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percepção visual, condições culturais adequadas, imaginação, dedução e
comparação dessa com outras imagens para que o intérprete possa se
constituir num receptor competente. É que, entre a imagem e a realidade
que representa, existe uma série de mediações que fazem com que, ao
contrário do que se pensa habitualmente, a imagem não seja restituição,
mas reconstrução — sempre uma alteração voluntária ou involuntária da
realidade, que é preciso aprender a sentir e ver ou, nas palavras de Goethe:
‘Olhar apenas para uma coisa não nos diz nada. Cada olhar leva a uma
inspeção, cada inspeção a uma reflexão, cada reflexão a uma síntese, e
então podemos dizer que, com cada olhar atento, estamos teorizando’. Ver,
portanto, é comparar o que se espera da mensagem com aquela que nosso
aparelho visual recebe. Longe de ser um objeto neutro, a fotografia acolhe
significados muito diferentes, que interferem na codificação e nas possíveis
decodificações da mensagem transmitida. (LEITE, 1998: 40)
Na sociedade pós-moderna, – diferente das posições de épocas
anteriores a esta, em especial a modernidade, que imprimia um caráter rígido às
leituras de mundo – as imagens não aparecem mais isoladas como produções
independentes do aparato midiático e das fusões tecnológicas que acoplam diversos
sentidos, como textos, sons, cheiros, texturas, outros. Para Fridman (1999:2), as
representações incorporam transformações na cultura e no cotidiano, onde o
“imaginário, as pulsões da intimidade, as maneiras de ser e os sentimentos são
incorporados ao universo das mercadorias através de narrativas estéticas e da
cultura” e continua:
O fluxo ininterrupto de imagens está em todo lugar e os enredos dos meios
de comunicação de massa produzem um "real" (ou hiper-real) que substitui
a vida pelo que ocorre a partir dos monitores. Em A rosa púrpura do Cairo,
de Woody Allen, personagens entram e saem da tela na busca louca de
satisfação de seus desejos de romance. O "filme" da sociedade
contemporânea talvez seja ainda mais fantasioso. (FRIDMAN, op. cit)
Outros exemplos que clarificam a pós-modernidade podem ser
mencionados em obras cinematográficas que misturam o real e o imaginário, com
diferentes recursos de animação, como: Corre Lola, Corre (Tom Tykwer, 1998),
Fantasia 2000 (Disney, 1999), etc.. As infinidades de vídeos, sites, games, jogos
virtuais, aparatos em 3D, etc. nos remetem a um mundo onde o real e o imaginário
se confundem com linguagens, estética, jogo de cores e sons. Ainda é Fridman
(1999) que contrapõe a produção de sentido e a realidade num conceito de
subjetivismo na pós-modernidade:
O subjetivismo pós-moderno não está significando, necessariamente, o
privilegiamento do sujeito no processo de construção de conhecimento, em