As primeiras aplicações terapêuticas da toxina botulínica no homem ocorreram
no início de 1980, sendo utilizada no tratamento do estrabismo e blefaroespasmo
(SCHURCH, 2000; REITZ et al., 2004). Em 1989, após inúmeros estudos e descrição
dos métodos de purificação da toxina do tipo A, o FDA (Food and Drug Administration),
aprovou, nos Estados Unidos da América, a utilização da neurotoxina botulínica do tipo
A para o tratamento do estrabismo, blefaroespasmo e espasmo hemifacial (SCHANTZ
& JOHNSON, 1997). Na atualidade, a toxina botulínica vem sendo utilizada na terapia
da distonia cervical, espasticidade focal, hiperhidrose, dissinergia do detrusor do
esfíncter, paralisia cerebral juvenil, fissura anal, acalasia, analgesia, entre outras
(MARIA et al., 2003; REITZ et al., 2004; DRESSLER et al., 2005). Recentemente, esta
se mostra segura e com alta efetividade no tratamento da hiperplasia prostática benigna
humana (MARIA et al., 2003; CHUANG et al., 2005; KUO, 2005; RUSNACK & KAPLAN,
2005; ANTUNES et al., 2007).
Inúmeros trabalhos indicam a efetividade da toxina botulínica do tipo A com
finalidade urológica (MARIA et al., 1998; SHURCH et al., 2000; PHELAN et al., 2001;
KUO, 2003; HARPER et al. 2004; KUO, 2004; REITZ et al., 2004; SCHURCH & REITZ,
2004; KARSENTY et al. 2006; THOMAS et al. 2006; KUO, 2007). O uso da neurotoxina
botulínica para o tratamento da hiperplasia prostática benigna se iniciou em virtude da
função prostática ser significamente influenciada pela inervação autônoma. O
componente estático, ou seja, o tecido epitelial prostático (compartimento glandular)
está sob controle parassimpático e regulado por andrógenos, enquanto o componente
dinâmico, o compartimento estromal, é influenciado simpaticamente. Tais dados
evidenciam que a inervação parassimpática colinérgica da próstata é importante na
função secretória acinar da glândula e no seu crescimento, enquanto a inervação
simpática noradrenérgica está implicada na contração da musculatura lisa do órgão
(LEPOR & KUHAR, 1984; HIGGINS & GOSLING, 1989; PENNEFATHER et al., 2000;
VENTURA et al., 2002). Em adição, estudos relataram que receptores adrenérgicos e
muscarínicos estão presentes nas células epiteliais e no estroma fibromuscular da
próstata humana, estimulando os fatores de crescimento epidermal, transformação e
proliferação celular (VAALASTI & HERVONEN, 1980; HEDLUND et al., 1985;