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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: GESTÃO DE NEGÓCIOS
FERNANDA MARIA FELÍCIO MACEDO BOAVA
ESTUDO SOBRE O EMPREENDEDORISMO NA INCUBADORA TECNOLÓGICA
DE MARINGÁ, A PARTIR DA FENOMENOLOGIA SOCIAL DE ALFRED SCHÜTZ
Londrina
2007
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1
FERNANDA MARIA FELÍCIO MACEDO BOAVA
ESTUDO SOBRE O EMPREENDEDORISMO NA INCUBADORA TECNOLÓGICA
DE MARINGÁ, A PARTIR DA FENOMENOLOGIA SOCIAL DE ALFRED SCHÜTZ
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
em Administração do Programa de Pós-
Graduação em Administração (PPA-UEL/UEM),
área de concentração: Gestão de Negócios, como
requisito parcial para a obtenção do tulo de
Mestre em Administração.
Linha de pesquisa: Empreendedorismo
Orientadora: Profª. Drª. Elisa Yoshie Ichikawa
Londrina
2007
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2
Catalogação na publicação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos da
Biblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina.
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
B662e Boava, Fernanda Maria Felício Macedo.
Estudo sobre o empreendedorismo na incubadora tecnológica de
Maringá, a partir da fenomenologia social de Alfred Schütz / Fernanda
Maria Felício Macedo Boava. – Londrina, 2007.
187f. : il.
Orientador: Elisa Yoshie Ichikawa.
Dissertação (Mestrado em Administração) Universidade Estadual de
Londrina, Centro de Estudos Sociais Aplicados, Programa de Pós-
Graduação em Administração, 2007.
Bibliografia: f. 154-161.
1. Empreendedorismo – Fenomenologia – Teses. 2.
Entrepreneurship – Teses. 3. Incubadoras de empresas – Maringá (PR) –
Teses. 4. Empresários e inovações tecnológicas – Teses. I. Ichikawa,
Elisa Yoshie. II. Universidade Estadual de Londrina. Centro de Estudos
Sociais Aplicados. Programa de Pós-Graduação em Administração.
III. Universidade Estadual de Maringá. IV. Título.
CDU 658.012.4
3
FERNANDA MARIA FELICIO MACEDO BOAVA
ESTUDO SOBRE O EMPREENDEDORISMO NA INCUBADORA TECNOLÓGICA
DE MARINGÁ, A PARTIR DA FENOMENOLOGIA SOCIAL DE ALFRED SCHÜTZ
Dissertação aprovada como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em Administração no
Programa de Pós-Graduação em Administração
(PPA-UEL/UEM), pela banca examinadora
composta pelos professores:
Elisa Yoshie Ichikawa
Orientadora – PPA/UEM
Fernando Antônio Prado Gimenez
Convidado – UNICENP
Paulo da Costa Lopes
Membro – PPA/UEL
4
DEDICATÓRIA
A Diego Boava; ser livre
e eterno apaixonado pelo saber.
5
AGRADECIMENTOS
A Deus, que por seu infinito amor concedeu-nos o livre-arbítrio.
A querida Professora Elisa, a quem dedico uma admiração incondicional, por
apresentar uma inteligência que está além das idéias e dos conhecimentos
positivos. Minha eterna gratidão pelas orientações e por me aceitar como sou.
Ao meu amado Diego, fonte inesgotável de inspiração. Metade perdida no corte.
A minha família, pelo amor, apoio, incentivo e estabilidade.
Ao Professor Paulo, pelas valorosas contribuições e singular alegria.
A Professora Cristiane, pela sabedoria ao escolher viver intensamente a existência.
Aos docentes do Programa de Mestrado UEM-UEL, pelos ensinamentos.
Aos empresários da Incubadora Tecnológica de Maringá, pela colaboração.
Ao Francisco, pela amizade e paciência.
Ao Romério, Jorge e Jaime, queridos mestres e companheiros de luta.
6
"Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância."
Sócrates
"Uma vida não questionada não merece ser vivida."
Platão
"Você faz suas escolhas e suas escolhas fazem você.”
Shakespeare
“Aquilo que não me destruir me tornará mais forte.
Nietchzche
7
RESUMO
BOAVA, F. M. F. M. Estudo sobre o empreendedorismo na incubadora
tecnológica de Maringá, a partir da fenomenologia social de Alfred Schütz.
Londrina, 2007. 187 p. Dissertação (mestrado em administração), UEL
Universidade Estadual de Londrina.
O empreendedorismo vem se consolidando como uma atividade marcante no meio
empresarial contemporâneo, por ser capaz de impulsionar a criação de empresas de
caráter inovador. Nesse cenário, passa a despertar o interesse da comunidade
científica, que pesquisa tal atividade considerando, primordialmente, seus aspectos
econômicos e/ou comportamentais. Todavia, o presente trabalho visa abordar o
empreendedorismo em uma perspectiva distinta, a partir dos pressupostos da
fenomenologia social. Dessa forma, pretende-se discutir o empreendedorismo a
partir do significado que os empreendedores da Incubadora Tecnológica de Maringá
atribuem a esse fenômeno. Para isso, investiga-se os motivos “para” e “motivos
porque” presentes na ação empreendedora. Tais motivos conduzirão à construção
de um esquema interpretativo típico ideal do empreendedorismo. A relevância desse
estudo consiste em abordar o empreendedorismo como um fenômeno que existe em
função da sociedade, podendo evidenciar que a sua essência transcende os limites
da individualidade, posto que o pensamento fenomenológico social se fundamenta
na consciência da existência do outro. Foram realizadas entrevistas semi-
estruturadas com seis empresários da Incubadora Tecnológica de Maringá, sendo
os dados analisados a partir dos pressupostos da abordagem fenomenológica de
Sanders (1982), que procura tornar explícita a estrutura e o significado implícito da
experiência humana. Conclui-se que o significado da ação empreendedora não é
algo isolado, estando vinculado a vários fatores relacionados ao curso da vida do
empreendedor. Assim, a ação não se encontra estática na incubadora, considerando
que o seu mentor, o empreendedor que lhe confere significado, é um ser social que
está em contínuo processo de construção e interação com os demais.
Palavras-chave: empreendedorismo; empreendedor; fenomenologia social; tipo
ideal.
8
ABSTRACT
BOAVA, F. M. F. M. A study about the entrepreneurship at the technological
incubator of Maringá, from the social phenomenology of Alfred Schütz.
Londrina, 2007. 187 p. Dissertation (Master’s Degree in Business Administration)
UEL – Universidade Estadual de Londrina.
The entrepreneurship has been consolidating itself as an outstanding activity in the
current business milieu, for its capability to boost the creation of innovating character
businesses. In this scenario, it starts to interest the scientific community that surveys
such an activity, considering mainly its economical and/or behavioral aspects.
However, the current work aims to approach the entrepreneurship in a distinctive
perspective, from the principles of the social phenomenology. This way, we intend to
discuss the entrepreneurship from the meaning that the entrepreneurs from the
Technology Incubator of Maringa associate to this phenomenon. For that,
investigated the reasons “to” and “why” present in the entrepreneurship action
motives. Such motives will lead to a construction of an ideal and typical interpretation
scheme of entrepreneurship. The relevance of this study consists in approaching the
entrepreneurship as a phenomenon that exists because of the society, and it can
evidence that its essence transcends the individual limits, because the
phenomenological thought is based on the conscience of the existence of the other
individual. Semi-structured interviews were conducted with six entrepreneurs of the
Technological Incubator of Maringa, and the data were analyzed from the principles
of the phenomenological approach of Sanders (1982), that tries to become explicit
the structure and the implicit meaning of the human experience. We conclude that
the meaning of the entrepreneurship action is not something isolated, and it is
connected to several factors related to the course of the entrepreneur’s life. So, the
action is not static at the incubator, considering that its mentor, the entrepreneur, that
conveys a meaning, is a social being who is in a permanent construction process and
interacting with the others.
Key words: entrepreneurship, entrepreneur, social phenomenology, ideal type.
9
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Enfoque de pesquisas sobre empreendedorismo........................................
30
Quadro 2 Natureza do empreendedorismo..................................................................
32
Quadro 3 Perspectivas analíticas do empreendedorismo........................................... 36
Quadro 4 Características comportamentais empreendedoras (CCE´S)......................
46
Quadro 5 Pensamentos e ações empreendedoras..................................................... 48
Quadro 6 Suporte a formação da visão empreendedora.............................................
50
Quadro 7 Síntese das escolas de pensamento acerca do empreendedorismo.......... 52
Quadro 8 Tipos de empreendedores...........................................................................
61
Quadro 9 Níveis de pesquisa.......................................................................................
63
Quadro 10 Diferenças entre administrador e empreendedor.........................................
67
Quadro 11 Requisitos para criação de uma incubadora de empresas..........................
108
Quadro 12 Tipos de incubadoras brasileiras................................................................. 111
Quadro 13 Recorrência das unidades temáticas...........................................................
138
10
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Processo de formação da visão empreendedora........................................... 49
Figura 2 Pólos metodológicos.......................................................................................
88
Figura 3 Objetivos da incubadora de empresas............................................................
109
Figura 4 Localização da cidade de Maringá..................................................................
121
Figura 5 Intersubjetividade na ação empreendedora................................................... 143
Figura 6 Esquema interpretativo típico ideal do empreendedorismo............................
147
11
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 Progressão do número de incubadoras no Brasil entre 1988-2005................
106
Gráfico 2 Área de atuação das incubadoras em operação em 2005............................. 112
Gráfico 3 Existência de programas de pré-incubação....................................................
117
Gráfico 4 Número de incubadoras por fase de constituição...........................................
120
12
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................ 14
1.1 Problema de Pesquisa.............................................................................................. 21
1.2 Relevância................................................................................................................ 23
1.3 Objetivos................................................................................................................... 24
1.4 Estrutura da Dissertação...........................................................................................
25
2. EMPREENDEDORISMO............................................................................................ 27
2.1 Definindo Empreendedorismo...................................................................................
27
2.2 A Pesquisa em Empreendedorismo..........................................................................
31
2.2.1 Explicação.................................................................................................. 37
2.2.1.1 Economistas.................................................................................. 37
2.2.1.2 Comportamentalistas..................................................................... 37
2.2.2 Compreensão............................................................................................. 54
2.2.3 Explicação x Compreensão........................................................................ 60
2.3 O Empreendedorismo na Sociedade Contemporânea............................................. 65
3. SOBRE O MÉTODO................................................................................................... 69
3.1 Fenomenologia......................................................................................................... 70
3.2 Sociologia Compreensiva......................................................................................... 72
3.3 Fenomenologia Social.............................................................................................. 75
3.3.1 Fundamentos – Intersubjetividade no Mundo da Vida............................... 75
3.3.2 A Motivação Presente na Ação Social....................................................... 80
3.3.3 O Tipo Ideal na Pesquisa Social................................................................ 85
4.TRAJETÓRIA DA PESQUISA.................................................................................... 91
4.1 Delineamento da Pesquisa....................................................................................... 91
4.2 Perguntas de Pesquisa............................................................................................. 93
4.3 Sujeitos da Investigação........................................................................................... 94
4.4 Coleta de Dados....................................................................................................... 95
4.5 Procedimentos de Análise dos Dados...................................................................... 97
13
5. INCUBADORA DE EMPRESAS................................................................................ 103
5.1 Origem e Conceituação de Incubadora.................................................................... 103
5.2 Tipos de Incubadora................................................................................................. 110
5.3 Processo de Incubação.............................................................................................
115
5.4 Incubadora Tecnológica de Maringá.........................................................................
120
6. ANÁLISE DA AÇÃO EMPREENDEDORA................................................................ 124
6.1 Apresentação e Interpretação das Unidades Temáticas.......................................... 126
6.2 Síntese das Unidades de Significação......................................................................
135
6.3 Os motivos da ação empreendedora........................................................................ 138
6.4 Esquema Interpretativo Típico Ideal do Empreendedorismo.................................... 145
7. CONCLUSÃO............................................................................................................. 150
REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 154
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR.............................................................................. 161
APENDICES................................................................................................................... 162
I – Alfred Schütz..............................................................................................................
162
II – O Dizer dos Empreendedores...................................................................................
166
ANEXO........................................................................................................................... 172
I – Estatuto da Incubadora de Base Tecnológica de Maringá........................................ 173
14
1. INTRODUÇÃO
Atualmente, as discussões acerca do empreendedorismo e seus desdobramentos
encontram-se em voga, devido principalmente às indicações que apontam ser o
empreendedorismo um dos mais significativos fatores críticos de sucesso para o
desenvolvimento econômico, geração de renda e riqueza para as nações.
Devido a esses fatores críticos foram criados vários programas e órgãos de apoio à
prática empreendedora. Dentre esses, pode-se citar as incubadoras de empresas
que visam gerar um ambiente propício para o desenvolvimento de ações
empreendedoras, através do incentivo à inovação. Segundo Smilor (1987, p.146) a
incubadora procura unir efetivamente talento, tecnologia, capital e conhecimento
para alavancar o talento empreendedor, acelerar a comercialização de tecnologia e
encorajar o desenvolvimento de novas empresas.
Dessa forma, o empreendedorismo se estabelece como um fenômeno marcante na
cultura empresarial da sociedade contemporânea, por ser capaz de impulsionar a
criação de empresas de caráter inovador. Assim, sob essa perspectiva, observa-se o
fortalecimento de uma relação entre empreendedorismo e crescimento econômico.
Tal relação acaba por transcender o cenário do ambiente de mercado, despertando
o interesse da comunidade acadêmica, passando a constituir um objeto de pesquisa
e/ou ensino em diversas universidades brasileiras e estrangeiras. Em âmbito
nacional, especificamente, esse interesse surge em meados da década de 1990
(DORNELAS, 2001).
15
Assim, o empreendedorismo, um fenômeno que já se manifestava no cerne do
ambiente cotidiano ou senso comum, passa a ser investigado com rigor
metodológico intrínseco à produção do conhecimento científico, ocasionando um
enriquecimento na compreensão das diversas dimensões do mesmo.
Devido ao seu estreito relacionamento com o ambiente empresarial, essa temática é
mais comumente abordada por pesquisadores pertencentes à área de conhecimento
em administração, porém outras ciências como a sociologia, psicologia, economia e
a antropologia também investigam o fenômeno em questão. Desse modo, verifica-se
que empreendedorismo apresenta um caráter multidisciplinar.
Em algumas instituições de ensino ocorre a inclusão da disciplina de
empreendedorismo em suas matrizes curriculares, na tentativa de estimular no
discente o desenvolvimento de habilidades empreendedoras que irão embasar sua
atividade no ambiente de negócios. Alguns países posicionam o ensino do
empreendedorismo como uma prioridade nas políticas governamentais, pois
vislumbram que esse é uma ferramenta indutora de inovações tecnológicas capazes
de garantir ao respectivo país uma economia competitiva no mundo globalizado.
Logo, a introdução do empreendedorismo no sistema educacional ocorreu em
função de uma necessidade de formação de capital intelectual voltado para a
inovação, sendo que essa pode ser compreendida como a conversão de
conhecimentos tecnológicos em novos produtos e processos, visando ao seu
lançamento eficaz no mercado.
16
Para Dolabela (1999, p.7) o ensino do empreendedorismo prioriza a capacidade do
ser humano de dar vida às ferramentas administrativas. Assim, no mundo
contemporâneo o ser humano busca transformar a visão que apresenta da
organização em que atua, pois pretende deixar de ser uma peça para ser um
agente. A partir disso, a organização passa a tratar seus funcionários como seres
dotados de potencialidades que precisam ser maximizadas.
Conforme visto, a questão da inovação é um fator de destaque no âmbito do
empreendedorismo. Tal fato pode se justificar na existência de várias análises
econômicas que reiteram que a transferência de tecnologia é a principal força motriz
do crescimento econômico nos países industrializados e, simultaneamente, um
relevante fator de contribuição para melhorias nos índices de desenvolvimento
social. Drucker (1986, p. 25) enfatiza que:
A inovação é o instrumento específico dos
empreendedores, o meio pelo qual eles exploram a
mudança como uma oportunidade para um negócio
diferente ou um serviço diferente. Ela pode ser
apresentada como uma disciplina, ser apreendida e ser
praticada. Os empreendedores precisam buscar, com
propósito deliberado, as fontes de inovação, as
mudanças e seus sintomas que indicam oportunidades
para que uma inovação tenha êxito. E os
empreendedores precisam conhecer e pôr em prática os
princípios da inovação bem-sucedida.
Desse modo, observa-se que a inserção do empreendedorismo no ensino, via de
regra, pretende atender a demanda do mercado por profissionais criativos. Para
Leite (2000, p. 534):
...ao sistema de ensino superior pede-se que seja capaz
de preparar futuros empreendedores para uma maior
mobilidade profissional e rotatividade entre as várias
opções de negócios, para as alternâncias criar-falir
empreendimentos, frente à incerteza e à
imprevisibilidade do mundo atual.
17
Por sua vez, no tocante à pesquisa sobre empreendedorismo, constata-se a
existência de produções que objetivam estudar aspectos e implicações desse
fenômeno que estão além de seus pontos de contato com a economia.
Isso se deve ao fato da prática empreendedora, além de questões como criação de
uma nova empresa, inovação, utilização de recursos, busca de oportunidades,
propensão ao risco, plano de negócios, abranger aspectos relacionados ao ser que
empreende, sua determinação, criatividade, expectativas, emoções, compreensão
de mundo, entre outros fatores subjetivos.
Nessa perspectiva, o processo empreendedor revela-se dinâmico e o-linear,
sendo o significado do empreendedorismo atribuído por empreendedores vistos
como agentes ativos que constroem uma identidade e identificam oportunidades
através de suas motivações, intenções, experiências atuais e perspectivas futuras.
Dessa maneira, homem, tempo e lugar tornam-se elementos essenciais desse
processo (HYTTI, 2005).
Assim, a figura do empreendedor emerge como um outro fator de destaque no
empreendedorismo, a exemplo da inovação. Muitos estudiosos afirmam existir um
perfil determinado do agente empreendedor, sendo esse fundamental para obtenção
de sucesso por parte das organizações empresariais. Na concepção de Gerber
(1996, p.31), a personalidade empreendedora transforma a condição mais
insignificante numa excepcional oportunidade.
18
Nesse cenário, a comunidade científica aborda o empreendedorismo, considerando
primordialmente, seus aspectos econômicos e/ou comportamentais. Nesse âmbito,
pode-se dizer que esses estudos sobre empreendedorismo tratam de temas
relacionados à inovação e perfil empreendedor que podem se desdobrar em
temáticas como identificação de oportunidades de negócios, criação de
empreendimentos, plano de negócios, formação empreendedora, entre outras.
Todavia, o presente trabalho busca abordar o empreendedorismo em uma
perspectiva distinta da economista e comportamentalista, a partir dos pressupostos
da fenomenologia social. Dessa forma, pretende-se discutir o empreendedorismo a
partir do significado que os empreendedores da Incubadora Tecnológica de Maringá
atribuem a esse fenômeno.
Porém, faz-se necessário destacar que para Alfred Schütz, idealizador da
fenomenologia social, é possível compreender um fenômeno a partir da ação
social correspondente ao mesmo, ou seja, o empreendedorismo deve ser
investigado segundo a ação empreendedora. A ação social é a vivência do
fenômeno. Assim, justifica-se a menção à incubadora de empresas, por essa ser o
meio social no qual o empresário incubado desenvolve sua ação empreendedora.
A ação nunca é isolada, desvinculada de outra ação, separada do mundo. Nesse
trabalho, observar-se-á ação empreendedora realizada por empreendedores
situados na sociedade. Toda ação apresenta horizontes relacionados com a
realidade social do executor da mesma. Dessa forma, somente o autor sabe quando
começa e termina sua ação, sendo capaz de dizer o porquê de sua existência.
19
Essa importância conferida pela fenomenologia social à ação se deve a sua origem,
uma vez que essa forma de pensamento é resultado da tentativa de Schütz em
utilizar a obra fenomenológica de Edmund Husserl para aprofundar as bases da
sociologia compreensiva de Max Weber.
Nesse sentido, Schütz (1972) afirma que a ação social de Weber (1991), conduta
humana projetada pelo ator de maneira consciente, tendo um significado subjetivo
que lhe uma direção e um propósito, se torna o meio de se chegar aos traços
típicos de um fenômeno social.
Tais traços típicos de um fenômeno social estão relacionados ao conceito de tipo
ideal, que Weber (1991) apontou como a única maneira de se abordar
objetivamente os objetos de estudo das ciências sociais. O tipo ideal visa tornar o
fenômeno inteligível, através de uma sintetização dos traços típicos do mesmo. É
um processo que coloca em evidência tudo o que de original e específico acerca
do fenômeno e da pessoa que o executa. Capalbo (1979, p.86) afirma que
...ao elaborar o tipo ideal a partir de princípios vinculados à
história, Weber pretende compreender a ação social como a
resultante de forças de relações sociais, ação proveniente do
comportamento social que tem um significado subjetivo. Desse
modo, coloca o homem como centro das atenções que a
compreensão dos significados se no sujeito. Considera as
ações motivadas por sentimentos afetivos e as tradicionais
como menos racionais, sendo as ações que se aproximam do
tipo racional como as mais compreensíveis.
Segundo Schütz (1972, p. 214), os tipos ideais são esquemas interpretativos do
mundo social em geral, que se voltam para o depósito de conhecimento dos homens
acerca desse mesmo mundo.
20
Assim, a ação social se torna um importante eixo de investigação para compreensão
dos fenômenos sociais, na medida em que fornece as bases para tipificação ideal
dos mesmos. Mas, a partir dessa afirmação surge a indagação: como aprofundar o
estudo de uma ação social?
Schütz (1972) aponta uma resposta ao elaborar a teoria dos motivos da ação, sendo
esses “motivos para” e “motivos porque” realizá-la. Os “motivos para” instigam a
ação social, referindo-se a algo que se quer alcançar, objetivos de um projeto.
Enquanto, os “motivos porque” explicam aspectos ligados à realização do projeto.
Nos dizeres de Schütz (1972, p. 281):
A compreensão típico-ideal, caracteristicamente se deduz
através dos “motivos a fim de” e os “motivos porque” de um ato
manifesto, identificando a meta constantemente alcançada por
aquele ato, já que o ato é, por definição, tanto repetitivo, como
típico. Por trás da ação, uma pessoa que, com uma
motivação de atenção típica, pretende realizar tipicamente esse
ato, em suma, um tipo ideal de pessoa.
Logo, o fenômeno empreendedorismo deve ser compreendido segundo a atividade
humana de criação, isto é, ação empreendedora, pois essa contém os propósitos e
motivos que revelam sua existência. Dessa forma, pela teoria dos motivos é possível
aprofundar na análise da ação social. O entendimento dos “motivos porque” e dos
“motivos para” de uma ação é um fio condutor na pesquisa fenomenológica social
(CAPALBO, 1979).
Desse modo, a partir desse referencial, no presente trabalho pretende-se discutir
questões ligadas à ação empreendedora e seu significado. Para tanto, irá seguir as
seguintes orientações:
21
1.1 Problema de Pesquisa
O empreendedorismo, conforme visto, é predominantemente abordado a partir de
duas perspectivas: economista e comportamentalista, que estudam respectivamente
inovação e perfil empreendedor. Porém, esse fenômeno apresenta outras
dimensões inerentes à sua prática, tais como: consciência, história de vida, relações
sociais do ser empreendedor.
Ao abordar o empreendedorismo deve-se considerar que o ser que empreende está
inserido em uma sociedade, e, por conseguinte, partilha com outros homens uma
conjuntura de experiências capazes de influenciar seu comportamento e ações.
Assim, emerge a necessidade do estudo acerca do empreendedorismo contemplar
aspectos mais profundos do empreendedor, posto que o as ações do mesmo que
tornam possíveis a manifestação desse fenômeno na sociedade.
Dessa forma, o empreendedorismo somente se manifesta na ação consciente do
empreendedor. Por exemplo, a inovação de um processo produtivo e a criação de
uma empresa constituem resultado de ações planejadas e executadas pelo ser que
empreende em um dado contexto social. Nesse sentido, pode-se constatar a
intrínseca relação entre o empreendedorismo e ser social.
Tal relação coloca o homem ao centro do processo empreendedor, deslocando o
estudo de questões ligadas ao empreendimento (lucro, sucesso, diferencial de
mercado) para um segundo momento.
22
Logo, reafirma-se que a base para compreensão do empreendedorismo é a ação
empreendedora. A abordagem dessa ação pressupõe a descoberta dos motivos
relacionados à sua execução. Esses motivos configuram o caminho para se desvelar
o significado do empreendedorismo sob ótica de seu agente.
Esse significado subjetivo pode revelar o papel desenvolvido pelo
empreendedorismo na sociedade, ou seja, evidenciar qual a sua importância e
sentido na percepção do empreendedor. Nesse cenário, considerando essa
necessidade de aprofundamento dos estudos acerca da ação empreendedora, esse
trabalho apresenta a seguinte questão de pesquisa:
Qual o significado que o empreendedor atribui ao empreendedorismo a partir
dos motivos presentes em sua ação empreendedora desenvolvida no
meio social da Incubadora Tecnológica de Maringá?
A escolha da realização do estudo na Incubadora Tecnológica de Maringá se deve
ao fato dessa instituição constituir um meio social propício ao desenvolvimento da
ação empreendedora, pois foi criada para esse fim.
Além disso, como esse trabalho estuda a ação empreendedora racional, esse meio
se apresenta como um locus no qual os empreendedores estão conscientes da
prática empreendedora, ou seja, sua ação é orientada por motivos “para” e “porque”,
não sendo motivada apenas por crenças, valores ou emoções. Na seqüência,
discorre-se sobre a relevância dessa pesquisa, que busca fundamentalmente uma
maior compreensão da ação empreendedora.
23
1.2 Relevância
O empreendedorismo constitui um fenômeno pluridisciplinar, se tornando objeto de
pesquisa de várias áreas do saber. Contudo, estudos sobre essa temática
apresentam discussões que passam a vislumbrar o empreendedorismo como um
campo de conhecimento particular.
Nesse sentido, o empreendedorismo pode vir a se tornar uma disciplina,
apresentando-se, atualmente em processo de construção epistemológica.
Recorrendo à Teoria das Revoluções Científicas de Thomas Kuhn (2001), tem-se
que o empreendedorismo encontra-se em uma fase pré-paradigmática,
caracterizada por uma desorganização no processo de busca por um corpo de
conhecimento legitimado pela comunidade científica e capaz de orientar toda a sua
produção. Esse corpo denomina-se paradigma.
Seguindo essa linha de pensamento, então, o empreendedorismo estaria em uma
etapa de proposição de várias teorias que possam vir a consolidar-se em um
paradigma aceito pelos pesquisadores da área.
Nessa perspectiva, esse trabalho visa contribuir para o avanço da epistemologia do
empreendedorismo, pois a partir de uma perspectiva fenomenológica social pode-se
produzir um conhecimento novo acerca dessa temática. Esse caráter de novidade se
deve as singularidades do método de pesquisa fenomenológico, que se centra no
homem e em sua experiência de vida.
24
O pensamento fenomenológico social se fundamenta na consciência da existência
do outro. Logo, o empreendedorismo, ao ser abordado segundo essa lógica, será
vislumbrado como um fenômeno que existe em função da sociedade, podendo
evidenciar que a sua essência transcende os limites da individualidade.
Nesse sentido, é promissor compreender o empreendedorismo como resultado da
coletividade de ações sociais individuais existentes em um determinado meio.
Assim, o fenômeno estudado é resultado de um conjunto de ações pertencentes aos
indivíduos envolvidos no processo, e não somente da ação de um único ser
empreendedor.
Portanto, essa abordagem subjetiva do empreendedorismo poderá ser deflagradora
de novos estudos que contribuirão para o aprofundamento do conhecimento
científico e filosófico sobre o assunto em questão.
A partir da compreensão do problema de pesquisa e sua relevância, apresentam-se
os objetivos e a organização estrutural desse trabalho.
1.3 Objetivos
Objetivo Geral
Compreender os significados que o empreendedor atribui ao empreendedorismo,
considerando os motivos presentes em sua ação empreendedora desenvolvida no
meio social da Incubadora Tecnológica de Maringá.
25
Objetivos Específicos
a) Evidenciar a Incubadora Tecnológica de Maringá como o meio social em que se
situa a ação empreendedora.
b) Investigar os “motivos para” e “motivos porque” presentes na ação
empreendedora dos empresários.
c) Construir um tipo ideal de empreendedorismo a partir da realidade social da
Incubadora Tecnológica de Maringá.
1.4 Estrutura da Dissertação
Para realizar a investigação, esse estudo estrutura-se em cinco capítulos, além das
partes direcionadas à introdução e à conclusão, a saber:
Empreendedorismo corresponde à revisão da literatura sobre empreendedorismo,
visando caracterizá-lo e contextualizá-lo no cenário acadêmico atual. Para isso,
apresentam-se as principais linhas de abordagens da temática.
Sobre o Método discute a fenomenologia social e seu método utilizado para a
investigação científica. Apresenta ainda uma breve introdução dos estudos
fenomenológicos de Husserl e a Sociologia Compreensiva de Max Weber que
constituem as bases do trabalho de Alfred Schütz (1972; 1974a; 1974b; 1979).
26
Trajetória da Pesquisa - apresenta o delineamento da pesquisa, assim como os
demais procedimentos metodológicos utilizados para a realização do estudo, sendo
esses: formulação das perguntas orientadoras, definição dos sujeitos de pesquisa,
estruturação do processo de coleta e análise de dados.
Unidade de Contexto da Pesquisa: Incubadora Tecnológica - trata da caracterização
das incubadoras de empresas. Busca-se evidenciar a Incubadora Tecnológica de
Maringá como um meio social propício para o desenvolvimento da ação
empreendedora
Análise da ação empreendedora - os dados coletados a partir de entrevistas
realizadas com os sujeitos de pesquisa são apresentados e analisados segundo os
pressupostos da fenomenologia social. Tal análise evidencia aos motivos “para” e
“porque” da ação empreendedora, possibilitando a formulação de um tipo ideal de
empreendedorismo.
Na continuidade da estrutura dessa dissertação, incluem-se, após a parte
conclusiva, as referências bibliográficas, bem como os apêndices e anexos
esclarecedores sobre os resultados da pesquisa.
27
2. EMPREENDEDORISMO
O presente capítulo corresponde à apresentação de uma revisão de literatura acerca
do conhecimento científico produzido sobre o empreendedorismo. Para isso, essa
parte do trabalho centra-se em evidenciar a origem, as várias definições, tipos de
pesquisas, principais abordagens e dimensões sociais do empreendedorismo. Essa
revisão da produção científica permite maior aprofundamento na temática em
estudo.
2.1 Definindo Empreendedorismo
Dentre as mais significativas habilidades que o ser humano apresenta, é possível
destacar a sua capacidade de atribuir significado, na medida em que essa o permite
se relacionar com o mundo, conferindo sentido às suas ações, experiências e
projetos sociais.
Ao analisar-se a origem do significado do termo empreendedor, observa-se
efetivamente essa capacidade do ser humano de atribuir e transformar o sentido de
uma palavra. Nesse caso, o processo contínuo de ressignificação ocorre em função
de mudanças no contexto social de cada época.
O vocábulo empreendedor deriva do termo francês entrepreneur. Segundo Dolabela
(1999, p.47) entrepreneur era a palavra usada no século XII para designar aquele
que incentivava brigas.
28
Contudo, no século XV, o termo entrepreneur, já incorporado à língua inglesa, passa
a significar alguém que se responsabiliza por algo, um gerente, um controlador ou
campeão em batalhas (BOAVA, 2006).
Dando continuidade à análise do processo de ressignificação do vocábulo
empreendedor, pode-se destacar o papel dos estudiosos Cantillon (1755/2003) e
Say (1803/2002) que, ao relacionarem empreendedor a atividades econômicas,
foram delineando alguns contornos da semântica atual do termo.
