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Marisa Baldani Peres Ibrahim
A Interação Oral de uma Professora
Não-Nativa em Aulas de Língua Estrangeira
Dissertação apresentada ao Instituto de Biociências, Letras e
Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista, Campus de
São José do Rio Preto, para a obtenção do título de Mestre em
ORIENT f. Dr. Douglas Altamiro Consolo
São José do Rio Preto
2006
(Inglês)
Estudos Lingüísticos – área de concentração em Lingüística
Aplicada.
ADOR: Pro
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COMISSÃO JULGADORA
Membros Titulares
Prof. Dr. Douglas Altam entador
________________________________
iro Consolo – ori
________________________________
Profa. Dra. Ana Antonia de Assis-Peterson
Profa. Dra. Ana Mariza Benedetti
Membros Suplentes
Prof. Dr. Fr Figueiredo
ancisco Quaresma de
Profa. Dra. Maria Helena Vieira-Abrahão
ads:
Minha gratidão ao Prof. Dr. Douglas Altamiro Consolo, meu
orientador e incentivador nas etapas que ocorreram, pelo apoio e dedicação
constantes no desenvolvimento desta pesquisa.
Agradeço a meu esposo, Amir Ibrahim Júnior, pelo total apoio e
sjrp) e ao companheirismo e
compreensão nas horas de estudo.
Agradeço aos membros do programa de Estudos Lingüísticos deste
cada), Profa. Dra. Ana Mariza Benedetti,
Profa. Dra. Maria Helena Vieira-Abrahão e Profa. Dra. Solange Aranha, pelo
apoio e
a examinadora e em especial a professora participante da
pesquisa e sua instituição de ensino.
Muito obrigada aos meus pais e a Deus que proporcionou esta
oportunidade de ingressar neste programa.
incentivo em relação às viagens a UNESP (
campus (área de Lingüística Apli
orientação.
Agradeço a Profa. Dra. Ana Antonia de Assis-Peterson (UFMT) pela
participação na banc
CODIGOS DE TRANSCRIÇÃO
Adaptação de n, G. (1974) ‘A simplest systematics for
the organization of tu
Heritage, J. (
Studies in Conversation Analysis
.
Cambridge University Press.
hhh indica aspiração audível
ala termina
menor voz mais baixa que o normal
> < conversa mais ou menos rápida que o normal
)) comentário do pesquisador
os)
dos
au-
k
nscrição
Sacks, H., Schegloff, E.A. e Jefferso
rn-taking for conversation’,
Language,
50: 696-735; e Atkinson, J. M. e
eds) (1984)
Structures of Social Action:
( ) inaudível para transcrever
[ interrupção da fala começa
] interrupção da f
((
(++) período de silêncio (segund
(+) pausa menor que 2 segun
::: prolongamento da palavra
Bec corte abrupto
HE says ênfase / stress
Dr^in aumento da entonação (
pitch rise
)
= relacionamento truncado
T teacher
ST student
STs students
... omissão da tra
LISTA DE ABREVIAÇÕES
AC Análise Conversacional
AD Análise do Discurso (linha anglo-saxônica)
ARA Abertura – res
FE Fala para estrangeiro
L1 Língua aterna
L2 Segunda língua
a
O I ral em língua inglesa
posta – avaliação
m
LE Língua estrangeir
PN Professor nativo
PNN Professor não-nativo
TEP L Teste de proficiência o
ÍNDICE DE FIGURAS, QUADROS E TABELAS
Figura 01 Tipos de modificações interacionais na fala para estrangeiro (ELLIS,
1994)
24
Figura 02 Modelo de não-compreensão 28
Figura 03 Figura representativa das competências num estágio ideal de
desenvolvimento (ALMEIDA FILHO, 1993/2002)
51
Figura 04 petências de um Educador em Língua Estrangeira
52
Equação de Com
(BASSO, 2001)
Quadro 01 anças e diferenças entre AC e AD (LEMOS, 1994) Semelh 83
Quadro 02 Faixas de proficiência do TEPOLI (CONSOLO, 2004) 93
Tabela 01 vação em sala de
102
Modelos e sistemas de códigos baseados na obser
aula
Tabela 02 s da aula típica
Dados estatístico 135
Gráfico 01 Representação das respostas relacionadas à pergunta 1 do
questionário.
137
Gráfico 02 Resultado da pergunta número 8 do questionário que compara as 138
aulas de um PN e um PNN
RESUMO
Este estudo teve como objetivo, num primeiro momento, perceber como se caracteriza
a interação oral de uma professora não-nativa num contexto onde há forte demanda de
rodução oral. Num segundo momento, ais
fetam a motivação e a auto-estima da professora, no que se refere a sua competência-
omunicativa. O contexto investigado consistiu numa classe de alunos no nível intermediário
em um
p teve como objetivo investigar quais os fatores m
a
c
a escola de idiomas na cidade de São Paulo. A pesquisa, de caráter etnográfico, utilizou
dados obtidos por meio de gravações das aulas em fitas de áudio e vídeo,
logs
, notas de
campo, questionário para os alunos, entrevista e um teste de proficiência oral para a
professora (TEPOLI). Numa etapa posterior, foi realizado um questionário contendo cinco
perguntas referentes ao estilo de ensinar da professora. A caracterização da interação consistiu
em vinte e uma categorias das falas da professora e dos alunos. Essas categorias foram
divididas numa micro e numa macro análise, partindo da percepção dos alunos em relação à
interação oral da professora, considerando-se a interação uma co-produção. Alguns resultados
mostraram que a professora interage bem com seus alunos porque usa muitos recursos e
técnicas de ensino voltadas mais para o nível da frase, ou seja, técnicas simples e repetitivas
que facilitam a compreensão do aluno. Levantou-se a hipótese de que embora a abordagem de
ensinar da professora apresente traços estruturalistas, ela consegue dosar técnicas e estratégias
que considera relevantes para o aprendizado do aluno. A visão que a professora tem de si
mesma, no aspecto de sua competência oral, mostrou-se em harmonia com sua concepção de
linguagem, pois está de acordo com o seu desempenho em sala de aula, que segundo ela,
passou por uma mudança de foco, à medida que adquiriu mais maturidade na sua prática. Em
relação a um professor nativo, considera que um professor não-nativo geralmente tem que se
esforçar mais para atingir um nível desejável de proficiência. No entanto, a questão da
proficiência oral não é um fator que interfere em sua motivação como professora de língua
estrangeira.
ABSTRACT
In a first moment, this study had the goal of perceiving how a non-native teacher
interaction is characterized in a context a strong need for oral production. In a
second moment, it had the goal of investigating which factors most affect the teacher´s
motivation and self-esteem, in relation to her communicative competence. The context
investigated was in an intermediate level class in a private language school in Sao Paulo city.
The re
where there is
search, a qualitative study, used data collected by means of audiovisual recordings,
logs, field notes, class observation, a questionnaire for the students, an interview and an oral
test for the teacher (TEPOLI). In a subsequent moment, a questionnaire having five questions
related to the teacher´s teaching style was used to collect further data. The characterization of
classroom interaction consisted of twenty-one categories of teacher and students speeches.
These categories were divided into micro and macro analyses, starting from the student
perception about the oral interaction, interaction being considered as a co-production. Some
results showed that the teacher has a good interaction with the students because she uses a lot
of resources and many teaching techniques, more related to students` necessities. The
techniques are simple and repetitive, so they facilitate student comprehension. It was raised an
hypothesis that even though the teacher teaching approach presents sctructuralistic features,
she is able to balance the techniques and the strategies that she considers relevant to student
learning process. The view that the teacher has about herself, in relation to oral competence,
seemed in harmony with her language conception, because it is in accordance with her
classroom performance, which according to her, passed through a change of focus, as it
acquired more maturity in her practice. In relation to a native teacher, she considers that a
non-native teacher usually has to struggle more to attain a desirable level of proficiency.
However, the matter of oral proficiency is not a fact that interferes in her motivation as a
foreign language teacher.
SUMÁRIO
CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO 10
1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA E JUSTIFICATIVA DA PESQUISA 11
1.2 Objetivos e perguntas de esquisa
15
1.3 Organização da dissertação
17
CAPÍTULO II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 19
2.1 A RELAÇÃO ENTRE INSUMO E INTERAÇÃO NA SALA DE AULA 20
2.1.1 As diferenças do discurso entre FN e FNN
26
2.1.1.1 Modelo de análise da negociação de significado
28
2.1.2 Insumo e interação na aquisição de L2
30
2.1.3 O discurso de sala de aula (o modelo de análise de Sinclair e Coulthard )
r
31
2.1.4 A natureza do discurso de sala de aula
34
2.1.4.1 Características gerais e estrutura
35
2.1.4.2 Tipos de uso da língua
36
2.1.4.3 Tomadas de turno
38
2.1.4.4 A fala do professor
39
2.1.4.5 A participação do aprendiz
43
2.1.5 Os papéis do professor e do aluno na interação
44
2.2 - COMPETÊNCIAS DO PROFESSOR 48
2.2.1 Competência comunicativa
55
2.2.2 O perfil linguístico-comunicativo do professor de LE no Brasil
59
2.2.3 Abo dagem de ensinar do professor
64
2.2.3.1 Estilos de ensinar
66
2.3 - A MOTIVAÇÃO DO PROFESSOR 70
2.3.1 - Aspectos motivacionais característicos dos professores
72
CAPÍTULO III - METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO 77
3.1 A etnografia e a pesquisa qualitativa no ensino de LE
77
3.2 A observação como pesquisa e método e critérios de análise
79
3.3 O contexto e os alunos
86
3.4 A professora participante
87
3.5 Instrumentos para a coleta de dados
88
3.5.1 G avações das aulas em áudio e vídeo r
s
s
89
3.5.2 Entrevista com a professora
89
3.5.3 Teste de Proficiência Oral em Língua Inglesa (TEPOLI)
90
3.5.4 Descrição do TEPOLI
90
3.5.5 Logs
96
3.5.6 Notas de campo
96
3.5.7 Questionário aos alunos
96
3.5.8 Questões sobre estilos de ensinar
97
3.6 Procedimentos de análise
97
CAPÍTULO IV - ANÁLISE DOS DADOS 100
4.1 Categorização das falas da professora e dos alunos
101
4.2 A caracterização da interação oral da professora com seus alunos
108
4.2.1
Caracterí ticas que expressam a capacidade da professora em expor as idéias com clareza (micro-
análise)
111
4.2.2 Características que demonstram o modo como a professora ensina (micro-
análise)
116
4.2.3 Características que demonstram o estilo centralizador da professora (micro-
análise)
126
4.2.4 Características da participação do aprendiz na interação (macro-análi e)
129
4.3 Uma amostra de aula típica da professora
135
4.4 As características da fala da professora
136
4.5 A visão que a professora tem de si mesma
140
4.6 Análise do TEPOLI (Teste de Proficiência Oral em Língua Inglesa)
145
4.6.1 A dimensão sensorial da professora
152
4.6.2 Avaliação da proficiência oral da
participante
153
CAPÍTULO V - Conclusão 159
5.1 discussão dos dados
159
5.2
O alcance de alguns instrumentos na pesquisa e sugestões para futuros estudos
166
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA 168
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 173
10
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO
___________________________________________________________________________
Not until we have taken a critical look at teachers´attitudes, both individual and professional,
will we be ready to determine what obstacles till lie in the way of creating the kinds of
learning environments that will be most helpful to our students
s
(Savignon, 1976:114)
Professores não-nativos representam um papel fundamental no ensino da língua
inglesa. Considerando o inglês como uma língua universal, ela não se transfere de maneira
intacta de um contexto para outro. Os professores não-nativos de inglês como língua
estrangeira, bem sucedidos quanto ao uso proficiente da língua, podem ensinar e compartilhar
estratégias de aprendizagem com seus alunos, podem apresentar uma melhor capacidade em
compreender as dificuldades dos aprendizes porque apresentam um trânsito muito mais
eficiente entre as duas línguas, podem prevenir e antecipar as dificuldades da língua
estrangeira, podem ser mais enfáticos às necessidades e problemas dos aprendizes e
principalmente, podem fazer uso da língua materna dos aprendizes. Neste sentido, é feito
neste trabalho um estudo de caso com o objetivo de estudar, mapear e caracterizar a interação
oral de uma professora não-nativa em um contexto de escola de idiomas, considerando que é
neste contexto, que muitas vezes ocorre grande parte da experiência de aprendizado do inglês
pelos aprendizes de LE.
Nesta introdução são apresentadas questões que embasam o tema central desta
dissertação, das quais algumas têm um caráter relativamente ideológico. São apresentados
11
alguns trabalhos realizados relacionados ao tema proposto, e é feita uma distinção da presente
pesquisa. Em seguida, passa-se a tratar dos objetivos e das perguntas de pesquisa que
embasaram a investigação, e por fim, é feita a descrição da organização da dissertação.
1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA E JUSTIFICATIVA DA PESQUISA
Devido ao seu status de língua internacional, extensivamente utilizada nos meios
acadêmicos, econômicos, políticos e tecnológicos, a língua inglesa tem sido amplamente
estudada em vários contextos escolares como segunda língua (L2) ou como língua estrangeira
(LE). Pelo fato de o inglês ser o meio de comunicação mais utilizado, o ensino da língua
inglesa tem tomado grandes proporções, tanto em países onde o inglês é L1 quanto em países
onde não se tem o inglês como língua nativa (CONSOLO, 1996; RAJAGOPALAN, 2005). O
estudo da interação oral do professor não-nativo (doravante PNN), considerando as
necessidades e realidade brasileira, é de vital importância para o desenvolvimento,
aperfeiçoamento e valorização da educação no país.
Professores têm um papel central no ensino de línguas e é na oralidade que se encontra
a maior preocupação dos professores não-nativos, pois é em função dessa habilidade que
podem se sentir mais confiantes e competentes como profissionais. Segundo Consolo (
op.cit
),
existe um número significativo de PNNs que não têm um comando adequado da língua,
especialmente do inglês oral. Este fato se deve a várias razões, tais como falhas ou lacunas na
própria formação acadêmica ou por não terem incentivos ou oportunidades para melhorar a
produção oral em seu próprio país. Relativamente, poucos profissionais têm a oportunidade de
freqüentar escolas particulares de idiomas ou de realizar viagens para o exterior. Segundo
12
uma pesquisa feita numa universidade pública, 75% dos alunos formandos em cursos de
Letras paralelamente cursam escolas de idiomas somente no último ano da graduação
(CONSOLO, 2004).
Entretanto, professores não-nativos podem preencher os requisitos profissionais para o
ensino de língua estrangeira após uma preparação adequada quanto à competência lingüística
e a obtenção de qualificações pedagógicas. Os PNNs bem sucedidos quanto ao uso proficiente
da língua podem ensinar e compartilhar estratégias de aprendizagem com seus alunos, podem
também apresentar uma melhor capacidade em compreender os problemas e as dificuldades
dos alunos, por que compartilham uma mesma língua e experiências prévias comuns quanto à
L1 e podem, se necessário, comparar as duas línguas e ter um trânsito mais eficiente no
processo de aprendizagem da L-alvo.
O professor não-nativo pode ser bem sucedido na interação do processo
ensino/aprendizagem de LE. Varonis e Gass (1985) examinaram conversações entre falantes
nativos/falantes não-nativos e falantes não-nativos/falantes não-nativos e observaram que a
negociação de significados é mais prevalecente entre pares FNN/FNN. Segundo as autoras, a
comunicação entre quaisquer dois sujeitos flui melhor quando compartilham uma mesma
língua e experiências prévias comuns. Fatores linguísticos, sociais ou culturais podem, por
outro lado, levar à ruptura da conversação e prejudicar o processo de ensino/aprendizagem.
Somados também ao seu status de língua internacional, temos os aspectos linguísticos,
que têm contribuído muito para o estabelecimento do dogma do falante nativo (PHILLIPSON,
1992). Esse dogma data de um período onde se esperava que os aprendizes fossem fortemente
influenciados pela cultura da L-alvo. Assim, normas e práticas de ensino dominariam o
conteúdo lingüístico das aulas, cultivando-se a crença de que os professores nativos eram
“intrinsecamente melhores” que os professores não-nativos.
13
Portanto, a figura do falante nativo está gradativamente vista hoje como um conceito
de conotações ideológicas (RAJAGOPALAN, 1997). Percebe-se que a questão do “nativo
idealizado” é parte de uma ordem mais ampla que em outras épocas se manifestou – como a
questão de uma raça pura. A verdade da questão parece ser que tais categorias como raça e
falante nativo são resultantes de certas estratégias de exclusão de um mundo, que por si só,
conduz a tal divisão em compartimentos organizados. Essas ordens ideológicas, em última
instância, camuflam resguardar a pureza das identidades que procuram incorporar. Esta é a
controvérsia sobre o falante nativo, uma questão política de identidade.
Por outro lado, Seidlhofer (2001) considera o inglês como uma língua franca. A autora
ressalta que a língua inglesa não se transfere de maneira intacta de um contexto para outro; o
inglês como língua nativa é algo muito diferente do inglês como língua franca. A percepção
de que a maioria dos usos do inglês ocorre em contextos onde ela se apresenta como uma
língua franca, longe das normas e identidades “linguaculturais” dos falantes nativos, tem sido
um conduto importante para a conscientização e auto-reflexão dessa proposta. Segundo a
autora, se essa proposta for conceituada e aceita como uma manifestação do “inglês”, não
presa aos seus falantes nativos, isso abrirá opções totalmente novas para a maioria dos
professores de inglês perceber e definir a si próprios: ao invés de serem falantes não-nativos e
aprendizes periféricos da língua nativa, podem ser usuários competentes e autônomos no
ensino de LE/inglês.
O destronamento da figura do falante nativo, junto com sua suposta competência
lingüística representa a possibilidade de pensar em metas mais razoáveis e exeqüíveis no
ensino de línguas estrangeiras. Um dos propósitos do ensino de línguas estrangeiras é formar
indivíduos capazes de interagir com pessoas de outras culturas e modos de pensar e agir, ou
seja, é transformar indivíduos em cidadãos do mundo. Para Rajagopalan (2004), as atividades
de ensino e aprendizagem de línguas fazem parte de um processo muito mais amplo que se
14
pode chamar de redefinição cultural numa era globalizada. Nesse processo não faz o menor
sentido falar em termos de perdas e ganho: “nós simplesmente nos transformamos em outras
pessoas” (RAJAGOPALAN, 2004 – pág. 70).
É nesta perspectiva que a presente investigação se insere. O objetivo deste trabalho é
estudar a interação oral de uma professora não-nativa na aula de língua estrangeira. Trata-se
de um estudo de caso, no qual abordam-se aspectos particulares e específicos dessa interação.
O contexto onde a participante se encontra é uma escola de idiomas na cidade de São Paulo.
Optou-se por esse contexto de sala de aulas, devido à necessidade da professora ter uma forte
demanda de produção oral, ou seja, das aulas serem totalmente ministradas em inglês.
Esta investigação justifica-se por valorizar o profissional brasileiro diante da realidade
e necessidade brasileira em fazer parte de um mundo globalizado e moderno. Segundo Moita
Lopes (1996), no Brasil, surge a necessidade de pensar o ensino de inglês como língua
estrangeira em termos de realidade brasileira. Poucos são aqueles que podem vivenciar em
outros países a cultura e a língua a ser adquirida, por isso, o ambiente a ser oferecido no
cenário brasileiro deve ser o melhor possível.
O professor de LE não-nativo precisa se sentir mais seguro e confiante em usar seu
inglês em contextos onde há forte demanda de insumo. Várias pesquisas foram feitas no
sentido de explorar e analisar os contextos brasileiros e as competências necessárias a um
professor de LE.
Consolo (1996), por exemplo, realiza um extensivo trabalho em sua tese de doutorado,
na qual explora a questão dos professores nativos e não-nativos a partir de duas perspectivas:
primeiro, ideológica e sócio-cultural, e segundo, lingüística. O estudo fornece uma descrição
das metas comunicativas e lingüísticas de professores de LE em dois tipos de contextos
investigados (escolas de línguas e a universidade), assim como um desempenho da
proficiência oral dos professores.
15
Silva (2000) apresenta uma análise da falta de fluência (competência comunicativa)
dos alunos formandos em um curso de Letras e apresenta algumas sugestões para suplantar
esse problema.
Alvarenga (1999) recoloca as questões teóricas de um modelo de competências,
focalizando-as na sua subjacência ao ensino de um professor-participante de LE (inglês) em
serviço, ou seja, um professor graduado e já atuando no ensino fundamental da rede pública.
A tese de Basso (2001), por sua vez, busca contribuir para mapear as competências
atuais do professor de LE, as trabalhadas em pré-serviço e as efetivamente alcançadas com o
graduando de Letras, confrontando-as com as competências esperadas pela sociedade, para
propor finalmente um perfil do educador em LE que possa atender mais facilmente às
exigências do mercado e seus objetivos.
Diferente desses estudos, esta investigação procura analisar a questão da interação e da
geração de insumo da professora participante no processo de ensino/aprendizagem e procura
refletir sobre os fatores que a motivam como professora de língua estrangeira.
Optou-se, nesta pesquisa, em manter o termo professora não-nativa para diferenciar
daquele professor que tem como língua materna ou como primeira língua o inglês. A divisão
entre nativo e não-nativo é uma das áreas mais complexas na Lingüística Aplicada, mas por
conveniência e por não ter outro termo mais adequado, é utilizado a expressão “professora
não-nativa” para fazer menção da distinção relativamente ideológica entre professores de
língua estrangeira.
1.2 Objetivos e perguntas de pesquisa
Imbuída pelo desejo de perscrutar a interação oral de uma professora não-nativa, a fim
de encontrar subsídios para a valorização e o aumento de sua auto-estima como profissional,
16
esta investigação apresenta um objetivo geral e dois específicos que fundamentam nossas
perguntas de pesquisa.
O Uobjetivo geralU desta pesquisa é perceber como se caracteriza a interação de uma
professora não-nativa com seus alunos em contextos de ensino onde há forte demanda de
insumo.
Como
Uobjetivos específicosU temos:
a) estudar a questão da construção da interação e da geração de insumo no processo de
ensino/aprendizagem num contexto de escola de idiomas;
b) investigar que fatores mais afetam a motivação e a auto-estima da professora não-
nativa no que se refere a sua competência comunicativa.
Considerando esses objetivos, são levantados os seguintes pressupostos:
- Se conhecermos a estruturação, a maneira como a interação é organizada na sala de
aula (LONG,1983; ELLIS, 1985,1994; ALLWRIGHT,1984), podemos começar a
avaliar a qualidade e a quantidade de insumo produzido nesta interação;
- No contexto de ensino brasileiro, há um número significativo de professores que
carecem de um comando adequado para ensinar língua, especificamente o inglês oral
(CONSOLO,1996; SILVA 2000; BASSO, 2001); entretanto, existem PNNs com
excelente nível de competência comunicativa e profissional capazes de satisfazer
plenamente as demandas do mercado e da sociedade.
Esta investigação é motivada pelos requisitos profissionais e competência oral de
professores não-nativos de LE em contextos onde há forte demanda de insumo. Motivados
por estas questões, levantam-se as seguintes
Uperguntas de pesquisaU:
17
1 ) Como se caracteriza a interação oral de uma professora não-nativa com seus alunos
num contexto de ensino de LE onde há forte demanda de produção oral?
2 ) Como a professora não-nativa vê a si própria no aspecto de sua competência oral e
em relação a um professor nativo e como se configura sua proficiência oral por meio
do TEPOLI
TP
1
PT ?
1.3 Organização da dissertação
O corpo principal desta dissertação é dividido em cinco capítulos: Introdução,
Fundamentação Teórica, Metodologia, Análise dos Dados e Considerações Finais.
O Capítulo I aborda a delimitação do tema, situando a importância e relevância do
estudo, com sua justificativa. Em seguida apresentam-se os objetivos e as perguntas de
pesquisa.
O Capítulo II trata da Fundamentação Teórica, consistindo-se em três seções: a relação
entre insumo e interação na sala de aula, as competências do professor, com um enfoque
maior na competência lingüístico-comunicativa e a sua motivação como professor de língua
estrangeira.
O capítulo III traz a Metodologia da investigação, descrevendo o contexto, a
professora participante, os instrumentos de coleta de dados e o Teste de Proficiência Oral em
Língua Inglesa (TEPOLI).
O Capítulo IV trata da Análise dos Dados: da categorização das falas da professora e
dos alunos, as características da interação, a qualidade do discurso da professora e da visão
TP
1
PT Teste elaborado no programa de pós-doutoramento do prof. Dr. Douglas Altamiro Consolo (UNESP – São
José do Rio Preto & The University of Melbourne, Austrália – 2001).
18
que tem de si mesma, e por fim, é feita a análise do Teste de Proficiência oral em Língua
Inglesa.
Encerra-se a dissertação com o capítulo V, onde são feitas a conclusão e as discussões
dos dados, onde são relatados os alcances de alguns instrumentos de pesquisa e sugestões para
futuros estudos.
19
CAPÍTULO II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
__________________________________________________________________________________________
Neste capítulo, constituído por três partes, são apresentados os pressupostos teóricos
que embasam e fundamentam a pesquisa. A primeira parte trata da relação entre interação e
insumo na sala de aula. A segunda parte aborda questões relacionadas às competências do
professor, dando uma ênfase maior na competência lingüístico-comunicativa do professor. A
terceira e último parte discute fatores motivacionais relacionados ao professor de LE.
Na parte 1 é visto que o interesse pela linguagem de sala de aula tem crescido muito
nos últimos anos. Esse interesse é devido ao reconhecimento de que o desempenho do aluno
depende muito do papel do professor e do tipo de linguagem por ele utilizada. É visto nesse
capítulo que a qualidade do processo interativo em sala de aula facilita a internalização do
insumo oferecido. É discutida a natureza do discurso em sala de aula, bem como suas
características gerais, tipos de uso da língua, tomadas de turno, a fala do professor, a
participação do aprendiz e o papel do professor e do aluno nesse processo.
Na parte 2 é visto que as competências do professor de LE deverão funcionar
harmoniosamente. É dado um enfoque maior na competência lingüístico-comunicativa, pois,
em geral, é na proficiência oral que recai a maior preocupação dos professores não-nativos. O
perfil lingüístico comunicativo do professor no Brasil é abordado para se ter uma consciência
de quem são os profissionais brasileiros. Por fim, trata-se da abordagem e dos estilos de
ensinar do professor.
20
Na parte 3 é vista, de maneira geral, a questão da motivação do professor de
LE, pois fatores intrínsecos e extrínsecos afetam a competência profissional. Os pressupostos
desta seção auxiliam a compreender e a mapear o perfil profissional da participante desta
pesquisa. O tema motivação está vinculado à segunda pergunta de pesquisa.
2.1 - A RELAÇÃO ENTRE INSUMO E INTERAÇÃO NA SALA DE AULA
A língua falada tem funções sociais e pedagógicas que são reveladas conforme
professores e alunos se engajam nos encontros verbais. Esses encontros verbais comunicam
informações proposicionais e mantêm a interação oral, conforme uma aula vai se
desenvolvendo. Insumo e interação são fatores intrínsecos e constituintes de uma aula.
Entender esses fatores e compreender os mecanismos lingüísticos e interativos pode trazer
muita luz à prática de sala de aula.
Nesta seção são discutidas as diferenças de discurso entre falantes nativos e não-
nativos; é visto a importância do insumo e da interação na aquisição de L2, e explora-se a
natureza do discurso de sala de aula, assim como os papéis do professor e do aluno.
Interação, na concepção de Brown (1994), é a troca colaborativa de pensamentos,
sentimentos ou idéias entre duas ou mais pessoas, resultando num efeito recíproco por parte
de cada um. Pode ser considerada, de fato, o cerne da comunicação. Para Allwright (1984),
entretanto, interação não se confunde com comunicação. Para o autor, é o processo por meio
do qual as aulas são levadas a cabo, o
sine qua non
da pedagogia de sala de aula. A princípio,
é uma questão social, ou seja, por definição e na prática, é uma co-produção de todos os
participantes. Uma pedagogia bem sucedida depende de uma boa administração da interação.
21
Moita Lopes (1996), por sua vez, dá ênfase ao processo de interação como a construção do
conhecimento em sala de aula entre os participantes do contexto. Compartilha-se, assim, a
idéia de que o conhecimento é uma construção social. A negociação patente na interação entre
professor e aluno é que vai levar à construção de um conhecimento comum entre eles.
Durante os últimos anos, o interesse pela linguagem de sala de aula tem crescido
enormemente. Esse interesse vem do reconhecimento de que resultados positivos no
desempenho do aluno dependem muito do papel do professor e do tipo de linguagem por ele
utilizada. A qualidade e o tipo de insumo oferecido pelo professor faz parte desse processo e
afeta diretamente o aprendizado do aprendiz. Iniciaremos aqui abordando a relação entre
interação e insumo e, principalmente, como o insumo modificado é essencial ao processo de
ensino/aprendizagem.
O papel da interação e do insumo tem sido examinado sob diferentes ângulos. As
pesquisas sobre interação e aprendizado de L2 surgiram dos primeiros estudos sobre a fala
para estrangeiros (
oreign talk
). Na década de 70, pesquisadores se propuseram a investigar a
natureza da fala do responsável (
caretaker talk
) na aquisição de L1 em crianças. Uma série de
estudos mostrou que os responsáveis ajustavam suas falas para que o insumo que a criança
recebesse fosse claro e lingüisticamente mais simples que aqueles dos adultos. A princípio,
estas pesquisas, na fala para estrangeiros (doravante FE), se constituíam apenas de descrições
de características lingüísticas, e posteriormente passaram a explorar o papel dessa fala na
constituição da interação e seus resultados para o sucesso ou insucesso da comunicação. A FE
também é conhecida como fala facilitadora.
f
No estudo sobre as modificações do insumo de falantes nativos para com os não-
nativos, Long (1981, apud ELLIS, 1994) fez uma distinção entre modificações lingüísticas e
modificações interacionais, afirmando que as modificações interacionais eram facilitadoras e
necessárias para a aquisição de segunda língua. Entretanto, Verplaetse (1993, apud HALL &
22
VERPLAETSE, 2000) alega que, embora essas modificações possam ser necessárias para a
compreensão e intencionalmente facilitadoras para a participação do FNN, o impacto dessas
modificações na interação com FNN ainda não tem sido satisfatoriamente analisado. Na
verdade, a autora afirma que as modificações do FN têm efeitos prejudiciais nas conversações
do FNN, desafiando, assim, a premissa de Long de que as modificações da fala do FN têm
efeitos benéficos para os FNNs.
Ellis (1994) afirma que um estudo detalhado da FE necessita considerar uma série de
questões: primeiro, até que ponto a FE é gramatical e não-gramatical; segundo, a natureza das
modificações formais encontradas; terceiro, a natureza das modificações interacionais; quarto,
a estrutura do discurso e quinto, as funções oferecidas pela FE.
Uma série de fatores parece induzir à FE não-gramatical. Ellis (op.cit), assim como
Long (1983), sugerem quatro fatores que podem estar envolvidos nesse processo: 1) o nível
de proficiência em L2 – a FE não-gramatical é mais provável quando a proficiência do
aprendiz é baixa; 2) o status do FN – a FE não-gramatical é mais provável quando o FN tem,
ou pensa que tem, um status mais elevado; 3) O FN tem uma experiência prévia de usar FE,
mas somente de forma limitada para se direcionar aos FNNs de baixa proficiência; 4) a
extensão da espontaneidade das conversações – a FE não-gramatical é menos planejada em
relação ao discurso formal.
Segundo Ellis (op. cit), ainda não é possível identificar as condições exatas que
resultarão na FE não-gramatical, talvez porque os FNs variam tanto cultural quanto
individualmente no tipo de FE que preferem usar. A FE não-gramatical é altamente marcada.
Em muitas situações ela pode, todavia, não ocorrer, sugerindo que a mesma constitui um tipo
de discurso particular. De forma não surpreendente, a ausência de modificações não-
gramaticais também foi verificada em estudos da fala do professor; embora outros estudos
evidenciaram a presença de modificações não-gramaticais na língua que os professores usam
23
para organizar e administrar as atividades de sala de aula. Entretanto, a FE gramatical é, em
geral, a norma na maioria das salas de aula (ELLIS, 1994).
A FE gramatical é caracterizada por modificações indicativas de três processos gerais:
1) simplificação, 2) regularização e 3) elaboração. Deve-se observar que enquanto (1) envolve
uma tentativa por parte do FN de simplificar as formas utilizadas, (2) e (3) são direcionadas
para simplificar a tarefa dos aprendizes de processar o insumo para que possam usar a língua
mais facilmente. Isso é importante porque significa que a FE fornece não apenas o insumo
simples, correspondendo àquele que os aprendizes já sabem, mas também o insumo contendo
características lingüísticas que os alunos ainda não aprenderam.
Uma forma de
simplificar
o insumo é ajustar as variáveis temporais, tais como ritmo e
pausa, de acordo com o nível de proficiência dos ouvintes. No caso das modificações lexicais
e sintáticas, a simplificação é feita ao evitar itens difíceis na L-alvo e também pela redução de
seu uso. A
regularização
requer a seleção de formas que são, de alguma forma, “básicas” ou
“explícitas”, como poucos falsos cognatos, preferência por formas completas ao invés de
contrações, ausência de expressões idiomáticas, etc. A
elabo ação
é o oposto da simplificação,
e não é contraditório afirmar que a FE pode evidenciar os dois processos em momentos
diferentes. A elaboração envolve sentenças mais longas na tentativa de tornar o significado
mais claro.
r
Ellis (op. cit.) lembra que na fala do responsável (
caretaker talk
) esses tipos diferentes
de ajustes são contínuos em natureza; assim sendo, os interlocutores fazem uso desse recurso
dependendo da percepção da habilidade do aprendiz em compreender o enunciado. A
proficiência não é o único fator que determina a extensão da modificação; a idade também é
um fator importante.
Estudos da fala para estrangeiros têm mudado suas atenções das modificações
lingüísticas para as modificações interacionais. Isso tem sido motivado, em parte, pela
24
descoberta de que as modificações interacionais ocorrem mesmo quando as modificações no
insumo não ocorrem. Ellis (1994) faz uma distinção das modificações interacionais entre a
administração do discurso e a correção do discurso. O primeiro refere-se à tentativa de
simplificar o discurso para evitar problemas na comunicação; o segundo ocorre quando há
uma quebra na comunicação. Vejamos o quadro abaixo:
Modificações interacionais
UAdministração do discursoU: UCorreção do discurso:U
- quantidade e tipo de informação que é dado a) correção da ruptura na comunicação
- uso de questões - negociação de significado
- orientação “aqui e agora” - abandono de tópicos
- verificação da compreensão
- auto-repetição b) correção de erro do aprendiz
- anulação da correção de
terceiros
- correções explícitas ou não-
explícitas
Figura 01: Tipos de modificações interacionais na fala para estrangeiro. Baseado em Ellis (1994), p.
256.
A administração do discurso está relacionada diretamente ao oferecimento de insumo,
ou seja, à qualidade e a quantidade de insumo oferecido. Uma das formas mais efetivas de
administrar o discurso é garantir que o tópico da conversação seja compreendido. Long
(1983) identifica uma série de estratégias para se atingir esse fim: selecionar tópicos salientes,
tratar os tópicos de forma simples e breve, tornar novos tópicos salientes, etc. O uso de
perguntas também é um recurso utilizado para estabelecer e controlar tópicos. Outra estratégia
da administração do discurso é selecionar tópicos que têm uma orientação “aqui e agora”,
usando mais verbos do tempo presente e permitindo aos aprendizes usar o contexto imediato
para interpretar o significado das sentenças e, por fim, a verificação da compreensão, para ver
25
se o aprendiz realmente compreendeu. A fala do professor, neste aspecto, é rica em
verificação da compreensão.
A correção da fala ocorre quando há problemas na comunicação. A correção, afirma
Ellis (
op.cit
), então, acontece quando há uma “compreensão incompleta”. Ela toma a forma de
“negociação de significado” – um trabalho colaborativo que os falantes fazem para atingir
mútua compreensão. Outras modificações conversacionais que podem corrigir o discurso são
as repetições. Entende-se que essa estratégia também faz parte da administração do discurso.
Além da correção na tentativa de resolver os problemas de compreensão, há também a
correção dos erros dos aprendizes. Neste caso, a correção pode ser por autocorreção ou por
outros. Na correção por outros existe a distinção da correção explícita e não-explícita. A
primeira refere-se a um retorno direto do ouvinte, por meio de uma afirmação declarativa. A
segunda é ambígua e pode ter mais de uma interpretação. Ela pode se apresentar numa
pergunta para checar uma informação, ou numa afirmação.
As funções da FE podem ser identificadas de três formas: 1) promover a comunicação,
2) sinalizar, implícita ou explicitamente as atitudes dos falantes para com os interlocutores e
3) ensinar a L-alvo implicitamente.
Os estudos da FE trouxeram grandes contribuições para a caracterização da fala do
professor, pois muitas das modificações são semelhantes; somente algumas parecem refletir
características especiais de cenários de sala de aula – em especial, a necessidade de manter a
comunicação ordenada. A fala do professor tem atraído muita atenção por causa de seu
potencial na compreensão do aprendiz. Entretanto, pouco se sabe sobre o que realmente
constitui uma excelente fala do professor (ELLIS, 1994).
Quanto à estrutura do discurso, os estudos das modificações interacionais envolvem as
falas de ambos os participantes numa conversação. Daremos, na próxima subseção, uma
atenção maior a este tópico.
26
2.1.1 As diferenças de discurso entre FN e FNN
O discurso de sala de aula tem características próprias. Varonis e Gass (1985) ressaltam a
importância do diálogo FNN/FNNTP
2
PT e especialmente a função de negociação na aquisição de
segunda língua, pois examinaram conversações entre FN/FN, FN/FNN e FNN/FNN e
observaram que a negociação de significados é mais prevalecente entre pares FNN/FNN.
Em geral, as respostas dos falantes nativos aos falantes não-nativos envolvem mais
elaboração, repetição, um discurso mais pausado, questões, forma mais próxima da norma
culta e uma tentativa maior para mudança de tópico do que aos falantes nativos. O trabalho
das autoras, em relação a esta questão, tem indicado que uma das questões mais significativas
envolvidas no uso da fala para estrangeiro do falante nativo é a compreensibilidade do insumo
pelo falante não-nativo. Sugerem que esta compreensão envolve uma série de fatores,
incluindo características lingüísticas, tais como a pronúncia e a gramática do falante não-
nativo, assim como variáveis relacionadas ao falante nativo, tais como a familiaridade com o
tópico da conversa e com o discurso não-nativo em geral.
Na maioria das interações verbais, o discurso prossegue de uma forma linear, que pode ser
representada por uma linha horizontal. Quando os interlocutores compartilham uma língua e
uma mesma experiência prévia, a seqüência das tomadas de turnos ocorre provavelmente de
maneira uniforme, ou podemos dizer, “contingência simétrica”; cada falante responde à fala
do outro, mantendo cada um o seu próprio senso de direção no discurso. Entretanto, em
discursos onde há alguma “incompreensão” evidenciada, o fluxo da conversa é marcado por
várias interrupções. Isso pode ser visto como seqüências verticais numa progressão horizontal.
Os interlocutores não-nativos têm mais facilidade para perder o passo conversacional, como
resultado de aspectos confusos (por exemplo, falha na compreensão) do discurso em geral.
TP
2
PT FNN (falante não-nativo) – considera-se neste contexto o professor não-nativo no ensino de língua estrangeira.
27
Em conseqüência disso, eles aprendem a compensar as oscilações na linearidade
questionando expressões particulares e/ou pedindo ajuda conversacional. Essas atitudes são
rotuladas de “seqüências paralelas”, que envolvem a negociação de significado, crucial para o
sucesso do discurso. Essas seqüências permitem aos participantes manter tanto quanto
possível o mesmo passo conversacional. O mesmo passo conversacional é a habilidade de
responder adequadamente à última fala do outro interlocutor – em outras palavras, ele toma o
turno quando este se torna disponível, com plena compreensão do turno anterior.
Fatores lingüísticos, sociais ou culturais podem levar à quebra da conversação e afetar a
interação. Entre os falantes não-nativos, mesmo quando os interlocutores percebem as
intenções um dos outros, outros fatores, como por exemplo, os fatores linguísticos, sociais ou
culturais podem levar a quebra da comunicação. Essa quebra da comunicação deve ser
negociada antes que ocorra a mudança de tópico ou informação. É nesse sentido que a
negociação pode fortalecer a dimensão interpessoal e social de uma interação, atuando como
um contínuo conversacional.
