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DANILLO GABRIEL NAKANO
ESTUDO SOBRE INSTALAÇÃO DE UM
TURBOCOMPRESSOR EM AUTOMÓVEL NACIONAL
: ANÁLISE DE PROJETO E ANÁLISE DE CASO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
à Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo para a obtenção de título de Mestre
Profissional em Engenharia Automotiva
São Paulo
2007
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DANILLO GABRIEL NAKANO
ESTUDO SOBRE INSTALAÇÃO DE UM
TURBOCOMPRESSOR EM AUTOMÓVEL NACIONAL
: ANÁLISE DE PROJETO E ANÁLISE DE CASO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
à Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo para a obtenção de título de Mestre
Profissional em Engenharia Automotiva
São Paulo
2007
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DANILLO GABRIEL NAKANO
ESTUDO SOBRE INSTALAÇÃO DE UM
TURBOCOMPRESSOR EM AUTOMÓVEL NACIONAL
: ANÁLISE DE PROJETO E ANÁLISE DE CASO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
à Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo para a obtenção de título de Mestre
Profissional em Engenharia Automotiva
Área de Concentração:
Engenharia Mecânica Automotiva
Orientador:
Prof. Doutor Marcos de Mattos Pimenta
São Paulo
2007
4
DEDICATÓRIA
Dedico esta obra a:
Todos que com sua insatisfação e espírito contestador
contribuíram para a elaboração deste estudo, de forma a
termos um material para pesquisa e direcionamento na arte de
lidarmos com motores a combustão interna em veículos
automotivos.
5
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Doutor Marcos de Mattos Pimenta, pela orientação, apoio, auxílio e
estímulos ao bom andamento desta obra.
Aos meus familiares, Pedro Nakano, Mirna Nakano e irmãos, que contribuíram para
o bom andamento da criação desta obra.
A Cátia Petri pela paciência, amparo, apoio e suporte, seja nas noites ajustando
motores para este trabalho, sejam nos fins de semana, onde compromissos eram
desmarcados em prol de um trabalho que se misturava com hobby.
Aos amigos, que não são poucos. Amigos que auxiliaram, apoiaram nos ensinaram
e indicaram caminhos, mesmo que nem sempre corretos de modo a produzirmos
esta obra.
A todos que vierem a utilizar desta obra, em especial àqueles que com o espírito
acadêmico venham a difundir os conhecimentos adquiridos e, principalmente,
venham a engrandecer esta obra através de contribuições próprias.
6
Sorte é a combinação de preparação e
oportunidade.
7
RESUMO
Com o estudo sobre a instalação de um turbocompressor em automóvel nacional, se
objetivaram a análise dos status atual da indústria nesta área, os resultados que são
possíveis obter com este sistema além do estudo de um caso em particular, de
forma a elucidar esta obra. No caso apresentado obteve-se ganhos de potência da
ordem de 60% a 80% em relação ao inicial, atingindo uma aceleração de 0-100 km/h
em menos de 8s, confirmando dados simulados. Portanto com os dados obtidos se
conclui que é possível a instalação de um sistema com turbocompressor para
obtenção de aumento de potência em automóvel nacional, com as devidas
adaptações do sistema. Importante notar que ocorrem perdas na durabilidade do
sistema como um todo, aumento no consumo de combustível, conforme existe uma
maior entrega de potência.
Palavras-chave: Turbocompressor. Turbina. Turbo. Motor a combustão interna.
Aumento de potência.
8
ABSTRACT
This study, about installing a turbocharger in a Brazilian built automobile, has the
objective of analyzing the actual status of this industry sector. The results using this
system are presented, and include the study of a particular case, in order to illustrate
this work. In this case, it was obtained a power gain in order of 60% to 80%
comparing with the initial, reaching acceleration from 0-100 km/h (near 0-62 mph)
below 8s, confirming the simulated data. In this way with the acquired data it is
shown that it is possible to install a turbocharger system to achieve an increase in
power of a Brazilian automobile, with the necessaries adaptations at the system. It is
important to notice that there are losses in durability of the whole system, increase at
fuel mileage, as well as there is a higher power delivery.
Keywords: Turbocharger. Turbine. Turbo. Internal Combustion Engine. Power
increase.
9
LISTA DE FIGURAS
Fig. 01 – Esquema de um turbocompressor 18
Fig. 02 – Esquema de um turbocompressor com intercooler 20
Fig. 03 - Pistão de motor combustão interna ciclo Otto moderno 37
Fig. 04 - Conjunto de anéis de pistão (BOSCH, 2004) 40
Fig. 05 – Bronzinas 41
Fig. 06 – Biela 42
Fig. 07 – Escapamento 2,0pol para GM corsa com um abafador traseiro 48
Fig. 08 – Tubulação de admissão 52
Fig. 09 – Intercooler 55
Fig. 10 – Coletor de escape com turbocompressor e wastegate 57
Fig. 11 – Embreagem de modelo com pastilhas de cerâmica 59
Fig. 12 – Embreagem de modelo tradicional 59
Fig. 13 – Bomba de combustível 61
Fig. 14 – Bico injetor de combustível 62
Fig. 15 – Bico injetor de combustível 62
Fig. 16 – Dosador de combustível 1:1 com regulagem 64
Fig. 17 – Dosador de combustível HPi 65
Fig. 18 – Linha de combustível e retorno adaptado a
tanque de combustível 67
Fig. 19 – Válvula de alivio externa 69
Fig. 20 – Válvula de alivio integrada 69
Fig. 21 – Válvula de prioridade 70
Fig. 22 – Sonda Lambda 77
Fig. 23 – Hallmeter 81
10
Fig. 24 – Turbocompressor em corte 88
Fig. 25 – Eixo e mancal em corte 90
Fig. 26 – Fluxo no turbocompressor 94
Fig. 27 – Pickup Corsa Branca 117
Fig. 28 – Motor com turbocompressor 118
Fig. 29 – Veículo no dinamômetro 118
Fig. 30 – Corsa Hatch Branca 119
Fig. 31 – Motor com turbocompressor 119
Fig. 32 – Veículo no dinamômetro 120
11
LISTA DE GRÁFICOS
Grafico 01 – Perdas em um motor a combustão interna 21
Gráfico 02 - Pressão na câmara e ângulo de virabrequim 36
Gráfico 03 - Esforço de pressão de combustão na Biela 42
Gráfico 04 - Esforço de forças inerciais na Biela 43
Gráfico 05 - Esforço de forças somadas na Biela 44
Gráfico 06 – Diâmetro de escapamento (pol) x potência desejada (cv) 48
Gráfico 07 – Mapa da turbina 93
Gráfico 08 – Mapa de um compressor 95
Gráfico 09 – Ajuste do compressor 98
Gráfico 10 – Mapa de APL525 A/R 0,42 rotor 47,5mm 101
Gráfico 11 – Mapa do compressor da KKK K16 102
Gráfico 12 – Medição de Dinamômetro 118
Gráfico 13 – Medição de Dinamômetro 120
12
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 – Relação estequiométrica e voltagem
na sonda lambda 78
Tabela 02 – Relação de peças com HPi 103
Tabela 03 – Ficha do motor HPi 148cv 107
Tabela 04 – Relação de peças com Bico Suplementar 109
Tabela 05 – Ficha do motor com bico suplementar 152cv 111
Tabela 06 – Ficha do motor com bico suplementar 187cv 113
Tabela 07 – Relação de peças com intercooler 114
Tabela 08 – Relação de veículos com peso/potência 115
Tabela 09 – Ficha do motor com intercooler 232cv 116
Tabela 10 – Ficha da pickup corsa branca 118
Tabela 11 – Ficha do corsa hatch branco 120
13
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 17
1.1 Objetivos, a indústria e o conhecimento 17
1.2 O funcionamento do motor turboalimentado 17
2. O ESTUDO 23
2.1 Análise dos Sistemas e Subsistemas 23
2.2 Estudo de caso 23
3. ANÁLISE PRELIMINAR 24
3.1 Comparação entre diferentes metodologias para
aumento de potência 24
3.1.1 Aspiração natural 24
3.1.2 Sobrealimentação por compressor mecânico 26
3.1.3 Sobrealimentação por turbocompressor 27
3.2 Estudo se um ganho de 60% a 80% em potência é
suficiente para aceleração de 0 a 100km/h ao redor de 8s 28
3.2.1 Um veículo nacional de pequeno porte GM Corsa 1,6 8V ano 96 29
3.2.2 Um veículo nacional de pequeno porte VW Gol 1,0 16V ano 02 30
3.2.3 Um veículo nacional de médio porte VW Golf 1,8 20V Turbo ano 02 30
3.2.4 Um veículo nacional de grande porte Marea 2,0 20V Turbo ano 02 31
4. CONSIDERAÇÕES SOBRE A ADAPTAÇÃO
DO TURBOCOMPRESSOR 33
4.1 Durabilidade de um motor com turbocompressor 33
4.1.1 Pistão 34
4.1.2 Anel 39
14
4.1.3 Bronzina 40
4.1.4 Virabrequim 41
4.1.5 Biela, pino e trava 42
4.2 Durabilidade e testes de longa duração ou dinamômetro 45
5. ESTUDO DOS SISTEMAS E SUBSISTEMAS 47
5.1 Sistema de exaustão de gases – Escapamento 47
5.2 Sistema de admissão de ar 51
5.3 Intercooler 54
5.4 Coletor de escape 57
5.5 Conjunto de embreagem e platô 58
5.6 Bomba de Combustível 60
5.7 Bico injetor de combustível 62
5.8 Dosador de combustível 63
5.8.1 Utilização de um ou mais bicos auxiliares 64
5.8.2 Utilização de dosador HPi na linha 64
5.9 Linha de combustível 67
5.10 Válvula de alívio 68
5.11 Válvula de prioridade 69
5.12 Controlador de Bico Auxiliar 71
5.13 O Bico Auxiliar 73
5.14 Sonda Lambda 77
5.15 Medidores 79
5.15.1 Conta-giros 79
5.15.2 Manômetro de pressão no coletor 80
15
5.15.3 Medidor de mistura – Hallmeter 80
5.15.4 Termômetro de água 82
5.15.5 Manômetro de pressão de combustível 82
5.15.6 Manômetro de pressão de óleo 83
5.15.7 Termômetro de óleo 83
5.16 ECU 84
5.16.1 Manter configuração original do ECU 85
5.16.2 Programar a ECU para o pior caso 86
5.16.3 Instalar um controlador capaz de atrasar o ponto
de ignição proporcionalmente ao aumento de pressão 86
5.16.4 Trocar o MAP por um modelo capaz de medir pressão
positiva e reprogramar a ECU 87
5.17 Turbocompressor 88
5.17.1 Eixo 89
5.17.2 Turbina 91
5.17.3 Compressor 94
6. ESTUDO DE CASO 99
6.1 GM Corsa Hatch Vinho 1,6L 8v MPFI ano 96 99
6.1.1 Apresentação do veículo 99
6.1.2 A adaptação do turbocompressor 100
6.1.2.1 Adaptação do turbocompressor com alimentação por
dosador HPi 100
6.1.2.2 Adaptação do turbocompressor com alimentação por
controlador e bico suplementar 108
6.1.2.3 Instalação do intercooler 114
16
6.2 GM Pickup Corsa Branco 1,6L 8v MPFI ano 02 117
6.2.1 Apresentação do veículo 117
6.2.2 Ficha do veículo 118
6.2.3 Impressão do veículo 119
6.3 GM Corsa Hatch Branco 1,0L 8v MPFI ano 01 119
6.3.1 Apresentação do veículo 119
6.3.2 Ficha do veículo 120
6.2.3 Impressão do veículo 121
7.
COMENTÁRIOS FINAIS E CONCLUSÕES 122
8.
BIBLIOGRAFIA 126
17
1.
INTRODUÇÃO
1.1 Objetivos, a indústria e o conhecimento
Revisando a literatura referente a motores a combustão para automóveis nacionais,
pouco foi encontrado, devido aos parcos estudos acadêmicos nesta área de
conhecimento assim como à falta de iniciativa de membros da indústria para
compartilhar conhecimento prático. Este trabalho tem dentre seus objetivos a
disseminação do conhecimento sobre motores a combustão interna.
A indústria nacional de automóveis vem enfrentando grande pressão dos
consumidores por veículos a preços de venda menores, fazendo com que a
diversidade de motorização dos automóveis diminua. Se os preços ao consumidor
final são otimizados com esta medida, alguns nichos de mercado, como o de
automóveis esportivos acaba sendo relegado a segundo plano. O objetivo primário
deste estudo é analisar o processo e resultado da alteração de potência em um
automóvel nacional, através da instalação de um turbocompressor.
No presente momento este estudo será importante para um nicho de mercado, mas
no futuro com a pressão por maior economia de combustível e diminuição de
emissões os fabricantes de automóveis estarão mais inclinados à utilização de
turbocompressores em seus projetos, devido à inerente vantagem deste sistema ao
regenerar parte da energia térmica e cinética que seria desperdiçada nos gases de
escape.
1.2 O funcionamento do motor turboalimentado
Para auxiliar no entendimento sobre o funcionamento de um motor turboalimentado
por um turbocompressor instalado em um motor originalmente aspirado e as
18
diferenças entre um motor originalmente aspirado e um originalmente turbo serão
feitas algumas considerações sobre o tema.
Logo na admissão do ar atmosférico já existem diferenças entre os motores. Em um
motor originalmente aspirado, que passaremos a chamar somente de aspirado, o ar
é admitido no motor pela depressão gerada pelo movimento descendente do pistão
(em ciclo de admissão). O mesmo acontece com os motores turbo (originalmente
turboalimentados) e turbinados (motores naturalmente aspirados onde foi instalado
um turbocompressor) quando o compressor do turbocompressor não tem rotação
suficiente para gerar pressão positiva no coletor (pressão positiva é quando a
Fig. 01 – Esquema de um turbocompressor
19
pressão no coletor de admissão é maior que a atmosférica). Logo nestes regimes o
motor turbinado trabalha exatamente como um aspirado com as desvantagens que
em um motor turbo ou turbinado a taxa de compressão é baixa, gerando um baixo
aproveitamento térmico do combustível neste regime.
Quando a turbina passa a ter fluxo de gases de escape suficientes para gerar
pressão positiva no coletor, é que aparece a vantagem dos motores
turboalimentados. No motor turbo existe um pico de pressão e depois a curva de
pressão cai com o aumento de rotação através de um controle eletro-pneumático
comandado pela ECU, de forma a minimizar os esforços no motor e garantir uma
durabilidade longa. No motor turbinado o controle da pressão no coletor é mecânico
através da válvula de alívio. Com isto após se atingir a pressão regulada, a válvula
mantém uma pressão constante no motor conforme a rotação cresce. Em motores
turbinados é usual a utilização de turbina maior, de modo a adiar a pegada do
compressor e diminuir a backpressure, para diminuir os esforços no motor.
No compressor a compressão do ar gera um aumento na temperatura deste que é
desfavorável para o motor. O uso do álcool que absorve uma quantidade energia do
ar considerável quando se vaporiza é uma vantagem quando em regimes de carga
plena já que abaixa a temperatura do ar admitido. Porém isto é um problema quando
o motor se encontra frio, pois o combustível não irá se vaporizar, e a mistura não
será homogenia, gerando uma combustão incompleta e sintomas de falta de
combustível, mesmo quando a mistura estiver rica. Aconselha-se o uso de coletor
com aquecimento para aperfeiçoar o desempenho do veículo a álcool,
principalmente quando sistemas de realimentação não estão presentes, como em
motores carburados. Para evitar problemas na partida a frio do motor, é necessário
20
instalar o sistema de partida a frio. Lembre que o ponto de fulgor do etanol
combustível é de 13ºC.
O ar ao sair comprimido e quente do compressor ruma para o intercooler, conforme
fig. 02, quando este existe, onde sofre um resfriamento antes de entrar no motor,
garantindo uma maior confiabilidade no motor, e alguma potência a mais, pois o ar
resfria e fica mais denso.
Do intercooler, se este existir, o ar passa pelo corpo de borboleta, conforme fig. 01,
rumando para o coletor de admissão. Quando o motor encontra-se pressurizado e a
borboleta se fecha, a válvula de prioridade
1
alivia a pressão que tenderia a crescer
com a inércia do compressor e poderia danificar a tubulação, a borboleta e até
romper o eixo do turbocompressor, gerando prejuízos. Portanto não se aconselha
rodar sem válvula de prioridade.
Após passar pelo coletor de admissão onde o ar é pulverizado com o combustível
pelos bicos injetores, a mistura ar-combustível passa pelas válvulas de admissão e
entra na câmara de combustão, onde o trajeto azul dos gases não queimados se
transforma em vermelho, gases queimados, na fig. 02.
Fig. 02 – Esquema de um turbocompressor com intercooler
21
Na câmara de combustão ocorre uma queima mais limpa e homogênea quando
pressurizado, devido à maior pressão e turbulência existente na câmara, em relação
a um motor aspirado, gerando uma melhor homogeneização da mistura ar-
combustível e uma propagação de chama mais rápida e completa (TAYLOR, 1985).
As solicitações mecânicas e térmicas dentro da câmara são maiores,
proporcionando uma diminuição da vida útil do motor, lembrando que a PCP
2
de um
motor turboalimentado é levemente maior, gerando uma solicitação mecânica maior.
É interessante notar que a correlação entre o aumento da potência via instalação de
turbocompressor e potência de atrito é baixa em um motor a combustão interna, o
que significa que um motor turboalimentado provavelmente será mais eficiente que
um naturalmente aspirado, que haverá mesma quantidade de atrito para uma
maior entrega de potência, veja gráfico 01 sobre perdas no motor.
As temperaturas de escape serão superiores em motores turboalimentados,
podendo chegar a até 1200ºC na válvula de escape, início do trajeto vermelho na fig.
02, o que gera um desgaste muito acentuado deste componente. Assim em motores
turbinados se deve evitar longos períodos a plena carga, pois o regime constante
pode fadigar termicamente o material da válvula de escape rapidamente, além dos
Perdas no motor
Virabrequim - 26%
Refriamento - 32%
Mecânica - 15%
Bombeamento - 8%
Escape - 19%
Gráfico 01 – Perdas em um motor a combustão interna (PARAMINS POST, 1998)
22
perigos de um veículo de 250cv durante 1 minuto em aceleração máxima. Este não
é um problema em motores turbo, pois este tem válvulas de escape com materiais
nobres como válvulas com uma câmara interna sódio líquido, que é ótimo condutor
térmico e alivia as altas temperaturas de escape (BOSCH, 2004).
No escape os gases encontram-se a altas temperaturas quando em regimes críticos,
podendo atingir 1000ºC na entrada da turbina, seguindo trajeto vermelho na fig. 02
(BELLS, CORKY, 1997). Assim é importante que o turbocompressor esteja em
perfeitas condições de uso, caso contrário o motor terá seu funcionamento
seriamente comprometido.
Após passar pelas s da turbina, e transformar parte da temperatura e pressão
para energia mecânica, os gases de escape entram no sistema de exaustão, por
onde passarão pela sonda lambda e serão devolvidos à atmosfera.
23
2.
O ESTUDO
O estudo sobre instalação de um turbocompressor em automóvel nacional será
dividido basicamente em duas partes:
Análise dos Sistemas e Subsistemas
Estudo de caso
2.1 Análise dos Sistemas e Subsistemas
A Análise dos Sistemas e Subsistemas será uma análise da literatura, das
práticas da indústria e de metodologias desenvolvidas ao longo deste estudo,
abordando aos componentes afetados pela instalação do turbocompressor.
2.2 Estudo de caso
O Estudo de caso será a análise do processo de adaptação do turbocompressor, o
resultado final desta adaptação visando desempenho dinâmico, conforto,
durabilidade e dirigibilidade do veículo antes e após a adaptação.
Dentro do Estudo de caso será dada ênfase para uma adaptação de
turbocompressor visando ganhos de potência entre 60% e 80% da potência original
do veículo.
O caso desenvolvido foi a adaptação de um turbocompressor em um GM Corsa
hatch 1,6L 8v MPFI ano 1996. Verificaram-se diferentes metodologias de
alimentação, diferentes pressões no coletor e presença ou não de intercooler.
24
3.
