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UFSM
Dissertação de Mestrado
ESTUDO DO CAMPO TÉRMICO E DAS ILHAS
DE CALOR URBANO EM SANTA MARIA-RS
Alexandre Pistoia Saydelles
PPGGEO
Santa Maria, RS, Brasil
2005
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ESTUDO DO CAMPO TÉRMICO E DAS ILHAS
DE CALOR URBANO EM SANTA MARIA-RS
por
Alexandre Pistoia Saydelles
Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado
do Programa de Pós-Graduação em Geografia e Geociências.
Área de Concentração Análise Espacial, Linha de Pesquisa
Sensoriamento Remoto na Geografia da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito
parcial para a obtenção do grau de
Mestre em Geografia.
PPGGEO
Santa Maria, RS, Brasil
2005
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Ficha catalográfica elaborada por
Luiz Marchiotti Fernandes CRB-10/1160
Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Rurais/UFSM
Saydelles, Alexandre Pistoia, 1978-
S274e
Estudo do campo térmico e das ilhas de calor urbano em Santa
Maria-RS / por Alexandre Pistoia Saydelles ; orientador Maria da
Graça Barros Sartori. – Santa Maria, 2005.
xv, 219f. : il.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Santa Maria,
2005.
1. Geografia 2. Campo Térmico 3. Sistema de clima urbano 4.
Temperatura 5. Cartograma isotermal 6. Carta Sinótica 7. Variáveis
climáticas I. Satori, Maria da Graça Barros, orient. II. Título
CDU: 551.58
iv
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Naturais e Exatas
Programa de Pós-Graduação em Geografia e Geociências
A Comissão Examinadora, abaixo assinada,
aprova a Dissertação de Mestrado
ESTUDO DO CAMPO TÉRMICO E DAS ILHAS DE
CALOR URBANO EM SANTA MARIA-RS
elaborado por
Alexandre Pistoia Saydelles
como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Geografia
COMISSÃO EXAMINADORA:
_________________________________________
Profª. Drª. Maria da Graça Barros Sartori - UFSM
(Presidente/Orientadora)
_________________________________________
Profº. Drº. Waterloo Pereira Filho – UFSM
_________________________________________
Profª. Drª. Inês Moresco Danni-Oliveira - UFPR
Santa Maria, 29 de Março de 2005.
v
MENSAGEM
Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa idéia nos
parece estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível
comprá-los?
Cada pedaço desta terra (...). Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado
de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são
sagrados na memória e experiência de meu povo (...). Somos parte da terra e ela faz
parte de nós (...) - todos pertencem à mesma família (...) Os rios são nossos irmãos.(...).
Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes (...). A terra não
é sua irmã, mas sua inimiga, e quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Rapta
da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa. (...). Trata sua mãe, a terra, e
seu irmão, o céu, como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas (...).
Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.
(...) A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho (...). Não há um
lugar quieto nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o
desabrochar de folhas na primavera ou o bater das asas de um inseto.(...) O ruído
parece somente insultar os ouvidos.
(...) Ensinem as suas crianças o que ensinamos as nossas que a terra é nossa mãe.
Tudo o que acontecer a terra, acontecerá aos filhos da terra. Se os homens cospem no
solo, estão cuspindo em si mesmos. (...) a terra não pertence ao homem; o homem
pertence a terra. (...) todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família.
O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra.
O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo
o que fizer ao tecido, fará a si mesmo. Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão
intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por alguma
razão especial lhes deu o domínio sobre a terra (...). É o final da vida e o início da
sobrevivência.
Parte da resposta do Cacique Seattle ao Governo dos
Estados Unidos que tentava comprar as suas terras (1854).
vi
Este Trabalho é dedicado:
À minha Família, em especial aos meus pais Eitor e
Marisa;
À Daniela Rodriguez Mariano;
E a cidade de Santa Maria-RS.
vii
AGRADECIMENTOS
A realização deste trabalho só foi possível graças à colaboração de algumas
pessoas e Instituições as quais neste momento gostaria de agradecer.
- A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pela
bolsa de estudo concedida durante toda a realização deste curso;
- Aos meus pais Eitor e Marisa e irmãos Alessandro e Leandro, pela família unida
que somos;
- À Daniela Rodriguez Mariano pelo amor e carinho, pois mesmo em outra cidade
esteve sempre ao meu lado em todos momentos deste trabalho;
- À minha orientadora Profª. Drª. Maria da Graça Barros Sartori, pelo incessante
apoio, auxílio e valiosas orientações em todas as etapas deste trabalho;
- Ao Profº. Drº. Pedro Roberto Azambuja Madruga do Curso de Geomática-
UFSM, e Vanderlei Secretti pelo indispensável auxílio no processamento da imagem
termal;
- A Érika Collischonn, pela valiosa conversa sobre processamento de imagens
termais e empréstimos de materiais bibliográficos;
- A Regina Saydelles, Gelson Amarante, Maria Olívia Sá, Antão Rodriguez da
Silva, Adão Pereira, Miraci Pereira, os vigias do Cemitério Municipal de Santa Maria,
os Sargentos e oficiais da 6ª BIA, o amigo Marcelo Hoer Martinez, José Carlos
Bornhort, Nora Dotto, Victor Vanir da Silva do Centro de encomendas dos Correios, o
Tenente Weber e o Sargento Siqueira do Corpo de Bombeiros de Santa Maria, Ângelo
Roberto S. Montero, a vice-diretora da Escola Estadual Coronel Pilar Lis Venturini e os
porteiros Claudir e Everson Freitas, Maria Maciel, Paula Cassol do Cemitério Santa Rita
de Cássia, o Capitão Elton Colussi do Grupamento da Polícia Rodoviária Estadual de
Santa Maria-RS e a dona Marlene do Posto Santa Lúcia em Camobi, que permitiram a
instalação dos mini-abrigos meteorológicos em suas residências e Instituições, bem
como pelas coletas da temperatura do ar, sem os quais a etapa mais importante deste
trabalho não se realizaria.
- Aos colegas do Laboratório de Estudos Ambientais (L.E.A.) do Curso de
Geografia da UFSM.
viii
SUMÁRIO
Mensagem..........................................................................................................................v
Dedicatória.......................................................................................................................vi
Agradecimentos...............................................................................................................vii
Lista de Quadros...............................................................................................................xi
Lista de Figuras...............................................................................................................xii
Lista de Anexos..............................................................................................................xiv
Resumo............................................................................................................................xv
Abstract...........................................................................................................................xvi
CAPÍTULO I:................................................................................................................01
1 – INTRODUÇÃO.......................................................................................................01
2 – OBJETIVOS............................................................................................................08
2.1 - Objetivo Geral...................................................................................................08
2.2 - Objetivos Específicos........................................................................................08
CAPÍTULO II:...............................................................................................................10
3 – REVISÃO DA LITERATURA...............................................................................10
3.1 - Do Sítio e do Espaço Urbano............................................................................10
3.2 - Do Clima Urbano..............................................................................................15
3.3 - Das Características do Clima Urbano...............................................................22
3.4 - Das Características das Ilhas de Calor Urbano.................................................27
3.5 - Das Escalas de Abordagens do Clima...............................................................40
3.6 - Da Dinâmica Atmosférica.................................................................................50
3.6.1 - A Circulação Atmosférica da América do Sul na Escala Zonal.....................51
3.6.2 - A Dinâmica Atmosférica Secundária na Região Sul do Brasil......................53
3.7 - Do Sensoriamento Remoto................................................................................59
3.7.1 - Do Sensoriamento Remoto aplicado aos estudos Climáticos........................62
ix
3.7.2 - Do Sensoriamento Remoto Aplicado aos estudos de Campo Térmico e das
Ilhas de Calor Urbano......................................................................................................64
CAPÍTULO III:.............................................................................................................73
4 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..........................................................73
4.1 - Primeira Fase.....................................................................................................74
4.2 - Segunda Fase.....................................................................................................76
4.2.1 - A análise espacial...........................................................................................77
4.2.2 - A análise do campo térmico e das condições atmosféricas............................79
4.2.2.1 - O emprego de imagens de satélite na identificação do campo térmico e
da(s) ilha(s) de calor urbano............................................................................................81
4.2.2.2 - Os levantamentos de campo das temperaturas do ar...................................85
4.3 - Terceira Fase.....................................................................................................96
CAPÍTULO IV:.............................................................................................................97
5 - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA..........................................................................97
5.1 - Aspectos históricos e funcionais.......................................................................97
5.2 - Os sistemas atmosféricos regionais e o clima da região de Santa Maria........100
5.3 - Os condicionantes na configuração do campo térmico e da(s) ilha(s) de calor
urbano em Santa Maria..................................................................................................111
5.3.1 - Os Condicionantes Geoecológicos...............................................................111
5.3.2 - Os condicionantes Geourbanos....................................................................117
CAPÍTULO V:.............................................................................................................125
6 – ANÁLISE DOS RESULTADOS..........................................................................125
6.1 - Análise das condições atmosféricas: Tipos de Tempo dos dias que antecederam
o imageamento termal no dia 19/06/2002.....................................................................125
6.2 - O Campo Térmico de Superfície no dia 19/06/2002: Níveis Mesoclimático e
Topoclimático................................................................................................................130
6.2.1- Identificação e Análise do Campo Térmico de Superfície a nível
Mesoclimático...............................................................................................................131
6.2.2- Identificação e Análise do Campo Térmico de Superfície a nível
Topoclimático................................................................................................................136
6.3 - Análise dos Experimentos de Campo..............................................................149
x
6.3.1 - Experimentos de campo no dia 04/08/2004: Análise das Condições
Atmosféricas..................................................................................................................149
6.3.2 - Experimentos de Campo do dia 04/08/2004: Análise do Campo Térmico e
das Ilhas de Calor Urbano sob condições de Tempo de fase Pré-Frontal.....................154
6.3.3 - Experimentos de Campo do dia 10/08/2004: Análise das Condições
Atmosféricas..................................................................................................................168
6.3.4 - Experimentos de Campo do dia 10/04/2004: Análise do Campo Térmico e
das Ilhas de Calor Urbano sob Condições de Tempo de Domínio Polar......................173
CAPÍTULO VI:...........................................................................................................187
7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................187
CAPÍTULO VII:..........................................................................................................194
8 – BIBLIOGRAFIA...................................................................................................194
ANEXOS.......................................................................................................................219
xi
LISTA DE QUADROS
QUADRO 01: Mudanças climáticas produzidas pela cidade..........................................25
QUADRO 02: Exemplos de ilhas de calor urbano de forte intensidade.........................36
QUADRO 03: Aplicações do sensoriamento remoto em estudos de clima urbano........67
xii
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01: Localização da área de estudo e situação da cidade no RS.........................7
FIGURA 02: Representação da atmosfera urbana...........................................................27
FIGURA 03: Perfil da Ilha de calor urbana.....................................................................28
FIGURA 04: Secção Transversal de uma Ilha de Calor Urbano.....................................32
FIGURA 05: Circulação atmosférica na América do Sul: Centros de Ação...................52
FIGURA 06: Sistemas de Circulação Atmosférica Perturbada na Região Sul...............57
FIGURA 07: Princípio físico do Sensoriamento Remoto...............................................61
FIGURA 08: Albedos dos Materiais Urbanos.................................................................70
FIGURA 09: Dimensão do pixel TM e seu recobrimento em ambiente urbano e
rural..................................................................................................................................71
FIGURA 10: Fotografia do mini-abrigo meteorológico..................................................87
FIGURA 11: Localização dos Pontos na Rede Fixa de Observação na Malha Urbana de
Santa Maria-RS................................................................................................................89
FIGURA 12: Histogramas representativos da participação dos Sistemas atmosféricos na
região de Santa Maria, RS.............................................................................................103
FIGURA 13: Mapa hipsométrico de Santa Maria e municípios vizinhos.....................113
FIGURA 14: Quadro Geoecológico de Santa Maria-RS...............................................115
FIGURA 15: Mapa da Densidade Populacional Urbana de Santa Maria......................119
FIGURA 16: Mapa de Uso e Ocupação do Solo Urbano de Santa Maria.....................120
FIGURA 17: Análise das condições meteorológicas na semana que antecedeu e no dia
do imageamento realizado pelo satélite (dias 13 à 19/06/2002)....................................127
FIGURA 18: Imagem do Satélite GOES-8, Infravermelho, do dia 19/06/2002 às 9hs
local (horário aproximado do imageamento termal do Landsat 7ETM+).....................129
FIGURA 19: O campo térmico de superfície da área de estudo ao nível Mesoclimático:
estimado a partir da Banda Termal do Satélite Landsat 7 ETM, do dia 19/06/2002.....132
xiii
FIGURA 20: O campo térmico de superfície da área de estudo ao nível Topoclimático:
estimado a partir da Banda Termal do Satélite Landsat 7 ETM+, do dia
19/06/2002.....................................................................................................................138
FIGURA 21: Divisão Administrativa dos bairros de Santa Maria-RS..........................138
FIGURA 22: Condições atmosféricas entre os dias 01 e 04/08/2004...........................151
FIGURA 23: Imagem do Satélite GOES-12, infravermelho, do dia 04/08/2004 às 18h
(GMT)............................................................................................................................153
FIGURA 24: O campo térmico de Santa Maria-RS, do dia 04/08/2004 (A: 9h, B: 12h e
C: 15h)...........................................................................................................................155
FIGURA 25: O campo térmico de Santa Maria-RS, do dia 04/08/2004 (A: 18, B:
21h)................................................................................................................................164
FIGURA 26: Análise das condições atmosféricas nos dias 05 a 10/08/2004...............169
FIGURA 27: Imagem do Satélite GOES-12, no infravermelho, do dia 10/08/2004 às
16h (GMT).....................................................................................................................172
FIGURA 28: O campo térmico de Santa Maria-RS, do dia 10/08/2004 (A: 09h, B: 12h,
C: 15h)...........................................................................................................................174
FIGURA 29: O campo térmico de Santa Maria-RS, do dia 10/08/2004 (A: 18h, B:
21h)................................................................................................................................182
xiv
LISTA DE ANEXOS
ANEXO I - Temperaturas do Ar do dia 10/08/2004 – a partir da Rede Fixa de
Observação....................................................................................................................220
ANEXO II - Temperaturas do Ar do dia 10/08/2004 – a partir da Rede Fixa de
Observação....................................................................................................................221
xv
RESUMO
Dissertação de Mestrado
Programa de Pós-Graduação em Geografia e Geociências
Universidade Federal de Santa Maria
ESTUDO DO CAMPO TÉRMICO E DAS ILHAS DE CALOR URBANO EM SANTA
MARIA-RS
Autor: Alexandre Pistoia Saydelles
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria da Graça Barros Sartori
Data e Local da Defesa: Santa Maria, 29 de Março de 2005.
Este trabalho tem como objetivo analisar o campo térmico e as ilhas de calor urbano de Santa
Maria e seu entorno, relacionando seus comportamentos térmicos e espaciais através da
interação das variáveis urbanas e naturais, frente à imposição de tipos de tempos oriundos de
condições sinóticas de fase Pré-Frontal e de Domínio Polar, no inverno. O canal de percepção
climática termodinâmico do Sistema Clima Urbano proposto por Monteiro (1976) serviu de
embasamento teórico-metodológico preliminar e na tentativa de se alcançarem os objetivos
propostos o trabalho foi desenvolvido em três fases. A primeira consistiu na elaboração dos
objetivos da pesquisa. A segunda subdivide-se em dois momentos, que consistem na análise
espacial, através da elaboração de cartas temáticas, que caracterizaram as variáveis
geoecológicas e geourbanas da área estudada. E a análise do campo térmico, a meso e
topoclima na qual empregou-se a imagem do Satélite Landsat 7 ETM, do dia 19/06/2002. No
estudo das ilhas de calor urbano foram realizados experimentos de campo junto à malha
urbana, onde foram distribuídos 19 mini-abrigos meteorológicos para a mensuração das
temperaturas do ar nos horários das 09, 12h, 15h, 18 e 21h, nos dias 04/08/2004 e 10/08/2004.
As informações sobre a temperatura do ar foram espacializadas em cartogramas isotermais
através do programa Surfer6. Na definição dos tipos de tempo nos dias da imagem termal e
das observações de campo foram elaborados gráficos de análise rítmica com dados
meteorológicos diários obtidos na Estação Meteorológica de Santa Maria e imagens do
Satélite GOES-E. A terceira fase deste trabalho consistiu na análise dos resultados a partir da
interpretação da cartografia térmica digital de superfície, onde se constatou que os fatores de
ordem geográfica (relevo, vegetação e altimetria) aliado aos usos dos solos rurais controlam
as respostas térmicas mesoclimáticas. A maior diversificação das respostas térmicas deu-se a
topoclima em virtude dos fatores naturais e urbanos e pelo posicionamento do Sol no horário
do imageamento, que definiram quatros situações térmicas distintas sendo: Áreas mais
aquecidas, com temperaturas entre 17° e 19°C; Áreas com temperaturas moderadas, entre
15° e 18°C; Áreas com temperaturas mais brandas, entre 13° e 17°C; e Áreas com
temperaturas baixas, entre 10° e 16°C. Na análise dos experimentos de campo, constatou-se
que no primeiro momento em virtude da atuação do “Vento Norte” na dissipação das
respostas térmicas não houve a formação de significativas “Ilhas de Calor Urbano” (ICU). No
entanto, no segundo dia sob condições sinóticas de domínio de Polar, a cidade registrou a
formação de (ICU) de elevada magnitude em todos os horários de observação, bem como a
maior amplitude térmica centro-periferia de 10°C às 12h. Assim, pode-se afirmar que a
imposição dos sistemas atmosféricos regional atua diretamente na definição do campo térmico
e na formação das (ICU), devendo ser considerado para efeito de um melhor planejamento
urbano e no maior entendimento das variáveis climáticas locais.
xvi
ABSTRACT
Dissertação de Mestrado
Programa de Pós-Graduação em Geografia e Geociências
Universidade Federal de Santa Maria
THERMAL FIELD AND URBAN HEAT ISLANDS ESTUDY IN SANTA MARIA-RS
Autor: Alexandre Pistoia Saydelles
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria da Graça Barros Sartori
Data e Local da Defesa: Santa Maria, 29 de Março de 2005.
The objective of this work was to analyze the thermal field and the urban heat islands in Santa
Maria and its surroundings, relating their thermal and spatial behaviors throughout both urban
and natural interaction, facing the imposition of types of weather originated from Prefrontal
Phase and Polar Domain atmospheric conditions, during the winter. The Thermal Dynamic
Urban Weather System climatic perception channel, indicated by Monteiro (1976), was used
as preliminary theoretical-methodological foundation. The study was developed in three
phases. The first one was centered in elaborating the research goals. The second one was
divided into two parts that consisted in the spatial analysis by elaborating thematic mapper,
with the objective of making it possible to characterize geo-ecological and geo-urban variants
inside the area in study, also in the analysis of the thermal field, in the MESO and TOPO
weather scales, using image from the Landsat 7 ETM Satellite, on 06/19/2002. Field
experiments inside the city were made in order to study the urban heat islands, in which 19
mini meteorological shelters were distributed with the objective of measuring the air
temperature at 09h, 12h, 15h, 18h and 21h, on 08/04/2004 e 08/10/2004. Information on the
air temperature was spatialized in isothermal cartograms over the Surfer6 program.
Rhythmical analysis charts with daily meteorological data taken from the Santa Maria
Meteorological Station, plus images from the GOES-E Satellite were elaborated to defined the
types of weather traced in the days of the thermal image and from field observation. The third
phase of this work consisted in the analysis of the results from the interpretation of the digital
thermal cartography of surface, in which was possible to discern that the factors relief,
vegetation, altimetry and use of rural soils control the mesoclimatic thermal responses. The
greatest diversification in thermal responses detected concerned the topoclimate, due to the
natural and urban factors, also to the Sun position during the imaging time, which have
defined four distinct thermal situations: Warmer areas, with temperatures between 17° and
19°C; Moderate temperature areas, between 15° and 18°C; Mild temperature areas, between
13° and 17°C; and Lower temperature areas, between 10° and 16°C. Analysing the field
experiments, it was possible to discern that on 08/04, due to the “North Wind” action in the
dissipation of the thermal responses, there was no significant formation of “Urban Heat
Islands” (UHI). Although, on the second day (08/10), under summarized Polar Domain
conditions, the city registered UHI formation of high magnitude at every hour of observation,
as well as the highest center-periphery thermal amplitude (10°C, at 12h). This way, it is
possible to assert that the imposition of regional atmospheric systems acts directly in the
definition of the thermal field and in the UHI formation, therefore being considered to
effectuate a better urban planning and a greater understanding of the local climatic variants.
CAPÍTULO I
1 - INTRODUÇÃO
A partir da Revolução Industrial ocorrida na Europa no século XVIII,
evidenciou-se no mundo inteiro o processo de urbanização e crescimento
das cidades.
No entanto, a intensidade do adensamento urbano e populacional
atingiu seu auge somente do século XX, caracterizando-se como o século
da urbanização, através do desenvolvimento do capitalismo financeiro,
onde as cidades apresentam o fenômeno da formação das metrópoles e
megalópoles, responsáveis pela interligação de um conjunto de cidades
através da expansão de suas malhas urbanas.
Segundo dados do relatório do desenvolvimento humano (ONU,
1995), a taxa de urbanização no início da Revolução Industrial não passava
de 2%, em 1960 a população que vivia em cidades atingiu 34% e 44% em
1992, sendo que já no início do século XXI a população urbana mundial
deverá superar os 50%.
O processo de urbanização ocorrido nos países desenvolvidos deu-se
de forma lenta, gradual e planejada, porém, nos países subdesenvolvidos
ocorreu de forma rápida e em geral sem nenhuma orientação.
No caso do Brasil, este acelerado crescimento urbano ocorreu não
apenas pelo crescimento vegetativo da população, mas principalmente pelo
êxodo rural, responsável tanto pela expansão das grandes cidades, quanto
pelo surgimento e evolução de inúmeras outras cidades de médio e pequeno
Capítulo I - Introdução
2
porte. Para Santos (1991, p.42) “das vinte e seis cidades mundiais com
mais de cinco milhões de habitantes em 1980, dezesseis estão nos países
subdesenvolvidos e por volta do ano 2000 das sessenta cidades com essa
população no mundo inteiro, quarenta e cinco estarão no terceiro mundo.”
Assim, pode-se afirmar que, no decorrer do processo da evolução
humana como sociedade, as cidades vieram a se constituir nos principais
centros das atividades humanas. Tornaram-se palco de intensas relações
políticas, econômicas e comerciais, as quais proporcionaram o
desenvolvimento de extensos aglomerados humanos e urbanos, com
formas, funções e estruturas condizentes a estas atividades.
No entanto, os fluxos de pessoas, bens, capitais e mercadorias
existentes e originadas através das relações de produção e reprodução
econômica, transformaram e degradaram o espaço ambiental-natural e
urbano. Assim, conforme Lombardo (1985, p.17), “a cidade caracteriza-se,
por ser a maior expressão social do espaço produzido, transformada e
adaptada para atender as necessidades dos seres humanos”.
Desta forma, a acelerada urbanização engendrou consideráveis
alterações na atmosfera urbana, o que levou inúmeros pesquisadores a
observar que o ambiente das cidades torna-se menos sadio numa proporção
diretamente oposta a intensificação da expansão urbana.
Neste aspecto, segundo Mendonça (1994, p.7):
Ao construir cidades os homens engendram
enorme quantidade de novos materiais,
equipamentos e seres vivos no ambiente natural
originando um novo ambiente, e que a
intensidade das alterações imprimidas no
ambiente precedente será razão direta da
Capítulo I - Introdução
3
qualidade e quantidade dos elementos nele
introduzidos.
Sendo assim, os efeitos resultantes destas transformações no meio
ambiente afetarão diretamente a população local causando-lhes sensação de
desconforto ambiental, pois conforme observa Santos (1981,p.43) “as
condições ambientais das cidades quando são ultrajadas, criam uma
natureza hostil”.
Estas alterações causadas no espaço natural pelas cidades
proporcionam a formação de um clima urbano e de vários microclimas
urbanos, derivados, principalmente, das seguintes alterações no ambiente
físico-natural: retirada da cobertura vegetal e substituição por áreas
construídas; introdução de novas formas no relevo; concentração de
edificações (verticalização da topografia urbana), que em conjunto
aumentam a rugosidade urbana; concentração de equipamentos e pessoas
que através das atividades diárias liberam calor antropogênico na atmosfera
aumentando a temperatura do ar; impermeabilização do solo; canalização
do escoamento superficial; lançamento concentrado e acumulado de
partículas e gases na atmosfera pela combustão dos veículos e indústrias; e
produção de energia artificial (Geiger, 1961; Mendonça, 1994; Sant’anna
Neto & Zavatini, 2000).
Assim, estas transformações irão se refletir diretamente no clima
urbano, alterando, sobretudo os níveis de umidade do ar e precipitações, o
balanço térmico urbano e na formação de ilha(s) de calor. As trocas de
energia entre o centro e a periferia das cidades alteram a circulação dos
ventos, dando origem a um ambiente muitas vezes insalubre e inóspito ao
pleno desenvolvimento das atividades humanas, comprometendo a
Capítulo I - Introdução
4
sensação de bem–estar e o conforto térmico da população, bem como a
qualidade do ar.
A maior importância atribuída ao estudo da(s) ilha(s) de calor urbano
pode ser compreendida quando se observa, conforme Oke (1978, p.254),
que “o ar na camada urbana é usualmente mais quente que nas áreas
vizinhas. Este efeito de ilha de calor urbano é o mais bem documentado
exemplo de modificação climática involuntária”.
Em locais de latitudes médias ou de clima temperado, a ilha de calor
urbano pode ter um efeito benéfico, uma vez que reduz a sensação de
desconforto térmico gerado pelas baixas temperaturas no inverno, bem
como o consumo de energia utilizada na geração de aquecimento artificial.
Mas, segundo Oliveira (1991, p.37), “constitui-se em ameaça à saúde
humana nos climas tropicais, porque a temperatura média do ar pode
atingir valores insuportáveis”.
Assim, no tocante a estas alterações no ambiente natural das cidades,
o presente trabalho traz como proposta a análise das oscilações das
temperaturas da superfície e do ar e das ilhas de calor urbano em Santa
Maria-RS, frente à imposição de dois tipos de tempos típicos do período de
inverno na região, porém contrastantes quanto às características de seus
elementos meteorológicos. O primeiro sob condições sinóticas de domínio
Pré-Frontal, com o estabelecimento de um “vento norte” de forte
intensidade, e o segundo sob domínio de uma Massa Polar Atlântica
(M.P.A.), que conferiu a região central do RS, tempo bom, céu limpo,
calmaria e máxima insolação.
Desta forma, na tentativa de se analisar o ajustamento da cidade em
estudo através de suas respostas térmicas frente à atuação dos sistemas
Capítulo I - Introdução
5
atmosféricos regionais, esta dissertação foi estruturada através de cinco
capítulos seqüenciais.
O capítulo I consistiu na elaboração dos objetivos a serem alcançados
pelo estudo, os quais nortearam todo o desenvolvimento do mesmo, muitos
dos quais construídos a partir da vivência na realidade local.
No capítulo II, realizou-se um amplo levantamento bibliográfico a
cerca da temática em questão, onde se buscou tanto na literatura nacional
como na internacional as bases e argumentações sólidas a respeito dos
conceitos sobre todos os temas envolvidos no estudo, entre eles: o clima
urbano, o campo térmico das cidades e as ilhas de calor e a utilização da
termografia infravermelha na climatologia urbana.
O capítulo III consistiu na elaboração dos procedimentos
metodológicos empregados no desenvolvimento da pesquisa. Nesta etapa,
foram definidas as técnicas empregadas no processamento da imagem
termal utilizada na interpretação do campo térmico de superfície, bem
como na elaboração dos métodos utilizados nos experimentos de campo
junto à malha urbana, na obtenção das informações sobre o comportamento
das temperaturas do ar.
O capítulo IV correspondeu à caracterização geográfica da área em
estudo, a partir da qual foram enquadradas às características geourbanas e
geoecológicas da cidade e parte de seu entorno, indispensáveis ao
entendimento de seu campo térmico.
O capítulo V correspondeu às análises e discussões dos resultados
propriamente dito, onde se procurou sintetizar as informações do campo
térmico com seus condicionantes espaciais, a partir de duas etapas lógicas e
seqüenciais. A primeira consistiu na análise e interpretação do campo
Capítulo I - Introdução
6
térmico de superfície ao nível mesoclimático e topoclimático, através de
uma imagem termal do satélite Landsat 7 ETM + do dia 19/06/2002 (banda
6); A segunda, no estudo do campo térmico e das ilhas de calor urbano,
frente à imposição de dois sistemas atmosféricos na região, através de
dados obtidos em experimentos de campo. Estes, por sua vez, realizados a
partir de uma rede fixa de observação, onde foram instalados 19 mini-
abrigos meteorológicos por toda a área urbana em estudo.
O capítulo VI consistiu nas considerações finais sobre o estudo
realizado, buscando sistematizar os resultados obtidos, enfatizando as
principais características e configurações do campo térmico e das ilhas de
calor urbano, sob a atuação dos dois sistemas atmosféricos estudados, na
tentativa de gerar subsídios que auxiliem no planejamento urbano e
ambiental da cidade.
A realização desta pesquisa foi motivada pelo fato de Santa Maria
ainda carecer de investigações desta natureza, salvo os experimentos
realizados por Sartori (1979), que atestaram a ocorrência deste fenômeno
em situações sinóticas pré-frontais, e também porque os efeitos da(s) ilha(s)
de calor, entre outros fatores, são considerados responsáveis pela qualidade
da vida e, principalmente, pelo conforto térmico de seus habitantes.
A cidade de Santa Maria, objeto deste estudo, está situada na região
central do Estado do Rio Grande do Sul, na denominada Depressão
Periférica Sul-rio-grandense, delimitada pelas coordenadas geográficas
29°39’53” a 29°43’56” de Latitude Sul e 53°50’22” a 53°45’ de Longitude
Oeste (Figura 1).
Capítulo I - Introdução
7
54°15’20” 52’20” 42’30”
050100 300 500 metros
50’
47’30”
45’
228 0
228 456
684Km
Escala aproximada
N
N
40’00”
42’30”
29°45’00”
Elaborador: Alexandre Pistoia Saydelles
FIGURA 1: Localização da área de estudo e situação da cidade no RS.
Capítulo I – Introdução
8
2- OBJETIVOS
Diante das considerações já mencionadas sobre as alterações impostas
ao ambiente natural pelo desenvolvimento das atividades humanas nas
cidades, bem como da importância de se considerar a imposição dos
sistemas atmosféricos de atuação regional nas respostas térmicas das áreas
urbanas, traçaram-se os seguintes objetivos que permitiram desenvolver as
diretrizes necessárias ao pleno desenvolvimento desta pesquisa.
2.1- OBJETIVO GERAL
Analisar o campo térmico e o fenômeno das ilhas de calor urbano de
Santa Maria-RS e seu entorno, relacionando suas oscilações térmicas e
espaciais a partir da interação das variáveis urbanas e naturais, frente à
imposição de tipos de tempos oriundos de condições sinóticas de fase Pré-
Frontal e de Domínio Polar, no inverno.
2.2- OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Espacializar os valores de temperaturas do ar intra-urbano, obtidos
em experimentos de campo, através de cartas isotérmicas;
- Analisar e interpretar o campo térmico da superfície urbana e seu
entorno, através do emprego da termografia infravermelha termal;
Capítulo I – Introdução
9
- Relacionar as oscilações do campo térmico da(s) ilha(s) de calor
urbano com a dinâmica atmosférica regional, através da análise das
condições atmosféricas regionais no período correspondente à imagem de
satélite e às observações de campo, no inverno.
CAPÍTULO II
3. REVISÃO DA LITERATURA
3.1 – Do Sítio e do Espaço Urbano
Através do processo da urbanização, as cidades constituíram-se no
principal cenário do desenvolvimento das relações humanas. Ambiente em
que se processam as relações sociais, econômicas e culturais de uma
determinada época e sociedade, onde os processos de produção provocam
constantes modificações no espaço urbano e por conseqüência no clima
urbano.
Assim, para melhor compreender o ambiente climático interno das
cidades, é indispensável o entendimento das complexas relações existentes
entre seu sítio urbano e as diversas funções desenvolvidas no espaço
urbano (expressas através do uso e ocupação do solo urbano), na análise
climática local e no planejamento urbano.
A maioria dos estudos relacionados ao clima urbano desenvolveram-
se sem considerar as diferentes características do espaço urbano, sendo que
na identificação das diferenças termo-higrométricas eram traçadas isolinhas
considerando a cidade como um todo. Mendonça (1994, p. 24) afirma que
“poucos estudos se basearam no detalhamento prévio das diferenças do
sítio e do uso do solo urbano como suporte para a compreensão da
formação do clima derivado dos diferentes arranjos espaciais da cidade”.
Capítulo II – Revisão da Literatura
11
Monteiro (1990) também enfatiza a importância do conhecimento das
particularidades do sítio e do espaço urbano decorrente na compreensão da
análise climática intra-urbana, bem como a detalhada representação
cartográfica como suporte ao estudo do clima urbano.
A caracterização e identificação dos elementos que compõem o
cenário das relações do ambiente urbano revestem-se de extrema
importância, uma vez que, quanto mais detalhada for, mais subsídios
fornecerá para a definição dos agentes causadores e/ou modificadores do
clima da cidade, o que possibilitará uma intervenção no ambiente urbano o
mais consciente possível.
Conforme Mendonça (1994, p. 24):
A formação de condições climáticas intra-
urbanas, derivadas diretamente da
heterogeneidade tanto do sítio quanto da
estruturação e funcionalidade urbanas, gerando
paralelamente ao clima da cidade (clima
local/urbano), bolsões climáticos intra-urbanos
diferenciados (ilhas de calor, ilhas de frio,
mesoclimas, topoclimas e microclimas) carece
ainda de mais atenção dos estudiosos do clima das
cidades.
Neste sentido, inúmeros pesquisadores demonstraram esta
preocupação com o detalhamento do embasamento geográfico para o
estudo do clima urbano no Brasil, sendo os mais expressivos os trabalhos
realizados por Monteiro (1976, 1990), Lombardo (1985), Sampaio (1981),
Mendonça (1994), Sartori (1979, 2000). No entanto, com exceção de
Sartori (Op. Cit.) e Mendonça (Op. Cit), que estudaram o clima de cidades
de porte médio, Santa Maria-RS e Londrina-PR respectivamente, os demais
Capítulo II – Revisão da Literatura
12
traçaram diretrizes e considerações sobre o detalhamento do ambiente
interno de áreas metropolitanas, onde os fenômenos e elementos do espaço
urbano adquirem grandes dimensões, que ao serem transferidos para os
estudos do clima urbano de cidades de médio e pequeno porte, propiciam
uma interpretação na maioria das vezes não condizentes com a realidade
das mesmas. Dai a importância do conhecimento específico da realidade
intra-urbana e regional de cada cidade, uma vez que cada ambiente, em
decorrência do sítio e das diversas funções desenvolvidas pelo espaço
urbano, gera um clima local não idêntico a outras situações.
Conforme Geiger (1961, p. 508):
De maneira geral pode dizer-se que o clima da
cidade depende em grande parte da situação
topográfica da mesma (...). É evidente que, numa
situação fechada e abrigada dos ventos, num vale,
o clima de dentro e de fora da cidade apresentará
naturalmente maiores diferenças do que se a
cidade estiver situada num planalto exposto ao
vento. Situações de encosta ou à beira-mar
favorecem determinadas características do clima
urbano. Quando se alargam as cidades e ainda
mais quando se criam novas cidades, dever-se-ão
de antemão tomarem linha de conta, mais do que
tem acontecido até hoje, as leis da climatologia
urbana que atualmente conhecemos.
Assim, o estudo e o conhecimento do sítio em que o espaço urbano
está assentado é pré-requisito para toda e qualquer ação para efeito de
planejamento urbano e análise climática das cidades, uma vez que o sítio
urbano assume importante papel nas diversas funções que o espaço urbano
apresenta.
Capítulo II – Revisão da Literatura
13
Neste sentido o sítio urbano, segundo Mayer (1975, p. 81):
Refere-se à área ocupada pela cidade. Dentre as
características de particular importância do sítio
contam-se: o relevo, a inclinação e a configuração
das áreas caracterizadas, ou não, por água e das
regiões costeiras; sua vulnerabilidade a
terremotos, deslizamentos de terra, inundações e
outras condições catastróficas; sua capacidade de
sustentação e sobrecarga, em relação ao leito de
rocha firme, à drenagem e as condições
microclimáticas.
Para Monteiro (1990), no entendimento das condições climáticas
intra-urbana a compreensão das características do sítio torna-se muito
peculiar, pois o mesmo acaba por influenciar tanto no que diz respeito aos
aspectos biológicos, como principalmente na atmosfera.
O conhecimento das feições topográficas do sítio é de extrema
importância nos estudos climáticos, porque em pequenas distâncias dentro
da própria estrutura interna das cidades existem significativas diferenças de
microclima, oriundos da morfologia do solo, presença ou não de vegetação
e principalmente ocasionada pela ocupação e pavimentação do solo,
gerando alterações térmicas que comprometem a qualidade de vida e o
conforto térmico das cidades.
O sítio urbano também é definido, conforme George (1983, p. 37),
“como o quadro topográfico no qual se enraizou a cidade, pelo menos em
suas origens”. Sendo assim, pode-se afirmar que o sítio urbano é o local
preciso da implantação inicial da cidade, tornando-se rapidamente herança
do passado.
Capítulo II – Revisão da Literatura
14
Monteiro (1990 b) afirma que qualquer análise de clima urbano
requer, necessariamente, uma observação detalhada tanto da tipologia do
sítio como dos modelos de morfologia urbana, bem como do imenso
espectro de relações que podem se configurar.
Entende-se que, para se realizar um estudo sistemático das cidades,
bem como de sua estrutura interna, torna-se indispensável o conhecimento
tanto dos aspectos físicos como dos processos conseqüentes das relações
sociais, pois as interações dos aspectos sócio-econômicos com o
embasamento natural produzem um espaço urbano em constante
transformação e dinamismo, tendo que ser entendido ao longo de suas
diferentes fases históricas.
Neste aspecto, a estrutura, a forma e a funcionalidade urbana estão
vinculadas aos aspectos morfológicos e topográficos do espaço urbano.
Assim, não se pode descartar a própria funcionalidade urbana,
desempenhada pelo espaço urbano em detrimento da complexa relação
sítio-edificações. Para Santos (1989, p. 212), “A morfologia do tecido
urbano é reflexo fiel de uma realidade econômica e social definida”.
Para Monteiro (1990), no estudo do clima de uma cidade é
indispensável penetrar no seu interior no sentido de compreendê-la sob o
aspecto social, agente produtor de uma acentuada gama de derivações
progressivas, a ponto de criar um novo ambiente, “edificando” um novo
contexto topográfico em decorrência do complexo e dinâmico caldo
cultural de uma determinada sociedade.
A cidade como forma materializada do trabalho social e do processo
de produção é também uma forma de apropriação do espaço urbano
produzido, que se expressa através do uso e ocupação do solo. Assim, para
Capítulo II – Revisão da Literatura
15
Carlos (1992, p. 122), “O processo de produção do espaço urbano é
desigual, e isto aparece claramente na paisagem através do uso do solo,
decorrente do acesso diferenciado da sociedade à propriedade privada da
terra”. Dentro dessa premissa, o espaço de uma cidade capitalista,
conforme Corrêa (1999, p. 7), “constitui-se de diferentes usos da terra
justapostos entre si”. Estes diferentes níveis de utilização do espaço intra-
urbano geram, conforme Santos (1981, p. 173), “duas ou diversas cidades
dentro da cidade”.
Assim, as diversas funcionalidades urbanas, expressas através do uso
do solo urbano, refletem as condições sócio-econômicas e culturais de uma
determinada sociedade, que aliadas à morfologia do sítio urbano, atua
decisivamente no processo gerador e modificador das condições climáticas
intra-urbanas, proporcionando a formação de um clima urbano e de vários
microclimas. Neste sentido, as características geo-ecológicas e urbanas não
podem passar desapercebidas no estudo do clima das cidades, pois,
conforme Monteiro (1990 b), o geógrafo pesquisador do clima urbano, ao
penetrar na trama urbana, deverá observar tanto a morfologia quanto os
diversos aspectos resultantes dos diferentes dinamismos da vida urbana.