Segundo Varonis e Gass (op. cit), as negociações de significado ocorrem com maior
freqüência em pares FNN-FNN do que em pares que incluem FNs. Essa necessidade de
negociação provavelmente seja devido à falta de experiência comum entre os FNNs. Isso é até
mesmo verdade para FNNs da mesma base étnica, porque o meio de comunicação, o inglês, é
estrangeiro, ou seja, é segunda língua para ambos. Entre os pares FNN-FN, também há uma
falta de experiência comum, que presumivelmente, conduziria a uma quantidade de
negociação de significado maior ou igual àquela encontrada em pares FNN-FNN. Entretanto,
as autoras sugerem que devido à desigualdade no status dos participantes, os FNNs se sentem
mais desencorajados a praticar a negociação, porque esta amplia, ao invés de mascarar as
diferenças entre eles. Como resultado, há uma tendência maior da conversação, com pares
PNN/PN, proceder sem negociação.
28
O discurso resultante das interações FNN-FNN tem uma função importante para os
falantes não-nativos. Primeiro, permite-lhes um fórum não ameaçador, no qual possam
praticar o desenvolvimento das habilidades da língua. Segundo, fornece-lhes uma
oportunidade para receber o insumo que se tornou compreensível através da negociação e esse
tipo de interação facilita o processo de aquisição de segunda língua e LE.
2.1.1.1 - Modelo de análise da negociação de significado
O modelo apresentado por Varonis e Gass (1985) parte de uma seqüência de não-
compreensão da conversação. O episódio conversacional, que é representado por esse modelo,
serve uma das duas funções: (1) negociação do significado, e/ou (2) continuação da
conversação. As falas não-compreendidas são operacionalmente definidas como as trocas
conversacionais onde há indicação clara de que a compreensão entre os participantes não foi
completa. Dentro dessas trocas conversacionais podemos encontrar duas classificações: mal-
entendido e não-compreensão.
Exemplos de não-compreensão em discursos FNN-FNN são extremamente freqüentes,
às vezes ocupando a maior parte da interação conversacional. Para lidar com estas questões
Varonis e Gass (
op.cit
) propõem o seguinte modelo, com quatro funções:
Desencadeador Resolução
D I – R - RR
Figura 02: modelo de não-compreensão (VARONIS e GASS, 1985 – p. 74)
29
A primeira parte do modelo consiste de um desencadeador. A segunda parte do
modelo chamamos de resolução. Esta consiste de um indicador (I), uma resposta (R) e uma
reação à resposta (RR). Simplesmente estabelecemos que o desencadeador é aquela expressão
ou parte de uma expressão por parte do falante que resulta em alguma indicação de não-
compreensão por parte do ouvinte. O ouvinte tem duas escolhas imediatas – ignorar o
desencadeador ou reagir a ele de alguma forma:
a) ignorar, esperando por mais informação ou ignorar porque considera irrelevante;
b) comentar sobre: eco ou indicação clara.
A segunda parte do modelo é o que chamamos de resolução. O primeiro item é um
indicador (I). Esta é uma expressão por parte do ouvinte que essencialmente detêm a
progressão horizontal da conversa e começa a progressão descendente, tendo o efeito de
interromper a conversa, ao invés de ajudá-la a progredir. O terceiro item é a resposta do
falante (R) ao indicador, reconhecendo a não-compreensão de alguma forma. O quarto item,
um elemento opcional, é a reação à resposta (RR). Qualquer um dos interlocutores pode sair
fora da conversação a qualquer momento. Este modelo sugere que as negociações de
significado existem dentro do discurso principal, mas separado do mesmo, colocando a
progressão do discurso à espera.
Concluindo, o modelo proposto por Varonis e Gass (op.cit) trata com a questão da
negociação de significados em discursos FNN/FNN. Exemplos de não-compreensão em
discursos FNN-FNN são bem mais freqüentes, ocupando até a maior parte da interação.
Entretanto, é o trabalho do PNN e do PN na negociação de significados que aumenta e
assegura que o insumo seja o mais compreensível possível. É também na negociação de
significados que se fortalece a dimensão interpessoal e social de uma interação, fortalecendo,
assim, o processo de aprendizagem de uma LE.
30
2.1.2 Insumo e interação na aquisição de L2
Insumo, segundo Consolo (1996), pode ser focalizado em termos de duas instâncias: o
insumo oferecido ou o disponível ao aprendiz (KRASHEN, 1987), e a porção desse insumo
que é efetivamente utilizada pelo aprendiz, realizando-se, então, um processo de
internalização do conteúdo da L-alvo (ELLIS, 1984). Indicações teóricas e resultados
empíricos sobre as características e ações da fala do professor em ambientes formais revelam
que as características da interação e das contribuições do aprendiz ao discurso são
dependentes da administração do discurso feito pelo professor (ALLWRIGHT, 1984;
MALAMAH-THOMAS, 1987) e da ação de ajudar no progresso dos aprendizes num
continuum
da interlíngua em direção à competência oral. A qualidade do processo interativo
em sala de aula facilita a internalização do insumo fornecido. Quanto mais efetiva a
participação do aluno no discurso da sala de aula, contribuindo na geração desse insumo,
melhor será o aprendizado da L-alvo (ALLWRIGHT, 1984; ELLIS, 1985; CONSOLO, 1996).
Vejamos a hipótese do insumo de Krashen (
op. cit
) e a seguir alguns questionamentos
sobre a mesma, por diferentes autores.
A hipótese de Krashen caracteriza-se por quatro princípios:
1) a preocupação principal é com a aquisição da língua, em contraste com a
aprendizagem;
2) a aquisição ocorre quando o aprendiz é capaz de compreender um conteúdo
lingüístico um pouco além do seu nível de competência, representado por “i + 1”;
3) quando a comunicação é priorizada e bem sucedida, e o insumo é compreensível e
em quantidade suficiente, o conteúdo “i + 1” estará automaticamente sendo fornecido ao
aprendiz;
4) a habilidade para a produção da língua emerge, mas não é diretamente ensinada.
31
De acordo com Krashen (op.cit.), o insumo favorável à aquisição deve ser também
relevante para os alunos, e não gramaticalmente seqüenciado. Se o insumo for compreensível,
relevante e oferecido em quantidade suficiente, o conteúdo “i + 1” será direcionado para todos
os alunos, independente da simplicidade ou complexidade das estruturas gramaticais
envolvidas.
Essa hipótese de Krashen tem sido questionada por vários autores. Long (1983),
Varonis & Gass (1985), por exemplo, apontam que é importante a contribuição das
negociações de significado entre aprendizes de uma língua. As tentativas de uso de uma LE
permitem aos aprendizes confirmar suas hipóteses e analisar as estruturas dessa língua. Gass
(1988) também aponta que não é o insumo compreensível, mas sim o insumo compreendido
que é mais importante e, segundo essa autora, Krashen não demonstra como, o que se
considera insumo compreensível, pode resultar em aquisição. White (1987) argumenta que o
fracasso em compreender o insumo em algumas estruturas, pode levar ao aprendizado. Ela
afirma que é o insumo incompreensível, neste caso, que força o aprendiz a prestar mais
atenção e conseqüentemente a um melhor aprendizado.
2.1.3 O discurso de sala de aula: o modelo de análise de Sinclair e Coulthard
Para a análise do discurso, o contexto é de vital importância. A análise do discurso,
doravante AD (linha Anglo-Saxônica), visualiza o que tem por trás de um enunciado escrito
ou falado. Uma unidade mínima de frase ou uma frase simples pode fornecer certa
informação, mas o que é realmente importante para a AD é como essa unidade é situada e
influenciada pelo seu contexto mais amplo.
32
Segundo Riggenbach (2002), ao se fazer a análise do discurso, considera-se não
somente as regularidades lingüísticas escritas e faladas, mas também os significados sociais e
culturais que viabilizam a produção e a interpretação das mensagens.
Esta distinção mais abrangente do discurso implica em compreender que os
constituintes de um texto não são os únicos aspectos que devem ser estudados e que de igual
modo de importância são as questões sobre inferência pelos leitores e ouvintes e a dinâmica
social, que produz o discurso e influencia o aprendizado do aluno. O discurso, dessa forma,
pode ser compreendido como um complexo cultural de sinais e práticas que contribuem para
regularizar o meio em que vivemos socialmente.
Considerando o contexto de sala de aula, Sinclair e Coulthard (1975, 1992) fizeram
uma análise de seu discurso com propósitos lingüísticos. Segundo este modelo, a estrutura
discursiva da aula constitui-se de categorias menores como: aula (
lesson
), transação
(
transaction
), troca verbal (
exchange
), movimento (
move
) e ato (
act
).
As unidades mínimas, ao nível mais inferior na escala proposta pelo modelo são os
atos, aqui denominados atos comunicativos (cf. CONSOLO, 1996). O valor discursivo de
cada ato depende de sua posição na estrutura discursiva dos movimentos comunicativos
(
moves
), bem como dos atos que o precedem, dos atos que se seguem, e de como os atos se
relacionam entre si.
São também considerados neste modelo os fatores sociolingüísticos que influenciam o
ambiente da comunicação, tais como papéis dos falantes e demais convenções sociais que
regem o contexto da sala de aula. Segue abaixo uma tabela resumo contendo os atos
comunicativos de Sinclair e Coulthard (1975):
1.
Acknowledge
(reconhecimento) – a função do reconhecimento é fornecer um feedback para
indicar que o enunciado precedente foi compreendido.
33
2.
Aside
(fala marginal) – são expressões do professor falando consigo mesmo.
3.
Bid
(oferta de participação) – indica que o participante deseja participar no discurso.
4.
Comprehension check
(verificação de compreensão) – são usados para verificar a
compreensão do interlocutor.
5.
Clarification
(esclarecimento) – indica que o enunciado anterior não foi claramente ouvido
ou compreendido.
6.
Comment
(comentário) – sua função é fornecer informação adicional sobre um contexto
precedente.
7.
Conclusion
(conclusão) – são percebidas por meio de afirmações ou indagações, para
resumir um trecho do discurso ou um tópico em questão.
8.
Confirm tion check
(confirmação de compreensão) – são usadas para averiguar se o
enunciado foi corretamente ouvido ou compreendido.
a
9.
Correction
(correção) – usado geralmente pelo professor, evidencia ao aluno que um erro
foi cometido.
10.
Directive
(instrução) – são percebidas por meio de um comando, uma direção ou um
pedido, onde se espera que os alunos sigam ou respondam.
11.
Elicitation
(elicitação) – sua função é requerer uma resposta lingüística.
12.
Encouragement
(encorajamento) – são para reforçar as elicitações ou as instruções.
13.
Evaluate
(avaliação) – são classificações ou considerações do comportamento verbal e
não-verbal dos alunos ao completarem uma tarefa na sala de aula.
14.
Greeting
(cumprimento) – a função do cumprimento é auto-explicativa. São percebidos
por expressões ritualizadas de chegada e partida.
15.
Informative
(informação) – sua função é fornecer uma função nova dentro dos limites de
uma troca verbal.
16.
Marker
(marcador) – indicam o começo de um movimento e sinalizam as fronteiras da
interação verbal.
17.
Metastatement
(meta-enunciado) – sua função é clarificar a estrutura do discurso seguinte,
para que os interlocutores saibam o propósito da fala seguinte.
18.
Model
(modelo) – são amostras fornecidas para ilustrar um aspecto a ser focalizado ou
mostrar um padrão lingüístico aceitável.
19.
Nomination
(denominação) – sua função é chamar ou dar permissão para os alunos
34
participarem no discurso.
20.
Protest
(protesto) – sua função é originar uma objeção a um enunciado precedente.
21.
React
(reação não-verbal) – são reações não-verbais realizadas com o objetivo de cumprir
com o que foi solicitado.
22.
Rhetorical question
(pergunta retórica) – são interrogações que ocorrem tanto na fala do
professor quanto na do aluno com o objetivo de obter uma resposta ou checagem de
compreensão.
23.
Repetition
(repetição) – ocorre quando os alunos repetem um modelo lingüístico fornecido
pelo professor.
24.
Reply
(resposta) – sua função é fornecer uma resposta lingüística apropriada à elicitação.
25.
Starter
(pré-elicitação) – são atos cuja função é fornecer certa informação, ou direcionar a
atenção para um conteúdo específico.
26.
Terminate
(finalização) – sua função é reconhecer uma sentença anterior e finalizar uma
troca verbal.
27.
Translation
(tradução) – este recurso ocorre quando o professor ou os alunos fazem uso da
língua materna.
Concluindo, foi reportado por Sinclair & Coulthard (op.cit) que os atos comunicativos
são definidos segundo sua função no discurso e podem ser interpretados conforme a
comunicação oral vai se desenvolvendo. Esse modelo, baseado nos atos comunicativos,
possibilita, como ponto de partida uma análise estrutural e lingüística do discurso de sala de
aula; entretanto, pode também servir para capturar as funções da linguagem com as
características desse contexto.
2.1.4 A natureza do discurso de sala de aula
Nesta subseção, é abordada a natureza geral do discurso de sala de aula de L2,
baseando-se em Ellis (1994), e depois são examinados os estudos que têm investigado uma
35
série de aspectos diferentes de interação de sala de aula, como por exemplo, o discurso do
professor e a participação do aprendiz.
Professores planejam suas aulas considerando o quê ensinar (conteúdo), como ensinar
(método) e a natureza das relações sociais que querem encorajar (atmosfera) (ALLWRIGHT
& BAILEY, 1991). Quando executado, esse planejamento se transforma numa “interação de
sala de aula”. Isso não quer dizer que a interação seja planejada antecipadamente, mas, ao
invés disso, é considerada uma co-produção com os aprendizes. A interação fornece aos
alunos oportunidades de encontrar insumo ou praticar L2. Embora as interações de sala de
aula não sejam, em geral, totalmente “planejadas” antes de uma aula, elas apresentam
características previsíveis. Essas características são consideradas em termos de (1)
característica geral e estrutura do discurso de sala de aula, (2) tipos de uso da língua e (3)
tomadas de turno.
2.1.4.1 Características gerais e estrutura
O discurso de sala de aula tem uma estrutura discursiva identificável. Sinclair e
Coulthard (1975) desenvolveram um modelo hierárquico ao identificar os seguintes “níveis”
na estrutura de uma aula: (1) aula, (2) transação, (3) troca verbal, (4) movimento e (5) ato
comunicativo, conforme abordado na subseção anterior (item 2.1.3). Em geral, uma aula tem
somente uma estrutura fracamente definida, consistindo de uma série de transações não
rigidamente ordenadas. Uma transação consiste numa troca verbal inicial, numa ou mais
trocas verbais fronteiriças, e uma troca verbal final. Uma transação é mais fácil de se
identificar por meio das “trocas fronteiriças”, ou seja, por elementos que consistem num
denominador, inicializador ou um vestígio, por exemplo. O elemento da estrutura que é mais
claramente definido, entretanto, é aquele da “troca verbal com a finalidade de ensino”, que
36
tem três fases, envolvendo uma “abertura”, uma “resposta” e uma “avaliação”, como no
seguinte exemplo:
P: Ask Peter where his car is. (abertura)
A: Where is your car? (resposta)
P: Good (avaliação)
Esta troca ficou conhecida, em inglês, como IRF (
initiation-response-feedback
), e aqui
utilizaremos o código ARA (abertura - resposta – avaliação). Cada movimento é realizado por
meio de vários tipos de “atos comunicativos” – a menor unidade do discurso. Este sistema não
foi desenvolvido para aulas de línguas, mas se ajusta consideravelmente bem a elas. Somente
pequenas mudanças são necessárias. Por exemplo, os alunos na sala de aula de L2 geralmente
produzem uma resposta adicional após o “retorno”:
P: What do you do every afternoon?
A: I rest a little bit.
P: You rest every afternoon.
A: I rest every afternoon.
É interessante observar que nessa estrutura ARA, a avaliação pode ser utilizada como
um recurso de ensino e como fonte de motivação, tendo efeitos altamente positivos na
aprendizagem do aprendiz (HAYDT, 2002). Esse tipo de avaliação está muito ligado ao
mecanismo de
feedback
, ou seja, um retorno ao aluno que sua fala satisfez as expectativas do
professor. Assim, a estrutura ARA(R) demonstra um discurso de sala de aula que é controlado
pelo professor. Outros tipos de trocas também ocorrem; entretanto, esta tende a predominar.
2.1.4.2 Tipos de uso da língua
Outros pesquisadores têm procurado descrever a interação em sala de aula identificando
os tipos diferentes de uso da língua ou da interação encontradas em salas de aula de L2.
37
Allwright (1980, apud ELLIS, 1994), por exemplo, divide em três categorias o que ele chama
de “uma macro-análise do ensino e aprendizagem de línguas”:
1) amostras, exemplos da L-alvo, isolados ou em uso;
2) orientação, exemplos de comunicação referente à natureza da L-alvo;
3) atividades de administração, direcionadas para garantir a ocorrência bem sucedida de
(1) e (2).
Os três elementos não são mutuamente exclusivos. São conduzidos de acordo com sua
relativa proporção, distribuição entre professor e aprendiz, seqüência e a língua utilizada (L-
alvo ou outra).
No trabalho de Van Lier (1988) há quatro tipos básicos de interação em sala de aula,
baseando-se no controle do professor sobre o tópico e sobre a atividade. O tipo um ocorre
quando o professor não controla nem o tópico nem a atividade. No tipo dois, o professor
controla o tópico, mas não a atividade. Isso ocorre quando o professor dá instruções, dá um
anúncio ou ensina uma lição. O tipo três envolve o controle tanto do tópico quanto da
atividade. No tipo quatro, o professor controla a atividade mas não o tópico, como os
trabalhos em pequenos grupos onde regras são especificadas, mas os alunos são livres para
escolher o que falar. Num aperfeiçoamento desta estrutura, Van Lier (1991) acrescenta uma
terceira dimensão: a função da língua. Ele se inspira em Halliday (1973) que distingue três
tipos de funções: ideacional (dizer fatos e experiências), interpessoal (trabalhar no
relacionamento com as pessoas) e textual (sinalizar conexões e limites, clarificar, resumir,
etc.).
Todavia, essas amplas estruturas foram desenvolvidas, segundo Ellis (1994), por meio de
estudos etnometodológicos da linguagem de sala de aula e, portanto, não tinham a intenção de
servir como base para codificar os comportamentos específicos de sala de aula. Para o autor,
ainda não está claro qual unidade do discurso de sala de aula essas estruturas se relacionam.
38
Em Ellis (1984) o autor as considera em termos de “seqüências” interacionais, enquanto que
Van Lier (op. cit) ilustra sua estrutura com referência a atividades instrucionais. As vantagens
desses modelos de Halliday e de Van Lier são que essas funções fornecem uma ferramenta
para compreender a interação de sala de aula e como ela pode influenciar a aprendizagem.
2.1.4.3 Tomadas de turno
Pesquisadores nesta área do discurso de sala de aula identificaram uma série de regras que
servem de base para a mudança e seleção do falante: somente uma pessoa fala cada vez; um
falante pode selecionar o próximo, chamando-o pelo nome, ou fazer uma pergunta que
requeira uma resposta; um falante pode permitir que o próximo falante se auto-selecione; e
uma competição para tomar o próximo turno. Pesquisas têm mostrado que o discurso de sala
de aula geralmente é organizado para que haja uma divisão proporcional dos turnos, a fim de
tratar com os problemas de distribuição, transição, quem fala com quem e quando.
A discussão mais extensiva sobre a tomada de turno em aulas de L2 foi feita por Van Lier
(1988). Numa tentativa de identificar a participação no discurso de sala de aula caracterizado
pela iniciativa do aprendiz, Van Lier identifica uma série de tomadas de turno que considera
indicativa de tal iniciativa:
- Tópico: o turno está fora de fluxo (parando), introduz algo novo, ou nega/disputa uma
posição num turno anterior;
- Auto-seleção: a seleção origina-se do falante;
- Divisão proporcional: o turno seleciona o próximo falante;
- Seqüência: o turno é independente da seqüência.
Estudos sobre a tomada de turno nas aulas de L2 fazem comparações explícitas entre o
discurso de sala de aula e o discurso natural. Afirmam que o primeiro contribui menos para a
39
aquisição de L2 que o segundo. Segundo Van Lier (op. cit), isso ocorre porque se a tomada de
turno é rigidamente controlada, os aprendizes não têm necessidade de prestar atenção no
discurso de sala de aula para identificar pontos de transição quando podem tomar seus
próprios turnos. Como resultado, falta-lhes uma motivação intrínseca para ouvir e,
conseqüentemente, falta-lhes o insumo.
2.1.4.4 A fala do professor
Segundo Ellis (1994), a fala do professor tem atraído muita atenção por causa de seu
potencial na compreensão dos aprendizes. Professores de LE modificam suas falas de diversas
formas, considerando também o nível de proficiência de seus alunos. Muitas dessas
modificações são as mesmas daquelas encontradas na fala para estrangeiro, mas algumas
parecem refletir características específicas de sala de aula, como por exemplo, a necessidade
de manter a comunicação ordenada.
Um outro aspecto da fala do professor deve considerar tamm como e quando o
professor deve corrigir os erros dos aprendizes, se é que deve corrigi-los. A primeira questão
quanto ao tratamento do erro é a natureza da terminologia. Vários termos têm sido usados
como “
feedback
”, “reparo” e “correção”.
Feedback
serve como um termo geral pela informação dada pelos ouvintes sobre a
recepção e compreensão das mensagens. O “reparo” é um termo mais restrito. Refere-se à
tentativa de identificar e remediar os problemas de comunicação, incluindo os erros
lingüísticos. A “correção” tem um significado ainda mais restrito. Refere-se à tentativa de
lidar especificamente com os erros lingüísticos. Constitui num
feedback
que chama a atenção
dos aprendizes para os erros que cometeram.
40
Cardoso (2002) define “erro” e “tratamento de erro” de uma outra maneira. Segundo a
autora, a correção seria apenas uma forma de avisar o aluno de que sua produção não está
correta, ou seja, a definição de correção parece se referir apenas à reação imediata do
professor ao perceber que seu aluno cometeu um erro. O tratamento do erro, por outro lado,
seria o fornecimento de ferramentas para que esse aluno possa repará-lo. Sob essa perspectiva,
a definição de tratamento parece ter uma dimensão mais ampla por se tratarem de ações em
que se incluem não apenas a reação do professor, mas ainda, ferramentas que possam auxiliar
o aluno a perceber e reparar o erro.
Existem vários critérios para classificar as formas de correção. Os procedimentos
utilizados nesta classificação se inspiram em Omaggio, (1986 apud CARDOSO-BRITO,
2004) e se dividem em três categorias básicas:
1) Autocorreção com a ajuda do professor;
2) Correção pelos pares: os colegas fornecem a forma correta depois que o erro ocorre;
3) Correção do professor.
É importante que o professor tenha em mente o objetivo de suas correções, pois se espera
que o professor cumpra, também por meio delas, seu papel de educador. Estudos realizados
mostram que se for dado ao aluno a chance de autocorreção, com a ajuda ou não do professor,
ele terá êxito no auto-reparo. Essa chance seria disponibilizada ao aluno se o professor fosse
paciente, dando-lhe tempo para reparar sua produção. Autores como Allwright & Bailey
(1991) afirmam que o objetivo do professor deveria ser levar os alunos a autocorrigir as
imperfeições das suas falas e produzir um discurso com fluência e acuidade na língua-alvo
sem acompanhamento do professor. Muitas vezes, os professores fazem correções imediatas
que apenas levam o aluno a um sucesso momentâneo.
Numa pesquisa recente de Spatti Cavalari (2005) verificou-se que os movimentos
corretivos utilizados para promover momentos de negociação da forma se mostraram uma
41
importante ferramenta no tratamento dos erros por ajudarem os aprendizes a perceberem
lacunas em suas interlínguas. Assim, é importante que o professor busque formas adequadas
de correção e de tratamento de erros, de maneiras alternativas e criativas, porque o tratamento
de erro é uma das formas mais eficazes de levar o aluno a tomar consciência de suas
imperfeições e a desejar a sua autonomia em relação à correção do professor.
Professores, quer em aulas de idiomas quer em aulas de conteúdo, geralmente fazem
muitas perguntas. Sem dúvida alguma, este é um recurso que dá controle ao professor sobre o
discurso. Uma pergunta ocupa uma das três etapas da troca ARA (abertura – resposta –
avaliação). Na verdade, as perguntas servem como dispositivos para iniciar seqüências
discursivas centradas em objetivos específicos, embora possam servir muitas outras funções.
Nunn (1999) ilustra uma análise do discurso de sala de aula baseada em três níveis,
com o objetivo de examinar as implicações das perguntas pedagógicas por parte dos
professores. O propósito das perguntas pedagógicas é fazer com que os alunos mostrem ao
professor o conhecimento já adquirido. Esse tipo de pergunta geralmente é contrastado com
perguntas “referenciais”, que são perguntas cujas respostas os professores não sabem, pois se
referem ao mundo real dos alunos fora da sala de aula. Em geral, as perguntas referenciais são
mais bem aceitas no cenário pedagógico por causa de seu paradigma comunicativo,
considerando uma visão de uso da linguagem para comunicação. O mínimo que se requer
numa sala de aula é que os alunos acessem o insumo compreensível e usem a L-alvo com
propósitos comunicativos. Entretanto, pesquisadores nesta área demonstram que professores
de LE fazem mais perguntas pedagógicas que perguntas referenciais.
Os três níveis de análise abordados por Nunn (
op cit
) são: 1P
o
P
. nível; refere-se ao
discurso no contexto de sala de aula que reflete os papéis de professores e alunos. É, portanto,
um discurso não-simulado. 2
P
o
P
. nível; refere-se a um discurso num contexto simulado. Aí
podem acorrer duas situações: a) interação numa simulação de um contexto fora da sala de
42
aula representando outros papéis, como por exemplo, o discurso de sala de aula simulando um
discurso produzido num restaurante ou numa estação; b) interação a partir de tópicos de textos
do material didático ou do próprio mundo dos alunos. O 3P
o
P
. nível refere-se à própria língua
como tópico a ser estudado na sala de aula, uma metalinguagem.
Segundo Nunn (
op cit
), os três níveis são partes de um sistema coerente, no qual o
nível 1 serve de base para os outros dois. Ao usar os três níveis de análise, fica mais fácil
compreender o que realmente está acontecendo na estrutura interpessoal do discurso, quando
tentativas são feitas para alterar os papéis típicos de professor/aluno.
Na distinção das perguntas pedagógicas e referenciais, a maioria das perguntas
estudadas pelo autor foi identificada como perguntas pedagógicas, mas seus efeitos não foram
apenas a demonstração de compreensão. As perguntas dos professores têm o efeito de
reproduzir sistematicamente o texto que tem sido estudado. Seus estudos mostram que as
aulas tinham o efeito de reconstruir o discurso dos textos do material didático, ou seja, o
discurso na interação professor/aluno é de reconstrução. Os professores procuram extrair
respostas dos alunos na abertura do discurso e no meio da negociação de trocas verbais. Tanto
a língua quanto o contexto de um texto são constantemente negociados com os alunos.
Assim, é possível mudar a caracterização das trocas verbais iniciadas pelas perguntas
dos professores, que eram consideradas sem propósitos para o cenário pedagógico. Na
verdade, há um propósito muito claro nesse escopo. Nunn (
op cit
) afirma que uma abordagem
diferente, como uma “abordagem reconstrutivista” pode ser mais útil nos contextos de sala de
aula.
43
2.1.4.5 A participação do aprendiz
Ellis (1994) representa a participação do aluno a partir de dois pontos de vista,
considerando que a participação do aprendiz, de certa forma, está restrita ao papel de
responder perguntas, qualitativa e quantitativamente.
Não há ainda uma evidência clara se a participação dos aprendizes na sala de aula
afeta seus ritmos de desenvolvimento; embora alguns autores, como Allwright (1984), Ellis
(1984) e Consolo (1996), afirmem que quanto mais efetiva for a participação do aluno no
discurso de sala de aula, melhor será o aprendizado da L-alvo. Estudos nesta área ainda não
oferecem resultados consistentes, assim como não há como afirmar se a “participação leva ao
aprendizado” ou se a “proficiência leva à participação”. Entretanto, conforme Ellis (
op.cit
)
demonstra, quando os estudos que investigam os efeitos da quantidade de prática nas
estruturas gramaticais específicas são considerados, há fortes bases para acreditar que a
prática não leva à perfeição. Isso sugere que a conclusão que se tem é que a proficiência leva
à participação, ou seja, quanto mais proficientes forem os aprendizes, mais se propõem a
participar.
Enquanto que a quantidade da participação parece não ser um fator principal na
aquisição de L2, a qualidade da participação é de fundamental importância. Um dos fatores
que parece determinar a qualidade da participação dos aprendizes é o grau de controle que
eles exercem sobre o discurso. Interações derivadas de práticas controladas, tais como
exercícios mecânicos, são caracterizadas por um controle restritivo do professor. Ellis (
op cit
)
identifica uma série de fatores que podem afetar a natureza das interações em sessões práticas,
por exemplo, se as respostas dos aprendizes são voluntárias ou não; a política do professor em
relação à distribuição das oportunidades práticas; e as diferenças individuais do aprendiz que
afetam o grau de ansiedade.
44
2.1.5 O papel do professor e do aluno na interação
Um professor pode desempenhar muitos papéis. Pode apresentar-se como uma
autoridade, líder, conhecedor, diretor, administrador, conselheiro, guia e até mesmo um
amigo, confidente e “pai”. Brown (1994) faz um relato de várias possibilidades de papéis por
parte de um professor interativo; entretanto, ressalta cinco, sendo que algumas podem ser
mais favoráveis em criar um ambiente mais interativo que outros:
1) o professor controlador
: um papel que é geralmente esperado em instituições
educacionais tradicionais é de “mestre” controlador, sempre em posição de domínio na sala de
aula. Neste papel, professores determinam o que os alunos fazem, o que devem falar e que
formas lingüísticas devem usar. Em geral, podem prever virtualmente todas as respostas dos
alunos porque tudo é mapeado anteriormente. Em alguns aspectos, tal controle é admirável,
porque de certa forma o professor tem um controle rígido da sala de aula, mas para que a
interação aconteça, o professor deve criar um clima de espontaneidade, em que a língua não-
manipulada possa ocorrer.
2) o professor diretor
: alguns momentos da sala de aula podem ser estruturados de tal
forma que o professor atue como um regente de uma orquestra ou um diretor de uma peça
teatral. Conforme os alunos se engajam em seus desempenhos lingüísticos espontâneos ou
exercícios controlados, sua função é fazer o processo fluir eficientemente. O motivo principal
de tal direção deve ser sempre capacitar os alunos a se engajarem numa simulação da vida
real.
3) o professor administrador
: esta metáfora expressa aquele que planeja, moldura e
estrutura as lições e o tempo da sala de aula, mas que permite a cada indivíduo ser criativo
dentro desses parâmetros. Administradores de empresa bem-sucedidos, por exemplo, mantêm
controle dos objetivos principais da empresa, mantêm os empregados ligados em suas metas,
45
fazem avaliações e dão um
feedback
, mas dão liberdade para cada um desempenhar seu
próprio trabalho.
4) o professor facilitador
: um papel menos diretivo pode ser descrito como o
facilitador do processo de aprender, de tornar o aprendizado mais fácil para os alunos,
ajudando-os a “tirar as pedras do caminho”, a encontrar “saídas mais curtas” e a “negociar um
terreno mais fértil”. O papel de facilitador requer que o professor se distancie um pouco do
papel de diretor ou administrador, e que permita que os alunos encontrem suas próprias
formas de ser bem-sucedidos. Um professor facilitador tira proveito da motivação intrínseca
ao permitir que os alunos descubram a língua mediante o uso da pragmática, ao invés de falar
sobre a língua.
5) o professor como fonte
: este é o papel menos diretivo. Na verdade, a implicação do
papel como fonte é para que os alunos tomem a iniciativa de “ir até o professor”.
Naturalmente, não é prático exercer esta metáfora a um extremo, onde o professor entra na
classe e pergunta “bem, o que vocês querem aprender hoje?”. Algum grau de controle, de
planejamento, de administração é essencial.
Para Brown (
op cit
), um professor interativo deve assumir os cinco papéis num
continuum
de ensinar diretivo ao não-diretivo. A melhor alternativa para o ensino interativo é
ir em direção ao não-diretivo, é levar gradualmente os alunos de total dependência (do
professor, dos livros e atividades de sala de aula, etc.) a uma relativa total independência. O
nível de proficiência da classe também determinará qual a extensão do grau de independência
dos alunos.
O autor ainda afirma que dependendo do país em que estão, ou da instituição em que
ensinam, do tipo de curso e dos perfis dos alunos, alguns desses papéis serão mais
proeminentes que outros, especialmente aos olhos dos alunos.
46
O estilo de ensinar do professor quase sempre será consistente com seu estilo de
personalidade, o qual pode ter uma grande variação de indivíduo para indivíduo. Para Brown
(op. cit) existem duas regras simples e práticas para que o professor se sinta mais confiante e
confortável em exercer seus papéis: (a) aceitar os vários papéis que lhe são atribuídos e (b) ser
imparcial. O fato de o professor ser amigo e simpático com alguns e autoritário com outros
pode levar os alunos a se posicionarem uns contra os outros, como se alguns fossem mais
“queridos pelo professor”.
Os papéis e os estilos que os professores desenvolvem propiciarão ferramentas
adequadas para gerar um clima positivo, estimulante e energizante na sala de aula. Brown
chama essa condição de “
rapport
”, ou seja, o relacionamento ou a conexão que o professor
estabelece com seus alunos; um relacionamento que é estabelecido mediante confiança e
respeito e que leva os alunos a se sentirem mais capazes, competentes e criativos.
Interação não é ação e reação; é mais do que isso. Na verdade, significa agir
reciprocamente (MALAMAH-THOMAS, 1987). Entretanto, pesquisas têm mostrado que não
somente o tempo de fala do professor sobrepuja o tempo de fala do aluno, mas que também a
administração do discurso e da interação é prerrogativa do professor. A linguagem do
professor geralmente segue um plano de ação de acordo com sua visão de ensinar e aprender,
intenções e objetivos do curso.
Segundo Cazden (1988), além do fato da interação ser influenciada pela agenda do
professor, o discurso de sala de aula também é marcado pela fala assimétrica e pelo controle
do professor sobre as tomadas de turnos, tópicos e mudanças de tópicos. O uso da linguagem
para administrar a interação e controlar o sistema social das relações interpessoais em sala de
aula é direcionado pelo professor, a quem os “direitos de fala” têm sido confiados pelo
contexto escolar.
47
O desenvolvimento do aluno, em termos de comportamentos previstos, pode ser, até
certo ponto, caracterizado na interação. Os aprendizes, diferentes dos professores, não seguem
uma agenda própria (ALLWRIGHT, 1984). Eles vão provavelmente corresponder ou reagir a
vários ou todas as expectativas do professor em termos de respostas verbais e não-verbais.
Essas reações podem ser repetições, respostas, silêncio ou qualquer outro tipo de instrução
que executem nas atividades de sala de aula.
A interação no ensino de LE é vista por Allwright (op.cit, p. 159) como “inerente à
noção básica da própria pedagogia de sala de aula. É uma co-produção”. A comunicação e a
ação física em que os professores e alunos se engajam, tanto no sentido pedagógico quanto no
social, derivam do conceito de interação adotado como pressuposto básico no ensino formal.
Segundo o autor, há quatro modelos de participação:
cooperação
, que é simplesmente fazer o
que é solicitado ou esperado. É praticamente uma resposta cooperativa do aprendiz à
di eção
do professor. Entre esses dois extremos estão a
negociação
e a
navegação
. A negociação é um
modelo de participação que posiciona os papéis dos interlocutores o quanto mais simétrico
possível; ou seja, é a tentativa de tomar decisões através de um consenso, ao invés de uma
tomada de direção unilateral. A navegação, por sua vez, é a tentativa dos aprendizes de
superar as quebras da comunicação, tentando dar a volta por cima dos obstáculos que as lições
apresentam. Através das várias contribuições individuais, pode-se observar que os alunos vão
personalizando as instruções que vão recebendo, para torná-las relevantes às suas
necessidades particulares.
r
Ao co-produzirem as lições na sala de aula, é desejável que professores e aprendizes
cooperem, simultaneamente, com os cinco aspectos da interação (ALLWRIGHT,
op.cit
):
administração do turno, do tópico, da tarefa, da atmosfera e do código. O turno refere-se à
contribuição individual de cada um; a administração do tópico refere-se ao conteúdo de cada
contribuição; a administração da tarefa refere-se ao que se requer de cada participante, em
48
termos de operações mentais; a administração da atmosfera refere-se ao estabelecimento de
um ambiente sócio-emocional adequado para a interação e, por fim, a administração do
código, que se refere à administração dos meios básicos da comunicação, isto é, o tipo de
registro, expressões regionais, etc.
Resumindo os pressupostos acima, verifica-se que os papéis de professores e alunos se
configuram mediante o estabelecimento de diversos aspectos da interação. Embora para
Brown (1994) a ênfase maior esteja na comunicação em si; para Allwright e Ellis (1984) a
interação é uma questão social, o
sine qua non
da pedagogia de sala de aula; por definição e
na prática, uma co-produção de todos os participantes.
Foram apresentadas nesta seção algumas concepções sobre interação. A relação entre
insumo e interação foi analisada partindo de pressupostos que tratam das primeiras
modificações interacionais da fala do falante nativo para com os não-nativos. Foram
discutidos quais são as diferenças principais do discurso entre FN/FNN e como esse insumo
pode se tornar aquisição. Foi explorada a natureza do discurso em sala de aula, bem como os
aspectos dessa natureza, tais como as características gerais e a estrutura do discurso, as
tomadas de turno, a fala do professor, a participação do aprendiz e os papéis do aluno e do
professor na interação.
2.2 - COMPETÊNCIAS DO PROFESSOR
Nesta seção são abordadas as competências do professor de LE, partindo de uma
análise de dois modelos de competências. Depois, focaliza-se mais detalhadamente na
competência comunicativa, que é um dos aspectos mais relevantes para esta pesquisa. Em
49
seguida, é definido o perfil lingüístico-comunicativo do professor de LE no Brasil e, por fim,
é feito um apanhado sobre a abordagem de ensinar do professor, trazendo cinco estilos de
ensinar em contextos formais de aprendizagem de línguas.
Com o objetivo de discutir quais são, afinal, as competências necessárias ao professor
de língua estrangeira, faremos uma análise do Modelo de Competências do Professor de LE,
desenvolvido por Almeida Filho (1999, 2002) (Figura 2: Competências do Professor de LE) e
da Equação de Competências de um Educador em Língua Estrangeira de Basso (2001)
(Figura 3).
A questão das competências do professor de LE alcançou uma certa importância em
nosso país, na década de 1990, com o Modelo de Competências do professor de LE,
desenvolvido por Almeida Filho (1999, 2002), cuja equação ele apresenta, pictoricamente,
através de uma “figura representativa das competências num estágio ideal de
desenvolvimento. Segundo Alvarenga (1999), para compor o seu Modelo, Almeida Filho
inspirou-se em outros pesquisadores internacionais (Hymes, Canale e Swain, no que concerne
à competência lingüístico-comunicativa) e nacionais (Mello, no que se refere à competência
profissional do professor). Para este último, de acordo com Alvarenga (
op.cit
), diferentemente
dos estudos atuais que buscam entender a questão da competência do professor de uma
maneira mais abrangente, os primeiros estudos se referiam ao “bom” professor, ou seja,
utilizavam conceitos como “melhor”, “pior”, etc.
A partir do modelo de Almeida Filho (1999, 2002), seguiram-se outros trabalhos com
enfoque nas Competências do Professor, sendo os mais recentes as teses de doutorado de
Alvarenga (1999) e de Basso (2001). A tese de Alvarenga (1999) “recoloca as questões
teóricas de um modelo de competências focalizando-as na sua subjacência ao ensino de um
professor-participante de LE (inglês), em serviço, ou seja, um professor graduado e já atuando
no ensino fundamental da rede pública”, enquanto que a tese de Basso (2001) busca contribuir
50
para mapear as competências atuais do professor de LE, as trabalhadas em pré-serviço e as
efetivamente alcançadas com o graduando de Letras, confrontando-as com as competências
esperadas pela sociedade, para propor finalmente um perfil do educador em LE que possa
atender mais facilmente às exigências do mercado e os seus objetivos.
