CAPÍTULO 2. CONCEITOS FUNDAMENTAIS 21/77
O problema envolvendo íons ocorre geralmente quando há impurezas na amostra. Estas
por sua vez, podem se dissociar em íons e estes, ao se difundirem, chegam próximos às
superfícies e são adsorvidos. É a chamada adsorção iônica. De fato, a adsorção iônica vem
sendo discutida por vários autores como sendo responsável pela dependência da energia de
ancoramento com a espessura da amostra em sistemas líquido-cristalinos [9, 10, 11, 12].
De acordo com este ponto de vista, o fenômeno de adsorção é responsável por uma
separação dos íons no interior do líquido. A essa separação está conectado o surgimento
de um campo elétrico espacialmente dependente, que é muito intenso nas vizinhanças da
superfície, mas que decai rapidamente à medida que se afasta para o centro da amostra.
Este campo se acopla às propriedades dielétricas e flexoelétricas do meio líquido-cristalino,
dando origem a uma série de efeitos importantes sobre a orientação molecular do meio. A
este campo, está associado o surgimento de uma densidade de energia dielétrica, localizada
nas vizinhanças das superfícies, em escala de comprimento de dimensões mesoscópicas, e
essa energia adicional pode ser considerada como uma energia de superfície.
Um outro fenômeno relevante envolvendo adsorção no meio líquido-cristalino é a adsor-
ção de particulas neutras (sendo os corantes com maior relevância). Estes corantes são de
fundamental importância quando uma amostra de cristal líquido nemático está sujeita a
um campo óptico (feixe de luz) [13, 14, 15, 16, 17]. Sempre se considerou que o mecanismo
básico para a orientação do nemático com a luz fosse a interação entre o campo elétrico
do feixe óptico com a polarização induzida das moléculas. Contudo, observou-se mais
tarde que, na presença de corantes, um outro mecanismo de orientação estava presente,
e este novo mecanismo por sua vez era muito mais “forte” que o primero descrito acima.
Logo, observou-se que o torque óptico aumenta por um grande fator devido à presença
dos corantes. Assim, a presença dos corantes adsorvidos na amostra entra como um termo
contribuinte para o torque óptico exercido por um feixe externo, reorientando a amostra
nemática. Isto ocorre devido à excitação das moléculas de corantes adsorvidos, que inte-
rage com as moléculas do meio [16], sendo de fundamental importância conhecerem-se os
mecanismos para a adsorção destes corantes.