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IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP
Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PADCT
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE
DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
_____________________________________________________________________________________________
COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA DE
EQUIPAMENTOS PARA ENERGIA ELÉTRICA
Nota Técnica Setorial
do Complexo Metal-Mecânico
O conteúdo deste documento é de
exclusiva responsabilidade da equipe
técnica do Consórcio. Não representa a
opinião do Governo Federal.
Campinas, 1993
Documento elaborado pelo consultor Eduardo Strachman (NEIT/IE/UNICAMP).
A Comissão de Coordenação - formada por Luciano G. Coutinho (IE/UNICAMP), João Carlos Ferraz (IEI/UFRJ), Abílio dos Santos
(FDC) e Pedro da Motta Veiga (FUNCEX) - considera que o conteúdo deste documento está coerente com o Estudo da Competitividade da Indústria
Brasileira (ECIB), incorpora contribuições obtidas nos workshops e servirá como subsídio para as Notas Técnicas Finais de síntese do Estudo.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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CONSÓRCIO
Comissão de Coordenação
INSTITUTO DE ECONOMIA/UNICAMP
INSTITUTO DE ECONOMIA INDUSTRIAL/UFRJ
FUNDAÇÃO DOM CABRAL
FUNDAÇÃO CENTRO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO EXTERIOR
Instituições Associadas
SCIENCE POLICY RESEARCH UNIT - SPRU/SUSSEX UNIVERSITY
INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL - IEDI
NÚCLEO DE POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA - NACIT/UFBA
DEPARTAMENTO DE POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA - IG/UNICAMP
INSTITUTO EQUATORIAL DE CULTURA CONTEMPORÂNEA
Instituições Subcontratadas
INSTITUTO BRASILEIRO DE OPINIÃO PÚBLICA E ESTATÍSTICA - IBOPE
ERNST & YOUNG, SOTEC
COOPERS & LYBRANDS BIEDERMANN, BORDASCH
Instituição Gestora
FUNDAÇÃO ECONOMIA DE CAMPINAS - FECAMP
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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EQUIPE DE COORDENAÇÃO TÉCNICA
Coordenação Geral: Luciano G. Coutinho (UNICAMP-IE)
João Carlos Ferraz (UFRJ-IEI)
Coordenação Internacional: José Eduardo Cassiolato (SPRU)
Coordenação Executiva: Ana Lucia Gonçalves da Silva (UNICAMP-IE)
Maria Carolina Capistrano (UFRJ-IEI)
Coord. Análise dos Fatores Sistêmicos: Mario Luiz Possas (UNICAMP-IE)
Apoio Coord. Anál. Fatores Sistêmicos: Mariano F. Laplane (UNICAMP-IE)
João E. M. P. Furtado (UNESP; UNICAMP-IE)
Coordenação Análise da Indústria: Lia Haguenauer (UFRJ-IEI)
David Kupfer (UFRJ-IEI)
Apoio Coord. Análise da Indústria: Anibal Wanderley (UFRJ-IEI)
Coordenação de Eventos: Gianna Sagázio (FDC)
Contratado por:
Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP
Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PADCT
COMISSÃO DE SUPERVISÃO
O Estudo foi supervisionado por uma Comissão formada por:
João Camilo Penna - Presidente Júlio Fusaro Mourão (BNDES)
Lourival Carmo Monaco (FINEP) - Vice-Presidente Lauro Fiúza Júnior (CIC)
Afonso Carlos Corrêa Fleury (USP) Mauro Marcondes Rodrigues (BNDES)
Aílton Barcelos Fernandes (MICT) Nelson Back (UFSC)
Aldo Sani (RIOCELL) Oskar Klingl (MCT)
Antonio dos Santos Maciel Neto (MICT) Paulo Bastos Tigre (UFRJ)
Eduardo Gondin de Vasconcellos (USP) Paulo Diedrichsen Villares (VILLARES)
Frederico Reis de Araújo (MCT) Paulo de Tarso Paixão (DIEESE)
Guilherme Emrich (BIOBRAS) Renato Kasinsky (COFAP)
José Paulo Silveira (MCT) Wilson Suzigan (UNICAMP)
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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SUMÁRIO
RESUMO EXECUTIVO............................................................................................................1
APRESENTAÇÃO...................................................................................................................21
1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS DA INDÚSTRIA DE BENS DE CAPITAL SOB
ENCOMENDA PARA O SETOR ELÉTRICO ....................................................................23
1.1. Características Estruturais..............................................................................................23
1.2. Tendências Tecnológicas ...............................................................................................26
1.3. Estratégias Empresariais ................................................................................................28
1.4. Principais Fatores de Concorrência ................................................................................31
1.4.1. Fatores internos às empresas................................................................................31
1.4.2. Fatores estruturais................................................................................................34
1.4.3. Fatores sistêmicos................................................................................................35
2. COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE BENS DE CAPITAL
SOB ENCOMENDA PARA O SETOR ELÉTRICO............................................................37
2.1. Diagnóstico da Competitividade da IBSE.......................................................................37
2.1.1. Características estruturais.....................................................................................37
2.1.2. Desempenho da indústria .....................................................................................40
2.1.3. Capacitação.........................................................................................................51
2.2. Oportunidades e Obstáculos à Competitividade..............................................................61
2.2.1. Fatores internos às empresas................................................................................61
2.2.2. Fatores estruturais................................................................................................63
2.2.3. Fatores sistêmicos................................................................................................66
3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS PARA A INDÚSTRIA BRASILEIRA DE BENS DE
CAPITAL SOB ENCOMENDA PARA O SETOR ELÉTRICO...........................................74
3.1. Políticas de Reestruturação Setorial...............................................................................74
3.2. Políticas de Modernização Produtiva .............................................................................76
3.3. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos................................................................77
4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE.........................................................................82
BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................85
RELAÇÃO DE TABELAS, QUADROS E GRÁFICOS ...........................................................89
RELAÇÃO DE SIGLAS...........................................................................................................90
ANEXO: PESQUISA DE CAMPO - ESTATÍSTICAS BÁSICAS PARA O SETOR................93
1
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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RESUMO EXECUTIVO
1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS DA COMPETITIVIDADE NA INDÚSTRIA DE
BENS DE CAPITAL SOB ENCOMENDA PARA O SETOR ELÉTRICO1
1.1. Característica Estruturais da Indústria
A indústria internacional de Bens de Capital sob Encomenda para o Setor Elétrico (IISE)
sempre apresentou forte tendência à concentração econômica. Na atualidade, a indústria é
dominada por seis empresas, sendo três européias
__
GEC Alsthom, Siemens e ABB
__
e três
japonesas
__
Hitachi, Mitsubishi e Toshiba. Destaque-se que há outros fabricantes líderes
mundiais em Bens de Capital sob Encomenda para o Setor Elétrico (BCESE), que não produzem,
contudo, linhas completas destes equipamentos. A G.E. e a Westinghouse produzem
equipamentos para energia nuclear, além de turbogeradores a vapor e a gás e de aparelhos de
controle e supervisão
__
dentro da tendência dos dois grupos de atuarem somente nos segmentos
de tecnologia de ponta; a francesa Merlin Gerin é um dos maiores fabricantes do mundo de
aparelhos de interrupção de linhas elétricas, além de produzir transformadores de potência na
França; e a AEG, agora fazendo parte do Grupo Daimler Benz, que produz uma vasta gama de
equipamentos para o setor elétrico. Existe ainda um grande número de fabricantes de
transformadores de potência e de turbinas a vapor, além dos grandes produtores nacionais de
BCESE, como a Dae Woo e a Hyundai, da Coréia, e a BHEL, da Índia.
A principal razão para a elevada concentração da indústria, acelerada nos últimos cinco
anos, é a integração regional que vem ocorrendo nos principais mercados mundiais. Mencione-se
também o drástico arrefecimento nas taxas de crescimento do consumo de eletricidade após os
choques do petróleo e em conseqüência do aumento da preocupação com o meio-ambiente, além
das escalas crescentes dos equipamentos, o que faz com que se diminua a quantidade de BCESE
necessários para gerar/transmitir uma mesma potência.
Outra característica que pode, em parte, ser deduzida das especificidades tecnológicas da
indústria de BCESE, é o padrão de diversificação das empresas, que se dá, predominantemente,
de forma concêntrica, ou seja, em direção a atividades tecnologicamente relacionadas: eletrônica,
equipamentos eletrônicos, equipamentos médicos, robôs, além de equipamentos ferroviários,
lâmpadas e eletrodomésticos. Assim, observa-se que a produção de equipamentos para o setor
1 Dada a grande diversidade de equipamentos utilizados pelo setor elétrico este estudo enfoca, basicamente, os
quatro principais equipamentos (em valor da produção) quais sejam: turbinas, geradores, transformadores de
potência e disjuntores.
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elétrico nas empresas líderes é, há tempos, minoritária, tal a intensidade assumida pelo processo de
diversificação ao longo dos anos. Os principais grupos internacionais da IISE auferem somente de
20 a 25%, ou em alguns casos menos, de suas receitas através da venda de equipamentos
elétricos. A grande exceção é a ABB, que em 1991 tinha uma participação de 44% das vendas de
equipamentos para geração, transmissão e distribuição de energia elétrica nas suas vendas totais.
Apesar de lidar com tecnologias altamente sofisticadas, a indústria de BCESE já atingiu
elevado grau de maturidade, sendo pequenas as possibilidades de mudanças radicais nos próximos
anos. Isto ocorre, principalmente, com relação a geradores, turbinas hidráulicas (as a vapor e,
principalmente, as a gás, são tecnologicamente mais dinâmicas) e transformadores de potência.
Por essa razão, grande parte dos esforços tecnológicos são dirigidos para as inovações de
processo, a não ser no caso dos fabricantes líderes de disjuntores que, por esses equipamentos
encontrarem-se numa fase tecnologicamente muito mais dinâmica, dirigem, ainda, a maior parte de
seus esforços às inovações de produtos.
Com relação às tendências tecnológicas para os vários equipamentos, cabe observar que os
geradores e turbinas, além de tenderem continuamente ao aumento de suas potências, possuem
uma inclinação rumo ao uso de materiais mais leves e resistentes e, no caso dos geradores, com
índices menores de resistência elétrica. Ressalte-se, também, a tendência à utilização de
componentes eletrônicos cada vez mais sofisticados nos reguladores de velocidade das turbinas e
nas excitatrizes dos geradores. Com relação aos transformadores de potência, o principal
desenvolvimento ocorrido nos últimos anos, mas que se encontra ainda em uma fase praticamente
experimental, refere-se aos metais amorfos, que permitem uma redução de 40 a 70% nas perdas
elétricas que ocorrem nos núcleos dos transformadores, além de apresentarem maiores resistência
mecânica, dureza, resistência à corrosão e capacidade de rápida magnetização/desmagnetização.
Quanto aos disjuntores, deve-se apontar a firme tendência, já há alguns anos, para o uso
do gás SF
6
como meio de interrupção do arco elétrico. Mesmo entre os disjuntores a SF
6
, surgiu,
há cerca de três anos, uma inovação tecnológica que, sem dúvida, está se tornando obrigatória nos
novos equipamentos, qual seja, o uso da energia do próprio arco elétrico para a sua interrupção.
Uma última tendência no que se refere aos disjuntores diz respeito à utilização de comandos
mecânicos, visto que suas menores dimensões representam uma diminuição de 50% no seu custo
(que, por sua vez, representa 30% do custo total de um disjuntor completo).
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1.2. Estratégias Empresariais
Uma das principais estratégias seguidas pelos grandes grupos da IISE tem sido a aquisição
de plantas/empresas em vários países, visando contornar barreiras protecionistas nacionais ou
regionais e aproveitar os baixos salários que são pagos em alguns destes países.
A esta estratégia, soma-se a realização de joint-ventures entre os principais fabricantes
mundiais, a fim de solucionar duas questões estruturais: 1) racionalizar os gastos em P & D e
acrescer os recursos tecnológicos disponíveis para as várias empresas, pois muitas vezes estes
acordos incluem o compartilhamento das tecnologias; e 2) a busca de racionalização das
capacidades produtivas dos vários fabricantes, o que se dá principalmente para os segmentos com
estagnação de demanda, como é o caso da energia nuclear.
Exemplos são encontrados nas fusões entre a ASEA e a BBC que deu origem à ABB, e
entre a GEC e a CGE Alsthom, assim como, posteriormente, a aquisição da Combustion
Engineering americana, da Ansaldo italiana, da Bergmann Borsig (da ex-Alemanha Oriental), da
parte de transmissão de eletricidade da Westinghouse americana, da parte de turbinas a vapor da
AEG, da Zamech da Polônia, entre outras, pela ABB. Esta empresa, desde sua fusão, em 1987,
até julho de 1990, adquiriu 60 empresas, no valor de US$ 3,6 bilhões, havendo constituído, até
fins de 1991, 21 joint-ventures no leste europeu e na atual CEI, mantendo, ainda, outras 69
empresas em vista.
Outras empresas, como a Siemens - que adquiriu um dos principais fabricantes europeus, a
Skoda da Tchecoslováquia -, seguiram na mesma direção, comprando importantes fabricantes do
leste europeu ou constituindo joint-ventures com estes, além das aquisições que realizou na
Europa Ocidental e nos EUA.
Outro elemento sempre presente nas estratégias das empresas líderes é a diversificação
rumo a outras indústrias, em razão da elevada instabilidade da demanda de BCESE - além de um
melhor aproveitamento de capacidades tecnológicas, de marketing, financeiras, etc., em outras
indústrias.
1.3. Fatores Determinantes da Competitividade Internacional
. Fatores internos às empresas
Dentre os fatores internos às empresas, o mais importante é a qualidade dos equipamentos,
entendida como o nível de confiança de que o fabricante atenderá plenamente às especificações
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desejadas. Como a qualidade dos BCESE só é totalmente conhecida posteriormente a uma
concorrência ou encomenda, uma empresa que demonstre maior experiência, qualidade e
confiabilidade dos seus produtos tem uma importante vantagem sobre os seus concorrentes, o que
faz com que as marcas também se constituam em importantes fatores de competitividade.
Quanto à assistência técnica (manutenção, reparação, treinamento para utilizar os
equipamentos adquiridos, redes de vendas, etc.), esta é sempre considerada como um dos fatores
de sucesso competitivo, mas de modo muito menos decisivo do que os aspectos ligados à
qualidade dos equipamentos. Deve ser mencionada ainda a importância da assistência técnica pré-
vendas, que é feita sob a forma de estudos técnicos (sugestões, desenhos e análises preliminares),
realizados sempre gratuitamente para os clientes em potencial.
Já os preços desempenham papel menos determinante como fator de sucesso competitivo.
Destaque-se que nos preços finais de fornecimento estão sempre incluídas as condições de
financiamento.
Um último fator a ser considerado são os prazos de fornecimento, que somente ganham
maior importância nos casos de reposição de equipamentos ligados à transmissão de eletricidade -
em que toda uma linha de transmissão e sua qualidade pode depender da entrega destes
equipamentos -, ou no caso da recuperação de equipamentos destinados à geração de eletricidade.
. Fatores estruturais
As economias de escala, nas suas mais diversas possibilidades (técnicas, financeiras, de
marketing, produtivas, de gastos em P & D, etc.), constituem o principal fator estrutural da
competitividade na IISE.
Para a absorção dessas economias de escala é importante a existência de um mercado
nacional de grandes proporções entre outras razões, porque:
. possibilita aos fabricantes arcarem com os elevados custos de permanência na indústria,
principalmente em épocas de vendas reduzidas, já que é praticamente impossível sobreviver por
longos períodos somente por meio de exportações;
. permite o aproveitamento de vantagens locacionais e das sinergias propiciadas pela
existência de estruturas industriais mais completas
__
destaque-se o efeito positivo das ligações
fabricantes-usuários no desenvolvimento de capacitação produtiva e tecnológica
__
, assim como
das políticas de compras e de proteção implementadas pelos governos nacionais.
No que concerne à diversificação dentro da indústria de BCESE, contam muito as
vantagens de marketing que a empresa pode ter com o fornecimento de linhas mais completa de
5
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equipamentos. Além do mais, isto as torna menos vulneráveis a flutuações na demanda dentro da
própria indústria de BCESE e proporciona grandes vantagens na competição por serviços de
plantas de energia completas (plantas turn-key) e na relação com fornecedores (principalmente em
decorrência do grande volume total de encomendas).
Com relação à diversificação das empresas da IISE rumo a outras indústrias, as razões que
as levam a isto, como vimos, é a procura de maior regularidade das receitas globais - dada a
elevada instabilidade da demanda da indústria de BCESE - além de um melhor aproveitamento de
capacidades tecnológicas, de marketing, financeiras, etc. em outras áreas de atuação.
. Fatores sistêmicos
Deve-se apontar a importância crucial das políticas industriais nacionais como fator
sistêmico determinante do sucesso competitivo na IISE. Estas políticas são efetivadas,
principalmente, através dos financiamentos às exportações e ao mercado interno - entre outros
incentivos financeiros -, de medidas de natureza fiscal, além da proteção aos mercados domésticos
e do uso do poder de compras público e privado.
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2. COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE BENS DE CAPITAL SOB
ENCOMENDA PARA O SETOR ELÉTRICO
2.1. Diagnóstico da Competitividade da IBSE
2.1.1. Desempenho
A Indústria Brasileira de Bens de Capital sob Encomenda para o Setor Elétrico (IBSE)
caracteriza-se por excessiva pulverização, se considerado o número de fabricantes existente nos
países líderes. O Brasil possui atualmente quatro grandes fabricantes de turbinas: Villares,
Mecânica Pesada, Voith e Coemsa-Ansaldo, quando - segundo entrevista realizada na Associação
Brasileira para o Desenvolvimento das Indústrias de Base (ABDIB) - o seu mercado não
comportaria mais do que dois; possui também quatro grandes fabricantes de geradores: Villares,
Coemsa-Ansaldo, Siemens e ABB, sendo que
__
também de acordo com a ABDIB
__
seu
mercado não admitiria mais do que três. Situação semelhante ocorre para transformadores de
potência
__
mesmo levando-se em conta a existência de uma certa divisão de mercado entre os
fabricantes de acordo com a potência dos equipamentos
__
e para os disjuntores.
Após 1987 ocorreu um declínio constante na produção da IBSE, o qual acentuou-se ainda
mais em 1990 e 1991. Em 1992, apesar do crescimento das exportações, os níveis de vendas de
1991 praticamente se repetiram. Devido à forte contração da demanda, em fins desse ano a
ociosidade média da IBSE se situava entre 40 e 50%. Mesmo o segmento produtor de
transformadores de potência, o mais bem-sucedido da IBSE em termos de exportações - o que lhe
permitiu escapar parcialmente da crise -, se encontrava, ao final de 1992, com uma capacidade
ociosa média de 40%, contra 70% para hidrogeradores e de 50 a 60% para os fabricantes de
disjuntores.
As exportações de transformadores de potência, o segmento mais competitivo desta
indústria, atingiram cerca de US$ 5 milhões em 1988 e 1989, US$ 8 milhões em 1990 e US$ 25
milhões em 1991. Segundo estimativas recentes, as exportações ultrapassaram os US$ 50 milhões,
em 1992. O melhor desempenho desse segmento decorre do elevado tamanho do mercado
internacional, dos elevados investimentos realizados pelos fabricantes brasileiros
__
o que as
tornou relativamente atualizadas com relação aos padrões internacionais
__
e, principalmente,
assim como se dá com outros equipamentos, dos menores salários pagos no país. Este segmento é
seguido pelo de turbinas, principalmente as hidráulicas
__
que corresponderam a 73,3% das
exportações de turbinas de grande porte e de suas partes, contra apenas 27,5% de suas
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importações2
__
, e pelo de hidrogeradores. Segundo a ABINEE, principalmente nos segmentos
de transformadores de potência, hidrogeradores e turbinas hidráulicas, o Brasil possui capacidade
de exportação, inclusive para os mercados das matrizes das empresas transnacionais instaladas no
país.
Os principais mercados para os BCESE brasileiros localizam-se nos países em
desenvolvimento, como os da África e da América Latina, que representam os maiores riscos de
inadimplemento, e os dos EUA. Isto porque os mercados dos países desenvolvidos, à exceção dos
EUA, são dominados por suas empresas líderes. O mercado norte-americano, contudo, é
disputado ferozmente por várias empresas internacionais que, as vezes, cerceiam as exportações
de suas filiais brasileiras. A concorrência pelas encomendas dos países do Oriente Médio,
considerados de 1ª linha pelos fabricantes internacionais, devido à elevada magnitude das compras
e ao pagamento pontual dos débitos, é bastante acirrada, o que faz com que as margens de lucro
para exportações para estes países sejam bastante reduzidas.
Um fator fundamental para a competitividade da IBSE é o menor custo de seus produtos,
a despeito da menor produtividade das empresas brasileiras. Esta produtividade também é menor
na área de projetos, em conseqüência da menor utilização de sistemas de Computer Aided Design
(CAD). Assim, este diferencial de custo, tanto para projetos quanto para produtos, é alcançado
muito em função dos menores salários dos projetistas, engenheiros e trabalhadores brasileiros,
quando comparados aos recebidos nos países concorrentes. Merece ser destacado que o CAD não
proporciona somente vantagens de custo, mas também melhorias no que se refere a prazos de
produção, qualidade e precisão dos produtos, que são, inclusive, mais relevantes do que os
diferenciais de custo.
Com relação aos insumos utilizados pela IBSE, nos últimos 5 anos observou-se uma
redução dos custos dos BCESE produzidos no país de cerca de 30 a 40%, em média, como
conseqüência do aperfeiçoamento do processo de compras de insumos, da redução dos defeitos
por eles apresentados e da adequação dos projetos dos equipamentos fabricados e dos insumos
utilizados. Esses números mostram que as estratégias atuais de modernização seguidas, de modo
geral, pelas empresas da IBSE e por seus fornecedores
__
de direcionar seus poucos
investimentos para a modernização e o controle de qualidade
__
, têm-se mostrado bastante
eficientes, pelo menos no curto prazo e frente à escassez de recursos e de perspectivas mais
favoráveis para esta indústria. Isto é confirmado, também, pelo crescimento da margem média de
lucro das exportações nos últimos anos.
2 Isto se deve, fundamentalmente, ao fato de que mais de 90% da eletricidade gerada no país tem origem em
energia hidráulica, o que proporciona uma grande experiência e tradição na fabricação de equipamentos para esta
fonte de energia.
8
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Estes aspectos ressaltariam, segundo a ABINEE, as diferenças entre os ajustes feitos em
decorrência da recessão do início dos anos 80 e os efetuados em conseqüência da atual. Isto
porque enquanto os primeiros foram centrados na diminuição do número de funcionários, agora,
provavelmente devido à sua maior violência e à percepção dos empresários do seu caráter
estrutural, além da redução de pessoal, investiu-se pesadamente em qualidade. Assim, procurou-se
adaptar os produtos e processos a normas de controle de qualidade da série ISO 9000, ou ainda a
normas técnicas mais rígidas. Buscou-se, também, desverticalizar a produção, "terceirizando" o
fornecimento de insumos, além de procurar reduzir prazos de fornecimento e custos de estoques
através da implantação, quando possível, de sistemas just in time.
No que tange a vários dos insumos utilizados pela IBSE, o Brasil se encontra numa
posição altamente competitiva, como sucede com relação aos fabricantes de medidores,
conversores estáticos, capacitores, quadros elétricos e isoladores de porcelana e de vidro. Tal
fato, certamente, se constitui numa vantagem competitiva da IBSE, não somente pelo lado dos
custos, mas também do ponto de vista das facilidades de projeto, de aprendizado tecnológico
conjunto entre fornecedores e demandantes, e da troca de informações técnicas e de
especificações entre estes.
No entanto, verifica-se uma importação excessiva de peças, partes e componentes pelas
empresas que adquirem tecnologia do exterior, principalmente as filiais dos licenciadores. Em
geral, as partes importadas são justamente as mais sofisticadas e de maior valor agregado, o que é
exemplificado pelas importações de reguladores de velocidade para turbinas hidráulicas. O mesmo
ocorre com relação aos componentes eletrônicos dos sistemas de excitação (excitatrizes) dos
geradores, que chegam a corresponder a 10% do valor de um hidrogerador, e com relação às
partes principais dos disjuntores. Com relação a esses últimos, à exceção da Merlin Gerin,
atualmente todas as empresas vêm quase que apenas montando disjuntores no país. Isto tem
ocorrido apesar da redução dos preços dos insumos nacionais nos últimos anos - os quais estão
muito mais próximos aos dos concorrentes estrangeiros - e da elevada qualidade destes, a qual em
alguns casos ultrapassa a dos seus congêneres estrangeiros.
2.1.2. Capacitação
De um modo geral, na IBSE como um todo não há, praticamente, defasagens tecnológicas
com relação a produtos e processos, quando se a compara com o exterior; o mesmo já não ocorre
com relação à área de projeto. Também a capacitação gerencial das empresas brasileiras parece
ser comparável à das suas congêneres estrangeiras.
Uma característica comum às empresas multinacionais e nacionais da IBSE é o recurso ao
fornecimento externo de tecnologia como fator de competitividade, uma vez que o acesso a esta
9
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tecnologia e às marcas dos seus fornecedores garantem uma maior qualidade para os seus
equipamentos.
Contudo, as empresas instaladas no país não intencionam (ou pelo menos não possuem
meios para tal) o desenvolvimento próprio da base tecnológica por elas utilizada. De fato, a
capacitação em produção e processo das empresas líderes da IBSE não se faz acompanhar de
esforços mais significativos de P & D, mesmo nos casos de sucesso no mercado internacional
(transformadores de potência, e, em menor grau, turbinas hidráulicas e hidrogeradores). Isto é
evidenciado pelo fato de que as empresas instaladas no país necessitam, em muitos casos, de
auxílio, às vezes significativos, de suas matrizes ou dos fornecedores de tecnologia, para
efetuarem seus projetos (como no caso das turbinas hidráulicas) e/ou para atualizarem a
tecnologia dos produtos fabricados e dos processos utilizados. Nos casos de atualização
tecnológica, as empresas brasileiras assumem uma posição eminentemente passiva com relação
aos desemvolvimentos realizados no exterior.
Com relação aos BCESE destacados neste estudo, a principal defasagem com relação a
processos se encontra na fabricação de disjuntores, pois a montagem e os testes destes
equipamentos nos principais países fabricantes são feitos praticamente em série, o que não ocorre
no Brasil. Os demais fabricantes de equipamentos se encontram menos defasados com relação a
processos, visto que nestes as best-practices envolvem menor grau de automação. Neste sentido,
os fabricantes mais atualizados com relação a processos são os de transformadores de potência,
devido ao fato de que a escassez de encomendas para o mercado interno tem sido compensada
pelos maiores índices de exportação
__
estes, ao garantirem níveis maiores de ocupação de
capacidade instalada, têm propiciado ritmo mais acelerado de investimentos em modernização.
Com relação à capacitação em projeto, pode-se afirmar com segurança que as empresas
dos setores priorizados neste estudo têm plena capacidade e autonomia na realização de projetos
para os BCESE. Isto é atestado pelo fato de que grande parte do projeto das turbinas hidráulicas e
hidrogeradores utilizados em Itaipu, equipamentos que são ainda os maiores do mundo para
hidroelétricas, foram realizados, no Brasil, por empresas como a Siemens, ABB, Villares, Voith e
Mecânica Pesada. Ao mesmo tempo, até recentemente, a Merlin Gerin brasileira era o maior
fabricante do mundo de disjuntores de 800 kV, utilizados em linhas de transmissão que estão entre
as de maior tensão no mundo. Entretanto, os fabricantes de turbinas hidráulicas no Brasil não
realizam o projeto básico destes equipamentos, devido à inexistência de laboratórios de hidráulica
no país.
Não se deve deixar de mencionar a sub-utilização que se faz do Centro de Pesquisas de
Energia Elétrica (CEPEL) da ELETROBRÁS, que deveria ser melhor utilizado, tanto para
absorção de tecnologias já desenvolvidas quanto para o desenvolvimento de novas tecnologias,
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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para depois repassá-las às concessionárias de energia elétrica e às empresas da IBSE. Este Centro
já executa estes dois tipos de pesquisas, além de realizar testes e participar da normalização de
BCESE, mas vem atuando aquém de suas possibilidades, tanto em decorrência da falta de
recursos quanto do apoio limitado que tem recebido do setor produtivo e do próprio governo.
2.2. Oportunidades e Obstáculos à Competitividade da IBSE
. Fatores internos às empresas
Grande parte das vantagens da IBSE são internas às suas empresas, como se dá, por
exemplo, com relação à capacitação para a produção e o projeto dos equipamentos fabricados. Já
outros fatores empresariais se mostram atualmente como obstáculos à sua competitividade, como
é o caso da falta de atualização das instalações fabris e do maquinário utilizado, apesar desta
defasagem não ser muito significativa. Em um segmento em especial, o de transformadores de
potência, ela é bastante reduzida, havendo empresas que se colocam entre as mais modernas do
mundo. Já a imagem das empresas instaladas no país constitui-se em uma vantagem, pois estas
produziram alguns projetos e equipamentos reconhecidos como de grande qualidade em todo o
mundo, além de participarem crescentemente dos mercados internacionais.
. Fatores estruturais
A principal característica estrutural que se destaca na IBSE é a sua excessiva pulverização,
que contribui para o reduzido nível de ocupação de capacidade em várias das plantas brasileiras e
para o conseqüente não aproveitamento dos vários tipos de economias de escalas possíveis.
Quanto à verticalização, há uma tendência atual rumo à sua diminuição, enquanto no tocante à
diversificação, há um viés rumo à diminuição dos segmentos de mercado de atuação dos
fabricantes, ao mesmo tempo em que há uma tendência para o aumento da diversificação dentro
de cada segmento de mercado. A primeira tendência visa a diminuição do custo geral destas
empresas, pela saída de linhas não rentáveis, enquanto que a segunda procura tornar as empresas
mais competitivas nos segmentos nos quais atuam.
Destaque-se que a infra-estrutura constituída pelos fornecedores de insumos representa
uma vantagem comparativa importante para a IBSE. Isso não tem impedido, no entanto, o
crescimento das importações de peças, partes e componentes, concentradas justamente nas mais
sofisticadas e de maior valor agregado.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
. Fatores sistêmicos
A grande maioria dos fatores sistêmicos no Brasil se constitui em obstáculos à
competitividade da IBSE, com exceção dos salários, que ainda significam a maior vantagem
comparativa desta indústria. Entre estes fatores, pode-se destacar os custos e a ineficiência
portuária - que podem onerar o preço de um insumo importado em até 5%, além de algumas
vezes danificarem o material recebido - e os problemas alfandegários - que contribuem para
alongar os prazos de liberação de insumos importados.
Deve-se sublinhar também os impactos da política macroeconômica sobre as compras de
BCESE. Assim, por exemplo, a política fiscal faz com que os impostos indiretos, que são pagos
sobre os insumos e que são contabilizados como créditos destes impostos para as exportações de
BK, somente sejam devolvidos alguns meses depois e sem correção monetária aos fabricantes de
BCESE, pois estes bens estão atualmente isentos destes impostos.
Um outro obstáculo, de natureza legal, de grande importância para concorrências para
fornecimentos para o país, é a não permissão aos fabricantes nacionais de ofertarem com preços
denominados em moeda estrangeira. Deve-se mencionar também a inadequação ou, por vezes,
inexistência de financiamentos, tanto para exportações quanto para o mercado interno. A isto se
conjuga a falta de seguros de crédito para uma grande parte dos financiamentos a estas
exportações, e a dificuldade para se obter, em condições favoráveis, seguros para os próprios
equipamentos exportados. Todavia, uma solução para estes problemas, que merece ser destacada,
são os Convênios de Créditos Recíprocos (CCR), assinados no âmbito da ALADI, e que
possibilitam a realização de compensações entre as exportações dos vários países deles
participantes.