Na visão de Cantillon (1755/2003), o empreendedor era aquele que adquiria a
matéria-prima por um determinado preço e a revendia por um preço incerto. Caso
houvesse a obtenção de um lucro, entendia-se que isso ocorreu em função da
inovação empreendida pelo negociante.
Por sua vez, Say (1803/2002) acreditava que o empreendedor era uma pessoa que
detinha, simultaneamente, conhecimento de mundo e de negócios, sendo capaz de
atuar de forma perseverante na obtenção de sucesso em seus empreendimentos.
Desse modo, observa-se que no século XVIII e meados do século XIX, período
histórico referente ao início e consolidação da revolução industrial, ocorreu, de fato,
a vinculação do termo empreendedor a conceitos econômicos, tais como:
negociação incerta ou de risco, lucro e inovação.
29
Porém, a relação empreendedor-economia foi consolidada no século XX, por Joseph
Schumpeter (1942/1985), que apresenta o termo empreendedor como designação
atribuída a um indivíduo inovador, que desenvolve tecnologias inéditas.
Em 1934 surge o termo inglês entrepreneurship para qualificar a atividade de
organizar, de controlar, e de supor os riscos de uma empresa ou negócio (OED,
2006). Esse vocábulo foi traduzido para a língua portuguesa como
empreendedorismo.
Assim, estudiosos do século XX, pertencentes a várias áreas de conhecimento,
passaram a pesquisar a temática empreendedorismo, produzindo novos
conhecimentos sobre essa atividade e o empreendedor, seu agente mentor e
executor.
Tais reflexões revelam outras dimensões do empreendedorismo e do
empreendedor, além da vertente econômica, agregando outros aspectos em torno
de seu significado, como padrões de comportamento, traços de personalidade,
criatividade, persistência e capacidade de influenciar outras pessoas.
No entanto, esse processo verificado no século XX foi, até o momento, uma
agregação de aspectos ao significado do termo em análise, não existindo alterações
profundas de significados como as verificadas entre os séculos XII, XV e XVIII.
30
A seguir, um quadro ilustra a assertiva acima, apresentando os principais enfoques
da pesquisa acerca da questão empreendedora no século XX.
Data Autor Enfoque
1934 Schumpeter Inovação e iniciativa
1954 Sutton Busca de responsabilidade
1959 Hartman Busca de autoridade formal
1961 McClelland Corredor de risco e necessidade de realização
1963
Davids Ambição, desejo de independência, responsabilidade e
autoconfiança
1964
Pickle Relacionamento humano, habilidade de comunicação,
conhecimento técnico
1971 Palmer Avaliador de riscos
1971
Hornaday e
Aboud
Necessidade de realização, autonomia, agressão, poder,
reconhecimento, inovação, independência
1973 Winter Necessidade de poder
1974 Borland Controle interno
1974 Liles Necessidade de realização
1977 Gasse Orientado por valores pessoais
1978 Timmons Autoconfiança, orientado por metas, corredor de riscos
moderados, centro de controle, criatividade, inovação
1980 Sexton Energético, ambicioso, revés positivo
1981
Welsh e
White
Necessidade de controle, responsabilidade, autoconfiança,
corredor de riscos moderados
1982 Dunkelberg e
Cooper
Orientado ao crescimento, profissionalização e
independência
Quadro 1 – Enfoque de pesquisas sobre empreendedorismo
Fonte: adaptado de Boulton et al. (1984, p. 356)
Logo após essa reflexão semântica, constata-se que o vocábulo empreendedorismo
surge em função de ações realizadas por pessoas ditas empreendedoras. É devido
a isso, e à complexidade das ações humanas, que atualmente, no século XXI, ainda
não há um consenso acadêmico sobre o que vem a ser, de fato, o
empreendedorismo.
Existe, porém, a concordância que empreendedorismo se relaciona com inovação,
risco, iniciativa, fracasso, sucesso, determinação, que são conceitos, conforme visto
anteriormente, advindos de pesquisas realizadas ao longo do tempo.
31
Contudo, reforça-se que ainda não um consenso entre os teóricos sobre uma
única definição legitimada de empreendedorismo. Isso pode ser justificado ainda,
pelo fato da produção científica sobre empreendedorismo ser recente.
Nos dizeres de Dolabela (1999, p.47), muitas definições do termo empreendedor,
principalmente porque são propostas por pesquisadores de diferentes campos, que
utilizam os princípios de suas próprias áreas de interesse para construir o conceito
.
Filion (1991) pondera que o conceito de empreendedorismo pode sofrer algumas
variações de país para país, assim como de região para região. Ocorrendo, portanto,
a existência de variadas percepções acerca dessa temática.
Dentre essas percepções, pode-se citar o pensamento de Carland et al. (1992, p. 1)
que afirmam ser o empreendedorismo uma função de quatro elementos: traços de
personalidade, postura estratégica, inovação e propensão a assumir riscos,
destacando entre elas a busca de oportunidade e a criatividade como traços de
personalidade.
Corroborando esse pensamento, Dornelas (2003) defende que a essência do
empreendedorismo é a busca de oportunidades inovadoras. Além disso, Dornelas
(2003) elaborou sete partes co-relativas às perspectivas da natureza do
empreendedorismo.
32
Natureza do empreendedorismo
Parte Processo
Criação de riqueza Empreendedorismo envolve assumir riscos calculados associados
com as facilidades de produzir algo em troca de lucros
Criação de empresa Empreendedorismo está ligado à criação de novos negócios, que
não existiam anteriormente
Criação da inovação
Empreendedorismo está relacionado à combinação única de
recursos que fazem os métodos e produtos atuais ficarem
obsoletos
Criação da mudança
Empreendedorismo envolve a criação da mudança, através do
ajuste, adaptação e modificação da forma de agir das pessoas,
abordagens, habilidades, que levarão à identificação de diferentes
oportunidades
Criação de emprego
Empreendedorismo não prioriza, mas está ligado à criação de
empregos, já que as empresas crescem e precisarão de mais
funcionários para desenvolver suas atividades
Criação de valor
Empreendedorismo é o processo de criar valor para os clientes e
consumidores através de oportunidades ainda não exploradas
Criação de
crescimento
Empreendedorismo pode Ter um forte e positivo relacionamento
com o crescimento das vendas da empresa, trazendo lucros e
resultados positivos
Quadro 2 – Natureza do empreendedorismo
Fonte: adaptado de Dornelas (2003)
Por sua vez, Hisrich e Peters (2004, p. 29) acreditam que o empreendedorismo é
uma atividade mais unilateral que busca fins individuais, sendo
...o processo de criar algo novo com valor dedicando o tempo e
o esforço necessários, assumindo riscos financeiros, psíquicos
e sociais correspondentes e recebendo as conseqüentes
recompensas da satisfação e independência econômica e
pessoal.
Boava (2006, p. 116), em uma perspectiva filosófica, define empreendedorismo
como
...conjunto de atividades que visam proporcionar ao
empreendedor, no decurso de sua ação, plena liberdade. Tal
liberdade se manifesta devido à ocorrência de uma ruptura com
aquilo que lhe proporciona segurança e estabilidade. O estado
de dependência em relação a fatores externos (existente na
segurança e estabilidade) é substituído pela possibilidade de
ser sujeito da ação.
33
Portanto, observa-se que definir empreendedorismo é uma tarefa altamente
complexa, que esse fenômeno apresenta múltiplas dimensões. Ocorre que os
pesquisadores focam seu interesse de pesquisa em uma ou outra dimensão. Assim,
faz-se pertinente conhecer mais detalhadamente como se desenvolve a pesquisa
em empreendedorismo. Tal reflexão contribuirá para uma compreensão mais
consolidada acerca do empreendedorismo e seus diversos desdobramentos.
2.2 A Pesquisa em Empreendedorismo
O empreendedorismo constitui um objeto de pesquisa das ciências sociais, posto
que se desenvolve no cerne da sociedade. O agente empreendedor encontra-se
situado no mundo da vida em constante relacionamento com o outro, sendo que
suas ações não são fatos isolados, mas fatos inseridos em uma dinâmica de
relacionamento e compreensão social.
Segundo Dilthey (1958, p. 191):
...nós fazemos a reconstituição de nossa própria experiência
interna na outra pessoa ao interpretá-la. A compreensão é
então um redescobrimento do eu no tu. Esta compreensão dos
outros é, então, o paradigma, por assim dizer, do conhecimento
que caracteriza as ciências sociais.
Nesse sentido, a pesquisa em empreendedorismo é estruturada a partir de
metodologias pertencentes, predominantemente, às ciências sociais. Assim, várias
problemáticas metodológicas intrínsecas à pesquisa social podem ser observadas
na busca de uma compreensão maior acerca do empreendedorismo.
34
Tais problemáticas remetem à discussão de se realizar ou não pesquisas sociais de
acordo com métodos empregados na investigação em ciências naturais. Alguns
pesquisadores defendem que se deve utilizar em pesquisas sociais metodologias
que objetivam descobrir leis gerais que orientam o comportamento social, enquanto
outros afirmam ser necessário investigar a sociedade a partir de metodologias que
reconhecem o homem como um ser doador de sentido ao mundo, que não segue a
leis determinadas, como ocorre com minerais, plantas e reações químicas.
A partir desses dois pontos de vistas distintos, pode-se colocar a existência de dois
métodos de investigação, sendo o primeiro denominado nomotético. Esse se
adequa as leis universalizantes das ciências naturais, pois é aplicável quando se
estudam fatos gerais e repetitivos. Por sua vez, o segundo método, ideográfico,
concentra-se nas particularidades e individualidades que podem compor um
determinado objeto de estudo.
Nos dizeres do economista Von Mises (1986, p. 97-98), a distinção entre ciências
sociais e naturais reside no caráter dinâmico da primeira:
Tropeçamos agora em uma das mais notáveis diferenças
existentes entre a física e a química de um lado, e as ciências
da ação humana, de outro. No mundo dos fenômenos físicos e
químicos existem relações constantes entre os diversos
componentes, sendo o homem capaz de perceber, com
bastante precisão, leis constantes mediante aos oportunos
experimentos de laboratório. Mas, no campo da ação humana,
não se registram tais constantes reações. A impossibilidade
nesse terreno, de toda medição não de ser atribuída a uma
suposta imperfeição dos métodos de investigação. Provém da
mudança, da ausência de relações constantes na matéria
analisada.
35
Os pesquisadores que vislumbram na sociedade uma conjuntura de leis a exemplo
das ciências naturais, realizam suas investigações segundo orientação positivista.
Para Von Wright (1971, p. 4) esse paradigma é baseado nas seguintes premissas:
Unicidade metodológica, ou a idéia da unidade do método científico para a
investigação de qualquer objeto de pesquisa, independente de sua singularidade.
As ciências devem ser estudadas segundo relações de causa e efeito.
A ciência deve apontar para as explicações, centrando-se na substituição de
casos individuais por leis gerais que regem a natureza humana.
Por sua vez, os pesquisadores que adotam a perspectiva de investigação
fundamentada na singularidade das ações humanas, orientam-se por uma busca da
compreensão do homem no tempo e no espaço. Esse paradigma preocupa-se com
a apreensão da experiência vivida pelos atores (CRABTREE; MILLER, 1992).
Bauman (1978) realiza uma separação entre as principais linhas de pesquisa
fundamentadas no objetivo de cunho compreensivo:
Trabalho da história (Marx, Mannheim);
Trabalho da razão (Husserl, Parsons);
Trabalho da vida (Heidegger, Schütz).
36
No empreendedorismo, por sua vez, observa-se que os trabalhos encontram-se
inseridos em um ou outro paradigma de pesquisa, na maior parte das investigações.
O quadro a seguir sintetiza as diferenças existentes ao se abordar o
empreendedorismo a partir de uma perspectiva positivista ou construtivista.
Paradigma Positivista Construtivista
Ontologia Realismo Relativismo
Epistemologia Objetiva Subjetiva
Objetivo Explicar Compreender
Questão de
Pesquisa
O que faz o empreendedorismo
ser bem sucedido? Que os
empreendedores fazem, quem
são eles, e como eles se
comportam?
Que é empreendedorismo? Por que
os empreendedores fazem como eles
fazem, que percepções da realidade
influenciam suas ações?
O papel
empreendedor
Fazer “as coisas direitas” a fim
conseguir o “sucesso”
Consciência de circunstâncias
internas influenciando percepções da
realidade (a fim refletir em porque e
em como…)
Quadro 3 – Perspectivas analíticas do empreendedorismo
Fonte: adaptado de Guba (1990)
Nesse âmbito, emerge um questionamento: deve-se explicar ou compreender o
empreendedorismo? Acredita-se que essa pergunta não tem uma resposta única e
definitiva. A decisão sobre explicar ou compreender o fenômeno empreendedor está
ligada ao objetivo de pesquisa ao qual o investigador pretende alcançar.
Dessa forma, ao se analisar a produção científica acerca do empreendedorismo
observa-se trabalhos orientados para explicação, como o de Schumpeter (1985),
McClelland (1961) e Filion (1991). Assim como trabalhos objetivando compreender
o fenômeno em questão, como Bueno (2005), Paiva Jr. (2004) e Boava (2006).
Esses dois tipos de estudos são vistos de uma forma mais detalhada a seguir para
que em um segundo momento possa-se apresentar maiores considerações sobre o
questionamento explicar ou compreender o empreendedorismo.
37
2.2.1 Explicação
Segundo Dolabela (1999, p.47), existe duas correntes principais de estudo do
empreendedorismo, os economistas, que associaram o empreendedor à inovação, e
os comportamentalistas, que enfatizam aspectos atitudinais, como a criatividade e a
intuição. A primeira vertente apresenta como eixo principal a teoria do
desenvolvimento econômico desenvolvida por Schumpeter (1985), além dos
trabalhos desenvolvidos por Cantilon (1755, 2003), Smith (1976, 1985), Mill (1848,
1986), Say (1803, 2002) e Marshall (1890, 1982), sendo que a última estrutura-se
basicamente na teoria das motivações de McClelland (1961), na personalidade
empreendedora de Miner (1998), nos trabalhos de Timmons (1989) e na teoria
visionária de Filion (1991).
2.2.1.1 Economistas
O conceito de empreendedorismo encontra-se presente, ainda que nem sempre de
forma direta, no desenvolvimento do corpo teórico da ciência econômica (BROLLO,
2006). Dessa forma, este tópico irá discutir o empreendedorismo a partir da visão de
autores pertencentes às diferentes escolas de pensamento que contribuíram para a
construção do conhecimento econômico atual.
Para isso, serão analisados precursores da teoria econômica (Cantilon) e os
principais representantes de algumas escolas de pensamento econômico que mais
produziram acerca do empreendedorismo, como: escola clássica (Smith, Mill e Say)
e neoclássica (Marshall e Schumpeter) de economia.
38
Precursores da Teoria Econômica
Richard Cantillon publicou, em 1755, a obra “Ensaio sobre a Natureza do Comércio
em Geral” associando o empreendedor a oportunidades de lucro não exploradas e o
risco intrínseco a sua exploração.
Propõe ainda o desenvolvimento da sociedade em três classes funcionais,
empreendedores, proprietários de terra e trabalhadores. Os empreendedores seriam
responsáveis mudanças no sistema econômico, posto que assumiriam os riscos
necessários.
Escola Clássica de Economia
O pensamento clássico econômico corresponde ao desenvolvimento da ciência
econômica e o aperfeiçoamento dos seus métodos de investigação. Para os
economistas clássicos, a economia é o estudo do processo de produção,
distribuição, circulação e consumo dos bens e serviços. A verdadeira fonte de valor
encontra-se no trabalho, sendo que defendem há o intervenção do Estado na
economia e a livre concorrência. Tal pensamento predominou até fins do século XIX.
Nesse ambiente liberal, Smith (1776/1985), considerado o formulador da teoria
econômica, vislumbra o empreendedor como aquele que deseja obter um excedente
de valor sobre o custo de produção. Assim, o empreendedor seria um proprietário
capitalista. O economista Mill (1848/1986) afirma que o empreendedorismo é uma
atividade que requer características peculiares por parte do ser que empreende.
39
Contudo, os trabalhos de Smith (1776/1985) e Mill (1848/1986) estavam mais
centrados em explicar o crescimento econômico dando pouca ênfase ao
empreendedorismo, sendo que dividiam a sociedade em capitalistas e
trabalhadores. De fato, os economistas clássicos britânicos discutiram brevemente a
temática empreendedora, não fazendo qualquer tipo de distinção entre atividades
executadas por capitalistas, administradores e empreendedores.
Por sua vez, o economista clássico francês Say (1803/2002) realiza uma análise
mais detalhada do empreendedor atribuindo-lhe um papel particular, na medida em
que diferencia função empreendedora e a função capitalista. Além disso, defende o
pressuposto que o desenvolvimento econômico é proveniente da criação de novos
empreendimentos.
Dessa forma, o empreendedor se torna um mediador da economia, sendo sua
responsabilidade articular a produção de maneira que os meios resultem em um
produto final lucrativo.
Escola Neoclássica de Economia
O pensamento neoclássico surgiu em fins do século XIX. Na concepção dos autores
neoclássicos, a economia constitui a ciência das trocas ou das escolhas, sendo
condicionada pela escassez dos recursos. Introduziram na teoria da procura e da
oferta o conceito de utilidade marginal, segundo o qual as preferências dos
consumidores (utilidade) são um dos fatores da procura de bens.
40
Os neoclássicos mantinham a crença no liberalismo econômico. Esse pensamento
dominou o cenário econômico ao aparecimento da crise de 1929. A partir desse
período, Keynes (1936/1992) afirmou que a economia o se auto-regula, propondo
a intervenção do estado na economia.
Marshall (1890/1982), um dos principais representantes da escola neoclássica, faz
algumas contribuições para o estudo do empreendedorismo. Esse caracteriza o
empreendedor como sendo o indivíduo que se aventura e assume riscos, reunindo e
supervisionando minuciosamente o capital e o trabalho necessários ao seu
empreendimento. Postula ainda que o empreendedorismo está relacionado com
algumas habilidades que poucas pessoas apresentam, pois tais capacidades são
escassas. Contudo, pondera que essas habilidades podem ser ensinadas.
Ressalta-se que Marshall (1890/1982) em uma postura determinista afirma que as
oportunidades e ações empreendedoras são limitadas pelo ambiente econômico no
qual encontram-se inseridas. Sendo assim, Marshall (1890/1982) complementa que
embora os empreendedores possuam habilidades em comum, se diferenciam no
que tange ao sucesso de seu empreendimento, já que esse depende do meio
econômico. Assim, para esse economista, o empreendedor é basicamente um
quarto fator de produção, que coordena os demais: capital, trabalho e matéria-prima.
Contudo, as principais bases econômicas do empreendedorismo foram edificadas
por Schumpeter (1985), que em sua teoria do desenvolvimento econômico baseia-se
na premissa que sistema econômico de oferta e procura encontra-se em situação de
equilíbrio e que o empreendedor tende a romper esse equilíbrio através da inovação.
41
Essa visão de empreendedorismo fixa-se na atribuição à inovação do papel de
motor da economia. Para Schumpeter (1985), a capacidade do empreendedor de
continuar sendo uma força complementar vigorosa na economia atual e do futuro
tem sido fortalecida e determinada pela evolução de seu comportamento e pela
constante busca de novos conhecimentos. A teoria do desenvolvimento econômico
vislumbra o empreendedor como o ser que promove a inovação, sendo essa radical,
na medida em que destrói e substitui esquemas de produção operantes. Nesse
sentido, surge o conceito de destruição criativa (SCHUMPETER, 1985).
Dessa forma, observa-se que a inovação é fundamental para a visão econômica.
Para Schumpeter (1985, p.48) existem cinco tipos de inovações:
1 - Introdução de um novo bem (com o qual os consumidores ainda não estejam
familiarizados) ou de uma nova qualidade de um bem;
2 - Introdução de um novo método de produção, ou seja, um método ainda não
testado em determinada área e que tenha sido gerado a partir de uma nova
descoberta científica;
3 - Abertura de um novo mercado, ainda não explorado, independentemente do fato
do mercado já existir ou não;
4 - Conquista de uma nova fonte de matéria-prima ou de bens semimanufaturados;
5 - Aparecimento de uma nova estrutura de organização em um setor.
42
Portanto, Schumpeter (1985) define o empreendedor como aquele que promove
uma mudança radical destruindo as tecnologias existentes, é aquele que propõe
novidades. Nesse sentido, o empreendedor existe no momento da inovação, não
podendo constituir uma profissão, ao passo que a necessidade de inovar é ditada
pelo ambiente externo.
Mais recentemente, o economista Kirzner (1973) desenvolveu uma teoria acerca do
empreendedorismo, na qual a economia era desbalanceada e o empreendedor era a
pessoa que identificava estes desequilíbrios e os explorava tendendo a trazer o
processo para o equilíbrio. Para esse autor, os empreendedores eram capazes
ainda de estimular a demanda de mercado através da persuasão, podendo criar
assim um desequilíbrio adicional ao mercado. Nesse sentido, o empreendedor não é
somente aquele que vê e explora oportunidades, mas também aquele que cria
outras oportunidades e as explora.
Logo, constata-se que Schumpeter (1985) e Kirzner (1973) atribuem papéis
diferentes ao empreendedor, sendo que para o primeiro a ação empreendedora leva
ao desequilíbrio devido à inovação; para o segundo, essa mesma ação é que
garante o equilíbrio econômico.
Assim, observa-se que parte do conhecimento atual acerca do empreendedorismo
foi sendo construído, ainda que de maneira implícita, no cerne do desenvolvimento
do pensamento econômico. Contudo, faz-se importante analisar as demais
dimensões desse fenômeno, relacionadas ao agente empreendedor.
43
2.2.1.2 Comportamentalistas
Os comportamentalistas pressupõem que o sistema de valores constitui o eixo
principal do desenvolvimento social e econômico, considerando o empreendedor o
ator principal desse processo. Assim, estudam os traços pessoais e atitudes do
empreendedor na tentativa de encontrar a motivação que impulsiona o
empreendedorismo.
Dessa forma, David McClelland (1961) aborda o empreendedor a partir de uma
perspectiva comportamental evidenciando suas características psicológicas. O
estudo dessas características permite ao autor traçar um perfil do empreendedor.
Tal perfil caracteriza o empreendedor como autônomo e dotado de iniciativa. Esse
apresenta intuição e amor pelo seu trabalho, estando continuamente em busca de
realização profissional e pessoal.
Além disso, é um individuo que, por relacionar-se sempre com novidades, evolui
através de um processo interativo de tentativa e erro, avançando em decorrência
das descobertas que realiza.
Para McClelland (1961), a motivação constitui o principal combustível do motor
empreendedor, sendo essa fundamentada em três necessidades básicas do ser
humano, descritas na seqüência.
44
• Necessidade de realização
O indivíduo busca continuamente a superação de seus limites. É uma característica
própria de pessoas que costumam estabelecer metas passíveis de serem realizadas
durante sua vida, ainda que tais metas os coloquem continuamente em situações de
competição. Essa constitui a primeira necessidade encontrada entre
empreendedores de sucesso, apresentando os seguintes indicadores
comportamentais: superação do padrão de excelência, utilização de técnicas de
feedback, resolução de questões problemas que constituem obstáculos.
• Necessidade de afiliação
O indivíduo mostra-se interessado em estabelecer, manter ou restabelecer relações
emocionais positivas com demais pessoas. Essa necessidade apresenta como
indicadores comportamentais o estabelecimento de relações de amizade,
preocupação com o bem estar das pessoas em seu ambiente de trabalho e desejo
de integrar um grupo social.
• Necessidade de poder
O indivíduo centra-se em exercer autoridade sobre os outros. Essa necessidade
pode ser identificada pela observação dos seguintes comportamentos: capacidade
de despertar reações de caráter emocional nas demais pessoas, habilidade para
executar tarefas, pressupõe exercício de comando, preocupação com a posição
social e reputação.
45
As pesquisas de McClelland (1961) foram, nesse sentido, uma tentativa de
identificar as motivações do empreendedor, sendo que uma correlação positiva entre
a necessidade de realização e atividade empreendedora foi constatada.
McClelland (1961) defende que uma sociedade que tenha um nível geralmente
elevado de realização, produzirá um maior número de empresários ativos, os quais,
por sua vez, darão origem a um desenvolvimento econômico mais rápido.
Assim, para esse autor, os empreendedores apresentam, em média, uma
necessidade de realização superior a dos demais indivíduos, pois essa necessidade
envolve a orientação do mesmo para metas. Destaca-se que essas metas inerentes
à realização são passíveis de serem alcançadas. O empreendedor não dedica seu
tempo e ação buscando tornar utopias em realidade.
No ano de 1982, a Agência para o Desenvolvimento Internacional das Nações
Unidas (USAID), a Management Systems International (MSI) e a McBeer &
Company, empresa de consultoria de McClelland, desenvolveram uma pesquisa em
trinta e quatro países buscando identificar padrões no comportamento
empreendedores de sucesso em determinadas situações. O resultado obtido
encontra-se sintetizado em um quadro apresentado a seguir.
46
REALIZAÇÃO
CCE: Busca de oportunidades e iniciativa
Comportamentos manifestados:
Realiza as tarefas antes de receber solicitações ou ser forçado por circunstâncias;
Atua sempre na tentativa de expandir o negócio;
Aproveita oportunidades para começar um negócio, obter financiamentos, equipamentos, terrenos,
local de trabalho ou assistência.
CCE: Exigência de qualidade e eficiência
Comportamentos manifestados:
Encontra formas mais inteligentes e viáveis economicamente de se realizar algo;
Executa ações que satisfaçam ou excedam os padrões de excelência;
Desenvolve ou utiliza procedimentos para assegurar que o trabalho seja terminado no prazo
estabelecido, atendendo aos padrões de qualidade previamente combinados.
CCE: Persistência
Comportamentos manifestados:
Apresenta soluções diante de um obstáculo significativo;
Atua repetidamente ou muda de estratégia, a fim de enfrentar um desafio ou superar um obstáculo;
Faz um sacrifício pessoal ou desenvolve um esforço extraordinário para completar uma tarefa.
CCE: Independência e autoconfiança
Comportamentos manifestados:
Busca autonomia em relação a normas e controles de outros;
Mantém seu ponto de vista mesmo diante da oposição ou de resultados inicialmente desanimadores;
Expressa confiança em sua própria capacidade de completar uma tarefa difícil ou um desafio.
PLANEJAMENTO E RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
CCE: Correr riscos calculados
Comportamentos manifestados:
Avalia alternativas e calcula riscos deliberadamente;
Age para reduzir os riscos ou controlar os resultados;
Coloca-se em situações que implicam desafios ou riscos moderados.
CCE: Busca de informações
Comportamentos manifestados:
Dedica-se pessoalmente para obter informações de clientes, fornecedores e concorrentes;
Investiga pessoalmente como fabricar um produto ou fornecer um serviço;
Consulta a especialista para obter assessoria técnica ou comercial.
CCE: Estabelecimento de metas
Comportamentos manifestados:
Estabelece metas e objetivos que são desafiantes e que têm significado pessoal;
Define objetivos de longo prazo, claros e específicos;
Estabelece metas mensuráveis e de curto prazo.
CCE: Planejamento e monitoramento sistemáticos
Comportamentos manifestados:
Planeja dividindo tarefas de grande porte em subtarefas com prazos definidos;
Constantemente revisa seus planos, levando em consideração os resultados obtidos e mudanças
circunstanciais;
Mantém registros financeiros e utiliza-os para tomar decisões.
INFLUÊNCIA NA RELAÇÃO COM AS PESSOAS
CCE: Comprometimento
Comportamentos manifestados:
Assume responsabilidade pessoal pelo desempenho necessário para o alcance de metas e objetivos;
Colabora com os empregados ou se coloca no lugar deles, se necessário, para terminar um trabalho;
Esmera-se em manter os clientes satisfeitos.
CCE: Persuasão e redes de contato
Comportamentos manifestados:
Utiliza estratégias deliberadas para influenciar ou persuadir os outros;
Utiliza pessoas-chave como agentes para atingir seus próprios objetivos;
Atua para desenvolver e manter relações comerciais.
Quadro 4: Características comportamentais empreendedoras (CCE´S)
Fonte: Adaptado de Vidal; Santos Filho (2003)
47
Após a análise do trabalho de McClelland (1961), faz-se importante apresentar os
estudos do comportamentalista Miner (1998) que aborda a personalidade
empreendedora a partir da teoria das necessidades discutidas anteriormente. O
autor conclui que existem quatro estilos de empreendedores, a saber:
1 - Realizador: são empreendedores clássicos que dedicam a maior parte de seu
tempo ao empreendimento. Apresenta o hábito de planejar e estabelecer metas.
Atua com iniciativa e compromisso, resolvendo problemas, contornando crises,
tentando sempre ser eficiente e eficaz.
2 - Super vendedor: apresenta sensibilidade em relação às demais pessoas.
Priorizam as vendas, por julgá-las elemento essencial para o sucesso de seus
negócios. Não possuem muitas habilidades administrativas.
3 - Autêntico gerente: assume responsabilidades e alcança sucesso em cargos de
liderança nas empresas. São competitivos, decididos e atraídos pelo poder.
Geralmente, saem de grandes empresas para iniciar seu empreendimento.
4 Gerador de idéias: inventores natos, criam novos produtos, encontram novos
nichos, desenvolvem novos processos sempre buscando ganhar a concorrência.
Sentem-se fortemente atraídos para o mundo das idéias e costumam assumir riscos.
Normalmente, se envolvem em empreendimentos de alta tecnologia.
48
Miner (1998) afirma que os empreendedores que apresentam os quatro tipos
obterão maior sucesso em seus empreendimentos. No entanto, caso um
empreendedor possua apenas um dos estilos, deverá atuar no ramo que melhor se
identifica com sua habilidade.
Na mesma linha de pensamento de McClelland (1961) e Miner (1998), Timmons
(1989) centraliza seus estudos acerca do empreendedorismo na iniciativa e
comportamento pró-ativo do empreendedor. A partir disso, apresenta três aspectos
que acredita ser a principal razão para o sucesso do mesmo: responder
positivamente a desafios, aprendendo com erros, apresentar iniciativa e ter
determinação e perseverança.
Além desses fatores, Timmons (1989) ainda apresenta um conjunto de pensamentos
e ações empreendedoras, elencadas no quadro abaixo:
Pensamentos e Ações Empreendedoras
Comprometimento total, determinação e perseverança;
Direcionamento para realização e crescimento;
Orientação para oportunidades e metas;
Iniciativa e responsabilidade pessoal;
Persistência na solução de problemas;
Verdadeiramente cônscio e com senso de humor;
Pesquisa e usa feedback;
Tolerância à ambigüidade, incerteza e stress;
Assume riscos calculados;
Integridade e confiança;
Decisor rápido, sentido de urgência e paciência;
Capacidade de lidar com falhas;
Formador de equipes e construtor de talentos.
Quadro 5 – Pensamentos e ações empreendedoras
Fonte: adaptado de Timmons (1989)
49
a teoria visionária de Filion (1991), ainda que também atribua ênfase ao estudo
das características empreendedoras, apresenta um conceito novo acerca da
temática. Versa que o empreendedor é um ser dotado de visão, sendo essa parte
do surgimento de uma ou várias idéias que se pretende realizar no futuro. Seguindo
uma linha de raciocínio similar, Leite (2000, p. 16) pondera que
...ser empreendedor significa ter capacidade de iniciativa,
imaginação fértil para conceber idéias, flexibilidade para
adaptá-las, criatividade para transformá-las em uma
oportunidade de negócio, motivação para pensar
conceptualmente e a capacidade para ver, perceber as
mudanças como uma oportunidade.
A figura a seguir, ilustra a concepção do processo de formação da visão
empreendedora.
Figura 1 – Processo de formação da visão empreendedora
Fonte: Filion (1991)
Desse modo, a partir da análise processo de formação da visão contata-se que
Filion (1991) classifica a visão empreendedora em três categorias, a saber:
Emergente: é constituída segundo idéias e conceitos de produtos, atividades e
serviços que surgem no imaginário do empreendedor em um período de tempo,
anterior à criação de um empreendimento.