Para Almeida Filho (2002), todos os professores, dentro de suas salas de aula, ou antes
e depois das aulas, são orientados por uma dada abordagem. As concepções de linguagem, de
aprender e de ensinar uma L-alvo, se verificam de acordo com as competências dos
professores. A competência mais básica do professor, constituída de intuições, crenças e
experiências, é a
implícita
. A essa competência implícita BourdieuTP
3
PT se refere como o
habitus
do professor, ou seja, um conjunto de disposições tidas e confirmadas pelo professor ao longo
do tempo e das experiências que vivencia. Uma vez que o professor possua uma competência
lingüístico-comunicativa
para operar em situações de uso da L-alvo, ele já pode ensiná-la num
sentido básico ou tosco de ensinar. Para Almeida Filho
TP
4
PT, a competência lingüístico-
comunicativa se constitui na competência do professor de produzir linguagem em contextos
de uso e comunicação, insumo de qualidade para que os seus alunos tenham isso como
insumo útil para produzir competência eles mesmos. No entanto, para usufruir de uma
abordagem consciente, o professor necessita desenvolver uma competência
aplicada
, que
capacita o professor a ensinar de acordo com o que sabe conscientemente (
subcompetência
teórica
) permitindo a ele explicar com plausibilidade porque ensina da maneira como ensina e
porque obtém os resultados que obtém. Finalmente, para realizar-se plenamente como
professor de línguas, imbuído de seu papel de educador, o professor precisa desenvolver uma
competência
profissional
, pela qual ele conhecerá seus deveres, potencial e importância social
no exercício do magistério na área de ensino de línguas. Aqui o professor administra seu
crescimento profissional, seu engajamento em movimentos e atividades de atualização de
TP
3
PT 1991, in: Almeida Filho, 1993/2002, p. 20
51
forma permanente. As competências propostas no modelo de Almeida Filho (op. cit) são
ilustradas na figura 03, a seguir:
Figura 03: Figura representativa das competências num estágio ideal de desenvolvimento,
baseado em Almeida Filho (2002 p. 20-23).
Discorrendo sobre a interação entre as competências, Almeida FilhoTP
5
PT explica que há
uma interação intensa entre as competências. Elas se sobrepõem e se influenciam
mutuamente. A competência lingüístico-comunicativa e a aplicada se tocam através da
competência profissional. A competência implícita está por toda parte, quer dizer, está na base
de tudo. Em condições limitantes, a competência implícita é o caldo básico, sendo ela que
sustenta a ação do professor. Um professor que tenha se desenvolvido em etapas sucessivas
diminui o espaço para ações espontâneas, intuitivas, mas sem deixar de contar com o estofo
da competência implícita. O professor pode passar por uma grande fase intermediária, onde
ele é parcialmente teórico, parcialmente intuitivo.
TP
4
PT Comunicação pessoal, in: Alvarenga, 1999:43.
52
Em sua
Equação de Competências Necessárias a um Professor de LE: Uma
Proposta Alternativa de Construção e Interação Social do Conhecimento
, Basso (2001)
apresenta uma proposta alternativa de construção e interação social do conhecimento,
representada por uma figura contendo duas faces que se completam e que devem se
desenvolver harmoniosamente, a fim de que o perfil do educador de LE seja alcançado.
Vejamos a figura 04:
Competência de Sustentação
do discurso
Competência
Formulaica
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COMPETÊNCIA
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Traços de Personalidade
Afetividade
Ambiente
Formação
Motivação
Crenças
Ideologia
Valores
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p
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Figura 04– Equação de Competências de um Educador em Língua Estrangeira – Basso/2001 (P. 155).
Uma face tem como foco principal a Competência Discursiva (CANALE, 1982;
BACHMANN, 1990; CELCE-MURCIA, 1995), que facilita o papel e a função social do
professor ao elaborar seu discurso, e onde fica o “domínio dos saberes ou dos conhecimentos
na área” (MELLO, 1987). Ao redor dela, fica a Competência Estratégica (CANALE e
SWAIN, 1980; CANALE, 1982; CELCE-MURCIA, 1995), que compreende a Competência
TP
5
PT Comunicação pessoal, in: Alvarenga, 1999:55.
53
Formuláica, a Competência de Sustentação do Discurso e a Competência Paralingüística, que
são usadas pelo professor para compensar alguma lacuna sentida em seu esforço para alcançar
o pleno uso da LE, ou seja, o discurso.
Desenvolver a Competência Comunicativa (HYMES, 1987; CANALE, 1982;
BACHMANN, 1990; CELCE-MURCIA, 1995; ALMEIDA FILHO, 1997,2002) é o alvo
principal de um processo de ensinar LE fundamentado no comunicativismo, pois encerra o
conhecimento da cultura e da força ilocucionária da língua. Em contextos de ensino da LE
como o do Brasil, a Competência Comunicativa parece depender da Competência Lingüística
(HYMES, 1987; CELCE-MURCIA, 1995; ALMEIDA FILHO, 1997, 2002), que, por sua vez,
compreende a capacidade de organizar a nova língua gramaticalmente.
Dentre as competências que permeiam a Competência Estratégica e as Competências
Comunicativa e Lingüística (Competências Sociocultural, de Uso, Ilocucionária, Lexical,
Textual, Gramatical), destaca-se a Competência Meta (ALMEIDA FILHO, 1997, 2002), que
implica (o professor) saber falar sobre o funcionamento da língua que
leciona, usando uma taxonomia variada como aquela advinda da
gramática normativa, da Lingüística Aplicada. Esta competência
diferencia ou deveria diferenciar sobremaneira um nativo ou um
professor leigo – que trabalha basicamente fazendo uso da sua
Competência Implícita, de um professor graduado em Letras (p.153).
A outra face da equação de competências do professor de LE tem como centro a
Competência Profissional (MELLO, 1987), também chamada de Competência
Metaprofissional (ALMEIDA FILHO, 2002), que encerra os elementos necessários à
formação do professor de línguas. Ao redor da Competência Profissional encontra-se a
Competência de Ensinar que Almeida Filho (1997, 1999, 2002) denomina de Competência
Implícita, que é a competência inerente a todo aquele que atua como professor (BASSO,
2001). Essa Competência Implícita vai se tornando mais e mais profissional, à medida que o
professor vai construindo sua formação teórica respaldada pela prática.
54
Pela Competência Reflexiva (SCHÖN, 2000; WALLACE, 1991; PERRENOUD,
2000), que, segundo Basso, diz respeito ao conceito de Competência Aplicada, de Almeida
Filho (1997, 2002) o professor do novo milênio mostra-se capaz de refletir e buscar soluções
para os problemas que enfrenta no seu cotidiano (BASSO, 2001). O professor reflexivo busca
uma formação continuada, pois ele compreende que o profissional competente é aquele que se
mantém atualizado e está sempre preocupado em suprir suas deficiências. Finalmente, a
Competência Formativo-Profissional e a Competência Político-Educacional vão mostrar ao
professor seu compromisso com a educação do país, com seus alunos, com sua classe e com a
sociedade. Aí vamos encontrar as Competências Teórico-Pragmática, Crítico-Analítica,
Organizacional, Social, Ética, pelas quais o professor não será apenas um informador, mas um
formador, aquele que ao ensinar a língua mostra aos alunos novos caminhos a trilhar,
‘desestrangeirizando’ (ALMEIDA FILHO, 1999) a língua-alvo, que passará a fazer parte
deles mesmos.
As competências deverão funcionar harmoniosamente, estando, as duas faces da
Equação de Basso (2001), da Competência Profissional e da Competência Discursiva, que
comanda a forma e o uso da língua, em constante interação, a fim de que o professor possa
realizar plenamente sua tarefa de educador pela LE. Essas duas faces deverão funcionar em
perfeita sincronia, considerado fatores como ambiente, afetividade, traços da personalidade,
valores, motivação, crenças, formação, ideologia, etc.
De acordo com Basso (2001), o professor-educador pela LE do novo milênio é aquele
que possui as competências esboçadas na Equação, as quais, certamente lhe ajudarão a tornar-
se um educador consciente de seu papel político-social, de formador de idéias e de mudanças,
através do ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira que, com o passar do tempo
‘desestrangeirizar-se-á’, passando a fazer parte das entranhas daqueles que estão expostos a
ela.
55
2.2.1 - Competência comunicativa
Nesta subseção são discutidos aspectos concernentes à competência oral em uma
língua. A natureza geral da língua falada e a interação de sala de aula podem nos mostrar a
complexidade dos fatores a serem considerados na análise da linguagem verbal.
A competência comunicativa é a chave central que sustenta as abordagens mais
recentes, quanto ao insumo e análise da língua. O termo
competência
tem-se construído num
dos mais confusos e controvertidos conceitos, tanto na Lingüística quanto na Lingüística
Aplicada. Atualmente, passado quase trinta anos do despontar do movimento comunicativo,
ainda se busca uma normalização ou consensualidade para o termo (SILVA, 2000).
Neste trabalho,
competência comunicativa
engloba
competência
e
desempenho
(assim
como em Hymes (1979), Stern (1987) e outros). Na prática, não há como separar
competência
e
desempenho
, pois o primeiro se constitui num sistema abstrato e, como tal, só é percebido
através do desempenho. A
competência
pode ser definida, então, como conhecimento abstrato
armazenado na mente do indivíduo e o desempenho por sua vez, como alguma coisa que esse
indivíduo “faz” com esse conhecimento, conhecimento este que compreende regras
gramaticais, regras contextuais ou pragmáticas na criação de discurso apropriado, coeso e
coerente.
Hymes (1979) foi o primeiro a incorporar a dimensão social ao conceito de
competência (diferenciando da proposta clássica de Chomsky (1965), segundo a qual
competência
significa conhecimento da língua, ou seja, das estruturas e regras, e
desempenho
o uso real da língua em situações concretas, sem preocupação com a função social da língua).
Ao acrescentar comunicativismo ao termo competência, demonstrou claramente estar
preocupado com o uso da língua.
56
Segundo Hymes (1979), os quatro aspectos a seguir sustentam a produção da língua. O
primeiro aspecto refere-se às regras formais da estrutura. O segundo aspecto é a
praticabilidade para o uso da língua, considerando fatores psicológicos tais como limitações
de memórias e dispositivo de percepção. O terceiro aspecto proposto por ele focaliza a
apropriação do contexto, que indica uma interseção ou bases comuns entre as esferas dos
fatores linguísticos e sócio-culturais. O contexto social como um fator determinante para a
produção oral de linguagem, é fortemente enfatizada em Hymes. O quarto relaciona-se à área
que normalmente nos referimos como o uso aceitável, ou seja, àquilo que, de fato, fazemos ou
não.
A partir de Hymes, e aparentemente inspirados por ele, vários autores enfrentaram a
difícil tarefa de conceituar competência comunicativa. Canale e Swain (1980) oferecem um
arcabouço teórico para a descrição dos diferentes tipos de competência. Este estudo
representou um grande avanço na área de ensino/aprendizagem de L2/LE durante uma
década. Segundo Canale e Swain (op. cit), a competência comunicativa é composta por:
1) competência gramatical
: compreende o domínio do código lingüístico;
2) c
ompetência sociolingüística
: sendo o conhecimento das regras sociais que
norteiam o uso da língua;
3) competência discursiva
: diz respeito à conexão de uma série de orações e frases
com a finalidade de formar um todo significativo;
4) competência estratégica
: estratégias de enfrentamento devem ser usadas para
compensar qualquer imperfeição no conhecimento das regras.
Para Canale e Swain, os alunos só adquiririam
competência comunicativa
se ficassem
expostos, de maneira uniforme, a essas quatro formas de competência.
57
Um ponto que dificulta a compreensão do conceito de
competência comunicativa
recai
sobre a noção de
proficiência
. Stern (1987), em contexto de ensino/aprendizagem de línguas,
identifica
competência
com
proficiência
ao assinalar que “entre diferentes aprendizes, em
diferentes estágios de aprendizagem de L2/LE, a competência ou proficiência vai do zero à
“proficiência do nativo”. Segundo ele,
competência
é um conceito dinâmico e não estático, no
que difere de alguns autores que acompanharam Chomsky mantendo a dicotomia clássica
entre
competência
e
desempenho
.
Para citar um modelo neste sentido, que difere de Stern, temos, por exemplo, Llurda
(2000). A autora faz um apanhado geral entre competência, proficiência e habilidade
comunicativa na tentativa de esclarecimento dessas terminologias. Segunda a autora,
baseando-se em vários outros autores (TAYLOR, 1988; CUMMINS, 1983, apud LLURDA
2000), competência pode ser aceita na concepção chomskyana como um estado estático e
permanente, presente em todos os seres humanos; enquanto que habilidade comunicativa será
aplicada à habilidade que os falantes têm de usar uma dada língua (proficiência lingüística),
com ênfase especial ao uso de segunda língua (proficiência comunicativa).
Assim como Canale e Swain, Bachman (1991) tamm oferece algo mais do que uma
definição para o que seja
competência comunicativa
: um arcabouço teórico. Ele parte do
modelo de Canale e Swain e o amplia. O que para o autor era competência passou a ser
“conhecimento”, pois argumenta que o termo competência traz consigo uma grande e
desnecessária bagagem semântica, e por isso não é mais útil como conceito. Seu arcabouço
consiste em duas grandes vertentes:
áreas de conhecimento
e
estratégias metacognitivas
. O
conhecimento se divide em organizacional e pragmático. O conhecimento
organizacional
determina como os textos oral e escrito se organizam, e o
pragmático
, como os
enunciados/frases, intenções e contexto se relacionam para produzir significado. O
organizacional
, por sua vez, se subdivide em gramatical e textual. O pragmático se subdivide
58
em:
proposicional,
referente ao conteúdo proposicional;
funcional,
referente às funções da
linguagem; e
sociolingüístico
referente ao uso da língua num determinado contexto. As
estratégias metacognitivas
compreendem
avaliação
do falante (determinando o desejo de se
alcançar um determinado objetivo);
objetivos
que têm em vista; e
planejamento
que realiza
antes de emitir o enunciado em mente.
Para Elder (2001), a competência lingüístico-comunicativa de professores de línguas
extrapola o discurso pedagógico rotinizado. A proficiência lingüística do professor inclui tudo
o que se espera que um falante-usuário da língua seja capaz de realizar, tanto em contextos
formais como informais de comunicação, além de uma gama de habilidades específicas. Essas
habilidades específicas incluem a competência metalingüística na terminologia dos assuntos
abordados, além das diversas subcompetências discursivas para a produção da língua e o
gerenciamento do discurso de sala de aula, em contextos específicos de ensino e
aprendizagem.
Um conceito mais atual de competência comunicativa também foi dado por Almeida Filho
(1997, 1999, 2002). Para o autor, competência comunicativa não é um processo simples, mas
um processo complexo que depende de outras competências e conhecimentos. A competência
comunicativa inclui o
desempenho
do participante, que por sua vez, depende do seu grau de
acesso aos conhecimentos disponíveis. Segundo o autor, ao desenvolver competência
comunicativa, desenvolve-se também a competência lingüística, mas o inverso já não é
verdadeiro. Outras subcompetências da competência lingüística trabalhadas pelos professores
são o conhecimento meta-lingüístico e meta-comunicatico, ou seja, o conhecimento de dizer
nomes, definir termos e explicitar regras gramaticais e socioculturais.
Para efeitos teóricos dessa dissertação, considera-se a competência comunicativa
englobando a competência e o desempenho, pois na prática não há como separar um do outro.
O termo proficiência, descrito por Stern (op. cit), leva à idéia de gradação e, portanto, pode
59
fazer parte de um processo de aperfeiçoamento, de um estágio de familiarização com a língua
alvo. Esses três conceitos, competência, desempenho e proficiência, para Almeida Filho,
assim como para a pesquisadora, fazem parte de um processo complexo que depende de
outras competências e conhecimentos, que devem funcionar harmoniosamente.
2.2.2 O perfil lingüístico-comunicativo do professor de LE no Brasil
A questão do falante nativo e não-nativo ainda é, hoje, um assunto polêmico, seja
ideológico, sociocultural ou sociolingüístico. Nesta seção, são explorados o perfil lingüístico-
comunicativo do professor no Brasil, bem como aspectos da distinção “professor nativo” e
“professor não-nativo” e quais suas implicações para o ensino de LE.
Uma amostra do perfil dos professores de língua estrangeira (inglês) no Brasil é dada
por Consolo (1996, 1999, 2000, 2002), que vem estudando a questão da proficiência oral de
professores não-nativos há anos nos cenários de ensino de língua estrangeira. Segundo o
autor, existem no Brasil, em geral, dois perfis de professores; aqueles que nasceram de pais
que têm como L1 o inglês e por isso cresceram numa esfera bilíngüe e aqueles que foram
aprendizes de L2/inglês como língua estrangeira. Existem dentro desses perfis profissionais
com excelente nível de proficiência oral.
Entretanto, dentre esses profissionais, há também um número significativo de PNNs
que não têm um comando adequado da língua, especialmente o inglês oral (CONSOLO,
2002)
.
Isso é devido a várias razões, no caso do ensino fundamental e médio, por exemplo, os
professores muitas vezes carecem desse comando adequado devido às falhas ou lacunas em
sua própria formação de base, ou seja, na formação acadêmica. Por outro lado, o autor ainda
constata que esses professores não têm incentivos ou oportunidades para melhorar a produção
oral em seu próprio país, e poucos profissionais têm a oportunidade de freqüentar escolas
60
particulares de idiomas ou de viajar para o exterior para aperfeiçoar sua competência no
idioma.
Um ponto importante que Consolo também considera nesse escopo é que o inglês,
como língua internacional, tem incorporado mudanças lingüísticas, considerando as variações
regionais e dialetos. Mudanças sociais e pragmáticas incorporadas ao comportamento verbal,
exigências pedagógicas, questões das variações lingüísticas dos falantes nativos e não-nativos
conduzem a uma complexa configuração das variáveis dentro das visões que influenciam o
ensino de inglês como língua estrangeira.
Consolo (1999) investiga a experiência sócio-lingüística dos falantes de inglês e
afirma que o fato de o inglês ser usado tanto por falantes nativos quanto por falantes não-
nativos levanta várias implicações, considerando o inglês como língua internacional:
1) há vários padrões do inglês falado;
2) o conteúdo dos cursos de idioma não pode deixar de considerar a diversidade do
uso da língua e;
3) a diversidade na habilidade para o uso da língua entre os professores de LE, e suas
implicações para a profissão, no que se refere à competência e desempenho.
Entretanto, parece que tais considerações não estão livres de crenças preconceituosas e
errôneas acerca da competência e experiência lingüística dos professores. O autor faz um
paralelo importante quanto ao construto sócio-lingüístico de falantes nativos. Uma pessoa que
nasce e é educada num país de língua inglesa é considerada como falante nativa desta língua.
Entretanto, caso essa pessoa mude para um outro país onde o inglês é L2 e viva anos ali, seu
comando de inglês já não será o mesmo dos falantes que nunca deixaram de viver em seu país
de origem. Essa pessoa pode também desenvolver um excelente nível de competência na
língua falada neste país (L2), a ponto de ser considerado, talvez, um usuário com competência
61
bilíngüe em ambas as línguas. Nessas mesmas bases, brasileiros, que falam inglês como LE,
podem atingir um nível de competência próximo ao nativo, devido aos anos de estudo da
língua e vivência em países de língua inglesa, e ser considerados também falantes bilíngües de
português e inglês.
Competência oral, então, é discutida por Consolo (1999) em relação a dois perfis de
professores, o nativo e o não-nativo. Esses perfis podem ser afetados pela cultura e pelo meio
onde esses professores vivem (DAVIES, 1991). Para Davies, o falante nativo tem uma
capacidade única de produzir um discurso espontâneo e tem uma enorme capacidade de
memória para armazenar itens lexicais completos. O falante nativo exibe grande competência
comunicativa quanto à produção e compreensão, e tem também uma capacidade única para
escrever de forma criativa.
Consolo, assim como Medgyes (1994), apresenta alguns contra-argumentos em
relação às citações de Davies. Dizer que o falante nativo tem um comando único e uma
capacidade singular de memória é, na verdade, um erro lógico, e como professores de LE,
todos sabemos que existem muitas maneiras de medir a proficiência. Por outro lado, não
existe qualquer medida ou parâmetro de comparação entre um e outro. Não existe também
nenhum grau de fluência e de espontaneidade a ser medido. Por exemplo, em alguns tipos de
discursos ou de escrita criativa, os falantes nativos podem apresentar mais pausa e lentidão,
procurando por estruturas ou termos mais adequados que os falantes não-nativos.
Questões discursivas e sócio-culturais da sala de aula e a interação professor/aluno são
aspectos mais relevantes quando se comparam professores nativos e não-nativos. Embora os
professores nativos sejam mais potencialmente usuários do inglês que os professores não-
nativos, algumas questões específicas da sala de aula implicarão em modificações na fala dos
professores (MEDGYES
op.cit
). A fala do professor se diferencia daquela que os falantes, em
geral, usam fora da sala de aula. Portanto, em determinados níveis do discurso, as
62
características da fala do professor nativo e não-nativo podem se equiparar, diferenciando-se
da fala produzida dia-a-dia pelos falantes nativo e não-nativo (CONSOLO, 1996).
O inglês é uma língua internacional por causa de seu aspecto político, cultural, social e
histórico. Esses aspectos somados aos aspectos lingüísticos têm contribuído para o
estabelecimento do dogma do falante nativo (PHILLIPSON, 1992).
As origens da questão do dogma do falante nativo datam de um período onde se
esperavam que os aprendizes fossem fortemente influenciados pela cultura da L-alvo. As
normas e práticas de ensino dominariam o conteúdo lingüístico das aulas, a metodologia de
ensino e até mesmo influenciariam o comportamento cognitivo e social dos aprendizes
(PHILLIPSON,
op.cit
). Para se atingir essas metas, cultivava-se a crença de que os
professores nativos eram “intrinsecamente melhores” que os professores não-nativos.
Estudos feitos por Phillipson (
op.cit
) demonstram exemplos de professores nativos que
trabalhavam em outros países e que não eram profissionais qualificados para o exercício do
magistério. Somado a essa falta de qualificação adequada, os professores nativos geralmente
não tinham nenhum “
insight
” quanto à experiência lingüística e cultural dos aprendizes nos
países onde ensinavam.
Vários estudos foram feitos quanto à visão dos alunos referente às características dos
professores de LE e suas preferências por PN e PNN. Em sua tese de doutorado, Consolo
(1996) relata as visões e preferências de professores e alunos em duas escolas de idioma e
uma universidade. O resultado de sua pesquisa mostra que, embora a maioria dos alunos tenda
a preferir professores nativos, eles também consideram importantes as habilidades
pedagógicas, e que os professores brasileiros podem ser competentes tanto pedagógica quanto
lingüisticamente. Consolo ressalta que, embora o dogma do falante nativo tenha influenciado
muitos alunos e professores, existe uma tendência a restaurar o status do professor não-nativo
no ensino de LE.
63
Após algumas considerações quanto ao perfil do PN e PNN, o autor traz algumas
implicações acadêmicas para o cenário de ensino de LE. A questão da competência lingüística
do professor nativo, influenciada pela questão do falante nativo ideal e por questões político-
econômicas, teve uma influência significativa no cenário de ensino de LE. Entretanto, alguns
autores (CONSOLO, 1996, MEDGYES, 1994, entre outros) mostram que professores não-
nativos apresentam vantagens em relação ao professor nativo. Todo professor, sendo
adequadamente qualificado, pode desempenhar um trabalho satisfatório no ensino de LE.
Um ponto positivo dos professores nativos é que sua experiência quanto ao uso do
inglês frente às diversas situações e aos aspectos sócio-culturais que governam a produção da
fala e da interação verbal pode enriquecer o modelo que fornecem aos aprendizes. Os
professores nativos também podem julgar a habilidade de comunicação dos aprendizes dentro
dos critérios para o qual são esperados em outros encontros verbais fora da sala de aula.
Os professores não-nativos podem preencher os requisitos profissionais para o ensino
de LE após a preparação adequada quanto à competência lingüística e qualificações
pedagógicas. Professores não-nativos, bem sucedidos quanto ao uso proficiente da língua,
podem ensinar e compartilhar estratégias de aprendizagem com seus alunos. Esses professores
também têm uma melhor capacidade em compreender os problemas e as dificuldades dos
alunos, por causa da influência da L1 e podem, se necessário, comparar eficientemente as
duas línguas. Portanto, professores e alunos precisam estar cientes das considerações acima
relatadas para que concepções e crenças inadequadas não venham interferir e afetar o cenário
de ensino de LE.
64
1.0.0 Abordagem de ensinar do professor
Para orientar as decisões e ações na construção do seu ensino, o professor apresenta
uma abordagem básica de ensinar. Para Almeida Filho (2002), uma abordagem equivale a um
conjunto de disposições, conhecimentos, crenças, pressupostos e eventualmente princípios
sobre o que é linguagem humana, LE, e o que é aprender e ensinar uma língua-alvo.
Abordagem também é compreendida como uma filosofia, um enfoque, uma aproximação, um
tratamento, uma lida. O propósito de abordar é justamente o processo ou a construção do
aprender e do ensinar uma nova língua.
Uma abordagem de ensinar LE também é vista como força potencial, porque ela é
especificamente ativada sob condições de ensino. Essa força imprime movimento/ação ao
processo de ensinar a partir de energias advindas de motivações profissionais para produzir
experiências de aprender a L-alvo.
Todo professor de LE constrói um ensino com pelo menos quatro dimensões, uma não
redutível à outra, mas todas influenciadas simultaneamente por uma dada abordagem. Assim,
o que faz o professor ensinar como ensina é basicamente a sua abordagem que varia entre os
pólos do explícito/conhecido e do implícito/desconhecido por ele. As quatro dimensões
distintas são: o planejamento das unidades de um curso; a produção de materiais de ensino ou
a seleção deles; as experiências na, com e sobre a língua-alvo realizadas com os alunos dentro
e fora da sala de aula e a avaliação. Todas essas dimensões podem ser representadas também
como fases, que se relacionam umas com as outras de modo que alterações operadas numa
delas podem acarretar mudanças nas outras. O fenômeno de produzir alterações se apresenta
como reações proativas ou retroativas nessa cadeia (ALMEIDA FILHO, 2002).
Um nível que está abaixo da abordagem de ensino, segundo Almeida Filho (2002),
que é menos abstrato e menos abrangente, é o método de ensino. Chamamos
65
convencionalmente de métodos as distintas e reconhecíveis práticas de ensino de línguas com
seus respectivos correlatos, ou seja, os planejamentos das unidades, os materiais de ensino e
as formas de avaliação do rendimento dos aprendizes.
Métodos de ensino geralmente variam. Alguns professores dão palestras, outros
demonstram ou discutem; alguns focalizam nas regras e outros nos exemplos; alguns
enfatizam a memorização e outros, a compreensão. A qualidade do aprendizado ou do ensino
de um dado aluno ou professor é governado, em parte, pela habilidade nativa do aluno ou do
professor, e pela preparação anterior; mas também pela compatibilidade de sua abordagem de
ensino e aprendizagem.
Prabhu (2003), inspirado em Brumfit, traça um paralelo entre ensinar e aprender. Para
Prabhu, ensinar é uma atividade intencional, que pode ser planejada, conduzida com esforço,
controlada, regulada e observada enquanto acontece. Pode-se optar por fazê-la ou não,
conduzi-la de uma forma ou de outra, pará-la ou continuá-la, etc., sendo que o que é feito
pode ser observado, gravado ou analisado. Por outro lado, a aprendizagem pode ocorrer com
ou sem a intenção do aprendiz ou mesmo à revelia do seu desejo, e não pode ser iniciada ou
interrompida, acelerada ou não, tanto pelo professor quanto pelo aprendiz. É algo que não
pode ser planejado, controlado, observado ou gravado. Aprender, pode-se dizer, é
imprevisível e intangível.
As técnicas de ensino, por sua vez, ocupam um terceiro nível, abaixo do método e da
abordagem. As técnicas executam um método que é compatível com uma dada abordagem
(LARSEN-FREEMAN, 2000). São procedimentos que partem do professor em função do
aluno, para uma melhor aprendizagem.
66
1.0.0.0 Estilos de ensinar
Desencontros geralmente ocorrem entre os estilos de aprendizagem dos alunos e os
estilos de ensinar dos professores, desencadeando efeitos indesejáveis na qualidade do
aprendizado do aluno.
O estudo sobre as várias dimensões de estilos de ensinar mostra-se relevante para o
ensino de LE. Numa entrevista pessoal com Eunice R. Henriques
TP
6
PT (dia 30/09/2004), a
entrevistada declarou que os estilos de ensinar são compatíveis com a abordagem de ensinar
do professor.
Os estilos de ensinar têm sido extensivamente discutidos em literatura da psicologia
educacional e especificamente em contextos de aprendizagem de línguas (OXFORD, 1990;
WALLACE E OXFORD, 1992; OXFORD E EHRMAN, 1993 apud FELDER e
HENRIQUES, 1995).
Os estilos de ensinar podem ser definidos em termos de responder às seguintes cinco
perguntas, que podem ser direcionadas tanto para aprendizes quanto para professores:
1. Que tipo de informação o indivíduo preferencialmente percebe:
sensorial
– sinais,
sons, sensações físicas ou
intuitivas
– memórias, idéias, “
insights
”?
2. Através de que modalidade a informação sensorial é mais eficientemente percebida:
visual
– figuras, diagramas, gráficos, demonstrações, ou
verbal
– palavras escritas e
faladas, e fórmulas?
3. Como o indivíduo prefere processar a informação:
tivamente
– através de
empreendimento em atividades físicas ou através da discussão, ou
reflexivamente
através da introspecção?
a
TP
6
PT Docente do departamento de Lingüística Aplicada da UNICAMP.
67
4. Como o indivíduo progride em relação à compreensão:
seqüencialmente
– numa
progressão lógica de acréscimo de pequenos passos, ou
globalmente
– a passos largos,
holisticamente?
5. Com que tipo de organização da informação o indivíduo fica mais confortável para
trabalhar:
indutiva
– fatos e observações são dadas, princípios são inferidos, ou
dedutivos
– princípios são dados, conseqüências e aplicações são deduzidas?
Indivíduos sensoriais e intuitivos
Em sua teoria de tipos psicológicos, Jung (1971, apud FELDER e HENRIQUES,
1995) introduziu os termos sensação e intuição como duas formas que as pessoas tendem a
perceber o mundo. Sensorial envolve observar o agrupamento de dados através dos sentidos;
intuição envolve uma percepção indireta do subconsciente – acessando a memória,
especulação e imaginário. Todas as pessoas usam as duas faculdades constantemente, mas a
maioria tende a favorecer uma a outra.
Os sensoriais tendem a ser concretos e metódicos, os intuitivos a serem abstratos e
imaginativos. Os sensoriais gostam de fatos, dados e experimentos; já os intuitivos trabalham
melhor com princípios, conceitos e teorias. Os sensoriais são pacientes com detalhes, mas não
gostam de complicações; os intuitivos ficam aborrecidos com os detalhes e gostam de
complicações. Os sensoriais são mais inclinados a confiar mais na memorização que os
intuitivos, como estratégia de ensino e ficam mais confortáveis ensinando e seguindo regras e
procedimentos padronizados. Os intuitivos gostam de variar, não gostam de repetições e
tendem a ser mais bem equipados que os sensoriais para acomodar novos conceitos e
exceções de regras. Os sensoriais são mais cuidadosos, portanto, mais vagarosos; os intuitivos
são mais rápidos e, portanto, menos cuidadosos.
68
Ehrman e Oxford (1990, apud FELDER e HENRIQUES, 1995) estudaram abordagens
de ensinar que eram mais preferidas pelos sensoriais e intuitivos em um programa de
treinamento intensivo de línguas. Os sensoriais usavam uma variedade de técnicas de
memorização como
drills
e
flash cards
, gostavam de material didático que pudesse ser mais
bem descrito como mais prático que fantasioso, e gostavam de classes que eram mais bem
estruturadas e organizadas com objetivos bem claros. Os intuitivos preferiram abordagens de
ensinar que envolvesse grande complexidade e variedade, tinham a tendência de ficar
entediados com
drills
e eram mais capazes que os sensoriais para ensinar independentemente.
Indivíduos verbais e visuais
As formas que as pessoas transmitem a informação sensorial foram classificadas aqui
em visual e verbal. O primeiro prefere que a informação seja apresentada visualmente – em
figuras, diagramas, quadros, linhas do tempo, filmes, etc – ao invés de palavra falada ou
escrita. Os aprendizes verbais preferem explicações faladas ou escritas a apresentações
visuais. A terceira categoria (toque, olfato, paladar) apresenta um papel secundário quanto à
instrução de L2.
Indivíduos ativos e reflexivos
Os processos mentais complexos, por onde a informação percebida é convertida em
conhecimento, podem ser convenientemente agrupados em duas categorias: a experimentação
ativa e a observação reflexiva. O processo ativo envolve fazer alguma coisa no mundo externo
com a informação – discuti-la, explicá-la ou testá-la de alguma forma – e o processo reflexivo
envolve examinar e manipular a informação introspectivamente.
69
Indivíduos globais e seqüenciais
Indivíduos seqüenciais absorvem a informação e adquirem compreensão do material
em pequenas porções conectadas e os globais tomam a informação através de fragmentos
desconectados e chegam a uma compreensão em grandes saltos holísticos. Antes dos globais
processarem os detalhes de um assunto, eles precisam compreender como o material que está
sendo apresentado se relaciona com o seu conhecimento e experiência prévia.
Conseqüentemente, os globais podem parecer vagarosos e produzir pouco nas tarefas de casas
e testes, até que consigam ter uma visão total do quadro. Por outro lado, os indivíduos
seqüenciais podem funcionar com a compreensão incompleta do material do curso, mas
podem carecer da noção de todo o contexto e suas inter-relações com outras matérias e
disciplinas.
Indivíduos indutivos e dedutivos
A indução é uma progressão racional que parte do particular (observações, medidas,
dados) para o geral (regras, leis, teorias). A dedução procede de forma oposta. Na
apresentação indutiva do material de sala de aula, observações são feitas e inferem-se
princípios governantes e correlacionados; na apresentação dedutiva, o professor inicia com
axiomas, princípios ou regras, deduz as conseqüências e aplicações de fórmulas.
Uma grande porcentagem do material didático da sala de aula é basicamente, ou
exclusivamente, dedutivo, provavelmente porque a dedução é uma forma eficiente e elegante
de organizar e apresentar o material que “já está compreendido”.
Nesta seção foi apresentada a análise de dois modelos de competências do professor.
Para o professor realizar plenamente sua tarefa de educador, todas as competências devem
funcionar em perfeita sincronia. Foram discutidos aspectos da competência oral em uma
língua, trazendo arcabouços teóricos de alguns autores; o perfil lingüístico-comunicativo do
70
professor no Brasil foi traçado para mapear e dar ênfase ao contexto de ensino de uma LE.
Por fim, de uma forma sucinta, foi tratado sobre os estilos de ensino do professor descrevendo
cinco dimensões relacionadas aos sujeitos da interação em sala de aula.
Os assuntos tratados nesta seção são relevantes para esta pesquisa porque as
competências são exploradas, principalmente no TEPOLI (Teste de Proficiência Oral em
Língua Inglesa), onde é feita a avaliação da proficiência oral. São considerados o perfil
lingüístico do professor no Brasil e os estilos de ensinar, pois estes são fundamentais para
compreender a abordagem de ensinar da professora participante na interação.
2.3 – A MOTIVAÇÃO DO PROFESSOR
A motivação do professor é, muitas vezes, um fator intrínseco; entretanto, esse fator
intrínseco traz contribuições importantes para o processo de aprendizagem do aluno. Nesta
seção, o objetivo é tratar da motivação do professor de LE. São abordados quatro aspectos
motivacionais característicos dos professores. Em seguida, de uma forma mais geral, são
mostrados como os fatores intrínsecos e extrínsecos afetam a competência profissional.
Termos como competência e qualidade na docência são analisados por um outro prisma, de
forma que seja enfatizado o processo de formação continuada do professor de LE.
Existem poucas publicações sobre a natureza da motivação para ensinar, embora o
nível de entusiasmo e comprometimento do professor possa afetar a motivação do aprendiz.
De modo geral, se o professor é motivado a ensinar, existe uma boa chance de seus alunos
também serem motivados a aprender. Entretanto, aqui cabe direcionar os aspectos
71
motivacionais que sustentam o professor no seu perfil, ou seja, os fatores intrínsecos que
compõem sua competência profissional.
Viana (1990) faz um extensivo trabalho sobre motivação, mas vamos considerar sua
abordagem a partir da concepção que faz de Paulo Freire, pois é bastante instigadora em
termos gerais e também no ensino de LE. Paulo Freire (apud VIANA 1990) afirma:
Nunca consegui entender o processo de motivação fora da
prática, antes da prática. É como se, primeiro, se devesse estar
motivado para depois, entrar em ação!... Essa é uma forma
muito antidialética de entender a motivação. A motivação faz
parte da ação. É um momento da própria ação. Isto é, você se
motiva à medida que está atuando, e não antes de atuar.
(VIANA, op.cit, pág.69).
O que se pode depreender dessa posição para o professor de LE, é que o processo de
motivação é parte integrante do processo de aprendizagem do aluno. À medida que o
professor vê na interação o seu desempenho e competência, compartilhando idéias e
concepções da mesma visão de mundo, ele também concretiza suas expectativas profissionais.
Segundo Viana (op. cit), motivação é um termo do século 20 e no ensino de línguas foi
examinado durante os anos 50 por Lambert, geralmente dentro do ensino de LE no que se
refere às diferenças individuais ou domínio afetivo. Na Lingüística Aplicada o termo é
definido por: “Fatores que determinam um desejo da pessoa em fazer algo” (
Longman
Dictionary of Applied Linguistics
, 1985).
Dörnyei (2001) também explora a questão da motivação em geral e, principalmente,
amplia a discussão, pouco abordada nas pesquisas, da motivação do professor de LE. É feita,
a seguir, uma revisão de suas abordagens. Baseado em alguns estudos, ele procura conceituar
a motivação para ensinar, sugerindo quatro aspectos motivacionais característicos dos
professores.
72
2.3.1 – Aspectos motivacionais característicos do professor
Os quatro aspectos motivacionais dos professores são:
1P
o
P
. aspecto: a motivação envolve um componente intrínseco como constituinte
principal. Ser professor, ou ensinar, na realidade, está associado à motivação intrínseca, ao
desejo interno de educar as pessoas, de transmitir conhecimento e valores e de fazer progredir
toda uma comunidade ou nação. Quais são essas gratificações intrínsecas? Cskszentmihalyi
(1997, apud DÖRNYEI, 2001) separa dois tipos de gratificações: o próprio
processo
educacional
, de ver o progresso dos alunos e a
questão subjetiva
, de lidar com valores e
continuamente integrar novas informações, aumentando seu conhecimento e habilidades
profissionais.
Por outro lado, sem considerar esses aspectos intrínsecos, e não considerando o fator
econômico, Dörnyei (
op. cit
) levanta três necessidades humanas básicas que são relacionadas
ao comportamento intrínseco: a
autonomia
; o
sentimento social
de se sentir ligado às pessoas;
e a
competência
, um sentimento de eficácia e senso de realização. Ensinar, na verdade,
satisfaz os dois primeiros aspectos da necessidade humana: um professor é autônomo em
liderar uma sala de aula, e a comunidade escolar (tanto alunos como funcionários) fornece um
intenso e rico ambiente social. O ponto crítico, então é a competência, que se refere às crenças
dos professores em suas habilidades de ter efeito positivo no aprendizado do aluno.
Combinando os fatores intrínsecos citados acima, temos um quadro que está de
acordo com a visão dominante da motivação profissional na psicologia organizacional, que
afirma que o trabalho será mais motivador quando for significativo (por exemplo, requer
múltiplas habilidades e é legitimamente importante para os outros); autônomo (o trabalhador
tem o controle do quê fazer, como e quando); e tem um bom
feedback
(o conhecimento dos
resultados).
