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REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Fernando Henrique Cardoso
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO
Paulo Renato Souza
SECRETARIA EXECUTIVA DO MEC
Luciano Oliva Patrício
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS
Maria Helena Guimarães de Castro
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ESTUDO DO ALUNO UNIVERSITÁRIO PARA A
CONSTRUÇÃO DE UM PROJETO
PEDAGÓGICO
Janice Tirei li Ponte de Sousa
Série Documental: Relatos de Pesquisa, n.º 4, maio./1993
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO - MEC
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS
EDUCACIONAIS
ESTUDO DO ALUNO
UNIVERSITÁRIO PARA A
CONSTRUÇÃO DE UM PROJETO
PEDAGÓGICO*
Janice T. Ponte de Sousa (Coord.)
(Professora do Dep. de Fundamentos da
Educação da UEM)
Lucídio Bianchetti
(Professor do Dep. de Estudos Especiais da
UFSC)
Lúcio Tadeu Mota
(Professor do Dep. de Fundamentos da
Educação da UEM)
Virgílio de Almeida
(Professor do Dep. de Economia da UEM)
* O artigo-síntese, exigência do convênio de
financiamento de pesquisa n° 46/89, firmado entre o
INEP e a Universidade Estadual de Maringá (UEM),
cuja conclusão deu-se em janeiro de 1992, é de
responsabilidade de sua coordenadora. O relatório
final encontra-se à disposição, no INEP, para consultas
in loco. Os interessados em adquirir fotocópias
poderão solicitá-las à Coordenadoria de Pesquisa ou a
Subgerência de Disseminação e Circulação, deste
Instituto, mediante pagamento.
Brasilia/1993
DIRETOR
Divonzir Arthur Gusso
COORDENADORA DE PESQUISA
Margarida Maria Sousa de Oliveira
COORDENADOR DE ADMINISTRAÇÃO
Meduza Rego Nascimento
COORDENADOR DE ESTUDOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS
Tancredo Maia Filho
GERENTE DO PROGRAMA EDITORIAL
Arsênio Canísio Becker
SUBGERENTE DE DISSEMINAÇÃO E CIRCULAÇÃO
Sueli Macedo Silveira
GERENTE DO CENTRO DE INFORMAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS EM EDUCAÇÃO
Gaetano Lo Mônaco
RESPONSÁVEL EDITORIAL
Cleusa Maria Alves
CAPA
Carla Vianna Prates
NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
Maria Ângela T. Costa e Silva
REVISÃO
Cleusa Maria Alves
Gislene Caixeta
José Adelmo Guimarães
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Celi Rosalia Soares de Melo
Francisco Edilson de C. Silva
Hermes Oliveira Leão
APOIO GRÁFICO
Maria Madalena Argentino
Tiragem: 450 exemplares
INEP - Gerência do Programa Editorial
Campus da UnB, Acesso Sul - Asa Norte
70910-900 - Brasília/DF Fone: (061) 347 8970
Fax: (061) 273 3233
Série Documental: Relatos de Pesquisa, n.4, maio./1993 ISSN - 0104-6551
APRESENTAÇÃO
Uma das funções institucionais do INEP consiste em prover e estimular a disseminação e
discussão de conhecimentos e informações sobre educação, visando ao seu desenvolvimento e
domínio público, através de sua produção editorial.
Com o objetivo de contribuir para a democratização de parte desses conhecimentos, de
modo mais ágil e dinâmico, o INEP criou recentemente as Séries Documentais, com o mesmo
desenho de capa: elas formam um novo canal de comunicações, diversificado quanto a público,
temática e referenciação; abrangendo vários campos, elas podem alcançar, com tiragens monitoradas,
segmentos de público com maior presteza e focalização; cada série poderá captar material em
diferentes fontes (pesquisas em andamento ou concluídas, estudos de caso, papers de pequena
circulação, comunicações feitas em eventos técnico-científicos, textos estrangeiros de difícil acesso,
etc).
São as seguintes as séries:
1. Antecipações tem o objetivo de apresentar textos produzidos por pesquisadores
nacionais, cuja circulação está em fase inicial nos meios acadêmicos e técnicos.
2. Avaliação tem o objetivo de apresentar textos e estudos produzidos pela Gerência de
Avaliação.
3. Estudo de Políticas Públicas tem o objetivo de apresentar textos e documentos
relevantes para subsidiar a formulação de políticas da Educação.
4. Eventos tem o objetivo de publicar textos e conferências apresentados em eventos,
quando não se publicam seus anais.
5. Inovações tem o objetivo de apresentar textos produzidos pelo Centro de Referências
sobre Inovações e Experimentos Educacionais (CRIE).
6. Relatos de Pesquisa tem o objetivo de apresentar relatos de pesquisas financiadas pelo
INEP.
7. Traduções tem o objetivo de apresentar traduções de textos básicos sobre Educação
produzidos no Exterior.
SUMÁRIO
RESUMO .......................................................................................................................................... 6
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 6
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................................................... 8
O PERFIL DOS ALUNOS DA UEM
Identificação e Dados Pessoais ............................................................................................11
Procedência dos Alunos .........................................................................................................11
Hábitos de Estudo ................................................................................................................12
Dificuldades no Estudo/Desempenho Acadêmico .................................................................12
Condições de Estudo ...........................................................................................................13
A ORIGEM SOCIOECONÔMICA DO ESTUDANTE DA UEM
Nível Ocupacional da Família de Origem..............................................................................14
Nível Educacional dos Pais .................................................................................................17
Exercício de Atividades Remuneradas pelos Alunos.............................................................17
AS REPRESENTAÇÕES E CONDIÇÕES DE VIDA ................................................................ 22
CONCLUSÕES............................................................................................................................... 25
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................ 26
RESUMO
A presente pesquisa teve um caráter institucio-
nal e foi realizada com os alunos da Univer-
sidade Estadual de Maringá (UEM), PR,
visando apoio aos projetos pedagógicos dos
cursos de graduação. Os resultados da inves-
tigação subsidiaram a mudança do regime de
créditos para o regime seriado anual implan-
tado nos anos subseqüentes. Adotou-se a meto-
dologia da pesquisa-ação para que o projeto
resultasse do desencadeamento de um processo
de ação participativa, como forma mais ade-
quada de garantir o envolvimento de todos os
segmentos da Universidade, para uma atuação
transformadora fundamentada em dados cientí-
ficos. As suposições iniciais procuraram levar
em conta questões relativas às características
socioeconômicas e culturais dos estudantes, que
os referenciam como categoria social, hoje, e as
mudanças sócio-históricas da instituição que
refletem, diretamente, na sua prática política
dentro da Universidade. Num sentido mais
abrangente, além de obter subsídios para o
planejamento acadêmico, procurou-se compreen-
der, também, através das características e re-
presentações dos estudantes da UEM, em que
medida o projeto de intervenção política dos
estudantes das últimas duas décadas está pre-
sente na prática estudantil atual.
INTRODUÇÃO
A compreensão do universitário brasileiro nos
conduziu ao estudo da constituição social dos
jovens de nossos dias, cuja participação nas
últimas décadas tem negado a a-ceitação
passiva dos valores e condutas das gerações
passadas. E por achar que a problemática
desses jovens ultrapassa a estreita perspectiva
do conflito de gerações, que buscamos a
Sociologia Crítica a qual desenvolve a análise
do estudante universitário
sob a ótica das classes sociais, como referência
teórico-metodológica da pesquisa.
Partiu-se do pressuposto de que, como
indivíduo em formação, o destino do jovem está
delimitado por um jogo incerto de fatores,
referenciados na unidade familiar, num
primeiro momento.