Já no tocante ao mercado nacional, os financiamentos à aquisição de BCESE praticamente
não existem, pois não se concede crédito à maior parte das concessionárias de eletricidade, devido
ao sobre-endividamento dessas empresas. Quanto às políticas de proteção, estas têm sido
inadequadas, dado o elevado volume de importações em relação à capacitação tecnológica e à
competitividade dos fabricantes brasileiros no que se refere à maior parte dos BCESE.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS
3.1. Políticas de Reestruturação Setorial
A IBSE encontra-se excessivamente pulverizada, não usufruindo das economias de escala
e apresenta, atualmente, elevados níveis de ociosidade. A estratégia recente das empresas de atuar
em um número menor de segmentos do mercado, combinada com a diversificação de produtos em
cada segmento, deve ser continuada para que as empresas consigam obter economias de escala e
de escopo.
Mesmo assim, a redução do número de fabricantes de um mesma família de equipamentos
existentes na IBSE pode fortalecer a sua competitividade. Esta proposta de redução do número de
fabricantes deve ser efetuada através de incentivos creditícios - conforme previsto no PCI -, ou
mesmo de incentivos fiscais e utilização do poder de compra estatal. Portanto, a atuação
governamental é importante não apenas por gerar demanda para o setor, mas também como meio
de reestruturação setorial.
Para acelerar o processo de desverticalização, o governo poderia conceder linhas de
crédito favorecidas para a maior capacitação técnica e produtiva dos fornecedores. Com o mesmo
objetivo, devem ser realizados programas de treinamento e aperfeiçoamento técnico de
fornecedores e de subfornecedores.
Finalmente, cabe promover o fortalecimento da infra-estrutura tecnológica setorial. Devem
ser ampliados os recursos financeiros destinados ao CEPEL, que cumpre importante função no
desenvolvimento e transferência de tecnologia. O CEPEL deve contar com recursos suficientes
também para ampliar os testes e os serviços de normalização que efetua para a ELETROBRÁS,
para as concessionárias de energia elétrica e para o setor industrial. De modo a permitir a
ampliação da capacitação da indústria na área de projeto básico é necessária a instalação de um
laboratório de hidráulica, através de investimentos compartilhados pelas empresas interessadas,
com apoio da FINEP.
3.2. Políticas de Modernização Produtiva
Um primeiro conjunto de políticas destinadas à modernização das empresas, refere-se à
capacitação empresarial para a produção e projeto dos vários equipamentos. Desta forma, as
empresas devem ampliar seus investimentos em equipamentos para a área de projeto e para o
processo de produção. Devem também ampliar os seus gastos com treinamento e qualificação de
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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mão-de-obra e com a modernização gerencial (implantação de sistemas de qualidade e de
compras). Para envolver e estimular os trabalhadores nesta nova perspectiva, devem ser adotadas
políticas de recursos humanos que concedam incentivos ao aumento da produtividade e ao
aperfeiçoamento técnico dos funcionários.
O governo federal e o poder legislativo devem atuar incentivando o setor privado a
realizar investimentos. Para tanto, devem ser mantidas e ampliadas as políticas de isenção fiscal
para máquinas e equipamentos. Com o mesmo objetivo, deve ser mantida a política de concessão
de depreciação acelerada, para efeitos de imposto de renda, aos investimentos realizados em
máquinas e equipamentos.
Também deve-se conceder financiamento aos investimentos, através do Sistema BNDES.
Atualmente, há necessidade de maior disponibilidade de crédito e melhores condições de
financiamento. Estas condições poderiam ser tanto mais favoráveis quanto mais relevantes fossem
os investimentos em ampliação e modernização das empresas.
Ainda em relação à capacitação das empresas, deve-se continuar, na medida do possível,
recorrendo ao licenciamento externo de tecnologia. Porém, esta estratégia deve estar combinada
com esforços internos de desenvolvimento de produtos. No tocante aos turbogeradores, os
fabricantes destes equipamentos no país necessitam investir em capacitação tecnológica e de
fabricação. Para isto é necessário, além da efetivação dos projetos de investimentos da
ELETROBRÁS e das concessionárias de energia elétrica, recorrer a incentivos creditícios e/ou
fiscais às atividades tecnológicas realizadas pelas empresas e facilitar a compra de tecnologia no
exterior. Para turbogeradores, e mesmo outros equipamentos para termoelétricas, os índices de
nacionalização devem ser aumentados.
Para ampliar o coeficiente de exportação do setor, as empresas, pelo menos aquelas que
não têm plantas ou escritórios de vendas no exterior, devem investir na abertura de escritórios de
vendas e de assistência técnica, ou apenas de representação. Esta iniciativa poderia ser tomada por
empresas isoladas ou por conjuntos de empresas, constituindo-se, nesses casos, consórcios para
atuação no mercado exterior. O governo federal deve incrementar o uso da área comercial de suas
representações diplomáticas para a coleta de informações sobre oportunidades de negócios para a
indústria nacional e concessão de apoio comercial.
3.3. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos
A política de financiamento é estratégica para toda a indústria de bens de capital, em
especial para os bens sob encomenda. As condições de financiamento podem reduzir o preço final
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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de fornecimento de um equipamento e decidir uma concorrência. Desta forma, para incrementar o
seu acesso ao mercado externo, o setor necessita de financiamento em condições de custos e
prazos competitivas internacionalmente. Também é importante que sejam concedidos seguros às
exportações e aos créditos de exportação, cobrando-se a taxa de risco adequada. Outra
possibilidade seria a extensão dos Convênios de Créditos Recíprocos (CCR) a um maior número
de países, mesmo não pertencentes à América Latina, ou a criação de mecanismos semelhantes de
compensação das exportações entre países que não façam parte dos CCR.
No que se refere aos financiamentos ao mercado nacional, é imperioso que se solucione os
problemas financeiros das empresas estatais de energia elétrica, pelo menos aquelas que possuem
gestões eficientes, como condição essencial para que estas voltem a receber créditos para seus
investimentos, inclusive em equipamentos. Estes financiamentos deverão ser efetuados pela
FINAME.
Em relação à estrutura tributária, as máquinas e equipamentos não devem ser tributados.
Atualmente, uma das maiores distorções tributárias se refere ao crédito fiscal que as empresas do
setor têm direito. A devolução do crédito fiscal somente é realizada com grande defasagem
temporal em relação ao pagamento dos respectivos impostos que incidem sobre os insumos.
Numa conjuntura inflacionária, o crédito se desvaloriza rapidamente. Portanto, o crédito deve ser
devolvido imediatamente ou, então, deve ser corrigido monetariamente. A primeira opção é
melhor por não ter implicações sobre o capital de giro das empresas, sobretudo neste setor onde
são longos os períodos de produção.
Assim como acontece em outros países fabricantes de bens de capital sob encomenda para
o setor elétrico, a indústria deve ser protegida das importações. Um dos pontos mais importantes
é a implementação de uma política anti-dumping. Além disso, a política de proteção deve levar em
conta as condições de financiamento para a indústria brasileira, pois num mercado menos
protegido, aumenta a importância desse fator. Propõe-se, portanto, que sejam adotadas alíquotas
de importação adequadas às diversas situações presentes no setor. Contudo, para evitar
retaliações externas, a alternativa é o uso de barreiras não-tarifárias, tais como especificações
técnicas e inspeções muito rigorosas, que desincentivem as importações, sempre que for de
interesse nacional.
Especificamente no que se refere aos disjuntores, defende-se que a alíquota deveria
permanecer entre 30 e 35% para produtos acabados e para sub-conjuntos, pelo menos enquanto
não se dispõe de leis de salvaguardas comerciais nem de mecanismos suficientes para fazer com
que estas sejam cumpridas. Estes seriam os meios para evitar tanto a desnacionalização e o
sucateamento da produção destes equipamentos no Brasil, quanto a burla aos índices de
nacionalização determinados para estes equipamentos no país.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Quanto ao processo de licitações, propõe-se isonomia para as empresas instaladas no
Brasil. Isto implica a possibilidade dessas empresas cotarem seus produtos em moeda estrangeira.
Alternativamente, poderiam ser definidos reajustes dos seus saldos credores junto ao governo, que
realmente acompanhassem a desvalorização da moeda.
O sistema portuário precisa ser modernizado para ampliar a competitividade da indústria,
quer pelo lado das exportações - que podem ter seus custos onerados e prazos de entrega
aumentados -, quer pelo lado das importações - pois os custos do material importado podem ser
acrescidos em até 5%, além de ocorrer o risco de danos. Quanto ao sistema alfandegário, um
problema que deveria ser sanado é o da devolução de insumos importados defeituosos, pois esta
devolução é classificada como reexportação, a qual é muito dificultada no país. Assim, deveriam
haver regras claras que possibilitassem esta devolução, utilizando-se, se necessário, a mesma
fiscalização existente quando da importação desses insumos.
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3.4. Proposição de Políticas para Bens de Capital sob Encomenda para o Setor Elétrico -
Quadro Sinótico
AGENTE/ATOR
OBJETIVOS / AÇÕES DE POLÍTICA
EXEC LEG EMP TRAB ASSOC ACAD
1. Reestruturação Setorial
Objetivo: Estabilização da demanda por equipa-
mentos
Ações: - promover o planejamento das com-
pras das concessionárias de ener-
gia elétrica X X X
- promover a especialização de forne-
cedores através de incentivos con-
tra metas de desempenho X X X
Objetivo: Promoção da desverticalização das
empresas
Ações: - incentivar a formação de rede de
subfornecedores X X X
- incentivar a certificação de for-
necedores X X
Objetivo: Fortalecimento da infra-estrutura
laboratorial do setor
Ações: - promover o investimento cooperativo
na área de hidráulica X X X X
- aumentar a utilização da capacitação
tecnológica do CEPEL, induzindo par-
cerias com o setor privado X X X X
- ampliar a capacidade em testes e
normalização do CEPEL X X X X
2. Modernização Produtiva
Objetivo: Modernização de equipamentos de
` projeto e produção
Ação: - induzir o investimento através de
incentivos fiscais e creditícios
e esquemas de depreciação acelerada X X X X
Objetivo: Aumento da qualificação da mão-de-obra
Ações: - apoiar centros de formação integra-
dos com a indústria X X X X X
- implementar linhas de financiamento
específicas X X
Objetivo: Aumento do investimento tecnológico
especialmente em turbogeradores e
equipamentos para termoelétricas
Ações: - utilizar legislação fiscal específica X X X X X
- implementar linhas de financiamento
específicas X X
- facilitar a aquisição de tecnologia
estrangeira X X X X
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AGENTE/ATOR
OBJETIVOS / AÇÕES DE POLÍTICA
EXEC LEG EMP TRAB ASSOC ACAD
3. Fatores Sistêmicos
Objetivo: Promoção da educação e melhoria das
condições de trabalho
Ações: - utilizar legislação específica X X X X X
- aumentar gastos públicos X X X X X
Objetivo: Promoção da eficiência da infra-
estrutura portuária
Ação: - ampliar os investimentos X X X
Objetivo: Promoção das exportações
Ações: - melhorar as condições do FINAMEX X X
- investir em escritórios de vendas
e assistência técnica X X X
- criar seguro de crédito para
exportação X X
- estabelecer convênios de crédito
recíproco X X X
Objetivo: Adequação dos tributos
Ações: - desonerar de tributos a exportação
do setor X X X
- estruturar sistema de devolução ime-
diata dos créditos fiscais X X X
Objetivo: Promoção das vendas e adequação das
importações
Ações: - implementar linhas de financiamento
(FINAME) X X X
- rever a estrutura de alíquotas de
importação para disjuntores ou sub-
conjuntos destes enquanto não são
implementados mecanismos de salva-
guardas comerciais X X X
- privilegiar e implementar políticas
não tarifárias e leis de salvaguar-
das comerciais X X X
- permitir a cotação de preços em
dólar e/ou condições de reajuste
eficientes para vendas no país X X X
Legendas: EXEC - Executivo
LEG - Legislativo
EMP - Empresas e Entidades Empresariais
TRAB - Trabalhadores e Sindicatos
ASSOC - Associações Civis
ACAD - Academia
Nota: Em caso de coluna em branco, leia-se "sem recomendação".
18
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4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE
Devido à diversidade de produtos e a complexidade dos processos envolvidos é bastante
difícil a definição de indicadores de competitividade aplicáveis indistintamente a todo o ramo de
fabricação de bens de capital sob encomenda para o setor elétrico.
A seguir são propostos os indicadores mais relevantes, cobrindo as dimensões referentes
ao desempenho produtivo e comercial, capacitação produtiva e tecnológica, aos níveis de
qualidade e produtividade e, também, devido a importância na dinâmica dessa indústria, das
condições de financiamento existentes.
Cabe ressaltar que os indicadores de ordem técnica somente devem ser utilizados em
comparações realizadas especificamente para cada tipo de máquina, em função da mencionada
heterogeneidade existente entre os equipamentos.
. Indicadores de Desempenho da IBSE
. Níveis de produção em valor e por potência/tensão
. Relevância do comércio exterior - exportação e importação - em termos absolutos (em
US$ e por potência/tensão) e em termos de coeficientes relativos ao valor da produção
. Participação da IBSE no mercado internacional (produção da IBSE/produção da IISE e
exportações da IBSE/exportações totais da IISE).
. Desempenho no mercado internacional: número e valor de concorrências internacionais
para fornecimento para o mercado internacional e brasileiro ganhas por empresas brasileiras
. Indicadores de Capacitação Produtiva
. Prazos de fabricação dos equipamentos em dias
. Idade tecnológica dos produtos vendidos (em anos ou em gerações)
. Pessoal empregado na produção em relação ao total
. Pessoal de nível superior em relação ao total
. Pessoal em atividades de projeto de equipamentos em relação ao total
. Grau de ocupação da capacidade
19
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. Estruturas de custos e despesas - gastos com mão-de-obra direta e indireta, insumos,
investimentos em instalações e em maquinário, despesas comerciais, custos financeiros e impostos;
endividamento de curto e de longo prazos em relação ao patrimônio líquido
. Índices de nacionalização (em % e os referentes à concessão de financiamentos por
órgãos oficiais, atualmente índices da FINAME)
. Indicadores de Capacitação Tecnológica
. Número e valor de contratos externos de transferência de tecnologia ou de licenciamento
realizados anualmente
. Número de patentes (nacionais ou estrangeiras) requeridas pela IBSE
. Proporção dos investimentos em P & D em relação às receitas totais
. Pessoal ocupado em atividades de P & D em relação ao pessoal total e de nível superior
Dada a existência de um grande centro público de P & D, que é o Centro de Pesquisas de
Energia Elétrica (CEPEL) da ELETROBRÁS, é importante coletar e monitorar informações
referentes a:
. Níveis de investimentos e despesas anuais do CEPEL com P & D
. Valor das tecnologias transferidas para o setor privado e/ou concessionárias de energia
elétrica
. Número anual de patentes obtidas e de projetos transferidos para o setor produtivo
. Número e estrutura ocupacional dos funcionários do CEPEL (pessoal operacional,
técnico e administrativo)
. Indicadores de Qualidade e Produtividade
. Produtividade do homem-hora nas atividades de produção
. Produtividade do homem-hora nas atividades de projeto
. Custos médios de estoques/equipamentos produzidos
. Indicadores qualitativos da adoção de inovações organizacionais (proporção de empresas
certificadas pela ISO 9000, que adotam métodos de garantia da qualidade total, etc..)
. Número anual médio de sugestões de melhorias por empregado direto na produção
. Atrasos na entrega em dias
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. Taxa de defeitos e de retrabalho
. Tempo de funcionamento sem interrupção (em dias) dos equipamentos vendidos
. Grau de adequação à performance planejada (nº de reclamações)
. Indicadores Globais de Financiamento
. Montante de financiamentos nacionais tomados para aquisição de equipamentos nacionais
e estrangeiros
. Montante de financiamentos para exportações de equipamentos
. Descritivos das condições de acesso a financiamentos nacionais (taxas de juros,
carências, prazos de pagamento, índices de nacionalização, etc..)
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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APRESENTAÇÃO
O presente documento técnico apresenta a Nota Técnica Setorial Inicial de um dos estudos
que compõem o projeto "Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira", referente ao
contrato entre a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), a Secretaria de Ciência e
Tecnologia da Presidência da República (SCT-PR) e a Fundação Economia de Campinas
(FECAMP), coordenado pelo Prof. Dr. Luciano G. Coutinho, do Instituto de Economia da
UNICAMP, e pelo Prof. Dr. João Carlos Ferraz, do Instituto de Economia Industrial da UFRJ.
Além das fontes bibliográficas indicadas ao final da Nota Técnica, foram utilizadas
informações recolhidas em entrevistas realizadas nas seguintes empresas e instituições: SADE-
Villares (Dr. Leo Torresan); ABINEE (Engº Fabian Yaksíc); ABDIB (Dr. Arthur Barrionuevo
Filho); ABB (Drs. Rubens Platero, Luiz Pardo e Glauco Palhoto); Siemens (Drs. Wolfgang Stein
e Antonio Quaglio); Coemsa-Ansaldo (Dr. Marcos Costa); Toshiba (Drs. Fernando Mendes e
Carlos Maciel e Silva); Mecânica Pesada (Dr. Jacques Pennewaert); Voith (Dr. Adalberto Tatsch);
Weg (Engº Mauro Rigo); Tusa (Engº Tamyres Machado Jr.); Trafo (Engº Antonio Martins);
Merlin Gerin (Engº Gilberto Schaefer); CCBB (Engº Antonio Matias), a CMA (Engº Luiz
Laurenti); ELETROBRÁS (Drs. Guilherme Ellery, Nelson Pataro, José Maria Loureiro e Luís
Carlos Albuquerque); ABDIB (Drs. Omar Bittar e Dalmo Defensor); BNDES (Drs. Terezinha
Guimarães e Paulo Liebergott); CEPEL (Drs. Agenor Mundim e Sérgio Costa); Faculdade de
Engenharia Elétrica da UNICAMP (Dr. Ernesto Ruppert); Departamento de Energia da Faculdade
de Engenharia Mecânica da UNICAMP (Drs. Sinclair Guerra e Sergio Bajai) e CNPq (Dr. David
Zylbersztajn).
O primeiro capítulo está dividido em 4 Seções: na 1ª procura-se mostrar a tendência à
concentração da Indústria Internacional de Bens de Capital sob Encomenda para o Setor Elétrico
(IISE) através das décadas, tendência esta que se acentuou nos últimos anos; na 2ª apresenta-se as
tendências tecnológicas desta indústria, buscando-se especificá-las conforme o tipo de
equipamento; na 3ª mostram-se as principais estratégias empresariais e, por fim, na 4ª analisa-se os
principais fatores da competitividade na IISE.
O segundo capítulo é subdividido em 2 Seções: na 1ª procura-se realizar um diagnóstico
da competitividade da Indústria Brasileira de Bens de Capital Sob Encomenda para o Setor
Elétrico (IBSE), tanto globalmente quanto no que concerne aos principais equipamentos
considerados neste estudo. Já na 2ª Seção busca-se hierarquizar os obstáculos e oportunidades
competitivas para os principais equipamentos analisados.
22
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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No terceiro capítulo busca-se efetuar propostas de políticas que, se implementadas, devem
ter um impacto positivo sobre a competitividade internacional da IBSE. Grande parte destas
propostas estão baseadas no desempenho e nos problemas desta indústria, apontadas no segundo
capítulo, mas também procurando considerar as políticas de sucesso implementadas por vários
países que possuem desempenhos destacados na IISE. Cabe apontar que as políticas propostas
para a IBSE são necessárias, em grande parte, como meio de contrabalançar as políticas de
incentivos utilizadas pelos principais países fabricantes para as suas respectivas indústrias
nacionais de BCESE (e de BCE como um todo).
Por fim, no quarto capítulo são propostos indicadores de competitividade para os vários
produtos da indústria.
23
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS DA INDÚSTRIA DE BENS DE CAPITAL SOB
ENCOMENDA PARA O SETOR ELÉTRICO
1.1. Características Estruturais
Desde a sua origem no final do século passado, a indústria internacional de equipamentos
elétricos sob encomenda (IISE)3 é altamente concentrada, tendo ocorrido também, já por esta
época, os primeiros acordos entre as empresas mais importantes
__
principalmente dos EUA e da
Alemanha, mas também de outros países da Europa (sendo a Itália a notável exceção ), e do Japão
__
para a divisão dos principais mercados nacionais e internacionais4.
Este processo de concentração foi se acentuando através dos anos, fazendo com que, no
final dos anos 60/início dos 70, houvesse algo como 15 fabricantes europeus capazes de produzir
uma linha completa de equipamentos elétricos pesados, além de dois fabricantes americanos (G.E.
e Westinghouse), de três japoneses (Hitachi, Toshiba e Mitsubishi) e dos fabricantes canadenses.
Em meados dos anos 80, o número total destas empresas já havia sido reduzido para onze, sendo
duas americanas, três japonesas e seis européias5. Atualmente os fabricantes de linhas completas
de equipamentos elétricos sob encomenda atuantes em nível mundial se resumem a três europeus
__
a GEC Alsthom, fruto da fusão entre a General Electric Co. (GEC) inglesa com a CGE
francesa; a ASEA Brown Boveri (ABB), resultado da fusão entre a ASEA e a Brown Boveri Co.
(BBC); e a Siemens
__
e as três empresas japonesas já mencionadas. Uma visão geral da
participação de mercado destas empresas, dentro da indústria de equipamentos elétricos pesados,
pode ser vista nas Tabelas 1 e 26
,
7.
É claro que existem outros fabricantes de Bens de Capital sob Encomenda para o Setor
Elétrico (BCESE) no mundo, mas estes não produzem linhas completas destes equipamentos.
Assim, a G.E. e a Westinghouse continuam produzindo equipamentos para energia nuclear, além
de turbogeradores a vapor e a gás e de aparelhos de controle e supervisão
__
dentro da tendência
3 Neste estudo, o termo "bens de capital" será equivalente ao termo "equipamentos", assim como se dará entre os
termos "sob encomenda" e "pesados". Isto porque os bens de capital sob encomenda (BCE) geralmente apresentam
grandes magnitudes físicas, sendo "pesados", enquanto os bens de capital seriados são, em geral, de menor
tamanho, são "leves". Para uma explicação mais completa, ver Strachman (1992a:1-4).
4 Para maiores detalhes e para as razões desta concentração, ver Strachman (1992a:Item 1.1) e Strachman (1992b).
5 Sendo duas alemãs (AEG e Siemens), uma francesa (CGE Alsthom), uma inglesa (GEC), uma suíça (BBC) e
uma sueca (ASEA).
6 Na Tabela 2 consta ainda a Framatome, empresa francesa de equipamentos para energia nuclear, com
participação de capital da GEC Alsthom. Mencione-se que o programa nuclear francês é ainda um dos mais
importantes do mundo, apesar de seu arrefecimento nos últimos anos, sendo que os principais fornecimentos para
este programa são feitos pela Framatome.
7 A comparação entre dados dessas suas tabelas deve ser feita com cautela uma vez que as fontes são distintas.
24
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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dos dois grupos de permanecerem somente nos segmentos de tecnologia de ponta neste e em
outros mercados
__
; enquanto a francesa Merlin Gerin é um dos maiores fabricantes do mundo de
aparelhos de interrupção de linhas elétricas, além de produzir, na França, transformadores de
potência; e a AEG
__
agora fazendo parte do Grupo Daimler Benz
__
produz uma vasta gama de
equipamentos para o setor elétrico. Existe ainda um grande número de fabricantes de
transformadores de potência e de turbinas a vapor no mundo, além dos grandes produtores
nacionais de BCESE, como a Dae Woo e a Hyundai, da Coréia, e a BHEL, da Índia, e talvez um
ou mais fabricantes na atual Comunidade dos Estados Independentes (CEI). Não se deve esquecer
também dos vários fabricantes de turbinas hidráulicas e a gás e de equipamentos hidromecânicos
existentes no mundo.
TABELA 1
10 MAIORES FABRICANTES MUNDIAIS DE EQUIPAMENTOS ELÉTRICOS
POR VENDAS DESTES EQUIPAMENTOS
(1986)
EMPRESA VENDAS PART. NAS LUCROS MARGEM
(US$ bilhões) VENDAS ANTES DOS BRUTA
TOTAIS
*
IMPOSTOS (em %)
(em %) (US$ milhões)
ASEA/Brown Boveri (SUE/SUI) 14,0 100 423/118 5,8/1,5
Siemens (RFA) 9,5 41 1.508 6,5
Hitachi (JAP) 9,5 32 1.585 5,3
General Electric (EUA) 9,5 31 3.642 10,3
Westinghouse Electric (EUA) 8,0 78 801 7,5
CGE (FRA) 6,9 57 387 3,2
Mitsubishi Electric (JAP) 5,9 47 189 1,5
Toshiba (JAP) 5,2 26 646 3,2
AEG (RFA) 3,2 59 27 0,5
General Electric Co. (GBR) 2,9 45 838 12,7
* A participação se refere à das vendas de equipamentos elétricos nas vendas totais das empresas.
Fonte: The Economist (15-8-1987:53).
É importante mencionar que este estudo
__
dada a grande diversidade de equipamentos
utilizados pelo setor elétrico
__
basear-se-á, em grande parte, nos quatro principais equipamentos
em valor da produção, quais sejam: turbinas, geradores, transformadores de potência e
disjuntores, e nos seus respectivos fabricantes. Contudo, sempre que possível, extrapolar-se-á as
conclusões referentes a estes equipamentos para o restante da indústria de BCESE, com base em
dados coletados para outros equipamentos ou mesmo para esta indústria como um todo8.
Mas quais as razões do ritmo acelerado de concentração pelo qual vem passando esta
indústria nos últimos 5 anos? A principal delas é a integração regional que vem ocorrendo nos
8 Ver Strachman (1992a:3).
25
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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principais mercados mundiais (CEE, NAFTA, Leste Asiático)9. Mencione-se também o drástico
arrefecimento nas taxas de crescimento do consumo de eletricidade, após os choques do petróleo
na década de 70
__
reduzindo as encomendas por equipamentos para o setor
__
, além das
pressões para conservação de energia, como conseqüência da crescente preocupação com o meio-
ambiente. É necessário se referir ainda às sempre crescentes escalas dos equipamentos, o que faz
com que se diminua a quantidade de equipamentos necessários e o custo para gerar/transmitir uma
mesma potência, tendência que acompanha a indústria desde o seus primórdios.
TABELA 2
9 MAIORES FABRICANTES MUNDIAIS DE EQUIPAMENTOS ELÉTRICOS
POR VENDAS DESTES EQUIPAMENTOS
(1989)
(US$ bilhões)
EMPRESA VENDAS
ABB 13,0
Mitsubishi
*
7,0
Hitachi 6,5
General Electric 5,3
GEC Alsthom 5,0
Siemens 4,7
Toshiba 4,0
Westinghouse 3,0
Framatome 2,8
* Electric + Heavy Industries
Fonte: Business Week (23-7-1990:36).
Com relação a esse último ponto, cabe salientar a importância das economias de escala na
indústria de BCESE, nas suas mais diversas possibilidades (técnicas, financeiras, de marketing,
produtivas, de gastos em P & D, etc.), para a diversificação e concentração das empresas nesta
indústria. Assim, no que concerne à diversificação dentro da indústria de BCESE, são decisivas as
vantagens de marketing que se pode ter com o fornecimento de linhas mais completas de
equipamentos. Além do mais, isto torna os fabricantes menos vulneráveis a flutuações na demanda
dentro da própria indústria de BCESE e lhes proporciona grandes vantagens na competição por
serviços de plantas de energia completas (plantas turn-key) e na relação com fornecedores
(principalmente em decorrência do grande volume total de encomendas).
Com relação à diversificação das empresas da IISE rumo a outras indústrias, as razões que
as levam a isto é a procura por uma maior estabilidade em suas receitas globais
__
dada a elevada
instabilidade da demanda da indústria de BCESE
__
além de um melhor aproveitamento de
9 Visto que os principais países fabricantes do leste asiático continuam a proteger acentuadamente suas empresas e
mercados nacionais. Isto não quer dizer que vários países europeus e a CEE como um todo não sejam
acentuadamente protecionistas com relação a parceiros de fora da Comunidade, mas sim que as barreiras entre os
vários países da Europa devem ser reduzidas drasticamente nos próximos anos, inclusive para equipamentos
elétricos.
26
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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capacidades tecnológicas, de marketing, financeiras, etc., em outras indústrias. Buscam também
externalidades tecnológicas em outras indústrias, ainda que distantes mercadológica e
tecnologicamente10. Todavia, em um âmbito mais geral
__
que inclui a diversificação para vários
segmentos de setores não industriais, como os vários segmentos do setor financeiro
__
, estas
empresas ou, na verdade, grupos, buscam as melhores oportunidades de lucro existentes nos
vários mercados (industriais ou não, de BCESE ou não), levando geralmente em consideração as
capacidades tecnológicas iniciais dos grupos, mas às vezes se desvencilhando destas. A incrível
diversificação da Siemens, G.E., Westinghouse e das três empresas líderes japonesas não deixam
qualquer dúvida com relação a esta afirmação.
1.2. Tendências Tecnológicas
Um fator estrutural que determina várias das características da indústria de BCESE,
inclusive contribuindo para a sua crescente concentração, são as suas características tecnológicas.
Esta indústria que, juntamente com a química, foi a primeira indústria science based (baseada em
ciência) a surgir11, sempre teve o seu desenvolvimento tecnológico calcado em conhecimentos
científicos, o que se constitui em um fator que incentiva a concentração da indústria12.
Entretanto, apesar de lidar com tecnologias altamente sofisticadas, a indústria de BCESE já
atingiu elevado grau de maturidade, sendo pequenas as possibilidades de mudanças radicais nos
próximos anos13.
Com efeito, grande parte dos esforços dos fabricantes de transformadores de potência,
turbinas hidráulicas e geradores são dirigidos para as inovações de processo, dado o relativo
amadurecimento de seus produtos14. Este comportamento tecnológico confere algumas
10 Este último ponto é especificamente salientado para a indústria de equipamentos elétricos por Dosi (1988:127-
128). Ver também Rosenberg (1976:Cap. 1).
11 Ver Strachman (1992a:8-9), Noble (1977:11-12) e Pavitt (1984).
12 Segundo Pavitt (1984:362), "dadas a sofisticação das tecnologias e das ciências subjacentes [nos setores
baseados em ciência], tem sido difícil para firmas fora [destes] setores neles entrar". Ver também Mazzucchelli
(1977:73) e Strachman (1992a:206-208). Isto não quer dizer que se esteja apontando a tecnologia como único ou
suficiente fator necessário para a concentração da indústria, mas simplesmente que atua como um fator
concentrador.
13 Este comportamento, que já perdura por algum tempo, se dá principalmente com relação a geradores, turbinas
hidráulicas (as a vapor e, principalmente, as a gás, são tecnologicamente mais dinâmicas) e transformadores de
potência, que apresentam poucas possibilidades de mudanças importantes no futuro, isto é, a "ciência" subjacente à
produção destes equipamentos se encontra estabilizada há décadas. No entanto, deve-se apontar que, por exemplo,
no caso dos transformadores de potência, a ABB do Brasil afirmou fabricar, em fins de 1991, equipamentos de 60
MVA (megavolt-ampére) que são mais leves do que os de 25 MVA que ela produzia em 1985, o que, contudo, não
resultou em alterações na performance destes equipamentos, somente nos seus custos. Ver Strachman (1992a:153).
14 Isto devido a várias semelhanças entre as características entre estes dois "tipos" de indústrias. De acordo com
Pavitt (1984:366), "em setores com firmas intensivas em produção, nós esperaríamos que as firmas e as plantas
27
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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características às plantas e/ou firmas destes equipamentos que os aproxima das indústrias
intensivas em escala15. Já os fabricantes de disjuntores
__
por estes equipamentos encontrarem-se
numa fase tecnologicamente mais dinâmica
__
dirigem, ainda, a maior parte de seus esforços às
inovações de produtos.
Outra característica que pode, em parte, ser deduzida das especificidades tecnológicas da
indústria de BCESE, é o seu padrão de diversificação. Vale dizer, a diversificação se dá,
predominantemente, de forma concêntrica, ou seja, em direção a atividades tecnologicamente
relacionadas.