ANÁLISE PRELIMINAR
3.1 Comparação entre diferentes metodologias para aumento de potência
O escopo deste estudo é analisar a adaptação de um turbocompressor em
automóvel nacional, no intuito de aumentar a potência do veículo. Porém é
importante comparar o desempenho da solução adotada com outras soluções
existentes.
Iremos comparar três soluções:
Aspiração natural;
Sobrealimentação por compressor mecânico (ou blower);
Sobrealimentação por turbocompressor.
3.1.1 Aspiração natural
A aspiração natural é a maneira mais comum de motores a combustão interna ciclo
Otto. Para facilitar o entendimento e estudo, estaremos nos atendo apenas a
motores com combustível álcool ou gasolina, deixando o diesel de lado, devido a
algumas singularidades deste combustível e motores movidos a este.
A aspiração natural é caracterizada por:
Dificuldade em se preencher totalmente o cilindro com mistura ar-combustível,
que existem perdas de carga no sistema de admissão;
Resposta instantânea de entrega de potência conforme carga no acelerador e
rotação;
Dificuldade de ganhos de potência expressivos sem perda de dirigibilidade, ou
soluções de difícil adaptação;
25
A maneira clássica de ganho de potência em motores com aspiração natural visa
manter o torque em um patamar constante e aumentar a rotação máxima do motor
(BELLS, CORKY, 1997). Dado que:
)(
,
similarRPMangularvelocidade
TorqueT
PotênciaP
TxP
=
=
=
=
ω
ω
Assim, para termos um aumento de 30% na potência máxima, teríamos que ter um
aumento de 30% na rotação, para um mesmo torque. Sabemos que as forças
inerciais aumentam quadraticamente com a rotação
3
:
tigainercialanovainercia
antiganova
inercial
xFF
x
F
69,1
30,1
ln
2
=
=
ωω
ω
Logo teríamos um aumento de 69% nas forças inerciais. As forças inerciais têm uma
ordem de grandeza igual ao da pressão de combustão em um motor de um
automóvel moderno. Assim um aumento desta magnitude pode ser danoso ao
motor, e certamente irá fatigá-lo rapidamente, que um dos maiores problemas do
aumento das forças inerciais é que estas estão se alterando entre compressão,
quando no ponto morto inferior após a queima, e tração, quando no ponto morto
superior e válvulas de escape e admissão abertas.
Além do fator durabilidade a dirigibilidade de um automóvel naturalmente aspirado
com 30% a mais de potência é comprometida, pois são necessários comandos de
válvula com alta permanência, grandes cruzamentos de válvulas e altas taxas de
compressão, afetando a dirigibilidade principalmente em baixas rotações.
O consumo de combustível costuma ser alto em motores desta natureza.
Para chegar aos 60% a 80% de ganhos de potência máxima estimado no motor
turbinado, ainda teríamos que aumentar o diâmetro dos cilindros e o curso do
26
virabrequim, o que vai acabar sendo bastante custoso e trabalhoso para quem
desejar arriscar-se nesta empreitada. Note que apenas o custo do aumento da
cilindrada do motor já está equivalente ao custo do kit turbo e seus periféricos.
3.1.2 Sobrealimentação por compressor mecânico
A sobrealimentação com a instalação de um compressor mecânico é uma das
formas de se obter um ganho de 60% a 80% de potência em um motor naturalmente
aspirado.
Esta sobrealimentação trata-se da adaptação de um compressor mecânico, em geral
do tipo roots que trabalha com rotações de até 20mil rpm, dependendo do modelo. A
energia para movimentar o compressor é originária de uma polia ligada ao
virabrequim via correia.
A sobrealimentação por compressor mecânico é caracterizada por:
Resposta instantânea de entrega de potência conforme carga no acelerador e
rotação;
Alta capacidade de geração de potência (porém inferior ao turbocompressor);
Alto consumo de combustível;
Dificuldade de adaptação devido ao tamanho dos componentes. Não são todos
os veículos com cofres que permitem a instalação desta solução;
Custo superior ao do turbocompressor;
É uma solução bastante interessante, mas pouco difundida no Brasil. Devido à
inexistência do lag
2
dos motores turbinados, esta solução seria tecnicamente
adequada a motores de baixa cilindrada, onde a fase aspirada não é capaz de
proporcionar potência para situações cotidianas, exigindo a sobrealimentação em
diversas ocasiões. Devido à construção do compressor, este o é tão eficiente
27
quanto o compressor de um turbocompressor, porém a maior desvantagem do
compressor mecânico em relação ao turbocompressor é a fonte de energia. O
compressor mecânico obtém energia do virabrequim, ou seja, “rouba” potência que
seria entregue às rodas, para condições idênticas de operação. Este é o principal
motivo dos motores turbo gerarem maior potência que os com compressor
mecânico. Um problema comercial é a falta de modelos de compressor mecânico
para os motores nacionais, caracterizados por baixo deslocamento volumétrico,
porém diversas empresas têm expandido este mercado e soluções “de prateleira”
são encontradas.
3.1.3 Sobrealimentação por turbocompressor
A sobrealimentação com a instalação de um turbocompressor é a forma atualmente
mais utilizada para a obtenção de acréscimo de potência da ordem de 60% a 80%
sobre a original.
Sua base de funcionamento está em uma turbina ligada a um compressor,
pressuriza o ar proveniente da atmosfera para o motor. A energia para movimentar a
turbina é proveniente dos gases de escape. Como esta energia é proveniente de
uma energia que seria desperdiçada, este sistema pode ser caracterizado como
regenerativo. Logo um sistema deste é energeticamente mais eficiente que um
sistema aspirado ou com compressor mecânico.
A sobrealimentação por turbocompressor é caracterizada por:
Resposta com lag de entrega de potência conforme carga no acelerador e
rotação. O que significa uma demora entre a pressurização do sistema e entrega
de potência, em relação à demanda no acelerador;
Alta capacidade de geração de potência (maior dentre os três sistemas);
28
Menor consumo de combustível dentre as três opções;
Maior disponibilidade de peças e conhecimento, dentro do mercado brasileiro;
Menor custo por potência (R$/cv) dentre as opções;
Trata-se da solução adotada neste estudo, devido o menor custo por potência,
facilidade de adaptação, baixo consumo de combustível e presença de soluções
prontas no mercado. Apesar destas características, o sistema tem poucas fontes de
consulta no Brasil, sendo, portanto, bastante valioso este estudo para o mercado.
A adaptação de um turbocompressor em um motor naturalmente aspirado é uma
solução bastante interessante para algumas aplicações, como a automotiva. O
motor permanece original e quando existe uma grande demanda por potência
(quando o acelerador está todo aberto, WOT
4
) o turbocompressor passa a
pressurizar o ar que irá para o motor, consequentemente será possível gerar maior
potência, em relação a uma pressão atmosférica.
É necessário acertar o ponto de ignição e a mistura, de forma a otimizarmos o
funcionamento do motor para as novas condições de uso. Estas adaptações e
acertos serão discutidos nos capítulos posteriores.
3.2 Estudo se um ganho de 60% a 80% em potência é suficiente para
aceleração de 0 a 100km/h ao redor de 8s
Utilizaremos um modelo para verificar se a hipótese é válida, levando em conta
algumas simplificações:
A aceleração média do veículo será constante;
Haverá duas trocas de marcha cada uma com 0,25s totalizando uma penalização
de 0,5s no resultado;
As perdas dissipativas são pequenas;
29
A formulação básica será através de conservação de energia, conforme visto
abaixo:
t
vm
dt
dW
P
vmvdvmW
==
==
.2
.
.
2
1
.
2
2
3.2.1 Um veículo nacional de pequeno porte GM Corsa 1,6 8V ano 96
Massa: 1100kg (com motorista)
Tempo de aceleração: 11,0s
Potência original: 92cv=69kW
40,1
58,56
.2
.
5,7)5,00,8(
41,40
.2
.
5,10)5,00,11(
1100
)/100(/78,27
2
2
=
=
=
==
=
=
==
=
=
=
toriginal
turbo
turbo
turbo
original
original
P
P
kW
t
vm
P
ssst
kW
t
vm
P
ssst
kgm
hkmsmv
Pela formulação notamos que para termos uma diminuição de tempo de aceleração
de 11s para 8s necessitaríamos de um acréscimo de potência da ordem de 40%
para este caso.
Importante notar que:
O fator entre a potência média e a máxima é de 58,57%;
Utilizando este fator, teremos uma potência máxima de 96,6kW (=129cv);
O fator Peso/Potência era 11,9kg/cv e passou para 8,5kg/cv;
30
Neste modelo não estamos analisando a derrapagem dos pneus, logo teremos
variações no desempenho conforme aumentamos a potência, que a
aceleração máxima será limitada pela aderência da pista/pneu
3.2.2 Um veículo nacional de pequeno porte VW Gol 1,0 16V ano 02
Esta análise será para validar este modelo
Massa: 1100kg (com motorista)
Tempo de aceleração aspirado: 16,0s@69cv
Tempo de aceleração turbo: 10,0s@112cv
62,1
69
112
63,1
67,44
.2
.
5,9)5,00,10(
38,27
.2
.
5,15)5,00,16(
1100
)/100(/78,27
2
2
==
=
=
=
==
=
=
==
=
=
=
cv
cv
P
P
P
P
kW
t
vm
P
ssst
kW
t
vm
P
ssst
kgm
hkmsmv
real
toriginal
turbo
simulada
toriginal
turbo
turbo
turbo
original
original
Importante notar que:
O modelo esta ajustado, já que a diferença entre as potências ficou em menos de
1%, conforme visto acima;
3.2.3 Um veículo nacional de médio porte VW Golf 1,8 20V Turbo ano 02
Esta análise será para analisar o peso/potência
Massa: 1300kg (com motorista)
Tempo de aceleração turbo: 8,2s@150cv
31
cv
kg
cv
kg
Potência
Peso
cvkW
t
vm
P
ssst
kgm
hkmsmv
real
cv
kg
turbo
turbo
66,8
150
1300
)84,86(14,65
.2
.
7,7)5,02,8(
1300
)/100(/78,27
2
==
==
=
==
=
=
=
Importante notar que:
O tempo de aceleração está levemente acima dos 8s, assim como a relação
peso/potência ao compararmos com o modelo A, o corsa turbo. Assim notamos a
importância do fator peso/potência para a análise de tempos de aceleração;
3.2.4 Um veículo nacional de grande porte Fiat Marea 2,0 20V Turbo ano 02
Esta análise será para analisar o peso/potência
Massa: 1450kg (com motorista)
Tempo de aceleração turbo: 7,9s@182cv
cv
kg
cv
kg
Potência
Peso
cvkW
t
vm
P
ssst
kgm
hkmsmv
real
cv
kg
turbo
turbo
97,7
182
1450
)1,100(60,75
.2
.
4,7)5,09,7(
1450
)/100(/78,27
2
==
==
=
==
=
=
=
Importante notar que:
O tempo de aceleração está levemente abaixo dos 8s, condizente com a relação
peso/potência ao compararmos com o modelo A, com o corsa turbo e ao modelo
C, o Golf Turbo. Assim notamos a importância do fator peso/potência para a
análise de tempos de aceleração;
32
Com estas análises teremos as seguintes conclusões:
Para obtermos aceleração de 0 a 100km/h em tempo menor que 8s é necessário
uma relação peso/potência abaixo de 8,0kg/cv;
O modelo pode ser utilizado para verificar qual a necessidade de potência,
dependendo das requisições a serem atingidas, para valores perto dos
referenciados;
33
4. CONSIDERAÇÕES SOBRE A ADAPTAÇÃO DO
TURBOCOMPRESSOR
Um dos assuntos mais controversos ao tratarmos de uma adaptação de um
turbocompressor, está relacionado à durabilidade do sistema, sendo que autores
como Bells em 1997, GM em 2004, Brunetti em 1992 e Taylor em 1985 se
preocupam com o tema ao tratarem de turbocompressores em motores a combustão
interna de ciclo Otto. Considerações sobre consumo de combustível, modificações
nos sistemas de alimentação e gerenciamento do motor são outros tópicos de
interesse.
Este capítulo destina-se a elucidar dúvidas relativas às modificações ao adaptarmos
um turbocompressor em um motor naturalmente aspirado.
4.1 Durabilidade de um motor com turbocompressor
A maior preocupação e um dos assuntos mais controversos ao lidarmos com a
adaptação de um turbocompressor em motor naturalmente aspirado automotivo ciclo
Otto, está relacionada à durabilidade das partes móveis do motor (aqui estaremos
preocupados com o que se chama popularmente de parte de baixo, ou seja, pistão,
biela, anéis, pino, trava, bronzinas e virabrequim).
O senso comum diz que ao dobrarmos a potência de um motor, estaremos dobrando
as solicitações dentro do motor, o que é um grande erro. Cada um dos componentes
sofre diferentemente com o aumento de potência, e principalmente, como a maneira
como foi obtido o aumento de potência.
Para facilitar o estudo dividiremos a análise em:
Pistão;
Anel;
34
Bronzina;
Virabrequim;
Biela, pino e trava;
Observem que cada um dos componentes citados poderia ter uma dissertação, caso
seja desejável aprofundar sobre o tema. Assim o objetivo aqui é considerar alguns
aspectos básicos da dinâmica e cargas dos componentes analisados de modo a
entender seus princípios de funcionamento e como estes serão influenciados pela
adaptação de um turbocompressor.
A análise adotará que a potência do motor foi dobrada, para facilitar o estudo e
alguns cálculos que serão necessários.
Estas análises são para um motor a combustão interna ciclo Otto movido a gasolina
(E0 ou E22) ou etanol hidratado (E100), disponíveis nas bombas de postos de
combustíveis no Brasil.
4.1.1 Pistão
O pistão é o elemento que está em contato com a frente de chama. Ele está sujeito
a condições mais elevadas de carga ao adaptarmos um turbocompressor no motor.
Uma pessoa desatenta irá sugerir que como a potência dobrou, a carga sobre o
pistão dobrou o que é um grande erro.
Todos concordam que:
( )
adotadosistemaconformedefinidaserateconscte
rpmutoporrotação
cilindrosdenúmero
N
mvirabrequidobraçodoocomprimentl
pistãodocabeçadaÁreaA
pistãodocabeçanamédiapressãobmepp
PotênciaP
cteNlApP
=
×
=
=
=
=
=
×
×
×
×
=
tan
)(min
2
35
Assim para dobramos a potência podemos:
i. Dobrar a pressão média efetiva sobre o pistão, bmep,
5
ou;
ii. Dobrar a área da cabeça do pistão, ou;
iii. Dobrar o comprimento do braço do virabrequim, ou;
iv. Dobrar a rotação, ou;
v. Adotar parcialmente cada uma das soluções acima, de modo a dobrar a potência.
O aumento volumétrico do motor, ou seja, aumentar a área da cabeça do pistão e o
comprimento do braço do virabrequim é o método utilizado pelos fabricantes. Para
uma adaptação este método é bastante limitado, pois:
As paredes do bloco não permitem grandes aumentos da área da cabeça do
pistão e braço do virabrequim;
A relação R/L fica afetada ao aumentar o braço do virabrequim, causando
problemas de funcionamento estável ao motor;
O aumento da rotação causa um aumento drástico nas cargas inerciais (rotação
é quadraticamente proporcional às cargas inerciais);
Custos elevados de se trocar os componentes internos do motor, como pistão,
biela e virabrequim.
Por estas razões, dentre outras, a maneira mais fácil de dobrar a potência está em
se dobrar a bmep. Uma explicação sobre o bmep é necessária para continuarmos:
O bmep é a pressão média efetiva sobre a cabeça do pistão, ou seja, é a integral
das pressões sobre a cabeça do pistão ao longo de um ciclo de explosão do pistão
(180º no virabrequim).
É obvio que se dobrarmos a pressão sobre a cabeça do pistão, este componente irá
falhar, devido ao esforço excessivo. A verdade é que a pressão máxima sobre o
pistão aumenta cerca de 20% para dobrarmos a potência, se os devidos acertos de
36
ponto de ignição e alimentação forem ajustados de maneira correta. Veja gráfico 02
abaixo para entender a pressão no cilindro.
No gráfico 02- Pressão na câmara x ângulo de virabrequim é claro que a área da
pressão no turbo é o dobro da área de pressão na câmara do motor aspirado (aspro
no gráfico 02). Apesar de a área ser o dobro, o pico de pressão, que é o esforço
máximo é apenas 20% maior.
-20
0
20
40
60
80
0
1
5
25
45
75
105
135
Ângulo virabrequim (graus)
Pressão Câmara (atm)
Aspro
Turbo
Gráfico 02 - Pressão na câmara e ângulo de virabrequim
Entretanto a temperatura na câmara sofrerá um aumento considerável, se for
mantido mistura estequiométrica. Portanto é necessário um bom ajuste, mantendo a
mistura levemente mais rica que a estequiométrica para máxima potência, para
obter um bom compromisso entre potência e durabilidade segundo Bells em 1997, já
que qualquer mistura diferente da estequiométrica para a máxima potência teremos
perda de potência segundo Taylor em 1985.
37
Assim é possível perceber que ao utilizar um turbocompressor a eficiência do motor
aumenta consideravelmente, que teremos um maior ângulo de virabrequim com
trabalho útil, possibilitando maior potência sem a proporcionalidade do aumento nas
forças de atrito e inerciais. Além disto, obtemos uma mistura mais homogênea e uma
queima mais completa devido à maior pressão e turbulência na câmara antes da
faísca.
Desta forma os motores turbocomprimidos costumam ser mais econômicos, em
consumo de combustível que seus pares de mesma potência aspirados.
Fig. 03 - Pistão de motor combustão interna ciclo Otto moderno
Com a maior solicitação térmica e mecânica do pistão, ao adaptarmos o
turbocompressor, algumas falhas podem ocorrer. Baseado na experiência e
Canaleta
Cabeça/Topo
Saia
Pino
38
pesquisa de campo o pistão poderá apresentar falhas nas seguintes localidades (em
ordem de probabilidade):
Canaletas: As canaletas são responsáveis pelo suporte aos anéis. A região inter
canaleta, ou seja, a região entre uma canaleta e outra sofre fadiga, devido à alta
temperatura e o maior esforço mecânico e pode quebrar, diminuindo a
capacidade do conjunto de anéis de reter a pressão na câmara, aumentando o
atrito e consumo de óleo. Evita-se este problema ao diminuir o avanço do ponto
de ignição e pressão, de maneira a diminuir a pressão sobre o componente, e
diminuindo temperatura na câmara, para não diminuir a resistência do
componente a ruptura;
Saia: A região da saia do pistão apresenta desgaste excessivo e contato com a
parede do bloco/camisa. Este problema é devido o excesso de temperatura na
câmara, que leva a uma dilatação excessiva da região da saia e contato
metal/metal com bloco/camisa. Evita-se o problema com o controle de
temperatura na câmara;
Topo ou cabeça: O topo ou cabeça do pistão apresenta desgaste ou em casos
graves até furo. No caso de desgaste, este pode ser ocasionado por excesso de
pressão, e levar a uma quebra da canaleta. Caso o topo do pistão apresente
aspecto de “casca de laranja”, ou seja, pequenos orifícios, distribuídos sobre a
superfície tratam-se da pré-detonação. A pré-detonação é um evento bastante
perigoso, quando não controlado, pois leva a um aumento brusco de pressão e
temperatura dentro da câmara, podendo rapidamente destruir o motor. Evita-se a
pré-detonação pela diminuição do avanço da ignição. O furo na cabeça do pistão
é ocasionado pelo aumento na temperatura da câmara, que leva à diminuição da
39
resistência do material, e seu posterior rompimento. Evita-se pela manutenção da
temperatura na câmara.
Furo para pino: O furo para pino não costuma ser afetado pela adaptação do
turbocompressor, mas sim pelo excesso de rotação, que leva ao rompimento do
componente. Com o turbocompressor, o aumento do rotação do motor ocorre de
maneira muito pida. Com isto existe a possibilidade de perda do controle da
rotação do motor, levando a um excesso de rotação, às vezes 50% a mais da
rotação máxima recomendada, levando à quebra deste componente. Basta
manter um sistema de limitação à rotação que este componente não apresentará
problemas.
4.1.2 Anel
O conjunto de anéis de pistão são elementos com finalidade de selar o espaço entre
a câmara de combustão e o carter. Seu correto ajuste é necessário para um correto
consumo de óleo, vedação de câmara e manutenção das folgas dos pistões.