Segundo Foracchi
1
podemos demarcar duas
dimensões básicas que estabelecem os limites
da consciência e, ao mesmo tempo, a prática do
estudante. A primeira diz respeito a sua
constituição enquanto categoria social e ao
modo pelo qual está ligada à sociedade
inclusiva. A segunda diz respeito aos vínculos
que estabelece e que, resultando em relações de
dependência com a família, convertem-nos
numa unidade ativa de manutenção, marcando
os limites da sua emancipação. Na verdade,
ambos os níveis marcam sua situação de classe
e, para efeito de análise, coube identificá-los
para esclarecermos e definirmos o que, segundo
a mesma autora, é a principal variável que
conduz o seu comportamento: a classe social a
que pertence.
O estudante passa a se definir como categoria
social, a partir das relações que mantém com o
sistema, com fortes vínculos na unidade
familiar: vincula-se, parcialmente, à produção
social e, ao mesmo tempo, cria relações de
dependência no interior da família. Estas
relações com o sistema global são
parcializadas, dada a condição de
transitoriedade em que vivem os jovens. O
trabalho apresenta-se como o caminho pos-
A obra clássica de Marialice Foracchi, O estudante e a transformação
da sociedade brasileira, subsidiou a fundamentação teórica da
pesquisa, bem como a análise do seu processo e resultados. A revisão
da literatura sobre os estudantes e a universidade mostrou claramente
que desde o surgimento da mesma, os estudantes tiveram papel de
destaque.
6
sível para a sua emancipação, na medida em
que indica a própria garantia da manutenção de
sua condição como estudante, mas, por outro
lado, limita as potencialidade da emancipação
ao redefinir as suas possibilidades de
participação social:
"...o trabalho emancipa o jovem, alienando
o estudante." (Foracchi, 1965, p.138)
De qualquer modo, o que vai defini-lo
enquanto categoria será a amplitude da sua
participação social que se dá de modo diverso:
como estudante que trabalha ou como
trabalhador que estuda. Na primeira situação, o
trabalho significa um setor de atividade que é
necessário, porque não pode ser dispensado,
mas que tem um caráter contingente. No
segundo caso, o principal é o trabalho, e o
estudo é uma contingência. (Ibidem, p.48-50)
O trabalho para cerca de 50% dos estudantes
investigados, como pôde ser comprovado em
nossa pesquisa, representa uma condição para
mantê-lo como estudante. Segundo a
observação de Foracchi, o trabalho nesta
situação é a condição necessária para a
transformação do jovem em estudante e tem
um caráter desintegrador, no sentido de que,
com ele o jovem vai cortando os vínculos de
dependência com a família. É nesse processo
de envolvimento que os vínculos de
dependência vão se transferindo da unidade
familiar para o sistema produtivo, desde o
momento em que o trabalho se torna necessário
para manter o estudante enquanto tal. O mais
importante, no entanto, com relação a tal
situação, no que diz respeito às relações de
manutenção estabelecidas na vida do jovem, é
que o "trajeto" do trabalho está a-poiado nos
caminhos de ascensão da classe social a que
pertence.
Assim, fomos levados a partilhar da idéia de
que a situação de classe é definidora na
formação do jovem, levando-o a tornar-se
instrumento da classe social a que pertence.
Esta incumbe-o, sob os mais diferentes
mecanismos, de dar continuidade ou modificar
a sua (de sua família) posição no sistema, o que
tem relação com as próprias contradições
enfrentadas pela classe média no contexto da
sociedade.
E através da família que aos jovem são
passados os valores e objetivos da classe. Na
transformação do jovem em estudante, ela
antevê a possibilidade da sua continuidade e
manutenção, o que significa dizer que o estudo
passa a ser um dos requisitos básicos da
ascensão.
Algumas pesquisas apontam que o trabalho tem
sido um fator contingente para o estudante
nessa fase. O tipo de desenvolvimento
industrial e tecnológico que o País viveu, nas
últimas décadas, trouxe, em contrapartida, uma
série de conseqüências sociais que refletiram
na situação educacional, dentre elas, a
necessidade de grande parcela da população
jovem ingressar, precocemente, no mercado de
trabalho. Milhares de jovens do segmento
inferior e médio, muitas vezes desde o 2
Q
grau,
se envolvem nos diversos setores da economia
para completar os rendimentos familiares ou
mesmo custear seus estudos. Assalariam-se em
empregos na maioria das vezes distantes da
área pretendida para uma carreira profissional,
mas ainda carregam a ideologia de que a
universidade é uma condição necessária para
um melhor desempenho profissional futuro.
São estes jovens que vamos encontrar, em
grande porcentagem, nas universidades
públicas, nas particulares e não são exceção
7
na UEM — o jovem que, além de estudante é
trabalhador.
Nesse sentido, o projeto do estudante em
relação à universidade deve ser buscado na
compreensão do projeto que sua própria classe
tem em relação a esta instituição.
Na presente investigação, delimitada como
estudo de uma unidade de ensino superior com
as características de uma universidade regional
do interior do Estado do Paraná, procuramos
verificar até que ponto estas questões colocadas
se reafirmam ou não no presente. O resultado é
que a face do estudante que se apresenta é
aquela que parece "estar por acontecer", ou
seja, os dados e as representações dos
estudantes, através de suas falas, não nos
permitem inferir sobre uma prática de rebeldia
passada dos anos 60, nos grandes centros do
País, mas, também não nos autorizam a
menosprezar a prática evidente, na perspectiva
de intervenção, no caminho do comodismo.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A metodologia desenvolvida teve como
orientação a necessidade da produção de um
conhecimento a respeito dos alunos da UEM e
o desencadeamento de ações que pudessem
intervir de forma imediata nos assuntos
referentes à questão do ensino de graduação,
através e com o envolvimento dos próprios
sujeitos da investigação.
Nas discussões e reuniões que precederam a
elaboração do projeto foram se delineando, a
partir da análise das necessidades da instituição,
os aspectos que mais interessavam para um
levantamento da realidade discente da UEM e
qual o instrumento
mais adequado para atingir a grande maioria
deste segmento. Decidiu-se que, para este nível
de demanda — da Pró-Reitoria de Ensino —, a
coleta dos dados seria feita através de um
questionário aplicado a todos os alunos e com
seu envolvimento, desde a elaboração do
mesmo.
Em termos de execução, duas questões ab-
sorveram a equipe de pesquisa:
a) garantir o envolvimento e a efetiva par-
ticipação de todos segmentos que compõem
a universidade;
b) desencadear o processo de construção
coletiva do questionário, instrumento
escolhido para o levantamento da realidade
do aluno da UEM.
Com estas preocupações é que passou a ser
organizada a equipe central da pesquisa que
procurou se orientar pelo caráter interativo
entre pesquisador e pesquisado. Teve-se como
orientação básica o pressuposto que parte do
sujeito da pesquisa e retorna a ele como ação
organizada para interferência na realidade.
Obedecendo à metodologia empregada, a
equipe foi estruturada por meio de um
Seminário Central
2
, composto por diferentes
representantes da comunidade universitária, ar-
ticulados para a agilização dos níveis teóricos,
técnicos e informativos do processo de
investigação: professores, representante dos
departamentos no PADES (Projeto de Apoio ao
Desevolvimento do Ensino Superior), da UEM,
estudantes, um repre-
Seminário foi definido como a espinha dorsal da pesquisa, o seu
núcleo centralizador. Sobre o tema tomou-se como base principalmente:
René Barbier, A pesquisa-ação na instituição educativa e Michel
Thiollent, Metodologia da pesquisa-ação, conforme bibliografia no
final deste artigo.
