terem profissionais qualificados para colaborar com o desenvolvimento das mesmas.
71
Para contribuir com a formação dos profissionais que atuam na Educação Infantil
com vistas à melhoria de uma educação pública e de qualidade, é essencial garantir
oportunidade de socialização dos conhecimentos e trocas de experiências. O
direcionamento da política educacional mundial volta-se para a consolidação do
conhecimento profissional de forma coletiva e, visa, à superação das perspectivas
individuais. Além disso, muitos discutem (MACHADO, 2005; KISHIMOTO, 2005;
SILVA, 2005) a atuação do professor de Educação Infantil e o seu processo de
formação e indicam que se faz necessário que este profissional deixe o papel de
objeto para assumir o lugar de sujeito.
Os professores possuem um conhecimento que é construído desde a sua formação
enquanto ser humano, como também a partir da sua prática profissional, e esses
conhecimentos são fundamentais para a constituição do professor e,
conseqüentemente, para sua atuação profissional, seja qual for a modalidade de
ensino. Desta forma, os cursos de formação para professores, seja inicial ou
continuada, devem voltar-se para as reais necessidades que emergem das práticas
cotidianas nos espaços escolares das creches e pré-escolas, com o objetivo de
colaborar com as discussões fundamentais para uma práxis reflexiva do processo
educativo.
que se considerar também, conforme assevera Micarello e Drago (2005), que ao
se definirem as políticas públicas de formão dos profissionais da Educação
Infantil, faz-se necessário explicitar o perfil desejável para a atuação pedagógica
junto às crianças, e isso compreende, dentre outras coisas, determinar a concepção
de infância e de Educação Infantil que irá subsidiar as escolhas e o projeto político
pedagógico do curso, bem como a atuação será exigidas destes profissionais a fim
de que possa ocorrer nesses espaços de formação uma socialização e construção
de saberes que proporcione possibilidades de interação entre a formação e a prática
profissional.
Diante dessas novas demandas, é importante rever o papel dos professores e sua
formação inicial ou continuada, para que atuem como profissionais comprometidos e
éticos. Que estejam aptos a contribuir com o processo de desenvolvimento das
crianças e com o trabalho educativo. Qualificados a partir de uma formação aliada à
72
pesquisa do cotidiano escolar, a fim de que se apropriem efetivamente dos
conhecimentos que, aliados às experiências significativas de aprendizagem com as
crianças, viabilizem a construção coletiva de conhecimento.
Numa sociedade em que as mudanças ocorrem de forma constante, é necessário
que o professor se forme para as incertezas e seja capaz de rever suas teorias e
idéias permanentemente. Para tanto, é preciso que eles atuem como profissionais
prático-reflexivos que, ao se depararem com uma situação de dúvida, venham a
decidir e intervir efetivamente sobre ela, pois, ao atuar desta forma, serão ao mesmo
tempo agentes de mudaa individual e coletiva (IMBERNON, 2001).
Na sociedade contemponea houve uma ruptura no que diz respeito à transmissão
de informações e/ou conhecimentos. Espera-se, hoje, que sejam apresentados
problemas a resolver, situados num contexto e colocados de modo que as crianças
possam estabelecer a ligação entre a sua solução e outras interrogações mais
abrangentes. Esta proposição de ensino estabelece uma relação dialógica entre
ambos, e exige do professor um novo tratamento pedagógico, que o
conhecimento será construído e problematizado com as crianças.
De acordo com Imbernon (2001), a formão dos professores é um processo amplo
e não linear, que ninguém muda de um dia para o outro. A aquisição de
conhecimentos deverá ocorrer da forma mais interativa possível, tendo em vista que
o conhecimento pedagógico se constrói e reconstrói constantemente durante toda a
vida profissional do professor.
É preciso que o professor tenha clareza que, enquanto profissional da educação,
deve participar do processo emancipatório das crianças, portanto é necessário
proporcionar condições às crianças para que desenvolvam sua autonomia. Esse
caminho emancipatório deve ser conquistado dentro de uma construção própria e
não imposta, que os indivíduos emancipados podem dialogar de verdade, pois
terão com o que contribuir. O processo de formação deve proporcionar aos
professores conhecimentos e atitudes para que estes profissionais sejam
efetivamente reflexivos na sua ação pedagógica (DEMO, 2000).
73
Pensar na formação dos profissionais que atuam na Educação Infantil, com o
objetivo de melhorar este segmento para assegurar uma educação gratuita e de
qualidade é essencial para garantir oportunidades de socialização de conhecimentos
e trocas de experiências entre os infantes.
Ao elaborar o perfil desejável, não se define apenas o tipo de profissional para
trabalhar com as crianças, mas a formação adequada para desenvolver o labor com
esse público e considera, também, as especificidades desta fase tão importante para
a construção dos conhecimentos dos infantes.
Não são recentes os problemas que emergem dos cursos de formação dos
profissionais da Educação Infantil. A falta de clareza a respeito deste perfil desejável
gerou alguns problemas nesses cursos, pois geralmente não há o respeito pelas
especificidades da Educação Infantil. Os cursos acabam por seguir um mesmo
currículo para todas as áreas de atuação profissional, o que, segundo Kishimoto,
acaba por gerar cursos amorfos. A partir desta ponderação, a autora nos convoca a
uma reflexão sobre a necessidade de estabelecer o perfil profissiográfico nos cursos
de formação (KISHIMOTO, 2005).
A formação dos profissionais de Educação Infantil não deve ser uma preocupação
tão somente de cumprimento legal, no que diz respeito à exigência do nível de
escolaridade. É importante que a mesma não aconteça de maneira apressada, como
se a compreensão das concepções epistemológicas da constituição das crianças
pudesse ser assimilada da mesma forma.
É preciso realizar uma formação que proporcione o desenvolvimento de pesquisas
com esses futuros professores, a fim de que os mesmos possam lançar olhares
investigativos nos processos educacionais; trabalhar apenas aspectos teóricos não
conta das especificidades das crianças. Vasconcellos (2001b) explica que no
Brasil ainda não existe o reconhecimento da formação de profissionais de Educação
Infantil e que cabe a estes profissionais construírem sua carreira com compromisso
e com reconhecimento entre seus pares e a comunidade em geral, para que se
possa perceber o quanto é importante conhecer e aprofundar os estudos sobre os
aspectos fundamentais para o desenvolvimento das crianças.
74
No que se refere à formão do profissional de Educação Infantil, Kishimoto (2005)
alerta para o risco de esta o apresentar clareza a respeito das especificidades da
Educação Infantil, pois se os cursos não têm bem definidos qual o seu perfil
certamente a formação poderá ficar comprometida e não dará conta da complexa
tarefa de educar crianças de zero a seis anos de idade. Pensar em uma formação
para os profissionais da infância requer, sobretudo, um compromisso com o fazer
pedagógico e com as crianças com as quais iremos trabalhar, a fim de proporcionar
um ambiente favorável para realizar atividades atinentes com o desenvolvimento das
mesmas.
Um outro problema apresentado por Kishimoto (2005) é que alguns professores dos
cursos de graduação esperam que seus alunos, futuros professores, apliquem as
teorias estudadas no espaço acadêmico em sua sala de aula. Contudo as demandas
educacionais não seguem um receituário capaz de ser apreendido na graduação.
Desta forma, há a necessidade de aproximar atividades práticas de pesquisa à
formação desses professores, para que as reflexões aconteçam a partir do olhar
investigativo lançado aos trabalhos desenvolvidos no interior da sala de aula.
Trabalhar aspectos tricos é importante e indispensável, mas é preciso que a
prática por meio da pesquisa seja vivenciada no decorrer de todo o curso.
De acordo com Veiga (2006), faz-se premente compreender que a formação dos
profissionais da educação não é uma formação apenas individual para satisfazer os
interesses pessoais, mas deve ser encarada como um direito destes profissionais ter
garantida pela esfera pública uma formação com qualidade e também do público
que é atendido por eles, que vai compartilhar esta formação.
Para Leitão de Melo (1999), a formação dos profissionais se caracteriza por um
processo inicial e continuado permanente e tem como propósito transpor os desafios
impostos na contemporaneidade. Segundo a autora, os estudos sobre aspectos que
dizem respeito à prática pedagógica acabam por se vincular à própria história de
vida destes profissionais.
Por entender que uma forte relação entre a história de vida e a construção da
identidade desses profissionais é que discutirei o processo de construção de
75
identidade dos profissionais que trabalham com crianças na primeira etapa da
Educação Básica.
2.2 A construção de identidades dos profissionais da Educação Infantil
Vive-se uma crise em relação à identidade profissional dos profissionais de
Educação Infantil. É preciso elaborar propostas espeficas que permitam a
reconstrução da mesma. Entende-se, aqui, identidade como o processo de
construção e reconhecimento de uma definão de si mesmo que satisfaça ao
indivíduo e à instituição em que está inserido (SILVA, 2001).
Conforme ressalta Silva (2005), a construção da identidade profissional perpassa
pela reflexão acerca da práxis profissional e depende acima de tudo de um querer
fazer cotidiano, não existem receitas procedimentais para essa reconstrução.
Articular a formação de professores ao desenvolvimento de práticas que
contemplem a atuação profissional requer múltiplos domínios sobre as ações
pertinentes às situações cotidianas que irão exigir tais ações educacionais.
Porém, antes de dar início à discussão acerca da construção de identidade, é
preciso apresentar quem são em sua grande maioria esses profissionais da
educação infantil. De acordo com Cerisara (2002):
sem pretender uma definição acabada do perfil das profissionais de educação
infantil, pode-se afirmar que elas têm sido mulheres de diferentes classes
sociais, de diferentes idades, de diferentes raças, com diferentes trajetórias
pessoais e profissionais, com diferentes expectativas frente à sua vida pessoal e
profissional, e que trabalham em uma instituição que transita entre o espaço
público e o doméstico, em uma profissão que guarda o traço de ambigüidade
entre a função materna e a função docente (CERISARA, 2002, p. 25).
Kramer (2005) acrescenta que as atividades do magistério infantil estão associadas
ao papel sexual, reprodutivo, desempenhado tradicionalmente pelas mulheres,
caracterizando situações que reproduzem o cotidiano, o trabalho doméstico, de
cuidado e socializão infantil. As condições de trabalho para esses profissionais
76
são em grande maioria precárias, geralmente sem uma política de progressão de
carreira, nem sequer para o ingresso na atividade profissional, contratos temporários
também agravam a situação.
Compreender as construções e transformações que os profissionais de Educação
Infantil fazem na constituição da identidade profissional é importante para perceber
as relações forjadas na sala de aula, uma vez que ninguém se torna profissional de
crianças da noite para o dia, há sempre uma história a ser contada para exemplificar
e explicar a escolha por este trabalho.
A respeito da constituição dessa identidade docente, Nóvoa (1997, p. 34) ressalta
que “a identidade não é um dado adquirido, não é uma propriedade, não é um
produto. A identidade é um lugar de lutas e conflitos, é um espaço de construção de
maneiras de ser e estar na profissão”. Ademais, Pimenta (1998) afirma que a
identidade se constrói com base na significação social da profissão, na revisão dos
significados sociais da profissão, bem como na revisão das tradições. A autora
colabora com o debate sobre a construção da identidade profissional ao fazer uma
reflexão a partir dos saberes na docência, pois a identidade profissional será
desenvolvida através desses saberes adquiridos na prática.
Já Fazenda (2000) advoga, em seus estudos, que a construção da identidade
perpassa pelo autoconhecimento, daí a importância de se questionar diuturnamente
com as seguintes proposições: como me tornei o que sou e como tenho as idéias
que tenho? Deve-se questionar também quem são as pessoas que buscam os
cursos de formação de professores para entrar em sala de aula e realizar a ação
pedagógica.
Conforme assinala Silva (2001) em sua pesquisa que trata das construções de
identidades dos professores de Educação infantil, é necessário desnudar as
relações que esses profissionais estabelecem no contexto educacional, a fim de
compreender o jogo entre o indivíduo e a sociedade.
Nesta linha, Veiga (2006) afirma que a identidade docente se constrói desde a
escolha da profissão, em um processo que recebe variadas influências, tais como:
77
da formação inicial e dos diferentes espaços de atuação, portanto não é algo pronto
e acabado. A respeito da constituição dessa identidade, Nóvoa (1992) ressalta que
existem três dimensões fundamentais para essa construção: a primeira diz respeito
ao desenvolvimento pessoal, que se atrela aos processos de construção de vida do
professor; a segunda relaciona-se ao desenvolvimento profissional que, em outras
palavras, se refere aos aspectos da profissionalização docente; e a última diz
respeito ao desenvolvimento institucional, ou seja; o investimento da instituição para
a obtenção de seus objetivos educacionais.
Souza (2006, p. 19) chama a atenção para o aspecto dinâmico que está envolvido
nesta definição e que por este motivo “não devemos fechar a noção de ‘identidade’
como algo fixo, imutável e cristalizado, porque significa construção, daí a
necessidade de compreendê-la como processo que comporta subjetividade,
complexidade, diferenças e não igualdades”.
Cada um dos estudos aqui apresentados tem contribuído para discussão sobre a
identidade destas profissionais, e a palavra no feminino é proposital, tendo em vista
que Cerisara (2004), em seus estudos, confirma que o processo de identificação
profissional com a Educação Infantil encontra-se vinculado em sua grande maioria à
construção de gênero e caracteriza uma continuação dos papéis que nossa
sociedade considera como de responsabilidade da mulher.
Anterior à legislação que preceitua o trabalho dos profissionais da Educação Infantil,
podia-se afirmar que os profissionais que trabalhavam com crianças, faziam-no
porque tinham vocação, por já serem mãe de inúmeros filhos poderiam dar conta de
acumular mais esse ofício ou até mesmo porque achavam o trabalho interessante. A
partir da compreensão de que na Educação Infantil bastava dispensar cuidados e
dar atenção às crianças, não fazia parte das exigências ou pré-requisitos para
desenvolver um trabalho com crianças, profissionais que fossem capazes de
observar e acompanhar seu desenvolvimento físico, social, intelectual e psicológico.
A propósito, cabe enfatizar a opinião de Cerisara (2002, p. 33), quando afirma que,
(...) para que se constitua uma identidade profissional, é preciso ter como base a
identidade pessoal dessas mulheres, construídas historicamente dentro de uma
78
ocupação socialmente desvalorizada a educadora de crianças de 0 a 6 anos e
vinculada de modo direto ao universo feminino desvalorizado em relação ao que
se convencionou chamar de universo masculino.
É por isso que as reivindicações de movimentos em favor da profissionalização
docente de professores da Educação Infantil continuam a vislumbrar uma longa luta,
que, devido à concepção de que as pessoas que atuavam com os infantes não
eram profissionais, e sim educadores, cristalizou-se durante muito tempo a idéia de
que não era preciso ter formação específica.
Sodré, Reis e Guttin (2007) destacam que Vygotsky, no início de seus estudos,
lembra que a criança pequena era vista a partir de uma analogia com o
desenvolvimento das espécies vegetais. Esta forma de perceber as crianças
propiciou condições para que o espaço planejado para elas fosse denominado de
Jardim de Infância. Havia a idéia de que a maturação neurológica fosse o fator
determinante do processo de desenvolvimento nos primeiros anos. Assim sendo,
bastaria dispensar cuidados para que elas se desenvolvessem. Portanto, ao analisar
as crianças sob essa perspectiva, os estudiosos da época deixavam de lado
aspectos complexos das transformações que ocorrem nos primeiros anos de vida.
Pelo exposto, parece ser o papel do professor mais complexo do que a simples
tarefa de transmitir o conhecimento produzido. O professor, durante a sua
formação inicial ou continuada, precisa compreender o próprio processo de
construção e produção de conhecimento escolar, entender as diferenças e
semelhanças dos processos de produção do saber científico e do saber escolar.
Isso não significa dizer que as coisas mudaram de forma a garantir uma Educação
Infantil aos pequenos com qualidade, porque agora em vez de exigir apenas o
espírito maternal ou caridoso das educadoras leigas, exige-se a formação em nível
médio na modalidade normal.
Sabe-se que anterior a esta Lei 9394/96, os profissionais que atuavam com as
crianças de creches e pré-escolas eram em sua maioria educadoras que em
79
diversos momentos históricos, de acordo com o caráter dos serviços que realizavam
nas creches e pré-escolas, eram denominadas de...
Pajens, babá, monitora, atendente, recreacionista, que ora denotam uma
atividade historicamente ligada ao espaço doméstico (pajens e babá), ora
denotam uma atividade fluida pouco definida (atendente, monitora, de que?) ou
ainda mais próxima do brincar que do educar (recreacionista) (CAMPOS, 1994,
p. 36).
A mudança na legislação é recente e a imposição de uma formão especializada
ainda é discutida, mas os profissionais (professores e técnicos) que atuam junto a
esta faixa etária m acumulado conhecimentos e experiências que precisam ser
conhecidos, analisados e debatidos.
A intenção não é desmerecer o trabalho desenvolvido por essas educadoras no
interior das creches e pré-escolas em outros momentos, mas garantir às crianças
uma atenção especializada que procure discutir e elaborar os aspectos que
proporcione a compreensão de forma científica das demandas das crianças que
freqüentam as creches e pré-escolas brasileiras.
Se, por um lado, essa medida deixou os professores leigos com a única opção ir
em busca da formão necessária para dar continuidade ao seu trabalho na primeira
etapa da Educação Básica –, por outro, demonstra uma preocupação com a atenção
oferecida nas creches e pré-escolas do nosso país, pois ao adotar tal medida,
considera insuficientes os motivos que outrora levavam esses profissionais leigos a
atuarem na Educação Infantil, a saber: a não exigência de uma formação específica,
o fato de ter um trabalho próximo às suas casas, o fato de ter paciência, de gostar
de criança, dentre outros. É evidente que é importante ter paciência e gostar de
crianças para trabalhar na Educação Infantil, pois a profissionalização sozinha não
daria conta de um trabalho tão complexo que é proporcionar o desenvolvimento
integral das crianças, não mais ancorado nas concepções assistencialistas ou
compensatórias, porém é importante também observar a pré-escola com objetivos
em si mesma, independente de sua vinculação com a escola de Ensino
Fundamental, como afirma Kramer (2003a).
80
É importante esclarecer que a formação inicial desses professores leigos deve
proporcionar aos mesmos uma reflexão sobre a sua história de vida como ser social
constituído de várias outras histórias. Portanto, capaz de contribuir nesse processo
com experncias e inquietações adquiridas no contato diário com as crianças e com
as outras pessoas que contribuíram para uma prática que por vezes poderia não ser
a mais correta, mas era a possível dentre as dificuldades e limitações que os
professores vivenciavam (SILVA, 2001).
Para que o profissional esteja adaptado à diversidade inerente ao contexto social,
faz-se necessário que o currículo formativo promova a experiência interdisciplinar e
que permita que o futuro professor integre os conhecimentos e procedimentos das
diversas disciplinas. Portanto é preciso que haja uma revisão crítica em relação aos
conteúdos e aos processos de formação permanente dos professores para que o
conhecimento profissional seja construído dialeticamente, daí a necessidade de um
currículo de formação articulado em torno das necessidades e das aspirações dos
futuros professores (KISHIMOTO, 2005).
Neste sentido é oportuna a análise de Kramer (1998) quando afirma, em seus
estudos, que a formação do educador deve estar pautada numa formação de
qualidade que permita aos mesmos serem sujeitos partícipes da construção de
cultura e dos conhecimentos.
2.3 Local de formação: Universidade ou Institutos Superiores de Educação
Acordos internacionais fizeram eclodir no final da década de 1990 novas
modalidades de cursos para a formão dos profissionais da Educação Infantil Os
Institutos Superiores de Educação (ISE’s) devido à exigência da Lei 9.394/96. O
problema é que a interpretação desse artigo assustou muitos profissionais e fez com
que a procura por cursos de formação aumentasse consideravelmente.
81
O PNE (2001) estabeleceu um prazo de dez anos para a qualificação em nível de
graduação para os professores atuarem na primeira etapa da Educação Básica e
nas primeiras séries do Ensino Fundamental. A corrida desenfreada por essa
qualificação fez com que inúmeros cursos fossem criados sem o devido cuidado
com a formação desses futuros profissionais.
Apesar disso, a formação dos profissionais de Educação Infantil na atual conjuntura
brasileira pode ser oferecida a partir do nível normal (no Ensino Médio), nos cursos
de Licenciatura plena em Pedagogia, oferecidos em universidades ou nos ISE’s e no
curso Normal Superior.
Os ISE’s vêm assumir funções que antes estavam distribuídas entre o curso normal
(habilitação magistério de Nível Médio), o curso de Pedagogia e a Licenciatura, de
nível superior. Aos Institutos cabe a atribuição de cuidar integralmente da formação
inicial e continuada dos professores para a Educação Infantil e as Séries Iniciais do
Ensino Fundamental. A prosito, Leite (2005) questiona até que ponto o curso
Normal Superior pode prejudicar a formação de professores quando não aproxima a
pesquisa da formação destes profissionais.
As críticas sobre o lugar de formação dos professores para a Educação Básica, em
especial dos profissionais de Educação Infantil, ampliam o debate entre os autores
que estudam a formação de professores, a saber: Kishimoto (1998, 2000), Pimenta
(1998), Veiga (2001), Cunha (1999), Severino & Fazenda (2000).
Uma das críticas aos ISE’s feita por Kishimoto (2005) é justamente a ausência da
pesquisa nesses espaços de formação. Além disso, a autora aponta para o caráter
tecnólogo desses cursos de formação. A não exigência do desenvolvimento de
pesquisas realizada por profissionais e alunos dessas instituições deixa de contribuir
para que os futuros profissionais percebam a dinâmica da prática escolar antes
mesmos de iniciar o trabalho pedagógico. De acordo com Severino (2000), ao retirar
da Universidade o lugar prioritário dessa formação, transferindo-a para os ISE’s, a
nova política compromete, a médio e longo prazo, a necessária qualificação
profissional em nível superior.