O conjunto de anéis de pistão é composto em sua maioria por três anéis a cada
pistão:
anel de compressão (ou 1º anel);
anel raspador (ou 2º anel);
anel raspador de óleo (ou 3º anel).
40
Fig. 04 - Conjunto de anéis de pistão (BOSCH, 2004)
O conjunto de anéis tem uma folga específica, que é ajustava pela distância entre
suas pontas. Devido a uma falha no ajuste das folgas, ou mesmo por um excesso de
temperatura na câmara, as pontas dos anéis encostam, levando a um atrito
metal/metal entre as paredes do bloco/camisa e os anéis. Evita-se pela montagem
correta do motor, e manutenção da temperatura na câmara de combustão.
4.1.3 Bronzina
As bronzinas são componentes importantes no motor. Estas são responsáveis pela
manutenção da folga correta entre biela e virabrequim, e entre virabrequim e bloco,
manter o correto filme de óleo entre estas partes, além de servir como material de
desgaste, protegendo as bielas e o virabrequim, em caso de desgaste.
41
Funcionando como um mancal hidrodinâmico, as bronzinas sofrem grande desgaste
a baixas velocidades, e alto torque, ou seja, quando o motor está em baixa rotação e
WOT.
Fig. 05 - Bronzinas
Assim as bronzinas não costumam sofrer muito com a instalação do
turbocompressor, desde que não haja um grande aumento no pico de pressão da
câmara. Depende do perfil do usuário, este componente ter sua vida diminuída ou
não. É importante notar que motores bem cuidados, principalmente no quesito troca
de óleo, costumam ter conjunto de bronzinas durando mais de 200 mil km. Porém
este componente costuma falhar antes disto por problemas de lubrificação, como
falta de óleo, óleo velho, ou mesmo superaquecimento do óleo, o que leva a perder
suas características lubrificantes e refrigerantes.
4.1.4 Virabrequim
O virabrequim é uma peça bastante complexa e resistente. Falhas no virabrequim
ocorrerão no caso de falta de óleo ou superaquecimento do óleo. Não encontramos
casos de falha no virabrequim em pesquisa de campo.
42
4.1.5 Biela, pino e trava
A biela assim como o pino e a trava de pistão, são elementos de ligação entre o
pistão e o virabrequim. Uma das principais preocupações ao se aumentar o torque
do motor, através da instalação de um turbocompressor, recai sobre este
componente.
Fig. 06 - Biela
Vamos analisar o que o senso comum diria sobre os esforços neste componente:
-60000
-40000
-20000
0
20000
40000
60000
0 90 180 270 360 450 540 630 720
Aspro
Turbo
Gráfico 03 - Esforço de pressão de combustão na Biela
43
Pelo gráfico acima (análise sobre motor quatro cilindros ciclo Otto e 0,5L por cilindro
e PCP de 50Mpa) notamos que o esforço na biela é superior ao lidarmos com o
motor turbinado em relação ao aspirado. Cruzando os dados com os dados obtidos
pela pressão de combustão no pistão, notamos que o esforço de compressão sobre
a biela obteve um aumento de 20% ao dobrarmos a potência em um motor
turbinado. Isto diria que o componente estaria muito sujeito a falhas, devido ao
grande aumento de compressão sobre sua estrutura, em especial na alma da biela,
região compreendida entre o olha menor e o olhal maior. Mas esta análise está
carente de um importante componente: as forças inerciais!
Vamos plotar um gráfico referente às forças inerciais e verificar como esta se
comporta somada às forças de combustão para termos uma figura completa dos
esforços sobre a biela:
-40000
-30000
-20000
-10000
0
10000
20000
30000
40000
50000
60000
0 90 180 270 360 450 540 630 720
F Inercial
Gráfico 04 - Esforço de forças inerciais na Biela
Pelo gráfico dos esforços da biela, notamos que este é em números absolutos cerca
de 75% do valor de tensão no motor aspirado passando para 62,5% do valor no
motor turbinado. Porém plotando os gráficos conjuntamente:
44
Somando as forças inerciais e de combustão, notamos que nos pontos onde a força
de combustão é alta, temos seu efeito compensado pelas forças inerciais, obtendo
forças que estão abaixo dos pontos de máxima compressão e tração, pontos estes
dados pelas forças inerciais.
Portanto a biela não deve ser um problema para um aumento moderado de potência
com a adaptação do turbocompressor. Porém é importante notar que este
componente sofrerá com o aumento na rotação do motor, logo é importante
dimensionar os componentes de forma a não exceder a rotação máxima do motor
(levando em conta padrões do fabricante).
Ressalto que diferentes motores têm resistências diferentes para cada componente.
Um exemplo são os motores GM Fam I 1,8L que não suportam altas rotações e
grandes aumentos de torque, devido à fragilidade de suas bielas. Nestes casos seria
interessante a troca do componente por outro de maior resistência.
-60000
-40000
-20000
0
20000
40000
60000
0 90 180 270 360 450 540 630 720
F Inercial Aspro Turbo Aspro Somada Turbo Somada
Gráfico 05 - Esforço de forças somadas na Biela
+Fmáx
-Fmáx
45
As falhas das bielas são mais comuns em sua alma, que pode ocasionar o
rompimento desta região no caso de tração, ou flambagem inelástica (curvamento)
da mesma no caso de compressão. Outra região crítica são os parafusos que fixam
o colo da biela. Este componente necessita a devida atenção em seu torque, e no
caso de substituição, procurar por modelo com alta resistência.
4.2 Durabilidade e testes de longa duração ou dinamômetro
Um aspecto levantado por engenheiros e entusiastas está ligado à durabilidade do
motor no caso de testes de longa duração ou dinamômetros, onde o motor fica por
muito tempo (horas) ciclando entre torque máximo e potência máxima para
certificação de durabilidade, nos moldes de uma OEM onde, por exemplo, os
motores ficam 50h rodando ininterruptamente, ciclando entre torque máximo e
potência máxima (BOSCH, 2004).
Não são claros os limites de durabilidade de um motor com turbocompressor
adaptado, com ganhos maiores que 30% em testes como estes. Isto, pois testes
deste modo não refletem a maneira na qual o veículo será utilizado. Façamos um
exercício de abstração para vermos que estes testes não se aplicam à realidade
deste estudo:
Imagine um automóvel sedan médio com massa ao redor de 1300kg com sua
potência original ao redor de 130cv. Com um turbocompressor acertado para um
ganho de 70% teríamos um veículo com cerca de 220cv. Assim um veículo deste
original após 30s em WOT, saindo do zero, estaria com velocidade estimada em
150km/h enquanto o mesmo veículo após a adaptação do turbocompressor estaria a
uma velocidade estimada perto de 200km/h.
46
Portanto é irreal pensarmos em um veículo com turbocompressor adaptado
conforme sugerido e apresentado neste estudo sob condições de teste tão severas
quanto as de validação de um motor por um OEM, que este motor nunca se
encontrará sob estas condições, sem contar dos riscos à vida e penalidades pelas
leis vigentes no país para o uso sob tais condições.
Caso o uso do veículo seja para um prova de longa duração, como uma competição
automotiva, uma série de outras adaptações e adequações são necessárias, para a
segurança do motorista/piloto e durabilidade do sistema.
47
5. ESTUDO DOS SISTEMAS E SUBSISTEMAS
Ao instalar um turbocompressor, ou qualquer outro sistema de sobrealimentação em
um motor naturalmente aspirado, certos componentes e sistemas serão alterados.
Este capítulo visa analisar os componentes que serão alterados, ou sofrerão um
aumento sensível de estresse.
É fundamental notar que existirão variações entre os resultados para diferentes
veículos e que o nível de estresse usualmente está diretamente relacionado ao
ganho de potência ajustado pelo sistema.
5.1 Sistema de exaustão de gases - Escapamento
O sistema de exaustão de gases, popular escapamento, é uma parte muito
importante do trem de força, pois é o responsável por basicamente três funções:
Retirar os gases residuais da exaustão, junto do calor, para longe do motor, de
forma a manter o cofre do motor com uma temperatura adequada;
Equalizar a perda de carga e o fluxo dos gases de forma a garantir um motor
com funcionamento linear, suave e gerar os ganhos por bombeamento nas
rotações corretas;
Diminuir os ruídos provenientes da energia dos gases de exaustão, através da
utilização de abafadores e silenciadores.
A tecnologia envolvida para o projeto do sistema de exaustão de gases é bastante
complexa, por tratar de um fluido compressível, a altas temperaturas, com as
temperaturas variando ao longo do tubo de escape e em um escoamento pulsante e
transiente. O dimensionamento deve evitar restrições ao escoamento assim como
gerar contra-pressão (backpressure) para o coletor de escape.
48
Fig. 07 – Escapamento 2,0pol para GM corsa com um abafador traseiro
Devido à dificuldade em se projetar o sistema de exaustão dos gases, vamos utilizar
algumas regras que tem gerado bons resultados, segundo BELLS, 1997. As regras:
Seguir gráfico 06 como indicativo para diâmetro da tubulação de escapamento
6
;
2
2,25
2,5
2,75
3
3,25
3,5
3,75
4
200 300 400 500 600 700 800 900 1000
Potência (cv)
Diâmetro (pol)
Polinômio (Um Tubo) Polinômio (Dois Tubos)
Gráfico 06 – Diâmetro de escapamento x potência desejada (BELLS, 1997)
49
ROTHBART, 1995 sugere a utilização de um tubo com diâmetro 10% superior ao
diâmetro de saída da turbina (caixa quente);
GM SPORT sugere que a velocidade máxima dos gases de escape fique em
75m/s tomando por referência o volume de gases de admissão (23ºC e 1,0atm).
Vejamos um exemplo:
3
1,6 @6600 @2 ( )
1
1,6 3 6600
60
escapamento
V
v
A
v velocidade dos gases
Volume dos gases de admissão
V
tempo
A Área do tubo de escapamento
D Diâmetro do tubo de escapamento
V L rpm bar absoluto
rotação
s
e m rpm
rpm
=
=
=
=
=
= =
= × ×
3
2 2
2 2 2
3
2
1
2 0,176
2
(2,25) 25,4 3
2,25 3,14 3,974 ( ) 2,56 3
4 1
0,176
68,64 75
2,56 3
escapamento
ciclo bar m
rotação bar s
pol e m
D pol A pol e m
pol
m
m m
s
v
e m s s
× × =
= = × = × =
= =
Dentre as três opções acima, sugiro o gráfico como melhor opção, seguido do
cálculo e por último o simples opção pelo aumento de diâmetro, conforme a
saída da turbina;
Utilização de dois (ou pelo menos um) abafadores do tipo oco
7
. A utilização de
flange e escape original não é recomendada devido às restrições ao fluxo que
esta configuração gera. A utilização de um sistema sem abafadores seria inviável
para o dia-a-dia pelo nível de ruído do motor geraria. Lembramos que a
legislação brasileira exige o uso de pelo menos um abafador, segundo CONAMA,
1993;
50
Evitar curvas acentuadas nos tubos de escapamento. Cada vez que os gases
têm a direção de seu escoamento alterada, isto gera uma perda de carga
singular. Para minimizarmos esta perda, devemos projetar o mínimo de curvas e
as que forem necessárias que sejam suaves;
Com a utilização destas regras básicas, se consegue um bom projeto de escape. É
interessante notar que existem oficinas onde o projeto do tubo de escapamento já é
bem desenvolvido, como no ADA SCAP, oficina paulistana de escapamentos
especiais. Neste caso basta levar o veículo para estes locais e efetuar a adaptação
de um sistema, conforme o número de abafadores desejado, e o diâmetro de tubo
escolhido.
O escapamento é o responsável, junto da turbina em um motor turboalimentado pelo
controle da backpressure
8
que é a contra-pressão no coletor de escape. Esta
pressão é função da soma da turbina e sistema de escapamento restringindo o fluxo.
Assim para garantir pressões adequadas, deve-se ter uma baixa restrição. Logo a
troca do sistema de escape é necessária, que este tem altas restrições para o
novo volume de gases. Para pressões no coletor de admissão menores que 0,4bar,
pode-se utilizar uma flange e o sistema de escape original, pois assim a
backpressure será baixa, já que o fluxo de gases no escapamento é baixo.
O controle da backpressure é importante que uma baixa backpressure manterá a
câmara de combustão em menores temperaturas, devido a uma boa lavagem da
câmara
9
, segundo TAYLOR, 1985. A diminuição no backpressure é uma maneira
bastante eficiente de se liberar potência de um motor turboalimentado,
principalmente em altas rotações.
Outro modo de se diminuir a backpressure é o aumento do A/R
10
da turbina. O
inconveniente deste método é a possibilidade de aumentar o ponto de pegada do
51
turbocompressor, devido à menor velocidade de entrada dos gases. Este assunto
será discutido em detalhes no estudo do turbocompressor secção 5.17.
5.2 Sistema de admissão de ar
O sistema de admissão tem por função levar o ar até o motor, depois deste ter
passado pelo compressor. Após o ar ter sido admitido pelo compressor, sua
temperatura é aumentada. Para estimativas deste aumento de temperatura,
adotaremos que a compressão ocorre em processo adiabático reversível, que não
transferência de calor da turbina para o compressor e as fronteiras estão
fechadas. Logo:
=
k
k
p
p
T
T
1
2
1
2
1
com: p1 = 0,1MPa
T1 = 27ºC=300K
k = 1,4 (adotando ar como fluido) teremos:
Casos Caso a Caso b Caso c Caso d
P2 =
0,16MPa=>0,6bar 0,18MPa=>0,8bar 0,20MPa=>1,0bar 0,22MPa=>1,2bar
T2 = 70ºC 82ºC 93ºC 103ºC
Com isto percebemos que para pressões de até 0,6bar, utilizando-se o álcool como
combustível, podemos trabalhar sem a presença de um intercooler, que as
temperaturas na admissão não serão demasiadamente altas e tenderão a diminuir,
devido ao calor necessário para a vaporização do álcool. Mas para pressões acima
de 0,6bar teremos que utilizar o intercooler, pois as temperaturas serão muito altas e
poderão gerar pré-ignição da mistura ao ser comprimida nos cilindros domotor. É
52
importante ressaltar que a temperatura na qual o ar é admitido no motor será menor
que esta encontrada no lculo, devido ao álcool absorver energia ao ser
vaporizado, baixando a temperatura da mistura e devido a perdas de energia para
as fronteiras, que as tubulações trocam energia com o meio externo. Aqui não foi
equacionado o fato de o compressor não ser adiabático.
Devido à necessidade da turbina
ficar alocada junto ao coletor de
escape do motor, é necessário que
o compressor fique ao lado da
turbina. Com isto é necessária toda
uma tubulação levando o ar
comprimido pelo compressor até a
borboleta e posteriormente o coletor
de admissão do motor, conhecida
popularmente como pressurização. Alguns kit´s turbo já vem com a pressurização,
como exemplo a paulistana SPA, mas a maioria requer que esta tubulação seja feita
sob encomenda. Para isto basta procurar uma loja de escapamentos especiais, que
estas farão este trabalho, como a paulistana ADA SCAPES.
É importante ressaltar que devido ao sistema de admissão trabalhar sob pressão
positiva, e este sistema não ter sido projetado para isto, alguns cuidados são
necessários. Na tubulação deve-se procurar usar o máximo de metal possível, como
os tubos de o carbono ou inox, evitando a utilização de tubos de borracha ao
mínimo possível, pois estes tendem a rachar e rasgar com as solicitações impostas.
Portanto limita-se a utilização de tubos de borracha apenas nas junções entre tubos
de metal, de forma a garantir a vedação do sistema. Existem modelos prontos desta
Fig. 08 – Tubulação de admissão
53
tubulação em borracha para as adaptações em lojas especializadas em
equipamentos de para preparação de motores, como na paulistana SPA. A perda de
pressão pelo sistema de admissão costuma ser uma falha muito comum em
adaptações de sistemas de sobrealimentação e sua maior causa costuma ser falhas
na vedação do sistema.
Para cálculo do diâmetro da tubulação recomenda-se que a velocidade de
escoamento do sistema seja inferior a (Mach) M<0,3 de modo a termos um baixo
coeficiente de arrasto na tubulação do sistema. Vejamos um exemplo:
lim
lim
lim
lim
345
0,3 0,3 345 103,5
1,6 @6600
mack
tubulação
ite mack
ite
ite
v velocidade ite na tubulação
m
v
s
Volume dos gases de admissão
V
tempo
A Área da tubulação
D Diâmetro da tubulação
m m
v v
s s
V V
v A
A v
V L
=
=
=
=
=
= × = × =
= =
=
3
3
3
2
lim
1
1
1,6 3 6600 8,8 2
60 2
8,8 2
8,5 4
103,5
4 4 8,5 4
3,29 2 1,29
3,14 3,14
ite
tubulação
rotação
ciclo m
s
rpm e m rpm e
rpm rotação s
m
e
V
s
A e m
m
v
s
A e
D e m pol
= × × × =
= = =
× ×
= = = =
Como temos alguns padrões para a disponibilidade de tubos de admissão no
mercado, poderemos utilizar para este caso a tubulação de 2,0pol. Não se
recomenda aumentos muito grandes na tubulação, sob pena de aumentar o volume
a ser pressurizado antes da admissão, e consequentemente o lag do
turbocompressor.
54
Note que este modelo não leva em conta o aumento de pressão do ar realizada pelo
compressor, que estudos mostram pouca correlação entre o aumento de pressão
e o aumento de arrasto. O modelo acima não leva em conta o aumento de
temperatura do ar pelo compressor, que este irá por conseqüência aumentar o
valor do número de Mach, sendo, portanto, um modelo conservador.
5.3 Intercooler
O intercooler apesar de ser parte integrante do sistema de admissão de ar, é um
componente muito importante, de modo a ser analisado em separado do resto do
sistema neste estudo, conforme BELLS, 1997 em Maximum Boost.
A função do intercooler é resfriar o ar que foi aquecido durante o processo de
pressurização pelo compressor. Como se sabe todo compressor, ao pressurizar,
gera o aquecimento do fluido por este ser comprimido.
Neste item, estaremos tratando do intercooler do tipo ar-ar de fluxo cruzado, comum
nestas aplicações.
Um bom intercooler tem que ser capaz de resfriar eficientemente o ar e ao mesmo
tempo causar uma baixa perda de carga. Para tanto, algumas características o
importantes:
Baixa perda de carga, afinal não faz sentido aquecer o ar enquanto se
pressuriza, para depois perder pressão por um intercooler ineficiente;
Alta eficiência na capacidade de resfriar ar;
Instalação em local adequado, onde haja corrente de ar abundante para que a
troca de calor seja eficiente.
55
Para um intercooler ter baixa perda de carga é
necessário verificar se existe área suficiente
para a passagem do fluido pressurizado por
este, de maneira eficiente. Desta forma se
elimina os intercoolers com pequena área
lateral e longo comprimento, pois sua
construção já favorece altas perdas de carga.
A eficiência de um intercooler é ditada pela sua capacidade de resfriar o ar
pressurizado segundo formula abaixo. É recomendável um intercooler com eficiência
mínima de 60% com perda de carga inferior a 0,15bar (15kPa). Vamos verificar o
que isto significa:
CdefoiatemperaturdeiaçãoaAssim
CKT
ETTTT
bareficiênciacomcompressorKCCCT
KCT
E
comercoolerumpara
TT
TT
E
KelvinemabsulutasastemperaturutilizarsemprendeaTemperaturT
ercoolerdoEficiênciaE
depois
dopressuriza
iambiente
antes
dopressuriza
antes
dopressuriza
depois
dopressuriza
antes
dopressuriza
ambiente
i
ambiente
antes
dopressuriza
depois
dopressuriza
antes
dopressuriza
i
n
i
°
°===
==×=
=°=°+°=
=+=°=
=
=
=
=
58var
72273345345
%60*)293423(423)(
)1@%60(42313010525
2932527325
%60
:int
)......(.
int
Grosseiramente se adotarmos a variação de densidade do ar como o ganho de
potência pelo uso do intercooler, mantendo a pressão constante teria:
%8,161
27358
273130
1 =
+
+
=
=
=
finalabsolutaaTemperatur
inicialabsolutaaTemperatur
densidadedeVariação
ρ
Porém se adotarmos uma perda de carga de 15kPa e utilizarmos o mesmo
raciocínio:
Fig. 09 – Intercooler
56
%5,71
)11(
)15,011(
1
Pr
Pr
arg
=
+
+
=
=
=
=
atm
atm
inicialessão
finalessão
p
potênciadeVariaçãoPacdeVariaçãop
Sendo assim quase metade dos ganhos do intercooler foi perdida nesta simulação,
devido à perda de carga do intercooler.
