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Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP
Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PADCT
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE
DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
_____________________________________________________________________________________________
COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA DO CIMENTO
Nota Técnica Setorial
do Complexo de Materiais de Construção
O conteúdo deste documento é de
exclusiva responsabilidade da equipe
técnica do Consórcio. Não representa a
opinião do Governo Federal.
Campinas, 1993
Documento elaborado pelos consultores Roberto de Souza, Maria Angelica Covelo Silva (Centro de Tecnologia de Edificações S/C Ltda.)
e Vahan Agopyan (EPUSP), com colaboração de Marcia Araujo de Menezes (Centro de Tecnologia de Edificações S/C Ltda.).
A Comissão de Coordenação - formada por Luciano G. Coutinho (IE/UNICAMP), João Carlos Ferraz (IEI/UFRJ), Abílio dos Santos
(FDC) e Pedro da Motta Veiga (FUNCEX) - considera que o conteúdo deste documento está coerente com o Estudo da Competitividade da Indústria
Brasileira (ECIB), incorpora contribuições obtidas nos workshops e servirá como subsídio para as Notas Técnicas Finais de síntese do Estudo.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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CONSÓRCIO
Comissão de Coordenação
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FUNDAÇÃO CENTRO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO EXTERIOR
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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EQUIPE DE COORDENAÇÃO TÉCNICA
Coordenação Geral: Luciano G. Coutinho (UNICAMP-IE)
João Carlos Ferraz (UFRJ-IEI)
Coordenação Internacional: José Eduardo Cassiolato (SPRU)
Coordenação Executiva: Ana Lucia Gonçalves da Silva (UNICAMP-IE)
Maria Carolina Capistrano (UFRJ-IEI)
Coord. Análise dos Fatores Sistêmicos: Mario Luiz Possas (UNICAMP-IE)
Apoio Coord. Anál. Fatores Sistêmicos: Mariano F. Laplane (UNICAMP-IE)
João E. M. P. Furtado (UNESP; UNICAMP-IE)
Coordenação Análise da Indústria: Lia Haguenauer (UFRJ-IEI)
David Kupfer (UFRJ-IEI)
Apoio Coord. Análise da Indústria: Anibal Wanderley (UFRJ-IEI)
Coordenação de Eventos: Gianna Sagázio (FDC)
Contratado por:
Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
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COMISSÃO DE SUPERVISÃO
O Estudo foi supervisionado por uma Comissão formada por:
João Camilo Penna - Presidente Júlio Fusaro Mourão (BNDES)
Lourival Carmo Monaco (FINEP) - Vice-Presidente Lauro Fiúza Júnior (CIC)
Afonso Carlos Corrêa Fleury (USP) Mauro Marcondes Rodrigues (BNDES)
Aílton Barcelos Fernandes (MICT) Nelson Back (UFSC)
Aldo Sani (RIOCELL) Oskar Klingl (MCT)
Antonio dos Santos Maciel Neto (MICT) Paulo Bastos Tigre (UFRJ)
Eduardo Gondin de Vasconcellos (USP) Paulo Diedrichsen Villares (VILLARES)
Frederico Reis de Araújo (MCT) Paulo de Tarso Paixão (DIEESE)
Guilherme Emrich (BIOBRAS) Renato Kasinsky (COFAP)
José Paulo Silveira (MCT) Wilson Suzigan (UNICAMP)
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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SUMÁRIO
RESUMO EXECUTIVO............................................................................................................1
APRESENTAÇÃO...................................................................................................................23
1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS DA COMPETITIVIDADE - FORMAS DE
CONCORRÊNCIA E ESTRATÉGIAS DAS EMPRESAS LÍDERES..................................26
1.1. Características Estruturais do Setor de Cimento.............................................................26
1.1.1. Características do produto e do processo.............................................................26
1.1.2. Produção e consumo internacional.......................................................................30
1.1.3. Estrutura industrial e formas de concorrência.......................................................34
1.1.4. Tendências tecnológicas.......................................................................................40
1.2. Estratégias das Empresas Líderes Internacionais ............................................................41
1.3. Fatores Determinantes da Competitividade Internacional................................................42
2. COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA ......................................................44
2.1. Desempenho Recente da Indústria..................................................................................44
2.2. Capacitação Produtiva, Tecnológica e Gerencial............................................................53
2.3. Estratégias Empresariais ................................................................................................60
2.4. Fatores Sistêmicos da Competitividade ..........................................................................62
2.5. Obstáculos à Competitividade........................................................................................63
3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS...........................................................................................66
3.1. Políticas de Reestruturação Setorial...............................................................................67
3.2. Políticas de Modernização Produtiva .............................................................................70
3.3. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos................................................................72
4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE.........................................................................74
4.1. Indicadores do Impacto da Produção da Indústria de Cimento no Sistema
Econômico ....................................................................................................................74
4.2. Indicadores de Capacitação da Indústria de Cimento......................................................76
4.3. Indicadores de Desempenho...........................................................................................79
4.3.1. Desempenho econômico ......................................................................................79
4.3.2. Desempenho produtivo........................................................................................81
5. CONCLUSÕES....................................................................................................................84
BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................86
RELAÇÃO DE TABELAS, QUADROS E GRÁFICOS ...........................................................88
RELAÇÃO DE SIGLAS...........................................................................................................90
ANEXO: PESQUISA DE CAMPO - ESTATÍSTICAS BÁSICAS PARA O SETOR................92
1
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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RESUMO EXECUTIVO
1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS DA COMPETITIVIDADE
1.1. Características Estruturais e Formas de Concorrência na Indústria
A indústria do cimento constitui-se em cadeia produtiva do complexo de materiais de
construção e envolve as atividades de extração e beneficiamento de matérias-primas (calcário,
gipsita) e a produção e comercialização do cimento propriamente dito.
O cimento não possui substituto direto, uma vez que suas funções não são totalmente
desempenhadas por qualquer outro produto. No entanto, sofre concorrência enquanto material
constituinte da tecnologia de concreto para algumas finalidades, como é o caso das estruturas em aço,
em madeira (para edificações de pequeno porte), nas vedações e estruturas em cerâmica vermelha
(alvenaria armada) ou em alguns tipos de revestimentos e pelo asfalto em pavimentações.
A indústria do cimento está amplamente instalada em todos os continentes, uma vez que a
matéria-prima básica, calcário, está presente na maioria dos países. Em 1990, os 16 principais
países produtores concentraram cerca de 73% da produção mundial, com destaque para China
(204 milhões de toneladas), Ex-URSS (139 milhões), Japão (77 milhões) e EUA (69 milhões),
seguidos de Índia, Itália, Alemanha e Coréia do Sul (entre 47 e 33 milhões de toneladas anuais);
Espanha, França, Brasil e Turquia (entre 25 e 28 milhões de toneladas); e Formosa, Tailândia e
Indonésia (entre 15 e 18 milhões). A produção e consumo aparente desse grupo de países no
período 1988-90 mostrou-se estável tanto em termos de volumes quanto das posições no ranking
dos países produtores. O destaque coube à Tailândia e Indonésia, especialmente a primeira que,
nesse período, obteve um acréscimo de 54,55% na produção, atingindo 18 milhões de toneladas
em 19901. Quando comparados ao consumo de cada país, verifica-se que os volumes produzidos
apresentam um dimensionamento ajustado às respectivas demandas internas, com excedentes da
ordem de 1 a 2% da produção.
Em termos de exportação de cimento a China e o Japão são os países líderes com
respectivamente 10,5 e 7,3 milhões de toneladas em 1991, seguidos pela Grécia (5,8 milhões),
Turquia (3,6 milhões) e Espanha (2,6 milhões). Para a China e Japão observou-se um crescimento
substancial dos volumes exportados entre 1990 e 1991, resultante de uma política de exportações
desses países e da maior demanda no mercado internacional.
1 SNIC (1991).
2
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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De modo geral, os fluxos internacionais de comércio de cimento são descontínuos,
derivados de movimentos conjunturais entre países cujo consumo interno está aquém da
capacidade instalada e países com preços internos elevados ou com qualidade do produto inferior
aos padrões internacionais.
Os preços do cimento no mercado internacional têm se mantido em patamares
relativamente estáveis, ocorrendo períodos sazonais de queda nos preços em virtude do excedente
no mercado mundial. Os preços praticados pelos países europeus em 1991 variaram desde a casa
dos US$ 90/t (Reino Unido, Áustria, Países Escandinavos, Suíça) até cerca de US$ 70/t (Itália,
Grécia, Portugal e Bélgica).
A estrutura de mercado e o padrão de concorrência da indústria do cimento nos principais
países produtores são determinados por um conjunto de fatores inter-relacionados, entre os quais
os mais relevantes são: a disponibilidade e o custo dos bens de capital; a disponibilidade de
matérias-primas; a homogeneidade do produto; o custo de transporte; a demanda pelo produto; a
escala de produção; a capacitação tecnológica e o poder de competição.
A indústria de bens de capital é a principal geradora de progresso técnico para a indústria
de cimento, na medida em que as tecnologias de processo estão incorporadas aos equipamentos.
Os fabricantes de equipamentos são, em geral, independentes da indústria de cimento, fato que
possibilita o acesso uniforme dos produtores aos avanços tecnológicos de processo. Exceção pode
ser feita ao Japão, cuja indústria de bens de capital para a fabricação do cimento é ligada aos
produtores.
A disponibilidade de matérias-primas não se constitui em fator gerador de vantagens
competitivas, uma vez que as reservas mundiais podem ser consideradas abundantes. No entanto,
pode representar vantagem interna a uma microrregião pela qualidade ou proximidade dos centros
consumidores.
Dada a ampla difusão do desenvolvimento tecnológico no setor, o cimento atinge hoje
padrões homogêneos de qualidade, regulados pela normalização técnica internacional e nacional
nos vários países produtores, que descaracterizam a concorrência pelas especificações de produto.
Com relação a esse aspecto, o fator predominante é a velocidade com que cada produtor
incorpora os avanços que têm ocorrido em termos das características de desempenho do produto.
O cimento apresenta baixo valor agregado por unidade de peso, acentuando o papel dos
custos de transporte no custo final. A elevada incidência dos custos de transporte dificulta a
ampliação do raio de comercialização dos fabricantes e leva à concentração local e regional da
produção em função, principalmente, da origem da matéria-prima e dos mercados consumidores.
3
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Caracterizada pelo uso intensivo de capital, a produção de cimento exige investimentos
elevados - da ordem de US$ 150 a US$ 200 por tonelada/ano de capacidade2 - para instalação de
novas unidades. A necessidade de escalas mínimas elevadas para assegurar a viabilidade
econômica condiciona a implantação das fábricas à existência de grande mercado potencial e exige
estruturas de financiamento complexas, fatores que dificultam o acesso de pequenos investidores.
A pesada incidência de custos fixos sobre os custos totais, face ao elevado montante do capital
inicial requerido, penaliza fortemente a indústria quando da existência de capacidade ociosa. Os
avanços tecnológicos recentes têm ampliado ainda mais a escala eficiente mínima na produção do
cimento. O Japão, país líder em tecnologias de processo, exemplifica essa tendência apresentando
fábricas de capacidade maior do que os demais países líderes mundiais.
A liderança em termos de competitividade a nível internacional é mantida por empresas de
origem francesa e suíça, países que não são líderes em termos de volume de produção, e pela
indústria japonesa que ocupava a 3ª posição no ranking em 1990. A indústria japonesa tem
influído decisivamente nos rumos da indústria mundial através da introdução de novas tecnologias,
como no caso do processo por via seca, desenvolvido no Japão e posteriormente adotado por
fabricantes de todo o mundo.
Além da Onoda Cement no Japão, os principais grupos produtores também podem ser
identificados na França - grupo Lafarge - Copée; na Suíça - grupo Holderbank -; na Inglaterra -
grupo Blue Circle e na Itália - Grupo Italcementi.
A Itália coloca-se como o principal produtor europeu com uma indústria constituída por
91 fábricas (40 empresas), em sua maioria de porte médio a grande (de 300.000 a 1.000.000 t/ano
de produção), e com 50,3% da produção sob a responsabilidade de dois grupos industriais -
Italcementi e Unicem. Predomina a utilização do processo por via seca (94% da produção total) e
do carvão como fonte energética. A indústria sofre grande concorrência dos produtores de
cimento de outros países mediterrâneos. Especialmente com relação ao cimento grego e iugoslavo
existe forte atuação da indústria italiana em relação aos preços praticados com denúncias de
prática de "dumping" junto à Comissão da Comunidade Européia. Os preços do cimento na Itália
são controlados pelo "Comitato Interministeriale Prezzi" a partir de planilhas de custo médio da
indústria, o que tem mantido os preços em patamares inferiores à média dos países europeus e é
motivo de intensa reivindicação de liberação, especialmente a partir da unificação de mercado na
Europa3. Os serviços de transporte também têm suas tarifas controladas pelo governo italiano.
Embora esteja trabalhando nos últimos anos (1990 e 1991) com uma capacidade ociosa de
2 NATRON; Portland Cement Association (1984); MINÉRIOS / MINERALES, 1992. Embora esses valores sejam
difundidos no meio técnico, as entidades de classe dos produtores afirmam que, em virtude das exigências
ambientais mais rigorosas nos últimos anos, o valor mais adequado à realidade atual é de US$ 250/t/ano.
3 ASSOCIAZIONE ITALIANA TECNICO ECONOMICA DEL CEMENTO (1992).
4
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aproximadamente 32%, a indústria italiana não se caracteriza por um grande volume exportado,
mantendo-se em 0,5% da produção.
A Suíça constitui-se em estrutura de mercado diferenciada, à medida que a indústria do
cimento naquele país formou um cartel já a partir de 1911. Com essa condição, propiciada pela
legislação Suíça que autoriza a constituição de cartéis horizontais, a indústria suíça caracteriza-se
pela fixação anual de preços ao consumidor, divisão do mercado entre os membros com eventuais
cessões acordadas e organização conjunta do sistema de gerenciamento do transporte do produto.
Ressalta-se que a legislação suíça é rigorosa quanto à atuação do cartel através da vigilância da
Comissão de Cartéis e de Controle de Preços do governo, e que a competição com os fabricantes
dos países europeus é uma forma sempre presente de regulação do mercado, cujos preços devem
ser competitivos em relação aos preços praticados pelos concorrentes.
A indústria do cimento nos Estados Unidos caracteriza-se por uma baixa concentração
industrial, à medida em que os dois principais grupos industriais detém apenas 22,1% da
capacidade da indústria como um todo. Por outro lado, 64,4% da capacidade da indústria dos
Estados Unidos corresponde a grupos com capital de origem estrangeira (Itália, Suécia/Noruega,
Reino Unido, Bélgica, Japão, Espanha, França, Alemanha, Austrália, Suíça, Coréia e Canadá). De
1973 até 1990, 52 fábricas dos Estados Unidos foram fechadas num total de 240 fornos
desativados. A legislação ambiental rígida nos Estados Unidos tem exigido elevados investimentos
das indústrias nas atividades de extração e no controle do processo propriamente dito, com
dificuldades de realização de investimentos em outros aspectos da produção. Ainda existe uma
parcela superior a 30% da capacidade instalada em processo por via úmida e o mercado dos
Estados Unidos vem sendo complementado pela importação, às vezes realizada por parte dos
próprios produtores.
As tendências recentes observadas na Europa e Japão têm demonstrado o reforço da
estrutura oligopolista do mercado, através da ampliação das escalas e criação de barreiras à
entrada de novos concorrentes, tornando crescente a superioridade das empresas líderes. As
economias decorrentes da capacidade produtiva tornam-se menos relevantes do que as economias
de poder competitivo como a publicidade, a propriedade de patentes, o poder de compra de
insumos a custos mais baixos e de venda a preços mais altos.
Os movimentos de desenvolvimento tecnológico vem sendo impulsionados mundialmente
em três sentidos, detalhados no quadro 1 (página 7):
. tecnologias de processo referentes às condições de utilização de energia e manuseio dos
recursos naturais, visando a racionalização e modernização do processo, inclusive no que diz
respeito às indústrias fornecedoras de insumos;
5
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. tecnologias de produto, visando o desenvolvimento de novos tipos de cimento adequados
a fins específicos, de acordo com a evolução das tecnologias construtivas; e
. gestão organizacional, visando à obtenção de condições competitivas pela elevação da
qualidade e produtividade
1.2. Estratégias Empresariais
Os fabricantes líderes mundiais são grupos industriais que, em geral, têm na fabricação de
cimento uma diversificação de suas atividades que, inicialmente, dirigiam-se para outros setores.
Os grupos japoneses podem ser considerados exceção, uma vez que a maioria tem grande atuação
na construção civil e pequena atuação em outros setores. Os grupos líderes apresentam tendência
à integração vertical, participando do controle de empresas consumidoras de cimento, como as
empresas produtoras de concreto pré-misturado, de componentes estruturais e de vedação, etc.
Os grupos europeus produtores de cimento vem adotando a estratégia de expansão
geográfica com instalação de unidades em outros países desde a década de 30. O grupo suíço
Holderbank, atua na Suíça, França, Bélgica, Holanda, Alemanha, África do Sul, Canadá, Estados
Unidos, Colômbia, México, Brasil, Costa Rica, Líbano, Nova Zelândia, Filipinas, Equador, Chile,
Austrália. Em alguns desses países a participação do grupo no mercado supera os 40% da
produção como é o caso da África do Sul, Costa Rica, Nova Zelândia, Líbano, Equador, Chile,
Áustria, Bélgica. O grupo francês Lafarge - Copée iniciou suas atividades no exterior ainda na
década de 20 e constitui-se no principal grupo produtor no mercado norte-americano (Estados
Unidos e Canadá) e segundo grupo produtor nos Estados Unidos. O grupo Blue Circle, de capital
britânico, é atuante no mercado internacional desde antes da Segunda Guerra Mundial e essa
atuação chega a representar a maior parte do lucro gerado no grupo.
As estratégias de expansão geográfica dos grupos europeus visam, sobretudo, assegurar
maior estabilidade dos investimentos face às flutuações de demanda a que está sujeita a
construção civil. Caracterizados, também, pela liderança tecnológica além da concentração
financeira, a influência dos grupos internacionais se faz sentir mesmo em países em que sua
participação no mercado é pequena como no caso do Brasil.
De modo geral, os grupos japoneses estão estabelecidos em outros países através de
"joint-ventures" com grupos locais. Empresa líder no Japão e líder mundial em tecnologia, a
"Onoda Cement Co.,Ltd.", fundada há mais de 100 anos, caracteriza-se pela elevada capacidade
em desenvolver tecnologia, mantendo um centro de pesquisas que emprega 300 de seus 1.661
funcionários e que representa um investimento anual da ordem de US$ 34.000.000,00 em
6
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pesquisa e desenvolvimento4. Com uma capacidade instalada de 9.840.000 t/ano em três plantas
industriais a empresa faz parte do grupo industrial Mitsui, mantendo, no entanto, total autonomia
de atuação. A empresa exporta em torno de 20% de sua produção anual e vem mantendo um grau
de utilização da capacidade instalada de 90% em média ao longo dos últimos cinco anos.
1.3. Fatores Determinantes da Competitividade Internacional
O quadro 1, a seguir, resume as tendências internacionais quanto aos fatores determinantes
da competitividade na indústria de cimento5.
4 Os dados foram obtidos diretamente junto à ONODA CEMENT CO.,LTD. através da sua Divisão de Negócios
Internacionais (correspondência de 2/03/93). Embora não se tenha dados correspondentes ao volume de
investimentos em P&D em relação às vendas, esse valor para 1991 corresponde à aproximadamente 12,4% das
vendas em 1991 da maior empresa brasileira do ramo em receitas (EXAME,1992).
5 Para a caracterização das tendências internacionais foram utilizados vários documentos e entrevistas com
pesquisadores brasileiros podendo-se citar: AITEC (1992); "Societé suisse des fabricants de ciment, chaux e gypse";
"Portland Cement Association" (1984); TUCKER, R. L et al.(1991); "The Institution of Civil Engineers" (1986);
HELENE, P.R.L. (1992); PROGRAMA BRASILEIRO DA QUALIDADE E PRODUTIVIDADE (1991); ONODA
CEMENT CO. LTD. (02/03/1993).
E
STUDO DA
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QUADRO 1
FATORES DETERMINANTES DA COMPETITIVIDADE INTERNACIONAL DA INDÚSTRIA DO CIMENTO
FATORES INTERNOS À EMPRESA
A. TECNOLOGIA DE PRODUTO
1. Desenvolvimento e aumento contínuo da produção de cimentos com resistência
inicial alcançada mais rapidamente, empregados principalmente pela indústria de
componentes pré-fabricados;
2. Aumento contínuo da produção de cimentos com resistência final elevada
empregados na produção de concreto de elevado desempenho;
3. Aumento do emprego de cimentos ultra-rápidos utilizados para serviços de reparos
e manutenção de obras hidráulicas e rodoviárias;
4. Aumento do emprego de cimentos expansivos ou de retração compensada
empregados na produção de componentes pré-fabricados de caráter especial.
B. TECNOLOGIA DE PROCESSO
1. Modernização dos processos industriais para elaboração dos insumos utilizados
pelos produtores (tijolos, refratários, martelos para britadores, explosivos...)
2. Utilização intensiva de carvões de elevados teores de cinzas e gás natural como
fonte energética.
3. Utilização intensiva de rejeitos de outras indústrias como fonte energética,
inclusive com instalações especificamente destinadas à preparação desses rejeitos;
4. Aumento contínuo da capacidade dos equipamentos em função do sucateamento de
equipamentos e instalações de gerações anteriores;
5. Emprego de equipamentos de menor consumo energético como os moinhos
verticais de rolos na moagem de cru; prensa de rolos na moagem de clínquer;
separadores de alta eficiência na moagem final; modernos maçaricos no forno com
controle computadorizado;
6. Emprego de sistemas de controle ambiental de modo a reduzir a emissão de
poluentes do ar, os efeitos do ruído da operação dos equipamentos e a proteção
ambiental na extração de matérias primas;
7. Automação da produção através de sistemas de controle das principais etapas de
produção.
C. GESTÃO DA PRODUÇÃO
1. Implantação de programas de melhoria das condições de trabalho - segurança,
saúde ocupacional;
2. Implantação de programas de Qualidade Total;
3. Programas contínuos de capacitação de recursos humanos em todos os níveis
(administração, produção);
5. Certificação das empresas segundo a série de normas ISO 9000;
6. Terceirização dos serviços não relacionados diretamente com a produção;
7. Serviços de atendimento e assistência técnica ao consumidor, inclusive pós-venda;
8. Ênfase em pesquisa e desenvolvimento com constituição de centros próprios e
desenvolvimento de projetos cooperativos com instituições públicas de pesquisa.
FATORES ESTRUTURAIS
1. Diversificação da demanda em termos de
variedade de tipos de cimento e resistências;
2. Elevado grau de exigência do consumidor
quanto à qualidade do produto (grande
participação dos produtores de pré-fabricados
no consumo);
3. Elevado grau de exigência de qualidade a
partir do poder de compra do Estado
(certificação);
4. Modernização e treinamento de recursos
humanos na distribuição;
5. Processo gradual de terceirização de
serviços e desverticalização das empresas;
6. Elevação dos tamanhos mínimos das
plantas industriais e conseqüente necessidade
de ampliação de mercados.
8
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2. COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE CIMENTO
2.1. Desempenho Recente
A indústria brasileira de cimento é composta, atualmente, por 62 (sessenta e duas)
unidades industriais, sendo 56 unidades produtoras de clínquer, incluindo a moagem, e seis
unidades específicas de moagem final. Os principais pólos de produção estão localizados nos
municípios de Pedro Leopoldo - MG, Cantagalo - RJ e Rio Branco do Sul - PR.
A década de 80 correspondeu a um período de estagnação da produção e do consumo de
cimento no país, que se manteve ao redor de 26 milhões de toneladas, a menos do período 1983-
85, quando esses valores não ultrapassaram 21 milhões de toneladas. Em 1991 houve um
aquecimento das vendas, levando o setor a registrar os níveis de produção e consumo mais
elevados de sua história (27 milhões de toneladas), superando, finalmente, a marca alcançada em
1982. Esse fato é atribuído pelo setor ao incremento das compras efetuadas pelo pequeno
consumidor, através dos revendedores, uma vez que não tem havido um grande volume de obras
novas6. A evolução recente da produção e do consumo é apresentada no Gráfico 1.
GRÁFICO 1
PRODUÇÃO E CONSUMO APARENTE DE CIMENTO PORTLAND - BRASIL
(1982/91)
milhões de toneladas
15
20
25
1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991
PRODUÇÃO CONSUMO APARENTE
Fonte: SNIC.
A capacidade total de produção do país é de cerca de 36 milhões de toneladas anuais
(dado de 1991), da qual 60% está localizada na região Sudeste. Desde 1981 até o presente foram
6 A participação dos revendedores no consumo total de cimento alcançou 77,6% em 1991. Usinas de concreto
vieram em segundo lugar com 8,7%, seguidas de empreiteiras com 4,3%. Órgãos públicos e prefeituras
consumiram, juntos, pouco mais de 1% do total (Fonte: SNIC).
9
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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desativados 37 fornos, que representavam cerca de 12% da capacidade total. Parte desses fornos,
fechados em função da estagnação do consumo, poderão vir a ser definitivamente desativados em
decorrência de defasagem tecnológica.
Os produtores estão divididos em 17 grupos econômicos, dos quais apenas três são grupos
de capital estrangeiro (Grupos Lafarge, Holderbank e Quimbrasil). A participação desses grupos
na produção no período 1989-91 é apresentada no Gráfico 2. O grupo Votorantim, principal
produtor, tem sido responsável por uma parcela da produção da ordem de 40% nos anos de 1989,
1990 e 1991. O grupo João Santos, responsável pela segunda maior parcela da produção, tem
participação da ordem de 11%. Destacam-se ainda grupos que possuem fábricas com as maiores
capacidades instaladas do País, como o grupo Ciminas pertencente ao grupo suíço Holderbank, o
grupo Cauê e o grupo Matsulfur. Conjuntamente, os três grupos estrangeiros têm respondido por
aproximadamente 15% da produção nos últimos anos.
