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do inconsciente.
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Entretanto, tal definição, embora precisa, não apresenta o
sentido da interpretação na psicanálise tradicional, bem como a evolução da
técnica interpretativa e importantes aspectos ligados a ela.
Para Freud, os distúrbios psíquicos são compreendidos em termos do
inconsciente recalcado, ou, em outra linguagem, como as lacunas nas cadeias de
atos conscientes. Para ele, o homem conta com um lado físico e outro psíquico,
ambos fazendo parte de uma mesma realidade (natural), a qual tem seus
constituintes conectados por relações temporais e causais contínuas. As lacunas
são indícios de que os elos de ordens temporal e causal, que são as
representações psíquicas, foram suprimidos da consciência por fatores dinâmicos
(Loparic 1999c, p. 339). Portanto, o analista freudiano tem como tarefa recuperar
os elos temporais e causais perdidos, geradores de sintomas a serem eliminados.
Faz isso a partir de indícios do inconsciente recalcado, local dos estados psíquicos
originados pela repressão. “A cura consiste no restabelecimento da boa ordem e
da continuidade temporal e causal nas cadeias psíquicas mediante o
preenchimento, na situação específica da transferência, das lacunas pelos elos
inconscientes que faltavam” (Loparic 1999c, p. 340).
Podemos ainda dizer que a teoria freudiana repousa sobre um princípio de
representabilidade dos estados da consciência (Loparic 1999c, p. 342),
compreendendo que os atos da consciência e os objetos desses atos são
representáveis. Podemos destacar, resumidamente, as representações por
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É importante citar outra modalidade do trabalho analítico em Freud, chamada construção. Segundo
Laplanche e Pontalis, construção vem a ser o: “Termo proposto por Freud para designar uma elaboração do
analista mais extensiva e mais distante do material que a interpretação, e essencialmente destinada a
reconstituir nos seus aspectos simultaneamente reais e fantasísticos uma parte da história infantil do sujeito”
(Laplanche 1967, p. 97).
O uso da construção, segundo Freud, legitima-se pela dificuldade em alcançar o objetivo do
tratamento quando há a necessidade de uma rememoração total com a eliminação da amnésia infantil, de
modo que o analista seja levado a elaborar construções propondo-as ao paciente que, quando precisas, podem
fazer ressurgir conteúdos ou fragmentos de conteúdos recalcados. Mesmo quando não alcança esse resultado,
a construção tem importância terapêutica ao fazer surgir uma firme convicção de sua verdade, em uma análise
bem conduzida, adquirindo o mesmo valor de uma lembrança reencontrada. (Laplanche 1967, p. 98). Em
outras palavras, quando a interpretação que alcança o conteúdo recalcado não é possível, o analista pode fazer
uso da construção visando o mesmo objetivo da interpretação: lançar luz sobre o que foi reprimido,
reconstituindo e até mesmo construindo a história do analisando.
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