8
sentante de cada curso e um representante do
DCE), funcionários e especialistas das áreas de
apoio técnico. A coordenação geral esteve a
cargo da equipe central da pesquisa.
A partir das reuniões desse Seminário Central,
o questionário foi elaborado coletivamente, a
equipe coordenadora propôs alguns núcleos
temáticos, outros foram sugeridos durante as
discussões e, por fim, foi atribuído a cada
participante o recolhimento de subsídios para o
levantamento dos aspectos a serem
investigados.
Com a primeira versão do questionário pronta,
o passo seguinte foi a sua aplicação como pré-
teste, a fim de avaliar este instrumento de
pesquisa. O mesmo foi aplicado a 120 alunos
voluntários, evitando-se in-gressantes e
finalistas, e, após a análise do material, partiu-
se para a aplicação definitiva do questionário
3
.
O número de alunos respondentes atingiu
64,10% do total previsto para estar presente no
campus, no dia da aplicação do instrumento.
Dos 6.882 alunos matriculados no segundo
semestre de 1989, 4.412 responderam ao
questionário. A percentagem de alunos que
deixaram em branco ou anularam questões foi
insignificante.
A última questão, a de número 106
4
, dado seu
caráter de questão aberta, mereceu uma atenção
especial da equipe, em função
O referido questionário é composto por 105 questões fechadas e uma
questão aberta, sendo agrupadas no seguintes núcleos temáticos: dados
pessoais de identificação, moradia, nivel socioeconômico, forma de
manutenção, vida escolar (antes e depois da Universidade), hábitos
culturais, conhecimentos da estrutura da Universidade, experiência e
participação política.
4 Esta questão solicitava ao aluno que fizesse algum comentário ou
emitisse alguma opinião a respeito da Universidade.
do seu objetivo de levantar as manifestações
dos alunos que forneciam conteúdos para ações
implementáveis a curto e médio prazo, ao
mesmo tempo que indicaria questões a respeito
da consciência social do estudante e as suas
representações sobre temas diversos. Esta
questão cumpriu a intenção inicial de criar um
espaço em que a livre manifestação do aluno
supriria a lacuna deixada pelo questionário
fechado.
Procedeu-se, então, a um trabalho de cate-
gorização da fala livre dos alunos, no sentido
da sua classificação e apresentação das
opiniões, críticas, sugestões e propostas. As 24
categorias que surgiram foram agrupadas em
seis núcleos temáticos, quais sejam:
1. Percepção sobre a universidade;
2. Qualidade do ensino/ curso;
3. Qualificação e interesse dos docentes;
4. Movimentos universitários;
5. Infra-estrutura física e organizativa;
6. Outras manifestações
3
.
Como se pode observar no Tabela 1, que
compara o número de respostas do questionário
por curso, a tabulação das categorias acima
citadas está sistematizada nas respostas da
questão aberta, por curso e pelo número de
manifestações sobre os temas identificados.
O Tabela 1 mostra que os alunos de cada curso
que responderam à questão aberta apresentaram
em sua grande parte, mais de uma manifestação
sobre o tema proposto. Mostra também que,
apesar de os a-
Relacionam observações e considerações feitas pelos estudantes
sobre a pesquisa em questão, percepção dos alunos sobre si mesmos e
outras manifestações que não se enquadram nas categorias anteriores.
9
alunos de alguns cursos se sobressaírem quanto
ao número de questionamentos levantados,
ponderando-se os resultados, obtém-se uma
representatividade grande de
questionamentos por curso, se compararmos o
número de matriculados X número
respondentes do questionário X resposta à
questão aberta.
TABELA 1 COMPARATIVO DAS
RESPOSTAS DA QUESTÃO ABERTA POR CURSO
CURSOS A B C D E F G H
01. ADMINISTRAÇÃO
02. AGRONOMIA
03. BIOLOGIA
04. CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO
05. CIÊNCIAS CONTÁBEIS
06. DIREITO
07. ECONOMIA
08. EDUCAÇÃO FÍSICA
09. ENFERMAGEM
10. ENGENHARIA CIVIL
11. ENGENHARIA QUÍMICA
12. FARMÁCIA-BIOQUÍM1CA
13. FÍSICA
14. GEOGRAFIA
15. HISTÓRIA
16. LETRAS
17. MATEMÁTICA
18. MEDICINA
19. ODONTOLOGIA
20. PEDAGOGIA
21. PSICOLOGIA
22. QUÍMICA
23. TECNOLOGOS EM P. DADOS
24. ZOOTECNIA
608
343
207
70
524
769
461
262
159
366
247
298
185
241
251
490
151
36
39
346
275
174
173
287
372
284
134
65
282
548
242
181
72
244
189
235
59
133
166
305
49
16
31
229
174
78
131
193
61,18
82,21
64,73
92,85
53,81
71,26
52,49
69,08
45,28
66,66
76,51
78,85
56,19
55,18
66,13
62,24
32,45
44,44
79,48
66,18
63,27
44,82
75,72
67,24
171
175
68 30
133
289
112
73 21
137
120
139
20 62
68
122
19 15
14
110
62 46
61
112
28,1
51,0
32,9
42,9
25,4
37,6
24,3
27,9
13,2
37,4
48,6
46,6
19,0
25,7
27,1
24,9
12,6
41,7
35,9
31,8
22,5
26,4
35,3
39,0
46,0
61,6
50,7
46,2
47,2
57,7
46,3
40,3
29,2
56,1
63,5
59,1
33,9
46,6
41,0
40,8
38,8
93,8
45,2
48,0
35,6
59,0
46,6
58,1
267
254
94
89
226
506
165
117
27
200
258
279
39
98
98
211
27
35
37
138
76
65
92
194
1,6
1,5
1,4
3,0
1,7
1,8
1,5
1,6
1,3
1,5
2,2
2,0
2,0
1,6
1,4
1,7
1,4
2,3
26
1,3
1.2
1,4
1,5
1,7
TOTAL 6.882 4.412 64,10 Z179 31,7 49,4 3.602 1,7
Coluna A: Número líquido de matrículas (out/89).
Coluna B: Número de questionários respondidos.
Coluna C: % questionários respondidos sobre os matriculados.
Coluna D: Número de questões abertas respondidas.
Coluna E: % questões abertas respondidas em relação aos matriculados.
Coluna F: % questões abertas respondidas por questionários respondidos.
Coluna G: Número de manifestações levantadas.
Coluna H: Número médio de manifestações da questão aberta.
Do total de alunos que responderam ao
questionário, 49% responderam à questão
aberta, considerando-se todos os cursos, ou
seja, 2.179 alunos gerando 3.602 manifesta-
ções, índice considerado significativo para
análise de questões.
Feito o agrupamento das categorias e como um
primeiro retorno da pesquisa à comunidade
universitária, elaborou-se um boletim
distribuído em todo o campus, com as
principais questões de caracterização do
alunado.
10
Paralelo à organização deste boletim, a equipe
passou a selecionar, da questão aberta, pontos
considerados mais significativos referentes a
temas com caráter de solução mais imediata
para comporem um plano de ação. Deste
trabalho saiu a apresentação, inicialmente, ao
Seminário Central e, posteriormente, à
Administração Central da UEM, de questões
relativas ao núcleo temático no qual os alunos
se manifestam sobre a infra-estrutura física e
orga-nizativa da UEM. Este procedimento inte-
grou a proposta de pesquisa participativa em
que, durante o seu processo, vão se produzindo
ações práticas.
O segundo plano de ação, previsto no projeto,
não se constituiu numa proposta mas num
relatório detalhado, entregue à Administração
da UEM (Pró-Reitoria de Ensino), tendo em
vista subsidiar o planejamento dos diferentes
cursos da Instituição que passavam do regime
de créditos para o de seriado anual, em fase de
reestruturação.