73
2P
o
P
. aspecto: a motivação é estritamente relacionada aos fatores externos, associados às
exigências institucionais e ao perfil da profissão. Podemos dizer que em geral, o que se vê na
sociedade é que o indivíduo é pago para agir de acordo com uma descrição de trabalho
imposta externamente, dentro de um quadro organizacional. As influências contextuais podem
ser separadas em duas grandes categorias (DINHAM E SCOTT, 2000: apud DÖRNYEI 2001)
que afetam a satisfação do professor: influências macro e micro-contextuais. O primeiro está
associado ao sistema em geral, que prevalece na sociedade, por exemplo, ensinar é educar e
construir uma nova geração de pessoas. Motivos micro-contextuais, por outro lado, são mais
relacionados com o clima organizacional de uma instituição em particular.
3
P
o
P
. aspecto: a motivação é relacionada a um processo que se estende por toda a vida,
com um eixo temporal característico. Isto quer dizer que uma perspectiva profissional marca a
dimensão temporal da motivação em empreendimentos vocacionais. Os passos consecutivos
interligados num plano de carreira fortalecem as realizações em longo prazo, porque
capitalizam tanto o prazer intrínseco de estar envolvido numa profissão quanto às
gratificações extrínsecas que a profissão traz.
4
P
o
P
. aspecto: a motivação apresenta-se, particularmente, frágil, ou seja, exposta a várias
influências negativas (algumas sendo herdadas na própria profissão). Embora ensinar seja
gratificante para os professores e embora satisfaça suas necessidades psicológicas,
encontramos professores frustrados, descontentes, ou até mesmo entediados, em todos os
níveis educacionais. Oxford & Shearin (1996) afirmam que em cenários de LE, as
necessidades se referem às necessidades emocionais e psicológicas, cujas hierarquias das
necessidades estão diretamente relacionadas à satisfação intrínseca do trabalho. Os tipos de
situações que caracteristicamente evocam a necessidade de realização são aquelas nas quais
os desempenhos das competências são mais desafiadores.
74
Dörnyei (op. cit), baseando-se em algumas pesquisas, relata que os professores têm o
nível de satisfação mais baixo que qualquer outro grupo estudado. São mais estressados e
dois-terços pensam em mudar de profissão. O autor acredita que isso é devido ao fato de o
ensino ser uma profissão cuja atividade é preenchida primariamente por motivos intrínsecos, e
que existe uma série de fatores que afeta e corrói esse caráter intrínseco do professor.
Deixando as questões econômicas de lado (como baixos salários), porque variam de um lugar
para outro, ele levanta cinco fatores desmotivadores, responsáveis por prejudicar o processo:
-
A natureza particularmente estressante da profissão
. Isto é devido à
combinação de vários fatores como passar horas e horas trabalhando com
grupos de crianças e adolescentes; lidar com aprendizes que passam por
turbulências em suas vidas pessoais; lidar com adolescentes rebeldes, etc.,
sem mencionar as condições precárias de equipamentos e livros adequados.
-
A inibição da autonomia
do professor imposta pelos currículos, testes
padronizados, imposição de métodos de ensino, políticas governantes e outros
aspectos institucionais.
-
Ineficácia
da grande maioria dos professores devido à formação inadequada.
Ineficácia aí também compreendida como competência, nos mostra que
muitos professores não têm confiança em si mesmos.
-
Repetitividade do conteúdo e potencial limitado para o desenvolvimento
intelectual.
Com a rotinização, os professores ensinam o mesmo conteúdo
anos após anos, sem descobrir ou adquirir novos conhecimentos e
habilidades.
-
Estrutura inadequada da profissão.
Exceto a sala de aula ou parte
administrativa da escola, há pouca coisa a se fazer.
75
Outras profissões também apresentam estes aspectos, mas ser professor nessas
condições é certamente traçar um desafio. Podemos descrever a “profissão de ensinar” como
um corpo de profissionais altamente qualificado, com um compromisso intrinsecamente
motivado e ideologicamente configurado, a fim de exercer o que vêem como um trabalho
enriquecedor. A profissão, entretanto, é perscrutada por vários contratempos.
A motivação do professor tem um impacto direto na motivação e realização do aluno.
Um componente da complexa motivação do professor envolve sua expectativa acerca do
potencial de aprendizagem dos alunos. A expectativa, portanto, por parte do professor afeta o
nível de progresso dos alunos (DÖRNYEI, 2001).
Existe um consenso de que as expectativas básicas do professor desencadeiam vários
eventos e comportamentos por parte do professor que acabam influenciando o desempenho do
aluno. Essas influências podem ser de forma
direta:
oportunidades extras de aprendizagem ou
aumento de desafios; ou
indireta:
com um desempenho apresentando um
feedback
mais
detalhado e melhorado, que em contrapartida, muda a motivação e as atitudes dos alunos.
Essas influências podem afetar a autoconcepção dos alunos, o nível de aspiração, a conduta e
a interação da sala de aula com o professor.
Finalizando, gostaríamos de enfatizar as palavras de Dörnyei, ressaltando que os
professores que mais têm marcado as vidas dos alunos não são aqueles cujo status de poder e
de conhecimento são mais evidentes, mas aqueles que amam o que fazem, mostrando com
dedicação e paixão que nada é mais importante do que o que fazem. Embora ainda não
tenhamos uma compreensão exata dos fatores e processos que intermediam a motivação do
professor e a realização do aluno, podemos concluir que os valores, as crenças e as atitudes do
professor, assim como seu nível de comprometimento em relação aos alunos constitui
algumas das principais influências na motivação do aluno. A relação entre professor e aluno é
um processo interativo que pode ser positiva ou negativamente colaborador.
76
Foram abordados neste capítulo II, Fundamentação Teórica, três assuntos que
relativamente se interligam na área de ensino de língua: a relação entre insumo e interação na
sala de aula, as competências do professor, com enfoque na competência comunicativa e a
motivação do professor. As três parte da Fundamentação Teórica servem de base para esta
pesquisa. Os pressupostos teóricos sobre interação e sua relação com o insumo em sala de
aula servem de base para caracterizar da interação oral da professora não-nativa com seus
alunos, respondendo assim a primeira pergunta de pesquisa. Já os pressupostos sobre
competências servem para fundamentar e caracterizar o perfil profissional da professora
participante. O estudo da motivação do professor é essencial para se analisar os fatores
internos e externos que afetam a motivação e a auto-estima do professor de LE. Esses dois
últimos pressupostos teóricos embasam a segunda pergunta de pesquisa. O capítulo III, a
seguir, trará a metodologia da investigação e de análise dos dados.
77
CAPÍTULO III: METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO
Este capítulo trata da metodologia da investigação. São relatados os instrumentos e
procedimentos de coleta de dados, o contexto, os participantes e os procedimentos de análise.
É feito um estudo sobre o caráter etnográfico na pesquisa em sala de aula, ou seja, da
investigação de um recorte de um processo de ensino de LE. É explorada, também, a natureza
da observação como um método de pesquisa, bem como as duas vertentes teóricas que
inspiraram a análise (AC/AD – Análise do Discurso e Análise da Conversação) desta
pesquisa.
3.1 A etnografia e a pesquisa qualitativa no ensino de LE
A presente investigação é um estudo de caráter etnográfico da interação verbal em
cenários de aulas de LE. Devido à preocupação com a compreensão e interpretação dos
fenômenos, esta pesquisa faz um estudo de natureza qualitativa, com quantificações parciais e
localizadas no que se refere à produção oral do professor, ou seja, tomadas de turno e o
número de palavras proferidas.
Nosso objetivo, nesta seção, é esclarecer o que são métodos etnográficos aplicados ao
ensino de LE. Recentemente, os métodos etnográficos têm-se tornado comuns tanto em
pesquisas educacionais quanto em ensino de LE. A etnografia tem sido amplamente utilizada
em função de sua perspectiva de investigar questões difíceis de se direcionar por meio da
pesquisa experimental, tais como: processos sócio-culturais; influências da sociedade e das
instituições, as quais afetam a interação de sala de aula e em função de obter uma perspectiva
78
mais holística das interações professor-aluno, para melhor formar o professor e
conseqüentemente, melhorar sua prática.
Originalmente desenvolvida na antropologia para descrever as “formas de vida” de um
grupo social (HEATH, 1982), a etnografia é o estudo do comportamento das pessoas em
cenários reais e naturais, com foco na interpretação cultural do comportamento. O objetivo do
etnógrafo é fornecer uma descrição exploratória e interpretativa do que as pessoas fazem em
um cenário, o produto de suas interações.
Os termos qualitativa, etnográfica e naturalística são geralmente usados
alternativamente na literatura educacional; contudo, diferem substancialmente. A pesquisa
qualitativa se preocupa em identificar a presença ou a ausência de alguma coisa e em
determinar sua natureza ou características distintas. Segundo Denzin & Lincoln (2000), a
pesquisa qualitativa é uma atividade que localiza o observador no mundo. Ela consiste em um
jogo de práticas materiais e interpretativas que tornam o mundo visível, e que o transformam.
Elas transformam o mundo em uma série de representações, incluindo notas de campo,
entrevistas, conversações, fotografias, gravações, etc. Neste nível, a pesquisa qualitativa
envolve uma abordagem naturalística e interpretativa do mundo. Isso significa que os
pesquisadores que utilizam procedimentos qualitativos estudam fenômenos em seus cenários
naturais, tentando interpretar os fenômenos nos termos dos significados que as pessoas os
concebem. O termo “naturalístico”, de caráter descritivo, deixa implícito que o pesquisador
conduz as observações no ambiente real e “natural” onde vivem e trabalham os participantes
da pesquisa.
A etnografia apresenta três princípios básicos, segundo Watson-Gegeo (1988).
Primeiro, ela focaliza o comportamento de grupo e/ou do indivíduo. As diferenças individuais
são consideradas importantes para estabelecer uma variação no comportamento. Segundo, ela
é holística, ou seja, qualquer aspecto de uma cultura ou um comportamento tem que ser
79
descrito e explicado em relação ao todo do sistema, do qual se faz parte (FIRTH, 1961);
terceiro, a coleta de dados de natureza etnográfica começa com uma base teórica direcionando
a atenção do pesquisador para certos aspectos de situações e certos tipos de questões de
pesquisa.
É fundamental a pesquisa de base etnográfica para um recorte de um processo de
ensino de LE, pois ela permite direcionar melhor as questões básicas da teoria e da prática.
Uma questão básica tem a ver com o que acontece passo a passo nos cenários onde se ensina e
aprende uma LE. Os métodos utilizados oferecem uma abordagem sistematicamente
documentada das interações do processo de ensino/aprendizagem, com detalhes ricos e
contextualizados.
A pesquisa etnográfica também faz lembrar da importância do papel da cultura no
ensino de LE e nos dá uma forma de direcionar essa questão. Ela também pode ser usada para
estudar as influências da sociedade e das instituições, que afetam certas inovações
educacionais, e por fim, as técnicas etnográficas de observação e entrevista podem ser
aplicadas para a supervisão do professor, dando-lhe um
feedback
, ajudando-o, assim, a
melhorar sua própria prática de sala de aula.
3.2 A observação como método de pesquisa e critérios de análise
A pesquisa qualitativa também é conhecida pelo termo “observacional”. Existem
poucas discussões sobre a natureza da observação como método e como um processo de
investigação. O objetivo aqui é explorar a natureza da observação como um método de
pesquisa.
A questão da observação depende do propósito da pergunta que o pesquisador faz.
Assim, diferentes focos podem ser solucionados dependendo do objetivo em questão.
80
Diferentes propósitos conduzem a diferentes estratégias de observação. Em outras palavras, o
propósito da observação influencia o que está sendo observado, como é observado, quem
observa, quando e onde as observações acontecem e, portanto, quais observações são
registradas e como os dados são analisados e utilizados. Além disso, precisamos levar em
conta que o propósito de uma observação está relacionado a teorias, crenças, afirmações e
experiências da pessoa que está fazendo a observação. Estes fatores formam o “quadro de
referência” do observador e influenciam a tomada de decisão, assim como o processo de
observação (EVERTSON e GREEN, 1986).
A observação é um fenômeno de muitas facetas. É um evento praticamente do dia-a-
dia. Entretanto, a observação que nos interessa aqui é aquela sistemática, tácita, de ambientes
formais de sala de aula. As observações do dia-a-dia são feitas não somente para responder às
questões específicas, mas estabelecer, manter, checar, suspender, participar e interagir nos
eventos da vida. Contudo, quando a observação é usada para responder uma pergunta
elaborada, delimitada, ela deve ser sistematicamente marcada.
No âmbito da observação como processo de pesquisa e tomada de decisões, o
observador é o sujeito que realiza a observação. Assim sendo, a tarefa ou o objeto
selecionado, o “quadro de referência” do observador, e o propósito da observação, entre
outros fatores, irão influenciar o que será percebido, gravado, analisado e descrito pelo
observador. Deve-se considerar, então, que a observação é um processo mediado por vários
níveis, o nível do observador como uma pessoa com crenças, treinamentos e habilidades e o
nível dos instrumentos utilizados para se registrar e gravar uma observação.
A observação, assim, também é um meio de representar a realidade. Qualquer
ferramenta utilizada no processo de observação fornece somente uma representação do
fenômeno que está sendo estudado. Não é possível registrar todos os aspectos da realidade por
81
meio de um único sistema ou ferramenta. Por outro lado, a realidade não pode ser retratada
diretamente, precisa-se de representações para que se possa fazer recortes da mesma.
Considerando a observação da pesquisadora como uma parte importante do processo
desta pesquisa, são relatados, a seguir, outros instrumentos e métodos selecionados para esta
investigação. Os instrumentos selecionados foram gravações em áudio e vídeo, notas de
campo,
logs
, questionário, entrevista e um teste de proficiência oral. Dentre esses, os que mais
se aplicam aos processos observacionais do pesquisador são as gravações em áudio/vídeo e as
notas de campo, onde o resultado de análise é direcionado pelo ponto de vista da
pesquisadora. As notas de campo, primeiramente estão associadas à antropologia e à
sociologia, mas também a outros estudos de base etnográfica. Como amostras de registros e
relatos críticos, as nota de campo dependem do observador como instrumento de observação
para obter registros narrativos. As gravações em áudio e vídeo têm a vantagem tecnológica de
registrar momentos da vida em sala de aula para que possam ser examinados
sistematicamente.
O objetivo de selecionar estas ferramentas foi permitir registrar e armazenar processos
ativos, adaptativos e reflexivos que ocorrem em situações de ensino e aprendizagem e
considerar os processos de contextualização que formam a base de inferência para a
pesquisadora (por exemplo, características verbais e paralingüísticas). Estas informações,
então, formam a base para a construção dos dados, para a reconstrução do evento e para a
análise dos dados.
É necessário considerar que interpretar um evento é fundamentalmente um ato pessoal.
Por isso, é fundamental se ancorar no senso comum, avaliando somente o que se sobressai
numa interação em sala de aula. Para minimizar os efeitos da subjetividade nesta investigação,
foi formulado um modelo de análise para esta investigação, apoiado nos seguintes critérios
propostos por Sinclair e Coulthard (1975):
82
1. as categorias descritivas devem ser finitas em número; de outra forma haverá apenas
uma ilusão de classificação;
2. as categorias descritivas devem ser precisamente relacionadas aos seus expoentes nos
dados; do contrário, a classificação não é replicável;
3. o sistema descritivo deverá dar clara cobertura dos dados; assim, é possível ignorar
fatos inapropriados;
4. a descrição deverá colocar limitações em possíveis combinações de símbolos; do
contrário, nenhuma forma estrutural pode ser feita.
Em relação e esses critérios, verifica-se que, nesta investigação:
1. Gravações e transcrições fornecem dados em excesso. Para a análise foram
selecionadas nove categorias descritivas, nas quais são feitas:
. uma análise do discurso de linha anglo-saxônica, baseada num modelo
adaptado de Sinclair e Coulthard (1975);
. uma análise da negociação de significados, baseada no modelo de Varonis e
Gass (1985);
. uma categorização da administração do discurso nas modificações
interacionais, baseada nos pressupostos de Ellis (1994);
. uma análise dos tipos de perguntas no discurso do professor, baseada em Nunn
(1999);
. uma análise dos modelos de participação do aprendiz na interação em sala de
aula, baseada nos pressupostos de Allwright (1984);
. um estudo das funções sociais e pedagógicas da linguagem na interação em
sala de aula, baseado em Cazden (1988);
83
. uma análise das formas de correção, baseada em Cardoso-Brito (2004);
. uma análise dos estilos de ensinar da professora, baseada em Felder e
Henriques (1995);
. por fim, uma caracterização da interação oral da professora não-nativa em
situação de não-imersão, em um contexto de escola de idiomas.
2. O compartilhamento, em algumas situações, do mesmo objeto de estudo, a linguagem
natural em uso, aproxima duas áreas de investigação vizinhas: a Análise
Conversacional (AC) e a Análise do Discurso (AD - vertente anglo-saxônica). É
importante deixar claro, aqui, as vertentes que inspiraram a análise. Observemos o
quadro abaixo:
AD AC
Discurso
Análise lingüística
Discurso escrito ou falado
Organização lingüística
Relação forma lingüística/função interativa
Operação lingüística
Predição (pares adjacentes)
Relação entre enunciados
Coerência lingüística
Descrição dos processos cognitivos
Conversação/fala
Análise sociológica
Produção verbal oral
Organização seqüencial de atividades sociais
Efeito interacional da forma
Atividade conversacional
Natureza/ estrutura da conversação
(imprevisibilidade/improvisação).
Relação entre ações
Relações organizacionais entre enunciados e
organização de enunciados na conversação.
Descrição dos processos interativos (como o
84
envolvidos na interpretação (compreensão que
capacita as pessoas a interpretar as
expressões).
discurso é realizado) ou descrição de práticas
conversacionais para a realização e
exteriorização da compreensão.
Quadro 1: Semelhanças e diferenças entre a AC e AD, baseado em Lemos, 1994 p. 59.
A AD surgiu da lingüística descritiva, assim como de investigações sociolingüísticas
e etnográficas da estrutura da interação (HYMES 1962, 1964, GUMPEZ e HYMES 1972,
apud CHAUDRON, 1988). Esse tipo de análise, a princípio, surgiu com estudos da L1 e o
trabalho que mais se destacou foi de Sinclair e Coulthard (1975). Estes autores incorporaram
tanto a tradição lingüística quanto à sociolingüística na concepção da interação de sala de aula
como um sistema hierarquicamente estruturado. Neste sistema, o nível de análise do discurso
articula o nível lingüístico da frase e o nível pedagógico-social dos programas e cursos.
A análise verbal do discurso na interação de sala de aula deve, naturalmente, ser visto
como imerso em operações cognitivas e sociais que ocorrem nas aulas. Por esta razão, vários
aspectos da interação (por exemplo, organização dos participantes, papéis dos falantes,
experiência prévia, aspectos não-verbais, etc), que eram considerados de outras dimensões
tiveram que ser incluídos para que se fizesse uma análise compreensível da interação de sala
de aula. A AD, portanto, tem contribuído para o crescimento da consciência da estrutura
formal interna e dos propósitos funcionais da interação verbal de sala de aula (CHAUDRON,
1988).
A AD e a AC têm contribuído muito para definir a linguagem oral e a produção da fala
além do escopo da lingüística formal. Quando a língua é utilizada como meio de
comunicação, as sentenças e frases podem expressar diferentes funções ou desempenhar
vários atos de fala num dado contexto. Neste sentido, torna-se crucial focalizar na produção
da fala e no seu significado dentro do discurso.
85
A conversação, por sua vez, é definida pelos conversacionalistas como o tipo de fala
do dia-a-dia, onde dois ou mais participantes alternam os papéis na produção oral. Uma
conversação é caracterizada por um objetivo interacional, com tópicos não pré-determinados,
onde o status dos participantes é, em princípio, igual. A AC focaliza o comportamento dos
participantes e os padrões recorrentes numa conversação não-formal. Os conversacionalistas
tratam da administração da interação verbal e levam em consideração fatores, tais como
tomadas de turno e posicionamentos de tópicos. A unidade básica numa conversação é o turno
e este pode ser escolhido, tomado ou oferecido.
É apresentada, a seguir, uma síntese dos construtos mais utilizados dentro de cada
vertente da análise.
A interação oral da PNN com seus alunos, numa escola de idiomas, é vista por meio
da AD e numa proporção menor, pela AC. Os dados obtidos provêm de um contexto
discursivo e representam uma língua enquanto utilizada pelos seus falantes. Aspectos
particulares da fala (considerada na AC) também são analisados neste estudo, entretanto,
numa proporção menor, como por exemplo a “fala de repreensão” e a “fala marginal” da
PNN.
A análise lingüística (da AD) baseia-se nos dados desse contexto discursivo, buscando
explicá-los tanto em termos seqüenciais como distribucionais. A análise sociológica (da AC),
por sua vez, serviu de base para considerar os papéis dos participantes e as tomadas de turno
nesse contexto das aulas registradas.
A produção oral é considerada em todos os seus aspectos. A coerência discursiva não
pode ser entendida apenas em relação ao foco na forma lingüística e no seu significado. Os
recursos inerentes à coerência discursiva contribuem, de maneira conjunta, para se atingirem
os propósitos de realização e compreensão de um enunciado, do seu significado e da força
ilocucionária da enunciação.
86
Em relação à predição ou à natureza da conversação, o discurso de sala de aula,
contexto formal, é parcialmente previsível, considerando o planejamento de tópico feito pelo
professor.
Tanto na AC quanto na AD, as estruturas, os significados e as ações do discurso verbal
cotidiano são obtidos de maneira interativa. Os enunciados, seus significados e as ações que
deles decorrem são interpretados em uma seqüência discursiva, no contexto de outros
enunciados.
O modo pelo qual um enunciado é produzido, seu significado e conseqüências para o
contexto da enunciação (ou seja, as escolhas feitas pelo falante dentre os recursos lingüísticos
disponíveis a ele) orienta-se pelas relações entre os seguintes fatores (adaptação de
SCHIFFRIN, 1994):
- as intenções dos falantes;
- as convenções estratégicas para tornar as intenções do falante identificáveis;
- os significados e as funções das formas lingüísticas (os tipos de perguntas do
professor, por exemplo) situados nos contextos emergentes;
- o contexto seqüencial dos outros enunciados;
- propriedades do tipo de discurso, por exemplo, descritivo ou expositivo, etc;
- o contexto social, os papéis sociais dos falantes, suas relações, o cenário e a
estrutura das situações.
1.0 O contexto e os alunos
O contexto caracteriza-se por aulas ministradas por uma professora não-nativa a
alunos no nível Intermediário I. As aulas foram parte de uma programação semestral regular
da escola. As aulas ocorriam duas vezes por semana, com duração de cem minutos cada, e o
87
livro didático adotado foi
Insid Out
TP
7
PT, Entretanto, as gravações seguiram um roteiro de aulas
não consecutivas, em função de um acordo com a administração da escola.
e
A escola de idiomas foi selecionada por, tradicionalmente, oferecer cursos de
aperfeiçoamento e reciclagem aos professores, onde os mesmos têm um plano de carreira a
ser seguido. Os professores desta rede de escolas são, portanto, considerados bem qualificados
em relação à proficiência lingüística e capacitação pedagógica, necessária a um bom
desempenho profissional.
A classe era composta por vinte alunos com a faixa etária entre 12 e 14 anos de idade.
Os alunos encontravam-se no nível Intermediário I, tendo estudado, pela programação
regular, no mínimo dois anos de inglês nesta escola, do Básico ao Intermediário I. Todos os
alunos estudavam no Ensino Secundário em escolas bem conceituadas de nível classe média-
alta da região. Muitos deles já viajaram para o exterior, a passeio, com seus pais.
As informações referentes aos alunos foram coletadas por meio de notas de campo
durante a observação das aulas e das gravações em áudio e vídeo, e também por meio de um
questionário, aplicado no último dia de gravação da seqüência de aulas programadas para a
coleta de dados.
3.4 A professora participante
A PNN nasceu em 1960, e no ano da coleta de dados para esta pesquisa a professora
tinha 44 anos de idade. Começou a estudar inglês aos onze anos, em escolas de idioma, nas
quais também começou a lecionar. Nasceu e sempre morou em São Paulo. Estudou Letras
(inglês) na PUC-SP e se formou bacharel e licenciada em Letras em 1990. Letras foi sua
segunda graduação, a primeira foi Matemática.
TP
7
PT KAY, S.; JONES, V., et.all.
INSIDE OUT
. MacMillan, 2004.
88
Fez vários cursos de aperfeiçoamento, tais como:
Oxford Examination in W itten
English
, CPE (
Certificate of Proficiency in English
), ARELS DIPLOMA, COTE,
Teacher
Training Courses
, etc. Sua experiência no exterior baseia-se num curso “
British Cultural Life
and Institutions
” na Inglaterra, com a duração de um mês. Na época da coleta de dados a PNN
fazia um curso de especialização em Literatura Inglesa na USP. Sua experiência profissional
iniciou-se em 1979 em escolas de idiomas, onde continuou até o presente momento, ou seja,
tem 25 anos de prática no ensino.
r
3.5 Instrumentos para a coleta de dados
A coleta de registros para esta pesquisa foi apoiada pelos seguintes instrumentos:
- Dados primários:
a) gravações em áudio e vídeo das aulas;
b) entrevista com a professora;
- Dados secundários:
c) teste de proficiência oral em língua inglesa (TEPOLI);
d) LOGs para a professora;
e) questionário para os alunos;
f) notas de campo baseadas nas observações de sala de aula;
g) questões sobre estilos de ensino.
Para que se possa avaliar o alcance desses registros, bem como o que se objetivou com
cada instrumento, passa-se a fornecer maiores informações sobre os mesmos.
89
3.5.1 Gravações das aulas em áudio e vídeo
Foram gravadas nove aulas em áudio e vídeo, com 100 minutos cada aula. As três
primeiras aulas foram gravadas somente em áudio com um “
mini
cassette recorder
RQ-L11,
Panasonic”. A partir da quarta gravação, após o período de adaptação, por parte dos alunos,
foi iniciada também a gravação em vídeo, com a utilização de uma mini-câmera digital JVC,
modelo GR/DVL 520u.
Desde o início foi feito um cronograma para os dias de gravação, sendo uma gravação
por semana, durante dois meses, compreendidas no período entre 21 de setembro a 23 de
novembro de 2004; portanto, algumas aulas não foram consecutivas.
A própria pesquisadora operou a câmera e o áudio gravador. Antes de começar as
aulas, os aparelhos eram posicionados em cantos diagonais de cada sala, tendo assim um bom
resultado da qualidade do som. Dessa maneira, tanto a voz da professora, que geralmente é
mais alta e nítida quanto às vozes dos alunos, que geralmente são mais baixas, foram
registradas pelos aparelhos.
3.5.2 Entrevista com a professora
Na segunda metade do cronograma de gravação das aulas, no dia 26 de outubro, mais
precisamente, foi realizada a entrevista com a professora. O intuito da entrevista foi poder
direcionar melhor as questões de interesse desta pesquisa, responder, especificamente, a
segunda pergunta de pesquisa e também esclarecer e explorar pontos que não tenham ficado
claros nos dados obtidos por meio dos
Logs
da professora. A entrevista foi gravada em áudio
(o mesmo utilizado nas gravações) e partiu de roteiros previamente elaborados (vide Anexo 1)
90
e que, por sua vez, implicavam respostas abertas. A entrevista consistiu em 14 questões: três
questões sobre concepções de linguagem, três questões referentes à auto-avaliação como
professora de LE e oito questões envolvendo motivação, auto-estima e fatores externos que
influenciam o desempenho profissional do professor de LE.
3.5.3 Teste de Proficiência Oral em Língua Inglesa (TEPOLI).
O teste TEPOLI foi aplicado no dia 11 de outubro de 2004 no mesmo local de trabalho
da participante. O teste foi gravado com os mesmos aparelhos que foram utilizados nas
gravações das aulas, ou seja, um “mini cassette recorder RQ-L11, Panasonic” e uma mini-
câmera digital, modelo GR/DVL 520u.
O teste teve a duração de 15’ 22’’. Participaram no teste somente a candidata, o
examinador e o avaliador. O papel da PNN no teste era, na primeira tarefa, discursar sobre
uma figura e na segunda tarefa, fazer uma simulação de sala de aula. Todas as fases foram
gravadas e literalmente transcritas, inclusive a avaliação do examinador com o avaliador. O
item
3.5.4
a seguir aborda e descreve o TEPOLI.
3.5.4 Descrição do TEPOLI
O teste faz parte de um projeto que objetiva analisar a proficiência oral de professores
de inglês como LE, relacionando-a com as expectativas de alunos e professores no contexto
brasileiro, bem como às experiências de alunos e professores decorrentes dos processos de
ensino e aprendizagem da língua inglesa em cursos de Licenciatura em Letras.
O TEPOLI, em sua versão preliminar, foi elaborado com a finalidade de se verificar a
proficiência oral do licenciando em Letras com habilitação em Língua Inglesa e futuro
91
professor dessa LE, a qual deve variar de um nível minimamente exigido para que esse
professor possa atuar profissionalmente em alguns contextos de ensino de inglês, até um nível
superior almejado, para alunos que eventualmente concluam, de modo plenamente satisfatório
e bem-sucedido, os cursos de formação de professores no território nacional, demonstrando
uma proficiência oral de excelência. Utilizam-se para tal descrição, faixas de proficiência,
construídas com base em descritores dos níveis de linguagem considerados, a saber, gramática
e estrutura sintática, vocabulário, pronúncia, compreensão oral, fluência e estratégias de
interação verbal (CONSOLO, 2004).
O critério de avaliação por meio do TEPOLI, no seu sentido mais amplo, baseia-se em
uma visão holística da linguagem, tomando-se por base o desempenho global do examinado
durante o teste, e uma visão integrada dos componentes da linguagem, ou seja, existe uma
influência e interdependência entre os descritores propostos. Por exemplo, a variedade lexical
favorece a complexidade sintática, e ambas poderão favorecer uma adequação da fala e maior
eficiência na comunicação. Essa visão, conforme Consolo (2004) expõe, se alinha com o
conceito de Hymes (1971, apud CONSOLO, 2004) de “competência de uso” de uma língua.
A competência de uso é influenciada pela interação das características dos tipos de
conhecimento dos falantes envolvidos, além de outros fatores contextuais, sociais e
psicológicos. O desempenho do falante em uma situação de uso da língua, a qual pode, então,
ser avaliada segundo os vários aspectos da linguagem, por exemplo, discursivo, fonológico,
gramatical, lexical e semântico. A visão de uma gradação na competência comunicativa de
falantes de uma determinada língua permite, então, a construção de faixas de proficiência, as
quais constituem, no caso da construção de testes orais, entre eles o TEPOLI, os critérios para
avaliação do desempenho oral desses falantes.
O TEPOLI é realizado através de uma interação face a face entre examinado, ou
entrevistado, e examinador ou entrevistador, no formato de uma entrevista. Essa entrevista
92
como instrumento de avaliação de proficiência oral tem o propósito de permitir ao
entrevistador avaliar a habilidade do entrevistado. Segundo as orientações do TEPOLI, optou-
se por não enfatizar a necessidade de que o entrevistador seja um falante nativo da língua-
alvo, por considerar que os entrevistadores possam ser brasileiros com excelente nível de
proficiência na língua inglesa.
O teste inicia-se por uma fase de aquecimento que, geralmente, pode ser conduzida em
inglês ou português, na qual o entrevistador explica ao entrevistado os procedimentos a serem
seguidos durante a entrevista. No nosso caso, o entrevistador optou por iniciar a fase de
aquecimento em inglês, devido à entrevistada já ter um bom nível de proficiência. A primeira
fase, a fase de aquecimento tem a duração aproximada de 4 a 5 minutos e serve para o
entrevistador ter um conhecimento geral do candidato. A segunda fase, a fase de avaliação se
baseia na aplicação de duas tarefas. A primeira tarefa é a escolha de uma figura (dentre três
opções), onde o examinado tem que discorrer sobre a mesma, levantando hipóteses e
situações com a figura. Na segunda tarefa, é apresentada ao examinado uma situação de sala
de aula, um role-play, contendo alguns erros gramaticais, onde o examinado tem que
explicitar como trataria com aquela situação em sala de aula. O objetivo desta segunda tarefa
é o uso de metalinguagem. O teste todo tem a duração de aproximadamente 15 minutos. O
conceito ou nota final é dado mediante um consenso entre o entrevistador e o avaliador. O
avaliador tem seu papel de observar toda a entrevista, e depois, discutir seus pontos de vista
com o entrevistador sobre a candidata.
O objetivo desse tipo de teste de proficiência é avaliar a habilidade do examinado em
interagir efetivamente no uso da LE, com o propósito de ensiná-la em sala de aula. O
entrevistado deve ser capaz de usar a língua adequadamente em diferentes tipos de situações.
Deve também ser capaz de apresentar, de forma clara e coerente tópicos familiares, assim
como discutir tópicos de interesse geral e, principalmente, relacionados ao seu trabalho.
93
Segundo Luoma (2004), a habilidade de interagir efetivamente é um descritor máximo na
definição do construto da natureza destes tipos de testes (testes de professores), que consistem
em:
- usar a língua adequadamente em diferentes situações, e isso reflete na
habilidade de variar o grau de formalidade das frases, idiomas e estruturas,
dependendo da situação; variar uso de formas convencionais de tratamento
(saudação, formas de tratamento, etc...); e uso adequado de registros formal e
informal.
- fazer uma apresentação clara; organizar as informações de maneira clara e
usar marcadores discursivos, repetição e ênfase em pontos importantes para
deixar a estrutura do texto mais saliente para os ouvintes.
- ter a habilidade de discutir tópicos gerais e tópicos relacionados ao trabalho.
Segundo a autora, os pré-requisitos para as habilidades especificadas acima são:
- bom conhecimento de vocabulário e estruturas da língua, e habilidade para
acessar o conhecimento relativamente rápido;
- pronúncia compreensível;
- habilidade de compreender e reagir à fala do interlocutor.
Apresentamos a seguir a descrição das cinco faixas de proficiência do TEPOLI:
FAIXAS DESCRIÇÃO DA PROFICIÊNCIA
NOTAS
A
Atinge plenamente os objetivos de comunicação e interação verbal,
demonstrando excelente fluência e habilidade na produção oral.
Utiliza estruturas sintáticas corretamente e não comete erros gramaticais.
Utiliza-se de estruturas sintáticas complexas, e grande variedade lexical.
Exibe pronúncia praticamente idêntica aos padrões de falantes competentes da
10.0
94
língua inglesa, sem influências dos padrões de sua língua materna.
Não apresenta dificuldades de compreensão da fala do interlocutor, em ritmo
normal.
9.5
B
Atinge plenamente os objetivos de comunicação e interação verbal,
demonstrando fluência e habilidade na produção oral.
Utiliza estruturas sintáticas corretamente e, se comete erro gramatical, é capaz de
se autocorrigir.
Utiliza-se de estruturas sintáticas complexas e grandes variedade lexical.
Exibe pronúncia bastante próxima aos padrões de falantes competentes da língua
inglesa, sem influências marcantes dos padrões de sua língua materna.
Não apresenta dificuldades de compreensão da fala do interlocutor, em ritmo
normal.
9.0
8.5
C
Atinge os objetivos de comunicação e interação verbal satisfatoriamente.
Utiliza estruturas sintáticas corretamente na maior parte do tempo, podendo
cometer eventuais erros gramaticais.
Utiliza-se de estruturas menos complexas e não exibe grande variedade lexical.
Exibe pronúncia compreensível, porém com alguns desvios com relação aos
padrões de falantes competentes da língua inglesa.
Não apresenta dificuldades de compreensão da fala do interlocutor a ponto de
prejudicarem a interação verbal. Havendo ocasiões de incompreensão, consegue
solucioná-las.
8.0
7.5
D
Atinge os objetivos de comunicação e interação verbal, porém com algumas
limitações, e pode exibir falta de fluência.
Utilizam, na maioria das vezes, estruturas sintáticas simples, apresentando
eventuais erros gramaticais.
Utiliza-se de um conjunto de itens lexicais limitado e pode demonstrar deficiência
de vocabulário para se expressar.
Exibe pronúncia compreensível, mas distinta, em alguns aspectos de sons e
7.0
95
padrões de entoação, de falantes da língua inglesa.
Apresenta dificuldades de compreensão da fala do interlocutor, as quais podem
ocasionalmente prejudicar o desenvolvimento da interação verbal.
6.5
E
Não atinge todos os objetivos de comunicação e interação verbal, apresentando
falta de fluência e de competência na produção oral.
Utiliza somente estruturas sintáticas simples e, ainda assim, comete erros
estruturais.
Utiliza-se de um conjunto de itens lexicais limitado com prejuízo para a
expressão de suas idéias.
Exibe pronúncia nitidamente distinta, em aspectos de sons e padrões de entoação,
de falantes da língua inglesa, com interferências marcantes da língua materna.
Apresenta dificuldades de compreensão da fala do interlocutor, as quais
prejudicam o desenvolvimento da interação verbal.
6.0
Quadro 02: Faixas de proficiência do TEPOLI. (CONSOLO, 2004).
As subfaixas apresentadas para as notas intermediárias permitem, no caso de
atribuição de notas numéricas, diferenciar candidatos em termos de variações mais específicas
no que concerne às características da fala contempladas nas faixas. Salienta-se que, embora se
tratem de faixas, a utilização das notas, se necessário, deve ser padronizada em termos de
valores pontuais, por exemplo, 10,00 ou 9,5 para a faixa A, não sendo recomendada a
atribuição de outros valores, intermediários. Para um candidato ser classificado em
determinada faixa, é necessário que seu desempenho no TEPOLI corresponda, com relação a
todos os aspectos explicitados pelos descritores na referida faixa. Candidatos que apresentem
algumas características de uma faixa superior e de outra inferior deverão ser classificados
nesta.
96
3.5.5 Logs
Os
logs
foram pré-elaborados com quatro questões abertas. As perguntas se referiram à
caracterização da interação em cada aula, ao desempenho da professora e de como eram
tratados os problemas nessa interação. Seu objetivo principal foi verificar as impressões da
professora em relação ao seu papel na interação.
Durante todo o período das gravações das aulas em áudio e vídeo, a professora manteve os
logs
, respondendo-os sempre após as aulas dadas e, em seguida, eram entregues à
pesquisadora.
3.5.6 Notas de campo
Foram realizadas, durante as gravações das nove aulas, notas de campo, baseadas nas
observações da pesquisadora quanto às impressões da interação verbal professor/aluno em
sala de aula.
3.5.7 Questionário aos alunos
No final do cronograma de aulas registradas, no último dia de aula, foi aplicado aos alunos
um questionário (anexo 3), sem identificação, com perguntas abertas. O objetivo desse
instrumento foi verificar quais suas impressões das aulas e da professora no que se refere à
produção oral. O questionário consistiu de nove questões que abordaram: a capacidade e o
desempenho da professora; suas expectativas em relação às aulas de inglês; suas preferências
entre PNs e PNNs (daqueles que já tiveram aulas com os dois professores) e suas avaliações
97
sobre aspectos do discurso da professora. Os dados obtidos por meio desse instrumento foram
muito relevantes para a caracterização da interação oral da PNN.
3.5.8 Questões sobre estilos de ensinar
Ao iniciar a observação dos dados de sala de aula, percebeu-se que a professora
apresentava características pedagógicas pessoais. Compreender os estilos de ensinar da
professora participante foi essencial para confirmar suas técnicas e abordagem de ensino na
interação.
O questionário baseou-se em cinco questões objetivas, baseadas nos pressupostos de
Felder e Henriques (1995) – (Anexo 8). O objetivo do instrumento foi verificar se a
professora apresentava uma das seguintes dimensões: sensorial ou intuitiva, verbal ou visual,
ativa ou reflexiva, seqüencial ou global, indutiva ou dedutiva. O resultado do teste foi obtido
de forma clara e precisa, pois cada pergunta consistiu em selecionar uma dentre as duas
opções.
