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RESUMO
Na primeira etapa do presente trabalho, a adsorção de aminoácidos (alanina,
Ala; metionina, Met; glutamina, Gln; cisteína, Cys; ácido aspártico, Asp; lisina,
Lys; histidina, His) sobre argilas (bentonita e caulim) foi estudada em diferentes
faixas de pH (3,00, 6,00 e 8,00). Os aminoácidos foram dissolvidos em água do
mar, contendo em sua composição os elementos de maior concentração
presentes naturalmente. O principal resultado deste trabalho foi que a Cys
pode ter tido um importante papel na química prebiótica além de ser apenas
um aminoácido em peptídeos/proteínas. Os aminoácidos com grupo R
carregado (Asp, Lys e His) e Cys (grupo polar R não-carregado) foram mais
adsorvidos sobre argilas do que Ala, Met e Gln (grupo R não-carregado).
Entretanto, 74 % dos aminoácidos nas proteínas dos organismos modernos
contém grupo R não-carregado. Estes resultados geram algumas dúvidas
quanto ao papel dos minerais em fornecer um mecanismo de concentração de
aminoácidos. Diversos mecanismos que poderiam produzir peptídeos com uma
maior proporção de aminoácidos com grupo R não-carregado são também
discutidos. Os espectros de infravermelho FT-IR mostraram que a adsorção de
aminoácidos em argilas ocorreu através do grupo amino, provavelmente como
NH
3
+
. Entretanto, a interação Cys/argilas ocorreu através dos grupos sulfidrila e
também do grupo amino. A difratometria de raios-X mostrou que o pH afeta as
camadas internas da bentonita e a expansão em pH 3,00 da Cys/bentonita foi
maior que a expansão das amostras de etileno glicol/bentonita saturadas com
Mg. O espectro Mösbauer para as amostras com Cys adsorvida mostrou um
grande aumento (~20%) de íons ferrosos. Isto significa que a Cys foi capaz de
reduzir parcialmente o ferro presente na bentonita. Este resultado é similar
àquele que ocorre com a aconitase onde os íons ferrosos são reduzidos a Fe
2,5. Na segunda parte deste trabalho foi realizado um estudo de adsorção de
diversas bases nitrogenadas (adenina, A; citosina, C; timina, T; uracila, U)
dissolvidas em água do mar sobre argilas (caulim, bentonita e montmorilonita)
em dois pHs (2,00 e 7,20). O caulim adsorveu muito pouco da A em pH 2,00 e
nenhuma das outras bases aqui estudadas foram adsorvidas por este mineral.
Os resultados mostram que as bases A e C adsorvem mais sobre as argilas
bentonita e montmorilonita do que as bases U e T. Estes resultados sugerem
duas questões: a) o pH onde ocorreu a maior adsorção é muito baixo, apesar
de ocorrer em alguns hidrotermais, porém, seriam estes ambientes muito
comuns? e b) o outro problema é ainda pior, a ocorrência das bases nos seres
vivos não tem a mesma relação encontrada neste experimento. Uma análise
das bases encontradas no DNA de diversos seres vivos mostra uma relação
A/T por volta de 1,00. Entretanto os resultados obtidos mostram que em
qualquer situação a A é muito mais adsorvida que a T ou seja a relação A/T é
muito maior do que um. Estes resultados levantam algumas questões sobre o
papel dos minerais em fornecer um mecanismo para concentração de bases:
Poderíamos esperar que a composição das bases nitrogenadas adsorvidas
sobre minerais refletisse as das DNA atuais? A adsorção de bases
nitrogenadas sobre minerais foi importante para a origem da vida? Os dados de
infravermelho mostram que todas as bases interagem com as argilas através
do grupo amina.