As empresas que permaneceram decididamente, pelo menos por enquanto, na indústria de
BCESE, se diversificaram principalmente rumo à eletrônica, equipamentos eletrônicos,
equipamentos médicos, robôs, além de equipamentos ferroviários, lâmpadas e eletrodomésticos.
Contudo, deve-se assinalar que a produção de equipamentos para o setor elétrico nestas grandes
empresas (as seis que permaneceram produzindo linhas completas) é, há tempos, minoritária, de
tanto que estas empresas se diversificaram rumo a outras indústrias afins, para o setor financeiro,
ou mesmo para indústrias como a química, de plásticos, etc. Isto ocorreu, por exemplo, no caso
da Hitachi, da G.E. e da Westinghouse, sendo que a Siemens atualmente produz até mesmo
petróleo e gás. Assim, os principais grupos internacionais da IISE auferem somente de 20 a 25%,
ou em alguns casos menos, de suas receitas através da venda de equipamentos elétricos. A grande
exceção é a ABB, que em 1991 tinha uma participação de 44% das vendas de equipamentos para
geração, transmissão e distribuição de energia elétrica nas suas vendas totais.
No que se refere às tendências tecnológicas dos vários equipamentos, os geradores e
turbinas, além de tenderem continuamente ao aumento de suas potências, possuem uma forte
inclinação rumo ao uso de materiais mais leves e resistentes e
__
no caso dos geradores
__
com
índices menores de resistência elétrica. Ressalte-se, também, a tendência à utilização de
componentes eletrônicos cada vez mais sofisticados, como, por exemplo, nos reguladores de
velocidade das turbinas e nas excitatrizes dos geradores, além de em vários equipamentos de
controle e comando. Entretanto, no que tange à fabricação de turbogeradores e hidrogeradores de
menor porte, há um viés para se realizar o isolamento destes equipamentos através do sistema
vapour phase, pois este propicia uma melhor qualidade e uma redução das dimensões destes
equipamentos. Processo semelhante é utilizado na secagem das partes ativas dos transformadores
de potência, havendo também uma tendência, já antes apontada, para estes últimos reduzirem seu
peso.
fossem grandes em escala e que uma elevada proporção da tecnologia de processo fosse gerada internamente. O
mesmo é o caso das firmas science based, especialmente em produtos envolvendo processo contínuo e tecnologias
de montagem".
15 Conforme definido por Pavitt (1984:359-362).
28
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Todavia, o principal desenvolvimento ocorrido nos últimos anos, com relação aos
transformadores de potência, mas que se encontra ainda em uma fase praticamente experimental,
refere-se aos metais amorfos, que permitem uma redução de 40 a 70% nas perdas elétricas que
ocorrem nos núcleos dos transformadores, além de apresentarem maior resistência mecânica,
dureza, resistência à corrosão e capacidade de rápida magnetização/desmagnetização16.
Quanto aos disjuntores utilizados em linhas de extra-alta tensão (acima de 230 kV), deve-
se apontar que há uma tendência incontestável, já há alguns anos, para o uso do gás SF
6
como
meio de interrupção do arco elétrico, apesar deste gás também se mostrar muito competitivo para
classes de menor tensão. Isto porque estes equipamentos têm um custo menor do que os dos seus
equivalentes a ar comprimido, além de necessitarem de manutenção mais simples e menos
frequente.
Mesmo entre os disjuntores a SF
6
, surgiu, há cerca de três anos, uma inovação
tecnológica que está se tornando obrigatória nos novos equipamentos, qual seja, o uso da energia
do próprio arco elétrico para a interrupção deste arco. Esta tecnologia, presente nos disjuntores
chamados a auto-sopro, proporciona as seguintes vantagens: maior confiabilidade, devido ao
menor desgaste dos equipamentos durante a interrupção do arco; menor nível de barulho durante
a interrupção; tamanhos mais reduzidos; ausência de necessidade de monitoramento; e, por fim,
como conseqüência de várias das vantagens acima listadas, menores preços. E uma última
tendência, no que se refere aos disjuntores, diz respeito à utilização de comandos mecânicos, visto
que suas menores dimensões representam uma diminuição de 50% no seu custo, que, por sua vez,
representa 30% do custo total de um disjuntor completo.
1.3. Estratégias Empresariais
Uma das principais estratégias seguidas pelos grandes grupos da IISE tem sido a de
aquisição de plantas/empresas em vários países, a fim de dispor de uma base nacional/regional de
atuação e, assim, poder contornar barreiras protecionistas nacionais ou regionais e também como
meio de dispor de plantas com custos (principalmente salariais) reduzidos e com poucas restrições
ambientais às suas operações. A estas estratégias, soma-se a realização de joint-ventures entre os
principais fabricantes mundiais, a fim de solucionar duas questões:
. racionalizar os gastos em P & D e acrescer os recursos tecnológicos disponíveis para as
várias empresas, pois muitas vezes estes acordos incluem o compartilhamento das tecnologias
detidas por cada uma das empresas que deles fazem parte; e
16 No entanto, esta tecnologia apresenta alguns inconvenientes com relação à manuseabilidade durante o processo
de produção, o que tem refreado sua maior difusão neste segmento. Ver Strachman (1992a:153-154).
29
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. racionalizar as capacidades produtivas dos vários fabricantes, o que se dá principalmente
para os segmentos com estagnação de demanda, como é o caso da energia nuclear17.
Essas joint-ventures foram impulsionadas, também, por fatores empresariais como o
diferencial entre as várias empresas no que se refere aos custos e à qualidade dos equipamentos
produzidos, além das dissimilitudes no que tange às suas capacidades gerenciais, à atualização de
instalações e equipamentos, aos níveis de investimentos em P & D por segmentos e/ou
equipamentos, etc18. Este processo inclusive explica, em grande medida, as fusões entre a ASEA
e a BBC, e entre a GEC e a CGE Alsthom, assim como, posteriormente, a aquisição, pela ABB,
da Combustion Engineering americana, da Ansaldo italiana, da Bergmann Borsig (da ex-Alemanha
Oriental), das partes de transmissão de eletricidade da Westinghouse americana e de turbinas a
vapor da AEG, além da Zamech da Polônia, entre outras. Esta empresa, desde sua fusão, em
1987, até julho de 1990, adquiriu 60 empresas, no valor de US$ 3,6 bilhões, havendo constituído,
até fins de 1991, 21 joint-ventures no leste europeu e na atual CEI, e mantendo, ainda, outras 69
empresas em vista.
Outras empresas, como a Siemens
__
que adquiriu um dos principais fabricantes do leste
europeu, a Skoda da Tchecoslováquia
__
, seguiram na mesma direção, comprando importantes
fabricantes desta região ou constituindo joint-ventures com estes, além das aquisições que
realizou na Europa Ocidental e nos EUA. Mencione-se também o grande número de joint-
ventures entre os principais fabricantes mundiais da IISE, nos seus vários segmentos, além das
aquisições fora desta indústria realizadas pelos grandes grupos19.
A ABB
__
que é um grupo que tem procurado contornar a desvantagem de não possuir
grandes mercados nacionais ou estruturas industriais integradas (também devido à exigüidade de
seus mercados nacionais) nos seus países de origem (Suíça e Suécia), ao mesmo tempo em que
busca aproveitar a vantagem de não se ver pressionada a realizar grande parte de suas compras
nestes países
__
tem buscado mais decididamente o global sourcing, isto é, o suprimento de
insumos e/ou de equipamentos completos para suas várias plantas ou para suas vendas num
âmbito global.
17 Para esta energia, algumas joint-ventures foram realizadas tanto para a produção de equipamentos quanto para
serviços de abastecimento/manutenção/reparação de centrais nucleares, além dos acordos para a realização de P &
D conjunto já mencionados.
18 Estes fatores parecem ter sido os responsáveis, por exemplo, pela compra, pela ABB, da Divisão de Transmissão
e Distribuição (T & D) de Eletricidade da Westinghouse, em 1989, e da Combustion Engineering, em janeiro de
1990. Ver Strachman (1992a:372-375), Fortune (29-6-1992) e U.S.Industrial Outlook (1989 e 1990).
19 Para uma descrição razoavelmente detalhada destas aquisições, fusões e joint-ventures, ver Strachman
(1992a:367-393 e Quadro 1). Ver também, para dados mais recentes, The Economist (4-7-1992), Electrical World
(5-1992:30 e 6-1992:24) e Power (10-1991:140, 12-1991:87, 1-1992:99 e 2-1992:88).
30
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Já outros grupos se vêem constrangidos a realizar suas compras dentro de mercados
nacionais ou regionais, o que, se por um lado restringe em parte suas opções de fornecimento, por
outro lhes proporciona vantagens locacionais e, por vezes, sinergéticas (por parte das estruturas
industriais dos países onde se localizam suas empresas ou mesmo dentro do próprio grupo), além
das vantagens sistêmicas propiciadas pelas políticas de compras e de proteção proporcionadas
pelos governos dos países onde se localizam suas matrizes. Este é o caso, por exemplo, da
Siemens, da GEC Alsthom e dos grupos japoneses.
Portanto, é através da estratégia descrita acima que a ABB procura manter ou ampliar sua
competitividade em escala internacional, principalmente em relação aos grandes grupos que
possuem mercados e estruturas industriais de maior magnitude e potencial. Vale dizer, esta
estratégia empresarial de sucesso da ABB se vê possibilitada por uma política industrial permissiva
com relação a este aspecto, ao contrário do que ocorre nos demais países20. Isto não quer dizer
que esta estratégia irá se impor, no longo prazo, às das empresas de países mais fechados (e nem o
contrário), mas sim que este grupo se vê obrigado a adotá-la para enfrentar as vantagens
competitivas proporcionadas por estruturas industriais integradas e sinergéticas como a alemã e,
principalmente, a japonesa.
Todavia, deve-se salientar que esta estratégia da ABB tem sido bastante eficiente neste
seus primeiros anos de vida21, sendo responsável, juntamente com as várias vantagens de escala e
de custo propiciadas pela fusão, por grande parte do sucesso competitivo da empresa, conforme
mostra a Tabela 3.
Assim, esta estratégia tende a ser copiada, dentro do possível, pelas várias concorrentes da
ABB nos vários mercados, vale dizer, não só pelas empresas que produzem linhas completas de
BCESE. Contudo, deve-se ressaltar que há uma tendência à desverticalização dentro da IISE, ou
seja, a uma diminuição dos fornecimentos intra-grupos ou mesmo intra-países, passando para
outras empresas ou países os fornecimentos de insumos com menor sofisticação e/ou contribuição
com relação ao valor agregado, ou ainda
__
no que concerne somente a países ou regiões
__
, com
maiores impactos ambientais, como por exemplo, os intensivos em caldeiraria.
20 As empresas japonesas são consideradas, pela ABB, dentro de uma perspectiva de longo prazo, como os
principais concorrentes a serem vencidos/perseguidos. Ver, por exemplo, Fortune (29-6-1992).
21 A ABB, como resultado da fusão entre a ASEA e a BBC, iniciou suas operações somente em 1-1-1988.
31
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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TABELA 3
RESULTADO DA ABB
(1988/90)
1988 1989 1990 1988-90 (em %)
Faturamento (em US$ bilhões) 18,0 21,0 29,0 61,1
Empregados (em milhares) 167,0 189,0 215,0 28,7
Fatur./Empr. (em US$ milhares) 107,8 111,1 134,9 25,1
Invs. em P & D (em US$ bilhões) 1,2 1,4 1,7 41,7
Lucro (em US$ bilhões) 0,5 0,9 1,7 240,0
Lucro (em US$ bilhões) 0,5 0,9 1,7 240,0
Fonte: Strachman (1992a:372), com base em dados obtidos na ABB.
1.4. Principais Fatores de Concorrência
1.4.1. Fatores internos às empresas
. Qualidade
O principal fator de concorrência na IISE é a qualidade dos equipamentos, entendida como
o nível de confiança de que o fabricante atenderá plenamente às especificações desejadas. Isto se
dá porque menores rendimentos ou falhas no funcionamento dos equipamentos acarretam pesados
custos adicionais de energia e reparação, além de poderem produzir danos ao fornecimento de
energia elétrica.
Como a qualidade dos BCESE só é totalmente conhecida posteriormente a uma
concorrência ou encomenda, uma empresa que já tenha demonstrado, anteriormente, uma maior
experiência, qualidade e confiabilidade dos seus produtos
__
objetiva ou subjetivamente
__
obtém
uma importante vantagem sobre os seus concorrentes. Isto faz com que as marcas também se
constituam em importantes fatores de competitividade, já que são associadas a produtos com
qualidade reconhecida. Assim, sem dúvida, o fato de um fabricante, devido à tradição dada pelo
retrospecto de seus fornecimentos, poder garantir o desempenho de uma dada encomenda22,
constitui-se em uma vantagem concorrencial objetiva frente a seus competidores, tanto se estes
últimos não apresentam retrospectos equivalentes para seus fornecimentos.
22 No entanto, é importante mencionar que, como os equipamentos são fabricados sob encomenda, na maioria dos
casos nem os mais renomados fabricantes internacionais podem garantir com total segurança que o desempenho de
um equipamento será igual ao planejado, tendo às vezes que arcar com multas ou custos de troca ou reparação dos
equipamentos produzidos. Ver Strachman (1992a:36-38) para uma explicação mais detalhada sobre este aspecto e
para alguns casos empíricos.
32
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Quanto à assistência técnica (manutenção, reparação, treinamento para utilizar os
equipamentos adquiridos, redes de vendas, etc.), esta é sempre considerada como um dos fatores
de sucesso competitivo mas de modo menos decisivo do que os aspectos ligados à qualidade dos
equipamentos propriamente ditos. A assistência técnica após a entrega é considerada como um
serviço importante a ser fornecido ao comprador dos equipamentos e que garantirá o renome de
uma empresa em futuras concorrências. Deve ser mencionada ainda a importância da assistência
técnica pré-vendas, que é feita sob a forma de estudos técnicos (sugestões, desenhos e análises
preliminares), realizados sempre gratuitamente para os clientes em potencial.
Ambos tipos de assistência técnica reforçam vantagens competitivas para as empresas da
IISE mais internacionalizadas, que dispõem de amplas instalações para assistência técnica,
principalmente através da utilização de suas subsidiárias na prestação de serviços pré e pós-vendas
aos seus clientes. Entretanto, pode-se afirmar com segurança que a existência de instalações
perenes para assistência técnica não é um fator decisivo para as concorrências internacionais,
apesar de constituir alguma vantagem para as empresas que as possuem. Isto porque o aspecto
mais importante, no que tange à assistência técnica, é que esta seja realizada de acordo com o
esperado pelos demandantes, isto é, que esta assistência técnica seja efetuada com qualidade e
presteza, o que pode ser feito mesmo sem instalações perenes em um determinado país ou região.
. Preços
Os preços representam o fator de concorrência de segunda escolha, isto é, uma vez que os
principais fabricantes de BCESE tenham atendido plenamente às especificações dos equipamentos
com relação à qualidade, passam os preços a ser o principal determinante de uma concorrência23.
A variável preço só é predominante nos casos em que há restrições financeiras por parte
do comprador ou em conseqüência deste não necessitar de equipamentos com os melhores
rendimentos possíveis, preferindo então um rebaixamento significativo no seu preço em troca da
diminuição de alguns pontos percentuais no seu rendimento. Portanto, segundo um fabricante
brasileiro de hidrogeradores, para aumentar-se 2% no rendimento destes equipamentos, quando
23 Uma vez que a qualidade dos equipamentos é geralmente a mesma para os vários fabricantes - pelo menos
anteriormente à encomenda e para os fabricantes mais renomados -, a não ser nos casos especiais, que serão vistos a
seguir, na grande maioria das concorrências o "principal" fator de concorrência passa a ser os preços. Em alguns
casos há alguma diferença no que se refere a algum aspecto relacionado à qualidade (desempenho, rendimento,
durabilidade, manutenção, etc.) entre as propostas de alguns fabricantes, mas que geralmente é confinada a algum
aspecto de importância secundária, não ligado, por exemplo, à rentabilidade física ou ao desempenho de um
equipamento. Todavia, mesmo nestes casos, esta vantagem com relação a uma característica é geralmente
compensada por alguma desvantagem no que tange a alguma outra.
33
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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estes se acercam dos limites de rendimento determinado pelo atual estado da arte, ocorre um
acréscimo de cerca de 40% no preço destes equipamentos24.
Todavia, os preços não funcionam como um fator de concorrência para a maioria dos
mercados nacionais dos principais países produtores de BCESE, pelo menos para os fabricantes
não instalados nestes países, visto que estes mercados domésticos são bastante fechados.
Mencione-se que os preços domésticos, conforme destacado em Cilingiroglu (1969:41), são
sempre mais elevados que os preços de exportação, tanto devido a esta proteção, mencionada
acima, quanto
__
conforme apontado em Strachman (1992a:43-45)
__
como resultado dos vários
subsídios e incentivos concedidos pela maioria dos países às suas exportações de BCESE. As
empresas também se utilizam de maiores margens de lucro conseguidas em mercados nacionais,
ou de subvenções cruzadas de lucros obtidos em vendas não efetuadas para o mercado de
BCESE, para compensar os menores preços de exportação25. Neste caso, a competição em
preços passa a ter um caráter secundário, dada a preferência por produtores nacionais ou regionais
(se for realmente efetivada para esta indústria a regionalização dos mercados)26.
Um outro aspecto a ser enfatizado, no que tange aos preços dos BCESE
__
ou mesmo de
outros BCE
__
, é que nestes estão sempre inclusas as condições de financiamento. Desse modo,
fatores sistêmicos determinado pela política econômica ou industrial, tecnológica e de comércio
exterior têm importância fundamental na determinação dos preços finais de fornecimento.
. Prazos
Um último fator de concorrência a ser considerado são os prazos de fornecimento.
Contudo, estes só constituem o principal fator de competitividade nos casos de reposição de
equipamentos ligados à transmissão de eletricidade, como os transformadores de potência e os
disjuntores
__
em que toda uma linha de transmissão ou a qualidade desta transmissão pode
depender da entrega destes equipamentos
__
, ou no caso da recuperação de equipamentos
destinados à geração de eletricidade, como turbinas e geradores
__
em que a rapidez do serviço se
24 Isto se dá como conseqüência da necessidade de um aperfeiçoamento no projeto e na fabricação destes
equipamentos, além de nos materiais utilizados na sua produção, a fim de se atingir os rendimentos mais elevados.
Note-se que estes maiores custos, conforme o preço da eletricidade em uma região, são geralmente mais (e muito
mais) do que compensados pelas receitas adicionais provenientes dos maiores rendimentos proporcionados. Ver
Strachman (1992a:221).
25 Isto não significa que os fabricantes de BCESE tenham liberdade para cotar os preços que desejarem, sem que
haja qualquer possibilidade de importação de equipamentos substitutos, mas sim que dentro de certos limites de
preços, sempre respeitados, seu mercado doméstico se encontra protegido. E estes limites, em alguns casos, como os
de indústria nascente ou de novos tipos de equipamentos que estejam sendo desenvolvidos, podem até mesmo
incluir outras desvantagens temporárias para o país protegido, como piores prazos e, principalmente, qualidade.
26 Isto só não ocorreria se houvesse mais de um fabricante nacional, sendo que então a competição pela encomenda
ficaria entre eles
34
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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torna essencial, por motivos semelhantes. Afora essas aquisições emergenciais, somente em
situações excepcionais
__
principalmente se se considera a sobre-capacidade recorrente da IISE
__
, na qual se tenha um gargalo na produção devido ao comprometimento com relação a outras
encomendas, é que os prazos podem decidir uma concorrência. Isto porque, em condições
normais, estes são mais do que suficientes para todos os fabricantes, apesar da tendência à sua
diminuição, como conseqüência da crescente automação de projetos e de processos, o que
propicia menores custos financeiros aos compradores de BCESE.
1.4.2. Fatores estruturais
As economias de escala, nas suas mais diversas possibilidades (técnicas, financeiras, de
marketing, produtivas, de gastos em P & D, etc.), constituem o principal fator estrutural da
competitividade na IISE.
Para a efetiva absorção dessas economias de escala é importante a existência de um
mercado nacional de grande porte, entre outras razões, porque possibilita aos fabricantes:
. a manutenção dos elevados custos que são necessários para a permanência na indústria,
como os de desenvolvimento tecnológico, treinamento e manutenção da força de trabalho (mesmo
sem, ou com poucas encomendas durante anos), etc., principalmente em épocas de vendas
reduzidas, já que é praticamente impossível sobreviver por longos períodos somente por meio de
exportações;
. a aquisição de experiência na fabricação de equipamentos com inovações em designs
mais recentes, necessária para descer a "curva de aprendizado" com relação a estes equipamentos; e
. dispor de uma "vitrine" na qual podem mostrar seus méritos técnicos para os
compradores estrangeiros, visto que é improvável que uma empresa consiga exportar
equipamentos tecnologicamente mais avançados do que os que produz para encomenda doméstica
em alguma planta27.
27 Ver Surrey, Buckley & Robson (1980:237). Deve-se mencionar que a participação das vendas da ABB fora dos
seus mercados nacionais de origem (incluindo as vendas de suas subsidiárias no exterior) deve perfazer mais de
60% de suas vendas totais, enquanto a participação das vendas da GEC inglesa fora da Grã-Bretanha, antes da sua
fusão com a CGE Alsthom, foi de 49,5% no período 1984-87. Já a participação das vendas da G.E. e da
Westinghouse fora dos EUA, que também incluem vendas de suas subsidiárias no exterior, foi de somente 10%,
entre 1984 e 1986, enquanto a Siemens vendeu cerca de 52,5% de sua receita total, no período 1982-86, fora da
RFA. Destaque-se que não se sabe a participação das vendas de BCESE dentro destes dados apontados para os
vários grupos. Ver Strachman (1992a:371-387) e Crespy (1988). Contudo, é importante observar que as vendas das
transnacionais de BCESE, via suas várias plantas, nos seus vários "mercados domésticos", ocupam a maior parte de
suas capacidades produtivas. Assim, a ABB vende 70% de seus transformadores de potência para os vários
mercados nacionais dos países onde se localizam suas plantas, o que pode ser considerado como um indicador da
"endogenia" da produção para o resto da indústria.
35
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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No que concerne à diversificação dentro da indústria de BCESE, contam muito as
vantagens de marketing que a empresa pode ter com o fornecimento de linhas mais completas de
equipamentos. Esta diversificação as torna também, como visto, menos vulneráveis a flutuações
na demanda dentro da própria indústria de BCESE, além de proporcionar grandes vantagens na
competição por serviços de plantas turn-key e na relação com fornecedores (principalmente em
decorrência do grande volume total de encomendas).
No que tange à diversificação das empresas da IISE rumo a outras indústrias, ou mesmo
ao setor financeiro, as razões que as levam a isto, é a procura de maior regularidade das receitas
globais, devido à grande dada a elevada instabilidade da demanda da indústria de BCESE, além de
um melhor aproveitamento de capacidades tecnológicas, de marketing, financeiras, etc. em outras
áreas de atuação. No caso do setor financeiro, esta diversificação pode ser ainda utilizada como
meio de financiamento da própria empresa ou grupo. No entanto, deve-se atentar, neste processo
de diversificação, para a busca pelas empresas (na verdade, pelos vários capitais) das melhores
oportunidades de valorização, independentemente de onde esta se encontre, processo no qual
pode-se até mesmo incluir, além da conglomeração financeira e produtiva, a transnacionalização
dos capitais28.
Cabe mencionar ainda a existência de vantagens objetivas em se adquirir equipamentos de
um fabricante mais próximo regionalmente ou que seja um fornecedor mais tradicional de uma
concessionária de energia elétrica. Isto porque esta proximidade possibilita certas relações e
conhecimentos técnicos mútuos, os quais vão continuamente se fortalecendo, entre fabricantes e
demandantes. Isto, por sua vez, permite a ambos obterem vantagens com relação às especificações
desejadas para determinado(s) equipamento(s), além de possibilitar a prontidão na assistência e na
troca de informações técnicas, que podem ser essenciais para a manutenção, financiamento e
mesmo para o desenvolvimento técnico dos equipamentos.
1.4.3. Fatores sistêmicos
As políticas industriais nacionais são um fator sistêmico de importância crucial para o
sucesso competitivo das empresas ou países na IISE. Estas políticas podem atuar tanto através
dos financiamentos às exportações, quanto através de outras políticas de financiamento e fiscais.
Podem ser efetivadas também por meio da proteção aos mercados domésticos
__
mesmo para
28 Exatamente neste sentido, ver Possas (1985:179). É claro que os vários grupos e empresas se vêem restritos e
compelidos, neste processo de diversificação, pelo menos parcialmente, pelas suas áreas e, conseqüentemente,
aptidões originais. Ver Possas (1985:177) e Penrose (1979).
36
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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pequenos mercados, como o da antiga ASEA e Brown Boveri29
__
ou da garantia de compras
por parte do Estado e de suas empresas.
Os Estados têm uma atuação fundamental no que se refere aos financiamentos a esta
indústria, pois atuam comumente como financiadores de protótipos, projetos e pesquisas,
contribuindo para o desenvolvimento tecnológico da indústria e de seus fabricantes. Financiam
também os compradores estrangeiros e/ou estes mesmos fabricantes em exportações de
equipamentos, o que, em grande parte das concorrências, como vimos, é simplesmente crucial
para a definição de seu(s) vencedor(es).
A atuação articulada entre governos e companhias de eletricidade (geralmente estatais),
juntamente com os fabricantes de BCESE, interessa a todas as partes. Pelo lado das
concessionárias de eletricidade e dos fabricantes de equipamentos
__
conforme antes analisado
__
,
por possibilitar a manutenção e/ou desenvolvimento da capacitação produtiva e tecnológica,
principalmente daquela que depende de grandes ligações usuários-fabricantes. E pelo lado dos
governos, tanto pelas repercussões desta indústria sobre o balanço de pagamentos, o nível de
empregos e a qualificação da força de trabalho, como, mais diretamente
__
o que é do interesse
das outras partes também
__
, pelas conseqüências que uma maior qualificação dos fabricantes
apresenta sobre a qualidade e o preço dos equipamentos e da energia elétrica distribuída.
Portanto, há que se destacar o papel crucial do Estado, nesta indústria altamente protegida
nos seus vários mercados domésticos, estratégica e que necessita de elevadas somas de recursos
para a realização tanto de P & D quanto de exportações. Assim, como decorrência destas
condições, os Estados nacionais exercem profunda influência nos rumos da indústria e nos
resultados de suas empresas, inclusive liderando processos de fusão e concentração de capitais. O
caso norte-americano é exemplar, uma vez que a inexistência de uma política industrial, conjugada
com abertura de mercado e taxas de câmbio desfavoráveis, levaram à quase destruição de vários
segmentos da sua indústria de BCESE, principalmente daqueles com tecnologia mais madura e
difundida.
29 É claro que dentro dos limites nos quais estes mercados, devido às suas extensões, permitem a atuação de
políticas industriais. Ver Surrey, Buckley & Robson (1980:237). É importante mencionar que o principal mercado
da Brown Boveri era o da RFA, onde este Grupo obteve 41,6% de sua receita em 1986 e onde se localizava a maior
entre todas as empresas do Grupo. Ver Strachman (1992a:370-371). De acordo com Miranda (1990:41), a Brown
Boveri alemã foi inclusive uma das empresas escolhidas pelo governo daquele país - juntamente, na área de
energia, com a Siemens e a AEG -, para receber privilegiadamente recursos de P & D. Vale dizer, a Brown Boveri
recebeu vantagens do governo alemão normalmente concedidas apenas a suas empresas nacionais, o que significa
que a Brown Boveri e, agora provavelmente, a ABB, não eram e não são vistas como empresas estrangeiras dentro
da RFA.
37
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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2. COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE BENS DE CAPITAL SOB
ENCOMENDA PARA O SETOR ELÉTRICO
2.1. Diagnóstico da Competitividade da IBSE
2.1.1. Características estruturais
Uma primeira característica estrutural, que sobressai na indústria brasileira de bens de
capital sob encomenda para o setor elétrico (IBSE), é a sua excessiva pulverização, isto é, o
elevado número de fabricantes no país que atuam em cada segmento da indústria, em particular, se
comparado o número de fabricantes existentes nos países desenvolvidos, que geralmente possuem
mercados de maiores dimensões. Dentre os problemas acarretados, e que tem sido magnificado
pela atual recessão e pela falta de encomendas para o mercado interno, destaca-se o reduzido nível
de ocupação de capacidade em várias das plantas brasileiras e o conseqüente não aproveitamento
dos vários tipos de economias de escalas (estáticas e dinâmicas) que estas plantas podem
proporcionar.
Assim, o Brasil possui atualmente quatro grandes fabricantes de turbinas: Villares,
Mecânica Pesada, Voith e Coemsa-Ansaldo, quando
__
segundo entrevista realizada na
Associação Brasileira para o Desenvolvimento das Indústrias de Base (ABDIB)
__
o seu mercado
não comportaria mais do que dois; possui também quatro grandes fabricantes de geradores:
Villares, Coemsa-Ansaldo, Siemens e ABB, sendo que
__
também de acordo com a ABDIB
__
seu mercado não admitiria mais do que três. No Quadro 1 pode-se visualizar as empresas
brasileiras dos BCESE destacados no corrente estudo, enquanto nas Tabelas 4 e 5 tem-se o
mesmo para o market share dos fabricantes brasileiros de turbinas hidráulicas e de hidrogeradores
no período 1969-1986.
Quanto aos transformadores de potência, haveria também uma excessiva pulverização,
pelo menos até a saída da Itel do mercado em 1991, uma vez que havia, anteriormente à sua saída,
sete fabricantes de transformadores de potência no Brasil: a ABB, que produz transformadores de
potência para todas as tensões até 800 kV; a Coemsa-Ansaldo e a TUSA, que os produzem até
500 kV; a Toshiba, que os fabrica até 230 kV; a Weg e a Trafo, que os fabricam até 138 kV; e a
Itel, que os fabricava até 230 kV. No entanto, foi afirmado que, no geral, a Coemsa-Ansaldo e a
ABB não concorrem no mercado de transformadores de potência de até 138 kV, justamente o
principal mercado de atuação da Toshiba, que, por sua vez, pouco participa do mercado de 230
kV. Já a Weg concorre principalmente no mercado até 69 kV, parecendo mesmo não ter
conseguido ainda vender seu primeiro transformador de potência de 138 kV. Assim, haveria uma
certa divisão de mercado entre os fabricantes de transformadores de potência, com um deles, a
38
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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ABB, produzindo-os de 500 kV até 800 kV; três
__
a ABB, a Coemsa-Ansaldo e a TUSA
__
produzindo-os de 230 kV até 500 kV; outros três
__
a TUSA, a Toshiba e a Trafo
__
fabricando-
os até 138 kV; e quatro
__
a TUSA, a Toshiba, a Trafo e a Weg
__
produzindo-os até 69 kV.
QUADRO 1
FABRICANTES BRASILEIROS DE BENS DE CAPITAL
SOB ENCOMENDA SELECIONADOS
TURBINAS TURBOGERADORES TRANSFORMADORES DISJUNTORES
HIDRÁULICAS E HIDROGERADORES DE POTÊNCIA
Coemsa-Ansaldo ABB ABB CCBB(Camargo Corrêa-ABB)
Mecânica Pesada Coemsa-Ansaldo Coemsa-Ansaldo CMA(Cia. MASA-Alsthom)
SADE-Villares SADE-Villares Toshiba Merlin Gerin
Voith Siemens Trafo Siemens
Toshiba TUSA
Weg Transformadores
Fonte: Elaboração própria.
No entanto, é importante ressaltar que o mercado de transformadores de potência de 69 a
138 kV não comporta mais do que quatro fabricantes, em condições normais de demanda, sendo
que atualmente, frente aos seus atuais níveis, não permite sequer dois. Quanto ao mercado de
transformadores de maior tensão, os três grandes fabricantes são mais do que suficientes para
suprí-lo, só devendo se tornar interessante para a TUSA, por exemplo, entrar no mercado de
transformadores de potência de 800 kV ou mais, se houver um grande número de encomendas
para este tipo de equipamentos. Isto só deve ocorrer, provavelmente, no início da próxima
década, se os planos com relação à transmissão de energia elétrica da Amazônia forem efetivados.