GRÁFICO 2
PARTICIPAÇÃO DOS GRUPOS INDUSTRIAIS
NA PRODUÇÃO TOTAL - BRASIL
(1989/91)
% da produção total
0
10
20
30
40
50
VOTORANTIM
JOÃO
SANTOS
LAFARGE
HOLDERBANK
PARAÍSO
BRENNAND
QUIMBRASIL
KORANYI
CAUÊ
CAMARGO
CORRÊA
SOEICOM
ITAMBÉ
CIPLAN
CIBREX
MATSULFUR
CISAFRA
MARINGÁ
12.10
42,76
5,32
5,32
4.30
5,22
4.10
3,36
3,74
2,42
3.60
1,86
0,97
0.20
3,41
0,74
0,58
44,25
11.40
5.30
5,28
4,57
5,41
4,12
3,42
3,81
2,54
2,03
1,92
0,17
3,55
0,76
0,56
0,91
0.86
42,92
11.20
5.40
5,33
4,66
5,11
4,18
3,39
3,87
2,59
1,85
0,17
3,56
0,75
0,67
3,49
1989
1990
1991
Fonte dos dados brutos: SNIC.
As empresas brasileiras estão em sua maioria localizadas em posições distantes da costa
marítima, o que dificulta uma política de exportação, uma vez que o custo do transporte não
viabiliza preços ao mesmo tempo competitivos no mercado internacional e vantajosos para as
empresas. Para as empresas situadas mais próximas à costa marítima as deficiências da estrutura
portuária brasileira têm desestimulado possíveis estratégias de exportação, sendo a quantidade
exportada nos últimos anos inexpressiva e limitada a poucas empresas e destinos -- no período
1989-91, em média, as exportações foram de cerca de 0,2% da produção anual brasileira,
10
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
realizadas por 4 ou 5 empresas e somente para Bolívia e Paraguai. As importações de cimento
também têm se mantido em níveis pouco significativos.
Com a queda do consumo interno desde o final dos anos 70, o relacionamento entre a
indústria de cimento e a indústria da construção civil tornou-se conflituoso, com constantes
solicitações por parte desta última no sentido da regulamentação governamental das práticas de
concorrência caracterizadas pelo oligopólio puro ou homogêneo.
Com forte concentração regional o mercado é dividido entre as empresas com maior
capacidade de competição e entre as empresas pertencentes aos grandes grupos industriais. Essa
capacidade é determinada pela localização que condiciona a abrangência de sua atuação, o grau de
domínio da tecnologia, que gera economias de escala, a capacidade de financiamento, o controle
sobre os recursos naturais (verticalização com domínio das atividades de extração). A elevada
concentração industrial se manifesta não só pela participação dos grupos industriais na produção,
mas especialmente pela política de atuação do setor que, em alguns aspectos contraria as
tendências internacionais de desenvolvimento da indústria. Não se caracteriza concorrência
predatória no setor, porém as relações de concorrência são fortemente influenciadas pelo domínio
dos mercados regionais, domínio das atividades de extração de matéria-prima e poder econômico
de articulação com fornecedores e transportadores. O conflito entre produtores e consumidores
tem assumido nos últimos anos proporções de rompimento de diálogo e, portanto, rompimento do
fluxo normal de produção-consumo e das condições de integração entre os membros da cadeia
produtiva. O crescimento da participação do pequeno consumidor no consumo total, face à
escassez de recursos para novas obras, direciona a atenção dos produtores para esta faixa de
mercado em detrimento das reivindicações dos consumidores de grande porte, representados pelas
empresas construtoras, fabricantes de artefatos de cimento e produtores de pré-fabricados.
Embora as discordâncias sobre a qualidade do produto já venham ocorrendo há vários
anos, após a liberação dos preços o conflito tem se acirrado. Os preços do cimento evoluíram de
julho de 1991 até os dias atuais de uma forma que os coloca em patamar superior aos preços
praticados nos mercados internos dos principais países produtores.
Quanto às importações de cimento, a postura da indústria frente às iniciativas organizadas
pelas entidades dos consumidores é de não considerá-las ameaça à produção nacional, uma vez
que a parcela de consumo atendida por cimento importado é muito reduzida. No entanto, as
empresas e a entidade têm admitido que a importação continuada pode gerar uma queda nos
preços dos produtores nacionais, que chegaram a ser 30% superiores aos preços obtidos nas
importações.
Sob a acusação de "dumping" por parte dos fabricantes brasileiros, a Argentina e Uruguai,
que exportavam seus produtos para a região Sul, chegaram a um acordo mútuo com o Brasil,
11
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
firmando um termo de compromisso pelo qual as exportações de cimento para o Brasil não se
fariam a preços inferiores a US$ 80,00/tonelada (posto fábrica), o que adicionando-se fretes e
taxas tornava o preço desses países desvantajoso ou em condições de igualdade para os
consumidores brasileiros. No entanto, a indústria da construção civil como um todo contesta o
estabelecimento do acordo pela inexistência de um processo de investigação com a participação
dos consumidores.
A articulação institucional da indústria é realizada pelo SNIC que tem 46 empresas
associadas. As gestões em torno do reajuste de preços face à elevação dos preços da energia
elétrica e derivados de petróleo e a proteção do produto nacional tem sido os pontos enfatizados
na atuação do Sindicato. A atuação tecnológica e de difusão do uso do cimento é realizada pela
ABCP - Associação Brasileira de Cimento Portland, entidade criada em 1936. Atualmente a
ABCP é mantida pelas empresas associadas às quais presta variados serviços tecnológico, além de
sediar as atividades de normalização setorial.
2.2. Capacitação Produtiva, Tecnológica e Gerencial
As fábricas brasileiras podem ser consideradas em sua maioria como de médio e grande
porte, tendo em vista o padrão internacional: 47,7% da produção é realizada em fábricas de até
600.000 t/ano, 27,6% em fábricas de 600.000 a 1.000.000 t/ano e 24,7% em fábricas de
capacidade superior. A maioria da produção brasileira (95% da produção) é realizada em processo
de via seca, colocando o consumo energético das principais plantas industriais em níveis
ligeiramente inferiores ao consumo dos países líderes. No entanto, essa não é uma situação
uniforme face à heterogeneidade do grau de eficiência entre os vários fabricantes.
O grau de automação dos processos é o que diferencia o patamar tecnológico da indústria
brasileira com relação aos principais produtores internacionais. Entre as empresas brasileiras existe
apenas uma planta integralmente automatizada. Praticamente não existe desenvolvimento de
tecnologia de processo a nível nacional, sendo esta adquirida dos fabricantes de equipamentos,
mediante contratos que envolvem o projeto, construção e a colocação em operação.
A tecnologia de controle ambiental é objeto de ação heterogênea entre as empresas, até
mesmo em função dos variados graus de exigência dos órgãos de controle em cada região. A falta
de uma legislação definida e uniforme repercute no estabelecimento de estratégias das empresas
quanto ao investimento no controle ambiental, atualmente voltado mais ao controle do processo
fabril e pouco às atividades de extração.
12
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
Na tecnologia de produto as empresas brasileiras diferenciam-se das empresas líderes no
mercado internacional pela pequena variedade de produtos oferecidos. Neste aspecto, existem no
entanto, posturas não uniformes, distinguindo-se as empresas que tendem a investir no
desenvolvimento de novos produtos de outras que têm por estratégia a manutenção da produção
dos tipos tradicionais de cimento. No aspecto da qualidade do produto, embora exista uma
normalização técnica compatível com as normas dos países líderes, existem discordâncias entre
produtores e consumidores ou pesquisadores quanto aos efeitos das adições permitidas, fruto de
adequação às necessidades dos produtores.
A certificação da qualidade dos produtos da indústria do cimento foi objeto de convênio
entre a ABNT e ABCP o que resultou na concessão da marca de conformidade ABNT através dos
procedimentos de avaliação e auditoria realizados pela ABCP. No entanto, a partir de 1991 a
ABNT suspendeu a concessão da marca de conformidade à ABCP. Com o advento do Novo
Modelo Brasileiro de Certificação, os Organismos de Certificação Credenciados devem ser
entidades sem fins lucrativos que se enquadrem nos requisitos estabelecidos pelo INMETRO -
Instituto Nacional de Normalização, Metrologia e Qualidade Industrial, caracterizando a
certificação de terceira parte. Não é estratégia da ABCP enquadrar-se nesses requisitos, num
primeiro momento, devendo fornecer o Selo da Qualidade ABCP, segundo metodologias próprias
de auditoria nas empresas.
A ABCP tem se constituído numa entidade de grande importância para as ações técnicas
da indústria. No entanto, sua atuação está mais voltada à difusão do emprego de cimento do que a
pesquisas para desenvolvimento do produto em si, conforme depoimento das próprias empresas,
que têm a entidade como um apoio na prestação de serviços de um modo geral. A pesquisa e
desenvolvimento de produto é prerrogativa das empresas, mas no Brasil, mesmo entre as
empresas líderes, são restritos os gastos em P&D, contrariando a tendência internacional.
Verifica-se no país até mesmo o entendimento de que, sendo o cimento um produto básico, não
requer esse tipo de atividade.
No que se refere à gestão das empresas observa-se na indústria brasileira um movimento
ainda incipiente em direção à adoção de estratégias consagradas pelas empresas líderes. As
empresas brasileiras são predominantemente familiares e vem passando nos últimos anos por
processos de profissionalização, com a redução de níveis hierárquicos, otimização das estruturas
organizacionais e reestruturação nas várias áreas. No entanto, verifica-se ainda um baixo grau de
desenvolvimento, com a atuação segundo métodos e técnicas gerenciais ultrapassados. Identifica-
se uma cultura ainda pouco desenvolvida quanto ao emprego de informática nas atividades de
planejamento e controle, excesso de procedimentos burocráticos e falta de padronização nos
procedimentos internos. Ainda não é empregada e debatida no setor a gestão participativa ou
mecanismos de participação dos empregados nas decisões e a assistência técnica à aplicação do
13
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
produto proporcionada pelas empresas aos consumidores ainda não é suficiente para evitar
problemas de desempenho do produto devido ao emprego inadequado. Este aspecto, no entanto,
extrapola o âmbito da empresa, envolvendo a adequação do ensino de nível médio e superior.
Nos aspectos relativos à segurança do trabalho e saúde ocupacional, observa-se estratégias
individualizadas das empresas, com maior ênfase em algumas delas, porém sem uma atuação
institucional como em outros países.
Existem dificuldades nas relações capital-trabalho especialmente pela falta de uniformidade
nos padrões salariais entre todas as empresas e pela inexistência de programas de incentivo à
participação dos trabalhadores na gestão.
Na gestão de recursos financeiros observa-se conservadorismo no setor, uma vez que é
baixo o grau de risco que as empresas assumem, não buscando financiamentos e mantendo os
investimentos restritos à sua capacidade de autofinanciamento. Alguns grupos de menor porte têm
recorrido aos órgãos de fomento à indústria no que diz respeito ao financiamento para ampliação
e modernização produtiva, não havendo como prática a solicitação de recursos no âmbito do
financiamento à gestão da qualidade e produtividade através das linhas do Programa Brasileiro da
Qualidade e Produtividade ou do Programa de Apoio à Capacitação Tecnológica da Indústria.
A evolução da produtividade da mão-de-obra tem sido lenta no setor, refletindo
estratégias de desenvolvimento não abrangentes o suficiente para abordar todos os fatores que
afetam a produtividade, inclusive quanto à qualificação dos recursos humanos.
2.3. Oportunidades e Obstáculos à Competitividade
O quadro 2 apresenta os principais obstáculos à competitividade do setor:
E
STUDO DA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
QUADRO 2
OBSTÁCULOS À COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA DO CIMENTO
FATORES INTERNOS À EMPRESA
A. TECNOLOGIA DE PRODUTO
1. Baixa conscientização para o desenvolvimento de novos produtos;
2. Baixo grau de investimento em P&D;
3. Produção de cimentos compostos questionada em função do desempenho final do
produto;
4. Pequena diversidade de produtos no mercado;
5. Sistemas de controle da qualidade tradicionais, sem incorporação de métodos mais
modernos;
6. Inexistência de certificação de terceira parte;
7. Baixo grau de informação tecnológica para o emprego adequado do produto.
B. TECNOLOGIA DE PROCESSO
1. Baixo grau de conscientização para o desenvolvimento de inovações em processo;
2. Baixo grau de automação e velocidade lenta de desenvolvimento nesse sentido;
3. Lentidão no processo de capacitação tecnológica de última geração;
4. Heterogeneidade entre as fábricas no grau de utilização de rejeitos como fonte
energética;
5. Heterogeneidade no desenvolvimento e implantação de sistemas de controle
ambiental (mais expressiva na extração);
6. Heterogeneidade entre as fábricas na eficiência térmica.
C. GESTÃO DA PRODUÇÃO
1. Grande incidência de mão-de-obra não qualificada e baixa incidência de
programas de treinamento e formação;
2. Políticas de RH conservadoras;
3. Baixo emprego de informática como sistemas avançados de planejamento e
controle;
4. Estratégias sem incorporação de P&D;
5. Estruturas de decisões centralizadas;
6. Baixo emprego de técnicas e instrumentos gerenciais modernos;
7. Baixa utilização de indicadores gerenciais e financeiros;
8. Política de investimentos conservadora;
9. Lenta incorporação dos conceitos de qualidade total;
10. Evolução lenta da produtividade da mão-de-obra.
FATORES ESTRUTURAIS
1. Elevado grau de concentração industrial
como barreira de desenvolvimento da
indústria;
2. Heterogeneidade de postura entre as
empresas quanto ao desenvolvimento da
indústria;
3. Baixo grau de relacionamento com
fornecedores e usuários finais;
4. Conflito acentuado e prolongado com
consumidores e falta de articulação conjunta;
5. Preços elevados em relação aos padrões
internacionais;
6. Baixa exigência de qualidade pelo
consumidor e pelo Estado;
7. Baixo grau de conhecimento de
engenheiros e arquitetos sobre as
propriedades do produto.
15
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS
A análise da indústria de cimento no Brasil configura a necessidade de fortalecimento do
mercado interno, como forma de assegurar um elevado grau de utilização da capacidade instalada
face à sua característica de setor intensivo em capital. No entanto, as características estruturais
presentes na indústria nacional introduzem desequilíbrios no mercado, pelas dificuldades em fazer
convergir interesses de produtores e consumidores.
A retomada e estabilização dos programas de obras de toda natureza, com recursos
públicos ou privados, é requisito básico para a competitividade de todo o complexo de materiais
de construção civil.
No caso da indústria do cimento, também é necessário reverter a distorção de postura que
vem ocorrendo: na medida em que o pequeno consumidor apresenta baixa exigência de qualidade
e pouco pressiona pela redução de preços, a indústria volta-se a esse consumidor em detrimento
dos consumidores industriais (indústria da construção civil, indústria de pré-fabricados, indústria
de artefatos de cimento, indústria de cimento amianto). Tal fato, que contraria o que se verifica
nos principais países produtores, gera uma condição desfavorável ao incremento da
competitividade da indústria.
O Estado, através de seu poder de compra, torna-se fator primordial à indução da
competitividade, sendo necessário que assuma um papel ativo como consumidor, elevando os
níveis de exigência de qualidade.
A partir dessas premissas básicas, apresenta-se a seguir recomendações para o incremento
da competitividade da indústria brasileira de cimento.
16
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS PARA A INDÚSTRIA DO CIMENTO
OBJETIVOS:
Atingir o equilíbrio de interesses e necessidades entre produtores e consumidores.
Viabilizar o estabelecimento de estratégias de exportação.
PREMISSAS BÁSICAS:
Estabilização econômica; elevação do nível de atividade da construção civil
PAPEL DO ESTADO:
1. Geração de condições sistêmicas de fortalecimento e desenvolvimento da indústria inclusive para o
estabelecimento de uma política de exportação.
2. Promoção do equilíbrio no mercado interno pela mediação entre produtores e consumidores.
REFERÊNCIA/APOIO:
Sistema de indicadores de competitividade.
PROPOSIÇÕES
I. POLÍTICAS DE REESTRUTURAÇÃO SETORIAL
a. Política de reestruturação e integração setorial
b. Política de pesquisa, desenvolvimento e difusão tecnológica
c. Política de normalização, certificação e qualidade
d. Política de recursos humanos
II. POLÍTICAS DE MODERNIZAÇÃO PRODUTIVA
a. Política de gestão empresarial
b. Política de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e qualidade
c. Política de recursos humanos
III. POLÍTICAS RELACIONADAS AOS FATORES SISTÊMICOS
a. Política tributária
b. Política de energia e meio ambiente
c. Política de desenvolvimento industrial
d. Política de transportes
e. Política de formação de recursos humanos
E
STUDO DA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
Ações de Política Industrial
Agentes/Atores
EXECUTIVO LEGISLATIVO EMPRESAS
TRABALHADORES
I. REESTRUTURAÇÃO SETORIAL
NÍVEL ESTRUTURAL
1. Objetivo: reestruturar e integrar o setor
a. Desverticalização gradual do setor
b. Estabelecimento de termos de compromisso
entre os integrantes da cadeia produtiva para
viabilizar o desenvolvimento tecnológico e
organizacional
MICT/MF/MME
MT
Sindicatos dos
2. Objetivo: promover a pesquisa e o desenvol-
vimento tecnológico e organizacional
a. Estabelecimento de programas de investi-
mento em P&D de forma associativa e
integrada
b. Intercâmbio efetivo com instituições e
centros de P&D líderes no panorama
internacional
c. Organização setorial para a difusão tecnológica
FINEP/CNPq/
PBQP/PACTI
Centros de P&D
das empresas
3. Objetivo: adequar o produto brasileiro às
tendências internacionais e atender as
necessidades dos consumidores em termos
de qualidade
a. Promoção da valorização da atividade de
normalização nas instituições de pesquisa e
o equilíbrio produtores/consumidores na
elaboração das normas
b. Organização setorial para difusão de conceitos e
metodologias de qualidade e produtividade
c. Organização setorial para a certificação da
qualidade de terceira parte
PBQP/PACTI
/INMETRO/
CAPES/CNPq
Centros de P&D
das empresas
4. Objetivo: Promover a capacitação dos
recursos humanos do setor
a. Organização setorial para a formação da
mão-de-obra operária e de nível técnico
b. Organização setorial para desenvolvimento
de programas de segurança e medicina do
trabalho
MTrabalho/
FUNDACENTRO
Sindicatos dos
E
STUDO DA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
Ações de Política Industrial
Agentes/Atores
EXECUTIVO LEGISLATIVO EMPRESAS
TRABALHADORES
II. MODERNIZAÇÃO PRODUTIVA
NÍVEL INTERNO À EMPRESA
1. Objetivo: Promover a atualização da gestão
empresarial do setor, segundo tendências
internacionais
a. Estabelecimento de programas de moder-
nização gerencial e de gestão da produção
b. Estabelecimento de programas formais de
qualificação de fornecedores e de atendi-
mento aos consumidores
c. Modernização das estruturas organizacionais
das empresas
d. Estabelecimento de programas de gestão
participativa
PBQP/PACTI Alta administr.;
Consultoria
Trabalhadores
nas empresas
2. Objetivo: Promover o desenvolvimento
tecnológico e elevar os padrões de qualidade
das empresas
a. Estabelecimento de programas de qualidade
total
b. Conscientização para o investimento em P&D
c. Estabelecimento de programas de
certificação do produto
d. Estabelecimento de programas de atualiza-
ção tecnológica e de controle ambiental de
processos
PBQP/PACTI
Alta administr.;
Consultoria
Trabalhadores
nas empresas
3. Objetivo: Elevação da qualificação da mão-
de-obra das empresas em todos os níveis
a. Implantação de programas de treinamento de
mão-de-obra operária
b. Modernização das políticas e recursos humanos
c. Estabelecimento de programas de formação
de executivos
PBQP/PACTI
Alta administr.;
Consultoria
Trabalhadores
nas empresas
E
STUDO DA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
Ações de Política Industrial
Agentes/Atores
EXECUTIVO LEGISLATIVO EMPRESAS
TRABALHADORES
III.FATORES SISTÊMICOS
1. Objetivo: Promover a avaliação do impacto
da carga tributária sobre a política de preços
e assegurar a possibilidade de importação
pelos consumidores
a. Análise conjunta por produtores e consumi-
dores quanto ao impacto da carga tributária
sobre a política de preços das empresas
b. Manutenção da alíquota 0% para importação
do produto
MF; MICT;
Câmaras Setoriais
2. Objetivo: Promover a adequação do setor às
necessidades de controle ambiental
a. Estabelecimento de normas adequadas à
substituição de insumos energéticos
b. Uniformização da legislação de controle
ambiental
MME; MICT
Câmara e
Senado
3. Objetivo: Promover o desenvolvimento
industrial do setor
a. Estabelecimento de programas de incentivo
ao desenvolvimento tecnológico do setor a
partir do poder de compra do Estado
b. Aperfeiçoamento da organização institucional
para aplicação da legislação "anti-dumping"
através de metodologias específicas
c. Aperfeiçoamento da organização institu-
cional para aplicação da Lei de Defesa da
Concorrência
d. Redução de mecanismos de discriminação do
capital estrangeiro
e. Estabelecimento de critérios de avaliação do
desempenho do setor para gerenciamento de
programas públicos de financiamento
Administr.. pública
federal, estadual e
municipal/BNDES
MF/MJ/MICT
Câmara e
Senado
E
STUDO DA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
Ações de Política Industrial
Agentes/Atores
EXECUTIVO LEGISLATIVO EMPRESAS
TRABALHADORES
4. Objetivo: Assegurar a infra-estrutura de
transportes necessária ao desenvolvimento
do setor inclusive viabilizando a exportação
a. Modernização portuária integrada aos siste-
mas de transporte de acesso aos portos
b. Recuperação da malha rodoviária e incremento
da participação das ferrovias na infra-estrutura
de transportes
MT
Câmara e
Senado
5. Objetivo: Gerar condições para o estabe-
lecimento de políticas de benefícios e
incentivos diretos à mão-de-obra
a. Adequação da legislação trabalhista de modo
a desonerar as empresas e incrementar os
benefícios diretos aos empregados
MTrabalho
Câmara e
Senado
21
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE
O estudo detectou a baixa utilização de indicadores como forma de avaliação do
desempenho competitivo da indústria de cimento e para as empresas que a constituem, de um
modo geral. O estudo propõe a elaboração de uma série de indicadores que visam à constituição
de um sistema que sirva de referência e apoio à aplicação de instrumentos de uma política
industrial para o setor e que permita avaliar a evolução da indústria e das empresas.
1. Indicadores do impacto da produção no sistema econômico
1.1. Valor adicionado
1.2. Participação do setor nas exportações/importações brasileiras
1.3. Participação do setor no emprego total
1.4. Evolução da produção comparativamente à evolução do consumo
1.5. Participação da produção brasileira na produção mundial
2. Indicadores de capacitação da indústria de cimento
2.1. Evolução da capacidade instalada e de seu grau de ocupação
2.2. Grau de concentração industrial do setor
2.3. Grau de atualização tecnológica do parque produtor
2.3.1. Grau de atualização em relação aos competidores externos
2.3.2. Grau de atualização tecnológica interna ao setor: número de fábricas (plantas) que
produzem no processo de última geração e respectiva parcela da produção total da fábrica
2.3.3. Grau de aderência às técnicas organizacionais e modelos de gestão avançados
2.4. Capacitação dos recursos humanos
2.4.1. Composição da mão-de-obra do setor (por empresa)
2.4.2. Programas de treinamento
2.4.3. Grau de aderência das normas técnicas brasileiras às normas dos países líderes
2.5. Grau de atualização das normas técnicas brasileiras
2.6. Tipos de produtos brasileiros em relação aos tipos de produtos dos países líderes
3. Indicadores de desempenho
3.1. Taxa de participação nos principais mercados compradores em relação aos seus competidores
(em volume quantitativo e valores)
3.2. Preços unitários (US$/t) pagos pelos países compradores em relação aos seus competidores
3.3. Balança comercial do setor com os principais países compradores e balança comercial total
do setor em base semestral
22
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
3.4. Evolução dos preços no mercado interno e seu impacto nos custos das obras e preços
praticados pelos principais países produtores em seu mercado
3.5. Evolução dos componentes da estrutura de custos das empresas (consumo por unidade
produzida e participação no custo final do produto por categorias de produtos)
3.6. Evolução do valor dos investimentos em relação às receitas, de forma discriminada e por origem
dos recursos (dividir em recursos próprios, financiamentos de origem pública e privada)
3.7. Produtividade da mão-de-obra
3.8. Produtividade energética
3.9. Produtividade global
3.10. Índices de emissão de poluentes e de ruído
3.11. Evolução da participação das empresas no mercado interno
3.12. Evolução das vendas por tipo de consumidor
3.13. Evolução das vendas por tipo de transporte
3.14. Evolução do prazo de rotação de estoque
3.15. Evolução do ciclo de produção
3.16. Evolução da taxa de retrabalho
3.17. Evolução da taxa de rejeito de insumos
3.18. Evolução da taxa de devolução de produtos
3.19. Incidência de manifestações patológicas em obras acabadas relativas a problemas de
qualidade ou inadequação de uso do cimento
3.20. Paradas na produção - Previstas e imprevistas (em número de horas em relação às horas
totais trabalhadas no mês)
3.21. Evolução das ocorrências de acidentes de trabalho
3.22. Conformidade de produtos
3.23. Grau de aderência às tendências internacionais
23
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
APRESENTAÇÃO
Esta Nota Técnica sobre a competitividade da indústria brasileira de cimento é um dos
estudos que compõem o projeto "Estudo de Competitividade da Indústria Brasileira", referente ao
contrato entre a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), a Secretaria de Ciência e
Tecnologia da Presidência da República (SCT - PR) e a Fundação Economia de Campinas
(FECAMP), coordenado pelo Prof. Dr. Luciano Coutinho do Instituto de Economia da
UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas e pelo Prof. Dr. João Carlos Ferraz, do Instituto
de Economia Industrial da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O presente trabalho analisa as características da estrutura industrial e de desempenho da
indústria do cimento no Brasil estabelecendo um paralelo com os países líderes. O trabalho visa
identificar os fatores determinantes da competitividade dessa indústria sob um enfoque
metodológico que contempla a análise dos fatores que se colocam no âmbito de decisão da
empresa (fatores empresariais), do setor (fatores estruturais/setoriais) e do sistema econômico,
político e social do País (fatores sistêmicos).
