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UNIVERSIDADE FEDERAL DE S
˜
AO CARLOS
CENTRO DE CI
ˆ
ENCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE P
´
OS-GRADUA¸C
˜
AO EM F
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ISICA
Estudo da Fusão de Superfície da Prata por
Dinâmica Molecular
Luis Gustavo V. Gon¸calves
ao Carlos
2008
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE S
˜
AO CARLOS
CENTRO DE CI
ˆ
ENCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE P
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OS-GRADUA¸C
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AO EM F
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ISICA
Estudo da Fusão de Superfície da Prata por
Dinâmica Molecular
Luis Gustavo V. Gon¸calves
Disserta¸ao submetida ao Programa de os-
Gradua¸ao em F´ısica da Universidade Federal
de ao Carlos, como parte dos requisitos para
a obten¸ao do T´ıtulo de Mestre em F´ısica.
Orientador:
Prof. Dr. Jos´e Pedro Rino
ao Carlos
2008
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Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da
Biblioteca Comunitária da UFSCar
G635ef
Gonçalves, Luis Gustavo Vieira.
Estudo da fusão de superfície da prata por dinâmica
molecular / Luis Gustavo Vieira Gonçalves. -- São Carlos :
UFSCar, 2008.
51 f.
Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal de São
Carlos, 2008.
1. Física. 2. Dinâmica molecular. 3. Superfícies (Física).
4. Transição de fase. I. Título.
CDD: 530 (20
a
)
Luis Gustavo Vieira Gonçalves
Dissertação de Mestrado submetida
à Coordenação do Programa de
Pós-Graduação em Física, da
Universidade Federal de São
Carlos, como requisito parcial para
a obtenção do título de Mestre em
Física.
Aprovado em: 23 de Julho de 2008
i )
BANCA EXAMINADORA "
'oséPedro Rino (orientador)
Federal de São Carlos-DF
,
)
c-;J;?
Prof Dr. Antonio CarlosHernandes
Universidade'deSãoPaulo-IFSC
Agradecimentos
Ao Prof. Dr. Jos´e Pedro Rino por ter me aceito e me orientado na condu¸ao deste
trabalho e pela sua postura com seus orientandos.
Aos meus pais e `as minhas irm˜as pelo apoio durante todos esses anos de estudo.
`
A Luciana por ter sido muito companheira e am´avel durante esses dois anos.
Aos professores da UFSCar: Prof. Dr. Celso, Prof. Dr. Eiras, Prof. Dr. Gilmar,
Prof. Dr. Jayme, Prof
a
. Dr
a
. Odila, Prof. Dr. Pizani, Prof. Dr. C´esar e Prof. Dr. Paulo
Daniel.
Aos meus colegas e ex-colegas do grupo GSimCo: Patr´ıcia, H´elio, Picinin, Daniela,
Cl´audio, James, Pablo e Denilson, pelas grandes contribui¸oes e discuss˜oes de importˆancia
cient´ıfica e social.
Aos dias bel´ıssimos de outono de eu azul que encontrei desde quando cheguei a ao
Carlos.
`
As agˆencias de fomento CAPES, CNPq e FAPESP pela bolsa de estudo e pelos re-
cursos computacionais.
Resumo
Um estudo sobre a fus˜ao de superf´ıcies da prata (Ag) utilizando dinˆamica molecular
de equil´ıbrio ´e a proposta deste trabalho. Aplicamos o m´etodo Embedded Atom como
potencial de intera¸ao de muitos corpos para descrever as propriedades da prata. As
simula¸oes foram feitas nos ensembles microcanˆonico, para o estudo de propriedades de
bulk, e canˆonico, para as simuloes do olido com superf´ıcies. Como resultado de estudo
preliminar, obtivemos a temperatura de fus˜ao de equil´ıbrio T
m
igual a 1264(12)K a partir
das configura¸oes do sistema com as fases olida e l´ıquida em coexistˆencia. As superf´ıcies
foram simuladas incluindo uma separa¸ao com acuo acima e abaixo do cristal na dire-
¸ao z e utilizando condi¸oes peri´odicas de contorno nas outras dire¸oes cartesianas. Os
resultados mostraram que a superf´ıcie [110] ´e a ´unica que possui fus˜ao de superf´ıcie. A
superf´ıcie [111] mant´em sua estrutura cristalina at´e mesmo ap´os atingir T
m
, podendo esse
sistema ser superaquecido em 100K. Outras propriedades como densidade de estados, di-
lata¸ao ermica e relaxa¸ao de superf´ıcie tiveram boa concordˆancia com os dados obtidos
experimentalmente.
Palavras-chave: fus˜ao de superf´ıcie, interfaces, anisotropia, cristais, dinˆamica molecular,
metais de transi¸ao, transi¸oes de fase
Abstract
A study about surface melting on silver using equilibrium molecular dynamics si-
mulation is the proposal of this work. We applied the Embedded Atom Method as the
many-body interaction potential to describe Ag properties. Simulations were done in the
microcanonical ensemble, for the study of bulk properties, and in the canonical ensem-
ble, for simulations of the solid with surfaces. As a preliminary result, we obtained the
equilibrium melting point T
m
equal 1264(12)K from solid-liquid coexistence configurati-
ons. Surfaces were simulated using repeated slabs separated by vacuum in the z direction,
while keeping periodic boundary conditions in the remaining directions. Results showed
that Ag[110] is the lone orientation that has surface melting. Ag[111] maintains its crys-
talline structure even after reaching T
m
, while it could be overheated by 100K. Other
properties like density of states, thermal expansion and surface relaxation were in good
agreement with experimental data.
Keywords: surface melting, interfaces, anisotropy, crystals, molecular dynamics, transi-
tion metals, phase transitions
Lista de Figuras
2.1 As fun¸oes φ (r), U(ρ) e f (r) necess´arias para o alculo do potencial Em-
bedded Atom. As energias est˜ao em eV e as distˆancias em
˚
A. . . . . . . . . 20
3.1 A part´ıcula 5 ao atravessar os limites da caixa central reaparece na mesma
caixa, na posi¸ao indicada pelo c´ırculo pontilhado . . . . . . . . . . . . . . 22
3.2 Os c´ırculos representam a proje¸ao das part´ıculas no eixo y-z. As condi¸oes
peri´odicas de contorno permanecem nos eixos x e y e uma separa¸ao com
acuo ´e inclu´ıda na dire¸ao z. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.3 Proje¸ao esquem´atica das part´ıculas no eixo y-z. Os c´ırculos abertos re-
presentam as part´ıculas dinˆamicas. Os c´ırculos hachurados representam as
part´ıculas est´aticas, formando um substrato. As condi¸oes peri´odicas de
contorno permanecem nos eixos x e y e uma regi˜ao com acuo ´e inclu´ıda
na dire¸ao z. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
5.1 Energia de coes˜ao versus volume atˆomico para as estruturas FCC e BCC
para a prata. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
5.2 Fun¸ao de distribui¸ao de pares e n´umero de coordena¸ao para a prata no
bulk a 300K. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
33
5.3 Fun¸ao de correla¸ao de velocidades para a prata no bulk a 300K. . . . . . 34
5.4 Densidade de estados vibracionais a 300K obtidos a partir da simula¸ao
computacional da prata em compara¸ao com os dados obtidos experimen-
talmente por Lynn et al.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
5.5 Expans˜ao ermica linear obtido atrav´es do ensemble microcanˆonico em
compara¸ao com os resultados obtidos por Williams et al.. . . . . . . . . . 35
5.6 (a) Perfil de densidade (linha) e fator de estrutura por camada (c´ırculos);
(b) Difus˜ao total por camada; (c) Perfil da energia cin´etica. Proprieda-
des obtidas no equil´ıbrio para o sistema com interface olido-l´ıquido na
temperatura T
m
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
5.7 Curva cal´orica obtida para as superf´ıcies [100], [110] e [111] da prata. . . . 37
5.8 Perfil de densidade para a superf´ıcie [110] para trˆes valores de temperatura
durante a fus˜ao de superf´ıcie. A linha pontilhada vertical indica a interface
olido-v´acuo no in´ıcio da simula¸ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
5.9 Coeficiente de difus˜ao total (a), paralela (b) e normal (c) por camada em
fun¸ao da temperatura para a superf´ıcie [100] da prata. A camada l=0 foi
omitida para maior clareza. A seta indica a temperatura na qual o cristal
se funde por completo. A linha tracejada indica o coeficiente de difus˜ao da
prata l´ıquida em T
m
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
5.10 Coeficiente de difus˜ao total (a), paralela (b) e normal (c) por camada em
fun¸ao da temperatura para a superf´ıcie [110] da prata. A camada l=0 foi
omitida para maior clareza. A seta indica a temperatura na qual o cristal
se funde por completo. A linha tracejada indica o coeficiente de difus˜ao da
prata l´ıquida em T
m
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
5.11 Coeficiente de difus˜ao total (a), paralela (b) e normal (c) por camada em
fun¸ao da temperatura para a superf´ıcie [111] da prata. A camada l=0 foi
omitida para maior clareza. A seta indica a temperatura na qual o cristal
se funde por completo. A linha tracejada indica o coeficiente de difus˜ao da
prata l´ıquida em T
m
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
5.12 Fator de estrutura por camada nas dire¸oes paralela e normal `a superf´ıcie
[100]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
5.13 Fator de estrutura por camada nas dire¸oes paralela e normal `a superf´ıcie
[110]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
5.14 Fator de estrutura por camada nas dire¸oes paralela e normal `a superf´ıcie
[111]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
5.15 Proje¸ao no plano yz das trajet´orias atˆomicas durante 4ps das superf´ıcies
[100] (a), [110] (b) e [111] (c) em T = 1262K. . . . . . . . . . . . . . . . . .
