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ESTUDO DA INTERFACE ENTRE O
CONCRETO E O MATERIAL DE REPARO
MEDIANTE MICROSCOPIA
D
ISSERTAÇÃO DE
M
ESTRADO
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil
09
Felipe Land Gondim
ESTUDO DA INTERFACE ENTRE O CONCRETO E O MATERIAL
DE REPARO MEDIANTE MICROSCOPIA
Dissertação apresentada à Faculdade de Engenharia
Civil da Universidade Federal de Uberlândia como
parte dos requisitos para a obtenção do título de
Mestre em Engenharia Civil.
Área de Concentração: Engenharia das Estruturas.
Orientador: Prof. Dr.Turibio José da Silva
UBERLÂNDIA, 11 DE AGOSTO DE 2005.
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"Jamais considere seus estudos como uma obrigação, mas como uma
oportunidade invejável para aprender a conhecer a influência
libertadora da beleza do reino do espírito, para seu próprio prazer
pessoal e para proveito da comunidade à qual seu futuro trabalho
pertencer”.
Albert Einstein
Dedico esse trabalho aos meus pais, Tânia e Belchior,
que sempre acreditaram em meu potencial.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos aqueles que, de alguma maneira, contribuíram para realização deste
trabalho e, em especial:
A Deus, pelo dom da vida concedido, pela inabalável crença Nele depositada, que me
encoraja a levar adiante a consecução dos propósitos mais capitais. Obrigado, Senhor, por
tantas pessoas especiais colocadas em meu caminho e por me fazer acreditar em todos os
meus sonhos.
Aos meus pais, pelos valores humanos transmitidos, decisivos para a formação do meu
caráter.
Ao meu orientador, Prof. Turíbio, sempre voltado a que seus aconselhados primem pela
diligência, refutando a displicência, ainda que breve. Agradeço-lhe pela sugestão do tema,
paciência, amizade e pelos ensinos que desaguaram no delta de minha insipiência.
Ao Professor, e agora amigo, Rafael Ariza, exímio incentivador, que, excedendo às suas
obrigações profissionais, auxiliou-me, desobrigadamente, usando mão de lições
imorredouras, que me serviram como verdadeiros esteios, fundamentando este trabalho. O
seu auxílio transcende a docência.
Ao Prof. Noélio, que lapidou, usando por ferramentas a dedicação e o companheirismo,
minha formação docente, até então em forma bruta.
À Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Uberlândia, pela
concessão do espaço físico do Laboratório de Tribologia dos Materiais, pelo mercê que sói
caracterizar a atitude abnegada, despida de restrições a cursos.
A todos os professores eméritos da Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Federal
de Uberlândia, em especial ao Prof. João Fernando Dias, que contribuiu de maneira
incisiva na elaboração desse trabalho.
A todos os funcionários, principalmente à secretária Sueli Maria, paradigma de
funcionária, perspicaz, atenciosa, orgulho da Instituição de que faz parte e,
primordialmente, prestativa.
À minha namorada Andréia, pela felicidade de tê-la ao meu lado e, principalmente, pelos
momentos de ausência, vencidos com amor, carinho e, fundamentalmente, compreensão,
apanágios que evitaram que medrassem os instantes de esmorecimento.
Aos meus amigos de longa data, todo o carinho e gratidão.
Ao meu afilhado Yann, que, apesar da tenra idade, inspira-me constantemente.
Aos amigos do mestrado pelos agradáveis momentos compartilhados ao longo do curso.
À Capes, pelo apoio financeiro durante grande parte desse trabalho.
À Degussa Construction Chemicals, pelo fornecimento dos materiais utilizados na
pesquisa.
Ao Departamento de apoio e Controle Técnico – DCT.T – Furnas Centrais Elétricas pelo
apoio técnico recebido.
RESUMO
Ao longo da história da Engenharia Civil, testemunha-se o surgimento de uma nova era, na
qual se enfatiza a qualidade em geral e, particularmente, a durabilidade das estruturas de
concreto. Como resultado de uma incessante busca pela qualidade, observa-se uma
evolução em um campo relativamente novo, designado por Patologia Estrutural, que se
relaciona ao estudo de falhas estruturais em obras civis. Uma solução eficaz para este
problema é a recuperação estrutural, que surge como um forte segmento de mercado da
indústria da construção civil, motivando o desenvolvimento de uma série de materiais e
procedimentos de recuperação que visam a restabelecer as condições originais da estrutura
danificada e ampliar a sua vida útil. Para a proteção e recuperação das estruturas de
concreto, foram desenvolvidos materiais específicos destinados a diferentes situações de
aplicação. A microscopia, historicamente aplicada no seguimento das ciências biomédicas,
tem sido difundida também para a ciência dos materiais, tornando-se uma ferramenta
importante no estudo de diversas propriedades. O objetivo principal deste trabalho é
investigar a forma de ligação e aderência entre o concreto e o material de reparo, mediante
microscopia. Nesta pesquisa, foram analisadas 247 micrografias em 24 amostras de quatro
tipos de argamassas de reparo dentre os encontrados no mercado. As características
morfológicas típicas destes materiais foram estudadas com o auxílio do microscópio óptico
(MO) e do microscópio eletrônico de varredura (MEV). Os resultados apresentados neste
trabalho auxiliam a compreensão da análise microscópica relacionada à aderência de um
determinado material de reparo ultilizado.
Palavras chave: recuperação de estruturas, aderência reparo-substrato, microscopia
eletrônica de varredura, microscopia ótica, materiais de reparo.
GONDIM, Felipe Land Estudo da Interface entre o Concreto e o Material de Reparo
Mediante Microscopia. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Engenharia Civil,
Universidade Federal de Uberlândia, 2005. 143 p.
ABSTRACT
During the history of the Civil Engineering, it is witnessed the appearance of a new age,
which emphasizes quality in general, and durability, in particular, of the concrete
structures. As a result of a continuable search for quality, an evolution in a relatively new
field is observed, named Structural Pathology, which relates to the study of structural
imperfections in constructions. An efficient solution for this problem is the structural
repair, that appears as a strong market share of the industry of the civil construction,
motivating the development of a number of materials and procedures of repair that aim to
reestablish the original conditions of the damaged structure in order to extend its service
life. For the protection and the restoration of the concrete structures, there were developed
repair materials destined to different situations of application. The Microscopy, historically
applied to the biomedical sciences, field has been spreaded out to the science of the
materials field as well, becoming an important tool in the study of diverse properties. The
main objective of this research is to investigate the form of linking and bond between
repair mortars and concrete, by using microscopy. In this research 247 micrographs were
analysed from 24 samples of four types of repair mostars amongst the ones found in the
market had been analyzed. The typical morphologic characteristics of those materials were
studied through of the optic microscope (OM) and the scanning electron microscope
(SEM). The results presented in research provides the understanding of the microscopical
analisis related to the bond of someone repair materials.
Keywords: structural repair, bond repair-concrete, scanning electron microscopy, optic
microscopy, repair materials.
GONDIM, Felipe Land Study of the Interface Between the Concrete and the Material
for Repair by using Microscopy. MSc Dissertation, College of Civil Engineering, Federal
Universit
y
of Uberlândia
,
2005. 143
p
.
SÍMBOLOS E SIGLAS
SÍMBOLOS
volume de fluido fixo não deformável
diferencial parcial
Letras Romanas
a/c água/cimento
cm centímetro
ºC grau Celsius
C
3
A aluminato tricálcico
C
6
AS
3
H
32
etringita
Ca(OH)
2
hidróxido de cálcio
CO
2
dióxido de carbono
CP corpo de prova
CSH silicato de cálcio hidratado
d diferencial
dA elemento de área infinitesimal
D coeficiente de difusão
eV eletrovolt
exp exponencial
ln logaritmo neperiano
mm milímetro
m
2
metro quadrado
Na número de Avogadro
n
r
versor
pH potencial de Hidrogênio
Pa Pascal
[S] concentração molar
Sc superfície de controle
SO
4
-2
ânion sulfato
Vc volume de controle
Letras Gregas
G* energia de ativação
ε constante dielétrica do meio
λ distância entre planos atômicos
µ
o
potencial químico molar
µm micrômetro
SIGLAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABCP Associação Brasileira de Cimento Portland
ACI American Concrete Institute
BS Britsh Standards Intitution
EN Norma Européia
CAA Classe de Agressividade Ambiental
CEN Comité Européen de Normalisation
GEHO Grupo Español del Hormigón
MEV Microscopia Eletrônica de Varredura
JIS Japanese Industrial Standards
MO Microscopia Óptica
MIT Massachussets Institute of Tecnology
NBR Norma Brasileira Registrada
UK United Kingdom
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 1
1.1 IMPORTÂNCIA DO TEMA ...................................................................................... 1
1.2 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO ................................................................................ 5
1.3 OBJETIVO .................................................................................................................. 7
1.4 APRESENTAÇÃO DO TRABALHO ........................................................................ 8
CAPÍTULO 2 RECUPERAÇÃO ESTRUTURAL........................................................... 9
2.1 PATOLOGIAS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ............................................. 9
2.1.1 Origem................................................................................................................ 10
2.1.2 Sintomas e causas............................................................................................... 11
2.1.3 Sistemas e mecanismos de deterioração............................................................. 12
2.1.3.1 Reação álcali-agregado................................................................................ 14
2.1.3.2 Corrosão da armadura.................................................................................. 15
2.1.3.3 Lixiviação.................................................................................................... 18
2.1.3.4 Expansão por sulfato ................................................................................... 19
2.1.4 Diagnóstico......................................................................................................... 20
2.2 TÉCNICAS DE RECUPERAÇÃO........................................................................... 23
2.2.1 Preparação superficial ........................................................................................ 24
2.2.2 Reparos superficiais............................................................................................ 25
2.2.3 Pontes de aderência ............................................................................................ 27
2.3 MATERIAIS DESTINADOS AO REPARO............................................................ 27
2.3.1 Classificação dos materiais de reparo................................................................. 28
2.3.2 Materiais constituintes e sua funcionabilidade................................................... 30
2.3.2.1 Aglomerante ................................................................................................ 30
2.3.2.2 Agregado miúdo .......................................................................................... 30
2.3.2.3 Aditivos ....................................................................................................... 31
2.3.2.4 Adições........................................................................................................ 31
2.3.3 Desempenho e propriedades das argamassas de reparo ..................................... 32
2.3.4 Requisitos de compatibilidade entre a argamassa de reparo e a estrutura de
concreto ....................................................................................................................... 34
2.3.4.1 Compatilidade de deformações ................................................................... 34
2.4 ADERÊNCIA............................................................................................................ 35
2.4.1 Mecanismo de aderência das argamassas de reparo........................................... 36
2.4.1.1 Adesão inicial-estado fresco........................................................................ 37
2.4.1.2 Adesão final-estado endurecido................................................................... 38
2.4.2 Fatores que influenciam no mecanismo de aderência ........................................ 43
2.4.2.1 Porosidade do substrato de concreto ........................................................... 43
2.4.2.2 Tratamento superficial do substrato ............................................................ 44
2.4.2.3 Natureza e proporção dos materiais constituintes da argamassa................. 45
2.4.2.4 Retração plástica e por secagem inicial da argamassa ................................ 46
2.4.3 Critérios de aderência......................................................................................... 47
CAPÍTULO 3 MICROSCOPIA....................................................................................... 49
3.1 MICROSCOPIA APLICADA AO CONCRETO ..................................................... 49
3.1.1 Microscopia dos materiais à base de cimento .................................................... 50
3.1.1.1 Microscopia do clínquer.............................................................................. 50
3.1.1.2 Hidratação da pasta de cimento................................................................... 51
3.1.1.3 Relação água/cimento.................................................................................. 52
3.1.1.4 Reatividade álcali-agregado ........................................................................ 53
3.1.2 Zona de transição e formação de microfissuras.................................................. 54
3.1.2.1 Análise da superfície da fratura do concreto em 3 dimensões .................... 56
3.1.2.2 Análise da microfissura do concreto em 3 dimensões................................. 57
CAPÍTULO 4 METODOLOGIA EXPERIMENTAL................................................... 58
4.1 PLANEJAMENTO DO PROGRAMA EXPERIMENTAL ..................................... 58
4.2 DESCRIÇÃO DOS BLOCOS USADOS PARA OBTENÇÃO DAS AMOSTRAS 59
4.2.1 Caracterização do concreto................................................................................. 59
4.2.2 Preparo do substrato e descrição e aplicação das argamassas de reparo............ 61
4.2.2.1 Preparo do substrato .................................................................................... 61
4.2.2.2 TIPO 1 – Argamassa de alta resistência – Blocos 1 e 2. ............................. 62
4.2.2.3 TIPO 2 – Argamassa monocomponente para recapear e / ou estucar - Blocos
3 e 6. ........................................................................................................................ 62
4.2.2.4 TIPO 3 – Argamassa de reparo de concreto em grandes espessuras – Blocos
4 e 5. ........................................................................................................................ 63
4.2.2.5 TIPO 4 – Ponte de aderência com adesivo epóxico e argamassa similar ao
concreto do substrato - Blocos 7 e 8........................................................................ 64
4.2.3 Resistência à compressão das argamassas de recuperação................................. 64
4.3 OBTENÇÃO E PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS............................................... 65
4.3.1.1 Preparação das amostras fraturadas............................................................. 66
4.3.1.2 Preparação das amostras polidas ................................................................. 70
CAPÍTULO 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................... 76
5.1 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS................................................................ 76
5.2 ESTUDO EM AMOSTRAS FRATURADAS.......................................................... 77
5.2.1 Resultados obtidos via MEV.............................................................................. 78
5.2.1.1 Interface com o material de reparo TIPO 1................................................. 78
5.2.1.2 Interface com o material de reparo TIPO 2................................................. 80
5.2.1.3 Interface com o material de reparo TIPO 3................................................. 82
5.2.1.4 Interface com o material de reparo TIPO 4................................................. 84
5.3 ESTUDO EM AMOSTRAS POLIDAS.................................................................... 85
5.3.1 Resultados obtidos via MO ................................................................................ 87
5.3.1.1 Interface com omaterial de reparo TIPO 1.................................................. 87
5.3.1.2 Interface com o material de reparo TIPO 2................................................. 89
5.3.1.3 Interface com o material de reparo TIPO 3................................................. 91
5.3.1.4 Interface com o material de reparo TIPO 4................................................. 92
5.3.2 Resultados obtidos via MEV.............................................................................. 93
5.3.2.1 Interface com o material de reparo TIPO 1................................................. 94
5.3.2.2 Interface com o material de reparo TIPO 2................................................. 96
5.3.2.3 Interface com o material de reparo TIPO 3................................................. 98
5.3.2.4 Interface com o material de reparo TIPO 4................................................. 99
CAPÍTULO 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................102
6.1 CONCLUSÕES........................................................................................................102
6.1.1 Conclusões gerais ............................................................................................. 102
6.1.2 Conclusões específicas ..................................................................................... 103
6.2 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHO..................................................... 104
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................100
ANEXO A INTRODUÇÃO À MICROSCOPIA..........................................................108
ANEXO B TEORIA DA DIFUSÃO...............................................................................130
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 – Carbonatação do concreto em função da umidade.......................................... 17
Figura 2.2 – Fluxograma genérico para a diagnose de uma estrutura convencional........... 22
Figura 2.3 – Anatomia de um reparo de concreto. .............................................................. 24
Figura 2.4 – Requisitos principais para compatilidade de deformações entre sistemas de
reparo localizados e estruturas de concreto. ..................................................35
Figura 2.5 – Molhagem de um sólido por um líquido......................................................... 37
Figura 2.6 – Esforços atuantes em virtude da retração da argamassa de reparo ................. 46
Figura 3.1 – Seção polida do clínquer................................................................................. 51
Figura 3.2 – Análise da imagem ao redor do grão de areia................................................. 54
Figura 3.3 – Reconstrução da superfície de fratura do concreto ......................................... 57
Figura 4.1 – Blocos preparados para a recuperação. ........................................................... 61
Figura 4.2 – Esquema do bloco recuperado. ....................................................................... 65
Figura 4.3 – Extração das amostras..................................................................................... 65
Figura 4.4 – Refinamento geométrico das amostras. .......................................................... 66
Figura 4.5 – Amostra fraturada............................................................................................ 66
Figura 4.6 – Processo de preparação das amostras para sua metalização. .......................... 67
Figura 4.7 – Pré-Câmara de vácuo. ..................................................................................... 68
Figura 4.8 – a) Processo de metalização das amostras, b) Emissão da luz característica
do ouro ........................................................................................................... 68
Figura 4.9 – Amostras metalizadas e fixadas na haste. ....................................................... 69
Figura 4.10 – Inserção das amostras na câmara de vácuo do MEV.................................... 70
Figura 4.11 – a) Invólucro metálico b) Proteção à superfície. ............................................ 71
Figura 4.12 – Moldagem da resina; a) Invólucro metálico b) Proteção à superfície........... 71
Figura 4.13 – Posicionamento da amostra; a) Camada base, b) Inserção da amostra......... 72
Figura 4.14 – Embutimento das amostras. .......................................................................... 72
Figura 4.15 – Lixamento das amostras................................................................................ 73
Figura 4.16 – Eliminação dos resíduos; a) Limpeza, b) Secagem....................................... 73
Figura 4.17 – Politriz elétrica. ............................................................................................. 74
Figura 4.18 – Polimento das amostras................................................................................. 74
Figura 4.19 – Amostra polida.............................................................................................. 75
Figura 5.1 – Aspecto visual das amostras fraturadas........................................................... 78
Figura 5.2 – Microfissuras na interface substrato-material de reparo TIPO 1. ................... 79
Figura 5.3 – Má qualidade na extensão da aderência na interface substrato - material de
reparo TIPO 1.. ..............................................................................................80
Figura 5.4 – Interface entre o material de reparo e o agregado graúdo............................... 80
Figura 5.5 – Mau contato na interface substrato-material de reparo TIPO 2. ..................... 81
Figura 5.6 – Presença de etringita na interface entre os materiais. ..................................... 82
Figura 5.7 – Mau contato entre o substrato e o material de reparo TIPO 3.. ...................... 83
Figura 5.8 – Região da interface substrato-reparo com vazios............................................ 84
Figura 5.9 – Mau contato entre o substrato e o material epóxico........................................ 85
Figura 5.10 – Aspecto visual das amostras polidas............................................................. 86
Figura 5.11 – Interface substrato-material de reparo TIPO 1 caracterizada pela presença
de vazios. ....................................................................................................... 88
Figura 5.12 – Interface reparo-agregado. ............................................................................ 88
Figura 5.13 – Material de reparo poroso. ............................................................................ 89
Figura 5.14 – Microfissuras na interface substrato - material de reparo TIPO 2. ............... 90
Figura 5.15 – Poros no material de reparo. ......................................................................... 90
Figura 5.16 – Interface substrato – material de reparo TIPO 3 com boa extensão da
aderência. .......................................................................................................91
Figura 5.17 – Microfissura no reparo.................................................................................. 92
Figura 5.18 – Interface substrato – material de reparo TIPO 4 com boa extensão da
aderência.. ......................................................................................................93
Figura 5.19 – Poros no material de reparo TIPO 4.............................................................. 93
Figura 5.20 – Aspecto visual das amostras polidas metalizadas......................................... 94
Figura 5.21 – Procedimento para visualização da interface................................................ 95
Figura 5.22 – Interface substrato-material de reparo TIPO 1 caracterizada pela presença
de vazios ........................................................................................................ 96
Figura 5.23 – Interface substrato-material de reparo TIPO 2 caracterizada pela presença
de vazios. ....................................................................................................... 97
Figura 5.24 – Bom contato entre o substrato e o material de reparo TIPO 3...................... 98
Figura 5.25 – Boa extensão da aderência na interface substrato-material epóxico-reparo..99
Figura 5.26 – Boa extensão da aderência na interface substrato-material epóxico........... 100
Figura 5.27 – Bom contato entre o material de reparo e o adesivo epóxico. . .................. 101
Figura A.1 – Sistema de aquisição de imagens por microscopia ótica..............................118
Figura A.2 – Primeira idéia de um corpúsculo de luz propagando-se pelo espaço............120
Figura A.3 – Inflexão de um raio de luz elementar dirigindo-se da esquerda para a.......
direita............................................................................................................120
Figura A.4 – Corpúsculo de luz girando sobre si mesmo e propagando-se segundo uma.......
perpendicular ao eixo do giro.......................................................................121
Figura A.5 – Os lados do corpúsculo e do raio de luz........................................................122
Figura A.6 – A transmissão de uma perturbação através de um meio intermediário.........123
Figura A.7 – A refração corpuscular de Descartes.............................................................124
Figura A.8 – A refração corpuscular de Newton................................................................124
Figura A.9 – Refração ondulatória.....................................................................................125
Figura A.10 – Composição vetorial da luz.........................................................................127
Figura A.11 – Propagação da luz.......................................................................................127
Figura A.12 – Polarização da luz.......................................................................................128
Figura A.13 – Componentes básicos de um MEV.............................................................128
Figura A.14 – Esquema de um canhão de elétrons tradicional..........................................131
Figura A.15 – Sistema ótico eletrônico do MEV...............................................................132
Figura A.16 – Formação de imagem através da detecção de elétrons secundários e.......
relação de aumento no MEV........................................................................133
Figura A.17 – Detector de elétrons secundários.................................................................134
Figura A.18 – Detector de elétrons espalhados..................................................................134
Figura B.1 – Difusão atômica, a) lacunas, b) interstícios...................................................135
Figura B.2 – Energia de Ativação......................................................................................137
Figura B.3 – Difusão atômica num gradiente de energia livre...........................................137
Figura B.4 – Evolução do perfil de concentração dos átomosde boro no silício, em.......
função do tempo: (a) tempo t = 0; tempo t qualquer; tempo t = ...............140
Figura B.5 – Representação gráfica da equação B.19........................................................141
Figura B.6 – Representação da Segunda Lei de Fick.........................................................142
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 – Análise percentual das causas de problemas patológicos em estruturas de
concreto.......................................................................................................... 11
Tabela 2.2 – Principais mecanismos de envelhecimento e deterioração das estruturas de
concreto armado............................................................................................. 13
Tabela 4.1 – Resultado dos ensaios de caracterização química do cimento segundo
normas brasileiras. ......................................................................................... 59
Tabela 4.2 – Resultado dos ensaios de caracterização física do cimento............................ 60
Tabela 4.3 – Resistência dos corpos de provas aos 7 e 28 dias........................................... 60
Tabela 4.4 – Resistência dos corpos de provas das argamassas de reparo.......................... 64
Tabela 5.1 – Quantidade de micrografias em amostras fraturadas...................................... 78
Tabela 5.2 – Quantidade de micrografias em amostras polidas. ......................................... 86
Tabela 5.3 – Quantidade de micrografias em amostras polidas metalizadas. ..................... 94
Tabela A.1 – Relação entre velocidades............................................................................126
Capítulo 1 Introdução
1
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
1.1 IMPORTÂNCIA DO TEMA
O concreto é um material de elevado consumo em todo o mundo, amplamente utilizado
para fins estruturais devido ao seu baixo custo, se comparado a outros materiais e
principalmente devido às suas características mecânicas e a facilidade de ser moldado.
Helene (1992) afirma que o concreto, ao longo da história, tem provado ser o material
estrutural mais eficiente, superando com larga vantagem outras alternativas viáveis, como
a madeira e o aço.
O concreto, como todos os demais materiais destinados ao emprego estrutural, sofre a ação
de intempéries, que podem variar conforme as características do local e condições de
utilização. O fato de não ser um material inerte o faz bastante vulnerável.
John (1987) afirma que todo material, ao interagir com o meio ambiente, sofre
transformações. A durabilidade não é uma propriedade intrínseca do material, pois se
relaciona com a interação de suas características físicas e químicas com o ambiente onde se
encontra e os esforços atuantes em sua vida útil.
Segundo a NBR 6118 (ABNT, 2003), a durabilidade do concreto de cimento Portland é
definida como a sua capacidade de resistir à ação das intempéries, ataques químicos,
abrasão ou qualquer outro processo de deterioração.
A NBR 6118 (ABNT, 2003), apresenta classes de agressividade do ambiente relacionadas
às ações físicas e químicas que atuam sobre as estruturas de concreto, independente das
ações mecânicas, das variações volumétricas de origem térmica, da retração hidráulica e
Capítulo 1 Introdução
2
outras previstas no dimensionamento das estruturas de concreto. Estabelece critérios de
qualidade mínimos para o concreto, relacionados ao f
ck
e a relação água/cimento, levando-
se em conta as condições de exposição dos elementos da estrutura de concreto às
intempéries.
A definição desta classe de agressividade ambiental (CAA) é fundamental na concepção do
projeto estrutural, pois indicará os valores mínimos de resistências características à
compressão do concreto que devem ser respeitados, os valores mínimos do cobrimento de
armadura, os valores máximos para relação água/cimento e as máximas aberturas de
fissuras permitidas.
Para Repette (1997) os meios ou ambientes quimicamente agressivos são condições a que
as estruturas de concreto armado são expostas e que podem provocar sua deterioração por
ataque químico. Os agentes químicos podem entrar em contato com o concreto nas formas
líquida, sólida ou gasosa. Os ataques mais freqüentes e severos acontecem pela ação de
líquidos, onde o solvente mais comum é a água. O ataque por gases é considerável desde
que ocorra sua dissolução em solvente, novamente sendo a água o mais freqüente solvente.
O ataque por agentes químicos sólidos, secos, é bastante raro.
O macroclima de uma determinada região geográfica pode ser determinado pela variação
abrupta de agentes agressivos ao concreto, como a temperatura, chuvas, ventos e umidade
relativa do ar. Tais agentes, associados a outros de carácter mecânico, oriundos da
concepção estrutural e da funcionabilidade da estrutura, são passíveis de variações
ocasionadas por diferentes situações de aplicação. A vida útil da estrutura pode ser
determinada pela associação de todas estas variáveis às características intrínsecas do
concreto, como resistência mecânica e susceptibilidade aos agentes agressivos, que
definem suas características construtivas finais e determinam os processos e a velocidade
de deterioração das estruturas.
De acordo com Moreno (2002), é notória a ressalva de que, em uma mesma edificação,
elementos estruturais localizados em áreas diferentes podem estar expostos a um conjunto
de condições específicas e distintas, que define um microclima e velocidades de
deterioração diferenciadas, via de regra apenas percebidas em fase de inspeção e de
diagnóstico de uma dada manifestação patológica.
Capítulo 1 Introdução
3
Para que uma estrutura em concreto não atinja o fim de sua vida útil, é necessário que se
desenvolvam atividades de manutenção preventivas e corretivas. Em ambas, o objetivo é
prolongar a sua utilização, eliminando os problemas gerados pelos processos de
deterioração, de maneira a manter ou recuperar as características da estrutura próximas ao
seu nível de desempenho inicial e garantir segurança aos usuários.
No que tange à atividade de manutenção, efetivamente, de acordo com Helene (1992), os
problemas patológicos ou defeitos nas estruturas de concreto, salvo raras exceções,
apresentam manifestações externas ou danos característicos, como manchas superficiais,
fissuras, corrosão das armaduras, ninhos de concretagem, entre outros, a partir dos quais é
possível deduzir um diagnóstico conhecendo-se a natureza, a origem e os mecanismos dos
fenômenos envolvidos, assim como se podem estimar suas prováveis conseqüências.
Cada ocorrência patológica demanda uma recuperação com procedimentos e materiais
distintos para a sua solução, havendo tecnologias de recuperação de estruturas em evolução
constante. Um caso específico é a técnica de reparos localizados, que hoje é muito
empregada em circunstâncias que demandam uma correção superficial do concreto e, em
geral, têm por objetivo mitigar um processo crescente de corrosão das armaduras, processo
esse tido como de grande incidência e de alta periculosidade em virtude das gravosas
conseqüências geradas.
Segundo os estudos de Oliveira e Souza (2003), as patologias no Brasil apresentam a
seguinte distribuição:
- 80,46% das estruturas que apresentam desplacamento do concreto possuem elementos
estruturais com corrosão de armaduras;
- 68,97% das estruturas analisadas apresentam peças de concreto com desplacamento do
concreto e do revestimento;
- em 73,33% dos laudos de vistoria em que são cadastrados problemas de desagregação
do concreto, também são detectadas situações de corrosão das armaduras;
- em 48,51% dos casos de deformação excessiva, há fissuração do concreto,
comprometendo, destarte, o estado de utilização das estruturas sintomizadas;
Capítulo 1 Introdução
4
- a calcinação da massa de concreto provocada pelas altas temperaturas produzidas por
incêndios é responsável por 12,87% dos casos de deformação excessiva da estrutura, por
11,73% dos casos de fissuração do concreto e por 26,67% dos casos de desagregação do
concreto.