82
A Lei 9.394/96, no art. 62, apontava o local de formação dos profissionais de
Educação. É importante analisar a maneira como o texto da Lei foi elaborado, pois
num primeiro momento afirma que a formação deverá acontecer em nível superior,
na Licenciatura plena em Pedagogia, oferecida pelas universidades, e no curso
Normal Superior oferecido pelos ISE’s, estes mantidos pela iniciativa privada. Ora,
subtende-se que a formação para atuar na Educação Infantil e nas Séries Iniciais do
Ensino Fundamental deveria acontecer nos cursos de graduação, sejam eles de
Pedagogia nas Universidades –, ou em cursos de Normal Superior nos ISE’s.
Contudo o texto do referido artigo que trata da formação mínima para atuar nas
modalidades mencionadas abre espaço para que essa formação possa ser realizada
em Nível Médio, na modalidade Normal.
A legislação ao mesmo tempo em que avança quanto à exincia mínima para a
atuação na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, retrocede quando admite a
formação em Nível dio, uma vez que a habilitação em Pedagogia e Normal
Superior credencia o profissional de Educação justamente para atuar nessas
modalidades de ensino.
A respeito dessa polêmica, Nascimento (2003) questiona “em um curso médio com
duração de três anos é possível dar conta das especificidades de cada um destes
níveis (físico, motor, emocional) bem como a necessária integração entre eles”.
Estudos de Kramer (1998), Kishimoto (2000), Machado (2005) desmistificam essas
concepções e apontam que quanto menor for a criança, maior deve ser a formação
especializada dos profissionais envolvidos no processo educacional.
O estudo de Mezacasa (2003) alertava para o fato de que as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica previa
que as instituições de ensino superior que não possuem autonomia universitária
deverão criar os Institutos Superiores de Educação para formar os professores de
Séries Iniciais e Educação Infantil através do Curso Normal Superior. Como o
número de instituições que não possuem autonomia universitária é maior que as
universidades, ocorreu um crescimento considerável dos ISE’s.
83
Aos ISE’s cabia, de acordo com as orientações do Conselho Nacional de Educação,
a apresentação de um projeto acadêmico para implementação do curso Normal
Superior para cada área que desejava implantar, seja ela de Educação Infantil ou
das Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Os projetos apresentados deveriam
respeitar as 3.200 horas distribuídas, no nimo, em quatro anos e, no máximo, em
sete anos letivos 40 semanas anuais e garantidas as 800 horas de prática
pedagógica.
Neste sentido, conforme Leite (2005), é preciso rever as práticas que se inserem na
formação tanto de profissionais para a Educação Infantil, quanto para o ensino das
Séries Iniciais do Ensino Fundamental e verificar se a forma como se desenvolve a
formação dos mesmos não são os modelos utilizados desde a escola normal. São
aspectos que poderão comprometer a atuação profissional, já que os profissionais
de Educação Infantil não têm tempo para conhecer profundamente aspectos sobre o
desenvolvimento das crianças de zero a seis anos, com isso poderão, segundo a
autora, realizar trabalhos incompatíveis com as exigências dessa faixa etária.
Segundo Leite (2005, p. 194), “o local mais adequado para a formação destes
profissionais é no ensino superior e dentro das universidades públicas, onde se
desenvolve de forma marcante e articulada a docência, a pesquisa e a extensão por
meio de um corpo docente qualificado e em tempo integral”.
Ao mesmo tempo em que a LDB admite a formação média no nível normal, esquece
das especificidades que as crianças necessitam para o acompanhamento do seu
desenvolvimento integral. Voltemos ao questionamento de Nascimento (2003): será
que um curso médio oferece condições para garantir uma Educação Infantil de
qualidade para nossas crianças?
É preciso ter muito cuidado para não elaborar respostas imediatas diante desta
questão. É importante reelaborar os conceitos que temos a respeito de infância,
desenvolvimento integral e discutir qual tipo de Educação Infantil queremos oferecer
para nossas crianças das creches e pré-escolas. Se for uma Educação Infantil
voltada para a escolarização, criticada por Kishimoto (1998), ou uma educação
voltada para o desenvolvimento dos aspectos físicos, cognitivos, sociais, emocionais
84
e afetivos das crianças, capaz de percebê-las como um ser único e indivisível, e que
necessita de toda a compreensão para que verdadeiramente esses aspectos sejam
de fato observados no desenvolver das atividades no interior das creches e pré-
escolas.
Não podemos cair na ingenuidade de acreditar que as Universidades e os Institutos
Superiores de Educação poderão sozinhos, proporcionar aos profissionais de
Educação uma formação que respeite as especificidades das crianças, se os
mesmos não conseguem realizar a tríade que fundamenta essa formação, que é a
articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão.
Isso não significa dizer que as universidades, por terem o caráter estabelecido na
pesquisa, ensino e extensão, realizem uma formação docente voltada para a
Educação Infantil com toda a compreensão que essa modalidade de ensino carece.
A formação terá efeito de fato se os saberes disciplinares romperem com os
feudos e castas privilegiados de alguns campos de saber em detrimento de outros.
O que não se constitui numa tarefa fácil, pois historicamente alguns saberes
exercem poder sobre os demais, e, com isso, a formação desses profissionais acaba
por ficar comprometida pelo caráter constitutivo do currículo (KISHIMOTO, 2005).
A diferença é que nas universidades são oferecidos – ou pelo menos deveriam ser –
espaços para a realização de pesquisa da prática pedagógica aliada ao ensino, a
pesquisa e a extensão, trique sustenta a universidade. Mas nem por isso esse
espaço deixa de ser duramente criticado. Para Kishimoto (2005), o tempo destinado
a estas atividades práticas é insuficiente para compreender o ambiente de creches e
pré-escolas. Seria preciso um tempo maior para a realização de pesquisas acerca
da prática pedagógica e que acontecesse em todo o curso de formação, pois o
problema destes cursos de formação é que a prática pedagógica se realiza apenas
nos estágios supervisionados, que acontecem quase sempre no final dos cursos de
formação.
85
2.4 Formação em serviço: um espaço de construção coletiva
As críticas à formação profissional assinaladas até aqui não se aplicam unicamente
à formação do professor. São críticas que podem ser dirigidas a qualquer outra
profissão. Contudo, um conjunto de fatores podem contribuir para que um
profissional receba uma formação que o habilite a uma prática e estes são fatores
que podem ajudar a encontrar respostas para os desafios do dia-a-dia de cada
profissional. Neste aspecto, a formação para a pesquisa oferece um instrumental
indispensável e é por isso que os fundamentos dos ISE´s merecem uma revisão
urgente. Acrescente-se a isso que o fazer cotidiano de cada professor impõe
questões que não são fruto apenas de uma formão deficitária, mas da
complexidade que esta profissão (assim como muitas outras) requer.
Além desses aspectos, a atuação do professor tamm demanda uma formação
contínua, seja ela voltada para uma atualização ou para aprofundar questões que
ficaram pendentes de maiores estudos. E, a despeito destas questões apontadas, a
educação no nosso país enfrenta um problema crônico, que diz respeito à qualidade
da formação de seus profissionais,
6
que tem se refletido nos índices obtidos nas
avaliações dos desempenhos dos alunos.
Por tudo isso, a formação em serviço dos profissionais de educação tem sido um
dos vários desafios enfrentados desde a promulgação da LDB em 1996, uma vez
que se preconiza no art. 67, II da referida Lei que deve acontecer a realização de
aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico
remunerado para esse fim”. Para tanto, recursos e estratégias devem ser
mobilizados para promover a formação em serviço desses docentes, de maneira a
assegurar-lhes maior domínio sobre os conhecimentos a serem construídos durante
a formação e ao mesmo tempo deve ocorrer a articulação entre os conhecimentos
pedagógicos constituídos a partir da prática profissional que auxiliem a utilizar
variados materiais e metodologias nas situações de aprendizagem e viabilizem a
construção da práxis pelos estudantes.
6
Acrescidos de outros fatores, como: qualidade das edificações, condições de ensino, material, entre
outros.
86
Os termos
7
que querem explicar o processo de qualificação dos profissionais das
creches e pré-escolas são diversos. Temos formação permanente, formação
continuada, formação em serviço, reciclagem, capacitação todos se explicam a
partir de um contexto histórico e são impregnados de pré-conceitos.
Utilizarei, assim como Kramer (2001), o termo formação em serviço, para designar a
formação continuada, por considerar que este procura dar conta da formão no
local de trabalho, pois, como exemplifica a autora, é preciso falar de uma formação
que acontece no lugar de atuação dos profissionais de Educação.
A formação em serviço não pode ser entendida como um dos momentos que o
professor deve parar para se atualizar em cursos de curta duração com alguns
“modismos”, palestras, oficinas, que nem mesmos os professores dão conta de
compreender a importância de seus significados. A formação em serviço, como
afirma Melo, Mello e Carvalho (2001, p. 14), deve consistir em “refazer a profissão
docente e não apenas melhorá-la, confrontando-se nesse processo os saberes
produzidos na academia e os saberes e experiências acumulados pelos
professores”.
Frente a essa perspectiva, a formação em serviço torna-se espo fundamental
para a reflexão coletiva e o aprimoramento constante da prática coletiva” (KRAMER,
1998, p. 86). Desta forma, não se pode perder de vista que a formação em serviço é
também uma autoformação, na perspectiva dialética de teoria e prática mobilizadas
nas ações coletivas.
É importante afirmar que do ponto de vista prático a formação em serviço deve ter
como elemento articulador a contextualização de aspectos relacionados à vivência e
experiência dos profissionais de Educação, a fim de que esse espaço se configure
num ambiente em que os mesmos possam se colocar como sujeito do processo de
formação e sejam capazes de compreender, discutir, refletir e reelaborar seus
saberes.
7
Para uma análise sobre a utilização destes termos que caracterizam a formação continuada dos
profissionais da educação, ver Menezes (2003).
87
De acordo com Vasconcellos (2001b, p. 100):
(...) a qualificação de recursos humanos, a formação de professores e outros
profissionais para o trabalho nas instituições de educação infantil são
possíveis pela construção coletiva e reconstrução pessoal de sentidos,
significados e valores referentes a uma filosofia de educação infantil para todas
as crianças, independentes de raça, religião ou etnia.
Com efeito, discutir a formação dos profissionais de Educação Infantil nos convoca a
pensar também, como ponto de partida para outras reflexões decorrentes dessa, até
que ponto as políticas públicas implementadas para a Educação Infantil têm
contribuído de fato para que todos os profissionais envolvidos no processo de
desenvolvimento das crianças as reconheçam como sujeito de direitos.
88
CAPÍTULO 3
O PERCURSO METODOLÓGICO
__________________________________________________________
Sonho, visão ou poesia
o menino me aparecia
trazendo sobre seus ombros
uma estrada.
O menino era alegria
e a estrada não lhe pesava.
Sonho, lucidez ou fantasia
eu tinha diante dos olhos
e da mente
o caminho da vida.
Milton Nascimento
89
3.1 Da definição do problema aos procedimentos metodológicos
Os professores de Educação Infantil que atuam nas escolas públicas no Brasil
recentemente passam a ser reconhecidos como profissionais. A partir da Lei
9.394/96, é que se fez referência sobre a exigência mínima para atuar na Educação
Infantil. Isso não significa dizer que é a partir da promulgação da LDB, no final dos
anos 1990, que estudos se voltam para esse campo profissional; ao contrário,
pesquisadores como Aquino (1995); Linhares (2003); Barreto (1994); Haddad
(2006); Campos (2006), há algumas décadas discutem a importância de se valorizar
a profissionalização dos professores da infância, de se investir tanto na formação
inicial quanto na continuada desses profissionais, dadas as especificidades dessa
modalidade de ensino.
Para dar suporte à implementação da Educação Infantil como primeira etapa da
Educação Básica, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) elaborou diversos
documentos que auxiliam os sistemas de ensino no desenvolvimento de propostas
pedagógicas para essa modalidade, a saber:
Referenciais Curriculares Nacionais de Educação Infantil (BRASIL,1998);
Referenciais Curriculares para a Formação de Professores (BRASIL, 1999a);
Programa de desenvolvimento profissional continuado. Educação Infantil:
PCN em Ação. (BRASIL, 1999b);
Programa de Formão Inicial para Professores em exercício na Educação
Infantil: diretrizes gerais – Proinfantil (BRASIL, 2005);
Parâmetros Básicos de Infra-Estrutura para Instituição de Educação Infantil
(BRASIL, 2006c);
Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil (BRASIL,
2006b);
Política Nacional de Educação Infantil: pelo direito das crianças de zero a seis
anos à Educação (BRASIL, 2006d);
Vale ressaltar que essas produções se devem tanto ao ordenamento legal que nas
últimas décadas garante como direito o acesso e a permancia das crianças em
90
instituições de ensino que priorize o seu crescimento integral, quanto aos resultados
de pesquisas que apontam a importância da Educação Infantil oferecida às crianças
para que elas possam se desenvolver completamente.
Contudo, é preciso acompanhar as mudanças em andamento na legislação para
verificar como elas interferem na realidade educacional de um país tão grande como
o Brasil. É com esta preocupação que pretendemos, através desta pesquisa que
leva em consideração um contexto educacional específico, buscar algumas
respostas às perguntas que motivaram esta investigação:
Como o município de Teixeira de Freitas (BA) operacionalizou as políticas
públicas voltadas para a educação infantil após a Lei 9.394/96?
Quem são os profissionais da rede pública de ensino que atuam na Educação
Infantil no município de Teixeira de Freitas (BA)? Qual a formação básica e
especializada, o tempo de ensino, a idade, os fatores que levaram à escolha
da profissão e as proposições futuras dos mesmos?
Como os profissionais de educação compreendem os objetivos educacionais
que se encontram subjacentes à sua atuação profissional?
Até que ponto a formação em serviço contribui para um fazer pedagógico
coerente com as especificidades das crianças da Educação Infantil?
Os questionamentos a serem trabalhados nessa pesquisa se voltaram para tentar
compreender se as políticas da Secretaria de Educação para a Educação Infantil
pública no município de Teixeira de Freitas (BA) estão em consonância com as
políticas públicas no âmbito federal; se o município realiza esforços para atender ao
que preconiza a legislação; além disso, procuramos analisar sobre o que pensam as
professoras acerca de alguns conceitos subjacentes ao trabalho pedagógico, que
podem contribuir para a operacionalização das políticas públicas que o
implementadas pelo município. Neste último propósito, entendemos, tal como Dias
(2005), que quando as professoras expõem concepções abstratas e individualizadas
sobre: autonomia, criatividade, concentração, responsabilidade, interação,
obediência, independência, iniciativa, disciplina, tolerância, auto-realização,
sensibilidade e cooperação, elas deixam antever valores que lhe são significativos e
que condicionam suas decisões morais e seu fazer pedagógico.
91
Por conseguinte, procuramos analisar as alterações originadas (ou não) na
operacionalização das leis referentes à Educação Infantil, que não são poucas, para
verificar até que ponto elas promovem efetivamente mudanças na forma de
intervenção das professoras. E, realizamos também uma análise comparativa entre
as teorias subjetivas dos profissionais da educação infantil, construídas no cotidiano
das práticas, ou seja, no contato diário com as crianças, e as novas políticas de
Educação Infantil, a fim de constatar se houve modificações na maneira de
compreender a criança como um ser único que precisa ser educado e cuidado a
partir de todas as suas especificidades
8
.
Com esse estudo, pretende-se contribuir para um maior conhecimento da realidade
educacional do país e das políticas implementadas para a Educação Infantil a partir
de uma realidade específica que é o município de Teixeira de Freitas (BA). Uma das
características importante deste município é o seu desenvolvimento acelerado e
recente que possibilita uma melhor visibilidade do processo de implantação desta
etapa da educação. Desse modo, pretendemos entender melhor o papel do contexto
de formação da criança de zero a seis anos, através de uma parcela significativa da
Educação Infantil, que são os profissionais que nela atuam.
Daí a necessidade de se optar pela pesquisa qualitativa, visto que essa abordagem,
segundo André, “enfatiza os aspectos subjetivos do comportamento humano e
preconiza que é preciso penetrar no universo conceitual dos sujeitos para poder
entender como e que tipo de sentido eles dão aos acontecimentos e às interações
sociais que ocorrem em sua vida diária” (ANDRÉ, 1995, p. 18).
3.2 O desenvolvimento do estudo
A fim de obter cooperação para entrar em contato com os profissionais da Educação
Infantil do sistema municipal de ensino procuramos, inicialmente, o apoio da SMEC,
junto à coordenação da Educação Infantil do município de Teixeira de Freitas (BA) e
8
Art. 29 da LDB 9.394/96.
92
participamos a intenção de realizar um estudo sobre a Educação Infantil pública no
município. Informamos que, para tanto, era necessária a colaboração desta
secretaria no sentido de fornecer informações referentes às políticas públicas
operacionalizadas pelo município.
Demos início ao trabalho no segundo semestre de 2005 e, como primeiro conjunto
de dados, solicitamos à SMEC o número de escolas municipais de Educação Infantil
voltadas às crianças de quatro a seis anos de idade, o endereço de cada uma, bem
como o número de profissionais que trabalhavam diretamente com essas crianças.
Assim, identificamos as pré-escolas municipais e os seus professores os
profissionais que seriam os participantes desta pesquisa. Em Teixeira de Freitas
havia neste período 14 pré-escolas e sete creches no sistema municipal de
educação.
Buscamos também informões da SMEC para identificar como está organizada a
Educação Infantil e como se o funcionamento das pré-escolas no município e nos
foram apresentados os seguintes documentos: 1) relatório da SMEC denominado
“Educação Infantil: percursos e percalços”, que retrata a história da Educação Infantil
no município de Teixeira de Freitas (BA) contém também o plano de trabalho da
SMEC, informações referentes à formão continuada em serviço destinadas aos
profissionais que atuam na Educação Infantil, as diretrizes curriculares para a pré-
escola e ainda alguns trabalhos desenvolvidos pela SMEC para divulgar as
produções no interior das pré-escolas; 2) planilhas com informações sobre os
profissionais das pré-escolas (quantitativo, formação, vínculo e carga horária); 3)
listas dos materiais de consumo e brinquedos para as pré-escolas.
Todos esses documentos foram obtidos através da Coordenação Pedagógica de
Educação Infantil do município. Esta coordenação disponibilizou informões sobre
quais são as políticas públicas para a Educação Infantil que o município
desenvolveu nos últimos anos para atender às exigências da Lei 9.394/96, nos
seguintes aspectos: ingresso e carreira, e plano de cargos e salários para os
profissionais da Educação Infantil; formação continuada para esses profissionais; as
instituições que realizam parceria para desenvolver e realizar essa formão; os
93
temas prioritários que subsidiam a formação continuada; os investimentos e os
recursos financeiros utilizados para implementar essas ações.
Tais informações foram importantes, pois nos permitiu tabular cada conjunto de
dados de forma ordenada e desse modo contribuiu para uma análise da
operacionalização das políticas blicas municipais às crianças para posteriormente
serem confrontadas com as informações dos profissionais da Educação Infantil, uma
vez que são estes que desenvolvem o trabalho junto às crianças de quatro e cinco
anos e os reflexos dessas políticas são visíveis no cotidiano escolar. A
contraposição destes dois conjuntos de dados favoreceram, portanto, a descrição do
reflexo do processo de implantação da Educação Infantil no município com mais
clareza.
Acrescente-se a isso que, além de confrontar as políticas implementadas pelo
município com as vivenciadas por esses profissionais, percebemos que era preciso
compreender quais as teorias subjetivas que sustentavam a prática pedagógica
desses profissionais, a partir das ações realizadas pela SMEC no que diz respeito à
formação dos profissionais da Educação Infantil. Para tanto, selecionamos uma
amostra de 37,5% das Escolas Municipais de Educação Infantil, o que representou
um total de seis das quatorze escolas, localizadas em bairros diversos do município
e que prestam serviços educacionais às crianças de quatro e cinco anos de idade.
As escolas foram selecionadas através de sorteio aleatório a partir da relação
nominal das escolas municipais públicas de Educação Infantil fornecida pela SMEC.
A partir deste recorte, trabalhamos com um percentual de 30% do corpo docente
dessas instituições, o que correspondeu a 16 profissionais.
3.3 Instrumentos da pesquisa
Para a alise das políticas públicas implementadas pela SMEC no município de
Teixeira de Freitas (BA), recorremos a um questionário elaborado por Kramer
(2001). A autora utilizou este instrumento na realização de uma pesquisa sobre
“Formação de profissionais da Educação Infantil no Estado do Rio de Janeiro”, que
94
se destinou às Secretarias Municipais de Educação do referido Estado. Em nossa
pesquisa utilizamos o questionário junto à SMEC de Teixeira de Freitas (BA) com a
devida autorização da autora (cf. anexo 1). A opção pelo questionário se deve ao
fato da riqueza de informações que ele propicia. Além disso, o uso do questionário
como técnica de produção de dados possibilita a tradução dos objetivos da pesquisa
em itens que podem ser importantes para a coleta de informações referentes ao
objeto em estudo (GIL, 1991).
O questionário é subdividido em sete partes: na primeira é possível obter
informações sobre a SMEC e a caracterização do município em estudo, qual a
densidade demográfica, quais os municípios limítrofes com Teixeira de Freitas (BA),
as principais atividades econômicas do município. Além destas informações, há
também dados que possibilitam conhecer quais são os veículos de comunicação da
cidade e ainda obter os dados a respeito da pessoa responsável por fornecer todas
as informações solicitadas.
Na segunda parte do questionário pode-se compreender como o munipio organiza
o seu sistema de ensino, se possui conselho municipal de educação, quais as
secretarias que atuam com a população infantil, se a SMEC tem uma equipe para
acompanhar pedagogicamente as escolas, qual a cobertura oferecida por esta
secretaria (número de alunos matriculados na Educação Básica, mero de
docentes e de estabelecimentos de ensino de Educação Infantil, horário de
funcionamento das creches e das pré-escolas e qual o limite de vagas por turma da
Educação Infantil).
Na terceira parte as informações que tratam especificamente da organização e
funcionamento da Educação Infantil. Desta forma é possível coligir dados que dizem
respeito ao setor responsável pela primeira etapa da Educação Básica, como
acontece o acompanhamento junto às creches e pré-escolas públicas municipais,
qual a freqüência deste acompanhamento e se o mesmo é realizado por
profissionais específicos.
Na quarta parte do questionário compilam-se dados sobre a formação dos
profissionais da Educação Infantil implementada pela SMEC (instituições que
95
realizam e planejam a formação, quais temas foram abordados nos últimos anos) e
se há proposições legais para essa formação.
