município de Catolé do Rocha, no estado da Paraíba, em 26 indivíduos que ingeriram caldo
de cana contaminado pela presença de vetores infectados, ou por excretas destes, ou ainda
por secreções de gambás, presentes na região (SHIKANAI-YASUDA et al. 1991). Segundo
SOARES et al. (1987) T. cruzi pode permanecer infectivo em caldo de cana por períodos de
1 a 24 horas. Outros casos de transmissão por via oral são descritos na literatura, como é o
caso de um surto ocorrido em Teutônia, no Rio Grande do Sul, por contaminação de
alimentos contaminados. Segundo NERY-GUIMARÃES et al. (1968), os primeiros três
casos relatados na Amazônia de contaminação pelo suco de açaí foram registrados em 1966,
por contaminação via oral. A palmeira de açaí, juntamente com a de bacaba, cujo suco
também é consumido na região e a de babaçu, são conhecidas por abrigar triatomíneos na
região Norte do Brasil (VALENTE et al., 2001; PINTO et al., 2001), e mais recentemente os
casos relatados em Santa Catarina. De acordo com MAZZA et al. (1936), a amamentação
também é uma forma de transmissão por via oral.
Segundo BRENER & GAZZINELLI (1997), a doença de Chagas no homem, ocorre
sob uma forma aguda com um período de incubação de 8 a 10 dias após a transmissão
vetorial. No local da penetração das formas infectantes aparece um processo inflamatório
chamado chagoma de inoculação, o qual, quando ocorre nas pálpebras ou na região da
mucosa oftálmica é conhecido como sinal de Romaña, em homenagem ao seu descobridor. A
forma aguda da doença pode se apresentar de duas formas: aparente ou inaparente. No
primeiro caso, ocorre uma alta parasitemia, com morbidade e mortalidade maior,
principalmente em crianças de baixa idade. Os doentes apresentam febre, astenia, cefaléia,
anorexia, mal-estar geral, sudorese, dores musculares, às vezes vômitos e diarréia, sendo
possível a linfoadenomegalia, esplenomegalia, hepatomegalia, edema generalizado ou de
face e/ou de membros inferiores, exantema e raramente, meningo-encefalite. São também
freqüentes sinais e sintomas de cardiopatia aguda, com miocardite e pericardite. Decorridas
2 a 12 semanas, caso o paciente resista, a parasitemia e o quadro febril tendem a desaparecer,
ocorrendo transição para a forma crônica da doença. Entretanto, se houver tratamento
adequado, ocorre evolução para a cura. Na forma inaparente, a doença pode até passar
despercebida, uma vez que o paciente não apresenta sintomas, sendo neste caso, uma doença
subclínica.
Estes casos podem evoluir para uma forma crônica indeterminada, o que ocorre na
maioria dos casos não tratados, sem sintomas ou com manifestações clínicas, cardíacas,
digestivas ou nervosas, e exames eletrocardiográficos e radiológicos normais, sendo a doença
evidenciada por sorologia ou métodos parasitológicos, sendo a forma mais freqüente em
áreas endêmicas e entre doadores de sangue infectados. Pode evoluir para forma crônica
determinada após muitos anos ou persistir por toda a vida em 40 a 50% dos casos
(LARANJA, 1956). Apresenta predominância de cardiopatia crônica chagásica, progressiva,
acometendo 10 a 40% dos chagásicos crônicos, podendo evoluir de modo benigno,
permitindo sobrevida de muitos anos, ou de forma maligna, com insuficiência cardíaca e
morte (DIAS & COURA, 1997).
1.2 Os Vetores
A ordem Hemiptera representa cerca de 60.000 espécies, constituindo-se no grupo
dominante de insetos de metamorfose simples (hemimetábolos). A ordem é dividida em
subordens, sendo as principais: Heteroptera, Auchenorrhyncha e Sternorrhyncha. Pertencem
a esta ordem os conhecidos percevejos, chupanças, pulgões, fede-fedes, cigarras e outros.
Caracterizam-se por possuírem as peças bucais adaptadas ao hábito picador-sugador, no qual
as mandíbulas e maxilas se modificaram em estiletes esclerotinizados, alojados em um rostro,
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