Visões Emergentes
Visões Complementares
Externa
Visões Emergentes
Visões Complementares
VISÃO CENTRAL
Interna
50
Central: constitui o produto de uma única ou conjunto de visões emergentes. A
visão central exterior remete à posição de produtos ou serviços no ambiente
externo, mercado, por exemplo. Por sua vez, a visão central interior refere-se ao
tipo estrutural de organização necessário para lograr êxito em suas pretensões.
Complementar: formada por visões gerenciais direcionadas para servir de suporte
a visão central.
Logo, a visão é considerada como o ponto inicial para formação de novos
empreendimentos. Filion (2000) afirma que o empreendedor necessita apresentar
algumas características que constituem o suporte para formação da visão, sendo
essas apresentadas no quadro a seguir:
Suporte a formação da visão
empreendedora
Conceito de si
Forma como a pessoa se (auto-imagem), na qual estão contidos os
valores de cada um, sua visão do mundo e sua motivação.
Energia Diz respeito à quantidade/qualidade do tempo dedicado ao trabalho e a
disposição de estar constantemente aprendendo à medida que
desenvolve atividades na empresa.
Liderança A qualidade de comandar terceiros no processo de concretizar a visão;
importante porque define a amplitude do que o empreendedor que
realizar.
Compreensão
do setor
Saber como as empresas estruturam-se na atividade escolhida,
conhecimento sobre praxes do mercado, necessidades dos clientes,
concorrência, fatores críticos de sucesso e vantagens competitivas.
Relações Refere-se as fontes de aprendizado do empreendedor e abrange não
as relações primárias (famílias, amigos, pessoas que admira), que
determinam em grande parte o que ele é, mas sobretudo, o network que
ele irá buscar para expandir seus conhecimentos como apoio para
aprimoramento da visão.
Espaço de si Implica a distância psicológica que ao mesmo tempo nos separa dos
outros e nos liga a eles.
Quadro 6 – Suporte a formação da visão empreendedora
Fonte: adaptado de Filion (2000)
51
Portanto, na abordagem comportamental o empreendedorismo apresenta uma
concepção de empreendedor baseada na busca de realização pessoal do ser
humano. Assim, os empreendimentos constituem uma extensão do desejo, metas e
visão do empreendedor. No mais, centra-se em descrever comportamentos e
características do empreendedor.
Assim, os economistas tendem a concordar que os empreendedores estão
associados à inovação e são vistos como forças direcionadoras ao desenvolvimento,
e os comportamentalistas entram em consenso atribuindo aos empreendedores às
características de criatividade, persistência, coragem para assumir riscos e
liderança.
Contudo, no universo da pesquisa explicativa acerca do empreendedorismo existem
trabalhos que identificam outras perspectivas de análise desse fenômeno, além da
econômica e comportamental.
Nesse sentido, pode-se apresentar o estudo de Cunningham e Lischeron (1991) que
professam a existência de seis escolas de pensamento que oferecem diferentes
concepções do empreendedorismo, sendo essas denominadas: “Grande Figura”,
Características Psicológicas, Clássica, Administração, Liderança e
Intraempreendedorismo. A seguir apresenta-se um quadro que sintetiza as
diferentes perspectivas de análise do empreendedorismo segundo essas escolas.
52
Escola Interpretação
Central
Pressuposto Habilidades e
comportamentos do
empreendedor
Estágio do
empreendi-
mento
Grande
Figura
Empreendedor
possui traços e
instintos inatos
Intuição inata é
a chave do
sucesso
Intuição, vigor
energia,
perseverança, auto-
estima
Inicial
Caractesticas
Psicológicas
Empreendedor
possui valores
atitudes e
necessidades
que o impulsiona
Pessoas agem
orientadas
pelos seus
valores e
comportamentos
para satisfazer
suas
necessidades
Valores pessoais,
propensão e
aceitação do risco.
Necessidades de
realização dos riscos
Inicial
Clássica A característica
básica do
empreendedor é
a inovação
Pessoas
contrapõem ao
possuir
Inovação,
criatividade e
descoberta
Inicial e
Crescimento
Administrativa Empreendedor
organiza, possui
e administra
empreendimentos
econômicos. O
risco é assumido
Transformar
pessoas em
empreendedores
por meio de
treinamento
Planejamento,
organização, direção
e controle
Crescimento
e
maturidade
Liderança Empreendedor é
um líder, adapta
seu estilo de
liderança a
necessidade das
pessoas.
Para atingir
seus objetivos o
empreendedor
precisa e
depende do
concurso de
outras pessoas
Capacidade de
motivação e
liderança
Crescimento
e
maturidade
Intraempre-
endedorismo
As habilidades do
empreendedor
são úteis em
organizações
complexas. Criam
unidades
autônomas para
geração de
comercialização e
expansão de
negócios.
A adaptação é
fundamental
para a
sobrevivência
das
organizações
complexas. O
empreendedo-
rismo resulta na
criação de
organizações e
transformação
de
empreendedores
em
administradores
Capacidade de
decisão e alerta as
oportunidades
Maturidade
e mudança
Quadro 7 – Síntese das escolas de pensamento acerca do empreendedorismo
Fonte: Adaptado de Cunningham e Lischeron (1991)
53
A partir da análise das principais linhas de abordagem do empreendedorismo,
constata-se que não existe uma oposição conceitual direta entre as mesmas, sendo
que a diferença existe em função da prioridade de aspectos abordados. Para Braga
(2003, p.35):
Enquanto os economistas buscam definir a função do
empreendedor a partir da sua atuação como destruidor,
gerador de valores ao sistema produtivo (...), os
comportamentalistas, embora tenham pertinente esses
elementos, voltam seu interesse para o entendimento do ser
empreendedor, do seu comportamento, buscando identificar as
suas características e os reflexos na empresa decorrente do
seu modo de atuar e interagir.
Assim, o empreendedor é uma pessoa que capta oportunidades, apresentando
muita determinação, sendo persistente, perseverante, procurando sempre a auto-
superação e reconhecimento social. Este perfil de profissional é requerido, na
sociedade, tanto no ambiente empresarial como no educacional.
Desse modo, reforça-se que a inexistência de maiores distinções entre as linhas de
pesquisa economista e comportamental do empreendedorismo, assim como no
modelo de Cunningham e Lischeron (1991), se deve ao fato dessas buscarem
fundamentalmente explicar o seu objeto de investigação.
Nesse caso, ambas as perspectivas partem do pressuposto que o
empreendedorismo é regido por relações de causa e efeito. Desse modo, a ação
empreendedora é caracterizada por algumas singularidades e realizada por um
agente dentro do perfil empreendedor resultando em sucesso.
54
2.2.2 Compreensão
Conforme analisado anteriormente, a pesquisa de cunho compreensivo, segundo
Bauman (1978) pode estar inserida em linhas de pesquisa da história, da razão e da
vida. Desse modo, a abordagem da pesquisa compreensiva acerca do
empreendedorismo apresenta estudos realizados dentro do paradigma
interpretativo. Ressalta-se, no entanto, que Bueno (2005), ao falar da linha de
pesquisa histórica compreensiva, recorre a trabalhos de Marx. Isso, entretanto, não
é uma unanimidade na academia, pois ao se observar os estudos de Marx, a partir
dos quadrantes paradigmáticos propostos por Burrell e Morgan (1979), ele não seria
classificado como interpretativo, mas como estruturalista, posto que seu foco de
interesse são as dimensões sociais, como classes e sistemas de produção.
História
Pois bem, apesar disso, para Bueno (2005), a partir da interpretação das obras de
Marx, é possível entender que a consciência sobre os fenômenos que ocorrem no
âmbito do sistema capitalista que se originou na sociedade industrial, é o primeiro
passo para superar o estado de alienação e alcançar o estado de consciência e
emancipação nessa mesma sociedade. Nesse sentido, Bueno (2005), em sua tese
de doutorado, intitulada “O empreendedorismo como superação do estado de
alienação do trabalhador”, realiza um estudo dialético entre o conceito de alienação
de Karl Marx (1844) e os fundamentos do empreendedorismo, visando evidenciar
como o empreendedorismo pode superar o estado de alienação do trabalhador.
55
Para isso, utiliza-se do materialismo dialético como método científico. a parte
teórica consiste no levantamento sobre a origem do trabalho e sobre as condições
de trabalho no contexto da sociedade industrial, para relacionar esta abordagem
com os estudos acerca do empreendedorismo.
Bueno (2005, p. 142) conclui em seu trabalho que o empreendedorismo pode
realmente ser empregado com estratégia de combate à alienação do trabalhador:
A superação do estado de alienação pelo empreendedorismo é
uma forma de transformar os caminhos para alcançar melhores
condições de vida na sociedade industrial. A consciência sobre
as relações sociais dentro desta sociedade, para agir, não de
acordo com a conjuntura, mas de acordo com a
sustentabilidade das necessidades humanas, pode estabelecer
uma matriz cultural que permitirá a todos os trabalhadores
evoluírem, cada um de sua forma e no seu tempo, rompendo
com a ratificação imposta pelo sistema. Permitindo, portanto, a
conclusão de que empreender é trabalhar com consciência
sobre a sociedade industrial, operando mentalmente antes da
ação profissional, conhecendo a combinação dos conjuntos de
princípios, coordenados entre si que formam a sociedade atual,
identificando os possíveis contextos de atuação e as
possibilidades de causar a evolução humana e social.
Razão
Os trabalhos inseridos nessa linha de pesquisa estão relacionados, entre outros
autores, a Edmund Husserl e seus estudos acerca da consciência humana. A
fenomenologia tem com o objetivo de analisar a essência dos fenômenos, ou seja,
aquilo que é dado diretamente na consciência. Assim, os trabalhos de referencial
fenomenológico visam analisar a experiência humana.
56
No campo da pesquisa sobre empreendedorismo, o trabalho de Boava (2006)
que visa abordar esse fenômeno a partir de um referencial fenomenológico,
objetivando fundamentalmente estreitar os laços da administração com a filosofia.
Esse estudo pretende responder a seguinte questão: qual a essência do
empreendedorismo?
Tal questionamento desloca a pesquisa do campo epistemológico para o ontológico,
o que confere à mesma um caráter eminentemente filosófico. Dessa forma, o autor
desenvolve sua pesquisa empregando o método fenomenológico centrando-se no
ser humano.
Os resultados indicam que o empreendedorismo relaciona-se com as seguintes
unidades de sentido: inovação, gerenciamento, desafios, criação, relacionamento,
teoria na prática, sujeito da ação, pesquisa, incubadora, ôntico/ontológico e
inter/multi/transdisciplinaridade.
Analisando essas unidades a partir das concepções existencialistas de Sartre,
Boava (2006, p.113) conclui que a essência do empreendedorismo é a liberdade.
Nas palavras do autor:
...a essência do empreendedorismo reside na liberdade. Não
se trata da possibilidade que tem o empreendedor de agir
conforme sua vontade e idéias, ou mesmo sua consciência,
mas sim a potencialidade que tal indivíduo tem de agir de
forma autônoma buscando seus objetivos. Sem considerar
condições ou limites, o empreendedor se realiza a partir de sua
autodeterminação, e constitui a si próprio e o mundo que vive.
Ou seja, não há determinantes externos, não há casualidade. A
inovação, os valores recebidos na infância, a capacidade de
gerir etc. são apenas meios para se atingir a liberdade, que é
atingida no momento em que realização do projeto
empreendedor do ser.
57
No limite desta pesquisa, não foram identificados mais trabalhos que abordaram o
fenômeno empreendedor recorrendo à fenomenologia. Em um universo mais amplo,
trabalhos que investigaram a administração a partir das implicações da
consciência humana, como o de Gil (2003), que analisa a aplicabilidade do método
fenomenológico na pesquisa em administração e Thiry-Cheques (2004) que
desenvolve uma linha de argumentação para afirmar que o método fenomenológico
é adequado à ciência da gestão.
No mais, pode-se citar Ehrich (2005) que desenvolve uma proposta de transposição
da filosofia fenomenológica para a pesquisa empírica fenomenológica, no sentido de
aumentar as contribuições que tal metodologia pode trazer a administração.
Vida
Essa linha de pesquisa é composta por trabalhos que se preocupam com a vida
humana, tanto de uma forma hermenêutica existencial como cotidiana. No tocante
ao existencialismo destaca-se Heidegger (1999). os trabalhos que se preocupam
com o mundo cotidiano podem estar relacionados a Alfred Schütz (1972), pois esse
propõe a análise do mundo da vida, na qual o homem olha para esse mundo do
ponto de vista da atitude natural. Tendo nascido nesse mundo que também é social
e cultural o homem vive com seus contemporâneos e por certa a existência
destes sem questioná-la, assim como dá por certa a existência de objetos naturais.
58
Na investigação do fenômeno empreendedor especificamente, encontra-se o
trabalho de Paiva Jr. (2004), que em sua tese de doutorado busca compreender a
influência de características individuais, experiências do cotidiano, atitudes e
comportamentos constantes no significado que o empreendedor atribui a sua prática
empreendedora. A problemática central desse estudo consiste em desvelar qual a
natureza do fenômeno empreendedor sob a ótica de dirigentes de empresas de
base tecnológica.
Para isso, utilizou como referencial metodológico os trabalhos de Alfred Schütz, que
segundo o autor propicia uma análise sócio-existencial da ação social do
empreendedor a partir de suas relações dialógicas e reflexivas em contexto sócio-
cultural, político-econômico e tecnológico. Esse referencial empregado é o mesmo
utilizado na presente pesquisa, contudo o trabalho de Paiva Jr. (2004) centra-se na
análise da ação empreendedora e nessa investigação pretende-se analisar a ação
de empreender visando a formulação de um tipo ideal de ação no campo do
empreendedorismo. Assim, são trabalhos com a mesma base metodológica, mas
com objetivos de pesquisa distintos.
Em seu trabalho, Paiva Jr. (2004) utilizou técnicas de pesquisa fundamentadas na
realização de entrevistas semi-estruturadas, pois sua meta de investigação estava
direcionada para a compreensão do significado do fenômeno empreendedor a partir
da visão dos empresários dirigentes de empresas tecnológicas. Os resultados da
pesquisa desenvolvida com dirigentes de empresas de tecnologia evidenciaram a
existência de categorias universalizantes presentes no ato de empreender, sendo
essas descritas na seqüência.
59
Imaginação Conceitual: corresponde ao conjunto de imagens e às relações que
constituem o capital pensado do empreendedor, denominador fundamental das
criações do pensamento humano (PAIVA JR., 2004, p. 256).
Cultura: define e delimita os conceitos intersubjetivos assimilados pelo
empreendedor no seio da sua experiência vivida num contexto social
historicamente definido (PAIVA JR., 2004, p. 265).
Identidade: no mundo da vida do empreendedor é definida pela sua historicidade,
sendo a identidade prevalente na posição que direciona seus atos intencionais e
se lança no cotidiano sob essa égide (PAIVA JR., 2004, p. 267).
Relações de poder: o empreendedor renuncia a experiências que signifiquem a
sua participação na empresa sem o respectivo poder decisório. Assim, move a
energia no sentido de reconhecer e explorar oportunidade que envolva
tecnologias inovadoras (PAIVA JR., 2004, p. 270).
Expertise: aciona as pontes de transferência e as descobertas de novas formas
de captação de recursos (PAIVA JR., 2004, p. 275). Esse termo é empregado
para denominar competência ou qualidade de um especialista em determinado
assunto, no caso em questão, empreendedorismo.
Interação social: no crescimento do negócio é produto de um “nós eficiente”
esmaltada pelo intento político da construção no plano comunitário mais amplo,
fortalecido para o exercício de pressão junto a atores do poder público ou
representante de entidades setoriais (PAIVA JR., 2004, p. 277).
60
A partir dessas categorias, Paiva Jr. (2004, p. 311) realiza uma reflexão sobre a
natureza do fenômeno empreendedor, concluindo seu trabalho da seguinte forma:
Conhecer o mundo do empreendedorismo, até por sua
característica multidisciplinar e heterogênea exerce, para os
que atuam nos domínios da gestão, um papel de dupla face:
primeiro, é necessário conhecer o que ocorre no mundo da vida
desse empresário no território da sua ação social, com a
missão de prover-lhe subsídios administrativos que lhe
permitam a eficiência no lidar com o ambiente empresarial; em
segundo lugar, cabe aos teóricos das ciências administrativas
compreenderem a dinâmica intersubjetiva com que esse
empreendedor interage com os parceiros estratégicos,
contemporâneos e terceiros no trato do seu objeto e no esforço
inovativo de gerar novas tecnologias gerenciais no ambiente do
mercado onde se acentuam exigências estruturais múltiplas de
forma recursiva e inexorável.
Assim, na linha de pesquisa da razão, não foram encontradas mais produções que
abordam o empreendedorismo a partir dos trabalhos de Schütz.
2.2.3 Explicação x Compreensão
A análise desses dois tipos de pesquisa permite evidenciar que a pesquisa
explicativa obedece a uma lógica objetiva para construção de modelos prescritivos,
visualizando o mundo como circunstancial, os seres humanos como reativos. No
alcance dessa pesquisa, observa-se que grande parte dos estudos acerca do
empreendedorismo apresenta esse caráter explicativo. Por sua vez, a pesquisa
compreensiva parte de princípios subjetivos visando produzir variedades de
interpretações, considerando o mundo um emaranhado de significados atribuídos
por homens criativos.
61
A partir dessas evidências, Bjerke (2000) formulou tipos de empreendedores, sendo
esses apresentados no quadro a seguir. Contudo reforça-se que os seis tipos de
empreendedores não o comparáveis entre si. Os primeiros três tipos de
empreendedores são apropriados à pesquisa explicação, os últimos três tipos à
compreensão.
Perspectiva
O que é um
empreendedor?
Como são
criados novos
negócios?
Como melhorar o
processo de
desenvolvimento do
negócio?
Realidade
concreta e
subordinada às
leis de uma
estrutura
independente
Uma pessoa que
responda racionalmente
a determinado objetivo
e circunstâncias
externas, criando algo
novo
Por
circunstâncias
objetivas e
externas às
pessoas
Introduzindo estímulos
externos às pessoas que
melhor possam explicar
o desenvolvimento do
negócio
Realidade como
um processo
determinado
Pessoa que se
encontra dentro de um
sistema orientado para
um objetivo
Por bom sistema
de desenvolvimento
de negócios
dirigido por um
objetivo
Adaptando as pessoas
ao sistema, tornando-o
cada vez melhor
Realidade como
campos
mutuamente
dependentes da
informação
Uma pessoa com
informação superior
sobre necessidades de
cliente e os recursos
da companhia
Pelos sistemas
de informação,
baseados no
princípio do
feedback,
reagindo a novas
informações
Refinando a informação
sobre os recursos do
sistema e as
necessidades do
mercado
Realidade como
o mundo do
discurso
simbólico
Uma pessoa que vê a
progressão e a
mudança como uma
parte dominante em
seu mundo simbólico
Por uma cultura,
que apresenta
novos negócios
como símbolos
de desenvolvimento
Influenciando a cultura
para o desenvolvimento
símbolos apropriados
para criação de novos
negócios de risco
Realidade como
construção
social
Uma pessoa, que vê o
processo de criação
como uma parte
dominante em sua
realidade diária
O
desenvolvimento
do negócio é
parte natural da
realidade social
Ativando e renovando a
comunicação e as ações
de risco no negócio
Realidade como
manifestação
da
intencionalidade
humana
Uma pessoa que vê
sua existência como
resultado de suas
próprias expectativas e
potencial
Por pessoas com
“intuição eidética”
sobre
desenvolvimento
do negócio
Considerando o poder da
imaginação das pessoas,
e confiando em sua
habilidade criativa
inerente
Quadro 8 – Tipos de empreendedores
Fonte: Bjerke (2000, p.8)
62
Segundo Bjerke (2000) esse quadro possibilita verificar que as pesquisas que visam
explicar o empreendedor e o empreendedorismo atribuem aos mesmos os seguintes
significados:
1. Agente que responde racionalmente às circunstâncias e às mudanças externas,
estando orientado por uma necessidade de realização.
2. Fenômeno colocado em uma estrutura, em um processo ou em um campo da
informação, passível de se analisar e construir modelos de explicação válidos.
Bjerke (2000) afirma ainda que essas definições orientam os principais temas de
pesquisas explicativas que são: empreendedorismo, crescimento e
desenvolvimento; a personalidade empreendedora; as circunstâncias
empreendedoras e processo empreendedor. Tais pesquisas resultam, na maior
parte dos casos, em modelos prescritivos de sucesso.
No entanto, a pesquisa compreensiva atribui ao empreendedor e empreendedorismo
os seguintes significados:
1. Ator que executa suas ações de acordo com os próprios símbolos, realidade
social e intencionalidade.
2. Fenômeno intrínseco a realidade social resultante das ações empreendedoras.
63
Dando seqüência em sua análise, Bjerke (2000) constata que as pesquisas de
compreensão do empreendedorismo podem ocorrer em três campos, a saber:
Nível Individual Social Discurso
Objetivo Construção e
interpretação do
empreendedor
Ação do empreendedor na
realidade social
Controle do discurso
social conhecimento
como o poder
Referencial Fenomenologia/
Hermenêutica
Fenomenologia Social Pós-modernismo
Quadro 9 – Níveis de pesquisa
Fonte: Bjerke (2000, p.9)
Após essa análise mais aprofundada dos tipos de pesquisa, pode-se retomar a
seguinte pergunta: deve-se explicar ou compreender o empreendedorismo? De fato,
constatou-se que as pesquisas de caráter explicativo e compreensivo apresentam
muitas diferenças no tocante as suas metodologias de investigação e referencial
teórico. Contudo, essas diferenças não constituem argumentos para sobrepor a
importância de uma em detrimento da outra. Assim, reforça-se que cada tipo de
pesquisa apresenta sua relevância própria, sendo instrumentos indispensáveis à
construção da epistemologia do empreendedorismo.
A presente pesquisa é de cunho fenomenológico social e visa compreender o
fenômeno empreendedor inserido na sociedade, ainda que em um segundo
momento busque objetivar seus resultados em uma construção típico ideal do
empreendedorismo. Assim, a investigação é orientada pelo estudo da ação
empreendedora em perspectiva social, e não como um ato isolado.
64
A ação é formulada a partir de motivos, conforme visto, porém tais motivações do
ser empreendedor são influenciadas pelo mundo da vida no qual se encontra
inserido e, em constante relacionamento com o outro. Além disso, o resultado de
sua ação não repercute somente em si próprio, envolvendo pessoas que podem ou
não compor seu círculo social. Entenda-se por círculo os indivíduos com os quais o
empreendedor apresenta vivência direta em seu cotidiano. Nickels (2001) argumenta
que a ação deve ser abordada em uma perspectiva social na medida em que:
1 As organizações são criadas socialmente, mediante a participação de pessoas
que assumem o papel de atores;
2 Os atores sociais dispõem de capacidade de cognição e emoção, tendo motivos
e interesses e tomando decisões a respeito de seus próprios atos nas organizações;
3 – Os atores cumprem papéis de protagonistas na construção, manutenção e
modificação das organizações;
4 A compreensão do sentido das situações sociais na organização somente pode
ser conhecida a partir dos significados que os atores atribuem aos seus atos.
5 Os atos relevantes não são apenas os executados por autoridades ou líderes,
mas por todas as pessoas envolvidas no processo.
Nesse sentido, faz-se pertinente discorrer sobre o desenvolvimento do
empreendedorismo na sociedade contemporânea.
65
2.3 O empreendedorismo na sociedade contemporânea
O mundo no qual o empreendedor atua não é um mundo privado, mas uma esfera
comum a todos os indivíduos. É na sociedade que o homem pensa, desenvolve e
finaliza seus pensamentos e ações. Sendo o homem um ser social, não como
analisar suas ações sem compreender a sua vivência na sociedade.
Filion (1999) considera o empreendedor um ser social, produto da época e lugar que
habita e diretamente influenciado por seu círculo de relações ou por líderes e figuras
importantes, tomados como “modelos”. Desse modo, pode-se afirmar que o
empreendedorismo representa também, além das capacidades instrumentais,
técnicas e valores sociais.
Segundo a pesquisa Entrepreneurship Comparative Study in Latin América and
Ásiarealizada em vários países, foi possível constatar que, no caso brasileiro, no
qual foram entrevistados cento e cinqüenta empreendedores, proprietários de
empresas abertas no Estado de São Paulo, a partir de 1990, o perfil encontrado
mostra claramente que o empreendedor é fruto de um processo de desenvolvimento
social (BACIC, 2001).
66
O empreendedor é uma pessoa que se fez dentro da sociedade. Possuidor de
motivações endógenas, relativas à auto-realização e à vontade de colocar em
prática seus conhecimentos, conseguindo transformar estas inquietações em um
empreendimento a partir de uma longa interação com pessoas (família, amigos,
colegas de trabalho, relações comerciais, conhecidos), empresas e com o apoio
relativo de instituições (BACIC, 2001).
Nessa interação encontra e desenvolve as competências necessárias para a ação
empreendedora. Por trás de cada novo empreendimento, mais que um
empreendedor individual encontra-se uma equipe empreendedora. O empreendedor
é um ser coletivo (BACIC, 2001).
Assim, a ação empreendedora pode contribuir significativamente com o
desenvolvimento da sociedade, posto que introduz inovações, satisfaz demandas
específicas e torna mais densas a rede de relações interempresariais (BACIC,
2001).
Logo, destaca-se que o empreendedorismo é visto na sociedade como uma
atividade benéfica e intimamente ligada ao sucesso. O reconhecimento social do
indivíduo como empreendedor depende do alcance de êxito em suas ações. Em
âmbito social a ação empreendedora o é somente, por exemplo, a inovação, mas
a inovação que resulta em sucesso.
Esse cenário vai transformando o empreendedor em uma pessoa bem quista, um
herói, seja no ambiente empresarial ou em qualquer outra esfera social, posto que é
sinônimo de determinação, coragem e liderança.
67
Souza Neto (2001) afirma a literatura de negócios em geral torna o empreendedor
um “super homem” entre os demais atores da sociedade. Segundo o autor, histórias
que narram trajetórias de empresários de sucesso fomentam a criação de um
imaginário de poder e de sucesso vinculado ao empreendedor, contribuindo para a
criação de uma imagem romântica desse indivíduo.
Assim, o empreendedorismo assume um papel social próprio, sendo que o
empreendedor passa a depender do êxito para ser reconhecido e valorizado. No
ambiente empresarial, o agente empreendedor passa a apresentar tarefas
diferenciadas do administrador, sendo considerado um gestor da inovação e não
apenas um gestor de negócios. O quadro a seguir ilustra a assertiva acima.
Temas Administrador Empreendedor
Motivação principal
Promoção e outras recompensas
tradicionais da corporação, como
secretária, status, poder etc.
Independência, oportunidade
para criar algo novo, ganhar
dinheiro
Referência de tempo
Curto prazo, gerenciando
orçamentos semanais, mensais etc.
e com horizonte de planejamento
anual
Sobreviver e atingir cinco a
dez anos de crescimento do
negócio
Atividade Delega e supervisiona Envolve-se diretamente
Status Preocupa-se com o status e como é
visto na empresa
Não se preocupa com o
status
Como vê o risco Com cautela
Assume riscos calculados
Falhas e erros Tenta evitar erros e surpresas Aprende com erros e falhas
Decisões
Geralmente concorda com seus
superiores
Segue seus sonhos para
tomar decisões
A quem serve
Aos outros (superiores)
A si próprio e aos seus
clientes
Histórico familiar
Membros da família trabalharam em
grandes empresas
Membros da família possuem
pequenas empresas ou
criaram algum negócio
Relacionamento
com outras pessoas
A hierarquia é a base do
relacionamento
As transações e acordos são
à base do relacionamento
Quadro 10 – Diferenças entre administrador e empreendedor
Fonte: adaptado de Dornelas (2001)
68
Dessa forma, o meio social empresarial acaba por diferenciar, ou seja, abrir lacunas
entre o administrador e o empreendedor. Alguns autores reforçam que isso deveria
ser evitado, pois o ideal era que todos os gestores apresentassem uma integração
de habilidade técnicas e empreendedoras.
Essas diferenças, aliadas à crença que o empreendedor induz o desenvolvimento
econômico fazem com que, conforme visto anteriormente, o empreendedorismo seja
cada vez mais inserido nas matrizes curriculares de vários cursos, além de ser
trabalhado em escolas de formação básica.
Essa inserção é uma comprovação que a atividade empreendedora é vislumbrada
positivamente pela sociedade, além de estar se configurando em uma necessidade.
O empreendedor passa a ser um modelo a ser seguido.
Para Dornelas (2001, p. 21):
...o momento atual pode ser chamado de era do
empreendedorismo, pois são os empreendedores que estão
eliminando barreiras comerciais e culturais, encurtando
distâncias, globalizando e renovando os conceitos econômicos,
criando novas relações de trabalho e novos empregos,
quebrando paradigmas e gerando riqueza para a sociedade.
Desse modo, essa pesquisa analisa a ação empreendedora de um agente inserido
em uma sociedade que o vislumbra como sinônimo de sucesso. Para isso, a seguir
discute-se o todo de investigação adequado a essa pesquisa para a abordagem
social do empreendedorismo.
69
3. SOBRE O MÉTODO
O trabalho realizado por Alfred Schütz busca estabelecer os fundamentos de uma
sociologia fenomenológica. Para isso, o autor utilizou-se da obra fenomenológica de
Husserl para aprofundar a sociologia da compreensão desenvolvida por Max Weber.
Schütz (1972) objetivava, ainda, solucionar a questão da metodologia da pesquisa
em ciências sociais. Essa problemática, conforme discutido em tópico anterior, surge
em função de alguns estudiosos acreditarem ser possível investigar a sociedade
empregando uma metodologia similar à usada na pesquisa em ciências naturais.
Para lograr êxito em tal pretensão, o autor tentou conciliar subjetividade e
objetividade, propondo a construção típico-ideal de objetos de pesquisa social. Para
isso, ele utilizou-se da fenomenologia para desvelar os significados singulares dos
fenômenos sociais e da formulação de tipos ideais weberianos na tentativa de
objetivar e generalizar seus resultados. Destaca-se que esses tipos ideais não
constituem um “dever ser” axiológico, ou seja, um modelo de perfeição, mas sim
uma cristalização das experiências das pessoas no mundo cotidiano, sendo
resultado de um processo de interseções que deriva para uma síntese de
reconhecimento do objeto em estudo (SCHÜTZ ,1972).
Portanto, não como analisar o pensamento de Schütz (1972), sem antes
apresentar uma breve introdução dos pressupostos da fenomenologia de Husserl e
da Sociologia Compreensiva de Weber.
70
3.1 Fenomenologia
Em “A idéia da fenomenologia”, Husserl define-a como uma ciência, uma conexão
de disciplinas científicas; mas, ao mesmo tempo e acima de tudo, a “fenomenologia”
designa um todo e uma atitude intelectual: a atitude especificamente filosófica,
um método especificamente filosófico (HUSSERL, 1990).
Para Rezende (1990), a fenomenologia não é um discurso da evidência, mas das
verdades em todas as suas manifestações. Sanders (1982) complementa argüindo
que a fenomenologia procura tornar explícita a estrutura e o significado implícito da
experiência humana.
Masini (1989), por sua vez, apresenta a fenomenologia como tendo, enquanto
objeto de estudo, o próprio fenômeno, ou seja, as coisas mesmas e não o que se diz
delas. O enfoque fenomenológico furta-se à validação do conceituado sem prévia
reflexão e volta-se para o não pensado, através de uma reflexão exaustiva sobre o
objeto de seu estudo, denunciando os pressupostos subjacentes.
O ponto de partida de toda investigação fenomenológica são as experiências do ser
humano consciente, que vive e age em um mundo que ele percebe e interpreta e
que faz sentido para ele. Para lidar com esse mundo, ele utiliza um modo de
intencionalidade espontâneo, em termos intelectuais, mas ainda assim ativo: não
fase ou aspecto da consciência humana que surja de si e por si próprio; a
consciência é sempre consciência de algo (SCHÜTZ, 1979).