45
5.16 Trajet´orias atˆomicas da superf´ıcie [110] durante 8ps projetadas em duas
dire¸oes cristalinas a T = 1272K. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
5.17 Coeficiente de difus˜ao total (a), paralela (b) e normal (c) por camada em
fun¸ao da temperatura para a superf´ıcie [110] da prata para os sistemas
com 24 (pontos vazios) e 48 (pontos cheios) camadas. As camadas l=0, 3 e
4 foram omitidas para maior clareza. A seta indica a temperatura na qual
o cristal se funde por completo. A linha tracejada indica o coeficiente de
difus˜ao da prata l´ıquida em T
m
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Lista de Tabelas
4.1 Vetores rec´ıprocos utilizados para o alculo do fator de estrutura. . . . . . 30
4.2 Parˆametros utilizados nas simula¸oes de superf´ıcies. N
l
´e o n´umero de
part´ıculas por camada, ρ
l
´e a densidade da camada e d
bulk
´e a distˆancia
entre camadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
5.1 Resumo dos resultados obtidos para a fus˜ao de superf´ıcie para as trˆes ori-
enta¸oes cristalinas analisadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Sumário
1 Introdução 11
2 Dinâmica Molecular: Aspectos Gerais 16
2.1 O algoritmo de integra¸ao Velocity Verlet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.2 Escolha de ensembles . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.3 O potencial de intera¸ao EAM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3 Propriedades termodinâmicas via Dinâmica Molecular 21
3.1 A hip´otese erg´odica e o equil´ıbrio termodinˆamico . . . . . . . . . . . . . . 21
3.2 Simula¸oes de bulk e superf´ıcies . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.3 alculo de propriedades termodinˆamicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
4 Metodologia 27
4.1 Propriedades de bulk . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
4.2 Fus˜ao de superf´ıcie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
5 Resultados e Discussões 32
5.1 Propriedades de bulk . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
5.2 Propriedades de superf´ıcie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
6 Conclusões 48
Referências Bibliográficas 49
11
1 Introdução
As transi¸oes de fase entre estados da mat´eria tˆem ajudado e estimulado cientistas
no desenvolvimento da f´ısica da mat´eria condensada, sobretudo a mecˆanica estat´ıstica e a
teoria quˆantica. Em especial, as transi¸oes entre os estados olido e l´ıquido (fus˜ao e soli-
difica¸ao), est˜ao entre as mais evidentes transforma¸oes de fase que existem na natureza.
O estudo da fus˜ao ´e amplamente difundido em cursos de gradua¸ao e ´e analisado como
um fenˆomeno puramente macrosc´opico. No entanto, em cursos mais avan¸cados, a fus˜ao
de materiais tem pouco destaque.
De acordo com a termodinˆamica, a fus˜ao ´e uma transi¸ao de fase de primeira ordem
1
:
um processo abrupto que envolve um calor latente finito e que, durante o processo, os
estados olido e l´ıquido coexistem no sistema. A fus˜ao de um material ´e obtida atrav´es de
fornecimento de calor ao material no estado olido at´e que ele se liquefa¸ca. A temperatura
na qual ambos os estados coexistem em equil´ıbrio termo dinˆamico a uma dada press˜ao ´e
o que chamamos de ponto de fus˜ao, representado por T
m
ao longo do trabalho.
Nas ´ultimas ecadas, muitos cientistas experimentais e te´oricos depararam-se com
algumas evidˆencias mostrando que a fus˜ao ´e na realidade um processo cont´ınuo, isto ´e,
ocorre em um intervalo significativo de temperatura. Contudo, fatores como impurezas
dissolvidas e defeitos como policristalinidade podem afetar o processo de fus˜ao, podendo
at´e mesmo modificar a faixa de temperatura em que ocorre a fus˜ao. O processo global que
rege o mecanismo da fus˜ao seria melhor analisado se houvesse um ponto cr´ıtico entre os
estados olido e l´ıquido, assim como acontece na transi¸ao l´ıquido-vapor. De fato, alguns
cientistas, inspirados no sucesso da teoria de Van der Waals em prever o ponto cr´ıtico da
transi¸ao l´ıquido-vapor, se engajaram em buscar um ponto cr´ıtico entre os estados olido
e l´ıquido. Essa busca levou ao desenvolvimento da pesquisa de altas-press˜oes
2
. Contudo,
ao foi encontrado at´e hoje este ponto cr´ıtico. Portanto, a fus˜ao ainda permanece como
um processo que envolve sempre um calor latente e manifesta-se em uma temperatura
bem definida.
1 Introdu¸ao 12
Qualitativamente, a fus˜ao ocorre quando os ´atomos adquirem energia cin´etica sufici-
ente para superar a energia de liga¸ao entre os ´atomos da rede. Essa ´e a id´eia na qual
se baseia o crit´erio de Lindemann
3
para a ocorrˆencia da fus˜ao em olidos (1910). Esse
crit´erio diz que um olido torna-se l´ıquido quando a amplitude de vibra¸ao t´ermica dos
´atomos na rede supera uma fra¸ao da distˆancia interatˆomica entre primeiros vizinhos.
Lindemann se inspirou no modelo de Einstein para os olidos
4
, que descreve o olido como
uma rede de osciladores harmˆonicos quantizados. Para a maioria dos olidos mais simples,
foi observado que esta fra¸ao ´e cerca de 1/8 da distˆancia entre primeiros vizinhos.
Outro crit´erio para a determina¸ao da fus˜ao ´e o devido a Born
5
. Esse crit´erio se baseia
na perda brusca de rigidez do material. Definimos rigidez como sendo a capacidade do
material em manter sua estrutura olida sob a ao de uma tens˜ao de cisalhamento. O
olido torna-se l´ıquido quando seu odulo de cisalhamento efetivo torna-se pequeno o
suficiente de modo que o cristal perca sua estrutura como um todo.
Os crit´erios acima mencionados possuem algumas limita¸oes ao descrever o processo
de fus˜ao. Eles ao levam em considera¸ao, por exemplo, a existˆencia de superf´ıcies e,
principalmente, a forma¸ao de uma fase l´ıquida em coexistˆencia com a fase olida. A
importˆancia da superf´ıcie no fenˆomeno da fus˜ao foi apontada durante arias d´ecadas
no ´ultimo s´eculo. A fus˜ao de superf´ıcie
6
foi deduzida por Stranski em 1942, a partir
de observoes de ausˆencia de superaquecimento (isto ´e, quando o olido manem sua
rigidez acima de sua temperatura de fus˜ao) de materiais em condi¸oes ordin´arias. Segundo
Frenkel
7
em 1946, um cristal mantido a uma temperatura homogˆenea sempre ter´a sua fus˜ao
iniciada pela sua superf´ıcie livre, uma vez que esta diminuir´a a zero a energia necess´aria
para a forma¸ao da fase l´ıquida.
O superaquecimento pode ser obtido ao aquecermos um material pelo seu interior
e tentar impedir que a sua superf´ıcie atinja T
m
. Um experimento com aquecimento de
bast˜oes de estanho
8
(Sn) mostrou que ´e poss´ıvel superaquecer uma amostra cristalina de
maneira bem simples. Primeiramente, uma amostra policristalina de estanho foi subme-
tida a uma alta corrente el´etrica e observou-se que o metal come¸cava a fundir de dentro
para fora, isto ´e, o interior da amostra atingiu T
m
antes da sua superf´ıcie. Surpreenden-
temente, o mesmo ao aconteceu com a amostra monocristalina, na qual se observou a
fus˜ao iniciada pela superf´ıcie. Em ambos os exp erimentos, uma corrente de ar passava
pela superf´ıcie dos bast˜oes de modo a impedir o aquecimento prematuro da superf´ıcie. A
conclus˜ao desse experimento foi que a amostra monocristalina atingiu um estado supera-
quecido em at´e 2 Kelvin, por permanecer no estado olido at´e que a superf´ıcie finalmente
1 Introdu¸ao 13
atingisse a temperatura de fus˜ao.
Outro trabalho interessante, mais recente, utilizando dinˆamica molecular, mostrou que
a fus˜ao no limite de superaquecimento (tamb´em conhecida como fus˜ao mecˆanica) atende
aos crit´erios de Lindemann e de Born simultaneamente
9
. Uma amostra monocristalina de
um cristal de Argˆonio sem superf´ıcies foi aquecida at´e sua completa fus˜ao. A partir do
monitoramento das constantes el´asticas e do deslocamento quadr´atico edio das part´ıcu-
las, o estudo concluiu que a fus˜ao no superaquecimento se inicia a partir de instabilidades
locais no bulk muito similares `as encontradas em ´atomos de superf´ıcie na temperatura de
fus˜ao de equil´ıbrio.
A fus˜ao de superf´ıcie ´e um fenˆomeno microsc´opico que consiste na fus˜ao das primeiras
camadas cristalinas da superf´ıcie antes do sistema atingir a temperatura de fus˜ao T
m
. Gra-
¸cas ao desenvolvimento de novas ecnicas de crescimento e caracteriza¸ao, foram poss´ıveis
observoes diretas deste fenˆomeno nas ´ultimas trˆes d´ecadas. As primeiras observoes
experimentais da fus˜ao de superf´ıcie
10–12
foram feitas utilizando t´ecnicas de retroespalha-
mento Rutherford. Um dos principais resultados obtidos a partir desses experimentos foi a
anisotropia em rela¸ao `a face cristalina, isto ´e, dependendo da orienta¸ao cristalogr´afica na
qual est´a a interface olido-v´acuo, observamos ou ao a fus˜ao de superf´ıcie.
´
E importante
ressaltar que a fus˜ao de superf´ıcie tratada aqui ´e um processo em equil´ıbrio termodinˆa-
mico, ao havendo rela¸ao com a fus˜ao de superf´ıcie induzida por radia¸ao (esta, por sua
vez, ´e um fenˆomeno de ao-equil´ıbrio).
Uma condi¸ao termodinˆamica para a ocorrˆencia de fus˜ao de superf´ıcie ´e representada
atraes de uma equa¸ao de balan¸co de energias livres
13
γ
(hkl)
SV
> γ
(hkl)
SL
+ γ
(hkl)
LV
(1.1)
sendo que γ
(hkl)
SV
, γ
(hkl)
SL
, e γ
(hkl)
LV
ao as energias livres das interfaces olido-vapor, olido-
l´ıquido e l´ıquido-vapor, respectivamente. A Eq.1.1 diz que ´e energeticamente mais favo-
avel a forma¸ao de um filme l´ıquido no lugar da camada olida previamente localizada
na interface. Os ´ındices de Miller
14
h, k e l foram explicitados na Eq.1.1 para lembrar que
a fus˜ao de superf´ıcie possui uma dependˆencia com a face cristalina. Se a condi¸ao ao for
satisfeita, temos ent˜ao o caso de uma superf´ıcie que ao sofre a fus˜ao de superf´ıcie. Um
fato importante ´e que essa desigualdade o ´e alida para camadas l´ıquidas de espessuras
reduzidas, isto ´e, da ordem de algumas separa¸oes atˆomicas.
O primeiro est´agio de desordem que aparece em uma fus˜ao de superf´ıcie ´e o roughening,
1 Introdu¸ao 14
que ´e uma esp´ecie de “enrugamento” da superf´ıcie. Durante o roughening, os ´atomos est˜ao
localizados em suas posi¸oes cristalinas mas possuem propriedades dinˆamicas pr´oximas `as
de um l´ıquido. Essa estrutura tamb´em pode ser chamada de quasi-l´ıquida. A raz˜ao para
esse comportamento ´e a influˆencia que o substrato olido possui sobre o filme l´ıquido sendo
formado. A seguir, a uma temperatura pr´oxima a T
m
, ocorre a pr´e-fus˜ao do material, que
acontece quando a superf´ıcie passa do estado quasi-l´ıquido para l´ıquido. A fus˜ao do cristal
que possui a fus˜ao de superf´ıcie inicia-se com a nuclea¸ao da fase l´ıquida em sua superf´ıcie
durante a pr´e-fus˜ao.
