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Devido a essa transposição nós nos situamos constantemente no plano
alegórico, justificando o uso dessa família de objetos. Tudo aquilo que diz
respeito à água é que adquire então outra significação e dá lugar a todo
tipo de trocadilhos e brincadeiras... mas tratamos também de um tema de
extrema gravidade e de uma atualidade preocupante: a falta d’água.
(RASSA, 2008, online, tradução nossa)
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O grupo deixa explícita a consciência do potencial que o objeto engendra na
produção de alegorias ou metáforas que, por conseguinte, podem ser incorporadas
à dramaturgia.
Consideramos ainda relevante transcrever outras palavras que apresentam
um olhar sobre a escuta do objeto, reflexão que evidencia a base sobre a qual o
grupo erigiu o espetáculo L’Avar:
Com efeito, os objetos que os homens criam têm, todos, algum resquício
da humanidade que os engendrou. A simetria, por exemplo, se encontra
tanto no corpo humano quanto em uma torneira, em uma cadeira e
mesmo em uma árvore ou nas nervuras que estruturam suas folhas.
O uso que faz o homem também define o objeto e o dotar de alavancas,
por exemplo, é deixar aí a marca humana. Assim, se observarmos com
atenção uma torneira, poder-se-á encontrar nela uma fisionomia, uma
máscara e uma sorte de personalidade. Resta em seguida encontrar um
tema que convenha ao gênero de objetos que utilizamos e que, ao
mesmo tempo que os justifica, lhes dá matéria para jogar. (RASSA, 2008,
online, tradução nossa)
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.
O grupo aponta um aspecto importante da relação da humanização do objeto.
O homem historicamente transforma a natureza, humanizando o meio habitado à
medida que constrói objetos que contêm sua marca. Marcas de suas necessidades,
de distintos estágios e processos de criação, marcas do contexto e organização
social em que vive. Desse modo, o objeto é impregnado de humanidade que pode
ser “escutada” pelo artista na criação da personagem interpretada com o objeto.
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Dans notre cas c’est l’eau qui sert d’axe à notre adaptation. Les personnages de cette comédie ne
convoitent plus l’argent mais ce précieux liquide, il ne sont pas fauchés mais à sec. C’est pourquoi
tous les personnages sont des objets qui ont une relation avec l’eau: des robinets, des tubes en PVC,
des bouteilles etc.
Grâce à cette transposition nous nous situons constamment sur le plan allégorique tout en justifiant
l’usage de cette " famille" d’objets. C’est tout ce qui a trait à l’eau qui acquiert alors une autre
signification et donne lieu à toute sorte de jeux de mots et facéties... mais nous traitons aussi d’un
thème d’une extrême gravité ainsi que d’une actualité préoccupante: le manque d’eau.
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En effet, les objets que créent les hommes ont tous quelque reste de l’humanité qui les a
engendrés. La symétrie par exemple se retrouve aussi bien dans le corps humain que dans un
robinet, une chaise et même un arbre ou les nervures qui structurent ses feuilles. L’usage qu’en fait
l’homme aussi définit l’objet et le munir de manettes par exemple, c’est y laisser l’empreinte humaine.
Ainsi, si l’on observe avec attention un robinet on peut lui trouver une physionomie, un masque et une
sorte de personnalité. Reste ensuite à trouver un thème qui convienne au genre d’objets que l’on
utilise et qui ,tout en les justifiant, leur donne matière à jouer.