71
Assim, na fenomenologia a intencionalidade da consciência do pesquisador é tida
como fato primário e irredutível e apresentada como uma direção do fluxo da
consciência, refletida em uma vivência intencional que se concretiza pelos atos
voltados ao seu objeto de investigação. Segundo Capalbo (1996, p.19):
A consciência se define essencialmente em termos de intenção
voltada para um objeto. Perceber não é receber sensações na
psique. Não nos é possível separar o fenômeno e a coisa em
si. O fenômeno é conhecido diretamente, sem intermediários,
ele é objeto de uma intuição originalmente doadora.
Logo, a fenomenologia descreve e analisa o significado e a relevância da
experiência humana, sendo uma tentativa elucubrativa para resgatar o contato
original com o objeto, que se perdeu em especulações metafísicas abstratas ou
reduções matemáticas. Sempre há uma volta às origens (BOAVA, 2004).
Por fim, visando uma maior compreensão dessa vertente filosófica, apresenta-se
uma síntese dos principais fundamentos da fenomenologia proposta por Edmund
Husserl, de acordo com Banda (2004).
Trata-se de um método derivado de uma postura, que se presume livre de
pressupostos, que tem como objetivo proporcionar o conhecimento filosófico e as
bases sólidas de uma ciência do rigor.
Analisa os fenômenos inerentes à consciência e não especula sobre visões pré-
concebidas, isto é, fundamenta-se na essência dos fenômenos e na subjetividade
transcendental, considerando que as essências somente existem na consciência.
72
É um método descritivo, conduzindo a resultados específicos que não permitem
generalizações, como no caso da pesquisa científica pertinente às ciências
naturais.
Portanto, a fenomenologia, conhecimento fundamentado nas essências, é um saber
absolutamente necessário que se contrapõe ao conhecimento baseado na
observação dirigida dos dados.
3.2 Sociologia Compreensiva
Weber (1991) acreditava que as ciências naturais e sociais apresentavam uma
diferença considerável entre si. O homem, objeto de interesse e estudo das ciências
sociais, possui certo grau de consciência de seus atos, ao passo que os objetos de
estudo naturais são desprovidos de consciência. Assim, define sociologia como uma
ciência que tenta compreender de modo interpretativo a ação social e através disso
explicá-la causalmente em termos de curso e efeitos.
Tal ação é uma conduta humana que envolve significância para o próprio indivíduo
praticante do ato. Tal conduta representa o caminho para compreensão da
sociedade através da apreensão das intenções do homem. Contudo, destaca-se que
conduta humana somente é considerada ação quando está dotada de significado.
Essa conduta intencionada e intencional torna-se social quando é dirigida à conduta
de outros. Desse modo, Weber (1991) torna claro que, em se tratando do estudo
científico da sociedade, deve-se orientar pelos agentes sociais e, em particular, pelo
significado que a ação social teve para ele (GORMAN, 1979).
73
O sociólogo destaca duas possibilidades de abordagem da ação social:
Real: fundamenta-se através da observação do procedimento visível do ser
humano, o que remete a sua intenção inicial.
Explanatória: pressupõe um maior aprofundamento para compreensão da
motivação do homem enquanto agente social.
O autor apresenta ainda uma tipologia da ação social, a saber:
1. Racional segundo fins pré-estabelecidos: orientada por expectativa no
comportamento, tanto de objetos externos, como de outros homens, e utilizando
essas experiências como condições ou meios para conseguir fins particulares,
racionalmente avaliados e perseguidos.
2. Racional segundo valores: orientada pela crença consciente no valor (ético, moral,
religioso, entre outros).
3. Afetiva: orientada por emoções e estados sentimentais atuais (prazer, vingança,
ódio, amor, entre outros).
4. Tradicional: determinada por um costume, geralmente, passado hereditariamente.
74
Weber (1961) interessou-se substancialmente pela ação racional, não por achar que
seja o tipo mais freqüente de ação humana, mas por ser o mais acessível à análise
de um possível observador (SCHÜTZ, 1979). Para estudar esse tipo de ação, o
autor propôs a construção de tipos ideais, que são construções de um tipo extremo
da conduta humana, evidenciando suas condições puras. Nos dizeres de Weber
(1961, p.115):
Um tipo ideal é formado pela acentuação unilateral de um ou
mais pontos de vista e pela síntese de um grande número de
fenômenos individuais concretos, difusos, discretos, mais ou
menos presentes e ocasionalmente ausentes, e que são
dispostos conforme os pontos de vista unilaterais numa
construção analítica unificada. Em sua pureza conceitual, esse
construto mental não pode ser encontrado empiricamente em
parte alguma da realidade.
Vale ressaltar que o tipo ideal proposto por Weber somente é válido para análise de
ações racionais, posto que esse tipo representa uma tentativa de prevenção do
comportamento social. Schütz (1979, p.23) afirma que o tipo ideal:
...facilita a verificação de como os fatos empíricos se desviam
do ideal, e quais os fatores acidentais e irracionais que causam
esse desvio. O procedimento da investigação é muito simples.
Os observadores descobrem se os fatos empíricos
selecionados levam, de fato, a resultados consistentes com as
intenções subjetivas do agente (racional). Fazem isso, pela
criação de um modelo ideal que indica um típico objetivo
racional desejado, e os típicos meios racionais adequados para
alcançar o objetivo proposto. Pela comparação empírica das
ações observadas com o tipo ideal, os pesquisadores podem
julgar se os atores sociais fizeram as suposições corretas no
que diz respeito as suposições sobre a conduta dos outros,
como os objetivos poderiam ser atingidos de forma mais
eficiente e que fatores imprevisíveis podem ter influenciado o
resultado.
Portanto, Weber (1961) definiu como função da sociologia não a especulação
metafísica e sim uma descrição simples e cuidadosa da vida social.
75
3.3 Fenomenologia Social
Para Schütz (1972) a primeira tarefa da sociologia fenomenológica consiste em
descrever os processos de estabelecimento e interpretação de significado tal como
os realizam as pessoas que vivem no mundo social. Ressalta que esta descrição
pode ser empírica ou eidética. Pode tomar como tema a pessoa ou o tipo. Pode
realizar-se em situações concretas da vida cotidiana ou com alto grau de
generalidade. Além disso, a sociologia fenomenológica pode enfocar os objetos
culturais e tratar de compreender o seu significado, aplicando-lhes os esquemas
interpretativos. Nesse pico, aborda-se os principais aspectos dessa vertente
teórica que se constitui o referencial empregado na presente pesquisa.
3.3.1 Fundamentos – Intersubjetividade no mundo da vida
Os trabalhos de Alfred Schütz se baseiam no pressuposto inicial que o homem vive
no mundo do senso comum ou da vida, relacionando-se com outros homens. O
mundo da vida cotidiana:
...significa o mundo intersubjetivo que existia muito antes do
nosso nascimento, vivenciado e interpretado por outros, nossos
predecessores, como um mundo organizado. Ele agora se à
nossa experiência e interpretação. Toda interpretação desse
mundo se baseia num estoque de experiências anteriores dele,
as nossas próprias experiências e aquelas que nos são
transmitidas por nossos pais e professores, as quais, na forma
de “conhecimento à mão”, funcionando como um código de
referência (SCHÜTZ, 1979, p. 72).
76
O homem vive nesse mundo em uma constante atitude natural, ou seja, sempre
adota uma postura mental que as coisas são tidas como pressupostos. Em atitude
natural, o homem aceita a existência da sociedade, compreendendo que o mundo
não é privado, mas sim comum a todos.
Nesse sentido, o homem como pressuposto a existência material de
semelhantes, sua vida consciente, a possibilidade de intercomunicação e a
qualidade histórica da organização social e da cultura, da mesma forma que
como pressuposto o mundo da natureza no qual nasceu (SCHÜTZ, 1979).
Assim, o homem visualiza que além do ego que há dentro dele, existe o alter ego, ou
seja, toma consciência da existência do outro. Devido a isso, Schütz (1972) afirma
que o mundo da vida é essencialmente intersubjetivo. Esse homem interpreta de
forma espontânea sua rotina de afazeres diários, legitimando todos os valores
intrínsecos à vida social, tais como regras de controle, relações de poder, classes,
religião, trabalho e demais tipos de contratos para convivência social. Além disso, o
homem possui uma situação biográfica determinada, apresentando uma história
resultante da sedimentação de todas as suas experiências (SCHÜTZ, 1972).
Dessa forma, dependendo das motivações, crenças, valores, costumes vivenciados
pelo ser, esse apresentará uma percepção distinta e particular do mundo. A situação
biográfica é específica de cada sujeito. Nesse sentido, pode-se dizer que o mundo
da vida cotidiana, comum a todos, se torna único e particular quando observado a
partir de uma dada situação biográfica. Logo, o mundo quando filtrado através de
“minha” situação biográfica se torna o “meu” mundo (GORMAN, 1979).
77
Faz-se necessário ressaltar um outro aspecto relevante na situação biográfica de
vida que é o conhecimento empregado para se interpretar o mundo. Tal
conhecimento constitui um padrão para assimilação e reconhecimento de
informações, podendo ser denominado “acervo de conhecimento ao nosso alcance”.
Esse acervo de conhecimento são tipificações acumuladas desde a infância, que
permitem ao homem representar o mundo do senso comum ou da vida.
Assim, em qualquer parte do mundo, o homem, ao analisar objetos, animais,
plantas, automóveis, saberá reconhecê-los e decodificá-los de imediato,
independentemente do estabelecimento de diálogo com outra pessoa.
Nesse processo, algumas características gerais desses elementos são priorizadas,
em um primeiro momento, em detrimento de sua individualidade. Ao vislumbrar uma
árvore, o homem a reconhece imediatamente, sem considerar o tamanho do seu
tronco, tonalidade de suas folhas, ou demais características que a individualizam.
Essas serão analisadas posteriormente, nunca excluídas.
Logo, as tipificações são esquemas descritivos impessoais de reconhecimento
universal do mundo da vida. Esse acervo de conhecimento é dinâmico e particular,
se enriquecendo e ampliando no decorrer da existência humana (SCHÜTZ, 1972).
Assim, ainda que a situação biográfica permita a objetivação do mundo da vida, ela
é essencialmente subjetiva. O homem define sua espacialidade e temporalidade de
acordo com suas próprias posições no espaço e tempo.
78
As expressões em frente, ao lado, próximo, existem em função da localização do
homem que as utiliza, como o agora, mais tarde são empregadas em função de
aspectos temporais desse mesmo ser (GORMAN, 1979).
Com base nessa questão da temporalidade e espacialidade, Schütz (1972) aponta a
existência de quatro tipos de alter ego na sociedade, a saber:
Predecessores pessoas que existiram em uma realidade passada. Somente
tomamos consciência de sua existência por leituras ou relatos.
Contemporâneos pessoas que estão vivas na mesma realidade temporal, ou
seja, no presente.
Consócios pessoas que convivem diretamente na mesma realidade temporal e
espacial.
Sucessores pessoas que viverão após a morte dos contemporâneos e
permanecerão anônimas para os mesmos para sempre.
Dentre esses tipos de pessoas, destaca-se os contemporâneos e consócios, pois
somente esses são capazes de estabelecer um “relacionamento Nós” e vivenciarem
uma “situação face a face”.
79
Esses termos foram cunhados por Schütz (1972) e advêm do fato da consciência do
ser desenvolver “orientações para o tu” (alter ego), ou seja, em sua forma pura, as
“orientações para o tu” surgem da captação por uma pessoa da existência de outra
em interações face a face.
Assim, se a “orientação para o tu”, de uma pessoa é correspondida por outra, se
ambas intencionalmente se voltam uma para outra, resulta daí um “relacionamento
Nós”. O envolvimento “face a face” com os outros é a principal forma de encontros
sociais.
Tal envolvimento, geralmente, acontece quando duas pessoas compartilham a
mesma comunidade de espaço e tempo, em suma, é a consciência da presença do
outro. Devido a isso, ocorre a simultaneidade da vida, na qual um ser pode
experienciar o fluxo de pensamento do outro.
Esse conceito de simultaneidade se deve ao fato do homem só poder atribuir
significado a sua ação passada ou futura, sendo que no presente cabe a ele
observar as vivências dos demais quando ocorrem realmente. Ao homem cabe
esperar que suas ações transcorram para poder refletir sobre elas no passado. Para
Schütz (1972), ninguém pode se ver em ação, assim como tampouco pode conhecer
o estilo de sua própria personalidade.
80
Nos dizeres de Gorman (1979, p. 55):
Embora, de modo geral, conheçamos mais sobre nós mesmos
do que sobre o alter ego, uma impressão de que nosso
conhecimento dele ultrapassa o nosso autoconhecimento.
Quando refletimos sobre nós mesmos, percebemos apenas
atos passados, pois o ato de refletir requer que olhemos para
uma parte de nós mesmos que já “foi”, e que é agora olhada de
certa distância. O presente é inacessível à atitude reflexiva.
Mas o nosso conhecimento do outro, ao contrário, é obtido
dentro do presente imediato pela compreensão de sua
subjetividade em nossas atuais correntes de consciência. O
alter ego é, consequentemente, definido como “aquela corrente
subjetiva de pensamento que pode ser vivenciado no seu
presente vivido”.
Dessa forma, somente em um “relacionamento s” compreende-se os significados
que os outros atribuem aos fatos, visualizando sua singularidade derivada de sua
situação biográfica particular.
A partir disso, tem-se que o mundo social ou da vida é intersubjetivo, comum a todos
os homens. Nesse mundo, o homem se relaciona e confere significado a sua ação.
A ação no mundo da vida é delineada como ação social quando o ator a direciona
para outras pessoas, as quais ele vislumbra como seres conscientes
(SCHÜTZ,1972).
3.3.2 A motivação presente na ação social
Schütz (1972), após fundamentar seu trabalho na intersubjetividade do mundo da
vida, volta seu interesse para o estudo da ação social racional que se desenvolve no
cerne desse ambiente.
81
Para Banda (2004, p. 22) esse interesse é despertado na medida em que:
...os fenômenos sociais que abarcam os atos humanos não
podem ser compreendidos sem serem vistos como atividades
humanas de criação, ou seja, sem conhecer os propósitos para
os quais estão sendo destinados, bem como sem refletir essas
atividades aos motivos que as originaram. Pela teoria dos
motivos pode-se aprofundar a teoria da ação humana.
Destaca-se que todas as considerações feitas por esse estudioso acerca da ação
social são condicionadas à racionalidade da mesma, ou seja, Schütz (1972) abordou
fundamentalmente, segundo a classificação weberiana, a ação social orientada para
objetivos.
Isso se justifica por esse tipo de ação ser um resultado mais direto da
intencionalidade da consciência, um dos pressupostos básicos da fenomenologia:
toda consciência é consciência de algo (HUSSERL, 1988).
Para compreensão dessa ação social é necessário, primeiramente, conhecer o
significado da expressão “possibilidades problemáticas”. Esse conceito relaciona-se
com o ato da reflexão desenvolvida pelo homem antes de agir. Tal reflexão leva o
homem a suspender sua atitude natural de aceitação perante o mundo, esse passa
a perceber que é livre para decidir o curso de sua vida.
Assim, o indivíduo projeta a sua ação no futuro, qual a melhor maneira de executá-la
para alcançar o fim desejado. Nesse ponto, ele confronta-se com a dúvida entre as
possibilidades existentes para concretização de sua ação.
82
Destaca-se que as possibilidades problemáticas não são apenas possibilidades em
aberto. As possibilidades problemáticas pressupõem contestação, ou seja, as
opções se contradizem, cada uma delas tem uma solução diferente e oposta para a
resolução de uma questão. Assim, cabe ao ator escolher livremente qual das
possibilidades serão concretizadas.
A liberdade confere à ação um caráter subjetivo. Segundo Schütz (1972, p.96):
...a ação voluntária é o critério da conduta significativa, o
“significado” dessa conduta consiste na escolha: na
liberdade para se comportar de uma maneira ou de outra. Isto
significa não que a ação é “livre”, mas que os fins dos atos
se conhecem apenas no momento da decisão, em síntese,
existe uma livre escolha entre os possíveis fins.
Aprofundando seus estudos sobre a projeção e liberdade de escolhas intrínsecas à
ação social, Schütz (1972) verifica a existência de dois tipos de motivos presentes
nessa ação, o “motivo para” e o “motivo porque” de sua execução.
Os “motivos para”, geralmente, evidenciam a existência de um projeto de vida do
sujeito, uma projeção do futuro, ou seja, a ação está ligada a um plano de conduta.
Esse plano é elaborado com base “no acervo de conhecimento ao nosso alcance”,
em especial, fundamentado em experiências passadas semelhantes ao projeto
atual. Para Gorman (1979, p. 61):
Todos os motivos individuais “a fim de” são formas
fragmentárias dentro de um plano preconcebido para toda vida.
Esse projeto de vida nos fornece um critério para determinar
subjetivamente a “melhor” escolha em determinadas situações.
Em outras palavras, não existem projetos isolados. Todos os
motivos “a fim de” e projetos a longo prazo são formados
subjetivamente por cada ator livre.
83
Grande parte dos motivos para” o projetados através de um processo de
idealização particular baseada na idéia de “posso fazer isso novamente”. No mundo
da vida utiliza-se do passado para construção de modelos que orientem o alcance
dos fins desejados.
Ao se introduzir o passado na busca pelos motivos para” encontra-se as
manifestações dos “motivos porque” da ação social. Esses últimos são
acontecimentos concluídos na vida do ator social. Eles explicam certos aspectos
da realização do projeto, portanto, têm uma realidade temporal voltada para o que
ocorreu. Segundo Schütz (1974a, p.89):
O motivo pode ter um sentido subjetivo e outro objetivo.
Subjetivamente, se refere à experiência do ator que vive no
processo em curso de sua atividade. Para ele, o motivo
significa o que tem realmente em vista e que confere sentido a
ação que desempenha, e este é sempre o “motivo para”, a
intenção de criar um estado de coisas, de alcançar um fio pré-
concebido. Entretanto, o ator vive sua ação em curso, não
tendo em vistas seus motivos do tipo “porque”. Somente
quando a ação foi cumprida pode voltar a sua ação passada
como observador de si mesmo e investigar as razões que o
levaram a agir daquela forma. Em todos os casos, os “motivos
porque” se referem às experiências passadas. Por sua
estrutura temporal, somente se revela através de um olhar
retrospectivo.
Desse modo, os “motivos porque” constituem uma categoria objetiva acessível ao
observador. Tais motivos constituem causas objetivas dos projetos humanos, livres e
subjetivamente definidos.
84
Sob essa perspectiva, considera-se que a ação empreendedora constitui um projeto,
trazendo em si os “motivos para” do sujeito empreendedor e quando realizada
permite a atitude reflexiva desse mesmo sujeito, conduzindo o investigador aos
“motivos porque” da ação. Assim, verifica-se que a ação social desenvolvida no
mundo da vida envolve motivação, racionalidade, planejamento, projeção, liberdade
de escolha, e deliberação (SCHÜTZ, 1979).
A partir dessa investigação da ação social, Schütz (1972) propõe a construção de
tipos ideais, um enquadramento específico para dar relevo à diversidade dos
fenômenos sociais. Esse tipo centra-se no processo da conduta da ação.
A compreensão do tipo ideal deduz em uma forma característica do “motivo para” e
o “motivo porque” de um ato manifesto através da identificação da meta e da
justificativa constantemente objetivada para o ato.
Schütz (1972) constata que quando o ser humano se distancia de um
“relacionamento Nós” com outro indivíduo, ocorre uma perda das características
específicas desse outro. Nesse caso, o ser passa a construir linhas de ação que
prescrevem o comportamento típico esperado, de atores típicos, em situações
típicas.
Após essa tipificação, Schütz (1972) propõe ainda a tipificação de uma pessoa ideal
para determinada conduta humana, ou seja, o autor acredita que é possível objetivar
o processo de execução de uma ação e da pessoa que a realiza. Ambos os tipos
são estreitamente ligados.
85
Os tipos ideais de pessoas são anônimos, ou seja, não importa quantas pessoas
são categorizadas sob o tipo ideal, ele não corresponde a nenhuma delas em
particular. Segundo Schütz (1979, p. 221) foi exatamente isso que levou Weber
(1961) a chamá-lo de “ideal”.
O tipo ideal em Schütz (1972) é elaborado a partir da vivência dos sujeitos. Segundo
Jesus et. al. (1998, p. 32) é o tipo vivido cujo sentido é obtido num ato vivido. O tipo
vivido concreto possibilita a compreensão das formas significativas de vivência e a
compreensão significativa de uma subjetividade comum.
3.3.3 O Tipo Ideal na Pesquisa Social
Schütz (1974b, p. 85) utiliza o termo títere para qualificar o tipo ideal de Weber
(1961), em função de o pesquisador poder criar, observar e analisar os seres
humanos no cenário social que investiga. A análise do mundo social indica a origem
da tipificação. Na vida diária, o homem tipifica as atividades humanas como meios
adequados para lograr determinados efeitos, não como emanações da
personalidade de seus semelhantes. Assim, o tipo ideal na pesquisa social é um
quadro de análise utilizado para se esclarecer o problema para o qual foi construído.
Bruyne, Herman e Schoutheete (1991, p. 31-36), investigando a dinâmica da
pesquisa nas ciências sociais, observam que esta é complexa, sendo o ambiente
societal de importância fundamental nessa discussão, pois desde o início e ao longo
de toda sua elaboração a investigação é influenciada por uma série de fatores,
chamados de campos, que atuam no seu desenvolvimento.
86
Campo da demanda social: como membro de uma sociedade específica, o
pesquisador tem sua atividade legitimada pelo sistema sócio-cultural desse meio. O
conjunto de pesquisadores, as teorias e as experiências, os rituais e as normas, as
instituições acadêmicas e científicas exercem controle sobre a pesquisa. Essa
sociedade do discurso elabora a ética da pesquisa e a uniformização da linguagem.
Campo axiológico: implica os valores sociais e individuais que condicionam a
pesquisa científica. Os valores culturais impõem ao pesquisador a escolha de suas
problemáticas, dos temas que investiga.
Campo doxológico: o senso comum, o saber não sistematizado, as evidências da
prática cotidiana. A prática científica retira desse campo suas problemáticas
específicas, possibilitando o surgimento de conhecimentos mais elaborados.
Campo epistêmico: estado das teorias, da reflexão epistemológica, metodologia e
técnicas de investigação. aqui o reconhecimento do grau de objetividade do
conhecimento científico.
A metodologia é a lógica dos procedimentos científicos em sua gênese e em seu
desenvolvimento, devendo ajudar a explicar não somente os resultados das
investigações, como ainda o processo de identificação dos mesmos. Nesse sentido,
esses campos de influência na pesquisa social, são articulados a partir de quatro
pólos metodológicos que determinam à prática científica e concorrem para a
cientificidade das práticas de pesquisa.
87
Para Bruyne, Herman e Schoutheete (1991) os pólos apresentam as seguintes
assertivas:
Pólo epistemológico: garantia da objetivação (produção) do objeto científico.
Decide as regras de produção e de explicação dos fatos, da compreensão e da
validade das teorias. Faz uso de processos discursivos e métodos como a dialética,
a fenomenologia, a lógica hipotética-dedutiva e a quantificação. Esses processos
não se excluem mutuamente, podendo ser onipresentes, ou não aparecer em certos
tipos de pesquisa.
Pólo teórico: embasa a formulação de hipóteses e construção de conceitos. Propõe
regras de interpretação dos fatos, de especificação e de definição das soluções
dadas às problemáticas. Utiliza quadros de referência que desempenham papel
paradigmático implícito, sendo os principais o positivista, o compreensivo, o
funcionalista e o estruturalista.
Pólo morfológico: enuncia as regras de estruturação e de formação do objeto
científico, além de ordenar seus elementos constituintes. Os principais quadros de
análise são a tipologia, o tipo ideal, o sistema e os modelos estruturais.
Pólo técnico: controla a coleta de dados, sendo os principais modos de
investigação o estudo de caso, estudos comparativos, experimentações e
simulação. Esses modos de investigação indicam escolhas práticas pelas quais os
pesquisadores optam por um tipo particular de encontro com os fatos empíricos.
88
A figura a seguir sintetiza essas colocações.
Figura 2 – Pólos metodológicos
Fonte: Bruyne, Herman e Schoutheete (1991, p. 36)
Desta maneira, esta pesquisa faz uso no tocante ao pólo epistemológico do método
fenomenológico, que não investiga objetos em si, mas a representação deles na
consciência. A partir dessas representações do objeto na consciência a
fenomenologia busca extrair as essências do fenômeno. Assim, o método
fenomenológico busca, antes de mais nada, ultrapassar uma visão superficial ou
aparente intuição, em busca de uma evidência absoluta e perfeita que seja completa
e claramente estabelecida, não necessitando de nada além dela mesma para dar a
sua forma (BURRELL; MORGAN, 1979).
89
Nas dimensões do pólo teórico, a presente pesquisa apresenta um quadro de
referência compreensivo, que se firma no pressuposto que a realidade social não
possui existência concreta, mas é produto da experiência subjetiva. Para entendê-lo,
é preciso priorizar a percepção dos participantes em detrimento do ponto de vista do
observador.
Em relação ao quadro de análise, referente ao lo morfológico, esse trabalho não
se adequa a nenhuma das opções traçadas por Bruyne, Herman e Schoutheete
(1991). Isso ocorre em função da pesquisa propor a construção de um esquema
interpretativo típico-ideal de empreendedorismo, e não o emprego de um tipo ideal já
existente para análise dos dados coletados.
De forma similar, o estudo não se enquadra perfeitamente em um modo de
investigação apresentado no pólo técnico. apenas uma possibilidade de se
utilizar a classificação “estudo de caso”, que a pesquisa se desenvolve no
universo dos empreendedores envolvidos no meio social de uma incubadora
tecnológica. Contudo, pretende-se a objetivação dos resultados ao se formular o tipo
vivido, característica incompatível com as pretensões investigativas de um estudo de
caso. Segundo Triviños (1987) no estudo de caso, os resultados são válidos para
o caso que se estuda. o se pode generalizar o resultado atingido. Nesse ponto
encontra-se o grande valor do estudo de caso: fornecer um conhecimento
aprofundado de uma realidade delimitada
Na seção seguinte, são descritos os procedimentos metodológicos que orientaram o
desenvolvimento dessa pesquisa.
90
4. TRAJETÓRIA DA PESQUISA
Neste capítulo, a preocupação central é descrever os caminhos trilhados na tentativa
de solucionar a problemática proposta na parte introdutória desse trabalho. São
apresentados o delineamento e as questões norteadoras da pesquisa elaboradas
em consonância com os objetivos específicos estipulados. Apresenta-se ainda o
processo de coleta de dados, que se baseia na realização de entrevistas semi-
estruturadas com empreendedores que desenvolvem ações no meio social da
Incubadora Tecnológica de Maringá. Esses empreendedores constituem os sujeitos
da investigação.
Por fim, tem-se a descrição dos métodos de análise dos dados. Inicialmente,
discute-se a dinâmica da abordagem fenomenológica de Sanders (1982) empregada
na interpretação dos dados coletados nas entrevistas. Em seguida, apresenta-se os
postulados necessários à construção de tipos ideais.
4.1 Delineamento da Pesquisa
Esse trabalho é estruturado a partir de uma abordagem qualitativa de delineamento
na linha da fenomenologia social, uma vez que o interesse de pesquisa encontra-se
no processo e na forma como o fenômeno se manifesta. Segundo Minayo (1998,
p.10), a pesquisa qualitativa é:
...aquela que incorpora a questão do significado e da
intencionalidade como inerentes aos atos, às relações e às
estruturas sociais. O estudo qualitativo pretende apreender a
totalidade coletada visando, em última instância, atingir o
conhecimento de um fenômeno em sua singularidade.
91
Nesse sentido, os fenômenos que não prestam a uma fácil quantificação são os
mais apropriados para serem analisados por procedimentos da pesquisa qualitativa
em que, segundo Martins e Bicudo (1989) busca-se, diferentemente da pesquisa
quantitativa, uma compreensão particular daquilo que estuda.
O tratamento qualitativo consiste em um conjunto de diferentes técnicas
interpretativas que visam descrever e decodificar os componentes de um sistema
complexo de significados. Esse tratamento se caracteriza pela adoção dos seguintes
pressupostos:
Compreensão da perspectiva dos agentes envolvidos no fenômeno;
Visão holística do fenômeno;
Consciência da natureza dinâmica da sociedade;
Observação do contexto natural do fenômeno, sem estabelecimento de controle.
Assim, a base dessa pesquisa é qualitativa e descritiva. A pesquisa fenomenológica
parte da compreensão do viver e não de definições ou conceitos, e é uma
compreensão voltada para o perceber.
Essa compreensão, que orienta a atenção para aquilo que se vai investigar, é
advinda, segundo Masini (1989), da volta ao mundo da vida, no confronto com o
mundo de valores, crenças ações conjuntas, no qual o ser humano se reconhece
como aquele que pensa a partir desse fundo anônimo que está e se visualiza
como protagonista nesse mundo da vida.
92
A questão da formulação do tipo ideal de empreendedorismo pode levar a um
questionamento do caráter qualitativo da pesquisa. Contudo, ressalta-se que essa
objetivação dos resultados é baseada em uma abordagem essencialmente subjetiva
dos significados que os empreendedores atribuem a esse fenômeno. Para validar
essa assertiva, recorre-se a Ludke e And(1986) que enumeram as características
básicas da pesquisa qualitativa, a saber:
1 - A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o
pesquisador como seu principal instrumento;
2 - Os dados coletados são predominantemente descritivos;
3 - A preocupação com o processo é muito maior que com o produto;
4 - O significado que as pessoas conferem às coisas e a sua vida são focos de
atenção especial do pesquisador;
5 - A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo. Os pesquisadores não
se preocupam em buscar evidências que comprovem hipóteses definidas antes do
início dos estudos.
Dessa forma, tem-se que essa pesquisa contempla as principais características da
pesquisa qualitativa, posto que o ponto condutor do trabalho consiste na descoberta
e análise do significado da ação empreendedora atribuída por empresários
incubados.
93
Segundo Von Mises (1986, p. 104)
O tipo ideal nada tem a ver com médias estatísticas. A maior
parte dos elementos que o caracterizam não admitem
ponderação numérica, pelo qual é impossível pensar em
deduzir médias aritméticas nesta matéria.
Corroborando essa visão, Nickels (2001) afirma que as tipificações do sentido
comum são de índole qualitativa, descartando qualquer análise quantitativa baseada
em estatística.
Assim, a construção típico-ideal do empreendedorismo é um desdobramento
intrínseco a análise dos dados, na medida em que é um pressuposto básico do
referencial teórico metodológico de Alfred Schütz.
4.2 Perguntas de Pesquisa
Tendo como base o problema de pesquisa apresentado, assim como as demais
orientações, esse trabalho se norteará a partir dos seguintes questionamentos:
1. Como a Incubadora de Base Tecnológica de Maringá se configura em um
meio social para o desenvolvimento da ação empreendedora?
2. Quais os “motivos para” e “motivos porque” presentes na ação
empreendedora dos empresários pertencentes à Incubadora de Base
Tecnológica de Maringá?
3. A partir das respostas à pergunta acima, qual o tipo ideal de
empreendedorismo?
94
4.3 Sujeitos da Investigação
De acordo com Minayo (1998, p.43) a pesquisa qualitativa não pode se basear no
critério numérico, para poder garantir representatividade. A amostragem ideal é
aquela que possibilita abranger a totalidade do problema investigado em suas
múltiplas dimensões.
Na pesquisa fenomenológica, a escolha dos sujeitos deve tender ao equilíbrio entre
singular e universal, pois o objetivo é a descoberta de conhecimentos e não a
verificação de hipóteses. Assim, a “amostragem” é não probabilística. Os
pesquisados são seis empreendedores relacionados ao programa de incubação
desenvolvido pela Incubadora Tecnológica de Maringá.