Com a identificação de tendências internacionais e obstáculos à competitividade da
indústria brasileira, o trabalho estabelece premissas básicas de uma política industrial para o setor
na qual o objetivo central é a promoção do equilíbrio entre os interesses de produtores e
consumidores.
Vislumbra-se também uma política de exportações, uma vez vencidas dificuldades
sistêmicas e setoriais existentes atualmente; porém, é no equilíbrio do mercado interno que se
identifica a motivação central para o desenvolvimento da indústria.
Para apoiar o incremento de competitividade da indústria apresenta-se proposições de
políticas de reestruturação setorial, modernização empresarial e relacionadas aos fatores
sistêmicos, nas quais coloca-se a empresa como agente primordial de transformação e o Estado
exercendo o papel de mediador. A operacionalização de tais políticas é atribuída a um conjunto de
agentes intervenientes identificados no trabalho.
O trabalho apresenta, por fim, um conjunto de indicadores de competitividade os quais,
uma vez selecionados e hierarquizados, podem definir uma referência para o acompanhamento do
desempenho competitivo do setor.
Para a identificação dos fatores determinantes da competitividade foram utilizados vários
estudos já realizados sobre a indústria do cimento no Brasil e no exterior, os subsídios viabilizados
por um conjunto de entrevistas com produtores, consumidores e suas respectivas entidades de
24
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
classe, bem como por entrevistas com pesquisadores de instituições públicas e privadas. Para a
caracterização internacional, que viabilizou a análise comparativa, estatísticas secundárias, dados e
informações qualitativas foram obtidos junto a entidades de classe e entidades técnicas dos
principais países produtores e empresas líderes. Embora tenham sido obtidas informações e dados
sobre os países líderes, o estudo não contou com informações sobre as empresas e estrutura do
setor na China, país líder em volume de produção. Também não foi possível obter séries de dados
comparáveis entre si quanto aos preços, seja para revendedor seja deste para o consumidor final.
Os dados obtidos para países líderes em comparação para os dados disponíveis para o Brasil são
discrepantes quanto às taxas e tributos incorporados, bem como quanto à incidência dos preços de
transporte. Entre os preços nacionais, também não se obteve série comparável para várias regiões
do país.
Os resultados obtidos a partir da pesquisa de campo do Estudo da Competitividade da
Indústria Brasileira referentes a 7 (sete) empresas, encontram-se no Anexo ao final do trabalho.
Além dessa base de dados, foram realizadas visitas/entrevistas pela equipe do projeto, o que
ampliou a representatividade das informações obtidas.
Apresenta-se, a seguir, a relação das fontes de informação utilizadas, a qual é
complementada pelas referências bibliográficas apresentadas no final do texto.
Entrevistas realizadas:
a) Sindicato Nacional da Indústria do Cimento - SNIC
b) Associação Brasileira de Cimento Portland - ABCP / Comitê Brasileiro de Cimento,
Concreto e Agregados da ABNT - CB 18/ABNT
c) Companhia de Cimento Mauá
d) Serrana S.A. de Mineração
e) Companhia de Cimento Itambé
f) S.A. Indústrias Votorantim
g) Escola Politécnica da Universidade de São Paulo - EPUSP
h) Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT
i) Companhia Brasileira de Projetos e Obras - CBPO
j) Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de São Paulo - SINDUSCON-SP
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
Dados/informações fornecidos por correspondência:
a) Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Paraná - SINDUSCON-PR
b) Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Rio Grande do Sul -
SINDUSCON-RS
c) Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Cimento, Cal e Gesso de São Paulo.
d) Turkish Cement Manufacturers' Association - Ankara, Turkiye
e) Portland Cement Association - Skokie, Illinois, U.S.A.
f) Societé Suisse des fabricants de ciment, chaux et gypse - Zurich, Suisse
g) Associazione Italiana Tecnico Economica del Cemento - AITEC - Roma, Italia
h) CEMBUREAU - The European Cement Association - Brussels, Belgium
i) Onoda Cement Co., Ltd - International Business Division - Tokyo, Japan
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS DA COMPETITIVIDADE - FORMAS DE
CONCORRÊNCIA E ESTRATÉGIAS DAS EMPRESAS LÍDERES
1.1. Características Estruturais do Setor de Cimento
1.1.1. Características do produto e do processo
As normas brasileiras7 definem nove tipos diferentes de cimento (num conjunto de seis
normas de especificação). Alguns desses tipos são subdivididos, ainda, em várias classes de
resistência à compressão, elevando o número de tipos para mais de vinte.
De acordo com sua composição os tipos de cimento são os seguintes:
- CP I: tipo básico de cimento denominado Cimento Portland Comum, que contém a
matéria-prima fundamental, o clínquer Portland e adição de gipsita. Quando acompanhada de um
"S" essa designação refere-se a adição de até 5% de pó calcário.
- CP II: Cimento Portland Composto que resulta de determinados teores de adições à
mistura de clínquer Portland e gipsita - de 6 a 10% de pó calcário (CPIIF); 6 a 14% de pozolana e
0 a 10% de pó calcário (CPIIZ); e 6 a 34% de escória de alto-forno e 0 a 10% de pó calcário com
a sigla CPIIE.
- CP III: Mistura de clínquer Portland, gipsita, 35 a 70% de escória e 0 a 5% de pó calcário.
- CP IV: Mistura de clínquer Portland, gipsita, 15 a 50% de pozolana e 0 a 5% de pó calcário.
- CP V: Cimento Portland de alta resistência inicial que tem como característica as
elevadas resistências a baixas idades, podendo conter até 5% de pó calcário.
O cimento Portland resistente a sulfatos é um tipo de cimento especial para aplicação em
locais de exposição a meios agressivos pela presença de sulfatos.
Além da classificação segundo a composição, os cimentos são classificados segundo a
resistência que apresentam no ensaio de resistência à compressão em argamassa normal aos 28
dias de idade, ou seja 25 MPa, 32 MPa ou 40 MPa8. A exceção é o cimento ARI (Alta
Resistência Inicial), cuja resistência é medida aos sete dias de idade.
7 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Conjunto de normas de especificação de cimento -
NBR 5732; NBR 5733; NBR 5735; NBR 5736; NBR 5737; NBR 11578.
8 1 MPa= 10,67 kgf/cm
2
.
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As matérias-primas básicas empregadas no processo são os materiais calcários (além do
próprio calcário, a calcita, aragonita, conchas, margas, resíduos da fabricação de carbureto de
cálcio, resíduos da flotação de carbônicos); os materiais silicosos (argila, caulim, xistos, cinzas de
carvão mineral) e matérias-primas usadas esporadicamente de forma a corrigir a composição
como a areia, o quartzito, o minério de ferro e a "carepa"(resíduo da indústria siderúrgica); o
sulfato de cálcio (gesso, fosfogesso, resíduos da produção de sal, anidrita); a escória de alto forno
(resultado do emprego do calcário como fundente no processo siderúrgico); pozolanas - natural e
artificial (como as cinzas volantes, resultado da queima de carvão em usinas termoelétricas).
As etapas do processo produtivo são: extração e seleção das matérias-primas, mistura e
moagem das matérias-primas; queima das matérias-primas (obtenção do "clínquer"); moagem do
clínquer junto com os outros materiais adicionados.
O processo é classificado conforme utilize-se ou não de água como veículo de transporte
da matéria-prima para o forno, ou seja, o processo é chamado de processo por "via úmida" se as
matérias-primas são preparadas em forma de pasta com adição de 30 a 35% de água; processo por
via semi-úmida (ou semi-seca) se a adição de água é de 10 a 15% e processo por via seca se não é
adicionada água. Neste, a geração de poeira exige a utilização de mecanismos específicos de
coleta, de forma a não permitir sua saída para o exterior da fábrica, protegendo a saúde dos
trabalhadores e viabilizando o seu reaproveitamento.
O processo por via úmida foi utilizado em todo o mundo até a década de 70, quando a
indústria japonesa desenvolveu em escala industrial e introduziu o processo por via seca, o qual já
era conhecido desde o final do século passado, quando foi construído na Alemanha o primeiro
forno em processo por via seca. Este processo proporciona uma redução sensível no consumo de
combustível em função da eliminação da necessidade de calor para evaporação da água e da
redução de calor de radiação e convexão. O processo por via seca possibilitou um aumento no
tamanho dos fornos projetados, sendo este, na realidade, o elemento definidor da capacidade
produtiva da fábrica.
Os combustíveis que podem ser utilizados na produção de cimento são variados, desde
que sejam capazes de gerar temperaturas na faixa de 1200 a 1500ºC. Os combustíveis mais
utilizados são o óleo combustível, o carvão mineral e o gás natural havendo, no entanto, uma série
de outras opções que podem incluir a queima de rejeitos industriais diversos, empregadas em
função da disponibilidade regional. Considerada de consumo intensivo de energia, o qual
representa, em geral, a maior parcela do custo de produção, a indústria do cimento tem na
redução desse consumo a principal motivação para os avanços tecnológicos de processo. As
questões relativas à preservação do meio ambiente afetam diretamente a indústria do cimento pelo
teor de emissão de agentes poluentes do ar (poeira de cimento, gás carbônico, óxido de nitrogênio
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e enxofre), pelas condições de emissão de ruídos e, sobretudo, pelas implicações ambientais das
atividades de extração.
Caracterizada pelo uso intensivo de capital, a produção de cimento exige investimentos
elevados para instalação de novas unidades, podendo-se situar numa faixa de US$ 150 a US$ 200
por tonelada/ano de capacidade instalada9. A escala de produção exigida para assegurar o retorno
do investimento é elevada e a demanda não é controlada pela indústria, ou seja, existe pouca
possibilidade de intervenção por meio de instrumentos de "marketing", por exemplo. Como a
indústria gera um produto homogêneo no mercado, a demanda de cimento é condicionada pelo
nível de atividade da indústria da construção civil que, por sua vez, depende do poder de
investimento do setor público (obras de infra-estrutura e sociais) e do poder de compra do setor
privado (obras habitacionais, comerciais, industriais).
A partir do início deste século, e mais acentuadamente a partir da década de 30, o cimento
passou a ter um emprego universal na construção civil, pelo rápido desenvolvimento a nível
mundial da tecnologia do concreto. O desenvolvimento da tecnologia do concreto aliado ao
desenvolvimento das metodologias de projeto com esse material levaram à superação rápida de
limitações que restringiam o emprego do cimento. Em contínua evolução, a tecnologia do
concreto vai gerando novas faixas de demanda para o emprego do cimento e exigindo da indústria
o acompanhamento de novas necessidades de desempenho do produto.
Com base em normas já consolidadas em todos os países em que é produzido o cimento
atinge um grau de homogeneidade de especificações bastante elevado quando comparado à
maioria dos materiais de construção. Isso tem possibilitado a atuação internacional dos maiores
fabricantes de cimento, uma vez que não existem diferenças significativas no produto empregado
nos vários países.
O cimento pode ser fornecido a granel, quando então tem no transporte ferroviário o meio
mais adequado de distribuição, ou em sacos de 50 kg, de papel "kraft". Em vários países, para
efeito de racionalização no transporte e proteção contra desperdícios, o cimento pode ser
fornecido em "sacolões" de plástico completamente vedados, contendo 20 ou 30 sacos de 50 kg e
que podem ser içados no transporte por meio de gruas ("sling-bags").
As fábricas podem vender diretamente aos consumidores como acontece com as grandes
construtoras, obras de grande porte, usinas de concreto, produtores de elementos pré-fabricados,
produtores de cimento amianto, produtores de artefatos de cimento ou aos revendedores que
fornecem para os pequenos e médios consumidores.
9 NATRON; Portland Cement Association (1984); MINÉRIOS / MINERALES, 1992. Embora esses valores sejam
difundidos no meio técnico, as entidades de classe dos produtores afirmam que, em virtude das exigências
ambientais mais rigorosas nos últimos anos, o valor mais adequado à realidade atual é de US$ 250/t/ano.
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Os especificadores de cimento são essencialmente os projetistas de estruturas de concreto
armado, de fundações e de obras de arte (pontes, viadutos, túneis) ou obras especiais
(hidrelétricas, aeroportos, etc). No entanto, o cimento é largamente utilizado ainda na composição
de concretos (cimento + areia + brita) para fins não estruturais (reparos, pisos, pequenos serviços)
e para argamassas (cimento + areia ou cimento + areia + cal) de empregos diversos (assentamento
de blocos cerâmicos e de concreto, revestimentos de tetos e paredes, etc). Na indústria de pré-
fabricados de concreto é elemento básico da composição do concreto para a fabricação das mais
diversas peças estruturais e de vedação (vigas, pilares, lajes, painéis de pequeno a grande porte,
telhas, etc). Também na tecnologia de argamassa armada, que consiste em argamassa empregada
com armadura em tela soldada exercendo funções estruturais, o cimento constitui-se em material
básico.
O cimento não possui produto concorrente direto, uma vez que suas funções não são
totalmente desempenhadas por qualquer outro produto. No entanto, sofre concorrência enquanto
material constituinte da tecnologia de concreto para algumas finalidades, como é o caso das
estruturas em aço, em madeira (para edificações de pequeno porte), nas vedações e estruturas em
cerâmica vermelha (alvenaria armada) ou em alguns tipos de revestimentos e pelo asfalto em
pavimentações. A redução do emprego do cimento por substituição é limitada, pois sendo um
material básico tem uma utilização bastante ampla.
A cadeia produtiva do cimento é, portanto, constituída por um conjunto muito abrangente
de fornecedores e de consumidores/usuários finais , conforme apresentado a seguir:
CONSUMIDORES FINAIS
. CONSTRUTORAS E EMPREITEIRAS
. ÓRGÃOS PÚBLICOS
FABRICANTES DE
ARTEFATOS DE
CIMENTO
PRODUTORES DE
PRÉ-FABRICADOS
FABRICANTES DE
CIMENTO AMIANTO
USINAS DE CONCRETO
REVENDEDORES DE
MATERIAIS DE
CONSTRUÇÃO
ESPECIFICADORES
. PROJETISTAS DE FUNDAÇÕES
E ESTRUTURAS PARA
REVESTIMENTOS
TRANSPORTADORES
. RODOVIÁRIO
. FERROVIÁRIO
PRODUTORES
EMBALAGENS
PROJETO DAS PLANTAS
INDUSTRIAIS
. CONSTRUÇÃO DAS PLANTAS
EQUIPAMENTOS
. PRODUTORES
ENERGIA
. CARVÃO MINERAL
. CARVÃO VEGETAL
. ÓLEO COMBUSTÍVEL
. GÁS NATURAL
. OUTROS
SALINAS
. RESÍDUOS
INDÚSTRIA DE FERTILIZANTES
. FOSFOGESSO
. RESÍDUOS DE
DESSULFURIZAÇÃO
USINAS TERMO-ELÉTRICAS
. CINZAS VOLANTES
INDÚSTRIA SIDERÚRGICA
. ESCÓRIA DE ALTO FORNO
. RESÍDUOS
EXTRAÇÃO E BENEFICIAMENTO
DE MATÉRIAS-PRIMAS
. MATERIAIS CALCÁRIOS
. MATERIAIS ARGILOSOS
. GIPSITA
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O cimento pode ter impactos significativamente diferentes no custo de uma obra, uma vez
que o tipo, porte e tecnologia empregada na obra definem as quantidades do produto a serem
empregadas. Assim, o impacto do cimento no custo de uma obra de edificação industrial ou
comercial difere significativamente do impacto do mesmo numa obra de edificação habitacional
(nesta pode existir uma diversidade maior de materiais empregados), que por sua vez difere muito
de outra obra de edificação habitacional construída com outra tecnologia (alvenaria estrutural em
blocos cerâmicos, por exemplo). Na realidade, o cimento terá um peso relativo no custo tanto
maior quanto maior for a quantidade de serviços, componentes e elementos em que ele é o
material básico.
Sendo um material perecível, que perde suas propriedades a partir de um período de
aproximadamente sessenta dias após sua fabricação, se não for estocado em silos especiais ou em
condições controladas de exposição à umidade, o cimento requer cuidados específicos no
transporte e armazenamento. Dada a sua volatilidade, requer, também, cuidados específicos no
manuseio, sob pena de acarretar desperdícios.
1.1.2. Produção e consumo internacional
A produção mundial de cimento apresenta pequenas variações anuais em relação à
liderança. A unificação da Alemanha e a separação das repúblicas constituintes da U.R.S.S.
acarretaram novas posições, mas em termos de incremento na produção o destaque dos últimos
três anos (considerando-se os dados disponíveis até o ano de 1990) cabe à Tailândia e Indonésia.
Especialmente a Tailândia teve um acréscimo de 54,55% na produção em 1990 sobre 198810. O
crescimento da produção mundial nesse período foi de 1,41% e 2,04% respectivamente de 1988-
89 e 1989-91.
A Tabela 1 apresenta o ranking da produção mundial de cimento. Observa-se que o
volume da produção brasileira possui a mesma ordem de grandeza (até 30.000.000 t/ano) da
Espanha, que ocupa a 9ª posição. Os volumes produzidos desta até a 1ª posição atingem o
máximo de oito vezes a produção brasileira. No entanto, a liderança em termos de
competitividade a nível internacional é mantida por grupos de origem francesa e suíça, países que
não são líderes em termos de volume, e pela indústria japonesa que ocupava até 1990 a 3ª posição
em termos de volume de produção.
10 SNIC (1991).
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TABELA 1
MAIORES PRODUTORES DE CIMENTO NO MUNDO
(1988/90)
PRODUÇÃO DE CIMENTO PORTLAND (em 1000 ton)
PRODUÇÃO NOS 16 PRIMEIROS
PAÍSES PRODUTORES 1990 1989 1988
TOTAL MUNDIAL 1.153.790 1.137.698 1.114.986
China 208.500 203.844 204.144
Ex-U.R.S.S. 137.348 140.436 139.499
Japão 84.458 79.478 77.516
E.U.A. 72.300 70.026 69.734
India 47.340 44.620 43.650
Itália 40.855 40.489 38.837
Alemanha 34.940 38.734 36.908
Coréia do Sul 33.575 30.474 28.995
Espanha 28.662 28.217 10º 25.776
França 10º 27.052 10º 26.827 26.031
Brasil 11º 25.848 11º 25.920 11º 25.329
Turquia 12º 25.378 12º 24.062 12º 22.696
México 13º 23.826 13º 23.381 13º 22.500
Formosa 14º 18.397 14º 17.876 14º 16.832
Tailândia 15º 18.044 17º 15.364 23º 11.675
Indonésia 16º 15.783 18º 14.100 20º 12.439
Fonte: SNIC (1991) - A partir de dados da CEMBUREAU.
A produção desses países corresponde em 1990 a 73% da produção mundial de cimento.
Analisando-se o consumo de cada país na Tabela 2, verifica-se que estes volumes representam um
dimensionamento ajustado à demanda interna, com excedentes da ordem de 1 a 2% da produção.
Observa-se nos países com excedentes de produção um movimento de queda do consumo "per
capita" e no consumo absoluto nesse período. No entanto, o Japão, Índia, Coréia do Sul, França,
México e Indonésia apresentam um aumento do consumo "per capita" e do consumo absoluto
acompanhados por um aumento mais que proporcional na produção, permitindo a existência do
excedente. Os excedentes, na realidade, são relativos à capacidade em operação, não
considerando a capacidade ociosa, ou seja, os volumes de produção correspondem à capacidade
de absorção do mercado antes que à capacidade instalada.
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TABELA 2
CONSUMO APARENTE DE CIMENTO PORTLAND
(1988/90)
TOTAL (1000 t) PER CAPITA (KG/HAB/ANO)
1990 1989 1988 1990 1989 1988
TOTAL MUNDIAL 1.150.926 1.134.836 1.112.343 217 219 217
China 205.200 203.844 204.344 180 182 185
Ex URSS 136.548 139.836 138.289 472 486 485
Japão 84.116 78.697 77.518 681 639 632
E.U.A. 80.988 82.410 83.817 324 333 342
India 47.087 44.477 43.619 57 55 55
Itália 43.243 42.513 40.236 750 739 700
Alemanha 33.965 36.946 35.356 423 470 453
Coréia do Sul 33.896 28.210 26.202 792 666 624
Espanha 28.572 26.026 22.671 704 650 581
França 25.157 24.740 24.146 444 440 432
Brasil 25.983 25.833 25.327 176 179 179
Turquia 23.779 23.377 23.748 417 420 437
México 21.260 19.494 18.367 247 231 222
Formosa 18.107 16.236 13.128 887 806 710
Tailândia 18.960 15.150 11.580 331 273 212
Indonésia 13.779 11.412 10.840 77 64 62
Fonte: SNIC (1991) - A partir de dados da CEMBUREAU.
A China apresentou no período uma queda no consumo "per capita", porém um aumento
no consumo absoluto de cimento. Isto também ocorreu no Brasil, porém com menor intensidade,
indicando um crescimento populacional mais rápido do que o crescimento do consumo através das
atividades de construção civil.
Os fluxos internacionais ocorrem, pois, no sentido dos países com excedentes para os
países com "déficit" de produção em relação ao consumo. Movimentos de comércio baseados nas
condições de preço e qualidade são observados de forma descontínua, gerando o comércio
conjuntural entre os países cujo consumo interno está em níveis abaixo da capacidade instalada e
países com preços do produto nacional elevados ou qualidade inferior em relação aos padrões
internacionais.
Em termos de exportação de cimento a China e o Japão são os países líderes, com
respectivamente 10,5 e 7,3 milhões de toneladas em 1991, seguidos pela Grécia, Turquia e
Espanha, conforme pode ser observado na Tabela 3.
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TABELA 3
MAIORES EXPORTADORES MUNDIAIS DE CIMENTO
(1990/91)
(em milhões de toneladas)
PAÍS 1990 1991
China 0,2 10,5
Japão 5,9 7,3
Grécia 5,8 5,8
Turquia 2,7 3,6
Espanha 2,9 2,6
Bélgica 2,1 2,3
França 2,2 2,2
Arábia Saudita 1,7 2,1
Indonésia 2,0 2,0
Coréia 2,0 1,9
Polônia 1,1 1,8
Alemanha 1,9 1,6
Fonte: AITEC (1992).
Para a China e Japão, observa-se um crescimento substancial dos volumes exportados
entre 1990 e 1991, resultante de uma política de exportações desses países e da maior demanda no
mercado internacional.
Os preços do cimento no mercado internacional têm se mantido em patamares
relativamente estáveis ocorrendo períodos sazonais de queda nos preços em virtude do excedente
no mercado mundial. A Tabela 4 apresenta os preços praticados pelos países europeus em 1991:
TABELA 4
PREÇOS PRATICADOS PELOS PAÍSES EUROPEUS
(17/12/1991)
PAÍS PREÇO (US$ por tonelada)*
Reino Unido 96,69
Áustria 94,39
Noruega 93,72
Dinamarca 92,30
Suécia 91,80
Suíça 90,55**
Luxemburgo 90,07
Espanha 89,74
Irlanda 87,12
Alemanha 83,31
Holanda 81,42
Finlândia 77,88
França 76,25
Bélgica 73,04
Portugal 73,24
Grécia 64,84
Itália 68,17
* Preços do Cimento Portland Comum fornecido à granel com taxas de
transporte excluídas (posto fábrica).
** Para o ano de 1992 o preço do cimento na Suíça foi fixado em US$
94,00.(Fonte: Societé Suisse des Fabricants de ciment, chaux et gypse,
22/12/1992).
Fonte: CEMBUREAU apud AITEC (1992).
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Esses dados podem ser comparados entre si, pois são apurados por uma mesma fonte e
têm a mesma base, ou seja, referem-se ao mesmo tamanho de amostra (lote) e à mesma condição
de entrega - posto fábrica. Verifica-se uma diferença de aproximadamente 40% entre o mais alto
(Reino Unido) e o mais baixo valor (Itália). Neste último país, líder da produção na Europa, os
preços estão mantidos em patamares mais baixos que os demais em função de políticas
governamentais de controle de preços. No entanto, observa-se que a proximidade geográfica e a
abertura dos mercados dos vários países europeus mantém uma condição concorrencial em que os
preços são equilibrados no sentido de proteger as indústrias de cada país da entrada de cimento
dos demais países.
1.1.3. Estrutura industrial e formas de concorrência
A indústria do cimento está amplamente instalada em todos os continentes, uma vez que a
matéria-prima básica, calcário, está presente na maioria dos países.
A organização do mercado mundial foi passando por sucessivas mudanças desde o início
do século, face aos processos de expansão das atividades dos principais fabricantes para além das
fronteiras de seus países.
A estrutura industrial na produção de cimento é condicionada por um conjunto de fatores
inter-relacionados, que determinam o padrão de concorrência, entre os quais os mais relevantes
segundo PROCHNIK são11: disponibilidade de bens de capital; disponibilidade de matérias-
primas; homogeneidade do produto; custo de transporte; custo dos bens de capital; demanda pelo
produto; escala de produção; capacitação tecnológica e poder de competição.