O modo correto de lidarmos com este problema seria uma abordagem experimental,
onde:
i. o sistema é acertado com uma pressão de trabalho, medida após a borboleta (e
consequentemente o compressor) porém sem o intercooler. São medidos
temperatura na borboleta e pressão.
ii. É colocado o intercooler. Ajusta-se a regulagem do sistema para termos
exatamente a mesma pressão após a borboleta. É medida a temperatura no mesmo
ponto que o anterior.
Com a variação da temperatura, teremos a eficiência real do intercooler no sistema,
e não como um componente isolado. Com esta medição se possível avaliar os
ganhos reais no sistema.
Medindo as pressôes no compressor para a situação i e ii conseguiremos medir a
diferença entre estas, e a perda de carga no intercooler, devido à diminuição da
temperatura pelo intercooler, e a perda de carga deste componente conjuntamente.
Para fins práticos não é interessante desassociar os efeitos (caso haja interesse em
analisar a perda de carga sozinha, basta simular o intercooler com o ar pressurizado
à temperatura ambiente, não havendo desta forma troca líquida de calor), análise
baseada em INCROPERA, 2003.
Relativo à localização do intercooler, sugerimos a instalação deste componente em
local com alta pressão, como na frente do veículo, ou junto à caixa de rodas (BELLS,
CORKY, 1997). Isto é primordial para que o intercooler receba fluxo de ar ambiente
57
e possa trocar calor com o ambiente. Não aconselhamos a instalação do intercooler
dentro do cofre do motor, pois este local não tem bom fluxo de ar e o ar ambiente
dentro desta região é de alta temperatura, diminuindo a possibilidade de troca de
calor pelo intercooler.
5.4 Coletor de escape
O coletor de escape é a tubulação que conduz os gases de escape para a turbina,
que da turbina irão para o sistema de escapamento.
O coletor de escape de veículos com grande volume de vendas já possuem modelos
prontos, em ferro fundido. Os veículos com menor procura necessitam da construção
do coletor de escape em tubos.
Algumas recomendações são feitas em relação ao coletor de escape:
Fig. 10 – Coletor de escape com turbocompressor e wastegate
58
Deve ser o mais curto possível, para evitarem a perda de energia para o
ambiente antes dos gases passarem pela turbina;
Devem ter dutos de comprimento igual, para que efeitos como ressonância entre
outros ocorram à mesma freqüência;
O diâmetro do duto deve seguir o do cabeçote, nunca sendo menor. Isto evitará
diminuição ou aumento de velocidade do fluxo. Caso deseje atrasar a entrada do
turbocompressor, pode-se optar por um tubo com diâmetro levemente superior
ao do cabeçote, mas devido à complexidade do assunto, sugere-se evitar esta
medida;
Evitar curvas acentuadas para não haver mudanças repentinas no fluxo e
conseqüente perda de carga e estresse localizado no material;
Sugerimos a utilização de isolação por meio de mantas térmicas e similares, pois
a energia em forma de calor neste componente tende a aumentar
consideravelmente a temperatura no cofre do motor, além de ser uma energia
que não será utilizada na movimentação das pás da turbina.
Um aspecto a ser considerado com o coletor de escape é que o desenho deste deve
possibilitar o correto posicionamento e manutenção do turbocompressor (GM
SPORT, 2004). Alguns modelos existentes no mercado ainda não têm o refinamento
necessário para uma correta adaptação e posicionamento.
5.5 Conjunto de embreagem e platô
O conjunto de embreagem e platô tem por função efetuar o acoplamento do volante
do motor ao câmbio. O parâmetro mais crítico para o dimensionamento de uma
embreagem é o torque a ser transmitido.
59
Fig. 11 e 12 – Embreagem de modelo com pastilhas de cerâmica e tradicional
Em um motor turbinado o meio de aumentar a potência é o aumento do torque,
conforme visto na secção 1.2. Assim, a embreagem passa a ter sua durabilidade
muito comprometida, havendo casos onde a embreagem não consegue se manter
acoplada com o novo torque gerado.
Para aumentar a capacidade de transmissão de torque da embreagem existem
algumas técnicas:
Aumentar a área de contato da onde será transmitido torque. Está técnica é difícil
de aplicar, pois a área foi otimizada pelo fabricante da embreagem, portanto o
aumento da área teria de ser interno, pois externamente este seria limitado pela
carcaça do câmbio.
O aumento da carga das molas seria um método muito interessante, porém este
método aumenta muito o desgaste do material de contato da embreagem, por
aquecê-la demasiadamente diminuindo muito a vida útil da embreagem. Para
pequenos acréscimos de potência este todo seria muito interessante, mas
para nossa meta de ganho, mas não é o recomendado.
Recomendamos a troca da embreagem e platô por um sistema com material de
contato em pastilhas de cerâmica sinterizada com molas para diminuir a vibração
60
durante o acoplamento junto da utilização de uma carga mais alta nas molas do
platô, segundo orientação do fabricante. Este método tem uma boa vida útil,
custo pouco acima do original porém tem três grandes desvantagens:
o com o aumento na carga do platô (em média 900lb) o pedal fica pesado
para o acionamento;
o as pastilhas não permitem a utilização de uma mola entre o disco de
embreagem e o material de contato/desgaste, como as embreagens de
lona tradicionais, o que torna o acoplamento da embreagem muito brusco
e gera trepidações, causando desconforto aos ocupantes o veículo;
o o acoplamento brusco da embreagem pode causar danos em coxins do
motor e câmbio além de possibilitar problemas no câmbio por micro
fissuras nas engrenagens gerados pelo tranco do motor.
É importante frisar que a embreagem deve ter sua carga dimensionada pelo
fabricante do novo sistema de forma a transmitir todo o torque necessário, mesmo
quando a temperatura de funcionamento aumenta com o uso constante, porém não
deve gerar acoplamentos muito bruscos, já que estes danificam o câmbio.
5.6 Bomba de Combustível
Devido a necessidade de trabalhar com álcool, que naturalmente exige maior
vazão (já que a proporção estequiométrica é de 8,4:1 enquanto a gasolina é de
13,5:1) e devido à maior pressão a qual a bomba é submetida quando existe
pressão positiva no coletor, a necessidade de se trocar a bomba original do
veículo por uma de maior vazão, caracterizando uma alteração necessária.
Para veículos nacionais com turbocompressor adaptado, recomenda-se a utilização
da bomba elétrica original do gol GTI. Esta bomba é interessante devido a sua
61
capacidade de suportar a oxidação gerada pela utilização de álcool e devido a seu
dimensionamento suportar os novos regimes de trabalho do motor. Testes em
campo tem demonstrado que esta bomba é capaz de alimentar motores de até
250cv, trabalhando a 3bar. A bomba de combustível da GM Blazer 6cilindros é uma
alternativa viável com menor custo. Bombas de combustível de carros originalmente
a álcool seriam hipóteses a se testar, principalmente com o advento dos motores bi-
combustíveis. Existem testes em campo onde se utiliza a bomba do Fox Flex, mas
como ainda não temos conhecimento suficiente para tratar sobre estes modelos,
logo deixamos em aberto.
Fig. 13 – Bomba de combustível (DINAMICA BOMBAS, 2004)
Devem-se evitar pressões muito altas, como acima de 5bar, quando com pressão
positiva no coletor devido à diminuição vertiginosa da vida útil da bomba elétrica de
combustível ao operar com pressões elevadas (DINAMICA BOMBAS, 2006). A
utilização de alta pressão na linha é o motivo mais comum na qual a bomba
apresenta defeito, sendo seguida pelo superaquecimento da bomba por aspiração
de ar, ou pela pouca quantidade de combustível, sendo que a mistura em
quantidades altas de água também causa uma falha à bomba de combustível. Caso
62
seja necessária uma alta pressão na linha de combustível, recomendamos a
utilização de duas bombas em série.
Pressões abaixo de 1,5bar, mesmo em regimes parciais, não são recomendadas
devido à possibilidade do bico injetor o pulverizar o combustível e gerar o
“gotejamento”, que é a má pulverização do combustível, gerando gotas de grande
tamanho, que ocasionam uma combustão incompleta dentro da câmara que as
moléculas de combustível não conseguem se misturarem adequadamente com as
de oxigênio para gerar uma combustão completa.
5.7 Bico injetor de combustível
Os bicos injetores de combustível são orifícios fechados por uma agulha, onde a
dosagem da quantidade de combustível se dá pela regulagem do tempo de abertura
da agulha do bico injetor e pela pressão da linha de combustível por ciclo do motor.
Fig. 14 e 15 – Bico injetor de combustível
Como os bicos originais costumam ser a gasolina temos que trocá-los por bicos a
álcool com cerca de 50% a mais de vazão para o correto funcionamento do motor
63
trabalhando com álcool (mantendo a pressão de trabalho constante). Devem-se
procurar bicos originais de motores a álcool com a mesma impedância (em geral
16 para bicos multiponto, dependendo do fabricante do motor) e a vazão próxima à
desejada, e o acerto fino da mistura se dará pela regulagem da pressão da linha de
combustível, que deve ser próxima à da condição original do motor. Desta forma
estaremos suprindo o motor com a quantidade necessária de combustível durante
sua fase aspirada.
Para a alimentação o motor da quantidade extra de combustível necessária quando
o compressor inicia a pressão positiva no coletor temos duas soluções:
i. Aumento da pressão na linha quando houver pressão positiva no coletor de
modo a suprir a demanda maior de combustível. Esta técnica necessita de um
dosador de combustível que faça a leitura da pressão no coletor e a relacione
com o aumento de pressão na linha;
ii. Instalação de um ou mais bicos extras que entrarão em atuação quando o
motor passar a ter pressão positiva no coletor;
Cada método tem suas vantagens e desvantagens que serão discutidas
posteriormente nas secções 5.13 e 5.18, mas já é válido adiantar que o método com
bico suplementar permite maior flexibilidade, mas tem um custo superior.
5.8 Dosador de combustível
O dosador de combustível tem por função manter a linha de combustível
pressurizado, a uma dada pressão, e manter um diferencial entre a pressão no
coletor e a linha de combustível. Assim não importa se a borboleta está aberta
(pressão atmosférica no coletor) ou fechada (pressão negativa no coletor) teremos
sempre o mesmo diferencial entre os bicos injetores e o coletor (em geral este
64
diferencial para motores com um injetor para cada cilindro é de 2,0bar, logo com
borboleta aberta a pressão na linha deve ser de 3,0bar), para motores originais de
fábrica.
Fig. 16 – Dosador de combustível 1:1 com regulagem (SPA, 2006)
5.8.1 Utilização de um ou mais bicos auxiliares
Para a alimentação do motor seja pelo uso de um ou mais bicos auxiliares, é
necessário um dosador que tenha a pressão inicial regulável, para um ajuste fino
nos bicos de baixa (ou regime aspirado) e um bom controlador para o(s) bico(s)
auxiliar. Dependendo da vazão de combustível requerida, será preciso o uso de uma
linha extra somente para o(s) bico(s) auxiliar com seu próprio dosador.
5.8.2 Utilização de dosador HPi na linha
Caso a escolha para a alimentação seja pelo uso de um dosador HPi, será
necessário o acerto deste dosador, de forma a regular uma proporção entre o ganho
de pressão na linha e a subida de pressão pelo compressor.
65
Fig. 17 – Dosador de combustível HPi (SPA, 2006)
O dosador HPi substituirá o dosador original do motor. Ele terá:
Entrada de combustível para o dosador: Que é onde se conecta a linha de
combustível após a flauta;
Retorno para o tanque de combustível: Onde se conecta a linha de retorno do
combustível ao tanque;
Tomada de pressão no coletor: A tomada de pressão do coletor será conectada
ao coletor para indicar como será o ganho de pressão na linha, em função da
pressão no coletor;
Ajuste da pressão inicial do dosador: Tem função de ajustar a pressão da linha
de combustível a certo patamar. Um sistema bem ajustado tem a pressão inicial
perto da pressão inicial de um veículo original;
Ajuste do ganho proporcional: lvula que ajusta o ganho na qual o dosador i
trabalhar. Em geral pode-se ajustar de 1:1 até mesmo 5:1;
O ajuste do combustível pelo HPi é relativamente simples.
Ajuste do ganho
proporcional
Ajuste da pressão
inicial (pré-tensão)
do dosador
Tomada de pressão
do coletor
Retorno para o
tanque de
combustível
Entrada de
combustível para o
dosador
66
i. Com a pressurização desconectada, de forma a não haver pressão positiva no
coletor se ajusta a pressão inicial do sistema, de forma ao veículo ter o máximo de
desempenho com linearidade para o regime aspirado do motor.
ii. Com a pressurização conectada se ajusta o ganho do HPi para ter uma mistura
adequada quando houver pressão positiva no sistema.
A utilização do HPi é bastante interessante, desde que não se ultrapasse algumas
limitações de projeto:
Os bicos não funcionam corretamente com altas pressões de linha. Logo se deve
evitar uma pressão diferencial (entre linha de combustível e coletor) maior que
5bar, pois o tempo de abertura e fechamento do bico passa a ser afetado;
A pressão inicial não deve ser excessivamente baixa, pois o combustível não
conseguirá um bom leque e não haverá uma boa vaporização, gerando uma
queima incompleta e aumento no consumo de combustível;
A pressão na linha não deve ser excessivamente alta, pois as mangueiras e
conexões podem apresentar problemas de vazamento, gerando um grave risco à
segurança, e a bomba irá apresentar problemas muito cedo, pois existe um alto
desgaste da bomba com altas pressões;
Cuidado com variações climáticas, pois a regulagem do dosador é sensível. Logo
recomenda-se uma regulagem conservadora.
Assim percebemos que o uso do HPi é indicado para veículos onde a pressão do
turbocompressor é baixa (de 0,6bar para menos), havendo uma baixa necessidade
de aumento no consumo de combustível.
Para casos onde se deseja pressões de turbocompressor alta, é recomendada a
utilização de outras metodologias para a alimentação do motor.
67
5.9 Linha de combustível
A linha de combustível tem por função levar o combustível do tanque para o motor, e
efetuar a volta do excesso de combustível para o tanque (linha de retorno). A
utilização da linha de combustível original é possível, mas não recomenda devido o
Fig. 18 – Linha de combustível e retorno adaptado a tanque de combustível
aumento de pressão de trabalho na linha e o maior volume de combustível
necessário por se trabalhar com álcool. Lembrar que ao existir pressão positiva no
coletor o dosador HPi estrangula o retorno da linha, aumentando a pressão na linha
e possibilitando a ocorrência de vazamentos. Para evitar este problema, troca-se a
linha original por uma de maior diâmetro e resistente a pressões de até 10bar, que
possibilita maior vazão, e conseqüentemente menores perdas de carga, exigindo
menos esforço da bomba de combustível.
Linha de combustível
Linha de retorno
do combustível
68
Em relação ao diâmetro da linha de combustível, algo com 50% a mais de diâmetro
que o original se o suficiente para uma pressão no coletor de 0,6bar. Uma
metodologia para o cálculo do diâmetro da linha seria:
1,2 1
:
6,0
1,0
1,2 6,0 1 1 10
n
turbo original positiva coletor
original
positiva coletor
turbo
D Diâmetro da mangueira n
D D p
Exemplo
D mm
p bar
D mm
=
= × × +
=
= +
= × × + =
Apesar da simplicidade da substituição da linha de combustível é necessário
cuidado, pois qualquer vazamento pode causar até fogo no veículo, sendo este um
componente bastante crítico. Seja bastante criterioso na escolha dos materiais e na
execução do serviço.
5.10 Válvula de alívio
A válvula de alívio tem a função de regular a pressão máxima que o compressor irá
pressurizar o coletor. Seu funcionamento é através do desvio para a atmosfera ou
escapamento dos gases de escape antes destes passarem pela turbina (rotor
quente) de modo a limitar a pressão gerada no coletor pelo compressor (ver secção
1.2).
O uso da válvula de alívio é necessário para impedir o aumento descontrolado da
pressão no coletor de admissão do motor. Este controle é muito importante para a
durabilidade e funcionamento do motor.
69
Fig. 19 e 20 – Válvula de alivio externa e integrada
A válvula de alívio tem uma tomada de pressão, em geral na saída do compressor, e
uma regulagem para a correta seleção da pressão na qual ela desviará parte dos
gases de escape criando um bypass entre o coletor de escape e o escapamento.
Basicamente temos dois tipos de válvulas de alívio:
Integradas: onde estas são parte da caixa quente;
Externas: onde a válvula é posicionada no coletor;
As válvulas externas têm tido resultados mais adequados, porém as válvulas
integradas (ou integrais) costumam ocupar menos espaço, facilitando a instalação.
A válvula de alívio é um componente bastante robusto, mas uma falha neste
componente poderá provocar a quebra do motor por excesso de esforços. Logo um
manômetro de pressão no coletor é fundamental para monitorar o funcionamento
desta válvula.
5.11 Válvula de prioridade
Na operação do motor quando a borboleta do acelerador se fecha e o sistema de
admissão está pressurizado, a pressão entre o compressor e a borboleta pode subir
70
muito e danificar o sistema devido à inércia do compressor, já que o compressor
entra em surge, que é uma região de operação instável. Para isto se utiliza a válvula
de prioridade, que é alojada entre o compressor e a borboleta de admissão. Ela é a
responsável pelo conhecido assobio quando se alivia o do acelerador, conhecido
popularmente por espirro da turbina.
Fig. 21 – Válvula de prioridade
A válvula pode ser por membrana ou pistão. As de pistão costumam ter um melhor
desempenho e são mais custosas.
A válvula de alívio tem uma tomada de vácuo, que irá auxiliar a válvula a abrir
quando houver vácuo no coletor e pressão na pressurização. É importante a tomada
de vácuo estar funcionando perfeitamente, caso contrário a válvula não funcionará.
A não abertura da válvula de prioridade gera um ruído alternado de média
freqüência na boca do compressor.
Deve ser posicionada perto da borboleta ou no intercooler.
71
5.12 Controlador de Bico Auxiliar
Para a alimentação da quantidade extra de combustível necessária com o
turbocompressor, a utilização de um ou mais bicos extra de combustível é uma
metodologia eficaz.
Além do bico injetor de combustível é necessário um controlador para o bico extra
capaz de entregar a quantidade correta de combustível ao motor, conforme sua
necessidade momentânea quando com pressão positiva no coletor.
Assim como a alimentação do motor via um dosador HPi, a utilização de um
controlador de bico extra tem algumas características próprias com seus prós e
contras:
Maior versatilidade e possibilidade de ajustes (possibilidade de utilização de
maior pressão no coletor, sem a desvantagem de baixa pressão inicial na linha
de combustível, como no HPi);
Maior quantidade de ajustes;
Maior complexidade com mais componentes sujeitos a falhas;
Maior custo, devido a maior número de componentes e complexidade.
Como o objetivo do controlador de bico extra é um ajuste adequado da quantidade
extra de combustível necessária para o motor quanto com pressão positiva no
coletor é necessário que seu funcionamento básico seja uma função da pressão no
coletor e rotação.
(
;Pr )
Tempo de injeção f Rotação essão no coletor
=
Logo o controlador deverá ajustar a quantidade correta de combustível, de modo
que o motor trabalhe nas condições desejadas (seja ela para máxima potência,
temperatura de escape ou outra).
Para este controle existem controladores digitais e analógicos.
72
Os controladores analógicos possuem menor quantidade de rECUrsos, porém
costumam ser bastante simples de operar. Seu funcionamento baseia-se na
extrapolação de uma curva teórica de consumo de combustível em função da
rotação do motor e pressão no coletor. Com três ajustes básicos consegue-se um
bom resultado para a alimentação do motor:
- Início da pressão na qual o bico irá pulsar (ex. pulsar a partir de 0,2bar);
- Ajuste da baixa, que é o ajuste do tempo de abertura do bico para baixa rotação e
baixa pressão positiva no coletor (ex. pulsar 0,02ms por ciclo a 2000rpm e 0,3bar);
- Ajuste da alta, que é o ajuste do tempo de abertura do bico ara alta rotação e alta
pressão positiva no coletor (ex pulsar 4,0ms por ciclo a 6000rpm e 1,5bar).