O número de sujeitos não foi estipulado previamente pela pesquisadora. O processo
de escolha dos depoentes caracterizou-se como não intencional, sendo que todos
os empreendedores incubados foram convidados a responder. A Incubadora
apresenta um total de quatorze empresários, sendo que três são responsáveis por
empresas na pré-incubação e os demais responsáveis por empresas residentes em
estágio de incubação.
Dessa forma, garante-se a validade dos dados, pois os sujeitos de pesquisa estão
colaborando com a pesquisa por iniciativa própria, sendo uma escolha pessoal dos
mesmos. Além disso, a colaboração espontânea do empreendedor facilita a
dinâmica da coleta de dados descrita na seqüência.
95
4.4 Coleta de Dados
Os sujeitos de pesquisa foram entrevistados a partir das seguintes questões
norteadoras:
Conforme visto, o tipo de entrevista empregada é a semi-estruturada. May (2004, p.
148) considera que esse tipo de pesquisa permite que as pessoas respondam aos
questionamentos usando os seus próprios termos, o que pode não ocorrer quando
submetidas a entrevistas padronizadas.
A entrevista na abordagem fenomenológica não exige uma seqüência de passos, mas
um posicionamento do pesquisador frente ao fenômeno estudado, orientado para o
desvelamento do significado do mesmo.
Questões norteadoras
Comente aspectos mais significativos de sua vivência como empresário
incubado.
Qual o papel desempenhado pela incubadora de empresas no processo de
desenvolvimento da sua ação empreendedora?
Para que e por que você desenvolve sua ação empreendedora?
Para você o que significa empreendedorismo?
96
Carvalho (1991) propõe que em uma entrevista baseada em referencial
fenomenológico, o pesquisador adote os seguintes princípios:
a) observar e analisar sem estar restrito a um enfoque causal;
b) interpretar compreensivamente a linguagem, visualizando-a como um vculo de
transmissão de significados;
c) captar os movimentos corporais do entrevistado, posto que o corpo também pode
revelar aspectos relevantes sobre o ser.
A escolha da realização de entrevistas se deve ao conceito de situação face a face
abordado por Schütz (1972), na qual os seres experienciam o fluxo de pensamento
um do outro.
Simão e Souza (1997) afirmam que parte da orientação para se executar uma
entrevista fenomenológica refere-se ao estabelecimento da intersubjetividade, na
busca pelo “encontro social”, no qual ocorre a troca mútua de percepções. Para
Schütz (1972) é se colocar no lugar do “outro”, estabelecendo orelacionamento Nós”.
Assegurou-se ao sujeito colaborador o anonimato e confidencialidade em relação à
divulgação de sua colaboração. Os sujeitos revisaram sua entrevista após a
transcrão. Essas medidas reforçam a validade das informações coletadas, pois
conferem ao entrevistado maior segurança e liberdade durante a realização das
entrevistas.
97
4.5 Procedimentos de Análise dos dados
Nos dizeres de Spiegelberg (1984) não uma doutrina filosófica chamada
fenomenologia, mas sim, um método fenomenológico que é, em primeiro lugar, uma
forma de ir contra o reducionismo. O autor traz um elenco dos passos dos métodos
usados por vários fenomenólogos, a saber:
1. Investigar os fenômenos particulares.
2. Investigar as essências gerais.
3. Captar as relações essenciais entre as essências.
4. Observar os modos de aparição.
5. Explorar a constituição dos fenômenos.
6. Suspender a crença no fenômeno.
7. Interpretar as significações ocultas.
Geralmente, os três primeiros passos são adotados por praticamente todos os
fenomenólogos. Os demais são praticados conforme a orientação filosófica que o
pesquisador adotar.
Para interpretação dos dados coletados através das entrevistas, empregou-se a
abordagem fenomenológica de Sanders (1982). Uma particularidade dessa
abordagem é que não existem fases estanques: todo ato de coletar foi também um
ato de interpretar.
98
Para Sanders (1982) existem três componentes fundamentais para a estrutura
fenomenológica de pesquisa, a saber:
a) Determinação dos limites “do que” e “quem” deve ser investigado.
Os objetos de pesquisa mais comuns à abordagem fenomenológica o os
fenômenos que não se prestam à quantificação. No tocante ao “quem” investigar,
Sanders (1982) aponta que o pesquisador deve aprender a trabalhar em
profundidade com um reduzido número de sujeitos, pois nem sempre a quantidade
de sujeitos significa riquezas de informações.
Nessa fase, o pesquisador acumula conhecimentos sobre o seu objeto de pesquisa
e daquilo o que o cerca. Isto significa uma abertura da consciência para o fenômeno.
b) Coleta de dados
A coleta de dados deve proceder através da realização de entrevistas semi ou não
estruturadas com os sujeitos de pesquisa. O tipo de entrevista se deve ao fato do
investigador fenomenológico buscar o aprofundamento das respostas e não um
contingente elevado de informações soltas e desconectas.
99
c) Análise fenomenológica dos dados
A análise dos dados deve ocorrer a partir da observância dos seguintes procedimentos:
1. Descrição do fenômeno tal qual está apresentado na transcrição das entrevistas.
2. Identificação do temas que emergem dos relatos. O que identifica um tema é sua
importância e centralidade, e não a freqüência com que aparece no discurso.
Ressalta-se que a fenomenologia permite a identificação do dito pelo não dito, ou
seja, a temas que podem ser inferidos pelo pesquisador.
3. Junção dos temas em unidades de significação que irão caracterizar a estrutura
significativa do fenômeno.
Sanders (1982) ressalta que todo o processo de análise dos dados deve ser pautado
na execução da redução fenomenológica ou epoqué. Essa consiste na busca do
fenômeno livre de traços pessoais e culturais, o que levará à obtenção da essência.
Segundo Merleau-Ponty (1994) a redução se não para nos afastarmos do mundo
em direção à consciência, ao eu puro, mas sim porque sendo do mundo o temos
como tão “evidente” e real, que ele acaba por passar sem ser notado.
A abordagem de Sanders (1982) pautada na redução fenomenológica foi o caminho
trilhado para se desvelar os significados que os sujeitos conferem a sua ação
empreendedora. Os motivos “para” e “porque” dessa ação emergiram da análise
fenomenológica do discurso dos depoentes.
100
Assim, da leitura atenta dos depoimentos e da percepção do mundo da vida da
incubadora tecnológica busca-se apreender nas falas dos entrevistados os motivos
que envolvem a ação empreendedora nesse contexto, focalizando as experiências
conscientes desses sujeitos, para chegar aopico da sua ação.
Na seqüência, ocorreu a construção típica ideal do empreendedorismo e
empreendedor. Tal processo se deu através da cristalização dos motivos recorrentes
nos significados atribuídos pelos agentes empreendedores à sua ão, somados
aos motivos que emergirem de forma implícita ao pesquisador, lembrando que a
fenomenologia permite a análise do dito pelo não dito. Tal cristalização obedeceu
aos três postulados estipulados por Schütz (1972, p. 67-68) para que os
pesquisadores possam chegar a um construto ideal, a saber:
1 – Postulado da Coerência Lógica
O sistema de construções ideais elaborado pelos pesquisadores deve ser
estabelecido com o mais alto grau de clareza e nitidez, estando totalmente
compatível com os princípios da lógica formal.
O cumprimento desse postulado garante a validez objetiva dos objetos de
pensamento construídos por especialistas em ciências sociais, e sua índole
estritamente lógica é uma das características mais importantes que permite distinguir
os objetos do pensamento científico dos objetos do pensamento do senso comum.
101
2 – Postulado da Interpretação Subjetiva
Para explicar as ações humanas, o homem da ciência deve perguntar-se que
modelo de mente individual é possível construir e que conteúdos típicos se devem
atribuir a ele para explicar feitos observados como resultado da atividade da mente
em uma relação compreensiva. O cumprimento desse postulado garante a
possibilidade de referir todos os tipos de ação humana ou seu resultado ao sentido
subjetivo que tal ação ou resultado de uma ação tem para o ator.
3 – Postulado da Adequação
Cada término de um modelo científico de ação humana deve ser construído de tal
modo que um ato humano, efetuado no mundo da vida por um ator individual,
indicado pela construção típica, seja compreensível tanto pelo ator mesmo como
para seus semelhantes em termos de interpretação de sentido comum na vida
cotidiana. Assim, fica a garantia da compatibilidade entre as construções do
pesquisador e as experiências do sentido comum na realidade social.
Assim, Schütz (1972) afirma que todas as construções de modelos do mundo social
devem cumprir esses três postulados, que funcionam de fato como requisitos.
Contudo, essa afirmação pode gerar um questionamento: qual a importância e
utilidade da construção de tipos ideais de ações e pessoas?
102
Para responder a essa indagação, recorre-se à argumentação empregada por
Schütz (1972, p. 69) acerca da relevância da construção de tipos ideais:
Ao passo que a conduta dos indivíduos do mundo social real
não é previsível, salvo antecipações vazias, a conduta racional
de um tipo pessoal construído se supõe previsível por
definição, dentro dos limites dos elementos tipificados na
construção. Desse modo, o modelo de ação racional pode ser
utilizado como recurso para se estabelecer uma conduta
desviada no mundo social real e identificação das causas que
levaram ao desvio de comportamento.
Na seqüência, apresenta-se uma contextualização das incubadoras de empresas e
da unidade de pesquisa propriamente dita a Incubadora Tecnológica de Maringá. Tal
apresentação faz-se necessária na medida em que as incubadoras tecnológicas
constituem a situação típica na qual os empreendedores encontram-se inseridos.
Essa situação típica é um dos aspectos que permite que o tipo ideal se torne
objetivo e passível de ser utilizado como quadro de análise dos fenômenos.
Assim, o tipo ideal construído a partir da realidade social da Incubadora Tecnológica
de Maringá poderá ser utilizado para estudo de outras realidades, desde que essas
realidades sejam processadas em incubadoras de base tecnológica. Logo, o tipo
ideal de empreendedorismo e empreendedor é válido em termos de generalização
para a situação típica incubadora de base tecnológica.
103
5. INCUBADORA DE EMPRESAS
Nesse capítulo caracteriza-se o meio social da incubadora de empresas. Essa
análise tem por base a necessidade de compreensão dos aspectos típicos desse
ambiente social. Além disso, a caracterização elaborada justifica o motivo da
escolha da incubadora de empresas como locus da pesquisa. Esse lugar é um local
propício para se encontrar empreendedores, uma vez que é criado com a finalidade
de fomento a essa atividade.
5.1 Origem e Conceituação de Incubadora
O movimento das incubadoras foi criado em 1959, nos Estados Unidos, mais
especificamente na cidade de Nova Iorque. Porém, essa incubadora ainda não
apresentava configuração estrutural semelhante à apresentada atualmente, sendo
que sua abertura ocorreu no contexto de fechamento da fábrica de tratores da
Massey Ferguson. Tal fábrica foi adquirida pelo empresário Joseph Mancuso que
acabou por dividir o espaço fabril em pequenas unidades que abrigariam empresas
de pequeno porte. O espaço passou a ser denominado condomínio de empresas
(DIAS; CARVALHO, 2002).
na década de 1970, o governo norte-americano lançou um programa de
assessoria jurídica e administrativa a profissionais recém graduados que por ventura
tivessem interesse em iniciar um empreendimento. Tal programa, por se assemelhar
ao projeto iniciado por Joseph Mancuso, foi denominado sistema de incubadoras de
empresas (REDE INCUBAR, 2006).
104
Simultaneamente à experiência americana, foram sendo criadas incubadoras de
empresas em todo o mundo. Na Europa, o Reino Unido iniciou o movimento de
criação de incubadoras a partir da iniciativa da Universidade Heriot Watt na Escócia,
sendo seguida pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Na França, segundo
Lemos (1988, p. 3) o Estado foi o principal indutor da criação de pequenas empresas
no país. O termo incubateur foi aplicado às estruturas criadas pelo Estado para
apoiar empreendedores antes da criação de seu empreendimento, que
corresponderia atualmente à fase de pré-incubação (STAINSACK, 2003).
No continente asiático, o Japão criou suas primeiras incubadoras por designação do
Ministério de Assuntos Internacionais e da Indústria no decorrer dos anos 1980. A
preocupação maior desse ministério consistia no desenvolvimento e fortalecimento
da pesquisa no país (NEERMANN, 2001).
Na China, as incubadoras começaram a surgir no final da cada de 1980.
Atualmente, as incubadoras existentes nesse país, ao contrário de muitos sistemas
de incubação, podem fornecer de 5 a 20% do capital de risco de suas empresas
incubadas, tornando-se acionistas das mesmas podendo participar em todo
processo decisório do empreendimento. Os lucros que forem arrecadados com
essas ações constituem propriedade do estado (BAÊTA, 1999).
Em âmbito nacional, a origem da incubadora de empresas remete ao Programa de
Inovação Tecnológica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), criado em 1982, com a finalidade de estreitar as relações entre
universo acadêmico e universo empresarial.
105
Para isso, o programa criou Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) em
universidades e, em 1984, criou os primeiros parques e incubadoras de empresas
do Brasil: São Carlos - SP, Campina Grande - PB, Manaus - AM, Florianópolis – SC
e Porto Alegre - RS (SOUZA; NASCIMENTO JR., 2003).
No ano de 1987, foi constituída a ANPROTEC - Associação Nacional de Entidades
Promotoras de Investimentos de Tecnologias Avançadas. Contudo, o papel das
incubadoras de empresas somente foi legitimado, ou seja, aceito e reconhecido no
cenário empresarial brasileiro a partir da década de 1990, devido a mudanças
relacionadas ao grau de competitividade do mercado nacional e internacional.
(SOUZA; NASCIMENTO JR., 2003).
Segundo Guedes e Bermúdes (1997) existem alguns aspectos que favoreceram a
difusão de incubadoras no país a partir dessa década, sendo esses:
- Transformações na conjuntura econômica mundial;
- Intensificação da necessidade das empresas nacionais apresentarem maior
competitividade em âmbito externo. Isso implica na tentativa obrigatória de aumentar
os índices de inovação tecnológica desses empreendimentos.
- Relações internacionais estabelecidas e continuadas por acadêmicos brasileiros;
- Implantação do SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas, em 1990.
106
A seguir, tem-se um gráfico que ilustra o panorama de desenvolvimento do número
de incubadoras de empresas no Brasil, no intervalo de tempo 1988-2005.
2
4
7
10
12
13
19
27
38
60
74
100
135
170
183
207
283
339
0
50
100
150
200
250
300
350
Gráfico 1 – Progressão do número de incubadoras no Brasil entre 1988-2005
Fonte: ANPROTEC (2005)
Assim, observa-se que a idéia da criação de incubadoras despontou no cenário
governamental brasileiro, inicialmente, como um órgão para o fomento e união de
empresas de base tecnológica com universidades.
Dessa maneira, tem-se que o propósito das incubadoras esteve associado à
finalidade de estimular o surgimento de negócios resultantes de projetos
tecnológicos desenvolvidos em centros de pesquisa universitários ou de outra
natureza (FONSECA; KRUGLIANSKAS, 2000). Logo, conclui-se que as
incubadoras, no Brasil, surgem em um ambiente de ciência e tecnologia. Nesse
cenário, emergem algumas definições de incubadoras de empresas.
1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
107
O Programa Nacional de Apoio às Incubadoras de Empresas define uma incubadora
como um mecanismo que estimula a criação e o desenvolvimento de micro e
pequenas empresas industriais ou de prestação de serviços, de base tecnológica ou
de manufaturas leves por meio da formação complementar do empreendedor em
seus aspectos técnicos e gerenciais (MCT, 2000, p 6).
A ANPROTEC (2005), na mesma linha do MCT, define incubadoras de empresas
como sendo empreendimentos que oferecem espaço físico, por tempo limitado, para
a instalação de empresas de base tecnológica e/ou tradicional, que disponham de
uma equipe técnica para dar suporte e consultoria a estas empresas.
De forma similar às duas definições apresentadas, o SEBRAE (2003) define a
incubadora de empresas como sendo mecanismo técnico que estimula a criação e o
desenvolvimento de micro e pequenas empresas (industriais, de prestação de
serviços, de base tecnológica ou de manufaturas leves), oferecendo suporte
gerencial e formação complementar do empreendedor.
Por sua vez, Spolidoro (1999, p.13) conceitua incubadora dando ênfase ao ambiente
inovador que ela deve propiciar. Nos dizeres do autor, a incubadora é um ambiente
que favorece a criação e o desenvolvimento de empresas e de produtos (bens e
serviços), em especial aqueles inovadores e intensivos em conteúdo intelectual
(produtos nos quais a parcela do trabalho intelectual é maior que a parcela devida a
todos os demais insumos).
108
É importante observar a presença da palavra empreendedor nas definições citadas
anteriormente. Esse fato remete à compreensão que a incubadora de empresas é
um ambiente ideal para o desenvolvimento da ação empreendedora, pois é um
ambiente criado para o empreendedor executar seus projetos. Segundo Stainsack
(2003, p. 9) as incubadoras apresentam com objetivo prestar apoio a novos
empreendedores.
Essa afirmação ainda encontra respaldo em Medeiros (1992) que apresenta três
tipos de requisitos para constituição de uma incubadora, a saber:
Requisitos Mínimos Requisitos
Recomendáveis
Requisitos Desejáveis
Existência de
empreendedores
interessados
Espaço físico apropriado
Tradição de empresas de base
tecnológica
Viabilidade técnica
comercial das propostas
Existência de incentivos e
de linhas de
financiamentos
apropriadas
Clima favorável e
“personificação” de projetos
Parceiros comprometidos
com empreendimento e
apoio político a
incubadora
Gestão da incubadora a
cargo do setor privado e
participação
governamental minoritária
e decrescente
Localização da incubadora nas
instalações das instituições de
ensino e pesquisa ou
imediações
Quadro 11 – Requisitos para criação de uma incubadora de empresas
Fonte: adaptado de Medeiros (1992)
Dessa forma, tem-se que o primeiro requisito básico para se criar um incubadora é a
existência de empreendedores, reforçando a idéia que o ambiente de incubação é
criado com a finalidade de fornecer subsídios cnicos para o desenvolvimento da
ação empreendedora.
109
Corroborando, Mendonça (2004) relaciona incubadora de empresas e
empreendedorismo ao definir os objetivos de uma incubadora. Esses objetivos,
representados na figura a seguir, são, em sua maioria, voltados para o
desenvolvimento da ação empreendedora.
Figura 3 – Objetivos da incubadora de empresas
Fonte: adaptado de Mendonça (2004)
A partir dessa análise, certifica-se que a incubadora de empresas constitui um
ambiente certo para se encontrar empreendedores, posto que toda a sua estrutura e
projetos são criados para apoiar iniciativas desse agente. Segundo Stainsack (2003,
p. 35) a incubadora depende do empreendedor que por sua vez busca apoio para o
crescimento de seus negócios.
Portanto, as incubadoras possuem um caráter catalisador do processo
empreendedor, sendo essencial para a consolidação de empreendimentos em um
mercado competitivo (LICHTENSTEIN; LIONS, 1996).
110
5.2 Tipos de Incubadora
Após essa discussão da ligação existente entre empreendedorismo e incubadora,
faz-se importante destacar que mesmo a origem das incubadoras no Brasil estar
diretamente relacionada ao setor tecnológico, existem incubadoras direcionadas a
outras áreas. Dornelas (2002) postula a existência de três tipos de incubadora:
- Incubadora de base tecnológica: ampara empresas, que desenvolvem seus
produtos a partir de resultados de pesquisas aplicadas, nas quais a tecnologia
representa alto valor agregado. Os produtos, processos e serviços criados
pressupõem um amplo conhecimento tecnológico.
- Incubadora de setores tradicionais: ampara empresas, cuja área de atuação está
diretamente ligada aos setores tradicionais da economia, os quais detêm tecnologia
largamente difundida e queiram agregar valor aos seus produtos ou serviços.
- Incubadoras mistas: abriga no mesmo ambiente os dois tipos de empresa,
tecnológicas e tradicionais.
No entanto, uma distinção entre as incubadoras de empresas de base
tecnológica e as incubadoras de setores tradicionais que ultrapassa a natureza dos
produtos ofertados, uma vez que as incubadoras tecnológicas apresentam uma
ligação muito estreita com centros de pesquisas e universidades o que estimula
processo de inovação. Isso não ocorre de forma tão constante no caso das
incubadoras tradicionais (BAÊTA, 1999).
111
Nassif e Carmo (2005) apresentam uma tipologia de incubadora mais recente e
detalhada, considerando o direcionamento de programas de incubação para outros
setores da sociedade e economia. O quadro, a seguir, sintetiza essa tipologia:
Tecnológica
Abriga empresas, cujos produtos, processos e serviços resultam de pesquisa científica
Tradicional
Abriga empreendimentos ligados aos setores da economia que detêm tecnologias difundidas e que
querem agregar valor aos seus produtos, processos e serviços
Mista
Abriga empresas de base tecnológica e tradicional
Setorial
Abriga empreendimentos de apenas um setor da economia
Cultural
Abriga empreendimentos da área de cultura
Agroindustrial
Abriga empreendimentos de produtos e serviços agropecuários
Cooperativa
Apóia cooperativa em processo de formação e/ou consolidação instaladas dentro ou fora do
município
Social
Abriga empreendimentos oriundos de projetos sociais
Rural
Apóia empreendimentos localizados em áreas rurais por meio de prestação de serviços, formação e
capacitação, financiamento e divulgação
Virtual
Oferece aos empreendedores todos os serviços de assessoria e apoio, mas normalmente não
oferece espaço físico e infra-estrutura compartilhada
Quadro 12: Tipos de incubadora
Fonte: adaptado de Nassif e Carmo (2005)
112
Em pesquisa realizada no ano de 2005, a ANPROTEC constata que as incubadoras
tecnológicas, tradicionais e mistas são maioria em âmbito nacional. Esses dados
podem ser visualizados no gráfico a seguir:
40%
18%
23%
3%
4%
5%
7%
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40%
Tecnológica
Tradicional
Mista
Cultural
Social
Agroindustrial
Servos
Pesquisa: 297 incubadoras
Universo: 339 incubadoras
Gráfico 2 – Área de atuação das incubadoras em operação no ano de 2005
Fonte: ANPROTEC (2005)
Os dados do quadro ainda indicam a predominância das incubadoras tecnológicas, o
que se justifica por fatores históricos já discutidos anteriormente.
Faz-se ainda importante destacar que existem outras tipologias de incubadoras,
embora as mencionadas anteriormente sejam mais adequadas à realidade nacional.
Um exemplo de tipologia de incubadoras é a elaborada por Zedtwitz (2003). Essa
tipologia apresenta uma característica bastante específica, uma vez que sua
classificação não é estanque, permitindo que uma incubadora possa ser classificada
de várias formas a depender de sua realidade.
113
- Incubadoras comerciais independentes: são originadas de atividades
desenvolvidas por empresários ou empresas ligados ao capital de risco, sendo
orientadas para o lucro. Essas incubadoras se baseiam fortemente nas suas
competências internas.
- Incubadoras regionais: o criadas com o objetivo de fornecer espaço e apoio
logístico para os negócios iniciantes em uma determinada comunidade. Os
idealizadores e executores desse tipo de incubadora são, em sua maior parte,
governos locais e organizações com interesses econômicos e políticos regionais. O
resultado dessas incubadoras deve estar sempre atrelado a metas sociais e
econômicas, como geração de empregos, aprimoramento da indústria local ou
imagem da região.
- Incubadoras vinculadas às universidades: essas incubadoras desenvolvem seus
trabalhos com apoio intenso de universidades. São laboratórios desenvolvidos para
aprimoramento e fortalecimento da relação entre acadêmicos e empresários.
- Incubadoras intra-empresariais: o criadas com o objetivo lidar com a
descontinuidade tecnológica. Essas incubadoras estão vinculadas ao setor de P&D
das corporações.
- Incubadoras Virtuais: estão diretamente relacionadas com setor de tecnologia da
informação. De forma distinta das incubadoras tradicionais, não oferecem espaço
físico ou apoio logístico, mas uma estrutura composta por plataformas e redes de
acesso a informação destinada a empresários iniciantes, investidores e consultores.
114
Todavia, é importante destacar que ainda existam diferentes tipos de incubadoras,
nos dizeres de Martins et. al. (2005, p.3) essas sempre deverão oferecer as
empresas incubadas os seguintes itens:
- Infra-estrutura: salas individuais e coletivas, laboratórios, auditório, biblioteca, salas
de reunião, recepção etc.;
- Serviços sicos: assessoria gerencial, contábil, jurídica, apuração e controle de
custo, gestão financeira, comercialização, exportação e o desenvolvimento do
negócio;
- Capacitação: treinamento, cursos, assinaturas de revistas, jornais e publicações;
- Network: contatos de nível com entidades governamentais e investidores,
participação em eventos de divulgação das empresas, fóruns.
Dessa forma, conclui-se que análise das tipologias indica que as incubadoras,
mesmo atuando em focos diferentes, são, de fato, um agente facilitador do processo
empresarial e de inovação tecnológica. Assim, faz-se necessário investigar como
ocorre o processo de incubação de empresas para que haja uma compreensão
maior desse papel de facilitador da inovação e processo empresarial desenvolvido
pela incubadora.
115
5.3 Processo de Incubação de Empresas
Lichtenstein e Lyons (1996) ponderam que a principal missão dos programas de
incubação empresarial é auxiliar os empreendedores na formação e no
desenvolvimento efetivo de seus projetos, sendo que para isso tais programas
necessitam desenvolver as seguintes ações:
- Apoiar formação empresarial;
- Aumentar a taxa de desenvolvimento rápido e eficaz de novos empreendimentos;
- Elevar os índices de sobrevivência e sucesso das novas empresas criadas;
- Supervisionar o processo de dissolução na possibilidade de um dado
empreendimento não alcançar seus objetivos, devolvendo ou reaproveitando os
ativos do mesmo.
Dessa forma, para que a incubadora atue de forma efetiva torna-se necessário uma
maior estruturação do processo de incubação, pois esse terá que contemplar
empresas em diferentes estágios.
Uma empresa em fase de criação carece de assistência bastante diferente de um
empreendimento que está se consolidando no mercado. Sendo assim, o processo
de incubação foi organizado fundamentalmente em três etapas. O período de cada
etapa de incubação pode variar a depender das normas de cada incubadora.
116
Contudo, antes de discorrer acerca dos três períodos de incubação faz-se
necessário ressaltar que as empresas ou projetos de criação de empreendimentos
somente serão incubados mediante a aprovação em um minucioso processo de
seleção por parte das incubadoras.
Os critérios desse processo podem variar de acordo com o foco de interesse das
mesmas, no entanto, a maior parte dos critérios, na visão de Stainsack (2003),
envolve aspectos, como: potencial de crescimento, capacidade de criar empregos,
foco do negócio, capacidade de pagar suas despesas, análise de mercado e
estabilidade do fluxo de caixa. Em algumas incubadoras ocorre ainda a realização
de entrevistas.
O processo de seleção está diretamente ligado ao sucesso da incubadora, pois os
empreendimentos devidamente aprovados ocasionam uma expectativa maior no
tocante à consolidação das empresas egressas da incubação no mercado.
Assim, ocorrendo a aprovação de uma empresa ela iniciará na incubadora na fase
de incubação, no entanto, ocorrendo a aprovação de um projeto de
empreendimento, esse ingressará na mesma instituição na etapa de pré-incubação.
Na seqüência, retoma-se a apresentação e análise das três etapas fundamentais da
incubação, a saber:
Etapa de implantação ou pré-incubação nessa fase ocorre a criação de empresas
que apresentam elevada probabilidade de encontrar sucesso.
117
A equipe da incubadora fornece aos empresários, apoio financeiro e tecnológico
para que esses iniciem o desenvolvimento de um produto. Os empresários, nessa
etapa, são constantemente incentivados a participarem de eventos de negócios.
Algumas incubadoras não realizam a fase de pré-incubação, aceitando somente
empresas já criada e com produtos prontos para comercialização.
Segundo dados da ANPROTEC (2005), no Brasil a maioria das incubadoras
trabalham no desenvolvimento de projetos de criação de empreendimentos. Esse
dado é bastante importante posto que é nessa etapa que a incubadora fornece o
apoio mais direto ao empreendedor que detêm a idéia inovadora, porém apresenta
algumas dificuldades em torná-la realidade.
O gráfico a seguir ilustra a situação das incubadoras nacionais no tocante ao
desenvolvimento de programas de pré-incubação.
62%
38%
Sim
Não
Pesquisa: 241 incubadoras
Universo: 339 incubadoras
Gráfico 3 – Existência de programas de pré-incubação
Fonte: ANPROTEC (2005)
118
Portanto, na pré-incubação as incubadoras visam predominantemente auxiliar os
empreendedores no amadurecimento da idéia, através de uma assessoria antes da
formalização do empreendedor como incubado para o detalhamento da idéia e a
realização do plano de negócios (NASSIF; CARMO, 2005).
Etapa de crescimento e consolidação ou incubação nessa fase ocorre à incubação
propriamente dita. As empresas dotadas de infra-estrutura e apoio gerencial da
incubadora iniciam sua busca por clientes, investidores, enfim, por um espaço no
mercado. O pessoal responsável pela assessoria aos empresários incubados
monitora e auxilia as empresas a todo tempo, no seu desenvolvimento e nas
questões iniciais, que possam levar negócio ao fracasso. A incubadora trabalha no
sentido de combater os principais problemas enfrentados por micro e pequenas
empresas em fase inicial ou de consolidação.
Segundo Beuren e Raupp (2006) as principais debilidades de empresas em fase de
criação são: baixa intensidade de capital, capacidade de financiamento restrita,
precariedade da função gerencial, baixa qualificação dos recursos humanos,
precariedade da função tecnológica, falta de planejamento a longo prazo, e pequeno
poder de barganha com parceiros comerciais.
Sendo assim, a incubadora atua no sentido de estruturar tecnicamente as empresas
incubadas para que enfrentem essas debilidades de uma forma mais segura, posto
que já estarão preparadas para esses obstáculos.
119
Etapa de graduação ou pós-incubação nessa etapa a empresa está pronta para
deixar a incubadora, sendo que terá que enfrentar os desafios do mercado de forma
independente. Segundo Hackett e Dilts (2004) as empresas graduadas, ao deixarem
a incubação, podem deparar-se com situações de sobrevivência e crescimento
lucrativo, sobrevivência acompanhada de estagnação ou fechamento com prejuízos.
A partir dessa estrutura do processo de incubação, a ANPROTEC (2005) aponta
para existência de três tipos de empresas vinculadas à incubadora:
Empresa incubada ou residente: empresa que está desenvolvendo suas atividades
dentro de uma incubadora de empresas, passando por processo de seleção e
recebendo apoio técnico, gerencial e/ou financeiro de rede de instituições constituída
especialmente para criar e acelerar o desenvolvimento de pequenos negócios.
Empresa graduada ou liberada: empresa que concluiu o processo de incubação e
que alcançou desenvolvimento suficiente para ser habilitada a sair da incubadora.
Esse tipo de empresa pode continuar mantendo vínculo com a incubadora na
condição de empresa associada.
Empresa associada: empresa que utiliza a infra-estrutura e os serviços oferecidos
pela incubadora, sem ocupar espaço físico, mantendo vínculo formal. Pode ser
empresa recém criada ou já existente no mercado.
120
No Brasil, no ano de 2005, segundo dados da ANPROTEC, foram identificadas 339
incubadoras que estavam em funcionamento, 32 em etapa de implantação e 12 em
etapa de projeto. O gráfico abaixo mostra que esses números são advindos de um
aumento considerável do interesse pela criação de incubadoras.