Na quinta parte busca-se compreender como acontece o ingresso para a carreira do
profissional da Educação Infantil, ou seja: se há concurso público, qual a exigência
mínima para atuação com crianças, qual o piso salarial e a distribuição da carga
horária semanal destes profissionais.
A sexta parte do questionário procura identificar quais os recursos financeiros e
materiais que a SMEC dispõe para a Educação Infantil; se convênios entre o
MEC ou com outras agências financiadoras nacionais ou internacionais; quais são
os materiais fornecidos pela SMEC às creches e pré-escolas municipais (quantidade
e freqüência); se ocorre convênio com pré-escolas que não pertençam à rede
municipal de educação. Na última parte, busca compreender se a SMEC desenvolve
atividades com as instituições e agências culturais ou sociais do município. Pelo
exposto, pode-se ter a clareza da abrangência de dados e informações que podem
ser coligidos junto à SMEC de Teixeira de Freitas (BA), na aplicação do referido
questionário.
Um outro instrumento foi um questionário individual (cf. apêndice 1) destinado às
professoras a fim de coletar informações complementares a respeito das políticas
públicas voltadas para a Educação Infantil no município, para posteriormente
confrontar, comparar com as informações obtidas na SMEC. Este instrumento foi
elaborado como base em algumas informações do questionário destinado à SMEC,
acrescido de questões atinentes com: o tempo de atuação na Educação Infantil, os
motivos que impulsionaram a escolha para trabalhar na primeira etapa da Educação
Básica, o vínculo empregatício com a SMEC, a formão acadêmica, as atividades
complementares realizadas pelos mesmos para integrar a formação inicial, as
dificuldades enfrentadas no dia-a-dia, bem como as proposições futuras para dar
continuidade na formação profissional. O instrumento foi testado com alguns
profissionais da Educação Infantil antes de serem aplicados aos sujeitos da
pesquisa.
96
Como nosso objetivo não era apenas confrontar ou comparar os dados e ou as
informações dos professores com os dados coligidos com a SMEC, e sim tentar
compreender se as políticas blicas de fato dão conta de chegar à ação
pedagógica na sala de aula, aplicamos um outro questionário destinado às
professoras, denominado Objetivos Educacionais (cf. anexo 4). Em relação a este
instrumento, também nos foi concedida autorização (cf. anexo 3) de Vasconcellos &
Friedlmeier (2001a), para utilizá-lo com os profissionais da Educação Infantil em
Teixeira de Freitas (BA). A autora havia utilizado em sua pesquisa com mães e
professoras de crianças no município de Duque de Caxias (RJ), e, de acordo com
seus estudos, esses Objetivos Educacionais podem revelar não os discursos e
práticas dos profissionais no cotidiano escolar, como também apresentar as idéias e
crenças que os mesmos têm a respeito de atitudes e comportamentos das crianças.
A primeira parte deste questionário destina-se à caracterização do profissional, e a
segunda contém 13 palavras que serviram de base para identificar as teorias
subjetivas subjacentes nos discursos e práticas profissionais. As palavras que
compõem o questionário mencionado são as seguintes: autonomia, criatividade,
concentração, responsabilidade, interação, obediência, independência, iniciativa,
disciplina, tolerância, auto-realizão, sensibilidade e cooperação. Os profissionais
ao receberem este questionário foram orientados a responderem com suas próprias
palavras o significado que depreendiam de cada um dos termos. O instrumento foi
entregue a cada um dos professores e devolvido numa outra visita agendada
previamente pela pesquisadora.
Como o nosso prosito era realizar uma análise, a partir das vozes dos
profissionais envolvidos no processo de desenvolvimento das crianças que
freqüentavam as creches e pré-escolas do município em estudo, optou-se pela
escolha deste instrumento, uma vez que o mesmo, nos estudos de Gomes (2005),
proporcionou a discussão entre as relações estabelecidas entre as palavras e o
universo social e histórico das mães e dos profissionais. No nosso estudo
recorremos apenas aos valores culturais constituídos e apropriados nas relações
coletivas dos profissionais para a realização da ação pedagógica na Educação
Infantil, não por desconsiderar as mães, mas por uma opção pessoal, tendo em vista
o tempo disponível para o estudo.
97
A pesquisa de campo foi realizada durante o segundo semestre de 2005, com visitas
periódicas ao município, produzindo dados e informações na SMEC, junto à
Coordenação Pedagógica Municipal da Educação Infantil e nas visitas às escolas.
As visitas às Escolas Municipais de Educação Infantil ocorreram nos turnos
matutinos e vespertinos, a depender do turno que os professores trabalhavam.
Durante as visitas, tanto os professores quanto a direção e a coordenação se
mostraram solícitos e disponibilizaram as informações necessárias.
Paralelamente às análises dos instrumentos da pesquisa, apreciou-se também o
material digitado “Educação Infantil: percursos e percalços” produzido pela
Coordenação de Educação Infantil da SMEC, que se configurou como uma
importante fonte de pesquisa, e nos ajudou a compreender como ocorreu a
municipalização da Educação Infantil no município de Teixeira de Freitas (BA), bem
como a operacionalização das políticas públicas voltadas para a Educação Infantil.
No capítulo seguinte, serão apresentados os achados da pesquisa, ao mesmo
tempo realiza-se a análise e discussão dos dados coligidos, com vistas a refletir
sobre o processo de implementação da municipalização da Educação Infantil em
Teixeira de Freitas (BA), bem como, discutir as ações que o município desenvolve
para a formação dos profissionais da primeira etapa da Educação Básica.
98
CAPÍTULO 4
A IMPLANTAÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO MUNICÍPIO
DE TEIXEIRA DE FREITAS – BAHIA
Gestores em diferentes instâncias que partilham
uma visão de educação com seus professores facilitam
processos de inovações que transformam a instituição inteira,
nos aspectos estruturais e processuais.
Tizuko Kishimoto
99
4.1 O que dizem os documentos da SMEC
Para compreender a trajetória que o município de Teixeira de Freitas traçou, no que
diz respeito às políticas públicas para a Educação Infantil, buscou-se analisar
informações que permitissem historicizar como o processo de municipalização da
Educação Infantil tem ocorrido.
Na perspectiva do poder público local, serão estudados o documento disponibilizado
pela Secretaria Municipal de Educação (SMEC), sobre as ações realizadas no
tocante à Educação Infantil, denominado “Educação Infantil: percursos e percalços
(SMEC, 2004), elaborado pela Coordenação Pedagógica Municipal, bem como os
dados coligidos na aplicação do questionário destinado à SMEC (cf. anexo 2).
No início, o documento apresenta o plano de trabalho da SMEC voltado para a
Educação Infantil, fundamentado nos Parâmetros em Ação, em parceria com o
Ministério da Educação e Cultura (MEC), nos anos de 2001 e 2002. Em seguida,
apresenta o plano para a formação continuada em serviço, que visa desenvolver as
competências para ensinar, aplicado no período 2002-2004. Constam, ainda, da
documentação fornecida pela SMEC, as Diretrizes Curriculares para as pré-escolas
públicas municipais de Teixeira de Freitas, a descrição das atividades elaboradas
para a implantação do evento intitulado Mostra de Trabalhos da Educação Infantil e
alguns projetos realizados nas escolas de Educação Infantil entre os anos 2001-
2004. A análise deste documento será realizada a seguir, conforme à ordem dos
elementos dispostos.
De acordo com a primeira parte do material, a implementação da Educação Infantil
pública ocorreu no ano de 1998, dois anos as a promulgação da Lei 9.394/96,
pois, até então, apenas algumas crianças de seis anos eram atendidas em classes
de alfabetização, que funcionavam junto às escolas municipais do Ensino
Fundamental. Os estudos de Campos (2006) corroboram esta relação temporal
entre a Lei e a implantação da Educação Infantil, quando afirmam que é a partir do
momento no qual a Lei exige que as prefeituras e outras instâncias governamentais
transfiram para o âmbito dos órgãos da educação o encargo pela Educação Infantil
100
que se amplia nos municípios a discussão sobre a responsabilidade desta etapa de
ensino.
Nesse aspecto, defendemos, assim como Kramer (2003), que a integralizão da
Educação Infantil ao sistema municipal de educação deve proporcionar o respeito às
diferenças e às especificidades do que é peculiar à infância. Rosemberg (2005)
assevera que a mobilização de pesquisadores com o objetivo de enfatizar o direito à
educação das crianças pequenas é a certeza de que a Educação Infantil é um
espaço capaz de garantir a igualdade de oportunidade para todas as crianças.
No que se refere à mudança legal para a municipalização da Educação Infantil,
Kramer (2005a) alerta que tal mudança implica os seguintes aspectos: 1)
reorganização do sistema municipal, pois é preciso que o Conselho Municipal de
Educação atue na regulamentação e elaboração das diretrizes curriculares para a
Educação Infantil; 2) disposição de recursos físicos que possam oferecer uma
educação de qualidade às crianças; 3) disposição de recursos financeiros para
implementar ações voltadas para o ingresso dos profissionais na Educação Infantil
por meio de concursos públicos; 4) garantia de qualificação e de formação em
serviço desses profissionais.
Na época em que Teixeira de Freitas iniciou o processo de municipalização da
Educação Infantil (1998), a SMEC organizou três instituições para a população de
zero a seis anos de idade: uma creche em horário integral, e duas pré-escolas para
crianças de quatro a seis anos, com funcionamento em horário parcial. Uma dessas
instituições ficava localizada na sede da SMEC, e as outras, num prédio alugado de
uma antiga escola particular do município. Por conseguinte, apesar de a educação
no município ter iniciado com algumas escolas públicas do Ensino Fundamental a
partir da década de 1970, tal como afirma Silva (2002), quase trinta anos depois,
com a vigência da Lei 9.394/96, é que o município passa a oferecer timidamente
uma creche e três pré-escolas.
É evidente que essas escolas de educação fundamental aconteceram por força das
reivindicações da população e da estruturação do município, porém a implantação
da Educação Infantil foi fruto de um processo de mobilização social mais amplo e
101
das políticas públicas implementadas. Estudos como os de Kramer (2003),
Vasconcellos (2001b), Kishimoto (1998) enfatizavam a importância de
movimentos como o Mieib para essa etapa da educação, e o que aconteceu no
município em estudo deve refletir um processo mais amplo no país como um todo.
Um outro aspecto a ser ressaltado diz respeito à qualidade das edificações dos
espaços da Educação Infantil. Para a implantação, recorreram a uma antiga
instalação de uma escola particular, e para as demais alugaram casas residenciais,
o que mostra que as instalações estão em desacordo ao que é preconizado pelo
MEC. Os Parâmetros Nacionais de Infra-Estrutura para as Instituições de Educação
Infantil (BRASIL, 2006c) recomendam que as políticas públicas se voltem para a
construção e reformas de espaços, num trabalho conjunto entre educadores,
arquitetos e engenheiros, a fim de que possa ocorrer o planejamento e a reflexão
durante a construção ou reforma desses ambientes.
O texto dos Parâmetros (BRASIL, 2006c) foi elaborado a partir da parceria com os
pesquisadores do Grupo Ambiente-Educação (GAE), e este grupo reúne
profissionais e pesquisadores das áreas de arquitetura, engenharia, psicologia e
educação de diferentes instituições que estudam a qualidade dos ambientes
escolares, com destaque para a relação entre o espaço físico, o projeto pedagógico
e o desenvolvimento das crianças.
É importante destacar que os estudos desse grupo viabilizam reflees pertinentes
para a adequação das reformas e construções dos espaços escolares da Educação
Infantil, uma vez que os espaços de socialização e desenvolvimento são
fundamentais para uma prática pedagógica coerente com as necessidades do
trabalho com as crianças. A proposta do GAE se caracteriza em:
(...) ampliar os diferentes olhares sobre o espaço, visando a construir o ambiente
físico destinado à Educação Infantil, promotor de aventuras, descobertas,
criatividade, desafios, aprendizagem e que facilite a interação criança–criança,
criança-adulto e deles com o meio ambiente. O espaço lúdico infantil deve ser
dinâmico, vivo, “brincável”, explorável, transformável e acessível para todos
(BRASIL, 2006c, p. 8).
102
Nos Parâmetros Nacionais de Infra-Estrutura para as Instituições de Educação
Infantil, é recomendado que durante as construções ou reformas dos espaços físicos
se observe a sustentabilidade da ação para o meio ambiente, a acessibilidade
universal e a proposta pedagógica. Portanto, os ambientes devem ser planejados
para que proporcione autonomia e segurança para as pessoas que utilizam tais
espaços, sejam elas crianças, professores, funcionários, ou a própria comunidade.
Uma crítica apontada pelos pesquisadores do GAE aos parâmetros é em relação a
utilização das casas alugadas para a Educação Infantil, como é o caso do município
em estudo, uma vez que, geralmente, estes espaços não têm infra-estrutura
adequada, não possuem áreas externas ou espaços alternativos para que as
crianças possam realizar atividades de movimentação, de convivência, de
brincadeiras e de exploração do ambiente.
Os pametros ainda oferecem sugestões aos dirigentes municipais, aos arquitetos,
aos engenheiros, aos gestores e demais profissionais das instituições da Educação
Infantil no que se refere às reformas e às construções dos espaços escolares
destinados às creches e pré-escolas:
aos dirigentes municipais, segundo os parâmetros, compete a criação de uma
equipe multidisciplinar capaz de estabelecer as diretrizes de construção e
reformas das unidades de Educação Infantil, de maneira a observar os
aspectos inerentes aos contextos sico-geográficos, socioeconômicos e
culturais de cada local;
aos arquitetos e engenheiros, os parâmetros propõem que estes atuem na
elaboração dos projetos a partir das recomendações da equipe
multidisciplinar;
aos gestores e demais profissionais da Educação Infantil, o documento diz
que a estes cabem elaborar os itens básicos da construção e reforma de cada
unidade e encaminhar as solicitações às autoridades pertinentes.
Faz-se necessário, portanto, que a recomendação dos parâmetros para a atuação
dos diferentes profissionais ocorra de maneira interdisciplinar a fim de que se evite
103
“conflitos, erros e redundâncias decorrentes de decisões isoladas e estanques”
(BRASIL, 2006c, p.15).
A partir desta reflexão a respeito da qualidade dos ambientes escolares para a
Educação Infantil, é importante destacar que, ao realizar um estudo de caso em
Teixeira de Freitas (BA) sobre as edificações para a Educação Infantil, Sodré (2004)
apontou nos resultados de sua pesquisa que as crianças já sinalizavam a
necessidade de um ambiente externo que proporcionasse a exploração dos objetos
de desejo e necessidades para o processo de desenvolvimento das próprias
crianças. Ainda segundo a autora, neste estudo pode-se observar que elas não
convivem com a qualidade recomendada para o redimensionamento funcional do
espaço que atende o público infantil no município. Este aspecto também foi
confirmado em outro estudo (SODRÉ, 2007), quando a autora constatou, em um
sorteio aleatório das escolas públicas de Educação Infantil, que metade funcionavam
em casas alugadas, com salas sem ventilão, sem área externa e com instalações
sanitárias precárias.
Assim como Campos (2006), reconhecemos a importância da garantia da qualidade
das creches e das pré-escolas, para que se possa oferecer um serviço educacional
baseado no respeito aos direitos da criança. Para tanto, faz-se necessário que os
legisladores e administradores municipais também reconheçam essa importância, e
que possam utilizar a investidura dos seus cargos para legislar, fiscalizar e executar
a favor de uma Educação Infantil pública de qualidade.
Voltando à análise do documento da SMEC de Teixeira de Freitas, “Educação
Infantil: percursos e percalços” (SMEC, 2004): o aumento da procura por vagas nas
instituições escolares fez com que houvesse uma ampliação das ofertas de
matrículas nos anos seguintes, e, por conseqüência, o número de instituições de
Educação Infantil, após cinco anos de trabalho, passou a compreender três creches
e sete pré-escolas, e ainda eram mantidas várias classes de alfabetização nas
escolas de Ensino Fundamental.
O número de matrículas tem aumentado consideravelmente, desde o ano de
implantação (1998) da Educação Infantil no município (cf. tabela 1).
104
Tabela 1
Distribuição das matrículas iniciais, na pré-escola, efetuadas no período
1999/2006 na rede de ensino do município de Teixeira de Freitas – BA
Municipal Privada Total
Ano Letivo
No. % No. % No. %
1999 213 33% 431 67% 644
100%
2000 620 53% 543 47% 1.163
100%
2001 1.232 71% 504 29% 1.736
100%
2002 1.388 74% 485 26% 1.873
100%
2003 1.801 81% 428 19% 2.229
100%
2004 2.549 78% 733 22% 3.282
100%
2005 2.558 74% 889 26% 3.447
100%
2006 2.357 73% 887 27% 3.244
100%
Fonte: INEP / MEC, 2006.
De acordo com os números, em 1999, a rede municipal de ensino prestava uma
cobertura de apenas 33% do total de matrículas na pré-escola. nos anos
subseqüentes, o número de matrículas, da rede municipal, evolui de maneira
consistente, até atingir 81% em 2003. No biênio 2004-2005 o porcentual da
participação das pré-escolas municipais apresenta uma diminuição do total de
matrículas em decorrência do aumento da participação das instituições privadas de
ensino, neste segmento. É provável que esta variação tenha se dado pela absorção
de parcela da população, entre quatro e seis anos de idade, que não conseguiu
vagas nas instituições públicas.
O comparativo entre as matrículas totais dos anos 2003 e 2004 revela um aumento
da procura por esta modalidade de ensino da ordem de 47%, ou mais precisamente
um incremento de 1.053 crianças, que passam a freqüentar a pré-escola. É
importante observar que esse aumento ocorre em maior mero na educação
privada, cujo total de matrículas passa de 428 para 733, o que corresponde a 85% a
mais do que no ano anterior. Talvez a ampliação das políticas blicas para a
Educação Infantil tenha fortalecido a idéia de que esta etapa da educação é
importante para o desenvolvimento das crianças, daí o aumento considerável
também na rede privada.
105
O decréscimo quantitativo de matrículas no último ano deve ser em parte explicado
pelo fato de o município organizar, a partir de 2006, o seu sistema de ensino em
nove séries; portanto as crianças que freqüentavam as classes de alfabetização em
pré-escolas passam a freqüentar o Ensino Fundamental.
No período em análise é preciso considerar que o sistema municipal de ensino
aumentou consideravelmente a sua participação no total das matrículas em pré-
escola em relação à rede privada, o que se pelo incremento, em 11 vezes na
relação com o ano letivo de 1999, do número de matrículas na rede pública.
Contudo, vale ressaltar que Sodré (2007), ao desenvolver seus estudos
9
na
Educação Infantil em Teixeira de Freitas, verificou que a SMEC não possuía um
levantamento preciso das escolas de Educação Infantil particulares do município.
Por este motivo, a análise que a tabela propicia com segurança é a evolução do
número de vagas oferecido apenas pela rede pública de ensino para o segmento em
foco.
Vale lembrar que a Lei 9.394/96 prevê que os municípios devem se organizar para
ofertar uma Educação Infantil de qualidade ao público em idade pré-escolar.
Certamente que a legislação concorre para a mudança na configuração dos serviços
educacionais à pré-escola pública, como o que é verificado em Teixeira de Freitas
nos últimos anos. Vasconcellos, Aquino e Lanter (2003) apresentam duas
conseqüências imediatas que decorreram dessa legislação: a primeira diz respeito à
impossibilidade de os sistemas municipais de educação omitirem a Educação
Infantil, do contrário, seu sistema estaria incompleto; e a segunda é que tanto a
Educação Infantil como o Ensino Fundamental deveriam estar articulados e
coordenados, uma vez que são segmentos subseqüentes.
Na figura 1, pode-se observar que o número total de matrículas na pré-escola do
município é crescente até o ano 2005. A participação da cobertura municipal foi
determinante para essa evolução nas matrículas nesta modalidade de ensino. Se
observarmos os serviços educacionais na rede privada, uma estabilidade nos
9
Trata-se de pesquisa descritiva de uma amostra de crianças com idades que variavam de quatro a
seis anos e que estavam freqüentando o Infantil I e II das escolas públicas de um município,
intitulada: "Contribuições das crianças para análises e concepções de espaços de Educação Infantil”.
106
seus meros de matrículas entre os anos 1999-2003, porém ocorre em 2004 um
aumento de 70% (pública e particular) da quantidade de matrículas na pré-escola, e
esse aumento é maior devido à demanda na rede publica ser superior à na privada.
Em 2005, o aumento no número de matrícula na rede privada é de 20%, no ano
de 2006, de acordo com os dados, não crescimento nestes números, ocorrendo
uma diminuição em apenas duas matrículas. Assim, os anos de 2004 e 2005
mostram que uma tendência para o aumento da oferta da Educação Infantil
pública e privada no município e que o decréscimo visualizado em 2006 deve refletir
apenas a transferência das crianças de seis anos para o Ensino Fundamental.
Figura 1
PRÉ-ESCOLA (matrículas iniciais)
TEIXEIRA DE FREITAS - BA
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Ano Letivo
Número de matrículas
Municipal Privada Total
Sabe-se, no entanto, que apesar do aumento da oferta de matrículas para a
Educação Infantil pública, este mero ainda é insuficiente para atender a toda a
demanda da população infantil do município. Mas a ampliação das políticas públicas
voltadas para a Educação Infantil acaba por dar visibilidade aos serviços oferecidos
em instituições públicas e, conseqüentemente, poderá ser um fator importante para
a exigência de uma educação de qualidade para as crianças, tal como enfatiza
Haddad (2006).
O que os meros mostram até 1999, em relação à grande maioria do público
infantil, é que as famílias não conseguiam ter acesso aos serviços educacionais.
Fonte: INEP / MEC.
107
Restava, como alternativa, a cobertura da rede particular de ensino. Contudo, esta
possibilidade não era viável, pois tais vagas, além de escassas, eram destinadas às
famílias que possuíam recursos para garantir que seus filhos tivessem acesso e
permanência em instituições privadas. O que se verifica, portanto, é a exclusão, para
a maioria da população infantil, do direito de iniciar o seu desenvolvimento em
espaços educacionais antes dos sete anos de idade, uma vez que seus
responsáveis legais não dispunham de recursos financeiros para matriculá-los em
instituições particulares.