A ausˆencia de fus˜ao de superf´ıcie em um dado material est´a relacionado com outras
propriedades mais acess´ıveis experimentalmente, como a temperatura de superaqueci-
mento e o ˆangulo de contato de uma gota depositada no pr´oprio cristal
15
. As superf´ıcies
de materiais sem fus˜ao de superf´ıcie ao pouco molhadas pelo seu pr´oprio l´ıquido pr´oximo
ao seu ponto triplo, da´ı a forma¸ao de um ˆangulo de contato externo `a superf´ıcie. Al´em
disso, essas superf´ıcies podem suportar um superaquecimento de at´e 100K acima do ponto
de fus˜ao de equil´ıbrio, embora isto aconte¸ca em uma configura¸ao de metaestabilidade.
A fus˜ao de superf´ıcie foi prevista teoricamente cerca de 30 anos antes de ser observada
experimentalmente. Com o desenvolvimento de computadores mais velozes e com maior
capacidade de processamento e da elabora¸ao de algoritmos mais eficientes, as simula¸oes
computacionais em abrangido um umero crescente de aplica¸oes e problemas cada vez
mais complexos. Simula¸oes computacionais em ganhado a aten¸ao de muitos cientistas
em diversas ´areas do conhecimento, sobretudo na f´ısica da mat´eria condensada. A dinˆa-
mica molecular (DM), em especial, permite ao pesquisador realizar experimentos virtuais
em materiais, com total controle de sua estrutura atˆomica. Uma “boa” DM ao apenas
reproduz as propriedades f´ısicas dos materiais em condi¸oes normais de laborat´orio, mas
tamem a a possibilidade de obter as propriedades do material em condi¸oes extremas.
O objetivo deste trabalho ´e analisar a ocorrˆencia da fus˜ao de superf´ıcie em prata (Ag)
utilizando a DM cl´assica. Para isso, preparamos trˆes sistemas com estrutura FCC mo-
nocristalinos, cada qual com as superf´ıcies orientadas nas dire¸oes cristalogr´aficas [100],
[110] e [111]. Durante as simula¸oes, foram monitoradas propriedades dinˆamicas, como o
deslocamento quadr´atico edio, e estruturais, como o fator de estrutura, para podermos
observar o comportamento dos ´atomos na superf´ıcie. Para reproduzir as caracter´ısticas
f´ısicas da prata, foi utilizado um potencial de intera¸ao elaborado por Williams et al.
16
do
tipo Embedded Atom
17
. Antes das simula¸oes com superf´ıcies, realizamos algumas simu-
la¸oes preliminares para a obten¸ao de propriedades de bulk (propriedades volum´etricas),
1 Introdu¸ao 15
com o intuito de verificar a correta implementa¸ao do algoritmo de DM e do potencial
de intera¸ao. A prata foi escolhida como prot´otipo para este trabalho por ao termos
encontrado nenhum estudo por DM publicado a respeito da sua fus˜ao de superf´ıcie. Al´em
disso, ela tem propriedades muito similares a outros metais nobres como ouro (Au) e cobre
(Cu), muito estudados pela comunidade cient´ıfica
18–21
.
O trabalho est´a organizado da seguinte maneira: A primeira parte trata do m´etodo
computacional empregado. Em seguida, discutimos a rela¸ao entre a dinˆamica molecular
e a mecˆanica estat´ıstica. Depois de bem fundamentada a ferramenta de trabalho, deta-
lhamos os procedimentos num´ericos necess´arios para o estudo da fus˜ao de superf´ıcie. No
cap´ıtulo seguinte, mostramos os resultados obtidos e faremos a discuss˜ao. Por fim, no
´ultimo cap´ıtulo, conclu´ımos o trabalho.
16
2 Dinâmica Molecular: Aspectos
Gerais
A ferramenta de simula¸ao computacional empregada durante o trabalho foi a Dinˆa-
mica Molecular (DM) cl´assica
22
de equil´ıbrio. O objetivo da DM ´e obter as trajet´orias
do espa¸co de fase de um conjunto de part´ıculas por meio da integra¸ao das equa¸oes di-
amicas de movimento de Newton. Definindo-se a posi¸ao e velocidade iniciais de cada
part´ıcula e calculando-se, a cada passo de tempo, a acelera¸ao que age em cada uma,
podemos obter por meio de etodos num´ericos de integra¸ao toda a dinˆamica do sistema.
2.1 O algoritmo de integra¸ao Velocity Verlet
Para resolvermos as equa¸oes de segundo grau ao-lineares e acopladas que ocorrem
na DM cl´assica, utilizamos no presente trabalho o algoritmo de integra¸ao Velocity Ver-
let
23, 24
, descrito abaixo
r(t + t) = r(t) + t ·v(t) +
t
2
2
a(t) (2.1)
v(t + t) = v(t) +
t
2
[a(t + t) + a(t)] (2.2)
em que r, v e a ao, respectivamente, a posi¸ao, velocidade e acelera¸ao da part´ıcula, t ´e
o instante de tempo e t ´e o passo de tempo da integra¸ao.
Esse algoritmo ´e especialmente ´util quando queremos resolver as equa¸oes de Newton
nas quais o potencial depende apenas das posi¸oes das part´ıculas (ainda que para poten-
ciais dependentes da velocidade, pode ser feita uma adapta¸ao no algoritmo). Al´em disso,
esse algoritmo foi escolhido porque: 1- ´e temporalmente revers´ıvel; 2- conserva a energia
total do sistema com boa precis˜ao e 3- conserva a ´area do espa¸co de fase para longos
per´ıodos de simula¸ao
24
.
2.2 Escolha de ensembles 17
Podemos notar na Eq.2.2 que a corre¸ao da velocidade no tempo t + t depende da
acelera¸ao calculada nas posi¸oes a corrigidas. Isso quer dizer que a velocidade ´e corrigida
a partir de uma acelera¸ao edia entre dois passos de integra¸ao consecutivos. Outro
ponto importante ´e a escolha do passo de integra¸ao. Devemos escolhˆe-lo de modo que
o passo ao seja muito grande para evitarmos erros na integra¸ao num´erica, nem muito
pequeno para ao tornarmos a simula¸ao longa demais computacionalmente.
2.2 Escolha de ensembles
A dinˆamica de um sistema de part´ıculas cl´assicas p ode ser analisada sob a escolha
de um ensemble, o que ocorre de maneira an´aloga na mecˆanica estat´ıstica. A escolha do
ensemble ao ir´a afetar as propriedades intensivas do sistema no limite termodinˆamico
25
.
Temos, portanto, uma liberdade de escolha de ensembles de acordo com a necessidade,
conveniˆencia ou mesmo praticidade.
Nas situa¸oes em que desejamos isolar o sistema do meio e manter o volume fixo, o
ensemble microcanˆonico (N,V, E) ´e a op¸ao conveniente. Nesse ensemble, o n´umero de
part´ıculas N, o volume V e a energia total do sistema E ao mantidos constantes durante
a simula¸ao. A hamiltoniana deste sistema ´e dada por
H = K +V
tot
=
1
2
m
N
i=1
v
i
2
+V
tot
(2.3)
em que K ´e a energia cin´etica das part´ıculas e V
tot
´e a energia potencial total do sistema.
O ensemble microcanˆonico foi utilizado neste trabalho para a obten¸ao de propriedades
de bulk, como o coeficiente de dilata¸ao ermica e a temperatura de fus˜ao.
Obtendo as equa¸oes dinˆamicas em trˆes dimens˜oes a partir das equa¸oes de Hamilton,
temos
m
¨
r
i
= V
i
=
F
i
(2.4)
V
i
´e o potencial que age sobre a part´ıcula i.
Em determinadas situa¸oes, desejamos ter o controle das vari´aveis termodinˆamicas,
como press˜ao ou temperatura. Nesses casos, devemos escolher o ensemble adequado para
realizarmos a simula¸ao. Neste trabalho, utilizamos o ensemble canˆonico ou (N,V,T ) -
n´umero de part´ıculas, volume e temperatura constantes - para analisarmos a fus˜ao de
2.3 O potencial de interao EAM 18
superf´ıcie, sendo esta uma escolha comum na literatura para este prop´osito
26, 27
. Ao
fundirmos o material, sua energia potencial por part´ıcula sofre um acr´escimo relacionado
ao calor latente absorvido pelo meio. Se utilizarmos um ensemble com energia total
constante, observaremos um decr´escimo na temperatura, o que nos impede de conhecer
com precis˜ao a temperatura do material. O controle da temperatura utilizado neste
trabalho foi feito por meio do etodo das cadeias de termostatos de Nos´e-Hoover
28
.
2.3 O potencial de intera¸ao EAM
Em simula¸oes computacionais de DM cl´assica, o potencial de intera¸ao entre part´ı-
culas possui um papel de suma importˆancia na representao de um sistema f´ısico real.
Todos os efeitos de natureza eletromagn´etica ou de natureza quˆantica est˜ao embutidos no
potencial, permitindo tratarmos as part´ıculas como sendo neutras e puntiformes. A forma
mais simples para um potencial caracterizar um sistema f´ısico ´e o potencial entre pares.
O potencial de Lennard-Jones foi utilizado por Rahman
29
para descrever propriedades
dinˆamicas do argˆonio (Ar) l´ıquido, obtendo resultados compat´ıveis com a experiˆencia.
Contudo, a aplicabilidade do potencial de Lennard-Jones se restringe a sistemas envol-
vendo gases nobres e sistemas modelos idealizados. Para descrevermos as propriedades
de sistemas met´alicos ou sistemas de car´ater covalente, como os semicondutores, devemos
fazer uso de potenciais mais complexos.
O etodo Embedded Atom
17
(EAM) engloba uma classe de potenciais de intera¸ao
entre muitos corpos e ´e muito eficaz para descrever propriedades de sistemas met´alicos.
Os potenciais do tipo EAM incluem em sua formula¸ao um termo chamado energia de
embutidura (embedding, em inglˆes), dependente explicitamente da coordena¸ao em um
dado s´ıtio. Esse termo p ermite que as simula¸oes reproduzam a fenomenologia presente
em sistemas met´alicos reais, fato antes comprovadamente imposs´ıvel utilizando potenciais
entre pares. Os potenciais EAM ao constru´ıdos de modo a reproduzirem propriedades
de equil´ıbrio dos materiais obtidas experimentalmente como parˆametro de rede, energia
de coes˜ao e constantes el´asticas. O potencial EAM proposto por Williams et al.