A indústria de bens de capital é, em geral, independente da indústria de cimento,
possibilitando o acesso uniforme dos investidores à tecnologia de processo desenvolvida. Exceção
pode ser feita ao Japão, cuja indústria de bens de capital para a fabricação do cimento está ligada
aos produtores. A indústria de bens de capital é geradora de progresso técnico para a indústria
produtora de cimento, na medida em que o processo requer elevado teor de tecnologia
incorporada.
A disponibilidade de matérias-primas não se constitui em fator gerador de vantagens
competitivas, uma vez que considera-se abundante as reservas mundiais. No entanto, pode
representar vantagem interna a uma microrregião pela qualidade e proximidade aos centros
consumidores.
11 PROCHNICK, V. (1983).
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Com a difusão do desenvolvimento tecnológico da produção, o produto atinge hoje
padrões de homogeneidade de qualidade regulados pela normalização técnica internacional e
nacional nos vários países produtores, que descaracterizam a concorrência pelas especificações de
produto. Nesse aspecto, predomina a velocidade com que cada país consegue incorporar os
avanços ocorridos no desempenho do produto, avanços esses que rapidamente se difundem entre
os vários países produtores.
A elevada incidência dos custos de transporte no produto dificulta a ampliação do raio de
comercialização dos fabricantes e leva à concentração local e regional em função, primeiramente,
da origem da matéria-prima e dos mercados consumidores. O cimento tem baixo valor agregado
por unidade de peso, acentuando-se assim o papel dos custos de transporte no custo final.
A Tabela 5 apresenta as estruturas de custos industriais de vários países, que revelam a
maior incidência do custo de energia e os demais itens que assumem maior ou menor importância
em função das características dos países em termos econômicos. Embora esses dados sejam
antigos (1988) e de caráter muito genérico, podem revelar a influência das condições econômicas
de cada país na determinação da estrutura de custos. Destaca-se o caso da Turquia em que a
energia é efetivamente determinante dos custos, com muito baixa incidência dos demais itens,
revelando uma estrutura de escassez de energia e baixo custo de capital.
TABELA 5
CUSTOS INDUSTRIAIS COMPARATIVOS
(em % do custo total)
País\Item Capital Matéria-prima Energia Pessoal Outros*
Brasil 24,5 18,0 30,0 17,5 10,0
Espanha 22,5 7,3 39,4 14,7 16,1
Turquia 7,0 14,0 60,0 9,00 10,0
França 16,3 2,9 28,8 21,7 30,3
Alemanha Ocidental 13,0 5,0 35,0 21,0 26,0
Japão 16,0 21,0 37,0 7,0 19,0
Coréia do Sul 17,0 5,3 48,0 9,8 19,9
Grécia 19,0 8,0 38,0 19,0 16,0
* O item "outros" inclui: manutenção, embalagem, administração geral e sub-contratação.
Fonte: ROEHLKEPARTAIN (1988) apud NATRON.
Devido à característica capital-intensiva da indústria, a necessidade de escalas mínimas
elevadas para assegurar a viabilidade econômica condiciona a implantação das fábricas à existência
de grande mercado potencial e exige estruturas de financiamento complexas, fatores que
dificultam o acesso de pequenos investidores. A pesada incidência de custos fixos sobre os custos
totais, face ao elevado montante do capital inicial requerido, penaliza fortemente a indústria
quando da existência de capacidade ociosa. Os avanços tecnológicos recentes têm ampliado ainda
mais a escala eficiente mínima na produção do cimento. O Japão, país líder em tecnologia de
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processo, exemplifica essa tendência apresentando fábricas de capacidade maior do que os demais
países líderes mundiais.
A capacitação tecnológica parece influir decisivamente nos anos 80 e 90 sobre o poder de
competição das empresas, não só do ponto de vista da tecnologia de processo, mas também do
domínio técnico de projeto e gestão da construção das plantas industriais. O elevado valor do
investimento realizado nessa fase coloca em vantagem as empresas experientes nesses aspectos,
em geral os grandes grupos industriais, que exercem um efetivo controle dos recursos através das
formas adequadas de contratação e participação na execução dos serviços. O maior conhecimento
da tecnologia de processo que viabiliza a tomada de decisões mais adequada na compra de
máquinas e equipamentos e no acompanhamento da sua fabricação também é fator de vantagem
competitiva.
O Japão é considerado um país líder em tecnologia, cujas inovações vem sendo difundidas
aos fabricantes europeus, grupos que estão presentes em várias partes do mundo, através da venda
de equipamentos e cessão de patentes. Os principais grupos produtores também podem ser
identificados na França - grupo Lafarge - Copée; na Suíça - grupo Holderbank; na Inglaterra -
grupo Blue Circle; e na Itália - Grupo Italcementi.
As tendências observadas na Europa e Japão têm demonstrado o reforço da estrutura
oligopolista do mercado, através da ampliação das escalas e criação de barreiras à entrada de
novos concorrentes. O crescimento diferencial das empresas num modelo competitivo gera um
modelo oligopolizado, caracterizado pela superioridade das empresas líderes. As economias
decorrentes da capacidade produtiva tornam-se menos relevantes do que as economias de poder
competitivo como a publicidade, a propriedade de patentes, o poder de compra de insumos a
custos mais baixos e de venda a preços mais altos12. O grau de concentração industrial é bastante
elevado em alguns países, como nos países escandinavos, Irlanda, Luxemburgo, Reino Unido,
Áustria, Suíça e Itália. Os Estados Unidos destacam-se pelo volume de produção, porém a
indústria daquele país seguiu uma dinâmica própria, baseada em unidades produtivas de menor
porte que mantém grau de defasagem acentuado em relação aos principais competidores.
A indústria italiana, principal parque produtor da Europa constitui-se de 91 fábricas (40
empresas), em sua maioria de porte médio a grande (de 300.000 a 1.000.000 t/ano de produção),
e com 50,3% da produção sob a responsabilidade de dois grupos industriais - Italcementi e
Unicem, conforme apresentado nos Gráficos 1 e 2 a seguir.
12 PROCHNICK, V. (1983).
37
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
GRÁFICO 1
DISTRIBUIÇÃO DA PRODUÇÃO SEGUNDO CLASSES DE PRODUÇÃO - ITÁLIA
(1991)
Inferior a 100.000 t
1,3%
100.001 a 300.000 t
10,9%
Superior a 1.000.000 t
16,6%
600.001 a 1.000.000 t
30,4%
300.001 a 600.000 t
40,8%
Fonte: AITEC (1992).
GRÁFICO 2
PARTICIPAÇÃO DOS GRUPOS INDUSTRIAIS NA PRODUÇÃO - ITÁLIA
(1991)
ITALCEMENTI
UNICEM
CEMENTIR
MERONE
COLACEM
BUZZI
SACCI
ANIC
ADRIASEBINA
CEMENTI ZILLO
CEMENTI ROSSI
CEMENTI PIAVE
BARBETTI
CASSAGO
MONSELICE
CEMENTI VERONA
MOCCIA
OUTROS*
4,1
1,2
1,3
1,3
1,4
1,6
1,7
2,2
2,2
2,7
2,9
3,5
4,4
4,7
5,4
9,1
14,4
35,9
0 10 20 30 40
(%)
ITALCEMENTI
UNICEM
CEMENTIR
MERONE
COLACEM
BUZZI
SACCI
ANIC
ADRIASEBINA
CEMENTI ZILLO
CEMENTI ROSSI
CEMENTI PIAVE
BARBETTI
CASSAGO
MONSELICE
CEMENTI VERONA
MOCCIA
OUTROS*
(*) 11 EMPRESAS E 11 FÁBRICAS
Fonte: AITEC (1992).
Distribuída por todo o território italiano, os fabricantes da região sul sofrem grande
concorrência do cimento grego, turco, iugoslavo (anteriormente à guerra civil naquele país) e
38
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
libanês. Especialmente com relação ao cimento de origem grega e iugoslava existe forte atuação
da indústria italiana em relação aos preços praticados, com denúncias de prática de "dumping"
junto à Comissão da Comunidade Européia, sob a alegação de que os preços praticados por
aqueles países na Itália são cerca de 25% inferiores aos preços que praticam em seu mercado
interno. A indústria italiana tem seus preços controlados pelo "Comitato Interministeriale Prezzi"
a partir de planilhas de custo médio da indústria, o que tem mantido seus preços em patamares
inferiores aos preços médios dos países europeus e é motivo de intensa reivindicação de liberação,
especialmente a partir da unificação de mercado na Europa13. Embora esteja trabalhando nos
últimos anos (1990 e 1991) com uma capacidade ociosa de aproximadamente 32%, a indústria
italiana não se caracteriza por um grande volume exportado, mantendo-se em 0,5% da produção.
O consumo na Itália é liderado pelas usinas de concreto, incluindo os produtores de pré-
fabricados, conforme apresentado no Gráfico 3 a seguir.
GRÁFICO 3
CONSUMO APARENTE DE CIMENTO PORTLAND
SEGUNDO SEGMENTOS - ITÁLIA
(1991)
FAB. ARTEFATOS CIMENTO
12,7%
REVENDEDORES
27,0%
USINAS DE CONCRETO*
41,8%
EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO
16,6%
EXPORTAÇÃO 0,5%
OUTROS 1,4%
(*) INCLUI OS PRODUTORES DE
PRÉ-FABRICADOS DE CONCRETO
Fonte: AITEC (1992).
A principal fonte de energia utilizada pela indústria italiana é o carvão, seguido do óleo
combustível e do metano. Com relação ao grau de atualização tecnológica de processo, 94,5% de
sua produção corresponde ao processo de via seca. As mudanças recentes da legislação italiana
sobre preservação do meio ambiente têm levado a um direcionamento dos investimentos para o
melhoramento ambiental, especialmente quanto à atividade extrativa e emissão de poluentes do ar,
pela adequação tecnológica de funcionamento das fábricas. A indústria italiana caracteriza-se por
um fornecimento predominantemente a granel, com transporte por rodovias, sendo que os
serviços de transporte também têm suas tarifas controladas pelo governo italiano.
13 ASSOCIAZIONE ITALIANA TECNICO ECONOMICA DEL CEMENTO (1992).
39
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
A indústria italiana do cimento segue as normas européias para o produto e participa
ativamente de sua elaboração através de sua entidade técnica - AITEC - Associazione Italiana
Tecnico Economica del Cemento, implantando também as diretrizes européias de certificação de
conformidade, elaboradas pela CEMBUREAU - The European Cement Association14. O
organismo italiano que confere a marca de conformidade ao cimento é o "Instituto Centrale per
l'Industrializzazione e la Tecnologia Edilizia".
A Suíça constitui-se em estrutura de mercado diferenciada, à medida que a indústria do
cimento naquele país formou um cartel já a partir de 1911. Com essa condição, propiciada pela
legislação Suíça que autoriza a constituição de cartéis horizontais, a indústria suíça caracteriza-se
pela fixação anual de preços ao consumidor, divisão do mercado entre os membros com eventuais
cessões acordadas e organização conjunta do sistema de gerenciamento do transporte do produto.
Constituído sob a forma jurídica de um sindicato - EG Portland - os produtores suíços atribuem à
interdependência das características do cartel o equilíbrio e organização do mercado.
Ressalta-se que a legislação suíça é rigorosa quanto à atuação do cartel através da
vigilância da Comissão de Cartéis e de Controle de Preços do governo, e que a competição com
os fabricantes dos países europeus é uma forma sempre presente de regulação do mercado, cujos
preços devem ser competitivos em relação aos preços praticados pelos concorrentes.
Também ressalta-se que o sistema de transporte é extremamente racionalizado pela
organização conferida pelo cartel, uma vez que as condições geográficas do país impõem a
necessidade de um uso intensivo de ferrovias.
Outro aspecto apontado é que o cartel não se constitui em "freio à inovação tecnológica" e
que o consumidor é parte integrante dos sistemas que asseguram a qualidade do cimento suíço,
através da "Societé Suisse des Ingéneurs et des Architects" e da "Societé Suisse des
Entrepreneurs" que, em conjunto com o "Laboratoire Fédéral d'Éssai des Matériaux et Institut des
Recherches - LFEM", conferem a marca de conformidade do cimento15.
O caso da indústria suíça é bastante interessante do ponto de vista de política industrial,
pela demonstração da exeqüibilidade de mecanismos de regulação de mercado mesmo em
estruturas cartelizadas.
A indústria do cimento nos Estados Unidos caracteriza-se por uma baixa concentração
industrial, à medida em que os dois principais grupos industriais detém apenas 22,1% da capacidade da
indústria. Por outro lado, 64,4% da capacidade da indústria dos Estados Unidos corresponde a grupos
com capital de origem estrangeira (Itália, Suécia/Noruega, Reino Unido, Bélgica, Japão, Espanha,
14 Documento específico para estabelecimento dessas diretrizes foi elaborado pela CEMBUREAU - The European
Cement Association intitulado," Certificação européia do cimento", contendo o detalhamento dos requisitos
essenciais estabelecidos no documento 89/106 daquela associação (AITEC,1992).
15 SOCIETÉ SUISSE DES FABRICANTS DE CIMENT, CHAUX ET GYPSE (1988;1991).
40
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
França, Alemanha, Austrália, Suíça, Coréia e Canadá). De 1973 para 1990, 52 fábricas dos Estados
Unidos foram fechadas num total de 240 fornos desativados. A legislação ambiental rígida nos Estados
Unidos tem exigido elevados investimentos das indústrias nas atividades de extração e no controle do
processo propriamente dito, com dificuldades de realização de investimentos em outros aspectos da
produção. Ainda existe uma parcela superior a 30% da capacidade instalada em processo por via úmida
e o mercado dos Estados Unidos vem sendo complementado pela importação, às vezes realizada por
parte dos próprios produtores. O consumo de energia é predominantemente de carvão e de coque e o
meio de transporte mais utilizado é o rodoviário16. Parcela significativa da produção da indústria
norte-americana é reservada ao cimento de alvenaria empregado para os serviços que não implicam o
desempenho de função estrutural.
No âmbito do Mercosul existem grandes diferenças entre as indústrias do Brasil, Uruguai,
Paraguai e Argentina. A Argentina, com 14 (quatorze) fábricas é o segundo maior produtor do
Mercosul, após o Brasil; o Paraguai possui apenas uma indústria, estatal, que tem exclusividade
no comércio e o Uruguai, com três fabricantes, tem 55% de sua produção sob a responsabilidade
de uma empresa estatal. O fluxo de comércio entre os países do Mercosul é bastante reduzido,
embora em períodos da década de 80 tenha sido maior a importação de cimento por parte do
Brasil. Em 1991 foi firmado um Termo de Compromisso de Preços Relativos a Cimento Portland
Comum, por iniciativa dos fabricantes e homologado pelo Ministério da Economia, Fazenda e
Planejamento do Brasil. Por esse acordo os países se comprometem a não comercializar o produto
entre si por valores inferiores a US$ 80,00/t de cimento ensacado ex-fábrica, valor esse que
corresponde ao valor atingido nos respectivos mercados internos.
A integração entre as indústrias dos quatro países deverá ser feita através da
CEMENTSUR, uma entidade voltada à uniformização da normalização entre os quatro países.
Internacionalmente, a certificação de conformidade do cimento vem sendo realizada por
terceira parte, ou seja, por organismos não ligados à produção que, através de ensaios, avaliação
do sistema de garantia da qualidade da fábrica e acompanhamento do sistema de gestão da
qualidade concedem o certificado de conformidade, segundo as regras estabelecidas nas normas
ISO - International Organization for Standartization para certificação. No Brasil, as normas ISO
estão sendo traduzidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas17.
1.1.4. Tendências tecnológicas
No campo da pesquisa e desenvolvimento, os aspectos relativos ao desempenho de cimentos
empregados em condições de agressividade do meio (atmosfera com agentes agressivos, obras
industriais, tanques, reservatórios, obras enterradas em solo agressivo, canaletas e pisos sujeitos a
16 Portland Cement Association (1992).
17 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1992).
41
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
produtos químicos) levam à necessidade de um aprofundamento do conhecimento de todas as
propriedades e fatores condicionantes da durabilidade do concreto. Para tal abordagem, as tendências
são de desenvolvimento de estudos de caráter multidisciplinar reunindo engenheiros civis, engenheiros
químicos, físicos e químicos, no conhecimento profundo das características físico-químicas do cimento.
Equipamentos de elevada precisão de análise são empregados nestes estudos, os quais, em
geral, são desenvolvidos por instituições privadas de pesquisa como os centros Lafarge e Cimfran, na
França; Cowi Consult, na Dinamarca; Italcementi na Itália; BCA - British Cement Association na Grã-
Bretanha; National Research Council/IRC, no Canadá; Holderbank, na Suíça; Onoda, no Japão.
Os movimentos de desenvolvimento tecnológico vem sendo impulsionados mundialmente
em três sentidos, detalhados no quadro 1:
. tecnologias de processo referentes às condições de utilização de energia e manuseio dos
recursos naturais, visando à racionalização e modernização do processo, inclusive no que diz
respeito às indústrias fornecedoras de insumos;
. tecnologias de produto, visando ao desenvolvimento de novos tipos de cimento
adequados a fins específicos, de acordo com a evolução das tecnologias construtivas; e
. gestão organizacional, visando à obtenção de condições competitivas pela elevação da
qualidade e produtividade.
1.2. Estratégias das Empresas Líderes Internacionais
Os fabricantes líderes mundiais são grupos industriais que, em geral, têm na fabricação de
cimento uma diversificação de suas atividades, inicialmente dirigidas para outros setores. Os
grupos japoneses podem ser considerados exceção, uma vez que a maioria tem grande atuação na
construção civil e pequena atuação em outros setores. Os grupos líderes apresentam tendência à
integração vertical, participando do controle de empresas consumidoras de cimento, como as
empresas produtoras de concreto pré-misturado, de componentes estruturais e de vedação, etc.
Os grupos europeus produtores de cimento vêm adotando a estratégia de expansão
geográfica com instalação de unidades em outros países desde a década de 30.
O grupo suíço Holderbank, controlado pela "holding" Holderbank Financiére Glaris S.A.
atua em 18 países (Suíça, França, Bélgica, Holanda, Alemanha, África do Sul, Canadá, Estados
Unidos, Colômbia, México, Brasil, Costa Rica, Líbano, Nova Zelândia, Filipinas, Equador, Chile,
Austrália). Em alguns desses países a participação do grupo no mercado supera os 40% da
produção, como é o caso da África do Sul, Costa Rica, Nova Zelândia, Líbano, Equador, Chile,
Áustria, Bélgica. O grupo francês Lafarge - Copée iniciou suas atividades no exterior ainda na
década de 20 e constitui-se no principal grupo produtor no mercado norte-americano (Estados
42
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
Unidos e Canadá) e segundo grupo produtor nos Estados Unidos. O grupo Blue Circle, de capital
britânico, é atuante no mercado internacional desde antes da Segunda Guerra Mundial, e é dessa
atuação que obtém a maior parte dos lucros gerados no grupo.
As estratégias de expansão geográfica dos grupos europeus visam, sobretudo, assegurar
maior estabilidade dos investimentos face às flutuações de demanda a que está sujeita a
construção civil. Caracterizados também por uma liderança tecnológica, além da concentração
financeira, a influência dos grupos internacionais se faz sentir mesmo em países em que sua
participação no mercado é pequena como no caso do Brasil.
Em geral, os grupos japoneses estão estabelecidos em outros países através de joint-
ventures com grupos locais e influem decisivamente sobre a indústria pela difusão tecnológica
como, por exemplo, no caso da adoção pela indústria de todo o mundo do processo por via seca
desenvolvido no Japão. Empresa líder no Japão e líder mundial em tecnologia a "Onoda Cement
Co., Ltd.", que foi fundada há mais de 100 anos caracteriza-se pela elevada capacidade em
desenvolver tecnologia, mantendo um centro de pesquisas que emprega 300 (trezentos) de seus
1.661 (mil seiscentos e sessenta e um) funcionários e que representa um investimento anual da
ordem de US$ 34.000.000,00 (trinta e quatro milhões de dólares) em pesquisa e
desenvolvimento18. Com uma capacidade instalada de 9.840.000 t/ano em três plantas industriais
a empresa faz parte do grupo industrial Mitsui, mantendo, no entanto total autonomia de atuação.
A empresa exporta em torno de 20% de sua produção anual e vem mantendo um grau de
utilização da capacidade instalada de 90% em média ao longo dos últimos cinco anos.
18 Os dados foram obtidos diretamente junto à ONODA CEMENT CO.,LTD. através da sua Divisão de Negócios
Internacionais (correspondência de 2/03/93). Embora não se tenha dados correspondentes ao volume de
investimentos em P&D em relação às vendas, esse valor para 1991 corresponde à aproximadamente 12,4% das
vendas em 1991 da maior empresa brasileira do ramo em receitas (EXAME,1992).
43
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
1.3. Fatores Determinantes da Competitividade Internacional
O quadro 1, a seguir, resume as tendências internacionais quanto aos fatores determinantes
da competitividade na indústria de cimento19.
19 Para a caracterização das tendências internacionais foram utilizados vários documentos e entrevistas com
pesquisadores brasileiros podendo-se citar: AITEC (1992); "Societé suisse des fabricants de ciment, chaux e gypse";
"Portland Cement Association" (1984); TUCKER, R. L et al.(1991); "The Institution of Civil Engineers" (1986);
HELENE, P.R.L. (1992); PROGRAMA BRASILEIRO DA QUALIDADE E PRODUTIVIDADE (1991); ONODA
CEMENT CO. LTD. (02/03/1993).
E
STUDO DA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
QUADRO 1
FATORES DETERMINANTES DA COMPETITIVIDADE INTERNACIONAL DA INDÚSTRIA DO CIMENTO
FATORES INTERNOS À EMPRESA
A. TECNOLOGIA DE PRODUTO
1. Desenvolvimento e aumento contínuo da produção de cimentos com resistência
inicial alcançada mais rapidamente, empregados principalmente pela indústria de
componentes pré-fabricados;
2. Aumento contínuo da produção de cimentos com resistência final elevada
empregados na produção de concreto de elevado desempenho;
3. Aumento do emprego de cimentos ultra-rápidos utilizados para serviços de reparos
e manutenção de obras hidráulicas e rodoviárias;
4. Aumento do emprego de cimentos expansivos ou de retração compensada
empregados na produção de componentes pré-fabricados de caráter especial.
B. TECNOLOGIA DE PROCESSO
1. Modernização dos processos industriais para elaboração dos insumos utilizados
pelos produtores (tijolos, refratários, martelos para britadores, explosivos...)
2. Utilização intensiva de carvões de elevados teores de cinzas e gás natural como
fonte energética.
3. Utilização intensiva de rejeitos de outras indústrias como fonte energética,
inclusive com instalações especificamente destinadas à preparação desses rejeitos;
4. Aumento contínuo da capacidade dos equipamentos em função do sucateamento de
equipamentos e instalações de gerações anteriores;
5. Emprego de equipamentos de menor consumo energético como os moinhos
verticais de rolos na moagem de cru; prensa de rolos na moagem de clínquer;
separadores de alta eficiência na moagem final; modernos maçaricos no forno com
controle computadorizado;
6. Emprego de sistemas de controle ambiental de modo a reduzir a emissão de
poluentes do ar, os efeitos do ruído da operação dos equipamentos e a proteção
ambiental na extração de matérias primas;
7. Automação da produção através de sistemas de controle das principais etapas de
produção.
C. GESTÃO DA PRODUÇÃO
1. Implantação de programas de melhoria das condições de trabalho - segurança,
saúde ocupacional;
2. Implantação de programas de Qualidade Total;
3. Programas contínuos de capacitação de recursos humanos em todos os níveis
(administração, produção);
5. Certificação das empresas segundo a série de normas ISO 9000;
6. Terceirização dos serviços não relacionados diretamente com a produção;
7. Serviços de atendimento e assistência técnica ao consumidor, inclusive pós-venda;
8. Ênfase em pesquisa e desenvolvimento com constituição de centros próprios e
desenvolvimento de projetos cooperativos com instituições públicas de pesquisa.
FATORES ESTRUTURAIS
1. Diversificação da demanda em termos de
variedade de tipos de cimento e resistências;
2. Elevado grau de exigência do consumidor
quanto à qualidade do produto (grande
participação dos produtores de pré-fabricados
no consumo);
3. Elevado grau de exigência de qualidade a
partir do poder de compra do Estado
(certificação);
4. Modernização e treinamento de recursos
humanos na distribuição;
5. Processo gradual de terceirização de
serviços e desverticalização das empresas;
6. Elevação dos tamanhos mínimos das
plantas industriais e conseqüente necessidade
de ampliação de mercados.
45
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
2. COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
Instalada no País desde o início do século, a indústria do cimento apresentou uma
evolução mais marcante a partir da década de 6020. De 1968 para frente os grandes projetos de
obras de infra-estrutura e os programas habitacionais constituídos pela produção de grande
número de unidades desencadearam um processo de expansão da indústria de cimento, processo
esse que, num primeiro momento, envolveu a importação como forma de resposta imediata ao
crescimento do consumo. Em 1970 começou um processo de expansão da capacidade instalada e
o início de um rígido controle de preços para a indústria.
Os programas no âmbito do BNH - Banco Nacional da Habitação tinham como parte de
seus objetivos assegurar o fornecimento de materiais de construção na escala adequada aos
programas, o que gerou a preocupação em financiar a indústria de cimento para sua expansão.
Na década de 70, com a crise do petróleo que elevou os preços do óleo combustível, as
fábricas brasileiras passaram por processos de inovação tecnológica com a adoção do processo
produtivo por via seca.
O crescimento foi marcado nesse período, até 1978, pela diversificação dos grupos com a
entrada de novos grupos em outras regiões do País que não a região Sudeste, uma vez que nessa
região os maiores grupos atuantes mantinham acirrada disputa. Houve nesse período duas
importantes fusões na indústria, o grupo Votorantim adquiriu o controle acionário do segundo
maior grupo, o Itaú, e o grupo americano Lone Star e o grupo francês Lafarge reuniram os
recursos financeiros para enfrentar o crescimento de seus concorrentes.