Embora as políticas públicas voltadas para a Educação Infantil o tenham
garantido ainda o acesso e permanência a uma parcela significativa das crianças, é
preciso reconhecer, segundo Vasconcellos, Aquino e Kappel (2005), que no final do
século XX aconteceu uma evolução expressiva nas matrículas destinadas a este
público; porém as autoras reconhecem que se faz necessário ampliar e democratizar
tal acesso. Acrescentamos a isso, a exemplo do que ocorreu em Teixeira de Freitas,
a importância da qualidade das edificações destinadas a essa faixa etária.
A partir do investimento na Educação Infantil do município de Teixeira de Freitas,
novos profissionais passam a fazer parte da SMEC: são os profissionais que atuam
nessa modalidade de ensino e desenvolvem o trabalho pedagógico com as crianças
das creches e pré-escolas municipais. Assim, para a realização de um trabalho que
levasse em consideração as especificidades das crianças, foi preciso que a SMEC
operacionalizasse um grupo de estudo que pudesse dar as orientações
fundamentais a esses profissionais, uma vez que se fazia necessário direcionar o
fazer pedagógico para uma Educação Infantil que levasse em conta os aspectos de
desenvolvimento das crianças que a freqüentam. Esses aspectos estão descritos
também na parte introdutória do documento em análise.
Percebe-se no documento que o processo de municipalização da Educação Infantil
inicia-se com o trabalho pedagógico de profissionais voltados para a Educação
Infantil a fim de garantir a qualidade nos serviços educacionais ao novo público, que
passa a fazer parte do sistema municipal de ensino. Esse trabalho foi realizado por
um grupo de coordenadoras pedagógicas municipais habilitadas em Pedagogia, que
tinham como responsabilidade realizar cursos de capacitação para os profissionais
108
da Educação Infantil e acompanhar o desenvolvimento do trabalho docente nas
instituições escolares.
A análise do material da SMEC permite perceber que, apesar de a Educação Infantil
ter iniciado em 1998, a partir de 2000 os profissionais começam a realizar cursos
de capacitação em serviço. E ainda que não haja maiores informações, o documento
faz referência a um Curso de Alfabetização. É importante ressaltar, contudo, que
com a mudança de governo, alguns técnicos da Secretaria de Educação o
substituídos, e por não deixarem registros sobre as atividades e cursos realizados
esses dados se perdem, o que resulta num prejuízo enorme para a memória das
instituições públicas.
Nos anos subseqüentes, o número de profissionais aumenta,
10
e para dar conta da
qualificação deles a SMEC investe no processo de formação, com a adesão (em
abril de 2001) aos PCN’s em Ação. De acordo com Oliveira S. (2005), os PCN’s em
Ação caracterizam-se pelo rompimento do modelo de cursos esporádicos e de curta
duração, realizados anteriormente pelas secretarias, uma vez que, de acordo com a
autora, se configura num programa que discute a prática pedagógica em parceria
com os profissionais da educação. No município em estudo, os coordenadores-
gerais do programa foram os mesmos coordenadores pedagógicos que já
realizavam a formação em serviço nas creches e pré-escolas.
Apesar de o MEC recomendar a participação das universidades durante o processo
de formão continuada, não nenhuma referência a esta atividade no material
analisado, ainda que no município a UNEB ofereça curso de Licenciatura em
Pedagogia. A propósito, Vasconcellos, Aquino e Kappel (2005) discutem a
importância da participação das universidades públicas na elaboração dos
programas de formação continuada, a fim de garantir a qualificação profissional dos
que atuam na Educação Infantil.
10
De acordo com um gráfico presente no documento “Educação Infantil: percursos e percalços”, da
SMEC, em 1998 o município contava com aproximadamente dez professores; já em 2000, o mero
de profissionais atuando na Educação Infantil já se aproximava de uma centena.
109
Com a adeo aos PCN’s em Ação, o município de Teixeira de Freitas ofereceu a
formação continuada em serviço aos profissionais municipais da Educação. Desta
forma, reestruturou as atividades complementares, com o objetivo, segundo o
documento da Secretária Municipal de Educação (SMEC, 2004, p.17), de “construir
competências para ensinar através de tomada de consciência por parte dos
professores”. O curso dos PCN’s em Ação aconteceu durante todo o ano de 2001 e
proporcionou aos profissionais da Educação Infantil um espaço de discussão e
reflexão a respeito da sua prática pedagógica. O horário de estudo dos profissionais
da Educação Infantil destinado para a realização desta formação em serviço estava
incluído na jornada de trabalho semanal – 25 horas. De maneira que os profissionais
dispunham de cinco horas semanais, para participar desta formação em serviço.
A adesão aos PCN’s em Ação, firmada pela SMEC, deve ter contribuído para a
formação dos profissionais da Educação Infantil, porém é significativo ter 57%
destes profissionais no regime de trabalho de contrato temporário, o que certamente
poderá vir a interferir na realização de um trabalho sistemático nas creches e pré-
escolas municipais. Dito melhor, apesar destes trabalhos, pode-se destacar uma
preocupação no que se refere à continuidade da formão destes profissionais e da
coordenação central, tendo em vista que mais da metade dos professores são
contratados anualmente, e as mudanças do governo executivo colaboram para a
mudança também dos quadros que compõem a SMEC. Esta falta de estabilidade
dos profissionais deve fatalmente contribuir para que a formação não tenha a
continuidade necessária à qualidade da atuação profissional que o segmento requer.
Como o fluxo de entrada e saída dos profissionais acontecia sistematicamente, a
equipe pedagógica de Educação Infantil do município elaborou, em 2002, uma
proposta própria de formação continuada para profissionais dessa modalidade de
ensino. Assim, a formão em serviço passou a acontecer em encontros quinzenais
na jornada de trabalho dos professores, com duração de quatro horas. Os encontros
eram realizados nas próprias instituições de ensino, e tinham como objetivo: manter
as discussões sobre a prática escolar; refletir sobre a atuação dos profissionais
dentro do ambiente escolar; rever a proposta curricular do município; e aproveitar o
próprio espaço do encontro para elaborar projetos que seriam desenvolvidos no
interior das creches e pré-escolas. Essas eram as propostas descritas para o
110
processo de formação continuada e, de acordo o documento, foram realizadas a
partir das observações levantadas no curso do PCN’s em Ação e das necessidades
que os profissionais da Educação infantil apresentaram para pautar o
desenvolvimento do seu trabalho pedagógico.
Como estratégias didáticas, a SMEC previa a realização de reuniões de trabalhos
coletivos para trocas de experiências e estudos de temas específicos da Educação
Infantil, realização de oficinas, elaboração de projetos didáticos, bem como
acompanhamento nas unidades escolares para orientar e apoiar os professores no
desenvolvimento do trabalho pedagógico.
Como destaca Oliveira S. (2005), é de responsabilidade, segundo a LDB/96, dos
sistemas de ensino garantir espaços e tempos na rotina escolar, para que os
profissionais possam discutir entre si experiências e conhecimentos adquiridos.
Pode-se perceber na análise do material da SMEC que o município, a partir da
elaboração do plano de trabalho, ofereceu espaço para que essas experiências
pudessem ser socializadas.
Vejamos a tabela abaixo, que representa a participação dos professores e diretores
no plano de trabalho elaborado pela coordenação pedagógica do município para ser
executado entre os anos 2002-2004.
Tabela 2
Distribuição da freqüência simples dos participantes no projeto de formação
continuada elaborado pela SMEC de Teixeira de Freitas – BA
Participantes 2002 2003 2004
Professores 97 106 113
Diretores 10 10 13
Total 107 116 126
Fonte: SMEC, 2004.
Apesar de a tabela 2 demonstrar que houve uma participação de um número
elevado de professores e diretores que participaram do projeto de formação
continuada, ela não garante que tenha ocorrido a continuidade da formação, pois é
111
notório que os contratos temporários e a mudança de governo alteram boa parte do
quadro de profissionais da Educação Infantil.
Entre os materiais produzidos pela Coordenação Pedagógica da Educação Infantil
do município e apresentado no documento em análise, “Educação Infantil: percursos
e percalços”, há, na segunda parte, as Diretrizes Curriculares para a Pré-escola.
Essa parte do documento foi elaborada a partir dos Referenciais Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil (Rcnei) e nela encontram-se: uma breve
exposição da trajetória da Educação Infantil no Brasil e em Teixeira de Freitas; a
apresentação dos pressupostos teóricos da proposta curricular,
11
as funções da
Educação Infantil e a relação entre o educar, o brincar e o cuidar. . O documento
traz ainda os objetivos da Educação Infantil, o papel do educador infantil e a
organização dos conteúdos a serem trabalhados na Educação Infantil a partir dos
seguintes eixos temáticos: movimento, música, artes visuais, natureza e sociedade,
matemática, linguagem oral e escrita, identidade e autonomia. O material deixa claro
que são propostas que devem ser implementadas de acordo com a necessidade e
características especificas de cada escola do município.
Como iremos tratar do documento elaborado pela SMEC a partir do Rcnei, é
importante destacar, como afirma Macedo (2005) em seus estudos, que os
Referenciais se configuram, na visão de seus idealizadores, como uma política de
Educação Infantil que busca romper com a concepção assistencialista voltada para
as creches e com a escolarização na pré-escola, ao mesmo tempo em que tenta
romper com a cisão entre o educar e o cuidar na Educação Infantil. Contudo, a
compartimentalização em objetivos, conteúdos e orientações didáticas para cada
eixo presente no Rcnei se mostra muito mais como uma transposição escolar para
as práticas de Educação Infantil. Em seus estudos, Macedo (2005) já alertava para
este fato.
Ainda segundo a autora citada, não basta colocar à disposição dos professores o
Rcnei, como fez o MEC, sem proporcionar a esses profissionais um suporte teórico,
material e condições dignas de trabalho, para que eles possam, a partir de um
11
O sociointeracionismo de Vygotsky e o desenvolvimento cognitivo da criança segundo Piaget.
112
estudo sério sobre o desenvolvimento infantil, realizar uma prática pedagógica
coerente com as especificidades das crianças.
Cabe lembrar, como afirma Oliveira S. (2005), que a participação dos profissionais
na elaboração dos projetos educativos é indispensável para a realização de uma
prática educativa que respeite e valorize a criança enquanto cidadã. Portanto, a
utilização sem reflexão do Rcnei poderá comprometer o trabalho pedagógico, caso
este referencial se configure como um receituário a ser seguido. Daí a importância
de se estabelecer grupos de discussão na comunidade escolar para que as decisões
possam ser tomadas coletivamente. Igualmente, é fundamental a participação de
todos os profissionais da Educação Infantil na elaboração do Projeto Político
Pedagógico.
Vale ressaltar que a versão preliminar do Rcnei foi alvo de diversas críticas de
pesquisadores do Grupo de Trabalho (GT) da Educação da Criança de 0 a 6 anos
da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped), que
foram pareceristas deste referencial. Cerisara (2003) realizou uma análise dos
pareceres solicitados pelo MEC a pesquisadores e especialistas da área para o
Rcnei e constatou que, apesar das posições conflitantes e divergentes entre os
pareceristas, o documento final demonstra o amadurecimento das discussões a
respeito da Educação Infantil no Brasil. A autora afirma ainda que houve
modificações entre a versão preliminar e a final por conta das reflexões
apresentadas em forma de parecer, mas alerta que somente outros estudos poderão
verificar até que ponto tais mudanças têm contribuído para a prática pedagógica nas
creches e pré-escolas.
É preciso fazer algumas ponderações a respeito das Diretrizes Curriculares do
município de Teixeira de Freitas, uma vez que apresentam alguns aspectos
fragmentados e recortados do Rcnei, principalmente em relação às funções e aos
objetivos gerais da Educação Infantil. O documento apresenta as funções da
Educação Infantil em torno do educar, cuidar e brincar, tal como no texto das
Diretrizes Curriculares municipais, porém não demonstra efetivamente a interligação
entre as três funções descritas, como se cada uma pudesse acontecer de maneira
isolada. Vale lembrar que o Rcnei comenta as três funções de forma articulada.
113
Vasconcellos, Aquino e Lanter (2003) sinalizavam que a utilização do Rcnei nos
municípios poderia vir a ser caracterizada como um instrumento inibidor para a
elaboração de programas locais de sistemas de Educação Infantil, uma vez que a
estrutura e a organização do referencial se constituíram em orientações que
certamente poderiam ser seguidas à risca pelas unidades de ensino.
No que se refere às concepções teóricas, as Diretrizes Curriculares do município,
assim como o Rcnei, se ancoram principalmente nos estudos de Vygotsky e Piaget,
e deixam de lado contribuições de outras áreas do conhecimento, como a
antropologia, a linguagem, a filosofia e a sociologia. Cerisara (2003) já apontava que
os pareceristas do Rcnei perceberam a falta de interligação entre os diversos
campos de saberes na elaboração deste documento.
Com relação à caracterização dada ao profissional da Educação Infantil nas
Diretrizes Curriculares do município, este é denominado como educador infantil,
visão que não defendemos por compreender que as pessoas que atuam na
Educação Infantil devem ser reconhecidas como profissionais da Educação. No
decorrer do texto das diretrizes, no que se refere ao “papel do educador infantil”,
afirma-se que é preciso que esses homens e mulheres se constituam como
profissionais da Educação, porém não clareza nesta denominação, como
também falta especificar como ocorre essa constituição profissional É importante
destacar que em alguns momentos do texto ocorre uma variação entre a
denominação de professor, de educador e de profissional da Educação, para
designar os que trabalham diretamente com as crianças.
Para Faria (2005), somente com a análise da importância da Educação Infantil
poderemos mudar a concepção enraizada de que as pessoas que trabalham com as
crianças em creches e pré-escolas não precisam de formação. É fundamental, de
acordo com a autora, elaborar uma proposta de formação inicial e continuada para
esse segmento de ensino. E assim, combater programas de formação episódicos
que procuram utilizar os recursos voltados para essa formação apenas para justificá-
los, sem se preocupar com uma política de formação articulada com as demandas
locais.
114
Nesse enfoque, Faria (2005) destaca que é preciso que a qualificação desses
profissionais possa contribuir de maneira sistemática para o rompimento do caráter
antecipatório e preparatório para o Ensino Fundamental que foi atribuído à
Educação Infantil em outros momentos.
De acordo com as diretrizes municipais, a organização dos conteúdos se apresenta
como eixos de trabalho da mesma forma como são expostos no Rcnei, a saber:
movimento, música, artes visuais, natureza e sociedade, matemática, linguagem oral
e escrita, identidade e autonomia. Cabe ao educador
12
organizar e planejar as suas
ações de maneira que utilize as diversas possibilidades de cada conteúdo para
desenvolver o seu trabalho pedagógico.
Ainda no material disponibilizado pela SMEC, observa-se uma discussão sobre
algumas ões que foram desenvolvidas para a Educação Infantil. Como exemplo,
destaca-se o evento anual intitulado “Mostra de Trabalhos Infantis”, que a
Coordenação Pedagógica Municipal de Educação Infantil implantou a partir de 2001.
A mostra tinha por objetivo divulgar os trabalhos desenvolvidos pelas crianças nas
creches e pré-escolas públicas.
Desse modo, a comunidade teixeirense poderia ver o trabalho pedagógico da
Educação Infantil. Durante o evento, ocorriam confecção de livros infantis, leitura de
textos (sarau de poesia, parlendas) apresentações musicais, teatro de fantoches,
jogos e palestras que contribuíam para a formação continuada dos professores, pois
tratavam do desenvolvimento da criança de zero a seis anos. Os trabalhos
elaborados pelas crianças e professores das Escolas de Educação Infantil também
ficavam expostos. Numa dessas atividades, houve o lançamento de um livro infantil
reescrito por um aluno da turma de alfabetização. É importante ressaltar que durante
todo o evento as criaas que visitavam a mostra podiam desfrutar dos cantinhos de
artes, de faz-de-conta e de leitura.
Sobre os projetos, no documento em análise, pode-se perceber, a partir do relato
das atividades, que eles foram elaborados pela Coordenação Pedagógica da
12
Nesta parte, o texto da SMEC trata o professor como “educador” e não como um profissional da
Educação Infantil.
115
Educação Infantil e pelos professores das Escolas Municipais de Educação Infantil
durante os encontros de formação continuada e executados posteriormente nas
escolas. A relação apresentada é a seguinte:
Copa do Mundo 2002.
Leitura: lendas.
Sapo (Coletânea de projetos didáticos MEC, Programa de Formação de
professores Alfabetizadores, 2002).
Leitura de poesias (Coletânea de projetos diticos MEC, Programa de
Formação de professores Alfabetizadores, 2002).
Livro de brincadeiras (Coletânea de projetos didáticos MEC, Programa de
Formação de professores Alfabetizadores, 2002).
O corpo humano: como somos por dentro.
Escola e família: compartilhando espaços de construção.
Ao analisar o conteúdo desses projetos, verificamos que quase todos dão ênfase ao
processo de leitura e escrita, talvez por terem sido retirados do programa de
alfabetização do governo federal e não terem passado por nenhuma adaptação.
Somente o último, que tem por tema a relação escola/família, apresenta-se como
uma possibilidade de articulação de momentos de socialização das famílias das
crianças com a comunidade escolar.
O que se percebe é que as iniciativas implementadas pelo município de Teixeira de
Freitas Bahia, através da SMEC, têm procurado se adequar à legislação para que
a população infantil tenha acesso a creches e pré-escolas. Mas é preciso estar
atento para que a qualidade da Educação Infantil possa assegurar as condições
necessárias para que as crianças construam com autonomia o conhecimento. Para
isso, os investimentos na formação dos profissionais da Educação Infantil devem ser
prioritários, por causa da importância da qualificação profissional nesse segmento de
ensino.
116
4.2 O que diz o questionário aplicado junto à SMEC
ainda que considerar, para a análise deste capítulo, as informações coligidas no
questionário aplicado junto à SMEC. Como foi informado anteriormente, o
questionário utilizado foi um instrumento elaborado por Kramer (2001) com o
propósito de acompanhar o processo de implantação das políticas públicas
municipais para a Educação Infantil.
Na primeira parte, o questionário mostra a forma como o sistema de ensino está
organizado no município. Assim, foi possível verificar que o município de Teixeira de
Freitas possui um sistema próprio de Ensino Municipal, e também um Conselho
Municipal de Educação. Além disso, o Ensino Fundamental no município já se
encontra organizado em nove séries. É uma mudança recente (a partir de 2006) e se
espera que a SMEC tenha considerado todos os aspectos necessários ao
desenvolvimento das crianças com seis anos de idade, a exemplo do que ressaltam
os estudos de Duran (2006), Martins (2006) e Callegari (2006): a formação
adequada dos profissionais, a acomodação das crianças nos espaços educacionais
e as adaptações necessárias às particularidades do fazer pedagógico que as
crianças precisam. Ainda nesse enfoque, Kramer (2003b) pondera que é
imprescindível a articulação entre a Educação Infantil e as séries iniciais do Ensino
Fundamental de nove anos. Segundo a autora, o diálogo institucional e pedagógico
contribui para minimizar as angústias e inquietações que essas mudanças podem
representar.
Na análise do questionário foi possível observar que além da SMEC, que procura
responder às demandas do ensino e das atividades culturais, outras Secretarias
Municipais prestam serviços à população Infantil. o Programa do Leite, realizado
junto à Secretaria de Assistência e Desenvolvimento em parceria com o governo
federal, e o Programa Fome Zero, que compra o leite dos pequenos produtores e
repassa às crianças entre seis meses e seis anos que freqüentam as creches e pré-
escolas; as crianças precisam estar cadastradas no Programa Bolsa Família para
terem acesso a esse benefício. Há tamm a Secretaria de Saúde, que presta
117
serviços médicos e realiza programas de prevenção de doenças. Por meio do
organograma (cf. anexo 5), pode-se observar como o Sistema Municipal de Ensino
está estruturado.
No questionário havia uma pergunta relacionada à população infantil do município,
porém a SMEC não nos informou esse mero. Utilizamos então dados
disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a
população infantil, de quatro a seis anos de idade, no município e verificamos que,
em 2001, esta população era de 7.021 crianças. Não foi possível obter informão
mais atual, uma vez que os dados da pesquisa populacional realizada recentemente
pelo IBGE ainda não estão disponibilizados por faixa etária. Desse modo,
procuramos realizar um comparativo entre a população infantil do município do ano
de 2001 com a cobertura dos serviços educacionais realizada pelos sistemas público
e privado de ensino, a fim de verificar o alcance do serviço educacional oferecido a
esse público.
Constatamos que, naquele ano, três quartos da população entre quatro e seis anos
do município não estavam entre as crianças que freqüentavam as pré-escolas,
sejam públicas ou privadas (cf. figura 2). Esse índice corresponde a um total de
5.285 crianças fora de espaços educacionais como a Educação Infantil. Como
podemos observar ainda na figura 2, a rede municipal de ensino oferecia nesse
período espaços de creches e pré-escolas a 18% da população infantil do município,
o que representa uma cobertura dos serviços educacionais a 1.232 crianças de
quatro a seis anos, enquanto que a rede privada prestava serviços a 504 crianças, o
que perfaz 7% da população infantil do munipio, naquele ano.
de se considerar que apesar de a Lei 9.394/96 determinar que a Educação
Infantil é de responsabilidade dos municípios, o que implica garantir acesso e
permanência, para as crianças, através de oferta de matrículas, nas creches e pré-
escolas, o município de Teixeira de Freitas havia conseguido prestar os serviços
educacionais a menos de um quarto da população infantil em idade pré-escolar.
118
Figura 2
População de 4-6 anos do município de Teixeira de
Freitas - BA, 2001
7%
18%
75%
Privada Municipal Não atendidas
Com relação à cobertura prestada à população de zero a três anos, nos dados do
INEP/MEC não constam serviços educacionais a essa população nos anos
anteriores a 2001, nem na rede pública nem na privada. Porém dados da SMEC
revelam que desde 1998 o município vem garantido espaços em creches para essas
crianças.