3.2- Do Clima Urbano
Conforme já mencionado no sub-item anterior, através da expansão
das malhas urbanas, do adensamento populacional e urbano e da queima de
combustíveis fósseis entre outras atividades humanas oriundas do processo
de urbanização evidenciado no mundo inteiro, os seres humanos alteraram
Capítulo II – Revisão da Literatura
16
o ambiente natural e o clima das cidades, tornando-as, na maioria dos
casos, difíceis ao pleno desenvolvimento das atividades humanas nestas
áreas.
Assim, observa-se que, no intuito de expandir as áreas urbanas, os
seres humanos alicerçaram o desenvolvimento e o crescimento das mesmas
no emprego maciço de novos materiais e equipamentos, além do
adensamento populacional, contribuindo para a transformação do espaço
natural.
Conforme Spirn (1995, p.29), “À medida que as cidades crescem em
tamanho e densidade, as mudanças que produzem no ar, no solo, na água e
na vida, em seu interior e a sua volta, agravam os problemas ambientais
que afetam o bem-estar de cada morador”.
Diante destas situações, após a 2ª Guerra Mundial, surgiram inúmeros
estudos voltados à qualidade ambiental das cidades, na busca de sugerir
melhores condições de conforto e qualidade de vida a toda população.
Todos os trabalhos desenvolvidos sobre o clima urbano atestam que as
condições climáticas da cidade são extremamente diferenciadas em
comparação com o ambiente atmosférico do meio rural.
Oke (1978, p.247) afirma que “(...) em comparação com a paisagem
circunvizinha a cidade usualmente provoca um enrugamento, aquecimento,
e talvez ressecamento das condições de superfície”.
De acordo com Geiger (1961) e Chorley & Barry (1972), o contraste
térmico entre cidades e seu entorno rural se devem em decorrência da
maior produção direta de calor por combustão.
Os autores afirmam, também, que a partir do consumo de carvão as
grandes cidades alemães produziam um fornecimento médio de calor na
Capítulo II – Revisão da Literatura
17
faixa de 40 cal/cm²/dia, segundo as medições de radiação em Hamburgo,
antes de 1956. A radiação solar direta e a radiação difusa fornecem em
conjunto, num dia de dezembro ou janeiro, entre 34 a 50 cal/cm²/dia, e
estes cálculos atestam que a produção de calor doméstico liberado no
inverno é da mesma ordem de grandeza da radiação solar, e que mesmo no
verão não pode ser desprezado.
As más qualidades do ambiente atmosférico nas cidades são relatadas,
segundo Spirn (1995), desde o período romano, em que os odores de
cozinhas enfumaçadas, liberavam uma mescla de vapor e fuligem, gerando
desconforto e mal-estar.
No entanto, os primeiros estudos sobre o clima das cidades ou clima
urbano, foram realizados em Londres, em 1661, onde se constatou que a
poluição produzida pela queima de carvão provocava alterações na
temperatura do ar da cidade. Segundo Spirn (1995), desde 852 d.C.,
Londres já era conhecida pelo ar contaminado. Em 1787, também já se
falava do odor da cidade de Munique e sobre as condições de poluição do
ar, e após a Revolução Industrial foram constatadas modificações do clima,
devido à urbanização e a maior concentração de poluentes.
Em 1833, o químico Howard, em seu livro sobre o clima em Londres,
em três volumes, descreve a contaminação do ar e a ocorrência de
temperaturas mais elevadas na cidade do que nos arredores.
No entanto, a atmosfera urbana só foi mais detalhadamente estudada
no século XX, sobretudo por geógrafos e meteorologistas, em função da
acelerada urbanização e aumento da industrialização ocorrida no mundo
todo e, principalmente, após a 2ª Guerra Mundial. A partir daí,
intensificaram-se e multiplicaram-se os estudos sobre clima urbano,
Capítulo II – Revisão da Literatura
18
primeiramente na Europa Ocidental e posteriormente na América do Norte,
em especial sobre a evidente contaminação da atmosfera das cidades.
Em 1937, foi publicada a primeira obra intitulada de “O Clima da
Cidade”. Após pioneiros estudos realizados em Londres, várias pesquisas
foram empreendidas, principalmente em regiões de clima temperado e com
enfoque meramente meteorológico (Monteiro, 1976).
Conforme Geiger (1961), os métodos utilizados, antigamente, pelos
pesquisadores centravam-se na caracterização do clima urbano a partir de
uma série de observações simultâneas no ambiente intra-urbano e no
espaço rural circundante. Este tipo de observação dificilmente conseguia
eliminar a influência adicional da situação topográfica e da vegetação,
mesmo quando era possível homogeneizar as séries de observação.
O autor ainda afirma que somente a partir de 1929 os estudos
ganharam corpo, quando em Viena, com Wilhelm Schimdt, e em
Karlsruche, com Peppler, começaram a se realizar, concomitantemente,
trajetos, no intuito de mensurar os índices de temperatura do ar na cidade
por meio de automóveis, conseguindo-se voltar várias vezes pelo mesmo
ponto do campo de observação e eliminando-se a variação do tempo.
De modo geral, os estudos relacionados ao clima urbano, até
recentemente, foram colocados sob a perspectiva centrada na investigação
dos aspectos meteorológicos, constituindo-se fundamentalmente em avaliar
o índice de degradação do ambiente atmosférico gerado pela atividade
antrópica no espaço urbano (Monteiro,1976).
A exemplo desta vasta produção bibliográfica, tem-se a obra de
Chandler (1965), intitulada “The Climate of London”, que analisou
separadamente os elementos atmosféricos sobre pressão, tipos de tempo,
Capítulo II – Revisão da Literatura
19
ventos, insolação, massas de ar e frentes, não estabelecendo nenhuma
relação entre eles, e sob o viés meteorológico, o que em nenhum momento
desmerece sua obra, pois a mesma constitui-se num clássico da
climatologia urbana, a partir da qual desenvolveram-se inúmeros trabalhos.
Neste aspecto, várias críticas foram levantadas, sobretudo por
geógrafos e climatologistas, pois havia a necessidade de se caracterizar os
elementos constituintes do clima urbano. Entre eles Monteiro (1976, 1990),
que advoga a necessidade de paralelamente às análises meteorológicas
sobre a atmosfera da cidade, penetrar no interior da estrutura urbana,
tomando-a como um “fato geográfico”, altamente derivado das alterações
impostas pelas atividades antrópicas, e conduzida pelos processos
dinâmico-funcionais condicionados pelos aspectos de ordem econômica e
cultural de uma determinada época em que a sociedade está inserida.
Ao aplicar os princípios da teoria da representatividade sistêmica,
preconizada por Ludwig Von Bertalanffy, alicerçada na análise rítmica da
circulação atmosférica regional, através da identificação dos tipos de
tempo
1
, Monteiro (1976) propôs uma metodologia específica para o estudo
do clima das cidades, definindo-o de Sistema Clima Urbano (SCU).
A partir desta proposição teórico-metodológica, o clima urbano pode
ser definido, segundo Monteiro (1990, p.11), “como um sistema complexo,
aberto, adaptativo que, ao receber energia do ambiente maior no qual se
insere, a transforma substancialmente a ponto de gerar uma produção
exportada ao ambiente”.
O Sistema Clima Urbano – SCU, subdivide-se em três subsistemas: o
Termodinâmico, o Físico-Químico e o Hidrodinâmico, sendo que cada um
1
Apoiado na perspectiva do ritmo climático proposto por SORRE (1943).
Capítulo II – Revisão da Literatura
20
desses subsistemas corresponde, respectivamente, a um canal de percepção
climática: o Conforto Térmico, a Qualidade do Ar e o Impacto Meteórico.
Assim, ao lançar sua proposta teórico-metodológica, através de uma
abordagem geográfica, enfocando a circulação atmosférica regional para o
estudo do clima urbano, Monteiro (1976) proporcionou um novo rumo à
climatologia geográfica.
Neste aspecto, Mendonça (1994, p.10) afirma que “foi a partir da
concepção de dinâmica atmosférica e de sua inter-relação com as atividades
humanas, enquanto fator de causa e efeito de sua alteração, que o clima em
geral, e o urbano em particular, passaram a ser tratados sob um enfoque
mais geográfico”.
Outros importantes conceitos surgiram para a análise do clima urbano.
Oke (1978) introduziu o conceito do “Sky View Factor” (configuração de
céu ou fator céu visível), inicialmente utilizado na biologia para estudos da
radiação em áreas florestadas, e também utilizados por Olgyay (1973) para
estudos em ambientes arquitetônicos.
A adoção deste conceito em climatologia urbana serve para
caracterizar a chamada “geometria urbana”. O “Sky View Factor”,
constitui-se na quantificação do índice de “abertura” ou “fechamento” para
o céu de determinados pontos da superfície terrestres (neste caso áreas
urbanas), para que se realizem as trocas de energia naquele ponto. De
acordo com Mendonça (1994), o conceito de “Sky View Factor”,
relacionado com a cobertura da superfície urbana pelas edificações e
vegetação urbana, o efeito-oásis ou frescor, derivado de áreas verdes
urbanas e o papel da mistura dos solos, atua decisivamente na formação das
ilhas de calor.
Capítulo II – Revisão da Literatura
21
Neste sentido, Sakamoto (2001) afirma que as variações da
temperatura junto à superfície estão relacionadas com as variações na
disponibilidade de céu, as quais podem determinar variações térmicas
significativas, influenciando principalmente na intensidade da “ilha de
calor”.
No Brasil, também despontaram alguns estudos nesta perspectiva,
após a década de sessenta, quando a degradação da qualidade ambiental das
cidades já se fazia sentir na qualidade de vida de seus habitantes.
No entanto, somente a partir da década de setenta que as pesquisas
voltadas ao clima urbano no Brasil registram os primeiros trabalhos, entre
eles pode-se destacar os pioneiros desenvolvidos sob o enfoque da
climatologia geográfica: Sartori (1979), em Santa Maria-RS, Sampaio
(1981) em Salvador-BA, Lombardo (1985) em São Paulo-SP, Hasenack
(1986) em Porto Alegre-RS e Danni-Oliveira (1987) entre outros.
Porém, apesar de quase três décadas de estudos sobre a temática do
clima urbano, ainda é incipiente o conhecimento sobre a realidade climática
da maioria das cidades brasileiras, bem como o número de proposições
teórico-metodológicas para o estudo do clima urbano de cidades tropicais e
equatoriais ainda é muito pequeno.
Neste caso, um levantamento de dados realizados por Mendonça
(1994), com base em Monteiro (1976, 1984 e 1991), Lombardo (1985),
Imamura-Bornstein (1992), evidencia a baixa representatividade
bibliográfica da climatologia brasileira, frente à climatologia internacional.
Capítulo II – Revisão da Literatura
22
3.3 – Das Características do Clima Urbano
Os processos derivados da urbanização alteram as propriedades
térmicas e hidrológicas da superfície terrestre, que, por conseqüência,
modificam também o balanço de radiação na superfície das áreas urbanas.
Vários são os fatores que influenciam nas diferenças térmico-
higrométricas entre o urbano e as áreas rurais circunvizinhas, propiciando a
formação de um clima “tipicamente” urbano.
O aumento da temperatura do ar e formação do clima urbano se deve,
em grande parte, ao desenvolvimento das atividades humanas, como:
retirada da cobertura vegetal; aumento do fluxo de pessoas que liberam à
atmosfera calor antropogênico; adensamento das edificações e
pavimentação do solo, que aumentam o escoamento superficial diminuindo
a infiltração; alteração e introdução de novas formas de relevo;
concentração de veículos e indústrias que aumentam a produção artificial
de calor e o lançamento concentrado e acumulado de partículas e gases na
atmosfera, que criam profundas alterações na atmosfera local (Monteiro,
1976; Oke, 1982; Lombardo, 1985 , Mendonça, 1994, entre outros).
Como conseqüência destas alterações no meio natural, têm-se como
resultados os seguintes aspectos, conforme Ayoade (1991, p.300):
A radiação em ondas longas e as de ondas curtas
são reduzidas sobre as áreas urbanas. As
temperaturas elevam-se, mesmo quando diminui a
duração da insolação. A umidade é reduzida, mas
há um certo aumento na precipitação e também na
quantidade de nebulosidade. Os nevoeiros e
neblinas são mais espessos, ocorrendo com mais
freqüência e persistência, prejudicando a
Capítulo II – Revisão da Literatura
23
visibilidade. A turbulência cresce. Os ventos
fortes são desacelerados e os ventos fracos são
acelerados à medida que se movimentam nas
áreas urbanas.
Entre outros efeitos meteorológicos gerados pelas alterações do
espaço natural, há também os problemas da poluição do ar e do desconforto
térmico e ambiental decorrente. O adensamento das edificações oferece
resistência a livre circulação dos ventos, não permitindo que os mesmos
dispersem as sujeiras e os poluentes, bem como o calor.
Spirn (1995) afirma que na cidade, principalmente nas áreas centrais
que apresentam edificações mais elevadas e maior adensamento das
estruturas urbanas, é mais quente e menos ventilado que nas áreas
periféricas, que se apresentam geralmente com maior presença de
vegetação, sem edificações muito altas e menor adensamento urbano e
populacional. Em decorrência disto há um aumento da temperatura do ar
nessas áreas centrais, e como conseqüência um maior desconforto térmico
nos meses de verão e de consumo de energia, em virtude do uso diário do
ar-condicionado.
A autora ainda afirma que durante ondas prolongadas de calor há,
como conseqüência direta, um maior números de mortes nas áreas centrais
mais quentes do que nas áreas mais frescas dos subúrbios.
Conforme observa Chandler (1976), apud (Lombardo, 1996, p. 32):
Com a substituição das superfícies e formas
naturais pelas “artificiais”, o ser humano vem
modificando as propriedades físicas e químicas, e
os processos aerodinâmicos, térmicos,
hidrológicos e de intercâmbio de massa que
ocorre na camada limite atmosférica. Em
Capítulo II – Revisão da Literatura
24
conseqüência, as propriedades meteorológicas do
ar dentro e imediatamente acima das áreas
urbanas ficam profundamente modificadas
criando um distinto tipo climático, o clima
urbano.
As alterações climáticas produzidas pelas áreas urbanas variam de
cidade para cidade, em função da intensidade do uso do solo, do tamanho e
da densidade populacional e também das características geoecológicas,
estando sintetizadas no Quadro 1.
Através da taxonomia proposta por Oke (1976 e 1978), o clima urbano
pode estar compreendido dentro de duas escalas de ocorrência: a da “Urban
Boundary Layer” (Camada Limite Urbana), também denominada por
Givoni (1998) como “Urban Air Plume”. Esta Camada Limite Urbana é
definida, segundo Oke (1976), como sendo a parcela da atmosfera que se
encontra sobre uma área da superfície terrestre urbanizada, governada por
processo de escala local ou meso-escala.
Esta camada desenvolve-se acima do teto máximo dos elementos
urbanos, ou seja, das edificações, das estruturas viárias, representando a
interação da atmosfera com o conjunto da cidade. Sua localização e
características vão depender, principalmente, do vento regional e sua
espessura depende dos processos de aquecimento diário, aliado com as
condições de estabilidade da atmosfera.
Esta camada, conforme Givoni (1998, p. 242):
“(...) is more homogeneous in its properties over
the urban area at large. It is defined as that portion
of the Planetary Bondary Layer whose
Capítulo II – Revisão da Literatura
25
characteristics are affected by the presence of na
urban area at is lower bondary”.
Quadro 1: Mudanças climáticas produzidas pela cidade.
Elementos Comparação com a Zona Rural
Poluentes
- partículas sólidas 10 vezes mais
- bióxido de enxofre 5 vezes mais
- bióxido de carbono 10 vezes mais
- monóxido de carbono 25 vezes mais
Radiação
- total sobre a superfície
horizontal
15 a 20% menos
- ultravioleta, no inverno 30% menos
- ultravioleta, no verão 5% menos
- duração da radiação 5 a 15% menos
Nebulosidade
- cobertura de nuvens 5 a 10% a mais
- nevoeiro, no inverno 100% a mais
- nevoeiro, no verão 30% a mais
Precipitação
- quantidade total 5 a 10% a mais
- dias de chuva com 5 mm 10% a mais
- queda de neve 5% menos
- dias com neve 14% menos
Temperatura
- média anual 0,5 a 1,0ºC a mais
- mínimas de inverno 1,0 a 2,0ºC a mais
- aquecimento de graus-dia 10% menos
Umidade relativa
- média anual 6% menos
- inverno 2% menos
- verão 8% menos
Velocidade do vento
- média anual 20 a 30% menos
- movimentos extremos 10 a 20% menos
- Calmarias 5 a 20% a mais
Fonte: Landsberg (1970) In: Ayoade (1991, p. 301).
Adaptação: Saydelles, A.P.
Capítulo II – Revisão da Literatura
26
A outra escala de ocorrência é denominada de “Urban Canopy Layer”
(Camada de Cobertura Urbana ou “Dossel” urbano), situada abaixo da
Camada Limite Urbana, no interior da cidade, e desenvolve-se sob
determinadas condições meteorológicas.
A Camada de Cobertura Urbana é governada, segundo Oke (1976, p.
274), “por processos de micro-escala”, e abrange o ar que se encontra entre
a superfície do solo e o teto máximo dos elementos urbanos,
principalmente das edificações, podendo não ser encontrado sobre amplas
áreas verdes e abertas da cidade.
As características desta camada, conforme Oke (1976, p. 274),
“dependem principalmente dos materiais de construção e da geometria
urbana (disposição e dimensões – altura e largura das edificações e vias de
circulação em relação ao movimento aparente do sol.)”, representando,
dessa forma, as interações entre a atmosfera e os elementos urbanos.
Neste sentido, Givoni (1998, p. 242) afirma que:
The specific climatic conditions at any given point
within the canopy are determined by the nature of
the immediate surrondings. In particular, the
materials, geometry, and surface properties of the
structures around a given place modify the local
ambiente climate. Therefore the meteorological
conditions within the urban canopy are very
localized.
No entanto, sobre as áreas rurais circunvizinhas se forma, segundo
Sellers & Robinson (1986), a “Urban Plume”, resultante da área urbana
(Figura 2). Porém a precisa localização e dimensões desta camada
divergem em relação a Boundary e a Canopy Layer.
Capítulo II – Revisão da Literatura
27
Neste sentido, pode-se afirmar que a qualidade de vida no ambiente
urbano está diretamente vinculada aos processos que ocorrem dentro da
Camada de Cobertura Urbana, sendo estes dependentes da concentração
dos materiais introduzidos no espaço natural das cidades.
A camada atmosférica próxima à superfície terrestre apresenta, como
características, o resultado das interações entre estes dois meios.
Assim, é por meio deste complexo conjunto de inter-relações que o
clima urbano e suas derivações, como o fenômeno da ilha de calor, são
produzidos.
FIGURA 2: Representação da atmosfera urbana.
Fonte: Sellers, A.H. & Robinson, P.J. (1986, p. 291).
3.4 – Das Características das Ilhas de Calor Urbano
Considerada por muitos autores como “anomalia térmica”, o
fenômeno das ilhas de calor urbano constitui-se numa das mais notáveis
expressões climáticas, resultante das alterações impostas ao ambiente
urbano.
Capítulo II – Revisão da Literatura
28
Diversos estudos sobre o campo térmico das cidades, entre eles os de
Landsberg 1970, Oke 1978, Sampaio 1981, Jauregui 1984, Lombardo
1985, Danni-Oliveira 1987, Martinez 1991, Magee & Wendler 1999, têm
demonstrado que, independentemente da zona climática, nas áreas urbanas
a temperatura do ar é mais elevada do que nas áreas rurais circunvizinhas.
As intensas interações entre a atmosfera e a superfície terrestre
provocam particularidades nas características climáticas do centro da
cidade para a periferia. Segundo Oliveira (1987, p. 314), “as diferenças de
temperatura existentes entre a cidade e seu entorno (...), ocasionaram
diferenças de pressão entre zonas urbanas em que ocorrem as maiores
temperaturas e as áreas periféricas, onde ocorrem as menores
temperaturas”.
Em virtude dessas diferenças de pressão e de emissão de calor dentro
da cidade, há uma tendência de aumento da temperatura do ar da periferia
para o centro (Figura 3), bem como a alteração dos demais elementos
meteorológicos, como umidade do ar, velocidade do vento e precipitação.
FIGURA 3: Perfil da Ilha de calor urbana.
Fonte: Site da EPA.( Envitonment Protect Agency), 2003.
Capítulo II – Revisão da Literatura
29
No entanto, algumas áreas urbanas como um todo, ou em
determinadas partes do espaço intra-urbano, apresentam temperaturas
inferiores em relação às demais áreas, fenômeno denominado por Oke
(1982) de ilhas de frio ou frescor urbano.
Conforme Spirn (1995, p. 69):
A área central da cidade, com seus edifícios altos
e próximos uns dos outros, em ruas estreitas com
pátios confinados, forma tipicamente o centro da
ilha de calor. Ali, a capacidade térmica dos
edifícios e da pavimentação é maior, e menor a
circulação do ar. Parques ajardinados e vales de
rios, por outro lado, são pontos relativamente mais
frios dentro da ilha de calor.
Oke (1979) apud Carnahan & Larson (1990, p. 65), apresentou quatro
fatores de ocorrência das ilhas de calor urbano no âmbito da Urban
Boundary Layer (Camada Limite Urbana), que são:
a)- Calor Antropogênico dos telhados e das
aglomerações;
b)- Entrada do ar quente resultante da ilha de
calor na camada de cobertura urbana;
c)- Queda do fluxo de calor sensível da camada
estável de cobertura pela convecção de
penetração;
d)- Convergência do fluxo radiativo de ondas
curtas no ar poluído urbano. (tradução minha).
Estes aspectos são resultantes das interações que se processam no
âmbito da camada de cobertura ou “dossel” urbano (Canopy Layer), sendo
esta a responsável pela formação e caracterização das ilhas de calor.
Capítulo II – Revisão da Literatura
30
Neste sentido, diversos autores, entre eles Myrup (1969), Eriksen
(1978), Oke (1976, 1978, 1979), Ayoade (1991), Givoni (1998), também
apresentaram inúmeros fatores que contribuem para o desenvolvimento da
ilha de calor urbano, sendo:
Elevação do afluxo de radiação em decorrência da absorção de ondas
longas e reemissão pela atmosfera urbana poluída;
A capacidade térmica de calor e a condutividade das superfícies
urbanas, que acarretam absorção da radiação durante o dia e sua
liberação na atmosfera, à noite;
Redução da perda de radiação de ondas longas dos “canyons urbanos”,
devido à redução do seu Sky View Factor;
Maior absorção da radiação de ondas curtas devido ao efeito da
geometria dos canyons urbanos;
Secura das superfícies urbanas que implica em pouca energia usada na
evaporação, sendo a maior parte da energia utilizada para aquecer o ar;
Redução do resfriamento causado pela diminuição da evaporação,
devido à remoção da vegetação e à impermeabilização da superfície da
cidade;
Produção de calor antropogênico através da emissão de calor pelas
indústrias, trânsito (combustão de combustíveis fósseis), edifícios, e
metabolismo gerado pelo corpo humano;
Redução da perda de calor sensível devido à queda no fluxo dos ventos
por causa da fricção com as estruturas urbanas, reduzindo as trocas de ar
da cidade com o ar mais frio da zona rural circundante, afetando os
processos evaporativos que podem contribuir para os resfriamentos;
Capítulo II – Revisão da Literatura
31
Efeito de estufa da camada de poluição sobre as cidades. Há redução na
radiação terrestre infravermelha para o espaço à noite, de modo que a
energia fica conservada dentro da atmosfera urbana, abaixo da camada
de poluição;
Fonte de calor sazonal: calor oriundo das estruturas urbanas (edifícios,
casas...), no inverno, e calor lançado na atmosfera urbana pelos ar-
condicionados no verão.
Assim, a formação do fenômeno das ilhas de calor urbano está
relacionado com as atividades desempenhadas pelos seres humanos e com
a intensidade dos materiais e novos equipamentos empregados na expansão
das malhas urbanas (concreto, asfaltos, telhados,...), os quais absorvem e
conservam o calor proveniente da radiação solar, não utilizando-o para
executar nenhum outro processo e certamente alimentam positivamente o
aumento da temperatura do ar sobre as cidades.
No entanto, os corpos d’água e as superfícies com cobertura vegetal,
ao absorverem esta mesma radiação solar, utilizam sua maior parte nos
processos de fotossíntese e evapotranspiração, o que, obviamente resulta
numa maior perda de calor absorvido durante o dia.
Muitos estudos realizados sobre o fenômeno das ilhas de calor urbano
revelam que a diferença de temperatura do ar entre o centro da cidade e as
áreas periféricas apresenta-se mais pronunciado à noite, sob certas
condições atmosféricas de vento calmo e céu limpo, ou seja, sem a
presença de nuvens.
Neste sentido, Spirn (1995, p. 68) afirma que:
Durante à noite, o campo perde calor rapidamente
para o céu sem nuvens. A cidade esfria mais
Capítulo II – Revisão da Literatura
32
Ladeira Planície
Cume
Parque
Distrito
Come rcial
T
U
-
R
UrbanoSubu rbanoRural
T
E
M
P
E
R
A
T
U
R
A
D
O
A
R
lentamente: ela absorveu maior calor, e a
irradiação desse calor para o céu é inibido pelas
paredes paralelas dos edifícios. Pela manhã, a
diferença de temperatura entre a cidade e o campo
é mínima e pode mesmo ser eliminada, mas, na
metade da tarde, a cidade fica mais quente
novamente.
Para Oke (1978), a área central da cidade com presença de edificações
mais altas, próximas umas das outras (canyons urbanos), formando ruas
mais estreitas, onde a circulação do ar é menor, constitui-se no local onde
há maior desenvolvimento e intensidade da ilha de calor, denominado de
Peak” (Cume), coincidindo, conforme Mendonça (1994), com o CBD
2
das cidades ocidentais.
À medida que se estende do centro da cidade em direção à periferia a
temperatura do ar decai, e na fronteira com a área rural tem-se a formação
de ilhas de frescor urbana, também denominadas por Oke (1978) como
“Ladeira” (Cliff), relacionadas às influências da vegetação e da menor
densidade populacional e das edificações (Figura 4).
FIGURA 4: Secção Transversal de uma Ilha de Calor Urbano.
Fonte: Oke (1978, p. 255) . Adaptação: Saydelles, A.P.
2
Central Business District.
Capítulo II – Revisão da Literatura
33
Para Oke (1982), a ilha de calor urbano é mais pronunciada na
fronteira cidade-campo, a sotavento, acompanhando o contorno da área
urbanizada; no interior da cidade há menor gradiente horizontal de
temperatura, variando conforme as características e heterogeneidade do
ambiente construído.
O autor afirma que um parque ou um lago apresenta temperaturas
relativamente inferiores em relação às áreas industriais, comerciais e
residenciais ou mesmo centrais. A ilha de calor sofre variações diurnas
marcantes e o calor da cidade pode ser deslocado de acordo com a direção
predominante do vento. A intensidade da mesma é influenciada pelas
diferentes velocidades de resfriamento entre o ambiente urbano e seu
entorno rural, que ao pôr-do-sol produzem um aumento da ilha de calor, até
atingir o auge em poucas horas. A influência da ilha de calor ao nível dos
prédios estende-se atmosfera acima, na forma de um domo.
De acordo com Givoni (1998), a diferença de temperatura entre a área
urbana e sua periferia é afetada por dois aspectos principais. O primeiro
está relacionado com os fatores meteorológicos, como a cobertura de
nuvens, umidade e velocidade do vento. O segundo aspecto a ser
considerado condiz com a influência das várias características da estrutura
urbana, como o tamanho da cidade e a densidade de áreas construídas.
Ainda pode ser acrescentada a importante participação da localização
geográfica, da topografia do sítio urbano e da morfologia regional, que
alteram as condições meteorológicas.
Os efeitos da ilha de calor urbano podem apresentar certo benefício
nos invernos das cidades de clima temperado, pois reduz a sensação de
Capítulo II – Revisão da Literatura
34
desconforto térmico, provocado pelo frio, bem como as despesas com o
consumo de energia utilizada na geração de calor artificial.
No entanto, em climas tropicais pode apresentar efeitos extremamente
negativos, como o próprio aumento no consumo de energia com ar-
condicionado, que além de produzir mais calor (externo), intensificando as
ilhas de calor, podem causar aumento nos índices de mortalidade.
Conforme Spirn (1995, p. 70), “pessoas com mais de oitenta anos e as
que sofrem de hipertensão, doenças, respiratórias e cardíacas e de diabetes
são as mais sujeitas a morrerem por excesso de calor”.
A autora destaca que as mortes são mais freqüentes entre os pobres,
nas partes mais densas da cidade, e menos freqüentes entre os ricos e nos
subúrbios. Muitos são os fatores que podem justificar esta mortalidade,
entre eles o condicionamento do ar, que é menos freqüente entre os pobres,
e a pavimentação das áreas densamente urbanizadas que pode irradiar 50%
mais calor do que a vegetação. Conforme Spirn (1995, p.71), “As pessoas
nas partes mais densas da cidade estão, assim, sujeitas não apenas a
maiores temperaturas do ar, mas também ao calor adicional que se irradia
dos edifícios e pavimentação circundante”.
No entanto, ainda é comum encontrar na literatura internacional,
alguns autores afirmando que em cidades de clima tropical a ocorrência dos
fenômenos das ilhas de calor é menos pronunciada ou inexistente.
Neste caso, pode-se citar Ayoade (1991, p. 303), ao afirmar que:
1)- Devido à alta temperatura reinante, não há
necessidade de aquecimento do espaço;
2)- A maior parte das cidades tropicais não são
industrializadas como as das regiões temperadas,
supõe-se que o nível de poluição do ar seja menor.
Capítulo II – Revisão da Literatura
35
Isso implica que a maior parte da radiação
terrestre seja liberada para o espaço;
3)- As superfícies urbanas nos trópicos são menos
pavimentadas e a drenagem das águas pluviais é
menos eficiente do que a dos países mais
desenvolvidos das regiões temperadas. Isto
significa que menos energia será armazenada ou
irradiada pelas superfícies urbanas tropicais. Do
mesmo modo, mais energia será utilizada para a
evaporação e transpiração, com menos energia
disponível para aquecer o ar;
4)- O tamanho e a intensidade da ilha de calor são
determinados pela quantidade de calor, assim
como pelo tamanho das cidades. Como o tamanho
das cidades tropicais é geralmente menor do que o
das regiões temperadas, o fenômeno da ilha de
calor será provavelmente menos desenvolvido nos
trópicos.
Com base nestas afirmações, fica evidente que o desconhecimento do
autor sobre a realidade climática dos países tropicais se deve, em grande
parte, à baixa produção científica sobre a temática do clima nas cidades
tropicais.
No entanto, nas últimas décadas surgiram inúmeros estudos sobre o
clima de cidades tropicais que merecem destaques.
Jauregui (1979), com o objetivo de determinar o padrão horizontal da
temperatura do ar e o contraste térmico campo-cidade, em Toluca, México,
realizou medidas com um automóvel dotado de psicrômetro e anemômetro,
em condições de céu claro e ventos fracos, e constatou que as temperaturas
mais elevadas encontram-se em áreas de maior concentração de edifícios.
Danni-Oliveira (1980) estudou o comportamento da temperatura do ar
em Porto Alegre, no outono e início do inverno.
Capítulo II – Revisão da Literatura
36
Sampaio (1981) investigou as relações existentes entre o uso do solo
na cidade de Salvador, e comprovou a elevação da temperatura do ar no
ambiente intra-urbano.
Lombardo (1985) analisou o comportamento das ilhas de calor na
metrópole de São Paulo através do emprego de imagens de satélite,
constatando diferenças de temperatura da ordem de 10ºC entre diferentes
espaços da área urbana.
Mendonça (1994) empregou uma metodologia para estudos do clima
urbano em cidade de porte médio e pequeno, aplicado à cidade de
Londrina/PR.
Escourou (1991) apud Mendonça (1994), listou uma série de
exemplos de formação de ilhas de calor de diferentes magnitudes,
comprovando que a ocorrência de tal fenômeno se dá tanto em cidades
temperadas como em tropicais, sendo típica das duas zonas climáticas e,
nesta última, com conseqüências mais danosas à saúde da população, pois a
ilha de calor urbano aumenta a intensidade da temperatura do ar causando
ainda mais desconforto térmico à população (Quadro 2).
Quadro 2: Exemplos de ilhas de calor urbano de forte intensidade.
CIDADES TEMPERADAS Tº u – r CIDADES TROPICAIS Tº u – r
Bale (Suíça) 6ºC Nova Dehli (Índia) 10ºC
Berna (Suíça) 6ºC Ibadan (Nigéria) 8ºC
Biel (Suiça) 5ºC México (México) 9ºC
Londres (Reino Unido) 11ºC Porto Alegre (Brasil) 4ºC
Paris (França) 14ºC o Paulo (Brasil) 12ºC
Fribourg (Alemanha) 10ºC Shangai (China) 9ºC
(T° u-r : diferença de temperatura urbano-rural).
Fonte: Escourou (1991) apud Mendonça (1994, p. 58). Adaptação: Saydelles, A.P.
Capítulo II – Revisão da Literatura
37
Conforme Oke (1982), tais estudos nas cidades tropicais podem ter
alguma importância na compreensão da análise e atenção aos processos; o
maior desafio consiste em explicar os processos relevantes e as escalas de
atividade na atmosfera urbana e fornecer generalizações e síntese para o
desenvolvimento de modelos numéricos.
No intuito de melhor detalhar o conhecimento e análise sobre a
formação e dinâmica das ilhas de calor, surgiram nos últimos anos
inúmeros modelos matemáticos na tentativa de mensurar o fenômeno, com
base nas características de cidades de clima temperado, que ao serem
adaptados para a análise do clima de cidades tropicais, poderão não surtir o
efeito esperado ou mesmo levar a uma compreensão equivocada do
fenômeno, pois as características geoecológicas e principalmente
geourbanas das cidades destas latitudes apresentam-se de forma
diferenciada.
A maioria dos modelos desenvolvidos tem como base a análise
estatística, através da mensuração de alguns elementos meteorológicos,
como temperatura, umidade, ventos, sob uma ótica puramente
meteorológica, através da diferenciação urbano-rural, sem considerar a
cidade como um “fato geográfico”.
No entanto, os trabalhos desenvolvidos por Oke (1978, 1981 e 1982)
merecem destaque, uma vez que foram levados em consideração, a nível de
análise, os aspectos de influência da estrutura urbana.
Assim, Oke (1982) ao correlacionar a intensidade da ilha de calor com
o tamanho da população urbana em cidades da América do Norte, sugeriu a
Equação 1:
Capítulo II – Revisão da Literatura
38
dT = P1/4 / (4.U) ½
Equação 1
Onde:
dT = Intensidade da ilha de calor (ºC)
P = População
U = Velocidade do vento regional (m/s)
Outro modelo de representação e análise da ilha de calor urbana,
sugerido por Oke (1981), consiste em correlacionar a intensidade da ilha
com a geometria dos canyons urbanos, expressos através da relação entre
altura dos edifícios (H) e a distância entre eles (W), cujo cálculo sugerido
é:
dTmax = 7,45 + 3.97. (H/W)
Equação 2
A relação entre altura-distância dos edifícios, gerando os chamados
“canyons urbanos”, também suscitou a utilização de outra técnica
denominada de “Sky View Factor” (SVF), mencionada anteriormente,
expressa através da Equação 3:
dTmax = 15,27 – 13,88 . SVF
Equação 3
Através desta fórmula, o autor argumenta que a ilha de calor é causada
ou reduzida em decorrência da perda ou ganho de calor da radiação pelo
índice de obstrução do céu.
Capítulo II – Revisão da Literatura
39
Conforme Lee (1993), particularmente, as causas que limitam ou
inviabilizam a descrição quantitativa das áreas urbanas, sobretudo as de
grandes extensões, é a forma como a temperatura do ar apresenta-se
distribuída pelo espaço urbano interno.
O autor ainda afirma que as técnicas comuns empregadas na
mensuração e predição do fenômeno do calor urbano consistem na
comparação da temperatura entre estações meteorológicas urbanos e rurais,
através de auto-diagonais ou transetos e, atualmente, através do emprego de
sensores remotos termais e modelos computacionais.
As coletas de dados em estações meteorológicas da rede de
observação, na maioria das vezes, não representam as condições
meteorológicas urbanas, por estarem situadas em locais que representam as
condições sinópticas ao “ar livre”, não comprometido com a estrutura
urbana e com as atividades humanas. Este aspecto também é enfatizado por
Monteiro (1990).
O método do auto-diagonal ou transetos, ou ainda em estações
móveis, facilitam o entendimento e a mensuração da variabilidade espacial
da ilha de calor urbano. No entanto, ainda persistem os problemas com esta
técnica, conforme Lee (1993, p. 1):
1)-The automobiles are conined to roads;
2)-The tranverses may take several hours, when
traffic congestion is heavy, the data of wich
require time-estandardizarion, for analysis;
3)-All measurements are acquired ar about sub-
roof level, wich may not necessarily be
representative exchange occurs.
Capítulo II – Revisão da Literatura
40
Entretanto, com o emprego da técnica de Sensoriamento Remoto se
consegue representar as repercussões das condições sinópticas, no conjunto
da superfície de cobertura urbana (Canopy layer), abrangendo a cidade
como um todo.
3.5 – Das Escalas de Abordagens do Clima
As constantes interações existentes entre a dinâmica dos processos
atmosféricos com a superfície terrestre revelam que o clima de um
determinado local nada mais é do que o reflexo da intensidade, extensão e
duração destas inter-relações, estando a elas condicionado.
Estas trocas recíprocas de energia, entre os dois meios, podem ocorrer
tanto numa escala planetária como local; as interações e combinações dos
processos envolvidos nesta dinâmica planetária proporcionam
modificações constantes, sendo responsáveis, também, pelo
comportamento do ambiente atmosférico das escalas inferiores. Portando,
possuem ação limitada nos níveis superiores.
Assim, o dimensionamento destas trocas energéticas se faz necessário,
pois permite o emprego de técnicas e abordagens de análise e mensuração
compatíveis com a escala de observação, relativos aos fins almejados.
Neste sentido, Ribeiro (1993, p. 288) afirma que “a cada nível escalar
deve corresponder uma abordagem específica (...), com técnicas analíticas,
desde a obtenção dos dados, passando pelo seu tratamento estatístico-
matemático, até sua apresentação gráfica e cartográfica”.
Capítulo II – Revisão da Literatura
41
Para Mascaró (1996), os processos que se realizam entre a superfície
terrestre e sua atmosfera adjacente ocorrem de acordo com três níveis ou
escalas de abrangências: do macroclima, do mesoclima e do microclima.
O estudo do macroclima diz respeito à compreensão e descrição do
clima geral de uma determinada área ou região, onde os dados são obtidos
junto às estações meteorológicas e correspondem as informações sobre a
insolação, precipitações, nebulosidades, entre outros.
O nível mesoclimático corresponde às alterações do macroclima em
conseqüência da morfologia e da topografia do local. São dados de mais
difícil acesso, uma vez que requer um maior detalhamento da ação dos
vales, das montanhas, das superfícies líquidas, da cobertura vegetal na
formação do clima local.
Segundo Mascaró (1996, p. 37):
O mesoclima é uma sub-unidade entre o clima
local e o macroclima (...) e aparece onde a
grandeza topográfica permite e devemos
aproveitá-la para classificar a organização
climática espacial. Ele revela um contexto
geográfico preciso, que delimita um
comportamento climático, segundo uma
organização espacial reconhecível.
No nível microclimático leva-se em consideração a ação humana nas
transformações do seu entorno, o que propicia a alteração e a formação de
um novo ambiente climático, originado de acordo com as atividades e
funções humanas desempenhadas no espaço urbano. Assim, os elementos
atmosféricos, por efeito da morfologia da área, das atividades
desempenhadas pela ação humana, bem como por estarem contidos no
Capítulo II – Revisão da Literatura
42
âmbito de atuação das esferas climáticas superiores, sofrem inúmeras
influências e alterações, que lhe conferem um caráter tipicamente local ou
urbano.
As alterações impostas no ambiente natural das cidades pela ação
humana que acrescentou uma série de outras características, como os
diferentes usos do solo, arranjamento urbano, edificações, áreas verdes,
espaços abertos e/ou fechados, densidade demográfica, verticalização,
constantes fluxos de pedestres e veículos, que liberam energia
antropogênica, são capazes de alterar o meso, o topo e, sobretudo, o
microclima de um determinado local.