Segundo o Boletim do Massachussetts Institute of Tecnology (MIT; 1997), a corrosão do
aço e a deterioração resultante das estruturas de concreto armado é uma das causas mais
importantes do crescimento dos prejuízos para a infraestrutura urbana nos Estados Unidos
da América. Anualmente, são gastos 50 bilhões de dólares em reparos causados por
corrosão somente com pontes da rede federal americana. Segundo o mesmo documento,
estima-se que o custo para reparos de estruturas de concreto armado siga da ordem de US$
200 (duzentos dólares) por metro quadrado de superfície exposta.
Uma outra referência relativa aos custos envolvidos diretamente com reparos localizados
para concreto é dada por Chan; Ainsworth e Read (1991). Segundo esses autores, o
orçamento anual de manutenção do Departamento de Moradias de Hong Kong gira em
torno de 140 milhões de dólares, dos quais cerca de 13 milhões são gastos especificamente
com reparos superficiais para concreto.
Não há um momento certo para realização de uma vistoria. Pode ser efetuada em qualquer
momento da vida em uso da estrutura e normalmente é estimada no momento de uma
intervenção ou atividade de manutenção corretiva, podendo-se realizar o diagnóstico que
indicará o período entre a idade atual da edificação e o prazo de vida útil residual.
Para Helene (1993), a vida útil residual corresponde ao período de tempo em que a
estrutura ainda será capaz de desempenhar suas funções, iniciando-se da data de uma
vistoria.
Segundo Da Silva (1998), a vida útil, apesar de diversos estudos e conceituação, é de
difícil determinação, devido aos diversos fatores envolvidos e da aleatoriedade dos
fenômenos.
A recuperação das estruturas de concreto é de capital importância à preservação das obras
civis, já que ameniza os investimentos, muitas vezes altos, necessários para uma eventual
substituição, principalmente em obras de grande porte.
Capítulo 1 Introdução
5
Entretanto, é de suma importância o domínio tecnológico dos materiais e dos serviços de
reparo a serem utilizados, de modo que se garanta resistência e durabilidade às estruturas
reparadas, prazos consideráveis de vida útil residual e, assim, o devido retorno financeiro
dos investimentos em manutenção.
Pode-se verificar que as iniciativas para a normalização dos materiais e serviços de
recuperação das estruturas não são simples, uma vez que seus requisitos de desempenho
podem variar em grande escala, conforme o tipo de obra, a concepção de projeto e o grau
de deterioração da estrutura, bem como pelas características ambientais.
Tais fatores determinam a necessidade de uma análise técnico-científica qualificada da
situação em que se encontra a estrutura, definindo o processo de execução dos serviços de
recuperação e os materiais a serem empregados, para garantir a sua durabilidade e eficácia.
Os métodos de análise de imagens estão sendo cada vez mais usados para avaliar e
entender, de forma mais pertinente, o comportamento de concretos, argamassas e pastas de
cimento.
A análise de imagens é uma ferramenta para investigação da estrutura e morfologia de um
material em escala microscópica seja ele concreto, argamassa, pasta de cimento, metais ou
polímeros. Essa investigação é importante para assegurar que as associações entre as
propriedades e a estrutura (e defeitos) do material estejam suficientemente compreendidas,
e, estabelecidas estas relações, prever o seu comportamento.
1.2 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO
As condições de precariedade em que se apresentam as estruturas de concreto armado
quanto à qualidade e durabilidade acarretam uma crescente preocupação em todo o mundo,
sobretudo pelos altos custos de recuperação. Torna-se necessário, cada vez mais, um vasto
conhecimento do emprego de técnicas corretivas.
Para Clímaco e Nepomuceno (1994), a normatização específica destinada a programas de
manutenção são ainda bastante precárias, apesar de ser crescente o reconhecimento da
importância da manutenção estrutural, mesmo nos países desenvolvidos.
Capítulo 1 Introdução
6
Está sendo elaborada na Europa uma norma que se refere à proteção e reparo das estruturas
de concreto, denominada Norma Européia EN 1504 – “Products and systems for the
protection and repair of concrete structures - Definitions, requirements, quality control and
evaluation of conformity”. A norma encontra-se em fase final de elaboração, sendo que,
várias partes foram concluídas entre 1998 e 2004.
De acordo com Kay e Wyatt (1997), o Comitê Técnico do Comité Européen de
Normalisation (CEN), responsável pela EN 1504, identificou seis temas principais
relativos a produtos e a sistemas de reparo que serão objeto dessa série de normas técnicas,
como segue:
A. Sistemas de proteção de superfícies;
B. Argamassas e concretos para reparos estruturais e não-estruturais;
C. Aderência estrutural;
D. Injeção para concreto;
E. Graute para ancoragem de armaduras e para preenchimento de vazios superficiais;
F. Prevenção à corrosão das armaduras.
A nova norma é dividida em dez partes. Os temas citados anteriormente constituem as
partes 2 a 7 da EN 1504. As demais partes apresentam definições gerais (Parte 1), controle
de qualidade e avaliação da conformidade (Parte 8), princípios gerais para o uso de
produtos e sistemas (Parte 9) e, por último, aplicação dos produtos e sistemas em campo e
controle de qualidade dos serviços.
Segundo Ribeiro, Gonçalves e Catarino (2000), a EN 1504 contribuirá para a
sistematização das atividades de reparo e recuperação de estruturas de concreto, incluindo
o diagnóstico, o projeto de reparo, a execução e o controle de qualidade.
No Brasil, o aumento acentuado de aplicações de técnicas corretivas em obras de concreto
vem estimulando o interesse pelo desenvolvimento dos sistemas e materiais de reparo e
pelos planos de normatização do governo federal extensivos a todos os serviços e materiais
ofertados pelo mercado brasileiro.
Capítulo 1 Introdução
7
Não há norma brasileira que se refira sequer a materiais e técnicas básicas de manutenção
corretiva das estruturas de concreto. Entretanto, constata-se que houve um grande aumento
da oferta de materiais para este fim no mercado, tais como as argamassas de reparo
industrializadas, e de aditivos e adições, que também podem ser utilizados nessas
argamassas ou nas tradicionais, formuladas de maneira empírica.
No que se refere ao desempenho de argamassas de reparo, vários trabalhos podem ser
citados, como os de Chaves e Da Silva (2004) e Evangelista (2004), respectivamente um
artigo e uma dissertação de mestrado da Universidade Federal de Uberlândia. Em outras
universidades, podemos citar a dissertação de Moreno Junior (2002) pela Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo e a tese de Helena Caraseck (1996).
Entende-se que a aderência das argamassas de reparo é um requisito determinante do
desempenho e da durabilidade de todo e qualquer reparo localizado. Por isso, é de
fundamental importância o conhecimento dos fatores que influenciam no seu mecanismo
de aderência. No entanto, no Brasil, pouco se sabe sobre os fatores intrínsecos à sua
interface com o substrato. Justifica-se, portanto, o estudo dos fatores ligados à interface da
argamassa de reparo e o substrato.
Assim, analisando essa interface entre o concreto e o material de reparo, mediante
microscopia, o presente trabalho visa a contribuir para o entendimento do mecanismo de
aderência que possibilite ponderar a eficácia da utilização de argamassas industrializadas,
que sejam adequadas à execução de reparos localizados em estruturas de concreto, de
forma prática, racionalizada e econômica.
1.3 OBJETIVO
Esta pesquisa tem como objetivo geral a ampliação do uso da microscopia em análises que
envolvem o concreto e argamassas. O objetivo específico foi investigar, valendo-se da
microscopia óptica e da eletrônica, a forma de ligação e extensão da aderência entre alguns
materiais de reparo existentes no mercado, de características físico-químicas variadas, e o
substrato de concreto visando obter informações de desempenho qualitativo por
comparação de imagens.
Capítulo 1 Introdução
8
1.4 APRESENTAÇÃO DO TRABALHO
Este trabalho é composto por seis capítulos: os três primeiros apresentam a revisão
bibliográfica a respeito do tema elegido; os seguintes referem-se à metodologia
experimental, aos resultados e às conclusões.
O Capítulo 1 apresenta a dissertação, evidenciando a magnitude do tema, dos objetivos da
pesquisa e de seu conteúdo.
No Capítulo 2, a recuperação estrutural é apresentada como uma solução eficaz para
problemas patológicos. Serão apresentados técnicas e materiais de reparo, características,
classificação, descrição de seus materiais constituintes e suas funções.
Em seguida, o Capítulo 3, versa sobre o surgimento da microscopia óptica e eletrônica, e
sobre a sua aplicação ao concreto.
A fase experimental é apresentada no capítulo 4, em que cada etapa e critérios, desde a
preparação das amostras são descritos.
Os resultados experimentais e a sua análise estão dispostos no Capítulo 5, seguindo a linha
de atividades previstas no programa experimental.
O Capítulo 6 traz as conclusões finais e sugestões para trabalhos futuros.
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
9
CAPÍTULO 2
RECUPERAÇÃO ESTRUTURAL
2.1 PATOLOGIAS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO
Helene (1992) define por Patologia das Estruturas como sendo o estudo de todas as etapas
que constituem o diagnóstico de um problema estrutural. Na realidade, pode ser entendido
como um campo da engenharia que se destina ao estudo das origens, causas, sintomas,
mecanismos e conseqüências de falhas nas estruturas.
Para Cánovas (1998), a patologia é função da qualidade da própria edificação, uma vez que
tais falhas podem ser consideradas como frutos do descaso com que a durabilidade
estrutural vinha sendo tratada nos últimos anos.
Souza e Ripper (1998) classificam-nas como simples, de diagnóstico e profilaxia
evidentes, e complexos, que requerem um maior conhecimento sobre o assunto, e, ainda,
afirmam que a durabilidade estrutural está intimamente ligada a procedimentos que lhe
garantam um desempenho satisfatório ao longo da vida útil da construção, ou seja, o
período de tempo no qual suas características estruturais correspondem aos limites
mínimos especificados.
A durabilidade estrutural é abordada de maneira inédita em normas brasileiras pela NBR
6118 (2003), que se refere às principais diretrizes e aos critérios de projeto e menciona os
mecanismos de degradação relativos ao concreto e à armadura.
A exigência de rigorosos controles de qualidade no processo de aquisição e seleção dos
componentes do concreto é imprescindível, uma vez que uma eleição incorreta, pode
implicar prejuízos a suas características, que deverão atender àquelas prescritas em normas
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
10
técnicas, como sua durabilidade. Tais características também estão relacionadas com a
homogeneidade e com a compactação, que dependem da qualidade da dosagem do
concreto e da tecnologia empregada em sua fabricação e manejo. São dois os fatores mais
importantes que vão influir na dosagem e tecnologia do concreto: um é a relação
agregado/cimento e o outro, a relação água/cimento (CÁNOVAS, 1988).
Segundo Kropp et al (1995), a cura do concreto, seu lançamento, sua compactação e até
sua resistência à compressão são fatores que estão relacionados com o controle da sua
durabilidade, assim como as propriedades e características de seus componentes.
Para Souza e Ripper (1998), certas características como densidade, compacidade,
capilaridade, permeabilidade, porosidade e fissuração, além da resistência mecânica, são de
extrema importância para se identificar a qualidade do material e determinadas pela
quantidade de água presente no concreto. O intemperismo deve ser visto como fator de
extrema importância pelo profissional na concepção do projeto e em sua execução, pois
pode interferir significativamente na durabilidade do concreto.
Outrossim, o conhecimento e o entendimento de todas as etapas de um problema
patológico são necessários para que se determine a real condição da estrutura deteriorada.
Isso permitirá uma avaliação mais precisa das anomalias existentes, suas causas,
conseqüências e providências a serem tomadas, além de métodos de tratamentos
adequados. Será possível, a partir de tais conhecimentos, projetar e executar estruturas de
concreto armado de uma maneira mais racional, prolongando, assim, sua vida útil.
2.1.1 Origem
Helene (1992) divide o processo de construção civil em cinco etapas: planejamento,
projeto, fabricação de materiais e componentes fora do canteiro, execução e uso. O fato de
certos problemas só se manifestarem na última etapa, se dá pelo fato de abranger um
período maior. A técnica de correção adotada depende de uma correta identificação da
etapa na qual se iniciaram os fenômenos patológicos, o que também permite encontrar,
para fins periciais, os responsáveis pela falha.
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
11
Vários pesquisadores, segundo Souza e Ripper (1998), têm procurado relacionar,
percentualmente, as causas dos problemas patológicos às diversas etapas do processo
construtivo (Tabela 2.1). As conclusões, às vezes, são conflitantes, por apresentarem uma
linha de pesquisa não-uniforme, ou seja, devido ao fato de os estudos terem sido realizados
em diferentes continentes e de situações que podem ter dificultado a definição de
parâmetros.
Tabela 2.1 – Análise percentual das causas de problemas patológicos em
estruturas de concreto.
CAUSAS DOS PROBLEMAS PATOLÓGICOS EM
ESTRUTURAS DE CONCRETO
FONTE Concepção e
Projeto
Materiais Execução Utilização e
Outras
Edward Grunau
Paulo Helene (1992)
44 18 28 10
D. E. Allen (Canadá)
(1979)
55 49 -
C.S.T.C. (Bélgica)
Verçoza (1991)
46 15 22 17
C.E.B. Boletim 157 (1982)
50 40
Fundação Armado Álvares
Penteado
Verçoza (1991)
18 6 52 24
B.R.E.A.S.
(Reino Unido) (1972)
58 12 35 11
Bureau Securitas
(1972)
88 12
E.N.R. (U.S.A)
(1968-1978)
9 6 75 10
S.I.A. (Suíça) (1979)
46 - 44 10
Dov Kaminetzky (1991)
51 40 16
Jean Blévot (França) (1974)
35 - 65 -
L.E.M.I.T. (Venezuela)
(1965-1975)
19 5 57 19
Adaptado: Souza e Ripper (1998).
2.1.2 Sintomas e causas
A natureza, origem, causa e os mecanismos envolvidos podem ser identificados pelas
manifestações externas características evidenciadas na maioria dos problemas patológicos,
segundo Helene (1992).
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
12
As fissuras, as manchas superficiais, a corrosão de armaduras e os ninhos de concretagem
são os sintomas ou manifestações patológicas mais comuns nas estruturas de concreto As
fissuras são patologias características das estruturas de concreto armado, devido à baixa
resistência do concreto à tração. A importância de seu estudo está na influência direta ou
indireta sobre a durabilidade da construção e nos efeitos psicológicos que causam às
pessoas (COSENZA, 1998).
As razões da fissuração são de origem dinâmica e nem sempre é possível identificá-las.
Entretanto, sabe-se que uma mesma causa produz idênticos tipos de fissuras, de maneira
que cabe ao engenheiro especialista, conhecendo-a, prever um futuro quadro de fissuras,
identificando, mediante uma análise detalhada, o fenômeno e determinando as suas
conseqüências.
É dever do profissional, além de um diagnóstico preciso, a indicação e execução de uma
alternativa corretiva que garanta à estrutura, no mínimo, a resistência mecânica e a vida útil
de projeto. É de fundamental importância que a estrutura, uma vez reparada, não volte a se
deteriorar. Para isso, é preciso identificar as causas e origens da deterioração para que se
possa proceder aos reparos necessários.
2.1.3 Sistemas e mecanismos de deterioração
A identificação dos agentes que desencadeam os mecanismos de deterioração do concreto
é essencial para uma correta recuperação estrutural. Quando um problema relacionado a
uma insatisfatória durabilidade é identificado, é necessário o diagnóstico das causas
patológicas para um procedimento de recuperação eficaz e de uma adequada manutenção.
Esta intervenção objetiva, além de recuperar as características da estrutura, eliminar ou, em
último caso, reduzir ao máximo os efeitos dos agentes e dos mecanismos que provocam a
deterioração.
Tais agentes podem ser entendidos como carregamentos, variações térmicas, presença de
umidade, incompatibilidade de materiais, contaminação por íons deletérios, entre outros. A
determinação das conseqüências reais de um problema no comportamento da estrutura
pode ser evidenciada pelo conhecimento dos sintomas, mecanismos e agentes causadores.
Assim, torna-se possível estabelecer quais e como serão as intervenções do projeto de
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
13
recuperação.A compreensão dos mecanismos envolvidos, baseados em sintomas
característicos, deve ser a mais exata possível, pois estabelece uma correta definição dos
procedimentos e da especificação de materiais utilizados na execução do projeto de
recuperação da estrutura.
Segundo a NBR 6118 (ABNT, 2003), existem mecanismos de envelhecimento e
deterioração que agem e provocam efeitos deletérios ao concreto que deverão ser
considerados (Tabela 2.2), havendo também aqueles que geram problemas, em geral, de
maneira indireta, como as ações mecânicas e térmicas.
Tabela 2.2 – Principais mecanismos de envelhecimento e deterioração das
estruturas de concreto armado.
PRINCIPAIS MECANISMOS DE ENVELHECIMENTO E DETERIORAÇÃO DAS
ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO
MECANISMOS AGENTES AÇÃO SINTOMATOLOGIA
1. Lixiviação
Águas puras,
carbônicas,
agressivas e
ácidas.
Carrear compostos
hidratados da pasta de
cimento.
- Superfície arenosa ou com
agregados expostos sem a pasta
superficial;
- Eflorescência de carbonato;
- Elevada retenção de fuligem/
fungos.
2. Expansão
Águas e solos
contaminados por
sulfatos
Reações expansivas e
deletérias com a pasta
de cimento hidratado
- Superfície com fissuras
aleatórias e esfoliação;
- Redução da dureza e do pH.
3. Expansão
Agregados
reativos
Reações entre os
álcalis do cimento e
certos agregados
reativos.
- Expansão geral da massa do
concreto;
- Fissuras superficiais e
profundas.
4.Reações
deletérias
Certos agregados Transformações de
produtos ferruginosos
presentes nos
agregados.
- Manchas, cavidades e
protuberância na superfície do
concreto.
5. Despassivação
da armadura
Gás carbônico da
atmosfera
Penetração por difusão
e reação com os
hidróxidos alcalinos
dos poros do concreto,
reduzindo o pH dessa
solução.
-Em casos mais acentuados,
apresenta manchas, fissuras,
destacamentos do concreto,
perda da seção resistente e da
aderência.
Obs: Requer ensaios
específicos.
6. Despassivação
da armadura
Cloretos Penetração por difusão,
impregnação ou
absorção capilar,
despassivando a
superfície do aço.
- Ao atingir a armadura,
apresenta os mesmos sinais do
item 5.
Obs: Requer ensaios
específicos.
Adaptado: Reis (2001).
Para Mehta e Monteiro (1994), entre os mecanismos físicos responsáveis pela degradação
do concreto armado incluem-se a abrasão, a erosão e a cavitação, a cristalização de sais nos
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
14
poros e os devidos aos extremos de temperatura, tais como congelamento e fogo. Os
mecanismos químicos incluem a lixiviação da pasta de cimento por soluções ácidas ou por
água pura, e reações expansivas envolvendo ataque por sulfato, reações álcali-agregados e
corrosão de armaduras no concreto.
2.1.3.1 Reação álcali-agregado
Hasparyk (1999) afirma que a reação álcali - agregado é dividida em três categorias:
- Reação álcali – sílica: é o tipo de reação expansiva mais conhecida e a que ocorre mais
rapidamente. Caracteriza-se pelo arranjo desordenado da sílica amorfa, de tetraedros
construídos ao redor de um átomo de silício reatado a íons de hidrogêneo e aos íons
hidroxilas da solução alcalina;
- reação álcali – silicato: é considerada responsável pela deterioração de estruturas de
concreto no Brasil. É a reação entre os álcalis disponíveis do cimento e alguns tipos de
silicatos eventualmente presentes em certas rochas sedimentares (argilitos, siltitios e
grauvacas), rochas metamórficas (ardósias, filitos, xistos, gnaisses, quartzitos e hornfels) e
ígnea (granitos);
- reação álcali – carbonato: este tipo de reação é completamente distinto das reações álcali
– sílica e álcali – silicato. É caracterizada pela reação de desdolomitização que é a reação
que ocorre entre a dolomita e os íons hidroxilas presentes em certos agregados.
Segundo Monteiro et. al (1995), a reação álcali-agregado, ou álcali-sílica é decorrente da
interação entre a sílica reativa, presente em certos agregados, e a solução alcalina,
resultante da hidratação de cimentos com taxa de álcalis superior a 0,6%. Essa reação
produz um sitema coloidal que, quando na presença de água, expande-se em volume,
provocando fissuração e desintegração do concreto.
De acordo com Moreno (2002), os álcalis presentes no cimento podem gerar produtos
expansivos na presença de certos agregados reativos, como a opala, a calcedônia, as sílicas
amorfas e determinados calcários.
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
15
Fan e Hanson (1998) acreditam que a deterioração do concreto pela reação álcali-agregado
pode ser evitada ou minimizada seguindo alguns métodos, como evitar o uso de agregados
reativos, limitar o conteúdo de álcalis no cimento e incorporar o uso de pozolanas ou outras
misturas. Mehta e Monteiro (1994) afirmam que o controle da expansão também pode ser
feito regrando o acesso de água ao concreto e lavando agregados contaminados.
2.1.3.2 Corrosão da armadura
A corrosão pode ser definida, segundo Gentil (1996), como sendo a deterioração de um
material, normalmente metálico, por ação química ou eletroquímica do meio ambiente,
aliada ou não a esforços mecânicos. Ocorre principalmente em ambiente marinho, em
atmosferas salinas, ou em lugares muito úmidos e com atmosferas contaminadas.
Para Repette (1997), trata-se de um processo eletroquímico no qual o ferro metálico é
transformado em óxidos e hidróxidos de ferro, causando aumento de volume dos
compostos originais e redução da seção das armaduras, perda de aderência entre o concreto
e o aço, e fissurações e destacamentos do concreto. Em condições normais as armaduras
embebidas apresentam estado de passivação propiciado pela alta alcalinidade inerente à
solução dos poros de cimento. Esta passivação, no entanto, é geralmente anulada pela
carbonatação do concreto que envolve as armaduras e/ou pela presença de íons cloreto
atingindo a superfície das barras de aço. O ingresso de cloretos e de dióxido de carbono
através do cobrimento do concreto é principalmente governado pelos fenômenos de
absorção e difusão, sendo que a taxa de corrosão é dependente das características do
concreto, da temperatura e da concentração de oxigênio e teor de água nos poros do
concreto.
Durante a corrosão eletroquímica, há uma reação de oxidação na região anódica, de onde
os elétrons migram através do condutor elétrico até a região de caráter catódico, onde
reagem com alguma substância presente no eletrólito de forma a produzir uma reação de
redução.
Tuutti (1982) afirma que substâncias como cloretos tem a capacidade de desestabilização
do filme passivante das armaduras, imersas no concreto, além do que participa das reações
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
16
de óxido-redução no fenômeno de corrosão das armaduras. Atuam como formadores de
compostos transitórios, não são os produtos finais de corrosão.
Segundo Repette (1997) a corrosão do concreto, por vezes chamada degradação por ataque
químico do concreto, os processos químicos ocorrem principalmente na porção da pasta
hidratada de cimento e na superfície de alguns agregados, causando dissolução ou
expansão de alguns dos seus componentes. O ataque químico pode ser diferenciado em
ataque ácido, ataque por sulfatos e ataque alcalino.
O concreto, quando bem executado, protege a armadura da corrosão, pois atua como uma
barreira física que impede ou retarda a chegada dos agentes agressivos, e uma barreira
química, formada por óxidos, a partir de reações superficiais da armadura com os
compostos alcalinos do concreto.
A corrosão é um fenômeno intimamente relacionado à presença de oxigênio e água.
Portanto, após a despassivação da armadura, para que tal fenômeno se evidencie, é
indispensável o seu contato com o ar atmosférico, umidade e, ainda, o estabelecimento de
uma célula de corrosão eletroquímica, proveniente de uma diferença de potencial intrínseca
da estrutura, devido a sua heterogeneidade.
A despassivação da armadura se deve principalmente a dois mecanismos deletérios:
a) Despassivação por carbonatação
Devido à ação do dióxido de carbono (CO
2
), presente na atmosfera, que penetra por
difusão e reage com os componentes hidróxidos alcalinos da solução dos poros da pasta de
cimento hidratada, na presença de umidade, formando basicamente carbonatos e água,
reduzindo o pH dessa solução. A redução do pH (valores inferiores a 9), ao atingir a
armadura, e na presença de umidade, promove a corrosão do aço, com aparecimento de
manchas, fissuras, destacamento do concreto e perda de seção resistente da armadura,
podendo promover o colapso da estrutura ou de suas partes.
Para Tutti (1982) a concentração de dióxido de carbono na atmosfera, geralmente, varia
entre 0,03 e 0,1 %. O valor máximo é uma aproximação para áreas urbanas, acentuado pelo
tráfego e atividades industriais, e o mínimo é um valor admitido para áreas rurais.
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
17
A espessura e a compacidade da camada de cobrimento das armaduras são fatores
determinantes do tempo no qual o fenômeno de despassivação irá ocorrer e, portanto, são
decisivos para se garantir a durabilidade das estruturas, pois a sua ocorrência de forma
simultânea com a presença de água, oxigênio e diferença de potencial irá desencadear o
processo de corrosão das armaduras das estruturas de concreto.
Segundo Verbeck apud Cánovas (1988), a carbonatação máxima ocorre a uma umidade
relativa do ar de 60%, enquanto num ambiente saturado ou seco, tem-se uma carbonatação
de apenas 20% do máximo anterior, conforme mostrado na Figura 2.1.
.
Figura 2.1 – Carbonatação do concreto em função da umidade.
Fonte: Verbeck apud Cánovas (1988).
b) Despassivação por íons cloro (cloretos):
Ocorre por penetração do íon cloreto através de processos de difusão, de impregnação ou
de absorção capilar de águas contendo teores de cloreto que, ao superarem, na solução dos
poros do concreto, um certo limite em relação à concentração de hidroxilas, despassivam a
superfície do aço e instalam o processo de corrosão. É considerado, de forma consensual, o
principal agente causador da corrosão em armaduras, e o que provoca os danos mais
severos nas estruturas de concreto armado (TUUTTI, 1982).
Os pites são crateras que constituem o ânodo da reação e progridem em profundidade,
podendo chegar a produzir a ruptura puntual das barras (ANDRADE, 1992).
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
18
Os efeitos são os mesmos provocados pela corrosão por carbonatação, mas muito mais
difíceis de serem corrigidos, pela dificuldade da remoção do cloreto, mesmo por técnicas
especiais.
Segundo Helene (1997), há também os mecanismos que atuam na estrutura propriamente
dita, relacionados às ações mecânicas, movimentações de origem térmica, impactos, ações
cíclicas (fadiga), deformação lenta (fluência), relaxação, entre outros. Para cada
mecanismo de deterioração, há procedimentos distintos a serem realizados e muitas vezes
materiais alternativos a serem empregados.
Segundo Tuutti (1982), o concreto tende a permanecer mais umido na presença de grandes
quantidades de cloretos, aumentando o risco de corrosão pela diminuição de sua
resistividade elétrica. São fontes comuns de cloretos os aditivos, os agregados
contaminados por sais, águas de amassamento contaminadas e a penetração de soluções
com sais degelantes, salmouras industriais, maresias ou névoas de ambiente marinho ou
água do mar.
2.1.3.3 Lixiviação
Trata-se de um fenômeno causado pela ação de águas puras e moles (geralmente pobres em
sais), carbônicas, agressivas e ácidas, que têm a habilidade de dissolver alguns compostos
hidratrados da pasta de cimento, destacando-se o hidróxido de cálcio e os compostos
aluminosos.
Os danos causados ao concreto são proporcionais ao fluxo e a renovação da água pura em
contato com o mesmo. A solubilidade e expansibilidade dos compostos formados pela
reação dos compostos do cimento hidratado com os ânions e cátions das respectivas
dissoluções desses sais são responsáveis diretos pela agressividade de sais ao concreto.
Sais de amônio, como os nitrato e sulfato de amônio, são apontados como os mais
agressivos, causando intensa dissolução de compostos do cimento hidratado. Sais de
magnésio também causam enfraquecimento da capacidade aglutinante do cimento, devido
às reações de substituição entre o Mg
2+
e o cálcio do silicato de cálcio hidratado, CSH. Por
outro lado, o ataque simultâneo por sulfatos e magnésio é particularmente intenso na
geração de produtos expansivos (REPETTE, 1997).
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
19
Segundo Mehta e Monteiro (1994), estas águas, quando em contato com a pasta de cimento
Portland, tendem a hidrolisar ou a dissolver os produtos que contêm cálcio. Sua
conseqüência pode ser o risco de desenvolvimento de fungos e bactérias, além da redução
do pH do extrato aquoso dos poros superficiais do concreto, com risco de despassivação da
armadura.