3.6 Procedimentos de análise
Esta investigação consiste de um estudo de caso de uma professora não-nativa em um
contexto de escola de idiomas. A análise preliminar começou pelos dados do TEPOLI (Teste
de Proficiência Oral em Língua Inglesa). Todo o teste foi literalmente transcrito, tanto o teste
em si quanto à avaliação do examinador com o avaliador. Numa fase posterior, foram
analisadas as três fases do teste. As fases um e dois tiveram suas conclusões e implicações
referentes ao desempenho da professora. Para se somar aos dados do TEPOLI, foi aplicado
também um questionário contendo cinco perguntas com o objetivo de definir os estilos de
98
ensinar da professora (FELDER & HENRIQUES 1995). O resultado do teste foi claro e
objetivo, já que cada pergunta consistiu em selecionar uma dentre duas opções. As perguntas
e seu embasamento teórico estão descritos na seção 2.2.3, enquanto que seus resultados estão
descritos na seção 4.6.1. Os dados do TEPOLI e do questionário foram utilizados para
enriquecer as discussões referentes à segunda pergunta de pesquisa (seção 4.5).
Após a análise do TEPOLI, foi realizada a transcrição da entrevista da professora.
Após a análise da mesma, verificou ser a entrevista suficiente para responder, juntamente com
os dados do TEPOLI e do questionário, a segunda pergunta de pesquisa. As perguntas da
entrevista são descritas e analisadas nas seções 3.5.2 e 4.5, respectivamente.
Num outro momento, as respostas dos alunos ao questionário, que foi aplicado no
último dia de gravação, foram transcritas num quadro, onde foi possível verificar as
recorrências e as semelhanças de dados nas respostas dos alunos. Cada pergunta do
questionário teve um resultado com pelo menos três dados recorrentes na conclusão. As
perguntas de número 2, 3, 4 e 6 foram separadas para servir de base para a caracterização da
interação em sala de aula, pois se referem às expectativas e visões dos alunos em relação a
PNN. A descrição desses dados e a sua análise encontram-se na seção 3.5.6 e 4.1
respectivamente. As perguntas de número 7 e 8 foram utilizadas para fazer um contraste,
segundo a percepção dos alunos, da interação com uma professora nativa (foram considerados
somente as respostas dos alunos que já tiveram aulas com professores nativos e não-nativos).
A descrição e discussão encontram-se na seção 4.4.
Em seguida, foram transcritas as gravações feitas em áudio e vídeo das aulas.
Baseadas na observação da pesquisadora, foram identificadas as características discursivas.
As categorizações, assim, não foram pré-estabelecidas, surgiram a partir da observação dos
dados; entretanto, o modelo de Sinclair e Coulthard (1975) serviu de base para estabelecer
essa categorização. Foram selecionadas somente as recorrências que se relacionam às
99
perspectivas e pontos de vistas dos alunos em relação à interação em sala de aula. Três
perguntas do questionário (perguntas 2, 3 e 4) serviram de base para essa caracterização da
interação. As categorias recorrentes estão descritas na seção 4.1 e a análise das mesmas na
seção 4.2.
Juntamente com as transcrições das aulas, foram analisados os
Logs
e as notas de
campo, baseados nas observações da pesquisadora em sala de aula. Os dados dos
Logs
e das
notas de campo contribuíram para enriquecer as discussões e confirmar dados da
caracterização da interação oral da PNN, para responder a primeira pergunta de pesquisa.
Foram apresentados, neste capítulo, os métodos de uma pesquisa qualitativa e
etnográfica no ensino de LE. Foi tratada a questão da observação como método de pesquisa e,
em seguida, foram descritos o contexto, os alunos, a professora participante e os instrumentos
utilizados na coleta de dados. O capítulo encerra-se com a descrição dos procedimentos de
análise. Segue a análise dos dados.
100
CAPÍTULO IV– ANÁLISE DOS DADOS
Neste capítulo são apresentados os dados e os resultados de sua análise. O capítulo é
constituído por seis seções que interagem entre si para responder as perguntas de pesquisa.
Nas primeiras seções (4.1 e 4.2) são levantadas as recorrências discursivas encontradas na fala
da professora em sala de aula. É feita uma categorização dos dados de sala de aula, baseando-
se nessas recorrências. Surge daí um modelo de análise que é descrito na Tabela 01.É feita
uma amostra da aula típica na seção 4.3 e são apresentadas, na seção 4.4, as características da
fala da professora. Nesta quarta seção é feito um contraste da interação oral de um PN e um
PNN, baseado nos pontos de vista dos alunos. Daqueles que já tiveram aulas de língua
estrangeira com professores de ambos os perfis. O objetivo deste contraste foi verificar a
reação e as experiências positivas ou negativas dos alunos em relação aos dois perfis de
professores. Responde-se, assim, a primeira pergunta de pesquisa ao se fazer uma
caracterização da interação oral da professora não-nativa.
O modelo de análise teve como ponto de partida o modelo de Sinclair e Coulthard
(1975), que foi ampliado baseando-se em outros autores, em função da observação dos dados
de sala de aula. A partir então desse segundo modelo foi possível classificar os dados mais
recorrentes para fazer a caracterização. As categorias não foram pré-determinadas, surgiram
dos próprios dados. Tal procedimento etnográfico contribui para uma categorização da
comunicação de sala de aula, considerando as exigências e as demandas impostas no contexto
de pesquisa pelos fatores sociais e culturais.
101
O contexto, os participantes e seus objetivos são essenciais para interpretar e codificar
as frases e sentenças como atos de fala. A fala da professora e dos alunos foi analisada por
meio de um sistema de códigos no nível do discurso, considerando o contexto sociolingüístico
e as nuances do discurso pedagógico.
A quinta e a sexta seção (4.5 e 4.6) são utilizadas para responder a segunda pergunta
de pesquisa. São investigadas na seção 4.5 as motivações e a auto-estima da participante
como professora de LE. Na sexta seção (4.6) é feita a análise do teste de proficiência oral da
professora (TEPOLI), tanto do teste em si quanto da avaliação feita pelos aplicadores. Nesta
etapa, as competências da professora não-nativa e o seu estilo de ensinar são analisados.
4.1 – Categorização das falas da professora e dos alunos
A partir das transcrições das aulas, foram verificadas as recorrências mais freqüentes
no discurso da professora. As recorrências levantadas basearam-se na observação da
pesquisadora e foram confirmadas pelos dados do questionário dos alunos (Anexo 3).
A caracterização da interação ficou relacionada às impressões dos alunos em relação
ao processo de ensino e aprendizagem. As caracterizações foram divididas em dois tipos de
análises: as recorrências discursivas, baseadas em categorias menores da fala do professor
(micro-análise) e atividades seqüenciais recorrentes, baseadas nas atividades que enfocam a
participação do aprendiz (macro-análise). Essas categorias foram adaptadas de modelos e
estudos sobre o discurso de sala de aula. Os modelos que inspiraram as categorias estão
descritos e codificados conforme a tabela que se segue:
Fonte do modelo
abreviações
Modelo de participação do aprendiz na ALLW
102
interação em sala de aula de Allwright (1984)
Funções sociais e pedagógicas da linguagem
na interação em sala de aula, Cazden (1988)
CAZ
Modificações interacionais nas falas de FN e
FNN, Ellis (1994)
ELLIS
Categorias levantadas pela pesquisadora na
análise dos dados, Ibrahim
IBRA
Tipos de perguntas no discurso do professor,
Nunn (1999)
NUNN
Classificação das formas de correção,
Cardoso-Brito (2004)
CARB
Modelo de discurso de sala de aula de Sinclair
e Coulthard (1975)
S&C
Modelo de análise da negociação do
significado, Varonis e Gass (1985)
V&G
Análise das categorias do discurso de sala de
aula, Van Lier (1988)
VANL
Tabela 01: modelos e sistemas de códigos baseados na observação da interação em sala de aula
Seguem as recorrências discursivas e seus respectivos exemplos retirados das transcrições.
A) Recorrências Discursivas (micro-análise):
1 – marcadores (S&C)
Os marcadores sinalizam o fim e o início de um movimento na interação. Eles ajudam
a estabelecer coerência no discurso. Os marcadores são identificados por algumas palavras
tais como “all right”, “ok”, “now” e “well”.
Ex.: T: All right so having this in mind do you remember the dialogue we listen to last
class? (PNN 09/11/04).
103
2 - verificação de compreensão (S&C)
Este recurso é geralmente usado para verificar se o interlocutor compreendeu a
mensagem, ex.: “did you understand that? Yes?” (PNN- 09/11/04) . Os professores usam a
verificação de compreensão para verificar a compreensão de um ponto dado ou para
confirmar o progresso de uma atividade na sala de aula.
3 - confirmação de compreensão (S&C)
A confirmação da compreensão é usada para averiguar se um enunciado foi
corretamente ouvido ou compreendido e pressupõe-se que o mesmo foi, pelo menos,
parcialmente ouvido. Identifica-se a confirmação da compreensão pela repetição de partes
do enunciado ou por
question tag.
Veja o exemplo:
T: so there is a graduation, isn´t there? (PNN – 09/11/04).
4 -resposta repetitiva/ repetição de termos (S&C)
Caracteriza-se pela repetição total ou parcial do enunciado anterior do falante, por
exemplo, quando os alunos repetem um modelo lingüístico fornecido pela professora, ou
vice-versa.
Ex.: ST: bad, awful
T: bad, awful
ST: funny, hilarious
T: funny
(PNN 09/11/04)
5 - correção (CARB)
Correções são geralmente usadas pelos professores para fazer os alunos perceberem
que um erro foi cometido. A noção de erro adotado aqui se baseia nos registros de
tratamento de erro, o qual significa dar ao aluno ferramentas para que o mesmo possa
repará-lo.
104
Ex.: T: it was absolutely?
ST: absolutely excited
T: uh not exactly (nome do aluno)
(PNN – 09/11/04)
6 – avaliação (S&C)
Avaliações são escalas de julgamento verbal e não-verbal ao acompanhar uma tarefa
de sala de aula. O professor confirma, por exemplo, que uma resposta está correta
comentando a qualidade da língua utilizada. Palavras tais como “good”, “that´s right”,
“well done”, “excellent”, etc., expressam avaliação.
Ex.: ST: scared? I was absolutely terrified
T: excellent, it was much much better than the first one
(PNN – 09/11/04)
7– meta-enunciado (S&C)
A função do meta-enunciado é esclarecer a estrutura do discurso para que os
interlocutores saibam o propósito da fala seguinte. Meta-enunciados representam uma
considerável quantidade de metalinguagem usada na comunicação de sala de aula.
Ex.: T: was it good? we are talking about past, OK?
(PNN – 09/11/04)
8 – oferta de participação/ denominação (S&C; VANL)
A oferta de participação indica que um falante deseja participar do discurso. É típico
da fala do aluno, por exemplo, quando um aluno chama o professor pelo nome ou usa
palavras tais como “sir” ou “teacher”. A denominação, por sua vez, indica permissão para
o aluno contribuir no discurso.
Ex.: T: ((nome do aluno)) can you please pick up two words from those lists to
describe you!
(PNN – 19/10/04)
105
9 – encorajamento (S&C)
Os encorajamentos são usados para reforçar as instruções ou elicitações dadas para
que os alunos façam ou continuem a realizar ações verbais ou não-verbais. Exemplos de
encorajamento são “go on”, “come on”, “hurry up”, “quickly”, “have a guess”, etc.
(PNN 09/11/04)
10 – alternância de código (S&C)
Também conhecida por “
code-switching
”, a alternância de código ocorre entre a L1 da
professora e a L-alvo. Ex.: T: ... quero que memorize esse diálogo, Ok? Did you get it?
(PNN – 09/11/04)
11 – perguntas pedagógicas (NUNN)
As perguntas pedagógicas referem-se àquelas que o professor em geral já sabe a
resposta. O objetivo das perguntas pedagógicas é fazer com que os alunos mostrem ao
professor o conhecimento já adquirido. Ex.: T: when did fate bring them together again?
(PNN – 14/10/04)
12 – perguntas referenciais (NUNN)
São perguntas cujas respostas os professores ainda não sabem; são perguntas que se
referem ao mundo real dos alunos, fora da sala de aula. Perguntas referenciais são mais
aceitas em bases pedagógicas por causa de seu paradigma comunicativo.
Ex.: ((nome do aluno)) when did you get upset?
(PNN - 26/10/04)
13 - fala de repreensão (IBRA)
A fala de repreensão caracteriza-se pelo professor chamar a atenção do aluno para o
discurso principal. Este recurso geralmente demonstra controle de sala de aula por parte
do professor e também um relacionamento assimétrico entre professor e aluno.
Ex.: T: ((nome do aluno)) what´s the problem? ... you are disturbing the class.
106
(PNN – 26/10/04)
14- uso de exercícios mecânicos (IBRA)
O uso de exercícios mecânicos (
drills
) caracteriza-se pelo uso da metodologia
tradicional, ou seja, do método áudio-lingual. Caracteriza-se pela repetição de falas e
termos solicitados pelo professor.
Ex.: T: so repeat have you ever been surfing?
STs: have you ever been surfing?
T: yes, I have
STs: yes, I have
T: were you scared?
STs: were you scared? (PNN – 09/11/04)
B – Atividades Seqüenciais Recorrentes (macro-análise):
15- fala andaime (CAZ)
O discurso andaime caracteriza-se pela interferência do outro interlocutor para
completar o enunciado em andamento. Este recurso demonstra uma interação bem
ajustada por parte dos interlocutores.
Ex.: T: yes, we started talking about adjectives but they are?
ST: absolutely tired of it…
(PNN – 09/11/04)
16– discurso colaborativo (ALLW)
A cooperação é um dos modelos de participação do aprendiz no discurso de sala de
aula (ALLWRIGHT, 1984). Caracteriza-se pelo aprendiz simplesmente fazer o que é
solicitado ou esperado pelo professor, ou seja, é praticamente uma resposta cooperativa do
aprendiz a uma instrução do professor.
Ex.: T: I got bored because?
ST: I was at ((nome da escola))
T: yes, I was at ((nome da escola))
(PNN – 26/10/04)
107
17– navegação (ALLW)
A navegação, modelo de participação do aprendiz, é a tentativa dos aprendizes de
superar as quebras da comunicação, tentando contornar os obstáculos que as lições
apresentam. Ex.: ST: they perderam contato to each other.
(PNN – 14/10/04)
18– negociação do discurso (ALLW)
A negociação é um modelo de participação que posiciona os papéis dos interlocutores
o quanto mais simétrico possível. É a tentativa de tomar decisões através de um consenso,
ao invés de uma tomada de direção unilateral.
Ex.: T: let´s see if we can have pairs
ST: a gente faz trio aqui
(PNN – 09/11/04)
19– resgate de conteúdo (IBRA)
Tentativa, por parte do professor, de tentar resgatar o tópico ou assunto de aulas
anteriores. Tentativa também de posicionamento do discurso atual.
Ex.: T: last class we finished the class with the listening, do you remember?
(PNN – 16/11/04)
20 – controle do discurso (ELLIS)
Posicionamento, geralmente por parte do professor, fazendo parte de seu estilo de
ensinar e conseqüentemente, de sua abordagem de ensino.
Ex.: T: you are going to be letter a and you are going to be letter b, one, two, three
STsA: have you ever been skydiving?
STsB: yes, I have
T: one minute (0.2) yes (0.2) I (0.2) haveh () we are talking about SKYDIVING,
come on start again
(PNN – 09/11/04)
108
1 - negociação de significado (V&G)
Tentativa do professor de parafrasear ou explicitar um mal-entendido. Este recurso é
utilizado naquelas trocas conversacionais onde há indicação clara de que a compreensão
entre os participantes não foi completa.
Ex.: ST: what´s mumble?
T: mumble (0.2) is just uh when you don´t say the word you mumble, you don´t
say properly.
(PNN – 26/10/04)
4.2 A caracterização da interação oral da professora com seus alunos
Nesta seção é respondida a primeira pergunta de pesquisa: como se caracteriza a
interação oral de uma professora não-nativa com seus alunos num contexto de ensino onde há
forte demanda de produção oral? Para responder a esta pergunta foram considerados como
fontes de dados primários as gravações em áudio e vídeo das aulas e como dados secundários
o questionário dos alunos, os
logs
e as notas de campo.
Após serem transcritas as aulas e serem identificadas todas as recorrências discursivas
e todas as atividades seqüenciais recorrentes foram utilizadas algumas respostas dos alunos
(perguntas 2, 3 e 4 – Anexo 3) para definir e delimitar a caracterização da interação da
professora participante. As três perguntas do questionário selecionadas expressam os pontos
de vista e as expectativas dos alunos em relação a PNN.
Uma caracterização da interação entre professor e aluno não pode ser feita apenas pelo
ponto de vista ou percepção da pesquisadora. Por esse motivo, a pesquisadora optou por
basear-se nas respostas dos alunos em relação a essas três perguntas:
- Pergunta 2: o que você acha da capacidade da sua professora para se
comunicar em língua inglesa.
- Pergunta 3: o que você mais gosta no desempenho da sua professora?
109
- Pergunta 4: quais suas expectativas em relação às suas aulas de inglês?
Embora as respostas dos alunos possam ter vindo carregadas de suas crenças, não foi
feito nesta pesquisa um estudo aprofundado sobre este tema, por não se tratar do objetivo
desta dissertação. As crenças desses alunos foram percebidas e consideradas como parte
intrínseca do contexto de sala de aula e, portanto, contribuíram para classificar e estruturar a
caracterização da interação oral da PNN com seus alunos.
Ao responder a essas perguntas os alunos deixaram indícios de que eles têm
vivenciado em sala de aula, em sua prática de aprender uma LE. É através da sua interação
com a professora que se constrói uma realidade de sala de aula. A interação nesta pesquisa,
assim como para Allwright (1984), é considerada uma co-produção. A caracterização
apresentada evidencia e retrata a interação da PNN com seus alunos.
Ao responder a pergunta dois do questionário, o aluno demonstra o que espera de um
professor de LE; entretanto, ao mesmo tempo, ele expressa como
tem sido
sua relação com
sua professora. A pesquisadora chegou a essa premissa porque não ficou evidenciado, de
forma alguma, o contrário. As respostas dos alunos à pergunta dois do questionário basearam-
se em suas experiências em relação a PNN.
Ao responder a pergunta de número três do questionário, os alunos avaliam a
capacidade da PNN em se comunicar em língua inglesa. Essa pergunta, por outro lado,
evidencia as suas próprias limitações, pois pode ocorrer do aluno ter uma postura negativa
quanto à capacidade da professora por não ser capaz de entendê-la. Consideraram a professora
competente e expressaram o que é relevante para a interação, segundo seus pontos de vista.
Ao responder a pergunta de número quatro do questionário, eles destacam, de forma
clara, aquilo que eles apreciam na interação. Ao dizer que gostam do “modo como ela
110
ensina”, demonstram que foram cativados e conquistados pela professora, estabelecendo-se,
assim, uma boa interação em sala de aula.
O resultado dessas três perguntas foi o seguinte: a resposta mais recorrente observada
nos dados para a pergunta dois foi que “eles esperam que o professor seja capaz de explicar a
matéria com clareza e que seja bem comunicativo com seus alunos”. Ser claro e comunicativo
está relacionado à oralidade da professora e, de maneira mais ampla, ao seu estilo de ensinar.
Na pergunta três, o ponto de vista dos alunos em relação a PNN, é de que “a
capacidade da professora é muito boa, pois ela é competente para expor as idéias”; segundo
eles, a PNN tem o “dom de ensinar”. Pode-se inferir nesta resposta que a professora tem
dosado, calibrado seu discurso para o nível Intermediário em questão.
Quanto à pergunta de número quatro, o que mais se destaca, segundo os alunos, no
desempenho da professora, é o “modo como ensina”, sua maneira de explicar e também a sua
“forma centralizadora” como conduz os alunos e a organização da aula.
Diante dessas respostas dos alunos e da observação da pesquisadora dos dados de sala
de aula, foram feitas quatro divisões de acordo com as características dos dados. As três
primeiras fazem parte de uma micro-análise, baseada em categorias menores da fala do
professor; a quarta divisão faz parte de uma macro-análise, baseada nas atividades que
enfocam a participação do aprendiz. A micro-análise foi estruturada segundo as respostas dos
alunos nas perguntas 2, 3 e 4 do questionário e a macro-análise foi estruturada segundo a
observação da pesquisadora dos dados de sala de aula.
A primeira divisão é as características que se enquadram na “capacidade de expor as
idéias com clareza”, referente à pergunta dois. A segunda divisão é as categorias que
caracterizam, ou se somam ao “modo como ensina”, referente à pergunta de número três, a
terceira divisão refere-se “a sua forma centralizadora de conduzir a aula”, referente à pergunta
três e a quarta divisão é as categorias que se referem à participação do aprendiz na interação.
111
A quarta divisão, então, trata da participação do aprendiz na interação. Segundo
Allwright (1984), a interação é uma co-produção, e nesse sentido, o aprendiz é parte
integrante deste processo. As categorias levantadas nessa divisão basearam-se em Allwright
(op. cit), Cazden (1988) e Varonis e Gass (1985).
Baseados nessas quatro divisões, as categorizações dos dados de sala de aula foram
definidas, fazendo-se uma micro análise dos dados, baseada em categorias menores da fala do
professor e uma macro-análise, baseada nas atividades que enfocam a participação do
aprendiz. Essas categorizações serviram para fazer a caracterização da interação oral da
professora não-nativa. Veja a seguir as análises dos dados de aula.
U4.2.1 Características que expressam a capacidade da professora em expor as idéias
Ucom clareza (micro-análise)
Algumas recorrências encontradas na fala da PNN expressam clareza, ou seja, ajudam
o discurso a ser melhor compreendido:
uso de marcadores, verificação da compreensão,
confirmação de compreensão, repetição de termos
e
meta-enunciados.
Os
marcadores
ajudam a estabelecer coesão e coerência no discurso e, em geral,
sinalizam o início e o fim de um movimento na interação. Observemos os exemplos abaixo:
Excerto 1:
T: …now I will play everything again and I won’t stop (+) all right? Did you all
understand what you are supposed to do?
ST: uh-huh
T: (nome do aluno) (+) did you understand?
(aula de 26/11/04)
Excerto 2:
T: ok (+) all right so (nome da aluna) can you use a bit with this sentence?
ST: he’s a bit big-headed
T: very good (+) (nome do aluno) can you use exactly
112
(aula de 26/11/04)
Excerto 3:
T: … ok go back to page 31 please
( )
T: take a look at exercise number 2 please (+) number two (+) last page. Are you with
me?
STs: yes
(aula de 26/11/04)
No excerto 1, a palavra ”now” indica que um novo movimento vai se iniciar e a
atenção do aluno é direcionada para a execução da tarefa seguinte. No excerto 2, a expressão
“all right” indica que o discurso anterior foi completado com sucesso e que algo novo será
direcionado aos alunos. A palavra “Ok”, no excerto 3, também indica que o discurso ou
atividade anterior foi completado com sucesso e que novas instruções serão dadas.
A
verificação de compreensão
e a
confirmação de compreensão
são recursos típicos do
ensino formal. Os professores usam a verificação de compreensão de um ponto dado ou para
confirmar o progresso de uma atividade na sala de aula. A confirmação, por sua vez,
pressupõe que o enunciado foi, pelo menos, parcialmente ouvido. Identifica-se a confirmação
de compreensão pela repetição de partes do enunciado ou por
question tag,
como
exemplificado nos excertos 4, 5 e 6:
Excerto 4:
T: …now I will play everything again and I won´t stop (+) all right? Did you all
understand what you are supposed to do?
ST: uh-huh
T: (nome do aluno) (+) did you understand?
ST: what?
T: (nome do aluno) (+) did you understand?
ST: yes[
T: ] yes? Everybody?
(aula de 26/10/04)
Excerto 5:
T: … your fourth composition is gonna be a kind of telling a story ok? But and this story
is about your most exciting holidays (+) what´s, what´s the meaning of holidays?
STs: férias
113
T: very good what about your, the most excited holiday you have ever had?
(aula de 16/11/04)
Excerto 6:
T: …can I say I am very exhausted?
STs: no
T: no (+) so I have to say absolutely (0.3) really (+) what else? absolutely (+) really (+)
TOTALLY
ST: extremely
T: extremely did we have this? yes?(0.3) ok (+) so (0.2) there is a difference if you say
(+) I´m VERY tired and I am a little (+) I am a little tired (+) there is a difference (+)
so there is a graduation (+) isn´t it? Here we cannot have a graduation (+) I cannot say
I am a LITTLE EXHAUSTED (+) ok (+) it doesn’t exist.
(aula de 9/11/04)
O excerto 4 inicia-se com um marcador “now” e em seguida uma pré-elicitação “I will
play everything again...”, preparando o aluno para um novo movimento na interação. Todo o
excerto que se segue expressa várias verificações de compreensão, “did you understand”. A
professora, nesse ponto da interação quer realmente se certificar que todos os alunos
compreenderam o objetivo da tarefa.
O excerto 5, por sua vez, também expressa verificação de compreensão, usando uma
pergunta direta sobre o significado da palavra “holiday”. Os alunos confirmaram com uma
tradução em português, “férias”. Vê-se nesse exemplo que a professora fez uma pergunta
relativamente óbvia, ou muito simples para os alunos de nível intermediário. Provavelmente, a
participante utilizou este recurso para introduzir uma pergunta referencial:
What about your,
the most excited holiday you have ever had?
Neste sentido, foi possível trazer a realidade dos
alunos para a sala de aula.
A verificação de compreensão no excerto 6 caracteriza-se pela repetição de termos e
pelo uso de
question tag
. A professora repete a resposta dos alunos para indicar que a resposta
foi dada de forma correta “
no”, “extremely
”. O uso da
question tag
após a frase “so there is a
graduation, isn´t it?” também indica uma confirmação de compreensão junto aos alunos.
114
O
uso de repetição
de termos da fala da PNN caracteriza um estilo de ensinar marcado
por confirmações de compreensão. Esta característica da fala da PNN deixa seu discurso mais
claro e evidencia ao aluno que ele está atendendo as expectativas da professora na interação
oral. Veja um excerto típico da PNN:
Excerto 7:
T: if you think in terms of personality which characteristic do you describe?
ST: sweet
T: sweet great
ST: friendly[
T: ] friendly
ST: happy
T: happy (+) a happy person, what else?
ST: calm
T: calm (+) great (+) what else?
ST: not jealous
T: not jealous! that´s important as well (+) do you understand jealous?
ST:
ciumento
T: very good very good (+) what else?
(aula de 19/10/04)
Vê-se, nesse excerto, que a repetição de termos que a professora usa serve como um
feedback
positivo para o aluno: “
weet”; “sweet great
”. Ao mesmo tempo, essas repetições
preenchem os espaços no discurso da professora, permitindo ao aluno verificar que seu turno
tem sido tomado com sucesso, pois a PNN está sempre confirmando ou repetindo o termo
utilizado pelo aluno.
s
e
A função do
m ta-discurso
é explicitar a estrutura da fala para que os interlocutores
saibam o propósito da fala seguinte. Os meta-enunciados representam uma considerável
quantidade de metalinguagem usada na comunicação de sala de aula:
Excerto 8:
T: now (+) number two you got (0.4) an action which is happening around the past?
ST: past continuous
ST: past continuous ((vários alunos falam ao mesmo tempo))
T: past continuous (+) the action is happening in the past (+) past continuous and number
three [
ST: ]the present perfect [
115
T: ] you got an action but you don´t know when exactly the action happened in the past
(+) so you have?
ST: present perfect
T: present perfect (0.8) great (+) now (+) let´s go back to number seven (+) I decided to
do number eight first because it´s easier for you to understand number seven (+) let´s
go back to number seven. Which tense is the most useful for introducing a new topic
of conversation? When they ask the first question?
ST: present perfect
T: present perfect (0.3) great ok? so letter a) present perfect (+) right? letter b) which
would you probably use if you wanted to say exactly when something happened?
ST: past simple
T: past simple (+) yesterday I went to the movie...
(aula de 16/11/04)
Neste exemplo, a professora compara uma situação que está acontecendo no passado
usando a forma do “
past continuous
” com uma situação que não se sabe quando exatamente
ocorre, usando assim o “
present perfect
”. A explicitação dos tempos verbais e a condição de
uso dessas formas fazem com que PNN utilize a metalinguagem. Grande parte do discurso de
sala de aula é, em geral, caracterizada por meta-enunciados ou metalinguagem.
Foram verificados nesta primeira caracterização exemplos e características da fala da
PNN que expressam clareza. Este é, na verdade, um ponto que a PNN se preocupa e tem
consciência da sua importância. É o que se verifica numa de suas referências quanto ao seu
desempenho em sala de aula, nos
Logs
:
“eu deveria ter dado instruções mais claras para os alunos porque eles
não foram capazes de desenvolver a tarefa adequadamente” (
Log
dia
05/10).
Para a professora não-nativa, parece essencial ter um discurso compreensível e claro,
para que se possa ter um aprendizado com sucesso. Ela demonstrou explicitamente ter essa
preocupação, conforme visto no seu relato (
Log
). As caracterizações levantadas foram
116
confirmadas e comprovadas pelos pontos de vista dos alunos em relação a suas percepções do
processo de ensinar da professora.
U4.2.2 Características que demonstram o modo como a professora ensina (micro-análise)
“Dom de ensinar”, “modo como ensina” e “sua maneira de explicar” são termos um
pouco vagos e subjetivos. Entretanto, características recorrentes encontradas na fala da PNN
ou no seu estilo de ensinar acabaram dando forma e caracterizando “a sua maneira de
explicar”. Analisando essas características, foi possível entender o ponto de vista dos alunos
ao dizer “dom de ensinar”. As características recorrentes que expressam sua maneira de
explicar são:
correção, avaliação, oferta de participação/denominação, encorajamento, uso de
português, pergunta pedagógica, pergunta referencial
e
uso de exercício mecânicos. s
O erro pode ser definido como uma forma produzida pelo aluno não esperada pelo
professor (ALLWRIGHT & BALEY, 1991). Os erros, muitas vezes, são causados porque os
alunos estão tentando se aproximar dos padrões da língua-alvo, o que ocorre em estágio de
interlíngua, a qual foi definida por Selinker (1975) como um contínuo entre a primeira e a
segunda língua, pelo qual todo aprendiz passa e que numa visão mais atual, defendida por
Cruz (2001 apud CAVALARI, 2005), é vista como a competência lingüístico-comunicativa
que o aprendiz de LE manifesta em sua produção, marcada pela variabilidade, com avanços e
regressões e criações de regras próprias a esse sistema.
Quanto à correção, é a atitude que é tomada no momento em que o erro ocorre. A
correção
pode se apresentar de várias formas. Entretanto, são apresentadas a seguir algumas
correções que caracterizam a interação da PNN: correção direta do professor; correção pelos
colegas e a autocorreção com a ajuda do professor. Nos excertos seguintes é verificado como
se caracteriza a correção da PNN:
117
Excerto 9:
T: [ playing rugby (+) he was playing rugby and what happened while he was playing
rugby? he?
ST: he broke]
ST: [broke uh]
T: [ he twisted (+) twisted not broken (+) he twisted his?
ST: /u/nkle
ST: joelho (+) né?
T: his /u/nkle (+) he died ((risos))(+) his?
ST: ankle
T: ANKLE (+) ankle ( ) pay attention
(aula de 16/11/04)
Neste excerto a professora fez uma correção imediata após considerar o verbo
utilizado pelo aluno inadequado, “he twisted...”. O aluno comete outro erro repetindo a
resposta com pronúncia inapropriada, mudando assim o sentido da frase “/u/nkle”. A PNN
neste momento usa de seu humor para fazer o aluno perceber a diferença de significado entre
as duas palavras “uncle” e “ankle”. O aluno então percebe seu erro e repete a resposta correta.
O uso do humor é um recurso da linguagem humana onde o interlocutor brinca com as
palavras para descontrair a atmosfera, as palavras são relativamente semelhantes, pois têm
quase a mesma pronúncia, mas com significados diferentes (TANNEN, 1984).
No exemplo a seguir a professora pede o auxílio de outros alunos para a correção.
Com este recurso, ela consegue amenizar a repercussão do erro na sala de aula e faz com que
todos participem da interação. Ao solicitar a ajuda de outros, ela infere que o restante dos
alunos sabe a forma correta e que, portanto, não têm dificuldade com esse tipo de erro:
Excerto 10:
T: very good (+) (nome do aluno) can you use exactly
ST: he´s not exactly narrow- [
T: ] no (+) no (+) no what would be? [
ST: ]modest [
T: ] modest (+) great (+) can you use particularly (nome do aluno)?
ST: He is not particularly bigheaded
T: no no how would you help him?
ST: he´s not particularly modest [
T: ] modest (+) he´s not particularly modest (+) (nome do aluno)! let´s pay attention!
(aula de 16/10/04)
118
Verifica-se, no excerto 10, que a correção acontece com o auxílio dos colegas de sala
de aula. A professora chama a atenção para um erro, mas não fornece a resposta, “
no no, no
what would be
?”, o colega então auxilia dando a resposta correta, “
modest
”. Entretanto, o
aluno ainda não consegue entender a forma correta e a professora novamente chama a atenção
e pede a ajuda do outro aluno, “
no no how would you help him
?”; o outro aluno dá então a
resposta esperada pela professora.
Foi também constatado, através dos
Logs,
que a PNN chama alguns alunos para
explicar o que os outros não entenderam. Observe um de seus relatos no
Log
:
“alguns alunos ainda falam português em sala de aula, mas esse
tipo de problema é esperado dentro da faixa etária e nível. Tive
que usar português para chamar atenção deles. E chamei alguns
alunos para explicar o que os outros não haviam entendido”.
(
Log
– 21/09)
Segundo a PNN, esse é um recurso que utiliza para tratar com problemas na interação.
Ela pede a ajuda dos alunos, ao invés de dar ela mesma a resposta. Pode-se inferir, nessa
situação, que ao pedir ajuda a outros alunos ela ameniza a assimetria entre ela e os alunos,
deixando o aluno que cometeu o erro mais confortável na interação.
No exemplo abaixo a correção é feita por meio de “pistas”, a resposta não é dada e
nem parafraseada; é dado apenas um sinal de que algo não foi colocado de forma adequada. A
pista serve para chamar a atenção do aluno para que ele mesmo faça sua correção:
Excerto 11:
ST: have you ever been skydiving?
ST: yes (+) I have
ST: it was good?[
T: ] uh (+) uh (+) uh [
STs: ] was it good?
ST: was it good?
T: ( ) absolutely
ST1: absolutely incredible
(aula de 09/11/04)
119
Neste excerto há um modelo de autocorreção com a ajuda do professor, ou seja, a
professora sinaliza que algo está errado e dá alguns segundos para o aluno fazer seu ajuste,
após perceber seu erro, “T:
uh(+) uh(+) uh
”; “STs:
was it good
?” Todos os alunos acabam por
responder na forma correta, invertendo o verbo
to be
para construir uma pergunta.
No excerto 12, pelo fato de ser um erro de pronúncia, a professora optou por fazer uma
correção imediatamente após o erro. Este recurso faz com que o aluno contraste as duas
formas e perceba a pronúncia correta, pois muitas vezes o aluno não consegue perceber o
equívoco:
Excerto 12:
ST: Do you know how many PROfessionals female boxers there are?
T: Do you know how many proFEssionals, professionals (+) pro- ok (+) proFEssional
ST: professional
T: next
ST: What did your friends and family think about it?
T: great
STs: Is it easy for a woman to be a prof/i/ssional boxer?
T: professional (+) professional (+) can you read again (+) please?
ST: Is it easy for a woman to be a prof/i/ssional[
T: ] proFE- (+) proFE-
ST: professional boxer
T: great (+) next please!
(aula de 09/11/04)
Este último exemplo demonstra a correção direta e imediata da pronúncia do aluno. O
recurso utilizado pela professora para o tratamento do erro é a sua própria auto-repetição para
que o aluno perceba qual a sílaba tônica em questão “
proFEssional, proFEssional
”. Na metade
do excerto, vemos que os alunos realmente têm dificuldade em relação a essa palavra
prof/i/ssional
”. A professora pede para o aluno ler novamente e verifica que ele continua a
cometer o mesmo erro. A professora repete por mais duas vezes, e só aí o aluno consegue
repetir de forma correta, “
professional boxer
”.
Os exemplos dados caracterizam a correção de erro da PNN (excertos 9-12). Por meio
dos
Logs
constatamos que a professora tem um conhecimento amplo das formas de
120
tratamento de erro, pois na pergunta “como os problemas foram tratados?” No
Log
do dia
05/10 ela responde:
ask for repetition
,
elf-correction, peer correction and teacher’s
correction
”.
s
É importante que o professor, ao efetuar a correção, tenha em mente quais são seus
verdadeiros objetivos, pois uma correção bem feita auxilia no processo de ensino e
aprendizagem. Cardoso-Brito (2004) afirma que é preciso que se considere o processo de
desenvolvimento da interlíngua do aluno que é repleto de avanços e retrocessos, e somente
com várias formas de tratamento é que ele terá a oportunidade de avançar e retroceder até que
o sucesso seja alcançado.
Para Allwright & Bailey (1991) apenas os alunos são capazes de mudar o estado em
que se encontram na interlíngua e avançar nesse processo. Ao considerar a Teoria de
Aquisição de Vygotsky (1978)
TP
8
PT como suporte para a análise dos indícios de aprendizagem e
aquisição da língua estrangeira, parece que a correção apenas terá resultado quando fornecer
condições para que o aluno evolua no processo de aprendizagem com o objetivo de alcançar a
autocorreção. Nesta teoria, o professor ou qualquer outro falante mais competente funciona
como mediador, com o objetivo de levar o aluno à regulagem por meio da utilização de
andaimes. Nesse sentido, a correção poderia funcionar como andaimes oferecidos pelo
mediador para que o aprendiz pudesse atingir o desenvolvimento de sua produção oral.
As
avaliações
são escalas de julgamento verbal e não-verbal ao acompanhar uma
tarefa de sala de aula. O professor confirma uma resposta correta comentando a qualidade da
língua utilizada. Palavras tais como “
good”, “that´s right”, “well done
” expressam avaliação.
Veja os excertos abaixo:
Excerto 13:
T: yes we just did orally (+) we didn´t write anything remember?
TP
8
PT VYGOTSKY, L. S.
Mind in Society
. United States: Harvard, 1978.
121
STs: ( )
T: no no no (+) it wasn´t the reading (+) it was the dialogue
ST: the questions (+) have you ever?
T: VERY GOOD (nome do aluno) have you ever … so the dialogue…
(aula de 09/11/04)
Excerto 14:
StsA: have you ever been surfing?
STsB: yes (+) I have
StsA: were you scared?
STsB: scared? I was absolutely terrified
T: excellent (+) it was much much better than the first one (+) let´s see uh (nome do
aluno) you are c and (++) (nome do aluno) you are G
(aula de 09/11/04)
Em ambos o excerto pode-se ver a PNN avaliando a qualidade da fala do aluno. As
palavras “
very good
” e “
excellent”
fazem parte de uma rotina que caracteriza o discurso da
professora na sala de aula. Avaliar, segundo Haydt (2002), é de certa forma interpretar dados
quantitativos e qualitativos para obter um parecer ou julgamento de valor, tendo por base
padrões ou critérios. O tipo de avaliação que a PNN faz uso de forma recorrente faz parte de
um tipo de avaliação formativa, com função de controle e está muito ligada ao mecanismo de
feedback
. O objetivo dessa forma de avaliação é constatar que os objetivos estabelecidos
foram alcançados pelos alunos.
A
oferta de participação
indica que o aluno deseja participar do discurso, é uma
indicação por parte do aluno. A
denominação
, por sua vez, indica permissão para o aluno
contribuir no discurso, e é sinalizada pelo professor, conforme exemplificado nos excertos 15
e 16, respectivamente:
Excerto 15:
T: Let me check (+++) because we have the tree-bark (+) the log is
madeira
already cut]
ST:
professora (+) professora
T: just a minute (+) let me find something here
( )
T: trunk ((risos)) trunk ( ) we have the tree (+) this is the trunk of the tree (+) ok?
( )
ST: teacher how can I say
arco e flecha
?
T: arrow and bowl (+) arrow for the
flecha
and bowl for the ( )
(aula de 09/11/04)
122
Excerto 16:
T: ok (+) so let´s see (nome do aluno) please when did they meet?
ST: last summer
T: great where uh when did fate bring them together again? (nome do aluno)?
ST: eh a few months ago
T: a few months ago great (+) where did they (+) where did she see him again? (nome do
aluno)! (0.4) you didn’t get this one (+) did you?
ST: at a party
T: at a party (+) (nome do aluno) could you find where is it?