Assim se consegue acertar a quantidade de combustível conforme a necessidade do
motor em carga e rotação.
Um controlador como o acima é capaz de um bom ajuste da quantidade necessária
de combustível no motor, em geral melhor que com um dosador HPi, que tem sua
regulagem bastante sensível a condições do ambiente (temperatura, pressão,
umidade, etc).
Porém se um ajuste maior for desejado existem sistemas mais complexos. Como
estes sistemas são em sua maioria digitais, citaremos aqui suas características mais
comuns, segundo informações dos fabricantes:
- Correção por mapa pressão x rotação;
- Mapa construído ponto a ponto, e não por ajuste de curva básica.
- Realimentação e correção por sonda lambda;
- Correção por temperatura da água;
- Correção por variação na voltagem;
- Correção por temperatura do ar ambiente.
73
Existem outras correções possíveis, mas estas o as básicas. As correções o
importantes, sendo uma das fundamentais a por sonda lambda, apesar de sua
utilização requerer cuidados com perigo de obtermos altas temperaturas no escape
e possibilidade de quebras, se mal ajustado. Porém o maior diferencial dos
controladores digitais dos analógicos está na possibilidade de construção do mapa
pressão x rotação ponto a ponto. Ao possibilitar uma maior liberdade ao técnico
responsável pelo ajuste este controlador possibilita um ajuste mais fino do sistema.
Do mesmo modo a complexidade e possibilidade de erro no ajuste também
crescem. Logo é importante pesar entre um sistema mais simples e outro mais
complexo e verificar se o excesso de alternativas não levará a erro ou ajuste errado.
No mercado existem diversos modelos, cada um com maior ou menor complexidade
e custo. Recomenda-se a procura por modelos consagrados com bom suporte
técnico pelo fabricante, para facilitar a instalação e ajuste do controlador.
5.13 O Bico Auxiliar
O bico auxiliar trata-se de um componente para ser utilizado conjuntamente com o
controlador de bico extra. Com o bico extra a metodologia de alimentação do motor
na fase turbo não está mais ligada a um aumento na pressão da linha, mas sim à
existência de mais um (ou mais) bico pulsando conforme necessidade.
Em um motor quatro cilindros pode-se optar por quatro bicos, um em cada cilindro.
Está seria a melhor metodologia, mas esbarra em dois problemas:
Construção do coletor de admissão com dois bicos para cada cilindro. Esta
construção é trabalhosa, e nem sempre existe espaço físico suficiente. Sugere-
se esta construção para veículos onde busca-se grandes aumentos de potência,
de modo que apenas um bico não seja suficiente;
74
Maior custo e complexidade, devido a necessidade de quatro bicos extra, ao
invés de apenas um, além de mangueiras e nova flauta para alimentação.
Ao invés de quatro bicos no coletor de admissão utiliza-se apenas um bico mono na
pressurização, pouco antes da borboleta. Esta metodologia tem o mérito de ser mais
fácil de instalar, porém terá o aumento de potência limitado à vazão do bico. Um bico
muito utilizado é o bico do Monza monoponto a álcool. Este bico originalmente
alimentava um veículo com mais de 100cv. Assim pode-se supor que alimentará ao
menos mais 100cv, apesar de sabermos que provavelmente alimentará mais, devido
a sabermos que ao aumentar a potência de um motor, via sobrealimentação, as
perdas internas do motor por atrito não aumentam na mesma medida que o aumento
de potência.
Para a instalação de bicos na pressurização recomenda-se a utilização de bicos
monoponto (em geral 3) preferencialmente a álcool, devido a maior vazão destes
bicos. Para a instalação de bicos no coletor recomenda-se a utilização de bicos
multiponto (em geral 16 ) preferencialmente a álcool. Para aplicações severas, com
ganhos de potência acima de três vezes o original tem-se utilizado bicos monoponto
em paralelo com bicos multiponto no coletor, para conseguir alimentar a quantidade
necessária de combustível que um motor como este demanda, lembrando também
que como motores como estes giram a rotações muito altas, o bico acaba tendo
diminuído seu tempo de injeção.
Uma das vantagens do uso de um bico extra na pressurização está na vaporização
do combustível antes da câmara e conseqüente diminuição da temperatura da
mistura ar-combustível.
Vamos fazer uma simulação para vermos quanto um combustível como o álcool
pode baixar a temperatura da mistura ar-combustível ao ser injetado na admissão:
75
A simulação é para um motor 1,6L com:
3 3
3
@20 @1
3 2
@126 @1 1
1,6 1,6 10
90%
6000 100
1,22 /
100
1,6 10 0,90 1,22 8,78 10 /
2
126 ( 1 1 @ 60% )
1,8
motor
v
ar C bar
ar antes
antes bico
ar C bar
V L m
E
rpm rpm Hz
kg m
m kg s
T C Temp após compressor bar eficiência
ρ
ρ
°
° +
= = ×
=
= =
=
= × × × × = ×
= ° +
=
3
3 2
2
2
3
0 /
100
1,6 10 0,90 1,80 12,96 10 /
2
4,18 10 /
tan : 8:1
:
4,18 10
5,22 10 /
8
1,0
8,
ar depois
ar
álcool
álcool
v
kg m
m kg s
m kg s
Ado do relação estequiométrica mássica ar álcool
no bico teremos
m kg s
Para t s
c
= × × × × = ×
= ×
=
×
= = ×
=
=
5
3
3
3 5 3
58 10 / ( @78,3 )
2,41 10 /( )
1,00 10 /( )
:
5,22 10 8,58 10 4,48 10
álcool
latente
ar
latente
álcool
álcool álcool v
álcool ar depois ar d
J kg vaporiza C
c J kg K
c J kg K
Supondo apenas vaporização do álcool
Q m c J
Q Q m
× °
= × ×
= × ×
= × = × × × = ×
= =
2 3 3
12,96 10 1,00 10 4,48 10
34,6 , :
107,1
ar
epois latente
ar depois
ar
c T
T C e
T C
× = × × × × = ×
= °
= °
Assim notamos que o álcool tem papel fundamental no controle da temperatura da
mistura sendo admitida no motor. Notamos que a vaporização do combustível
injetado pelo bico extra gera uma variação de:
34,6
ar depois
T C
= °
O que é significativa e importante. Também é muito importante notar que a variação
total de temperatura para todo o volume controle (cinco bicos e todo o volume de ar
admitido) é de:
76
107,1
ar
T C
= °
Assim a temperatura realmente admitida pelo motor seria ao redor de:
126 107,1 19,9
motor
T C
= = °
Esta temperatura já pode ser considerada acima do normal, dado que o combustível
ao vaporizar, em uma situação normal levaria a mistura ar-combustível a uma
temperatura menor que esta.
Assim a partir deste ponto seria interessante passar a pensar na utilização de um
intercooler, de maneira a baixar a temperatura de admissão da mistura pelo motor.
A simulação acima também serviu para exemplificar a importância da relação ar-
combustível no controle da temperatura de admissão, e posteriormente escape.
Vamos verificar o quanto a temperatura é afetada:
2
2
2
2
9:1 3
8,78 10 /
126 ( 1 1 @ 60%
12,96 10 /
4,18 10 /
:
4,18 10
4,64 10 /
9
álcool
ar antes
antes bico
ar depois
ar
m kg s
T C Temp após compressor bar eficiênc
m kg s
m kg s
Relação estequiométrica mássica ar
m kg
= ×
= ° +
= ×
= ×
×
= = ×
2
8:1 3
2
7:1 3
9:1
8:1
7:1
9:1
8:1
7:1
4,18 10
5,22 10 /
8
4,18 10
5,97 10 /
7
:
30,7
34,6
39,5 , :
95,2
107,1
122,5
álcool
álcool
ar depois
ar depois
ar depois
ar
ar
ar
s
m kg s
m kg s
Assim teremos
T C
T C
T C e
T C
T C
T C
×
= = ×
×
= = ×
= °
= °
= °
= °
= °
= °
77
Notamos claramente que uma mistura mais rica (7:1 em relação a 9:1) proporciona
uma mistura com até 27ºC menos. Assim um leve enriquecimento da mistura pode
funcionar como um meio eficaz de garantir o controle de temperatura no motor.
Porém é importante notar que ao trabalhar com mistura rica o motor tem um maior
consumo de combustível e menor rendimento, em relação ao ponto estequiométrico
de maior potência. Logo este método deve ser utilizado com ressalva, um bom
intercooler é muito mais eficiente que uma mistura rica.
5.14 Sonda Lambda
A sonda lambda é um elemento em forma de dedal, fabricado de dióxido de Zircônio
(um material cerâmico), coberto interna e externamente por uma fina camada de
platina microporosa (TEM-THOMPSON, 2004). Esse elemento é, na verdade uma
célula galvânica (pilha). Quando o dióxido de Zircônio é aquecido acima de
aproximadamente 300°C, ele se torna um condutor elétrico conduzindo íons de
oxigênio da camada interna de platina (em contato com a atmosfera), para a externa
(em contato com os gases de escape).
Fig. 22 – Sonda Lambda (MTE-Thompson, 2006)
78
Valores altos de milivoltagem na sonda Lambda significam que praticamente todo o
oxigênio injetado na câmara de combustão foi consumido, restando quase nada nos
gases de escape. Valores baixos de milivoltagem significam que o oxigênio está
sendo injetado além do necessário para a queima do combustível. Portanto, ainda
haverá oxigênio nos gases de escape. Lendo estes milivoltagens, o módulo de
injeção (ECU) pode ajustar a mistura ar/combustível, deixando-a o mais próximo
possível do ideal
11
.
Valores de referência para a Sonda Lambda
Volts (V)
Mistura Regime de trabalho
0,100 Pobre Não trabalhar
0,200 Pobre Econômico
0,300 Pobre Econômico
0,400 Estequiométrico Econômico
0,500 Estequiométrico Econômico
0,550 Estequiométrico Regime Constante
0,600 Estequiométrico Regime Constante
0,700 Estequiométrico Regime Constante
0,800 Rico Aceleração
0,850 Rico Aceleração
0,880 Rico Aceleração
0,900 Rico Aceleração
0,950 Muito Rico Aceleração
1,000 Muito Rico Não trabalhar
Tabela 01 – Relação estequiotrica e voltagem na sonda lambda (CRONOMAC, 2006)
Portanto é sempre importante utilizar uma sonda lambda e um hallmeter ou
multímetro como forma de monitorar a mistura em um motor. Lembre que a sonda
lambda tem uma pequena faixa de precisão, servindo para saber se temos mistura
rica ou pobre. O acerto do motor deve levar em conta outros fatores como
temperatura de escape e a sensibilidade do técnico afinador para o acerto. E
importante lembrar que se o motor estiver com problemas de ignição, o sensor
poderá acusar mistura rica, pois haverá oxigênio não queimado nos gases de
79
escape. Então uma visão geral do motor é sempre necessária antes de efetuar
alterações nas regulagens.
A sonda lambda deve ser instalada vinte centímetros após a turbina.
5.15 Medidores
Para a manutenção do bom funcionamento do motor é necessário saber como
está o funcionamento de algumas partes do motor. Para tanto são utilizados
medidores diversos sendo que os mais importantes estarão listados abaixo:
5.15.1 Conta-giros
O conta-giros é o equipamento mais importante para o funcionamento do motor de
um veículo, devendo ser obrigatório em todos os veículos. Serve para medir a
rotação em que o motor se encontra. O usuário deve manter o motor abaixo da faixa
de rotações máxima, de forma a não solicitar exageradamente o motor. Como em
motores sobrealimentados buscamos um aumento do torque do motor, e não da
rotação, como forma de aumento de potência, deve-se evitar exceder a rotação
máxima especificado pelo fabricante, de modo a garantir uma vida longa ao motor.
O excesso de rotação é a forma mais corriqueira de mau uso de um motor
sobrealimentado que gera a quebra. Sua escala usual vai de 0 a 7000rpm, sendo
encontrado até 10000rpm, mas esta faixa de rotação é muito incomum em motores
de rua, apesar de comuns em motores de competição.
O uso de um conta-giros é considerado extremamente necessário, para garantir a
vida do motor.
80
5.15.2 Manômetro de pressão no coletor
É o medidor mais importante após o conta-giros, sendo seu uso considerado
necessário tanto para o acerto do carro, quanto para a verificação da saúde do
sistema através da verificação de leituras incomuns. Mede a pressão que está no
coletor de admissão. Usualmente aponta qual a pressão no motor acima da
atmosférica (pressão positiva). É o principal parâmetro em um motor
sobrealimentado, após o conta-giros. Para nosso escopo a pressão máxima será
entre 0,6bar e 0,8bar, para que alcancemos cerca de 80% de aumento de potência.
5.15.3 Medidor de mistura - Hallmeter
O hallmeter tem por função verificar como se encontra a mistura ar-combustível.
Logo é um medidor necessário para o acerto do motor assim como para a
verificação se este se encontra dentro das condições especificadas, ou seja, com
mistura rica em acelerações e estequiométrica em regimes constantes. Ele faz a
leitura da sonda lambda e diz se a mistura está rica, estequiométrica ou pobre
através de uma leitura em milivolts. A sonda lambda detecta o teor de oxigênio nos
gases de escape e assim consegue estabelecer uma correlação entre o teor de
oxigênio e a qualidade da mistura após a queima: quanto mais oxigênio mais pobre
a mistura. Devido ao catalisador de um carro com injeção eletrônica necessitar
trabalhar sob condições de mistura muito acertadas (0,97 <
λ
< 1,03) a injeção
eletrônica utiliza a sonda lambda para efetuar estes ajustes continuamente e garantir
uma relação ar/comb. muito próxima de 1,00. Ao efetuar o acerto da mistura
ar/comb. em um motor com turbocompressor o hallmeter auxilia para mostrar se a
mistura encontra-se pobre ou rica.
81
Fig. 23 – Hallmeter
Como se pelo gráfico entre a relação estequiométrica (quantidade de ar dividido
pela quantidade de combustível) x voltagem. A voltagem é acima de 0,900V quando
a mistura está rica e abaixo de 0,150V quando a mistura está pobre. A faixa
estequiometrica ideal é muito curta, logo é difícil se acertar um motor para trabalhar
com as variações de temperatura, altitude e pressão podendo fazer com que a
mistura saia da faixa ideal. Ao trabalhar com a mistura pobre a temperatura dentro
da câmara de combustão sobe muito. Logo se deve acertar um carro turbo para
trabalhar com a mistura entre o ideal e o rico, nunca pobre. Misturas ricas não são
aconselhadas, pois geram perda de potência, consumo excessivo e poluição
excessiva. Como o hallmeter tem uma faixa de medição curta, este serve para dizer
se a mistura está rica ou pobre e efetuar um acerto com uma qualidade mediana. A
quantidade na qual a mistura está rica ou o quanto está pobre o hallmeter o
consegue quantificar fora de uma faixa pequena, logo não se consegue acertar com
precisão uma mistura rica com o hallmeter. A faixa ideal de trabalho da mistura em
um motor não é a com
λ
= 1,00 e sim com
λ
~ 0,86 ou ao redor deste valor para
obtermos potência máxima (variando um pouco de motor a motor). Mas se a mistura
82
estiver muito rica risco da diluição do filme de óleo entre a parede do cilindro e os
anéis/pistão e desgaste prematuro. Também pode ocorrer a contaminação do óleo
por combustível, causando perda da viscosidade do óleo e perda do filme de óleo
em regiões específicas, causando contato metal-metal podendo gerar desgaste
prematuro do motor e posterior engripamento. Em misturas excessivamente ricas,
como ocorre quanto um bico injetor trava aberto pode ocasionar o calço hidráulico
do motor, que pode até quebrar o bloco, sem contar perda de bronzinas, bielas,
pistão, anéis e virabrequim (BRUNETTI, 1992).
5.15.4 Termômetro de água
Item de série na maioria dos carros. Para os veículos onde este termômetro é item
de série, um segundo marcador não é recomendado, pois os ganhos seriam apenas
na forma de maior precisão na coleta de dados. Nos carros onde este termômetro
não é item de série, ele é necessário para evitar problemas como empenamento do
cabeçote por alta temperatura, que quando o motor trabalhar por longos períodos
sob plena carga, a capacidade do sistema de refrigeração pode não ser suficiente
para as novas especificações de trabalho do motor, requerendo alterações. A faixa
usual é de 70ºC a 120ºC, sendo que os motores devem trabalhar entre 90ºC e 95ºC.
5.15.5 Manômetro de pressão de combustível
O manômetro de pressão de combustível é um equipamento importante no acerto do
motor com sobrealimentação por turbocompressor. Um dos métodos mais simples
para se acertar a quantidade de combustível a ser injetada no motor quando a
pressão no coletor começa a subir é o aumento da pressão na linha de combustível.
Como qualquer queda ou variação na pressão da linha de combustível poderá
83
causar erros na dosagem de combustível, este manômetro é bastante útil tanto no
acerto do motor quanto na verificação de falhas, sendo assim recomendado.
Como um preparador experiente pode acertar o veículo sem este manômetro,
utilizando um manômetro próprio, e depois o retirando, este equipamento não é
considerado obrigatório, mas recomendado. Sua faixa de trabalho é de 0bar
a 7bar.
Costuma-se estabilizar a pressão da linha de combustível em valores próximos ao
original, e trabalha-se com aumentos na linha que podem chegar a até 5bar. É
importante ter em mente que baixas pressões de combustível geram misturas mal
pulverizadas, ou seja, alto consumo, enquanto altas pressões danificam a bomba de
combustível, a linha e os bicos injetores.
5.15.6 Manômetro de pressão de óleo
O óleo do motor tem duas funções principais:
manter um filme entre as partes móveis do motor minimizando o atrito e
desgaste, característica chamada de lubrificação;
retirar calor das partes móveis do motor, servindo como fluido refrigerante.
Portanto manter uma pressão de óleo adequada é fundamental para a saúde do
motor. Quedas de pressão de óleo podem significar que existem problemas no
sistema, como baixa viscosidade do óleo ou problemas na bomba de óleo. Seu uso
é desnecessário, mas não se perde em utilizá-lo, que um turbocompressor com
deficiência na lubrificação irá travar em poucos minutos de uso.
5.15.7 Termômetro de óleo
Como a temperatura da água é padrão na maior parte dos carros, será interessante
ter um termômetro de óleo para saber se o motor está muito quente, pois este reflete
84
muito mais rapidamente as alterações de temperatura do que o termômetro de água.
A faixa usual da temperatura do óleo é de 85ºC a 140ºC. Em motores refrigerados a
ar, o motor pode atingir temperaturas mais altas. Seu uso é desnecessário, mas
assim como o manômetro de óleo não há restrições a seu uso.
5.16 ECU - Módulo Central de Controle do Motor
Em um motor com turbocompressor adaptado temos que nos preocupar com o
ajuste do combustível e do ponto de ignição. O combustível foi ajustado ou via um
controlador de bico extra ou pelo acerto de um dosador do tipo HPi. Porém o ponto
de ignição merece alguns cuidados segundo BELLS em 1997 e TAYLOR em 1985.
Devido à baixa taxa de compressão para um motor a álcool, já que este combustível
tem alta resistência à explosão (octanagem), o ponto de ignição deveria ser
avançado, durante o regime aspirado do motor, para aumentar a eficiência do motor.
Assim o motor consumiria menos combustível e obteria maior potência.
Quando o motor encontra-se com pressão positiva no coletor teremos uma maior
turbulência no fluxo, mistura levemente rica e uma maior pressão no meio, fatos que
aceleram a velocidade de combustão da mistura. Com isto é necessário atrasarmos
o ponto de ignição, tanto para diminuir o pico de pressão na câmara como para
evitar as detonações que podem rapidamente destruir um motor.
Assim o ideal seria uma reprogramação na ECU de forma a aumentarmos a curva
de ignição do veículo quando ele se encontra em regime aspirado e diminuirmos o
ponto quando houver pressão positiva no coletor.