16
foi
escolhido para descrevermos a prata neste trabalho.
A energia potencial do etodo Embedded Atom ´e dada por
V
tot
=
1
2
N
i, j=1
(i= j)
φ
i j
(r
i j
) +
N
i=1
U
i
(ρ
i
) (2.5)
2.3 O potencial de interao EAM 19
em que φ
i j
´e o potencial de intera¸ao entre pares, r
i j
´e a distˆancia interpart´ıculas, U
i
´e a
energia de embedding que depende da densidade eletrˆonica ρ
i
em torno da part´ıcula i. A
densidade eletrˆonica ρ
i
´e dada por
ρ
i
=
j=1
( j=i)
f
j
(r
i j
) (2.6)
f
j
´e a densidade eletrˆonica do ´atomo j visto da part´ıcula i.
Conhecidas as fun¸oes φ (r), f (r) e U(ρ), podemos calcular a energia potencial de um
sistema de part´ıculas no etodo EAM. A for¸ca que age em uma part´ıcula i calculada para
o m´etodo EAM ´e dada por
F
i
=
N
j=1
( j=i)
φ
i j
(r
i j
) +
U
i
(ρ
i
) +U
j
(ρ
j
)
f
j
(r
i j
)
r
i j
r
i j
(2.7)
As formas anal´ıticas dessas fun¸oes est˜ao descritas no artigo de Williams et al.
16
. Por
serem muito extensas e intrincadas, ao as apresentaremos neste trabalho. Por sugest˜ao
dos pr´oprios autores do artigo, eles nos enviaram por e-mail os dados tabelados das fun¸oes
φ(r), f (r) e U(ρ) (Fig.2.1) para serem utilizados nas simula¸oes. As derivadas dessas
fun¸oes, necess´arias para o alculo da for¸ca interatˆomica, foram calculadas numericamente
pelo m´etodo da diferen¸ca central
30
.
2.3 O potencial de interao EAM 20
−0,2
−0,1
0,0
0,1
0,2
2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0
Potencial de pares (eV)
r (Å)
(a)
−2,0
−1,5
−1,0
−0,5
0,0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0
Energia de embedding (eV)
ρ
(b)
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
1,0 2,0 3,0 4,0 5,0
Densidade eletrônica
r (Å)
(c)
Figura 2.1: As fun¸oes φ(r), U(ρ) e f (r) necess´arias para o alculo do potencial Embedded
Atom. As energias est˜ao em eV e as distˆancias em
˚
A.
21
3 Propriedades termodinâmicas via
Dinâmica Molecular
A t´ecnica de DM possui diversas vantagens para aqueles que desejam obter propri-
edades f´ısicas de um dado material em escala atˆomica. Ao realizarmos uma simula¸ao
de DM, obtemos as trajet´orias do espa¸co de fase das part´ıculas que comp˜oem o sistema.
Por´em, a algumas considera¸oes a serem feitas antes de calcularmos tais propriedades.
3.1 A hip´otese erg´odica e o equil´ıbrio termodinˆamico
Realizar alculos de grandezas termodinˆamicas fazendo-se uma m´edia temp oral sob as
configura¸oes de equil´ıbrio ´e alido se considerarmos a hip´otese erg´odica como verdadeira
31
.
Essa hip´otese afirma que a edia de ensemble de uma grandeza termodinˆamica ´e igual
`a m´edia temporal desta mesma grandeza. Em outras palavras, a ergodicidade ´e uma
condi¸ao necess´aria para obtermos propriedades f´ısicas de um determinado conjunto de
configura¸oes conhecido. As t´ecnicas de DM e de Monte Carlo
32
, por exemplo, fazem uso
dessa hip´otese.
Uma quest˜ao importante sobre os sistemas em DM ´e: quando alcan¸camos o equil´ı-
brio termodinˆamico? Quando podemos realizar as m´edias temporais? Ao resolvermos as
equa¸oes de movimento da DM, sempre precisaremos das condi¸oes iniciais do sistema.
Contudo, nem sempre conhecemos de antem˜ao uma configura¸ao inicial de equil´ıbrio. Um
sistema atinge o equil´ıbrio ap´os um per´ıodo de termaliza¸ao, que pode variar bastante de
um sistema para outro. Sabemos se um sistema est´a termalizado quando a temperatura,
por exemplo, oscila em torno de uma edia durante um longo per´ıodo de simula¸ao. a
casos no qual a termaliza¸ao requer um per´ıodo maior de simula¸ao, como em transi¸oes
de fase e em sistemas metaest´aveis, entre outros exemplos.
3.2 Simula¸oes de bulk e superf´ıcies 22
3.2 Simula¸oes de bulk e superf´ıcies
Os sistemas estudados computacionalmente possuem uma limita¸ao de tamanho. Sis-
temas f´ısicos reais conem normalmente da ordem de 10
20
part´ıculas, sendo imposs´ıvel
atualmente realizar DM em sistemas de tal tamanho. Uma maneira para obtermos as
propriedades f´ısicas de bulk de um sistema ´e utilizar condi¸oes peri´odicas de contorno, de
acordo com a Figura 3.1. Com isso, podemos extrair propriedades f´ısicas como se estiv´es-
semos analisando o interior do sistema atrav´es de uma “janela” (caixa de simula¸ao), na
qual podemos realizar as medidas.
1
2
3
5
4
6
Figura 3.1: A part´ıcula 5 ao atravessar os limites da caixa central reaparece na mesma
caixa, na posi¸ao indicada pelo c´ırculo pontilhado
As condi¸oes de contorno peri´odicas permitem realizarmos simula¸oes em sistemas com
um umero pequeno de part´ıculas e, ao mesmo tempo, eliminarmos quaisquer efeitos de
borda ou superf´ıcies. Quando desejamos obter maior precis˜ao em determinada propriedade
f´ısica, deve ser utilizado um n´umero maior de part´ıculas.
Quando desejamos incluir efeitos de superf´ıcie no sistema, inserimos em uma das dire-
3.2 Simula¸oes de bulk e superf´ıcies 23
¸oes uma separa¸ao com acuo e mantemos as condi¸oes peri´odicas nas dire¸oes restantes
(Fig.3.2). Dessa maneira, os ´atomos na interface olido-v´acuo interagem com um menor
n´umero de part´ıculas em compara¸ao com os ´atomos no interior do material. Muitos dos
pesquisadores que estudam a fus˜ao de superf´ıcie
20, 21, 33
optam por incluir um substrato
est´atico no lugar de uma das superf´ıcies (Fig.3.3). Essa escolha ´e feita pois acredita-se que
o efeito de um substrato est´atico na superf´ıcie livre ser´a menor que o efeito de outra su-
perf´ıcie localizada `a mesma distˆancia
34
. Em nosso trabalho, ao utilizamos tal substrato.
Em vez disso, garantimos que a distˆancia entre as duas superf´ıcies livres fosse grande o
suficiente para minimizarmos as influˆencias entre elas.
Figura 3.2: Os c´ırculos representam a proje¸ao das part´ıculas no eixo y-z. As condi¸oes
peri´odicas de contorno permanecem nos eixos x e y e uma separa¸ao com acuo ´e inclu´ıda
na dire¸ao z.
3.2 Simula¸oes de bulk e superf´ıcies 24
Figura 3.3: Proje¸ao esquem´atica das part´ıculas no eixo y-z. Os c´ırculos abertos represen-
tam as part´ıculas dinˆamicas. Os c´ırculos hachurados representam as part´ıculas est´aticas,
formando um substrato. As condi¸oes peri´odicas de contorno permanecem nos eixos x e
y e uma regi˜ao com acuo ´e inclu´ıda na dire¸ao z.
O procedimento descrito acima ´e an´alogo quando queremos construir um nanofio.
Desta vez, inclu´ımos uma separa¸ao com acuo em duas dire¸oes e mantemos as condi¸oes
peri´odicas na terceira. Se excluirmos todas as condi¸oes peri´odicas de contorno, teremos
enao a simula¸ao de um cluster.
As ecnicas descritas acima para a inclus˜ao de interfaces olido-v´acuo devem ser uti-
lizadas de maneira adequada de modo a obtermos os efeitos f´ısicos desejados. Ao simu-
larmos superf´ıcies, p or exemplo, o tamanho da amostra na dire¸ao z deve ser suficiente
para que tenhamos a parte externa se comportando como superf´ıcie e a parte interna
3.3 alculo de propriedades termodinˆamicas 25
com comportamento de bulk. Caso a espessura da amostra seja muito pequena, estaremos
simulando um filme em vez de uma superf´ıcie.
3.3 alculo de propriedades termodinˆamicas
Al´em da energia total de um sistema, dado pela Eq.2.3, podemos obter atraes de
m´edias temporais as principais grandezas termodinˆamicas como temperatura, press˜ao,
calor espec´ıfico etc. A temperatura ´e definida usando-se o teorema da equiparti¸ao de
energia, que diz que a cada grau de liberdade existente no sistema est´a associada uma
energia t´ermica igual a k
B
T /2. Assim, a temperatura T ´e calculada a partir da express˜ao
3
2
Nk
B
T =
1
2
m
N
i=1
v
i
2
(3.1)
com
...
indicando uma edia temporal e k
B
´e a constante de Boltzmann.