Tal mecanismo ocorre na presença de água corrente ou infiltração sob pressão, que pode
arrastar o hidróxido de cálcio (Ca(OH)
2
) até a superfície de concreto, deixando os outros
constituintes do cimento sujeitos à decomposição química. Esse processo deixa resíduos de
géis de sílica e alumina com baixa ou nenhuma resistência, além da diminuição do
potencial hidrogeniônico (pH) do concreto.
Segundo Sobral apud Tinôco (2001), para que ocorra um dano considerável é
imprescindível que o ataque se manifeste durante um longo período de tempo. Desta
forma, na prática, tal ataque não é tão comum, e ocorre somente com águas praticamente
puras, como as destiladas, as provenientes de chuva, as da condensação de vapores, as
resultantes do degelo etc.
O hidróxido de cálcio em presença do ar atmosférico transforma-se em carbonato de
cálcio, pelo processo conhecido como carbonatação. O produto dessa reação pode
depositar-se na superfície externa do concreto, causando uma desagradável aparência.
Surgem como resultado da lixiviação as formações do tipo estalactites e estalagmites. Este
fenômeno também pode ser denominado de eflorescência (MEHTA e MONTEIRO, 1994).
2.1.3.4 Expansão por sulfato
O ataque por sulfatos é principalmente caracterizado pela reação entre o íon sulfato, vindo
da solução agressiva, com os compostos hidratados de aluminato tricálcico (C3A) e o ferro
aluminato tetracálcico (C4AF) do cimento (REPETTE, 1997).
Ocorre por ação de águas ou solos, com a pasta de cimento hidratado, que contenham ou
estejam contaminados com sulfatos, dando origem a reações expansivas e danosas. Os
sulfatos, segundo Biczók apud Tinôco (2001), estão presentes em ácidos ou sais que
contenham o ânion sulfato (SO
4
-2
), provenientes de águas residuais industriais, diluídos sob
a forma de ácido sulfúrico, de águas de subsolo ou de água do mar.
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
20
São considerados responsáveis pela maioria dos processos de destruição de argamassas e
concretos, causados pela formação de sais, sendo normalmente precedidos de lixiviação.
Este ataque é considerado o mais freqüente e perigoso dentre todos os ataques químico
Segundo Repette (1997), se existe quantidade de água suficiente nos poros do concreto, a
reação entre estas substâncias gera sulfoaluminatos de cálcio e/ou ferrosulfatos de cálcio,
os quais incorporam uma grande quantidade de moléculas de água, apresentando um
volume bastante maior do que os dos produtos que lhes deram origem. Este aumento de
volume acarreta o surgimento de tensões internas no concreto, podendo conduzir a fissuras
e a perdas de resistência e durabilidade.
O ataque por sulfato pode-se manifestar na forma de expansão do concreto ou na perda
progressiva de resistência e massa, dependendo da concentração e fonte dos íons sulfatos
na água de contato e da composição da pasta de cimento no concreto.
Souza e Ripper (1998) mencionam que a ação de águas sulfatadas pode ser responsável,
após algum tempo, pela total desagregação do concreto. Os principais sulfatos, como os de
magnésio, potássio, cálcio, sódio e amônio, são encontrados em águas subterrâneas, em
águas do mar e, em alguns casos, em águas poluídas com dejetos industriais. Quando são
transportados para o interior do concreto, dão origem à formação de um sal, conhecido por
sal de Candlot, e levam à sua desagregação.
Segundo Helene (1997), o concreto que sofre ataque por sulfatos irá apresentar fissuras
aleatórias na superfície, esfoliação e redução significativa da dureza e resistência
superficial, com a conseqüente redução do pH do extrato aquoso dos poros superficiais.
A redução da permeabilidade é a melhor medida preventiva contra o ataque de sulfatos,
obtida pelo alto consumo de cimento, baixa relação água/cimento (a/c), compactação
adequada e cura apropriada.
2.1.4 Diagnóstico
Segundo Johnson apud Vanderlei (1996), “diagnosticar as causas da deterioração de uma
estrutura de concreto consiste essencialmente em proceder por eliminação até chegar a uma
conclusão”. Entretanto, após propor uma marcha a seguir para formular um diagnóstico,
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
21
acrescenta que nem sempre procedendo desta forma se chegará a alguma conclusão,
devido à limitação de nossos conhecimentos atuais, porém mais comumente devido a uma
falta de dados, principalmente no que se refere aos antecedentes da obra.
Para Cánovas (1998), uma simples inspeção de um técnico experiente pode diagnosticar
determinadas manifestações patológicas. Porém, mediante a complexidade do problema,
será essencial verificar o projeto, investigar as cargas que atuam sobre a estrutura, além da
análise minuciosa de como a obra foi executada.
Souza e Ripper (1998) apresentam uma metodologia genérica (Figura 2.2) para a inspeção
de estruturas convencionais, dividida em três etapas básicas: levantamento dos dados,
análise e diagnóstico.
A necessidade ou não de adoção de medidas especiais é verificada na primeira etapa do
levantamento dos dados, que fornece subsídios para que a análise possa ser feita
corretamente. A segunda etapa conduz o analista a um perfeito entendimento do
comportamento estrutural e de como surgiram e desenvolveram as manifestações
patológicas. Na última etapa faz-se o diagnóstico, que somente é realizado após a
conclusão das duas primeiras etapas, e que, dependendo de uma série de fatores
(econômicos, técnicos, de segurança e de conforto), poderá levar a diversas conclusões,
inclusive a de demolição estrutural.
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
22
Figura 2.2 – Fluxograma genérico para a diagnose de uma estrutura
convencional.
Fonte: Souza e Ripper (1998).
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
23
2.2 TÉCNICAS DE RECUPERAÇÃO
Uma vez identificadas as causas da deterioração de uma estrutura de concreto armado,
mediante um preciso diagnóstico, torna-se necessária uma manutenção corretiva e um
procedimento racional de recuperação deve ser iniciado.
Fatores como o descaso em relação ao controle da qualidade dos serviços e de materiais
empregados em projetos cada vez mais arrojados, aliado ao avanço tecnológico e à
dinâmica vivenciada pelas construções, estão levando as estruturas, tidas como recentes, a
necessitarem de um processo de recuperação estrutural precocemente.
A recuperação estrutural visa, tão-somente, a reconstituição das características
geométricas, de resistência e desempenho originais de uma estrutura de concreto.
Segundo Souza e Ripper (1998), de acordo com a profundidade, com o grau de
deterioração e, conseqüentemente, com a finalidade almejada, os serviços de recuperação
são classificados em reparos rasos (profundidade inferior a 2 cm), semiprofundos
(profundidade entre 2 e 5 cm) e profundos (profundidade acima de 5 cm).
Os considerados rasos também são classificados de acordo com a área a ser reconstituída:
em pequenas (até 15 m
2
) ou grandes áreas (maior que 15 m
2
).
Clímaco et al. (1997) comentam que a complexidade do setor de reparos se deve à
necessidade de se obter a avaliação precisa das condições da estrutura, exigindo altos
conhecimentos e condições operacionais, que envolvam o uso de técnicas e materiais
especializados para o desenvolvimento do projeto de reparo (Figura 2.3).
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
24
Figura 2.3 – Anatomia de um reparo de concreto.
Fonte: Emmons e Vaysburd (1993).
2.2.1 Preparação superficial
Segundo Moreno (2002), se não forem cessados os agentes da degradação, os reparos
superficiais, sejam localizados ou aplicados a grandes áreas, apenas podem contribuir na
formação de uma barreira temporária entre o agente agressivo e o concreto, melhorando a
estanqueidade do sistema.
Helene (1992) afirma que alguns autores consideram que os procedimentos de preparo e de
limpeza do substrato são responsáveis por 50% ou mais do sucesso de um reparo. Para
Emmons (1994), essa etapa é uma das mais críticas do processo de recuperação estrutural,
uma vez que influencia diretamente na qualidade da aderência entre o reparo e o substrato
de concreto.
Uma correta definição da área a ser analisada, feita com o auxílio de um disco de corte,
evita um número desnecessário de recortes, o que acarretaria um aumento no quadro
fissuratório do reparo.
Dentre os procedimentos mais comuns de preparo do substrato destacam-se: a
escarificação manual (ponteiros e marretas) e mecânica (martelos rompedores
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
25
pneumáticos), a utilização de discos de desbaste e de corte, lixamento e escovamento
manual e/ou elétrico, o jato de areia seco ou úmido, máquina de desbaste superficial e a
remoção. Já a limpeza da superfície pode ser feita através de aspiração a vácuo, jatos de
água fria e quente, jato de ar comprimido, vapor, soluções ácidas e alcalinas, solventes e
aspiração a vácuo.
O jato d’água a alta pressão é, hoje, o método mais utilizado para a retirada do concreto
contaminado, garantindo à superfície uma boa rugosidade para a aplicação do material de
reparo.
Piancastelli (1998) afirma que é necessário cuidar para que o contorno das aberturas seja
bem definido, de modo a favorecer a aderência e a aplicação dos materiais de reparo.
Para Reis (2001), o preparo do substrato é responsável por grande parte do sucesso do
reparo estrutural, ou seja, o concreto-base deve ter resistência adequada e solidez para
receber o tratamento, sendo essencial também a preparação da superfície da junta.
2.2.2 Reparos superficiais
Cada técnica específica de reparo de estruturas varia de acordo com a situação em que a
estrutura se encontra e com os mecanismos preponderantes de deterioração. Podem-se
relacionar intervenções que visam apenas à proteção de elementos estruturais e seu reparo
superficial localizado ou de grandes áreas, reconstituindo a seção transversal do elemento e
sua estética, ou reforços estruturais para recomposição da capacidade portante ou mesmo
para sua ampliação.
Król e Halicka apud Moreno (2002), define de forma completa e objetiva as diferentes
situações enfrentadas:
1. Reparo: reconstituição dos fragmentos danificados da estrutura quanto ao fluxo dos
esforços internos não é afetado, e os estados limites último e de utilização são satisfeitos.
2. Reconstituição: renovação de elementos estruturais completamente danificados, que
cessaram de desempenhar seu papel estrutural devido à deterioração. A reconstituição
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
26
retoma ou restitui o estado inicial dos esforços internos e as funções de desempenho e
serviço da estrutura.
3. Reforço: adaptação do elemento estrutural para produzir aumento na sua capacidade de
carga, o que normalmente causa a redistribuição dos esforços internos. Pode ser obtido, por
exemplo, com o aumento da seção transversal do elemento, aplicação de armaduras,
protensão, entre outros.
4. Reconstrução: geralmente significa a mudança do esquema estrutural com o objetivo de
modificar o projeto inicial e, assim, as funções dos elementos. Está ligado com a
redistribuição das forças internas.
As argamassas estudadas neste trabalho têm a função de serem aplicadas como reparos
superficiais e não para situações de reforço estrutural.
Para a maioria dos mecanismos de deterioração mencionados, os reparos superficiais
podem ser aplicados, sendo mais eficientes em circunstâncias em que se pode cessar a ação
dos agentes causadores da deterioração.
Se não forem cessados os agentes da degradação, os reparos superficiais, sejam localizados
ou aplicados a grandes áreas, apenas podem contribuir na formação de uma barreira
temporária entre o agente agressivo e o concreto, melhorando a estanqueidade do sistema.
Para Moreno (2002) a técnica de reparo superficial consiste basicamente da aplicação de
uma camada de argamassa de reparo de espessura limitada, em geral inferior a 50 mm, de
maneira a reconstituir a seção transversal de um elemento estrutural de concreto. Um dos
requisitos mais importantes para a aplicação dessa técnica se refere ao controle da
espessura total ou profundidade do reparo, que não deve ultrapassar os 50 mm, podendo
esta espessura ser limitada a valor ainda menor conforme a formulação da argamassa.
Quando há a necessidade da limpeza das armaduras, é preciso que se faça a remoção do
concreto afetado até se identificar a região íntegra, conhecida como substrato, e executar a
limpeza dessa superfície.É necessária a utilização de equipamentos adequados, tais como
martelete hidráulico, ponteiros, entre outros. A limpeza da superfície deve ser feita por
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
27
jateamento de areia ou escovamento, para que resulte isenta de partículas soltas, pó ou
outro material que interfira na aderência da argamassa ao concreto.
Após o procedimento descrito, em função da profundidade ao redor da barra de aço, aplica-
se a argamassa, manualmente ou por projeção mecânica, e em camadas, até recompor a
seção do elemento estrutural. O acabamento superficial da argamassa pode ser dado com
uma desempenadeira, de acordo com as características do reparo e dos materiais utilizados.
É importante ressaltar que, além da espessura final, da extensão do reparo e da sua função,
deve ser levada em consideração uma série de outras variáveis, como a compatibilidade
entre materiais, a umidade local, diferenças de temperatura, posição do reparo, entre
outros.
2.2.3 Pontes de aderência
É necessária a presença de um agente adesivo, denominado ponte de aderência, que
assegure a eficiência da ligação entre o substrato e o material de reparo. A aderência é uma
propriedade básica e fundamental para qualquer sistema de reparo.
Entretanto, Clímaco e Nepomuceno (1994) demonstram, experimentalmente, que alguns
materiais comercialmente apresentados como tendo propriedades adesivas, não têm efeito
ou são, até mesmo prejudiciais à resistência de aderência. López apud Tinôco (2001)
considera que o adesivo epóxi possui uma alta aderência em virtude de seu caráter polar,
apesar de requerer cuidados especiais para sua aplicação, principalmente no que diz
respeito à limpeza e às condições do substrato.
Helene (1992) afirma que a resina epóxi necessita de um substrato seco para a sua
utilização, e é altamente sensível a temperaturas superiores a 70ºC.
2.3 MATERIAIS DESTINADOS AO REPARO
A necessidade de uma análise apurada, por parte do meio técnico-científico, do
desempenho de materiais destinados ao reparo durante sua aplicação e no decorrer de sua
vida útil se justifica perante a vasta quantidade destes existentes no mercado e o
surgimento de novos.
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
28
Piancastelli (1998) aponta como principais características destes materiais: resistência à
compressão, à tração e ao cisalhamento; base química; módulo de elasticidade; resistência
a ataques químicos; características dimensionais; aderência ao substrato; “pot-life” (tempo
disponível para aplicação do produto após seu preparo); “open-time” (tempo no qual o
produto é capaz de desempenhar sua função, após a mistura). Tais características devem
ser levadas em consideração quanto aos materiais a serem utilizados.
2.3.1 Classificação dos materiais de reparo
Andrade (1992) divide os materiais de reparo em três tipos fundamentais: materiais de base
cimentícia, de base orgânica e mistos.
a) Materiais de base cimentícea
Tais materiais objetivam a restauração do meio alcalino, essencial à passivação da
armadura. Possuem como base o cimento Portland, cimento aluminoso, misturas de
cimento Portland e aluminoso e grautes com agentes expansivos; e podem ser subdivididos
em tradicionais e em não tradicionais. Aqueles possuem o cimento portland como base, ao
passo que estes, além deste componente, possuem algum tipo de aditivo ou adição mineral
visando a melhora de algumas de suas propriedades.
Segundo Oliveira e Souza (2003), as argamassas de cimento Portland são materiais
tradicionalmente empregados na recuperação de estruturas de concreto armado. Além de
proporcionar boas condições de resistência e coesão ao longo do tempo, podem apresentar
ótimo desempenho no manuseio e durabilidade mediante a introdução de aditivos e
adições, tais como: sílica ativa, cinza volantes, escória de alto forno, superplastificantes,
polímeros e impermeabilizantes.
Dentre os materiais não tradicionais, a argamassa modificada com látex é a mais estudada,
uma vez que existe uma grande gama desses produtos no mercado, principalmente aqueles
prontos para aplicação. Devido à facilidade de aplicação, sem necessidade de tecnologia
especial, esse tipo de argamassa é um material bastante utilizado em reparos.
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
29
b) Materiais de base orgânica
Geralmente são pouco permeáveis e apresentam boa aderência.Atuam como barreira contra
a penetração de agentes agressivos na estrutura, bem como de oxigênio e umidade.
Entretanto, como são de natureza química diferente do substrato de concreto, possuem
algumas desvantagens quanto ao coeficiente de expansão térmica, ao módulo de
deformação e à compatibilidade.
Podem ser classificados como termoplásticos (resinas acrílicas, estirenobutadieno etc.) ou
como termoendurecedores (resinas epóxi, poliéster, poliuretanos etc.).
As argamassas de base epóxi são produtos obtidos com agregados miúdos e um ligante
polimérico, que apresentam excelentes propriedades físicas, além de boa aderência a
diversos tipos de superfície. Segundo Piancastelli (1998), as resinas epóxi não apresentam
retração durante a polimerização, entretanto, depois de endurecidas, apresentam um
coeficiente de dilatação térmico bastante superior ao do concreto.
c) Materiais mistos
São aqueles constituídos de cimento portland e algum outro material polimérico ou resina
orgânica, com o objetivo de melhorar a qualidade do produto final.
Segundo Moreno (2002), outras classificações podem ser adotadas, como a do GEHO
(1989) e a de Helene (1992), bastante semelhantes e também baseadas na natureza do
aglomerante.
Cabe salientar que as combinações dos tipos de aglomerante e de adições poliméricas ou
inorgânicas determinam uma razoável gama de propriedades e de possibilidades de
formulação das argamassas de reparo.
No entanto, não há qualquer literatura que discuta critérios racionais para a dosagem dessas
argamassas, principalmente das formuladas a base de cimento Portland, que sempre
apresentam a possibilidade de serem dosadas em obra.
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
30
2.3.2 Materiais constituintes e sua funcionabilidade
Serão apresentadas, de maneira sucinta, as características e funções principais dos
materiais constituintes das argamassas de reparo a base de cimento Portland.
2.3.2.1 Aglomerante
Os aglomerantes formam a matriz cimentícia das argamassas, responsável pela aglutinação
dos agregados e pelo desenvolvimento do mecanismo de aderência ao substrato.
O desenvolvimento da resistência mecânica, e de todas propriedades físicas das
argamassas, irá, de alguma forma, depender tanto das características do aglomerante
quanto de outros parâmetros intrínsecos associados à dosagem ou à produção da
argamassa. Podem-se citar: a relação água/cimento, a proporção agregado/cimento, a idade
da argamassa, entre outros.
A escolha do cimento Portland preferencialmente não deve levar em conta somente a sua
composição química potencial, mas deve ponderar quais são os ensaios de desempenho das
argamassas nas condições o mais próximas possível à sua aplicação e às propriedades
determinantes da durabilidade dos reparos.
Se avaliados os catálogos técnicos dos fabricantes de cimento, qualquer tipo de cimento
estrutural pode ser usado para a produção de argamassas de reparo, exceto em meios
agressivos. No entanto, os cimentos tipo V - ARI são, em geral, preferidos pela garantia de
maior resistência inicial que apresentam. Assim, são muito freqüentes estudos tecnológicos
com este tipo de cimento e poucas informações se tem sobre o desempenho de outros tipos
quanto à aderência, como é o caso do cimento composto tipo CPII.
2.3.2.2 Agregado miúdo
A função do agregado miúdo é de enchimento e estruturação da argamassa, constituindo
um material pouco deformável, que suporta parte da retração do cimento. Nas argamassas
de reparo, podem ser utilizadas areias naturais ou artificiais, provenientes da britagem de
rochas. O agregado miúdo mais utilizado para a produção de argamassas e de concretos é a
areia natural, extraída de rios. Para seu uso, devem ser isentas de matéria orgânica, argila e
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
31
outras impurezas que possam prejudicar ou mesmo comprometer o desempenho das
argamassas.
As propriedades das argamassas dependem significativamente das características da areia
empregada, principalmente da sua granulometria e do teor de finos. Deficiências na
granulometria ou excesso de finos podem exigir uma maior demanda de água, que pode
alterar suas propriedades físicas e mecânicas.
2.3.2.3 Aditivos
Os aditivos são produtos químicos formulados para melhorar ou modificar algumas
propriedades de argamassas e concretos, tanto no estado fresco como no estado
endurecido, de acordo com a aplicação do material.
Os aditivos normalmente são usados em baixos teores e classificados segundo sua ação
principal em concretos e argamassas, sendo de maior interesse para uso em argamassas de
reparo os aceleradores de pega e endurecimento, os retardadores, os redutores de água, os
expansores e os impermeabilizantes.
Segundo Helene apud Moreno (2002), com base em conceitos da RILEM, considera-se
como aditivo todo produto adicionado até o máximo de 5% em relação à massa de
cimento. Acima dessa porcentagem, tal produto deve ser considerado como adição e, em
geral, seu teor passa a ser indicado no traço da argamassa.
2.3.2.4 Adições
São matérias primas que, misturadas ao clínquer na fase da moagem, contribuem na
composição dos diversos tipos de cimento disponíveis no mercado. A utilização de adições
também objetiva a melhora das propriedades das argamassas.
Algumas adições podem substituir parte do aglomerante se adicionadas em proporções
convenientes.
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
32
Podem-se citar algumas razões da utlilização das adições, como o aproveitamento de
resíduos poluidores (ecológica), preservação de jazidas (estratégica) e a dimiuição no
consumo de energia (econômica).
Tipos de Adições:
a) Filer Calcário
Calcário moído, quimicamente inerte, adicionado ao clínquer durante a moagem para
diminuir a permeabilidade e porosidade de concretos e argamassas e melhorar a
trabalhabilidade.
b) Escória de Alto Forno
Produto não metálico, constituído essencialmente de silicatos e aluminatos de cálcio,
resultante do tratamento do minério de ferro.
c) Pozolana
Material silicoso natural, não aglomerante por si mesmo e que, finamente dividido, reage
com Ca(OH)
2,
formando os mesmos compostos resultantes da hidratação dos cimentos.
d) Sílica Ativa
Subproduto da produção de silício metálico e ligas de ferro-silício, composto de partículas
extremamente finas (100 vezes menores que as do cimento) de dióxido de silício amorfo.
Atuam na pasta de cimento por efeito de micro fíler e efeito pozolânico.
2.3.3 Desempenho e propriedades das argamassas de reparo
A determinação de propriedades adequadas que a argamassa de reparo deve possuir é
fundamental para a garantia de qualidade de um reparo superficial.
De acordo com o Grupo Español del Hormigon (GEHO, 1989), os fatores que devem ser
levados em conta para selecionar uma argamassa de reparo, conforme as características do
local a se reparar, são:
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
33
1. O grau de deterioração da estrutura, suas causas e evolução, assim como a resistência do
concreto a ser reparado;
2. Espessura a ser executada, uma vez limpa a superfície;
3. Local que deve ser preenchido, ainda que os reparos sejam superficiais. Existem
situações em que há vazios no interior do concreto, em geral, onde existem armaduras;
4. As condições de temperatura e umidade do ambiente;
5. As solicitações físico-químicas às quais a estrutura está exposta;
6. O tempo disponível para a execução do reparo, que é função das exigências para
alcançar as resistências solicitadas.
Segundo Wood; King e Leek (1990) apud Moreno (2002), as principais propriedades de
uma argamassa de reparo são divididas em três grupos:
a) Propriedades físicas: diagrama tempo/resistência, diagrama tensão/deformação,
resistência à tração, resistência de aderência, deformação lenta, coeficiente de expansão
térmica, retração por secagem, deformações cíclicas por molhagem (ou umedecimento) e
secagem, permeabilidade e resistência à difusão.
b) Propriedades químicas: conteúdos de álcalis, de C
3
A e de cloretos.
c) Propriedade eletroquímica: resistividade.
É necessário determinar o tipo de argamassa a ser empregada em paralelo à definição das
condições da estrutura a ser reparada e das técnicas de execução do serviço, e, sobretudo,
quais são suas propriedades críticas, de forma que as propriedades finais do sistema de
reparo possam contribuir para a durabilidade e o desempenho da estrutura em manutenção.
Cabe salientar que após as atividades de reparo, segundo Helene (1992), é necessário que
sejam tomadas medidas de proteção da estrutura, com a implementação de um programa de
manutenção periódica, que deve levar em conta a importância da obra, a vida útil residual
prevista, a agressividade das condições ambientes de exposição e a natureza dos materiais
e medidas protetoras de acabamento adotadas.
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
34
2.3.4 Requisitos de compatibilidade entre a argamassa de reparo e a
estrutura de concreto
De acordo com Emmons e Vaysburd (1996), as propriedades físicas, químicas e
eletroquímicas definem a compatibilidade em um sistema de reparo entre a argamassa e o
substrato, responsável pela garantia de que a estrutura reparada suportará as tensões
induzidas por cargas, mudanças de volume e as influências químicas e eletroquímicas do
material de reparo e do ambiente, sem abalo e deterioração em determinado ambiente e
dentro de certo período de tempo.
Segundo Vaysburd; Emmons (2000) apud Medeiros, a indústria da construção não se
atenta a dois tópicos relacionados à corrosão prematura em estruturas de concreto
reparadas: fissuras (pela retração por secagem e a outros fatores) e incompatibilidade
eletroquímica (por força das mudanças na interface causadas pelo reparo). Estes seriam
uma das origens dos problemas de compatibilidade.
2.3.4.1 Compatilidade de deformações
O reparo localizado em estruturas de concreto armado coloca materiais distintos em
contato e, por isso, anseia por uma análise do sistema quanto às possíveis diferenças na
mudança do volume dos materiais envolvidos, quando submetidos às variações de
umidade, temperatura e carregamento. Podemos entender, equivocadamente, que, quando
se trata de reparos à base de argamassas de cimento Portland, essa questão torna-se
desprezível, pelo simples fato de serem essas argamassas da mesma natureza do concreto.
Contudo, segundo Emmons et al.(1993), as mudanças de volume das argamassas precisam
ser controladas em reparos de concreto, para evitar ou minimizar a ocorrência de fissuras
na interface com o concreto.
A Figura 2.4 destaca em preto os principais requisitos que devem ser levados em
consideração na escolha de opções de argamassa de reparo, com relação à obtenção da
compatibilidade de deformações, tendo-se por objetivo evidenciar e sintetizar a
complexidade dos requisitos envolvidos.
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
35
Figura 2.4 – Requisitos principais para compatilidade de deformações entre
sistemas de reparo localizados e estruturas de concreto.
Fonte: Selmo (2001) apud Medeiros (2002).
A aderência nos sistemas de reparo é a propriedade responsável pela capacidade de a peça
reabilitada trabalhar de forma monolítica com a estrutura. Moreno (2002) realizou pesquisa
recente sobre o tema.
2.4 ADERÊNCIA
O termo aderência pode ser entendido como a capacidade de fixação do material de reparo
ao substrato ou base de aplicação.
É usado, genericamente, para descrever tanto a resistência mecânica como a extensão do
espalhamento ou contato resultante entre o material de reparo e a superfície da estrutura de
concreto a ser reparada.
Trabalhos antigos ou recentes, como a dissertação de mestrado de Moreno (2002), também
adotam essa terminologia, com origem em conceitos físicos clássicos adotados referentes à
tecnologia de argamassas.
Coutinho (1973) apresenta quatro tipos de aderência: aderência mecânica em escala
macroscópica, aderência entre as superfícies de ligação da pasta e do agregado, aderência
na escala das dimensões da rede cristalina e aderência de origem química.
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
36
É responsável pela transferência efetiva das deformações e, conseqüentemente, dos
esforços a que a estrutura estará sujeita ao longo do tempo, bem como pela proteção das
armaduras reparadas.
O desempenho global do sistema de recuperação executado com argamassas em estruturas
de concreto, seja superficial localizado ou estrutural, está intimamente relacionado com a
aderência, tida como uma propriedade básica e fundamental para qualquer sistema de
reparo. A deficiência desta propriedade pode comprometer o desempenho global do
sistema.
Fissuras na interface ou falhas de aderência, que tornam o sistema mais permeável e
possibilitam o ingresso de agentes agressivos ao concreto ou às armaduras, são tidas como
prejudiciais.
2.4.1 Mecanismo de aderência das argamassas de reparo
Segundo Moreno (2002), o mecanismo de aderência entre os materiais cimentícios é um
fenômeno complexo devido à natureza heterogênea dos substratos de concreto e dos
materiais destinados ao reparo.
O mecanismo de aderência entre as superfícies das argamassas e dos substratos porosos
desenvolve-se em duas etapas distintas.
A primeira é a adesão inicial que ocorre no estado fresco, no momento em que a argamassa
no estado plástico entra em contato com o substrato poroso. A segunda, que se processa ao
longo do intervalo de tempo em que se desenvolvem as reações de hidratação das
partículas dos aglomerantes, ou seja, com o endurecimento da argamassa, é definida como
aderência propriamente dita.
É importante elucidar os mecanismos básicos pelos quais se desenvolve a aderência entre o
material de reparo e o substrato, levando-se em consideração os fenômenos envolvidos.