Porém um motor naturalmente aspirado não tem nenhum componente capaz de
medir a pressão positiva no coletor, então como acertar o funcionamento do motor
para uma situação que o motor não sabe que existe? É importante notar que a maior
85
parte dos veículos nacionais atuais obtém a pressão no coletor por meio de um
MAP
12
, um sensor medidor de pressão. Porém este sensor trabalha de 0 a 1atm
(absoluto). Logo para pressão acima da atmosférica o sensor não é capaz de saber
a pressão e informar ao ECU. Em modelos onde a pressão positiva gera a uma
leitura fora da escala e acusa erro na ECU se pode instalar um clamper, aparelho
digital que trava a leitura da MAP em um valor máximo, impedindo o sistema de
acusar erro.
Devido a esta limitação de projeto existem quatro saídas:
Manter configuração original do ECU;
Programar a ECU para o pior caso;
Instalar um controlador capaz de atrasar o ponto de ignição proporcionalmente
ao aumento de pressão;
Trocar o MAP por um modelo capaz de medir pressão positiva e reprogramar a
ECU.
Cada um dos métodos tem seus benefícios e problemas e serão discutidos nas
secções a seguir;
5.16.1 Manter configuração original do ECU
Ao optar por manter configuração original do ECU existe uma grande hipótese a ser
testada: o motor não apresentará detonação quando pressurizado. Caso ao utilizar
álcool com um veículo onde a taxa de compressão é original da gasolina e uma
pressão no coletor baixa até 0,7bar existe grandes chances de o motor trabalhar
livre de detonação. Se não houver um grande pico de pressão, o que é improvável a
esta pressão de coletor, o motor terá um funcionamento regular em toda sua faixa
86
de rotação. Porém motoristas mais exigentes notarão a falta de força antes de
pressurizar, devido à falta de ponto de ignição sob este regime de trabalho.
É importante notar que ao Manter configuração original do ECU os riscos de
detonação aumentam severamente conforme se aumentar a pressão positiva no
coletor. Assim este método é desaconselhável.
5.16.2 Programar a ECU para o pior caso
Este é o método que tem menor custo, dentre os que se escolhe alterar o ponto de
ignição. Neste caso se aumenta o avanço do ponto de ignição em regimes de
rotação onde o motor não pressuriza, por exemplo, entre 1000rpm a 3000rpm e
WOT se aumenta o ponto de ignição em para compensar a baixa taxa de
compressão, sendo os valores variando de motor a motor.
Em regimes onde o motor pode encontrar-se pressurizado, como entre 3000 e
7000rpm e WOT acerta-se o ponto para o pior caso, que é atrasado, de modo a
evitar a detonação sob este regime.
Este método tem a desvantagem do motor estar com ponto atrasado quando estiver
com rotação alta, porém sem pressurizar.
Se houver um profissional capacitado e os recursos necessários este método é
recomendado, devido seu baixo custo e facilidade, apesar de não ficar tão bom
quanto a programação de um veículo turbo.
5.16.3 Instalar um controlador capaz de atrasar o ponto de ignição
proporcionalmente ao aumento de pressão
87
Este método utiliza um controlador capaz de atrasar o ponto, em função do aumento
de pressão e tem a obvia vantagem de preservar o motor de detonação por excesso
de ponto de ignição quando houver pressão positiva no coletor.
Mas ele não resolve a falta de ponto no regime aspirado e necessita ser bastante
robusto, caso contrário levará a quebra do motor.
O custo desta solução é mediano e está baixando, conforme a solução é integrada
com controladores de bico. O mercado oferece poucos modelos no momento, mas
existem diversos fabricantes desenvolvendo novos produtos e será uma ótima opção
para um futuro breve. Verificar site de fabricantes como HIS, Digipulse, Turbolink e
FuelTech, com seus links na bibliografia deste estudo.
5.16.4 Trocar o MAP por um modelo capaz de medir pressão positiva e reprogramar
a ECU
Esta é a solução tecnicamente mais correta. Consegue-se um desempenho ótimo
para todas as condições de trabalho, mas é muito mais complexa e exige um
profissional extremamente capacitado e um bom equipamento de suporte,
preferencialmente com um dinamômetro com freio para simular as condições de
trabalho do motor. É o processo parecido com a maneira como as montadoras fazer
o acerto do motor.
Devido o seu alto custo esta solução é pouco utilizada.
88
5.17 Turbocompressor
O turbocompressor é um componente basicamente formado por uma turbina e um
compressor acoplados por um eixo. O intuito do turbocompressor é utilizar a energia
dos gases de escape através da turbina para comprimir o ar aspirado da atmosfera
através do compressor. No Brasil encontra-se com facilidade os turbocompressores
dos seguintes fabricantes: Master Power, SPA, Garrett, KKK, Biagio, Delphi, Holset,
IHI e em caso de necessidade pode-se importar um turbocompressor sob
encomenda de fabricantes como Turbonetics.
Existem outros métodos de comprimir o ar que será admitido no motor, mas estes
métodos utilizam algum tipo de energia que seria utilizada pelo motor, como os
compressores mecânicos que retiram energia do eixo virabrequim. Assim a maior
vantagem do turbocompressor é utilizar uma energia que antes seria desperdiçada,
a energia cinética dos gases de escape.
Fig. 24 – Turbocompressor em corte (GARRETT, 2006)
89
De modo a explicar o funcionamento do turbocompressor, sefeita uma explicação
detalhada de cada parte, sendo o turbocompressor divido em: turbina, eixo e
compressor.
5.17.1 Eixo
O conjunto formado pelo eixo do turbocompressor e rotor da turbina gira até 300.000
rpm. Apenas mancais deslizantes a óleo especialmente projetados para
turbocompressores podem atender essas altas exigências com custo razoável.
Atualmente os mancais com rolamentos estão ganhando mercado, mas ainda
tratam-se de produtos de nicho de mercado, segundo GARRET SPORT DIVISION
em 2006. Também existem projetos para mancais a ar, mas estes não se encontram
no mercado atualmente, sendo uma promessa para o futuro, segundo BELLS em
1997.
Com um mancal deslizante a óleo, o eixo gira com baixo atrito sobre uma película de
óleo na bucha. Para o turbocompressor, o fornecimento de óleo vem do circuito de
lubrificação do motor. O sistema de mancais é projetado de tal forma que as buchas
de bronze flutuantes, girando a cerca de metade da rotação do eixo, situam-se entre
a carcaça central fixa e o eixo de rotação, permitindo que esses mancais de alta
velocidade sejam adaptados para que não haja contato de metal entre o eixo e os
mancais em nenhum ponto de operação. Além da função lubrificante, a película de
óleo na folga dos mancais também tem função amortecedora, que contribui para a
estabilidade do eixo e rotores. A capacidade de sustentação de carga hidrodinâmica
e as características amortecedoras dos mancais são otimizadas pelas folgas. A
espessura do óleo lubrificante para as folgas internas é, portanto, selecionada
segundo a força do mancal, enquanto as folgas externas são projetadas em relação
90
ao seu amortecimento. As folgas dos mancais são apenas alguns centésimos de
milímetro.
Fig. 25 – Eixo e mancal em corte
O óleo lubrificante flui para o turbocompressor a uma pressão entre 1 a 4 bar,
dependendo da rotação da bomba de óleo. Como o óleo retorna a baixa pressão, o
diâmetro do tubo de drenagem precisa ser maior do que o do tubo de admissão do
óleo. Sempre que possível, a vazão de óleo pelo mancal deve ser vertical, de cima
para baixo, ou no máximo a 20ºC em relação à vertical. O tubo de drenagem do óleo
deve retornar ao cárter acima do nível de óleo do motor. Qualquer obstrução no tubo
de drenagem do óleo resultará em contrapressão no sistema de mancais. O óleo
então passa pelos anéis de vedação para o compressor e turbina, ou pior, o óleo
não circulará não lubrificando os mancais, causando a fundição do eixo com o
mancal por excesso de temperatura.
A carcaça central precisa ser vedada contra os gases de escape quentes da turbina
e perda de óleo. Instala-se um anel de segmento em um sulco no eixo do rotor tanto
no lado do compressor quanto da turbina. Esses anéis não giram e são firmemente
presas à carcaça central. Este tipo de vedação sem contato, forma uma de vedação
tipo labirinto que dificulta o vazamento de óleo em conseqüência de múltiplas
91
reversões de fluxo, garantindo que apenas pequenas quantidades de gases de
escape cheguem ao cárter (GARRETT, 2004).
O dimensionamento do eixo está intimamente ligado ao do rotor da turbina, que
usualmente ambos são fundidos. O eixo deve ser suficientemente resistente para
suportar as cargas sem ser excessivamente pesado para não afetar o lag do
turbocompressor.
5.17.2 Turbina
A turbina do turbocompressor, que consiste em um rotor e carcaça, converte a
entalpia total dos gases de escape do motor em energia mecânica para acionar o
compressor, através do eixo.
O gás, que é restringido pela área da seção transversal de vazão da turbina, resulta
em queda de pressão e temperatura entre a admissão e saída. Esta queda de
pressão é convertida pela turbina em energia cinética para mover o rotor da turbina.
Como a turbina radial é a mais aceita em aplicações automotivas, nos limitaremos a
analisar apenas esta configuração. Na voluta de turbinas radiais ou centrípetas, a
pressão dos gases de escape é convertida em energia cinética e este na
circunferência do rotor é direcionado, a velocidade constante, para o rotor da turbina.
A transferência de energia cinética para o eixo ocorre no rotor da turbina, que é
projetado para que grande parte da energia cinética seja convertida quando o gás
chegar à saída do rotor. Com isto atinge-se boa eficiência de conversão energético
ou de recuperação.
O desempenho da turbina melhora quando a queda de pressão entre a admissão e
a saída aumenta, ou seja, quando mais gases de escape são acumulados antes da
turbina.
92
O comportamento característico da turbina é determinado pela área específica de
vazão, a seção transversal da garganta, na área de transição do canal de admissão
até a voluta. Ao reduzir a seção transversal da garganta, mais gases de escape são
retidos antes da turbina e seu desempenho aumenta em conseqüência da elevação
na razão de pressão. Uma seção transversal de vazão menor, portanto, resulta em
pressões de alimentação mais elevadas. A área da seção transversal da vazão da
turbina pode ser facilmente variada mudando-se a carcaça da turbina. Porém ao
aumentar a pressão antes da turbina geramos um problema para o motor, pois esta
pressão, a backpressure, causará um aumento na temperatura da câmara e danos à
válvula de escape, que sofrerá grandes solicitações térmicas.
Além da área da seção transversal de vazão da carcaça da turbina, a área de
descarga na admissão do rotor também influencia a capacidade de escoamento de
massa da turbina. A usinagem do perfil fundido do rotor de uma turbina permite que
a área da seção transversal e, portanto, a pressão de alimentação seja ajustada. A
ampliação do perfil resulta em maior área da seção transversal de vazão da turbina.
Na prática, as características operacionais de turbinas com turbocompressores por
gás de escape são descritas por mapas mostrando os parâmetros de vazão em
relação à razão de pressão da turbina. O mapa da turbina mostra as curvas de fluxo
de massa e a eficiência da turbina para diversas velocidades. Para simplificar o
mapa, as curvas de fluxo de massa, assim como a eficiência, podem ser
representadas por uma curva média.
93
Para uma alta eficiência geral do turbocompressor, a coordenação dos diâmetros do
rotor da turbina e do compressor é de vital importância. A posição do ponto de
operação no mapa do compressor determina a velocidade do turboalimentador. O
diâmetro do rotor da turbina tem que ser tal que sua eficiência seja maximizada
nesta faixa operacional, cruzando os valores de pressão e vazão mássica nos
mapas da turbina.
Na prática se utiliza conhecimentos prévios para acertar o conjunto eixo rotor da
turbina. Após isto se escolhe um rotor apropriado, utilizando a carcaça para o acerto
fino do conjunto. Testes em campo mostrar que uma turbina bem ajustada para uso
em rua faz o compressor pressurizar a cerca de 40% do limite de rotações e não
Gráfico 07 – Mapa da turbina (GARRETT, 2006)
94
gera backpressure ao ponto de limitar o desempenho perto do limite de rotação do
motor. A curva de potência provavelmente terá o pico de torque deslocado para a
direita e o pico de potência próximo ao original ou levemente à sua esquerda (estes
dados podem ser obtidos em um dinamômetro). Caso o pico de potência esteja
muito deslocado para a esquerda é possível que o sistema se encontre com uma
alta backpressure.
5.17.3 Compressor
Os compressores de turbocompressores são centrífugos em aplicações automotivas,
com três componentes essenciais: rotor, difusor e carcaça. Com a velocidade de
rotação do rotor, o ar entra axialmente, é acelerado até atingir alta velocidade e
depois expelido em direção radial.
O difusor reduz a alta velocidade do ar, praticamente sem perdas, para que tanto a
pressão quanto a temperatura aumentem. O difusor é formado pelo prato do
Fig. 26 – Fluxo no turbocompressor (GARRETT, 2004)
95
compressor e uma parte da carcaça espiral, que por sua vez coleta o ar e reduz
ainda mais sua velocidade antes que ele chegue à saída do compressor.
O comportamento operacional do compressor é geralmente definido por gráficos
mostrando a relação entre a razão de pressão e taxa de escoamento de massa ou
volume. A área útil do gráfico relacionado aos compressores centrífugos é limitada
por curvas de sobrecarga, de estrangulamento e velocidade máxima permissível do
compressor.
O gráfico é limitado à esquerda pela linha de sobrecarga (surge line), que é
basicamente a “interrupção” do fluxo de ar na entrada do compressor. Com vazão
volumétrica muito pequena e razão de pressão muito elevada, a vazão não
consegue mais aderir ao lado de sucção das palhetas resultando na interrupção do
Gráfico 08 – Mapa de um compressor (GARRETT, 2006)
96
processo de descarga (surge). O fluxo de ar pelo compressor é revertido até que
uma razão de pressão estável com vazão volumétrica positiva seja alcançada, a
pressão aumenta novamente e o ciclo se repete.
Esta instabilidade na vazão continua com freqüência fixa e o ruído resultante é
conhecido como ressonância. Esta condição de trabalho é danosa ao
turbocompressor e deve ser evitada, sob pena de dano aos mancais e eixo. Uma
maneira de evitar que o compressor trabalhe nesta faixa é através da utilização de
uma válvula de alívio entre o compressor e a borboleta, conforme visto em secção
5.10.
A vazão volumétrica máxima de um compressor centrífugo é normalmente limitada
pela área da admissão do compressor. Quando a vazão na admissão do rotor atinge
velocidade sônica, não é mais possível nenhum aumento na vazão volumétrica. A
linha de estrangulamento, que delimita esta limitação, pode ser reconhecida pelas
curvas de velocidade acentuadamente descendentes à direita no mapa do
compressor.
Como qualquer equipamento mecânico o compressor opera com melhor eficiência
em uma zona delimitada. Esta zona é conhecida como ilha de maior eficiência e no
gráfico 08 corresponde à zona de 75% de eficiência. As ilhas de eficiência delimitam
as regiões onde o compressor tem maior, ou menor, eficiência. É extremamente
recomendável que o compressor seja dimensionado para trabalhar dentro das ilhas
de eficiência maiores que 60%. Importante notar que quanto maior a eficiência que o
compressor trabalhar maior a potência possível de ser extraída do motor.
Para se efetuar o dimensionamento de um compressor o ideal é a procura por
pessoal especializado, pois as variáveis o muitas e nem sempre temos dados
confiáveis sobre vazão do motor, ar, mapas precisos de eficiência do compressor e
97
outras variáveis, como a paulistana SPA ou Mack Turbinas. Porém para termos um
guia sobre como efetuar o dimensionamento do compressor temos que:
Determinar a faixa de operação do motor;
Determinar a potência que se deseja obter;
Procurar um compressor que tenha a faixa de máxima eficiência perto da faixa
de funcionamento do motor;
Reavaliar se é possível alcançar os objetivos de potência com o compressor
escolhido para o dado motor.
Vamos exemplificar esta metodologia por um exemplo simples:
Motor GM Família I 1,0L 8v MPFI com 60cv originais
Objetivo: Aumentar a potência em 70% para 100cv
3 3
3 3
3 3
0,92
1,6 /
0,92 0,74 10 /
0,5 /
3000 50 /
6000 100 /
0,74 10 50 / 0,037 /
0,74 10 100 / 0,074 /
mínima
máxima
mínimo
máximo
Ev
L motor
V m ciclo
ciclo motor
Rotação rpm ciclos s
Rotação rpm ciclos s
V ciclos s m s
V ciclos s m
=
= × = ×
= =
= =
= × × =
= × × =
s
O aumento da pressão gera um aumento na temperatura do ar. Logo não se pode
correlacionar linearmente o aumento da pressão com o aumento na quantidade de
moléculas de oxigênio na câmara. Porém como as perdas do motor não aumentam
linearmente com o aumento de potência e experimentos práticos tem demonstrado
que na faixa de 0,4 a 1,0 bar de pressão positiva no coletor temos uma relação perto
de linear para o aumento na potência. Logo a pressão que necessitaremos será ao
redor de 0,7bar em nosso exemplo.
98
Pelos dois pontos no gráfico acima notamos que com a pressão especificada o
compressor trabalhará entre 70% passando por 75% e caindo para 65% no final da
curva. Com isto teremos uma eficiência alta em toda a faixa de trabalho do
compressor.
Também notamos que o compressor pode ser ajustado entre 0,6bar a 1,0bar que
sua eficiência será alta. Assim caso durante o ajuste se mantenha dentro deste
quadrilátero, estaremos com uma boa faixa de trabalho e não teremos problemas
para obter a meta de 70% desejada inicialmente no exercício.
Gráfico 09 – Ajuste do compressor
99
6. ESTUDO DE CASO
Como parte do estudo sobre a adaptação de um turbocompressor em automóvel
nacional, diversos casos foram analisados.
O intuito desta seção é analisarmos alguns casos reais, vermos o resultado obtido e
compararmos com o que vimos até agora. O primeiro caso foi construído
especialmente para este estudo, logo ele será muito mais aprofundado que os
outros casos. Os casos seguintes são ilustrativos, de forma a obtermos parâmetro
para comparação de desempenho.
Os casos aqui apresentados serão:
Corsa hatch vinho 1,6L 8v MPFI ano 96
Pickup Corsa Branca 1,6L 8v MPFI ano 02
Corsa hatch branco 1,0 8v MPFI ano 01
6.1 GM Corsa Hatch Vinho 1,6L 8v MPFI ano 96
6.1.1 Apresentação do veículo
Este automóvel foi adquirido com 9700km pensando neste estudo (o veículo foi
escolhido pelo motor e baixa quilometragem). Com o motor GM Famíli I de 1,6L e
injeção eletrônica ele é bastante representativo para este estudo. Possui MAP,
borboleta mecânica, um bico injetor por cilindro, sem distribuidor, uma bobina de
ignição e não possui Knock-sensor
13
.
Após checagem de todos os componentes e conserto de defeitos ou substituição de
peças desgastadas, foi decidido adaptar um turbocompressor neste.
100
6.1.2 A adaptação do turbocompressor
O objetivo da adaptação do turbocompressor era testar diferentes metodologias,
seus resultados, seus custos e desempenho dinâmico do veículo.
Podemos dividir as etapas do projeto em três fases:
Adaptação do turbocompressor com alimentação por dosador HPi;
Adaptação do turbocompressor com alimentação por controlador e bico
suplementar;
Instalação do intercooler.
6.1.2.1 Adaptação do turbocompressor com alimentação por dosador HPi
A primeira fase foi a instalação do turbocompressor com quatro bicos de maior
vazão e um dosador HPi para alimentar o motor quando este estiver na fase turbo.
A seleção do turbocompressor.
3
3
3
1,6
6000
1,22 /
0,90
6000
1,6 @6000 1,6 10 1,22 0,90
60 2
0,088 /
0,072 / 9,50 / min
ar
V L
rpm rpm
kg m
Ev
m L rpm
m kg s
V m s lb
ρ
=
=
=
=
= = × × × × =
×
=
= =
101
Analisando o mapa deste compressor, notamos que ele se adapta muito bem a
nossa aplicação, sendo que ao redor do ponto de trabalho temos uma eficiência
bastante alta do compressor (acima de 65%). Como a pressão a ser utilizada ainda
não foi definida, mas estará entre 0,6 a 0,8bar, que deverá ser suficiente para atingir
a meta de 60 a 80% de ganho, este compressor servirá para as duas pressões.