17
18
12
73 74
32
207
283
339
0
50
100
150
200
250
300
350
Em Projeto Em
implantação
Em
incubação
2003
2004
2005
Gráfico 4 – Número de incubadoras por fase de constituição
Fonte: ANPROTEC (2005)
Esses dados implicam na existência de 2327 empresas incubadas, 1678 graduadas
e 1613 associadas (ANPROTEC, 2005). Dentre essas incubadoras, destaca-se a
Incubadora Tecnológica de Maringá, meio social em que se processa a presente
pesquisa.
5.4 Incubadora Tecnológica de Maringá
O município de Maringá com uma área de 489,76 km
2
, localiza-se na região Sul do
Brasil, ao Norte do Estado do Paraná. Maringá foi criada recentemente, sendo que
suas primeiras edificações foram erguidas em meados dos anos de 1940, com a
finalidade de fornecer acolhida as muitas pessoas provenientes de outras
localidades que pretendiam habitar essa região. Posteriormente, essas obras foram
denominadas Maringá Velho (VERCEZI, 2004).
121
Tais migrantes procediam principalmente dos estados de São Paulo e Minas Gerais,
assim como da região nordeste do país. Futuramente, Maringá receberia correntes
de origem japonesa, portuguesa, árabe, alemã e italiana (VERCEZI, 2004).
A figura abaixo mostra a localização da cidade de Maringá.
Figura 4 –Localização da cidade de Maringá
Fonte: Barros, Tornero, Pollo, (2004, p.438)
A cidade foi fundada, de fato, em 10 de maio de 1947, a partir daí seu crescimento
foi orientado por um plano de desenvolvimento, cuja principal preocupação era
conciliar e crescimento e condições topográficas da área (VERCEZI, 2004).
122
No tocante a atividades econômicas, Maringá apresenta diversificada produção
agrícola, composta de soja, algodão, milho, cana-de-açúcar, trigo, sendo também
grande produtora do bicho-da-seda. Os setores industriais de mais destaque são:
alimentação, confecção, agroindústria, metal-mecânico, entre outros.
A cidade abriga diversas instituições de ensino superior, dentre elas destaca-se a
Universidade Estadual de Maringá, que juntamente com o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), Instituto de Tecnologia do Paraná
(TECPAR) têm se mobilizado para transformar Maringá em um pólo de ciência,
tecnologia e inovação. Nesse sentido, a criação da INFOMAR Incubadora
Tecnológica de Maringá - foi um passo significativo.
A criação desse empreendimento está relacionada à implantação do Centro Softex
Gênesis de Maringá em 1996, ligado ao projeto Softex (Programa Brasileiro de
Software para Exportação), o que gerou a formação e fortalecimento de um
consórcio entre várias entidades da cidade visando consolidar esse centro.
Posteriormente, o centro Softex Gênesis foi incorporado à incubadora,
correspondendo à fase de pré-incubação.
Nessa etapa de pré-incubação, a incubadora de Maringá apóia os empreendedores
mais especificamente no processo de criação de novos negócios de base
tecnológica. Para isso, os empreendedores devem apresentar uma idéia de negócio
e uma possível forma de torná-la concreta.
123
Uma empresa permanece nessa etapa pelo período máximo de 24 meses, podendo
se instalar em um espaço físico compartilhado e utilizar serviços de infra-estrutura.
Por sua vez, a etapa de incubação visa subsidiar a geração e o desenvolvimento de
processos, produtos ou serviços de tecnologia inovadora. Assim, os empresários
são treinados, recebendo incentivos para iniciação no mercado. As empresas podem
se instalar em um espaço físico individual. Da mesma forma que na pré-incubação, o
tempo máximo que a empresa pode ficar incubada é de 24 meses.
Assim, observa-se que a Incubadora Tecnológica de Maringá vem realizando sua
atividade de forma a incentivar o empreendedorismo na criação e manutenção de
empresas de base tecnológica.
Portanto, a realização da pesquisa na Incubadora Tecnológica de Maringá deve-se a
essa constituir um ambiente social passível de se encontrar empreendedores,
sujeitos da investigação, conscientes de sua ação empreendedora. Tal consciência
garante que a ação empreendedora analisada seja realmente a ação racional
orientada para fins, o tipo de ação abordada por Schütz (1972).
Na seqüência, apresentam-se os dados que, analisados fenomenologicamente,
fornecem os motivos presentes na ação empreendedora, elementos que permitem a
construção de um tipo ideal de empreendedorismo e empreendedor.
124
6. ANÁLISE DA AÇÃO EMPREENDEDORA
Esse capítulo consiste na análise dos dados coletados por meio de entrevistas
realizadas com empreendedores pertencentes ao programa de incubação da
Incubadora Tecnológica de Maringá. Tal análise pauta-se na abordagem
fenomenológica de Sanders (1982) que apresenta como pressuposto básico a
realização da redução fenomenológica.
Essa análise é o caminho para a descoberta dos motivos “para” e “porque” da ação
empreendedora que serão utilizados como fio condutor para a construção típico
ideal do empreendedorismo. Em um primeiro momento, transcreveu-se, na íntegra,
os depoimentos dos sujeitos, conforme prevê a abordagem de Sanders (1982).
Em seguida, ao se proceder a leitura dos relatos transcritos, foram identificadas as
unidades temáticas, pautadas na redução fenomenológica. Tal redução exige que o
investigador abandone seus conceitos e pré-concepções acerca do mundo. Tal ato
faz com que os sentidos menos aparentes contidos nos relatos possam emergir.
Essa redução é uma tentativa de minimizar, e o acabar com os efeitos da
subjetividade do pesquisador nos resultados logrados.
Dessa forma, a fenomenologia prevê a inegostabilidade dos sentidos, ou seja, as
unidades extraídas dos relatos somente existem em função da ótica do pesquisador
que efetua a análise.
125
Assim, não há um único sentido correto que emerge do texto, mas vários e
inesgotáveis sentidos que podem variar de acordo com a perspectiva do sujeito
investigador. Essa inesgotabilidade na fenomenologia não diminui a validade dos
resultados, mas sim, permite que esses sejam continuamente aprofundados, pois o
estudo da realidade não é estático, mas sim dinâmico.
Devido a isso, Schütz (1972) recorreu à subjetividade fenomenológica para
fundamentar o tipo ideal weberiano. Vale ressaltar que por sua base subjetiva, o tipo
ideal é anônimo, não sendo um retrato fiel do objeto de estudo, mas sim um conjunto
de dados capaz de embasar a análise da realidade social. O tipo ideal é um
comportamento esperado, não uma regra perfeita a ser seguida.
Por fim, a partir dos sentidos identificados nos depoimentos foram extraídos os
motivos “para” e “porque” citados de forma mais recorrente pelos empreendedores.
Essa recorrência os tornará típicos. A partir desses motivos, constrói-se o tipo ideal
de ação e de pessoa, ou seja, empreendedorismo e empreendedor, para uma
situação típica, Incubadora de Base Tecnológica.
Ressalta-se que o esquema típico ideal do empreendedorismo deve estar de acordo
com os três postulados estipulados por Schütz (1972) para que os pesquisadores
possam chegar a um construto ideal, sendo esses: coerência lógica, interpretação
subjetiva e adequação.
126
6.1 Identificação e Interpretação das Unidades Temáticas
A partir da leitura dos depoimentos transcritos, foram identificadas seis temáticas
centrais apresentadas a seguir:
1. Vantagens da Incubadora de Empresas
2. Identificação de Oportunidades
3. Consciência dos Riscos Assumidos
4. Desenvolvimento de Idéias Inovadoras
5. Realização de um Sonho
6. Reconhecimento Social
Dando continuidade, foram destacados fragmentos dos depoimentos relacionados
com os temas dotados de significado para o investigador, seguido por suas
interpretações unidade de significação (U.S.), sendo que essas duas unidades,
temáticas e de significação, são provenientes da redução fenomenológica, que versa
a análise dos dados sem a pretensão de verificar qualquer tipo de hipótese.
127
UNIDADE TEMÁTICA - Vantagens da Incubadora de Empresas
Relato 1 “A gente percebeu que a incubadora poderia abrir mais as portas para o nosso
trabalho, para o mercado, comercialização, além de nos dar ajuda, como a questão dos
custos que aqui se tornam bem baixo para a gente... Não é tão caro fazer a manutenção
nossa aqui...”
U.S. O empreendedor justifica sua entrada na incubadora de empresas, apresentando
como argumentos a oportunidade de obter um acesso mais fácil a parcerias e um custo
reduzido de manutenção. Isso revela que o sujeito, talvez, encontrava-se inseguro ao
iniciar sua ação empreendedora, sendo que no processo decisório de análise das
possibilidades problemáticas, a questão de como manter financeiramente sua empresa e
como crescer mais rapidamente foram aspectos geradores de conflito. Assim, a opção
pela incubadora emerge como uma tentativa de solucionar essa insegurança.
Relato 2 O que chamou bastante nossa atenção aqui, foi o fato da incubadora ter
diversas parcerias, aí... são diversos órgãos aí... que poderiam dar um apoio e uma,
vamos dizer assim... uma imagem de uma estrutura por trás da nossa empresa. É... foi
muito bom para gente entrar aqui na incubadora, quando a gente entrou, a gente deu um
salto no produto, acabamos de fazer uma parceria com outra empresa incubada aqui.”
U.S. Essa fala evidencia que o empreendedor busca a incubadora de empresas como
um respaldo a sua iniciativa. Acredita que sua idéia irá encontrar mais aceitação e
credibilidade no mercado por integrar uma instituição como a incubadora. Nesse caso, a
entrada na incubadora passa a ser uma ação estratégica e não uma solução para
resolução que qualquer tipo de incerteza. É, simplesmente, um meio para se chegar a um fim.
Relato 3 “...o aspecto mais significado dessa minha vincia é o socorro na hora que a
gente se de frente com alguma situação; devido à pouca experiência, a gente o sabe
resolver, a gente encontra o respaldo na incubadora, né? E quando eles não podem resolver,
pelo menos podem indicar alguém que possa estar conversando, pra vopoder tirar sua
dúvida e tentar resolver seu problema.”
U.S. O empreendedor reconhece que ingressou na incubadora de empresas por não
apresentar conhecimentos administrativos suficientes para gerir um negócio. Contudo, o
sujeito mostra-se corajoso e determinado a superar esse obstáculo. Apresenta iniciativa
para procurar soluções para aquilo que o impossibilita de desenvolver seu projeto de
forma plena. No mais, é um sujeito que sabe reconhecer suas deficiências, sem permitir
que elas se configurem uma limitação ao desenvolvimento de sua ação empreendedora.
128
Relato 4 “...a es
trutura física que ela nos oferece é muito boa, se a gente tivesse que sair
não teria como, né? Pois o que impede a gente é o custo dos equipamentos de
laboratório...”
U.S. O depoente decide entrar na incubadora de empresas por não apresentar capital
para aquisição do material necessário à sua prática empreendedora. Nesse caso, o
empreendedor deixa evidente a importância do papel dessa incubadora para incentivar a
ação empreendedora.
Relato 5 “A incubadora ajuda bastante em termos de contato... Como ela tem um nome e
nós que somos pequenas empresas e estamos entrando no mercado hoje, a gente procura
sempre manter contatos fortes da incubadora e a gente consegue sempre pegar alguns
clientes... alguns trabalhos... assim... algum serviço, por causa da incubadora, ? s nos
comunicamos com as outras empresas incubadas, mas pouco, pois cada um tem que
desenvolver seu projeto e o áreas diferentes, a tecnologia e os modos de trabalho. Mas a
gente acaba por trocar experncias entre mercado, escririo, contabilidade, como funciona,
entrada e saída de servo, a gente tem uma grande dificuldade, pois a gente o tem um
conhecimento de administração, um conhecimento cnico. Eno, fica meio que um pouco
complicado...”
U.S. O sujeito revela, em um primeiro momento, que a adesão à incubadora de
empresas foi uma tentativa de ampliar sua rede de contatos, além de possibilitar maior
facilidade no processo de conquista e manutenção de clientes. No entanto, observa-se
que o fator determinante para esse ingresso está ligado à busca por suporte
administrativo. O empreendedor possui uma idéia inovadora, sabe como implementá-la,
porém não detém o conhecimento necessário para gerir a empresa que irá promover seu
produto. A passagem pela incubadora configura em um período de aprendizado.
Relato 6 –“Bom, a incubadora é um canal de comunicação, eu diria, de repente com uma
pessoa, com outras empresas, com outras áreas. Eu acho que é assim, um facilitador dos
contatos para as empresas que estão aqui... É... seria também um meio de conseguir
recursos do governo, né?”
U.S. O empreendedor mostra que o ingresso na incubadora configura-se um meio para
obtenção de contatos e recursos advindos do governo. Nessa perspectiva, a incubadora
passa a ser uma oportunidade para o empreendedor e não um órgão de suporte.
129
UNIDADE TEMÁTICA - Identificação de Oportunidades
Relato 1 – “A idéia do nosso software surgiu da necessidade, que o meu sócio trabalhava em
uma empresa de construção civil e eu também desenvolvo,, então, a gente pensou assim...
Ah! Vamos fazer um projeto, desenvolver um sistema e... começou a idéia, a gente colocou no
papel... aí... em julho a gente entrou com a inscrição aqui, fomos aceitos e em setembro a
gente começou...
U.S. O empreendedor revela que o surgimento de sua idéia inovadora está ligado
necessidade de uma dada empresa. Assim, o depoente visualiza as oportunidades no
mundo da vida e propõe-se a desenvolver sua ação empreendedora para suprir essa
demanda identificada. Observa-se ainda que o empreendedor logo que vislumbra a
oportunidade existente no mercado, estrutura sua idéia em um projeto visando ingressar
em uma incubadora de empresas.
Relato 2 “É, a gente, inicialmente, foi um produto que surgiu de uma necessidade
mesmo da empresa que eu trabalhava...”
U.S. O depoente, a exemplo do primeiro colaborador, revela que o projeto iniciou-se
devido à necessidade de suprir uma demanda. O empreendedor busca expandir, crescer e
consolidar-se, acreditando que esse processo está em desenvolvimento. Essas
constatações são decorrentes do emprego do advérbio de tempo inicialmente e o verbo
ser no passado.
Relato 3“....mas, de repente, surgiu a oportunidade, né... aí a gente começou a trabalhar
com isso e agora a gente gostando... A idéia surgiu de algm que trabalha aqui na
administração da incubadora, vendo o nosso trabalho de repente chegou e conversou com a
gente: Olha isso pode se tornar produto... isso pode se tornar uma empresa ...Vocês podem
tirar isso de dentro do laboratório e levar para a comunidade...’ E foi assim que a empresa
começou sabe...
U.S. Esse trecho indica que o empreendedor desenvolvia um projeto inovador, sem,
contudo, visualizá-lo como algo comercializável. Assim, o início da ação empreendedora
racional veio com o surgimento de uma oportunidade ofertada pela incubadora de
empresas. Isso mostra a relevância do sujeito reconhecer que sua ação é empreendedora.
130
Relato 4 “...a oportunidade de s tornamos emprerios, ser dono do pprio negócio,
surgiu dentro do laboratório com o apoio de professores daqui da incubadora.
U.S. O depoente revela que se tornou empresário por sugestão de outros indivíduos.
Porém, o uso da palavra empresário e não empreendedor revela que o sujeito se
considerava empreendedor, sendo que em um segundo momento passou a ser gestor.
Essa associação certamente foi feita para melhor agregar valor à sua ação inovadora.
Relato 5 “Na nossa área, que é a área da internet, ela funciona da seguinte maneira: a
tecnologia que nós estudamos é uma tecnologia ultrapassada que acaba sendo limitada
ao deficiente visual, isso a gente enxergou antes que o pessoal enxergando hoje, no
caso.”
U.S. O empreendedor deixa evidente a visualização de uma demanda reprimida e a
partir daí o início de uma idéia inovadora. Assim, observa-se a intrínseca relação entre
indivíduo e mundo da vida. O homem confere sentido ao mundo, através de sua
consciência, e passa a criar e desenvolver idéias em função da realidade observada.
Relato 6 “...o que eu faço, que é programação, você caminha para esse lado que é vo
mesmo fazer os programas e começar a comercializar, vo fica num emprego, vo
acaba por ficar travado naquilo que a empresa te designar a saber.”
U.S. O empreendedor clama por liberdade e autonomia para desenvolver sua
criatividade no ato de programar. Isso indica que o sujeito não crê no
intraempreendedorismo, isto é, o desenvolvimento de idéias inovadoras no âmbito de uma
instituição em que se é funcionário e não proprietário. A hierarquia para o sujeito limita a
produção empreendedora.
UNIDADE TEMÁTICA - Consciência dos Riscos Assumidos
Relato 1 “...é um risco que a gente toma, né? Mas um risco que pode trazer muito
benefício pra gente, né?”
U.S. – O depoente apresenta consciência que o desenvolvimento de algo novo implica em
assumir riscos. No entanto, visualiza essas implicações como etapas que, se superadas,
poderão ser transformadas em benefícios. O uso do vocábulo benefício revela que o
empreendedor realizou uma análise detalhada das possíveis situações que iria enfrentar ao
iniciar seu projeto, sendo que verificou que a relão custo-benecio tendia para a positividade.
131
Relato 3 “A gente pensa assim, empreendedorismo, né, talvez seja o que eu esteja vivendo
a questão de vo sair para fora, de você enfrentar um mercado, de você enfrentar uma
concorrência... de vo conseguir fazer o cliente, de você conseguir manter o cliente...”
U.S. O empreendedor associa a questão de risco diretamente ao significado do
empreendedorismo, revelando acreditar que esse é o fator determinante ao se realizar
uma ação empreendedora. Todavia, um aspecto a destacar é que o depoente considera o
processo de fazer e manter um cliente uma atividade de risco, mostrando que o mesmo
visualiza riscos em muitas esferas de seu empreendimento.
Relato 6 “Empreendedor é um cara meio maluco que quer arriscar um pouco. Me considero
empreendedor porque larguei um emprego de onze anos, abri uma empresa, fechando
contrato com um cliente , e abri uma empresa sem saber exatamente o que vai surgir pela
frente, se você vai conseguir terminar aquilo, o contrato que vo firmou, tem que ter um
pouco de coragem....”
U.S. O empreendedor faz-se exemplo de um ser capaz de trocar toda a estabilidade
conferida por um emprego estável por um projeto visando criar algo novo. O sujeito coloca
que a principal característica do empreendedor é a coragem de fazer diferente, de fugir
dos comportamentos padrões estipulados pela sociedade.
UNIDADE TEMÁTICA - Desenvolvimento de Idéias Inovadoras
Relato 1 “A gente pegou uma idéia nova, , e estamos colocando no papel e na prática
né... e vamos alcançar o sucesso, com certeza!”
U.S. O empreendedor reconhece que sua idéia é inovadora e está em processo de
desenvolvimento. O uso da palavra “papel” mostra a existência de um planejamento a ser
seguido. Essa fala indica que a ação empreendedora executada por esse sujeito consiste
em uma ação racional orientada para um fim, nesse caso, o sucesso.
Relato 3 “Acho que sou um empreendedor... eu acho que sim, porque a gente corre ats
de tudo isso, ...e agora a gente passa o tempo todo pensando onde pode melhorar, onde
pode crescer... como que a gente pode enfrentar,? Como a gente pode ser o primeiro...”
U.S. O sujeito revela que dedica a totalidade de seu tempo na tentativa de produzir
melhorias e identificar oportunidade de crescimento para a sua ação. Mostra-se obstinado
em conseguir realizar suas pretensões. No mais, mostra-se feliz por ser o primeiro. Esse
primeiro denota que o empreendedor fez algo antes de todos os seus contemporâneos.
Esse é, provavelmente, seu maior orgulho e incentivo.
132
Relato 4 “No momento, assim, me considero uma empreendedora, a gente com uma
coisa nova... primeira empresa aqui do Paraná de...., e assim... é tudo muito novo pra mim
e assim, é difícil assim, acreditar... fazendo os exames que a gente tá fazendo aqui no
Paraná... Eu acho que nós somos empreendedores.”
U.S. – O sujeito revela que o desenvolvimento do projeto empreendedor ainda encontra-se
no início, o que justifica sua insegurança ao definir-se empreendedor. No entanto, o
depoente faz questão de frisar, em dois momentos distintos, que está se arriscando em
desenvolver idéias inovadoras que se configuram em produtos inéditos.
Relato 5 “E a empresa foi fundada através de um decreto de lei, que o presidente Lula fez o
decreto dizendo que todos os portais de tecnologia, como o UOL, os sites governamentais,
sites institucionais, teriam que ter tecnologia acessível aos deficientes visuais, que é direito
de todo mundo ter o direito de interagir com a comunicação. E aí foi fundada, com a tecnologia
bem complicada, o pessoal estuda, e trabalha e pesquisa nessa área.”
U.S. – O depoente narra como surgiu sua idéia inovadora, enfatizando novamente a
questão da ligação intrínseca entre idéia inovadora e uma situação no mundo da vida que
se configura oportunidade. Isso mostra que o empreender é um ser diferenciado, pois para
a maioria das pessoas o decreto-lei mencionado seria apenas uma notícia e para o
empreendedor se tornou uma oportunidade.
UNIDADE TEMÁTICA - Realização de um Sonho
Relato 1 ... A gente aprendeu bastante na faculdade isso... estudou bastante... na teoria a gente
pensava que era bem mais fácil que na ptica, porque quando a gente empreende o como é
muito dicil... Eno, a gente sonha muito em colher frutos mais em um período, um ano...
U.S. O empreender enfatiza que pretende “colher frutos” de seu trabalho em um espaço
de tempo futuro, sendo esses “frutos” a realização de sonhos. Isso mostra que os sonhos
constituem um fim no processo de desenvolvimento da ação empreendedora.
Relato 3 “Apesar de agora o sonho se converge para essa meta...né? Então, assim, agora
a gente já pensa em fazer doutorado em alguma área que possa trazer algum benefício para a
empresa, ... Hoje s trabalhamos com dois produtos diferentes e queremos colocar mais
produtos no mercado, ... pra fazer a empresa crescer e realmente se consolidar...”
U.S. O empreendedor revela, através dessa frase, o quanto a sua ação empreendedora
está envolvida em seus planos de vida, seus sonhos, sendo capaz de realizar doutorado,
desenvolver novos produtos para chegar aos fins por ele estipulados.
133
Relato 4 Eno, eu pretendo continuar e lutar, às vezes surgem muitos problemas.... mas...
a gente procura batalhar pra continuar. É uma realizão pessoal...”
U.S. O empreendedor revela que sonhos e busca por realização pessoal são fatores
motivadores para enfrentar situações difíceis. Isso indica que os sonhos são metas a
serem alcançadas, estando, portanto, em planos futuros do empreendedor. Esse sujeito
acredita que para chegar a realizar um sonho deve-se batalhar, ou seja, apresenta
iniciativa e consciência que o homem é agente em relação ao mundo e não um ser
passivo.
Relato 5 Olha, eu sonho bastante e digo que vai dar certo! Essa é nossa meta! Olha, no
começo acho que ninguém acredita, assim, você começando, é um sonho, às vezes,
muita gente duvida desse sonho.”
U.S. O empreendedor revela logo na primeira frase sua crença firme e absoluta que
logrará êxito em seus resultados. Indica ainda certa mágoa e vontade de provar para a
sociedade que duvida de seu sonho que ele é passível de ser realizado com sucesso.
Essa situação de descrença torna-se a força motriz do empreendedor que deseja a todo
esforço provar que sua idéia é viável.
Relato 6 “Ah! Isso foi uma vontade mesmo de ter uma empresa, de ter uma
independência, e não trabalhar mais como empregado, e... sei lá, de uma empresa não
sei... mais uma vontade.
U.S. O sujeito revela que o início de sua atividade empreendedora decorre de sua
vontade de deixar a condição de empregado de uma empresa, pois acredita que assim
será independente. Demonstra uma vontade de produzir algo próprio, que reflita toda a
extensão de sua criatividade. Logo, a criação da empresa incubada é a realização de um
sonho antigo, que uma vez executado, implica no surgimento de novos sonhos, como o
desejo de obtenção de lucro e sucesso por parte do novo empreendimento.
UNIDADE TEMÁTICA - Reconhecimento Social
Relato 2 “Meus amigos, assim, principalmente o pessoal que conhece e estudou com a
gente, todo mundo bastante feliz e empolgado achando que a gente tá no caminho certo...
U.S. O empreendedor enfatiza o apoio que recebe do seu círculo social de convivência.
Porém, o uso da palavra “caminho” mostra que ele sente o desejo de manter e reforçar
essa crença em seu projeto durante todas as etapas de seu desenvolvimento. O sujeito
aparentemente nutre-se da empolgação e felicidade que diz produzir nas pessoas que lhe
são próximas. Manter esse apoio é uma estratégia de motivação e força para vencer
possíveis obstáculos que irão aparecer em sua jornada.
134
Relato 3 “Na minha vida ainda, as pessoas não reconhecem, a esposa... Acho que é
porque o negócio tá começando... Nos estamos atendendo mais a região de Maringá, não
tendo uma demanda muito expressiva...”
U.S. O empreendedor faz uma menção especial ao apoio recebido por sua esposa. Na
seqüência, apresenta uma justificativa para o ainda incipiente reconhecimento que
acredita ser dado ao seu trabalho. O ato de justificar algo pode indicar o desejo de que
aquela situação adquira uma outra configuração em um futuro próximo.
Relato 5 “Hoje, que as coisas estão andando, estão caminhando, os amigos e família
começam a acreditar mais, o achando que vo es fora da realidade...
U.S. O empreendedor revela que no início de sua ação empreendedora, seus entes
mais próximos não deram crédito e apoio à sua iniciativa, pois a julgavam uma utopia. No
entanto, o empreendedor não desiste e, com o passar do tempo, vai alterando as
percepções dessas pessoas. Isso mostra que esse reconhecimento pleno e incondicional
consiste em um objetivo a ser alcançado pelo empreendedor. Ele deseja a admiração por
parte dos membros que compõem seu ambiente de convívio social.
Relato 6 Os meus amigos não me vêm como empreendedor.”
U.S. Essa frase descreve como o empreendedor se sente ao realizar algo diferente.
Essa descrença social no empreendedor, até que ele consiga o sucesso, se deve ao fato
das pessoas procurarem sempre seguir comportamentos estipulados, que não exigem
grandes esforços. Assim, a sociedade ou “consciência coletiva” repele a pessoa que tem
coragem de arriscar, de fazer diferente. Recorrendo ao Mito da Caverna escrito por Platão
(1987), pode se fazer uma analogia dizendo que o empreendedor, até que obtenha
sucesso, é o prisioneiro que foge da caverna e descobre a luz e, com isso, desperta a ira
dos demais habitantes da caverna que desejam viver na segurança e estabilidade da
escuridão. Por isso, o empreendedor é um ser livre, sua essência é a liberdade, pois é
capaz de romper com as estruturas de comportamento previsto para poder realizar seus
sonhos.
135
6.2 Síntese das Unidades de Significação
Nos relatos apresentados, é possível observar que os empreendedores
expressam-se de uma forma bastante particular. Contudo, é importante ressaltar
que a fenomenologia considera inesgotáveis os sentidos de um determinado
fenômeno, na medida em que se altera a perspectiva da observação. Deste modo,
dependendo do prisma que se estude o fenômeno, existirá uma interpretação.
A análise feita no tópico anterior revelou que os empreendedores relacionam o
significado de sua ação empreendedora a temas como Incubação, Oportunidade,
Riscos, Inovação, Sonho e Reconhecimento Social. Tais temas evidenciam que os
empreendedores vislumbram a sua ação empreendedora como o ato de abrir um
negócio para desenvolver uma idéia inovadora, conforme pode ser observado nas
falas contidas nas temáticas de oportunidade e inovação.
Dessa forma, os empresários incubados se definem empreendedores ao abrirem um
empreendimento que fornecebases para o desenvolvimento de sua idéia original.
Os entrevistados fazem sempre menção e ressaltam a questão da inovação, ou
seja, sua idéia é única e, até o momento, inexplorada. Essa relevância dada à idéia
original pode ser observada ainda no desenvolvimento da entrevista, que através do
relacionamento face a face permite ao investigador observar as reações e
expressões corporais dos empreendedores vinculadas ao conteúdo de cada fala.
136
Essa definição da ação apresenta grande relevância para compreensão do processo
de atribuição de significado elaborado pelo empreendedor, posto que se constata
que o mesmo, na realidade da Incubadora Tecnológica de Maringá, atribui
significado a sua empresa e produto desenvolvido, sendo esses toda a extensão de
sua obra empreendedora.
Sendo assim, para fins dessa análise, a ação empreendedora investigada passa a
ser os atos relacionados à abertura de um empreendimento e desenvolvimento de
uma idéia/produto original.
A partir desse ponto, inicia-se o processo de compreensão do significado que a ação
empreendedora apresenta para os empresários entrevistados.
Retomando o referencial teórico fenomenológico, tem-se que o homem confere
sentido ao mundo, pois apresenta uma consciência intencional. Nesse contexto,
para o homem atribuir significado a algo, se faz necessário que o mesmo se volte
para o objeto ou situação a ser significada, ou seja, utilizar-se-á sua intuição.
Na realidade social dos empresários entrevistados, observa-se que o
desenvolvimento de sua ação empreendedora tornou-se o foco central para o qual
eles destinam a maior parte de seu tempo e pensamento. Muitos revelam que a
ação empreendedora mudou o curso de suas vidas, posto que trabalham de forma
incessante para levar ao crescimento e sucesso o produto que está em processo de
desenvolvimento ou consolidação no mercado.
137
A partir dessa constatação do empreendedor focado em sua ação, tem-se que a sua
consciência passa a atribuir significados a essa ação, que vão além de sua definição
enquanto abertura de uma empresa para desenvolvimento de uma idéia original. A
fala “mudou minha vida” que pode ser observada em vários depoimentos revela que
a ação empreendedora está vinculada a outras dimensões da existência do
empreendedor, pois esse está situado no mundo da vida ou cotidiano, que é
essencialmente intersubjetivo.
Destaca-se que o conceito de intersubjetividade é diretamente ligado à consciência
do outro. Assim, o processo de significação da ação empreendedora deixa de ser
isolado e passa a estar vinculado a vários fatores relacionados ao curso da vida do
empreendedor. A ação não se encontra estática na incubadora, posto que o seu
mentor, aquele que lhe confere significado, é um ser social que está em contínuo
processo de construção.
Sendo assim, a ação empreendedora existe devido a alguns fatores ocorridos no
mundo da vida do empreendedor, “motivos porque”, visando alcançar objetivos,
“motivos para”, que estão contidos no projeto de vida que cada ser humano possui,
ainda que para alguns, a existência desse projeto não se manifeste de forma clara.
Dessa forma, a compreensão do significado da ação empreendedora ocorre quando
se verifica os motivos presentes nessa ação. Assim, no tópico a seguir retoma-se as
unidades temáticas identificadas na leitura dos discursos para, a partir das mesmas,
extrair os motivos da ação empreendedora desenvolvida na Incubadora Tecnológica
de Maringá.
138
6.3 Os motivos da ação empreendedora
A leitura e análise dos discursos dos empreendedores evidenciam a existência de
seis eixos centrais de significação dos discursos, sendo esses as vantagens da
incubadora de empresas, identificação de oportunidades, consciência dos riscos
assumidos, desenvolvimento de idéias inovadoras, realização de um sonho,
reconhecimento social. A seguir, um quadro apresenta as unidades temáticas
mostrando a recorrência nos discursos coletados.
As unidades temáticas organizadas em categorias e a numeração
dos depoimentos nos quais elas foram identificadas
Categorias de unidades de sentido Depoimentos
1. Vantagens da Incubadora de Empresas I, II, III, IV, V, VI
2. Identificação de Oportunidades I, II, III, IV, V, VI
3. Consciência dos riscos assumidos I, III, VI
4. Desenvolvimento de Idéias Inovadoras I, III, IV, V,
5. Realização de um sonho I, III, IV, V, VI
6. Reconhecimento Social II,III, V, VI
Quadro 13 – Recorrência das unidades temáticas
O eixo denominado vantagens da incubadora de empresas mostra que os
empreendedores vêem esse órgão com um facilitador do desenvolvimento de sua
ação, ao atuar como um redutor de dificuldades ligadas à administração e
manutenção da empresa, que para os mesmos é a base para o desenvolvimento de
seu produto proveniente de sua idéia original. Nesse sentido, a entrada na
incubadora constitui uma etapa localizada entre a justificativa e a finalidade de se
desenvolver a ação empreendedora. Ela surge após o processo de tomada de
decisão por parte do empreendedor em investir ou não em seu propósito.