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
37
2.4.1.1 Adesão inicial-estado fresco
De acordo com Carasek (1996), a adesão inicial das argamassas está diretamente
relacionada com as características reológicas da pasta aglomerante. Para uma melhor
compreensão da influência das características da argamassa na adesão inicial, pode-se
reportar parte da teoria das ligações interfaciais.
Segundo Houwink e Salomon (1973) apud Carasek (1996), o trabalho de adesão é a
energia de ligação interfacial entre sólidos e líquidos, e varia em função das tensões
superficiais e do ângulo de contato formado entre os dois materiais, como mostra a Figura
2.5.
Pode-se observar que uma redução do ângulo de contato entre as superfícies do material
sólido e do líquido pode aumentar a adesão entre os dois materiais.
Figura 2.5 – Molhagem de um sólido por um líquido.
Fonte: Carasek (1996).
O equilíbrio do sistema é dado pela força de sucção representada na Figura 2.5. Para
Adamson (1990) apud Caraseck (1996), o fenômeno da capilaridade ocorre em interfaces
que são suficientemente móveis para assumir uma forma de equilíbrio. Como lida com
estados de equilíbrio, a capilaridade trata do comportamento macroscópico e estatístico de
interfaces, mais do que com detalhes de suas estruturas moleculares. As forças de
capilaridade variam em função tanto da reologia da pasta constituinte da argamassa quanto
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
38
da porosidade do substrato, e influem de forma determinante no processo de adesão inicial,
no qual a argamassa encontra-se em estado fresco ou plástico.
Moreno (2002) afirma que, no caso das argamassas de reparo aditivadas, pode-se inferir
que a tensão superficial do sistema, governada pela sua composição e modificada
principalmente pela presença de aditivos tensoativos ou de adições, influencia na adesão
inicial entre a argamassa fresca e o substrato de concreto, bem como na sua extensão de
espalhamento, em geral denominada extensão de aderência.
A capacidade de molhagem do substrato é inversamente proporcional ao valor da tensão
superficial da pasta aglomerante e à sua viscosidade, reduzindo, assim, o ângulo de contato
entre as superfícies, aumentando o contato físico e implementando a adesão e a extensão
de aderência do reparo com o concreto. É notória a ressalva de que uma possível variação
da viscosidade das argamassas de reparo é função das características dos elementos
estruturais e peculiaridades dos serviços, além das características da argamassa. A forma
de aplicação e a posição da superfície do substrato são exemplos típicos. A adesão e
fixação do material fresco ao substrato, geralmente, possuem caráter imediato.
2.4.1.2 Adesão final-estado endurecido
A aderência é constituída de duas propriedades, a extensão de aderência e a resistência de
aderência produzida entre a argamassa endurecida e a base porosa.
Segundo Carasek (1996), quando a argamassa no estado plástico entra em contato com a
superfície absorvente, o substrato, parte da água de amassamento, que contém em
dissolução ou em estado coloidal os constituintes do aglomerante, penetra pelos poros e
cavidades do substrato. No interior destes, ocorrem fenômenos de precipitação, seja dos
géis de silicato do cimento, seja do hidróxido de cálcio. Transcorrido algum tempo, esses
precipitados intracapilares exercem ação de ancoragem da argamassa à base.
O fenômeno da adesão está associado à ligação de uma interface formada por superfícies
de materiais distintos das forças atrativas fundamentais da natureza, que unem átomos para
formarem moléculas, e moléculas para formarem líquidos ou sólidos. Tais forças são
conhecidas como forças intermoleculares e são classificadas, segundo Gandur (2001),
como:
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
39
a) Forças de Van der Walls
(P + an
2
/V
2
)(V-bn) = Nrt
2.1
onde:
a e b = constantes que descrevem as interações entre átomos ou moléculas, não
consideradas pela equação dos gases ideais.
V
= unidade de volume
n*
= número de moles
T
= unidade de temperatura
R
= constante dos gases reais
A Equação 2.1 foi uma das primeiras tentativas de descrição dos gases não-ideais. As
interações entre átomos ou moléculas são as seguintes:
Interações Dipolo-Dipólo.
Para Gandur (2001), a eletronegatividade diferenciada dos átomos que constituem uma
molécula pode causar a presença de cargas virtuais, os dipolos, em função de uma
distribuição não uniforme dos elétrons. A energia potencial de interação entre dois dipolos
pode se obtida por:
Φ
p
= µ
1
µ
2
/ r
3
[2cosθ
1
cosθ
2
- senθ
1
senθ
2
cos(φ
1
-φ
2
) ]
2.2
onde:
µ
1
= momentos dipolares das moléculas i
r
= distância que separa os centros dos dipolos
Interações Dipolo - Dipolo Induzido
Moléculas com uma distribuição uniforme da nuvem eletrônica podem ser polarizadas por
dipolos, o que define um dipolo induzido. A energia potencial, dessas interações é dada
por:
Φ
i
= (-µ
1
2
α
2 +
µ
2
2
α
1
) / r
6
2.3
onde:
α = polarizabilidade da molécula
Forças de Dispersão (ou de London)
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
40
Trata-se da força de adesão mais comum, encontrada em, praticamente, todos os materiais.
Surge da formação de dipolos instantâneos, provocando a formação de dipolos induzidos
instantâneos quando átomos ou moléculas com distribuição de carga uniforme se
aproximam. A energia potencial de interação é dada por:
Φ
D
= -3/4 (α
1
2
C
1
/r
6
) - 3/4 (α
1
2
I
1
/ r
6
)
2.4
onde:
C
1
= constantes moleculares
I
1
= potenciais de ionização
b) Pontes de Hidrogênio
Trata-se de um caso particular das interações dipolo-dipolo, que contém o hidrogênio
ligado a elementos eletronegativos como o F, O, N e Cl. Sua energia de ligação é bem
maior que as obtidas pelas interações de Van der Waals. São de extrema importância na
adesão, devido à presença comum de hidroxilas em superfícies.
c) Interações por Compartilhamento de Pares de Elétrons
As Ligações Covalentes são ligações formadas pelo compartilhamento de elétrons das
camadas externas dos átomos que constituem uma molécula. A quantidade de ligações
covalentes está relacionada com a flexibilidade da molécula. Em termos de adesão, trata-se
da interação de maior energia entre duas superfícies.
As interações ácido-base são do tipo doador-receptor e podem ocorrer na interface entre
substratos, resultando em adesão. Tornaram-se bastante populares atualmente para
descrever fenômenos de adesão.
Gandur (2001) afirma que as interações que sempre atuam em uma interface são as
resultantes das forças de dispersão, seguidas das interações ácido-base, quanto à freqüência
de ocorrência.
d) Forças eletrostáticas
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
41
Surgem da interação entre átomos ou moléculas carregados eletricamente por cargas de
sinais opostos. Trata-se de uma das maiores forças de interação entre átomos e moléculas
(exceção feita às ligações covalentes). Sua energia potencial de interação é dada por:
Φ
EI
= q
1
q
2
/ 4
Π
εr
2.5
onde:
q = carga dos átomos ou moléculas
r
= distância que separa os átomos ou moléculas
ε = constante dielétrica do meio
Esta definição refere-se ao fenômeno inrterfacial. Por outro lado, o termo adesão também é
empregado como referência à energia necessária para se romper uma junta adesiva, que
relaciona a dissipação de energia ao longo de todo um volume desta junta, quando esta é
solicitada em um esforço de separação.
Cada uma delas possui características específicas, como o grau de aproximação entre as
moléculas e a configuração eletrônica das duas superfícies, e envolvem elementos físico-
químicos definidos, como as pontes de hidrogênio, que é um caso particular das interações
de dipolos dipolo, que contêm os hidrogênios ligados a elementos eletronegativos.
Carasek (1996) admite, quanto ao desenvolvimento da aderência no estado endurecido, e
para estabelecer uma relação entre as forças intermoleculares e provenientes do
embricamento mecânico promovido pelos cristais hidratados do cimento, a existência de
uma parcela de aderência que, embora pequena, possivelmente inferior a 10 % do total, é
oriunda de ligações polares covalentes entre os átomos do cimento e do substrato.
Este foi o resultado obtido de uma série de experimentos em que foram unidas duas placas
de vidro através de uma camada de argamassa, de modo a simular a preparação de corpos-
de-prova de alvenaria para o ensaio de resistência de aderência à tração direta. Sendo a
superfície do vidro extremamente lisa, o efeito de travamento mecânico torna-se
desprezível, podendo-se avaliar a parcela de aderência polar covalente. Independentemente
do tipo de argamassa de cimento ensaiada, a resistência obtida foi sempre em torno de
0,021 MPa, que representa menos que 10 % das resistências de aderência à tração direta
normalmente encontradas com corpos-de-prova com tijolos, ou seja, substratos porosos,
nos quais prevalece a aderência mecânica.
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
42
No caso das argamassas mais resistentes, como as de reparo, que atingem resistências de
aderência à tração direta da ordem de 0,5 MPa a 3,0 MPa, ou até mais pode-se esperar que
esta relação seja ainda menor. Isso ocorre devido às maiores resistências mecânicas à
tração e ao cisalhamento da argamassa, que promovem o desenvolvimento de uma
interface também mais resistente.
Carasek (1996) afirma que é praticamente um consenso entre autores de que a resistência
de aderência da argamassa endurecida ao substrato é um efeito essencialmente mecânico,
que ocorre basicamente devido à penetração da pasta aglomerante ou da própria argamassa
nos poros ou entre as rugosidades da base de aplicação. Tomando isto como verdade,
concluímos que as forças intermoleculares possuem uma influência considerada
desprezível no caso da aderência entre argamassa e substrato poroso, sendo a interação
mecânica a grande responsável pela ligação promovida entre as duas superfícies.
Outrossim, as características e propriedades tanto do concreto quanto da argamassa de
reparo determinam o sucesso de um reparo, assim como as variáveis inerentes ao
procedimento de aplicação do material de reparo, como o tratamento superficial do
concreto.
Moreno (2002) afirma que a aderência entre argamassa e concreto é inicialmente
determinada pela reologia da argamassa no estado fresco e pela porosidade do substrato,
que definem a intensidade do fenômeno da capilaridade. Os constituintes da argamassa e
sua proporção de dosagem definem a reologia da mistura fresca, enquanto as
características dos substratos são determinadas por sua porosidade intrínseca e pela técnica
de reparo empregada, incluindo o aumento da rugosidade e a possibilidade de aplicação ou
não de um “veículo”, como ponte adesiva entre a argamassa e o substrato.
Joisel (1981) acredita que exista uma relação entre a tensão de cisalhamento existente na
interface, ou resistência de aderência ao cisalhamento (τ), e a resistência à tração da
argamassa (σt), que indique a eficiência da resistência de aderência entre os dois materiais.
De maneira simplificada, os níveis de aderência propostos por Joisel estabelecem que, para
uma relação τ/σt aproximadamente igual a 1, a aderência é considerada perfeita; até 1/3,
aderência média e, por último, próxima a 1/6, considera-se fraca.
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
43
2.4.2 Fatores que influenciam no mecanismo de aderência
As propriedades do material de reparo aplicado, a preparação da superfície do concreto e a
técnica aplicada na intervenção atuam e influenciam de maneira direta na aderência entre
reparo e substrato. Sua durabilidade é depois influenciada pelos agentes atuantes, sobre os
reparos e a estrutura recuperada.
2.4.2.1 Porosidade do substrato de concreto
De acordo com Carasek (1996), os substratos podem ser caracterizados, dentre outras
propriedades, pela porosidade, pela capacidade de sucção de água e pela textura
superficial. Destas, a capacidade de sucção de água e a porosidade exercem maior
influência na aderência, pois o movimento de água e de outros líquidos nos sólidos porosos
depende em grande parte da sua microestrutura, ou seja, do tamanho efetivo, configuração
e distribuição dos seus poros.
Sabe-se que a relação água/cimento, considerando o processo de formação da
microestrutura heterogênea e porosa dos concretos, e para um mesmo procedimento de
cura, é função direta da porosidade e o grau de interconexão entre os poros capilares,
gerados pela percolação e evaporação de parte da água no interior da pasta de cimento.
Então, estima-se que concretos de menor resistência estrutural podem ser mais facilmente
reparados que concretos de alta resistência.
Segundo Phillipe (1993) apud Sato (1998), a água na fase líquida, em contato com a
superfície porosa do concreto, é transferida para o interior do material predominantemente
pelo processo denominado capilaridade, e que irá definir a sua capacidade de sucção de
água.
Para uma argamassa de reparo rica em aglomerante, bastante fluida e pouco coesa, o gel
cimentício penetra facilmente pelos poros e cavidades do substrato. Como efeito positivo,
há a formação de uma profunda ancoragem, porém, no caso de excesso ou perda de água
da interface com o substrato poroso, as camadas da argamassa mais próximas ao substrato
tornam-se extremamente porosas, gerando falhas de aderência que podem comprometer o
reparo.
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
44
No mercado, encontramos limites de fluidez e de coesão para que o material possa ser
aplicado, tido como ideal aquele que não se solte do substrato, em qualquer posição, e que
se mantenha íntegro e coeso depois de aplicado.
2.4.2.2 Tratamento superficial do substrato
No afã de se ampliar a aderência entre os dois materiais, a adesão inicial e a resultante
resistência de aderência podem ser modificadas através da introdução de um meio que
permita o transporte de partículas aglomerantes em solução proveniente da argamassa de
reparo no estado fresco, independentemente das propriedades intrínsecas do concreto a ser
reparado.
No caso da total nulidade de água nos poros capilares da matriz da argamassa do concreto
ou caso haja uma umidade desconsiderável, a ponto de considerarmos a superfície como
seca, o contato entre a argamassa de reparo e o concreto ocasiona uma perda relevante da
água de amassamento na região próxima à superfície de ligação, que varia em função da
formulação da argamassa e de variáveis de dosagem, como a relação água/cimento,
implicando mudanças na microestrutura da argamassa nessa região.
O fato de a superfície possuir um teor controlado de umidade caracteriza uma condição
favorável ao processo, uma vez que permite a ligação efetiva entre as superfícies,
facilitando o acesso das partículas de cimento em processo de hidratação a tais superfícies,
e, ao mesmo tempo, não prejudicando as propriedades reológicas da argamassa nas
camadas próximas à ela, além de promover uma ligação mais eficiente, no que tange à sua
resistência de aderência e área de contato.
A superfície de contato em questão pode apresentar poros que estejam totalmente saturados
de água, impossibilitando ou prejudicando o ingresso das partículas de cimento e,
conseqüentemente, a ligação.
Neste caso, pode ser considerada inadequada a execução de reparos localizados,
argamassas pouco coesas e extremamente fluidas devido à necessidade de aplicação em
posições desfavoráveis à adesão inicial adequada ou em situações de difícil acesso, e
principalmente devido à necessidade de baixa retração e mínima permeabilidade.
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
45
Assim, a penetração das partículas de cimento na microestrutura do concreto deve recorrer
a um mecanismo de transporte que garanta sua hidratação na parte interior dos poros
capilares, resultando em um ancoramento satisfatório e com elevada resistência.
Tal mecanismo se relaciona intimamente com a aplicação de água, nata de cimento ou uma
outra “ponte de aderência” específica para auxiliar a ligação entre o material de reparo e a
microestrutura porosa da base.
Certifica-se então que o tratamento realizado na superfície do substrato é de notória
importância para a obtenção de uma adesão eficaz. É importante ressalvar que a aplicação
de qualquer mecanismo destinado ao sucesso da aderência deve ser realizado considerando
limites para cada elemento do processo.
2.4.2.3 Natureza e proporção dos materiais constituintes da argamassa
A variação da natureza e a proporção dos constituintes da argamassa de reparo podem
alterar suas propriedades intrínsecas e sua aderência.
Pode-se dizer que o cimento protagoniza o mecanismo de aderência. O estudo da
influência da pasta de cimento Portland no mecanismo de aderência é fundamental para a
evolução e o domínio da tecnologia, não só de argamassas de reparo industrializadas, mas,
também, daquelas preparadas em obra.
Não se encontram estabelecidos no mercado nacional os limites de composições e
respectivas influências do cimento no comportamento das argamassas de reparo, uma vez
que não existem indicadores de limites das adições ativas ou inertes, em relação à
aderência e deformabilidade dessas argamassas.
De acordo com Selmo (1989) apud Moreno (2002), a resistência de aderência à tração de
argamassas mistas de cimento e cal não aditivadas pode ser correlacionada de forma
satisfatória com a relação água/cimento das misturas frescas, tendo sido verificado isto
para dois tipos de substrato, concreto e cerâmico, em diferentes idades. O consumo de
cimento por metro cúbico de argamassa pode também ser relacionado à aderência.
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
46
Para Carasek (1996), a aderência à tração é uma propriedade que apenas se relaciona
diretamente ao consumo de cimento, já que este também reporta os efeitos da incorporação
de ar em argamassas, técnica utilizada em seus estudos.
2.4.2.4 Retração plástica e por secagem inicial da argamassa
A aderência do material de reparo ao substrato é afetada pelo índice de retração da
argamassa, influenciado pela relação água/cimento, finura do agregado miúdo e das
adições usadas e está, intimamente, relacionado às condições ambientais de exposição do
reparo.
Uma retração elevada pode ocasionar uma fissuração que torna o material de reparo
extremamente permeável na interface com o substrato, facilitando, assim, a penetração de
agentes agressivos e de umidade, estimulando os mecanismos de degradação da estrutura
originalmente presentes, conforme Figura 2.6. Esta retração pode ocorrer devido à falta de
molhagem do substrato de concreto e de condições ambientais muito agressivas, devido à
temperatura ou presença de ventos.
Figura 2.6 – Esforços atuantes em virtude da retração da argamassa de reparo
Fonte: Medeiros (2002).
Segundo Powers (1960), a retração por secagem de materiais cimentícios é causada
principalmente pela contração do gel de silicato de cálcio hidratado (C-S-H) na pasta
endurecida de cimento mais água, quando a umidade do gel é diminuída. A pasta de
cimento saturada não permanece dimensionalmente estável quando exposta a ambientes
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
47
que possuem saturação mais baixa (umidade ambiente), porque a perda da água adsorvida
fisicamente pelo C-S-H resulta na tensão de retração. Isto ocorre inicialmente a uma taxa
elevada e diminui em função do tempo com a idade do material. Tais conceitos estão de
acordo com Mehta e Monteiro (1994), que indicam a presença conjunta da fluência. No
mesmo sentido, segundo Neville (1997), foi mostrado que os silicatos de cálcio hidratados
passam por uma mudança de tamanho da rede cristalina de 1,4 nm para 0,9 nm com a
secagem, sendo que a causa fundamental da retração pode ser buscada antes na estrutura
física do gel do que nas suas características químicas e mineralógicas.
O procedimento de cura desempenha papel fundamental para o sucesso de um reparo, já
que a retração por secagem ocorre principalmente nas primeiras idades e durante o
processo de endurecimento. A argamassa de reparo pode apresentar uma retração
acentuada devido à sua pequena espessura e grande área de contato com o ambiente,
facilitando a perda de água para o meio.
Conclui-se que, para obtenção de sucesso na realização de um reparo, deve-se adequar o
material de reparo ao concreto a ser reparado e analisar em conjunto as condições de
execução, além dos cuidados básicos com o preparo da superfície antes da aplicação.
2.4.3 Critérios de aderência
O critério estabelecido por diferentes normas e instituições geralmente se baseia no ensaio
de resistência de aderência por arrancamento à tração.
Moreno (2002) cita em seu trabalho, como primeira referência, o artigo técnico de número
38 da The Concrete Society, Reino Unido. Segundo Decter e Keeley (1997), o valor
mínimo para a resistência de aderência de argamassas de reparo aplicadas em concreto,
prescrito pela Concrete Society Technical Report (UK) 1991, é de 0,8 MPa, obtido por
meio de ensaio de arrancamento à tração.
No Japão, a norma JIS A 6203 apud Moreno (2002), que se refere a requisitos de qualidade
para dispersões poliméricas e pós de polímero redispersíveis como modificadores de
cimento, aponta que a resistência de aderência destas argamassas poliméricas deve ser
superior a 1,0 MPa.
Capítulo 2 Recuperação Estrutural
48
Conforme Lutz (2000) apud Moreno (2002), o German Committe on Reinforced Concrete
(Comitê Alemão do Concreto Armado) recomenda quatro categorias ou tipos de
argamassas de reparo que devem ser aplicadas em função dos requisitos de recuperação do
concreto. A aderência é avaliada pelo ensaio de resistência de aderência à tração direta, e
os critérios variam para cada categoria de argamassa de reparo e em função de algumas
situações impostas pelo ensaio, como quando realizado em campo, para argamassa
aplicada em viga de concreto de 1 m, para argamassas aplicadas a 5
o
C ou 30
o
C ou após
ciclos de gelo-degelo. Os valores mínimos estabelecidos vão de 1,0 MPa, para argamassa
de reparo superficial quando o ensaio é realizado em campo, até 2,5 MPa, para argamassas
de reparo submetidas a condições de serviço mais severas e cuja função exige maior
ligação entre reparo e estrutura.
Capítulo 3 Microscopia
49
CAPÍTULO 3
MICROSCOPIA
3.1 MICROSCOPIA APLICADA AO CONCRETO
No estudo dos materiais de construção, sabe-se que há uma relação de dependência entre o
processo de fabricação, sua microestrutura e suas propriedades. Dessa forma, a análise de
imagens vem colaborar para melhorar o nível de conhecimento destes materiais, sendo
uma ferramenta adequada para avaliar as mudanças morfológicas que ocorrem durante o
seu processamento e seu uso. A análise de imagens exerce um papel importante,
particularmente na tecnologia do concreto, pois com ela há possibilidade de relacionar, de
alguma forma, a microestrutura com suas propriedades físicas e mecânicas.
Algumas técnicas de caracterização são amplamente aplicadas. Dentre elas: Microscopia
eletrônica de varredura (MEV); Microscopia eletrônica de transmissão (MET);
Microscopia Ótica (MO), Difração de raios X (XRD); Microanálise de raios X (EDX);
Microscopia de força atômica (AFM); Espectroscopia de massa por íons secundários
(SIMS); Espectroscopia de fotoelétrons (XPS); Espectroscopia de elétrons Auger (AES);
Espectroscopia Raman; Fluorescência de raios X (XRF); Absorção Atômica;
Espectroscopia de retrodispersão de Rutherford (RBS); Luminescência, Tempos de Vida;
Medidas de constantes dielétricas; Microssonda; Análise Térmica e outras (UMINHO –
2003).
Originou-se da necessidade de se obterem soluções específicas sobre os materiais, cujas
técnicas convencionais para avaliação de suas propriedades não forneciam respostas
adequadas. As técnicas de análise dessas imagens se desenvolveram muito rapidamente
graças ao progresso na aquisição das imagens e também ao desenvolvimento de algoritmos
Capítulo 3 Microscopia
50
e softwares para medir sua interpretação. Assim, permite assegurar que a associação entre
as propriedades e a estrutura do material seja suficientemente compreendida, e que o seu
comportamento seja previsto.
Historicamente, métodos manuais ou semi-automáticos usados para medir as
características dos poros já tinham sido publicados em 1898. Com o rápido progresso da
tecnologia de computadores e softwares, da aquisição, armazenagem, apresentação de
imagens, e dos novos algoritmos, várias técnicas de observação microestrutural estão
sendo desenvolvidas e graças ao desenvolvimento de microscópios cada vez mais potentes.
Pesquisadores da área da engenharia civil também passaram a usar a análise automática de
imagens para caracterizar seus materiais por um método mais acessível e com bases
estatísticas. As mudanças morfológicas ocorridas durante o processo de fabricação e de
uso, e a estreita ligação entre a microestrutura e as propriedades físicas e mecânicas dos
materiais podem ser mais bem analisadas com o uso destas técnicas.
Com isso, está sendo possível atender às expectativas quanto ao desenvolvimento de novos
materiais, como os concretos de alta e ultradesempenho, novos concretos leves, ou
concretos de pós-reativos.
Os trabalhos baseados em análise de imagem estão sendo publicados, o permite tornar a
análise de imagem um recurso imprescindível para o desenvolvimento da tecnologia do
concreto.
3.1.1 Microscopia dos materiais à base de cimento
Para entender a relação entre as propriedades físicas e a microestrutura, é necessário ter
acesso à diversidade da morfologia e suas características e à sua heterogeneidade.
3.1.1.1 Microscopia do clínquer
A análise microscópica do clínquer proporciona informações úteis sobre a sua estrutura e
processo de produção. A avaliação microscópica de seções polidas proporciona uma
inspeção visual sobre o tamanho dos cristais, sua morfologia, distribuição dos cristais e
quantidade presente. O emprego do microscópio óptico é mais difundido e menos oneroso
Capítulo 3 Microscopia
51
e necessita da análise de imagens para separar suas fases. As seções podem ser ou não
atacadas por compostos químicos para evidenciar a presença de determinada fase. Mais
recentemente, desenvolvem-se pesquisas para a obtenção de dados do clínquer por análise
semi-automática, cujas imagens são obtidas em diferentes tons de cinza e processadas por
computador, como mostra a Figura 3.1.
Figura 3.1 – Seção polida do clínquer.
Fonte: DIAMOND E HUANG (2001)
3.1.1.2 Hidratação da pasta de cimento
Vários métodos têm sido utilizados para o estudo da hidratação da pasta de cimento, como
a difração de raios-X e a análise termogravimétrica, cada qual com suas dificuldades e
limitações. Assim, técnicas de microscopia para o estudo da hidratação do cimento vêm
sendo aprimoradas constantemente. Uma técnica para analisar o grau de hidratação do
concreto consiste em preparar a amostra e observá-la por elétrons retroespalhados. As
várias fases presentes são diferenciadas através de tons de cinza. Essas imagens são
analisadas em um software de computador que calcula as áreas em uma escala escolhida,
que vai de escura à brilhante. Escolhendo-se um determinado brilho, os pontos que contêm
aquele nível de cinza são vistos na tela com um contraste de cor apropriado, sendo
mostrada a porcentagem daquele nível de brilho na imagem. (ASH et al., 1993).
A pasta de cimento Portland endurecida é constituída essencialmente de três níveis de
cinza: os produtos de hidratação, os grãos anidros e os poros. Para a análise das imagens
em argamassas e concretos há um nível a mais e os grãos de agregados são facilmente
identificados na imagem, e então removidos pelo computador, pois o que interessa é a
pasta de cimento hidratado. Na área da imagem observada elimina-se a área
Capítulo 3 Microscopia
52
correspondente aos agregados, as áreas ocupadas pelos poros e pelos grãos anidros
(identificados pelos tons de cinza). O resultado de cada imagem é a área ocupada pela
pasta de cimento hidratado. O resultado final é a média da área ocupada pela pasta de
cimento hidratado obtida em dez imagens feitas de maneira aleatória na amostra. A
ampliação empregada pode ser de até 450 vezes (ASH et al., 1993).
3.1.1.3 Relação água/cimento
A relação água/cimento é um parâmetro importante para o concreto não só pela relação
direta com a sua resistência, mas também pela sua influência quanto à durabilidade do
concreto. Isso ocorre devido à estreita ligação entre a relação a/c e a porosidade capilar da
pasta de cimento. Uma porosidade capilar elevada resulta em permeabilidade a agentes
agressivos, tais como líquidos nocivos e gases. Portanto, a determinação da relação a/c de
concretos endurecidos é relevante para um diagnóstico da deterioração, assim como para
assegurar a qualidade do concreto em geral. Métodos ópticos têm sido desenvolvidos para
determinar a relação a/c do concreto endurecido, usando seções delgadas. O método é
baseado no princípio de que a intensidade da fluorescência do epóxi em pastas de cimento
é proporcional à porosidade capilar. Quanto maior a intensidade da fluorescência, maior a
porosidade capilar e maior também a relação a/c. Neste caso, a intensidade de
fluorescência de seções delgadas em amostras de concreto com uma relação a/c não
conhecida é comparada visualmente com uma série referencial de seções delgadas de
concreto com relação a/c conhecida, cimento bem definido, e cura sob condições
padronizadas por 28 dias (ELSEN, 1995).
A relação a/c medida é calculada como a média dos valores das áreas selecionadas. A
principal desvantagem desse método é que as áreas relevantes são definidas
interativamente pelo operador para cada imagem, consumindo muito tempo. Outra
desvantagem é que esse método não é totalmente reprodutível. As áreas examinadas são
definidas e, assim, influenciadas pela subjetividade do operador, que poderá escolher as
mesmas áreas; neste caso, o resultado pode não ser representativo da amostra. No método
semi-automático de entrada de dados, o operador define uma série de parâmetros para o
início das medições, entre elas os tons de cinza para seleção da pasta de cimento. Após
essa operação, as medidas são executadas automaticamente. No método totalmente
Capítulo 3 Microscopia
53
automático, uma seção delgada é “escaneada” e o nível cinza do histograma para cada
imagem é acumulado e armazenado.