(aula de 14/10/04)
Ao indicar que quer participar do discurso, o aluno demonstra uma atitude positiva em
relação ao seu processo de ensino e aprendizagem. No excerto 15, por duas vezes o professor
foi interrompido para dar o turno ao aprendiz. A atitude do aluno demonstra que ele se sente à
vontade para interromper o professor e perguntar suas dúvidas. Por outro lado, a denominação
demonstra um discurso marcado pela escolha do próximo turno. No excerto 16, a professora
direciona a tarefa e denomina quem vai executá-la. As aulas da PNN são ricas em
denominações e isso demonstra um certo controle do discurso de sala de aula.
Os
encorajamentos
são usados para reforçar as instruções ou elicitações dadas para
que os alunos façam ou continuem a realizar ações verbais ou não-verbais, conforme pode ser
visto no excerto 17:
Excerto 17:
T: very good (+) liked (+) regular verb Ok girls? (nome da aluna) like (+) liked (+) liked
ok? Continue
ST: I told my father that I liked him and he went to visit his family
T: very good (+) simple past as well (+) go (+) went (+) all those actions are OVER (+)
they are talking about the past and it’s over (+) his father went (+) she saw him (+) go
on[
ST: ] they have been married
(aula de 14/10/04)
As palavras “
continue
” e “
go on
” expressam encorajamento e a retomada do turno
pelo aluno. Neste caso, a professora não denomina um novo falante, mas retorna o discurso ao
falante anterior.
123
A alternância de código em níveis intermediários é uma prática recorrente,
especialmente na faixa etária dos adolescentes. A tradução pode ser feita tanto pelo professor
quanto pelo aluno, com mais recorrência na fala dos alunos, onde se tem muita transferência
da L1. Veja o excerto seguinte:
Excerto 18:
T: … she is going to ANSWER the question (+) so you have to come up (++) which one
she’s answering (+) ok so you have to pay close attention to the video and the
questions and tick the questions that she answered (+) did you understand?
ST: yeah!
T: uh (+) (nome do aluno) (+) que é que é pra fazer?
ST: você vê o vídeo aí depois vai marcar só as respostas que ela dá com as perguntas daqui
T: not exactly
STs: ((alunos falam juntos))
T: = quais as perguntas que ela respondeu ok? you have to tick the questions (+) did you
understand (+) now? yes? yes? ok? so let´s go
(aula de 09/11/04)
Nesse exemplo a professora procura explicar a tarefa em inglês e verifica a
compreensão dos alunos “
did you understand
?”, mas percebe que os alunos ainda não
entenderam totalmente, então, denomina um aluno e pergunta na L1 a instrução dada “uh,
Rodrigo, que é pra fazer?”. O aluno responde na L1 e a professora vê que realmente não
entenderam e reforça então a instrução com o uso do português. Uma das características da
PNN é certificar-se de que o aluno entendeu e está acompanhando as atividades dadas.
A PNN também faz uso do português para chamar a atenção dos alunos, num
problema de disciplina. Ao fazer uma alternância de código nesse momento, ela se torna mais
enfática e rígida quanto ao controle de sala de aula. Ao responder “tive que usar o português
para chamar a atenção deles” (
Log
- 21/09) demonstra que houve um problema na interação e
que o uso do português é um recurso eficiente para restabelecer o bom andamento do
gerenciamento dessa interação.
As
perguntas do professor
no discurso de sala de aula têm funções fundamentais.
Nesta pesquisa, as perguntas foram agrupadas em apenas duas classificações: perguntas
124
pedagógicas e perguntas referenciais (NUNN, 1999). As perguntas pedagógicas, como já
citado, referem-se àquelas que o professor sabe a resposta e seu objetivo é fazer com que os
alunos mostrem o conhecimento já adquirido. As perguntas referenciais são aquelas cujas
respostas os professores não sabem, são perguntas que se referem ao mundo real dos alunos:
Excerto 19:
T: so (+) you don´t have this answer but you have those two in a certain way (+) where
did they meet first!
ST: he is in high school
STs: high-school
T: High school and what happened?
ST: eh his parents moved
ST: move
T: yeah he moved away with his parents ok they?
ST: drifted apart
T: yes drifted apart
(aula de 14/10/04)
Excerto 20:
T: Now, take a look (+++) which of these sports do you uh do or watch (+) (nome da
aluna) (+) which of them? you have either been
ST: eu?
T: Yes
ST: uh, cycling (+) horse-riding (+) scuba-diving [
T: ] scuba diving (+) where (+) where did you go scuba diving last time?
ST: Cancun (+) Maceió.
T: so (+) you like watching sports (+) don’t you?
ST: yes
T: great (+) uhh what about you (nome do aluno) which sports or activity have you ever
practiced?
ST: ( ) surfing
T: which is your favorite one (+) which do you like doing (+) favorite (+) everyday
ST: football
T: football (+) and which one do you like watching?
(aula de 09/11/04)
O excerto 19 apresenta três perguntas pedagógicas: “
where did they meet first
?”,
what happened
?”, e “
they
?”. As respostas foram dadas na atividade de compreensão oral e o
objetivo da professora, ao fazer essas perguntas, foi também fazer os alunos produzirem
enunciados e, conseqüentemente, ter uma boa participação na interação. O uso de perguntas é
125
um recurso muito comum na prática de sala de aula e é algo que PNN explora bastante. Veja
seu comentário em um dos
Logs
:
“através de perguntas consegui uma participação dos alunos
relativamente boa” (
Log
– 21/09).
A terceira pergunta, “
they
?”, requer uma inferência dos alunos para uma resposta
possivelmente já vista no conteúdo apresentado. Essa forma de questionar da professora é um
meio de verificar que estava conectado ao discurso anterior e faz com que os alunos dêem um
feedback da compreensão.
O excerto 20 apresenta algumas perguntas onde a professora quer saber detalhes da
vida do aluno fora da sala de aula, “
which of these sports do you uh do or watch
, (nome da
aluna)?”, “
where did you go scuba-diving last time
?”, “
which sports or activity have you ever
practiced
?”. As perguntas referenciais são mais bem aceitas em bases pedagógicas por causa
de seu paradigma comunicativo (NUNN, op. cit), pois o mínimo que se requer numa sala de
aula é que os alunos acessem o insumo compreensível e usem a L-alvo com propósitos
comunicativos.
Embora criticado, o uso de exercícios mecânicos ainda é uma prática muito recorrente
em algumas abordagens de ensinar. Sendo uma prática do áudio-lingualismo, tais exercícios
ainda são utilizados por professores que adotam uma abordagem comunicativa. Veja o excerto
seguinte:
Excerto 21:
Sts: it was absolutely incredible
T: repeat everybody (+) absolutely
STs: absolutely
T: absolutely incredible
STs: absolutely incredible
T: it was absolutely incredible
STs: it was absolutely incredible
126
T: GOOD (+) it was absolutely incredible
STs: GOOD (+) it was absolutely incredible
T: again (+) GOOD]
STs: GOOD
(aula de 09/11/04)
Neste excerto a professora faz repetição de termos de forma gradativa. O uso dessa
prática pela professora é principalmente para aperfeiçoar a pronúncia e a fluência dos alunos.
O pedido de repetição tem o objetivo de estabelecer oralmente os padrões da língua como
hábitos do subconsciente (LADO & FRIES, 1953;1957 apud MORLEY, 1984). A repetição é
uma característica marcante no discurso da PNN. Embora ela utilize uma abordagem
comunicativa, essa característica ajuda os alunos a prestar mais atenção e a registrar detalhes
que num discurso não-repetitivo, se perderiam.
Os dados dessa seção evidenciaram e demonstraram a maneira e o modo como ensina.
Esse modo de ensinar foi apreciado pelos alunos que o denominou de “dom de ensinar”.
Verifica-se que essas recorrências são atitudes, técnicas e procedimentos por parte da
professora que parece satisfazer as expectativas dos alunos.
U4.2.3 Características que demonstram o estilo centralizador da professora (micro-análise)
A terceira parte desta análise refere-se às características que sugerem a “rigidez” da
PNN e a maneira como conduz as aulas. Essa é uma característica que ficou também muito
evidenciada nas notas de campo, feita pela pesquisadora. Ter um estilo centralizador significa
centralizar a atenção dos alunos para o foco principal da aula, sem deixar de dar liberdade ao
aprendiz.
As observações feitas pela pesquisadora confirmam os pontos de vista dos alunos e
comprovam o estilo da PNN:
127
“- a professora repete todas as instruções que dá e depois verifica a
compreensão (14/10/04)”;
- a professora relembra os alunos sobre questões da aula passada
16/11/04;
- a professora muda um aluno de lugar porque estava falando português
(16/11/04);
- PNN chama a atenção dos alunos para entender o que ela está
explicando (26/10/04);
- a professora chama a atenção dos alunos várias vezes – Ex:
((nome))
are you lost
? (09/10/04).”
Considerando as notas de campo, os dados de sala de aula e as observações feitas
pelos alunos em sala de aula, foram levantadas as seguintes categorias:
fala de repreensão,
resgate de conteúdo
e
controle do discurso
. Observe os excertos abaixo:
Excerto 22 (fala de repreensão):
T: … so you have to use something in the past (+) (nome do aluno) what´s the problem?
ST: eu estou falando alguma coisa?
T: no, but you are uh disturbing the class what is the problem?
ST: ( )
T: is there anything you would like to share with us?
ST: no
T: so are you ok (nome do aluno)? Have you got anything to share with us? (+++) what
about you (nome do aluno)?
ST: Eu?
T: yeah
ST: eu estava fora da conversa
T: so can we go on?
ST: yes
T: perfect! So (+) let´s go uh …
(aula de 26/10/04)
Excerto 23 (resgate de conteúdo):
T: uh first of all last class what did we discuss? Do you remember?
ST: about parents meeting each other
T: very good (+) about parents ok what was what were the three questions you were
talking last class?[
(aula de 19/10/04)
Excerto 24 (controle do discurso):
T: page 28 everybody
ST: which page?
T: 28 (0.8) (nome do aluno) where are your book?
ST: oh here
ST: what page teacher?
T: 28 (0.8) ready everybody?
128
ST: yes
T: yeah? In the middle of the page “lexis” when I have lexis what we are dealing with (+)
what we are talking about?
ST: vocabulary
T: vocabulary (+) great
(aula de 19/10/04)
Essas características fazem parte da abordagem de ensinar da PNN. São relevantes
para o escopo da pesquisa, pois foram as que mais se destacaram, sendo as mais recorrentes.
Esses exemplos são uma pequena amostra da rotina e do domínio de sala de aula que a
professora exerce. Conforme constatado no questionário, o estilo centralizar e o domínio de
sala de aula foram um dos aspectos do desempenho da professora que os alunos mais
apreciaram.
No excerto 22, a professora interrompe seu discurso para fazer uma forte
repreensão
em três alunos, “(nome do aluno)
what´s the problem
?”, “
are you Ok
(nome do aluno)?” e
what about you
(nome do aluno)?”. A fala de repreensão leva a uma ruptura do discurso e a
uma mudança na atmosfera da sala de aula. O enunciado “
have you got anything to share with
us
?” demonstra que a conversa paralela na sala de aula não é de interesse dos outros alunos. É
uma forma de chamar a atenção do aluno e até constrangê-lo na frente dos outros, para trazê-
lo de volta ao assunto principal.
No excerto 23, a professora faz uma tentativa de
resgate do discurso
da aula anterior
last class what did we discuss
?
Do you remember
?”. Essa é uma prática muito recorrente no
início de suas aulas. Essa tentativa de resgate do discurso anterior funciona como um “
warm
up
” para as suas aulas.
As instruções dadas no excerto 24 também formam parte do perfil de ensinar da PNN.
Toda mudança de atividade ou de tarefa é marcada por um discurso relativamente didático e
objetivo. O número de página, o tópico da atividade “
lexis
” e a verificação de que todos os
129
alunos estão seguindo “
ready everybody
?” ajudam o aluno a não perder o passo na interação
de sala de aula, especialmente quando as classes apresentam uma certa quantidade de alunos.
Assim, encerrando a micro-análise, as características da fala da PNN, como: uso de
marcadores, verificação da compreensão, confirmação de compreensão, repetição de termos e
meta-enunciados expressam clareza do seu discurso em sala de aula. Características
recorrentes como correção, avaliação, oferta de participação/denominação, encorajamento,
uso de português, perguntas pedagógicas e referenciais e uso de exercícios mecânicos
expressam e revelam o estilo e o modo de ensinar da PNN, características essas que os alunos
consideraram significativas em relação à capacidade da professora em se comunicar em
língua inglesa, dizendo até mesmo que ela tem o “dom de ensinar”. Por fim, características
que sugerem o estilo centralizador da PNN e a forma como conduz as aulas, tais como fala de
repreensão, resgate de conteúdo e controle de sala de aula, expressam características positivas
no desempenho da PNN. Essas características, assim, mapeiam e qualificam a interação oral
da PNN.
U4.2.4 Caracterização da participação do aprendiz na interação (macro-análise)
Prosseguindo com as categorizações encontradas na análise dos dados primários, as
atividades recorrentes seguintes focalizam mais na participação do aprendiz e fazem parte de
uma macro-análise da interação de sala de aula. Os modelos de análise seguidos aqui se
apóiam em Allwright (1984), Varonis e Gass (1985) e Cazden (1988). A interação no ensino
de LE é vista por Allwright como inerente à própria pedagogia de sala de aula, ou seja, é uma
co-produção. Neste sentido, passa-se a analisar alguns excertos que expressam essa interação.
As categorias da quarta divisão são:
navegação, negociação
e
cooperação do aprendiz; fala
andaime
e
negociação de significado
.
130
Veja os excertos 25, 26 e 27:
Excerto 25 (navegação):
T: yeah he moved away with his parents ok they?
ST: drifted apart
T: yes drifted apart
ST: they perderam contato to each other
T: excellent (nome da aluna) (+) they never forgot each other so what happened after 34
years?
(aula de 14/10/04)
Excerto 26 (cooperação do aprendiz):
T: great (+) could you please uh (nome da aluna) can you read number two? Please,
read...
ST: read Emma´s account of how she met Paul. Complete the account with appropriate
time expressions
T: great (+) can you give some example of time expressions?
ST: once a week
T: once a week (+) what else?
ST: sometimes ( )
T: yeah (+) those are adverbs [
ST: ] once a time (+) once a week (+) frequently
ST: once in a blue moon
T: ok those are adverbs but I´d like you to talk about uh for example YESTERDAY (+)
LAST SUMMER (+) what else you can have?
ST: one year ago
T: one year ago so this type of expressions ok?…
(aula de 14/10/04)
Excerto 27 (negociação):
T: no? I´d like you to use this dialogue to make up new dialogues (+) invent new
dialogue (+) using all the adjectives ok (+) so let´s do like this (+) you two uhh
((nome)) you two (+) and two of you (+) ok (+) two (+) let´s see if we can have pairs
ST: faz three
T: no (+) we need (++) because somebody will be uhh I need pairs[
ST: ]here [ ( ) = a gente faz trio aqui [
T: ] it doesn´t matter (+) it doesn´t work (+) we nee two people (+) two of you (+) two of
you (+) the two of you (+) come here with me please (+) two together (+) two together
(+) come here and stand up
(aula de 09/11/04)
A
navegação
, exemplificada no excerto 25, é a tentativa dos aprendizes de superar as
quebras da comunicação, tentando contornar os obstáculos. Pode ser entendida também como
uma forma de esclarecimento de dúvidas individuais. No exemplo dado, a aluna não sabe
como dizer uma parte da frase, o que a faria interromper o discurso e pedir ajuda da
131
professora ou a simplesmente interromper o enunciado. Todavia, a aluna segue com a fala
fazendo uma alternância de código: “
they
perderam contato
to each other
”. Assim, o discurso
prossegue normalmente.
O modelo de participação do aluno
cooperação
consiste no aluno simplesmente fazer o
que é solicitado ou esperado pelo professor. É uma resposta cooperativa do aprendiz a uma
instrução do professor. Neste sentido, o excerto 26 demonstra uma série de respostas
cooperativas às solicitações da professora. Neste exemplo, vê-se que a PNN pede a
colaboração do aluno para dar exemplos de advérbios que se relacionam com “
time
expressions
”. O aluno vai sugerindo algumas sugestões “
once a week
” até chegar nos tipos
que se referem ao passado simples “
yesterday
” “
one year ago
”, etc. Neste ponto da aula,
observa-se que os alunos satisfazem as expectativas da professora.
A
negociação
é o modelo de participação que posiciona os papéis dos interlocutores de
maneira mais ou menos simétrica. É a tentativa de tomar decisões através de um consenso, ao
invés de uma tomada de direção unilateral. O excerto 27 apresenta a tentativa do aluno de
negociar a formação de um grupo de três pessoas, ao invés de duas. A fala ocorre em
português “faz three”, “a gente faz trio aqui” e o aluno se sente confiante em tentar mudar a
opinião da professora, embora sem ter sucesso.
Outra característica que demonstra fortemente a participação do aprendiz é a
fala
andaime
(CAZDEN, 1988). Esse discurso caracteriza-se pela interferência do outro
interlocutor para completar o enunciado em andamento. Em geral, o professor administra o
discurso de sala de aula e como se pode ver no excerto abaixo, é concedido o turno ao aluno
para completar a fala que a professora iniciou:
Excerto 28:
T: another one was the question, have you ever broken a bone? the guy said yes[
ST: ] playing tennis and playing football [
T: ] and football as well ( ) he broke his?
132
STs: nose
T: nose (+) how many times?
STs: two
STs: two
T: twice (+) twice (+) the other one (+) have you ever uh been really frightened? he has?
ST: he has an accident in the car[
T: ] a car accident (+) what what was the person doing? it was a girl ( ) she was?
ST: driving
(aula de 26/11/04)
De certo modo, as falas produzidas pelo aluno “
nose”, “he has an accident in the car
” e
driving
” implicam numa resposta indireta das frases “
he broke his
?”, “
he has
?”, “
she was
?”.
As respostas dos alunos dependem do contexto já abordado, por isso a inferência dos alunos
se torna mais clara. A fala andaime, neste sentido, não deixa de ser uma participação
colaborativa do aluno na administração do discurso de sala de aula.
A
negociação do significado
é crucial para o sucesso do discurso. Varonis e Gass
(1985) afirmam que a negociação tem a função de fornecer uma grande quantidade de insumo
compreensível (KRASHEN, 1987) aos participantes, que é essencial para a aquisição. Veja
alguns exemplos dessa negociação:
Excerto 29:
ST: what´s roof? (INDICADOR)
T: roof? uh take a look at picture uh the roof of the house (RESPOSTA)
ST: telhado? (REAÇÃO)
T: this is the roof ((ela desenha na lousa uma casinha e mostra o telhado)) ok?
(aula de 16/11/04)
Excerto 30:
T: … what about with broad-minded?
ST: open [
T: ] open-minded (+) very good (0.2) witty? (DESENCADEADOR)
ST: teacher! como assim abrir a cabeça (INDICADOR)
T: no (+) no (+) no open-minded (+) we have the same in Portuguese (+) can you say
please? (RESPOSTA)
ST: cabeça aberta (REAÇÃO)
T: not like this ((faz sinal com as mãos))
ST: uh
(aula de 19/04/04)
133
Excerto 31:
ST: last year I went to police station[
T: ] police station
ST: police station to report a burglary[
T: ] a burglary (+) do you know what a burglary is?
ST: is a country
T: no, can you say?
ST: uh (+) roubo?
T: roubo (+) very good somebody who gets your stuff ok
(aula de 14/10/04)
O primeiro exemplo dado, demonstra um modelo de negociação que começa no
indicador. Os indicadores mostram que uma expressão tem iniciado o processo de não-
compreensão. No excerto 29 a frase “
what´s roof
” demonstra incompreensão de forma direta,
pois o aluno pergunta qual o significado da palavra. A resposta da professora ao indicador é
roof? uh take a look at picture uh the roof of the house
” e indica uma resposta com expansão,
tentando fazer o aluno perceber através da figura o significado da palavra. A reação do aluno
à resposta é a confirmação do significado em português. Em seguida a professora reage
fazendo um desenho na lousa.
O excerto 30 demonstra outra negociação de significado iniciando-se no
desencadeador “
open-minded, very good (++) witty
?”. A palavra “
open-minded
” serviu de
desencadeador para o aluno, pois a fala seguinte “
teacher, como assim abrir a cabeça?
funciona como o indicador e atesta a dificuldade do aluno. A resposta da professora “
no,no,no
open-minded, we have the same in Portuguese, can you say please
?” também expressa uma
expansão, dando uma dica de correlação com o português. Em seguida a professora gesticula
com as mãos para confirmar a resposta ao aluno.
A negociação de significado no excerto 31 quase que segue o mesmo procedimento do
excerto 30. Uma palavra funciona como desencadeador “
burglary
”, entretanto, o indicador
parte da professora “
do you know what a burglary is
?”, pois ela faz uma checagem de
134
compreensão. O aluno não sabe “
is a country
” e a professora pede novamente uma
colaboração dos alunos. A resposta do aluno é na língua materna. A reação à resposta do
aluno, então, é a explicitação do termo “
somebody who gets your stuff ok
”.
Com esses excertos pôde-se observar que a língua materna é utilizada na negociação
de significados. Pode ser considerado um recurso facilitador, mas não se têm estudos ou
provas para saber até que ponto este recurso é eficaz ou não para o aprendizado do aluno.
Embora faça menção do português na negociação de significados como: “
we have the sam in
Portuguese
”, ela por outro lado repreende o aluno que fala português na sala de aula, como
explicitado no excerto das notas de campo do dia 16/11/04: “a professora muda um aluno de
lugar porque estava falando português”. Ou seja, para a professora o uso do português é um
recurso facilitador apenas. Outro recurso que a professora usa para resolver a dificuldade de
alguns aprendizes na negociação é a colaboração de outros na interação.
e
Baseando-nos na concepção de que a interação entre professor e aluno é uma co-
produção, foram levantadas, características recorrentes que exemplificam e caracterizam a
participação do aprendiz. Navegação, negociação e cooperação do aprendiz demonstram que
os alunos tiveram uma boa participação na sala de aula e que estão
ativos
no processo
interacional. A fala andaime e a negociação de significado demonstram que o insumo tem
sido compreensível e que está tendo uma reação relativamente positiva por parte dos alunos.
Segue, na próxima seção, uma análise quantitativa da aula considerada típica com o
objetivo de verificar as tomadas de turno e o número de palavras proferidas pela professora e
pelos alunos. Na seqüência, no item 4.4, são investigadas as características da fala da
professora, segundo as visões dos alunos e como esses alunos comparam as aulas de PNNs e
PNs.
135
4.3 – Uma amostra de aula típica da professora
A aula selecionada foi considerada uma aula típica porque contém praticamente todas
as categorizações focalizadas desta pesquisa. Algumas características são mais freqüentes e
outras são encontradas com menos freqüência nesta aula. A aula típica encontra-se no
ANEXO 9.
Esta seção tem o objetivo de demonstrar uma das aulas gravadas e elicitar as
ocorrências dos dados. Uma análise quantitativa foi realizada separando vinte (20) minutos, a
partir da primeira atividade iniciada pela professora em sala de aula. O início da contagem
começou aos treze minutos e trinta segundos (13:30) e foi contabilizado até aos trinta e três
minutos e trinta segundos (33:30). Observe o levantamento feito:
PNN Cronometragem da aula:
Tempo total:
Números de turnos da professora:
Número de turnos dos alunos:
Número de palavras da PNN/20min.:
Numero de palavras dos alunos/20min.:
13:30 – 33:30
20 min
112
122
1.579
511
Tabela 02: Dados estatísticos da aula típica
Observa-se na tabela acima que a tomada de turnos dos alunos nestes minutos
selecionados é relativamente maior que os turnos da professora (alunos = 122, professora =
112). Isso é devido às muitas repetições solicitadas pela professora. Essa é uma técnica que
usa com certa freqüência e que parece condicionar o aluno a fixar certas estruturas e
expressões da língua-alvo. O discurso livre e a fala espontânea neste trecho ficaram limitados
pela atividade de exercícios mecânicos.
136
Verifica-se também na tabela que embora a tomada de turnos dos alunos seja maior, o
número de palavras proferidas é menor que o da professora (1.579). Ou seja, o aluno quando
toma o turno ou é para fazer uma pergunta ou é para repetir uma frase.
Analisando o Anexo 9, ficou mais evidente o estilo e técnicas que a professora usa
para ensinar. Pode-se inferir, por meio deste recorte, que seu estilo e suas técnicas influenciam
a qualidade e o tipo de insumo que é oferecido. Foram registrados nesta aula, por exemplo,
cerca de 121 marcadores (destaque em azul no anexo). Conforme já citado, os marcadores
sinalizam o fim de um movimento na interação e o início de outro. Eles ajudam a estabelecer
coerência e conexão entre as situações ou idéias. Foram registrados também cerca de 51
expressões de avaliação (destaque feito em vermelho no anexo) feita pela professora. Essas
avaliações servem para incentivar o aluno e ao mesmo tempo demonstrar um
feedback
positivo.
Com uma breve demonstração, observou-se nessa aula a presença de todas as
recorrências levantadas na caracterização da interação oral da PNN. A análise quantitativa de
um pequeno trecho de aula evidenciou a predominância de exercícios mecânicos e o controle
rígido que PNN tem do discurso de sala de aula.
4.4 –
As características da fala da professora
É feito, a seguir, um parecer dos alunos em relação às características da fala da
professora por meio de um questionário. Os itens avaliados na fala da professora na primeira
pergunta foram clareza, velocidade e vocabulário. Na segunda pergunta, a intenção foi deixar
o aluno livre para comparar um professor nativo com um não-nativo. Dentre os alunos que
responderam o questionário cerca de nove tiveram aulas com ambos os professores. Na
137
terceira pergunta, o objetivo foi verificar o ponto de vista dos alunos naquilo que eles
consideram como positivo ou negativo numa interação em sala de aula.
GRÁFICO 1
CARACTER
Í
STICAS DA FALA DA PROFESSORA
NÃO-NATIVA
100 100 100
75
0
20
40
60
80
100
120
É clara? Usa vocabulário
compreenvel?
Preocupa-se
com a
compreenção
do aluno?
Fala muito
pido?
PORCENTAGEM
Gráfico 1: Representação das respostas relacionadas à pergunta 1 do questionário.
Observa-se no gráfico acima que praticamente 100% dos alunos consideraram a fala
da professora clara e compreensível, embora 25% dos alunos tenham considerado que, às
vezes, sua fala é muito rápida. Com esses dados pode-se sugerir que os alunos tendem a
preferir uma professora que facilite a compreensão, que não apresente muitos desafios ou
exija um esforço extra. Esses dados significam uma certa acomodação por parte desses
alunos, considerando a faixa etária e o nível de inglês.
A segunda pergunta, “como você compara as aulas de PNNs e PNs?” é demonstrada
no gráfico 2. Nesta pergunta foram consideradas somente as respostas daqueles alunos que já
138
tiveram aulas com ambos os professores. Os alunos falam de forma direta o que pensam a
respeito desta questão baseados em suas experiências de aprendizagem. Dentre os alunos da
PNN, seis (67%) preferem os PNNs porque acham as aulas mais fáceis, entendem melhor o
que é explicado, pois a professora não usa vocabulário difícil; dois (22%) acham que são
iguais, não vêem diferença; e um (11%) acha que nativos são muito melhores porque têm
muito mais experiência com a língua.
GRÁFICO 2
PREFERÊNCIA DOS ALUNOS
Preferem
PNN
67%
São iguais
22%
Preferem PN
11%
Gráfico 2: Resultado da pergunta que compara as aulas de PN e PNN.
No total dos alunos entrevistados, essas três variantes foram levantadas. Embora
tenham motivos e justificativas diferentes, os alunos representaram suas preferências quanto a
PN e PNN. A justificativa maior para preferirem PNNs (67%) foi pela razão de achar as aulas
mais fáceis, porque podem entender tudo o que é explicado, pois a professora usa vocabulário
simples. A reincidência deste dado confirma novamente os pressupostos levantados no gráfico
139
1, ou seja, a professora procura, através de sua fala, facilitar a compreensão do aluno para
atender as expectativas dos alunos em relação a um professor facilitador.
A terceira pergunta refere-se aos pontos positivos e negativos da professora. O ponto
positivo, segundo os alunos, é que estão aprendendo inglês, pois a professora ensina muito
bem. Já o ponto negativo não se refere aos aspectos pedagógicos de sala de aula, mas de uma
questão estrutural por parte da instituição, ou seja, acham que as aulas são muito longas e sem
intervalo.
Ao se perceber como se caracteriza a interação oral da professora não-nativa e ao se
analisar a aula típica juntamente com as características da fala da professora, foram levantadas
algumas considerações que são apontadas a seguir.
Pôde-se constatar, pela produção oral da PNN, especificada nas seções de 4.2 a 4.4
que a professora interage bem com seus alunos porque usa muitos recursos e técnicas de
ensino voltadas mais para o nível da frase, ou seja, técnicas simples e repetitivas que facilitam
a compreensão do aluno: retoma tópicos de aulas passadas com
warm ups
”, verifica se os
alunos estão entendendo o que está sendo explicado, usa muitos marcadores na fala, faz uso
de repetições de frases e palavras, usa palavras de encorajamento e de avaliação para o aluno,
chama a atenção dos alunos, tem domínio de sala de aula, etc.
Levantou-se também a hipótese de que a abordagem de ensinar da PNN apresenta
traços estruturalistas, pelo uso de exercícios mecânicos, repetições de termos, verificação da
compreensão, etc. Embora tenha provavelmente vivenciado o audiolingualismo, ela trabalha
por muitos anos numa escola onde se tem uma abordagem comunicativista. É interessante
observar que ela consegue utilizar recursos do estruturalismo mesmo tendo uma abordagem
comunicativa. Ela procura dosar técnicas e estratégias que considera relevantes para o
aprendizado do aluno. Na macro-análise, verificou-se que o aprendiz tem uma boa
140
participação na interação. Isso é devido a uma boa atmosfera, criada principalmente pelas
técnicas de ensino da professora.
Foi verificado, mediante os dados estatísticos da aula típica, que a tomada de turno dos
alunos é maior que a da professora e isso foi devido a muitas repetições solicitadas pela
professora. Constatou-se também que seu estilo e suas técnicas de ensino influenciam a
qualidade e o tipo de insumo que é oferecido.
Quanto às características da fala da professora, observou-se que sua fala mostra-se
clara e compreensível. Inferiu-se, por meio das respostas dos alunos, que eles tendem a
preferir uma fala facilitadora, que não apresente muitos desafios ou vocabulários difíceis. Foi
constatado também que a maior parte dos alunos prefere professores não-nativos porque
relativamente entendem tudo o que é explicado.
4.5 A visão que a professora tem de si mesma
A segunda pergunta de pesquisa que orientou esta investigação é: como a professora
não-nativa vê a si própria no aspecto de sua competência oral e em relação a um professor
nativo e como se configura sua proficiência oral por meio do TEPOLI?
Para responder a esta pergunta, a professora é analisada por meio de sua própria auto-
avaliação quanto ao seu nível de proficiência e desempenho. A concepção de linguagem da
PNN também é investigada no sentido de servir como um pano de fundo para sua prática em
sala de aula. São discutidas algumas nuances de caráter ideológico sobre o falante nativo e o
que significa ter competência comunicativa. Através de dados coletados por meio do TEPOLI
(Teste de Proficiência Oral em Língua Inglesa) são apresentadas algumas implicações quanto
às competências do professor, pois é necessário que haja um equilíbrio e que haja uma
harmonização entre todas as competências que formam e constituem o perfil de um educador.
141
A concepção de linguagem de um professor de LE influencia diretamente sua prática
de sala de aula. Neste sentido, foi verificada a concepção de linguagem da PNN para que se
pudesse, com mais exatidão, analisar seu desempenho e proficiência oral.
A PNN apresenta uma visão clara e abrangente sobre a linguagem, pois para ela a
linguagem tem o objetivo da comunicação. Essa comunicação pode ser por meio da fala, da
leitura, da escrita e também do ouvir: “linguagem é você poder se comunicar, falar, ler e
escrever, e saber ouvir”. Ao relatar que é importante “saber ouvir”, a professora remete à idéia
de que a linguagem é construída socialmente. Ela possibilita a construção do mundo social e é
a condição para que ele exista (MOITA LOPES, 1994).
Verificou-se que a PNN apresenta uma concepção importante quanto ao processo de
ensino e aprendizagem. Ao dizer que “ensinar é você despertar no aluno a curiosidade de
buscar seu próprio aprendizado” expressa que ensinar é levar o aluno a um aprendizado
autônomo, ou seja, o aluno é despertado a buscar seu próprio saber.
Por outro lado, a PNN tem uma conscientização de que nem tudo que é ensinado é
prontamente aprendido pelo aluno. Veja o excerto a seguir:
“ ... a gente pode apresentar (++) sei lá (+)um ponto gramatical ou um
vocabulário... não necessariamente ... todos os alunos vão aprender
aquilo naquele momento (++) mas acho que uma sementinha vai ser
colocada pelo menos em alguns (++) e vai germinar e vai fazer com que
esse aluno vá buscar o conhecimento dele em outros lugares também...”
.“ ... aprender no caso ( ++) a pessoa uh (+++) não é saber de cor (+)
mas assim (+) é a pessoa entender aquilo que está sendo usado ... mas
não necessariamente naquela aula (++) pode até cair a ficha depois (++)
entendeu?”
(entrevista da PNN dia 26/10/04)
Verifica-se no excerto acima que a professora vê o processo de ensino e aprendizagem
como dois processos independentes, porque na realidade nem todo ensino se transforma em
aprendizagem (PRABHU, 2003). O aluno aprende de maneira aleatória e arbitrária. Allwright
142
(1984) sugere que os aprendizes têm suas próprias intenções, objetivos e prioridades, as quais
nem sempre estão atreladas às intenções, aos objetivos e às expectativas do professor.
Pode-se verificar na expressão “não necessariamente ... todos os alunos vão aprender
aquilo naquele momento”, que a PNN não tem uma alta expectativa em relação ao aluno, mas
por outro lado, acredita que algo está sendo implantado e que num tempo oportuno vai ser
utilizado para gerar mais conhecimento “acho que uma sementinha vai ser colocada ... e vai
germinar”.
Tendo em vista a concepção de linguagem e ao processo de ensino e aprendizagem é
importante, neste momento, verificar o desempenho profissional de PNN em sala de aula.
Mediante a primeira pergunta de pesquisa, foi feita uma caracterização da interação oral com
seus alunos e constatou-se que esta interação está suprindo as expectativas dos alunos em
relação ao seu aprendizado.
Entretanto, do ponto de vista da PNN, como tem sido esse desempenho profissional e
como ela avalia o seu nível de proficiência como professora de língua inglesa? Como ela se
sente em relação a um professor nativo, no que se refere à competência comunicativa? Esses
questionamentos cooperam para se refletir sobre a auto-estima e motivação da professora
participante, e assim, responder a segunda pergunta de pesquisa.
Quanto ao desempenho profissional, a PNN demonstra que passou por uma mudança
de foco. Observe o excerto a seguir:
“... a gente vai crescendo ... eu comecei a dar aula bastante jovem ... e
eu tinha muita preocupação com a minha postura ... será que eu vou
saber se o aluno perguntar ... hoje em dia já não, preparo a minha aula
mais voltada pro aluno ... num penso mais EU como sendo o centro (+)
já vejo mais o aluno...”
(entrevista dia 16/10/04)
Vê-se que no início da profissão a PNN tinha muita preocupação consigo mesma,
sentia-se insegurança quanto à proficiência e desempenho: “tinha muita preocupação com a
143
minha postura ... será que eu vou saber se o aluno perguntar”. Já no momento da entrevista,
ela apresenta uma outra postura, mudando de foco para os alunos: “hoje em dia já não,
preparo minha aula mais voltada pro aluno”. Essa mudança de foco demonstra que se sente
mais segura quanto ao seu desempenho. Ao mesmo tempo em que adquiriu experiência de
sala de aula, sua proficiência também progrediu, acarretando uma melhor auto-estima quanto
ao seu desempenho. É o que se vê no excerto a seguir:
“... acho que tenho muito que aprender ainda é lógico (++) tem muito
vocabulário que eu não sei (+) tem muita pronúncia que eu ainda ...
tenho que ir pro dicionário ... então falta muita coisa (++) nunca vou
chegar a um
native speaker
... em termos de pronúncia sempre vai ter o
(++) e acho que TUDO BEM também! ... quando eu não sei uma coisa,
uma palavra... eu sempre prefiro falar (++) olha eu vou pesquisar ... é
melhor ser sincero...”
(entrevista dia 16/10/04)
Neste excerto, percebe-se que PNN tem uma competência reflexiva, ou seja, como
professora de LE, precisa estar sempre se aperfeiçoando e buscando novos conhecimentos,
principalmente em relação à proficiência oral. Entretanto, por outro lado, ela admite que tem
um conhecimento semântico menor que um falante nativo, “tenho muito que aprender ...
vocabulário que eu não sei ... nunca vou chegar a um
native speaker
” e que nunca vai chegar
a ter uma proficiência como a de um falante nativo.
Ao comparar sua competência comunicativa com a de um nativo, ela afirma que um
nativo é mais tranqüilo, pois eles já têm “aquilo” como primeira língua; já para um professor
não-nativo, ele tem que se esforçar mais, labutar mais para chegar a um nível desejável de
proficiência, “a gente tem que
struggle
... e um nativo é mais tranqüilo”.
Por outro lado, a seu ver, essas lacunas em sua proficiência não afetam muito, ou
quase nada, o seu desempenho. Ao dizer “e acho que TUDO BEM também! ... quando eu não
144
sei uma coisa ... olha eu vou pesquisar” demonstra que o professor não é o detentor de todo o
conhecimento. A PNN afirma que é evidente que o professor tem que procurar saber o
máximo possível, mas tem coisas que “não sabe e ponto final”, o professor não é somente o
“senhor” do conhecimento.
Até que ponto essas lacunas ou falhas interferem na interação e no aprendizado do
aluno? Considerando o perfil lingüístico da PNN em sala de aula e a caracterização da
interação oral na seção 4.2, verificou-se que seu desempenho tem trazido implicações
positivas para o aprendizado do aluno. Segundo eles, sua fala é clara e compreensível,
apresentando características discursivas que favorecem a compreensão. Seu modo de ensinar,
sua maneira como conduz a aula e sua rigidez com os alunos demonstram um certo domínio
de sala de aula, mas ao mesmo tempo cria uma atmosfera favorável aos alunos nesta faixa
etária.
Relacionados à competência comunicativa da PNN, foram levantadas também
questões e fatores que influenciavam sua motivação. Assim foi feita a seguinte pergunta na
entrevista: o que a motiva como professora de LE e se há alguma lacuna na sua formação
profissional que interfere na sua prática de sala de aula?
Na entrevista, ficou evidenciado que sua maior motivação, que a sustenta como
professora, são dois fatores, um intrínseco e outro extrínseco. O fator extrínseco caracteriza-se
pelo resultado do aprendizado do aluno. A frase “é gostoso quando você, por exemplo, você
pegou um aluno lá no Kids, daí você vai pegar lá no Upper I e você vê que ele está falando ...
teve um crescimento né, acho que isso motiva” demonstra que o processo de ensino e
aprendizagem em si a motiva como professora; havendo um resultado positivo tanto para o
aluno quanto para a professora.
O fator intrínseco é evidenciado explicitamente pela própria professora ao dizer que
sempre quis ser professora, mesmo contra a vontade de seu pai, o qual gostaria que ela tivesse
145
escolhido outra profissão. Começou a lecionar escondido de seu pai em 1979 e não parou
mais. Sua própria mãe lhe reconhecia o dom para professora, pois lhe relatara que quando era
criança costumava dar aulas para suas bonecas. Assim, tanto o fator intrínseco quanto o
extrínseco favorecem a auto-estima da PNN.
Ao ser perguntada sobre alguma lacuna na sua formação profissional, ela responde que
gostaria de ter morado fora do país porque acredita que ganharia mais fluência. Em relação ao
seu curso de graduação, entretanto, considera que foi muito bom e que aproveitou ao máximo
tudo que foi oferecido. No seu ponto de vista, acha que sua formação profissional foi
suficiente para capacitá-la a um bom exercício do magistério, mas se ressente de não ter tido
uma experiência no país da língua-alvo.
