XV
Religião! do mísero conforto,
Abrigo extremo de alma, que há mirrado
O longo agonizar de uma saudade.
Da desonra, do exílio, ou da injustiça,
Tu consolas aquele, que ouve o Verbo.
Que renovou o corrompido mundo,
E que mil povos pouco a pouco ouviram.
Nobre, plebeu, dominador, ou servo,
O rico, o pobre, o valoroso, o fraco,
Da desgraça no dia ajoelharam
No limiar do solitário templo.
Ao pé desse portal, que veste o musgo,
Encontrou-os chorando o sacerdote,
Que da serra descia à meia-noite,
Pelo sino das preces convocado:
Aí os viu ao despontar do dia,
Sob os raios do Sol, ainda chorando,
Passados meses, o burel grosseiro,
O leito de cortiça, e a fervorosa
E contínua oração foram cerrando
Nos corações dos míseros as chagas,
Que o mundo sabe abrir, mas que não cura.
Aqui, depois, qual hálito suave.
Da Primavera, lhes correu a vida,
Até sumir-se no adro do convento,
Debaixo de uma lájea tosca e humilde,
Sem nome, nem palavra, que recorde
O que a terra abrigou no sono extremo.
Eremitério antigo, oh, se pudesses
Dos anos que lá vão contar a história;
Se ora, à voz do cantor, possível fosse
Transudar desse chão, gelado e mudo,
O mudo pranto, em noites dolorosas,
Por náufragos do mundo derramado
Sobre ele, e aos pés da Cruz!... Se vós pudésseis,
Broncas pedras, falar, o que diríeis!
Quantos nomes mimosos da ventura,
Convertidos em fábula das gentes.
Despertariam o eco das montanhas,
Se aos negros troncos do sobreiro antigo
Mandasse o Eterno sussurrar a história
Dos que vieram desnudar-lhe o cepo,
Para um leito formar, onde velassem
Da mágoa, ou do remorso, as longas noites!
Aqui veio, talvez, buscar asilo
Um poderoso, outrora anjo da Terra,
Despenhado nas trevas do infortúnio;
Aqui gemeu, talvez, o amor traído,
Ou pela morte convertido em cancro
De infernal desespero; aqui soaram
Do arrependido os últimos gemidos,
Depois da vida derramada em gozos,
Depois do gozo convertido em tédio.
Mas quem foram? Nenhum, depondo em terra
Vestidura mortal, deixou vestígios
De seu breve passar. E isso que importa,
Se Deus o viu; se as lágrimas do triste