3.1.1.4 Reatividade álcali-agregado
Segundo Hasparyk (1999) a reação álacali-agregado é um fenômeno patológico que pode
levar à ruína do concreto, quando uma investigação preliminar criteriosa não é realizada
com os materiais a serem empregados na estrutura. Essa reação envolve certos agregados
contendo minerais reativos e as soluções alcalinas presentes no concreto ou argamassas.
São vários os constituintes mineralógicos causadores da reação que, dependendo do tipo
reativo, podem ser variáveis. Uma vez instalada a reação, e na presença de umidade, são
gerados produtos expansivos capazes de causar tensões internas que podem exceder a
resistência à tração do concreto, levando à sua fissuração.
A durabilidade das estruturas de concreto tem sido fator relevante e preocupante dentro do
meio técnico. Hoje, esta durabilidade vem sendo bastante estudada quanto à reação álcali-
agregado, que é uma patologia que afeta as estruturas em longo prazo. Mesmo que as
causas da deterioração do concreto sejam investigadas por muito tempo, a compreensão
dos mecanismos de expansão é ainda bastante limitada (MONTEIRO et. al, 1995).
Hasparyk (1999) afirma que a reação álcali-sílica pode ocorrer na presença: da sílica
amorfa (opala), do quartzo criptocristalino fibroso (calcedônia), de polimorfos cristalinos
metaestáveis de sílica (cristobalita e tridimita), do quartzo microcristalino ou “tensionado”
e nas formas amorfas ou precariamente cristalinas (vidros e mineralóides).
Grandes construções têm sido afetadas pela reação álcali-agregado: barragens, pontes,
torres e pavimentos de aeroportos. A possibilidade de ocorrência da reatividade álcali-
agregado está sendo investigada com o auxílio da microscopia. Em alguns estudos, a
microscopia é usada como uma ferramenta de auxílio para verificação da formação do gel
expansivo em concretos produzidos com agregados potencialmente reativos. Neste caso,
mesmo os concretos que não apresentam expansão podem apresentar a formação do gel,
verificado por meio de microscopia eletrônica (VALDUGA, 2002).
Capítulo 3 Microscopia
54
3.1.2 Zona de transição e formação de microfissuras
A zona de transição do concreto é a região delimitada pela interface do agregado e a pasta
de cimento. Apresenta espessura de, aproximadamente, 30 µm, dentro da qual a porosidade
aumenta à medida que se aproxima da superfície do agregado. Embora sejam constituídas
dos mesmos elementos, a estrutura e as propriedades da zona de transição diferem daqueles
correspondentes à matriz da pasta.
Somente com o desenvolvimento das técnicas de análise de imagens foi possível observar
essa região, cujas características são tão importantes para compreender os fenômenos que
ocorrem na macroestrutura do concreto. Vários resultados de investigações da zona de
transição por análise de imagens têm sido divulgados, e o exame das amostras por MEV
tem produzido resultados que comprovam o comportamento do concreto em diversas
situações. (DIAMOND e HUANG, 2001).
Figura 3.2 – Análise da imagem ao redor do grão de areia.
(a) área da imagem, (b) níveis de cinza da zona de transição.
(b) (c) e (d) imagem binária segmentada mostrando os poros e o hidróxido de
cálcio, respectivamente.
Fonte: DIAMOND E HUANG (2001)
Capítulo 3 Microscopia
55
Além da grande quantidade de cristais de hidróxido de cálcio orientados e de vazios
capilares, uma característica da zona de transição é a formação de microfissuras. Qualquer
que seja a sua origem (mecânica, física, ou química), a degradação dos materiais à base de
cimento freqüentemente origina-se do início e da propagação de microfissuras.
Estudos indicam que a presença de microfissuras pode influenciar de maneira significativa
as propriedades mecânicas e de transporte de massa do concreto. Por esse motivo, a
otimização e/ou a atribuição das propriedades macroscópicas do material requer o
desenvolvimento de uma ferramenta segura que seja capaz de quantificar as suas
características microestruturais (AMMOUCHE, 2000).
Pesquisas empregando a microscopia em materiais à base de cimento têm avaliado as
microfissuras do concreto. Neste caso, tenta-se relacionar a influência do estado de
microfissuras do concreto (ou argamassa) com as propriedades físicas, ou avaliar a
evolução da microfissura com aplicação de um carregamento (ação térmica, retração,
fissura ou carregamento mecânico). Dois métodos diferentes podem ser utilizados para
análise das microfissuras: uma por observação e outra por análise quantitativa (RINGOT e
BASCOUL, 2001).
A primeira dificuldade em usar imagens para investigação de modelo de fissuras vem do
fato de que as imagens fornecem uma informação local do material. Na maioria das vezes,
há uma desproporção entre o tamanho da amostra extraída e das dimensões das imagens.
As técnicas baseadas em imagens fornecem uma quantidade de dados que são abundantes,
mas parciais em apenas um campo, devendo haver cuidado quando da análise desses
campos.
A segunda dificuldade está na segmentação das fissuras, que consiste em reconhecê-las
dentro das imagens. No passado, essa operação era feita manualmente. Hoje se emprega a
análise de imagens para esse fim, por meio de um processo automático.
Freitas (2001) analisou imagens obtidas de amostras de concretos, relacionando a formação
de microfissuras ao grau de hidratação.
Capítulo 3 Microscopia
56
3.1.2.1 Análise da superfície da fratura do concreto em 3 dimensões
A superfície da fratura de concretos pode ser investigada com o auxílio de programas que,
por meio de imagens, reconstituem essa superfície. A forma de como estudar a natureza e
as características da superfície de fratura é uma área de pesquisa importante que vem sendo
desenvolvida na área das ciências dos materiais e de mecânica da fratura.
Devido às limitações de métodos experimentais anteriores, as superfícies de fratura em
materiais como concreto são apenas idealizadas como planos 2D, o que condiciona a
validade dos parâmetros de medidas da fratura, resultando em conclusões incorretas.
Assim, a maioria das informações sobre a micro e mesoestrutura, e os mecanismos de
fadiga dos materiais são ignoradas, e um problema a ser solucionado é a maneira de medir
e quantificar corretamente a superfície da fratura do concreto (WU, 2000).
Atualmente, tem-se utilizado uma nova técnica experimental baseada em triangulação a
laser e reconstrução da fratura superficial em 3D. Os resultados da reconstrução de um
objeto padrão e da superfície de fratura de uma amostra de concreto indicam que essa
técnica tem uma precisão aceitável. Comparado com os métodos de análises tradicionais,
esse método é adequado para determinar a dimensão da fratura e outros parâmetros da
superfície da fratura.
A análise quantitativa da rugosidade e a característica da fratura das superfícies de
concreto são realizadas de acordo com o parâmetro de rugosidade Rs (que é a razão da área
atual superficial com superfície projetada). Esses estudos mostram que a verdadeira área
superficial da fratura é cerca de 45,4% maior do que a área nominal da fratura (WU, 2000).
Dois métodos de cálculo da dimensão da fratura estão sendo empregados: a técnica slit-
island e a análise da seção vertical da superfície. Essas novas técnicas podem ser um
grande avanço para medir precisamente os parâmetros da fratura e eventualmente aumentar
o nível de conhecimento sobre os mecanismos de fadiga do concreto.
Capítulo 3 Microscopia
57
Figura 3.3 – Reconstrução da superfície de fratura do concreto
(a) superfície original e (b) perfil em 3D a superfície da fratura
Fonte: (WU, 2000)
3.1.2.2 Análise da microfissura do concreto em 3 dimensões
Segundo Ringot e Bascoul (2001) a análise de microfissuras em 3D é uma das mais novas
técnicas que empregam a microscopia. Pode-se ter acesso a parâmetros 3D em medidas
executadas em 2D, usando uma relação estereológica. Por meio de uma série de métodos
matemáticos é possível definir os parâmetros 3D com medidas obtidas em 2D nas seções
da estrutura.
A maior parte dos métodos para obter dados tridimensionais consiste em recuperar o
desenho espacial da fissura a partir de observações feitas em diferentes tipos de planos. Se
esses planos são paralelos, então essa técnica se torna similar à tomografia usada em
ciências médicas. Infelizmente, essa aproximação requer grande quantidade de dados, e
isso não é a realidade da ciência dos materiais. Embora existam alguns trabalhos
publicados, são restritos a pequenas quantidades (RINGOT e BASCOUL, 2001).
A simulação 3-D parece ser capaz de fornecer resultados precisos e uma geometria
realística do modelo de fissuras em quantidades razoáveis de dados em curto prazo.
Entretanto, modelos estatísticos para simular o modelo da fissura podem ser usados para
obter resultados importantes, em particular sobre as propriedades de percolação de líquidos
e gases nos concretos, atribuídos à conectividade das fissuras (RINGOT e BASCOUL,
2001).
Capítulo 4 Metodologia Experimental
58
CAPÍTULO 4
METODOLOGIA EXPERIMENTAL
4.1 PLANEJAMENTO DO PROGRAMA EXPERIMENTAL
Para realização do experimento, foi considerado que o substrato deveria ter todas as
informações de caráter físico e quimico, pois, caso houvessem interações com o material
de reparo, seria possível sua identificação.
Outro ponto considerado relevante foi que o substrato e o reparo já estivessem com idade
superior à formação dos principais compostos hidratados do cimento, ou seja, com os
compostos já totalmente formados.
O desenvolvimento de um programa experimental iniciando pela execução do substrato,
provavelmente, necessitaria de um período superior a um ano, o que tornaria inviável o
atual projeto de pesquisa.
Diante do exposto, as amostras utilizadas no programa experimental foram obtidas em
blocos de concreto recuperados em abril de 2000, quando do desenvolvimento e conclusão
da pesquisa: “Estudo de Técnicas de Recuperação de Estruturas Danificadas Por Corrosão
Das Armaduras” (CHAVES e DA SILVA 2004).
O programa experimental foi realizado em duas etapas distintas:
A primeira etapa tratou da obtenção e preparação das amostras a partir dos blocos. Foi
realizada uma descrição detalhada de todos os procedimentos de preparação visando
facilitar futuros trabalhos nesta linha de pesquisa.
Capítulo 4 Metodologia Experimental
59
A segunda refere-se à análise das regiões de estudo e obtenção das micrografias em
amostras fraturadas e polidas mediante MEV e MO.
Para efeito de melhor entendimento desse processo experimental são apresentadas a seguir
as informações mais importantes da elaboração dos blocos e de sua recuperação.
4.2 DESCRIÇÃO DOS BLOCOS USADOS PARA OBTENÇÃO DAS
AMOSTRAS
Os blocos recuperados utilizados neste trabalho foram concretados em dezembro de 1999 e
permaneceram em câmara úmida todo o mês de janeiro de 2000.
4.2.1 Caracterização do concreto
Foi adotado o cimento Portland composto (CP-II-E-32), por ser um cimento de uso
corrente na construção civil (Tabela 4.1). Todos os resultados foram obtidos utilizando-se
as normas brasileiras. Os ensaios e as respectivas normas poderão ser identificadas em
Chaves e Da Silva (2004).
Tabela 4.1 – Resultado dos ensaios de caracterização química do cimento
segundo normas brasileiras.
ANÁLISE TEORES(%)
Perda ao Fogo 4,57
Dióxido de silício (SiO
2
) 24,73
Óxido de alumínio (Al
2
O
3
) 7,77
Óxido de ferro (Fe
2
O
3
) 2,98
Óxido de Cálcio (CaO) 54,02
Óxido de Magnésio (MgO) 2,50
Trióxido de enxofre (SO
3
) 1,74
Equivalente alcalino em Na
2
O 0,04
Óxido de Potássio (K
2
O) 0,76
Resíduo Insolúvel 1,60
Fonte: Chaves e Da Silva (2004).
A Tabela 4.2 apresenta resultados dos ensaios de caracterização física do cimento usado na
confecção do concreto, ficando comprovada a sua conformidade, segundo os limites
estabelecidos pela norma brasileira.
Capítulo 4 Metodologia Experimental
60
Tabela 4.2 – Resultado dos ensaios de caracterização física do cimento.
ENSAIOS REALIZADOS RESULTADOS
Área específica (m
2
/kg) 340,36
Massa Específica (g/cm
3
) 2,956
Módulo de Finura 4,720
Início de Pega (h) 2,71
Fim de Pega (h) 5,01
Água de Consistência da Pasta (%) 29,38
Fonte: Chaves e Da Silva (2004).
Os agregados graúdos utilizados foram basálticos provenientes de rochas do município de
Uberlândia. Os agregados miúdos são areias naturais extraídas de rios da região de
Uberlândia. A composição granulométrica do agregado graúdo apresentou dimensão
máxima característica 25 mm e módulo de finura 7,57, já a do agregado miúdo 2,4 mm de
dimensão máxima característica e módulo de finura 2,19.
A dosagem do concreto foi realizada pelo método da ABCP, com base nas características
da areia, brita e cimento para fck de 13,5 MPa, simulando a resistência do concreto em
uma estrutura de aproximadamente 30 anos de idade, conforme seqüência abaixo. O traço
em massa utilizado foi: 1 : 2,58: 3,54 ; a/c= 0,65 e consumo de cimento de 308 kg /m
3
Moldaram-se os blocos e 6 corpos de prova cilíndricos de 150 x 300 mm para verificação
da resistência do concreto aos 7 e 28 dias, obtendo-se conforme Tabela 4.3, os seguintes
valores:
Tabela 4.3 – Resistência dos corpos de provas aos 7 e 28 dias.
No CP
1 2 3 4 5 6
Idade (dias)
7 7 7 28 28 28
φ médio (cm)
14,87 14,99 15,06 14,89 15,21 15,08
Carga ruptura (kN)
246 244 268 292 294 292
Resistência (MPa)
13,81 13,98 15,04 16,77 16,19 16,34
Fonte: Chaves e Da Silva (2004.)
f
c28
= 16,43 MPa; desvio relativo máximo = 2,07%
A cura do concreto foi realizada com a utilização de câmara úmida durante 28 dias.
Capítulo 4 Metodologia Experimental
61
4.2.2 Preparo e descrição do substrato e aplicação das argamassas de
reparo
Para a recuperação dos blocos de concreto, dos quais foram extraídas as amostras, foram
adotados 4 tipos de materiais, aplicados sobre o substrato. A descrição do material de
reparo foi extraída do catálogo do fabricante.
4.2.2.1 Preparo do substrato
Os procedimentos empregados no preparo do substrato foram:
- Com auxílio de uma máquina de corte a disco, cortou-se, aproximadamente, 4,0 cm das
extremidades superior e lateral dos blocos mais próxima às armaduras, retirando-as.
- Na base que recebeu a argamassa de recuperação foram feitas pequenas escarificações,
mantendo-a rugosa, mas nivelada, para melhor aderência entre o concreto do substrato e a
argamassa de recuperação, conforme Figura 4.1.
Figura 4.1 – Blocos preparados para a recuperação.
Fonte: Chaves e Da Silva (2004).
- Foram utilizados 8 blocos de concreto, sendo que, para cada 2 blocos, foi utilizado um
material diferente para recuperação.
Capítulo 4 Metodologia Experimental
62
4.2.2.2 TIPO 1 – Argamassa de alta resistência – Blocos 1 e 2.
O Material é um produto pré-dosado bicomponente de base cimentícia modificado com
polímeros, tixotrópico, elaborado para permitir a execução de reparos superficiais e
recuperação de estruturas de concreto, com espessura de até 70 mm. O produto possui
excelente resistência mecânica; baixa permeabilidade; ótima aderência em superfície de
concreto velho e/ou argamassas; não apresenta fissuras nem trinca; baixa retração.
Os blocos 1 e 2 foram recuperados da seguinte forma:
- Removeu-se qualquer tipo de impurezas na superfície a reparar, mantendo-na umedecida
antes da aplicação da argamassa.
- Com o traço 1: 8, de componente B e A, respectivamente, foram misturados os materiais
em um recipiente limpo, adicionando a parte líquida (componente B) na parte sólida
(componente A), agitou-se de forma contínua até a homogeneização da mistura, através de
um misturador mecânico de baixa velocidade.
- Posteriormente, aplicou-se o material com colher de pedreiro, comprimindo sobre a
superfície uma espessura de, no máximo, 3 cm por camada. A ponte de aderência entre
camadas foi feita com o próprio componente B, através de aspersão. A cura do corpo de
prova foi realizada com a utilização de câmara úmida.
4.2.2.3 TIPO 2 – Argamassa monocomponente para recapear e / ou estucar - Blocos 3
e 6.
O produto é uma argamassa com base cimentícia, monocomponente, de rápida secagem e
modificado com polímeros, ideal para nivelar, recapear ou estucar a superfície de concreto
deteriorado, para uso interior e exterior. O produto é de fácil aplicação e manejo; excelente
trabalhabilidade e acabamento; baixa permeabilidade; desenvolvimento rápido de
resistência; pronto para tráfego de pessoal em 6 horas; apropriado para capas finas.
Os blocos 3 e 6 foram recuperados conforme o seguinte procedimento:
Capítulo 4 Metodologia Experimental
63
- Removeu-se qualquer tipo de impurezas na superfície a reparar e manteve-a umedecida,
antes da aplicação da argamassa.
- Com o traço 1: 0, 12, de material em kg e de água em litros, respectivamente, misturou-se
os materiais em um recipiente limpo, adicionando a água na argamassa até a
homogeneização da mistura, através de um misturador mecânico de baixa velocidade.
Posteriormente, aplicou-se o material com colher de pedreiro, comprimindo-o sobre a
superfície. A cura foi realizada com a utilização de câmara úmida.
4.2.2.4 TIPO 3 – Argamassa de reparo de concreto em grandes espessuras – Blocos 4
e 5.
O material: é um produto cimentício em pó, modificado com polímero e fibras sintéticas,
monocomponente, pronto para o uso. Misturado em água, produz uma argamassa
reoplástica e tixotrópica de alta resistência, com retração compensada e sem segregação,
recomendada para reparos estruturais em concreto, em camadas de até 4 cm de espessura.
O produto produz altas resistências mecânicas; ótima aderência à armadura e ao concreto;
grande impermeabilidade mesmo em ambientes agressivos; aplicação manual ou por
projeção; longo tempo de trabalhabilidade; não contém cloretos nem partículas metálicas.
Os blocos 4 e 5 foram recuperados da seguinte maneira:
- Removeu-se qualquer tipo de impurezas na superfície a reparar e manteve-a umedecida,
antes da aplicação da argamassa.
- Com o traço 1: 0,12, de material em kg e de água em litros, respectivamente, misturou-se
os materiais em um recipiente limpo, adicionando a água na argamassa até a
homogeneização da mistura, através de um misturador mecânico de baixa velocidade.
- Posteriormente, aplicou-se o material com colher de pedreiro, comprimindo-o sobre a
superfície. A cura foi realizada com a utilização de câmara úmida.
Capítulo 4 Metodologia Experimental
64
4.2.2.5 TIPO 4 – Ponte de aderência com adesivo epóxico e argamassa similar ao
concreto do substrato - Blocos 7 e 8.
O reparo TIPO 4 foi realizado com argamassa com o mesmo traço do concreto do bloco e
uma ponte de aderência. A ponte de aderência foi um adesivo epóxico de dois
componentes, sem solventes e tixotrópico. Este adesivo confere a união entre concreto e
chapas metálicas, recomendado como aderente de argamassas de cimento ou epóxica, na
reparação de elementos estruturais. O produto possui excelente aderência; resistência à
tração sensivelmente superior ao próprio concreto; é impermeável à água e ao óleo.
Os blocos 7 e 8 foram recuperados com argamassa de cimento, areia, pedrisco e ponte de
aderência, da seguinte forma:
- Removeu-se qualquer tipo de impurezas na superfície a reparar e aplicou-se uma camada
da ponte de aderência, antes da aplicação da argamassa.
- Com o mesmo traço em massa do concreto a ser recuperado (1 : 2,58 : 3,54 a/c = 0,65),
porém com a utilização de pedrisco e de aditivo superplastificante na proporção de 1,16%
do material cimentício, misturou-se os materiais na betoneira até a sua homogeneização.
- Posteriormente, aplicou-se o material com colher de pedreiro, comprimindo-o sobre a
superfície. A cura foi realizada com a utilização de câmara úmida.
4.2.3 Resistência à compressão das argamassas de recuperação
A Tabela 4.4 reflete os valores de resistência à compressão dos corpos de prova cillíndiros
(50 x 100 mm) dos materiais de recuperação.
Tabela 4.4 – Resistência dos corpos de provas das argamassas de reparo.
No Blocos 1 e 2 3 e 6 4 e 5 7 e 8
Material TIPO 1 TIPO 2 TIPO 3 TIPO 4
Idade (dias) 3 3 3 3
φ médio
(cm)
5,01 5,00 5,00 4,97
Carga ruptura
(kgf)
4800 4200 8760 1200
Resistência
(MPa)
24,35 21,39 44,61 6,19
Fonte: Chaves e Da Silva (2004).
Capítulo 4 Metodologia Experimental
65
4.3 OBTENÇÃO E PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS
A partir dos blocos confeccionados e recuperados, conforme descrito anteriormente, foram
extraídas as amostras. A Figura 4.2 ilustra o local exato de onde foram extraídas as
amostras, ou seja, da interface entre o material de reparo e o substrato.
Figura 4.2 – Esquema do bloco recuperado.
Foram feitos vários retalhos ao longo do comprimento dos corpos de prova, visando apenas
a região de interface entre os materiais, mediante o auxílio de uma máquina de corte a
disco. (Figura 4.3)
Figura 4.3 – Extração das amostras.
Após o processo de corte e picotação, as amostras passam por um processo de redução
geométrica refinada, Figura 4.4, a fim de atenderem ao espaço físico do microscópio.
Capítulo 4 Metodologia Experimental
66
Figura 4.4 – Refinamento geométrico das amostras.
As amostras foram divididas em dois grupos, sendo o primeiro de amostras fraturadas,
onde é possível a visualização de características morfológicas e sua heterogeneidade entre
o substrato e o reparo, e o segundo, de amostras polidas, onde detalhes topográficos da
junção podem ser observados. Detalharemos aqui o processo de obtenção de ambas.
Como o objetivo foi estudar várias regiões da interface nos quatro tipos de reparo, foram
extraídas cerca de 65 amostras, tendo sido aproveitadas 24, sendo 3 amostras fraturadas e 3
polidas, para cada tipo de material de reparo.
4.3.1.1 Preparação das amostras fraturadas
Ao final do processo, cerca de 4 a 6 horas por amostra, a característica principal das
amostras fraturadas é a conservação do seu aspecto superficial, originado no ato da ruptura.
Vide Figura 4.5
Figura 4.5 – Amostra fraturada.
Capítulo 4 Metodologia Experimental
67
Como o concreto é um material inerte, deve ser feita a sua metalização para que a obtenção
de imagens no Microscópio Eletrônico de Varredura seja possível. Para uma melhor
qualidade final da imagem, esse processo de metalização das amostras foi realizado com
ouro.
Esse processo é superficial. Torna-se então necessária a aplicação de um filete de tinta
metálica (Figura 4.6), para que se feche o circuito entre a superfície dourada e a base
metálica que receberá a amostra. É importante ressaltar aqui que, sem tal processo, não é
possível a captação da imagem pelo monitor.
Figura 4.6 – Processo de preparação das amostras para sua metalização.
Após o procedimento, as amostras são fixadas na haste e colocadas em uma pré-câmara de
vácuo. É nesta câmara que o processo de metalização das amostras é realizado. O alvo de
ouro é fixado em sua parte superior, como nos mostra a Figura 4.7, logo acima da base
onde se encontram as amostras.
A câmara é então lacrada e inicia-se o processo de obtenção do vácuo. Reduz-se a pressão
no interior da câmara para aproximadamente 7 Pa.
Em seguida, é injetado argônio para esterilizar o ambiente, livrando-o assim de qualquer
impureza. O processo é lento, por se tratar de um material poroso, e chega a tardar 20
minutos.
Capítulo 4 Metodologia Experimental
68
Figura 4.7 – Pré-Câmara de vácuo.
A qualidade deste vácuo é de suma importância para o processo de metalização da
amostra.
No processo de ionização, deve-se evitar que os elétrons choquem-se com quaisquer
partículas de gás, pois isto desviaria o seu foco.
Inicia-se então o processo de metalização, mediante uma corrente de 20 mA (Figura 4.8 a).
Dois físicos alemães, Max Plank e Albert Einstein, sugeriram, no início do século XX, que
um feixe de luz não é apenas uma onda eletromagnética com suas características usuais de
freqüência, amplitude e fase.
(a)
(b)
Figura 4.8 – a) Processo de metalização das amostras, b) Emissão da luz característica do
ouro
Capítulo 4 Metodologia Experimental
69
Einstein propôs que a luz é composta de entidades discretas (isto é, separadas e distintas
entre si), com uma energia proporcional à freqüência da onda luminosa: os fótons. Essa
teoria ficou conhecida como Efeito Fotoelétrico.
Cada elemento emite luz com cores extremamente bem definidas e características. Para o
ouro, isto pode ser observado na (Figura 4.8 b). O tempo necessário para realização do
processo de metalização das amostras não excede 4 minutos. A Figura 4.9 nos mostra o
final deste processo.
Figura 4.9 – Amostras metalizadas e fixadas na haste.
Ao final do processo, cerca de 1 hora por amostra, as amostras estão prontas para serem
inseridas no MEV. Na seqüência, elas são colocadas no MEV em uma câmara submetida,
agora, a um sistema de vácuo eletrônico. O processo de obtenção do vácuo se repete, mas,
agora, de uma maneira mais criteriosa. O tempo necessário aqui é de pelo menos 4 horas,
devido ao fato de o concreto ser um material bastante poroso.
O contato manual com as amostras deve ser evitado, a fim de não contaminar as amostras
com resíduos indesejáveis. São minuciosamente inseridas na câmara com o auxílio de uma
pinça, como mostra a Figura 4.10 a).
Após o processo de metalização, as amostras são fixadas agora na haste da câmara do
MEV. Uma vez posicionada sobre a base, não será permitida nenhuma espécie de
movimento por parte destas amostras em relação à referida base.
Capítulo 4 Metodologia Experimental
70
(a)
(b)
Figura 4.10 – Inserção das amostras na câmara de vácuo do MEV.
Através de ajustes mecânicos possíveis devido a pequenas alavancas visíveis na Figura
4.10 b), é possível direcionar as amostras, que se encontram solidárias à base metálica,
dentro da câmara agora lacrada, em todas as 3 dimensões conhecidas.
A câmara é então fechada e submetida a uma pressão aproximada de 5 Pa, para obtenção
do vácuo necessário. Finalmente, as amostras fraturadas estão aptas à observação mediante
MEV.
4.3.1.2 Preparação das amostras polidas
Para que as amostras sejam polidas, é necessário que estejam embutidas em um invólucro
metálico (Figura 4.11 a). Esse invólucro atua como proteção física e química para a
amostra, além de auxiliar na eficácia do processo de polimento.
A embutidura é a mesma para cada tipo de recuperação realizada. Neste experimento, foi
realizada com o auxílo de uma resina polimérica, muito utilizada por profissionais da área
médico-odontológica. Trata-se de um material bicomponente de fácil aplicação e manejo,
boa trabalhabilidade, desenvolvimento rápido de resistência e ótima aderência.
A amostra é embutida de “cima pra baixo”, ou seja, ao final do processo, a superfície de
interesse, onde a interface entre o material e o reparo é visível, se encontrará na parte
inferior do anel. Para isso, é necessário que o envoltório metálico esteja colocado sobre
uma película plástica (Figura 4.11 b) afim de que essa superfície de interesse ao estudo seja
preservada.
Capítulo 4 Metodologia Experimental
71
(a)
(b)
Figura 4.11 – a) Invólucro metálico b) Proteção à superfície.
O processo de obtenção da resina envolve a mistura progressiva e contínua de sua porção
sólida, pó, e a outra líquida. A reação é rápida e apresenta caráter exotérmico. É
aconselhável o uso de máscara, devido ao forte cheiro.
No processo de embutimento, o pó, com o auxílio de uma pequena espátula, é adicionado
no interior do invólucro (Figura 4.12 a) até que cubra toda a superfície exposta.
Com o auxílio de um conta-gotas, adicionam-se lentamente algumas gotas da porção
líquida sobre o pó. (Figura 4.12 b)
(a)
(b)
Figura 4.12 – Moldagem da resina; a) Invólucro metálico b) Proteção à superfície.