Assim nossa escolha é o compressor Garrett ou Master Power APL 525 A/R 0,42 e
rotor 47,5mm.
Graf 10 – Mapa de APL525 A/R 0,42 rotor 47,5mm
102
Caso desejemos uma alternativa ao compressor anterior temos a opção do KKK
K16, conforme gráfico 11. Devido à facilidade na compra, foi escolhido o modelo da
Master Power (APL525) para o projeto. Porém notamos que a KKK seria uma opção
viável.
Segue abaixo a relação de peças e preços para esta aplicação:
Qdade Peça Custo
01 Kit turbo (coletor de escape; turbocompressor APL 525
0,42f/0,48q; abraçadeiras; filtro de ar; válvula de prioridade;
válvula de alívio; dosador HPi; mangueira de retorno do óleo;
mangueira de alimentação de óleo para o turbocompressor;
manômetro de óleo; saída de escape; niple de tomada de óleo
para turbocompressor)
R$1700,00
01 Pressurização em 2,0pol em aço carbono R$120,00
01 Escape com uma abafador em 2,25pol em aço carbono R$450,00
04 Vela NGK Competition Grau 7 R$120,00
01 Bomba elétrica de combustível do Gol GTI interna R$300,00
04 Bicos astra álcool R$600,00
Graf 11 – Mapa do compressor da KKK K16 (TURBOCHARGER MAPS, 2006)
103
04 Abertura do bico por eletroerosão R$50,00
10 Metro de mangueira de combustível em 9,0mm R$80,00
04 Abraçadeiras 2,0 e 2,5pol de inox com parafuso R$80,00
01 Manômetro de pressão de óleo R$65,00
01 Manômetro de pressão de combustível R$65,00
01 Hallmeter R$150,00
01 Sonda Lambda 4 fios MTE-Thompson genétrica R$150,00
02 Porca para rosca de sonda R$50,00
04 Copo para manômetro R$60,00
01 Sistema de partida a frio com reservatório de gasolina R$120,00
01 Mão-de-obra R$800,00
TOTAL R$4960,00
Tabela 02 – Relação de peças com HPi
O Kit Turbo e peças foi comprado em loja de peças para performance, e a parte de
escapamento e pressurização foi construído em casa de escapes especiais.
Notamos que o preço está perto de cinco mil reais, dentro das expectativas do
projeto. Este preço não varia muito de veículo a veículo, pois as peças e mão-de-
obra é parecida, mudando apenas os modelos para as diferentes aplicações.
Com as peças em mãos foi instalado o turbocompressor nas seguintes etapas:
1. Retirada do coletor de escape original e escapamento;
2. Retirada de tubulação e dutos de admissão até antes da borboleta;
3. Retirada do carter para instalação do retorno de óleo (soldagem acima do nível
do óleo no carter, de modo ao óleo sair por gravidade do eixo do
turbocompressor). Trocado óleo e filtro de óleo;
4. Retirada dos quatro bicos injetores;
5. Troca da bomba de combustível, pela do Gol GTI;
6. Instalação da nova linha de combustível com maior diâmetro e dosador HPi após
a flauta;
7. Instalação da tomada de óleo para turbocompressor, saindo do sensor de óleo,
ou outra saída, cuidando para não haver vazamentos;
104
8. Troca do coletor de escape com válvula de alívio, cuidado com o torque, para
que não vaze compressão pela junção do coletor com o bloco, nem pela válvula
de alívio;
9. Instalação do turbocompressor, com cuidado para o ângulo do retorno de óleo e
torque suficiente para evitar vazamentos;
10. Instalação dos novos bicos injetores, trocando anel de borracha, para evitar
vazamentos;
11. Instalação da partida a frio com reservatório de gasolina, cuidando para que
tenha uma solenóide, de modo a não ser sugado pelo motor quando o motor
estiver em funcionamento;
12. Instalação da pressurização com válvula de prioridade e escapamento com
roscas para sonda lambda (no casa de escapamentos), de modo ao sistema ter
um encaixe preciso, e torqueando corretamente as abraçadeiras, para evitar
vazamentos de pressão entre tubulação e mangueira;
13. Instalação da nova sonda lambda e hallmeter para acerto de mistura;
14. Instalação de manômetros diversos, caso existam;
15. Revisão das tomadas de pressão e vácuo (tomada de pressão/vácuo para
válvula de alívio, válvula de prioridade e manômetro de pressão no coletor);
16. Ajuste da pressão inicial da linha de combustível de modo a bom funcionamento
da fase aspirada;
17. Ajuste do diferencial (ou ganho) de pressão de linha para regime turbo;
Recomendações durante a adaptação:
Prestar atenção para a substituição de juntas e anéis de vedação, como forma de
evitar vazamentos;
Caso haja recomendação de torque, seguir instrução de fábrica;
105
Revisar as mangueiras e tubulações antes de ligar o veículo, com ênfase para a
linha de combustível e óleo procurando por vazamentos, desgastes ou outros
problemas;
Ligar o veículo mantendo-o em marcha-lenta e procurar por vazamentos ou
falhas na instalação. Verificar se o óleo está chegando corretamente ao eixo do
turbocompressor e verificar se o turbocompressor gira livremente. Manter ao
menos 15min com o veículo funcionando em marcha-lenta;
Para o ajuste da fase aspirada, desconectar pressurização e acertar o veículo
(evitar andar sem pressurização devido a excesso de solicitação no
turbocompressor);
Revisar conexões e mangueiras, com suas respectivas abraçadeiras pois é fonte
de vazamentos de pressão;
Para a fase turbo acertar inicialmente baixa pressão de coletor e grande ganho
de combustível, de modo a garantir funcionamento rico do motor. Ir diminuindo
quantidade de combustível até mistura correta. A mistura pobre é a maior
causadora de quebras em motores turbo, seguido de ponto incorreto e problemas
de lubrificação;
Durante o acerto se verificou que a vazão do bico injetor não era suficiente, logo se
optou por abri-lo mais 30% através de eletroerosão. Com isto a pressão inicial de
combustível que estava em 2,2bar caiu para 1,5bar prejudicando o consumo de
combustível.
Análise do desempenho do veículo:
O veículo rodou alguns milhares de quilômetros em vias públicas, onde obteve-se as
análises sobre seu consumo, linearidade de funcionamento dentre outras análises, e
para medição de aceleração utilizou-se uma pista particular nos arredores da cidade
106
de São Paulo. O consumo de combustível foi avaliado em média com uso rotineiro,
não seguindo os padrões brasileiros de medição.
Logo nos testes iniciais se notou a necessidade de alterações na suspensão do
veículo. Para tanto se diminuiu a altura e pressão da mola dianteira e se manteve a
traseira original. Os amortecedores foram todos trocados por modelos dupla ação
com cerca de 60% a mais de carga, sendo os dianteiros com haste reduzida para
casar com a mola de menor altura. Optou-se por uma regulagem levemente negativa
na cambagem para melhorar tração. O conjunto roda/pneu passou a ser de 15pol
proveniente do Vectra com especificação 195/50/15 82H.
O carro ganhou muita força com a adaptação do turbocompressor. O 0-100km/h era
feito em 11 a 12s passando para menos de 8s após a adaptação. Em menos de 45s
o veículo atinge 6500rpm em quinta marcha.
O turbocompressor passou a entrar a partir de 3000rpm, logo a dirigibilidade a baixa
rotação está exatamente igual ao veículo original, exceto uma leve perda de
potência neste regime, que a programação da ECU manteve-se original enquanto
o motor trabalha com álcool.
Partida a frio ficou comprometida. O uso do reservatório de gasolina tornou-se
obrigatório. É necessário aguardar cerca de 1min para o veículo atingir temperatura
de trabalho, caso contrário o veículo tem funcionamento falho. Após quente o
funcionamento está perfeitamente normal na fase aspirada.
Com carga a meio acelerador (velocidade constante de 150km/h) o veículo
apresentou problemas de dirigibilidade (funcionamento irregular do motor por
excesso de combustível), onde existe pressão vindo do compressor porém a
borboleta se encontra parcialmente aberta. Com isto a pressão no dosador sobe,
enquanto não existe real demanda para aquele combustível. Com isto o motor passa
107
a trabalhar excessivamente rico e apresenta falhas. A injeção não conseguiu corrigir
para termos um funcionamento constante sob este regime de operação. Porém para
o regime aspirado ou com WOT o funcionamento foi liso e sem falhas.
Sob esta configuração o veículo passou a apresentar um desempenho pico de um
esportivo e alcançou os objetivos de desempenho especificados, porém em cargas
parciais o veículo apresentou falhas. Estas falhas são inerentes ao projeto. O
consumo de combustível ficou um tanto alto, devido à pressão inicial de combustível
ser baixa (ao redor de 1,5bar) prejudicando a atomização do combustível.
Portanto a ficha do veículo ficou:
Motor GM Fam I 1,6L 8v originalmente a gasolina
Potência no motor 148cv@5900rpm (+61% sobre original)
Torque no motor Não aferido
Quilometragem total 25700km
Quilometragem com turbo 5800km
Tempo com turbo 3 meses
Combustível Álcool
Consumo (cidade/estrada) 5,0 / 7,0 km/l
Turbocompressor Master Power APL 525 0,42f/0,48q rotor 47,5mm eixo
49mm
Pressão 0,6bar
0-100km/h 7,8s
Intercooler
Não
Velas NGK Competition Grau 7
Câmbio Original
Bomba elétrica Adaptado gol GTI interna
Dosador HPi Beep Turbo
Pressão de linha Inicial de 1,5bar / Final de 6,0 bar
Bicos injetores Astra 1,8 álcool com 30% a mais de vazão
Bico extra Não
Controlador de bico extra Não
Injeção eletrônica Original
Embreagem Displatec 4 pastilhas cerâmica com mola e platô de 780Lb
Escape 2,0 pol
Comando de válvulas Original
Pistão, Bielas, anéis e
bronzinas
Original
Cabeçote Original
Suspensão Rebaixada com quatro amortecedores de dupla ação e
maior pressão
Freios Original
Tabela 03 – Ficha do motor HPi 148cv
108
6.1.2.2 Adaptação do turbocompressor com alimentação por controlador e bico
suplementar
A segunda fase foi a instalação do turbocompressor com alimentação por
controlador e bico suplementar. Com isto se retirou o dosador HPi foi colocado um
com regulagem de pressão inicial mas ganho de pressão de 1:1, assim se a pressão
no coletor sobe 0,5bar a pressão na linha sobe na mesma medida, mantendo o delta
entre o bico e o coletor sempre igual.
Este método tem maior possibilidade de acertos e propõe um ajuste mais fino. Ao
trabalhar com pressão de combustível inicial mais alta que o método do HPi, temos
uma melhor atomização do combustível e melhor consumo de combustível.
Foi necessário as seguintes alterações:
Retirada do dosador HPi;
Instalação do dosador com regulagem de pressão inicial e ganho 1:1 no local do
dosador original;
Troca dos bicos por outros de vazão correspondente a 150% dos originais a
gasolina;
Instalação do bico extra na admissão;
Refazer chegada da linha de combustível para alimentar o bico extra;
Instalação do controlador de bico extra;
Acerto do motor sob novas condições.
Cada fabricante de controlador sugere a melhor maneira de acertar o veículo com
seu controlador, para maiores detalhes verificar informações com fabricante.
Importante ressaltar que é preferível começar com uma mistura rica e ir diminuindo
até chegar à mistura desejada.
109
A lista de materiais e preços com o bico suplementar e controlador ficou:
01 LISTA ANTERIOR R$4970,00
-01 Dosador HPi (R$150,00)
01 Dosador SPA com regulagem de pressão e delta 1:1 R$70,00
01 Bico suplementar do monza monoponto álcool+ suporte R$150,00
01 Controlador – Digipulse pressure R$350,00
04 Bico multiponto (trocados) R$0,00
01 Metro de mangueira R$10,00
01 Mão-de-obra R$200,00
TOTAL R$5600,00
Tabela 04 – Relação de peças com Bico Suplementar
Após a instalação do bico e primeiros testes para acerto do carro, devido às novas
condições de alimentação, o acerto do veículo é bastante rápido, parte devido ao
controlador escolhido onde se regula a pressão de início do trabalho do bico extra, a
parte de baixo da curva de injeção e a parte de alta. Com apenas três acertos para
serem feitos obtêm-se uma regulagem satisfatória rapidamente, onde consegue-se
estabilizar a sonda lambda em uma leitura específica.
Dependendo do controlador escolhido o acerto é mais ou menos rápido e preciso. É
importante balancear entre o grau de complexidade necessário e requerido, para
não trabalhar com um sistema demasiadamente complexo gastando muitos recursos
para se chegar a um resultado positivo.
Análise do desempenho do veículo:
Os testes foram similares aos efetuados quando avaliando o motor com dosador
HPi.
Com a alteração da metodologia de alimentação do veículo nenhum ganho sensível
de potência pôde ser notado durante a dirigibilidade do veículo em WOT. Apesar de
um pequeno ganho de potência este não foi sensível, logo o controlador não pôde
justificar-se como um meio de obter maior precisão e consequentemente potência
para a faixa de ganho que estamos trabalhando.
110
Porém a dirigibilidade do veículo melhorou sensivelmente (não existem falhas e o
motor cresce de rotação liso) tanto na entrada da fase turbo, enquanto o compressor
começa a pressurizar a linha, mas ainda não tem toda a pressão regulada, quanto
no regime aspirado, melhorando bastante o consumo de combustível do veículo,
sendo a média urbana saindo de 5,0 para 5,7km/l o que é uma ótima média
considerando que o mesmo motorista com um veículo Parati Flex 1,6L 0km tendo
obtido no mesmo período média de 6,1km/l no percurso urbano.
As falhas de funcionamento durante a fase de aquecimento do veículo e dificuldades
na partida a frio continuaram, mas a dirigibilidade em cargas parciais ficou tão boa
como um veículo original. O veículo tem uma boa linearidade em qualquer carga de
acelerador, garantindo mais conforto durante a direção. O porém ficou para a
entrada do bico suplementar, ou seja, o momento onde ele inicia a pulsar, pois nota-
se uma pequena variação na aceleração devido à variação na relação
ar/combustível neste ponto. Com o controlador escolhido não foi alcançada uma
regulagem onde não se perceba a entrada do bico suplementar. Testes em outro
veículo mostraram que outros controladores conseguem ser lineares ao ponto de
não se perceber a entrada do bico extra.
Motor GM Fam I 1,6L 8v originalmente a gasolina
Potência no motor 152cv@5900rpm (+65% sobre original)
Torque no motor Não aferido
Quilometragem total 32300km
Quilometragem com turbo 6600+5800km=12400km
Tempo com turbo 6 meses
Combustível Álcool
Consumo (cidade/estrada) 5,7 / 7,8 km/l
Turbocompressor Master Power APL 525 0,42f/0,48q rotor 47,5mm eixo
49mm
Pressão 0,6bar
0-100km/h 7,8s
Intercooler
Não
Velas NGK Competition Grau 7
Câmbio Original
Bomba elétrica Adaptado gol GTI interna
Dosador Dosador SPA com regulagem de pressão e delta 1:1
111
Pressão de linha Inicial de 2,2bar / Final de 3,8 bar
Bicos injetores Astra 1,8 álcool multiponto
Bico extra 1 de monza monoponto álcool
Controlador de bico extra Dugipulse pressure
Injeção eletrônica Original
Embreagem Displatec 4 pastilhas cerâmica com mola e platô de 780Lb
Escape 2,0 pol
Comando de válvulas Original
Pistão, Bielas, anéis e
bronzinas
Original
Cabeçote Original
Suspensão Rebaixada com quatro amortecedores de dupla ação e
maior pressão
Freios Original
Tabela 05 – Ficha do motor com bico suplementar 152cv
Novos testes:
Após estes testes foi decidido aumentar a pressão no coletor para maior ganho de
potência e análise dos resultados. A pressão regulada foi de 0,9bar positivo e não foi
preciso alterar nada na regulagem do controlador.
Análise do desempenho do veículo:
Após o aumento para 0,9bar na pressão do coletor o desempenho do veículo ficou
muito mais arisco. Enquanto com 0,6bar ele já tinha desempenho ligeiramente
superior aos todos os esportivos de linha brasileiros, com 0,9bar ele ficou muito mais
arisco e rápido. O 0-100km/h passou de 7,8s para 7,0s e em cerca de 35s o veículo
chegava a 6500rpm em última marcha, que devido o câmbio curto estava ao redor
de 210km/h. Obviamente com uma relação de câmbio adequada a velocidade
máxima aumentaria consideravelmente. Estima-se com base na potência obtida e
valores com modelos similares que se atingiria algo ao redor de 250km/h em caso
de câmbio adequado, mas a estrutura do veículo não está dimensionada para
velocidades tão altas, então este teste não foi realizado.
Tanto a primeira quanto a segunda marcha com o novo acerto destracionam ao
acelerar em WOT. Isto não é desejável já que compromete a dirigibilidade do
112
veículo. No estágio onde o veículo se encontra é necessário um pouco mais de
habilidade para a condução do veículo em carga plena devido à aceleração ser
bastante rápida neste ponto.
A linearidade do motor continuou adequada e o tempo máximo de injeção com
pressão máxima, 0,9bar, e rotação máxima, 6500rpm, não passou de 3,0ms o que
nos dá uma folga em relação ao bico injetor. Caso necessário ainda temos uma
folga para até 4,0ms em tempo de injeção para ajuste de consumo de combustível.
Os dados de potência passaram de 154cv@0,6bar para 198cv@0,9bar. Com isto
temos uma relação peso/potência de:
980
187
980
5,24 /
187
. . 1100
. .
5,88 /
Peso kgf
Potência cv
Peso
kg cv
Potência
Ou
Peso com motorista kg
Peso com motorista
kg cv
Potência
=
=
= =
=
=
Com isto temos uma relação peso/potência melhor que a de modelos esportivos de
alguns anos atrás como o porsche 924 Carrera GT de 1985 com 1180kg e 210cv e
peso/potência de 5,62kg/cv ou alguns esportivos atuais como o Subaru Imprenza
WRX de 2007 com 1420kg, 250cv e peso/potência de 5,68kg/cv e estamos a par de
lendas como o Mitsubishi Lancer Evo VIII de 2006 com 1480kg, 280cv e 2,59kg/cv.
Um teste comparativo junto a um Audi TT de 2004 com 1280kg, 225cv e5,69kg/cv
mostrou que apesar do controle de tração que faz com que o audi vença os 100km/h
na dianteira, após isto e até os 200km/h o corsa ficou mais veloz, chegando a esta
velocidade com mais de dois carros de diferença.
É claro que o câmbio passa a ser um grande limitante em nosso projeto, além da
obvia tração dianteira, que nos leva a destracionar os pneus de 0 a 80km/h
113
demonstrando que já estamos com um excesso de potência para um veículo tração
dianteira.
Os freios se mostraram insuficientes a este ponto. É recomendado o aumento na
capacidade de dissipação de calor do freio, através da adaptação de um disco, pinça
e pastilha de um modelo maior ou mesmo um sistema esportivo. A partir da terceira
frenagem forte a pastilha sofre fadding
14
e perder poder de frenagem.
Um veículo com as configurações acima requer uma direção mais habilidosa. Logo
se sugere que inicie o projeto com uma regulagem mais conservadora antes de
passar para este estágio.