Na tentativa de classificação dos níveis hierárquicos de abordagem do
clima, destacam-se algumas importantes proposições taxonômicas de
Ribeiro (1993) e Jesus (1995), ambas desenvolvidas a partir das propostas
apresentadas por Monteiro (1976). Assim, no ensejo de auxiliar a
compreensão de tal temática, pois o presente estudo requer tal
consideração, as mesmas passarão ser abordadas.
Desta forma, através da sistematização da proposta de Tricart &
Cailleux (1956) para os estudos em Geomorfologia, Monteiro (1976)
apresentou uma taxonomia escalar voltada aos estudos climáticos,
relacionando-os aos níveis de urbanização e para cada ordem de grandeza
uma estratégia de abordagem específica. Assim, as escalas de abordagem
do clima foram divididas em: Zonal, Regional, Sub-regional e Local, o qual
subdivide-se em Mesoclima, Topoclima e Microclima.
O clima na escala zonal é produzido, segundo Ribeiro (1993, p. 288),
“pela distribuição latitudinal da radiação solar”, que define a circulação
primária ou geral da atmosfera, como, por exemplo, a zona de
Capítulo II – Revisão da Literatura
43
convergência dos alísios (CIT), as células de altas pressões subtropicais, as
zonas ciclônicas circumpolares, a circulação dos sistemas de monções, a
Oscilação Sul associada ao fenômeno El-Niño.
Para Jesus (1995), os fenômenos climáticos em escala zonal
correspondem aos grandes anéis que contornam o globo, estendidos
horizontalmente, definindo as faixas climáticas. O autor afirma que a soma
de todos os caracteres climáticos de uma zona inteira constitui-se no seu
clima zonal.
Em virtude da abrangência da escala zonal, que varia entre 1000 e
5000 quilômetros de extensão horizontal, e verticalmente engloba toda a
atmosfera (Ribeiro, 1993; Jesus 1995), Monteiro (1976, 2003) afirma que
as técnicas de análise empregadas neste nível permitirão apenas uma
caracterização geral comparativa.
Neste sentido, segundo Monteiro (2003, p. 34):
No nível zonal, por obra da latitude, decisiva no
próprio fenômeno de diversificação, produz-se
uma variedade setorial que, se não se afirma em
faixas contínuas, organiza-se em grandes células.
(...), nesta os centros de ação e os sistemas
meteorológicos vinculados faixas zonais
diferentes participariam no sentido de produzir
uma organização climática, gerada pelos
mecanismos da circulação regional, capaz de
manter a organização espacial através do ritmo de
sucessão temporal dos seus estados.
Por estarem ajustadas em um sistema integrado, as escalas zonais
correspondem a uma espécie de mantenedora das demais escalas inferiores.
Capítulo II – Revisão da Literatura
44
O clima na escala regional deriva do comportamento atmosférico,
através do ritmo e das famílias de tipos de tempo (individualizadas na
circulação atmosférica ao nível zonal), que através de seus mecanismos de
movimentação e atuação, acabam por caracterizar o clima de uma
determinada região.
A definição do clima regional no interior de um clima zonal deve-se a
ação modificadora da circulação geral da atmosfera, provocada, segundo
Ribeiro (1993, p.289), “(...) por um conjunto de fatores de superfície, como
a distribuição entre as áreas continentais e oceânicas, forma dos
continentes, correntes marítimas, rugosidade dos continentes (incluindo as
altitudes relativas) e continentalidade/maritimidade”.
Por constituírem-se em fácies do clima zonal, pela individualização da
ciclicidade ou ritmos das cadeias de tipos de tempo, Ribeiro (1993)
apresenta, como estratégias de abordagem para a análise de climas
regionais, a busca da compreensão do ritmo da variação anual, sazonal e
mensal dos elementos do clima, que representam os mecanismos de
atuação dos sistemas atmosféricos da circulação intermediária.
Para tanto, os fatores geográficos de ordem natural, que caracterizam
uma determinada região, devem ser compreendidos com detalhe, pois a
definição da circulação atmosférica regional é resultado deste permanente
feed-back de trocas energéticas.
Como estratégias de abordagem do clima, nesta escala de abrangência
regional, Monteiro (1976) recomenda a utilização de cartas sinóticas como
meios de observação. Atualmente, com o crescente desenvolvimento dos
sistemas de imageamento via satélite, as imagens produzidas vieram a se
Capítulo II – Revisão da Literatura
45
constituir em importante ferramenta de observação e análise dos fenômenos
climáticos.
Outra escala de abordagem é a sub-regional e sua inclusão nos
espaços climáticos é apontada por Monteiro (1976) como fácies do clima
regional, com extensão superficial variando em centenas de quilômetros.
Articula-se com espaços urbanos, ao nível de megalópoles e grandes áreas
metropolitanas, relativos às individualizações que estas proporcionam
frente à circulação atmosférica regional e sub-regional.
A partir das derivações causadas no clima regional e sub-regional,
ocorrem os de climas locais e suas respectivas subdivisões: mesoclima,
topoclima e microclima.
A influência da configuração do relevo, através da diferenciação
altimétrica e da sua cobertura vegetal, atua juntamente com a ação
antrópica através da alteração da superfície natural e a substituição por
materiais artificiais, interferindo no balanço energético e na formação dos
climas locais.
De acordo com Monteiro (2003, p. 34):
(...), dentro das regiões, os fatos geográficos,
especialmente em suas associações ecológicas,
poderiam, por sua vez, produzir nova gama de
diversificações secundárias ou intermediárias
(variações rítmicas associadas a grandes
expressões quantitativas) até atingir os climas
locais. Estes seriam graus de organização
especializados, pelas íntimas integrações
ecológicas no interior dos sistemas climáticos
regionais, (...).
Capítulo II – Revisão da Literatura
46
É justamente neste nível de abordagem climática que reside o campo
de investigação da climatologia urbana. A combinação das características
fisiográficas, em co-atuação com as transformações impostas pela ação
humana, proporcionam a formação de um clima tipicamente urbano.
Este aspecto também é ressaltado por Ribeiro (1993, p.291), ao
afirmar que:
É sobre as cidades que se, (...) combinam dois
grupos de fatores: a extrema artificialização da
cobertura do solo, associada à emissão de
poluentes das mais diversas origens. Daí o clima
urbano estar intimamente ligado à escala
mesoclimática ou local, desde que a cidade possua
tamanho suficiente para se diferenciar do espaço
não urbano circundante, (...).
Com uma abrangência horizontal de dezenas de quilômetros, o espaço
climático local, em relação aos espaços urbanos, constitui-se, conforme a
taxonomia proposta por Monteiro (1976), em uma área metropolitana ou
uma metrópole, tendo como fatores de organização os constituintes
geográficos. Este fato permite o mapeamento sistemático através da
observação das redes meteorológicas de superfície.
Neste aspecto, Lombardo (1985, p. 22) afirma que o clima urbano “é
um mesoclima que está incluído no macroclima e que sofre, na
proximidade do solo, influências microclimáticas derivadas dos espaços
urbanos”. Afirma, também, que a cidade deve ser considerada como parte
integral do espaço regional, bem como suas contradições internas.
Capítulo II – Revisão da Literatura
47
Dentre as diversificações do clima local, o mesoclima, de acordo com
Monteiro (1976), possui sua base de identificação na compartimentação
geoecológica.
O mesoclima abrange o clima de uma cidade grande ou até mesmo um
bairro ou subúrbio de uma metrópole, e está condicionado aos aspectos
homogêneos dos fatores geográficos, sobretudo a cobertura vegetal e a
topografia.
Monteiro (2003, p.28) afirma que “os mesoclimas poderiam ser
identificados nos compartimentos básicos da morfologia, em termos de
várzea, espigão central, colinas periféricas, vertentes serranas, etc.”.
Neste aspecto, o autor propõe como estratégia de abordagem para
estudos de clima urbano, a observação através de registros móveis, pois
nesta escala o quadro climático é organizado pelo urbanismo, ou seja, pelas
interações das condições naturais e urbanas, exigindo técnicas especiais de
análise.
Outra subdivisão do clima local, e por extensão no mesoclima, são os
topoclimas, que possuem extensão de algumas dezenas de metros, e
correspondem a espaços urbanos relativos a uma pequena cidade, ou então,
a algumas fácies de bairros. Possui como fatores de organização a própria
configuração arquitetônica (Monteiro, 1976).
Para Ribeiro (1993), o topoclima restringe-se à forma do relevo ou ao
tamanho da vertente que lhe dá origem, podendo variar de 0,5 a 5Km de
extensão e interferir verticalmente em até 50 a 100 metros (limite da
camada superficial).
Capítulo II – Revisão da Literatura
48
Neste aspecto, a forma da vertente e sua exposição ao sol, juntamente
com o uso do solo, possuem destacada participação na formação do quadro
climático nesta escala.
Este nível de abordagem, juntamente com o mesoclima, tem sido alvo
de inúmeros estudos, notadamente voltados à compreensão do fenômeno
das ilhas de calor.
De acordo com Monteiro (2002, p. 27):
Se um clima local é um ponto dentro do regional
onde uma conjugação de fatores “especializa”
uma certa definição climática, nos locais
ocupados por cidades, a ocorrência destes
“fatores” constitui um espectro bem mais amplo
pelas grandes “derivações” introduzidas pelo
Homem na edificação urbana. Não apenas pelo
“edificado” urbanisticamente, mas pela adição de
várias alterações no quadro geoecológico, tais
como represas, reservatórios, aterros, desmontes
de morros, etc. Assim, os climas urbanos são
climas locais muito alterados por ação antrópica
(...).
Através desta concepção, Mendonça (1994) apresentou uma
proposição metodológica para estudos de clima urbano em cidades de
pequeno e médio porte, através da setorização da área de estudo,
enfatizando a relação dos materiais urbanos e toda a atividade humana, na
configuração dos topoclimas da cidade de Londrina/PR.
Por fim, tem-se a escala microclimática, que se define, conforme
Ribeiro (1993, p.292), “(...) através da magnitude das trocas gasosas e
energéticas entre as feições ou estruturas particularizadas (inclusive
Capítulo II – Revisão da Literatura
49
objetos, plantas e animais) dispostas na superfície da terra e o ar que as
envolve”.
O autor admite que os principais fatores responsáveis pela
diferenciação da magnitude das trocas energéticas e gasosas ficam por
conta das rugosidades, da cor e da textura da superfície. Estas, juntamente
com os abrigos do solo, com as edificações e a vegetação, promovem a
alteração do ar circundante na escala microclimática.
A maior controvérsia, nesta escala, reside na sua precisa delimitação.
No entanto, todos os autores são unânimes em admitir que ela consiste no
ar que circunda os seres humanos.
Geiger (1961), em seu Manual de Microclimatologia, afirma que o
clima nesta escala é todo o ar que não está acima de dois metros da
superfície terrestre.
No entanto, Monteiro (1976), ao propor sua taxonomia da organização
geográfica do clima, apresenta uma hierarquização das escalas de
abordagem, sem estabelecer limites de abrangência precisamente
delimitados, por estarem articuladas com os espaços urbanos, que por sua
vez, variam de extensão se comparados entre si.
Por entender que o clima na microescala é o ar que está em
permanente contato com os seres humanos, Monteiro (1976) admite que os
fatores de sua organização ficam por conta das habitações. Desta forma, os
espaços urbanos nesta escala consistem nas edificações e nos setores de
habitação, e necessitam de instrumentos especiais para sua observação e
registro, por meio de aparelhos de alta sensibilidade e precisão.
Capítulo II – Revisão da Literatura
50
3.6 – Da Dinâmica Atmosférica
Em qualquer estudo das variações climáticas urbanas, é de
fundamental importância à caracterização e a compreensão da circulação
atmosférica regional, pois, segundo Monteiro (1963, p. 61), “Se a escala
zonal generaliza (...), e a local diversifica e multiplica, pela influência dos
múltiplos e pequenos fatores (...), a escala regional lhes dá a verdadeira
unidade geográfica”.
Admitindo que o clima de uma cidade está inserido no clima regional,
se faz necessário, a priori, como forma de embasar o enquadramento do
tema, a caracterização da circulação atmosférica zonal no âmbito da
circulação secundária ou regional.
Para Ayoade (1991), a circulação atmosférica pode ser classificada em
três escalas de abrangência que variam de ordem decrescente, quanto à
escala, área e tempo.
A primeira escala, corresponde à circulação primária ou Zonal, que é
responsável pela definição dos padrões de vento e pressão em larga escala,
que se mantém ao longo do ano, determinando os padrões dos climas do
mundo.
Inseridos dentro da circulação Zonal, estão os sistemas circulatórios
secundários, tais como: os centros de ações positivos ou anticiclônicos e as
depressões (centro de ação negativo), bem como as correntes perturbadas
ou grandes descontinuidades que atravessam toda a região.
Os sistemas de circulação terciária ou local, inseridos no âmbito da
circulação regional, são respostas dos sistemas locais aos sistemas
supramencionados.
Capítulo II – Revisão da Literatura
51
3.6.1- A Circulação Atmosférica da América do Sul na Escala Zonal
De acordo com Vianello & Alves (1991, p. 424), “Qualquer tentativa
de entendimento da dinâmica atmosférica, sobre uma área, deve iniciar-se
com uma visão mais global, na qual a localidade de interesse esteja
inserida”.
Neste aspecto, o entendimento da dinâmica e circulação atmosférica
do continente sul-americano, é essencial, para posterior compreensão e
enquadramento do cenário climático da Região Sul do Brasil, pois dos setes
centros de ação que definem e controlam a movimentação das massas de ar
e das correntes perturbadas na América do Sul (Figura 5), três deles tem
influência e ação direta sobre a Região Sul: Anticiclone Migratório Polar,
Anticiclone Semifixo do Atlântico, e a Baixa do Chaco.
A compreensão da origem, das características e da movimentação de
cada centro de ação torna-se necessário, para posterior entendimento das
atuações das massas de ar na Região Sul do Brasil.
Os Anticiclones Permanentes e Semifixos Oceânicos (Anticilone do
Atlântico e Anticiclone do Pacífico), são centros de ação de origem
dinâmica, inseridos na zona de altas pressões subtropicais do hemisfério sul
(Monteiro,1963; Nimer, 1989).
No entanto, esses centros de ações positivos, apesar de serem
permanentes, com atuação o ano inteiro, oscilam quanto à pressão e
posição latitudinal, em decorrência das variações de temperatura sazonal.
A atuação destes dois centros de ação são de extrema importância na
configuração climática da América do Sul, pois são os formadores das
principais massas de ar tropicais marítimas. O Anticiclone Semifixo do
Capítulo II – Revisão da Literatura
52
Atlântico possui destacada atuação durante o ano inteiro, nas regiões
tropicais e do Brasil Meridional, com exceção do Centro-Oeste e da
Amazônia.
FIGURA 5: Circulação atmosférica na América do Sul: Centros de Ação.
Fonte :Nimer (1989, p.202).
Outro centro de ação positivo de notável deslocamento e intensa
participação na formação dos tipos de tempo do continente sul-americano é
o Anticiclone Migratório Polar Marítimo. Tem sua origem na superfície
gelada do continente Antártico e das banquisas fixas da região polar
austral.
De origem térmica e dinâmica, devido à subsidência do ar e a forte
inversão de temperatura, possui ar pouco úmido, frio e estável.
Capítulo II – Revisão da Literatura
53
Atraído pelo gradiente térmico para o equador, à medida que avança
absorve calor e umidade da superfície mais aquecida do mar, a ponto que
em latitudes médias a inversão térmica desaparece e o ar torna-se instável.
(Monteiro, 1963; Nimer, 1989).
Este anticiclone, por sua constante e periódica migração para o
continente, torna-se o principal responsável pela formação dos tipos de
tempo da Região Sul, sobretudo no Rio Grande do Sul, em virtude da
atuação das Massas Polares e da ação das Frentes Frias.
Não menos importante que os centros de ação citados, mas de
participação bem mais reduzida é a Baixa ou Depressão do Chaco, centro
de ação negativo localizado no interior do continente sul-americano, que
exerce a atração dos sistemas intertropicais para o Sul.
A Baixa do Mar de Weddel, célula austral das baixas dinâmicas da
faixa subpolar é oriunda, segundo Monteiro (1963) e Nimer (1989), da
ondulação da Frente Polar Atlântica formando profundos ciclones. Os
autores ainda afirmam que esta Baixa é responsável pela atração dos
sistemas intertropicais em direção ao pólo, proporcionando tempo bom e
forte aquecimento Pré-frontal.
3.6.2 – A Dinâmica Atmosférica Secundária na Região Sul do Brasil
No que concerne ao quadro climático do Brasil Meridional, vários
estudos realizados merecem destaque, entre eles os de Monteiro (1963,
1969, 1976), Nimer (1989), Sartori (1979, 1980, 1981, 1993), que
permitiram um melhor conhecimento e compreensão da dinâmica e
circulação dos mecanismos atmosféricos de atuação regional. Também,
Capítulo II – Revisão da Literatura
54
demonstraram que a Região Sul possui, pela sua notável homogeneidade e
ritmo dos sistemas atmosféricos, uma caracterização que lhe individualiza
em relação às demais regiões brasileiras, tanto no que se refere aos índices
pluviométricos e umidade, como também ao ritmo sazonal de seu regime.
A Região Sul individualiza-se das demais regiões do Brasil por
apresentar, conforme Monteiro (1963, p. 118):
“(...) posição subtropical, caráter mesotérmico,
forte amplitude anual, farta distribuição anual das
chuvas sem ocorrência de período seco, são
fatores que levam a estabelecer relações de
parentesco com outras regiões do globo (...)”.
Quanto à dinâmica atmosférica, como já salientado anteriormente, dos
setes centros de ação formadores dos sistemas atmosféricos da América
Latina, apenas três deles tem atuação direta, que ao interagirem com os
demais fatores geográficos, definem o quadro climático de toda a região.
São eles: o Anticiclone Migratório Polar (que origina as Massas Polares
Atlântica (M.P.A.) e Pacífica (M.P.P.), o Anticiclone Semi-fixo do
Atlântico Sul (que dá origem a Massa Tropical Atlântica (M.T.A.), e a
Baixa do Chaco (que origina a Massa Tropical Continental – M.T.C.), além
das correntes perturbadas de Sul (Frente Polar Atlântica – F.P.A.) e de
Oeste.
As Massas Polares oriundas do Anticiclone Migratório Polar possuem
importante participação na configuração e domínio do ambiente climático
regional. São resultados do acúmulo de ar polar nas baixas pressões polares
cujo fluxo de ventos divergente se desloca em direção às Altas
Subtropicais.
Capítulo II – Revisão da Literatura
55
No entanto, em virtude da presença da Cordilheira dos Andes, o
Anticiclone Migratório Polar em seu avanço, bifurca-se dando origem a
duas massas polares, uma de trajetória a leste dos Andes, a Massa Polar
Atlântica (M.P.A.), e a outra a oeste, a Massa Polar Pacífica (M.P.P.), que
ao transpor a Cordilheira em sua parte mais meridional, vem reforçar a de
trajetória atlântica, a qual torna-se mais potente em seu avanço para o
norte. Quando isso acontece, é responsável pelo fenômeno da Friagem no
Centro-Oeste e Norte do país, e também pela intensificação do vento
Minuano no Rio Grande do Sul, de temperatura e umidades muito baixas.
(Monteiro,1963; Nimer, 1989 e Sartori, 1993).
A Massa Polar Atlântica (M.P.A.) tem intensa participação no quadro
climático do Brasil Meridional, durante o ano inteiro, embora sua atuação e
domínio dos tipos de tempo sejam mais acentuados no inverno, pelo menor
gradiente térmico do Hemisfério Austral.
Outra importante massa de ar de forte atuação na configuração
climática regional é a Massa Tropical Atlântica (M.T.A.), que interfere
direta ou indiretamente na circulação atmosférica do Sul do Brasil durante
o ano inteiro.
Sua gênese está ligada ao Anticiclone Semi-fixo do Atlântico Sul, na
região marítima quente, recebendo, desta forma, muito calor e umidade em
sua superfície de contato com o oceano. De ocorrência durante todo o ano,
seus efeitos sobre a região, variam de acordo com a sazonalidade ao longo
do ano.
Neste sentido, Monteiro (1963, p. 126) afirma que:
No verão, a Massa torna-se inferiormente instável
pelo aquecimento basal que sofre ao contato com
Capítulo II – Revisão da Literatura
56
o continente que é agravado, de início, pelo efeito
orográfico do sistema atlântico. Durante o
inverno, o resfriamento basal aumenta a
estabilidade superior contribuindo mais para a
ocorrência de tempo bom.
Também no verão austral tem-se a intensificação da Massa Tropical
Continental (M.T.C.), em conseqüência do grande aquecimento da
superfície, associada à Baixa Pressão do Chaco, que se estende na estreita
zona quente e árida, a leste dos Andes e ao sul do Trópico (Nimer, 1989).
Sua participação na Região Sul do Brasil está restrita de fins da
primavera ao início do outono, quando é individualizada e dinamizada pela
frontólise da Frente Polar Pacífica, que ao transpor a barreira dos Andes
sofre os efeitos da dissecação adiabática. Assim, o ar quente e seco da
planície do Chaco, é reforçado pela subsidência superior desse ar frio e
seco que, dotado de movimento divergente, torna-se a principal responsável
pela formação da Massa Tropical Continental, de elevada temperatura e
baixa umidade (Monteiro, 1963). O autor ainda adverte que muitas vezes,
em outras estações do ano, a Tropical Continental é individualizada nas
cartas sinópticas brasileiras. No entanto, esta sinalização refere-se à Massa
Polar que já sofreu os efeitos do aquecimento do continente, tornando-se
quente e seca, não passando de uma “Massa Polar Velha”.
A constante circulação e dinamismo das massas de ar, que compõe o
quadro climático da Região Sul, proporcionam a formação e atuação de
correntes perturbadas ou grandes descontinuidades, que possuem
importante participação na configuração dos tipos de tempo para toda a
Região. São as Correntes Perturbadas de Sul (Frente Polar) e de Oeste ou
linhas de instabilidades (Figura 6).
Capítulo II – Revisão da Literatura
57
FIGURA 6: Sistemas de Circulação Atmosférica Perturbada na Região Sul.
Fonte: Nimer (1989. p, 207).
A Corrente Perturbada de Sul ou Frente Polar Atlântica é
conseqüência direta do avanço do Anticiclone Migratório Polar e sua
descontinuidade frontal, que avança sobre o continente deslocando-se de
SW a NE e estendendo-se de NW para SE. Possui intensa participação na
formação dos tipos de tempo na região o ano inteiro, em especial no Rio
Grande do Sul, conforme Sartori (1979). A atuação é mais acentuada no
inverno, pois o maior gradiente de temperatura do hemisfério austral nesta
época do ano lhe favorece a penetração pela intensificação do Anticiclone
Migratório Polar.
Capítulo II – Revisão da Literatura
58
Pelas mesmas razões das massas polares, a F.P.A. divide-se em duas
vertentes de deslocamento: uma pelo Pacífico e outra pelo Atlântico. A
mais importante e de atuação mais efetiva na circulação atmosférica do
Estado gaúcho é a de trajetória atlântica, principal responsável pelas
precipitações na região durante todo ano.
As Correntes Perturbadas de W são as Instabilidades de Tropicais (IT)
e têm importância bem mais reduzida para a formação dos tipos de tempo
para o Rio Grande do Sul. Sua origem, segundo Nimer (1989, p.210), “(...)
está ligada ao movimento ondulatório que se verifica na Frente Polar, ao
contato com o ar quente da zona tropical. A partir dessas ondulações,
formam-se ao norte da FPA uma ou mais IT sobre o continente”.
Tais linhas de instabilidades são mais freqüentes de meados da
primavera ao outono, em virtude do maior aquecimento térmico do
continente, estando associada à formação de grandes cúmulos-nimbos, que
na maioria das vezes são responsáveis por intensas precipitações de curta
duração, resultante das correntes convectivas.
Assim, a intensa circulação das massas de ar e das correntes
perturbadas está diretamente relacionada ao dinamismo dos sistemas
atmosféricos e também pelas características geográficas da região.
Todo este jogo de interações que se processam entre atmosfera e
superfície terrestre permite a formação de tipos de tempo associados aos
domínios e atuações dos centros de ações com suas respectivas massas de
ar e correntes perturbadas.
Os tipos de tempo para a região central do Rio Grande do Sul serão
enfocados mais detalhadamente no capítulo da caracterização da área,
quando será analisada a circulação atmosférica na escala de abrangência
Capítulo II – Revisão da Literatura
59
terciária ou de nível local. A compreensão dos tipos de tempos oriundos da
movimentação dos sistemas atmosféricos é indispensável ao estudo do
clima de uma determinada cidade, que nada mais é do que respostas
comportamentais dos atributos ecológicos e urbanos, derivados a ação
humana, frente aos mecanismos formadores do tempo para a região.
3.7 – Do Sensoriamento Remoto
Ao longo das últimas décadas, as tecnologias de informações
(informática), bem como os sistemas computacionais como um todo,
passaram por uma ampla evolução, tanto conceituais como
tecnologicamente.
Juntamente com o advento da informática e o crescente emprego de
seus recursos na pesquisa geográfica, o Sensoriamento Remoto tem lugar
de destaque nos estudos de ordem ambiental. A utilização de imagens de
satélite nos estudos relativos a esta temática, principalmente no que se
refere ao seu mapeamento sistemático, tem evoluído cada vez mais nas
últimas décadas.
Para Novo (1998), de 1960 até os dias atuais, o Sensoriamento
Remoto caracteriza-se pelo desenvolvimento de uma multiplicidade de
sistemas sensores, desenvolvidos para vários sistemas de obtenção de
dados orbitais e sub-orbitais em modernos satélites, cujas informações
permitem melhor conhecimento do nosso planeta.
No entanto, diversos obstáculos ainda têm impossibilitado sua maciça
utilização. Apesar dos atuais sensores já possuírem boa resolução espacial
Capítulo II – Revisão da Literatura
60
que garantem um melhor detalhamento das informações da superfície,
ainda não possuem uma resolução temporal adequada para determinados
levantamentos, sobretudo de monitoramentos. As condições climáticas
adversas no momento do registro das imagens pelos sensores, também têm
inviabilizado sua utilização, além dos altos custos para a aquisição das
mesmas.
No Brasil, o Sensoriamento Remoto teve seu impulso a partir da
década de 60, através do projeto Radam-Brasil, cujo objetivo era realizar
um amplo mapeamento dos recursos naturais do país (Rosa, 1995).
Para Novo (1998), o sensoriamento remoto pode ser definido como a
tecnologia que utiliza conjuntamente, sensores, equipamentos de
processamento e transmissão de dados, aeronaves e espaçonaves, com o
objetivo de estudar o ambiente terrestre, através do registro e análise das
interações eletromagnéticas com as substâncias componentes do planeta
Terra, em suas mais diferentes manifestações.
As informações em Sensoriamento Remoto dão-se através da captação
pelos sensores da energia, que pode ser oriunda de uma fonte externa aos
alvos (por exemplo, o Sol), interna (como a energia térmica dos mesmos),
ou ainda ser produzida por fontes artificiais, como os pulsos de microondas
do próprio sensor.
O Sensoriamento Remoto também pode ser definido de maneira mais
ampla, conforme Rosa (1995), como sendo a forma de se obter informações
de um objeto ou alvo, sem que haja contato físico ou direto com o mesmo.
Desta forma, o Sensoriamento Remoto consiste em um sistema de
aquisição de informações, podendo ser dividido em dois sistemas: um de
coleta de dados e outro de análise destes dados. O sistema que é
Capítulo II – Revisão da Literatura
61
responsável pela coleta dos dados opera na detecção da radiação, que
provém da superfície terrestre (alvos), e na transformação desta radiação,
para sua transmissão e posterior registro das mesmas.
Para que seja possível a detecção da radiação proveniente da
superfície, é necessário que haja uma fonte de radiação eletromagnética
(Sol). No entanto, esta radiação necessita de um meio para se propagar até
atingir a superfície terrestre, este meio é a atmosfera (Figura 7).
Ao incidir na superfície da Terra (alvos), a radiação eletromagnética,
após sofrer inúmeras interações, o que não foi armazenado retorna
(irradiação) pela atmosfera e até atingir o sensor, onde a energia será
detectada, transformada e armazenada. Este procedimento consiste no
princípio físico que opera o sensoriamento remoto.
FIGURA 7: Princípio físico do Sensoriamento Remoto.
Fonte: Novo (1998, p.185).
Capítulo II – Revisão da Literatura
62
3.7.1 – Do Sensoriamento Remoto aplicado aos estudos climáticos
A partir da década de 60, iniciou-se uma nova era para os estudos
climáticos e meteorológicos, com o lançamento do satélite TIROS-1
(Television and Infra-red Observation on Satellite), primeiro satélite
destinado especificamente a observações meteorológicas.
Desde seu lançamento, sucessivas gerações de outros satélites foram
colocadas em órbitas, fato que permitiu um avanço espetacular nas
observações, pois fornecem uma cobertura objetiva, abrangendo grandes
áreas dos sistemas de tempo (Ayoade, 1991).
A possibilidade de obtenção de imagens seqüenciais da mesma área
do globo permite monitoramento das queimadas, desflorestamentos que
afetam o balanço de energia entre superfície e atmosfera, além, da detecção
de tempestades severas e do acompanhamento das movimentações das
nuvens e de sistemas frontais em tempo real (Cunha, 1997).
Quanto a sua posição em relação a Terra, os satélites meteorológicos
podem ser de órbita polar (Heliossíncronos) e de órbita equatorial
(Geossíncronos).
Os satélites meteorológicos com órbita polar (Heliossíncronos), estão
posicionados a uma altura de aproximadamente 800-900Km (Vianello &
Alves, 1991). Por sua baixa resolução espacial, são capazes de determinar a
posição de plataformas de coletas de dados móveis, como bóias a deriva e
navios. Em virtude de sua órbita quase polar, estes satélites coletam dados
sobre as condições climáticas numa escala zonal, mas, sobretudo sobre as
regiões dos pólos (Vianello & Alves, 1991).
Capítulo II – Revisão da Literatura
63
São chamados de heliossíncronos, pelo fato de manterem sua posição
angular constante em relação ao Sol. Seu deslocamento angular é de 1º por
dia, fazendo com que durante o ano passe pelo equador sempre na mesma
hora local (Cunha, 1997).
Os satélites geoestacionários encontram-se a uma altura de 36.000Km
em relação a Terra. Também são utilizados para a previsão do tempo, pois
fornecem, a cada 30 minutos, imagens de uma mesma região, tanto na faixa
do espectro visível (durante o dia), quanto no infravermelho (dia e noite).
Fornecem informações sobre conglomerados de nuvens, distribuições
verticais de temperatura e umidade, temperatura à superfície (mar e terra) e
as regiões cobertas de gelo e neve, frentes fria, ciclones, furacões (Vianello
& Alves, 1991).
De acordo com Cunha, (1997), existem cinco satélites meteorológicos
com órbita geoestacionária e dois de órbita quase polar.
O território brasileiro recebe imagens dos satélites meteorológicos,
GOES (americano) e METEOSAT (europeu), ambos geoestacionários
(Vianello & Alves, 1991; Cunha, 1997).
O satélite GOES E (Geostationary Operational Environmental
Satellites) está posicionado a 75ºW de Greenwich e proporciona uma
cobertura contínua da América do Norte, América do Sul e oceanos
adjacentes. Possui uma resolução espacial de 1Km no canal visível e no
infravermelho termal de 8Km (Sabins, 1999).
O METEOSAT, similar ao GOES, está posicionado na longitude de
0º, com freqüência temporal a cada 30min. Adquire imagens no canal
visível com resolução espacial de 2,5Km e no infravermelho termal de
5Km.
Capítulo II – Revisão da Literatura
64
Estes satélites, segundo Bonn et Rochon (1992) apud Mendonça,
(1994, p. 50), “(...) servem evidentemente à meteorologia, mas permitem
também o acompanhamento de certos fenômenos dinâmicos da superfície,
como a desertificação”.
Pelas suas baixas resoluções espaciais, estes satélites são empregados
para os estudos climáticos no âmbito zonal e regional e na configuração
climática de grandes centros urbanos.
3.7.2 – Do Sensoriamento Remoto aplicado aos estudos de Campo
Térmico e das Ilhas de Calor Urbano
De acordo com Mendonça (1994, p. 51), “O campo térmico das
cidades, enquanto subdivisão do clima urbano tem sido aquele no qual mais
se tem empregado as imagens de satélites, notadamente no estudo das ilhas
de calor urbano (...)”. Isto se deve ao desenvolvimento de satélites com alta
resolução espacial.
As imagens provenientes do satélite NOAA/AVHRR (Nacional
Oceanic and Atmosphere Administration/ Advanced Very Higt Resolution
Radionater), com resolução espacial de 1,1Km (no Nadir), são aplicáveis
aos estudos climáticos de grandes centros urbanos e em escala regional. Já
as imagens do satélite Landsat 5 e 7 (banda 6- canal termal infravermelho –
resoluções espaciais de 120 e 60 metros, respectivamente) têm se tornado
importante ferramenta no estudo da configuração e da variação térmica no
ambiente intra-urbano de cidades de médio e pequeno porte.
Capítulo II – Revisão da Literatura
65
O emprego de imagens do Landsat no estudo das cidades tem sido
considerado, conforme Mendonça (2003, p.188), “(...) satisfatório para a
identificação e análise do uso e ocupação do solo, da distribuição das
construções, da biodiversidade, da morfologia, da funcionalidade, da
poluição, etc”.
Na literatura internacional, é vasta a aplicabilidade destes recursos,
derivados de satélites, na identificação da termografia infravermelha das
cidades.
Oke & Voogt (2003) afirmam que o advento da tecnologia de
Sensoriamento Remoto Termal, através de satélites e de plataformas em
aeronaves, permitiu novas possibilidades de observações sobre as ilhas de
calor urbano, bem como a compreensão de suas causas e combinações com
os arranjos urbanos.
Sabe-se que o desenvolvimento das ilhas de calor urbano é melhor
definido junto à Camada Cobertura (Urban Canopy Layer), sob o teto
máximo das edificações, e suas observações tradicionais, através de
transetos e redes móveis, permitem apenas uma detecção a nível pontual
das condições térmicas da estrutura urbana. No entanto, com a utilização de
dados de satélites, é possível uma apreensão das condições termográficas
da cidade de forma homogênea, o que permite estabelecer relações entre as
características térmicas dos elementos da superfície com a do ar, através de
dados levantados em trabalhos de campo (Oke & Voogt, 2003).
O estudo pioneiro das ilhas de calor urbano, por meio de imagens
termais, foi realizado, segundo Oke &Voogt (2003), por Rao (1972), o qual
combinou os dados de satélite com medições de temperatura junto à
superfície urbana.
Capítulo II – Revisão da Literatura
66
A partir deste, com o desenvolvimento dos satélites NOAA/AVHRR e
do Landsat (no infravermelho termal), muitos estudos sobre o campo
térmico das cidades foram realizados.
Como pode ser visto no Quadro 3, a nível internacional, aplicação do
Sensoriamento Remoto nos estudos de clima urbano, sobretudo nos do
campo térmico, são numerosos e diversificados.
No caso brasileiro, apesar de ser ainda pouco explorado, existem
alguns estudos de grande importância, dos quais pode ser destacado o de
Lombardo (1985), que elaborou um trabalho pioneiro no Brasil, sobre o
fenômeno das ilhas de calor urbano na metrópole de São Paulo. A autora
utilizou para o estudo do campo térmico, imagens do satélite
NOAA/AVHRR, que permitiu a identificação de maiores temperaturas dos
elementos urbanos no centro da cidade, bastante generalizado, em função
da resolução espacial das imagens do satélite NOAA, não permitindo um
detalhamento das características térmicas do ambiente intra-urbano.
Mendonça (1994), ao estudar o clima urbano da cidade de Londrina-
PR, também utilizou imagens do NOAA/AVHRR para individualização
das manchas urbanas e as magnitudes de seus campos térmicos na escala
regional. As imagens do Landsat foram utilizadas para um estudo mais
detalhado das características da paisagem intra-urbana através do uso solo
urbano e, principalmente, no emprego da termografia infravermelha (banda
6) no estudo do comportamento térmico dos materiais urbanos, os quais
serviram de comparação aos dados levantados em mini-estações
meteorológicas, posicionados a 1,5 metros da superfície.
Mais recentemente, a identificação das temperaturas da superfície na
região metropolitana de Porto Alegre-RS, através do emprego de imagens
Capítulo II – Revisão da Literatura
67
de satélite no canal termal infravermelho (canal 6), foi realizado por
Collishon (1998).
Quadro 3: Aplicações do sensoriamento remoto em estudos de clima urbano.
Fonte: Oke & Voogt (2003, p. 374). Adapatacão: Saydelles, A. P.
Estudos Plataforma-
sensor
Aplicação
Balling e Brazel (1988) AVHRR Relação entre Temperatura da superf. e uso do solo urb.
Dousset (1989) AVHRR Conexão entre Temp do ar e da superf. em áreas urbanas
Henry (1989) HCMM Análise das ilhas de calor usando sensoriamento remoto
Carnahan e Larson (1990) LandsatTM Diferenças resfriamento e aquecimento urbano-rural
Dousset (1991) AVHRR Classif. Multiespectral do uso do solo urb. e temp.superf.
Johnson et. al.(1991) Base-
soloIRT
Modelos de ilhas de calor em superfícies urbanas
Eliasson (1992) AGEMA Correlação entre temp. da superf. e fator céu visível
Kim (1992) Landsat TM Modelagem do balanço de energia em áreas urbanas
Stoll e Brazel (1992) Aircraft Avaliação da relação temp do ar e superf. em áreas urb.
Gallo (1993a, 1993b) AVHRR Uso do NDVI no estudo das ilhas de calor urbano
Lee (1993) AVHRR Avaliação das ICU superf. e do ar nas cidades. Koreanas
Quattrochi e Ridd (1994) TIMS Respostas termais diurnas e noturnas das superf. urbanas
Shoshany (1994) Termal
Scanner
Extração de temp. no cume das casas na análise da ICU
Aniello (1995) LandsatTM, Distribuição espacial da temp. sup. urb. coberta p/o Veg.
Gallo e Tarpley (1996) AVHRR Uso do NDVI no estudo das ilhas de calor urbano
Lino e Hoyano (1996) MSS Modelagem de balanço energético usando Sens. Remoto
Lougeay et. al. Landsat TM Padrões de temp. associadas com o uso do solo
Nichol (1996) Landsat TM Padrão especial de temperatura da superfície em relação com
a morfologia urbana
Lo et.al. (1997) ATLAS Relação entre dados termais e NDVI e cobert. dos solos
Nichol (1998) Landsat TM Incorporação das temp. da superf. com sensoriamento
remoto e criação de repres. tri-dimensional das temp.urb.
Owen et.al. (1998) AVHRR Uso de dados termais e NDVI na análise das alterações das
temperaturas urbanas
Voogt e Oke (1998) AGEMA Anisotropia termal em áreas urbanas
Carlson e Sanchez (1999) AVHRR Alterações dos microclimas urbanos associados com a
urbanização.
Hafner e Kidder (1999) AVHRR Padrões SUHI e UHI associado com a inércia termal e
disponibilidade de umidade
Hoyano et.al. (1999) Base-solo,
termal
Mensuração do fluxo de calor sensível dos edifícios
Parlow (1999) Landsat TM Modelag. Do balanço energia em áreas urb usando métodos
multiespectrais
Wald e Baleynaud (2000) Landsat TM Avaliação da qualid. do ar usando sens.remoto termal
Quattrochi et. al. (2000) ATLAS Uso do sens remoto termal e SIG na avaliação das ICU
Voogt (2000) AGEMA Modelag. do fluxo de calor sens. e estimação da rugosidade
termal da superf. usando sens. remoto termal e observações
junto ao solo.
Voogt e Grimmond
(2000)
AGEMA Anisotropia termal urbana na escala local
Capítulo II – Revisão da Literatura
68
O princípio da identificação das temperaturas da superfície, utilizando
a termografia infravermelha, está expresso pela lei de Plank (1901), que,
em síntese, diz que quanto maior a temperatura para um dado comprimento
de onda, maior será a energia emitida por um corpo negro (Novo, 1998;
Lombardo, 2003).
Assim, torna-se necessário conceituar corpo negro para a compreensão
do princípio da termografia infravermelha e do Sensoriamento Remoto.