Este procedimento dever ser repetido até que se forme uma fina camada (Figura 4.13 a)
responsável pela qualidade da superfície onde se encontrará a interface. É muito comum o
aparecimento de pequenas bolhas de ar, oriundas de uma execução incorreta. Essas bolhas
podem ser evitadas inserindo uma quantidade do material líquido suficiente pra embeber
Capítulo 4 Metodologia Experimental
72
todo o pó, e não mais que isto. A mistura entre os materiais deve ser realizada até que se
obtenha uma uniformidade no gel. Nem uma só partícula sólida deve existir neste
momento. A amostra é então inserida no anel, com sua face, onde se encontra a interface,
voltada para baixo (Figura 4.13 b).
(a)
(b)
Figura 4.13 – Posicionamento da amostra; a) Camada base, b) Inserção da amostra.
Repete-se o processo até que todo o volume do invólucro seja preenchido (Figura 4.14).
Figura 4.14 – Embutimento das amostras.
A planicidade da amostra influi diretamente na qualidade da imagem, pois o microscópio
ótico trabalha sob feixe de luz refletida. Para que se garanta uma qualidade satisfatória, a
amostra deve ser submetida a um longo processo de lixamento e polimento.
A amostra embutida é submetida a cinco etapas de lixamento (cinco tipos de lixas). O
desgaste na superfície deve ser uniforme para que sua planicidade não seja comprometida.
Esse processo exige certa habilidade manual (Figura 4.15), já que qualquer falha pode
comprometer todo o processo.
Capítulo 4 Metodologia Experimental
73
Figura 4.15 – Lixamento das amostras.
Ao final do processo, a amostra deve passar por um processo de limpeza já que alguns
resíduos, após o lixamento, ficam impregnados em sua superfície. Esses resíduos são
indesejáveis já que comprometem a qualidade da imagem.
A amostra é imersa em acetona em um recipiente de vidro que é posto para vibrar dentro
de um agitador mecânico (Figura 4.16 a). A acetona é altamente volátil, o que facilita a
limpeza da superfície de estudo. É usada em substituição a água, uma vez que o contato
desta com o concreto pode provocar alterações em sua estrutura interna.
É adicionada uma porção de água no interior da cuba para que o processo de transmissão
das vibrações, que são responsáveis pela eliminação das impurezas, à amostra seja
intensificado. Esse processo se repete 3 vezes a cada 2 minutos, sempre se renovando a
acetona. Esse intervalo de tempo é suficiente para remoção dos resíduos e para que não
haja uma reação indesejada entre a acetona e a resina. Após esse processo, a amostra é seca
mediante ar comprimido (Figura 4.16 b).
(a)
(b)
Figura 4.16 – Eliminação dos resíduos; a) Limpeza, b) Secagem.
Capítulo 4 Metodologia Experimental
74
Para a execução do polimento final, as amostras são presas a uma politriz elétrica, três a
três (Figura 4.17).
Figura 4.17 – Politriz elétrica.
Um pano de polimento de seda é fixado no disco rígido da máquina para que o polimento
seja executado. É aplicada sobre o pano uma pasta de diamante para que se garanta uma
qualidade final satisfatória (Figura 4.18).
Figura 4.18 – Polimento das amostras.
Ao final do processo, cerca de 8 a 10 horas por amostra, a superfície encontra-se
totalmente polida, (Figura 4.19), sem marcas ou ranhuras, sendo esta a qualidade final
necessária para análise.
Capítulo 4 Metodologia Experimental
75
Figura 4.19 – Amostra polida.
As amostras polidas também foram analisadas no MEV. Para isso passaram pelo mesmo
processo de metalização ao qual foram submetidas as amostras fraturadas.
Capítulo 6 Considerações Finais
76
CAPÍTULO 5
RESULTADOS E DISCUSSÕES
5.1 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
O concreto de cimento Portland possui uma estrutura bastante heterogênea e complexa.
Macroscopicamente identificamos dois constituintes principais: a pasta de cimento
endurecida e as partículas de agregado. Entretanto, sob o ponto de vista microscópico
distinguimos que a pasta de cimento em contado com outro material cimentício – interface
- apresenta características diferentes do restante da pasta.
Cada uma das fases é de natureza multifásica. Toda partícula de agregado pode conter
vários minerais, além de microfissuras e vazios. Analogamente, tanto a matriz da pasta
como a zona de transição contêm geralmente uma distribuição heterogênea de diferentes
tipos e quantidades de fases sólidas, poros e microfissuras, acrescentando-se ainda o fato
de estarem sujeitas a modificações com o decorrer do tempo, o que torna o concreto,
diferentemente de outros materiais aplicados na engenharia, um material com
características intrínsecas (MEHTA e MONTEIRO, 1994).
Diversos sinais são emitidos oriundos da incidência do feixe de elétrons sobre a amostra,
destacando-se os elétrons secundários (SE), os elétrons retroespalhados (BSE) e os Raios –
X.
Imagens tridimensionais obtidas por meio de elétrons secundários evidenciam a morfologia
dos compostos formados durante o processo de hidratação e a topografia da superfície da
amostra, principalmente nos casos de fratura.
Capítulo 6 Considerações Finais
77
Os elétrons retroespalhados apresentam o contraste entre os elementos, facilitando a
identificação de várias fases presentes na amostra, quando polida (HASPARYK, 1999).
Devido a uma limitação técnica do equipamento utilizado (marca Carl Zeiss, modelo Leo
940), todas as amostras foram analisadas mediante elétrons secundários e as amostras
polidas também por MO.
Neste capítulo serão apresentados os resultados e análises referentes às micrografias das
interfaces entre as argamassas de reparo e os substratos envolvidos no estudo. As amostras
foram divididas em dois grupos, fraturadas e polidas, para cada tipo de material. O tempo
para a análise de cada amostra foi de, aproximadamente, 23 horas. Serão apresentadas as
microimagens obtidas em amostras fraturadas por meio do MEV e nas amostras polidas
também por MO. Todas as micrografias foram analisadas via Autocad, no afã de obermos
percentagens relativas ao contato entre os materiais.
5.2 ESTUDO EM AMOSTRAS FRATURADAS
Todas as amostras analisadas via MEV foram submetidas ao processo de metalização –
descrito no Capítulo 4 - indispensável para obtenção das imagens, uma vez que o concreto
é tido como material inerte. Como possuem superfícies irregulares, não é possível a
captação de imagens via MO, uma vez que esse trabalha com feixe de luz refletida.
As micrografias em amostras fraturadas foram realizadas adotando-se o seguinte
procedimento:
- procurou-se, inicialmente, obter o menor aumento possível da amostra, afim de
identificar a interface entre os materiais. Quanto mais próximo do tamanho real da amostra
estiver a imagem, maior é a facilidade para identificação da interface;
- uma vez identificada a interface, faz-se uma varredura ao longo do comprimento da linha
que une os materiais, registrando os vários aspectos na ligação, como a presença de
aberturas e vazios.
Conforme o procedimento descrito foram obtidas 89 micrografias, realizadas nas amostras
distribuídas conforme Tabela 5.1.
Capítulo 6 Considerações Finais
78
Tabela 5.1 – Quantidade de micrografias em amostras fraturadas.
TIPO DE REPARO Nº DE AMOSTRAS Nº DE MICROGRAFIAS
1 3 22
2 3 21
3 3 25
4 3 21
O tempo para aquisição das micrografias para cada amostra é de, aproximadamente, 8
horas.
A Figura 5.1 apresenta um exemplo da visualização real de uma amostra, olho nu, para
cada tipo de material, imediatamente após a metalização. É com esse aspecto que elas são
inseridas na câmara de vácuo do MEV.
TIPO 1 TIPO 2 TIPO 3 TIPO 4
Figura 5.1 – Aspecto visual das amostras fraturadas.
5.2.1 Resultados obtidos via MEV
5.2.1.1 Interface com o material de reparo TIPO 1
Conforme apresentado no Capítulo 4, o material de reparo TIPO 1 é um argamassa de alta
resistência, com base cimentícia, modificada com polímeros, elaborado para permitir a
execução de reparos superficiais e recuperação de estruturas de concreto.
Uma análise visual da forma de ligação entre este material de reparo e o substrato já
apresenta alguma deficiência quanto ao contato, evidenciada por vazios e fissuras na
interface. São pequenas falhas distribuídas ao longo de, aproximadamente, 35% do
comprimento da linha que une os materiais.
O reparo apresenta um aspecto “farinhoso”, sendo possível a visualização de pequenos
poros no material de reparo. A fragilidade da ligação entre os materiais fica evidenciada
Capítulo 6 Considerações Finais
79
pelo seu “esfarelamento” ao menor sinal de atuação de esforço externo, no caso o
manuseio.
Nas micrografias apresentadas na Figura 5.2 pode-se identificar a interface entre os dois
materiais, sendo o material de reparo à direita e o substrato à esquerda.
Figura 5.2 – Microfissuras na interface substrato - material de reparo TIPO 1.
Nas micrografias apresentadas na Figura 5.2 pode-se observar um composto semelhante ao
monossufoaluminato de cálcio (1), conforme Mehta e Monteiro (1994), na interface entre o
material de reparo (A) e o substrato (B). A interface entre os materiais pode ser
caracterizada aqui pela presença de fissuras perpendiculares ao seu eixo longitudinal,
originando assim planos preferenciais de ruptura.
Algumas microfissuras (2) decorrentes da retração na pasta cimentícia, podem também ser
observadas no material de reparo
Pode-se identificar nas micrografias apresentadas na Figura 5.3, através da morfologia, a
linha que separa os dois materiais, sendo material de reparo à direita (A) o de e o substrato
à esquerda (B).
100
m
A
B
B
1
A
100
m
Capítulo 6 Considerações Finais
80
Figura 5.3 – Má qualidade na extensão da aderência na interface substrato - material de
reparo TIPO 1.
A interface é caracterizada aqui pela presença acentuada de vazios, o que colabora para a
má qualidade de aderência entre os materiais.
Figura 5.4 – Interface entre o material de reparo e o agregado graúdo.
As micrografias da Figura 5.4 apresentam um detalhe da forma de ligação do material de
reparo (A), na parte inferior, com uma brita (B), parte superior. Trata-se de uma junção
caracterizada pelo descolamento (1) ao longo de seu comprimento.
5.2.1.2 Interface com o material de reparo TIPO 2
O material de reparo TIPO 2 corresponde a uma argamassa de alta resistência,com base
cimentícia, de rápida secagem e modificada com polímeros.
50
m
50
m
100
m 20
m
A
A
B
B
A
A
B B
1
1
Capítulo 6 Considerações Finais
81
A ligação deste material de reparo ao substrato, mediante a uma análise puramente visual,
apresenta uma interface caracterizada pela presença de falhas na ligação. São vazios e
pequenas aberturas localizados em cerca de 30% do comprimento total da linha de união
entre os materiais.
Trata-se de um material compacto, onde praticamente não é possível a visualização de
poros ou qualquer tipo de falhas. Exige alguma habilidade manual por parte do operador
no momento da retirada das amostras, pois apresenta certa instabilidade na ligação ao
concreto, ratificada pela desunião entre os materiais no momento do contato com o disco
de corte.
Pode-se identificar nas micrografias apresentadas na Figura 5.5, através da diferença de
tons de cinza e pela morfologia, a linha que separa os dois materiais, sendo o material de
reparo o de tonalidade mais escura (A) e o substrato o mais claro (B).
Figura 5.5 – Mau contato na interface substrato - material de reparo TIPO 2.
50
m
A
B
50
m
A
B
20
m
20
m
A
A
B
B
1
1
1
Capítulo 6 Considerações Finais
82
A Figura 5.5 apresenta a interface entre o material de reparo (A) e o substrato (B)
caracterizada pela presença de vazios entre os materiais. Podem-se identificar algumas
microfissuras (1) no substrato. O material de reparo apresenta, microscopicamente, um
aspecto de compacidade elevada.
Pode-se visualizar a presença de poros, que podem ser decorrentes de uma vibração
incorreta do concreto, no substrato. Esses poros podem reduzir, significamente, a
resistência do concreto e aumentar sua permeabilidade.
Figura 5.6 – Presença de etringita na interface entre os materiais.
Na Figura 5.6, interface entre o reparo (A) e o substrato (B), verifica-se a presença de
etringita (1) (C
6
AS
3
H
32
) oriunda da hidratação dos aluminatos em presença de sulfato.
Observam-se possíveis placas lamelares (hidróxido de cálcio Ca(OH)
2
) (2) no substrato. A
ligação também apresenta vários pontos sem contato.
5.2.1.3 Interface com o material de reparo TIPO 3
O material de reparo TIPO 3 é um produto cimentício, modificado com polímero e fibras
sintéticas.
Uma análise macroscópica da junção entre este material de reparo e o substrato apresenta
poucas deficiências quanto ao contato, observadas pela presença de vazios e fissuras na
interface. São falhas presentes em, pelo menos, 25% do contato entre os materiais.
A
B
1
Capítulo 6 Considerações Finais
83
Trata-se de um material altamente compacto, onde não é possível a visualização de poros
ou qualquer tipo de falhas. Não exige qualquer tipo de habilidade manual por parte do
operador no manuseio de preparação das amostras. Seu contato ao concreto apresenta-se
altamente estável, não necessitando, assim, de maiores cuidados.
Nas micrografias apresentadas na Figura 5.7 pode-se identificar, pela diferença da
morfologia dos componentes da pasta de cimento, a linha divisória entre os dois materiais,
sendo que o material de reparo (A) se localiza à esquerda e o substrato (B) à direita.
Figura 5.7 – Mau contato entre o substrato e o material de reparo TIPO 3.
A interface entre o material de reparo e o substrato na Figura 5.7 é caracterizada pela
elevada quantidade de vazios, que representam o espaço não preenchido pelos
componentes sólidos da hidratação do cimento, entre os materiais. Esses vazios
comprometem a qualidade da ligação entre os mesmos. Pode-se identificar a presença das
fibras sintéticas (1) no material de reparo.
Nota-se, também, um grande número de poros presentes no material de reparo que podem
afetar na resistência da pasta, uma vez que somente os componentes sólidos resistem aos
esforços.
200
m 200
m
A
A
B
B
1
1
Capítulo 6 Considerações Finais
84
Figura 5.8 – Região da interface substrato – reparo com vazios.
A Figura 5.8 ratifica o descolamento entre os materiais, reparo (A) e substrato (B),
caracterizada pela presença de vazios.
5.2.1.4 Interface com o material de reparo TIPO 4
O material de reparo TIPO 4 é um adesivo epóxico, utilizado como ponte de aderência, e
uma argamassa com traço similar ao concreto do substrato.
A junção entre os materiais apresenta, a olho nu, deficiências relativas à aderência,
evidenciadas pela presença de vazios e aberturas no contato entre ambos. São falhas
presentes em, aproximadamente, 30% da linha que representa a interface entre os
materiais.
Trata-se de um material bastante denso onde não coube a visualização de qualquer tipo de
falha macroscópica. Apresentou uma excelente estabilidade quanto a preparação das
amostras, não requerendo qualquer habilidade manual do operador.
500
m 500
m
A
A
B
B
Capítulo 6 Considerações Finais
85
Figura 5.9 – Mau contato entre o substrato e o material epóxico.
As micrografias da Figura 5.9 apresentam má extensão da aderência, caracterizada pela
presença de vazios e microfissuras na interface, entre o material epóxico (A) e a argamassa
de reparo (B). O reparo apresenta poros de forma esférica (1) com dimensões superiores
aos vazios capilares, o que pode comprometer a resistência e a permeabilidade do material.
Já o adesivo, apesar de alguns poros (2) e microfissuras localizadas (3) microscopicamente,
é um material bastante compacto.
5.3 ESTUDO EM AMOSTRAS POLIDAS
As imagens de amostras polidas podem ser obtidas tanto no MO quanto no MEV. Aspectos
morfológicos e topográficos são caracterizados em ambos para efeito de comparação.
200
m
200
m
A
B
B
A
A
B
A
B
1
Capítulo 6 Considerações Finais
86
As micrografias em amostras polidas foram realizadas adotando-se o seguinte
procedimento:
- devido à uma limitação do aparelho no processo de obtenção das imagens, foi necessário
a adaptação de uma câmera fotográfica ao microscópio, afim de registrar as micrografias
desejadas;
- foram usadas lentes com aumentos de 50, 100, 200 e 400 vezes, mediante campo escuro,
que possibilita a visualização de cores que facilitam a identificação da interface e
características intrínsecas dos materiais.
- uma vez identificada a interface, faz-se uma varredura ao longo do comprimento da linha
de ligação entre materiais, registrando aspectos característicos na ligação, como a presença
de microfissuras e vazios.
Conforme o procedimento descrito, foram obtidas 71 micrografias, realizadas nas amostras
distribuídas conforme Tabela 5.2.
Tabela 5.2 – Quantidade de micrografias em amostras polidas.
TIPO DE REPARO Nº DE AMOSTRAS Nº DE MICROGRAFIAS
1 3 18
2 3 18
3 3 17
4 3 18
O tempo para aquisição das micrografias para cada amostra foi de, aproximadamente, 7
horas.
A Figura 5.10 apresenta um exemplo do aspecto visual de uma amostra polida para cada
tipo de material. É com esse aspecto que foram analisadas no MO.
TIPO 1 TIPO 2 TIPO 3 TIPO 4
Figura 5.10 – Aspecto visual das amostras polidas.
Capítulo 6 Considerações Finais
87
5.3.1 Resultados obtidos via MO
As micrografias em amostras polidas foram realizadas mediante microscópio ótico (marca
Carl Zeiss, modelo Epignost).
A presença da cor nas micrografias apresentadas, no microscópio ótico, assume um fator
decisivo para a análise das imagens. A técnica de campo escuro utilizada no microscópio é
que permite a obtenção de cores.
5.3.1.1 Interface com o material de reparo TIPO 1
A moldagem da amostra deste material, visualmente poroso, exige certa habilidade manual
por parte do operador, devido ao seu aspecto “farinhoso”. Resquícios do material, imersos
na resina, são indesejáveis, pois podem comprometer a qualidade da imagem. O
“esfarelamento” do material danifica o pano de polimento.
Sob um ponto de vista macroscópico, visual, a junção entre este material de reparo e o
substrato apresenta falhas na aderência entre os materiais, evidenciadas pela presença de
aberturas e vazios na interface. São percebidas em, aproximadamente, 25% da região de
interface entre os materiais.
O aspecto da aderência entre a argamassa de reparo (A) e o concreto (B) é apresentado na
Figura 5.11. A interface entre os materiais é caracterizada por uma baixa qualidade no
contato entre os materiais, evidenciada pela presença de vazios e fissuras na região de
contato. Essas microfissuras compromentem a ligação, pois permitem a formação de
grandes cristais de Ca(OH)
2
perpendiculares ao seu eixo, criando assim planos
preferenciais de ruptura.
Capítulo 6 Considerações Finais
88
Figura 5.11 – Interface substrato – material de reparo TIPO 1 caracterizada pela presença
de vazios.
A Figura 5.12 apresenta um detalhe referente à forma de ligação do reparo (A) ao agregado
graúdo (B). A espessura e o aspecto dessa zona de transição variam conforme os
componentes do reparo e do agregado.
Figura 5.12 – Interface reparo – agregado.
A interface entre o agregado graúdo e o material de reparo é caracterizada por ser uma
região porosa, proveniente da elevação da relação a/c na mistura decorrente do filme de
água que se forma em torno do agregado graúdo. Podem-se relacionar as falhas na
aderência entre o reparo e o agregado ao surgimento de cristais formados, com superfície
100
m
100
m
200
m 200
m
200
m
B
B
1
B
A
A
A
A
B
B
A
Capítulo 6 Considerações Finais
89
específica menor, provocando assim uma redução nas forças de Van der Waals (forças de
ligação). Notam-se alguns poros localizados no reparo (1).
Figura 5.13 – Material de reparo poroso.
A porosidade do material de reparo é ratificada na Figura 5.13. Evidencia-se a presença de
poros esféricos (1) com dimensões superiores aos vazios capilares, podendo reduzir
bastante a resistência e aumentar a permeabilidade do material.
5.3.1.2 Interface com o material de reparo TIPO 2
Uma análise visual da forma de ligação entre este material de reparo e o substrato já
apresenta uma interface caracterizada pela presença de vazios na ligação. São vazios e
pequenas aberturas localizados em cerca de 25% do comprimento da linha que une os
materiais.
O momento de embutimento das amostras exige alguma habilidade manual por parte do
operador, pois apresenta certa instabilidade na ligação ao concreto durante o manuseio,
verificada pela desunião entre os materiais e, destes com a resina no momento do contato
com as lixas. É um material compacto, onde praticamente não é possível a visualização de
poros ou aberturas em sua superfície.
200
m
1
Capítulo 6 Considerações Finais
90
Figura 5.14 – Microfissuras na interface substrato - material de reparo TIPO 2.
A Figura 5.14 apresenta uma interface onde a aderência entre o reparo (A) e o concreto (B)
é comprometida por microfissuras ao longo de seu comprimento
Figura 5.15 – Poros no material de reparo.
As falhas no material são evidenciadas na Figura 5.15 pelo seu elevado índice de
porosidade.
200
m
200
m
200
m
200
m
200
m
200
m
B
B
B
B
A
A
A
A
Capítulo 6 Considerações Finais
91
5.3.1.3 Interface com o material de reparo TIPO 3
A junção entre este material de reparo e o substrato praticamente não apresenta
deficiências quanto à aderência, mediante análise visual. A visualização, a olho nu, de
vazios e aberturas na interface não é possível.
O processo de embutimento das amostras não exige qualquer tipo de habilidade manual
por parte do operador. A aderência da amostra à resina apresenta-se altamente estável, não
comprometendo, assim, o pano de polimento. É um material altamente compacto, onde não
é possível a visualização macroscópica de qualquer tipo de falha.
A Figura 5.16 apresenta uma excelente aspecto da junção entre o reparo (A) e o substrato
(B). A qualidade da interface é notória, não há presença de microfissuras ou vazios na
região do contato.
Figura 5.16 – Interface substrato – material de reparo TIPO 3 com boa extensão da
aderência.
100
m 50
m
100
m200
m
A
A
A
A
B
B
B
B
Capítulo 6 Considerações Finais
92
A compacidade do material de reparo pode ser visualisada na Figura 5.17. Apresenta
vazios muito pequenos, prováveis poros de gel, que não influenciam na resistência da
pasta.
Figura 5.17 – Microfissura no reparo.
Pode-se observar uma microfissura (1) decorrente da retração do substrato. Como os
materiais postos em contato possuem módulos de elasticidade diferentes, o endurecimento
do material pode causar microfissuras no concreto posto em contato.
5.3.1.4 Interface com o material de reparo TIPO 4
A análise visual das ligações, a primeira entre o adesivo epóxi com o microconcreto,
utilizado como reparo, e a segunda entre o material epóxico e o substrato entre os
materiais, não denota deficiências relativas ao contato, evidenciadas pela ausência de
vazios e aberturas no contato entre ambos. Pode-se afirmar que não existem falhas visuais
na ligação entre os materiais.
Embora o embutimento das amostras não exigisse habilidades manuais específicas e o
reparo apresentasse um elevado aspecto de compacidade, o polimento das mesmas não foi
possível. Houve uma reação, inesperada e indesejada, entre o material de reparo e a pasta
de diamante utizada para polir as amostras, liberando produtos que danificavam o pano de
polimento. Segundo o catálogo do fabricante, o procedimento de lixamento era suficiente
para obtenção do sucesso das imagens para este tipo de material.
A Figura 5.18 apresenta uma boa ligação entre o material epóxico (A) e o substrato (B),
caracterizada pela inexistência de microfissuras ou vazios ao longo de seu comprimento.
Nota-se a presença de pequenos poros no concreto (1).
100
m
1
Capítulo 6 Considerações Finais
93
Figura 5.18 – Interface substrato – material de reparo TIPO 4 com boa extensão da
aderência.
Apesar do elevado aspecto de compacidade do material, percebe-se na Figura 5.19 alguns
poros esféricos (1), decorrentes talvez de uma execução inadequada, que podem
comprometer o material quanto a sua resistência e estanqueidade.
Figura 5.19 – Poros no material de reparo TIPO 4.
5.3.2 Resultados obtidos via MEV
Conforme o procedimento descrito, foram obtidas 87 micrografias, realizadas nas amostras
distribuídas conforme Tabela 5.3.
200
m 200
m
200
m
200
m
200
m
A
A
A
B
B
B
1
1
1
Capítulo 6 Considerações Finais
94
Tabela 5.3 – Quantidade de micrografias em amostras polidas metalizadas.
TIPO DE REPARO Nº DE AMOSTRAS Nº DE MICROGRAFIAS
1 3 21
2 3 23
3 3 22
4 3 21
O tempo para aquisição das micrografias para cada amostra foi de, aproximadamente, 12
horas.
A Figura 5.20 apresenta um exemplo do aspecto visual de ums amostra polida metalizada,
para cada tipo de material. É com esse aspecto que ela são analisadas no MEV.
TIPO 1 TIPO 2 TIPO 3 TIPO 4
Figura 5.20 – Aspecto visual das amostras polidas metalizadas.
5.3.2.1 Interface com o material de reparo TIPO 1
Para a visualização da interface nas imagens adquiridas pelo microscópio, foi adotado um
procedimento (Figura 5.21), pois em algumas situações, os materiais apresentam a mesma
tonalidade de cor, o que oculta a presença da interface no processo de obtenção das
imagens.
Tal procedimento consiste em um mapeamento linear da interface entre a argamassa de
reparo (A) e o concreto (B) através de algumas marcas de tinta que são feitas ao longo de
seu comprimento. Dessa maneira, o contraste entre os tons de cinza e a tinta permite uma
análise primorosa da imagem.
Capítulo 6 Considerações Finais
95
Figura 5.21 – Procedimento para visualização da interface.
Pode-se identificar um grande poro localizado no substrato, decorrente de uma provável
falha em seu processo de vibração, e o invólucro metálico (1) ao qual a amostra encontra-
se solidária.
Uma análise visual da interface entre o material de reparo e o substrato evidencia falhas na
aderência entre os materiais, validadas pela presença de fissuras e vazios na junção entre
ambos. São visualmente perceptíveis em cerca de 25% do comprimento da linha que une
os materiais.
Não é possível a visualização de prováveis resíduos decorrentes do “esfarelamento” do
material imerso na resina. O processo de embutimento deste material é minucioso
exigindo, portanto, alguma prática por parte do operador.
As falhas na ligação apresentadas na interface entre o material de reparo (A) e o substrato
(B) apresentada na Figura 5.22 é notória e caracteriza-se pelo elevado índice de vazios.
A
B
Capítulo 6 Considerações Finais
96
Figura 5.22 – Interface substrato - material de reparo TIPO 1 caracterizada pela presença de
vazios
A possível presença do hidróxido de cálcio (CaOH
2
) (1) e do silicato de cálcio hidratado
(C-S-H) (2) pode ser notada na interface entre os materiais. Como se trata de uma amostra
polida, não é possível a visualização de aspectos morfológicos na superfície da mesma.
Microfissuras no reparo também são observadas (3).
5.3.2.2 Interface com o material de reparo TIPO 2
A forma de ligação entre este material de reparo e o substrato, mediante análise visual,
apresenta falhas na ligação entre os materiais. São vazios e fissuras localizados,
aproximadamente, em 25% da região de contato entre os materiais.
O embutimento das amostras evidencia certa instabilidade verificada pela desunião entre
os materiais e, destes com a resina, no início do processo de lixamento. A habilidade
100
m
100
m
A
B
A
B
200
m
A
B
1
Capítulo 6 Considerações Finais
97
manual do operador, nesse caso, é de fundamental importância. Praticamente não é
possível a visualização de fissuras ou aberturas no material de reparo.
Nas micrografias apresentadas na Figura 5.23, pode-se identificar, através da diferença de
tons de cinza, a linha que separa os dois materiais, sendo o material de reparo o de
tonalidade escura e o substrato, a clara.
Na Figura 5.23 verifica-se que a junção do material de reparo (A) e o substrato (B) é
caracterizada pela presença de vazios e fissuras. A qualidade do contato entre os materiais
fica comprometida pelos prováveis presenças de produtos de hidratação da pasta de
cimento que se formam nesses vazios, como cristais de hidróxido de cálcio (1) e silicato de
cálcio hidratado (2), contribuem para a formação de planos de ruptura.
Figura 5.23 – Interface substrato - material de reparo TIPO 2 caracterizada pela presença
de vazios.
100
m
A
B
100
m
A
B
50
m 50
m
A
B
A
B
1
1
1
1
Capítulo 6 Considerações Finais
98
5.3.2.3 Interface com o material de reparo TIPO 3
Visualmente não há, praticamente, falhas no contato entre o material de reparo e o
substrato. Não é possível a percepção visual de vazios ou fissuras ao longo do
comprimento da interface entre os materiais.