A divulgação parcial dos dados e análises,
durante a investigação, ampliou a oportunidade
de discussão (e participação) tanto dos
professores quanto dos alunos interessados na
formulação do planejamento institucional. Esta
iniciativa ocorreu como síntese da pesquisa-
ação cujos resultados serviram de indicações
para ações concretas a serem implementadas,
quando se mostrou o nível das condições em
que vivem, estudam e se relacionam os estu-
dantes da UEM, bem como as suas repre-
sentações sobre a prática acadêmica.
A pesquisa se constituiu, portanto, em diversas
fases que foram da ação à sistematização de
conhecimentos - ação quando da intervenção
nos problemas mais
imediatos e questões de planejamento - e
produziu conhecimento na análise dos dados
qualitativos e quantitativos que buscavam a
compreensão mais abrangente do estudante no
contexto da vida universitária.
O PERFIL DOS ALUNOS DA UEM
Identificação e Dados Pessoais
Tomando como base os 4.412 alunos que
responderam ao instrumento da pesquisa, pôde-
se traçar um perfil dos estudantes. Estes alunos
pertenciam aos 24 cursos de graduação
oferecidos pela Universidade. As informações
mais significativas subsidiaram os projetos
pedagógicos dos cursos e foram analisadas
conforme interesses e objetivos de cada
unidade pedagógica.
Os alunos da UEM, em sua maioria, são
mulheres. Dos respondentes, 53% são do sexo
feminino e 47% são do sexo masculino. Esta
predominância é confirmada em ambos os
turnos (diurno e noturno). Na sua maioria são
solteiros (84,5)%. No geral, a maior
concentração em termos de idade do alunado
situa-se na faixa dos 21 aos 24 anos, atingindo
41,2%, sendo significativo o índice de 37,65%
de alunos com até 20 anos de idade. A faixa de
25 a 30 anos é de 15,20%, a de 31 a 35 anos é
de 3,42% e os que têm mais de 35 anos
atingem 2,47%. Pode-se observar, também, que
é no diurno que predominam estudantes mais
jovens, com até 22 anos de idade, enquanto que
no noturno predominam estudantes com 23
anos ou mais.
Procedência dos Alunos
A maioria é paranaense (aproximadamente
11
80%), sendo que, destes, 25,06% são naturais
de Maringá, 26,45% vêm de cidades vizinhas a
Maringá, 27,94% são de outras cidades do
Estado. Apenas 20,55%, de fora do Paraná.
Além do Paraná, o Estado de onde mais
provêm alunos é São Paulo (13,73%) e, ainda,
tem-se 1% de estrangeiros, na sua maior parte
bolivianos e paraguaios.
Verificando-se os dados por turno, aparece uma
predominância de nascidos em outras cidades
do Paraná no diurno, com 29,79%, enquanto
que 24,56% de alunos deste turno não nasceram
no Paraná. No noturno, predominam alunos
nascidos em cidades vizinhas a Maringá
(31,20%) seguidos dos que nasceram em
Maringá (30,52%).
Hábitos de Estudo
Quanto aos hábitos de estudo, 29,01% dos
alunos afirmam que acompanham as aulas
apenas ouvindo as exposições do professor. Os
demais participam em sala de aula e/ou fazem
anotações e questionamentos e revêem a
matéria em casa; 17,08% declararam que, além
de participarem e fazerem anotações em sala de
aula, ainda se preparam para as aulas. O
comportamento dos alunos na forma de
acompanhar as aulas difere pouco entre aqueles
que trabalham e os que não trabalham. Os
números revelam que os alunos trabalhadores
afirmam ser mais questionadores em sala de
aula, enquanto que os alunos estudantes revêem
mais a matéria fora da sala de aula.
Já no que se refere à execução dos trabalhos
/exercidos sugeridos pelos professores, o
comportamento dos alunos trabalhadores e não
trabalhadores, praticamente, se eqüivale. No
geral, 56,66% o fazem e 14,91%
fazem aqueles trabalhos que interessam mais;
5,46% só fazem aqueles que valem nota.
Dificuldades no Estudo/Desempenho
Acadêmico
Com relação ao seu desempenho acadêmico,
dois são os fatores mais significativos
apontados pelos alunos como dificuldades
pessoais, a falta de tempo para os estudos
(33,89%) e a falta de base na formação escolar
anterior (31,52%). Os que não trabalham
alegam mais a falta de base do que aqueles que
trabalham, com relevante diferença percentual
(61,8% e 38,2% respectivamente). Como era de
se esperar, os alunos trabalhadores em
comparação com os que apenas estudam,
afirmaram que têm pouco tempo para dedicar
aos seus estudos e enfrentam mais dificuldades
no acompanhamento do curso. Pelos dados
gerais, 22,68% são os que alegam não ter
nenhuma dificuldade. As dificuldades aqui
apontadas são maiores para estudantes do turno
noturno que, geralmente, são os que também
trabalham.
Quanto à reprovação em disciplinas, a maioria
dos alunos (64,01%) afirma já haver reprovado
em alguma disciplina, uma ou mais vezes.
Observando por turno, constata-se que o diurno
tem pior desempenho (67,74% já reprovaram)
que o noturno (57,68% já reprovaram ). Os
dados mostram que dos alunos que reprovaram
uma ou mais vezes 51,26% não trabalham,
enquanto 48,74% são trabalhadores. Por outro
lado, dos que nunca reprovaram 49,21% são
apenas estudantes e 50,79% são estudantes
trabalhadores, o que nos indica que os alunos
trabalhadores reprovam menos do que aqueles
que não trabalham.
12
Estes alunos estão mais presentes nos cursos
noturnos, o que nos leva à indagação sobre:
uma possível diferenciação de conteúdos entre
cursos noturnos e diurnos; o nível de exigência
dos professores com relação ao desempenho
dos alunos dos cursos da noite; o perfil deste
aluno — por ser trabalhador e assumir mais
responsabilidades na vida prática, encara com
mais maturidade seus compromissos acadêmi-
cos.
A maioria dos alunos nunca trancou e/ou
abandonou o curso que realiza (85,12%), sendo
que, dentre estes, 47,06% são trabalhadores. Os
dados confirmam que a maioria dos alunos que
trancam os cursos trabalham (63,26%). Por
outro lado, se a maioria dos alunos nunca
trancou o curso, é grande o índice daqueles que
já cancelaram e/ou abandonaram disciplinas
(55,33%) entre alunos trabalhadores ou não. Os
motivos para este abandono e/ou cancelamento
variam: 10,08% alegam elevada carga horária
do semestre; 9,04% por não se identificarem
com os professores; 8,13% por elevado grau de
complexidade das disciplinas e 6,09% por
incompatibilidade de horário; 12,21% alegam
motivos diversos.
Percebe-se, pelos dados, a disposição dos
alunos em continuar o seu desenvolvimento
acadêmico, pois muitos pretendem fazer curso
de especialização na mesma área (38,21%),
outros pretendem fazer outro curso superior
(21,78%) e 16,59% pretendem fazer curso de
mestrado na mesma área. Apenas 20,12%
responderam que não pretendem fazer outro(s)
curso(s) regular(es). Estes graus de pretensão
são maiores para os alunos do diurno.
Dos alunos da UEM, 62,57% não possuem
domínio de língua estrangeira, mas 57,38%
gostariam de tê-lo; 37,43% dominam com-
pleta (2,76%) ou razoavelmente (34,67%) uma
ou mais línguas estrangeiras.
Condições de Estudo
No que diz respeito à utilização da biblioteca,
4% dos estudantes declararam não a utilizarem.