A desaceleração das obras de grande porte gerou um clima de instabilidade nos anos finais
da década de 70. Em 1977 na região Sudeste, ocorreu uma acirrada disputa de mercado com base
nos preços do produto.
2.1. Desempenho Recente da Indústria
A indústria do cimento caracterizou-se ao longo dos vários ciclos de negócios pelo
investimento em grandes blocos, mediante as tendências de elevação dos níveis de demanda. No
entanto, verifica-se também a dificuldade em prever o crescimento da demanda face à variação
brusca na utilização da capacidade e o longo prazo para que novas fábricas entrem em operação.
Os movimentos de expansão da indústria ocorreram apenas após um movimento de aumento do
20 A evolução histórica da indústria do cimento no Brasil é apresentada detalhadamente em PROCHNICK (1983).
46
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
nível de utilização da capacidade. Isto é decorrência da necessidade de operação em elevados
níveis de utilização da capacidade, a fim de possibilitar a remuneração do capital investido que é
elevado na indústria do cimento, quando comparado aos demais setores do complexo de materiais
da construção.
A política de controle de preços sobre o setor, nas décadas de 70 e 80, elevou os níveis de
endividamento das empresas, e a articulação institucional em torno do SNIC - Sindicato Nacional
do Cimento foi fortalecida nesse período com forte pressão sobre o governo no sentido da
alteração das metodologias de análise dos custos e dos períodos de reajuste de preços. A
eficiência do controle, no entanto, era questionada pelos segmentos consumidores, em função de
possíveis manobras nos preços dos transportes, uma vez que as transportadoras são, em geral,
contratadas pelas fábricas. Também no cálculo da depreciação, face à longa vida útil dos
equipamentos, havia a possibilidade de manutenção de padrões de lucro superiores aos previstos
pelos órgãos oficiais21.
Com a queda do consumo interno desde o final dos anos 70, o relacionamento entre a
indústria de cimento e a indústria da construção civil tornou-se conflituoso, com constantes
solicitações por parte desta última no sentido da regulamentação governamental das práticas de
concorrência setoriais.
Com forte concentração regional, o mercado é dividido entre as empresas com maior
capacidade de competição e entre as empresas pertencentes aos grandes grupos industriais. Essa
capacidade é determinada pela localização, que condiciona a abrangência de atuação, pelo grau de
domínio da tecnologia, que gera economias de escala, pela capacidade de financiamento e pelo
controle sobre os recursos naturais (verticalização com domínio das atividades de extração).
Atualmente, a indústria brasileira de cimento é composta por 62 unidades industriais, com
56 unidades produtoras de clínquer incorporando a moagem e 6 unidades específicas para
moagem final. Os principais pólos de produção estão localizados no município de Pedro Leopoldo
- MG, município de Cantagalo - RJ, município de Rio Branco do Sul - PR, região metropolitana e
região sul de São Paulo22. O consumo é concentrado na região Sudeste (56% em 1990/91) e a
região Norte é a mais desprovida de fábricas, importando de outros estados 26,5% de seu
consumo em 1990/91, conforme apresentado nos gráficos 4 e 5 a seguir.
21 PROCHNICK (1983).
22 PROGRAMA BRASILEIRO DA QUALIDADE E PRODUTIVIDADE (1991).
47
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
GRÁFICO 4
CONSUMO APARENTE DE CIMENTO PORTLAND
SEGUNDO AS REGIÕES GEOGRÁFICAS DO BRASIL
(1990/91)
1990
Centroeste 7,65%
Norte 3,77%
Sul 16,55%
Sudeste 56,00%
Nordeste 16,03%
1991
Centroeste 7,59%
Norte 3,70%
Sul 16,86%
Sudeste 57,03%
Nordeste 14,82%
Fonte: SNIC.
GRÁFICO 5
CONSUMO DE CIMENTO PORTLAND PROVENIENTE DE OUTRAS REGIÕES
(IMPORTAÇÃO INTERNA) COMO PARCELA DE CONSUMO TOTAL DA REGIÃO
SEGUNDO AS REGIÕES GEOGRÁFICAS DO BRASIL
(1990/91)
% do consumo total
0 5 10 15 20 25 30
Regiões
26,51%
11,4%
1,2%
10,5%
7,9%
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
Centroeste
Fonte: SNIC.
48
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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TABELA 6
CAPACIDADE NACIONAL INSTALADA DE PRODUÇÃO DE CLÍNQUER
(1991)
REGIÃO NÚMERO DE FORNOS CAPACIDADE INSTALADA T/ANO
Norte 4 1.254.000
Nordeste 24 5.586.000
Centro-Oeste 11 3.225.000
Sudeste 59 21.717.000
Sul 15 4.679.000
TOTAL 113 36.461.000
Fonte: Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade (1991).
A atual capacidade produtiva instalada no País pode ser observada na Tabela 6. A partir de
1981 foram desativados 37 fornos, num total de 4.352.000 t/ano, representando 12% da
capacidade de produção. Parte desses fornos, desativados em função da queda no consumo,
poderão vir a ser desativados definitivamente em função de defasagem tecnológica.
Os produtores estão divididos em 17 grupos econômicos, dos quais apenas três são grupos
de capital estrangeiro (Grupos Lafarge, Holderbank e Quimbrasil) e são apresentados segundo sua
participação na produção no Gráfico 6 a seguir.
GRÁFICO 6
PARTICIPAÇÃO DOS GRUPOS INDUSTRIAIS
NA PRODUÇÃO TOTAL - BRASIL
(1989/91)
% da produção total
0
10
20
30
40
50
VOTORANTIM
JOÃO
SANTOS
LAFARGE
HOLDERBANK
PARAÍSO
BRENNAND
QUIMBRASIL
KORANYI
CAUÊ
CAMARGO
CORRÊA
SOEICOM
ITAMBÉ
CIPLAN
CIBREX
MATSULFUR
CISAFRA
MARINGÁ
12.10
42,76
5,32
5,32
4.30
5,22
4.10
3,36
3,74
2,42
3.60
1,86
0,97
0.20
3,41
0,74
0,58
44,25
11.40
5.30
5,28
4,57
5,41
4,12
3,42
3,81
2,54
2,03
1,92
0,17
3,55
0,76
0,56
0,91
0.86
42,92
11.20
5.40
5,33
4,66
5,11
4,18
3,39
3,87
2,59
1,85
0,17
3,56
0,75
0,67
3,49
1989
1990
1991
Fonte dos dados brutos: SNIC.
O grupo Votorantim, principal produtor, tem sido responsável por uma parcela da
produção da ordem de 40% nos anos de 1989, 1990 e 1991. O grupo João Santos, responsável
pela segunda maior parcela da produção, apresentou participação da ordem de 11%. Destacam-se
ainda grupos que possuem as fábricas com as maiores capacidades instaladas do País, como o
49
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grupo Ciminas pertencente ao grupo suíço Holderbank, o grupo Cauê e o grupo Matsulfur. Os
três grupos estrangeiros, conjuntamente, têm sido responsáveis por aproximadamente 15% da
produção nos últimos anos. Observa-se que tem sido pequena a evolução da participação na
produção dos grupos minoritários no mercado. Embora haja capacidade ociosa em todos os
grupos, o que não exige de imediato ampliação da capacidade para suprir o mercado, observa-se
que os fabricantes que detém menores parcelas do mercado não tem avançado significativamente
quanto à essa ocupação.
A década de 80 correspondeu a um período de estagnação da produção e do consumo de
cimento no país, que se manteve ao redor de 26 milhões de toneladas, a menos do período 1983-
85, quando esses valores não ultrapassaram 21 milhões de toneladas. Em 1991 houve um
aquecimento das vendas, levando o setor a registrar os níveis de produção e consumo mais
elevados de sua história (27 milhões de toneladas), superando, finalmente, a marca alcançada em
1982. Esse fato é atribuído pelo setor ao incremento das compras efetuadas pelo pequeno
consumidor, através dos revendedores, uma vez que não tem havido um grande volume de obras
novas. Com efeito, a participação dos revendedores no consumo total de cimento alcançou 77,6%
em 1991. Usinas de concreto vieram em segundo lugar com 8,7%, seguidas de empreiteiras com
4,3%. Órgãos públicos e prefeituras consumiram, juntos, pouco mais de 1% do total. A produção
e o consumo são apresentados no Gráfico 7 e a participação dos revendedores no consumo no
Gráfico 8.
GRÁFICO 7
PRODUÇÃO E CONSUMO APARENTE DE CIMENTO PORTLAND - BRASIL
(1982/91)
milhões de toneladas
15
20
25
1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991
PRODUÇÃO CONSUMO APARENTE
Fonte: SNIC.
50
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GRÁFICO 8
CONSUMO APARENTE DE CIMENTO PORTLAND
SEGUNDO OS SEGMENTOS - BRASIL
(1990/91)
0 20 40 60 80 100
Revendedores
Usinas de concreto
Cimento amianto
Pré-fabricados
Artefatos
Construt./Empreiteiras
Órgãos Púlicos
Outros
Prefeituras
75.91 %
9.29 %
3.84 %
2.23 %
2.17 %
5.29 %
0.59 %
14.80 %
0.68 %
77.57 %
8.74 %
4.00 %
1.96 %
2.30 %
4.29 %
0.59 %
13.69 %
0.55 %
1990
1991
Fonte: SNIC.
A elevada incidência dos custos de transporte do produto face ao seu baixo valor agregado
determina uma atuação regional das empresas em função da localização das fábricas. As fábricas
brasileiras estão em sua maioria localizadas em posições distantes da costa marítima, o que
dificulta uma política de exportação, uma vez que o custo do transporte não viabiliza preços ao
mesmo tempo competitivos no mercado internacional e vantajosos para as empresas.
Para as empresas cujas fábricas estão mais próximas da costa marítima as deficiências da
estrutura portuária brasileira têm desestimulado possíveis estratégias de exportação, sendo
inexpressiva e limitada a poucas empresas e destinos a quantidade exportada nos últimos anos,
conforme apresentado na Tabela 7, a seguir.
TABELA 7
EXPORTAÇÃO DE CIMENTO
SEGUNDO O TIPO E ORIGEM (FÁBRICA) E O DESTINO (PAÍS)
(1989/91)
FÁBRICA DE UF TIPO DE PAÍS DE QUANTIDADE EXPORTADA (t)
ORIGEM CIMENTO DESTINO 1989 1990 1991
ARATU BA COMUM BOLÍVIA 100 0 0
CIBREX RJ BRANCO BOLÍVIA 0 0 174
PARAGUAI 1715 1525 1494
ITAMBÉ PR COMUM PARAGUAI 47722 30101 21735
RIO BRANCO PR COMUM PARAGUAI 2839 5631 7093
POZOLÂNICO PARAGUAI 202 0 0
MATO GROSSO MT COMUM BOLÍVIA 0 0 500
ITAÚ-CORUMBÁ MS COMUM BOLÍVIA 8705 11592 9850
PARAGUAI 3426 4940 7995
TOTAL 64709 53789 48841
% DA PRODUÇÃO 0,25 0,21 0,18
Fonte: SNIC, 1991.
51
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A articulação institucional da indústria é realizada pelo SNIC que tem 46 empresas
associadas. As gestões em torno do reajuste de preços face à elevação dos preços da energia
elétrica e derivados de petróleo e a proteção do produto nacional tem sido os pontos enfatizados
na atuação do Sindicato.
A indústria brasileira apresenta elevada concentração industrial, que se manifesta não só
pela participação dos grupos industriais na produção, mas especialmente pela política de atuação
do setor, que em alguns aspectos contraria as tendências internacionais de desenvolvimento da
indústria. Não se caracteriza concorrência predatória no setor, porém as relações de concorrência
são fortemente influenciadas pelo domínio dos mercados regionais, domínio das atividades de
extração de matéria-prima e poder econômico de articulação com fornecedores e transportadores.
O conflito entre produtores e consumidores tem assumido nos últimos anos proporções de
rompimento de diálogo e, portanto, rompimento do fluxo normal de produção-consumo e das
condições de integração entre os membros da cadeia produtiva. O crescimento da participação do
pequeno consumidor no consumo total, face à escassez de recursos para novas obras , direciona a
atenção dos produtores para esta faixa de mercado em detrimento das reivindicações dos
consumidores de grande porte representados pelas empresas construtoras, fabricantes de artefatos
de cimento e produtores de pré-fabricados.
Embora as discordâncias sobre a qualidade do produto já venham ocorrendo há vários
anos, após a liberação dos preços o conflito tem se tornado acirrado em função da evolução dos
preços do produto nacional. Seus preços evoluíram de julho de 1991 até os dias atuais de uma
forma que os coloca em patamar superior aos preços que os principais países produtores praticam
em seus mercados internos.
O acordo mútuo com os países do Mercosul, pelo qual as exportações de cimento para o
Brasil não se fariam a preços inferiores a US$ 80,00/tonelada (posto fábrica), o que adicionando-
se fretes e taxas tornava o preço desses países desvantajoso ou em condições de igualdade para os
consumidores brasileiros, também foi motivo de conflito com os consumidores. A indústria da
construção civil como um todo contesta o estabelecimento do acordo pela inexistência de um
processo de investigação com a participação dos consumidores. Alegando possuir documentação
comprobatória de descumprimento das normas do GATT - Acordo Geral de Tarifas do Comércio,
o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento - SNIC conduziu as ações que resultaram no
acordo, porém manifesta sua constatação de que o acordo não é cumprido23.
23 Matéria específica sobre as relações da indústria brasileira com a indústria dos países do MERCOSUL foi
publicada pela revista Téchne - Revista de Tecnologia da Construção (CAETANO, 1993) e a posição do SNIC
sobre o acordo realizado também é manifestada em correspondência de 17/12/92.
52
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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De todo modo, as importações de cimento têm se mantido em níveis pouco significativos,
conforme mostra a tabela 8. A postura da indústria frente às importações organizadas pelas
entidades dos consumidores é de não ver nestas iniciativas, ameaça à indústria nacional, uma vez
que a parcela de consumo importada é muito reduzida. O Quadro 2, a seguir, apresenta as
iniciativas de importação ocorridas em 1992/93.
TABELA 8
IMPORTAÇÃO DE CIMENTO SEGUNDO O TIPO E ORIGEM - BRASIL
(1989/92)
SUBTOTAL
CIMENTO PAÍSES DE ORIGEM 1989 1990 1991 1992
Argentina
E.U.A.
Cimento Paraguai
Portland Uruguai 61257,16 63915,15 4130,00 *54453,00
Comum Venezuela
Rússia
Romênia
Turquia
Cimento de
Escória de Venezuela 0,00 610,13 772,50
Alto-forno
Argentina
Canadá
Cimentos E.U.A. 293,14 22,26 30,09
Especiais Uruguai
Alemanha
Bélgica
China
Espanha
E.U.A
Cimentos França 1395,34 1300,77 3057,09
Aluminosos Holanda
Itália
México
Cimento Argentina 1208,62 1493,14 221,71
Branco E.U.A
Áustria
Outros Canadá 177,47 3,85 25,39
Cimentos E.U.A.
Uruguai
TOTAL 64331,73 67345,30 8236,78 *54453,00
% DO CONSUMO TOTAL 0,25 0,26 0,03
* Estimativas segundo informações dos SINDUSCONs. Não estão computadas importações realizadas por
consumidores de grande porte que importaram individualmente.
Fonte: SNIC.
53
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QUADRO 2
IMPORTAÇÃO NO BRASIL - CRONOLOGIA
(1992/93)
DATA QUANT. (t) COMPRADOR ORIGEM PREÇOS US$/t
Abril/92 7.000 Pool de empresas do Estado do Ceará Turquia ND
Maio/92 25.000 Pool de empresas das regiões Sul e Rússia 113,00**
Sudeste
Outubro/92 10.000 Pool de empresas do Estado de Minas Romênia ND
Gerais
5.400 Pool de empresas do Estado da Bahia Romênia 97,60*
(25 empresas)
Dezembro/92 7.053 Pool de empresas dos Estados de Turquia 105,00*
Santa Catarina e Paraná (27 empresas
de SC; 22 do PR e 2 do RS)
Março/93 10.000 Pool de empresas dos Estados do Rio Romênia 98,00**
de Janeiro e Paraná (30 empresas do (ver obs.)
RJ e 50 empresas do PR)
10.000 Pool de 10 empresas do Turquia 116,00**
a RS com redistribuição Romênia
15.000 para 30 empresas do RS ou Rússia
Sistema de importações
mensais para 1993 - RS e SP
* Preço posto porto.
** Preço médio posto obra.
Fonte: Informações dos SINDUSCONs.
Observação:
39,8% = preço de compra 20,4% = despesas portuárias
16,3% = frete + seguro 13,0% = outras despesas
10,5% = ICMS
Condições de pagamento: 90 dias após o embarque da mercadoria ou 60 dias
após a chegada no Brasil
Fornecimento em sacos de 50 kg com cinco folhas e em "sling bags" a cada
20 sacos/tempo de viagem - 20 a 25 dias
O impacto dos preços do cimento no custo da construção civil é motivo de discordância
entre os construtores e produtores. Os primeiros apresentam dados de que o cimento representa
entre 7 e 9% do custo dos materiais em obras de edificações habitacionais, que por sua vez
representam mais de 60% dos custos totais das obras24. Os produtores por sua vez ressaltam as
deficiências da indústria da construção civil que geram desperdícios significativos do produto nas
dosagens, transporte e armazenamento nos canteiros e manuseio na utilização. No entanto, não
existem medições sistemáticas em grande número de obras que possam avaliar a grandeza real
desses desperdícios e suas causas. Alguns números têm sido insistentemente citados por todos os
envolvidos na construção civil, mas são números especulativos, pois trabalhos metodologicamente
rigorosos de medição começaram a ser realizadas recentemente no Brasil. A experiência
internacional no controle de desperdícios de materiais de construção, no entanto, demonstra que
tal controle é de natureza sistêmica envolvendo toda a cadeia produtiva, uma vez que todos os
24 Os dados sobre o impacto dos preços do cimento no custo de obras de edificações são apurados pelos sindicatos
da indústria da construção civil (SINDUSCON - PR; SINDUSCON - SP; SINDUSCON - RS).
54
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agentes tem seu papel na prevenção da ocorrência de desperdícios (padronização de projeto e
especificações, embalagens, transporte, informações tecnológicas sobre os produtos, treinamento
da mão-de-obra, padronização de procedimentos construtivos, etc.)25.
Por outro lado, os consumidores reivindicam a aplicação mais rigorosa da legislação de
defesa da concorrência no que diz respeito à formação de preços e formação de grupos.
Recentemente (novembro/92) foi aberto processo administrativo com base em denúncias contra
oito empresas produtoras de cimento. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica-CADE
tem registros de denúncias contra 38 (trinta e oito) empresas produtoras de cimento baseadas na
acusação de formação de cartel e "venda casada" ao transporte (em abril de 1993).
2.2. Capacitação Produtiva, Tecnológica e Gerencial
. Processo
A maioria da produção brasileira é realizada em processo de via seca (95% da produção
total). No entanto, essa não é uma situação uniforme face à heterogeneidade do grau de eficiência
entre os vários fabricantes.
As fábricas brasileiras podem ser caracterizadas, na sua maioria, como de médio a grande
porte, com 47,71% da produção em unidades de até 600.000 t/ano e 27,58% entre 600.000 a
1.000.000 t/ano, conforme mostra-se no Gráfico 9 a seguir.
25 Trabalhos sistemáticos de medição de desperdícios e avaliação de suas causas e métodos de controle foram
realizados em mais de 200 canteiros de obras pelo Building Research Establishment no Reino Unido
(SKOYLES,1987) e em vários outros países como a Holanda, Alemanha e Finlândia. No Brasil, um primeiro
trabalho referente a um canteiro de obras foi realizado por um pesquisador da Universidade Federal de São Carlos
(PINTO, 1989) e um projeto específico de avaliação de desperdícios em obras foi desenvolvido pelo Curso de Pós-
Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul no âmbito do Programa da
Qualidade e Produtividade na Construção Civil - RS coordenado pelo SINDUSCON - RS. Os resultados para
análise de perdas de materiais em cinco canteiros de obras apresentaram grande variabilidade, decorrente de vários
fatores. A média obtida para o cimento entre os canteiros observados durante um período de cinco meses foi de
84,15% de perdas, representadas pela diferença entre a quantidade consumida e quantidade prevista para o
consumo no orçamento da obra. Analisando-se o impacto sobre o custo de cada material utilizado, o cimento teria
uma participação da ordem de 5,24% do custo total da obra e as perdas identificadas elevariam essa participação
para 7 a 13% do custo da obra, considerando a variabilidade dos canteiros. Os detalhes deste estudo estão
publicados em FRANCHI; SOIBELMAN; FORMOSO (1993). Programa semelhante vem sendo coordenado pelo
SINDUSCON - GO, porém os dados finais sobre os trabalhos ainda não são conhecidos.
55
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GRÁFICO 9
DISTRIBUIÇÃO DA PRODUÇÃO
SEGUNDO CLASSES DE PRODUÇÃO - BRASIL
(1991)
Inferior a 100.000 t
0,51%
100.001 a 300.000 t
11,07%
Superior a 1.000.000 t
24,71%
600.001 a 1.000.000 t
27,58%
300.001 a 600.000 t
36,13%
Fonte dos dados brutos: SNIC.
O grau de automação dos processos é o que diferencia o patamar tecnológico da indústria
brasileira em relação aos principais produtores. Algumas empresas adotam a política de investir em
automação como política global, enquanto outras optam por fazê-lo apenas em plantas novas. Neste
último caso existem empresas cujo grau de definição estratégica quanto à automação ainda é incipiente.
Entre as empresas brasileiras encontra-se apenas uma planta integralmente automatizada. Praticamente
não existe desenvolvimento endógeno de tecnologia de processo, adquirindo-se "pacotes" que
envolvem projeto, construção e a colocação em operação junto aos fabricantes de equipamentos.
Uma outra estratégia presente entre os fabricantes é a de proceder a automação por etapas
em fábricas existentes considerando-se, para isso, o menor investimento requerido e o menor
tempo para entrar em operação em relação às plantas novas. Entre as 7 (sete) empresas que
responderam o questionário IBOPE, observa-se que, no período 1987-89, 4 (quatro) empresas
apresentavam baixo teor de operações controladas por dispositivos microeletrônicos (0 a 10% das
operações) e 3 (três) empresas apresentavam médio teor - 11 a 50% das operações controladas
por dispositivos microeletrônicos. Em 1992, a situação alterou-se para: 3 (três) empresas com
baixo teor de operações controladas por dispositivos microeletrônicos; 1 (uma) empresa com
médio teor e 3 (três) empresas com alto teor - 51 a 100% das operações. Observa-se também que
entre as 7 (sete) empresas, apenas 2 (duas) possuem o principal equipamento com até 5 anos e
para 4 (quatro) empresas esse equipamento apresenta idade superior a 10 anos.
O consumo energético da indústria brasileira é, em média , superior ao consumo dos países
líderes (da ordem de 1000 x 10³ kcal/t. de clínquer contra aproximadamente 850x10³ kcal/t. da
indústria Suíça, por exemplo), embora possam ser encontradas empresas com valores
praticamente iguais às empresas líderes no mercado internacional.
56
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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A indústria tem promovido a substituição do óleo combustível por um conjunto amplo de
fontes alternativas (como moinha de carbono, resíduos de madeira, raspa de pneus, coque verde
de petróleo, carvão coque, alcatrão, lenha, bagaço de cana), atingindo índices de substituição da
ordem de 50% na média da indústria, embora existam empresas com aproximadamente 100% e
outras com menos de 10%. Nesse aspecto a disponibilidade regional é fator determinante de maior
ou menor grau de substituição.
A tecnologia de controle ambiental é objeto de ação heterogênea entre as empresas, até
mesmo em função do grau igualmente heterogêneo de exigência dos órgãos de controle em cada
unidade da federação. A falta de uma legislação definida e uniforme repercute no estabelecimento
de estratégias das empresas quanto ao investimento no controle ambiental, atualmente mais
voltado ao controle do processo fabril e pouco para as atividades de extração26.
. Produto
Na tecnologia de produto, as empresas brasileiras caracterizam-se pela pequena
diversidade de produtos oferecidos, conforme apresentado no Gráfico 10, o que as diferencia das
empresas líderes no mercado internacional.
GRÁFICO 10
PRODUÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND SEGUNDO OS TIPOS
(1990/91)
1990
Alvenaria 0,06%
Pozolânico 12,70%
Branco 0,17%
Alto-forno 13,55%
Cimento Comum 73,52%
1991
Alvenaria 0,02%
Pozolânico 12,53%
Branco 0,17%
Alto-forno 12,30%
Cimento Comum 74,98%
Fonte: SNIC.
26 Limites de emissão de NOx - óxido de nitrogênio; SO
2
- óxido de enxofre e de poeira são estabelecidos pela
legislação ambiental de outros países, podendo-se citar o caso da indústria Suíça com os seguintes valores:
NOx=800 mg/m³; SO
2
=500 mg/m³ e poeira = 50 mg/m³ (Societé Suisse des Fabricants de Ciment, Chaux et
Gypse, 22/12/1992).
57
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Neste aspecto existem, no entanto, posturas não uniformes, distinguindo-se algumas
empresas que apresentam a tendência de investir no desenvolvimento de novos produtos. Como
reivindicação dos consumidores, o desenvolvimento de embalagens mais adequadas já foi
considerado pelos fabricantes, porém foi descartado face à repercussão nos custos. O
relacionamento com os fornecedores de embalagem pode ser objeto de ação de qualificação,
segundo as necessidades dos produtores e consumidores. O produto brasileiro é fornecido
essencialmente em sacos de 50 kg sendo pequena a incidência de fornecimento a granel.