139
Ao observar-se o eixo relacionado à oportunidade, tem-se que o empreendedor
observa uma situação no mundo da vida que se transforma o marco para início do
desenvolvimento de sua ação. É como se o empreendedor visualizasse que aquela
situação no mundo da vida, podendo estar tanto vinculada ao mercado com a
fatores pessoais, é um sinal que deve começar a desenvolver sua ação
empreendedora, pois o mundo abriu uma entrada para a idéia original.
Nos relatos investigados essa idéia era latente e o surgimento ou identificação de
uma oportunidade fez com que o empreendedor tomasse consciência da viabilidade
de sua idéia, entrando em seguida em processo de decisão, avaliando se deveria ou
não desenvolvê-la. Assim, a visualização de uma oportunidade constitui um “motivo
porque”, na medida em que ela revela para o empreendedor que aquele é o
momento de iniciar ou até mesmo transformar o curso de desenvolvimento de sua
ação, ou em muitas situações, a oportunidade é que faz com que uma idéia original
surja. O homem visualiza a situação e lhe confere sentido. Nessa perspectiva, a
oportunidade é um motivo propulsor da criação ou desenvolvimento prático da ação
empreendedora. Sendo assim, ela não é uma finalidade, mas sim uma situação
procia que permite ao empreendedor criar ou iniciar o desenvolvimento de sua idéia.
ao analisar o eixo temático consciência dos riscos inerentes à atividade
empreendedora, tem-se que esse aspecto pode ser configurado como um desafio,
um conjunto de obstáculos que, se vencidos, conduzirão ao sucesso. Tais riscos são
conseqüências intrínsecas ao processo de desenvolvimento de algo novo, não
estando necessariamente ligadas aos motivos de realização de uma ação
empreendedora.
140
Os riscos aparecem durante o curso de uma ação, não estando, em primeiro
momento, ligados a sua justificativa ou finalidade. Assim, o desafio é uma
conseqüência da ação em curso. Porém, para alguns empreendedores, o desafio
pode surgir como “motivo porque” durante o processo de decisão de
desenvolvimento da ação empreendedora, como uma busca por superação.
No caso dos empreendedores da Incubadora de Maringá, o risco aparece como um
fator indesejado, como um entrave. Observa-se nos empreendedores uma
inquietação por obtenção rápida de bons resultados, natural em pessoas que estão
no começo de um projeto. Assim, nessa situação específica, o risco incomoda e
ainda não motiva, porém não é fator capaz de levar o empreendedor a desistir de
sua idéia. Devido a isso, o papel benéfico da incubadora, no sentido de tornar o
ambiente mais favorável ao desenvolvimento dos projetos empreendedores seja tão
mencionado.
Por sua vez, o eixo desenvolvimento de idéias inovadoras indica um ponto crucial
para a ação empreendedora, posto que essa ação deriva dessas idéias. A idéia é o
princípio da ação empreendedora, ou seja, o empreendedor pensa em algo novo.
Assim, a idéia seria um “motivo porque” que emerge diretamente da mente do
empreendedor. Essa idéia está diretamente vinculada à questão da oportunidade,
pois tal idéia pode surgir a partir da visualização de uma oportunidade ou pode ser
colocada em prática a partir de uma oportunidade favorável que surge no mundo da
vida.
141
Analisando o eixo temático realização de um sonho, observa-se a existência de duas
perspectivas de interpretação que, todavia, conduzem ao mesmo resultado. Na
primeira perspectiva, o sonho se configura na realização bem-sucedida da idéia
original, ou seja, o empreendedor não sonha em somente desenvolver sua idéia,
mas também que essa alcance sucesso. Destaca-se a diferença entre a idéia
original e o sonho. Enquanto a primeira consiste em um pensamento puro, o
segundo é o desejo que a idéia original seja desenvolvida na prática e alcance
sucesso. Desse modo, o sonho passa a ser uma finalidade devido à necessidade da
obtenção do sucesso.
Na segunda perspectiva, o sonho está ligado à realização pessoal e financeira,
sendo o desenvolvimento da ação empreendedora um caminho para se chegar a
esse fim. O sonho se torna um conjunto de objetivos que o empreendedor deseja
atingir. Nesse caso, o sonho, “motivo para” está mais diretamente ligado a um
projeto de vida que na primeira perspectiva de interpretação.
Por fim, observa-se o eixo temático denominado reconhecimento social. Tal eixo é
bastante relevante para essa pesquisa, pois comprova que o empreendedor busca,
além de realização pessoal, um reconhecimento por parte das pessoas com as
quais apresenta relacionamento, podendo ser essas suas consócias ou
contemporâneas. Esse desejo de reconhecimento é naturalmente proveniente da
intersubjetividade, pois o homem quer ser valorizado pelo outro. O reconhecimento
social poderia estar inserido na questão da realização de sonhos, no entanto, essa
questão social merece um destaque especial, posto que revela aspectos da
natureza humana.
142
Em muitos casos, esse reconhecimento é um anseio central do empreendedor, pois
no princípio todos os membros de seu círculo de convivência duvidaram que sua
idéia original fosse algo consistente e capaz de dar certo. Essa situação de
descrença foi relatada nos depoimentos. Assim, o reconhecimento social constitui
um “motivo para”.
A partir dessas análises, conclui-se que os motivos presentes na ação
empreendedora dos empresários incubados na Incubadora Tecnológica de Maringá
são:
“Motivos porque” fatores identificados no passado do empreendedor que
possibilitaram a ocorrência da ação, sendo esses: a identificação ou surgimento
de uma oportunidade e apresentação de uma idéia inovadora, original.
“Motivos parafatores identificados na perspectiva futura do empreendedor que
evidenciam a finalidade da ação, sendo esses: a busca por realização de um
sonho e reconhecimento social.
Assim, pode-se responder à problemática central dessa investigação, pois os
empreendedores atribuem significado à sua ação empreendedora (atos relacionados
à criação e desenvolvimento de um produto), a partir de uma oportunidade e idéia
original, buscando a realização de um sonho e reconhecimento social.
143
Portanto, o significado da ação relaciona-se com mudança na esfera profissional e
pessoal, investimento em idéia nova que pode gerar risco, criatividade, observação
do mundo da vida, esperança de realização de sonhos, necessidade de valorização.
Ressalta-se que a formulação de uma idéia é algo intrínseco à consciência do ser,
a oportunidade se manifesta no ambiente, o sonho é uma realização pessoal e, por
fim, o reconhecimento é algo que parte do outro.
Dessa forma, observa-se que a significação da ação empreendedora inicia-se no
interior do ser (em sua consciência e desejos), necessitando continuamente
encontrar respaldo nos demais seres. O homem sempre está em processo de
intercâmbio com o mundo da vida, por isso é essencialmente social. Na visão de
mundo intersubjetivo, a intencionalidade da consciência volta-se para o outro ou tu.
A figura apresentada a seguir ilustra essa questão da intersubjetividade da ação
empreendedora:
Figura 5 – Intersubjetividade na Ação Empreendedora
Mundo da Vida Mundo da Vida
Intersubjetividade
:
Ponto de contato
entre o individuo e a
sociedade
Idéia manifesta na
consciência do ser
empreendedor
O empreendedor
visualiza a
oportunidade
Empreendedor Empreendedor
O empreendedor busca
realização de sonhos
O empreendedor
necessita que o outro
reconheça sua ação.
Sucesso
Intercessão Intercessão
144
Nesse sentido, a ação empreendedora é resultado de uma idéia inovadora que foi
criada ou implantada por um ser inserido no mundo da vida, devido à visualização
de uma oportunidade, sendo que esse agente busca a realização pessoal de sonhos
e reconhecimento por parte dos demais seres integrantes do mundo intersubjetivo.
Pode-se dizer que o reconhecimento social é uma comprovação ou legitimação do
sucesso alcançado por sua ação, pois para um homem intersubjetivo o basta a
realização pessoal, é necessário que o outro faça uma espécie de autenticação de
seus resultados positivos.
Conforme visto no tópico sobre “empreendedorismo na sociedade contemporânea” e
comprovado pela análise fenomenológica dos relatos, o ser somente passa a existir
como empreendedor em seu meio social mediante obtenção de sucesso. As
tentativas de empreender que não obtenham sucesso são somente tentativas sem
valor para a sociedade. Devido a essa cultura do sucesso, o reconhecimento social
é tão veementemente desejado.
A seguir, a partir dos “motivos para” e “motivos porque” identificados elabora-se o
esquema de interpretação típico ideal do empreendedorismo, que representa uma
objetivação dos resultados logrados válidos para a situação típica incubadora de
base tecnológica.
145
6.4 Esquema Interpretativo Típico Ideal do Empreendedorismo
O esquema interpretativo típico ideal conforme definido por Schütz (1972) deve
apresentar um tipo ideal de ação e um tipo ideal de pessoa, associados à uma
situação típica. Além disso, deve ser construído a partir dos motivos presentes na
ação social, neste trabalho representado pela ação empreendedora.
Dessa forma, o tipo ideal de empreendedorismo é a junção de três aspectos típicos,
sendo elaborado a partir da objetivação de dados obtidos em investigações que
privilegiam a subjetividade. Vale lembrar, que o tipo vivido é anônimo, sendo um
quadro de análise para o fenômeno e não uma descrição exata das vivências.
Os motivos mais recorrentes nos relatos de empreendedores da Incubadora
Tecnológica de Maringá foram identificados a partir das unidades temáticas que
emergiram da análise fenomenológica dos dados coletados. O emprego das
unidades temáticas e o especificamente das unidades de significação se deve ao
fato dessas primeiras serem resultado de uma observação do todo contido nos seis
relatos e as unidades de significação apresentarem um caráter mais particular de
cada fala contida nos discursos. Assim, na tentativa de objetivar a subjetividade
parte-se das unidades extraídas do todo.
Dessa forma, os motivos presentes na ação empreendedora realizada na
Incubadora Tecnológica de Maringá foram desvelados. Os motivos “porque”
relacionam com a questão de inovação e oportunidade, sendo os “motivos para”
relacionados a realização de sonhos pessoais e busca por reconhecimento social.
146
Destaca-se que no processo de construção típico ideal, indagações sobre: como se
desenvolve a idéia inovadora?, qual a oportunidade identificada?, quais sonhos o
empreendedor pretende realizar?, quais as suas aspirações de reconhecimento?
são desnecessárias, em virtude de serem singulares e não objetivas.
Esses aspectos singulares se manifestam durante o relacionamento Nós, em
situação face a face, o que garante a subjetividade, sendo que o tipo ideal de análise
deve partir de aspectos comuns, tipificações, construídas por empreendedores após
a vivência desse relacionamento.
Assim, o esquema interpretativo típico ideal de empreendedorismo foi delineado.
Esse esquema pode ser utilizado para a análise do empreendedorismo desenvolvido
em qualquer Incubadora de Base Tecnológica, situação típica. Na seqüência,
apresenta-se o tipo ideal de empreendedorismo elaborado.
147
Esquema Interpretativo Típico Ideal do Empreendedorismo
Tipo Ideal de Ação: Abertura de um empreendimento para desenvolvimento de uma idéia
inovadora.
Tipo Ideal de Pessoa: Empreendedor livre, que opta dentre as possibilidades problemáticas
por ingressar em uma Incubadora de Empresas, visando alcançar objetivos apresentados em
seu projeto de vida.
Situação Típica: Incubadora de Base Tecnológica.
Figura 6: Esquema interpretativo típico ideal do empreendedorismo
Percepção de uma Idéia
Inovadora
Processo de decisão
acerca da implantação
da idéia inovadora. O
homem
livre
escolhe
entre
possibilidades
problemáticas.
Prática Empreendedora
Mudança de Vida
O empreendedor inicia o
desenvolvimento de sua
idéia, realiza contatos,
desenvolve seu produto,
assume riscos, recebe
apoio da Incubadora.
Identificação de uma
oportunidade
Ingresso em Incubadora
Tecnológica
Realização Pessoal e
de Sonhos
Reconhecimento Social
SUCESSO
Motivos “porque”
O empreendedor
intersubjetivo espera
alcance do sucesso,
sendo esse uma
legitimação de sua
realização pessoal.
Motivos “para”
148
Ressalta-se que o tipo ideal é um instrumento de estudo da realidade construído a
partir da observação da mesma. Assim, o foco desse esquema interpretativo é o
estudo da ação empreendedora, pois para Schütz (1972) um fenômeno pode ser
abordado em seu desenvolvimento, ou seja, no curso de sua ação. Para construção
desse tipo vivido, considera-se os postulados estipulados por Schütz (1972), sendo
esses: coerência lógica, interpretação subjetiva e adequação.
O postulado da coerência lógica indica que o tipo ideal deve ser elaborado com o
rigor metodológico intrínseco à produção do conhecimento científico. O tipo ideal de
empreendedorismo obedece a esse postulado, já que foi construído a partir do
emprego do método fenomenológico, que prevê a realização da redução
fenomenológica como garantia de credibilidade da análise dos dados. Além disso,
todos os procedimentos metodológicos adotados e descritos no capítulo “trajetória
da pesquisa” comprovam a preocupação com o rigor científico.
Por sua vez, o postulado da interpretação subjetiva visa garantir que o tipo ideal será
elaborado a partir da identificação do significado da ação social. Esse postulado
complementa o postulado da adequação no sentido de garantir a correspondência
com a realidade, pois o tipo construído, ainda que objetivo advém da análise dos
significados subjetivos e da experiência singular de cada empreendedor.
O tipo ideal de empreendedorismo segue esse postulado da subjetividade ao utilizar
como método de interpretação dos dados coletados a abordagem fenomenológica
de Sanders (1982) que procura tornar explícita a estrutura e o significado implícito
da experiência humana.
149
Por fim, tem-se o postulado da adequação que versa acerca da importância do tipo
ideal construído apresentar nexo em relação aos acontecimentos que se processam
na realidade social. Não há como um tipo ideal se tornar um quadro de análise se as
suas referências não apresentarem nenhuma aproximação com a realidade.
O tipo ideal de empreendedorismo contempla esse postulado ao evidenciar como a
ação empreendedora se desenvolve em seu principio, meio e fim, com dados
extraídos de entrevistas realizadas com empreendedores que vivenciam esse
processo cotidianamente. Dessa forma, essa construção típica tem por base um
rigoroso processo de coleta e interpretação de dados. O esquema produzido está
em esfera objetiva condizente com a realidade vivida pelos empreendedores
investigados. Logo, vale lembrar que o tipo ideal não representa conhecimentos
essencialmente subjetivos, mas sim um conhecimento objetivado que busca ser
comum a todos os seres, sem corresponder de forma exata a um ser
individualmente.
Portanto, o tipo ideal de empreendedorismo elaborado no presente trabalho está
condizente com os ditames dos postulados formulados por Alfred Schütz (1972).
Dessa forma, pode ser utilizado em pesquisas vindouras que apresentem o
propósito de investigar o empreendedorismo desenvolvido em uma Incubadora de
Base Tecnológica, como um quadro de referência.
150
7. CONCLUSÃO
O presente trabalho se propôs a desvelar, em sua parte introdutória, a seguinte
problemática de pesquisa: qual o significado que o empreendedor atribui ao
empreendedorismo a partir dos motivos presentes em sua ação empreendedora
desenvolvida no meio social da Incubadora Tecnológica de Maringá?
Para isso, realizou-se uma revisão de literatura acerca do empreendedorismo, sendo
a fenomenologia social adotada como referencial teórico. Na seqüência, elaborou-se
uma caracterização de aspectos típicos do universo das incubadoras de empresas,
que constituem o meio social em que se processa a ação empreendedora. Além
disso, foram apresentados argumentos que justificam a escolha da Incubadora
Tecnológica de Maringá como locus da pesquisa acerca da ação de empreender.
Esse tópico correspondeu ao desenvolvimento do primeiro objetivo específico.
No mais, foram coletados dados a partir de entrevistas semi-estruturadas realizadas
com seis empresários incubados na Incubadora Tecnológica de Maringá, sendo
esses interpretados a partir dos pressupostos da abordagem fenomenológica de
Sanders (1982).
A partir disso, foi possível identificar que os sujeitos significam sua ação
empreendedora ao relacioná-la com as temáticas: vantagens da incubadora de
empresas, identificação de oportunidades, consciência dos riscos assumidos,
desenvolvimento de idéias inovadoras, realização de um sonho, reconhecimento
social.
151
Na seqüência, observou-se que esses eixos temáticos revelam que o empreendedor
compreende sua ação empreendedora como o conjunto de atos relacionados a
abertura de uma empresa para desenvolvimento de um produto inovador. Assim, o
empreendedor atribui significado a sua empresa e produto, posto que esses
constituem sua obra empreendedora.
A partir dessa compreensão, os eixos temáticos passaram a ser analisados na
tentativa de desvelar os motivos presentes na ação empreendedora. A identificação
desses motivos correspondeu ao desenvolvimento do segundo objetivo específico
dessa pesquisa, pois tais motivos podem conduzir a um aprofundamento do
significado da ação empreendedora, assim como proporcionar base para a
construção do tipo ideal proposto por Alfred Schutz (1972), idealizador da
fenomenologia social.
Dessa forma, observando a recorrência dos eixos temáticos nos depoimentos
coletados, constatou-se a existência de dois motivos “porque” e dois motivos “para”
presentes na ação empreendedora, sendo esses, respectivamente: identificação de
oportunidade e surgimento de idéia inovadora, realização pessoal de sonhos e
reconhecimento social.
Logo, pode-se responder à problemática central, ao constatar que os
empreendedores, ao significarem a ação empreendedora a partir dos motivos,
atribuem à mesma os seguintes sentidos: mudança na esfera profissional e pessoal,
investimento em idéia nova que pode gerar risco, criatividade, observação do mundo
da vida, esperança de realização de sonhos, necessidade de valorização.
152
Por fim, os motivos presentes na ação empreendedora foram utilizados para
construção típico ideal do empreendedorismo, que correspondeu ao
desenvolvimento do terceiro objetivo específico. Segundo Schütz (1972), o
esquema interpretativo típico ideal deve apresentar um tipo ideal de ação e pessoa,
associados a uma situação típica. Nesse trabalho, evidenciou-se que o tipo ideal de
empreendedorismo decorre da junção dos três aspectos apresentados a seguir:
Tipo Ideal de Ação: abertura de um empreendimento para desenvolvimento de
uma idéia inovadora. O curso de ação ideal se inicia com o empreendedor
visualizando uma oportunidade, atribuindo sentido a essa oportunidade ao
desenvolver uma idéia inovadora. A partir dessa idéia, o empreendedor se
confronta com várias possibilidades denominadas problemáticas por serem
conflituosas, posto que ele ter que escolher se aplica ou não sua idéia. Caso
decida pela prática, o empreendedor ingressa em uma incubadora de empresas
onde passa a vivenciar várias situações de aprendizado, risco, formação de
parcerias, atendimento ao cliente, aspectos intrínsecos ao desenvolvimento de
uma ação empreendedora em um ambiente de negócios. Por fim, visa com essa
ação conseguir a realização pessoal de seus sonhos, assim como obter
reconhecimento social dos membros de seu círculo de convivência social.
Tipo Ideal de Pessoa: Empreendedor livre, que opta, dentre as possibilidades
problemáticas, por ingressar em uma incubadora de empresas, visando alcançar
objetivos apresentados em seu projeto de vida.
Situação Típica: Incubadora de Base Tecnológica.
153
Esse esquema interpretativo típico ideal do empreendedorismo pode ser empregado
em estudos vindouros como um quadro de referência, ou seja, um método de
análise. Isso constitui a maior relevância do tipo ideal, uma vez construído a partir da
objetivação de vários significados subjetivos, esse pode auxiliar na compreensão da
realidade. Na qualidade de típico, torna-se possível buscar compreender em que
aspectos um empreendedor se diferencia do modelo estipulado. Esse tipo de estudo
poderá ainda contribuir para a consolidação da epistemologia do
empreendedorismo, em face de sua metodologia de análise subjetivo-objetivo.
Dessa forma, acredita-se que a pesquisa em seu desenvolvimento conseguiu
responder ao questionamento proposto, assim como alcançar os objetivos
estipulados. Portanto, esse trabalho evidenciou que o empreendedorismo
desenvolvido em uma incubadora de base tecnológica consiste em um contínuo
intercâmbio de relações entre os empreendedores, frutos de um passado e repletos
sonhos para o futuro.
154
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Apêndice I – Alfred Schütz
Alfred Schütz nasceu em Viena, no ano de 1899, filho de Otto Schütz (1874-1942),
advogado de um banco privado e Johanna Schütz (1873-1955). Durante seus anos
de escola, Schütz interessou-se por literatura, música e arte. Graduou-se pelo
Ginásio de Esterhazy e juntou-se à divisão da artilharia do exército austríaco aos 18
anos, lutando na I Guerra Mundial, servindo a frente italiana. Após a guerra, retornou
à Áustria com a finalidade de dar continuidade aos seus estudos na Universidade de
Viena.
Nessa instituição, Schütz estudou direito, ciências sociais e economia com
renomadas figuras, tais como Hans Kelsen e Ludwig von Mises. Durante os anos em
que permaneceu em Viena, freqüentava o Círculo de Mises, um dos mais famosos
círculos austríacos, no qual se discutiam questões epistemológicas e metodológicas
acerca das ciências naturais e sociais.
Alfred Schütz (1899 – 1959)
163
Tal círculo era interdisciplinar e Schütz fez inúmeras amizades que continuaram
durante as décadas de 1930 e 1940, sendo essas: os economistas Gottfried von
Haberler, Friedrich A. von Hayek, Fritz Machlup, Oskar Morgenstern, o filósofo Felix
Kaufmann e o cientista político Eric Voegelin.
A partir de 1925, Schütz se dispôs a fundamentar epistemologicamente conceitos
estipulados por Weber em sua teoria da sociedade, que a seu ver estavam
insuficientemente embasados.
Em 1926, Schütz casou-se com Ilse Heim, tendo, posteriormente, dois filhos: Evelyn
Schütz e George F. Schütz. Em 1927, Schütz foi nomeado oficial executivo da
Companhia Reitler, uma empresa bancária vienense com relações internacionais.
Esse trabalho levou Edmund Husserl a descrever Schütz como “um banqueiro pelo
dia e um filósofo pela noite”.
Dando continuidade ao seu objetivo de aprofundar os escritos de Weber, trabalho
imensamente popular entre os intelectuais de Viena, Schütz inspira-se na filosofia da
consciência e do tempo de Henri Bérgson. Com isso, Schütz pretendia esclarecer
noções como significado, ação e intersubjetividade. Os resultados foram coletados
em manuscritos.
Porém, ainda descontente com suas análises da temporalidade, Schütz descobriu a
relevância da fenomenologia de Edmund Husserl (1859-1938). Foi então que
produziu seu principal trabalho, A Fenomenologia do Mundo social (1932), uma obra
que Husserl elogiou chamando-o de “um fenomenologista sério e profundo.” Gastou
o resto dos anos de 1930 em tentativas de mostrar como a fenomenologia do mundo
social poderia ir ao encontro do pensamento econômico de Mises e de Hayek.
164
A carreira acadêmica e de negócios de Schütz foi compulsivamente interrompida
quando Adolf Hitler anexou a Áustria em 13 de março de 1938, sendo separado de
sua família por três meses, pois se encontrava na França. Como advogado e
homem de negócios internacionais, pôde ajudar numerosos intelectuais a escapar
da Áustria, acabando por imigrar com sua família para os Estados Unidos, em 14 de
julho de 1939.
Nesse país, continuou ajudando a imigrantes e trabalhando com a Companhia
Reitler. Cooperou também com Marvin Farber, que fundou a Sociedade
Internacional de Fenomenologia, que visava instituir e editar a filosofia e a pesquisa
fenomenológica.
Em 1943, Schütz começou a ensinar nos cursos de sociologia e filosofia da
Faculdade Graduada para Nova Pesquisa Social. Suas responsabilidades incluíam:
apresentar artigos em seminários gerais, supervisionar dissertações e ocupar uma
cadeira do departamento de filosofia durante 1952-1956.
Apesar dessas diversas atividades, Schütz trocava extensivas correspondências
filosóficas com Farber, Aron Gurwitsch, Fritz Machlup, Eric Voegelin, e Maurice
Natanson, seu estudante graduado entre 1951 a 1953. Entretanto, somente a
correspondência com Gurwitsch foi publicada: A correspondência de Alfred Schütz e
de Aron Gurwitsch, 1939-1959.
165
Ainda nos Estados Unidos, Schütz publicou uma coleção de artigos em uma
variedade de tópicos, explicando e criticando o pensamento de Husserl; examinando
os trabalhos de filósofos americanos tais como William James e George
Santanyana; analisando obras de filósofos continentais como Jean-Paul Sartre;
desenvolvendo suas próprias posições filosóficas nas ciências sociais, na
temporalidade, na língua, nas realidades múltiplas, na responsabilidade e no
simbolismo.
Diversos estudiosos continuaram a tradição de Schütz na filosofia e na sociologia, tal
como Maurice Natanson que enfatizou a tensão entre as dimensões individuais,
existenciais e sociais da experiência de vida diária. Thomas Luckmann desenvolveu
uma obra sociológica de implicações do conhecimento e do pensamento de Schütz
que mostravam as diferenças entre a ciência e o mundo da vida. John O'Neill fundiu
o pensamento de Schütz com o de Merleau-Ponty focalizando no vivido o corpo da
comunicação. Outros acadêmicos dedicaram-se ao trabalho de Schütz e ao
desenvolvimento de suas introspecções.
Schütz viveu nos Estados Unidos até sua morte prematura, em 1959.
166
Apêndice II – O Dizer dos Empreendedores
Depoimento Nº 01
1. O que mais pesou na minha decisão para entrar na incubadora de empresas foi a
questão das parcerias... A gente percebeu que a incubadora poderia abrir mais as portas
para o nosso trabalho, para o mercado, comercialização, além de nos dar ajuda como a
questão dos custos que aqui se tornam bem baixo para a gente... Não é tão caro fazer a
manutenção nossa aqui... A gente sai da faculdade, tem a parte técnica e tudo, acho que é
conhecer na prática como que é então, acho que é uma realização pra gente, né? Tanto
profissionalmente como pessoalmente. Nós estamos pré-incubados, mas nosso software
já tá no mercado já... Já tá fazendo seu papel, temos alguns clientes, ligados ao sistema...
2. Nossa empresa não pronta ainda, a gente conversou semana passada sobre o apoio
na comercialização, mas eles batem bem em cima que para o apoio da incubadora
aumentar, o produto tem que estar pronto, sendo bom, eles vão usar as noções deles, né?
...A respeito disso... A gente teve que responder um questionário SEBRAE semana
passada que mostra como tá nosso desenvolvimento, e a previsão nossa é que até o meio
do ano nossos produtos estejam prontos já.
3. Aconteceu de eu vir para cá, como eu te falei em busca de parcerias né..., a gente
pensou bastante, pois a curto prazo a gente podia ser mais reconhecido, estar ligado mais
aos parceiros que a gente tem assim... né? .... Como a prefeitura também... e... ia ser
uma porta maior que a gente ia entrar, então daí a gente ia dar um passo maior, que se a
gente tivesse alguma salinha em alguma sala comercial. Na verdade, eu fazia faculdade e
conhecia aqui... mas nunca pensei em abrir uma empresa e começar aqui... A idéia do
nosso software surgiu da necessidade que o meu sócio trabalhava em uma empresa de
construção civil e eu também desenvolvo, então, a gente pensou assim... Ah! Vamos
fazer um projeto, desenvolver um sistema e... começou a idéia, a gente colocou no papel...
aí... em julho a gente entrou com a inscrição aqui, fomos aceitos e em setembro a gente
começou...
4. Empreendedorismo? Ora é... A gente aprendeu bastante na faculdade isso... estudou
bastante...na teoria a gente pensava que era bem mais fácil que na prática, porque
quando a gente empreende o começo é muito difícil... Então, a gente sonha muito em
colher frutos mais em um período, um ano, então... é um risco que a gente toma, né? Mas
um risco que pode trazer muito benefício para gente, né? A gente pegou uma idéia nova,
né, e estamos colocando no papel e na prática né... e vamos alcançar o sucesso, com
certeza!
167
Depoimento Nº 02
1 O que chamou bastante nossa atenção aqui, foi o fato da incubadora ter diversas
parcerias, aí... são diversos órgãos aí... que poderiam dar um apoio e uma, vamos dizer
assim... uma imagem de uma estrutura por trás da nossa empresa. É... foi muito bom para
gente entrar aqui na incubadora, quando a gente entrou a gente deu um salto no produto,
acabamos de fazer uma parceria com outra empresa incubada aqui... Então, a gente
pegou o produto já que tava em desenvolvimento, estamos melhorando ele, terminando de
desenvolver... e lançamos no mercado. Então, é uma coisa que a gente planejava e
para o nosso produto pra daqui a um ano, um ano e meio... Como a gente entrou na
incubadora veio o acesso a parceria com essa outra empresa e estamos quase prontos
para entrar no mercado de vez, e entramos aqui em setembro...O convívio com os outros
empresários nos ajudou bastante...
2 É a gente ainda não usufruiu ainda do que eu acho que a incubadora pode oferecer...
É, justamente, por a gente ser uma empresa pré-incubada, existem outras portas para as
empresas que estão incubadas aqui, estão abertas e tudo mais... a gente ainda não
teve acesso é... todos os benefícios que a incubadora pode nos proporcionar,
principalmente na parte de comercialização e assessoria desse parte.
3 É, a gente, inicialmente, foi um produto que surgiu de uma necessidade mesmo da
empresa que eu trabalhava... Como a gente teve a matéria de empreendedorismo no
quinto ano da faculdade, a gente fez plano de negócios, conheceu como é que funciona,
toda a sistemática de uma incubadora e tudo mais... Aí, quando surgiu a idéia de
realmente fazer esse produto, a gente pensou em vir para cá... Eu tenho muito contato
com o.... conversando assim... encontrei com ele em um dia de almoço e falei que
precisava conversar e ele deu a idéia da gente vir para cá e tal... A partir daí, a gente foi...
É, no futuro a gente espera muito sucesso né? A gente acha que tem um produto muito
bom, que tem um diferencial bem legal, que tem um mercado pouco explorado... Então
a gente espera de dar muito bem nesse ramo que a gente entrou...
4 Ah! Empreendedorismo acho que é a transformação de uma visão de negócio em
realidade, acho que seria isso, bem isso... sinteticamente falando. Sou um empreendedor.
E estar na incubadora faz parte disso, pois é um canal que muita gente não conhece e
pode te abrir muitas portas. E muito interessante estar aqui... Meus amigos, assim,
principalmente o pessoal que conhece e estudou com a gente, todo mundo bastante feliz e
empolgado, achando que a gente tá no caminho certo...
168
Depoimento Nº 03
1 – Estamos incubados desde setembro, e o aspecto mais significado dessa minha
vivência é o socorro na hora que a gente se de frente com alguma situação devido à
pouca experiência, a gente não sabe resolver, a gente encontra o respaldo na incubadora,
né? E quando eles não podem resolver, pelo menos podem indicar alguém que possa
estar conversando, pra você poder tirar sua dúvida e tentar resolver seu problema. Minha
vida mudou bastante... A gente o mercado de uma outra forma, até pelo fato da gente
ser ... né? A gente tem uma formação bastante teórica, assim... Nós somos formados
para sermos pesquisadores, né? Não empreendedores... Então! De repente, a gente tem
um produto que dava para vender e a gente não sabia muito bem como lidar com isso
né... Então mudou bastante coisa sim, bastante coisa sim... a gente aprendendo muito
aqui na incubadora. Nós em quatro, mais dois... e um....