A press˜ao P ´e calculada utilizando o teorema do virial, de acordo com a seguinte
rela¸ao
PV = Nk
B
T +
1
3
N
i=1
r
i
·
F
i
(3.2)
A fun¸ao de autocorrela¸ao de velocidades normalizada ´e definida por
Z(t) =
N
i=1
v
i
(0) ·v
i
(t)
N
i=1
v
2
i
(0)
(3.3)
Com a fun¸ao Z(t), podemos calcular a densidade de estados vibracionais, que est´a
relacionada com a rela¸ao de dispers˜ao de onons medida experimentalmente. G(ω) ´e a
definida como a transformada de Fourier da fun¸ao de auto correla¸ao de velocidades, ou
seja
G(ω) =
0
Z(t)e
iωt
dt (3.4)
A partir da densidade de estados, podemos obter a capacidade t´ermica a volume
constante C
v
(T ) em fun¸ao da temperatura dada por
14
3.3 alculo de propriedades termodinˆamicas 26
C
v
(T ) = 3Nk
B
0
(
¯
hω/k
B
T )
2
e
¯
hω/k
B
T
G(ω)dω
[e
¯
hω/k
B
T
1]
2
(3.5)
Neste trabalho, estamos interessados em estudar as condi¸oes e os mecanismos da
fus˜ao de superf´ıcie. As propriedades que caracterizam a estrutura do material, bem como
as grandezas que quantificam a mobilidade das part´ıculas ao especialmente ´uteis para
este prop´osito. Uma grandeza estrutural importante de um sistema de part´ıculas ´e a
fun¸ao de distribui¸ao de pares, g(r), definida por
g(r) =
V
N
2
N
i= j
δ (r r
i j
)
(3.6)
g(r) ´e a probabilidade esperada de encontrarmos um par de ´atomos separados por uma
distˆancia r em rela¸ao a uma distribui¸ao aleat´oria uniforme. Podemos calcular o n´umero
de coordena¸ao por ´atomo, C(r), definido por
C(r) =
N
V
r
0
g(r
)4πr
2
dr
(3.7)
Em rela¸ao `a mobilidade dos ´atomos, uma grandeza ´util que podemos obter via DM
´e a difus˜ao D das part´ıculas. Ela ´e convenientemente calculada atraes do deslocamento
quadr´atico edio,
R
2
(t)
, definido por
R
2
(t)
=
1
N
N
i=1
|r
i
(t) r
i
(0)|
2
(3.8)
A difus˜ao ´e calculada a partir da rela¸ao de Einstein
35, 36
D = lim
t
1
2dt
R
2
(t)
(3.9)
sendo d a dimens˜ao do sistema.
Em suma, qualquer propriedade f´ısica do material estudado que seja dependente das
vari´aveis do espa¸co de fase pode ser calculada via DM. Para isso, ´e importante que as
m´edias sejam tomadas sob configura¸oes de equil´ıbrio e em um intervalo de tempo sufici-
entemente longo para obtermos uma boa estat´ıstica.
27
4 Metodologia
Neste cap´ıtulo faremos uma descri¸ao detalhada dos procedimentos computacionais,
da defini¸ao dos sistemas e das grandezas auxiliares necess´arias para atingir os objetivos
propostos.
Na primeira parte, calculamos uma erie de propriedades f´ısicas de bulk com o intuito
de checar a correta implementa¸ao da DM e demonstrar a aplicabilidade, assim como a
transferabilidade do potencial EAM utilizado no trabalho. Na segunda parte, utilizamos
o mesmo potencial para estudar a fus˜ao do olido com superf´ıcies. Todas as simula¸oes
foram realizadas utilizando um passo de tempo t = 0,53fs e `a press˜ao zero (condi¸ao
de press˜ao atmosf´erica). Maiores detalhes sobre a simula¸ao ser˜ao expostos no pr´oximo
cap´ıtulo
4.1 Propriedades de bulk
Em um sistema contendo 6912 part´ıculas posicionadas na caixa de simula¸ao em
uma rede FCC, foram realizadas simula¸oes no ensemble microcanˆonico a fim de obter-
mos as propriedades volum´etricas da prata. Inicialmente, realizamos simula¸oes a baixas
temperaturas para determinarmos a energia de coes˜ao e parˆametro de rede que leva a
configura¸ao mais est´avel.
Em outro sistema, contendo 864 part´ıculas distribu´ıdas em uma rede FCC, realizamos
um procedimento para determinarmos o coeficiente de expans˜ao ermica linear da prata.
Como estamos utilizando o ensemble (N,V,E), a caixa de simula¸ao ´e fixa, o que nos
impede de observar diretamente os efeitos de dilata¸ao linear t´ermica no material. A
sa´ıda para esse problema foi ajustar as dimens˜oes da caixa de simula¸ao e o parˆametro
de rede e obter a temperatura na qual a press˜ao aplicada ao sistema seja igual `a zero.
Com isso, podemos tra¸car uma curva do parˆametro de rede a em fun¸ao da temperatura
T . Assim, ´e poss´ıvel enfim estimarmos o coeficiente de expans˜ao linear α e compararmos
4.1 Propriedades de bulk 28
com a literatura.
Utilizando esse co eficiente de dilata¸ao, foi poss´ıvel ajustar o parˆametro de rede de
acordo com a temperatura do sistema. O efeito da dilata¸ao ermica pode ser confirmado
verificando o valor edio da press˜ao no sistema. A press˜ao deve ficar em torno de zero,
o que em simula¸ao computacional de olidos significa condi¸ao de press˜ao atmosf´erica.
Retornando ao sistema com 6912 part´ıculas, realizamos simula¸oes com o sistema `a
temperatura ambiente T 300K, utilizando um parˆametro de rede ajustado para a mesma.
A temperatura foi ajustada reescalando as velocidades das part´ıculas no sistema. Nessa
simula¸ao, obtivemos via correla¸ao de velocidades a densidade de estados vibracionais
para a prata, sendo poss´ıvel a compara¸ao com os dados experimentais.
Podemos estimar o ponto de fus˜ao de equil´ıbrio T
m
de um material no ensemble mi-
crocanˆonico simplesmente aquecendo o material inicialmente olido at´e que ele se funda.
No entanto, esta abordagem traz alguns problemas que merecem ser discutidos.
Em primeiro lugar, o material se expande ao aquecˆe-lo, fato que ao se pode observar
em um ensemble com volume fixo. A expans˜ao do material no ensemble microcanˆonico
acarreta em um aumento da press˜ao no sistema. Isso significa que o material ir´a se
fundir sob uma press˜ao mais alta, obtendo um ponto de fus˜ao superestimado. Entretanto,
mesmo se trabalharmos com um ensemble no qual podemos controlar a press˜ao no sistema,
´e comum obtermos um estado superaquecido antes que ele sofra a fus˜ao. O ponto de fus˜ao
de equil´ıbrio ´e a temperatura na qual os estados olido e l´ıquido coexistem em equil´ıbrio
termodinˆamico. Quando ao a um germe l´ıquido em um sistema puramente olido, ao
conseguimos obter o crescimento da fase l´ıquida at´e que haja uma instabilidade mecˆanica
no sistema. O ponto de fus˜ao obtido da maneira descrita acima ´e cerca de 30% maior que
T
m
, o que configura uma regi˜ao significativa de superaquecimento
9
.
A t´ecnica utilizada neste trabalho para a obten¸ao mais precisa do valor de T
m
foi o
m´etodo da coexistˆencia de estados
27
. Colocamos em uma caixa de simula¸ao 2048 part´ı-
culas no estado cristalino junto com outras 2048 part´ıculas no estado l´ıquido e deixamos
evoluir o sistema no ensemble microcanˆonico (a interface coincide com a superf´ıcie [100]
da estrutura FCC). Determinamos o ponto de fus˜ao como sendo a temperatura na qual o
sistema mantenha o estado de coexistˆencia ap´os o mesmo atingir o equil´ıbrio termodinˆa-
mico. O tamanho da caixa de simula¸ao foi ajustado de modo a obtermos a condi¸ao de
press˜ao zero.
Ao trabalharmos com interfaces, ´e conveniente introduzirmos algumas grandezas para
4.1 Propriedades de bulk 29
determinarmos propriedades estruturais e dinˆamicas localmente. Estabelecendo z como a
dire¸ao normal `a interface a ser considerada, podemos calcular o perfil
20
de uma grandeza
f´ısica b
i
em z definida por
ˆ
ρ
b
(z) =
1
2πσ
N
i=1
b
i
exp
(z z
i
)
2
2σ
2
(4.1)
Nos nossos alculos, a largura σ possui um valor de 10% do espa¸camento entre os
planos cristalinos paralelos `a interface. Esse perfil permite apresentarmos grandezas f´ısicas
ao longo da dire¸ao z de maneira cont´ınua. Para determinarmos o perfil de densidade ρ(z),
por exemplo, atribu´ımos b
i
= 1 na Eq.4.1. As outras grandezas est˜ao apresentadas em
rela¸ao ao perfil de densidade, de acordo com a express˜ao abaixo
b(z) =
ˆ
ρ
b
(z)/ρ(z) (4.2)
Podemos ainda definir grandezas em fun¸ao das l camadas cristalinas paralelas `a
interface. A cada part´ıcula, foi atribu´ıda uma camada l definida espacialmente, levando
em considera¸ao o espa¸camento intercamadas de acordo com a superf´ıcie sendo estudada.
Dessa maneira, podemos redefinir o deslo camento quadr´atico m´edio
R
2
l
(t)
na camada l
como sendo
R
2
l
(t)
=
1
N
l
il
|r
i
(t) r
i
(0)|
2
(4.3)
com a soma incluindo part´ıculas pertencentes `a camada l em t = 0. Calculamos a difus˜ao
total por camada D
l
bem como nas dire¸oes paralela D
,l
e normal D
,l
`a interface a partir
das componentes de
R
2
l
(t)
como segue
D
l
= lim
t
1
2dt
R
2
l
(t)
(4.4)
D
,l
= lim
t
1
4t
R
2
,l
(t)
(4.5)
D
,l
= lim
t
1
2t
R
2
,l
(t)
(4.6)
Para caracterizarmos a ordem cristalina de um sistema contendo interface, calculamos
4.2 Fus˜ao de superf´ıcie 30
o fator de estrutura por camada, definido por
S
l
(
k) =
1
N
l
il
e
i
k·r
i
(4.7)
O fator de estrutura apresentado aqui ´e uma forma de quantificar a ordem cristalina
de um sistema de acordo com o vetor
k da rede rec´ıproca da estrutura esperada (FCC,
no presente caso). O vetor
k paralelo `a dire¸ao normal da interface vai nos fornecer a
ordem cristalina ao longo da dire¸ao normal `a mesma. Por outro lado, um vetor rec´ıproco
paralelo `a pr´opria interface vai nos fornecer um fator de estrutura paralelo aos planos
cristalinos. Um fator de estrutura igual a 1 significa que temos um cristal perfeito a 0K.
Caso o fator de estrutura seja igual a 0, temos um sistema totalmente desordenado. Em
um sistema cristalino com temperatura finita, o fator de estrutura diminui a medida em
que a amplitude de vibra¸ao das part´ıculas aumenta, podendo chegar a valores pr´oximos
a 0,2. Na tabela 4.1 a a rela¸ao dos vetores rec´ıprocos normal e paralelo `as interfaces
utilizados neste trabalho, de acordo com a superf´ıcie cristalina considerada.
Tabela 4.1: Vetores rec´ıprocos utilizados para o alculo do fator de estrutura.