Há uma grande estabilidade na extensão da aderência entre a amostra e a resina, o que
dispensa uma habilidade manual apurada por parte do operador.
A diferença de tons de cinza nas micrografias apresentadas na Figura 5.24 é fator
preponderante no processo de identificação da linha que separa os dois materiais, sendo o
material de reparo identificado pela tonalidade escura e o substrato, a clara. Em algumas
regiões as cores se confudem, o que torna impossível a visualização da interface.
Figura 5.24 – Bom contato entre o substrato e o material de reparo TIPO 3
200
m 200
m
100
m 100
m
A
B
A
B
A
B
A
B
1
1
1
Capítulo 6 Considerações Finais
99
Pode-se constatar na Figura 5.24 um contato eficiente entre o reparo (A) e o substrato (B).
Microfissuras ou vazios não são presenciados na região do contato. Pode-se observar a
zona de transição entre a pasta de cimento e o agregado graúdo (1), que apresenta
característica diferentes do restante da pasta devido ao filme de água que se forma em
torno do agregado.
Nota-se a presença de microfissuras (2) e de pequenos poros (3), tanto no reparo quanto no
substrato, decorrentes de microesforços induzidos no processo de retração da pasta.
Verifica-se a compacidade do material de reparo (A). Apresenta pequenos poros, de gel ou
entre possíveis camadas de C-S-H, que não influenciam na resistência da pasta. Nota-se a
presença de vazios capilares no substrato.
5.3.2.4 Interface com o material de reparo TIPO 4
A Figura 5.25 evidencia, devido a utilização do adesivo como ponte de aderência, a
presença de duas interfaces: a primeira entre o adesivo epóxi (A) com o microconcreto (B),
utilizado como reparo, e a segunda entre o material epóxico e o substrato (C). Notam-se
pequenas marcas de tinta (1), usadas para identificar a interface entre os materiais, e até
mesmo os próprios materiais, nas imagens adquiridas pelo MEV.
Figura 5.25 – Boa extensão da aderência na interface substrato - material epóxico – reparo.
Mediante uma análise macroscópica, a ausência de vazios e fissuras no contato entre os
materiais caracteriza a eficácia da ligação entre ambos. Não existem falhas visuais na
ligação entre os materiais.
1mm
Capítulo 6 Considerações Finais
100
O pano de polimento foi parcialmente destruído pela reação deletéria entre os compostos
do cimento presentes no reparo e a pasta de diamante utilizada para polir as amostras.
Apenas o lixamento das amostras é suficiente para obtenção das imagens, uma vez que este
tipo de material não “aceita” polimento. É importante a ressalva de que não há relação
entre o fato ocorrido e o manuseio do operador, no processo de embutimento das amostras.
A diferença na tonalidade de cinza nas micrografias apresentadas na Figura 5.26 identifica
os materiais. O material époxico é identificado pela tonalidade clara e o substrato pela
escura. A linha que separa os materiais é nítida.
Figura 5.26 – Boa extensão da aderência na interface substrato - material epóxico.
Nota-se na Figura 5.26 uma ligação bastante eficiente entre o material epóxico (A) e o
substrato (C). Microfissuras e vazios capilares não são perceptíveis na junção entre os
200
m
200
m
A
C
A
C
100
m
100
m
C
A
A
C
1
1
Capítulo 6 Considerações Finais
101
materiais. Verifica-se um aspecto de compacidade do material epóxico, com a presença de
pequenos poros localizados (1).
Na Figura 5.27, mais uma vez os materiais podem ser identificados pelos diferentes tons de
cinza, o material époxico é o de tonalidade clara e o substrato escura. A linha que separa os
materiais é novamente bastante nítida.
A Figura 5.27 apresenta a junção eficaz entre o material epóxico (A) e o material de reparo
(B). Nota-se a presença microfissuras (1) no reparo e de vazios capilares (2) no epóxi que
podem comprometer o material quanto a sua estanqueidade e resistência.
Figura 5.27 – Bom contato entre o material de reparo e o adesivo epóxico.
200
m
200
m
200
m200
m
B
A
B
A
B
A
B
A
1
Capítulo 6 Considerações Finais
102
CAPÍTULO 6 Capítulo 6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
6.1 CONCLUSÕES
Procurou-se identificar, através desse trabalho, aspectos morfológicos relacionados à forma
de ligação entre os 4 tipos de materiais de reparo e o substrato. Considerando as condições
experimentais realizadas, pode-se concluir:
6.1.1 Conclusões gerais
- As amostras fraturadas via MEV não foram conclusivas na avaliação da análise de
comportamento da interface entre dois materiais distintos, pois algumas deficiências nesta
pesquisa foram constatadas. O processo de obtenção dessas amostras requer a aplicação de
uma força externa que visa a ruptura, a fratura do material. Como dois materiais, de
módulo de elasticidade diferentes, estão em contato, há uma concentração de tensões na
interface entre eles que cria um plano preferencial à ruptura. Então, é possível que na
obtenção das imagens da interface, sejam observadas microfissuras oriundas da aplicação
do esforço utilizado na obtenção da amostra, e não relacionadas ao material em si,
mascarando resultados. Houve uma incompatibilidade entre os resultados obtidos via MEV
e os obtidos via MO, pois nenhuma imagem, utilizando amostras fraturadas, apresentou
contato satisfatório. Apesar deste fato, pode-se verificar que a seqüência de desempenho de
cada reparo, quando comparados entre si, foi a mesma das outras análises, ou seja, o tipo
que apresentou o melhor desempenho foi o mesmo para todas as análises, e assim também
ocorreu para os demais materiais.
Capítulo 6 Considerações Finais
103
- A utilização do MO em amostras polidas mostrou-se satisfatória para se analisar a
interface entre materiais de reparo e o concreto. As imagens obtidas no MEV vieram
ratificar o que havia sido observado anteriormente no MO, uma vez que foram utilizados
os mesmos aumentos, pois os aumentos maiores oferecidos pelo MEV não formavam
imagens perceptíveis. Agindo assim, obtém-se um procedimento de pesquisa mais
econômico, já que o procedimento para obtenção de imagens via MEV é altamente
oneroso.
- A metodologia adotada, apesar dos infortúnios inerentes ao processo experimental, foi
satisfatória para avaliação do mecanismo de aderência dos materiais elegidos como fonte
de estudo do concreto. Portanto, pode-se dizer que o objetivo do presente trabalho foi
alcançado.
6.1.2 Conclusões específicas
As conclusões específicas em relação à avaliação da qualidade da aderência e da interface,
entre os materiais são as seguintes:
- O material de reparo TIPO 3 foi o que apresentou maior compacidade e melhor aspecto
de extensão da aderência ao substrato. Sua eficiência, mediante análise das microimagens
no Autocad, ficou em torno de 95%. Foi o único que, praticamente, não apresentou fissuras
na interface. Alguns pequenos poros, tidos como irrelevantes, pois não comprometem
quanto à resistência e à permeabilidade, foram encontrados em sua estrutura interna.
- O adesivo epóxi, material TIPO 4, utilizado como ponte de aderência, apresentou-se
como material de baixa retração, contribuindo para a redução das aberturas de fissuras na
interface. Apesar do aspecto bastante denso, alguns poros e vazios capilares, que podem
comprometer quanto a estanqueidade e a resistência, foram localizados em alguns pontos
isolados de sua estrutura. A eficiência do contato entre os dois materiais, substrato e
reparo, verificada via Autocad é de, aproximadamente, 90%. Entretanto, a argamassa
utilizada tem o tempo de endurecimento similar ao do concreto e atinge resistência
adequada depois de 28 dias, constituindo-se em uma desvantagem em relação aos outros 3
tipos de reparo.
Capítulo 6 Considerações Finais
104
- Os materiais TIPO 1 e 2 são porosos e apresentaram extensão da aderência insatisfatória,
caracterizada pela abertura de microfissuras nas interfaces. Apresentaram qualidade
satisfatória em apenas 60 e 65% das amostras, respectivamente, meiante Autocad..
Formaram-se nessa abertura grandes cristais de hidróxido de cálcio perpendicular ao seu
eixo longitudinal, originando assim planos preferenciais de ruptura. Ressalva-se que o
material TIPO 2, segundo recomendação do fabricante, pode ser aplicado somente para
pequenas espessuras.
6.2 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS
Para prosseguimento desta linha de pesquisa, visando a solucionar algumas questões
observadas, uma vez que a gama de assuntos possíveis de serem abordados em
continuidade é extensa, sugere-se o estudo de alguns pontos discriminados em seguida:
- Realizar um programa experimental similar ao atual, porém utilizando diferentes tipos de
material de reparo de outros fabricantes, a fim de comparar sua junção ao substrato;
- alterar a metodologia de execução do reparo de forma que as amostras não necessitem de
extração por fratura;
- avançar no programa experimental no afã de se obterem resultados quantitativos da
aderência entre a argamassa de reparo e o substrato, via mecânica da fratura ou de
arrancamento;
- avaliar o comportamento de concentração de fissuras, no processo de destacamento, na
interface entre os materiais mediante análise numérica;
- realizar ensaios com reparos em substratos com maior idade.
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113
ANEXO A
A.1. INTRODUÇÃO À MICROSCOPIA
Não se sabe exatamente quem inventou o microscópio, porém sabe-se muito bem que após
essa invenção, no início do século XVII, nossa percepção do mundo ficou muito diferente.
Muitos atribuem a invenção deste instrumento a Galileu, porém foi Leeuwenhoek quem
realmente aperfeiçoou o instrumento e o utilizou na observação de seres vivos. Dotados de
apenas uma lente de vidro, os primeiros microscópios permitiam aumentos de até 300
vezes com razoável nitidez. E todo um mundo que se encontrava invisível aos nossos olhos
se descortinou. Com este instrumento muito simples, Leeuwenhoek estudou os glóbulos
vermelhos do sangue e constatou a existência dos espermatozóides. Este cientista também
desvendou o extraordinário mundo dos micróbios (ou seja, seres microscópicos), hoje mais
conhecidos como microrganismos.
A microscopia conheceu no século XX um desenvolvimento substancial; os limites
teóricos atingidos ao fim do século XIX, para luz visível e lentes refratantes, foram
superados no microscópio eletrônico de transmissão para atingir a visão dos átomos. O
advento do microscópio eletrônico de varredura introduziu uma mudança conceitual em
microscopia, que possivelmente caracterizará o seu desenvolvimento no século XX, e
indicará o rumo da evolução futura. Os pontos básicos desta evolução são revistos, com
ilustrações de seu desenvolvimento até os nossos dias (UMINHO, 2003).
A.2. HISTÓRICO
Já na antiguidade havia tentativas de reforçar a visão com auxílio de dispositivos óticos.
Nas escavações de Nínive foram encontrados pedaços de vidro usados como lentes.
Aristóteles já se referia ao termo lente e descrevia o uso de globos de vidro para aumentar
114
imagens. A partir do século XIV lentes começaram a ser usada comumente para corrigir
defeitos de visão e como dispositivos de aumento.
Este uso atingiu seu apogeu com Leeuwenhoek, que provavelmente deve ser considerado o
primeiro verdadeiro microscopista. Detentor de uma técnica extremamente desenvolvida,
levou o uso do microscópio simples (uma lente ou lupa) ao seu nível mais alto. Seus
microscópios eram individualmente feitos para cada amostra e alguns de seus "pequenos
animais” eram examinados com aumentos de 300 vezes, façanha considerável mesmo em
comparação com alguns instrumentos modernos.
Paralelamente ao desenvolvimento do telescópio no século XVII, surgiu o microscópio
composto, constituído no mínimo de uma lente objetiva e de uma ocular. A invenção do
microscópio composto é controvertida. A maioria dos historiadores situa sua origem na
Holanda, por volta de 1600 e mencionam Jansen ou Lippershey como inventores.
Convencionemos que a verdadeira história do microscópio começa em 1625, ano em
Giovanni Faber cunhou o termo microscópio.
Os cem anos entre 1650 e 1750 podem ser considerados como época do desenvolvimento
mecânico do microscópio. Em 1665 surgiu o célebre microscópio de Hooke. Este é talvez
o protótipo do microscópio moderno, não só pela sua construção, mas por sua íntima
ligação com a micrografia, sem dúvida a mais famosa publicação de microscopia de sua
época. Os microscópios de Cuff apresentam um patamar no desenvolvimento do
microscópio, que só foi sensivelmente ultrapassado após um século.
Acompanhando o desenvolvimento da mecânica fina em meados de século XVIII, Cuff
passa do uso da madeira e couro para o metal, e reúne pela primeira vez em um
instrumento focalização por parafuso, platina para amostras, espelho para luz transmitida e
refletida, que permitem equivalência com a disposição moderna. E, inevitavelmente, o
rococó do século XVIII não poderia ter deixado de influenciar o microscópio. O
instrumento construído pelos Adams para o Rei George III, em prata e querubins, apesar de
sua sofrível qualidade ótica, merece a atenção da crônica histórica.
A qualidade ótica dos microscópios não acompanhou o seu desenvolvimento mecânico.O
elemento fundamental para a formação de uma imagem ampliada é a lente. Seu
115
entendimento básico é pela chamada ótica geométrica, onde consideramos a luz como
constituida de raios, que obedecem às leis da reflexão e da refração. As lentes comuns,
baseadas em elementos esféricos, são, no entanto, sujeitas a defeitos que independem da
qualidade de sua fabricação, denominados aberrações, principalmente o cromatismo. entre
Estas, as mais importantes são a aberração esférica e a aberração cromática.
A aberração esférica determina que raios axiais que atravessam a lente próximos de seu
eixo ótico são focalizados em um ponto diferente daquele dos raios que passam pela
periferia. Este defeito é inerente a uma lente esférica, e para uma lente isolada só pode ser
minimizado através da diminuição de seu diâmetro, ou seja, utilizando apenas raios
paraxiais. A aberração cromática refere-se ao comportamento com luz branca, que, como
sabemos, é constituida da soma de todas as cores do espectro luminoso. A distância focal
de uma lente depende da cor da luz; e, portanto, raios de cores diferentes serão focalizados
em pontos diferentes.
O microscópio composto surge então com o objetivo de minimizar esta dificuldade. Pelo
aumento sucessivo de duas lentes, obtemos o mesmo aumento atingido por uma só lupa. A
qualidade da imagem fornecida pelo conjunto, por exemplo, de 5 X x 10 X será muito
melhor do que a obtida por uma lente de 50 X. Estas aberrações podem ser largamente
controladas caso utilizemos, em vez de lentes simples, combinações de lentes de diversos
perfís e com vidros de diferentes índices de refração. Da mesma maneira que em
fotografia, dispomos para microscopia de lentes com complexidade, preço e qualidades
crescentes. Os mais importantes avanços foram obtidos no século XIX, com as lentes
acromáticas e apocromáticas.
Nos cem anos entre 1800 e 1900 o microscópio finalmente conheceu a maturação ótica
correspondente ao seu desenvolvimento mecânico. Em 1747, Euler desenvolveu a teoria da
correção cromática. No final do século XVIII, surgiram as primeiras tentativas de lentes
acromáticas, mas só em 1830 Amici e J.J.Lister avançaram substancialmente na sua
realização.
A primeira pergunta que ouvimos do leigo ao ver um microscópio é: qual é o aumento? Na
verdade, o aumento que tanto impressiona o usuário ocasional de microscopia não é o
parâmetro mais importante a considerar. Coube a Abbe a contestação de que "aumentos
116
cada vez maiores só dependeriam da perfeição de fabricação de lentes". Os defeitos se
agravam à medida que usamos uma lente mais "forte", ou seja, com maiores aumentos.
Durante o século XIX, procurou-se aumentar o poder de resolução das lentes e dos
microscópios pela construção de lentes cada vez mais perfeitas, na suposição de que isto
levaria a aumentos crescentes, e supostamente, ilimitados. Em 1880, Abbe demonstrou que
havia uma limitação básica para a resolução de um sistema ótico, relacionada ao diâmetro
da lente e ao comprimento de onda da luz, que na verdade a resolução de uma lente era
limitada por difração, dependendo de sua abertura e do comprimento de onda da luz,
segundo a equação A.2.1:
d = 0.61 λ / n . sen a
A.1
onde:
λ
= é comprimento de onda da luz
n
= índice de refração do meio
a
= ângulo de abertura da lente
Os trabalhos de Abbe resultaram na concepção das lentes apocromáticas em 1887. Estas
lentes oferecem padrões de qualidade até então inexistentes, principalmente depois que
Abbe, seguindo a sugestão de J.W. Stephenson projetou a primeira lente de grande
aumento de imersão a óleo, ou homogênea.
Parece-nos, à primeira vista, que se dispuséssemos de instrumentos perfeitos poderíamos
examinar uma amostra com aumentos cada vez maiores, e perceber detalhes cada vez
menores, até distinguir os átomos, ou, quem sabe, as partículas que os compõem. Não é
isto o que ocorre: existe uma limitação física, relacionada com a radiação utilizada, para a
menor distância entre dois pontos que permite distingui-los separadamente. A esta
distância chama-se "limite de resolução", e um aumento maior não revelará nenhum
detalhe adicional da estrutura.
Existe outro comportamento da luz que não pode ser interpretado pelas leis da ótica
geométrica: é a difração, que exige que consideremos a luz como constituida de ondas
transversais que se propagam no espaço.
117
Para que haja formação de uma imagem, precisamos também de "contraste".
Denominamos de contraste a capacidade de distinguir traços característicos da estrutura
sobre o plano de fundo. Citando Veríssimo, não podemos ver com clareza um "gato branco
em campo de neve". Além da simples absorção ou reflexão de energia pela amostra,
existem vários outros mecanismos de geração de contraste em microscopia.
É claro que tudo o que vimos até agora resulta da interação entre a luz, objetos e lentes, e,
portanto, com a matéria. No entanto, costuma-se estudar esta interação de maneira mais
geral, analisando o efeito de todo o espectro eletromagnético sobre a matéria; e por razões
que se tornarão aparentes mais adiante, incluimos nesta análise o efeito de um feixe de
elétrons.
A qualidade ótica final atingiu, assim, o seu mais alto grau no início do século XX. A
excelente correção das lentes apocromáticas foi extendida por Boegehold a partir de 1938
às lentes planoapocromáticas, cujo grande campo de visão corrigida as tornam
especialmente importantes para a microfotografia e metalografia. Mencionando ainda a
introdução das camadas anti-refletoras, para controle da luz difusa, vemos que, em meados
do século XX, o microscópio atingiu praticamente os aumentos máximos previstos pela
teoria, não sendo esperados grandes desenvolvimentos nesta direção. Evoluções
importantes ocorreram, no entanto, no projeto dos microscópios.
De um modo geral, uma excitação incidente desencadeará na matéria uma resposta, dita
um sinal, que podemos adquirir por um sensor adequado. No caso especial de ocorrer a
excitação por um feixe de elétrons acelerados, verifica-se a ocorrencia de múltiplos sinais.
Dois exemplos são bem conhecidos de todos: a imagem luminosa de um tubo de televisão,
e a radiação emanante de um tubo de raios-X (UMINHO, 2003).
A.3. MICROSCOPIA ÓTICA
Segundo Filho (2003), o microscópio simples de Leeuwenhoek foi aprimorado por Hooke,
ganhando mais uma lente. Deste modo, foram obtidos aumentos ainda maiores. Os
microscópios óticos modernos são descendentes sofisticados do microscópio composto de
Hooke e muito mais poderosos do que os pequenos instrumentos usados pelos cientistas no
início do século XVII. Eles são dotados de dois sistemas de lentes de cristal (oculares e
118
objetivas) que produzem ampliações de imagem que vão em geral de 100 a 1000 vezes,
deste modo revelando detalhes, até então invisíveis para nossa visão.
No microscópio ótico, a luz que chega aos nossos olhos para formar a imagem atravessa
primeiro o objeto em estudo. Por isto, o material a ser observado não pode ser opaco. No
caso do concreto, tido como material inerte, a amostra é geralmente submetida a um ataque
químico, permitindo assim uma maior visualização de sua morfologia e características
(Figura A.1).
Figura A.1 – Sistema de aquisição de imagens por microscopia ótica.
Fonte: CEMM – PUCRS.
O uso de microscópios ópticos de luz polarizada é corriqueiro nos estudos da estrutura de
cristais. Este equipamento é dotado de alguns acessórios especiais entre os quais se
destacam um par de polarizadores com ângulo relativo ajustável entre os eixos ópticos. O
primeiro deles, próximo à fonte de luz é dito polarizador, filtrando a luz e permitindo que
sobre a amostra incida luz polarizada. Após passar por esta, e eventualmente pela amostra
(que se encontra sobre uma platina giratória), a luz atravessa o segundo polarizador, dito
analisador, alcançando, finalmente, a ocular.
Em sua passagem pela amostra, a luz pode vir a sofrer modificação de seu plano de
polarização em virtude da anisotropia óptica do material, revelando uma série de imagens
que na área de cristais líquidos são conhecidas como texturas.
119
A microscopia de luz polarizada é um método bastante usado para a identificação das
diferentes mesofases líquido-cristalinas e também das temperaturas de transição de fase em
cristais líquidos através da variação destas texturas (DUARTE, 2000).
A.3.1 Natureza da luz
Se a menor fração do que chamamos luz fosse um corpúsculo rígido e indivisível, jamais
poderíamos explicar determinados fenômenos ópticos observados pela primeira vez por
Newton como, por exemplo, a interferência. Se por outro lado a luz fosse um fenômeno
ondulatório, representado pela propagação de vibrações de corpúsculos materiais situados
num meio hipotético chamado éter, a difração e a interferência seriam explicadas. É
verdade que nem tudo era explicado pela teoria ondulatória; mas alguns "acertos" aqui,
algumas abstrações ali, algumas equações acolá, e pronto: a teoria estava perfeita.
Quando ninguém mais se propunha a ignorar o éter, Michelson e Morley, numa
experiência muito bem conduzida, constatam o inesperado: a propagação da luz através do
éter não era tão simples quanto fora supostamente aceita. Ou talvez fosse mais simples do
que o esperado, mas ninguém ousou "regredir" à teoria corpuscular de Newton; aliás, não
havia como explicar determinados fenômenos ópticos através desta teoria; a menos que tais
corpúsculos não fossem tão rígidos ou tão indivisíveis, mas parece que ninguém se
aventurou a adentrar por este terreno. Todas as teorias surgidas para explicar a aberração
encontrada apoiaram-se fortemente na teoria ondulatória da luz. E novamente a teoria,
ainda que modificada, estava perfeita. A luz não mais era a propagação da vibração de
corpúsculos etéreos; o éter não mais existia, pois não mais era necessário. Luz não era
matéria e sim energia em propagação; era um tipo de energia que não necessitava de um
meio material: a energia eletromagnética (FILHO, 2003).
A.3.1.1 A luz corpuscular
Até o início do século XIX, a grande maioria dos físicos aceitou uma natureza corpuscular
para a luz, e a teoria mais em voga era a de Newton. Luz corpuscular é quase sinônimo de
luz material e esbarra na aceitação ou não da idéia de que os corpos materiais
macroscópicos e a luz seriam conversíveis entre si através de emissão e absorção de luz
por eles. Numa primeira aproximação poderíamos pensar num corpúsculo esférico a se
120
propagar pelo espaço numa direção definida (Figura A.2). O formato esférico não é em si
obrigatório, mas facilita a esquematização.
Figura A.2 – Primeira idéia de um corpúsculo de luz propagando-se pelo espaço.
Fonte: Filho (2003).
É fundamental, para o estudo da luz corpuscular, a caracterização de uma ação e reação a
distância entre os corpos materiais macroscópicos e os corpúsculos de luz. Assim é que
Newton refere-se com muita freqüência a uma inflexão dos raios de luz, termo esse que foi
relegado a um segundo plano pela óptica ondulatória. Graças a essa ação à distância,
mediada por alguma coisa de natureza imaterial, os corpúsculos, em sua interação com
outros corpos materiais, iriam gradativamente modificando a direção de propagação, ou
seja, essas variações de direção seriam gradativas, e não bruscas, a retratarem uma ação
contínua entre o objeto que as provoca e o raio de luz a sofrer a inflexão considerada
(Figura A.2).
Figura A.3 – Inflexão de um raio de luz elementar dirigindo-se da esquerda para
a direita.
Fonte: Filho (2003).
Essa alguma coisa de natureza imaterial não chega a ser muito bem definida por Newton.
Em alguns trechos de sua obra ele chega a caracterizá-la como uma possível vibração
emitida pelos corpos materiais e a se propagar por um éter. Seria como se alguma coisa de
natureza ondulatória respondesse pela inflexão de uma luz corpuscular. Em outros trechos
ele chega a negar esse éter de tipo huygheniano, deixando-nos a impressão de que essa
alguma coisa seria aquilo que em alguns de seus textos é caracterizado como o espírito da
121
matéria, algo de natureza imaterial, mas a se propagar pelo espaço de maneira idêntica à
matéria. Ou seja, não seria um éter no sentido clássico, como o termo é comumente
empregado, mas seria como que um éter emitido pela matéria, e não em repouso em seu
espaço absoluto.
Nesse caso aquela idéia de "vibração" se desfaz. Essa alguma coisa imaterial ou esse
espírito da matéria, ou, ainda, esse éter fluido emitido pela matéria, assemelha-se muito à
idéia que Newton fazia a respeito da gênese da gravitação e das demais interações entre os
corpos materiais, a se resumirem nas três leis de seu modelo mecânico macroscópico. É
por isso que costumo dizer que a óptica e a mecânica de Newton fazem parte de uma teoria
única e indissociável. Nos dias atuais, a negação de uma implica quase que
necessariamente a negação da outra, assim como a negação da teoria corpuscular da luz no
século XIX implicou, por motivos vários, a negação de quase toda a física newtoniana no
século XX.
Todo raio de luz tem, portanto, dois lados opostos, originalmente dotados de uma
propriedade da qual a refração incomum depende, e os outros dois lados opostos não
dotados daquela propriedade.
Com essas palavras, Newton conclui sua interpretação sobre a dupla refração observada
pela primeira vez por Erasmus Bartholine no cristal da Islândia, fenômeno conhecido hoje
como polarização por dupla refração ou birrefringência.
Como poderíamos interpretar esses lados dos raios de luz? A Figura A.4 retrata uma
modificação ligeira efetuada na Figura A.2, e, como veremos, a imagem assim obtida cai
como uma luva na interpretação dada por Newton ao que hoje chamamos polarização da
luz. Sob essa visão, o corpúsculo de luz gira sobre si mesmo e propaga-se segundo uma
perpendicular ao eixo do giro (FILHO, 2003).
Figura A.4 – Corpúsculo de luz girando sobre si mesmo e propagando-se
segundo uma perpendicular ao eixo do giro.
Fonte: Filho (2003).
122
Na Figura A.5 (a) vemos um corpúsculo de luz propagando-se no plano da tela semelhante
àquele mostrado na A Figura A.4, e outro propagando-se num plano perpendicular ao
plano da Figura A.5 (b), como se estivesse fugindo do observador (mostrando, pois, o seu
dorso). Nota-se na figura que os quatro lados referidos por Newton, e opostos dois a dois,
seriam, respectivamente: esquerdo, direito, em cima e embaixo (Figura A.5 b). Os lados
esquerdo e direito mostrariam como propriedade comum o aspecto de um giro equatorial, e
os lados em cima e embaixo teriam em comum o aspecto de giro polar.
Figura A.5 – Os lados do corpúsculo e do raio de luz.
Fonte: Filho (2003).
A.3.1.2 A Luz ondulatória
A idéia de luz ondulatória tem muito a ver com a noção intuitiva de onda mecânica e, em
especial, com a propagação de vibrações em meios fluidos como o ar ou a água. Christian
Huyghens (1629-1695), ao conceber a luz ondulatória, não se fez de rogado e, ao dar conta
da propagação da luz no vácuo, assumiu a existência de um éter a permear o universo.
É importante perceber que a idéia de luz ondulatória surgiu num contexto bem diferente do
atual. Com efeito, e a despeito dos trabalhos de Boyle de 1658 e Bernouilli de 1738, a
noção de matéria constituída por partículas elementares a se instalarem no vazio (ou no
vácuo de Torricelli, 1644), somente começou a ser levada a sério a partir dos trabalhos de
Clausius em 1857, Maxwell em 1875 e Boltzmann em 1860, a fornecerem as bases para
as teorias atômicas da física atual. (FILHO, 2003).
123
Até a segunda metade do século XIX, os meios assumidos como sede dos fenômenos
ondulatórios, quais sejam, o ar a propagar o som e a água a transportar momento (ou
movimento), eram, via de regra, assumidos como fluidos contínuos. Até mesmo a analogia
macroscópica, devida a Huyghens (Figura A.6), conquanto corpuscular em essência,
assume uma continuidade absoluta e inerente a esse meio de propagação de impulso
(esferas enfileiradas e em contato íntimo).