O destaque da não utilização da BCE fica por
conta dos cursos do Centro Socioeconômico
(7,76%) e ainda de alguns cursos de outros
centros como é o caso de Pedagogia do CCH
(5,24%) e Física (5,08%) do CCE. Em se
tratando de freqüência regular
6
, os alunos do
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde são
os maiores freqüentadores da BCE com
73,71%, seguindo-se de 67,41% dos alunos do
Centro de Tecnologia, 60,30% alunos do
Centro de Ciências Humanas, 54,30% de
alunos do Centro de Ciências Exatas e 45,67%
do Centro Socioeconômico. A maioria utiliza a
biblioteca para estudo em grupo e/ou individual
(49,35%).
A maioria dos alunos (73,01%) estuda onde
reside, 12,03% na biblioteca e o restante
(14,95%) estuda em locais diversos, dentro ou
fora da Universidade; 68% afirmaram que
possuem em sua residência local apropriado
para os estudos, enquanto que 32% não o
possuem. Este percentual afirmativo aumenta
para os alunos do diurno.
São poucos os alunos que declaram que não
estudam fora da sala de aula (2,08%). Em
termos gerais, os alunos do diurno afirmam que
estudam mais horas por dia e também dedicam
maior tempo aos estudos nos fins de semana.
6 Os cursos cujo alunos mais freqüentam à BCE são: Psicologia
(82,07%), Farmácia e Bioquímica (80,84%) e Agronomia (77,10%).
13
Os dados demonstram que estes últimos são
trabalhadores, o que muito provavelmente
explica a sua pouca disponibilidade de horas
para o estudo durante a semana.
A maioria dos estudantes acompanha total
(40%) ou parcialmente (26%) sua turma de
ingresso; 34% não acompanham.
Quanto à forma de acompanhamento das aulas,
29,01% afirmam que apenas ouvem as
exposições do professor. Os demais, participam
em sala de aula e/ou fazem anotações,
questionamentos e revêem a matéria em casa;
17,08% declararam que além de participarem,
questionarem e fazerem anotações, ainda se
preparam para as aulas. O comportamento dos
alunos na forma de acompanhar as aulas difere
pouco entre aqueles que trabalham e os que
não.
No que se refere à execução dos traba-
lhos/exercícios sugeridos pelos professores, o
comportamento dos alunos trabalhadores e não
trabalhadores praticamente se eqüivale. No
geral, 56,66% o fazem parcialmente, 20,76% o
fazem totalmente e 14,91% fazem aqueles
trabalhos que interessam mais; 5,46% só fazem
aqueles que valem nota.
A ORIGEM SOCIOECONÔMICA DO
ESTUDANTE DA UEM
Um aspecto relevante na caracterização dos
alunos da UEM foi sua origem socioeconô-
mica. A esse respeito, o questionário aplicado
preocupou-se em levantar dois tipos de
informação de caráter econômico:
a) o nível ocupacional da família origem
(incluindo o nível de escolaridade dos pais);
b) a remuneração do próprio acadêmico,
quando este trabalha.
Nível Ocupacional da Família de Origem
O nível ocupacional da família foi determinado
pela resposta dos estudantes ao descreverem a
ocupação do seu pai ou responsável, a partir da
escala de Hutckin-son
7
, que indica sete
posições optativas para a classificação do
respondente em níveis socioeconômicos, tendo
como referência metodológica a profissão
dentro de escalas de valores hierarquizados
socialmente.
Analisando os dados da Tabela 2, constata-se
que dos 4371 acadêmicos que responderam à
questão sobre o nivel ocupacional dos seus
pais, 25,30% situam-se no chama-
Este instrumento tem sido aplicado no Brasil desde a década de 1950
nos trabalhos de investigação da sociologia empírica e é considerado
como um parâmetro sistemático entre os mais aceitáveis no
levantamento do aspecto sócioeconômico das populações investigadas.
A escala é assim definida, em suas sete posições: 1. Altos cargos
políticos e administrativos, proprietários de grandes empresas e
assemelhados; 2 Profissionais liberais, cargos gos de gerência ou
direção, proprietários de empresas de tamanho médio; 3. Posições mais
baixas de supervisão ou inspeção de ocupações não manuais,
proprietários de pequenas empresas comerciais, industriais,
agropecuárias, etc. 4 Ocupações não manuais de rotina e assemelhadas.
5. supervisão de trabalho não manual e ocupações assemelhadas.
6.Ocupações manuais especializadas e assemelhadas. 7. Ocupações
manuais não especializadas. Além disso, as sete posições iniciais são
reagrupadas em três estratos: superior, médio e inferior. Compõem o es-
trato superior as posições 1 e 2, que correspondem aproximadamente o
que costuma ser chamado de classe alta e média alta, respectivamente.
No estrato médio figuram as categorias 3 e 4 que abrangem todas as
demais ocupações de natureza não manual. Por fim, no estrato inferior,
são colocadas todas as ocupações manuais, inclusive de supervisão
compreendendo, pois, as posições 5,6 e 7.
14
TABELA 2
DISTRIBUIÇÃO DOS ALUNOS DA UEM POR NIVEL OCUPACIONAL DA FAMÍLIA DE ORIGEM
(CONFORME ESCALA DE HUTCHINSON) DADOS GERAIS
POSIÇÕES NA ESCALA ESTRATOS FREQÜÊNCIA
%
1
93 2,13
2
1013 23,17
SUPERIOR 1106 25,30
3
1194 2732
4
708 16,20
MÉDIO 1902 43,52
542 12,40
654 14,96
5
167 3,82
6
7
INFERIOR
1363 31,18
TOTAL
4371 100,00
do estrato superior, 43,52% no estrato médio e
31,18% no estrato inferior.
Estes dados nos permitem ter uma idéia à
primeira vista de um certo grau de eli-tização
do ensino na UEM, que se verifica em todo o
país, sobretudo, nas universidades públicas.
Todavia, existem cursos que, por suas
características, são privilégio de alunos de mais
elevado nível sorio-econômico, enquanto que
outros são freqüentados por alunos de nível
socioeconô-mico mais baixo, esta constatação
surge quando se separam os alunos que
freqüentam a Universidade em período diurno
a-queles que a freqüentam em período noturno
e quando a análise é feita por área de estudo.
Dos alunos que freqüentam a Universidade em
turno diurno, 32,52% são provenientes do
estrato superior da sociedade, enquanto que dos
que a freqüentam em turno noturno apenas
13,22% provêm desse estrato. Verificou-se um
equilíbrio para o estrato médio (44,61% diurno
e 41,68% noturno) mas aumenta a discrepância
no que se re-
fere ao estrato inferior, onde apenas 22,87%
dos alunos deste estrato são do turno diurno
ficando 45,10% dos alunos do noturno
pertencentes ao estrato inferior.
Quando procedemos a análise por Centro,
ficaram evidenciadas as diferenças entre áreas
de ensino
8
na Universidade: algumas delas
possuem cursos que são ministrados apenas em
um dos turnos (diurno ou noturno) e outros que
têm seus cursos oferecidos tanto no turno
diurno quanto no noturno. Aliando este fato às
características dos próprios cursos, constatou-se
a diferen-
As áreas são aqui identificadas por Centros de Estudos com a
seguinte composição de cursos: CCH - Centro de Ciências Humanas,
Letras e Artes: História, Geografia, Letras, Pedagogia e Psicologia;
CCE - Centro de Ciências Exatas: Química, Física e Matemática; CSE -
Centro de Estudos Sócio-econômicos; Administração, Economia,
Ciências Contábeis e Direito; CTC - Centro de Tecnologia: Ciências da
Computação, Processamento de dados. Engenharia Civil e Engenharia
Química; CBS - Centro de centes ao estrato superior, 47,10% oriundos
de estrato médio e 22,99% do inferior. Ou seja, neste Centro
predominam alunos provenientes dos estratos médio e superior, em
detrimento do inferior. O mesmo se pode inferior do Centro de Ciências
Biológicas e da Saúde: Enfermagem, Biologia, Medicina, Odontologia,
Agronomia, Zootecnia, Educação Física e Farmácia e Bioquímica.
