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No raciocínio desse teórico, tal “organização” de textos vindo a
constituir um gênero, vale dizer, um mesmo corpus, tem como fundamento as
características comuns aos textos que o integram. Se as características são
comuns, significa dizer que as mesmas são significativamente estáveis, ou
seja, se repetem, razoavelmente, entre um e outro texto que integra um dado
corpus.
Para sistematizar isso, Rastier elege a noção de normas
(normatividade). Na visão de Rastier, a normatividade funciona como bússola,
pela qual nos orientamos quando da produção de um texto ‘x’. Explicando de
outra maneira, a noção de normatividade permite-nos tratar dos traços
lingüísticos recorrentes em um conjunto de textos, os quais evocamos quando
da produção de um “novo” texto ‘x’, para que o mesmo funcione como o gênero
carta, ou como o gênero bilhete, ou como o gênero notícia jornalística, e assim
por diante. Nesse sentido, se necessitamos que um texto ‘x’, um texto ‘y’ e um
texto ‘z’ funcionem, juntamente, como carta, por exemplo, temos de ser
condizentes, em boa medida, com a normatividade do corpus deste gênero.
Por conseqüência, contribuímos para que este gênero se consolide, se firme,
não apenas no que diz respeito aos seus aspectos composicionais / formais e
temáticos, mas também enunciativos. Daí procede o nome ‘Semântica de
normas’: normas cujos fundamentos são os elementos lingüísticos que,
razoavelmente, se repetem. Ou seja, normas diz respeito à estabilidade dos
elementos léxicos, morfossintáticos e semânticos de determinado gênero e,
ainda, normas pelas quais diferenciamos um e outro gênero textual:
Les variations morphosyntaxiques selon les genres sont notables.
Par exemple, les textes littéraires contiennent trois fois moins de
passifs que les autres; la position de l’adjectif, la nature des
déterminants, des pronoms et des temps, l’usage du nombre varient
aussi notablement. Ou encore, dans le domaine technique même, les
variations sont importantes entre un manuel et une brochure
commerciale : au premier les acronymes, les impératifs, les ellipses
de déterminants ; au second les phrases longues, les pronoms
nombreux, etc
25
. (cf. Slocum, 1986), (RASTIER, 2000, p.4)
26
.
25
As variações morfossintáticas em relação aos gêneros são notáveis. Por exemplo, os textos
literários contêm três vezes menos passivas que os outros textos; a posição do adjetivo, a
natureza de determinantes, pronomes e tempos, o uso do número variam também
notavelmente. Ou ainda, no domínio técnico, as variações são importantes entre um manual e
uma brochura comercial: no primeiro, predominam os acrônimos, os imperativos, as elipses de
determinantes, no segundo, predominam as frases longas, os numerosos pronomes, etc.
(Tradução nossa).