2 Eu acredito que a incubadora, ela proporciona como eu poderia dizer assim... ela
proporciona uma ambiente favorável , né? Eu acredito assim, que fora da incubadora nós
demoraríamos mais tempo para estar no mercado né... A incubadora ajudou a gente a
agilizar o processo... Entrei direto na incubação porque o produto nosso era muito
desenvolvido, um projeto de pesquisa dentro do laboratório... A maior ajuda é em termos
de formação e conhecimento... Pra nós, a estrutura física é interessante que a gente é...
tem um local onde a gente pode fazer a parte administrativa, atender o cliente tudo e tal...
Mas como a nossa empresa é uma empresa de.... então, nós dependemos noventa por
cento de um laboratório de..., então também é cedido pra gente via incubadora, numa
parceria com a UEM...
3 Bom, na minha vida, eu vou confessar pra você que nunca pensei em ser
empresário... né? A gente tinha uma outra idéia, ser pesquisador... levar uma vida
acadêmica né... essa era a primeira idéia, mas aí de repente surgiu a oportunidade né... aí
a gente começou a trabalhar com isso e agora a gente gostando... A idéia surgiu de
alguém que trabalha aqui na administração da incubadora vendo o nosso trabalho, de
repente chegou e conversou a gente: “Olha isso pode se tornar produto... isso pode se
tornar uma empresa ...Vocês podem tirar isso de dentro do laboratório e levar para a
comunidade...” E foi assim que a empresa começou sabe... Não vem a ser assim... um
sonho desde ... Ah! Vamos fazer uma empresa... Apesar de agora o sonho se converge
para essa meta,né? Então, assim agora a gente pensa em fazer doutorado em alguma
área que possa trazer algum benefício para a empresa, né? Hoje nós trabalhamos com
dois produtos diferentes e queremos colocar mais produtos no mercado, pra fazer a
empresa crescer e realmente se consolidar... Então,pro futuro... justamente é esse ... o
desenvolvimento de novos produtos, né... principalmente produtos que ainda não são
viabilizados no mercado, né... no nosso caso de uma empresa de cunho tecnológico...
Tem muita coisa que o governo sempre soltando editais... Pedindo que o pessoal
trabalhe em cima disso... Diagnóstico de algumas doenças, tanto voltado para área de
humanas como voltado para a área de agronegócios... E as perspectivas para o nosso
futuro são essas sabe... investir ... nessa... como é que eu posso falar... geração, né... de
novos produtos né... Pretendendo continuar com nosso trabalho..
4 Acho que é difícil... acho que... a palavra empreendedorismo é difícil de definir... Eu
acho que pra gente que tem uma formação acadêmica formada muito pra dentro do
laboratório, a gente não conhece muito da porta pra fora do laboratório... A gente pensa
assim, empreendedorismo né, talvez seja o que eu esteja vivendo a questão de você sair
para fora, de você enfrentar um mercado, de você enfrentar uma concorrência... de você
conseguir fazer o cliente, de você conseguir manter o cliente... Acho que sou um
empreendedor... eu acho que sim, porque a gente corre atrás de tudo isso né...e agora a
gente passa o tempo todo pensando onde pode melhorar, onde pode crescer... como que
a gente pode enfrentar, né? Como a gente pode ser o primeiro... Na minha vida ainda, as
pessoas não reconhecem, a esposa... Acho que é porque o negócio tá começando...
Nos estamos atendendo mais a região de Maringá, não tendo uma demanda muito
expressiva...
169
Depoimento Nº 04
1 Lados positivos ou negativos? Bom, nós temos o apoio da incubadora, alguns
aspectos deixam a desejar porque... assim, a maioria das empresas incubadas tem a ver
com software... e nós aqui é uma empresa de ... que está sendo incubada... Então às
vezes eles não têm certo suporte para dar pra gente... Então a gente tem que ficar
correndo atrás, né? Nós acabamos nos virando por nós mesmos... quanto a isso de
ajuda né... Agora estrutura física, é... manutenção, tudo, ok... Aqui são várias empresas
cada um fica em um box, então é complicado a gente se relacionar e quem a gente tem
mais contato é uma outra empresa de software que eles fazem..., um dos sócios que eu
particularmente tenho mais contato profissional mesmo... As outras empresas eu conheço,
não tenho tanto contato...
2 Nosso trabalho é... a estrutura física que ela nos oferece é muito boa se a gente
tivesse que sair não teria como né, pois o que impede a gente é o custo dos
equipamentos de laboratório... As outras empresas que são software, computador,
tranqüilo. Como o nosso trabalho é técnico, prático... a gente precisa de um laboratório e
isso dificulta pra gente, o laboratório... Se a gente tivesse um laboratório com os
equipamentos prontos e tudo... Como a gente incubado, a gente tem um convênio com
a UEM, essa oportunidade de fazer um contrato entre a empresa e o laboratório da
UEM....Isso também é um fato muito importante...
3 Bom, eu me formei em..., como os outros sócios, um é..., a oportunidade de nós
tornamos empresários, ser dono do próprio negócio, surgiu dentro do laboratório com o
apoio de professores daqui da incubadora. Eu acredito que particularmente nem sonhava
em ser empresário, dona do próprio negócio, fazer aquilo que eu gosto. A maioria do
pessoal, às vezes, pensa em dar aula não quer ter seu próprio negocio, é mais
complicado, mais difícil... né? Nós tivemos essa facilidade através da incubadora, o apoio
com o laboratório via UEM, pra gente, pra mim foi uma grande realização.... Então, eu
pretendo continuar e lutar, às vezes surgem muitos problemas.... mas... a gente procura
batalhar pra continuar. É uma realização pessoal... O mercado competitivo, se você
não correr atrás é complicado... Nossa tendência é sempre crescer nossos exames, nos
trabalhamos com diagnóstico molecular do DNA. Então, a tendência é sempre crescer e ir
pra frente....
4 Olha, pra mim, como posso dizer, você ter novas idéias, e a partir delas você gerar
novos empregos, gerar novas tecnologias... Hum.. que mais... No momento assim, me
considero uma empreendedora, a gente com uma coisa nova... primeira empresa aqui
do Paraná de ..., e assim... é tudo muito novo pra mim e assim é difícil assim acreditar...
fazendo os exames que a gente fazendo aqui no Paraná... Eu acho que nós somos
empreendedores.
170
Depoimento Nº 05
1 - Faz 12 meses que eu estou aqui no programa. A incubadora ajuda bastante em termos
de contato... Como ela tem um nome e nós que somos pequenas empresas e estamos
entrando no mercado hoje a gente procura sempre manter contatos fortes da incubadora e
a gente consegue sempre pegar alguns clientes... alguns trabalhos... assim... algum
serviço por causa da incubadora, né? Nós nos comunicamos com as outras empresas
incubadas, mas pouco, pois cada um tem que desenvolver seu projeto e são áreas
diferentes, a tecnologia e os modos de trabalho. Mas a gente acaba por trocar
experiências entre mercado, escritório, contabilidade, como funciona, entrada e saída de
serviço, a gente tem uma grande dificuldade, pois a gente não tem um conhecimento de
administração, um conhecimento técnico. Então, fica meio que um pouco complicado...
Olha a incubadora mudou bastante minha vida, a responsabilidade que você tem algo que
é seu e tem que ficar todo o dia aqui, senão você não consegue crescer... A
responsabilidade é grande com seus clientes, que tem que entregar no prazo. Eu entrei
direto na incubação.
2 – Mais importante entre a incubadora e a empresa, olha além da parceira, eu acho que é
o espaço físico acaba tendo segurança, que a gente tem por trás da incubadora, acho que
é isso..
3 – Na nossa área que é a área da internet, ela funciona da seguinte maneira: a tecnologia
que nós estudamos é uma tecnologia ultrapassada que acaba sendo limitada ao deficiente
visual, isso a gente enxergou antes que o pessoal ta enxergando hoje no caso. E a
empresa foi fundada através de um decreto de lei, que o presidente Lula, fez o decreto
dizendo que todos os portais de grande tecnologia, como o UOL, os sites governamentais,
sites institucionais, teriam que ter tecnologia acessível aos deficientes visuais, que é
direito de todo mundo, todo mundo tem esse direito de interagir com a comunicação. E
foi fundada, com a tecnologia bem complicada, o pessoal estuda, e trabalha e pesquisa
nessa área. Esse é novo foco. Pra futuro, existe uma organização mundial que é a W3C
que, como eu posso dizer, gerencia essa tecnologia. Daí, a internet ela tomou muitos
rumos, ela cresceu muito rápido e ela tomou muito ramo e cada um foi escrevendo ela de
um jeito, e essa W3C dos Estados Unidos, na verdade é um consórcio, filtrando essa
tecnologia, fazendo ficar só uma tecnologia de nível mundial e inovador.
4 Empreendedorismo? Nossa essa palavra é muito forte! A gente não tem o
conhecimento dessa palavra. Tipo você é empreendedor mas... Como eu posso definir
empreendedorismo? Uma palavra.. Ah! Acho que é uma pessoa que sonha bastante, que
pode melhorar, que pode ter vários funcionários, que pode apresentar um projeto de
futuro, assim sabe? Olha eu sonho bastante e digo que vai dar certo! Essa é nossa meta!
Olha, no começo acho que ninguém acredita, assim, você começando, é um sonho, às
vezes, muita gente duvida desse sonho. Hoje que as coisas estão andando, estão
caminhando, os amigos e família começam a acreditar mais, não achando que você
está fora da realidade...
171
Depoimento Nº 06
1 – Estou aqui na incubação há quase três anos e meio... e acho que não tenho nada mais
significativo, que tenha chamado mais a minha atenção. Acho que a incubadora tem feito
o papel dela, né? Nada fora do padrão.
2 – Bom, a incubadora é um canal de comunicação, eu diria, de repente com uma pessoa,
com outras empresas, com outras áreas. Eu acho que é assim um facilitador dos contatos
para as empresas que estão aqui... É... seria também um meio de conseguir recursos do
governo, né? Embora esses recursos sejam escassos, não por culpa da incubadora, mas
por culpa do governo. E também facilita por ser dentro da UEM, então estamos próximos
do pessoal que estuda informática, ciência da computação, então facilitou pra gente o
acesso à mão-de-obra, ou seja, pega estagiário para trabalhar entendeu? Isso facilitou o
fato da gente estar na incubadora e ainda dentro da UEM. A estrutura física da incubadora
ajuda também, porque é uma sala com ar condicionado, mesa, cadeira, isso facilita para
uma empresa que tá começando e não tem nada disso.
3 Ah! Isso foi uma vontade mesmo de ter uma empresa, de ter uma independência, e
não trabalhar mais como empregado, e... sei lá, de uma empresa não sei... mais uma
vontade de... e também o que eu faço, que é programação você caminha para esse lado
que é você mesmo fazer os programas e começar a comercializar, você fica num
emprego você acaba por ficar travado naquilo que a empresa te designar a saber. Mas
como empresário posso fazer quantas outras coisas eu achar interessante. É... difícil falar
do futuro porque a gente não sabe o que vai acontecer, a gente fica meio reservado,
né? A gente espera é que a empresa cresça e a gente possa ajudar as pessoas, dando
emprego, em primeiro lugar isso, ter também os seus lucros para poder criar uma situação
financeira muito boa, mas é complicado falar com você... amanhã posso até partir para
outra coisa...
4- Empreendedorismo? Não sei... Empreendedor é um cara meio maluco que quer arriscar
um pouco. Me considero empreendedor porque larguei um emprego de onze anos, abri
uma empresa, fechando contrato com um cliente só, e abri uma empresa sem saber
exatamente o que vai surgir pela frente, se você vai conseguir terminar aquilo, contrato,
que você firmou, tem que ter um pouco de coragem.... Os meus amigos não me vêm como
empreendedor, sabem que a gente tem uma empresa é rico, mas as coisas não são bem
assim, posso ter uma empresa e ganhar menos do que uma pessoa empregada, mais
algumas pessoas, a primeira que sabem que é dono de empresa... um certo status...
Aqui na incubadora é muito bom, eu trabalho com os estagiários, tendo um
relacionamento bom, as pessoas podem precisar da gente e nós também, principalmente
com o pessoal da incubadora, sem ter um bom relacionamento com o pessoal da
incubadora não faz sentido.
172
Anexo I – Estatuto Social da Incubadora Tecnológica de Maringá
CAPÍTULO I DA INCUBADORA TECNOLÓGICA DE MARINGÁ, SUA SEDE E
ENTIDADES PARTICIPANTES.
Art. - A Incubadora Tecnológica de Maringá, inscrita no CNPJ sob
03.907.838/0001-51, é uma Sociedade Civil sem fins lucrativos, com personalidade
jurídica de direito privado, com autonomia administrativa e financeira, que se regerá
pelo presente Estatuto, pelas leis que lhe forem aplicáveis e pelas diretrizes
acordadas pelos Convênios de Cooperação firmados pelas entidades partícipes.
Art. - A sociedade tem a sede de sua administração e domicílio no Campus
da Universidade Estadual de Maringá, sito a Avenida Colombo, 5790, zona 07, CEP
87020-900, na cidade de Maringá, Estado do Paraná.
Art. - Poderão ser admitidas outras entidades que venham a ser partícipes
da Incubadora, desde que aprovado pelo CONSELHO GESTOR, estabelecido no
Artigo 12, e mediante responsabilidade estabelecida em termo de convênio
especifico firmado com a incubadora.
Art. - As entidades partícipes da Incubadora poderão ser demitidas ou
excluídas, sempre por justa causa, fundamentada e por decisão de 2/3 dos
membros do Conselho Gestor, em assembléia geral especificamente convocada
para esse fim, quando infringir o presente estatuto ou venha a exercer atividades
que comprometa a ética e a moral da Incubadora.
173
Art. - A entidade excluída terá direito à defesa na assembléia geral
subseqüente.
CAPÍTULO II – DAS FINALIDADES E OBJETIVOS
Art. 6º - A Incubadora terá a finalidade de:
I. Contribuir para a criação, desenvolvimento e aprimoramento de empresas de
base tecnológica, nos seus aspectos tecnológicos, gerenciais,
mercadológicos e de recursos humanos;
II. Materializar, oportuna, econômica e eficientemente, a inovação e o progresso
tecnológico apoiando as empresas nascentes ou as empresas existentes
que necessitam atingir nível tecnológico e gerencial mais moderno e
competitivo.
III. Promover os desenvolvimentos institucionais, contribuindo para o
desenvolvimento da tecnologia, da pesquisa e do ensino.
Parágrafo Único: A Incubadora buscará assegurar o seu fortalecimento e
melhorar o seu desempenho, mediante a implantação, operação e gerência
técnica e administrativa de empresas de base tecnológica.
174
Art. 7º - São objetivos específicos da Incubadora:
I. Fornecer infra-estrutura tecnológica e de gestão empresarial que facilite a
transformação de projetos de novos produtos, processos e serviços em
empresas de base tecnológica;
II. Identificar e apoiar empresas e empreendedores que se interessam em
explorar, industrial e comercialmente, os resultados de pesquisas disponíveis
nas instituições de Maringá e região;
III. Proporcionar às empresas existentes, oportunidades de criar o seu
departamento de pesquisa e desenvolvimento dentro da incubadora;
IV. Induzir à modernização, as empresas ligadas aos setores tradicionais, através
da oferta de produtos e serviços gerados pelos projetos incubados;
V. Orientar a implantação de sistema da qualidade e produtividade nas
empresas incubadas;
VI. Incentivar o estabelecimento de parcerias entre empresário e pesquisador;
VII. Promover a integração entre centros de pesquisas, empresas e comunidade,
em nível nacional e internacional;
VIII. Alavancar novos negócios em médio e longo prazo;
IX. Difundir a cultura empreendedora;
X. Apoiar a consolidação de empreendimentos na área tecnológica;
XI. Ser uma alternativa de geração de emprego e de renda;
XII. Compartilhar recursos de infra-estrutura através de parcerias institucionais;
XIII. Promover os desenvolvimentos científicos, tecnológicos e institucionais;
175
XIV. Realimentar as instituições de ensino e pesquisa, indicando demandas
apresentadas por empresas para serem objeto de estudo, investigações ou
plano de ensino ou treinamento.
CAPÍTULO III – DA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL
Art. 8º - A Incubadora terá a seguinte estrutura organizacional básica:
I. Assembléia Geral
II. Conselho Gestor
III. Gerência
IV. Corpo Técnico-Administrativo
DA ASSEMBLÉIA GERAL
Art. - A Assembléia Geral será a reunião de todos os membros partícipes da
Incubadora Tecnológica de Maringá, estabelecido no artigo 12.
Art. 10 - A Assembléia Geral reunir-se-á ordinariamente uma vez ao ano e,
extraordinariamente, sempre que necessário, por convocação de 1/5 dos membros
partícipes ou pelo Presidente, de forma estatutária para as deliberações de sua
exclusiva competência, de acordo com o artigo 59º e parágrafo único do Código Civil
que estabelecem: “Compete privativamente à assembléia geral: I eleger os
administradores; II – destituir os administradores; III – aprovar as contas; IV –
aprovar e alterar o estatuto”.
1
76
Parágrafo único: para as deliberações a que se referem os incisos II e IV é exigido o
voto concorde de dois terços dos presentes à Assembléia especialmente convocada
para esse fim, não podendo ela deliberar, em primeira convocação, sem a maioria
absoluta dos associados, ou com menos de um terço nas convocações seguintes.
Art. 11 - As reuniões da Assembléia Geral se instalarão, em primeira convocação,
com a presença de 2/3 (dois terços) de seus membros e caso não seja atingido o
quorum previsto neste artigo, instalar-se-á a reunião, em segunda convocação, após
meia hora, com no mínimo 1/3 (um terço) dos membros.
Art. 12 - As deliberações da Assembléia Geral, quer seja ordinária ou extraordinária,
serão tomadas por voto concorde de 2/3 (dois terços) dos presentes à Assembléia,
não podendo ela deliberar, em primeira convocação, sem a maioria absoluta dos
associados, ou com menos de 1/3 (um terço), em segunda convocação, cabendo ao
seu Presidente apenas o voto de qualidade em caso de empate nas deliberações.
DO CONSELHO GESTOR E SEU PRESIDENTE
Art. 13 - O CONSELHO GESTOR seo órgão superior de deliberação e
orientação técnico-administrativo, constituído por 01 (um) membro, o
remunerado, de cada entidade partícipe da Incubadora, por prazo indeterminado.
§ 1º - O CONSELHO GESTOR poderá solicitar à entidade a substituição do
representante da entidade em caso de 3 faltas consecutivas a reuniões ou 5 faltas
alternadas sem justificativa.
177
§ 2
o
- Em caso de desistência ou renúncia de qualquer dos membros
indicados, a entidade partícipe respectiva deverá indicar um substituto.
§ - O CONSELHO GESTOR terá um Presidente e um Vice-Presidente,
eleitos por seus membros.
§ 4º - Dos Deveres do Presidente do CONSELHO GESTOR:
a) Presidir as reuniões do Conselho e a centralização dos assuntos a serem
incluídos na pauta;
b) Fazer cumprir o Estatuto, as deliberações da Assembléia Geral e do
CONSELHO GESTOR.
§ - O mandato do Presidente e Vice-Presidente é de 2 (dois) anos, sendo
permitida(s) recondução(ões).
§ - O CONSELHO GESTOR reunir-se-á ordinariamente uma vez por mês
e, extraordinariamente, sempre que necessário, por convocação de seu Presidente,
estabelecido no inciso I. Assembléia Geral.
§ 7º - Dos Deveres do CONSELHO GESTOR:
a) Indicar, aprovar e contratar a Gerência da Incubadora.
b) Sugerir diretrizes e ações para o alcance dos objetivos da Incubadora e
acompanhar sua implementação;
178
c) Deliberar sobre os projetos das empresas candidatas à incubação mediante
análise prévia da Gerência e parecer dos Consultores Ad hoc, no que se refere a
plano de negócios, viabilidade técnico-econômica e prazo de incubação, este
nunca superior a três anos;
d) Decidir sobre renovação ou prorrogação de contratos das empresas incubadas,
bem como sobre mudança de prazo de incubação;
e) Deliberar sobre planos e programas anuais e plurianuais, normas, critérios e
outros instrumentos necessários ao funcionamento da Incubadora;
f) Opinar a respeito de assuntos sobre os quais for consultado pela Gerência;
g) Estabelecer normas para a execução e aprovar a realização de acordos, ajustes
e contratos envolvendo a Incubadora;
h) Deliberar sobre a publicação de editais de convocação dos interessados em
incubar projetos na Incubadora;
i) Avaliar o desempenho das empresas incubadas, à vista de relatórios
apresentados por elas e análises da Gerência e dos Consultores Ad hoc;
j) Deliberar como única instância, sobre os recursos contra atos e decisões da
Gerência;
k) Interpretar o Regimento e deliberar sobre os atos da Gerência que com ele
colidirem;
l) Aprovar anualmente o Plano de Metas proposto pela Gerência da Incubadora;
m) Empenhar-se na busca de recursos financeiros, materiais e humanos para o
suporte das atividades da Incubadora;
n) Elaborar e aprovar em consonância com o Convênio de Cooperação e com o
Estatuto, o Regimento Interno da Incubadora;
o) Deliberar sobre quaisquer temas de interesse da Incubadora;
179
p) Zelar pelo bem da Incubadora, em especial cumprindo e fazendo cumprir as
normas baixadas pelo presente Estatuto, pelo Convênio de Cooperação e por
outros instrumentos aplicáveis, e acompanhar suas implementações;
q) Os deveres específicos de cada partícipe estão dispostos no Termo de
Cooperação.
§ 8º - Direitos do CONSELHO GESTOR:
a. Propor medidas que visem melhorar o desempenho da entidade;
b. Votar e ser votados;
c. Os direitos específicos de cada partícipe estão dispostos no Termo de
Cooperação.
Art. 14 - O CONSELHO GESTOR poderá contar com os consultores Ad Hoc
para elaboração e fundamentação de pareceres em propostas de incubação, seus
planos de negócio e relatórios de avaliação, sobre os aspectos tecnológicos,
gerenciais, mercadológicos, viabilidade econômica e de recursos humanos, entre
outros, julgados pertinentes, em consonância com os editais de convocação.
Art. 15 - O CONSELHO GESTOR deverá submeter as contas anuais da
Incubadora à auditoria para posterior aprovação.
Art. 16 - O CONSELHO GESTOR poderá substituir a Gerência, ou qualquer
integrante do Corpo Técnico-Administrativo, a qualquer tempo.
180
DA GERÊNCIA
Art. 17 - A Gerência será o órgão de administração geral da Incubadora,
cabendo-lhe fazer cumprir as decisões, diretrizes e normas estabelecidas pelo
CONSELHO GESTOR, para que sejam atingidos os objetivos institucionais;
§ 1º - A Administração será exercida por profissional com habilidades
comprovadas na área tecnológica e gerencial, indicado e aprovado pelo
CONSELHO GESTOR, e contratado(a) de acordo com a Consolidação das Leis
do Trabalho - CLT.
§ 2º - Dos Deveres da Gerência:
a) Gerir o complexo técnico, administrativo e operacional da Incubadora;
b) Cumprir e fazer cumprir o Estatuto, Regulamentos, os Convênios de Cooperação
e as decisões do CONSELHO GESTOR;
c) Servir de agente articulador entre empresas em incubação e a Incubadora;
d) Elaborar planos e programas anuais e plurianuais, normas, critérios e outras
propostas julgadas necessárias ou úteis à administração da entidade, para
apreciação e deliberação do CONSELHO GESTOR;
e) Elaborar e fazer publicar os editais de convocação dos interessados em
apresentar projetos para incubação, para seleção de empresas a serem
incubadas, deliberando sobre dúvidas e casos omissos, consultando o
CONSELHO GESTOR;
181
f) Analisar, com base no parecer dos Consultores Ad hoc, para posterior
encaminhamento ao CONSELHO GESTOR, as propostas de candidatos à
incubação;
g) Submeter ao CONSELHO GESTOR os recursos apresentados pelas empresas
contra suas decisões, com parecer fundamentado;
h) Buscar, junto aos participantes da Incubadora, o apoio para a execução das
propostas e projetos aprovados pelo CONSELHO GESTOR;
i) Em consonância com o CONSELHO GESTOR, realizar gestões junto aos órgãos
competentes, para obtenção de recursos necessários à efetivação dos projetos;
j) Administrar a contabilidade da Incubadora, e submeter ao CONSELHO GESTOR
o orçamento anual, as contas, os balanços e os balancetes dos recursos
recebidos e utilizados e o relatório anual da incubadora, para julgamento e
aprovação;
k) Expedir normas administrativas e operacionais, necessárias às atividades da
incubadora e funcionamento das empresas em incubação;
l) Assinar, em nome da Incubadora, convênios, acordos, ajustes, contratos,
obrigações e compromissos, aprovados pelo CONSELHO GESTOR;
m) Fornecer ao CONSELHO GESTOR, informações e meios necessários ao
eficiente desempenho de suas atribuições;
n) Divulgar as resoluções, políticas e diretrizes definidas pelo CONSELHO
GESTOR;
o) Orientar e acompanhar os trabalhos da equipe envolvida na administração da
incubadora e as atividades das empresas;
p) Orientar e acompanhar os trabalhos da incubadora, em especial as ações de
suporte técnico, administrativo e operacional às empresas em incubação;
182
q) Participar, quando convocado, das reuniões do CONSELHO GESTOR;
r) Assinar cheques, fazer aplicações financeiras e resgates de títulos e movimentar
as contas da Incubadora, em conjunto com um, de dois membros do CONSELHO
GESTOR, por ele indicados;
s) Representar a Incubadora, judicial e extrajudicialmente.
§ - Para o cumprimento de suas atribuições a Gerência pode contar com o
auxílio de Assessores, Executores e integrantes do corpo técnico-administrativo,
podendo delegar-lhes atribuições.
DO CORPO TÉCNICO-ADMINISTRATIVO
Art. 18 Dos Deveres do Corpo Técnico-Administrativo:
a) Organizar o expediente da Gerência;
b) Preparar as reuniões do CONSELHO GESTOR, secretariá-las e lavrar suas
atas;
c) Redigir a correspondência e providenciar sua expedição;
d) Manter arquivo de documentos e cadastro de informações;
e) Manter registro de entrada e saída dos documentos da Incubadora;
f) Organizar a documentação para a contabilidade;
g) Executar outras tarefas pertinentes ao expediente da Incubadora.
183
CAPÍTULO IV – DO PATRIMÔNIO
Art. 19 - O Patrimônio da Incubadora será constituído pelos bens Móveis ou
Imóveis que vier adquirir ou a receber em doação.
Parágrafo Único. As questões de propriedade industrial serão tratadas e
deliberadas pelo CONSELHO GESTOR caso a caso, considerando-se o grau de
envolvimento da incubadora no desenvolvimento ou aperfeiçoamento de modelos,
produtos ou processos utilizados pela empresa em incubação, com observância da
legislação aplicável.
CAPÍTULO V – DA RECEITA
Art. 20 - Constituem receitas da Incubadora as dotações, que vier receber, os
valores pagos pelas incubadas, as doações ou subvenções recebidas de instituições
e órgãos governamentais de fomento à pesquisa e desenvolvimento de tecnologia e
de incentivo às empresas.
§ - Os gastos realizados pela Incubadora para a incubação de empresas,
tais como custos com água, luz, telefone, expediente, inclusive com a contratação
de pessoal necessário à infra-estrutura e outros encargos, serão levados à conta de
gastos com o “condomínio” e rateados entre as empresas incubadas.
184
§ 2º - A diferença entre o arrecadado e o devido será custeada pelas doações
e subvenções oriundas de instituições e órgãos governamentais de apoio às micro e
pequenas empresas e de fomento à pesquisa e desenvolvimento de tecnologia, do
Fundo Municipal de Desenvolvimento Econômico FMD, ou de outras entidades ou
instituições, para essa finalidade.
§ - Constituem-se também, receitas da Incubadora, os direitos de
propriedade industrial, por ventura pagos pelas empresas que encerrarem seu
contrato de incubação, conforme previsto nos contratos estabelecidos com as
incubadas.
§ - Os recursos obtidos pela Incubadora são integralmente aplicados na
manutenção e no desenvolvimento de seus objetivos.
CAPÍTULO VI – DO EXERCÍCIO FINANCEIRO
Art. 21 - A Gerência da Incubadora apresentará ao CONSELHO GESTOR a
proposta orçamentária para cada exercício, referente ao custeio e a aplicação de
recursos da Instituição, assim como a prestação anual de contas.
§ - O exercício financeiro da Incubadora terá início no dia 01 de janeiro e
terminará no dia 31 de dezembro de cada ano.
185
§ - Por solicitação da Gerência da Incubadora e condicionado à aprovação
do CONSELHO GESTOR, o orçamento poderá ser revisto e modificado, durante o
correspondente exercício.
Art. 22 - O CONSELHO GESTOR terá prazo até o último dia do exercício
anterior para deliberar sobre a proposta orçamentária do exercício seguinte a que se
refere o artigo 14.
Parágrafo Único. Uma vez aprovada a proposta orçamentária, ou esgotado o
prazo para que O CONSELHO GESTOR delibere sobre ela, a Gerência da
Incubadora ficará autorizada a realizar as despesas nela previstas.
Art. 23 - O CONSELHO GESTOR terá prazo até o último dia do primeiro
trimestre civil para deliberar sobre a prestação de contas apresentada e retorná-la à
Gerência.
Parágrafo Único. Dos resultados líquidos provenientes das atividades da
Incubadora, em cada exercício, parte será lançada em sua reserva patrimonial e
parte será utilizada na manutenção de suas atividades, para o exercício seguinte,
conforme decidir o CONSELHO GESTOR.
CAPÍTULO VII – DA DURAÇÃO
Art. 24 - A duração da Incubadora será por prazo indeterminado.
186
CAPÍTULO VIII – DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 25 - A remuneração do pessoal técnico, administrativo e de apoio da
Incubadora é fixada pelo CONSELHO GESTOR.
Art. 26 - Fica eleito como competente para dirimir as controvérsias não
resolvidas amigavelmente ou por juízo arbitral, quando couber, o Foro da Comarca
de Maringá, Paraná.
Art. 27 - O presente Estatuto será levado a registro no cartório competente
pelas instituições partícipes da Incubadora.
Art. 28 - As empresas incubadas, os membros do CONSELHO GESTOR, e
dos Consultores Ad hoc, e a Gerência, não respondem solidária ou subsidiariamente
pelas obrigações contraídas pela Incubadora ou em nome dela.
Art. 29 - A dissolução da entidade somente poderá ocorrer por deliberação e
aprovação expressa de 2/3 dos membros do CONSELHO GESTOR, em assembléia
geral, especificamente convocada para este fim, exigindo o voto concorde de 2/3
dos presentes, não podendo deliberar em primeira convocação sem a maioria
absoluta dos membros, ou com menos de 1/3 nas convocações seguintes.
187
Art. 30 - Dissolvida a entidade, o patrimônio social remanescente da
liquidação dos créditos e débitos será destinado à instituição congênere sem fins
lucrativos, que por ventura exista em Maringá, ou na falta desta, à Universidade
Estadual de Maringá.
Art. 31 - Os casos omissos no presente estatuto serão resolvidos pelo
CONSELHO GESTOR.
Art. 32 - O presente Estatuto somente poderá ser alterado, através de
Assembléia Geral Extraordinária, especificamente convocada para este fim, exigindo
o voto concorde de 2/3 dos presentes, não podendo deliberar em primeira
convocação sem a maioria absoluta dos membros, ou com menos de 1/3 nas
convocações seguintes.
Maringá, 13 de dezembro de 2005.
Paulo Roberto Pereira de
Souza OAB – nº 6109/PR
Vânia Calsavara Bueno
GERENTE
Carlos W. Martins Pedro
PRESIDENTE
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