Superf´ıcie
k
paralelo `a interface
k
normal `a interface
[100]
2π
a
(1,1,1)
2π
a
(0,0,2)
[110]
2π
a
(1,0,
2)
2π
a
(0,0,2
2)
[111]
2π
a
(
2,
2
3
,
1
2
3
3
2
)
2π
a
(0,0,
3)
4.2 Fus˜ao de superf´ıcie
Foram criados trˆes sistemas cristalinos com estrutura FCC cada qual mostrando um
determinado plano cristalino na interface. A tabela 4.2 relaciona o n´umero de part´ıculas,
n´umero de part´ıculas por camada, densidade de cada camada e distˆancia entre camadas
para cada um dos sistemas estudados. Todas as simula¸oes de superf´ıcies foram feitas no
ensemble canˆonico, com 24 camadas na dire¸ao z e parˆametro de rede a = 1,0295a
0
para
incluir o efeito de dilata¸ao ermica em torno de 1250K.
As dimens˜oes da caixa de simula¸ao nas dire¸oes x e y foram determinadas de acordo
com o parˆametro de rede e do valor de N
l
. A dimens˜ao na dire¸ao z (separa¸ao com
acuo) foi igual a 6 vezes o tamanho do cristal na dire¸ao z. O tamanho dessa separa¸ao
foi escolhido de modo a eliminar qualquer tipo de intera¸ao entre as superf´ıcies, mesmo a
4.2 Fus˜ao de superf´ıcie 31
Tabela 4.2: Parˆametros utilizados nas simula¸oes de superf´ıcies. N
l
´e o n´umero de part´ı-
culas por camada, ρ
l
´e a densidade da camada e d
bulk
´e a distˆancia entre camadas.
Superf´ıcie N N
l
ρ
l
d
bulk
[100] 3072 128
2
a
2
a
2
[110] 1536 64
2
a
2
a
2
2
[111] 2304 96
4
3a
2
a
3
temperaturas muito elevadas.
O procedimento principal realizado foi aquecer o sistema em uma faixa de temperatura
pr´oxima a T
m
e observar a ocorrˆencia da fus˜ao de superf´ıcie. Como estamos trabalhando
com o ensemble canˆonico, a temperatura do sistema foi ajustada diretamente pelo parˆa-
metro T , o qual temos total controle. As propriedades dinˆamicas e estruturais calculadas
por camada (Eqs.4.4, 4.5, 4.6 e 4.7) foram utilizadas para caracterizar os fenˆomenos de
fus˜ao peculiares de cada superf´ıcie (hkl).
32
5 Resultados e Discussões
Neste cap´ıtulo, apresentamos os principais resultados das simula¸oes realizadas para
os sistemas de bulk e superf´ıcies. Na primeira parte, mostraremos os resultados referentes
`as propriedades de bulk com o objetivo de confirmar a correta aplica¸ao do algoritmo
computacional, bem como testar a transferabilidade do p otencial utilizado. Em seguida,
faremos a aplica¸ao diretamente aos sistemas com superf´ıcies.
5.1 Propriedades de bulk
Dado um conjunto de ´atomos interagindo sob o potencial de intera¸ao EAM para a
prata, calculamos a energia de coes˜ao para as estruturas FCC e BCC a 0K para diversos
volumes atˆomicos. A Figura 5.1 mostra as curvas obtidas para as duas estruturas. A
curva da rede FCC ´e energeticamente mais favor´avel, possuindo um m´ınimo de energia
em 2,85eV com um volume atˆomico igual a 17, 1
˚
A
3
, equivalente a um parˆametro de
rede igual a 4,09
˚
A. Isso mostra que o potencial foi corretamente ajustado para reproduzir
os valores experimentais para a energia de coes˜ao E
c
= 2, 85eV e o parˆametro de rede
a
0
= 4,09
˚
A a 0K.
Em seguida, propriedades estruturais e dinˆamicas desse sistema foram tamem si-
muladas a temperatura de 300K. Para tanto, o parˆametro de rede foi ajustado para
a = 1,006a
0
para mantermos a condi¸ao de press˜ao zero a 300K. Calculamos enao a
fun¸ao de distribui¸ao de pares e o n´umero de coordena¸ao (Fig.5.2) e a fun¸ao correla-
¸ao de velocidades (Fig.5.3). Determinamos tamem a densidade de estados vibracionais
(Fig.5.4), que mostra boa concordˆancia com os valores obtidos experimentalmente
18
via
espalhamento coerente inel´astico de nˆeutrons.
A expans˜ao t´ermica linear ode ser calculada no ensemble microcanˆonico realizando
o ajuste do parˆametro de rede a uma dada temperatura, conforme descrito na se¸ao
4.1. Na Figura 5.5, mostramos o resultado para a expans˜ao t´ermica linear em fun¸ao da
temperatura obtido neste trabalho, em compara¸ao com o resultado obtido por Williams
5.1 Propriedades de bulk 33
−2,8
−2,4
−2,0
−1,6
−1,2
12 14 16 18 20 22 24
Energia de coesão (eV)
Volume Atômico (Å
3
)
FCC
BCC
Figura 5.1: Energia de coes˜ao versus volume atˆomico para as estruturas FCC e BCC para
a prata.
0
2
4
6
8
10
2 3 4 5 6
0
20
40
60
g(r)
C(r)
r(Å)
g(r)
C(r)
Figura 5.2: Fun¸ao de distribui¸ao de pares e n´umero de coordena¸ao para a prata no
bulk a 300K.
et al. utilizando o ensemble (N,P,T ) via simula¸ao Monte Carlo
16
. Estes resultados
confirmam o fato que as propriedades f´ısicas obtidas via simula¸ao computacional ao
5.1 Propriedades de bulk 34
−0,5
0,0
0,5
1,0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5
Z(t)
t(ps)
Figura 5.3: Fun¸ao de correla¸ao de velocidades para a prata no bulk a 300K.
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0
G(ω)(unidades arbitrárias)
ω(THz)
EAM
Experimental
Figura 5.4: Densidade de estados vibracionais a 300K obtidos a partir da simula¸ao
computacional da prata em compara¸ao com os dados obtidos experimentalmente por
Lynn et al.
18
.
devem depender da escolha do ensemble ou mesmo do m´etodo computacional utilizado.
5.1 Propriedades de bulk 35
A 300K, o coeficiente de dilata¸ao ermica linear calculado a partir da derivada da curva
da Figura 5.5 ´e igual a 19,7(3)×10
6
K
1
, em boa concordˆancia com o valor experimental
encontrado na literatura
37
de 18,9 ×10
6
K
1
.
0,0
1,0
2,0
3,0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
Expansão linear (%)
T(K)
DM NVE
Monte Carlo NPT
Figura 5.5: Expans˜ao ermica linear obtido atrav´es do ensemble microcanˆonico em com-
para¸ao com os resultados obtidos por Williams et al.
16
.
Em seguida, realizamos a simula¸ao da prata olida interfaceando o seu pr´oprio l´ı-
quido, conforme descrito na se¸ao 4.1. O ponto de fus˜ao de equil´ıbrio obtido para a prata
em nossa simula¸ao foi de T
m
= 1264(12)K, em excelente concordˆancia com o valor 1235K
obtido experimentalmente
38
. A pequena discrepˆancia entre os valores experimental e via
simula¸ao deve-se a alguns fatores, como, por exemplo, a ausˆencia de defeitos, impure-
zas e superf´ıcies no material simulado. Na Figura 5.6 mostramos algumas propriedades
f´ısicas em perfil da configura¸ao de equil´ıbrio do estado de coexistˆencia olido-l´ıquido. A
correla¸ao entre as propriedades estruturais e dinˆamicas ´e evidente, de modo a podermos
distinguir com relativa facilidade a parte olida da parte l´ıquida. A parte olida ´e ca-
racterizada por uma baixa mobilidade e alta ordem cristalina, bem como a forma¸ao de
camadas atˆomicas bem definidas (camadas 3 a 18, sendo a camada 1 estando pr´oxima a
z=0). O restante das camadas possuem um fator de estrutura baixo e alta mobilidade
atˆomica, caracter´ısticas do estado l´ıquido. Nota-se tamem pelo mesmo gr´afico a condi-
¸ao peri´odica de contorno na dire¸ao z. Apesar de haver a coexistˆencia de estados em
um sistema, a energia cin´etica em perfil (Fig.5.6(c)) ´e uniforme vista ao longo da dire-
5.1 Propriedades de bulk 36
¸ao z (normal `a interface), sendo imposs´ıvel fazer qualquer distin¸ao entre qual estado
da mat´eria est˜ao as part´ıculas. De fato, a uniformidade da temperatura entre os estados
coexistentes ´e uma condi¸ao necess´aria para afirmarmos que o sistema atingiu o equil´ıbrio
termodinˆamico.
0
40
80
120
160
0,0
0,2
0,4
0,6
ρ(z) (Å
−1
)
|S
l
(k)|
2
(a)
0,0
0,1
0,2
0,3
D
l
2
/ps)
(b)
0,14
0,16
0,18
0 10 20 30 40 50 60 70
E
cin
(z)/ρ(z) (eV)
z (Å)
(c)
Figura 5.6: (a) Perfil de densidade (linha) e fator de estrutura por camada (c´ırculos);
(b) Difus˜ao total por camada; (c) Perfil da energia cin´etica. Propriedades obtidas no
equil´ıbrio para o sistema com interface olido-l´ıquido na temperatura T
m
.
Os resultados para as propriedades f´ısicas de bulk mostram que o potencial utilizado
neste trabalho ´e adequado para reproduzir as caracter´ısticas estruturais e mecˆanicas da
5.2 Propriedades de superf´ıcie 37
prata.
5.2 Propriedades de superf´ıcie
Conforme descrito na se¸ao 4.2, realizamos o aquecimento dos sistemas com as su-
perf´ıcies [100], [110] e [111] a uma taxa axima de aquecimento de 1,2K/ps, obtendo
assim as respectivas curvas cal´oricas (Fig.5.7), mostrando a energia total por part´ıcula
em fun¸ao da temp eratura do sistema. Nela podemos observar que durante a fus˜ao de
cada um dos trˆes sistemas a um salto positivo na energia total. Este salto ´e devido ao
aumento da energia potencial ocasionado pela perda da ordem cristalina. Vale lembrar
ainda que a fus˜ao ´e um processo endot´ermico. O sistema absorve o calor necess´ario para
quebrar as liga¸oes cristalinas para tornar-se um fluido.
−2,5
−2,4
−2,3
−2,2
1000 1100 1200 1300 1400 1500
E/N (eV)
T(K)
[100]
[110]
[111]
Figura 5.7: Curva cal´orica obtida para as superf´ıcies [100], [110] e [111] da prata.