O conceito de corpo negro é um modelo que serve para a compreensão
do processo de radiação. Corpo negro, de acordo com Novo (1998, p.17):
(...) é um objeto que irradia energia a uma taxa
máxima por unidade de área e por comprimento
de onda numa dada temperatura. Assim, o corpo
negro emite toda energia que nele incide. (...) o
corpo negro em princípio, é um emissor perfeito,
ou seja, irradia toda a energia que absorve, (...) em
todas as direções. A radiação total emitida por um
corpo negro é em função somente de sua
temperatura.
Admite-se, para fins de Sensoriamento Remoto, que o Sol radia
energia como se fosse um corpo negro a uma temperatura equivalente a
5.900ºK (Novo, 1998). Juntamente com a Terra, constitui-se nas duas
principais fontes de radiação utilizadas em Sensoriamento Remoto.
A radiação eletromagnética proveniente do Sol tem seu ápice de
emissão na faixa do espectro entre 0,4 a 0,7 µm. (Novo, 1998; Ayoade,
1991). No entanto, a quantidade de radiação solar incidente no topo da
atmosfera depende, principalmente, do período do ano, do período do dia e
da latitude (Ayoade, Op.Cit.).
Capítulo II – Revisão da Literatura
69
Estes fatores determinam a altura do Sol em relação à superfície
terrestre. A altura do Sol consiste no ângulo formado entre os raios solares
e uma tangente à superfície no ponto de observação. Para Ayoade (1991,
p.25), “Quanto maior a altura do Sol, tanto mais concentrada será a
intensidade da radiação por unidade de área e tanto menor será o albedo”.
Neste sentido é que reside a importância da altura do Sol, pois aliado
às características estruturais dos objetos irá determinar a quantidade de
albedo por unidade de área da superfície terrestre.
Em estudos do campo térmico das superfícies urbanas, o albedo
adquire importância destacada, pois dependendo da variação dos valores do
albedo mais quantidade de radiação será absorvida e mais calor será
emitido pela superfície. De acordo, com Novo (1998, p.265) “a energia
emitida pela superfície e (...) os níveis de cinza associam-se a variações na
temperatura de brilho dos objetos”, registrada pelo satélite.
Assim, devido a elevada heterogeneidade dos materiais e elementos
utilizados na expansão das malhas urbanas, expressos pelas diversas formas
de uso e ocupação do solo, existem diferentes padrões de reflectividade ou
de albedos, conforme pode ser visto na Figura 8 (Lombardo, 2003).
Ao analisar-se a Figura 8, observa-se que os materiais urbanos que
apresentam maiores albedos correspondem aos mais claros como os
concretos (reflectividade entre 0,10 a 0,35); edificações pintadas de branco,
(0,50 a 0,80) e telhados de alta reflectividade (provavelmente de folhas de
amianto), entre 0,60 a 0,70. Porém, apesar de absorverem menos energia já
é suficiente para o aquecimento do corpo, pois a mesma não é utilizada ou
eliminada em nenhuma atividade, em virtude da natureza do objeto.
Capítulo II – Revisão da Literatura
70
As superfícies cobertas por vegetação, como árvores que possuem
baixa reflectividade entre (0,15 – 0,18) e as gramas com albedo entre (0,25
– 0,30), absorvem muita radiação solar. No entanto, esta energia absorvida
é empregada na fotossíntese e eliminada sob forma de evapotranspiração.
FIGURA 8: Albedos dos Materiais Urbanos
Fonte: Site da EPA ( Environment Protection Agency), 2003.
A variação do albedo é muito importante, pois aliada às características
internas de cada objeto (condutividade térmica e calor específico), que
permite converterem a radiação incidente em calor, condiciona o diferente
aquecimento das superfícies em iguais condições de recebimento de
energia.
No entanto, a dificuldade de se empregar a termografia em ambientes
urbanos é a sua elevada hetetogeneidade, pois, conforme Collischonn
(1998), a dimensão dos diferentes objetos é freqüentemente bem inferior
àquela apreendida pelo “pixel” da imagem no canal 6 (60m x 60m),
conforme pode ser visto na Figura 9.
Capítulo II – Revisão da Literatura
71
P
i
x
e
l
s
T
M
t
é
r
m
i
c
o
6
0
m
6
0
m
P
i
x
e
l
s
T
M
3
0
m
3
0
m
2
4
0
m
2
4
0
m
24
0
m
FIGURA 9: Dimensão do pixel TM e seu recobrimento em ambiente urbano e rural.
Fonte: Cantat, O. (1987, p.62). Adaptação: Saydelles, A.P.
Desta forma, de acordo com Novo (1998), a temperatura radiativa
medida, que corresponde a um “pixel” na imagem, é então a soma das
componentes individuais (árvores, vias, edifícios, zonas de sombra, etc.)
ponderada por suas respectivas superfícies e, portanto, reflete
essencialmente o comportamento térmico do elemento mais representativo
que o compõe.
Neste sentido, para Collischonn (1998, p.113-114):
A análise de um meio heterogêneo, como o
urbano, estará mais relacionada à resposta térmica
das principais estruturas da paisagem (centro-
urbano, loteamentos, parques, área industrial,
etc.), do que às variações térmicas de detalhe
Capítulo II – Revisão da Literatura
72
existentes, mas que o captor não pode registrar
em função do limite de resolução espacial.
A intensidade da radiação térmica recebida pelo satélite é o resultado
de três componentes: a emissão própria do solo, a emissão da atmosfera e a
fração de energia térmica refletida (Collischonn, Op. Cit.).
Desta forma, conforme Cantat (1987), o sensor térmico do satélite
registra, a um instante dado, a propriedade da radiação eletromagnética
emitida por diferentes objetos na superfície da terra, que por sua vez resulta
diretamente da temperatura da superfície e de sua emissividade.
Assim, para se obter a temperatura de fato de uma determinada
superfície a partir da termografia infravermelha requer-se a estimativa das
emissividades para cada objeto imageado.
É neste aspecto que divergem a maioria das metodologias empregadas
na conversão das imagens termais, pois quando se trabalha com áreas
urbanas muito heterogêneas torna-se muito difícil estimar todas as
emissividades dos alvos imageados, sendo que na maioria das vezes recai-
se na generalização das áreas e interpretações não condizentes com a
realidade da superfície em estudo.
CAPÍTULO III
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O roteiro metodológico para este trabalho foi inspirado no
organograma apresentado por Mendonça (1994), para o estudo do clima da
cidade de Londrina-PR. No entanto, como suporte teórico-metodológico
preliminar, apoiou-se na proposta desenvolvida por Monteiro (1976), do
Sistema Clima Urbano (SCU), o qual é constituído por três canais de
percepção climática ou subsistemas: o Termodinâmico ou do Conforto
Térmico, o Físico-Químico ou da Qualidade do Ar e o Hidrodinâmico ou
do Impacto Meteórico. O último representa o risco causado pelos impactos
climáticos naturais (tempestades, furacões, fortes nevadas etc.) e,
sobretudo, o impacto causado pelas chuvas torrenciais que alteram as
integridades físicas das cidades, principalmente as tropicais. O Físico-
Químico está relacionado com as ações antrópicas que, em co-participação
com os insumos energéticos atmosféricos, alteram a qualidade do ar.
Entretanto, para este estudo o subsistema termodinâmico ou do
conforto térmico constitui-se no canal norteador, pois o campo térmico e as
ilhas de calor urbano (variáveis termodinâmicas), produtos do intercâmbio
entre a atmosfera e a superfícies urbana, atuam diretamente na sensação de
bem-estar e na qualidade de vida da população.
Desta forma, este estudo foi desenvolvido em três fases, divididas de
forma seqüencial, como se verá a seguir. A elaboração de cada uma delas
Capítulo III – Procedimentos Metodológicos
74
forneceu os elementos necessários para o desenvolvimento das fases
posteriores.
4.1- PRIMEIRA FASE
A primeira fase do roteiro metodológico deste trabalho consistiu na
elaboração dos objetivos da pesquisa que se fez a partir da problematização
do objeto a ser estudado.
Tal problematização partiu das seguintes indagações sobre o ambiente
climático santamariense: como se comporta o campo térmico da cidade de
Santa Maria-RS e seu entorno, frente aos tipos de tempos predominantes?
Qual a participação dos elementos urbanos e naturais na intensidade do
campo térmico e na formação de uma provável ilha de calor no ambiente
urbano? Sabe-se que a formação e a intensidade do fenômeno da ilha de
calor urbano se deve ao tamanho da cidade, à densidade urbana e
populacional e às diversas funções desenvolvidas pelo espaço urbano, entre
outras. Neste sentido, Santa Maria já comporta a existência destes
fenômenos climáticos? Se sim, como se processam as trocas energéticas
entre a periferia da cidade e seu entorno (alta pressão) com a área central da
mesma (baixa pressão)?
Diversas inquietações sobre o ambiente climático santamariense
necessitam de respostas, como forma de auxiliar no planejamento urbano
na busca por melhor qualidade de vida para a população.
No entanto, neste estudo, buscou-se sintetizar o comportamento do
campo térmico e das ilhas de calor do ambiente urbano e parte de seu
entorno, frente às condições atmosféricas impostas por tipos de tempo
Capítulo III – Procedimentos Metodológicos
75
contrastantes das fases de aquecimento Pré-Frontal e de Domínio Polar,
através do emprego do sensoriamento remoto termal e de levantamentos de
campo na superfície urbana, no inverno.
A problematização se deu, também, a partir da vivência da realidade
local e regional e de levantamentos bibliográficos relativos à área e à
temática em estudo.
A área delimitada para este estudo compõe-se da malha urbana de
Santa Maria e parte de seu entorno. Tal delimitação se deve ao fato de que
o comportamento do campo térmico e das ilhas de calor não se constituem
apenas em ajustamentos dos elementos urbanos e naturais às condições
atmosféricas impostas pelos tipos de tempo predominantes, mas também
estão condicionados à influência do meio natural circunvizinho. Mendonça
(1994), ao estudar o clima urbano de Londrina-PR, destaca a importante
participação dos fatores geográficos circundantes à cidade, entre eles os
solos expostos nos períodos de entressafras, na configuração do ambiente
climático citadino.
Neste sentido, por situar-se numa zona de transição geomorfológica,
Santa Maria apresenta duas situações distintas quanto às unidades de
paisagens predominantes, conforme será melhor destacado no Capítulo IV
da Caracterização da Área.
Ao norte, estendendo no sentido E/W, a cidade é delimitada pela
presença do Rebordo do Planalto da Bacia do Paraná, com altitudes que
variam entre 100 e 500 metros. Esta descontinuidade geomorfológica
apresenta uma topografia muita irregular com vertentes íngremes cobertas
pela Floresta Subcaducifólia Subtropical. Ao sul, sobre a qual está situada a
cidade, aparece outra unidade de paisagem que compõe o quadro
Capítulo III – Procedimentos Metodológicos
76
geográfico da região central do Estado, a denominada Depressão Periférica
Sul-rio-grandense, com altitudes que variam entre 40-50 metros, junto às
várzeas dos rios e arroios, e atingindo até 150 metros, no topo das coxilhas.
Em uma topografia suave em forma de coxilhas e interflúvios bem
definidos e alongados, predominam os campos naturais destinados à
pecuária e capões de mato, bem como há intensa ocupação das várzeas e
planícies aluviais para as práticas agrícolas, sobretudo arroz.
Desta forma, a área natural circunvizinha à cidade apresenta
características geográficas distintas e importantes, como na variação
altimétrica, na cobertura vegetal e no uso do solo, que possivelmente
influenciam no comportamento do campo térmico e na formação das ilhas
de calor no ambiente urbano santamariense, através das trocas energéticas
que realizam entre os níveis topo e mesoclimático, conforme será visto no
Capítulo V, da Análise dos Resultados.
4.2- SEGUNDA FASE
A segunda fase deste roteiro metodológico subdivide-se em dois
momentos essenciais ao estudo do campo térmico e das ilhas de calor
urbano de Santa Maria-RS, que foram desenvolvidos de forma paralela.
Consistem na análise espacial e na análise do campo térmico
propriamente dito, bem como das condições atmosféricas (tipos de tempo)
nos dias específicos das imagens termais e das observações de campo.
Esta fase teve por objetivo a produção dos dados e documentos
básicos para o desenvolvimento desta pesquisa. É com base nesta fase que
todo o trabalho foi organizado e desenvolvido, pois foram os documentos e
Capítulo III – Procedimentos Metodológicos
77
dados produzidos nesta fase que permitiram a identificação das variáveis
geourbanas e geoecológicas, que controlam e definem o comportamento
térmico da área em estudo nos níveis meso e topoclimático.
4.2.1- A análise espacial
A análise espacial da área de estudo foi um dos encaminhamentos
básicos à compreensão dos elementos que participam na constituição de
seu campo térmico. Através desta etapa, objetivou-se produzir uma
caracterização, o mais detalhada possível, da realidade urbana de Santa
Maria.
A elaboração de uma cartografia detalhada da cidade como
embasamento para o estudo de seu campo térmico e das ilhas de calor é
procedimento fundamental, aspecto também enfatizado por Monteiro
(1976, 1990) ao assinalar a importância do embasamento cartográfico
como suporte ao desenvolvimento de estudos do clima urbano.
Assim, os dados coletados de fontes cartográficas, bibliográficas e
culturais referentes ao município e à cidade (fonte indireta), permitiram a
caracterização do sítio, da morfologia, da estrutura, das funções urbanas e
da densidade populacional.
Neste aspecto, o embasamento cartográfico compõe-se de três cartas
que, complementadas com os dados provenientes do levantamento indireto,
permitiram uma caracterização detalhada da realidade estudada.
Uma parte da representação cartográfica, que documentou a variação
altimétrica e a morfologia do município de Santa Maria-RS e parte dos
municípios vizinhos, foi à carta hipsométrica, elaborada tendo como base
Capítulo III – Procedimentos Metodológicos
78
as cartas topográficas de Santa Maria-RS, folha SH.22-V-C, MIR-534, do
ano de 1983, e de Santiago-RS, folha SH.21-X-D, MIR-533, do ano de
1984, ambas na escala de 1:250.000, com eqüidistância das curvas de nível
de 100 metros. Esta escala possibilitou a observação das variações
altimétricas das principais unidades de relevo que compõem a realidade
geográfica no qual o município de Santa Maria está inserido. A necessidade
de se representar o relevo na meso-escala deve-se à influência direta do
mesmo na definição do clima local. A mesma foi digitalizada utilizando-se
o Software Corel Draw 11.
Conforme Mendonça (1994, p.31), os estudos destas variáveis
altimétricas são considerados:
(...) fatores importantíssimos na construção do
clima urbano uma vez que os elementos do clima
são diretamente influenciados pela variação
destes; o estudo de tal influência compõe um dos
clássicos campos da climatologia.
O segundo documento da produção cartográfica refere-se ao fato
urbano propriamente dito, através da representação das funções urbanas
expressas na carta do uso e ocupação do solo, a qual teve como base a
elaborada por Bolfe (1997), na escala 1:100.000.
A importância da caracterização do uso do solo nos estudos do clima e
ilhas de calor urbano também foi retratado por Mendonça (1994, p.38), ao
afirmar que “A partir da cartografação do uso do solo é possível identificar
os elementos integrantes do espaço urbano responsáveis pela formação
do(s) clima(s) urbano(s)”.
Capítulo III – Procedimentos Metodológicos
79
A terceira carta utilizada na compreensão dos elementos responsáveis
pela formação dos diversos ambientes climáticos intra-urbanos foi a carta
de densidade populacional da cidade, uma vez que a distribuição
populacional sobre o espaço urbano está diretamente relacionada com o uso
do solo, também responsáveis pelas diferentes realidades climáticas na área
em estudo. Foi desenvolvida tendo como base a carta de densidade
populacional de Santa Maria, elaborada por Bolfe (1997), também na
escala de 1:100.000.
A caracterização das feições morfológicas e das variações altimétricas
do sítio urbano foram retratadas a partir de uma compartimentação
geomorfológica e de três perfis geoecológicos, os quais contém a geologia,
declividade e a cobertura do solo, adaptados de Sartori (1979).
4.2.2- A análise do campo térmico e das condições atmosféricas
Neste momento da pesquisa foram elaboradas as estratégias para a
análise do comportamento térmico da área de estudo, ao nível do
processamento digital da imagem termal (banda 6), do desenvolvimento
das observações realizadas em campo, bem como da análise das condições
atmosféricas (tipos de tempos) predominantes nos dias que antecederam o
imageamento via satélite e dos levantamentos de campo.
A análise do campo térmico e identificação da ilha de calor urbano da
área de estudo foi desenvolvida através de duas etapas seqüenciais,
conforme se verá a seguir.
A primeira etapa consistiu no emprego da termografia infravermelha,
que permitiu a identificação e análise do campo térmico de superfície da
Capítulo III – Procedimentos Metodológicos
80
cidade de Santa Maria e parte de seu entorno, nas escalas meso e
topoclimática, frente às condições atmosféricas impostas pelo tipo de
tempo no dia da imagem.
A segunda etapa da análise do campo térmico urbano se deu a partir
da coleta de informações obtidas em levantamentos de campo sobre as
variações das temperaturas do ar no ambiente intra-urbano, nos dias
04/08/2004 e 10/08/2004, sob situações sinóticas de fases Pré-Frontal e de
Domínio Polar, respectivamente, com objetivo de se comparar as
informações obtidas nas imagens termais com os levantamentos de campo
no ambiente intra-urbano.
A análise das condições atmosféricas (tipos de tempo), como parte do
estudo do campo térmico e da(s) ilha(s) de calor urbano, envolveu a busca
do conhecimento da dinâmica atmosférica regional, com o objetivo de
compreender as respostas locais urbanas (topo e mesoclima) frente aos
tipos de tempo que habitualmente atuam na área de estudo. A partir do
conhecimento da circulação atmosférica nestas duas escalas climáticas, foi
possível identificar os principais elementos climáticos que entram no
campo térmico e na(s) ilha(s) de calor urbano santa-mariense.
Na identificação do tipo de tempo no dia da imagem de satélite termal
e dos trabalhos de campo, foram utilizados dados meteorológicos diários
para se entender a circulação atmosférica regional, coletados junto à
Estação Meteorológica de Santa Maria (do Instituto Nacional de
Meteorologia) e de imagens do satélite meteorológico GOES E, obtidas no
“site” do INPE (http//: www. cptec.inpe.br).
Capítulo III – Procedimentos Metodológicos
81
Os dados da Estação Meteorológica utilizados foram: temperatura do
ar, umidade relativa, pressão atmosférica, precipitação, ventos, insolação e
nebulosidade nos horários das 12hs, 18hs e 24hs GMT.
Com os dados meteorológicos e as imagens do Satélite GOES-E,
foram elaborados gráficos de “análise rítimica” indispensáveis à definição
dos tipos de tempo.
4.2.2.1- O emprego de imagens de satélite na identificação do campo
térmico e da(s) ilha(s) de calor urbano
A análise do campo térmico de superfície da cidade de Santa Maria e
parte de seu entorno, nos níveis meso e topoclimático, deu-se pelo emprego
da termografia infravermelha de superfície, através do processamento
digital da imagem do satélite Landsat 7 ETM+ do canal Termal (Banda 6),
que tem resolução de 60 metros, órbita/ponto 223/81 do dia 19/06/2002, no
horário das 09h e 45min. às 10hs. Os resultados obtidos nesta etapa foram
indispensáveis na seleção dos pontos que compuseram a rede fixa de
observação das temperaturas do ar intra-urbana da etapa seguinte.
O que mais dificulta o emprego sistematizado deste importante
recurso de observação, além dos altos custos de aquisição do mesmo, é a
complexidade da conversão de seus valores digitais em valores de
temperatura da superfície.
Assim, através de intensa busca acerca de uma metodologia mais
apropriada a ser empregada no processamento digital da imagem termal,
constatou-se que, atualmente, tanto na literatura nacional como
Capítulo III – Procedimentos Metodológicos
82
internacional, existem dois métodos que permitem a extração dos valores
térmicos de imagens termais.
Um dos procedimentos está baseado em Carnahan & Larson (1990),
Nichol (1994) e Collischonn (1998). Neste procedimento, na conversão dos
valores de radiância das imagens termais em valores térmicos devem ser
feitas correções conforme a emissividade de cada objeto da superfície
terrestre imageada; o cálculo sugerido pelos autores está expresso na
Equação 4:
Equação 4
Onde:
a)- Ts = Temperatura da superfície
b)- Tb = temperatura que emitiria a superfície se fosse um corpo negro
perfeito;
c)- λ = comprimento de onda médio da radiância emitida pela banda 6
(11.5µm);
d)- α = hc/K (1.438x 10-² mK), onde:
d.1)- K = Constante de Stefan-Bolzmann (1.38x10-²³ J/K);
d.2)- h = Constante de Planck (6.28x10-
³ J seg), e
d.3)- c = velocidade da luz (2.998x10 m/seg);
e)- lnε = logaritmo natural da emissividade da superfície.
No entanto, quando se trabalha com áreas muito complexas e
heterogêneas como os ambientes urbanos, os problemas de se empregar
esta técnica são enormes e na maioria das vezes inviabilizam sua utilização,
pois na converção dos valores de emissividade em temperatura real para
Ts = Tb/1+(λTb/α)lnε
Capítulo III – Procedimentos Metodológicos
83
cada objeto imageado, torna-se indispensável um mapeamento do uso do
solo urbano extremamente detalhado.
Assim, em cidades de pequeno e até mesmo de médio porte, cujas
áreas urbanas não são muito extensas, como no caso de Santa Maria-RS, as
imagens do satélite Landsat 7 ETM+, que possuem resolução espacial de
30 metros (com exceção da banda 8, de 15 metros), são muito limitadas
para um detalhado mapeamento de uso do solo urbano - por razões já
mencionadas no Capítulo II da Revisão da Literatura – e não permitem a
identificação de algumas variáveis intra-urbanas indispensáveis na
configuração e comportamento do campo térmico de superfície, como por
exemplo: áreas verdes (bosques, quintais, ruas); cores das edificações (que
influenciam no albedo da radiação solar); ruas e avenidas pavimentadas
com asfaltos (que absorvem grande parte da radiação solar incidente);
concretos (que possuem maior albedo); ruas com pararalepípedos (que
permitem o desenvolvimento de gramíneas auxiliando no processo de
atenuação do calor) e também ruas ou estradas sem pavimentação;
sombreamento imposto pelas edificações no horário do imageamento (entre
9hs e 10hs) que em qualquer estação do ano influencia sensivelmente no
comportamento das temperaturas da superfície e do ar; variações
altimétricas do sítio urbano, e outros fatores.
Em virtude destas dificuldades que permeiam a utilização desta
técnica, e também por não se possuir outras bandas além da termal (banda
6), optou-se, então, pela utilização de uma metodologia baseada em Bariou,
Lecamus & Le Henaff (1993)
3
e Mendonça (1994), a qual consiste na
conversão dos valores de radiância da imagem termal em temperatura
relativa da superfície, usando-se basicamente a Lei de Planck.
3
Dossiers de télédétection (nº8), Centre Régional de Télédétection da Université de Rennes 2 – France.
Capítulo III – Procedimentos Metodológicos
84
Esta técnica permite uma observação do comportamento térmico de
todas as variáveis geoecológicas e geourbanas que compõem o ambiente
urbano frente à imposição dos sistemas atmosféricos de atuação regional,
de forma não generalizada e homogênea.
Assim, o primeiro passo no processo de transformação dos valores de
radiância da imagem termal em temperatura relativa, foi submetê-la (banda
6) ao módulo thermal do programa computacional IDRISI 32. Este
módulo, de acordo com Lombardo et.al .(2003), baseia-se nas funções de
calibração dos detetores do sensor termal do satélite e converte os níveis de
cinza da imagem em valores de temperatura, em graus centígrados. Obteve-
se, então, como produto, uma imagem contendo 15 faixas de temperaturas,
sendo: 3,59°C – 5,03°C – 6,47°C – 7,92°C – 9,36°C – 10,81°C – 12,25°C –
13,69°C – 15,14°C – 16,58°C – 18,02°C – 19,47°C – 20,91°C – 22,36°C –
23,80°C, esta imagem foi denominada de temp1.
No passo seguinte, através do módulo reclass do programa IDRISI 32,
fez-se uma reclassificação dessas 15 faixas de temperaturas obtidas na
imagem anterior, obtendo-se, assim, a imagem denominada temp 2, com as
seguintes faixas térmicas: 3° – 4°C; 4° – 5°C; 5° – 6°C; 6° – 7°C; 7° – 8°C;
8° – 9°C; 9° – 10°C; 10° – 11°C; 11° – 12°C; 12° - 13°C; 13° – 14°C; 14°
– 15°C; 15° – 16°C; 16° – 17°C; 17° – 18°C; 18° – 19°C; 19° – 20°C; 20°
– 21°C; 21° – 22°C; 22° – 23°C; 23°- 24°C.
No entanto, como as faixas térmicas inferiores a 8° - 10°C e superiores
a 23°C não apresentaram quantificações relevantes para a análise, as
mesmas foram descartadas.
Assim, para a análise do campo térmico ao nível topoclimático, fez-se
uma reclassificação da imagem temp 2, obtendo-se a imagem denominada
Capítulo III – Procedimentos Metodológicos
85
de temptopo com as seguintes distribuições térmicas: 8° – 10°C; 10° –
11°C; 11° – 12°C; 12° – 13°C; 13° – 14°C; 14° – 15°C; 15° – 16°C; 16° –
17°C; 17° – 18°C; 18° – 19°C; 19° – 20°C; 20° – 21°C; 21° – 22°C; 22° –
23°C.
Para a análise do campo térmico no nível mesoclimático, a imagem
temp 2 foi novamente reclassificada, desta fez obedecendo uma variação
térmica de 3 em 3°C, obtendo-se a imagem tempmeso, com 5 faixas: 8° –
11°C; 11° – 14°C; 14° – 17°C; 17° – 20°C; 20° – 23°C.
Na representação das faixas térmicas obtidas na imagem termal foram
utilizadas cores, levando-se em conta o espectro-eletromagnético para a luz
visível. Assim, as temperaturas mais baixas foram representadas pelas
cores frias (ondas curtas): violeta, azul e verde, e as temperaturas mais
elevadas, as cores quentes (ondas longas): amarelo, laranja, vermelho e
marrom.
4.2.2.2- Os levantamentos de campo das temperaturas do ar
Conforme os objetivos propostos para este estudo, o período escolhido
para a análise do campo térmico, tanto da superfície como do ar, foi o de
inverno, pois é justamente nessa época que melhor se destacam e se
individualizam as seqüências mais habituais dos tipos de tempo para a
região em que se localiza a área de estudo.
Conforme Sartori (1979; 1993; 2000), o Rio Grande do Sul
caracteriza-se constante confronto entre os sistemas atmosféricos de
origens extratropicais e intertropicais, bem como por mecanismos
Capítulo III – Procedimentos Metodológicos
86
instabilizadores do tempo, que no inverno são mais acentuados pela
intensificação dos sistemas atmosféricos de origem polar, bem como pela
maior diferenciação térmica entre as altas e baixas latitudes. Assim, no
período em que foi realizada a análise (inverno), tem-se sobre a região
seqüências de tipos de tempo bem definidos e individualizados, conforme
discutido no Capítulo IV da Caracterização da Área de estudo.
Assim, para a análise das oscilações das temperaturas do ar no
ambiente urbano santamariense frente às condições atmosféricas regionais,
foram realizados levantamentos de campo junto à malha urbana, através de
uma rede fixa de observação.
A rede fixa de observação consistiu na distribuição pela malha urbana,
de 20 mini-abrigos meteorológicos, cada um deles com um termômetro de
álcool para a medição da temperatura do ar, os quais foram calibrados na
Estação Meteorológica de Santa Maria (no campus da UFSM). No entanto,
devido ao forte “Vento Norte” no primeiro dia de coleta dos valores de
temperaturas, um dos mini-abrigos foi destruído, passando-se a contar com
apenas 19 pontos fixos de observação.
Os mini-abrigos meteorológicos foram construídos tendo como base a
metodologia proposta por Seferino & Monteiro (1990), em folhas duplas de
madeira compensada (espessura de 10mm), com furos desencontrados para
isolar termicamente e ventilar o termômetro no seu interior, suspensos do
chão por haste de 1,5 metro de altura, sobre base em forma de cruz, de
acordo com os quatros pontos cardeais (N, E, S e W) para facilitar seu
posicionamento. Os mesmos foram pintados na cor branca, que
proporciona maior reflexão dos raios solares incidentes, atenuando a
absorção de calor, conforme pode ser visto na Figura 10.
Capítulo III – Procedimentos Metodológicos
87
FIGURA 10: Fotografia do mini-abrigo meteorológico
Fonte: Saydelles, A.P.
Os mini-abrigos foram posicionados sempre com a abertura frontal
voltada para sul, para proteger o termômetro contra a radiação solar direta.
Na escolha dos pontos para as mensurações das temperaturas do ar
considerou-se, sobretudo, os diversos bairros da cidade, o uso do solo
urbano, a densidade populacional, presença de áreas verdes, as unidades
morfológicas do sítio urbano, o comportamento térmico da superfície
obtido na imagem termal e, principalmente, a disponibilidade de recursos
Capítulo III – Procedimentos Metodológicos
88
humanos que auxiliassem nas coletas das temperaturas nos devidos
horários e dias estabelecidos.
Os pontos que compõem a rede fixa de observação, onde foram
instalados os mini-abrigos meteorológicos estão espacializados na Figura
11 e são os seguintes:
1 - Bairro Centro – Área caracterizada por apresentar a maior
densidade populacional da cidade entre 7.413 a 9.555 Hab/Km² (Bolfe,
1997). A presença de cobertura vegetal é muito esparsa, com inúmeros
edifícios acima de 4 pavimentos em seu entorno. Quanto ao uso do solo,
destaca-se pela grande concentração comercial e prestação de serviços,
além do uso residencial (Bolfe, 1997). O fluxo de veículos e pessoas é
muito intenso, o que favorece a liberação de calor antropogênico, todas as
ruas e avenidas possuem pavimentação asfáltica. O mini-abrigo foi
instalado em frente da Brasil Telecom (antiga CRT) numa altitude de 150
metros, área mais elevada do sítio urbano original.
2 - Bairro Centro – Área intensamente urbanizada, porém com
presença de edificações mais baixas, não ultrapassando 4 pavimentos,
situada na vertente leste do “festão colinoso mais elevado” (Sartori, 1979).
A presença de vegetação é maior que no Ponto 1, concentrando-se,
sobretudo, nos pátios e quintais das casas. Quanto ao uso do solo, destina-
se essencialmente ao uso residencial e em menor intensidade à prestação de
serviços. Todas as ruas possuem pavimentação asfáltica, com grande fluxo
de veículos. O mini-abrigo foi instalado no jardim de uma residência na rua
Tuiuti, quase esquina com a rua Riachuelo, a 132 metros de altitude.
Capítulo III – Procedimentos Metodológicos
89
Barragem
DNOS
2
3
4
5
6
7
8
14
13
9
10
15
16
17
18
12
11
19
1
2
1
3
4
5
6
7
8
14
13
9
10
15
16
17
18
12
11
19
Centro-1
Centro-2
Centro-3
Nsª Sdas Dores
Nsª Sde Lourdes
Medianeira
Urlândia
Patronato
Passo D’areia
Nsª Sdo Rosário
Salgado Filho
Caturrita
Perpétuo Socorro
Itararé
Km³
São José
Camobi
Juscelino Kubitschek
Tancredo Neves
LEGENDA
ESCALA GRÁFICA
Sistema de Coordenadas Geogficas
Dátum Horizontal: Córrego Alegre - Minas Gerais
Zona 21.
Elaborão: Alexandre Pistoia Saydelles
N
FIGURA 11: Localização dos Pontos na Rede Fixa de Observação na Malha Urbana de Santa Maria-RS
Capítulo III – Procedimentos Metodológicos
90
3 - Bairro Centro – Área densamente construída, com grande presença
de edifícios que não ultrapassam 4 andares, situada na vertente oeste do
“festão colinoso mais elevado”, onde predomina o uso residencial com fraca
concentração comercial, porém apresenta intenso fluxo de veículos. Apesar
da existência de praça bem arborizada ao lado do Grupamento do Corpo de
Bombeiros, onde foi instalado o mini-abrigo, apresenta baixa presença de
vegetação. O mini-abrigo foi instalado a 142 metros de altitude.
4 - Bairro Nossa Senhora das Dores – Área bem urbanizada, destinado
ao uso residencial, com elevada densidade populacional entre 4.770 a 6.412
Hab/km² (Bolfe, 1997), onde predominam as edificações mais baixas, com
exceção da Av. das Dores, onde destacam-se as edificações mais elevadas e
grande concentração comercial com intenso fluxo de veículos. A presença
de vegetação é bem significativa nas ruas e principalmente nos pátios e
quintais das casas. Caracteriza-se por ser um bairro de classe média. O
mini-abrigo foi instalado no pátio da Escola Estadual Coronel Pilar, a 136
metros de altitude.
5- Bairro Nossa Senhora de Lourdes - Área bastante urbanizada,
disposta na vertente sul do “festão colinoso mais elevado”(Sartori, Op.
Cit.). Com densidade populacional variando entre 4.770 a 6.412 Hab/Km²
(Bolfe, 1997), destina-se exclusivamente ao uso residencial com
concentração comercial apenas nas principais vias de circulação (Av.
Medianeira e Fernando Ferrari). Caracteriza-se por ser um bairro de classe
média-alta com predomínio de casas de padrão elevado e significativa
presença de vegetação nas ruas e principalmente nos pátios e quintais das
residências. O mini-abrigo foi instalado no jardim de uma residência na rua
Rigoberto Duarte, a 106 metros de altitude.
Capítulo III – Procedimentos Metodológicos
91
6 - Bairro Medianeira – Bem urbanizado apenas na sua parte norte
(entre a Av. Medianeira e o limite norte do bairro), onde predominam as
edificações mais baixas (casas) com grande presença de vegetação do tipo
arbórea, nas ruas e pátios. Destina-se essencialmente ao uso residencial,
com elevada concentração comercial e prestação de serviços apenas ao
longo da Av. Medianeira (Bolfe, 1997). Em sua parte sul (entre a Av.
Medianeira e seu limite sul) predominam as áreas não urbanizadas, com
grande presença de vegetação do tipo arbórea e gramíneas. Apresenta
densidade populacional entre 4.770 a 6.412 Hab/Km² (Bolfe, 1997). O
mini-abrigo foi instalado no pátio de uma residência na rua Daltro Filho, a
97 metros de altitude.
7 - Bairro Urlândia – Área mais ao sul da cidade em que foi instalado o
mini-abrigo, caracteriza-se por ser de classe média-baixa, com uso do solo
essencialmente residencial (Bolfe, 1997), onde predominam as casas com
elevada presença de vegetação e áreas não urbanizadas. Possui uma
densidade populacional de 3.180 a 4.769 Hab/Km² (Bolfe, Op. Cit.). O
mini-abrigo foi instalado numa residência na rua São Carlos, a 79 metros de
altitude.
8 - Bairro Patronato – Área bem urbanizada, com uso do solo
essencialmente residencial, com elevada presença de vegetação do tipo
arbórea e gramíneas nas ruas e pátios das casas. Apresenta densidade
populacional de 3.180 a 4.769 Hab/Km² (Bolfe, 1997), com predomínio de
edificações com apenas 1 pavimento (casas). O mini-abrigo foi instalado
no Cemitério Público Municipal, a 107 metros de altitude.
9 - Bairro Passo D’areia – Destinado exclusivamente ao uso
residencial, com predomínio de casas, em que a densidade populacional
Capítulo III – Procedimentos Metodológicos
92
varia em torno de 3.180 a 4.769 Hab/Km² (Bolfe, 1997). Apesar de ser bem
construído, ainda apresenta locais não urbanizados, com elevada presença
de vegetação do tipo arbórea e gramíneas nas ruas e nos pátios das
residências. O mini-abrigo meteorológico foi instalado no pátio de uma
residência na rua Tenente Carrion (próximo ao HGuSM), a 106 metros de
altitude.
10 - Bairro Nossa Senhora do Rosário – Densamente urbanizado, com
significativa presença de ruas com pavimentação asfáltica, apresenta
densidade populacional elevada entre 7.413 a 9.555 Hab/Km² (Bolfe, 1997).
O uso do solo é essencialmente residencial, porém com grande fluxo de
veículos e pessoas, sobretudo nas ruas principais. Possui elevada
concentração de edificações acima de 4 pavimentos. No entanto, a
quantidade de vegetação arbórea é elevada. O mini-abrigo foi instalado no
pátio da garagem dos Correios, a 115 metros de altitude, local com fraca
presença de vegetação e fluxo de veículos.
11 - Bairro Salgado Filho – Bem urbanizado, apresenta elevada
densidade populacional entre 4.770 a 6.412 Hab/Km², e uso do solo
essencialmente residencial (Bolfe, 1997). Caracteriza-se por ser um bairro
de classe baixa, com predomínio de casas e grande presença de vegetação
do tipo arbórea e gramíneas nas ruas e pátios das casas. O mini-abrigo foi
instalado no pátio de uma residência na rua Rafael Real, numa altitude de
79 metros.
12 - Bairro Caturrita – Com pequena urbanização, apresenta densidade
populacional muito baixa entre 225 a 1.589 Hab/Km² (Bolfe, 1997).
Também considerado de classe baixa, destina-se exclusivamente ao uso
residencial, onde predominam as casas. Situa-se no norte da cidade em
Capítulo III – Procedimentos Metodológicos
93
contato direto com o Rebordo do Planalto, o que favorece a elevada
concentração de vegetação do tipo arbórea. O mini-abrigo foi instalado no
pátio de uma residência na rua Erwin Rabenschlag, a 125 metros de
altitude.
13 - Bairro Perpétuo Socorro – Também fracamente urbanizado, porém
com densidade populacional mais elevada em relação ao Ponto 12, em torno
de 1.590 a 3.179 Hab/Km², destina-se ao uso essencialmente residencial
(Bolfe, 1997), com elevada presença de vegetação do tipo arbórea devido ao
contato direto com o Rebordo do Planalto ao norte. O fluxo de pessoas e
veículos é baixo. O mini-abrigo foi instalado no interior do regimento da 6ª
BIA, a 111 metros de altitude.
14 - Bairro Itararé – Bem urbanizado, sobretudo em sua parte sul. Ao
norte limita-se com o rebordo do Planalto e a NE com a Barragem do
DNOS. Apresenta densidade populacional entre 3.180 a 4.769 Hab/Km² e
está destinado exclusivamente ao uso residencial (Bolfe, 1997). Possui
elevada presença de vegetação do tipo arbórea e fraco fluxo de veículos e
pessoas. O mini-abrigo meteorológico foi instalado a 137 metros de
altitude, numa residência na rua Visconde de Agne.
15 - Bairro Km3 – Área com baixa urbanização (mais significativa em
sua parte oeste), ao sul predominam as áreas não urbanizadas. Apresenta
uma densidade demográfica entre 1.590 a 3.179 Hab/Km², e destina-se
preferencialmente ao uso residencial, mas com concentração comercial e
prestação de serviços ao longo da Av. Dores e RS- 509 (Bolfe, 1997).
Possui elevada presença de vegetação do tipo arbórea. O mini-abrigo foi
instalado em frente ao posto da Polícia Rodoviária Estadual (Trevo do
Castelinho), local de intenso fluxo de veículos, a 111 metros de altitude.
Capítulo III – Procedimentos Metodológicos
94
16 - Bairro São José - Fracamente urbanizado, com baixa densidade
populacional entre 225 a 1.589 Hab/Km², destina-se essencialmente ao uso
residencial (Bolfe, 1997), onde predominam as casas com uso misto
(concentração comercial e prestação de serviços) e elevado fluxo de
veículos apenas ao longo da RS - 509. Apresenta grande concentração de
vegetação do tipo arbórea e gramíneas. O mini-abrigo foi instalado no
Cemitério Santa Rita de Cássia, local com elevada presença de vegetação, a
102 metros de altitude.
17 - Bairro Camobi – Bem urbanizado, porém com baixa densidade
populacional entre 1.590 a 3.179 Hab/Km², destinado preferencialmente ao
uso residencial com predomínio de casas, com concentração comercial e
prestação de serviços apenas ao longo da RS- 509 (Bolfe, 1997). Limita-se
ao norte com o rio Vacacai – Mirim, a leste com a Base-Aérea de Santa
Maria e ao sul com o Campus da Universidade Federal de Santa Maria.