As normas brasileiras não apresentam defasagem em relação às normas internacionais,
porém assumem características próprias decorrentes de adaptações às necessidades da indústria.
As normas de cimentos compostos - que permitem determinados teores de adições - foram
resultantes de uma tendência da indústria em reduzir a participação do clínquer no produto final.
Nesse aspecto há conflito de opiniões entre produtores e pesquisadores/consumidores, estes
últimos argumentando com experiências desfavoráveis na utilização desses produtos e com o fato
de que não foram realizados estudos sistemáticos antes da norma ser elaborada e aprovada. Ao
contrário, os produtores argumentaram que realizaram cerca de 3.000 ensaios tecnológicos para
subsidiar a elaboração da norma. O cimento Portland comum é comercializado, em sua maior
parte, segundo a especificação de norma que permite a adição de até 5% de pó calcário assumindo
a denominação CPI-S, diminuindo nos últimos anos a disponibilidade do cimento sem adições, o
que também é motivo de insatisfação dos consumidores face às implicações de custo pela eventual
necessidade de consumo maior do produto e pelos efeitos no desempenho final27.
. Gestão da qualidade
As empresas nacionais produzem, em geral, em conformidade às normas nacionais, porém
são justamente as especificações destas normas que permitem as adições contestadas pelos
especialistas não ligados à indústria.
As empresas apresentam, de forma genérica, sistemas de controle da qualidade tradicionais
através dos ensaios requeridos para a caracterização do atendimento às normas técnicas. Para
tanto, possuem laboratórios próprios e utilizam-se da estrutura da ABCP.
No entanto, sistemas da qualidade total são ainda incipientes na indústria que ainda está
vencendo resistências no sentido da contratação de consultorias para implementar tais sistemas e
dificuldades relativas à qualificação da mão-de-obra.
Entre as empresas que apresentaram dados segundo o questionário IBOPE, observou-se
muito pouca evolução no emprego de técnicas organizacionais relativas à gestão da qualidade,
27 TANGO, C.E. S. & ALVIM, J.C. (1993); CINCOTTO (1988).
58
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com predominância nos períodos analisados de empresas com baixa intensidade de emprego
dessas técnicas (cinco a seis empresas entre sete empresas).
Já existe empresa no setor certificada segundo a ISO 900228 e outras empresas que estão
em processo de estruturação de seus sistemas visando à certificação. Todavia, o processo de
difusão na indústria dos conceitos e práticas voltadas à qualidade ainda é lento. A homogeneidade
nas características que definem o desempenho do produto é, basicamente, o indicador de
qualidade.
. Desenvolvimento tecnológico
A ABCP tem se constituído numa entidade de grande importância para as ações técnicas
da indústria. Porém, sua atuação está mais voltada à difusão do emprego de cimento do que a
pesquisas para desenvolvimento do produto em si, conforme depoimento das próprias empresas,
que têm a entidade como um apoio na prestação de serviços de um modo geral. A pesquisa e
desenvolvimento de produto é prerrogativa das empresas, mas ao contrário do elevado
investimento nesse aspecto por parte das empresas líderes no mundo, entre as empresas
brasileiras, mesmo as empresas líderes, é restrita a estratégia de P&D, havendo até mesmo o
entendimento de que, sendo o cimento um produto básico, não requer esse tipo de atividade.
Entre as empresas que apresentaram dados segundo o questionário IBOPE, observou-se
no período 1987-89 a média de 0,08% do faturamento em dispêndios com P&D e em 1992 essa
média foi de 2% demonstrando um crescimento significativo nos últimos anos. No entanto, é
preciso observar que as empresas, em geral, contabilizam suas contribuições para a ABCP -
Associação Brasileira de Cimento Portland que, nos últimos anos fez investimentos na capacidade
laboratorial.
A atuação tecnológica e de difusão do uso do cimento é realizada pela ABCP, entidade
criada em 1936 pelas empresas Barbará & Cia., Cia. Brasileira de Cimento Portland, Cia. Nacional
de Cimento Portland, Cia. Paraíba de Cimento Portland S.A., S.A. Fábrica Votorantim.
Atualmente a ABCP é mantida pelas empresas associadas, às quais presta serviços tecnológicos de
controle da qualidade do produto final (ensaios em laboratórios próprios da entidade), desenvolve
e presta assistência técnica para os equipamentos dos laboratórios das empresas, realiza projetos
de desenvolvimento tecnológico quanto às aplicações do cimento, presta assessoria às empresas
quanto ao processo de produção, promove seminários, cursos e publicações de orientação e
28 A série de normas ISO 9000 consiste num conjunto de cinco normas da International Organization for
Standartization que estabelece diretrizes para a implantação de sistemas de garantia da qualidade segundo as
atividades desenvolvidas pela empresa: projeto/desenvolvimento, produção, instalação, assistência técnica, inspeção
e ensaios finais. No Brasil as normas assumiram o número NBR 19000 a partir de tradução da ABNT.
59
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formação para o emprego do produto, promove ou apóia eventos na área técnica quanto à
utilização do cimento, participa de programas interlaboratoriais para avaliação de desempenho do
produto e das ações de normalização na área de cimento. Neste último aspecto a associação tem
atuado de forma sistemática, responsabilizando-se pela elaboração de textos-base de normas
através de seus técnicos, pela organização e suporte às reuniões técnicas de normalização e,
atualmente, sediando o CB-18 - Comitê Brasileiro de Cimento, Concreto e Agregados da
Associação Brasileira de Normas Técnicas.
No âmbito das instituições públicas de P&D destaca-se a atuação tradicional na área de
materiais de construção, e especificamente de aglomerantes, do IPT - Instituto de Pesquisas
Tecnológicas do Estado de São Paulo; da EPUSP - Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo e INT - Instituto Nacional de Tecnologia, no Rio de Janeiro. Grupos de pesquisa com
atuação mais recente (a partir da década de 80) com elevada capacitação de recursos humanos
estão localizados na CIENTEC - Fundação de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio Grande do
Sul e na UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Nessas instituições, no entanto, as
dificuldades de obtenção de recursos para o financiamento de projetos, capacitação laboratorial e
atualização da capacitação de recursos humanos, bem como a queda dos níveis salariais, geraram
um processo de esvaziamento ou migração entre instituições com perda de capacitação.
A integração dessas instituições com a indústria de um modo geral, é baixa, havendo, no
entanto, registros mais recentes de aproximação entre produtores e pesquisadores através de
convênios e projetos, o que é restrito a algumas empresas.
A visão das instituições públicas sobre as necessidades de P&D na área, especialmente
quanto ao desenvolvimento e avaliação de desempenho do produto, nem sempre tem a mesma
direção da indústria, hevendo discordâncias evidentes. O trabalho recente mais significativo em
termos de P&D ligado à indústria do cimento é o projeto de desenvolvimento de um tipo de
cimento sem clínquer portland, à base de escória de alto-forno29.
A certificação da qualidade dos produtos da indústria do cimento foi objeto de convênio
entre a ABNT e ABCP, o que resultou na concessão da marca de conformidade ABNT através
dos procedimentos de avaliação e auditoria realizados pela ABCP. No entanto, a partir de 1991 a
29 TANGO & ALVIM (1993). Com o incentivo da indústria siderúrgica, desde a década de 70, as instituições
públicas vêm estudando o emprego alternativo à utilização da escória granulada de alto-forno (subproduto obtido
em grandes volumes), já utilizada largamente como adição ao cimento à base de clínquer Portland. As pesquisas
desenvolvidas prevêem o emprego desse subproduto como aglomerante alternativo, sem adições ou aditivado com
outros agentes que não o próprio clínquer e também como agregado de concretos e argamassas. Apesar do forte
potencial demonstrado pelos estudos, resultando em custo e consumo energético muito inferiores aos obtidos na
produção dos cimentos convencionais, a produção e utilização em larga escala exige uma política de
comercialização, ainda inexistente, para a escória de alto forno e o desenvolvimento de estudos aprofundados e
ampliação/difusão do conhecimento adequado das propriedades do produto, nem sempre homogêneas
(CINCOTTO, BATTAGIN e AGOPYAN, 1992).
60
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
ABNT suspendeu a concessão da marca de conformidade à ABCP. Com o advento do Novo
Modelo Brasileiro de Certificação os Organismos de Certificação Credenciados devem ser
entidades sem fins lucrativos que se enquadrem nos requisitos estabelecidos pelo INMETRO,
caracterizando a certificação de terceira parte. Não é estratégia da ABCP enquadrar-se nesses
requisitos, num primeiro momento, devendo fornecer o Selo da Qualidade ABCP, segundo
metodologias próprias de auditoria nas empresas.
. Recursos humanos e relações capital-trabalho
Os recursos humanos da indústria do cimento tem uma estratificação que configura uma
grande incidência de mão-de-obra não qualificada convivendo com uma estrutura de engenheiros
e técnicos de nível médio e superior nas áreas de produção , administração , desenvolvimento e
assistência técnica.
As empresas apresentam sinais de conscientização da necessidade de elevar o patamar de
qualificação uma vez que algumas apresentam programas formais de qualificação, utilizando-se
inclusive da estrutura do SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.
No aperfeiçoamento do pessoal de nível superior e de administração, as empresas
demonstram incentivar muito pouco a formação de técnicos de alto nível que possam integrar
áreas administrativas e de produção com elevada capacidade de desenvolvimento tecnológico e
organizacional. Observa-se, no entanto, a valorização das áreas técnicas por parte da
administração central, com algum grau de incentivo à formação em nível de pós-graduação,
especialização e participação em eventos técnicos nacionais. Ainda é restrita a participação de
técnicos das empresas brasileiras em eventos internacionais, ou o intercâmbio através de cursos,
estágios etc.
Os trabalhadores da indústria do cimento estão organizados em sindicatos específicos da
indústria e sindicatos da indústria da construção civil, e ainda, numa associação nacional que reúne
todos os sindicatos específicos. Tais entidades, no entanto, não mantém relacionamento com o
sindicato patronal, mas atuam diretamente junto às empresas através de CIPAs (Comissões
Internas de Prevenção de Acidentes), diretorias sindicais de base, boletins e assembléias nas
próprias fábricas.
As principais reivindicações dos trabalhadores da indústria do cimento são: piso salarial
unificado no País inteiro; melhores condições de saúde e segurança no trabalho; participação nos
lucros e na gestão das empresas; participação nas discussões e mudanças a serem implantadas no
processo produtivo; implantação de contrato coletivo de trabalho a nível nacional.
61
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
Segundo as entidades dos trabalhadores, os salários não vêm sendo elevados de acordo
com os ganhos de produtividade das empresas e os avanços em segurança e condições de trabalho
são lentos e derivados de negociações coletivas por iniciativa dos trabalhadores; os programas de
qualidade e de produtividade não têm tido o envolvimento dos trabalhadores e não têm resultado
em programas de incentivos e motivação dos trabalhadores. A terceirização para os trabalhadores
representou um grande número de demissões.
Também são apontadas pelos trabalhadores necessidades de: continuidade dos
investimentos em tecnologia; investimentos em formação profissional; proteção ao meio ambiente;
debate da estrutura tributária e o impedimento à cartelização do setor.
. Informação tecnológica
As empresas, em geral, não oferecem um conjunto de informações tecnológicas
documentadas, definindo o produto pela ação direta junto às revendas e consumidores. Exceção
pode ser feita às publicações elaboradas pela ABCP para os técnicos e até mesmo para o
consumidor final, como as orientações sobre o emprego do cimento em unidades habitacionais de
baixa renda, as quais, no entanto, não são totalmente explicativas das condições adequadas de uso
do produto30.
2.3. Estratégias Empresariais
As empresas da indústria do cimento são predominantemente familiares e vem passando
nos últimos anos por processos de profissionalização da administração. Esses processos têm
levado à redução do número de níveis hierárquicos, otimização das estruturas organizacionais e
reestruturação nas várias áreas. No entanto , verifica-se que as empresas mantém um baixo grau
de desenvolvimento pela atuação, ainda segundo métodos e técnicas gerenciais ultrapassados. As
técnicas recentemente empregadas pelas indústrias líderes mundiais parecem não atingir ainda as
empresas do setor, inclusive identificando-se baixa cultura de emprego de informática nas
atividades de planejamento e controle, excesso de procedimentos burocráticos e falta de
padronização nos procedimentos internos. Ainda não é empregada e debatida no setor a gestão
participativa ou mecanismos de participação dos funcionários nas decisões.
30 O folheto "Mãos à obra" foi produzido pela ABCP e amplamente distribuído nas revendas com orientações à
construção em linguagem adequada à autoconstrução, no entanto, não oferece orientações sobre o produto em si,
seu armazenamento, prazos de validade, manuseio, etc.
62
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
Nos aspectos relativos à segurança do trabalho e saúde ocupacional, observa-se estratégias
individualizadas das empresas, com maior ênfase em algumas delas, porém sem uma atuação
institucional como em outros países.
A terceirização é empregada em todos os serviços que não agregam valor ao produto,
como alimentação, segurança, limpeza, etc. Este movimento deve ser visto com reservas, pois
entende-se que deva ser um instrumento gerencial antes do que um simples mecanismo de redução
de custos de mão-de-obra, como está sendo utilizado por muitas empresas.
A evolução da produtividade da mão-de-obra tem sido lenta no setor, refletindo
estratégias de desenvolvimento não abrangentes o suficiente para abordar todos os fatores que
afetam a produtividade, inclusive quanto à qualificação.
A automação tem impactos significativos no processo de trabalho exigindo um novo perfil
de trabalhador que o setor ainda precisa formar, porém não representa uma desqualificação da
mão-de-obra, embora tenha representado a redução do número de trabalhadores da indústria.
A estrutura clássica das empresas produtoras de cimento é a de domínio da extração do
calcário e gipsita pela própria empresa e compra das demais matérias-primas. A qualificação dos
demais fornecedores através de critérios de qualidade ainda é informal no setor, sem a utilização
de sistemas com procedimentos padronizados e documentados. Em alguns casos existem
problemas nas relações entre os fornecedores (como na embalagem , por exemplo), mas de um
modo geral as relações são estáveis.
O transporte do produto contratado pelas fábricas é atualmente um entrave em potencial,
face ao poder de organização dos transportadores que atuam de forma cooperativa e estabelecem
suas condições de preços e prazos e à baixa renovação da frota e das condições das rodovias. Por
parte dos consumidores existe a acusação de realização de acordos de preços entre produtores e
transportadores. Um aumento da demanda com a reativação da construção civil pode transformar
a distribuição do produto em um expressivo "gargalo" para o setor.
O atendimento e assistência técnica ao consumidor são estruturados a partir de áreas de
vendas integradas por profissionais de nível superior - engenheiros civis que atuam junto às
revendas e consumidores, no entanto a orientação ao emprego adequado do produto ainda não é
suficiente, encontrando-se deficiências de desempenho devido ao baixo conhecimento na
aplicação. Este aspecto também pode ser atribuído a deficiências no ensino das disciplinas de
materiais de construção nos cursos superiores e técnicos de nível médio.
Na gestão dos recursos financeiros observa-se conservadorismo no setor , uma vez que é
baixo o grau de risco que as empresas assumem, não buscando financiamentos e mantendo os
63
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
investimentos restritos à sua capacidade de auto-financiamento. Alguns grupos de menor porte
tem recorrido aos órgãos de fomento à indústria no que diz respeito ao financiamento para
ampliação e modernização produtiva, sem no entanto que sejam solicitados recursos no âmbito do
financiamento à gestão da qualidade e produtividade através do PBQP ou do PACTI.
2.4. Fatores Sistêmicos da Competitividade
As oportunidades e obstáculos à competitividade no setor estão relacionadas a fatores de
caráter sistêmico, sobre os quais é baixo o poder de influência da empresa de forma individualizada.
O transporte do cimento no Brasil é realizado essencialmente por rodovias, embora pelas
características do produto o meio mais racional seja o transporte ferroviário. A inexistência de
uma rede ferroviária adequada e as condições desfavoráveis da infra-estrutura rodoviária são
dificuldades que repercutem no preço final dos produtos. O gráfico 11 apresenta a distribuição das
vendas segundo o tipo de transporte.
GRÁFICO 11
DISTRIBUIÇÃO DO DESPACHO TOTAL
SEGUNDO MEIOS DE TRANSPORTE - BRASIL
(1990/91)
(%)
0
20
40
60
80
100
Rodoviário Ferroviário Hidroviário
89,13
0,005
87,6
12,4
0
10,87
1990
1991
Fonte: SNIC.
Nos aspectos relativos à legislação, verifica-se grande reivindicação do setor quanto à
redução da carga tributária, apontada como causa básica dos preços elevados do produto
brasileiro embora os consumidores contestem tal argumentação. Os encargos trabalhistas, imposto
de renda e Imposto sobre Produtos Industrializados são apontados como os maiores problemas
em termos do impacto no preço final.
64
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
Com relação à energia, devido à pequena influência da qualidade energética sobre o
produto final, a reivindicação é, basicamente, por preços melhores, antes do que o acesso a fontes
como o gás natural. Porém, a qualidade das fontes energéticas tem implicações de natureza
ambiental que são objeto de adequação das empresas através de sistemas de controle da emissão
de poluentes. A substituição de fontes tradicionais pelas fontes alternativas provenientes da
utilização de rejeitos industriais já está exigindo das empresas a adequação de processo para o
controle ambiental. No entanto, a legislação brasileira ainda é heterogênea quanto ao controle
ambiental com diferenças significativas entre regiões nos tipos e rigor das exigências segundo as
normas dos órgãos regionais, sendo pouco objetivas quanto aos aspectos que afetam a indústria
do cimento.
Os aspectos legais da compra de tecnologia e a discriminação na concessão de
financiamento às empresas de capital estrangeiro são apontados como condicionantes por algumas
empresas, pelas dificuldades na contratação de serviços e aquisição de "know-how" no exterior.
Para as grandes empresas, no entanto, não existem problemas de acesso à tecnologia.
2.5. Obstáculos à Competitividade
A indústria do cimento caracteriza-se por um parque industrial solidamente estabelecido
com predominância de capital nacional, elevado grau de concentração industrial e capacidade
instalada superior às necessidades do País nos últimos anos face à diminuição das atividades de
construção civil. À despeito de uma capacidade ociosa significativa, o setor não busca o mercado
externo, em função da localização das fábricas e condições de infra-estrutura que repercutem no
preço final do produto.
O fortalecimento do mercado interno é, pois, a condição necessária para o
desenvolvimento do setor, uma vez que há uma elevada dependência das empresas em relação ao
grau de utilização da capacidade instalada pela necessidade de remuneração do capital investido
que é de elevada intensidade.
Por outro lado, as características estruturais do setor fazem desse mercado interno um
mercado em desequilíbrio, pelas dificuldades em fazer convergir interesses e necessidades dos
produtores e necessidades dos consumidores. O conflito levado ao extremo, inclui denúncias de
formação de grupos e irregularidades na formação de preços que ferem a legislação de defesa da
concorrência e levam a um movimento crescente de importação do produto. O conflito pela
qualidade coloca em confronto as entidades de classe dos consumidores, às quais juntam-se as
instituições públicas de pesquisa, dificultando a integração entre estas últimas e os produtores.
65
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
O setor está exposto à concorrência externa, porém esta não vem sendo vista pelos
produtores como suficientemente ameaçadora de suas posições no mercado interno para induzir
mudanças, uma vez que os pequenos consumidores constituem-se em maioria no consumo e estes
não têm condições de importar. No entanto, admite-se no setor que, a perdurar essa situação a
pressão sobre os preços nacionais pode ser fortalecida, na medida em que houver uma retomada
da atividade de construção civil.
Não se sabe contudo qual é a margem real de redução de preços que o setor detém, função
de sua estrutura de custos e de suas condições de operação (tecnológicas, gerenciais e
administrativas), bem como de fatores estruturais e sistêmicos como as condições de transporte,
que se colocam como determinantes do preço final.
O quadro 3 apresenta os principais obstáculos à competitividade do setor:
E
STUDO DA
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QUADRO 3
OBSTÁCULOS À COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA DO CIMENTO
FATORES INTERNOS À EMPRESA
A. TECNOLOGIA DE PRODUTO
1. Baixa conscientização para o desenvolvimento de novos produtos;
2. Baixo grau de investimento em P&D;
3. Produção de cimentos compostos questionada em função do desempenho final do
produto;
4. Pequena diversidade de produtos no mercado;
5. Sistemas de controle da qualidade tradicionais, sem incorporação de métodos mais
modernos;
6. Inexistência de certificação de terceira parte;
7. Baixo grau de informação tecnológica para o emprego adequado do produto.
B. TECNOLOGIA DE PROCESSO
1. Baixo grau de conscientização para o desenvolvimento de inovações em processo;
2. Baixo grau de automação e velocidade lenta de desenvolvimento nesse sentido;
3. Lentidão no processo de capacitação tecnológica de última geração;
4. Heterogeneidade entre as fábricas no grau de utilização de rejeitos como fonte
energética;
5. Heterogeneidade no desenvolvimento e implantação de sistemas de controle
ambiental (mais expressiva na extração);
6. Heterogeneidade entre as fábricas na eficiência térmica.
C. GESTÃO DA PRODUÇÃO
1. Grande incidência de mão-de-obra não qualificada e baixa incidência de
programas de treinamento e formação;
2. Políticas de RH conservadoras;
3. Baixo emprego de informática como sistemas avançados de planejamento e
controle;
4. Estratégias sem incorporação de P&D;
5. Estruturas de decisões centralizadas;
6. Baixo emprego de técnicas e instrumentos gerenciais modernos;
7. Baixa utilização de indicadores gerenciais e financeiros;
8. Política de investimentos conservadora;
9. Lenta incorporação dos conceitos de qualidade total;
10. Evolução lenta da produtividade da mão-de-obra.
FATORES ESTRUTURAIS
1. Elevado grau de concentração industrial
como barreira de desenvolvimento da
indústria;
2. Heterogeneidade de postura entre as
empresas quanto ao desenvolvimento da
indústria;
3. Baixo grau de relacionamento com
fornecedores e usuários finais;
4. Conflito acentuado e prolongado com
consumidores e falta de articulação conjunta;
5. Preços elevados em relação aos padrões
internacionais;
6. Baixa exigência de qualidade pelo
consumidor e pelo Estado;
7. Baixo grau de conhecimento de
engenheiros e arquitetos sobre as
propriedades do produto.
67
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS
Observa-se em vários países uma ação do Estado sobre o setor essencialmente
controladora e de vigilância, visando evitar os abusos de poder econômico na formação de preços
e controle sobre o mercado, o que se estende a todos os setores com elevada concentração
industrial. As legislações "anti-truste" nesses países são instrumentos incorporados ao aparato
legal das políticas industriais31.
No entanto, também observa-se nesses países condutas do setor que visam evitar a
necessidade de ação coercitiva do Estado, seja pelo elevado investimento em desenvolvimento
tecnológico e organizacional para a obtenção de ganhos através da produção, seja pelo
aprimoramento das relações com consumidores e manutenção de patamares de preços compatíveis
com o comportamento do mercado. Na maioria dos países líderes da produção de cimento a
concorrência externa é presente de forma a efetivamente competir com o produto nacional, com
baixo grau de proteção do mesmo. Dessa forma, os limites de preços, qualidade e prestação de
serviços em que a indústria trabalha são capazes de oferecer resistência à concorrência externa,
embora internamente haja, em alguns casos, um elevado grau de homogeneidade na conduta dos
diversos produtores. Países como o Japão e China onde a concorrência externa está pouco
presente têm, por outro lado, uma estrutura voltada à exportação, o que requer estratégias de
conquista de mercado externo que beneficiam o mercado interno.
Verifica-se, assim, que no caso da indústria brasileira o papel do Estado deve estar
centrado em duas vertentes básicas:
1. A geração das condições sistêmicas de fortalecimento e desenvolvimento da indústria, no mercado
interno sem deixar de vislumbrar uma futura estrutura industrial exportadora, uma vez que a
indústria brasileira tem a liderança na América Latina e um parque industrial capaz de produzir
em condições de exportar;
2. A promoção do equilíbrio no mercado interno através da mediação de interesses entre produtores e
consumidores, no sentido de assegurar que os primeiros possam operar em condições
suficientemente adequadas ao atendimento de necessidades dos consumidores.
No caso da indústria do cimento, a distorção de postura que vem ocorrendo precisa ser
revertida, ou seja, na medida em que o pequeno consumidor apresenta baixa exigência de
qualidade e pouco pressiona pela redução de preços, a indústria volta-se a esse consumidor em
detrimento dos consumidores industriais (indústria da construção civil, indústria de pré-fabricados,
indústria de artefatos de cimento, indústria de cimento amianto). Isso gera uma condição
31 Entre os 24 países membros da OECD apenas a Itália ainda não possuía uma legislação "anti-truste" até 1990,
quando adotou a sua própria legislação em complementaridade às normas da Comunidade Econômica Européia,
ORGANIZATION FOR ECONOMIC COOPERATION AND DEVELOPMENT (1992).
68
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
desfavorável ao desenvolvimento da indústria, verificando-se que nos principais países produtores
a situação é exatamente inversa. O Estado, ao exercer através de seu poder de compra o papel de
consumidor exigente, torna-se agente primordial de indução desse desenvolvimento32.
No aspecto do equilíbrio de mercado, o Estado pode incentivar o desenvolvimento dos
grupos de menor poder econômico como forma de promover relações concorrenciais mais fortes
no setor. Entre as empresas líderes não há solicitação de incentivos, porém as dificuldades de
viabilizar investimentos com capital próprio torna necessário para as empresas de menor porte a
existência de mecanismos de acesso a financiamentos para ampliação da capacidade instalada via
modernização do processo, bem como melhorias de caráter gerencial e organizacional.