Analisando o comportamento das curvas cal´oricas na Figura 5.7, notamos o primeiro
ind´ıcio da anisotropia de face cristalina no fenˆomeno da fus˜ao. A superf´ıcie [110] requer a
menor temperatura para fundir completamente, enquanto que a superf´ıcie [111] requer a
maior temperatura de fus˜ao entre as trˆes superf´ıcies consideradas. Nota-se tamem que a
curva para a superf´ıcie [110] possui um salto de energia mais gradual em compara¸ao com
as outras superf´ıcies. Isso est´a relacionado ao fato de as primeiras camadas da superf´ıcie
[110] terem fundido gradativamente. Esse fato ser´a comprovado mais adiante de maneira
quantitativa.
5.2 Propriedades de superf´ıcie 38
Uma caracter´ıstica comum `as superf´ıcies aqui estudadas ´e a forma¸ao de uma sobre-
camada (tradu¸ao livre do termo em inglˆes adlayer ) acima da camada mais externa `a
medida em que o sistema se aproxima do ponto de fus˜ao T
m
. Para facilitar a apresenta¸ao
dos resultados, definimos l=1 para a camada mais externa, l=0 para a sobrecamada e
l=2,3,4... para as camadas mais internas. As sobrecamadas ao formadas por ´atomos que
migram da camada 1 para a regi˜ao de acuo, ocasionando vacˆancias na mesma. A Figura
5.8 mostra o p erfil de densidade para a superf´ıcie [110] (lado de z negativo) para alguns
valores de temperatura. A sobrecamada ´e identificada como uma densidade bem locali-
zada em z 18
˚
A a T = 1075K. Acima desta temperatura, a interface torna-se difusa,
com a sobrecamada se mesclando com a camada 1.
0
20
40
60
80
100
−20,0 −15,0 −10,0
ρ(z) (Å
−1
)
z (Å)
Vácuo
T=1075K
T=1175K
T=1250K
Figura 5.8: Perfil de densidade para a superf´ıcie [110] para trˆes valores de temperatura
durante a fus˜ao de superf´ıcie. A linha pontilhada vertical indica a interface olido-v´acuo
no in´ıcio da simula¸ao
Com o perfil de densidade, podemos ainda obter a raz˜ao de relaxa¸ao de superf´ıcie a
partir dos picos de densidade. Definindo a relaxa¸ao de superf´ıcie d
12
=
(d
12
d
bulk
)
d
bulk
com
d
12
igual a distˆancia entre as camadas 1 e 2 e d
bulk
igual a distˆancia entre as camadas
no bulk para a superf´ıcie [110] (veja a tabela 4.2), obtemos d
12
= 6,2%, ou seja, uma
contra¸ao da primeira camada para T = 0K. Definindo d
23
como sendo a relaxa¸ao
entre as camadas 2 e 3 de maneira an´aloga, encontramos d
23
= 0,5%, uma pequena
dilata¸ao, para T = 0K. Os dados exp erimentais
39
obtidos a partir de experimentos de
retroespalhamento Rutherford de pr´otons para T = 0K da prata [110] foram de 9,5(2)%
(contra¸ao) e 6, 0(2, 5)% (dilata¸ao) para d
12
e d
23
, respectivamente. Os resultados
5.2 Propriedades de superf´ıcie 39
obtidos pela simula¸ao mostram boa concordˆancia qualitativa com a experiˆencia. Esse fato
mostra novamente o sucesso do potencial EAM em reproduzir as propriedades mecˆanicas
de metais de transi¸ao. Segundo apontado por Gupta
40
, se utiliz´assemos um potencial
de pares para descrever um metal, obter´ıamos sempre uma dilata¸ao ao ines de uma
contra¸ao nas camadas mais externas da superf´ıcie, contrariando todas as observoes
experimentais feitas at´e agora.
O comportamento anisotr´opico da fus˜ao de superf´ıcie pode ser constatado analisando
os coeficientes de difus˜ao por camada em fun¸ao da temperatura para as superf´ıcies [100]
(Fig.5.9), [110] (Fig.5.10) e [111] (Fig.5.11). O coeficiente de difus˜ao para a prata l´ıquida
igual a 0,24
˚
A
2
/ps foi determinado a partir da simula¸ao do sistema com interface olido-
l´ıquido em T
m
.
De acordo com a Fig.5.10, notamos que existe uma alta mobilidade dos ´atomos das
camadas 1 e 2 na dire¸ao paralela a superf´ıcie a uma temperatura cerca de 100K abaixo de
T
m
. Ao se aproximar da temperatura de fus˜ao T
m
, as camadas de 1 a 5 adquirem mobilidade
em todas as dire¸oes, um ind´ıcio que a pr´e-fus˜ao esteja ocorrendo para esta superf´ıcie. Os
resultados dos coeficientes de difus˜ao ao ao suficientes para determinarmos com certeza
a ocorrˆencia da pr´e-fus˜ao. Devemos ainda realizar a an´alise cruzada com as propriedades
estruturais do material atrav´es dos resultados obtidos do fator de estrutura.
A superf´ıcie [111] (Fig.5.11) permanece com as suas camadas mais externas bem es-
aveis ao se aproximar de T
m
, salvo alguma contribui¸ao na dire¸ao paralela da camada
1 devida `a mobilidade dos ´atomos que migram para a sobrecamada (veja a Fig.5.15(c)
mais adiante). Devido a estrutura compacta dos ´atomos na superf´ıcie [111] e a utiliza¸ao
de um modelo realista para a reprodu¸ao das propriedades da prata, ao foi detectado
qualquer sinal de pr´e-fus˜ao para esta superf´ıcie.
A superf´ıcie [100] ´e um caso intermedi´ario entre as superf´ıcies [110] e [111] (sem fus˜ao
de superf´ıcie), como mostrado pelos valores da difus˜ao na Figura 5.9. Esta superf´ıcie
sofre efeitos similares a respeito da mobilidade dos ´atomos em rela¸ao a superf´ıcie [110],
por´em com menos intensidade e a uma temp eratura ligeiramente maior. Por outro lado,
a forma¸ao da camada quasi-l´ıquida em [100] ocorre em uma faixa muito pequena de
temperatura, sendo dif´ıcil de afirmar com certeza se existe de fato a forma¸ao de camada
l´ıquida antes da fus˜ao completa do material.
O fator de estrutura nos fornece o aspecto estrutural a respeito da forma¸ao da camada
l´ıquida durante a fus˜ao de superf´ıcie. As Figuras 5.12, 5.13 e 5.14 mostram os fatores de
estrutura por camada para as superf´ıcies [100], [110] e [111], respectivamente, para 4
5.2 Propriedades de superf´ıcie 40
0,0
0,2
0,4
D
l
2
/ps)
(a)
l=1
l=2
l=3
l=4
l=5
0,0
0,2
0,4
D
l
2
/ps)
(b)
0,0
0,2
0,4
1200 1250 1300 1350
D
l
2
/ps)
T (K)
(c)
Figura 5.9: Coeficiente de difus˜ao total (a), paralela (b) e normal (c) por camada em
fun¸ao da temperatura para a superf´ıcie [100] da prata. A camada l=0 foi omitida para
maior clareza. A seta indica a temperatura na qual o cristal se funde por completo. A
linha tracejada indica o coeficiente de difus˜ao da prata l´ıquida em T
m
temperaturas distintas. A p osi¸ao z = 0 indica o meio do cristal, sendo o local do cristal
mais distante das duas superf´ıcies (lados negativo e positivo). As temperaturas mais altas
correspondem `as temperaturas limites nas quais ainda havia uma parte olida no sistema.
Analisando o fator de estrutura por camada para as trˆes superf´ıcies, notamos o mesmo
efeito de perda de ordem cristalina a partir da superf´ıcie em dire¸ao ao centro `a medida
em que aumentamos a temperatura. Este efeito ´e causado pelo aumento da amplitude
de vibra¸ao dos ´atomos localizados pr´oximos `as superf´ıcies. A perda de ordem de longo
alcance ocasiona a queda no fator de estrutura `a zero. A anisotropia a respeito da orienta-
5.2 Propriedades de superf´ıcie 41
0,0
0,2
0,4
0,6
D
l
2
/ps)
(a)
l=1
l=2
l=3
l=4
l=5
0,0
0,2
0,4
0,6
D
l
2
/ps)
(b)
0,0
0,2
0,4
0,6
1150 1200 1250 1300
D
l
2
/ps)
T (K)
(c)
Figura 5.10: Coeficiente de difus˜ao total (a), paralela (b) e normal (c) por camada em
fun¸ao da temperatura para a superf´ıcie [110] da prata. A camada l=0 foi omitida para
maior clareza. A seta indica a temperatura na qual o cristal se funde por completo. A
linha tracejada indica o coeficiente de difus˜ao da prata l´ıquida em T
m
¸ao cristalina na superf´ıcie tamb´em ´e evidenciada pelo fator de estrutura, de acordo com
as diferentes faixas de temperatura na qual ocorre a perda estrutural de cada superf´ıcie.
Ao analisarmos o fator de estrutura da superf´ıcie [100] (Fig.5.12) notamos que a pri-
meira camada (z 25
˚
A) ainda possui um grau de cristalinidade ao atingir T = 1275K.
Em conjunto com os resultados referentes a mobilidade nas camadas cristalinas, podemos
concluir que esta superf´ıcie sofre roughening em torno de 1225K. Da mesma maneira, con-
clu´ımos tamem que a superf´ıcie [100] ao apresenta fus˜ao de superf´ıcie por ao apresentar
a forma¸ao de uma camada l´ıquida superficial em torno de T
m
.
5.2 Propriedades de superf´ıcie 42
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
D
l
2
/ps)
(a)
l=1
l=2
l=3
l=4
l=5
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
D
l
2
/ps)
(b)
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
1250 1300 1350 1400
D
l
2
/ps)
T (K)
(c)
Figura 5.11: Coeficiente de difus˜ao total (a), paralela (b) e normal (c) por camada em
fun¸ao da temperatura para a superf´ıcie [111] da prata. A camada l=0 foi omitida para
maior clareza. A seta indica a temperatura na qual o cristal se funde por completo. A
linha tracejada indica o coeficiente de difus˜ao da prata l´ıquida em T
m
Uma an´alise interessante pode ser feita entre os coeficientes de difus˜ao e os fatores
de estrutura por camada da superf´ıcie [110] (Figs.5.10 e 5.13). Na faixa de temperatura
entre 1175K e 1250K, notamos uma difus˜ao significativa na dire¸ao paralela `a superf´ıcie,
apesar de haver pouca mobilidade na dire¸ao normal (difus˜ao inter-planos), o que sugere
a forma¸ao de camadas l´ıquidas est´aveis. Ao mesmo temp o, na mesma regi˜ao de tempe-
ratura, as camadas mais externas desta superf´ıcie possuem valores intermedarios em seus
fatores de estrutura, indicando um grau de ordem cristalina entre o olido e o l´ıquido.