Desta forma, apresenta elevada concentração de vegetação arbórea e de
gramíneas, além de áreas ainda não urbanizadas. Possui elevado fluxo de
veículos ao longo da RS-509. O mini-abrigo foi instalado no
estacionamento do Posto BR na RS-509, a uma altitude de 79 metros.
18 - Bairro Juscelino Kubitschek – O mini-abrigo foi instalado na
Cohab Santa Marta, área bastante urbanizada, com elevada densidade
populacional, entre 4.770 a 6.412 Hab/Km², destinado exclusivamente ao
uso residencial (Bolfe, 1997), com grande presença de vegetação, onde
predominam as casas. O fluxo de veículos e pessoas é muito baixo. O mini-
abrigo foi instalado a uma altitude de 111 metros.
19 - Bairro Cohab Tancredo Neves – Área intensamente urbanizada,
com uma densidade populacional muito alta em torno de 4.770 a 6.412
Capítulo III – Procedimentos Metodológicos
95
Hav/Km², destinado essencialmente ao uso residencial (Bolfe, 1997), com
predomínio de casas pintadas em cor branca e telhados com folhas de
amianto e ruas, em sua maioria, com pavimentação asfáltica. A presença de
vegetação é muito baixa. O mini-abrigo foi instalado a uma altitude de 106
metros, no pátio de uma residência na rua Dário Prates.
Observa-se na Figura 11, que no bairro Centro foram instalados três
mini-abrigos meteorológicos, justamente por ser o CBD (Central Business
District) da cidade com as maiores densidades urbanas e populacionais,
necessitando de um melhor detalhamento das informações.
Os dias em que ocorreram os levantamentos de campo, pré-
estabelecidos conforme as condições sinóticas (tipos de tempos) almejadas
para o estudo foram: 04/08/2004, sob o domínio da fase Pré-Frontal com
forte atuação do “Vento Norte”, e no dia 10/08/2004, sob atuação e domínio
das condições atmosféricas de uma Massa Polar Atlântica (M.P.A.).
Os horários em que ocorreram as coletas das temperaturas do ar na
rede fixa de observação foram às 09h, 12h, 15h, 18h e 21h.
Para a obtenção da localização geográfica e altitude dos pontos onde
foram instalados os mini-abrigos meteorológicos contendo os termômetros,
utilizou-se o GPS (Sistema de Posicionamento Global), de marca Garmin-
Etrex, do Departamento de Geociências/UFSM.
De posse dos dados sobre as temperaturas do ar (Anexos I e II),
obtidos nos experimentos de campo, foram elaborados mapas isotérmicos,
utilizando-se o programa computacional Surfer 6, a partir do método da
“krigagem” (Kriging). Na espacialização do comportamento das
temperaturas do ar foram utilizadas cores, considerando o espectro-
eletromagnético para a luz visível e também conforme a disponibilidade no
Capítulo III – Procedimentos Metodológicos
96
programa Corel Draw11, onde os mesmos foram editados posteriormente.
Buscou-se estabelecer uma idéia de continuidade ou evolução das
temperaturas no decorrer do dia e entre os dois períodos analisados. No
entanto, por motivos técnicos em alguns momentos isto nem sempre foi
possível, em função da quantidade de classes a serem representadas.
4.3- TERCEIRA FASE
A terceira fase do roteiro metodológico proposto para o estudo do
campo térmico e das ilhas de calor urbano em Santa Maria-RS constituiu-se
no momento em que se buscou a integração geográfica, ao se sintetizar as
características do fato urbano com as climáticas nas escalas regional e local
(mesoclima e topoclima).
CAPITULO IV
5. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA
5.1- Aspectos históricos e funcionais
A cidade de Santa Maria (RS) está localizada no centro do Estado
do Rio grande do Sul, numa área de transição morfológica denominada
de Depressão Periférica Sul-rio-grandense, com altitudes médias de 100
metros.
Santa Maria foi, em seus primeiros dias, área de disputa entre as duas
monarquias ibéricas: Portugal e Espanha (Belém, 1989).
Com seu território ocupado desde os primórdios do século XVII até
meados do Século XVIII, por índios e jesuítas em missões itinerantes, a
história de Santa Maria tem início à época do Brasil colonial. O continente
de São Pedro era, por este tempo, uma área em permanente litígio, face às
disputas que, envolvendo as coroas lusa e espanhola, tinham por objeto a
posse das terras situadas nesta posição mais meridional da América
(Zillmer, 1991).
O constante estado de beligerância a que estavam submetidas estas
terras meridionais começou a esboçar a viabilidade de um quadro mais
diplomático, a partir do momento em que se firmaram as negociações e a
posterior assinatura do Tratado de Santo Ildefonso, no ano de 1777
(Zillmer, 1991).
Capítulo IV – Caracterização da Área
98
Em obediência às clausulas deste Tratado, as duas coroas ibéricas
arcariam com a responsabilidade de devolver áreas que, no passado,
tivessem se apropriado indevidamente.
Assim, o povoamento da cidade teve início por volta de 1789, quando
chegou o grupo de soldados que constituíam a segunda subdivisão da
Comissão Demarcadora dos limites da América Meridional.
Organizando o acampamento, a Comissão Demarcadora começa o
trabalho de abertura de estradas, que posteriormente passariam a ser as
principais artérias de circulação da futura cidade: a rua Pacífica, que descia
a colina em direção ao Passo D’areia e que hoje é a rua Dr. Bozzano, e a rua
São Paulo, atual rua do Acampamento (núcleo urbano inicial), onde se
encontravam instalados o quartel e o escritório da comissão técnica de
demarcação (Belém, 1989).
Já num primeiro momento, o núcleo inicial, que resultou na cidade de
Santa Maria, indicava uma condição militar, representada pelo
acampamento que aí se estabeleceu.
No entanto, a partida da Comissão Demarcadora em direção às
Missões Orientais anexadas não implicou em retrocesso na povoação
incipiente. Pelo contrário, o marco inicial já havia se consolidado, deixando
a área sua condição de acampamento para assumir o papel de povoado em
processo de expansão.
Segundo o IBGE (2000), Santa Maria conta com uma população de
243.396 habitantes, e de acordo com a Fundação de Economia e Estatística
(1990), constitui-se na 5ª maior cidade do Rio Grande do Sul, destacando-se
como importante centro político-econômico regional e grande pólo de
atração populacional.
Capítulo IV – Caracterização da Área
99
As características funcionais urbanas atuais de Santa Maria repousam,
principalmente, no setor terciário (prestação de serviços), salientando-se o
setor comercial e educacional.
A importância do setor comercial deve-se, segundo Sartori (1979, p.5):
(...), em primeiro lugar, a sua posição no centro do
estado e, já que é bem servida por rodovias, atrai a
população de várias cidades da região. Neste setor,
Santa Maria destaca-se no comércio varejista,
atacadista e no comércio especializado
abastecendo os municípios vizinhos com produtos
de primeira necessidade, ou mesmo de luxo.
Sua crescente projeção como centro educacional à torna, conforme
observa Sartori (2000), no mais importante centro urbano do interior do Rio
Grande do Sul neste setor, com ampla área de atuação, onde milhares de
jovens de outras localidades (mesmo fora do Estado) se estabelecem à
procura das escolas de Ensino Médio e dos cursos de graduação oferecidos
pela Universidade Federal de Santa Maria, UNIFRA, ULBRA, FAMES,
FADISMA, FAPAS e FASCLA.
A especialização do sistema médico-hospitalar proporcionou que Santa
Maria assumisse importância regional, transformando-se num centro de
serviços médicos para as populações dos municípios vizinhos, devido,
principalmente, a presença do Hospital Universitário da UFSM (público),
do Hospital de Caridade Dr. Astrogildo de Azevedo, Casa de Saúde, entre
outros.
A função de grande centro ferroviário que a cidade já desfrutou, em
relação aos transportes de passageiros, é atualmente inexistente. O setor
rodoviário, devido à passagem por Santa Maria das mais importantes
Capítulo IV – Caracterização da Área
100
rodovias do interior do Estado, substituiu praticamente todo o setor
ferroviário, que mantém apenas serviço de transporte de cargas.
Santa Maria ainda desempenha importante função militar, devido à
história de sua ocupação e também pela sua estratégica localização
geográfica, abrigando grande número de unidades do Exército e da Força
Aérea.
Conforme Sartori (1979), o setor secundário ocupa um percentual de
população ativa inferior ao setor primário. A industrialização não tem muita
expressão e é pouco diversificada. No geral, são indústrias de pequeno e
médio porte, voltadas para o beneficiamento de produtos agrícolas ou para
os setores mobiliários, metálicos, calçadistas, de laticínios, de bebidas, entre
outros. A indústria da construção civil tem aumentado cada vez mais sua
importância nos últimos anos e vem promovendo significativas alterações
na t opografia do espaço urbano santamariense, sobretudo nos bairros
centrais da cidade.
5.2- Os sistemas atmosféricos regionais e o clima da região de Santa
Maria
Na tentativa de caracterizar o ambiente climático local, recorreu-se aos
estudos realizados por Sartori (1979, 1981, 1993 e 2000), os quais
forneceram importantes subsídios ao entendimento e compreensão do
dinamismo e atuação dos sistemas atmosféricos, responsáveis pela
formação das famílias dos tipos de tempo para a região de Santa Maria-RS,
e que interferem decisivamente na configuração do espaço climático nas
Capítulo IV – Caracterização da Área
101
escalas meso e topoclimáticas e, sobretudo, na definição do campo térmico
intra-urbano.
Desta forma, na análise do comportamento do campo térmico e da(s)
ilha(s) de calor urbano da área em estudo, faz-se necessário, a priori, o
conhecimento dos sistemas atmosféricos regionais responsáveis pela
sucessão habitual dos tipos de tempo para a região. Conforme já
mencionado, o clima urbano, nada mais é do que respostas dos elementos
urbanos frente à imposição da circulação atmosférica nas escalas regional e
local.
Assim, no estudo do quadro climático para a região de Santa Maria,
Sartori (1979), seguindo os postulados da climatologia geográfica brasileira,
discorreu sobre a circulação atmosférica regional, identificando os tipos de
tempo atuantes e predominantes numa escala local ou terciária, associados
às características geográficas intra-urbanas.
O território do Rio Grande do Sul, assim como toda a Região Sul do
Brasil, em virtude de sua posição latitudinal, encontra-se numa posição de
transição no que se refere ao quadro climático, refletindo a participação
tanto dos sistemas atmosféricos de origem extratropical (Massas e Frentes
Polares) como os de gênese intertropical (Massas Tropicais e Correntes
Perturbadas). Neste sentido, Sartori (2000, p. 189) afirma que:
(...), a posição subtropical faz com que a região
seja área de confronto periódico entre forças
opostas, provocado pelo avanço sistemático dos
sistemas atmosféricos de origem polar em direção
aos polares tropicalizados (massa polar velha) ou
aos sistemas de origem tropical (massa tropical
atlântica ou continental), proporcionando a
distribuição das chuvas durante todo o ano,
motivada pelas sucessivas passagens frontais, sem
Capítulo IV – Caracterização da Área
102
ocorrência de estação seca no regime
pluviométrico.
Considerando a circulação atmosférica regional e os tipos de tempo
para a região de Santa Maria, a autora afirma que os sistemas extratropicais
controlam a circulação secundária, sendo que estes são representados,
sobretudo, pela Massa Polar Atlântica (M.P.A.) ou Continentalizada
(M.P.A.c.), Massa Polar Velha (M.P.V.) e a Frente Polar Atlântica (F.P.A.),
atuantes durante o ano inteiro.
Os sistemas de origem intertropical possuem uma participação quase
inexpressiva na composição da realidade climática local, sendo
representados pela Massa Tropical Atlântica (M.T.A.), Massa Tropical
Continental (M.T.C.) e Frente Quente de Nordeste, atuantes apenas nas
fases pré-frontais, por no máximo dois dias consecutivos, independente da
época do ano.
Os tipos de tempo originados pela participação dos sistemas
atmosféricos polares são de extrema relevância e ocupam destacada
importância na formação do clima local, uma vez que os mesmos atuam em
cerca de 90% dos dias do ano.
De acordo com Sartori (2000, p.205), “ Na primavera e verão a maior
freqüência é da M.P.V. (43,3% e 48,3%) e no outono e inverno é da M.P.A.
a liderança (47,8% e 61,7%); e F.P.A. atua, em média, em 20% dos dias do
ano. Os 10% restantes são divididos entre os de origem tropical”, conforme
pode ser visto na Figura 12.
Assim, em função da freqüência e atuação destes sistemas
atmosféricos na região, Sartori (1979) identificou quinze tipos de tempos
atuantes na região de Santa Maria, para o ano-padrão de 1973, agrupando-
os em três grandes famílias, sendo:
Capítulo IV – Caracterização da Área
103
1ª)- Sistemas extratropicais, com seus mecanismos frontais, sendo os
mesmos responsáveis pela instabilidade do tempo, representados pela
Frente Polar Atlântica, e pelos domínios dos Anticiclones Polares,
responsáveis pela estabilidade do tempo, comandados pela Massa Polar
Atlântica, sendo eles:
- Tempo Anticiclonal Polar Típico
- Tempo Anticiclônico Polar Marítimo
- Tempo Anticiclônico Polar Continental
- Tempo Anticiclônico Polar Pós-Frontal
- Tempo Anticiclônico Polar em Tropicalização
- Tempo Anticiclonal Aquecido
FIGURA 12: Histogramas representativos da participação dos Sistemas
atmosféricos na região de Santa Maria, RS.
Fonte : Sartori (2000, p. 205).
Capítulo IV – Caracterização da Área
104
2ª)- Sistemas intertropicais, com seus domínios tropicais marítimos
(Massa Tropical Atlântica), estabilizadores do tempo e os domínios
tropicais continentais (Massa Tropical Continental), responsáveis pelos
fluxos de oeste e noroeste, associados em parte aos aquecimentos pré-
frontais, caracterizando-se pelas instabilidades do tempo, são eles:
- Tempo Anticiclônico Tropical Marítimo
- Tempo Anticiclônico Tropical Continentalizado
- Tempo Depressionário Continental
3º)- Correntes perturbadas, associadas aos tipos de tempos frontais,
responsáveis pelas situações de instabilidade do tempo, sendo eles:
- Tempo Frontal de Sudoeste de Atuação Moderada
- Tempo Frontal de Sudoeste de fraca Atuação
- Tempo Frontal Estacionário
- Tempo Frontal de Nordeste
- Tempo Frontal Ciclonal de Atuação Direta
- Tempo Frontal Ciclonal de Atuação Indireta.
Assim, pode-se afirmar que o dinamismo e a freqüência de atuação dos
sistemas atmosféricos regionais geram condições atmosféricas específicas
que, através de suas várias combinações, resultam em diferentes tipos de
tempos predominantes na região de Santa Maria, RS.
Em virtude das variações de atuação e freqüência dos sistemas
atmosféricos regionais ao longo do ano, tem-se, conforme Sartori (1993,
p.71), “situações sazonais específicas que definem várias combinações entre
os tipos de tempo e a circulação do ar.”
Capítulo IV – Caracterização da Área
105
Em vista disto, a partir da análise da freqüência e variação têmporo-
espacial dos sistemas atmosféricos, Sartori (1993) identificou as várias
articulações entre os tipos de tempo e seus encadeamentos mais comuns,
relacionados com as variações de ritmo dos sistemas extratropicais e
intertropicais, específico para a situação de inverno na região central do Rio
Grande do Sul.
No entanto, para que seja possível a compreensão da seqüência
habitual dos tipos de tempo para o inverno gaúcho, é necessário o
entendimento do comportamento dos sistemas atmosféricos para este
período sazonal.
Nesta época do ano, as condições climáticas de toda a Região Sul
caracterizam-se pelo confronto mais intenso entre os sistemas atmosféricos
de origem extra e intertropicais. Este fato está condicionado a menor
entrada de energia solar em todo Hemisfério Austral.
Em virtude das temperaturas apresentarem-se mais baixas, há uma
intensificação do Anticiclone Migratório Polar, devido ao grande acúmulo
de ar frio nas latitudes sub-polares, que avança rumo ao continente com
maior força e intensidade. No entanto, nesta época do ano, os Anticiclones
do Pacifico e do Atlântico encontram-se posicionados mais próximos do
continente sul-americano, oferecendo obstáculos à passagem das Frentes e
Massas Polares. Como resultado, têm-se intensas atividades frontogenéticas
que individualizam os tipos de tempo para a região (Monteiro, 1963;
Sartori, 1993).
Esta configuração climática para o período de inverno na Região Sul
também é retratada por Monteiro (1963) apud Sartori (1993, p. 72):
Capítulo IV – Caracterização da Área
106
O anticiclone semifixo do Atlântico, em virtude
das temperaturas menos elevadas no continente,
avança sobre o mesmo, aproximadamente até os
meridianos de 50º W Gr, dominando sua face leste
(...). Seus avanços e recuos pelo interior são
regulados pelos sistemas de depressões reinantes
ao longo da FPA. A depressão do Chaco, devido
ao processo de resfriamento do continente, a não
ser quando agravado dinamicamente pela FG na
FPA, permanece, o mais das vezes, como uma
simples calha, associando-se a outras que se
formam ocasionalmente pelo interior do Brasil. O
Anticiclone do Pacifico, também mais próximo do
continente, entra em choque, freqüentemente, com
o anticiclone migratório polar em seus avanços
para o norte, o que implica em grande atividade
para a FPP e conseqüente reforço do anticiclone
que (...) ficará capacitado a investir com maior
pujança e freqüência para o norte, produzindo, no
Brasil, as intensas ondas de frio do sul que,
agravadas pelos fenômenos frontológicos, dão a
nota característica da estação.
Desta forma, tem-se uma sucessão habitual dos estados de tempo no
inverno gaúcho, resultantes das características e intensidade dos confrontos
entre os sistemas atmosféricos atuantes e da permanência e duração dos
mesmos.
Em vista disto, Sartori (1993) identificou como se processam as
sucessões dos tipos de tempo mais habituais no inverno gaúcho,
estabelecidos através de 4 fases específicas, que se manifestam através de
ciclos com duração variável: Pré-Frontal, Frontal, Domínio Polar e
Transicional.
Capítulo IV – Caracterização da Área
107
1ª Fase: Pré-Frontal
Também pode ser considerada a última, pois através da noção de
sucessão cíclica as fases constituem –se em elos de ligação às demais.
Esta fase, também denominada por Monteiro (1963) de “Prenúncio”,
antecede a passagem de uma Frente Fria sobre a região, que está sob forte
domínio de uma massa polar que, em contato e permanência com a
superfície continental mais quente, adquiriu suas características, aquecendo-
se.
A pressão atmosférica é baixa e os ventos sopram do quadrante Norte
(N ou NW), com velocidades variáveis de calmas até moderadas (8 a 12
m/s), mas em algumas situações esporádicas as rajadas podem atingir até os
100Km/h, dando origem a um típico vento local, denominado de “Vento
Norte”. Esse vento ao descer a escarpa do Planalto Meridional Brasileiro
sofre o efeito “föhen” (pelo desnível de 400m) aquecendo-se por
compressão adiabática, sendo o principal responsável pelas sensações de
desconforto térmico na população santamariense (Sartori, 2000).
As temperaturas máximas são superiores a 20ºC e a umidade relativa
do ar é geralmente inferior a 50%. Por apresentar estas características
atmosféricas, esta fase Pré-Frontal (sem a ocorrência de “vento norte”, que
atua como dissipador do calor) é, segundo Sartori (1986) em estudos
preliminares sobre a existência de ilha de calor em Santa Maria, o que
apresenta as condições atmosféricas e meteorológicas essenciais à
individualização do fenômeno na cidade, devido ao forte aquecimento basal
do ar sobre o continente.
Capítulo IV – Caracterização da Área
108
Esta fase, tem duração média de 1 a 3 dias, até que a Frente Fria
chegue à latitude do Rio Grande do Sul e imponha outro tipo de tempo para
a região.
2ª Fase: Frontal
Corresponde à passagem da Frente Polar Atlântica (Frente Fria) sobre
o Rio Grande do Sul, que na fase anterior encontrava-se sobre a Argentina e
Uruguai. O Estado fica sob domínio desta descontinuidade frontal, que lhe
impõe um tipo de tempo próprio, segundo Sartori (1993, p.75):
(...), não há vento de direção e velocidade bem
definidos (variáveis), a pressão atmosférica
alcança os valores mínimos do episódio, o céu
apresenta-se encoberto com nuvens Sc, Ns e Cb e
precipitações (que pode não ocorrer),
determinando pequena amplitude térmica pela
ausência de insolação direta e fraca radiação.
A intensidade da passagem da Frente Polar dependerá do contínuo
abastecimento de ar frio em sua retaguarda, principalmente pelo reforço da
Polar Pacífica, pois quando isto acontece a passagem frontal ganha mais
força, podendo alcançar latitudes mais baixas.
Segundo Monteiro (1963, p. 136):
O primeiro sinal da chegada da frente fria, logo
após o aquecimento Pré-Frontal é uma mudança
rápida na direção dos ventos, que passam a soprar
de Sul, (...) ocorrem trovoadas antes mesmo da
chegada da frente. Quando esta atinge o Rio
Grande, praticamente todo o “tempo”(...) é afetado
por mecanismo frontal. A chegada da frente as
Capítulo IV – Caracterização da Área
109
trovoadas se agravam, mais ainda pelos
movimentos convectivos originados pelo
aquecimento basal. (...) em geral, é bem intenso no
Rio Grande (Campanha, Depressão e Litoral), as
trovoadas e aguaceiros(...).
Este é um típico estado de tempo que foi denominado por Sartori
(1981) de Frontal de Sudoeste.
Acredita-se que sob o domínio desta instabilidade frontal sobre a
região, o fenômeno da(s) ilha(s) de calor urbano não se individualize
nitidamente, pois a presença de nebulosidade, bem como de precipitações,
dificulta a incidência solar na superfície, sendo esta de mínima absorção,
não permitindo, desta forma, o armazenamento eficaz de energia pelos
elementos urbanos e naturais.
3ª Fase: Domínio Polar
Logo após a passagem da Frente Fria (F.P.A.), responsável pela
instabilização do tempo, há o domínio absoluto das condições atmosféricas
e meteorológicas pela Massa Polar Atlântica (M.P.A.) sobre o RS.
O domínio da Massa Polar sobre a região é caracterizado pelo intenso
declínio das temperaturas mínimas e máximas, que, se reforçado por ar
polar da vertente pacífica, poderá facilmente atingir valores negativos. O
posicionamento do Anticiclone Polar sobre a região proporciona
significativa elevação da pressão atmosférica, assim como ventos dos
quadrantes sul ou oeste e calmas.
A presença da nebulosidade da fase anterior cede lugar a um céu
totalmente límpido, que permite ampla insolação durante o dia e forte
Capítulo IV – Caracterização da Área
110
irradiação à noite, ocasionando inversões de temperatura e favorecendo a
formação de geadas, orvalhos e nevoeiros (Sartori, 1993; Monteiro 1963).
Diversos autores, na literatura nacional e internacional, afirmam que o
fenômeno da(s) ilha(s) de calor urbano se manifesta, com maiores
intensidades, sob estas condições atmosféricas, principalmente à noite,
quando os materiais urbanos liberam toda a energia calorífica armazenada
durante o dia, favorecido pelo céu limpo que proporciona grande insolação.
4ª Fase: Transicional
A massa de ar polar que dominou o tempo sobre a região na fase
anterior, em virtude de seu avanço para latitudes mais baixas e pelo tempo
de permanência em contato com a superfície do continente, modifica-se
pelo aquecimento basal, entrando em processo de Tropicalização (Massa
Polar Velha ou Tropicalizada).
Esta fase representa a transição entre o domínio do tempo pela Massa
Polar e uma nova Frente Fria, que já começa a se definir sobre a Argentina,
pelo acúmulo de ar frio no Anticiclone Migratório Polar, que esta sobre a
Patagônia, gerando a Frontogênese (Sartori, 1993).
Em virtude destas condições atmosféricas, o céu mantém-se limpo, o
que favorece a insolação, permite grandes amplitudes térmicas pela
elevação da temperatura durante o dia, propicia a formação de orvalho
durante a noite, predominando ventos leves de E e NE (Sartori 1993;
Monteiro 1963).
A condição meteorológica imposta por este tipo de tempo favorece a
intensificação da ilha de calor urbano, sobretudo à noite, da mesma forma
que na fase anterior. Porém, favorecido pelas maiores temperaturas há
Capítulo IV – Caracterização da Área
111
intensificação do aquecimento basal durante o dia gerando amplitude
térmica junto à superfície.
Assim, esta seqüência de 4 fases, representa o “ciclo” mais habitual
dos tipos de tempo para a região de Santa Maria. Podem, entretanto, ocorrer
variações, dependendo da freqüência, da intensidade e, sobretudo, da
duração de atuação dos sistemas atmosféricos dominantes na região.
5.3- Os condicionantes na configuração do campo térmico e da(s)
ilha(s) de calor urbano em Santa Maria
Como pôde ser visto no Capítulo II da Revisão da Literatura, as
cidades são grandes modificadoras do clima local, através da influência de
inúmeras variáveis geográficas e urbanas.
Dentre as variáveis geográficas responsáveis pela individualização e
caracterização de um clima tipicamente urbano, tem-se dois grupos, que
são: as variáveis geoecológicas (sítio urbano, relevo, vegetação,
hidrografia...) e as geourbanas (estruturas, funções e dimensões), que
associadas aos sistemas atmosféricos atuantes, interagem num constante
feed-back, dando origem ao ambiente climático próprio de Santa Maria.
5.3.1- Os Condicionantes Geoecológicos
A fim de sintetizar as variáveis geoecológicas que podem condicionar
a formação do campo térmico e da(s) ilha(s) de calor urbano de Santa
Maria-RS, ressalta-se a influência do aspecto morfológico regional, em que
a cidade está assentada. Neste aspecto, a região central do Estado, onde está
Capítulo IV – Caracterização da Área
112
localizada a cidade de Santa Maria, caracteriza-se pela Depressão Periférica
Sul-rio-grandese ou Depressão Central, correspondendo a uma faixa
deprimida que se estende no sentido Leste/Oeste, entre os compartimentos
geomorfológicos mais elevados: ao norte, o Planalto da Bacia do Paraná e
seu Rebordo, e ao sul, o Escudo Sul-rio-grandense (Figura 13).
O Planalto da Bacia do Paraná constitui-se em duas unidades de
paisagens distintas e bem definidas: o Topo e o Rebordo do Planalto.
O Planalto teve sua origem no vulcanismo fissural, do Cretáceo (Era
Mesozóica), responsável por cinco sucessivos derrames de lava na região,
sendo que o primeiro está assentado diretamente sobre o arenito Botucatu
(Maciel Filho, 1990), de origem eólica, atestando a existência de um clima
seco no passado. O Topo possui uma morfologia fracamente ondulada, em
forma de coxilhas tabulares e arredondada, que reflete à resistência das
rochas aos processos morfoclimáticos, a declividade em média é pequena
entre 8 e 12% e, conforme pode ser visto na Figura 13, apresenta altitudes
entre 400 a 500 metros.
A presença vegetal se dá sob a forma de campos, que eram até pouco
tempo destinados à atividade pastoril e hoje cedem espaço às lavouras de
soja e milho; há ainda presença de matas galerias e capões de matos
associados à área de campo (Sartori, 2000).
A outra unidade de paisagem do Planalto da Bacia do Paraná, é o
Rebordo, também conhecido por Serra Geral, e se constitui num importante
compartimento na configuração do relevo da cidade e também no seu
cenário climático nas escalas meso e topoclimática.
Projeção Universal Transversa de Mercator
Dátum Horizontal: SAD 69 - Minas Gerais
Origem da Quilômetragem UTM “Equador e
Meridiano 51º W e 57ºW de Greenwich”.
Acrescidas as constantes: 10.000Km e 500Km,
respectivamente.
Fusos UTM: 21 e 22.
Fonte: Cartas topográficas de Santa Maria-RS, folha:
SH.22-V-C do ano de 1983 e Santiago-RS, folha:
SH.21-X-D de 1984, escalas 1:250.000 do DSG.
Execução: Alexandre Pistoia Saydelles
Orientação: Profª. Drª. Maria da Graça B. Sartori
220000 230000 240000
6750000
6740000
6730000
6720000
6710000
6700000
6690000
6680000
250000
Itaara
Dilermando de Aguiar
Santa Flora
Boca do Monte
São Martinho
Santa Maria
Silveira
Martins
790000780000770000
760000
m.N.
> 100 m
100 a 200m
200 a 300m
300 a 400m
400 a 500m
< 500m
Santa Maria-RS
Distritos
Rede de Drenagem
Açudes
LEGENDA
Cidades
N
04.5 4.5 9 13.5
18 Km
Escala Gráfica
FIGURA 13: Mapa hipsométrico de Santa Maria e municípios vizinhos.
Capítulo IV – Caracterização da Área
114
O Rebordo representa zona de transição entre o Planalto e a Depressão
Periférica, constituindo-se em escarpa com desnível de até 400 metros, que
representa a fase atual da evolução do Planalto (Figura 13).
Apresenta uma morfologia irregular com paredões abruptos e vales
encaixados em forma de “V” e “U” resultante de falhamentos e também do
papel da drenagem na dissecação e festonamento da escarpa ou “cuesta”.
Possui alta energia do relevo e declividades de médias (6%) a alta (45%),
conforme pode ser visto na Figura 14. É encoberta pela Floresta
Subcaducifólia Subtropical, mantida pelas condições climáticas nesta
unidade de relevo, com alta umidade do ar, chuvas abundantes e nevoeiros.
Atualmente, encontra-se muito devastada pelas atividades agrícolas e pela
ocupação humana através da expansão urbana, que ocorre sem nenhuma
orientação ou planejamento.
A Depressão Periférica Sul-rio-grandese constitui-se na base na qual a
cidade está assentada, sendo constituída, segundo Bortoluzzi apud Sartori
(1979, p.125), por “Sedimentos gonduânicos que se distribuem ao longo da
região deprimida (...) e onde as formas de relevo são modestas,
representadas por coxilhas baixas e alongadas e por tabuleiros areníticos,
cujas cotas raramente ultrapassam os 150m”.
A morfologia da Depressão caracteriza-se pela pequena amplitude
altimétrica, constituída por colinas suaves, com interflúvios alongados e
vertentes bem definidas, cujas declividades variam entre 6% a 14%
(Sartori, 2000). Sua constituição vegetal é formada por campos em sua
totalidade, com presença de matas ciliares ao longo de arroios e riachos e
por capões de mato, com ampla atividade pastoril e agrícola, sobretudo de
arroz nas extensas várzeas e planícies aluviais dos principais rios.
Capítulo IV – Caracterização da Área
115
300
0 600 1200m
ESCALA
N
I e Ia - Planalto e Morros Testemunhos
II e - Festão Colinoso mais elevado
(Capeamento: Formação Botucatu)
IIa
III - Colinas Baixas
(Formação Santa Maria)
IV - Várzeas
PERFIS GEOECOLÓGICOS: C’ - C
Cobertura
Declividade
Geologia
CENTRO
Período
Formação
Simbologia Litologias
Cretáceo
Serra
Geral
Cretáceo
Jurássico
Triássico
Superior
Botucatu
Santa
Maria
Arenito Intercalar
(Intertrapp)
Granófiro
Basalto
Arenito eólico
Arenitos e Lutitos Fluviais
Folhelhos e Lamitos
COLUNA ESTRATIGRÁFICA
FIGURA 14: Quadro Geoecológico de Santa Maria-RS.
Elaborador: Saydelles, A. P. Adaptado de Sartori (1979, p.129).
Capítulo IV – Caracterização da Área
116
O sítio urbano de Santa Maria está assentado sobre área sedimentar
com duas características distintas em função de seu embasamento
geológico.
O centro da cidade, que corresponde ainda hoje ao núcleo original,
está assentado sobre a formação Caturrita, constituída por arenitos
intercalados com clásticos finos de origem fluvial e segundo Sartori (2000,
p. 200), “encontra-se o setor mais elevado da área sedimentar (150m), com
declividades entre 6,9% e 8,3% (Figura 14), constituindo-se no divisor
d’água entre as principais mini-bacias do sítio: as dos afluentes do rio
Vacacaí-Mirim (a leste) e as do Arroio Cadena (a oeste)”.
Assim, o núcleo central urbano está concentrado, principalmente, no
compartimento denominado por Sartori (1979) de “festão colinoso mais
elevado”, vindo a constituir-se no setor mais elevado do sítio urbano, com
vertentes alongadas e bem definidas, estendendo-se no sentido das
periferias da cidade (Figura 14).
O centro da cidade também apresenta a maior densidade horizontal e
desenvolvimento vertical das edificações mais altas, vindo a alterar a
topografia natural.
No entanto, a maior parte do perímetro urbano está assentada sobre a
formação Santa Maria, composta por siltitos e arenitos argilosos
estratificados e lamitos, caracterizando-se por uma topografia mais suave
de coxilhas, com declividade inferiores a 6% e altitudes que não
ultrapassam os 100 metros (Maciel Filho, 1990; Sartori 1979).
O crescimento da malha urbana encontra alguns condicionantes
topográficos, como a sudeste do sítio, em que morros testemunhos
resultantes do recuo do Rebordo do Planalto, limitam, em parte, a expansão
Capítulo IV – Caracterização da Área
117
nesta direção. Por outro lado, segundo Sartori (2000), nos setores sudoeste,
oeste e noroeste e no extremo leste encontram-se limitantes de outra
natureza, representado pelas instituições militares, que impedem o
desenvolvimento da malha citadina.
Neste sentido, o sítio urbano de Santa Maria, devido as suas
peculiaridades topográficas, caracteriza-se por apresentar, segundo Sartori
(2000, p.200):
(...), uma topografia mais plana e suave , a oeste e
sudoeste e “ fechada”, em todo o quadrante norte
e a sudeste, o que interfere significativamente nas
condições climáticas na escala local e da cidade (
mesoclima), que, por sua vez, são influenciados
pelas componentes geourbanos ( topoclima e
microclima), frutos do processo de evolução e
crescimento do espaço urbanizado.
5.3.2- Os condicionantes Geourbanos
No intuito de melhor compreender o campo térmico e a(s) ilha(s) de
calor urbano de Santa Maria, torna-se necessário o estudo da dimensão,
estrutura e funções desenvolvidas no espaço urbano pelas diversas
atividades humanas.
Sabe-se que as características naturais, assim como as urbanas, estão
intimamente relacionadas entre si, através de constantes trocas energéticas
e materiais, não podendo ser encaradas separadamente. Entretanto, neste
trabalho, para efeito de um melhor entendimento, as mesmas serão
Capítulo IV – Caracterização da Área
118
analisadas separadamente, fato que em nenhum momento compromete a
sua interpretação.
De acordo com a literatura nacional e internacional, conforme já
destacado com ênfase no Capítulo II da Revisão da Literatura, as áreas que
registram os valores mais elevados de temperaturas coincidem com os
espaços densamente urbanizados, com pavimentação asfáltica das ruas,
edificações mais altas, maior densidade populacional, fluxo constante de
veículos e pedestres e, principalmente, pela baixa presença de cobertura
vegetal.
Assim, conforme pode ser observado na Figura 15, o Bairro Centro da
cidade de Santa Maria, possui os valores mais elevados em termos de
densidade populacional, variando em torno de 6.419 a 9.555 hab/Km².
Também caracteriza-se por apresentar a maior concentração das edificações
mais altas, destinados à prestação de serviços e uso residencial.
Conforme já mencionado, o bairro está localizado, topograficamente,
no setor de maior altimetria do sítio urbano em torno dos 150m de altitude,
coincidindo com o sítio urbano inicial, onde predomina a área de maior
concentração das atividades comerciais e varejistas, financeiras e de
prestação de serviços e de uso misto, como pode ser visto na Figura 16,
representadas pelas cores marrom e vermelha, respectivamente.
Conforme Saydelles & Sartori (2004), a insolação direta no bairro
Centro é favorecida pela orientação de suas vertentes, as quais em sua
maioria estão voltadas para os quadrantes que recebem intensa incidência
solar direta, durante o período da tarde (N e W), podendo comprometer o
conforto térmico da população durante os meses de verão.
Capítulo IV – Caracterização da Área
119
225 - 1.589
1.590 - 3.179
3.180 - 4.769
4.770 - 6.412
7.413 - 9.555
Áreas não urbanizadas
LEGENDA
Fonte: SARTORI (2000).
Execução: SAYDELLES, A.P., Adapatado de BOLFE (1997).
Número de habitantes/Km²
Barragem
DNOS
Escala Gráfica
N
FIGURA 15: Mapa da Densidade Populacional Urbana de Santa Maria.
Quanto ao arranjamento das ruas, o Bairro destaca-se por apresentar
duas situações distintas, conforme Sartori (2000) e Saydelles & Sartori
(2004). Uma com presença de ruas largas, arborizadas e com edificações
mais baixas, como no caso da Av. Rio Branco, situação determina
temperaturas mais elevadas no início do inverno e na primavera, com
grande amplitude térmica diária, em conseqüência do maior ângulo de céu
visível, ocasionado pela presença das edificações mais baixas, permitindo
maior insolação durante o dia. A outra, é de ruas mais estreitas, sem
vegetação, delimitados por edifícios mais altos que são, segundo Mascaró
(1996), quentes no verão e início de outono, devido ao pequeno ângulo de
visão de céu, representado pela maior proporção das edificações. Neste
caso, pode-se citar as ruas Floriano Peixoto e Acampamento.
Capítulo IV – Caracterização da Área
120
FIGURA 16: Mapa de Uso e Ocupação do Solo Urbano de Santa Maria.
Estas condições, aliadas ao fato de que, neste bairro, todas as ruas
possuem pavimentação asfáltica e intenso fluxo de pessoas e veículos com
baixa presença de vegetação (salvo na praça Saldanha Marinho, na parte
mais central), fruto de um crescimento urbano desordenado e sem
planejamento (a partir do núcleo original), certamente influencia nas
temperaturas do ar e na definição da(s) ilha(s) de calor urbano, alterando o
clima da cidade e o conforto ambiental.
A partir do Centro da cidade, em direção aos bairros que se situam no
seu entorno, tem-se uma gradativa diminuição das cotas altimétricas,
decrescendo dos 150m até 100-90 metros de altitude, em direção às várzeas
dos arroios que circundam a cidade. Estas áreas possuem densidade
populacional que varia de 6.412 a 4.770 hab/Km², representados pela cor
Capítulo IV – Caracterização da Área
121
vermelha, na Figura 15 (bairros Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora
de Lourdes, Medianeira e Salgado Filho), e de 4.789 a 3.180 hab/Km²,
representados pela cor laranja (bairros Passo d’areia, Patronato e Itararé).
Os três primeiros bairros citados, anteriormente, possuem, segundo
Saydelles & Sartori (2004), a maioria de suas vertentes inclinadas para os
quadrantes N e W, os quais recebem intensa incidência solar direta nos
horários em que as temperaturas são mais elevadas (à tarde), podendo
comprometer o conforto térmico no verão e favorecer a intensificação das
temperaturas da(s) ilha(s) de calor. No entanto, estes bairros são destinados
basicamente ao uso residencial, com boa presença de vegetação, maioria
das ruas mais estreitas e sem edificações muito altas, propiciando o
sombreamento. Conforme Mascaró (1996), essas condições favorecem a
formação de brisas locais geradas no interior do ambiente urbano,
amenizando de certa forma os efeitos do desconforto térmico gerado pelo
excesso de insolação recebida.
Em meio a estes bairros alongam-se eixos comerciais (varejistas e
atacadistas) e de prestações de serviços, representados em roxo na Figura
16, que coincidem com as principais vias de circulação de veículos, fora do
Centro (Sartori, 2000).
A expansão da malha urbana de Santa Maria foi favorecida no sentido
leste/oeste, pelo relevo, conforme já visto, mas também pelas principais
rodovias que circundam a cidade, ao longo das quais desenvolveram-se
eixos de prestação de serviços e uso misto, representado pelas cores roxo e
vermelho na Figura 16, bem como amplas áreas destinadas ao uso
residencial, com densidade populacional mais baixa, em torno de 3.179 a
Capítulo IV – Caracterização da Área
122
1.590 hab/Km², e de 1.589 a 225 hab/Km², representados em amarelo e
verde, respectivamente, na Figura 15.