Assim como utilizamos os dados populacionais do IBGE do ano de 2001 para a
análise dos serviços oferecidos às crianças de quatro a seis anos, utilizaremos
também o mesmo período para realizar a análise entre a população de zero a três
anos de idade e a oferta de serviços. Nesse período, tal população correspondia a
8.767 crianças, de acordo os dados do IBGE (2001), e dessas apenas 67 crianças
eram atendidas em creches públicas no município, ou seja, menos de 1% do
universo em análise.
Fonte: INEP / MEC e IBGE.
119
Nesse propósito, cabe destacar que Guimarães (2005), ao discutir sobre a realidade
da evolução das matrículas da Educação Infantil nas esferas federal, estadual e
municipal de ensino no país, demonstra que, por conta da legislação, os munipios
passaram a responder pela maioria das matrículas desse segmento de ensino. O
problema apresentado pelo autor no período por ele analisado (1996–2000) é que os
recursos financeiros destinados para essa modalidade não dão conta de subsidiar
as necessidades operacionais de implantação da Educação Infantil para toda a
população de zero a seis anos de cada município.
Talvez por essa razão, a partir da implantação do Fundo para o Desenvolvimento e
Manutenção do Ensino Fundamental (Fundef), em alguns municípios a
desaceleração na evolução de matrículas na Educação Infantil, como explica
Guimarães (2005). É importante ressaltar que tal desaceleração não se aplica em
Teixeira de Freitas, pois apesar de as políticas públicas do município não garantirem
o acesso à maioria das crianças nas creches e pré-escolas, uma vez que a oferta
não condiz com a demanda, uma evolução considerável de matrículas para essa
modalidade de ensino, mesmo após o Fundef.
Nessa perspectiva, Craidy (2005) relembra que os direitos garantidos na
Constituição Federal devem ser assegurados pelo Estado, a fim de que se possa
garantir a todos os cidadãos o acesso às políticas públicas básicas. Portanto, é
preciso que os municípios procurem criar condições à absorção da demanda
reprimida por vagas em instituições públicas de Educação Infantil.
Prosseguindo na análise, passamos para a parte em que o questionário buscava
compreender, dentre outras coisas, como o ensino estava organizado em Teixeira
de Freitas número de alunos matriculados, o quantitativo de profissionais que
atuam nas diversas modalidades de ensino nas esferas federal, estadual, municipal
e particular. Contudo as informações obtidas possibilitaram uma análise mais
precisa apenas da esfera municipal, uma vez que os dados, relativos as outras
instâncias, não foram preenchidos, mesmo com a insistência da pesquisadora.
As informações que foram possíveis obter permitem constatar que a SMEC possui
uma equipe pedagógica composta por 15 pedagogos, que desenvolvem um trabalho
120
de acompanhamento periódico nas escolas municipais do Ensino Fundamental,
inclusive na Educação Infantil. O quadro dos docentes da Educação Infantil
municipal é de 138 professores para oferecer os serviços educacionais a 3.191
crianças em 14 pré-escolas e sete creches.
O setor responsável pela Educação Infantil municipal é o Núcleo de Apoio
Pedagógico à Educação Infantil (Napei). Ele é formado por três profissionais, que
quinzenalmente acompanham e orientam os estabelecimentos de Educação Infantil.
O Napei informou que os coordenadores pedagógicos desenvolvem um
acompanhamento sistemático junto ao trabalho realizado pelos profissionais de
educação nas sete creches e 14 pré-escolas.
Em relação ao tempo de permanência das criaas, as creches municipais
funcionam em horário integral de dez horas diárias e as pré-escolas municipais, em
horário parcial de quatro horas diárias. Logo, as crianças de quatro a cinco anos só
contam com as quatro horas drias, e suas famílias precisam dispor de um outro
apoio para que o pai e/ou a mãe (ou seus responsáveis) possam trabalhar. Além
dessa dificuldade, o número de escolas (14) é insuficiente para atender a população
infantil. O limite de vagas por turma de Educação Infantil pública em Teixeira de
Freitas se encontra organizado da seguinte forma:
Quadro 1
Distribuição do número de vagas oferecido para as
crianças na rede pública de ensino do município de
Teixeira de Freitas – BA, 2005
Faixa etária
Limite de vagas por
professor(a)
até 1 ano 15 alunos
de 2 – 3 anos 20 alunos
de 4 – 5 anos 20 alunos
de 6 anos 25 alunos
Fonte: SMEC, 2005.
Ao analisarmos os dados do quadro 1 e dividirmos o número de crianças
matriculadas nas creches e pré-escolas da Educação Infantil (3.191) do município
pelo número de profissionais que compõe o quadro de professores que atuam nessa
121
modalidade de ensino (138), percebemos que o resultado é de 23 crianças por
profissional. Portanto, quando considerada a recomendação do MEC (cf. quadro 2),
a política adotada pelo município sobrecarrega os profissionais que trabalham na
Educação Infantil.
Quadro 2
Relação entre número de crianças por agrupamento ou
turma e o número de profissionais de acordo com o MEC
Faixa etária
Limite de vagas por
professor(a)
até 2 anos 6 a 8 crianças
3 anos 15 crianças
Acima de 4 anos 20 crianças
Fonte: MEC / BRASIL, 2006b.
Quando analisamos o quadro 2 no que diz respeito à recomendação do MEC
(BRASIL, 2006b) para a relação entre o número de criança por agrupamento ou
turma e o mero de professoras ou professores de Educação Infantil por
agrupamento, observamos que esse número varia de acordo com a faixa etária das
crianças. Ao confrontarmos esses dados com o quadro 1, perceberemos que o
município não segue a legislação. Em quase todas as turmas, não consonância
com o número de crianças por profissionais, conforme a indicação do MEC, no
município de Teixeira de Freitas. Somente na faixa etária que compreende crianças
de quatro a cinco anos (cf. quadro1) é possível perceber uma proximidade com o
que é estabelecido pelos Parâmetros Nacionais para a Qualidade na Educação
Infantil (BRASIL, 2006b). Nos outros agrupamentos até um ano, de dois a três
anos e de seis anos –, o limite é sempre superior à determinação do MEC.
A respeito da formação dos profissionais da Educação Infantil, a SMEC informou
que implementa um projeto de formação em serviço destinado aos professores da
pré-escola. Os temas abordados nos últimos três anos de formação estavam
relacionados: aos fundamentos (Psicologia, Filosofia e Sociologia); aos aspectos
didáticos e pedagógicos (práticas cotidianas); aos aspectos ligados à arte, à cultura
(literatura infantil, teatro, sica) e às relações com a família e a comunidade. E é
realizada através de cursos sobre temas específicos, oficinas e grupos de estudos
122
nas pré-escolas. Sobre as prioridades na organização da formação em serviço foram
observados fatores como os pedidos dos professores, necessidades identificadas
pela SMEC, conhecimentos produzidos na área (publicações, livros, revistas) e
conhecimentos veiculados em cursos, congressos, seminários.
A distribuição da carga horária semanal de professores e auxiliares que atuam na
Educação Infantil apresenta-se da seguinte maneira: o professor da pré-escola tem
uma carga horária semanal de 20 horas e a cada 15 dias tem 4 horas destinadas à
formação. Quanto aos professores e auxiliares de creche, a SMEC informou que
eles têm 40 horas semanais de trabalho, porém não m nenhuma carga horária
destinada à formação. Portanto, apenas o professor que atua na pré-escola
municipal estava, no ano de 2005, realizando a formação em serviço. Os
profissionais da Secretaria parecem estar mais preocupados com as crianças
maiores, e essa decisão reproduz a lógica do investimento numa educação que
valoriza mais o processo de escolarizão, que provavelmente fica mais evidente
(tanto para as famílias quanto para os profissionais da educação) no trabalho
desenvolvido com crianças de quatro e cinco anos. Esse dado confirma a análise
feita anteriormente, que mostrou que os projetos desenvolvidos estavam voltados
para a alfabetização.
Com base em estudos de Kramer (2005a) e Vasconcellos (2001b), pode-se
assegurar que a formação em serviço contribui sistematicamente para a atuação dos
profissionais da Educação Infantil, uma vez que possibilita o desenvolvimento
cultural e científico deles, ao mesmo tempo que permite a reflexão sobre práticas
elaboradas em ambiente de socialização e formação.
Por esse motivo, é importante dar visibilidade às iniciativas que a SMEC apresenta
para garantir uma formação mínima para os profissionais que atuam nas pré-
escolas. No entanto, tais iniciativas não devem se restringir apenas a esses
profissionais, elas devem permitir também a participação dos professores das
creches e auxiliares. Além disso, faz-se necessário acompanhar o investimento na
formação em serviço dos profissionais que atuam com as crianças, a fim de que as
mudanças decorrentes desta ão sejam observadas, pois, como afirma Leite
123
(2005), a formação em serviço colabora para que os sujeitos desenvolvam o senso
crítico, a criatividade e, sobretudo, valorizem o trabalho que realizam.
O problema maior revelado no município em estudo é a falta de continuidade na
formação oferecida aos profissionais da Educação Infantil, uma vez que os contratos
temporários correspondem a 57% do quadro profissional para essa modalidade de
ensino. Essa rotatividade, como foi dito anteriormente, impede a qualificação
contínua, que no ano seguinte serão novos profissionais que ocuparão tais
cargos.
Ao analisar o processo de formação de professores da Educação Infantil, Silva
(2005) destaca que as novas relações sociais estabelecidas nesse processo
colaboram com a construção de uma identidade para essa modalidade de ensino, na
medida em que há uma mudança na concepção e no significado destinados à
docência. Porém com a interrupção dos contratos e a entrada de novos profissionais
a cada ano, dificilmente a formação oferecida vai dar condições para a construção
da identidade profissional tão necessária ao exercício do magistério de uma etapa
da educação que busca ocupar o espaço de relevância na Educação Básica.
Outro fator importante para a política pública do município é a valorização do
magistério da Educação Infantil, mas para tanto é preciso que haja projetos sobre o
plano de carreira destinado ao ingresso e permanência nessa modalidade de ensino,
como também ações que visem a assegurar as condições de qualidade para que os
professores possam desenvolver o trabalho com as crianças.
No questionário destinado à SMEC, buscou-se conhecer como os profissionais da
Educação Infantil ingressam na carreira, a formação mínima exigida para o acesso
ao magistério, o plano de carreira, o vínculo, a carga horária e sua distribuição nas
diversas atividades docentes.
De acordo com os dados obtidos no questionário, a formação mínima exigida pela
SMEC para ingresso na Educação Infantil, tanto para auxiliares quanto para
professores, é o Ensino Médio (Magistério), e o ingresso acontece por meio de
concurso público. Mas apesar da SMEC afirmar que o ingresso se por meio de
124
concurso, o número de profissionais na Educação Infantil com contrato temporário é
alto, pois varia em torno de 60%. Ressalte-se ainda que em uma escola todos os
professores eram contratados.
Acrescente-se a isso o fato de que no último concurso público, em 2006, foram
destinadas vagas para o Ensino Fundamental. Entretanto, a Educação Infantil
continuou com um mero alto de professores contratados. Apesar da legislação e
dos estudos preocupados com a formação e atuação dos professores da Educação
Infantil (MACHADO, 2005; KISHIMOTO, 2005; OLIVEIRA e SILVA, 2005), esses
dados parecem confirmar uma preocupação maior com os outros segmentos do
ensino.
Apesar dos concursos públicos do município para os profissionais da educação
terem destinado vagas apenas para os profissionais que atuam no Ensino
Fundamental, alguns dos profissionais aprovados são remanejados para compor o
quadro da Educação Infantil. Kramer (2003) apontava que em alguns municípios
do Rio de Janeiro essa prática é constante. O problema maior é que a falta de
identidade com o segmento da Educação Infantil por parte desses profissionais pode
comprometer a qualidade da atenção dispensada às crianças.
Nas questões apontadas pelo questionário não foram encontradas menções a um
plano de carreira para os docentes e auxiliares que atuam na Educação Infantil. Os
diretores das Escolas Municipais de Educação Infantil o nomeados por indicação
dos políticos locais que fazem parte da atual gestão administrativa ou que compõem
a base aliada. Essa prática, recorrente na maioria dos municípios, é denominada
como indicação por apadrinhamento político. Por conseqüência, é bem provável que
as indicações interfiram na dinâmica das creches e pré-escolas, uma vez que as
escolhas são de pessoas que não integram a comunidade escolar, portanto, não
conhecem a realidade e as necessidades das instituições. Para desempenhar
atividades de gestão nas creches e pré-escolas do município, a SMEC a formação
mínima do Ensino Médio,.
Nesse sentido, Paro (1996) afirma que é preciso repensar urgentemente as práticas
de indicação política para os cargos de diretores de escolas, pois tais práticas
125
comprometem a forma de atuação desses gestores, que são cargos de confiança
do político que o indicou e não da comunidade escolar. Também para Teixeira
(2001) se faz necessário superar a forma de clientelismo eleitoreiro nas escolhas
desses diretores. Ele propõe que se realize um debate com a comunidade escolar
para que possa vir a ser implantada a eleição direta para os cargos de diretores.
Acreditamos que essa poderá ser uma proposta imprescindível à medida que
democratiza as escolhas.
Com referências aos dados sobre o fornecimento de materiais permanentes e de
consumo, a SMEC disponibilizou uma lista do material de papelaria enviado para as
pré-escolas e as creches municipais, o documento informa que a quantidade prevê
duração de 60 dias. Apresentou também uma lista de brinquedos. Discutiremos
sobre estes aspectos a partir das falas dos profissionais entrevistados pelo estudo.
O piso salarial dos profissionais que trabalham com a Educação Infantil no município
se encontrava distribuído da seguinte forma (cf. quadro 3):
Quadro 3
Distribuição do piso salarial dos profissionais que trabalham nas
creches e pré-escolas municipais, em Teixeira de Freitas – BA, 2005
Profissionais Carga horária
Piso salarial (em
salários mínimos)
Auxiliar de creche 40 horas 1,02
Professor de creche 40 horas 2,32
Professor de pré-escola
20 horas 1,16
Diretor 40 horas 2,50
Fonte: SMEC, 2005.
Pode-se analisar a partir dos dados apresentados que apesar dos auxiliares das
creches terem jornada de trabalho igual ao do professor, uma redução de mais
de 50% no piso salarial deles. É preciso reconhecer que os trabalhos desenvolvidos
pelos auxiliares junto às crianças também são de cunho educativo, portanto, devem
ser mais valorizados. Nessa perspectiva, Cerisara (2002) esclarece que foi o caráter
atribuído ao trabalho, em outros momentos históricos geralmente competia aos
auxiliares desempenhar as atividades de cuidados com a alimentação e a higiene do
126
corpo que contribuiu para disseminar a idéia de subordinação e das divisões de
tarefas no espaço educativo entre professores e auxiliares das creches.
Na prática, essa hierarquização se materializa em desempenhar os papéis vistos
como de menor importância para o desenvolvimento infantil. Ao contrário dessa
concepção, Kramer (2005a) afirma que a articulação entre o educar e o cuidar deve
se fazer presente na Educação Infantil, pois é responsabilidade tanto dos
professores quanto dos auxiliares.
Se compararmos ainda o salário do professor da pré-escola (1,16 salário mínimo)
com o dos auxiliares das creches (1,02 salário mínimo), constataremos que, mesmo
trabalhando 20 horas a menos que os auxiliares, o piso salarial dos professores da
pré-escola, é maior, o que reafirma a discriminação com as atividades desenvolvidas
por esses profissionais.
Como as creches do município prestam serviços educacionais em horário integral,
os professores dessas instituições m carga horária de 40 horas semanais e o seu
piso salarial estava fixado em 2,32 salários mínimos, exatamente o dobro dos
professores que têm 20 horas semanais nas pré-escolas. Para desempenhar as
funções de gestão educacional, os diretores dos estabelecimentos da Educação
Infantil recebiam seus proventos em 2,5 sarios mínimos para uma jornada de
trabalho de 40 horas semanais. Além das contradições em relação ao piso salarial
entre os profissionais da Educação Infantil, há também que considerar a disparidade
entre os proventos da Educação Infantil com os do Ensino Fundamental.
13
No questionário ainda se constata que a SMEC dispõe, para a Educação Infantil, de
uma parcela do orçamento municipal, assim como de recursos provenientes dos
convênios com o MEC, pom esses valores não foram disponibilizados.
Atualmente a SMEC não mantém convênio com creches e pré-escolas que não
pertençam à rede municipal de educação. Vale ressaltar que na gestão anterior o
13
O salário de um professor do Ensino Fundamental era de 1,8 salário mínimo.
127
município realizava convênios com algumas escolas ligadas a entidades como
igrejas e associações.
No tocante às agências e/ou instituições culturais ou sociais, a SMEC informou que
o município possui duas bibliotecas públicas, uma livraria, um cinema, associações e
clubes. O munipio, conforme informações da Secretaria, propõe o desenvolvimento
de atividades com essas instituições através de projetos, como por exemplo:
atividades voltadas para o âmbito da leitura junto às bibliotecas; concurso de poesia
e redação; semana do livro; dentre outras práticas culturais. Contudo tais atividades
não parecem estar direcionadas para a Educação Infantil.
4.3 O que dizem as profissionais da Educação Infantil
Para esta análise, apresentaremos a operacionalização das políticas blicas do
município a partir das falas e reflexões dos profissionais que atuam diretamente com
as crianças nas pré-escolas municipais de Educação Infantil e que fazem uso
dessas políticas para direcionar sua atuação pedagógica. Nossa intenção é
confrontar o discurso da SMEC, apresentado anteriormente, com o discurso dos
profissionais que atuam na Educação Infantil. A SMEC apontou quais foram as
ações desenvolvidas desde 1998, ano de implantação da Educação Infantil no
município, bem como as atividades para a formação continuada desses
profissionais. Agora é o momento de conhecer quem são esses profissionais que
trabalham com as crianças do município de Teixeira de Freitas, sua formão, o
nculo empregatício, o tempo de atuação na Educação Infantil, os motivos
determinantes para a escolha desta modalidade de ensino, e também as
dificuldades que encontram para desenvolver as atividades pedagógicas junto às
crianças.
Desta forma, acreditamos que, ao traçarmos esse perfil, poderemos contribuir para
compreender melhor o impacto das políticas públicas para essa área da educação e
a ressonância dessas políticas junto aos trabalhos desenvolvidos com as crianças
nas creches e pré-escolas do município. Como foi mencionado, selecionamos 16
128
profissionais que atuam em seis pré-escolas do município para compilarmos os
dados que serão apresentados e discutidos com os estudos tricos que tratam
desta primeira etapa da Educação Básica.
Os 16 profissionais atuam em seis pré-escolas de Educação Infantil que se
encontram distribuídas em diferentes bairros do município. Cabe destacar que todos
os profissionais que participaram da pesquisa eram do sexo feminino,
com idade
entre 22 e 52 anos. Esta presença exclusivamente feminina nas atividades com as
crianças no município de Teixeira de Freitas confirma o que Cerisara (2002) já
apontava em sua pesquisa em relação à construção de gênero nas atividades com
as crianças. Segundo a autora, as atividades desenvolvidas nas creches diziam
respeito aos cuidados com as necessidades básicas da criança e estas se
restringiam aos cuidados com a higiene e com o corpo. E como no ambiente familiar,
tais atividades eram realizadas pelas mulheres, foram destinados a elas os trabalhos
a serem realizados nos espaços das creches e pré-escolas.
Em relação ao tempo de atuação no magistério da Educação Infantil, identificamos
que 31,25% das profissionais entrevistadas têm menos de um ano de exercício
nessa modalidade de ensino (cf. tabela 3). A rotatividade que existe no sistema
municipal de Educação, por causa dos contratos temporários, colabora para que não
ocorra uma continuidade de atuação com as crianças, pois quase sempre os
contratos são anuais e não são renovados nos anos subseqüentes.
Tabela 3
Perfil das profissionais que trabalham nas pré-escolas municipais,
em Teixeira de Freitas – BA, 2005 – Tempo de atuação
Tempo de Atuação Quantidade Porcentual
6 meses – 1 ano 5 31,25%
1 – 2 anos 0 0,00%
2 – 3 anos 2 12,50%
3 – 5 anos 4 25,00%
5 – 10 anos 3 18,75%
Mais de 10 anos 2 12,50%
Total 16 100%
Fonte: Pesquisa de campo, 2005.
129
Um dado interessante que essa questão nos revela é que, apesar de uma parcela
significativa das profissionais (31,25%) terem sua primeira experiência com crianças
na Educação Infantil em 2005, os demais (68,75%) atuam algum tempo nessa
modalidade de ensino, como podemos observar a partir da seguinte análise: 12,50%
já possuem experiência de dois anos na Educação Infantil; 25% afirmaram ter
experiência de três a cinco anos de atuação nessa modalidade de ensino; 18,75% já
trabalham mais de cinco anos com crianças; e observamos ainda que 12,50% já
vêm, mais de dez anos, trabalhando nas creches e pré-escolas. Essas
profissionais provavelmente são oriundas da rede particular de ensino ou de outros
municípios circunvizinhos, pois, como foi apresentado anteriormente, Teixeira de
Freitas tem atraído um grande número de pessoas para atender às demandas do
seu crescimento socioeconômico acelerado.
Essa informação traz questões pertinentes para a reflexão sobre as políticas
públicas voltadas para o ingresso e permanência de profissionais que realmente se
identifiquem com a realizão dos trabalhos a serem desenvolvidos nos espaços de
creches e pré-escolas. Se o município elaborar um plano de carreira para essas
profissionais, oferecer condições necessárias de atuação, a realização de concursos
públicos, possivelmente os serviços educacionais oferecidos à população infantil do
município serão realizados por profissionais que irão constituir sua identidade com a
Educação Infantil.
Sabe-se que a constituição da identidade profissional depende, sobretudo, da
atuação que os mesmos desenvolvem no seu dia a dia. Já enfatizamos que a
constituição não acontece do dia para noite e depende de diversos aspectos.
Podemos afirmar que as condições impostas a esses profissionais poderão interferir
diretamente nas suas escolhas e decisões para realizar o trabalho com as crianças.
A esse respeito Silva (2001) identificou, em sua pesquisa, que a construção dessa
identidade é um exercício contínuo e reflexivo que os profissionais devem ser
instigados a realizar a partir das dificuldades e realizões que compõem o seu fazer
profissional.