15
ciação sócio-econômica entre cursos.
Os cursos do Entro de Tecnologia, que são
freqüentados apenas no período diurno,
registraram, 29,9% de alunos pertencentes ao
estrato superior, 47,10%) oriundos de estrato
médio e 22,99% do inferior. Ou seja, neste
Centro predominam alunos provenientes dos
estratos médio e superior em detrimento do
inferior. O mesmo se pode inferir do Centro de
Ciências Biológicas e da Saúde, que também
apresenta apenas turno diurno, com 33,63% de
alunos do estrato
superior, 46,12% do médio e 20,25% do
inferior.
O Centro de Estudos Sócio-Econômicos
oferece seus cursos nos períodos diurno e
noturno e o resultado é que os alunos do diurno
provêm em muito maior escala dos estratos
médio e superior, sendo que no turno noturno
apenas 12,65% pertencem ao estrato superior,
sendo que no turno noturno apenas 12,65%
pertencem ao estrato superior enquanto que
43,98% vêm do inferior. Conclusão idêntica
pode-se tirar do Centro de Ciências Humanas.
TABELA 3
DISTRIBUIÇÃO DOS ALUNOS DA UEM POR NÍVEL OCUPACIONAL DA FAMÍLIA DE ORIGEM
(CONFORME ESCOLA DE HUTCHINSON) POR CENTRO DE ESTUDOS
POSIÇÕES CTC CBS CSE CCH CCE
NA ESCALA
ESTRATO
DIURNO DIURNO DIURNO NOTURNO DIURNO NOTURNO NOTURNO
1 2
SUPERIOR
3 4
MÉDIO
5 6 7
INFERIOR
1,13
28,78
29,91
31,67
15,43
47,10
10,61
11,25
1,13
22,99
3,08
30,55
33,63
31,95
14,17
46,12
11,09
7,57
1,59
2035
4,41
32,43
3634
2832
10,87
3939
10,52
10,87
2,38
23,77
0,71
11,94
12,65
23,99
1938
4337
13,24
2439
6,15
43,98
1,03
25,90
26,93
25,90
18,46
4436
12,05
14,10
2,56
28,71
2,31
11,55
13,86
20,79
18,98
39,77
16,01
22,61
7,75
4637
0,55
13,19
13,74
19,78
19,78
3936
1738
18,68
10,44
46,70
TOTAL 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
Verificamos que no Centro de Ciências freqüentados por alunos, em sua maioria,
Exatas, que oferece seus cursos somente oriundos das faixas mais privilegiadas da
em período noturno, 13,74% têm origem sociedade, enquanto que, inversamente,
socioeconômica no estrato superior, 39,56% nos cursos noturnos predominam alunos
no estrato médio e 46,70% no inferior. de camadas mais baixas.
A descrição até aqui realizada permitiu
concluir que, invariavelmente, os cursos Vale considerarmos ainda que a determina-
que são oferecidos em período diurno são ção dos turnos dos cursos que são ofereci-
16
dos, geralmente, é feita em função da área de
conhecimentos. Desta forma, os cursos de turno
integral pressupõem uma forma-mação mais
intensiva no sentido de horas/aula e outras
atividades curriculares. Se esta é uma tendência
que se confirma, tudo indica que a matrícula
dos alunos num determinado curso acompanha
esta mesma proposição. Os dados apontam que,
do ponto de vista da demanda de alunos por
nível socioeconômico, os mesmos se
matriculam em determinado curso conforme as
condições objetivas que dizem respeito ao
aspecto socioeconômico, quais sejam: porque
trabalham o dia todo e lhes resta a noite para os
estudos ou porque outros cursos talvez exijam
preparo, tempo de dedicação que não poderão
despender.
Nível Educacional dos Pais
Destacam-se, também, o nível educacional dos
pais dos alunos, para melhor explici-tação da
localização da família de origem numa
determinada posição social, como um elemento
entre os que compõem a caracterização dos
alunos da UEM, levando à compreensão da sua
origem.
O resultado das respostas constata que, na
análise global, diurno, noturno e por Centro, o
grau de instrução do pai não é signi-
ficativamente diferente do da mãe dos alunos e
que o grau de escolaridade dos pais concentra-
se na lª à 4ª série do primeiro grau
9
com
47,35% para o pai e 46,74% para a mãe. Segue-
se 15,34% para o pai com grau de instrução da
5
5
à 8- série do primeiro grau e 15,96% para a
mãe. Com curso superior completo, os
resultados são
9 1ª a 4ª série em dado momento correspondiam ao curso primário
11,18% para o pai e 11,07% para a mãe. Este
último percentual cai, significativamente, para
os cursos noturnos, bem como se elevam nos
cursos diurnos.
O cruzamento do nível socioeconômico e o
grau de instrução mostra que pais com maior
nível de escolaridade vêm, predominantemente,
do estrato social superior, enquanto pais
analfabetos situam-se, predominantemente, no
estrato inferior.
Há dois extremos na formação dos mesmos, ou
seja, dos pais e mães analfabetos a grande
maioria situa-se, como o esperado, no estrato
inferior, indicando que há maior quantidade de
pais analfabetos do que mães nesse estrato. Isto
demonstra o contrário do que ocorre nos
estratos médio e superior, onde a escolaridade
mais elevada está presente no segmento
masculino.
No outro extremo, observa-se que dos pais dos
alunos com formação universitária, a grande
maioria se situa no estrato superior,
predominando o pai em relação à mãe; já no
estrato médio, as mães que possuem curso
superior, são em maior percentual que os pais.
Exercício de Atividades Remuneradas pelos
Alunos
Através de uma das questões que remetiam ao
nível socioeconômico, foi perguntado aos
alunos da UEM se exerciam alguma atividade
remunerada. Os dados, em forma de percentual,
estão na Tabela 4 para o total da Universidade
por turno e por Centro.
A nível global, 49,68% dos alunos da UEM não
exercem atividade profissional remu-
17
nerada; 0,83% recebem algum tipo de pensão;
8,68% são estagiários remunerados sem
vínculo empregatício; e 40,81% exercem
algum tipo de atividade profissional
remunerada. Este último percentual cai para
19,45% dos alunos no turno diurno e aumenta
para 76,97% no turno noturno.
Já os alunos que não trabalham aumentam dos
49,68%, acima citados, para 69,81%, em se
tratando de turno diurno, e caem para 15,57%,
no caso do noturno. Esta mesma tendência é
observada quando se analisam os dados por
Centro, ou seja, os cursos de turno diurno são
freqüentados por alunos que, em sua maioria,
não trabalham, enquanto que os cursos de turno
noturno são freqüentados, predominantemente,
por alunos que trabalham, chegando este per-
centual a 80,02%, como é o caso do Centro
Socioeconômico noturno.
Estes dados são compatíveis com o verificado
na análise da origem socioeconômica, ou seja,
os alunos que freqüentam os cursos noturnos
são, em sua maioria, oriundos das classes
menos favorecidas e exercem alguma atividade
profissional remunerada. Ao contrário, em sua
maioria, os alunos do turno diurno têm sua
origem nos estratos sociais superiores, não
exercendo atividade profissional remunerada.