No entanto, nestas áreas existem alguns obstáculos à expansão urbana
nessas direções, representados pelas instituições militares e educacionais
(em cinza na Figura 16): a sudoeste da cidade tem-se amplo campo de
instrução militar do Exército e no extremo leste a Base-Aérea e a
Universidade Federal de Santa Maria-UFSM.
Nos setores sul e sudoeste da cidade, entre dois morros testemunhos e
a UFSM, apresentam-se amplas áreas não urbanizadas, mas com alguns
loteamentos.
A maior concentração de vegetação (áreas verdes) da cidade, de
acordo com a Figura 16, está restrita ao rebordo do Planalto (Floresta
Subcaducifólia Subtropical) e aos morros testemunhos. No entanto, a
intensa ocupação urbana destas áreas vem favorecendo a gradativa
diminuição das mesmas.
No âmbito do espaço intra-urbano, ainda inexistem parques urbanos,
que atuariam tanto como interceptadores do escoamento superficial em dias
de chuvas e como espaço de lazer para a população, mas principalmente
amenizando os elevados índices térmicos, visto que a vegetação absorve a
radiação solar e a libera para a atmosfera sob forma de calor latente contido
na evapotranspiração, e não sob forma de calor sensível.
Apesar de algumas avenidas e ruas possuírem arborização, segundo
Sartori (2000), ainda são inexpressivas como moderadoras das
temperaturas nas escalas topoclimáticas e microclimáticas. Entretanto,
conforme a mesma autora, nas áreas residenciais a existência de jardins e
Capítulo IV – Caracterização da Área
123
quintais, com gramados e árvores, podem auxiliar na diminuição do efeito
da absorção da energia solar.
A soma destas variáveis oriundas das atividades humanas com aquelas
de natureza ecológica propicia a formação de um clima urbano específico, e
uma de suas mais notáveis manifestações é a ilha de calor urbano, a qual
geralmente está localizada no CBD das cidades. No entanto, sua
localização e intensidade certamente poderão sofrer alteração ou dissipação
pelo efeito da ventilação a nível regional e local, dependendo da
intensidade do vento.
Em Santa Maria, os ventos predominantes são, de acordo com Sartori
(1979), de direção leste, secundados pelos de sudeste; os ventos de maior
velocidade e mais quentes são de norte a noroeste; e os mais frios são de
sul e sudoeste.
No entanto, ao penetrar na área urbana a ventilação é grandemente
alterada pela estrutura urbana, como também pela topografia do sítio sobre
a qual a cidade está assentada.
No caso de Santa Maria, esta alteração é retratada por Sartori (1979, p.
154) ao afirmar que:
A topografia mais elevada da área urbana,
representada pelo Planalto e seus morros
testemunhos, são responsáveis pela canalização
do vento em direção à cidade, auxiliando na
predominância dos ventos de leste. Estes são
secundados pelos ventos de sudeste, em parte
freados pelos morros testemunhos.
A autora ainda afirma que a disposição das ruas na malha urbana da
cidade nos sentidos ENE-WSW e SSE-NNW, favorece a ventilação
Capítulo IV – Caracterização da Área
124
natural, canalizando os ventos predominantes de leste e sudeste, associados
aos domínios das Massas Polares, bem como os mais intensos e quente do
norte e noroeste, das fases Pré-Frontais, e os mais frios de sul e sudoeste.
Assim, a ilha de calor urbano de Santa Maria certamente será
influenciada, quanto ao seu posicionamento, pela ventilação local
predominante de leste/sudeste, estando deslocada para oeste da área central
da cidade (Sartori, 1979), fato que só será comprovado através das análises
realizadas neste trabalho.
Além do mais, a autora também afirma que o alinhamento das
edificações, associado ao nível topográfico mais elevado, à existência de
ilha de calor (baixa pressão) na zona central e à orientação das ruas,
propiciam excessos de ventilação ao longo das ruas, causando desconforto
à população em situações de ventos regionais de maior velocidade.
Certamente, outras interações se processam nas escalas meso, topo e
microclimáticas, que interferem na configuração do campo térmico e por
conseqüência na intensidade das ilhas de calor urbano. Porém, ao se
considerar as principais variáveis urbanas e naturais que compõem a
realidade geográfica da cidade, pode-se conseguir o embasamento
suficiente para o entendimento e análise dos efeitos resultantes destas
trocas energéticas na atmosfera urbana de Santa Maria.
CAPÍTULO V
6 – ANÁLISE DOS RESULTADOS
A análise do campo térmico de Santa Maria-RS foi desenvolvida,
conforme mencionado no Capítulo III dos Procedimentos Metodológicos,
através de duas etapas seqüenciais.
Na primeira etapa, foi empregada a termografia infravermelha na
identificação e análise do comportamento das temperaturas da superfície da
área em estudo, através da imagem termal (Banda 6) do satélite Landsat 7
ETM+, órbita/ponto 223/81, do dia 19/06/2002, entre 09h e 45min e 10h.
As informações obtidas na imagem termal foram comparadas aos
dados de temperatura do ar coletados em experimentos de campo junto à
malha urbana, na segunda etapa.
6.1- Análise das condições atmosféricas: Tipos de Tempo dos dias que
antecederam o imageamento termal de 19/06/2002.
Quando se analisa o comportamento térmico da superfície através do
emprego da termografia infravermelha, é de fundamental importância o
entendimento das condições atmosféricas dos dias precedentes ao
imageamento, pois, de acordo com Cantat (1987), o aquecimento das
superfícies não é resultado unicamente de um só momento, mas do
acúmulo de trocas energéticas entre a superfície e a atmosfera dos dias
precedentes.
Capítulo V – Análise dos Resultados
126
Assim, na tentativa de melhor compreender as condições atmosféricas
que ocorreram no dia do imageamento (19/06/2002), foram coletados
dados diários de pressão atmosférica, umidade relativa, temperatura,
insolação, pluviosidade, direção e velocidade dos ventos e nebulosidade,
nos horários das 12h, 18h e 24h GMT, da semana que o antecedeu (dias 13
a 19/06/2002), junto a Estação Meteorológica de Santa Maria-RS (do
Instituto Nacional de Meteorologia – INMET). Estes dados foram
utilizados na montagem dos gráficos de “análise rítmica” necessários à
definição dos tipos de tempo, conforme pode ser visto na Figura 17.
Assim, ao se analisar os gráficos da Figura 17, observa-se que no dia
13/06/2002, apesar de não terem ocorrido precipitações na área de estudo, a
Região encontrava-se sob condições sinóticas de domínio frontal (Frente
Fria), demonstrado pelo comportamento dos elementos meteorológicos,
pois a pressão atmosférica para as 12h estava baixa em torno dos 1010mb,
e a umidade relativa do ar para as 12h em torno dos 85%. A temperatura do
ar apresentou pequena amplitude térmica, variando entre os 8,8ºC (mínima)
a 14,2ºC (máxima), a direção dos ventos era do quadrante leste e
apresentavam fraca intensidade.
No dia 14/06, o sistema frontal já havia se deslocado para os estados
de Santa Catarina e Paraná. O Rio Grande do Sul já estava sob o forte
domínio da Massa Polar Atlântica, que impôs à região suas condições
atmosféricas características. A pressão atmosférica encontrava-se em 1016
mb, as temperaturas baixaram significativamente (mínima de 3,9°C e
máxima de 15ºC), o céu permaneceu limpo (sem nebulosidade), com
calmaria ou ventos de fraca intensidade.
Capítulo V – Análise dos Resultados
127
Fonte: Estação Meteorológica do
INMET de Santa Maria-RS.
Elaborador: Alexandre P. Saydelles
Nebulosidade
0 / 2
3 / 4
5 / 6
7 / 8
9 / 10
Calma
Direção
0,5 - 2,5 m/s
2,6 - 5 m/s
5,1 - 7,5 m/s
16
17 18
19/06/200213
14
15
N
e
b
u
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o
s
i
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a
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V
E
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(
m
/
s
)
1000
1010
1020
0
20
40
0
5
10
0
10
20
40
60
80
100
FIGURA 17: Análise das condições meteorológicas na semana que antecedeu e no
dia do imageamento realizado via satélite (dias 13 à 19/06/2002).
Este cenário atmosférico da Região não sofreu alterações nos dias 15 e
16/06. As temperaturas do ar variam entre 3,2°C de mínima, no dia 15/06, e
17°C de máxima, no dia 16/06. A pressão atmosférica atingiu os 1017mb
Capítulo V – Análise dos Resultados
128
No dia 17/06 as condições sinóticas alteraram-se significativamente
com a entrada de um novo sistema frontal no RS (Frente Polar Atlântica),
impondo seu tipo de tempo característico, de instabilidade. A pressão
baixou sensivelmente e atingiu 1005mb, as temperaturas do ar subiram e
variaram entre 13,4ºC e 16,4ºC, o céu estava completamente encoberto por
nuvens, com nebulosidade de 10/10, a umidade relativa do ar era de 98% e
os ventos sopravam predominantemente de NW/SW. As precipitações
ficaram em torno de 22mm (Figura 17).
Para o dia 18/06, o quadro atmosférico não se inverteu no período
matutino, pois o sistema frontal ainda controlava as condições atmosféricas
da Região. As precipitações persistiam e atingiram a marca 24,8mm. A
pressão atmosférica registrada às 12h (GMT) era de 1008,3mb e as
temperaturas do ar variaram entre 10ºC e 17,4ºC (Figura 17). No período
da tarde, as condições sinóticas alteraram-se, pois o sistema frontal já havia
se deslocado para o N/NE da Região, atingindo as latitudes de Santa
Catarina e norte do Estado. Assim, as condições atmosféricas para a área de
estudo eram determinadas pelo domínio da Massa Polar Atlântica
(M.P.A.); o céu não apresentava mais nebulosidade, a umidade relativa
registrada para às 18h (GMT) era de 64% e os ventos apresentavam direção
W/SW, com fraca intensidade.
No dia 19/06/2002, data do imageamento realizado pelo satélite
Landsat 7 ETM na área de estudo, os dados meteorológicos registrados
para a região central do Estado, bem como a imagem do satélite GOES-8,
atestavam o total domínio e controle das condições atmosféricas pela
Massa Polar Atlântica (M.P.A), pois a F.P.A. já havia se deslocado para
Santa Catarina e Paraná, conforme pode ser visto na Figura 18. A pressão
Capítulo V – Análise dos Resultados
129
atmosférica às 12h (GMT) era alta e estava em torno dos 1013,9 mb, a
umidade relativa do ar às 12h (GMT) era de 95%. No entanto, conforme
pôde ser visto nos gráficos da Figura 17, o céu manteve-se limpo, sem
presença de nuvens, com nebulosidade em torno de 0/10 durante todo o dia,
condição essencial para um bom imageamento via satélite. A insolação foi
de aproximadamente 9hs, o que possibilitou uma grande amplitude térmica,
pois a temperatura variou entre os 5,2ºC e 19ºC. As condições dos ventos
no horário próximo ao registro da imagem (12hs GMT- 9hs da manhã
local) era de 1,6 m/s, fraca intensidade e soprava de NW.
FIGURA 18: Imagem do Satélite GOES-8, Infravermelho, do dia 19/06/2002 às
9hs local (horário aproximado do imageamento termal do Landsat 7ETM+)
Fonte: “Sítio Virtual” do INPE/CPTEC. (www.cptec.inpe.br).
Capítulo V – Análise dos Resultados
130
6.2- O Campo Térmico de Superfície no dia 19/06/2002: Níveis
Mesoclimático e Topoclimático.
A identificação e análise do campo térmico de superfície da cidade
Santa Maria e seu entorno, tendo como base a termografia infravermelha,
deu-se a partir de duas escalas de abordagem: a mesoclimática e a
topoclimática.
No entanto, ao se estruturar a análise e o enquadramento das respostas
térmicas de superfície na área em estudo a partir da noção de escalas, não
se pretendeu estabelecer uma organização hierárquica no sentido de
“degraus” ou “escada”, onde os elementos que definem o comportamento
entre os níveis superiores e inferiores não possuam nenhuma relação entre
si, mas sim associá-la a uma concepção hierárquica de acordo com
Monteiro (2003, p. 31):
(...) uma árvore viva: um multinivelado,
estratificado e esgalhado padrão de organização,
(...) a idéia de árvore é mais dinâmica, mais rica,
por revelar as relações entre as partes e, sobretudo
por admitir implicitamente a noção de
crescimento e evolução do sistema.
Um sistema aberto em constante dinamismo e múltiplas conexões
entre si, responsável pelos diversos arranjos e padrões nos comportamentos
dos campos térmicos da superfície e do ar, tanto ao nível de meso quanto
de topoclima.
Capítulo V – Análise dos Resultados
131
6.2.1 – Identificação e Análise do Campo Térmico de Superfície a Nível
Mesoclimático.
A Figura 19 representa a cartografia térmica digital da área de estudo,
obtida através do processamento da imagem termal (banda 6) do satélite
Landsat 7ETM+ do dia 19/06/2002, no horário das 09:45min à 10h, cujos
valores de temperaturas relativas foram classificados obedecendo uma
variação de 3ºC, conforme já mencionado no Capítulo III, correspondendo
ao campo térmico da superfície da cidade de Santa Maria e parte de seu
entorno, na escala de abordagem mesoclimática.
Ao analisar-se a Figura 19, constata-se que os fatores de ordem
geográfica se impõem de forma mais imperativa na definição do campo
térmico da superfície do que a própria estrutura urbana, proporcionando
uma variação térmica urbano-rural na ordem de 15ºC, mesmo valor
encontrado por Mendonça (1994), quando empregou a termografia
infravermelha no estudo do campo térmico da cidade de Londrina-PR.
As áreas em que as superfícies apresentaram as maiores temperaturas
relativas entre 17° e 23ºC (representadas pelas cores vermelha e marrom na
Figura 19), estão situadas predominantemente a W/SW e S/SE, no entorno
rural da cidade. Isto se deve ao período do imageamento (fim do outono e
início do inverno), que, de acordo com o calendário agrícola do município
e da região, corresponde à entressafra dos cultivos de milho, mandioca e
predominantemente soja.
8º - 1C
11º - 14ºC
14º - 17ºC
17º - 20ºC
20º - 23ºC
LEGENDA
100
0
100 200 300 400
Escala aproximada
Imagem de Satélite Landsat 7 ETM+
órbita/ponto 223/81, obtida em 19/06/2002
entre 09h45min e 10h.
53°25’38
2
9
°
4
3
2
3
29°49’23
5
3
°
0
9
3
0
N
Sistema de Coordenadas Geográficas
Zona 21, Dátum SAD 69.
Elaborador: Alexandre Pistoia Saydelles
Orientadora: Profª. Drª. Maria da Graça B. Sartori
FIGURA 19: O campo térmico da superfície da área de estudo ao nível Mesoclimático, estimado a partir da Banda Termal do Satélite Landsat 7 ETM, do dia
19/06/2002.
Capítulo V – Análise dos Resultados
133
Neste período de entressafra, os solos rurais estão desnudos ou
expostos e secos, a espera dos cultivos de inverno, como aveia e azevém
(pastagens utilizadas na alimentação do gado).
Solos com estas características apresentam baixa inércia termal, se
comparados às áreas urbanas, ou seja, se aquecem mais rápido, pois toda
radiação solar incidente sobre eles é utilizada apenas para o seu
aquecimento, já que inexiste vegetação para atuar na absorção de parte
desta radiação incidente e também no sombreamento desta superfície.
O papel da mistura dos solos (secos ou úmidos; desnudos ou
cobertos), é um elemento de grande importância na definição do campo
térmico de áreas urbanizadas, sobretudo quando circundadas por solos
“secos e nus”, pois estes, conforme Mendonça (2002, p. 180):
Em tais condições, exercem uma influência
determinante na formação de condições climáticas
intra-urbanas, uma vez que o processo de calor
sensível que se desenvolve sobre eles intensifica o
aquecimento atmosférico, sendo esse transportado
pelos ventos para a cidade; ainda a cidade estoca
calor devido às diferentes propriedades dos
materiais que a constituem.
Obviamente que nas cidades circundadas por extensos cinturões
agrícolas, sobretudo de soja, comum no norte do estado gaúcho, no período
de entressafra os solos estão secos e desnudos, e sob determinadas
situações de aquecimento atmosférico intensificam o aquecimento da
camada de ar sobrejacente, promovendo a elevação das temperaturas nas
áreas urbanas vizinhas. Nestes casos, há necessidade de uma reorientação
no uso desses solos, principalmente no período de entressafra.
Capítulo V – Análise dos Resultados
134
Nestas áreas situadas a W/SW e S/SE do entorno rural de Santa Maria,
além da existência de áreas agrícolas, há também grande predomínio de
campos, que encobrem a morfologia mais baixa e suave da Depressão
Periférica, o que favorece ainda mais a incidência da radiação solar direta
na superfície, pois as matas-galerias e capões de matos (vegetação do tipo
arbórea), que são os obstáculos naturais a esta insolação proporcionando
sombreamento, não dominam a paisagem local.
Estes fatores integrados por si só justificam o registro de elevadas
temperaturas superficiais nesses locais do entorno da cidade, neste período
do ano e sob estas condições sinóticas de domínio polar, com céu limpo e
máxima insolação durante o dia.
As diferentes características do relevo, da cobertura vegetal e do uso
dos solos no entorno da cidade impõem diferentes comportamentos do
campo térmico de superfície a nível mesoclimático, que certamente reflete
e controla os padrões térmicos na escala de topoclima.
Neste aspecto, ao analisar-se a Figura 19, observa-se que no norte da
área urbana, estendido na direção leste/oeste, há o registro das menores
temperaturas relativas (superfícies), variando entre 8° e 11°C e entre 11° e
14°C. Estas superfícies correspondem ao Rebordo e Topo do Planalto,
unidades geomorfológicas de importante participação na definição do
quadro climático da cidade.
Em parte, pode-se justificar o aparecimento de superfícies com
temperaturas mais baixas neste setor do entorno da cidade pela união de
três elementos: a altimetria, a cobertura vegetal e a morfologia desta
unidade geomorfológica.
Capítulo V – Análise dos Resultados
135
A altimetria, de aproximadamente 350 metros (Figura 13), impõe um
efeito atenuador sobre a temperatura, pois, segundo Ayoade (1991), a
temperatura do ar diminui a uma taxa média de 0,6ºC a cada 100 metros de
altitude crescente. Este elemento (altitude), por si só, já seria responsável
pelo decréscimo dos valores médios das temperaturas do ar nestas áreas em
relação à urbana, uma vez que o desnível altimétrico é de aproximadamente
300 metros (Figura 13).
Por outro lado, a presença de uma densa cobertura vegetal
(remanescentes da Mata Atlântica Subtropical), que encobre toda esta
unidade, conforme pôde ser visto na Figura 16, favorece a diminuição dos
valores térmicos, pois proporciona o sombreamento da superfície, bem
como utiliza a maior parte da radiação incidente não para o aquecimento da
superfície ou do ar, mas no processo de fotossíntese, liberando-o
posteriormente sob forma de evapotranspiração, o que favorece o declínio
térmico.
Além destes fatores, soma-se o intenso festonamento de sua escarpa,
causado pela incisão fluvial, que permite o estabelecimento de encostas
íngremes e paredões abruptos, com declividades em média de 45,5%
(Figura 14), com vales profundos e encaixados na forma de “V”, o que
proporciona maior sombreamento, sobretudo nos fundos destes vales e nas
vertentes com orientações opostas à radiação solar.
Ao sul e sudeste da cidade, também por mérito da altitude (em torno
dos 250 metros) e pela densa cobertura vegetal do tipo arbórea (áreas de
conservação permanente), conforme pôde ser visto nas Figuras 14 e 16,
espectivamente, os morros testemunhos do Cerrito e Cardoso (Mariano da
Rocha) registraram baixas temperaturas superficiais, entre 11° a 14°C.
Capítulo V – Análise dos Resultados
136
Pode-se constatar também, pela análise da Figura 19, que os cursos
d’água como o arroio Ferreira, a oeste, e a várzea do rio Vacacaí-Mirim, a
E/NE da malha urbana, apresentaram temperaturas com valores
intermediários, ou seja, entre 14° e 17°C (representados pela cor laranja na
Figura 19). Devem-se, em parte, à umidade dos solos, à presença de matas
ciliares e ao próprio espelho d’água, que pelo seu elevado calor específico,
demoram mais para se aquecerem.
A malha urbana como um todo também apresentou temperaturas
relativas intermediárias, oscilando entre os 14° a 17°C. No entanto, esta é
analisada no nível topoclimático, a seguir.
Assim, observa-se que a imposição dos fatores relevo, cobertura
vegetal, altimetria e uso dos solos rurais circunvizinhos imperam na
definição e no comportamento do campo térmico de superfície
santamariense no nível mesoclimático, fato que certamente influencia na
diversificação do cenário topoclimático.
6.2.2- Identificação e Análise do Campo Térmico de Superfície a Nível
Topoclimático.
Ao se analisar o campo térmico da superfície da área em estudo,
através da termografia infravermelha, na escala de abordagem
topoclimática, além de proporcionar um melhor enquadramento das
variáveis geoecológicas e geourbanas, que interferem no comportamento
das temperaturas da superfície e por conseqüência do ar, permite responder
aos questionamentos levantados por Monteiro (2003, p. 27) “– o que está
Capítulo V – Análise dos Resultados
137
contido dentro de que?”, pois os elementos que estão contidos na escala
superior (mesoclimática) interferem diretamente nos que estão contidos na
escala inferior (topoclimática).
Conforme o discutido no sub-item anterior, os fatores de ordem
geográfica e a utilização dos solos rurais controlam o comportamento
térmico da área de estudo no nível mesoclimático, associados ao período de
inverno, à latitude do local e, principalmente, ao horário em que ocorreu o
imageamento via satélite (entre 09h e 45min e 10h).
No entanto, no nível topoclimático, além destes fatores, somam-se
também os padrões e estruturas urbanas expressas através do uso e
ocupação do solo da cidade, as densidades demográficas, a altimetria do
sítio urbano e a presença de vegetação, que diversificam ainda mais e
individualizam cada bairro ou área citadina.
A Figura 20 representa a cartografia térmica digital da área de estudo,
obtida através do processamento da imagem termal (banda 6) do satélite
Landsat 7ETM+ do dia 19/06/2002, cujos valores de temperaturas relativas
foram classificados obedecendo uma variação de 1ºC, conforme já
mencionado no Capítulo III, correspondendo ao campo térmico da
superfície da cidade de Santa Maria e parte de seu entorno na escala de
abordagem topoclimática.
Assim, ao sobrepor-se a lâmina transparente contendo a divisão
administrativa dos bairros de Santa Maria-RS (Figura 21) à cartografia
térmica digital de superfície (Figura 20), constata-se que a cidade apresenta
quatro situações distintas quanto ao comportamento térmico de sua
superfície, que caracterizam a influência dos fatores geográficos, bem
como das variáveis geoecológicas e geourbanas.
100
0100
200 300
400
Escala aproximada
8º - 10ºC
10º - 11ºC
11º - 12ºC
12º - 13ºC
13º - 14ºC
14º - 15ºC
15º - 16ºC
16º - 17ºC
17º - 18ºC
18º - 19ºC
19º - 20ºC
20º - 21ºC
21º - 22ºC
22º - 23ºC
LEGENDA
N
53°25’38”
2
9
°
4
3
2
3
29°49’23”
5
3
°
0
9
3
0
Imagem de Satélite Landsat 7 ETM+
órbita/ponto 223/81, obtida em 19/06/2002
entre 09h45min e 10h.
Sistema de Coordenadas Geográficas
Zona 21, Dátum SAD 69.
Elaborador: Alexandre Pistoia Saydelles
Orientadora: Profª. Drª. Maria da Graça B. Sartori
FIGURA 20: O campo térmico de superfície da área de estudo ao nível Topoclimático, estimado a partir da Banda Termal do Satélite Landsat 7 ETM+ , do
dia 19/06/2002.
Capítulo V – Análise dos Resultados
139
A terminologia empregada na denominação de cada uma destas
situações deu-se em função da variação térmica das mesmas. Assim, as
áreas mais aquecidas, apresentam superfícies com temperaturas entre 17° e
19ºC; as áreas com temperaturas moderadas entre 15° e 18°C; as áreas com
temperaturas brandas entre 13° e 17°C; as áreas com temperaturas de
superfície mais baixas entre 10° a 16°C.
- Áreas mais aquecidas: bairros situados no extremo oeste da cidade,
identificados pelas letras W, X e R na Figura 21, correspondendo aos
bairros Cohab Tancredo Neves, Parque Pinheiro Machado e Juscelino
Kubitschek, respectivamente.
Apresentam predomínio de superfícies com temperaturas em torno de
17° e 19ºC, apesar de em algumas partes, como no norte do bairro Parque
Pinheiro Machado e no oeste do bairro Juscelino Kubitschek (este último
correspondendo a Cohab Santa Marta), apresentarem temperaturas mais
amenas em torno dos 14° e 17ºC (Figura 20), em virtude da maior presença
de cobertura vegetal do tipo arbórea.
Estes bairros estão destinados essencialmente ao uso residencial, com
exceção da BR – 287, que os divide e que apresenta função mista
(residencial, prestação de serviços e comércio), conforme pôde ser visto na
Figura 16. Têm densidade populacional elevada entre 4.770 e 6.412
hab/km², com exceção do bairro Pq. Pinheiro Machado, que possui
densidade populacional entre 1.590 e 3.179 hab/km², conforme a Figura 15
anteriormente apresentada.
Estão assentados sobre uma morfologia mais suave, denominadas
“coxilhas”, com vertentes amplas e alongadas e interflúvios bem definidos,
Capítulo V – Análise dos Resultados
140
cujas cotas altimétricas não ultrapassam os 120 metros de altitudes, onde
predominam os campos. Além disso, as áreas residenciais são constituídas,
em sua maioria, por casas térreas. Estes fatores favorecem a incidência
solar direta em suas superfícies, já que quase inexistem obstáculos à
insolação, que possibilitem o sombreamento das superfícies, contribuindo
para a elevação das temperaturas.
A presença de solos rurais secos e desnudos próximos a estes bairros,
conforme visto anteriormente, certamente contribui para a elevação dos
valores térmicos da superfície e, por conseqüência, do ar, durante a manhã
e tarde, pois estes solos, pelas suas características neste período de
entressafra, aquecem-se mais do que em relação às outras áreas. Assim, nos
dias de intenso frio, podem ser favoráveis ao conforto térmico. No entanto,
em situações de maior aquecimento atmosférico, como nas fases Pré-
Frontais, certamente intensificam ainda mais o desconforto térmico gerado
pelas altas temperaturas nestas áreas da cidade.
Aliado a estas variáveis juntam-se as de ordem arquitetônica e urbana,
as quais refletem a falta de planejamento urbano e o “pensar ambiental” na
maioria das cidades de países subdesenvolvidos.
É o caso específico do Conjunto Habitacional (Cohab) Tancredo
Neves, “construída” (e não planejada) para atender as necessidades de
moradia dos trabalhadores que serviriam de mão-de-obra para as indústrias
que, por ventura, viessem a se instalar no Distrito Industrial de Santa
Maria, registrando as temperaturas de superfícies mais altas da cidade, em
média entre 18° e 19ºC, conforme a Figura 20.
Isto se deve, em parte, à baixa presença de áreas verdes e pelo próprio
padrão urbano e arquitetônico do bairro, pois a maioria das casas são
Capítulo V – Análise dos Resultados
141
brancas com telhados em folhas de amianto, péssimos para o conforto
térmico, uma vez que se aquecem muito rápido e conservam o calor. Estes
elementos apresentam uma elevada reflectividade, conforme pôde ser visto
na Figura 8, intensificando o aquecimento no ambiente externo, pois a
maior parte dos raios solares refletidos são absorvidos pelos demais
elementos urbanos, como as ruas que em suas maiorias são asfaltadas, fato
que certamente deve ser ainda mais intensificado nos dias de verão.
- Áreas com temperaturas moderadas: bairros situados à leste da
cidade, identificados na Figura 21, que contém a divisão administrativa dos
bairros, pelas letras: J, K, L, T, V e U, correspondentes aos bairros
Presidente João Goulart, Km3, São José, Pé-de-Plátano, Cohab Fernando
Ferrari e Camobi, respectivamente.
Apresentaram superfícies com temperaturas mais amenas se
comparados aos bairros citados anteriormente, variando entre os 15° e 18ºC
(Figura 20). No entanto, em alguns locais isolados houve registro de
superfícies com temperaturas relativas mais altas, entre 18° e 20ºC. É o
caso da pista de pouso e decolagem da Base-Aérea de Santa Maria, que
apresentou temperatura de 20°C.
Estes bairros, a exemplo dos anteriores, também são destinados
basicamente ao uso residencial, com função mista (residencial, prestação de
serviços e comércio) apenas ao longo da rodovia RS – 509 (Faixa Velha de
Camobi). A leste e sul do bairro Camobi existem áreas destinadas ao uso
exclusivamente institucional (Base-Aérea de Santa Maria) e de serviços
(Campus da Universidade Federal de Santa Maria), respectivamente,
conforme pôde ser visto anteriormente na Figura 16.
Capítulo V – Análise dos Resultados
142
Apesar de estarem destinados essencialmente ao uso residencial,
alguns desses bairros apresentam as menores taxas de densidade
populacional, entre 225 e 1.589 hab/Km² nos bairros São José e Pé-de-
Plátano. Já os bairros Camobi e Km3, a densidade varia entre 1.590 e 3.179
hab/Km². No entanto, os bairros João Goulart e Cohab Fernando Ferrari
apresentam elevada densidade populacional, entre 3.180 e 4.769 hab/km² e
4.770 a 6.412 hab/km², respectivamente, conforme pôde ser visto na Figura
15.
Apesar da zona leste da cidade ter evidenciado um crescimento urbano
e populacional vertiginoso nos últimos anos, principalmente ao longo das
rodovias RS – 509 e BR – 287, ainda apresenta-se como a área menos
urbanizada da cidade, fato observado nas baixas densidades populacionais
supramencionadas.
Morfologicamente, estes bairros estão assentados em uma área de
topografia suave, cujas cotas altimétricas não ultrapassam os 115 metros de
altitude, sem desníveis acentuados no relevo, o que favorece a insolação
direta em suas superfícies.
No entanto, aliado às baixas densidades populacionais e urbana, cujas
edificações são em suas maiorias em forma de casas térreas, tem-se
também uma elevada concentração de áreas verdes (vegetação do tipo
arbórea), que absorvem grande parte da radiação incidente, proporcionando
sombreamento e liberação de umidade através da evapotranspiração, o que
justifica, em parte, as temperaturas mais moderadas registradas na
termografia infravermelha de superfície, no horário do dia da imagem e sob
o domínio de uma Massa Polar Atlântica.
Capítulo V – Análise dos Resultados
143
A presença do rio Vacacaí-Mirim a N/NE da cidade também merece
destaque, pois certamente influencia na configuração térmica e climática
destes bairros circunvizinhos, ao proporcionar maior umidade tanto no solo
quanto no ar, o que favorece a atenuação das temperaturas da superfície e
do ar, bem como o desenvolvimento de uma vegetação arbórea abundante,
que auxilia no processo de resfriamento térmico, sobretudo à noite e início
da manhã.
As várzeas dos rios Vacacaí-Mirim e Arroio do Meio a E/NE (figura
21) dos bairros, utilizadas para o plantio do arroz, também se destacam na
Figura 20 com temperaturas relativas entre 14° e 17ºC. Apesar de desnudos
neste período de entressafras, os solos destas várzeas permanecem úmidos,
influenciando também na configuração do campo térmico destes bairros
mais próximos, pois a água pelo seu elevado calor específico, segundo
Ayoade (1991, p. 53) “(...) absorve cinco vezes mais calor a fim de
aumentar a sua temperatura (...)”. Assim, os solos úmidos apresentam
temperaturas mais amenas durante o dia.
Desta forma, através da inter-relação entre estas variáveis
geoecológicas e geourbanas, estes bairros apresentam temperaturas
relativas mais moderadas neste horário do dia, nesta época do ano e sob
estas condições atmosféricas, se comparadas a outras áreas da cidade.
- Áreas com temperaturas brandas: Bairros situados na área central e
sul da cidade, identificados na Figura 21, que contém a divisão
administrativa dos bairros, pelas letras F, E, Q, P, A, B, C, D, N, O e M e
que correspondem, respectivamente, aos bairros Salgado Filho, Nossa
Senhora do Rosário, Passo D’areia, Patronato, Centro, Nossa Senhora das
Capítulo V – Análise dos Resultados
144
Dores, Nossa Senhora de Lourdes, Medianeira, Urlândia, Tomazetti e
Cerrito.
Apresentam predomínio de superfícies com temperaturas, em média,
entre 13° e 17ºC (Figura 20), apesar de alguns pontos isolados
apresentarem temperaturas mais elevadas, entre 17° e 20ºC.
A altitude do Sol em relação a um ponto qualquer da superfície
terrestre, segundo Ayoade (1991), consiste no ângulo formado entre os
raios solares e uma tangente à superfície no ponto de observação, podendo
variar de acordo com a época do ano (declinação do Sol) e o período do dia
(trajetória diária do Sol de leste para oeste).
Assim, em virtude do movimento aparente diário que o Sol realiza de
leste para oeste, e anual no sentido norte/sul, a altitude do mesmo em
relação a um ponto qualquer na superfície é menor ao nascer e ao pôr-do-
sol e no solstício de inverno, e maior ao meio-dia local e no solstício de
verão.
Desta forma, a altitude do Sol em relação à área de estudo (no
momento do imageamento), bem como às demais superfícies situadas
nestas latitudes do Hemisfério Austral, é baixa, motivada por dois fatores: o
horário em que se deu o imageamento realizado pelo satélite (entre 09h e
45min e 10h da manhã) e pelo período de inverno.
A importância da altitude do Sol na configuração do campo térmico
de uma determinada localidade também foi enfatizada por Ayoade (1991,
p.25), ao afirmar que “Quanto maior a altitude do Sol, mais concentrada
será a intensidade da radiação por unidade de área (...). Ela é elevada à
tarde, porém baixa pela manhã e ao entardecer. Do mesmo modo é mais
elevada no verão que no inverno”.
Capítulo V – Análise dos Resultados
145
Assim, em decorrência desta baixa altitude diária (manhã) e hibernal
do Sol em relação à superfície em estudo, há a intensificação do
sombreamento, principalmente no bairro Centro (identificado pela letra
“A” na Figura 21), sobretudo nas ruas mais centrais, justamente por
apresentar uma maior densidade de edificações mais altas, que atuam como
obstáculo à incidência solar direta no início da manhã, favorecendo o
aparecimento de temperaturas mais baixas.
Este fato também foi evidenciado por Tarifa & Armani (2001) ao
estabelecerem as unidades topoclimáticas para a cidade de São Paulo,
através do emprego de imagens termais, onde a área mais central da mesma
não registrou as temperaturas mais elevadas como se esperava.
No entanto, deve-se destacar que é somente no período da manhã que
a área central irá apresentar as temperaturas mais brandas, pois no decorrer
do dia com o gradativo aumento da incidência da insolação, esta área irá
corresponder ao centro da ilha de calor urbana, sobretudo à noite, conforme
o modelo proposto por Oke (1982) e como será visto no decorrer desta
análise.
Com exceção do bairro Centro, que apresenta a maior densidade
populacional entre 7.413 e 9.555 hab/km² (Figura 15) e urbana da cidade,
com as edificações mais altas, menor presença de vegetação, maior fluxo
de veículos e pessoas (liberam calor antropogênico), funções residencial,
prestação de serviços e concentração comercial (Figura 16), os demais
bairros que compõem esta área de temperaturas mais brandas estão
destinados preferencialmente ao uso residencial. Têm densidades
populacionais variando entre 4.770 e 6.412 hab/Km² nos bairros Salgado
Filho, Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora de Lourdes e Medianeira,
Capítulo V – Análise dos Resultados
146
de 3.180 a 4.769 hab/km² nos bairros Passo D’areia, Patronato e Urlândia,
de 1.590 a 3.179 hab/km² no bairro Tomazzeti e de 225 a 1.589 hab/km² no
bairro Cerrito (Figura 15). Possuem boa presença de vegetação (do tipo
arbórea e gramíneas), tanto nas ruas como nos pátios e quintais das casas,
proporcionando o sombreamento e resfriamento das superfícies.
A estes fatores soma-se, também, o papel da morfologia e altimetria
do sítio urbano na configuração do campo térmico destes bairros.
Neste sentido, conforme já mencionado no Capítulo IV, o bairro
Centro está assentado na área de maior altimetria da cidade, em torno dos
160 metros (festão colinoso mais elevado), o que favorece a boa ventilação
no bairro, uma vez que a maioria de suas ruas principais estão dispostas no
sentido ENE-WSW e NNW-SSE e a direção predominante dos ventos na
cidade é de leste/sudeste (Sartori 1979 e 2000).
Aliado a esta altitude natural do “festão colinoso”, acrescenta-se
também o papel da verticalidade urbana, pois a densa presença de
edificações mais altas eleva a altimetria desta área mais central da cidade,
proporcionando um maior sombreamento da superfície, influenciando
também no campo térmico dos bairros vizinhos, cujas cotas altimétricas são
mais baixas, pelas trocas térmicas que realizam.
Os morros testemunhos a sul e sudeste da cidade (Cerrito e Cardoso),
que apresentaram temperaturas mais baixas (entre 10° e 14ºC), também
merecem destaque, pois influenciam diretamente no comportamento
térmico dos bairros próximos a eles, não apenas pelas trocas energéticas
que certamente realizam com os mesmos, mas também por serem
obstáculos naturais parciais, tanto para os ventos vindos de sul e sudeste
(mais frios), que atingem o bairro Nossa Senhora de Lourdes, quanto à
Capítulo V – Análise dos Resultados
147
insolação direta, sobretudo no bairro Tomazetti (no período da manhã)
situado a oeste dos morros.
O papel da orientação das vertentes também deve ser salientado na
tentativa de justificar o registro de temperaturas mais brandas nos bairros
mais centrais (Nossa Senhora do Rosário, Centro, Nossa Senhora das
Dores, Nossa Senhora de Lourdes e Medianeira), pois de acordo com
Saydelles & Sartori (2004) caracterizam-se por apresentarem a maioria de
suas vertentes orientadas para os quadrantes que recebem intensa insolação
direta ao meio-dia local e à tarde (N e W, respectivamente), fato que
favorece o predomínio de superfícies com temperaturas mais baixas no
horário do imageamento, que recebe intensa insolação no quadrante leste.
- Áreas com temperaturas mais baixas: bairros situados a norte da
cidade, identificados pelas letras S, G, H e I na Figura 21, correspondendo
aos bairros Caturrita, Chácara das Flores, Perpétuo Socorro e Itararé,
respectivamente.
Apresentam superfícies com temperaturas relativas, em média, entre
10° e 16ºC (Figura 20), com exceção do norte e sul do bairro Itararé que
apresentam temperaturas mais elevadas, entre 17° e 20ºC.
Estes bairros estão destinados basicamente ao uso residencial (Figura
16), com densidade populacional que varia entre 225 e 1.589 hab/Km² no
Caturrita, entre 1.590 e 3.179 hab/Km² no Chácara das Flores e Perpétuo
Socorro e entre 3.180 e 4.769 hab/km² no Itararé (Figura 15).
A presença do Rebordo do Planalto, ao norte destes bairros, é o
principal responsável pelas temperaturas relativas mais baixas, entre 8° e
Capítulo V – Análise dos Resultados
148
14ºC, em virtude da densa cobertura vegetal e da altimetria, conforme já
mencionado anteriormente.
Grande parte das famílias pobres e desfavorecidas de poder aquisitivo
da cidade ocupam estas áreas mais elevadas do perímetro urbano, as quais
registraram os valores térmicos mais baixos. Estas pessoas estão mais
sujeitas aos riscos de saúde (problemas respiratórios e pulmonares), devido
à exposição às temperaturas mais baixas no inverno, sobretudo crianças e
idosos que são mais sensíveis aos rigores climáticos.
No entanto, o centro-sul destes bairros apresentam temperaturas mais
elevadas, similares aos bairros citados no enquadramento anterior (entre
14° e 17ºC), resultado do intenso processo de urbanização e substituição da
cobertura vegetal por novos materiais e equipamentos que alicerçam a
expansão da malha urbana, que ocorre sem nenhuma orientação ou
planejamento.