130
As justificativas indicadas pelas profissionais a respeito dos fatores que contribuíram
para a opção pela Educação Infantil se encontram distribuídas (cf. tabela 4) nas
seguintes categorias:
Tabela 4
Fatores que contribuíram para o ingresso, na Educação Infantil, das
profissionais que trabalham nas pré-escolas municipais, em
Teixeira de Freitas – BA, 2005
Fatores Quantidade Porcentual
Vocação 12 75,00%
Condições favoráveis 2 12,50%
Salário 0 0,00%
Falta de opção 0 0,00%
Outros 2 12,50%
Total 16 100%
Fonte: Pesquisa de campo, 2005.
Das profissionais entrevistadas, 75% indicaram a vocação como o fator
determinante para a escolha de atuação na Educação Infantil e explicaram ainda
que a vocação estava relacionada às atividades desenvolvidas em outros momentos
de suas vidas, como as brincadeiras de professoras realizadas na infância com
outros colegas de escola, e também nos cuidados já desenvolvidos com irmãos
menores e/ou filhos pequenos. São, portanto, marcas do gênero tal como relataram
em seus estudos Cerisara (2002), Kramer (2005) e Silva (2005).
As condições favoráveis para conseguir emprego representaram 12,5 % da escolha
para trabalhar com crianças, e os 12,5% restantes apresentaram outras opções.
Detalhando melhor estes últimos, uma profissional afirmou que a proximidade da
escola com sua residência foi determinante para sua escolha, e outra disse que
realizou concurso, e foi designada posteriormente pela SMEC para a escola de
Educação Infantil. Já mencionamos que o município não realizou concurso para
essa modalidade de ensino, provavelmente essa profissional fez concurso para o
Ensino Fundamental e foi designada para a Educação Infantil. É interessante
observar que nenhuma delas afirmou que os salários são determinantes na hora de
131
decidir trabalhar com crianças, o que confirma a desvalorização salarial para quem
opta por ser professora da Educação Infantil.
Em relação ao vínculo empregatício, os contratos temporários (56,25%) o maioria
entre as que trabalham com as crianças e isso nos permite uma reflexão a respeito
das políticas públicas desenvolvidas pelo município para garantir o cumprimento da
Lei 9.394/96, no que diz respeito ao art. 67, que trata do ingresso no magistério. No
município não uma política que assegure que esse ingresso aconteça
exclusivamente como prevê a legislação, através de concurso público de provas e
títulos.
Observou-se que 43,75% fazem parte do quadro de funcionários efetivos da SMEC
de Teixeira de Freitas. Esta realidade já foi confirmada anteriormente quando,
inclusive, se discutiu as conseqüências da quantidade de contratos temporários para
a realização do trabalho pedagógico, como também para a política de formação
continuada que a SMEC desenvolve para a formação desses profissionais.
Pode-se verificar (cf. tabela 5) que 62,5% têm como formação mínima o ensino
médio, na modalidade magistério, para atuar com as crianças nas pré-escolas
municipais e que as demais (37,5%) possuem curso superior. Outro dado
revelado na pesquisa é que a maioria das profissionais que têm a formação mínima
são também aquelas que possuem contratos temporários com a SMEC.
Tabela 5
Perfil das profissionais que trabalham nas pré-escolas municipais, em
Teixeira de Freitas – BA, 2005 – Nível de Escolaridade
Nível de Escolaridade Quantidade Porcentual
Ensino Médio (Magistério) 10 62,50%
Superior (Pedagogia) 4 25,00%
Superior (Normal Superior) 2 12,50%
Total 16 100%
Fonte: Pesquisa de campo, 2005.
132
Nesse sentido, pode-se afirmar que as políticas de formão continuada
implementadas pela SMEC constituem a principal opção que essas profissionais
(62,5%) m para discutir e aprofundar as questões atinentes ao desenvolvimento
infantil. Segundo Nascimento (2003), os cursos do ensino médio não dão conta de
subsidiar os futuros profissionais para uma atuação na Educação Infantil. Daí a
importância de os municípios adotarem políticas públicas para as profissionais da
Educação Infantil, de maneira a assegurar o ingresso, a formação em nível superior
e a permanência das mesmas. Quando ocorre o contrário, a qualidade do serviço
oferecido poderá ficar comprometida. Deve-se atentar para o que Kramer (2006)
alerta a respeito da qualificação dos profissionais que trabalham com as crianças
pequenas: para ela, é imprescindível uma formação adequada para atuação
profissional.
De acordo com Vasconcellos (2003), as políticas públicas voltadas para a Educação
Infantil estiveram direcionadas ora para a assistência das crianças, ora para a
preparação que antecede o Ensino Fundamental, além de não ter existido uma
política que valorizasse a atuação dos profissionais com crianças. De acordo com a
autora, mudar essa visão é uma tarefa árdua, porém possível, se as ações de
formação profissional forem construídas coletivamente com a perspectiva de
“reconstrução pessoal de sentidos, significados e valores referentes a uma filosofia
de educação infantil para todas as crianças, independente da raça, religião ou etnia”
(VASCONCELLOS, 2001, p.100).
Quando questionamos as profissionais que tinham apenas o magistério se elas
tinham pretensões em dar continuidade aos seus estudos com outra formação, 90%
delas disseram ter vontade de fazer o curso de Licenciatura em Pedagogia e 10%
gostariam de cursar Psicologia. Embora a maioria dessas profissionais com o ensino
médio se encontre em regime de trabalho de contrato temporário, elas gostariam de
dar continuidade aos seus estudos na área de atuação.
De acordo com as entrevistadas, as atividades complementares que elas realizaram
nos últimos anos para integrar a formação inicial diz respeito à participação em
eventos como congressos, seminários, cursos de formação inicial, palestras,
oficinas, bem como os cursos de formação em serviço oferecidos pela SMEC.
133
Quando questionadas sobre a satisfação com a prática profissional, 75% (12
professoras) afirmaram estar satisfeitas, o que representa um número significativo
no universo estudado. Por outro lado, 25% disseram que não estão satisfeitas, e a
insatisfação dessas últimas pode estar relacionada com o fato de não terem
realizado cursos de formação em serviço e também pela instabilidade profissional,
que todas são contratadas.
Com relação aos aspectos que podem contribuir para a atuação na Educação
Infantil, elas destacaram os itens dispostos a seguir (cf. tabela 6).
Tabela 6
Perfil das profissionais que trabalham nas pré-escolas municipais, em
Teixeira de Freitas – BA, 2005 – Aspectos que podem contribuir para uma
melhor atuação pedagógica
Aspectos Sim Não TOTAL
Melhores salários 12 04 16
Cursos complementares 14 02 16
Mais tempo para estudo e planejamento 06 10 16
Diminuição do número de crianças por sala 05 11 16
Material didático variado 15 01 16
Espaços para desenvolver atividades diversificadas 12 04 16
Fonte: Pesquisa de campo, 2005.
Como podemos observar, na ótica das profissionais, o aspecto mais indicado para
melhorar a atuação profissional foi a disponibilidade de materiais didáticos variados
(93,75%), para que possam recorrer aos mesmos nas diversas atividades por elas
desenvolvidas. Este é um fator que soma na análise que aponta para as dificuldades
na qualidade do serviço desenvolvido nos espaços de Educação Infantil do
município.
Certamente os recursos materiais o insuficientes para a realização das atividades
pedagógicas nos espaços da pré-escola, caso contrário, esse aspecto não teria um
índice tão alto (93,75%) nas solicitações das profissionais. Os recursos materiais se
constituem em uma importante ferramenta para o desenvolvimento infantil. Não
134
para trabalhar na pré-escola apenas com boa vontade, é preciso que as crianças
façam uso de todos os materiais possíveis para articular as atividades pedagógicas
a favor do seu desenvolvimento.
Cabe lembrar que, de acordo com Kramer (2005b), a criança precisa ter acesso
direto aos materiais pedagógicos para garantir o desenvolvimento da autonomia. A
autora afirma ainda que os profissionais devem proporcionar o contato com esses
materiais, a fim de enriquecer as experiências vivenciadas no contexto escolar,
porém lembra que não basta dispor desses recursos, é preciso que eles sejam
utilizados ou manipulados pelas crianças nas diferentes atividades realizadas.
O segundo aspecto destacado para melhorar a atuação pedagógica foi a
necessidade de realizar cursos complementares de formação (87,5%). Isso reforça a
percepção de que a formação oferecida pela SMEC não é suficiente para garantir
uma atuação com mais segurança na Educação Infantil. Não podemos deixar de
considerar também que a falta de política para o ingresso e a permanência nessa
modalidade de ensino reflete nessas exigências, pois provavelmente essa
necessidade de formação está atrelada aos profissionais que ingressaram sem
concurso público, portanto não é possível dar continuidade à formação
proporcionada pelo município.
Como terceira indicação, as profissionais se reportam à exigência de um espaço
físico adequado para realizar as atividades pedagógicas (75%). Isso revela que os
locais destinados para a Educação Infantil não colaboram para a articulação do
desenvolvimento das crianças. Sodré (2007) já apontava nos seus estudos que as
pré-escolas municipais se encontram localizadas em grande parte em casas
alugadas, que não têm espaços adequados para realizar atividades em áreas
internas e externas, e algumas funcionam em escolas particulares desativadas.
Porém mesmo nesses espaços, a autora assinala que não uma organização
adequada do local para a Educação Infantil.
A exemplo do item anterior, a indicação de melhores salários corresponde também a
75% das sugestões das profissionais. Nesse ponto, esperamos que o Fundeb, junto
com as políticas públicas do município, possam corrigir as distorções salariais entre
135
as profissionais que trabalham na Educação Infantil e proporcionar a valorização
profissional das mesmas. Com relação ao tempo destinado a estudos e
planejamentos, 37,5% das profissionais entrevistadas consideram que se houvesse
mais tempo para realizar essas atividades, certamente teriam uma melhor atuação.
A LDB no art. 67 afirma que é atribuição dos sistemas de ensino promover aos
profissionais períodos para estudo, planejamento e avaliação dentro da jornada de
trabalho, e o município de Teixeira de Freitas desenvolve apenas uma formação de
quatro horas quinzenalmente.
Além disso, 31,5% das profissionais entrevistadas acham que se o número de
alunos por sala diminuísse essa atuação poderia ser melhor, e esse é um aspecto
que já foi evidenciado em discussão anterior. Tal informão confirma mais uma vez
que há um número de crianças maior do que o preconizado pelo MEC.
Quando questionadas se a SMEC organiza cursos de formação em serviços para
atender à demanda dos profissionais da Educação Infantil, 75% das entrevistadas
disseram que sim, enquanto 25% disseram que não. Ao analisar o porcentual
minoritário que discordou, percebemos que essas profissionais são as mesmas que
têm contratos temporários e que declararam anteriormente a insatisfação com sua
prática profissional. Esse grupo, portanto, apresenta uma análise crítica não
sobre sua prática, como também sobre as políticas públicas do município para esta
etapa da educação.
Ao procurar entender melhor essas informações divergentes sobre a formação em
serviço, percebemos que tanto a SMEC, quanto as profissionais confirmaram que
há, na distribuição da carga horária semanal de 20 horas, 4 horas destinadas para a
realização, quinzenalmente, da formação em serviço que a Secretaria oferece.
Durante as entrevistas as profissionais disseram que o tempo é insuficiente para
fazer planejamento, realizar estudos, discutir sobre aspectos importantes do
desenvolvimento infantil e afirmaram ser imperativo um tempo maior para essas
atividades. Na prática, a carga horária acaba por ficar restrita às atividades de
planejamento, sem que haja tempo para estudos complementares, tão relevantes
para a formação em serviço.
136
As profissionais disseram também que são os coordenadores pedagógicos da
SMEC que organizam e planejam essa formação quinzenal em serviço. Contudo,
está no horizonte da Secretaria realizar palestras, grupos de estudos nas pré-
escolas municipais, oficinas pedagógicas, cursos sobre temas específicos
destinados à formação continuada das profissionais que trabalham nas pré-escolas,
mas a urgência das necessidades diárias do fazer pedagógico não têm permitido
que isso aconteça. São questões como essas que mostram a importância de uma
carga horária que contemple a jornada de trabalho, o planejamento e a formação.
No tocante aos temas abordados em algumas formações esporádicas, conforme
informaram as profissionais da Educação Infantil, pode-se notar uma preocupação,
quase que exclusiva, com os aspectos didáticos (cf. figura 3).
Figura 3
6,25
93,75
68,75
31,25 31,25
68,75
0,00
100,00
37,50
62,50
6,25
93,75
0,00
20,00
40,00
60,00
80,00
100,00
Fundamentos Aspectos
didáticos
Aspectos
culturais
Aspectos
administrativos
Relações com
a família /
comunidade
Saúde e
alimentação
Temas abordados durante a formação em serviço (%)
Sim o
Segundo as profissionais da Educação Infantil, os temas que são abordados nos
cursos de formão oferecidos pela SMEC estão centrados basicamente na
exposição de aspectos didáticos (68,75%), seguidos de temas que dizem respeito às
relações família/comunidade (37,50%) e aspectos culturais (31,25%). Saúde e
alimentação correspondem a apenas 6,25%, assim como temas relacionados a
fundamentos (Psicologia, Filosofia, Sociologia etc.).
Fonte: Pesquisa de campo, 2005.
137
Mas o que desperta a atenção nessa análise diz respeito ao conjunto de temáticas
que, conforme as profissionais, não é discutido nos encontros de formação. A
totalidade das profissionais afirma que durante os cursos de formação não se
discutem os aspectos administrativos. Isto pode confirmar que a SMEC não debate o
modo como têm sido implementadas as políticas públicas para a Educação Infantil,
com aqueles que, de fato, vivenciam no cotidiano essas ações. É possível que na
concepção da SMEC a função dos profissionais deve se restringir apenas ao
trabalho com as crianças. Ao contrário desta acepção, os estudos (TEIXEIRA, 2001;
PARO, 1996) apontam que é fundamental a participação de todos os envolvidos no
processo educacional nas decisões administrativas.
Prosseguindo a análise, podemos destacar que a maioria das profissionais (93,75%)
afirma não serem abordados nos encontros de formação temas atinentes aos
fundamentos educacionais. Essa informação nos permite inferir que o espaço da
formação em serviço, do município em estudo não tem procurado aprofundar os
temas que dizem respeito, por exemplo: à concepção de infância, de educação, de
formação profissional. Nem tão pouco procura discutir os objetivos desta etapa de
ensino, assim como a história da política de Educação Infantil no Brasil, além de
aspectos sobre desenvolvimento sócio-afetivo e socialização da criança.
Quando questionadas se os temas abordados durante os cursos de formação em
serviço foram suficientes para a atuação profissional, 58,33% disseram que não, e
41,66% afirmaram que os temas dão suporte para a atuação na sala de aula. As
profissionais que se mostraram insatisfeitas (58,33%) dispunham de um espaço no
questionário para sugerir temas de interesse e elas gostariam que fossem
enfatizados os seguintes:
Direitos e deveres da criança;
A criança como ser social;
Violência infantil;
A arte de contar histórias;
Confecção de jogos e materiais lúdicos;
Teatro e música.
138
A propósito, cabe ressaltar que os desejos das profissionais sobre as temáticas
supracitadas devem ser considerados e incorporados à formação em serviço delas,
pois são importantes. Na medida em que são desejados, colaboram para uma
formação condizente com a prática profissional.
Como última questão, deixamos em aberto um espaço para que as profissionais
expusessem as dificuldades que vivenciam no dia-a-dia da Educação Infantil. No
conjunto das dificuldades (cf. tabela 7) apontadas, destacamos que é mais freqüente
a falta de material didático (34,78%). Como afirmamos anteriormente, a
quantidade do material disponibilizado pela SMEC para as creches e pré-escolas
não consegue atender as demandas cotidianas.
Tabela 7
Dificuldades do cotidiano das profissionais que trabalham nas
pré-escolas municipais, em Teixeira de Freitas – BA, 2005
Dificuldades Quantidade Porcentual
Ausência de material didático 8 34,78%
Falta do apoio familiar 6 26,10%
Indisciplina 5 21,73%
Espaço físico inadequado 4 17,39%
Total 23 100%
Fonte: Pesquisa de campo, 2005.
A segunda dificuldade mais indicada é a falta de apoio da família (26,10%). Porém,
durante as entrevistas, ficou evidente que o apoio que as profissionais desejam é a
intervenção dos pais para controlar a indisciplina na sala de aula. Entretanto, essas
“indisciplinas” podem ser parte de um trabalho educacional descontextualizado e
que não envolve a participação das crianças no processo educacional. Com certeza,
se acontecessem, no decorrer da formação em serviço realizada pela SMEC,
debates e discussões sobre temas que tratem da relação da família com a
comunidade e com a escola, provavelmente ficaria mais evidente a participação
desses diferentes espaços no desenvolvimento integral da criança.
139
A indisciplina representou um porcentual de 21,73% dos obstáculos vivenciados no
dia-a-dia. As profissionais disseram ter dificuldade em realizar algumas atividades
por causa do comportamento agitado das crianças. Almeida e Dessandre (2005) em
seu trabalho sobre as crianças ideal, fácil e difícil, identificaram que a criança difícil
está relacionada à criança agitada, pois perturbam as atividades, e tal
comportamento poder ser uma indicação de que algo está em desacordo, o que não
necessariamente pode ser considerado indisciplina e sim insatisfação pelo que
acontece na escola. Este terceiro fator pode se somar ao segundo, levando em
conta que as profissionais tinham interesse na participação dos pais principalmente
para resolver as questões de indisciplina.
O último aspecto ressaltado e que dificulta o trabalho das profissionais diz respeito
ao espaço físico inadequado (17,39%), que não possibilita a realização de atividades
diversificadas tanto na sala de aula quanto nas áreas externas. Conforme ressalta
Oliveira Z. (2005, p. 182), “o ambiente físico e os arranjos espaciais existentes nas
creches e pré-escolas m sido apontados como setores que requerem especial
atenção e planejamento”. Daí a importância de um projeto de construção ou reforma
dos espaços destinados às instituições de Educação Infantil a partir das sugestões
do GAE (BRASIL, 2006c). Nesse sentido, faz-se necessário repensar as políticas
públicas do município de Teixeira de Freitas, voltadas para a infra-estrutura desses
espaços, pois, como foi citado anteriormente, esse é um aspecto que precisa da
atenção das autoridades e dos envolvidos nesta etapa da educação.
4.4 Objetivos educacionais
A exemplo dos estudos de Vasconcellos (2001a), procuramos acrescentar à nossa
análise aspectos que pudessem dar mais visibilidade às ações educacionais
desenvolvidas pelas profissionais da Educação Infantil. Para tanto, recorremos às 13
palavras indicadas pela autora, que trazem implícitos objetivos educacionais a
serem perseguidos.
140
Com o questionário sobre os objetivos educacionais em mãos, buscamos analisar o
que as profissionais da Educação Infantil de Teixeira de Freitas dizem sobre esses
objetivos. Esclarecemos que os objetivos educacionais correspondem a 13 palavras,
a saber: autonomia, criatividade, concentração, responsabilidade, interação,
obediência, independência, iniciativa, disciplina, tolerância, auto-realização,
sensibilidade e cooperação. São valores e princípios presentes nas ações
educativas, sem os quais a educação pode ser transformada em “mero receituário
de atitudes e condutas” (DIAS, 2005, p. 20).
Destas palavras, selecionamos para o estudo apenas quatro: autonomia,
independência, disciplina e obediência. A escolha se justifica pelos seguintes
motivos: 1) o Rcnei destaca como eixo articulador para a educação infantil a
autonomia e a independência; 2) o referencial citado tem sido um dos únicos
norteadores que embasam o trabalho dos coordenadores pedagógicos da SMEC; 3)
a questão da disciplina foi apontada pelas próprias profissionais como um dos temas
de interesse para os cursos de formação; 4) a relação/adulto criança na educação
historicamente (KRAMER, 1998; SODRÉ, 2002; CASTRO, 1996) tem sido
estabelecida de forma unilateral e a Educação Infantil é o espaço no qual as
crianças, por serem menores, podem estar mais vulneráveis ao domínio adulto.
No nosso processo de análise, inicialmente reproduzimos a definição de “autonomia”
a partir das palavras-chave das respostas das profissionais no questionário. Para
exemplificar melhor, podemos citar a seguinte frase de uma das profissionais
entrevistadas:
É a pessoa responsável por responder por seu nome.
Desta frase, na reordenação das diferentes definições em categorias de respostas,
extraímos apenas a palavra responsável e a expressão responder por seu nome; e,
pelas concepções que estão subentendidas nestas palavras, optamos por incluí-la
na categoria agir conseqüentemente (cf. tabela 8).
141
Tabela 8
Objetivos educacionais – Definições de Autonomia
Categorias Número de resposta Palavras
Saber o que fazer nas
atividades cotidianas
4 Tomar decio, direção
própria, autora do próprio
trabalho
Agir conseqüentemente 3 Ter responsabilidade
Respostas abstratas ou
indeterminadas
7 Ter o controle de algo
que está em suas mãos
Liberdade 2 Autodeterminação
Fonte: Pesquisa de campo, 2005.
Diante dos dados, fica evidente que apenas quatro profissionais relacionaram a
palavra “autonomia” aos conceitos definidos por outros autores (DIAS, 2005;
VASCONCELLOS & VALSINER, 1995; ALMEIDA & DESSANDRE, 2005). Esta
definição pode ser assim descrita: saber o que fazer ou como agir nas atividades
cotidianas. Para compor essa definição, agrupamos palavras ou expressões como:
tomar decisões, direção própria, autora do próprio trabalho, fazer atividades
cotidianas sem necessidade de ajuda (quatro profissionais). A segunda definição foi
a seguinte: agir de forma conseqüente (três profissionais). Para compor essa
definição, agrupamos palavras ou expressões como: responsabilidade, responder
por suas atitudes, responder por seu nome. As demais, ou responderam de forma
abstrata (sete profissionais), ou seja, de uma forma que não permite uma
interpretação clara do conceito que está em foco, ou confunde com liberdade e
autodeterminação (duas profissionais).
Na pesquisa de Almeida e Dessandre (2005) sobre as práticas que os professores
utilizam para desenvolver a autonomia ou manter a heteronomia das crianças, e
sobre a visão que os professores têm a respeito da criança fácil, difícil e ideal, as
autoras destacam que concordam com a compreensão de Vasconcellos e Valsiner
(1995) quando afirmam que a autonomia deve ser vista como um processo cultural e
socialmente estruturado, portanto, pode ser modificada ou construída a partir das
relações sociais.