Com relação aos disjuntores, a proposta inicial do Governo Geisel para estes
equipamentos compreendia quatro fabricantes, já havendo então um sobre-dimensionamento do
mercado e uma excessiva pulverização da produção neste segmento. Estes fabricantes eram,
inicialmente, a Companhia Masa Alsthom (CMA), com 51% de participação do Grupo Monteiro
Aranha e 49% do Grupo francês CGE Alsthom; a CCBB, com 51% da Camargo Corrêa e 49% do
Grupo Brown Boveri; a Sprecher, que já estava estabelecida há mais tempo e que pertencia
inteiramente à Sprecher Energie da Suíça; e a Inebrasa, que era inicialmente de propriedade dos
Grupos brasileiros Inepar e Lorenzetti, com 30% cada, sendo outros 10% de propriedade da
Embramec (do BNDES) e os restantes 30% do Grupo francês Merlin Gerin. No entanto, a
Siemens alemã conseguiu também autorização para se instalar como fabricante deste
equipamentos no Brasil, o que se deu por meio da Insat, uma parceria em que a Siemens possuía
49% do capital contra 51% do Grupo Mendes Júnior.
39
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TABELA 4
FORNECEDORES BRASILEIROS DE TURBINAS HIDRÁULICAS
PARA AS HIDROELÉTRICAS BRASILEIRAS
(1969/86)
*
POTÊNCIA TOTAL PART.EMPRE-| POTÊNCIA TOTAL PART.EMPRE-| POTÊNCIA TOTAL PART.EMPRE-
(em MW) (em MW) SA/BRASIL | (em MW) (em MW) SA/BRASIL | (em MW) (em MW) SA/BRASIL
OU TIPO (em %) | OU TIPO (em %) | OU TIPO (em %)
Bardella | COEMSA | Mecânica Pesada
----------------------------------|-----------------------------------|-----------------------------------
0-50 20,0 6,7 | 0-50 0,0 0,0 | 0-50 89,4 30,1
50,1-100 160,0 48,1 | 50,1-100 0,0 0,0 | 50,1-100 110,0 33,1
100,1-150 0,0 0,0 |100,1-150 309,0 30,4 |100,1-150 0,0 0,0
150,1-200 154,6 6,7 |150,1-200 175,0 7,6 |150,1-200 360,0 15,7
>200 0,0 0,0 | >200 504,0 2,3 | >200 7.687,5 35,4
Francis 154,6 0,6 |Francis 679,0 2,7 |Francis 8.238,5 33,1
Kaplan 180,0 21,8 |Kaplan 309,0 37,4 |Kaplan 8,4 1,0
Pelton 0,0 0,0 |Pelton 0,0 0,0 |Pelton 0,0 0,0
Total 334,6 1,3 |Total 988,0 3,8 |Total 8.246,9 32,1
----------------------------------|-----------------------------------|-----------------------------------
Voith | G.E./Villares | Total - Brasil Part. (em %)
----------------------------------|-----------------------------------|-----------------------------------
0-50 187,4 63,1 | 0-50 0,0 0,0 | 0-50 296,8 1,2
50,1-100 0,0 0,0 | 50,1-100 62,5 18,8 | 50,1-100 332,5 1,3
100,1-150 500,0 49,3 |100,1-150 206,0 20,3 |100,1-150 1.015,0 4,0
150,1-200 1.609,0 70,0 |150,1-200 0,0 0,0 |150,1-200 2.298,6 9,0
>200 12.880,0 59,3 | >200 666,0 3,1 | >200 21.737,5 4,7
Francis 15.115,0 60,8 |Francis 666,0 2,7 |Francis 24.853,1 96,8
Kaplan 61,4 7,4 |Kaplan 268,5 32,5 |Kaplan 827,3 3,2
Pelton 0,0 0,0 |Pelton 0,0 0,0 |Pelton 0,0 0,0
Total 15.176,4 59,1 |Total 934,5 3,6 |Total
**
25.680,4 58,4
* Para equipamentos fabricados em consórcio, dividiu-se a potência e a quantidade total destes equipamentos
igualmente entre os vários fabricantes.
** A participação total do Brasil se refere à participação dos fabricantes brasileiros de turbinas hidráulicas
dentre todos os fornecimentos de turbinas hidráulicas para o país no período indicado.
Fonte: ELETROBRÁS.
TABELA 5
FORNECEDORES BRASILEIROS DE HIDROGERADORES
PARA AS HIDROELÉTRICAS BRASILEIRAS
(1969/86)
*
POTÊNCIA TOTAL PART.EMPRE-| POTÊNCIA TOTAL PART.EMPRE-| POTÊNCIA TOTAL PART.EMPRE-
(em MVA) (em MVA) SA/BRASIL | (em MVA) (em MVA) SA/BRASIL | (em MVA) (em MVA) SA/BRASIL
OU TIPO (em %) | OU TIPO (em %) | OU TIPO (em %)
Brown Boveri | Siemens | COEMSA
-----------------------------------|----------------------------------|------------------------------------
0-50 51,5 17,9 | 0-50 0,0 0,0 | 0-50 0,0 0,0
50,1-100 170,0 26,6 | 50,1-100 0,0 0,0 | 50,1-100 0,0 0,0
100,1-150 244,0 13,5 |100,1-150 354,0 19,6 |100,1-150 168,0 9,3
150,1-200 680,0 63,6 |150,1-200 0,0 0,0 |150,1-200 390,0 36,4
>200 13.138,0 46,7 | >200 10.377,0 36,8 | >200 702,0 2,5
Total 14.283,5 44,7 |Total 10.731,0 33,6 |Total 1.260,0 3,9
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------
POTÊNCIA TOTAL PART.EMPRE-| POTÊNCIA TOTAL PART.EMPRE-
(em MVA) (em MVA) SA/BRASIL | (em MVA) (em MVA) SA/BRASIL
OU TIPO (em %) | OU TIPO (em %)
------------------------------------|------------------------------------
G.E./Villares | Total - Brasil Part.(em %)
------------------------------------|------------------------------------
0-50 236,0 82,1 | 0-50 287,5 0,9
50,1-100 469,0 73,4 | 50,1-100 639,0 2,0
100,1-150 1.044,0 57,7 |100,1-150 1.810,0 5,7
150,1-200 0,0 0,0 |150,1-200 1.070,0 3,3
>200 3.945,0 14,0 | >200 28.162,0 88,1
Total 5.694,0 17,8 |Total
**
31.968,5 63,6
* Para equipamentos fabricados em consórcio, dividiu-se a potência e a quantidade total
destes equipamentos igualmente entre os vários fabricantes.
** A participação total do Brasil se refere à participação dos fabricantes brasileiros de
hidrogeradores dentre todos os fornecimentos de hidrogeradores para o país no período
indicado.
Fonte: ELETROBRÁS.
40
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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2.1.2. Desempenho da indústria
Os dados sobre a produção de BCESE no Brasil, no período 1981-1987, podem ser vistos
na Tabela 6, na qual se observa o declínio da produção total destes bens até 1984, para depois se
recuperarem, principalmente em 1987.
Apesar da inexistência de dados quantitativos exatos, pode-se afirmar que após 1987
ocorreu um declínio constante na produção da IBSE, devido aos cortes nos gastos públicos
promovidos a partir da gestão de Bresser Pereira no Ministério da Fazenda30. Esta queda
acentuou-se ainda mais em 1990 e 1991, a partir do Plano Collor, sendo que, em 1992, apesar das
exportações terem crescido cerca de 30% em relação ao ano anterior (segundo a ABINEE), os
baixos níveis de vendas de 1991 praticamente se repetiram.
TABELA 6
PRODUÇÃO DE EQUIPAMENTOS SOB ENCOMENDA SELECIONADOS
PARA O SETOR ELÉTRICO
(1981/87)
(US$ milhões)*
1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 Principal destinação
-Turbinas a Vapor 20,6 22,4 13,4 14,3 13,8 17,7 15,6 Petroq.,quím.,petróleo
-Motores Diesel 63,7 54,9 48,5 49,2 12,6 27,0 21,8 Quím.,naval,petróleo
-Turbinas Hidráulicas 74,5 88,9 105,5 77,3 96,1 83,5 79,4 Energia elétrica
-Turbinas a Gás 7,6 6,7 5,1 4,3 4,1 4,0 4,9 Petroq.,quím.,petróleo
-Hidrogeradores 82,8 64,8 37,3 22,8 30,9 86,7 85,3 Energia elétrica
-Turbogeradores 16,7 0,4 ... ... 8,9 3,5 26,8 Energia elétrica
-Partes e peças p/Gera-
dores,Mots. e Convers. 3,1 1,4 2,3 2,4 3,4 0,8 0,9 Petroq.,quím.,petróleo
-Transformadores 244,8 185,4 196,5 130,3 146,4 125,9 205,2 En.elétrica e outros
-Apar.Interrup.,Proteç.,
e Disjuntores 34,4 27,4 15,1 12,6 13,4 23,4 37,6 En.elétrica e outros
-Vasos Nucleares ... 10,7 9,3 8,3 0,1 4,7 5,3 Energia elétrica
-Total Equips.Elétrs.
Sob Encomenda** 702,6 501,8 438,2 301,3 338,6 375,9 589,5
* Os valores foram reajustados pelo IGP-DI da FGV, de acordo com a metodologia de Carpintero & Bacic (1990)
e transformados em dólares pela taxa de câmbio de 31-12-89.
** No Total de Equipamentos Elétricos sob Encomenda não estão incluídos as turbinas e os motores Diesel
especificados acima.
Fonte: ABDIB. E para os índices e para o câmbio: Conjuntura Econômica, vários números e Boletim do Banco
Central do Brasil, vários números.
Assim, devido à forte contração da demanda, em fins de 1992, a ociosidade média da
IBSE se situava entre 40 e 50%. E mesmo o segmento produtor de transformadores de potência,
o mais bem-sucedido da IBSE em termos de exportações, o que lhe permitiu escapar parcialmente
da crise, se encontrava com uma capacidade ociosa média de 40%, contra 70% para
hidrogeradores e de 50 a 60% dos fabricantes de disjuntores. Deve-se mencionar que, segundo a
pesquisa de campo realizada para este projeto, o grau médio de utilização da capacidade das
30 Ver Strachman (1992a:228).
41
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
empresas
__
as quais incluem fabricantes de equipamentos seriados31
__
, em 1987-89, foi de
80,3%, contra 57,5%, em 1992. Cerca de três quartos das empresas consultadas esperam que o
grau de utilização deva crescer no período 1993-97 enquanto o restante acredita que deva
permanecer igual.
Na tabela 7 observa-se a evolução, no período 1980-1991, do faturamento e do número de
empregados da indústria de equipamentos elétricos como um todo. Pode-se perceber, assim como
na tabela anterior, o declínio do faturamento até 1983, que se reverte, até 1987, apesar de não se
recuperar da queda anterior, para então ocorrer uma queda contínua e de grande intensidade no
faturamento até 199132. Já o número de empregados têm uma variação menos acentuada,
sofrendo um forte declínio apenas em 1990 e 1991. Deve-se mencionar que, de acordo com a
pesquisa de campo efetuada, a média das margens de lucro no período 1987-89 foi de 47%,
contra 59% em 199233.
TABELA 7
FATURAMENTO E NÚMERO DE EMPREGADOS DA INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS
PARA GERAÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ELETRICIDADE
(1984/88)
(US$ milhões de 1989 e 1.000 empregados)
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991
Faturamento 3.602 2.448 2.068 1.109 1.399 2.215 2.006 2.478 2.160 1.440 1.238 734
Variação/ano
anterior (em %) ... (32,0) (15,5) (46,4) 26,1 58,3 (9,4) 23,5 (12,8) (33,3) (14,0) (40,7)
Empregados ... ... ... ... 29 33 39 37 35 36 29 25
Variação/ano
anterior (em %) ... ... ... ... ... 13,8 18,2 (5,1) (5,4) 2,9 (19,4) (13,8)
Fonte: ABINEE
31 O total de empresas para as quais foram enviados questionários somou 56, sendo que 21 destas responderam-no,
entre fabricantes de bens de capital sob encomenda e seriados para o setor elétrico. Das 12 que responderam à
questão sobre origem do capital, 7 (58,3%) eram totalmente nacionais, 3 (25%) eram totalmente estrangeiras e as
outras 2 (16,7%) eram majoritariamente estrangeiras. Somente entre os fabricantes de bens de capital sob
encomenda para o setor elétrico relevados neste estudo, que somaram 5 empresas, 4 (80%) eram estrangeiras e 1
(20%) era nacional. Deve-se destacar a heterogeneidade da indústria de equipamentos elétricos, que compreende
uma vasta gama de empresas, entre produtores de bens de capital sob encomenda, de bens de capital seriados e de
peças e componentes para equipamentos elétricos. Mesmo entre os produtores de bens de capital sob encomenda
considerados neste estudo, há fabricantes de transformadores de potência, de geradores e de turbinas hidráulicas,
que disputam mercados específicos bastante diferenciados entre si.
32 O faturamento de 1991 correspondeu a 29,6% daquele de 1987, ou a 20,4% do de 1980, o ano de pico da série.
Note-se que os dados das tabelas 6 e 7 provém de fontes diferentes, que utilizam critérios que não permitem
comparações, a não ser de forma muito cuidadosa, acerca das tendências como um todo, conforme foi feito acima.
De acordo com a pesquisa de campo realizada, o faturamento de 31% das empresas decresceu, em 1992, com
relação ao período 1987-89, sendo que o de outras 38% foi igual e o dos restantes 31% aumentou. Para 70% das
empresas este faturamento deve aumentar, no período 1993-95, e permanecer constante para os restantes 30%. Já
para o período 1996-98, 89% das empresas esperam aumento de faturamento com relação a 1993-95, contra 11%
que esperam que este permaneça estável.
33 58% das empresas esperam aumentar suas margens de lucro no período 1993-95, com relação a 1992, e em
1996-98, em comparação a 1993-95, enquanto 33% esperam que estas permaneçam iguais nos dois períodos, com
relação a 1992, e 8% esperam que estas margens diminuam.
42
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
Na Tabela 8 se observa a evolução da balança comercial brasileira com relação a todos os
equipamentos elétricos utilizados na geração, transmissão e distribuição de eletricidade (GTD).
Constata-se o declínio das exportações após 1981, que só retornam ao patamar anterior em
198834. Nota-se também a maior magnitude das importações destes equipamentos em todos os
anos do período 1980-1988, quando comparadas às exportações, sendo que estas ainda sofrem
grandes ascensões em 1981-1982 e 1987-1988, o que resulta, logicamente, em elevações dos
déficits comerciais do setor.
TABELA 8
BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA DOS EQUIPAMENTOS PARA GERAÇÃO,
TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ELETRICIDADE
(1980/88)
(US$ milhões FOB)
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988
*
Total
Exportações 34 29 21 19 16 17 19 16 27 198
Importações 97 269 212 75 89 68 68 145 157 1.180
Saldo (63) (240) (191) (56) (73) (51) (49) (129) (130) (982)
* Os dados para 1988 são estimativas.
Fonte: ABINEE
A evolução do número de empregados e de horas trabalhadas na IBSE, desde 1982, pode
ser observada no gráfico 1. Este gráfico mostra a variação mais acentuada da "produção" em
relação ao "emprego", que geralmente acompanha, com um certo atraso, a evolução da primeira
variável, o que só não ocorreu em 1987 e 1988.
34 De acordo com a pesquisa de campo efetuada, 54% das empresas obtiveram crescimento das suas exportações,
em 1992, em comparação com 1987-89, contra 46% para as quais estas permaneceram estáveis. Estas devem
crescer no período 1993-95, com relação a 1992, para 87,5% das empresas, contra 12,5% para as quais estas
permanecerão constantes, devendo aumentar mais uma vez, em 1986-98, para 86% dos fabricantes, contra 14%
para os quais estas deverão permanecer constantes. A participação das exportações no faturamento das empresas foi
de 4%, no período 1987-89 (3,5% para os fabricantes de equipamentos sob encomenda), passando para 16%, em
1992 (19,9% para os fabricantes de equipamentos sob encomenda, devendo-se frisar que o faturamento das
empresas declinou 12,2% no período, contra um aumento de 601,3% das exportações, para os 4 fabricantes que
responderam).
43
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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GRÁFICO 1
ÍNDICES DE EMPREGADOS E HORAS TRABALHADAS NA INDÚSTRIA DE
EQUIPAMENTOS PARA ENERGIA ELÉTRICA SOB ENCOMENDA
Índices
60
65
70
75
80
85
90
95
100
1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988
Nº de Empregados Horas Trabalhadas
Fonte: ABDIB.
Deve-se agregar a estes dados quantitativos, que a IBSE, conforme ressaltado na ABINEE
e na ELETROBRÁS, assim como a maioria dos fornecedores de insumos para esta indústria, é
bastante competitiva internacionalmente. A razão disto é que a IBSE possui maiores qualificações
justamente em produtos e processos, o que lhe garante competitividade, pelo menos a médio
prazo. Isto porque em um prazo mais longo, as capacitações em projeto e em desenvolvimento de
tecnologia própria podem se mostrar cruciais para a competitividade internacional (esse tema será
retomado na seção 2.1.3).
As tabelas 9 e 10 mostram os dados de comércio exterior de BCESE selecionados. As
exportações do segmento mais competitivo desta indústria, o de transformadores de potência, que
segundo Parra (1991:7) atingiram cerca de US$ 5 milhões, em 1988 e 1989, US$ 8 milhões, em
1990, e US$ 25 milhões, em 1991, devendo ter atingido mais de US$ 50 milhões, em 199235.
Este melhor desempenho exportador do segmento de transformadores de potência se deve
ao tamanho do mercado internacional36, aos elevados investimentos realizados pelos fabricantes
deste segmento no Brasil
__
o que os tornou relativamente atualizados com relação aos padrões
35 A diferença entre os valores de Parra e os da Tabela 9 é que Parra considera como transformadores de potência
alguns com menos de 10 MVA. De acordo com a pesquisa de campo realizada, a média das exportações passou de
US$ 32,2 milhões, no período 1987-89, para US$ 141,9 milhões, em 1992.
36 Segundo Parra (1991:3), o mercado japonês adquire US$ 1,2 bilhão por ano, mas é atendido em cerca de 90%
pelas próprias empresas do país. Já o mercado americano representa pouco mais de US$ 1 bilhão ao ano, enquanto
os mercados da Europa e da América Latina absorvem US$ 0,5 bilhão e US$ 150 milhões ao ano, respectivamente.
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internacionais
__
, à relativa maturidade tecnológica destes equipamentos e, principalmente, assim
como se dá com outros equipamentos, aos baixos salários37.
Este segmento é seguido pelo de turbinas, principalmente as hidráulicas
__
que
corresponderam a 73,3% das exportações de turbinas de grande porte e de suas partes, contra
apenas 27,5% de suas importações
__
, e pelo de hidrogeradores, sendo que o país tem capacidade
também, atualmente, para exportar disjuntores. O bom desempenho no que tange às turbinas
hidráulicas se deve, fundamentalmente, ao fato de que mais de 90% da eletricidade gerada no país
é proveniente de energia hidráulica, participação esta que deve permanecer no mínimo até 2005.
Isto proporciona uma grande experiência e tradição na fabricação de equipamentos para esta fonte
de energia38. Nas Tabelas 4, 5, 9, 10 e 11 pode-se visualizar a competitividade da IBSE para
turbinas hidráulicas, hidrogeradores e disjuntores.
Segundo a ABINEE, principalmente nos segmentos de transformadores de potência,
hidrogeradores e turbinas hidráulicas, o Brasil possui capacidade de exportação, inclusive para os
mercados das matrizes das empresas transnacionais instaladas no país, quando estas exportações
são permitidas. Assim, estimativas da ABINEE indicam um crescimento, em 1992, de cerca de
30% nas exportações globais da indústria de GTD com relação a 1991.
Os principais mercados para os BCESE brasileiros localizam-se nos países em
desenvolvimento, como os da África e da América Latina, que representam os maiores riscos de
inadimplemento, e nos EUA. Isto porque, os mercados dos países desenvolvidos, à exceção desse
último, se encontram praticamente fechados. Contudo, o mercado norte-americano é disputado
ferozmente por várias empresas internacionais que, as vezes, cerceiam as exportações de suas
filiais brasileiras. Já a concorrência pelas encomendas dos países do Oriente Médio, considerados
de 1ª linha pelos fabricantes internacionais, devido à elevada magnitude das compras e ao
pagamento pontual dos débitos, é bastante acirrada, o que faz com que as margens de lucro para
exportações para estes países sejam bastante reduzidas.
Um mercado importante para as exportações, embora de menor valor, é o de recuperação
e upgrading de equipamentos antigos39, representando, no entanto, menos do que 10% das
37 Esta análise dos principais fatores de competitividade será vista com mais detalhes na próxima seção.
38 Isto ocorre principalmente no que se refere a turbinas tipo Francis e Kaplan, que corresponderam a 27,9% e a
12,7% dos US$ 1,9 milhões exportados entre 1980 e 1988. Destaque-se que as turbinas Francis e Kaplan são as
mais utilizadas no país, por serem adequadas a quedas de baixa e média altitudes, ao contrário das turbinas Pelton,
utilizadas em quedas elevadas. Assim, apesar do bom desempenho exportador do Brasil no tocante a turbinas
Pelton, um dos maiores fabricantes de turbinas hidráulicas do país perdeu concorrências para fornecer este tipo de
turbinas para a Venezuela devido à sua pouca experiência com relação a elas, a despeito de sua inigualável
qualificação no que tange a outros tipos de turbinas hidráulicas, a qual incluía inclusive as turbinas para Itaipu. Ver
Strachman (1992a:Caps. 2 e 4).
39 A Villares, por exemplo, recebeu US$ 13 milhões por um retrofit de geradores para uma central nos EUA, no
qual realizou o projeto, a produção e a instalação de 7.000 barras estatóricas, além da remoção das barras antigas.
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exportações da IBSE como um todo ou de qualquer uma de suas empresas em particular. Deve-se
mencionar também a crescente importância da capacidade de realização de projetos turn-key
__
às
vezes incluindo as obras civis de centrais
__
para se poder concorrer por algumas encomendas em
que o comprador deseja receber toda a central ou seus equipamentos completamente instalados e
prontos para funcionar.
Um fator fundamental para a competitividade da IBSE é o baixo custo de seus produtos, a
despeito da menor produtividade das empresas brasileiras. Este diferencial de custo, tanto no que
se refere à produção quanto aos projetos, é alcançado muito em função dos menores salários
pagos no país, quando comparados aos recebidos nos países concorrentes.
Quanto à produtividade da IBSE, esta também é menor na área de projetos devido à
menor utilização de sistemas de Computer Aided Design (CAD). Entretanto, merece ser
destacado que o CAD não proporciona somente vantagens de custo, mas também melhorias no
que se refere a prazos de produção, qualidade e precisão dos produtos, que são, inclusive, mais
relevantes do que os diferenciais de custo que propicia.
TABELA 9
BRASIL - INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS SOB ENCOMENDA
PARA O SETOR ELÉTRICO - EXPORTAÇÕES DE ALGUNS SEGMENTOS
(1980/92)
(em US$ mil FOB)
TIPO DE EQUIPAMENTO 1980-83 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 Total
Turbinas e suas partes 7.320 166 3.206 1.576 2.469 1.316 3.177 4.887 5.606 - 29.723
-A vapor e partes 1.157 117 2.961 1.129 45 184 432 187 118 - 6.330
-a vapor 1.018 0 2.894 101 0 0 193 67 12 - 4.285
-partes 139 117 67 1.028 45 184 239 120 106 - 2.045
-Outrs.partes/mots. 0 0 0 0 0 0 357 774 486 - 1.617
-Hidráuls. e partes 6.163 49 245 447 2.424 1.132 2.388 3.926 5.002 - 21.776
-hidrs.até 1 MW 1.112 5 125 92 591 4 14 240 0 - 2.183
-hidrs. de 1-10 MW 0 0 0 0 0 0 21 0 5 - 26
-regulads.p/hidrs. 9 0 0 0 47 0 12 0 23 - 91
-partes de hidrs. 5.042 44 120 355 1.786 1.128 2.341 3.686 4.974 - 19.476
Geradores 139 207 280 1.645 353 1.015 1.001 1.633 7.353 8.533 22.159
-Em C.A.de 75-375 KVA 0 0 0 0 0 0 694 895 93 86 1.768
-Em C.A.de375-750 KVA 0 0 0 0 0 0 6 24 44 154 228
-Em C.A.de + 750 KVA 139 207 280 1.645 353 1.015 301 714 7.216 8.293 20.163
Gers.acopls.mots.expl. 9.929 1.038 591 552 292 454 4.929 677 595 1.616 20.673
-Gers.acps.mots.Dies. 9.809 963 560 552 292 454 4.566 674 584 1.569 20.023
-de 75-375 kVA 9.809 963 560 552 292 454 4.298 439 552 1.365 19.284
-de +375 kVA 0 0 0 0 0 0 268 235 32 204 739
-Gers.acps.mots.expl. 120 75 31 0 0 0 363 3 11 47 650
Trafos.pot.de + 10 MVA 38.419 3.326 5.940 3.134 2.167 4.690 3.621 3.851 6.872 45.903 117.923
Disjuntores e partes 788 904 360 111 188 444 100 544 325 616 4.380
-Disjuntores 769 899 360 111 188 289 53 74 39 70 2.852
-Partes de +72,5 kV 19 5 0 0 0 155 47 470 286 546 1.528
Total da tabela 56.595 5.641 0.377 7.018 5.469 7.919 12.828 11.592 20.751 56.668 194.858
Fonte: Strachman (1992a:Cap. 4), com base em Banco do Brasil. Carteira do Comércio Exterior (CACEX).
Vários números, e DECEX.
Contudo, nos últimos 5 anos, observou-se uma redução dos custos dos BCESE
produzidos no país de cerca de 30 a 40%, em média, como conseqüência do aperfeiçoamento do
processo de compras de insumos, da redução dos defeitos por eles apresentados e da adequação
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dos projetos dos equipamentos fabricados e dos insumos utilizados40. Esses números mostram
que as estratégias atuais de modernização seguidas, de modo geral, pelas empresas da IBSE e por
seus fornecedores
__
de direcionar seus poucos investimentos para a modernização e o controle
de qualidade
__
, têm-se mostrado bastante eficientes, pelo menos no curto prazo e frente à
escassez de recursos e de perspectivas mais favoráveis para esta indústria. Isto é confirmado,
também, pelo crescimento da margem média de lucro das exportações nos últimos anos.
TABELA 10
BRASIL - INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS SOB ENCOMENDA
PARA O SETOR ELÉTRICO - IMPORTAÇÕES DE ALGUNS SEGMENTOS
(1980/MAIO-92)
(em US$ mil FOB)
TIPO DE EQUIPAMENTO 1980-83 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991-92 Total
Turbinas e suas partes 224.611 40.731 138.487 123.880 65.205 103.588 20.414 40.220 - 757.136
-A vapor e partes 105.505 22.919 116.062 85.974 24.321 68.219 7.591 24.189 - 454.780
-a vapor 48.331 57 22.130 8.792 0 352 3.500 9.711 - 92.873
-partes 57.174 22.862 93.932 77.182 24.321 67.867 4.091 14.478 - 361.907
-Turbinas a gás 54.715 892 1.066 11.277 2.005 335 0 0 - 70.290
-Outrs.partes/mots. 0 0 0 0 0 0 2.345 6.625 - 8.970
-Hidráuls. e partes 64.391 16.920 21.359 26.629 38.879 35.034 10.478 9.406 - 223.096
-hidrs.até 1 MW 20.790 9.030 6.151 16.065 21.663 20.821 11 6 - 94.537
-hidrs. de 1-10 MW 0 0 0 0 0 0 145 0 - 145
-hidrs. de +10 MW 0 0 0 0 0 0 5.694 8.414 - 14.108
-regulads.p/hidrs. 1.719 119 432 173 2.349 690 138 12 - 5.632
-partes de hidrs. 41.882 7.771 14.776 10.391 14.867 13.523 4.490 974 - 108.674
Geradores 32.831 3.187 1.392 5.166 3.981 27.025 20.381 7.738 1.166 102.867
-Em C.A.de 75-375 KVA 0 0 0 0 0 0 25 507 508 1.040
-Em C.A.de +750 KVA 32.831 3.187 1.392 5.166 3.981 27.025 20.356 7.231 658 101.827
Gers.acopls.mots.expl. 38.809 10.988 14.588 7.725 4.100 8.011 2.217 8.952 16.335 111.725
-Gers.acps.mots.Dies. 38.809 10.988 14.588 7.725 4.100 8.011 2.217 8.289 15.733 110.460
-de 75-375 kVA 38.809 10.988 14.588 7.725 4.100 8.011 247 155 874 85.497
-de +375 kVA 0 0 0 0 0 0 1.970 8.134 14.859 24.963
-Gers.acps.mots.expl. 0 0 0 0 0 0 0 663 602 1.265
Trafos.pot.de + 10 MVA 236.209 45.156 18.218 17.663 28.477 36.858 8.332 3.305 227 394.445
Disjuntores e partes 63.805 6.888 2.644 18.977 17.657 13.852 12.444 10.705 8.087 155.059
-Disjuntores 39.790 3.373 1.029 13.108 8.628 920 8.401 6.717 650 82.616
-Partes de +72,5 kV 24.015 3.515 1.615 5.869 9.029 12.932 4.043 3.988 7.437 72.443
Total da tabela 596.265 106.950 175.329 173.411 119.420 189.334 63.788 70.920 25.815 1.521.232
Fonte: Strachman (1992a:Cap. 4), com base em Brasil. Coordenação do Sistema de Informações Econômico-
Fiscais. Vários números, e DECEX.
TABELA 11
FORNECIMENTOS DA MERLIN GERIN (INEBRASA)
(ATÉ 5-12-91)
(unidades)
69 kV 145 kV 245-326 kV 440-500 kV 800 kV TOTAL
Total 208 343 235 97 26 909
Concs. internacionais 29 91 49 35 25 229
Internac./total (em %) 13,9 26,5 20,9 36,1 96,2 25,2
Fonte: Merlin Gerin.
40 Assim, um fabricante de transformadores de potência teria conseguido reduções de custos de cerca de 2/3 (dois
terços) em cinco anos, também por meio da redução de estoques e de perdas de processos. Deve-se apontar também
que a margem média de lucro das exportações da IBSE parece ter aumentado nos últimos anos, o que pode ser
apontado como um sinalizados desta queda generalizada de custos.
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Dados recolhidos na pesquisa de campo do Estudo da Competitividade da Indústria
Brasileira (vide Anexo) corroboram as afirmações feitas acima. Assim, o nível de preços, em
1992, era maior para 85% e menor para 15% das empresas, com relação ao período 1987-89,
enquanto o nível de custos era menor para 30%, igual para 15% e maior para 55% (para os
fabricantes de bens de capital sob encomenda, estes números eram, no entanto, menores para 80%
e maiores para 20%). O nível médio dos salários, em 1992, era menor para 65% das empresas,
com relação a 1987-89, igual para 10% e maior para 25% e os prazos de entrega eram menores,
para 26,3%, iguais, para 15,8%, e maiores, para 57,9% (eram menores para 100% dos fabricantes
de equipamentos sob encomenda).
O prazo médio de produção passou de 131,1 dias, em 1987-89, para 79,55, em 1992, uma
redução de 39,3%. Já o prazo médio de entrega passou de 272,87 dias, no período 1987-89, para
161,99, em 1992, uma diminuição de 40,6%. A taxa de retrabalho passou de 6,57%, em 1987-89,
para 4,52%, em 1992, enquanto a de defeitos passou de 4,16% para 3,88%. A taxa de devolução
de insumos diminuiu de 8,73% para 3,5%, enquanto a de devolução de produtos reduziu-se de
0,91% para 0,82% (0,37% para 0,23%, entre os fabricantes de equipamentos sob encomenda).