As proposições de política para a competitividade da indústria cimenteira partem dessas
premissas enunciadas. Não são detalhados, no entanto, os aspectos que se referem à estabilização
da demanda do setor. A retomada e estabilização dos programas de obras de toda natureza com
recursos públicos ou privados é pré-condição básica ao desenvolvimento de todo o complexo de
materiais de construção civil.
3.1. Políticas de Reestruturação Setorial
. Política de integração setorial
. Desverticalização gradual do setor através da modificação da estrutura das atividades de
extração e beneficiamento de matérias-primas, de modo a viabilizar o desenvolvimento
tecnológico e adequação ambiental dessas atividades pela participação de grupos industriais
especificamente voltados às mesmas. Essa ação depende da legislação específica para esse fim. Na
medida em que a legislação permitir essa participação, programas setoriais de desenvolvimento
devem criar mecanismos de atratividade para o investimento estrangeiro e/ou de grupos industriais
com tradição e disponibilidade de recursos para a modernização dessas atividades.
. Estabelecimento de termos de compromisso entre a indústria do cimento, o setor de
transporte rodoviário, os trabalhadores na indústria e sua cadeia produtiva e a indústria
consumidora a partir de diretrizes e agenda de desenvolvimento tecnológico e organizacional
comuns, de modo a viabilizar: a diversificação de produtos oferecidos; a adequação dos produtos
em termos das condições de produção e atendimento das necessidades dos consumidores; a
adequação de embalagens e formas de fornecimento, manuseio e utilização do cimento para a
32 Para a área habitacional diretrizes nesse sentido são estabelecidas pelo PRONATH - Programa Nacional de
Tecnologia para Habitação (1990) coordenado pela Secretaria Nacional de Habitação do Ministério do Bem-Estar
Social.
69
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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redução de desperdícios em obras; a racionalização do transporte com adequação e renovação da
frota; o avanço tecnológico quanto às possibilidades de emprego do produto. Esses termos de
compromisso devem ser firmados em fóruns adequados, em que seja possível tal integração entre
toda a cadeia produtiva, tais como a Comissão da Indústria da Construção da FIESP e a própria
Câmara Setorial da Construção Civil. Para tanto é necessário promover a reunião de todos esses
agentes e sua organização em torno de grupos de trabalho, que envolvam também o conhecimento
acumulado nas instituições públicas de pesquisa e desenvolvimento.
. Política de pesquisa, desenvolvimento e difusão tecnológica
. Estabelecimento de programas de investimento em pesquisa e desenvolvimento
tecnológico mediante a integração entre instituições públicas (universidades e institutos de
pesquisa), áreas de P&D das empresas privadas e a ABCP, no sentido de viabilizar o investimento
em capacitação laboratorial atualizada em relação aos países líderes, o investimento em programas
de pesquisa de longo prazo e pesquisas de caráter básico com otimização de recursos e a
formação de recursos humanos de alto nível de conhecimento. Os programas de fomento à
pesquisa existentes atualmente viabilizam a composição de projetos com a participação de
instituições públicas e privadas. O estabelecimento de programas cooperativos e intercâmbio entre
empresas e tais instituições é, pois, viável através dos mecanismos de fomento já existentes, no
entanto, por parte das agências de fomento cabe uma maior abertura à pesquisa nessas áreas
consideradas tradicionais, com o estabelecimento de linhas específicas para as mesmas.
. Estabelecimento, no âmbito dos programas de P&D, de intercâmbio efetivo com
instituições e centros de pesquisa líderes, mediante a permanência de profissionais estrangeiros no
Brasil e vice-versa; e de participação em programas integrados entre instituições brasileiras e
estrangeiras. Os mecanismos existentes para financiamento viabilizam essas condições devendo,
no entanto, haver disposição no setor para tal iniciativa.
. Organização setorial para a difusão tecnológica, de modo a orientar o uso adequado do
produto, inclusive a partir do ensino de nível técnico e superior e treinamento dos revendedores.
No que se refere ao ensino, cabe abrir algum diálogo entre o setor e as universidades e escolas técnicas
no sentido de diagnosticar e propor medidas para a atualização dos métodos e instrumentos de ensino
das disciplinas afins com a especificação e emprego de materiais de construção.
. Política de normalização, certificação e qualidade
. Promoção da valorização da atividade de normalização nas instituições de pesquisa e nas
entidades dos consumidores, visando à maior participação de pesquisadores na elaboração de
normas técnicas e equilíbrio de necessidades nas especificações brasileiras. No caso da
70
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
participação dos pesquisadores é necessário: criar condições de financiamento a projetos, cujo
produto final seja um texto-base de norma técnica; reconhecer a atividade de elaboração de
normas como a atividade de pesquisa para efeito das avaliações dos pesquisadores e produção
científica das instituições; criar mecanismos específicos para a participação de pesquisadores e
docentes nas comissões de estudos da ABNT. Por parte dos consumidores cabe viabilizar da
mesma forma a participação de técnicos de órgãos públicos e instituições envolvidas com a
promoção e contratação de obras e criar mecanismos de estímulo à participação de técnicos das
empresas. Tal estímulo pode envolver uma ampla campanha pelo emprego das normas técnicas e
exigência por parte do consumidor final.
. Organização setorial para a difusão de conceitos e metodologias de qualidade e
produtividade mediante desenvolvimento de projetos cooperativos no âmbito do Programa
Brasileiro da Qualidade e Produtividade. Nesse caso, o setor pode utilizar seus recursos nas
entidades de classe para programas específicos e contar com o apoio de instituições/empresas de
consultoria especializadas.
. Organização setorial para a certificação da qualidade de terceira parte dos produtos da
indústria. Na medida em que o setor não apresenta disposição para isso atualmente sua
organização em torno dessa questão dependerá da exigência dos consumidores, inclusive por
parte do Estado.
. Política de recursos humanos e relações do trabalho
. Organização setorial para a formação de mão-de-obra operária e de nível técnico
promovendo uma elevação significativa da qualificação e adequação às tecnologias de última
geração, de modo a propiciar a elevação dos níveis de produtividade. Para esses aspectos o setor
requer integração através de convênios ou outros instrumentos com o SENAI e escolas técnicas,
além de disposição para investir através da conscientização voluntária ou induzida pelos próprios
trabalhadores e governo.
. Organização setorial para o desenvolvimento de programas de segurança e medicina do
trabalho na indústria.
Os programas podem utilizar-se dos recursos atualmente existentes nessa área, (da
FUNDACENTRO, por exemplo), mas requerem maior grau de exigência/indução por parte do
Estado. Neste caso, é preciso conhecer mais detalhadamente a situação do setor através de
diagnósticos especializados.
. Estabelecimento de contrato coletivo de trabalho.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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O contrato coletivo de trabalho faz parte da pauta de negociações do setor com os
trabalhadores, por iniciativa destes últimos. As dificuldades decorrentes das relações atuais da
indústria com as entidades dos trabalhadores, em que não existe negociação coletiva através da
entidade patronal, mas negociações caso a caso nas empresas podem ser superadas com a
mediação do governo em fórum adequado, como a Câmara Setorial por exemplo, onde o tema é
objeto de estudo por parte do Grupo de Trabalho - GT3 - Emprego, Salários e Relações de
Trabalho.
Agentes intervenientes: Sindicato Nacional da Indústria do Cimento - SNIC; ABCP - Associação
Brasileira de Cimento Portland; ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas; Universidades e
institutos de pesquisa públicos; centros de P&D das empresas; Ministério da Fazenda; Ministério da
Indústria e Comércio; Ministério das Minas e Energia; FUNDACENTRO - Fundação Jorge Duprat
Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho; SENAI; Ministério do Trabalho; Câmara Setorial
da Indústria da Construção Civil; entidades de classe dos trabalhadores.
3.2. Políticas de Modernização Produtiva
Nas proposições de políticas de modernização produtiva as ações deverão ser
automotivadas em sua essência, no entanto, os entendimentos entre toda a cadeia produtiva
podem ser indutores da adoção dessas medidas por parte das empresas. A maior exigência por
parte do Estado e sua atuação no sentido da aplicação da lei de defesa da concorrência assim
como a exposição à concorrência externa também são fatores impulsionadores das políticas de
modernização produtiva.
. Política de gestão empresarial
. Estabelecimento de programas de modernização gerencial e de gestão da produção de
modo a adequar o "modus operandi" aos novos paradigmas do desenvolvimento industrial
(qualidade, produtividade, flexibilidade, atendimento ao consumidor, etc), com o emprego de
técnicas gerenciais avançadas, ênfase no planejamento e controle, bancos de dados gerenciais,
informática aplicada, etc.
. Estabelecimento de programas formais de qualificação de fornecedores e de atendimento
a todos os tipos de consumidores (revendas, construtoras, produtores de pré-fabricados, etc) com
completa assistência à especificação e utilização do produto.
. Modernização das estruturas organizacionais das empresas com base na redução de
níveis hierárquicos e do grau de centralização das decisões.
72
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. Estabelecimento de programas de participação dos trabalhadores na gestão da produção
com mecanismos de incentivos.
. Política de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e qualidade
. Estabelecimento de programas de qualidade total envolvendo todo o processo de
produção e as empresas como um todo.
. Conscientização quanto à necessidade de investimento em desenvolvimento de produtos
e processos e constituição de áreas de P&D próprias das empresas com programas de intercâmbio
internacional.
. Estabelecimento de programas visando à certificação de produtos.
. Estabelecimento de programas de atualização tecnológica com metas de equiparação das
fábricas quanto ao desempenho do processo em relação aos países líderes (substituição de
insumos energéticos; adequação ambiental - ruído, emissão de poluentes do ar, proteção ambiental
nas atividades de extração; automação).
. Estabelecimento de programas intensivos de controle ambiental dos processos.
. Política de recursos humanos
. Implantação de programas de treinamento visando à elevação da qualificação da mão-de-
obra operária, envolvendo a conscientização e motivação para a qualidade, produtividade e
segurança no trabalho.
. Modernização das políticas de recursos humanos nas empresas através de melhoria das
condições de trabalho, programas de treinamento e motivação, mobilidade funcional a partir de
critérios de desempenho, políticas de seleção e recrutamento.
. Estabelecimento de programas de formação de executivos da alta administração.
Agentes intervenientes: Empresas produtoras, empresas fornecedoras de matérias-primas, empresas
de consultoria em projeto e instalação de plantas industriais, SENAI, FUNDACENTRO -Fundação
Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho, Ministério do Trabalho, Ministério
da Indústria e Comércio; entidades de classe dos trabalhadores na indústria do cimento.
73
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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3.3. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos
. Política tributária
. Análise conjunta entre produtores e consumidores, no âmbito da Câmara Setorial, do
impacto da carga tributária incidente sobre as empresas e sobre os produtos na política de preços
do setor vis à vis o impacto nos custos da indústria da construção civil. A partir dessa análise
devem ser estudadas as necessidades do setor, de modo a capacitá-lo a adequar seus padrões de
preços às necessidades dos consumidores.
. Manutenção da alíquota 0% para importação do produto visando a exposição do setor à
concorrência externa.
. Política de energia e meio ambiente
. Estabelecimento de normas adequadas à substituição de insumos energéticos pela queima
de resíduos industriais e programas de incentivos ao desenvolvimento de projetos de substituição
que visem ao aproveitamento de rejeitos disponíveis regionalmente.
. Uniformização da legislação de controle ambiental de forma a estabelecer graus de exigência
compatíveis entre si nas várias regiões e requisitos objetivos a serem cumpridos pelas empresas.
. Política de desenvolvimento industrial
. Estabelecimento de programas de incentivo ao desenvolvimento tecnológico a partir do
poder de compra do Estado, com exigência de adequação dos produtos a fins específicos
(especialmente na utilização para fins não estruturais em obras de caráter social como os
programas habitacionais para baixa renda) e exigência de certificação de conformidade, por parte
de todos os órgãos contratantes de obras e seviços.
. Aperfeiçoamento da organização institucional para a aplicação da legislação "anti-
dumping" através de metodologia suficientemente detalhada e, contemplando as partes
interessadas - produtores e consumidores, para estabelecimento das condições para requerimento
de ações "anti-dumping". Tal metodologia deve voltar-se ao aperfeiçoamento dos aspectos que
definem o grau de confiabilidade dos dados comprovadores de danos à indústria nacional e à
agilização dos prazos processuais.
. Aperfeiçoamento da organização institucional para aplicação da Lei 8158/91 (Defesa da
concorrência) que atribui à Secretaria Nacional de Direito Econômico a competência para apurar
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
e propor medidas de correção de anomalias de comportamento de setores e empresas, de modo à
promover a efetiva aplicação da referida lei caso o setor não seja capaz de estabelecer mecanismos
de equilíbrio para superar o conflito de interesses entre produtores e consumidores. Esse
aperfeiçoamento requer a agilização dos processos decorrentes de denúncias realizadas e o
monitoramento do comportamento das empresas.
. Estabelecimento de critérios de avaliação do desempenho do setor para o gerenciamento
dos programas públicos de financiamento relacionados às características próprias de sua
competitividade: elevação dos padrões de qualificação da mão-de-obra, substituição de insumos
energéticos por rejeitos industriais, consumo energético, atendimento ao consumidor, etc.
. Política de transportes
. Modernização portuária integrada aos sistemas de transportes de acesso aos portos e
viabilização da construção de terminais apropriados ao estabelecimento de políticas de exportação
para o setor.
. Recuperação da malha rodoviária e incremento da participação das ferrovias na infra-
estrutura de transportes, de modo a retirar das rodovias o transporte de grandes volumes do
produto.
. Política de formação de recursos humanos
. Adequação da legislação trabalhista de modo a desonerar as empresas de encargos de
baixo retorno como benefício para os trabalhadores e incentivar as políticas de benefícios e
incentivos diretos das empresas.
Agentes intervenientes: Sindicato Nacional da Indústria do Cimento - SNIC; entidades de classe dos
consumidores (Câmara Brasileira da Indústria da Construção - CBIC; SINDUSCONs); Ministério da
Indústria, do Comércio e do Turismo; Ministério da Fazenda; Ministério da Justiça; Ministério dos
Transportes; Ministério do Bem-Estar Social; Ministério das Minas e Energia; órgãos responsáveis
pelo controle e proteção ambiental.
75
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE
O estudo detectou a baixa utilização de indicadores como forma de avaliação do
desempenho competitivo da indústria de cimento e para as empresas que a constituem.
Comparativamente aos dados existentes nas indústrias dos países líderes a indústria nacional não
tem como prática a elaboração de indicadores, divulgando dados brutos, sem elaboração. Também
as empresas utilizam-se muito pouco de indicadores de desempenho como instrumento gerencial,
restringindo-se em sua maioria aos dados financeiros de balanço e dados sobre os volumes de
vendas. Este capítulo propõe uma série de indicadores que visa à constituição de um sistema que
sirva de referência e apoio à aplicação de instrumentos de uma política industrial para o setor e
que permita avaliar a evolução da indústria e das empresas.
Para a indústria como um todo, interessa avaliar seu desempenho em termos dos aspectos
que possam refletir a obtenção de vantagens numa situação de competição por recursos e
incentivos no sistema econômico, sua evolução em termos da capacidade de promover
atendimento ao consumidor e de contribuir para o desenvolvimento econômico e social do País.
Para as empresas de forma individualizada, os indicadores têm o papel de orientar o
planejamento estratégico, indicando a capacidade da empresa em se destacar no mercado em
relação aos seus competidores diretos quanto aos aspectos que definem seu papel de atender às
necessidades dos consumidores. Tais indicadores também refletem a contribuição de cada empresa
individualmente à competitividade da indústria.
A análise das características da indústria e dos dados disponíveis ou passíveis de obtenção
para a mesma levou à elaboração de um conjunto de indicadores que considera os aspectos
detectados ao longo do estudo como determinantes do desenvolvimento de relações equilibradas
com os consumidores, de forma a medir o quanto a indústria ou as empresas individualmente se
aproximam de uma condição de liderança. Entre os vários indicadores relacionados, os de maior
relevância podem ser hierarquizados conforme a finalidade a que se destinem.
4.1. Indicadores do Impacto da Produção da Indústria de Cimento no Sistema Econômico
Utiliza-se para a construção desses indicadores os dados de caráter macroeconômico
utilizados nas estatísticas oficiais, visando analisar a contribuição do setor para o desenvolvimento
da indústria como um todo.
76
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
. Valor adicionado: valor da produção bruta (em valor de produtor) - consumo
intermediário (em valor de comprador).
Mede a contribuição do setor para o PIB - Produto Interno Bruto em valor de produtor.
O acompanhamento da evolução em séries históricas pode ser feito a partir dos dados
coletados para a elaboração das Contas Nacionais, ou seja, os dados dos censos e pesquisas
industriais realizados pela FIBGE - Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. No
entanto, a intenção de acompanhar especificamente a contribuição ao PIB do setor exigiria o
acesso aos dados brutos, uma vez que essa indústria está inserida no setor " Transformação de
produtos minerais não-metálicos". Interessa conhecer também como o valor adicionado pela
indústria evolui em relação aos demais ramos industriais de seu setor.
. Participação do setor nas exportações/importações brasileiras
Acompanhamento por séries de base em curto prazo (trimestral/semestral) da contribuição
do setor em valor de exportação para o conjunto das exportações e das importações brasileiras.
Esse acompanhamento pode ser feito de forma conveniada entre a entidade de classe e o
Departamento de Comércio Exterior, utilizando-se os dados do setor e os dados da indústria
como um todo gerados naquele órgão.
. Participação do setor no emprego total
Para o acompanhamento do impacto do setor na geração de emprego total é necessário
levantar em séries históricas anuais o emprego direto dos dados que são levantados pelo
Ministério do Trabalho a partir da RAIS - Relação Anual de Informações Sociais. Também para
este caso os dados são disponíveis segundo a classificação tradicional da indústria -
Transformação de produtos de minerais não-metálicos.
. Evolução da produção comparativamente à evolução do consumo
Através de séries históricas de base anual trata-se de computar a produção total e o
consumo aparente do mercado interno e externo, obtendo-se ainda o diferencial resultante como
estoques. Avalia-se dessa maneira o crescimento da produção e da demanda e o crescimento das
exportações. Tais indicadores podem ser elaborados a partir da entidade de classe utilizando-se os
dados de todo o setor.
*** Esse indicador pode ser elaborado também para as empresas individualmente.
77
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. Evolução da produção brasileira como parcela da produção mundial
Os dados sobre a produção mundial são acessados pela entidade de classe junto às
entidades congêneres e figuram no anuário mundial do setor. Esse indicador permite avaliar o
crescimento do mercado para o produto brasileiro em relação à produção mundial em termos de
sua produção total (para o mercado interno e externo).
4.2. Indicadores de Capacitação da Indústria de Cimento
. Evolução da capacidade instalada e de seu grau de ocupação
A capacidade instalada do setor é dado processado pela entidade de classe que pode ser
obtido em base anual devendo-se ampliar a coleta para a abrangência de todo o setor e
especificando-se por tipo de produto. O grau de ocupação da indústria é obtido para o setor
"transformação de produtos de minerais não metálicos" em base mensal pelas federações de
indústrias e pela FIBGE. Tais dados poderiam também ser obtidos pela entidade de classe ou
através do detalhamento dos dados atualmente coletados, especificando-se a indústria de cimento.
*** Esse indicador pode ser elaborado também para as empresas individualmente.
. Grau de concentração industrial do setor
Participação de cada grupo industrial na produção anual do setor em termos de volume e
receita.
. Grau de atualização tecnológica do parque produtor
Os dados referentes à atualização tecnológica estão disponíveis, em parte, no anuário
mundial de cimento e os indicadores podem ser elaborados e acompanhados pela Associação
Brasileira de Cimento Portland.
Grau de atualização em relação aos competidores externos: parcela da produção total
da indústria produzida através de processo de última geração e comparação com a mesma parcela
dos principais competidores.
78
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
Grau de atualização tecnológica interna ao setor: número de fábricas (plantas) que
produzem no processo de última geração e respectiva parcela da produção total da fábrica.
i x CPi)
Grau de atualização tecnológica (G.A.T.) = ------------
CP
Onde:
- ß
i
é a proporção da produção em processo de última geração de cada fábrica
- CP
i
é a capacidade de produção de cada fábrica e
- CP é a capacidade total da indústria
A obtenção dos dados exige pesquisa por parte da ABCP.
. Grau de aderência às técnicas organizacionais e modelos de gestão avançados
TÉCNICAS ORGANIZACIONAIS/ Nº DE EMPRESAS NÃO SE
MODELOS DE GESTÃO QUE APLICAM APLICA AO
SETOR
1. Células de produção
2. Polivalência de funções
3. Controle Estatístico de Processo
4. "Just-in-time" interno
5. "Just-in-time externo
6. MRP (Materials Requirements Planning)
7. "Kanban"
8. CAD - Computer Aided Design
9. CAM - Computer Aided Manufacturing
10. CIM - Computer Integrated Manufacturing
11. Identificação de problemas - "brainstorming",
Pareto, etc
12. Círculos de Controle da Qualidade
13. Caixas de sugestões
14. Padrões internos de procedimentos
15. Sistema formal de qualificação de fornecedores
16. Grupos de melhoria
17. Programas de qualidade total
18. Administração participativa
19. Sistemas de participação nos lucros
20. Outras
TOTAL DE EMPRESAS
A obtenção dos dados exige pesquisa por parte da ABCP.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. Capacitação dos recursos humanos
Composição da mão-de-obra do setor (por empresa):
CATEGORIAS NÚMERO
SUPERIOR TÉCNICO QUAL. SEMI-QUAL. ÑQUAL
1. Alta adm.
2. Gerências
3. Chefias
4. Áreas adm.
5. Áreas de prod.
SUBTOTAL
% DO TOTAL
QUAL. - Funcionários sem formação escolar formal, porém com alguma habilitação específica obtida através de
treinamento.
SEMI-QUAL - Funcionários que passaram por algum tipo de treinamento, porém não detém ainda habilitação
específica.
ÑQUAL. - Funcionários para serviços gerais sem habilitação específica.
Programas de treinamento:
- Número de funcionários que passaram por programas formais de treinamento (cursos
com duração igual ou superior a 8 horas-aula) em comparação ao número total de funcionários
das categorias de funcionários (base anual)
- Número de funcionários treinados "on the job" em relação ao número total de
funcionários (base anual).
*** Considera-se estágios em departamentos/áreas; aprendizado junto a monitor, etc.
*** Os indicadores de recursos humanos devem ser elaborados a partir de dados da entidade de
classe junto à todas as empresas. Internamente podem ser utilizados pelas empresas como
medição da capacitação de seus recursos humanos.
. Grau de aderência das normas técnicas brasileiras às normas dos países líderes
Consiste em verificar quais os itens referentes ao produto e sua aplicação normalizados
nos países líderes e a existência de item correspondente nas normas brasileiras.
Este indicador pode ser obtido por trabalho conjunto entre a ABCP e o Comitê Brasileiro
de Cimento, Concreto e Agregados CB-18, da Associação Brasileira de Normas Técnicas -
ABNT.
80
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
. Grau de atualização das normas técnicas brasileiras
Consiste em verificar entre os itens das normas brasileiras os itens que passaram por
revisão em período inferior a cinco anos (Verificação anual).
Obtenção dos dados conforme o indicador 2.4.
. Tipos de produtos brasileiros em relação aos tipos de produtos dos países líderes.
Consiste em verificar os tipos de produtos existentes nos países líderes e suas respectivas
especificações de normas técnicas e os tipos de produtos existentes no Brasil e suas respectivas
normas, avaliando o grau de correspondência com os produtos estrangeiros em relação às adições
permitidas, tipos disponíveis para usos específicos.
4.3. Indicadores de Desempenho
4.3.1. Desempenho econômico
. Taxa de participação nos principais mercados compradores em relação aos seus
competidores (em volume quantitativo e valores)
Em base anual, esses dados são obtidos através das estatísticas de comércio exterior dos
respectivos países. Por exemplo, nos Estados Unidos essas estatísticas são divulgadas pela U.S.
International Trade Commission a partir dos dados oficiais do U.S. Department of Commerce.
. Preços unitários (US$/t) pagos pelos países compradores em relação aos seus competidores
Obtenção através das mesmas fontes citadas em 3.1.
. Balança comercial do setor com os principais países compradores e balança comercial total
do setor em base semestral
Obtenção através das mesmas fontes citadas em 3.1.
81
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. Evolução dos preços no mercado interno e seu impacto nos custos das obras e preços
praticados pelos principais países produtores em seu mercado
Evolução dos preços no mercado interno comparativamente à evolução da inflação e dos
índices de custos da construção civil e do impacto do preço do cimento nos custos dos diversos
tipos de obras (Custo Unitário Básico - CUB conforme a NBR 12721)33.
Dados obrigatoriamente apurados pelos sindicatos da indústria da construção civil para
elaboração do CUB mensalmente. O impacto do preço do cimento no custo da construção civil
também pode ser avaliado através de estudos específicos das instituições que elaboram índices de
custos da construção como a FIPE - Fundação de Pesquisas Econômicas da Universidade de São
Paulo, a Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e a Fundação Getúlio Vargas.
Os dados dos preços dos países líderes são obtidos pelas associações internacionais de
produtores de cimento (CEMBUREAU - The Cement European Association).
. Evolução dos componentes da estrutura de custos das empresas em termos de consumo por
unidade produzida e participação no custo final do produto (por categorias de produtos):
energia; mão-de-obra; matérias-primas; controle ambiental; "marketing"; assistência técnica
Dados que devem ser obtidos através das planilhas de custos das empresas e podem ser
indicadores internos às mesmas e processados pela entidade de classe para o setor como um todo.