Foi verificada, nesta seção 4.5, a visão que a professora tem de si mesma por meio de
uma auto-avaliação, quanto ao seu nível de proficiência e desempenho. Foram analisados sua
concepção de linguagem e os fatores que a motivam como professora de língua estrangeira.
Na seção a seguir 4.6, é feita a constatação do seu nível de proficiência, por meio do TEPOLI.
Foi possível identificar outras competências que entrecruzam e que formam o perfil da
candidata. Responde-se, assim, a segunda pergunta de pesquisa.
4.6 – Análise do TEPOLI (Teste de Proficiência Oral em Língua Inglesa)
Quando se fala em competência comunicativa se fala em uso da língua, e isso não é
um processo simples, mas um processo complexo que depende de outras competências e
conhecimentos. Segundo Almeida Filho (1999, 2002), a competência comunicativa inclui o
desempenho do participante, que por sua vez, depende do seu grau de acesso aos
conhecimentos disponíveis. Esses outros conhecimentos podem, nesta pesquisa, ser
identificados como outras competências que formam o perfil ideal de um educador.
146
Foi possível, através do TEPOLI (Teste de Proficiência Oral em Língua Inglesa),
verificar a proficiência oral da professora participante, por meio do resultado da avaliação dos
entrevistadores e também identificar traços das competências da candidata. Por meio de uma
análise mais aprofundada da tarefa 2 do teste, foram levantadas algumas características da
abordagem de ensinar. Essas características confirmaram os dados primários de sala de aula.
Na primeira tarefa (TASK1) do teste, a candidata escolheu uma entre três figuras para
descrever, fazer comentários e levantar tópicos para discussão. As figuras oferecidas
encontram-se nos Anexos 6 e 7. A professora se identificou mais com a figura de um casal
que está sentado ao redor de uma mesa (Anexo 6), conversando de mãos dadas, num clima
romântico. O casal está sendo filmado e por isso tem vários holofotes e luzes ao redor dos
mesmos. Ao escolher esta figura, percebe-se que PNN demonstra uma característica da
cultura brasileira, que é uma cultura mais voltada para o relacionamento, e percebe-se também
que é uma figura rica de detalhes, facilitando, assim, a descrição e discussão da mesma. Veja
o excerto a seguir:
UExcerto da Entrevista – Tarefa 1 – Fase 2 – PNN
001-PNN: so (+) it is a similar situation that we are having here ((risos)) in same way (++)
because they are being filmed but apart from the spot lights and camera they
seem to be very interested in each other (+++). What else? (+++) they have
been drinking a lot as well …
TP
9
PT
005-PNN: What else? If you think in terms of a TV commercial could be something
related to a drink or alcoholic drink …
007-PNN: What else? (0.4) It´s a situation in which I think every woman (++) would like
to be …
(TEPOLI - 11/10/04)
Observa-se que a PNN foi descritiva e detalhista, levantando várias hipóteses sobre a
figura (Anexo 6); “
it is a similar situation that we are having here ... they are being filmed ... if
you think in terms of a TV commercial could be ... it´s a situation in which I think every
TP
9
PT O uso de três pontos (...) nos excertos significa omissão da transcrição.
147
woman would like to be …
”. Ela compara o fato do casal ser filmado na figura e o fato deles
estarem também sendo filmados para o Teste de Proficiência; levanta também a hipótese do
casal estar fazendo um comercial sobre bebida, pelo fato de estarem bebendo ao redor de uma
mesa e, por fim outra consideração, pode ser uma situação, em seu ponto de vista, que toda
mulher gostaria de passar. Dessa forma, a PNN continua a descrever e a comentar as hipóteses
que poderiam estar acontecendo na figura.
Nesta primeira tarefa foi constatado que a professora desenvolveu bem a tarefa
solicitada, descrevendo e explorando a gravura. A variedade lexical, nesta tarefa, ficou um
pouco limitada pela própria figura. Os caracteres de uma figura delimitam o tipo de
vocabulário e a descrição a ser feita. Do mesmo modo que a variedade lexical foi restringida
pela figura, também o foi a complexidade sintática. Houve uso de ING após AFFORD e
vocabulário pertinente.Veja o excerto a seguir:
“YES definitely you know they are RICH they are FAMOUS you know they
can AFFORD going to this kind of place so that´s sit (.) it is not everyday life
((risos)) ( )”.
Por meio da figura, viu-se que a candidata cumpriu os requisitos da tarefa 1 de
explorar e levantar várias hipóteses sobre a mesma; embora tenha ficado limitada pela
abrangência de uma figura.
Na tarefa 2 (TASK 2/ Fase 2) os dados foram bem mais ricos em detalhes, pelo
próprio tipo de tarefa que a candidata deveria fazer: imaginar-se numa situação real de sala de
aula e lidar com erros gramaticais cometidos por um aluno (Anexo 4). Nesta fase, além de
verificar a proficiência oral, obtida por meio do registro e análise dos entrevistadores, foi
possível levantar outras competências que se entrecruzam e harmonizam no perfil de um
educador (ALMEIDA FILHO, 1999, 2002; BASSO, 2001) e as características da abordagem
de ensinar da professora na interação. Características estas que se somam à análise da
148
interação feita em sala de aula na seção 4.2. Observe abaixo alguns excertos de competências
da professora e o tipo de abordagem de ensinar da mesma, por meio da tarefa 2 do TEPOLI:
EXCERTO 1
059-PNN: What is the aim of this uh lesson? I mean because you have they role-playing
an activity but is there any aim in terms of language that teacher want to
060-E: there is this topic here
061-PNN: Ok ((pausa))
062-E: and uh doing a discussion so they´re playing roles
063-PNN: yeah are they supposed to come up with the (++) a kind of language chunks
that the teacher has ( ) taught or it is free ]
064-E: Do you think that you can infer that from the abstract? Because you can choose
anything that draw your attention Ok
________________________________
067-PNN: because when I ( ) at least whenever I have the kind of language or (++) not
exactly the language it can be something else but AIM you know? Then when I
am monitoring I see if they are producing this language …
(TEPOLI - 11/10/04)
Primeiramente a PNN questiona o objetivo da tarefa, pois através da frase “
is there
any aim in terms of language that teacher want to
”, pode-se verificar que ao dar uma tarefa
aos alunos ela sempre procura trabalhar uma estrutura da língua ou função da linguagem, um
ponto que já tenha sido trabalhado em sala de aula. A professora apresenta neste excerto uma
abordagem consciente. Demonstra preocupação em ensinar ou monitorar de acordo com o que
se requer na tarefa; ou seja, demonstra uma
Competência Aplicada
, que segundo Almeida
Filho (
op.cit
) capacita o professor a ensinar de acordo com o que sabe conscientemente
(também conhecida como
subcompetência teórica
). Competência Aplicada é a competência
que capacita o professor a ensinar conscientemente com as teorias, pesquisas e estudos na sua
área de formação. Esta competência parece ser extremamente relevante para o processo de
reflexão sobre a prática. O professor pode passar por uma grande fase intermediária, onde ele
é parcialmente teórico, parcialmente intuitivo, mas quanto mais ele passa por etapas
149
sucessivas mais diminui o espaço para ações espontâneas e intuitivas, mas sem deixar de
contar com o estofo da competência implícita. A subcompetência teórica é aquela que o
professor sabe dizer sobre teorias. Entretanto, sem a capacidade de transferência e
adaptabilidade aos diferentes contextos, ela é de pouco valia.
EXCERTO 2
120- PNN: But (0.2) there are some problems with pronunciation as well (0.2) you know
(0.8) but if I have to select I´d go for the grammar only you know not keeping
the student embarrassing keep repeating ALL the single stuff
(TEPOLI - 11/10/04)
No excerto, a professora demonstra uma
competência crítico-analítica
(BASSO,
2001). Ela procura ponderar se deve ou não corrigir o aluno e qual o tipo de correção a fazer:
“...
if I have to select I´d go for the grammar only
...”. Considerando o nível dos alunos, opta
por chamar a atenção somente do erro gramatical, ao invés de interromper constantemente a
fala do aluno e corrigir todas as imperfeições que acabam constrangendo o aluno a fluir na
interação. Ela usa sua consciência crítica profissional e faz uma análise de si mesma, para não
penalizar o aluno com a sua correção.
A competência crítico-analítica faz parte de uma das faces da Equação de
Competências de um Educador em LE (BASSO, 2001). Essa face tem no centro a
competência profissional (MELLO, 1987) e encerra os elementos necessários à formação do
professor de línguas. É a consciência dos deveres e direitos, da necessidade de atualização e
formação continuada dos professores de LE e do papel que desempenha na sociedade atual.
Os outros excertos a seguir também são da tarefa 2 e são explicitados para confirmar a
abordagem de ensinar da professora na interação. Algumas características levantadas na
150
análise da interação da PNN são também verificadas nos dados desta tarefa. Veja os
exemplos:
EXCERTO 3
087- PNN: Ok all right (0.2) here I have you are talking about intermediate students so `I
not worry about environment` this is something I would uhh draw their
attention
088- E: … how would you approach me (0.2) and talk about that?
089- PNN: I´d use the other students as well …
(TEPOLI - 11/10/04)
Considerando o nível dos alunos, a professora opta por fazer a correção via aluno-
aluno. É uma forma de não dominar o discurso de sala de aula e de incentivar a participação
dos alunos e amenizar a assimetria na correção de erros dos aprendizes.
Novamente, vê-se que a professora tem uma preocupação com a forma gramatical:
“...´
I not worry about environment` this is something I would uhh draw their attention
” e com
a participação dos alunos na interação: “
I´d use the other students as well
...”.
EXCERTO 4
093- PNN: … what do you think it´s wrong here? How would you correct you know
instead of ME giving all the answers… there is something missing here what
do you think?
(TEPOLI - 11/10/04)
Neste excerto a professora não diz explicitamente onde está o erro, mas leva o aluno a
perceber e a se auto-corrigir: “
What do you think it´s wrong here
?”; “
there is something
missing here what do you think
?” Este recurso utilizado pela professora, conforme já citado
na seção 4.4, consegue amenizar a repercussão do erro entre os alunos e por meio de “pistas”
faz com que o aprendiz possa se autocorrigir.
151
EXCERTO 5
102- PNN: You know we are talking about intermediate one I can even say it´s simple
present (0.2) maybe a little bit of drill
(TEPOLI - 11/10/04)
No excerto 5, constatou-se que a utilização de exercícios mecânicos é um dos recursos
mais utilizados para a correção e fixação da forma gramatical correta (considerando também
os excertos da seção 4.3). A correção pode ser feita por metalinguagem: “
I can even say it´s
simple present”
ou por exercícios mecânicos de repetição: “
maybe a little bit of drill
”.
O uso desse tipo de exercício pela professora é utilizado tanto para fazer uma
confirmação de compreensão (seção 4.3) dando um
feedback
positivo para o aluno quanto
para reforçar a correção de erro.
Na correção, a professora também utiliza o recurso de “
warm up
”, ou seja, procura
resgatar assuntos ou explicações de aulas passadas para fazer o aluno relembrar o que foi dito.
Veja o excerto a seguir:
EXCERTO 6
114- PNN: ] so do you remember after can´t must all the modal verbs (0.2) we don´t have
TO here Ok? So what (0.3) you can say ´can´t change` ´I mustn’t change` you
know you go the same procedure (0.2) because it’s also the same TYPE of
mistakes…
(TEPOLI - 11/10/04)
O exemplo mostra que a professora procura fazer os alunos relembrar a estrutura dos
verbos modais, onde todos seguem o mesmo tipo de estrutura: “...
you know you go the same
procedure (0.2) because it´s also the same TYPE of mistakes”
.
Assim, na tarefa 1 do TEPOLI, constatou-se que a candidata cumpriu satisfatoriamente
a tarefa solicitada, mostrando-se descritiva e detalhista. Mostrou uma variedade lexical
adequada para a figura, sem muitas complexidades sintáticas.
152
Na tarefa 2, foram levantadas algumas competências do perfil da candidata, tais como
competência aplicada, teórica, implícita, crítico-analítica e, no geral, a competência
lingüístico-comunicativa. Os dados do TEPOLI também reforçaram e confirmaram o tipo de
abordagem que a professora usa na interação, principalmente os tipos de correção de erro,
com o auxílio de outros alunos e a autocorreção e, por fim, a valorização do recurso de
exercícios mecânicos.
4.6.1 – A dimensão sensorial da professora
Por meio da tarefa 1 do TEPOLI, constatou-se que a professora foi bem descritiva e
detalhista, levantando várias hipóteses sobre a figura. Somam-se a este fato, certas
características da interação da candidata com seus alunos, características estas relatadas na
seção 4.2 desta dissertação. Questionou-se, então, por meio destes dados as técnicas que a
professora usa para ensinar, configurando e expressando sua abordagem de ensinar.
Foi, assim, aplicado o questionário sobre os estilos de ensino (Anexo 8) da professora.
Para as perguntas de número 1 a 5, a candidata selecionou os seguintes itens:
sensorial, visual,
ativa, seqüencial e dedutiva.
Verificou-se que o questionário confirmou os dados e as
categorias levantadas na interação em sala de aula.
O termo
sensorial
envolve observar o agrupamento de dados através dos sentidos.
Pode-se dizer que os sensoriais tendem a ser concretos e metódicos, gostam de fatos, dados e
experimentos, são pacientes com detalhes e são mais inclinados a confiar mais na
memorização que os intuitivos, com estratégia de ensino e ficam mais confortáveis ensinando
e seguindo regras e procedimentos padronizados. Os sensoriais são mais cuidadosos e,
portanto, mais devagar e descritivos.
153
Este resultado, portanto, justifica as técnicas usadas pela professora em sala de aula,
tais como: uso de exercícios mecânicos, uso de marcadores para facilitar a coerência das
idéias, repetição de termos para facilitar a memorização, verificação e confirmação de
compreensão para certificar-se que o aluno está acompanhando o assunto, controle
centralizador do ambiente de sala de aula, etc.
4.6.2 - Avaliação da proficiência oral da professora
O resultado do teste foi que a participante apresentou alto nível de competência
lingüístico-comunicativa, pois atingiu quase todos os itens da faixa A; “ela atingiu bem o
nível A” (avaliação da PNN). Sendo que os descritores da Faixa A se apresentam da seguinte
forma:
a) atinge plenamente os objetivos da comunicação e interação verbal,
demonstrando excelente fluência e habilidade na produção oral;
b) utiliza estruturas sintáticas corretamente e não comete erros gramaticais;
c) utiliza-se de estruturas sintáticas complexas e grande variedade lexical;
exibe pronúncia praticamente idêntica aos padrões de falantes competentes
da língua inglesa, sem influências dos padrões de sua língua materna;
d) não apresenta dificuldades de compreensão da fala do interlocutor em ritmo
normal.
Veja abaixo a discussão da avaliação da proficiência oral e a implicação da execução
da segunda tarefa:
E – examinador e A – avaliador
EXCERTO 7 – Avaliação da Proficiência Oral da PNN
154
012-E: ela atingiu bem o nível A (+) né? A questão de estrutura sintática
013-A: uh-huh
014-E: problemas (+) erros gramaticais]
015-A: [uh-huh
016-E: não aparecem (+) é (+) estruturas SINTÁTICAS ((A tosse)) complexas (+)
mesmo sem ter a neceSSIDADE (+) mas ela USOU (+) acho que por TER essa
(++) familiaridade com o ambiente de exames (+) né? Eh pronúncia clara (+)
acho que dificuldade para entender a linguagem também não houve. Houve
algumas dúvidas com relação ao tipo de exercício
__________________________
051-E: e eu acho que (++) pensando no que houve de exigência DA TAREFA eu acho
que ela cumpriu bem (++) em todos os critérios ela teve um desempenho bom
bom ou ótimo ...
_____________________________
068-A: ... então você se sente seguro em coloca-la na faixa A?
069-E: eu me sinto seguro ...
(comentário sobre o TEPOLI - 11/10/04)
Observa-se que a professora atingiu o nível A (excerto 7), pois cumpriu praticamente
quase todos os descritores do nível A (ver seção 3.5.3.1). A PNN apresenta uma proficiência
muito boa, embora apresente uma diferença muito sutil (segundo o comentário do avaliador
A), quase imperceptível quanto à pronúncia. Nesse ponto, observa-se que a professora
considerou mais a função da tarefa e a percepção do aluno quanto ao erro.
Embora o entrevistador tenha considerado que a candidata tenha utilizado estruturas
sintáticas complexas (linha 016 – E), é importante levar em conta que, num sentido geral, um
único teste e uma única tarefa não são suficientes para descrever com amplitude a proficiência
de um candidato. O que se pode afirmar, com convicção, é que na tarefa 1, descrição da
figura, e tarefa 2, simulação de sala de aula, com determinados tipos de erro e correção, a
professora cumpriu com os descritores do TEPOLI – Faixa A. Lembrando que o TEPOLI, em
sua versão preliminar, foi elaborado com a finalidade de verificar a proficiência do professor
recém-formado em Letras.
155
O item c da faixa A, no ponto de vista da pesquisadora, foi atingido em parte. Não se
pode avaliar “grande variedade lexical” mediante uma única figura ou um tipo de tarefa
(TASKS 1 e 2). A estrutura sintática e o léxico ficaram delimitados pela figura e pelo tipo de
role-play. Entretanto, para esta pesquisa, a candidata foi considerada na Faixa A, pois sua
proficiência oral se alinhou com todos esses descritores.
A questão maior que chamou a atenção do avaliador e entrevistador repousou na
execução da segunda tarefa, ou seja, no desempenho da professora. Veja os seguintes
excertos:
EXCERTO 8
020-E: ... na segunda tarefa quando tinha que falar (0.2) do tipo de erro dos alunos eu
acho que não houve uso explícito de metalinguagem da maneira que eu
gostaria de ter ouvido como examinador
026-E: na análise que ela fez na maneira de conversar com o aluno sobre aqueles
ERROS ela não canalizou pra isso ela foi pensando mais em que
constrangimento podia gerar no aluno sobre- sobrecarregar o aluno com
correções então questões não só de linguagem
(comentário sobre o TEPOLI - 11/10/04)
No exemplo, vê-se que o entrevistador esperava pelo uso explícito de metalinguagem
pela professora: “... acho que não houve uso explícito de metalinguagem da maneira que eu
gostaria de ter ouvido como examinador”. Mas não foi o que houve, ao dar a instrução para a
tarefa, o entrevistador não disse explicitamente que deveria ser utilizada a metalinguagem,
esperando que isso fosse ocorrer de forma natural para a professora.
A professora, ao questionar o tipo de correção que deveria fazer, se causaria
constrangimento ou não ao aluno, demonstrou que se preocupa com o seu desempenho como
professora de LE. Este é um ponto pertinente para esta pesquisa, para a reflexão sobre
156
proficiência oral do professor, pois o professor não é aquele que fala bem a língua como
qualquer pessoa, mas é aquele que sabe falar a linguagem da sala de aula.
Com relação à linguagem de sala de aula, é válido lembrar o que Consolo (1996) diz a
respeito da fala do professor nativo e não-nativo. A fala do professor se diferencia daquela
que os falantes usam fora da sala de aula. As características da fala do professor nativo e não-
nativo podem se equiparar, em determinados níveis do discurso, diferenciando-se da fala
produzida dia-a-dia pelos falantes nativo e não-nativo. Por isso, é importante que o professor
nativo ou não-nativo tenha todas as competências necessárias a um perfil ideal de educador, e
não somente a proficiência oral.
O uso de metalinguagem faz parte da rotina de sala de aula e pode variar de professor
para professor dependendo da competência metalingüística de cada um. A abordagem de
ensinar do professor pode afetar diretamente a produção oral e a qualidade de insumo de um
professor. Ter proficiência oral apenas não basta. O perfil de um professor de línguas se
constitui mediante a harmonização de todas as outras competências.
Á guisa de conclusão, na seção 4.5, foi verificado que PNN apresenta uma concepção
de linguagem favorável ao seu desempenho em sala de aula. Competência e desempenho
fazem parte de uma mesma “moeda”, pois na prática não há como separar um do outro.
Competência se constitui num sistema abstrato e, como tal, só é percebido através do
desempenho. Foi constatado que sua concepção de linguagem está de acordo com o seu
desempenho, que segundo ela, passou por uma mudança de foco, à medida que adquiriu mais
maturidade na sua prática.
Em relação a um professor nativo, considera que um professor não-nativo geralmente
tem que se esforçar mais para atingir umvel desejável de proficiência. Por outro lado,
considerando a caracterização da interação oral da PNN com seus alunos, pode-se inferir
nesta pesquisa que a PNN está suprindo as expectativas dos alunos em relação ao
157
aprendizado, pois todos os alunos, sem exceção, estão satisfeitos com o desempenho da
professora.
Ficou evidenciado também que a questão da proficiência oral não é um fator que
interfere em sua motivação como professora. Fatores intrínsecos e extrínsecos, tais como o
desejo de ser professora e o de ver o resultado bem-sucedido de seu ensino e de sua prática,
são fatores que a motivam como professora de LE (inglês).
Na seção 4.6, constatou-se que a professora desenvolveu bem a tarefa 1 ao descrever e
explorar a figura. Por meio da tarefa 2, foram levantadas outras competências da professora,
tais como a competência aplicada, teórica, crítico-analítica, gramatical e implícita. Elas estão
em equilíbrio para formar um perfil ideal de um professor de LE.
Os dados da Tarefa 2 reforçam e confirmam o tipo de abordagem que a professora usa
na interação, principalmente os tipos de correção de erro e o uso de exercícios mecânicos. Ao
se analisar a forma como corrige, a freqüência dos exercícios mecânicos (
drills
), o uso de
repetições, etc., verificou-se que a professora apresenta um estilo de ensinar sensorial, que foi
confirmado com a aplicação de um questionário.
Por fim, constatou-se que a candidata apresenta um alto nível de proficiência, pois
atingiu quase todos os descritores da Faixa A do TEPOLI, e considerando que seu
desempenho em sala de aula tem suprido as expectativas dos alunos e da escola, pode-se
considerar que a professora é bem sucedida em sua prática.
Foi feita, neste capítulo IV, a análise dos dados. Foram apresentadas as recorrências
discursivas encontradas na fala da professora, e em seguida, foi realizada a caracterização da
interação oral da professora com seus alunos em sala de aula. Na seqüência, foi investigada a
visão que a professora tem de si mesma, no aspecto de sua competência oral e como esta se
configurou por meio do TEPOLI. Por meio deste teste foram levantadas muitas outras
158
competências que mapearam o perfil da candidata. O capítulo V, a seguir, trará a conclusão da
pesquisa.
159
CAPÍTULO V – CONCLUSÃO
Este capítulo apresenta algumas conclusões tendo em vista os resultados da pesquisa.
Primeiramente, são discutidos aspectos da caracterização da interação oral da PNN com seus
alunos que caracterizaram as técnicas de ensino da professora e como os alunos reagiram a
essas técnicas. É examinado o papel que ela exerce, assim como sua concepção de linguagem,
proficiência e desempenho em sala de aula. São verificados também quais os fatores que a
motivam como professora de LE. Em seguida, são apresentas as contribuições da pesquisa,
tanto para o professor não-nativo, quanto para o pesquisador e para a área da Lingüística
Aplicada. Encerra-se o capítulo com as limitações encontradas no estudo e sugestões para
futuras pesquisas.
5.1
Discussão dos dados
Num primeiro momento, foi feita nesta pesquisa a caracterização da interação oral de
uma professora não-nativa com seus alunos, numa escola de idiomas na cidade de São Paulo.
Num segundo momento, foi verificado como a professora vê a si própria no aspecto de sua
competência oral e em relação a um professor nativo e como se configura sua proficiência
oral por meio do TEPOLI. Esses dois momentos respondem, assim, a primeira e a segunda
pergunta de pesquisa.
As categorias levantadas na micro-análise da interação e nos questionários realizados
com os alunos demonstraram características acerca da abordagem de ensinar da PNN, tais
quais: 1) sua capacidade de expor as idéias com clareza na interação com os alunos 2) o
160
modo como ensina 3) o estilo centralizador da professora. Essas características foram
ressaltadas pelos alunos e comprovadas nas categorizações das falas da professora não-nativa.
Pode-se observar na fala da professora, mediante o uso de marcadores, verificação e
confirmação da compreensão, repetição de termos e meta-enunciado, seu esforço em fazer
com que os alunos entendessem o que estivesse dizendo. Esses recursos tornaram a fala da
professora mais estruturada, sinalizando para o aluno o fim e o início de um novo movimento
dos atos de fala. Além disso, a repetição de termos preencheu, por exemplo, um espaço no
discurso deixando claro ao aluno que sua fala estava de acordo com o esperado pela
professora. Já a verificação e a confirmação da compreensão demonstraram a preocupação da
professora em constatar se a sua fala estava sendo compreendida. Os alunos, de fato,
mostraram apreciar o cuidado dispensando pela professora em tornar o insumo
compreensível.
Em relação ao modo de condução da interação, pode inferir-se mediante enunciados de
correção, avaliação, oferta e encorajamento de participação, uso de português, pergunta
pedagógica, pergunta referencial e uso de exercícios mecânicos o modo como a PNN
estrutura a interação de maneira a incluir a participação de todos os alunos.
Em relação às correções, verificou-se que ela busca utilizar os três tipos de correção:
direta, feita pelo professor, aluno-aluno e a autocorreção. A correção imediata feita pela
professora ocorreu quando o aluno cometeu um erro básico, mudando o sentido da oração; por
exemplo, usou
uncle
, ao invés de
ankle
. Neste caso, essa correção imediata foi muito
adequada, pois chamou a atenção do aluno para uma diferença significativa entre as palavras.
Essa correção foi conduzida com humor e o uso do humor funcionou como estratégia. O
humor, como estratégia de ensino, pode ser muito eficaz no processo de aprendizagem. Outro
recurso que a professora utilizou foi pedir ajuda ou participação de outros alunos na correção.
Infere-se que esse tipo de atitude ameniza a assimetria entre professor e aluno e faz com que
161
outros alunos, inclusive, participem da interação. São os alunos que fornecem a forma correta
depois que o erro ocorre. Nesse sentido, o professor já não é mais o único detentor do
conhecimento, os alunos também compartilham do que sabem. O outro tipo de correção foi
caracterizado por pistas, levando o aluno ao auto-reparo. A resposta correta não é dada e nem
parafraseada, é dada somente uma pista, um sinal de que alguma coisa não está adequada. A
pista serve para chamar a atenção do aluno para fazê-lo produzir o auto-reparo.
Dentre as características na segunda micro-análise, uma das que mais se destacou
pelas suas ocorrências foi o uso de exercícios mecânicos. Pode-se afirmar que essa
característica, considerada estruturalista, faz parte das técnicas de ensino da professora não-
nativa e que embora ela tenha uma proposta de ensino voltada mais para a comunicação, ela
ainda assim, utiliza recursos estruturalistas que considera relevante para o aprendizado do
aluno. O uso de
drills
foi utilizado pela professora como uma forma de aperfeiçoar a
pronúncia e a fluência dos alunos ou como uma forma de correção e fixação de certas
estruturas de modo apropriado, oferecendo aos alunos oportunidades para confirmar suas
hipóteses acerca da língua.
O uso de português pela professora, principalmente no nível intermediário investigado,
demonstrou ser um recurso utilizado para chamar a atenção do aluno de forma mais eficaz ou
para tratar com um problema de comportamento. Por outro lado, como verificado no excerto
18, é uma forma de checar a instrução dada em inglês “nome do aluno (+) que é pra fazer?”.
Assim, mediante essa atitude da professora, pode-se dizer que este recurso é utilizado para
garantir que o aluno entenda as instruções e não se perca na interação. Parece ser uma forma
utilizada por ela para garantir que a instrução está sendo plenamente compreendida.
A terceira característica da micro-análise são as características que sugerem o estilo
centralizador da professora na forma como conduz a aula. Essas características são: a fala de
repreensão, resgate de conteúdo e controle de sala de aula.
162
Se a PNN percebia que um aluno estava distraído com outras atividades, ela se valia
de alguns enunciados para chamar a atenção do aluno para o foco principal da aula, como por
exemplo:
what is the problem? Is there anything you would like to share with us?
- não
deixando nenhum aluno alheio ao foco da tarefa acadêmica. Um outro recurso utilizado por
ela para assegurar a atenção do aluno refere-se aos enunciados de resgate de conteúdo em que
retoma o assunto de uma aula passada para servir de ponte para uma nova tarefa ou atividade.
Com base nesses dados, foi possível traçar um perfil do estilo de ensinar da professora.
Mediante sua característica de ser firme em manter a atenção dos alunos no foco da atividade
em andamento, verificou-se que ela se encaixa num papel de professor centralizador das
atividades. Alguns poderiam dizer “estilo rígido” de ensinar. Essa característica não parece ter
uma conotação negativa, pelo contrário, os alunos apreciam o modo de atuar da professora
que centraliza e estrutura a atividade da aula sem necessariamente tolher-lhes a participação
ou causar-lhes ansiedade ou pressão. É até mesmo uma característica apreciada pela escola
onde trabalha porque consegue estabelecer uma interação que flui e produz resultado para o
aluno.
No que tange à participação dos aprendizes na interação (macro-análise), observou-se
que eles se valeram de recursos comunicativos tais quais: a navegação, a cooperação, a
negociação do discurso, a fala andaime e a negociação de significado.
A negociação de significado se caracterizou mais pelo questionamento do aluno em
relação ao significado de uma determinada palavra. Uma das formas que mais se destacou
para lidar com esta questão foi alternância de código. Pode-se dizer quanto a isso que essa
atitude da professora demonstra valorizar a fala facilitadora para o aluno.
Em relação à segunda pergunta de pesquisa, através da qual se investigou a concepção
de linguagem e a visão que a professora tem de si mesma, constatou-se que a professora
parece gerenciar suas técnicas de ensino de maneira muito coerente com sua concepção de
163
linguagem. Segundo seu conceito, a linguagem tem o objetivo da comunicação e essa
comunicação pode ser por meio da fala, da leitura, da escrita e tamm do ouvir, ou seja, a
linguagem pode ser construída socialmente, de forma interativa.
Pode-se inferir que suas técnicas pedagógicas e seu estilo facilitador estimulam o
aluno a prosseguir no aprendizado. A aprendizagem é motivada por um processo interativo
entre professor e aluno, onde ambos co-produzem a linguagem de sala de aula.
Quanto ao seu desempenho profissional, é possível afirmar que hoje ela se sente bem
mais segura de si mesma quanto a sua prática de ensino, não tanto pela proficiência oral, mas
mais pela experiência e vivência no ensino. Em seu percurso como professora, mostrou ter
efetuado mudanças na sua prática ao longo dos anos. Se antes se preocupava mais com o seu
comportamento em sala de aula, se iria ou não saber responder os questionamentos dos
alunos, atualmente, sua preocupação maior é perceber as dificuldades dos alunos e se colocar
no seu lugar para tentar ver quais são suas necessidades.
Ao comparar a sua proficiência oral com a de um falante nativo, a PNN mostrou ter a
consciência de que pode haver uma certa diferença (ou de pronúncia ou de vocabulário), mas
essa diferença parece não ser relevante para o seu desempenho em sala de aula, uma vez que
no seu contexto de sala de aula essas “diferenças” parecem não alterar o processo de
aprendizagem dos alunos. No seu ponto de vista, acha que um professor não-nativo tem que
se esforçar mais para chegar a um nível adequado de proficiência, enquanto que o professor
nativo não tem que passar por esse processo como o professor não-nativo. Todavia, essa
questão não lhe parece ser crucial para o bom desempenho do professor.
De fato, parece que o seu desempenho em sala de aula tem trazido resultados positivos
para os alunos, pois demonstrou ter domínio na oralidade, experiência e familiaridade com a
fala facilitadora, conduzindo os alunos a participar na interação.
164
Em relação aos aspectos que a motivam como professora de LE, ficaram evidenciados
dois fatores principais: um extrínseco e outro intrínseco. O fator extrínseco a motivá-la é
perceber que o seu trabalho obteve êxito ao perceber que o seu aluno aprendeu. Tal resultado
a encoraja e a motiva. O fator intrínseco caracterizou-se por sempre querer, desde criança, ser
professora. Um desejo nato.
Cumpre ressaltar a importância da conscientização dos professores não-nativos de se
perceberem e se definirem a si próprios como usuários competentes e autônomos no ensino de
LE/inglês. Essa redefinição como usuários competentes acontece não só no contato fora da
sala de aula ao falar, por exemplo, com pessoas de outras culturas, mas o seu próprio trabalho
dentro da sala de aula com seus alunos também pode propiciar momentos de contraste entre
línguas e culturas. Pode-se apontar que as línguas não são meros instrumentos de
comunicação, mas podem ser consideradas como a própria expressão das identidades de quem
delas se apropria.
De fato, por meio do TEPOLI, verificou-se que a professora apresenta nível excelente
na sua proficiência, pois praticamente atingiu todos os descritores da Faixa A do teste. Em
relação ao TEPOLI, mediante a primeira tarefa (TASK 1), constatou-se que a professora
desenvolveu bem a tarefa solicitada, embora a variedade lexical tenha sido um pouco limitada
pela própria figura. Na segunda tarefa (TASK 2), outras competências somaram-se ao perfil
da professora, tais como: competência aplicada, teórica, crítico-analítica, gramatical e
implícita. Por meio da segunda tarefa, confirmou-se o estilo de ensinar da professora ainda de
certa forma preso ao uso de exercícios de repetições e de correções, no entanto, ambas as
técnicas por serem usadas com moderação e em momentos apropriados mostraram-se
produtivas. Pode-se ainda inferir que seu modo de ensinar apresenta traços relacionados ao
estilo sensorial de processar informações. Os sensoriais tendem a ser metódicos, gostam de
165
fatos, dados e experimentos e são mais inclinados a confiar mais na memorização. Esse
resultado justifica as técnicas que usa em sala de aula.
Por fim, constatou-se que a preocupação maior da professora, hoje, não é a sua
proficiência oral ou competência lingüístico-comunicativa, mas sim o seu desempenho, a sua
prática em sala de aula. E este é um ponto pertinente nesta pesquisa, pois o professor não é
aquele que deve apenas saber a língua que ensina ou falar bem a língua como qualquer pessoa
ordinária, mas também é aquele que sabe falar a linguagem da sala de aula.
Diante do exposto, são apresentadas a seguir, algumas contribuições do estudo. Nesta
pesquisa, pelo fato de ser um estudo de caso, foi possível mapear e ver, por diferentes
prismas, a interação oral de uma professora não-nativa. É importante relacionar várias áreas
de estudo dentro da própria Lingüística Aplicada, tais como interação, competência e
motivação. Costuma-se, nos centros acadêmicos, separar essas áreas em estudos isolados, mas
cabe aqui ressaltar a necessidade de entremesclá-las para poder pesquisar com abrangência o
perfil e o desempenho de um professor na interação em sala de aula. Essa é uma contribuição
necessária à área da LA.
Por outro lado, em outros bastidores, ao se julgar ou avaliar um professor de LE, não
se deve considerar só a predominância da proficiência ou o conhecimento lingüístico. Cumpre
ressaltar que é importante que o professor não-nativo tenha a consciência da sua percepção e
redefinição de si mesmo como usuário competente e autônomo no ensino de língua
estrangeira/inglês.
Por último, e de uma forma mais direcionada ao professor em sala de aula, cabe a ele
dosar suas técnicas, quer sejam elas estruturalistas, comunicativas ou renovadoras. Na
realidade, o que ocorre nas salas de aula é uma adequação das técnicas de ensino do professor
às necessidades e exigências dos alunos e até mesmo da escola.
166
O contexto a ser considerado também é de extrema importância para determinar o tipo
de perfil de professor uma vez que a estrutura de participação acadêmica e social depende dos
dois pólos da interação: do professor e dos alunos. Para que essa interação seja produtiva é
preciso ouvir as vozes dos alunos e junto com eles construir os objetivos da aprendizagem e
ensino. Na sala da PNN aqui observada, as expectativas dos alunos e da professora parecem
estar em sintonia.
5.2 – O alcance de alguns instrumentos na pesquisa e sugestões para futuros estudos
Algumas das restrições quanto ao alcance dos resultados encontrados no percurso
desta pesquisa foram a aplicação do teste de proficiência oral em língua inglesa (TEPOLI) e
do questionário para a verificação dos estilos de ensinar da professora.
O TEPOLI, sendo um teste de proficiência ainda em fase de implementação, mostrou
ter algumas limitações na primeira tarefa (TASK 1). Nesta fase, a variedade lexical e sintática
ficou um pouco limitada pela própria figura, pois a descrição e o detalhamento de uma figura
pode não ser suficiente para se constatar o nível de proficiência de um candidato enquanto
professor de ILE. Ou seja, essa tarefa precisa ser repensada para um teste específico a
professores de LE.
O questionário, como instrumento de verificação dos estilos de ensinar, também
apresenta uma certa restrição no alcance dos resultados. Um questionário, com cinco
perguntas, pode não ser suficiente para se concluir a cerca do estilo de ensinar de uma
professora. Na presente pesquisa, este instrumento foi aplicado na tendência de se confirmar
uma suspeita levantada na observação dos dados de sala de aula, obtidos por meio da
gravação em fitas de áudio e vídeo.
167
Embora esses dois instrumentos tenham trazido resultados consideráveis para a
pesquisa, o pesquisador deve utilizá-los considerando o seu alcance. Quando se fala em estilo
de ensinar, perfil do professor, perfil do aluno, etc., infere-se que há necessidade de
entremesclar as áreas relacionadas à Lingüística Aplicada, tais como a Psicologia Educacional
e a Sociologia.
Uma sugestão para um futuro trabalho poderia considerar a possibilidade de investigar
vários perfis de professores nativos, residentes no país, e contrapô-los com vários perfis de
professores não-nativos. Essa seria considerada uma pesquisa ampla e abrangente, pois teria
que se fazer todo um histórico de suas vidas.
Espera-se, assim, que os resultados da pesquisa e as conclusões apresentadas possam
dar visibilidade a muitas outras questões a serem investigadas nas áreas relacionadas ao
ensino de línguas, uma vez que cada novo estudo é capaz de nos revelar uma particularidade
deste complexo e fascinante processo de ensinar e aprender uma língua.
168
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175
ANEXO 1
Entrevista - Professora
PNN – Professora Não-Nativa
1) O que é linguagem?
2) O que é ensinar?
3) O que é aprender?
4) Como você avalia o seu nível de proficiência como professora de língua inglesa?
5) Como você avalia a seu desempenho profissional como professora dessa LE?
6) Como você vê a sua competência comunicativa em relação à competência
comunicativa de um PN?
7) Quais fatores mais afetam seu desempenho profissional em sala de aula?
8) O que a motiva como professora de LE?
9) O que menos a motiva como professora de LE?
10) Qual a relação entre auto-estima e competência comunicativa do professor de LE?
No seu caso, como ocorre essa relação?
11) Cite aspectos positivos da sua prática de sala de aula.
12) Cite aspectos negativos da sua prática de sala de aula.
13) Como você avalia a sua interação com os alunos durante as aulas?
14) Você apontaria alguma lacuna na sua formação profissional que interfere na sua
prática de sala de aula?
176
ANEXO 2
LOGs - Data: _____/_____/_____
1- Houve bastante interação professor/aluno? Sim ( ) Não ( ) Por quê?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 - Como foi o seu desempenho?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 - Houve algum problema na sua interação com seus alunos? Quais? Como foram tratados?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
4- Os objetivos desta aula foram atingidos? Sim ( ) Não ( ) Por quê?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
OBS._______________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
177
ANEXO 3
QUESTIONÁRIO – Alunos
Dia: ___/____/____ sexo: ( ) masculino ( ) feminino idade: _________
(Estas informações serão subsídios para se avançar na pesquisa em sala de aula de Língua Estrangeira. Colabore,
tentando ser o mais honesto (a) possível).
1- O que você espera de um professor de inglês como Língua Estrangeira?
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
2- O que você acha da capacidade da sua professora para se comunicar em língua inglesa?
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
3- O que você mais gosta no desempenho da sua professora?
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
4- Quais suas expectativas em relação às suas aulas de inglês?
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
5- As aulas estão atendendo às suas expectativas? ( ) sim ( ) não. Como?
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
6- Na fala da professora, como você avalia os itens abaixo:
) É clara? _______________________________________________________________
) Fala muito rápido? _______________________________________________________
) Utiliza vocabulário compreensível? __________________________________________
) Ela se preocupa com a sua compreensão, do que está sendo falado?