Quanto ao índice de consumo energético/custos diretos, este aumentou de 2,4%, em
média, em 1987-89, para 2,5%, em 1992. Já a média do consumo efetivo de matéria-prima com
relação ao consumo nominal, passou de 89,5% para 94,1%. O prazo de rotação de estoques
diminuiu de 84,18 dias para 49,71 dias, enquanto as paradas imprevistas passaram de 19,14 dias
para 18,58 dias.
Na avaliação das próprias empresas, a eficiência na assistência técnica diminuiu para
47,4% das empresas, permaneceu igual para 31,6% e aumentou para 21,1% (para bens sob
encomenda houve uma redução para 25% das empresas, um aumento para 50%, sendo que os
para outros 25% esta permaneceu igual). O conteúdo/sofisticação tecnológica foi menor para
52,6% das empresas, igual para 31,6% e maior para 21,1% (no caso dos bens sob encomenda, foi
maior para 75% das empresas e igual para 25%). A conformidade às especificações técnicas foi
menor para 52,6% das empresas, igual para 36,8% e maior para 10,5% (para os bens sob
encomenda foi maior para 50% e igual para os outros 50%). A durabilidade foi menor para
31,6%, igual para 57,9% e maior para 10,5% (no caso dos bens sob encomenda foi igual para
75% e maior para 25%). E o atendimento às especificações particulares dos clientes foi menor
para 47,4%, igual para 42,1% e maior para 10,5% (para os equipamentos sob encomenda foi igual
para 50% e maior para os outros 50%).
Com relação à geração dos produtos comercializados, 42,9% dos fabricantes produz
equipamentos de última geração em nível internacional, enquanto 38,1% fabricam equipamentos
de penúltima geração e 4,8% de gerações ainda anteriores, contra outros 4,8% que não sabem e
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9,5% para os quais a questão não se aplica. Entre os produtores de equipamentos sob encomenda,
60% fabrica equipamentos de última geração.
No que concerne à estratégia de mercado adotada pelas várias empresas, 28,6% delas
buscam direcionar seu principal produto somente para o mercado externo, enquanto as outras
71,4% procuram direcioná-lo tanto para o mercado externo quanto para o interno. Entre os
fabricantes de bens sob encomenda, 100% destes adotam esta última estratégia, mas direcionando
sua produção preferencialmente para o mercado interno41.
A estratégia de produção compreende principalmente42, para 52,4% das empresas, a
redução do custo dos estoques, para 33,3%, a redução do consumo e/ou o aumento do
rendimento das matérias-primas, para 47,6%, a redução das necessidades de mão-de-obra e para
outros 47,6%, a promoção de desgargalamentos produtivos.
No que tange à estratégia de produto, 33,3% apontaram que visava-se preferencialmente
os baixos preços43, 28,6% a forte identificação com a marca, 23,8% os pequenos prazos de
entrega, 0% os curtos tempos de desenvolvimento de produtos, 19% a elevada eficiência na
assistência técnica, outros 19% o elevado conteúdo/sofisticação tecnológica, 23,8% a elevada
conformidade às especificações técnicas, 14,3% a elevada durabilidade, e 33,3% o atendimento às
especificações dos clientes. 60% dos fabricantes de bens sob encomenda procuram atuar em
segmentos específicos de mercado, enquanto os outros 40%, justamente os de menor porte,
buscam atuar em todos os segmentos de mercado.
Quanto à estratégia de compras do(s) principal(is) insumos, esta visa preferencialmente,
para 71,4% dos fabricantes, menores preços44, enquanto 28,6% escolheram menores prazos de
entrega, 19% maior conteúdo tecnológico, outros 71,4% maior conformidade às especificações
técnicas e 4,8% maior atendimento às especificações particulares. Por outro lado, 17,6% das
empresas procuram, desenvolver programas conjuntos de P & D, 47,1% estabelecer cooperação
para o desenvolvimento de produtos, 82,4% a promoção de troca sistemática de informações
41 O(s) principal(is) motivador(es) desta estratégia foi(ram), para 85,7% das empresas, a retração do mercado
interno, para 33,3% o avanço da abertura comercial no(s) segmento(s) nos quais atua a empresa, para 4,8% o
avanço da abertura comercial nas indústrias compradoras da empresa, para 14,3% as crescentes dificuldades de
acesso a mercados internacionais, para 47,6% a globalização dos mercados, para 14,3% a formação do Mercosul,
para 19% as novas regulamentações públicas, para 23,8% o surgimento de novos produtos no mercado interno,
para 28,6% o surgimento de novos produtores no mercado interno, para 52,4% as exigências dos consumidores,
para 9,5% a elevação de tarifas dos insumos básicos (energia, comunicações, etc.) e para outros 23,8% as diretrizes
dos programas governamentais (PCI, PBQP, etc.). Note-se que admitiu-se até duas respostas, o que explica a soma
de percentagens ultrapassar os 100%.
42 Também nesta questão podia-se fornecer mais de uma resposta.
43 Mais uma vez admitiu-se neste caso até duas respostas, o que explica a soma de percentagens ultrapassar os
100%.
44 Esta questão também permitia respostas múltiplas.
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sobre qualidade e desempenho dos produtos, 47,1% manter relacionamento comercial de longo
prazo com conjunto fixo de fornecedores, 82,4% realizar compras de fornecedores certificados
pela empresa, 52,9% realizar compras de fornecedores cadastrados pela empresa e 35,3% realizar
compras de fornecedores que ofereçam condições mais vantajosas.
No que concerne ao número de fornecedores, 20% dos fabricantes de equipamentos sob
encomenda preferem comprá-los do maior número possível de fornecedores, enquanto 60%
preferem adquirí-los do menor número possível (desde que não seja um único fornecedor) e 20%
não possuem preocupação com a origem dos fornecedores.
Estes aspectos ressaltariam, segundo a ABINEE, as diferenças entre os ajustes efetuados
em decorrência da recessão do início dos anos 80 e aqueles feitos em conseqüência da atual, pois
enquanto os primeiro foram centrados na diminuição do número de funcionários, agora,
provavelmente devido à sua maior violência e à percepção dos empresários do seu caráter
estrutural, além da redução de pessoal, investiu-se pesadamente em qualidade. Assim, procurou-se
adaptar os produtos e processos a normas de controle de qualidade da série ISO 9000, ou ainda a
normas técnicas mais rígidas. Buscou-se, também, desverticalizar a produção, "terceirizando" o
fornecimento de insumos, além de procurar reduzir prazos de fornecimento e custos de estoques
através da implantação, quando possível, de sistemas just in time (é claro que adaptados a uma
indústria sob encomenda e com longos processos de projetamento e de produção).
Quanto a alguns dos insumos utilizados pela IBSE, o Brasil se encontra numa posição
altamente competitiva, como sucede com relação aos fabricantes de medidores, conversores
estáticos, capacitores, quadros elétricos e isoladores de porcelana e de vidro. Tal fato, como será
discutido adiante, certamente se constitui numa vantagem estrutural da IBSE, não somente pelo
lado dos custos, mas também, e principalmente, do ponto de vista das facilidades de projeto, de
aprendizado tecnológico conjunto entre fornecedores e demandantes, e de troca de informações
técnicas e de especificações entre estes45.
Assim, a Cerâmica Santana, que produz porcelanas elétricas, é extremamente competitiva
internacionalmente, estando entre os três maiores fabricantes mundiais destes insumos, para os
quais realiza o projeto e a fabricação completos. A Santana inclusive produziu os invólucros de
porcelana das câmaras de interrupção utilizadas nos disjuntores a ar comprimido de 800 kV,
destinados a Itaipu46, possuindo ainda uma carteira de encomendas do exterior maior do que a
45 E como vimos, a taxa de rejeição de insumos decresceu em 60% entre a média do período 1987-89 e 1992.
46 É fundamental destacar que estes disjuntores funcionam a ar comprimido, pois este meio de extinção do arco
elétrico exige que os invólucros das câmaras dos disjuntores possuam uma superfície interna sem falhas, formando
um invólucro perfeito, a fim de que possam resistir às elevadas pressões internas provocadas pelo ar comprimido
quando do funcionamento dos disjuntores (esta dificuldade e os custos de fabricação destas câmaras foram algumas
das principais razões dos disjuntores a SF
6
monopolizarem posteriormente o mercado). Assim, estes invólucros
50
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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destinada ao mercado interno. A empresa inclusive exporta tecnologia para o Chile, além de estar
cadastrada em todas as concessionárias de energia elétrica dos EUA, o que a levou inclusive a
instalar uma subsidiária na América do Norte para atender o mercado daquela região.
Também outros fabricantes de insumos são bastante competitivos internacionalmente,
como as Cerâmicas Santa Terezinha e São Sebastião, a Lorenzetti Porcelanas e a Stieletrônica,
entre os fabricantes de cerâmicas, além da Eletrovidro - que fabrica isoladores de vidro e exporta
para os países desenvolvidos -, e dos fabricantes de cabos elétricos.
Portanto, deve-se destacar que o Brasil exportou, entre 1989 e 1992, US$ 10,1 milhões
em isoladores de vidro para uso eletrotécnico, sendo a Eletrovidro a principal exportadora destes
insumos. Frise-se que as importações destes insumos totalizaram meros US$ 169 mil, no período
compreendido entre janeiro de 1989 e maio de 1992.
Já no que se refere aos isoladores de cerâmica para fins eletrotécnicos, as exportações,
entre 1989 e 1992, atingiram a considerável cifra de US$ 43,3 milhões, enquanto as importações,
até maio de 1992, totalizaram apenas US$ 8 milhões. Entre os exportadores destacou-se a
Cerâmica Santana, que exportou US$ 7,6 milhões dos US$ 11,4 milhões exportados no ano de
1992, mas devendo-se notar as participações importantes das outras empresas anteriormente
mencionadas, como as Cerâmicas Santa Terezinha e São Sebastião, que exportaram US$ 774 mil
e US$ 758 mil, respectivamente, a Lorenzetti Porcelana, com US$ 386 mil, e a Stieletrônica, com
US$ 368 mil.
Merecem destaque também as exportações de conversores estáticos, que totalizaram US$
11 milhões, entre 1989 e 1992
__
contra US$ 54,8 milhões importados entre 1989 e maio de 1992
__
, com destaque para a Coemsa-Ansaldo e para a ABB; as de partes de transformadores de
potência, que somaram US$ 27 milhões, contra US$ 10,6 milhões importados, com importantes
participações da Coemsa-Ansaldo, que exportou US$ 4 milhões somente em 1992, da Tusa, que
exportou US$ 1,8 milhões neste mesmo ano, da Fitas Metálicas, com US$ 1,4 milhões, da ABB,
com US$ 400 mil, e da Sumitomo, com US$ 282 mil.
Foram também exportados quadros elétricos no valor de US$ 9,1 milhões, no período
1989-1992, contra US$ 67,5 milhões importados até maio de 1992, com destaque para a AEG, a
Westinghouse, a ABB e a Merlin Gerin, devendo-se pôr ainda em evidência as exportações de
medidores e de partes para estes equipamentos, que totalizaram US$ 66 milhões entre 1989 e
1992
__
contra US$ 20,9 milhões importados até maio de 1992
__
com destaque para empresas
como a G.E. do Brasil, Schlumberger, Aprel, Nansen, FAE, ABB e Prismatic.
exigem um nível de qualidade muito maior do que os daqueles utilizados pelos disjuntores a SF
6
. Ver Strachman
(1992a:311).
51
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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É importante apontar ainda que, no caso dos insumos, segundo a ABINEE, os preços dos
fornecedores nacionais de insumos reduziram-se nos últimos anos, estando mais próximos do dos
concorrentes estrangeiros, como mostra inclusive o sucesso em algumas exportações e
concorrências internacionais para estes insumos. Com relação à sua qualidade, foi ressaltado que
esta é muito elevada, em alguns casos ultrapassando a dos congêneres estrangeiros. Deste ponto
de vista, a infra-estrutura constituída pelos fornecedores de insumos, conforme já antes destacado,
constitui-se em uma vantagem estrutural da IBSE, em vista das vantagens de se possuir
fornecedores regionalmente próximos para se conseguir fornecimentos com qualidade, preços e
prazos mais adequados. Assim, quando os preços
__
a principal queixa com relação aos
fornecedores nacionais
__
são muito mais elevados, pode-se conseguir com alguma facilidade, no
caso de equipamentos destinados à exportação, permissão para importar insumos do exterior. No
entanto, quando de concorrências internacionais, estes maiores custos dos equipamentos
produzidos para o mercado interno constituem uma desvantagem estrutural da IBSE.
2.1.3. Capacitação
De um modo geral, na IBSE como um todo não há, praticamente, defasagens tecnológicas
com relação a produtos e processos, quando se a compara com o exterior, o mesmo já não
ocorrendo com relação a área de projeto. Também a capacitação gerencial das empresas
brasileiras parece ser comparável à das suas congêneres estrangeiras.
Cabe observar que vários dos processos de produção utilizados na fabricação de BCESE
são praticamente artesanais, como ocorre, por exemplo, na produção dos enrolamentos dos
transformadores de potência, o que atenua significativamente a importância de equipamentos
fabris modernos para a produção destes equipamentos. Todavia, no que tange aos processos de
produção passíveis de automação, a atualização técnica é um fator que amplia a produtividade das
empresas e a qualidade de seus produtos, além de possibilitar reduções dos prazos de fabricação.
Frise-se que a maioria das plantas e dos equipamentos fabris existentes no país foi
instalada por volta do final da década de 70/início da década de 80, o que lhes dá uma defasagem
de, no máximo, dez ou doze anos. Além disso, vários dos seus processos de produção sofreram
modernizações neste período, através da incorporação de novos equipamentos fabris ou de
componentes eletrônicos em equipamentos antigos, a fim de aumentar sua produtividade.
De acordo com a pesquisa de campo do Estudo da Competitividade da Indústria
Brasileira, no que concerne à idade do principal equipamento fabril utilizado, 9,5% das empresasa
responderam que esta é de até 5 anos, 14,3% que é de 6 a 10 anos e 76,2% que é de mais de 10
anos. O único fabricante de equipamentos sob encomenda que respondeu a esta questão (pois os
outros responderam que não se aplica), uma importante transnacional desta indústria, afirmou que
52
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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a idade deste equipamento atinge 14 anos, o que significa que foi adquirido em 1979, ao final do
II PND. Este equipamento seria de penúltima geração, segundo este fabricante, enquanto o de
outro fabricante que descreveu este aspecto, de gerações anteriores, sendo que outros três
afirmaram que a questão não se aplica47.
Quanto à porcentagem da produção que é realizada em equipamentos de automação de
base microeletrônica, esta foi, no período 1987-89, de 0 a 10% para 85,7% dos fabricantes, e de
11 a 50% para os outros 14,3%, passando em 1992 para 81% e 9,5%, respectivamente, além de
outros 9,5% correspondentes àqueles que utilizam microeletrônica em um intervalo de 51 a 100%
de sua produção. Para os fabricantes de bens sob encomenda tem-se dados mais desagregados,
sendo que 40% destes responderam que a questão não se aplica, enquanto um fabricante de
transformadores apontou uma constância desta participação entre 11 e 20%, no período 1987-
1992, e mesmo prospectiva, até 1998. Outro fabricante apontou que esta participação permaneceu
entre 0 e 2%, entre 1987 e 1992, devendo passar a de 6 a 10%, entre 1993 e 1995, e entre 11 e
20%, no período 1996-98. O último fabricante utilizou microeletrônica em entre 3 e 5% de sua
produção, em 1987-89, de 6 a 10%, em 1992, e deve usá-la em de 11 a 20%, no período 1993-95,
e de 21 a 50%, no período 1996-98.
Outros dados referentes à capacitação produtiva, tecnológica e de gestão levantados na
mencionada pesquisa de campo merecem registro. No que se refere à ISO 9000, e levando-se em
consideração apenas os fabricantes de bens sob encomenda, a empresa de capital nacional está em
fase adiantada de implantação deste sistema, enquanto a menor das transnacionais recém iniciou a
sua implantação, duas outras empresas já completaram a implantação (mas ainda não obtiveram o
certificado) e uma última empresa já o obteve. Já no que se refere ao percentual de uso de técnicas
organizacionais, a participação dos CCQs (círculos de controle de qualidade) nas várias empresas
foi, no período 1987-89, em média, de 0 a 10% para 82,4% destas, de 11 a 50% para 11,8%, e de
51 a 100% para 5,9%, passando estes números em 1992 para 50, 38,9 e 11,1%, respectivamente.
Já o CEP (controle estatístico de processo) era utilizado entre 1987 e 1989 em 0 e 10% das
unidades produtivas por 76,5% das empresas enquanto outras 17,6% utilizavam-no entre 11 e
50% e 5,9% entre 51 e 100%. Estes valores passaram a 66,7, 16,7 e 16,7%, respectivamente, em
1992.
No que tange aos métodos de tempos e movimentos, estes tiveram participação, no
período 1987-89, em 0 a 10% das operações produtivas para 76,5% dos fabricantes, 11 a 50%
para 11,8% e 51 a 100% para outros 11,8%, sendo que, em 1992, estes dados passaram para
63,2, 21,1 e 15,8%. Por outro lado, entre 1987 e 1989, as células de produção eram utilizadas em
47 Entre todos os fabricantes, 9,5% responderam de última geração, 33,3% de penúltima geração, 19% de gerações
anteriores, 4,8% não sabem e 33,3% que a pergunta não se aplica.
53
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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0 a 10% das operações por 64,7% das empresas e em 10 a 50% pelas restantes 35,3%. Em 1992,
estes valores mudaram para 55,6% e 38,9%, além de 5,6% que utilizaram-nas entre 51 e 100%.
Com relação ao just in time interno, no período 1987-89 este era utilizado em 0 a 10% das
operações por 70,6% das empresas, e de 11 a 50% por 29,4%, e, em 1992, de 0 a 10%, por 50%,
de 11 a 50%, por 33,3%, e de 51 a 100%, por 16,7%. O just in time externo era usado, no
período 1987-89, em 0 a 10% das aquisições realizadas por 82,4% dos fabricantes, e de 11 a 50%
pelos outros 17,6%, sendo que, em 1992, estes dados modificam-se para 83,3% e 11,1%,
respectivamente, além de 5,6% que o utilizam entre 51 e 100%.
Já a participação em just in time de clientes, entre 1987 e 1989, foi de 0 a 10%, para
76,5% das empresas, de 11 a 50%, para 17,6%, e de 51 a 100%, para 5,9%, passando para 77,8,
11,1 e 11,1% respectivamente em 1992. O controle de qualidade na produção foi utilizado em
etapas essenciais, em 1987-89, por 50% das empresas, e em todas as etapas por outros 50%,
passando para 36,8 e 57,9%, respectivamente, em 1992, além de 5,3% que passaram a não utilizá-
los.
Apenas 2 fabricantes de bens sob encomenda afirmaram ter adquirido
tecnologia/consultoria de terceiros no período 1991-92, sendo que o de capital nacional utilizou
serviços de metrologia e normalização e de consultoria em qualidade, ambos adquiridos no Brasil,
e o de capital estrangeiro utilizou-se de serviços de testes e ensaios, de certificação e
conformidade, de consultoria em qualidade, de consultoria gerencial, todos no Brasil, e de
consultoria em marketing, no país e no exterior.
Deve-se mencionar também que 60% das empresas têm suas estratégias desenvolvidas e
disseminadas apenas informalmente, sendo que para outros 15% estas são formalizadas e
disseminadas periodicamente. Somente para os outros 25% existe uma estratégia formal elaborada
e disseminada periodicamente e com o envolvimento dos diversos setores das empresas. Todavia,
deve-se frisar que estes números parecem mudar para as empresas de maior porte (nesta indústria,
as de equipamentos sob encomenda), principalmente as transnacionais
__
o que deve ser
ocasionado pelo maior acesso e necessidade destas empresas aos conceitos mais modernos de
organização empresarial
__
, pois 3, entre os 4 fabricantes de equipamentos elétricos sob
encomenda consultados, utilizam o último nível (mais restrito de planejamento empresarial),
enquanto a empresa nacional não envolve seus diversos setores no seu planejamento formal. Já o
outro fabricante (de transformadores de potência) apenas efetua uma estratégia desenvolvida e
disseminada de maneira informal.
54
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Pode-se apontar uma tendência, ainda que lenta, assim como mostram vários estudos
recentes48, para a modernização organizacional e das relações sociais nas empresas fabricantes de
equipamentos elétricos. Isto porque, conforme apontado por um fabricante de geradores, existem
grandes barreiras gerenciais a estas mudanças. Assim, no início da implantação dos sistemas de
células de produção nesta empresa (as quais compreendiam, em meados de 1991, 60% da sua
produção, excluindo, contudo, equipamentos e partes destes muito grandes e pesados, pois estes
não podem ser produzidos via células), "havia uma restrição muito grande [a esta implantação],
até mesmo dos engenheiros e técnicos, pois estes perderiam o conhecimento que dominavam"49.
Assim, deve-se também apontar que o número médio de níveis hierárquicos dos
fabricantes de equipamentos elétricos, de acordo com a pesquisa de campo realizada para este
projeto, reduziu-se de 6,6 no período 1987-89 para 4,9 em 1992, com um mínimo de 4, nos dois
períodos. No entanto, somente 45,4% das empresas diminuíram estes níveis hierárquicos neste
período, contra 54,6% que os mantiveram constantes50. Todavia, deve haver uma convergência
entre todas as empresas, até esta data, para um mínimo de 4 e um máximo de 5 níveis
hierárquicos.
Ainda no que concerne à gestão de recursos humanos, a estratégia adotada por 9,5% das
empresas visa, preferencialmente, oferecer garantias de estabilidade (20% no caso dos fabricantes
de equipamentos sob encomenda), enquanto 71,4% preferem adotar políticas de estabilidade sem
garantias formais (80% no caso dos bens sob encomenda), 4,8% não adotam políticas de
estabilização e 14,3% não possuem estratégia definida.
Com relação à flexibilização dos postos de trabalho, 4,8% das empresas preferem definí-
los de forma estreita e rígida (ou 20% no caso dos equipamentos sob encomenda, ambos os
percentuais decorrentes da resposta da mesma empresa), 23,8% definí-los de forma estreita, mas
incentivando os trabalhadores a executarem mais de uma tarefa, 66,7% definí-los de modo amplo,
visando atingir a polivalência (80% no caso dos fabricantes de bens sob encomenda), e apenas
4,8% não definí-los rigidamente, de modo que a gama de tarefas varie consideravelmente.
48 Ver, por exemplo, Oliveira (1993) e o estudo sobre treinamento de mão-de-obra e competitividade realizado
para este mesmo projeto.
49 Esta mesma empresa estava tentando implantar Controles Estatísticos de Processo (CEP) às células de produção,
interrompendo, contudo, este processo, porque para implantá-los, "precisa-se mudar a cabeça das pessoas".
Afirmam também que a resistência aos CCQs foi muito grande, apesar destes estarem funcionando já há oito anos,
compreendendo porções sempre crescentes da empresa. Contudo, não haviam conseguido mudar a forma de
manutenção dos equipamentos fabris, que era ainda mais corretiva do que preventiva, estando também muito
atrasada com relação à participação dos empregados nos ganhos de produtividade (o que pode refletir todo o
comportamento da indústria), pois pagava incentivo de 6% dos salários à criatividade/inovação somente aos
gerentes, administradores e técnicos. Esta empresa também não concedia qualquer estabilidade no emprego,
devido, segundo suas afirmações, à instabilidade econômica do país e das suas encomendas em particular.
50 Deve-se apontar ainda que somente 20% das empresas pretendem diminuir estes níveis no período 1993-95,
com relação a 1992, e somente 11,1% pretendam diminuí-lo ainda mais, no período 1996-98.
55
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Todos os fabricantes de equipamentos sob encomenda realizam programas de treinamento
estruturados, sendo que 60% destes procuram também utilizar-se fortemente de instituições
externas (SENAI, etc.). Estes fabricantes também afirmaram ter, como alvo principal de seu
treinamento, todos os níveis de suas empresas (isto é, gerência, técnicos, trabalhadores
qualificados, e operadores/empregados), a não ser uma empresa, que não incluiu a gerência como
público alvo de seu programa de treinamento.
Ainda com relação às despesas em treinamento e educação, dados de outra pesquisa
revelam que uma empresa de capital nacional gastou em treinamento cerca de US$ 300 mil em
1985 e US$ 450 mil, ou 0,45% de seu faturamento, em 1990. Esta empresa possui um programa
de treinamento que inclui mais de 50 cursos diferentes, abrangendo português, cursos de línguas,
informática, matemática. Todavia, também incentiva os empregados a estudarem em cursos
externos, o que inclui mestrado (principalmente em engenharia). Outra empresa também possui
um programa de financiamento aos estudos de seus funcionários, que inclui financiamento
completo dos estudos, quando estes se relacionam à carreira deste funcionário, ou parcial (50%),
quando estes a esta não se relacionam.
Quanto à participação das despesas com treinamento de pessoal no faturamento das
empresas, esta foi, em média, de 1,24% em 1987-89 (mínimo de 0% e máximo de 6%), passando
para 1,22% em 1992 (mínimo de 0% e máximo de 5%)51. Já entre os fabricantes de
equipamentos sob encomenda, estes gastos ficaram entre 0,2% e 2%, no período 1987-89,
passando para entre 0,5% e 2,5%, em 1992. Quase todas estas empresas esperam que haja
ampliação desses gastos no futuro52.
Ainda no que tange às despesas em treinamento, deve-se apontar que 14,3% das empresas
não realiza qualquer treinamento para a gerência, enquanto 9,5% mantém 100% dos empregados
treinados sistematicamente; 19% não realiza qualquer treinamento para profissionais técnicos,
contra apenas 4,8% que os treina sistematicamente; 14,3% não despende qualquer soma em
treinamento de trabalhadores qualificados, contra 4,8% que o faz continuamente para a totalidade
destes; e outros 14,3% não gasta qualquer quantia no treinamento de operadores/empregados,
contra 4,8% que os realiza sistematicamente para 100% destes. Deve-se notar que os produtores
de equipamentos sob encomenda parecem gastar mais do que estas médias para todas as
categorias.
51 Estas despesas devem crescer para 77,8% das empresas, no período 1993-95, contra 22,2% que as manterão
constantes, devendo aumentar novamente para 62,5% destas, em 1996-98, contra 37,5% que as conservarão
estabilizadas.
52 Infelizmente não temos meios de comparar estes dados, referentes aos gastos com modernização organizacional,
com dados internacionais, devido à insuficiência de informações com relação a estes últimos.
56
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Quanto ao relacionamento das empresas com os sindicatos, a relevância da existência de
representação sindical, dentro das fábricas, para a competitividade dos fabricantes de
equipamentos sob encomenda foi considerada muito importante somente por um fabricante, sendo
que outros dois fabricantes consideraram-na apenas importante. Outros dois não consideram-na
sequer importante ou relevante para a competitividade de suas empresas. Entretanto, quatro dos
fabricantes consideraram a revisão do sistema de contratação de trabalho como importante para o
sucesso competitivo, contra um que considerou-o muito importante.
Ainda no que tange ao relacionamento das empresas da IBSE com seus sindicatos, em
entrevista realizada junto a um fabricante de capital nacional, este afirmou que mantém "relação
madura, amigável, de reconhecimento, sem confrontação com os sindicatos. Deve-se notar que
para esta empresa - que despende 0,45% de seu faturamento anual em treinamento de pessoal, e
cujos empregados (incluindo técnicos e engenheiros), assim como os de toda a indústria de
equipamentos sob encomenda, são muito qualificados53 - a demissão deste pessoal é
extremamente custosa, mesmo com o nível de ociosidade girando por volta de 40%, como em
meados de 199154.
Com relação aos BCESE destacados neste estudo, a principal defasagem com relação a
processos provavelmente se encontra na fabricação de disjuntores, pois a montagem e os testes
destes equipamentos nos principais países fabricantes é feita quase em série, o que não ocorre no
Brasil.
Já os outros fabricantes de equipamentos aqui destacados se encontram muito menos
defasados com relação a processos. E neste sentido, os fabricantes mais atualizados com relação a
processos são os de transformadores de potência, não por acaso os principais exportadores de
BCESE no país. Como prova desta afirmação, a ABB do Brasil ressalta que a planta de
transformadores de potência daquela empresa é a de menor prazo de fabricação para este tipo de
equipamentos entre todas as plantas do Grupo ABB no mundo. Já a Tusa destacou que técnicos
da Nova Zelândia apontaram a empresa como uma das cinco melhores do mundo, estando a Tusa,
ao final de 1991, buscando a aprovação de um organismo internacional de qualidade - o que deve
ocorrer proximamente -, de modo a pré-qualificá-la para qualquer concorrência internacional55.
53 Um diretor desta empresa apontou que "um meio oficial da [empresa] equivale a um oficial de outra indústria,
porque a produção aqui é sob encomenda".
54 Testemunhando a favor da empresa, pode-se citar o programa de diminuição do absenteísmo desta, o qual
envolve contra-mestres, serviço médico e serviço social: "Não existe repressão: envolvemos o contra-mestre e o
faltoso. O importante é conscientizar o faltoso. Se ele avisar antes que vai faltar, nós o liberamos, mas antes ele
deve conversar com o serviço social e com o médico, e se precisar, nós vamos levá-lo e trazê-lo para ele poder
trabalhar o resto do período. Tem tido ótimos resultados...Se tem que ir ao cartório, por exemplo, a empresa pode
levar em seu carro, com assistente social junto".
55 Ver Strachman (1992a:289-290).
57
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Com relação à capacitação em projeto, pode-se afirmar que as empresas dos setores
priorizados neste estudo têm plena capacidade e autonomia na realização de projetos para os
BCESE em destaque56. As empresas entrevistadas destacaram a existência de trocas de
informações com seus fornecedores de tecnologia, mas todas enfatizaram que há um caminho de
mão dupla nesta interação, em que elas também repassam conhecimentos técnicos para estes
fornecedores. Isto não é difícil de imaginar, se se tem em mente que grande parte do projeto das
turbinas hidráulicas e hidrogeradores utilizados em Itaipu, equipamentos que são ainda os maiores
do mundo para hidroelétricas, foram realizados no Brasil, por empresas como a Siemens, ABB,
Villares, Voith e Mecânica Pesada. Ao mesmo tempo, até recentemente, a Merlin Gerin era o
maior fabricante do mundo de disjuntores de 800 kV, utilizados em linhas de transmissão que
estão entre as de maior tensão no mundo.
Entretanto, os fabricantes de turbinas hidráulicas no Brasil não realizam o projeto básico
destes equipamentos, devido à inexistência de qualquer laboratório de hidráulica no país. Todavia,
segundo entrevista realizada na SADE-Villares, esta empresa só não realiza o projeto básico de
turbinas hidráulicas por não dispor de um laboratório de hidráulica. Contudo, deve-se frisar que a
Villares já havia recebido, no final da década de 80, aprovação da ELETROBRÁS e da FINEP
para instalá-lo, tendo inclusive gasto cerca de US$ 3,5 milhões entre pessoal, terreno e um
computador para este laboratório, cuja previsão inicial de entrada em funcionamento era o ano de
1992, e que custaria ao todo cerca de US$ 7 milhões. Como isto não foi feito, a atual SADE-
Villares continua a importar o design (projeto) hidráulico básico da canadense Dominion
Engineering, apenas desenvolvendo o design mecânico básico e de detalhamento destes
equipamentos.
De modo geral, no entanto, a capacitação detida pela IBSE na área de projetos de
equipamentos é ainda insuficiente. Isto é evidenciado pelo fato de que as empresas instaladas no
país necessitam, na maioria dos casos, de auxílio, às vezes significativos, de suas matrizes ou dos
fornecedores de tecnologia, para efetuarem estes projetos. Esta defasagem é ainda maior quando
se trata da capacidade de desenvolvimento próprio de tecnologia57.
Uma característica estrutural da IBSE é a utilização de fornecedores estrangeiros de
tecnologia
__
tanto por suas filiais instaladas no país quanto pelas empresas de capital
56 Contudo, no caso dos disjuntores esta capacidade parece se restringir à da Merlin Gerin, que é, na verdade, o
único fabricante de disjuntores do país, com exceção da CMA Sprecher para os equipamentos para linhas de
tensões de até 360 kV, para os quais parece comprar alguns insumos importantes no país.