Desta forma, pode-se afirmar que a configuração do campo térmico da
superfície de Santa Maria, a nível topoclimático, é influenciado tanto pelos
fatores geográficos de meso-escala (relevo, topografia do sítio, cobertura
vegetal e formas de utilização dos solos rurais circunvizinhos),
diversificados ainda mais pela própria estrutura e função desempenhada
pelo espaço urbano.
Deve-se destacar, também, que, em virtude do horário, época do ano e
condições atmosféricas (tipo de tempo) no momento do imageamento via
satélite, a área de estudo registra um campo térmico específico,
necessitando ser estudado sob a atuação de outros sistemas atmosféricos e
outras estações do ano na busca de um melhor entendimento das oscilações
das temperaturas em Santa Maria e seu entorno.
Capítulo V – Análise dos Resultados
149
6.3 – Análise dos Experimentos de Campo.
A análise das informações e dados coletados nos experimentos de
campo, junto à superfície urbana de Santa Maria-RS, consistem na segunda
etapa desta pesquisa, conforme mencionado no Capítulo III dos
Procedimentos Metodológicos, desenvolvida através da instalação de uma
rede fixa de observação das temperaturas. Para tal, foram distribuídos 19
mini-abrigos meteorológicos na malha urbana, de acordo com os diferentes
padrões de uso do solo urbano, características do sítio e disponibilidade de
recursos humanos, que auxiliaram nas coletas das informações, realizadas
nos seguintes horários: 09h, 12h, 15h, 18h e 21h. Este método possibilitou
a observação das respostas térmicas dos elementos urbanos, abrangendo a
malha citadina como um todo, na tentativa de uma melhor compreensão de
seu campo térmico frente à imposição dos sistemas atmosféricos regionais.
6.3.1 – Experimentos de Campo no dia 04/08/2004: Análise das
Condições Atmosféricas.
O clima de uma determinada cidade está condicionado, em grande
parte, pela atuação dos sistemas atmosféricos regionais e seus mecanismos
formadores dos tipos de tempo, pois estes controlam a entrada de energia
solar ao nível da superfície. Torna-se indispensável, no estudo do campo
térmico, principalmente em cidades de médio e pequeno porte, como no
caso de Santa Maria-RS, o entendimento das condições atmosféricas locais,
Capítulo V – Análise dos Resultados
150
na busca de uma melhor compreensão das respostas térmicas das variáveis
urbanas e naturais que compõem a área em estudo.
Desta forma, com base na interpretação do gráfico de análise rítmica
contido na Figura 22 e nas imagens do Satélite GOES – 12, obtidas no
“sítio virtual” do CPTEC/INPE (www. cptec.inpe. br), observa-se que no
dia 01/08/2004, a Região Sul estava sob o domínio de uma Massa Polar
Atlântica (M.P.A), a qual proporcionava tempo estável, com céu limpo e
boa insolação. Os ventos eram da direção SE de fraca intensidade. A
pressão atmosférica das 12h GMT era de 1008mb e a temperatura do ar
variou entre 12°C e 19,2°C.
No dia 02/08/2004, o quadro climático não se alterou muito, pois a
Região ainda estava sob a influência e domínio da Massa Polar Atlântica
(M.P.A.), mantendo a estabilidade do tempo. O céu estava limpo,
proporcionando uma boa insolação e ganho de calor pela superfície
terrestre. A pressão atmosférica das 12h GMT era de 1006mb e as
temperaturas do ar variaram entre 7,9°C e 19,8°C. A umidade relativa do
ar, às 18h GMT, era de 72%, e os ventos de fraca intensidade sopravam de
direção SE. (Figura 22).
No dia 03/08/2004, que antecedeu os experimentos de campo, o estado
gaúcho ainda mantinha-se sob o domínio da Massa Polar Atlântica
(M.P.A.).
No entanto, na fronteira com o Uruguai e norte da Argentina, já se
aproximava uma Frente Polar Atlântica (F.P.A.), alterando
significativamente o cenário climático da região. A pressão atmosférica
baixou sensivelmente e atingiu 1003mb, e as temperaturas do ar
registraram ligeiro aumento, variando entre 11,3°C e 22,4°C.
Capítulo V – Análise dos Resultados
151
Nebulosidade
0 / 2
3 / 4
5 / 6
7 / 8
9 / 10
Calma
Direção
0,5 - 2,5 m/s
2,6 - 5 m/s
5,1 - 7,5 m/s
Fonte: Estação Meteorológica do
INMET de Santa Maria-RS.
Elaborador: Alexandre P. Saydelles
N
e
b
u
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o
s
i
d
a
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e
1000
1010
1020
0
5
10
40
60
80
100
0
20
40
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10
20
30
40
04/08/200401 02 03
FIGURA 22: Condições atmosféricas entre os dias 01 e 04/08/2004.
Capítulo V – Análise dos Resultados
152
A umidade relativa do ar era de 86%, às 12h GMT, e 57%, às 18h
GMT. Os ventos ainda eram do quadrante E, de fraca intensidade (Figura
22).
No dia 04/08/2004 foram realizados os primeiros experimentos de
campo através da rede fixa de observação. A massa de ar que dominava a
Região Sul já havia adquirido as características da superfície e aqueceu-se,
dando origem a uma Massa Polar Velha (M.P.V.). A instabilidade frontal
(F.P.A.), que no dia anterior estava na divisa do RS com o Uruguai, agora
se situava na metade sul do Estado e estendia-se desde o norte da Argentina
até o Oceano Atlântico (Figura 23), influenciando diretamente nas
características meteorológicas de toda a região. No restante do território
brasileiro o céu mantinha-se limpo, com pouca presença de nuvens. A
pressão atmosférica registrada às 12h GMT na região central do Estado era
de 1004mb. Em conseqüência do aquecimento Pré-Frontal, as temperaturas
do ar elevaram-se significativamente e variaram entre 25°C e 30,6°C e a
umidade relativa do ar decaiu sensivelmente para 48%, às 12h GMT e
44%, às 18h (Figura 22).
O domínio das condições sinóticas no Estado da fase Pré-Frontal
proporcionava o aquecimento da superfície e do ar e deu origem a
instalação de um sistema de ventilação de forte intensidade oriundo do
quadrante norte. Conforme pode ser visto na Figura 22, os ventos atingiram
as velocidades de 3,3; 3,8 e 3,3m/s para os horários GMT das 12h, 18h e
21h, respectivamente, com rajadas de maior velociodade.
Este vento oriundo do quadrante norte, denominado regionalmente de
“Vento Norte”, típico de situações Pré-Frontais no inverno gaúcho, ao
descer a escarpa do Planalto da bacia do Paraná, adquire características
Capítulo V – Análise dos Resultados
153
tipicamente locais, pois se aquece por compressão adiabática, ressecando-
se ainda mais, e intensificando a sua velocidade, que ao adentrar na malha
urbana assume direções variadas devido ao arranjamento urbano.
Este, segundo Sartori (2000), constitui-se no principal responsável
pela incômoda sensação de desconforto sentido pela população
santamariense.
FIGURA 23: Imagem do Satélite GOES-12, infravermelho, do dia 04/08/2004 às
18h GMT.
Fonte: “Sítio Virtual” do CPTEC/NPE. (www.cptec.inpe.br).
Capítulo V – Análise dos Resultados
154
6.3.2 – Experimentos de Campo do dia 04/08/2004: Análise do Campo
Térmico e das Ilhas de Calor Urbano sob Condições de Tempo de Fase
Pré-Frontal.
Com base nas condições atmosféricas regional e local (fase Pré-
Frontal), bem como nas características geourbanas e geoecológicas da
cidade em estudo, se fez as considerações sobre o comportamento das
temperaturas do ar, obtidos nos experimentos de campo, as quais
encontram-se espacializadas nos cartogramas e gráficos a seguir
apresentados.
Os cartogramas das Figuras 24 (A, B e C) e 25 (A e B) representam a
espacialização das temperaturas do ar em Santa Maria sob condições de
aquecimento Pré-Frontal, no dia 04/08/2004, obtidas nos experimentos de
campo junto à malha urbana, a partir da rede fixa de observação (mini-
abrigos meteorológicos).
Ao se analisar o cartograma da Figura 24
A, que representa o campo
térmico da cidade às 09horas da manhã, constata-se que neste horário foi
registrada a maior amplitude térmica intra-urbana do dia (5ºC) devido as
diferentes formas de uso do solo, bem como pela altimetria e morfologia do
sítio.
Neste aspecto, observa-se que na área central da cidade estabeleceu-se
uma “faixa térmica” estendida no sentido Norte/Sul, onde se registraram as
temperaturas mais baixas do dia, variando entre 23° e 25ºC.
Esta “faixa térmica”, de menores temperaturas, abrangeu inteiramente
os bairros Nossa Senhora das Dores (ponto 4), Itararé (ponto14), Nossa
Senhora de Lourdes (ponto 5) e o setor leste do Medianeira (ponto 6), estes
224000 226000 228000 230000 232000 234000
6710000
6712000
6714000
2
6
°
C
2
5
°
C
2
5
°
C
2
6
°
C
2
4
°
C
2
5
.
5
°
C
1
2
3
4
56
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
24° a 24.5°C
23° a 24°C 24.5° a 25°C 25° a 25.5°C
25.5° a 26°C 26° a 27°C 27° a 28°C
(A)
224000 226000 228000 230000 232000 234000
6710000
6712000
6714000
3
0
°
C
2
9
°
C
2
8
.
5
°
C
2
8
°
C
2
9
°
C
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
27° a 28°C 28° a 28.5°C
28.5° a 29°C 29° a 29.5°C 29.5° a 30°C
30° a 31°C
(B)
224000 226000 228000 230000 232000 234000
6710000
6712000
6714000
3
1
°
C
3
1
.
5
°
C
3
1
°
C
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15 16
17
18
19
29° a 30°C 30° a 30.5°C 30.5° a 31°C 31° a 31.5°C 31.5° a 32°C 32° a 32.5°C
(C)
N
024
Km
Escala Gráfica
1
3
LEGENDA
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Centro
Centro
Centro
Nsa Sra das Dores
Nsa Sra de Lourdes
Medianeira
Urlândia
Patronato
Passo D’areia
Nsa Sra do Rosário
11
12
13
14
15
16
17
18
19
Salgado Filho
Caturrita
Perpétuo Socorro
Itararé
Km3
São Jo
Camobi
Cohab Sta Marta
Cohab T. Neves
Divisão Adm. dos bairros
Elaborador: Alexandre Pistoia Saydelles
Orientação: Profª. Drª. Maria da Graça B. Sartori
Fonte: experimentos de campo do dia 04/08/2004,
a partir da rede fixa de observação.
Projeção Universal Transversa de Mercator
Dátum Horizontal: SAD 69 - Minas Gerais.
Origem da Quilômetragem UTM “Equador e
Meridiano 51º W e 57ºW de Greenwich”.
Acrescidas as constantes: 10.000Km e 500Km,
respectivamente.
Fusos UTM: 22.
FIGURA 24: O campo térmico de Santa Maria-RS, do dia 04/08/2004 (A: 9h, B: 12h e C: 15h).
Capítulo V – Análise dos Resultados
156
dois últimos favorecidos por situarem-se na vertente sul do “festão colinoso
mais elevado”, parcialmente protegidos da insolação direta e da ação do
“Vento Norte” durante a maior parte do dia. O centro-leste do bairro Centro
(pontos 1 e 2), onde predominam as edificações mais altas da cidade, que
atuam como obstáculos a insolação direta e favorecem o sombreamento
neste horário (9h), contribuíram para a amenização térmica nesta área.
Esta configuração térmica é, em grande parte, favorecida pela maior
densidade de edificações mais elevadas (na área mais central da cidade) e
pela presença de cobertura vegetal do tipo arbórea nos bairros situados no
entorno do bairro Centro, que atuam como obstáculos não só à insolação
direta, proporcionando sombreamento, mas também ao vento quente
(Vento Norte).
A presença de temperaturas mais baixas na área central da cidade,
neste horário do dia (9h), embora corresponda ao que foi registrado pela
imagem termal (banda 6) do Satélite Landsat 7 ETM+, analisada
anteriormente, e também aos resultados obtidos por Tarifa & Armani
(2001) no estudo das unidades topoclimáticas para a cidade de São Paulo,
contraria todos os enunciados básicos sobre as ilhas de calor urbano, tanto
na literatura nacional como na internacional (Oke, 1982; Lombardo, 1985;
Mendonça, 1994; Spirn, 1995; entre outros). Estes estudos revelaram que a
área central das cidades, onde predominam as edificações mais elevadas,
menor presença de vegetação e maior fluxo de veículos e pessoas, é mais
quente e menos ventilado, do que as áreas periféricas. Entretanto, nos
demais horários em que foram realizadas as análises evidenciou-se inversão
destes valores térmicos, conforme será visto a seguir.
Capítulo V – Análise dos Resultados
157
Ao analisar-se o alinhamento das isolinhas do cartograma apresentado
na Figura 24
A, constata-se que as mesmas estão deslocadas no sentido
norte/sul da cidade, com gradativo aumento dos valores térmicos na mesma
direção. Certamente deve-se ao efeito do “Vento Norte”, que por mais que
se aqueça ao descer a escarpa do Planalto, por compressão adiabática,
transporta para a cidade o ar do Topo e do Rebordo do Planalto, que neste
horário do dia encontra-se mais ameno e umedecido por causa da densa
cobertura vegetal nestas unidades geomorfológicas, deslocando, assim, o ar
mais aquecido para o quadrante sul da cidade.
Embora, não seja o objetivo desta pesquisa, nem tampouco possível de
ser comprovado pela precariedade dos materiais utilizados nas coletas de
temperaturas do ar, bem como dos poucos dias de levantamentos, é
inegável que existe uma importante relação de trocas energéticas entre o
Rebordo do Planalto e a área central, mais alta da cidade, pelos diferentes
comportamentos térmicos que apresentam, conforme pôde ser evidenciado
nos cartogramas apresentados e na imagem termal analisada anteriormente.
Por isso deve ser mais profundamente estudado em futuros trabalhos, na
busca de um melhor entendimento do clima urbano santamariense.
Em virtude das variáveis geoecológicas (relevo, sítio urbano e
cobertura vegetal) que constituem o espaço natural e controlam o
mesoclima da área em estudo, bem como dos diferentes padrões de uso e
das funções desempenhadas pelo espaço urbano, que diversificam o topo e
o microclima (Monteiro, 1976; Ribeiro, 1993; Mascaró, 1996), tem-se o
estabelecimento de áreas mais aquecidas a oeste e leste da cidade (Figura
24
A). Estas áreas correspondem aos locais em que a topografia do sítio
Capítulo V – Análise dos Resultados
158
urbano é mais baixa e a morfologia mais suave, permitindo a incidência da
insolação e da ventilação aquecida (Vento Norte) diretamente na superfície.
Neste caso, têm-se os bairros Km3 (ponto 15), a leste, e Cohab
Tancredo Neves (ponto 19), a oeste, com temperaturas mais elevadas entre
27° e 28ºC (representados pela cor laranja-escuro na Figura 24
A), seguidos
dos bairros Parque Pinheiro, Juscelino Kubitschek (ponto 18), sul do
Patronato (ponto 8), Urlândia (ponto 7), leste do bairro João Goulart, São
José (ponto 16), Pé-de-Plátano e Camobi (ponto 17), todos com
temperaturas entre 25,5° e 27ºC ( representados pelas cores amarelo-escuro
e laranja-claro na Figura 24
A).
Aliado aos efeitos oriundos das características do sítio urbano no
estabelecimento de temperaturas mais elevadas, nos bairros Km3 e
Tancredo Neves têm-se também os de natureza inteiramente urbana.
Assim, a Cohab Tancredo Neves, além de situar-se numa área de
extensas “coxilhas”, onde predominam os campos e a baixa presença de
vegetação do tipo arbórea que atuariam como obstáculo natural à insolação
direta, tem a maioria das casas pintadas na cor branca e com telhados em
folhas de amianto, os quais refletem a maior parte da radiação solar
incidente, sendo esta absorvida em grande parte por outros materiais
utilizados na expansão urbana.
No bairro Km3, o mini-abrigo meteorológico foi instalado em frente
ao posto da Polícia Rodoviária Estadual, no cruzamento da Av. das Dores
com a BR-158 e a RS-509 (Trevo do Castelinho), local amplo e aberto, de
pavimentação asfáltica e intenso fluxo de veículos durante todo o dia, o que
favorece a elevação da temperatura do ar, mesmo apresentando
significativa presença de cobertura vegetal.
Capítulo V – Análise dos Resultados
159
Além disso, deve-se considerar a presença dos solos desnudos e secos,
próximos aos bairros situados a oeste da malha urbana, conforme
mencionado anteriormente na análise do campo térmico de superfície.
Estes solos, conforme Mendonça (1994), transportam o ar sobrejacente
mais aquecido para as áreas urbanas, intensificando o calor sensível.
Os demais bairros localizados entre as áreas mais aquecidas a oeste e a
“faixa térmica” central menos aquecida, apresentaram temperaturas
intermediárias entre 25° e 25,5ºC (na cor amarelo na Figura 24
A), sendo
eles: bairro Patronato (ponto 8), Passo d’areia (ponto 9), Nossa Senhora do
Rosário (ponto 10), JK (Ponto 18) e sul e oeste dos bairros Caturrita e
Salgado Filho, respectivamente.
No entanto, observa-se que os bairros Perpétuo Socorro (ponto 13),
centro-leste do Salgado Filho (ponto 11) e oeste do Centro (ponto 3),
registraram temperaturas mais elevadas (25,5° a 26°C, representados pela
cor amarelo-escuro na Figura 24
A) do que os bairros anteriormente citados,
provavelmente em virtude da maior exposição dos mini-abrigos à insolação
direta, já que nestes pontos os mesmos estavam instalados em locais mais
abertos.
Observa-se que os condicionantes geourbanos (áreas mais amplas e
abertas sem edificações elevadas, com menor presença de vegetação do
tipo arbórea e expressivo fluxo de veículos) são mais imperativos no
registro de temperaturas mais elevadas do que os geoecológicos (topografia
e morfologia do sítio urbano), para este horário do dia (9h) e sob domínio
de fase Pré-Frontal.
Este fato pode ser evidenciado pela expressiva diferença térmica entre
os bairros Tancredo Neves (ponto 19) com 28°C e Juscelino Kubitschek –
Capítulo V – Análise dos Resultados
160
Cohab Santa Marta (ponto 18) com 25°C (Figura 24A). Estes bairros,
mesmo apresentando características naturais muito semelhantes
(morfologia suave e altimetria do sítio em torno dos 110 metros de
altitude), apresentaram amplitude térmica de 3ºC. Esta significativa
diferença térmica se deve, em grande parte, aos diferentes padrões urbanos
das duas Cohab.
Na Santa Marta, onde foi registrada a menor temperatura (25°C), as
casas são pintadas em cores mais escuras e possuem coberturas de telhas
(cerâmicas), que absorvem a maior parte da radiação solar incidente, e é
expressiva a presença de vegetação, que favorece a amenização térmica.
Além disso, o mini-abrigo foi instalado num local mais abrigado quanto à
ventilação direta.
Já na Cohab Tancredo Neves (ponto 19), a vegetação é muito esparsa
e a maioria das casas são pintadas na cor branca com telhados em folhas de
amianto, que proporcionam maior albedo e intensificação do calor externo.
Além disso, o mini-abrigo foi instalado num local mais amplo e aberto à
insolação direta.
O mesmo foi registrado entre os bairros Km3 (ponto 15) e São José
(ponto 16), os quais situam-se numa área muito semelhante no que diz
respeito às características geoecológicas do sítio. Porém, são diferentes
quanto à presença de cobertura vegetal e densidade e dinamismo urbano,
responsáveis pelo registro de uma amplitude térmica de 2,5°C.
O bairro Km3 (ponto 15) apresentou as maiores temperaturas (entre
27° e 28°C) e o São José (ponto 16) as menores, entre 25,5° e 26ºC (Figura
24
A), representados pelas cores laranja-escuro e laranja-claro,
respectivamente. Neste último, o mini-abrigo foi instalado no cemitério
Capítulo V – Análise dos Resultados
161
Santa Rita de Cássia, local de elevada presença de vegetação (arbórea e
gramíneas), que proporciona a amenização das temperaturas por utilizarem
grande parte da radiação solar incidente nos processos de fotossíntese e
evapotranspiração, além do menor fluxo de veículos.
Às 12 horas, a configuração do campo térmico urbano apresentou
significativa alteração. A superfície urbana já estava em processo de
aquecimento e as temperaturas, agora mais elevadas, variavam entre 27ºC e
31ºC, registrando-se uma amplitude térmica de 4ºC (Figura 24
B), resultado
do intenso aquecimento a que estava submetida e da ação do Vento Norte,
que atuava na homogeneização das temperaturas.
Na área central do perímetro urbano, englobando os bairros Nossa
Senhora das Dores (ponto 4), Nossa Senhora de Lourdes (ponto 5), extremo
oeste dos bairros João Goulart e Km3, ainda apresentava-se com
temperaturas mais baixas entre 27ºC e 28ºC (cor amarelo na Figura 24
B).
Nos bairros Itararé (ponto 14) e extremo leste do Centro e do Medianeira,
as temperaturas variaram entre 28ºC e 28,5ºC (cor amarelo-escuro na
Figura 24
B). O bairro São José, em virtude da maior presença de vegetação,
também registrou temperaturas nesta faixa de variação.
As áreas mais aquecidas, que pela parte da manhã restringiam-se aos
bairros Km3 e Cohab Tancredo Neves, agora abrangem toda a área oeste da
cidade, incluindo alguns bairros da zona norte, com aumento gradativo das
temperaturas a partir da área central menos aquecida da cidade.
Correspondem aos bairros Tancredo Neves (ponto 19), Santa Marta (ponto
18), Perpétuo Socorro (ponto 13), Caturrita (ponto 12), Salgado Filho
(ponto 11) e norte do Passo D’areia (ponto 9), que apresentaram as
Capítulo V – Análise dos Resultados
162
temperaturas mais elevadas do horário (12h), entre 30° e 31ºC (cor marrom
na Figura 24
B).
Os bairros Camobi (ponto 17), Km3 (ponto 15), Urlândia (ponto 7),
oeste do Medianeira (ponto 6), Patronato (ponto 8), Centro (pontos 1, 2 e
3), sul do Passo D’areia (ponto 9), E/NE do Juscelino Kubitschek (ponto
18) e extremo leste do Salgado Filho (ponto 11), registraram temperaturas
entre 29° e 30°C (representado pelas cores laranja e vermelho na Figura
24
B).
Observa-se que, com exceção da área menos aquecida na parte mais
central, a cidade como um todo registrou temperaturas com valores muito
próximos, apresentando amplitude térmica de apenas 2ºC, reflexo do
processo de aquecimento Pré-Frontal que toda a região estava submetida,
bem como da atuação do Vento Norte de forte intensidade, que atuou como
dissipador das respostas térmicas da superfície, contribuindo para a
homogeneização das mesmas.
Às 15 horas, a configuração do campo térmico já apresentava
significativa alteração, apesar da amplitude térmica intra-urbana ser de
apenas 3,5ºC, conforme pode ser visto na Figura 24
C.
A “faixa térmica” de menores temperaturas da área central da cidade
dos horários anteriores (9h e 12h), devido ao maior aquecimento e ganho
de calor por parte dos materiais urbanos, já havia se dissipado, reduzindo-
se a apenas dois pontos: ao norte, no bairro Itararé (ponto 14), parcialmente
protegido da insolação direta e da ação do Vento Norte pelo rebordo do
Planalto; ao sul, no bairro Nossa senhora de Lourdes (ponto 5), situado na
vertente sul do “festão colinoso”, favorecendo também a menor incidência
solar direta e a ação do vento quente. O resultando são “Ilhas de Frescor
Capítulo V – Análise dos Resultados
163
Urbano” (Oke, 1982), com magnitude de -2ºC, onde as temperaturas do ar
variaram entre 29° e 30ºC.
A cidade como um todo apresentava grande aquecimento de sua
superfície e por conseqüência do ar, resultado do domínio Pré-Frontal.
Porém, os bairros situados a W/SW e as áreas mais baixas, próximas aos
arroios Cadena e Cancela, se destacaram como áreas muito quentes, cujas
temperaturas variaram entre 31,5ºC e 32,5ºC (cores marrom-claro e
marrom-escuro na Figura 24
C). Correspondem aos bairros Urlândia (ponto
7), sul do Patronato (ponto 8) e Centro (ponto 3), oeste do Medianeira
(ponto 6), Passo D’areia (ponto 9), Salgado Filho (ponto 11) e Perpétuo
Socorro (ponto 13) e leste do Km3 (ponto 15).
O bairro Centro (ponto 2), neste horário, já despontava com uma
pequena “Ilha de Calor” de fraca intensidade, com magnitude de apenas
2ºC, em virtude do maior adensamento urbano, presença de edificações
mais elevadas, maior fluxo de veículos e pessoas e esparsa presença de
vegetação, de acordo com os postulados da literatura nacional e
internacional (Oke, 1982; Lombardo, 1985; Mendonça, 1994 entre outros).
A Cohab Tancredo Neves também registrou temperaturas muito
elevadas variando entre 32ºC e 32,5ºC (representados na Figura 24
C em
marrom-escuro), devido à morfologia mais suave e baixa altimetria, que
favorecem a incidência solar direta, bem como aos padrões e estruturas
urbanas citadas anteriormente.
Às 18 horas, a quantidade de radiação solar incidente na superfície já
era menor e, como efeito disso, a superfície urbana estava em processo de
liberação do calor armazenado durante o dia, registrando uma diminuição
224000 226000 228000 230000 232000 234000
6710000
6712000
6714000
2
8
°
C
2
8
°
C
2
7
°
C
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
26° a 26.5°C 26.5° a 27°C 27° a 27.5°C
27.5° a 28°C
28° a 29°C
(A)
2
5
°
C
24° a 24.5°C 24.5° a 25°C
25° a 26°C
26° a 27°C
(B)
N
0
24Km
Escala Gráfica
13
Elaborador: Alexandre Pistoia Saydelles
Orientação: Profª. Drª. Maria da Graça B. Sartori
Fonte: experimentos de campo do dia 04/08/2004,
a partir da rede fixa de observação.
Projeção Universal Transversa de Mercator
Dátum Horizontal: SAD 69 - Minas Gerais.
Origem da Quilômetragem UTM “Equador e
Meridiano 51º W e 57ºW de Greenwich”.
Acrescidas as constantes: 10.000Km e 500Km,
respectivamente.
Fusos UTM: 22.
LEGENDA
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Centro
Centro
Centro
Nsa Sra das Dores
Nsa Sra de Lourdes
Medianeira
Urlândia
Patronato
Passo D’areia
Nsa Sra do Rosário
11
12
13
14
15
16
17
18
19
Salgado Filho
Caturrita
Perpétuo Socorro
Itararé
Km3
São José
Camobi
Cohab Sta Marta
Cohab T. Neves
Divisão Adm. dos bairros
FIGURA 25: O campo térmico de Santa Maria-RS, do dia 04/08/2004 (A: 18, B: 21h).
Capítulo V – Análise dos Resultados
165
do aquecimento urbano, pois as temperaturas variaram entre 26ºC nas áreas
menos aquecidas até 29ºC nas mais quentes (Figura 25
A).
O resultando foi uma pequena amplitude térmica intra-urbana de
apenas 3ºC, em virtude da atuação do Vento Norte na dissipação do calor e
padronização das temperaturas sobre toda a cidade.
No entanto, devido à movimentação diária aparente do Sol de leste
para oeste, as áreas mais aquecidas da cidade continuavam sendo os bairros
situados à oeste da cidade, agora intensificados pela posição do Sol, no
poente, favorecendo a maior incidência dos raios solares neste setor da
cidade do que nos demais.
Assim, os bairros Cohab Tancredo Neves (ponto 19), Juscelino
Kubitschek (ponto 18), Caturrita (ponto 12), oeste do Salgado Filho (ponto
11), Passo D’areia (ponto 9), Patronato (ponto 8) e Urlândia (ponto 7)
apresentaram as temperaturas mais elevadas, entre 28° e 29ºC,
(representados em vermelho na Figura 25
A).
Extensa “faixa” de temperaturas mais baixas, entre 27,5° e 28ºC (em
laranja-escuro), estendida no sentido N/S da cidade, definiu-se abrangendo
o extremo leste dos bairros Patronato (ponto 8), Passo D’areia (ponto 9),
Salgado Filho (ponto 11) e Perpétuo Socorro (ponto 13), e o extremo oeste
dos bairros Nossa Senhora do Rosário (ponto 10), Centro (ponto 3),
Medianeira (ponto 6) e Urlândia (ponto 7). Esta “faixa” acompanha o
trajeto da Av. Borges de Medeiros, resultado da homogeneidade das
características geourbanas e geoecológicas (Figura 25
A) .
O centro-sul do bairro Nossa Senhora das Dores (ponto 4), N/NE do
Nossa senhora de Lourdes e oeste do Km3 (até o trevo do Castelinho,
acompanhando a Av. das Dores), apresentaram-se também como uma
Capítulo V – Análise dos Resultados
166
ampla área de temperaturas mais elevadas entre 28° e 29ºC (em vermelho
na Figura 25
A), resultante das altimetrias mais elevadas (entre 130m no
ponto 4 e 115m no ponto 15), que expõem mais a superfície à incidência
direta dos raios solares do poente, e principalmente do intenso fluxo de
veículos na Av. das Dores até o centro da cidade, neste horário.
O bairro Nossa Senhora das Dores é mais aquecido por apresentar a
maioria de suas vertentes voltadas para o quadrante oeste, que recebe
intensa insolação direta neste horário da tarde, favorecendo ainda mais a
elevação das temperaturas do ar e comprometendo o conforto térmico no
verão (Saydelles & Sartori, 2004). Porém, no inverno, atuaria no sentido
contrário, amenizando a sensação de desconforto térmico gerado pela
baixas temperaturas.
No entanto, os bairros Itararé (ponto 14) e Km³ (ponto 16),
registraram as menores temperaturas neste horário, atuando como “Ilhas de
Frescor Urbano” (Oke, 1982), de fraca magnitude (-1,5ºC a -2ºC,
respectivamente), resultado da maior densidade de vegetação, que utiliza a
maior parte do calor armazenado durante o dia nos processos de
fotossíntese e evapotranspiração. Porém, devido à atuação do Vento Norte,
esta diferença em relação às áreas centrais mais urbanizadas não foi tão
significativa.
As demais áreas, representadas pela cor laranja-claro na Figura 25
A,
apresentaram temperaturas intermediárias, entre 27° e 27,5ºC.
Às 21 horas, período em que a superfície urbana já se encontra em
processo de resfriamento pela liberação do calor armazenado durante o dia,
constatou-se o contrário do encontrado na literatura nacional e
internacional, ou seja, a área mais central da cidade, de maior densidade
Capítulo V – Análise dos Resultados
167
urbana e populacional e menor presença de cobertura vegetal do tipo
arbórea e gramíneas, não registrou as temperaturas mais elevadas, que
permitiriam a formação de “Ilhas de Calor Urbano”.
Neste sentido, ao se analisar a Figura 25
B, observa-se que a cidade
registrou um campo térmico em que as respostas térmicas dos elementos
urbanos apresentaram-se homogeneizadas, com uma amplitude intra-
urbana de apenas 3ºC. Certamente é resultado da atuação do “Vento
Norte”, que dissipou e dispersou o calor liberado pelas estruturas urbanas
ao longo de toda a cidade, que neste horário ainda era de grande
intensidade, conforme pôde ser visto anteriormente nos gráficos da Figura
22.
Observa-se na Figura 25
B que os bairros situados a leste da cidade, a
partir do Nossa Senhora das Dores (ponto 4), apresentaram as maiores
temperaturas, entre 26° e 27ºC (representado pela cor laranja-claro), bem
como a Cohab Tancredo Neves (ponto 19), Perpétuo Socorro (ponto 13) e o
ponto 1 do bairro Centro.
Os bairros Patronato (ponto 8) e Itararé (ponto 14) registraram as
menores temperaturas e destacaram-se como “Ilhas de Frescor Urbano”, de
fraca intensidade (entre -2ºC e -1,5ºC, respectivamente), oriundos da
presença de vegetação. Os demais bairros da cidade apresentaram o mesmo
padrão térmico, entre 25° e 26ºC (cor amarelo-escuro na Figura 25
B), fruto
do intenso aquecimento ao qual a cidade esteve submetida, pela atuação da
Massa Polar Velha em fase Pré-Frontal e do “Vento Norte” que dissipou as
respostas térmicas da superfície.
Desta forma, constata-se que sob condições Pré-Frontais e
principalmente com o estabelecimento do “Vento Norte” bem definido, de
Capítulo V – Análise dos Resultados
168
forte intensidade, tipo de tempo típico nos invernos santamarienses, o
campo térmico apresenta-se mais homogeneizado quanto a sua
configuração, sobretudo à noite, período em que os elementos urbanos
liberam todo calor armazenado durante o dia, alterando as relações
energéticas e as trocas térmicas entre a superfície e a atmosfera
sobrejacente, com pequenas exceções.
6.3.3 – Experimentos de Campo do dia 10/08/2004: Análise das
Condições Atmosféricas.
No segundo trabalho de campo, realizado no dia 10/08/2004, as
condições sinóticas do RS eram controladas pela atuação de uma Massa
Polar Atlântica (M. P. A.), que impôs à área estudada suas características
dominantes, conforme será visto.
Assim, com base na interpretação do gráfico de análise rítmica da
Figura 26, observa-se que no dia 05/08/2004 a região ainda apresenta
condições de tempo de domínio Pré-Frontal, imposta pela presença de uma
Frente Polar Atlântica no sul do RS. A situação Pré-Frontal proporcionava
grande aquecimento da superfície e por conseqüência no ar. A pressão
atmosférica era de 1003mb, e as temperaturas variaram entre 21,2°C e
30,4°C (Figura 26). A região central do Estado (área de estudo) ainda
mantinha-se sob a influência de uma Massa Polar Velha (M.P.V.),
intensificada pela presença deste sistema de baixas pressões.
À noite (24h GMT), a Frente alcança a latitude de Santa Maria-RS,
proporcionando poucas precipitações (3,2 mm), conforme pode ser visto na
Figura 26.
Capítulo V – Análise dos Resultados
169
Fonte: Estação Meteorológica do
INMET de Santa Maria-RS.
Elaborador: Alexandre P. Saydelles
Nebulosidade
0 / 2
3 / 4
5 / 6
7 / 8
9 / 10
Calma
Direção
0,5 - 2,5 m/s
2,6 - 5 m/s
5,1 - 7,5 m/s
V
E
N
T
O
S
D
i
r
e
ç
ã
o
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0
5
10
15
1000
1010
1020
1030
0
20
40
20
40
60
80
100
0
10
20
30
40
05
06
08 09 10/08/2004
FIGURA 26: Análise das condições atmosféricas nos dias 05 a 10/08/2004.
Capítulo V – Análise dos Resultados
170
O “Vento Norte” nesse dia era muito intenso e atingiu a velocidade de
7,5 e 5,0 m/s às 12h e 18h GMT, respectivamente. Por conta do elevado
aquecimento e da imposição do Vento Norte, muito seco e quente, a
umidade relativa do ar era muito baixa e variava entre 48% e 44% às 12h
e18h GMT.
No dia 06/08/2004, o RS estava sob total domínio da Frente Polar
Atlântica, que se estendia desde o Estado até o Oceano Atlântico,
proporcionando instabilidade do tempo. A pressão atmosférica era de
1009mb e as temperaturas do ar já eram mais baixas (entre 8,5°C e
21,2°C), proporcionando sensação de alívio térmico. As precipitações
ocorreram durante todo dia e atingiram um total de 27mm elevando a
umidade relativa do ar para 98% (Figura 26). O sistema de ventos
invertera-se de direção e passa a ser de sul, com forte intensidade (entre 3 e
3,3m/s).
No dia 07/08/2004, a Frente Polar já havia se deslocado para Santa
Catarina, e o RS se encontrava sob o domínio de uma nova Massa Polar
Atlântica (M.P.A.), a qual proporcionava estabilidade do tempo. A pressão
atmosférica era muito alta e atingiu 1019,8mb às 12hs. As temperaturas do
ar decaíram drasticamente e variaram entre 5,7°C e 10,2°C. A umidade
relativa do ar era de 88% às 12hs e de 71% às 18hs GMT. Os ventos eram
do quadrante sul de moderada intensidade (Figura 26).
No dia 08/08/2004, as características meteorológicas da região não se
alteraram, pois a M.P.A. ainda controlava as condições atmosféricas,
proporcionando tempo bom e céu limpo, favorecendo a entrada de energia
na superfície. A pressão atmosférica elevou-se ainda mais e atingiu os
1021,1mb. Por conseqüência, as temperaturas diminuíram ainda mais e a
Capítulo V – Análise dos Resultados
171
mínima foi de 2,5°C e máxima de 13,2°C (Figura 26). Os ventos, às 18h
GMT, passaram do quadrante W para o E, em virtude do posicionamento
do Anticiclone Polar no Oceano Atlântico.
No dia 09/08/2004, a Região Sul como um todo estava sob o domínio
da M.P.A. proporcionando tempo bom. No entanto, a pressão atmosférica
diminuiu e atingiu 1017,4mb às 12h GMT. As temperaturas do ar variaram
entre 2,3°C e 17,6°C, a umidade relativa do ar era de 91% (12h) e 61%
(18hs) e os ventos eram do quadrante E, de moderada intensidade.
No dia 10/08/2004, dia em que ocorreu a segunda etapa dos
experimentos de campo, através da rede fixa de observação, a região
central do Estado ainda estava sob a influência da Massa Polar Atlântica,
que controlava as características meteorológicas. A Frente Polar Atlântica,
que atingira a região, encontrava-se em frontólise na latitude da Bahia
(Figura 27). A pressão atmosférica era de 1015,6mb e as temperaturas
ainda mantinham-se muito baixas, variando entre 1°C (mínima) e 21,4°C
(máxima). Às 12h GMT, a Estação Meteorológica de Santa Maria,
localizada no Campus da UFSM, registrava 6,2°C, enquanto às 18h e 24h
GMT as temperaturas eram de 21°C e 4,4°C, respectivamente. A elevação
da temperatura máxima durante o dia, deveu-se ao céu limpo na região,
proporcionando forte insolação na superfície da área em estudo, apesar do
nevoeiro pela parte da manhã na maioria das áreas mais baixas e vegetadas
da cidade, principalmente as situadas à leste e oeste da malha urbana.
A umidade relativa do ar, às 12h e 18h GMT, era de 97% e 60%,
respectivamente. Os ventos oriundos de SE e S apresentavam fraca
intensidade, e à noite era de calmaria, essencial para a formação das “ilhas
de calor”, segundo a literatura nacional e internacional, pois sob estas
Capítulo V – Análise dos Resultados
172
condições os elementos urbanos liberam para a atmosfera sobrejacente todo
calor armazenado durante o dia, proporcionando a elevação das
temperaturas nas áreas mais densamente urbanizadas.
FIGURA 27: Imagem do Satélite GOES-12, no infravermelho, do dia 10/08/2004
às 16h GMT.
Fonte: “Sítio Virtual” do CPTEC/NPE. (www.cptec.inpe.br).
Capítulo V – Análise dos Resultados
173
6.3.4 – Experimentos de Campo do dia 10/04/2004: Análise do Campo
Térmico e das Ilhas de Calor Urbano sob Condições de Tempo de
Domínio Polar.
Os cartogramas contidos nas Figuras 28 (A, B e C) e 29 (A e B)
representam a espacialização das temperaturas do ar em Santa Maria sob
domínio das condições atmosféricas de uma Massa Polar Atlântica
(M.P.A.), no dia 10/08/2004, obtidas nos experimentos de campo junto à
malha urbana, a partir da rede fixa de observação (mini-abrigos
meteorológicos).
Ao analisar-se o cartograma da Figura 28
A, o qual representa a
espacialização do comportamento térmico da cidade, às 09 horas da manhã,
constata-se que houve elevada amplitude térmica intra-urbana (9ºC), que se
deve a dois bairros situados no setor leste da cidade: o bairro Km3 (ponto
15), que registrou a temperatura mais elevada neste horário de observação,
em torno dos 15ºC, e o bairro Camobi (ponto 17), que apresentou a menor
temperatura do dia, em torno dos 6ºC (Figura 28
A).
Em virtude da movimentação diária aparente do Sol, pela manhã o
mesmo encontra-se a leste da cidade. Assim, os bairros localizados neste
quadrante são privilegiados em relação aos demais por receberem a
radiação solar primeiro.