142
Com base nesse estudo, as autoras descrevem que, para as professoras, a criança
fácil é aquela que participa, questiona durante as atividades, tem um bom
relacionamento com os colegas e com as professoras. a criança considerada
difícil tem características opostas da criança fácil, geralmente é descrita pelas
professoras por aquilo que lhe falta para ser fácil e ideal. Destacam, contudo, que o
conceito de criança ideal sempre está relacionado com as características pessoais
que cada professor considera como melhor, portanto, irá variar de acordo com as
diferentes concepções culturais a que estão sujeitos.
Ainda segundo as autoras, as professoras afirmaram que o trabalho desenvolvido
com as crianças, que privilegia a autonomia, é mais fácil de ser realizado com uma
considerada fácil, pois ela participa das decisões. Nas suas conclusões, apontam
que é preciso “construir com as professoras uma ação pedagógica comprometida
com a promoção da autonomia infantil, a partir da análise e compreensão de
sentidos, significados e valores que tais profissionais m sobre o mundo da
infância” (ALMEIDA E DESSANDRE, 2005, p. 19).
Conforme assinala Dias (2005), um sujeito autônomo é capaz de dialogar
criticamente com as interações sociais, influenciando essas relações e sendo
influenciado por elas. Para a autora, quase não se discute com os professores sobre
a promoção ou construção da autonomia das crianças, por isso que é tão difícil para
alguns profissionais materializar o entendimento sobre autonomia. Contudo, Freire
(1996) ressalta que os educadores devem respeitar a autonomia dos sujeitos como
um imperativo ético, e não como um favor que se pode ou não conferir uns aos
outros.
Castoriadis (2003) assevera que, por meio de um processo democrático e
colaborativo, a escola pode favorecer a autonomia individual e, conseqüentemente,
a coletiva, e dessa forma, contribui para a formão de indivíduos conscientes e
autores de seu próprio envolver histórico. Quando as instituições educacionais
proporcionam atividades de cooperação, em um ambiente de respeito mútuo às
individualidades e às especificidades de cada criança, elas colaboram para que o
processo de transição da heteronomia para a autonomia moral ocorra. Por outro
143
lado, em um ambiente onde impera medo, autoritarismo e respeito unilateral tende a
perpetuar a heteronomia.
Todos esses estudiosos foram claros ao enfatizar que a autonomia é um princípio
norteador da educação. Porém apenas quatro das profissionais entrevistadas
apresentaram uma definição que se aproxima das discussões teóricas. Isso nos
reporta a uma discussão sobre as ões educativas que estão em curso e sobre a
importância da formação em serviço não só para esta etapa da educação como para
as demais. É evidente que, na ausência de uma formação qualificada, os modelos
educacionais podem ser reproduzidos secularmente, e mudar essa realidade é
romper com o paradigma da heteronomia.
A tabela 9 apresenta as definições que as profissionais utilizam para definir o
objetivo educacional “obediência”. Ao analisarmos tais definições, concluímos que
para a totalidade das profissionais a relação de obediência das crianças para com as
profissionais se caracteriza pela submissão às regras estabelecidas. Apesar de
subdividirmos em duas categorias, elas estão interligadas entre si, separamos
apenas para dar visibilidade às definições e assim podermos analisá-las.
Tabela 9
Objetivos educacionais – Definições de Obediência
Categorias
Número de
resposta
Palavras
Ser submisso 5 Passivo, submisso, dócil,
humilde
Respeitar, cumprir algo
estabelecido
11 Obedecer, seguir, cumprir e
respeitar as regras
Fonte: Pesquisa de campo, 2005.
De acordo com as profissionais, a passividade é uma característica atrelada à
humildade e à docilidade, e quando a criança se submete a essa passividade fica
mais fácil realizar as atividades em sala, ou seja, nas palavras de uma profissional a
obediência colabora para a organização do trabalho pedagógico.
144
A segunda categoria diz respeito às crianças que sabem obedecer às regras
preestabelecidas e respeitá-las, e uma profissional acrescenta que a obediência
define os limites para que ninguém saia prejudicado. O que elas não enfatizaram foi
a participação das crianças na definição dos limites e das regras, os “combinados”,
dito melhor, as decisões coletivas que permitem o exercício e a construção da
autonomia. Regras e limites impostos unilateralmente são a base para uma
educação heteronômica, como já ressaltavam os autores citados (DIAS, 2005;
VASCONCELLOS & VALSINER, 1995; ALMEIDA & DESSANDRE, 2005).
A terceira definição analisada foi “independência”. Na análise, descrevemos as três
categorias de respostas identificadas (cf. tabela 10).
Tabela 10
Objetivos educacionais – Definições de Independência
Categorias
Número de
resposta
Palavras
Tomar decies 8 Decisões próprias
Liberdade 5 Fazer o que acha melhor,
ser livre, ter ações próprias
Conceito abstrato
3
Delegar responsabilidade,
pedir opinião
Fonte: Pesquisa de campo, 2005.
Podemos observar que a categoria que ressalta tomar decisões é a que obteve o
maior número de respostas (oito profissionais). Desta forma, a “independência” para
essas profissionais se caracteriza pela capacidade de decidir sobre o que deve ser
feito. Nessa perspectiva, ao definir “independência” como a possibilidade de estarem
aptas a tomar decisões próprias, as profissionais a definem, a exemplo das palavras
anteriores, como um processo unilateral e não como um processo a ser construído
em um contexto socialmente referenciado.
Liberdade é a segunda categoria definida pelas profissionais (cinco) para o objetivo
educacional independência”, e essa liberdade, nas palavras delas, significa: ter
ações próprias e fazer aquilo que acha melhor.
145
De acordo com o Rcnei (1998), as vezes a resposta esperada pelas profissionais
para o comportamento infantil é a obediência e o sincio, mas um ambiente que
favorece a construção da independência das crianças é aquele que permite que as
mesmas possam tomar iniciativas. Ainda segundo o Rcnei, um fator que pode
colaborar para a garantia dessa independência é o acesso dos materiais didáticos
às crianças. Em um espaço construído para elas, as crianças podem transitar com
independência e não ficam à mercê dos adultos para mediar atividades que estão
em condições de realizar, tais como: pegar o material de trabalho, arrumar as
sacolas ou pastas, utilizar as instalações sanitárias, escolher livros, entre outras
inúmeras atividades.
Para a análise do conceito de “disciplina”, último objetivo educacional selecionado,
encontramos o maior número de respostas (sete profissionais) para a capacidade de
cumprir ordens (cf. tabela 11); e em segundo lugar, a definição de ser submissa às
regras estabelecidas (seis profissionais). Conforme ressaltam Almeida e Dessandre
(2005), as crianças podem estar aptas a cumprir ordens, desde que este
ordenamento tenha contado com a participação delas e não tenha sido uma
submissão imposta pelos adultos. Nessa perspectiva, para que as crianças
compreendam que as regras são negociáveis, elas precisam ter tido contato
anteriormente com as regras já estabelecidas pelo adulto.
Tabela 11
Objetivos educacionais – Definições de Disciplina
Categorias
Número de
resposta
Palavras
Cumprir ordens 7 Capacidade de seguir
normas
Ser submissa 6 Submissão às regras
Conceito abstrato 3 Todo ser humano deve
ter
Ser uma pessoa
educada
Fonte: Pesquisa de campo, 2005.
Por fim, o conceito abstrato
que identificamos pode ser observado na seguinte frase
de uma profissional: todo ser humano deve ter. Poderíamos ter incorporado essa
146
frase na categoria de submissão, pela generalização que propicia (todo mundo) e
pelo tom imperativo (deve ter), mas a resposta remete apenas à própria palavra que
está em foco: (ter) “disciplina”; assim, torna-se uma definição que reflete apenas a
subjetividade da autora. Incluímos também ser uma pessoa educada (duas
profissionais) na categoria conceito abstrato, pois a sua compreensão depende de
como cada um define pessoa educada.
Segundo Almeida e Dessandre (2005), o importante, nas análises destes conceitos
ou objetivos educacionais, é ressaltar que a autonomia não pode ser entendida
como sinônimo de “independência”, nem a heteronomia” como simples
“obediência”. As autoras compreendem ambas (autonomia e independência) como
etapas complementares para a passagem da heteronomia para a autonomia.
Nesse sentido, é oportuna a análise das autoras quando discutem que no processo
em que a autonomia se faz presente as regras são estabelecidas com o
consentimento coletivo. Por outro lado, a participação das crianças numa relação de
respeito unilateral compromete o desenvolvimento da moral autônoma das crianças.
147
CAPÍTULO 5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro
abertas para o verde onde cresça a esperança.
Thiago de Mello
148
Discutir a Educação Infantil como responsabilidade do Estado é refletir sobre uma
conquista histórica, que pode contribuir para que as crianças de zero a seis anos
ocupem o lugar de sujeitos de direitos que outrora fora negado pela exclusão dessa
etapa de ensino na legislação educacional até a promulgação da LDB 9.394/96. A
inclusão na primeira etapa da Educação Básica modificou de maneira sistemática o
lugar dos sujeitos envolvidos no processo da Educação Infantil, sejam as crianças
ou as professoras. As políticas públicas educacionais nas últimas décadas têm
procurado contribuir para a complexidade do trabalho a ser realizado com as
crianças, porém a operacionalização tem sido lenta e insuficiente para dar conta da
demanda que essa etapa requer.
Ao iniciarmos esta pesquisa, tínhamos como propósito analisar a implementação da
Educação Infantil pública no município de Teixeira de Freitas (BA), tanto da
perspectiva da Secretaria Municipal de Educação, quanto das professoras que
atuam nessa etapa de ensino. Entendíamos que ao darmos visibilidade às políticas
públicas educacionais de um município como Teixeira de Freitas, poderíamos
ampliar posteriormente alguns aspectos dessas reflexões a outros municípios.
Ao final dessa pesquisa, temos a certeza de que as conclusões são provisórias, pois
novos acontecimentos ocorreram no município e modificaram a oferta da
Educação Infantil. Em julho do corrente ano, por exemplo, várias professoras
contratadas foram exoneradas de suas funções. Tal fato colabora para afirmarmos
que os velhos dilemas ainda persistem na operacionalização da Educação Infantil. A
instabilidade que predomina entre as professoras concorre para a descontinuidade
do trabalho realizado com as crianças no interior das creches e das pré-escolas
municipais.
Apesar de ter ocorrido a ampliação das políticas públicas municipais com vistas a
assegurar o acesso e a permanência das crianças, bem como das professoras nas
instituições educacionais, o município de Teixeira de Freitas não conseguiu ainda
ofertar a Educação Infantil às crianças do município, uma vez que um número
considerável da população infantil fora desses espaços. Portanto, a formação em
serviço que o município se propõe a realizar para atender às necessidades de
formação do quadro da Educação Infantil tem sido quase sempre um novo recomeço
a cada início do ano letivo.
149
O material que nos possibilitou tecer a análise acerca da implementação da
Educação Infantil no município foi o documento denominado “Educação Infantil:
percursos e percalços”. É possível que outros documentos tenham sido produzidos,
mas com as mudanças políticas a cada nova eleição eles podem ter sido apagados
da memória anterior, e os novos quadros dão sempre um tom de recomeço às
ações. A análise documental disponibilizada nos permitiu afirmar que as iniciativas
para implementar a Educação Infantil blica no município foram importantes, pois
foi a partir daí que o município passou a oferecer esta etapa da educação e ampliou
as matrículas nos anos subseqüentes.
Dois anos depois da LDB 9.394/96, a Secretaria Municipal de Educação de Teixeira
de Freitas se pros a implantar a Educação Infantil no município. É a partir desse
momento que percebemos o esforço dos profissionais que estavam à frente da
Secretaria em oferecer essa nova etapa de educação e de promover uma formação
em serviço para os profissionais que nela atuavam. Porém as mudanças nos
quadros da SMEC são constantes e não propiciam a continuidade nem dos serviços
oferecidos às crianças nem da formação em serviço oferecido às professoras. Na
perspectiva das professoras que permaneceram no quadro efetivo (desde o ano em
que o município inicia a educação em creches e pré-escolas), os primeiros
programas de formação em serviço realizados no início do processo de implantação
da Educação Infantil foram os melhores. Segundo o depoimento delas, o tempo
destinado para essas atividades era maior. Nos últimos anos, a Secretaria passou a
destinar somente quatro horas, a cada quinze dias, e esse tempo exíguo é utilizado
apenas para realizar as atividades de planejamento.
Tanto as professoras do quadro efetivo quanto as que possuem contratos
temporários são enfáticas em afirmar que é preciso destinar mais tempo para que a
formação em serviço aconteça, dada a complexidade do trabalho pedagógico com
as crianças de zero a seis anos. É importante ressaltar que essa formão realizada
pela SMEC é a única que acontece para 62,50% das professoras entrevistadas, que
têm apenas o Ensino Médio como formação inicial. Na alise das professoras, o
tempo destinado atualmente não é suficiente para proporcionar uma reflexão sobre o
desempenho pedagógico coerente com a complexa relação entre o cuidar e o
educar que marca a atuação da Educação Infantil.
150
Ficou evidente nos estudos que os documentos produzidos pelo MEC PCN’s em
Ação e Rcnei serviram de base para a realização da formão em serviço das
professoras e para a construção das Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil.
Contudo seu uso nem sempre foi feito com a articulão e a propriedade
necessárias, assim como não foram levadas em consideração as críticas que outros
pesquisadores já apontaram a respeito desse material. As Diretrizes elaboradas pela
SMEC não atentam para os contextos locais nem para a contribuição dos envolvidos
(professoras, criaas e comunidade externa). Faz-se, assim, premente uma
reformulação delas, para que as especificidades da Educação Infantil sejam
observadas de maneira a contribuir para o trabalho realizado no interior dessas
instituições.
A infra-estrutura das instituições de Educação Infantil no município está longe de
favorecer as atividades que visem ao desenvolvimento integral das crianças, pois os
arranjos espaciais não propiciam condições para a realização das atividades nas
salas de aula como também nas áreas externas, uma vez que algumas instituições
são localizadas em casas residenciais alugadas, sem ventilação adequada, sem
áreas externas e sem as adaptações necessárias ao trabalho pedagógico.
Em relação às profissionais, elas estão atuando dentro da legislação preconizada,
pois se exige como formão mínima a formação em magistério, e 62,50%
cursaram-no; porém, como já afirmamos, é uma formação insuficiente. E o problema
apresentado pelas professoras é que a formação em serviço oferecida pela SMEC
não está cumprindo a tarefa de suprir tais deficiências. Na compreensão das
profissionais, o curso de formação em serviço é uma oportunidade importante para
socializar as experiências vivenciadas na Educação Infantil com as outras
professoras.
As discussões apresentadas nessa pesquisa nos revelam que é preciso que a
SMEC implemente uma política de formação em serviço para dar suporte ao
trabalho desenvolvido pelas professoras que estão nas creches, onde estão as
crianças menores de três anos, que as atividades da SMEC dirigem-se apenas às
professoras das pré-escolas públicas.
151
No que diz respeito às ações dispensadas para a valorização das professoras da
Educação Infantil, é preciso que o município procure operacionalizar políticas
públicas que permitam que essas professoras continuem nessa etapa de ensino e
sejam reconhecidas como profissionais. Para tanto, torna-se imperativo a promoção
de concursos públicos para acesso à carreira, pois os contratos temporários que se
encerram anualmente é outro aspecto da descontinuidade que marca a Educação
Infantil no município. Além de não serem concursadas, as professoras não têm um
plano de carreira que as incentivem a permanecer nessa etapa de educação, nem
uma carga horária de trabalho compatível com as necessidades que demandam a
formação e o planejamento, imprescindíveis ao fazer pedagógico.
Dentre as sugestões das professoras entrevistadas, destacamos: a necessidade de
materiais diversificados, para que as mesmas possam utilizá-los nas atividades com
as crianças; a construção de espaços para as instituições da Educação Infantil em
que se possam ser desenvolvidas atividades diferenciadas durante o trabalho
pedagógico; a realização de cursos complementares à formação inicial; e melhores
salários.
As indicações mostram professoras com discernimento para ressaltar aspectos
relevantes para o trabalho que realizam. Especialmente no que se refere aos cursos
e ao processo de formação em serviço, pois na análise dos objetivos educacionais,
percebemos que suas definições o refletem a compreensão de que as crianças
podem ser protagonistas do espaço que freqüentam e desenvolver autonomia e
independência na realização das atividades pedagógicas. Nas descrições, utilizam
palavras que reforçam o conceito de infância tal como ele foi se constituindo no
curso da história humana, ou seja: um mundo de adultos onde as crianças não m
voz. Nesse sentido, é preciso investir na formação em serviço para que as
professoras possam ter uma melhor compreensão acerca do desenvolvimento
infantil e utilizem tal conhecimento a favor da realização de um trabalho pedagógico
que priorize o desenvolvimento da autonomia das crianças, desde a Educação
Infantil, e que o planejamento e as atividades educacionais passem a valorizar os
aspectos culturais de cada família para garantir a construção identitária das
crianças.
152
Estudos como esse podem dar visibilidade às mudanças e analisar os impactos
ocorridos após a Lei 9.394/96, no que diz respeito às políticas públicas municipais
voltadas para a Educação Infantil. Em Teixeira de Freitas, a SMEC apresenta
iniciativas louváveis, tais como: a organização do núcleo de apoio e o projeto de
qualificação em serviço nas quatro horas destinadas à formação, dentre outras. São
indícios que mostram que o município procura realizar, através de políticas públicas,
ações afirmativas voltadas para as crianças. Dessa forma, busca minimizar a dívida
histórica e social com as camadas sociais que não tiveram condição de arcar com
uma educação privada. Contudo, o número de pré-escolas (14) e creches (7) ainda
não permite atender a boa parte da população infantil do município. O aumento tem
sido lento e insuficiente, pois em 1998 iniciou a municipalização com apenas uma
creche e duas pré-escolas.
Apesar de a Constituição Federal não colocar como obrigatória a Educação Infantil,
o texto da Carta Magna é claro quando proclama que é direito da criança, opção da
família e obrigação do Estado ofertar uma educação de qualidade a todas as
crianças, e a LDB 9.394/96 direciona aos municípios essa ações, que devem
acontecer em cooperação União, Estados e Município. Espera-se que aconteçam,
com a aprovação do Fundeb, a ampliação da oferta de vagas em creches e pré-
escolas em Teixeira de Freitas e a valorizão das profissionais que desempenham
suas funções nessas instituições.
É preciso lembrar que políticas públicas direcionadas à educação da população
infantil compreendem desde a oferta de matrículas em número compatível com a
população infantil, espaços com estruturas físicas adequadas para receber as
crianças, realização de atividades que garantam a autonomia das mesmas, até e,
principalmente, a formação de professores, pois esses profissionais estarão
desenvolvendo diretamente um trabalho junto às crianças. Ter algumas escolas e
creches sem um quadro de professores consolidado indica um processo de
mudança ainda mais lento, mesmo para as crianças que estão presentes nos
estabelecimentos municipais, pois as dificuldades vivenciadas pelos professores
contratos podem estar comprometendo a qualidade tão almejada.
153
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162
Anexo 1
163
Anexo 2
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Projeto de Pesquisa
“FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO: CONCEPÇÕES, POLÍTICAS E
MODOS DE IMPLEMENTAÇÃO”
Coord.: Sônia Kramer
Questionário Secretarias Municipais
Apoio FAPERJ / CNPQ
Janeiro de 2000
164
IDENTIFICAÇÃO
Município: Código:
Endereço da Prefeitura:
Nome do Prefeito: Partido político:
Secretaria Municipal de Educação e Cultura
Endereço ou localização:
Tel.: Fax:
Secretário(a):
Secretaria Municipal de Saúde e Promoção Social
Endereço ou localização:
Tel.: Fax:
Secretário(a):
Secretaria
Endereço ou localização:
Tel.: Fax:
Secretário(a):
DADOS GERAIS
Informações
Em caso de alteração
utilize esta coluna
Data de Instalação:
Aniverrio da cidade:
Distância da capital:
Municípios Limítrofes:
Área total do Munipio:
População em 1999:
Número de eleitores em 1999:
População em 1996:
Densidade demográfica em 1996:
Taxa média geométrica (1991-96):
Principais atividades econômicas
Fonte:
VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO
JORNAL RÁDIO TELEVISÃO REVISTA
RESPONSÁVEL PELAS INFORMAÇÕES
Nome:
Cargo:
Setor:
Endereço:
Município: UF:
CEP: Tel.: Fax:
Telefone:
E-mail:
165
II. Sistema de Ensino
Organização
1. Como está organizado o Sistema de Ensino do Município?
1 - ( ) Sistema Municipal de Ensino Próprio
2 - ( ) Vinculado ao Sistema Estadual
2. O município tem Conselho Municipal de Educação?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Em Processo de implementação 3 - ( ) Sim
3. Que secretaria(s) presta(m) serviços educacionais à população infantil?
Secretária e/ou Unidade de Prefeitura Tipo de serviços prestados
Educação e/ou Cultura
Assistência / Desenvolvimento
Saúde
Outra(s)
Qual / quais?
4. Esta Secretaria Municipal engloba que áreas?
1 - ( ) Educação
2 - ( ) Educação e Cultura
3 - ( ) Educação, Cultura e Esporte
4 - ( ) Educação, Cultura, Esporte e Lazer
5 - ( ) outras quais?_______________________________________
5. Como está organizada a Secretaria? Favor anexar organograma ou outro documento contendo
organização e estrutura.
6. A Secretaria possui uma equipe de acompanhamento pedagógico às escolas?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Sim
7. Caso afirmativo, de quantos profissionais é constituída esta equipe? [________________]
Cobertura da Educação Infantil no Município
8. De acordo com os dados disponíveis, informe o mero de docentes e de alunos matriculados na
Educação Básica, por dependência administrativa. (Favor indicar a fonte e o ano da última atualização)
Obs.: Caso não tenha o dado, coloque NS e quando não houver docente ou aluno, coloque zero.