57 Com efeito, no caso dos BCESE destacados neste estudo, a empresa que mais gasta em P & D,
proporcionalmente e, talvez, também em termos absolutos, é a Weg, apesar da dificuldade de se determinar a
participação destes gastos nas receitas da Weg Transformadores, uma vez que este P & D é realizado
centralizadamente para todo o Grupo Weg, cuja principal empresa é um dos maiores produtores de motores
elétricos do mundo. Também apenas alguns fornecedores de capital nacional, como, por exemplo, a Cerâmica
Santana e a Eletrovidro, despendem porcentagens significativas de suas receitas em P & D.
58
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majoritariamente nacional que licenciam tecnologia do exterior
__
como fator de competitividade,
uma vez que o acesso a esta tecnologia e às marcas (e conseqüentemente ao renome) dos seus
fornecedores garante uma maior qualidade para os seus equipamentos, quer pelo lado objetivo
__
o acesso a conhecimentos e desenvolvimentos tecnológicos do fornecedor de tecnologia
__
, quer
pelo subjetivo
__
a qualidade, na verdade, o renome que este acesso à tecnologia "garantiria" aos
equipamentos produzidos e às empresas que os fabricam.
É neste sentido que os grupos de capital nacional procuraram, entre os mais renomados
fabricantes do mundo, sócios para suas joint-ventures para a produção de disjuntores e outros
equipamentos para interrupção e controle de linhas de transmissão58. É o que acontece também
com uma empresa de capital 100% nacional, como a Villares59, pois esta empresa releva
__
devido às características estruturais da IBSE, apontadas acima
__
os contratos de cooperação
técnica que mantém60, a fim de aumentar sua competitividade. E este comportamento se mostra
efetivamente necessário
__
apesar da Villares ter incorporado todo o know-how da G.E., antiga
proprietária e depois sócia da empresa na produção de BCESE
__
, pois a empresa concorre no
Brasil e no exterior somente com empresas de grande renome e experiência, tornando
extremamente difícil o vencimento de concorrências sem este background61.
Contudo, apesar de ocorrer a efetiva absorção de tecnologia, inclusive para os projetos
básicos de BCESE, no geral este processo não permite, e nem as empresas instaladas no país
intencionam (ou pelo menos não possuem meios para tal), o desenvolvimento próprio da base
tecnológica por elas utilizada. Isto pode ser demonstrado por todos os casos bens sucedidos da
IBSE, nos quais destacam-se a capacitação em produção e processo, sem, contudo, haver
qualquer esforço de P & D. Vale dizer, não se dá a busca de desenvolvimento tecnológico
próprio, mesmo entre as empresas de capital nacional da IBSE que não possuem fornecedores
estrangeiros de tecnologia, como a Trafo e a Weg. Estas últimas apenas conduzem estratégias
58 Neste caso, os grupos brasileiros não possuíam efetivamente o conhecimento e a experiência necessária para
produzir os equipamentos mais sofisticados. Deve-se frisar também, que a constituição de joint-ventures, nos
moldes acima descritos, foi praticamente obrigada pelo governo federal à época, conforme já ressaltado, pois as
transnacionais prefeririam pura e simplesmente instalar filiais de sua total propriedade no país, de acordo com o
modelo até então (e posteriormente) predominante. Ver Strachman (1992a:201).
59 Atualmente da SADE - Sul Americana de Engenharia. Ver Isto é (8-7-1992:51-52).
60 Com a Elin da Áustria e a Sulzer-Escher Wyss da Suíça, para turbinas hidráulicas; com a Dominion
Engineering Works Ltd. do Canadá, que é uma divisão da G.E. canadense, também para turbinas hidráulicas; com
a própria G.E. canadense, para hidrogeradores; e com a GEC Alsthom, para turbogeradores e turbinas.
61 É interessante notar - dentro de uma lógica que permeia e problematiza toda a indústria de bens de capital no
Brasil, ou mesmo todo o setor industrial do país -, que na própria Villares foi afirmado, na tentativa de
fundamentar a forma pela qual a empresa adquire tecnologia de produto dos equipamentos que produz, que as
reduzidas dimensões dos mercados do país não justificam atividades intensas de P & D, principalmente se
considerado que seus clientes exigem que o fabricante de equipamentos possua um elevado nível de tradição
tecnológica. Este problema, cuja análise detalhada não cabe aqui, está desenvolvido também, e com maior
profundidade, em Cortez, Amaral & Costa (1989), Erber (1983), Erber (1990) e Strachman (1992a:324).
59
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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imitativas, sendo que a Weg ainda realiza sistematicamente P & D, para o Grupo Weg como um
todo, enquanto a Trafo, a despeito do seu sucesso nos mercados de exportação, praticamente não
realiza qualquer P & D, sendo sua principal forma de aquisição de tecnologia as revistas técnicas e
as especificações e comentários de seus clientes62.
Assim, os casos de sucesso dos fabricantes de transformadores de potência nos mercados
internacionais e, em menor grau, dos fabricantes de turbinas hidráulicas e de hidrogeradores,
foram alcançados praticamente sem qualquer desenvolvimento tecnológico próprio, ainda que
num sentido puramente imitativo. Os casos da Villares, para a produção de turbinas,
__
no qual
esta empresa desenvolveu um novo processo para a fabricação de pás de turbinas, que foi
inclusive repassado à GEC Alsthom, seu licenciador de tecnologia
__
e da Inebrasa
__
ainda
enquanto empresa de capital 100% nacional
__
, que se transformou, por esta época
__
antes de
sua venda, em fins de 1991, para o Grupo Merlin Gerin
__
, no maior fabricante de disjuntores de
800 kV do mundo, confirmam esta afirmação. Isto porque se devem à existência de capacidades
de produção e não de desenvolvimento tecnológico, mesmo no caso da Villares, que descobriu
este novo processo circunstancialmente, como forma de reduzir os custos de materiais e de mão-
de-obra na produção de pás de turbinas e de ocupar uma prensa de 2.000 tons que outra empresa
do Grupo Villares, a Vibasa, possuía.
A dependência tecnológica coloca os seguintes problemas para a IBSE (e para várias
outras indústrias do país): 1) A possibilidade de cerceamento das exportações pelos fornecedores
de tecnologia, possibilidade esta efetivamente exercida (conforme vários relatos presentes na
literatura especializada ou mencionados diretamente em entrevistas) tanto por matrizes de
62 Confirmando o exposto acima, de acordo com a pesquisa de campo realizada, a média dos gastos em P & D
passou de 0,92% das vendas totais, no período 1987-89, com um mínimo de 0% e um máximo de 2,5%, para
0,88% em 1992, com um mínimo de 0% e um máximo de 5%. Entre os fabricantes de equipamentos sob
encomenda, todos os estrangeiros afirmam gastar cerca de 1% de suas receitas em P & D, salvo um fabricante que
apontou um corte de seus gastos de 1%, em 1987-89, para 0%, em 1992. Mas, com base em entrevistas pessoais
realizadas por este autor, pode-se afirmar com segurança que os gastos efetivamente destinados a atividades de P &
D são muito menores. Todavia, 50% das empresas esperam aumentar estes dispêndios no período 1993-95, contra
outros 50% que os manterão estabilizados, com 57,1% das empresas almejando ampliá-los no período 1996-98 com
relação ao período anterior, contra 42,9% que não o farão. Já os gastos médios com engineering aumentaram de
1,03%, em 1987-89 (mínimo de 0% e máximo de 7,3%), para 2,03%, em 1992 (mínimo de 0% e máximo de
8,9%). Entre os fabricantes de equipamentos sob encomenda, os estrangeiros gastaram entre 0% e 1%, nos dois
períodos, enquanto o fabricante de capital nacional os manteve em 5%. Contudo, estes gastos devem crescer, no
período 1993-95, para 42,9% das empresas entrevistadas, contra 57,1% que os manterão estáveis, devendo
aumentar, no período 1996-98, para 83,3% destas empresas, contra 16,6% que os manterão constantes. Já a média
dos dispêndios com vendas foi de 2,68%, no período 1987-89, passando a 3,41%, em 1992 (entre os fabricantes de
bens de capital sob encomenda o mínimo foi de 0%, nos dois períodos, passando o máximo, de 9,5%, em 1987-89,
para 8%, em 1992). E no que se refere à assistência técnica, a média de gastos foi de 1,33%, em 1987-89 (mínimo
de 0% e máximo de 8%), contra 1,28% em 1992 (mínimo de 0,5% e máximo de 12,2%). Para os equipamentos sob
encomenda estes gastos giraram entre 0,5% e 2%, no período 1987-89, contra 0,5% e 2%, em 1992. Estes gastos
devem crescer, em 1993-95, para 55,6% das empresas, contra 33,3% que os manterão estabilizados, e 11,1%, que
os diminuirão. Já no período 1996-98, 50% dos fabricantes novamente aumentarão estes gastos, contra 25% que os
manterá constantes e outros 25% que os reduzirá.
60
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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empresas no Brasil quanto por empresas cujo único vínculo com o país era o de cessão de
tecnologia, e 2) A possibilidade de, num futuro próximo, não se permitir a transferência de
tecnologia para o país, tanto devido a desenvolvimentos recentes desta
__
como a crescente
incorporação de tecnologia em sistemas eletrônicos e equipamentos fabris, ao menos para
determinadas partes de produtos e para certos equipamentos fabris
__
quanto como conseqüência
de associações entre empresas transnacionais, impedindo o acesso à tecnologia por parte de um
antigo licenciado63. Outra possibilidade, que pode levar ao cerceamento das transferências de
tecnologia, é a não continuidade de alguns contratos tecnológicos, conforme relatado na ABDIB,
devido às dificuldades financeiras pelas quais vêm passando atualmente algumas empresas
nacionais, o que poderá obstar a retomada destes contratos em um futuro mais distante.
Problema adicional causado por esta característica estrutural é o de importação excessiva
de peças, partes e componentes por parte do licenciado no país, principalmente se filial do
licenciador, havendo um incentivo para que justamente as mais sofisticadas e de maior valor
agregado sejam adquiridas no exterior64. Este comportamento também pode levar à não obtenção
do domínio tecnológico sobre as principais partes dos equipamentos, e é exemplificado pelas
importações de reguladores de velocidade para turbinas hidráulicas
__
que são os seus
componentes de maior sofisticação tecnológica e de maior valor agregado, inclusive por
possuírem tecnologia microeletrônica
__
, o mesmo ocorrendo com relação aos componentes
eletrônicos dos sistemas de excitação (excitatrizes) dos geradores, que chegam a corresponder a
63 Exatamente neste sentido, este risco parece que vai se tornar efetivamente palpável para a Coemsa-Ansaldo, pois
esta empresa - que é subsidiária, no Brasil, da Ansaldo italiana - dispunha de tecnologia da também italiana Riva
Calzoni, para o projeto e a fabricação de turbinas hidráulicas, assim como tinha acesso a novos desenvolvimentos
realizados por esta empresa para estes equipamentos. No entanto, a Riva Calzoni deve ser vendida à Voith alemã,
que já possui uma subsidiária no Brasil, o que fará com que a Coemsa-Ansaldo fique sem fornecedor de tecnologia
ou até mesmo sem acesso a um laboratório de hidráulica para efetuar os projetos básicos de suas turbinas. Assim, o
caminho que deve restar a esta empresa é a elaboração de um contrato de licenciamento com outro fornecedor de
tecnologia, com todos os prejuízos que estas mudanças - nos projetos, nos processos de produção, em algumas
características de produtos, que são alteradas conforme a tecnologia utilizada, ainda que o paradigma tecnológico
para estes equipamentos esteja bastante amadurecido e que as best-practices estejam plenamente difundidas -
devem acarretar para a empresa. Este fato confirma a opinião, recentemente frisada em uma entrevista, de que a
fusão entre empresas em nível internacional está diminuindo o número de fornecedores possíveis de tecnologia,
restringindo as possibilidades de acesso das empresas que precisam adquirí-la, ao mesmo tempo em que aumenta o
poder do licenciador e também, pelo menos potencialmente, o preço por esta tecnologia. Ver BNDES (1988:70)
sobre os riscos das fusões e Santos Filho (1991:107-115) sobre o preço das tecnologias.
64 De acordo com a pesquisa de campo as importações diretas de insumos e/ou componentes aumentou para 23%
das empresas, em 1992, com relação a 1987-89, permanecendo igual para 46% e diminuindo para os outros 31%. E
devem aumentar para 100% das empresas, em 1993-95, com relação a 1992, crescendo novamente, em 1996-98,
para 83,3% das empresas, contra 16,6% que esperam que permaneçam constantes. As importações de
insumos/faturamento aumentaram de 2%, em média, em 1987-89, para 5%, em 1992. Já a participação das
importações de bens de capital, com relação ao faturamento, passou, de valores desprezíveis, em 1987-89, para
cerca de 1%, em 1992. Ressalte-se que a média das importações diretas de insumos/faturamento das empresas
entrevistadas, atingiu US$ 44,2/16,8 milhões, em 1992, contra US$ 16,8 milhões, em 1987-89, um crescimento de
163,1%, enquanto as de bens de capital passaram de US$ 3,8 milhões, no período 1987-89, para US$ 10,433/3,754
milhões, em 1992, um crescimento de 177,9%. É claro que boa parte deste crescimento das importações se deve à
abertura comercial.
61
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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10% do valor de um hidrogerador. Fato análogo se dá com relação às partes principais dos
disjuntores, sendo que, com exceção da Merlin Gerin, atualmente todas as empresas vêm quase
que apenas montando disjuntores, importados por partes, no país (pelo menos aqueles destinados
a maiores tensões).
Não se deve deixar de mencionar a sub-utilização que se faz do Centro de Pesquisas de
Energia Elétrica (CEPEL) da ELETROBRÁS, que deveria ser melhor utilizado, tanto para
"imitar" tecnologias já desenvolvidas quanto no desenvolvimento de novas tecnologias, para
depois repassá-las às concessionárias de energia elétrica e às empresas da IBSE. Contudo, deve-se
salientar que este Centro já executa estes dois tipos de pesquisas, além de realizar testes e
participar da normalização de BCESE. Apesar de estar atuando aquém de suas possibilidades,
tanto em decorrência da falta de recursos quanto do desinteresse das empresas da IBSE, das
concessionárias de eletricidade e do governo pelo desenvolvimento de tecnologia no país.
2.2. Oportunidades e Obstáculos à Competitividade
2.2.1. Fatores internos às empresas
Como visto, grande parte das vantagens da IBSE são internas às suas empresas, como se
dá, por exemplo, com relação à capacitação para a produção e o projeto dos equipamentos
fabricados65. Outros fatores empresariais se mostram atualmente como obstáculos à
competitividade da IBSE, como é o caso da atualização das instalações fabris e do maquinário
utilizado pelas empresas brasileiras da IBSE, apesar de que, como visto anteriormente, esta
defasagem não é muito significativa. Em um segmento em especial, o de transformadores de
potência, ela é inclusive bastante reduzida, como vimos, havendo empresas que se colocam entre
as que possuem instalações mais modernas do mundo.
Deve-se ressaltar, com relação aos fatores empresariais analisados acima, que a
capacitação tecnológica da IBSE, no que se refere à fabricação e projeto de seus equipamentos,
deve permanecer estável, relativamente à capacitação das plantas sediadas no exterior. E isto
devido a dois motivos principais:
. a relativa estabilidade tecnológica dos BCESE, com modificações apenas marginais no
que tange à sua concepção, produção e rendimento, através dos anos66; e
65 Somente o projeto básico das turbinas hidráulicas, como vimos - o principal para a concepção de um BCE -, é
executado no exterior, em conseqüência da inexistência de uma laboratório de hidráulica no país. Ver Alves & Ford
(1975) e Strachman (1992a:322-326).
66 Apesar de que estas mudanças podem significar reduções substanciais de custos para alguns BCESE, como
sucedeu com os transformadores de potência, os quais a ABB produzia, em 1991, para potências de 60 MVA, com
62
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. o acesso das empresas da IBSE às inovações tecnológicas desenvolvidas por suas
matrizes
__
no caso da grande maioria das empresas, que é constituída por filiais de transnacionais
__
ou, como se dá no caso da Villares e de outras empresas que utilizam o licenciamento de
tecnologia estrangeira67, pelos seus fornecedores de tecnologia.
Contudo, o segmento de disjuntores no Brasil - por este possuir, em nível internacional,
um maior dinamismo tecnológico -, apresenta maiores riscos de não acompanhamento das
inovações tecnológicas. Isto pode significar
__
principalmente devido à facilidade atual para a
importação de vários dos componentes mais importantes
__
o desmantelamento progressivo da
capacidade de fabricação deste segmento, mesmo sendo todos os fabricantes de disjuntores no
Brasil subsidiárias de transnacionais. Frise-se que algumas plantas já foram fechadas, como a da
CMA em Caçapava (S.P.), após a aquisição, em nível internacional, da Sprecher suíça pela GEC
Alsthom68. Mesmo a principal, se não a única fabricante de disjuntores do Brasil, a Merlin Gerin,
em conseqüência de mudanças dos comandos dos seus disjuntores de hidráulicos para
pneumáticos, terá uma redução de 80 para 60% de seus índices de nacionalização, e isto apesar
dos comandos pneumáticos serem fabricados no país, ao contrário dos hidráulicos. Assim, no caso
de uma futura mudança rumo à utilização de comandos mecânicos, de tecnologia mais complexa,
conforme impõem as tendências tecnológicas para estes equipamentos, pode-se esperar uma
diminuição ainda maior destes índices.
No entanto, deve-se destacar que a defasagem da IBSE como um todo com relação a
investimentos, quando comparada aos principais fabricantes de outros países
__
embora o volume
de investimentos tenha aumentado nos últimos anos, principalmente em modernização,
treinamento e qualidade
__
deve aumentar nos próximos anos, se a falta de perspectivas de um
nível adequado de encomendas perdurar. Como já mencionado, esta é uma indústria que não
sobrevive somente por meio de exportações.
É certo que algumas mudanças, reorganizando os processos de produção
__
por exemplo,
várias plantas passaram a utilizar os sistemas de células de produção para várias etapas de
fabricação
__
e procurando também inserir, paulatinamente, sistemas de controle de qualidade
__
ISO 9000, qualidade total, CCQs, etc.
__
têm apresentado reflexos positivos, como vimos, tanto
com relação aos custos das empresas, como no que tange à qualidade e aos prazos de entrega dos
equipamentos produzidos. Frise-se, contudo, mais uma vez, que os equipamentos fabris utilizados
menor peso do que equipamentos equivalentes de 25 MVA fabricados em 1985. Isto, certamente, apresenta reflexos
significativos sobre os custos destes equipamentos.
67 Isto não ocorre, como vimos, no caso da Weg Transformadores e da Trafo, que utilizam tecnologia própria.
68 Na verdade, grande parte da decisão da CMA Sprecher com relação ao que pretende fabricar no país foi tomada
quando decidiu transferir, após esta fusão, suas instalações de disjuntores para a fábrica da Sprecher, fechando a
fábrica de Caçapava (e uma grande quantidade de incentivos fiscais e financeiros junto com ela), a qual, segundo a
ELETROBRÁS, era uma das mais modernas do mundo.
63
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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pela IBSE têm, no máximo, 10 ou 12 anos de idade, visto que foram instalados ao final do II
PND. Isto garante, juntamente com a incorporação de aperfeiçoamentos, principalmente
eletrônicos, nos equipamentos, um razoável acompanhamento do "estado da arte" internacional.
Quanto à imagem das empresas instaladas no país, na sua grande maioria, filiais das
principais transnacionais do setor, esta constitui-se em uma vantagem para a IBSE, tendo
produzido, por vezes, alguns projetos e equipamentos reconhecidos como de grande qualidade em
todo o mundo, como é o caso de vários destinados à central de Itaipu e às suas linhas de
transmissão69. Mesmo empresas de capital nacional, como a Villares, a Trafo, as Cerâmicas
Santana e Santa Terezinha, a Eletrovidro e a Weg, efetuaram exportações importantes, além de
terem fornecido equipamentos e componentes de elevado conteúdo tecnológico para o mercado
nacional, o que lhes garante uma razoável equiparação de condições com empresas estrangeiras
no que diz respeito à imagem. Pode-se inclusive esperar, frente ao número crescente de
encomendas do exterior atendido por empresas instaladas no Brasil
__
após o seu direcionamento
mais decidido rumo às exportações, a partir dos anos 80
__
, que a imagem internacional destas
várias empresas vá melhorando com o tempo, sendo fundamental para isto a qualidade de seus
fornecimentos para este mercado.
2.2.2. Fatores estruturais
Os reduzidos níveis atuais de demanda para a IBSE têm se mostrado um importante
empecilho à maior competitividade da indústria. A contração da demanda, que é um reflexo da
crise financeira do setor público como um todo e das políticas macroeconômicas de caráter
recessivo, impede o aproveitamento adequado das economias de escala estáticas e dinâmicas (de
aprendizado) características do setor. Este problema é reforçado pela excessiva pulverização da
IBSE, isto é, pelo seu reduzido nível de concentração da produção.
Deve-se frisar que tanto os problemas que acarretam os reduzidos níveis de demanda
verificados na última década para a IBSE, quanto os de excessiva pulverização desta indústria,
não parecem ser passíveis de solução em um futuro próximo. O primeiro por ter-se tornado uma
questão estrutural, que requer mudanças econômicas e políticas profundas. O segundo por
depender, pelo menos com relação às empresas de capital estrangeiro no país, de fusões ou
associações entre suas matrizes, ou de acordos entre estas para suas filiais no Brasil. Estas fusões
e associações, apesar de, em alguns casos, já terem ocorrido, são difíceis de serem influenciadas
decisivamente por estas subsidiárias ou pelos governos brasileiros, sendo quase exclusivamente
determinadas no âmbito interno das próprias matrizes. Já com relação às empresas de capital
69 Neste sentido, a pesquisa de campo aponta que o grau de aceitação da marca era menor, em 1992, para 42,1%,
igual para 10% e maior para 25%, quando comparados ao período 1987-89. Mas para os produtores de
equipamentos sob encomenda, este nível era maior, para 75% das empresas, e igual para 25%.
64
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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nacional, a possibilidade de fusão entre estas é bastante reduzida, pelo menos nos segmentos de
mercado aos quais se confere destaque neste estudo70.
Já a tendência à desverticalização, isto é, à redução dos níveis de integração vertical da
IBSE, é bastante significativa, como forma de redução dos custos das empresas. A maior
facilidade para importar insumos e a queda dos índices de nacionalização exigidos pela FINAME
também auxiliam nesta diminuição dos níveis de verticalização e de custos das empresas.
Mencionou-se em entrevista na ABDIB que o custo de um dos maiores fabricantes de BCESE do
país foi reduzido em cerca de 20 a 30% como conseqüência da abertura, além da já mencionada
diminuição de 2/3 dos custos de um fabricante de transformadores de potência. Mencione-se, no
entanto, que há uma empresa estrangeira de transformadores de potência no país que pretende, ao
contrário de todos os outros fabricantes de BCESE entrevistados, aumentar o seu grau de
verticalização no futuro. Esta empresa deve passar a produzir vários dos componentes utilizados
nestes equipamentos - como ventiladores, válvulas, relés, termômetros e outros instrumentos de
medição -, visto que tem tido problemas de preços, prazos e qualidade com relação a estes
insumos71.
Quanto à diversificação, há uma tendência rumo à diminuição dos segmentos de mercado
(tipos de produtos) de atuação dos fabricantes, tendência esta predominante entre aqueles muito
diversificados, como é o caso da ABB a da Siemens. Contudo, parece haver uma tendência ao
aumento da diversificação dentro de cada segmento de mercado, isto é, de aumento da
diversidade de produtos fabricados dentro de um mesmo segmento72. Esta redução do número de
linhas de produtos visa a diminuição do custo geral destas empresas, pelo abandono de linhas não
rentáveis ou de baixa rentabilidade financeira. Por outro lado, a maior diversificação, dentro das
linhas (segmentos) de produtos remanescentes, visa tornar as empresas mais competitivas,
habilitando-as a disputar um maior número de concorrências nestes segmentos. E como resultado
de ambas estratégias de diversificação, é de se esperar um aumento de competitividade das
empresas brasileiras de BCESE, dentro da sua estratégia global de reestruturação interna, visando
o aumento de competitividade, da qualidade e a redução de custos.
70 Assim, é muito improvável a associação entre, por exemplo, Trafo e Weg, no segmento de transformadores de
potência, ou de qualquer uma destas empresas com a SADE-Villares, fabricante de turbinas hidráulicas e
geradores. Deve-se mencionar, contudo, que recentemente se fundiu a maior parte da Zanini e da Dedini, criando a
DZ, que entre outros BK, produz alguns de menor porte destinados ao setor elétrico.
71 Ver Strachman (1992a:296).
72 Por exemplo, a Siemens encerrou sua fabricação de transformadores de instrumentos no Brasil - que era a única
para este tipo de equipamentos dentro do Grupo no mundo -, devido às reduzidas escalas de produção que estavam
sendo alcançadas, reduzindo assim o número de produtos que fabrica e de segmentos de mercado nos quais atua.
No entanto, pode aumentar a diversidade de produtos que fabrica dentro de determinado(s) segmento(s), assim com
deve fazer a Villares nos próximos anos para turbinas hidráulicas e geradores.
65
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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No que diz respeito às tendências tecnológicas, a relativa estabilidade da indústria de
BCESE já foi suficientemente analisada. As repercussões desta estabilidade tecnológica sobre a
competitividade da IBSE são claras: 1) menores riscos de desatualização dos equipamentos
fabricados no país
__
que podem ser, no entanto, um pouco maiores no caso dos disjuntores, por
serem estes equipamentos mais dinâmicos tecnologicamente; 2) menores preços pagos por esta
tecnologia73, uma vez que as inovações tecnológicas surgem mais lentamente, não sendo tão
importantes, pelo menos no curto prazo, para o comprador. Pelo lado do vendedor de tecnologia,
esta não é avaliada tão positivamente, pois não se transfere uma vantagem radical para o
comprador.
Outro aspecto que deve ser mais uma vez destacado, é que as fusões que continuam
ocorrendo na IISE podem colocar obstáculos ao acesso das empresas instaladas no país à
tecnologia de seus concorrentes licenciadores. E estes obstáculos podem ter repercussões sobre a
concentração da IBSE, constituindo "barreiras à permanência" nesta indústria (ou em alguns
segmentos) para várias empresas instaladas no país. Isto porque a não renovação de contratos de
assistência tecnológica pode acarretar dois tipos de problemas:
. as empresas podem ter subitamente reduzida ou inviabilizada sua capacidade de
fabricação, se já não tiverem adquirido o domínio sobre a tecnologia que utilizam, e se esta
porventura for proveniente do exterior, podendo inclusive ter os seus ativos desvalorizados em
decorrência desta incapacidade. Não se deve esquecer a possibilidade de
__
mesmo tendo
adquirido este domínio
__
ficarem sem acesso a novos desenvolvimentos tecnológicos que
ocorram no exterior; e
. devido a esta desvalorização potencial ou real de seus ativos, os fabricantes de BCESE
brasileiros podem ser simplesmente obrigados a se retirar do mercado, ou a vender seus ativos ou
sua participação de capital para outra empresa, provavelmente uma transnacional74.
Quanto aos problemas enfrentados pelos fabricantes nacionais de insumos, estes são, como
era de se esperar, muito semelhantes àqueles dos produtores de equipamentos finais, como as
insuficientes escalas de produção, devido aos reduzidos níveis de encomendas domésticas, e que
não são compensadas, para os fabricantes de insumos como um todo, pelas exportações, apesar
do crescimento destas.
73 Pelo menos pela tecnologia paga pelas empresas de capital nacional, pois as empresas de capital estrangeiro
instaladas no país estão impedidas de pagar royalties a suas matrizes.
74 Esta segunda possibilidade parece já ter ocorrido anteriormente na IBSE, no caso das vendas da Eletromar e da
Alcace para empresas de capital estrangeiro que estavam entrando no país, ou mesmo na tentativa de compra da
Bardella pela Voith nos anos 60, antes desta última entrar no mercado brasileiro por conta própria. Ver Newfarmer
(1978), Newfarmer (1980:Caps. 6, 7 e 8) e Strachman (1992a:194-205).
66
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
Em conseqüência dos níveis de capacidade ociosa, assim como se dá para os
equipamentos, ocorre uma elevação dos custos dos insumos, além de reduzidos níveis de
investimentos, para os quais contribuem as perspectivas desfavoráveis de vendas. Se se considera
que este quadro se encontra razoavelmente estável desde o início dos anos 80, pode-se ter uma
idéia do diferencial
__
no que concerne à automação dos processos de produção e a outros
investimentos (em qualificação da mão-de-obra, em mudanças na organização do processo de
produção, ou até mesmo na gestão de algumas plantas ou empresas, etc.)
__
que foi agregado às
empresas brasileiras quando se as compara com suas concorrentes estrangeiras. A defasagem
tecnológica dos fabricantes de insumos, mesma que não seja extremada (ver seção 2.1.3.),
constitui-se em fator que desfavorece a competitividade da IBSE.
2.2.3. Fatores sistêmicos
A grande maioria dos fatores sistêmicos no Brasil se constitui em obstáculos à
competitividade da IBSE, com exceção dos salários75, que ainda significam a maior vantagem
desta indústria
__
ainda que em constante declínio, devido à crescente automação dos processos.
Esta vantagem também é extremamente relevante no que tange ao custo de projetos, mesmo após
a introdução dos sistemas CAD.
Os demais fatores sistêmicos atuam como obstáculos a competitividade da IBSE. Assim,
entre estes fatores poder-se-ia destacar os custos e a ineficiência portuária que, segundo um
fabricante de transformadores de potência, podem onerar o preço de um insumo importado em até
5%, além de algumas vezes danificarem o material recebido. Problemas alfandegários também
contribuem para alongar os prazos de liberação de insumos importados, o que onera os preços dos
equipamentos produzidos e, por vezes, compromete os prazos de entrega dos fabricantes76.
Quanto aos impactos da política macroeconômica, já se discutiu as repercussões desta
política sobre a demanda de equipamentos, seja pelos menores gastos das companhias de
eletricidade, seja ainda pelas repercussões da política recessiva sobre o crescimento da demanda
75 Como afirmou um fabricante de equipamentos para geração de eletricidade: "Não adianta ser competitivo
internamente se as barreiras às exportações são tão grandes".
76 É importante mencionar que quando se exportam equipamentos ocorrem custos e atrasos semelhantes. Assim,
segundo um produtor de geradores e turbinas, tais podem ser as demoras e dificuldades para o ingresso de insumos
no país que, a não ser por um custo realmente compensador ou um diferencial de qualidade importante, prefere-se
não importar insumos. Outro ponto mencionado é que, devido à dificuldade de se devolver um insumo com defeito
- pois esta devolução é classificada como reexportação, que é muito dificultada mo país -, há, em alguns casos, um
risco muito grande na sua importação, pois não se consegue facilmente autorização para devolvê-lo. Isto resulta em
três possibilidades: 1) não se realiza a importação do insumo devido ao risco; 2) importa-se o insumo e, se este
estiver com defeito, não se o devolve para o exterior, preferindo-se vendê-lo como sucata, ou ainda como insumo de
menor qualidade para uma utilização que requeira menores níveis de exigência; e 3) arca-se com os custos de se
tentar devolver o insumo para o exterior.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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por eletricidade. Pelo lado da oferta de equipamentos, pode-se mencionar os efeitos das elevadas
taxas de juros sobre os custos financeiros, de insumos e mesmo de oportunidade dos fabricantes
da IBSE77.
A política fiscal também onera os custos das exportações da IBSE e mesmo seus custos
para participar de concorrências internacionais para o Brasil. Uma primeira queixa concerne aos
impostos indiretos pagos sobre os insumos, e que são contabilizados como créditos destes
impostos para os exportadores. Entretanto, como todos os bens de capital se encontram
atualmente isentos de ambos os impostos, estes créditos só são devolvidos alguns meses depois,
sem correção monetária.