Estas caracter´ısticas mostram a ocorrˆencia do roughening e define o que chamamos de
5.2 Propriedades de superf´ıcie 43
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
|S
l
(k)|
2
T=1225K
Paralelo
Normal
T=1250K
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
−30 −20 −10 0 10 20 30
|S
l
(k)|
2
z (Å)
T=1275K
−30 −20 −10 0 10 20 30
z (Å)
T=1300K
Figura 5.12: Fator de estrutura por camada nas dire¸oes paralela e normal `a superf´ıcie
[100].
regi˜ao quasi-l´ıquida da interface do cristal submetido `a fus˜ao de superf´ıcie. A regi˜ao passa
de quasi-l´ıquida para l´ıquida quando atingimos a temperatura T = 1275K, quando ob-
servamos que as camadas de 1 a 5 ganham caracter´ısticas dinˆamicas e estruturais de um
l´ıquido (note as setas na Fig.5.13 indicando as camadas 1 e 5), evidenciando a pr´e-fus˜ao.
Todos os resultados indicam que a superf´ıcie [110] possui fus˜ao de superf´ıcie.
De acordo com a Figura 5.14, a superf´ıcie [111] mant´em sua estrutura intacta at´e
1350K, ou seja, cerca de 100K acima da temperatura de fus˜ao de equil´ıbrio. ao foi
detectada a forma¸ao de filme l´ıquido al´em da camada situada na interface. Por esse
motivo, o fator de estrutura para a superf´ıcie [111] a T = 1362K foi calculado a partir
de uma configura¸ao de ao-equil´ıbrio. A resolu¸ao de temperatura de 12,5K utilizada
no trabalho ao foi suficiente para identificarmos uma interface olido-l´ıquido-vapor para
esta superf´ıcie. Isto ao nos impede de observarmos o comportamento transiente da
fus˜ao para a superf´ıcie [111]. Nessa condi¸ao, observamos que o fator de estrutura por
camada possui uma queda gradual do meio para a sua superf´ıcie, indicando que o cristal
vai perdendo sua estrutura cristalina a partir das interfaces. As caracter´ısticas estruturais
das camadas mais externas da superf´ıcie [111] a T = 1362K possuem valores intermedi´arios
5.2 Propriedades de superf´ıcie 44
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
|S
l
(k)|
2
T=1200K
Paralelo
Normal
T=1225K
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
−30 −20 −10 0 10 20 30
|S
l
(k)|
2
z (Å)
T=1250K
−30 −20 −10 0 10 20 30
z (Å)
T=1275K
Figura 5.13: Fator de estrutura por camada nas dire¸oes paralela e normal `a superf´ıcie
[110]. As setas delimitam a regi˜ao entre as camadas 1 e 5, na qual existe uma camada
l´ıquida na interface (vide texto).
entre olido e l´ıquido, devido `as edias terem sido realizadas em uma transi¸ao olido-
l´ıquido. Todos os resultados descritos indicam que a superf´ıcie [111] da prata ao possui
fus˜ao de superf´ıcie. Esta caracter´ıstica ´e observada tamb´em em outros metais de transi¸ao,
como Pb e Al
10, 41, 42
para a mesma orienta¸ao cristalogr´afica na superf´ıcie.
Para fins de ilustra¸ao, mostramos na Figura 5.15 um comparativo entre as proje¸oes
no plano yz das trajet´orias atˆomicas das trˆes superf´ıcies durante 4ps pr´oximo `a tempera-
tura de fus˜ao T
m
. Notamos a forma¸ao de uma camada difusa na superf´ıcie [110], a qual
possui caracter´ısticas estruturais e dinˆamicas de estado l´ıquido (veja Figs.5.10 e 5.13).
Na Figura 5.16 ao mostradas as proje¸oes xz e yz das trajet´orias atˆomicas durante 8ps a
T = 1275K, temperatura na qual obtemos a camada l´ıquida com maior profundidade entre
as superf´ıcies consideradas (5 a 6 camadas l´ıquidas). A proje¸ao xz refere-se ao cristal
visto da dire¸ao <1
¯
10> e a proje¸ao yz da dire¸ao <001>. Observamos que visto pela
dire¸ao <001>, a interface ´e mais bem definida que pela dire¸ao <1
¯
10>, onde a interface
´e mais extensa. Segundo sugerido por H
¨
akkinen et al.
21
, este comportamento ´e devido a
facilidade de se formar camadas l´ıquidas com estrutura compacta para a rede FCC.
5.2 Propriedades de superf´ıcie 45
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
|S
l
(k)|
2
T=1300K
Paralelo
Normal
T=1325K
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
−30 −20 −10 0 10 20 30
|S
l
(k)|
2
z (Å)
T=1350K
−30 −20 −10 0 10 20 30
z (Å)
T=1362K
Figura 5.14: Fator de estrutura por camada nas dire¸oes paralela e normal `a superf´ıcie
[111].
(a) (b) (c)
Figura 5.15: Proje¸ao no plano yz das trajet´orias atˆomicas durante 4ps das superf´ıcies
[100] (a), [110] (b) e [111] (c) em T = 1262K.
Uma an´alise sobre a dependˆencia do tamanho da amostra na identifica¸ao da fus˜ao de
superf´ıcie merece ser feita. Vamos analisar somente a superf´ıcie na qual foi identificada
a fus˜ao de superf´ıcie, ou seja, a superf´ıcie [110]. Para tanto, realizamos a simula¸ao de
um sistema com a superf´ıcie [110] coincidindo com a interface olido-v´acuo. Este sistema
possui 48 camadas e cada uma delas conem 100 part´ıculas. Fizemos o mesmo procedi-
mento de aquecimento do material at´e que ele se fundisse por completo. Os resultados
5.2 Propriedades de superf´ıcie 46
(a) Proje¸ao vista de <1
¯
10> (b) Proje¸ao vista de <001>
Figura 5.16: Trajet´orias atˆomicas da superf´ıcie [110] durante 8ps projetadas em duas
dire¸oes cristalinas a T = 1272K.
obtidos a partir das simula¸oes deste sistema mostram que a fus˜ao de superf´ıcie ocorre
de maneira muito similar ao sistema de 24 camadas. Podemos verificar na Figura 5.17
o comportamento da pr´e-fus˜ao das duas primeiras camadas a 1175K e que a camada 5
come¸ca a ganhar mobilidade na mesma temperatura que no caso de 24 camadas. Al´em
disso, o cristal com 48 camadas se funde por completo a 1287K, assim como no sistema
com 24 camadas. Podemos concluir por estes resultados que um n´umero de 24 camadas
(12 camadas a partir do meio do cristal) ´e suficiente para realizarmos um estudo da fus˜ao
de superf´ıcie utilizando dinˆamica molecular.
Por fim, os resultados obtidos a respeito das propriedades estruturais e dinˆamicas
de superf´ıcies, bem como da identifica¸ao da fus˜ao de superf´ıcie para as trˆes orienta¸oes
cristalinas est˜ao resumidos na tabela 5.1. O alculo da difus˜ao e do fator de estrutura por
camada, em conjunto com o perfil de densidade, mostraram-se adequados para a correta
observao e caracteriza¸ao do fenˆomeno da fus˜ao de superf´ıcie. Al´em disso, o emprego
do ensemble canˆonico nas simula¸oes nos permitiu observar o fenˆomeno com um ´otimo
controle da temperatura em toda a amostra, condi¸ao necess´aria para a observao de um
fenˆomeno de equil´ıbrio termodinˆamico, como ´e a fus˜ao de superf´ıcie.
Tabela 5.1: Resumo dos resultados obtidos para a fus˜ao de superf´ıcie para as trˆes orien-
ta¸oes cristalinas analisadas.
Superf´ıcie [100] [110] [111]
Ocorrˆencia de Fus˜ao de Superf´ıcie? ao Sim ao
Temperatura de roughening T
m
50K T
m
100K ao observado
Espessura axima do filme l´ıquido ao observado 5 camadas ao observado
Temperatura de fus˜ao completa da amostra 1313K 1287K 1375K
5.2 Propriedades de superf´ıcie 47
0,0
0,2
0,4
0,6
D
l
2
/ps)
(a)
48 camadas
24 camadas
l=1
l=2
l=5
l=1
l=2
l=5
0,0
0,2
0,4
0,6
D
l
2
/ps)
(b)
0,0
0,2
0,4
0,6
1150 1200 1250 1300
D
l
2
/ps)
T (K)
(c)
Figura 5.17: Coeficiente de difus˜ao total (a), paralela (b) e normal (c) por camada em
fun¸ao da temperatura para a sup erf´ıcie [110] da prata para os sistemas com 24 (pontos
vazios) e 48 (pontos cheios) camadas. As camadas l=0, 3 e 4 foram omitidas para maior
clareza. A seta indica a temperatura na qual o cristal se funde por completo. A linha
tracejada indica o coeficiente de difus˜ao da prata l´ıquida em T
m
48
6 Conclusões
Neste trabalho, realizamos simula¸oes computacionais de dinˆamica molecular visando
obter propriedades dinˆamicas e estruturais dos ´atomos de bulk e superf´ıcie da prata. A
DM mostrou-se adequada ao descrever os sistemas propostos em escala atˆomica, sem se
preocupar com efeitos puramente quˆanticos. Os resultados obtidos para as propriedades
volum´etricas da prata, em boa concordˆancia com as observoes experimentais, ratificaram
a correta implementa¸ao e aplicabilidade dos algoritmos que foram empregados para as
simula¸oes de sup erf´ıcie. A fus˜ao de superf´ıcie foi prontamente identificada a partir dos
coeficientes de difus˜ao por camada e dos fatores de estrutura por camada, assim como a sua
anisotropia com respeito a orienta¸ao da face cristalina. O estudo concluiu que a superf´ıcie
[110] possui fus˜ao de superf´ıcie, enquanto as superf´ıcies [100] e [111] ao a possuem. A
ausˆencia do substrato est´atico em uma das superf´ıcies livres ao comprometeu a obten¸ao
dos resultados, tampouco a observao do fenˆomeno f´ısico. Por fim, uma an´alise da
dependˆencia do tamanho do sistema empregado nas simuloes mostrou que um sistema
contendo 24 camadas na dire¸ao normal `a superf´ıcie ´e suficiente para observarmos os
efeitos da fus˜ao de superf´ıcie. O trabalho de uma maneira geral mostrou a versatilidade
da dinˆamica molecular ao emular as caracter´ısticas f´ısicas de um dado material em escala
atˆomica quando utilizamos um potencial de interao adequado para este material.
49
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