. Evolução do valor dos investimentos em relação às receitas, de forma discriminada e por ori-
gem dos recursos (dividir em recursos próprios, financiamentos de origem pública e privada)
a) ampliação da capacidade produtiva: obras civis; equipamentos; recursos humanos
(contratação);
b) treinamento de pessoal em todos os níveis;
c) capacitação organizacional e gerencial: compra de "softwares"; compra de
equipamentos para administração; consultoria gerencial externa; melhoria das condições do
trabalho (segurança; higiene; medicina do trabalho);
d) capacitação tecnológica: substituição de equipamentos em termos de geração
tecnológica; pesquisa e desenvolvimento tecnológico; compra de tecnologia; desenvolvimento e
implantação de programas de qualidade total; certificação da qualidade; controle ambiental.
33 ABNT (1992)
82
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Dados obtidos pela entidade de classe junto às empresas e junto aos agentes financiadores
(FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos; BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social).
. Evolução da participação das empresas no mercado interno
Evolução das receitas da empresa/ receitas do setor em base semestral.
Evolução da produção da empresa/produção total do setor.
Dados fornecidos pelas empresas com acompanhamento da evolução pelo setor.
. Evolução das vendas por tipo de consumidor
Verificação da participação de cada tipo de consumidor (revendedores, indústria, obras
habitacionais, obras de infra-estrutura etc).
Dados obtidos pelas empresas e pela entidade de classe com a participação das revendas.
. Evolução das vendas por tipo de transporte
Acompanhamento das parcelas das vendas transportadas por rodovia, ferrovia, hidrovia, etc.
Dados computados pela entidade de classe.
4.3.2. Desempenho produtivo
. Produtividade da mão-de-obra
Em base trimestral, acompanhamento do número de horas trabalhadas em relação à
quantidade produzida (hh/ton. de cimento).
Dados internos às empresas a serem computados para o setor como um todo.
. Produtividade energética
Em base trimestral, acompanhamento da quantidade/valor da energia consumida (discriminada
por fonte energética) em relação à quantidade/valor da produção (por exemplo, kcal/ ton. de cimento).
Dados internos às empresas a serem computados para o setor como um todo.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. Produtividade global
Medida no âmbito da empresa: Receitas/Ativo total (patrimônio líquido pelo
endividamento geral) - Investimentos em outras companhias.
. Índices de emissão de poluentes e de ruído
Emissão de NOx, de CO
2
, SO
2
comparativamente aos padrões internacionais. Índices de emis-
são de ruídos pela operação das fábricas. Esses dados são obtidos pelos órgãos de controle ambiental.
. Evolução do prazo de rotação de estoque
Dados das empresas.
. Evolução do ciclo de produção
Dados das empresas.
. Evolução da taxa de retrabalho
Produção retrabalhada/produção total em %.
. Evolução da taxa de rejeito de insumos
Insumos rejeitados/compras totais de insumos
. Evolução da taxa de devolução de produtos
Valor dos produtos devolvidos por problemas relativos à qualidade/vendas totais, em %.
. Incidência de manifestações patológicas em obras acabadas relativas a problemas de
qualidade ou inadequação de uso do cimento
Constituição de bancos de dados com a identificação da origem dos problemas na cadeia
produtiva como um todo. Esses dados podem ser obtidos, analisados e mantidos de forma
conjunta entre a ABCP e as instituições públicas de pesquisa e desenvolvimento.
84
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. Paradas na produção - Previstas e imprevistas (em número de horas em relação às horas
totais trabalhadas no mês)
Dados das empresas.
. Evolução das ocorrências de acidentes de trabalho
Dados do Ministério do Trabalho e FUNDACENTRO - Fundação Jorge Duprat
Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho, a serem especificados para o setor, em base
semestral/anual.
. Conformidade de produtos
Número de empresas que possuem linhas de produtos certificadas quanto à conformidade
às normas técnicas em relação ao número total de empresas.
Estes dados podem ser acompanhados pela ABCP em conjunto com o INMETRO -
Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial.
. Grau de aderência às tendências internacionais
Analisa a evolução do setor de forma qualitativa, de modo a verificar seu direcionamento
para a adoção de estratégias semelhantes às estratégias adotadas pelos países líderes.
TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS A B C D E F G
a.
b.
c.
d.
e.
f.
g.
A - Grau de conscientização do setor quanto à necessidade
B - Necessidade de recursos para a implementação
C - Grau de mobilização do setor para a implementação
D - Grau de mobilização na cadeia produtiva para a implementação
E - Disposição para colocar em desenvolvimento
F - Grau de dependência do poder público para a implementação
G - Tendência que não se aplica à estrutura da indústria brasileira
Níveis 1, 2 ou 3
1 - Fraco
2 - Moderado
3 - Elevado
85
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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5. CONCLUSÕES
A indústria do cimento no Brasil apresenta uma estrutura industrial que a coloca entre os
principais produtores mundiais pelas suas características de capacidade de produção e grau de
atualização dos processos empregados em relação aos processos empregados pelos países líderes.
Essas características resultam em vantagens competitivas em relação a indústrias de vários países,
porém não o suficiente para que a indústria apresente destaque no mercado internacional.
À parte as condições sistêmicas que não viabilizam uma política de exportações para o
setor, a indústria também não alcança preços compatíveis com a média dos preços praticados
pelos países que são os maiores exportadores mundiais de cimento. As razões para os preços mais
elevados do produto nacional mesclam-se entre fatores essencialmente empresariais e fatores de
natureza estrutural/setorial e sistêmica.
Por outro lado, alguns aspectos não relacionados ao preço, mas à diversidade de produtos,
certificação de conformidade, características de especificação poderiam ser barreiras à
competitividade da indústria brasileira, se esta tivesse uma política de exportação definida.
No mercado interno os desequilíbrios entre os interesses de produtores e consumidores
pelos quais a indústria passa de tempos em tempos, geram conflitos que rompem a integração
entre toda a cadeia produtiva. Esses desequilíbrios também têm origem em fatores empresariais,
estruturais/setoriais e sistêmicos e não se referem unicamente ao preço dos produtos e seu
impacto na construção civil, mas à toda a lógica de operação do setor.
As características internacionais do setor, marcado por estruturas oligopolizadas na
maioria dos países, também registram desequilíbrios e conflitos entre produtores e consumidores,
mas as condições tecnológicas, organizacionais, estruturais e sistêmicas nos países líderes
permitem que esses conflitos sejam gerenciados pelo Estado o qual, através de instrumentos
regulamentadores da atividade empresarial, pode evitar o prejuízo ao consumidor e prover a
defesa da concorrência.
Nesses países, a indústria, pressionada pela concorrência externa, desenvolveu-se de forma
integral: não apenas no processo produtivo propriamente dito enquanto tecnologia de processo,
mas também na gestão da produção, estruturas organizacionais, pesquisa e desenvolvimento
tecnológico, capacitação de recursos humanos, manejo de recursos naturais, qualidade do
produto, atendimento e assistência técnica ao consumidor. Isso faz com que a indústria esteja
suficientemente preparada para estabelecer relações com os consumidores adequadas à
manutenção de equilíbrio de interesses.
86
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Por outro lado, a forte presença de consumidores de elevado nível de exigência no
mercado interno faz com que a indústria dos países líderes esteja em constante processo de
desenvolvimento. No Brasil a indústria tem tido conduta oposta ao negligenciar o atendimento ao
setor formal da indústria da construção civil (não só as construtoras, mas as empresas produtoras
de concreto pré-misturado, as empresas produtoras de pré-fabricados de concreto, os produtores
de artefatos de cimento, os produtores de cimento amianto), no sentido da busca de maior
equilíbrio de interesses.
A capacidade instalada e o estágio de desenvolvimento da indústria permitem o
estabelecimento de condições mais favoráveis no mercado interno e até mesmo uma futura política
de exportações se a infra-estrutura de transportes puder ser aperfeiçoada. No entanto, para isso é
necessário uma urgente retomada de canais de negociação e integração na cadeia produtiva
envolvendo fornecedores, consumidores de um modo geral, instituições de pesquisa e
desenvolvimento tecnológico e governo.
A disposição do setor para tal retomada pode ser abreviada se o volume de importações de
cimento se tornar mais expressivo e houver uma reativação da construção civil como é esperada
ainda para 1993. No entanto, se algumas ações de caráter mais permanente apontadas nas
proposições do capítulo 3 não forem adotadas, no próximo período de recessão da atividade de
construção civil o desequilíbrio retornará.
87
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
BIBLIOGRAFIA
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89
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
RELAÇÃO DE TABELAS, QUADROS E GRÁFICOS
TABELA 1
MAIORES PRODUTORES DE CIMENTO NO MUNDO (1988/90) ...........................31
TABELA 2
CONSUMO APARENTE DE CIMENTO PORTLAND (1988/90)...............................32
TABELA 3
MAIORES EXPORTADORES MUNDIAIS DE CIMENTO (1990/91)........................33
TABELA 4
PREÇOS PRATICADOS PELOS PAÍSES EUROPEUS (17/12/1991) .........................33
TABELA 5
CUSTOS INDUSTRIAIS COMPARATIVOS...............................................................35
TABELA 6
CAPACIDADE NACIONAL INSTALADA DE PRODUÇÃO
DE CLÍNQUER (1991).................................................................................................47
TABELA 7
EXPORTAÇÃO DE CIMENTO SEGUNDO O TIPO E ORIGEM (FÁBRICA) E
O DESTINO (PAÍS) (1989/91).....................................................................................49
TABELA 8
IMPORTAÇÃO DE CIMENTO SEGUNDO O TIPO E ORIGEM -
BRASIL (1989/92)........................................................................................................51
QUADRO 1
FATORES DETERMINANTES DA COMPETITIVIDADE INTERNACIONAL
DA INDÚSTRIA DO CIMENTO .................................................................................43
QUADRO 2
IMPORTAÇÃO NO BRASIL - CRONOLOGIA (1992/93)...........................................52
QUADRO 3
OBSTÁCULOS À COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
DO CIMENTO..............................................................................................................65
GRÁFICO 1
DISTRIBUIÇÃO DA PRODUÇÃO SEGUNDO CLASSES DE PRODUÇÃO -
ITÁLIA (1991)..............................................................................................................37
GRÁFICO 2
PARTICIPAÇÃO DOS GRUPOS INDUSTRIAIS NA PRODUÇÃO -
ITÁLIA (1991)..............................................................................................................37
GRÁFICO 3
CONSUMO APARENTE DE CIMENTO PORTLAND SEGUNDO
SEGMENTOS - ITÁLIA (1991)...................................................................................38
GRÁFICO 4
CONSUMO APARENTE DE CIMENTO PORTLAND SEGUNDO AS
REGIÕES GEOGRÁFICAS DO BRASIL (1990/91) ....................................................46
GRÁFICO 5
CONSUMO DE CIMENTO PORTLAND PROVENIENTE DE OUTRAS
REGIÕES (IMPORTAÇÃO INTERNA) COMO PARCELA DE CONSUMO
TOTAL DA REGIÃO SEGUNDO AS REGIÕES GEOGRÁFICAS
DO BRASIL (1990/91) .................................................................................................46
90
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
GRÁFICO 6
PARTICIPAÇÃO DOS GRUPOS INDUSTRIAIS NA PRODUÇÃO TOTAL -
BRASIL (1989/91)........................................................................................................47
GRÁFICO 7
PRODUÇÃO E CONSUMO APARENTE DE CIMENTO PORTLAND -
BRASIL (1982/91)........................................................................................................48
GRÁFICO 8
CONSUMO APARENTE DE CIMENTO PORTLAND SEGUNDO OS
SEGMENTOS - BRASIL (1990/91) .............................................................................49
GRÁFICO 9
DISTRIBUIÇÃO DA PRODUÇÃO SEGUNDO CLASSES DE PRODUÇÃO -
BRASIL (1991).............................................................................................................54
GRÁFICO 10
PRODUÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND SEGUNDO
OS TIPOS (1990/91).....................................................................................................55
GRÁFICO 11
DISTRIBUIÇÃO DO DESPACHO TOTAL SEGUNDO MEIOS DE
TRANSPORTE - BRASIL (1990/91)............................................................................62
91
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
RELAÇÃO DE SIGLAS
ABCP - Associação Brasileira de Cimento Portland
ABIPT - Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisas Tecnológicas
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
AITEC - Associazone Italiana Tecnico Economica del Cemento
ANTAC - Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído
BCA - British Cement Association
BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
BNH - Banco Nacional da Habitação
CAD - Computer Aided Deign
CADE - Conselho Administrativo de Defesa Econômica
CAM - Computer Aided Manufacturing
CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CB-18 - Comitê Brasileiro de Cimento , Concreto e Agregados da ABNT
CBIC - Câmara Brasileira da Indústria da Construção
CEMBUREAU - The European Cement Association
CIENTEC - Fundação de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul.
CIM- Computer Aided Integrated Manufacturing
CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes.
CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CUB- Custo Unitário Básico
EPUSP - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
FGV - Fundação Getúlio Vargas
FIBGE - Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos
FIPE - Fundação de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo
FUNDACENTRO - Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina no Trabalho
GATT - Acordo Geral de Tarifas do Comércio
IBOPE - Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística
INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
INT - Instituto Nacional de Tecnologia
IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo
92
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ISO - International Organization for Standartization
ITQC - Instituto Brasileiro de Tecnologia e Qualidade da Construção
LFEM - Laboratoire Federal d'Essaide Materieux et Institut des Recherches
MERCOSUL - Mercado Comum do Sul
MF - Ministério da Fazenda
MICT - Ministério da Indústria, Comércio e Turismo
MJ - Ministério da Justiça
MME - Ministério das Minas e Energia
MRP - Materials Requirements Planning
MT - Ministério dos Transportes
MTrabalho - Ministério do Trabalho
NBR - Norma Brasileira
OECD Organisation for Economic Cooperation and Development
P&D - Pesquisa e Desenvolvimento
PACTI - Programa de Apoio à Capacitação Tecnológica da Indústria
PBQP - Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade
PIB - Produto Interno Bruto
PRONATH - Programa Nacional de Tecnologia para Habitação
RAIS - Relação Anual de Informações Sociais - Ministério do Trabalho
SECON - Setor de Economia / SINDUSCON -SP
SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SINDUSCON - Sindicato da Indústria da Construção Civil
SNIC - Sindicato Nacional do Cimento
93
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ANEXO:
PESQUISA DE CAMPO - ESTATÍSTICAS BÁSICAS PARA O SETOR
94
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PESQUISA DE CAMPO
ESTATÍSTICAS BÁSICAS
Setor de Cimento
Amostra original: 23
Questionários recebidos: 7
1. Caracterização
1.1 Variáveis Básicas: valores totais em 1992
(US$ mil)
Faturamento 497.457
Investimento 35.785
Exportações 5.491
Emprego direto na produção (nº empregados) 2.407
2. Desempenho
2.1 Desempenho Econômico: evolução dos valores médios
(US$ mil)
1987-89 1992 Variação (%)
(1) (2) (2)/(1)
Faturamento 53.565 71.065 32,67
Margem de lucro (%) 28,19 41,11 45,83
Endividamento (%) 25,60 28,92 12,97
Investimento n.d 5.964 n.d.
Exportações 1.332 784 -41,14
Exportações/Faturamento (%) 2,49 1,10 -55,82
Importações insumos-componentes 0 168
Importações insumos/Faturamento (%) 0 0,24
Importações de bens de capital 71 0 -100,00
Importações de bens de capital/Faturamento 0,13 0 -100,00
Utilização da capacidade (%) 79,18 76,89 -2,89
Emprego direto na produção (nº de empregados) 497 401 -19,32
2.2 Principal Motivação do Investimento em Capital Fixo
(% de empresas)
1990-92 1993-95
Modernização 71,4 42,9
Ampliação 14,3 42,9
Ambos 14,3 14,3
Número de respondentes 7 7
95
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2.3 Desempenho Produtivo: evolução dos valores médios
Variável Unidade 1987-89 1992
Níveis hierárquicos 6,07 5,49
Prazo médio de produção dias 5,22 5,25
Prazo médio de entrega dias 4,45 3,97
Taxa de retrabalho % 0 5,20
Taxa de defeitos % 0 0
Taxa de rejeito de insumos % 5,80 7,10
Taxa de devolução de produtos % 0,80 1,20
Taxa de rotação de estoques dias 19,44 19,25
Paradas imprevistas dias 18,81 17,59
2.4 Atributos do Produto em 1992 em Relação a 1987-89
(% de empresas)
menor igual maior não respondeu
Nível de preços 33,3 33,3 16,7 16,7
Nível de custos de produção 14,3 14,3 42,9 28,6
Nível médio dos salários 16,7 0 50,0 33,3
Grau de aceitação da marca 0 14,3 71,4 14,3
Prazos de entrega 42,9 42,9 0 14,3
Tempo de desenvolvimento de novos
"modelos"/ especificações
28,6 14,3 14,3 42,9
Eficiência na assistência técnica 0 14,3 57,1 28,6
Conteúdo/ sofisticação tecnológica 0 28,6 42,9 28,6
Conformidade às especificações técnicas 0 71,4 14,3 14,3
Durabilidade 0 71,4 14,3 14,3
Atendimento a especificações de clientes 0 14,3 57,1 28,6
3. Capacitação
3.1 Grau de Formalização do Planejamento da Empresa
(% de empresas)
Não existe nenhuma estratégia formal ou informal 0
Existe estratégia desenvolvida, disseminada informalmente 28,6
Existe estratégia desenvolvida, disseminada periodicamente 0
Existe estratégia desenvolvida, disseminada periodicamente com o
envolvimento dos diversos setores da empresa
71,4
Número de respondentes 7
96
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3.2 Fontes de Informação Utilizadas na Definição de Estratégias
(% de empresas)
Mídia em geral 28,6
Participação em atividades promovidas por associações de classe 85,7
Revistas especializadas 100,0
Feiras e congressos no país 57,1
Feiras e congressos no exterior 42,9
Visitas a outras empresas no país 85,7
Visitas a outras empresas no exterior 57,1
Universidades/ centros de pesquisa 28,6
Consultoria especializada 71,4
Banco de dados 28,6
Pesquisas proprias 57,1
Número de respondentes 7
3.3 Tecnologias/ Serviços Tecnológicos Adquiridos em 1991/1992
(nº de empresas)
Total no Brasil no exterior
Tecnologia de terceiros 3 3 1
Projeto básico 3 3 1
Projeto detalhado 5 4 1
Estudos de viabilidade 1 1 0
Testes e ensaios 5 5 0
Metrologia e normalização 1 1 0
Certificação de conformidade 4 4 0
Consultoria em Marketing 1 1 0
Consultoria gerencial 2 2 0
Consultoria em qualidade 2 2 0
Número de respondentes 6 6 2
3.4 Esforço Competitivo: Dispêndio nas variáveis/Faturamento
(%)
1987-89 1992
P & D 0,08 2,00
Engineering 0,03 1,00
Vendas 7,78 7,66
Assistência técnica 1,52 1,61
Treinamento de pessoal 0,02 0
3.5 Treinamento Sistemático
(nº de empresas)
Empresas que não realizam qualquer treinamento 1
Empresas que treinam 100% dos empregados na atividade:
Gerência 0
Profissionais técnicos 0
Trabalhadores qualificados 0
Operadores/ empregados 0
Número de respondentes 6
97
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3.6 Estrutura do Pessoal Ocupado em 1992
Distribuição
por atividade
Pessoal de nível
superior/total na
atividade
(%) (%)
P & D 0,73 75,00
Engenharia 1,22 61,90
Produção 53,33 2,15
Vendas 6,64 11,27
Assistência técnica 0,23 100,00
Manutenção 21,04 4,29
Administração 16,79 13,91
3.7 Idade de Produtos e Equipamentos
(nº de empresas)
até 5 anos 6 a 10 anos mais de 10
anos
total de
respondentes
Produto principal 0 2 5 7
Equipamento mais importante 2 1 4 7
3.8 Geração de Produtos e Equipamentos
(nº de empresas)
última penúltima anteriores não sabe total de
respondentes
Produto principal 2 0 1 1 4
Equipamento mais importante 2 3 0 1 6
3.9 Intensidade de Uso de Novas Tecnologias e Técnicas Organizacionais
(nº de empresas)
1987-89 1992
baixa média alta baixa média alta
Dispositivos microeletrônicos 4 3 0 3 1 3
Círculo de controle da qualidade 6 0 0 5 0 1
Controle estatístico de processo 5 0 1 3 1 2
Métodos de tempos e movimentos 6 0 0 5 1 0
Células de produção 6 0 0 5 1 0
Just in time interno 6 0 0 5 1 0
Just in time externo 6 0 0 5 1 0
Paticipação em just in time de clientes 6 0 0 4 2 0
Obs.: Para o uso de dispositivos microeletrônicos são consideradas empresas de baixa intensidade de uso
aquelas que os utilizam em até 10% das operações, média intensidade entre 11 e 50% e alta intensidade
acima de 50%. Para o uso de técnicas organizacionais são consideradas empresas de baixa intensidade
aquelas que envolvem até 10% do empregados ou das atividades, média intensidade entre 11 e 50% e alta
intensidade acima de 50%.
98
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3.10 Situação em Relação à ISO-9000
(nº de empresas)
Não conhece 0
Conhece e não pretende implantar 0
Realiza estudos visando a implantação 6
Recém iniciou a implantação 1
Está em fase adiantada de implantação 0
Já completou a implantação mas ainda não obteve certificado 0
Já obteve certificado 0
3.11 Controle de Qualidade na Produção
(nº de empresas)
1987-89 1992
Não realiza 0 0
Somente em produtos acabados 0 0
Em algumas etapas 1 0
Em etapas essenciais 1 2
Em todas as etapas 4 4
Número de respondentes 6 6
4. Estratégias
4.1Direção da Estratégia de Produto
(nº de empresas)
Direcionar exclusivamente para o mercado interno 5
Direcionar exclusivamente para o mercado externo 0
Direcionar para o mercado interno e externo 2
Número de respondentes 7
4.2 Estratégia de Produto
(nº de empresas)
mercado interno mercado externo
Baixo preço 2 0
Forte identificação com a marca 2 0
Pequeno prazo de entrega 2 0
Curto tempo de desenvolvimento de produtos 0 0
Elevada eficiência da assistência técnica 0 0
Elevado conteúdo/ sofisticação tecnológica 2 0
Elevada conformidade a especificações técnicas 4 0
Elevada durabilidade 0 0
Atendimento a especificações dos clientes 1 0
Não há estratégia definida 0 0
Número de respondentes 7 0
99
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4.3 Estratégia de Mercado Externo - Destino
(nº de empresas)
Mercosul 0
Outros países da América Latina 0
EUA e Canadá 0
CEE 0
Países do leste europeu 0
Japão 0
Não há estratégia definida 0
4.4 Motivação da Estratégia Atual
nº de empresas % de empresas
Retração do mercado interno 4 57.1
Avanço da abertura comercial no setor de produção da empresa 2 28.6
Avanço da abertura comercial nos setores compradores da empresa 0 0
Crescente dificuldade de acesso a mercados internacionais 1 14.3
Globalização dos mercados 2 28.6
Formação do Mercosul 2 28.6
Novas regulamentações públicas 1 14.3
Surgimento de novos produtos no mercado interno 1 14.3
Surgimento de novos produtores no mercado interno 2 28.6
Exigência dos consumidores 4 57.1
Elevação das tarifas de insumos básicos 5 71.4
Diretrizes dos programas governamentais 1 14.3
Número de respondentes 7 100.0
4.5 Estratégia de Compra de Insumos
(nº de empresas)
Menores preços 6
Menores prazos de entrega 1
Maior eficiência da assistência técnica 1
Maior conteúdo tecnológico 1
Maior conformidade às especificações técnicas 4
Maior durabilidade 1
Maior atendimento de especificações
particulares
0
Não há estratégia definida 0
Número de respondentes 7
4.6 Relações com Fornecedores
(nº de empresas)
Desenvolver programas conjuntos de P & D 1
Estabelecer cooperação para desenvolvimento de produtos e processos 2
Promover troca sistemática de informações sobre qualidade e desempenho dos produtos 2
Manter relacionamento comercial de LP com fornecedores fixos 4
Realizar compras de fornecedores certificados pela empresa 4
Realizar compras de fornecedores cadastrados pela empresa 4
Realizar compras de fornecedores que oferecem condições mais vantajosas a cada momento 3
Número de respondentes 7
100
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4.7 Estratégia de Financiamento dos Investimentos em Capital Fixo
(nº de empresas)
Recursos próprios gerados pela linha de produto 7
Recursos próprios gerados pelas outras áreas do grupo empresarial 3
Recorrer a crédito público 2
Recorrer a crédito privado interno 2
Recorrer a crédito externo 0
Recorrer a formas de associação 1
Captar recursos nos mercados internos de valores 1
Captar recursos nos mercados externos de valores 0
Não há estratégia definida 0
Número de respondentes 7
4.8 Estratégia de Gestão de Recursos Humanos
(nº de empresas)
Oferecer garantias de estabilidade 2
Adotar política de estabilidade sem garantias formais 3
Não adotar políticas de estabilização 2
Promover a rotatividade 0
Não há estratégia definida 0
Número de respondentes 7
4.9 Definição de Postos de Trabalho
(nº de empresas)
Definir postos de trabalho de forma estreita e rígida 0
Definir postos de trabalho de forma estreita mas incentivar os trabalhadores a
executarem tarefas fora da definição dada
2
Definir postos de trabalho de modo amplo visando alcançar polivalência 5
Não definir rigidamente os postos de trabalho de modo que a gama de tarefas varie
consideravelmente
0
Não há estratégia definida 0
Número de respondentes 7
4.10 Estratégia de Produção
(nº de empresas)
Reduzir custo de estoques 4
Reduzir consumo/ aumentar rendimento das matérias-primas 2
Reduzir consumo/ aumentar rendimento energético 6
Reduzir necessidades de mão-de-obra 3
Promover desgargalamentos produtivos 0
Reduzir emissão de poluentes 2
Não há estratégia definida 0
Número de respondentes 7
Livros Grátis
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Milhares de Livros para Download:
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