_____________________________________________________________________
7- Na sua experiência como aluno, você já teve aulas com:
( ) professores nativo ( ) professores não-nativo.
8- Como você compara as aulas de professores nativos e não-nativos?
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
9 - Cite um ponto positivo e outro negativo em suas aulas de inglês:
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
178
ANEXO 4
TEST TASK 2
LESSON SEGMENT ( examiner’s copy )
LEVEL: Intermediate
TOPIC: Protecting the environment on Earth
CLASS SITUATION: Students are doing a role-playing activity in pairs. Student 1 (St1) is playing
the role of someone worried about environmental issues and student 2 (St2) is acting as the owner of a
paper manufacturing company which is planning to build a new factory in the area. St1 has to
convince St2 to make some changes to his or her plan in order not to harm the environment.
YOUR TASK:
Pretend Uyou are the class teacherU who has listened to this part of their conversation in
class. You have noticed that students 1 and 2 have been making some mistakes when they speak
English and decide to discuss TWO of their problems with ONE of them immediately after this lesson.
You want to help your student so that he or she can improve his/her speaking skills. Choose the types
of mistakes you would like to discuss (from the transcript below) and SPEAK ABOUT IT WITH THE
INTERVIEWER AS IF HE OR SHE WERE THE STUDENT WHO HAS BEEN MAKING THIS
TYPE OF LANGUAGE MISTAKE.
- Capital letters, e.g. MY family indicate emphatic stress.
- (INCOMP) indicates incomprehensible speech.
009 – St1: please... I don’t think so ok (INCOMP)
010 – St2: I not worry about environment
011 – St1: Ok
012 – St2: ok... I promise I’ll try to to... to change the situation
013 – St1: oh please
014 – St2: (INCOMP) I’m not erm I can’t to change the situation of the world (INCOMP)
someone have to start (to do something) promise (INCOMP) I’ll do this...ok
015 – St1: ok but (INCOMP)
016 – St2: (INCOMP) I have to think in MY family....in MY money
017 – St1: ok...but (INCOMP)
018 - St2: are you ecoloGIST?
019 – St1: yes... I’m ecoloGIST... I love nature (INCOMP) environment (INCOMP) I’m
very...erm...worry about our future (INCOMP)
020 – St2: (INCOMP) I need to survive... I need paper to survive
021 – St1: yes but (INCOMP) I think you (INCOMP) recycle
022 – T1: ok... business women and eCOlogists... […]... what kind of soLUtion have you found for
this problem? [...]
©DAConsolo(2003)
179
ANEXO 5
TEPOLI2003 - TEST TASK 2: ROLEPLAY
AIM: Production of oral language that encompasses the metalanguage EFL teachers are
expected to use in teaching contexts, for example, when they explain or talk about the English
language with their students.
ASSUMPTIONS:
One example of the use of metalanguage is when teachers correct mistakes made by their
students.
EFL teachers are more likely to make use of metalanguage in English (instead of speaking in
the students’ L1) with students who are at or above the intermediate level.
Newly graduated (or graduating) students from Letters courses are more likely to start (or
have started) teaching EFL lessons at basic or intermediate levels.
Although the oral performance of examinees is rated under the conditions of a role-playing
task instead of in a real classroom situation, the use of realistic data, that is a segment from a
real EFL lesson contributes to making more valid claims about the examinee’s language
competence and the characteristics of his or her oral proficiency to produce metalanguage in
spoken English.
©DAConsolo(2003)
180
ANEXO 6
181
ANEXO 7
182
ANEXO 8
Learning and Teaching Styles
“Teaching methods also vary. Some instructo s lecture, others demonstrate or discuss; some
focus on rules and others on examples; some emphasize memory and others understanding.
How much a given student learns in a class is governed in part by that student´s native ability
and prior preparation but also by the compatibility of his or her characteristic approach to
learning and the instructor´s characteristic approach to teaching”
r
(
Felder, R.M e Henriques, E. R,
Foreign Language Annals
, 28, no.1,1995.)
Answer to the following five questions:
1. What type of information do you preferentially perceive:
sensory
– sights, sounds, physical
sensations, or
intuitive
– memories, ideas, insights?
2. Through which modality is sensory information most effectively perceived:
visual
– pictures,
diagrams, graphs, demonstrations, or
verbal
– written and spoken words and formulas?
3. How do prefer to process information:
actively
– through engagement in physical activity or
discussion, or
reflectively
– through introspection?
4. How do you progress toward understanding:
sequentially
– in a logical progression of small
incremental steps, or
globally
– in large jumps, holistically?
5. With which organization of information are you most comfortable:
inductive
– facts and
observations are given, underlying principles are inferred, or
deductive
– principles are given,
consequences and applications are deduced?
183
ANEXO 9 – Transcrição de uma aula
Azul= marcadores
Vermelho =
Avaliação
Uma amostra de aula típica - Dia 09/11 – PNN
Resgate conteúdo
Fala andaime
Repetição de
termos
Repetição de
termos
3/15 DVD
1T: Ok, let´s start our class today. Do you remember what we talked about last
class when we were uhh, sorry?
2ST: angry, furious]
3T: [ yes, we started talking about adjectives but they are?
4ST: absolutely tired of it, grad- grad- gradable
5T: gradable adjectives and
6ST: and the other]
7T: [ absolute
8ST: yes
9T: Ok, give me an example, it´s better
10ST: uh, tired, exhausted
11T: very good, so any can say for example I am VERY? (0.2) Ucan I say I`m very
exhausted?(UPERGUNTA PEDAGÓGICA)
12STs: no, no
13T: I`m very tired yes or?
14ST: I am absolutely exhausted
15T: very good, that was it, so you have TIRED (0.2) and then you have (0.3)
exhausted
16STs: ((alunos fazem barulho))
17T: uh what else or other adjectives did we have, can you give me the hole list?
17ST1: strange
19ST2: happy
20T: let´s go over the list ( ) ok so we have
21ST3: angry
22T: angry (0.3) furious (0.2) what else?
23ST4: tired
24T: tired (0.2) oh, this is here tired and exhausted is already here (0.2) HAPPY]
25STs: oh happy day.. oh happy day..
26ST4: strange
27T: and strange and incredible
28ST1: bad, awful ((teacher writes on the board))
29ST2: bad, awful
30T: bad, awful
31ST2: funny, hilarious
32T: funny
33ST2: hilarious
34T: hilarious (0.2) double L hilarious?
35STs: no
36T: no
37ST3: good
38T: GOOD
39ST4: brillant
184
40T: brillant
Resgate de
conteúdo
Resgate de
conteúdo
41ST1: funny
42T: funny
43ST2: funny já foi
44T: funny
45ST: hilarious
46T: hilarious, we have already done this (0.3) hello how are you ( ) ((aluno
entra))
47T: so we have (0.2) just one excited (0.3) and then you have thrilled (0.3) so the
difference between them would be for example I can say I AM very, rather, a
little (0.8) and then over here.
UCan I say I am very exhausted? (UPERGUNTA
PEDAGÓGICA)
48STs: no
49T: no, so I have to say absolutely (0.3) really, what else? Absolutely, really,
TOTALLY
50ST: extremely
51T: extremely did we have this? Yes? (0.3) Ok, so (0.2) there is a difference if you
say, I´m VERY tired and I am a little, I am a little tired,
Uthere is a difference,
so there is a graduation, isn´t there?U (CONFIRMAÇÃO DE
COMPREENSÃO) Here we can not have a graduation, I can not say I am a
LITTLE EXHAUSTED, ok, it doesn´t exist. You are exhausted or not, ok, so
you can say I´m absolutely exhausted, I´m really exhausted, I´m totally
exhausted, I´m extremely exhausted and those ( ) they´ve got the same
meaning or just I´m exhausted, all right? They´ve got the same meaning, there
is no difference between them. Now here you have difference, when I say
VERY let´s put three stars, two and one. Ok there is a graduation here all
right? When I say I´m very tired is more tired than uhh being I´m a little tired
ok?
UDid you understand that? Yes? U(VERIFICAÇÃO DE COMPREENSÃO)
All right
Uso having this in mind do you remember the dialogue we listen to
last class? It was a dialogue uh about skydiving, do you remember?
52STs: ( ) (( listening activity // teacher writes the dialogue on the board and
divide the class into two parts to act it out. Part blue repeat! ))
53T: yes we just did orally, we didn´t write anything remember?
54STs: ( )
55T: no no no, it wasn´t the reading, it was the dialogue
56ST: the questions, have you ever?
57T: VERY GOOD ((nome)) have you ever … so the dialogue actually it´s I your
book on page 34. Open your book on page 34, student´s book and get a pencil
please
58ST: uhh student´s book?
59T: yeah
60ST: thirty-four?
61T: thirty-four
(( pauses)) =
185
Meta-enunciado
Fala andaime
Exercícios
mecânicos
Denominação
+
Controle do
discurso
62T: (( ela checa o CD)) Ok everybody is ready, page 34? Listening, intonation over here.
Complete the following dialogue. Listen and check. So we have already listened to
this dialogue but you haven´t done anything yet. Ok so you have to listen and complete
ok (0.2) ((nome))could you please pick up your book? (0.3) Ready everybody? (0.3)
We are gonna start with the green one,
Uhurry upU (ENCORAJAMENTO) (0.4) ready?
Can I ((nome)) (0.2)
Ulet´s startU (ENCORAJAMENTO)
((she plays the listening))
63T: again ((repeat))
64T: so the first question
65STs: have you ever been skydiving?
66T: have you ever been (0.3) so have you ever been skydiving? Have you ever
been skydiving?
67STs: yes, I have
68T: great, b answer
69STs: yes, I have (0.8)
70STs: was it good?
71T: very good, it was a question, so?
72STs: was it good?]
73T: [ was it good? We are talking about past, ok? was it good?
74STs: good?
75T: yes, GOOD?
76ST: it was?
((pause))
77T: good, it was?
78STs: absolutely…
79T: incredible, so you have like a, b, a and b ok so, have you ever been skydiving?
Repeat!
80STs: have you ever been skydiving?
81T: yes, I have
82STs: yes, I have
83T: was it good?
84STs: was it good?
85T: GOOD?
86STs: GOOD?
87T: it was absolutely incredible
88STs: it was absolutely incredible
89T: ok, let´s see after to uhh ((nome)) uh all right? Uhh you´re going to act to be
letter a and you are going to be letter b, one, two, three…
90StsA: have you ever been skydiving?
91STsB: yes, I have
92StsA: was it good?
93T: one minute (0.2) yes (0.2) I (0.2) haveh
((risos))
94T: we are talking about SKYDIVING, come on start again this group, one two
186
three
Exercícios
mecânicos
denominação
Correção
Avaliação
Exercício
mecânico
Denominador
Exercício
mecânico
95StsA: have you ever been skydiving?
96STsB: yes, I have
97StsA: was it good?
98STsB: good?
99StsA: it was absolutely incredible
100T: repeat everybody, absolutely
101STs: absolutely
102T: absolutely incredible
103STs: absolutely incredible
104T: it was absolutely incredible
105STs: it was absolutely incredible
106T: GOOD, it was absolutely incredible
107STs: GOOD, it was absolutely incredible
108T: again, GOOD]
109STs: GOOD
110T: it was absolutely incredible
111STs: good, it was absolutely incredible
112T: ok, ((nome)). you are a, and ((nome)) you are b one, two, three
113ST: have you ever been skydiving?
114ST: yes, I have
115ST: it was good?]
116T: [uh, uh, uh ]
117STs: [was it good?
118ST: was it good?
119T: ( ) absolutely
120ST1: absolutely incredible
121T: great, great, now try to do without looking at the book ok everybody have you
ever been skydiving?
122STs: have you ever been skydiving?
123T: yes, I have
124STs: yes, I have
125T: was it good?
126STs: was it good?
127T: GOOD, it was absolutely incredible
128STs: GOOD, it was absolutely incredible
129T: ok, ((nome)) and uh ((nome)), please
130ST1: have you ever been]
131T: [ have you ever, have you ever
132ST1: have you ever been skydiving?
133ST2: yes, I have
134ST1: was it good?
135ST2: good? It was absolutely incredible
136T: it was absolutely incredible
137ST2: good, it was absolutely incredible
187
Alternância de
código
Exercício
mecânico
Meta-enunciado
Exercício
mecânico
Controle do
discurso
Avaliação
+
denominação
138T: sem ler, olhando pra mim (0.2) it was absolutely incredible
139ST2: it was absolutely incredible
140T: GREAT great now
Ulet´s goU (ENCORAJAMENTO)to the blue one ok ready?
141STs: yes
((she plays the cassette))
142T: I´ll play again
((she plays again))
143T: so, lettler c
144ST1: have you ever]
145STs/T: have you ever been surfing?
146T: have you ever been surfing?
147T: so, the same thing (0.2) have you ever been ((pause – alunos riem)) ok, have
you ever been surfing? The answer?
148STs: yes, I have
149T: the same as well (0.3) now, the other question
150STs: were you scared?
151T: very good! WERE YOU because you are asking if the person was, so were
you scared (0.2) were you scared, were you afraid of? Were you scared? Then
SCARED?
152ST: I was absolutely ( )
153T: I WAS, very good, I was?
154STs: absolutely terrified
155T: terrified ok (0.3) so repeat have you ever been surfing?
156STs: have you ever been surfing?
157T: yes, I have
158STs: yes, I have
159T: were you scared?
160STs: were you scared?
161T: SCARED?
162STs: SCARED?
163T: it was absolutely terrified
164STs: it was absolutely terrified
165T: let´s do the other way round (0.2) you are letter c you ask the question and
you answer ok, one, two, three
166StsA: have you ever been surfing?
167STsB: yes, I have
168StsA: were you scared?
169STsB: scared? I was absolutely terrified
170T: excellent, it was much much better than the first one, let´s see uh ((nome))
you are c and (0.2) ((nome)) you are G
171STA: have you ever been surfing?
172STB: yes I have
173STA: were you scared?
188
exercício
mecânico
Alternância de
código
Exercício
mecânico
Fala andaime
Negociação de
significado
Correção
174T: were you scared?
175STA: scared?
176T: were you scared?
177STA: were you scared?
178T: fala sem ler, are you scared?
179STA: were you scared?
180T: great
181STB: scared? I was absolutely terrified
182T: great, everybody again! Have you ever been surfing?
183STs: have you ever been surfing?
184T: yes, I have
185STs: yes, I have
186T: were you scared?
187STs: were you scared?
188T: scared? I was absolutely terrified
189ST: scared? I was absolutely terrified
190T: so we can we can ad another one in our list,
Ucan´t we?. What´s it?
U(CONFIRMAÇÃO DE COMPREENSÃO)
191ST: scared, terrified
192T: great ok now what about tired and exhausted? Can you say, for example, have
you ever been uh surfing?
193STs: have you ever]
194STs: [ yes I have
195T: yes, I have
196ST: was it ]
197STs/T: were you tired?
198T: because you are not talking about surfing itself but about the person. Were
you tired? And then you say TIRED? I was absolutely?
199ST: excited
200T: exhausted, Ok? Tired? I was absolutely exhausted, ok
201ST: excited, excited é absolute?
202T: excited (0.2) yes, yes
203ST: qual que é o gradable do excited then?
204T: thrilled no no what would that be? Excited would also be absolute. What what
are you asking?
205ST: ( ) it was not in our list, so I was asking ( )
206T: Ok, so it´s gradable, right? Now, for example, if you have uhh (0.3) have you
ever been uhh (0.4) have you ever been to Machupichu? Ok, have you ever
been to Machupichu? Yes, I have, and then was it?
207STs: good?
208T: good? And then you say GOOD, it was absolutely?
209ST: absolutely excited
210T: uh not exactly ((nome)) good
211ST: brillant
212T: brillant, yes, that´s ok, that´s ok]
213ST: [teacher, também pode ser incredible]
189
Oferta de
participação +
Alternância de
código
Fala de repreensão
Negociação do
aluno
+
alternância de
código
oferta de
participação +
alternância de
código
Alternância de
código
Encorajamento
214T: [ yes, could be also incredible. GOOD? It was incredible, brillant, incredible
( )
215T: so, what are you going to do? I´d like you “shiuh” (0.3) ((nome)), are you
lost? ((She always check sts are following the class))
216ST: não
217T: no? I´d like you to use this dialogue to make up new dialogues, invent new
dialogue, using all the adjectives ok, so let´s do like this, you two uhh
((nome)) you two, and two of you, Ok, two, let´s see if we can have pairs
218ST: faz three
219T: no, we need (0.2) because somebody will be uhh I need pairs]
220ST: [here] ( ) = a gente faz trio aqui
221T: [ it doesn´t matter, it doesn´t work, we need two people, two of you, two of
you, the two of you, come here with me please, two together, two together,
come here and stand up
((sts fazem barulho)) ( )
222T: can you please work with ((nome))?
(( alunos arrastam carteiras))
223T: Ok, so, what I like you to do, practice as much as you can with this adjectives
and with others types of uhh (0.2) things to do, to be done, for example, have
you ever played uhh hokey, have you ever, can be any sport can be anything
all right? And then choose one to present to class, Ok?
UDo you understand?
U(VERIFICAÇÃO DE COMPREENSÃO)
(sts falam todos ao mesmo tempo) = ]
224ST: [sorry, everybody will present?
225T: everybody will present one dialogue. Can be this or this one, but we have lots
of thing, you´re going to pick up one to present, ok, if you, if you ((alunos falam
ao mesmo tempo)) “shiuhh”
226ST: teacher, só trocar adjetivo e a, e o sport?
227T: yes, as well, if you don´t have any idea about the sport you would like to or the
things you´d like to go, go to page 32, you got other here and on page 35 you
got others sports as well, OK? Yes, so come on by the way, wait a minute,
UWAIT
A MINUTE, “
Ushiuhh” STOP PLEASE ((bate na mesa)) ((nome)) pleaseU
stop,
U“shiuh”. I don´t want you to write anything, “shiuh” I don´t want you to writeU,
Uit´s not to writeU, (FALA DE REPREENSÃO) it´s to practice orally, ok, it´s not]
228ST: ((pergunta alguma coisa ( ) ))
229T: you have to choose only one from everything you have done, choose one.
Você vai praticar com vários vários vai pegar a lista de todos os esportes aqui,
vai pegar a lista dos adjetivos e vai praticar oralmente com vários, mas vai
apresentar só um pra classe OK? E não é pra escrever, é oral, quero que
memorize esse diálogo, ok? Did you get it?
230STs: Ok
231T: so come on start!
((começam a praticar em pair)) ((teacher goes pair by pair helping them))
190
Fala de repreensão
Correção
Avaliação
Meta-enunciado
Alternância de
código
meta-enunciado
232T: Ok, everybody, all right, please, let´s listen our uhh, “shiuh” silence please
((nome)) and ((nome)) could you please speak up, ok?
233STg: have you ever been bungee jumping?
234STr: yes, I have
235STg: it was, was it exciting?
236STr: exciting? It was absolutely tr/A/lled
237T: thrilled, Ok, say it again, say it again, come on have you ever been?
238STg: have you ever been bangee jumping?
239T: bangee jumping
240STr: yes, I have
241STg: was it exciting?
242STr: exciting? It was toltally tr/A/ll-
243T: thrilled, thrilled
244STr: thrilled
245T: great, great, yes?
((vários outros apresentam))
246T: excellent, perfect, you can go back to your places ((eles voltam as carteiras))
very good, very good! (0.4) now, if I say have you ever been scuba diving?
It makes sense, ok but can I say have you ever been baseball?
247STs: no, played
248T: have you ever?
249STs: played
250T: played baseball yes
251ST: have you ever been playing ( )
252T: ok, but that´s another thing yes, yes that´s ok but have you ever been playing,
but that is not exactly the same structure we use, have you ever played have
you ever been, have you ever uhh stayed ok so you have to pay attention to
this. Now, sometimes some activities need go, other need play and other we
need do
253STs: = ( )
254T: yes, if I say uhh baseball? Here, because we PLAY baseball, we don´t say DO
baseball, we don´t say GO baseball, all right? If I tell you, for example bungee
jump (0.4) ok so you say go bungee jumping, all right? When you are doing
have you ever, you don´t say have you ever GONE, but have to use have you
ever BEEN, ok because, remember that I told you for example uhh, how do
you say “
Uvocê já esteve no JapãoU?”
255STs: no
256ST: have you ever been to Japan?
257T: have you ever been to Japan? Don´t say have you ever GONE to Japan,
because gone to Japan means that you are there and you haven´t come
back yet Ok? So
have you ever been to Japan? Have you ever BEEN bungee jumping? OK?
Now uh (0.2) what about, for example, (0.2) judo, then I say DO judo,
ok, now take a look on page 35, you´ve got a field with lots of sports (0.2).
Let´s see if you say go , play or do each of them Let´s see, if you say go,
play or
do each of them all right? UAre you with meU? (VERIFICAÇÃO
191
Avaliação
Verificação de
compreensão
Pergunta
referencial
Pergunta
referencial
Correção
Pergunta
referencial
DE COMPREENSÃO) Ok, so you have to copy this on your notebook
258STs: ((murmuram))
259T
: yes, if you want to study, if you don´t want? Let´s go we have the first one
is aerobatics aerobatics
260STs: do
261T: you DO aerobatics, very good (0.4) what about athletics?
262ST: do
263T: very good, you do athletics (0.4) what about badminton?
264STs: play, play
265T: what means badminton?
266STs: it´s a game (0.3) e bem legal
267T: have you played?
268ST: no clube eu jogo
269T: yes? In the
Pinheiros Club
? ( ) you are watched?
( )
270T: uhh now you´ve got baseball, it´s already here (0.2) play baseball, basketball?
271ST: play
272T: play, very good (0.3) bungee jumping is already here (0.3) who has already
been bungee jumping here in the classroom? Nobody?
273ST: no, thanks
274T: you, wouldn´t like it?
275ST: no
276T: have you ever been to Hopi Hari, to that park
((alunos falam todos juntos)) ( )
277T: I have never, have YOU been? Were you scared, ((nome))?
278ST: ( ) when you fall it´s really good
279T: really? I don´t know if I have the courage to go ( ) next one, next one,
climbing, very ( )
280ST: to go climbing
281T: very good (0.3) how do you pronounce this word?
282STs: /claimbing/
283T: sorry?
284STs: /claimbing/
285T: no b ok, /CLAIMING/, /CLAIMING/ all right?
286ST: claiming
287T: yes, because it´s wrong like comb the hair, COMB, you say I com/b/ my hair,
I com/b/ my hair, don´t say the b ok, next uhh cycling
288STs: go
289T: go cycling, very good (0.4) then you have football
290STs: play
291T: ( ) spell ball ok some people write with o, it´s wrong, uh horse-riding
292ST: go horse-riding
293T: go horse-riding (0.6) have you ever been horse-riding at night?
294ST: yes
295T: great, isn´t it? It´s really, really great, I loved it next one, ice-hockey
296STs: play
( )
297T: Judo is already here, Ok? Karate
192
Fala de repreensão
Confirmação de
compreensão
Discurso
colaborativo
298STs: do ((vários alunos falam ao mesmo tempo))
299ST: eu gosto mais do que cachorro
300T: oh, oh, portuguese!
301ST: I like horse much better dog
302T: than, really ( ) well, I prefer cats, have you seen my cat?
303ST: yes
304T: very thin,
Uisn´t it?U
305ST: it´s very (0.2) how do we say manso?
306T: nice ( ) my cat, my cat is obese, it´s extremely fat ((risos)) uh, next one ice-
hockey, judo, karate, rugby, SAILING
307ST: rugby, rugby
308T: rugby, rugby we play rugby yes rugby we play]
309ST: ( )
310T: rugby, sai- sailing
311ST: go
312ST: play
313T: you go sailing, no play sailing, you go sailing
314ST: American football, you play or ]
315T: yes, scuba-diving?
316STs: go
317T: go scuba-diving (0.8) skating
318ST: go
319ST: you go skating
320T: then after that you have skydiving
321STs: go
322T: go skydiving ( ) now you have (0.2) snow-boarding
323STs: go
324T: go snow-boarding (0.4) surfing
325STs: go
326T: go surfing (0.4) swimming
327ST: go swimming, pay attention to swimming double m, all right? (0.2) check if
you put double L (0.2) table-tennis?
328STs: play
329T: tennis
330STs: play
331T: what else? Volleyball?
332STs: play
333T: volleyball uh weigh-lifting, weight-lift?
334STs: go
335T: go (0.8) and then the last one wind-surfing?
336STs: go
337T: so, if you take a look at the board, we can come up with a kind of rule, with a
kind of thing we can know]
338ST: [ ing
339T: YES, when we have GO, what do you have?
340STs: ing ((em português))
193
Pergunta
pedagógica
Correção
Oferta de
participação
Meta-enunciado
Pergunta
referencial
Várias perguntas
referenciais
341T: ing, great (0.3) all right? PLAY?
342STs: games
343T: games all right? Specially with balls, all of them are with balls, so we talk
about games, competitive games, all right? Ok and these are the other options
ok, so what do you have to memorize? If it is a game, play, if it finishes with
ING, go, and then you memorize these four judo aerobatics, athletics, karate,
capoeira as well, although sometime you say play capoeira
( ) could be fight but aerobatics is not ok, so it´s athletics is not a fight as
well, ok. These are the options, what do you have to bear in mind?]
344ST: [ boxing
345T: boxing, have you ever
346ST: play
347T: no, no, no play no boxing, ING
348ST:
UteacherU, e se for one specific for athletics, for example RUN or ]
349T: running, to GO =
350ST: go jumping
351T: go jumping, ok then you can put the ING, it´s a verb, Ok, you can put the
ING, ok? This is not, there are no verbs here, all of them here, look, they are
verbs ride, cycle, climb, uhh, surf ok, so you can put the ING, all right? Now,
take a look (0.3)
Uwhich of these sports do you uh do or watch, ((nome)),
which of them? UYou have either been
352ST: eu?
353T: Yes
354ST: uh, cycling, horse-riding, scuba-diving]
355T: scuba-diving, where, where did you go scuba-diving last time?
356ST: Cancun, Maceió..
357T: so, you like watching sports, don´t you?
358ST: yes
359T: great, uhh what about you ((nome)) which sports or activity have you ever
practiced?
360ST: ( ) surfing
361T: which is your favorite one, which do you like doing, favorite, everyday
362ST: football
363T: football, and which one do you like watching?
364ST: watching football
365T: football as well?
( )
366T: sorry? (0.2) surfing? Do you like watching surfing on TV? Ok, what about
you ((nome))? (0.2) which one
367ST: ( )
368T: could you speak up?
369ST: snow-boarding
370T: ok
371ST: swimming, cycling, skydiving]
372T: [ wow! skydiving have you ever been skydiving? Where did you go
skydiving?
373ST: Campos do Jordão
194
Alternância de
código +
Pergunta
referencial
Correção
Navegação do
aluno
Negociação de
significado
374T: Campos do Jordão, was it good?
375ST: ( )
376T: so, I don´t want ( )
377ST: yes
378T: it was something more..
379ST: It was good
380T: more than good!
381ST: it was absolutely ( )
382T: Ok, it´s ( )
( )
383ST: ((todos falam ao mesmo tempo)) aerobatics
384T: aerobatics oh that´s the different one ( ) because the aerobatics is the circus
stuffs ok
385ST: yeah?
386T: circus uh (0.2) malabarismo this kind of things and then some book you have
aerobics yes? Ok? Anybody else have been doing something very different?
387ST: ( )-board ( )
388T: yes, can you explain the difference?
389ST: difference of ( )-board and another ( )
390ST: ski-board
( )
391ST: uh, ( )-board, the boat or the jet-ski push the pranch]
392T: push the board, the board]
393ST: [ the board
394STs: the “pranch” ((riem))
395T: AND
396ST: with the como que é corda?
397T: rope
398ST: with the rope, speed in the water
399T: very good, very good so you have been as well.
UWhat about you ((nome))U
(DENOMINAÇÃO)
U,U what were you saying?
400ST: aerobics and cycling
401T: cycling as well ok anybody else?
402ST: I don´t like but roler-blade could be
403T: you don´t like roler-blade ok?
( )
404ST: what means spin?
405T: sorry?
406ST: spin?
407T: spinning is working on cycling but not cycling outside, it´s inside in a ( )
center, ok? It´s a class, a spinning class, it´s a bike class ok? Yes
((alunos comentam de um jogo - incompreensível))
( )
408ST: ( ) tronco?
195
Alternância de
código
Oferta de
participação
Oferta de
participação +
Alternância de
código
Fala de repreensão
+
Fala andaime
Avaliação
Fala de repetição
Avaliação
409T: you´ll have to know?
410STs: tronco?
411T: because we have the tree-bark, é a casca da árvore, mas tronco?
( )
412T: log could be isn´t it, que é madeira ((professora checa o dicionário)) Let me
check (0.3) because we have the tree-bark, the log is madeira already cut]
413ST: professora, professora
414T: just a minute, let me find something here
((pause))
415T: trunk ((risos)) trunk ( ) we have the tree, this is the trunk of the tree, ok?
((alunos falam – incompreensível))
416ST:
UteacherU how can I say arco e flecha?
417T: arrow and bowl, arrow for the flecha and bowl for the ( ) yes ((nome)) ( )
( )
418ST: nossa é muito legal arco e flecha! Eu fiz lá em Comandatuba
419T: oh, oh, oh, how do you say é muito legal? It´s very?
420ST: COOL
421T: great
( )
422T: all right so now take a look at this picture on page 35 (0.2) you have this
beautiful charming lady here
((alunos riem))
423T: would you like to have her as a girlfriend ((nome))? ((todos riem)) not exactly ok.
Uh her name is Jane Couch, she is from the USA, USA no United kingdom, she
is English ok and what sports (0.3)
U“shiuh” ((nome))! Pay attention (UFALA
DE REPREENSÃO). What sports does she practice?
424STs: boxing
425T: boxing, very good and here you´ve got a lot of questions which probably were
asked to her (0.2) let´s read one by one and see if you understand the questions first,
you´re going to watch a video about her, ok, so can you please start reading the first
one
426ST: how did you get interested in boxing?]
427T: in boxing, interested in boxing, next please!
428ST: Were you interested in sports at school?
429T: very good?]
430ST: ((começa a ler junto))
431T: wait a minute ((nome))! everyone is going to read one ok, ((nome)) please!
432ST: How long did it take to get fit?
433T: Did you understand this one? how long did it take to get fit, to be physical
196
Denominação
Verificação de
compreensão
Correção
Avaliação
Correção
Avaliação
+
Verificação de
compreensão
Verificação de
compreensão
Verificação de
compreensão
prepared? Ok, next, please, ((nome))
434ST: Do you know how many PROfessionals female boxers there are?
435T: Do you know how many proFEssionals, proFEssionals, pro- ok, proFEssional
436ST: professional
437T: next
438ST: What did your friends and family think about it?
439T: great
440STs: Is it easy for a woman to be a prof/i/ssional boxer?
441T: proFEssional, proFEssional, can you read again, please?
442ST: Is it easy for a woman to be a prof/i/ssional]
443T: [ proFE-, proFE-
444ST: professional boxer
445T: great, next please!
446ST: what do you critics say?
447T: Do you understand the critics? People who talk about, you know, the
criticism, all right? Next, please!
448ST: what do you think are the prime /kills/]
449T: SKILLS
450ST: skills to have as a boxer?
451T: yes, do you understand here the prime the prime skills, the ABILITIES, ok,
the abilities, what do you NEED to be a good boxer, what are the ABILITIES
((aluna pergunta algo muito baixo – professora responde: absent-minded))
452T: next, please
453ST: How do you relax?
454T: great, next please
455ST: How do you prepare for a match?
456T: Do you understand match?
457ST: a luta
458T: the fight ok you can, you may have matched, for example, in a football game.
It´s a game, all right, Ok?
459ST: ( )
460T: yes, next please
461ST: Have you ever been s/é/riously]
462T: [ s/i/riously, s/i/riously]
463ST: [ seriously hurt in a match?
464T: great, do you understand been hurt?
465STs: machucado
466ST: teacher?
197
Correção
Avaliação +
Verificação de
compreensão
Oferta de
participação
Fala de repetição
Avaliação
Avaliação
Pergunta
pedagógica
Denominação
+
Verificação de
compreensão
+
Alternância de
código
467T: yeah?
468ST: Do you know another word means éhh not match for example for another
sports, for example, bateria ((alunos riem))
469T: ( ) I don´t know, I don´t know ((nome)), I can ask uh (0.2) I can research
for you ( ) swimming and this kind of stuff? I really don´t know when you
say, it´s a ( ) or it´s a match I have to research on that I really don´t know]
470ST: ( )
471T: oh, race?
472ST: ( ) go or do?
473ST: ( ) no it´s a match (0.2) uh racing? =
474T: it´s formula um you go on a race or you watch a car racing in this case, next,
please!
475ST: Do you think you´ve changed since your success?
476T: SUCCESS
477ST: success
478T: great, next
479ST: How did you feel before the match last week?
480T: yeah, next
481ST: Whe´s your next big fight?
482T: great, and the last one?
483ST: Where will it be?
484T: ( ) OK, it here stands for what? What´s the meaning of it in the last question?
485ST: ( )
486T: ( ) the fight, the fight, the next fight, so when is your next fight? And where
would it be? So what are you going to do? You are going to watch the video
and not all of this questions were asked to her, just some of them, so you have
to watch and you have to tick the question which were asked, but pay
attention the person is not going to ASK the question directly. She is going to
ANSWER the question, so you have to come up (0.2) which one she´s
answering, ok so you have to pay close attention to the video and the
questions and tick the questions that she answered,
Udid you understandU?
(VERIFICAÇÃO DE COMPREENSÃO)
487ST: yeah!
488T: uh, ((nome)), que é que é pra fazer?
489ST: você vê o vídeo aí depois vai marcar só as respostas que ela dá com as
perguntas daqui
490T: not exactly
491STs: ((alunos falam juntos))
492T: = quais as perguntas que ela respondeu OK? You have to tick the questions,
Udid you understandU, now? Yes? Yes? Ok? So let´s go (( she plays the video))
(( ela arruma o som ))
493T: let me tell something before you watch, just let me tell you something uh she
is from a very poor class, so she is not rich, she hasn´t been well educated, so
the kind of English she speaks is the same kind of portuguese probably your
maid speaks … that´s exactly what you find in real life …
((alunos falam juntos – ela toca o vídeo – 2min + ou -))
198
Verificação de
compreensão
ATIVIDADE DE
LISTENING
Várias
perguntas
pedagógica
+
Discurso
colaborativo
494T: Did you understand when she said meself instead of myself?
495ST: no
496T: meself, me go ( ) uh there are a lot of- they didn´t ask all of the questions,
how many questions did you mark?
497STa: ten
498STb: nine
499STc: six
500T: nine, there are nine
501STs: uh ( )
502T: nine, yes, so what we are gonna do next, I will play again but this time you´re
going just to listen, not the video ok, you´re going just to LISTEN and I´m
going to STOP, yes, I´m going to stop to see what questions they are asking
and you have to tell me the answer, ok, so
Ulet´s goU (ENCORAJAMENTO)
(( ela toca ))
503T: so what´s the first question?
504ST: how did you get interested in boxing?
505T: great, listen to the answer ((toca CD))
506T: so, how did she get interested?
507STs: ( ) =
508T: ( ) documentary, where was the documentary ( )
509STs: in America
510T: in America (0.3) six years ago, very good she talks about that she saw a
documentary six years ago in America and (0.2) It was an American
documentary, ok, and uhh (0.2) one more question, how did she feel about it
when she saw?
511ST: fascinated]
512ST: [ fascinated
513T: fascinated perfect,
Ugo onU (ENCORAJAMENTO)((ela toca o CD)) what´s the
next question?
514STs: were you interested in sports at school?
515T: listen to her answer ((ela toca o CD)) so, was she interested in sports at
school?
516STs: no, no
517T: she smoked, what else?]
518STs: drinks, drinks
519T: drinks, she used to smoke, she used to drink, what else? She was?
520ST: fat
521T: fat as well, great, next ((ela toca o CD)) meself, did you listen? Let´s me come
back a little bit, look after meself ((ela toca o CD))
522STs: how long did it take to get fit?
523T: good, let´s listen to the answer ((ela toca o CD)) so it took her?
524STs: two years
525T: two years, great, the next question is? ((ela toca o CD))
526STs: Do you know how many female boxer there are?
527T: do you know] it´s the next question, até a gora não pulou nenhuma, Ok? Do
you know how many professional female boxer there are? She´s going to
199
Alternância de
ódigo +
Perguntas
pedagógicas
Marcadores
Perguntas
pedagógicas
Pergunta
pedagógica
Fala andaime
answer now ((ela toca o CD)) How many?
528STs: three hundred
529T: eight, eight ((ela toca o CD)) and around the world? How many?
530STs: three thousand
531T: three thousand ((ela toca o CD)) thirty thousand = very good, now you skip one
about the family ( ) about this is easy, what do your critics say? Ok what do
your critics say? Let´s listen ((ela toca o CD)) so (0.2) I shouldn´t be doing that,
I should be looking after the kids, I should uh get married, these things for a common
girl, ok, all right so, you shouldn´t do this, you shouldn´t do that, ok, it was
very DIFFICULT, next ((toca o CD))
532STs: What do you think are the prime skills to have as a boxer?
533T: yes, actually, yes, this is in the CD but there wasn´t this in the video ok? In the
video skip to this, there was the other one, but not this one, listen again ((toca
o CD))
534T: so what´s the meaning, you have to have a good what? breath breath to keep
your breath uh (0.2) ((nome)) for swimming you have to keep your breath as well, ok?
UDo you understand that, yesU? (VERIFICAÇÃO DE COMPREENSÃO) To keep
breath ok, to have a ( ) uhh you don´t have]
535ST: ( )
536T: hold your breath
537ST: no ( )
538T: uh, yes, it was uh take your breath away, yes it was take your breath away,
very good ((nome)) ((toca o CD))
538STs: how do you relax?
540T: Do you remember how she relaxes?
541ST: horse, galloping horse
542T: horse?
543STs: horse-riding
544T: horse-riding, very good ((ela toca CD))
545STs/T: How do you prepare for a match?
546T: great ((toca o CD)) so what does she do? (0.6) She?
547ST: watch]
548T: [ two or three weeks she? TRAINS, she trains, she got a very good training (
) she trains one or two weeks before ((ela toca o CD))
549STs: Have you ever been seriously hurt?
550T: yes, let´s listen ((toca o CD)) so not seriously, just broke what? ((silêncio))
those ( ) and it´s not seriously ((risos)) according to her it´s not seriously ( ),
broken bones…((toca o CD))
551STS: you change ( ) ((toca o CD))
552T: So, has she changed?
553STs: ( )
554T: has she changed? (0.3) yes or no?
555ST: yes
556STs: no
200
Pergunta
pedagógica
Fala de repreensão
+
Denominação
+
Marcadores
Pergunta
pedagógica
Oferta de
participação
Fala de repreensão
557T: uhh yes uhhh she said that she has changed her lifestyle but not as a person, in
the video she said that she is the same girl she was ok? Now, she was a kind
of famous person for the thing she does ok so what I want you to do (0.2) I´d
like you, we have five minutes only, I´d like you in groups of three to choose
one famous personality related to sports, can be anybody, can be from Brazil]
558ST: Serginho]
559T:
U[ “shiu” don´t sayU, can be from whatever you you want, or can be which sport
you want and you have to prepare ah four questions for this person so like put
attention to what you have to do, suppose ((nome)) is the celebrity, is the
famous person]
560STs: ((riem))
561T: ((nome)) is going to ask him U“shiuh”U ((nome)) is going to ask him two
questions and uhh ((nome)) another two questions and uhh ((nome)) another
two questions, so they are the reporters, he is the celebrity, you have to
prepare this, you you´re going to write down the questions if it´s Ok because
probably you will only be presented next class, ok so prepare now the three of
you, one, two, three of you, together, come on here the three of you, one, two,
three together, ok, ( ) =
((alunos arrastam carteiras para formar grupos – trabalham em grupos))
562T: class, how many, class! are you going to come up with?
563ST: two questions
564T: four questions, in your case six questions, two for him, two form him and two
for her =
565ST: teacher!!
((a classe trabalha em grupos – professora ajuda eles))
566T: ( ) time is over, wait a minute, wait a minute, time is over “shiuh” (0.3) pay
attention, next class ((nome)) STOP! Next class, before the work about the
book, we are going to do this presentation…
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