Um outro obstáculo de natureza legal, de grande importância para concorrências para
fornecimentos para o país, tanto aquelas efetuadas com financiamentos internacionais quanto as
realizadas com financiamentos nacionais, é a não permissão aos fabricantes nacionais de ofertarem
com preços denominados em moeda estrangeira. Esta impossibilidade resulta
__
dadas as elevadas
taxas de inflação, as possíveis variações cambiais e os longos períodos de produção, com
conseqüentes longos prazos de pagamentos
__
em perdas para os fabricantes de equipamentos, se
estes não inserem uma margem suficiente para cobrir os riscos representados por possíveis
variações não previstas nos preços ou no câmbio, ou, às vezes, na perda das próprias
concorrências, se embutem esta margem de risco78.
Outro aspecto importante para a competitividade da IBSE é a formação de mercados
regionais internacionais que, como visto anteriormente, significam praticamente uma barreira ao
acesso a determinados mercados79.
Já com relação ao acordo do Mercosul, o mercado argentino, o 2º maior dentre os países
integrantes80, encontra-se extremamente favorável às exportações brasileiras, pois há uma sobre-
77 Os custos financeiros podem, no entanto, em vários casos, ser rebaixados por meio de financiamentos com taxas
preferenciais de juros concedidos pelo BNDES, conforme será visto mais adiante.
78 Frise-se que este parece ser um dos principais determinantes dos diferenciais de preços entre empresas
brasileiras e estrangeiras, quando de concorrências para o fornecimento para o país. Outro fator determinante desta
diferença de preços é que as empresas brasileiras estão mais sujeitas a sofrerem atrasos de pagamentos - a dívida
das concessionárias de energia elétrica com empresas da IBSE atinge US$ 250 milhões -, por vezes de grande
magnitude, com cláusulas deficientes de reajustes. Isto, somado ao reduzido nível de encomendas, foi o grande
responsável pelas dificuldades financeiras que resultaram na venda da Inebrasa para a Merlin Gerin e na saída da
Itel do mercado de transformadores de potência, ou seja, na saída de duas empresas de capital nacional, com
conseqüente menor suporte financeiro. Ver O Estado de São Paulo (4-12-1991). E por motivos semelhantes, a
Equipamentos Villares quase foi desativada, poucos meses antes de ser vendida para a SADE.
79 Principalmente ao da CEE e ao do sudeste asiático, mas é provável que, futuramente, também, devido ao
crescimento das barreiras alfandegárias, ao representado pelo North American Free Trade Agreement (NAFTA).
80 O maior mercado do Mercosul é, com larga margem, o brasileiro, pois este sozinho representa, em condições
"normais" de demanda, segundo a ABDIB, um mercado maior do que o de todos os outros países da América
Latina juntos.
68
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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valorização da moeda argentina em torno de 40 a 50%. Em condições "normais" de câmbio,
devido à diferença entre o tamanho dos mercados dos diferentes países, espera-se que o Brasil
perca até 10% de seu mercado de BCESE para a indústria argentina, a única a poder colocar
alguma ameaça maior à IBSE, entre a dos países do Mercosul, apesar de sua menor qualificação
com relação a esta última81. Em decorrência desta perspectiva, e a fim de aproveitar melhor suas
capacidades produtivas, a Trafo, a Inepar, a ABB e a Siemens, entre outras, realizaram acordos de
produção com empresas argentinas, sendo que as últimas duas com subsidiárias argentinas de seus
grupos controladores.
De acordo com a pesquisa de campo do Estudo da Competitividade, 60% dos fabricantes
de equipamentos sob encomenda apontaram a efetivação do Mercosul como importante (mas não
muito) enquanto os demais (os fabricantes de menor porte dentre os respondentes) consideraram
o Mercosul como não importante. Isto parece se dever ao fato de que os equipamentos de menor
porte apresentam maiores custos proporcionais (por exemplo, e principalmente, de transporte)
quando de sua importação. Como será visto a seguir, a abertura comercial causa muito maiores
apreensões aos fabricantes brasileiros.
Quanto às políticas governamentais para a IBSE, estas atuam antes como obstáculos ao
seu desenvolvimento e à sua competitividade do que como vantagens para esta indústria em
relação aos seus concorrentes internacionais. Neste sentido, é importante apontar que
praticamente inexiste uma política de compras no Brasil, apesar da quase totalidade dos
demandantes de BCESE no país ser composta de empresas estatais. Isto porque, em conseqüência
do endividamento excessivo destas empresas, além das deficiências decorrentes da má gestão
empresarial e de compras políticas de equipamentos
__
a fim de propiciar inaugurações de obras
__
, a política de programação de compras destas empresas não existe. Isto não permite, por sua
vez, um planejamento e uma ocupação adequada das plantas por parte dos seus fabricantes, com
os conseqüentes problemas de baixas escalas de produção82.
81 Inclusive as normas brasileiras, em vários casos mais rigorosas do que as internacionais, estão sendo rebaixadas
a fim de se conseguir uma normalização única para o Mercosul, que será aquela determinada pelas normas
internacionais. Sobre as perdas que tal rebaixamento pode significar, ver Faucher (1992:15-16).
82 Deve-se mencionar que todos os fabricantes absolutamente não consideram as projeções e planejamentos da
ELETROBRÁS ou de outras concessionárias públicas de eletricidade para o seu próprio planejamento, uma vez que
esta não tem sido realista, não sendo minimamente cumprido. Estas empresas programam suas fábricas unicamente
de acordo com as licitações que surgem e, principalmente, que são vencidas. Porém, um fabricante de turbinas
hidráulicas e de geradores apontou que a programação de compras, por parte das estatais e, conseqüentemente, de
vendas, por parte dos fabricantes, é extremamente importante, como forma destes fabricantes poderem definir o mix
de produtos que irão fabricar e assim determinar seus custos, contratações, compras de insumos para um certo
período, etc. Contudo, foi afirmado, em entrevista a uma associação de fabricantes, que houve uma melhora do
planejamento das concessionárias estaduais de energia elétrica do Estado de São Paulo, na atual gestão, a fim de
incentivar a IBSE, pois grande parte dos fabricantes desta indústria se encontram neste Estado. No entanto, mesmo
neste caso, ressaltou-se que não foram feitas quaisquer consultas aos fabricantes ou às suas associações, a fim de se
69
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Outro obstáculo à competitividade, decorrente da falta de planejamento de longo prazo
para o país, é a inadequação ou, por vezes, inexistência de financiamentos, tanto para exportações
quanto para o mercado interno83. Com relação às exportações, os problemas vão desde as taxas
de juros
__
de 5 a 5,5% no exterior, em alguns casos menos84, contra 8 a 8,5% no Brasil
__
até
os prazos
__
de 10 a 12 ou 15 anos no exterior, com 5 anos de carência85, contra 8 ou, no
máximo, 9 anos, às vezes 6, no Brasil, e com somente 1 a 2 anos de carência86. Ressalte-se que as
taxas do Finamex pós-embarque situam-se entre 10 e 12%, o que faz com que esta linha de
financiamento não seja utilizada, pois estes recursos são absolutamente não competitivos.
Problemas adicionais são causados pela escassez de recursos disponíveis para os
financiamentos às exportações, que acabam sendo completamente exauridos pelos grandes
fabricantes, praticamente impossibilitando o acesso aos médios e pequenos produtores. Ao mesmo
tempo, a falta de segurança sobre a disponibilidade de financiamentos, mesmo para os grandes
fabricantes, torna extremamente difícil a realização de algumas exportações, pois perde-se a
concorrência para um país que a tenha garantido87. Outro obstáculo a melhores condições de
financiamento para as exportações brasileiras de BCESE, é a falta de seguros de crédito para uma
grande parte dos financiamentos a estas exportações88. Some-se a esta, a dificuldade para se
obter, e em condições favoráveis, seguros para os próprios equipamentos exportados89.
conhecer suas reivindicações e sugestões. Mesmo assim, esta melhora de planejamento poderia ser copiada pelas
concessionárias de eletricidade de outros Estados.
83 Segundo um fabricante brasileiro de BCESE, a falta de créditos às exportações é o principal obstáculo à
competitividade da IBSE no exterior.
84 A França, um dos países que mais incentiva e protege sua indústria de BCESE, concede, por vezes,
financiamentos com taxas de juros de 3,5%.
85 Mas há casos excepcionais, como um empréstimo concedido pelo governo espanhol ao Chile, sem juros, com 10
anos de carência e 15 de prazo de pagamento. Ver CNI (1991:2-4) e Strachman (1992a:182-183).
86 Conforme visto anteriormente, as condições de financiamento, ao serem agregadas ao preço final do produto,
resultam no preço final do fornecimento, que é o preço decisivo para determinar o vencedor de uma concorrência.
Uma vez que as vantagens/desvantagens de custo das várias empresas ou países participantes da IISE, em
comparação com os seus concorrentes, tendem a não ser muito elevadas, o país ou empresa que obtiver as melhores
condições de financiamento vence uma determinada concorrência. Frise-se ainda que estas condições de
financiamento ganham uma importância ainda maior quando o país de destino das exportações se encontra com
dificuldades financeiras.
87 Destaque-se que casos de perdas de concorrências internacionais desta forma, por parte da IBSE, não são raros.
88 O Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), na grande maioria dos casos, não se dispõe a segurar os créditos para
os países que apresentam maiores riscos de inadimplência, que constituem grande parte do mercado para as
exportações brasileiras de BCESE. O IRB exige um aval de bancos privados, o que onera em muito os custos dos
créditos às exportações. Segundo a CNI (1991:4), a "inexistência [destes seguros] têm levado, inclusive, o
exportador a assumir riscos incompatíveis com a natureza de seus negócios, como é o caso do risco político-
extraordinário".
89 É importante mencionar que o governo brasileiro, anteriormente ao governo Collor, concedia seguro de crédito
aos financiamentos às exportações brasileiras, que eram inclusive competitivos em nível internacional, tendo ainda
fornecido, em 1982 e 1983, seguro de câmbio.
70
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Todavia, um acordo que merece ser destacado, no âmbito da Associação Latino-
Americana de Integração (ALADI), são os Convênios de Créditos Recíprocos (CCR), que
possibilitam a realização de compensações entre as exportações dos vários países que deles
participam90, e que, segundo a ABDIB, têm funcionado com bastante eficácia, facilitando as
exportações de bens de capital para os países participantes.
Um último aspecto a ser ressaltado, com relação aos financiamentos à exportação, refere-
se ao Finamex pré-embarque, criado no início de 1991, que possibilita o financiamento à produção
de equipamentos a serem exportados, isto é, ao fabricante destes bens91. Este tipo de
financiamento é de fundamental importância, principalmente se se considera os longos prazos de
produção dos BCESE
__
que atingem até 2 anos
__
, os elevados custos desta produção, e o fato
de, em concorrências internacionais, se adiantar apenas 20% do valor do equipamento contra a
encomenda, e os restantes 80% somente contra a entrega.
No tocante aos financiamentos ao mercado nacional, um aspecto a ser destacado é a quase
inexistência de financiamentos às concessionárias de eletricidade
__
que se restringiam
praticamente aos créditos da FINAME
__
, devido ao sobre-endividamento da maior parte destas,
inclusive com dívidas para com esta Agência92. Esta falta de financiamentos, somada à escassez
de recursos próprios e às restrições aos gastos das concessionárias de eletricidade, por parte do
governo federal, faz com que os investimentos no setor de energia elétrica sejam reduzidos
enormemente.
Outro problema sistêmico, causado pela não priorização das exportações
__
e não só de
bens de capital
__
, por parte do governo federal, é a praticamente inexistente atuação do
Itamaraty em benefício dos exportadores brasileiros
__
ao contrário das embaixadas dos principais
países fabricantes de BCESE
__
, através de informações sobre concorrências a serem abertas,
mercados potenciais, etc93.
90 Os países participantes são a Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru e Venezuela. Estes convênios
funcionam praticamente como um seguro de crédito e/ou de pagamento, às empresas dos países exportadores, para
vendas realizadas entre os países que dele participam. Ver Strachman (1992a:184).
91 Somente até setembro de 1991, o FINAMEX pré-embarque já havia enquadrado operações no valor de US$ 116
milhões. Ver Strachman (1992a:355).
92 Mesmo assim a FINAME possui atualmente recursos somente no montante de US$ 2 bilhões, contra US$ 8
bilhões no passado. Ressalte-se que as dívidas das estatais do setor elétrico somam atualmente, segundo a ABDIB,
US$ 30 bilhões.
93 Ver Business Week (9-3-1992) sobre a atuação das embaixadas americana, suíça e alemã em prol de suas
empresas nacionais, quando da venda da Skoda da Tchecoslováquia, que acabou sendo adquirida pela Siemens. No
entanto, deve-se afirmar que as associações brasileiras de fabricantes vêm pressionando o governo federal rumo a
uma atuação deste tipo por parte do Itamaraty, além de estarem montando escritórios junto às sedes dos organismos
multilaterais, para se manterem adequadamente informadas sobre concorrências internacionais a serem financiadas
por estas instituições.
71
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Quanto às políticas de proteção, pode-se afirmar, com base nas Tabelas 9 e 10, que estas
têm sido inadequadas, dado o elevado volume de importações94
__
a maior parte deles
desnecessária, devido à capacitação tecnológica e a competitividade dos fabricantes brasileiros
__
no que tange à maior parte dos equipamentos relacionados. Incentivando estas importações, como
visto anteriormente, estão os problemas de balanço de pagamentos e de finanças públicas
enfrentados pelo Brasil, que incentivaram a tomada de financiamentos estrangeiros através de
organismos multilaterais, como o BIRD e o BID, ou mesmo de supplier's ou buyer's credits. O
não comprometimento dos governos brasileiros, após o II PND95, com o setor de BCE, fez com
que o desenvolvimento deste setor fosse relegado praticamente às suas próprias forças. Estas, no
entanto, foram exauridas, em vários casos, pelos financiamentos estrangeiros
__
principalmente
pelos supplier's e buyer's credits
__
e pela não restrição das compras das estatais aos bens de
capital nacionais, devido também à precariedade da política de compras dos governos brasileiros
com relação a esta indústria extremamente dependente de políticas industriais.
Após a posse do Governo Collor, em 1990, com a redução abrupta das alíquotas de
importação
__
previstas inicialmente para atingirem 30% em 1991, 25% em 1992, e 20% a partir
deste ano96
__
, há um risco de se facilitar a entrada de equipamentos estrangeiros no país, devido
aos subsídios disfarçados às exportações utilizados por vários países, aos dumpings, e mesmo às
dificuldades já mencionadas para os fabricantes instalados no país cotarem seus preços em moeda
estrangeira, o que faz com que tendam a aumentar a margem de risco neles embutida. Entretanto,
enquanto alguns fabricantes de equipamentos defendem que uma margem de proteção de 20% é
adequada, outros, como a Voith e a Coemsa-Ansaldo, sugerem de 20 a 25%. Ressalte-se que a
Siemens, no tocante à sua produção de disjuntores, aponta que uma alíquota de 15 a 20% não
será suficiente para proteger a indústria no país, nem mesmo com a alíquota de 0% para a
importação de certas partes e componentes destes equipamentos, enquanto a Merlin Gerin,
provavelmente o único fabricante de disjuntores no país, ressaltou ser necessária uma proteção de
94 Que atingiram US$ 1,5 bilhão no período 1980-1990 somente com os equipamentos destacados no corrente
estudo.
95 Recorde-se que as empresas de eletricidade, devido à política macroeconômica dos últimos governos militares,
foram as principais tomadoras de empréstimos externos, com um total de US$ 7,5 bilhões no período 1972-1981,
ou 24,8% do total tomado pelo setor público via Lei 4131 neste período, ou ainda 14,7% do total global tomado via
esta Lei, ou 10,3% do total de US$ 72,4 bilhões tomados conjuntamente via Lei 4131 e Resolução 63 no período.
Ver Cruz (1984:112-191). As concessionárias de eletricidade, conforme ressaltado por Batista Jr. (1983:94) e Lago,
Almeida & Lima (1979), também foram utilizadas para conseguir empréstimos de organismos oficiais e supplier's
credits de bancos privados, além de terem - em grande parte das décadas de 70, 80 e 90 - sofrido defasagens nos
seus reajustes tarifários, contribuindo para problematizar suas condições de financiamento e para direcioná-las
rumo ao endividamento externo. Ver também Faucher (1991:242-248). Ressalte-se, contudo, que medidas que
beneficiavam as importações de BCESE e de outros BCE, e que restringiam os gastos das estatais, começaram a
viger ainda durante o II PND. Ver Tadini (1985).
96 Todavia, na ABINEE, afirmou-se que este cronograma previsto inicialmente estava atrasado, também como
conseqüência das pressões dos fabricantes. Isto faz com que a alíquota atual seja de 35%, sendo que só se deve
atingir 20% em 1996 ou 1997, contra a previsão - após uma primeira revisão - de que se atingiria esta alíquota de
20% em 1995.
72
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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30 a 40% para os disjuntores nacionais completos e para os subconjuntos principais, devido aos já
mencionados dumpings, subsídios e incentivos às exportações, e também em conseqüência das
variações de custos e de câmbio que recorrentemente se dão entre países. Assim, somente esta
proteção seria capaz de impedir a importação de várias das principais partes e componentes de
disjuntores que possuem 0% de alíquota, conforme notoriamente faz a AEG e mesmo outros
fabricantes instalados no país97.
Portanto, pode-se perceber que a imposição de uma alíquota de 0%, indiscriminadamente,
para a importação de partes e peças de disjuntores, se constitui em um forma de destruição deste
segmento. Algo semelhante poderia se dar com relação aos outros equipamentos, se fosse
permitida a importação irrestrita de insumos98.
Pode-se também apontar que a queda dos índices de nacionalização exigidos pela
FINAME para conceder financiamentos
__
pelo menos nas melhores condições, apesar do
reduzido número de financiamentos aprovados nos últimos anos
__
, de 85% para 70%
__
,
enquanto outros organismos chegaram a exigir 95%, aceitando atualmente 60%, assim como deve
ocorrer com a própria FINAME
__
, deve resultar em um aumento de competitividade da IBSE,
pois estes índices concediam uma "margem de manobra" muito grande para alguns fornecedores
de insumos que possuíam grande peso nestes índices. Todavia, há que se verificar se estes índices
de 60 ou 70% são adequados para proteger a indústria, principalmente porque estes muitas vezes
não são índices reais, isto é, uma vez tendo um insumo atingido um percentual nacional adequado,
este insumo passa a ser considerado como sendo 100% nacional, o que, se contabilizado em
cascata, pode resultar em distorções indesejadas tanto entre os índices de nacionalização atingidos
quanto na capacitação almejada para a indústria nacional.
No que tange à política tecnológica, pode-se destacar a timidez destas e os conseqüentes
reduzidos resultados que apresentam, praticamente não proporcionando qualquer externalidade às
97 Assim, segundo a pesquisa de campo realizada, a harmonização das políticas comerciais foi apontada como
muito importante para 40% dos fabricantes de equipamentos sob encomenda, com os outros 60% afirmando que
esta é importante, enquanto 60% destes fabricantes apontaram que a pequena incidência de barreiras tarifárias ao
comércio exterior é muito importante, contra 40% que afirmaram-na importante. Já a pequena incidência de
barreiras técnicas ao comércio exterior foi considerada como muito importante por 40% destes, contra 60% que
apontaram-na como importante. Isto mostra que estes fabricantes estão mais e bastante preocupados com os
fabricantes de fora dos países do Mercosul, ou com importações "maquiadas" provenientes destes países, do que
com os fabricantes dos países do Mercosul propriamente ditos.
98 É claro que para uma indústria de bens finais - ou mesmo para qualquer fabricante, tanto de um bem final
quanto de um insumo - é vantajosa uma total "liberdade" de compra de insumos. Todavia, esta total "liberdade"
pode se transformar - conforme demonstrado com maior intensidade pelo caso dos disjuntores, por ser este um
segmento eminentemente "montador" - em uma total destruição da capacidade de produção de vários insumos no
país, com seus reflexos sobre a competitividade dos seus demandantes no médio e longo prazos. Recorde-se as
vantagens antes mencionadas de se possuir uma "indústria" de insumos no país. No próximo Capítulo, serão vistas
as formas de proteção sugeridas, assim como de várias outras políticas para este e outros segmentos.
73
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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empresas instaladas no país99. Este fato, se não restringe importantemente a competitividade da
IBSE no curto prazo
__
a não ser, conforme já antes ressaltado, por meio de restrições a
exportações por parte do licenciado, que são imputadas pelo vendedor de tecnologia
__
, pode
inviabilizar esta competitividade em um prazo mais longo, para alguns fabricantes instalados no
país, pois, conforme também já antes analisado, os vendedores de tecnologia podem se recusar a
fazê-lo no futuro. E, mesmo no curto prazo, conforme ressaltado por um fabricante de BCESE de
capital nacional, a posse de tecnologia própria é um fator que distingue e qualifica uma empresa,
tendo um peso relevante como fator de concorrência.
Assim, as políticas tecnológicas atualmente se resumem a alguns incentivos fiscais em
contrapartida a investimentos em P & D ou em tecnologia importada, mas que não são suficientes
para fazer com que as empresas que realizam P & D aumentem os seus investimentos deste tipo e
nem com que empresas que pouco ou nada investem em P & D passem a realizá-lo. Por outro
lado, a única política tecnológica anunciada pelo Governo Collor a receber elogios foi o Programa
Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP), o qual forneceu consultoria e realizou alguns
seminários e cursos para vários níveis (diretoria, gerência, produção, etc.), em grupos de 25
empresas, e que é financiado em 50% pela FINEP. Segundo a ABDIB e a ABINEE, o PBQP
buscou e conseguiu, para as empresas que dele já participaram, incutir ou ampliar a idéia e as
práticas de qualidade. As outras políticas anunciadas, o Programa de Apoio à Capacitação
Tecnológica da Indústria (PACTI) e o Programa de Competitividade Industrial (PCI) não
trouxeram maiores efeitos sobre o setor.
A fim de se perceber os reflexos destes fatores sistêmicos, é interessante analisar os
principais determinantes das estratégias empresariais, conforme apontados pela pesquisa de campo
já mencionada. Assim, a principal motivação para o investimento foi, para 73,7% das empresas,
no período 1990-92, a modernização, enquanto 21,1% destas visaram a ampliação de capacidade,
sendo que as outras 5,3% tiveram ambas motivações como principal impulsionador de seus
investimentos. No período 1993-95, a modernização também será o principal motivador dos
investimentos, com 88,9%, contra 5,6% destinados à ampliação e outros 5,6% que tem como
causador os dois motivos. Já no período 1996-98, 77,8% dos investimentos devem ter como
principal motivador a modernização (contra 22,2% que ainda não sabem).
99 Ver Erber (1990:111-113).
74
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3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS PARA A INDÚSTRIA BRASILEIRA DE BENS DE
CAPITAL SOB ENCOMENDA PARA O SETOR ELÉTRICO
3.1. Políticas de Reestruturação Setorial
Um dos obstáculos à maior competitividade da IBSE são os reduzidos níveis de demanda,
que inibem a obtenção tanto de economias de escala estáticas quanto dinâmicas (economias de
aprendizado). Além disso, o Governo não utiliza o seu poder de compra como meio de incentivar
os gastos em tecnologia. Assim, o governo deve procurar, através de um planejamento cuidadoso
e factível do setor elétrico e das suas compras, estabilizar a demanda por BCESE e garantir um
patamar adequado de negócios para as várias empresas da IBSE. Esta política deve ser utilizada
como instrumento de negociação entre o Governo e as empresas da IBSE, em torno de objetivos
tecnológicos, de preços, de qualidade, etc.
Um outro objetivo da política de estabilização da demanda é a diminuição do número de
fabricantes nesta indústria, que é bastante elevado, para vários equipamentos. Esta proposta deve
ser efetuada através da garantia de compras e de incentivos creditícios, conforme afirmado no
PCI, ou mesmo de incentivos fiscais. Uma dificuldade para este tipo de política é que a grande
maioria das principais empresas da IBSE é constituída por subsidiárias de transnacionais, o que
implica que o Governo deveria negociar com estas empresas fusões em nível regional.
Dificuldades semelhantes existem para realizar fusões entre as empresas de capital nacional
da IBSE, ainda que restritas a determinadas linhas de produtos, pois muitas destas empresas
pertencem a grandes grupos nacionais, bastante diversificados, como são os casos da SADE-
Villares e da Weg.
Por outro lado, a tendência a desverticalização deve ser acelerada. O Governo deve
conceder linhas de créditos favorecidas
__
em termos de disponibilidade, prazos e custos
__
, para
que os fornecedores possam se capacitar, técnica e produtivamente, para atender a demanda das
indústrias finais. No mesmo sentido, o Governo pode atuar financiando, pelo menos parcialmente,
os gastos com treinamento e aperfeiçoamento dos novos fornecedores e subfornecedores.
Algumas formas de atuação neste sentido foram previstas tanto no PACTI
__
apoio ao
desenvolvimento gerencial e econômico das pequenas e médias empresas, principalmente aquelas
tecnologicamente dinâmicas ou localizadas em parques tecnológicos
__
quanto no PCI
__
proposição de formulação e coordenação, pelo SEBRAE, de "um programa à desverticalização de
empresas, tendo em vista a formação de redes de fornecedores e subfornecedores especializados
neste setor".
75
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Finalmente, cabe promover o fortalecimento da infra-estrutura tecnológica setorial. O
governo deveria montar instituições de ensino/treinamento (como o Senai), ou auxiliar
financeiramente a sua montagem ou o seu melhoramento. Estes gastos seriam efetuados como
forma de se criar externalidades tecnológicas para as empresas da IBSE e para seus fornecedores,
principalmente para aquelas de capital nacional. Isto poderia incentivar a realização de P & D por
estas empresas, quer isoladamente, quer em associação com instituições governamentais, ou ainda
por meio de contratos com Universidades e/ou Instituições de Pesquisa, assim como já é feito em
vários casos no país.
A ELETROBRÁS e as concessionárias de energia elétrica devem ampliar seus
investimentos no CEPEL, a fim de que este centro possa aumentar o número de pesquisas feitas e
acelerar a transferência de tecnologia às concessionárias e às empresas da IBSE. O CEPEL deve
contar com recursos suficientes para também poder ampliar os testes e os serviços de
normalização que efetua para a ELETROBRÁS, para as concessionárias e para as empresas da
IBSE.
No que tange aos segmentos de hidrogeradores e de turbinas hidráulicas, estes precisam
aumentar seu nível de competitividade internacional, apesar da sua capacidade de produzir
equipamentos entre os melhores do mundo. Para tal devem investir em atividades que
proporcionem reduções de custos e, no caso das turbinas hidráulicas, na construção de um
laboratório de hidráulica no país, principalmente no caso da SADE-Villares, que já possui parte
das instalações e equipamentos necessários para tal. Isto porque esta é a única empresa de capital
nacional, entre os fabricantes de turbinas hidráulicas, e a disponibilidade de um laboratório de
hidráulica é fundamental, tanto para o incremento da capacitação local na área de projeto básico
desses equipamentos como para a total absorção da tecnologia utilizada na fabricação, o que tem
impacto também sobre a competitividade das empresas100.
100 O fato de se ter ou não capacidade própria de desenho completo de uma turbina hidráulica, ou mesmo de outro
BCESE, é considerada pelo comprador, conferindo um status diferenciado às empresas. Segundo entrevista
realizada na SADE-Villares, o comprador de um BCESE deseja saber se o fornecedor é ou não realmente "um
fabricante desta indústria", ou seja, se possui toda a capacidade (técnica, produtiva, gerencial, tecnológica, etc.)
para nela estar ou não. Deve-se ressaltar ainda que, no caso da SADE-Villares, e talvez das subsidiárias brasileiras
dos grandes fabricantes de turbinas hidráulicas, esta tem algumas dificuldades para utilizar os laboratórios da
Dominion do Canadá. Isto porque esta logicamente procura "otimizar" a utilização deste laboratório, a fim de
rebaixar os custos deste, o que não possibilita o seu acesso com a prontidão que seria desejada. Deve-se salientar
ainda, que várias empresas canadenses estão procurando criar um novo e inédito (em nível mundial) laboratório de
hidráulica, o qual vai incluir toda a parte de hidráulica de uma hidroelétrica (e não somente a referente às turbinas
hidráulicas, como atualmente), a fim de otimizar todo o desenho desta parte. Isto pode criar um novo e inigualável
patamar de competitividade para este segmento.
76
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
3.2. Políticas de Modernização Produtiva
Um primeiro conjunto de políticas destinadas à modernização produtiva, refere-se à
capacitação empresarial para a produção e projeto dos vários equipamentos. Desta forma, as
empresas devem ampliar seus investimentos em equipamentos para as áreas de projeto e de
processo de produção. Devem também ampliar os seus gastos com treinamento e qualificação de
mão-de-obra e com a modernização gerencial (implantação de sistemas de qualidade e de
compras). Para envolver e estimular os trabalhadores nesta nova perspectiva, devem ser adotadas
políticas de recursos humanos que concedam incentivos ao aumento da produtividade e ao
aperfeiçoamento técnico dos funcionários. Investimentos nesta direção já têm sido efetuados por
algumas empresas da IBSE; todavia eles precisam ser ampliados.
Esta proposta pode ser detalhada para os vários segmentos da indústria que constituem o
objeto deste trabalho. O segmento fabricante de transformadores de potência, que se encontra
com excelente nível de competitividade internacional, deve se esforçar para mantê-lo ou até
mesmo melhorá-lo, relativamente aos seus concorrentes, investindo nos vários campos
mencionados acima.
Já o segmento de disjuntores, na sua maior parte, se encontra defasado com relação aos
seus competidores estrangeiros
__
a grande exceção é a Merlin Gerin. A competitividade deste
segmento depende, em grande medida, da eficiência dos fornecedores de partes e componentes de
disjuntores e do inter-relacionamento entre estes e as "montadoras" destes equipamentos. Assim,
são fundamentais os investimentos na área de programas de qualidade (a qual, em um sentido
amplo, inclui investimentos em modernização gerencial), para se garantir qualidade desde os
fornecedores. Esta é uma política que já vem sendo praticada há muito pela empresa acima
mencionada, líder deste mercado no Brasil.
O governo federal e o poder legislativo devem atuar incentivando o setor privado a
realizar os investimentos acima mencionados. A fim de promover os investimentos em capacidade
produtiva, isto é, em ampliação ou modernização das instalações fabris, devem ser mantidas e
ampliadas as políticas de isenção fiscal para máquinas e equipamentos. Com o mesmo objetivo,
deve ser mantida a política de concessão de depreciação acelerada, para efeitos de imposto de
renda, aos investimentos em máquinas e equipamentos.
Também deve-se conceder financiamento aos investimentos, através do Sistema BNDES.
Atualmente, há necessidade de maior disponibilidade de crédito e melhores condições de
financiamento. Estas condições deveriam ser tanto mais favoráveis quanto relevantes os
investimentos em ampliação e modernização das empresas.
77
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
Com relação à capacitação tecnológica, as empresas devem aumentar seus gastos em P &
D, principalmente as empresas de capital majoritariamente nacional. Quanto às empresas de
capital estrangeiro, estas devem iniciar P & D para produtos e processos específicos utilizados no
Brasil, como algumas já fazem. Deve-se também ampliar, quando necessário, os gastos em
compra de tecnologia do exterior.
Quanto aos turbogeradores
__
e mesmo outros equipamentos para termoelétricas
__
,
deve-se acrescentar que as empresas que produzem estes equipamentos no país tencionam
aumentar e atualizar paulatinamente sua capacidade tecnológica e de fabricação, apesar do maior
dinamismo tecnológico deste segmento de mercado. Portanto, dada a especialização do Brasil na
geração de energia hidroelétrica, deve-se aumentar a participação da IBSE nos turbogeradores
comprados para o país, ao mesmo tempo em que os fabricantes destes equipamentos devem
procurar investir na capacitação tecnológica e de fabricação, nos moldes já descritos
anteriormente. Também neste sentido, a ELETROBRÁS e várias das concessionárias de energia
elétrica, conforme previsto no Plano 2010, devem iniciar suas encomendas por centrais
termoelétricas, a fim de incentivar a capacitação tecnológica e produtiva com relação aos BCESE
nela utilizados. Além disso, deve-se incentivar o aumento dos índices de nacionalização dos
turbogeradores, e mesmo de outros equipamentos para termoelétricas.