Figura A.6 – A transmissão de uma perturbação através de um meio
intermediário.
Fonte: Adaptado de ilustração do Traité d'Óptique de Huyghens Apud Filho. (2003)
Hoje sabemos que as moléculas não dão trombadas, na acepção macroscópica do termo.
Os choques entre partículas elementares, átomos e moléculas, dão-se a distância, por
menor que seja essa distância. Até mesmo os fenômenos ondulatórios bem conhecidos
exigem que alguma coisa passe de um corpúsculo para outro a distância. E o que seria essa
alguma coisa senão o espírito da matéria invocado por Newton.
Ou seja, a onda mecânica clássica (por exemplo, a onda sonora ou a onda aquática) existe
se, mas somente se, as partículas que vibram emitirem alguma coisa capaz de sensibilizar
as partículas vizinhas, bem como sofrerem uma retroação. Logo, a dualidade é inerente às
ondas mecânicas clássicas, havendo, pois, um fenômeno ondulatório, observável
macroscopicamente, acoplado a uma emissão de uma entidade pertencente ao microcosmo,
provavelmente imaterial em essência e do mesmo tipo daquela que responde pela gênese
dos campos gravitacional, elétrico e magnético. Mas e no caso da luz?
124
Uma das experiências marcantes a dar o veredicto do século XIX à luz ondulatória foi
aquela realizada por Foucault em 1850, ao constatar que, em meios opticamente densos, a
luz propaga-se em velocidades menores que no vácuo. Os físicos dessa época aceitavam a
lógica de Descartes de 1637, segundo a qual a curvatura da trajetória de um corpúsculo de
luz ao passar do ar para o vidro seria devida a uma força perpendicular à superfície CE,
conforme a Figura A.7 e Figura A.8, e dirigida para o segundo meio (vidro no caso)
(FILHO, 2003).
Figura A.7 – A refração corpuscular de Descartes.
Fonte: Filho (2003).
Figura A.8 – A refração corpuscular de Newton.
Fonte: Filho (2003).
Esta mudança de direção (de AB para BI na Figura A.7 e Figura A.8) não deveria ser
instantânea ou brusca e ocorrer exatamente no ponto B. Provavelmente seria gradativa,
como descrito por Newton. A Figura A.8, ampliação idealizada (mas não em escala) do
pequeno retângulo central da Figura A.7, exprime essa idéia. Essa figura estaria em acordo
125
com um ganho em velocidade dos corpúsculos, pois a curvatura dar-se-ia, sem dúvida,
através de uma força de atração exercida pelo vidro. Mas a experiência de Foucault
demonstrou exatamente o contrário: a menor velocidade da luz no segundo meio em
relação à velocidade da luz no primeiro meio. Seria a luz realmente ondulatória? E, neste
caso, a mudança de direção seria brusca, como proposto pela teoria ondulatória? Haveria,
nas vizinhanças do ponto B (Figura A.8), uma inflexão brusca, ou melhor, uma quebra da
"frente de onda", como mostrado na Figura A.9 e como defendem os adeptos da teoria
ondulatória? (FILHO, 2003).
Figura A.9 – Refração ondulatória.
Fonte: Filho (2003).
Sabe-se hoje que essa história está mal contada. Entre um átomo e outro, de um meio
opticamente denso, a luz propaga-se na mesma velocidade v com que entrou nesse meio,
nem mais, nem menos. Acontece que durante a passagem pelo meio opticamente denso, a
luz vai sendo alternadamente absorvida e reemitida, tendo-se como resultado final uma
redução da velocidade medida v
m
da luz.
Esta seria, portanto, uma velocidade média v
m
a contrastar com a velocidade real v.
Existiriam então quatro velocidades em jogo: a) duas relacionadas a cada um dos meios 1 e
2, as velocidades médias v
1m
e v
2m
, correspondendo às velocidades medidas e a levarem
em conta o tempo em que a luz permanece absorvida pelas partículas do meio; e b) duas
velocidades reais, v
1
e v
2
, a corresponderem às velocidades com que a luz percorre o
trajeto entre uma partícula e a seguinte da trajetória do raio de luz. Se o primeiro meio for
o vácuo, teremos v
1m
= v
1
= c. Do contrário, e sob um ponto de vista estritamente clássico,
deveríamos ter sempre v
1m
# v
1
#
c.
126
Suponhamos então que o meio 1 seja o vácuo. Neste caso, é interessante observar que as
velocidades real e média (ou velocidade medida) do meio 2 relacionam-se entre si através
do quadrado do índice de refração do meio 2 (Obtém-se a terceira equação mostrada na
tabela abaixo multiplicando-se as duas primeiras membro a membro).
Tabela A.1 - Relação entre velocidades.
“Esperança de
Descartes”
Lei de Snell – Descartes
(após Foucault – 1850)
Relação entre Velocidade Real
e Velocidade Média
Fonte: Filho (2003).
A.3.2 POLARIZAÇÃO DA LUZ
A polarização representa sempre um tema de importância crucial para todos aqueles que
sonham decifrar segredos relacionados à natureza da luz. Para Newton, a polarização foi
um dado importante a convencê-lo de que luz seria um fenômeno corpuscular. Para
Fresnel, a polarização constituiu-se num impecilho, a complicar terrivelmente suas
tentativas em caracterizar a luz como um fenômeno exclusivamente mecânico-ondulatório.
Para Faraday, o relacionamento entre a polarização da luz e o campo magnético
representou um trunfo, a demonstrar-nos ter sido tanto mais importante quanto mais nos
lembrarmos de que foi esse o fenômeno a convencer Maxwell de que a luz era um
fenômeno ondulatório eletromagnético. Hoje a polarização da luz constitui-se no mais
importante alicerce a sustentar o mais fundamental dentre todos os princípios da mecânica
quântica: o princípio da superposição de estados. (DUARTE, 2003).
A luz pode ser representada como uma onda composta de campos elétrico e magnético
oscilantes e mutuamente perpendiculares entre si. A Figura A.10 mostra o vetor campo
elétrico E no plano xy, o vetor campo magnético B no plano xz e a propagação da onda na
direção x.
127
Figura A.10 – Composição vetorial da luz.
Fonte: Duarte (2000).
A Figura A.11 mostra a propagação de E. Somente E é considerado, pois o vetor B é
essencialmente o mesmo, sendo perpendicular a E. O campo E variando senoidalmente
pode ser comparado com o movimento de uma corda segurada por duas crianças em lados
opostos. As crianças deslocam as extremidades da corda de tal forma que a onda se move
em um plano, para cima e para baixo ou para a esquerda e para a direita, ou qualquer
ângulo intermediário.
Figura A.11 – Propagação da luz.
Fonte: Duarte (2000).
A luz natural (luz do Sol, por exemplo) é feita de ondas que oscilam em todos os ângulos
possíveis no plano perpendicular ao movimento. A luz é considerada como sendo
linearmente polarizada quando esta contém ondas que oscilam em um único plano
específico. Voltando ao exemplo da corda oscilando é como se a onda fosse obrigada a
oscilar para cima e para baixo, e o movimento nas outras direções é barrado.
Um polarizador de luz é um material que permite a passagem de luz somente em um
ângulo de vibração específico. A direção de oscilação de E que passa através do
polarizador é chamado de eixo óptico. Se dois polarizadores são colocados em série, tal
que seus eixos ópticos são paralelos, a luz passa através de ambos como mostra a figura
abaixo. Entretanto, se os eixos estiverem perpendiculares, a luz polarizada que sai do
primeiro polarizador é extinta pela segunda, como mostra a Figura A.12.
128
Figura A.12 – Polarização da luz.
Fonte: Duarte (2000).
Quando o ângulo muda continuamente de 0° a 90°, a quantidade de luz que é transmitida
decresce. Em geral, na microscopia óptica de luz polarizada os polarizadores são cruzados,
e entre eles é colocado um material anisotrópico que tem a propriedade (como um
polarizador) de girar o plano de polarização da luz (DUARTE, 2003).
A.4. MICROSCÓPIO ELETRÔNICO DE VARREDURA
Durante a década de 30, ocorreram dois eventos que teriam profunda influência sobre o
desenvolvimento da microscopia no século XX: o advento da televisão e do radar. Em
ambos os casos, o conceito básico é o da varredura, e a conseqüente modificação da
relação entre o objeto e sua imagem, de uma função geométrica para a de uma função
temporal. (UMINHO, 2003).
Os pioneiros conceituais da microscopia eletrônica de varredura foram Ardenne, na
Alemanha em 1938 e Zworykin nos EUA em 1943. A realização prática de um
microscópio eletrônico de varredura (MEV) só veio muitos anos depois, através do
trabalho do grupo de Oatley em Cambridge em 1964.
O microscópio de força atômica, MET, é um microscópio que "varre" a superfície da
amostra utilizando um micro-sensor que permite uma observação com grande ampliação
em forma tridimensional. Possibilita a obtenção de dois tipos principais de informações:
morfológicas, e, no caso de amostras cristalinas, cristalográficas. Sua operação é baseada
em leis elementares da Física e conta com a moderna tecnologia de semicondutores.
Para a realização de uma microscopia de varredura, podemos utilizar, em tese, qualquer
interação entre um estímulo e a matéria, que resulte em uma resposta que podemos captar
por um sensor. Exemplifiquemos pela descrição do MEV: Um feixe de elétrons com cerca
de 20 keV, gerado em um canhão similar ao do MET, é convergido por um conjunto de
129
lentes eletromagnéticas que agem como condensadores. Este feixe é focalizado sobre a
amostra, e, mediante bobinas defletoras, percorre uma varredura sobre pequena região sua.
Como conseqüência, uma série de sinais é emitida, das quais destacamos inicialmente
elétrons secundários com cerca de 50 eV. Estes elétrons são captados por um detector cuja
resposta modula o brilho de um tubo de raios catódicos, e que é varrido em sincronismo
com o feixe eletrônico. Portanto, a cada ponto da amostra corresponde um ponto da tela, e
nele é mapeada a resposta do objeto ao feixe de excitação. O aumento é obtido pela relação
entre a área varrida sobre a amostra e a área da tela do tubo.
A resolução depende do sinal utilizado. De todos, os mais comuns são os elétrons
secundários, que oferecem melhor resolução espacial, e também melhor visão da
topografia da amostra. Os elétrons retrorefletidos, de energia praticamente igual à do feixe
incidente, oferecem alguma informação sobre o número atômico do elemento considerado.
A possibilidade de utilização é muito maior do que a simples aquisição e exibição destes
sinais. As grandes oportunidades introduzidas pela microscopia de varredura (em todas as
suas formas) são a disponibilidade de um sinal e de uma imagem eletrônica, nas quais
podem ser aplicados todos os recursos modernamente disponíveis para processamento de
sinais e de imagens. Assim, destacamos os principais, como amplificação diferencial e
alteração da intensidade de fundo; possibilidade de melhorar a relação sinal/ruído,
sabidamente de fundamental importância na qualidade de imagens, através da amostragem
múltipla e aumento do tempo de aquisição (UMINHO, 2003).
O primeiro MEV utilizado para observações de amostras espessas foi descrito em 1942,
com resolução da ordem de 1 m, resolução pior que a utilizada por microscopia ótica. O
microscópio ótico consta de duas lentes convergentes, onde a primeira está próxima ao
objeto, denominada lente objetiva (grande distância focal), e a segunda lente é uma lupa
denominada ocular (pequena distância focal).
Os microscópios óticos ficam, então, limitados a um aumento máximo de 2.000x, pois
acima deste valor os detalhes menores que o comprimento de onda da luz empregada
(4.000 - 7.000 Å) são imperceptíveis. Deste modo, para aumentar a resolução, a fim de se
130
obter a imagem desejada, seria necessário trabalhar com comprimento de onda menor, o
que acontece com o microscópio eletrônico (UMINHO, 2003).
A.4.1 PRINCÍPIOS FÍSICOS DO MEV
O microscópio eletrônico de varredura (MEV) é um equipamento sofisticado, que possui
grande profundidade de foco, capaz de produzir imagens com alta resolução. Elétrons são
emitidos, como fonte de energia, por um filamento de tungstênio através de uma
determinada corrente. Devido a uma diferença de potencial, esses elétrons são acelerados
produzindo um feixe que percorre uma coluna contendo lentes eletromagnéticas capazes de
colimar o feixe. Bobinas impõem a varredura sobre a superfície da amostra. A incidência
do feixe de elétrons sobre a amostra dá origem a diversos sinais, destacando-se os elétrons
secundários (SE), os elétrons retroespalhados (BSE) e os Raios – X (HASPARYK, 1999).
Segundo o CEMM (2004), o MEV consiste basicamente em:
a) Coluna ótica;
b) Câmara de amostra;
c) Sistema à vácuo (bomba difusora e mecânica);
d) Controle eletrônico;
e) Sistema de imagem.
Na Figura A.13, podemos verificar os componentes básicos de um microscópio eletrônico
de varredura (MEV).
Figura A.13 – Componentes básicos de um MEV.
Fonte: CEMM - PUCRS.
131
A.4.1.1 Fonte de elétrons
É necessário um filamento que sirva como fonte de iluminação do MEV, geralmente de
tungstênio (W); o qual, quando aquecido, emite feixe de elétrons, que opera em uma faixa
de tensões de aceleração de 0,5 a 30kV. O feixe de elétrons passa através de um orifício e,
depois, através de duas lentes eletromagnéticas, que vão focar o feixe na amostra. O
filamento é mantido à alta tensão de aceleração em relação ao ânodo localizado abaixo da
fonte de emissão.
A qualidade do vácuo é necessária para que este feixe passe livremente pela coluna do
MEV, impedindo, desta forma, que os elétrons se choquem com as moléculas de gás. A
pressão na câmara é de aproximadamente 1,33 x 10
-4
Pa ou menor, e, na pré-câmara, em
torno de 1,33 x 10
-1
Pa. (CEMM, 2003). O canhão é composto por 3 diferentes
componentes básicos:
1) Filamento de W;
2) Cilindro de Wehnelt (cátodo);
3) Ânodo
Estes 3 elementos, como pode ser visto na Figura A.14, são mantidos em diferentes
potenciais elétricos.
Figura A.14 – Esquema de um canhão de elétrons tradicional
Fonte: CEMM - PUCRS.
A.4.1.2 Coluna ótica eletrônica
132
O objetivo das lentes eletromagnéticas no MEV é o de formar o menor diâmetro de feixe.
Normalmente, o sistema de lentes é composto de duas lentes condensadoras e uma
objetiva, onde geralmente a lente condensadora apresenta distância focal automática, e a
lente objetiva é ajustavel para focalizar o feixe sobre a superfície da amostra.
Dentro da lente objetiva existem dois pares de bobinas varredoras, com a função de varrer
o feixe sobre uma área na superfície da amostra, utilizando-se de um sistema de deflexão
duplo, produzido pelo campo magnético dos pares da bobina. (CEMM, 2003).
A distância de trabalho (DT), ou work distance (WD), é a distância da superfície da
amostra à parte inferior da lente, quando esta distância varia, a corrente da objetiva deve
ser ajustada para continuar a focalizar o feixe sobre a superfície da amostra. Isto pode ser
verificado na Figura A.15.
Figura A.15 – Sistema ótico eletrônico do MEV.
Fonte: CEMM - PUCRS.
A.4.1.3 Sistema imagem
Um feixe de elétrons de alta energia é focalizado em um ponto da amostra, causando
emissão de elétrons com grande espalhamento de energia. Estes elétrons, por sua vez, são
coletados por um detector e amplificados para fornecer um sinal elétrico, este sinal é usado
para modular a intensidade do feixe de elétrons.
A Figura A.16 esquematiza uma varredura linear sobre uma superfície irregular, com as
possíveis trajetórias dos elétrons utilizados para formar a imagem e a relação de aumento.
133
Figura A.16 - Formação da imagem através da detecção de elétrons secundários
e relação de aumento no MEV.
Fonte: CEMM – PUCRS.
A.4.1.4 Detector
A formação da imagem em um MEV utiliza um detector adequado para converter a
radiação de interesse em um sinal elétrico, o qual deve passar para a cadeia de ampliação,
indo então prover a modulação da intensidade nos anteparos de visualização e registro.
Neste terminal são registradas diferentes informações para cada tipo de imagem eletrônica,
podendo o MEV apresentar tantos detectores quantos forem necessários adicionar,
podemos citar alguns: (CEMM, 2003).
a) Detector de elétrons secundários: os elétrons secundários são atraídos para o detector
devido à voltagem positiva da grade localizada na frente do detector de 200V. Dentro do
detector, os elétrons são acelerados com energia de até 10kV para uma guia de luz de
quartzo coberto com material cintilador. Esta aceleração resulta na produção de um fóton
que percorre a guia de luz até um fotomultiplicador que produzirá uma corrente de
elétrons. Os elétrons secundários são detectados por um cintilador que transforma a energia
dos elétrons em fótons, estes, por sua vez, são conduzidos até um fotomultiplicador, sendo
este pulso amplificado gerando um ponto na tela. Vide Figura A.17.
134
Figura A.17 - Detector de elétrons secundários.
Fonte: CEMM – PUCRS.
b) Detector de elétrons retroespalhados: Estes detectores são superiores aos de elétrons
secundários para exibir contrastes, além de serem menos sensíveis a efeitos de carga. A
imagem de elétrons retroespalhados contém dois tipos de informações: uma sobre a
composição da amostra (COMPO), e a outra sobre a topografia da amostra (TOPO). Para
separar esses dois tipos de informação, o detector de elétrons retroespalhados é provido de
um par de semicondutores dispostos simetricamente com o eixo ótico, conforme Figura
A.18.
Figura A.18 - Detector de elétrons espalhados.
Fonte: CEMM – PUCRS.
135
ANEXO B
B.1. TEORIA DA DIFUSÃO
A teoria da difusão é responsável não só pelo entendimento do processo de adesão, que
ocorre na interface entre a argamassa de reparo e a superfície de concreto, mas também
pelo processo de carbonatação do concreto, que consiste na reação do dióxido de carbono
(CO
2
) presente no ambiente com os componentes alcalinos da pasta de cimento hidratada,
na presença de umidade, formando, basicamente, carbonatos e água. (UTAD, 2003)
B.1.1 DIFUSÃO ATÔMICA
A difusão atômica consiste em um misturar progressivo de átomos de natureza diferente,
provenientes de diferentes materiais postos em contato um com o outro, no caso, o reparo e
o concreto. Esta mistura efetua-se por deslocamento aleatório dos átomos pelos defeitos
cristalinos. Em particular, a difusão atômica no seio de um material sólido pode ser
produzida da seguinte forma:
(1) por salto de átomos ou íons de lacuna em lacuna, (Figura B.1 a). É freqüente para os
átomos espessos e ânions;
Figura B.1 – Difusão atômica; a) lacunas; b) interstícios.
Fonte: UTAD (2003).
136
(2) por salto de átomos ou íons de interstício em interstício Figura B.1 (b);
(3) através de deslocamento ao longo de articulações de grão;
(4) através de deslocamento ao longo de superfícies livre do material.
O deslocamento de um átomo de um local para outro requer energia para separar os dois
mais próximos vizinhos e pular para dentro do local interstício seguinte, como também é
ilustrado à figura B.1 (b) para interstícios. Esta energia é chamada energia de ativação de
G*. Quando não há gradiente de energia livre da solução sobre o sítio 2, tem-se a
freqüência de salto de um átomo da solução de um local em outro local :
Τ
=Γ
κ
ν
*
0
exp
G
B.1
onde:
0
ν
= é a freqüência de vibração natural de um átomo em qualquer local
κ
= constante de Boltzmann (k=1.38 x 10-23 J/K).
G*
= energia de ativação medida para meia distância entre as posições 1 e 2
T
= unidade de tempo
Quando um gradiente de energia livre existe sobre o sítio 3, a freqüência de salto de um
átomo da posição 1 para a posição 2 é:
Τ
=Γ
κ
ν
21
021
exp
G
B.2
onde:
G
12
= energia liberada para o salto de um átomo da posição 1 para 2
2
*
21
g
GG
δ
=
B.3
onde:
δg
= diferença em energia livre de um átomo entre posições 1 e 2, devido ao gradiente de
energia livre:
137
Então:
Τ
=Γ
κ
δ
ν
2
exp
*
021
g
G
B.4
Figura B.2 – Energia de ativação.
Fonte: UTAD (2003)
Figura B.3 – Difusão atômica num gradiente de energia livre.
Fonte: UTAD (2003)
De maneira análoga, a freqüência de salto de um átomo da posição 2 para a posição 1 é
dada por:
Τ
+
=Γ
κ
δ
ν
2
exp
*
012
g
G
B.5
O equilíbrio dos saltos eficientes da posição 1 à 2 é definido como:
138
Τ
+
ΤΤ
=ΓΓ=Γ
κ
δ
κ
δ
κ
ν
2
exp
2
expexp
*
01221
gg
G
eq
B.6
Então:
Τ
=
Τ
Τ
+
Τ
+
Τ
κ
δ
κ
δ
κ
δ
κ
δ
κ
δ
ggggg
2
1
2
1
2
exp
2
exp
B.7
Logo:
Τ
Τ
=Γ
κκ
δ
ν
*
0
exp
G
g
eq
B.8
Na difusão propriamente dita, a diferença de energia atômica livre δg deduz-se da
diferença de potencial químico molar δµ da solução, na solução forte por onde distribui:
A
N
g
µ
δ
δ
=
B.9
Onde N
A
é o número de Avogadro. A diferença do potencial químico molar pode ser agora
calculada através do gradiente de potencial e o
λ distância entre planos atômicos.
λ
µ
µ
µδ
x
dx
x
=
=
B.10
O sinal negativo é devido ao fato de δγ e δµ serem usados a partir dos números positivos
nas equações prévias, considerando que o gradiente do potencial químico molar do soluto é
negativo. Finalmente:
Τ
Τ
=Γ
κ
µ
κ
νλ
*
0
exp
G
xN
A
B.11
Para uma solução denominada regular, a relação entre o potencial químico molar e a
concentração de molar da solução [S] é:
][ln
0
SN
A
Τ+=
κ
µ
µ
B.12
Na qual µ
0
é o potencial químico molar do solvente puro. Então:
139
x
S
S
N
x
A
Τ
=
][
][
κ
µ
B.13
O número de moles da solução por unidade de superfície de um plano atômico é o número
de átomos contido num volume (λx1m
2
), qualquer λ[S]. O fluxo total de moles da solução,
em (moles/m
2
seg) é:
x
S
G
S
eqeq
Τ
=Γ=Φ
][
exp][
*
0
2
κ
νλλ
B.14
O que equivale a:
x
S
D
eq
=Φ
][
B.15
Na qual D define o coeficiente de difusão:
Τ
=
κ
νλ
G
D
o
exp
2
B.16
B.1.2 LEIS DE FICK
A primeira Lei de Fick expressa o fluxo de difusão (“velocidade” de difusão) em função da
diferença de concentração.
Para uma melhor compreensão, suponhamos, por exemplo, que uma quantidade de Boro é
depositada numa tira de silício (figura B.4). Pouco a pouco, os átomos de boro misturam-se
com os de silício para obtermos um perfil de concentração que ficaria constante depois de
um tempo infinito (figura B.4 c). Para um determinado momento t pouco depois do
começo da difusão, o perfil de concentração dos átomos de boro podem ser observados na
figura B.4 b. Para toda a abscissa x, conta-se o lugar onde foi introduzido inicialmente o
boro. Então, pode-se definir o gradiente de concentração do boro:
140
Figura B.4 – Evolução do perfil de concentração dos átomos de boro no silício,
em função do tempo: (a) tempo t = 0; (b) tempo t qualquer; tempo t =
.
Fonte: UTAD (2003).
Do fluxo Φ de átomos de boro segundo a equação B.15, define-se a Primeira Lei de Fick.
x
B
D
=Φ
][
B.17
onde:
D = coeficiente de difusão [cm
2
/s] (“velocidade de difusão”)
x
B
][
= gradiente de concentração em função da distância [átomos/m
3
]
Obs: Note que esta relação é independente do tempo!
O sinal (–) provém de que um gradiente de concentração negativo corresponde a um fluxo
positivo (O fluxo de difusão ocorre da concentração mais alta para a concentração mais
baixa).
A Segunda Lei de Fick exprime simplesmente que há conservação de massa. Em condições
de estado não-estacionário, o fluxo de difusão e o gradiente de concentração variam com o
tempo.
A equação da conservação da massa expressa um cálculo para a adição e remoção da
massa de uma região definida de fluído. Considere um volume de fluído fixo, não
deformável,
, chamado de volume controle (vc), que possui um contorno de superfície
definido, chamado de superfície controle (sc). A conservação da massa exige que a taxa
temporal de variação de massa dentro do volume controle seja igual à taxa na qual a massa
adentra no volume controle mais a taxa na qual a massa é obtida ou perdida dentro do
volume controle em virtude das fontes e consumo. Uma expressão matemática dessa lei
está descrita abaixo. Dentro do volume controle existe a distribuição de algumas espécies
141
definidas pelo campo de concentração, C(x, y, z). A massa total dentro do volume controle
é:
M =
cv
Cd
B.18
M pode mudar durante o tempo em virtude de fontes e consumo localizados dentro do
volume, ou em virtude de fluxos de massa através dos contornos do volume controle. Em
um sistema de fluído existem duas formas de fluxo de massa: advecção e difusão.
O fluxo líquido da massa para fora do volume controle em virtude da advecção é descrito
pela integral
cv
CV.ndA
B.19
Figura B.5 – Representação gráfica da equação B.19.
Fonte: UTAD (2003)
Aqui, V = (u,x,w) é o vetor de velocidade e n
r
não é a normal de direção externa para o
segmento de superfície dA.V.n representa o componente de velocidade perpendicular ao
segmento de área dA. A definição de
n
r
como a normal de direção externa torna (2) o fluxo
líquido para fora de
. Isso é, o fluxo para fora de (mesma direção de n
r
) contribui de
forma positiva para a integral, e o fluxo para
(em oposição a n
r
) contribui de forma
negativa. O fluxo líquido do volume controle em virtude da difusão é definido através da
Lei de Fick.
142
-
cs
D
n
(C/n)dA
B.20
onde:
Dn = coeficientes de difusão ao longo do eixo
n
r
permitem a anisotropia em D
Observe que os gradientes de concentração são definidos ao longo do eixo
n
r
, em todos os
locais perpendiculares à superfície e posição em direção externa aos coeficientes de
difusão. No caso de difusão molecular e/ou turbulência isotrópica, D não é uma função de
direção e o subscrito pode ser cancelado. A expressão matemática final para a conservação
da massa combina B.18, B.19 e B.20.
Conservação da Massa em Forma Integral (Volume Controle):
(
/t)
cv
Cd = -
cs
CV.ndA +
cs
D
n(
C/n)dA ±S
B.21
onde:
(
/t)
cv
Cd
= taxa de tempo de variação de massa dentro do vc
-
cs
CV.ndA
= fluxo advectivo para dentro de um volume de controle
cs
D
n(
C/n)dA
= fluxo difuso para dentro de um volume de controle
±S
= fonte consumidora
Tomemos como exemplo o crescimento do número de átomos de boro entre as abscissas x
e
x+dx. .Mede-se esse crescimento de duas formas, figura B.6.
Figura B.6 – Representação Segunda Lei de Fick.
Fonte: UTAD (2003)
crescimento de átomos dx
x
B
B
=
][
143
dx
x
dx
x
B
inin
ininoutin
Φ
=
Φ
+ΦΦ=ΦΦ=
B.22
onde:
Φ
in
e Φ
out
= fluxo de átomos que entram em x e saem em x + dx
Se D (difusidade) for independente de “x”, ficamos com a seguinte igualdade:
2
2
][
][
x
B
D
t
B
=
B.23
Condições de Contorno:
A equação diferencial de segunda ordem só pode ser resolvida se forem fornecidas as
condições de contorno:
* Antes da difusão, todos os átomos do soluto em difusão estão uniformemente
distribuídos, mantendo uma concentração “C
0
”;
* O valor de “x” na superfície é zero e aumenta à medida que se avança em profundidade
no sólido;
* O coeficiente de difusão permanece constante (não muda com a concentração);
* t = o imediatamente antes do início da difusão.
Para uma concentração dada em átomos de boro em superfície, então [B]
s
é uma
concentração inicial [B]
0
= 0, a solução para as duas leis de Fick é:
=
tD
x
erfBB
stx
2
1][][
,
B.24
Onde
=
tD
d
x
e
tD
x
erf
0
2/
2
2
2
λλ
π
A função erf é denominada função erro de Gauss, ela é tal que:
erf (
) = 1, erf (-x) = -erf (x), e erf (0) = 0
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