Motor GM Fam I 1,6L 8v originalmente a gasolina
Potência no motor 187cv@5900rpm (+103% sobre original)
Torque no motor Não aferido
Quilometragem total 33600km
Quilometragem com turbo 12400+1300km=13700km
Tempo com turbo 6 meses
Combustível Álcool
Consumo (cidade/estrada) 5,7 / 7,8 km/l
Turbocompressor Master Power APL 525 0,42f/0,48q rotor 47,5mm eixo
49mm
Pressão 0,9bar
0-100km/h 7,0s
Intercooler
Não
Velas NGK Competition Grau 7
Câmbio Original
Bomba elétrica Adaptado gol GTI interna
Dosador Dosador SPA com regulagem de pressão e delta 1:1
Pressão de linha Inicial de 2,2bar / Final de 3,8 bar
Bicos injetores Astra 1,8 álcool multiponto
Bico extra 1 de monza monoponto álcool
Controlador de bico extra Dugipulse pressure
Injeção eletrônica Original
Embreagem Displatec 4 pastilhas cerâmica com mola e platô de 780Lb
Escape 2,0 pol
Comando de válvulas Original
Pistão, Bielas, anéis e
bronzinas
Original
Cabeçote Original
Suspensão Rebaixada com quatro amortecedores de dupla ação e
maior pressão
Freios Original
Tabela 06 – Ficha do motor com bico suplementar 187cv
114
6.1.2.3 Instalação do intercooler
A terceira fase do estudo inclui a instalação de um intercooler no sistema. Conforme
calculado anteriormente a uma pressão de 0,9bar o uso de um intercooler passa a
ser necessário, como forma de garantir um controle adequado das temperatura no
motor garantindo assim sua durabilidade.
Também foi instalado um sistema de booster de modo a possibilitar a regulagem de
duas pressões diferentes de trabalho. O sistema atua através de um solenóide
automotiva interrompendo a linha de pressão da válvula de alívio.
-01 Pressurização sem intercooler (R$120,00)
01 Pressurização com intercooler R$350,00
01 Intercooler de 430x195x55mm R$450,00
01 Sistema de booster R$120,00
TOTAL R$6400,00
Tabela 07 – Relação de peças com intercooler
Com o intercooler instalado foi acertado o sistema para trabalhar a 0,7bar de
pressão no coletor e 1,2bar no booster.
O intercooler foi instalado entre o pára-choque e o radiador. Neste local foi percebido
que a refrigeração do radiador foi afetada. O motor passou a trabalhar mais quente,
principalmente a baixas velocidades. Estuda-se a troca do radiador por um modelo
maior para verificar se o problema se resolve.
Análise do desempenho do veículo:
O veículo teve seu lag um pouco aumentado. Notou-se uma maior demora para
pressurizar a tubulação da pressurização em relação ao sistema anterior. Em certo
ponto isto chegou a ser benéfico, pois abrandou as resposta de torque do motor ao
ser solicitado, deixando a dirigibilidade do veículo mais dócil. Não se percebeu
outros ganhos ou perdas de potência no veículo trabalhando a 0,7bar. Infelizmente
não se conseguiu medir a temperatura antes e depois do intercooler para
115
calcularmos sua eficiência, mas simplesmente ao colocar uma o em sua entrada
e outra em sua saída notava-se uma grande diferença de temperatura,
demonstrando que o intercooler estava trabalhando efetivamente quando a
pressurizado.
O veículo com 1,2bar passou a ter 232cv, aferido em dinamômetro, o que nos leva a
um relação peso/potência de 4,15kg/cv. Isto tem um grande significado. Vamos
colocar uma tabela com veículos que tem relação peso/potência similar:
Veículo Peso Potência Peso/Potência
Porsche 911 Carrera 3,6L ano 2007 1510kgf 325cv 4,65kg/s
Porsche 911 Carrera S 3,8L ano 2007 1420kgf 355cv 4,00kg/cv
Ferrari 512 BBi 1500kgf 345cv 4,34kg/cv
Ferrari Testarossa 1520kgf 390cv 3,90kg/cv
Tabela 08 – Relação de veículos com peso/potência (QUATRO RODAS, 2006)
Com esta tabela fica claro que um veículo com baixo peso e um bom projeto para
adaptação de um turbocompressor tem um grande potencial para se tornar um
veículo rápido, com um custo baixo perto das alternativas de outros métodos ou
mesmo compra de um veículo mais potente de fábrica. É importante notar que o
sistema de freio está subdimensionado para a condição atual e que a suspensão
merece um cuidado especial no seu reajuste para a nova condição de trabalho. Não
se recomenda uma configuração como esta para motoristas o acostumados a
veículos com potência similar. Uma idéia plausível seria o início com pressões
conservadoras e aumento gradual. Note que sob as solicitações existentes nesta
configuração a probabilidade de quebras aumenta consideravelmente.
Motor GM Fam I 1,6L 8v originalmente a gasolina
Potência no motor 232cv@6200rpm (+152% sobre original)
Torque no motor Não aferido
Quilometragem total 36600km
Quilometragem com turbo 13700+3000km=16700km
Tempo com turbo 9 meses
Combustível Álcool
116
Consumo (cidade/estrada) 5,7 / 7,8 km/l
Turbocompressor Master Power APL 525 0,42f/0,48q rotor 47,5mm eixo
49mm
Pressão 1,2bar
0-100km/h 6,9s
Intercooler
Sim, de 430x195x55mm
Velas NGK Competition Grau 7
Câmbio Original
Bomba elétrica Adaptado gol GTI interna
Dosador Dosador SPA com regulagem de pressão e delta 1:1
Pressão de linha Inicial de 2,2bar / Final de 3,8 bar
Bicos injetores Astra 1,8 álcool multiponto
Bico extra 1 de monza monoponto álcool
Controlador de bico extra Dugipulse pressure
Injeção eletrônica Original
Embreagem Displatec 4 pastilhas cerâmica com mola e platô de 780Lb
Escape 2,0 pol
Comando de válvulas Original
Pistão, Bielas, anéis e
bronzinas
Original
Cabeçote Original
Suspensão Rebaixada com quatro amortecedores de dupla ação e
maior pressão
Freios Original
Tabela 09 – Ficha do motor com intercooler 232cv
Note que com a configuração de 232cv o veículo baixou apenas um décimo de
segundo no 0-100km/h que são necessárias duas trocas de marcha e o veículo
destraciona tanto na 1ª quanto na 2ª marcha, sendo difícil baixar o tempo atual.
A bomba de combustível se encontra no limite. Uma boa proposta seria a
introdução de mais uma bomba em paralelo para aumentar a vazão de combustível
disponível.
O tempo de injeção do bico suplementar está em 3,5ms. Logo ele estará com 80%
de seu ciclo (4ms@6000rpm ou 3,4ms@7000rpm). Quando isto ocorrer será
necessário a instalação de outro bico ou a troca por um modelo de maior vazão,
caso se deseje aumentar a pressão do coletor ou mesmo um aumento na rotação
máxima, para suprir a demanda de combustível.
117
O escapamento passou a ficar pequeno para a configuração atual do motor. A troca
por um de maior diâmetro seria recomendável.
A pressão do platô está no limite nesta configuração, tanto que em trocas de 3ª, e
marcha ocorre um escorregamento acima do normal da embreagem. Neste caso
um platô de maior pressão resolveria.
O câmbio está com um torque cerca de duas vezes e meia maior que o original.
Problemas com ele são prováveis com esta configuração. Recomenda-se a troca
das engrenagens por modelos mais resistentes.
O miolo do motor, pistão, biela, anel e bronzinas já estão no limite com uma
configuração como esta. Recomenda-se a troca por um conjunto forjado para
garantir a durabilidade do conjunto.
6.2 GM Pickup Corsa Branco 1,6L 8v MPFI ano 02
6.2.1 Apresentação do veículo
Veículo com motor igual ao do caso anterior, porém com turbocompressor diferente,
acertado com dosador HPi e pressão no coletor de 0,8bar.
Fig. 27 – Pickup Corsa Branca Fig. 28 – Motor com turbocompressor
118
Fig. 29 – Veículo no dinamômetro Gráfico 12 – Medição de Dinamômetro
6.2.2 Ficha do veículo
Motor GM Fam I 1,6L 8v originalmente a gasolina
Potência no motor 274cv@5600rpm (+89% sobre original)
Torque no motor 236Nm@4800rpm (+79% sobre original)
Quilometragem total 40000km
Quilometragem com turbo 22700km
Tempo com turbo 1 ano 9 meses
Combustível Álcool
Consumo (cidade/estrada) 6,0 / 9,0 km/l
Turbocompressor Mitsubishi original do MWM Sprint 4cil (4.07TCE)
Pressão 0,8bar
0-100km/h Não aferido
Intercooler
Não
Velas NGK Grau 7
Câmbio Original
Bomba elétrica Blazer V6
Dosador Dosador HPi
Pressão de linha Inicial de 1,5bar / Final de 6,0 bar
Bicos injetores Astra 2,0 gasolina multiponto retrabalhado por
eletroerosão
Bico extra Não
Controlador de bico extra Não
Injeção eletrônica Original
Embreagem Displatec 4 pastilhas cerâmica com mola e platô de 980Lb
Escape 2,0 pol
Comando de válvulas Original
Pistão, Bielas, anéis e
bronzinas
Original
Cabeçote Original
Suspensão Rebaixada com quatro amortecedores de dupla ação e
maior pressão
Freios Original
Tabela 10 – Ficha da pickup corsa branca
119
6.2.3 Impressão do veículo
Veículo bastante ágil e rápido. Funcionamento linear, sem falhas, com bastante
potência, principalmente após 3000rpm quando o compressor passa a pressurizar.
Utiliza sistema de partida a frio, e necessita esquentar para funcionamento linear.
Embreagem pesada para os padrões originais. Um ótimo acerto para o dia-a-dia.
6.3 GM Corsa Hatch Branco 1,0L 8v MPFI ano 01
6.3.1 Apresentação do veículo
Veículo com motor 1,0 8 válvulas. Turbocompressor Garrett série T2, acertado com
dosador HPi e pressão no coletor de 0,7bar.
Fig. 30 – Corsa Hatch Branca Fig. 31 – Motor com turbocompressor
120
Fig. 32 – Veículo no dinamômetro Gráfico 13 – Medição de Dinamômetro
7.3.2 Ficha do veículo
Motor GM Fam I 1,0L 8v originalmente a gasolina
Potência no motor 122cv@6000rpm (+103% sobre original)
Torque no motor 160Nm@4800rpm (+95% sobre original)
Quilometragem total 56000km
Quilometragem com turbo 12500km
Tempo com turbo 8 meses
Combustível Álcool
Consumo (cidade/estrada) 6,5 / 9,0 km/l
Turbocompressor Garrett T2 0,33f/0,36q
Pressão 0,7bar
0-100km/h 8,2s
Intercooler
Não
Velas NGK Grau 7
Câmbio Original
Bomba elétrica Blazer V6
Dosador Dosador HPi
Pressão de linha Inicial de 1,2bar / Final de 5,0 bar
Bicos injetores Original retrabalhado por eletroerosão
Bico extra Não
Controlador de bico extra Não
Injeção eletrônica Original
Embreagem Displatec 4 pastilhas cerâmica com mola e platô de 900Lb
Escape 2,0 pol
Comando de válvulas Original
Pistão, Bielas, anéis e
bronzinas
Original
Cabeçote Original
Suspensão Rebaixada com quatro amortecedores de dupla ação e
maior pressão
Freios Original
Tabela 11 – Ficha do corsa hatch branco
121
6.2.3 Impressão do veículo
Ótimo veículo para cidade. Carro muito ágil, porém o câmbio curto exige muitas
trocas de marcha. Devido o novo torque do motor um câmbio mais longo tornaria a
condução mais agradável. Necessita de partida a frio. Linearidade como quando
original e ausência de falhas quando com motor quente. Ótima opção para donos de
veículos 1,0L. Interessante ter obtido 103% de ganho com pressão de 0,7bar. Sinal
que o compressor deve estar trabalhando em ilha de alta eficiência com um sistema
bem dimensionado.
122
7. COMENTÁRIOS FINAIS E CONCLUSÕES
Com a análise dos componentes e sistemas afetados se conclui que a adaptação
de um turbocompressor em um automóvel nacional é possível. Existe um
mercado de peças para troca e reposição, apesar deste mercado estar em
processo de consolidação.
Em relação à durabilidade haverá alguma perda em durabilidade, e esta está
ligada à maneira no qual o motor é operado, e não ao ganho de potência em si,
dado ganhos de potência moderados, ou seja, até 80% sobre o original.
O ganho esperado de 60 a 80% se concretizou, com pressão positiva no coletor
ao redor de 0,6bar. A correlação de ganho está ao redor de 1:1, ou seja, para
1,0bar de pressão se consegue 100% a mais de potência, no intervalo de 0 a
100%.
Dentre as diferentes metodologias para a alimentação do motor sob as novas
condições, a que se obteve melhores resultados foi a instalação de um bico
injetor de combustível suplementar que só é acionado ao haver pressão positiva
no coletor, controlado por um controlador externo, independente da ECU do
motor, e com os quatro bicos injetores de combustível originais trocados por
modelos com maior vazão, para compensar a utilização de álcool como
combustível. O uso do intercooler é recomendado para pressões no coletor acima
de 0,6bar no coletor.
Durante a elaboração deste estudo um motor rodou por 15mil km com
turbocompressor instalado sem apresentar problemas relacionados à instalação
do turbocompressor.
123
Dentre as diferentes configurações para o caso estudado com motor com
turbocompressor adaptado, a mais representativa se obteve com 65% de ganho
de potência sobre a potência do motor original com uso de um bico suplementar,
controlado por um controlador de bico suplementar e sem intercooler trabalhando
com 0,6bar de pressão no coletor de admissão. Sob esta configuração o veículo,
um GM Corsa hatch 1,6L 8v ano 1996 efetuou a medição de 0-100km/h em 7,8s,
ou seja, abaixo dos 8,0s conforme objetivo do estudo. Neste caso o gasto para a
modificação do motor para atingir está configuração foi de R$5600,00. O veículo
manteve uma boa dirigibilidade, sem falhas ou funcionamento irregular em
condução normal. Para a partida a frio e durante a fase de aquecimento do
motor, o motor apresentou funcionamento irregular. É recomendada a instalação
de um sistema de partida a frio, e o aquecimento do motor, para este atingir sua
faixa de temperatura normal e funcionar sem falhas.
Para a adatação de um turbocompressor em outros motores de veículos
nacionais este caso é bastante representativo que ao instalar um
turbocompressor, para um ganho de potência porcentualmente similar, os custos
para a adaptação de todo o sistema variam ao redor de 15% para mais ou
menos.
Deste modo concluo que a instalação de um turbocompressor em automóvel
nacional, de modo a obter ganhos de potência na ordem de 60 a 80% é possível,
sem grandes perdas na durabilidade ou dirigibilidade do automóvel.
Neste estudo se analisou um ganho de potência entre 60% a até pouco mais de
150% de ganho sobre a potência do motor original. No início da faixa de ganho
de potência, aos 60% de ganho, foi necessário alterações na suspensão e pneus
do veículo, para garantir a segurança e dirigibilidade do veículo. Um motorista
124
comum se adaptaria à condução do veículo sob esta configuração de maneira
fácil e não teria problemas quanto a seu uso. Conforme o ganho de potência
cresce até atingir pouco mais de 150% de ganho sobre a potência do motor
original, a habilidade necessária para a condução do veículo torna-se maior,
devido à diminuição do tempo de resposta do motorista para as reações do
veículo. O sistema de freio original se mostra claramente ineficiente para as
novas condições de operação, necessitando uma adequação com sistema mais
robusto e a possibilidade de quebras e margem para erros se torna muito menor.
É necessário um cuidado e habilidade do motorista ao utilizar um veículo com
ganhos de potência altos, e não se recomenda a configuração de um sistema
como este para motoristas não habituados. O recomendado é a configuração do
sistema para um ganho de potência moderado. Conforme o motorista se habitua
às reações do veículo sob aquela configuração, pode-se aumentar por etapas o
ganho de potência até o ganho que satisfaça o motorista (limitado pela
expectativa de durabilidade e componentes empregados no sistema).
Usualmente um motorista que busca ganhos expressivos de potência se satisfaz
com ganhos de 80% sobre o original, levando em conta que este deseje ter a
durabilidade do veículo próxima da durabilidade de um veiculo original.
Caso o motorista deseje ganhos de potência maiores que o aqui estudado, são
necessárias mudanças mais profundas no veículo, como alterações de câmbio,
alterações profundas no motor, com troca de componentes internos como pistão,
biela e anéis dentre outras modificações. Um estudo sobre modificações mais
drásticas para maiores ganhos de potência seria uma continuação para este
trabalho.
125
Uma análise das possíveis alterações na suspensão, freio e caso necessário
câmbio, seria importante para complementar as análises vistas neste estudo e
daria uma visão mais abrangente de todas as alterações necessárias em um
veículo onde se busca um moderado aumento de potência, ou mesmo grande
aumento de potência.
Concluindo é necessário colocar a segurança como critério eliminatório para
todos os motoristas e responsáveis por alterações em veículos. Um risco para a
integridade de um ser humano deve ser evitado ou minimizado, sempre que
possível, já que estamos lidando com máquinas e vidas, e as vidas sempre têm a
preferência.
126
8.
BIBLIOGRAFIA
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installing turbocharger systems / by Corky Bells”, Ed Robert Bentley, Inc,
1ª Ed.
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VAN WYLEN, BONNTAG, BORGNAKKE, 1998, “Fundamentos da
Termodinâmica”, Ed Edgar Blucher, 5ª Ed.
BRUNETTI, FRANCO, 1992, “Motores de Combustão Interna”, Ed EDUSP,
8ª Ed
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desempenho de um motor de ciclo Otto com injeção direta de álcool
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TAYLOR, CHARLES FAYETTE, 1985, “Internal combustion engine in
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ROTHBART, HAROLD, 1995, A. Mechanical Design Handbook”, Ed
McGraw-Hill. 3ª Ed.
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2007
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REVISTA AUTOPOWER, Curitiba, PR, Brasil, 2001-2007, diversas edições,
Ed. ACE
REVISTA FULLPOWER, São Paulo, SP, Brasil, 2001-2007, diversas edições,
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DINAMICA BOMBAS, São Paulo, SP, Brasil, disponível em
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M-TOMPSON, São Paulo, SP, Brasil, disponível em
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www. thomson-
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MAHLE METAL LEVE, São Paulo, SP, Brasil, disponível em
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SINDUCAR, São Paulo, SP, Brasil, disponível em
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GARRETT AFTERMARKET NORTH AMERICA, São Paulo, SP, Brasil,
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www.spaturbo.com.br>, acesso em
12-jan -2007
129
1
Válvula de prioridade, válvula entre borboleta e compressor responsável por diminuir pressão antes da
borboleta quando esta estiver fechada
2
PCP: Peak Combustion Pressure, pressão de pico na combustão. É a pressão máxima que ocorre dentro da
câmara de combustão e é um dos principais parâmetros no dimensionamento de um motor
3
Lag: Demora para a resposta entre a solicitação no acelerador e a entrega d potência pelo motor
4
WOT, Wide Open Throttle, tradução: Borboleta totalmente aberta. Está é a condição que temos em um motor
quando o pedal do acelerador está totalmente acionado. Trata-se da demanda máxima por poncia a uma
determinada rotação
5
bmep-brake mean effective pressure ,tradução: pressão media efetiva (sendo o brake, ou parada, referente à
medição ser feita em dinamômetro)
6
Fonte: BELLS, CORKY; Maximum Boost: designing, testing and installing turbocharger systems, 1997
7
Abafador do tipo oco: Tipo de abafador de escape formado por dois tubos concêntricos e uma malha forrando o
espaço entre os tubos. Tem restrição ao fluxo menor que o escapamento do tipo labirinto, mas apresenta menor
capacidade de restrição de ruído
8
Backpressure: Contra-pressão no escapamento devido a perdas de carga na turbina e nas tubulações
9
Lavagem da câmara: Processo que ocorre na câmara de combustão quando as válvulas de escape e admissão
encontram-se abertas ao mesmo tempo, possibilitando a entrada de gases de admissão e saída dos mesmos sem
queima
10
A/R: Área / Radius aspect. Aspecto Área/Raio, ou seja, proporção entre a área de passagem dos gases na
turbina/compressor e seu raio em relação ao centro da turbina/compressor
11
Explanação segunda MTE-Thompson em seu wesite www.mte-thompson.com.br
12
MAP-Messure Air Pressure, componente que mede a pressão local e converte para um sinal elétrico, em geral
tensão entre 0-5V
13
Knock-sensor: sensor de detonação. Trata-se de um sensor com cristal pizoelétrico que através da análise de
ruído junto ao bloco detecta a existência, ou não, de detonação e atrasa o ponto de ignição
14
Fadding, termo técnico para a perda gradual da potência de frenagem ocorrida em geral por excesso de
temperatura na pastilha
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