Os poderes executivo e legislativo devem conceder incentivos creditícios e/ou fiscais aos
gastos em P & D e em compra de tecnologia no exterior (quando estas compras se mostrarem
importantes para o país). Devem também autorizar o pagamento por tecnologia às matrizes das
empresas de capital estrangeiro instaladas no país.
Para ampliar o coeficiente de exportação do setor, as empresas, pelo menos aquelas que
não têm plantas ou escritórios de vendas no exterior, devem investir na abertura de escritórios de
vendas e de assistência técnica, ou apenas de representação. Esta iniciativa poderia ser tomada por
empresas isoladas ou por conjuntos de empresas, constituindo-se, nestes casos, consórcios para
atuação no mercado exterior. Já o governo federal deve incrementar o uso da área comercial de
suas representações diplomáticas, para a coleta de informações sobre oportunidades de negócios
para a indústria nacional, e conceder apoio comercial às empresas brasileiras.
3.3. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos
Há necessidade do país desenvolver mecanismos adequados de financiamento, talvez o
maior obstáculo à competitividade da IBSE e de todo o setor produtor de bens de capital, tanto
para o mercado externo quanto para o interno. Assim, no que se refere ao mercado externo, é
necessário que os empréstimos tenham custos e prazos competitivos aos melhores oferecidos aos
78
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compradores de BCE no mundo, além de serem ofertados em volume adequado a todas as
exportações que requeiram estes financiamentos. Ressalte-se que os mecanismos de financiamento
às exportações de BCE
__
Proex e Finamex pré e pós-embarque
__
têm-se mostrado
razoavelmente adequados ao financiamento às exportações, só não o sendo com relação às
condições de financiamento, isto é, com relação aos juros pagos e aos prazos de pagamento.
Um obstáculo adicional, fortemente ligado às condições de financiamento, são os seguros
às exportações e aos créditos concedidos a estas. Assim, é extremamente importante que sejam
concedidos seguros às exportações e aos créditos às exportações, cobrando-se a taxa de risco
adequada. Outra possibilidade seria a extensão dos Convênios de Créditos Recíprocos (CCR) a
mais países, mesmo que não pertencentes à América Latina, ou a criação de mecanismos
semelhantes de compensação das exportações entre países que não façam parte dos CCR.
No que se refere aos financiamentos ao mercado nacional, é imperioso que se solucione os
problemas de financiamento das empresas estatais de energia elétrica, pelo menos aquelas que
possuem gestões eficientes, como condição essencial para que voltem a receber financiamentos
aos seus investimentos.
Os financiamentos deverão ser efetuados via FINAME, que historicamente foi responsável
por grandes feitos da IBSE e de todo o setor de BCE no Brasil. Portanto, sugere-se que estes
financiamentos sejam concedidos de acordo com a evolução de alguns parâmetros de eficiência
das empresas, e com condições de financiamento internacionalmente competitivas. Não se deve
esquecer, contudo, da necessidade de saneamento financeiro das estatais de energia elétrica. Esta
é uma condição sine qua non para que se possa realizar, com eficiência e realismo, o planejamento
de compras do setor elétrico e para que seus investimentos sejam retomados.
Em relação à política tributária, as máquinas e equipamentos não devem ser tributados.
Atualmente, uma das maiores distorções tributárias se refere ao crédito fiscal ao qual as empresas
do setor têm direito. A devolução do crédito fiscal somente é realizada com grande defasagem
temporal em relação ao pagamento dos respectivos impostos que incidem sobre os insumos.
Numa conjuntura inflacionária, o crédito se desvaloriza rapidamente. Portanto, o crédito deve ser
devolvido imediatamente ou, então, deve ser corrigido monetariamente. A primeira opção é
melhor por não ter implicações sobre o capital de giro das empresas, sobretudo neste setor onde
são longos os períodos de produção.
Assim como acontece em outros países fabricantes de bens de capital sob encomenda para
o setor elétrico, a indústria deve ser protegida das importações. Um dos pontos mais importantes
é a implementação de uma política anti-dumping. Além disso, a política de proteção deve levar em
conta as condições de financiamento para a indústria brasileira, pois num mercado menos
protegido, aumenta a importância desse fator. Propõe-se, portanto, que sejam adotadas alíquotas
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de importação adequadas às diversas situações presentes no setor. Contudo, para evitar
retaliações externas, a alternativa é o uso de barreiras não-tarifárias, tais como especificações
técnicas e inspeções muito rigorosas, que desincentivem as importações, sempre que for de
interesse nacional.
Especificamente no que se refere aos disjuntores, em decorrência dos problemas
apontados anteriormente, defende-se que a alíquota deveria permanecer entre 30 e 40% para
produtos acabados e para sub-conjuntos, pelo menos enquanto não se tem leis de salvaguardas
comerciais e nem mecanismos suficientes para fazer com que estas sejam cumpridas. Estes seriam
os meios para se evitar tanto a desnacionalização e o sucateamento da produção destes
equipamentos no Brasil, quanto a burla aos índices de nacionalização determinados para estes
equipamentos no país.
Um obstáculo importante para a competitividade das empresas da IBSE, quando de
concorrências internacionais para o Brasil, é a impossibilidade delas ofertarem com preços
denominados em moeda estrangeira, assim como é feito pelas suas concorrentes estrangeiras.
Portanto, sugere-se que as empresas nacionais sejam autorizadas a ofertar seus preços em moeda
estrangeira ou consigam reajustes dos seus saldos credores que realmente acompanhem a inflação,
a fim de que estas empresas possam cotar adequadamente seus preços, e em condições de
igualdade com os concorrentes estrangeiros.
Políticas de reajustes semelhantes devem ser aplicadas às ofertas para compras restritas a
BCESE fabricados no país, pelo menos enquanto não se têm uma razoável estabilização das
condições macroeconômicas ou enquanto as empresas demandantes de equipamentos não
cumprem os prazos originalmente acordados com os seus fornecedores. Assim, também se sugere
que se pressione as concessionárias estatais de eletricidade, tanto as estaduais quanto as federais, a
cumprirem estes prazos, o que poderia resultar em reduções dos preços dos equipamentos dos
quais necessitam.
Quanto ao sistema portuário, há necessidade de modernizá-lo, para ampliar a
competitividade da IBSE, quer pelo lado das exportações
__
que podem ter seus custos onerados
e prazos aumentados
__
, quer pelo lado das importações
__
pois os custos do material importado,
segundo entrevistas e conforme já antes ressaltado, pode ser acrescido em até 5%, além de correr
o risco de danos.
Finalmente, quanto ao sistema alfandegário, um problema que deveria ser sanado é o da
devolução de insumos importados defeituosos, pois esta devolução é classificada como
reexportação, a qual é muito dificultada no país. Assim, deveriam haver regras claras que
possibilitassem esta devolução, utilizando-se, se necessário, a mesma fiscalização existente quando
da importação destes insumos.
80
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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QUADRO 2
MATRIZ DE RELAÇÕES AÇÕES-AGENTES
OBJETIVOS/AÇÕES
AGENTE/ATOR
DE POLÍTICAS
EXECUTIVO E LEGISLATIVO EMPRESÁRIOS/TRABALHADORES ELETROBRÁS/CONCESSIONÁRIAS
Fatores Empresariais
Modernização Produtiva
Modernização de equipamentos de
projeto e produção
Treinamento e qualificação de
funcionários
Treinamento e qualificação de
fornecedores
Investimentos em tecnologia
Gastos em P&D
Compra de tecnologia estrangeira
Vendas e assistência técnica
Montagem de um laboratório de
hidráulica
Turbogeradores e equipamentos para
termoelétricas
Vendas e Assistência Técnica no
Exterior
Fatores Estruturais
Estabilização da Demanda por
Equipamentos
Estabilização das compras
Concentração de alguns mercados
Desverticalização
Isenção de impostos sobre compras de
BK. Incentivos creditícios e/ou fiscais.
Aceleração da depreciação.
Incentivos creditícios e/ou fiscais.
Incentivos creditícios e/ou fiscais.
Investimentos em escritórios no exte-
rior. Incentivos creditícios e/ou fiscais
para isso.
Financiamentos da FINEP.
Atuar para que aumentem os índices de
nacionalização e a absorção da tecno-
logia utilizada na sua fabricação e
projeto.
Incentivos creditícios e/ou fiscais à
abertura de escritórios no exterior e
utilização do setor comercial das
embaixadas brasileiras como represen-
tantes das empresas brasileiras, e não
só de BCESE.
Planejamento das compras.
Incentivos creditícios e/ou fiscais.
Políticas de compras.
Incentivos creditícios e/ou fiscais.
Investimentos.
Investimentos.
Investimentos.
Investimentos.
Investimentos.
Investimentos em escritórios no
exterior.
Investimentos.
Investimentos em capacitação tecno-
lógica.
Abertura de escritórios de vendas e
assistência técnica, ou mesmo apenas
de representação, no exterior.
Encomendas.
Planejamento de compras.
Política de compras.
(continua)
81
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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(continuação)
OBJETIVOS/AÇÕES
AGENTE/ATOR
DE POLÍTICAS
EXECUTIVO E LEGISLATIVO EMPRESÁRIOS/TRABALHADORES ELETROBRÁS/CONCESSIONÁRIAS
Fatores Sistêmicos
Fatores Sociais
Educação, treinamento e saúde
Sistema portuário e alfandegário
Política Macroeconômica
Política fiscal
Política de financiamento
Financiamento às exportações
Financiamentos ao mercado interno
Políticas de Proteção
Legislação
Políticas Tecnológicas
Incentivos fiscais (dedução de gastos
sociais dos impostos pagos pelas
empresas). Aumento dos gastos públi-
cos com educação (ensino primário,
secundário, universitário e técnico) e
saúde.
Investimento na infra-estrutura portuá-
ria e alfandegária, a fim de torná-la
rápida, eficiente e segura.
Isenção total de tributos sobre BK
produzidos pela indústria brasileira.
Fornecimento de financiamentos, de
seguros aos créditos e de seguros às
exportações, com condições competi-
tivas (prazos e juros) com as existentes
nos mercados internacionais de BK.
Extensão dos CCR ou de mecanismos
semelhantes a mais países.
Concessão de financiamentos da
FINAME às vendas de BCE para o
mercado nacional.
Alíquotas de importação e, princi-
palmente, políticas não-tarifárias e lei
de salvaguardas comerciais. Alíquotas
entre 30 e 40% para a importação de
disjuntores completos ou sub-
conjuntos destes, pelo menos enquanto
não se tem mecanismos eficientes de
salvaguardas comerciais para o país.
Permissão de cotação de preços em
dólar e/ou condições de reajustes
eficientes para as vendas da IBSE no
país.
Investimentos em instituições de pes-
quisa governamentais e financiamentos
a Universidades, Instituições de
Pesquisa independentes e Centros de
Educação Técnica (Senai, etc.).
Aumentar investimentos no CEPEL, a
fim de que este centro possa aumentar
o número de pesquisas feitas e acelerar
os resultados destas, transferindo-as
para as concessionárias e o setor
privado. O CEPEL deve poder também
ampliar sua capacidade de testes e de
normalização.
Fonte: Capítulo 3.
82
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE
Devido à diversidade de produtos e a complexidade dos processos envolvidos é bastante
difícil a definição de indicadores de competitividade aplicáveis indistintamente a todo o ramo de
fabricação de bens de capital sob encomenda para o setor elétrico.
A seguir são propostos os indicadores mais relevantes, cobrindo as dimensões referentes
ao desempenho produtivo e comercial, capacitação produtiva e tecnológica, aos níveis de
qualidade e produtividade e, também, devido a importância na dinâmica dessa indústria, das
condições de financiamento existentes.
Cabe ressaltar que os indicadores de ordem técnica somente devem ser utilizados em
comparações realizadas especificamente para cada tipo de máquina, em função da mencionada
heterogeneidade existente entre os equipamentos.
. Indicadores de Desempenho da IBSE
. Níveis de produção em valor e por potência/tensão
. Relevância do comércio exterior - exportação e importação - em termos absolutos (em
US$ e por potência/tensão) e em termos de coeficientes relativos ao valor da produção
. Participação da IBSE no mercado internacional (produção da IBSE/produção da IISE e
exportações da IBSE/exportações totais da IISE).
. Desempenho no mercado internacional: número e valor de concorrências internacionais
para fornecimento para o mercado internacional e brasileiro ganhas por empresas brasileiras
. Indicadores de Capacitação Produtiva
. Prazos de fabricação dos equipamentos em dias
. Idade tecnológica dos produtos vendidos (em anos ou em gerações)
. Pessoal empregado na produção em relação ao total
. Pessoal de nível superior em relação ao total
. Pessoal em atividades de projeto de equipamentos em relação ao total
. Grau de ocupação da capacidade
83
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. Estruturas de custos e despesas - gastos com mão-de-obra direta e indireta, insumos,
investimentos em instalações e em maquinário, despesas comerciais, custos financeiros e impostos;
endividamento de curto e de longo prazos em relação ao patrimônio líquido
. Índices de nacionalização (em % e os referentes à concessão de financiamentos por
órgãos oficiais, atualmente índices da FINAME)
. Indicadores de Capacitação Tecnológica
. Número e valor de contratos externos de transferência de tecnologia ou de licenciamento
realizados anualmente
. Número de patentes (nacionais ou estrangeiras) requeridas pela IBSE
. Proporção dos investimentos em P & D em relação às receitas totais
. Pessoal ocupado em atividades de P & D em relação ao pessoal total e de nível superior
Dada a existência de um grande centro público de P & D, que é o Centro de Pesquisas de
Energia Elétrica (CEPEL) da ELETROBRÁS, é importante coletar e monitorar informações
referentes a:
. Níveis de investimentos e despesas anuais do CEPEL com P & D
. Valor das tecnologias transferidas para o setor privado e/ou concessionárias de energia
elétrica
. Número anual de patentes obtidas e de projetos transferidos para o setor produtivo
. Número e estrutura ocupacional dos funcionários do CEPEL (pessoal operacional,
técnico e administrativo)
. Indicadores de Qualidade e Produtividade
. Produtividade do homem-hora nas atividades de produção
. Produtividade do homem-hora nas atividades de projeto
. Custos médios de estoques/equipamentos produzidos
. Indicadores qualitativos da adoção de inovações organizacionais (proporção de empresas
certificadas pela ISO 9000, que adotam métodos de garantia da qualidade total, etc..)
. Número anual médio de sugestões de melhorias por empregado direto na produção
. Atrasos na entrega em dias
. Taxa de defeitos e de retrabalho
84
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. Tempo de funcionamento sem interrupção (em dias) dos equipamentos vendidos
. Grau de adequação à performance planejada (nº de reclamações)
. Indicadores Globais de Financiamento
. Montante de financiamentos nacionais tomados para aquisição de equipamentos nacionais
e estrangeiros
. Montante de financiamentos para exportações de equipamentos
. Descritivos das condições de acesso a financiamentos nacionais (taxas de juros,
carências, prazos de pagamento, índices de nacionalização, etc..)
85
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
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RELAÇÃO DE TABELAS, QUADROS E GRÁFICOS
TABELA 1
10 MAIORES FABRICANTES MUNDIAIS DE EQUIPAMENTOS
ELÉTRICOS POR VENDAS DESTES EQUIPAMENTOS (1986) ..............................24
TABELA 2
9 MAIORES FABRICANTES MUNDIAIS DE EQUIPAMENTOS ELÉTRICOS
POR VENDAS DESTES EQUIPAMENTOS (1989)....................................................25
TABELA 3
RESULTADO DA ABB (1988/90) ...............................................................................31
TABELA 4
FORNECEDORES BRASILEIROS DE TURBINAS HIDRÁULICAS PARA AS
HIDROELÉTRICAS BRASILEIRAS (1969/86)...........................................................39
TABELA 5
FORNECEDORES BRASILEIROS DE HIDROGERADORES PARA AS
HIDROELÉTRICAS BRASILEIRAS (1969/86)...........................................................39
TABELA 6
PRODUÇÃO DE EQUIPAMENTOS SOB ENCOMENDA SELECIONADOS
PARA O SETOR ELÉTRICO (1981/87).......................................................................40
TABELA 7
FATURAMENTO E NÚMERO DE EMPREGADOS DA INDÚSTRIA DE
EQUIPAMENTOS PARA GERAÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO
DE ELETRICIDADE (1984/88)....................................................................................41
TABELA 8
BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA DOS EQUIPAMENTOS
PARA GERAÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE
ELETRICIDADE (1980/88)..........................................................................................42
TABELA 9
BRASIL - INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS SOB ENCOMENDA PARA O
SETOR ELÉTRICO - EXPORTAÇÕES DE ALGUNS SEGMENTOS (1980/92)........45
TABELA 10
BRASIL - INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS SOB ENCOMENDA
PARA O SETOR ELÉTRICO - IMPORTAÇÕES DE ALGUNS
SEGMENTOS (1980/MAIO-92)...................................................................................46
TABELA 11
FORNECIMENTOS DA MERLIN GERIN (INEBRASA) (ATÉ 5-12-91)....................46
QUADRO 1
FABRICANTES BRASILEIROS DE BENS DE CAPITAL SOB ENCOMENDA
SELECIONADOS.........................................................................................................38
QUADRO 2
MATRIZ DE RELAÇÕES AÇÕES-AGENTES............................................................80
GRÁFICO 1
ÍNDICES DE EMPREGADOS E HORAS TRABALHADAS NA INDÚSTRIA
DE EQUIPAMENTOS PARA ENERGIA ELÉTRICA SOB ENCOMENDA...............43
90
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
RELAÇÃO DE SIGLAS
ABB - Asea Brown Boveri
ABDIB - Associação Brasileira para o Desenvolvimento das Indústrias de Base
ABINEE - Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica
AEG - Allgemeine Elektrizitäts Gesellschaft (Companhia Geral de Eletricidade)
ALADI - Associação Latino-Americana de Integração
ASEA - Allmänna Svenska Elektriska Aktiebologet (Companhia Geral de Eletricidade Sueca)
BBC - Brown Boveri Company
BHEL - Bharat Heavy Electricals (Índia)
BCE - Bens de Capital sob Encomenda
BCESE - Bens de Capital sob Encomenda para o Setor Elétrico
BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CAD - Computer Aided Design (Desenho Auxiliado por Computador)
CCBB - Camargo Corrêa Brown Boveri
CCQ - Círculos de Controle de Qualidade
CCR - Convênio de Créditos Recíprocos
CEE - Comunidade Econômica Européia
CEI - Comunidade dos Estados Independentes
CEP - Controle Estatístico de Processo
CEPEL - Centro de Pesquisas de Energia Elétrica
CGE - Compagnie Générale d'Électricité
CMA - Companhia Masa Alsthom
CNI - Confederação Nacional da Indústria
ELETROBRÁS - Centrais Elétricas Brasileiras S.A.
EUA - Estados Unidos da América
91
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
FINAME - Agência Especial de Financiamento Industrial
FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos
GB - Grã Bretanha
G.E. - General Electric (EUA)
GEC - General Electric Company (GB)
GTD - Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica
IBSE - Indústria Brasileira de Bens de Capital sob Encomenda para o Setor Elétrico
ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
IISE - Indústria Internacional de Bens de Capital sob Encomenda para o Setor Elétrico
IPI - Imposto sobre Produtos Industrializados
IRB - Instituto de Resseguros do Brasil
KV - Kilo Volt
KVA - Kilo Volt-Ampére
MEP - Mecânica Pesada
MERCOSUL - Mercado do Cone Sul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai)
MHI - Mitsubishi Heavy Industries
MVA - Mega Volt-Ampére
NAFTA - North American Free Trade Agreement (Acordo Norte-Americano de Livre Comércio)
PACTI - Programa de Apoio à Capacitação Tecnológica da Indústria
PBQP - Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade
PCI - Programa de Competitividade Industrial
P & D - Pesquisa e Desenvolvimento
PETROBRÁS - Petróleo Brasileiro S.A.
PICE - Política Industrial e de Comércio Exterior
PND - Plano Nacional de Desenvolvimento
PROEX - Programa de Financiamento às Exportações
92
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RFA - República Federal da Alemanha
SADE - Sul Americana de Engenharia
SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SENAI - Serviço Nacional da Indústria
T & D - Transmissão e Distribuição
93
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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ANEXO:
PESQUISA DE CAMPO - ESTATÍSTICAS BÁSICAS PARA O SETOR
94
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PESQUISA DE CAMPO
ESTATÍSTICAS BÁSICAS
Setor Equipamentos de Energia Elétrica
Amostra original: 56
Questionários recebidos: 21
1. Caracterização
1.1 Variáveis Básicas: valores totais em 1992
(US$ mil)
Faturamento 869.749
Investimento 95.442
Exportações 141.870
Emprego direto na produção (nº empregados) 8.657
2. Desempenho
2.1 Desempenho Econômico: evolução dos valores médios
(US$ mil)
1987-89 1992 Variação (%)
(1) (2) (2)/(1)
Faturamento 47.668 45.776 -3,97
Margem de lucro (%) 46,59 58,61 25,80
Endividamento (%) 44,96 50,13 11,50
Investimento n.d 5.965 n.d.
Exportações 1.533 6.756 340,70
Exportações/Faturamento (%) 4 16
Importações insumos-componentes 932 2.210 137,12
Importações insumos/Faturamento (%) 2 5
Importações de bens de capital 209 549 162,68
Importações de bens de capital/Faturamento 0 1
Utilização da capacidade (%) 80,32 57,45 -28,47
Emprego direto na produção (nº de empregados) 446 412 -7,62
2.2 Principal Motivação do Investimento em Capital Fixo
(% de empresas)
1990-92 1993-95
Modernização 73,7 88,9
Ampliação 21,1 5,6
Ambos 5,3 5,6
Número de respondentes 19 18
95
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2.3 Desempenho Produtivo: evolução dos valores médios
Variável Unidade 1987-89 1992
Níveis hierárquicos 6,61 4,88
Prazo médio de produção dias 131,10 79,55
Prazo médio de entrega dias 272,87 161,99
Taxa de retrabalho % 6,57 4,52
Taxa de defeitos % 4,16 3,88
Taxa de rejeito de insumos % 8,73 3,50
Taxa de devolução de produtos % 0,91 0,82
Taxa de rotação de estoques dias 84,18 49,71
Paradas imprevistas dias 19,14 18,58
2.4 Atributos do Produto em 1992 em Relação a 1987-89
(% de empresas)
menor igual maior não respondeu
Nível de preços 85,0 0 15,0 0
Nível de custos de produção 55,0 15,0 30,0 0
Nível médio dos salários 25,0 10,0 65,0 0
Grau de aceitação da marca 10,5 47,4 42,1 0
Prazos de entrega 57,9 15,8 26,3 ,0
Tempo de desenvolvimento de novos
"modelos"/ especificações
52,6 26,3 10,5 10,5
Eficiência na assistência técnica 21,1 31,6 47,4 0
Conteúdo/ sofisticação tecnológica 21,1 26,3 52,6 0
Conformidade às especificações técnicas 10,5 36,8 52,6 0
Durabilidade 10,5 57,9 31,6 0
Atendimento a especificações de clientes 47,4 42,1 10,5 0
3. Capacitação
3.1 Grau de Formalização do Planejamento da Empresa
(% de empresas)
Não existe nenhuma estratégia formal ou informal 0
Existe estratégia desenvolvida, disseminada informalmente 60,0
Existe estratégia desenvolvida, disseminada periodicamente 15,0
Existe estratégia desenvolvida, disseminada periodicamente com o
envolvimento dos diversos setores da empresa
25,0
Número de respondentes 20
96
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3.2 Fontes de Informação Utilizadas na Definição de Estratégias
(% de empresas)
Mídia em geral 52,4
Participação em atividades promovidas por associações de classe 57,1
Revistas especializadas 57,1
Feiras e congressos no país 71,4
Feiras e congressos no exterior 38,1
Visitas a outras empresas no país 66,7
Visitas a outras empresas no exterior 52,4
Universidades/ centros de pesquisa 33,3
Consultoria especializada 42,9
Banco de dados 23,8
Pesquisas proprias 57,1
Número de respondentes 21
3.3 Tecnologias/ Serviços Tecnológicos Adquiridos em 1991/1992
(nº de empresas)
Total no Brasil no exterior
Tecnologia de terceiros 4 1 3
Projeto básico
5
1 4
Projeto detalhado 2 1 1
Estudos de viabilidade 2 2 0
Testes e ensaios 11 10 4
Metrologia e normalização 9 8 1
Certificação de conformidade 5 4 1
Consultoria em Marketing 5 5 1
Consultoria gerencial 9 9 1
Consultoria em qualidade 12 12 0
Número de respondentes 18 17 10
3.4 Esforço Competitivo: Dispêndio nas variáveis/Faturamento
(%)
1987-89 1992
P & D 0,92 0,88
Engineering 1,83 2,03
Vendas 2,68 3,41
Assistência técnica 1,33 1,28
Treinamento de pessoal 1,24 1,22
3.5 Treinamento Sistemático
(nº de empresas)
Empresas que não realizam qualquer treinamento 2
Empresas que treinam 100% dos empregados na atividade:
Gerência 2
Profissionais técnicos 1
Trabalhadores qualificados 1
Operadores/ empregados 1
Número de respondentes 20
97
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3.6 Estrutura do Pessoal Ocupado em 1992
Distribuição
por atividade
Pessoal de nível
superior/total na
atividade
(%) (%)
P & D 1,72 56,06
Engenharia 7,97 27,21
Produção 64,16 5,96
Vendas 5,71 50,36
Assistência técnica 5,35 26,26
Manutenção 3,01 6,65
Administração 12,08 26,00
3.7 Idade de Produtos e Equipamentos
(nº de empresas)
até 5 anos 6 a 10 anos mais de 10
anos
total de
respondentes
Produto principal 0 2 19 21
Equipamento mais importante 2 3 16 21
3.8 Geração de Produtos e Equipamentos
(nº de empresas)
última penúltima anteriores não sabe total de
respondentes
Produto principal 9 8 1 1 19
Equipamento mais importante 2 7 4 1 14
3.9 Intensidade de Uso de Novas Tecnologias e Técnicas Organizacionais
(nº de empresas)
1987-89 1992
baixa média alta baixa média alta
Dispositivos microeletrônicos 18 3 0 17 2 2
Círculo de controle da qualidade 14 2 1 9 7 2
Controle estatístico de processo 13 3 1 12 3 3
Métodos de tempos e movimentos 13 2 2 12 4 3
Células de produção 11 6 0 10 7 1
Just in time interno 12 5 0 9 6 3
Just in time externo 14 3 0 15 2 1
Paticipação em just in time de clientes 13 3 1 14 2 2
Obs.: Para o uso de dispositivos microeletrônicos são consideradas empresas de baixa intensidade de uso
aquelas que os utilizam em até 10% das operações, média intensidade entre 11 e 50% e alta intensidade
acima de 50%. Para o uso de técnicas organizacionais são consideradas empresas de baixa intensidade
aquelas que envolvem até 10% do empregados ou das atividades, média intensidade entre 11 e 50% e alta
intensidade acima de 50%.
98
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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3.10 Situação em Relação à ISO-9000
(nº de empresas)
Não conhece 0
Conhece e não pretende implantar 0
Realiza estudos visando a implantação 5
Recém iniciou a implantação 4
Está em fase adiantada de implantação 4
Já completou a implantação mas ainda não obteve certificado 6
Já obteve certificado 1
3.11 Controle de Qualidade na Produção
(nº de empresas)
1987-89 1992
Não realiza 0 1
Somente em produtos acabados 0 0
Em algumas etapas 0 0
Em etapas essenciais 9 7
Em todas as etapas 9 11
Número de respondentes 18 19
4. Estratégias
4.1Direção da Estratégia de Produto
(nº de empresas)
Direcionar exclusivamente para o mercado interno 06
Direcionar exclusivamente para o mercado externo 0
Direcionar para o mercado interno e externo 15
Número de respondentes 21
4.2 Estratégia de Produto
(nº de empresas)
mercado interno mercado externo
Baixo preço 7 0
Forte identificação com a marca 6 0
Pequeno prazo de entrega 5 0
Curto tempo de desenvolvimento de produtos 0 0
Elevada eficiência da assistência técnica 4 0
Elevado conteúdo/ sofisticação tecnológica 4 0
Elevada conformidade a especificações técnicas 5 0
Elevada durabilidade 3 0
Atendimento a especificações dos clientes 7 0
Não há estratégia definida 0 0
Número de respondentes 21 0
99
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4.3 Estratégia de Mercado Externo - Destino
(nº de empresas)
Mercosul 0
Outros países da América Latina 0
EUA e Canadá 0
CEE 0
Países do leste europeu 0
Japão 0
Não há estratégia definida 0
4.4 Motivação da Estratégia Atual
nº de empresas % de empresas
Retração do mercado interno 18 85,7
Avanço da abertura comercial no setor de produção da empresa 7 33,3
Avanço da abertura comercial nos setores compradores da empresa 1 4,8
Crescente dificuldade de acesso a mercados internacionais 3 14,3
Globalização dos mercados 10 47,6
Formação do Mercosul 3 14,3
Novas regulamentações públicas 4 19,0
Surgimento de novos produtos no mercado interno 5 23,8
Surgimento de novos produtores no mercado interno 6 28,6
Exigência dos consumidores 11 52,4
Elevação das tarifas de insumos básicos 2 9,5
Diretrizes dos programas governamentais 5 23,8
Número de respondentes 21 100,0
4.5 Estratégia de Compra de Insumos
(nº de empresas)
Menores preços 15
Menores prazos de entrega 6
Maior eficiência da assistência técnica 0
Maior conteúdo tecnológico 4
Maior conformidade às especificações técnicas 15
Maior durabilidade 0
Maior atendimento de especificações
particulares
1
Não há estratégia definida 0
Número de respondentes
4.6 Relações com Fornecedores
(nº de empresas)
Desenvolver programas conjuntos de P & D 3
Estabelecer cooperação para desenvolvimento de produtos e processos 8
Promover troca sistemática de informações sobre qualidade e desempenho dos produtos 14
Manter relacionamento comercial de LP com fornecedores fixos 8
Realizar compras de fornecedores certificados pela empresa 14
Realizar compras de fornecedores cadastrados pela empresa 9
Realizar compras de fornecedores que oferecem condições mais vantajosas a cada momento 6
Número de respondentes 17
100
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4.7 Estratégia de Financiamento dos Investimentos em Capital Fixo
(nº de empresas)
Recursos próprios gerados pela linha de produto 20
Recursos próprios gerados pelas outras áreas do grupo empresarial 6
Recorrer a crédito público 5
Recorrer a crédito privado interno 2
Recorrer a crédito externo 2
Recorrer a formas de associação 1
Captar recursos nos mercados internos de valores 1
Captar recursos nos mercados externos de valores 0
Não há estratégia definida 1
Número de respondentes 21
4.8 Estratégia de Gestão de Recursos Humanos
(nº de empresas)
Oferecer garantias de estabilidade 2
Adotar política de estabilidade sem garantias formais 15
Não adotar políticas de estabilização 1
Promover a rotatividade 0
Não há estratégia definida 3
Número de respondentes 21
4.9 Definição de Postos de Trabalho
(nº de empresas)
Definir postos de trabalho de forma estreita e rígida 1
Definir postos de trabalho de forma estreita mas incentivar os trabalhadores a
executarem tarefas fora da definição dada
5
Definir postos de trabalho de modo amplo visando alcançar polivalência 14
Não definir rigidamente os postos de trabalho de modo que a gama de tarefas varie
consideravelmente
1
Não há estratégia definida 0
Número de respondentes 21
4.10 Estratégia de Produção
(nº de empresas)
Reduzir custo de estoques 11
Reduzir consumo/ aumentar rendimento das matérias-primas 7
Reduzir consumo/ aumentar rendimento energético 0
Reduzir necessidades de mão-de-obra 10
Promover desgargalamentos produtivos 10
Reduzir emissão de poluentes 0
Não há estratégia definida 0
Número de respondentes 21
Livros Grátis
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