Quanto à principal fonte de manutenção dos
estudantes da UEM, a Tabela 4 revela que a
nível global 47,86% se mantêm apenas com
rendimentos da família, enquanto que 32,75%
se mantêm apenas com o próprio salário. Em se
tratando de análise diurno-noturno, este último
percentual cai para 12,73% no diurno e sobe
para 66,32% no noturno. Da mesma forma, a
análise por centros mostra o mesmo comporta-
mento, sendo que para os alunos dos
cursos diurnos predominam aqueles que se
mantêm na Universidade apenas com o
rendimento da família. Também estes dados
são compatíveis com a origem
socioeconômica.
Como mostra a Tabela 6, a faixa salarial
predominante entre os alunos é de um a três
salários mínimos com 53,76% para o global da
UEM, mantendo-se em torno deste percentual
quando a análise é por turno ou por Centro. O
índice seguinte é o relativo à faixa de mais de
três 3 a 5 salários mínimos com 20,53% para o
global; 15,28% para o turno diurno; e 23,65%
para o noturno. A faixa mais alta de salários
dos alunos, acima de sete salários mínimos
apresenta um percentual de apenas 8,30% para
o global, chegando a um máximo de 13,98%
para o CSE noturno.
Na mesma tabela, os alunos dos cursos
noturnos são melhor remunerados que os
alunos dos cursos diurnos, ou seja, predomina
um maior percentual de alunos do noturno nas
faixas salariais mais elevadas e um maior
percentual de alunos do diurno nas faixas
salariais mais baixas. Este dado deve ser
explicitado pelo mais elevado grau de
profissionalização dos alunos do noturno e
também pela sua maior necessidade de suprir a
própria manutenção.
Como pode ser observado, onde estão cruzados
a origem socioeconômica e o exercício da
atividade profissional remunerada (Tabela 7), a
maioria desses alunos que exercem estas
atividades vêm dos estratos médio e inferior,
41,42% e 41,27% respectivamente. Dos alunos
que não trabalham, a maior parte pertence aos
estratos médio (45,54%) e superior (33,06%).
18
TABELA 4
TABELA 5 PRINCIPAL FONTE DE
TABELA 6 NÍVEL DE REMUNERAÇÃO DOS
TABELA 7 ORIGEM SÓCIO-ECONÔMICA DO ALUNO DA UEM X ATIVIDADE
REMUNERADA - %
ESTRATO
EXERCÍCIO DE ATIVIDADE PROFISSIONAL
REMUNERADA
RECEBE ALGUM TIPO DE PEN-
NÃO * SIM « SÃO
SUPERIOR
MÉDIO
INFERIOR
33,06
45,54
21
,
40
17,31
41,42
41
,
27
41,18
50,00
8
,
82
TOTAL 100,00 100,00 100,00
* Alunos que: não trabalham; estão procurando trabalho; sao estagiários sem remuneração; trabalham para terceiros sem remuneração; trabalham com a
família sem remuneração.
** Alunos que: são estagiários remunerados sem vínculo empregatício trabalham com vínculo empregatício trabalham para terceiros sem vínculo
empregatício; trabalham por conta própria (autônomos).
AS REPRESENTAÇÕES E CONDIÇÕES DE
VIDA
As manifestações livres dos estudantes
reconhecem o papel de importância que a
Universidade tem e demonstram preocupação
com relação às suas dificuldades e o futuro.
Embora muitos dos estudantes res-trinjam as
suas opiniões nas especificidades do cotidiano
acadêmico, outros, e diríamos a grande parte
dos respondentes da pesquisa, demonstram que
têm uma consciência ampla de que tanto as
questões internas quanto as questões "externas"
à Universidade precisam ser modificadas para
que a universidade pública tenha um futuro.
Ao abordarem a questão dos recursos e a forma
como os diferentes cursos têm se desenvolvido,
a falta de direção para o cumprimento de metas
estabelecidas, o corporativismo, a necessidade
de um maior equilíbrio na rebeldia, no
movimento docente contra o governo do
Estado, a necessidade de os governos estadual e
federal tomarem a si a responsabilidade que
lhes cabe com relação à educação dos
brasileiros, demonstram que o seu
entendimento não se restringe às questões
específicas mas sim às relações mais amplas
que a envolvem.
A visão crítica sobre a Universidade de-
monstrada, toma duas dimensões: percebem o
descaso dos órgãos governamentais para com a
educação universitária e também que a
necessidade de autonomia não elimina a
necessidade de uma administração interna
responsável e competente.
Podemos afirmar que o estudante da UEM é
um inconformado que não demonstra a rebeldia
suficiente para interferir nas condições
estruturais da Universidade. Com exceção de
movimentos localizados em alguns cursos,
onde as reivindicações se restringem a
bandeiras específicas por melhores condições
de ensino em determinadas disciplinas,
melhores equipamentos, instalações físicas para
exercício pedagógico, etc, o movimento
estudantil conta com a participação restrita do
estudantado que têm demonstrado se envolver
nas "lutas", muito em função das condições
subjetivas
22
de socialização universitária entre os seus
pares.
Na expressão da sua rebeldia, os acadêmicos
deixam a representação de que estão
desassistidos, que os professores e a própria
instituição desempenham a sua prática
acadêmica, apesar dos estudantes. Os estu-
dantes têm a clareza do espaço limitado que
ocupam na preocupação da Universidade em si,
se auto-valorizam e não percebem a
causalidade de todo este estado, que está
"diluído" na prática universitária dos anos 70
para cá.
Talvez por não compreenderem a impesso-
alidade que envolve as relações dentro da
academia e o distanciamento entre as categorias
que a reforma universitária impôs com a sua
"nova" concepção de ensino superior, os
estudantes insistem na questão de que devem
ser o "centro" dos interesses universitários.
Grande parte dos estudantes, entra na vida
universitária com uma visão utilitarista e
imediatista sobre o ensino, ou seja, eles re-
conhecem nela uma instituição social que
presta serviços à sociedade e que por obrigação
deve se oferecer com a melhor qualidade
possível. Os meios de comunicação
proporcionam, hoje, o nível de informação
sobre o desenvolvimento técnico-científico,
suficiente para criar uma expectativa de a-
propriação desse conhecimento. No caso, a
Universidade ainda é para eles, hoje, um dos
meios para tal.
Mas há os mais otimistas, entre os alunos, que
vêem a Universidade dentro de um processo
que ainda está sendo estruturado porque a
entendem como algo inacabado, algo por ser
feito. Exatamente por compre-
enderem-na nesta dimensão, estão de certa
forma satisfeitos com o que ela oferece (a
recíproca não se aplica como verdadeira: os
insatisfeitos não têm visão de processo). A
universidade para estes estudantes exerce uma
influência de vida muito grande, lhes dá
oportunidade de ascensão social e é vista como
elemento fundamental para a elaboração da
maturidade individual e coletiva.
A forma histórica da Universidade hoje é
porém, um dos determinantes da consciência
social dos jovens que nela estão presentes.
Devemos considerar, porém, outros. Os dados
obtidos sobre a origem socioeconô-mica do
estudante da UEM, demonstram que a
predominância do segmento social médio e
inferior da população no ensino superior,
parece à primeira vista, não se distanciar da
realidade das universidades públicas brasileiras.
Uma certa elitização está presente apenas
quando se localizaram determinados cursos que
por suas características são privilégio de alunos
de maior nível socioeconômico.
A presença dos segmentos médio e inferior nos
indicam que a Universidade não é tão elitizada
quanto o foi no passado, cuja representação tem
servido ideologicamente para desvalorizar o
seu caráter público. Acompanham o nível
socioeconômico, a condição de os estudantes
serem ou não trabalhadores, ou seja, como se
esperava a maioria dos alunos que trabalham,
estuda à noite.