No entanto, alguns destes bairros situados à leste da malha urbana,
apresentam elevada concentração de vegetação (tipo arbórea e gramíneas),
bem como baixa altitude, em torno dos 80 metros, o que favorece a
formação de nevoeiros, no período da manhã, o que determinou
temperaturas muito baixas, de apenas 6°C no bairro Camobi (ponto 17),
224000 226000 228000 230000 232000 234000
6710000
6712000
6714000
8
°
C
1
0
°
C
1
0
°
C
8
°
C
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15 16
17
18
19
6
°
C
7
°
a
8
°
C
8
°
a
9
°
C
9
°
a
1
0
°
C
1
0
°
a
1
1
°
C
1
1
°
a
1
3
°
C
1
5
°
C
(A)
224000 226000 228000 230000 232000 234000
6710000
6712000
6714000
1
8
°
C
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
1
8
.
5
°
C
1
9
.
5
°
C
12.5° a 15°C
15° a 16°C
16° a 17°C
17° a 18°C
18° a 18.5°C 18.5° a 19°C 19° a 19.5°C
19.5° a 20°C 20° a 22.5°C
(B)
N
0
24Km
Escala Gráfica
1
3
224000 226000 228000 230000 232000 234000
6710000
6712000
6714000
2
2
°
C
2
3
°
C
2
1
°
C
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
19° a 20°C 20° a 20.5°C 20.5° a 21°C 21° a 22°C 22° a 23°C 23° a 23.5°C
23.5° a 24°C
24° a 26°C 2 a 27°C
(C)
LEGENDA
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Centro
Centro
Centro
Nsa Sra das Dores
Nsa Sra de Lourdes
Medianeira
Urlândia
Patronato
Passo D’areia
Nsa Sra do Rosário
11
12
13
14
15
16
17
18
19
Salgado Filho
Caturrita
Perpétuo Socorro
Itararé
Km3
São Jo
Camobi
Cohab Sta Marta
Cohab T. Neves
Divisão Adm. dos bairros
Elaborador: Alexandre Pistoia Saydelles
Orientação: Profª. Drª. Maria da Graça B. Sartori
Fonte: experimentos de campo do dia 04/08/2004,
a partir da rede fixa de observação.
Projeção Universal Transversa de Mercator
Dátum Horizontal: SAD 69 - Minas Gerais.
Origem da Quilômetragem UTM “Equador e
Meridiano 51º W e 57ºW de Greenwich”.
Acrescidas as constantes: 10.000Km e 500Km,
respectivamente.
Fusos UTM: 22.
FIGURA 28: O campo térmico de Santa Maria-RS, do dia 10/08/2004 (A: 09h, B: 12h, C: 15h).
Capítulo V – Análise dos Resultados
175
representado pela cor azul na Figura 28A. O mesmo valor foi registrado na
Estação Meteorológica de Santa Maria, localizada no Campus da UFSM.
Os bairros São José (ponto 16) e Km3 (ponto 15), em virtude de suas
altimetrias mais elevadas em relação ao bairro Camobi (entre 100 a 110
metros de altitude, respectivamente) variando entre 9° e 10°C, para o
primeiro, e 15°C, para o segundo (representados nas cores verde e amarelo
na Figura 28
A, respectivamente).
O bairro Km3 (ponto 15), além de situar-se numa área cujas cotas
altimétricas são mais elevadas, favorecendo a ventilação e dissipação dos
nevoeiros, apresenta também um intenso fluxo de veículos, e no local onde
o mini-abrigo foi instalado não há vegetação, somente superfícies
construídas, conforme descrito no Capítulo III dos Procedimentos
Metodológicos. Este fato contribui para a formação de uma “Ilha de Calor”
com elevada magnitude, em torno dos 5ºC, já nas primeiras horas da
manhã.
Os bairros João Goulart e Itararé (ponto 14), que na condição Pré-
Frontal analisada anteriormente apresentavam-se como locais mais amenos,
agora sob domínio de uma M.P.A. apresentaram temperaturas mais altas
pela manhã, entre 11° e 13°C (em amarelo-claro na Figura 28
A), em
decorrência de sua altimetria um pouco mais elevada (em torno de 140
metros), que permite maior incidência solar direta.
Os bairros Urlândia (ponto 7), Medianeira (ponto 6), Patronato (ponto
8) e Passo D’areia (ponto 9) apresentaram temperaturas mais baixas, entre
7° e 8°C (representados pela cor azul-claro na Figura 28
A), certamente em
função de suas altimetrias mais baixas (entre 80 a 100 metros) e também
pela significativa presença de vegetação arbórea e gramíneas nas ruas,
Capítulo V – Análise dos Resultados
176
pátios e quintais das casas. O mesmo valor foi registrado para os bairros
Caturrita (ponto 12) e Perpétuo Socorro (ponto 13), que apesar de situarem-
se em locais onde as altitudes são maiores (125m e 111m,
respectivamente), o que de certa forma permitiria uma maior incidência
solar direta neste horário, apresentam-se parcialmente protegidos pelo
Rebordo do Planalto, que atua como obstáculo à insolação.
Observa-se na Figura 28
A que o bairro Centro apresentou uma
diferenciação térmica intra-urbana elevada, em torno de 3°C, fruto de suas
diferentes características naturais (altimétrica e orientação das vertentes),
bem como do uso e ocupação do solo. Assim, o ponto 3, apesar de estar em
área densamente urbanizada e não apresentar edificações muito elevadas,
ser predominantemente de uso residencial, com presença de vegetação
arbórea, registrou temperatura entre 8° e 9°C (em verde na Figura 28
A). No
entanto, o ponto 1, localizado em frente à Brasil Telecom, local
densamente urbanizado, com predomínio de edificações mais altas (acima
de 4 pavimentos), esparsa presença de vegetação e intenso fluxo de
veículos e pessoas, registrou 11°C (verde-claro na Figura 28
A).
Outro importante fator que contribuiu para o estabelecimento desta
diferenciação térmica é a orientação das vertentes, pois o ponto 3 (Centro)
situa-se na vertente oeste do “festão colinoso mais elevado” e neste horário
não recebe a insolação direta em sua superfície, o que não contribui para a
elevação das temperaturas. No entanto, o ponto 1 localiza-se na área mais
elevada do sítio urbano, favorecendo a incidência solar direta.
A importância da orientação das vertentes na configuração do campo
térmico também foi enfatizado por Mendonça (1994), no estudo do clima
Capítulo V – Análise dos Resultados
177
urbano de Londrina-PR, onde as vertentes voltadas para o quadrante norte
registraram as maiores temperaturas do que as orientadas para o sul.
As Cohab Tancredo Neves (ponto 19) e Santa Marta (ponto 18),
registraram temperaturas intermediárias, entre 9° e 10°C (em verde-médio
na Figura 28
A), favorecidas pela morfologia suave e altimetria mais baixa,
bem como pela inexistência de edificações elevadas, possibilitando a
incidência solar direta.
Às 12 horas, a configuração do campo térmico apresentou
significativa alteração, conforme pode ser observado na Figura 28
B,
resultante do maior aquecimento dos materiais urbanos, já que o céu estava
límpido permitindo máxima insolação (Figura 26) e proporcionando
elevada amplitude térmica intra-urbana, de 10°C, entre o centro da cidade e
as áreas mais periféricas. Estes índices são superiores a muitas capitais do
País e do Mundo, conforme pôde ser visto no Quadro 2, apresentado
anteriormente
4
.
Assim, no bairro Centro (ponto 2), área densamente construída e com
elevada concentração urbana e populacional (entre 7.413 a 9.555
Hab/Km²), destinado ao uso residencial e comercial, com relativa presença
de vegetação, sobretudo nos pátios das casas, situado na vertentes leste do “
festão colinoso mais elevado” numa altitude de 132 metros, local de
intenso fluxo de veículos e pessoas, registrou a formação de uma “ilha de
calor urbano” de forte intensidade, com magnitude de 7°C, conforme pode
ser observado na Figura 28
B.
Os bairros Km3 (ponto 15) e São José (ponto 16), também
apresentaram temperaturas elevadas, entre 19,5° e 20°C (cor laranja-escuro
4
Ver Capítulo II – Revisão da Literatura – pág. 36, Quadro 2.
Capítulo V – Análise dos Resultados
178
na Figura 28B), evidenciando a formação de uma pequena ilha de calor de
fraca intensidade, com magnitude de aproximadamente 2°C.
Os bairros mais periféricos, destinados exclusivamente ao uso
residencial e com significativa presença de cobertura vegetal do tipo
arbórea e gramíneas, registraram as temperaturas mais baixas. Neste caso,
têm-se Camobi (ponto 17), que registrou temperaturas entre 12.5° e 15°C
(em verde), e Caturrita (ponto 12), entre 15° e 16°C (verde-médio); os
bairros Patronato (ponto 8), Centro (ponto 3), Passo D’areia (ponto 9),
Nossa Senhora do Rosário (ponto 10) e Perpétuo Socorro (ponto 13)
registraram temperaturas entre 16° e 17°C (verde-claro na Figura 28
B).
No entanto, os bairros Salgado Filho (ponto 11) e Urlândia (ponto 7),
apresentaram temperaturas mais elevadas entre 18,5° e 19°C (representados
em cor amarelo-escuro na Figura 28
B), e comportaram-se como pequenas
ilhas de calor, de fraca intensidade.
No bairro Nossa Senhora das Dores (ponto 4), também houve registro
de temperaturas mais baixas, entre 16° e 17ºC (verde-claro na Figura 28
B),
que individualizaram uma pequena “Ilha de Frescor” na área central mais
aquecida da cidade, mas de fraca intensidade.
Este tipo de perfil térmico configurado pela cidade aproxima-se do
estabelecido por Oke (1978), exposto na Figura 4
5
onde o cume (Peak) da
ilha de calor corresponde ao CBD da cidade, e à medida que há um maior
afastamento do centro em direção à periferia há gradativa diminuição dos
valores térmicos, correspondendo à planície (Plateau) e a ladeira (Cliff).
Às 15 horas, a área urbana como um todo apresentava máximo
aquecimento do ar, resultante da maior entrada de energia solar. Em função
disto, registrou-se uma elevada amplitude térmica intra-urbana de 8°C.
5
Ver Capítulo II – Revisão da Literatura – pág. 32.
Capítulo V – Análise dos Resultados
179
Assim, o local mais aquecido da cidade correspondeu ao bairro
Urlândia (ponto 7), onde as temperaturas atingiram os 27°C, conforme
pode ser visto na Figura 28
C.
A área mais central da cidade, envolvendo os bairros Centro (ponto 2)
e Nossa Senhora das Dores (ponto 4), também apresentaram temperaturas
elevadas, entre 24 e 26°C (em marrom-claro na Figura 28
C),
proporcionando a formação de uma “Ilha de Calor” de intensidade
moderada, com apenas 3°C de magnitude.
Observa-se a importância da movimentação diária aparente do Sol de
E para W, pois no período da manhã os bairros situados à leste da malha
urbana foram privilegiados em relação aos demais, recebendo a incidência
solar primeiro. Porém, às 12h, o Sol já se encontra posicionado no
quadrante norte em relação à cidade, proporcionando maior aquecimento
nos bairros situados no centro e norte da cidade; os situados no extremo
norte do perímetro urbano estão parcialmente protegidos da insolação
direta pelo Rebordo do Planalto. Outro importante condicionante às
elevadas temperaturas na área central da cidade é o fato de os bairros
Centro e Nossa Senhora das Dores apresentarem a maioria de suas
vertentes orientadas aos quadrantes que recebem intensa insolação direta ao
meio-dia e à tarde (N e W, respectivamente), favorecendo ainda mais a
intensificação do calor nestas áreas (Saydelles & Sartori, 2004).
O registro de temperaturas mais elevadas no setor S/SW da cidade
pode ser justificado por dois condicionantes que controlam o mesoclima
citadino. Conforme destacado na análise do campo térmico de superfície,
estas áreas além de possuírem morfologia suave e cotas altimétricas baixas,
apresentam interflúvios bem definidos e vertentes alongadas em forma de
Capítulo V – Análise dos Resultados
180
“coxilhas” onde predominam os campos, favorecendo a entrada de radiação
solar direta na superfície. Inexistem obstáculos naturais, que
proporcionariam sombreamento e amenização térmica. Também são
circundadas por áreas rurais que no inverno ficam com solos desnudos ou
expostos e secos, no período de entressafra, à espera dos plantios de milho,
mandioca e, principalmente soja. Por apresentarem inércia termal superior
à área urbana, intensificam o calor na camada de ar sobrejacente.
Ao se analisar a Figura 28
C, percebe-se que a ventilação oriunda do
quadrante sul parece desempenhar importante papel na configuração do
campo térmico da cidade, pois o alinhamento (inflexão) das isolinhas
orientadas no sentido S/N, sugere um deslocamento do calor latente das
camadas de ar sobrejacentes aos solos rurais para o centro da cidade,
intensificando ainda mais o próprio aquecimento dos materiais urbanos. A
importância da ventilação no deslocamento de ar mais aquecido
sobrejacente aos solos do entorno rural para áreas urbanas, também foi
destacada com ênfase por Mendonça (1994).
Observa-se que os bairros que estão parcialmente protegidos da
insolação direta apresentaram temperaturas mais amenas, como é o caso do
bairro Caturrita (ponto 12), que registrou temperatura entre 19° e 20°C (cor
verde-claro na Figura 28
C), atuando como uma “Ilha de Frescor Urbano”
(Oke, 1982), de fraca intensidade, com magnitude de apenas -2°C.
O mesmo pode ser dito em relação ao bairro Nossa Senhora de
Lourdes (ponto 5), que apresentou temperaturas entre 19° e 20°C, também
dando origem a uma “Ilha de Frescor” com -3°C de magnitude,
provavelmente em função de seu posicionamento na vertente sul do “festão
colinoso mais elevado”, estando parcialmente protegido da insolação
Capítulo V – Análise dos Resultados
181
direta, bem como pela presença dos morros testemunhos do Cerrito e
Cardoso (Mariano da Rocha), que amenizam a temperatura do ar nos locais
próximos a eles pelas trocas térmicas que realizam.
Os demais bairros situados na zona oeste, centro-oeste, norte e leste da
cidade apresentaram temperaturas intermediárias entre 21° e 23,5°C
(representados nas cores amarelo-escuro e laranja-claro na Figura 28
C).
Às 18 horas, o campo térmico da cidade ainda manifestava a
intensificação do influxo de calor, oriundo do quadrante sul da cidade pelo
efeito da ventilação, também favorecido pelo posicionamento do Sol, agora
a oeste da cidade.
A amplitude térmica intra-urbana foi a menor do dia, apenas 5°C,
motivada pela baixa entrada de energia solar neste horário do pôr-do-sol.
As áreas mais aquecidas da cidade ainda correspondiam à área central e ao
bairro Urlândia (ponto 7), e as menos aquecidas eram os bairros situados à
leste da malha urbana (Figura 29
A).
Na área central da cidade houve registro de uma “Ilha de Calor” de
fraca intensidade, apenas 2°C de magnitude, em virtude da diminuição da
liberação do calor armazenado pelos materiais urbanos durante o dia para a
atmosfera. O cume de maior temperatura foi no bairro Nossa Senhora das
Dores (ponto 4), que atingiu 20°C (Laranja-escuro na Figura 29
A),
provavelmente em virtude de sua altimetria elevada (média de 150m), já
que as edificações mais altas são em menor número, facilitando a entrada
de energia solar do quadrante oeste. Como também apresenta a maioria de
suas vertentes voltadas para os quadrantes N e W, recebe intensa insolação
224000 226000 228000 230000 232000 234000
6710000
6712000
6714000
1
9
°
C
1
8
°
C
1
7
°
C
1
7
.
5
°
C
1
2
3
4
5
6
7
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
15° a 16°C
16° a 17°C
17° a 17.5°C 17.5° a 18°C 18° a 19°C 19° a 19.5°C 19.5° a 20°C
(A)
224000 226000 228000 230000 232000 234000
6710000
6712000
6714000
1
2
°
C
1
3
°
C
1
0
°
C
1
2
3
4
5
6
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9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
8° a 9.5°C
9.5° a 10°C
10° a 12°C 12° a 13°C 13° a 14°C 14° a 14.5°C
14.5° a 16°C
(B)
N
0
24Km
Escala Gráfica
13
LEGENDA
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Centro
Centro
Centro
Nsa Sra das Dores
Nsa Sra de Lourdes
Medianeira
Urlândia
Patronato
Passo D’areia
Nsa Sra do Rosário
11
12
13
14
15
16
17
18
19
Salgado Filho
Caturrita
Perpétuo Socorro
Itara
Km3
São Jo
Camobi
Cohab Sta Marta
Cohab T. Neves
Divisão Adm. dos bairros
Elaborador: Alexandre Pistoia Saydelles
Orientação: Profª. Drª. Maria da Graça B. Sartori
Fonte: experimentos de campo do dia 10/08/2004,
a partir da rede fixa de observação.
Projeção Universal Transversa de Mercator
Dátum Horizontal: SAD 69 - Minas Gerais.
Origem da Quilômetragem UTM “Equador e
Meridiano 51º W e 57ºW de Greenwich”.
Acrescidas as constantes: 10.000Km e 500Km,
respectivamente.
Fusos UTM: 22.
FIGURA 29: O campo térmico de Santa Maria-RS, do dia 10/08/2004 (A: 18h, B: 21h).
Capítulo V – Análise dos Resultados
183
direta ao meio-dia e à tarde, como destacado por Saydelles & Sartori
(2004).
Conforme a Figura 29
A, esta pequena “Ilha de Calor” abrangeu, além
da totalidade do bairro Nossa Senhora das Dores, parte do Centro (ponto 1
e 2), sul do Itararé (ponto 14), oeste do João Goulart e Km3 (ponto 15) e
norte do Nossa Senhora de Lourdes (ponto 5), com temperaturas de 18° a
19°C (amarelo-escuro na Figura 29
A)
Os bairros situados a oeste da malha urbana também apresentaram
temperaturas elevadas, desde o bairro Urlândia (ponto 7), que registrou o
ápice térmico entre 19,5 a 20°C (laranja-escuro), até os situados mais ao
norte da cidade, que registraram temperaturas entre 18° e 19°C (na cor
amarelo-escuro na Figura 29
A) , sendo eles: oeste do bairro Medianeira
(ponto 6), oeste do Centro (ponto 3), oeste do Nossa Senhora do Rosário
(ponto 10), Salgado Filho (ponto 22), oeste do Perpétuo Socorro (ponto
13), sul do Caturrita (ponto 12) e Cohab Santa Marta (ponto 18). O bairro
Passo d’Areia registrou temperaturas entre 19° a 19,5°C (laranja-claro na
Figura 29
A).
Observa-se que não houve registro de temperatura no bairro Patronato
(ponto 8) às 18h e 21h, por esquecimento do responsável (vigia do
Cemitério Municipal) mas que não comprometeu as análises, pois os
demais dados supriram esta lacuna.
Motivado pelo posicionamento do Sol a oeste da malha urbana, neste
horário (18h), em função de seu movimento diário aparente, os bairros
situados neste quadrante e os mais elevados na área central da cidade ainda
recebiam radiação solar, responsável pelo aquecimento e elevação de suas
temperaturas. No entanto, os bairros situados na zona leste da malha
Capítulo V – Análise dos Resultados
184
urbana, não recebiam mais a radiação solar direta, e estavam em processo
de liberação do calor armazenado durante o dia. Assim, apresentaram-se
com menores temperaturas, entre 15° e 16°C (verde-médio na Figura 29
A),
no bairro Km3 (ponto 15), e de 16° a 17°C (verde-claro), no São José
(ponto 16), Pé-de-Plátano e Camobi (ponto 17).
Aliado ao posicionamento do Sol a oeste, que conferiu a estes bairros
as menores temperaturas, soma-se os condicionantes naturais e urbanos dos
mesmos, pois se caracterizam por apresentar densa cobertura vegetal (do
tipo arbóreas e gramíneas), as quais utilizam a maior parte da radiação solar
incidente durante o dia na realização dos processos de fotossíntese e
evapotranspiração, sobrando muito pouco para o aquecimento do ar no
final da tarde e noite (Oke, 1982; Lombardo, 1985; Mendonça, 1994; Spirn,
1995; entre outros). Além disso, estes bairros apresentam as menores
densidades populacionais e urbanas da cidade, entre 225 e 1.589 Hab/Km²
e entre 1.590 e 3.179 Hab/Km² (Figura 15).
Até então não havia sido considerado em nenhum trabalho consultado
sobre a temática em estudo, tanto na literatura nacional como na
internacional, a importância da movimentação diária aparente que o Sol
realiza de E para W na configuração do campo térmico das áreas urbanas.
Apenas foram enfocadas as diferentes características naturais e urbanas na
constituição dos climas urbanos. No entanto, com a utilização desta
metodologia, que empregou uma rede fixa de observação, abrangendo toda
a área urbana e não apenas em função da heterogeneidade do sítio e do
espaço urbano, é que foi possível acompanhar as respostas térmicas da
cidade frente aos tipos de tempo oriundos da circulação atmosférica
Capítulo V – Análise dos Resultados
185
regional e seus efeitos na ventilação local, e também a movimentação
diária aparente do Sol, conforme já destacado.
Às 21 horas, a cidade já estava em pleno processo de resfriamento, em
função da liberação do calor armazenado durante o dia pela superfície
urbana. Assim, as respostas térmicas dos elementos urbanos estiveram
condicionadas basicamente às diferentes formas de uso e ocupação do solo,
bem como às características do sítio urbano.
Neste sentido, a cidade registrou elevada amplitude térmica intra-
urbana de 8°C, conforme a Figura 29
B.
As áreas menos aquecidas correspondem aos bairros localizados na
zona leste da cidade, pela maior liberação de calor por parte de suas
superfícies, sendo eles: Km3 (ponto 15) e São José (ponto 16), que
apresentaram as temperaturas mais baixas, entre 8° e 10°C (cores azul e
verde na Figura 29
B), dando origem a uma “Ilha de Frescor Urbano” (Oke,
1982), de intensidade forte, com -4°C de magnitude. Outro fator que
contribui para o estabelecimento das temperaturas mais baixas nestas áreas,
conforme já mencionado, é a abundante concentração de vegetação
(arbórea e gramínea) e a baixa densidade urbana e populacional (Oke,
1982; Spirn 1995; Taha, 1997; Givoni, 1998).
O bairro Centro, mais precisamente sua área mais central (ponto 1),
registrou as maiores temperaturas, entre 14,5° e 16°C (amarelo-escuro na
Figura 29
B), coincidindo com a formação de uma “Ilha de Calor” de forte
intensidade, com 4°C de magnitude, que abrangeu também o leste do bairro
Nossa Senhora do Rosário (ponto 10), sul do Itararé (ponto 14) e, em
menor intensidade, o oeste do Nossa Senhora das Dores (ponto 4).
Capítulo V – Análise dos Resultados
186
Este perfil térmico urbano de Santa Maria-RS coincide com o
hipotetizado por Oke (1982), onde o cume (Peak) da “ilha de calor”
coincide com o CBD da cidade (Central Business District), área de maior
densidade urbana e populacional, onde ocorre a maior parte das atividades
humanas, como concentração comercial e prestação de serviços, bem como
intenso fluxo de pessoas e veículos diariamente. Estes elementos,
associados à escassa presença de áreas verdes, proporcionam o
estabelecimento das temperaturas mais elevadas na área mais central da
cidade. A ladeira (Cliff) do perfil térmico corresponde às áreas mais
periféricas, onde foram registradas as menores temperaturas, na fronteira da
cidade com a zona rural, estando relacionado com a maior concentração de
vegetação e menor densidade urbana e populacional.
Desta forma, pode-se afirmar que o domínio de um sistema
atmosférico de origem polar (M.P.A.), que conferiu a região céu limpo,
calmaria e máxima insolação, favoreceu a formação de “Ilhas de Calor
Urbano” de maiores intensidades, em todos os horários de observação e
não apenas à noite, como afirmam a maioria dos estudos realizados.
CAPÍTULO VI
7- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Santa Maria-RS, assim como as demais cidades dos países em
desenvolvimento, ainda hoje necessita de estudos de toda ordem,
principalmente os voltados à compreensão de seus aspectos ambientais.
Atualmente estes estudos assumiram maior importância, uma vez que a
expansão das malhas urbanas ocorre paralelamente à degradação do meio-
físico natural, comprometendo sensivelmente a qualidade de vida de seus
habitantes.
Neste aspecto, as modificações impostas ao ambiente natural das
cidades pelas atividades humanas deram origem a um clima tipicamente
urbano, onde as ilhas de calor ou de frescor urbano aparecem como a mais
notável expressão climática involuntária, decorrentes destas alterações.
Assim, no tocante a estas transformações, pode-se considerar que o
presente trabalho contribuiu para um melhor entendimento das variáveis
ambientais e climáticas da área em estudo, uma vez que seus objetivos
eram analisar o campo térmico e os fenômenos das ilhas de calor urbano de
Santa Maria-RS e seu entorno, relacionando suas oscilações térmicas e
espaciais a partir da interação das variáveis urbanas e naturais, frente à
imposição de tipos de tempos oriundos de condições sinóticas de fases Pré-
Frontal e Domínio Polar, no inverno.
O grande desafio deste trabalho consistiu em adotar uma metodologia
que empregasse tanto a termografia infravermelha (banda 6), para a análise
Capítulo VI – Considerações Finais
188
do campo térmico de superfície nas escalas de meso e topoclima, quanto
experimentos de campo, para análise das Ilhas de Calor Urbano, realizados
no interior da cidade.
Assim, a análise da cartografia térmica digital, obtida a partir do
processamento da imagem do Satélite Landsat 7 ETM (banda 6 - resolução
60m) do dia 19/06/2002, de aproximadamente 10h, permitiu identificar que
os fatores de ordem geográfica de parte do entorno da cidade, como relevo,
cobertura vegetal, altimetria e uso dos solos rurais circunvizinhos
controlam o mesoclima citadino.
Porém, ao nível de topoclima tem-se uma maior diversificação das
respostas térmicas da superfície, em virtude dos usos e funções
desenvolvidas no espaço urbano, bem como pelas próprias características
do sítio. A posição do Sol em relação à área de estudo no horário do
imageamento realizado pelo satélite também influenciou diretamente na
configuração do campo térmico da área estudada. A amplitude térmica
urbano-rural nesta escala de abordagem foi de 15°C, mesmo valor
encontrado por Mendonça (1994), ao empregar a termografia infravermelha
no estudo do campo térmico da cidade de Londrina-PR.
Ao se analisar a cartografia térmica digital topoclimática, contatou-se
que a cidade apresentou quatro situações distintas quanto às respostas
térmicas superficiais: áreas mais aquecidas, correspondendo aos bairros da
zona oeste da cidade (Cohab T. Neves; Pq. Pinheiro Machado e Juscelino
Kubitschek), com temperaturas entre 17° e 19°C; áreas com temperaturas
moderadas, bairros situados na zona leste da cidade (Presidente João
Goulart, Km3, São José, Pé-de-Plátano, Cohab Fernando Ferrari e
Camobi), com temperaturas entre 15° e 18°C; áreas com temperaturas
Capítulo VI – Considerações Finais
189
brandas, correspondendo aos bairros situados no centro e sul da malha
urbana (Salgado Filho, Nossa Senhora do Rosário, Passo D’areia,
Patronato, Centro, Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora de Lourdes,
Medianeira, Urlândia, Tomazetti e Cerrito), os quais apresentaram
temperaturas entre 13° e 17°C; áreas com temperaturas baixas,
correspondendo aos bairros situados na zona norte da cidade, próximos ao
Rebordo do Planalto (Caturrita, Chácara das Flores, Perpétuo Socorro e
Itararé), com temperaturas entre 10° e 16°C.
A área central da cidade (correspondendo ao bairro Centro e parte de
seu entorno), pela manhã (entre 9 e 10h) e sob o domínio de uma Massa
Polar Atlântica (M.P.A.), apresentou temperaturas mais brandas (13° a
17°C), em função da maior verticalidade das edificações que proporcionam
o sombreamento da superfície (áreas frias para o sensor do satélite). Este
comportamento térmico corresponde aos resultados obtidos por Tarifa &
Armani (2001), no estudo das unidades topoclimáticas para a cidade de São
Paulo, bem como aos encontrados por Collischonn (1998), no estudo do
campo térmico de superfície da Região Metropolitana de Porto Alegre-RS.
Apesar dos resultados obtidos com o emprego da termografia
infravermelha (banda 6), restringirem-se especificamente ao momento do
imageamento via satélite e sob determinadas condições de tempo, pode-se
considerar que está constitui-se numa importante ferramenta auxiliar nos
estudos de campo térmico, pois possibilita uma observação e análise
detalhada do comportamento térmico dos diferentes elementos urbanos e
naturais que compõem à área estudada como um todo, nas diferentes
escalas de abordagens (meso e topoclima).
Capítulo VI – Considerações Finais
190
A partir da identificação das superfícies mais ou menos aquecidas pela
utilização da termografia infravermelha, foram realizados experimentos de
campo para a análise das oscilações das temperaturas do ar e das Ilhas de
Calor Urbano. Este certamente consistiu no momento mais delicado e
exaustivo da pesquisa, o qual sem o apoio de inúmeras pessoas e
instituições que compuseram a rede fixa de observadores, contando com 19
mini-abrigos meteorológicos distribuídos pela maioria dos bairros da
cidade, certamente não teria sido realizado.
No primeiro dia dos experimentos de campo (04/08/2004), o
comportamento térmico da cidade ficou totalmente condicionado à
circulação atmosférica de fase Pré-Frontal, com elevado aquecimento basal
e do ar, e, sobretudo, à ação do “Vento Norte” de forte intensidade, que
atuou como dispersor e homogeneizador das respostas térmicas dos
elementos urbanos e naturais que compõem o quadro geográfico da área de
estudo.
Durante a maior parte do dia, as áreas mais abertas e amplas
apresentaram as maiores temperaturas, pois além de estarem mais expostas
ao “Vento Norte” mais aquecido, permitiam a incidência solar direta em
suas superfícies.
Em função disto, as áreas situadas no extremo oeste da cidade,
registraram as temperaturas mais altas em boa parte do dia, reflexo de suas
altimetrias mais baixas e morfologia mais suave em forma de “coxilhas”. Já
a área mais central da cidade, até ao meio-dia, apresentou uma “faixa
térmica” de menores temperaturas, estendida no sentido N/S. Esta
configuração térmica foi favorecida em grande parte pela maior densidade
de edificações mais altas no bairro Centro, que proporciona maior
Capítulo VI – Considerações Finais
191
sombreamento, e também pela maior presença de cobertura vegetal (do tipo
arbórea), nos bairros circunvizinhos.
No entanto, durante à tarde, em virtude do maior aquecimento dos
materiais urbanos, no bairro Centro houve a formação de uma pequena
“Ilha de Calor Urbano” de fraca intensidade, apenas 2°C. À noite, quando
se esperava a melhor definição da Ilha de Calor na área de maior densidade
urbana e populacional da cidade (área central da cidade), pela liberação do
calor armazenado durante o dia pelos elementos urbanos, em função da
atuação do “Vento Norte” na dispersão e homogeneização das respostas
térmicas não houve a formação deste fenômeno, contrariando o perfil
térmico da Ilha de Calor Urbano, hipotetizado por Oke (1982).
No dia 10/08/2004, a fase era de Domínio Polar (Massa Polar
Atlântica), responsável pelas baixas temperaturas, tempo bom, calmaria,
céu limpo, e por conseqüência, máxima insolação.
Este tipo de tempo, aliado às características do sítio, uso e funções
urbanas, densidades populacionais e movimentação diária aparente do Sol
de E para W, foi responsável pela formação de “Ilhas de Calor Urbano” de
forte magnitude e intensidade em todos os horários de observação e nos
mais diversos locais, muitas vezes não coincidindo com a literatura
nacional e internacional sobre a posição do centro da “Ilha de Calor”, pois
nem sempre correspondeu ao CBD da cidade.
Já no primeiro horário de observação (9h), houve a formação de uma
“Ilha de Calor” de forte magnitude (5ºC) no bairro Km3, certamente em
função de sua altitude mais elevada e pela posição do Sol (a leste),
privilegiando os bairros situados nesta zona da cidade.
Capítulo VI – Considerações Finais
192
Às 12horas houve o registro da maior amplitude térmica centro-
periferia de 10°C, mesmo valor encontrado em outros estudos nas mais
diversas capitais do mundo, responsável pela formação de uma “Ilha de
Calor” de forte intensidade (7ºC), no centro da cidade, coincidindo com o
modelo proposto por Oke (1982), onde o cume (Peak) da Ilha de Calor deu-
se na área mais densamente urbanizada (CBD).
Durante à tarde (15 e 18h) também foi registrado a formação do
fenômeno das “Ilhas de Calor Urbano”, na área central da cidade. Porém,
com diferentes intensidades e magnitudes (4° e 2ºC, respectivamente).
Às 21h a configuração térmica da cidade foi a mais surpreendente,
revelando a importância da movimentação diária aparente que o Sol realiza
de E para W na definição do campo térmico urbano. Assim, em função da
trajetória do Sol, as áreas situadas a leste da cidade, que também possuem
elevada densidade vegetal e baixa urbanização, resfriaram mais rápido e
durante a noite registraram uma significativa “Ilha de Frescor Urbano” de
com a magnitude de -4ºC. Em contraponto a isto, a área mais central da
cidade, que apresenta a maior densidade populacional e urbana e menor
presença de vegetação, estava em pleno processo de liberação do calor
armazenado durante o dia e registrou a formação de uma grande “Ilha de
Calor Urbano” com a intensidade de 4ºC. Este fato coincide com os
resultados obtidos na maioria dos estudos realizados, os quais revelam que
as “Ilhas de Calor Urbano” destacam-se melhor à noite, sob as mesmas
condições de tempo do dia estudado, como o modelo proposto por Oke
(1982).
Assim, pode-se considerar que a metodologia empregada
correspondeu positivamente aos objetivos propostos para o
Capítulo VI – Considerações Finais
193
desenvolvimento deste trabalho, pois permitiu a identificação das respostas
térmicas do ambiente intra-urbana em toda a sua extensão, possibilitando a
observação do comportamento das temperaturas do ar ao longo dos dias e
entre os dois episódios analisados, evidenciando a importante participação
da circulação atmosférica regional e sua interação com os elementos
urbanos e naturais na constituição do campo térmico citadino.
Desta forma, diante das constatações das diferentes respostas térmicas
na área urbana de Santa Maria e seu entorno, pode-se afirmar que o
presente trabalho representa um estudo preliminar e, portanto, longe de
considerar seus resultados como conclusivos, pois se faz necessário uma
amostragem ainda maior, o que certamente poderá ser realizado em
trabalhos futuros, na tentativa de uma maior compreensão da realidade
climática de Santa Maria-RS e circunvizinhanças.
CAPÍTULO VII
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ANEXOS
220
ANEXO I
Temperaturas do Ar do dia 04/08/2004 – a partir da Rede Fixa de Observação
Pontos de Coletas Horários Alt. Latitude Longitude
09h 12h 15h 18h 21h
UTM
Ponto 1 - Bairro Centro 25ºC 29ºC 31ºC 27ºC 27ºC 150m 228278 6712741
Ponto 2 - Bairro Centro 24,5ºC 29,5ºC 32,5ºC 27,5ºC 25ºC 132m 228728 6712566
Ponto 3 - Bairro Centro 26ºC 29ºC 31,5ºC 28ºC 26,1ºC 146m 227453 6712382
Ponto 4 - Bairro Nsa Sra dasDores 24ºC 27ºC 31ºC 29ºC 27ºC 136m 229682 6712528
Ponto 5 - Bairro Nsa Sra de Lourdes 23°C 27°C 29°C 27°C 25°C 106m 228989 6711390
Ponto 6 - Bairro Medianeira 25ºC 30ºC 32ºC 27ºC 25ºC 97m 227763 6711422
Ponto 7 - Bairro Urlândia 27ºC 30ºC 32ºC 28ºC 26ºC 79m 226809 6709903
Ponto 8 - Bairro Patronato 25ºC 29ºC 31ºC 28ºC 24ºC 107m 226824 6711766
Ponto 9 - Bairro Passo D'areia 25ºC 30ºC 32ºC 28ºC 26ºC 106m 226445 6712881
Ponto 10 - Bairro Nsa Sra do Rosário 25ºC 28,5ºC 30ºC 27ºC 25ºC 115m 227199 6713218
Ponto 11 - Bairro Salgado Filho 26ºC 31ºC 32ºC 28ºC 26ºC 95m 226865 6713479
Ponto 12 - Bairro Caturrita 25ºC 30ºC 30ºC 28ºC 25ºC 125m 225740 6714189
Ponto 13 - Bairro Perpétuo Socorro 26ºC 30ºC 32ºC 28ºC 27ºC 111m 227699 6714487
Ponto 14 - Bairro Itararé 23ºC 28,5ºC 29,8ºC 26ºC 24,4ºC 137m 229092 6714009
Ponto 15 - Bairro Km3 28ºC 30ºC 32ºC 28ºC 26ºC 111m 231350 6711802
Ponto 16 - Bairro São José 25,5ºC 28ºC 30,4ºC 26,5ºC 26ºC 102m 233197 6711811
Ponto 17 - Bairro Camobi 26ºC 30ºC 30,5ºC 28ºC 27ºC 79m 235958 6711342
Ponto 18 - Bairro Juscelino Kubitschek 25ºC 30ºC 30ºC 30ºC 26ºC 111m 223030 6711979
Ponto 19 - Bairro Tancredo Neves 28ºC 31ºC 32ºC 28ºC 26ºC 106m 222265 6710880
221
ANEXO II
Temperaturas do Ar do dia 10/08/2004 – a partir da Rede Fixa de Observação
Pontos de Coletas Horários Alt. Latitude Longitude
09h 12h 15h 18h 21h
UTM
Ponto 1 - Bairro Centro
11ºC 19ºC 22ºC 18ºC 16ºC 150m 228278 6712741
Ponto 2 - Bairro Centro
9ºC 22,5ºC 26ºC 19ºC 14ºC 132m 228728 6712566
Ponto 3 - Bairro Centro
8ºC 17ºC 22ºC 18ºC 14ºC 146m 227453 6712382
Ponto 4 - Bairro Nsa Sra dasDores
9ºC 16ºC 24ºC 20ºC 14ºC 136m 229682 6712528
Ponto 5 - Bairro Nsa Sra de Lourdes
8°C 17°C 19°C 16°C 12°C 106m 228989 6711390
Ponto 6 - Bairro Medianeira
8ºC 27ºC 24ºC 18ºC 13ºC 97m 227763 6711422
Ponto 7 - Bairro Urlândia
8ºC 19ºC 27ºC 20ºC 12ºC 79m 226809 6709903
Ponto 8 - Bairro Patronato
8ºC 16ºC 21ºC - - 107m 226824 6711766
Ponto 9 - Bairro Passo D'areia
8ºC 17ºC 23,5ºC 19,5ºC 13ºC 106m 226445 6712881
Ponto 10 - Bairro Nsa Sra do Rosário
9ºC 16ºC 21ºC 18ºC 13ºC 115m 227199 6713218
Ponto 11 - Bairro Salgado Filho
9ºC 20ºC 23ºC 19ºC 12ºC 95m 226865 6713479
Ponto 12 - Bairro Caturrita
8ºC 15ºC 20ºC 18ºC 12ºC 125m 225740 6714189
Ponto 13 - Bairro Perpétuo Socorro
7ºC 16ºC 21ºC 18ºC 13ºC 111m 227699 6714487
Ponto 14 - Bairro Itararé
12,8ºC 19ºC 20,8ºC 17,5ºC 14,5ºC 137m 229092 6714009
Ponto 15 - Bairro Km3
15ºC 20ºC 20ºC 15ºC 8ºC 111m 231350 6711802
Ponto 16 - Bairro São José
9,7ºC 19,5ºC 20,5ºC 17ºC 9,5ºC 102m 233197 6711811
Ponto 17 - Bairro Camobi
6ºC 12,5ºC 21ºC 17ºC 13ºC 79m 235958 6711342
Ponto 18 - Bairro Juscelino Kubitschek
9ºC 18,5ºC 20ºC 18ºC 12ºC 111m 223030 6711979
Ponto 19 - Bairro Tancredo Neves
10ºC 18ºC 23ºC 16ºC 10ºC 106m 222265 6710880
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