Educação Infantil
Ensino Fundamental
Ensino Médio
No. de
docentes
No. de
alunos
No. de
docentes
No. de
alunos
No. de
docentes
No. de
alunos
Federal
Estadual
Municipal
Particular
Comunitária
TOTAL
Fonte: Ano:
2
166
9. Como está organizado o Ensino Fundamental no Município?
( ) Em séries quantas? [__________] quais? [______________________________________]
( ) Em ciclos quantas? [__________] quais? [______________________________________]
10. Com que idade as crianças ingressam no Ensino Fundamental?
1 - ( ) 6 anos 2 - ( ) 7 anos
11. Para ingressar no Ensino Fundamental é necessário algum pré-requisito?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Sim. Quais? [______________________________________________
_________________________________________________________________________________________]
12. Caso seja necessário algum pré-requisito, ele é definido por qual instrumento legal?
1 - ( ) Lei Orgânica do Município
2 - ( ) Portaria da Secretaria Municipal de Educação
3 - ( ) Outro – qual? [________________________________________________________________]
13. De acordo com os dados disponíveis, informe o número de crianças, de 0 a 10 anos,
matriculados em 1999, na rede municipal, por modalidade de ensino e série. (Favor indicar a fonte e o ano
da última atualização)
Obs. 1: Caso o Ensino Fundamental do Município esteja organizado por ciclos, substituir, na tabela, a série pelo ciclo.
Obs. 2: Caso não tenha o dado, coloque NS e quando não houver aluno na modalidade de ensino, coloque zero.
Educação Infantil Ensino Fundamental
Faixa etária
Creche Pré-escola CA 1ª série série 3ª série 4ª série
Até 2 anos
2 a 3 anos
3 a 4 anos
4 a 5 anos
5 a 6 anos
6 a 7 anos
7 a 8 anos
8 a 9 anos
9 a 10 anos
Mais de 10 anos
TOTAL
Fonte:
Ano:
Cobertura da Educação Infantil no Município
14. Qual é a população de 0 a 6 anos do Município? [____________________________________]
Fonte: Ano:
3
167
15. Informe o mero de estabelecimentos de Educação Infantil e sua distribuição por instância
administrativa. (Favor indicar a fonte e o ano da última atualização).
Obs.: Caso não tenha o dado, coloque NS e quando não houver docente ou aluno, coloque zero.
EDUCAÇÃO INFANTIL
Número de
estabelecimentos
exclusivamente de
Educação Infantil
Creche Pré-escola
Número de
estabelecimentos que têm
Educação Infantil e outros
níveis de ensino
Número de
instituições (igrejas,
associações, clubes)
que têm turmas de
Educação Infantil
Federais
Estaduais
Municipais
Particulares
Comunitárias*
TOTAL
Fonte:
Ano:
*Incluir nesse item instituições conveniadas ou que mantenham parcerias com a Secretaria.
16. Informe o número de estabelecimentos, de turmas, de docentes, de alunos e de auxiliares de
Educação Infantil e sua distribuição em creches e pré-escolas. (Favor indicar a fonte e o ano da última
atualização).
Obs.: Caso não tenha o dado, coloque NS e quando não houver docente ou aluno, coloque zero.
EDUCAÇÃO INFANTIL
Estabelecimentos
exclusivamente de
Educação Infantil
Estabelecimentos de
Educação Infantil e de
outros níveis de ensino
Educação Infantil em
outras instituições
(igrejas, clubes,
associações)
Estabelecimentos
Turmas
Crianças
Docentes
Auxiliares
Estabelecimentos
Turmas
Crianças
Docentes
Auxiliares
Estabelecimentos
Turmas
Crianças
Docentes
Auxiliares
Creche
Pré-escola
Creche e
pré-escola
17. Quanto ao tempo de permanência diária das crianças nas creches municipais, quais as opções
oferecidas?
No. de horas
Horário parcial
Horário integral
Horário flexível por opção familiar
18. Quanto ao tempo de permanência diária das crianças nas pré-escolas municipais, quais as
opções oferecidas?
No. de horas
Horário parcial
Horário integral
Horário flexível por opção familiar
4
168
19. Qual é o limite de vagas por turma?
Turmas de crianças
Limite de vagas
Limite de vagas
De até 1 ano
De 2 – 3 anos
De 4 – 5 anos
De 6 anos
20. Existem turmas de creche (0 a 3 anos) na área rural?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Sim. Quantas? ___________
21. Existem turmas de pré-escola (4 a 6 anos) na área rural?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Sim. Quantas? ___________
III. Organização e funcionamento da Educação Infantil
22. A Secretaria possui um setor específico responsável pela Educação Infantil?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Sim
Como é denomidado? [_____________________________________________________]
(Caso a Secretaria possua uma equipe de acompanhamento pedagógico, responder as perguntas 23 a 25)
23. Essa equipe orienta os estabelecimentos de Educação Infantil (creche e pré-escola)?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Sim
24. Qual a freência desse acompanhamento aos estabelecimentos de Educação Infantil?
1 - ( ) semanal 2 - ( ) quinzenal 3 - ( ) mensal
4 - ( ) bimestral 5 - ( ) semestral
6 - ( ) outra – Qual? [_______________________________________________________]
25. Há profissionais específicos para a Educação Infantil nessa equipe?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Sim. Quantos profissionais? [________________]
26. Os estabelecimentos (creches e pré-escolas) possuem profissionais que acompanham / orientam
a Educação Infantil?
1- ( ) Não 2- ( ) Sim. Como é denominado? [____________________________]
IV. Formação dos Profissionais da Educação Infantil
27. A Secretaria de Educação implementa algum projeto de formação em serviço que envolva
profissionais da Educação Infantil?
1- ( ) Não 2- ( ) Sim
Caso a resposta anterior seja sim, responda da questão 28 até 35.
5
169
28. Que instituições estão envolvidas na formação desses profissionais?
(mais de uma opção pode ser assinalada)
1 - ( ) Secretaria Municipal de Educação.
2 - ( ) Secretaria Municipal de Cultura.
3 - ( ) Secretaria Municipal de Assistência / Desenvolvimento / Promoção Social.
4 - ( ) Secretaria Municipal de Saúde.
5 - ( ) Outra secretaria municipal. Qual? [_________________________________]
6 - ( ) Instituição estadual. Qual? [_________________________________]
7 - ( ) Instituição federal. Qual? [_________________________________]
8 - ( ) Instituição particular. Qual? [_________________________________]
9 - ( ) Outra. Qual? [_________________________________]
29. Quem planeja essa formação? (mais de uma opção pode ser assinalada)
1 - ( ) Secretaria Estadual de Educação.
2 - ( ) Secretaria Municipal de Educação.
3 - ( ) Diretores de creches, pré-escolas e escolas.
4 - ( ) Coordenadores / orientadores pedagógicos.
5 - ( ) Professores.
6 - ( ) Universidade. Qual? [_________________________________]
7 - ( ) Outros. Qual? [_________________________________]
30. Quem participa dessa formação? (mais de uma opção pode ser assinalada)
1 - ( ) Professores.
2 - ( ) Normalistas.
3 - ( ) Auxiliares.
4 - ( ) Estudante de nível Superior.
5 - ( ) Outros. Quais? [_________________________________]
31. Que temas vêm sendo abordados na formação desses profissionais nos últimos três anos?
(mais de uma opção pode ser assinalada)
1 - ( ) Fundamentos (Psicologia, Filosofia, Sociologia, etc).
2 - ( ) Aspectos didáticos-pedagógicos (Práticas cotidianas).
3 - ( ) Aspectos ligados à arte e cultura (literatura infantil, teatro, música).
4 - ( ) Aspectos administrativos.
5 - ( ) Relações com a família e a comunidade.
6 - ( ) Saúde e alimentação.
7 - ( ) Outros. Quais? [_________________________________]
32. Essa formação em serviço é realizada através de:
1 - ( ) Curso de formação inicial.
2 - ( ) Cursos sobre temas específicos.
3 - ( ) Oficinas.
4 - ( ) Palestras.
5 - ( ) Grupos de estudos nas creches, pré-escolas ou escolas.
6 - ( ) Eventos ( seminários, congressos).
7 - ( ) Outros. Quais? [_________________________________]
6
170
33. Ao organizar a formação em serviço, que fatores são considerados prioritários?
1 - ( ) Socialização dos profissionais
2 - ( ) Conhecimentos produzidos na área (publicações, livros, revistas)
3 - ( ) Necessidades identificadas pela Secretaria
4 - ( ) Conhecimentos vinculados em cursos, congressos, seminários
5 - ( ) Sugestões das falias e comunidade
6 - ( ) Outros. Quais? [_________________________________]
34. Existem eventos ou projetos de formação em serviço em instituições culturais?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Sim
35. Caso afirmativo, relacionar esses eventos e projetos:
36. A Secretaria implementa projeto específico de formação em serviço para os professores da
Educação Infantil?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Sim
37. A Secretaria implementa projeto específico de formação em serviço para os auxiliares da
Educação Infantil?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Sim
38. A Secretaria elaborou documento(s) sobre a formação dos profissionais da Educação Infantil
(propostas, textos legais, publicações, outros materiais)?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Sim
39. Caso a resposta anterior seja sim, favor anexar esses documentos.
40. A Secretaria de Educação mantém parcerias com outras instituições ( universidades, faculdades,
igrejas etc) para a formação em serviço dos profissionais da Educação Infantil?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Sim
(Caso a resposta anterior seja sim, responda as questões 41 e 42)
41. Com que instituições?
42. Como funcionam essas parcerias?
V. Ingresso e Carreira
43. Qual a formação mínima exigida pela Secretaria para ingressar na Educação Infantil?
Ensino Médio
1 – Ensino
Fundamental
2 – Magistério
3 – Estudos
Adicionais
4 – Ensino
Superior
Auxiliares
Professores
44. Em caso de concurso blico, existe prova específica para a Educação Infantil?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Sim
7
171
45. O Município possui um plano de carreira?
1 - ( ) Não.
2 - ( ) Em processo de elaboração.
3 - ( ) Em processo de regulamentação.
4 - ( ) Sim.
(Caso a resposta anterior seja sim, responder as questões 46 e 47)
46. Quando foi aprovado?[__________________________________________________________]
47. Como os diferentes profissionais da Educação Infantil estão enquadrados no plano?
48. Favor anexarpia do plano.
49. Como os profissionais da Educação Infantil estão distribuídos em relação ao vínculo empregatício?
Obs.: Caso não tenha o dado, coloque NS. Quando não houver auxiliares ou docentes relativos aos vínculos, coloque zero.
Estatutário Celetista
Contrato
temporário
Outros
(quais?)
Total
Auxiliares
Professores
50. Qual é o mecanismo de nomeação de diretor de creche e pré-escola?
1 - ( ) Indicação. 2 - ( ) Eleição. 3 - ( ) Concurso. 4 - ( ) Outros.
51. Qual é o tempo de mandato do diretor? [___________________________________________]
52. Há requisito mínimo para exercício da função de diretor de creche e pré-escola?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Sim
53. Caso afirmativo, quais são esses requisitos?
54. Qual a formação mínima exigida para ser diretor na Educação Infantil?
Ensino Médio
1 – Ensino
Fundamental
2 – Magistério
3 – Estudos
Adicionais
4 – Ensino
Superior
Diretor de Creche
Diretor de Pré-escola
8
172
55. Qual é a distribuição da carga horária semanal de professores e auxiliares que atuam na
Educação Infantil?
Obs.: Caso não tenha o dado, coloque NS. Quando não houver carga horária destinada a atividade, coloque zero.
Professores / carga horária Auxiliares / carga horária
Em
atividades
diretas com
a criança
Em
atividades
de
formação*
Em atividades
de
planejamento*
Em
atividades
diretas com
a criança
Em
atividades
de
formação*
Em atividades
de
planejamento*
Creche
Pré-escola
*Caso necessário, complemente com outras informações:
56. Qual é o piso salarial desses profissionais?
Auxiliar
R$
Professor
R$
Diretor
R$
VI. Recursos Financeiros e Materiais
57. A Secretaria dispõe, para a Educação Infantil, de quais fontes de recursos financeiros?
1 - ( ) Orçamento Municipal.
2 - ( ) Convênios com o MEC.
3 - ( ) Convênios com ONG’s ou agências filantrópicas (Rotary, ABRINQ, etc).
4 - ( ) Convênios com órgãos internacionais (UNESCO, Banco Mundial etc).
5 - ( ) Outros. Quais? [_________________________________]
58. A Secretaria de Educação mantém convênios com creches que não pertençam à rede municipal
de educação?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Sim
59. Caso afirmativo, indique a forma de apoio dado pela Secretaria às creches e o número de
instituições beneficiadas por cada forma.
Forma de apoio
Número de instituições
( ) Cessão de professores.
( ) Cessão de espaço físico / pagamento de aluguel.
( ) Fornecimento de material didático-pedagógico.
( ) Fornecimento de merenda.
( ) Fornecimento de transporte escolar.
( ) Capacitação de pessoal.
( ) Pagamento de ajuda de custos ou similares.
( ) Outros.
60. Existe(m) outra(s) Secretaria(s), no Município, que mantêm creches conveniadas?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Sim
(Caso a resposta anterior seja sim, responda as questões 66 e 67)
9
173
61. Qual / quais?
62. Quantas creches são atendidas?
63. A Secretaria de Educação mantém convênios com pré-escolas que não pertençam à rede
municipal de educação?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Sim
64. Caso afirmativo, indique a forma de apoio dado pela Secretaria às pré-escolas e o número de
instituições beneficiadas por cada forma.
Forma de apoio
Número de instituições
( ) Cessão de professores.
( ) Cessão de espaço físico / pagamento de aluguel.
( ) Fornecimento de material didático-pedagógico.
( ) Fornecimento de merenda.
( ) Fornecimento de transporte escolar.
( ) Capacitação de pessoal.
( ) Pagamento de ajuda de custos ou similares.
( ) Outros.
65. Existe(m) outra(s) Secretaria(s), no Município, que mantêm pré-escolas conveniadas?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Sim
(Caso a resposta anterior seja sim, responda as questões 66 e 67)
66. Qual / quais?
67. Quantas p-escolas são atendidas?
68. A Secretaria fornece material permanente (mobiliário, livros, equipamentos, brinquedos, etc) para
as creches e pré-escolas municipais?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Sim
69. Caso afirmativo, que tipo de material, a quantidade e a freqüência?
Tipo de Material Quantidade Freqüência
70. A Secretaria fornece material de consumo (papel, lápis, tinta, etc) para as creches e pré-escolas?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Sim
71. Caso afirmativo, que tipo de material, a quantidade e a freqüência?
Tipo de Material Quantidade Freqüência
10
174
VII. Instituições / Agências Culturais ou Sociais
72. Quais das instituições abaixo existem no Município?
Instituições
Número existente no município
( ) Biblioteca pública.
( ) Livraria.
( ) Cinema.
( ) Clube / Associação.
( ) Centro cultural.
( ) Teatro.
( ) Museu.
( ) SESC.
( ) SESI.
( ) Outras. Quais?
73. A Secretaria desenvolve atividades com essas instituições?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Sim
74. Caso afirmativo, quais atividades?
Você gostaria de acrescentar outras informões ou comentários?
11
175
Anexo 3
176
Anexo 4
Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ
Faculdade de Educação
Programa de Pós-Graduação em Educação
Projeto de Pesquisa
“Contextos Infantis de Construção do Conhecimento e Formação
da Subjetividade da Criança e do Educador”
Coord.: Vera Maria Ramos de Vasconcellos
Questionário dos objetivos educacionais
Rio de Janeiro – RJ
2005
177
IDENTIFICAÇÃO
Nome da Escola:
Endereço:
Nome do Professor(a):
Sexo: Masculino ( ) Feminino ( )
Data de nascimento:
OBJETIVOS EDUCACIONAIS
Por favor, leve para casa e complete, com suas palavras, o que cada termo significa para você. Não
use sinônimo, explique com frases. E nos devolva na próxima visita.
1) Autonomia:
2) Criatividade:
3) Concentrão:
4) Responsabilidade:
5) Interação:
178
6) Obediência:
7) Independência:
8) Iniciativa:
9) Disciplina:
10) Tolerância:
11) Auto-realização:
12) Sensibilidade:
13) Cooperação:
179
Anexo 5
180
Apêndice 1
Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Departamento de Educação – Campus I
Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade
Projeto de Pesquisa
“Projeto de Pesquisa: Estudos Sobre a Educação Infantil Pública
no Município de Teixeira de Freitas – Bahia”
Mestranda: Karina de Oliveira Santos Cordeiro
Orientadora: Profa. Dra. Liana Gonçalves Pontes Sodré
Questionário aos profissionais municipais da Educação Infantil de
Teixeira de Freitas – Bahia
Tema: Perfil Docente
Salvador – Bahia
Set. 2005
181
IDENTIFICAÇÃO
Nome da Escola:
Endereço:
Nome do Professor(a):
Sexo: Masculino ( ) Feminino ( )
Data de nascimento:
1. Qual o tempo de atuação na Educação Infantil?
1 - ( ) de 6 meses a 1 ano
2 - ( ) de 1 a 2 anos
3 - ( ) de 2 a 3 anos
4 - ( ) de 3 a 5 anos
5 - ( ) de 5 a 10 anos
6 - ( ) mais de 10 anos
2. Por que optou pela Educação Infantil?
1 - ( ) vocação
2 - ( ) condições favoráveis para conseguir emprego
3 - ( ) salário
4 - ( ) falta de opção
5 - ( ) outro Qual? [____________________________________________________________]
3. Qual o seu vínculo empregatício com a Secretaria Municipal de Educação?
1 - ( ) estatutário
2 - ( ) celetista
3 - ( ) contrato temporário
4 - ( ) outros Qual? [____________________________________________________________]
4. Qual a formação acadêmica?
1 - ( ) Ensino Médio (magistério)
2 - ( ) Ensino Médio (formação geral)
3 - ( ) Superior Qual curso? [________________________________________________]
4 - ( ) Pós-graduação Qual especialização? [________________________________________ ]
(Caso a resposta anterior seja Ensino dio, responda a questão 5)
5. Tem pretensões em dar continuidade aos estudos?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Sim / Qual curso? [_______________________________________________]
182
6. Quais atividades complementares você fez nos últimos anos para integrar a sua a formação?
1 - ( ) participação em eventos( congresso, seminário)
2 - ( ) curso de formação inicial
3 - ( ) palestras
4 - ( ) oficinas
5 - ( ) curso de formação em serviço
6 - ( ) outro Qual? [_____________________________________________________________]
7. Você está satisfeito (a) com a sua prática profissional?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Sim
8. Assinale abaixo um ou mais aspecto(s) que podem contribuir para a atuação do profissional da
Educação Infantil?
1 - ( ) melhores salários
2 - ( ) cursos complementares de formação
3 - ( ) mais tempo para estudo e planejamento
4 - ( ) diminuir o número de crianças por sala
5 - ( ) material didático variados
6 - ( ) espaço para desenvolver atividades diversificadas
7 - ( ) outro Qual? [_____________________________________________________________]
9. A Secretaria de Educação oferece curso formação em serviço para os profissionais da Educação
Infantil?
1- ( ) Não 2- ( ) Sim
(Caso a resposta anterior seja sim, responda da questão as perguntas 10 a 17)
10. Que instituições estão envolvidas nessa formação? (mais de uma opção pode ser assinalada)
1 - ( ) Secretaria Municipal de Educação
2 - ( ) Secretaria Municipal de Cultura
3 - ( ) Secretaria Municipal de Assistência/Desenvolvimento/ Promoção Social
4 - ( ) Secretaria Municipal de Saúde
5 - ( ) outras quais? [_______________________________________________________________]
11. Quem planeja essa formação? (mais de uma opção pode ser assinalada)
1 - ( ) Secretaria Municipal de Educação
2 - ( ) Secretaria Estadual de Educação
3 - ( ) Diretores das pré-escolas
4 - ( ) Coordenadores/ orientadores pedagógicos
5 - ( ) Professores
6 - ( ) Universidade – qual? [__________________________________________________________]
7 - ( ) outros quais? [_______________________________________________________________]
183
12. Quem participa dessa formação? (mais de uma opção pode ser assinalada)
1 - ( ) Professores
2 - ( ) Normalistas
3 - ( ) Auxiliares
4 - ( ) Estudante de nível Superior
5 - ( ) outros quais? [_______________________________________________________________]
13. Que temas vêm sendo abordados durante essa formação? (mais de uma opção pode ser
assinalada)
1 - ( ) Fundamentos ( Psicologia, Filosofia, Sociologia etc)
2 - ( ) Aspectos didáticos-pedagógicos ( Práticas cotidianas)
3 - ( ) Aspectos ligados à arte e cultura( literatura infantil, teatro, música)
4 - ( ) Aspectos administrativos
5 - ( ) Relações com a família e a comunidade
6 - ( ) Saúde e alimentação
7 - ( ) outros quais? [_______________________________________________________________]
14. Essa formação em serviço é realizada através de:
1 - ( ) Curso de formação inicial
2 - ( ) Curso sobre temas específicos
3 - ( ) Oficinas
4 - ( ) Palestras
5 - ( ) Grupos de estudos nas pré-escolas ou escolas
6 - ( ) eventos ( seminários, congressos)
7 - ( ) outros quais? [_______________________________________________________________]
15. Esses cursos de formação são realizados com que freqüência?
1 - ( ) semanal 2 - ( ) quinzenal 3 - ( ) mensal
4 - ( ) bimestral 5 - ( ) semestral 6 - ( ) outro – qual? [______________________]
16. Você considera que os temas abordados durante esses cursos de formação são suficientes para
a sua atuão profissional?
1 - ( ) Não 2 - ( ) Sim
(Caso a resposta anterior seja não, responda a questão 17)
17. Qual é o tema de seu interesse que você gostaria que fosse abordado durante esses cursos?
.
184
18. Qual é a distribuição da sua carga horária semanal? (Quando não houver carga horária destinada à
atividade, coloque zero).
Educação Infantil (Pré-escola) - Professor
Número de horas
Em atividades diretas com a criança.
Em atividades de formação.
Em atividades de planejamento.
19. Quais as dificuldades vivenciadas no seu dia-a-dia com as crianças da pré-escola?
Livros Grátis
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Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
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Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
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Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
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Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
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Baixar livros de Turismo