Nossos alunos já compõem o quadro em que a
maioria da população brasileira está inserido:
83,5% dos cidadãos ganham até 5 salários
mínimos
10
; pois a maioria dos estu-
10 Dados PNAD- Pesquisa Nacional de Amostragem por Domi-cilio/89
- IBGE, Folha de São Paulo de 29 de agosto de 1991.
23
dantes trabalhadores da Universidade Estadual
de Maringá se enquadra entre os 53,7% que
ganham de um a três salários mínimos.
Nossos alunos de origem média não provêm da
escola particular mas, pelo contrário, a sua
maioria vem da escola pública desde o 2º grau
escolar. Considerá-los como segmento
privilegiado da sociedade é ignorar que os
mesmos estão exercendo o direito de sua
cidadania que lhes confere compulsòriamente a
obrigação de pagar impostos e o direito civil de
obter alguma contrapartida da sociedade da
qual participam ativamente.
Consideramos que o fato de o segmento
econômico da classe média estar bastante
presente nas nossas instituições de ensino
superior, não indica o seu nível de eliti-zação,
dado que a inserção dos indivíduos no sistema
produtivo, portanto cerrando fileiras com os
demais assalariados, torna a escola pública um
requisito para que estes exerçam a sua condição
de cidadãos.
No caso da Universidade Estadual de Maringá
a gratuidade tem se colocado como um
elemento que permite a menor exclusão dos
indivíduos ao ensino superior e impede que a
discriminação que existe na sociedade mais
ampla se reproduza na Universidade. No seu
aspecto mais imediato, no plano econômico, as
IEES do Paraná, portanto, estão materializando
a garantia do acesso de todos, ao ensino supe-
rior, sem desconhecer o fato de que a reduzida
parcela de alunos que chegam à Universidade
já passaram por inúmeros outros processos
seletivos.
Nos dados e nas representações dos alunos
evidenciou-se também uma expectativa de
mobilidade social no sentido de compen-
sação/superação da baixa esclaridade dos pais
dos estudantes com a aquisição, pelos filhos,
dos grau do ensino superior. Vê-se reproduzida
aqui, com extensão para os assalariados, em
geral, as expectativas que Foracchi(1965) diz
estarem presentes no imaginário da classe
média que as vê realizadas, através dos seus
filhos.
E mais, o estudante diante da necessidade de
manutenção tem que priorizar o trabalho,
mesmo que em muitos casos não esteja ligado à
atuação de sua área de formação profissional.
Sem dúvida, isto influencia o perfil do aluno da
UEM, sendo um dos determinantes da falta de
participação política. Mas essa condição parece
não ser suficiente para explicar a falta de
envolvimento político-organizativo do
estudante, pois do contrário seria verdadeiro
afirmarmos que o movimento estudantil teria
garantias de mobilização pelos estudantes não
trabalhadores.
Mudanças culturais profundas colocadas pelos
novos parâmetros de mobilidade social, se
colocaram também nos últimos anos para a
sociedade brasileira e pode decorrer, daí, o
baixo índice de participação no movimento.
Aos aparelhos socializadores que deses-
timulam a formação mais crítica dos jovens,
juntam-se outros fatores, tais como: o controle
ideológico das instituições, a ambigüidade e
tensão das práticas políticas de esquerda, o
desmantelamento dos partidos políticos
revolucionários, o corporativismo excessivo da
categoria estudantil como forma de preservação
de benefícios já conquistados no passado, o
descaso do Estado para com o ensino público a
partir dos anos 70, etc.
24
Por outro lado, através da metodologia da
participação durante diferentes momentos da
pesquisa, pudemos avaliar melhor o conteúdo e
sentido da disposição para o engajamento
estudantil. Ao entrarem no projeto através da
sua representação política mais ampla, o DCE,
os estudantes acompanharam com
espontaneidade o processo, evidenciando nos
militantes das entidades, interesse e constância
em participar da investigação.
A experiência da militância, portanto, foi um
elemento importante que demarcou a presença
do alunado na pesquisa. Quanto a este aspecto,
vale lembrar a questão da transitoriedade da
ação do estudante na Universidade que pode
determinar o limite do seu empenho em
processos institucionais de natureza acadêmica.
Ou seja, ainda o engajamento político é a
referência para a participação.
Consideramos que dadas as condições
históricas em que se encontra o ME, as
características regionais fazem com que ele se
objetive de modo fragmentado, desorientado,
sem referência teórica na sua direção. Por outro
lado, mesmo assim, a prática de participação,
delimitada mais em torno de uma vanguarda,
ainda é indicadora da possibilidade que os
jovens têm da sua compreensão como categoria
social, o que potencialmente pode conduzir a
ações que propõem intervenções e ultrapassem
a transitoriedade da permanência deles na
Universidade. A nosso ver, foram estas as
motivações facilitadoras do engajamento
militante do ME na presente investigação e
elemento explicativo da ação estudantil no
sentido mais ampliado.
Ontem, o limite da condição pequenobur-guesa
foi determinante da radicalidade estudantil, nos
idos do ME da década de
60, quando existiam propostas de lutas contra a
reforma universitária concretizada na Lei
5.540/68, defesa da escola pública, contra o
autoritarismo da cátedra... Hoje, esta força que
não chega ao seu limite de classe, poderá
chegar naquilo que tem em vista de modo mais
imediato o limite da sua formação profissional.
Nesse aspecto, fica claro que a organização
política dos estudantes dentro da Universidade
é um elemento forte que medeia a compreensão
dos processos internos e o encaminha para a
ação, embora sejam o resultado possível das
mudanças socioculturais vividas pela categoria
nestes últimos anos.
O projeto político estudantil do passado recente
não está mais presente nos movimentos de
hoje, ressentindo-se mais ainda do fato de a
universidade norte paranaense representar uma
inserção periférica no processo educacional
brasileiro.
CONCLUSÕES
O cenário, onde se relacionam os estudantes
investigados neste trabalho, tem como base
histórica a criação da Universidade Estadual de
Maringá sob a perspectiva da interiorização do
ensino superior inspirada na reforma
universitária. A manutenção desta filosofia
gerou uma constante instabilidade na obtenção
de recursos financeiros do Estado, insuficientes
para a manutenção institucional e gerando
dependência eco-nômico-política de setores
privados.
Apesar de os jovens estarem presentes nos
momentos de maior mobilização universitária
na UEM, questionando os produtos culturais
dos quais foram contemporâneos,
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sofreram com os descaminhos de um ensino
público desvalorizado, que só tem se
viabilizado pelo idealismo de alunos e pro-
fessores, ou pela influência circunstancial dos
que acreditam na necessidade da universidade
pública.
O lado conformista desse processo, nos impõe
conviver com uma prática universitária que
procura consolidar uma relação burocrática e
superficial entre alunos, professores e
funcionários das universidades públicas,
distanciada da elaboração conjunta de um
projeto pedagógico crítico. Nesta perspectiva, o
aluno longe de ser o centro da preocupação do
ensino, é geralmente excluído como agente
atuante nas condições concretas da vida
universitária com exceção de momentos de
engajamento discente e docente, em projetos
que procurem desenvolver a crítica destas
condições.
De modo geral, a pesquisa mostrou que o
estudante universitário da UEM vive as
contradições impostas por um sistema de
ensino superior que seguiu, após a reforma
universitária de 1968, seus objetivos de uma
redefinição do perfil do estudante brasileiro.
Veio para excluí-lo como sujeito e criou nos
seus resultados, consciências tão contraditórias
quanto a própria realidade.
Durante o desenvolvimento da pesquisa estas
questões se evidenciaram e foram apontadas
com a intenção de encaminhar a sua superação.
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